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Sam trabalhasse b<strong>em</strong>, ele se comprometia a escrever uma carta de recomendaçõesque lhe ajudasse a conseguir um verdadeiro <strong>em</strong>prego. Tio George, por sua vez, disseque ajudaria a irmã de Sam com as despesas extras que teria e colocou-se àdisposição dos dois para estar presente caso necessário. A conferência foi, assim,encerrada e os compromissos de restauração foram selados. Antes de sair, a vítimaabraçou Sam e, s<strong>em</strong> conseguir conter as lágrimas, lhe desejou “boa sorte” enquanto orapaz se desculpava mais uma vez. Alguns meses depois, o dinheiro foi devolvido àvítima por conta do trabalho de Sam. Todos manifestaram satisfação com o encontro eseus resultados. A vítima e sua filha declararam que a conferência foi uma experiênciaenriquecedora <strong>em</strong> suas vidas. Sam enfrentaria, ainda, muitos probl<strong>em</strong>as nos anossubseqüentes, mas terminou superando o risco de uma vida dedicada ao crime e viveuo suficiente para acompanhar o enterro de tio George e de sua irmã mais velha.Com esse contraste, baseado <strong>em</strong> histórias reais, Braithwaite nos diz bastante arespeito das possibilidades abertas pela Justiça Restaurativa. Talvez mais do quequalquer explanação teórica a respeito. O ex<strong>em</strong>plo da conferência com Sam servetambém para que a idéia da “reintegração através da vergonha” seja melhorcompreendida. Com efeito, o teórico australiano sustenta que a experiência dasconferências permite que as diferenças entre “vergonha” e “estigmatização” se torn<strong>em</strong>evidentes. Através da estigmatização propiciada pela Justiça Criminal os infratores sãotratados como se foss<strong>em</strong> pessoas más que praticam atos maléficos. Através da“vergonha reintegrativa” é possível recriminar o mal causado por pessoas que,entretanto, segu<strong>em</strong> sendo tratadas como pessoas. O que significa o reconhecimentode que elas também são capazes de praticar o b<strong>em</strong>.Os procedimentos de Justiça Restaurativa exig<strong>em</strong> que as partes exponham com toda afranqueza seus sentimentos, suas angústias, seus t<strong>em</strong>ores e que torn<strong>em</strong> claro suasexpectativas. Cada uma delas deverá ser tão verdadeira quanto possível. A idéia deque devam “contar suas verdades” é fundamental para o sucesso de todo o<strong>em</strong>preendimento restaurativo. Esse compromisso com a verdade pode ser conquistadoporque todo o processo é voluntário. Vale dizer: não funcionará, efetivamente, se aspartes for<strong>em</strong> obrigadas a integrá-lo.No sist<strong>em</strong>a de Justiça Criminal, os acusados possu<strong>em</strong> todos os incentivos paraesconder a verdade, para minimizar suas responsabilidades e para mentir <strong>em</strong> suadefesa. Essas características são um pressuposto lógico do sist<strong>em</strong>a que se voltaintegralmente para a comprovação da culpa e para o estabelecimento da pena. Em umprocesso de Justiça Restaurativa, pelo contrário, o que se pretende é a produção deum encontro onde as partes possam falar e ser ouvidas. Nessa experiência, vítimas,infratores e comunidades confrontam suas versões, reconhec<strong>em</strong> as perspectivasdivergentes, superam mitos e preconceitos e produz<strong>em</strong> uma verdade de formaconsensual.A história da filosofia está carregada por uma intensa discussão a respeito da verdadee não é objetivo deste <strong>texto</strong> insinuar qualquer digressão a respeito. De maneira geral,penso que a idéia de uma “verdade intersubjetiva”, cara para a Justiça Restaurativa,

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