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José Eduardo Carvalho Dar vida às margens do Tejo ... - CCDR-LVT

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7Janeiro | 2008entrevistaJosé <strong>Eduar<strong>do</strong></strong> <strong>Carvalho</strong>Presidente da Direcção da NERSANTAssociação Empresarial da Região de Santarémreportagem<strong>Dar</strong> <strong>vida</strong> às <strong>margens</strong> <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong>Zonas RibeirinhasterritóriosCaminhos <strong>do</strong> VinhoPalmela


P r o p r i e d a d e<strong>CCDR</strong>‐<strong>LVT</strong>Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regionalde Lisboa e Vale <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong>Rua Artilharia 1, nº 33 – 1269‐145 LisboaTel.: 21 383 71 00 | Fax: 21 383 12 92www.ccdr‐lvt.ptD i r e c t o rAntónio Fonseca FerreiraD i r e c t o r e x e c u t i v oCarla GomesP r o j e c t o e d i t o r i a l , d e s i g n e p r o d u ç ã oF o t o g r a f i a s [ c a p a e c o n t r a c a p a ] : G u t o F e r r e i r aDDLX [www.ddlx.pt]José Teófilo Duarte [Direcção]Eva Monteiro | Tânia Reis [Design]Sofia Costa Pessoa [Contacto]C o l a b o r a d o r e sCarla AmaroCarla Maia de AlmeidaDavid Lopes RamosFernanda CâncioLuís de <strong>Carvalho</strong>Pedro Almeida VieiraF o t o g r a f i aGuto FerreiraPedro SoaresCâmara Ardente, produções fotográficasI m p r e s s ã o e A c a b a m e n t oEuro-ScannerT i r a g e m 2500 exemplaresI S S N 1646‐1835D e p ó s t i o L e g a l 224633/05L V T # 7 – J a n e i r o | 2 0 0 8 | Q u a d r i m e s t r a l


índiceEditorialModernização da administração pública:Prestar contas e prosseguir................................................ 2António Fonseca FerreiraNotícias Breves........................................................................4OpiniãoO mistério <strong>do</strong>s comerciantesque não querem vender.....................................................12Fernanda CâncioEntrevistaJosé <strong>Eduar<strong>do</strong></strong> <strong>Carvalho</strong>........................................................ 18Carla AmaroReportagem<strong>Dar</strong> <strong>vida</strong> às <strong>margens</strong> <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong>........................................... 26Carla AmaroDestaqueRecursos HídricosRios de problemas... E de oportunidades..................36Pedro Almeida VieiraTerritóriosO Resto não é Paisagem....................................................40Carla Maia de AlmeidaAcontecimentoOpen Days............................................................................... 48Luís de <strong>Carvalho</strong>PatrimónioCaminhos <strong>do</strong> Vinho..............................................................50Carla Maia de AlmeidaRoteiroPão, queijo e vinho,Trilogia de Palmela...............................................................56David Lopes RamosAgenda Cultural................................................................. 64


Editorial | António Fonseca FerreiraModernização da administração pública:Prestar contas e prosseguirCom décadas de atraso, o actual governo desencadeou,em 2005, a reforma da administraçãopública, com a designação de PRACE – Programade Reforma da Administração Central <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong>. Tarefa que tem tanto de prioritáriacomo de ciclópica, pois parte de uma situação profundamentearcaica: organização desconexa, sectorializada esegmentada, com uma realidade herdada <strong>do</strong> antigo regimeà qual se foram sobrepon<strong>do</strong> admissões sem nexo de qualificaçõese racionalidade; excesso de ministérios, serviços efuncionários, com uma lógica de emprego e não de necessidades;uma cultura de autocentramento e burocracia quetem ignora<strong>do</strong> o “utente” ou “cliente” <strong>do</strong>s serviços; e umaavaliação viciada que tradicionalmente não distinguia omérito e a competência <strong>do</strong>s funcionários e chefias.■ Efectivos ■ Entradas ■ SaídasMobilidade de FuncionáriosA primeira fase <strong>do</strong> PRACE foi realizada e traduziu-se numa reduçãosignificativa de serviços e chefias: cerca de um terço. A segundafase da reforma – o novo estatuto de vínculos e carreiras,designadamente a a<strong>do</strong>pção <strong>do</strong> contrato individual de trabalhoem lugar <strong>do</strong> emprego público vitalício, e a redução de efectivosatravés da mobilidade – parece estar mais difícil, pois os prazossucessivamente anuncia<strong>do</strong>s pelo Governo têm si<strong>do</strong> ultrapassa<strong>do</strong>s,sem resulta<strong>do</strong>s, com excepção <strong>do</strong> Ministério da Agricultura,no que se refere à mobilidade.Entre 2003 e 2007 as transferências <strong>do</strong> Orçamento de Esta<strong>do</strong> (OE)foram reduzidas em cerca de 35%. Definiu-se uma estratégia e concretizaram-seas medidas para um forte aumento das receitaspróprias, que se traduziu num reforço de 16%. Assim, a <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>tem vin<strong>do</strong> a reforçar, significativamente, a sua autonomia financeira.Evolução das Receitas CobradasNa <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>, a<strong>do</strong>ptámos uma Agenda Estratégica, que constituiuma importante inovação como instrumento de gestão na administraçãopública portuguesa e que traça as prioridades básicassobre as quais se fundamenta o esforço de modernização, mudançae reforma deste Organismo.Definiram-se cinco <strong>do</strong>mínios estratégicos de actuação:Reestruturação orgânica – racionalização de recursose desconcentração <strong>do</strong>s serviçosApesar da lei orgânica das <strong>CCDR</strong> ter si<strong>do</strong> aprovada apenas em2007, com quatro anos de atraso, a partir de 2003 encetámos aintegração <strong>do</strong>s serviços transversais e a desconcentração de competênciaspara os serviços sub-regionais.O esforço de reorganização <strong>do</strong>s serviços e racionalização da gestãopermitiu, entre 2003 e 2007, reduzir o número de funcionáriosda <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> de 508 para 392, o que representa uma reduçãode 116 efectivos (23%). Paralelamente, promovemos a desconcentração<strong>do</strong>s serviços, transferin<strong>do</strong> competências e recursos <strong>do</strong>s serviçoscentrais para as equipas de Setúbal, Oeste e Vale <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong>.■ Orçamento de Esta<strong>do</strong> ■ Receita Própria ■ Outras Receitas.Racionalização de procedimentos e circuitosFace aos insustentáveis prazos de planeamento e de licenciamentourbanístico e ambiental, em 2005 propusemo-nos uma metaambiciosa, e estamos certos de que a vamos cumprir. Reduzirpara metade, no espaço de três anos, os tempos de aprovação dePlanos Directores Municipais, Planos de Urbanização e de Pormenor.A análise estatística feita em 2004 mostrou que os respectivosprazos eram: PDM – 9,9 anos; PU – 7,2 anos e PP – 4,4 anos.


NOTÍCIAS BREVESProgramaOperacionalRegional 2007-2013Lisboa prepara-separa novos desafiosO Programa Operacional Regional deLisboa (PORL) teve a sua apresentaçãopública no passa<strong>do</strong> dia 14 de Novembro,na Faculdade de Ciências da Universidadede Lisboa. A par <strong>do</strong> programa Regional,foram ainda divulgadas as Agendas Factoresde Competiti<strong>vida</strong>de e Valorização <strong>do</strong> Território.A sessão pública contou com a presença<strong>do</strong> ministro <strong>do</strong> Ambiente, Ordenamento<strong>do</strong> Território e Desenvolvimento regional,Francisco Nunes Correia, e <strong>do</strong> ministrodas Obras Públicas, Transportes eComunicações, Mário Lino, assim como <strong>do</strong>secretário de Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> DesenvolvimentoRegional, Rui Nuno Baleiras.436 milhões é quanto caberá, <strong>do</strong>s 21,5 milmilhões de euros que o país vai receber,à região de Lisboa. Os apoios, cerca de umoitavo <strong>do</strong> que a região recebeu nos anterioresquadros comunitários, vão ter de sefocalizar em prioridades estratégicas bemdefinidas, nomeadamente a inovaçãoe competiti<strong>vida</strong>de, a valorização territorial,incluin<strong>do</strong> investimentos na área <strong>do</strong>ambiente, e a coesão social.Estas prioridades estratégicas estãoconsignadas na Estratégia Regional Lisboa2020, que está a entrar na fase de execução.A estratégia, que apresenta um conjuntode programas estruturantes para a região,será acompanhada e monitorizada peloFórum Metropolitano, um organismo quepretende representar a sociedade civile cuja primeira reunião está prevista paraJaneiro de 2008.O PORL está estrutura<strong>do</strong> em quatro eixos:Competiti<strong>vida</strong>de, Inovação eConhecimento, Valorização Territorial,Coesão Social e Assistência Técnica.Uma aposta forte será também a qualificação<strong>do</strong>s recursos humanos, pelo quea região de Lisboa vai beneficiar <strong>do</strong>s apoiosprevistos no Programa OperacionalTemático Potencial Humano, com a concessãode mais 129 milhões de euros <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong>Social Europeu, a juntar aos 307 milhõesque recebe <strong>do</strong> FEDER no âmbito <strong>do</strong> PORL.A região de Lisboa terá ainda acesso a umaverba <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong> de Coesão no âmbito <strong>do</strong>PO Valorização <strong>do</strong> Território.A região de Lisboa já ultrapassou a médiacomunitária <strong>do</strong> PIB per capita e é a primeira |


no país a integrar o Objectivo 2 das políticasde coesão, designa<strong>do</strong> «Competiti<strong>vida</strong>deRegional e Emprego», razão pela qualo volume de apoios a receber a partir daquié muito menor.Para efeitos da gestão de fun<strong>do</strong>s comunitários,as NUT III <strong>do</strong> Oeste, Médio <strong>Tejo</strong>passam a integrar, no âmbito <strong>do</strong> QREN,o Programa Operacional Regional <strong>do</strong> Centro.Os fun<strong>do</strong>s destina<strong>do</strong>s à Lezíria <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong>passam por seu turno a ser geri<strong>do</strong>s pela<strong>CCDR</strong> <strong>do</strong> Alentejo. Neste âmbito, a regiãode Lisboa passa a coincidir geograficamentecom a Área Metropolitana de Lisboa(Grande Lisboa e Península de Setúbal).No entanto, no que respeita às restantesáreas de competência da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>, nomeadamenteo apoio à administração local,o ambiente e o ordenamento <strong>do</strong> território,a área geográfica continuam a ser os51 municípios de Lisboa e Vale <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong>.PORL – FEDER 2007-2013Síntese de objectivos e temáticas por eixo prioritárioPO Lisboa (FEDER)Financiamento Comunitário (Milhões de Euro)Total PO e Eixo Prioritário 3071. COMPETITIVIDADE, INOVAÇÃO E CONHECIMENTO 155•.Incentivos.I&DT;•.Projecção.competitiva.da.Região.à.escala.internacional.(e.g..agências.internacionais,.iniciativa«Regions.for.economic.changes»,.instituição.superior.de.referência.internacional.no.<strong>do</strong>mínio.<strong>do</strong>.Turismo,orientada.para.a.Inovação.neste.sector);•.Apoios.às.entidades.de.I&D.para.a.internacionalização;•.Acções.de.transferência.de.tecnologia;•.Criação.de.empresas.de.base.tecnológica.e.indústrias.criativas;•.Estímulos.à.capacidade.de.inovar.e.empreender/.FININOVA;•.Incentivos,.inovação.e.qualificação.de.PME.em.sectores.estratégicos;•.Organização.de.eventos.de.projecção.internacional;•.Estímulo.da.governabilidade.regional.(redução.<strong>do</strong>s.custos.públicos.de.contexto;.parcerias).2. SUSTENTABILIDADE TERRITORIAL71•.Soluções.inova<strong>do</strong>ras.para.problemas.urbanos.(Acções.demonstrativas.no.âmbito.de:.Sistemas.Inteligentesde.Transportes;.Apoio.a.acções.de.micro-logística.local;.Apoio.a.acções.locais.na.óptica.da.eficiência.da.mobilidadeda.população;.Incentivos.ao.reforço.<strong>do</strong>s.projectos.de.transporte.ecológicos;.Reforço.da.capacidade.de.planeamento;Estímulo.à.eco-eficiência;.Estímulo.à.reciclagem.e.reutilização.de.resíduos;.Apoio.à.criação.de.Eco-bairros;Estímulo.ao.aumento.da.eficiência.ambiental.nos.serviços.da.Administração.Pública);•.Ordenamento.e.valorização.da.estrutura.metropolitana.de.protecção.e.valorização.ambiental.(definida.no.PROT-AML).3. COESÃO SOCIAL71•.Parcerias.para.a.Regeneração.Urbana.(foco.na.vertente.inclusão.social);•.Plataformas.de.inclusão.para.a.população.imigrante;•.Serviços.a.populações.com.dificuldades.especiais.4. ASSISTÊNCIA TÉCNICA10|


Sistemas de incentivos e modernização administrativaCandidaturas abertasEstão abertas as candidaturas ao Sistemade Apoios à Modernização Administrativa(SAMA) e às Parcerias para a RegeneraçãoUrbana, assim como a <strong>do</strong>is sistemas deincentivos, no âmbito <strong>do</strong> Programa OperacionalRegional de Lisboa (PORL) 2007-2013.O SAMA está a receber candidaturas até30 de Março e visa criar condições parauma Administração Pública mais eficientee eficaz, através <strong>do</strong> desenvolvimento deoperações estruturantes orientadas paraa redução <strong>do</strong>s denomina<strong>do</strong>s «custospúblicos de contexto» no seu relacionamentocom os cidadãos e as empresas.Podem candidatar-se a estes apoios asentidades da Administração Local <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>,da Administração Local Autárquica eas Agências de Desenvolvimento Regionalde capitais maioritariamente públicos.O sistema de apoios «Parcerias para a RegeneraçãoUrbana» visa apoiar entidadesque se propõem elaborar e implementarum programa de acção comum de regeneraçãode uma área específica de uma dadacidade. As candidaturas podem ser entreguesaté ao próximo dia 30 de Abril.Sistemas de incentivosDesde 15 de Novembro, e até final deJaneiro, estão ainda abertas candidaturasaos Sistemas de Incentivos da Inovaçãoe da Investigação e DesenvolvimentoTecnológico. No sistema de incentivosda Inovação estão abrangidas as tipologiasProdução de Novos Bens e Serviços, A<strong>do</strong>pçãode Novos Processos e Expansão de Capacidadesem Acti<strong>vida</strong>des com Dinâmicasde Crescimento, assim como os Projectosde Empreende<strong>do</strong>rismo Qualifica<strong>do</strong>,Investigação e DesenvolvimentoTecnológico e Inovação.Como Projectos de Empreende<strong>do</strong>rismoQualifica<strong>do</strong> são elegíveis projectos quepromovam a inovação no teci<strong>do</strong> empresarialatravés <strong>do</strong> estímulo ao empreende<strong>do</strong>rismoqualifica<strong>do</strong>, incluin<strong>do</strong> o empreende<strong>do</strong>rismofeminino.Serão abrangi<strong>do</strong>s investimentos na criaçãode empresas ou projectos de empresasnascentes (até 3 anos), classificadas comoPME, <strong>do</strong>tadas de recursos humanos qualifica<strong>do</strong>sou que desenvolvam acti<strong>vida</strong>desem sectores com fortes dinâmicas decrescimento. As candidaturas podem serentregues até 30 de Janeiro.Quanto à Produção de Novos Bens eServiços, cujas candidaturas estão abertasaté 29 de Janeiro, visa por seu la<strong>do</strong> apoiarprojectos de produção de novos bens eserviços, assim como a a<strong>do</strong>pção de novosprocessos e a expansão de capacidades emacti<strong>vida</strong>des com dinâmica de crescimento.Os projectos candidatos deverão promovera inovação no teci<strong>do</strong> empresarial, pela viada produção de novos bens, serviços eprocessos que suportem a sua progressãona cadeia de valor e o reforço da suaorientação para os merca<strong>do</strong>s internacionais.Podem ser apoia<strong>do</strong>s projectos que promovama produção de novos bens e serviçosou melhorias significativas da produçãoactual através da transferência e aplicaçãode conhecimento, a a<strong>do</strong>pção de novos, ousignificativamente melhora<strong>do</strong>s, processosou méto<strong>do</strong>s de produção, de logística edistribuição, bem como méto<strong>do</strong>s organizacionaisou de marketing e a expansão decapacidades de produção em acti<strong>vida</strong>desde alto conteú<strong>do</strong> tecnológico ou comprocuras internacionais dinâmicas.Até 1 de Fevereiro é possível ainda concorrerao Sistema de Incentivos à Investigação eDesenvolvimento Tecnológico – Projectos deI&DT Empresas Individuais e em Co-Promoção,que visa intensificar o esforço nacionalde I&DT e a criação de novos conhecimentoscom vista ao aumento da competiti<strong>vida</strong>dePOR Lisboa tem sítio na internetJá está on line a página de Internet <strong>do</strong> Programa Operacional Regional de Lisboa (PORL). A página,disponível através <strong>do</strong> endereço http://www.porlisboa.qren.pt, contém informações úteis sobreregulamentos e vai disponibilizar em breve também os formulários de candidatura.Neste sítio pode ainda descarregar o <strong>do</strong>cumento completo <strong>do</strong> programa operacional, que vai orientara aplicação de fun<strong>do</strong>s comunitários na região até 2013, no âmbito <strong>do</strong> Quadro de ReferênciaEstratégico Nacional (QREN).Para mais informações sobre o QREN, pode ainda consultar www.qren.pt e www.incentivos.qren.pt.POR<strong>LVT</strong> cumpre «N+2»das empresas, promoven<strong>do</strong> a articulaçãoentre estas e as entidades <strong>do</strong> SCT.Os projectos a apoiar deverão ser promovi<strong>do</strong>spor empresas e compreender acti<strong>vida</strong>desde investigação industrial e/ou dedesenvolvimento experimental, conducentesà criação de novos produtos, processosou sistemas ou à introdução de melhoriassignificativas em produtos, processos ousistemas existentes.Enquadram-se neste sistema de incentivosos projectos individuais e em co-promoção.No entanto, no caso da região de Lisboa,não deverão ser incluí<strong>do</strong>s investimentosa realizar noutras NUT II.Novos concursos em breveBrevemente estarão também abertosnovos concursos para candidaturas,nomeadamente nas áreas <strong>do</strong>s EquipamentosEscolares e Valorização Territorial.O objectivo da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> é ter as candidaturastodas abertas até Junho de 2008.Os avisos de abertura, legislação e formuláriosrelativos a estes incentivos podem serconsulta<strong>do</strong>s no sítio da Internet <strong>do</strong> PORLisboa– www.porlisboa.qren.pt – <strong>do</strong> QREN –www.qren.pt – <strong>do</strong> Programa OperacionalFactores de Competiti<strong>vida</strong>de – www.pofc.qren.pt – bem como na página da AMA –Agência para a Modernização Administrativa,IP – www.ama.pt, no caso <strong>do</strong> SAMA.O Programa Operacional Regional de Lisboa encerrou 2007 com resulta<strong>do</strong>s de execução muitopositivos, ten<strong>do</strong> cumpri<strong>do</strong> a regra «n+2» nos três fun<strong>do</strong>s comunitários. O Fun<strong>do</strong> Europeu.de Desenvolvimento Regional (FEDER) foi fecha<strong>do</strong> a 20 de Dezembro com 90,8 milhões de eurosexecuta<strong>do</strong>s, com mais 6 milhões de euros <strong>do</strong> que o necessário para cumprir a regra «n+2»,um requisito exigi<strong>do</strong> pela Comissão Europeia.Quanto ao Fun<strong>do</strong> Social Europeu (FSE), a última certificação de despesas de 2007, reportadaa 31 de Outubro, revela que o valor de execução necessário para cumprir a «n+2» já tinha si<strong>do</strong>.ultrapassa<strong>do</strong>, à data, em 15,3 milhões de euros. O Fun<strong>do</strong> Europeu de Orientação e Garantia Agrícola(FEOGA) também ultrapassou os valores de despesa exigi<strong>do</strong>s por Bruxelas.A regra «N+2» <strong>do</strong>s regulamentos comunitários determina que os pedi<strong>do</strong>s de pagamento à ComissãoEuropeia relativos à programação orçamental de um determina<strong>do</strong> ano («n») têm de ser apresenta<strong>do</strong>saté ao fim <strong>do</strong> ano «n+2», sob pena de perda da <strong>do</strong>tação financeira não executada nesse ano. |


Conferência das Regiões Periféricas e Marítimas da Europa em LisboaGlobalização e Coesão: CRPM promove seminário em LisboaDepois de ter acompanha<strong>do</strong> junto da ComissãoEuropeia a criação de uma política marítimaintegrada, e de ter feito esforços para incluirno trata<strong>do</strong> da União Europeia referênciaà coesão territorial e ao papel das regiões,a Conferência das Regiões Periféricas eMarítimas da Europa (CRPM) alarga a suaexperiência aos cinco continentes.A última reunião <strong>do</strong> Conselho Científico,que a <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> acolheu em Lisboa entre3 e 4 de Dezembro, serviu para ouvir relatarexperiências de diversas regiões.– da Bretanha a Gorontalo na In<strong>do</strong>nésia –que procuram ter um papel activo nocrescimento da economia e na melhoria daqualidade de <strong>vida</strong> das suas populações.O encontro, que contou com a participaçãode uma centena de representantes de regiões,instituições comunitárias, Nações Unidas,Organização para a Cooperação e DesenvolvimentoEconómico (OCDE), organizaçõesde cooperação e investiga<strong>do</strong>res universitários,foi mais um passo na discussãode uma futura política global de coesão,partin<strong>do</strong> da experiência da União Europeia.«Temos de encontrar normas comuns parao ordenamento <strong>do</strong> território, assim comoexistem para o ambiente», referiu aindaXavier Gizard, secretário-geral da CRPM,na sessão de encerramento <strong>do</strong> conselho.O Conselho Económico e Social das NaçõesUnidas assumiu o desenvolvimentoterritorial como uma prioridade até 2010,processo que está a ter o apoio e acompanhamentoda CRPM. «Temos de criar maisplanos de acção e investir na capacity-buidingdas regiões», sublinhou o secretário-geral.Ab<strong>do</strong>urahim Agne, ministro da Micro-Finança e Cooperação Descentralizada <strong>do</strong>Senegal, salientou que os meios financeirossão, no entanto, essenciais para concretizarboas experiências de comunicação.Por outro la<strong>do</strong>, referiu a falta de comunidadeslocais, nomeadamente em África, quepossam ser as interlocutoras <strong>do</strong>s processosde coesão territorial.Na sessão de abertura, a 3 de Dezembro,Valente de Oliveira, presidente <strong>do</strong> ConselhoCientífico, sublinhou a necessidade de«sair <strong>do</strong> contexto europeu e partir para ocontexto global, com todas as suas complexidades».António Fonseca Ferreira, presidenteda <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>, salientou a ligação dePortugal e das regiões portuguesasà fundação e projectos da CRPM e sau<strong>do</strong>uo esforço que a organização tem feitoem criar uma governança para o fenómenoda globalização.O Conselho Científico da CRPM, em Lisboa,realiza-se na sequência da criação <strong>do</strong>FOGAR – Fórum Global das Redes deRegiões e da assinatura de um acor<strong>do</strong> como Programa das Nações Unidas para oDesenvolvimento (UNDP) visan<strong>do</strong> aconcretização <strong>do</strong>s Objectivos <strong>do</strong> Milénio.A realização <strong>do</strong> encontro em Lisboa enquadrou-sena Presidência Portuguesa daUnião Europeia, que terminou no final de2007.As conclusões deste seminário constituirãoa base da 2ª Convenção Internacional parauma Abordagem Regional da Governançae <strong>do</strong> Desenvolvimento, que decorreráem Tânger entre 12 e 14 de Maio deste ano.A Conferência das Regiões Periféricase Marítimas da Europa (CRPM) foi fundadaem Saint Malo (Bretanha), em Junho de1973. Agrupa actualmente 159 regiõesde 28 Esta<strong>do</strong>s, membros ou não da UniãoEuropeia, organizadas em seis comissõesgeográficas: Comissão Arco Atlântico;Comissão das Ilhas; ComissãoIntermediterrânica; Comissão Mar <strong>do</strong>Norte; Comissão Mar Báltico e Comissão<strong>do</strong>s Balcãs e Mar Negro.|


I Encontro Interregional da MARE na MoitaAcções de mobilidade inovam na regiãoO «Rodinhas», um mini-autocarro que faza ligação entre a Portela e a estaçãoferroviária de Moscavide, no concelho deLoures, está a mudar os hábitos naquelazona da cidade. Este novo meio de transporte,que parte da estação a cada15 minutos e em boa parte <strong>do</strong> percursopára a pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong>s passageiros, sem paragensfixas, veio suprir uma lacuna namobilidade <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res.Trata-se de um projecto promovi<strong>do</strong> pelaCâmara Municipal de Loures, com o apoioda Ro<strong>do</strong>viária de Lisboa e da CP, e apoia<strong>do</strong>no âmbito da MARE-Mobilidade eAcessibilidade Metropolitana nas Regiões<strong>do</strong> Sul da Europa (Operação QuadroRegional), que teve o seu primeiro EncontroInterregional na Moita, no passa<strong>do</strong> dia24 de Setembro.O encontro pretendeu fazer um pontode situação sobre os cinco sub-projectosa decorrer no âmbito da MARE. No caso <strong>do</strong>«Rodinhas», está integra<strong>do</strong> no Sub-projectoACFER – Acessibilidade às EstaçõesFerroviárias.Os cinco sub-projectos em curso, no âmbitoda MARE, envolvem 22 parceiros, entre elesmunicípios e opera<strong>do</strong>res de transportespúblicos, em torno de uma melhor mobilidade.Além <strong>do</strong> ACFER e <strong>do</strong> MobQua, estãoem curso os sub-projectos TRAMO –Transporte Responsável, Acções de Mobilidadee Ordenamento, Flexis – ServiçosFlexiveis para o Sul da Europa e e-Mobility– Novos sistemas e serviços informativospara a mobilidade no Sul da Europa.A MARE (Operação Quadro Regional) éfinanciada ao abrigo <strong>do</strong> FEDER <strong>do</strong> PICINTERREG III C – Espaço Sul e propõe-seencontrar novas soluções para os problemasda mobilidade e acessibilidade nasregiões parceiras, nomeadamente nasregiões de Lisboa (<strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>, parceiroportuguês/Chefe de Fila), Ligúria(Município de Génova, Itália) eComunidade Valenciana (Departamentode Infra-estruturas e Transportes da Regiãode Valência, Espanha).Mais informações em http://www.mare.ccdr-lvt.pt/Em parceria coma Ordem <strong>do</strong>sEconomistas<strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> promoveconferênciasinternacionaisO economista norte-americano RichardFlorida será um <strong>do</strong>s con<strong>vida</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong> ciclointernacional de conferências que a <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> promove este ano, em parceria com aOrdem <strong>do</strong>s Economistas. O objectivo épromover a reflexão sobre os desafioscontemporâneos <strong>do</strong> desenvolvimentoregional, que são também, cada vez mais,desafios globais.O ambiente e o planeamento energético,os factores de crescimento das cidadese regiões, a coesão social, a tecnologia e opapel das regiões num mun<strong>do</strong> globaliza<strong>do</strong>vão ser alguns <strong>do</strong>s temas em destaquenesta iniciativa, que se realizará na FundaçãoCalouste Gulbenkian e deverá contar, entreoutros, com a presença <strong>do</strong> sociólogo francêsMichel Bonetti e de Pasqual Maragall,ex‐presidente da Generalitat da Catalunha. |


Administração Regional HidrográficaComissão Instala<strong>do</strong>ra já está a trabalharA Comissão Instala<strong>do</strong>ra da Administraçãoda Região Hidrográfica <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong>, I.P. (ARH <strong>do</strong><strong>Tejo</strong>, I.P.) está já a funcionar nas instalaçõesda Comissão de Coordenação eDesenvolvimento Regional de Lisboa e Vale<strong>do</strong> <strong>Tejo</strong> (<strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>), na rua Braancamp, n.º 7,em Lisboa.Manuel Lacerda e Nunes <strong>do</strong>s Santos foramnomea<strong>do</strong>s, por despacho conjunto <strong>do</strong>sMinistros de Esta<strong>do</strong> e das Finanças e <strong>do</strong>Ambiente, <strong>do</strong> Ordenamento <strong>do</strong> Territórioe <strong>do</strong> Desenvolvimento Regional, respectivamente,presidente e vice-presidenteda Comissão Instala<strong>do</strong>ra deste novoorganismo.A ARH <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong>, I.P. vai ter a seu cargo agestão <strong>do</strong>s recursos e <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio hídricos,no que diz respeito às águas interiores,de transição – estuários, assim como àszonas costeiras da região, que englobatoda a bacia portuguesa <strong>do</strong> rio <strong>Tejo</strong> e asbacias das ribeiras <strong>do</strong> Oeste.Caberá à ARH <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong>, I.P., cuja criação foiprevista na Lei da Água, proteger e valorizaras componentes ambientais das águas,bem como proceder à gestão sustentável<strong>do</strong>s recursos hídricos. Será ainda responsávelpor criar planos específicos de gestãodas águas, zelar pelo seu esta<strong>do</strong> e aplicaro regime económico-financeiro nas baciasde cada área de jurisdição.Filipe Jorge, ArgumentumPaula Cristina CunhaVice-Presidente da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>Mudança eDesenvolvimento10 anos de projectosna regiãoPaula Cristina Cunha, 42 anos, assumiufunções no dia 12 de Novembro como vicepresidenteda <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>, em substituiçãode Eurídice Pereira, que tomou posse comoGoverna<strong>do</strong>ra Civil <strong>do</strong> Distrito de Setúbal a19 de Setembro.A nova vice-presidente, que actualmentedetém o cargo de Directora <strong>do</strong>s Serviços deDesenvolvimento Regional da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>, vaiacumular as funções nas áreas <strong>do</strong> planeamentoestratégico e desenvolvimentoregional com a área da gestão.Paula Cristina Cunha é licenciada emSociologia pelo Instituto Superior de Ciências<strong>do</strong> Trabalho e da Empresa, especializadacomo «Técnica de DesenvolvimentoOrganizacional», ten<strong>do</strong> uma pós-graduaçãoem Gestão Autárquica pelo InstitutoSuperior de Gestão.Exerce funções dirigentes naAdministração Pública ininterruptamentehá 15 anos (áreas de administração financeira,recursos humanos, planeamentoestratégico, organização e gestão, turismoe acti<strong>vida</strong>des económicas), <strong>do</strong>s quais onzecomo directora de serviços e é assessoraprincipal da carreira técnica superior.A <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> acaba de lançar o livroMudança e Desenvolvimento, que faz umbalanço <strong>do</strong>s principais projectos apoia<strong>do</strong>spelo Programa Operacional Regional deLisboa e Vale <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong> e que contribuírampara mudar a face da região na últimadécada. A obra, produzida pelaArgumentum – Edições, Estu<strong>do</strong>s eRealizações, tem coordenação editoriale fotografia <strong>do</strong> arquitecto Filipe Jorge.Da parte da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>, a coordenação geralé de António Fonseca Ferreira, AntónioMarques e José Moura de Campos.O livro revela por imagens a transformaçãoque a região sofreu com a enorme diversidadede projectos apoia<strong>do</strong>s por fun<strong>do</strong>scomunitários, desde projectos de construçãoe recuperação de auditórios, bibliotecase escolas a projectos de requalificaçãourbana e ribeirinha, que contribuíram paraqualificar a paisagem e cultura <strong>do</strong>s 51municípios da região, entre eles referênciasemblemáticas como o Parque Almourolou as intervenções realizadas no âmbito<strong>do</strong> programa Polis em Setúbal, Costa deCaparica, Cacém e Tomar.|


European Community©, 2007Danuta HübnerComissária Europeiada Política Regional«Espero que esteprograma operacionaltenha um forteimpacte nocrescimento da regiãode Lisboa»Quais deverão ser, na sua opinião, as grandes prioridades daregião de Lisboa nos próximos anos?A estratégia actual tem um forte enfoque no crescimento e noemprego, factores que poderão potenciar uma mudança naregião. É muito claro o enfoque no conhecimento e na inovação,na competiti<strong>vida</strong>de económica, importantes elementos <strong>do</strong> ProgramaOperacional, mas também a aposta em sectores como ostransportes sustentáveis e o investimento no desenvolvimentosustentável ou na reciclagem.Estas são também as grandes prioridades europeias, e pensamosque poderão ter um grande impacte no crescimento desta região,accionan<strong>do</strong> as forças da inovação, da competiti<strong>vida</strong>de e conhecimento.Espero que este programa tenha um grande impacte nocrescimento e desenvolvimento de capacidades na região.Considera que a «Lisboa 2020 – Uma Estratégia de Lisboa paraa Região de Lisboa» foi bem desenhada?Estamos muito satisfeitos com as prioridades que foram estabelecidas.Encontrámos um grande entendimento quan<strong>do</strong> definimosas prioridades para os próximos anos no financiamentoeuropeu. Estamos muito optimistas em relação aos próximosanos e em relação ao enfoque que está a ser da<strong>do</strong> nos factoresque podem ultrapassar os obstáculos ao crescimento.Como é que outras regiões europeias fizeram para continuara crescer com menos fun<strong>do</strong>s europeus?10 |


European Community©, 2007Portugal já recebeu cerca de 50 mil milhões de euros desde queaderiu à União Europeia e vai receber ainda mais cerca de 21 milmilhões até 2013. Pensamos que houve muitas oportunidadescriadas e que Portugal tem agora as condições para passar paraa etapa seguinte <strong>do</strong> seu desenvolvimento.O desafio para Portugal é definir melhor as suas prioridades,reduzin<strong>do</strong> o investimento nas infra-estruturas para apostar maisem suplantar o gap de inovação e desenvolvimento tecnológicoem relação à UE, com um forte investimento no sistema educativo,por exemplo. A mudança de prioridades com basicamentea mesma quantidade de fun<strong>do</strong>s significa que Portugal tem agoraoutra grande oportunidade de investir no seu futuro.A Europa é cada vez menos a Europa <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s-nação. Qual opapel das regiões numa Europa mais federalista?Temos três níveis de decisão, o europeu, o nacional e o regional/local. A Declaração de Berlim decidiu que a União Europeia temde partilhar o poder de decisão por estes três níveis. Todas asgrandes mudanças no mun<strong>do</strong>, como a globalização e as alteraçõesclimáticas, têm impacto distinto em diferentes regiões.Daí que precisemos de procurar soluções diferenciadas para problemascomuns, e daí que o nível da região seja tão importantenas decisões. O nível sub-nacional é determinante. A inovação,por exemplo, não depende directamente de uma decisão europeiaou nacional, mas das forças de crescimento e mudança quese desenvolvem no seio das regiões, das parcerias que se estabeleceme <strong>do</strong> apoio que surge por parte <strong>do</strong>s actores regionais.Qual é o balanço que faz <strong>do</strong>s Open Days deste ano?Sempre me interroguei porque é que as regiões portuguesas nãoteriam muita presença neste evento, e fiquei feliz por ver que esteano foi diferente. É muito importante podermos confrontar anossa competiti<strong>vida</strong>de, as nossas forças e fraquezas com outrasregiões e países. Acho que este ano se notou uma mudança claraem relação às regiões portuguesas.A presença de Portugal neste tipo de eventos tem vin<strong>do</strong>a evidenciar-se?Temos verifica<strong>do</strong> que Portugal tem uma atitude cada vez maisaberta em relação à União Europeia e tem cada vez maior participaçãoem programas transnacionais e projectos interregionaisde cooperação, o que é um factor adicional de mudança.O que achou <strong>do</strong> tema escolhi<strong>do</strong>, «A Água como Factor deCompetiti<strong>vida</strong>de»?As zonas costeiras têm uma grande importância para um paíscomo Portugal. Além disso, no âmbito das políticas europeias,tem havi<strong>do</strong> um forte investimento na protecção <strong>do</strong>s recursoshídricos nas últimas décadas em Portugal. Achamos que Portugalpoderia ter um papel determinante face à sua situação geográficano contexto europeu e à sua ligação ao mar. Pensamos umadas grandes forças de Portugal pode ser esta proximidade ao mare esta vivência das zonas costeiras.| 11


O mistério <strong>do</strong>s comerciantesque não querem venderOpinião | Fernanda CâncioFotografia | Câmara ardente, produções fotográficas12 |


Inox rasca, azulejos de casa de banho, cadeiras de plástico, montras atabalhoadas,remodelações desastrosas, horários de há cinquenta anos. Desculpan<strong>do</strong>-se com«a desertificação», «a crise <strong>do</strong> consumo» e a alegada «concorrência desleal»<strong>do</strong>s centros comerciais, muitos – a maioria? – <strong>do</strong>s estabelecimentos ditos «tradicionais»<strong>do</strong> centro de Lisboa parece fazer um esforço sincero para afastar clientes . À espera de quê?| 13


Em tempos, numa das esquinas da baixa, na rua daPrata ou <strong>do</strong>s Fanqueiros, existia uma loja com umacaracterística única: tinha montras em vidro abaula<strong>do</strong>.Montras re<strong>do</strong>ndas, portanto, memória de um estiloart-deco e de um tempo em que as lojas se desenhavampara serem diferentes e não iguais. Não sei que tipo de lojateria si<strong>do</strong> o da original, mas as montras magníficas permaneciam,milagrosamente intocadas décadas fora. Até que, em 2003ou 2004, o estabelecimento fechou para obras. E, um belo dia,as montras re<strong>do</strong>ndas tinham desapareci<strong>do</strong>, substituídas por vulgaríssimasmontras planas. Porque tinha de ser? Porque o vidroabaula<strong>do</strong> não cumpria a sua função? Porque a instalação <strong>do</strong>comércio em causa exigia montras planas? Não. A loja que abriuali nada tem de extraordinário e tu<strong>do</strong> ficou mais ou menos comoera. Mas, quem «desenhou» a transformação quis fazer igual.Uma loja igual às outras, uma esquina igual às outras. Anulara diferença. Destruir, numa palavra.Este exemplo é apenas simbólico no seu carácter gratuito. Decertoque nenhum instituto <strong>do</strong> património arquitectónico classificamontras de vidro <strong>do</strong>s anos 40 ou 50. Não são propriamente monumentos.São só coisas bonitas e especiais estupidamente estragadaspara dar lugar a coisas indistintas e banais. E isto passa-seto<strong>do</strong>s os dias, há décadas, no comércio português, sem que, aparentemente,algo (regulamentos, leis, incentivos à conservação)o impeça.A estética <strong>do</strong>s estabelecimentos portugueses será aliás e parasempre um irresolúvel mistério para qualquer cidadão que tenhada<strong>do</strong> umas voltas pelo mun<strong>do</strong>. Donde virá o fascínio pelas portasde inox, o apego aos brilhantes, brancos (e broncos) azulejos e àsluzes fluorescentes? Donde virá a irreprimida vontade de destruiçãode tu<strong>do</strong> o que é diferente e único? Do mesmo sítio, decerto,daquilo que faz com que na generalidade <strong>do</strong>s cafés e pastelariassejam iguais os bolos, as sandwiches, o pão, o queijo flamengo,o fiambre fiambrino, o presunto ressequi<strong>do</strong>, a manteiga planta,os folha<strong>do</strong>s engordura<strong>do</strong>s e os croquetes endureci<strong>do</strong>s, como senão houvesse mil outras possibilidades e a gastronomia portuguesa(para não falar das outras) não permitisse outras variações.Como se não houvesse pães e queijos e enchi<strong>do</strong>s nacionais muitomais atractivos que aquilo, e como se não houvesse procura deno<strong>vida</strong>de e qualidade. Não: esforço nenhum, atenção nenhuma.«Não se vende», ou «As pessoas não querem isso», responde ogerente, como se soubesse <strong>do</strong> que fala, como se tivesse corri<strong>do</strong>mun<strong>do</strong>, como se se informasse <strong>do</strong> que as pessoas querem e <strong>do</strong>que são «as tendências», para a seguir se queixar «<strong>do</strong> negócio queestá mau». Por causa <strong>do</strong>s centros comerciais, claro, e da crise, claro,e «da desertificação <strong>do</strong> centro», claro, mas nunca por causa dasopções erradas que o próprio gerente tomou. Não, nunca, por suaculpa. Mas isso é lá possível, a responsabilidade individual. Há-dehaver sempre uma conjuntura maléfica para explicar a decadência<strong>do</strong> comércio dito «tradicional» – que não a tradição de imobilismoe burrice da maioria <strong>do</strong>s comerciantes, a sua fascinanteausência de mun<strong>do</strong>, a sua impagável falta de sofisticação.14 |


Estou a ser injusta? Olhemos então à volta. Quarteirão a quarteirão,o centro tem si<strong>do</strong> selvaticamente desfea<strong>do</strong>. Arcos pombalinoscorta<strong>do</strong>s para dar lugar a montras quadradas, pedras originaistapadas com granito ou mármore, mobiliário nobre substituí<strong>do</strong>por balcões de metal e vidro à dúzia e mesas e cadeiras de plásticonum furor de igualizar e banalizar. Quanto mais especial e característicafor a arquitectura da zona, mais certo é que as «adaptações»ou, pior, as «modernizações» queiram transformar o espaço numaespécie de geminação com o café <strong>do</strong>s pirolitos, em Massamá, ou opronto-a-vestir homem mulher e criança de Carnaxide. Que ideia,respeitar os materiais e o espírito de um edifício ou de um bairro.Que disparate, manter o mobiliário. O mais extraordinário nistonem será talvez o mau gosto, mas a estultícia económica: é que segasta dinheiro, com este tipo de intervenção. A ideia de fazer«novo» e «moderno» parece porém demasia<strong>do</strong> atractiva para seintrometer na lógica <strong>do</strong> custo/benefício. É ver então os comerciantesportugueses a deitar fora aquilo por que outros pagam fortunas:relíquias com décadas, ambientes especiais, o charme <strong>do</strong> antigo.Qual quê. Este extraordinário e obstina<strong>do</strong> autismo, tão óbvio nas«remodelações» e apropriações de espaços, prolonga-se em todasas etapas da relação com os clientes, a começar pela fixação dehorários. Como se fosse a si próprios e não a outros que visassemagradar e atrair, <strong>do</strong>nos de cafés e pastelarias, lojas de roupa e lingerie,imitam os bancos no seu afã igualiza<strong>do</strong>r: se um balcão deveser rigorosamente idêntico a outro, seja numa zona com trêsséculos ou numa nova urbanização, com horários rigorosamentealinha<strong>do</strong>s, por que raio hão-de os comerciantes de pensar diverso?Aos dias de semana a partir das sete da tarde e aos fins de semanato<strong>do</strong> o dia, a zona <strong>do</strong> Marquês de Pombal, em Lisboa, é um deserto.«Ferreira <strong>do</strong> Alentejo», chamou-lhe numa crónica a jornalista <strong>do</strong>DN Ana Sá Lopes. Tal qual: no centro da cidade, onde tantasempresas estão sediadas e onde estão situa<strong>do</strong>s tantos hotéis– e onde tanta gente vive, apesar <strong>do</strong> que se diz – encontrar umcafé ou uma loja abertos (à excepção, obviamente, das «novas»lojas, como a Louis Vuitton, a Dolce & Gabanna, a Trussardi, a Tod’sou a Timberland e o centro comercial <strong>do</strong> Tivoli, to<strong>do</strong>s abertos aosába<strong>do</strong> à tarde, e nos quais ninguém pensa quan<strong>do</strong> fala de«comércio tradicional», apesar de serem lojas de rua como asoutras) fora <strong>do</strong>s ditos «dias e horas de expediente» é uma tarefaciclópica. O mesmo se passa nas chamadas avenidas novas: rarossão os cafés abertos ao fim de semana, raras as lojas de porta paraa rua que ponderaram alterar os horários de há 40 anos paraoutros mais compatíveis com os «novos» (com pelo menos 15 anos)ritmos urbanos.As coisas estão a mudar? Sim, estão: com a pressão <strong>do</strong> «inimigo»,sobretu<strong>do</strong> – sen<strong>do</strong> o inimigo declara<strong>do</strong> aquilo a que se dá o nomede «grandes superfícies», mas, na verdade, corresponden<strong>do</strong> commais probabilidade a comércios como a Zara, que com a sua políticade horários, preços e trocas esmaga facilmente a concorrência.Mas também com a lenta substituição <strong>do</strong>s velhos comerciantes.Não necessariamente por novas lojas – coisa que, de resto, estáa acontecer a um ritmo preocupante (o ideal seria que os velhosestabelecimentos, de cafés a retrosarias, fossem capazes de evoluir| 15


(…) encontrar um café ou uma loja abertos (à excepção,obviamente, das «novas» lojas, como a Louis Vuitton,a Dolce & Gabanna, a Trussardi, a Tod’s ou a Timberlande o centro comercial <strong>do</strong> Tivoli, to<strong>do</strong>s abertos ao sába<strong>do</strong>à tarde, e nos quais ninguém pensa quan<strong>do</strong> falade «comércio tradicional», apesar de serem lojas de ruacomo as outras) fora <strong>do</strong>s ditos «dias e horas de expediente»é uma tarefa ciclópica.miseráveis. Ou seja, competem com os novos comércios com muitomelhores condições objectivas: já estão nos bons sítios e por nada,ten<strong>do</strong> apenas os salários <strong>do</strong>s emprega<strong>do</strong>s e os produtos comodespesa base.e de se aguentar) – mas por gerentes frescos. Aqui e ali, um espíritonovo aparece, provan<strong>do</strong> que é possível manter o mesmo negócio,no mesmo sítio, com outra atitude. Mercearias que fazemobras para recuperar traças antigas, oferecem produtos de qualidaderebuscada, abrem ao sába<strong>do</strong> à tarde e têm serviço de entrega;lojas de teci<strong>do</strong>s que criam ateliers de costura para permitir umserviço global; artesanatos antigos que se reciclam em ofertasmodernas (como o de sapatos à medida).A incapacidade de adequação à procura é, de resto, tanto maisdifícil de entender quanto a maioria <strong>do</strong>s comércios mais antigosocupam espaços nobres, muito bem situa<strong>do</strong>s, e pagam rendasÉ por esse motivo ainda mais (sê-lo-ia sempre) incompreensívelque os representantes <strong>do</strong>s comerciantes ameacem juntar-se a umagreve geral convocada pelos sindicatos, imputan<strong>do</strong> ao Esta<strong>do</strong>/governos a responsabilidade pela perda alegada, nos últimoscinco anos, de 250 mil empregos no sector. Não fazen<strong>do</strong> ideiade como se chegou a este número, e partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> princípio de queé fiável, não se pode deixar de concluir que a ser verdadeiro apontao de<strong>do</strong>, antes de mais, aos próprios comerciantes. Que fizerampara evitar isso? Desculpam-se com «a crise» (<strong>do</strong> consumo, naturalmente)e com a guerra que «as grandes superfícies» lhes fazem?O argumento é contraditório: afinal, as pessoas continuam a comprar,mas noutros la<strong>do</strong>s. Se assim é, não deviam os «pequenos»comerciantes ter muda<strong>do</strong> a sua atitude, oferecen<strong>do</strong> aquilo que osgrandes não podem oferecer – proximidade, ambiente, produtosespeciais ou costuma<strong>do</strong>s, e tu<strong>do</strong> isto em horários compatíveis?Custa dinheiro abrir ao sába<strong>do</strong> e ao <strong>do</strong>mingo? Decerto. Custadinheiro ter produtos bons? Com certeza. Dá trabalho mudar deperspectiva e tentar perceber o merca<strong>do</strong> em vez de esperar queo merca<strong>do</strong> mude? Não há dú<strong>vida</strong>. Mas se calhar custa mais fechar.A não ser que, afinal, não custe assim tanto – há sempre umacoisa obscena chamada trespasse, em que o imobilista é compensa<strong>do</strong>à conta de ter fica<strong>do</strong> imóvel.16 |


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Entrevista | Carla AmaroFotografia | Pedro SoaresJosé <strong>Eduar<strong>do</strong></strong> <strong>Carvalho</strong>Presidente da direcção da NERSANT, Associação Empresarial da Região de SantarémLicencia<strong>do</strong> em sociologia e depois de um curto percurso no ensino, decidiu fazer carreirano mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s negócios. Tinha 28 anos quan<strong>do</strong> deixou de dar aulas no ISCTE, em Lisboa,para se tornar empresário em Torres Novas. Está há 13 anos à frente da quarta maiorassociação empresarial <strong>do</strong> país em número de associa<strong>do</strong>s, mas garante que daqui a <strong>do</strong>isanos, altura em que terminará mais um mandato, «dará» o lugar a outra pessoa. Cansa<strong>do</strong>de «remar contra a maré», José <strong>Eduar<strong>do</strong></strong> <strong>Carvalho</strong> espera ver desbloquea<strong>do</strong>s os entravesque atrasam a conclusão de projectos importantes para o desenvolvimento e competiti<strong>vida</strong>deda região: o Parque de Negócios, o Parque Almourol, o Plano de Inovação.E depois de 2013, conseguidas as mais-valias da integração da Lezíria e <strong>do</strong> Médio <strong>Tejo</strong>no Programa Operacional Regional <strong>do</strong> Alentejo (no âmbito <strong>do</strong> actual quadro comunitáriode apoio), sonha com a integração da sua região na zona <strong>do</strong> litoral Oeste.18 |


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Na altura em que foi aplica<strong>do</strong> o phasing out [transição da regiãoda Lisboa e Vale <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong> <strong>do</strong> objectivo I para o objectivo II],disse que a Lezíria e o Médio <strong>Tejo</strong> são os parentes pobresda Área Metropolitana de Lisboa (AML). Mantém essa opinião?Proferi essa declaração porque estas duas NUTS [Nomenclaturadas Unidades Territoriais para Fins Estatísticos] foram seriamenteprejudicadas no acesso aos fun<strong>do</strong>s comunitários com a aplicação<strong>do</strong> phasing out e nesse senti<strong>do</strong> não há dú<strong>vida</strong>s que a Lezíria e oMédio <strong>Tejo</strong> foram os parentes pobres da AML. E se porventura asautarquias conseguiram atempadamente encontrar programase intervenções para compensar as consequências mais nefastas<strong>do</strong> phasing out, o mesmo não sucedeu com as empresas. Todaa região lutou em vão contra esta medida. Mas com a entradadeste Governo a situação resolveu-se em 15 dias.Há quem diga que com a globalização as marcas pouco significa<strong>do</strong>têm para o crescimento e para o desenvolvimento das regiões.Em certa medida, concor<strong>do</strong> com esta tese. A Renova venderá maispapel higiénico se a associarem à marca Ribatejo? Não creio.A Compal venderá mais sumos se a identificarem com a marcaRibatejo? Não creio. Eventualmente, serão <strong>do</strong>is os sectores quepodem beneficiar com a afirmação da identidade territorial:.o turismo e, eventualmente, o vinho. A necessidade de consolidara marca Ribatejo surgiu na sequência da integração das NUTSLezíria <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong> e Médio <strong>Tejo</strong> noutra região. Tivemos necessidade desaber qual o sentimento da população sobre a identidade destedistrito. A marca Ribatejo foi a que reuniu maior concenso. Nestafase, reafirmar esta marca como identidade territorial seriaimportante, mas não creio que a CCR <strong>do</strong> Centro e a CCR <strong>do</strong> Alentejoestejam dispostas a isso.É positivo neste momento estarmos no Alentejo porque estamos nas NUTde objectivo I, ou seja, estamos nas regiões plano de objectivo I, o que nosdá acesso a um conjunto de instrumentos financeiros que não teríamosse ficássemos na Área Metropolitana de Lisboa ou liga<strong>do</strong>s à Região de Lisboae Vale <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong>. Mas <strong>do</strong> ponto de vista da estratégia e <strong>do</strong> desenvolvimento,a partir de 2013 penso que a Lezíria e o Médio <strong>Tejo</strong> não deviam ficarirreversivelmente integradas em regiões que não fosse a sua região natural:o Oeste. Sou favorável a uma unificação da Lezíria, <strong>do</strong> Médio <strong>Tejo</strong> e <strong>do</strong> Oeste.Concretamente, que prejuízos tiveram estas duas NUTS?Porquê?Desde logo, ao nível da captação de investimento, da modernizaçãodas empresas, <strong>do</strong> crescimento da sua competiti<strong>vida</strong>de. Durantetrês anos as empresas desta região foram seriamente afectadaspor essa medida que vigorou no quadro comunitário anterior.Não é possível avaliar as consequências que, neste momento,ainda se fazem sentir pelo facto de termos esta<strong>do</strong> tanto tempocom quebras de investimento muito acentuadas na região.Porque a integração não está a ser fácil. Tanto de um la<strong>do</strong> como <strong>do</strong>outro, as pessoas sabem que estão a servir de barriga de aluguer.Os principais actores – as CCR, os autarcas, as associações empresariais–, por um la<strong>do</strong>, respeitam a nossa integração e têm algumreceio da dinâmica e coesão que aqui existe (temos alguma parceriapúblico-privada com capital); por outro la<strong>do</strong>, preferem uma integraçãodentro <strong>do</strong>s seus planos de desenvolvimento estratégico.Esta região conseguiu alcançar a meta que definiu nos últimosanos, a de consolidar a marca Ribatejo no merca<strong>do</strong>. Até queponto o sucesso de um produto advém da associação que se fazà região onde é produzi<strong>do</strong>?Preferia a integração na região <strong>do</strong> Oeste?Prefiro estar incluí<strong>do</strong> ou trabalhar numa parte menos rica de umaregião rica <strong>do</strong> que numa parte mais rica de uma região pobre.A Área Metropolitana de Lisboa e a região de Lisboa e Vale <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong>,20 |


Veja o que acontece na áreas da inovação e da competiti<strong>vida</strong>de,ferramentas importantes para o sucesso de qualquer empresa.Nos países descentraliza<strong>do</strong>s, os grandes grupos económicos nãonecessitam de ter estruturas de desenvolvimento tecnológicoporque eles próprios fazem as investigações. Mas isso é impensávelno caso das PME [Pequenas e Médias Empresas]. Em Portugalé preciso criar estruturas (centros tecnológicos, centros de competências,por exemplo) que façam a intermediação entre asnecessidades de desenvolvimento e inovação das pequenas e médiasempresas e as universidade ou centros de saber. Nos paísesonde existe uma maior descentralização político-administrativa,os orçamentos regionais financiam os centros de investigaçãoatravés de apoios muito grandes às empresas. Aqui não temosnada disso.mais-valias e riquezas criadas na economia. Precisamos de alterartu<strong>do</strong> isto. Neste momento vivemos num dilema: ou o milagre oua falência.O que impede esta região de captar investimento? Não é essaa ideia subjacente ao projecto <strong>do</strong>s Parques de Negócios?Esse é o objectivo, mas é normal que os investimentos acabempor fluir para regiões onde existem valorização e qualificação damão-de-obra e uma política fiscal mais competitiva, como é o casoem Espanha. O Parque de Negócios é um investimento importante,só as infraestruturas implicam um gasto de 100 milhões deeuros. Ou seja, temos 100 milhões de euros para investir há cincoanos e não conseguimos porque existem entraves aos licenciamentos.As tramitações processuais <strong>do</strong>s planos de pormenor, emSempre fui a favor da regionalização. Existem bons e maus exemplosde regionalização em toda a Europa, mas acredito que se houvero cuida<strong>do</strong> de racionalizar os custos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, evitan<strong>do</strong> que ganhemaior expressão <strong>do</strong> que a que tem, a regionalização seria benéfica parao país. O que é preciso é reduzir o défice orçamental. 60% <strong>do</strong> eleitora<strong>do</strong>português (cinco milhões de pessoas) vive <strong>do</strong> orçamento geral <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong>. A situação é de tal maneira grave que é impossível que continuepor muito mais tempo.Mas projectos não faltam. Um <strong>do</strong>s mais ambiciosos é a construçãonesta região de cinco áreas de localização empresarial. Em quefase estão os Parques de Negócios?Estamos a perder investimentos para as regiões de Cáceres e deBadajoz devi<strong>do</strong> aos apoios que os governos regionais espanhóisestão a dar às sociedades que gerem áreas idênticas às nossas.Apoios directos à venda de terrenos. A competiti<strong>vida</strong>de, o desenvolvimentodas regiões consegue-se através da captação de investimentos,que passa por medidas como as criação de isenções fiscais,de incentivos, e, neste aspecto, os governos regionais em Espanhaestão a dar cartas de como se pode correlacionar positivamentea descentralização com o aumento da competiti<strong>vida</strong>de pelaatracção de investimento. O Esta<strong>do</strong> português chegou a um pontoque para sobreviver e para se manter suga por completo todas asque é necessário fazer pequenas alterações a <strong>do</strong>is ou três artigos<strong>do</strong> PDM [Plano Director Municipal], demoram, em média, cinco ouseis anos. Estes entraves têm prejudica<strong>do</strong> mais o desenvolvimento<strong>do</strong> país <strong>do</strong> que a própria legislação laboral.Quer dizer que o projecto está para<strong>do</strong>?Para<strong>do</strong> não está e vai ser concluí<strong>do</strong>. Mas vai demorar. Temos queesperar cinco ou seis anos para fazermos investimentos queultrapassam os 400 milhões de euros, porque primeiro é preciso,por exemplo, naturalizar uma linha de água quase inexistentemas que está protegida há 15 ou 20 anos pela carta de RAN[Reserva Agrícola Nacional, integra um conjunto de áreas que,pelas suas características morfológicas, climatéricas e sociais,maiores potencialidades apresentam para a produção de bens22 |


agrícolas]. Isto só em Portugal. São estes obstáculos que atrasamtu<strong>do</strong>.A área em Rio Maior, por ser mais pequena, vendeu-se em seismeses. E há mais um lote que está neste momento a ser instala<strong>do</strong>.To<strong>do</strong>s os outros aguardam. O que me revolta mais é saber quepara investimentos semelhantes, dentro da mesma área e parao mesmo tipo de equipamentos, o Governo desbloqueia cem hectaresde RAN e REN [Reserva Ecológica Nacional], em leite de cheia,para a plataforma logística da Castanheira. Aqui, demora cincoanos a encontrar forma de alterar o uso <strong>do</strong> solo para dar andamentoaos projectos.Quantos postos de trabalhos vão ser cria<strong>do</strong>s com os Parquesde Negócios?de parques, que agora se começa a desenvolver em to<strong>do</strong> o país,e é bom que se saiba que surgiu aqui. Infelizmente, os obstáculosaos licenciamentos e o excesso de questões ambientais lateraisestão a atrasar os processos.O projecto Parque Almourol não lhe causa tantas <strong>do</strong>res de cabeça...O Parque Almourol resulta de uma parceria público-privada entreuma associação empresarial (NERSANT) e três autarquias (Constância,Vila Nova da Barquinha e Chamusca), cujos orçamentoseram os mais frágeis da região. Trata-se de um projecto intermunicipalque tem como objectivo transformar 12 quilómetros demargem de rio no principal parque de aventura e turismo activono país.À volta de 6994 postos de trabalho, num prazo de 10 anos, queé o tempo previsto para a concretização <strong>do</strong> projecto. Vamos terparques extremamente competitivos. O de Torres Novas tem umalocalização privilegiada, basta colocarmos um lote à venda queem poucos dias vende-se, é impressionante. No Parque de RioMaior, a possível deslocação <strong>do</strong> aeroporto poderá comprometerum pouco as expectativas. Essa é outra questão: não consigo conceberque não se leve em linha de conta to<strong>do</strong>s os investimentosque foram projecta<strong>do</strong>s a contar com essa infraestrutura. As acessibilidadesque foram prometidas deviam ser respeitadas, nomeadamenteo traça<strong>do</strong> desde a Castanheira até Rio Maior, porquederam expectativas a agentes económicos. São acessos fundamentaispara segurar e atrair investimentos. De resto, não vejocomo é possível alguém fugir neste momento a essas responsabilidades.Demoramos seis anos a implementar este projecto inova<strong>do</strong>rQue acti<strong>vida</strong>des estão previstas?É possível optimizar naquele espaço um conjunto de investimentosse se conseguir conjugar três factores: água, ar e terra. A água nãoé problema, porque temos os rios Zêzere e <strong>Tejo</strong>, este na sua partemais estreita. No âmbito <strong>do</strong> Programa Vale <strong>Tejo</strong>, que tencionavarecuperar e dinamizar as <strong>margens</strong> ribeirinhas <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong>, andamosa ver qual seria a parte <strong>do</strong> rio mais interessante, pedimos a opiniãode consultores... Assumi<strong>do</strong> o objectivo de construir um parque deaventura e turismo, havia que decidir quais os equipamentos,como é que podíamos compatibilizá-los com a valorização urbanae ambiental e como é que iriam ser distribuí<strong>do</strong>s e geri<strong>do</strong>s. Outroaspecto relevante foi a constituição da Sociedade Parque Almourol,uma empresa mista que continua a gerir, com base no planeamentoinicial, este puzzle de equipamentos.| 23


Que peças faltam para completar o puzzle?Ainda está de pé a intenção de construir um hotel?Dos investimentos importantes pensa<strong>do</strong>s na primeira fase <strong>do</strong>projecto, faltam algumas peças. Falta a limpeza da ilha, que estácheia de caniço. Falta fazer o percurso pe<strong>do</strong>nal ribeirinho de 12quilómetros, desde Constância até Vila Nova da Barquinha. Faltaconstruir o parque de aventura e turismo. E falta a conversão <strong>do</strong>Castelo de Almourol em museu. O ideal é que tivesse si<strong>do</strong> feitadesde o início, mas negociar com o IPPAR [Instituto Português <strong>do</strong>Património Arquitectónico] é complica<strong>do</strong>. E mais difícil aindaé juntar o IPPAR a militares [o castelo é propriedade <strong>do</strong> ExércitoPortuguês]. Depois de muita luta, de muitos problemas, de muitaspropostas, chegou-se a uma fase em que o próprio MuseuMilitar, em Lisboa, fez o projecto e o IPPAR finalmente aceitou.Sim, temos esse grande investimento turístico priva<strong>do</strong> na calha,um hotel de quatro estrelas, em Vila Nova da Barquinha, na margem<strong>do</strong> rio Zêzere. Já devia estar numa fase mais avançada, mastambém aguarda pelo processo de alteração <strong>do</strong> uso <strong>do</strong> solo. E osmilitares deram um parecer negativo à sua construção.A recuperação urbana <strong>do</strong>s prédios devolutos existentesao longo <strong>do</strong> rio, em Vila Nova da Barquinha e Constância,será feita na segunda fase <strong>do</strong> Parque Almourol?Sim, através de parcerias público-privadas. Os priva<strong>do</strong>s constróiem,as câmaras cedem os terrenos e depois haverá uma repartiçãodas mais-valias que serão criadas com a venda das construçõesHá a economia da banca, da distribuição, da energia e dastelecomunicações, que ganham bom dinheiro e remuneram bemos seus accionistas; e há a economia das indústrias transforma<strong>do</strong>ras,que criam mais emprego na estrutura empresarial, que estão maisexpostas à concorrência <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> internacional, que têm problemasdiabólicos devi<strong>do</strong> à contracção <strong>do</strong> investimento no merca<strong>do</strong> interno.Estas são as duas economias existentes em Portugal. Enquanto umacresce, outra definha.Em que consiste a intervenção no castelo?Essencialmente, na reprodução da <strong>vida</strong> medieval no interior <strong>do</strong>castelo. Na principal torre, os visitantes terão oportunidade de vercomo viviam, como <strong>do</strong>rmiam, o que faziam os habitantes <strong>do</strong> castelodurante a Idade Média. É uma coisa aparentemente fácil,mas, na verdade, tão difícil de concretizar. Andamos há sete anospara realizar uma ideia que não necessita de mais de um milhãode euros. É também preciso definir em que termos se vai fazera exploração e a gestão <strong>do</strong> museu. Estas questões estão todas portratar e espero que não demorem mais sete anos. Penso que deviahaver mais dinâmica por parte da instituição militar para aceleraro processo. É inacreditável que se possa levar 12 ou 13 anos paracriar um museu como este. Não percebo esta apatia.para fins comerciais e residenciais. Até agora foram autorizadasduas ou três habitações com pouca densidade. Neste momentoainda existe muita degradação nalguns prédios, mas se visseo esta<strong>do</strong> daquela zona antes da intervenção... parecia o Iraquebombardea<strong>do</strong>. A construção na Barquinha já foi anunciada, aoabrigo desta parceria público-privada, e agora vai a concurso.Outra grande aposta da associação que dirige é o Planode Inovação. Em que fase se encontra?Depois da definição <strong>do</strong> projecto, da negociação das parcerias comas universidades e da negociação com as autarquias quanto à sualocalização, encontramo-nos na fase de pré-apresentação de.candidaturas ao QREN [Quadro de Referência Estratégico Nacional].Em termos de investimento físico na área da inovação, já foiconstruí<strong>do</strong> em Abrantes o edifício onde funcionará um centro24 |


tecnológico alimentar, que irá ocupar-se de quatro produtos:pimento, marmelo, azeite e enchi<strong>do</strong>s e prestará apoio ao nível dainformação aos produtores e empresas que trabalham com estesalimentos. Pretendemos também construir um Centro Tecnológicode Materiais de Construção em Fátima, desenvolvi<strong>do</strong> pelodepartamento de materiais de construção <strong>do</strong> Instituto SuperiorTécnico de Lisboa. Na Carregueira, Chamusca, surgirá um Centrode Competência na área <strong>do</strong>s Resíduos e Ambiente, pela proximidadea infra‐estruturas de tratamento como os CIRVER [CentrosIntegra<strong>do</strong>s de Recuperação, Valorização e Eliminação de ResíduosPerigosos]. Em Ferreira <strong>do</strong> Zêzere está prevista a construção deum Centro de Competências de Recursos Florestais e em Almeirimserá cria<strong>do</strong> um Centro Tecnológico Agro-Alimentar vocaciona<strong>do</strong>para produtos frescos.Em primeiro lugar, pela unificação <strong>do</strong> movimento empresarial.Foi por os empresários não terem uma voz única que falhoua tentativa de criação da Confederação Empresarial de Portugal.Há neste momento necessidade de resolver três ou quatro questõespara melhorar a situação das empresas. A legislação laboraldeve ser revista em alguns aspectos. Mais <strong>do</strong> que o défice orçamental,o desafio actual é a competiti<strong>vida</strong>de e nesse senti<strong>do</strong>deviam criar-se programas de apoio directo às empresas para quepudessem fazer aquisições, fusões, exportar, internacionalizarem-‐se (existem instrumentos para isso: titularizações das dí<strong>vida</strong>s,investimentos grupa<strong>do</strong>s, fun<strong>do</strong>s de investimento imobiliário,capital de risco, garantias mútuas...). As dí<strong>vida</strong>s <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> aospriva<strong>do</strong>s devem ser saldadas (não consigo admitir que haja arbitrariedadefiscal para a cobrança de impostos se o próprio Esta<strong>do</strong>não é célere no pagamento <strong>do</strong> que deve às empresas).Tu<strong>do</strong> isto até 2013?É perfeitamente viável. Não são estruturas muito grandes, cadauma implica um investimento que ronda um milhão de euros ouum milhão e cem mil euros. De resto, o objectivo vale bem o investimento:criar desenvolvimento, know-how e competências própriasna região, porque o grande problema é que está tu<strong>do</strong> muito centra<strong>do</strong>em Lisboa, é trazer bons quadros técnicos para cá. As pessoasque vivem a 100 quilómetros daqui preferem fazer a viagemde carro a instalarem-se cá. Porque os bons colégios para os filhosestudarem estão em Lisboa. Até lhe digo mais: hoje, um bom paidiz aos filhos para irem estudar para o estrangeiro.Acusa as associações empresariais nacionais de não seempenharem num modelo de competiti<strong>vida</strong>de que as façaprogredir. Esse empenho passa pela a<strong>do</strong>pção de que medidas?E que debilidades diagnostica na estrutura empresarialportuguesa?Falta de capacidade empresarial, falta de qualidade de gestão,estruturas empresariais de pouca dimensão, pequenas e semcapacidade financeira. Neste país há duas economias: há a economiada banca, da distribuição, da energia e das telecomunicações,que ganham bom dinheiro e remuneram bem os seus accionistas;e há a economia das indústrias transforma<strong>do</strong>ras, que criammais emprego na estrutura empresarial, que estão mais vocacionadaspara o merca<strong>do</strong> interno, que estão mais expostas à concorrência<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> internacional, que têm problemas diabólicosdevi<strong>do</strong> à contracção <strong>do</strong> investimento no merca<strong>do</strong> interno. Estassão as duas economias existentes em Portugal. Enquanto umacresce, outra definha.| 25


Requalificar as zonas ribeirinhas tem si<strong>do</strong>, em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, a melhor forma de aproveitaras mais-valias de um rio que atravessa uma cidade. Lisboa não é excepção, Almada e Seixaltambém não. Na margem sul <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong> estão previstos projectos que prometem mudarradicalmente as zonas da Margueira, da Siderurgia Nacional e da Quimiparque, ondese espera que surjam espaços de lazer, de comércio e de habitação. Na margem nortetambém haverá intervenções de requalificação, em especial na baixa pombalina, na Ajuda-‐Belém e em Pedrouços. Para que a água comece também a ser falada não apenas como umbem escasso, que começará a faltar daqui a 20 anos em muitas regiões <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, mas comoum factor de competiti<strong>vida</strong>de poderoso, capaz de alterar a imagem e o modus vivendide uma cidade. As Docas de Alcântara e o Parque das Nações surgem exemplaresno aproveitamento <strong>do</strong> potencial <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong>: de zonasdeprimidas transformaram-se emimportantes pólos turísticos e económicos.26 |


Reportagem | Carla AmaroFotografia | Guto Ferreiradar <strong>vida</strong> às<strong>margens</strong> <strong>do</strong> tejoImagem estranha a de um marceneiro num local onde nãoexiste quase nada além de edifícios velhos com fachadasque ameaçam ruir a to<strong>do</strong> o momento. Os avisos afixa<strong>do</strong>snas paredes tornam mais real o risco que até os menosatentos adivinham. O Cais <strong>do</strong> Ginjal, na margem sul <strong>do</strong><strong>Tejo</strong>, ficará reduzi<strong>do</strong> a escombros mais dia menos dia. E é no meiodeste iminente cenário que Ramiro Gonçalves finaliza um móvelde cozinha. «Podem entrar. Aqui não há cão». Esclarecemos que«não somos clientes», que «não queremos encomendar nada».Que o que nos levou à espreitadela foi «a curiosidade de saber o quefaz aqui no meio <strong>do</strong> nada». A resposta é pronta: «Trabalho. Estoua acabar um serviço que fiquei de entregar hoje à tarde».Da mesa onde Ramiro corta a matéria-prima vê-se «o la<strong>do</strong> de lá»,Lisboa. Mas não é por «esta vista» que o artesão mantém a portada marcenaria aberta. É pelo rio. Por ele permanece neste local,isola<strong>do</strong>. «É um privilégio estar a <strong>do</strong>is metros da água». Não háexagero na medição. O <strong>Tejo</strong> fica mesmo a <strong>do</strong>is metros da portada marcenaria de Ramiro. Lisboa surge ao longe, iluminada pelosol que nesta altura <strong>do</strong> ano é fugidio neste pedaço de marginal.Aqui é tempo de sombra e de muito vento. «Aparecem uns raiozitosà hora <strong>do</strong> almoço e vão-se logo embora, não ficam o suficientepara aquecer a gente».A marcenaria de Ramiro fica a meio <strong>do</strong> Cais <strong>do</strong> Ginjal, onde o aban<strong>do</strong>noé mais evidente. Quem sai <strong>do</strong>s barcos da Transtejo e virapara o la<strong>do</strong> direito, percorren<strong>do</strong> o cais até ao fim – talvez por issoo último restaurante se chame Ponto Final, tem a sensação deentrar num cenário fantasmagórico produzi<strong>do</strong> de propósito paraum filme. Aqui se encontram as infraestruturas associadas à pesca<strong>do</strong> bacalhau: a antiga fábrica <strong>do</strong> bacalhau, a antiga fábrica degelo, a antiga fábrica <strong>do</strong>s arrastões e as casas <strong>do</strong>s pesca<strong>do</strong>res quepartiam para a Terra Nova e por lá ficavam durante semanasenquanto não enchessem o barco de peixe – as casas estão emfase de degradação avançada, mas algumas, se não se enganaquem passa e avança a informação, dão abrigo a «emigrantes<strong>do</strong> Leste».Este enquadramento resulta mais esquisito quan<strong>do</strong> ficamos.a saber que foi Ramiro que fez os cenários <strong>do</strong> filme Afirma Pereira,de António Tabucci, com Marcello Mastroianni no papel principale onde entram também Mário Viegas, Joaquim de Almeida,Daniel Auteuil. «Às cinco da manhã eu já andava na rua Augustaa preparar o cenário para as gravações», a tirar todas as referênciaspublicitárias que sugerem esta época e a substituí-los pelosplacards de 1938. «Não pode falhar nada», porque um pequenopormenor fora de época pode estragar tu<strong>do</strong>. Os móveis e o chão| 27


Ramiro na sua marcenaria, no Cais <strong>do</strong> Ginjal<strong>do</strong>s interiores onde eram gravadas as cenas «foram feitos porestas mãos ou conforme as minhas instruções». E quem não acreditano que Ramiro diz pode confirmar na ficha técnica de AfirmaPereira, onde o nome «Ramiro Golçalves» aparece como «Chefede construção».Além da sua arte, Ramiro também colocou à disposição da produçãoalgumas velharias da sua colecção: «O relógio que Mastroianniusa no filme é meu, assim como outros objectos: a máquina <strong>do</strong>café, a máquina regista<strong>do</strong>ra, a pedra <strong>do</strong> lava-louça...». Depoisdesta experiência cinematográfica, outros convites surgiram paraconstruir os cenários de outros filmes, um espanhol e outro francês.E enquanto a ribalta não se lembrar outra vez dele, continuaráa preencher os dias a fazer móveis a sério, que os <strong>do</strong>s filmes eramsó a fingir, com a porta sempre aberta para não perder o <strong>Tejo</strong> devista.Ramiro gosta deste sítio e não percebe como é que depois de.tantos anos aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> à sua sorte «ainda ninguém resolveumexer nesta zona para tirar o maior proveito dela». O Cais <strong>do</strong>Ginjal tem potencialidades. A «colagem» ao rio torna-o um localapetecível a quem o associa a momentos de lazer e bem-estar.Tanto investi<strong>do</strong>res como consumi<strong>do</strong>res só têm a ganhar com a recuperaçãoe qualificação de zonas ribeirinhas como esta. O Parquedas Nações e as Docas são exemplos <strong>do</strong> que a devolução da <strong>vida</strong>a uma marginal aban<strong>do</strong>nada pode trazer às pessoas, às empresase ao próprio local. Espaços, usa<strong>do</strong>s como depósitos de contentores,transformaram-se nuns <strong>do</strong>s mais aprazíveis locais em Lisboapara passear, tomar um café, jantar... O pólo de atracção é, semsombra de dú<strong>vida</strong>s, a água. Que o diga João, emprega<strong>do</strong> de mesa<strong>do</strong> Doca Peixe, nas Docas. «Se o restaurante estivesse noutro sítionão tinhamos tantos clientes. As pessoas vêm aqui porque servimoscomida de qualidade, é claro, mas o rio, a marina, é a razãoprincipal. Estamos quase sempre cheios durante toda a semana,sobretu<strong>do</strong> ao jantar. Ao fim de semana então, não paramos.Chegamos a servir 150 refeições. É bastante bom neste negócio».Enquanto repõe o gelo no tanque <strong>do</strong> peixe – «olhe para isto, fresquinhoque não há, acabadinho de chegar da lota» –, João lembraa utilização no passa<strong>do</strong> de um espaço privilegia<strong>do</strong> como este.«Isto existe assim há uns 12 anos. Antes só havia aqui contentores.Os navios que chegam de África aportavam além no porto e largavamaqui as merca<strong>do</strong>rias. Foi uma coisa positiva terem feitoisto. É bonito, é agradável. Traz clientes. E acho que estão a pensarfazer o mesmo até Pedrouços, na antiga Doca Pesca, em Algés.Se for verdade vai ser muito bom para toda a gente».No Parque das Nações os testemunhos também não menosprezama proximidade da água como uma mais-valia: «É óbvioque o facto de estarmos à beira-rio nos faz ter mais clientela.Aos fins-de-semana é um corropio de gente», garante Franciscoenquanto tira um café atrás <strong>do</strong> outro no Bar Esplanada AzulProfun<strong>do</strong>, no Passeio das Tágides. O rio está a <strong>do</strong>is passos e apesarde ser ainda ce<strong>do</strong> para uma manhã de Outono fria, muita gentese levantou ce<strong>do</strong> e já passeia, anda de bicicleta, senta-se nasesplanadas a apanhar um pouco de sol, lê um livro, brinca com osfilhos. Uma margem de rio vi<strong>vida</strong> é gera<strong>do</strong>ra de <strong>vida</strong>, de saúdee de bem‐estar.28 |


A fábrica que em 33 anos defuncionamento reparou mais decinco mil navios encerrou as portasem 2000 e, desde então, esses terrenosficaram aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s. Não houveuma única intervenção com vista àsua requalificação. Neste local,apenas os vestígios – ferro e maisferro – de uma indústria que chegoua empregar 6100 pessoas. Mas oprojecto para esta zona ribeirinhaexiste. Aliás, para esta e para outrasna margem sul e na margem norte.Projectos que apresentam o mesmodenomida<strong>do</strong>r comum: a água.João, emprega<strong>do</strong> de mesa <strong>do</strong> Doca PeixeA própria Organização Mundial de Saúde, através <strong>do</strong> Projecto dasCidades Saudáveis, não se cansa de enaltecer a recuperação deáreas industriais deprimidas e inquinadas como forma de devolvera qualidade de <strong>vida</strong> às populações. Na área de Lisboa e Vale <strong>do</strong><strong>Tejo</strong>, uma das zonas que encaixa na perfeição, como peças numpuzzle, nesta caracterização é a <strong>do</strong>s terrenos da antiga Lisnave,na Margueira, <strong>do</strong> la<strong>do</strong> oposto <strong>do</strong> Cais <strong>do</strong> Ginjal.de requalificação destas zonas ribeirinhas pretendem valorizaro papel da água como agente de mudança das cidades. De resto,esta foi uma das questões inerentes ao tema em debate no eventoem Bruxelas – «A água como factor de competiti<strong>vida</strong>de» –, e quefoi apresenta<strong>do</strong> pelo grupo de trabalho lidera<strong>do</strong> pela Comissãode Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale <strong>do</strong><strong>Tejo</strong> (<strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>).A fábrica, que em 33 anos de funcionamento reparou mais decinco mil navios, encerrou as portas em 2000 e, desde então, essesterrenos ficaram aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s. Não houve uma única intervençãocom vista à sua requalificação. Neste local, apenas os vestígios– ferro e mais ferro – de uma indústria que chegou a empregar6100 pessoas. Mas o projecto para esta zona ribeirinha existe.Aliás, para esta e para outras na margem sul e na margem norte.Projectos que apresentam o mesmo denomida<strong>do</strong>r comum: a água.Potenciar o rio, devolvê-lo às populações, permitir-lhes que usufruamas duas <strong>margens</strong> <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong>, tornar o <strong>Tejo</strong> como um factor deaproximação e não de separação entre a margem norte e a margemsul... é a ideia base subjacente em cada um desses projectos.Potenciar as frentes ribeirinhasApresenta<strong>do</strong>s pela Parque Expo no âmbito <strong>do</strong> Open Days, que serealizou em Outubro passa<strong>do</strong> em Bruxelas, contemplam as zonasda Baixa Pombalina, Ajuda-Belém, Pedrouços (na margem norte),Margueira, Quimiparque e Siderurgia (na margem sul). Com conclusãoprevista para daqui a cinco anos (no caso da Frente RibeirinhaAjuda-Belém) e 10 a 15 anos (os da margem sul), os projectosSegun<strong>do</strong> o presidente <strong>do</strong> conselho de administração da ParqueExpo, entidade que presta assessoria técnica nos <strong>do</strong>mínios <strong>do</strong>ordenamento <strong>do</strong> território e <strong>do</strong> urbanismo a estes seis projectos,em declarações ao semanário Expresso na altura em que decorriao Open Days, o objectivo «é passar a encarar o <strong>Tejo</strong> como umagrande praça de água e uma cidade a duas <strong>margens</strong> com capacidadepara desenvolver projectos num território pensa<strong>do</strong> a umaescala metropolitana». Para Rolan<strong>do</strong> Borges Martins, «o potencial<strong>do</strong> <strong>Tejo</strong> é imenso» e os seis projectos previstos para os próximosanos irão devolver o rio e a paisagem aquática às populações.Isola<strong>do</strong> na sua marcenaria, Ramiro não faz ideia <strong>do</strong> que está.planea<strong>do</strong> para o Cais <strong>do</strong> Ginjal, mas diz que se ouvem «coisas».Para os terrenos <strong>do</strong> antigo estaleiro naval «ouvi dizer que vãofazer daquilo uma coisa parecida com o Parque das Nações semo Oceanário, é claro. Agora, aqui para o Cais <strong>do</strong> Ginjal, fala-senuma marginal com esplanadas e restaurantes até à Trafaria».Um percurso que a concretizar-se implicaria quase de certezaa demolição <strong>do</strong> seu estabelecimento. Ramiro garante não seimportar, mesmo que isso lhe sacrificasse «a vista para o rio»,o estar «a <strong>do</strong>is metros <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong>» e fosse obriga<strong>do</strong> a deslocar-se com| 29


Se a estratégia para esta zona tiverpernas para andar, a Cacilhas daindústria naval ficará para sempreregistada nos <strong>do</strong>cumentos em arquivo,mas nas gerações futuras a sua imagemestará associada ao lazer. Renovada,será uma zona de muito comercio mastambém com gente a viver. O projecto,de nome «Almada Nascente», ou«A cidade da água», prevê a recuperação<strong>do</strong> antigo estaleiro naval na Margueirae o preenchimento <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> urbanoenvolvente, numa área de intervençãocontígua ao rio de 115 hectares.António, emprega<strong>do</strong> <strong>do</strong> restaurante Farol, e João Carlos, marinheiro da Transtejoas ferramentas e as máquinas para um espaço reduzi<strong>do</strong> e sema água tão perto. Não se importa porque a requalificação destazona vai beneficar a comunidade local, através a criação de postosde trabalho e a vinda de mais pessoas da outra banda. Isto temcondições para ser uma atracção turística muito forte. Olhe-mepara este rio, não o vê assim em la<strong>do</strong> nenhum». Assim como?«Assim, tão perto, a pontos de lhe conseguirmos chegar. A senhoraajoelhe-se, estenda a mão e veja se não fica com ela molhada.Aqui o rio agarra-se com as mãos».A mesma opinião tem António, emprega<strong>do</strong> <strong>do</strong> Farol, o primeirorestaurante com que se deparam os passageiros <strong>do</strong>s cacilheirosda Transtejo assim que colocam os pés em terra firme. E, tal comoRamiro, António tem bem fresca na memória a <strong>vida</strong> em Cacilhas,não faz muitos anos. A fábrica <strong>do</strong> gelo para conservar o bacalhaucaptura<strong>do</strong> na longínqua Terra Nova, as casas <strong>do</strong>s pesca<strong>do</strong>res,a fábrica de bacalhau, a fábrica de arrastões, o movimento naLisnave. «Isto tinha <strong>vida</strong>. Agora é um sítio de passagem, as pessoaschegam no barco para irem para casa, apressadas, e no dia seguintevoltam a apanhar o barco para irem para o emprego em Lisboa,apressadas». Continua: «Se quisessem fazer disto uma zona comoali as Docas, em Lisboa, isto desenvolvia-se. Assim não há maneira».António fala «de barriga cheia» pois se aqui há estabelecimentoque vai «ten<strong>do</strong> boa clientela» é o Farol, onde trabalha desde 1968.Um cliente de to<strong>do</strong>s os dias é João Carlos, antigo pesca<strong>do</strong>r e actualmentemarinheiro da Transtejo que acabou de aportar em Cacilhas.E também ele se lembra e tem saudades de Cacilhas de outrostempos, <strong>do</strong>s «barcos com 40, 60 homens que andavam ao bacalhau»,da «fila enorme de arrastões que ancoravam ao longo <strong>do</strong> Cais <strong>do</strong>Ginjal», «<strong>do</strong>s navios gigantes a serem conserta<strong>do</strong>s no estaleironaval».Cacilhas, a nova BarcelonaSe a estratégia para esta zona tiver pernas para andar, a Cacilhasda indústria naval ficará para sempre registada nos <strong>do</strong>cumentosem arquivo, mas nas gerações futuras a sua imagem estará associadaao lazer. Renovada, será uma zona de muito comércio mastambém com gente a viver. O projecto, de nome «Almada Nascente»,ou «A cidade da água», prevê a recuperação <strong>do</strong> antigoestaleiro naval na Margueira e o preenchimento <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> urbanoenvolvente, numa área de intervenção contígua ao rio de 115 hectares.Tu<strong>do</strong> indica que o «Almada Nascente» vingará, pois foirelança<strong>do</strong> na Waterfront Expo 2007, a mais importante conferênciae exposição internacional sobre planeamento, concepçãoe desenvolvimento de frentes ribeirinhas, que ocorreu de 2 a 4 deOutubro, em Lisboa, e onde o conceitua<strong>do</strong> Richard Rogers, arquitectoinglês que lidera o consórcio internacional que está a desenvolvero projecto, admitiu tratar-se de uma obra para «durar15 anos e que poderá assumir semelhanças com a recuperação dafrente ribeirinha de Barcelona».Os 850 mil metros quadra<strong>do</strong>s de construção previstos no planoirão albergar cerca de «9500 novos residentes» e gerar «13500postos de trabalho» – a informação foi adiantada na WaterfrontExpo pelo presidente <strong>do</strong> conselho de administração da sociedade30 |


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Tu<strong>do</strong> indica que o «Almada Nascente»vingará, pois foi relança<strong>do</strong>na Waterfront Expo 2007, a maisimportante conferência e exposiçãosobre planeamento e concepçãode frentes ribeirinhas, que ocorreude 2 a 4 de Outubro, em Lisboa,e onde o conceitua<strong>do</strong> Richard Rogers,arquitecto inglês que lidera o consórciointernacional que está a desenvolvero projecto, admitiu que a obra poderáassumir semelhanças com arecuperação da frente ribeirinhade Barcelona».que controla o fun<strong>do</strong> de investimento imobiliário MargueiraCapital, Mário Donas. Mas para isso é necessário arrecadar juntode investi<strong>do</strong>res nacionais e estrangeiros mil milhões de euros,quantia que Mário Donas não considera impossivel de conseguir,até porque o «Almada Nascente», «não é para ficar na gaveta».Ainda para a margem sul estão previstos outros projectos de revitalizaçãode outras áreas industriais, que irão abranger os terrenosocupa<strong>do</strong>s pela antiga Siderurgia Nacional e pela Quimiparque,no Seixal/Barreiro. Um novo cais e uma nova estação ferroviária,uma praça central com a imponência <strong>do</strong> Terreiro <strong>do</strong> Paço e a criaçãode espaços verdes, de lazer e de cultura são algumas das propostasincluídas no <strong>do</strong>ssier da Quimiparque. Para a Siderurgia, o planode reconconversão prevê não só a manutenção da indústria pesadamas também as componentes habitacional e de lazer, além daconstrução de uma ETAR (Estação de Tratamento de Águas Residuais)que irá servir <strong>do</strong>is terços da população <strong>do</strong> Seixal (<strong>do</strong> pontode vista ambiental, esta medida apenas peca por tardia uma vezque os resíduos são actualmente despeja<strong>do</strong>s no rio Coina semo tratamento devi<strong>do</strong>).Contempla<strong>do</strong>s para a margem Norte <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong>, os projectos Pedrouços-Dafun<strong>do</strong>,Ajuda-Belém e Frente Ribeirinha da Baixa Pombalinaconsistem na reconversão e requalificação urbanística <strong>do</strong>s respectivoslocais. Segun<strong>do</strong> informações da Parque Expo, o objectivo daintervenção em Pedrouços-Dafun<strong>do</strong> é a sua transformação «numgrande espaço de fruição pública <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de equipamentos, queamplie e reforce a ligação <strong>do</strong>s cidadãos ao rio, que projecte a suavocação marítima». Entre as estruturas a construir, de destacar«a instalação de um pólo de conhecimento avança<strong>do</strong> e de inovação,constituí<strong>do</strong> por áreas de investigação básica e clínica da FundaçãoChampalimaud, bem como de um pólo náutico, de um pólo deturismo, de negócios e comércio, e de um pólo cultural». Com umaárea de 47 hectares, esta zona de intervenção constitui, ainda deacor<strong>do</strong> com a Parque Expo, «um território singular, apresentan<strong>do</strong>-secomo uma porta Atlântica da capital portuguesa, quer pela relaçãocom o rio/oceano, quer pela proximidade ao conjunto Torre deBelém/Mosteiro <strong>do</strong>s Jerónimos/Centro Cultural de Belém».Na Ajuda-Belém, pretende-se construir o novo Museu <strong>do</strong>s Coches,requalificar o espaço público da Calçada da Ajuda e outras praças,valorizar as áreas verdes inseridas na zona de intervenção, comoo Jardim Botânico, o Jardim Tropical e outros jardins, praças e vias.Para promover a aproximação e a fruição <strong>do</strong> rio, estão previstasinfra-estruturas e novos atravessamentos pe<strong>do</strong>nais.O projecto traça<strong>do</strong> para a Frente Ribeirinha da Baixa Pombalinatem como objectivos «reforçar a complementaridade entre a frenteribeirinha e o conjunto da Baixa Pombalina» (Baixa-Chia<strong>do</strong>), contribuirpara uma «nova apropriação <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong>» pelas pessoas, «consolidara centralidade da Praça <strong>do</strong> Comércio, captan<strong>do</strong> novas formasde utilização», «promover uma vivência multifuncional» entreadministração, serviços, comércio e equipamentos de recreio e lazer.No fun<strong>do</strong>, o que subjaz a estes projectos é a vontade de atrair paraas <strong>margens</strong> <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong> as pessoas. Seja pelo lazer, seja pelo negócio,32 |


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seja pela habitação. Quem se lembra <strong>do</strong>s contentores junto ao rionos terrenos hoje ocupa<strong>do</strong>s pelo Parque das Nações não adivinhariaa cidade que aí viria a ser construída. Uma cidade onde sereside, se trabalha, se faz negócio, se visita. Como a pequenaFrancisca, que às dez da manhã de um sába<strong>do</strong> já se encontra nasbilheteiras <strong>do</strong> Oceanário para ir ver os tubarões e os pinguins,«os animais que mais gosto», são muitos os que nove anos depoisda Expo 98 se sentem atraí<strong>do</strong>s por esta zona ribeirinha. Franciscatinha <strong>do</strong>is meses quan<strong>do</strong> a última grande exposição <strong>do</strong> século xxfoi inaugurada e desde que os avós lhe deram como presente <strong>do</strong>seu 4º aniversário um bilhete <strong>do</strong> Oceanário não deixa passar umano sem voltar a este espaço para rever os oito mil animais quehabitam o Pacífico, o Árctico, o Antáctico e o Atlântico. Tal comoFrancisca, onze milhões de pessoas já se deslocaram ao Parquedas Nações para visitarem o Oceanário (40% são estrangeiros e,destes, 15% são espanhóis).Enquanto Francisca se maravilha com as espécies que «vivem naágua», na outra margem, na marcenaria rodeada por fábricasdesactivadas que ameaçam ruir a qualquer momento, Ramiro vaitrabalhan<strong>do</strong> a madeira e alimentan<strong>do</strong> esperanças de que um diatambém o Cais <strong>do</strong> Ginjal possa recuperar o movimento de pessoas.Não o de outrora, industrial, mas o <strong>do</strong> futuro, que torne Cacilhasum importante pólo turístico, económico, residencial e de lazer.34 |


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Destaque | Pedro Almeida VieiraFotografia | Pedro SoaresRECURSOS HÍDRICOSRIOS DE PROBLEMAS...E DE OPORTUNIDADESNão andam cristalinas as águas que atravessam as regiões <strong>do</strong> Oeste e Vale <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong>. Os atrasosno saneamento urbano e a poluição causada pelas indústrias e agricultura continuam,exigin<strong>do</strong> uma nova abordagem, sobretu<strong>do</strong> ten<strong>do</strong> em conta que grande parte da populaçãovive em pequenos aglomera<strong>do</strong>s. Mas não é apenas a qualidade que é alvo de atenção <strong>do</strong>PROT desta região. Uma equipa <strong>do</strong> Centro de Estu<strong>do</strong>s Geográficos inventariou cerca de450 zonas críticas e 745 quilómetros quadra<strong>do</strong>s de território que está sujeita a cheias.O novo regulamento irá, no futuro, evitar que haja problemas quan<strong>do</strong> chover em demasia.Lá diz o provérbio que a água corre para o mar e ascoisas para o seu natural. Mas em Portugal, para algumanossa infelicidade, quase sempre corre conspurcada,o que sen<strong>do</strong> «natural» – porque assim é há muitosanos – não deveria ser aceitável. Nesse aspecto, a região<strong>do</strong> Oeste e Vale <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong> não foge à regra. No diagnóstico <strong>do</strong> PlanoRegional de Ordenamento <strong>do</strong> Território desta região (PROT-OVT),o quadro traça<strong>do</strong> é bastante claro na forma como mostra que aságuas correm sujas. Quer as que se vêem quer as que estão longeda vista.Com efeito, nas várias ribeiras <strong>do</strong> Oeste – por regra pequenos cursosde água, grande parte <strong>do</strong>s quais de carácter intermitente –não há nenhuma que se possa mostrar cristalina. «Todas se apresentamextremamente poluídas ou poluídas, de acor<strong>do</strong> coma classificação <strong>do</strong> Instituto da Água», refere Amílcar Ambrósio,responsável pela empresa de consultoria Ambio e coordena<strong>do</strong>rda área de saneamento básico <strong>do</strong> PROT-OVT. No caso <strong>do</strong>s cursosde água da bacia <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong> – em que se destacam, para além desserio, o Zêzere, o Alviela, o Almonda, o Trancão e o Sorraia –, o cenárionão é também muito lisonjeiro. «De uma forma geral, mostrammá qualidade física, química e microbiológica, sobretu<strong>do</strong> naregião entre a foz <strong>do</strong> Zêzere e o Trancão», salienta AmílcarAmbrósio.Mesmo a principal origem de água <strong>do</strong> país – a albufeira de Castelode Bode, no Zêzere –, que abastece cerca de <strong>do</strong>is milhões de portugueses,não se encontra nas melhores condições. «Não está emrisco de deixar de ser uma origem de água, porque é sempre tecnicamentepossível tratá-la, mas exigirá maiores custos», refereeste técnico. E ainda bem que sim, até porque, malgra<strong>do</strong> os custos,as águas subterrâneas desta região apresentam também problemas.Na grande maioria das zonas, a sua qualidade é medíocre,incluin<strong>do</strong> num <strong>do</strong>s maiores aquíferos <strong>do</strong> país que se prolonga atéà península de Setúbal.Estas situações devem-se, em grande medida, às acti<strong>vida</strong>des agrícolas– sobretu<strong>do</strong> na Lezíria <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong> –, às pecuárias – com maiorincidência no Oeste e Lezíria <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong>, onde, por exemplo, estãolocaliza<strong>do</strong>s um terço <strong>do</strong>s suínos <strong>do</strong> país – e à poluição urbana.Neste último caso, diga-se, o problema é quase generaliza<strong>do</strong>.De facto, apenas entre 50% e 65% da população residente no Oestee Vale <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong> tem a sua residência ligada a uma rede de esgotos,mas destas nem todas têm acopladas uma estação de tratamento(ETAR). E aqui está um problema que pode ser complica<strong>do</strong> deresolver nos próximos anos. Com quase 60% da sua populaçãoviven<strong>do</strong> dispersa e em aglomera<strong>do</strong>s com menos de <strong>do</strong>is mil habitantes,não se encontra nas prioridades <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> PlanoEstratégico de Abastecimento de Água e de Saneamento de ÁguasResiduais. «Para estas zonas ter-se-á de aplicar soluções integradas»,advoga Amílcar Ambrósio.Nesta medida, este responsável destaca a necessidade de integraras componentes «em alta» e «em baixa» quer <strong>do</strong>s sistemas deabastecimento de água quer <strong>do</strong>s de saneamento de águas residuais,diminuin<strong>do</strong>, consequentemente, o número de entidadesgestoras. E isso implicará também melhorar o serviço de distribuiçãode água – que atinge ainda pouco mais de 90% da população –,| 37


Riscos e Protecção Civilperigo de cheiaParâmetros utiliza<strong>do</strong>s• Definição de leitos de cheia.(ref. 1979; escala 1:25.000)• Hierarquia fluvial.+ presença de planície aluvial• Troços afecta<strong>do</strong>s por ruptura de barragensÁrea inundável (cheia lenta) = 745 km2Tr. críticos (cheia rápida) = 1010 km450 Pontos críticosperigo de cheias lentaspor concelhoGolegã78 % da área <strong>do</strong> concelho.é afectada pelas cheiasAlpiarça, Almeirim, Salvaterra,Azambuja, Cartaxo e Benaventeentre 18 e 38 % <strong>do</strong>s respectivos territórios.são afecta<strong>do</strong>s pelas cheiasperigo de cheias rápidaspor concelho| 39


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Territórios | Carla Maia de AlmeidaFotografia | Pedro SoaresO Restonão éPaisagemDemasia<strong>do</strong> longe de Lisboa parase tornar um subúrbio,suficientemente perto para atrairnovos residentes, o concelho dePalmela procura o equilíbrio idealentre a cidade e o campo. Cerca de53 mil pessoas escolheram o maiorterritório da Área Metropolitanade Lisboa para viver, quase to<strong>do</strong>sestarão perto de uma área de paisagemprotegida. Ou então de uma indústria,de uma quinta agrícola ou de umcampo de vinha. Ana Teresa Vicentepreside à Câmara Municipal de Palmeladesde 2002 e, no seu segun<strong>do</strong> mandato,insiste em conciliar modernidadecom tradição.É difícil gerir a identidade <strong>do</strong> concelho mais extensoda Área Metropolitana de Lisboa?Seguramente, não é fácil. Cada território tem as suas características:as concentrações urbanas têm determina<strong>do</strong> tipo de problemas,a dispersão <strong>do</strong>s espaços rurais tem outros. O desafio é manteralguma harmonia entre a diversidade que se vive nestes cerca de460 quilómetros quadra<strong>do</strong>s. É mesmo o maior desafio de qualquergestão, julgo eu.Quais são as características dessa diversidade?Temos praticamente um pouco de tu<strong>do</strong> o que caracteriza a ÁreaMetropolitana de Lisboa (AML), exceptuan<strong>do</strong>, enfim, a grande densidadeurbana. Os nossos maiores aglomera<strong>do</strong>s, caso <strong>do</strong> PinhalNovo, não têm uma excessiva concentração, mas já têm exigênciasmuito próprias. Por outro la<strong>do</strong>, temos espaços de convivênciaentre o rural e o urbano, e espaços claramente rurais onde a dispersãoé enorme. Por exemplo, no Poceirão, a freguesia mais agrícola<strong>do</strong> concelho, a população é bastante diminuta em relação aoconjunto <strong>do</strong> território. E aí temos outro tipo de problemas liga<strong>do</strong>sàs acessibilidades. Se se juntar a isto o grande desenvolvimentoindustrial <strong>do</strong>s últimos anos, em torno da A2 e da Autoeuropa,é outra característica <strong>do</strong> concelho. E, pelo meio, temos paisagensprotegidas.Paisagens que sofrem pressões demográficas e urbanísticas.São interesses antagónicos?Procuramos respeitar a legislação dessas áreas, por um la<strong>do</strong>, e poroutro definir perímetros urbanos com alguma contenção. Permitimostambém um outro tipo de ocupação <strong>do</strong> território: pequenosaglomera<strong>do</strong>s nas zonas rurais, em vez de uma maior concentraçãourbana. Porquê? Para que as pessoas ocupem as suas propriedades,façam aí a sua casa ou a casa <strong>do</strong>s filhos. É agradável para quem| 41


lá vive, mas é uma opção obviamente cara <strong>do</strong> ponto de vista dagestão das infraestruturas.E enfrentam também o problema da construção clandestina.Temos construção e ocupação clandestina que data, em algunscasos, da década de 1960. Eu diria que é a maior luta que temosneste território, com vista à declaração de nulidade desses negóciosjunto <strong>do</strong>s tribunais e com processos de demolição. Esse é omaior atenta<strong>do</strong> <strong>do</strong> ponto de vista ambiental e de ordenamento<strong>do</strong> território. Se fossemos permissivos e viabilizássemos a ocupaçãoe divisão clandestina <strong>do</strong> território, estaríamos a cometer umcrime e a criar condições para que a população duplicasse.Este é ainda um concelho pre<strong>do</strong>minantemente rural, masa agricultura não gera muito emprego. Vemos crescer freguesiascom outro tipo de população, pessoas que trabalham emSetúbal ou Lisboa. Palmela corre o risco de «suburbanizar-se»?Julgo que não. Estamos claramente num território de transiçãoentre o urbano da AML e o rural <strong>do</strong> Alentejo, com o qual fazemosfronteira. Mas este concelho não é um <strong>do</strong>rmitório. Tem a sua identidade.Embora tenha muita população proveniente de outras zonas<strong>do</strong> país, a convivência com as características urbanas e uma certamodernidade em termos de equipamentos – e, por outro la<strong>do</strong>,com algumas tradições muito arreigadas –, faz deste um espaçoonde as pessoas se integram facilmente. Percebemos isso peloregisto de inscrições nos clubes locais e desportivos, nas associações,nas sociedades tradicionais como as filarmónicas… Curiosamente,assistimos a um revitalizar das associações de mora<strong>do</strong>res. Conheceros vizinhos é um bom sinal e um bom indica<strong>do</strong>r de integraçãoe participação social. Há uma estratégia municipal que teve influênciae que hoje é uma marca deste território: julgo que Palmelaé o único concelho da AML onde o limite para a construção emaltura corresponde a um terceiro andar. Foi uma regra <strong>do</strong> nossoPlano Director Municipal. Fizemo-lo com base numa convicção deordem sociológica, a de que a altura <strong>do</strong>s edifícios tende a afastaras pessoas, em vez de favorecer uma lógica de proximidade.E a economia <strong>do</strong> concelho, em que fase está agora?Eu diria que não se afasta muito da situação <strong>do</strong> país. Não podemosfalar de crescimento, de desenvolvimento, de uma grandedinâmica económica… Contu<strong>do</strong>, é verdade que o concelho de Palmelafoi um <strong>do</strong>s que mais cresceu nos últimos anos; esse é umda<strong>do</strong> concreto e objectivo que se manifesta na instalação denovas empresas em torno da fileira automóvel, mas não só. O quevemos nos últimos anos, apesar de haver mais empresas – e issonota-se nos impostos que pagam –, é uma diminuição <strong>do</strong>s lucros,das receitas. Mas, <strong>do</strong> ponto de vista da dinâmica, apesar da recessãoeconómica geral, o concelho de Palmela continua a ser apetecívelpara a instalação de novas empresas. A nossa preocupaçãomaior é a diversificação.Para que tipo de investimento?To<strong>do</strong>. Gostaríamos de atrair um centro de investigação na fileirada indústria automóvel. Ou seja, garantir que os carros e oscomponentes aqui produzi<strong>do</strong>s servem para a Autoeuropa, mastambém para muitas outras empresas <strong>do</strong> ramo automóvel. Issotornaria esta região mais competitiva na Europa e no mun<strong>do</strong>.Fazer aqui um pólo de conhecimento, um centro de excelênciapara a investigação científica na área da tecnologia automóvele da metalomecânica em geral. Penso que a Plataforma Logísticaque está aprovada para o nosso território, a maior de Portugal,e que deverá iniciar-se em 2008, pode contribuir também paraessa diversificação da acti<strong>vida</strong>de económica. No entanto, o maiordesafio é equilibrar e manter alguma vitalidade no sector agrícola,acentuan<strong>do</strong> sectores como o <strong>do</strong> vinho e da vinha. Este concelhojá teve aqui a maior vinha da Europa e uma das maiores <strong>do</strong>mun<strong>do</strong>. Não sen<strong>do</strong> possível reabilitar essa realidade, julgo quepodemos continuar a ter excelentes vinhos…Já vamos falar <strong>do</strong> vinho. Mas ainda a economia: há 12 anosque uma das melhores fábricas da VW opera em Palmela. Qualé o lugar da Autoeuropa no que toca à captação de empregos?A Autoeuropa é seguramente um grande contribuinte para o desenvolvimento<strong>do</strong> concelho e da região, mas é essencialmente umgrande contribuinte para o país. Tem expressão significativa nonosso PIB e nas exportações, gera um número muito importantede postos de trabalho – a Autoeuropa propriamente dita e os fornece<strong>do</strong>res– que no total ascende a uns sete mil postos. Mas estessão provenientes, em primeiro lugar, da AML, <strong>do</strong> distrito de Setúbale só depois <strong>do</strong> concelho de Palmela. Tem que ver, naturalmente,com as características da própria mão-de-obra. Admito que estarealidade se vá inverten<strong>do</strong>, na medida em que a população <strong>do</strong>concelho de Palmela se for qualifican<strong>do</strong>.42 |


A Autoeuropa vive, ao que se sabe, uma situação saudável,mas o fantasma da Opel da Azambuja está sempre próximo…Nós mantemos uma atitude observa<strong>do</strong>ra e optimista. É claro quetoda a história da indústria automóvel é feita desses fantasmas;faz parte das suas características, em muitas partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, teruma <strong>vida</strong> de curta/média duração. Recorde-se o caso da Renault,nos anos 80, como um <strong>do</strong>s factores que levou ao clima de grandeempobrecimento <strong>do</strong> distrito de Setúbal. Como diz, o fantasmaestá próximo, mas acho que hoje as empresas têm a preocupaçãode estar no merca<strong>do</strong> com condições para enfrentar quaisquertransformações que aconteçam no sector-mãe. Não me parececredível, se por qualquer razão a Autoeuropa deixasse de produzirem Palmela, que to<strong>do</strong>s os fornece<strong>do</strong>res se «deslocalizassem» atrásdela. Acho mais natural e desejável – e essa é uma das nossas preocupações– criar na região alternativas que possam beneficiardeste investimento no automóvel. Daí que fale da importância <strong>do</strong>centro de excelência, para conseguirmos produzir para toda umafileira que pode estar na região e pode estar no país e no mun<strong>do</strong>.Foi cria<strong>do</strong> pela Câmara um Sector de Promoção e Apoioà Economia Local. Em que consiste?Têm ti<strong>do</strong> bons resulta<strong>do</strong>s?Sem dú<strong>vida</strong>, tem ti<strong>do</strong> imensa procura. O problema coloca-se aocontrário: chegamos a um ponto em que não temos produtoresem número suficiente para abastecer o número de cestos encomenda<strong>do</strong>s.Mas esta teia pode alargar-se. É um projecto-piloto que mostrougrandes potencialidades e no qual vamos continuar a apostar.A cultura também é um factor decisivo para o desenvolvimentode uma região. As propostas da Câmara vão no senti<strong>do</strong> de darespaço aos artistas e cria<strong>do</strong>res da região ou, por outro la<strong>do</strong>, atrairo público de Lisboa para eventos de interesse mais abrangente?Temos as duas preocupações. Em primeiro lugar, temos uma políticade apoio ao que se faz nesta terra. Por exemplo, ao movimentoassociativo, que é rico e diversifica<strong>do</strong>. Temos entre nós colecti<strong>vida</strong>descentenárias, temos grupos de teatro de qualidade, temosuma companhia de dança residente, temos uma excelente escolade danças de salão… Depois, há outra linha de trabalho que consisteem apoiar projectos de outra natureza e de outra dimensão,e que também procuramos trazer para Palmela; caso <strong>do</strong> FestivalInternacional de Artes de Rua (FIAR) ou <strong>do</strong> Festival Internacional<strong>do</strong>s Gigantes (FIG). Mas, sempre que possível, há nestes eventosuma integração <strong>do</strong>s nossos artistas e grupos locais.Faz parte de uma aposta de valorizar aquilo que é nosso. A tal estratégiade diversificação <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> económico passa por aí: por umla<strong>do</strong>, ter empresas e sectores de grande competiti<strong>vida</strong>de; por outro,ter pequenos nichos que permitam afirmar aquilo que é nosso.Ou seja, o nosso vinho, com as nossas características, produz-seaqui. O queijo de Azeitão produz-se aqui. O que nós procuramosnesta unidade orgânica da Câmara e na estratégia de intervençãojunto <strong>do</strong>s agentes locais é apoiá-los e incentivá‐los, constituin<strong>do</strong>parcerias, investigan<strong>do</strong> sobre pontos de apoio ou iniciativas a quese podem candidatar, de mo<strong>do</strong> a melhorar o seu desempenho.É o caso <strong>do</strong> projecto PROVE, que vende cabazes de produtoshortícolas por encomenda?Os equipamentos culturais que têm são suficientes?Temos um equipamento clássico de grande valor, com algumaslimitações técnicas que vamos resolver, o Cine-Teatro S. João. Temosa nova Biblioteca de Palmela, equipada com um auditório ondese podem realizar determina<strong>do</strong>s espectáculos e iniciativas culturais.Temos um bom auditório em Pinhal Novo onde também se realizamespectáculos, cinema, etc. Temos um pequeno Centro Culturalna freguesia mais rural <strong>do</strong> concelho, Poceirão. Temos tambémum forte associativismo: mais de 200 associações e colecti<strong>vida</strong>desde to<strong>do</strong> o tipo, que, ligadas a esta política de descentralizaçãode equipamentos e de iniciativas faz de Palmela um concelho.culturalmente muito dinâmico.Exactamente. É a valorização <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> rural junto <strong>do</strong>s nossosmora<strong>do</strong>res e, ao mesmo tempo, uma forma de incentivo e deapoio directo aos pequenos produtores. Como é que eles têmcondições de pôr o seu produto à venda, de chegar a um grandehipermerca<strong>do</strong>? Nunca na <strong>vida</strong> terão condições para isso… Mastêm condições para satisfazer um certo número de consumi<strong>do</strong>res,ávi<strong>do</strong>s de produtos vin<strong>do</strong>s directamente da terra e desta zona.Foi ideia desta câmara a criação da Rota de Vinhos da Penínsulade Setúbal, em 2000. Em que é que consiste e qual é o papelda Casa-Mãe, aqui em Palmela?É um projecto que tem como objectivo promover as nossas adegase os nossos vinhos. Para além das visitas organizadas, faz-se nesteprojecto uma partilha de experiências que julgo ser útil a cada| 43


um <strong>do</strong>s produtores. Quanto a este espaço, a Casa-Mãe da Rota <strong>do</strong>sVinhos, é um espaço bonito que serve para realizar pequenoseventos e serve também de apoio à mostra de cada uma das marcas.As pessoas podem comprar aqui os vinhos da região, ao mesmopreço que compram nas adegas.Também na Rota de Vinhos se nota o associativismo?O agricultor, em geral, é uma pessoa solitária na sua acti<strong>vida</strong>de.Provavelmente, vê os que estão ao seu la<strong>do</strong> como concorrentese não parceiros. Daí a necessidade de participação das entidadespúblicas. Acho que ainda é preciso algum apoio e estímulo de terceiros,que não consegue acontecer só entre produtores, paraestimular a ideia de que as pessoas têm de se associar, têm deconcorrer juntas, e só ganham dimensão se se unirem. A concorrênciasaudável não é inimiga da parceria. Dou-lhe um exemplo:há dez anos, quan<strong>do</strong> iniciámos a rota, a localidade de Fernan<strong>do</strong> Pótinha apenas um vinho engarrafa<strong>do</strong> e com rótulo; neste momento,tem dezenas de produtores e dezenas de vinhos engarrafa<strong>do</strong>s,o que só está a aumentar a identidade da zona.Além <strong>do</strong> enoturismo, que outros produtos turísticos vãomerecer atenção em 2008?Queremos um turismo que possa ter como valor as questõesambientais, as paisagens protegidas, o património. Não temospraia e mar, mas temos algumas das maiores lagoas da região,e os projectos turísticos em desenvolvimento cativam tambémturistas que valorizam o descanso, a saúde, o contacto com a natureza,o golfe... Estão neste momento a ser aprecia<strong>do</strong>s projectoscom estas características para zonas de grande valor no território.Rio Frio e Zambujal são duas das antigas herdades deste concelhocom um valor patrimonial muito grande, com paisagens protegidasno seu interior, e to<strong>do</strong>s os projectos que ali possam acontecertêm de respeitar intransigentemente questões ambientais degrande exigência. Este tipo de investimento pode fechar o lequeda diversidade económica neste concelho. De facto, o turismo,no senti<strong>do</strong> da oferta, é o que falta concretizar neste território.Fale-nos <strong>do</strong> que gostaria de mudar no concelho e ainda nãoteve tempo para fazer. Três ideias.Gostava muito de recuperar e requalificar o castelo e o centrohistórico de Palmela, é um <strong>do</strong>s elementos mais fortes da nossaidentidade patrimonial. Gostava muito de atrair pólos de conhecimentoa este território; acho que a proximidade de Lisboa nãoé suficiente e não podemos esperar que os nossos jovens tenhamto<strong>do</strong>s como caminho as universidades tradicionais. Encontraraqui pólos de desenvolvimento <strong>do</strong> saber noutras áreas pode serum caminho para fixar e qualificar populações: escolas profissionais,academias, centros de investigação, tu<strong>do</strong> isso seria muitoútil. Finalmente, gostava de concretizar um conjunto de equipamentosrelaciona<strong>do</strong>s com a prática <strong>do</strong> desporto. Temos umúnico pavilhão municipal e muitas carências nesta matéria.Acho que o trabalho já feito no <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong>s equipamentos educativosé um bom exemplo daquilo que eu gostava de exportarpara outras áreas, nomeadamente esta <strong>do</strong>s equipamentos desportivos.44 |


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CULTURAAntes <strong>do</strong> Festival Internacional de Artes de Rua e <strong>do</strong> Festival Internacionalde Gigantes, em Julho, o programa cultural <strong>do</strong> municípioinclui as comemorações <strong>do</strong> Dia Mundial <strong>do</strong> Teatro (27 de Março),Dia Mundial da Dança (29 de Abril) e Dia <strong>do</strong> Sapatea<strong>do</strong> (25 deMaio), entre muitos outros eventos culturais. As Festas das Vindimas,as Janeiras, o Enterro <strong>do</strong> Bacalhau e a Queima <strong>do</strong> Judas são outrastradições de cariz mais popular <strong>do</strong> concelho.PERFIL SÓCIO-ECONÓMICOO concelho de Palmela contabiliza 53.350 habitantes (Censo 2001)e é forma<strong>do</strong> por cinco freguesias – Palmela, Pinhal Novo, Quinta<strong>do</strong> Anjo, Poceirão e Marateca. Estas duas últimas compõem o perfilmais agrícola <strong>do</strong> concelho, sem prejuízo <strong>do</strong> grande desenvolvimentoindustrial, que tem na fábrica VW Autoeuropa o seu grandemotor. Entre 1991 e 2001, Palmela registou um crescimento populacionalde 21,6 %.NATUREZAAs áreas de paisagem protegida correspondem a 212 k2, cerca demetade <strong>do</strong> território <strong>do</strong> concelho. Incluem valores ecológicos,paisagísticos, científicos e culturais sujeitos a regimes de protecçãoespecíficos, a saber: Parque Natural da Arrábida, Reserva Natural<strong>do</strong> Estuário <strong>do</strong> Sa<strong>do</strong>, Reserva Ecológica Nacional, Reserva AgrícolaNacional e Espaços Florestais.HISTÓRIAHabita<strong>do</strong> pelo menos desde o Paleolítico Médio, o território foialvo de ocupação romana e árabe. Em 1147, D. Afonso Henriquestomou o Castelo de Palmela e, após um perío<strong>do</strong> de conquistase reconquistas, este foi entregue à Ordem de Santiago em 1186,que ali estabeleceu a sua sede durante os sete séculos seguintes.Palmela foi elevada a vila por D. Dinis, em 1323. O concelho chegoua ser extinto e integra<strong>do</strong> em Setúbal, no século xix, situação quefoi restaurada a 8 de Novembro de 1926.PRODUTOS REGIONAISAlém de vinhos de qualidade certificada – branco, tinto e moscatel– e <strong>do</strong> famoso Queijo de Azeitão, produzi<strong>do</strong> sobretu<strong>do</strong> nafreguesia de Quinta <strong>do</strong> Anjo, o concelho é rico em <strong>do</strong>çaria tradicional.Podemos citar a fogaça de Palmela, o bolinho de amên<strong>do</strong>a,o pudim de abóbora, os suspiros e o bolo de família. Outro produtocertifica<strong>do</strong> é a saborosa maçã riscadinha, sempre muito procuradanos meses de Verão.46 |


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Acontecimento | Luís de <strong>Carvalho</strong>OPENDAYSDurante três dias, em Bruxelas,responsáveis e decisores de politicasregionais reuniram-se para debatere encontrar novos modelosde desenvolvimento regional. A água,um <strong>do</strong>s bens inestimáveis paraa sobrevivência humana, foi um <strong>do</strong>stemas discuti<strong>do</strong>s.48 |


Entre os dias 8 e 11 de Outubro decorreu em Bruxelasa Semana Europeia das Regiões e Cidades – Open Days –,organizada pela Comissão Europeia e pelo Comité dasRegiões.Esta iniciativa, que contou com a presençade cinco mil peritos e decisores em politicas regionais,teve a presença da <strong>CCDR</strong> de Lisboa e Vale <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong>, que liderouum consórcio de cinco regiões – Canárias, Sicília, Veneza, Algarvee Lisboa e Vale <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong>. E, pela primeira vez, to<strong>do</strong>s os Esta<strong>do</strong>s– Membros da UE estiveram presentes.Foram quatro dias preenchi<strong>do</strong>s com seminários, workshops e exposiçõescom o intuito de explorar novas ideias para o desenvolvimentoregional e de melhorar os programas de politica de coesão,com a participação de organizações internacionais no senti<strong>do</strong> dereforçar, com outras regiões <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, a competiti<strong>vida</strong>de, a trocade experiências e informação em áreas como políticas de desenvolvimentoe boas práticas de governação.A água como factor de competiti<strong>vida</strong>deNeste seminário debateu-se a ligação entre a preservação ambientale o desenvolvimento económico, na sua forte ligação coma gestão da água e <strong>do</strong> ordenamento costeiro e da sua interacçãocom o turismo.As regiões onde as questões <strong>do</strong> turismo representam uma importânciacapital, nomeadamente na sua ligação com os valores estéticos,históricos e culturais, foram desafiadas a abrir novos caminhospara a gestão e modelos de desenvolvimento que exprimam umnovo paradigma na governação desses clusters. Este tema tevecomo interessa<strong>do</strong>s responsáveis, peritos e académicos interessa<strong>do</strong>sem politicas ambientais, territoriais e de turismo, incluin<strong>do</strong> os opera<strong>do</strong>resturísticos. Esta sessão teve como ora<strong>do</strong>res José Félix Ribeiro,assessor DPP, Rolan<strong>do</strong> Borges Martins, presidente <strong>do</strong> CA da ParqueExpo 98, SA, José Miguel Caetano, CEO Mapa – InvestimentosTurísticos, SA; Faustino Garcia Marquez, <strong>do</strong> Governo das Canárias,Giovanni Arnone, da Sicília e Maria Aigner, da Comissão Europeia.Café <strong>do</strong>s Investi<strong>do</strong>resO tema <strong>do</strong> consórcio lidera<strong>do</strong> pela <strong>CCDR</strong> de Lisboa e Vale <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong>intitulou-se The Water-Based Competitiveness Network, com o objectivode promover um olhar diferente sobre os recursos hídricos,de mo<strong>do</strong> a geri-lo no seio de estratégias territoriais integradas.As políticas desenvol<strong>vida</strong>s neste âmbito propõem o desenvolvimentosustentável das acti<strong>vida</strong>des ligadas à água, com vistaao crescimento económico, à qualificação <strong>do</strong> território e à criaçãode emprego.No seminário que decorreu no dia 9, e que teve como modera<strong>do</strong>ro Prof. Tiago Pitta e Cunha, o tema posto a debate foi a utilizaçãoda água como base da competiti<strong>vida</strong>de regional em áreas fundamentaiscomo a energia, a biotecnologia, a economia <strong>do</strong> conhecimento,o lazer, entre outros.Pretendeu-se neste seminário dar relevância a politicas públicasque promovam a água como factor de crescimento, e que se dirigiusobretu<strong>do</strong> a técnicos oriun<strong>do</strong>s de áreas costeiras, ou de territóriosonde a água tem desempenha<strong>do</strong> um papel fulcral no crescimentodas comunidades. Neste painel temático participaram como ora<strong>do</strong>resAntónio Fonseca Ferreira, presidente da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>, Artur Ribeiro,administra<strong>do</strong>r das Águas <strong>do</strong> Norte, Juan Carlos Pereira, chefe deplanificação, projectos e obras da Direcção-Geral de Águas <strong>do</strong>Governo das Canárias, Felice Crosta, director-geral da Agência Regionalpara a Água, da Sicília, Cristiana Scarpa, assessora para o Ambienteda cidade de Veneza e Rui Godinho, administra<strong>do</strong>r da EPAL.Francisco Cipriano, assessor <strong>do</strong> Secretário de Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> DesenvolvimentoRegional, foi o modera<strong>do</strong>r da sessão, que decorreu nasinstalações <strong>do</strong> Governo das Ilhas Canárias, sob o tema EnhacingTourism Clusters: public bodies face the challenge of water andcoastal preservation.Um <strong>do</strong>s núcleos mais anima<strong>do</strong>s destes encontros foi o Investor’sCafé, zona dedicada aos encontros temáticos com o seu própriociclo de seminários. Nestes encontros, onde a informalidade dasconversas é acompanhada por um café ou chá, juntaram-se parceirospúblicos e priva<strong>do</strong>s em sete núcleos temáticos, cobrin<strong>do</strong>temas como os transportes, a energia, ambiente, sociedade <strong>do</strong> conhecimento,saúde, investigação e inovação e engenharia financeira.Estes encontros destinam-se a promover contactos, no senti<strong>do</strong>de construir redes de relacionamentos e parcerias, com o objectivode explorar, juntamente com as autoridades regionais e locais,mo<strong>do</strong>s de colaboração e estratégias.Neste ano, o Comité das Regiões programou mais de 50 conferências,seminários e workshops para os três dias em que decorreramestes encontros.Este pequeno fórum é também um canal privilegia<strong>do</strong> para partilhade informação, e contou com a presença de directores-geraisda Comissão Europeia que ali prestaram esclarecimentos sobreas políticas da Comunidade ligadas ao crescimento e criação deempregos.Empresas, bancos e instituições financeiras também ali estiverama prestar esclarecimentos.Este ano o Café <strong>do</strong>s Investi<strong>do</strong>res contou com a presença <strong>do</strong> Presidente<strong>do</strong> Comité das Regiões, Michel Delebarre e a responsávelpela Política Regional da Comissão Europeia, Danuta Hubner.| 49


Património | Carla Maia de AlmeidaFotografia | Guto FerreiraCaminhos <strong>do</strong> VinhoA Rota de Vinhos da Península de Setúbal/ Costa Azul surgiu em 2000, para promoveras adegas e os vinhos de uma região com identidade própria. Projecto conjunto da CâmaraMunicipal de Palmela, Região de Turismo de Setúbal e Comissão Vitivinícola Regionalda Península de Setúbal, é a prova de que a união faz a força. Conheça os itinerários destefascinante património.Omoinho desengaça<strong>do</strong>r ficou conheci<strong>do</strong> por«mata‐homens», tal era o fôlego e o músculoque exigia. À força de braços, os cachos de uvaseram mexi<strong>do</strong>s e tritura<strong>do</strong>s sem clemência, atéque deles se desprendesse a parte sólida, o engaço.Trabalho pesa<strong>do</strong>, repetitivo. Hoje há máquinas que cumprema mesma tarefa desta relíquia centenária; máquinas que não secansam nem se queixam, mas que continuam a impor respeitopor trás da fiada de dentes de aço. É assim a história da casaVenâncio da Costa Lima: um passar de testemunho <strong>do</strong>s objectos,o velho a dar lugar ao novo, o novo a dar lugar ao futuro. A era <strong>do</strong>stonéis, por exemplo, está praticamente extinta. Os gigantesde madeira que aqui vemos, com estômago para guardar quasequatro mil litros de vinho, vão desaparecen<strong>do</strong> das terras <strong>do</strong> Sa<strong>do</strong>à medida que desaparecem os seus tutores. Ainda há três tanoeirosna freguesia de Quinta <strong>do</strong> Anjo, mas já nenhum exerce a profissão.Foi um imigrante romeno de 44 anos quem ocupou o posto,depois de ter mostra<strong>do</strong> saber <strong>do</strong> ofício.A casa Venâncio da Costa Lima encontra-se no número 139 da ruacom o mesmo nome que atravessa a aldeia de Quinta <strong>do</strong> Anjo.Pertence aos sucessores <strong>do</strong> empresário que em 1914 se lançou naprodução e comercialização de vinhos, azeites e cereais, acaban<strong>do</strong>por deixar uma herança próspera aos seis sobrinhos, filhos daúnica irmã. Com o tempo, os vinhos tornaram-se o produto exclusivoda Venâncio da Costa Lima, uma das adegas associadas daRota de Vinhos da Península de Setúbal/ Costa Azul. No total,são dez adegas, distribuídas pelos concelhos de Palmela, Montijoe Setúbal. Junto com a Casa-Mãe, também uma antiga adega,.formam um circuito promocional que pode ser um excelenteponto de partida para a descoberta <strong>do</strong>s vinhos da região, já menciona<strong>do</strong>spor D. Afonso Henriques no primeiro foral atribuí<strong>do</strong>a Palmela, em 1185.Os solos arenosos e argilo-calcários pre<strong>do</strong>minam na penínsulade Setúbal, emprestan<strong>do</strong> características particulares aos vinhos– sobretu<strong>do</strong> no caso <strong>do</strong>s tintos, aqui em larga maioria. Se a castatinta <strong>do</strong>minante é a Castelão (Periquita), nos brancos recorre-seprincipalmente à Fernão Pires e à Moscatel de Setúbal. A introduçãode castas internacionais é outra das características da produçãovitivinícola da região. A Cabernet Sauvignon, uma das maisplantadas em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, é bem acolhida nas encostas calcáriasVenâncio da Costa Lima| 51


Casa Ermelinda Freitas Adega Cooperativa de Pegões Casa Ermelinda Freitas José Maria da Fonsecada Arrábida; Char<strong>do</strong>nnay, Merlot, Syrah, Pinot Noir, Pinot Blance Cabernet Blanc são outras variedades que têm si<strong>do</strong> introduzidascom sucesso. Com a casta Moscatel, originária <strong>do</strong> Egipto (Moscatelde Alexandria é outra das suas designações), faz-se o generosoMoscatel de Setúbal e o especialíssimo Moscatel Roxo, elabora<strong>do</strong>com uvas tintas. Esta é, sem dú<strong>vida</strong>, a bebida mais simbólica dasterras <strong>do</strong> Sa<strong>do</strong>. A área foi geograficamente delimitada em 1907,mas há referências à exportação de 350 barricas de Moscatel deSetúbal no ano de 1675, tão apreciada era aquela <strong>do</strong>çura aromáticanas cortes europeias.O «Moscatel de Setúbal Superior 2000», que este ano conquistoua medalha de prestígio no Concurso Nacional de Vinhos Engarrafa<strong>do</strong>s,é a jóia da coroa da adega Venâncio da Costa Lima, ondetrabalham os enólogos Fausto Lourenço e Joana Vida. Destaca-setambém o premia<strong>do</strong> «Palmela D.O.C. Escolha 1995», apresenta<strong>do</strong>como um vinho de «cor granada intenso, aroma de fruta madura,compota e especiarias, sabor macio, taninos presentes e correctos,final muito equilibra<strong>do</strong>». Para outro segmento de consumo,daqui sai também o popular Serrinha, que já conheceu diversasfases de <strong>vida</strong>. Se dantes era o garrafão de cinco litros (vulgo «palhinhas»)a mandar no merca<strong>do</strong>, agora, o que está na moda é o Bagin Box. Corta-se o cartão picota<strong>do</strong>, puxa-se a torneira <strong>do</strong> saco e jáestá: vinho para o dia-a-dia, numa embalagem que oferecemelhor conservação depois de aberta, em relação à tradicionalgarrafa de vidro. Nestas coisas, o merca<strong>do</strong> é que manda; e se omerca<strong>do</strong> gostou <strong>do</strong> Bag in Box – contra os prognósticos de to<strong>do</strong>sos produtores, diga-se – haverá que o manter satisfeito. Para osmais conserva<strong>do</strong>res, a Venâncio da Costa Lima tem ainda cerca denove mil barris de madeira a circular por restaurantes e tabernas,desde a margem sul <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong> à partilha <strong>do</strong> Algarve. Também estes,um dia, serão total e friamente substituí<strong>do</strong>s pelas vasilhas inoxidáveis.Já se sabe: o merca<strong>do</strong> é que manda.Na Quinta <strong>do</strong> Anjo encontra-se mais uma adega integrante<strong>do</strong> circuito da Rota <strong>do</strong>s Vinhos: a Casa Agrícola Horácio Simões.Fundada em 1910, também ali se produz Moscatel de Setúbale Moscatel Roxo, várias vezes premia<strong>do</strong>s. E, porque estamos emterra de «pão, queijo e vinho», vale a pena referir outras especialidadesda casa: o queijo amanteiga<strong>do</strong> e a manteiga de ovelha,duas carismáticas iguarias. Em Palmela, situa-se a Casa-Mãe daRota <strong>do</strong>s Vinhos – o pólo dinamiza<strong>do</strong>r da rede, aberto ao público,que funciona como uma montra para os associa<strong>do</strong>s – e aindaa Adega Cooperativa de Palmela e a SIVIPA – Sociedade Vinícolade Palmela.Deixan<strong>do</strong> a Quinta <strong>do</strong> Anjo e seguin<strong>do</strong> para a zona de Azeitão,deparamo-nos com mais três adegas associadas: a Quinta deAlcube, a Bacalhôa Vinhos de Portugal e a José Maria da Fonseca.Esta é a empresa mais antiga de todas, pioneira em Portugalna afirmação de marcas, numa época em que os vinhos de mesasó se vendiam a granel. Depois <strong>do</strong> «Moscatel de Setúbal», em 1849,José Maria da Fonseca criou no ano seguinte o «Periquita», umvinho encorpa<strong>do</strong> feito a partir da casta Castelão, que ele próprio52 |


Casa-Mãe da Rota <strong>do</strong>s VinhosJosé Maria da Fonsecatrouxe para estas paragens. Ce<strong>do</strong> o «Periquita» se revelou umcaso de sucesso, em especial no Brasil, para onde é exporta<strong>do</strong>desde 1881. O rótulo, desenha<strong>do</strong> por um artista francês, não sofreugrandes alterações; agora um pouco mais estiliza<strong>do</strong>, mantéma modernidade da concepção original.Se um <strong>do</strong>s objectivos da Rota de Vinhos da Península de Setúbalé sublinhar a identidade <strong>do</strong>s seus vinhos e adegas, a José Mariada Fonseca tem para mostrar um património notável. As visitascomeçam pela sala-museu, onde se podem ver rótulos antigos,medalhas, cálices, cerâmicas e tomboladeiras, entre outras peçascarregadas de história. Nas paredes, encontram-se emoldura<strong>do</strong>sos certifica<strong>do</strong>s de participação nas exposições universais <strong>do</strong> séculoXIX, entre as quais Barcelona (1888) e Paris (1889). A um canto, estáuma das primeiras máquinas de engarrafar vinho, que atingiaa velocidade estonteante de 200 garrafas por hora; hoje, no mesmotempo, as quatro linhas da empresa têm capacidade para libertar30 mil garrafas… Dos 18 milhões de litros produzi<strong>do</strong>s anualmente,75 por cento é destina<strong>do</strong> à exportação, estan<strong>do</strong> o Brasil, a Suécia,a Itália, a Holanda e os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s entre os principais merca<strong>do</strong>sconsumi<strong>do</strong>res.Com a «Periquita» à frente das 33 marcas comercializadas, a produçãoda José Maria da Fonseca divide-se em vinhos tintos, brancos,rosés, espumantes e generosos. Neste último segmento, o «Moscatelde Setúbal José Maria da Fonseca» é também uma das marcasmais vendidas da casa, mérito da equipa de enólogos liderada porDomingos Soares Franco. Na Adega <strong>do</strong>s Teares Velhos repousamem cascos de carvalho os moscatéis mais antigos: vinte anos deestágio é a idade mínima exigida para se pertencer a este «clube»onde mal entra a luz <strong>do</strong> dia, e os frequenta<strong>do</strong>res habituais são osmorcegos, os ratos e as aranhas… Ah, e também alguma cobraocasional, à procura <strong>do</strong> fresco no chão de terra batida. Mas não seassuste o leitor com a descrição, porque, embora o lugar inspirerespeito, toda esta fauna está controlada e vive em sereno equilíbrio,praticamente invisível. Ainda que as teias de aranha possamimpressionar – algumas parecem panos, de tão densas – tambémelas fazem parte <strong>do</strong> ecossistema. Mais: contribuem para a boa conservação<strong>do</strong>s moscatéis, na medida em que protegem a madeirade outra bicharada destrutiva.No projecto da Rota de Vinhos da Península de Setúbal há lugarpara adegas históricas como a José Maria da Fonseca e para outrasque começaram recentemente a fazer o seu percurso, enquantoprodutoras de vinhos com marca própria. É o caso da Herdade daComporta, que se lançou no merca<strong>do</strong> com o homónimo «Herdadeda Comporta Branco», no Verão de 2004; e também da CasaErmelinda Freitas, produtora e engarrafa<strong>do</strong>ra na localidade deFernan<strong>do</strong> Pó. Embora tradicionalmente ligada aos vinhos, foi naquarta geração que esta empresa familiar inflectiu num novorumo, investin<strong>do</strong> na qualidade e na inovação. Em 1997, LeonorFreitas assumiu o lega<strong>do</strong> de Ermelinda Freitas e encetou um processode modernização que passou pela compra de mais 70 hectaresde vinha e pela construção de uma nova adega, apetrechada com| 53


José Maria da FonsecaAdega Cooperativa de Pegõescubas-lagares de inox com temperatura controlada. Numa épocaem que o clima se mostra cada vez mais imprevisível, afectan<strong>do</strong>as colheitas e o méto<strong>do</strong> de vinificação, só a evolução da tecnologiapermite obter alguma garantia sobre os resulta<strong>do</strong>s.Os frutos deste investimento tornaram-se notórios nos últimosanos, com a atribuição de uma série de prémios nacionais e internacionais,em especial para as colheitas de 2003 e 2004. «Terras<strong>do</strong> Pó», um vinho tinto regional elabora<strong>do</strong> a partir da casta Castelão,foi o primeiro a receber rótulo próprio, inician<strong>do</strong> a segunda <strong>vida</strong>da Casa Ermelinda Freitas. Junto com o seu equivalente branco,um vinho aromático e fruta<strong>do</strong>, como é apanágio da casta FernãoPires, constitui um <strong>do</strong>s cartões de visita <strong>do</strong> trabalho desenvolvi<strong>do</strong>pelo enólogo Jaime Quendera. Do portefólio, sugerem-se tambémo «Dona Ermelinda», «Quinta da Mimosa» e «Leo d’Honor»; esteúltimo, pisa<strong>do</strong> a pé no lagar, à maneira tradicional, depois estagia<strong>do</strong>em barrica nova e engarrafa<strong>do</strong> em pequenas quantidades.onde se organizam festas e acontecimentos, em associação comuma empresa de catering. Naturalmente, pontificam aqui osvinhos da casa. Com outro tipo de abordagem, as visitas das escolassão também uma das preocupações de Leonor Freitas, quecriou junto à plantação um pequeno espaço a que chamou «vinhapedagógica», onde se cultivam dez castas diferentes.A poucos quilómetros da Casa Ermelinda Freitas e também soba orientação <strong>do</strong> enólogo Jaime Quendera – sinal de uma concorrênciasalutar –, a Adega Cooperativa Stº Isidro de Pegões é maisum caso da diversidade existente na Rota <strong>do</strong>s Vinhos. Aqui, produz-sea uma grande escala, tiran<strong>do</strong> parti<strong>do</strong> de uma área vinícolade quase mil hectares. Novamente, Castelão é a casta tinta pre<strong>do</strong>minante,representan<strong>do</strong> mais de noventa por cento <strong>do</strong> encepamento.Cerca de cento e cinquenta produtores entregam aqui assuas uvas e to<strong>do</strong>s os anos surgem pedi<strong>do</strong>s de novos associa<strong>do</strong>s,o que é prova da fase ascendente que a cooperativa atravessa.A aposta no apuramento faz parte da ideologia da empresa.De três em três anos, renovam uma parte das 1100 barricas decarvalho, como forma de garantir a melhor qualidade <strong>do</strong>s vinhosde gama superior. Fundamental, para o reconhecimento de umamarca, é ir ao encontro <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, ter uma boa relação qualidade/preçoe não descurar o marketing e a divulgação. Confiantenas potencialidades <strong>do</strong> enoturismo, Leonor Freitas consideraessencial dar a conhecer as suas marcas ao público. Nas novasinstalações, há lugar para uma sala de provas e para um salãoFundada em 1958, por iniciativa da antiga Junta de ColonizaçãoInterna, a Cooperativa de Pegões fez parte de um projecto estatalque trouxe para a região duas centenas de famílias vindas de to<strong>do</strong>o país. Cada uma teve direito a casa de habitação e a cerca de vintehectares de terra, cultivan<strong>do</strong> não só vinha como culturas de sequeiroe regadio. Em troca, cediam à cooperativa uma parte da produção.O projecto passou por diversas épocas e situações (incluin<strong>do</strong> a daocupação popular, quan<strong>do</strong> as reuniões da assembleia-geral sefaziam com militares de G3 à porta…), até que no início da década54 |


José Maria da Fonsecade 1990 vingou a possibilidade de os casais serem adquiri<strong>do</strong>spelos agricultores, os chama<strong>do</strong>s «colonos». Seguiu-se um perío<strong>do</strong>de forte renovação, ainda não concluí<strong>do</strong>, durante o qual a AdegaCooperativa Stº Isidro de Pegões modernizou as instalaçõese investiu nas suas marcas, crian<strong>do</strong>, por exemplo, o aprecia<strong>do</strong>«Fontanário de Pegões», branco e tinto.Este ano, o «Adega de Pegões Syrah 2005» arreca<strong>do</strong>u boa partedas medalhas atribuídas em vários concursos internacionais,sen<strong>do</strong> sintoma da aposta numa imagem e consumo mais sofistica<strong>do</strong>s.Hoje, pouco ou nada sobra daqueles 200 casais, que semantêm perfila<strong>do</strong>s à volta da cooperativa no seu estilo típico decasa portuguesa. Ao aban<strong>do</strong>no, uns; converti<strong>do</strong>s em segundahabitação, outros; quase to<strong>do</strong>s já foram vendi<strong>do</strong>s pelos antigoscolonos e são raros aqueles que ainda levam as suas uvas à adega.A história merece ser contada com mais vagar, sen<strong>do</strong> apenas umadas muitas curiosidades que a Rota <strong>do</strong>s Vinhos guarda. Quemquiser conhecê‐la de perto, pode dirigir-se à Casa-Mãe, onde serábem recebi<strong>do</strong> e melhor encaminha<strong>do</strong>.Casa-Mãe da Rota de Vinhos da Península de Setúbal/ Costa AzulLargo de São João – PalmelaDe segunda a sába<strong>do</strong>, das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 17h30.Encerra <strong>do</strong>mingos e feria<strong>do</strong>sInformações e marcações de visitas pelo telefone 212 334 398.www.rotavinhospsetubal.comVenâncio da Costa Lima| 55


Câmara ardente, produções fotográficasPão, queijo e vinho,Trilogia de PalmelaRoteiro | David Lopes RamosFotografia | Pedro Soares


Pão com olhos, queijo sem olhos e vinhoque salte aos olhos», é tu<strong>do</strong> o que muito«bico fino» considera necessário para queuma refeição seja memorável. Ora Palmelaestá em condições de nos oferecer o trio.O seu pão artesanal, cozi<strong>do</strong> em fornosde lenha, é famoso, e com razão.Segun<strong>do</strong> informação da Câmara Municipalde Palmela, o Centro de Moinhos Vivos,situa<strong>do</strong> na Serra <strong>do</strong> Louro, confeccionae comercializa pão de farinha de trigoproveniente <strong>do</strong>s seus moinhos.Aautarquia sublinha o facto de «o valor patrimoniale cénico <strong>do</strong>s Moinhos de Vento da Serra <strong>do</strong>Louro» traduzir «a necessidade de se preservaruma tradição. Desta forma, com o apoio <strong>do</strong> ParqueNatural da Arrábida, alguns <strong>do</strong>s seus proprietáriostêm vin<strong>do</strong> a recuperá-los. É o caso <strong>do</strong> Centro “Moinhos Vivos”que mantém <strong>do</strong>is moinhos de vento em plena acti<strong>vida</strong>de, queproduzem e comercializam pão a partir de farinha de trigo». Aomesmo tempo, o Centro desenvolve uma acti<strong>vida</strong>de de EducaçãoAmbiental, receben<strong>do</strong> visitas de escolas e grupos organiza<strong>do</strong>s,com marcação prévia. Ora cá está uma iniciativa exemplar.Quanto ao queijo, ele é o famoso e saboroso queijo de Azeitão,elabora<strong>do</strong> com leite cru de ovelha, o qual é maioritariamente produzi<strong>do</strong>na freguesia da Quinta <strong>do</strong> Anjo, remontan<strong>do</strong> a sua origemao século xix. Com o Serra e o Serpa, to<strong>do</strong>s de leite de ovelha,o que constitui uma originalidade portuguesa a nível mundial,o Azeitão faz parte <strong>do</strong> terceto <strong>do</strong>s melhores queijos pátrios.Originalidade, pois, nos outros países, os queijos mais preza<strong>do</strong>ssão sobretu<strong>do</strong> os confecciona<strong>do</strong>s com os leites de cabra e de vaca.| 57


O queijo de Azeitão continua a ser produzi<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> regras tradicionaise artesanais, sen<strong>do</strong> a respectiva qualidade asseguradapor um rigoroso controlo de qualidade e certificação. O queijo <strong>do</strong>leite das ovelhas que pastam nas terras de Palmela, e também deSetúbal e Sesimbra, remete-nos para as Beiras e para o final <strong>do</strong> séculoxix (1830), quan<strong>do</strong> Gaspar Henriques de Paiva chegou a Azeitãopara se dedicar à acti<strong>vida</strong>de agrícola. Trouxe consigo ovelhas leiteirase to<strong>do</strong>s os anos mandava vir um queijeiro para lhe fazer queijoscom o leite das ovelhas, tal como se fazia na Serra da Estrela.Só que as condições edafo-climáticas da Arrábida são diferentesdas da Serra da Estrela. Apesar de, como acontece com o seu inspira<strong>do</strong>r,o de Azeitão também ser feito com leite cru de ovelha, sale car<strong>do</strong>, o seu aroma, textura e sabor são diferentes, embora igualmentedeliciosas. É que, a flora das pastagens da Arrábida é diferenteda Estrela e o clima também. O queijo de Azeitão, salvo os <strong>do</strong>final da época (Abril/Maio) que chegam a ter um quilo e mais, massão só para consumo caseiro, não têm mais de 250 gramas. Actualmentetambém se fazem uns de 100 gramas. A forma é cilindrícaachatada, sem bor<strong>do</strong>s vinca<strong>do</strong>s e de crosta amarelada. A pasta,de cor entre o amarelo desmaia<strong>do</strong> e o marfim, é amanteigada,untuosa, praticamente sem olhos e com uma zona de corte facilmentedeformável. De aroma e sabor muito delica<strong>do</strong>s e característicos,transmitem sensações moderadamente acídulas e salgadas,com notas ligeiras de amargo e picante. Este último acentua-se como tempo, embora a maioria <strong>do</strong>s apreci<strong>do</strong>res goste de comer o Azeitãonuma fase de meia cura. Façam-no sempre à fatia. Não lhe façama desfeita de o comer à colher. O pão e um vinho da região sãoboas companhias. Há quem se incline para um tinto com algumaevolução. Eu prefiro um branco com alguma complexidade.Periquita e MoscatelFinalmente, o vinho. Melhor, os vinhos. Palmela e toda a Penínsulade Setúbal, no conjunto «terra mãe de vinhos», podem orgulhar‐sede os ter to<strong>do</strong>s: espumantes, brancos, rosés, tintos e generosos. Umaparte importante da história de Palmela está ligada à sua facetade região vitivinícola. O solo e o clima são propícios, por isso desdea mais alta Antiguidade que têm fama os vinhos palmelenses. Assuas castas de uvas também são bem conhecidas. Nos tintos, <strong>do</strong>minaa Periquita, agora de nome muda<strong>do</strong> para Castelão, depois de játer si<strong>do</strong> Castelão Francês; nos brancos, a Fernão Pires e a Moscatel,esta também matéria-prima de um grande generoso português.Os historia<strong>do</strong>res admitem que a cultura da vinha foi introduzidano Vale <strong>do</strong> <strong>Tejo</strong> e Sa<strong>do</strong> pelos tartésios (2000 anos antes de Cristo(a.C.). Mais tarde, os fenícios (século x a.C.) estabeleceram feitoriascomerciais por aqui e assenhorearam-se <strong>do</strong> comércio <strong>do</strong> vinho.58 |


Mas foi com a chegada <strong>do</strong>s gregos à Penínsila Ibérica no século via.C. que a viticultura se desenvolveu, ganhan<strong>do</strong> relevo a arte defazer vinho. Um século depois, os celtas trouxeram novas variedadesde videira e conhecimentos na área da tanoaria. Com a romanizaçãoda Península (15 a.C.), a cultura da vinha, a elaboração e oconsumo de vinhos deu um salto.A vila de Palmela recebeu o seu primeiro foral em 1185, outorga<strong>do</strong>pelo nosso primeiro rei, D. Afonso Henriques, e nele se mencionama vinha e o vinho da região. Desde o final <strong>do</strong> século xix afluíramà região pessoas que ficaram na história pelo contributo da<strong>do</strong>à agricultura com um enfoque particular na vinha e no vinho.A mais importante foi José Maria <strong>do</strong>s Santos, o qual, a partir <strong>do</strong>sfinais de oitocentos marcou a paisagem agrícola <strong>do</strong> concelho dePalmela. Em Pinhal Novo, no Poceirão, plantou a maior vinha contínua<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, a qual chegou a ocupar 2400 hectares, com seismilhões de cepas.A Região Vitivinícola da Península de Setúbal des<strong>do</strong>bra-se em trêsdenominações distintas: D.O.C. [denominação de origem controlada]Palmela; D.O.C. Setúbal; e Vinho Regional Terras <strong>do</strong> Sa<strong>do</strong>.As castas tintas, com cerca de 80 por cento <strong>do</strong> total, são as pre<strong>do</strong>minantese, entre estas, distingue-se a Castelão, mais conhecidacomo Periquita, que ocupa 95 por cento da área das tintas. Dá origema vinhos com boa cor, aromas limpos, frescos e atraentes, muitomacios e gulosos, sobretu<strong>do</strong> se as vinhas estão implantadas emterras pobres e arenosas. Nos últimos anos, há outras castas tintasa chegar à região: Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Merlot,Syrah... Quanto aos brancos, as <strong>do</strong>minantes são Fernão Pirese Moscatel de Setúbal, destacan<strong>do</strong>-se ainda a minoritária MoscatelRoxo, que dá origem a um vinho generoso <strong>do</strong> outro mun<strong>do</strong>!Embora o pão, o queijo e o vinho sejam produtos palmelenses quepodem atingir um altíssimo nível qualitativo, não devem passarsem referência outras especialidades gastronómicas regionais.Nas sopas, a caramela e a de favas, que prestam vassalagem aosprodutos hortícolas regionais. Nos pratos de resistência, têm quese citar o coelho guisa<strong>do</strong> com feijão à camponesa, o frango à modade Palmela, a cabidela de galinha <strong>do</strong> campo, o pato com arroz deforno, o ensopa<strong>do</strong> de borrego, o cabrito assa<strong>do</strong> no forno, o buchode porco com feijão. Os que forem mais adeptos de mariscose peixes também não ficarão desiludi<strong>do</strong>s, pois o mar e a foz <strong>do</strong>Sa<strong>do</strong> não ficam longe. Na fruta, sem esquecer as laranjas e os pêssegos,dê-se a primazia à bonita, perfumada e deliciosa maçãriscadinha. Por mea<strong>do</strong>s de Julho lá a vemos nas macieiras à nossaespera. Quanto à <strong>do</strong>çaria, abram-se alas para a chegada das fogaças,<strong>do</strong> pudim de abóbora, <strong>do</strong>s carolinos, <strong>do</strong>s suspiros, <strong>do</strong>s bolinhosde amên<strong>do</strong>a e das pêras cozidas em Moscatel. Bom apetite!| 59


RECEITASSopa Caramelafeijão‐catarino...............................................500 grcenoura.............................................................200 grabóbora.............................................................. 150 grazeite......................................................................1,5 dlcouve‐lombardacebolasalcoentrosPõe‐se o feijão de molho no dia anterior. O feijão é cozi<strong>do</strong> coma cebola picada, um pouco de azeite e a abóbora aos boca<strong>do</strong>s.Depois de tu<strong>do</strong> cozi<strong>do</strong> acrescenta‐se água, deitan<strong>do</strong>‐se emseguida a couve‐lombarda partida, as cenouras às rodelas,o restante azeite e os coentros. Deixa‐se cozer.Calduchabacalhau....................................................... 2 postasazeite.........................................................................1 dllouro................................................................ 2 folhasalho.................................................................3 dentespoejos.............................................................. 1 molhopão duroNum tacho leva‐se ao lume o azeite, um ramo de poejos, e quan<strong>do</strong>o azeite aquece deitam‐se <strong>do</strong>is dentes de alho, uma pitada de sale deixa‐se refogar. Desfia‐se o bacalhau, que entretanto foi cozi<strong>do</strong>,deitan<strong>do</strong>‐se no refoga<strong>do</strong> com água suficiente para ensopar obacalhau, bem como o pão. Mistura‐se tu<strong>do</strong> muito bem e deixa‐seferver até enxugar. A água deve ser a de cozer o bacalhau.salFavasà «Palmeloa»favas descascadas...........................................1,5 kgcebola média..............................................................1toucinho entremea<strong>do</strong>..................................125 grchouriço de carne...................................................½chouriço mouro.......................................................½Coze‐se o toucinho entremea<strong>do</strong>, os chouriços de carne e mouro;pode também levar chispe e orelha que, nesse caso, devem sersalga<strong>do</strong>s de véspera. Depois de estar tu<strong>do</strong> cozi<strong>do</strong> retira‐se e, nocal<strong>do</strong>, cozem‐se as favas com hortelã e coentros. Logo que estejamcozidas servem‐se numa travessa com as carnes.hortelã e coentros........................................1 ramosalLulas Recheadasà modade Palmelalulas..........................................................................1 kgmargarina.................................................2 colherescebola picada..............................................................1alho pica<strong>do</strong>..................................................2 dentesovo cozi<strong>do</strong>....................................................................1chouriço de carnemiolo de pão escalda<strong>do</strong>salsa picadasumo de limãoAmanham‐se as lulas que devem ficar inteiras. Picam‐se os tentáculose metade de um chouriço, que vão refogar num estrugi<strong>do</strong>leve de margarina, cebola e alhos. Depois de refogar um pouco,deita‐se o pão espremi<strong>do</strong>, mexen<strong>do</strong> até estar tu<strong>do</strong> bem mistura<strong>do</strong>,juntan<strong>do</strong>‐se a salsa, pimenta e sumo de limão. Enchem‐se as lulasaté ao meio com este recheio e fecham‐se com um palito. Colocam-‐se em seguida, la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong>, num tacho com margarina e umpouco de vinho branco, cozen<strong>do</strong> em lume bran<strong>do</strong> meia hora ouum pouco mais. Servem‐se com batatas salteadas ou puré.Sarrafuscabatatas cozidas com pelebacalhau ..............................1 posta – 150/200 grtomate maduro.........................................................1cebola....................................................................1 boatoucinho................................. 1 naco – 100/150 grpimenta, sal e vinagreO toucinho deve ser corta<strong>do</strong> às tirinhas e posto a frigir, deven<strong>do</strong>ser comprimi<strong>do</strong> com um garfo para se obter bastante gordura.Retira‐se o toucinho, e neste molho deita‐se o tomate e a cebolacorta<strong>do</strong>s às rodelas, deixan<strong>do</strong> cozer. Num recipiente colocam‐se asbatatas às rodelas e o bacalhau desfia<strong>do</strong> (pode ser cru ou cozi<strong>do</strong>)deitan<strong>do</strong> por cima o molho bem quente.Coelhoà Camponesacoelho médio (manso ou bravo)........................1feijão‐roxo...................................................... 1/5 litrocebola, alho, louro, pimento, salsa, piripiri,toucinho fuma<strong>do</strong>, vinho tinto ou branco(conforme o gosto) e carquejaNa véspera parte‐se o coelho aos boca<strong>do</strong>s e põe‐se numamarinada feita com bastante alho, louro, piripiri, sal, vinhoe a carqueja. Põe‐se o feijão de molho. No dia seguinte faz‐se umbom refoga<strong>do</strong> com cebola, toucinho fuma<strong>do</strong>, pimento às tiras,salsa e se necessário um pouco de banha. Tu<strong>do</strong> muito bem pica<strong>do</strong>,sen<strong>do</strong> o toucinho aos rectângulos pequeninos para ficar maisharmonioso com o feijão. Retira‐se o coelho da marinada e junta-‐se ao refoga<strong>do</strong>, deixa‐se ferver um pouco, acrescentan<strong>do</strong>‐se entãoa marinada para acabar de cozer. Quan<strong>do</strong> o coelho está quasecozi<strong>do</strong>, junta‐se o feijão, previamente cozi<strong>do</strong> e escorri<strong>do</strong>, deixan<strong>do</strong>-‐se apurar. Se o coelho for manso e não se encontrar carqueja,deitar um pouco de cominhos; se for bravo não necessita.60 |


GalinhaAcerejadagalinha, chouriço de carne, cebola, arroz,sumo de limão, manteiga e salA galinha era cozida com um boca<strong>do</strong> de chouriço de carne e umacebola. Depois de cozida retirava‐se e no cal<strong>do</strong> cozia‐se arroz queera coloca<strong>do</strong> no fun<strong>do</strong> dum tabuleiro de ir ao forno. Por cima<strong>do</strong> arroz colocava‐se a galinha rodeada de rodelas de chouriço,sumo de limão e uma «nozinhas» de manteiga ou margarina.Galinhacom Grãogalinha..........................................................................1grão‐de‐bico....................................................500 grcebola picada..............................................................1tomate.......................................................................... 2louro, salsa, pimenta, salazeiteCoze‐se o grão que fica de molho de véspera. Faz‐se um refoga<strong>do</strong>com azeite, cebola picada, tomate, louro, salsa e pimenta;quan<strong>do</strong> está a começar a alourar deita‐se a galinha aos boca<strong>do</strong>se um pouco de água de cozer o grão. Quan<strong>do</strong> a galinha está quasecozida deita‐se o grão escorri<strong>do</strong> e deixa‐se apurar.Pombo Estufa<strong>do</strong>pombo...........................................................................1azeite.........................................................................1 dlcebola média..............................................................1alho.................................................................2 denteslouro...................................................................1 folhapão de misturaFaz‐se um estufa<strong>do</strong> com o pombo: cebola cortada às rodelas, alhocortadinho, louro e azeite. Seguidamente abre‐se um pão de misturaao meio, fican<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s la<strong>do</strong>s fecha<strong>do</strong>, e coloca‐se o pombodentro <strong>do</strong> pão juntamente com os miú<strong>do</strong>s igualmente estufa<strong>do</strong>s;ata‐se o pão para não abrir e vai ao forno.Bolos de Banhatoucinho cozi<strong>do</strong>...............................................0,5 kgchouriço de carne médio cozi<strong>do</strong>........................1pão em massa.................................. 1 (aprox. 1 kg)Desfaz‐se com a mão o toucinho e o chouriço e adiciona‐sea massa <strong>do</strong> pão previamente amassada. Mistura‐se tu<strong>do</strong> muitobem, amassan<strong>do</strong>: fazem‐se bolinhos ao critério da pessoa ecolocam‐se num tabuleiro forra<strong>do</strong> de papel polvilha<strong>do</strong> comfarinha. Vão ao forno a cozer.Fogaçaspão em massa......................................................1 kgaçúcar......................................................................1 kgfarinha.....................................................................1 kgcanela....................................................................50 grovo...................................................................................1erva‐<strong>do</strong>ce.............................................................50 graguardente...................................................½ cálicesumo de laranja........................................................1banha................................................................. 100 grAmassa‐se o pão em massa com a banha derretida, junta‐se o ovo,a aguardente e o sumo de laranja, depois de bem amassa<strong>do</strong>.junta‐se a farinha, a canela e a erva‐<strong>do</strong>ce, fican<strong>do</strong> uma massahomogénea. Estica‐se a massa com um rolo e corta‐se em váriosfeitios; pinta‐se com gema de ovo e vai ao forno.Filhósde Abóboraabóbora‐menina.............................................2,5 kgfarinha.....................................................................1 kgfermento de padeiro.................................... 150 grraspa de laranjas..................................................... 2sumo de laranjas..................................................... 3aguardente..................................................... 1 cáliceCoze‐se a abóbora com água e sal. Depois de cozida escorre‐se,reservan<strong>do</strong> a água. Junta‐se um quilo de farinha, o fermento,a raspa e o sumo das laranjas, bem como a aguardente. Amassa‐seaté a massa correr, quan<strong>do</strong> se pega; nem líquida nem a cair aosboca<strong>do</strong>s. Polvilha‐se a massa, logo que pronta, com farinha e deixa-‐se levedar. Deita‐se em óleo quente às colheres, para fritar.Para temperar estas filhós ferve‐se açúcar com canela e água,sem caramelizar.Filhósde Cenouracenoura cozida, escorrida e moída.......300 grovos................................................................................ 3açúcar....................................... 2 colheres de sopafarinha...............................................................200 grcanela................................................1 colher de chávinho moscatel...........................................½ cálicesumo de laranjaAmassa‐se tu<strong>do</strong> até ficar numa massa espessa; deixa‐se repousaruma hora. Frita‐se em óleo bem quente. Polvilha‐se com açúcarbranco.Receitas retiradas <strong>do</strong> livro «Sabores da Costa Azul», de Celeste Cavaleiro, edita<strong>do</strong> pela Estuário Publicações em 2006.www.estuariopublicacoes.blogspot.com| 61


A Casa Mãe da Rota <strong>do</strong>s Vinhos está emcondições de fornecer sugestões e fazermarcações que ajudem a fazer das visitasà região jornadas memoráveis.Foram organiza<strong>do</strong>s seis roteiros – Por terrasde Santiago: História Património e Artesanato;Por terras da Arrábida: Vinho, Arte e Natureza;Por terras verdes: Vinhas e Golfe; Por terras decolonos, ferroviários e antigas povoações:Horizontes de Ruralidade; Por terras <strong>do</strong> Sa<strong>do</strong>:Salinas e Natureza; e Por terras da baía <strong>do</strong>sgolfinhos: Sol e Mar – e sobre eles,os profissionais da Casa Mãe da Rota <strong>do</strong>sVinhos podem fornecer as melhores e maisprecisas informações e indicações.Casa Mãe da Rota <strong>do</strong>s Vinhos da Costa AzulLargo de S. João, PalmelaTelefone: 212 334 398Fax: 212 334 990E-mail: rotavinhos.psetubal@mail.telepac.ptSite: www.rotavinhospsetubal.comHorário de funcionamento: De 2ª a sába<strong>do</strong>, das 10h00às 13h00 e das 14h00 às 17h30. .Encerra aos <strong>do</strong>mingos e feria<strong>do</strong>sCâmara ardente, produções fotográficasAssociação de Produtoresde Queijo de Azeitão (APQA)Quinta de S. Gonçalo – Cabanas, PalmelaTelefone: 212 888 142Fax: 212 888 14162 |


RESTAURANTESPousada de PalmelaCastelo de Palmela2950-997 PalmelaTelefone: 212 351 226Aberto to<strong>do</strong>s os diasCarré de borregoLingua<strong>do</strong> com cervejaPataniscas de camarãoRetiro AzulLargo <strong>do</strong> Chafariz2950-234 PalmelaTelefone: 212 350 021Aberto to<strong>do</strong>s os diasMedalhão de vitela com banana flamejadaArroz de patoTamboril à Bolhão PatoO Cantinho <strong>do</strong> VolanteAvenida Alberto Valente, 19Volta da Pedra2950-313 PalmelaTelefone: 212 350 335O PeixeiroLagoinha2950-064 PalmelaTelefone: 212 353 083Encerra à segunda-feiraPerna de porco assada no fornoMassinha de cherneChoco fritoO MestreLagoinha2950-064 PalmelaTelefone: 212 331 945Encerra à terça-feiraCozi<strong>do</strong> à PortuguesaPernil assa<strong>do</strong> no fornoCaldeirada de peixeO MiranteEstrada Nacional 369C.C. S. Julião2950-302 PalmelaTelefone: 212 334 609AlcanenaRua Venâncio da Costa Lima, 992950-701 Quinta <strong>do</strong> AnjoTelefone: 212 870 150Encerra à quarta-feiraAdega com buffet de pratos típicosPato <strong>do</strong> campo com castanhasGalinha <strong>do</strong> campo de CabidelaLanceloteAvenida Visconde Tojal, 23Cabanas2950-601 Quinta <strong>do</strong> AnjoTelefone: 212 880 924 / 963 709 723Encerra à segunda-feiraTábua terra e marArroz de tamborilFeijoada de mariscoA MoagemRua Egas Moniz2965-311 PoceirãoTelefone: 265 995 520Encerra ao <strong>do</strong>mingoAberto to<strong>do</strong>s os diasEncerra ao <strong>do</strong>mingo excepto o primeiroEnsopa<strong>do</strong> de borregoTravessa à Impera<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s maresde cada mêsMigas à alentejanaBacalhau à MiranteCaça bravaNaco de vitela grelha<strong>do</strong>Rodízio de carnes mistasEnsopa<strong>do</strong> de enguiasCataplana de cherne ou tamborilTerceira GeraçãoRua Serpa Pinto, 1472950-260 PalmelaTelefone: 212 350 152Encerra à segunda-feiraO TelheiroRua Hermenegil<strong>do</strong> Capelo, 122955 Pinhal NovoTelefone: 212 362 244Aberto to<strong>do</strong>s os diasA Cepa 2000Brejos <strong>do</strong> PoçoCCI 53092965-221 PoceirãoBacalhau à Terceira GeraçãoBifinhos de vitela na pedraAberto to<strong>do</strong>s os diasCoelho à GraciosaArroz de tamborilEnsopa<strong>do</strong> de enguiasCarne de porco à marinheiroCataplana de cherneMista de porco pretoArroz de tamborilManel das Co<strong>do</strong>rnizesRua Augusto Car<strong>do</strong>so, 102950-214 PalmelaTelefone: 212 351 067Encerra à terça-feiraO PintoRua Ferreira de Castro, Lote 65, R/c Esq2955-185 Pinhal NovoTelefone: 212 362 106Encerra ao <strong>do</strong>mingoCantinho <strong>do</strong> CéuAvenida da Liberdade, 1102695-575 Águas de MouraTelefone: 265 912 228Co<strong>do</strong>rnizesPlumas de porco preto com frutaEncerra ao <strong>do</strong>mingoTábua de entrecostoSecretos de porco preto com frutaFrango no churrascoTirinhas <strong>do</strong> fun<strong>do</strong>Vea<strong>do</strong> e javali grelha<strong>do</strong>sCozi<strong>do</strong> à portuguesaCarne de porco à alentejanaPérola da SerraRua Dr Bernar<strong>do</strong> Teixeira Botelho, 462950 PalmelaTelefone: 212 350 240Encerra à terça-feiraBacalhau à Pérola da SerraAçorda de mariscoGrãozada de mariscoO Rei <strong>do</strong> BuchoAvenida Alberto Valente, 68Volta da Pedra2950-439 PalmelaTelefone: 212 353 331Encerra à terça-feiraO AlquevaRua Salgueiro Maia, Lote 8, Loja EsqUrb. Quinta <strong>do</strong> Pinheiro2955 Pinhal NovoTelefone: 212 383 442Encerra <strong>do</strong>mingo ao jantar e segunda-feiraCarne de porco preto grelhadaTirinhas <strong>do</strong> fun<strong>do</strong>Tábua de entrecostoRédea SoltaHerdade de Rio Frio2955 Pinhal NovoTelefone: 212 319 661Encerra à segunda e terça-feiraO Armazém <strong>do</strong> Cozi<strong>do</strong>Espaço Lina Vaz, Lote 70(Estrada Quinta <strong>do</strong> Conde / Makro)Vila Amélia2950-805 Quinta <strong>do</strong> AnjoTelefone: 961 277 495Fax: 212 102 107armazem<strong>do</strong>cozi<strong>do</strong>@sapo.ptwww.armazem<strong>do</strong>cozi<strong>do</strong>.comAberto to<strong>do</strong>s os dias ao almoçoe sextas e sába<strong>do</strong>s ao jantarDourada BangkokBifinhos com molho de ostrasPernil com molho de farinheiraBucho com feijãoCherne com amêijoasPernil assa<strong>do</strong> no fornoTábua de entrecostoRojões com açorda de legumesMigas com entrecostoRoteiro de Restaurantes, edita<strong>do</strong> pela Regiãode Turismo na Costa Azul, em Dezembro de 2005.| 63


ARTEMREDEAgakuke e a filha <strong>do</strong> SolNa sequência <strong>do</strong> investimento realiza<strong>do</strong> em conjunto com as autarquiasna construção, recuperação, modificação de cine‐teatrose outros equipamentos culturais congéneres destina<strong>do</strong>s à apresentaçãode espectáculos, maioritariamente financia<strong>do</strong> através<strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s estruturais europeus, decidiu a <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> – Comissãode Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale <strong>do</strong><strong>Tejo</strong> promover a realização de um estu<strong>do</strong> que identificasse osmeios e instrumentos mais adequa<strong>do</strong>s à dinamização, qualificaçãoe criação de condições de sustentabilidade desses equipamentos.A realização <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> estu<strong>do</strong> incluiu um trabalho de inventariação<strong>do</strong>s teatros e cine-teatros e de análise das dinâmicas culturais daRegião, bem como uma ampla discussão e troca de ideias com asautarquias, ao nível, quer <strong>do</strong>s seus responsáveis políticos, quer deresponsáveis <strong>do</strong>s departamentos culturais ou <strong>do</strong>s próprios teatros.Este processo culminou com a proposta de criação de uma redeformal que integrasse os teatros e equipamentos culturais congéneresda região, entendida como a melhor solução para dar respostaàs necessidades de qualificação, assistência técnica e desenvolvimentoque as autarquias sentem neste <strong>do</strong>mínio. A criação daRede foi consubstanciada através da constituição de uma associaçãocultural privada sem fins lucrativos «Artemrede – TeatrosCRIANÇAS E JOVENSAgakuke e a filha <strong>do</strong> Sollua cheia teatro para to<strong>do</strong>sSexta-feira, 11 janeiro | 10H30Centro Cultural Olga Cadaval, SintraSába<strong>do</strong>, 12 Janeiro | 16H00Centro Cultural Olga Cadaval, SintraDANÇAA Arte da Fugacriação artemredeem parceria com teatro camõesSába<strong>do</strong>, 5 Janeiro | 21H30Teatro Municipal de Almada, AlmadaSába<strong>do</strong>, 12 Janeiro | 21H30Cine-Teatro de Sobral de Monte Agraço, Sobral de Monte AgraçoSexta-feira, 18 Janeiro | 21H30Cinema Teatro Joaquim d’Almeida, MontijoSexta-feira, 25 Janeiro | 22H30Centro Cultural Olga Cadaval, SintraAssocia<strong>do</strong>s», integran<strong>do</strong>, presentemente, o projecto 15 autarquias:Abrantes, Alcanena, Alcobaça, Almada, Almeirim, Barreiro, Cartaxo,Entroncamento, Moita, Montijo, Palmela, Santarém, Sintra, Sobralde Monte Agraço e Torres Vedras.64 |


A Arte da Fuga, criação Artemrede, em parceria com Teatro Camões


Ministério <strong>do</strong> Ambiente,Ordenamento <strong>do</strong> Territórioe Desenvolvimento Regional

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