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introdução à engenharia natural - icaam - Universidade de Évora

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8Todas estas situações <strong>de</strong>terminam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abordagens multidisciplinares <strong>à</strong> gestãodo território e dos ecossistemas, abordagens que têm <strong>de</strong> assumir um carácter técnico <strong>de</strong>crescente soli<strong>de</strong>z e interdisciplinarida<strong>de</strong>.É pois, neste quadro que se po<strong>de</strong>, e <strong>de</strong>ve, falar <strong>de</strong> Engenharia Natural, como um espaçoconceptual <strong>de</strong> congregação <strong>de</strong> conhecimentos, técnicas e metodologias <strong>de</strong> caracterizaçãoe gestão do território e dos ecossistemas.A sua prática é milenar fundando-se nos esforços que as comunida<strong>de</strong>s humanas foram<strong>de</strong>senvolvendo <strong>de</strong> encontrar técnicas e formas <strong>de</strong> gestão dos sistemas naturais <strong>de</strong>modo a compatibilizá-los com as suas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uso. Desenvolveram-se assimtécnicas <strong>de</strong> gestão do coberto vegetal, dos sistemas hidrológicos e sistemas construtivosque procuraram, com os materiais e a energia disponíveis, garantir a segurança dasactivida<strong>de</strong>s humanas no quadro dos processos naturais locais.Adicionalmente, a vegetação como material <strong>de</strong> construção, associada a sistemasconstrutivos usando materiais inertes foi usada em circunstâncias muito diversas<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a guerra (vejam-se as inúmeras referências existentes na “Guerra das Gálias” <strong>de</strong>Júlio César) até <strong>à</strong> segurança e reconstrução fluvial, reconstrução <strong>de</strong> zonas erodidas ourecuperação <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong>gradadas.A noção <strong>de</strong> Engenharia Natural (ou pelo menos <strong>de</strong> Engenharia Biológica) enquanto disciplinatécnica existe <strong>de</strong>s<strong>de</strong> pelo menos os finais dos anos 30 quando A. v.Kruedner propôs o termo"Ingenieurbiologie" para <strong>de</strong>nominar o conjunto <strong>de</strong> técnicas e métodos <strong>de</strong> <strong>engenharia</strong>,baseados não apenas na consi<strong>de</strong>ração dos aspectos técnicos mas também na observânciadas regras biológicas e na utilização <strong>de</strong> funções e materiais vivos.A vasta experiência que entretanto foi adquirida no <strong>de</strong>senvolvimento e aplicação <strong>de</strong>stastécnicas e métodos <strong>de</strong> construção, permitiu não só consolidar o âmbito e a capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> intervenção construtiva da Engenharia Biológica (nomeadamente através <strong>de</strong> umaconstante inovação e experimentação tecnológica), como conduziu mesmo a umalargamento do seu âmbito original <strong>de</strong> intervenção.Assim, e referindo um documento <strong>de</strong> trabalho elaborado pela Gesellschaft fürIngenieurbiologie, po<strong>de</strong>-se enten<strong>de</strong>r por Engenharia Biológica “a aprendizagem econhecimento das possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> utilização das plantas superiores na construção edo seu comportamento quando associadas a estruturas construtivas". Esta <strong>de</strong>finiçãoencerra um âmbito vasto para a utilização da Engenharia Biológica nomeadamente:• Avaliação do valor indicador <strong>de</strong> espécies particulares, para a caracterizaçãobiotecnológica <strong>de</strong> um local.• Aplicação dos materiais e sistemas construtivos mais a<strong>de</strong>quados a cada local.• Uso <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentos técnicos e <strong>de</strong> inovações em maquinaria, na aplicaçãoconstrutiva da vegetação.


Nascentes para a Vida9• A<strong>de</strong>quação das medidas <strong>de</strong> cuidado e manutenção aos objectivos construtivos.• Avaliação científica dos resultados alcançados com as tecnologias empregues.Mas a perspectiva da Engenharia Natural procura ser ainda mais vasta do que o atrás referidopara a Engenharia Biológica. Com efeito, da experiência da aplicação <strong>de</strong>sta, cresceu, com cadavez maior intensida<strong>de</strong>, a consciência <strong>de</strong> que, mais do que a simples utilização da vegetaçãocomo elemento e sistema construtivo, havia que avançar para uma <strong>engenharia</strong> global dossistemas ecológicos. Esta <strong>engenharia</strong>, tomada no sentido <strong>de</strong> conceber e realizar com arte,com engenho, tem como objecto <strong>de</strong> intervenção o espaço, consi<strong>de</strong>rado como um todosistémico e tem como perspectiva <strong>de</strong> trabalho a consciência e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> percepção dacomplexida<strong>de</strong> funcional <strong>de</strong>ste. Neste âmbito, preten<strong>de</strong>-se articular <strong>de</strong> uma forma construtivaos usos com as aptidões naturais do espaço para os sustentar.INTERVIR CONSERVANDOA Engenharia Natural preten<strong>de</strong> pois, constituir mais um instrumento <strong>de</strong> intervençãodo Homem na Natureza. Contudo, diferencia-se <strong>de</strong> certo modo das outras formas maisclássicas <strong>de</strong> <strong>engenharia</strong> ao colocar, como princípio condutor fundamental <strong>de</strong>ssa suaintervenção, a imposição <strong>de</strong> respeito pela dinâmica funcional e sistémica da Natureza.Ela procura pois potenciar os usos humanos do território com um recurso mínimo <strong>à</strong>alteração <strong>de</strong>ste, garantindo a inexistência <strong>de</strong> perdas na sua funcionalida<strong>de</strong> e valor eprocurando incorporar novos valores e funções. Ao intervir nele, parte sempre daexigência da minimização do grau <strong>de</strong> artificial ida<strong>de</strong> a introduzir (o que não impe<strong>de</strong>, claro,que reconheça a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recorrer a sistemas artificiais mais "duros" sempre queas exigências <strong>de</strong> uso e as condições naturais o impuserem).A Engenharia Natural não recusa <strong>de</strong>ste modo <strong>à</strong> partida, qualquer sistema ou tecnologia,não elabora escalas <strong>de</strong> importância entre a Natureza e o Homem pelo contrario preten<strong>de</strong>contribuir <strong>de</strong> forma activa para a humanização do espaço e para a melhoria da Qualida<strong>de</strong><strong>de</strong> Vida dos Homens, salvaguardando contudo, a preservação da funcionalida<strong>de</strong> <strong>natural</strong>,ou seja, da <strong>natural</strong>ida<strong>de</strong> do espaço, procurando articular-se com as restantes disciplinas(da Arquitectura <strong>à</strong> Engenharia Civil e ao Urbanismo), potencializando sempre através dassoluções encontradas, a natureza do espaço em vez <strong>de</strong> a <strong>de</strong>svalorizar.Com efeito, para a Engenharia Natural não existe a dicotomia Homem ou Natureza, masantes a consciência <strong>de</strong> que o Homem é um elemento integrante da Natureza. Por estarazão conservar a Natureza <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser uma tarefa aparentemente contra o Homem, oupelo menos contra o seu progresso material passando antes a ser um elemento próprioa activida<strong>de</strong> humana <strong>de</strong> todos os dias.A <strong>de</strong>fesa da existência <strong>de</strong> uma tal dicotomia tem trazido <strong>de</strong> longe mais prejuízos doque vantagens <strong>à</strong> prática da Conservação da Natureza prejuízos materializados em duasáreas principais:


10• As gran<strong>de</strong>s intervenções humanizantes foram, em gran<strong>de</strong> medida, por falta <strong>de</strong>enquadramento por parte das disciplinas técnicas ligadas <strong>à</strong> conservação da Natureza,bem mais <strong>de</strong>strutivos e <strong>de</strong>sestabilizadores do que po<strong>de</strong>riam ter sido.• A activida<strong>de</strong> da conservação da Natureza foi consi<strong>de</strong>¬rada como restrita <strong>à</strong> preservação<strong>de</strong> santuários limitados, don<strong>de</strong> se retiraria ou on<strong>de</strong> se condicionaria a activida<strong>de</strong>humana, <strong>de</strong>ixando pois <strong>de</strong> estar presente <strong>de</strong> forma activa na quase totalida<strong>de</strong> doespaço humanizado.É <strong>de</strong> certo modo na recusa <strong>de</strong>stas noções que a Engenharia Natural se procura orientarpara aquilo que po<strong>de</strong>remos <strong>de</strong>nominar como uma conservação activa. Esta novaorientação <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> dois princípios fundamentais: o homem e as suas socieda<strong>de</strong>s sãopartes integrantes da Natureza e todos os espaços são intrinsecamente naturais.Consciente <strong>de</strong>stes princípios, a Engenharia Natural propõe-se como tarefas base aintegração harmónica das activida<strong>de</strong>s humanas no tecido sistémico <strong>natural</strong>, conscienteque está, que o comprometimento daquele acarretara a curto ou médio prazo a nãosobrevivência das primeiras; a valorização dos processos e elementos naturais nosespaços humanizados e a recuperação e revalorização dos espaços <strong>de</strong>gradados.Preten<strong>de</strong> pois a Engenharia Natural contribuir para a geração <strong>de</strong> um espaço <strong>natural</strong>harmoniosamente humanizado on<strong>de</strong> em vez <strong>de</strong> actuar e intervir contra ou em <strong>de</strong>trimentoda Natureza, se utiliza esta e se moldam os seus potenciais <strong>à</strong>s necessida<strong>de</strong>s humanas.Como instrumento fundamental <strong>de</strong> trabalho, a Engenharia Natural necessita <strong>de</strong> realizarum reconhecimento extremamente profundo e <strong>de</strong>talhado das características e modo <strong>de</strong>funcionamento dos espaços, assim como das potencialida<strong>de</strong>s, não só <strong>de</strong> cada elementobiológico e inerte como também dos biossistemas complexos correspon<strong>de</strong>ntes ou quese po<strong>de</strong>rão instalar em cada lugar.Preten<strong>de</strong>-se pois acabar com a dicotomia espaço <strong>natural</strong>/espaço humanizado, criandoantes uma outra escala <strong>de</strong> espaços sucessivamente mais alterados, mas on<strong>de</strong> ascaracterísticas e processos naturais se encontrem potencializados ao máximo:• Espaço <strong>natural</strong>• Espaço próximo do <strong>natural</strong>• Espaço condicionadamente <strong>natural</strong>• Espaço condicionadamente afastado do <strong>natural</strong>• Espaço afastado do <strong>natural</strong>• Espaço artificialIsto po<strong>de</strong> até passar pela criação <strong>de</strong> raiz <strong>de</strong> espaços naturais (ou próximo do <strong>natural</strong>) ouainda pela consi<strong>de</strong>ração e preservação do que <strong>de</strong> rico e diversificado existe na Natureza


12A ENGENHARIA NATURAL – UMA ENGENHARIA DOS SISTEMASVIVOSDe acordo com Hugo Schiechtl (2007):Engenharia Natural é um sub-domínio da Engenharia Civil que prossegue objectivos técnicos,ecológicos, criativos, construtivos e económico através sobretudo da utilização <strong>de</strong> materiaisconstrutivos vivos, ou seja, sementes, plantas, partes <strong>de</strong> plantas e associações vegetais. Estesobjectivos são atingidos através métodos <strong>de</strong> construção próximos do <strong>natural</strong>, utilizando asdiferentes vantagens que a utilização <strong>de</strong> plantas vivas garante.A Engenharia Natural é utilizada por vezes como substituto, mas principalmente comocomplemento útil e necessário das técnicas clássicas da Engenharia Civil. A sua área <strong>de</strong>aplicação correspon<strong>de</strong> a todos os domínios construtivos quer em trabalhos <strong>de</strong> terra querem domínios fluviais e costeiros, com predominância particular na protecção <strong>de</strong> margense talu<strong>de</strong>s e encostas, assim como no controle da erosão.Já a Fe<strong>de</strong>ração Europeia <strong>de</strong> Engenharia Natural (EFIB) (2007) propõe a seguinte<strong>de</strong>finição:Por Engenharia Natural enten<strong>de</strong>-se uma disciplina da Engenharia orientadapela Biologia cujo domínio <strong>de</strong> intervenção são as intervenções geotécnicas e <strong>de</strong>mecânica <strong>de</strong> solos, <strong>de</strong> <strong>engenharia</strong> fluvial e hidráulica, <strong>de</strong> <strong>engenharia</strong> florestalassim como todas as intervenções construtivas ao nível da compatibilizaçãodos sistemas naturais com as pressões <strong>de</strong> uso.Os objectos <strong>de</strong> projecto e construção são a estabilização <strong>de</strong> talu<strong>de</strong>s e escarpas, margens,diques, aterros, assim como outros espaços <strong>de</strong> uso e a sua protecção contra a erosão.No processo <strong>de</strong> projecto e execução são utilizados conhecimentos e competências dasdisciplinas <strong>de</strong> construção, assim como conhecimentos da biologia e da ecologia dapaisagem <strong>de</strong> forma a instalar e garantir o a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um cobertoa<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> espécies autóctones que garanta as exigências construtivas requeridas.As intervenções <strong>de</strong> Engenharia Natural garantem não só a protecção contra a erosãocomo igualmente acções reguladoras no regime hidrológico, no microclima, na estruturae qualida<strong>de</strong> biológica e ecológica, assim como na qualida<strong>de</strong> visual das zonas <strong>de</strong>intervenção.Ambas estas <strong>de</strong>finições focalizam-se num domínio essencialmente construtivo, sendoos seus domínios <strong>de</strong> aplicação principais a construção e manutenção <strong>de</strong> infra-estruturasquer nos domínios da <strong>engenharia</strong> hidráulica como da <strong>engenharia</strong> <strong>de</strong> solos, usandopreferencialmente sistemas, técnicas e materiais naturais (ou o mais próximo possíveldo <strong>natural</strong>):• Consolidação <strong>de</strong> talu<strong>de</strong>s e encostas;


Nascentes para a Vida13• Consolidação e valorização ecológica <strong>de</strong> margens <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> água;• Protecção contra <strong>de</strong>sastres naturais como a erosão e as cheias;• Criação <strong>de</strong> ecossistemas <strong>de</strong> compensação ou <strong>de</strong> substituição;• Recuperação ecológica <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong>gradadas como minas, pedreiras, aterrossanitários, etc.A vantagem da utilização <strong>de</strong>stas técnicas e metodologia pren<strong>de</strong>-se com as funções e efeitosque originam:Funções técnicas:• Protecção da superfície do solo da erosão pelo solo, precipitação, gelo e água corrente;• Protecção contra a queda <strong>de</strong> rochas;• Eliminação ou amortecimento <strong>de</strong> forças mecânicas <strong>de</strong>strutivas;• Redução da velocida<strong>de</strong> do fluxo ao longo das margens;• Aumento da coesão superficial e profunda do solo e sua estabilização• Drenagem;• Protecção do vento;• Promoção da <strong>de</strong>posição <strong>de</strong> neve, areia e outros sedimentos;• Aumento da rugosida<strong>de</strong> do solo e prevenção <strong>de</strong> avalanches;•Funções ecológicas, em particular aquelas omissas ou muito parcialmentepreenchidas pelas intervenções clássicas <strong>de</strong> <strong>engenharia</strong> civil.Funções ecológicas•Melhoria do regime hídrico por melhoria da intercepção, infiltração e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>retenção hídrica, assim como consumo pela vegetação;• Drenagem do solo;• Protecção do vento• Protecção da poluição atmosférica;• Promoção das condições mecânicas do solo através das raízes;• Sombreamento e controle <strong>de</strong> infestantes;• Balanço da temperatura da camada do ar junto ao solo e do solo;•Melhoria das condições nutricionais e, <strong>de</strong>correntemente, da fertilida<strong>de</strong> do solo ou<strong>de</strong> substratos incultos;


14• Equilíbrio dos <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> neve;• Protecção contra o ruído;• Aumento da produtivida<strong>de</strong> das culturas adjacentes.Funções estéticas•Enquadramento <strong>de</strong> feridas abertas na paisagem por catástrofes naturais ouintervenções humanas (exploração <strong>de</strong> recursos minerais, trabalhos <strong>de</strong> construção,aterros <strong>de</strong> inertes, escombreiras, aterros sanitários);• Integração <strong>de</strong> estruturas na paisagem;• Ocultação <strong>de</strong> estruturas ofensivas;• Enriquecimento da paisagem através da criação <strong>de</strong> novos elementos, estruturas,formas e cores da vegetação.Efeitos económicosApesar <strong>de</strong> estas intervenções po<strong>de</strong>rem não ser sempre mais baratas em termos daconstrução quando comparadas com sistemas clássicos da <strong>engenharia</strong> tradicional,quando se tem em conta o seu tempo <strong>de</strong> vida útil, incluindo os custos <strong>de</strong> manutenção,<strong>de</strong>monstram-se, normalmente mais económicos. As suas principais vantagens são:• Menores custos <strong>de</strong> construção comparativamente com materiais e técnicas mais“duros”;• Menores custos <strong>de</strong> manutenção e recuperação;• Criação <strong>de</strong> áreas ver<strong>de</strong>s úteis e formações vegetais em terras anteriormente ermasou marginais.Como resultado das intervenções <strong>de</strong> Engenharia Natural obtêm-se sistemas vivos quecontinuarão a <strong>de</strong>senvolver-se e a manter o seu equilíbrio dinâmico através dos processos<strong>de</strong> sucessão <strong>natural</strong>, ou seja, auto-controle dinâmico, sem inputs artificiais <strong>de</strong> energia.Se forem utilizados os materiais construtivos vivos e inertes e os sistemas construtivosa<strong>de</strong>quados, atingir-se-á uma elevada capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resistência a tensões externas, semesforços muito elevados e dispendiosos <strong>de</strong> manutenção.A consciência da diversida<strong>de</strong> cada vez maior das escalas <strong>de</strong> intervenção (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a regionalcom a gestão e controle dos processos hidrológicos (Fig. 1) e a recuperação <strong>de</strong> áreasardidas até <strong>à</strong> local com as intervenções <strong>de</strong> correcção <strong>de</strong> situações <strong>de</strong> perturbação e<strong>de</strong>gradação) permite avançar com uma <strong>de</strong>finição mais ampla:"A Engenharia Natural po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como um ramo da <strong>engenharia</strong> que tem comoobjecto o território, que procura optimizar os processos construtivos numa perspectivasimultânea <strong>de</strong> funcionalida<strong>de</strong> estrutural e ecológica, procurando que a obra preencha


Nascentes para a Vida15plenamente os objectivos que se lhe colocaram do ponto <strong>de</strong> vista das exigências <strong>de</strong>uso e se insira simultaneamente o mais harmoniosamente possível no espaço <strong>natural</strong>,utilizando para tal, os próprios sistemas e processos funcionais <strong>de</strong>ste"Sementeiras e plantaçõesMulchingMantas orgânicas...Controle e regulaçãoda intercepçãoe infiltraçaoPrecipitação EvapotranspiraçãoControle e regulaçãodaevapotranspiraçãoControle e regulação davelocida<strong>de</strong> doescoamento superficialPrevenção e correcçãoda erosãoSementeiras e plantaçõesPlantações lineares (entrançados vivos,faixas <strong>de</strong> vegetação. fascinas vivas, etc.)Degraus vivos <strong>de</strong> consolidaçao <strong>de</strong> encostasDrenos vivosMuros e gra<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vegetaçãoSoleiras VvvasEsporões, "pentes e escovas" vivosRecuperação <strong>de</strong> ravinas...Exce<strong>de</strong>nteEsc. superficialControle e regulaçãoda velocida<strong>de</strong> doescoamento fluvialPrevenção e correcçãoda erosãoInfiltraçãoEsc. fluvialPromoçãoda retençãosuperficiale infiltraçãoSementeiras e plantaçõesMulchingMantas orgânicasPlantações lineares (entrançados vivos,faixas <strong>de</strong> vegetação. fascinas vivas, etc.)Degraus vivos <strong>de</strong> consolidaçao <strong>de</strong> encostasDrenos vivosRecuperação <strong>de</strong> ravinas...Esc. subterrâneoPlantaçoes (estacas vivas, esteiras vivas,faixas fascinas vivas, etc.)Muros vivosDrenos vivosEsporões, "pentes e escovas" vivos...Fig. 1. Intervenções <strong>de</strong> Engenharia Natural para a gestão dos sistemas hidrológicosÉ pois, este quadro, que se po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar que o objecto da Engenharia Natural ébastante mais lato, não se referindo apenas ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sistemas construtivosutilizando materiais vivos, mas principalmente ao território visto na globalida<strong>de</strong> dos seusprocessos e <strong>de</strong>terminantes, sendo o seu objectivo a articulação entre os usos humanos eas aptidões naturais relativamente a esses usos e sendo os seus instrumentos a gestãodos processos e sistemas naturais, além <strong>de</strong> todos os instrumentos e métodos das<strong>engenharia</strong>s clássicas e biológica.


16Na prática, isto correspon<strong>de</strong> a acrescentar aos domínios <strong>de</strong> intervenção anteriormentereferidos, a promoção dos objectivos <strong>de</strong> Conservação da Natureza e da Gestão Sustentáveldos recursos através da criação e <strong>de</strong>senvolvimento estruturas biológicas orientadas,integradas numa re<strong>de</strong> local e global <strong>de</strong> conservação da natureza, tendo sempre emconsi<strong>de</strong>ração as necessida<strong>de</strong>s dos indivíduos e das comunida<strong>de</strong>s e os objectivos dassocieda<strong>de</strong>s humanas numa perspectiva sustentável, i.e.:• Desenvolvimento <strong>de</strong> sistemas que promovam o valor ecológico <strong>de</strong> cada lugar;• Enquadramento ecológico <strong>de</strong> todos os projectos e obras;•Desenvolvimento <strong>de</strong> metodologias <strong>de</strong> caracterização e avaliação ecológica e suaintegração nos processos <strong>de</strong> planeamento e gestão do território.Examinemos alguns domínios <strong>de</strong> activida<strong>de</strong> com particular relevância no momento actual:1. Áreas costeiras e dunares – Ao mesmo tempo em que a Engenharia Natural échamada a consolidar ou recuperar espaços costeiros <strong>de</strong>gradados por pressõesou tipologias ina<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong> uso (caso dos cordões dunares adjacentes a praiasou zonas <strong>de</strong> salgados <strong>de</strong>gradados pela poluição ou pisoteio ou outras impactes <strong>de</strong>uso) confrontamo-nos com a necessida<strong>de</strong>, por um lado, <strong>de</strong> abordagens <strong>de</strong> protecçãocosteira relativamente a uma agressivida<strong>de</strong> erosiva marinha acentuada pelas novascondições <strong>de</strong>correntes das alterações globais em curso e por outro, <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvermecanismo <strong>de</strong> gestão, por exemplo, dos balanços <strong>de</strong> transporte sólido (erosão,transporte e sedimentação) entre as zonas terrestres e litorais, domínio em queas abordagens da Engenharia Natural são solicitadas a escalas <strong>de</strong> abordagem eintervenção completamente distintas das tradicionais.2.Zonas húmidas e fluviais – Estes são alguns dos habitats e sistemas naturais maisperturbados e sujeitos a maiores pressões <strong>de</strong> uso, situação que tem conduzido aintervenções e modificações que têm comprometido dramaticamente o seu caráctere que colocam <strong>de</strong>safios particularmente importantes <strong>à</strong> Engenharia Natural. Asintervenções necessárias impõem toda uma escala <strong>de</strong> <strong>natural</strong>ida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as situaçõesem que o espaço efectivo <strong>de</strong> intervenção é muito reduzido até <strong>à</strong>s situações em que sepo<strong>de</strong>rá falar em absoluto <strong>de</strong> re<strong>natural</strong>ização e <strong>de</strong> restauração. Simultaneamente, estessistemas são a expressão mais visível dos muito mais vastos e complexos sistemashidrológicos on<strong>de</strong> fenómenos como cheias e secas são regulados e, <strong>de</strong>correntemente,ampliados ou minorados. Dado que o coberto vegetal e o uso do solo constituemreguladores críticos <strong>de</strong>stes sistemas e processos hidrológicos, é no actual contexto <strong>de</strong>alterações globais que ten<strong>de</strong>rão a acentuar essas situações extremas, que a gestão<strong>de</strong>ssas variáveis irá assumir uma importância cada vez mais crítica e, <strong>de</strong> novo, colocarum novo universo e escala <strong>de</strong> trabalho <strong>à</strong> Engenharia Natural.3.Bacias hidrográficas – Estes são, fora <strong>de</strong> dúvida os domínios mais abrangentes eintegrativos da área <strong>de</strong> actuação da Engenharia Natural. Com efeito, é neste enorme


Nascentes para a Vida17âmbito territorial que a regulação, prevenção e correcção dos processos erosivos, aregulação do escoamento hídrico, dos processos <strong>de</strong> infiltração e <strong>de</strong> evapotranspiração,da promoção dos processos <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> solo, <strong>de</strong> prevenção, consolidação eretenção dos processos <strong>de</strong> vertente, em particular dos aluimentos, avalanches e<strong>de</strong>rrocadas, para já não falar na valorização dos processos ecológicos, constituemáreas prioritárias <strong>de</strong> intervenção da Engenharia Natural em complemento <strong>de</strong> todasas restantes disciplinas <strong>de</strong> gestão e or<strong>de</strong>namento do território. A título <strong>de</strong> exemplo, aregularização dos processos <strong>de</strong> escoamento, assim como dos riscos a ele associados,tem <strong>de</strong> começar ao nível da bacia, on<strong>de</strong> os balanços <strong>de</strong> intercepção, infiltração,evapotranspiração, escoamento superficial e sub-superficial, erosão ou sedimentaçãosão regulados quer pelo coberto vegetal, quer pela morfologia, quer pelo solo egeologia, sendo todas estas variáveis objectos <strong>de</strong> gestão e <strong>de</strong> intervenção recorrendoa técnicas e abordagens <strong>de</strong> Engenharia Natural. Da mesma forma, a correcção <strong>de</strong>situações <strong>de</strong> erosão e ravinamento, invertendo o processo erosivo e criando ascondições para a reposição <strong>de</strong> perfis morfológicos <strong>de</strong> equilíbrio e o restabelecimento<strong>de</strong> um coberto vegetal a<strong>de</strong>quado são também áreas on<strong>de</strong> a Engenharia Natural tem,<strong>de</strong> há muito provas dadas e um enorme potencial <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.4. Zonas florestais e marginais <strong>de</strong>struídas pelo fogo - no domínio crescentementepreocupante dos incêndios florestais, em termos quer das medidas <strong>de</strong> primeiraintervenção no sentido <strong>de</strong> prevenir a erosão e reter o solo exposto, quer nas medidascomplementares aos processos <strong>de</strong> reflorestação e <strong>de</strong> apoio ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>um coberto <strong>natural</strong> espontâneo, existem igualmente amplos domínios <strong>de</strong> aplicaçãodas abordagens e soluções técnicas da Engenharia Natural. A <strong>de</strong>struição do cobertovegetal e, inclusive, do húmus do solo pelos fogos florestais <strong>de</strong>termina um risco erosivomuito elevado que tem <strong>de</strong> ser combatido quer com medidas preventivas, quer commedidas correctivas <strong>de</strong> emergência. A Engenharia Natural através <strong>de</strong> uma panóplia<strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> controlo do escoamento e <strong>de</strong> intervenção rápida em encostas po<strong>de</strong>constituir uma especialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância nos processos <strong>de</strong> prevenção ecombate a estes processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação do território.5. Infra-estruturas – A segurança do uso <strong>de</strong> infra-estruturas constituiu sempre uma dasáreas por excelência <strong>de</strong> aplicação das técnicas <strong>de</strong> Engenharia Natural, particularmente noque se refere aos diferentes domínios <strong>de</strong> segurança <strong>de</strong> talu<strong>de</strong>s e aterros, <strong>à</strong> prevenção daerosão e <strong>de</strong> aluimentos ou movimentações <strong>de</strong> massa <strong>de</strong> natureza vária como avalanches.A estes domínios tradicionais acrescentam-se presentemente com importância crescentea garantia <strong>de</strong> funções ecológicas (redução da fragmentação e promoção da biodiversida<strong>de</strong>)e estéticas, além da redução <strong>de</strong> impactes <strong>de</strong> funcionamento como são por exemplo osassociados <strong>à</strong> poluição sonora, <strong>à</strong> emissões <strong>de</strong> gases e partículas ou aos escoamentoscontaminados (contínuos ou aci<strong>de</strong>ntais).6. Zonas urbanas – Se bem que não constituindo espaços tradicionalmente associados<strong>à</strong> aplicação das técnicas <strong>de</strong> Engenharia Natural, estas não <strong>de</strong>ixam, contudo, <strong>de</strong>


18constituir soluções construtivas do maior interesse nos domínios quer da ArquitecturaPaisagista, quer da segurança e enquadramento <strong>de</strong> espaços e infra-estruturas (tambémexistem escarpas e vertentes instáveis em zonas urbanas, assim como a minoraçãodos impactes sonoros e poluentes das vias <strong>de</strong> comunicação rodoviárias e ferroviáriasassume uma importância e <strong>de</strong>safios técnicos ainda mais prementes e complexos. Poroutro lado, a gestão e valorização das linhas <strong>de</strong> água em espaço urbano maximizandoo seu valor e funcionalida<strong>de</strong> ecológica <strong>de</strong>ntro das exigências hidráulicas estritas dasusceptibilida<strong>de</strong> dos usos marginais, constitui um domínio on<strong>de</strong> a Engenharia Naturaltem <strong>de</strong>senvolvido não só inúmeras intervenções como <strong>de</strong>senvolvido trabalhos <strong>de</strong>investigação e <strong>de</strong>senvolvimento experimental que permitem tipologias <strong>de</strong> intervençãocom garantias <strong>de</strong> segurança hidráulica muito mais significativas. Por fim importareferir toda a enorme diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estruturas <strong>de</strong> activação biológica em espaçourbano on<strong>de</strong> muitas das abordagens técnicas e metodológicas da Engenharia Naturaltêm-se comprovado da maior eficácia.7. Activida<strong>de</strong> extractiva e espaços <strong>de</strong>gradados – Este é um domínio on<strong>de</strong> muitosdos equívocos que afectam a Engenharia Natural se manifestam <strong>de</strong> modo claro,ao predominarem conceitos como “recuperação paisagística” em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong>reconstrução e requalificação ecológica e funcional, reintegrando os espaços emcausa na oferta ambiental do modo global e não apenas ocultando a activida<strong>de</strong> quenele ocorreu, com todos os problemas <strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong> futura da intervenção. Por outrolado, esta componente <strong>de</strong> recuperação e <strong>de</strong> reintegração da funcionalida<strong>de</strong> ambiental<strong>de</strong>sses espaços tem <strong>de</strong> ser integrada na própria activida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> constituir umseu apêndice <strong>de</strong>sarticulado comprometendo a própria viabilida<strong>de</strong> da sua execução.8. Conservação da Natureza e da Biodiversida<strong>de</strong> – Sendo, por <strong>de</strong>finição a EngenhariaNatural um <strong>engenharia</strong> cujos objectos e instrumentos <strong>de</strong> trabalho são, prioritariamenteas plantas e as comunida<strong>de</strong>s vegetais, é obvia a sua contribuição para todos osdomínios <strong>de</strong> activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação da natureza e da biodiversida<strong>de</strong>, sejam emtermos da prevenção <strong>de</strong> impactes externos, seja <strong>de</strong> recuperação e restauro <strong>de</strong> zonasperturbadas ou <strong>de</strong>gradadas, seja da própria recriação <strong>de</strong> habitats ou a criação <strong>de</strong>habitats <strong>de</strong> substituição ou compensação. Igualmente importante é o facto <strong>de</strong> asabordagens técnicas da Engenharia Natural permitem a gestão <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> elevadovalor ecológico <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> perturbação sem <strong>de</strong>ixar que tal comprometaos valores existentes.Este enunciado sintético e obviamente incompleto evi<strong>de</strong>ncia o imenso universo <strong>de</strong>trabalho que se coloca perante a Engenharia Natural, para além do contexto específico<strong>de</strong> “sub-domínio da Engenharia Civil” da referida <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Schiechtl, já que a estedomínio <strong>de</strong> intervenção temos <strong>de</strong> acrescentar as interfaces existentes com os domíniosda gestão <strong>de</strong> habitats, da <strong>engenharia</strong> da conservação, do or<strong>de</strong>namento e <strong>de</strong>senvolvimentodo território.


Nascentes para a Vida19Em termos práticos, a Engenharia Natural preten<strong>de</strong> fazer convergir todo um vastoconjunto <strong>de</strong> conhecimentos e competências numa prática inovadora (Fig. 2), em quea relação com a Natureza e os Sistemas Naturais não seja uma relação <strong>de</strong> oposiçãomas sim <strong>de</strong> cooperação orientada no comum benefício, garantindo o <strong>de</strong>senvolvimentohumano na preservação e promoção das funções naturais.CiclosbiogeoquímicosPopulaçõesGestão <strong>de</strong>recursos naturaisAIA/AAEComunida<strong>de</strong>sEcossistemasMonitorizaçãoEcotoxicologiaEcologia da PaisagemAvaliação EcológicaFitossociologiaMateriais e técnicas <strong>de</strong>construçãoSistemas construtivoscom materias vivosEngenhariaNaturalCaracterização eavaliação ambientalEngenharia <strong>de</strong>EcossistemasSIGSistemas <strong>de</strong> apoio <strong>à</strong><strong>de</strong>cisãoAnálisemulticritérioClimatologiaHidrologia e hidraulicaEconomiaDireito ambientalPedologiaGeomorfologiaOr<strong>de</strong>namento doterritórioPlaneamento egestão ambientalGeologia <strong>de</strong><strong>engenharia</strong>Geografia físicaFig. 2. Engenharia Natural como área <strong>de</strong> convergência técnica e científicaEm suma, a Engenharia Natural constitui no essencial uma abordagem que procuraconstruir território sustentável, seja ele território urbano, agrícola, <strong>de</strong> recreio, <strong>de</strong>gradado(caso das zonas <strong>de</strong> extracção <strong>de</strong> inertes), associado a infra-estruturas ou vocacionadopara a conservação da natureza e da biodiversida<strong>de</strong>.AS PLANTAS E A VEGETAÇÃO COMO MATERIAL DE CONSTRUÇÃOA vegetação exerce no solo uma função estabilizadora extremamente intensa emultifacetada. Essa função manifesta-se, quer ao nível da protecção contra a acção dosagentes externos (precipitação, vento, temperatura, etc.), quer internos (instabilida<strong>de</strong>,encharcamento, falta <strong>de</strong> coesão, etc.).


20Simultaneamente, a vegetação apresenta não só a vantagem <strong>de</strong> assegurar a protecção e aestabilização do terreno em causa, com também, dadas as suas características <strong>de</strong> sistemasvivos, a vantagem <strong>de</strong>, se <strong>de</strong>vidamente cuidada, se <strong>de</strong>senvolver <strong>de</strong> um modo equilibrado comos factores <strong>de</strong> <strong>de</strong>sequilíbrio, adaptando-se <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> certos limites, <strong>à</strong> variação <strong>de</strong>stes.A utilização <strong>de</strong> plantas e da vegetação como material <strong>de</strong> construção apresenta vantagensmas também limitações que convém ter sempre presentes (Tab. 1). As vantagens e<strong>de</strong>svantagens acima <strong>de</strong>scritas, <strong>de</strong>rivam das seguintes características básicas da funçãoda vegetação na estabilização dos terrenos:• Funções <strong>de</strong> Cobertura - Através das suas partes aéreas (troncos, ramos e folhas),as plantas asseguram uma cobertura mais ou menos <strong>de</strong>nsa da superfície on<strong>de</strong> estãoinstaladas. Especialmente no caso das herbáceas, que asseguram essa cobertura <strong>de</strong>um modo bastante rápido e eficiente, obtêm-se um sistema <strong>de</strong> amortecimento doimpacto directo da chuva, do vento e mesmo do escoamento superficial, diminuindo<strong>de</strong>sta forma a erosivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tais agentes. Também as espécies arbóreas e arbustivas<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que em formações suficientemente <strong>de</strong>nsas, asseguram a mesma função,acrescentada <strong>de</strong> uma intensa acção <strong>de</strong> intercepção (retenção da água da chuva nostroncos e copas, possibilitando a sua posterior evaporação e a consequente diminuiçãodo caudal <strong>de</strong> escoamento superficial ou <strong>de</strong> infiltração).• Funções <strong>de</strong> armação e <strong>de</strong> ancoraqem do solo - Através das suas raízes, a vegetaçãoexerce um conjunto <strong>de</strong> acções físicas que têm como resultado final aumentar a estabilida<strong>de</strong>mecânica do solo, aumentando a sua coesão, e consequentemente, possibilitando aexistência <strong>de</strong> talu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ângulo superior ao ângulo <strong>de</strong> talu<strong>de</strong> <strong>natural</strong> <strong>de</strong>sse material.Estas funções são realizadas essencialmente <strong>de</strong> dois modos:as ramificações das raízes penetrando o solo vão constituir uma malha, cuja<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> é variável em função das espécies vegetais utilizadas, a qual enquadraránão só as partículas do solo, como também as penetrará funcionando então comomais um factor <strong>de</strong> agregação.as gran<strong>de</strong>s raízes mergulhantes, <strong>de</strong>stinadas a ancorar a planta ao solo, penetrarãoeste em profundida<strong>de</strong>, o que proporcionara, pelo menos nos dois metros superficiais,que qualquer plano <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> paralelo <strong>à</strong> superfície e que seja propiciador<strong>de</strong> escorregamentos seja atravessado pelas raízes, aumentando a rugosida<strong>de</strong> doplano <strong>de</strong> escorregamento ancorando o horizonte superior no inferior e diminuindo,consequentemente, a tendência para o escorregamento segundo esse plano.• Funções <strong>de</strong> estruturação - Além das acções físicas <strong>de</strong> armação e <strong>de</strong> ancoragem, queasseguram essencialmente um papel <strong>de</strong> sustentação, as acções químicas e biológicasproporcionadas pela vegetação, ou <strong>de</strong>la <strong>de</strong>rivadas, contribuem, igualmente e <strong>de</strong> umaforma <strong>de</strong>cisiva, para o aumento da estabilida<strong>de</strong> do solo. Tais funções são realizadas,quer por intermédio dos produtos químicos segregados pelas raízes das plantas que


Nascentes para a Vida21favorecem a formação <strong>de</strong> agregados <strong>de</strong> partículas do solo, quer pela formação <strong>de</strong>compostos húmicos a partir da <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> folhas e outros materiais orgânicoscompostos esses que agem da mesma forma como agregantes do solo.• Funções <strong>de</strong> coesão e drenagem - As plantas <strong>de</strong>vido <strong>à</strong>s suas necessida<strong>de</strong>s próprias<strong>de</strong> água, contribuem também, eficazmente, para a diminuição do teor em agua do solo,dado esta ser absorvida e <strong>de</strong>pois transpirada. Esta diminuição do teor em humida<strong>de</strong> dosolo tem como consequência um aumento da coesão do solo e po<strong>de</strong>rá, em <strong>de</strong>terminadascircunstâncias, diminuir o risco da sua fluidificação. Por outro lado, a tensão capilarassociada <strong>à</strong> absorção <strong>de</strong> água pelas raízes, gera uma coesão aparente que aumenta aestabilida<strong>de</strong> do solo. é <strong>de</strong> referir que, em contrapartida, a vegetação também apresentaalguma acção propiciadora da infiltração o que em certa medida, po<strong>de</strong> constituir umfactor <strong>de</strong> aumento da instabilida<strong>de</strong>. Os efeitos <strong>de</strong>sestabilizantes <strong>de</strong>ste processo nãoanulam contudo, os efeitos estabilizantes atrás <strong>de</strong>scritos.• Funções <strong>de</strong> activação biológica - Estas funções, embora não estejam directamenteassociadas com o aumento da estabilida<strong>de</strong> do solo, proporcionam tambémindirectamente uma melhoria da agregação <strong>de</strong>ste, que contribui <strong>de</strong>cisivamente,para o aumento da estabilida<strong>de</strong> global do local.Com base no conhecimento <strong>de</strong>stas funções e no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> técnicas construtivaspróprias que anulem ou diminuam as <strong>de</strong>svantagens anteriormente apontadas e potenciemas vantagens têm sido implementados sistemas construtivos utilizando essencialmentea vegetação como material construtivo e que têm revelado a maior eficiência. Estessistemas constituem combinações dos seguintes tipos básicos <strong>de</strong> construções:• Construções combinadas <strong>de</strong> apoio suporte e consolidação, para <strong>de</strong>svio eanulação <strong>de</strong> acções mecânicas, para escoramento do terreno e consolidação <strong>de</strong>materiais instáveis. são constituídas normalmente por combinações entre obrasinertes (betão, pedra, alvenaria, ma<strong>de</strong>ira, geotexteis, etc.) e plantações. Permitem,pela aplicação <strong>de</strong> sistemas combinados, diminuir a dimensão das obras inertes.• Construções <strong>de</strong> drenagem biotécnica, em que são utilizadas essencialmente plantascom elevada capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evapotranspiração e sistemas <strong>de</strong> construção e plantaçãoa<strong>de</strong>quados para assegurarem uma drenagem activa <strong>de</strong> toda a massa do solo.• Construções <strong>de</strong> estabilização, para <strong>de</strong>svio e anulação <strong>de</strong> acções mecânicas,consolidação e agregação do solo em profundida<strong>de</strong>. Consistem em sistemasparticulares <strong>de</strong> plantação <strong>de</strong> lenhosas (em linhas ou em banquetas por exemplo),<strong>de</strong> modo a assegurar uma armação profunda do terreno e a <strong>de</strong>sviar e conduzir asacçõ6es mecânicas que possam criar situações <strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong>.• Construções em cobertura, para assegurar uma rápida e eficiente protecção dasuperfície do solo, uma melhoria dos balanços térmicos e hídricos, o sombreamentoe a activação biológica do solo. É conseguida quer por sementeira ou plantação


22<strong>de</strong> herbáceas, quer por técnicas especiais <strong>de</strong> instalação <strong>de</strong> lenhosas arbustivas oumesmo arbóreas.• Construções complementares, para condução e aceleração da sucessão <strong>natural</strong>da vegetação permitindo obter o mais rápida e eficazmente possível, o cobertovegetal pretendido.Tab. 1. Vantagens e <strong>de</strong>svantagens comparativas das plantas e dos materiais inertes como materiais<strong>de</strong> construçãoUtilização da vegetaçãocomo material <strong>de</strong> construçãoUtilização <strong>de</strong> materiais inertes como material <strong>de</strong>construçãovantagens <strong>de</strong>svantagens vantagens <strong>de</strong>svantagens(i) Não é afectada porprocessos <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação,proporcionando,pelo contrário umaestabilização crescentee possuindo, cumulativamente,uma capaci-da<strong>de</strong>regenerativa intrínseca.(ii) Preenche a sua funçãoprotectora <strong>de</strong> modoelástico, absorvendoos elementos e acções"agressivas", diminuindoou anulando a suaintensida<strong>de</strong>.(iii) É biológica e ecologicamentefuncional.(iv) Possibilita e conduza uma valorizaçãoestética e paisagística,com o enquadramentoda construção no espaço<strong>natural</strong>.(i) Não preenche emtodas as situações,as exigências <strong>de</strong>consolidação esegurança requeridas.(ii) Exige uma aplicaçãoadaptada e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntedas características dositio, não sendo tambémpassível <strong>de</strong> utilizaçãoconstrutiva em qualqueraltura do ano.(iii) Só atinge a suaeficiência técnica plenaapós um certo intervalo<strong>de</strong> tempo.(i) Po<strong>de</strong>rão ser maisestáveis.(ii) São maisin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes dascaracterísticas do sitioe <strong>de</strong> aplicação menoslimitada temporalmente.(iii) Ficam funcionais acurto prazo.(i) Ten<strong>de</strong>m a per<strong>de</strong>r asua eficiência <strong>de</strong>vido <strong>à</strong>corrosão e <strong>de</strong>gradaçãoe não possuemcapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> autoregeneração.(ii) Funcionam,relativamente aosagentes agressivoscomo estruturasconstrutivas rígidase não, ou pouco<strong>de</strong>formáveis.(iii) Não preenchemqualquer funçãobiológica.(iv) Constituem,normalmente,elementos estranhos napaisagem.As plantas apresentam, como já referido, um vasto leque <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s (Tab. 2) que<strong>de</strong>verão ser tidas em consi<strong>de</strong>ração no processo <strong>de</strong> selecção não só das espécies, comoparticularmente da combinação <strong>de</strong> espécies a instalar num <strong>de</strong>terminado local e para um<strong>de</strong>terminado fim.


Nascentes para a Vida23Tab. 2. Características da vegetação condicionantes dos diversos efeitos (Adaptado <strong>de</strong> Mendonça eCardoso, 1998 e <strong>de</strong> EFIB, 2008)Características condicionantes da vegetaçãoEfeitosNoregime eprocessoshídricosNo fluxo doar (vento)Na protecçãodossolos% <strong>de</strong> cobertura superficialAlturaPesoForma e comprimento da folhagem eramosProtecção contra aprecipitação intensaX X XProtecção contra aerosão hídricaXXArraste superficial X X X X X XAbrandamento e <strong>de</strong>svio<strong>de</strong> fluxos hídricosX X X XRetenção <strong>de</strong> <strong>de</strong>tritosem enxurradasXInfiltração X X X XEvaporação X XRetenção da água do solo X XPartículas em suspensãoX X XDesvio <strong>de</strong> fluxo X X X XArraste superficial X X X X XProtecção contra o ruído X X X XProtecção contra aerosão eólicaX X X X X X XProtecção contra aqueda <strong>de</strong> pedrasX X X XEnvolvência das partículasdo solo pelas raízesX XEncaixe e ancoragemdos horizontes do soloX X XPrevenção da lavagem<strong>de</strong> partículas finasatravés <strong>de</strong> uma acçãoX XfiltranteDensida<strong>de</strong> da Folhagem e ramosRobustez da folhagem e ramosFlexibilida<strong>de</strong> da folhagem e ramosProfundida<strong>de</strong> das raízesDensida<strong>de</strong> das raízesResistência das raízesCiclo <strong>de</strong> crescimento anual


24Nas proprieda<strong>de</strong>sdos solosNa águasubterrâneaNas característicasdo maciçoMecânicosNaqualida<strong>de</strong>ambientalAgregação bioquímicadas partículas do soloX XAumento do volume <strong>de</strong>porosX X XMelhoria das condições<strong>de</strong> vida dos micro X X XorganismosFormação <strong>de</strong> húmus X X XEvapotranspiração X X X XTeor em água do solo X XDrenagem interna X XErosão X X X X XTransporte X X XIsolamento X X XFiltro X X X XResistência própria X X X X X X XSobrecargaXRe<strong>de</strong> superficial X X XReforço das raízes X X X XAncoragem X X XContraforte X XCunha <strong>de</strong> raízes X X X X XAcção expansiva <strong>de</strong>vido<strong>à</strong> espessura das raízesX X XCompactação X X XRemoção <strong>de</strong>substânciasX XeutrofizantesFiltração e acumulação<strong>de</strong> poeirasX X XAbsorção <strong>de</strong> ruído X X X X XInfluência (mo<strong>de</strong>radora)sobre o microclimaX X X XImporta, contudo, saber seleccionar e combinar as diferentes espécies que garantem asfunções técnicas <strong>de</strong>sejadas. Por exemplo, consi<strong>de</strong>rando as funções técnicas <strong>de</strong> cobertura(para protecção contra a erosão) e <strong>de</strong> consolidação radicular, temos <strong>de</strong> distinguir asdiferentes espécies em função do tipo <strong>de</strong> aparelho superficial e radicular que <strong>de</strong>senvolvem<strong>de</strong> modo a garantir que as diferentes funções pretendidas são preenchidas. Observandopor exemplo a fig. 3 é possível verificar que as diferentes espécies herbáceas ilustradasse distinguem claramente em termos das referidas características. Verificamos a


Nascentes para a Vida25ocorrência <strong>de</strong> espécies com um enraizamento superficial <strong>de</strong>nso (coincidindo muitasvezes com um <strong>de</strong>senvolvimento da parte aérea igualmente <strong>de</strong>nsa que po<strong>de</strong> proporcionarum boa cobertura do solo) e espécies com um <strong>de</strong>senvolvimento radicular profundo(muito ou pouco ramificado), proporcionando funções <strong>de</strong> ancoragem distintas da simplesagregação da superfície do solo.Fig. 3. Exemplos <strong>de</strong> aparelhos superficial e radicular <strong>de</strong> diferentes espécies herbáceas e arbustivase <strong>de</strong> como só a combinação <strong>de</strong> diferentes espécies garantirá uma <strong>de</strong>nsa armação e cobertura superficiale uma ancoragem profunda e resistente (cortesia Prof.ª Eva Hacker)Procurando sistematizar estes factores <strong>de</strong> selecção das espécies e tipologias <strong>de</strong> plantas autilizar, a tabela 3 apresenta, <strong>de</strong> forma simplificada, para os principais tipos <strong>de</strong> vegetaçãoas vantagens e <strong>de</strong>svantagens técnicas a ter em consi<strong>de</strong>ração nesse processo.


26Tab. 3. A<strong>de</strong>quação dos tipos <strong>de</strong> plantas para diferentes funções e aplicações <strong>de</strong> <strong>engenharia</strong> (Grayet al. 1996)Tipo <strong>de</strong> vegetação Vantagens DesvantagensGramíneasCaniços e juncosHerbáceasLeguminosasArbustosÁrvores em geralChoupos e salgueirosVersáteis e baratas, elevado espectro <strong>de</strong>tolerância, estabelecimento rápido, elevada<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> coberturaEstabelecem-se bem em margens <strong>de</strong> rios elagos, crescimento rápidoEnraizamento profundo, atractivas emrelvadosEstabelecimento barato, fixam azoto,combinam bem com gramíneasRobustos e razoavelmente baratos, muitasespécies po<strong>de</strong>m ser semeadas, coberturado solo muito significativa, enraizamentoprofundo, reduzida necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>manutenção, muitas espécies semprever<strong>de</strong>sEnraizamento muito significativo,algumas po<strong>de</strong>m ser semeadas, nenhumamanutenção quando bem estabelecidasEnraízam facilmente <strong>de</strong> estaca,versáteis, muitas técnicas <strong>de</strong> plantação,estabelecimento rápidoEnraizamento superficial, necessitam<strong>de</strong> manutenção regularPlantação manual dispendiosa,obtenção difícilSementes dispendiosas, <strong>à</strong>s vezesdifíceis <strong>de</strong> estabelecer, muitasespécies morrem no InvernoNão são tolerantes a locais difíceisEstabelecimento mais dispendioso epor vezes mais difícilEstabelecimento prolongado,crescimento lento, dispendiosasNecessitam <strong>de</strong> manutenção <strong>de</strong>modo a seleccionar a forma <strong>de</strong>estabelecimento correctivo, nãocrescem <strong>de</strong> sementeOs objectivos do coberto vegetal a estabelecer ultrapassam, como atrás referido, o simplesestabelecimento <strong>de</strong> um qualquer tipo <strong>de</strong> coberto vegetal, mas referem-se <strong>à</strong> criação dascondições que garantam um número muito diversificado <strong>de</strong> funções técnicas e ecológicas.Importa, contudo, nunca <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ter presente que a vegetação se encontra limitada nasua eficiência e aplicabilida<strong>de</strong> pelos limites que lhe são colocados pelos factores <strong>de</strong> tensãoambiental relativamente <strong>à</strong>s suas características ecológicas específicas.A estas condicionantes e limitações há ainda que acrescentar as limitações técnicas intrínsecas(por ex. profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enraizamento limitando a profundida<strong>de</strong> eficaz <strong>de</strong> estabilização,capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enraizamento em <strong>de</strong>terminados substratos, ou potenciação <strong>de</strong> riscos <strong>de</strong>instabilização – aumento <strong>de</strong> cargas, dinâmicas induzidas por ex. pelo vento, etc.).Por esse motivo, ocorrem um numeroso conjunto <strong>de</strong> situações em que a vegetação, porsi só está impossibilitada <strong>de</strong> preencher todos os objectivos técnicos que se coloquem auma obra, impon<strong>de</strong>-se então o recurso a sistemas construtivos complementares quecomplementem as funções que a vegetação não consegue, isoladamente, preencher.


Nascentes para a Vida27OBTENÇÃO E SELECÇÃO DAS ESPÉCIES VEGETAIS A UTILIZARO primeiro problema que se coloca quando consi<strong>de</strong>ramos o processo <strong>de</strong> instalaçãoda vegetação num <strong>de</strong>terminado espaço é o da selecção das espécies a utilizar. Comoenquadramento incontornável <strong>de</strong>sta selecção temos, <strong>natural</strong>mente, as séries <strong>de</strong> vegetaçãocorrespon<strong>de</strong>ntes <strong>à</strong> localização biogeográfica do espaço em causa e ao ecótopo específico acriar. O elenco específico das associações vegetais correspon<strong>de</strong>ntes a essa série, em especialaos seus estágios iniciais, <strong>de</strong>ve constituir a orientação básica para a selecção das espécies autilizar.Dentro <strong>de</strong>sse elenco <strong>de</strong> espécies, e tendo as proprieda<strong>de</strong>s específicas <strong>de</strong> cada uma, oscritérios <strong>de</strong> selecção são múltiplos, <strong>de</strong> entre os quais se <strong>de</strong>stacam:1. Carácter pioneiro (estratégia ecológica)2. Tipologia <strong>de</strong> propagação vegetativa e <strong>de</strong> instalação (semente, elemento vegetativo,planta enraizada, etc.) (Tab. 4)3. Disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> material para propagação (facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> obtenção e <strong>de</strong>estabelecimento em viveiro ou no terreno)4. Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecimento e <strong>de</strong>senvolvimento5. Funcionalida<strong>de</strong> técnica (cobertura, tipologias <strong>de</strong> enraizamento, influência nosbalanços <strong>de</strong> nutrientes, absorção e retenção <strong>de</strong> contaminantes como metaispesados, etc.)6. Facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manutençãoPor fim, há ainda que consi<strong>de</strong>rar que, para além das espécies em si, tem que se garantira sua adaptação genotípica e fenotípica <strong>à</strong>s condições locaisNo entanto, em situações particularmente extremas, on<strong>de</strong> nas diferentes associaçõesnaturais, não seja possível seleccionar espécies que preencham as necessida<strong>de</strong>s técnicasexigidas pela intervenção <strong>de</strong> recuperação em causa, po<strong>de</strong> recorrer-se ao uso <strong>de</strong> espéciespioneiras estranhas <strong>à</strong>s associações autóctones que aju<strong>de</strong>m ao rápido estabelecimentodas comunida<strong>de</strong>s-alvo, espécie que <strong>natural</strong>mente, ou no quadro dos necessários trabalhos<strong>de</strong> manutenção da obra, <strong>de</strong>verão ser retiradas quando já não sejam necessárias (oupossam mesmo estar a ter um efeito contraproducente, competindo com a vegetação<strong>natural</strong> cuja instalação propiciaram).Um dos problemas associados ao estabelecimento ou restabelecimento da vegetaçãoem zonas alteradas ou <strong>de</strong>gradadas tem a ver com o facto <strong>de</strong> os substratos apresentarem<strong>de</strong>ficiências físico-químicas e biológicas que condicionam as suas proprieda<strong>de</strong>sestruturais, nomeadamente em termos das forças <strong>de</strong> coesão e erodibilida<strong>de</strong>.


28Tab. 4. Materiais <strong>de</strong> construção vivos susceptíveis <strong>de</strong> utilização em obras <strong>de</strong> Engenharia Natural erespectivas formas <strong>de</strong> instalação e propagação (adaptado <strong>de</strong> EFIB, 2008)Caniços e juncosGramíneas e HerbáceasLeguminosasSubarbustivasArbustosÁrvoresCaules capazes <strong>de</strong> enraizarem adventiciamente X X X X X XPartes <strong>de</strong> lenhosas capazes <strong>de</strong> enraizaremEstacas X XHastes assentes no solo X XRamos assentes no soloXRizomas X X X XPropágulos radicularesXEstacas radiculares X XSementes X X X XInflorescências e frutos X X X XFenos e palhas X X X XPlantas X X X X X XRebento <strong>de</strong> lenhosa X XSemente germinada X XEstacas enraizadas X XPlantas <strong>de</strong> viveiro com raiz nua X XPlantas em contentores X X X X X XPlantas em torrão X X X X X XTorrões X X X X X XMantas orgânicas vegetadas X X X XPlacas <strong>de</strong> relva X XRolos enrelvados X XSolo com sementes ou placas do horizonte vegetado X X XTorrões ou Placas <strong>de</strong> Vegetação X X X X X X


Nascentes para a Vida29Por esse motivo, po<strong>de</strong> tornar-se necessário o recurso quer <strong>à</strong> adição <strong>de</strong> materiais quemelhorem as qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sses substratos no que toca ao estabelecimento da vegetação,quer no que se refere <strong>à</strong> sua estabilida<strong>de</strong> estrutural, quer ainda no que se refere <strong>à</strong> suaerodibilida<strong>de</strong> (caso <strong>de</strong> agregantes, solo orgânico ou corretores químicos), quer aindatodas as substâncias, materiais e organismos que garantam as condições biológicasmínimas necessárias ao estabelecimento da vegetação (caso das micorrizas) (Tab. 5).Tab. 5. Exemplos <strong>de</strong> materiais <strong>de</strong> construção e coadjuvantes que contribuem para a estabilida<strong>de</strong>dos substratos (adaptado <strong>de</strong> EFIB, 2008)Materiais naturais inertes Materiais naturais transformados Materiais sintéticosBlocos <strong>de</strong> pedra Telas <strong>de</strong> Juta, coco, palhas sisal, etc. HidrogelCascalho Lã <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira Agregantes sintéticosAreão Fertilizantes e estrumes Emulsões betuminosasAreiaArgilaTurfaSolo orgânicoPalhaFenoAlginatosCeluloseMicorrizasBetãoMetal (re<strong>de</strong>s, arame, etc.)PRINCIPAIS TIPOS DE TÉCNICAS DE ENGENHARIA NATURALAs metodologias <strong>de</strong> estabelecimento da vegetação são extremamente variadasclassificando-se em três gran<strong>de</strong>s grupos:• Técnicas <strong>de</strong> estabelecimento da vegetação (Tab. 6, Fig 4)Técnicas <strong>de</strong> cobertura. São técnicas <strong>de</strong>stinadas a evitar a erosão superficial.Técnicas <strong>de</strong> estabilização. Estas técnicas permitem estabilizar o terreno até2m <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> baseiam-se na disposição <strong>de</strong> plantas lenhosas obtidas porreprodução vegetativa colocada em filas horizontais. As plantas têm que ter acapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> emitir raízes adventícias <strong>de</strong> modo o originar um entrançado quepermita a armação e estabilização do terreno.


30Tab. 6. Exemplos <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> instalação da vegetação (adaptado <strong>de</strong> EFIB, 2008)Sementeira hidráulicaTécnica Cobertura EstabilizaçãoSementeira a lançoSementeira <strong>de</strong> cobertura (com mantas)Sementeira <strong>de</strong> fenoMulch seco <strong>de</strong> coberturaEstacasPentes vivos e paliçadasPlantação <strong>de</strong> ramos enraizadosCobertura <strong>de</strong> ramos X XFascinasEntrançadosLeitos <strong>de</strong> ramagensPlantação <strong>de</strong> rizomasPlantação <strong>de</strong> lenhosasLeitos <strong>de</strong> plantas enraizadasPlantação <strong>de</strong> torrõesEstacas <strong>de</strong> raízesCobertura com rolos e placas <strong>de</strong> relvaCobertura com horizonte vegetalPlantação <strong>de</strong> Placas com vegetação•Técnicas combinadas (Tab. 7, Fig 5) Estas técnicas, ao contrário das anterioresconjugam a utilização <strong>de</strong> elementos vegetais com materiais inertes como: ma<strong>de</strong>ira,aço galvanizado, pedra, betão. Nestas técnicas, os materiais inertes actuam comoestabilizadores até que as plantas, através das suas raízes, sejam capazes <strong>de</strong> realizaresta função.•Técnicas complementares. Junto com as técnicas construtivas propriamente ditas,<strong>de</strong>vem-se utilizar outras técnicas que completam e complementam as anteriores masque não cumprem um objectivo <strong>de</strong> estabilização ou <strong>de</strong> protecção contra a erosão. É ocaso da plantação <strong>de</strong> espécies lenhosas com o objectivo <strong>de</strong> acelerar o <strong>de</strong>senvolvimentoda sucessão e do coberto vegetal, a criação <strong>de</strong> barreiras sonoras, as drenagens, etc.XXXXXXXXXXXXXXXXXXX


Nascentes para a Vida31Fig. 4. Exemplos <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> instalação da vegetaçãoTab. 7. Exemplos <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> construção que, combinadas com os sistemas construtivos vivosasseguram estruturas combinadas <strong>de</strong> maior eficácia (adaptado <strong>de</strong> EFIB, 2008)Técnica Cobertura EstabilizaçãoEnrocamentoColchões <strong>de</strong> gabiãoMuros <strong>de</strong> pedra seca X XCobertura com agregante do soloCobertura com mantasCobertura com mulchEstacas e ancoragemRe<strong>de</strong>sGabiõesTerra armada com geotexteis X XMuro tipo “Cribwall” <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>iraGra<strong>de</strong> <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira X XEstacariaFascinasMantas orgânicasXXXXXXXXXXXX


32A combinação <strong>de</strong> uma ou mais técnicas permite a maximização dos objectivos técnicos(estabilização, cobertura) com objectivos <strong>de</strong> natureza estética, <strong>de</strong> conservação danatureza ou <strong>de</strong> segurança ambiental (protecção contra o ruído, filtração <strong>de</strong> poluentesatmosféricos, etc.).Fig. 5. Exemplos <strong>de</strong> técnicas combinadasA selecção das técnicas mais a<strong>de</strong>quadas para <strong>de</strong>ve, portanto, obe<strong>de</strong>cer a critérios claroscomo os que se procuram sintetizar nas matrizes <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão constantes das tabelas9 (para intervenções em meios hídricos) e 12 (para obras <strong>de</strong> prevenção da erosão e<strong>de</strong> estabilização <strong>de</strong> talu<strong>de</strong>s e encostas), sendo que a a<strong>de</strong>quação <strong>de</strong>stas técnicas para aresolução <strong>de</strong> problemas <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> talu<strong>de</strong>s e encostas está ilustrada na Tab. 8.


Nascentes para a Vida33Tab. 8. A<strong>de</strong>quação das técnicas <strong>de</strong> Engenharia <strong>natural</strong> <strong>à</strong> resolução <strong>de</strong> problemas <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>talu<strong>de</strong>s e encostas (Rauch, H.P. 2009 (com. pessoal)Factor <strong>de</strong>terminante Mecanismos Proprieda<strong>de</strong> Processo Funções <strong>de</strong> estabilização necessáriasFunção <strong>de</strong>protecção superficialFunção <strong>de</strong> armação< 0,2 mFunção <strong>de</strong> armação< 2 mFunção <strong>de</strong>drenagem biológicaFunção <strong>de</strong>drenagem técnicaDespenhamentorocha nãoconsolidadaDesmoronamento<strong>de</strong> rochas2 1 1Influênciapredominante dagravida<strong>de</strong>Escorregamentomaterial nãoconsolidado,rotacionalDeslizamentorotacional3 3 3 3material nãoconsolidado,translacionalDeslizamentotranslacional2 3 3 3 3Influênciapredominante da águado solo, do gelo e daneveFluxoRastejamentorápidolentoFluxo <strong>de</strong> soloFluxo <strong>de</strong> lama1 1 2 31 1 2 3Fluxo <strong>de</strong> calhaus 1 1 2 3Rastejamento <strong>de</strong>terraRastejamento<strong>de</strong> solo2 2 32 2 3Influênciapredominante da chuvae <strong>de</strong> escoamentosconcentrados <strong>de</strong>precipitaçãoPerdaFormação<strong>de</strong> ravinas ebarrancos3 1 1 2 2Influênciapredominante da chuvae <strong>de</strong> escoamentosocasionais <strong>de</strong>precipitaçãoPerda Erosão superficial 3 2 2CombinaçãoCombinação esobreposição<strong>de</strong> diversosprocessosÁGUAS INTERIORESNormalmente quando falamos <strong>de</strong> Águas Interiores temos no pensamento linhas <strong>de</strong> águapermanentes ou efémeras, em lagos, charcos, albufeiras nascentes, pauis, turfeiras oumesmo lagunas costeiras e estuários.


34Em última análise, quando falamos em Águas Interiores estamos a consi<strong>de</strong>rar todaa componente terrestre do ciclo hidrológico, seja na sua componente atmosférica,superficial e subterrânea. Este aspecto não po<strong>de</strong> ser visto apenas como uma meracuriosida<strong>de</strong> e uma nota introdutória no seu estudo.Com efeito, os diferentes tipos <strong>de</strong> Águas Interiores são intrinsecamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes domodo <strong>de</strong> manifestação local <strong>de</strong>sse ciclo hidrológico:•O regime pluvial e o balanço hídrico <strong>de</strong>terminam, em gran<strong>de</strong> medida, o regimefluvial, funcionando, ao mesmo tempo, a componente geológica, pedológica e <strong>de</strong>coberto vegetal ou dês usos antrópicos como os reguladores <strong>de</strong>sse regime. Estaregulação é feita através do controle e <strong>de</strong>svio dos diferentes componentes dosfluxos hídricos através dos diferentes subsistemas.• A morfologia do terreno <strong>de</strong>termina não apenas a energia dos escoamentos, comotambém a maior ou menor probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> espaços <strong>de</strong> retençãosuperficial ou sub-superficial e a origem <strong>de</strong> formas particulares <strong>de</strong> Águas Interiorescomo são os lagos, as charcas, os pauis ou as turfeiras. Da mesma forma <strong>de</strong>terminaprimariamente a dominância relativa dos processos <strong>de</strong> erosão e transporterelativamente aos processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição, condicionando, <strong>de</strong>sta forma a naturezados substratos dos diferentes sistemas hídricos.• A natureza geológica do terreno, além da já referida acção reguladora dos fluxoshidrológicos tem, conjuntamente com o regime pluvial, um papel crítico na<strong>de</strong>terminação não só do quimismo das águas (aqui também em articulação como regime <strong>de</strong> escoamento (a morfologia), já que é a sua natureza química e a suaalterabilida<strong>de</strong>, associada <strong>à</strong> agressivida<strong>de</strong> das chuvas e dos escoamentos que vão<strong>de</strong>terminar quais e quantos são as substâncias químicas e os materiais que afluemaos sistemas hidrológicos e neles vão fluir.• Por outro lado o coberto vegetal, assim como os usos antrópicos da bacia hidrográfica eterrenos adjacentes vão também agir, não só como reguladores dos fluxos hidrológicos,como também como reguladores da natureza química dos sistemas hidrológicos atravésda libertação ou absorção <strong>de</strong> substâncias e compostos químicos presentes nos fluxoshidrológicos (precipitação, escoamento superficial ou sub-superficial) ou pela libertaçãovoluntária (caso dos sistemas antrópicos <strong>de</strong> substâncias <strong>de</strong> variadíssima naturezadirectamente nos corpos <strong>de</strong> água ou nos sistemas a eles afluentes.• Finalmente (e os últimos também po<strong>de</strong>m e são muitas vezes os primeiros), temostodo o biota dos diferentes tipos <strong>de</strong> Águas Interiores e dos ecótones específicos aele associados que, integrando todas estas influências não funcionam como meraconsequência <strong>de</strong>terminística <strong>de</strong>sses processos dinâmicos, mas apresentam umaindividualida<strong>de</strong> e dinâmica específica que conferem natureza autónoma a cadasistema local <strong>de</strong> per si.


Nascentes para a Vida35Temos ainda que os ecossistemas <strong>de</strong> águas interiores são muito mais que os corpos<strong>de</strong> água individualizáveis e incluem todos os ecossistemas que, <strong>de</strong> uma forma ou <strong>de</strong>outra são afectados e <strong>de</strong>terminados pelos sistemas hidrológicos. Destes ecossistemaspermitam-me realçar as várzeas e todas as planícies <strong>de</strong> inundação e leitos <strong>de</strong> cheia,normal e ina<strong>de</strong>quadamente tratados como ecossistemas terrestres, quando a sualigação aos ecossistemas hidrológicos não é conjuntural mas sim estrutural.AS LINHAS DE ÁGUA" Linhas <strong>de</strong> água são corpos <strong>de</strong> água esten<strong>de</strong>ndo¬-se por trajectos longos, com umacorrente variável e em parte turbulenta (impedindo portanto na maior parte dos casosuma estratificação térmica da água), com margens variadas e uma relação Água-Terrabastante intensa. A sequência <strong>natural</strong> da vegetação inclui pelo menos a vegetaçãoaquática e a vegetação herbácea e lenhosa da margem (zona <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira branca) e emcaso i<strong>de</strong>al, toda a Várzea. (...) Ao longo do trajecto da corrente as características físicase biológicas (os biótopos) sofrem alterações significativas especialmente em termos dovolume <strong>de</strong> água, do regime <strong>de</strong> escoamento, da corrente, da erosão e sedimentação <strong>de</strong>substratos, da temperatura etc. Apesar do zonamento no sentido <strong>de</strong> jusante da corrente,a sua velocida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vido a obstáculos no leito como rochas ou grupos <strong>de</strong> vegetação,apresenta, por vezes, mesmo em trechos bastante limitados, variações extremamenteconsi<strong>de</strong>ráveis, po<strong>de</strong>ndo em remansos ou atrás <strong>de</strong> pedras gerar-se zonas <strong>de</strong> águasparadas. Em geral a velocida<strong>de</strong> diminui do meio do corpo <strong>de</strong> água para o fundo e margem<strong>de</strong>vido <strong>à</strong> maior resistência aí encontrada." Blab, J., 1986Uma linha <strong>de</strong> água correspon<strong>de</strong> no essencial a uma estrutura <strong>de</strong> drenagem hidráulica<strong>de</strong> uma vasta área <strong>de</strong> concentração (a Bacia Hidrográfica). Por essa razão o seu caráctere funcionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m directa e indissoluvelmente das características da BaciaHidrográfica por ela drenada e obviamente dos processos climáticos e hidrogeológicosnela ocorrentes, assim como, <strong>de</strong> uma forma <strong>de</strong>terminante das características do uso dosolo na superfície da Bacia.Focalizemo-nos agora nesses ecossistemas particulares <strong>de</strong> interface entre os sistemashídricos propriamente ditos e os sistemas terrestres, porque me parece que eles ilustramperfeitamente o que atrás disse.Os ecossistemas ribeirinhos constituem ecossistemas particulares, dado que a sua articulaçãoa linhas e planos <strong>de</strong> água lhes confere características <strong>de</strong> ecótone com as consequentes trocasintensas <strong>de</strong> substâncias e materiais <strong>de</strong> acordo com gradientes <strong>de</strong> humida<strong>de</strong>, luminosida<strong>de</strong>e <strong>de</strong> natureza do substrato. Por outro lado, no caso das linhas <strong>de</strong> água, o carácter variáveldo seu caudal e energia <strong>de</strong> escoamento ao longo do seu traçado <strong>de</strong>termina, igualmente,gradientes dinâmicos geradores <strong>de</strong> intensas variações na natureza intrínseca <strong>de</strong>sses.Estas duas razões fundamentam a afirmação que os ecossistemas ribeirinhos preenchemfunções charneira no espaço, em termos locais, articulando ecossistemas <strong>de</strong> natureza


36totalmente diversa e funcionando como planos dinâmicos <strong>de</strong> intercâmbio ecológico assimcomo, em termos regionais, articulando espaços <strong>de</strong> diferente natureza, quer em termosdo carácter variável do corpo <strong>de</strong> água, quer da ecologia dos terrenos atravessados aolongo do seu trajecto.Da mesma forma, os gradientes longitudinais assumem também padrões muito variáveis,articulando domínios distintos <strong>de</strong>ntro do mesmo troço (através, por ex. do diferentecarácter dos afluentes), ou chegando mesmo a, aparentemente, per<strong>de</strong>r a individualida<strong>de</strong>na paisagem, sem per<strong>de</strong>r o seu carácter <strong>de</strong> eixo <strong>de</strong> concentração e transporte (caso <strong>de</strong>muitos cursos intermitentes no domínio mediterrânico.Estes ecossistemas, ao assumirem um papel charneira na paisagem, asseguram umconjunto <strong>de</strong> acções da maior importância, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da natureza mais oumenos antropizada <strong>de</strong>ssa paisagem. Com efeito, ao constituírem ecótones diversificadosentre os meios hídricos e os ecossistemas terrestres envolventes, assumem funções <strong>de</strong>complementarida<strong>de</strong> ecológica com esses espaços, já que constituem zonas <strong>de</strong> refúgio ereprodução, zonas <strong>de</strong> alimentação e <strong>de</strong>sse<strong>de</strong>ntação, ao <strong>de</strong>terminarem habitats húmidosou mésicos em domínios xéricos, ao assegurarem, pela simples presença <strong>de</strong> água epela maior produtivida<strong>de</strong> que a associação <strong>de</strong>sta e <strong>de</strong> substratos <strong>de</strong> acumulação originam,níveis <strong>de</strong> sustentação bastante distintos do que os que ocorreriam, caso não existissem comoestruturas estáveis e diversificadas.Com efeito, as linhas e outros corpos <strong>de</strong> água, longe <strong>de</strong> constituírem simples estruturashidráulicas, como infelizmente muitas vezes são consi<strong>de</strong>radas, são capazes <strong>de</strong>, apenas<strong>de</strong>vido <strong>à</strong> sua complexa natureza e dinâmica ecológica, assegurar sustentavelmente adisponibilida<strong>de</strong> em recursos hídricos, a estabilida<strong>de</strong> dos terrenos adjacentes, a protecçãocontra cheias e secas, a disponibilida<strong>de</strong> em recursos piscícolas, cinegéticos e florísticos,que constituem as suas principais funções <strong>de</strong> uso para os sistemas económicos.Estas funções, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do seu valor económico assumem ainda umvalor ecológico crucial, já que, pelo seu carácter linear e abrangente da totalida<strong>de</strong> doterritório, os ecossistemas ribeirinhos preenchem uma função <strong>de</strong> conectivida<strong>de</strong>, quemais nenhuma estrutura ecológica está em condições <strong>de</strong> realizar. Não constituindo eixosuniversais <strong>de</strong> interligação entre ecossistemas, constituem, contudo, re<strong>de</strong>s interligandoespaços diversificados e elementos potenciadores duma diferenciação da estruturae capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sustentação ecológica do espaço, ao potenciarem a existência <strong>de</strong>manchas <strong>de</strong> recursos e perturbação <strong>de</strong> natureza muito diversa, ao assegurarem parainúmeras espécies, vias <strong>de</strong> intercâmbio genético capazes <strong>de</strong> assegurar metapopulaçõesviáveis, ao potenciarem ou ao associarem-se a condições ecológicas locais particulares,potenciadoras <strong>de</strong> formações e potenciais originais.Estas funções e estes potenciais não se associam, contudo, a uma estrutura ecológicaestável e mantida como tal. Gran<strong>de</strong> parte do potencial anteriormente referido <strong>de</strong>corre


Nascentes para a Vida37da intensa dinâmica associada a estes ecossistemas e que se espelha na diferenciaçãoregistada nos substratos aluvionares (<strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> diferentes regimes passados <strong>de</strong>correntes e <strong>de</strong> cheias e indutora <strong>de</strong> distintas condições ecológicas na matriz aluvionar)ou na diferenciação permanente das estruturas <strong>de</strong> várzea, em função do regime <strong>de</strong>cheias ou <strong>de</strong> secas, induzindo perturbações localizadas, responsáveis pela permanentecriação do focos locais <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> estrutural e específica.Por estes motivos, a articulação <strong>de</strong>stes ecossistemas com os espaços <strong>de</strong> uso, sendomutuamente benéfica em algumas situações, é historicamente fonte <strong>de</strong> conflitos pelaincompatibilida<strong>de</strong> entre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> variação <strong>de</strong>sses ecossistemas e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>estabilida<strong>de</strong> dos sistemas <strong>de</strong> produção económica. Contudo, as tentativas <strong>de</strong> simplificação e<strong>de</strong> controle <strong>de</strong>ssa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> variação têm redundado, regularmente, em perdas a médioou logo prazo, por geração <strong>de</strong> perturbações <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> magnitu<strong>de</strong> (por exemplo, cheias,erosão, sedimentação, secas, eutrofização) anteriormente amortecidas pela variabilida<strong>de</strong>localizada e pela ocorrência <strong>de</strong> micro-perturbações <strong>de</strong>ntro do sistema estável.A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conciliar estes dois sistemas, assegurando que os ecossistemasribeirinhos preencham todas as suas funções duma forma compatível com anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> os sistemas económicos usufruírem plenamente dos recursose potencial produtivos <strong>de</strong>sses sistemas, levanta problemas complexos <strong>de</strong> gestãoque não são conciliáveis com visões parcelares (dominantemente hidráulicas ouconservacionistas) e que implicam uma abordagem tão criativa quanto diversificadossão esses ecossistemas.A INTERVENÇÃO NOS SISTEMAS RIBEIRINHOSDois princípios têm <strong>de</strong> reger a gestão <strong>de</strong>stes espaços:(i) Princípio da intervenção mínima - a estabilida<strong>de</strong> dos sistemas é tanto maiorquanto mais próximo do <strong>natural</strong> são as suas componentes e funções e quanto maisdiversificados são os sistemas integrantes e os seus reguladores.(ii) Princípio da área mínima - qualquer sistema exige uma área mínima para po<strong>de</strong>revoluir <strong>de</strong> uma forma equilibrada, gerando e amortecendo as perturbações associadas<strong>à</strong> variabilida<strong>de</strong> intrínseca das funções e processos naturais.Estes dois princípios tomados com a necessária maleabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>corrente da enormediversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exigências <strong>de</strong> uso colocadas relativamente a estes sistemas, permitemorientar a gestão das linhas <strong>de</strong> água e restantes ecossistemas ribeirinhos <strong>de</strong> uma formamuito mais equilibrada do que tem até agora sido geralmente conduzida.Assim, a primeira regra <strong>de</strong> gestão é a <strong>de</strong> que se impõe uma perspectiva integrada <strong>de</strong>gestão do conjunto da bacia, já que as afluências e o seu regime <strong>de</strong>correm directamenteda natureza do uso <strong>de</strong> toda a bacia.


38A segunda regra é a <strong>de</strong> que quanto mais próximos do <strong>natural</strong> forem os sistemasconstrutivos empregues, maior será a viabilida<strong>de</strong> e longevida<strong>de</strong> do sistema ou daestrutura construída.A terceira regra é a da a<strong>de</strong>quação das intensida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uso <strong>à</strong> natureza e condicionantesdo território. Assim, por ex. as várzeas não po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>radas como espaços <strong>de</strong>vocação múltipla sem restrições, mas têm <strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rados e geridos como espaços<strong>de</strong> elevada capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso, condicionada e potenciada pela sua natureza <strong>de</strong> espaços<strong>de</strong> acumulação, inundáveis e <strong>de</strong> freático superficial, exigindo, portanto zonamento douso em função da frequência dos riscos <strong>de</strong> inundação.A quarta regra é a da re<strong>de</strong> ecológica. Os ecossistemas ribeirinhos ao constituíremuma re<strong>de</strong> que percorre duma forma extremamente diversificada o território da baciahidrográfica, tem <strong>de</strong> ser preservado na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter essas funções articuladas,num quadro <strong>de</strong> preservação da diversida<strong>de</strong> dos restantes ecossistemas terrestres.Os princípios a que <strong>de</strong>vem obe<strong>de</strong>cer as intervenções nas linhas e planos <strong>de</strong> agua são osseguintes:• O comprimento <strong>natural</strong> da linha <strong>de</strong> água não <strong>de</strong>ve ser alterado.• Na construção <strong>de</strong> leitos em <strong>de</strong>clive <strong>de</strong>ve-se observar a manutenção das condiçõespara os peixes e assegurar a maximização da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> arejamento <strong>natural</strong>.• O aquecimento do corpo <strong>de</strong> água <strong>de</strong>vido <strong>à</strong> <strong>de</strong>struição das sombras ou ao alargamentodo perfil é <strong>de</strong> evitar.• Deve-se manter sempre um nível mínimo <strong>de</strong> escoamento.• A varieda<strong>de</strong> dos biótopos <strong>de</strong>ve ser preservada ou aumentada.• A rugosida<strong>de</strong> do leito não <strong>de</strong>ve ser diminuída.• A segurança do perfil <strong>de</strong>ve ser assegurada através do recurso a materiais vivos.• Quando da utilização <strong>de</strong> pedras e outros materiais inertes na segurança dasmargens, não <strong>de</strong>ve ser alterado o carácter da linha <strong>de</strong> água.• Em casos <strong>de</strong> alteração positivas da intensida<strong>de</strong> da corrente <strong>de</strong>ve-se diminuir a suavelocida<strong>de</strong> através do aumento da rugosida<strong>de</strong> do perfil.Para cumprir estes princípios há que obe<strong>de</strong>cer <strong>à</strong>s seguintes linhas orientadoras para are<strong>natural</strong>ização <strong>de</strong> linhas e planos <strong>de</strong> água (Pflug, 1986).• O ecossistema vale/linha <strong>de</strong> água <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado como uma unida<strong>de</strong> incluindoa Linha <strong>de</strong> Água e a Várzea por ela <strong>de</strong>terminada, em estreita ligação com a BaciaHidrográfica que a alimenta e <strong>de</strong>termina.


Nascentes para a Vida39• Os rios e ribeiras que, por via <strong>de</strong> intervenções várias, se encontram <strong>de</strong>sequilibradose não funcionais) <strong>de</strong>vem ser recuperados através, nomeadamente <strong>de</strong>:permissão <strong>de</strong> cheias controladas,reconstrução <strong>de</strong> zonas húmidas e <strong>de</strong> encharcamento típicas,recuperação <strong>de</strong> meandros <strong>de</strong>struídos por obras <strong>de</strong> linearização,reposição <strong>de</strong> níveis freáticos mais elevados nas várzeas (diminuição da intensida<strong>de</strong><strong>de</strong> enxugo),manutenção dos existentes e construção <strong>de</strong> novos espaços <strong>de</strong> retenção hídrica,recuperação e reconstrução <strong>de</strong> habitats diversificados para a fauna e flora,limitação da área agrícola,reconstrução <strong>de</strong> parte da mata ripícola,recuperação do corpo <strong>de</strong> água,<strong>de</strong>svio <strong>de</strong> águas residuais.•As margens <strong>de</strong>vem ser libertadas <strong>de</strong> usos agrícolas, urbanos, industriais ou <strong>de</strong>recreio com carácter intensivo.• Protecção das matas ripícolas ainda existentes, não só pelo seu elevado valorecológico, mas igualmente como espaços <strong>de</strong> retenção, infiltração e armazenamento<strong>de</strong> água.• As margens das linhas <strong>de</strong> água <strong>de</strong>vem, no essencial, serem cobertas e consolidadascom a vegetação ripícola correspon<strong>de</strong>nte <strong>à</strong>s condições ecológicas nelasprevalecentes, <strong>de</strong>vendo para tal, serem edificadas as medidas construtivas <strong>de</strong>apoio a<strong>de</strong>quadas e necessárias, assim como reservada a área indispensável ao seu<strong>de</strong>senvolvimento equilibrado <strong>de</strong>ntro das exigências próprias <strong>de</strong> cada linha <strong>de</strong> água.A vegetação <strong>de</strong>ve:diminuir a energia da corrente,consolidar e armar o terreno através <strong>de</strong> um correcto e a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong>senvolvimentoradicular,sombrear o corpo <strong>de</strong> água, assegurando por via <strong>de</strong>stas funções uma temperaturareduzida <strong>de</strong>ste e garantir um fraco ou nulo <strong>de</strong>senvolvimento da vegetaçãoinfestante,garantir uma diminuição do risco <strong>de</strong> erosão ou ruptura das margens, propiciandosimultaneamente um nível a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> sedimentação,


40<strong>de</strong>ve, simultaneamente, exigir um mínimo <strong>de</strong> cuidados <strong>de</strong> manutenção,<strong>de</strong>vendo-se procurar combinações especificas tais, que maximizem os objectivoshidráulicos, minimizando simultaneamente o risco <strong>de</strong> ocorrências que possamgerar necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> correcção.• A linha <strong>de</strong> água <strong>de</strong>ve dispor <strong>de</strong> espaço para meandrar (sempre que tal correspon<strong>de</strong>r<strong>à</strong>s suas características morfológicas), <strong>de</strong>vendo as formações aluvionares e osmeandros existentes, serem protegidos e incluídos na zona consolidada e valorizadapela mata ripícola.•Devem-se evitar <strong>de</strong>clives uniformes das margens, <strong>de</strong>vendo estes adaptar-se <strong>à</strong>forma do terreno, <strong>à</strong>s características do substrato pedológico e <strong>à</strong>s condições <strong>de</strong>escoamento.• Deve-se propiciar a ocorrência <strong>de</strong> numerosos e variados micro-biótopos, através <strong>de</strong>uma diversificação dos substratos do fundo e margens e da existência e promoção<strong>de</strong> obstáculos e variações bruscas do perfil do leito• Devem-se promover sistemas <strong>de</strong> que resultem aumentos da capacida<strong>de</strong>bio<strong>de</strong>gradativa da linha <strong>de</strong> água (zonas <strong>de</strong> caniço, sombreamento (aumentandoo O.D. <strong>de</strong>vido ao <strong>de</strong>corrente abaixamento da temperatura da água), aumento darugosida<strong>de</strong> e criação <strong>de</strong> obstáculos como <strong>de</strong>graus e quedas <strong>de</strong> água <strong>de</strong> modo apropiciar uma mais intensa reoxigenação <strong>natural</strong>).Estas linhas orientadoras terão necessariamente <strong>de</strong> serem balanceadas caso acaso conforme as condições existentes e os condicionalismos <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> usos jáinstalados ou <strong>de</strong> exigências particulares <strong>de</strong> rentabilização. Contudo, o seu carácter<strong>de</strong>verá no essencial ser respeitado, procurando-se uma maximização progressiva do seugrau <strong>de</strong> cumprimento.Os materiais construtivos inertes só <strong>de</strong>vem ser utilizados quando os materiais vivos nãopreencham a sua função <strong>de</strong> regeneração e protecção. Certos trabalhos, ligados por ex. <strong>à</strong>construção <strong>de</strong> fundos só po<strong>de</strong>m ser realizados recorrendo-se a materiais inertes.Apenas se <strong>de</strong>vem utilizar materiais que não alterem o quimismo <strong>natural</strong> da linha <strong>de</strong> água e lhecorrespondam morfológica e topologicamente. Sempre que se utilizem materiais construtivosinertes <strong>de</strong>ve-se procurar articula-los com sistemas construtivos vivos, não só <strong>de</strong> modo avaloriza-los ecologicamente, como a diminuir a necessida<strong>de</strong> e intensida<strong>de</strong> do seu uso.A vegetação preenche funções específicas <strong>de</strong>terminantes para a segurança dasmargens e a integração da linha <strong>de</strong> água na paisagem, funcionando em gran<strong>de</strong> medidasimultaneamente como promotoras <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> ecológica diversificada.Os diversos tipos <strong>de</strong> vegetação preenchem funções distintas:•Árvores e arbustos da margem - são as espécies lenhosas associadas <strong>à</strong>s linhas <strong>de</strong>água. Crescem na linha média <strong>de</strong> inundação ou acima <strong>de</strong>sta e estão diferentemente


Nascentes para a Vida41adaptadas a suportar diferentes intensida<strong>de</strong>s e duração <strong>de</strong> inundação anual. Cumpremuma série <strong>de</strong> funções especificas como proteger com o seu raizame a margem daerosão e <strong>de</strong> outros danos, sombrear a corrente evitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>processos eutróficos e <strong>de</strong> infestantes e ainda um excessivo aquecimento do corpo<strong>de</strong> água oferecendo ainda um espaço para o estabelecimento <strong>de</strong> um ecossistemaestável.•Juncos e caniços - têm como principais funções as <strong>de</strong> enraizar a zona <strong>de</strong> variaçãodo nível da água, evitando até um <strong>de</strong>terminado ponto, a erosão nessa zona, as <strong>de</strong>sombrear parte da linha <strong>de</strong> água e as <strong>de</strong> oferecer um meio <strong>de</strong> instalação a inúmerasespécies vegetais e animais.•Outros elementos (sub-bosque e herbáceas) - cumprem funções <strong>de</strong> consolidaçãodas margens, <strong>de</strong> protecção a curto prazo e permitem um melhor <strong>de</strong>senvolvimentoda sucessão.A vegetação vai preencher igualmente funções <strong>de</strong> construção da paisagem, assegurandouma imagem marcada e marcante da linha <strong>de</strong> água na paisagem. Deve estabelecerrelações estruturais e funcionais com as restantes comunida<strong>de</strong>s envolventes integrandosena estrutura <strong>de</strong> continuum <strong>natural</strong> da região.Importa contudo referir que a vegetação, conforme a sua natureza, apresentacaracterísticas hidráulicas distintas que importa salvaguardar, já que permitempreencher diferentes objectivos técnicos.Em relação <strong>à</strong> intervenção propriamente dita, <strong>de</strong>vem-se evitar, como referido, alteraçõesdo perfil da linha <strong>de</strong> água, assim como do seu comprimento, sempre que estas conduzamao aumento da velocida<strong>de</strong> da corrente e consequentemente, a um maior risco <strong>de</strong>erosão e <strong>à</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma maior consolidação das margens. Soleiras e obstáculosque alterem o regime <strong>de</strong> escoamento po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> no processo <strong>de</strong>reoxigenação, ao mesmo tempo que, criando ligeiras represas, mantêm o nível da água<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um limite mínimo e geram diferentes biótopos no corpo <strong>de</strong> água.O perfil transversal <strong>de</strong>verá apresentar uma elevada flexibilida<strong>de</strong> e diversida<strong>de</strong> ecorrespon<strong>de</strong>r a uma estrutura cujas funções <strong>de</strong> consolidação e acções sobre o escoamentose coadunem com a tipologia <strong>de</strong> uso do leito <strong>de</strong> cheia a qual, contudo, <strong>de</strong>ve ser objecto<strong>de</strong> um or<strong>de</strong>namento cuidado tendo em consi<strong>de</strong>ração as limitações próprias do regime<strong>natural</strong> <strong>de</strong> inundação a que estão sujeitas. Em caso algum é <strong>de</strong> aceitar a <strong>de</strong>svirtuaçãoglobal do carácter da linha <strong>de</strong> água e do seu leito <strong>de</strong> cheia por usos abusivos.A intervenção <strong>de</strong>ve pois ter em conta esta gran<strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> estrutural e funcionale procurar não só preservá-las, como promover o seu carácter <strong>natural</strong> ou próximo do<strong>natural</strong>.


42Por outro lado, é crítico ter em consi<strong>de</strong>ração que a gestão das linhas <strong>de</strong> água <strong>de</strong>veser feita pensando que além dos 2% <strong>de</strong> dias <strong>de</strong> cheia existem 98% <strong>de</strong> dias <strong>de</strong> caudaisnormais ou mesmo <strong>de</strong> estiagem, com imposição do recurso a estruturas cada vez maispesadas <strong>de</strong> armazenamento e distribuição.Este tipo <strong>de</strong> situações implica um cuidado particular com a protecção das margens fluviaisno sentido da prevenção dos fenómenos erosivos, função que só po<strong>de</strong> ser eficazmenteassegurada por uma pujante e a<strong>de</strong>quadamente gerida mata ripícola e a a<strong>de</strong>quadagestão dos leitos <strong>de</strong> cheia e das suas margens <strong>de</strong> invernia. Desta forma, a existência<strong>de</strong> corredores ripícolas <strong>de</strong>nsamente enraizados mas medianamente permeáveis aoescoamento no leito principal da linha <strong>de</strong> água e <strong>de</strong> corredores arbóreos <strong>de</strong>nsos e bemenraizados na orla dos leitos <strong>de</strong> cheia assume-se como fundamental para a prevençãodos principais riscos <strong>de</strong> erosão ravinar.A galeria ripícola funciona hidraulicamente como um retardador do caudal <strong>de</strong> cheia ecomo um fixador dos solos da margem, sendo as funções da galeria do leio <strong>de</strong> cheiaessencialmente as mesmas associadas ou não a compartimentações longitudinais <strong>de</strong>retardamento justificáveis pela energia das enxurradas.Obviamente que, qualquer <strong>de</strong>stas infra-estruturas são absolutamente incompatíveiscom usos do leito <strong>de</strong> cheia que não possam suportar, sem danos irreversíveis períodoscurtos (até uma semana) <strong>de</strong> submersão, o que exclui, em absoluto construções <strong>de</strong>qualquer natureza. Implica igualmente, que vegetação como a silva e outras trepa<strong>de</strong>iras<strong>de</strong>vam ser cuidadosamente geridas e limpas durante a manutenção da galeria ripícolapara assegurar a sua maleabilida<strong>de</strong> e permeabilida<strong>de</strong> relativa e evitar, em absoluto, apotenciação <strong>de</strong> situações <strong>de</strong> represamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>tritos transportados com os <strong>de</strong>correntesriscos <strong>de</strong> ondas <strong>de</strong> cheia anormais após a sua súbita ruptura.A florestação das encostas e a eventual <strong>introdução</strong> <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> correcção torrencialem cabeceiras mais ameaçadas é um terceiro tipo <strong>de</strong> intervenção que permitirá, não sóa redução do efeito catastrófico local e a jusante das cheias, como aumentar a retençãosuperficial e sub-superficial, potenciar a infiltração e reduzir a erosão.Concretizando, po<strong>de</strong>-se afirmar que a construção <strong>natural</strong> <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> água, se bemque utilizando todos os materiais e tecnologias disponíveis, concentra contudo osseus esforços, na construção <strong>de</strong> sistemas biotecnológicos, organizados <strong>de</strong> tal modo,que preencham as exigências tecnológicas (protecção contra a erosão, consolidação ereconstrução <strong>de</strong> margens, regularização fluvial, retenção e amortecimento <strong>de</strong> cheias,etc.) e ecológicas (reactivação biológica), não só da melhor forma possível, como no maiscurto espaço <strong>de</strong> tempo, como ainda com uma eficiência sempre crescente.A Tab.9 enuncia quais as técnicas mais a<strong>de</strong>quadas aos diferentes tipos <strong>de</strong> problemas emeios ocorrentes nos sistemas hídricos.


Nascentes para a Vida43Tab. 9. Matriz <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão para a selecção <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> intervenção em meios hídricos (adaptado<strong>de</strong> Florineth, 2007 e Hacker, 2009)Função e eficáciaVelocida<strong>de</strong> dacorrenteResistência<strong>à</strong> tensão <strong>de</strong>arraste τClassif.Construções pontuais Construções linearesConstruções <strong>de</strong> elevada rugosida<strong>de</strong> -------------------------- Construções <strong>de</strong> baixa rugosida<strong>de</strong>Técnica construtivaMedidas estruturaisMedidas <strong>de</strong> segurançaTécnicas construtivas superficiaisTécnicas construtivas linearesTécnicas construtivas pontuais0 – 1 m/s1 – 3 m/s> 3 m/s< 100 N7m2100 – 200 N/m2> 200 N/m2Relvado X X X XPlacas <strong>de</strong> Relva X X X X X X X X XEntrançados X X X X X X XFascinas X X X X X X X XEsteira <strong>de</strong> ramos X X X X X X X XDegraus vivos <strong>de</strong> consolidação <strong>de</strong> talu<strong>de</strong>s damargemX X X X X X X XDegraus vivos <strong>de</strong> consolidação da base damargemX X X X X XFascinas X X X X X X X XPare<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fascinas X X X X X X X XFascinas sobre faixas <strong>de</strong> vegetação X X X X X XMuro armado <strong>de</strong> geotextil com faixas <strong>de</strong>vegetaçãoX X X X X X X XMuro <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira “Cribwall” simples X X X X X X XMuro <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira “Cribwall” duplo X X X X X X XGabião X X X XRe<strong>de</strong> X X X X X XDeflector / Esporão X X X X XFeixes <strong>de</strong> ramos X X X XEntrançado <strong>de</strong> ramos mortos X X X XFascinas no talu<strong>de</strong> da margem X X X X XGeotextil cobrindo a margem em talu<strong>de</strong> X X X X X XGeotextil com estacaria viva X X X X X X XÁrvores para protecção <strong>de</strong> margens X X X X XTocos enraizados X X X X XEstacas <strong>de</strong> salgueiro em enrocamento X X X X X X X X XEstacas <strong>de</strong> salgueiro em no talu<strong>de</strong> da margem X X X X XPlantas lenhosas enraizadas X X X X XMEIOS TERRESTRESOs meios terrestres colocam <strong>de</strong>safios muito diversificados em termos da sua gestão e dapromoção dos seus valores e funções naturais. Estes <strong>de</strong>safios assumem essencialmenteduas formas:


44• Prevenção e correcção da <strong>de</strong>gradação do solo e da instabilida<strong>de</strong> das encostas etalu<strong>de</strong>s.•Preservação e recuperação da funcionalida<strong>de</strong> <strong>natural</strong>, garantindo a maior segurançae eficácia dos usos do território, sejam eles humanos ou naturais.TALUDES E ENCOSTASOs problemas associados a estes meios específicos pren<strong>de</strong>m-se essencialmente com doistipos <strong>de</strong> processos (Fig. 6): Erosão superficial e Movimentos <strong>de</strong> Massa (escorregamentose aluimentos).Degradação <strong>de</strong> talu<strong>de</strong>se encostasPROCESSOS:ErosãosuperficialArranque e transporte<strong>de</strong> partículas individuaisMovimentos<strong>de</strong> massaMovimentos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>smassas <strong>de</strong> solo longo <strong>de</strong>um plano <strong>de</strong> falhaMODELOSPREDITIVOSOU FÍSICOSEquação Universal <strong>de</strong>Perda <strong>de</strong> SoloA = R * K * LS * C"Declive Infinito" ou análisecircular <strong>de</strong> arcoF * S = A Tan f' / Tan b + B * c' / g * HPROPRIEDADESRELEVANTESDO SOLOErodibilida<strong>de</strong>K = f (D 50, Cu, %org)Força <strong>de</strong> atritoS = c * s Tan fPAPEL PRODUTORDA VEGETAÇÃOIntercepçãoContençãoRetardamentoInfiltraçãoReforçoRemoção <strong>de</strong> humida<strong>de</strong>CompressãoContençãoVEGETAÇÃOMAIS EFICAZHerbáceaErvas e arbustos rasteiros,raízes <strong>de</strong>nsas superficiaise boa cobertura da superficiepela folhagemLenhosaArbustos e árvores comsistemas radiculares fortes<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento verticalprofundo.Elevado rácio raízes/ramosFig. 6. Factores <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação <strong>de</strong> talu<strong>de</strong>s e encostas e efeito protector e correctivo da vegetação(Coppin e Richards, 1990)Por seu lado, erosão superficial (associada <strong>à</strong> chuva) é uma função dos seguintesfactores:Erosão pela chuva = fClima - intensida<strong>de</strong> e duração da chuvadaSolo - erodibilida<strong>de</strong> inerenteTopografia - comprimento e <strong>de</strong>clive da encosta{Vegetação - tipo e grau <strong>de</strong> cobertura


Nascentes para a Vida45Neste quadro, a prevenção e correcção <strong>de</strong>sta só po<strong>de</strong>m ser conseguidas agindo aonível do solo (aumentando a sua coesão e resistência estrutural <strong>à</strong> acção erosiva da gota<strong>de</strong> água), reduzindo os <strong>de</strong>clives e o comprimento dos trajectos <strong>de</strong> escoamento livre,reduzindo a energia <strong>de</strong>sses escoamento e a sua <strong>de</strong>corrente capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> arranquee transporte e, finalmente, garantindo uma cobertura eficaz do solo protegendo-o daacção das gotas <strong>de</strong> chuva.A vegetação, através do seu aparelho aéreo (que amortece e <strong>de</strong>svia as gotas <strong>de</strong> chuva eque aumentando a rugosida<strong>de</strong> da superfície da encosta retarda o escoamento e retiralheenergia), do seu aparelho radicular (que arma e estrutura e solo (particularmente nosestratos superficiais mais susceptíveis <strong>à</strong> erosão e particularmente no caso das herbáceascom relevo para as gramíneas) e através da dinamização dos processos orgânicos emicrobiológicos do solo (contribuindo para a humificação e a formação <strong>de</strong> compostosorgânicos estruturantes das partículas <strong>de</strong> solo) tem um papel incontornável e semprecrescente na prevenção e correcção dos processos erosivos.Importa ainda referir, em termos das abordagens <strong>de</strong> Engenharia Natural, que naprevenção e controle da erosão ainda têm <strong>de</strong> ser referidos os sistemas vivos ou inertesque actuam sobre os factores <strong>de</strong> <strong>de</strong>clive e comprimento (incluem-se aqui todos ossistemas lineares <strong>de</strong> drenagem e <strong>de</strong> estruturação da superfície da encosta (entrançados,fascinas, gra<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vegetação, etc.)) assim como os sistemas que permitem o controledo ravinamento e a recuperação <strong>de</strong>ssas mesmas ravinas e que actuam essencialmentereduzindo ou retendo o escoamento e propiciando a sedimentação.A vegetação mais a<strong>de</strong>quada para estas funções é, <strong>natural</strong>mente aquela que garante umacobertura superficial mais <strong>de</strong>nsa e contínua e uma combinação <strong>de</strong> um raizame muito<strong>de</strong>nso capaz <strong>de</strong> uma boa e resistente armação do solo combinado com um raizameprofundante capaz <strong>de</strong> uma ancoragem dos horizontes superficiais (pelo menos 50 cm).A presença <strong>de</strong> leguminosas é muito importante, não só pela natureza ancorante doseu aparelho radicular, como pelas suas funções simbióticas <strong>de</strong> fixação <strong>de</strong> azoto quecontribuem para um aumento da fertilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> solos normalmente muito pobres.Mas não é só a vegetação herbácea que contribui para a prevenção e correcção da erosãosuperficial, já que a vegetação lenhosa, ao garantir igualmente funções <strong>de</strong> cobertura,retardamento do escoamento e armação do solo (em particular as espécies comaparelhos radiculares <strong>de</strong>nsos superficiais e sub-superficiais), são também importantes“materiais <strong>de</strong> construção” nestas áreas <strong>de</strong> intervenção técnica.Já no que se refere aos movimentos <strong>de</strong> massa (escorregamento e aluimentos) o factorcrítico tem a ver com a força <strong>de</strong> atrito interno do material (τ) o qual é função da coesão(c) do material, da tensão vertical a que está sujeito (σ) e do ângulo <strong>de</strong> atrito específicodo material (φ) (Tab. 10):


46Tab. 10. Causas <strong>de</strong> rotura em talu<strong>de</strong>s e encostas (extraído <strong>de</strong> Coppin e Richards, 1990)Aumento da tensão <strong>de</strong> ruptura1. Sobrecarga do talu<strong>de</strong> e encosta (estruturas ouaterros no coroamento)2. Remoção do suporte lateral (cortes e escavaçõesna base do talu<strong>de</strong> ou encosta)3. Mudanças rápidas do nível da água adjacente aotalu<strong>de</strong> (“afundamento súbito”)4. Aumento das tensões laterais (fendas e fissuraspreenchidas com água)5. Cargas <strong>de</strong>vidas a tremores <strong>de</strong> terra (aumento nasforças <strong>de</strong> <strong>de</strong>sestabilização horizontais e verticais)Redução das forças <strong>de</strong> resistência <strong>à</strong> ruptura1. Aumento da pressão intersticial <strong>de</strong> água reduzindoas forças <strong>de</strong> coesão internas (infiltração <strong>de</strong>vido atempesta<strong>de</strong>s ou drenagem insuficiente, variação dapressão da água intersticial <strong>de</strong>vido a sismos)2. Presença <strong>de</strong> argilas expansivas (absorção <strong>de</strong> águacom a resultante redução da coesão intrínseca)3.Meteorização e <strong>de</strong>gradação físico-química (trocaiónica, hidrólise, dissolução, etc.)4. Ruptura progressiva por redução crescente dasforças <strong>de</strong> resistência internasA correcção <strong>de</strong>stes factores <strong>de</strong> risco po<strong>de</strong> ser muito significativamente auxiliada pelavegetação <strong>de</strong> per si ou complementarmente a outras técnicas construtivas.Estas acções correspon<strong>de</strong>m essencialmente aos seguintes efeitos proporcionados pelavegetação (Fig. 7):• Efeitos benéficosReforço radicular: as raízes reforçam mecanicamente o solo pela transferênciada tensão <strong>de</strong> ruptura para a resistência tênsil das raízesRedução da humida<strong>de</strong> do solo – A evapotranspiração e a intercepção po<strong>de</strong>limitar o aumento <strong>de</strong> uma pressão positiva nos poros do solo (<strong>de</strong>terminando aredução do valor <strong>de</strong> coesão)Escoramento e ancoramento – os ramos e raízes enterrados po<strong>de</strong>m funcionarcomo estruturas <strong>de</strong> escoramento e ancoramento que contrariem as forças <strong>de</strong>ruptura paralelas ao plano da encostaSobrecarga – O peso da vegetação po<strong>de</strong>, em certas circunstâncias, aumentar aestabilida<strong>de</strong> através <strong>de</strong> um aumento da força coesiva na superfície <strong>de</strong> falha• Efeitos adversosAumento <strong>de</strong> cargas externas e riscos <strong>de</strong>correntes do <strong>de</strong>rrube em situações <strong>de</strong> tempesta<strong>de</strong>(são resolúveis com uma a<strong>de</strong>quada manutenção)Concretizando melhor esta acção temos que ela se materializa ao nível da contribuiçãodas raízes para a resistência ao corte (Fig. 8) a qual <strong>de</strong>corre da sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ancoragem associada á resistência específica <strong>de</strong> cada tipo <strong>de</strong> raiz <strong>à</strong> ruptura e do aumento


Nascentes para a Vida47Fig. 7. Efeitos da Vegetação num talu<strong>de</strong> (Coppin e Richards, 1990)da coesão interna do solo <strong>de</strong>vido Ao efeito <strong>de</strong> armação do solo e <strong>à</strong> influência sobre ahumida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mesmo.Consi<strong>de</strong>rando as técnicas específicas <strong>de</strong> Engenharia Natural da intervenção no sentido daprevenção e correcção das situações associadas a movimentos <strong>de</strong> massa, estas incluemsepredominantemente no grupo das técnicas <strong>de</strong> estabilização. A opção por métodosexclusivamente vivos, por métodos combinados ou por métodos exclusivamente inertespren<strong>de</strong>-se com dois factores principais: o risco associado <strong>à</strong> ruptura do talu<strong>de</strong> e encostae a susceptibilida<strong>de</strong> dos mesmo a essa ruptura (Tab. 11).Fig. 8. Ilustração do efeito <strong>de</strong> aumento da resistência ao corte propiciado pelas raízes da vegetação(adaptado <strong>de</strong> Coppin e Richard, 1990)


48A selecção das técnicas mais a<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong>ve, portanto, obe<strong>de</strong>cer a critérios claros comoos que se procuram sintetizar na matriz <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão constante da Tab. 12.RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADASA Engenharia Natural contribui para a problemática da recuperação <strong>de</strong>stes diferentesespaços (<strong>de</strong>gradados) através da sua abordagem integrada (e integrante em termosdas distintas capacida<strong>de</strong>s profissionais e técnicas necessárias) que procura conjugar asabordagens construtivas focalizadas e baseadas nos sistemas vivos com os sistemasconstrutivos e os materiais inertes numa perspectiva não só <strong>de</strong> consolidação eprotecção ou <strong>de</strong> enquadramento estético, mas também <strong>de</strong> reenquadramento ecológicoe funcional.A abordagem ao problema da intervenção nestes espaços começa com a caracterizaçãodo contexto <strong>de</strong> intervenção, os seus objectivos, as condicionantes ambientais existentesou que irão ser originadas, permitindo uma i<strong>de</strong>ntificação clara das condições ambientaisque existem ou irão ser originadas e os condicionalismos que colocam ou irão colocar aoestabelecimento da vegetação e das formações vegetais pretendidas. No caso concretodos espaços associados a explorações <strong>de</strong> inertes eles correspon<strong>de</strong>m na imensa maioriados casos a espaços com condições edafo-climáticas extremas que exigem, logo <strong>à</strong>partida, <strong>de</strong> forma a permitir qualquer tipo <strong>de</strong> instalação <strong>de</strong> vegetação, intervenções <strong>de</strong>gran<strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> no sentido da criação <strong>de</strong> substratos susceptíveis <strong>de</strong> permitir essainstalação.Essas intervenções envolvem não só a importação e disposição <strong>de</strong> solos, como amelhoria das condições estruturais, físicas, químicas, hídricas e nutricionais dossubstratos porventura existentes ou remanescentes, como ainda a associação entreesses substratos importados e os materiais subjacentes <strong>de</strong> modo a evitar soluções <strong>de</strong>continuida<strong>de</strong>. Associadamente importa verificar da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> regulação dos fluxosafluentes ou inci<strong>de</strong>ntes <strong>à</strong>(s) área(s) <strong>de</strong> intervenção, sejam eles hídricos (superficiais ousubterrâneos) ou aéreos, evitando que esses fluxos condicionem ou ponham em causa ainstalação da vegetação. O mesmo po<strong>de</strong> ser dito relativamente a condicionantes comoa radiação inci<strong>de</strong>nte.Esta avaliação implica, obviamente, o envolvimento dos diferentes especialistas temáticos<strong>de</strong> modo a caracterizar <strong>de</strong>talhadamente as condições ambientais existentes e a po<strong>de</strong>r,consequentemente i<strong>de</strong>ntificar, em função dos objectivos da intervenção, quais as plantassusceptíveis <strong>de</strong> serem utilizadas e quais as técnicas <strong>de</strong> instalação e <strong>de</strong> complementoestrutural e ecológico.


Nascentes para a Vida49Tab. 11. Tipologias <strong>de</strong> métodos construtivos a aplicar por cada tipo <strong>de</strong> problemas e factores <strong>de</strong> risco(Coppin e Richard, 1990)Consequências da ruptura do talu<strong>de</strong> ouencosta (*)Importante Pouco ImportanteEstabilida<strong>de</strong> do talu<strong>de</strong> e encosta semprotecçãoMétodoFunção1- Construções vivasSementeiras <strong>de</strong> herbáceasPlantação eControle da erosão hídricaRelvados plantados esementeirae eólicareforçados com geotextilconvencionaisisolamentoÁrvores e arbustosEntrançados e fascinas Controle da erosão <strong>de</strong>vida <strong>à</strong>Lenhosas usadasEstacariaprecipitação, da erosão emcomo reforço e comoPlantação em linhas sulcos e do ravinamento.barreiras contra oFaixas <strong>de</strong> vegetação Controle dos movimentosmovimento do soloPaliçadastranslacionais superficiais2- Construções combinadasPlacas <strong>de</strong> relva, sementeiras<strong>de</strong> herbáceas e transplantes Protecção contra a erosão<strong>de</strong> arbustos.<strong>de</strong>vida ao escoamentoRevestimentos vegetados superficial e subsuperficial.Plantações(rip-rap, alvenaria, gra<strong>de</strong>s, Controle <strong>de</strong> movimentosconvencionais com gabiões, mantas, blocos, <strong>de</strong> massa superficiais egeotexteis. Plantas re<strong>de</strong>s).resistência a tensões baixaslenhosas instaladas Aterros reforçados com a mo<strong>de</strong>radas.em interstícios <strong>de</strong> geotexteis vegetados e com Barreiras contraconstruções <strong>de</strong> "pregamentos" <strong>de</strong> estacas. <strong>de</strong>smoronamentos rochosos.pequena a média Muros <strong>de</strong> retenção vegetados Barreiras ambientais.dimensão ou em (gra<strong>de</strong>s (Cribs) abertas, Controle e retençãointervalos <strong>de</strong> gabiões, muros em módulos <strong>de</strong> avalanches eestruturas lineares préconstruidos, muros <strong>de</strong>smoronamentos Reduçãoarmados com geotextil, da manutenção e aumentoarmações <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s soldadas, do tempo <strong>de</strong> serviço /<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira ou <strong>de</strong> betão préformado.eficácia.Controle da erosão emtalu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> corte e aterroMuros <strong>de</strong> pequena a média"<strong>de</strong>scalçados" por obras <strong>de</strong>dimensão (pedra, alvenaria,alargamento rodoviário ouMuros <strong>de</strong> retenção betão préfabricado, murosferroviário, etc.combinados com em gra<strong>de</strong> tipo "Cribwall"Redução do <strong>de</strong>clive ouplantação da vertente em ma<strong>de</strong>ira ou betão comcomprimento do talu<strong>de</strong>.vertente supra jacenteMelhoria da drenagem doplantada e vegetadatalu<strong>de</strong> e do acesso paramanutençãoElevadaMédiaBaixaElevadaMédiaBaixana na nana nanana


503 - Construções inertesControle <strong>de</strong> movimentos<strong>de</strong> massa por planos <strong>de</strong>instabilida<strong>de</strong> profundos eMuros <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong>Estruturassujeitos a tensões do maciçoMuros cantileverconvencionais commuito elevadas.Muros <strong>de</strong> terra armada"bolsas" <strong>de</strong> vegetaçãoRetenção <strong>de</strong> aterros tóxicosMuros pré-fabricadosou agressivosBarreiras contra<strong>de</strong>smoronamentosAbordagem a<strong>de</strong>quadaAbordagem a<strong>de</strong>quada mas provavelmente <strong>de</strong>masiado conservativa ou custosanaNão a<strong>de</strong>quado(*) As consequências <strong>de</strong> uma ruptura <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do risco <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> associados <strong>à</strong> integrida<strong>de</strong> do talu<strong>de</strong>Particularmente problemáticos são os ambientes on<strong>de</strong> existem poucas ou nenhumas espéciescapazes <strong>de</strong> preencher as exigências técnicas das intervenções projectadas (por exemplocapazes <strong>de</strong> produzir raízes adventícias ou com uma estratégia ecológica que permita umarápida instalação e propicie um igualmente rápido <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um coberto <strong>de</strong>nsoe sustentável). Nestas circunstâncias <strong>de</strong>ve-se procurar combinar técnicas <strong>de</strong> apoio aoestabelecimento da vegetação (como é o caso <strong>de</strong> regas ou <strong>de</strong> barreiras <strong>de</strong> amortecimento dovento) com a eventual utilização <strong>de</strong> espécies alóctones que propiciem condições favoráveis aoestabelecimento complementar das espécies autóctones que são o alvo da intervenção.Estas tipologias <strong>de</strong> (re)construções <strong>de</strong> substratos vegetáveis, pela própria natureza <strong>de</strong>cada um dos novos espaços criados (como por exemplo ausência <strong>de</strong> matéria orgânica,défice em nutrientes (caso <strong>de</strong> muitos areeiros), presença <strong>de</strong> substâncias fitotóxicas (caso<strong>de</strong> muitas explorações <strong>de</strong> substâncias metálicas e respectivas escombreiras), <strong>de</strong>clivedos materiais, incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> e enraizamento do substrato rochoso (tão frequente empedreiras <strong>de</strong> rochas carbonatadas), insuficiente disponibilida<strong>de</strong> hídrica (xericida<strong>de</strong> do meioou reduzida capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> retenção dos novos substratos), para citar apenas alguns dosmais frequentes), implicam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recorrer a técnicas específicas <strong>de</strong> gestãodas limitações do meio e <strong>de</strong> gestão dos processos <strong>de</strong> estabelecimento da vegetação quecontribuam para o sucesso dos processos <strong>de</strong> recuperação <strong>de</strong>sses espaços.Justifica-se igualmente a realização <strong>de</strong> ensaios mo<strong>de</strong>lares, <strong>de</strong> modo a testar diferentesalternativas técnicas e garantir antecipadamente uma maior eficiência técnica eeconómica da intervenção global – note-se que este tipo <strong>de</strong> experiências é perfeitamentecompatível com o horizonte temporal particularmente longo que as intervenções emespaços <strong>de</strong>ste tipo exigem. Refira-se que estes ensaios se referem não só <strong>à</strong>s formas<strong>de</strong> instalação da vegetação como a mo<strong>de</strong>lação do terreno, tipos <strong>de</strong> substrato e suapreparação, sistemas construtivos complementares, etc.Todas as intervenções têm, obviamente <strong>de</strong> seguir as normas construtivas nacionais einternacionais em vigor e respeitar as exigências ecológicas associadas <strong>à</strong> salvaguardada biodiversida<strong>de</strong> específica e genética local, controlando apertadamente o risco <strong>de</strong>disseminação <strong>de</strong>scontrolada <strong>de</strong> espécies ou genótipos alóctones.


Nascentes para a Vida51Tab. 12. Matrizes <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão para intervenções em meios terrestres (adaptado <strong>de</strong> Hacker, 2009)(1 – mínimo a 3 – máximo)Função <strong>de</strong> protecção dasuperfícieConsolidação <strong>de</strong> encostas e talu<strong>de</strong>sFunção <strong>de</strong> drenagembiológicaFunção <strong>de</strong> drenagemtécnicaConsolidação <strong>de</strong> ravinas ebarrancosFunções <strong>de</strong> armação


52não só para os fins internos <strong>de</strong> optimização das práticas construtivas e <strong>de</strong> manutençãocomo para a criação <strong>de</strong> um corpo doutrinal diversificado e consistente.Importa igualmente <strong>de</strong>senvolver todo o domínio da produção vegetal <strong>de</strong> espéciesautóctones com características biotécnicas, diversificando não só a oferta <strong>de</strong> espécies,como garantindo a sua proveniência genética e a sua a<strong>de</strong>quação fenotípica aos objectivosdas obras <strong>de</strong> Engenharia Natural.ESPAÇOS FLORESTAISA floresta não po<strong>de</strong> continuar a ser vista apenas como produtora <strong>de</strong> bens, mais oumenos insuficientemente retribuídos. Os seus serviços têm urgentemente <strong>de</strong> passara ser contabilizados e a<strong>de</strong>quadamente retribuídos, afirmando <strong>de</strong>finitivamente amultifuncionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses espaços e os inúmeros potenciais que ainda estão porconcretizar plenamente.De que funcionalida<strong>de</strong>s estamos a falar?• De funções <strong>de</strong> regulação como:Regulação do escoamento superficialRegulação da infiltração e da recarga dos aquíferosRegulação da erodibilida<strong>de</strong> e da erosivida<strong>de</strong>Regulação microclimática• De funções metabólicas como:Retenção <strong>de</strong> CO2Enriquecimento dos solos em Matéria OrgânicaRegularização química dos solos• De funções <strong>de</strong> suporte como:Estabilização <strong>de</strong> terrenosCriação <strong>de</strong> habitats para a vida selvagemCriação <strong>de</strong> espaços <strong>de</strong> recreio e lazerCompartimentação e criação <strong>de</strong> espaços produtivos multifuncionais (por exemplo:apicultura, cogumelos, plantas aromáticas, silvo-pastorícia e criação extensiva <strong>de</strong> gado)Este enunciado evi<strong>de</strong>ncia o conjunto <strong>de</strong> serviços e produtos associados <strong>à</strong>s florestas queimporta gerir e valorizar, garantindo, para tal a a<strong>de</strong>quada remuneração não só <strong>de</strong> algunsprodutos, mas essencialmente dos diferentes serviços.


Nascentes para a Vida53De facto a gestão dos recursos hídricos, pelos problemas <strong>de</strong> escassez e <strong>de</strong> difícil garantiada qualida<strong>de</strong> exigem que, no futuro, todos os contributos para a sua regularização esalvaguarda da sua disponibilida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> sejam <strong>de</strong>vidamente remunerados. Asflorestas <strong>de</strong> produção e protecção enquadrantes das bacias <strong>de</strong> captação terão nestedomínio uma função predominante.Da mesma forma, funções como a fixação <strong>de</strong> CO2, regularização química, regulaçãomicroclimática, recreio e lazer são funções que terão <strong>de</strong> constituir fontes <strong>de</strong> rendimentopara os proprietários florestais.Só <strong>de</strong>ssa forma po<strong>de</strong>rá ser garantida a a<strong>de</strong>quada condução das diferentes florestas e asnecessárias funções <strong>de</strong> vigilância e prevenção <strong>de</strong> incêndios, assim como a aproximaçãodos cidadãos ao espaço florestal como o espaço multifuncional que ele realmente é.Estes objectivos implicam novas formas <strong>de</strong> abordagem da gestão dos espaços florestais,salvaguardando aqueles que têm uma função essencialmente <strong>de</strong> produção dos que exercemfunções predominantemente <strong>de</strong> protecção ou salvaguarda <strong>de</strong> recursos ou funções naturais.Todos têm <strong>de</strong> ser a<strong>de</strong>quadamente geridos e as suas funções e produções remuneradas.É esse <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> uma abordagem integrada e cooperante <strong>à</strong> gestão florestal que importaencarar, como única via para a garantia da sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um sector que apesardo seu peso económico, apresenta um potencial <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento muito maior, se osactuais erros <strong>de</strong> gestão forem corrigidos.PREVENÇÃO DE INCÊNDIOS FLORESTAISNo domínio da prevenção <strong>de</strong> incêndios florestais há duas situações a consi<strong>de</strong>rar:• Minimização dos impactes associados <strong>à</strong>s faixas <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> combustíveis;• Escolha <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> elevada resistência e resiliência ao fogo.Um dos pontos fundamentais centra-se na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dotar os espaços florestaisdas características e infra-estruturas necessárias para a minimização da área ardida econsequentes danos ecológicos e patrimoniais. Nesta re<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa da floresta (Fig. 9),constituída por um conjunto <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s sectoriais, salientam-se as faixas e mosaicos <strong>de</strong>parcelas <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> combustível.Por faixa <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> combustível enten<strong>de</strong>-se, uma parcela <strong>de</strong> território on<strong>de</strong> segarante a remoção total ou parcial <strong>de</strong> biomassa florestal, através da afectação a usosnão florestais e do recurso a <strong>de</strong>terminadas activida<strong>de</strong>s ou a técnicas silvícolas, com oobjectivo principal <strong>de</strong> reduzir o perigo <strong>de</strong> incêndio.A remoção total <strong>de</strong> vegetação po<strong>de</strong> potenciar a erosão do solo em <strong>de</strong>terminados locaisem que não seja possível promover a alteração <strong>de</strong> usos. Desta forma, esta situação sóserá minimizada através do recurso a barreiras físicas, ou em alternativa ao uso <strong>de</strong>vegetação que <strong>de</strong>verá ter as seguintes características:


54Fig. 9. Esquema geral da organização do território na óptica da prevenção contra incêndios florestais(Colin et al., 2001)A. Utilização <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> regeneração vegetativa, as espécies <strong>de</strong> regeneraçãopor semente são acumuladoras <strong>de</strong> combustível, e as áreas por elas dominadascorrem o risco <strong>de</strong> regredir face a incêndios recorrentes. As espécies <strong>de</strong> regeneraçãovegetativa são muito resilientes ao fogo.B. Espécies resistentes ao fogo, a resistência ao fogo está relacionada com ainflamabilida<strong>de</strong> da espécie, que é <strong>de</strong>terminada pela estrutura da planta, proporção<strong>de</strong> biomassa morta, teor <strong>de</strong> humida<strong>de</strong> e presença <strong>de</strong> substâncias voláteis. ORhamnus alaternus, a Pistacia lentiscus e o Asparagus aphyllus são exemplos <strong>de</strong>espécies com baixa inflamabilida<strong>de</strong>.C. Instalação <strong>de</strong> povoamentos <strong>de</strong> folhosas caducifólias, mistos e que conservema humida<strong>de</strong> edáfica.RECUPERAÇÃO DE ÁREAS ARDIDASAs consequências mais evi<strong>de</strong>ntes que se po<strong>de</strong>m observar <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um incêndio florestalsão os danos no coberto vegetal. Menos visíveis são os impactes dos incêndios florestaissobre as funções <strong>de</strong> protecção e regulação dos ecossistemas (Fig. 10).


Nascentes para a Vida55Fig. 10. Principais causas e impactes dos incêndios florestaisOs principais objectivos da recuperação <strong>de</strong> áreas ardidas no Mediterrâneo são:1. Conservação do solo, como recurso primário que está sujeito a processos <strong>de</strong><strong>de</strong>gradação após o fogo, e a regulação do ciclo hidrológico;2. Melhoria da resistência e da resiliência dos ecossistemas ao fogo, consi<strong>de</strong>randoque o fogo é uma constante ecológica, e que a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novas ocorrênciasé muito elevada;3. Promoção <strong>de</strong> florestas estáveis, em particular as florestas <strong>de</strong> folhosas, emacentuado <strong>de</strong>clínio por diferentes factores.A recuperação <strong>de</strong> áreas ardidas envolve, tradicionalmente e para os sistemas florestais<strong>de</strong> silvicultura não intensiva, três fases distintas:1. A primeira, muitas vezes <strong>de</strong>signada como <strong>de</strong> “intervenção” ou “estabilização <strong>de</strong>emergência”, <strong>de</strong>corre logo após (ou ainda mesmo durante) a fase <strong>de</strong> supressão doincêndio e visa não só o controlo da erosão e a protecção da re<strong>de</strong> hidrográfica, mastambém a <strong>de</strong>fesa das infra-estruturas e das estações, e habitats mais sensíveis;2. Segue-se uma fase <strong>de</strong> “reabilitação”, nos dois anos seguintes, em que se proce<strong>de</strong>,entre outras acções, <strong>à</strong> avaliação dos danos e da reacção dos ecossistemas, <strong>à</strong> recolha<strong>de</strong> salvados e, eventualmente, ao controlo fitossanitário, a acções <strong>de</strong> recuperaçãobiofísica e mesmo já <strong>à</strong> reflorestação <strong>de</strong> zonas mais sensíveis;3. Na terceira fase são planeados e implementados os projectos <strong>de</strong>finitivos <strong>de</strong>recuperação/reflorestação, normalmente a partir dos três anos após a passagemdo fogo.A integração <strong>de</strong> Técnicas <strong>de</strong> Engenharia Natural nas intervenções <strong>de</strong> curto prazo têmcomo objectivo permitir o sucesso <strong>de</strong> outras intervenções <strong>de</strong> médio e longo prazo narecuperação <strong>de</strong> áreas ardidas.


56No processo <strong>de</strong> análise e <strong>de</strong>cisão, <strong>de</strong>ve ser integrada informação sobre a capacida<strong>de</strong>regenerativa do local, o risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação potencial do solo e da qualida<strong>de</strong> da água,a conservação <strong>de</strong> espécies e habitats, e a protecção fitossanitária dos povoamentosflorestais e controlo das espécies invasoras.A importância e a urgência da intervenção na recuperação das áreas ardidas têm sidoreconhecidas, especialmente <strong>de</strong>vido aos novos padrões <strong>de</strong> ocorrência dos incêndiosflorestais, em maior extensão, intensida<strong>de</strong> e severida<strong>de</strong>. A legislação específica tambéminclui como objectivos operacionais a avaliação e mitigação dos impactes causados pelosincêndios e a implementação <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> reabilitação dos ecossistemas a curto,médio e longo prazo.INTERVENÇÕES DE CURTO PRAZO EM ÁREAS ARDIDAS: CONTROLO DA EROSÃO E REG-ULAÇÃO HIDROLÓGICAOs impactes potenciais <strong>de</strong> curto prazo originados pela passagem <strong>de</strong> um incêndioflorestal são a erosão, a alteração física e química dos solos, a diminuição da capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> infiltração da água, bem como a redução do tempo <strong>de</strong> concentração, e o consequenteaumento do risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>sabamento ou <strong>de</strong>slizamentos <strong>de</strong> terra.Os objectivos das intervenções <strong>de</strong> curto prazo em áreas ardidas <strong>de</strong>vem centrar-sena minimização dos riscos associados <strong>à</strong> perda <strong>de</strong> solo e do potencial produtivo local,diminuição do escoamento superficial e redução da <strong>de</strong>terioração da qualida<strong>de</strong> da água.As primeiras intervenções <strong>de</strong>vem ser feitas imediatamente após o incêndio e incluem:a) Utilização <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira queimada, <strong>de</strong> árvores ardidas, para construir barreiras queretar<strong>de</strong>m o escoamento (log-dams) nas linhas <strong>de</strong> drenagem naturais ou ravinaspara aumentar a rugosida<strong>de</strong> e a redução da energia do escoamento e retenção dosolo;b) Abertura <strong>de</strong> valas <strong>de</strong> drenagem;c) Aplicação <strong>de</strong> uma cobertura com resíduos orgânicos (mulching);d) Sementeiras <strong>de</strong> emergência;e) Sementeira + Mulching – reduz a escorrência superficial e as taxas <strong>de</strong> erosãodurante os primeiros dois anos após o incêndio.As primeiras intervenções <strong>de</strong>vem ser feitas imediatamente após o incêndio, recorrendo amateriais ardidos <strong>de</strong> maior calibre, como por exemplo a colocação <strong>de</strong> ramos queimadosperpendicularmente ao máximo <strong>de</strong>clive, apoiados por cepos das árvores abatidas,<strong>de</strong> forma a contrariar a erosão do solo (Fig. 11). Outra abordagem é a colocação dasárvores ardidas nas linhas <strong>de</strong> drenagem e possíveis ravinas, gerando uma rugosida<strong>de</strong>que permite a redução da energia do escoamento e a retenção <strong>de</strong> solo (Florineth, com.pessoal, 2009).


Nascentes para a Vida57No entanto, outras técnicas po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>radas, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da avaliação dos riscosassociados, como a abertura <strong>de</strong> valas no sentido das curvas <strong>de</strong> nível e sua associação asistemas <strong>de</strong> drenagem com material orgânico (fascinas).Fig. 11. Pormenor <strong>de</strong> barreiras contra a erosão utilizando ma<strong>de</strong>ira queimada (Gross et al., 1989) edo uso <strong>de</strong> árvoras queimadas para prevenir erosão ravinar (Florineth, 2004)A construção <strong>de</strong> pequenas represas que permitam a infiltração da água no local eretenção <strong>de</strong> minerais, a utilização <strong>de</strong> sementeira aérea ou terrestre para permitir umamais rápida cobertura do solo com material vegetal e assim diminuir a perda <strong>de</strong> solo, atéestruturas <strong>de</strong> suporte e estabilização <strong>de</strong> talu<strong>de</strong>s como os muros <strong>de</strong> vegetação, são aindatécnicas a ter em consi<strong>de</strong>ração nas intervenções <strong>de</strong> curto prazo.Quando se opte pela sementeira <strong>de</strong> emergência, seja a lanço, aérea ou hidrossementeira,a selecção <strong>de</strong> espécies revela-se um factor <strong>de</strong> extrema importância. Esta selecção <strong>de</strong>veser feita <strong>de</strong> acordo com as limitações ecológicas do local, a vegetação potencial <strong>natural</strong>,a capacida<strong>de</strong> das espécies para uma rápida colonização, a estrutura radicular, entreoutros factores. O recurso <strong>à</strong> sementeira pós-fogo também se po<strong>de</strong> justificar para aprevenção da colonização <strong>de</strong> plantas exóticas, todavia o recurso a esta técnica apenasparece ser viável para plantas anuais.O mulching permite a rápida cobertura do solo durante o primeiro ano após o fogo on<strong>de</strong>os fenómenos <strong>de</strong> erosão ten<strong>de</strong>m a ser maiores, e o aumento da retenção <strong>de</strong> humida<strong>de</strong>no solo. Po<strong>de</strong> ainda recorrer-se a novas técnicas no controlo da erosão, entre as quais ouso da poliacrilamida, que é um polímero orgânico, mas que se revela muito dispendiosoem termos económicos.Embora a eficácia das técnicas <strong>de</strong> curto prazo <strong>de</strong> minimização dos impactes pós-fogoainda não tenham sido amplamente estudadas a médio e longo prazo, parece serevi<strong>de</strong>nte que as consequências <strong>de</strong> longo prazo resultantes da inexistência <strong>de</strong> uma cultura<strong>de</strong> intervenção nas áreas ardidas serão sempre <strong>de</strong> difícil resolução. Justifica-se assim a


58análise e discussão no sentido <strong>de</strong> avaliar as técnicas mais a<strong>de</strong>quadas para a minimização<strong>de</strong> impactes <strong>de</strong>correntes dos incêndios florestais, que permitam a criação <strong>de</strong> condiçõespara a recuperação dos sistemas biofísicos afectados, e evitem a perda do potencialprodutivo dos locais, a diminuição do seu valor ecológico, e o consequente abandono.CONSERVAÇÃO DA NATUREZANuma paisagem <strong>natural</strong>, todos os biótopos terrestres e aquáticos encontram-se associadossegundo transições suaves (ecotones). Tais transições são constituídas por estruturasecológicas semelhantes, <strong>de</strong>vidamente escalonadas, por exemplo em termos <strong>de</strong> característicaspedológicas ou ecoclimáticas, ou em termos <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s bióticas (sucessão).Tais transições <strong>de</strong>finem-se não só em termos perpendiculares (por exemplo hidrosérie:linha <strong>de</strong> água, margem, várzea, encosta), como também longitudinais (ribeiro, rio,estuário, mar) e apresentam sempre um equilíbrio e uma auto-sustentção que assegurama perenida<strong>de</strong> da sua existência.O sistema <strong>de</strong> ligação ecológica processa-se entre biótopos iguais ou semelhantes,gerando um inter-relacionamento ecológico intenso, protagonizado por trocas <strong>de</strong>animais ou <strong>de</strong> plantas ou por contactos directos entre habitats.Outra forma <strong>de</strong> ligação são as próprias teias alimentares e funcionais entre os diversosindivíduos animais ou vegetais.A humanização da paisagem ocasionou alterações mais ou menos radicais <strong>de</strong>sta estrutura,quebrando muitos dos elos <strong>de</strong>stas re<strong>de</strong>s, colocando pois em causa a viabilida<strong>de</strong> dos biótoposisolados e do sistema por eles formado. A reconstrução duma tal re<strong>de</strong> é pois a tarefa maispremente <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> Conservação da Natureza.Em todos os trabalhos <strong>de</strong> planeamento e intervenção no espaço é essencial a realização<strong>de</strong> estudos e levantamentos ecológicos pormenorizados, <strong>de</strong> modo a caracterizar cadatipo <strong>de</strong> biótopo existente ou potencial especialmente segundo estes pontos <strong>de</strong> vista:1. Qualida<strong>de</strong> crítica do biótopo, ou seja, os níveis mínimos <strong>de</strong> cada factor necessários<strong>à</strong> sobrevivência <strong>de</strong> espécies ou grupos <strong>de</strong> espécies.2. O espaço/superfície críticos, ou seja, a área mínima necessária <strong>à</strong> subsistênciaestável <strong>de</strong> uma população, <strong>de</strong>finido nomeadamente em termos das espéciesespecíficas dos biótopos em causa.3. A necessária malha espacial <strong>de</strong> habitats parciais <strong>de</strong> espécies com diferentesexigências relativamente aos biótopos, nomeadamente refúgio, alimento,reprodução, abrigo etc.4. A separação máxima viável entre biótopos semelhantes.5. Os usos e acções correspon<strong>de</strong>ntes e contraditórios <strong>à</strong> sobrevivência do biótopo.


Nascentes para a Vida596. A reacção das biocenoses <strong>à</strong>s medidas <strong>de</strong> protecção e cuidado.Não é suficiente, na classificação do valor <strong>de</strong> um biótopo, avaliar unicamente a suadiversida<strong>de</strong> específica ou <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s. Tem-se igualmente <strong>de</strong> dar a maior importânciaao conhecimento e avaliação <strong>de</strong>:• Quais são os biótopos que têm um carácter mais ou menos fundamental nopreenchimento dos objectivos <strong>de</strong> protecção e quais os biótopos ou partes <strong>de</strong> biótoposque, em conexão com a evolução antropogénica da paisa¬gem melhor asseguramas condições mínimas <strong>de</strong> sobrevivência <strong>de</strong> espécies e comunida<strong>de</strong>s.• Qual das diferentes formas dum tipo <strong>de</strong> biótopo é mais digna <strong>de</strong> protecção.• Quais são as contribuições <strong>de</strong> cada factor e característica para o preenchimento dosobjectivos <strong>de</strong> protecção e quais são as suas <strong>de</strong>terminantes e ligações sistémicas.• Quais são as medidas ou omissões e com que intensida<strong>de</strong> são essenciais ou<strong>de</strong>snecessárias para os objectivos <strong>de</strong> protecção.No planeamento <strong>de</strong> acções sobre o espaço segundo uma perspectiva <strong>de</strong> gestão dosobjectivos <strong>de</strong> conservação com vista <strong>à</strong> maximização do valor ecológico <strong>de</strong> cada lugar háque observar as seguintes regras básicas:1. Os biótopos <strong>de</strong>vem ser conservados/planeados numa/com uma dimensão tal, quea taxa <strong>de</strong> natalida<strong>de</strong> específica tenda para zero.2. Os biótopos <strong>de</strong>vem estar em ligação entre si <strong>de</strong> um modo <strong>de</strong> tal modo estreito,que uma troca equilibrada <strong>de</strong> indivíduos seja permanentemente possível e nãoproblemática (uma tal exigência é <strong>de</strong> particular importância para espécies <strong>de</strong>estratégia k e menos importante para as <strong>de</strong> estratégia r).3. On<strong>de</strong> não seja mais possível a preservação ou promoção <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> biótopos,<strong>de</strong>ve-se procurar promover estruturas lineares ou pontuais <strong>de</strong> ligação.4. As influências negativas do exterior <strong>de</strong>vem ser minimizadas, nomeadamente pelaedificação <strong>de</strong> zonas tampão ou <strong>de</strong> amortecimento.5. A forma dos biótopos <strong>de</strong>ve ser próxima do circular <strong>de</strong> modo a promover amelhor relação possível entre a zona central e as zonas marginais (excepções sãoobviamente as linhas <strong>de</strong> água, sebes, falésias, etc.).6. Para espécies com diferentes exigências em tipos <strong>de</strong> biótopos <strong>de</strong>ve a re<strong>de</strong> local serdiferenciada e diversificada.7. Finalmente e <strong>de</strong> particular importância são os uso e o carácter global do espaçoenvolvente, não só em termos da sua agressivida<strong>de</strong> ou inospitabilida<strong>de</strong>, masessencialmente em termos da <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> variações microclimáticas,pedológicas, <strong>de</strong> regime hídrico etc. (por exemplo a proximida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma mata gera


60situações <strong>de</strong> sombreamento e <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> ar rio completamente distintas doque ocorre com um prado ou um terreno agrícola).8. Em suma, a intervenção com vista <strong>à</strong> promoção dos objectivos da conservaçãoda Natureza tem <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar simultaneamente os elementos <strong>de</strong> per si e <strong>de</strong> osintegrar numa lógica bem mais ampla <strong>de</strong> funcionalida<strong>de</strong> do espaço global.A edificação <strong>de</strong> biótopos substitutos como medida <strong>de</strong> compensação ecológica ou parapreencher as exigências <strong>de</strong> uma correcta estruturação e reactivação ecológica do espaçoapresenta a dificulda<strong>de</strong> da sua lenta funcionalização.Simultaneamente verifica-se o interesse <strong>de</strong> promover, mesmo nas superfícies actualmentemais transformadas espaços <strong>de</strong> sucessão que possam funcionar como locais pioneiros (porex. em matas <strong>de</strong> exploração <strong>de</strong>ixando manchas específicas sem intervenção).Por outro lado há que distinguir entre a construção <strong>de</strong> biótopos específicos para espéciesconcretas particularmente ameaçadas e a promoção <strong>de</strong> espaços biologicamente activose precursores <strong>de</strong> estruturas espaciais globais, isto equilibrado e articulado com aconservação e promoção <strong>de</strong> espaços e biótopos estabilizados e <strong>de</strong> comprovado valor.De fundamental importância é que os novos biótopos a instalar correspondam <strong>à</strong>scaracterísticas regionais e locais e nunca exprimam apenas o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>sinserido <strong>de</strong>instalar uma qualquer estrutura que sendo valiosa, não tem razão nem po<strong>de</strong> existirnaquele local.É igualmente necessário prevenir que uma tal activida<strong>de</strong> "construtiva" não constituaum factor <strong>de</strong> perturbação e mesmo <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição do espaço em causa. É necessário tersempre em atenção que tem <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar sempre que uma intervenção é sempreuma perturbação e que esta po<strong>de</strong> ser mais negativa do que os benefícios eventualmenteobteníveis.A viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> certos biótopos ou <strong>de</strong> certas componentes é igualmente funçãoda existência, não só <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> instalação das espécies colonizadoras, masessencialmente da existência <strong>de</strong> locais <strong>de</strong> origem <strong>de</strong>ssas espécies a distancias viáveis,<strong>de</strong> vectores <strong>de</strong> transporte e <strong>de</strong> factores propiciadores da sua instalação (isto éparticularmente válido no caso <strong>de</strong> espécies vegetais zoocóricas, as quais só se instalarãocaso os animais que as transportam tenham condições <strong>de</strong> estacionamento no local acolonizar).Outra regra <strong>de</strong> particular importância é a <strong>de</strong> que um biótopo não <strong>de</strong>ve ser planeado parauma espécie ou para um número restrito <strong>de</strong> espécies (por ex. apenas aves) mas tem<strong>de</strong> se pensar em termos <strong>de</strong> população global, sob pena <strong>de</strong> não existirem condições <strong>de</strong>viabilização da espécie ou grupo <strong>de</strong> espécies em causa por falta <strong>de</strong> elementos da ca<strong>de</strong>ia<strong>de</strong> que ela <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>.


Nascentes para a Vida61MANUTENÇÃO E ACOMPANHAMENTOA manutenção constitui indubitavelmente uma das exigências mais importantes dasintervenções <strong>de</strong> Engenharia Natural. Com efeito, apesar <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ser menos custosa eexigir prazos <strong>de</strong> realização com espaçamentos bastante diferentes (Fig. 12), as obras <strong>de</strong>Engenharia Natural, por constituírem obras <strong>de</strong> enquadramento dos processos e sistemasnaturais em contextos estritos <strong>de</strong> uso e <strong>de</strong> risco, implicam uma cuidada manutenção,quer para garantir a plena instalação da vegetação projectada, como para garantir aprazo a sua eficácia técnica <strong>de</strong>ntro dos referidos objectivos.Fig. 12. Custos comparativos médios <strong>de</strong> construção e manutenção <strong>de</strong> obras vivas <strong>de</strong> EngenhariaNatural e construções inertes (po<strong>de</strong> acontecer, em situações particulares, que os custos <strong>de</strong> construçãodas obras <strong>de</strong> EN sejam superiores <strong>à</strong>s soluções só com materiais inertes)Ao nível da manutenção po<strong>de</strong>mos distinguir diferentes tipos e objectos:• Manutenção <strong>de</strong> curto ou <strong>de</strong> longo prazo• Manutenção das plantas e sistemas vivos ou manutenção, reparação e substituição <strong>de</strong>sistemas inertes complementares• Manutenção <strong>de</strong> estabelecimento – garantia do estabelecimento das espécies <strong>de</strong>finidasno projecto com as <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s e as características estabelecidas• Manutenção <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento – condução da vegetação no sentido do<strong>de</strong>senvolvimento das formações e comunida<strong>de</strong>s-alvo• Manutenção <strong>de</strong> acompanhamento – gestão da vegetação e das formações vegetais <strong>de</strong>modo a garantir a manutenção das suas funções <strong>de</strong> estabilização e protecção (por ex.elasticida<strong>de</strong> e comportamento hidráulico).A manutenção é sempre orientada <strong>de</strong> acordo com o objectivo construtivo e condicionadapelo preenchimento das funções <strong>de</strong>finidas (geotécnicas, hidráulicas, ecológicas, etc.)


62sendo que estas se sobrepõem para cada intervenção e processo <strong>de</strong> manutenção a todasas outras, sob pena <strong>de</strong> comprometer a eficácia da obra. A tab. 13 procura ilustrar asprincipais activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> manutenção da vegetação susceptíveis <strong>de</strong> serem realizadas.Outra questão que importa acentuar no que se refere <strong>à</strong> manutenção é a <strong>de</strong> que, <strong>de</strong>vem-sesempre evitar intervenções generalizadas e concentradas (por exemplo <strong>de</strong>sbastes) que,se realizadas <strong>de</strong>ssa forma, implicarão impactes muito violentes nos habitats faunísticoscom consequências negativas para a funcionalida<strong>de</strong> ecológica local.O seguimento das intervenções <strong>de</strong> Engenharia Natural pren<strong>de</strong>-se principalmente com aavaliação do preenchimento dos objectivos, do modo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e da duração da plenainstalação e funcionalida<strong>de</strong>, da avaliação da eficácia e durabilida<strong>de</strong>. Pretendo não só constituirum processo <strong>de</strong> auditoria <strong>à</strong> obra como <strong>de</strong> acompanhamento técnico da mesma <strong>de</strong> modo a coligirconhecimentos sobre factores <strong>de</strong> sucesso e insucesso e modos <strong>de</strong> correcção ou prevenção.Tab. 13. Intervenções <strong>de</strong> manutenção necessárias numa formação vegetal com funções <strong>de</strong> protecçãoe consolidação (EFIB, 2008)Solo Herbáceas Arbustos Árvores-----------Cobertura (por ex. Mulch)---------------------------Reposição--------------------------------Desbaste <strong>de</strong> formação----------------------------------------------Rega--------------------------------------------Condução-------------------------------- Vedação / Protecção contra herbívoros-----------------------------------------------------Sacha--------------------------------------------Mondas-------------------------------Desbaste <strong>de</strong>rebentos---------------------Ceifas--------------------------------------------Retocar----------------------------------------------------------Podas-------------------------------Remoção <strong>de</strong>exemplares velhos-------------------Reparações, reconstruções e intervenções <strong>de</strong> complemento-------------------------Desbaste---------------Fertilização /arejamento------------------Cortes---------------Desrame-------


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ANEXO IDescrição das tipologias <strong>de</strong> intervenções<strong>de</strong> Engenharia Natural <strong>de</strong> utilização mais frequenteAs técnicas a seguir <strong>de</strong>scritas a<strong>de</strong>quam-se a diferentestipologias <strong>de</strong> uso e domínios <strong>de</strong> intervenção. Issonão impe<strong>de</strong> que, em cada situação, se opte porexecutar uma combinação <strong>de</strong> técnicas no sentido damaximização dos objectivos e da eficácia da obra.


Nascentes para a Vida691. SEMENTEIRADescriçãoConsiste no espalho a lanço, ou com maquinaria própria, <strong>de</strong> uma mistura <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> espéciesherbáceas a<strong>de</strong>quada ao local e <strong>à</strong> finalida<strong>de</strong> da intervenção. Este tipo <strong>de</strong> sementeira po<strong>de</strong> serexecutado quer em superfícies planas (sementeira standard), quer em covachos ou sulcos. Asementeira <strong>de</strong> gramíneas <strong>de</strong>ve incluir unicamente espécies anuais e <strong>de</strong> crescimento rápido,funcionando como cobertura orgânica do terreno. É aplicável em terrenos naturais estáveis e comalguma rugosida<strong>de</strong>.Campo <strong>de</strong> AplicaçãoEm áreas on<strong>de</strong> é necessária uma rápida protecção do terreno contra os fenómenos erosivos. Apresença <strong>de</strong> uma cobertura herbácea contínua sobre talu<strong>de</strong>s em perigo <strong>de</strong> <strong>de</strong>slizamento, po<strong>de</strong>contribuir para limitar a infiltração da água no solo, e assim reduzir um possível aumento daspressões neutras.MateriaisSementes herbáceas, arbustivas ou arbóreas <strong>de</strong> espécies autóctones, em quantida<strong>de</strong>s variáveis,consoante as espécies a semear.VantagensExecução simplesRápido revestimentoDesvantagensSe apenas forem utilizadas espécies herbáceas, a função <strong>de</strong> protecção ao solo será apenas superficial.Assim, <strong>de</strong>verá ser feita uma combinação entre sementes herbáceas, arbustivas e arbóreas, paraque a estabilização do solo se dê em profundida<strong>de</strong>.Período <strong>de</strong> ExecuçãoInício e durante a época vegetativa.ManutençãoRegas, podas e cortes, quando necessários.


702 HIDROSSEMENTEIRADescriçãoConsiste na projecção <strong>de</strong> uma mistura <strong>de</strong> água com mulch (fibras <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira), sementes,fertilizantes, correctivos/aditivos biológicos do solo. É aplicada hidraulicamente sob a superfície doterreno através <strong>de</strong> um equipamento mecânico (hidrossemeador).Campo <strong>de</strong> AplicaçãoTalu<strong>de</strong>s e margens fluviais, on<strong>de</strong> seja necessária uma rápida protecção ao solo contra a erosão.MateriaisÁguaSementes <strong>de</strong> espécies herbáceas, arbustivas ou arbóreas, em quantida<strong>de</strong> variávelFertilizantesBioestimulantesFixadoresCorrectivos/Aditivos biológicos do soloVantagensElevada taxa <strong>de</strong> germinação e cobertura homogéneaElevada força <strong>de</strong> tensão; absorvem mais a energia dos impactosProcesso rápido e eficaz que diminui a mão-<strong>de</strong>-obraMaior po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> absorção <strong>de</strong> águaPermite a execução <strong>de</strong> sementeiras em zonas <strong>de</strong> difícil acessoDesvantagensResultados pouco eficazes em zonas áridas e períodos secos.Período <strong>de</strong> ExecuçãoDurante o início do período vegetativo.ManutençãoRegas, podas e cortes, quando necessários.


Nascentes para a Vida713. ESTACARIA VIVADescriçãoEsta técnica correspon<strong>de</strong> <strong>à</strong> utilização <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong> troços <strong>de</strong> troncos ou ramos com mais <strong>de</strong> 3anos, com casca fina, sem ramagem lateral e sem estrias, com comprimentos entre 40 e 100 cm eum diâmetro entre 2 e 8 cm afiadas na parte inferior e cravadas no solo até que apenas cerca <strong>de</strong>5 cm fiquem <strong>de</strong> fora (Fig. *3) <strong>de</strong> modo a reduzir os ricos <strong>de</strong> exsicação. O efeito estabilizante <strong>de</strong>statécnica em profundida<strong>de</strong> aumenta consoante o comprimento da estaca colocada. Quanto maiora estaca, maior a profundida<strong>de</strong> a que se irão <strong>de</strong>senvolver as raízes e portanto maior estabilida<strong>de</strong>em profundida<strong>de</strong>. As estacas adaptam-se muito bem <strong>à</strong> instalação <strong>de</strong> vegetação em enrocamentosao permitirem uma instalação posterior <strong>à</strong> construção da mesma, assegurando <strong>de</strong>sta forma a suarevegetação sem necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenções custosas. Torna-se apenas necessário abrir buracosentre as rochas com uma estaca metálica, preenchê-los com solo e cravar a estaca garantindo que oseu comprimento lhe permitir penetrar até ao solo subjacente ao enrocamento.MateriaisEstacas vivas <strong>de</strong> salgueiro (Salix spp.), tamargueira (Tamarix africana), loendro (Nerium olean<strong>de</strong>r),choupo (Populus spp.), freixo (Fraxinus angustifolia), entre outras.Campo <strong>de</strong> AplicaçãoEm talu<strong>de</strong>s e margens fluviais <strong>de</strong> baixo <strong>de</strong>clive; po<strong>de</strong>m também ser usadas como elemento fixadorna instalação <strong>de</strong> mantas orgânicas, fascinas, entrançados vivos, etc. Esta técnica está especialmenterecomendada para reparar pequenos <strong>de</strong>slizamentos e assentamentos <strong>de</strong> terra <strong>de</strong>vidos ao excesso<strong>de</strong> humida<strong>de</strong> do solo em locais sem problemas graves <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong>. Também se emprega comofixação <strong>de</strong> outros elementos <strong>de</strong> controle da erosão como as mantas orgânicas. Também ajuda nocontrole da erosão fluvial, permitindo a recuperação e a estabilização <strong>de</strong> talu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> margens <strong>de</strong>rios, já que quando as estacas se tiverem estabelecido e as plantas <strong>de</strong>senvolvido, se consegueestabelecer com facilida<strong>de</strong> um coberto vegetal capaz <strong>de</strong> estabilizar o talu<strong>de</strong> <strong>de</strong> margem e protegera mesma contra os caudais <strong>de</strong> cheia. Para as estacas utilizam-se materiais sãos, obtidos a partir <strong>de</strong>exemplares com mais <strong>de</strong> 2 anos, com casca fina, sem ramos laterais e sem estrias. O seu diâmetrooscila normalmente entre 2 e 8 cm, com um comprimento <strong>de</strong> 50-100 cm. É muito importante queo comprimento garanta que o nível freático (ou <strong>de</strong> humida<strong>de</strong> permanente) seja atingido duranteo verão. Esta técnica é particularmente eficiente em margens fluviais ou zonas com humida<strong>de</strong>permanenteVantagensBaixo custoFacilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recolha <strong>de</strong> material, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que disponível na vizinhançaExecução simplesAcção muito eficaz após o <strong>de</strong>senvolvimento das estacas vivas (6 meses – 2 anos)Favorece a evolução dos ecossistemasO efeito estabilizante <strong>de</strong>sta técnica em profundida<strong>de</strong>, aumenta consoante o comprimento daestaca.DesvantagensA estabilida<strong>de</strong> dos talu<strong>de</strong>s e a consolidação superficial estão limitadas até ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>um a<strong>de</strong>quado sistema radicular.


72O enraizamento das estacas nem sempre é assegurado.Período <strong>de</strong> ExecuçãoDurante o repouso vegetativo.ManutençãoPodas nos primeiros tempos para favorecer o <strong>de</strong>senvolvimento radicular das estacas. Desbastes,caso seja necessário garantir a elasticida<strong>de</strong> das plantas e controlar o seu <strong>de</strong>senvolvimentoexcessivoDevido a uma melhor distribuição das substânciasque permitem o crescimento das palantas, asestacas plantadas obliquamente <strong>de</strong>senvolvem oseu sistema e, toda a superficieEstacas plantadas verticalmente<strong>de</strong>senvolvem o sistema radicularsobretudo na parte terminal


Nascentes para a Vida734. FASCINA VIVADescriçãoAs fascinas são, em conjunto com os entrançados, um dos métodos <strong>de</strong> construção com vegetaçãomais antigos (existem registos <strong>de</strong> uma utilização generalizada na China e no Peru há mais <strong>de</strong> milanos). As fascinas são feixes <strong>de</strong> ramas vivas e mortas com um diâmetro <strong>de</strong> entre 15 e 20 cm e umcomprimento adaptado <strong>à</strong> aplicação projectada, mas que varia normalmente entre 2 e 4 metros. Asua aplicação no terreno tem <strong>de</strong> garantir o máximo <strong>de</strong> contacto com o solo húmido <strong>de</strong> forma agarantir o <strong>de</strong>senvolvimento vegetativo da vegetação utilizada. Em talu<strong>de</strong>s, é também importantecobrir a fascina com solo <strong>de</strong> modo a evitar as perdas <strong>de</strong> agua por evaporação e a consequente mortepor exsicação. Utilizam-se ramos lenhosos (diâmetros entre 0.5 e 2 cm) <strong>de</strong> espécies com gran<strong>de</strong>capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enraizamento vegetativo, que <strong>de</strong>vem ser flexíveis, compridas, direitas e com gemas <strong>de</strong>crescimento activas. O uso <strong>de</strong>stas fascinas vivas só tem sentido em lugares on<strong>de</strong> a climatologia ou adisponibilida<strong>de</strong> hídrica permitem o estabelecimento das novas raízes e ramos.Consiste na elaboração <strong>de</strong> feixes <strong>de</strong> estacas vivas <strong>de</strong> espécies com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> propagaçãovegetativa, ligados por corda <strong>de</strong> sisal ou arame, e que se são fixadas ao terreno através <strong>de</strong> troncos<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira vivos ou mortos.MateriaisEstacas vivas <strong>de</strong> espécies lenhosas com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> propagação vegetativa (salgueiros,tamargueiras, etc.)Troncos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira vivos/mortos, ou varão roscado, para grampeamento ao soloArame ou corda <strong>de</strong> sisalCampo <strong>de</strong> AplicaçãoAs fascinas têm uma utilização muito diversificada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as estruturas <strong>de</strong> drenagem e segmentação<strong>de</strong> talu<strong>de</strong>s até uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> estruturas <strong>de</strong> protecção <strong>de</strong> margens <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> água.Nas margens <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> água esta técnica é recomendada para a criação <strong>de</strong> faixas <strong>de</strong> vegetação nasmargens dos rios. A sua colocação ao longo da margem é rápida e simples, bastando a sua fixação comestacas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. Em situações <strong>de</strong> margens mais <strong>de</strong>clivosas po<strong>de</strong> recorrer-se a muros <strong>de</strong> fascinasempilhado e suportados por estacas fortemente enterradas do lado da corrente em complementodas estacas <strong>de</strong> fixação <strong>de</strong> cada fascina individual. A sua utilização na protecção e consolidação <strong>de</strong>margens <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> água tem que ter em consi<strong>de</strong>ração que estas técnicas têm uma resistêncialimitada <strong>à</strong> velocida<strong>de</strong> da água variando entre um mínimo <strong>de</strong> 2 m/s em fascinas sobre esteiras <strong>de</strong>ramos a 4 m/s em pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fascinas.As fascinas contribuem igualmente para o aumento dos factores <strong>de</strong> êxito das plantações <strong>de</strong> lenhosastalu<strong>de</strong>s e encostas com <strong>de</strong>clives inferiores a 35º. Ao colocar fascinas horizontalmente em valasescavadas no talu<strong>de</strong> distanciadas entre si <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 1m a 1,5m consegue-se um eficiente sistema<strong>de</strong> prevenção da erosão e do risco <strong>de</strong> ravinamento. Este efeito <strong>de</strong>corre da interrupção das linhas<strong>de</strong> escoamento, reduzindo a energia do mesmo (e logo a sua capacida<strong>de</strong> erosiva) ao mesmo tempoque asseguram algum <strong>de</strong>svio lateral <strong>de</strong>sse escorregamento quando essas valas apresentem umligeiro <strong>de</strong>clive (2 - 3% conduzindo a um dreno longitudinal. Este e outros sistemas <strong>de</strong> drenagem esegmentação <strong>de</strong> talu<strong>de</strong>s são <strong>de</strong> particular importância já que garantem o <strong>de</strong>svio do escoamentosuperficial e, com o <strong>de</strong>senvolvimento da vegetação, o amortecimento da energia <strong>de</strong> erosão <strong>de</strong>ssemesmo escoamento. Em situações on<strong>de</strong> não existam condições <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento vegetativo davegetação po<strong>de</strong> continuar-se a utilizar drenos <strong>de</strong> fascinas mortas para este fim, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que elas sejamcomplementadas com a plantação e a sementeira <strong>de</strong> espécies lenhosas. Estas intervenções sãosempre da maior importância para evitar a formação <strong>de</strong> ravinas nos talu<strong>de</strong>s e encostas.


74VantagensRealização simplesBaixo custoNotável eficácia estabilizanteFacilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recolha <strong>de</strong> materialMelhoramento imediato da acção drenante, <strong>de</strong>vido ao efeito evapotranspirante das plantasPermitem redireccionar o sentido <strong>natural</strong> do escoamento, afastando as águas das áreas instáveisFornecedor <strong>de</strong> material vivoDesvantagensPodas regularesElevada quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> material vivo e mão-<strong>de</strong>-obraPeríodo <strong>de</strong> ExecuçãoDurante o repouso vegetativo.ManutençãoPodas periódicas.


Nascentes para a Vida755. ENTRANÇADOS VIVOSDescriçãoConstituem em conjunto com as fascinas, a técnica <strong>de</strong> utilização mais generalizada e diversificada<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a antiguida<strong>de</strong>. Po<strong>de</strong>m ser utilizados na protecção <strong>de</strong> margens fluviais e na estruturaçãoe consolidação <strong>de</strong> talu<strong>de</strong>s e encostas. Também é uma técnica <strong>de</strong> utilização simples, consistindona execução <strong>de</strong> um entrançado <strong>de</strong> ramos vivos <strong>de</strong> salgueiro (ou outras espécies lenhosas comcaracterísticas ecológicas semelhantes e a<strong>de</strong>quadas <strong>à</strong>s características do local <strong>de</strong> intervenção)em torno <strong>de</strong> estacas (que po<strong>de</strong>m também ser vivas) cravadas no solo . Adaptam-se muito bem <strong>à</strong>protecção <strong>de</strong> margens <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> água on<strong>de</strong> a velocida<strong>de</strong> máxima da água seja inferior a 3.5 m/s(há autores que indicam um limite muito mais baixo da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 1.5 m/s).Em talu<strong>de</strong>s e encostas costumam utilizar-se na consolidação e estruturação da camada superior dosolo (até 20 cm). Esta utilização, contudo, só é viável em condições on<strong>de</strong> a humida<strong>de</strong> do solo garantaas condições necessárias ao estabelecimento vegetativo das plantas. Em alternativa po<strong>de</strong> utilizarsematerial morto para apoiar o sucesso <strong>de</strong> plantações <strong>de</strong> plantas enraizadas. Para a consolidação<strong>de</strong> talu<strong>de</strong>s usando entrançados recorre-se normalmente a instalações em linhas horizontais ou aestruturas em losango.Campo <strong>de</strong> AplicaçãoMargens <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> água on<strong>de</strong> seja necessário uma protecção continua e elástica das margens.MateriaisRamagem viva ou estacas <strong>de</strong> espécies com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> propagação vegetativaTroncos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>iraPedrasBarras <strong>de</strong> açoVantagensProtecção imediata contra a erosão mecânica e posterior consolidação em profundida<strong>de</strong> atravésdo <strong>de</strong>senvolvimento radicularFacilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recolha <strong>de</strong> materialApós o seu <strong>de</strong>senvolvimento, funciona como fornecedor <strong>de</strong> material vivo, que po<strong>de</strong>rá ser usadonoutras intervençõesApresenta resultados muito positivos no combate <strong>à</strong>s cheiasEstrutura flexível e permeávelDesvantagensElevada quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> material vivoCom o passar do tempo é necessário efectuar algumas tarefas <strong>de</strong> manutençãoPeríodo <strong>de</strong> ExecuçãoDurante o repouso vegetativo.ManutençãoPodas e cortes selectivos para manter a elasticida<strong>de</strong> da obra e evitar um irregular crescimento dasplantas.


Nascentes para a Vida776. ESTEIRA DE RAMAGEMDescriçãoRevestimento <strong>de</strong> margens fluviais com ramagens vivas <strong>de</strong> espécies com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> propagaçãovegetativa. Colocam-se perpendicularmente <strong>à</strong> direcção do escoamento, e fixam-se ao solo através<strong>de</strong> arame e estacas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. A base da ramagem <strong>de</strong>verá ser colocada <strong>de</strong> forma a estar emcontacto com o terreno húmido ou directamente na água. Posteriormente, a ramagem é recobertacom uma camada fina <strong>de</strong> terreno. A sua base po<strong>de</strong> ser reforçada com enrocamento ou com troncos<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. Esta é uma técnica particularmente a<strong>de</strong>quada <strong>à</strong> cobertura e consolidação <strong>de</strong> margens<strong>de</strong> rios on<strong>de</strong> se registe torrencialida<strong>de</strong> e velocida<strong>de</strong>s muito elevadas (tensões <strong>de</strong> arraste superioresa 200 N/m2). A esteira protegem o talu<strong>de</strong> da acção da corrente e <strong>de</strong>senvolvem, ao mesmo tempoum espessa formação vegetal cobrindo em muito pouco tempo a totalida<strong>de</strong> do talu<strong>de</strong> seja no sentidolongitudinal como perpendicular <strong>à</strong> corrente. A rugosida<strong>de</strong> da esteira e da vegetação que a partir<strong>de</strong>la se <strong>de</strong>senvolve reduzem a velocida<strong>de</strong> da água junto <strong>à</strong> margem e, em consequência a sua energiaerosiva. Os ramos retêm os materiais e sedimentos arrastados pelas torrentes criando um colchãoprotector que isola a margem do contacto directo da torrente e das ondas dos rios. Esta técnica émuito exigente em material, tempo e mão <strong>de</strong> obra especializada (por exemplo para a construçãodo enrocamento é necessário maquinaria pesada) pelo que só <strong>de</strong>ve ser utilizada em zonas on<strong>de</strong> énecessário garantir uma protecção imediata e <strong>de</strong> elevada eficácia contra a erosão fluvial. Adapta-separticularmente bem <strong>à</strong> reconstrução <strong>de</strong> frentes <strong>de</strong> erosão activas e <strong>à</strong> protecção <strong>de</strong> infra-estruturascomo pontes ou represas <strong>de</strong> correcção torrencial ou retenção <strong>de</strong> escoamento. Tem sempre que seter em consi<strong>de</strong>ração que esta técnica só se po<strong>de</strong> utilizar em margens com <strong>de</strong>clives inferiores a 2:3.Não se adapta a intervenções em talu<strong>de</strong>s não fluviais <strong>de</strong>vido á sua necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que todo o talu<strong>de</strong>tenha humida<strong>de</strong> suficiente para o estabelecimento a<strong>de</strong>quado da vegetação.Campo <strong>de</strong> AplicaçãoMargens <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> água on<strong>de</strong> seja necessário uma protecção continua e elástica das margens.A sua construção, apesar <strong>de</strong> relativamente simples exige cuidados particulares <strong>de</strong> modo a garantira sua eficácia e resistência ao fluxo da água. Consiste na cobertura do talu<strong>de</strong> <strong>de</strong> margem comuma camada <strong>de</strong>nsa <strong>de</strong> ramos com vários metro <strong>de</strong> comprimento, colocada perpendicularmente aofluxo da água e garantindo a extremida<strong>de</strong> mais grossa se encontra baixo do nível mínimo da água.Enterram-se estacas dispostas em diagonal e afastadas cerce da 1.5m <strong>à</strong>s quais se fixa arame grosso<strong>de</strong> tal modo que quando se cravem estas estacas <strong>de</strong>finitivamente o arame esticado pressione todosos ramos contra o solo da margem fixando-os e garantindo o máximo <strong>de</strong> contacto possível entre osramos e o solo. A base é consolidada <strong>de</strong> seguida com um enrocamento (em rios <strong>de</strong> elevado caudale velocida<strong>de</strong>) ou com fascinas ou troncos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira em rios mais tranquilos. Toda a cobertura ouesteira <strong>de</strong> ramos é finalmente coberta com uma camada ligeira <strong>de</strong> solo .MateriaisRamagem viva ou estacas <strong>de</strong> espécies com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> propagação vegetativaTroncos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>iraPedrasBarras <strong>de</strong> açoVantagensProtecção imediata contra a erosão mecânica e posterior consolidação em profundida<strong>de</strong> atravésdo <strong>de</strong>senvolvimento radicularFacilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recolha <strong>de</strong> material


78Após o seu <strong>de</strong>senvolvimento, funciona como fornecedor <strong>de</strong> material vivo, que po<strong>de</strong>rá ser usadonoutras intervençõesApresenta resultados muito positivos no combate <strong>à</strong>s cheiasEstrutura flexível e permeávelDesvantagensElevada quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> material vivoCom o passar do tempo é necessário efectuar algumas tarefas <strong>de</strong> manutençãoPeríodo <strong>de</strong> ExecuçãoDurante o repouso vegetativo.ManutençãoPodas e cortes selectivos para manter a elasticida<strong>de</strong> da obra e evitar um irregular crescimento dasplantas.


Nascentes para a Vida797. LEITO DE VEGETAÇÃO OU DE RAMAGENSDescriçãoEste é um sistema clássico e muito eficaz <strong>de</strong> consolidação <strong>de</strong> talu<strong>de</strong>s e encostas. Tem a vantagem<strong>de</strong> assegurar imediatamente uma estruturação da encosta até uma profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1.5 m. Po<strong>de</strong>ser realizado apenas com ramos <strong>de</strong> plantas susceptíveis <strong>de</strong> estabelecimento por <strong>de</strong>senvolvimentovegetativo ou em combinação com plantas enraizadas <strong>de</strong> viveiro. Po<strong>de</strong> ser realizado em encostascom solo nu ou integrar-se em muros <strong>de</strong> terra armada com mantas orgânicas. A maior limitação<strong>de</strong>ste método tem a ver com a dificulda<strong>de</strong> em garantir o estabelecimento vegetativo da vegetaçãoem climas mais secos (como os climas mediterrânicos) on<strong>de</strong> existem poucas ou nenhumas espéciescapazes <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> estabelecimento vegetativo dadas as condições <strong>de</strong> reduzida a nula humida<strong>de</strong>dos talu<strong>de</strong>s e encostas na fase crítica da instalação. A construção dos leitos <strong>de</strong> ramagem é muitosimples realizando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a base da encosta até ao seu coroamento. Começa-se por escavar umaprimeira banqueta (ou terraço) horizontal com um <strong>de</strong>clive da base <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 10% para o interiorda encosta (Fig. *10) uma profundida<strong>de</strong> entre 0.5 e 1.5 metros. Dispõem-se <strong>de</strong> seguida os ramos(e / ou as plantas já enraizadas) sempre com comprimento superior ao da banqueta ou terraçoperpendicularmente <strong>à</strong> superfície da encosta <strong>de</strong> modo a cobrir a superfície da banqueta. Os ramossobressaem do terreno cerca <strong>de</strong> 10 cm para favorecer o <strong>de</strong>senvolvimento dos rebentos. Finalmenteescava-se uma nova banqueta 1.5 a 3 metros acima da primeira utilizando-se o solo extraído parapreencher a banqueta inferior. Vai-se repetindo o procedimento até ao topo da encosta.Campo <strong>de</strong> AplicaçãoEsta técnica, além <strong>de</strong> extremamente eficaz na consolidação <strong>de</strong> encostas, adapta-se também asistemas construtivos combinados como são os muros ver<strong>de</strong>s armados <strong>de</strong> mantas orgânicas, on<strong>de</strong>se utilizam leitos <strong>de</strong> vegetação entre as "almofadas" <strong>de</strong> solo envolvido pela manta. Estes murosver<strong>de</strong>s constituem não só sistemas <strong>de</strong> suporte como po<strong>de</strong>m ser eficazes barreiras sonoras.MateriaisRamagem viva ou estacas <strong>de</strong> espécies com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> propagação vegetativa. (salgueiros,tamargueiras, etc.)VantagensEstruturação imediata da encosta até uma profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1.5 mRápida cobertura vegetal em caso <strong>de</strong> boa germinação e <strong>de</strong>senvolvimento vegetativoDesvantagensResultados pouco eficazes em zonas áridas e períodos secos.Poucas espécies com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecimento vegetativo nas situação edafo-climáticasmediterrânicasPeríodo <strong>de</strong> ExecuçãoDurante o início do período vegetativo.ManutençãoRegas, podas e cortes, quando necessários.


Nascentes para a Vida818. MUROS DE SUPORTE VIVODescriçãoÉ uma construção em ma<strong>de</strong>ira constituída por uma estrutura em forma <strong>de</strong> caixa, formada portroncos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira dispostos perpendicularmente. O seu revestimento interior <strong>de</strong>verá ser feitona base com pedra até atingir o nível médio das águas, e a restante área <strong>de</strong> enchimento po<strong>de</strong>ráser bastante diversificada, consoante as necessida<strong>de</strong>s do local a requalificar, mas essencialmentepo<strong>de</strong>rá ser constituído por terreno local, espécies arbustivas autóctones em torrão ou raiz nua,estavas vivas ou fascinas. Estas estruturas adaptam-se muito bem ao suporte <strong>de</strong> talu<strong>de</strong>s e encostase <strong>à</strong> protecção e reconstrução <strong>de</strong> margens fluviais muito <strong>de</strong>gradadas <strong>de</strong>vido a acções erosivas muitointensas. São também utilizadas na construção <strong>de</strong> estruturas transversais <strong>de</strong> dissipação <strong>de</strong> energiaem correntes torrenciais <strong>de</strong> montanha. Em termos gerais a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suporte correspon<strong>de</strong><strong>à</strong> massa do solo que contêm na sua projecção vertical, <strong>de</strong>vendo ser esse a forma <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r aoscálculos <strong>de</strong> dimensionamento. A sua construção faz-se com troncos <strong>de</strong> diâmetro entre 10 e 40cm em camadas alternadas apresentado normalmente uma inclinação estrutural <strong>de</strong> unos 10-20%para aumentar a massa <strong>de</strong> suporte efectiva e reduzir os riscos <strong>de</strong> basculamento. Po<strong>de</strong> ser simples(só uma pare<strong>de</strong> longitudinal frontal) ou duplo (duas pare<strong>de</strong>s longitudinais). Po<strong>de</strong> ser ancorado comestacas (em meios muito instáveis em profundida<strong>de</strong>). São preenchidos com solo e, em cada nívelsão distribuídos ramos com capacida<strong>de</strong> vegetativa ou plantas enraizadas <strong>de</strong> modo a que atinjamo solo <strong>de</strong> fundação. Po<strong>de</strong> incluir preenchimento parciais com pedra na base e estar associado asistemas <strong>de</strong> drenagem nas aplicações como muro <strong>de</strong> suporte em encostas.Campo <strong>de</strong> AplicaçãoTalu<strong>de</strong>s e margens fluviais com <strong>de</strong>clives entre 40-50º. Em função do meio, do tipo <strong>de</strong> aplicaçãoe da intensida<strong>de</strong> dos factores <strong>de</strong> tensão a que estirão sujeitos assim se distinguem os diferentesprocedimentos e arquitecturas construtivas <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> estruturas.Obras fluviaisNestas obras, <strong>de</strong>vido <strong>à</strong> forte acção erosiva longitudinal, há que garantir que todas as áreas abertasestão protegidas contra a erosão por filtros <strong>de</strong> pedras, fascinas ou geotextil, <strong>de</strong> modo a garantir aintegrida<strong>de</strong> estrutural da construção.Longitudinais – protecção ou reconstrução <strong>de</strong> margens – este tipo <strong>de</strong> intervenções, <strong>de</strong>vido <strong>à</strong>permanente acção erosiva da corrente <strong>de</strong> água têm que ser fechadas na parte frontal com pedrase fascinas <strong>de</strong> modo a impedir a erosão do material <strong>de</strong> preenchimento. A disposição relativa dostroncos transversais (sobrepostos ou alternados) não é crítica já que as tensões actuantes sobre aestrutura são longitudinais (a direcção do fluxo <strong>de</strong> água).Transversais – Utilizados normalmente como estruturas <strong>de</strong> retenção torrencial estas estruturassão normalmente preenchidos com pedra, po<strong>de</strong>ndo, contudo, incluir vegetação lenhosa paraaumentar o efeito <strong>de</strong> retenção hídrica e <strong>de</strong> dissipação energética.Obras <strong>de</strong> consolidação e suporte em encostas – nestas obras, como as tensões sãotransversais ou perpendiculares <strong>à</strong> estrutura é da maior importância que a estrutura distribuaas tensões perpendiculares da forma mais homogénea possível, pelo que se aconselha umadistribuição alternada dos troncos transversais nas diferentes camadas. Este aspecto é importantequando as estruturas são usadas como muro <strong>de</strong> suporte como também quando são usadas comocomponente estrutural <strong>de</strong> suporte <strong>de</strong> uma estrada, já que em ambos os casos a distribuição edissipação das cargas pela estrutura sem pontos <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> tensões ou <strong>de</strong> fraquezas é damaior importância.


82Como o principal factor erosivo é a chuva não existe necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> instalar filtros entre os troncossendo suficiente respeitar o ângulo <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> do material <strong>de</strong> preenchimento para que garantirque a estrutura e o seu enchimento fiquem estáveis logo após a sua construção até ao pleno<strong>de</strong>senvolvimento da vegetação.MateriaisTroncos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>iraPregos ou varão <strong>de</strong> ferro roscadoEstacas vivas <strong>de</strong> espécies arbustivas autóctonesPlantas em torrão ou raiz nuaTerreno localArameVantagensConsolidação imediata e robustaA vegetação implementada <strong>de</strong>senvolve uma acção drenante, pois absorve a água necessária ao seu<strong>de</strong>senvolvimentoCustos <strong>de</strong> manutenção contidosFlexibilida<strong>de</strong> estruturalDesvantagensLimitado <strong>de</strong>senvolvimento em altura da obraNecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> utilizar meios mecânicos para executar as escavaçõesPeríodo <strong>de</strong> ExecuçãoTodo o ano (estrutura em ma<strong>de</strong>ira)Período <strong>de</strong> repouso vegetativo (estacaria viva e plantações)ManutençãoVigiar no primeiro ano, <strong>de</strong> modo a evitar o <strong>de</strong>scalçamento da estrutura.Substituição <strong>de</strong> estacas ou plantas que não tenham enraizado


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849. GABIÕES VIVOSDescriçãoEstrutura em forma <strong>de</strong> caixa rectangular, feita com re<strong>de</strong> <strong>de</strong> malha hexagonal em arame galvanizadoreforçado, e o seu interior é preenchida com pedra não friável. Estacas vivas são inseridas no interiordos gabiões com disposição irregular ou em filas na primeira malha do gabião superior. Desempenhamfunções <strong>de</strong> protecção contra a erosão fluvial e ao mesmo tempo servem <strong>de</strong> suporte <strong>à</strong> margem em caso<strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong> gravítica. São estruturas com elevada flexibilida<strong>de</strong> e permeabilida<strong>de</strong>. Os gabiões sãoestruturas constituídas por uma caixa pré fabricada <strong>de</strong> contenção rígida metálica em re<strong>de</strong> <strong>de</strong> arame ougra<strong>de</strong> <strong>de</strong> aço preenchida or<strong>de</strong>nadamente com pedras. Para introduzir vegetação, durante o processo <strong>de</strong>enchimento colocam-se camadas <strong>de</strong> terra vegetal e dispõem-se ramos com capacida<strong>de</strong> vegetativa ouplantas enraizadas com um cumprimento tal que atinjam plenamente o solo por trás do gabião <strong>de</strong> modoa maximizar as hipóteses <strong>de</strong> estabelecimento bem sucedido. O objectivo é o <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>senvolvimentodas raízes aju<strong>de</strong>m a fixar a estrutura ao talu<strong>de</strong> e a melhorar a sua integração paisagística. São utilizadoscomo estruturas <strong>de</strong> suporte <strong>de</strong> talu<strong>de</strong>s com <strong>de</strong>clives muito acentuados ou na protecção longitudinal<strong>de</strong> margens fluviais. Ao contrário das restantes técnicas <strong>de</strong>scritas, os gabiões plantados nãoconstituem na sua essência uma técnica <strong>de</strong> Engenharia Natural, já que a vegetação nuncasubstituirá plenamente as funções <strong>de</strong> suporte do gabião.Campo <strong>de</strong> AplicaçãoDefesa longitudinal e/ou transversal <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> água e talu<strong>de</strong>s em erosão.MateriaisSeixo do rio ou outro tipo <strong>de</strong> pedraArame galvanizado reforçadoEstacas vivas <strong>de</strong> espécies com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reprodução vegetativaVantagensExecução rápida e simplesEfeito <strong>de</strong> contenção imediatoPo<strong>de</strong> utilizar materiais locaisFlexíveis e permeáveisPermite a sistematização <strong>de</strong> margens muito íngremes ou em zonas com limitado espaço <strong>de</strong>intervençãoAumento da estabilida<strong>de</strong> da estrutura com o <strong>de</strong>senvolvimento radicular dos salgueirosDesvantagensA utilização <strong>de</strong> material pedregoso não característico do local aumenta os custosArtificialida<strong>de</strong> da estruturaPeríodo <strong>de</strong> ExecuçãoTodo o ano (estrutura)Período <strong>de</strong> repouso vegetativo (estacaria viva)ManutençãoNão necessita <strong>de</strong> tarefas <strong>de</strong> manutenção específicas, apenas se <strong>de</strong>ve ter em atenção para o caso <strong>de</strong>surgirem danos na estrutura.


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8610. TERRA REFORÇADADescriçãoObra <strong>de</strong> sustentação, utilizada para reconstrução <strong>de</strong> talu<strong>de</strong>s muito inclinados. Consiste numaestratificação reforçada <strong>de</strong> várias parcelas <strong>de</strong> terreno local, as quais são estabilizadas interiormentepelo peso do próprio terreno, enquanto que na parte frontal, a contenção do terreno é feita através<strong>de</strong> uma protecção com diversos tipos <strong>de</strong> materiais inertes. Utilizam-se mantas <strong>de</strong> geotextilorgânico reforçadas o não com re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aço ou plástico e cheias com uns 50 cm. <strong>de</strong> terra vegetal.finalizada uma camada proce<strong>de</strong>-se <strong>à</strong> plantação <strong>de</strong> espécies enraizadas ou <strong>à</strong> disposição da ramoscom capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> instalação vegetativa <strong>de</strong> forma semelhante <strong>à</strong> construção <strong>de</strong> um leito <strong>de</strong>ramagens. Esta técnica adapta-se muito bem <strong>à</strong> construção <strong>de</strong> muros <strong>de</strong> suporte ou a muros ver<strong>de</strong>s<strong>de</strong> protecção contra o ruído.Campo <strong>de</strong> AplicaçãoTalu<strong>de</strong>s e margens fluviais <strong>de</strong> elevada inclinação. Muros para protecção sonora.MateriaisRe<strong>de</strong> sintética ou metálica zincada e plastificadaGeotêxtil orgânico ou sintéticoGeogrelhas <strong>de</strong> reforçoMaterial inerte <strong>de</strong> enchimentoEstacas vivas <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> propagação vegetativa, arbustos em torrão, hidrossementeiraPainéis em re<strong>de</strong> metálica electrossoldadaVantagensElevada duração temporalA construção por módulos permite obter formas ilimitadas, adaptadas <strong>à</strong>s condições locais doterrenoÉ a estrutura artificial com melhores condições para o estabelecimento da vegetaçãoAplicável em locais com fortes inclinações e espaços limitadosDeformáveis e permeáveisDesvantagensElevado custoOs materiais <strong>de</strong> reforço não são bio<strong>de</strong>gradáveisRecolha <strong>de</strong> material <strong>de</strong> enchimento com características geotécnicas idóneasPeríodo <strong>de</strong> ExecuçãoTodo o ano (estrutura)Período <strong>de</strong> repouso vegetativo (estacaria viva e plantações)ManutençãoNão necessita <strong>de</strong> tarefas <strong>de</strong> manutenção específicas, apenas se <strong>de</strong>ve ter em atenção para o caso <strong>de</strong>surgirem danos na estrutura.


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8811. GRADE VIVADescriçãoEstrutura em ma<strong>de</strong>ira obtida através da colocação <strong>de</strong> troncos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira horizontais e verticaisdispostos perpendicularmente entre si, e suportada por troncos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira cravados no solo queservem <strong>de</strong> suporte <strong>à</strong> estrutura. Posteriormente, proce<strong>de</strong>-se <strong>à</strong> plantação <strong>de</strong> estacas vivas, <strong>de</strong> plantasem torrão ou em raiz nua, e finalmente enche-se a estrutura com terreno local. As gra<strong>de</strong>s vivassão estruturas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira para a consolidação superficial <strong>de</strong> talu<strong>de</strong>s com uma altura <strong>de</strong> até 20m e <strong>de</strong>clives <strong>de</strong> até 55%. O seu objectivo é a consolidação das camadas superficiais <strong>de</strong> solo daencosta até uma profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 30 – 40 cm (em função do tipo <strong>de</strong> gra<strong>de</strong> (simples ou duplo)). Sãoconstruídas utilizando troncos <strong>de</strong> diâmetros entre 10 e 30 cm numa estrutura em gra<strong>de</strong> simples oudupla. A distancia vertical entre os diferentes níveis transversais é função do ângulo <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong>do solo <strong>de</strong> modo a garantir que não ocorram <strong>de</strong>slizamentos ou erosão do solo <strong>de</strong> enchimento. Ainstalação da vegetação po<strong>de</strong> ser feita por plantação ou colocação <strong>de</strong> estacas posteriormente <strong>à</strong>construção da gra<strong>de</strong>. Isso significa que é possível construir a gra<strong>de</strong> fora do período vegetativo aocontrário da maioria dos sistemas construtivos <strong>de</strong>scritos.Campo <strong>de</strong> AplicaçãoEm talu<strong>de</strong>s com <strong>de</strong>clives entre 45-55º e, eventualmente, em margens fluviaisMateriaisTroncos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>iraPregos ou varão <strong>de</strong> ferro roscadoTerreno localArameEstacas vivas <strong>de</strong> espécies arbustivas autóctonesPlantas em torrão ou raiz nuaVantagensEstabilização imediataA vegetação exerce uma acção drenante pois absorve a água necessária ao seu <strong>de</strong>senvolvimentoRequer pouca escavaçãoPermite o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> vegetação em talu<strong>de</strong>s com <strong>de</strong>clives muito acentuados sem anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nivelamentoEfeito estabilizante contínuo, que inicialmente é assegurado pela estrutura em ma<strong>de</strong>ira, eposteriormente é assegurado pelo <strong>de</strong>senvolvimento radicular da vegetaçãoDesvantagensMétodo <strong>de</strong> construção intensivoDifícil aplicação em substratos rochososPeríodo <strong>de</strong> ExecuçãoTodo o ano (estrutura em ma<strong>de</strong>ira)Período <strong>de</strong> repouso vegetativo (estacaria viva e plantações)


Nascentes para a Vida89ManutençãoSubstituição <strong>de</strong> estacas ou plantas que não tenham enraizado.Gra<strong>de</strong> <strong>de</strong> vegetação associada a muro <strong>de</strong> suporte tipo "Cribawall" <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> dupla (Martinho,2005)Dimensionamento da distancia horizontal entre traves numa gra<strong>de</strong> simples (Pires, 2010)Gra<strong>de</strong> <strong>de</strong> vegetação associada a muro <strong>de</strong> suporte tipo "Cribawall" <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> dupla(Martinho, 2005)Dimensionamento da distancia horizontal entre traves numa gra<strong>de</strong> simples (Pires, 2010)


9012. GEOTEXTEIS E GEOMALHAS VIVASDescriçãoNeste grupo incluem-se os geotexteis, as mantas orgânicas e as re<strong>de</strong>s metálicas quando utilizadoscomo sistema <strong>de</strong> cobertura superficial permitindo o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma sementeira, <strong>de</strong> umestacaria ou <strong>de</strong> plantações <strong>de</strong> plantas enraizadas. Estes tecidos e mantas <strong>de</strong>stinam-se a garantiruma cobertura do solo que evite a acção directa dos agentes erosivos e diminua as perdas <strong>de</strong> águapor evaporação, permitindo um <strong>de</strong>senvolvimento mais fácil das plantas. Adicionalmente regulam atemperatura do solo, criando um microclima mais temperado e húmido. Uma a<strong>de</strong>quada selecçãodas mantas mais a<strong>de</strong>quadas a cada situação (factores <strong>de</strong> perturbação e instabilida<strong>de</strong>) e a garantiaque se a<strong>de</strong>quam <strong>à</strong> instalação dos propágulos utilizados (sementes, estacas, plantas enraizadas) écrucial para o sucesso da instalação. Igualmente da maior importância é a fixação das geomalhasque <strong>de</strong>ve garantir uma percentagem significativa <strong>de</strong> sobreposição entre mantas consecutivas,uma pregagem a<strong>de</strong>quada e uma fixação superior e inferior resistente. Adaptam-se muito bem amétodos combinados.Campo <strong>de</strong> AplicaçãoPo<strong>de</strong>m ser aplicadas em muitas situação <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> erosão laminar, correcção <strong>de</strong> ravinamentoe consolidação <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> drenagem, margens <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> água e talu<strong>de</strong>s com <strong>de</strong>clives entre 25ºe 45º.MateriaisEmbora possam ser agrupadas e catalogadas <strong>de</strong> diferentes formas existem três grupos principais<strong>de</strong> geotexteis <strong>de</strong>stes materiais:- Biomantas (as fibras estão <strong>de</strong>sagragadas mas acondicionadas por um material estruturante(geralmente re<strong>de</strong> ou outro material tecido <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradabilida<strong>de</strong> variável), comprimida <strong>de</strong> modo aconstituir um todo homogénio mesmo sem o invólucro)- Biotecidos (as fibras estão entrançados)- Biore<strong>de</strong>s (as fibras individuais estão ligadas (por nós ou agrafes) nos seus pontos <strong>de</strong> contacto)Existem mantas numa gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> materiais: fibra <strong>de</strong> coco, juta, palha, esparto, etc,combinadas ou não com re<strong>de</strong>s ou malhas estruturais sintéticas (e.g., polipropileno) ou metálicas.Em situações <strong>de</strong> controle do escoamento superficial empregam-se também re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> juta, espartoou fibra <strong>de</strong> coco.VantagensExecução simples e rápidaAcção protectora imediataAcção filtrante muito eficazElasticida<strong>de</strong> e permeabilida<strong>de</strong>DesvantagensDurabilida<strong>de</strong> limitada no tempoPeríodo <strong>de</strong> ExecuçãoDurante todo o ano, mas no caso <strong>de</strong> ser em combinação com sementeira ou planatação, durante operíodo <strong>de</strong> reposo vegetativo.


Nascentes para a Vida91ManutençãoVigilância no primeiro ano para controlar a estabilida<strong>de</strong> da estrutura e da pregagem.


9213. BIOROLOSDescriçãoRolos cilíndricos em fibra <strong>de</strong> coco, que permitem a sedimentação <strong>de</strong> materiais e/ou a estabilização<strong>de</strong> margens fluviais.Campo <strong>de</strong> AplicaçãoMargens fluviais <strong>de</strong> <strong>de</strong>clive baixo com limitada oscilação do nível da água e transporte sólidobastante fino, margens <strong>de</strong> lagos, áreas lagunares.MateriaisRolo em fibra <strong>de</strong> cocoArameTroncos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira ou varas <strong>de</strong> ferroRamagens ou estacas vivasBolbos e RizomasVantagensExecução simples e rápidaAcção protectora imediataAcção filtrante muito eficazElasticida<strong>de</strong> e permeabilida<strong>de</strong>DesvantagensLimitada durabilida<strong>de</strong> limitada no tempoPeríodo <strong>de</strong> ExecuçãoDurante o período <strong>de</strong> estiagemManutençãoVigilância no primeiro ano para controlar a estabilida<strong>de</strong> da estrutura.


Nascentes para a Vida9314. BARRAGEM DE CORRECÇÃO TORRENCIALDescriçãoÉ uma estrutura construída segundo a tipologia clássica das barragens, apesar <strong>de</strong> ser constituídapor ma<strong>de</strong>ira e pedra como materiais alternativos ao usual betão. É construída transversalmenteem relação ao sentido do escoamento da água, e contribui imediatamente para a diminuição dainclinação do fundo do leito do rio, o que favorece a diminuição dos efeitos erosivos e a <strong>de</strong>posição<strong>de</strong> material.Campo <strong>de</strong> AplicaçãoLinhas <strong>de</strong> água on<strong>de</strong> haja erosão lateral e no fundo do leito com transporte sólido não excessivo,e on<strong>de</strong> o escoamento mínimo seja constante (evitar períodos em que os troncos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira seencontrem húmidos e <strong>de</strong>pois secos), <strong>de</strong> forma a favorecer a durabilida<strong>de</strong> da estrutura.MateriaisTroncos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>iraVarão <strong>de</strong> ferro roscadoEstacas e fascinas vivas <strong>de</strong> salgueirosPedraVantagensElevada duração temporalElevada capacida<strong>de</strong> drenantePo<strong>de</strong>m substituir as construções tradicionais, recorrendo <strong>à</strong> utilização <strong>de</strong> material localDesvantagensObstáculo para a fauna piscícolaPeríodo <strong>de</strong> execuçãoPeríodo <strong>de</strong> estiagemManutençãoNão necessita <strong>de</strong> tarefas <strong>de</strong> manutenção específicas, apenas se <strong>de</strong>ve ter em atenção para o caso <strong>de</strong>surgirem danos na estrutura.


9415. SOLEIRASDescriçãoSão estruturas construídas com pedras, que servem para superar os <strong>de</strong>sníveis do leito, evitandoa criação <strong>de</strong> ressaltos, permitindo o movimento dos peixes. Antes da sua realização, é necessárioalargar o leito. A estrutura é eventualmente fixada a montante e a jusante com troncos inseridosem profundida<strong>de</strong>. Imediatamente a montante da soleira é <strong>de</strong>sejável a realização <strong>de</strong> cavida<strong>de</strong>s parapeixes.Campo <strong>de</strong> AplicaçãoLeitos <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> água com inclinação média-baixa, e com fundo pedregoso e arenoso. Aplicam-setambém como dissipadores <strong>de</strong> energia na base <strong>de</strong> barragens <strong>de</strong> correcção torrencial.MateriaisBlocos <strong>de</strong> pedraTroncos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>iraVantagensConsolidação imediata do leito da linha <strong>de</strong> água. Rappresenta una via funzionale alla risalita <strong>de</strong>lcorsoFunciona também como estrutura <strong>de</strong> apoio <strong>à</strong> subida da fauna ictícia.DesvantagensNecessita <strong>de</strong> uma quantida<strong>de</strong> elevada <strong>de</strong> material inerte.Período <strong>de</strong> ExecuçãoEm qualquer estação do ano, excepto em período <strong>de</strong> reprodução <strong>de</strong> peixes.ManutençãoNão necessita <strong>de</strong> tarefas <strong>de</strong> manutenção específicas.


Nascentes para a Vida9516. ENROCAMENTO VIVODescriçãoObra <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa longitudinal contra a erosão das margens fluviais, que consiste na colocação <strong>de</strong> pedras <strong>de</strong>gran<strong>de</strong>s dimensões nas margens. Nos interstícios entre pedras são colocadas estacas vivas <strong>de</strong> salgueiro.Campo <strong>de</strong> AplicaçãoMargens fluviais <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> água com notável transporte sólido e elevada velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong>corrente.MateriaisPedras <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s dimensõesEstacas vivas <strong>de</strong> espécies com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reprodução vegetativaTroncos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira (opcional)VantagensEfeito protector imediatoAssim que as estacas vivas <strong>de</strong>senvolvam o seu sistema radicular aumenta o efeito estabilizador nosoloManutenção reduzidaDesvantagensTécnica <strong>de</strong> difícil aplicabilida<strong>de</strong> em zonas pouco acessíveis <strong>à</strong> maquinaria necessária para a suaexecução.Em linhas <strong>de</strong> água <strong>de</strong> regime torrencial, estão sujeitas a escavação na base.Período <strong>de</strong> ExecuçãoTodo o ano (colocação <strong>de</strong> pedras)Período <strong>de</strong> repouso vegetativo (estacaria viva)ManutençãoControlo periódico por pelo menos duas ou três estações vegetativas e substituição <strong>de</strong> estacas vivasque não tenham enraizado.


9617. DEFLECTORES (ESPORÕES) VIVOSDescriçãoConstrução em ma<strong>de</strong>ira, pedra e material vegetal vivo, colocada transversalmente oulongitudinalmente em relação ao escoamento das águas. Desenvolvem eficazmente funções antierosivas,reduzindo a velocida<strong>de</strong> da água, e consentindo a <strong>de</strong>posição <strong>de</strong> material sólido. Constituemtambém pontos <strong>de</strong> refúgio para a fauna.MateriaisTroncos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>iraRamagem morta e vivaEstacas <strong>de</strong> salgueiroMaterial <strong>de</strong> enchimento (pedras, seixos)Varão <strong>de</strong> ferro roscadoVantagensTornam-se parte integrante da margem fluvialA presença da ramagem reduz a velocida<strong>de</strong> da água e mistura-a, criando zonas <strong>de</strong> águas baixastranquilas, indicadas para a reprodução <strong>de</strong> diversas espécies piscícolas.DesvantagensPo<strong>de</strong>m causar erosão na margem oposta, caso não sejam bem dimensionados.Utilização <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> material vivo.Período <strong>de</strong> ExecuçãoTodo o ano, exceptuando a aplicação do material vivo que <strong>de</strong>verá ocorrer durante o período <strong>de</strong>repouso vegetativoManutençãoNos primeiros dois anos <strong>de</strong>verá ter-se em atenção o <strong>de</strong>senvolvimento das estacas vivas, comsubstituição das que não vingaram.Após eventos <strong>de</strong> cheias, <strong>de</strong>verá ser avaliada a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reposicionar algumas pedras quesejam eventualmente levadas pela corrente.


Nascentes para a Vida97


9818. BARREIRAS DE CONTENÇÃO DE SOLODescriçãoConsiste no aproveitamento em zonas pós-fogo, <strong>de</strong> troncos <strong>de</strong> árvores mortas, os quais sãocolocados horizontalmente sobre o terreno, apoiados noutros fixados no solo, ou mesmo nas toiçasresultantes do corte <strong>de</strong> árvores ardidas. Rapidamente contribuem para a sedimentação do soloerodido, que <strong>de</strong>vido <strong>à</strong> falta da protecção dada pela vegetação é facilmente arrastado. – Esta éuma técnica simples <strong>de</strong> consolidação superficial <strong>de</strong> solos erodidos e <strong>de</strong> redução da energia doescoamento por redução do trajecto linear da água na encosta. Constituem, simultaneamente umexcelente suporte para a vegetação <strong>de</strong>vido <strong>à</strong> acumulação <strong>de</strong> partículas finas e pela redução daerosivida<strong>de</strong> do escoamento que garantem. A sua construção faz-se cravando estacas na encosta,por trás das quais se dispõem horizontalmente um ou dois que po<strong>de</strong>m servir <strong>de</strong> base para aconstrução <strong>de</strong> leitos <strong>de</strong> ramos ou realizar plantações <strong>de</strong> lenhosas. Facilitam também o sucesso<strong>de</strong> sementeiras entre as linhas <strong>de</strong> <strong>de</strong>graus ao reduzir a energia do escoamento e a consequenteerosão superficial. Em zonas ardidas no imediato pós-fogo po<strong>de</strong>m-se utilizar os troncos <strong>de</strong> árvoresmortas colocando-os horizontalmente sobre o terreno, apoiados noutros fixados no solo, ou mesmonas toiças resultantes do corte <strong>de</strong> árvores ardidas. Esta intervenção contribui rapidamente para asedimentação do solo erodido, que <strong>de</strong>vido <strong>à</strong> falta da protecção dada pela vegetação é facilmentearrastado. Facilita, por este modo a restauração da vegetação ao preservar o solo e a sua humida<strong>de</strong>acima <strong>de</strong>sses troncos criando as melhores condições para uma plantação bem sucedida.MateriaisTroncos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e eventualmente pregos, varão <strong>de</strong> ferro roscado, arameVantagensContenção e sedimentação imediata do solo erodidoAproveitamento <strong>de</strong> material localDesvantagensElevada quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> material e mão-<strong>de</strong>-obraPeríodo <strong>de</strong> ExecuçãoAssim que possível após a ocorrência do fogo.ManutençãoNão necessita <strong>de</strong> tarefas <strong>de</strong> manutenção específicas.


Nascentes para a Vida99CUSTOS ASSOCIADOS À IMPLEMENTAÇÃO E MANUTENÇÃO DE MEDIDAS DE ENA orçamentação dos custos <strong>de</strong> implementação das medidas/técnicas <strong>de</strong> EngenhariaNatural mais relevantes são baseadas na bibliografia da especialida<strong>de</strong>. De acordo comisso, apresentaremos em seguida, por cada técnica, os valores <strong>de</strong>finidos:Técnica <strong>de</strong> Engenharia NaturalCusto UnitárioBarragem correcção torrencial €150/m 2Barreiras <strong>de</strong> contenção <strong>de</strong> seloBioroloDeflectores vivos€30/m€50/m€10/mEnrocamento vivo €120/m 2Entraçado vivoEstacaria viva€30/m€3/estacaEsteira viva €30/m 2Faixas <strong>de</strong> vegetaçãoFascina viva€10/m€20/mFascinas vivas múltiplas €50/m 2Gabiões vivos €160/m 2Geocélulas €32/m 2Gra<strong>de</strong> viva €100/m 2Hidrossementeira €1/m 2Manta Orgânica €5/m 2Muro <strong>de</strong> suporte vivoPaliçadaPlantação€150/m€5/paliçada€4/péRe<strong>de</strong>s tridimensionais €150/m 2Sementeira €1/m 2Soleiras €200/m 2Terra armada / Muro ver<strong>de</strong> €200/m 2Transplantação €20/m 2Apesar das suas limitações, as técnicas <strong>de</strong> <strong>engenharia</strong> <strong>natural</strong> oferecem diversasvantagens relativamente <strong>à</strong>s técnicas tradicionais. Estas vantagens encontram-se<strong>de</strong>scritas na listagem seguinte:• Baixo custo e reduzida manutenção a longo prazo relativamente <strong>à</strong>s obras <strong>de</strong><strong>engenharia</strong> convencionais, obtendo por isso um maior índice <strong>de</strong> custo – benefício.• Há medida que um projecto <strong>de</strong> <strong>engenharia</strong> <strong>natural</strong> adquire maturida<strong>de</strong> (após a plenaadaptação e <strong>de</strong>senvolvimento da vegetação <strong>à</strong>s condições locais, pouca ou nenhumamanutenção é necessária;• Promovem a utilização e por vezes reutilização <strong>de</strong> materiais naturais, adquiridos noslocais <strong>de</strong> intervenção (solo, vegetação, ma<strong>de</strong>ira, pedra);


100• Benefícios ambientais ao nível da criação <strong>de</strong> nichos ecológicos, melhorias naqualida<strong>de</strong> da água;• Aumento das forças estabilizantes do solo, através do <strong>de</strong>senvolvimento contínuodas raízes;• Obras com elevada compatibilida<strong>de</strong> ambiental, pois são estruturas <strong>de</strong> baixo impacto,perfeitamente enquadradas na paisagem;• Promoção <strong>de</strong> valores estéticos paisagísticos.Custos <strong>de</strong> ManutençãoResumo:Ano 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 121º Ano 2 2 2 1 1 1 1 1 1 12 operários x 8h/dia x 2 dias/mês x 3 meses2 operários x 8h/dia x 1 dia/mês x 6 meses2 operários x 8h/dia x 1 dia/mês para 3 mesesTotal:2 operários x (8h x 6 dias = 48 horas) + (8h x 6 dias = 48 horas) + (8h x 3 dias = 24 h) =120 h / ano120 h x 15 € = 1800 €/ano (Mão <strong>de</strong> Obra)As tarefas <strong>de</strong> manutenção referentes ao primeiro ano após a construção das técnicas<strong>de</strong> <strong>engenharia</strong> <strong>natural</strong> são imprescindíveis, pois garantem muitas vezes a eficácia e osucesso <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> intervenções.A garantia inicial <strong>de</strong> estabilização <strong>de</strong> cada uma das intervenções é dada inicialmente pelaestrutura inerte, a qual per<strong>de</strong>rá ao longo do tempo a sua resistência, <strong>de</strong>vido <strong>à</strong> <strong>de</strong>gradaçãodos materiais (ex: troncos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira). No entanto, este facto não é preocupante, poisessa mesma força estabilizante será substituída pelo <strong>de</strong>senvolvimento do sistemaradicular das espécies implementadas.Para além do valor <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra, existem outros custos associados <strong>à</strong> manutençãodas técnicas <strong>de</strong> <strong>engenharia</strong> <strong>natural</strong>, que irão ser variáveis, pois <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da evoluçãodas mesmas.Segundo Zeh (2007), a manutenção <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> <strong>engenharia</strong> <strong>natural</strong>, diz respeito aostrabalhos que se efectuam tendo em vista a conservação das estruturas e vegetaçãoimplementadas, bem como assegurar a sua eficiência técnica e ecológica.Em condições normais, isto é, quando foram aplicadas as técnicas construtivas e as


Nascentes para a Vida101plantas a<strong>de</strong>quadas, a manutenção das obras não é necessária após o segundo ano ouentão dá-se <strong>de</strong> uma forma periódica em intervalos médios (3 a 10 anos), em intervalosprolongados (superiores a 10 anos), ou então após acontecimentos como catástrofesnaturais, fogos ou danos causados por terceiros.Esses trabalhos <strong>de</strong> cuidado e manutenção po<strong>de</strong>m incluir as seguintes activida<strong>de</strong>s:• Prevenção dos danos causados pela fauna selvagem ou pelo gado.• Ceifa e transporte do material ceifado.• Pastoreio extensivo por espécies a<strong>de</strong>quadas como por exemplo as ovelhas.• Cobertura do solo (com palhas ou “mulch“) <strong>de</strong> plantações <strong>de</strong> lenhosas em particularem zonas áridas.• Irrigação.• Drenagem.• Melhoramento do solo através <strong>de</strong> adubação arejamento ou movimentação.• Podas dos materiais lenhoso para remoção <strong>de</strong> partes mortas ou doentes, pararegeneração, redução da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> e favorecimento <strong>de</strong> espécies preferenciais.Existem <strong>de</strong>terminadas tarefas <strong>de</strong> manutenção nas obras <strong>de</strong> <strong>engenharia</strong> <strong>natural</strong> que senão <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>scuradas:1. Eliminação e substituição das plantas que não tenham tido sucessoEventuais plantas mortas <strong>de</strong>vem ser substituídas por outras idênticas, bem comoproce<strong>de</strong>r a novas sementeiras ou plantações em zonas on<strong>de</strong> o seu crescimento estejaa ser irregular ou <strong>de</strong>feituoso. Estas tarefas <strong>de</strong>ve ser realizadas imediatamente após ai<strong>de</strong>ntificação dos problemas, <strong>de</strong> maneira a prevenir eventuais fenómenos <strong>de</strong> erosãolocalizada, e que possam comprometer o sucesso das intervenções realizadas.2. Sistematização <strong>de</strong> danosDeve-se proce<strong>de</strong>r no mais curto espaço <strong>de</strong> tempo <strong>à</strong> sistematização <strong>de</strong> danos causadospela erosão, com intervenções que reponham as condições <strong>de</strong>ixadas após a realizaçãodas obras, seja na reposição <strong>de</strong> solo perdido, novas plantações ou mesmo arranjosestruturais. Também po<strong>de</strong>rá ser necessário solucionar possíveis danos causados pelafauna selvagem ou gado doméstico.3. IrrigaçõesDe forma a favorecer o enraizamento da vegetação, <strong>de</strong>ve-se proce<strong>de</strong>r a diversasoperações <strong>de</strong> irrigação pelos menos nos dois primeiros anos após a conclusão dasobras.


1024. Controlo da vegetaçãoÉ necessário realizar diversas tarefas <strong>de</strong> manutenção enquanto a vegetação se<strong>de</strong>senvolver, tais como: cortes, mondas, <strong>de</strong>sbastes, remoção <strong>de</strong> partes mortas oudoentes, e redução da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma a favorecer as espécies preferenciais.5. PodasAs podas <strong>de</strong> formação e <strong>de</strong> manutenção <strong>de</strong>vem ser realizadas <strong>de</strong> acordo com ascaracterísticas <strong>de</strong> cada espécie.6. Controlo fitossanitárioÈ necessário controlar as manifestações patológicas na vegetação, proce<strong>de</strong>ndo <strong>à</strong>eliminação total do problema que a afecta, e remediar os danos causados.7. Melhoramento das características do soloTarefas <strong>de</strong> adubação, arejamento e drenagem.Normalmente, as técnicas tradicionais <strong>de</strong> <strong>engenharia</strong> usando exclusivamente materiaisinertes, requerem mais tarefas <strong>de</strong> manutenção ao longo do seu tempo <strong>de</strong> vida, e nocaso <strong>de</strong> ocorrem falhas nas estruturas, tornam-se mais dispendiosas em termos <strong>de</strong>reparação. Os projectos <strong>de</strong> <strong>engenharia</strong> <strong>natural</strong> po<strong>de</strong>m ser mais custosos inicialmente,especialmente pela mão-<strong>de</strong>-obra especializada, pelas replantações, possíveis reparaçõese monitorização. Contudo, os seus custos <strong>de</strong> manutenção serão significativamente maisbaixos ao longo do tempo, <strong>de</strong>vido <strong>à</strong> sua resiliência e natureza auto-sustentável. )


ANEXO IIAs Principais plantas que dispomos em Portugalpara a Engenharia Natural (Carlos Souto Cruz)


Nascentes para a Vida105Tipo <strong>de</strong> propagaçãoEspécieNome Vulgarvegetativa sementeiraAcer monspessulanum L. zelha ? XAcer pseudoplatanus L. platano bastardo X XAlnus glutinosa (L.) Gaertner amieiro X XAmmophila arenaria (L.) Link subsp. arundinaceae H. Lindb. Fil. estorno X XArbutus unedo L. medronheiro XArtemisia campestris L. subsp. maritima Arcangeli madorneira X XAtriplex halimus L. salga<strong>de</strong>ira X XBetula celtiberica Rothm. & Vasc. vidoeiro XBuxus sempervirens L. buxo X XCalicotome villosa (Poiret) LinkXCalluna vulgaris (L.) Hull urze XCastanea sativa Miller castanheiro X XCeltis australis L. trovisco alvar XCeratonia siliqua L. alfarrobeira XChamaerops humilis L. palmeira anã XChamaespartium tri<strong>de</strong>ntatum (L.) P. Gibbs carqueja XCheirolophus sempervirens (L.) Pomel viomal XCistus albidus L. roselha branca XCistus crispus L. roselha XCistus ladanifer L. esteva XCistus monspeliensis L. sargaço XCistus populifolius L. subsp.populifolius estevão XCistus psilosepalus Sweet. saganho XCistus salvifolius L. saganha- mouro XCorema album (L.) D. Don subsp. album camarinheira XCornus sanguinea L. subsp. sanguinea ? XCoronilla valentina L. subsp. glauca (L.) Batt. in Batt. sena do reino XCorylus avellana L. aveleira X XCrucianella maritima L. granza das praias XCytisus grandiflorus (Brot.) DC: giesta XCytisus multiflorus (L` Hér) Sweet giesta das sebes XCytisus scoparius (L.) Link. subsp. scoparius giesta XCytisus striatus (Hill) Rothm. giesta da vasseira XDaboecia cantabrica (Hudson) C. Koch urze XDaphne gnidium L. trovisco femea XElymus farctus (Viv.) Mel<strong>de</strong>ris subsp. boreo-atlanticus(Simonet& Guinochet) Mel<strong>de</strong>risfeno das areias X XElymus farctus (Viv.) Mel<strong>de</strong>ris subsp. farctus feno das areias X XErica arborea L. urze XErica australis L. urze XErica ciliaris L. urze XErica cinerea L. urze XErica erigena R. Ross urze XErica lusitanica Rudolphi in Schra<strong>de</strong>r urze XErica scoparia L. subsp. scoparia urze XErica umbellata L. urze X


106Tipo <strong>de</strong> propagaçãoEspécieNome Vulgarvegetativa sementeiraFrangula alnus Miller ? XFraxinus angustifolia Vahl subsp. angustifolia figueira XGenista florida L. piorno dos tintureiros XGenista triacanthos Brot.XHe<strong>de</strong>ra helix L. subsp. canariensis (Willd) Coutinho hera X XHe<strong>de</strong>ra helix L. subsp. helix hera X XHyparrhenia hirta (L.) Stapf subsp. pubescens (An<strong>de</strong>rsson)PauneroXJasminum fruticans L. jasmineiro X XJuniperus navicularis piorro X ?Juniperus phoenicea L. sabina das praias XLavandula viridis L' Her rosmaninho XLigustrum vulgare L. X XLygos monosperma (L.) Heywood tojo molar XLygos sphaerocarpa (L.) Heywood piorno branco XMalus sylvestris Miller macieira brava XMyrica faya Aiton samouco XMyrica gale L. murta dos pantanos ? XMyrtus communis L. subsp. communis murta X XNerium olean<strong>de</strong>r L. cevadilha X XOlea europaea L. var. sylvestris alfazema X XOnonis natrix L. subsp. hispanica (L. fil,) Coutinho joina XOnonis natrix L. subsp. ramosissima (Desf.) Batt. & Trabut luzerna das praias XOtanthus maritimus (L.) Hoffmanns cor<strong>de</strong>iros da praia XPhillyrea angustifolia L. zambujeiro ? XPhillyrea latifolia L. ? XPinus pinaster Aiton pinheiro bravo XPinus pinea L. pinheiro manso XPinus sylvestris L. cascquinha XPistacia lentiscus L. aroeira ? XPistacia terebinthus L carnalheira ? XPopulus alba L. borrazeira X XPopulus nigra L. subsp. caudina choupo branco X XPrunus avium L. X XPrunus dulcis (Miller) D. A. Webb abrunheiro X XPrunus lusitanica L. subsp. lusitanica azereiro ? XPrunus mahaleb L. azereiro ? XPrunus padus L. subsp. padus ? XPrunus spinosa L. subsp. insititioi<strong>de</strong>s (Fic. & Coutinho) Franco pessegueiro X XPyrus bourgaeana Decne. abrunheiro brava ? XPyrus cordata Desv. pereira brava ? XPyrus pyraster Burgsd. pereira brava ? XQuercus coccifera L. carrasco XQuercus faginea Lam. carvalho cerquinho XQuercus pyrenaica Willd. carvalho negral XQuercus robur L. carvalho alvarinho X


Nascentes para a Vida107Quercus rotundifolia Lam azinheira XQuercus suber L. sobreiro XRhamnus alaternus L. sanguinho das sebes X XRhamnus lycioi<strong>de</strong>s L. subsp. oleoi<strong>de</strong>s (L.) Jahandiez & Maire espinheiro preto w XRhodo<strong>de</strong>ndron ponticum L. subsp. baeticum (Boiis & Reuter)Hand-Mazza<strong>de</strong>lfeiraXRosmarinus officinalis L. alecrim X XRuscus aculeatus L. tojo X XSalix alba L. subsp. alba arrudão X XSalix alba L. subsp. vitellina (L.) Arcangeli salgueiro branco X XSalix arenaria L. salgueiro branco X XSalix atrocinera Brot. salgueiro an¦o X XSalix fragilis L. salgueiro preto X XSalix repens L. vimeiro X XSalix salvifolia Brot. subsp. australis Franco salgueiro anão X XSalix salvifolia Brot. subsp. salvifolia borrazeira branca X XSalix triandra L. subsp. discolor (Koch) Arcangeli borrazeira branca X XSambucus nigra L. sabugueiro X XSantolina impressa Hoffmanns & Link X XSecurinega tinctoria (L.) Rothm. tamujo ? XSorbus aucuparia L. subsp. aucuparia ? XSorbus latifolia (Lam.) Pers. carnogodinho ? XSorbus torminalis (L.) Crantz ? XSpartina maritima (Curtis) Fernald morraça X XSpartium junceum L. giesta XTamarix africana Poiret X XTaxus baccata L. teixo X XThymus camphoratus Hoffmanns & Link tomilho XThymus capitatus (L.) Hoffmanns & Link tomilho XThymus capitellatus Hoffmanns & Link tomilho XThymus carnosus Boiss tomilho XVaccinium myrtillus L. uva do monte XViburnum tinus L subsp. tinus folhado X X


Ficha TécnicaTítulo e subtítuloEdiçãoPaginação e DesignImpressãoIntrodução <strong>à</strong> Engenharia NaturalEPAL - Empresa Portuguesa das Águas Livres, S.A.Gabinete <strong>de</strong> Imagem e Comunicação da EPALRolo e Filhos II, SATiragem 1250Depósito Legal:Ano 2011ISBN 978-989-97459-5-7

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