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Prêmio Sen. José Ermírio de Moraes - Academia Brasileira de Letras

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<strong>Prêmio</strong> <strong>Sen</strong>ador <strong>José</strong> <strong>Ermírio</strong> <strong>de</strong> <strong>Moraes</strong> – 2002<br />

Teodoro Sampaio certa vez lhe mostrou bilhete <strong>de</strong> um vaqueiro, dando notícia<br />

ao patrão do estouro da boiada: “Participo-lhe”, disse com toda simplicida<strong>de</strong>,<br />

“que a sua boiada meteu-se no <strong>de</strong>spotismo, um boi foi <strong>de</strong>ixado no curral<br />

e entregou o couro às vacas; o resto – o resto trovejou naquele mundão.” Eucli<strong>de</strong>s<br />

não se conteve: “Falar assim é que é falar com a natureza. Não conheço<br />

povo como o do nosso sertão que por palavras dê mais realce ao seu sentir e<br />

mais energia no dizer.”<br />

Afrânio Peixoto testemunhou que Eucli<strong>de</strong>s tomava nota nos punhos da camisa<br />

das palavras estranhas que ouvia, e relata que certa vez, na porta da livraria<br />

Garraux em São Paulo, conversava Eucli<strong>de</strong>s numa roda, quando aproximou-se<br />

um homem do povo, que relatou: “Era como uma trovoada passageira<br />

<strong>de</strong> verão, <strong>de</strong> repente o céu escampou”; o matuto não terminara <strong>de</strong> falar: “Eucli<strong>de</strong>s<br />

não estava mais lá, e o verbo se gravou em página imortal do livro.”<br />

Na roda em que se reunia em São <strong>José</strong> do Rio Pardo, agregada por Francisco<br />

Escobar, Eucli<strong>de</strong>s quis reconstituir o episódio do estouro da boiada, cena<br />

sertaneja que nunca vira e conhecia <strong>de</strong> informação, enquanto o companheiro<br />

<strong>de</strong> Escobar, que se cansara <strong>de</strong> ver estouros <strong>de</strong> boiada, prontificou-se em <strong>de</strong>screvê-lo<br />

para fazer o confronto dos dois trabalhos. No dia seguinte, Eucli<strong>de</strong>s<br />

iniciou a <strong>de</strong>scrição, com o competidor já com as suas resmas na mão; mas, finda<br />

a leitura da página <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s, o outro negou-se a ler o trabalho e, dando-se<br />

por vencido, rasgou-o, dizendo: “Então, vou ler alguma coisa <strong>de</strong>pois disso?<br />

Não é possível que o Sr. não tenha visto cem estouros <strong>de</strong> boiada.”<br />

Herbert Parente Fortes, tão caro ao meu coração como ao coração do Presi<strong>de</strong>nte<br />

Alberto da Costa e Silva, tem um excelente estudo, Eucli<strong>de</strong>s, o estilizador da<br />

nossa História, com reflexões relevantes sobre o tema da linguagem:<br />

Há em Os sertões páginas on<strong>de</strong> a pomposida<strong>de</strong> da expressão, para traduzir o agudo<br />

das tragédias, e a simplicida<strong>de</strong> serena e límpida, para colher as filigranas do lirismo e do<br />

misticismo domésticos da alma sertaneja, atualizam e impõem <strong>de</strong> tal modo quadros em<br />

movimento e atitu<strong>de</strong>s que nunca mais serão competidoras em nossas letras. [...] Não<br />

podia Eucli<strong>de</strong>s não ouvir a língua do brasileiro em atenção a formalismos e automatis-<br />

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