Agosto 1996Revista <strong>Adusp</strong>O TRÁFICO INTERNACIONAL DE DROGASE A INFLUÊNCIA DO CAPITALISMOMoreira Mariz/Abril ImagensA partir dos anos 80, o mundo passou a acompanhar o boom do tráficointernacional de drogas e o conseqüente consumo. Esse crescimento estáintimamente relacionado à crise econômica mundial, e o narcotráfico chega adeterminar padrões econômicos nos países produtores de coca, cujos principaisprodutos de exportação têm sofrido sucessivas quedas em seus preços. Professor doDepartamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas daUSP, Osvaldo Coggiola mostra que o tráfico internacional movimenta uma cifraanual superior a US$ 500 bilhões, valor superior ao que gira em torno do comérciode petróleo. O montante de dinheiro envolvido com o narcotráfico é superadoapenas pelo tráfico de armamento no mundo, segundo dados do professor da USP.44
Revista <strong>Adusp</strong>Otráfico internacionalde drogas cresceuespetacularmentedurante osanos 80, até atingir,atualmente,uma cifra anual superior a US$ 500bilhões. Esta cifra supera os proventosdo comércio internacionalde petróleo; o narcotráfico é o segundoitem do comércio mundial,só sendo superado pelo tráfico dearmamento. Estes são índices objetivosda decomposição das relaçõesde produção imperantes: o mercadomundial, expressão mais elevadada produção capitalista, está dominado,primeiro, por um comércioda destruição e, segundo, por umtráfico declaradamente ilegal.Na base do fenômeno encontrasea explosão do consumo e a popularizaçãoda droga, especialmentenos países capitalistas desenvolvidos,que é outro sintoma da decomposição.O tráfico de drogasfoi sempre um negócio capitalista,por ser organizado como uma empresaestimulada pelo lucro. Namedida em que a sua mercadoria éa autodestruição da pessoa, o consumoexpressa a desmoralizaçãode setores inteiros da sociedade.Os setores mais afetados são precisamenteos mais golpeados pelafalta de perspectivas: a juventudecondenada ao desemprego crônicoe à falta de esperanças e, no outroexemplo, os filhos das classes abastadasque sentem a decomposiçãosocial e moral. O primeiro episódiode consumo maciço de drogasaconteceu durante a mais impopulardas guerras protagonizada pela“sociedade opulenta”: a Guerra doVietnã. Durante o período dosconflitos, 40% dos soldados norteamericanosconsumiam heroína e80% maconha. Apenas 8% delescontinuaram a consumir drogasuma vez de volta “em casa”.Para se ter uma idéia da pressãoque o narcotráfico exerce sobreas economias dos países atrasados,um exemplo basta. A 28 desetembro de 1989, foi feita em LosAngeles a maior apreensão de cocaínajá realizada: 21,4 toneladas,cujo preço de venda ao públicoatingiria US$ 6 bilhões, uma cifrasuperior ao PNB de 100 (cem) Estadossoberanos. A grande transformaçãodas economias monoprodutorasem narcoprodutoras (eo grande salto do consumo nosEUA e na Europa) se produziu duranteos anos 80, quando os preçosdas matérias-primas despencaramno mercado mundial: açúcar (64%),café (-30%), algodão (-32%), trigo(-17%). A crise econômica mundialexerceu uma pressão formidávelem favor da narco-reciclagemdas economias agrárias, o que redundounum aumento excepcionalda oferta de narcóticos nos paísesindustriais e no mundo todo. Apenasnos últimos anos o tráficomundial cresceu 400%. As apreensõesde carregamentos se multiplicarampor noventa nos últimosquinze anos, ainda assim afetandoapenas entre 10 e 20% do comérciomundial.HistóricoO tráfico internacional de drogas,em alta escala, começou a desenvolver-sea partir de meados daAgosto 1996década de 70, tendo tido o seuboom na década de 80. Esse desenvolvimentoestá estreitamente ligadoà crise econômica mundial. Onarcotráfico determina as economiasdos países produtores de coca,cujos principais produtos de exportaçãotêm sofrido sucessivasquedas em seus preços (ainda quea maior parte dos lucros não fiquenesses países) e, ao mesmo tempo,favorece principalmente o sistemafinanceiro mundial. “O dinheiro dadroga corresponde muito bem à lógicado sistema financeiro, que éeminentemente especulativo. A finançaestá cada vez mais desvinculadada economia, em nenhumpaís corresponde ao desenvolvimentoeconômico real nem tãopouco à produção (...) O sistemafinanceiro necessita cada vez maisde capital fresco para girar, e osnarcodólares são como um capitalmágico que se acumula muito rápidoe se move velozmente”.Atualmente, o narcotráfico éum dos negócios mais lucrativos domundo. Sua rentabilidade se aproximados 3.000%. Os custos deprodução somam 0,5% e os detransporte gastos com a distribuição(incluindo subornos) 3% emrelação ao preço final de venda.De acordo com dados recentes, oquilo de cocaína custa US$ 2.000na Colômbia, US$ 25.000 nosEUA e US$ 40.000 na Europa.A América Latina participa donarcotráfico na qualidade de maiorprodutora mundial de cocaína, eum de seus países, a Colômbia, detémo controle da maior parte dotráfico internacional (a pequenaparte restante é dividida entre a45