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Prêmio Sen. José Ermírio de Moraes - Academia Brasileira de Letras

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<strong>Prêmio</strong> <strong>Sen</strong>ador <strong>José</strong> <strong>Ermírio</strong> <strong>de</strong> <strong>Moraes</strong> – 2002<br />

apenas como material <strong>de</strong> expressão e não como material <strong>de</strong> ornamentação. Seu estilo é<br />

alta e refinadamente literário.<br />

Tomando o vocabulário como principal i<strong>de</strong>ntificador do seu estilo, os críticos o<br />

<strong>de</strong>snaturam, encarando como substantivos o que semanticamente ele pensou como adjetivos.<br />

Acresce que outro erro <strong>de</strong> leitura ia juntar-se ao primeiro e agravá-lo como é<br />

fácil i<strong>de</strong>ntificar no tratado <strong>de</strong> Manif Zacharias: “as palavras raras, os arcaísmos e a nomenclatura<br />

científica só são usados quando necessários, particularmente nas duas primeiras<br />

partes, sem <strong>de</strong>terminar nem o <strong>de</strong>senvolvimento da exposição, nem o ritmo da<br />

narrativa. Empregada com o mesmo propósito <strong>de</strong> exatidão e rigor, as palavras comuns<br />

da língua cotidiana são mais numerosas e até predominantes como se esperava.”<br />

Ao ser publicado, em 1902, Os sertões mereceu o aplauso entusiástico da crítica,<br />

mas nosso confra<strong>de</strong> <strong>José</strong> Veríssimo apontou as dificulda<strong>de</strong>s da linguagem:<br />

“Pena que conhecendo a língua, como a conhece, esforçando-se evi<strong>de</strong>ntemente<br />

por escrevê-la bem, possuindo raras qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> escritor, força, energia, eloqüência,<br />

nervo, colorido, elegância, tem o Sr. Eucli<strong>de</strong>s da Cunha viciado o seu<br />

estilo, já pessoal e próprio, não obstante <strong>de</strong> um primeiro livro, sobrecarregando a<br />

sua linguagem <strong>de</strong> termos técnicos, <strong>de</strong> um boleio <strong>de</strong> frases como quer que seja<br />

arrevesado, <strong>de</strong> arcaísmos e sobretudo <strong>de</strong> neologismos, <strong>de</strong> expressões obsoletas e<br />

raras, abusando freqüentemente contra a índole da língua e contra a gramática.”<br />

Eucli<strong>de</strong>s da Cunha, suscetibilizado, respon<strong>de</strong>u logo ao crítico paraense:<br />

Num ponto apenas vacilo – o que se refere ao emprego <strong>de</strong> termos técnicos. Aí, a<br />

meu ver, a crítica não foi justa. – Sagrados pela ciência e sendo <strong>de</strong> algum modo, permita-me<br />

a expressão, os aristocratas da linguagem, nada justifica o sistemático <strong>de</strong>sprezo<br />

que lhes votam os homens <strong>de</strong> letras – sobretudo se consi<strong>de</strong>ramos que o consórcio da<br />

ciência e da arte, sob qualquer <strong>de</strong> seus aspectos, é hoje a tendência mais elevada do pensamento<br />

humano. Um gran<strong>de</strong> sábio e um notável escritor, igualmente notável como<br />

químico e como prosador, Berthelot, <strong>de</strong>finiu, faz poucos anos, o fenômeno, no memorável<br />

discurso com que entrou na Aca<strong>de</strong>mia Francesa. Segundo se colhe <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>duções<br />

rigorosíssimas, o escritor do futuro será forçosamente um polígrafo; e qualquer<br />

trabalho literário se distinguirá dos estritamente científicos, apenas, por uma síntese<br />

mais <strong>de</strong>licada, excluída apenas a ari<strong>de</strong>z característica das análises e das experiências.<br />

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