(…) encontrar um café ou uma loja abertos (à excepção,obviamente, das «novas» lojas, como a Louis Vuitton,a Dolce & Gabanna, a Trussardi, a Tod’s ou a Timberlande o centro comercial <strong>do</strong> Tivoli, to<strong>do</strong>s abertos ao sába<strong>do</strong>à tarde, e nos quais ninguém pensa quan<strong>do</strong> falade «comércio tradicional», apesar de serem lojas de ruacomo as outras) fora <strong>do</strong>s ditos «dias e horas de expediente»é uma tarefa ciclópica.miseráveis. Ou seja, competem com os novos comércios com muitomelhores condições objectivas: já estão nos bons sítios e por nada,ten<strong>do</strong> apenas os salários <strong>do</strong>s emprega<strong>do</strong>s e os produtos comodespesa base.e de se aguentar) – mas por gerentes frescos. Aqui e ali, um espíritonovo aparece, provan<strong>do</strong> que é possível manter o mesmo negócio,no mesmo sítio, com outra atitude. Mercearias que fazemobras para recuperar traças antigas, oferecem produtos de qualidaderebuscada, abrem ao sába<strong>do</strong> à tarde e têm serviço de entrega;lojas de teci<strong>do</strong>s que criam ateliers de costura para permitir umserviço global; artesanatos antigos que se reciclam em ofertasmodernas (como o de sapatos à medida).A incapacidade de adequação à procura é, de resto, tanto maisdifícil de entender quanto a maioria <strong>do</strong>s comércios mais antigosocupam espaços nobres, muito bem situa<strong>do</strong>s, e pagam rendasÉ por esse motivo ainda mais (sê-lo-ia sempre) incompreensívelque os representantes <strong>do</strong>s comerciantes ameacem juntar-se a umagreve geral convocada pelos sindicatos, imputan<strong>do</strong> ao Esta<strong>do</strong>/governos a responsabilidade pela perda alegada, nos últimoscinco anos, de 250 mil empregos no sector. Não fazen<strong>do</strong> ideiade como se chegou a este número, e partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> princípio de queé fiável, não se pode deixar de concluir que a ser verdadeiro apontao de<strong>do</strong>, antes de mais, aos próprios comerciantes. Que fizerampara evitar isso? Desculpam-se com «a crise» (<strong>do</strong> consumo, naturalmente)e com a guerra que «as grandes superfícies» lhes fazem?O argumento é contraditório: afinal, as pessoas continuam a comprar,mas noutros la<strong>do</strong>s. Se assim é, não deviam os «pequenos»comerciantes ter muda<strong>do</strong> a sua atitude, oferecen<strong>do</strong> aquilo que osgrandes não podem oferecer – proximidade, ambiente, produtosespeciais ou costuma<strong>do</strong>s, e tu<strong>do</strong> isto em horários compatíveis?Custa dinheiro abrir ao sába<strong>do</strong> e ao <strong>do</strong>mingo? Decerto. Custadinheiro ter produtos bons? Com certeza. Dá trabalho mudar deperspectiva e tentar perceber o merca<strong>do</strong> em vez de esperar queo merca<strong>do</strong> mude? Não há dú<strong>vida</strong>. Mas se calhar custa mais fechar.A não ser que, afinal, não custe assim tanto – há sempre umacoisa obscena chamada trespasse, em que o imobilista é compensa<strong>do</strong>à conta de ter fica<strong>do</strong> imóvel.16 |
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