A segregação é materializada pela segmentação do espaço e das classes sociais, que<strong>de</strong>termina o modo <strong>de</strong> viver das pessoas e <strong>de</strong>fine on<strong>de</strong> e como morar nas cida<strong>de</strong>s. Essasegregação, por meio da realida<strong>de</strong> em que cada indivíduo se territorializa, expressa tanto oselementos físicos e materiais da cida<strong>de</strong> como a forma, a estrutura e a paisagem, como também aimaterialida<strong>de</strong> subjetiva, o conteúdo social como as opiniões, sentimentos, vonta<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>sejos econsumo diferentes, que mesmo morando tão próximos são distantes e que muitas vezes geraconflitos, que segundo Carlos (2004) “a problemática urbana não se reduz à cida<strong>de</strong>, mas refereseao homem, à sua vida, às suas lutas, ao seu mundo, e abre perspectivas para se pensar emtransformações”.Figura 1: Espacialização dos conjuntos habitacionais construídos mais recentes em Três <strong>Lagoas</strong>Org.: C. H. R. da <strong>Silva</strong>, 2009.A auto-segregação produz espaços luminosos como explica Santos (1994), que sãodotados <strong>de</strong> infra-estrutura, equipamentos e serviços privados, <strong>de</strong> uso exclusivo. A apropriaçãodos lugares públicos como forma <strong>de</strong> valor <strong>de</strong> uma proprieda<strong>de</strong> privada, separa os moradores daconvivência <strong>de</strong> outras pessoas, com cercas e muros, criando uma artificialida<strong>de</strong> no cotidiano daspessoas, como assevera Carlos (1997, p. 82):Assim fica evi<strong>de</strong>nte, na paisagem, na diferenciação dos bairros, nos gestos, nos olhos, nosilêncio, na expressão e nos traços do rosto das pessoas a contradição entre a produção418
coletiva do espaço e sua apropriação privada, fundada na contradição capital-trabalho. Uma(re)produção espacial que se dá em função dos interesses, necessida<strong>de</strong>s e objetivos <strong>de</strong> umaparcela da socieda<strong>de</strong> que personifica o capital e não a socieda<strong>de</strong> como um todo.A partir da década 1990 o rápido crescimento territorial da cida<strong>de</strong> se vislumbra peloa<strong>de</strong>nsamento <strong>de</strong> suas construções, pelo processo <strong>de</strong> crescimento horizontal, mas também, pelocrescimento vertical permitindo a ocorrência <strong>de</strong> vazios urbanos no interior da cida<strong>de</strong>.Tais mudanças resultam da interferência direta do po<strong>de</strong>r público, que é o enteresponsável pelo sancionamento e cumprimento das leis que constituem o Plano DiretorMunicipal. Essa atuação confere ao po<strong>de</strong>r público o papel <strong>de</strong> um importante agente mo<strong>de</strong>ladordo território e atua sob os interesses dos <strong>de</strong>mais agentes, como proprietários fundiários,imobiliárias, incorporadoras e construtoras. Para Rodrigues (1989), quando se objetiva implantarloteamentos fora do perímetro urbano, o po<strong>de</strong>r público aprova mudanças no âmbito legislativo,in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das necessida<strong>de</strong>s sociais. Formando gran<strong>de</strong>s extensões <strong>de</strong> áreas vazias <strong>de</strong>correntesda ampliação do perímetro urbano.Os profissionais especializados que chegaram em Três <strong>Lagoas</strong> para trabalhar nas diversasindústrias recém instaladas, principalmente na Votorantim Celulose e Papel – atual FÍBRIA – ena Internacional Papel, oriundos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s trouxeram consigo novos hábitos, como o <strong>de</strong>morar em condomínios fechados verticais ou horizontais. Com isso, passou a haver nova<strong>de</strong>manda no setor imobiliário, qual seja, residências em condomínios fechados, que até então nãohavia. É a evidência <strong>de</strong> que há estruturação <strong>de</strong> uma nova classe social, que busca na cida<strong>de</strong> arealização das suas necessida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>sejos. Essa <strong>de</strong>manda por espaços diferenciados para moraraqueceu o mercado imobiliário três-lagoense, seja pela pouca oferta <strong>de</strong> imóveis para ven<strong>de</strong>r oualugar, seja pela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir novos espaços para se morar, até então inexistentes noano <strong>de</strong> 2007.No início <strong>de</strong> 2008, quatro proprietários fundiários e agentes imobiliários locaisassociados a empreen<strong>de</strong>dores do setor imobiliário – Campo Gran<strong>de</strong>/MS, Londrina e Curitiba/PR– lotearam terras, outrora rural, e incorporaram ao setor urbano, com aval do po<strong>de</strong>r públicomunicipal e iniciaram a construção <strong>de</strong> três condomínios fechados, que são: Alto dos Ipês e Portaldas Águas Resi<strong>de</strong>nce, no setor leste da cida<strong>de</strong> em direção ao rio Paraná e o Condomínio Villagedo Lago Resort & Resi<strong>de</strong>nce ao norte da cida<strong>de</strong>, próximo ao Balneário Municipal no rio Sucuriú.No início <strong>de</strong> 2010 já contavam com infra estrutura – pavimentação das ruas <strong>de</strong> acesso e internas,iluminação pública, água potável – serviço <strong>de</strong> paisagismo, cercados por muros altos, instalação<strong>de</strong> cerca elétrica, com seguranças nos portões <strong>de</strong> entrada.419