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E se ele fosse o som de 2011? - Fonoteca Municipal de Lisboa

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Sexta-feira11 Fevereiro <strong>2011</strong>www.ipsilon.ptESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO Nº 7615 DO PÚBLICO, E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTEJames Blake, 22 anosE <strong>se</strong> <strong>ele</strong> fos<strong>se</strong> o <strong>som</strong> <strong>de</strong> <strong>2011</strong>?PJHarvey JoséMiguelSilvaDidierFaustino Woo<strong>de</strong>nWand MarioMonicelli


FlashSumárioJames Blake 6O músico que vai embalar<strong>2011</strong>PJ Harvey 12Outra vez em gran<strong>de</strong> formaWoo<strong>de</strong>n Wand 14A tradição americana estávivaRock feminino 16Quando elas tocam guitarraJosé Miguel Silva 22Um poeta políticoDidier Faustino 24Não confia em arquitectosBeatriz Batarda 26No D. Maria com DennisPotterFicha TécnicaDirectora Bárbara ReisEditor Vasco Câmara,Inês Nadais (adjunta)Con<strong>se</strong>lho editorial IsabelCoutinho, Óscar Faria, CristinaFernan<strong>de</strong>s, Vítor BelancianoDesign Mark Porter, SimonEsterson, Kuchar SwaraDirectora <strong>de</strong> arte Sónia MatosDesigners Ana Carvalho,Carla Noronha, Mariana SoaresEditor <strong>de</strong> fotografiaMiguel Ma<strong>de</strong>iraE-mail: ipsilon@publico.ptBoris Charmatz,o artista associadoda próxima ediçãodo festival, traráà Culturgest a peçaque vai estrearem AvignonTodas as utopias,<strong>de</strong> More a Unamuno,em espanholÉ uma colecção perfeita para estestempos <strong>de</strong> cólera: em Espanha, oCírculo <strong>de</strong> Bellas Artes <strong>de</strong> Madridacaba <strong>de</strong> lançar as Ediciones Utopía,série que irá reunir os vários textossobre mundos melhores e mundospiores produzidos ao longo <strong>de</strong>séculos e séculos <strong>de</strong> malaventurança.Dirigida por JuanCalatrava, a colecção inicia-<strong>se</strong> com a“Utopia” do inglês Thomas More,obra-chave do pensamento utópicooci<strong>de</strong>ntal que “fundou todo umgénero e criou o próprio conceito <strong>de</strong>utopia, es<strong>se</strong> não-lugar que nos dá amedida dos nossos sonhos <strong>de</strong>perfeição”; os próximos quatrotítulos <strong>se</strong>rão “Sinapia” (anagrama <strong>de</strong>Hispania), obra anónima do séculoXVIII que apre<strong>se</strong>nta um mundoi<strong>de</strong>al situado nos antípodas <strong>de</strong>Espanha, “Una República Poética”(extracto do prólogo a “Anatomia daMelancolia”), <strong>de</strong> Robert Burton, e“Da Reorganização da Socieda<strong>de</strong>Europeia”, <strong>de</strong> Saint-Simon, um dosmais c<strong>ele</strong>brados pioneiros dosocialismo utópico.Numa colecção que preten<strong>de</strong><strong>de</strong>monstrar até que ponto “outopismo e o <strong>se</strong>u correlato, opesa<strong>de</strong>lo distópico, são <strong>ele</strong>mentosmedulares do pensamentomo<strong>de</strong>rno” e constituem “materiaisconceptuais cruciais para odiagnóstico do pre<strong>se</strong>nte”, estátambém prevista a edição <strong>de</strong> “A Ilhados Escravos”, <strong>de</strong> Marivaux, do“Panóptico” <strong>de</strong> Jeremy Bentham (oprimeiro gran<strong>de</strong> antece<strong>de</strong>nte, aindaque “apenas” à escala prisional, do“big brother” orwelliano) e <strong>de</strong>“Mecanópolis”, conto praticamente<strong>de</strong>sconhecido do filósofo espanholMiguel <strong>de</strong> Unamuno. Os preçosvariarão entre os <strong>de</strong>z e os 12 euros.Boris Charmatz,o rapaz do pinguepongue,chegaa AvignonE aos 65 anos oFestival d’Avignonabre as portas aorebel<strong>de</strong> da dançacontemporâneafrancesa, BorisCharmatz. “Expressãoengraçada, essa”, diz<strong>ele</strong>. e. Para a edição<strong>de</strong>steano, que<strong>de</strong>corre <strong>de</strong> 6a26 <strong>de</strong>Julho, emFrança, osdoisdirectores,Horten<strong>se</strong>Archambaulte VincentO espanhol Miguel <strong>de</strong> Unamuno, com “Mecanópolis”,é um dos autores que figurarão na colecção Ediciones UtopíaOs ví<strong>de</strong>os que Tiago Pereira realizou com B Fachada já estão disponíveisno novo canal alojado na plataforma VimeoUm canal ví<strong>de</strong>o para c<strong>ele</strong>brar“a maravilhosa diversida<strong>de</strong> damúsica portuguesa”No ano passado, Tiago Pereirarealizou, para os 15 anos dad’Orfeu Associação Cultural,“Significado – A MúsicaPortuguesa Se Gostas<strong>se</strong> DelaPrópria”. Incluído no livro“Contexto e Significado”, dojornalista António Pires, autordo blogue <strong>de</strong>dicado à worldmusic Raízes E Antenas (que<strong>se</strong> transformou recentementeem livro homónimo), odocumentário fazia a ponteentre a música tradicional eaqu<strong>ele</strong>s que procuraram (eprocuram) construir ponte<strong>se</strong>ntre tradição econtemporaneida<strong>de</strong>. Agora,Tiago Pereira <strong>de</strong>u o passo emfrente: “A Música Portuguesaa Gostar <strong>de</strong>la Própria” é umcanal <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>os, alojados naplataforma online Vimeo(www.vimeo.com/channels/musicaportuguesa), quepreten<strong>de</strong> c<strong>ele</strong>brar “amaravilhosa diversida<strong>de</strong> damúsica portuguesa.”Neste momento, já láencontramos ví<strong>de</strong>os <strong>de</strong> BFachada, Márcia, PAUS, JorgeCruz, Samuel Úria, GonçaloGonçalves, Manuel Fúria,Dazkarieh, as Pega Monstroou David Pires, baterista dosPontos Negros em p<strong>ele</strong> <strong>de</strong>cantautor, registados emlocais inesperados - na rua,entre pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> prédiosabandonados ou emmuralhas <strong>de</strong> castelos. Não éinocente que a i<strong>de</strong>ia soefamiliar e traga à memória afrancesa La Blogothèque,famosa pelos <strong>se</strong>us “concertosportáteis”. Tiago Pereirareconhece imediatamente ainspiração, mas ascomparações acabam nai<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> retirar os músicos do<strong>se</strong>u habitat natural.Pereira, que lançou mãos aotrabalho com a realizadoraJoana Barra Vaz, diz aoÍpsilon que preten<strong>de</strong> “trazeros músicos para a rua econstruir uma re<strong>de</strong>”:“Interessa-nos c<strong>ele</strong>brar anoção <strong>de</strong> autoria, tratandotodos por igual – tanto vale avelhinha quanto o gajo dacena lisboeta, músicos daerudita ou instrumentistas,que habitualmente não têmespaço para <strong>se</strong> mostraremenquanto autores”.Disponível há algumas<strong>se</strong>manas, o canal tem umamédia <strong>de</strong> 15 mil visitas por<strong>se</strong>mana e a palavra foi-<strong>se</strong>espalhando. “Nestemomento, já são os própriosmanagers que me abordampara propor fazer um ví<strong>de</strong>o”.Nos próximos tempos, TiagoPereira e Joana Barra Vazplaneiam filmar ví<strong>de</strong>os <strong>de</strong>Norberto Lobo, Lula Pena,Couple Coffee, AntónioZambujo ou Abztrqt Sir Q.Planeiam que a re<strong>de</strong> <strong>se</strong>estenda país fora e que <strong>se</strong>jamrevelados ou divulgadosoutras linguagens e outroscriadores. “É uma re<strong>de</strong> emconstrução”, acentua Tiago,manifestando o <strong>de</strong><strong>se</strong>jo <strong>de</strong> quemais realizadores <strong>se</strong> juntem econtribuam, <strong>de</strong> forma a criarum arquivo tão extensoquanto diversificado.No fundo, o canal in<strong>se</strong>re-<strong>se</strong>naqu<strong>ele</strong> que tem sidoo eixo central do percurso dorealizador e visualista: otrabalho sobre a memória.Que <strong>se</strong> registando o pre<strong>se</strong>ntepara que o futuro não oesqueça. Que <strong>se</strong> faz contandoas histórias que o passadoainda tem por contar: TiagoPereira começourecentemente a trabalhar numdocumentário sobre a Bandado Casaco, autora <strong>de</strong> algunsdos álbuns mais brilhantes damúsica portuguesa dadécada <strong>de</strong> 70, como “DosBenefícios Dum Vendido noReino dos Bonifácios” ou“Hoje Há Conquilhas, AmanhãNão Sabemos”. Essa, porém, éuma outra história. MárioLopesSARA MATOSÍpsilon • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • 3


FlashTori Amosvai adaptarum conto <strong>de</strong> fadasdo século XIX,“The LightPrincess”,<strong>de</strong> GeorgeMacDonald;a estreiaé em Abril<strong>de</strong> 2012Braudiller, <strong>de</strong> contrato renovado,<strong>de</strong>ram carta branca ao rapaz quegostava mais <strong>de</strong> jogar pingue-ponguedo que <strong>de</strong> dançar e que, pela mão daavó, ia ver os espectáculos do festival.“Para mim o festival é uma<strong>de</strong>scoberta. Serve para apren<strong>de</strong>rcoisas sobre o que faço, sobre amecânica dos festivais”, dis<strong>se</strong> oartista associado da próxima ediçãona primeira <strong>de</strong> muitas conferências<strong>de</strong> imprensa. Um festival comoAvignon, acrescentou, po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve“colocar questões urgentes”: “O quefazer hoje? O que distingue a dançado teatro? O que po<strong>de</strong>mos fazer como mundo?”. Nomes e linhasprogramáticas só no fim <strong>de</strong> Março.Para já, sabe-<strong>se</strong> que a peça principalque apre<strong>se</strong>ntará na Cour d’Honneur,“Un Enfant”, em que o coreógrafojuntará cerca <strong>de</strong> <strong>de</strong>z bailarinosadultos e 30 crianças dos cinco aos 11anos, virá à Culturgest, em <strong>Lisboa</strong>,nos dias 21 e 22 <strong>de</strong> Setembro.Tamara Karsavinae Vaslav Nijinsky,duas das maiores estrelasdos Ballets Rus<strong>se</strong>sBeavis & Butt-hea<strong>de</strong>stão vivosTori Amos leva ummusical ao NationalTheatreUm regresso aclamado e uma estreia a <strong>de</strong>spertar muitacuriosida<strong>de</strong>: assim <strong>se</strong> resumem dois dos <strong>de</strong>staques maissonantes da temporada <strong>2011</strong>/2012 do National Theatre, emLondres. O regresso é o <strong>de</strong> Mike Leigh, que estreará uma novapeça em Setembro, ainda <strong>se</strong>m título e sob a qual nada <strong>se</strong> sabe –<strong>se</strong>rá um trabalho <strong>de</strong> colaboração, improvisado, tendo comoprotagonistas a jovem actriz Ruby Bentall e a colaboradora <strong>de</strong>longa data Lesley Manville, pre<strong>se</strong>nça no último filme <strong>de</strong> Leigh,actualmente em cartaz, “Um Ano Mais”.A estreante é Tori Amos, cantora e pianista, <strong>se</strong>nhora <strong>de</strong> emoçõesfortes em ambiente <strong>som</strong>brio, que prepara para Abril <strong>de</strong> 2012uma adaptação do conto <strong>de</strong> fadas “The Light Princess” (GeorgeMacDonald, 1864). Com o <strong>se</strong>u toque pessoal, obviamente: “Nãohá nada <strong>de</strong> errado com a Disney, mas as minhas referências sãomais ‘West Si<strong>de</strong> Story’ misturado com ‘Jesus Cristo Superstar’”,dis<strong>se</strong>ra ao “In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt” em 2008.Tori Amos, cujo último álbum, “Midwinter Graces”, inclui umadas canções previstas para o musical (“Winter’s Carol”), estrear<strong>se</strong>-áno Theatre, mais propriamente no auditório Lyttelton, comuma velha história <strong>de</strong> príncipes e princesas: a princesa,enfeitiçada por uma tia malvada, torna-<strong>se</strong> leve como o ar e éobrigada a flutuar para <strong>se</strong>mpre num lago, única forma <strong>de</strong>escapar a um terrível <strong>de</strong>stino “anti-gravitacional” à <strong>se</strong>melhança<strong>de</strong> Ícaro - <strong>de</strong>pois aparece um príncipe que <strong>se</strong> apaixona por ela, atia velhaca <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> <strong>se</strong>car o lago e o melhor <strong>se</strong>rá, por agora, nãocontarmos mais. Fica a certeza <strong>de</strong> que, tratando-<strong>se</strong> <strong>de</strong> ToriAmos, o conto <strong>de</strong> MacDonald sofrerá algumas alterações. “Estoua tentar escrever um musical que <strong>se</strong>ja r<strong>ele</strong>vante para umarapariga <strong>de</strong> 16 anos dos nossos dias, um ritual <strong>de</strong> passagem <strong>de</strong>menina a mulher.”Quanto a Mike Leigh, é anunciado para a programação doNational Theatre pouco <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sabermos que assinará para oHampstead Theatre uma nova encenação para “Ecstasy”, umadas suas primeiras peças, estreada em 1979 antes da viragem<strong>de</strong>cisiva para o cinema do mestre do realismo britânico – como oÍpsilon <strong>de</strong>u conta em Janeiro, a nova produção estará em cenaentre 10 <strong>de</strong> Março e 9 <strong>de</strong> Abril.Nos anos 90, <strong>ele</strong>s eram aqu<strong>ele</strong>s doisrapazes mal amanhados quepassavam tar<strong>de</strong>s inteiras <strong>se</strong>ntadosno sofá a comer batatas fritas (ou apegar-lhes fogo) e a bocejar emfrente aos ví<strong>de</strong>os dos Radiohead(“He’d better start rocking or I’llreally give him <strong>som</strong>ething to cryabout”), pelo menos até àquelaparte em que as guitarras finalmente<strong>se</strong> contorciam. Agora, nos anos 10,não sabemos em frente a que ví<strong>de</strong>o<strong>se</strong>les bocejarão (James Blake?) eusarão a sua fra<strong>se</strong> favorita (“Thissucks. Change it”), mas sabemosque <strong>ele</strong>s estão vivos e vão voltar àMTV: a estação vai retomar a série<strong>de</strong> Mike Judge, com novos episódios,ainda este ano, anunciou o“Hollywood Reporter”.Como estarão Beavis e Butt-headtantos anos <strong>de</strong>pois (a primeira sériefoi para o ar entre 1993 e 1997)? Boaquestão. A “Pitchfork” saliva só <strong>de</strong>imaginar o que po<strong>de</strong>rá sair daquelascabeças quando lhes aparecer umaLady Gaga pela frente - até lá, tem no“site” um compacto dos melhoresmomentos da dupla. Rocks!Beavis & Butt-headvoltam à MTV aindaeste ano, com novo<strong>se</strong>pisódiosOs Ballets Rus<strong>se</strong>sna cápsula do tempoÉ o único vestígio “vivo” <strong>de</strong>s<strong>se</strong>fenómeno absolutamente<strong>de</strong>terminante da história da dançaque foram os Ballets Rus<strong>se</strong>s: os 30<strong>se</strong>gundos <strong>de</strong> imagens em movimentoagora encontrados, registo <strong>de</strong> umaperformance da companhia <strong>de</strong>Diaghilev em 1928, são umaverda<strong>de</strong>ira cápsula do tempo quepermite toda uma nova aproximaçãoàs práticas dos Ballets Rus<strong>se</strong>s.Descoberto no arquivo on-line daPathé, on<strong>de</strong> estava erradamentecatalogado, o fragmento foientretanto i<strong>de</strong>ntificado por JanePritchard, curadora da exposição“Diaghilev and the Gol<strong>de</strong>n Age of theBallets Rus<strong>se</strong>s, 1909-1929”,recentemente montada em Londrespelo Victoria & Albert Mu<strong>se</strong>um. Nofilme, os bailarinos <strong>de</strong> Diaghilevdançam o ballet “Les Sylphi<strong>de</strong>s” numpalco ao ar livre, com uma florestapor trás - Pritchard percebeu tratar<strong>se</strong><strong>de</strong> uma performance dacompanhia na Festa dos Narcisos <strong>de</strong>Montreux, Suíça, em Junho <strong>de</strong> 1928,e con<strong>se</strong>guiu reconhecer o bailarinoSerge Lifar, uma das estrelas dosBallets Rus<strong>se</strong>s.A companhia fundada em 1909 peloempresário russo Serge Diaghilev éum colosso da história da dança,disciplina que revolucionou com asua abordagem erotizada (sobretudocom a performance <strong>de</strong> Nijinsky em“L’Après-Midi d’un Faune”) evanguardista (Picasso e Matis<strong>se</strong><strong>de</strong><strong>se</strong>nharam alguns dos cenários).Embora existam alguns registosmudos <strong>de</strong> algumas das estrelas dacompanhia, como Tamara Karsavina,não havia notícia <strong>de</strong> alguma vez acompanhia ter sido filmada a actuar.Afinal foi.4 • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • Ípsilon


AGENDA CULTURAL FNACentrada livreAPRESENTAÇÃO MÚSICA AO VIVO LANÇAMENTO EXPOSIÇÃOLANÇAMENTOMUROS QUE NOS SEPARAMDetenção <strong>de</strong> requerentes <strong>de</strong> asilo e migrantesirregulares na União EuropeiaReflexão sobre os Direitos Humanos ligados à realida<strong>de</strong> das migrações contemporâneas e aos <strong>de</strong>safiosque estas colocam aos Estados e às socieda<strong>de</strong>s europeias.12.02. 17H00 FNAC CHIADO24.02. 18H30 FNAC COLOMBOLANÇAMENTOO TESOURO ESCONDIDOLivro <strong>de</strong> José Tolentino MendonçaPadre, ilustre int<strong>ele</strong>ctual e poeta, reflecte, nesta obra, acerca da arte da procura interior, mantendo ohabitual diálogo entre os valores do Cristianismo e a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>.16.02. 18H30 FNAC CHIADOMÚSICA AO VIVONOBODY'S BIZNESSIt's Everybody's Bizness NowAo fim <strong>de</strong> alguns anos a cantar e a tocar as suas canções preferidas pela noite lisboeta, a banda surgeagora com um disco que transmite a verda<strong>de</strong>ira essência do blues.12.02. 22H00 FNAC COIMBRA13.02. 17H00 FNAC LEIRIASHOPPING14.02. 18H30 FNAC COLOMBOMÚSICA AO VIVOCRISTINA BRAGAFeito um PeixeA harpista da Orquestra Sinfónica do Teatro <strong>Municipal</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro é responsável pela união harmoniosaentre a harpa e a música popular brasileira.16.02. 18H00 FNAC STA. CATARINA16.02. 22H00 FNAC NORTESHOPPING18.02. 18H00 FNAC CHIADO19.02. 21H30 FNAC COLOMBOEXPOSIÇÃOIN BETWEENFotografias <strong>de</strong> Fre<strong>de</strong>rico AzevedoNovo Talento FNAC Fotografia 2010, VencedorImagens que <strong>se</strong> caracterizam por fortes contrastes <strong>de</strong> luz e pela forma como os vários personagens sãofotografados <strong>de</strong> um modo em que a fealda<strong>de</strong> e a marginalida<strong>de</strong> assumem um carácter fascinante.17.01. - 17.03.<strong>2011</strong> FNAC CHIADOapoio:Consulte a AGENDA FNAC em:http://cultura.fnac.pt


Embalados porJamesBlakeAos 22 anos, o britânicoJames Blake, acaba <strong>de</strong>lançar um daqu<strong>ele</strong>s álbunsque po<strong>de</strong>m ficar comodocumento-sínte<strong>se</strong> <strong>de</strong> umperíodo da música popular.Será este <strong>som</strong> (esquelético,imperfeito, misto <strong>de</strong>composição clássica eprodução futurista) o <strong>som</strong><strong>de</strong> <strong>2011</strong>? E porque não?Vítor Belanciano6 • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • Ípsilon


James Blakecomeçou atocar pianoaos <strong>se</strong>is ano<strong>se</strong>, até ao fim daadolescência,eram Bach ouo jazz <strong>de</strong> ArtTatum que oatraíam - atéconhecer odubstepEstá a <strong>se</strong>r tudo muito rápido para JamesBlake, um inglês <strong>de</strong> 22 anos quehá um ano fazia música para si próprionum estúdio ca<strong>se</strong>iro e que agoratem o mundo <strong>de</strong> olhos postos em si.Está longe <strong>de</strong> <strong>se</strong>r uma história virgem.É talvez mesmo a narrativa maisantiga da cultura popular. Mas no <strong>se</strong>ucaso é um pouco estranho. Pela música.Algumas das canções possuemcaracterísticas reconhecíveis – umavoz vulnerável aqui, uma melodia cintilanteali, uma estrutura <strong>de</strong> cançãovisível acolá –, mas a estranheza levavantagem sobre a familiarida<strong>de</strong>.É música lacónica. Até as letras (“Idon’t know about my dreamsI don’t know about my love / Allthat I know is that I’m fallin, fallin,fallin”, canta, em “The wilhelm scream”)parecem rascunhos, suspensos,<strong>se</strong>m princípio nem fim preciso.Se existe aqui alguma fórmula <strong>de</strong>sucesso, é a primeira vez que ela <strong>se</strong>traduz num convite <strong>de</strong>clarado à introspecçãopaciente. O que temos noálbum <strong>de</strong> estreia <strong>de</strong>ste inglês é umacolecção <strong>de</strong> canções, algumas <strong>de</strong>lasadoptando um carácter clássico, mascanalizadas por <strong>se</strong>quenciadores e caixas<strong>de</strong> ritmo.Há muito espaço. Há silêncio. Háintensida<strong>de</strong>. Há solidão. Há cançõe<strong>se</strong> ruídos <strong>ele</strong>ctrónicos vogando no espaço,comandados por qualquer coisa<strong>de</strong> afectivo que nos faz aproximar<strong>de</strong> uma música que, à primeira, pareceimpenetrável. “Por um lado, nãopercebo nada <strong>de</strong>sta música. Por outrolado, sinto que esta música é incrível”,alguém escreveu no YouTube.Faz <strong>se</strong>ntido.Não é comum termos no mesmocorpo um produtor <strong>de</strong> sons que nãotem medo <strong>de</strong> experimentar e um cantorvulnerável, bajulado – e <strong>de</strong>testado,evi<strong>de</strong>ntemente, como é comum emcasos <strong>se</strong>melhantes <strong>de</strong> exposição precoce– por muita gente. Como escrevíamoshá duas <strong>se</strong>manas, na críticaao homónimo álbum <strong>de</strong> estreia, esteé daqu<strong>ele</strong>s registos capazes <strong>de</strong> potenciarememoções com o mínimo <strong>de</strong>movimentos – ritmo, alma, silêncio,um minimalismo inquieto, mas aindaassim <strong>ele</strong>gante, e uma voz frágil, adulteradadigitalmente, que suspen<strong>de</strong> os<strong>se</strong>ntidos.Mesmo a sua canção mais conhecida,“Limit to your love”, versão <strong>de</strong>um tema da canadiana Feist, não épropriamente fácil <strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r, misto<strong>de</strong> <strong>se</strong>nsibilida<strong>de</strong> clássica para pianoe voz, distorcida pela utilização doUma noite, JamesBlake entrou no clubelondrino FWD,em Brick Lane, e algomudou: “Senti-meenvolvido pela músicacomo nunca antesme acontecera”Ípsilon • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • 7


ComentárioO retratod<strong>ele</strong> tambémé o nossoO primeiro álbum <strong>de</strong> James Blake vem contaminadocom o carimbo <strong>de</strong> acontecimento. Para o bem e para o mal.batimento cardíaco digitalizado epelo <strong>som</strong> dos graves inspirado nodubstep, a linguagem urbana londrinaque tem dado que falar nos últimosanos num plano micro, e que no anopassado chegou ao gran<strong>de</strong> públicograças a James Blake, mas tambémaos Darkstar ou Magnetic Man.Composto, produzido e gravadointeiramente por Blake, o álbum apre<strong>se</strong>nta-<strong>se</strong>tal e qual foi feito no <strong>se</strong>uquarto. O músico recusou sugestões<strong>de</strong> editoras que o queriam regravarcom um produtor.O <strong>som</strong> <strong>de</strong> <strong>2011</strong>Será este então o <strong>som</strong> <strong>de</strong> <strong>2011</strong>? Esquelético,intimista, espaçoso, <strong>de</strong>sprotegido,imperfeito, com notas <strong>de</strong> pianosfúnebres e ligeiras pulsações <strong>ele</strong>ctrónicas<strong>de</strong> subgraves, misto <strong>de</strong> composiçãoclássica e produção futurista? Eporque não?James Blake nasceu em Enfield, noNorte <strong>de</strong> Londres, filho único <strong>de</strong> uma<strong>de</strong>signer gráfica e <strong>de</strong> um ex-músico,que prefere não i<strong>de</strong>ntificar, emboraa imprensa diga que é um músico <strong>de</strong><strong>se</strong>ssão chamado James Litherland.Cresceu a ouvir os discos dos pais, <strong>de</strong>música clássica, soul e funk, <strong>de</strong> StevieWon<strong>de</strong>r, Sly & The Family Stone ouD’Angelo.Mais tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>spontou o fascíniopela poesia <strong>de</strong> William Blake e pelascanções do americano Bonnie ‘Prince’Billy e, principalmente, <strong>de</strong> ArthurRus<strong>se</strong>ll, o já falecido músico americanoque combinou, nos anos 70 e 80,produção vanguardista e cultura pop,“É óptimo po<strong>de</strong>rmosutilizar a voz.Às vezes é a diferençaentre ter um tema<strong>de</strong>spersonalizadoe uma coisavisceralmente única”através da música disco.Aos <strong>se</strong>is anos, começou a tocar piano,antes <strong>de</strong> ter entrado numa escolaque dava especial atenção a criançascom talento. Até ao final da adolescência,era a música clássica <strong>de</strong> Bach,ou o jazz <strong>de</strong> Art Tatum e Erol Garner,que o atraíam, antes <strong>de</strong> entrar <strong>de</strong>finitivamenteno dubstep, <strong>som</strong> urbanoque <strong>se</strong> propagou há <strong>se</strong>is anos, sínte<strong>se</strong>mutante <strong>de</strong> batidas digitalizadas, efeito<strong>se</strong> <strong>ele</strong>mentos rítmicos do dub eambientes opacos sacudidos por subgraves.Ko<strong>de</strong>9, Burial ou Skream sãoalguns exemplos <strong>de</strong> um fenómenocom inúmeras ramificações.Aos 19 anos, James <strong>de</strong>scobriu odubstep. Frequentava, na altura, umcurso <strong>de</strong> música popular na Universida<strong>de</strong>Goldsmiths. Uma noite, entrouno clube londrino FWD, em Brick Lane,e algo mudou: “Senti-me envolvidopela música como nunca antes meacontecera”.Até ali a música <strong>ele</strong>ctrónica era umaenorme <strong>de</strong>sconhecida e todas as tentativas<strong>de</strong> utilizar a voz em composiçõesfeitas anteriormente o haviam<strong>de</strong>fraudado. “Sentia que não era aminha voz. Era o produto <strong>de</strong> tudoaquilo que ouvira antes.”Quando começou a criar temasdubstep, encontrou-<strong>se</strong>. Em vez <strong>de</strong>compor ao piano, optava agora pelocomputador, <strong>de</strong>tendo maior controlesobre o processo, limando arestas,enten<strong>de</strong>ndo as canções <strong>de</strong> outra forma.“Podia gravá-las e olhar para elasqua<strong>se</strong> fisicamente – graficamente – eescolher o que gostava ou não nelas.No passado podia escrever melodias,improvisar ao piano e até cantar, masnunca ficava satisfeito com o todo.Produzir com tecnologia permitiu-meaperfeiçoar, progressivamente, cadaum dos <strong>ele</strong>mentos.”Depois <strong>de</strong> ouvir uma faixa sua, “Untold”,um produtor <strong>de</strong> dubstep <strong>de</strong>cidiulançá-lo na sua editora, a Hemlock.A partir daí começou a <strong>se</strong>r notadona comunida<strong>de</strong> dubstep, apesar <strong>de</strong>aquilo que faz apenas sub-repticiamenteter a ver com es<strong>se</strong> fenóme-O computadorfoi<strong>de</strong>terminantepara Blake:“[Dantes]nunca ficavasatisfeito como todo.Produzir comtecnologiapermitiu-meaperfeiçoarcada um do<strong>se</strong>lementos”Aatenção que recaiusobre James Blakeestava anunciada.Um públicominoritário, afectoà cena dubstep e a publicaçõesdigitais, <strong>de</strong>scobriu-o na primeirameta<strong>de</strong> <strong>de</strong> 2010. Em Novembro,quando a canção “Limited to yourlove” entrou no circuito viral, jáestava escrito que iria <strong>se</strong>r um dosacontecimentos <strong>de</strong> <strong>2011</strong>.Como acontece qua<strong>se</strong> <strong>se</strong>mprenestes casos, quando existe<strong>de</strong>smesurada expectativa à voltada estreia <strong>de</strong> alguém que acaba<strong>de</strong> dar os primeiros passos, asposições polarizam-<strong>se</strong>. Há quem<strong>de</strong>fenda que existe muito barulhopor nada. E quem argumenteque a sua sonorida<strong>de</strong> é singular,capaz <strong>de</strong> fixar um momento dahistória da cultura popular emque cada vez mais a música éfeita em estúdios ca<strong>se</strong>iros porgente nova, que tem ganas <strong>de</strong>expressar a sua individualida<strong>de</strong>.Uma coisa é certa: nesta fa<strong>se</strong>,apesar <strong>de</strong> só agora terlançado o <strong>se</strong>uálbum <strong>de</strong>PortisheadGeoff Barrow foi cáusticocom James Blake,mas o que os Portisheadfizeram com o hip-hop não<strong>se</strong>rá da mesma or<strong>de</strong>m?estreia,a música<strong>de</strong> JamesBlake já não é analisada apenaspelo que é – <strong>som</strong> e abstração.Mas não é <strong>se</strong>mpre assim?Sim, romanticamente, muitoscontinuam a <strong>se</strong>parar a músicadas repre<strong>se</strong>ntações acerca <strong>de</strong>la.Mas <strong>se</strong>rá mesmo possível?Alguém admira um artista <strong>se</strong>mgostar do que <strong>ele</strong> repre<strong>se</strong>nta? Ou,inversamente: alguém <strong>se</strong> revênaquilo que <strong>de</strong>terminado grupoou artista repre<strong>se</strong>ntam <strong>se</strong>maprovar a sua música? Cada um<strong>de</strong> nós apontará a excepção paraesta regra.Mas não passará disso. Daexcepção que confirma a regra. Énaturalmente por isso que Blakeconvoca, neste período, tanto<strong>se</strong>ntusiasmos como antipatias,discutidos até à exaustão emjornais, re<strong>de</strong>s sociais, blogues oucaixas <strong>de</strong> comentários. E o que <strong>se</strong><strong>de</strong>bate?Música. Ou <strong>se</strong>ja, quem <strong>som</strong>os,o que queremos, on<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>se</strong>jamospertencer, o que pensamos sobrenós, os outros, o mundo.O gosto nunca é <strong>de</strong>sinteressado.Gostar ou não gostar <strong>de</strong> CélineDion, dos U2, <strong>de</strong> Kanye West,dos The xx ou <strong>de</strong> James Blake<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> <strong>se</strong>r apenas umaescolha estética. É também ética.É uma forma <strong>de</strong> dizermos quepertencemos a um mundo e nãoqueremos pertencer a outro.Discutamos.1. Ele já não é in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.Já não é novida<strong>de</strong>.Já não é nada.Apesar <strong>de</strong> não ter sucumbidoàs pressões das editoras que<strong>de</strong><strong>se</strong>javam regravar o <strong>se</strong>u álbum<strong>de</strong> estreia por causa do <strong>som</strong>rudimentar, há quem não perdoea James Blake ter optado por umamultinacional para distribuiçãodo <strong>se</strong>u álbum <strong>de</strong> estreia, em vez<strong>de</strong> uma pequena editora, comoaconteceu com os três EP <strong>de</strong>lançamento.É a incriminação clássica:ven<strong>de</strong>u-<strong>se</strong>! Uma acusação que,por norma, está ligada às origens.Não é por acaso que dizemos queas crianças são autênticas. Nessaida<strong>de</strong> tudo parece puro. Na músicaessa crença também está pre<strong>se</strong>nte.Recor<strong>de</strong>-<strong>se</strong> que Blake provém<strong>de</strong> uma cultura, o dubstep, queem gran<strong>de</strong> parte ainda está porafirmar junto do gran<strong>de</strong> público. Éuma realida<strong>de</strong> minoritária.O <strong>se</strong>u trajecto é o caso clássico<strong>de</strong> alguém que <strong>se</strong> inspira no <strong>se</strong>io<strong>de</strong> um idioma ainda por afirmar,<strong>de</strong>sconstruindo-o e, nes<strong>se</strong> gesto,chegando a um público plural.Normalmente é na <strong>se</strong>gunda outerceira vagas da afirmação <strong>de</strong> um<strong>de</strong>terminado género que surgemos casos <strong>de</strong> maior sucesso. Aquiloque <strong>se</strong> per<strong>de</strong> em autenticida<strong>de</strong>, no<strong>se</strong>ntido da <strong>de</strong>sconstrução <strong>de</strong> umarealida<strong>de</strong> fundada em qualquercoisa <strong>de</strong> genuíno, ganha-<strong>se</strong> emafirmação autoral e superaçãoestética.Ao longo da história da músicapopular os exemplos são inúmeros.Aconteceu com Bob Dylan e osblues. Com os Massive Attacke os Portishead com o hip-hop.Com os Buraka Som Sistema e okuduro. Agora com James Blake e odubstep. Não faltará quem alegueque a organicida<strong>de</strong> original <strong>de</strong>todas essas músicas <strong>se</strong> diluiu namão dos que chegaram em diferidoa essas linguagens, mas foramalguns <strong>de</strong>stes que contribuirampara a não cristalização <strong>de</strong>s<strong>se</strong>sidiomas.8 • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • Ípsilon


Por norma são acusados <strong>de</strong>ce<strong>de</strong>rem à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> canção, como <strong>se</strong>es<strong>se</strong> facto indicas<strong>se</strong> a capitulaçãoperante os mandamentos domercado. Ou como <strong>se</strong> a hipóte<strong>se</strong>exploratória apenas fos<strong>se</strong> possívelatravés <strong>de</strong> música instrumental.Numa mensagem <strong>de</strong>ixada no<strong>se</strong>u Twitter, Geoff Barrow dosPortishead, foi cáustico com JamesBlake – “<strong>se</strong>rá que esta década vai<strong>se</strong>r lembrada como os anos dodubstep mesclados com cantor <strong>de</strong>pub?” –, mas os ingle<strong>se</strong>s passarampor um processo <strong>se</strong>melhante. Ogrupo <strong>de</strong> Bristol con<strong>se</strong>guiu, com o<strong>se</strong>u álbum inaugural, con<strong>de</strong>nsaro passado recente das músicasurbanas (em particular o hip-hop) eprenunciar o <strong>se</strong>u futuro (o pós-hiphop,ou trip-hop, <strong>se</strong> qui<strong>se</strong>rmos).O movimento é em tudo<strong>se</strong>melhante ao <strong>de</strong> Blake. Depoisdo sucesso inicial, também osPortishead foram acusados pormuitos <strong>de</strong> a sua música <strong>se</strong> tertornado <strong>som</strong> <strong>de</strong> fundo para hotéis<strong>de</strong> charme. Como já aconteceu comos The xx. Como é provável quevenha a suce<strong>de</strong>r com Blake. Mas épossível contrariar es<strong>se</strong> facto?2. Diz-me o que ouves,dir-te-ei quem és.Há 20 anos, o britânico SimonFrith, estudioso dos fenómenosda cultura popular, dizia a quem oqueria ouvir que estudar músicapop era a melhor forma <strong>de</strong> ace<strong>de</strong>rao mais profundo <strong>de</strong> cada um.Era uma provocação, mas comum pressuposto que faz <strong>se</strong>ntido.Quando falam sobre assuntos que,aparentemente, não as colocamem causa (música, filmes, futebolou cozinha), as pessoas não <strong>se</strong><strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m. São menos cuidadosascom a forma como <strong>se</strong> apre<strong>se</strong>ntamaos outros. Logo, expõem-<strong>se</strong> mais.Revelam-<strong>se</strong>. Como nos sonhos. Não<strong>se</strong> censuram.Quando afirmamos quegostamos ou não <strong>de</strong> algo, o queestamos realmente a dizer <strong>de</strong> nós,do nosso percurso e do ambienteque nos ro<strong>de</strong>ia e para quem?Diz-me o que ouves, dir-te-eiquem és. É verda<strong>de</strong> que essaequação é cada vez mais difícil<strong>de</strong> concretizar. As audiênciasfragmentaram-<strong>se</strong>. Os consumostambém. Ouve-<strong>se</strong> música dosmais diversos géneros, dasmais distintas épocas. Nunca <strong>se</strong>partilhou tanta música e nuncacomo hoje tantos <strong>se</strong> <strong>se</strong>ntiram comcapacida<strong>de</strong> para opinar sobre ela.O que acaba por gerar tambémum efeito <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>sgaste. Hámais gente a procurar novida<strong>de</strong>s.Há mais <strong>de</strong>scobertas. Mas também<strong>se</strong> diluem mais e cansamo-nos<strong>de</strong>las <strong>de</strong> forma mais rápida. Oscaçadores <strong>de</strong> novida<strong>de</strong>s nuncaestão satisfeitos com o que existe.Para es<strong>se</strong>s, James Blake já era,O trajecto <strong>de</strong> Blakeé o o caso clássico<strong>de</strong> alguém que <strong>se</strong>inspira num idiomaainda por afirmar(o dubstep),<strong>de</strong>sconstruindo-o e,nes<strong>se</strong> gesto, chegandoa um público pluralBob DylanDeitou a per<strong>de</strong>r os bluesou salvou-os do gueto?É uma discussão igual à que<strong>se</strong> tem sobre Blake e o que<strong>ele</strong> fez ao dubstepantes<strong>de</strong> <strong>se</strong>r.Paraalguns, Blake,rapaz <strong>ele</strong>gante,<strong>de</strong> voz frágil, é um fenómenofabricado. Mas não <strong>se</strong>rá toda aarte, <strong>se</strong>ja ela qual for, construção?“Em vez <strong>de</strong> dizermos queCéline Dion é um fenómenofabricado, não <strong>se</strong>rá maiscorrecto afirmar que não nosreconhecemos na forma como <strong>se</strong>encena?”, interrogava o jornalistacultural canadiano Carl Wilson,que escreveu um livro sobre acanadiana, tentando percebercomo é que uma das cantorasque mais ven<strong>de</strong> discos nomundo é também uma das mais<strong>de</strong>testadas.Em casos como o <strong>de</strong> Blake,ampliados pelos “media” ànascença, contaminados, para obem e para o mal, com o carimbo<strong>de</strong> acontecimento, nem <strong>se</strong>mpreé fácil ter uma perspectivaaberta. Nem <strong>se</strong>mpre é fácilevitar distinções maniqueístas,arriscando e estab<strong>ele</strong>cendonovas relações entre as coisas.Não é difícil perceber porquê.Ao fazê-lo, po<strong>de</strong>mos pôr-nos emcausa e ninguém gosta disso.Seja por Céline Dion ou porJames Blake.V.B.The xx“Os The xx têm umaaudiência mista, ‘indie<strong>ele</strong>ctrónica’,que acabapor <strong>se</strong>r importante paraa minha aceitação”FÉRIAS DECARNAVALPensadas para os mais novos, estas oficinas preten<strong>de</strong>m <strong>se</strong>nsibilizar,através das colecções do mu<strong>se</strong>u, para as diferentes culturas orientais.7 e 9 MARÇOBIOMBOS INDISCRETOSHorário: 10.00 às 13.00 e 14.30 às 18.00Biombos que revelam encontros! Só po<strong>de</strong>m <strong>se</strong>r indiscretos! Mas é graças a <strong>ele</strong>s que hojepo<strong>de</strong>mos, na nossa imaginação, rumar até ao Japão para <strong>de</strong>scobrir como foi o encontroentre Portugue<strong>se</strong>s e Japone<strong>se</strong>s no século XVI. Tendo por ba<strong>se</strong> o livro O Mercador <strong>de</strong>Palavras <strong>de</strong> Orlando João Ferreira, também nós <strong>se</strong>remos testemunhas <strong>de</strong> um encontro<strong>de</strong> amigos que o mar juntou. No final, um biombo teremos <strong>de</strong> construir.Necessária marcação até 28 <strong>de</strong> FevereiroTel.: 213 585 299 | E-mail: <strong>se</strong>rvico.educativo@foriente.pt | www.mu<strong>se</strong>udooriente.ptO INSTITUTO CERVANTES É A INSTITUIÇÃOCRIADA POR ESPANHA EM 1991 PARA A DIFUSÃODO ESPANHOL E DA CULTURA.CURSOS DEESPANHOL <strong>2011</strong>INSCRIÇÕES PARA OS CURSOSA PARTIR DE 1 DE FEVEREIROQUADRIMESTRAIS GERAIS(TODOS OS NÍVEIS) - 60 HORAS21 <strong>de</strong> Fevereiro a 27 <strong>de</strong> JunhoCURSOS DE PREPARAÇÃO PARA A UNIVERSIDADE60 HORAS21 <strong>de</strong> Fevereiro a 27 <strong>de</strong> JunhoHorário <strong>de</strong> Secretaria:2ª a 5ª das 09:00h às 17:45h e 6ª das 09:30h às 14:00hPara mais informações sobre os cursos, horários, preços e provas <strong>de</strong> nível, consultar:Tel.: 213 105 032/38/27E-mail: aclis1@cervantes.es I aclis2@cervantes.es I aclis3@cervantes.eshttp://lisboa.cervantes.esDEPARTAMENTO CULTURALTel.: 213 105 031 I E-mail: cultlis1@cervantes.esBIBLIOTECATel.: 213 105 023 I E-mail: biblis1@cervantes.esHorário: 2ª a 5ª das 11:00h às 19:00h I 6ª das 11:00h às 15:00hCONTACTOS GERAISRua <strong>de</strong> Santa Marta, 43 F, r/c, 1169-119 <strong>Lisboa</strong>Tel.: 213 105 020 I Fax: 213 152 299 I http://lisboa.cervantes.es<strong>de</strong>sign: www.formasdopossivel.comÍpsilon • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • 9


Des<strong>de</strong> que o <strong>se</strong>uálbum foi lançado,precisamente esta<strong>se</strong>mana, a cotação<strong>de</strong> James Blakeno mercado não pára<strong>de</strong> aumentar, mas issonão parece preocupálo:“Esta atenção pod<strong>ele</strong>var-me ao paraíso,mas tambémconduzir-meao inferno”Em JamesBlake, aestranhezalevavantagemsobre afamiliarida<strong>de</strong>:o álbum <strong>de</strong>estreia é umconvite àintrospecção,cheio <strong>de</strong>silêncio e <strong>de</strong>solidão, que àprimeirapareceimpenetrávelno. “No início tentava soar como osDigital Mystikz, que ouvia com insistência,mas agora oiço o que fiz e nãosinto que tenha muito a ver, para alémdos aspectos rítmicos”, confessa.A verda<strong>de</strong> é que foi adoptado pelacomunida<strong>de</strong> dubstep <strong>de</strong> Londres, fazendoremisturas (Snoop Dogg ou Lil’Wayne) com a <strong>de</strong>signação Harmonimixe integrando os Mount Kimbienos espectáculos ao vivo.Depois viriam os três primeiros EPspara editoras conotadas com o género(Hemlock, Hes<strong>se</strong>l e R&S). Mesmo“Limit to your love” foi concebida apensar nos clubes <strong>de</strong> dança – “puxeipela linha <strong>de</strong> baixo a pensar nisso” –,apesar da nu<strong>de</strong>z que atravessa a ção. “O dubstep tem tudo: ritmo, <strong>de</strong>signsonoro, emoção”, diz.Há dois nomes que ajudam a expli-cancaro interes<strong>se</strong> que suscita: Burial eos The xx. Com dois álbuns lançados(“Burial”, <strong>de</strong> 2006, e “Untrue”, <strong>de</strong>2007), o inglês Burial tornou-<strong>se</strong> ummicro-fenómeno <strong>de</strong> culto, através <strong>de</strong>um <strong>som</strong> fantasmagórico, feito <strong>de</strong> indícios,espectros do dub, superfíciesamplas e fragmentos <strong>de</strong> vozes que <strong>se</strong>diluem entre camadas adas <strong>de</strong> <strong>som</strong> queparecem vindas <strong>de</strong> paragens muitolongínquas.O primeiro a anunciar nciar uma realida<strong>de</strong>in<strong>de</strong>finível que, à falta <strong>de</strong> melhor<strong>de</strong>signação, acabou por <strong>se</strong>r <strong>de</strong>finidacomo pós-dubstep p foi Burial. Emalguma da melhor música editadano ano passado (How To DressWell, Forest Swords, Mount Kim-bie, Balam Acab, Jamie Woon)essa <strong>de</strong>scendência pres<strong>se</strong>ntia-<strong>se</strong>.E James Blake não constituía excepção.Todos <strong>ele</strong>s <strong>se</strong> situam,algures, entre a pop p futurista ea i<strong>de</strong>ia clássica do autor <strong>de</strong> ções, apostando na escuta do-canméstica,estando mais sados em gerar ambientes e<strong>se</strong>nsações do que agitaçõesdançantes.interes-Burial e, principalmente, osThe xx, quando há dois anoslançaram o álbum homónimo,abriram caminho para a da em cena <strong>de</strong> Blake.Há algumas <strong>se</strong>melhança<strong>se</strong>ntre os três, na forma comoencaram noções como espaçoentra-e tempo e organizam <strong>de</strong> formaenxuta as emoções, mas é maisdo que isso: “Os The xx têmuma audiência mista, ‘indie<strong>ele</strong>ctrónica’,que acaba por <strong>se</strong>rimportante para a minha aceitação”,reflecte.“Foi através d<strong>ele</strong>s es que muitoscomeçaram a ouvir musica <strong>ele</strong>ctrónicapausada e ampla e isso abriunovos caminhos. Através d<strong>ele</strong>s a nha música tornou-<strong>se</strong> mais aceitável.O tipo <strong>de</strong> produção d<strong>ele</strong>s é muito mi-‘do-it-your<strong>se</strong>lf’. Na minha música também,ou na dos Mount Kimbie, ma<strong>se</strong>les fizeram-no primeiro.”O piropo é <strong>de</strong>volvido pelos The xx,através <strong>de</strong> Jamie xx, que tem vindo acimentar a sua posição a solo na culturabass britânica – algo que vai <strong>se</strong>rfortalecido a 21 <strong>de</strong> Fevereiro quandofor lançado o <strong>se</strong>u exc<strong>ele</strong>nte álbum“We’ re New Here”, com versões <strong>de</strong>Gil Scott-Heron. “Conhecemo-nos todos,eu, James Blake, Mount Kimbie,Ramadanman ou Joy Orbinson, erevejo-me completamente na músicaque todos <strong>ele</strong>s fazem. Há uma série<strong>de</strong> produtores em Brixton, para on<strong>de</strong>me mu<strong>de</strong>i, e acaba por <strong>se</strong>r uma espécie<strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>” diz <strong>ele</strong>.Se do ponto <strong>de</strong> vista sónico, apesarda singularida<strong>de</strong> do <strong>se</strong>u <strong>som</strong>, <strong>se</strong> con<strong>se</strong>guediscernir uma linha <strong>de</strong> acção,quando <strong>se</strong> tentam encontrar paralelismosvocais com Blake enunciam-<strong>se</strong>nomes tão diferentes como o <strong>de</strong> Antonyou David Sylvian. Mas, nes<strong>se</strong>plano, uma das influências confessasdo <strong>se</strong>u álbum <strong>de</strong> estreia, que apenasouvidos testados perceberão, são osOutKast, duo americano <strong>de</strong> rap quemarcou a década passada com algunsdos discos mais aventureiros do género:“São uma enorme influência.A sua aproximação à produção é tãolivre. Existe qualquer coisa na formacomo a voz funciona com a músicaque me inspirou a libertar a minhaprópria voz”, diz James Blake. Issoaconteceu há poucos me<strong>se</strong>s. Ante<strong>se</strong>ra um cantor relutante.Aliás, em comparação com os trêsanteriores EPs, a gran<strong>de</strong> diferençaque o <strong>se</strong>u álbum <strong>de</strong> estreia transportaé essa. A reinvenção é acima <strong>de</strong>tudo vocal. On<strong>de</strong> antes a voz era utilizadaapenas como mais um <strong>ele</strong>mentona construção da arquitectura sonora,agora ganha lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque,mostrando-<strong>se</strong> límpida ou manipulada.“É óptimo po<strong>de</strong>rmos utilizar avoz. Às vezes é a diferença entre terum tema <strong>de</strong>spersonalizado e umacoisa visceralmente única.”Depois das canções e do crescendo<strong>de</strong> interes<strong>se</strong> à sua volta, só faltavamesmo o ex-DJ apre<strong>se</strong>ntar-<strong>se</strong> ao vivo.E é isso que tem acontecido ocasionalmente<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do ano: <strong>ele</strong>no piano, nos teclados e na voz, fazendo-<strong>se</strong>acompanhar <strong>de</strong> um baterista e<strong>de</strong> um guitarrista. O silêncio, no palcocomo em estúdio, joga um papel fundamentalnas apre<strong>se</strong>ntações ao vivo:“Gosto <strong>de</strong> ouvir o ranger das ca<strong>de</strong>iras.Gosto <strong>de</strong> <strong>se</strong>ntir a tensão e o prazer queo silêncio provoca quando estamosnuma sala com outras pessoas”.Há uma coisa que parece certa.Des<strong>de</strong> que o <strong>se</strong>u álbum <strong>de</strong> estreia foilançado, precisamente esta <strong>se</strong>mana,a sua cotação no mercado <strong>de</strong>ve teraumentado consi<strong>de</strong>ravelmente. Masisso não parece preocupá-lo. “Estaatenção po<strong>de</strong> levar-me ao paraíso,mas também conduzir-me ao inferno.”Para já é nas nuvens que <strong>ele</strong> está.Ele e quem <strong>se</strong> <strong>de</strong>ixar embalar pelasua música.Citações: “The Guardian”, “Fact”,“Clash”, “Pitchfork”, “BBC” e “Fa<strong>de</strong>r”10 • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • Ípsilon


ESCOLA DE PÓS-GRADUAÇÃOE FORMAÇÃO AVANÇADAFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências HumanasPós-Graduação em:Docentes especialistasinternacionaisFormação Avançada em:e Negócio DigitalEscola <strong>de</strong> Pós-Graduação e Formação AvançadaH<strong>ele</strong>na Eça - 217214060 - h<strong>ele</strong>na.eca@fch.lisboa.ucp.ptwww.fch.lisboa.ucp.pt


Não há volta a dar: Polly Jean Harvey,tombe que <strong>se</strong> confirmou quandoasmúsica inglesa <strong>de</strong> 42 anos que há quafaixascomeçaram a aparecer aqui e<strong>se</strong> duas décadas exp<strong>ele</strong> <strong>de</strong>móniosali: “Let England Shake” é daqu<strong>ele</strong>spela garganta, alcançou aqu<strong>ele</strong> esta-títulos que só <strong>se</strong> dá ou quando <strong>se</strong>étuto em que o simples facto <strong>de</strong> lançarmuito novo e <strong>se</strong> tem a arrogância doum disco é, já <strong>de</strong> si, notícia.mundo ou quando <strong>se</strong> sabe ter umaIsto é feito apenas ao alcance dospequena bomba nas mãos ou quandoque fizeram discos que <strong>de</strong>ixaram mar-<strong>se</strong> tem suficiente peso para fingir quecas na p<strong>ele</strong> a quem os ouviu, dos que<strong>se</strong> tem uma bomba nas mãos.ofereceram a carne à musa em trocaO que quer que tenha passado pelado talento, mas também dos que so-cabeça <strong>de</strong> Polly Jean nestes últimosbreviveram, dos que perceberam quequatro anos, foi suficiente para a levarum dia a fúria ir-<strong>se</strong>-ia e só restaria oa escrever um disco <strong>de</strong> acento políti-talento e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ob<strong>se</strong>rva-co – embora a palavra “política” tenhação.hoje uma conotação simplória quan-Foi isso que valeu a miss Harvey.do a sua raiz é bem mais complexaEm 2004, aquando <strong>de</strong> “Uh Huh(“como organizar isto”).Her”, o <strong>se</strong>u <strong>se</strong>gundo disco lhado con<strong>se</strong>cutivo (após o péssi-naco <strong>de</strong> carne (ou um intruso) a im-mo“Stories From The Cityprensa britânica atirou-<strong>se</strong> ao disco emStories From The Sea”, 2000),abundantes laudas, <strong>se</strong>guiu com babaa mulher que <strong>de</strong>u cabo da cabeçapelo queixo cada canção que ia <strong>se</strong>ndoao <strong>se</strong>nhor Nick Cave podia <strong>se</strong>r dada,lançada neste ou naqu<strong>ele</strong> site, <strong>de</strong>su-emtermos artísticos, como legal-nhou-<strong>se</strong> em interpretações sobre ca-mente morta: não havia cora-da palavra da musa sobre a pátriaçãoa bater naquelas can-mãe.fa-Como cães esfomeados perante umções.Curiosamente, nada disto interessa.sa.A morte <strong>se</strong>rviu-lhe, por-Sejamos claros: nunca nenhuma can-que “White Chalk”, o dis-ção fez uma revolução. As cançõesco <strong>se</strong>guinte, <strong>de</strong> 2007, pa-po<strong>de</strong>m acompanhar e incitar a mureciauma as<strong>som</strong>braçãodanças, mas por si mesmas não criamao piano, um punhado <strong>de</strong>movimentos sociais <strong>de</strong> massas. E nãocanções <strong>de</strong> embalar tétri-há um único disco que sirva <strong>de</strong> trata-ta-cas. Quem andava conten-do político, por mais brilhante queate com a Polly Jean dasmente que o gizou <strong>se</strong>ja – governar im-mini-saias <strong>se</strong>mi-rockei-plica mais que juntar rimas em trêsra<strong>de</strong>ve ter ficado ata-minutos.zanado: quando a moçaparecia domada,Olhar para elaeis que resolve rar r às malvas opara quem não nasceu na velha, <strong>de</strong>-conforto em que aca<strong>de</strong>nte e sobrevalorizada ilha (e está-sua música tinha<strong>se</strong> a borrifar para <strong>ele</strong>s) é a confirma-caído.ção <strong>de</strong> uma terceira vida na carreiraVoltava a não ha-<strong>de</strong> Polly Jean, tão fascinante quantover um “<strong>som</strong> PJas duas anteriores: a Polly Jean pati-Harvey”. Voltava anho feio dos primeiros discos, quehaver PJ Harvey.punha intestinos cá fora, <strong>de</strong>u lugaràPortanto não ad-Polly Jean “femme fatale” e experi-erimiraque tenhamentalista, que havia sorvido o me-havido barulho aolhor da música popular e brincavaa asaber-<strong>se</strong> que Har-<strong>se</strong>r mulher e esta, agora, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>vey ia voltar a sairdois discos irritantes, dá lugar a umada toca, quatromulher por inteiro.anos <strong>de</strong>pois.Talvez por isso, mais que estaraati-O que “Let England Shake” marcaMas quando odiscutir as eventuais lições políticasnome do discoque miss Harvey tenha para nos ofe-saltou cá pararecer, propu<strong>se</strong>mos-lhe o oposto: olharfora houve umpara ela. E ela, sabida, fugiu por todosprenúncio <strong>de</strong>os lados.heca-Polly Jean tem tiques que lembramum rapazinho. Isto não é alusão à am-biguida<strong>de</strong> <strong>se</strong>xual com que ela surgiuem 1992, com o magnífico “Dry”, an-tes uma constantação: <strong>se</strong>ndo pornorma bastante pon<strong>de</strong>radada emcadaresposta, ganha um entu-siasmojuvenilesco escoe va-gamente totótóquando <strong>se</strong> põea falar <strong>de</strong>música,<strong>de</strong> co-mo faz música, <strong>de</strong> como trabalha o<strong>som</strong>.Começa a notar-<strong>se</strong> uma mudança<strong>de</strong> tomquando explica que “<strong>de</strong>s<strong>de</strong> oinício sabia que tinha <strong>de</strong> encontrarum <strong>som</strong> único”, ganha entusiasmoquando afirma que “não queria quesoas<strong>se</strong> a nada <strong>de</strong> específico nem a nin-guém em concreto” e torna-<strong>se</strong> <strong>de</strong>finitivamenteadolescente quando entrapelo território musical a<strong>de</strong>ntro: “Não<strong>se</strong>i <strong>se</strong> notou, mas u<strong>se</strong>i muito a auto-harp [espécie <strong>de</strong> mini-harpa], que temum <strong>som</strong> distinto”. Dito isto, resolveuexplicar as virtu<strong>de</strong>s da auto-harp, o<strong>se</strong>u efeito <strong>de</strong> bordão – <strong>se</strong> não a <strong>de</strong>di-lharmos ganha uma espécie <strong>de</strong> cama-da <strong>de</strong> harmónicos que qua<strong>se</strong> cobre asmudanças <strong>de</strong> acor<strong>de</strong>s. Polly Jean pa-rece terum certo amor a per<strong>de</strong>r-<strong>se</strong>na <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> instrumentos queconsi<strong>de</strong>ra esquisitos. A dada alturadiz: “U<strong>se</strong>i instrumentos que <strong>se</strong> adap-tas<strong>se</strong>m às letras. Por isso tambémqueria muitos efeitos, para transfor-mar o <strong>som</strong>”. E assim parte para novadivagação acerca <strong>de</strong> efeitos e comogravar efeitos e a função dos efeitos.Por mais aborrecido que isto pare-ça, existe algo a retirar daqui: a noção<strong>de</strong> quenas entrelinhas <strong>de</strong> cada notatocada há um “efeito” emocional que<strong>se</strong> quercriar, isto é, que mais que es-tar em jogo uma <strong>se</strong>quência <strong>de</strong> nota<strong>se</strong>stá em jogo a forma como <strong>se</strong> apre-<strong>se</strong>nta essa <strong>se</strong>quência <strong>de</strong> notas. Por-tanto: teatro. Algo que está pre<strong>se</strong>nte<strong>de</strong> forma explícita na carreira <strong>de</strong> PollyJean <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o soberbo “To Bring YouMy Love”, algo que ela refinara em1997 quando fez uma tremenda ver-são <strong>de</strong> “Soldier’s Wife”, <strong>de</strong> Kurt Weill,acompanhada <strong>de</strong> magnífica coreogra-fia.A hipóte<strong>se</strong> posta era simples: algu-res no caminho Polly Jean <strong>de</strong>ixou acatar<strong>se</strong> biográfica e começou a ence-nar – aqui a encenar-<strong>se</strong> a si própria,ali a encenar outros.“Há uma tendência das pessoas pa-ra acharem que tudo um compositorfaz é autobiografia”, diz, no <strong>se</strong>u jeitolento <strong>de</strong>falar, como quem caminhasobre um território <strong>de</strong> minas e temeficar <strong>se</strong>m uma perna. “Isso é-me es-tranho porque antes <strong>de</strong> mais vejo-mecomo escritora”. Há uma ligeira pau-sa e podíamos jurar ter notado na suavoz <strong>de</strong> menina – voz tremendamentefrágil que nos faz pensar como é pos-sível sair tanta raiva daquela caixatoráxica – e ela diz: “O que faço é tra-balhar uma ficção. Uso personagenspara <strong>de</strong>screver uma acção”.Seja ou não verda<strong>de</strong>, este é um pon-to importante para Polly Jean: afir-mar-<strong>se</strong> como escritora. Está pre<strong>se</strong>nteem várias das suas fra<strong>se</strong>s. “Há poucoestava a falar <strong>de</strong> como trabalho o <strong>som</strong>.Bem, es<strong>se</strong> lado só vem <strong>de</strong>pois. Antes<strong>de</strong>maissou uma escritora”. Ou então:“A razão pela qual o disco é variadoem termos sonoros, pela qual a mú-Polly Jean Harvey quer saber o que é esta coisa <strong>de</strong>estar vivo“Let England Shake” é, supostamente, um disco político que <strong>de</strong>ixouos ingle<strong>se</strong>s a coçar a cabeça. Mas para ela é trabalho como <strong>se</strong>mpre, é uma escritorae faz o que os escritores fazem: criar personagens. João Bonifácio12 • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • Ípsilon


“Há uma tendênciadas pessoas paraacharem que tudoum compositor fazé autobiografico. Issoé-me estranho porqueantes <strong>de</strong> mais vejo-mecomo escritora”sica tem muita energia e é inspiradora,é que as palavras são muito pesadas”.Realça o <strong>se</strong>u lado <strong>de</strong> <strong>de</strong>miurga objectivaolhando para trás: “Não achoque tenha mudado com ‘To Bring YouMy Love’. Sempre criei uma dimensãoteatral, <strong>se</strong>mpre criei personagens paraas canções. Isso <strong>se</strong>mpre lá esteve”.E como <strong>se</strong> a i<strong>de</strong>ia ainda não estives<strong>se</strong>explícita, a fra<strong>se</strong> <strong>se</strong>guinte começacom “Como escritora”: “Como escritoratenho <strong>de</strong> habitar as personagens,imaginar diferentes vidas, encontrarângulos diferentes”. A fra<strong>se</strong> <strong>se</strong>guinteé ainda mais reveladora: “Usar a imaginaçãoé o nosso trabalho”.Podíamos partir do princípio queaqu<strong>ele</strong> “nosso” era Polly Jean a pôr-<strong>se</strong>em bicos <strong>de</strong> pés, mas <strong>se</strong> nos ativermosao tom <strong>de</strong> humilda<strong>de</strong> que ela usa qua<strong>se</strong><strong>se</strong>mpre (ou <strong>de</strong> susto, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> dainterpretação <strong>de</strong> cada um) mais <strong>se</strong>diria correspon<strong>de</strong>r a uma diluição:ela é uma escritora entre milhares <strong>de</strong>escritores e o que os escritores fazemé criar. “Não tomei uma <strong>de</strong>cisão consciente<strong>de</strong> <strong>se</strong>r teatral, nem <strong>de</strong>scobriessa dimensão em ninguém, isso vem<strong>de</strong> raiz, está na géne<strong>se</strong> do trabalho”.Arruma o assunto <strong>de</strong> forma curiosa.“Na prática isto é uma coisa simplesque <strong>se</strong>mpre foi feita: questionar o queé isso <strong>de</strong> estar vivo, numa época, nummomento”. Depois acrescenta: “Esperoque isto não soe <strong>de</strong>masiado arrogante.Apenas tento resolver questõesque me coloco. Ou não as resolver”.De acordo com miss Harvey é estaa razão pela qual <strong>de</strong>mora tanto a es-“Let England crever um novoShake”disco a solo.confirma uma “Com o passardo tempoterceira vidana carreira estu<strong>de</strong>i mais<strong>de</strong> Polly Jean: e mais. No<strong>de</strong>pois doque toca a fazerdiscos hápatinho feiodos primeirosdiscos que é <strong>de</strong> estu-uma partee da “femme do, <strong>de</strong> investigação.Natural-fatale” eexperimentalista,disco é necessáriamente com cadauma mulher muita pesquisa parafazer um trabalhopor inteirofortel, para o tornar coerente.E isto leva tempo”.(Ainda e <strong>se</strong>mpre à procura <strong>de</strong>uma nesga biográfica, perguntamoslhe<strong>se</strong> a toda essa investigação correspon<strong>de</strong>uma tendência para a ob<strong>se</strong>ssão.Harvey ludibria-nos mais<strong>de</strong>pressa que Messi na Playstation<strong>de</strong> um puto anti-social: “Não pensoque isso faça <strong>de</strong> mim mais ou menosob<strong>se</strong>ssiva que qualquer outra pessoa– é o que o trabalho precisa para <strong>se</strong>rbem feito e é isso que eu faço”. Tomalá que é para apren<strong>de</strong>res, pá.)É curioso verificar como o discurso<strong>de</strong> Harvey sobre o <strong>se</strong>u trabalho éhoje próximo do ex-namorado NickCave: <strong>ele</strong> tem um escritório on<strong>de</strong>trabalha das nove às cinco, ela dizque trabalha “todos os dias, com umhorário, como toda a gente”. “Nãovejo gran<strong>de</strong> diferença entre o queeu faço e ter um emprego normal”.Também não vê qualquer diferençaentre o <strong>se</strong>u método e o <strong>de</strong> umromancista. “O que faço é escrever,e alguns <strong>de</strong>s<strong>se</strong>s poemas chegam acanções. Outros ficam para trás”,atira, naqu<strong>ele</strong> tom <strong>de</strong> quem tem umpé fora da porta para po<strong>de</strong>r fugir aqualquer momento.Já a notar que a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> falar doconteúdo político do disco teria <strong>de</strong>ficar para outro dia, perguntámoslhecomo é que <strong>se</strong> dá es<strong>se</strong> processo<strong>de</strong> escolha dos textos que acabamem canção ou não. “Todos os escritorestêm uma linha que traçam eoptam por <strong>de</strong>ixar textos por publicar.Por questões <strong>de</strong> discrição oupudor ou exposição. Há coisas quenão publico ou então que <strong>de</strong>struo,mesmo. Bem, só <strong>de</strong>struo quando émau”.Esta quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> palavras <strong>se</strong>guidasé, para Harvey, uma coisaimensa. O monólogo acaba numafra<strong>se</strong> sintomática: “Se um texto for<strong>de</strong>masiado rente ao osso aí o quelhe faço <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> – <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>se</strong> é sobremim ou sobre os outros”. É umai<strong>de</strong>ia que tem <strong>de</strong> <strong>se</strong>r lida à luz do queela <strong>se</strong>mpre afirmou sobre as suascanções: nenhuma era sobre umapessoa em concreto, i<strong>de</strong>ia que repisouaquando da <strong>se</strong>paração <strong>de</strong> NickCave (que pelo contrário fez <strong>de</strong>“Boatman’s Call” toda uma ladainha<strong>de</strong> sauda<strong>de</strong> em louvor à moça).“Sempre adorei os artistas quecontinuam a experimentar, <strong>se</strong>jamescritores <strong>se</strong>jam músicos. Respeitoimenso pessoas como Neil Young eBjörk – ela anda <strong>se</strong>mpre para a frente,não há nostalgia com ela”.E com Polly Jean, há lugar a nostalgias?“Ouço os meus discos antigosmuito poucas vezes. Dou-lhesvalor, não renego o que fiz, há coisasque gosto muito, mas interessa-memais o agora, o que posso fazer a<strong>se</strong>guir ou o que estou a <strong>de</strong>scobrir nomomento. Quando está feito é passado”.A isto chama-<strong>se</strong> clas<strong>se</strong>.Ver crítica <strong>de</strong> discos págs. 32 e <strong>se</strong>gs.QUI 17 FEV22:00 SALA 2 | € 10CRISTINA BRAGACristina Braga tem con<strong>se</strong>guido realizar com gran<strong>de</strong>êxito o casamento entre a harpa e a música popularbrasileira. i Membro da Orquestra Sinfónica doTheatro <strong>Municipal</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> asprimeiras colaborações com Nara Leão e o Quartetoem Cy não cessou <strong>de</strong> levar a harpa para os caminhosdo samba, da bossa e do choro. O <strong>se</strong>u último álbum,Feito Um Peixe, on<strong>de</strong> surge também como cantora,inclui temas da sua autoria e hinos da músicabrasileira como “In<strong>se</strong>nsatez” e “Brasileirinho”.MECENAS CASA DA MÚSICACristina Bragaharpa/vozRicardo Me<strong>de</strong>irosbaixo acústicoSílvio FrancobateriaAPOIO INSTITUCIONALMECENAS PRINCIPAL CASA DA MÚSICASEJA UM DOS PRIMEIROS A APRESENTAR HOJE ESTE JORNAL COMPLETO NA CASA DA MÚSICA E GANHE UM CONVITE DUPLO PARAESTE CONCERTO. OFERTA LIMITADA AOS PRIMEIROS 10 LEITORES E VÁLIDA APENAS PARA UM CONVITE POR JORNAL.www.casadamusica.com | www.casadamusica.tv | T 220 120 220Ípsilon • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • 13


A maldição <strong>de</strong> Woo<strong>de</strong>n Wandé a nossa bênção“Death Seat” é o álbum <strong>de</strong> um cultor da tradição americana que recua a Hank Williams, Cashou Dylan para cantar o que existe para além da “dicotomia luz e escuridão”. James JacksonToth, uma inspiradíssima as<strong>som</strong>bração. Hoje em Estarreja, amanhã em <strong>Lisboa</strong>. Mário LopesJames Jackson Toth nasceu em NovaIorque mas vive em Murfreesboro, noTennes<strong>se</strong>e, cida<strong>de</strong> com Nashville nasproximida<strong>de</strong>s. Diz <strong>se</strong>r o cantautor dacida<strong>de</strong> – e aprecia a condição. Em Murfreesboro,ao contrário do que aconteceem Brooklyn, não corre o risco<strong>de</strong> entrar na mercearia e <strong>se</strong>r recebidopelo homem na caixa com uma pergunta:“E tu, em que banda estás?” –em Brooklyn “tudo parece competiçãoe não penso que um artista consigatrabalhar nes<strong>se</strong> ambiente.”Em Murfreesboro, o homem queassina como Woo<strong>de</strong>n o<strong>de</strong>n Wand,que foiconstruindo uma carreira nas margensda folk, primeiro <strong>de</strong>sviada paraterra <strong>de</strong> <strong>de</strong>lícias psicadélicas, as, <strong>de</strong>poisdisso mais e mais concentrada no po<strong>de</strong>revocativo <strong>de</strong> canções enquantonarrativa com vida <strong>de</strong>ntro,sabe quena casa em frente e “mora umbombeiroe que o gajo dagasolineira moraao lado d<strong>ele</strong>”. E James? James é o sico: “Tenho um papel a cumprir nacida<strong>de</strong>, percebes?”, sorri ládo outrolado da chamada, a, em Londres, uma<strong>se</strong>mana antes <strong>de</strong> chegar a Portugal,on<strong>de</strong> dará dois concertos. Esta noiteno Cine-Teatro <strong>de</strong> Estarreja,amanhãem <strong>Lisboa</strong>, no Kolovrat 79, ou <strong>se</strong>ja, osótão da estilista Lidija Kolovrat ovrat (RuaD. Pedro V, 79).mú-O último álbum <strong>de</strong> Toth, que nopassado gravou “James & The Quiet”com Lee Ranaldo e Steve Shelley,dos Sonic Youth, intitula-<strong>se</strong> “DeathSeat” e é a sua estreia pelaYoung God Records <strong>de</strong> chael Gira (ex-Swans, actualmentedos Angels Of Light),a editora que lançouDevendra Banhart ou osAkron Family. É o álbumMi-<strong>de</strong> um espontâneo eo coma cabeça repleta <strong>de</strong> canagravarações, habituado e editar <strong>se</strong>m restrições,mas que, <strong>de</strong>sta vez, foiobrigado por Gira a passarhoras e horas a aperfeiçoaro que normalmentegravaria ao primeiro take:“Os nossos objectivos eramos mesmos, mas prefiro a espontaneida<strong>de</strong>e <strong>ele</strong> é um pronão<strong>de</strong>ixa que nada falhe.” Porém, trabalharcom Gira <strong>se</strong>rá experiência arepetir. Porque, ao contrário do queaconteceu com todos os <strong>se</strong>us álbunsanteriores, Toth ainda não o<strong>de</strong>ia “Dedutorda velha escola, queath Seat”. “Alguma vez visteo ‘Super-Homem 2’? No final <strong>ele</strong> põeos mau<strong>se</strong>m cápsulas e atira-as a-asas para o espaço.É assim que lido comas canções. Assimque as escrevo, mando-as as emborae nunca mais me preocupo com elas.”Ainda não mandou “Death Seat” parao espaço si<strong>de</strong>ral e por isso é provávelque o ouçamos novamente sob a pro-dução <strong>de</strong> Michael Gira: “Não po<strong>de</strong>correr mal. Ele é realmente muito inspirador.”As canções e a carpintaria“Death Seat” é o álbum <strong>de</strong> um cultorda velha e <strong>se</strong>mpre renovada tradiçãoamericana que recua até aos Appalache<strong>se</strong> a Hank Williams, a Johnny Cashe a Bob Dylan e a David EugeneEdwards para cantar aquilo que estápara além da “dicotomia luz e escuridão”.O disco é habitado por Caim epor junkies <strong>se</strong>m re<strong>de</strong>nção e, enquan-to um corpo atravessa a salacom sangue coagulado ld natesta, coloca questõesque não queremosouvir: “what if wehave a son andhateitsguts?”.Tétrico? Nah. Éa cultura quelhe ofereceram:“crescicom a força doimaginárioináriocristão e, mesmo<strong>se</strong>ndo omeu pai ateu e aminha mão católicanão pratican-te, fui bombar<strong>de</strong>adoem pequenocom imagens macabras e malévolas.”Essa marca “in<strong>de</strong>lével”, que a tantosinteressa como matéria criativa – “encontramo-la<strong>de</strong>s<strong>de</strong> Faulkner a NickCave”, justifica -, atravessa todo o novoálbum <strong>de</strong> Woo<strong>de</strong>n Wand.Ele que começou por <strong>se</strong>r integradona “free folk”, quando editava enquantoWoo<strong>de</strong>n Wand & The VanishingHand e privilegiava uma i<strong>de</strong>ia<strong>de</strong> psica<strong>de</strong>lismo on<strong>de</strong> o abandonoopiáceo era tão importante quandoa força evocativa das suas canções,foi <strong>de</strong>purando a veia criativa. a. Atéchegar a este que agora encontramos.Este que no<strong>se</strong>xplica que “quando<strong>som</strong>os novos, <strong>de</strong>ixamo-nosfascinarpor aquilo que éestranho”: prava discos <strong>de</strong>metal porque meassustavam e osque me assusta-“Comvammais eram osque maisprezava.Agora, interessa-mea clarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> umacanção como ‘Midni-ght train to Georgia’ [<strong>de</strong>Gladys Knight & ThePips], interessa-“Há maisprofundida<strong>de</strong>e imaginário numapágina <strong>de</strong> umconto <strong>de</strong> RaymondCarver que em <strong>de</strong>zálbuns <strong>de</strong> quem querque <strong>se</strong>ja”me aquela humanida<strong>de</strong> que sobressaida forma como a narrativa é apre<strong>se</strong>ntadae <strong>se</strong> <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolve.” Agora, JamesJackson Toth está a tentar “<strong>de</strong>ixar asmetáforas e escrever <strong>de</strong> forma maisdirecta, <strong>se</strong>m floreados.” Resume:“Mais Raymond Carver e menos H.P.Lovecraft.”Ao longo da conversa, é habitual<strong>de</strong>itar mão à literatura para falar <strong>de</strong>música. Como quando diz que, <strong>se</strong> algumavez gravar o equivalente a “Meridiano<strong>de</strong> Sangue”, <strong>de</strong> Cormac Mc-Carthy, retira-<strong>se</strong> <strong>de</strong>finitivamente.Como quando refere contistas americanoscontemporâneos como BriefPancake ou Pinkney Benedict paraconfessar que, “tendo tentado escrevercontos e tendo composto centenas<strong>de</strong> canções, parece-me queescrever canções é muito maisfácil”: “há mais profundida<strong>de</strong>e imaginário numa página <strong>de</strong>um conto <strong>de</strong> Raymond Carverque em <strong>de</strong>z álbuns <strong>de</strong> quemquer que <strong>se</strong>ja.”Acontece que James JacksonToth, nova-iorquino “autoexilado”em Murfreesboro,não tem escapatória. À suafrente mora o bombeiro da cida<strong>de</strong>,ao lado está o homem dagasolineira. Ele é o compositor<strong>de</strong> canções e nada po<strong>de</strong> fazerpara alterar essa condição. Atépo<strong>de</strong> <strong>se</strong>r obrigado a pintar casas efazer trabalho <strong>de</strong> carpintaria parapagar as contas quando não está emdigressão, mas um homem não con<strong>se</strong>gueabandonar a sua natureza. “Souum mau pintor <strong>de</strong> casas porque estouconstantemente a prestar atenção apormenores e a tomar notas para futurascanções”, conta. “Acordo a meioda noite com uma linha que tenho queanotar, com medo que <strong>de</strong>sapareça,que me esqueça.” Uma pausa e umaprovocação equivalente: “Se calhar,preferia ter sido abençoado com odom que me permitis<strong>se</strong> <strong>se</strong>r um carpinteirogenial.”Não foi e <strong>de</strong>u nisto. Num maravilhosocriador <strong>de</strong> as<strong>som</strong>brações. A suamaldição é a nossa bênção.Ao longo daconversa, éhabitual<strong>de</strong>itar mão àliteraturapara falar <strong>de</strong>música. Comoquando dizque, <strong>se</strong>alguma vezgravar oequivalente a“Meridiano <strong>de</strong>Sangue”, <strong>de</strong>CormacMcCarthy,retira-<strong>se</strong><strong>de</strong>finitivamente14 • Ípsilon • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong>


APOIO INSTITUCIONALREMIX ENSEMBLECASA DA MÚSICA22 FEV 19:30SALA SUGGIAPORTRAIT STEVE REICH IBradley Lubman direcção musicalFilipe Quaresma violonceloCharles Wuorinen Concerto <strong>de</strong>câmara para violoncelo e 10instrumentosSteve Reich City LifeJohn Adams Sinfonia <strong>de</strong> câmarawww.casadamusica.com | www.casadamusica.tv · T 220 120 220correntesamericanasAPOIOINSTITUCIONALPATROCINADOR OFICIALPAÍS TEMAPATROCINADOR PRINCIPALPAÍS TEMAMECENAS CASA DA MÚSICAAPOIO INSTITUCIONALMECENAS PRINCIPAL CASA DA MÚSICASEJA UM DOS PRIMEIROS A APRESENTAR HOJE ESTE JORNAL COMPLETO NA CASA DA MÚSICA E GANHE UM CONVITE DUPLOPARA ESTE CONCERTO. OFERTA LIMITADA AOS PRIMEIROS 10 LEITORES E VÁLIDA APENAS PARA UM CONVITE POR JORNAL.DOM 27 FEVCORO CASA DA MÚSICASOLISTAS DO REMIXSALA SUGGIA 18:00 | € 7,5James Wood direcção musicalOBRAS DE Tomás Luis <strong>de</strong> Victoriae Iannis XenakisPORTRAIT XENAKIS Iwww.casadamusica.com | www.casadamusica.tv | T 220 120 220MECENAS CASA DA MÚSICAMECENAS PRINCIPAL CASA DA MÚSICASEJA UM DOS PRIMEIROS A APRESENTAR HOJE ESTE JORNAL COMPLETO NA CASA DA MÚSICA E GANHE UM CONVITE DUPLOPARA ESTE CONCERTO. OFERTA LIMITADA AOS PRIMEIROS 10 LEITORES E VÁLIDA APENAS PARA UM CONVITE POR JORNAL.


“Não nos <strong>se</strong>ntimosoprimidas outratadas <strong>de</strong> formadiferente por <strong>se</strong>rmosmulheres. (...) Nãotemos <strong>de</strong> entrarnuma categoria<strong>de</strong> bandafeminina,a partir <strong>de</strong> comonos vestimos ousoamos.Não <strong>som</strong>osum cliché”Jenny LeeApesar <strong>de</strong> outro<strong>se</strong>xemplos mais marcantes<strong>de</strong> mulheres instrumentistas, tas,ainda causa <strong>se</strong>nsação dar<strong>de</strong> caras com as Warpaintnas capas das revistas e jornaisda especialida<strong>de</strong>Quando o último soldado transpôs aporta <strong>de</strong> casa no final da Guerra doVietname, começou lentamente amorrer a imagem <strong>de</strong> que a pre<strong>se</strong>nçamusical <strong>de</strong> uma mulher em cima <strong>de</strong>um palco tinha por fim animar as tropa<strong>se</strong>m campanha. A i<strong>de</strong>ia que per<strong>se</strong>veravaera a <strong>de</strong> que à fêmea cabia <strong>se</strong>rbela e encantadora, ven<strong>de</strong>r um sonho<strong>de</strong> família contrário à revolução <strong>se</strong>xualque andava já nas ruas – os ecosainda hoje <strong>se</strong> <strong>se</strong>ntem, quando <strong>se</strong> ouvee vê Katy Perry cantar às tropas norteamericanas,num misto <strong>de</strong> saudosismoe comemoração <strong>de</strong> uma iconografiapop <strong>de</strong> pin-up. Marilyn Monroe,Marlene Dietrich, Jill St. John ou CarolBaker, todas exemplos <strong>de</strong> uma feminilida<strong>de</strong>que <strong>se</strong> queria inatingível,sagrada e imaculada. Quando NoraForster pegou na sua filha <strong>de</strong> 14 ano<strong>se</strong> a levou a ver um concerto dos SexPistols, só então a composição cromos<strong>som</strong>áticado rock começou a manifestaruma nervosa e insaciável instabilida<strong>de</strong>.Qua<strong>se</strong> <strong>se</strong> diria que <strong>se</strong> davainício a um processo laboratorial comvista a alterar pela via da ciência aquiloque a socieda<strong>de</strong> não parecia conceber.E, no entanto, nada po<strong>de</strong>riahaver <strong>de</strong> mais contrário à ciência.Estávamos em 1975, e a imagem <strong>de</strong>um Johnny Rotten <strong>de</strong>scontrolado mudariapara <strong>se</strong>mpre as vidas <strong>de</strong> Nora e<strong>de</strong> Arianna Forster: a mãe, <strong>de</strong>slumbradacom aqu<strong>ele</strong> homem que convocavao Diabo para cada espasmoque o corpo lhe pedia e cada palavraque tinha pronta para escarrar parao público, acabaria por casar com <strong>ele</strong>;a filha, fascinada com aquela energia<strong>se</strong>lvagem e aquela música que <strong>se</strong> pareciaa um refluxo da vida quotidianae não <strong>se</strong> guiava por pautas com as notastodas minuciosamente pousadasno sítio certo – e nem <strong>se</strong>quer prestavareverência à bem comportada históriarecente do rock –, percebeu que aquiloque tinha à frente era a sua vida.No ano <strong>se</strong>guinte, num concerto dosClash, a rapariga conheceu uma bateristachamada Paloma Romero masque preferia partilhar o nome artísticocom uma marca <strong>de</strong> sabonetes. Euma nova história começava ali, comos Clash como testemunhas, a partir<strong>de</strong> uma cumplicida<strong>de</strong> instantânea:Palmolive e Arianna (conhecida nouniverso rock como Ari Up) formavamas Slits, bastião do rock feito no femininoe do punk em geral – que haviam<strong>de</strong> partilhar <strong>ele</strong>mentos como outronome fulcral do rock XX, as Raincoats.Do outro lado do Atlântico, PattiSmith carregava a ban<strong>de</strong>ira atada aum suporte <strong>de</strong> microfone.De repente, as mulheres tomavam<strong>de</strong> assalto o protagonismo no rock,dispensando os dois únicos papéisque até então lhes pareciam re<strong>se</strong>rvados:no palco, sim, mas <strong>de</strong> vestidojusto e como figuras <strong>de</strong> entretenimentoe <strong>se</strong>dução; no rock, sim, mas naplateia a arrancar cabelos e a gritarmais alto do que a amiga do lado. Arevolução obrara-<strong>se</strong> e prometia mudar<strong>de</strong> uma vez um universo em quea rebeldia parecia simbolizada poraquilo que para elas era a norma: cabeloscom <strong>se</strong>ntido <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> ou ouso <strong>de</strong> brincos. Mas o rompante emque apareceram as Slits foi o mesmocom que <strong>se</strong> esfumaram em 1981. AsRaincoats <strong>se</strong>guiram-lhes os passospouco <strong>de</strong>pois, em <strong>de</strong>sfechos inevitáveispara as bandas punk. De tão abrasivo,o movimento consumir-<strong>se</strong>-ia<strong>de</strong>masiado rápido, caminhando gloriosamentepara a auto-<strong>de</strong>struição.E as mulheres continuariam a sur-gir no rock. Mas praticamente <strong>se</strong>m-pre com um microfone à frente, como<strong>se</strong> a sua pre<strong>se</strong>nça em palco continuas<strong>se</strong>para <strong>se</strong>mpre <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<strong>de</strong> uma condição <strong>de</strong> diva. Os instrumentospare-ciam outra vez – com algumas excepções– trancados a ca<strong>de</strong>ado.Fora da gavetaDaí que apesar <strong>de</strong> um par <strong>de</strong> exemplosmais marcantes <strong>de</strong> mulheres instrumentistas,ainda cau<strong>se</strong> <strong>se</strong>nsaçãodar <strong>de</strong> caras com as Warpaint, quatromulheres <strong>de</strong> hoje que vivem musicalmentena inter<strong>se</strong>cção temporal doshoegazing com o psica<strong>de</strong>lismo, nacapa do “New Musical Express” (NME)– ao contrário, por exemplo, das francesasPlastiscines, fazedoras <strong>de</strong> umpunk rock açucarado irresistível masque, pela sua imagem, acabam por<strong>se</strong>r mais frequentadoras <strong>de</strong> revistas<strong>de</strong> moda do que <strong>de</strong> publicações mu-sicais. Claro que houve Hole, BikiniKill – pioneiras do movimento riotgrrrl –, L7, Throwing Mu<strong>se</strong>s, Bree<strong>de</strong>rs,Bangles e Go-Go’s, e que há Au RevoirSimone e Electrelane, mas o facto <strong>de</strong>termos <strong>de</strong> forçar a memória a pesquisaros <strong>se</strong>us arquivos para nomearexemplos é sintomático <strong>de</strong> que, afinal,as coisas <strong>se</strong> calhar não mudaramassim tanto <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que as Slits <strong>se</strong> formaram.A vénia do NME faz parte das juras<strong>de</strong> amor que Inglaterra <strong>de</strong>dica às Warpaint,mas <strong>de</strong> que os <strong>se</strong>us EstadosUnidos ainda não são capazes. O queos europeus têm <strong>de</strong> mais melancólicocasa bem com as voltas das cançõesdas quatro Warpaint, mais <strong>se</strong>-Hoje há: guitarras, baixoHá já muito tempo que o rock no feminino não tinha um rastilho tão explosivo. As Warpaint, banda <strong>de</strong> m2010 e voltaram a lembrar a sacramental pergunta: mas, afinal, quem fechou as portas abertas por Slits e16 • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • Ípsilon


<strong>de</strong>ntos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir coisas novas pormuito que soem a outros tempos, enquantoa América, diz a baixista JennyLee Lindberg, está <strong>de</strong>masiado formatadae espera apenas que cada novonome perpetue um jogo <strong>de</strong> espelhoson<strong>de</strong> a novida<strong>de</strong> é <strong>se</strong>mpre a <strong>se</strong>mpreda prece<strong>de</strong>nte. “A América é maislenta com tudo”, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> Jenny Lee,“e está simplesmente confusa. As pessoasgostam que lhes digam o que<strong>de</strong>vem fazer e o que <strong>de</strong>vem ouvir. Seé bom ou mau, ninguém liga a isso.Não é preciso esforçarem-<strong>se</strong> muito,querem a papinha toda feita, e fun-ciona”.“The Fool”, o álbum que as Warpaint<strong>de</strong>moraram <strong>se</strong>is anos a pôr <strong>de</strong>pé, foi a estreia <strong>de</strong> 2010 para o NME,mas <strong>de</strong>morou a ultrapassar as dores<strong>de</strong> crescimento que foram pontuandoo percurso inicial do grupo. Sobretudoporque, apesar <strong>de</strong> a falta <strong>de</strong> testosteronano quarteto <strong>se</strong>r aci<strong>de</strong>ntal,<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Shannyn Sossamon ter <strong>de</strong>ixadoa bateria para <strong>se</strong> <strong>de</strong>dicar a tempointeiro à sua carreira <strong>de</strong> actriz (“AsRegras da Atracção”, “40 Dias e 40Noites”, etc), não lhes passou pelacabeça realizar audições noutro sítioque não o Gineceu. Tinhamos e bateria<strong>se</strong> melancolias várias, estrearam-<strong>se</strong> com “The Fool” no final <strong>de</strong>s e Raincoats e <strong>de</strong>ixou apenas um microfone? Gonçalo FrotaÍpsilon • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • 17


criado uma dinâmica diferente equeriam pre<strong>se</strong>rvá-la. “Aconteceu”,lembra a baixista, irmã <strong>de</strong> Shannyn.“É complicado e <strong>de</strong>safiador ter umabanda só <strong>de</strong> raparigas. Há muitas disposiçõesdiferentes no ar, as raparigasten<strong>de</strong>m a <strong>se</strong>r muito competitivasumas com as outras, mas como já éramosamigas antes da banda achámosque <strong>se</strong>ria uma boa combinação”. Estacompetição, garante Jenny Lee,não é sinónimo <strong>de</strong> rasteiras, facadasnas costas, conluios ou simples disputas<strong>de</strong> protagonismo. É mais um<strong>se</strong>ntimento <strong>de</strong> que ninguém po<strong>de</strong> ficarpara trás, que cada uma tem <strong>de</strong>estar à altura da outra.Pouco interessadas em <strong>se</strong>rem fechadasnuma gaveta com uma etiquetaon<strong>de</strong> <strong>se</strong> lê “rock feminino”, asWarpaint não acreditam que o género<strong>de</strong>ixe uma marca evi<strong>de</strong>nte na formacomo soam as suas canções. “Se,por acaso, abordo a música <strong>de</strong> umaforma feminina é porque não consigoevitá-lo enquanto mulher”, diz a baixista.Mas o que isso quer dizer aocerto, é um enigma tão gran<strong>de</strong> paraJenny Lee quanto física quântica. Háapenas uma coisa que lhe ocorre comodiferente quando entra na sala<strong>de</strong> ensaios e <strong>se</strong> vê ro<strong>de</strong>ada por pénisou vaginas: com as mulheres, pensaem voz alta, “po<strong>de</strong> tocar-<strong>se</strong> a mesmacoisa uma e outra vez, enquanto oshomens não querem repetir, querem<strong>se</strong>mpre avançar para a música <strong>se</strong>guinte”.Assim, <strong>se</strong>m qualquer tipo <strong>de</strong>manifesto feminista pendurado nassuas letras, em concerto das Warpaintnão <strong>se</strong> grita “grrrl power”: “Nãonos <strong>se</strong>ntimos oprimidas ou tratadas<strong>de</strong> forma diferente por <strong>se</strong>rmos mulheres.Nunca me <strong>se</strong>nti discriminada,embora não esteja a menosprezarquem passou por isso, mas penso queo importante é que cada um <strong>de</strong> nóstome as ré<strong>de</strong>as da sua vida e siga os<strong>se</strong>us sonhos e as suas aspirações. Nãotemos <strong>de</strong> entrar numa categoria <strong>de</strong>banda feminina, a partir <strong>de</strong> como nosvestimos ou soamos. Não <strong>som</strong>os umcliché”.Mas a falta <strong>de</strong> mais exemplos <strong>de</strong>bandas femininas no rock actual <strong>de</strong>ixa,ainda assim, a baixista <strong>de</strong>sconfortável.E, na sua opinião, apesar dosavanços sociais, continua por resolvera forma como <strong>se</strong> é ensinado <strong>de</strong>s<strong>de</strong>cedo que <strong>de</strong>terminados trabalhos <strong>de</strong>vem<strong>se</strong>r exclusivo <strong>de</strong> um dos géneros.“É verda<strong>de</strong> que não há muitos homensa fazer algumas coisas associadasa mulheres, tal como não há muitasmulheres na construção. Mas especialmentena música, que po<strong>de</strong> <strong>se</strong>rmuito feminina, penso que as raparigassão programadas a não tentar algumascoisas ou não <strong>se</strong> expressarem<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada forma”. Uma <strong>de</strong>ssasformas <strong>de</strong> expressão, Jenny Lee <strong>se</strong>nteque tem que ver directamente coma maneira como aborda o instrumento.Não gosta que haja a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> queas quatro cordas do <strong>se</strong>u baixo vibramcom <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za. “Tenho um baixo enão há razão nenhuma para que nãoo possa espancar, até porque gosto<strong>de</strong> tocar assim. Mas não estou a tentarmarcar uma posição. Nes<strong>se</strong> aspecto,fico feliz por <strong>se</strong>rmos quatro mulhere<strong>se</strong> não estarmos a passar-nos com teoriasfeministas. Estamos simplesmentea fazer aquilo <strong>de</strong> que gostamos,e esperamos que isso constitua umexemplo para mulheres e homens”.Ver crítica <strong>de</strong> discos págs. 32 e <strong>se</strong>gs.On<strong>de</strong> é que elas andam?Em Portugal, as mulheres instrumentistas também são pre<strong>se</strong>nça rara nos palcos. Cláudia Guerreiro,Suspiria Franklyn e Bellen<strong>de</strong>n Ker respon<strong>de</strong>m à pergunta: <strong>de</strong>sistentes ou pouco incentivadas?Mesmo quando lhe apetecesubir ao palco com roupas maisfemininas, Cláudia Guerreirotenta sacudir essa vonta<strong>de</strong>para longe. Sabe que não sãoes<strong>se</strong>s os mo<strong>de</strong>los que povoammaioritariamente o <strong>se</strong>u guardaroupa,mas há dias em que“apetece a qualquer mulher que<strong>se</strong> quer evi<strong>de</strong>nciar um bocado”.“Agora, em concerto”, ressalva,“nunca”. Não quer sobressair,não quer que o género tenhapeso algum quando está a tocarna companhia dos outros trê<strong>se</strong>lementos dos Linda Martini.Da mesma forma que, <strong>de</strong> início,recebia os elogios como exemplos<strong>de</strong> paternalismo machista. Umaboca dizia “Parabéns, tocas muitobem” e os ouvidos <strong>de</strong>la captavam“Para miúda, não está nada mal”.Se fos<strong>se</strong> homem, acreditava,ninguém prestaria atenção aobaixo nas suas mãos.É por isso, por essa pressão<strong>de</strong>sproporcionada <strong>de</strong> ter maisolhos em cima <strong>de</strong>la do que <strong>se</strong>rianormal, que acredita que muitasmulheres <strong>de</strong>sistem da músicaenquanto instrumentistas. “Muitasvezes uma rapariga só está lá‘porque é fixe’, e então parece quetem <strong>de</strong> <strong>se</strong> provar alguma coisa aalguém, e passa-<strong>se</strong> o tempo numaluta <strong>de</strong>snecessária”. É um ponto<strong>de</strong> equilíbrio <strong>de</strong>licado. E, por isso,basta um comentário mais duroentre duas músicas para que aconfiança ceda às tonturas e aqueda para fora do palco <strong>se</strong> torneinevitável. Mesmo assim, custa-lhea perceber porque há tão poucosinstrumentos tocados no femininoem Portugal: “Os concertos estãocheios <strong>de</strong> raparigas, mesmo os<strong>de</strong> música mais pesada. Nãopercebo”.Cláudia Guerreiro faz parte<strong>de</strong>ssa espécie rara em Portugal – enão só – <strong>de</strong> mulheres que estãono rock como instrumentistas enão na linha da frente. Os <strong>de</strong>dosdas duas mãos qua<strong>se</strong> custam apreencher-<strong>se</strong>: Joana Longobardi(Mão Morta), Mariana Ricardo(München), Francisca Cortesão(David Fon<strong>se</strong>ca, no lugar que ante<strong>se</strong>ra <strong>de</strong> Rita Redshoes), MarianaCosta (B Fachada), Filipa Cortesão(Belle Cha<strong>se</strong> Hotel) e um ou outroexemplo exclusivamente femininocomo Black Widows. SuspiriaFranklyn, que fundou as/os BatonRouge e prepara agora um novoprojecto, tem tentado quebrar estaregra e criou até uma associação,a Jeanette Plat, que tinha pormissão “promover uma culturafeminina em Portugal”. “Faziamanagement e agenciamento,dava dicas <strong>de</strong> como fazer os sites,marcava concertos”, propunha-<strong>se</strong>ajudar como podia as colegas <strong>de</strong>profissão. Mas <strong>de</strong>sistiu, por falta<strong>de</strong> clientes. Quando contactavaas bandas, raramente tinharespostas. “É <strong>de</strong><strong>se</strong>sperante estar<strong>se</strong>mpre a dar e <strong>de</strong>pois não vernada”.Quando começou a tocar em94 com as Everground, haviaoutras bandas femininas comoVoodoo Dolls, Mary Jane ou BlackWidows. Suspiria lembrou-<strong>se</strong>então <strong>de</strong> juntá-las a todas numfestival, mas falhou nes<strong>se</strong> intento.Tudo esbarrou nas discussões<strong>de</strong> quem tocava primeiro, quemficava para último. Depois, formouas Baton Rouge em 98, logo apósas Everground <strong>se</strong>rem contactadaspela Valentim <strong>de</strong> Carvalho paragravar um álbum. “Elas nãoqui<strong>se</strong>ram dar o passo mais àfrente. Éramos umas miúdas com15 e 16 anos e elas acharam queainda não estávamos preparadas.E então tive <strong>de</strong> começar umanova banda, os Baton Rouge. Écomplicado, mas é essa falta <strong>de</strong>empenho que às vezes falta.” Eessa falha <strong>de</strong>tectada por Suspiria,<strong>se</strong>mpre a tentou compensarensinando o resto da banda atocar. Quando as Baton Rougecomeçaram, as outras raparigas“nunca tinham tocado uminstrumento na vida”. E Suspiria,a insatisfeita, assumiu o papel <strong>de</strong>Suspiria, a professora.No <strong>se</strong>u enten<strong>de</strong>r, esta escas<strong>se</strong>z<strong>de</strong> mulheres instrumentistasno rock po<strong>de</strong> estar ligada a umaprocura <strong>de</strong> protagonismo. “Se tiver<strong>de</strong> optar entre <strong>se</strong>r vocalista oubaterista, que fica lá atrás, vou <strong>se</strong>rvocalista para toda a gente ver”,diz tentando pensar por cabeçaalheia. “Há imensas bandas popcom vocalistas femininas, masnão vejo uma banda pop com umaCusta-lhe perceberdiz CláudiaGuerreiro, porquehá tão poucosinstrumentos tocadosno femininoem Portugal:“Os concertos estãocheios <strong>de</strong> raparigas.Não percebo”guitarrista ou uma baterista. Não<strong>se</strong>i <strong>se</strong> isso tem que ver com essaprocura <strong>de</strong> exposição ou <strong>se</strong> sãoos homens a pensar que uma vozfeminina dá <strong>se</strong>mpre um ar maismelodioso”.As Bellen<strong>de</strong>n Ker, versãoportuguesa para as Babes inToyland, juntaram-<strong>se</strong> paraparticipar num jogo e forampercebendo que, afinal, havia umcaminho a percorrer. Actualmentea gravar o <strong>se</strong>u primeiro EP, sobempara palco com maquilhagen<strong>se</strong>sborratadas, boneca<strong>se</strong>stropiadas e tecidos rasgados,numa recusa do i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> b<strong>ele</strong>zaque <strong>se</strong>ntem quererem enfiar-lhesgoela abaixo. Tal como Suspiria,acreditam que as raparigas<strong>de</strong>sistem <strong>de</strong>masiado rápido eantes <strong>se</strong> entregam a percursosacadémicos e profissionais, avidas estáveis. “Acredito que ospais <strong>de</strong>põem muitas esperança<strong>se</strong>m cima <strong>de</strong>las”, diz Marta Lefay, e<strong>de</strong>pois são vencidas pelo “peso naconsciência”.No caso <strong>de</strong> Cláudia Guerreiro,que começou por <strong>se</strong>r preteridapor outros rapazes para as bandasdos amigos e foi empurrada para obaixo quando tocava era guitarra,a i<strong>de</strong>ia pouco séria associadaà música foi complicada <strong>de</strong>ultrapassar a nível familiar. “Eracomplicado ter ensaios, ir parauma garagem. Como <strong>se</strong> ensaiar<strong>de</strong> manhã fos<strong>se</strong> andar na borgaou fos<strong>se</strong> uma galdéria por isso.Suspiria Franklyn criou atéuma associação que tinha pormissão “promover uma culturafeminina em Portugal”Cláudia Guerreiro faz parte<strong>de</strong>ssa espécie rara em Portugal– e não só – <strong>de</strong> mulheresque estão no rock comoinstrumentistas e não na linhada frenteAos 20 anos ainda me era difícil,parecia que estava <strong>se</strong>mpre afazer alguma coisa <strong>de</strong> mal. Tenteivárias vezes fazer enten<strong>de</strong>r comoera absurdo, e agora que isto estáa funcionar, temos concerto<strong>se</strong> recebemos algum dinheiro,então já é fixe”. “Afinal não é sóbrinca<strong>de</strong>ira; afinal, é isso que teestá a safar a vida, ainda bemque tens a banda”, parece ouviraos pais. Cláudia sabe que teminspirado a que outras mulherespeguem num baixo, mas continuara <strong>se</strong>ntir falta <strong>de</strong> tocar, pelaprimeira vez, com uma mulher. “Sópara ver como é”. G.F.MARINA GUERREIRO18 • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • Ípsilon


SÃOLUIZFEV ~1111 e 12 Fev21hSALA PRINCIPALM/3Carlos do CarmoconvidaAntónio Victorino d’AlmeidaAntónio SerranoCarlos Bicaguitarras:Carlos Manuel ProençaJosé Maria NóbregaFernando AraújoJosé Manuel NetoRicardo RochaeOrquestra Sinfonietta <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>Dirigida pelo MaestroVasco Pearce <strong>de</strong> AzevedoActivismo, cidadania, revolução, utopia, <strong>de</strong>mocracia, comunida<strong>de</strong>, são alguns dos conceitossubjacentes a este programa, estruturado <strong>de</strong> modo a incluir diferentes formatos – conferências,<strong>se</strong>minários, conversas, <strong>se</strong>ssões <strong>de</strong> cinema e projectos performativos.ATÉ 13 MAR <strong>2011</strong>DESTAQUES MAR <strong>2011</strong>CINEMA01 MAR <strong>2011</strong> (Ter), 18h30BLACK PANTHERSCOM A PRESENÇA DE EMORY DOUGLAS, ROBERT KING,BILLY X JENNINGS E RIGO 23programa a anunciarAuditórioTEATRO05 MAR <strong>2011</strong> (Sáb), 22h00APPENDICECRIAÇÃO DE LINA SANEHCom Rabih Mroué e Lina SanehCenografia e assistência: Hatem Imamem inglêsAuditórioCINEMA06 MAR <strong>2011</strong> (Sáb), 21h30FILM SOCIALISME, 101’, 2010JEAN-LUC GODARDAuditórioMÚSICA09 MAR <strong>2011</strong> (Qua), 22h00NEW HUMANSAuditórioCONCERTO10 MAR <strong>2011</strong> (Qui), 22h00RAINBOW GATHERINGMARINA ROSENFELDMosteiro <strong>de</strong> S.Bento da VitóriaCONCERTO13 MAR <strong>2011</strong> (Dom), 22h00SISTEMA TANGOAuditórioOs Amigos <strong>de</strong> Serralves têm entrada gratuita em todas as activida<strong>de</strong>s.Programa completo disponível em www.<strong>se</strong>rralves.ptApoio InstitucionalApoio àInternacionalizaçãoda FundaçãoParceriasSÃO LUIZ TEATRO MUNICIPALRUA ANTÓNIO MARIA CARDOSO, 38; 1200-027 LISBOAGERAL@TEATROSAOLUIZ.PT; TEL: 213 257 640Pack CD + Bilhetenas lojas FnacCarlosdo Carmoo fado e osmúsicosBILHETES À VENDA EM WWW.TEATROSOALUIZ.PT,WWW.BILHETEIRAONLINE.PT E ADERENTESBILHETEIRA DAS 13H00 ÀS 20H00TEL: 213 257 650 / BILHETEIRA@TEATROSAOLUIZ.PTAPOIO À DIVULGAÇÃOwww.teatrosaoluiz.pt3/4/5/6 FEV | 21:00 | São Luiz Teatro <strong>Municipal</strong>| LISBOA12 FEV | 21:30 | Teatro das Figuras | FARO16 FEV | 21:45 | Rivoli Teatro <strong>Municipal</strong> | PORTO26 FEV | 21:30 | Casa das Artes | V.N. FAMALICÃOApoio - “Às Artes, Cidadãos!”Exposição Integrada nasComemorações doCentenário da RepúblicaApoio à DivulgaçãoApoio LogísticoMecenas daProgramação <strong>de</strong> MúsicaMecenas Exclusivodo Mu<strong>se</strong>u e da Exposiçãowww.camane.comRESERVAS/INFORMAÇÕES: 707 234 234 | S. Luiz (+351) 213 257 650 | bilheteira@teatrosaoluiz.pt; T. Figuras - 289 888 110bilheteira@teatromunicipal<strong>de</strong>faro.pt; Rivoli - 351 223 392 201; CA Famalicão - bilheteira.casadasartes@vilanova<strong>de</strong>famalicao.orgLOCAIS DE VENDA: Bilheteira das salas, Fnac, Ag. ABREU, Worten, C. C. Dolce Vita, Megare<strong>de</strong>, El Corte Inglés (<strong>Lisboa</strong> e Gaia);www.ticketline.sapo.ptFundação <strong>de</strong> Serralves Rua D. João <strong>de</strong> Castro, 210 / 4150-417 Porto / www.<strong>se</strong>rralves.ptSiga-nos em www.facebook.com/fundacao<strong>se</strong>rralvesPRODUÇÃO TELEVISÃO OFICIAL RADIO OFICIAL


A música britânica tem sauda<strong>de</strong>s dTHE INCREDIBLE STRING BAND © POLYDOORA IncredibleString Band,que compunhaos <strong>se</strong>usdiscos enfiadano campo,convocavaum pouco <strong>de</strong>tudo (músicasdo mundo,folk, hino<strong>se</strong>spirituais)para fazeruma músicaaté hoje <strong>se</strong>mparalelo“Electric E<strong>de</strong>n”, do inglês Rob Young, lança nova luz sobre o contínuo folk do séculoXX. Muita da melhor música britânica, diz este editor da “Wire”, resulta da nãoresolvida contradição entre o apego à natureza e a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> progresso. Pedro RiosRob Young <strong>de</strong>scobriu quea cultura britânica ten<strong>de</strong>permanentemente para a folk20 • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • Ípsilon


do futuroSÃOLUIZFEV/MAR ~11Vashti Bunyan e Robert Lewis tinhamum plano na cabeça: percorrer todaa Grã-Bretanha (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> Kent, no Sul<strong>de</strong> Inglaterra, até às terras altas escocesas)no <strong>se</strong>u cavalo, Bess, e ir parandonas muitas terrinhas esquecidas,a muitas milhas do bulício londrino,para conhecer os habitantes e cantaras canções compostas na estrada.Partiram em Julho <strong>de</strong> 1968 e assimandaram durante ano e meio. Mas opaís que encontraram não era o queimaginavam: a polícia expulsava-osquando começavam a afinar as guitarras,os pais escondiam as criançasperante a chegada do casal nómada,as al<strong>de</strong>ias avisavam-<strong>se</strong> entre si, port<strong>ele</strong>fone, <strong>de</strong> que iria chegar uma estranhadupla. Foi uma <strong>se</strong>gunda <strong>de</strong>silusãopara Vashti, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> teremfalhado os <strong>se</strong>us esforços para começaruma carreira pop em Londres.A história <strong>de</strong> Vashti Bunyan sintetizaalgumas das i<strong>de</strong>ias centrais docontínuo folk britânico, i<strong>de</strong>ntificadopor Rob Young no livro “ElectricE<strong>de</strong>n: Unearthing Britain’s VisionaryMusic” (Faber & Faber, 2010): umapermanente rejeição do progresso, aprocura <strong>de</strong> uma vida simples, as sauda<strong>de</strong>s<strong>de</strong> uma Inglaterra perdida para<strong>se</strong>mpre (e que, bem vistas as coisas,nunca existiu).“É um tópico comum na culturabritânica”, diz o jornalista inglês, editorda revista “Wire”, ao Ípsilon. “Éalgo contraditória a relação entre esteapego à natureza e a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> vidasimples e a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> progresso”.Na Inglaterra dos anos 60, Vasthinão estava sozinha nestas contradições.Donovan, cantor folk que <strong>se</strong>ren<strong>de</strong>u à explosão <strong>de</strong> cores da psica<strong>de</strong>lia,fundou uma comunida<strong>de</strong> nailha <strong>de</strong> Skye, na Escócia (até <strong>se</strong> <strong>de</strong>cidirmudar para o clima mais luminoso <strong>de</strong>Los Ang<strong>ele</strong>s), Paul e Linda McCartneytambém <strong>se</strong> refugiaram numa quintaescocesa, rejeitando os luxos que aVasthi Bunyan, figura crucial<strong>de</strong> um certo idílio folk à maneirabritânica“É uma cultura que<strong>se</strong> quer repre<strong>se</strong>ntarcomo rural, apesar dasua participação naRevolução Industrial.E que parece quererreligar-<strong>se</strong> ao campo.Pelo menosmentalmente”carreira do Beatle já permitia, e bandascomo a Incredible String Band eos Fairport Convention enfiavam-<strong>se</strong>em casas rurais durante temporadaspara fazer discos.Esta ligação à terra não é um exclusivoda música. Young lembra que aliteratura britânica está repleta <strong>de</strong>referências a jardins <strong>se</strong>cretos, paí<strong>se</strong>sdas maravilhas, locais edénicos perdidos– a ilha mitológica <strong>de</strong> Avalon, omundo fantástico <strong>de</strong> Narnia (C. S.Lewis), a Utopia <strong>de</strong> Thomas More.Este jogo <strong>de</strong> contrários <strong>de</strong>fine boaparte da música (e da cultura) britânica,diz Young: “É uma cultura que<strong>se</strong> quer repre<strong>se</strong>ntar como rural e quetem muito orgulho no campo, masque, ao mesmo tempo, <strong>se</strong> orgulha dasua participação na Revolução Industrial– foi o primeiro país produzir emmassa. Parece que não queremosaceitar es<strong>se</strong> facto e que preten<strong>de</strong>mosreligar-nos a algo pré-industrial. Pelomenos mentalmente”.Está visto que “Electric E<strong>de</strong>n” nãoé um livro sobre folk, em <strong>se</strong>ntido estrito,nem sobre o folk-rock dos anos60 e 70 (a cena que <strong>se</strong>rviu <strong>de</strong> ponto<strong>de</strong> partida para o autor). “Mal comeceia pensar no livro, comecei a pensarna folk em <strong>se</strong>ntido lato. Sobretudo naGrã-Bretanha, on<strong>de</strong> há muitos <strong>de</strong>batessobre autenticida<strong>de</strong>, sobre quem estáautorizado para cantar certas canções,sobre como é que a música <strong>de</strong>ve <strong>se</strong>rtratada. Houve muita controvérsia naaltura [nos anos 60] sobre <strong>se</strong> a folk<strong>de</strong>via <strong>se</strong>r <strong>ele</strong>ctrificada ou não. Es<strong>se</strong>s<strong>de</strong>bates estavam lá <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início”.O choque industrialA viagem <strong>de</strong> “Electric E<strong>de</strong>n” começacom Cecil Sharp (1859-1924), porventurao maior responsável pelo revivalismofolk britânico do início do século,e pros<strong>se</strong>gue até explodir nas aventuraspanteístas e psicadélicas <strong>de</strong>gente como os Fairport Convention,Donovan, Strawbs, Comus e a IncredibleString Band – e com enormesacontecimentos <strong>de</strong> comunhão “hippie”,como o festival <strong>de</strong> Glastonbury,montado numa zona habitada porfantasmas, tradições e lendas.Finda a energia <strong>de</strong>ssa era, a viagemtorna-<strong>se</strong> menos óbvia. Nos anos 80,“a música folk teve pouco impacto naconsciência nacional, tendo-<strong>se</strong> refugiadono ‘un<strong>de</strong>rground’ ou associadoao protesto”, escreve Young no livro.Artistas como os Fairport Convention,Bert Jansch e John Martyn saíram doradar mediático ou tornaram-<strong>se</strong> poucoestimulantes. “Na Grã-Bretanhamudada e materialista dos anos 80”,as i<strong>de</strong>ias que habitavam a folk per<strong>de</strong>ramvisibilida<strong>de</strong>, mas influenciaramartistas como Kate Bush, David Sylvian,Coil e Talk Talk. A mesma históriaa <strong>se</strong>r contada com outras cores.No processo <strong>de</strong> escrever o livro,Rob Young aproximou-<strong>se</strong> das causas<strong>de</strong>stas especificida<strong>de</strong>s britânicas. “AGrã-Bretanha foi industrializada muitocedo”, explica. “No livro, escrevoque esta é a fonte dos ‘blues britânicos’.Na América, a fonte dos bluesfoi o comércio <strong>de</strong> escravos, a ligaçãodas comunida<strong>de</strong>s negras às suas raízes.Na Grã-Bretanha, foi uma <strong>se</strong>nsação<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconexão: <strong>de</strong> repente, quemtrabalhava na terra passou a trabalharem fábricas, mudando-<strong>se</strong> para cida<strong>de</strong>sindustriais criadas muito rapidamente.Es<strong>se</strong> impacto foi muito forteno século XIX, na era vitoriana, quandoas canções folk começaram a <strong>se</strong>rcoleccionadas”.Foi como <strong>se</strong> um país tives<strong>se</strong> sidoroubado? “Definitivamente, há a <strong>se</strong>nsação<strong>de</strong> algo que foi tirado. Gran<strong>de</strong>parte da população estava muito ligadaà terra. Há 200 anos, muitas terrasforam tiradas à força, por actos legislativos.Houve um êxodo em massa.Isso teve um impacto muito profundo.A I Guerra Mundial também”.Depois do trabalho <strong>de</strong> Cecil Sharpe Ralph Vaughan Williams, que resgatarama folk do esquecimento nacional,as canções foram <strong>se</strong>ndo passadas<strong>de</strong> geração em geração, comperíodos <strong>de</strong> maior e menor exposição.Destacou-<strong>se</strong>, por exemplo, EwanMacColl (1915-1989), socialista, cantore divulgador <strong>de</strong> empoeiradas cançõesfolk. O mundo folk não conheceugran<strong>de</strong>s sobressaltos até que, na rectafinal dos anos 60, a folk encontravaa emergente música pop e abria-<strong>se</strong>um campo <strong>de</strong> explorações infinitas.Os Fairport Convention fizeram <strong>de</strong>“A Sailor’s Life”, velha canção folkinglesa, um hino libertário, inspiradopelas ragas indianas, com guitarras eviolino em comunhão eléctrica - gravadonum só “take”. Com instrumentos<strong>de</strong> vários pontos do globo, a IncredibleString Band convocava umpouco <strong>de</strong> tudo – músicas do mundo,folk, hinos espirituais – para fazeruma música única, ainda hoje <strong>se</strong>mparalelo. No álbum homónimo <strong>de</strong>1968, os Pentangle pu<strong>se</strong>ram, pela primeiravez, uma bateria rock a acompanharcanções tradicionais inglesas– fundiram o jazz com a tradição folk.John Martyn transformava a guitarraacústica numa nave espacial, reverberando-a,aplicando-lhe ecos.De novo, o choque <strong>de</strong> contrário<strong>se</strong>ntre uma Inglaterra a querer abraçaro futuro (a moda, os valores e o estilo<strong>de</strong> vida pop e rock), mas <strong>se</strong>mpre como passado <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> olho. “Muita damais excitante música tem essas contradições.É como <strong>se</strong> a música contives<strong>se</strong>esta discussão entre o progressoe a nostalgia”, reflecte Young.Cecil Sharp sonhava que a músicafolk <strong>se</strong>ria ensinada nas escolas, cantadaem todo o país e que <strong>se</strong> tornaria, <strong>de</strong>novo, uma parte fundamental da vidadas pessoas. Os Ste<strong>ele</strong>ye Span con<strong>se</strong>guiram-nocom “All around my hat”(1975), uma versão <strong>de</strong> uma canção tradicional,que <strong>se</strong> tornou um êxito enorme.Ironicamente, para Young, este éo momento simbólico da perda da vitalida<strong>de</strong>do folk-rock. “Po<strong>de</strong>ríamos dizer:‘Eis a folk tradicional a chegar aosouvidos <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> pessoas’. Mas aforma como tal aconteceu não é particularmenteboa [risos]: <strong>de</strong> certa forma,sacrificou-<strong>se</strong> <strong>de</strong>masiado. É triste”.O punk <strong>de</strong>u um po<strong>de</strong>roso pontapénesta música, que <strong>se</strong> virou para o “un<strong>de</strong>rground”<strong>se</strong>m <strong>de</strong>ixar gran<strong>de</strong>s marcas.“Há uma enorme energia e uma<strong>se</strong>nsação <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta no fim dos anos60 em torno da folk. O que teve a etiquetafolk nos anos 80 e <strong>de</strong>pois dissonão trouxe nada <strong>de</strong> novo. Grupos comoos Current 93 e os Coil têm muitos dosmesmos impulsos e interes<strong>se</strong>s, integram-<strong>se</strong>na mesma <strong>se</strong>creta tradição culturalbritânica. São artistas inovadore<strong>se</strong> progressivos, não são ‘retro’. Mas fazemparte do mesmo contínuo”.PARCERIA APOIOSSÃO LUIZ TEATRO MUNICIPALRUA ANTÓNIO MARIA CARDOSO, 38; 1200-027 LISBOAGERAL@TEATROSAOLUIZ.PT; TEL: 213 257 640BILHETES À VENDA EMWWW.TEATROSOALUIZ.PT,WWW.BILHETEIRAONLINE.PT E ADERENTESBILHETEIRA DAS 13H00 ÀS 20H00TEL: 213 257 650 / BILHETEIRA@TEATROSAOLUIZ.PTsilva!<strong>de</strong>signersÍpsilon • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • 21


NELSON GARRIDOA páginas tantas surge, em “Erros Individuais”,o mais recente livro dopoeta José Miguel Silva, um poemaintitulado “Profissão <strong>de</strong> Pé” que, trê<strong>se</strong>strofes à frente, acaba assim: “Cancelar<strong>de</strong> vez a assinatura do mundo”.Pouco mais <strong>se</strong>ria necessário para<strong>de</strong>monstrar como é impreciso o rótulo“neo-realista” que tem acompanhadoo poeta <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo. O humordo título, a <strong>de</strong>silusão a raiar o romantismoque grassa pelo poema e o versofinal, afastam-no <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>real, que em literatura <strong>se</strong> revela emenumerações enraizadas na ob<strong>se</strong>rvação.Aqu<strong>ele</strong> último verso <strong>de</strong>nuncia ogran<strong>de</strong> tema que atravessa a obra <strong>de</strong>José Miguel Silva: para nos afastarmosdo mundo temos <strong>de</strong> cancelar a assinatura,isto é, a renúncia ao mundo(à estrutura que rege o mundo e portantonos dita o modo <strong>de</strong> agir) implicauma renúncia comercial (a assinatura).Não é por acaso que esta é a primeiranota que tocamos, visto <strong>se</strong>r umaquestão premente ao próprio poetaque, meras 24 horas após falarmos aot<strong>ele</strong>fone sobre o livro, enviou um mailcom algumas a<strong>de</strong>ndas às suas <strong>de</strong>clarações:“Mais pertinente do que ocarácter realista da minha poesia talvez<strong>se</strong>ja a sua vocação política, a suapropensão para interpelar não apenaso íntimo e pessoal, mas também osocial”.O mail acaba assim: “Isto só paradizer que me dou melhor, apesar <strong>de</strong>tudo, sob a etiqueta <strong>de</strong> poeta políticodo que <strong>de</strong> poeta realista”.Se há livro na obra <strong>de</strong> José MiguelSilva que permite dar por ultrapassadoo prazo <strong>de</strong> valida<strong>de</strong> da etiquetaneo-realista é “Erros Individuais”,cuja géne<strong>se</strong> <strong>se</strong> centra numa viagem(que existiu) a Florença. Os poemaspartem <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> narradorque <strong>se</strong> pas<strong>se</strong>ia entre a alta pintura religiosae os turistas abonados, pon<strong>de</strong>randoo equilíbrio precário entre a fée o dinheiro, entre a Igreja e a burguesia.Havendo “tipos” realistas – o turista,a casa agrícola, o dinheiro – o maispremente no livro é essa espécie <strong>de</strong>reflexão monetarista e o sarcasmo oua ironia triste que une cada verso.Acresce que ao contrário do que temsido escrito, José Miguel Silva não tomaum partido claro entre fé e burguesia:ninguém é poupado mas ninguémé dizimado; e <strong>se</strong> aqui e ali aspreferências políticas, éticas e estéticasdo poeta surgem claras, <strong>se</strong>ria abusadotraçar um perfil biográfico apartir daqu<strong>ele</strong>s versos visto haver umjogo <strong>de</strong> personificação.“Quando comecei a escrever estespoemas” – dizia-nos ao t<strong>ele</strong>fone <strong>de</strong>Serém, a al<strong>de</strong>ia on<strong>de</strong> resi<strong>de</strong>, porqueali, <strong>se</strong>gundo afirma, po<strong>de</strong> viver <strong>se</strong>mter <strong>de</strong> trabalhar insanamente – “o meuobjectivo era fazer simplesmente umrecordatório da experiência vivida”.O processo <strong>de</strong> recordar, <strong>se</strong>mpre uminimigo da paz, trouxe-lhe à mente “oconfronto entre o espírito burguês eo cristão que em Florença é tão flagrante”.O tema acabou, por forçamaior, por <strong>se</strong> lhe impor como “o verda<strong>de</strong>irotema do livro”.A vela <strong>de</strong> ignição do livro foi entãoa “contradição insanável” entre estasduas visões do mundo [burguesa ecristã], assinalada na própria arte,como realça o poeta: “Vês a VirgemMaria vestida como <strong>se</strong> pertences<strong>se</strong> àalta burguesia, vês os santos vestidoscomo príncipes. Quando toda a mensagemcristã <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> o oposto”. Acoexistência aparentemente pacíficaentre opostos tão pronunciados causouuma espécie <strong>de</strong> comichão no poeta:“Es<strong>se</strong> convívio entre o cristão eo burguês só <strong>se</strong> faz com uma certahipocrisia. E a hipocrisia e a duplicida<strong>de</strong>é que me incomodam”.José Miguel não disfarça que prefere“o espírito da burguesia”, porqueé “individualista e materialista”. Masnesta sua assumpção não há lugar aabsolutismos e há lugar também àadmissão <strong>de</strong> que “o mero materialismoé empobrecedor”. Pelo que o queencontrou em Florença foi o que resta<strong>de</strong> uma dupla mentira, pas<strong>se</strong> a expressão:“De maneiras opostas, tantoo cristianismo como o liberalismotraíram as suas promessas”.O objecto e o abjectoÉ esta tensão (entre o reconhecimentoda falência <strong>de</strong> modos <strong>de</strong> ver o mundoe da própria incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> con<strong>de</strong>narpor completo quem os escolhe)que move “Erros Individuais”, títuloque, tendo em conta o que está emjogo, não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> <strong>se</strong>r irónico. “Quemler o livro com atenção percebe queeu tento não situar-me em nenhumextremo. Critico um certo materialismo,gros<strong>se</strong>iro, com o qual tenho umacerta insatisfação; mas por outro ladohá uma certa nostalgia das verda<strong>de</strong>irasorigens cristãs, que infelizmentenão partilho”.Se há livrona obra <strong>de</strong>José MiguelSilva quepermite darpor ultrapassadoo prazo<strong>de</strong> valida<strong>de</strong>da etiquetaneo-realistaé “ErrosIndividuais”Há ainda um terceiro plano <strong>se</strong>mióticonos poemas: “A b<strong>ele</strong>za daquelapintura”. Perante o espanto estético<strong>de</strong> algo que pertence a uma or<strong>de</strong>mmoral em que não acredita, o poetacoloca-<strong>se</strong> uma questão bem antiga:“A b<strong>ele</strong>za tem <strong>de</strong> estar ao <strong>se</strong>rviço <strong>de</strong>alguma coisa?”Po<strong>de</strong> parecer uma questão menore José Miguel Silva é o primeiro a daro exemplo <strong>de</strong> Leni Riefenshtal, queos cineastas gabam apesar do carácterhediondo do <strong>se</strong>u trabalho (e facilmentepo<strong>de</strong>ríamos acrescentar Céline emuitos outros à lista). Mas é, na realida<strong>de</strong>,mais complexo que isto, damesma forma que afirmar que formae conteúdo são a mesma coisa é umsimplismo atroz.“Não acho que a arte tenha <strong>de</strong> estarao <strong>se</strong>rviço <strong>de</strong> nada”, começa José Miguel.“O que não <strong>se</strong>i é <strong>se</strong> a b<strong>ele</strong>za <strong>se</strong>justifica por si só – e o mesmo <strong>se</strong> po<strong>de</strong>dizer do conhecimento. Ou, dito doutromodo, prefiro a arte que <strong>se</strong> fundanum <strong>se</strong>ntido moral”.A questão po<strong>de</strong> <strong>se</strong>r colocada <strong>de</strong>outra maneira. Imaginemos que olhamosum objecto. E o objecto encantanos.Depois pensamos sobre o objectoe verificamos que o que está na suafundação é abjecto. O que fazer? “Peranteum objecto belo, perante qual-Realista não,político simO mais recente livro do poeta José Miguel Silva,“Erros Individuais”, parte <strong>de</strong> uma viagem <strong>de</strong> férias a Florençapara analisar a Igreja e o capital, a arte e a moral. No fim surge tristementeo país. Mais que um poeta realista, é um poeta moral ou do pensamento.Ele prefere o termo “político”. João Bonifácio22 • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • Ípsilon


“Vês a Virgem Mariavestida como <strong>se</strong>pertences<strong>se</strong> à altaburguesia, vês ossantos vestidos comopríncipes. Quandotoda a mensagemcristã <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>o oposto”quer criação humana, é inevitávelperguntamo-nos sobre as suas implicaçõespolíticas e morais. É comoolhar para um monumento do passadoe recordar que foi construído commão-<strong>de</strong>-obra escrava, ou então pensarapenas na sua grandiosida<strong>de</strong>”.Digamos que esta poesia é uma forma<strong>de</strong> passar do particular ao geral.O particular <strong>se</strong>ria a posição pessoal<strong>de</strong> José Miguel Silva em relação a Florença,resumível assim: “Aquela pinturamaravilhosa é uma forma <strong>de</strong> b<strong>ele</strong>zaao <strong>se</strong>rviço <strong>de</strong> uma mentira, <strong>de</strong>uma ilusão”. O geral po<strong>de</strong>ria <strong>se</strong>r colocado<strong>de</strong>sta forma: “Tenho <strong>se</strong>mpreesta dúvida: po<strong>de</strong> a estética prescindirda moral?”Aqui <strong>se</strong> vê que em “Erros Individuais”estão em jogo, <strong>de</strong> forma subtil,conceitos que ultrapassam o do merorealismo. Mais ainda: está-<strong>se</strong> longe <strong>de</strong>qualquer pessoalismo, longe do usodo poema como forma catártica oubiográfica – há uma proximida<strong>de</strong> qua<strong>se</strong>ao registo ensaístico, que não resvalapara este graças ao uso <strong>de</strong> diversosrecursos qua<strong>se</strong> humorísticos (comoa ironia).Essa ausência <strong>de</strong> biografismo faz<strong>se</strong>ntido no curso da obra <strong>de</strong> José MiguelSilva, mas nem <strong>se</strong>mpre foi assim,ou por outra, qua<strong>se</strong> <strong>se</strong>mpre houveespaço para uma escrita mais pessoal.No <strong>se</strong>u anterior livro, “Movimentosno escuro”, que não fora o <strong>de</strong>scréditoa que a poesia está votada em Portugale po<strong>de</strong>ria facilmente <strong>se</strong>r consi<strong>de</strong>radoum livro-<strong>de</strong>-cabeceira, os poemaspartiam dos filmes preferidos dopoeta. Num momento inusitado JoséMiguel usa o FC Porto 2 – Bayern 1 dafinal da Taça dos Campeões Europeus<strong>de</strong> 1987 (o que já <strong>de</strong> si sintomático: oreal visto como ficção, <strong>de</strong> tão implausívelque é) e traça o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> todosaqu<strong>ele</strong>s que, como o Porto <strong>de</strong> outrora,são pequenos: um breve fogacho<strong>de</strong> alegria e <strong>de</strong>pois “felizes daqu<strong>ele</strong>sque guardaram a cas<strong>se</strong>te”. É, numaaltura em que toda a santa blogosferae todo o cronista aborrecido e burguêsbrada sobre uma canção tontados Deolinda, um dos mais importantespoemas <strong>de</strong> toda uma geração.“Aí há um efeito <strong>de</strong> sincerida<strong>de</strong>”,diz Silva, saudavelmente portista. “Essasincerida<strong>de</strong>”, esclarece, “tambémacontece noutros poemas, só quenem <strong>se</strong>mpre quero escrever rente à<strong>se</strong>moções. E mesmo os poemas aparentementemais emocionais são muitotrabalhados, porque as emoçõessão apenas o ponto <strong>de</strong> partida. Nomeu caso, há duas emoções básicas:<strong>de</strong>sânimo e irritação”“Movimentos no Escuro” po<strong>de</strong> <strong>se</strong>rconsi<strong>de</strong>rado o livro em que <strong>de</strong>finitivamenteJosé Miguel abandonou qualquerv<strong>ele</strong>ida<strong>de</strong> neo-realista – <strong>ele</strong> quehoje pergunta “Já vamos em quantosneos?”. Se o soberbo “Ulis<strong>se</strong>s Já NãoMora Aqui” era mais atreito à picuinhicemesquinha dos dias, “Movimentosno Escuro” partia <strong>de</strong> filmes clássicospara os “reescrever”. A arte<strong>se</strong>rvia <strong>de</strong> <strong>de</strong>sculpa para chegar ao reale para pensar o homem, <strong>se</strong>ndo queem certos momentos, como na r<strong>ele</strong>itura<strong>de</strong> “Ladrão <strong>de</strong> Bicicletas”, <strong>de</strong> DeSica, <strong>se</strong> raiava a pura comoção: JoséMiguel escrevia a história do pai, queia <strong>de</strong> bicicleta para o trabalho numafábrica nos arredores <strong>de</strong> Gaia – on<strong>de</strong>o poeta nasceu.Mas ainda assim o poeta adverteque “é muito perigoso ler os poemasà luz da biografia”. Mesmo no casodaqu<strong>ele</strong>s em que está a falar <strong>de</strong> si edos <strong>se</strong>us José Miguel Silva mistura“muito a biografia com a ficção”.Es<strong>se</strong> movimento <strong>de</strong>ntro da obra éagora ainda mais notório com o últimolivro. O próprio poeta reconheceque “ultimamente tem [-lhe] apetecidoescrever mais ba<strong>se</strong>ado na reflexão”,acrescentando que essa reflexãoé “não-filosófica” visto não augurar a<strong>se</strong>r filósofo. “Não procuro uma <strong>de</strong>scargaemocional”, conclui.Talvez por isso os <strong>se</strong>us livros sãocada vez menos colectâneas <strong>de</strong> poemassoltos. Aliás, admite que lhe é“difícil escrever um poema isolado”.“Há qua<strong>se</strong> <strong>se</strong>mpre um fio condutorem mente”, o que advirá não só dasua postura face ao mundo como tambémdas leituras: “Como leitor alimento-me<strong>de</strong> todo o tipo <strong>de</strong> géneros– aliás, posso dizer que a poesia é <strong>se</strong>calhar o género que menos leio, paraaí um em cada <strong>de</strong>z livros <strong>se</strong>rão <strong>de</strong> poesia.Leio muita história, muita sociologia,muito romance, muitos ensaio<strong>se</strong> diários”.Num aparte menos amargo que sinceroacrescenta ter por vezes “a impressão<strong>de</strong> que alguns poetas portugue<strong>se</strong>ssó lêem poesia”, consi<strong>de</strong>randoa possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “isso <strong>se</strong>r empobrecedor”.Ainda assim é o primeiro amenorizar a sua vertente ensaística,usando uma espécie <strong>de</strong> auto-<strong>de</strong>preciaçãopara <strong>se</strong> avalaiar: “Quando não<strong>se</strong> tem uma costela filosófica, o remoere o reflectir são difíceis <strong>de</strong> distinguir”,diz, com humor, uma das marcasdistintivas da sua poesia.No entanto, na última parte <strong>de</strong> “ErrosIndividuais”, a <strong>de</strong>stinada ao regressoa Portugal, es<strong>se</strong> humor parece<strong>de</strong>saparecer, restando apenas umaespécie <strong>de</strong> retrato nulo, mesquinhoe torpe da pátria, aliás próximo doque já era feito em “Ulis<strong>se</strong>s Já Não MoraAqui” que também mencionava arealida<strong>de</strong> portuguesa.Para um poeta que <strong>se</strong> afirma antes<strong>de</strong> mais político – no <strong>se</strong>ntido meno<strong>se</strong>strito do termo – faz <strong>se</strong>ntido aproveitaro fim das férias e con<strong>se</strong>quente retornoao país para olhá-lo – e retornara, mais que um realismo, um raio-x.“É um país um pouco aflitivo. Haviamais razões para <strong>se</strong>r optimista há <strong>de</strong>zanos do que hoje”. Mas que não <strong>se</strong>tome es<strong>se</strong> raio-x como ontologia: parao poeta “a visão <strong>de</strong> Portugal queestes poemas transmitem reflecteuma vivência pre<strong>se</strong>nte”, não uma essênciada nação. Com um <strong>se</strong>não: “Infelizmente,este <strong>de</strong><strong>se</strong>ncanto não sousó eu que o sinto”.Contra todas as evidências em contrário,José Miguel Silva <strong>de</strong>ixa claroque “as férias foram óptimas”.Ípsilon • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • 23


DANIEL ROCHAAs peças<strong>de</strong> DidierFaustinoexigem queo espectadoraja física ementalmente:“Flatland”,<strong>de</strong> <strong>2011</strong>,convida-oa baloiçarpara “<strong>ele</strong>var opensamento”Didier Faustino tem um programasubversivoPo<strong>de</strong> dizer-<strong>se</strong> que Didier Fiúza Faustino(n. Chennevières-sur-Marne,França, 1968) tem na ambiguida<strong>de</strong> o<strong>se</strong>u primeiro motivo <strong>de</strong> trabalho: nãoé nem arquitecto nem artista; não énem francês nem português; os objecto<strong>se</strong> instalações que faz não sãonem esculturas nem propostas arquitectónicas;as premissas <strong>de</strong> que parte,tal como os resultados que atinge, nãopertencem a nenhum território <strong>de</strong>finido.Continua a fazer projectos <strong>de</strong> arquitectura,mas interessa-lhe mai<strong>se</strong>xperimentar hipóte<strong>se</strong>s, testar possibilida<strong>de</strong><strong>se</strong> colocar questões. O <strong>se</strong>uâmbito <strong>de</strong> trabalho não é estritamenteespacial, mas dirige-<strong>se</strong> às múltiplasrelações (políticas, sociais, biológicas,<strong>se</strong>nsoriais) que a experiência do espaçoimplica. Como escreve num textosobre o <strong>se</strong>u trabalho: “Através da<strong>de</strong>sorientação o corpo <strong>de</strong>ve abrir-<strong>se</strong>ao espaço e o espaço ao corpo. Desorientaçãoversus transparência.”(“Bureau <strong>de</strong>s Mésarchitectures”, LesÉditions du Seuil, 2007)Se a primeira ambiguida<strong>de</strong> do trabalho<strong>de</strong> Didier é a <strong>de</strong> <strong>se</strong> inscrever nafronteira entre a arte e a arquitectura,as outras dizem respeito ao modo comonão possui um programa estético,mas sim subversivo. Uma subversãorelativa não à alteração material ouformal dos objectos artísticos e/ouarquitectónicos, mas das relações <strong>se</strong>nsívei<strong>se</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.É uma i<strong>de</strong>ia que reforça, em conversacom o Ípsilon, a propósito dasua exposição no Centro <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rnada Fundação Calouste Gulbenkian,“Não Confiem nos Arquitectos”.Didier Faustino i<strong>de</strong>ntifica o espaço,a política, o território e afragilida<strong>de</strong> como os <strong>se</strong>us principaisinteres<strong>se</strong>s, mas afirma estar sobretudointeressado nas “micropolíticas”.“O que mais me interessa, tanto emarte como na arquitectura, é propormicropolíticas. Propostas <strong>de</strong> resistênciae <strong>de</strong> subversão dos actuais sistemasartísticos e arquitectónicos. Paramim, trata-<strong>se</strong> <strong>de</strong> pôr em prática umaeconomia da in<strong>de</strong>pendência”, diz. A<strong>se</strong>xposições, continua, são “uma maneira<strong>de</strong> concretizar e testar i<strong>de</strong>ias”sobre as quais trabalha, <strong>de</strong> “ver o impactoque têm ou simplesmente <strong>de</strong>as difundir.”Não está em causa <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolver discursivamentenovas formas <strong>de</strong> organizaçãosocial, nem tecer críticas àsactuais modalida<strong>de</strong>s da politica oupropor novos mo<strong>de</strong>los económicos.Premissa inicial: “A arquitectura nãoé uma ciência, arte ou disciplina exacta,por isso temos <strong>de</strong> estar <strong>se</strong>mpre alevantar questões e a fazer experiências”(“Frame”, nº 78, Jan/Fev. <strong>2011</strong>).E este processo <strong>de</strong> questionamento e<strong>de</strong> experimentação tem con<strong>se</strong>quênciasno modo como <strong>se</strong> percepcioname organizam o espaço e as relações <strong>de</strong>po<strong>de</strong>r n<strong>ele</strong> expressas.A retórica <strong>de</strong> Didier explora os limite<strong>se</strong>, nes<strong>se</strong> processo, joga com oque <strong>se</strong> sabe, o que <strong>se</strong> espera e o queainda <strong>se</strong> po<strong>de</strong> dizer, bem como comNão <strong>se</strong> sabe <strong>se</strong> é artista ou arquitecto, portuguêsou francês: Didier Faustino é um provocador,como <strong>de</strong>monstra o título da exposição que temagora no Centro <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna da Gulbenkian,“Não Confiem nos Arquitectos”. Perfil <strong>de</strong> uma obraque não pertence a nenhum território <strong>de</strong>finido,a não <strong>se</strong>r o da ambiguida<strong>de</strong>. Nuno Crespo“Instrumentfor BlankArchitecture”,<strong>de</strong> 2010, é umdispositivo <strong>de</strong>prospecçãodas paisagensmentais einteriores dovisitante daexposição24 • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • Ípsilon


a procura <strong>de</strong> uma linguagem própriae clara: “Deixamos a escola com certasi<strong>de</strong>ias — uma espécie <strong>de</strong> corpus— integradas em nós. Vejo isto comouma espécie <strong>de</strong> alfabeto, o qual nosé dado pelos nossos professores. E euquis <strong>de</strong>struir es<strong>se</strong> corpus ou alfabetoe encontrar, ou produzir, o meu. Eujogo com o meu corpus, misturo osingredientes, uso o corpo, as questõespolíticas e as inter-relações entre pessoas,território, fragilida<strong>de</strong>, para gerarsituações. Mas o objectivo final é falare focar-me nos problemas que envolvemo espaço” (“Frame”, nº 78, Jan/Fev. <strong>2011</strong>).Se o processo começa por <strong>se</strong>r crítico,<strong>de</strong>pois revela-<strong>se</strong> como ambição<strong>de</strong> construção <strong>de</strong> uma linguagem própria.Por isso, Didier cita o poeta francêsNicolas Boileau-Despréaux (1636-1711): “Aquilo que <strong>se</strong> pensa bem enuncia-<strong>se</strong>claramente e as palavras parao dizer surgem facilmente.” O esforçoe a ambição <strong>de</strong> clareza estão pre<strong>se</strong>nte<strong>se</strong>m cada gesto do artista-arquitecto.Fazer acontecerFoi neste contexto, que Didier FiúzaFaustino fundou em 2002, com outrosarquitectos e artistas, o Atelier Mésarchitectures.Mais do que um atelieron<strong>de</strong> são criados objectos para respon<strong>de</strong>ra problemas/encomendas oupara intervir no território, este ateliercria acontecimentos/acções. Se a origemdos trabalhos po<strong>de</strong> <strong>se</strong>r uma respostaao espaço, o <strong>se</strong>u resultado não<strong>se</strong> atém à activação <strong>de</strong> zonas espaciais.O interes<strong>se</strong> está, sobretudo, emcriar acontecimentos, movimentos esituações em que o corpo abre o espaçoe o espaço o corpo. Não <strong>se</strong> trata<strong>de</strong> uma fórmula, mas <strong>de</strong> um apelo àabertura e à participação.Na exposição em <strong>Lisboa</strong>, existemdois bons exemplos <strong>de</strong>stes ambicionadosacontecimentos: “Instrumentfor Blank Architecture” (2010) e “Flatland”(<strong>2011</strong>).O primeiro é um instrumento auditivomóvel habitualmente utilizadono levantamento topográfico <strong>de</strong> paisagens,ao qual é acrescentado umtripé para sustentação. O espectador<strong>de</strong>ve colocar-<strong>se</strong> <strong>de</strong>ntro do dispositivo,que passa agora a <strong>se</strong>rvir para fazer aprospecção das paisagens mentais einteriores. Com a cara colocada num“nicho cegante”, é-<strong>se</strong> obrigado a ouvirmais intensamente os outros <strong>se</strong>ntidos.Uma <strong>de</strong>slocação do exterior para ointerior que surge a Didier como“uma próte<strong>se</strong> expansiva para acrescentaroutro mundo ao corpo.”No <strong>se</strong>gundo caso, o espectador“torna-<strong>se</strong> actor por trás <strong>de</strong> um ecrã<strong>de</strong> cinema on<strong>de</strong> projecta a sua <strong>som</strong>bra,<strong>se</strong>rvindo-<strong>se</strong> um baloiço.” O visitante-actorencontra uma estrutura<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, um baloiço e um ecrãbranco, tudo <strong>ele</strong>mentos a requereremutilização e activação: é preciso o visitante<strong>se</strong>ntar-<strong>se</strong> no baloiço e baloiçar.Experimentar os <strong>ele</strong>mentos da obraé a condição da sua existência, poissó enquanto proposta <strong>de</strong> uma acçãoconcreta (num espaço e num intervalo<strong>de</strong> tempo) ela é válida. A trajectóriafeita pelo corpo <strong>se</strong>ntado no baloiço é<strong>de</strong><strong>se</strong>nhada na superfície do ecrã, quereflecte não só o movimento do corpo,mas o pensamento, os <strong>de</strong><strong>se</strong>jos, a<strong>se</strong>speranças e as ambições. O corposuspenso no baloiço revela “um homemflutuante num mundo instável.Um corpo em suspensão para <strong>ele</strong>varo pensamento.”“O que mais meinteressa é propormicropolíticas.Propostas <strong>de</strong>resistência e <strong>de</strong>subversão dos actuaissistemas artístico<strong>se</strong> arquitectónicos”Didier FaustinoDesconfiar dos arquitectosIsabel Carlos, a curadora da exposição,sintetiza assim “Não Confiem nosArquitectos” num texto produzidopara o catálogo: “‘Deixa-te dominarpara po<strong>de</strong>res dominar’ é o que <strong>de</strong> algummodo todas as peças-experiências<strong>de</strong>sta exposição parecem induzir,ao <strong>de</strong>stabilizarem precisamente nãosó o espaço, mas sobretudo a nossacondição <strong>de</strong> espectadores passivos<strong>de</strong> um mu<strong>se</strong>u. Do mu<strong>se</strong>u ou do mundo?”.À <strong>de</strong>stabilização promovida porDidier, junta-<strong>se</strong>, como <strong>se</strong>u <strong>ele</strong>mentoâncora,a permanente ironia. “NãoConfiem nos Arquitectos” é um moteirónico para uma exposição em que<strong>se</strong> experimenta a fragilida<strong>de</strong> dos <strong>se</strong>ntidoshumanos e dos conceitos comque julgamos dominar as coisas. E alinguagem, para Didier “a ba<strong>se</strong> <strong>de</strong> todosos trabalhos”, é o veículo privilegiado<strong>de</strong>ssa provocação.Na instalação sonora “Trust me”,uma discussão a três vozes simultâneasque dizem em línguas diferentes“não confies nos arquitectos” resultanuma confusão <strong>de</strong> sons que “<strong>de</strong>sorientafisicamente o visitante, levando-oa duvidar do <strong>se</strong>u próprio papel.”Exige-<strong>se</strong>-lhe uma tomada <strong>de</strong> posição.Em todas as peças <strong>de</strong> Didier, o espectadoré obrigado a agir física e mentalmente.E a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> relaçãocom os <strong>se</strong>us “objectos” resi<strong>de</strong> nessaexigência que, muitas vezes, constituiuma dificulda<strong>de</strong>.“Future will be remake”, outra daspeças nesta exposição, “é um jogoque <strong>de</strong>safia as pessoas a apropriarem<strong>se</strong>da arquitectura como <strong>se</strong> fos<strong>se</strong>m<strong>se</strong>us protagonistas”. Este intermináveljogo da macaca coloca o jogadornuma errância infinita e <strong>se</strong>m fronteiras,em que nunca <strong>se</strong> ganha ou <strong>se</strong> per<strong>de</strong>e só <strong>se</strong> conhece a repetição continua.O oito <strong>de</strong><strong>se</strong>nhado pelo jogo remeteigualmente para a condição docorpo humano enquanto força fundadorae medida-padrão <strong>de</strong> todas asgran<strong>de</strong>zas e regiões espaciais.Todas as obras estão nesta condição<strong>de</strong> <strong>se</strong>r, primeiro, uma resposta aoespaço, e <strong>de</strong>pois veículo da tomada<strong>de</strong> consciência por parte do espectador-utilizadorda totalida<strong>de</strong> das dimensõesdo <strong>se</strong>u corpo. Que <strong>se</strong> <strong>de</strong>scobrecomo sistema <strong>de</strong> reenvios e <strong>de</strong>inter<strong>se</strong>cções entre o interior e o exterior,o mental e o físico, o privado e opúblico.As obras <strong>de</strong> Didier prolongam ocorpo, levando-o a testar limites e aexpandir os <strong>se</strong>us domínios. Propondouma experiência física e <strong>se</strong>nsual que,no final, <strong>se</strong> revela uma enorme alegoriapara falar da condição <strong>de</strong> toda aarquitectura: o corpo e as suas necessida<strong>de</strong>s,os <strong>se</strong>us limites, as suas metamorfo<strong>se</strong>s.A esta luz, todos os objectos (aosquais também <strong>se</strong> po<strong>de</strong>ria chamarapparatus) que provocam acções eexperiências são membranas queconstituem prolongamentos do corpoe com os quais <strong>se</strong> assiste a uma expansãodo ocupação espacial feitapelo homem.Antes <strong>de</strong> Didier Faustino, um lugarera a <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> uma coor<strong>de</strong>nadana topografia terrestre. ComDidier passa a <strong>de</strong>signar uma coor<strong>de</strong>nadada topografia mental ou <strong>se</strong>ntimental.Ver agenda <strong>de</strong> exposições na pág. 39.Ípsilon • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • 25


MIGUEL MADEIRAPo<strong>de</strong>ríamos começar por dizer que<strong>se</strong>r actor é prolongar um jogo infantil.Mas, diz Beatriz Batarda, a assinar,pela <strong>se</strong>gunda vez, uma encenação,para <strong>se</strong> <strong>se</strong>r actor “é preciso escolher[<strong>se</strong> partimos para] uma relação <strong>de</strong>procura artística ou uma <strong>de</strong> resultados,<strong>de</strong> con<strong>se</strong>quência, <strong>de</strong> sucesso, <strong>de</strong>estatuto social.”“A nossa tradição <strong>de</strong> interpretaçãoé mais contemplativa, ten<strong>de</strong>ncialmentemoralista pela nossa religião e culturajudaico-cristã, <strong>se</strong>mpre com umcomentário distanciado em relaçãoàs personagens, o que as torna redutoras.Enquanto actriz lutei <strong>se</strong>mprepor um diálogo com o que é o meuponto <strong>de</strong> vista sobre o mundo e osoutros, criando um ponto <strong>de</strong> vistapróprio.”Nesta peça, especificamente escritapara <strong>se</strong>te actores adultos que <strong>de</strong>veminterpretar crianças, tudo <strong>se</strong>torna ainda mais claro. “É a metáforado actor a <strong>se</strong>r a criança que faz <strong>de</strong>espelho para o espectador”. O queestá em causa, quando <strong>se</strong> fala em <strong>se</strong>ractor, é reflectir sobre o caminho a<strong>se</strong>guir: “Qual vai <strong>se</strong>r o caminho futuro<strong>se</strong>m que <strong>de</strong>slace numa linguagem<strong>se</strong>m pulsão entre a vida e a morte? –que é a linguagem praticada em algunsprodutos t<strong>ele</strong>visivos, uma lin-guagem burguesa e banalizada, estereotipadae bidimensional, porquenão tem conflito nem contradições”Mas “Azul Longe das Colinas” foiescrito por Dennis Potter (1935-1994),precisamente, para t<strong>ele</strong>visão, em 1979,tendo entre o <strong>ele</strong>nco H<strong>ele</strong>n Mirren.Ambientada na II Guerra Mundial,nesta versão surge intemporal. Mostracrianças em jogos <strong>de</strong> organização social,domínio, controlo, manipulaçãoe <strong>de</strong>scoberta <strong>se</strong>xual. Jogos inevitavelmenteperigosos <strong>de</strong>mais que conduzirãoas crianças a <strong>de</strong>scobrirem o outro(e a ida<strong>de</strong> adulta) através da morte<strong>de</strong> uma <strong>de</strong>las. Tendo sido, anos maistar<strong>de</strong>, adaptado para teatro, apre<strong>se</strong>ntauma economia narrativa que obrigaa soluções que na t<strong>ele</strong>visão são resolvidaspor artifícios como a montagemou a mudança <strong>de</strong> cenário. “Procureianular tudo o que fos<strong>se</strong>m artifícios,que são pequenas manipulações sobreo espectador. Aqui as coisas estão aacontecer simultaneamente em espaçosgeográficos e temporais diferentes.O artifício chega através do actore não do ví<strong>de</strong>o, <strong>de</strong> efeitos sonoros...Eles ouvem pássaros ou vêem um esquilonas ramadas, e é através do que<strong>ele</strong>s ouvem e vêem que eu vejo e ouço”,diz a encenadora.E o jogo proposto pelo actor é <strong>de</strong>terminadoà priori pelo próprio autorque dizia estar em todas as personagens,assumindo-<strong>se</strong> também comomarionetista das vidas <strong>de</strong>ssas personagen<strong>se</strong> dos actores que as interpretavam.Ele sabia on<strong>de</strong> os queria levar,mesmo que pu<strong>de</strong>s<strong>se</strong> <strong>se</strong>r surpreendidopelo resultado. Es<strong>se</strong> processo <strong>de</strong> construçãoé processo <strong>de</strong> manipulação etorna mais perversa toda a construçãodramatúrgica. Nos filmes que escreveu,ou nas peças gravadas para t<strong>ele</strong>visão,era frequente <strong>se</strong>r <strong>de</strong> Potter avoz do narrador, assumindo uma posição<strong>de</strong> <strong>de</strong>miurgo. “Ele é profundamenteperverso e o jogo [que propõe]também. Eu sou um bocadinho, masnão o sou profundamente”, diz Batardaa brincar.é o exemplo mais escarrapachadodisso mesmo. A poesia é o todo.”A armadilha maior dos textos <strong>de</strong>Dennis Potter (escreveu para t<strong>ele</strong>visãoe cinema “O Detective Cantor”,“Dinheiro do Céu”, “Lipstick on YourCollar”, “Gorky Park” ou “Blackeyes”)operam num território híbrido, <strong>se</strong>rvindo-<strong>se</strong>da sua própria vida para experimentarnovos mo<strong>de</strong>los ficcionais.está no modo como obriga o actor a<strong>de</strong>scobrir, através da insuficiência dotexto, o modo <strong>de</strong> o tornar real. Resi<strong>de</strong>aqui a riqueza maior <strong>de</strong>ste autor atormentadoque foi violado pelo tio antes“Azul Longedas Colinas”mostracriança<strong>se</strong>m jogos<strong>de</strong> domínio,controlo,manipulaçãoe <strong>de</strong>scoberta<strong>se</strong>xual“Os ingle<strong>se</strong>sconstroem umapoética sobre temasuniversais muitasvezes <strong>se</strong>m estaremnunca a fazer poesia”<strong>de</strong> fazer <strong>de</strong>z anos, tinha um problemagrave <strong>de</strong> psoría<strong>se</strong>, dificulda<strong>de</strong> em <strong>se</strong>relacionar com as mulheres e, aindaassim, tendo construído um casamentoao qual sobreviveu apenas novedias à mulher – morreram ambos <strong>de</strong>cancro – não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> verter para ostextos uma amargura que po<strong>de</strong> <strong>se</strong>rvista como um processo <strong>de</strong> catar<strong>se</strong> ereescrita da sua história. Beatriz Batardadiz que essa é a força <strong>de</strong> Potter:“A mim chateia-me que na ficção tudotenha que fazer <strong>se</strong>ntido, quando sófala da realida<strong>de</strong> e a vida não tem quefazer <strong>se</strong>ntido.”PEDRO MACEDOA poesia é o todoBatarda diz que foi através da improvisaçãoque <strong>se</strong> apercebeu que “a verda<strong>de</strong>iragenerosida<strong>de</strong> passa por umcaminho <strong>de</strong> perversida<strong>de</strong>.” E essaperversida<strong>de</strong> encontra-<strong>se</strong> vertida soba forma <strong>de</strong> um texto que <strong>se</strong> inscrevena longa tradição ficcional anglo-saxónica.“Os ingle<strong>se</strong>s constroem umapoética sobre temas universais muitasvezes <strong>se</strong>m estarem nunca a fazer poesia.Em Shakespeare, por exemplo,há solilóquios carregados <strong>de</strong> metáfora<strong>se</strong> imagens poéticas e nunca sãopara <strong>se</strong>rem feitos <strong>de</strong> forma poética.O que é <strong>de</strong>scrito é <strong>se</strong>mpre concreto eproduz uma acção concreta, com umobjectivo e um obstáculo, e eventualmenteuma con<strong>se</strong>quência. Este textoA <strong>se</strong>gundaencenação <strong>de</strong>BeatrizBatardaapre<strong>se</strong>nta emPortugalDennis PotterWelcome Mr. PotterÀ <strong>se</strong>gunda encenação Beatriz Batarda apre<strong>se</strong>nta-nos Dennis Potter,autor inédito em Portugal, figura es<strong>se</strong>ncial da culturaanglo-saxónica. Des<strong>de</strong> ontem no D. Maria II, <strong>se</strong>te crianças são portas<strong>de</strong> entrada para um dos universos mais ricos da dramaturgiacontemporânea. Tiago Bartolomeu Costa26 • Sexta-feira ei11 Fevereiro ereiro2001 • Ípsilon


JOEL SAGET/ AFPMario MonicelliPequena homenagem, na Cinemateca,a um gigante Pág. 28Ípsilon • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • 27


CinemaAs estrelas do públicoJorgeMourinhaLuís M.OliveiraMárioJ. TorresVascoCâmaraUm ano mais mmmmn nnnnn mmmmn mnnnnO bom soldado mmmnn mmmnn nnnnn nnnnnBiutiful A mnnnn A ACisne Negro mmmmn nnnnn mmmnn mmmnnO discurso do Rei mmnnn nnnnn nnnnn mnnnnExército Vermelho Unido nnnnn mmmmn nnnnn nnnnnHereafter - Outra Vida mmnnn mmnnn mmmmn mnnnnÚltimo round mmmnn mnnnn nnnnn mnnnnVais conhecer o homem dos teus sonhos mmnnn mmmnn mmmmn mmnnnSexo <strong>se</strong>m compromisso mmnnn nnnnn nnnnn nnnnn“Exército Vermelho Unido”: uma catar<strong>se</strong> pessoal, a <strong>de</strong> um cineasta que já advogou a “luta armada”EstreiamDevastação<strong>de</strong> pai<strong>se</strong> filhosWakamatsu em do<strong>se</strong> dupla:análi<strong>se</strong> cruel da mentalida<strong>de</strong>revolucionária e do“heroísmo” <strong>de</strong> guerra. LuísMiguel OliveiraExército Vermelho UnidoUnited Red ArmyDe Koji Wakamatsu,com Akie Namiki, Arata, Takaki Uda,Soran Tamoto. M/16MMMMn<strong>Lisboa</strong>: Me<strong>de</strong>ia King: Sala 3: 5ª 6ª SábadoDomingo 2ª 3ª 4ª 18h30O Bom SoldadoKyatapiruDe Koji Wakamatsu,com Shinobu Terajima, ShimaOhnishi, Go Jibiki, Arata, KeigoKasuya. M/16MMMnn<strong>Lisboa</strong>: Me<strong>de</strong>ia King: Sala 3: 5ª Domingo 3ª 4ª13h30, 15h10, 16h50, 22h 6ª Sábado 2ª 13h30,15h10, 16h50, 22h, 00h30Koji Wakamatsu passou partesubstancial da carreira a fazer “pinkfilms”, es<strong>se</strong> género erótico docinema japonês que, como todos osgéneros, era um “invólucro”. A caixa<strong>de</strong> DVDs com cinco filmes <strong>de</strong>Wakamatsu recentemente editada<strong>de</strong>ixa ver bem a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>coisas que o realizador levava para<strong>de</strong>ntro do “invólucro” do “pinkfilm”: uma relação (política) com oJapão que lhe era contemporâneo,uma proximida<strong>de</strong> com osmovimentos contestatários radicais(e violentos) <strong>de</strong>ssas décadas <strong>de</strong> 60 e70. A bem dizer, a proximida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Wakamatsu com es<strong>se</strong>s movimentostranscen<strong>de</strong>u o cinema – acreditoun<strong>ele</strong>s, participou, advogou a “lutaarmada”, e meteu-<strong>se</strong> nos sarilhoscorrespon<strong>de</strong>ntes (por causa <strong>de</strong> umfilme <strong>de</strong> propaganda palestinianaestá ainda hoje proibido <strong>de</strong> entrarem solo americano).Não é fundamental, mas éimportante saber <strong>de</strong>ste“background” a propósito <strong>de</strong>“Exército Vermelho Unido”, porquea raiz do filme é pessoal. Wakamatsu,que hoje (com 75 anos) renega aviolência e acredita que a maneiracorrecta <strong>de</strong> tentar mudar o mundo é“pela via <strong>ele</strong>itoral” , fê-lo paraacertar contas com o <strong>se</strong>u passado ecom a sua geração. Pegou na históriado Exército Vermelho Unido, um dosvários grupos e grupúsculos que naviragem dos anos 60 para os 70 <strong>se</strong><strong>de</strong>dicaram a operações <strong>de</strong>“terrorismo urbano” no Japão, e umgrupo que <strong>ele</strong> terá conhecido bem. Edis<strong>se</strong>cou, com toda a frieza, osmomentos capitais <strong>de</strong>ssa história.“Exército Vermelho Unido” é umaespécie <strong>de</strong> falso filme épico, nummovimento que vai doempolgamento ao <strong>de</strong>saparecimentoe à dissolução. Começa como <strong>se</strong>fos<strong>se</strong> uma enciclopédia: com umamontagem vivíssima que alternaimagens <strong>de</strong> arquivo, reconstituiçõescontemporâneas e legendasinformativas, Wakamatsu traça umacronologia dos movimentos <strong>de</strong>contestação japone<strong>se</strong>s, da inofensivaagitação estudantil nas universida<strong>de</strong>sà formação <strong>de</strong> grupos prontos para a“luta armada” – há aqui um ladoexaustivo e “documental” que épo<strong>de</strong>roso, e pensamos, por exemplo,nalgumas coisas do melhor Scor<strong>se</strong><strong>se</strong>,aquela capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contar umahistória a duzentos a hora(“Goodfellas”, “Casino”) a partirduma simples acumulação factual.Depois, Wakamatsu isola um alvo, oExército Vermelho Unido, e o filmetransforma-<strong>se</strong> numa cru<strong>de</strong>líssimaanáli<strong>se</strong> psicológica da mentalida<strong>de</strong>“revolucionária”. Parte <strong>de</strong> umepisódio real, uma reunião do gruponum “chalet” algures na provínciajaponesa em 1972 uma reunião emque o grupo <strong>se</strong> auto-<strong>de</strong>struiu a golpes<strong>de</strong> auto-crítica e purificaçãoi<strong>de</strong>ológica, <strong>de</strong>ixando para trás umapilha <strong>de</strong> cadáveres. Wakamatsu nãosalva ninguém <strong>de</strong>s<strong>se</strong> teatro intimistae absurdo, visão “<strong>de</strong>s-romantizada”do “esquerdismo radical”, on<strong>de</strong> oi<strong>de</strong>alismo <strong>de</strong>u lugar a umaburocracia fanatizada (aterminologia empregue nos diálogosé importante) e os traços <strong>de</strong> carácterdo “<strong>se</strong>r japonês” (a “dificulda<strong>de</strong> em<strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>cer”, como Wakamatsumencionou) ac<strong>ele</strong>ram a <strong>de</strong>sgraçam.Mas não só isso: todos aqu<strong>ele</strong>s temasclássicos do cinema japonês e dacultura japonês (o sacrifício, a honra)aparecem à tona, como <strong>se</strong> o“vermelho” fos<strong>se</strong> mera tonalida<strong>de</strong>que vem cobrir um atavismo trágico<strong>se</strong>m o alterar (e isto é, no fim <strong>de</strong>contas, o mais <strong>de</strong><strong>se</strong>sperante e o mais<strong>de</strong><strong>se</strong>sperado).Ajustadas contas com o passado“revolucionário”, Wakamatsupensou que era injusto ficar-<strong>se</strong> pelasua geração. E passou a “O BomSoldado”, on<strong>de</strong> os alvos são ageração que fez a II Guerra e,politicamente, o fascismo. É ahistória <strong>de</strong> um “herói <strong>de</strong> guerra”que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> várias “proezas”durante a invasão da China volta acasa transformado num “homemlagarta”(“Caterpillar” é o títuloinglês do filme) – apenas cabeça etronco, os braços e as pernasficaram algures em terra chinesa.Volta a casa para a mulher (parahorror, pieda<strong>de</strong> e nojo <strong>de</strong>la, tudo aomesmo tempo), e ambos <strong>se</strong>guem ocurso da II Guerra <strong>de</strong> longe, pelasnotícias e comunicadosradiofónicos. Ainda o “documento”:as imagens e os sons <strong>de</strong> arquivo, osplanos que enquadram asfotografias do Imperador Hirohitona sala do casal. E ainda umamedida <strong>de</strong> absurdo, evi<strong>de</strong>ntemente,na ob<strong>se</strong>rvação do fanatismoi<strong>de</strong>ológico, da parafernáliamilitarista (as medalhas do homemlagarta),das reverenciais submissãoe obediência – em vários graus,incluindo a relação marido/mulher(a condição feminina, enfim, temaclássico do cinema japonês), e oúnico olhar condoído é para ela,não para <strong>ele</strong>, o “herói <strong>de</strong> guerra”reduzido a uma animalida<strong>de</strong>rastejante (come, bebe, urina, tem<strong>se</strong>xo, rasteja – e é tudo). Quando <strong>se</strong>ouve pela rádio o discurso darendição japonesa proferido peloimperador, <strong>de</strong>sfaz-<strong>se</strong> tudo o queainda pu<strong>de</strong>s<strong>se</strong> fazer <strong>se</strong>ntido.Wakamatsu passa à contabilida<strong>de</strong> –o número <strong>de</strong> mortos <strong>de</strong> Hiroxima,28 • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • Ípsilon


aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExc<strong>ele</strong>ntedos bombar<strong>de</strong>amentos <strong>de</strong> Tóquio, o<strong>de</strong> japone<strong>se</strong>s que morreram naguerra. O filme acaba assim, comnúmeros. E num par <strong>de</strong> filmes, duasgerações <strong>de</strong>vastadas.O Discurso do ReiThe King’s SpeechDe Tom Hooper,com Colin Firth, Geoffrey Rush ,H<strong>ele</strong>na Bonham Carter, Guy Pearce,Timothy Spall. M/12MMnnn<strong>Lisboa</strong>: Atlântida-Cine: Sala 1: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 15h30,21h30 Sábado Domingo 15h30, 18h, 21h30; CastelloLopes - Cascais Villa: Sala 5: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h30,18h40, 21h40 6ª 15h30, 18h40, 21h40, 00h20 Sábado12h50, 15h30, 18h40, 21h40, 00h20 Domingo 12h50,15h30, 18h40, 21h40; Castello Lopes - LouresShopping: Sala 5: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª13h20, 15h50, 18h20, 21h20, 23h50; CinemaCityAlegro Alfragi<strong>de</strong>: Cinemax: 5ª 6ª Sábado Domingo2ª 3ª 4ª 13h30, 15h45, 18h, 21h30,23h50; CinemaCity Beloura Shopping: Cinemax: 5ª6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h45, 18h,21h25, 23h40; CinemaCity Campo Pequeno Praça <strong>de</strong>Touros: Sala 4: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h40, 19h,21h55, 00h15 Sábado Domingo 13h30, 15h40, 17h55,21h55, 00h15; Me<strong>de</strong>ia Monumental: Sala 4 - CineTeatro: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h30,17h, 19h20, 22h, 00h30; Me<strong>de</strong>ia SaldanhaResi<strong>de</strong>nce: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª13h30, 16h, 18h30, 21h15, 23h30; UCI Cinemas - ElCorte Inglés: Sala 9: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h10,16h40, 19h15, 21h50, 00h20 Domingo 11h30, 14h10,16h40, 19h15, 21h50, 00h20; UCI Dolce Vita Tejo: Sala10: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h10, 16h50, 19h20, 21h456ª Sábado 14h10, 16h50, 19h20, 21h45, 00h15; ZONLu<strong>som</strong>undo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª3ª 4ª 13h20, 16h10, 19h, 21h40, 00h20; ZONLu<strong>som</strong>undo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª3ª 4ª 13h20, 15h50, 18h30, 21h20, 24h; ZONLu<strong>som</strong>undo CascaiShopping: 5ª 6ª SábadoDomingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 15h30, 18h15, 21h10,24h; ZON Lu<strong>som</strong>undo Colombo: 5ª 6ª SábadoDomingo 2ª 3ª 4ª 12h55, 15h30, 18h10, 21h20,24h; ZON Lu<strong>som</strong>undo Oeiras Parque: 5ª 6ª SábadoDomingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h50, 18h30, 21h20,24h; ZON Lu<strong>som</strong>undo Vasco da Gama: 5ª 6ª SábadoDomingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h30, 18h10, 21h10,23h55; Castello Lopes - Rio Sul Shopping: Sala 1: 5ª6ª 2ª 3ª 4ª 15h30, 18h30, 21h40, 00h10 SábadoDomingo 12h50, 15h30, 18h30, 21h40, 00h10; ZONLu<strong>som</strong>undo Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo2ª 3ª 4ª 13h, 15h45, 18h40, 21h30, 00h10Porto: Arrábida 20: Sala 15: 5ª 6ª SábadoDomingo 2ª 14h10, 16h45, 19h20, 22h, 00h40 3ª 4ª16h45, 19h20, 22h, 00h40; ZON Lu<strong>som</strong>undo DolceVita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª13h20, 16h, 18h45, 21h30, 00h15; ZON Lu<strong>som</strong>undoMarshopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª13h, 15h30, 18h20, 21h30, 00h30; ZON Lu<strong>som</strong>undoNorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª13h10, 15h50, 18h40, 21h30, 00h20; ZONLu<strong>som</strong>undo Parque Nascente: 5ª 6ª SábadoDomingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h40, 18h40, 21h40,00h30; ZON Lu<strong>som</strong>undo Fórum Aveiro: 5ªDomingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h50, 18h40, 21h30 6ªSábado 13h, 15h50, 18h40, 21h30, 00h20Há que distinguir entre “clássico” e“con<strong>se</strong>rvador”, palavras que po<strong>de</strong>mter significados em comum mas nãosão necessariamente sinónimas. “ODiscurso do Rei” é um filme clássicono modo como <strong>se</strong> articula <strong>de</strong> acordocom regras narrativas e padrõe<strong>se</strong>stéticos tradicionais, <strong>se</strong>m <strong>se</strong>rforçosamente con<strong>se</strong>rvador (osângulos forçados com que TomHooper filma as suas personagens,enquadradas nas geometrias sociaisque balizam a Inglaterra dos anos1930, <strong>se</strong>rvem ao mesmo tempo parasubverter o classicismo e parasublinhar o estatuto <strong>de</strong>“inadaptados” <strong>de</strong>stas criações). “ODiscurso do Rei”, história verídica domodo como o Duque <strong>de</strong> York, futuroJorge VI <strong>de</strong> Inglaterra (e pai da actualrainha Isabel II), venceu a sua gaguez,é tão clássico que está mais próximodo t<strong>ele</strong>filme <strong>de</strong> prestígio da BBC – oque está longe <strong>de</strong> <strong>se</strong>r um insultoporque tomara muitos (t<strong>ele</strong>)filmes<strong>se</strong>rem como a ficção <strong>de</strong> épocabritânica (e Hooper é rapaz formadonessa escola). Só que vai um pas<strong>som</strong>uito longo <strong>de</strong> um t<strong>ele</strong>filme acima damédia a um êxito <strong>de</strong> bilheteira queparte à cabeça do pelotão dosÓscares. E aí a coisa já fia mais fino.Colin Firth, Geoffrey Rush, H<strong>ele</strong>naBonham Carter, Derek Jacobi,Timothy Spall, Guy Pearce sãoactores notáveis – mas não fazemmais do que aquilo que <strong>se</strong>mprefizeram (Firth ia tão melhor o anopassado no “Homem Singular” <strong>de</strong>Tom Ford, que explorava melhor asua re<strong>se</strong>rva natural do que este papel<strong>de</strong> aristocrata inglês que <strong>ele</strong> faz comuma perna atrás das costas). Ahistória é bem contada e bemapre<strong>se</strong>ntada - mas daí a consi<strong>de</strong>rá-la“um dos melhores filmes do ano” vaium passo que só um marketingparticularmente afinado permite. Éum filme bem feito mas anónimo,cuja popularida<strong>de</strong> junto dos votantesdos Óscares e dos espectadoresanglo-americanos <strong>se</strong> encaixa naperfeição numa i<strong>de</strong>ia con<strong>se</strong>rvadorado cinema partilhada por muitagente: uma boa história, bemcontada, com bons actores. Nadacontra. Mas isso não chega paradistingui-lo com os encómios quetem recebido. Jorge MourinhaFirth ia tão melhor o ano passado no “Homem Singular”<strong>de</strong> Tom Ford, que explorava melhor a sua re<strong>se</strong>rva natural...ComentárioVascoCâmaraMario Monicelli, amico mioMario Monicelli atirou-<strong>se</strong> do quinto andar <strong>de</strong> um hospital <strong>de</strong> Roma, aos 95 anos, nodia 20 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2010, na fa<strong>se</strong> terminal <strong>de</strong> um cancro na próstata, dis<strong>se</strong>ramas notícias. Os filmes acabam <strong>se</strong>mpre mal, sobretudo os da “comédia à italiana”– era o que dizia este toscano <strong>de</strong> Viareggio que não acreditava nos diálogos <strong>de</strong> amorporque não acreditava nessas fra<strong>se</strong>s ditas na chamada vida real e que consi<strong>de</strong>rava a“esperança” uma ratoeira, “uma coisa infame”; por isso a palavra nem <strong>de</strong>via <strong>se</strong>r usada.Solidão, luci<strong>de</strong>z: está visível nas últimas entrevistas <strong>de</strong> Monicelli. “Não há governo aqui [emItália]. Não há nada. A verda<strong>de</strong> é que os italianos não são governados. Não há <strong>de</strong>mocracia,autoritarismo ou monarquia. Nada. Só há gente acampada aqui para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os <strong>se</strong>us interes<strong>se</strong>s.Ninguém quer governar.” Isto foi em 2010.Como em “Oh! Meus Amigos”/ “Amici Miei” (1975), uma raiva triste.O suicídio <strong>de</strong> Monicelli foi um manguito à altura dos cinquentenários <strong>de</strong>s<strong>se</strong> filme, radical e queainda hoje não <strong>se</strong> <strong>de</strong>ixa conter, que abandonam mulheres e filhos (“quando penso na carne daminha carne torno-me vegetariano”, diz a personagem <strong>de</strong> Philippe Noiret, e com isso <strong>se</strong>nte-<strong>se</strong> a<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste exílio voluntário, da recusa) para <strong>se</strong> entregarem à “zingarata” - <strong>de</strong>ambulaçãoanárquica, brinca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> adultos que querem regressar à infância. Mas um manguito, afinal, quesó po<strong>de</strong> ir ao encontro da morte que está no horizonte. “Mas morreu mesmo, não ébrinca<strong>de</strong>ira?”, pergunta a mulher <strong>de</strong>speitada <strong>de</strong> Noiret. A “zingarata”A “comédia à italiana”,dis<strong>se</strong>, “é uma condiçãoda repre<strong>se</strong>ntação danossa verda<strong>de</strong>, dasnossas fealda<strong>de</strong>s, donosso <strong>de</strong><strong>se</strong>spero, comes<strong>se</strong> tom <strong>de</strong> comicida<strong>de</strong>e <strong>de</strong> farsa unidasà miséria, à morte,à doença”Esta <strong>se</strong>mana,ainda, naCinemateca:“O CapitãoBrancaleone”/“L ‘ArmataBrancaleone”(hoje, 21h30;3ª, 15, às19h30)final é o próprio funeral, <strong>se</strong>quência <strong>de</strong> antologia que, <strong>se</strong> tivés<strong>se</strong>mos aousadia <strong>de</strong> “fazer filmes” com a morte alheia, diríamos que Monicelliteria merecido. Não o dizemos... embora tenha acontecido, contamnosamigos italianos: pelas ruas do bairro <strong>de</strong> Monti, on<strong>de</strong> Monicellivivia, um cortejo improvisou-<strong>se</strong>, <strong>se</strong>m corpo e <strong>se</strong>m caixão, e toda agente a rir, como em “Oh! Meus Amigos!”, um dos filmes com que aCinemateca Portuguesa está a prestar pequena homenagem a umgigante (4ª, 16, 19h).É <strong>de</strong>ste nível a anarquia, a ferocida<strong>de</strong> que <strong>se</strong> espreita na sala da FélixRibeiro. Está em causa um daqu<strong>ele</strong>s nomes da “comédia à italiana”que durante duas décadas, entre o final dos anos 50 e o final dos anos70, colocou uma indústria nos ecrãs do mundo. Isso <strong>de</strong>sapareceu -ninguém tem hoje a coragem <strong>de</strong>ssa ferocida<strong>de</strong> no cinema popular. EMonicelli – como Dino Risi, Luigi Comencini, Antonio Pietrangeli,Pietro Germi, Luigi Zampa... – ficou como “<strong>se</strong>gunda linha”, artesãoocultado pelos “gran<strong>de</strong>s” autores, Fellini, Visconti, Antonioni. Asviagens que o Festival <strong>de</strong> Veneza tem feito, em retrospectivas, ao“cinema italiano <strong>de</strong>sconhecido” proporcionaram <strong>de</strong>scobertassurpreen<strong>de</strong>ntes, chocantes mesmo, pela enormida<strong>de</strong> do que emtempos foi tão popular e entretanto foi <strong>de</strong>spachado para o esquecimento - um momentoinigualável, em que o cinema esticou os <strong>se</strong>us limites em (gran<strong>de</strong>) público e este acompanhou.“Comédia à italiana” começou como <strong>de</strong>signação <strong>de</strong>preciativa, rapidamente <strong>se</strong> tornou“carimbo” comercial, mas o nome não dá conta da complexida<strong>de</strong> do que ficou retratado – o“boom” económico italiano, os abanões nos valores e nos comportamentos (as perturbações nomacho), as mudanças urbanas (os bairros “mo<strong>de</strong>rnos” a cercarem as personagens), tudo filmadocom a vertigem das ruas nas mãos. Monicelli <strong>de</strong>finiu es<strong>se</strong> artesanato: a união da “tipologia” doteatro <strong>de</strong> revista com a rua. Eram fantasistas-realistas compulsivos Monicelli, Risi, Comencini,Germi, Zampa...A Monicelli lhe <strong>de</strong>ram o título <strong>de</strong> “pai” do género por ter feito em 1958 “Gangsters Falhados”/“ISoliti Ignoti” (hoje, às 19h30). Ele respon<strong>de</strong>u que a “comédia à italiana” não foi invenção do pósguerra,começou lá atrás, com Bocaccio ou Maquiavel. “É uma coisa que <strong>se</strong> faz há muito, é umacondição <strong>de</strong> repre<strong>se</strong>ntação da nossa verda<strong>de</strong>, das nossas fealda<strong>de</strong>s, do nosso <strong>de</strong><strong>se</strong>spero, com es<strong>se</strong>tom <strong>de</strong> comicida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> farsa unidas à miséria, à morte, à doença.” Encheu a <strong>de</strong>signação <strong>de</strong>ressonâncias, filmou aventuras humanas. Quando, por exemplo, misturou géneros e construiumonumentos corais, “A Gran<strong>de</strong> Guerra” (1959; 2ª, 14, 22h) ou “I Compagni” (1963), em que a“comédia” estava ao lado, respectivamente, da I Guerra e do fresco social sobre o final do séculoXIX - que acabava mal, com a clas<strong>se</strong> operária a continuar afastada do paraíso.O “caso” Monicelli está sintetizado em “Bocaccio 70” (1962), o filme em episódios que o juntoua Visconti, Fellini e DeSica. Quando chegou a altura <strong>de</strong> Cannes, os produtores usaram a excessivaduração do objecto para cortar o episódio <strong>de</strong> Monicelli – que não tinhave<strong>de</strong>tas, e Romy Schnei<strong>de</strong>r, Anita Ekberg ou Sophia Loren “estrelavam”os outros. Chama-<strong>se</strong> “Renzo e Luciana” a” o <strong>de</strong> Monicelli. Prodigiosoestudo do que <strong>se</strong> jogava na vida social e íntima italiana: um rapaz euma rapariga, operários, procuram casa <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>um casamento que os regulamentos da fábricaproibem. É o filme on<strong>de</strong> <strong>se</strong> nota a música docinema mais querido a Monicelli, o mudo (nosanos 20, a mãe <strong>de</strong>ixava-o, criança, no escuro dasala e ia aos <strong>se</strong>us afazeres). É gente a procurarfranquear os limites, a ganhar espaço para aintimida<strong>de</strong>. É o início da submissão - como <strong>se</strong>“Oh! Meus Amigos” fos<strong>se</strong> o último esgar, o<strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro “hurrah”. “Renzo e Luciana” éuma miniatura <strong>de</strong> obra-prima. Passa-<strong>se</strong> <strong>se</strong>por cima <strong>de</strong> Visconti, Fellini e DeSica,ficamos só a pensar n<strong>ele</strong>.VINCENZO PINTO/ AFPÍpsilon • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • 29


CinemaaMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExc<strong>ele</strong>nte“Cisne Negro”não é o proverbial“filme <strong>de</strong> ballet”,mas um thrillerpsicológico quesugere a claustrofobia<strong>de</strong> alguns Polanskie o virtuosismodos melhoresDePalmaÚltimo RoundThe FighterDe David O. Rus<strong>se</strong>ll,com Mark Wahlberg, Christian Bale,Amy Adams, Melissa Leo. M/12Mnnnn<strong>Lisboa</strong>: Castello Lopes - Londres: Sala 1: 5ªDomingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h30, 19h, 21h30 6ªSábado 14h, 16h30, 19h, 21h30, 24h; Castello Lopes- Loures Shopping: Sala 3: 5ª 6ª Sábado Domingo2ª 3ª 4ª 13h, 15h30, 18h10, 21h15,23h40; CinemaCity Alegro Alfragi<strong>de</strong>: Sala 2: 5ª 6ªSábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 15h55, 18h10,21h35, 24h; CinemaCity Beloura Shopping: Sala 2:5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 15h50,18h10, 21h30, 23h45; CinemaCity Campo PequenoPraça <strong>de</strong> Touros: Sala 3: 5ª 6ª Sábado Domingo2ª 3ª 4ª 13h40, 15h55, 18h20, 21h40,00h05; CinemaCity Classic Alvala<strong>de</strong>: Sala 1: 5ª 2ª3ª 4ª 13h45, 16h, 19h, 21h30 6ª 13h45, 16h, 19h,21h30, 23h50 Sábado 13h45, 16h, 18h15, 21h30,23h50 Domingo 13h45, 16h, 18h15, 21h30; Me<strong>de</strong>iaSaldanha Resi<strong>de</strong>nce: Sala 8: 5ª 6ª SábadoDomingo 2ª 3ª 4ª 14h20, 16h50, 19h20, 21h50,00h20; UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 6: 5ª 6ªSábado 2ª 3ª 4ª 14h10, 16h45, 19h20, 22h, 00h30Domingo 11h30, 14h10, 16h45, 19h20, 22h,00h30; UCI Dolce Vita Tejo: Sala 11: 5ª Domingo 2ª3ª 4ª 14h15, 16h40, 19h10, 21h55 6ª Sábado 14h15,16h40, 19h10, 21h55, 00h30; ZON Lu<strong>som</strong>undoAmoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª13h10, 15h40, 18h20, 21h10, 23h50 ; ZONLu<strong>som</strong>undo CascaiShopping: 5ª 6ª SábadoDomingo 2ª 3ª 4ª 12h55, 15h40, 18h20, 21h20,00h05; ZON Lu<strong>som</strong>undo Colombo: 5ª 6ª SábadoDomingo 2ª 3ª 4ª 13h05, 15h55, 18h35, 21h30,00h15; ZON Lu<strong>som</strong>undo Oeiras Parque: 5ª 6ªSábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 16h, 18h40,21h40, 00h20; ZON Lu<strong>som</strong>undo Vasco da Gama: 5ª6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h40, 18h20,21h30, 00h15; Castello Lopes - C. C. Jumbo: Sala 1:5ª 2ª 3ª 4ª 15h40, 18h30, 21h40 6ª 15h40, 18h30,21h40, 00h10 Sábado 13h, 15h40, 18h30, 21h40,00h10 Domingo 13h, 15h40, 18h30, 21h40; CastelloLopes - Rio Sul Shopping: Sala 3: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª15h40, 18h40, 21h20, 23h50 Sábado Domingo 13h,15h40, 18h40, 21h20, 23h50; ZON Lu<strong>som</strong>undoAlmada Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª12h50, 15h35, 18h20, 21h05, 23h50Porto: Arrábida 20: Sala 20: 5ª 6ª SábadoDomingo 2ª 13h55, 16h30, 19h05, 21h45, 00h30 3ª4ª 16h30, 19h05, 21h45, 00h30; ZON Lu<strong>som</strong>undoDolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª13h50, 16h30, 19h10, 21h50, 00h30; ZONLu<strong>som</strong>undo NorteShopping: 5ª 6ª SábadoDomingo 2ª 3ª 4ª 13h, 16h, 18h50, 21h40,00h30; ZON Lu<strong>som</strong>undo Fórum Aveiro: 5ªDomingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 16h, 19h, 21h50 6ªSábado 13h10, 16h, 19h, 21h50, 00h40Sequência <strong>de</strong> abertura, e logo um(<strong>de</strong>s)encontro: o fogo <strong>de</strong> artifício <strong>de</strong>Christian Bale, ou o “método” comoproeza <strong>de</strong> circo, e a <strong>se</strong>renida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Mark Wahlberg, o ex-mo<strong>de</strong>lofotógráfico e “bad boy” queincorporou a autorida<strong>de</strong> dosclássicos. Isto é um filme <strong>de</strong> boxe: ahistória verídica <strong>de</strong> Micky Ward(Wahlberg) e do irmão mais velho,Dicky Eklund (Bale), operariado <strong>de</strong>Massachu<strong>se</strong>tts, história <strong>de</strong> protecçãoe <strong>de</strong> vampirismo familiares, em queum, Micky, carrega o falhanço dacarreira <strong>de</strong> outro (Dicky, <strong>de</strong>struídopelo crack) e a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sustentar uma família. Wahlberg eBale: logo no início a divisão que ofilme não resolve. Não <strong>se</strong> trata do<strong>de</strong><strong>se</strong>ncontro entre personagens,porque disso até <strong>se</strong> aproveitaria anarrativa, mas <strong>de</strong> um <strong>de</strong><strong>se</strong>ncontroque habita o próprio filme: umain<strong>de</strong>cisão, uma <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> doprojecto, que não faz nada, antespelo contrário, para resolver em <strong>se</strong>ufavor o problema <strong>de</strong>stas naturezasque não coabitam – não vale a penaesperar, portanto, por interacção,Mark Wahlberg:uma <strong>se</strong>renida<strong>de</strong>clássica que“Último Round”não aproveitanão vale a pena esperar pelo fluxo <strong>de</strong>violência e <strong>se</strong>nsualida<strong>de</strong> que haviaentre Robert <strong>de</strong>Niro e Joe Pesci n’“OToiro Enraivecido” <strong>de</strong> Scor<strong>se</strong><strong>se</strong>,realizador por quem este projecto,aliás, passou e que dis<strong>se</strong> “passo” paraevitar a redundância. Uma fraqueza euma contradição: <strong>se</strong> a personagem<strong>de</strong> Wahlberg é a central, um porto <strong>de</strong>abrigo, a respiração que o filmemerecia – até porque a proximida<strong>de</strong>biográfica e a amiza<strong>de</strong> entreWahlberg e Ward tornaram este umprojecto pessoal do actor – “TheFighter” sacrifica-o, adoptando oexibicionismo <strong>de</strong> Bale. Que tem aquiuma das pre<strong>se</strong>nças insuportáveis doano. Estão os dois, Bale e o filme,<strong>se</strong>mpre a “fazer <strong>de</strong>...”, macaqueandohistrionismos e clichés – mesmoMelissa Leo, que faz a mãe e“manager”, tão magnífica e esquálidaem “Frozen River” (2009), é aquisobretudo um penteado. Não é queBale estrague o filme, Bale é oespírito - a caricatura, a redundânciacompulsivas... – do filme. E <strong>de</strong> que éque faz David O. Rus<strong>se</strong>ll? Comooutros exemplos <strong>de</strong> realizadoresfascinados pelo cinema americanodos anos 70, que nunca <strong>se</strong>autonomizaram das referências (PTAn<strong>de</strong>rson ou James Gray, porexemplo), <strong>ele</strong> faz <strong>de</strong> aprendiz. E fazmal. Vasco CâmaraSexo Sem CompromissoNo Strings AttachedDe Ivan Reitman,com Natalie Portman, AshtonKutcher, Cary Elwes, Kevin Kline,Greta Gerwig. M/0MMnnn<strong>Lisboa</strong>: Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 4: 5ª 2ª3ª 4ª 15h40, 18h20, 21h20 6ª 15h40, 18h20, 21h20,23h40 Sábado 13h20, 15h40, 18h20, 21h20, 23h40Domingo 13h20, 15h40, 18h20, 21h20; Castello Lopes- Loures Shopping: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo2ª 3ª 4ª 13h30, 16h, 18h30, 21h30, 24h; CinemaCityAlegro Alfragi<strong>de</strong>: Sala 7: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª3ª 4ª 13h35, 15h40, 17h45, 19h50, 21h55,24h; CinemaCity Beloura Shopping: Sala 4: 5ª 6ªSábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h45, 15h55, 18h15,21h35, 23h50; Me<strong>de</strong>ia Fonte Nova: Sala 2: 5ª 6ªSábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h10; Me<strong>de</strong>ia FonteNova: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª14h30, 17h, 19h30, 22h; Me<strong>de</strong>ia Monumental: Sala 1:5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h15,17h25, 19h35, 21h45, 00h15; UCI Cinemas - El CorteInglés: Sala 13: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h10, 16h35,19h05, 21h40, 00h05 Domingo 11h30, 14h10, 16h35,19h05, 21h40, 00h05; UCI Dolce Vita Tejo: Sala 7: 5ªDomingo 2ª 3ª 4ª 13h55, 16h20, 19h, 21h20 6ªSábado 13h55, 16h20, 19h, 21h20, 00h15; ZONLu<strong>som</strong>undo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª3ª 4ª 13h40, 16h20, 19h, 21h40, 00h20; ZONLu<strong>som</strong>undo CascaiShopping: 5ª 6ª SábadoDomingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 16h10, 18h50, 21h30,00h10; ZON Lu<strong>som</strong>undo Colombo: 5ª 6ª SábadoDomingo 2ª 3ª 12h50, 15h25, 18h, 21h10, 23h50 4ª12h50, 15h25, 18h, 21h10, 24h; ZON Lu<strong>som</strong>undo DolceVita Miraflores: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h30,18h30,21h30 6ª Sábado 15h30,18h30, 21h30, 00h30; ZONLu<strong>som</strong>undo Odivelas Parque: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h50,18h40, 21h30 6ª 15h50, 18h40, 21h30, 00h10 Sábado13h, 15h50, 18h40, 21h30, 00h10 Domingo 13h, 15h50,18h40, 21h30; ZON Lu<strong>som</strong>undo Oeiras Parque: 5ª 6ªSábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h05, 15h45, 18h20,21h30, 00h10; ZON Lu<strong>som</strong>undo Torres Vedras: 5ª 6ªSábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h15, 18h50,21h25, 00h15; ZON Lu<strong>som</strong>undo Vasco da Gama: 5ª6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h, 18h40,21h40, 00h25; Castello Lopes - C. C. Jumbo: Sala 2:5ª 2ª 3ª 4ª 15h50, 18h20, 21h20 6ª 15h50, 18h20,21h20, 23h50 Sábado 13h20, 15h50, 18h20, 21h20,23h50 Domingo 13h20, 15h50, 18h20, 21h20; CastelloLopes - Fórum Barreiro: Sala 4: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h20,18h20, 21h30 6ª 15h20, 18h20, 21h30, 24h Sábado12h40, 15h20, 18h20, 21h30, 24h Domingo 12h40,15h20, 18h20, 21h30; Castello Lopes - Rio SulShopping: Sala 2: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 15h50, 18h50,21h30, 24h Sábado Domingo 13h10, 15h50, 18h50,21h30, 24h; ZON Lu<strong>som</strong>undo Almada Fórum: 5ª 6ªSábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h50, 18h35,21h20, 24h; ZON Lu<strong>som</strong>undo Fórum Montijo: 5ª 6ªSábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h10, 18h40,21h40, 00h10; Zon Lu<strong>som</strong>undo Freeport: 5ªDomingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 16h20, 18h50, 21h30 6ªSábado 13h15, 16h20, 18h50, 21h30, 24hPorto: Arrábida 20: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo2ª 13h45, 16h15, 18h45, 21h20, 00h15 3ª 4ª 16h15,18h45, 21h20, 00h15; Vivacine - Maia: Sala 3: 5ª 6ªSábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h20, 18h50,21h30, 00h05; ZON Lu<strong>som</strong>undo Dolce Vita Porto:5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h30,18h15, 21h40, 00h25; ZON Lu<strong>som</strong>undo FerraraPlaza: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h30, 18h, 21h30 6ªSábado 15h30, 18h, 21h30, 24h; ZON Lu<strong>som</strong>undoGaiaShopping: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 16h,18h50, 21h50 6ª Sábado 13h15, 16h, 18h50, 21h50,“Sexo <strong>se</strong>m compromisso”: <strong>de</strong>scomplexada abordagem ao <strong>se</strong>xo00h30; ZON Lu<strong>som</strong>undo MaiaShopping: 5ª2ª 3ª 4ª 13h45, 16h, 18h30, 21h30, 24h; CinemaCityDomingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 16h10, 18h50, 21h40 6ª Classic Alvala<strong>de</strong>: Sala 3: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ªSábado 13h10, 16h10, 18h50, 21h40, 00h30; ZON 13h30, 15h35, 17h40, 19h45, 21h50 6ª SábadoLu<strong>som</strong>undo Marshopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 13h30, 15h35, 17h40, 19h45, 21h50, 24h; Me<strong>de</strong>ia2ª 3ª 4ª 13h20, 16h, 18h40, 21h40, 00h20; ZON Fonte Nova: Sala 3: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ªLu<strong>som</strong>undo NorteShopping: 5ª 6ª Sábado4ª 14h20, 16h45, 19h15, 21h45; Me<strong>de</strong>ia SaldanhaDomingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h10, 19h, 22h,Resi<strong>de</strong>nce: Sala 5: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª00h45; ZON Lu<strong>som</strong>undo Parque Nascente: 5ª 6ª 4ª 13h20, 15h30, 17h40, 19h50, 22h, 00h30; UCISábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h30, 18h20, Cinemas - El Corte Inglés: Sala 12: 5ª 6ª Sábado 2ª21h30, 00h20; Castello Lopes - 8ª Avenida: Sala 1: 3ª 4ª 14h10, 16h35, 19h05, 21h40, 00h05 Domingo5ª 2ª 3ª 4ª 15h50, 18h30, 21h40 6ª 15h50, 18h30, 11h30, 14h10, 16h35, 19h05, 21h40, 00h05; UCI21h40, 00h10 Sábado 13h20, 15h50, 18h30, 21h40, Dolce Vita Tejo: Sala 9: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h,00h10 Domingo 13h20, 15h50, 18h30, 21h40; ZON 16h30, 19h, 21h30 6ª Sábado 14h, 16h30, 19h,Lu<strong>som</strong>undo Glicínias: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 21h30, 00h10; ZON Lu<strong>som</strong>undo Alvaláxia: 5ª 6ª3ª 4ª 14h50, 17h40, 21h10, 00h10Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 15h50, 18h20,21h10, 23h45; ZON Lu<strong>som</strong>undo Amoreiras: 5ª 6ªÉ um filme dois-em-um:Sábado Domingo 3ª 4ª 13h, 15h30, 18h10, 21h,23h30 2ª 13h, 15h30, 18h10, 23h30; ZON Lu<strong>som</strong>undoaproveitamento certeiro doCascaiShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª“momento Natalie Portman”, com a 13h, 15h50, 18h40, 21h40, 00h25; ZON Lu<strong>som</strong>undoactriz nas bocas do mundo graças à Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10,15h50, 18h25, 21h, 23h40; ZON Lu<strong>som</strong>undo Odivelassua nomeação para os Óscares porParque: 5ª 2ª 3ª 4ª 16h, 18h30, 21h40 6ª 16h,“Cisne Negro”, e confirmação da18h30, 21h40, 00h15 Sábado 13h10, 16h, 18h30,versatilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma actriz mais21h40, 00h15 Domingo 13h10, 16h, 18h30,21h40; ZON Lu<strong>som</strong>undo Oeiras Parque: 5ª 6ªsubestimada do que merece, capaz <strong>de</strong>Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h40, 18h15,insuflar vida numa comédia21h10, 23h50; ZON Lu<strong>som</strong>undo Torres Vedras: 5ªromântica aparentemente chapaquatro.Mas a verda<strong>de</strong> é que mesmo6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 16h, 18h30,21h, 23h45; ZON Lu<strong>som</strong>undo Vasco da Gama: 5ª 6ªSábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h50, 18h30,tirando Portman - e Greta Gerwig, a 21h20, 00h05; Castello Lopes - Fórum Barreiro: Saladiva “mumblecore” que o1: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h40, 18h10, 21h40 6ª 15h40, 18h10,21h40, 00h10 Sábado 13h10, 15h40, 18h10, 21h40,“Greenberg” <strong>de</strong> Noah Baumbach00h10 Domingo 13h10, 15h40, 18h10, 21h40; Castello<strong>ele</strong>vou à primeira liga -, e apesar <strong>de</strong> Lopes - Rio Sul Shopping: Sala 6: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ªAshton Kutcher <strong>se</strong>r mais carinha16h10, 19h, 22h, 00h30 Sábado Domingo 13h20,16h10, 19h, 22h, 00h30; ZON Lu<strong>som</strong>undo Almadalaroca que outra coisa, “Sexo <strong>se</strong>mFórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40,Compromisso” está uns furos acima 15h10, 17h50, 21h, 23h45; ZON Lu<strong>som</strong>undo Fórumda média (francamente baixa...) das Montijo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15,15h45, 18h20, 21h30, 24hrecentes comédias românticasamericanas. Isso <strong>de</strong>ve-<strong>se</strong> também à Porto: ZON Lu<strong>som</strong>undo Dolce Vita Porto: 5ª 6ªSábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h50, 18h30,“<strong>de</strong>scentragem” que Ivan Reitman21h20, 24h; ZON Lu<strong>som</strong>undo GaiaShopping: 5ªintroduz nesta história <strong>de</strong> uma relação Domingo 2ª 3ª 4ª 13h05, 15h35, 18h15, 21h20 6ªrelutante entre um aspirante aSábado 13h05, 15h35, 18h15, 21h20, 00h15; ZONLu<strong>som</strong>undo Marshopping: 5ª 6ª Sábado Domingoargumentista loucamente apaixonado2ª 3ª 4ª 13h10, 15h50, 18h30, 21h20, 24h; ZONe a sua musa, uma médica que apenas Lu<strong>som</strong>undo NorteShopping: 5ª 6ª Sábadoquer o “<strong>se</strong>xo <strong>se</strong>m compromisso” do Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h20, 19h10, 21h50,00h35; ZON Lu<strong>som</strong>undo Parque Nascente: 5ª 6ªtítulo português. Embora em nenhumSábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h50, 18h30,momento o filme transcenda a21h10, 24h; Castello Lopes - 8ª Avenida: Sala 2: 5ªprevisibilida<strong>de</strong> e <strong>se</strong> sintam aqui e ali 2ª 3ª 4ª 16h, 18h40, 21h50 6ª 16h, 18h40, 21h50,00h20 Sábado 13h30, 16h, 18h40, 21h50, 00h20“tesouradas” que sugerem que aDomingo 13h30, 16h, 18h40, 21h50; ZONmontagem <strong>de</strong>ixou coisas para trás, há Lu<strong>som</strong>undo Fórum Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ªalgo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scomplexado na sua13h40, 16h20, 19h, 21h40 6ª Sábado 13h40, 16h20,19h, 21h40, 00h25abordagem nada pudibunda ao <strong>se</strong>xo eum percurso suficientementeHá um ponto <strong>de</strong> partida – umaplausível para <strong>se</strong> ver <strong>se</strong>m enfado. “O primeira bailarina perfeccionista masAmor é o Melhor Remédio” é melhor neurótica a quem o director dafita no género, mas “Sexo <strong>se</strong>mcompanhia dá o papel principal doCompromisso” são duas horas “Lago dos Cisnes”. O ponto <strong>de</strong><strong>de</strong>scontraídas e <strong>de</strong>spretensiosas. J. M. chegada não é forçosamente o que <strong>se</strong>espera; o que Darren Aronofsky tiradaqui não é o proverbial “filme <strong>de</strong>Continuamballet”, mas um thriller psicológicoque sugere a claustrofobia <strong>de</strong> algunsCisne NegroPolanski e o virtuosismo dosBlack Swanmelhores Brian <strong>de</strong> Palma antes <strong>de</strong>De Darren Aronofsky,escorregar gradualmente, mas <strong>se</strong>mcom Natalie Portman, Vincent Cas<strong>se</strong>l,retorno possível, para um “giallo”Mila Kunis, Barbara Hershey, Winonaestilizado (pen<strong>se</strong>m Dario Argento,Ry<strong>de</strong>r. M/16pen<strong>se</strong>m Mario Bava, pen<strong>se</strong>m, numregisto mais <strong>de</strong>rivativo, o “ShutterMMMMnIsland” <strong>de</strong> Scor<strong>se</strong><strong>se</strong>). É o encontroentre um realizador que sabe muito<strong>Lisboa</strong>: Atlântida-Cine: Sala 2: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª bem o que quer fazer – <strong>de</strong><strong>se</strong>nhar15h45, 21h45 Sábado Domingo 15h45, 18h15,meticulosamente a <strong>de</strong>sintegração21h45; Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 1: 5ª 2ª3ª 4ª 15h20, 18h, 21h30 6ª 15h20, 18h, 21h30, progressiva <strong>de</strong> uma personagem00h10 Sábado 13h, 15h20, 18h, 21h30, 00h10 confrontada com o momento daDomingo 13h, 15h20, 18h, 21h30; Castello Lopesverda<strong>de</strong> para o qual <strong>se</strong> treinou a vida- Londres: Sala 2: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h15,16h45, 19h15, 21h45 6ª Sábado 14h15, 16h45, 19h15, toda e com a violência das relações21h45, 00h15; Castello Lopes - Loureshumanas – e uma actriz em estado <strong>de</strong>Shopping: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ªgraça, Natalie Portman, que <strong>se</strong> atira4ª 13h10, 15h40, 18h40, 21h40, 00h10; CinemaCityAlegro Alfragi<strong>de</strong>: Sala 8: 5ª 6ª Sábado Domingo <strong>de</strong> cabeça para um daqu<strong>ele</strong>s papéis2ª 3ª 4ª 13h30, 15h35, 17h40, 19h45, 21h50, que só aparecem uma vez na vida. É,00h05; CinemaCity Beloura Shopping: Sala 1: 5ª 6ªprovavelmente, o melhor e maisSábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h35, 15h40, 17h45,19h50, 21h55, 24h; CinemaCity Campo Pequeno arrojado dos “filmes dos Óscares” doPraça <strong>de</strong> Touros: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Domingo ano. J. M.30 • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • Ípsilon


Teatro/DançaGonçalo Waddington respeitou o texto original <strong>de</strong> Ib<strong>se</strong>n,apesar da distância que o <strong>se</strong>para da actualida<strong>de</strong>A tragédiada vidaGonçalo Waddingtonestreia-<strong>se</strong> na encenação comuma peça crepuscular <strong>de</strong>Ib<strong>se</strong>n. Tiago BartolomeuCostaRosmersholmDe Henrik Ib<strong>se</strong>n. Encenação <strong>de</strong>Gonçalo Waddington. Com GonçaloWaddington, Carla Maciel, PedroLacerda, Peter Michael, FláviaGusmão, João Lagarto.<strong>Lisboa</strong>. CCB - Sala <strong>de</strong> Ensaio. Pç. Império. Até 13/02.6ª e Sáb. às 21h. Dom. às 16h. Tel.: 213612400. 10€.Gonçalo Waddington temconsciência da distância que nos<strong>se</strong>para dos textos do norueguêsHenrik Ib<strong>se</strong>n (1828-1906), mas evita ofacilitismo agora que, com“Rosmersholm” (1886), <strong>se</strong> estreia naencenação. “Há um contexto políticoe social que faz com que gente malinformada diga que isto é datado”,diz o encenador, acrescentando quea peça, uma das últimas obras <strong>de</strong>Ib<strong>se</strong>n, “fala <strong>de</strong> pessoas que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mi<strong>de</strong>ias com visão e personalida<strong>de</strong>,moral e ética, mesmo que estejamosa falar <strong>de</strong> visões que hoje <strong>se</strong>riamatrozes”. E estab<strong>ele</strong>ce um paralelocom a recente campanha para aPresidência da República, “on<strong>de</strong> sóvimos ataques pessoais e coisasmuito estranhas [lançadas] porpessoas que nos <strong>de</strong>viamrepre<strong>se</strong>ntar”.Mas isto é apenas umapontamento, sugere: “Aspersonagens repre<strong>se</strong>ntam questõesíntimas altamente complexas, geridaspor protocolos <strong>de</strong> educação e <strong>de</strong>culpa muito enraizada pela fé e pelareligião”. E isso justifica a afirmaçãocategórica <strong>de</strong> que “nunca <strong>se</strong>ria capaz<strong>de</strong> pegar num texto do Ib<strong>se</strong>n e alterálo”:“Para mim o texto é muito bomsozinho como <strong>ele</strong> é. E tinha <strong>de</strong> <strong>se</strong>rtransmitido assim. Tudo o que forarranjado, como dispositivo cénico,dos actores aos figurinos, <strong>se</strong>rve paraexpor, precisamente, es<strong>se</strong> esquema”.“A Cacatua Ver<strong>de</strong>”,pela Cornucópia,em estreiano D. Maria IIFoi esta dimensão simbólica (aspersonagens são arquétipos) qu<strong>ele</strong>vou a que, durante o processo <strong>de</strong>ensaios, <strong>se</strong> analisas<strong>se</strong>m “todas asanalogias possíveis” para permitir“um entendimento absoluto dotexto.”Rosmer (Waddington) foi educadopara <strong>se</strong>guir “os escrúpulos dafamília”. A mulher, Beata, suicidou<strong>se</strong>,e <strong>ele</strong>, “cristão sincero”, tornou-<strong>se</strong>“num apóstata”. O percurso <strong>de</strong>stapersonagem, que Waddingtoncompara a Hamlet, pelo modo comoprocura lidar com os <strong>se</strong>us fantasmas,leva-o a <strong>de</strong><strong>se</strong>jar “mergulhar na vidafresca”, como lhe pe<strong>de</strong> RebeccaWest (Carla Maciel), amiga <strong>de</strong>passado duvidoso (insinuar-<strong>se</strong>-á queé filha ilegítima do homem que aadoptou e com quem terá tido umarelação incestuosa) e “com umapedra <strong>de</strong> gelo no lugar do coração”.Dividido entre a pressão social que osujeita a <strong>se</strong>r a encarnação dosvalores da socieda<strong>de</strong>, repre<strong>se</strong>ntadapelo Professor Kroll (Pedro Lacerda),e a <strong>de</strong>fesa dos princípios <strong>de</strong>liberda<strong>de</strong> do país, sugerido porPe<strong>de</strong>r Mortensgaard (Peter Michael),editor do jornal subversivo, Rosmeré um homem atormentado. Assibilinas figuras repre<strong>se</strong>ntadas pelagovernanta Hel<strong>se</strong>th (Flávia Gusmão)e Ulrik Bren<strong>de</strong>l, o tutor ( JoãoLagarto), funcionam como espaços<strong>de</strong> abertura numa realida<strong>de</strong>concentracionária. Rosmer eRebecca acabarão por <strong>se</strong> suicidar,“levados pela morta”, diz agovernanta, e pela impossibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> acreditarem na felicida<strong>de</strong>.“E Não Se Po<strong>de</strong>Matá-los?”na ComunaAgendaTeatroEstreiamLa Casa <strong>de</strong> La FuerzaDe Angélica Lid<strong>de</strong>ll. Encenação <strong>de</strong>Angélica Lid<strong>de</strong>ll. Com María Morales,Lola Jiménez, entre outros.<strong>Lisboa</strong>. Culturgest. R. Arco do Cego - Ed. da CGD. De11/02 a 12/02. 6ª e Sáb. às 20h30.Tel.: 217905155. 5€a 15€.Cacatua Ver<strong>de</strong>De Arthur Schnitzler. Pelo Teatro daCornucópia. Encenação <strong>de</strong> LuisMiguel Cintra. Com GonçaloAmorim, Rita Blanco, entre outros.<strong>Lisboa</strong>. Teatro Nacional D. Maria II - Sala Garrett.Pç. D. Pedro IV. De 17/02 a 27/03. 4ª a Sáb. às 21h30.Dom. às 16h. Tel.: 213250835. 7,5€ a 16€.Falar Verda<strong>de</strong> a MentirDe Almeida Garrett. Encenação <strong>de</strong>Victor Zambujo. Com Álvaro CorteReal, Ana Meira, entre outros.Évora. Teatro Garcia <strong>de</strong> Re<strong>se</strong>n<strong>de</strong>. Pç. JoaquimAntónio <strong>de</strong> Aguiar. De 17/02 a 18/02. 4ª a Sáb. às21h30. Dom. às 16h. Tel.: 266703112.ContinuamAzul Longe nas ColinasDe Dennis Potter. Encenação <strong>de</strong>Beatriz Batarda. Com AlbanoJerónimo, Bruno Nogueira, DinarteBranco, Luísa Cruz, entre outros.<strong>Lisboa</strong>. Teatro Nacional D. Maria II - Sala-Estúdio.Pç. D. Pedro IV. Até 20/03. 4ª a Sáb. às 21h45. Dom.às 16h15. Tel.: 213250835. 12€.Ver texto na pág. 31.AntígonaDe Sófocles. Encenação <strong>de</strong> NunoCarinhas. Com António Durães,Maria do Céu Ribeiro, entre outros.Aveiro. Teatro Aveiren<strong>se</strong> - Sala Principal. Pç.República. Dia 12/02. Sáb. às 21h30. Tel.:234400922. 8€.Só os Idiotas Querem SerRadicaisDe Mickael <strong>de</strong> Oliveira. PeloColectivo 84. Encenação <strong>de</strong> JohnRomão. Com Ângelo Rodrigues, JohnRomão.Coimbra. Teatro Académico <strong>de</strong> Gil Vicente. Pç.República. De 15/02 a 16/02. 3ª e 4ª às 21h30. Tel.:239855636. 6€ a 8€.As Pequenas CerimóniasDe e com João Calixto, Tiago Viegas.Encenação <strong>de</strong> Pedro Santiago Cal.Espinho. Auditório. Rua 34, 884. Dia 12/02. Sáb. às21h30. Tel.: 227340469. 5€Beckett: O Quê - On<strong>de</strong>A partir <strong>de</strong> Samuel Beckett. PeloTeatro Plástico. Encenação <strong>de</strong>A “Antígona” <strong>de</strong> NunoCarinhas em AveiroFrancisco Alves. Com Mário Santos,André Amálio, entre outros.Porto. Teatro H<strong>ele</strong>na Sá e Costa. R. Escola Normal,39. Até 13/02. 3ª a Dom. às 21h30. Tel.: 225189982/3.5€ a 10€.Histórias <strong>de</strong> FamíliaDe Biljana Srbljanovic. Pelo Bisturi.Encenação <strong>de</strong> Daniel Pinto. ComCátia Gue<strong>de</strong>s, entre outrosPorto. Estúdio Zero. R. Heroísmo, 86. Até 27/02. 4ªa Dom. às 21h30. Tel.: 225373265. 5€.ProdutoDe Mark Ravenhill. Pela Assédio.Encenação <strong>de</strong> João Cardoso, RosaQuiroga.Rivoli Teatro <strong>Municipal</strong> - Pequeno Auditório. Pç. D.João I. Até 19/02. 2ª a Sáb. às 19h30. Tel.:223392200.OteloDe William Shakespeare. Pelo Teatrodo Bolhão. Encenação <strong>de</strong> KuniakiIda. Com António Capelo, Rita Lello,João Paulo Costa, entre outros.<strong>Lisboa</strong>. Teatro da Trinda<strong>de</strong>. Lg. Trinda<strong>de</strong>, 7 A. Até27/02. 4ª a Sáb. às 21h. Dom. às 16h. Tel.:213420000. 8€ a 14€.A Porta Fechou-<strong>se</strong> e a Casa eraPequenaDe Ricardo Neves-Neves. Pelo Teatrodo Eléctrico. Encenação <strong>de</strong> RicardoNeves-Neves.<strong>Lisboa</strong>. Teatro da Comuna. Pç. Espanha. Até 17/02.3ª a 5ª às 21h45. Tel.: 217221770. 5€ a 7,5€.E Não <strong>se</strong> Po<strong>de</strong> Matá-los?De Alicia Guerra. Pela Comuna.Encenação <strong>de</strong> João Mota.<strong>Lisboa</strong>. Teatro da Comuna. Pç. Espanha. Até 27/03.4ª, 5ª, 6ª e Sáb. às 21h30. Dom. às 16h00. Tel.:217221770. 5€ a 10€.Angel CityDe Sam Sheppard. Encenação <strong>de</strong>Rita Lello.<strong>Lisboa</strong>. A Barraca - Teatro Cinearte. Lg Santos, 2.Até 27/02. 5ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h30. Tel.:213965360. 10€ a 12,5€.DançaContinuam“Só os IdiotasQuerem SerRadicais”em CoimbraTalk ShowDe Rui Horta. Com AntonSkrzypiciel, Vivien Wood, LiviaBalazova, João Martins.Porto. Teatro Carlos Alberto. R. das Oliveiras, 43.De 11/02 a 13/02. 6ª e Sáb. às 21h30. Dom. às 16h.Tel.: 223401900. 5€ a 15€.Sábado 2De Paulo Ribeiro. Pela CompanhiaPaulo Ribeiro.Estarreja. Cine-Teatro <strong>Municipal</strong>. R. Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong>Val<strong>de</strong>mouro. Dia 12/02. Sáb. às 21h30. Tel.:234811300. 5€.Ípsilon • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • 31


DiscosO tenor norte-americanoMatthew PolenzaniClássicaLiszt <strong>2011</strong>Em ano <strong>de</strong> bicentenáriodo nascimento <strong>de</strong> Liszt,começam a <strong>se</strong>r lançadas nomercado diversas gravaçõesmerecedoras da maioratenção. Rui PereiraFranz LisztThe complete songs, 1º volumeMatthew Polenzani, tenorJulius Drake, pianoHypérion CDA 67782mmmmmFranz Liszt ficarápara <strong>se</strong>mpre nahistória como omaior pianista do<strong>se</strong>u tempo, um dosinventores dopianismo mo<strong>de</strong>rno, compositor <strong>de</strong>uma vastíssima obra para piano e paido poema sinfónico orquestral.Nasceu há 200 anos e <strong>se</strong> há coisasboas nas efeméri<strong>de</strong>s <strong>de</strong>stesaniversários, o lançamento da ediçãocompleta das canções para canto epiano por parte da Hypérion merece,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, amplos louvores.Liszt escreveu canções em <strong>se</strong>isidiomas distintos, mas estas nuncaentraram no repertório dos cantoreslíricos, pelo mesmo ao nível dasobras congéneres <strong>de</strong> Schubert,Schuman ou até mesmo <strong>de</strong>Men<strong>de</strong>lssohn. As canções em alemão<strong>de</strong> Liszt enquadram-<strong>se</strong> na tradição doLied <strong>de</strong> Schubert mas alcançam umdramatismo muito mais intenso queaponta na direcção <strong>de</strong> um RichardStrauss. Nas canções italianas, atradição do bel canto e o lirismooperático, mesmo na pre<strong>se</strong>nça <strong>de</strong>recitativos, revelam uma outratradição plenamente assimilada porLiszt e que o virtuosismo da suaescrita pianística acompanha naperfeição. Neste âmbito, os TrêsSonetos do Petrarca são obras <strong>de</strong>referência e <strong>de</strong> audição obrigatória.Neste primeiro volume, a Hypérionescolheu o aclamado tenor norteamericanoMatthew Polenzani, umadas pre<strong>se</strong>nças mais assíduas daMetropolitan Opera <strong>de</strong> Nova Iorque,o qual é acompanhado pelo pianistaJulius Drake. A escolha foi acertada,revelando uma das vozes maisbonitas e timbricamente ricas daactualida<strong>de</strong>, com uma dicção perfeitae capaz <strong>de</strong> jogar nos registos do lied eda ópera. A escolha do repertório éreveladora <strong>de</strong> um Lisztabsolutamente genial e que merece<strong>se</strong>r <strong>de</strong>scoberto e todas as suasfacetas. Brilhante.PopEstas raparigas vão<strong>se</strong>r gran<strong>de</strong>sWarpaintThe FoolRough Tra<strong>de</strong>; distri. PopstockmmmmnQuando os Divalançaram o <strong>se</strong>udisco <strong>de</strong> estreiaem 1990, haviauma <strong>de</strong>finiçãomesmo à mão,prontinha a usar para <strong>de</strong>finir aquelamúsica: “<strong>som</strong> 4AD”. Ou, como <strong>ele</strong>slhe chamaram, “Ecos <strong>de</strong> Outuno”. Avoz em voo rasante <strong>de</strong> NatáliaCasanova, <strong>de</strong> tom lírico, e as guitarrasque pareciam tocadas no fundo <strong>de</strong>um poço, cristalinas, numareverberação circular que pareciainventada <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma máquina <strong>de</strong>lavar roupa, pareciam feitas para <strong>se</strong>enfiar no buraco da fechadura dacasa li<strong>de</strong>rada por Ivo Watts-Rus<strong>se</strong>ll.Na altura, corriam mesmo rumores<strong>de</strong> que a 4AD teria ficado interessadaem contratá-los. Depois, nada mais <strong>se</strong>soube.Mas o que é certo é que es<strong>se</strong> “<strong>som</strong>4AD” era algo <strong>de</strong> qua<strong>se</strong> palpável, etinha referências evi<strong>de</strong>ntes nosCocteau Twins, His Name Is Alive,Throwing Mu<strong>se</strong>s, Belly, Red Hou<strong>se</strong>Painters, Dead Can Dance ou Pixies.E no projecto This Mortal Coil, umainvenção do próprio Watts-Rus<strong>se</strong>ll. Amatriz existia, era i<strong>de</strong>ntificável ereflectia o gosto pessoal do <strong>se</strong>ufundador. Watts-Rus<strong>se</strong>ll afastou-<strong>se</strong>em 1999 e a editora tomou outrorumo. E só por isso é que as Warpaintsão dadas a conhecer ao mundoatravés da Rough Tra<strong>de</strong>, uma vez quea sua sonorida<strong>de</strong> apela a es<strong>se</strong>romantismo cinzento que habitavagran<strong>de</strong> parte do catálogo da 4AD. Em“The Fool”, tal como acontecia já noEP “Exquisite Corp<strong>se</strong>”, é dado umcheque em branco a essas guitarrasque gostam <strong>de</strong> <strong>se</strong> ouvir a elaspróprias (as guitarras, não osguitarristas, que isso <strong>se</strong>ria terrenopara virtuosismo onanista), a bateria<strong>se</strong>xtremamente pronunciadas e vozesque, uma vez mais, só entram nodisco <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> mostrar o cartão <strong>de</strong>embarque e passar por um apertadocontrolo alfan<strong>de</strong>gário.Daí que não espante ouvir aquirestos <strong>de</strong>s<strong>se</strong> catálogo da 4AD – com oacrescento dos Lush –, mais qualquercoisa dos Slowdive e <strong>de</strong> outras águaspassadas. Com a diferença <strong>de</strong> que obaixo das Warpaint não fica lá embaixo, é irrequieto, não anda aapanhar migalhas dos outrosinstrumentos. Ou <strong>se</strong>ja, as Warpaintépoca 2010/<strong>2011</strong> são um cruzamentoentre shoegazing e pop feérica, comum ligeiro travo pós anos 90. O quepo<strong>de</strong>ria acarretar anacronismo dapior espécie, mas que sobrevive comuma magnífica graciosida<strong>de</strong> graças aum espantoso lote <strong>de</strong> cançõesli<strong>de</strong>rado por “Un<strong>de</strong>rtow” e“Composure”. Estas raparigas vão <strong>se</strong>rgran<strong>de</strong>s. Ivo não as ouviu a tempo,mas Paul Jones, da Rough Tra<strong>de</strong>,assinou-as assim que as ouviu noMySpace, <strong>se</strong>m passar pela sala <strong>de</strong>concertos. Ou melhor, quando aeditora as viu em Nova Iorque, oacordo dizia que qualquer uma daspartes podia ainda <strong>de</strong>sistir. Ninguémo fez. Gonçalo FrotaPolly Jean HarveyLet England ShakeUniversalmmmmmPolly JeanHarvey:uma gran<strong>de</strong><strong>se</strong>nhora,um gran<strong>de</strong>discoWarpaint: um cruzamento entre shoegazinge pop feérica, com um ligeiro travo pós anos 90Depois <strong>de</strong> ler o“Ulis<strong>se</strong>s” <strong>de</strong>James Joyce, oescritor francêsAndré Gi<strong>de</strong> nãoencontroumelhor forma <strong>de</strong> elogiar o maisconhecido bêbedo irlandês com umproblema <strong>de</strong> literatura que dizer queuma coisa é inovar quando mal <strong>se</strong>saiu dos cueiros, outra é fazê-loquando a ida<strong>de</strong> já avançou. É nessaaltura, quando já há uma reputação amanter, quando o sofá já nos conheceas curvas e não apetece nada que noscortem a luz, é aí que ten<strong>de</strong>mos aaproveitar o prestígio, a amolecer. Osmelhores, claro, são os que nunca ofazem, que dizem “É só mais umavez”. Polly Jean Harvey pareciairremediavelmente perdida para olado mais fácil e imediato da músicapopular quando no último disco,“White Chalk”, resolveu voltar aconcentrar-<strong>se</strong> na música. Mas nada,nem todas as as<strong>som</strong>brações <strong>de</strong>s<strong>se</strong>disco, faziam prever coisa assim: não<strong>se</strong> trata <strong>de</strong> “Let Engalnd Shake” reinventaruma Inglaterra imaginária,pilhada e ensanguentada, a saque e<strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte, antes <strong>de</strong> ela inventar um<strong>som</strong> que repre<strong>se</strong>nte essa espécie <strong>de</strong><strong>de</strong>cadência global que nos envolve,<strong>de</strong> transformar um <strong>som</strong> numa bandasonorapara a falta <strong>de</strong> rumo, para otropeção. E fá-lo <strong>se</strong>m fugir ao registocanção, usando apenas pequenostruques: os coros ao lado e asharmonias cruzadas nas magníficas“The words that maketh murther” e“The colour of the earth”, a linha <strong>de</strong>xilofone na faixa-título, os metaissonolentos em “The last living ro<strong>se</strong>”.Fá-lo recorrendo a ritmos <strong>de</strong> marchamilitar, a mellotrons e a harpas e,mais que tudo, retirando o fulcro àscanções, <strong>de</strong>ixando-as tropeçar,retirando as ré<strong>de</strong>as aos instrumentos(que por vezes parecem estar àprocura do <strong>se</strong>u lugar na canção),libertando a voz (que <strong>se</strong> entrega amutações teatrais por todo o disco).Cada uma <strong>de</strong>stas canções podia terresultado aborrecida tives<strong>se</strong> a<strong>se</strong>nhora Harvey <strong>de</strong>cidido poli-las emexcesso, domá-las. Assim, é como <strong>se</strong>ela tives<strong>se</strong> olhado para cada uma<strong>de</strong>las e, achando-as <strong>de</strong>masiadocompostas, as tives<strong>se</strong> colocado numainfusão da mais antiga folk inglesa, e<strong>de</strong>pois partido cada uma e dado oscacos aos sobrinhos para colar.Apostamos nisto: <strong>se</strong> forem à página<strong>de</strong> Polly Jean Harvey no Facebook, nopost <strong>de</strong>dicado ao novo disco há-d<strong>ele</strong>r-<strong>se</strong> assim: Kurt Weill, Tom Waits,Scott Walker e muitos outros gostamdisto. Tudo boa gente a prestarhomenagem a uma gran<strong>de</strong> <strong>se</strong>nhora, aum gran<strong>de</strong> disco. João Bonifácio32 • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • Ípsilon


aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExc<strong>ele</strong>nteWoo<strong>de</strong>n Wand mergulha no negrume da alma humana para <strong>se</strong> <strong>de</strong>stacar na vasta paisagem da música popular americanaWoo<strong>de</strong>n WandDeath SeatYoung GodmmmmnNeste “Death Seat”<strong>de</strong> James JacksonToth, o homem que,no início daprimeira década doséculo XXI <strong>se</strong>multiplicou em canções <strong>de</strong> uma folkiluminada por psica<strong>de</strong>lismo<strong>se</strong>léctricos – Woo<strong>de</strong>n & The VanishingHand foi um dos nomes entãoadoptados -, tudo pareceamaldiçoado, quer por sua própriamão, quer pela mão dos outros oupela mão <strong>de</strong> um <strong>de</strong>us castigador.“Death Seat”, que tem a força <strong>de</strong>primeiros versos como “I know a girl/ who strips and shoots / she <strong>se</strong>es theworld in absolutes” (“Themountain”), canta ob<strong>se</strong>ssõesterminais (“as an enemy or a friend /I want to make a difference in yourlife”), avança com uma voz on<strong>de</strong> cabeo tom nasalado <strong>de</strong> Dylan <strong>se</strong>m osarcasmo e on<strong>de</strong> os infernos <strong>de</strong>Townes Van Zandt são resumidos norefrão <strong>de</strong> “Until wrong looks right”(“and we hope against hope that nohope wins”). James Jackson Tothmantém o abandono psicadélico <strong>de</strong>outrora na belíssima “Servant toblues”, mas surge em “Death Seat”como voz, <strong>se</strong>m subterfúgios, daquiloque faz a matéria humana: não há<strong>de</strong>us que nos salve uns dos outros e énes<strong>se</strong> estado <strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>se</strong>sperança quepo<strong>de</strong>mos erguer-nos e <strong>se</strong>guir emfrente. Nestas canções <strong>de</strong> guitarrasacústicas <strong>som</strong>brias e voz sonâmbula efantasmagórica – “I ma<strong>de</strong> you” éexemplar -, James Jackson Tothtransforma os “Filhos <strong>de</strong>Deus” <strong>de</strong> Cormac McCarthyem inspiradíssima“americana”.“Bobby”arranca com o po<strong>de</strong>revocativo <strong>de</strong>stas linhas:“He painted his hou<strong>se</strong> /the colour of skin / so if thesituation called for / he couldblend in”. Ao contrário <strong>de</strong> Bobby,Toth não <strong>se</strong> anula, não <strong>de</strong>saparecedo nosso olhar. Mergulha nonegrume da almahumana para <strong>se</strong><strong>de</strong>stacar navastapaisagem damúsicapopularamericana.M.L.JazzParker vive!No <strong>se</strong>u novo registo com osUS Five, Joe Lovano aborda orepertório <strong>de</strong> Charlie Parkerconferindo-lhe nova vida.Rodrigo AmadoJoe Lovano US FiveBird SongsBlue Note, dist. EMImmmmnJoe Lovano: po<strong>de</strong>roso e subtil como poucosSão infelizmente<strong>de</strong>masiados osálbuns tributo agran<strong>de</strong>s figuras dojazz que mais nãofazem do queviolentar a obra dos homenageados,<strong>de</strong>sfilando versões menores dostemas e contribuindo para o<strong>de</strong>sgaste da obra. Este “Bird Songs”faz parte das felizes excepções,afirmando-<strong>se</strong> como uma vibranterecontextualização <strong>de</strong> temas tão“<strong>de</strong>sgastados” como “Donna Lee”,“Lover man”, “Dexterity” ou“Yardbird suite”. Consciente dasarmadilhas inerentes a um projecto<strong>de</strong>ste tipo, o saxofonista Joe Lovano– em período <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> forma– opta por uma abordagemaltamente criativa à obra <strong>de</strong> CharlieParker, <strong>de</strong>sconstruindo os temasoriginais, evitando os clichésassociados ao be-bop e utilizandoarranjos pouco convencionaisque tiram partido dapeculiar <strong>se</strong>cção rítmica.Utilizando a mesmaformação quebrilhouanteriormenteem “Folk Art”– James Weidmannopiano,Esperanza Spaldingnocontrabaixo,Otis Brown eFranciscoJIMMY KATZMela nas baterias – Lovano constroium álbum aberto, numa <strong>se</strong>quênciabem equilibrada que não passanecessariamente pela estruturatema/solos/tema, evitandofrequentemente as métricas do bebope integrando <strong>ele</strong>mentos <strong>de</strong> jazzlatino (como em “Passport”), funk(particularmente pre<strong>se</strong>nte nasimprovisações <strong>de</strong> Spalding ou naforma como esta articula as suasfra<strong>se</strong>s) ou gospel, ou pura esimplesmente pulverizando aestrutura original como na brilhanteversão <strong>de</strong> “Ko Ko”, para sax tenor eduas baterias.Homenageando da forma maisdigna uma obra cujas composiçõestiveram frequentemente a origemem improvisações, Lovano (que aquitoca também mo<strong>de</strong>los custom-ma<strong>de</strong><strong>de</strong> sax soprano e alto, e ainda oinvulgar aulochrome) surpreen<strong>de</strong>uma vez mais pelo <strong>som</strong> que possuino sax tenor, po<strong>de</strong>roso e subtil comopoucos.Uma procuraconstanteQuinteto transnacionalAfterfall aventura-<strong>se</strong> naimprovisação <strong>se</strong>m re<strong>de</strong>.Nuno CatarinoAfterfallAfterfallClean Feed / dist. Trem AzulmmmnnEste quinteto é umbom exemplo <strong>de</strong>uma uniãotransnacional,reunindo doismúsicos nacionais etrês estrangeiros. Os portugue<strong>se</strong>sLuís Lopes (guitarra eléctrica) e SeiMiguel (“pocket trumpet”) juntam-<strong>se</strong>aos americanos Joe Giardullo(saxofones tenor e soprano) e HarveySorgen (bateria) e ao francêsBenjamin Duboc (contrabaixo) paraformar os Afterfall. Uma formaçãoque trabalha sobre a improvisaçãolivre, <strong>se</strong>m regras pré-<strong>de</strong>finidas,com cada músico a acrescentarpormenores pessoais quevalorizam o resultado colectivo- tendo em conta a diversida<strong>de</strong><strong>de</strong> percursos <strong>de</strong> cada um dosmúsicos é notáveloentendimento quecon<strong>se</strong>guemencontrar. Esta é uma música<strong>de</strong> pontas soltas:<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias lançadas ao ar,que vão <strong>de</strong>poiscrescendo;<strong>de</strong> fragmentos, que <strong>se</strong> vãoentrelaçando para darorigem à géne<strong>se</strong> <strong>de</strong>algo novo.Na faixamais longa,Dos contributospara o projectoAfterfall <strong>de</strong>staca-<strong>se</strong>a guitarra<strong>de</strong> Luís Lopes“Triptych”, há <strong>de</strong> tudo: ocontrabaixo arranca, com o arco; aguitarra entra, levezinha; chega<strong>de</strong>pois o trompete, dialogante;pouco <strong>de</strong>pois juntam-<strong>se</strong> a bateria esaxofone, num tecido que vaificando cada vez mais rendilhado;<strong>de</strong>ixam-<strong>se</strong> ficar em lume brando, atéque vem a turbulência: o saxcomanda, os outros <strong>se</strong>guem-no,unidos; às tantas a tensão abranda, otrompete toma a li<strong>de</strong>rança, numatoada lírica; regressa o arco aocontrabaixo, numa ob<strong>se</strong>ssiva tensãocrescente, complementada pelaentrada do sax; a acalmia só chegano final, cabendo ao trompetefechar a porta; e isto acontece tudonum único tema, nos <strong>se</strong>usgrandiosos quinze minutos.Ao longo do álbum são exploradosdiferentes ambientes, alternandoQUARTA A SÁBADO 21H30DOMINGO-MATINÉE 16H00BERTOLT BRECHTESTRUTURA PATROCINADA PELOmomentos <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za econtenção com outros <strong>de</strong> maiorexpansivida<strong>de</strong>. Dos várioscontributos individuais, <strong>de</strong>stacam-<strong>se</strong>os portugue<strong>se</strong>s: do lado maisirreconhecível estará a guitarra <strong>de</strong>Lopes (afastada da linguagem fortedo Humanization Quartet); poroutro lado, Sei Miguel entra emdiscursos mais abertos, mai<strong>se</strong>xpressivos, pouco habituais (estedisco é uma rara oportunida<strong>de</strong> paraouvirmos o trompetista numcontexto diferenciado, <strong>de</strong>slocadodas suas composições e dos <strong>se</strong>usgrupos). Giardullo, Duboc e Sorgencontribuem também cominteressantes <strong>de</strong>talhes individuais.Acima <strong>de</strong> tudo, <strong>se</strong>nte-<strong>se</strong> umpermanente <strong>se</strong>ntido colectivo aorientar a performance do grupo,que vive numa constante procura.ÚLTIMOS DIASSÓ ATÉ27 DE FEVEREIROVERSÃOJOÃO LOURENÇOVERA SAN PAYO DE LEMOSDRAMATURGIAVERA SAN PAYO DE LEMOSENCENAÇÃO e REALIZAÇÃO VÍDEOJOÃO LOURENÇO[ m/12 ]Ípsilon • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • 33


ConcertosAGENDA CULTURAL FNACentrada livreAO VIVOLA CHANSON NOIRE11.02. 21H30 FNAC COLOMBOTodos os eventos culturais FNAC em http://cultura.fnac.ptClássicaPianistaspara todosos gostosUma <strong>se</strong>mana em cheiopara os apaixonados pelopiano leva Boris Berezovskye Christian Zacharias àGulbenkian e Artur Pizarroao CCB. Cristina Fernan<strong>de</strong>sBoris Berezovsky<strong>Lisboa</strong>. Fundação e Mu<strong>se</strong>u Calouste Gulbenkian -Gran<strong>de</strong> Auditório. Av. Berna, 45A. 3ª, 15, às 19h.Tel.: 217823700. 12,5€ a 30€.Ciclo <strong>de</strong> Piano. Obras <strong>de</strong> Chopin eLiszt.Christian Zacharias e OrquestraGulbenkianDirecção Musical <strong>de</strong> ChristianZacharias.<strong>Lisboa</strong>. Fundação e Mu<strong>se</strong>u Calouste Gulbenkian. Av.Berna, 45A. 5ª, 17, às 21h. 6ª, 18, às 19h. Tel.:217823700. 10€ a 20€.Obras <strong>de</strong> Mozart e Bruckner.Artur Pizarro<strong>Lisboa</strong>. Centro Cultural <strong>de</strong> Belém - PequenoAuditório. Pç. Império. 5ª, 17, às 21h. Tel.:213612400. 12,5€.Obras <strong>de</strong> Chopin.Nos próximos dias, osmelómanos amantes dopiano não <strong>se</strong> po<strong>de</strong>rãoqueixar. Três pianistas <strong>de</strong>gran<strong>de</strong> nível e com perfisbem distintos s apre<strong>se</strong>ntam-<strong>se</strong>em <strong>Lisboa</strong> com programascentrados no Romantismo<strong>de</strong> Chopin e Liszt e noClassicismo <strong>de</strong>Mozart. Aexuberânciae ovirtuosismoatlético daescola russaestarãopatentes norecital <strong>de</strong> Boris BerezovskyBorispersonificaBerezovsky exemplarmentena próxima o imaginárioterça, dia 15, da escola russa:naacrobaciasGulbenkian, técnicas e umaatravés <strong>de</strong> umaenergia po<strong>de</strong>rosaprogramaaudaciosoconstituído porvárias obras <strong>de</strong>Chopin (Scherzoop. 39, Polaca-a-Fantasia op. 61,Improviso op. 51 etrês Valsas) e os“Doze Estudos <strong>de</strong>ExecuçãoTranscen<strong>de</strong>ntal”, <strong>de</strong> Franz Liszt.Dois dias <strong>de</strong>pois, o alemão ChristianZacharias fará certamente uma<strong>de</strong>monstração da sua <strong>ele</strong>gância,transparência e <strong>de</strong>puraçãoclassicista na interpretação doConcerto para Piano nº27, k. 595, <strong>de</strong>Mozart, com a OrquestraGulbenkian. O pianista apre<strong>se</strong>nta-<strong>se</strong>também na sua vertente <strong>de</strong> maestro,dirigindo a Sinfonia nº 3 (versão <strong>de</strong>1889), <strong>de</strong> Bruckner.Boris Berezovsky é um dosintérpretes que melhor personificamo imaginário da escola russa. Capazdas maiores acrobacias técnicas, étambém <strong>de</strong>tentor <strong>de</strong> uma energiapo<strong>de</strong>rosa e <strong>de</strong> uma extensa paletadinâmica. Depois <strong>de</strong> ter vencido aedição <strong>de</strong> 1990 do prestigiadoConcurso Tchaikovsky <strong>de</strong> Moscovo,Berezovsky iniciou uma importantecarreira internacional que <strong>se</strong> temintensificado nos últimos anos. Em2006, foi <strong>de</strong>signado pela “BBC MusicMagazine” como MelhorInstrumentista do Ano e a suadiscografia (que inclui obras <strong>de</strong>Beethoven, Chopin/Godowski,Tchaikovsky, Rachmaninov,Mussorgsky, Balakirev, Medtner,Shostakovich, Ravel e Hin<strong>de</strong>mith,entre outros) tem sido distinguidacom alguns dos mais importantesprémios da crítica.Consi<strong>de</strong>rado um dos gran<strong>de</strong>spianista germânicos da actualida<strong>de</strong>,Christian Zacharias é umconceituado intérprete dos clássicosvienen<strong>se</strong>s, sobretudo <strong>de</strong> Mozart eHaydn. Despertou a atençãointernacional ao <strong>se</strong>rpremiado no Concurso <strong>de</strong>Genebra <strong>de</strong> 1969, noConcurso VanCliburn <strong>de</strong>1973 e no Concurso Ravel<strong>de</strong> Paris em 1975. Nessaépoca iniciou uma carreirainternacional queincluiurecitais nas principais salas,gravações premiadas econcertos comas mais<strong>de</strong>stacadas orquestras,maestros <strong>de</strong> renome eagrupamentos <strong>de</strong>câmara como osQuartetos Alban Berg,Guarneri e Leipzig.Des<strong>de</strong> 1992 <strong>de</strong>dica-<strong>se</strong>também à direcção<strong>de</strong> orquestra,dirigindo muitasvezes a partir do <strong>se</strong>uinstrumento osConcertos paraPiano doClassicismo e doprimeiroRomantismo.Finalmente,no dia 17, quinta-feira, <strong>se</strong>rá a vez<strong>de</strong> o portuguêsArtur Pizarroapre<strong>se</strong>ntar noCentro Cultural<strong>de</strong> Belém o <strong>se</strong>u<strong>se</strong>xto recital daJohn Cale <strong>de</strong> Coimbra a Torres Novasintegral para piano <strong>de</strong> Chopin,<strong>de</strong>dicado às obras compostas entre1836 e 1839. O programa inclui, entreoutras peças, as duas Polonai<strong>se</strong>s op.40, as Mazurcas op. 30 e op. 33, aValsa op. 34 nº3, o Scherzo nº 3 e os24 Prelúdios. Com esta série,também apre<strong>se</strong>ntada no anopassado em Londres (no Auditório<strong>de</strong> St. John’s, Smith Square) etransmitida pela BBC – Radio 3, opianista preten<strong>de</strong> re<strong>de</strong>scobrir passoa passo o percurso criativo <strong>de</strong>Chopin, fazendo convergir em cada<strong>se</strong>ssão vários géneros abordadospelo compositor num períodorestrito.PopJohn Calepelas cida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> PortugalO ex-Velvet Un<strong>de</strong>rgroundnuma digressão com <strong>se</strong>i<strong>se</strong>scalas. Vítor BelancianoJohn Cale & BandCoimbra. Teatro Académico <strong>de</strong> Gil Vicente. Pç.República. 5ª, 17, às 21h30. Tel.: 239855636. 15€.Vai <strong>se</strong>r um mês <strong>de</strong> Fevereiro emgran<strong>de</strong> para os admiradores <strong>de</strong> JohnCale, que já actuou por diversasvezes em Portugal, mas nunca nocontexto <strong>de</strong> uma mini-digressãocomo esta, que o conduzirá a <strong>se</strong>iscida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Portugal e que,curiosamente, exclui <strong>Lisboa</strong> e Porto.Coimbra (17), Guimarães (19), Aveiro(20), Leiria (24), Torres Vedras (25) eTorres Novas (26) são as felizescontempladas. Exactamente quetipo <strong>de</strong> espectáculo virá o ex-VelvetUn<strong>de</strong>rground apre<strong>se</strong>ntar não <strong>se</strong>sabe, mas tudo indica que passaráem re<strong>se</strong>nha o <strong>se</strong>u longo percurso,até porque não existe álbumnovo à vista. O último álbum<strong>de</strong> originais, is, “Black Acetate”,data <strong>de</strong> 2005. 05. Mas é um outrodisco, “Music For A NewSociety” (1982), que continua a<strong>se</strong>rvir <strong>de</strong> referência para avaliar amaior parte da sua obra asolo. Nos últimos anos,a sua paixão tem sidotrabalhar emsolidão, noestúdio, através<strong>de</strong> “samples”,aproximandod<strong>se</strong>da<strong>de</strong>finição atmosferas scinemáticasmarcadaspor umaaura épica epelautilização dopiano.JazzSuspensão!O silêncio <strong>de</strong> ErnestoRodrigues hoje na ZBD.Rodrigo AmadoSuspensão - Ernesto RodriguesOctetoCom Ernesto Rodrigues (viola eharpa), Guilherme Rodrigues(violoncelo), Nuno Torres(saxofone), Abdul Moimeme(guitarra), Carlos Santos(<strong>ele</strong>ctrónica), José Oliveira(percussão), Gil Gonçalves (tuba),Armando Pereira (acor<strong>de</strong>ão e piano<strong>de</strong> brincar).<strong>Lisboa</strong>. Galeria Zé dos Bois. Rua da Barroca, 59.Hoje, às 23h. Tel.: 213430205. 5€.Oito improvisadores em torno dosilêncio. Ou por <strong>de</strong>ntro e fora d<strong>ele</strong>,<strong>se</strong> preferirem. “Suspensão”, nomedo espectáculo a apre<strong>se</strong>ntar estanoite na Galeria Zé dos Bois, reúneum octeto que <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolve umaexploração minuciosa dos timbres<strong>de</strong> cada instrumento, contrapondo-aà total ausência <strong>de</strong> <strong>som</strong>. Umexuberante universo <strong>de</strong> microtexturassonoras relaciona-<strong>se</strong>intensamente com o espaçoenvolvente e cria uma dinâmica naqual o silêncio tem um papel<strong>de</strong>terminante. Próxima <strong>de</strong> umaestética a que <strong>se</strong> convencionouchamar <strong>de</strong> reducionista ou nearsilence,esta é uma música <strong>de</strong>câmara exigente que po<strong>de</strong>rá tirarpartido do enorme talento dosimprovisadores convocados paraeste encontro: Ernesto Rodrigues naviola e harpa, Guilherme Rodriguesno violoncelo, Abdul Moimeme naguitarra eléctrica, Gil Gonçalves natuba, Nuno Torres no saxofone alto,Armando Pereira no acor<strong>de</strong>ão epiano <strong>de</strong> brincar, CarlosSantos na <strong>ele</strong>ctrónica e JoséOliveira na percussão.Fundador da editoraCreative Sources e umdos mais activosimprovisadoresnacionais, ErnestoRodriguespros<strong>se</strong>gueum trabalhonotável ecrucial no<strong>de</strong>svendar<strong>de</strong> novosuniversosmusicais.Ernesto Rodrigues, um dos maisactivos improvisadores nacionais34 • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • Ípsilon


O TNSJ É MEMBRO DAMECENAS TNSJAPOIO À PRODUÇÃOCarlosdo Carmoem do<strong>se</strong> duplano São LuizDâm-Funk no Indústria, PortoTeatroCarlosAlberto18-20Fev<strong>2011</strong>texto e encenaçãoTIAGO RODRIGUESAgendaSexta 11Woo<strong>de</strong>n WandEstarreja. Cine-Teatro <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Estarreja. R.Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>mouro, às 23h. Tel.: 234811300. 1,5€.Ver texto na pág. 14.A Guy Called Gerald + Capicua +MC Maze + Santo Oví<strong>de</strong>o GrimePorto. Gare Clube. R. Ma<strong>de</strong>ira, 182, às 0h. Tel.:912564343.Red Bull Music Aca<strong>de</strong>my Porto Hub.Carlos do Carmo<strong>Lisboa</strong>. Teatro <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> S. Luiz. R. Antº MariaCardoso, 38-58, às 21h. Tel.: 213257650. 12€ a 25€.António ChainhoCastelo Branco. Cine-Teatro Avenida. Av. GeneralHumberto Delgado, às 21h30. Tel.: 272349560. 5€.Joana AmendoeiraFigueira da Foz. Casino da Figueira. R. Dr. Calado,1, às 23h. Tel.: 233408400. 15€.Solistas da OrquestraGulbenkian<strong>Lisboa</strong>. Fundação Calouste Gulbenkian. Av. Berna,45A, às 21h30. Tel.: 217823700. Entrada gratuita.Obras <strong>de</strong> Freitas Branco e Debussy.Terry Burrus & The JazzCommissioners<strong>Lisboa</strong>. Onda Jazz. Arco <strong>de</strong> Jesus, 7, às 22h30. Tel.:919184867. 8€.Sábado 12Woo<strong>de</strong>n Wand + Filipe Felizardo<strong>Lisboa</strong>. Kolovrat 79. R. D. Pedro V, 79, às 21h30.Tel.: 213874536. 7€.Ver texto na pág. 14.Filipe Pinto Ribeiro e OrquestraSinfónica MetropolitanaDirecção Musical <strong>de</strong> Mikhail Agrest.<strong>Lisboa</strong>. CCB - Gran<strong>de</strong> Auditório. Pç. Império, às 21h.Tel.: 213612400. 15€.Ciclo Sofia Gubaidulina.Lara Martins e OrquestraSinfónica do PortoDirecção Musical <strong>de</strong> Jo<strong>se</strong>phSwen<strong>se</strong>n.Porto. Casa da Música - Sala Suggia. Pç. Mouzinho<strong>de</strong> Albuquerque, às 18h. Tel.: 220120220. 16€.Obras <strong>de</strong> Pinho Vargas e Mahler.Pablo Mainetti e OrquestraGulbenkianDirecção Musical <strong>de</strong> Jo<strong>se</strong>p Pons.<strong>Lisboa</strong>. Fundação Calouste Gulbenkian. Av. Berna,45A, às 16h. Tel.: 217823700. 6€.Coro do Teatro Nacional <strong>de</strong> SãoCarlos e Orquestra SinfónicaPortuguesaDirecção Musical <strong>de</strong> Martin André.<strong>Lisboa</strong>. Teatro Nacional <strong>de</strong> São Carlos - SalãoNobre. Lg. S. Carlos, 17, às 18h. Tel.: 213253045. 10€.Do Barroco ao Clássico I.Carlos do Carmo<strong>Lisboa</strong>. Teatro <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> S. Luiz. R. Antº MariaCardoso, 38-58, às 21h. Tel.: 213257650. 12€ a 25€.CamanéFaro. Teatro <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Faro. Horta das Figuras,às 21h30. Tel.: 289888100. 15€.El Fad (José Peixoto)Amadora. Espaço Cultural Recreios da Amadora.Av. Santos Mattos, 2, às 21h30. Tel.: 214927315. 5€.I Ciclo <strong>de</strong> Jazz da Amadora.Rodrigo LeãoFigueira da Foz. Centro <strong>de</strong> Artes e Espectáculos. R.Aba<strong>de</strong> Pedro, às 21h30. Tel.: 233407200. 5€ a 15€.Belle Cha<strong>se</strong> HotelVila do Con<strong>de</strong>. Teatro <strong>Municipal</strong>. Av. Dr. JoãoCanavarro, às 22h. Tel.: 252290050. 10€ a 12€.Belle Cha<strong>se</strong> Hotel em Vila do Con<strong>de</strong>Peixe: AviãoGuimarães. Centro Cultural Vila Flor. Av. D. AfonsoHenriques, 701, às 22h. Tel.: 253424700. 10€.Red Bull Music Aca<strong>de</strong>my PortoHubCom The Shine, DâM-FunK, Capicua+ MC Maze, DJ Ri<strong>de</strong>.Porto. Indústria Club. Av. Brasil, 843 - Lj. A/F, às0h. Tel.: 220962935.DealemaArcos <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez. Casa das Artes. Jardim dosCentenários, às 23h. Tel.: 258520520. 8€.Mind da Gap<strong>Lisboa</strong>. MusicBox. R. Nova do Carvalho, 24, às 23h.Tel.: 213430107. 8€.F*** It’s Drum’n’BassCom TC, DJ Die, entre outros.Porto. Teatro Sá da Ban<strong>de</strong>ira. R. Sá da Ban<strong>de</strong>ira,108, às 23h59. Tel.: 222003595. 10€ a 13€.Abztraqt Sir Q + Alci<strong>de</strong>s<strong>Lisboa</strong>. Bacalhoeiro. R. dos Bacalhoeiros, 125 - 2º,às 22h. Tel.: 218864891.The Postcard Brass BandVila Real. Teatro - Pequeno Auditório. Alam.Gras<strong>se</strong>, às 22h. Tel.: 259320000. 7€.Manuel B<strong>ele</strong>za Jazz TercetoBraga. Theatro Circo - Pequeno Auditório. Av.Liberda<strong>de</strong>, 697, às 21h30. Tel.: 253203800. 10€.Sandro NortonPorto. Clube Jazz Ao Norte. R. General Norton <strong>de</strong>Matos, 448, às 22h. Tel.: 228316206. 8€.The Dixie BoysPorto. Hard Club. Pç. Infante, 95, às 22h30. 5€.Domingo 13Argentina SantosOlival Basto. Centro Cultural da Malaposta. R.Angola, às 16h. Tel.: 219383100. 12,5€.Percussões da Metropolitana<strong>Lisboa</strong>. Centro Cultural <strong>de</strong> Belém. Pç. Império.Dom. às 11h30. Tel.: 213612400. 5€.Segunda 14The Script<strong>Lisboa</strong>. Coli<strong>se</strong>u dos Recreios. R. Portas St. Antão,96, às 21h. Tel.: 213240580. 22€.MoonspellPorto. Rivoli Teatro <strong>Municipal</strong> - Gran<strong>de</strong> Auditório.Pç. D. João I, às 21h45. Tel.: 223392200. 15€.Noites do Rivoli. Rock’n’Rivoli.Terça 15Solistas do RemixPorto. Casa da Música - Sala 2. Pç. Mouzinho <strong>de</strong>Albuquerque, às 19h30. Tel.: 220120220. 7,5€.Música <strong>de</strong> Câmara - EUA <strong>2011</strong>.Quarta 16CamanéPorto. Rivoli Teatro <strong>Municipal</strong> - Gran<strong>de</strong> Auditório.Pç. D. João I, às 21h45. Tel.: 223392200. 20€ a 25€.Noites do Rivoli. Gran<strong>de</strong>s Vozes.Quinta 17Pop Dell’Arte<strong>Lisboa</strong>. Culturgest - Gran<strong>de</strong> Auditório. R. Arco doCego, às 21h30. Tel.: 217905155. 20€.Paus + Chris Common + DSi<strong>de</strong> +Brodinski + Rui Vargas<strong>Lisboa</strong>. Lux Frágil. Av. Infante D. Henrique, às 23h.Tel.: 218820890. 8€.Ciclo Só Desta Vez.Sum 41 + Fitacola<strong>Lisboa</strong>. Coli<strong>se</strong>u dos Recreios. R. Portas St. Antão,96, às 21h. Tel.: 213240580. 25€.fotografia Magda Bizarro, <strong>de</strong>sign Joana Monteirocenografiae <strong>de</strong><strong>se</strong>nho <strong>de</strong> luzThomas WalgravefigurinosPatrícia RaposofilmagemBruno Canas interpretaçãoassistência António Pedrosa,<strong>de</strong> encenação Carlos Nery, C<strong>ele</strong>steCláudia Gaiolas Melo, CristinaGonçalves, DianaCoelho, H<strong>ele</strong>naMarchand, IsabelMillet, Isabel Simões,Iva Delgado, JúliaGuerra, KimberleyRibeiro, Manuela <strong>de</strong>Sousa Rama, Michel,Vítor Lopes(EINSTÜRZENDE NEUBAUTEN)(ZU)22:30—ENTRADALIMITADA ÀLOTAÇÃO DOSESPAÇOSco-produçãoMundo PerfeitoCompanhia MaiorCCB<strong>se</strong>x+sáb 21:30dom 16:00M/12 anosdur. aprox. 1:30bilhetesFnac, TNSJ, TeCA,www.ticketline.ptMECENAS CASA DA MÚSICAAPOIO INSTITUCIONALMECENAS PRINCIPAL CASA DA MÚSICASEJA UM DOS PRIMEIROS A APRESENTAR HOJE ESTE JORNAL COMPLETO NA CASA DA MÚSICA E GANHE UM CONVITE DUPLO PARAESTE CONCERTO. OFERTA LIMITADA AOS PRIMEIROS 10 LEITORES E VÁLIDA APENAS PARA UM CONVITE POR JORNAL.PATROCÍNIOwww.tnsj.ptLINHA VERDE 800-10-8675SALA SUGGIASALA 2RESTAURANTECIBERMÚSICABARES 1 E 2www.casadamusica.com | www.casadamusica.tv | T 220 120 220Ípsilon • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • 35


LivrosFicçãoAlmas<strong>de</strong>soladasUm extraordinário romancerusso. Uma sátira que esvaziatudo: lugares e <strong>se</strong>ntimentos.Uma tragédia transformadaem comédia negra. JoséRiço DireitinhoA Família GolovliovSaltykov-Shchedrin(Trad. Manuel <strong>de</strong> Seabra)Relógio d’ÁguammmmmSaltykov-Shchedrin, um dos mais importantessátiros russos do século XIX, abordou sobretudoa clas<strong>se</strong> dos pequenos proprietários rurais<strong>de</strong> que <strong>ele</strong> próprio <strong>de</strong>scendiaEmárabeO escritor russoSaltykov-Shchedrin(1826-1889) –p<strong>se</strong>udónimo <strong>de</strong>MikhailYevgrafovitchSaltykov – foi umdos maisimportante<strong>se</strong>scritores satíricos da literatura russado século XIX. E aquela que éconsi<strong>de</strong>rada a sua obra-prima, “AFamília Golovliov”, foi recentementepor cá editada com tradução directada língua russa. Shchedrin dirigiuvárias revistas literárias, on<strong>de</strong> tevecomo colaboradores nomes comoPúchkin, Tolstói, Turguéniev eDostoiévski. Descen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>pequenos proprietários rurais (quena Rússia dos czares eram <strong>de</strong>tentores<strong>de</strong> um privilegiado estatuto socialA Saad Warzazi aziÉditions publicouuma antologia a <strong>de</strong>contos <strong>de</strong> Mário<strong>de</strong> Carvalhoem árabe.“A GuerraInaudita.Antologiaque lhes permitia ter <strong>se</strong>rvos, <strong>de</strong> cujotrabalho <strong>se</strong> sustentavam), foi paraessa clas<strong>se</strong> que o escritor apontou asua talentosa pena satírica.Toda a acção tem lugar naproprieda<strong>de</strong> da família Golovliov,conhecida como Golovliovo. Amatriarca é a ainda vigorosa<strong>se</strong>xagenária Arina PetrovnaGolovliov, mulher dominadora,cruel, avara, fria e <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhosa. Masque “gostava <strong>de</strong> repre<strong>se</strong>ntar, diantedos filhos, o papel <strong>de</strong> uma mãevenerável e sofredora e, nessasocasiões, arrastava as pernas e tinha<strong>se</strong>mpre duas criadas a ampará-la.”Vladimir Golovliov é o maridopalhaçoque passa o tempo fechadono escritório a imitar o canto do<strong>se</strong>storninhos e dos galos, a escreverpoesia libertina e a beber vodka, eque com o tempo acabou por tornar<strong>se</strong>um “autêntico <strong>se</strong>lvagem”. Osfilhos são quatro, uma rapariga etrês rapazes.A filha casou-<strong>se</strong> <strong>se</strong>m a bênção dospais, “como os cães”, nas palavras damãe, mas mesmo assim esta <strong>de</strong>u-lhealgum dinheiro, uma al<strong>de</strong>ia com 30almas e “uma casa <strong>de</strong>lapidada”, on<strong>de</strong>nem uma tábua do soalho <strong>se</strong>aproveitava; em dois anos, todo odinheiro <strong>se</strong> gastou e o marido fugiu,<strong>de</strong>ixando-a com duas gémeas nosbraços. Stepán era o filhoprimogénito, conhecido como“pateta” e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> tenra ida<strong>de</strong>repre<strong>se</strong>ntara “um papel entre pária ebobo”; era um aliado do pai, comquem <strong>se</strong> fechava a ler poesialicenciosa e a chamar “bruxa” e“<strong>de</strong>mónio” à mãe. “Stepán Golovliovnão tinha ainda quarenta anos, masninguém lhe dava menos <strong>de</strong>cinquenta. (…) olhos saídos einflamados em parte por abuso davodka, em parte por falta <strong>de</strong> abrigonos dias <strong>de</strong> vento.” A mãe <strong>de</strong>ra-lhe,“como um osso” a um cão, uma casavaliosa em Moscovo, que <strong>ele</strong><strong>de</strong>sbaratou, vendo-<strong>se</strong> então forçado aregressar à proprieda<strong>de</strong> familiar, qualfilho pródigo arrependido, e aindapor cima bastante doente. Um criadoinforma a mãe da doença do filho, aoque ela respon<strong>de</strong>: “Figurões como<strong>ele</strong> [Stepán], meu bom homem, àsvezes duram muito tempo. Ainda écapaz <strong>de</strong> nos enterrar a todos! Há-<strong>de</strong>continuar a tossir.” Ela acaba porrecebê-lo à porta do quarto dascriadas e dá-lhe a quantida<strong>de</strong> mínima<strong>de</strong> comida para o manter vivo.O filho mais novo, Pável, é umhomem <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> qualquer<strong>se</strong>ntido <strong>de</strong> acção, que com o passardos anos <strong>se</strong> vai transformando num<strong>se</strong>r enigmático e taciturno que nãocon<strong>se</strong>gue expressar bonda<strong>de</strong> porninguém.Resta o filho do meio, Porfírio, que<strong>de</strong>s<strong>de</strong> pequeno era conhecido comoo “sanguessuga”, o “pequeno Judas”,ou o “sonso”. Mais do que qualqueroutro, <strong>ele</strong> é <strong>de</strong> facto a personagemprincipal do romance e a sua gran<strong>de</strong>criação. Porfírio é a personificaçãoda hipocrisia (tema tão caro à<strong>de</strong>Contos” reúne <strong>de</strong>ztítulos tulos e um texto sobre apoética do conto, comtradução <strong>de</strong> SaïdBenab<strong>de</strong>louahed.Entretanto,“Um SorrisoInesperado” é o<strong>se</strong>gundo livroliteratura russa do século XIX: <strong>de</strong>s<strong>de</strong>Gógol a Tchékhov, passando porDostoiévski), o exemplo do indivíduomanipulador <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong>qualquer norma moral, e que porisso qua<strong>se</strong> sobrevive até ao fim.A proprieda<strong>de</strong> dos Golovliov é umaespécie <strong>de</strong> “casa da morte”, comonota no prefácio o crítico JamesWood. Os membros da família vãotentando escapar, os que vãoregressando a casa fazem-no apenaspor <strong>de</strong><strong>se</strong>spero. E a única maneira queencontram <strong>de</strong> sobreviver é esquecera moral, é viver fora do “sistemamoral” (Wood). A proprieda<strong>de</strong>, oGolovliovo, é um “lugar do mal” no<strong>se</strong>ntido usado por Santo Agostinho,um “lugar <strong>de</strong> ausência do bem”, umlugar que <strong>se</strong> po<strong>de</strong> resumir ao “nada”existencial, algo que foi excluído domundo moral <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong>soladas asalmas das personagens. A sátiralevada ao exagero por Saltykov-Shchedrin, com o claro propósito <strong>de</strong>esvaziar este universo narrativo <strong>de</strong>qualquer “verda<strong>de</strong>” e <strong>de</strong> algunsrestos <strong>de</strong> moral, acaba portransformar uma tragédia numaespécie <strong>de</strong> comédia negra. O autorproduz um autêntico “massacresatírico”, nas palavras <strong>de</strong> Wood.PoesiaO rigor comque digoReedição <strong>de</strong> um doslivros fundamentais do“classicismo mo<strong>de</strong>rno”.Pedro MexiaMatura Ida<strong>de</strong>David Mourão-FerreiraArcádiammmmn“Matura Ida<strong>de</strong>” éum livrofundamental no“classicismomo<strong>de</strong>rno”.Publicado em1973, é agorareeditadopelareaparecida Arcádia (chancelada Babel), uma casa comtradições.No prefácio à novaedição, Vasco Graça Moura,um dos mais fiéis e o maistalentoso dos discípulos <strong>de</strong>David Mourão-Ferreira,lembra que“Matura Ida<strong>de</strong>”<strong>se</strong> <strong>se</strong>guea duascolectâneas <strong>de</strong>poemas que já glosavam os mesmostemas da arte <strong>de</strong> amar e daefemerida<strong>de</strong>. Depois <strong>de</strong> “InfinitoPessoal” (1962) e “Do Tempo ao<strong>de</strong> contos <strong>de</strong> José RiçoDireitinho a <strong>se</strong>r traduzidopara árabe directamentedo português. É publicadopela editora Racine, <strong>de</strong>Rabat. Para o ano <strong>se</strong>rátraduzido o “Breviário dasMás Inclinações”.Coração” (1966), chegado à ida<strong>de</strong>madura <strong>de</strong> 46 anos, David está noauge das suas capacida<strong>de</strong>s. Enveredaentão por um diálogoeminentemente adulto com obarroco e o maneirismo, aos quais,como explica Graça Moura, vaibuscar uma poética em que a formaestrita aglutina uma certa dispersãoimagística. E a isso acrescenta aindauma “melancolia <strong>ele</strong>gante” quetorna vivo o motivo ancestral dotempo que nos foge.O livro divi<strong>de</strong>-<strong>se</strong> em várias<strong>se</strong>quências, obe<strong>de</strong>cendo todas a uma<strong>de</strong>terminada forma. Primeiro,aparecem os dísticos, vibrantescomo epitáfios latinos. Logo aoprimeiro, David fala <strong>de</strong> “olhar <strong>de</strong>frente o Sol”, e percebemos que issoleva fatalmente à cegueira e àsolidão. É uma i<strong>de</strong>ia a que volta comfrequência. Os dísticos,metricamente impecáveis na suacontenção, misturam imagens <strong>de</strong>júbilo e <strong>de</strong> violência, lâmpadasacesas e cadáveres, e nela<strong>se</strong>ncontramos o fulgor erótico <strong>se</strong>mpreacompanhado por uma queda. Háum “comigo me <strong>de</strong>savim” quecontraria qualquer facilida<strong>de</strong>, queimpe<strong>de</strong> que tudo <strong>se</strong>ja êxta<strong>se</strong> epartilha. Atingindo o cimo, o sujeitocai, cai em si, cai na consciência <strong>de</strong>uma imperfeição, que é o tempo.Uma imperfeição redimida pelaexigência formal: “Em tão pouco emtão nada afinal acredito / Só meempolga o rigor com que o digo enão digo” (p. 39). Esta palavra,“rigor”, que tinha sido reclamadapor uma poesia nova, nadadiscursiva, era assimorgulhosamente reivindicada por umclassicista. Reclamada e praticada,pois aos dísticos <strong>se</strong>guem-<strong>se</strong> outrosformatos, e dos mais rigorosos, comoos sonetos e as <strong>se</strong>xtinas.David era um poeta oficinal, equa<strong>se</strong> <strong>se</strong> po<strong>de</strong> fazer <strong>de</strong>sta colectâneaum manual <strong>de</strong> figuras <strong>de</strong> estilo, tanto<strong>de</strong> construção (elip<strong>se</strong>s, anáforas,zeugmas, hipérbatos) como <strong>de</strong>sonorida<strong>de</strong> (rimas, assonâncias,homofonias, aliterações). O recursoàs formas fixas não significa apenasuma a<strong>de</strong>sãoprogramáticaaoclassicismo(comum aogrupo darevista“TávolaEm “Matura Ida<strong>de</strong>”,David Mourão-Ferreiraestá no auge das suascapacida<strong>de</strong>s e enveredapor um diálogo adultocom o barrocoe o maneirismo36 • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • Ípsilon


aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExc<strong>ele</strong>nteConcertos para FamíliasRedonda”), é também o modo <strong>de</strong>expressão a<strong>de</strong>quada a um poeta nasua maturida<strong>de</strong> “cantabile”, poispermite que o <strong>som</strong> e o <strong>se</strong>ntidoconvirjam mesmo quando àsuperfície divergem.Há uma notória confiançacompositiva em todos estes poemas,mas alguns d<strong>ele</strong>s vão além disso, nãosão apenas classicistas mas nascemlogo como clássicos: “E por vezes asnoites duram me<strong>se</strong>s / E por vezes osme<strong>se</strong>s oceanos / E por vezes osbraços que apertamos / nunca maissão os mesmos E por vezes //encontramos <strong>de</strong> nós em poucosme<strong>se</strong>s / o que a noite nos fez emmuitos anos / E por vezes fingimosque lembramos / E por vezeslembramos que por vezes // aotomarmos o gosto aos oceanos / só osarro das noites não dos me<strong>se</strong>s / láno fundo dos copos encontramos //E por vezes sorrimos ou choramos /E por vezes por vezes ah por vezes /num <strong>se</strong>gundo <strong>se</strong> evolam tantosanos (p. 75).A luz e as <strong>som</strong>bras da experienciaerótica estão esplendorosamentepre<strong>se</strong>ntes neste poema. Mas todo olivro per<strong>se</strong>gue essa noção <strong>de</strong> umaplenitu<strong>de</strong> que é também um abismo,e aparecem palavras ou expressõesambíguas, tanto <strong>se</strong>xuais ouescuramente existenciais,“alvoroço”, “zonas <strong>som</strong>brias”, “ventoterrível”. O donjuanismo, a procura<strong>de</strong> um só corpo em todos os corpos, éaqui uma temática gémea do“tempus fugit”, e recorre comfrequência a uma linguagemconceptista, her<strong>de</strong>ira por exemplo <strong>de</strong>Donne ou Quevedo, citados emepígrafe.Um <strong>de</strong>s<strong>se</strong>s poemas <strong>de</strong>ixa apergunta es<strong>se</strong>ncial: por que razãoquando convocamos a p<strong>ele</strong> o sangue<strong>se</strong> amotina e a alma estremece,mesmo a quem não acredita na alma?EnsaioUmafilosofia emmovimentoJacques Rancière é umafigura es<strong>se</strong>ncial para pensara arte como política. Mariado Conceição CaleiroEstética e Politica. A Partilha doSensívelJacques Rancière(Trad. Vanessa Brito)Dafne EditorammmmmJacques Rancière é um vulto dafilosofia e do pensamento critico. Asua importância sobressaiu <strong>de</strong>poisdo<strong>de</strong>saparecimento<strong>de</strong> Foucault,D<strong>ele</strong>uze e Derrida.Hoje tem comopares, na área dafilosofia do politico,<strong>de</strong> um radicalismoabrangente <strong>de</strong> mai<strong>se</strong>sferas, J.-L Nancy e Alain Badiou.Rancière <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolve ramais <strong>de</strong>interes<strong>se</strong> vários (literatura, artesplásticas, cinema, teatro,fotografia...). Recria-<strong>se</strong> curtocircuitandoo fluxo do <strong>se</strong>upensamento: um pensamentoinstável, brilhante que sustentaaporias, tensões e até silêncios.Provém <strong>de</strong> um “aristocratismoalthus<strong>se</strong>riano”. Integra o <strong>se</strong>minárioque origina o mítico “Lire leCapital”. Em 74 <strong>de</strong>marca-<strong>se</strong>,radicaliza a reflexão, parte dos quesão expropriados da politica, isto é,do direito e dos canais <strong>de</strong> expressão.Publica um livro es<strong>se</strong>ncial - “LaMé<strong>se</strong>ntente. Politique etPhilosophie”. Avança na reflexãoestética. N<strong>ele</strong> são contíguas ahistória <strong>de</strong> arte e a história dotrabalho, estética e politica. EmPortugal, estão traduzidos “OEspectador Emancipado” (OrfeuNegro) e, agora, este “Estética ePolitica. A Partilha do Sensível”.Convoque-<strong>se</strong> Aristót<strong>ele</strong>s: o homemé um animal politico e, <strong>de</strong> todos oanimais, só <strong>ele</strong> tem a palavra. Don<strong>de</strong>,politica é uma questão <strong>de</strong> acesso, ou<strong>de</strong> exclusão, do uso da palavra, dodomínio, ou não, das regras <strong>de</strong>argumentação. Mesmo “a palavramuda”, o <strong>de</strong>talhe anónimo ainda porsignificar - o bilhete <strong>de</strong> cinemarasgado -, precisa <strong>de</strong> um porta vozque lhe <strong>de</strong>cifre um significado, isto é,que o incorpore. Por outro lado,<strong>se</strong>ndo a politica a activida<strong>de</strong> cujaracionalida<strong>de</strong> é a do“<strong>de</strong><strong>se</strong>ntendimento”, ela é, tambémpor aí, matéria <strong>de</strong> linguagem, isto é,<strong>de</strong> poética. Logo, animal politicoporque animal literário que foge ao<strong>se</strong>u <strong>de</strong>stino “natural” ao <strong>de</strong>ixar-<strong>se</strong>reencaminhar pelo po<strong>de</strong>r daspalavras.O conjunto <strong>de</strong> cinco textos queperfazem este livro parte <strong>de</strong> questõescolocadas por jovens filósofos.Porém, o mote <strong>de</strong>s<strong>se</strong>s textos, logoenunciado emnotaUm pensamento instável, brilhante,que sustenta tensões e até silênciosintrodutória, adverte: “Atos estéticos,entendidos como configurações daexperiência, que induzem novosmodos <strong>de</strong> <strong>se</strong>ntir e novas formas <strong>de</strong>subjectivida<strong>de</strong> politica”. Note-<strong>se</strong> queo universo lexical <strong>de</strong> Rancière épeculiar, <strong>de</strong>sviado da acepçãocomum dos conceitos, apesar <strong>de</strong>tecer com <strong>ele</strong>s um corpo que pulsa,lógico, não-sistemático, aliciante,uma máquina <strong>de</strong> agenciamentos emaberto (“in progress”); es<strong>se</strong>hermetismo po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sviar uma leituraapressada. Por isso, é da maior valia oglossário que esta edição agrega - <strong>de</strong>que falamos quando falamos <strong>de</strong>“subjectivação”, <strong>de</strong> “sujeitopolitico”?O autor <strong>de</strong>lineia uma historicida<strong>de</strong>do regime das artes, das suas ida<strong>de</strong>s,cujas fronteiras não são estanques:sobrepõem-<strong>se</strong> (confun<strong>de</strong>m-<strong>se</strong>). O quelhe interessa não é a teoria da arte emgeral, nem a qualida<strong>de</strong>consubstancial das obras, mas “ummodo <strong>de</strong> articulação entre asmaneiras <strong>de</strong> fazer, as formas <strong>de</strong>visibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas maneiras <strong>de</strong> fazere os modos <strong>de</strong> pensar as suasrelações”. Distingue-<strong>se</strong> com firmeza<strong>de</strong> Lyotard, da análi<strong>se</strong> <strong>de</strong>ste dosublime kantiano, da melancolia e<strong>de</strong><strong>se</strong>ncanto dos pós-mo<strong>de</strong>rnos, talcomo da vocação vanguardista daarte (“o ímpeto <strong>de</strong> uma humanida<strong>de</strong>que liga as conquistas da novida<strong>de</strong>artística às conquistas daemancipação”) e é neste âmbito quequestiona o mo<strong>de</strong>rnismo e a(s)filosofia(s) da História.Voltemos às Ida<strong>de</strong>s da Arte:primeira, o Regime Ético das Imagens(n<strong>ele</strong> não existindo uma concepçãodo que <strong>se</strong>ria a imagem, e retomandoPlatão e a crítica do simulacro e daverda<strong>de</strong>). As imagens estariam ao<strong>se</strong>rviço dos interes<strong>se</strong>s <strong>de</strong> um grupo.Exemplo: os Budas afegãos que ostalibãs <strong>de</strong>struíram, pois, não havendodivinda<strong>de</strong>s, elas são falsas, atitu<strong>de</strong>que indigna o Oci<strong>de</strong>nte.O <strong>se</strong>gundo regime das artes é oRepre<strong>se</strong>ntativo (Poético). Legitima-<strong>se</strong>a especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um fazer <strong>de</strong> arte.O <strong>se</strong>u critério é o da “mimesis”(aristotélica). Correspon<strong>de</strong> à Ida<strong>de</strong>Clássica, ao Antigo Regime, a umasocieda<strong>de</strong> e a campos artísticos,géneros e temas bem <strong>de</strong>finidos(primazia das “Belles Lettres”, daacção e da narrativa sobre a<strong>de</strong>scrição); a produção artísticasujeita-<strong>se</strong> a critérios <strong>de</strong> similitu<strong>de</strong>,correspondência e verosimilhança.“É um regime <strong>de</strong> visibilida<strong>de</strong> dasartes”, elas autonomizam-<strong>se</strong>, maso que <strong>se</strong> autonomiza articula-<strong>se</strong>em analogia com uma hierarquiaglobal das ocupações politicas esociais. É esta hierarquização que oRegime Estético das Artes vai<strong>de</strong>stronar a partir do século XIX.Wordsworth, poeta lírico,<strong>de</strong>clara em 1802 que a<strong>se</strong>moções dos “pequenos” sãosusceptíveis da mais alta poesia.Rancière trabalha o romance(Balzac, Flaubert...), géneroDOMINGO, 13 DE FEVEREIRO, 11H30GRANDE AUDITÓRIO DO CCBPercussões da MetropolitanaPedro Carneiro marimbaJosé Salgueiro bateriaCesário Costa direcção musicalobras <strong>de</strong>Rob Smith, Minoru Miki, Eric Ewazen e Bill WhelanCO-PRODUÇÃOAPOIOSPREÇO ÚNICO: 5€ipsilon@publico.ptÍpsilon • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • 37


LivrosaMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExc<strong>ele</strong>nteAngélica Lid<strong>de</strong>ll, uma das figuras incontornáveisdo teatro espanhol contemporâneoque faz triunfar a força anónima davida <strong>se</strong>m qualida<strong>de</strong>s e a “força <strong>de</strong> umestilo indiferente à dignida<strong>de</strong> daspersonagens”. Po<strong>de</strong>-<strong>se</strong> falar da glóriapossível e única do qualquer um. Issoocorreu primeiro na literatura,<strong>de</strong>pois nas artes plásticas, ainda nãono político. O <strong>se</strong>u interes<strong>se</strong> pelahistória das mentalida<strong>de</strong>s, apsicanáli<strong>se</strong>, a fotografia, um certocinema (Pedro Costa e o <strong>se</strong>u“Juventu<strong>de</strong> em Marcha”)compreen<strong>de</strong>-<strong>se</strong> neste alinhamento.Resumindo, o “Regime Estético dasArtes é o que i<strong>de</strong>ntifica a arte nosingular, dissociando-a <strong>de</strong> qualquerhierarquia dos temas, dos géneros edas artes. O que implica <strong>de</strong>struir abarreira mimética que distinguia asmaneiras da fazer arte das outrasmaneiras <strong>de</strong> fazer, <strong>se</strong>parando as suasregras da or<strong>de</strong>m das ocupaçõessociais. Este regime afirma a absolutasingularida<strong>de</strong> da arte e, ao mesmotempo, <strong>de</strong>strói qualquer critériopragmático <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar essasingularida<strong>de</strong>”. O que aviva umaaporia, ou no limite, encerra as artesnum ensimesmamento auto-télico.Rancière não cessa <strong>de</strong> insistir que “aestética <strong>de</strong>ve tornar <strong>se</strong>nsível aimaterialida<strong>de</strong> do <strong>se</strong>nsível que é amaterialida<strong>de</strong> do pensamento”. Acada passo, o <strong>se</strong>nsível duplica-<strong>se</strong> num<strong>se</strong>nsível que, diferindo, advém outro,e o pensamento <strong>de</strong>sdobra-<strong>se</strong> numpensamento outro. Per<strong>se</strong>guem-<strong>se</strong>, ouper<strong>se</strong>guem um ponto intotalizável,suspenso no infinito - a coincidência,e a comunida<strong>de</strong> por vir.Muito fica por dizer, O autor é umamáquina voraz. E que tal um frente-afrentesobre a Wikileaks entreRancière e Badiou?TeatroMáscaramorta,máscarapostaDuas dramaturga<strong>se</strong>spanholas, Luïsa Cunillée Angélica Lid<strong>de</strong>ll: umapermanecerá, a outratalvez não. Jorge LouraçoFigueiraBarcelona, Mapa <strong>de</strong> Sombras +Après Moi, le DélugeLluïsa Cunillé(Trad. Ângelo Ferreira <strong>de</strong> Sousa)Livros CotoviammmmmCão Morto em Tinturaria: osFortes e outras peçasAngélica Lid<strong>de</strong>ll(Trad. Joana Frazãoe Raquel Marques)Livros CotoviammmnnA última leva<strong>de</strong> autorescontemporâneospublicados nosLivrinhos <strong>de</strong> Teatrodos Artistas Unidosincluiu duasdramaturgas <strong>de</strong> queo público po<strong>de</strong> veruma amostra naspróximas <strong>se</strong>manas:Angélica Lid<strong>de</strong>ll (n.1966) em pessoa,com “La Casa <strong>de</strong> LaFuerza”, hoje eamanhã naCulturgest; e LluïsaCunillé (n. 1961),cuja “Libração”, montada pelas BoasRaparigas, estará a 18 e 19 <strong>de</strong> Marçono São Luiz, em <strong>Lisboa</strong>. Com JuanMayorga, são as duas autorasnascidas na Espanha da década <strong>de</strong> 60que mais <strong>se</strong> <strong>de</strong>stacam no panoramamundial da dramaturgia, tendoobtido nos últimos anos oreconhecimento dopúblico, da crítica e da clas<strong>se</strong> teatral.O livrinho <strong>de</strong> Cunillé inclui duaspeças, “Barcelona, Mapa <strong>de</strong>Sombras” (2004) e “Après Moi, leDéluge” (2007). O <strong>de</strong> Lid<strong>de</strong>ll quatro:“Cão Morto em Tinturaria: os Fortes”(2007), “O Ano <strong>de</strong> Ricardo” (2007),“E Como Não Apodreceu...: Branca<strong>de</strong> Neve” (2005), “E os Peixes Saírampara Combater Contra os Homens”(2003).O problema central para ambas asautoras parece <strong>se</strong>r como construirficções teatrais on<strong>de</strong> caiba a tragédiacontemporânea, feita tanto do dia-adiaem Espanha como das notícias <strong>de</strong>horrores no estrangeiro. Que ritualcénico po<strong>de</strong> reproduzir algum tipo<strong>de</strong> pasmo, e através <strong>de</strong> queconvenções? As respostas nãopodiam <strong>se</strong>r mais diferentes. Lid<strong>de</strong>lloferece-<strong>se</strong> a si mesma como bo<strong>de</strong>sacrificial, ao mesmo tempo quemostra o que po<strong>de</strong> acontecer aqualquer um <strong>de</strong> nós. As suastragédias não <strong>se</strong> referem a heróis,muito menos a <strong>se</strong>mi-<strong>de</strong>u<strong>se</strong>s, mas avários casos banais - e é a banalida<strong>de</strong>da violência que horroriza. Em “CãoMorto em Tinturaria: os Fortes”, oartista é apre<strong>se</strong>ntado como um pária,pertencendo a uma casta intocável, e“cada plateia é uma reprodução damesquinhez universal”. Fazendo aponte com a sua biografia, a própriaLid<strong>de</strong>ll encarna o dito cão, que faz asvezes <strong>de</strong> um mestre <strong>de</strong> cerimóniasartaudiano pairando sobre a acção. Apeça conta a história <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong>personagens num futuro fictício, alvo<strong>de</strong> uma contaminação espiritual queas lança na <strong>de</strong>cadência. O <strong>se</strong>xo étratado como um coisa <strong>de</strong>sgostosa.“Fo<strong>de</strong>r é igual a fazer autópsias”, dizàs tantas uma personagem. “CãoMorto” é uma distopia que tenta<strong>de</strong>nunciar a herança maligna, oupelo menos <strong>de</strong>svirtuada, <strong>de</strong>Rous<strong>se</strong>au, expondo a má consciênciae a hipocrisia dos her<strong>de</strong>iros doIluminismo. A maior tragédia é a daindiferença geral perante as mortes<strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> pessoas nas cida<strong>de</strong>sfora da Europa, <strong>de</strong> quem não noslembraríamos <strong>se</strong> não houves<strong>se</strong>notícias e viagens <strong>de</strong> longo curso.“Tudo é vaida<strong>de</strong>” parece <strong>se</strong>r o motepara <strong>de</strong>smontar a socieda<strong>de</strong> doespectáculo e mostrar os écrãs sujos<strong>de</strong> sangue. Lid<strong>de</strong>ll confronta oespectador e espera com isso obter asua atenção, mas as suas personagensparecem adolescentes automutilando-<strong>se</strong>para compensar aimpotência.Ao contrário <strong>de</strong> Lid<strong>de</strong>l, Cunillé éconhecida pela sua reclusão pessoal,raramente aparecendo paraentrevistas. A sua arte está toda naspersonagens fictícias, preparadaspara lidar com todas aspotencialida<strong>de</strong>s da encarnação eassim focar os temas que preten<strong>de</strong>,enunciados por actores que <strong>se</strong> vê queescolheram estas histórias e estespapéis <strong>de</strong>liberadamente. Em “AprésMoi, le Déluge”, uma intérpretetraduz o pedido <strong>de</strong> um velho al<strong>de</strong>ãodo Congo a um homem <strong>de</strong> negócio<strong>se</strong>uropeu para que empregue o filho,ex-soldado enquanto criança. Oal<strong>de</strong>ão nunca está pre<strong>se</strong>nte e, nofinal, a surpresa é que o filho morreue toda a história foi inventada. Aintérprete aparece mais como umacontadora <strong>de</strong> histórias. De repente,apercebemo-nos <strong>de</strong> que fala nãoapenas pelo peticionário, mas portodos os peticionários. Cunillésintetiza muito bem as lições <strong>de</strong>Brecht, Piran<strong>de</strong>llo, Genet, namaneira como o artifício teatral e averosimilhança das personagens não<strong>se</strong> excluem. A empatia do espectadorvem da própria empatia que <strong>se</strong>estab<strong>ele</strong>ce e vai aumentando entre aspersonagens, e que contradiz oconflito dramático, humanizando-o,tornando-o mais complexo. No final,tudo parece ter sido um jogo <strong>de</strong>máscaras. Mas aconteceu perante osnossos olhos. A realida<strong>de</strong> tem <strong>de</strong> <strong>se</strong>rvista pelos olhos <strong>de</strong> alguém. Aspersonagens <strong>de</strong> Cunillé têm plenaconsciência <strong>de</strong> que a sua interacção éum número social, parte doespectáculo da história. É essaconsciência do mundoem que estão metidos que faz<strong>de</strong>stas personagens verda<strong>de</strong>irosheróis e <strong>de</strong>sta dramaturgia uma obrasubtil mas lancinante. As peças <strong>de</strong>Cunillé falarão à humanida<strong>de</strong>durante muito tempo.IsabelCoutinhoCiberescritasOcaso era sério. Luiz Schwarcz, o editor dabrasileira Companhia das Letras, tinhaprometido que durante as férias nãoescreveria nenhum post no Blog daCompanhia. Teve <strong>de</strong> quebrar a promessaquando, em Nova Iorque, resolveu ir à livraria Barnes &Noble da sua “predilecção”, aquela que ficava em frente aoLincoln Center, e verificou que ela fechou. “This Barnes &Noble location is now clo<strong>se</strong>d. Plea<strong>se</strong> visit our store at 82ndand Broadway. Thank you for your patronage over the past15 years”, lia-<strong>se</strong> na montra. “Antes lamentávamos ofechamento <strong>de</strong> cada uma das maravilhosas livrariasin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, e os vilões eram as ca<strong>de</strong>ias, da qual aBarnes & Noble é a maior repre<strong>se</strong>ntante. Agora são asca<strong>de</strong>ias que estão mal (...) e, para minha surpresa, amelhor, ou uma das melhores lojas da Barnes & Noble,acaba <strong>de</strong> fechar. É claro que o vilão da vez é o livro<strong>ele</strong>trônico. Essa é uma longa discussão, na qual faço mevaler do fato <strong>de</strong> estar <strong>de</strong> fériasFoi numa Barnes &Noble que percebi queuma livraria podia tersofás e um café lá<strong>de</strong>ntro. Ainda nãoestou preparada parair ao <strong>se</strong>u enterroBlog da Companhiahttp://www.blogdacompanhia.com.br/Dale Peck no Thedailyhttp://www.thedaily.com/page/<strong>2011</strong>/02/07/020711-opinions-opedbookstorespeck-1-2/Mischief &Mayhemhttp://www.mischiefandmayhembooks.com/(Ciberescritasjá é um bloguehttp://blogs.publico.pt/ciberescritas)O enterro dasca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> livrariaspara não entrar, pelo menosneste momento”, escreveSchwarcz.Esta <strong>se</strong>mana, numa coluna<strong>de</strong> opinião do “The Daily”, apublicação lançada por RupertMurdoch exclusivamente parao iPad, o romancista Dale Peckvoltava ao tema numa colunaprovocatória. Para <strong>ele</strong>, osleitores estão treinados parapensar das livrarias aquilo queos fãs do “rock and roll”pensam dos concertos: é o sítio on<strong>de</strong> vemos os nossosartistas preferidos e on<strong>de</strong> nos encontramos com pessoascom os nossos gostos e valores. “À primeira vista pareceum sistema exc<strong>ele</strong>nte. Há espaço para todos os tipos d<strong>ele</strong>itores, quer <strong>se</strong> goste <strong>de</strong> Dan Brown e <strong>de</strong> Stephenie Meyerou <strong>de</strong> David Markson e <strong>de</strong> Angela Carter. Qual é oproblema?”, pergunta o autor, que é também fundador <strong>de</strong>uma pequena editora, a Mischief + Mayhem Books. A <strong>se</strong>guiranalisa todos os problemas do processo <strong>de</strong> venda <strong>de</strong> livros(as comissões com que ficam os distribuidores e oslivreiros, a lógica da consignação, etc) e vai avisando que aInternet simplifica a compra <strong>de</strong> livros directamente ao<strong>se</strong>ditores e que, com os avanços tecnológicos na área doprint-on-<strong>de</strong>mand (impressão a pedido), os editores já nãoprecisam <strong>de</strong> imprimir <strong>de</strong>z mil livros <strong>de</strong> um título <strong>se</strong> sabemque só vão con<strong>se</strong>guir ven<strong>de</strong>r cinco mil. “Se o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>impressão a pedido, directamente para o consumidor, foraplicado por toda a parte, <strong>se</strong>m dúvida que levará a Amazone a Walmart para fora do negócio do livro, e também vaiafastar a Barnes & Noble do negócio, ponto final. Isso <strong>se</strong>riamau?”, pergunta. Provocador, diz que <strong>se</strong> as gran<strong>de</strong>sca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong>saparecerem talvez as livrarias in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntesaumentem. “Leitores <strong>de</strong> todo o mundo, uni-vos. Não têmnada a per<strong>de</strong>r a não <strong>se</strong>r as ca<strong>de</strong>ias.”Não posso concordar. Eu gosto muito <strong>de</strong> não precisar <strong>de</strong>sair do sofá para comprar um livro <strong>ele</strong>ctrónico e começar alê-lo nes<strong>se</strong> instante. Também gosto da atenção que me dãonas livrarias in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Mas não quero que umaca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> livrarias como a Barnes & Noble, espalhada portodas as cida<strong>de</strong>s norte-americanas, <strong>de</strong>sapareça do mapa.Nos anos 90, foi numa Barnes & Noble que percebi pelaprimeira vez que uma livraria podia ter sofás e um café lá<strong>de</strong>ntro. Pas<strong>se</strong>i a ir lá todos os dias, para <strong>de</strong>scobrir novoslivros e meter conversa. Quando hoje entro numa livraria,a Barnes & Noble que me marcou naquela época está<strong>se</strong>mpre pre<strong>se</strong>nte e é o termo <strong>de</strong> comparação. Ainda nãoestou preparada para ir ao <strong>se</strong>u enterro.isabel.coutinho@publico.pt38 • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • Ípsilon


ExposPrémioEntrar naHistóriaNa mais recente exposiçãodo ciclo “Return of the Real”,Carla Filipe erige um diálogoentre a arte, a História e asocieda<strong>de</strong>. José Marm<strong>ele</strong>iraO Povo Reunido, jamais <strong>se</strong>rá– repre<strong>se</strong>ntações gráficasDe Carla Filipe.Vila Franca <strong>de</strong> Xira. Mu<strong>se</strong>u do Neo-Realismo. R.Alves Redol, 45. Tel.: 263285626. Até 6/03. 3ª a 6ªdas 10h às 19h. Sáb. das 12h às 19h. Dom. das 11h às18h.The Return of the Real. Instalação,Obra Gráfica, Outros.mmmmnO contexto continua a influenciar aobra <strong>de</strong> Carla Filipe (Aveiro, 1973).Reformulamos: a obra <strong>de</strong> CarlaFilipe continua a <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolver-<strong>se</strong>como um processo comprometidocom o lugar social, político ehistórico que a recebe. E os meios<strong>de</strong>ste fazer são diversos: aexperimentação no espaço, o uso daescrita, o trabalho <strong>de</strong> campo, oencontro da imaginação e dabiografia com histórias e narrativas(por exemplo, a história doscaminhos <strong>de</strong> ferro na Grã-Bretanha,no livro <strong>de</strong> artista “An IlustratedGui<strong>de</strong> to The British Railway to Mystudy”, ou a história do Hospital S.João, na colectiva “Hospitalida<strong>de</strong>”,realizada no Porto em 2009). É <strong>de</strong>um diálogo que <strong>se</strong> trata, portanto, etem novo momento em “O PovoReunido, jamais <strong>se</strong>rá –repre<strong>se</strong>ntações gráficas”, no Mu<strong>se</strong>udo Neo-Realismo, em Vila FrancaXira.Carla Filipe confrontou-<strong>se</strong>, <strong>de</strong>staA falência doprotesto político,aqui figuradapelas ca<strong>de</strong>iras“fechadas” <strong>de</strong>uma associaçãolocal, estáno centro <strong>de</strong>staintervenção<strong>de</strong> Carla FilipeaMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExc<strong>ele</strong>nteA britânica <strong>de</strong> origem palestiniana Mona Hatoumé a vencedora da edição <strong>2011</strong> do Prémio JoanMiró, que distinguiu em anos anterioreso dinamarquês Olafur Eliasson (2007)e a suíça Pipilotti Rist (2009). O júridoprémio, <strong>de</strong> que fizeram parte osdirectores do Pompidou, AlfredPacquement, e da Tate Mo<strong>de</strong>rn,Vicente Todolí, sublinhou o papelpioneiro da artista na abertura daspráticas artísticas às realida<strong>de</strong>snão-oci<strong>de</strong>ntais.vez com os cartazes políticos, amemória das colectivida<strong>de</strong>s locais euma certa história políticaportuguesa anterior ao 25 <strong>de</strong> Abril. Eas estratégias usadas r<strong>ele</strong>vam menosdo acrescento, da acumulação (oque tem acontecido noutrostrabalhos) do que da subtracção.A artista <strong>se</strong>leccionou uma série <strong>de</strong>cartazes (que já havia usado noutraobra, numa exposição no EspaçoCampanhã, em 2009) e retirou-lhesas palavras e qualquer vestígio <strong>de</strong>repre<strong>se</strong>ntação humana, <strong>de</strong>ixandoapenas os grafismos que, pintados esós, existem enquanto círculos,quadrados, manchas, superfícies <strong>de</strong>cor, por vezes, qua<strong>se</strong> monocromos.O francês Francis Bau<strong>de</strong>vin (1964)tem-<strong>se</strong> notabilizado com um métodoanálogo (usando capas <strong>de</strong> discos,livros, embalagens <strong>de</strong>medicamentos), mas para <strong>de</strong>svelaras relações entre o <strong>de</strong>sign, a culturapop e o mo<strong>de</strong>rnismo. Já Carla Filipeparece insinuar a falência doprotesto político e das manifestaçõessociais, reduzidos a formas e a cores,abstracções (<strong>se</strong> formos mais longe, amercadorias).No centro da (mesma) sala, umainstalação aprofunda a <strong>de</strong>cepção:várias ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> uma associação<strong>de</strong> Vila Franca Xira estão arrumadas,“fechadas”: a reunião acabou.Outros trabalhos, realizados commateriais e objectos do acervo domu<strong>se</strong>u, curto-circuitam a relaçãoentre a experiência individual,singular, da política e a sua acepçãomais universal, entre o documento ea obra <strong>de</strong> arte. É o caso daintervenção no auditório que nospermite ouvir a palavra e arespiração do povo, <strong>se</strong>m imagens,através <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> músicas<strong>de</strong> trabalho, recolhidas por MichelGiacometti e Fernando Lopes Graça.Não há luz, apenas canções e sons,com que construímos (ou nos<strong>de</strong>spedimos <strong>de</strong>) uma imagem.No hall, encontra-<strong>se</strong> o conjuntoque rememora as “aventuras” dobarco-varino “Liberda<strong>de</strong>”: durante oEstado Novo, esta embarcação levouvários opositores ao regime emcurtos pas<strong>se</strong>ios ao longo do Tejo.Para confraternizarem, trocaremexperiências, resistirem, longe davigilância <strong>de</strong> Salazar. Naclan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>, sobre as águas dorio.No chão, <strong>de</strong>positados aos pés doespectador, estão a ban<strong>de</strong>ira dobarco sobre tecido e o boné dotimoneiro; em vitrinas, fotografias,textos e uma cópia <strong>de</strong> “Avieiros”,livro <strong>de</strong> Alves Redol, que chega amencionar o dono do barco,Jerónimo Tarrinca. Às fotografias, aartista acrescentou comentários <strong>ele</strong>gendas que i<strong>de</strong>ntificam osretratados. Do livro, ressaltou fra<strong>se</strong>s,como a que cita um capataz a proibiros trabalhadores <strong>de</strong> cantarem.Vendo e lendo, entramos na históriacom Carla Filipe, entre o passado e opre<strong>se</strong>nte.Agenda“O ModoComo NãoFoi”, naCulturgestPortoInauguramOb<strong>se</strong>rvadores - Revelações,Trânsitos e DistânciasDe Vito Acconci, João Onofre, BruceNauman, entre outros.<strong>Lisboa</strong>. Mu<strong>se</strong>u Colecção Berardo. Pç. Império. Tel.:213612878. De 14/02 a 29/05. Sáb. das 10h às 22h. 2ª a6ª, Dom. e Fer. das 10h às 19h. Inaugura 14/2 às 19h30.Pintura, Escultura, Instalação, Ví<strong>de</strong>o.NósDe Luísa Ferreira.<strong>Lisboa</strong>. Pente 10 - Fotografia Contemporânea. Trav.da Fábrica dos Pentes, 10. Tel.: 213869569. De 15/02a 02/04. 3ª a Sáb. das 15h às 19h30. Inaugura 15/2às 19h.Fotografia.ContinuamNão Confiem nos ArquitectosDe Didier Faustino.<strong>Lisboa</strong>. Centro <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna - José <strong>de</strong> AzeredoPerdigão. Rua Dr. Nicolau Bettencourt. Tel.:217823474. Até 03/04. 3ª a Dom. das 10h às 18h.Ví<strong>de</strong>o, Instalação, Escultura,Performance, Outros.Ver texto na pág. 24 e <strong>se</strong>gs.O Modo Como Não Foi(C<strong>ele</strong>brando Dez Anos <strong>de</strong>Castillo/Corrales, Paris)Porto. Culturgest. Av. Aliados, 104 - Edifício daCGD. Tel.: 222098116. Até 16/04. 2ª, 4ª, 5ª e 6ª das11h às 19h. Sáb., Dom. e Feriados das 14h às 20h.Documental, Outros.My Choice - Obras S<strong>ele</strong>ccionadaspor Paula Rego na Colecção doBritish CouncilDe David Hockney, Lucian Freud,Richard Hamilton, Chris Ofili, VictorWilling, entre outros.Cascais. Casa das Histórias - Paula Rego. Av. daRepública, 300. Tel.: 214826970. Até 12/06. 2ª aDom. das 10h às 18h.Pintura, Fotografia, Outros.Nos Anos da Proles WallDe Paula Rego.Cascais. Casa das Histórias - Paula Rego. Av. daRepública, 300. Tel.: 214826970. Até 19/06. 2ª aDom. das 10h às 18h.Pintura, Outros.MappamundiDe Guillermo Kuitca, Noriko Ambe,Neal Beggs, Hong Hao, entre outros.<strong>Lisboa</strong>. Mu<strong>se</strong>u Colecção Berardo. Pç. Império. Tel.:213612878. Até 24/04. Sáb. das 10h às 22h. 2ª a 6ª eDom. das 10h às 19h.Pintura, Outros.Gil J Wolman - Sou Imortal eEstou VivoPorto. Mu<strong>se</strong>u <strong>de</strong> Serralves. R. D. João <strong>de</strong> Castro, 210.Tel.: 226156500. Até 27/03. 3ª a 6ª das 10h às 17h.Sáb., Dom. e Feriados das 10h às 19h.Pintura, Filme, Outros.Muros <strong>de</strong> AbrigoDe Ana Vieira.<strong>Lisboa</strong>. Centro <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna - José <strong>de</strong> AzeredoPerdigão. R. Dr. Nicolau Bettencourt. Tel.:217823474. Até 03/04. 3ª a Dom. das 10h às 18h.Instalação, Outros.Casa Comum - Obras da Colecçãodo CAM<strong>Lisboa</strong>. Centro <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna - José <strong>de</strong> AzeredoPerdigão. R. Dr. Nicolau Bettencourt. Tel.:217823474. Até 03/04. 3ª a Dom. das 10h às 18hInstalação, Outros.João Lourona CristinaGuerra,em <strong>Lisboa</strong>A escolha<strong>de</strong> Paula Regona Casa dasHistóriasTinta nos Nervos - BandaDe<strong>se</strong>nhada PortuguesaDe Diniz Conefrey, Eduardo Batarda,Nuno Saraiva, entre outros.<strong>Lisboa</strong>. Mu<strong>se</strong>u Colecção Berardo. Pç. Império. Tel.:213612878. Até 27/03. Sáb. das 10h às 22h. 2ª a 6ª eDom. das 10h às 19h.De<strong>se</strong>nho, Ilustração, Outros.Smoke And MirrorsDe João Louro.<strong>Lisboa</strong>. Cristina Guerra - Contemporary Art. RuaSanto António à Estrela, 33. Tel.: 213959559. Até12/03. 3ª a 6ª das 11h às 20h. Sáb. das 15h às 20h.Pintura, Outros.Mente-Me (Lie To Me)De Vasco Araújo.<strong>Lisboa</strong>. Galeria Filomena Soares. R. Manutenção, 80.Tel.: 218624122. Até 19/03. 3ª a Sáb. das 10h às 20h.Fotografia, Ví<strong>de</strong>o e Escultura.Retratos <strong>de</strong> MulheresDe Man Ray, Jorge Martins, JuliãoSarmento.<strong>Lisboa</strong>. Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva.Pç. Amoreiras, 56/58. Tel.: 213880044. Até 30/04.2ª, 4ª, 5ª, 6ª, Sáb. e Dom. das 10h às 18h.Fotografia.Uma história <strong>de</strong> amorDe Bruno Pacheco.<strong>Lisboa</strong>. Chiado 8 - Arte Contemporânea. Lg.Chiado, 8 - Edifício Se<strong>de</strong> da Mundial-Confiança.Tel.: 213237335. Até 11/03. 2ª a 6ª das 12h às 20h.Fotografia, Outros.Que Sais-Je?De Marcos Balesteros, Von Calhau!,Ana Jotta, entre outros.<strong>Lisboa</strong>. Vera Cortês - Agência <strong>de</strong> Arte. Avenida 24 <strong>de</strong>Julho, 54 - 1ºE. Tel.: 213950177. Até 25/03. 3ª a Sáb.das 14h às 19h.Obra Gráfica, Outros.EncenaçõesDe Manuel Amado.<strong>Lisboa</strong>. Socieda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Belas Artes. R.Barata Salgueiro, 36. Tel.: 213138510. Até 15/03. 2ªa Sáb. das 14h às 20h.Pintura.Diários Gráficos Em Almada:Não Somos De<strong>se</strong>nhadoresPerfeitosDe Eduardo Salavisa, FranciscoVidal, Javier <strong>de</strong> Blas, entre outros.Cova da Pieda<strong>de</strong>. Mu<strong>se</strong>u da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Almada. Pç.João Raimundo. Tel.: 212734030. Até 16/04. 3ª aSáb. das 10h às 18h.De<strong>se</strong>nho.Guimarães, ArteContemporânea <strong>2011</strong>De André Banha, Dalila Gonçalves,Diogo Evangelista, entre outros.Guimarães. Centro Cultural Vila Flor. Av. D. AfonsoHenriques, 701. Tel.: 253424700. Até 10/04. 3ª aSáb. das 10h às 19h. Dom. das 14h às 19h.Instalação, Pintura, De<strong>se</strong>nho,Escultura, Outros.Que Horas São?De Alexandre Conefrey.<strong>Lisboa</strong>. Giefarte. R. Arrábida, 54B. Tel.: 213880381.Até 16/03. 2ª a 6ª das 11h às 20h.Pintura.Casa-Carros<strong>se</strong>lDe Fátima Mendonça.Porto. Galeria 111. R. D. Manuel II, 246. Tel.:226093279. Até 26/02. 3ª a 6ª das 10h às 19h30. 2ªe Sáb. das 15h às 19h30.Pintura.Às Artes, Cidadãos!De Ahlam Shibli, Ahmet Ögüt, AndréRomão, Chto Delat, entre outros.Porto. Mu<strong>se</strong>u <strong>de</strong> Serralves. R. Dom João <strong>de</strong> Castro,210. Tel.: 226156500. Até 13/03. 3ª a 6ª das 10h às17h. Sáb., Dom. e Feriados das 10h às 19h.Instalação, Pintura, Outros.Ípsilon • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • 39

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