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Prêmio Sen. José Ermírio de Moraes - Academia Brasileira de Letras

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Discurso do Acadêmico Alberto Venancio Filho<br />

Araripe Júnior, escrevendo no Jornal do Commercio em fevereiro <strong>de</strong> 1903, comenta:<br />

“A lava do estilo do Sertões brota da matriz, trazendo, ainda <strong>de</strong> volta, resíduos,<br />

vocábulos, modismos assimilados nas leituras prediletas.”<br />

Respon<strong>de</strong>ndo a esses comentários Coelho Neto diria:<br />

A linguagem do autor <strong>de</strong> Os sertões não passou <strong>de</strong>spercebida à crítica melindrosa que<br />

logo, com uma arrepiada sensibilida<strong>de</strong>, protestou contra a ousadia <strong>de</strong> certos vocábulos arcaicos,<br />

contra a audácia temerária <strong>de</strong> uns tantos neologismos que, por não serem do vocabulário<br />

corriqueiro, logo foram tomados como contrabandos vis. Não é <strong>de</strong> hoje o ódio da<br />

crítica infecunda e magra contra os escritores possantes que se apresentam em imprevistas<br />

imagens rebrilhado com o recamo <strong>de</strong> uma rica ornamentação verbal.<br />

Des<strong>de</strong> então, o aspecto do léxico <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s da Cunha tem sido examinado<br />

nem sempre na melhor ótica. Ao prefaciar, em 1908, o livro Inferno Ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu<br />

gran<strong>de</strong> amigo da Escola Militar Alberto Rangel, entusiasmado por ter encontrado<br />

a quem lhe sucedia nos exames dos aspectos brasileiros, especialmente da<br />

Amazônia, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> viera encantado, Eucli<strong>de</strong>s achava importante analisar os<br />

aspectos do nacionalismo <strong>de</strong> sua linguagem:<br />

Cumpre-nos não esquecer o falso e o incaracterístico da nossa estrutura mental,<br />

on<strong>de</strong>, sobretudo, prepon<strong>de</strong>ram reagentes alheios ao gênio da nossa raça. Pensamos <strong>de</strong>masiado<br />

em francês, em alemão, ou mesmo em português. Vivemos em pleno colonato<br />

espiritual, quase um século após a autonomia política.<br />

O que se diz escritor, entre nós, não é um espírito a robustecer-se ante a sugestão vivificante<br />

dos materiais objetivos, que o ro<strong>de</strong>iam, senão a inteligência, que se <strong>de</strong>snatura<br />

numa dissimulação sistematizada. Institui-se uma sorte <strong>de</strong> mimetismo psíquico nessa covardia<br />

<strong>de</strong> nos forrarmos, pela semelhança externa, aos povos que nos intimidam e nos encantam.<br />

E traduzimo-nos, eruditamente, em português, <strong>de</strong>slembrando-nos que o nosso<br />

orgulho máximo <strong>de</strong>vera consistir em que ao português lhe custasse o traduzir-nos, lendo-nos<br />

na mesma língua. De qualquer modo, é tempo <strong>de</strong> nos emanciparmos.<br />

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