13.07.2015 Views

Caderno de Resumos (em PDF) - UNESP-Assis

Caderno de Resumos (em PDF) - UNESP-Assis

Caderno de Resumos (em PDF) - UNESP-Assis

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

RESUMOS DAS COMUNICAÇÕESSIMPÓSIO 1 – POESIA CONTEMPORÂNEA PARA CRIANÇAS E JOVENS:O ACESSO À LITERATURAPOESIA DIGITAL E NOVAS EXPERIÊNCIAS DE LEITURADra. Alcione Galdino VieiraEste trabalho analisa as novas formas <strong>de</strong> poesia <strong>em</strong> plataformas digitais e seu potencial <strong>de</strong>estímulo à leitura entre o público juvenil. Atenta-se para as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> utilização dosrecursos multimídia e hipermídia e dispositivos computacionais como, por ex<strong>em</strong>plo, as telastouch screen e a Realida<strong>de</strong> Aumentada (RA) enquanto ferramentas capazes <strong>de</strong> satisfazerexpectativas e enriquecer experiências <strong>de</strong> leitura do jov<strong>em</strong> leitor. A poesia parece reinventar-sediante do contexto <strong>de</strong>lineado pelas novas tecnologias da comunicação e informação. Para alémda palavra escrita, interativida<strong>de</strong>, hipertexto e convergência <strong>de</strong> formatos abr<strong>em</strong> novoscaminhos para a produção e o consumo <strong>de</strong> obras que expan<strong>de</strong>m as fronteiras da criaçãopoética. Po<strong>em</strong>as cont<strong>em</strong>porâneos contêm interfaces animadas e freqüent<strong>em</strong>ente utilizamtipografias dinâmicas e interativas, sobrepostas a audiovisuais e ambientes 3D. Acoplamentoentre a materialida<strong>de</strong> da página impressa com a liqui<strong>de</strong>z elétrica da tela do computador, apoesia tecnológica e <strong>de</strong> padrões geométricos, construída <strong>em</strong> plataformas <strong>de</strong> RA é iconicida<strong>de</strong><strong>em</strong> estado puro, que necessita <strong>de</strong> tecnologia multimídia para transmutar-se <strong>em</strong> verbal, numprocesso interativo entre leitor, livro e máquina. Mesclando poesia concreta e arte conceitual,tecnotexto e romance epistolar, as novas formas <strong>de</strong> construção poética, baseadas nalinguag<strong>em</strong> binária da informática, po<strong>de</strong>m fazer com que textos impressos e digitais coexistam ecomplet<strong>em</strong>-se, possibilitando experiências sinestésicas <strong>de</strong> leitura e multiplicida<strong>de</strong> interpretativa.O leitor percorre caminhos não lineares e interativos, com liberda<strong>de</strong> para propor novasconfigurações textuais e <strong>de</strong> sentido a partir das criações poéticas do autor.PALAVRA-CHAVE: Poesia digital, Novas tecnologias <strong>de</strong> leitura, Hipermídia, Realida<strong>de</strong>aumentada.A PROSA POÉTICA MEMORIALÍSTICA DE BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS:TENSÃO E COOPERAÇÃO ENTRE CRÍTICA ACADÊMICA E LETRAMENTO LITERÁRIOHércules Tolêdo Correa (UFOP)O escritor mineiro Bartolomeu Campos <strong>de</strong> Queirós, com um pouco mais <strong>de</strong> quarenta livrosdisponíveis no mercado editorial, t<strong>em</strong> sido bastante aclamado pelo meio acadêmico e recebeumuitos prêmios importantes, nacional e internacionalmente. O escritor também teve importanteparticipação na vida cultural do país, s<strong>em</strong>pre à frente <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> incentivo à leitura, comoo Manifesto por um Brasil Literário, lançado na Festa Literária <strong>de</strong> Paraty – FLIP – 2009.Estudiosos e militantes do letramento literário também têm elogiado sua produção, procurando,na linha do “direito à literatura”, promover a circulação <strong>de</strong> sua obra, principalmente <strong>em</strong> cursos<strong>de</strong> formação inicial e continuada <strong>de</strong> professores. Nessa mesma perspectiva, esses trabalhosprocuram estabelecer uma relação entre texto literário <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> re conhecida com aspráticas <strong>de</strong> leitura realizadas <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula, como espaço <strong>de</strong> <strong>em</strong>ancipação pessoal. Odiálogo entre essas duas esferas, os especialistas, <strong>de</strong> um lado, e a comunida<strong>de</strong> escolar, <strong>de</strong>outro, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre t<strong>em</strong> ocorrido s<strong>em</strong> tensões e divergências, porque falta compreensão <strong>de</strong>certos aspectos mais específicos <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>las por uma das partes, tais como os critériospara avaliação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> literária, as formas <strong>de</strong> apropriação e o traquejo com a literatura,<strong>de</strong>ntre outros aspectos. Com base nesses pressupostos é que apresentamos, nesta


2comunicação, uma reflexão sobre a obra m<strong>em</strong>orialística produzida por Bartolomeu Campos <strong>de</strong>Queirós, ao longo <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> duas décadas <strong>de</strong> trabalho: Ciganos; In<strong>de</strong>z; Por parte <strong>de</strong> Pai; Ler,escrever e fazer conta <strong>de</strong> cabeça; O olho <strong>de</strong> vidro do meu avô?; Antes do <strong>de</strong>pois e VermelhoAmargo. São sete obras que possibilitam um pacto <strong>de</strong> leitura autobiográfico (LEJEUNE, 1975).Ao fazermos esta reflexão, procuramos também apontar caminhos para a promoção doletramento literário no ensino fundamental, minimizando as tensões entre a esfera acadêmica ea escolar e procurando promover uma maior cooperação entre elas.PALAVRA-CHAVE: Letramento literário, Prosa poética, Bartolomeu Campos <strong>de</strong> Queirós eFormação <strong>de</strong> leitores.NÓS QUEREMOS TRANSFORMAR: REFLEXÕES SOBRE OS PROCESSOS DEAPROPRIAÇÃO-OBJETIVAÇÃO DE UMA TEORIA À LUZ DO REFERENCIAL HISTÓRICO-CULTURALJéssica Magalhães Andra<strong>de</strong> (G – <strong>UNESP</strong>-<strong>Assis</strong>)O presente trabalho é resultado <strong>de</strong> uma produção literário-poética individual, constituída a partirda conclusão <strong>de</strong> uma disciplina cursada durante o segundo s<strong>em</strong>estre letivo <strong>de</strong> 2011, referenteà Epist<strong>em</strong>ologia Piagetiana. Teve por objetivo avaliar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> síntese referente aosconteúdos trabalhados, b<strong>em</strong> como possibilitar a expressão do conhecimento apreendido pelosalunos ao longo do curso, os quais <strong>de</strong>veriam ser expressos <strong>de</strong> maneiras alternativas. Osmateriais utilizados concentraram-se <strong>em</strong> el<strong>em</strong>entos, tais como: notas <strong>de</strong> aulas expositivas epesquisas <strong>de</strong> referências teóricas, sendo assim compreendidos na base inicial para acomposição da poesia. O contato e envolvimento com novos conceitos estudados na disciplina“Teorias Interacionistas e Sócio-Históricas II”, <strong>em</strong> <strong>de</strong>curso no primeiro s<strong>em</strong>estre (2012), e oestudo das categorias <strong>de</strong> apropriação-objetivação, mediação, ativida<strong>de</strong> e consciênciaestimularam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tomar a referida produção como objeto <strong>de</strong> análise, discussão ereflexão crítica. (Ambas as disciplinas compõ<strong>em</strong> a gra<strong>de</strong> curricular do curso <strong>de</strong> Psicologia daFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências e Letras – FCL da Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista “Júlio <strong>de</strong> MesquitaFilho” campus <strong>de</strong> <strong>Assis</strong> – SP). Os resultados apontaram para aspectos relevantes, no quetange à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong>sse recurso pedagógico nas áreas do ensino e daaprendizag<strong>em</strong>, no campo da psicologia e da educação, <strong>de</strong>stacando a ativida<strong>de</strong> do sujeito comofundamento dos processos <strong>de</strong> apropriação-objetivação e fundamento <strong>de</strong> novas aprendizagensque constitu<strong>em</strong> a consciência e a subjetivida<strong>de</strong> humana.PALAVRA-CHAVE: Aprendizag<strong>em</strong>, Apropriação e ObjetivaçãoO QUE LEVAR PARA UMA ILHA DESERTA? UMA PROPOSTA DE PRÁTICA PEDAGÓGIAPARA ABORDAGEM DA POESIA NA EDUCAÇÃO INFANTILIrando Alves Martins NetoJuliane F. Martins Motoyama (G – FAPEPE)O uso da poesia na Educação Infantil é propício para o <strong>de</strong>senvolvimento da imaginação ecriativida<strong>de</strong> dos educandos. Por meio do texto poético as crianças encontram a possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> brincar com as palavras <strong>de</strong>scobrindo o ritmo, a sonorida<strong>de</strong>, b<strong>em</strong> como compreen<strong>de</strong>ndonovos significados. Diante disto, o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE)disponibiliza acervos literários para educação infantil, ensino fundamental (anos iniciais e anosfinais), educação <strong>de</strong> jovens e adultos e ensino médio, compostos por textos <strong>em</strong> prosa, <strong>em</strong>verso, livros <strong>de</strong> história <strong>em</strong> quadrinhos e <strong>de</strong> imagens. Mediante ao uso <strong>de</strong> pesquisadocumental, este artigo visa a analisar o livro O que levar para uma ilha <strong>de</strong>serta? (2011), <strong>de</strong>Lalau e Laurabeatriz, que compõe o acervo do PNBE 2012 da Educação Infantil, buscandorefletir acerca da influência do texto poético na formação inicial do leitor. Para tanto, com base<strong>em</strong> referenciais teóricos sobre literatura e ensino <strong>de</strong> literatura, <strong>de</strong>senvolve-se uma análise dosaspectos estéticos dos po<strong>em</strong>as presentes no livro que po<strong>de</strong>m atrair a atenção da criança, b<strong>em</strong>como são sugeridas ativida<strong>de</strong>s práticas para ser<strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvidas nas salas <strong>de</strong> aula daEducação Infantil. A proposta t<strong>em</strong>ática da antologia que compõe o livro é retratar algumaspossibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> escolhas e suas consequências durante a infância, por ex<strong>em</strong>plo, o que éIV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


3realmente importante <strong>de</strong> se levar para um local tão longínquo. Assim, o educador, aoselecionar tal obra para <strong>de</strong>senvolver um trabalho pedagógico, necessita estar preparado paraaproveitar todas as oportunida<strong>de</strong>s presentes <strong>em</strong> cada po<strong>em</strong>a, levando <strong>em</strong> conta o papelhumanizador da literatura. Portanto, ao receber o livro na escola, o professor po<strong>de</strong>rá fazer uso<strong>de</strong>ste artigo como material <strong>de</strong> pesquisa para elaborar suas ativida<strong>de</strong>s práticas no cotidiano dasala <strong>de</strong> aula, contribuindo para a formação do sujeito leitor.PALAVRA-CHAVE: Literatura, Poesia e Educação InfantilPOESIA: PALAVRA QUE LIBERTA!Mercia Maria da Silva Procópio (PUC-SP)O presente trabalho t<strong>em</strong> como objetivo através da palavra poética resgatar a cidadania nasáreas periféricas dos gran<strong>de</strong>s centros urbanos <strong>de</strong> São Paulo. O público-alvo são adolescentesdo Ensino Médio, cursando o 3º ano, a proposta dialoga com a linguag<strong>em</strong> da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Oápice do trabalho é a organização <strong>de</strong> uma sarau, o resgate individual é incomensurável!PALAVRA-CHAVE: Poesia, Palavra e Subjetivida<strong>de</strong>.AS REFLEXÕES E O REENCONTRO DO HOMEM COM SUAS ORIGENSATRAVÉS DO LIVRO A CASA DO MEU AVÔ DE RICARDO AZEVEDOCleidiane Dutra <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> (G – FACCAT)Loana Cristina Andreza (G – FACCAT)Esse trabalho almeja analisar o livro A casa do meu avô (1998) <strong>de</strong> Ricardo Azevedo, refletindosobre a <strong>de</strong>scrição simples e precisa <strong>de</strong> assuntos relevantes da vida humana concreta, qu<strong>em</strong>uitos viv<strong>em</strong>, viveram ou gostariam <strong>de</strong> ter vivido. Nesse sentido, essa obra ultrapassa o passar<strong>de</strong> olhos pelos versos escritos que vão além do visualizar, proporcionando aos leitores,in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente da sua ida<strong>de</strong>, sentimentos, l<strong>em</strong>branças, questionamentos, incoerênciasacomodadas que voltam à m<strong>em</strong>ória e escondidas recordações quase já imperceptíveis no dia adia. Com uma narrativa simples e poética, regada <strong>de</strong> graça e ingenuida<strong>de</strong>, essas sensaçõesvão se revelando através <strong>de</strong> personagens que traz<strong>em</strong> à tona sons do piano que toca sozinho,cheiros e gostos das comidas da cozinheira feiticeira, e sentimentos calorosos <strong>de</strong> um avô muitoprotetor, que s<strong>em</strong> motivos <strong>de</strong>u o nome <strong>de</strong> <strong>de</strong>ngoso a um cachorro muito furioso, um tio biruta etravesso, um jardineiro mágico e um sentimento muito especial que é reservado à Isildinha. Equando a sauda<strong>de</strong> da vovó bate mais forte, o jeito é procurar entre as nuvens e perguntar paraas estrelas se a vovó está boa. No livro, A casa do meu avô, os po<strong>em</strong>as procuram, com seusversos, a integração entre os homens, com um sonho <strong>de</strong> uma vida mais humana, mais pura,mais próxima e verda<strong>de</strong>iramente mais afetiva.PALAVRA-CHAVE: Poesia, Recordações e Sauda<strong>de</strong>s.A OBRA POÉTICA DE BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓSDaniela Aparecida Francisco (G – UFMS-Três Lagoas)O escritor mineiro Bartolomeu Campos <strong>de</strong> Queirós (1944 – 2012) <strong>de</strong>ixou-nos uma vastíssimaobra composta <strong>de</strong> narrativas infantis e juvenis, prosas poéticas, livros <strong>de</strong> m<strong>em</strong>ória e ensaiossobre t<strong>em</strong>as diversos. Analisando a produção <strong>de</strong>ste escritor, iniciada no ano <strong>de</strong> 1971 com olivro O peixe e o pássaro, po<strong>de</strong>mos perceber a dimensão <strong>de</strong> sua importância no cenárionacional. Suas produções agradam leitores <strong>de</strong> todas as ida<strong>de</strong>s e não apenas leitores no campoda literatura infantil e juvenil. Suas produções, aparent<strong>em</strong>ente simples, estão permeadas <strong>de</strong>gran<strong>de</strong> respeito pelo idioma nacional. Estas características estão presentes e po<strong>de</strong>m serobservadas <strong>em</strong> sua obra poética, sendo que gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>la está voltada ao público infantil,com a presença <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos lúdicos. Rimas, sons e ritmos são o alvo <strong>de</strong> livros como: História<strong>em</strong> três atos (1982), As patas da vaca (1989), Anacleto (2008), Papo <strong>de</strong> pato (2008) e Pé <strong>de</strong>IV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


4sapo e sapato <strong>de</strong> pato (2009) entre outros. Apesar <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> t<strong>em</strong>as distintos <strong>em</strong> cada obra, abrinca<strong>de</strong>ira fonológica <strong>de</strong>sperta interesse e riso <strong>em</strong> seus leitores. Com palavras e às vezesenredos confusos e misturados, Queirós cria versos diferentes e <strong>de</strong>safiadores ao leitor.Objetivando realizar um levantamento das características presentes <strong>em</strong> seus po<strong>em</strong>as ei<strong>de</strong>ntificar a presença ou não <strong>de</strong> um <strong>de</strong>stinatário intrínseco nestas obras, este trabalho reúne avasta produção poética do escritor, apontando suas concepções sobre a linguag<strong>em</strong> e sobrepoesia.PALAVRA-CHAVE: Literatura infantil e juvenil, Poesia e Bartolomeu Campos <strong>de</strong> Queirós.INDEZ: NUANCES POÉTICAS DA NARRATIVA DE BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓSJoseane Dias <strong>de</strong> Freitas (PG – UMFS-Três Lagoas)O presente trabalho t<strong>em</strong> como objeto <strong>de</strong> estudo o livro In<strong>de</strong>z (1989), <strong>de</strong> Bartolomeu Campos<strong>de</strong> Queirós (1944), um dos mais expoentes escritores no cenário <strong>de</strong> literatura infantil e juvenilda atualida<strong>de</strong>. Por meio <strong>de</strong> um levantamento panorâmico <strong>de</strong> outras histórias m<strong>em</strong>orialistas doautor, <strong>de</strong>stacam-se pontos análogos com a vida <strong>de</strong> Antônio, protagonista <strong>de</strong>ssa história, e a dopróprio Bartolomeu. Em In<strong>de</strong>z (1989), encontra-se uma narrativa expositora <strong>de</strong> costumes ecrenças do interior mineiro, apresentando matizadas <strong>de</strong>scrições da vida bucólica, na qual oautor imprime-se, recontando, poeticamente, nuances <strong>de</strong> sua infância. Este estudo preten<strong>de</strong><strong>de</strong>stacar a mosaica poesia que permeia, diversos trechos da história, ressaltando, com base<strong>em</strong> leituras críticas, aspectos que caracterizam o livro In<strong>de</strong>z (1989) como representativo dogênero, confirmando a qualida<strong>de</strong> literária na obra <strong>de</strong> Bartolomeu Campos <strong>de</strong> Queirós, o que,consequent<strong>em</strong>ente, também contribui no sentido <strong>de</strong> subsidiar o trabalho <strong>de</strong> professores com aliteratura juvenil, apresentando mais uma significativa opção para o ensino da leitura literária,fator que, pressupõe-se, a análise <strong>de</strong> sua configuração textual, método <strong>de</strong>senvolvido porMortatti (1999) po<strong>de</strong>rá atestar, pois além <strong>de</strong> conter el<strong>em</strong>entos estéticos valorizados na obraliterária, a prosa poética apresenta fantasias e costumes interioranos arraigados <strong>em</strong> uma épocae expõe matizes da terra na linguag<strong>em</strong> típica do meio social circundante.PALAVRA-CHAVE: Literatura juvenil, Prosa poética e leitura na escola.A FUNÇÃO HUMANIZADORA EM ISTO É UM POEMA QUE CURA OS PEIXES DE JEAN-PIERRE SIMÉONLuciana FERREIRA LEAL (FACULDADES FACCAT)Fernando RODRIGUES DE OLIVEIRA (PG – <strong>UNESP</strong> – MARÍLIA)O objetivo do trabalho consiste <strong>em</strong> analisar as funções da Literatura, <strong>de</strong> acordo com AntonioCandido <strong>em</strong> A Literatura e a formação do Hom<strong>em</strong>, no livro Isto é um po<strong>em</strong>a que cura ospeixes (2007). O texto <strong>de</strong> Jean-Pierre Siméon reflete sobre a poesia, através <strong>de</strong> Arthur, quebusca nesta arte a cura para o seu peixe chamado Leo, que está morrendo <strong>de</strong> tristeza. O livropossibilita a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> infinitas possibilida<strong>de</strong>s para as palavras, sons, rimas e figuras <strong>de</strong>linguag<strong>em</strong> – não há dúvida <strong>de</strong> que a poesia po<strong>de</strong> ser uma cura, uma salvação. As diferentespossibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> in<strong>de</strong>finição faz<strong>em</strong> a poesia ser tão rica e po<strong>de</strong>rosa, visto que ela po<strong>de</strong>acontecer das mais diversas formas. Antonio Candido i<strong>de</strong>ntifica três funções exercidas pelaLiteratura, são elas: função psicológica (necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fantasia), função formadora (asfantasias têm base na realida<strong>de</strong>) e função social (i<strong>de</strong>ntificação do leitor e <strong>de</strong> seu universovivencial), as quais, <strong>em</strong> seu conjunto, <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> função humanizadora da Literatura. As trêsfunções, i<strong>de</strong>ntificadas por Antonio Candido, po<strong>de</strong>m ser analisadas no livro <strong>em</strong> questão <strong>em</strong> quetexto e ilustração se juntam para tratar da poesia, o que nos permite a dupla leitura poética ehumanizadora: a do texto e a da imag<strong>em</strong>.PALAVRA-CHAVE: Poesia, Literatura e Função humanizadora.POESIA, EPOPEIA E ILUSTRAÇÃO EM NOME DO PRAZER NA LEITURA:ANÁLISE DA OBRA LIMERIQUES DA COCANHA (2008), DE TATIANA BELINKYEliane Aparecida Galvão Ribeiro Ferreira (FEMA/<strong>UNESP</strong>-<strong>Assis</strong>)IV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


5Objetiva-se apresentar uma reflexão voltada para a formação do leitor. Para tanto, preten<strong>de</strong>-se,a partir dos pressupostos teóricos da Estética da Recepção, analisar o livro ilustrado:Limeriques da Cocanha (2008), <strong>de</strong> Tatiana Belinky, ilustrado por Jean-Clau<strong>de</strong> Alphen. Essaobra foi eleita tanto por apresentar a imag<strong>em</strong> como predominante <strong>em</strong> relação ao texto verbal,quanto por ser dialógica, pois permite ao leitor, conforme as concepções econianas, perceber a“pisca<strong>de</strong>la do texto” e com isto obter prazer durante a leitura. No caso, a citação intertextualpresente no jogo verbal e no visual. Justifica-se, então, o título <strong>de</strong>ste capítulo. A eleição peladialogia <strong>de</strong>ve-se também ao pressuposto <strong>de</strong> que o texto privilegia o leitor intertextual <strong>em</strong>relação ao ingênuo. Justamente, a intertextualida<strong>de</strong> interessa, pois para estabelecer umacomunicação com o leitor, o livro ilustrado mobiliza sua biblioteca vivida, sua m<strong>em</strong>ória.Acredita-se que a comunicação ocorre no texto, ainda, por meio da presença <strong>de</strong> vaziosintencionais que geram expectativa e tensão. Para que a interação entre texto e leitor resulte<strong>em</strong> interpretação, faz-se necessário que o leitor projete a expectativa e a m<strong>em</strong>ória uma sobre aoutra. Assim, o papel da leitura é o <strong>de</strong> promover sínteses que constituirão correlatos que, porsua vez, impulsionarão expectativas. Por meio <strong>de</strong>sse processo, o receptor atualiza e modifica oobjeto, <strong>de</strong>senvolvendo novas expectativas e perspectivas. Constrói-se neste texto, a hipótese<strong>de</strong> que o prazer da leitura <strong>de</strong> um livro ilustrado para crianças advém justamente dapossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> revisão <strong>de</strong> hipóteses e <strong>de</strong> vivência da fantasia e do ludismo, enfim daampliação do imaginário.PALAVRA-CHAVE: Formação do leitor, Ilustração, Poesia, Prazer na leitura e dialogia.NERUDA PARA CRIANÇAS: ODE A UMA ESTRELAMárcia Valéria Seródio Carbone (FEMA-<strong>Assis</strong>)O<strong>de</strong> a uma estrela, do escritor chileno Pablo Neruda, é um livro <strong>de</strong> poesias <strong>de</strong>stinado aopúblico infantojuvenil. Foi publicado pela editora Cosac Naify <strong>em</strong> 2009, com ilustrações <strong>de</strong>Elena Odriozola e tradução do poeta carioca Carlito Azevedo. O po<strong>em</strong>a <strong>de</strong>ste livro pertence aoterceiro livro <strong>de</strong> O<strong>de</strong>s el<strong>em</strong>entares (1957). Dentre as pr<strong>em</strong>iações da presente obra, estão asseguintes: foi consi<strong>de</strong>rada pela Revista Crescer como um dos 30 melhores livros infantis doano <strong>de</strong> 2010, na categoria infantojuvenil; <strong>em</strong> 2011, a FNLIJ classificou-a como altamenterecomendável, na categoria poesia. Não bastasse, Neruda é também Nobel <strong>em</strong> Literatura, <strong>em</strong>1971. Estamos, pois, diante <strong>de</strong> uma obra-prima da literatura, adaptada agora aos pequenosleitores. O<strong>de</strong> a uma estrela é um passeio pelo amor e pelo sentimento <strong>de</strong> posse. Em seusversos, Neruda fala <strong>de</strong> um hom<strong>em</strong> que, por adorar as estrelas, resolve tirar uma <strong>de</strong>las do céu <strong>em</strong>antê-la <strong>em</strong> segredo <strong>em</strong>baixo da cama. Nas sugestivas ilustrações <strong>de</strong> Elena Odriozola, aintensa luminosida<strong>de</strong> da estrela ganha projeções mágicas. Converte-se <strong>em</strong> personag<strong>em</strong> queirradia sua presença ao longo das páginas, simulando as proprieda<strong>de</strong>s da luz. O livro t<strong>em</strong>atizao valor do amor, a possessão, os limites da liberda<strong>de</strong>. Preten<strong>de</strong>mos fazer aqui uma análiselinguístico-imagética da adaptação do po<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Neruda às crianças. Nesse sentido,abordar<strong>em</strong>os questões como a ilustração, isto é, <strong>em</strong> que medida as imagens compõ<strong>em</strong> com apalavra o teor significativo da poesia: o ato <strong>de</strong> amar e a relação <strong>de</strong> posse; a linguag<strong>em</strong><strong>em</strong>pregada e a sua tradução ao português; e a poeticida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stinada a leitores infantis.PALAVRA-CHAVE: Poesia, Público infantojuvenil, Ilustração, Linguag<strong>em</strong> e Tradução.ALÉM DO PEDAGOGISMO: O OLHAR CRÍTICO EM HISTÓRIA EM ÃO E INHA (1997), DEIVAN ÂNGELOMicaiser Faria Silva (PG – <strong>UNESP</strong>-<strong>Assis</strong>)IV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


6Sabe-se que a literatura infantil, <strong>em</strong> suas origens, esteve submetida à escola e a transmissão<strong>de</strong> valores i<strong>de</strong>ológicos da classe dominante. Contudo, ao longo dos anos, a literaturaen<strong>de</strong>reçada às crianças superou os limites <strong>de</strong> sua gênese, e, ainda que seja inegável sualigação com o ambiente escolar, o comprometimento estético se elevou como consolidador <strong>de</strong>sua condição arte. No campo da poesia, observa-se uma notável expansão a partir da segundameta<strong>de</strong> do século XX, sobretudo a partir da década <strong>de</strong> 1980, que leva Regina Zilberman aafirmar <strong>em</strong> Como e por que ler a literatura infantil brasileira: “<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1980, <strong>de</strong>scobriu-se apoesia para crianças” (2005, p. 129). A <strong>de</strong>scoberta mencionada pela autora se refere ao<strong>de</strong>svencilhamento da t<strong>em</strong>ática cívica e dos intuitos didáticos, <strong>em</strong> prol da valorização dalinguag<strong>em</strong> e <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong> expressiva. Tal <strong>de</strong>svencilhamento, já visto <strong>em</strong> Isto ou Aquilo(1964), <strong>de</strong> Cecília Meireles, promove a in<strong>de</strong>pendência da poesia infantil <strong>em</strong> relação à funçãopedagógica, o objetivo <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser “ensinar” e passa a ser “compartilhar” sentidos com osnovos leitores. Neste sentido, o presente trabalho t<strong>em</strong> por objetivo apresentar a obra História<strong>em</strong> ão e inha (1997), <strong>de</strong> Ivan Ângelo. O escritor e jornalista mineiro, conhecido, principalmente,pela publicação <strong>de</strong> A festa (1976), obra que t<strong>em</strong>atizou e incorporou à estrutura narrativa asimpossibilida<strong>de</strong>s expressivas do período ditatorial, ao escrever para o público infantil nãobuscou amenida<strong>de</strong>s. Em História <strong>em</strong> ão e inha, o autor traz t<strong>em</strong>as duas crianças, Damião eMariinha, vivenciando uma situação <strong>de</strong> violência e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social. Sob a simplicida<strong>de</strong>aparente dos versos (quase s<strong>em</strong>pre) terminados <strong>em</strong> “-ão” e “-inha”, move-se a complexida<strong>de</strong>das relações econômicas e sociais, <strong>de</strong> forma a <strong>de</strong>spertar o olhar crítico do pequeno leitor.PALAVRA-CHAVE: Leitura; Poesia infantil; Ivan Ângelo.CONTA OUTRA VEZ COM ÓCULOS DE VIDRO SOBRE O TEMPO QUE VOA: LITERATURAINFANTOJUVENIL BRASILEIRA & PORTUGUESAPenha Lucilda <strong>de</strong> Souza Silvestre (EE.Nicola Martins Romeira)Estudar a produção ficcional voltada para o público infantil e juvenil implica na realização <strong>de</strong>uma pesquisa cuidadosa, visto que se trata <strong>de</strong> uma tarefa <strong>de</strong>licada, pois o mercado editorialcompetitivo apresenta uma série <strong>de</strong> publicações que alcançam as livrarias brasileiras. Ainda,consi<strong>de</strong>ra-se que há uma pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estilos, t<strong>em</strong>as e formas. Escritores e ilustradores seapropriam <strong>de</strong> uma linguag<strong>em</strong> plurissignificativa, dialogando ou rompendo com o t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> queestão inseridos. Além disso, há diversas instituições <strong>de</strong> pr<strong>em</strong>iações <strong>de</strong> textos literários,inclusive <strong>de</strong> autores portugueses. Assim, a literatura, por sua vez, <strong>de</strong>sfila entre diversas mídiase entretenimento <strong>de</strong> massa num contexto marcado pela globalização. Dessa maneira, esseestudo preten<strong>de</strong> refletir sobre a vertente <strong>em</strong> pauta, esten<strong>de</strong>ndo-se a análise e recepção crítica,especificamente dos aspectos t<strong>em</strong>áticos, como também da literatura portuguesa que circulaentre os títulos brasileiros. Para tanto, o corpus pauta-se nos textos O olho <strong>de</strong> vidro do meu avô(2005) e O t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> voo (2010) ambos <strong>de</strong> Bartolomeu Campos <strong>de</strong> Queirós e Avô, conta outravez (2010) dos escritores portugueses José Jorge Letria e André Letria. A pesquisa nos permiteobservar como se dá a constituição t<strong>em</strong>ática dos textos produzidos no século XXI, comotambém investigar estilos e formas, por conseguinte repensar o lugar da vertente <strong>em</strong> pauta nacrítica literária.PALAVRAS-CHAVE: Bartolomeu Campos <strong>de</strong> Queirós, José Letria e Aspectos t<strong>em</strong>áticos.GÊNEROS POÉTICOS DA CONTEMPORANEIDADE: ENTRE O LÍRICO E OLÚDICOThiago Alves Valente (UENP-CCP)IV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


7A varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> gêneros, no âmbito das formas <strong>de</strong> composição, <strong>de</strong>monstra que aspectosformais e t<strong>em</strong>áticos estão <strong>em</strong> relação direta com concepções ou i<strong>de</strong>ologias <strong>de</strong> cada autor,t<strong>em</strong>po e espaço. A poesia cont<strong>em</strong>porânea direcionada aos leitores iniciantes, renova-se pormeio do hibridismo e da releitura da tradição poética. Seja no suporte papel, seja no suportedigital, essa produção mostra-se sustentada por duas gran<strong>de</strong>s linhas <strong>de</strong> força, o lírico e o lúdico.É notório que, no Brasil, nas últimas décadas, a poesia lírica e/ou lúdica t<strong>em</strong> se marcado pelacapacida<strong>de</strong> inventiva <strong>de</strong> absorver as novas propostas estéticas advindas do Mo<strong>de</strong>rnismo,dialogando tanto com as formas clássicas quanto com o repertório popular. O amadurecimento<strong>de</strong> recursos estéticos mo<strong>de</strong>rnistas leva os poetas a recorrer<strong>em</strong> abundant<strong>em</strong>ente ao imagináriopopular, inclusive como forma <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural, s<strong>em</strong>, entretanto, per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista formas eprocedimentos estéticos refinados e atualizados quanto às ferramentas e modos <strong>de</strong> leitura. Seinserida <strong>em</strong> contexto mais amplo, dos produtos culturais ofertados às crianças, percebe-se,ainda, que textos como letras <strong>de</strong> músicas cont<strong>em</strong>porâneas vêm recorrendo a expedientesestéticos guiados por aquelas duas linhas <strong>de</strong> força, ou seja, o lírico e o lúdico imbricam-se <strong>em</strong>textos que convidam o leitor infantil a a<strong>de</strong>ntrar o território poético por meio do brincar.PALAVRA-CHAVE: Poesia, Lírico e Lúdico.SIMPÓSIO 2 – NO REINO DA TERRA FINA: REPENSANDO A ARTE DOS MENESTRÉISCoor<strong>de</strong>nador: Francisco Cláudio Alves MarquesDEDO DE PROSA COM AUGUSTO DE CAMPOS E MÁRIO DE ANDRADE: BRAÇOS DEPOLÊMICA SOBRE O POPULAR E O ERUDITO NO CORDELGabriela Kvacek Betella (<strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)Em 1967, momento agitado no meio intelectual brasileiro, Augusto <strong>de</strong> Campos escreve umbreve artigo no qual afirma que a poesia popular autêntica é “inimitável e incorrigível”, insistindona questão dos limites entre cultura popular e erudita, asseverando a superiorida<strong>de</strong> dos poetaspopulares, chamando-os “profissionais” <strong>em</strong> oposição aos “amadores” cultos e citadinos,dispostos a refazer, completar ou reestruturar as formas poéticas “primitivas”. Há pelo menosdois pontos a <strong>de</strong>stacar no texto republicado <strong>em</strong> Verso Reverso Controverso: primeiro, aaparente “alienação” <strong>de</strong> consciência política na poesia dos cantadores nor<strong>de</strong>stinos écontestada por Campos quando observa o significado e o test<strong>em</strong>unho <strong>em</strong> relação ao contexto,muito mais importantes que as contrafações “politizadas” (e aqui talvez se referia ao cor<strong>de</strong>lcepecista <strong>de</strong> Ferreira Gullar, do início dos anos <strong>de</strong> 1960). Em segundo lugar, o poeta e crítico<strong>de</strong>smente as teses sobre a incapacida<strong>de</strong> da arte popular <strong>de</strong> intelectualização e requinteatravés da afirmação <strong>de</strong> que a forma do <strong>de</strong>safio da poesia nor<strong>de</strong>stina é her<strong>de</strong>ira das tensõesmedievais – segundo Campos, “o torneio <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong> artesanal provê versatilida<strong>de</strong> rítmica edomínio da invenção léxica e s<strong>em</strong>ântica”. Através da análise <strong>de</strong> Eu sou o cego A<strong>de</strong>raldo (1963),m<strong>em</strong>órias que reún<strong>em</strong> várias pelejas, reconhece-se o caráter menos ingênuo e mais inteligentedo que possa parecer na poesia popular. Para substanciar essa argumentação, não é exagerorecorrer a estudos basilares <strong>de</strong> Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, hábeis na recuperação <strong>de</strong> assuntostradicionais e mitos universalizados e gerais na tradição nor<strong>de</strong>stina. O olhar do mo<strong>de</strong>rnistavoltava-se para a pesquisa nacional, para a <strong>de</strong>scoberta da criação e da t<strong>em</strong>ática popular,buscando compreen<strong>de</strong>r o comportamento e as necessida<strong>de</strong>s brasileiras. As fronteiras entrepopular e erudito tornam-se, nas concepções críticas e literárias <strong>de</strong> Mário, difusas e a produçãotransita nos dois sentidos, para que a literatura se torne nacionalista e, numa etapa seguinte,universal.PALAVRAS-CHAVE: Popular e erudito; Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>; Augusto <strong>de</strong> CamposREPRESENTAÇÕES DA SOGRA NA LITERATURA DE CORDELLetícia Fernanda Da Silva Oliveira(IC – <strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)IV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


8Des<strong>de</strong> que se t<strong>em</strong> notícia, a figura da sogra foi s<strong>em</strong>pre espicaçada e satirizada pela culturapopular. Alguns poetas populares chegam a <strong>de</strong>senhá-la algo muito próximo da Prosérpina dasdiabruras infernais, personag<strong>em</strong> cômico-grotesca da praça pública medieval. Um <strong>de</strong>ssespoetas, Leandro Gomes <strong>de</strong> Barros, escreveu <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> folhetos on<strong>de</strong> a figura da sograaparece s<strong>em</strong>pre ou <strong>em</strong> consórcio com o diabo ou fazendo-o vítima <strong>de</strong> seus ardis. Nos po<strong>em</strong>as<strong>de</strong> Leandro a sogra apresenta-se s<strong>em</strong>pre como linguaruda, fala<strong>de</strong>ira, motivo que o levaria, nofolheto Vacina para não ter sogra, a associar a morte <strong>de</strong> duas sogras à falta <strong>de</strong> chuvas nosertão nor<strong>de</strong>stino: “No lugar que elas morreram,/Vintes anos não choveu,/ A carniça damelhor,/Essa s<strong>em</strong>pre apodreceu,/Isto é, porém a língua/O urubu não comeu”. Dois folhetos dalavra <strong>de</strong> Leandro servirão <strong>de</strong> base para a minha apresentação neste simpósio: Vacina para nãoter sogra e A sogra enganando o diabo. Na minha comunicação pretendo respon<strong>de</strong>r àsseguintes questões: Quais as imagens recorrentes na cultura popular para representar a sogra?Por trás da estigmatização da sogra há um discurso misógino da parte dos poetas populares?Ao satirizar a sogra os poetas populares reforçam a imag<strong>em</strong> negativa da mesma ou acabampor exaltá-la?PALAVRAS-CHAVE: Literatura <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l, Leandro Gomes <strong>de</strong> Barros, sátira, sogra.JOÃO BOA-MORTE: CRÍTICA SOCIAL EM UM FOLHETO DE FERREIRA GULLARSayne Regina Quirino Oliveira(G – <strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)Com a renúncia <strong>de</strong> Jânio Quadros, <strong>em</strong> 1962, o poeta Ferreira Gullar volta para o Rio <strong>de</strong> Janeiro,<strong>de</strong> on<strong>de</strong> tinha saído naquele mesmo ano para dirigir, <strong>em</strong> Brasília, a Fundação Cultural, que atéentão só existia no papel. De volta ao Rio, Gullar passa a atuar no Centro Popular <strong>de</strong> Cultura, aconvite <strong>de</strong> Oduvaldo Viana Filho. Foi por sugestão <strong>de</strong> Oduvaldo que Gullar escreveu o po<strong>em</strong>a<strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l João Boa-Morte, cabra marcado para morrer que, a princípio, <strong>de</strong>veria servir <strong>de</strong>narrativa para um a peça sobre a reforma agrária. A peça não foi escrita mas o po<strong>em</strong>a foieditado como folheto <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l. O referido po<strong>em</strong>a pertence à fase <strong>em</strong> que a ativida<strong>de</strong> poética<strong>de</strong> Gullar “se caracterizava por uma busca intensa e inquieta <strong>de</strong> novos modos <strong>de</strong> escrever apoesia”. Em João Boa-Morte o poeta <strong>de</strong>nuncia a violência perpetrada pelos coronéis contra otrabalhador rural no contexto das questões envolvendo as polêmicas <strong>em</strong> torno da reformaagrária no Nor<strong>de</strong>ste do país. Naquele momento, a poesia popular era o único instrumentocapaz <strong>de</strong> dar voz aos injustiçados sociais e a narrativa <strong>em</strong> versos, entre uma estrofe e outra,permite ao leitor ouvir tais ressonâncias: “Essa guerra do Nor<strong>de</strong>ste/não mata qu<strong>em</strong> édoutor./Não mata dono <strong>de</strong> engenho,/só mata cabra da peste,/só mata o trabalhador./O dono <strong>de</strong>engenho engorda,/vira logo senador”.PALAVRAS-CHAVE: Literatura <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l, Ferreira Gullar, reforma agrária.ENTRE MONTANHAS DE GOIABADA E RIOS DE LEITE (SOBRE ALICE DE JOÃO GOMESDE SÁ)Guilherme Magri Da Rocha(<strong>UNESP</strong>/FAPESP)Escreveu J. R. R. Tolkien que a narrativa fantástica permite ao hom<strong>em</strong> acionar a sua função <strong>de</strong>subcriador, uma vez que t<strong>em</strong> a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tornar leve o que era pesado, transformarchumbo <strong>em</strong> ouro e uma pesada rocha num rio que flui, isso porque há a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>, comopropôs, certa vez, C. S. Lewis, <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixamos <strong>de</strong> lado nossos castelos <strong>de</strong> areia e sonharmoscom o pão das fadas, com néctar e ambrosia. Partir<strong>em</strong>os da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Terry Eagleton, <strong>de</strong> que aliteratura não existe “da forma que os insetos exist<strong>em</strong>” e tentar<strong>em</strong>os, nesse breve t<strong>em</strong>po,estabelecer parâmetros entre a Alice <strong>de</strong> Lewis Carroll, anti-heroína que passa por aventurasepisódicas on<strong>de</strong> encontra menipeanos in<strong>de</strong>sejáveis, ao passo que reitera a inutilida<strong>de</strong> dossist<strong>em</strong>as estáticos e artificiais da socieda<strong>de</strong> e a tradução do cor<strong>de</strong>lista água-branquense JoãoGomes <strong>de</strong> Sá, que através <strong>de</strong> uma cacimba encantada, <strong>de</strong>scobre um mundo que lhe permite<strong>de</strong>safiar o real.IV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


9PALAVRAS-CHAVE: literatura estrangeira mo<strong>de</strong>rna; literatura brasileira; sátira menipéia;Lewis Carroll; João Gomes <strong>de</strong> Sá.HISTÓRIA DE UM VALENTE: UM POEMA DE CORDEL DA LAVRA DE FERREIRA GULLARMarcela Zupa Da Silva(IC – <strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)Na década <strong>de</strong> 60, quando atuava como presi<strong>de</strong>nte no Centro <strong>de</strong> Cultura Popular (CPC), daUNE, Ferreira Gullar escreveu quatro po<strong>em</strong>as <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l que foram reunidos e publicados pelaJosé Olympio, <strong>em</strong> 2009. Um <strong>de</strong>les, intitulado História <strong>de</strong> um valente, conta a prisão <strong>de</strong> GregórioBezerra pelos militares, logo após o golpe <strong>de</strong> 1964. Por medida <strong>de</strong> precaução, já que arepressão e as perseguições políticas se intensificavam a cada dia, Gullar assinou o po<strong>em</strong>acom o pseudônimo <strong>de</strong> José Salgueiro, levando a censura a acreditar que se tratava <strong>de</strong> umpoeta nor<strong>de</strong>stino <strong>de</strong> feira que o havia escrito. De acordo com o poeta, os cordéis <strong>de</strong> sua autoriaforam “escritos muito mais com o propósito <strong>de</strong> contribuir para a luta política do que para fazerpoesia”, tendo se valido da experiência que tinha com o verso rimado e a métrica, acrescida daleitura <strong>de</strong> folhetos, quando garoto no Maranhão, para realizá-los nos mol<strong>de</strong>s da literatura <strong>de</strong>folhetos praticada pelos poetas <strong>de</strong> feira do Nor<strong>de</strong>ste. O referido po<strong>em</strong>a reflete, sobretudo, anecessida<strong>de</strong> moral <strong>de</strong> lutar contra a injustiça social e a opressão que caracterizou, a partir daí,sua produção poética seguinte, mais elaborada, mas não menos sensível à probl<strong>em</strong>ática dohom<strong>em</strong>.PALAVRAS-CHAVE: Literatura <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l, Ferreira Gullar, Golpe Militar <strong>de</strong> 64.O CORDEL IN(FORMA)TIZADO): AUSÊNCIA DA VOZFernando Messias Marestoni(Graduação – <strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)O medievalista Paul Zumthor, tratando das mensagens midiatizadas pelo disco e pela fitamagnética, observa que o traço comum <strong>de</strong>ssas vozes acomodadas nessas tecnologias é quenão po<strong>de</strong>mos respon<strong>de</strong>r-lhes, <strong>de</strong> modo que tanto a presença física do locutor como a dointerlocutor se apaga. Tais pr<strong>em</strong>issas nos levaram a refletir sobre a avalanche <strong>de</strong> narrativas,ditas <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l, veiculadas pela internet. A Literatura <strong>de</strong> Cor<strong>de</strong>l, como tradicionalmente aconhec<strong>em</strong>os, possui uma trajetória enunciativa pautada no período da oralida<strong>de</strong> para a escrita.No entanto, sab<strong>em</strong>os que os artífices da rima escreviam seus folhetos para ser<strong>em</strong> lidos <strong>em</strong> vozalta nos serões familiares e na praça pública, o que pressupõe um retorno da escrita àoralida<strong>de</strong>. As leituras eram feitas na presença <strong>de</strong> um público-ouvinte que interagia <strong>em</strong>itindoopiniões e interferindo no andamento da narrativa. Diferent<strong>em</strong>ente do que ocorre no processopioneiro <strong>de</strong> divulgação <strong>de</strong> folhetos, as narrativas <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l veiculadas pela internet prescin<strong>de</strong>mda presença <strong>de</strong> um público <strong>de</strong> carne e osso, <strong>de</strong> modo que a interação face-a-face entre locutore interlocutor <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> existir. Nessa nova modalida<strong>de</strong>, o leitor-ouvinte passa a ser apenas umafigura abstrata e estatística. A voz, enquanto substância fônica que se propaga no espaçoacompanhada <strong>de</strong> uma performance, permanece ausente. Nossa proposta é a <strong>de</strong> refletir mesmona questão da narrativa tradicionalmente escrita para ser recitada, oralmente, restar submetidaà fôrma da mídia, que a enclausura e a submete às regras da informatização. Poetas e leitoresficam privados daquela interação auditivo-verbal que caracteriza a Literatura <strong>de</strong> Cor<strong>de</strong>lpublicada <strong>em</strong> folhetos impressos e lidos nas feiras e praças públicas. Dadas essasconsi<strong>de</strong>rações, perguntamos: essas mensagens midiatizadas po<strong>de</strong>m ainda ser classificadascomo Literatura <strong>de</strong> Cor<strong>de</strong>l?PALAVRAS-CHAVE: Literatura <strong>de</strong> Cor<strong>de</strong>l, oralida<strong>de</strong>, mídia.A ESTRUTURAÇÃO FORMULAR DO POEMA A ESCRAVA ISAURA EM VERSOS DECORDELGraziella Martins Dos Santos(IC – <strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)IV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


10Adam Parry, referindo-se à poesia <strong>de</strong> culturas orais, <strong>de</strong>fine fórmula como “um grupo <strong>de</strong>palavras que é regularmente <strong>em</strong>pregado sob as mesmas condições métricas para exprimir uma<strong>de</strong>terminada idéia essencial”. Nessas culturas, o poeta oral possui um repertório abundante <strong>de</strong>epítetos diversificados o bastante para fornecer um epíteto para qualquer exigência métricaque possa surgir à medida que ele costura sua história, b<strong>em</strong> como dispõe <strong>de</strong> uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong>lugares-comuns. As frases prontas e os provérbios são também consi<strong>de</strong>rados expressõesformulares e que estão na base da produção oral ou <strong>de</strong> uma escrita fundada na oralida<strong>de</strong>. Combase nesses pressupostos, pretendo fazer uma leitura do po<strong>em</strong>a A Escrava Isaura, adaptadodo romance homônimo pelos irmãos cor<strong>de</strong>listas Arievaldo e Klevisson Viana, <strong>em</strong> 2005, parai<strong>de</strong>ntificar as soluções encontradas na caracterização das personagens <strong>em</strong> boas ou más, hajavista que na literatura <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l os autores recorr<strong>em</strong> a uma caracterização do tipo oral-formulardas personagens aon<strong>de</strong> os vilões são s<strong>em</strong>pre caracterizados a partir <strong>de</strong> atributos morais. Emgeral são “facinorosos”, “parasitas”, “bandidos”, “cruéis”, “carrascos”, como nesta estrofe doreferido folheto: “Leôncio era um traidor/E por <strong>de</strong>mais rancoroso/Perverso, vil,sanguinário,/Deveras libidinoso [...]”. Por outro lado, as donzelas são s<strong>em</strong>pre apresentadascomo belas, fiéis, inteligentes, características que serv<strong>em</strong> para traçar sua conduta no interior danarrativa, como nesta estrofe do mesmo po<strong>em</strong>a: “Isaura enquanto criança/Era um anjo <strong>de</strong>pureza/Parece que pra formá-la/Esmerou-se a natureza/Querendo dar, só a ela,/De Vênus todaa beleza”.PALAVRAS-CHAVE: Literatura <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l, A escrava Isaura, estruturação oral-formular.ADMIRAÇÃO E REESCRITURA DA NOTÍCIA NO FOLHETO ADEUS, DRUMMOND DEGONÇALO FERREIRA DA SILVABárbara Laís Falcão Da Silva Cação(IC - <strong>UNESP</strong> – FAPESP)No dia 22 <strong>de</strong> maio realizei uma entrevista com o poeta <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l Gonçalo Ferreira da Silva e,com as informações obtidas, elaborei o presente trabalho utilizando o folheto A<strong>de</strong>us,Drummond do poeta cearense, com a intenção <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar a visão particular do poetapopular sobre a obra e o poeta Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>. Utilizei os dados da entrevistapara <strong>de</strong>stacar algumas particularida<strong>de</strong>s do fazer poético <strong>de</strong> Gonçalo e tecer algumasconsi<strong>de</strong>rações acerca da reescritura da notícia do falecimento <strong>de</strong> Drummond. Apesar <strong>de</strong>amigos, há uma distância que separa os dois poetas no plano da cultura letrada. Ambos sãopoetas formados na aca<strong>de</strong>mia, mas Drummond é lido pela elite culta, enquanto Gonçalo, pelopovo que frequenta as feiras e praças públicas <strong>de</strong> todo o Brasil, <strong>em</strong>bora sua obra venha<strong>de</strong>spertando o interesse <strong>de</strong> pesquisadores <strong>de</strong> todo o mundo. Minha comunicação preten<strong>de</strong>ainda traçar alguns pontos que diferenci<strong>em</strong> a notícia reescrita pelo poeta <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l daquelaveiculada pelos meios oficiais <strong>de</strong> comunicação. Um <strong>de</strong>sses pontos resi<strong>de</strong> no fato <strong>de</strong> o poetapopular recriar a notícia <strong>de</strong>ntro do universo <strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong> seus leitores, compartilhandocom eles opiniões e valores próprios do grupo. Outro fator importante a ser observado é que opoeta Gonçalo Ferreira da Silva, diferent<strong>em</strong>ente dos poetas tradicionais, s<strong>em</strong>iletrados, procuradar um tratamento mais erudito aos seus escritos, procurando <strong>de</strong>sinstalar do imagináriocoletivo a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que a produção <strong>de</strong> folhetos está indissociada do el<strong>em</strong>ento folclorístico.PALAVRAS-CHAVE: Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, Gonçalo Ferreira da Silva, Literatura <strong>de</strong>Cor<strong>de</strong>l, notícia.PATATIVA DO ASSARÉ: UMA POÉTICA DO INCONFORMISMOGustavo Rodrigues Vieira Dos Santos(IC – <strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)RESUMO: O poeta popular Patativa do Assaré, <strong>em</strong> seu po<strong>em</strong>a <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l O padre Henrique e odragão da malda<strong>de</strong>, conta a trágica história do jov<strong>em</strong> padre Antônio Henrique, pernambucano<strong>de</strong> 29 anos, ligado a D. Hél<strong>de</strong>r Câmara e à Teologia da Libertação, que foi cruelmentetorturado e assassinado pelas forças repressivas do regime militar, <strong>em</strong> 27 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1969, <strong>em</strong>Recife. O po<strong>em</strong>a apresenta uma série <strong>de</strong> reflexões sobre a cruelda<strong>de</strong> com que os partidáriosIV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


11<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> paz, harmonia e justiça eram tratados pelo autoritarismo militar, mencionadometaforicamente como o “dragão da malda<strong>de</strong>”. No po<strong>em</strong>a, o martírio do jov<strong>em</strong> padre écomparado ao <strong>de</strong> Cristo: “Tinha três anos <strong>de</strong> padre / Depois que ele se or<strong>de</strong>nou/Pregava amesma missão / Que Cristo pregou/E foi por esse motivo / Que o dragão lhe assassinou”. Opadre ajudava e orientava os jovens <strong>em</strong> relação aos probl<strong>em</strong>as da vida e, por assumir essapostura, foi ameaçado e morto. Os versos <strong>de</strong> Patativa, <strong>de</strong> conotação social, levavam seusleitores e ouvintes a refletir<strong>em</strong> sobre questões como a fome, o sofrimento, a pobreza e aexploração do hom<strong>em</strong> nor<strong>de</strong>stino. Desse modo, sua escrita, inconformada, se sustenta numai<strong>de</strong>ologia caracterizada pela se<strong>de</strong> <strong>de</strong> justiça, correção do social e igualda<strong>de</strong> entre os homens,el<strong>em</strong>entos fartamente presentes nos versos que me proponho a apresentar neste simpósio.PALAVRAS-CHAVE: Patativa do Assaré, repressão, Ditadura Militar.PEDRO MALASARTES NO CORDEL E NO CARNAVALTHIAGO MARCOS DA SILVA (G- <strong>UNESP</strong>)Resumo: No âmbito da cultura popular a figura <strong>de</strong> Pedro Malasartes esteve s<strong>em</strong>pre associadaà do herói ladino, astuto e armador <strong>de</strong> presépios. Suas façanhas, adaptadas para a literatura<strong>de</strong> folhetos, vão além da <strong>de</strong>sforra perpetrada contra o patrão opressor. Ele é também celebradopelos poetas <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l porque nas suas artimanhas o trabalhador rural vê materializado seu<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>ta contra o coronel e o senhor <strong>de</strong> engenho. A figura do pícaro, originária dofolclore português, sintetiza ainda o “jeitinho” brasileiro <strong>de</strong> sair-se b<strong>em</strong> <strong>em</strong> todas as situações eestá na base da formação da nossa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Roberto DaMatta observa que os dribles doherói picaresco foram herdados pelo nosso malandro que, durante o carnaval, abandonat<strong>em</strong>porariamente a condição <strong>de</strong> marginal para ocupar a posição <strong>de</strong> herói na praça da apoteose.Assim como Malasartes, o malandro é aplaudido pela platéia durante o carnaval, e a habilida<strong>de</strong><strong>de</strong> driblar com maestria as situações difíceis do dia-a-dia é levada à praça pública na forma dadança, <strong>de</strong> modo que o alegre folião acaba sendo elevado à categoria <strong>de</strong> herói. Na minhacomunicação pretendo analisar o folheto <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l Artimanhas <strong>de</strong> Pedro Malzartes e o urubuadivinhão, da autoria <strong>de</strong> Klévisson Viana, para <strong>de</strong>monstrar que na literatura <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>lcont<strong>em</strong>porânea a figura do pícaro continua sendo abordada a partir dos mesmos predicativosque lhe <strong>de</strong>ram fama <strong>de</strong> bom malandro.Palavras-chave: Pedro Malasartes, pícaro, literatura <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l, carnaval.O POETA ORAL NA ACEPÇÃO DE PAUL ZUMTHORFrancisco Cláudio Alves Marques(<strong>UNESP</strong>)Resumo: Diferent<strong>em</strong>ente do que ocorre no âmbito da cultura letrada, na tradição oral o conceito<strong>de</strong> poeta não fica reservado apenas àquele que compõe o texto poético. O indivíduo queinterpreta ou recita – prática bastante comum nas feiras e praças públicas, principalmente doNor<strong>de</strong>ste brasileiro – é também consi<strong>de</strong>rado poeta pela audiência. No ambiente <strong>de</strong> feira, oven<strong>de</strong>dor <strong>de</strong> folhetos geralmente introduz novos versos aos po<strong>em</strong>as escritos <strong>em</strong> folheto,inventa novas rimas, conce<strong>de</strong>ndo à história narrada outro sabor e, às vezes, o final que aaudiência quer ouvir. Em Introdução à Poesia Oral, Paul Zumthor usa a palavra poeta para<strong>de</strong>signar aquele ou aquela que, executando a performance, está na orig<strong>em</strong> do po<strong>em</strong>a oral, <strong>de</strong>modo que poeta subenten<strong>de</strong> vários papéis, seja tratando-se <strong>de</strong> compor o texto ou dizê-lo.Nesse caso, a ação do compositor, preliminar à performance, encontra-se numa obra aindavirtual. Zumthor observa que, <strong>em</strong> toda prática da poesia oral, “o papel do executante contamais que o do compositor”, consi<strong>de</strong>rando-se que, por meio da performance, contribui mais para<strong>de</strong>terminar as reações auditivas, corporais, afetivas do auditório, a natureza e a intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong>seu prazer. Então, pela performance, o intérprete passaria a ser o autor do texto, pelo menosno momento <strong>de</strong> sua apresentação <strong>em</strong> público, noção que ajuda a <strong>de</strong>sinstalar do imagináriocoletivo a idéia <strong>de</strong> que a poesia oral é anônima.IV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


12Palavras-chave: Literatura <strong>de</strong> Cor<strong>de</strong>l, poeta oral, performance, Paul Zumthor.SIMPÓSIO 3 – AS (INTER) FACES DA POESIA CONTEMPORÂNEA“ALTERAR” OU “FÁBRICA DO POEMA”: ALGUMAS QUESTÕES DAS INTERFACES DAPOESIA EM WALY SALOMÃOCaio Maríngoli Marabesi (Unicamp)Maria Betânia AmorosoNas interfaces da poesia um autor que se mostra particularmente interessante para abordar éWaly Salomão. Publicado seu primeiro livro <strong>em</strong> 1972, o autor segue um percurso variado comoletrista, poeta, produtor musical e participante dos <strong>de</strong>bates <strong>em</strong> torno das manifestaçõesartísticas no Brasil. Arriscando os limites da escrita, a poesia <strong>de</strong> Waly se viu <strong>em</strong> relaçãoprincipalmente com as artes plásticas e a música. Dos Babilaques nos anos 70 ao po<strong>em</strong>acanção“Fábrica do po<strong>em</strong>a”, musicado por Adriana Calcanhoto, o que se coloca como perguntaé justamente a possibilida<strong>de</strong> do termo poesia como referente <strong>de</strong> um gênero específico.Tentar<strong>em</strong>os discutir algumas relações e interconexões <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> Waly com outras artes esuportes a partir da noção <strong>de</strong> forma por elas colocada. T<strong>em</strong>a recorrente, <strong>em</strong> seus po<strong>em</strong>as,textos, escritos, é a superação da noção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> entendida como um sentido fechado e<strong>de</strong>finido na totalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus limites. Sua poética irá trabalhar com hibridizações e amálgamas.Nos Babilaques, a escrita que conjuga linguag<strong>em</strong> verbal e pictórica <strong>de</strong>sestabiliza a noção <strong>de</strong>totalida<strong>de</strong> da forma apontando para uma multilinguag<strong>em</strong> anterior a classificação dos gêneros.Anos <strong>de</strong>pois, <strong>em</strong> “Fábrica do po<strong>em</strong>a”, a noção <strong>de</strong> forma será probl<strong>em</strong>atizada explicitamentecomo meta do po<strong>em</strong>a e <strong>de</strong> sua escrita. Cantado a questão, no po<strong>em</strong>a, ganha outros contornos,abrindo-se para uma tensão com o universo da fala e da voz. A noção <strong>de</strong> forma <strong>em</strong> Walypermite pensar justamente como a poesia, enquanto tal, po<strong>de</strong> se realizar <strong>em</strong> diferentessuportes e materiais (verbais, visuais, vocais etc.) superando a <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> gêneros ouopções <strong>de</strong> realizações poéticas. Apontaria, ao contrário, para um trabalho com a linguag<strong>em</strong> e amatéria <strong>de</strong>signado, este sim, poesia, que questiona os limites e classificações, e para umaexperiência do sujeito, da cultura e da língua que t<strong>em</strong>, também, seus lugares <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação<strong>de</strong>sestabilizados.Palavras-Chave: Waly Salomão; Babilaques; poesia; i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>A BUSCA DO “EU SUPERIOR”, NA POESIA DE ÁLVARES DE AZEVEDO E CRUZ ESOUSA: TRANSCENDÊNCIA, MORTE E SUBJETIVIDADE.Clayton Alexandre ZocaratoTanto Álvares <strong>de</strong> Azevedo como Cruz e Sousa, fizeram <strong>de</strong> suas poéticas “SubterfúgiosCognitivos” na busca <strong>de</strong> exasperação do “eu”, proporcionando uma angariação sinestésica<strong>de</strong> condição humana intelectual, diante dos perjúrios <strong>de</strong> frustração amorosa e do preconceitoracial, almejando na glorificação do “tédio”, um alento para suportar o peso da realida<strong>de</strong>, assimcomo uma volumosa exaltação do corpo, fazendo um escopo <strong>de</strong> <strong>em</strong>brutecimento na formação<strong>de</strong> relações sentimentais entre as pessoas.Ambos os poetas, tiveram vidas pessoais atribuladas, vendo na transcendência <strong>de</strong> umaeloqüência estilística, que uniss<strong>em</strong> suas voracida<strong>de</strong>s i<strong>de</strong>ológicas <strong>de</strong> arregimentaçõesmetafísicas, sublinhando suas nostalgias existenciais.Em aspectos <strong>de</strong> seus respectivos períodos literários, o Simbolismo e o Ultra-Romantismo,representam uma incessante conurbação <strong>de</strong> lirismos mórbidos que exalam similarescaracterísticas <strong>de</strong> preceitos formativos fantasmagóricos e repressivos, <strong>em</strong> que a escuridão damorte é o ápice <strong>de</strong> realização pessoal dos que pa<strong>de</strong>c<strong>em</strong> <strong>de</strong> “doenças da alma e <strong>de</strong> cor”, diante<strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> “esteta” <strong>de</strong> princípios classicistas, norteados <strong>de</strong> componentes culturaisdiacrônicos vulgarizantes <strong>de</strong> transfiguração espiritualista e moral do ser humano.Procurar<strong>em</strong>os nessa comunicação, fazer um paralelo entre as contrarieda<strong>de</strong>s filosóficas dosdois autores, com suas poesias, fazendo uma diatribe entre plantéis estéticos, contidos noslivros Lira do Vinte Ano <strong>de</strong> Álvares <strong>de</strong> Azevedo e Missal / Broquéis <strong>de</strong> Cruz e Sousa,IV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


13traçando uma dialética <strong>de</strong> estudo entre a teoria da literatura e a psicanálise, no invólucroelucidar<strong>em</strong> as truculentas constituições <strong>de</strong> “mimesis”, com as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> metamorfoseshíbridos <strong>de</strong> escriturais ficcionais, e o “status quo” viventes dos escritores <strong>em</strong> suas “vitasactivas”.Palavras-Chave: Romantismo, Tédio, Subjetivida<strong>de</strong>, AngústiaA INTERGENERICIDADE PRESENTE EM “O QUE VOCÊ QUER SABER DE VERDADE” DEARNALDO ANTUNES, CARLINHOS BROWN E MARISA MONTEDavid <strong>de</strong> Almeida Isidoro, (G - PIBIC/ CNPq - <strong>UNESP</strong>/ <strong>Assis</strong>)Luciane <strong>de</strong> Paula (<strong>UNESP</strong>/ <strong>Assis</strong> – Araraquara)Essa comunicação é um fragmento <strong>de</strong> uma pesquisa maior que t<strong>em</strong> como objetivo verificar osel<strong>em</strong>entos intergenericos presentes na obra <strong>de</strong> Arnaldo Antunes (AA), Carlinhos Brown (CB) eMarisa Monte (MM), consi<strong>de</strong>rados (por eles próprios) uma “tribo”. A hipótese é que, ao mesmot<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que a presença <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos individuais se misturam na composição arquitetônicados compositores/interpretes, o que leva a uma fusão que faz com que os três possuammarcas autorais uns nos outros e constituam, também, um novo gênero arquitetônicocancioneiro – os “Tribalistas”; <strong>em</strong> suas carreiras solo, os artistas também possu<strong>em</strong> suasmarcas autorais peculiares. Com essa comunicação, intenta-se <strong>de</strong>monstrar, por meio dacanção “O que você quer saber <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>”, parte <strong>de</strong>sse processe <strong>de</strong> construção autoral (aomesmo t<strong>em</strong>po, individual e coletiva), visto que a canção <strong>em</strong> questão é composta pelo trio (AA,CB e MM), interpretada por AA <strong>em</strong> 2006 e por MM <strong>em</strong> 2011. Dessa maneira, busca-seapresentar algumas características individuais <strong>de</strong> produção, assim como realizar algumasobservações a respeito <strong>de</strong> marcas <strong>em</strong> comum que aparec<strong>em</strong> nas produções <strong>de</strong> cada um doscantores. Preten<strong>de</strong>-se abordar as principais características do conceito gênero discursivo(forma, conteúdo e estilo) para enten<strong>de</strong>r os diálogos (aproximações e distanciamentos)intergenericos existentes entre as duas versões apresentadas da canção. A perspectiva teóricautilizada parte da filosofia do Círculo <strong>de</strong> Bakhtin para os conceitos <strong>de</strong> Gênero e Diálogo.PALAVRAS-CHAVE: Arnaldo Antunes; Marisa Monte; Carlinhos Brown; O que você quer saber<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>; Gênero.A MARGINALIDADE DA POESIA ORALIZADA DE RENATO RUSSOElisângela Maria Ozório (PUC-SP)Paul Zumthor, crítico e estudioso das expressões da poesia oral, nos revela que a canção é amais perfeita manifestação poética, porquanto é uma voz harmoniosa que lê e representa osigno-<strong>de</strong>. A palavra poética proferida musicalmente alcança reações físico-<strong>em</strong>ocionais <strong>em</strong>plenitu<strong>de</strong>, e o corpo reage a sua recepção sonoro-leitora, que se materializa na voz. Com oavanço histórico do ser humano, a canção se dividiu entre poesia e música. S<strong>em</strong> os sonsinstrumentais, coube à poesia somente a palavra escrita. A canção se transformou, enfim, nacapacida<strong>de</strong> do poeta extrair da palavra escrita os sons perdidos da música, recriando imagenspoéticas. Tal belo trabalho favoreceu as diversas e múltiplas maneiras <strong>de</strong> poetizar, o queocasionou o aparente esquecimento da canção inicial e primária. No entanto, algumas vezes, apoesia procurou o encontro com a música, retomando a orig<strong>em</strong>. Desse encontro, saíramcanções poéticas que, conforme o costume, foram negadas e excluídas pelos críticos literáriose acadêmicos, porque não exploravam a palavra na mesma proporção da criação poéticaescrita. Fatídico ou não, essas canções existiram – e exist<strong>em</strong> – e integram a diversida<strong>de</strong> dofazer poético. Marginalizada pelos cultos da atualida<strong>de</strong>, a canção poética não se <strong>de</strong>sdobra <strong>em</strong>registros escritos, e sim <strong>em</strong> vozes que presentificam o objeto poético. Seu estudo não busca aescrita; busca a compreensão da linguag<strong>em</strong> da poesia por meio da voz, que metaforiza arepresentação do outro. À vista disso, ao olharmos para o rock <strong>de</strong> Renato Russo, não nos<strong>de</strong>paramos somente com uma letra <strong>de</strong> música; v<strong>em</strong>os uma composição escrita não <strong>de</strong> base eacompanhamento musical. Observamos uma expressão poética <strong>de</strong> resistência e contestação,s<strong>em</strong> a lapidação do escrito, que representa ora a dura realida<strong>de</strong>, ora a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> umuniverso perfeito, a utopia. O <strong>em</strong>bate entre o real e a utopia é vivenciado e partilhado pelaIV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


14poesia cantada <strong>de</strong> Renato Russo, <strong>em</strong> que as vozes do cantor e do público se misturam erecriam o espaço velado da palavra poética.Palavras-chave: canção; Renato Russo; poesia oralizada; poesia.A POÉTICA DE VINICIUS DE MORAES NOS AFRO SAMBASIsabela Martins <strong>de</strong> Morais e Silva (PG- <strong>UNESP</strong> – Araraquara)Dagoberto José FonsecaO presente trabalho preten<strong>de</strong> discutir algumas características da poética <strong>de</strong> Vinicius <strong>de</strong> Moraesna série <strong>de</strong> canções compostas <strong>em</strong> parceria com Ba<strong>de</strong>n Powell conhecida como “afro sambas”reunidas <strong>em</strong> sua maioria no álbum conceitual <strong>de</strong> 1966 “Os Afro Sambas <strong>de</strong> Ba<strong>de</strong>n e Vinicius”.As canções marcadas por uma construção melódica e t<strong>em</strong>ática inspirada na cosmogonia dasreligiões afro brasileiras dialogam com o que chamamos aqui <strong>de</strong> “dialética viciniana”, quepercebe o movimento da vida <strong>em</strong> seu <strong>de</strong>vir e na ambivalência entre amor e dor, alegria esofrimento que marcam suas canções, mas também, <strong>de</strong> certa forma, toda a sua obra poética.Palavras-chave: Vinicius <strong>de</strong> Moraes, Afro Sambas.A REESCRITA DE UM POEMA NO PERCURSO LÍRICO DE CARLOS FELIPE MOISÉS E OCONTEMPORÂNEOJoão Carlos Biella (UFU)Carlos Felipe Moisés publicou seu primeiro livro, Poliflauta, <strong>em</strong> 1960. Pertence à <strong>de</strong>nominadageração paulista <strong>de</strong> 60, juntamente com os poetas Roberto Piva, Cláudio Willer, Jorge Mautner,entre outros. Em 2008, veio a lume a sua mais recente obra: Noite nula. Nela reaparec<strong>em</strong>t<strong>em</strong>as e figuras musicais recorrentes na poética do autor. O po<strong>em</strong>a “Monk & Mulligan” é umex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong>ssa reaparição e será o objeto <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong>ssa comunicação. Ele será aproximadodo po<strong>em</strong>a “Toda lição é <strong>de</strong> casa”, originalmente publicado como epígrafe do livro Lição <strong>de</strong> casa& po<strong>em</strong>as anteriores (1998). No contraste <strong>de</strong> dois textos praticamente iguais, tentar-se-ámostrar a produtivida<strong>de</strong> da cesura, do enjamb<strong>em</strong>ent e da versura, como procedimentosprodutivos para a compreensão dos efeitos <strong>de</strong> sentido <strong>de</strong> alguma poesia escrita nacont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong>. Em “Monk & Mulligan”, a lição <strong>de</strong> casa é o momento <strong>de</strong> reflexão sobre ojogo do aprendizado e do conhecimento; também po<strong>de</strong> ser compreendido como uma reflexãosobre a disciplina e o improviso na criação da potência poética. Como respaldo reflexivo paraas análises, t<strong>em</strong>-se o pensamento <strong>de</strong> Giorgio Agamben, especialmente os estudos sobre aparticularida<strong>de</strong> da poesia e sobre a cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong>. Outros poetas da atualida<strong>de</strong> surgirãocomo ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> um <strong>em</strong>prego também produtivo dos referidos instrumentos poéticos; entreeles, Marcos Siscar, Antonio Cicero e Paulo Henriques Britto.PALAVRA-CHAVE: poesia;Carlos Felipe Moisés; enjamb<strong>em</strong>ent.A VOZ AUSENTE: O LIRISMO E A SOLIDARIEDADE DE FRANCISCO ALVIMLariane Vieira Rocha, Graduação (<strong>UNESP</strong>-<strong>Assis</strong>)Paulo Andra<strong>de</strong> da SilvaO presente trabalho t<strong>em</strong> como objetivo analisar a natureza e a função do lirismo nos po<strong>em</strong>as<strong>de</strong> Elefante (2000) <strong>de</strong> Francisco Alvim, poeta que utiliza as experiências vividas no espaçourbano para dá voz e sentido ao outro, para imaginar e pensar no outro. Percebe-me na poesia<strong>de</strong> Alvim um eco amoroso, difuso, que não discrimina n<strong>em</strong> privilegia, hierarquicamente,discurso algum. A voz lírica se ausenta no espaço do po<strong>em</strong>a para ressaltar, num gestosolidário, “a voz do outro” motivo pelo qual Cacaso afirma que Alvim é “o poeta dos outros”.Esse “outro” presente na sua poesia não se trata <strong>de</strong> um individuo ou <strong>de</strong> uma classe socialespecifica. Alvim encena no espaço do po<strong>em</strong>a várias estruturas sociais, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o pai <strong>de</strong> famíliaIV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


15trabalhador da classe média ao mendigo, alcoólatra, etc. Desse modo, os seus po<strong>em</strong>as estãofincados às questões sociais s<strong>em</strong> per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista o olhar lírico e solidário.Palavras- Chaves: Poesia cont<strong>em</strong>porânea; lirismo; Francisco Alvim; Elefante.LIRISMO E VIOLÊNCIA NO ESPAÇO URBANO: UM ESTADO DE NOVO ENDEREÇO EBAQUE DE FABIO WEINTRAUB.Layna Vieira Rocha (G- <strong>UNESP</strong>-<strong>Assis</strong>)Paulo Andra<strong>de</strong> da SilvaFábio Weintraub reelabora o t<strong>em</strong>a da violência por meios <strong>de</strong> imagens fortes, que fog<strong>em</strong> aolugar-comum, apesar <strong>de</strong> ter<strong>em</strong> como base a linguag<strong>em</strong> cotidiana. O presente trabalho preten<strong>de</strong>analisar a presença do lirismo e da violência no espaço urbano nos po<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Novo En<strong>de</strong>reço(2001) e Baque (2007) dois livros <strong>de</strong> lirismo contido que reflete sobre os modos <strong>de</strong> viver esentir numa metrópole. Baque funciona como uma linha <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> <strong>em</strong> relação ao livroanterior, Novo En<strong>de</strong>reço. A voz poética, apesar da forte marca lírica, se dilui no po<strong>em</strong>a para dáespaço aos personagens urbanos: mendigos, malandros, doidos, <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados, entre outrosexcluídos. O resultado é uma poética que mistura lirismo e reflexão social, o individualismo e acoletivida<strong>de</strong> das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s.Palavras-chave: Poesia Cont<strong>em</strong>porânea, lirismo; Fabio Weintraub; Baque e Novo En<strong>de</strong>reço“O QUE” É A INTERGENERICIDADE POÉTICA DE ARNALDO ANTUNESLuciane <strong>de</strong> Paula (<strong>UNESP</strong> – <strong>Assis</strong>)Este trabalho se propõe a refletir sobre o processo <strong>de</strong> construção poética <strong>de</strong> Arnaldo Antunes(AA), encarado a partir da noção <strong>de</strong> sua especificida<strong>de</strong> intergenérica – conceito <strong>de</strong>senvolvidopor Sobral (2006) que se refere à “relação constitutiva entre gêneros. A fundamentação teóricaestá centrada nos estudos do Círculo <strong>de</strong> Bakhtin. A justificativa pelos corpus ocorre porque apoesia <strong>de</strong> AA ilustra a interpenetração <strong>de</strong> um gênero no outro, alimentando-se reciprocamentee criando um intermédio entre eles como unida<strong>de</strong> do seu fazer poético autoral. O objetivo éexaminar as discursivida<strong>de</strong>s que se manifestam por meio das textualida<strong>de</strong>s mais ou menostípicas da poética <strong>de</strong> AA. A hipótese é a <strong>de</strong> que seu fazer estético se constrói a partir dasrelações intergenéricas estabelecidas pelo imaginário do autor. A textualida<strong>de</strong> das obras po<strong>de</strong>variar, mantendo, contudo, uma estrutura arquitetônica que permite que elas sejamcaracterizadas como poéticas. Nesse sentido, um po<strong>em</strong>a po<strong>de</strong> incorporar característicastextuais <strong>de</strong> uma canção ou <strong>de</strong> outro “tipo” <strong>de</strong> poesia, das artes plásticas, do ví<strong>de</strong>o, da eratecnológica, como é predominante na estética <strong>de</strong> AA, s<strong>em</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser poético. Um ex<strong>em</strong>ploda intergenericida<strong>de</strong> da poética <strong>de</strong> AA é “O que”. Parte-se do princípio que o po<strong>em</strong>a visual, aose transformar <strong>em</strong> canção, transforma-se <strong>em</strong> outro texto, distinto do primeiro, ainda que <strong>em</strong>interação com ele, elaborado a partir <strong>de</strong>le, pelo mesmo processo <strong>de</strong> construção. Para pensarna intergenericida<strong>de</strong>, parte-se da unida<strong>de</strong> t<strong>em</strong>ática e da forma composicional que, juntas,constitu<strong>em</strong> a arquitetônica da obra, b<strong>em</strong> como o intercâmbio entre os gêneros, nas váriasesferas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> que atuam. Por isso, há que se ter pon<strong>de</strong>ração entre a fixação e aliberda<strong>de</strong> total dos gêneros, <strong>em</strong> que, seguindo a dialógica bakhtiniana, un<strong>em</strong>-se o enunciado ea enunciação, o cognitivo e o sócio-histórico.PALAVRA-CHAVE: Poesia; Arnaldo Antunes; Intergenericida<strong>de</strong>; Círculo <strong>de</strong> Bakhtin; Canção.UM POSSÍVEL DIÁLOGO ENTRE MARCOS SISCAR E CHARLES BAUDELAIREMariana Nascimento do Carmo (UFU)IV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


16João Carlos Biella (UFU)Marcos Siscar é um importante crítico literário e também um dos gran<strong>de</strong>s nomes da poesiacont<strong>em</strong>porânea brasileira. Pretendo, neste trabalho, fazer uma leitura crítica do po<strong>em</strong>a “Modo<strong>de</strong> Usar” <strong>de</strong> Siscar, que se encontra <strong>em</strong> seu livro mais recente, Interior via satélite (2010),relacionando-o com o poeta mo<strong>de</strong>rno Charles Bau<strong>de</strong>laire, sobretudo com o po<strong>em</strong>a “Au Lecteur”,do livro Les fleurs du mal (1998). Nesse livro, Bau<strong>de</strong>laire <strong>de</strong>dica seu primeiro po<strong>em</strong>a aosleitores que sent<strong>em</strong> dificulda<strong>de</strong> frente à poesia lírica, leitores esses que, como afirma WalterBenjamin, <strong>em</strong> Sobre alguns t<strong>em</strong>as <strong>em</strong> Bau<strong>de</strong>laire (1989), dão preferência aos prazeresoferecidos pelos sentidos e que estão habituados à melancolia, o que apaga, segundoBenjamin, o interesse e a receptivida<strong>de</strong>. Bau<strong>de</strong>laire dirige sua poesia ao público mais ingrato,mas numa quase anunciação <strong>de</strong> que seria esse mesmo público que o consagraria como ogran<strong>de</strong> poeta mo<strong>de</strong>rno. Ele finaliza o po<strong>em</strong>a com a apóstrofe “- Hypocrite lecteur, - mons<strong>em</strong>blable, - mon frère!” (BAUDELAIRE, 1998: 28). Já Siscar inverte a situação posta porBau<strong>de</strong>laire, escrevendo “o poeta não é franquia <strong>de</strong> classe ou antena <strong>de</strong> raça. não é irmão doleitor / hipócrita fingidor” (SISCAR, 2010: 102). O poeta, com o uso do enjamb<strong>em</strong>ent, acaba porpossibilitar um duplo efeito <strong>de</strong> sentido: seria o leitor ou o poeta o hipócrita fingidor? Então, é apartir da apóstrofe posta por Bau<strong>de</strong>laire e a subversão feita por Siscar, que busco relacionaraspectos que aproxim<strong>em</strong>, ou não, a poesia <strong>de</strong> Marcos Siscar e Charles Bau<strong>de</strong>laire.PALAVRA-CHAVE: Marcos Siscar; Charles Bau<strong>de</strong>laire; diálogo; poesiaLÍRICA E SOCIEDADE EM MILTON NASCIMENTOMíriam Juliana Pastori Bosco (PG- UEM)Milton Hermes RodriguesEm t<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> tamanha volubilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentimentos e conceitos, <strong>em</strong> que quase tudo po<strong>de</strong> sercomprado e vendido, <strong>em</strong> que situação (ou situações) encontramos poesia? A poesia estáapenas nas composições <strong>em</strong> versos que possam ser escandidos e que apresentam rimas?Conforme Paz (1982) "há poesia s<strong>em</strong> po<strong>em</strong>as; paisagens pessoas e fatos po<strong>de</strong>m ser poéticos:são poesia s<strong>em</strong> po<strong>em</strong>as." Se a poesia po<strong>de</strong> ser encontrada <strong>em</strong> "tudo", inclusive <strong>em</strong> fatos comoimagens e até mesmo aqueles que não preten<strong>de</strong>m provocar sentimento poético, o que dizerentão da união entre a palavra e o som, fundamentais para a produção poética <strong>em</strong> versos? E oque consi<strong>de</strong>rar quando, além da sonorida<strong>de</strong> intrínseca à palavra, são incluídos <strong>em</strong> uma obraacor<strong>de</strong>s musicais? A música popular brasileira t<strong>em</strong> <strong>em</strong> Milton Nascimento um <strong>de</strong> seus gran<strong>de</strong>srepresentantes. Há <strong>em</strong> sua obra reflexos da socieda<strong>de</strong> e da história brasileirascontun<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente associadas a um lirismo que não po<strong>de</strong> n<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve escapar aos nossosouvidos. São canções que, além <strong>de</strong> apresentar<strong>em</strong> qualida<strong>de</strong> estética, ainda realizam<strong>de</strong>núncias e reflexões sobre o povo brasileiro, algumas vezes r<strong>em</strong>etendo a sentimentosuniversais. A arte como representação da realida<strong>de</strong> possibilita uma compreensão maisprofunda do que somos individual e coletivamente. Este trabalho t<strong>em</strong> o objetivo <strong>de</strong>analisar/interpretar algumas composições musicais <strong>de</strong> Milton Nascimento à luz <strong>de</strong> teóricoscomo BOSI (1977), CANDIDO (1996), PAZ (1982) e ADORNO (1975), a fim <strong>de</strong> apresentaraspectos poéticos <strong>de</strong> canções que apresentam liricida<strong>de</strong> e engajamento social.PALAVRAS-CHAVE: Milton Nascimento, lirismo, socieda<strong>de</strong>.ENTRE VOZ E CORPO: LÍRICA E PERFORMANCE NA POESIA CONTEMPORÂNEAPatrícia Aparecida Antonio (PG – <strong>UNESP</strong> – FCLAr)Esta apresentação se centra nas relações entre a poesia da cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong> e o corpo,mais especificamente naquilo que t<strong>em</strong> <strong>de</strong> performática. Para tanto, tomamos como ponto <strong>de</strong>partida a obra 2 ou + corpos no mesmo espaço <strong>de</strong> Arnaldo Antunes, conjunto <strong>de</strong> po<strong>em</strong>as quese vale do imaginário pop, da música, das artes plásticas. A levada verbi-voco-visual secompleta com o CD encartado ao livro, construindo verda<strong>de</strong>iro jogo performático entre imag<strong>em</strong>e voz, materializando a oralida<strong>de</strong> que ressoa na palavra escrita ou vista. A pergunta que seIV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


17coloca aqui, então, é: como oferecer um po<strong>em</strong>a na cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong>? Ou melhor, como nossãos oferecidos os po<strong>em</strong>as <strong>de</strong> 2 ou + corpos no mesmo espaço? Nesse sentido, a estrutura docorpo se ressignifica numa lírica <strong>em</strong> que a visualida<strong>de</strong> e a oralida<strong>de</strong> são pedras <strong>de</strong> toque.Corporalmente, comunicam-se leitor, autor e po<strong>em</strong>a, pela via da atualização da experiênciapoética que nos v<strong>em</strong> pelas leituras feitas por Arnaldo Antunes. Então, o t<strong>em</strong>po da leitura, damusicalização, é o t<strong>em</strong>po poético encarnado, performativizado, pelo corpo. Os po<strong>em</strong>as,verda<strong>de</strong>iras intervenções corporais, são percebidos pelo ouvido, significam o mundo, estão aícom espessura, <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>, peso – como b<strong>em</strong> nos dá a leitura <strong>de</strong> “Átomo indivisível” porex<strong>em</strong>plo. Gesto ancestral, <strong>de</strong> vidência anacrônica dada pelos suportes tecnológicos; sentidooriginal: a poesia cont<strong>em</strong>porânea, valendo-se do aparato tecnológico, é tão mítica quanto o erano momento <strong>de</strong> suas primeiras enunciações. É tal impulso, <strong>de</strong> certo modo mítico e atual, dapoesia cont<strong>em</strong>porânea que nos interessa observar.PALAVRA-CHAVE: Poesia cont<strong>em</strong>porânea; Corpo; Voz; Performance; Arnaldo Antunes.AUTOBIOGRAFIA, LIRISMO E ENUNCIAÇÃO EM TRÊS POEMAS DE FERREIRA GULLARRicardo Magalhães Bulhões (UFTM/Três Lagoas)Muito já se disse que a obra <strong>de</strong> Ferreira Gullar s<strong>em</strong>pre esteve aberta às experimentaçõespoéticas, t<strong>em</strong>áticas e estilísticas, das mais variadas. A última edição <strong>de</strong> Toda Poesia (2009),livro que reúne po<strong>em</strong>as num trajeto que vai <strong>de</strong> 1950, com A luta Corporal, até chegar a MuitasVozes, publicado <strong>em</strong> 1999, oferece ao leitor a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> confirmar essa diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong>t<strong>em</strong>as e <strong>de</strong> formas. As reflexões propostas tomam, como ponto <strong>de</strong> partida, a i<strong>de</strong>ia explicitadapor Gullar, no livro <strong>de</strong> entrevistas Auto-Retratos, <strong>de</strong> que seu trabalho poético t<strong>em</strong> momentos <strong>de</strong>extr<strong>em</strong>a liberda<strong>de</strong> interior aliada ao domínio da técnica. Nesse sentido, a inspiração (<strong>em</strong>oção)seria um el<strong>em</strong>ento imprescindível, mas não suficiente. Preten<strong>de</strong>mos mostrar como o poetamaranhense consegue conciliar a liberda<strong>de</strong> interior e a capacida<strong>de</strong> técnica, o domínio daexpressão. Buscar<strong>em</strong>os, num primeiro momento, resgatar alguns relatos do próprio autor sobrea interferência das chamadas coisas externas, como o cotidiano, a família, doenças <strong>de</strong> filho, oschamados el<strong>em</strong>entos autobiográficos que, organizados <strong>em</strong> material linguístico, ajudam aconferir lirismo a seu fazer poético, para, a seguir, articulá-los com a presença <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadosprocedimentos enunciativos <strong>em</strong> seus po<strong>em</strong>as. Propõe-se, neste estudo, uma <strong>de</strong>sconstruçãodos sentidos, observando procedimentos <strong>de</strong> natureza enunciativa e recursos estilísticos,notadamente os relacionados ao léxico e à sintaxe, elegendo como corpus três po<strong>em</strong>as líricos,“Filhos”, “Meu Pai” e “Visita”, pinçados do livro Muitas Vozes, uma das obras <strong>de</strong> Gullar maisaclamadas pela crítica especializada.PALAVRA-CHAVE: Ferreira Gullar; poesia lírica; autobiografia; procedimentos enunciativos;s<strong>em</strong>iótica discursiva.ALGUNS PROCEDIMENTOS ÉTICOS E ESTÉTICOS EM OS SALTIMBANCOSSandro Viana Essencio (<strong>UNESP</strong> – <strong>Assis</strong>)Benedito AntunesEste trabalho propõe investigar alguns procedimentos éticos e estéticos do musical infantil OsSaltimbancos. O musical é uma adaptação feita por Chico Buarque, <strong>em</strong> 1977, do musical <strong>de</strong>Sergio Bardotti e Luiz Enriquez Bacalov, e conheceu gran<strong>de</strong> sucesso. A obra é inspirada noconto "Os músicos <strong>de</strong> Br<strong>em</strong>en", recolhido pelos irmãos Grimm. Envolvendo gran<strong>de</strong> pluralida<strong>de</strong><strong>de</strong> gêneros, tanto o musical quanto o disco dialogam com aspectos do drama, da prosa <strong>de</strong>orig<strong>em</strong> popular, da poesia e da canção, tudo isso num clima <strong>de</strong> ampla conscientização políticae moral. Em muitas <strong>de</strong> suas características, essa obra encerra contradições da vida e da artecont<strong>em</strong>porâneas, que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser <strong>de</strong>batidas por esse breve estudo.PALAVRA-CHAVE: Os Saltimbancos; Chico Buarque; Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>; Gêneros do discurso.IV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


18SIMPÓSIO 4 – TRADIÇÕES PÉTICAS NA LÍRICA PORTUGUESAA CONFIGURAÇÃO DO RELIGIOSO E O CONCEITO DE CRIAÇÃO POÉTICA EM CAMÕESE RUY BELOAdriano Tarra Betassa Tovani CARDEAL (G-<strong>UNESP</strong>/FCLAr - PIBIC/CNPq)Maria Lúcia Outeiro FERNANDES (<strong>UNESP</strong>/FCLAr)Analisar, <strong>de</strong> modo comparativo, a questão da religiosida<strong>de</strong> e a reflexão sobre o fazer poético,presentes <strong>em</strong> obras <strong>de</strong> Luís Vaz <strong>de</strong> Camões e <strong>de</strong> Ruy Belo, é o principal objetivo <strong>de</strong>stetrabalho. Os principais t<strong>em</strong>as filosóficos da lírica camoniana são a mutabilida<strong>de</strong> das coisas, atransitorieda<strong>de</strong> da vida e o <strong>de</strong>sconcerto do mundo. Fundindo el<strong>em</strong>entos da tradiçãoneoplatônica com fundamentos do Cristianismo, a obra do poeta quinhentista permitetransparecer que a vida humana está condicionada e presa a imperfeições, conquanto oespírito anseie por outros horizontes, <strong>de</strong> natureza espiritual. Situado num período <strong>de</strong> transiçãoentre a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> e a pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, Ruy Belo retoma, por vias opostas, a tradição dapoesia religiosa, tão forte na obra camoniana. Entretanto, se a poesia <strong>de</strong> Camões encena umaviag<strong>em</strong> ascen<strong>de</strong>nte, na utópica busca <strong>de</strong> um mundo superior, a obra lírica <strong>de</strong> Ruy Belodramatiza um esvaziamento do sublime, <strong>em</strong> busca da valorização das vivências miúdas ecorriqueiras da vida.PALAVRAS-CHAVE: Lírica religiosa; Camões; Ruy Belo; Criação poética.REFLEXOS DA MODERNIDADE: FRAGMENTAÇÃO, HETERONÍMIA E NIILISMO EM“TABACARIA”, DE ÁLVARO DE CAMPOSAna Paula GARCIA (G – <strong>UNESP</strong> São José do Rio Preto)A comunicação que ora se propõe visa apresentar um recorte das reflexões <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong>Iniciação Científica há pouco finalizado, enriquecendo-o com novas reflexões <strong>em</strong><strong>de</strong>senvolvimento. O recorte abordará um aspecto do trabalho que trata da relação entre oniilismo, intensamente presente no discurso do sujeito poético <strong>de</strong> “Tabacaria”, e a heteronímia,como resultado do processo <strong>de</strong> fragmentação sofrido pelo hom<strong>em</strong> mo<strong>de</strong>rno. A dispersão dosujeito alcança, <strong>em</strong> Fernando Pessoa, sua realização máxima, mas é uma tendência que po<strong>de</strong>ser verificada na poesia portuguesa da primeira geração mo<strong>de</strong>rnista, a <strong>de</strong> Orpheu, sendo atônica, por ex<strong>em</strong>plo, da poética <strong>de</strong> Mário <strong>de</strong> Sá-Carneiro. As evoluções tecnológicas, ocrescimento das cida<strong>de</strong>s, a fácil circulação da informação, os movimentos sociais, enfim, adinâmica cotidiana <strong>de</strong> fins do século XIX muda o ritmo <strong>de</strong> vida do hom<strong>em</strong>. É nesse contextoque se encontra o sujeito poético <strong>de</strong> “Tabacaria”. Ele se vê <strong>em</strong> um turbilhão <strong>de</strong> acontecimentose pessoas, porém s<strong>em</strong> saber integrar-se a esses novos hábitos e a essa nova socieda<strong>de</strong>.Tentando adaptar-se e aten<strong>de</strong>r aos diversos chamados <strong>de</strong>sse novo modo <strong>de</strong> vida, o sujeitofragmenta-se e per<strong>de</strong>-se <strong>de</strong> si mesmo. O processo heteronímico reflete essa crise vivenciadapelo sujeito diante das transformações da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, na medida <strong>em</strong> que configura a perda<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do hom<strong>em</strong>, que se dispersa <strong>em</strong> várias personalida<strong>de</strong>s por já não reconheceraquela que seria sua face verda<strong>de</strong>ira, sua unida<strong>de</strong> essencial. O sujeito passa, então, a negar asi mesmo e os valores <strong>de</strong>ssa nova socieda<strong>de</strong>, <strong>em</strong> uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> revolta e, ao mesmo t<strong>em</strong>po,<strong>de</strong>sânimo, por se sentir vazio e fracassado. Mostrar<strong>em</strong>os ainda que a constante negação <strong>de</strong> simesmo por parte do sujeito lírico po<strong>de</strong> resultar da consciência <strong>de</strong>sse sujeito <strong>de</strong> sua condição<strong>de</strong> heterônimo, criação. Dessa forma, o trabalho preten<strong>de</strong> mostrar, a partir do processoheteronímico e do discurso niilista <strong>de</strong> “Tabacaria”, como as mudanças da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>atingiram o sujeito poético, levando-o a per<strong>de</strong>r sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e a <strong>de</strong>sencantar-se com a novaépoca, questionando seus valores.PALAVRAS-CHAVE: mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>; Fernando Pessoa; heteronímia; niilismo.IV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


19POÉTICAS DO AMOR NA LÍRICA PORTUGUESABruna Fernanda <strong>de</strong> SIMONE (G- <strong>UNESP</strong> / PIBIC/CNPq)Maria Lúcia Outeiro FERNANDES (<strong>UNESP</strong>/FCLAr)Esta comunicação baseia-se num projeto <strong>de</strong> Iniciação Científica <strong>em</strong> conclusão, que teve porobjetivo principal preparar terreno para um projeto a ser <strong>de</strong>senvolvido no Mestrado, cujaproposta central consiste num estudo comparado entre a lírica amorosa presente no períodomedieval, na poesia <strong>de</strong> D. Dinis, e no período romântico, na obra <strong>de</strong> Almeida Garret. O projeto<strong>de</strong>ve continuar no Mestrado, abordando também o período cont<strong>em</strong>porâneo, na poesia <strong>de</strong> NunoJúdice. Como a parte do projeto que aborda a poesia cont<strong>em</strong>porânea ainda está <strong>em</strong>elaboração, vou me fixar, nesta comunicação, no conteúdo abordado durante a IniciaçãoCientífica. Pretendo apresentar uma análise comparativa entre um po<strong>em</strong>a <strong>de</strong> D. Dinis e outro<strong>de</strong> Almeida Garret, com objetivo <strong>de</strong> enfatizar o diálogo <strong>em</strong>preendido pelo poeta romântico como trovadorismo medieval.PALAVRAS-CHAVE: Romantismo; Ida<strong>de</strong> Média; Literatura comparada; Lírica portuguesa.TRAÇOS DECADENTISTAS NA OBRA DE CAMILO PESSANHA E AL BERTOCamila Pinto <strong>de</strong> SOUSA (G- <strong>UNESP</strong> /CNPq)Maria Lúcia Outeiro FERNANDES (<strong>UNESP</strong>/FCLAr)Um dos principais recursos <strong>de</strong> estruturação dos textos poéticos <strong>de</strong> Al Berto, escritos entre 1974e 1997, é o diálogo que <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>m com obras <strong>de</strong> vários poetas <strong>de</strong> diferentes períodos e comoutras formas <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> artística, principalmente a pintura, a fotografia e o cin<strong>em</strong>a. Dess<strong>em</strong>odo, a poética <strong>de</strong> Al Berto fundamenta-se <strong>em</strong> vestígios herdados <strong>de</strong> muitas tradições líricas,entre elas o <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ntismo, estética que esteve <strong>em</strong> evidência nos últimos anos do século XIX eque muito contribuiu para o surgimento do mo<strong>de</strong>rnismo <strong>em</strong> Portugal. Para melhor enten<strong>de</strong>r apresença dos traços <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ntistas na poética <strong>de</strong> Al Berto, este trabalho propõe um estudocomparado entre a sua obra e a do poeta Camilo Pessanha, consi<strong>de</strong>rado o maiorrepresentante da estética <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ntista <strong>em</strong> Portugal.PALAVRAS-CHAVE: Simbolismo; Deca<strong>de</strong>ntismo; Camilo Pessanha; Al Berto.ARTIMANHAS FEMININAS NO POEMA“EM CRETA, COM O DINOSSAURO” (1995), DE ANA LUÍSA AMARALDenise ROCHA (<strong>UNESP</strong>/ <strong>Assis</strong>)Uma das versões da lenda do minotauro - morador <strong>de</strong> um labirinto, que matava jovensatenienses-, estava vinculada ao aparecimento <strong>de</strong> Teseu, que conseguiu a<strong>de</strong>ntrar nos túneis<strong>em</strong>aranhados, e aniquilar o hom<strong>em</strong>-touro, com a ajuda indireta <strong>de</strong> Ariadne, que construiu paraele um tipo <strong>de</strong> fio condutor pelos caminhos tortuosos. Esse mito <strong>de</strong> Cnossos, da Creta minoica,apareceu no texto <strong>de</strong> Apolodoro, foi referido <strong>em</strong> Ovídio, e citado <strong>em</strong> Homero, Eurípe<strong>de</strong>s,Isocrato e Platão. Referências literárias, metafóricas e políticas, baseadas na figura dominotauro, continuaram na Ida<strong>de</strong> Média e Mo<strong>de</strong>rna. No século XX, a mitologia do hom<strong>em</strong>híbridosurge <strong>em</strong> pinturas <strong>de</strong> Picasso, <strong>em</strong> textos políticos e na obra <strong>de</strong> autores <strong>de</strong> línguafrancesa (Cocteau, Fraigneau, Gi<strong>de</strong>, Skira, Yourcenar e Aymé), e <strong>de</strong> língua al<strong>em</strong>ã (Dürrenmatt,Zan<strong>de</strong>r, e Maurer). Em Portugal, a paródia ao mito cretense é t<strong>em</strong>a do po<strong>em</strong>a “Em Creta, como Minotauro”, no qual Jorge <strong>de</strong> Sena aborda a questão do exílio, e se reflete no texto poético“Em Creta, com o Dinossauro”, <strong>de</strong> Ana Luísa Amaral, publicado na obra E muitos caminhos(1995). A poetisa portuguesa ironiza as relações hom<strong>em</strong>-mulher <strong>de</strong> tradição patriarcal, pormeio <strong>de</strong> paródia (Hutcheon), sob a perspectiva do espaço labiríntico social - abstrato eIV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


20concreto-, e apresenta Ariadne, senhora <strong>de</strong> si, capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar o herói Teseu na mão, econfraternizar-se com o anti-herói, o dinossauro.PALAVRAS-CHAVE: Literatura portuguesa; Ana Luísa Amaral; mitologia; paródia; f<strong>em</strong>inismo.ASPECTOS DA TEATRALIDADE NA POESIA DE ANTÓNIO BOTTORicardo Marques MARTINS (PG- <strong>UNESP</strong>/FCLAr - CAPES/PDSE)Maria Lúcia Outeiro FERNANDES (<strong>UNESP</strong>/FCLAr)Apesar <strong>de</strong> ser apontado como um fenômeno extraordinário na literatura <strong>em</strong> língua portuguesa,António Botto (1897-1959) ainda não t<strong>em</strong> lugar reconhecido no cânone da lírica lusitana. Apresença da t<strong>em</strong>ática homoerótica <strong>em</strong> seus versos gerou polêmicas calorosas entreimportantes poetas e críticos literários. Este trabalho propõe uma investigação das estratégiasusadas pelo autor para a construção do efeito <strong>de</strong> sentido <strong>de</strong> Erotismo <strong>em</strong> sua obra –especialmente pelo viés da Teatralida<strong>de</strong>/Dramaticida<strong>de</strong>.PALAVRAS-CHAVE: Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>; Poesia portuguesa; Erotismo; Teatralida<strong>de</strong>; António Botto.ANTE-METAMORFOSE ― A POESIA DA DÚVIDAJoana Prada SILVÉRIO (PG – <strong>UNESP</strong>/FAPESP)Maria Lúcia Outeiro FERNANDES (<strong>UNESP</strong>/FCLAr)As Metamorfoses ― livro <strong>de</strong> 1963, <strong>em</strong> que o poeta português Jorge <strong>de</strong> Sena (1919-1978)propõe o fazer poesia como uma meditação aplicada sobre objetos artísticos ― traz<strong>em</strong> comopo<strong>em</strong>a <strong>de</strong> abertura o “Metamorfose”, <strong>de</strong> Fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> (1958). Por paratexto autoral, este po<strong>em</strong>aaparece reintitulado como Ante-metamorfose, o que propõe a consi<strong>de</strong>ração do caráter <strong>de</strong>anteriorida<strong>de</strong> sugerido. Da análise interpretativa, <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>-se que essa anteriorida<strong>de</strong> dizrespeito a uma postura crítica que coloca <strong>em</strong> pauta o máximo <strong>de</strong> dúvida, acrescida <strong>de</strong> um olharimaginativo. Esse “lirismo especulativo” é, portanto, atitu<strong>de</strong> primacial para que o livro <strong>de</strong> 63 se<strong>de</strong>senvolva. Nessa medida, ao fazer poético está atrelado uma postura crítica diante darealida<strong>de</strong> material, que se baseia na indagação como única atitu<strong>de</strong> possível para conhecer.Dessa forma, este trabalho t<strong>em</strong> por objetivo analisar, <strong>de</strong> forma integrada, a ativida<strong>de</strong> poética ea ativida<strong>de</strong> crítica <strong>de</strong> Jorge <strong>de</strong> Sena, a partir <strong>de</strong> uma perspectiva dialógica, <strong>em</strong> que os diversosníveis <strong>de</strong> expressão comunicam-se entre si. Pensando a poesia seniana como uma forma <strong>de</strong>conhecer, assim como aparece no metapo<strong>em</strong>a “Os trabalhos e os dias”, <strong>em</strong> que o escrever éuma apreensão do mundo, percebe-se que a crítica, nascida junto com essa ativida<strong>de</strong> poética,não apenas revela aspectos importantes acerca <strong>de</strong>sse fazer poesia, mas, principalmente,<strong>de</strong>corre <strong>de</strong>le. Portanto, na extensa e complexa obra <strong>de</strong> Sena, poesia e crítica po<strong>de</strong>m serpensadas lado a lado porque o ser poeta é o centro do qual <strong>em</strong>anam todas as outraspossibilida<strong>de</strong>s.PALAVRA-CHAVE: Jorge <strong>de</strong> Sena; Metamorfoses; Ante-metamorfose; Poesia e crítica.A “CICATRIZ DE TINTA”: TRAUMA E ABJEÇÃO EM AL BERTO (COM ECOS DE PLATH)Leonardo <strong>de</strong> Barros SASAKI (PG-USP/FAPESP)Annie Gisele FERNANDES(USP)Para Sylvia Plath, morrer era uma arte – “like everything else”. O poeta português Al Berto(1948-1997), por sua vez, tentou ensinar “ao corpo / a paciência o amor o abandono daspalavras / o silêncio / e a difícil arte da melancolia”. Esta poética centrada no sujeito e <strong>em</strong> seusafetos é parte <strong>de</strong> uma tendência da produção cont<strong>em</strong>porânea portuguesa, sobretudo a partir dadécada <strong>de</strong> 70, caracterizada pela intenção <strong>de</strong> “regressar ao real”, como sugeriu JoaquimIV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


21Manuel Magalhães. Isto se traduziu no investimento maior <strong>em</strong> um “lirismo figurativo” – <strong>em</strong>oposição ao pendor mo<strong>de</strong>rnista para o abstrato, o impessoal e o formalmente vanguardista.Dentro <strong>de</strong>ste contexto e a partir dos versos citados, a comunicação t<strong>em</strong> por objetivo: a) discutiresta “pedagogia do corpo-texto”, isto é, o processo <strong>de</strong> constituição do sujeito poético –mormente <strong>em</strong> seus <strong>de</strong>scentramentos e <strong>em</strong>bates internos – por meio da interação entre apoesia lírica e as práticas textuais do chamado “espaço biográfico” (Leonor Arfuch), o quesignifica inserir a obra <strong>de</strong> Al Berto no paradoxo cont<strong>em</strong>porâneo entre o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> inscrever-seno texto e a consciência da impossibilida<strong>de</strong> disto; e b) ler <strong>de</strong> que maneira esta “difícil arte” po<strong>de</strong>funcionar, na sugestão <strong>de</strong> João Barrento, como afirmativa <strong>de</strong> uma subjetivida<strong>de</strong> e comomecanismo <strong>de</strong> resistência <strong>em</strong> uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> comportamentos planificados. As duasquestões aqui postas encontram convergência no balanço que Hal Foster faz da artecont<strong>em</strong>porânea <strong>em</strong> The return of the real – nomeadamente <strong>em</strong> dois aspectos a seguirparafraseados: o primeiro diz respeito à inflexão para o trauma e o abjeto, para o corpo mortoou doente, cujo fundo revela uma insatisfação não somente com o mo<strong>de</strong>lo textualista da culturacomo também com a visão convencional do real; o segundo, à urgência <strong>de</strong> uma experiênciaartística plena dos afetos e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, esvaída <strong>de</strong>les, naquele “abandono das palavras,o silêncio” dos versos iniciais.PALAVRAS-CHAVE: Al Berto; Poesia portuguesa cont<strong>em</strong>porânea; Poesia intimista; Trauma;Abjeto.ELEMENTOS HISTÓRICO-SOCIAIS E A INFLUÊNCIA GREGA NA POESIA DE SOPHIA DEMELLO BREYNER ANDRESENNathália Macri NAHAS (PG – USP - CAPES)Paola Poma (USP)Nascida no Porto, <strong>em</strong> 6 <strong>de</strong> nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1919, Sophia <strong>de</strong> Mello Breyner Andresen expressa-sena Literatura Portuguesa cont<strong>em</strong>porânea sobretudo por sua obra lírica. Motivada por seufascínio pela cultura grega, ela traz el<strong>em</strong>entos fundamentais <strong>de</strong>ssa cultura para o<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sua arte poética e também para sua visão <strong>de</strong> mundo. Sua escrita éelaborada no momento <strong>em</strong> que Portugal enfrenta um dos períodos mais conflituosos <strong>de</strong> suahistória: o regime ditatorial <strong>de</strong> António <strong>de</strong> Oliveira Salazar, que exerceu <strong>de</strong> forma autoritária opo<strong>de</strong>r político no país entre os anos <strong>de</strong> 1932 e 1968. Dessa maneira, Sophia imprime seucompromisso com a política, trazendo à sua obra lírica o tom <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e justiça. Suarelação com o contexto sociopolítico português é <strong>de</strong>terminante para a aplicação da presentecomunicação na medida <strong>em</strong> que dialoga com as noções <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e totalida<strong>de</strong> <strong>em</strong> relaçãoao mundo apresentadas <strong>em</strong> sua obra lírica. Assim, por meio da análise <strong>de</strong> po<strong>em</strong>as como"Cantar" e "Data" – presentes <strong>em</strong> seu Livro Sexto –, procuro i<strong>de</strong>ntificar e analisar a relaçãoentre a obra poética <strong>de</strong> Sophia <strong>de</strong> Mello Breyner Andresen el<strong>em</strong>entos que se relacion<strong>em</strong> aoseu contexto sociopolítico e <strong>de</strong> seu país. Por meio <strong>de</strong>ssa análise, proponho também o estudoda imag<strong>em</strong> do sujeito cont<strong>em</strong>porâneo nos po<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Andresen e a maneira como a poetaatualiza el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> influência clássica <strong>em</strong> um discurso mo<strong>de</strong>rno, revelando sua busca pelaharmonia entre o hom<strong>em</strong> e o mundo.PALAVRAS-CHAVE: Sophia <strong>de</strong> Mello Breyner Andresen; Poesia portuguesa cont<strong>em</strong>porânea;Livro Sexto; Cultura grega; História; Salazarismo.TRADIÇÃO E RUPTURA: OS POEMAS POSSÍVEIS, DE JOSÉ SARAMAGOSandra Aparecida FERREIRA (<strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)Publicado <strong>em</strong> 1966, o primeiro livro <strong>de</strong> po<strong>em</strong>as <strong>de</strong> José Saramago, intitulado Os Po<strong>em</strong>asPossíveis, mostrou-se obra <strong>de</strong> fatura algo ortodoxa, porque filiada a uma tradição poética <strong>em</strong>que são mais nítidas as linhas <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> do que as <strong>de</strong> ruptura, compondo assim umlugar <strong>em</strong> que as tradições líricas clássica e mo<strong>de</strong>rna dialogam intensamente, <strong>em</strong>bora aherança mais visível do mo<strong>de</strong>rnismo, na obra referida, não seja a da vertente vanguardista. Opropósito <strong>de</strong>sta comunicação é analisar o apelo a forma tradicionais <strong>de</strong> composição <strong>em</strong> Ospo<strong>em</strong>as possíveis, b<strong>em</strong> como evi<strong>de</strong>nciar um exercício poético marcado pela construção <strong>de</strong> teorIV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


22programático, perceptível sobretudo na recorrência <strong>de</strong> po<strong>em</strong>as <strong>de</strong> teor metalinguístico. Tanto éassim que Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Cidraes (1999, p. 40) afirma que “o núcleo s<strong>em</strong>ântico da primeiraparte <strong>de</strong> Os Po<strong>em</strong>as Possíveis [...] é o confronto do escritor com a escrita, a busca dos difíceise árduos caminhos da criação poética”, nos quais a ensaísta vê enunciada uma “poética <strong>de</strong>austerida<strong>de</strong> e rigor”. Sob a perspectiva <strong>de</strong> que a linguag<strong>em</strong> poética, como l<strong>em</strong>bra HugoFriedrich (1978, p. 17), s<strong>em</strong>pre foi distinta da função normal da língua, preten<strong>de</strong>-se, <strong>em</strong> suma,refletir sobre os mecanismos por meio dos quais o lirismo <strong>de</strong> Saramago - preso à tradição mastambém afeito à ruptura - t<strong>em</strong> sua linguag<strong>em</strong> poética permeada por caráter experimental,fazendo surgir combinações criadoras <strong>de</strong> significado dissonante.PALAVRAS-CHAVE: Os po<strong>em</strong>as possíveis; José Saramago; Lírica mo<strong>de</strong>rna.ROMPENDO O SILÊNCIO: REPRESENTAÇÕES DO CORPO FEMININO EM JUDITHTEIXEIRA.Tayza Codina <strong>de</strong> SOUZA (PG-<strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)Gilberto Figueiredo MARTINS (<strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)Judith Teixeira (1880 – 1959) foi uma poetisa portuguesa que <strong>em</strong> 1925 fundou, dirigiu e editouuma revista literária, a Europa, publicou as obras: Decadência; Castelo <strong>de</strong> Sombras e Nua,Po<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Bizâncio. O seu primeiro livro foi publicado <strong>em</strong> 1923, provocando uma gran<strong>de</strong>polêmica na socieda<strong>de</strong> lisboeta da época, pois seus po<strong>em</strong>as retratavam o <strong>de</strong>sejo f<strong>em</strong>inino.Desta forma, a poetisa criou imagens que reflet<strong>em</strong> a masturbação e o homoerotismo. A suaousadia foi censurada pela Liga <strong>de</strong> Ação dos Estudantes <strong>de</strong> Lisboa, e no mesmo ano <strong>de</strong>publicação seu livro foi cr<strong>em</strong>ado por or<strong>de</strong>m do Governador Civil <strong>de</strong> Lisboa. Judith foi acusada<strong>de</strong> corroer os Santíssimos Costumes da Pátria Lusitana e caracterizada como“<strong>de</strong>savergonhada” pelos jornais da época. O presente artigo t<strong>em</strong> como objetivo principal rompero silêncio <strong>de</strong> Judith Teixeira, a poetisa após as reprovações com a publicação do seu últimolivro, isola-se do meio literário e sua obra é praticamente esquecida pelos críticos. Asreferências sobre sua vida privada e a sua obra poética são quase inexistentes. Parece que asmotivações existentes <strong>em</strong> 1923, quando seu livro foi cr<strong>em</strong>ado, ainda perpetuam na socieda<strong>de</strong>cont<strong>em</strong>porânea. Entretanto, além <strong>de</strong> colocar a poetisa <strong>em</strong> evidência, a pesquisa analisa asrepresentações do corpo f<strong>em</strong>inino nos po<strong>em</strong>as. Observa-se também a relação entre o eu-líricoe o interlocutor, visto que na maioria dos seus po<strong>em</strong>as não há indicadores <strong>de</strong> gênero, apenasuma <strong>de</strong>dicação como: A minha amante, A estátua, ou <strong>em</strong> termos neutros: amor, meu amor.Estas representações po<strong>de</strong>m referir-se tanto a outra mulher provocando uma poesiahomoerótica, como ao próprio eu-lírico, referindo-se a momentos do prazer individual.In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> ser um interlocutor masculino ou f<strong>em</strong>inino, a poetisa explora o <strong>de</strong>sejof<strong>em</strong>inino, colocando <strong>em</strong> evidência um discurso erótico proferido por uma mulher, e talvez sejaesta a principal causa da opressão sofrida.PALAVRAS-CHAVE: Literatura portuguesa; Discurso erótico; Corpo f<strong>em</strong>inino; Judith Teixeira.SIMPÓSIO 5 – E TODO O RESTO É LITERATURA“Para qu<strong>em</strong> curte: Schwitters”José Pedro Antunes (<strong>UNESP</strong>/FCLAr)Inspirado nos po<strong>em</strong>as fonéticos dos dadaístas <strong>de</strong> Zurique, KURT SCHWITTERS, que algunserroneamente consi<strong>de</strong>ram como o único dadaísta al<strong>em</strong>ão, aproximou-se das tendênciasconstrutivistas das vanguardas, quais sejam, o cubo-futurismo (Rússia), a Bauhaus (Al<strong>em</strong>anha)e o movimento De Stjl (Holanda), tendo chegado a um conceito ao qual seu nome hoje sevincula: MERZ (parte da palavra “KomMERZ”, que aparecia <strong>em</strong> uma <strong>de</strong> suas colagens). Comesse conceito, ele não apenas pretendia distanciar-se <strong>de</strong> Dada, como, corajosamente,aproximar-se <strong>de</strong> territórios inexplorados e, para ele, altamente propícios à criação poética.Tendo trabalhado como <strong>de</strong>signer e até criado um ateliê <strong>de</strong> criação que criava campanhas <strong>de</strong>IV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


23divulgação para <strong>em</strong>presas, ele explorou fartamente as possibilida<strong>de</strong>s da colag<strong>em</strong>, que<strong>de</strong>senvolvera como artista plástico, para a linguag<strong>em</strong> do <strong>de</strong>sign, da propaganda e mesmo daarquitetura (MERZBAU, as construções MERZ). Em “A arte no horizonte do provável”, Haroldo<strong>de</strong> Campos trata <strong>de</strong> situar, para a nossa reflexão, a gran<strong>de</strong> contribuição <strong>de</strong> Schwitters, da qualele próprio e os <strong>de</strong>mais concretistas beberam. Tendo traduzido um dos po<strong>em</strong>as do artistaal<strong>em</strong>ão, “Anna Blume”, Haroldo <strong>de</strong> Campos o incluía como referência para as criações poéticasmais <strong>de</strong>safiadoras da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. A obra <strong>de</strong> Schwitters ilustra, à perfeição, uma afirmaçãomuito clara aos poetas paulistanos, <strong>de</strong> que a poesia está mais para a música e para as artesplásticas do que para a literatura. Essa a contribuição <strong>de</strong>sta comunicação, num simpósio queescolhe como título e mote o verso <strong>de</strong> Paul Verlaine: “Et tout le reste est littérature”.PALAVRAS-CHAVE: Vanguardas, Po<strong>em</strong>as Fonéticos, Tradução, Merz“Haroldo <strong>de</strong> Campos: criação e transcriação”Catharine Piai De Mattos (<strong>UNESP</strong>/FCLAr)José Pedro Antunes (<strong>UNESP</strong>/FCLAr)A poética <strong>de</strong> Haroldo <strong>de</strong> Campos <strong>em</strong>erge com base no formalismo russo, principalmenteinfluenciado pelo legado <strong>de</strong> Maiakovski, s<strong>em</strong> contar na forte influência dos versos <strong>de</strong> Mallarména formação do grupo “Noigandres”, no qual Haroldo uniu-se ao seu irmão Augusto e a DécioPignatari. A plataforma do grupo incluía fazer frente ao conservadorismo da “Geração <strong>de</strong> 45”.Com o lançamento do “Manifesto da Poesia Concreta”, os três poetas paulistanos, e algunsoutros que gravitavam ao redor <strong>de</strong>les, passou a ser conhecido como os “poetas concretistas”,momento heróico que po<strong>de</strong> ser situado no período que vai <strong>de</strong> 1956 a 1963. Conhecido peloalto grau <strong>de</strong> erudição, Haroldo <strong>de</strong> Campos se estabelece como critico, e principalmente, tornasereferencial no âmbito da tradução. Ele próprio passaria a falar <strong>em</strong> “transcriação”, para<strong>de</strong>signar a tentativa <strong>de</strong> fugir ao meramente literal, buscando a congenialida<strong>de</strong> com as criaçõesoriginais. Num extenso leque <strong>de</strong> autores transcriados, entre os quais se inclu<strong>em</strong> Dante, Goethe,Pound e Joyce, compõ<strong>em</strong> um roteiro paralelo à sua outra viag<strong>em</strong> criativa, que culminaria <strong>em</strong>Crisant<strong>em</strong>po: no espaço curvo nasce um (1998).PALAVRA-CHAVE: Haroldo De Campos; Transcriação; Poesia; Noigandres.“Haroldo <strong>de</strong> Campos, transcriador <strong>de</strong> Schwitters”Cristovam Bruno Gomes Cavalcante, (<strong>UNESP</strong>/FCLAr)José Pedro Antunes“An Anna Blume”, publicado por Kurt Schwitters <strong>em</strong> 1919, e que t<strong>em</strong> por subtítulo “Po<strong>em</strong>a MerzI”, ficou conhecido entre nós simplesmente como “Anna Blume”. Nele, o poeta al<strong>em</strong>ão parodiafragmentalmente os po<strong>em</strong>as <strong>de</strong> t<strong>em</strong>ática amorosa, tendo gerado intensa polêmica no cenárioartístico al<strong>em</strong>ão, ao transpor, das artes plásticas para a criação verbal, as técnicas <strong>de</strong> colag<strong>em</strong>,que se manifestam <strong>em</strong> <strong>de</strong>formações e rompimentos gramaticais, falsas regências e ortografia,s<strong>em</strong> contar o abrupto surgimento da fala dialetal e o esfacelamento da lógica s<strong>em</strong>ântica. Nele,à sua maneira, já <strong>em</strong> pleno uso do conceito MERZ, Schwitters <strong>de</strong>marca o seu distanciamento<strong>em</strong> relação ao irracionalismo e à aleatorieda<strong>de</strong> que marcava as criações dadaístas. Por issomesmo, é s<strong>em</strong>pre duvidosa a afirmação <strong>de</strong> que tenha sido ele o único dadaísta al<strong>em</strong>ão. Atémesmo porque muitos outros se autoproclamaram dadaístas <strong>em</strong> todos os quadrantes daAl<strong>em</strong>anha. Muito <strong>em</strong>bora, a relação com os poetas dadaístas Hans Arp, Tristan Tzara e RaoulHausmann seja significante, Schwitters se recusou a a<strong>de</strong>rir ao movimento, tendo abraçotendências construtivistas como o cubofuturismo russo, o neoplasticismo holandês e omovimento da Bauhaus. Em Crisant<strong>em</strong>po, <strong>de</strong> 1998, Haroldo <strong>de</strong> Campos inclui a famosa“transcriação” <strong>de</strong> “An Anna Blume”, lançando mão <strong>de</strong> uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos tipográficos.Em A Arte no Horizonte do Provável, Haroldo incluiu ainda um alentado ensaio <strong>de</strong>dicado aSchwitters (“Kurt Schwitters ou A Sedução do Objeto”), poeta que incluiu, assim, numpai<strong>de</strong>uma bastante pessoal, b<strong>em</strong> como caro aos <strong>de</strong>mais poetas inventores <strong>de</strong> “noigandres” eda “poesia concreta”, juntamente com Dante, Goethe, Mallarmé, Pound e Joyce.IV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


24PALAVRA-CHAVE: HAROLDO DE CAMPOS, SCHWITTERS, TRANSCRIAÇÃO, RUPTURA“A Poesia Lírica <strong>de</strong> Tristan Tzara”Thiago dos Santos Jerônimo (<strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)Neste trabalho, preten<strong>de</strong>-se mostrar como se constrói a poesia lírica do poeta franco-romenoTristan Tzara (1896-1963), a partir da análise crítica <strong>de</strong> “Avant que la nuit”, po<strong>em</strong>a central <strong>de</strong>L’Antitête (1933). Tzara é reconhecidamente o nome mais importante do Dadaísmo, mas suapoesia lírica permanece ignorada, ofuscada pelo caráter provocador <strong>de</strong> seus manifestos e porsua atuação nos movimentos <strong>de</strong> Vanguarda. A poesia <strong>de</strong> Tzara a partir <strong>de</strong> meados <strong>de</strong> 1920 émarcada por um afastamento dos momentos iniciais <strong>de</strong> experimentação com a linguag<strong>em</strong>, <strong>em</strong>que o poeta imprime uma <strong>de</strong>struição total, e uma aproximação dos i<strong>de</strong>ais surrealistas,apresentando um lirismo exacerbado. Em L’Antitête, t<strong>em</strong>os uma poesia que se <strong>de</strong>senvolveentre a <strong>de</strong>struição dadaísta e a inspiração livre surrealista, e a transição entre um e outro se dás<strong>em</strong> nenhuma ruptura, <strong>de</strong> modo que o poeta não renega nada do passado. “Avant que la nuit”,po<strong>em</strong>a dividido <strong>em</strong> três partes, é marcado pela presença do sonho, <strong>em</strong> que se <strong>de</strong>staca aevocação do estado noturno do pensamento, momento <strong>em</strong> que a consciência é dominada pelosono, criando-se, assim, imagens inusitadas. Neste po<strong>em</strong>a, o poeta parte do <strong>de</strong>sgosto dadá <strong>em</strong>relação à vida para alcançar uma aceitação do mundo presente, possível pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>recomeçar.PALAVRAS-CHAVE: Tristan Tzara, Poesia Lírica, Dada, SurrealismoRússia, Início do Século XX: Poesia, Mulher e RevoluçãoMaira Moreira Mesquita (USP)Adriano Schwarz (USP)Em 1917 eclo<strong>de</strong> a Revolução Russa. Os bolcheviques tomam o po<strong>de</strong>r, o regime czarista é<strong>de</strong>rrubado. Trata-se <strong>de</strong> um período <strong>de</strong> transformações. Os lares são reconfigurados. A políticaimpl<strong>em</strong>entada por Lênin convida a mulher à vida pública. A crise colabora para a <strong>de</strong>terioraçãodo matrimônio. Segundo Alexandra Kolontai, a mulher russa mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser sombra dohom<strong>em</strong>, ela atinge o estado <strong>de</strong> “mulher-individualida<strong>de</strong>”. Numa interface entre a crítica literáriae a crítica da cultura f<strong>em</strong>inista, elucidarei sobre a nova mulher tangenciada na poesia <strong>de</strong> AnnaAkhmátova. Como m<strong>em</strong>bro fundador da corporação Oficina dos Poetas, ela reposiciona oespaço social, uma vez que ocupa um campo predominant<strong>em</strong>ente masculino. Vanguardista,acmeísta – opondo-se aos simbolistas e futuristas – opta pela concisão. Akhmátova inaugurauma poesia típica <strong>de</strong> mulher. Constrói minidramas f<strong>em</strong>ininos, o que Aleksandr Tvardóvskichamou <strong>de</strong> “romances poéticos <strong>em</strong> miniatura”. A crítica aponta a prosa novelística comogênese da obra poética akhmatoviana. A hipótese é <strong>de</strong> que ela r<strong>em</strong>onta o drama psicológicoda prosa na poesia e privilegia o universo da mulher. Em resumo, pretendo investigar aexpressão poética da luta <strong>de</strong> uma mulher subalternizada que busca sua personalida<strong>de</strong> humana.PALAVRAS-CHAVE: MULHER POETA, REVOLUÇÃO RUSSA, VANGUARDA RUSSAO Neologismo no Catatau, <strong>de</strong> Paulo L<strong>em</strong>inskiMauro Cesar Bartolomeu (<strong>UNESP</strong>/FCLAr)Adalberto Luis Vicente (<strong>UNESP</strong>/FCLAr)Em sua Teoria da Vanguarda, Peter BÜRGER (2008) afirma que as vanguardas históricascolocaram <strong>em</strong> cheque o próprio conceito <strong>de</strong> “obra”, substituindo a “obra orgânica”, cuja leiturase fazia com o auxílio <strong>de</strong> categorias i<strong>de</strong>alistas, pelo que ele <strong>de</strong>nomina “obra não-orgânica”, cujaleitura <strong>de</strong>manda o estabelecimento <strong>de</strong> novas categorias: o novo, o acaso, o conceitobenjaminiano <strong>de</strong> alegoria e a montag<strong>em</strong>. Catatau (1975) é uma prosa experimental (ou um“romance-i<strong>de</strong>ia”, como seu próprio autor a chamava) que <strong>de</strong>mandou quase uma década <strong>de</strong>trabalho do poeta curitibano Paulo LEMINSKI (1944 - 1989), e que constitui um excelenteex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> “obra não-orgânica”, tanto pela sua característica <strong>de</strong> “montag<strong>em</strong>” <strong>de</strong> fragmentos,quanto pela presença constante do “novo”, <strong>de</strong> modo especial na criação lexical. Interessou-nosIV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


25acima <strong>de</strong> tudo a análise dos processos neológicos <strong>em</strong>pregados por L<strong>em</strong>inski, o que nos levoua aproximar o Catatau dos Ten<strong>de</strong>r Buttons <strong>de</strong> Gertru<strong>de</strong> Stein, na perspectiva da leitura que<strong>de</strong>ste faz Lisa RUDDICK (1990), que enten<strong>de</strong> essa elaboração radical da linguag<strong>em</strong> comoforma <strong>de</strong> ruptura com todo um i<strong>de</strong>ário e uma estrutura social vigente.PALAVRAS-CHAVE: Neologismo, Vanguarda, Prosa Poética ExperimentalUm mosaico l<strong>em</strong>inskiano: formas (e) sons que se (con)fun<strong>de</strong>mLucas Elias Milani (<strong>UNESP</strong>/FCLAr)Antonio Donizete Pires (<strong>UNESP</strong>/FCLAr)A literatura produzida pelo escritor Paulo L<strong>em</strong>inski, tendo como fonte essencial a poesia, ébastante diversificada. Há uma produção significativa <strong>de</strong> ensaios críticos, um romanceexperimental, traduções <strong>em</strong> diversas línguas, “cartas-po<strong>em</strong>as”, composições musicais.L<strong>em</strong>inski multifacetava-se. Inquieto, inovando-se e renovando-se continuamente, L<strong>em</strong>inski,dialogava com estéticas diferentes. Em sua poesia há uma miscelânea <strong>de</strong> poesia concreta,mo<strong>de</strong>rnismo, poesia beat americana, tropicalismo. Segundo Manoel Ricardo <strong>de</strong> Lima (2002,p.16) “todo diálogo estético – teórico e conceitual – que Paulo L<strong>em</strong>inski efetivou para a suapoesia t<strong>em</strong> orig<strong>em</strong> nesses movimentos que são tomados, ou conceituados, como movimentos<strong>de</strong> vanguarda”. A poesia l<strong>em</strong>inskiana é criticada por alguns, que alegam haver <strong>em</strong> sua obramuitas facilida<strong>de</strong>s e redundâncias, mais relaxo que capricho (fazendo menção ao seu livro <strong>de</strong>po<strong>em</strong>as Caprichos & relaxos). No entanto, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong>ssas críticas há algo a que seconsi<strong>de</strong>rar, como s<strong>em</strong>pre há. L<strong>em</strong>inski tinha consciência da literatura que produzia, do que estaera feita, do que nela era falta, como po<strong>de</strong>mos constatar <strong>em</strong> uma entrevista sua <strong>em</strong> queafirmou: “No que faço, subsiste um componente acentuado <strong>de</strong> expressão, <strong>de</strong> comunicação,portanto. Isso só é possível com um certo teor <strong>de</strong> redundâncias, <strong>de</strong> ‘facilida<strong>de</strong>s’, cuja dosag<strong>em</strong>controlo e regulo” (LEMINSKI, 1992, p.__). Em sua poesia havia “Geografia e história, s<strong>em</strong>enrijecê-lo <strong>em</strong> militância” (PERRONE-MOISÉS, 2000, p.234); gotas <strong>de</strong> humor oswaldiano,<strong>de</strong>monstrado <strong>em</strong> seus po<strong>em</strong>as curtos e rápidos, que nos r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> aos po<strong>em</strong>as-piada <strong>de</strong>Oswald <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, como quando diz “CHUTES DE POETA / NÃO LEVAM PERIGO ÀMETA.”; orientalismo zen, canções. L<strong>em</strong>inski passou rápido por nós, uma estrela que pingou<strong>em</strong> nossos olhos e foi-se como um raio transcultural (polonês, caboclo e japonês), suastrovoadas começam a reverberar, agora, <strong>em</strong> nossos ouvidos primitivos <strong>de</strong> “cachorrolouco”.Com uma poesia tão múltipla, fica-nos a pretensão <strong>de</strong> <strong>de</strong>smontar e r<strong>em</strong>ontar este mosaico <strong>de</strong>formas, sons e sentidos. Perguntamo-nos, então, como disse a professora Maria Esther Maciel(2001, p.12), ”com quantos [e quais são os] paulos se faz um L<strong>em</strong>inski”?PALAVRAS-CHAVE: Paulo L<strong>em</strong>inski, Mosaico, PoesiaReligião e Ciência <strong>em</strong> Dante e Haroldo <strong>de</strong> CamposFernando José Germano Esteves(<strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)Paulo Cesar Andra<strong>de</strong> da Silva (<strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)Ao <strong>de</strong>slocar, parcialmente, suas referências do pai<strong>de</strong>uma concretista mais próximo para umatradição épica mais r<strong>em</strong>ota, o po<strong>em</strong>a A Máquina do Mundo Repensada <strong>de</strong> Haroldo <strong>de</strong> Campos,<strong>de</strong>svia-se <strong>de</strong> alguns pontos assentes da produção cont<strong>em</strong>porânea e coloca questõesespecíficas s<strong>em</strong>, no entanto, <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser "um dos lugares <strong>em</strong> que o cont<strong>em</strong>porâneo seapresenta <strong>em</strong> sua maior potência <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>atização”. (SISCAR, 2006, p.168). No caso <strong>de</strong> AMáquina do Mundo Repensada, essas "questões específicas" diz<strong>em</strong> respeito à incorporação <strong>de</strong>áreas do conhecimento estranhas, à primeira vista, à produção poética cont<strong>em</strong>porânea, comoa Ciência, a Cabala hebraica e a Filosofia da Ciência. Partindo da hipótese <strong>de</strong> que, <strong>em</strong> AMáquina do Mundo Repensada, que atualiza uma das principais obras da tradição literáriaoci<strong>de</strong>ntal, A Divina Comédia <strong>de</strong> Dante, usando-a como mo<strong>de</strong>lo, o topos da "máquina domundo" funciona como "metáfora epist<strong>em</strong>ológica", cuja dinâmica, que gera tanto o po<strong>em</strong>a <strong>de</strong>IV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


26Dante quanto o <strong>de</strong> Haroldo, é constituída pela interação entre Ciência e o que Alistair Crombie,<strong>em</strong> seu livro Science, Art and Nature in Medieval and Mo<strong>de</strong>rn Thought, chama <strong>de</strong> "contextosculturais mais amplos" (Filosofia, Religião, etc.), este trabalho preten<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar algumasconvergências entre a Commedia e o po<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Haroldo <strong>de</strong> Campos. Em A Máquina do MundoRepensada, Haroldo <strong>de</strong> Campos probl<strong>em</strong>atiza e renova a noção <strong>de</strong> máquina do mundo,transformando-a num mo<strong>de</strong>lo épico-epist<strong>em</strong>ológico, ou metáfora epist<strong>em</strong>ológica, complexo <strong>de</strong>Ciência, Religião e Filosofia, substituindo o sist<strong>em</strong>a ptolomaico pelas novas teorias dacosmofísica, a religião católica pela Cabala hebraica e a Filosofia escolástica pela Filosofia daCiência. A "máquina do Mundo" <strong>de</strong> Dante, por ex<strong>em</strong>plo, é composta pelo sist<strong>em</strong>a ptolomaico(as nove esferas se movendo <strong>de</strong>ntro do Empíreo católico) e pela filosofia escolástica. Amáquina do Mundo <strong>de</strong> Haroldo <strong>de</strong> Campos é composta, como já foi dito, pela cosmofísicamo<strong>de</strong>rna (a teoria do big bang), pela Cabala hebraica e pela Filosofia da Ciência.PALAVRAS-CHAVE: Poesia, Ciência, Religião, Metáfora Epist<strong>em</strong>ológica, Máquina do mundoVisualida<strong>de</strong> e Dinamismo: A Poética <strong>de</strong> Manuel Bocage <strong>em</strong> Diálogo com a PinturaRomânticaLigia Moscardini (<strong>UNESP</strong>/FCLAr)Cristina Martins Fargetti (<strong>UNESP</strong>/FCLAr)De acordo com Marnoto, a Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Belas-Artes do neoclassicismo português, com seusiluministas e regras para composições poéticas, contribuiu tanto para um ligeiro aumento donúmero <strong>de</strong> poetas quanto para uma certa homogeinização <strong>de</strong> composições, relacionadas a umprestígio social e a uma cultuada racionalida<strong>de</strong>. Convidado para o grupo, Manuel Bocagecultiva, com talento, suas regras, t<strong>em</strong>as e forma fixa. Dentro <strong>de</strong>stes, entretanto, se <strong>de</strong>staca porsua espirituosida<strong>de</strong> e audácia, opostas ao equilíbrio e a estaticida<strong>de</strong> vigentes. Coelho, N.N.(1966) diz que linguag<strong>em</strong> do poeta, traduz uma “sensação dinâmica”. (p.23,grifo da autora), “oque nos r<strong>em</strong>ete a um mundo <strong>em</strong> <strong>de</strong>vir” (p.24). Marnotto e Coelho, N.N. (1966) afirmamunânimes a visualida<strong>de</strong> das imagens bocagianas, <strong>em</strong> que o poeta encontra “o seu estímulo”(Marnotto, p.168). e se impõe pela forma, cor e movimentação” (Coelho, N.N. p.22), com“expressiva concretização <strong>de</strong> noções abstratas” (Coelho, N.N. p.23) e cenas narrativas.(Coelho, N.N. p.24) Coelho, J.P. (1961) aponta ainda que “Bocage é um poeta <strong>de</strong> claro-escuro,ora <strong>de</strong> sombras nocturnas, ora <strong>de</strong> serena luminosida<strong>de</strong>” (p.197). Tais características do poeta ofaz<strong>em</strong> transcen<strong>de</strong>r a palavra e o torna próximo à pintura, sobretudo a romântica, pois osartistas priorizavam justamente o dinamismo, a composição <strong>em</strong> diagonal, o enfático contraste<strong>de</strong> claro-escuro, a individualida<strong>de</strong> dos personagens e a maior dramaticida<strong>de</strong>. Dessa forma,Esse trabalho investiga o modo como a poética bocagiana se relaciona à pintura romântica,antes mesmo que o Romantismo se concebesse.PALAVRAS-CHAVE: Bocage, Visualida<strong>de</strong>, Pintura RomânticaPoesia e Transcendência: O Que a Estória QuerMaryllu De Oliveira Caixeta (<strong>UNESP</strong>/FCLAr)Sylvia Helena Tellarolli <strong>de</strong> Almeida Leite (<strong>UNESP</strong>/FCLAr)Em Tutaméia <strong>de</strong> João Guimarães Rosa, o primeiro parágrafo do prefácio “Aletria ehermenêutica” propõe a diferença e a s<strong>em</strong>elhança, paradoxal por vonta<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ver, da estória,a história, a História e a anedota. A ficção oral <strong>em</strong>baralha-se com a literatura na estóriai<strong>de</strong>ntificada como ser com vonta<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>ver próprios. A diferenciação entre estória, história eHistória mencionada faz a paródia da passag<strong>em</strong> encontrada na Poética <strong>de</strong> Aristóteles acercada superiorida<strong>de</strong> da poesia <strong>em</strong> relação à história. A estória nega a história e a História paraaproximar-se dos mitos por intermédio <strong>de</strong> categorias narrativas comunitárias (anedota, koan,adivinha, provérbio) das quais extrai o dispositivo mínimo <strong>de</strong>monstrado <strong>em</strong> “anedotas <strong>de</strong>abstração” das quais “Aletria e hermenêutica” fornece muitos ex<strong>em</strong>plos. As “anedotas <strong>de</strong>abstração” são uma categoria <strong>de</strong> anedotas propostas por Rosa que contrastamfundamentalmente com Aristóteles por atribuír<strong>em</strong> efeitos <strong>de</strong> poesia e transcendência acategorias narrativas comunitárias e operar<strong>em</strong> com paralogismos a ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> uma dasIV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


Henkel Financial report first quarter 2012Selected explanatory notesGroup segment report by business sector27Group segment report by business sector 1First quarter 2012Laundry &Home CareCosmetics/ToiletriesAdhesivesforIndustrialAdhesivesTotalAdhesiveOperatingbusinessCorporate HenkelGroupConsumers,CraftsmenandTechnologiessectorstotalin million eurosBuildingSales January – March 2012 1,108 861 451 1,549 2,001 3,969 39 4,008Change from previous year 3.3 % 4.9 % 1.6 % 7.7 % 6.2 % 5.1 % – 16.3 % 4.8 %After adjusting for foreign exchange 3.5 % 3.6 % 2.3 % 5.5 % 4.8 % 4.2 % – 3.9 %Organic 4.5 % 4.0 % 4.0 % 6.1 % 5.6 % 5.0 % – 4.7 %Proportion of Group sales 28 % 21 % 11 % 39 % 50 % 99 % 1 % 100 %Sales January – March 2011 1,072 821 444 1,439 1,884 3,777 46 3,823EBIT January – March 2012 157 120 51 232 283 561 – 22 538EBIT January – March 2011 100 112 55 189 244 457 – 27 430Change from previous year 56.4 % 7.1 % – 6.3 % 22.6 % 16.2 % 22.8 % – 25.2 %Return on sales (EBIT) January – March 2012 14.2 % 14.0 % 11.4 % 15.0 % 14.2 % 14.1 % – 13.4 %Return on sales (EBIT) January – March 2011 9.4 % 13.7 % 12.3 % 13.1 % 13.0 % 12.1 % – 11.2 %Adjusted EBIT January – March 2012 160 124 53 236 289 573 – 22 551Adjusted EBIT January – March 2011 133 113 56 191 247 493 – 20 473Change from previous year 20.9 % 9.3 % – 5.8 % 23.6 % 16.9 % 16.3 % – 16.6 %Return on sales (adjusted EBIT)January – March 2012 14.5 % 14.4 % 11.7 % 15.2 % 14.4 % 14.4 % – 13.7 %Return on sales (adjusted EBIT)January – March 2011 12.4 % 13.8 % 12.6 % 13.3 % 13.1 % 13.1 % – 12.4 %Capital <strong>em</strong>ployed January – March 2012 2 2,446 2,163 1,028 6,152 7,180 11,790 26 11,815Capital <strong>em</strong>ployed January – March 2011 2 2,361 1,987 973 5,906 6,878 11,226 16 11,242Change from previous year 3.6 % 8.9 % 5.7 % 4.2 % 4.4 % 5.0 % – 5.1 %Return on capital <strong>em</strong>ployed (ROCE)January – March 2012 25.7 % 22.2 % 20.0 % 15.1 % 15.8 % 19.0 % – 18.2 %Return on capital <strong>em</strong>ployed (ROCE)January – March 2011 17.0 % 22.6 % 22.6 % 12.8 % 14.2 % 16.3 % – 15.3 %Amortization/<strong>de</strong>preciation/write-ups ofintangible assets and property, plant an<strong>de</strong>quipmentJanuary – March 2012 27 13 11 44 54 94 4 98of which impairment losses 2012 2 – – – – 2 – 2of which write-ups 2012 – – – – – – – –Amortization/<strong>de</strong>preciation/write-ups ofintangible assets and property, plant an<strong>de</strong>quipmentJanuary – March 2011 32 12 11 45 56 99 4 103of which impairment losses 2011 6 – – – – 6 – 6of which write-ups 2011 – – – – – – – –Capital expenditures (excl. financial assets)January – March 2012 37 19 14 30 44 100 1 101Capital expenditures (excl. financial assets)January – March 2011 24 53 8 23 31 108 3 111Operating assets January – March 20123 3,933 3,024 1,452 7,247 8,699 15,656 400 16,056Operating liabilities January – March 2012 1,314 1,060 476 1,526 2,002 4,375 375 4,750Net operating assets January – March 20123 2,620 1,964 977 5,720 6,697 11,281 26 11,306Operating assets January – March 2011 3 3,752 2,796 1,384 7,063 8,447 14,995 409 15,404Operating liabilities January – March 2011 1,233 1,012 471 1,474 1,945 4,190 393 4,584Net operating assets January – March 2011 3 2,519 1,784 913 5,589 6,501 10,805 16 10,8211 Calculated on the basis of units of 1,000 euros.2 Including goodwill at cost prior to any accumulated amortization in accordance with IFRS 3.79(b).3 Including goodwill at net book value.


28também será relacionado com outras “obsessões” borgeanas, como o motivo do Outro e o doespelho.PALAVRAS-CHAVE: Jorge Luis Borges; m<strong>em</strong>órias; alterida<strong>de</strong>.A CIDADE COMO LOCUS ADVERSUS: MISÉRIA E LOUCURA NA POESIA DE SEBASTIÃOUCHOA LEITEAline Cristine da Gama LOPES (G- <strong>UNESP</strong>)O presente trabalho preten<strong>de</strong> analisar a presença da cida<strong>de</strong> nos po<strong>em</strong>as <strong>de</strong> A uma Incógnita(1991), <strong>de</strong> Sebastião Uchoa Leite. A paisag<strong>em</strong> urbana figura <strong>em</strong> seus po<strong>em</strong>as como locusadversus. Um espaço <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação que se refletirá nos vários tipos urbanos (loucos,mendigos) que povoam os po<strong>em</strong>as <strong>de</strong> A uma Incógnita, obra que aborda a probl<strong>em</strong>ática daurbe cont<strong>em</strong>porânea . Deparando-se com os “tipos” que andam pelas ruas, o poeta irá permitirque tais seres excêntricos transit<strong>em</strong> e contamin<strong>em</strong> o espaço do po<strong>em</strong>a. Em A uma incógnitafiguram os “in-seres”, tipos oprimidos pela posição que ocupam e são incapazes <strong>de</strong> agir, poissequer são conscientes <strong>de</strong> sua condição. A rua é o espaço que possibilita o eu lírico vivenciar aexperiência do olhar que observa e reflete sobre o que vê. A rua é o espaço físico on<strong>de</strong> opoeta concentra sua atenção à realida<strong>de</strong>. A cida<strong>de</strong> é, ao mesmo t<strong>em</strong>po, símbolo do progressoe da <strong>de</strong>gradação. Uchoa Leite mistura ambiente, relações sociais, épocas, para representar aviolência nas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s. Tais personagens estão à marg<strong>em</strong> da estrutura social ecarregam consigo a probl<strong>em</strong>ática <strong>de</strong> não ser<strong>em</strong> humanos, pois se colocam como andrajos,maltrapilhos, espécie <strong>de</strong> espantalhos, s<strong>em</strong> <strong>de</strong>ixar, todavia, <strong>de</strong> ser<strong>em</strong>, <strong>de</strong> transitar<strong>em</strong> o espaçosocial e fazer<strong>em</strong> parte <strong>de</strong> sua paisag<strong>em</strong>.PALAVRAS-CHAVE: Poesia cont<strong>em</strong>porânea; Cida<strong>de</strong>; Sebastião Uchoa Leite; A uma incógnita.ASPECTOS DO POEMA EM PROSA DE CRUZ E SOUSA E RUBEN DARÍOAllyne Fiorentino <strong>de</strong> OLIVEIRA (PG –<strong>UNESP</strong>)Neste trabalho versamos sobre os aspectos dos po<strong>em</strong>as <strong>em</strong> prosa do autor brasileiro João daCruz e Sousa e do nicaraguense Ruben Darío. Ambos os autores representam a mais altaqualida<strong>de</strong> poética <strong>de</strong> seus respectivos países durante o final do século XIX, no período que<strong>de</strong>nominamos Simbolista. O po<strong>em</strong>a <strong>em</strong> prosa é um gênero que se <strong>de</strong>senvolve no final doséculo XIX, <strong>de</strong>vido às experimentações poéticas realizadas pelos autores <strong>de</strong>ssa época,sobretudo pelos franceses Aloysius Bertrand, Bau<strong>de</strong>laire e Rimbaud. Posteriormente o po<strong>em</strong>a<strong>em</strong> prosa será bastante difundido na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, portanto o estudo da literatura da meta<strong>de</strong> afins do século XIX encontra s<strong>em</strong>pre uma relevância multidisciplinar por ser a base da literaturamo<strong>de</strong>rna e cont<strong>em</strong>porânea. Apesar <strong>de</strong> João da Cruz e Sousa e Ruben Darío ser<strong>em</strong> nomesimportantes do período, não se t<strong>em</strong> conhecimento <strong>de</strong> muitos trabalhos que compar<strong>em</strong> as suasobras, principalmente no que diz respeito ao po<strong>em</strong>a <strong>em</strong> prosa. Ainda que esse gênerorepresente uma inovação precursora do mo<strong>de</strong>rnismo, o seu estudo foi muito escasso e, alémdisso, <strong>de</strong>vido à gran<strong>de</strong>za da produção poética <strong>de</strong> ambos os poetas, os textos <strong>em</strong> prosa <strong>de</strong>cada um ficaram <strong>em</strong> segundo plano. A partir da obra “Missal” <strong>de</strong> Cruz e Sousa e da obra“Po<strong>em</strong>as <strong>em</strong> prosa” <strong>de</strong> Ruben Darío espera-se traçar as s<strong>em</strong>elhanças e divergências entre osimbolismo <strong>de</strong>sses poetas a fim <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r um pouco mais o período simbolista e osaspectos do gênero po<strong>em</strong>a <strong>em</strong> prosa, tanto no Brasil como na América Latina.PALAVRA-CHAVE: Po<strong>em</strong>a <strong>em</strong> prosa; Simbolismo; Cruz e Sousa; Ruben Darío.IV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


29AS IMAGENS DA INFÂNCIA EM MIGUEL SANCHES NETOAlzira Fabiana <strong>de</strong> CHRISTO (Doutora – UEL)O presente estudo se caracteriza por pesquisar a produção literária do escritor paranaenseMiguel Sanches Neto. O objetivo é analisar a presença da infância nas obras do escritor eobservar a maneira como essa época <strong>de</strong> vivências é transfigurada nos seus romances, contos,crônicas e po<strong>em</strong>as, a fim <strong>de</strong> estabelecer uma interpretação relativa a esse estágio da vida, queao contrário do que se pensa comumente, não está relacionado somente a uma perspectivai<strong>de</strong>alista e ingênua <strong>de</strong> mundo. Há na escrita <strong>de</strong> Sanches Neto, aspectos marcantes <strong>de</strong>momentos inaugurais da socialização da criança que apontam para a infância como uma época<strong>de</strong> experiências que serão <strong>de</strong>finitivas para a racionalida<strong>de</strong> e visão <strong>de</strong> mundo que o adulto terá.Nesse sentido, serão analisados na produção literária <strong>de</strong> Sanches Neto, os aspectos maissignificativos <strong>em</strong> relação à infância. Ou seja, é algo muito recorrente <strong>em</strong> seus livros, a m<strong>em</strong>ória<strong>de</strong> seus primeiros anos vividos no interior do Paraná. Chove sobre minha infância (romance,2000), Venho <strong>de</strong> um país obscuro (po<strong>em</strong>as, 2000) e Herdando uma biblioteca (crônicas, 2004)formam uma espécie <strong>de</strong> trilogia na qual o escritor mescla assuntos biográficos e ficcionaissobre a sua infância e juventu<strong>de</strong> dando ênfase especial para o caminho que percorreu até setornar escritor. O cenário cont<strong>em</strong>plado por ele é também <strong>de</strong> conhecimento íntimo, diz respeitoespecialmente à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Peabiru, localizada no Noroeste do Paraná, on<strong>de</strong> passou a maiorparte da época infantil. Trata-se <strong>de</strong> relatos sobre os primeiros amores, os primeiros anos <strong>de</strong>vida escolar, o contato com os primeiros livros, imagens que nunca foram esquecidas e qu<strong>em</strong>anifestam sua reflexão sobre a formação do adulto e a infância <strong>de</strong>samparada <strong>de</strong> tantosoutros meninos e meninas.PALAVRAS-CHAVE: Infância; produção literária; Miguel Sanches Neto.MANOEL DE BARROS EM INSTALAÇÃO: LEITURA DE DUAS LINGUAGENSAna Luíza Rocha do Vale, Graduanda <strong>em</strong> Letras (<strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)A poesia <strong>de</strong> Manoel <strong>de</strong> Barros t<strong>em</strong> como marca seu caráter imagético. Escritor <strong>de</strong> uma supostasimplicida<strong>de</strong>, o poeta cria complexas relações por meio <strong>de</strong> imagens poéticas que <strong>de</strong>safiam oraciocínio lógico e <strong>de</strong>nunciam a herança surrealista do pantaneiro. Feita do que ele chamou<strong>de</strong>senhos verbais, a poesia manoelina nos pareceu um convite à exposição <strong>de</strong> arte. Assim,propus<strong>em</strong>os uma exposição literária cujo objeto seja a obra Gramática Expositiva do Chão. Orecurso da instalação artística pareceu o mais interessante aos nossos propósitos, dado quesuas características principais estão extr<strong>em</strong>amente afinadas com fundamentos da poéticamanoelina. Dentre os aspectos essenciais <strong>de</strong>sta forma <strong>de</strong> arte, <strong>de</strong>stacamos: importância doapelo ao sensorial; aspecto cenográfico; interativida<strong>de</strong>. Muito relacionados entre si, taisaspectos ligam-se, também à poesia do chão. Se as instalações <strong>de</strong>v<strong>em</strong>, por <strong>de</strong>finição,<strong>de</strong>spertar os sentidos – seja um, dois ou todos os cinco – do corpo, Manoel <strong>de</strong> Barros escrevecom o corpo. Isolados ou <strong>em</strong> sinestesia, os sentidos são citados e evocados <strong>de</strong> maneiraexplícita <strong>em</strong> praticamente todos os livros do poeta. Quanto ao aspecto cenográfico, algunsestudiosos relacionam ou mesmo i<strong>de</strong>ntificam a instalação à environmental art, cujo pressupostoé a criação <strong>de</strong> uma ambiência na qual o visitante seja imerso. Assim faz a poesia manoelina aocompor seus cenários oníricos: <strong>em</strong>bora trabalhe com ações, Manoel <strong>de</strong> Barros t<strong>em</strong> maisafinida<strong>de</strong> com o estático, com as transformações lentas e a criação <strong>de</strong> ambientes. Por fim,vimos no aspecto interativo das instalações artísticas uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar tanto aimportância e a função do humano no universo criado por Barros quanto do leitor <strong>em</strong> relação àsua obra.Palavras-chave: Manoel <strong>de</strong> Barros, instalações literárias, imag<strong>em</strong> poética.IV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


30METAFORIZAÇÕES DA MULHER E DA CIDADE EM SEVILHA ANDANDO, ANDANDOSEVILHA, DE JOÃO CABRAL DE MELO NETOAnalice Andra<strong>de</strong> Anastácio da Silva, G- (<strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)Na obra Andando Sevilha, Sevilha Andando (1990), <strong>de</strong> João Cabral <strong>de</strong> Melo Neto, a cida<strong>de</strong>espanhola é personificada e erotizada, assumindo freqüent<strong>em</strong>ente as formas ou funçõesf<strong>em</strong>ininas. Além <strong>de</strong> signo geográfico, a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sevilha é uma língua e uma mulher. Cabralservirá Sevilha como um cavalheiro que corteja e seduz uma dama, buscando traduzir a suacultura e sua f<strong>em</strong>inilida<strong>de</strong>. Nesta comunicação partimos da hipótese <strong>de</strong> que a valorização doespaço não serve apenas para <strong>de</strong>screver a referência urbana, mas funciona como metáfora dainteriorida<strong>de</strong>. A <strong>de</strong>scrição exterior é estratégia do poeta para buscar a<strong>de</strong>ntrar no espaço <strong>de</strong>intimida<strong>de</strong> da cida<strong>de</strong>, entendido como um corpo erótico. A escrita cabralina torna objetiva oprocesso <strong>de</strong> sedução, distanciando-se, <strong>de</strong>sse modo, a imag<strong>em</strong> da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um atocont<strong>em</strong>plativo subjetivo. Em Andando Sevilha, Sevilha andando, a subjetivida<strong>de</strong> buscaobjetivar-se nas intensida<strong>de</strong>s e forças que distingu<strong>em</strong> seres e coisas. Contrária a linguag<strong>em</strong>dos turistas admirados, a linguag<strong>em</strong> que “caminha” por Sevilha, revela ao leitor a paixão dopoeta pela cida<strong>de</strong> por meio <strong>de</strong> um campo s<strong>em</strong>ântico que traduz a sensualida<strong>de</strong>. Ao expressara percepção sensual através do gosto, do cheiro, do andar, do ritmo e da dança, o poeta o fazsob o intenso controle <strong>de</strong> sua arquitetura, que pertence tanto a cida<strong>de</strong> quanto ao po<strong>em</strong>a.PALAVRA-CHAVE: João Cabral <strong>de</strong> Melo Neto; Metáfora; Mulher e cida<strong>de</strong>; Sevilha Andando eAndando Sevilha.SÍMBOLOS EM O CORVO, DE EDGAR ALLAN POEAn<strong>de</strong>rson <strong>de</strong> Souza Andra<strong>de</strong>, G - (<strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)Traduzido por gran<strong>de</strong>s nomes da literatura mundial tais como Fernando Pessoa, Machado <strong>de</strong><strong>Assis</strong> e Charles Bau<strong>de</strong>laire este trabalho t<strong>em</strong> como objetivo analisar o po<strong>em</strong>a O Corvo (1845),<strong>de</strong> Edgar Allan Poe a partir <strong>de</strong> uma perspectiva simbólica, sendo que o poeta faz uso <strong>de</strong>simbologias para a concepção <strong>de</strong> seu po<strong>em</strong>a. Essa simbologia primeiramente é mostrada aoseu leitor pela presença do corvo, uma ave que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito t<strong>em</strong>po t<strong>em</strong> uma gran<strong>de</strong> cargas<strong>em</strong>ântica <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância a ser apresentada. Além da carga simbólica, o po<strong>em</strong>a nosrevela um eu lírico extr<strong>em</strong>amente perturbado com pensamentos e tormentos que o ro<strong>de</strong>iam,principalmente pela falta que sente <strong>de</strong> sua amada Lenora. Essa escrita <strong>de</strong> angústias e<strong>de</strong>sesperos é própria da escrita <strong>de</strong> Poe, que revela ao leitor toda magnitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> um po<strong>em</strong>a e <strong>de</strong>uma mente que faz uma série <strong>de</strong> questionamentos existencialistas e sobre seu lugar no mundo.Toda essa simbologia presente no po<strong>em</strong>a serviu <strong>de</strong> inspiração para que Edgar Allan Poerealizasse esse gran<strong>de</strong> marco na literatura norte-americana e universal. Para a leitura <strong>de</strong>ssepo<strong>em</strong>a que preten<strong>de</strong>mos apresentar será utilizados alguns conceitos teóricos do próprio poeta<strong>em</strong> A Filosofia da Composição, on<strong>de</strong> ele conceitua o leitor da maneira pela qual ele escreveuseu po<strong>em</strong>a.PALAVRAS-CHAVE: Literatura norte-americana; Símbolos; Po<strong>em</strong>a.IV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


31PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E A RENOVAÇÃO NA POESIACamila Soares López, PG - (<strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)Ao final do século XIX, no Brasil, o Parnasianismo era unanimida<strong>de</strong> na poesia. Seus representantes prezavamo <strong>de</strong>coro formal e evitavam a exacerbação do sentimentalismo <strong>em</strong> seus versos. Em um momento <strong>de</strong> buscapelo progresso e mo<strong>de</strong>rnização, anseio que tomou conta do país após a Proclamação da República, <strong>em</strong> 1889,o discurso parnasiano parecia a<strong>de</strong>quar-se a um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> que estabelecia a legibilida<strong>de</strong> e quecorrespondia à necessida<strong>de</strong> coletiva <strong>de</strong> s<strong>em</strong>elhança e verda<strong>de</strong> na literatura, satisfeita, por ex<strong>em</strong>plo, por OlavoBilac, que apresentava simplicida<strong>de</strong> e plena comunicabilida<strong>de</strong> <strong>em</strong> seu texto. O Simbolismo, <strong>em</strong> contrapartida,propunha incursões diferenciadas no fazer literário; <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> francesa, tal movimento inspirou-se na fuga darealida<strong>de</strong> e seus versos pautavam-se no <strong>em</strong>prego expressivo <strong>de</strong> imagens e <strong>de</strong> metáforas, opondo-se ao queera aclamado pelos poetas parnasianos. Além disso, houve, no Rio <strong>de</strong> Janeiro da última década dos anos <strong>de</strong>1800, um <strong>em</strong>bate entre os representantes <strong>de</strong> ambas as vertentes, o que configurou uma espécie <strong>de</strong> prenúnciodo Movimento <strong>de</strong> 1922 – a irreverência dos ditos novos era, <strong>de</strong> certo modo, uma a tentativa <strong>de</strong> romper com atradição, mas com certa anarquia a mais, posto os simbolistas não ter<strong>em</strong> contado com o apoio <strong>de</strong> instituição ouliteratura oficial, ou <strong>de</strong> patrocínio dos abastados que se interessavam pelas artes. Este trabalho visa consi<strong>de</strong>rara peleja entre parnasianos e simbolistas, no que se refere à tessitura da poesia e, igualmente, à batalhapoética que ganhou as ruas cariocas, as páginas dos jornais, como a Gazeta <strong>de</strong> Notícias, e que anunciou oadvento da poesia do século XX.PALAVRA-CHAVE: Literatura Brasileira – Poesia: Parnasianismo; Simbolismo.OS LIMITES DA REPRESENTAÇÃO EM DA MORTE. ODES MÍNIMAS, DE HILDA HILSTCarlos Eduardo dos Santos Zago, PG - (<strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)Tendo a própria morte como interlocutora privilegiada, o eu lírico hilstiano vasculha sua presença cotidiana e asformas <strong>de</strong> representar sua chegada triunfal. Para isso, trava-se uma luta poética que mobiliza recursos váriospara a construção da poesia: é aqui que as artes plásticas aparec<strong>em</strong>, <strong>de</strong>stacando a primeira parte do livrointitulada “Aquarelas”, que traz pinturas da própria autora. Esta comunicação preten<strong>de</strong> analisar o diálogo <strong>de</strong>Hilst com outras linguagens, o rebaixamento e familiarida<strong>de</strong> com a morte e a junção <strong>de</strong> opostos, ou seja, osublime que se revela no baixo. A comunicação preten<strong>de</strong> ainda discutir a função ou a realização da poesiaperante a morte, a iminência, a transcendência e o erotismo, nunca separados na formalização do texto que seapresenta.PALAVRAS-CHAVES: Hilda Hilst, poesia, morteMÁRIO QUINTANA: O POETA E SUA FINITUDECarolina Montagnini do Nascimento, G- (UEL)Apesar <strong>de</strong> termos profundo conhecimento <strong>de</strong> que morrer<strong>em</strong>os, a experiência da morte é algo <strong>de</strong> que nãosab<strong>em</strong>os, já que ainda não morr<strong>em</strong>os e só se morre uma vez na vida, sendo, assim, o morrer uma experiênciaúnica. Pois, mesmo quando presenciamos um hom<strong>em</strong> à beira da morte não compartilhamos da mesmaexperiência <strong>de</strong>ste, ter<strong>em</strong>os apenas a experiência da perda <strong>de</strong>ste moribundo. Portanto, falar <strong>de</strong> nossa própriamorte ou falar da morte <strong>de</strong> outro pe<strong>de</strong> diferentes reflexões, diferentes sensações, pois são coisas diferentes.Mario Quintana, <strong>em</strong> seu po<strong>em</strong>a ‘O poeta’ publicado <strong>em</strong> 1987 no livro ‘Preparativos <strong>de</strong> viag<strong>em</strong>’, diz que o poetaé um ser at<strong>em</strong>poral, um ser que a todo o t<strong>em</strong>po está renascendo. Se para nós humanos <strong>de</strong>sprovidos do domdo fazer poético é difícil falar <strong>de</strong> t<strong>em</strong>a tão misterioso e assombroso que é a morte, principalmente a nossamorte, como um poeta po<strong>de</strong>ria falar <strong>de</strong> sua própria finitu<strong>de</strong> já que este é, como o próprio Quintana diz,at<strong>em</strong>poral? Como pensar <strong>em</strong> sua própria morte se ao t<strong>em</strong>po todo está renascendo? Assim, para este trabalho,escolhi po<strong>em</strong>as do livro ‘A rua dos cataventos’ do poeta Mario Quintana <strong>em</strong> que o eu lírico fala <strong>de</strong> sua própriamorte, <strong>de</strong> sua própria finitu<strong>de</strong>. Pretendo ainda compreen<strong>de</strong>r quais as significações <strong>de</strong> morte utilizada pelopoeta <strong>em</strong> cada po<strong>em</strong>a, e se essas diferentes, ou não, significações afetam a coloração da sua poesia.Palavras-chave: poeta; poesia; finitu<strong>de</strong>; morte.CINCO HORAS DA MANHÃ: A POESIA MOÇAMBICANA E O COLONIALISMO PORTUGUÊSIV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


32Clauber Ribeiro Cruz, PG - (<strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)Orlando Men<strong>de</strong>s (1916-1990), poeta e romancista moçambicano, é um dos precursores na transmissão dagran<strong>de</strong>za nova que herdou: a poesia. As suas obras, tanto as poesias quanto os romances, <strong>de</strong>ntre elesPortag<strong>em</strong> (1966), o qual o consagrou como o primeiro autor <strong>de</strong> romances <strong>em</strong> Moçambique, são escritas <strong>em</strong>meio ao colonialismo lusitano nas terras moçambicanas. Dentro <strong>de</strong>ste ambiente opressivo a violentadoergu<strong>em</strong>-se vozes que <strong>de</strong>nunciam o sofrimento <strong>de</strong> um povo <strong>em</strong> busca do restabelecimento dos seus valoresnacionais, tecendo uma nova manhã que irrompe por meio <strong>de</strong> criações literárias fundadoras na luta contra ocolonizador. A inserção <strong>de</strong>ste movimento é impulsionada pela Negritu<strong>de</strong>, cuja mobilização expressa ainquietu<strong>de</strong> do negro na busca <strong>de</strong> reencontrar-se, <strong>de</strong>spertando o seu conhecimento e o valor da cultura africana,junto a um sentimento <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação com a terra e a busca pela legitimação dos negros no <strong>em</strong>bate contra aimposição lusitana. Portanto, por meio da análise poética do po<strong>em</strong>a Cinco Horas da Manhã, <strong>de</strong> OrlandoMen<strong>de</strong>s, será tecido algumas consi<strong>de</strong>rações sobre o processo <strong>de</strong> conscientização da literatura moçambicana eda condição do hom<strong>em</strong> moçambicano inserido numa nação colonizada por Portugal.PALAVRA-CHAVE: Colonialismo português; Moçambicanida<strong>de</strong>; Negritu<strong>de</strong>; Orlando Men<strong>de</strong>s; PoesiaENTRE O CÉU E A TERRA: ALTERIDADE NA POÉTICA DE ADÉLIA PRADOCláudia Gisele Gomes Toledo, Mestranda <strong>em</strong> Teoria Literária e Literatura Comparada (USP)O presente trabalho propõe-se a fazer uma leitura exegética à luz do ensaio “Das Unheimliche”, <strong>de</strong> Freud, dopo<strong>em</strong>a “Canto eucarístico”, da cont<strong>em</strong>porânea poeta Adélia Prado, por esse abordar a alterida<strong>de</strong> no encontrocom o outro, mas um outro que é o pior tipo <strong>de</strong> estranhamento: o inimigo, ou, segundo o eu lírico, “a mulherque há muitos anos crucificou minha vida”. Como poeta mística, que eleva as palavras a uma revelaçãometafísica, o eu- lírico <strong>de</strong> Adélia Prado dá a esse tipo <strong>de</strong> estranhamento uma forma que atravessa a realida<strong>de</strong>pelo viés do sagrado, numa abordag<strong>em</strong> espiritual <strong>de</strong>sse encontro, tanto no reconhecimento <strong>de</strong>sse inimigo,“invadindo nossa casa com a sofreguidão das coisas do diabo”, como no apaziguamento do confronto, “Senhoreu não sou digno”, verso que imita o ritmo próprio da comunhão na missa católica, e titula o po<strong>em</strong>a “CantoEucarístico”, igualando assim ambas as mulheres. A imanente realida<strong>de</strong> do enfrentamento do inimigo se dá noâmbito da terra, com a materialida<strong>de</strong> do pão e vinho, mas que se transcen<strong>de</strong> ao buscar algo próprio do céu,pela natureza espiritual do rito religioso <strong>de</strong> tal sacramento. Ainda que seja a exegese <strong>de</strong> apenas um po<strong>em</strong>a,este trabalho também busca estabelecer lgumas aproximações com o modo <strong>de</strong> encarar o inimigo no romanceGran<strong>de</strong> sertão: veredas, <strong>de</strong> Guimarães Rosa, livro fundamental para o estudo da obra <strong>de</strong> Adélia Prado.PALAVRA-CHAVE: Adélia Prado; Gran<strong>de</strong> sertão:veredas; espiritualida<strong>de</strong>; alterida<strong>de</strong>.CATULO, O MAIOR LÍRICO LATINO, E A POESIA CONTEMPORÂNEACláudia Valéria Penavel Binato (<strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)Para situar Catulo, faz<strong>em</strong>-se consi<strong>de</strong>rações sobre o espírito romano antigo confrontado com a nova inspiraçãonas letras latinas. O romano da tradição estava afeito a t<strong>em</strong>as <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> fôlego. No entanto, as gran<strong>de</strong>sconquistas romanas no Oriente introduziram muitas novida<strong>de</strong>s inspiradoras <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> poetas <strong>de</strong> espíritomais livre que se aproveitava <strong>de</strong> qualquer circunstância para fazer suas poesias. O maior representante <strong>de</strong>ssegrupo foi Catulo, consi<strong>de</strong>rado o maior romântico latino. Na poesia <strong>de</strong> inspiração pessoal é verda<strong>de</strong>iro artista,s<strong>em</strong> o parecer; é o primeiro gran<strong>de</strong> lírico; <strong>de</strong>ixa-nos uma poesia <strong>de</strong> eterna juventu<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrarlances irônicos e bastante mordazes. Neste trabalho, serão apresentados alguns ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> sua poesiasimples e sincera, mas cheia <strong>de</strong> sentimentos intensos, que tornam eternos momentos fugazes <strong>de</strong> sua vida. Eleelogia, injuria e fere com ímpeto incontido. Nessa paixão consumiu a sua curta vida. Tomando por base seuestilo poético, qu<strong>em</strong> o representaria na poesia cont<strong>em</strong>porânea?PALAVRA-CHAVE: Poesia Latina; Catulo; Tradição; Poesia Cont<strong>em</strong>porânea.IV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


33A POÉTICA DE CECÍLIA MEIRELES E SUAS MARCAS EXISTENCIALISTASDenise Gomes Lima (PUC-SP)O estudo analisa os po<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Cecília Meireles não só pela teoria da Literatura, mas também levando <strong>em</strong>consi<strong>de</strong>ração as características da filosofia existencialista encontradas na obra ceciliana. Essa análise t<strong>em</strong>como objetivo evi<strong>de</strong>nciar o diálogo da literatura com uma corrente filosófica específica, além <strong>de</strong> expandir aspossibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> investigação a cerca dos po<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Cecília Meireles, uma vez que essa t<strong>em</strong>ática ainda está<strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento nos estudos da obra literária <strong>de</strong>ssa poetisa brasileira. Por isso a verificação da presençado existencialismo nos po<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Cecília Meireles <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>mostrar até que ponto tal característica t<strong>em</strong>realmente significado e abre maiores possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interpretação para a obra poética. Ou seja, preten<strong>de</strong>use,<strong>de</strong>ssa maneira, avaliar qual a importância da corrente existencial na composição <strong>de</strong> tão renomada poetisa eque valor tal presença agrega à fortuna crítica <strong>de</strong> Cecília Meireles.PALAVRA-CHAVE: Poesia; Cecília Meireles; Existencialismo.ARTIMANHAS FEMININAS NO POEMA EM CRETA, COM O DINOSSAURO (1995), DE ANA LUÍSAAMARALDenise Rocha (<strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)Uma das versões da lenda do minotauro - morador <strong>de</strong> um labirinto, que matava jovens atenienenses-, estavavinculada ao aparecimento <strong>de</strong> Teseu, que conseguiu a<strong>de</strong>ntrar nos túneis <strong>em</strong>aranhados, e aniquilar o hom<strong>em</strong>touro,com a ajuda indireta <strong>de</strong> Ariadne, que construiu para ele um tipo <strong>de</strong> fio condutor pelos caminhostortuosos. Esse mito <strong>de</strong> Cnossos, da Creta minóica, apareceu no texto <strong>de</strong> Apolodoro, foi referido <strong>em</strong> Ovídio, ecitado <strong>em</strong> Homero, Eurípe<strong>de</strong>s, Isocrato e Platão. Referências literárias, metafóricas e políticas, baseadas nafigura do minotauro, continuaram na Ida<strong>de</strong> Média e Mo<strong>de</strong>rna. No século XX, a mitologia do hom<strong>em</strong>-híbridosurge <strong>em</strong> pinturas <strong>de</strong> Picasso, <strong>em</strong> textos políticos e na obra <strong>de</strong> autores <strong>de</strong> língua francesa (Cocteau,Fraigneau, Gi<strong>de</strong>, Skira, Yourcenar e Aymé), e <strong>de</strong> língua al<strong>em</strong>ã (Dürrenmatt, Zan<strong>de</strong>r, e Maurer). Em Portugal, aparódia ao mito cretense é t<strong>em</strong>a do po<strong>em</strong>a Em Creta, com o Minotauro, no qual Jorge <strong>de</strong> Sena aborda aquestão do exílio, e se reflete no texto poético Em Creta, com o Dinossauro, <strong>de</strong> Ana Luísa Amaral, publicadona obra E muitos caminhos (1995). A poetisa portuguesa ironiza as relações hom<strong>em</strong>-mulher <strong>de</strong> tradiçãopatriarcal, por meio <strong>de</strong> paródia (Hutcheon), sob a perspectiva do espaço labiríntico social - abstrato e concreto-,e apresenta Ariadne, senhora <strong>de</strong> si, capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar o herói Teseu na mão, e confraternizar-se com o antiherói,o dinossauro.PALAVRA-CHAVE: Literatura Portuguesa; Ana Luísa Amaral; mitologia; paródia;LEITURA DE “OLEOGRAVURA NAPOLITANA” EM POEMAS ITALIANOS, DE CECÍLIA MEIRELESDelvanir Lopes (<strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)A poetisa Cecília Meireles (1901-1964) s<strong>em</strong>pre esteve envolvida com viagens. E não apenas <strong>de</strong> viagens entrelugares reais, mas viagens permeadas pelos pensamentos, mas n<strong>em</strong> por isso menos reais que aquelas.Mescla as duas vertentes porque produz viagens <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> suas viagens, trata <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos e sensações queo simples turista não apreen<strong>de</strong>. Torna as viagens existenciais e permite com elas, abordar outros t<strong>em</strong>as, maisuniversais. Uma das suas viagens, realizada <strong>em</strong> 1953 para a Itália, <strong>de</strong>ixou como fruto o livro Po<strong>em</strong>as Italianos,publicado por Edoardo Bizzarri <strong>em</strong> edição bilíngue, 15 anos após a viag<strong>em</strong> da autora e que ainda pe<strong>de</strong>discussão mais minuciosa. A leitura dos po<strong>em</strong>as <strong>de</strong>ste livro ganha outra amplitu<strong>de</strong> quando feitasimultaneamente aos textos das crônicas que Cecília escreveu sobre este seu período <strong>em</strong> terras italianas porcerca <strong>de</strong> dois meses. Isto não significa, contudo, que po<strong>em</strong>as e crônicas não possam ser lidos isoladamente.Como ver<strong>em</strong>os <strong>em</strong> um dos po<strong>em</strong>as da obra, “Oleogravura napolitana”, Cecília faz menção a escritores que“elucidam” algumas das situações colocadas nas palavras con<strong>de</strong>nsadas do po<strong>em</strong>a, mas que só é possívelreconhecer a presença <strong>de</strong>les quando colocamos frente a frente po<strong>em</strong>a e crônica da autora. No po<strong>em</strong>a <strong>em</strong>questão, Cecília Meireles dá <strong>de</strong>staque especial a Gerard <strong>de</strong> Nerval, inclusive transcrevendo alguns <strong>de</strong> seusversos, que reportam a paisag<strong>em</strong> napolitana, que vista pelos olhos da poetisa é como uma pintura.IV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


34PALAVRAS-CHAVE: viag<strong>em</strong>; Cecília Meireles; Po<strong>em</strong>as italianos; crônicasCECÍLIA MEIRELES E MANUEL BANDEIRA ENTRE A VIDA E A MORTE: UMA LEITURA COMPARATIVADE “TRÊS BOIS” E “BOI MORTO”Gisele Pereira <strong>de</strong> Oliveira (<strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)Dois gran<strong>de</strong>s nomes no mo<strong>de</strong>rnismo brasileiro e da voz lírica <strong>em</strong> língua portuguesa, Cecília Meireles e ManuelBan<strong>de</strong>ira não só são cont<strong>em</strong>porâneos como compartilham motivos <strong>em</strong> suas poesias (seja a presença docotidiano, ou a impossibilida<strong>de</strong> existencial, as r<strong>em</strong>iniscências da infância, a preocupação com a morte, entreoutros) e uma diversida<strong>de</strong> formal conjugada à experimentação tão caras ao movimento mo<strong>de</strong>rnista. Dentre ost<strong>em</strong>as recorrentes <strong>em</strong> suas produções poéticas, <strong>de</strong>stacamos aqui o t<strong>em</strong>a “entre a vida e a morte”, ou seja,ambos apresentam diversos po<strong>em</strong>as que tratam do t<strong>em</strong>a da morte e, neste caso, apresentam também umavisão da vida. Especificamente, faz<strong>em</strong>os uma leitura comparativa do po<strong>em</strong>a ceciliano “Três bois” e oban<strong>de</strong>ireano “Boi morto”, <strong>em</strong> uma tentativa <strong>de</strong> aferir acerca da visão da vida e da morte na poesia <strong>de</strong>ssas duaspersonalida<strong>de</strong>s significant<strong>em</strong>ente mo<strong>de</strong>rnista.PALAVRA-CHAVE: Cecília Meireles; Manuel Ban<strong>de</strong>ira; poesia; morte; mo<strong>de</strong>rnismo.UMA POESIA À ESPREITAGislaine Goulart dos Santos PG - (UNICAMP)O tradutor, crítico e poeta Sebastião Uchoa Leite reativa a tradição na sua poesia, utilizando os recursos dafragmentação, da montag<strong>em</strong>, da colag<strong>em</strong> <strong>de</strong> discursos; incorpora os resíduos da cultura <strong>de</strong> massa; reelabora alinguag<strong>em</strong>; e traduz o impasse vivido pelo poeta cont<strong>em</strong>porâneo entre romper ou não com a tradição. No livroA espreita, a pessoa lírica olha <strong>de</strong> viés o mundo, representando-o por meio <strong>de</strong> uma linguag<strong>em</strong> fragmentadaque correspon<strong>de</strong> à expressão labiríntica do eu dos po<strong>em</strong>as diante da cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong>. O poeta, neste livro,infiltra-se na tradição pelas frestas, à espreita e, como ele faz parte da estirpe <strong>de</strong> poeta-crítico, sua poesia éfeita <strong>de</strong> muitas citações, o que lhe confere um caráter metapoético, refletindo sobre as suas preferências etambém suas negações poéticas. Em seus po<strong>em</strong>as, Sebastião Uchoa Leite dialoga com a tradição por meiodas formas, das particularida<strong>de</strong>s expressivas, t<strong>em</strong>as e recorrências textuais que singularizam a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dapoesia brasileira, além <strong>de</strong> incorporar t<strong>em</strong>as e formas cont<strong>em</strong>porâneos. A partir <strong>de</strong>stas características dapoética <strong>de</strong> Sebastião, a presente comunicação preten<strong>de</strong> refletir sobre o diálogo do poeta com a poesiamo<strong>de</strong>rna e cont<strong>em</strong>porânea e sua relação com o espaço atual. Sobre este espaço, nos po<strong>em</strong>as <strong>de</strong> A espreita, oeu não olha para si, mas apreen<strong>de</strong> a vida do outro, observando-o <strong>de</strong> maneira passiva e secreta “da janela”.Esse é o modo como Sebastião Uchoa Leite <strong>de</strong>scobre novos sentidos no espaço dos po<strong>em</strong>as e do cotidiano.Palavras-chave: poesia; tradição; cont<strong>em</strong>porâneo; à espreitaOS OFÍCIOS DO SACRO EM POEMAS MALDITOS, GOZOSOS E DEVOTOS DE HILDA HILSTHigor Alberto Sampaio, PG (<strong>UNESP</strong>/IBILCE)O presente trabalho t<strong>em</strong> por objetivo perscrutar o modo como o Sagrado é representado nos Po<strong>em</strong>as malditos,gozosos e <strong>de</strong>votos <strong>de</strong> Hilda Hilst, publicado originalmente <strong>em</strong> 1984. Por parte da crítica especializada, há umaafirmação <strong>de</strong> que o gran<strong>de</strong> motivo da poesia <strong>de</strong> Hilda é a representação e interrogação ao Sagrado (COELHO,1993), somada à tensão entre “alto” e “baixo”, “sublime” e “grotesco”, “transcendência” e “materialismo”. Nessapoesia, a retórica místico-religiosa convive com o sensualismo mais <strong>de</strong>s<strong>em</strong>baraçado, e esse hibridismo<strong>de</strong>sconcertante ligar-se-ia à cumplicida<strong>de</strong> afirmada entre o divino e o mundano, entre o espiritual e o erótico. Opo<strong>em</strong>a aqui inaugura um espaço para “um encontro <strong>de</strong> frente” com “a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Deus” que a poeta se dá arepresentar, inaugurando uma realida<strong>de</strong> erótica, visto que o drama mobiliza o sujeito lírico para uma instânciaexterior, objeto <strong>de</strong> todo erotismo (PAZ, 1995). Pensando no modo como esses “mistérios” se estruturam nafiguração do eu e do Outro, encenando um ato sacrificial por excelência, esse sujeito que é vítima, <strong>em</strong> face doOutro que é sacrificador, atenta para alcançar certa elevação perseguida incessant<strong>em</strong>ente. O que r<strong>em</strong>anesce,entretanto, é o próprio jogo da violência presente no ato do sacrifício, no qual a <strong>de</strong>voção não se <strong>de</strong>svincula dogozo n<strong>em</strong> da maldição. Nessa ótica, segundo Girard (2008), a violência não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>svinculada doIV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


35Sagrado, pois o sacrifício é um ato religioso que se alicerça na <strong>de</strong>struição, simbólica ou não, <strong>de</strong> uma vítima. Apoesia, por fim, se torna espaço para o gozo pretendido, palco <strong>de</strong> <strong>em</strong>bate e aproximação entre os amantes,ainda que, no final do conjunto, encena-se a morte, a <strong>de</strong>struição e o vazio.Palavras-chave: Hilda Hilst; sagrado; erotismo; sacrifício; poesia.ARMANDO FREITAS FILHO, UM REESCRITOR DA TRADIÇÃOJorge Augusto Balestero, PG - (UFMS)A poesia do poeta carioca Armando Freitas Filho se situa entre a tradição canônica mo<strong>de</strong>rnista brasileira e ainvenção singular <strong>de</strong> um poeta que se auto-intitula dual <strong>em</strong> suas perspectivas <strong>de</strong> criação, e que já está naestrada a mais <strong>de</strong> quarenta anos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1963, com a publicação <strong>de</strong> seu livro <strong>de</strong> estréia, Palavra. Dessa forma,aventamos estabelecer uma proposta <strong>de</strong> leitura que visa <strong>de</strong>limitar um pai<strong>de</strong>uma <strong>de</strong> influência na poesia <strong>de</strong>Armando Freitas Filho, e assim situar sua singularida<strong>de</strong> poética a partir <strong>de</strong> sua reescrita poética <strong>de</strong>ssa tradiçãoselecionada.PALAVRA-CHAVE: Poesia brasileira cont<strong>em</strong>porânea; Invenção; Singularida<strong>de</strong>.NAVEGAR AINDA É PRECISO: TRAÇOS DO CINISMO NA POESIA PORTUGUESA CONTEMPORÂNEAJúlia Telésforo Osório, PG (UFSC)Nesta apresentação, pretendo articular as reflexões presentes no último curso <strong>de</strong> Michel Foucault, A corag<strong>em</strong>da verda<strong>de</strong> (1984) ao livro Longe da al<strong>de</strong>ia (2005), do poeta português Rui Pires Cabral. A partir do conceito <strong>de</strong>“vida outra”, ler traços <strong>de</strong> cinismo reiterados na poesia cont<strong>em</strong>porânea, pois acredito que a arte assumes<strong>em</strong>pre o compromisso <strong>de</strong> <strong>de</strong>sestabilizar convenções, no contínuo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ser transgressão. Dois traços quese refeririam, especialmente, às questões da linguag<strong>em</strong> do discurso poético e ao t<strong>em</strong>a da flânerie. Sendo osujeito poético <strong>de</strong>sse livro aquele que possuiria alguns vestígios cínicos, comprometido com o “dizerverda<strong>de</strong>iro”, com algo que po<strong>de</strong>ria fazer com que o “outro” cuidasse <strong>de</strong> si, pois, através do modo <strong>de</strong> vida cínico,seria possível provocar <strong>de</strong>sassossegos, fazendo com que ele olhasse para si, repensasse suas atitu<strong>de</strong>s <strong>em</strong>odos <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> maneira crítica como ex<strong>em</strong>plifica Foucault ao expor o ethos grego da época <strong>de</strong> Sócrates. Nocaso <strong>de</strong> Longe da al<strong>de</strong>ia, a <strong>de</strong>núncia do t<strong>em</strong>po presente registrar-se-ia pelo ato poético, através do relato dasexperiências urbanas vivenciadas pelo sujeito poético numa espécie <strong>de</strong> “diário <strong>de</strong> viagens”, construído a partir<strong>de</strong> trânsitos pelas geografias inglesa e portuguesa. Questiono-me se essas travessias configurar-se-iam <strong>em</strong>uma transgressão tal qual aquela do sujeito cínico foucaultiano, que, na sua errância, materializava uma “vidaoutra” através da <strong>de</strong>núncia e do escândalo no compromisso ético <strong>de</strong> atingir os outros. Parece que, nacont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong>, t<strong>em</strong>-se uma “forma outra” <strong>de</strong> arte, uma poesia que materializa seu t<strong>em</strong>po pela óticasubjetiva e que provocaria <strong>de</strong>sassossegos nos outros, nos leitores <strong>de</strong> poesia cont<strong>em</strong>porâneos quecompartilham com esse sujeito poético vivências, rotinas e lugares cotidianos no espaço do po<strong>em</strong>a. Umapossibilida<strong>de</strong> outra <strong>de</strong> transgredir, <strong>de</strong> fazer arte após o século <strong>de</strong> ouro da poesia que foi o XX para Portugal.PALAVRA-CHAVE: Poesia portuguesa cont<strong>em</strong>porânea; Rui Pires Cabral; Cinismo; Michel Foucault.“O QUE É BOM PARA O LIXO É BOM PARA A POESIA”: A VALORIZAÇÃO DO ÍNFIMO NA POÉTICA DEMANOEL DE BARROSJúlio César Alexandre Junior, G - (UEL)O presente trabalho intitulado “A valorização do ínfimo na obra <strong>de</strong> Manoel <strong>de</strong> Barros” t<strong>em</strong> por objetivo analisara poética manoelina a qual verifica-se que o eu lírico valoriza aquilo que a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>spreza. “Tudo aquiloque a nossa/ civilização rejeita, pisa e mija <strong>em</strong> cima,/ serve para a poesia (BARROS, 1970, p. 146). Em umestudo realizado sobre Bau<strong>de</strong>laire, Walter Benjamin atesta que “os poetas encontram na rua o lixo dasocieda<strong>de</strong> e a partir <strong>de</strong>le faz<strong>em</strong> sua crítica heróica (Benjamin apud Stessuk, 2007, p. 09). Segundo Castro(1992, p. 35), Manoel <strong>de</strong> Barros, “ao afirmar essas posturas, o poeta subenten<strong>de</strong> a proposta do outro mundo,on<strong>de</strong> a liberda<strong>de</strong> do inútil transpareça além do jugo do lógico, do b<strong>em</strong>-feito, do <strong>de</strong>duzido”. Para a presentepesquisa utilizamos como material teórico as consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> Sílvio Stessuk <strong>em</strong> “Poética do <strong>de</strong>trito: KurtSchwitters e Manoel <strong>de</strong> Barros” e a tese <strong>de</strong> doutorado <strong>de</strong> Carlos Eduardo Brefore Pinheiro <strong>em</strong> “Entre o ínfimo eIV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


36o grandioso, entre o passado e o presente: jogo dialético da poética <strong>de</strong> Manoel <strong>de</strong> Barros”, os quais, <strong>de</strong>ntre osoutros t<strong>em</strong>as abordados, discut<strong>em</strong> sobre a valorização do ínfimo na poética manoelina. Como objeto dapesquisa, selecionamos po<strong>em</strong>as significativos dos quais tratarão da t<strong>em</strong>ática <strong>de</strong>scrita na poética <strong>de</strong> Barros.PALAVRA-CHAVE: Manoel <strong>de</strong> Barros; Poesia; Ínfimo.A POESIA NA REVISTA FEMININA (1915-1936)Juliana Cristina Bonilha, PG - (<strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)Esta comunicação parte do ensaio <strong>de</strong> Candido Literatura e Cultura <strong>de</strong> 1900 a 1945, <strong>em</strong> que o autor realiza uma<strong>de</strong>limitação periódica da produção do século XX, e propõe uma reflexão da historiografia literária, reavivando opercurso da poesia <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste contexto. Em suma, a partir da leitura do texto do sociólogo e crítico literárioprocura-se recuperar o panorama histórico-literário brasileiro durante o século XX, atentando-se para o quepropõe Candido no capítulo Literatura e Cultura <strong>de</strong> 1900 a 1945. Apresentar-se-ão os dados históricos eliterários referentes às três etapas da Literatura brasileira no século XX, comentando-se sobre a primeira etapa,que vai <strong>de</strong> 1900 a 1922; a segunda <strong>de</strong> 1922 a 1945 e a terceira começa <strong>em</strong> 1945. Dentro <strong>de</strong>ste contexto,procura-se <strong>de</strong>limitar a Literatura (<strong>em</strong> verso) produzida durante o século XX, observando-se as transformaçõeshistóricas que acompanharam seu processo <strong>de</strong> evolução. Mostra-se, por fim, como parte <strong>de</strong> uma recuperaçãohistórica da poesia, alguns po<strong>em</strong>as produzidos nas três primeiras décadas, na Revista F<strong>em</strong>inina, como forma<strong>de</strong> refletir as transformações sofridas pelo gênero durante o século. Propõe-se, portanto, um diálogo histórico eliterário que serve como base para reflexões sobre as leituras da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> à medida que forneceargumentos para a i<strong>de</strong>ntificação da poesia do início do século e a poesia que aparece <strong>em</strong> sua segunda meta<strong>de</strong>O FENÔMENO POÉTICO DE GIUSEPPE UNGARETTI: DIZER O INDIZÍVELKarina Uehara, PG (USP)Em 1931, publicou-se <strong>em</strong> edição <strong>de</strong>finitiva L’Allegria, do poeta italiano Giuseppe Ungaretti. Os po<strong>em</strong>as,escritos “<strong>em</strong> meio à lama da trincheira”, expressam a necessida<strong>de</strong> do falar <strong>de</strong> um poeta que estava <strong>em</strong> plenaGuerra Mundial. Essa urgência é revelada <strong>em</strong> uma poética extr<strong>em</strong>amente concisa, pois era necessárioconcentrar na linguag<strong>em</strong> “toda a realida<strong>de</strong> da partícula que ao poeta foi dado perceber”, como disse o escritor.Por isso, a palavra isolada e a quebra da sintaxe são características <strong>de</strong>ssa obra, <strong>de</strong>ixando, <strong>em</strong> alguns po<strong>em</strong>as,r<strong>em</strong>iniscências <strong>de</strong> haicais. Aquele viver na contradição, o impulso vital multiplicado pela proximida<strong>de</strong> com amorte, traz à poesia a tomada <strong>de</strong> consciência não só da condição humana como, também, <strong>de</strong> estar vivo, acada instante. E, esses instantes são eternizados, universalizados e potencializados pela imag<strong>em</strong> poética que,já <strong>em</strong> sua essência, diz o indizível por carregar <strong>em</strong> si a “pluralida<strong>de</strong> do real”. São qualida<strong>de</strong>s, sensações esignificados que unidos na imag<strong>em</strong> parec<strong>em</strong> nos apresentar à própria percepção <strong>de</strong> um momento, à própriaexperiência do real. Portanto, este trabalho preten<strong>de</strong>, mediante as reflexões do escritor e crítico Octavio Paz,discutir essas imagens potencializadoras que exprim<strong>em</strong> aquilo que à linguag<strong>em</strong> foi impossível traduzir.Sobretudo as imagens relativas à luz, seus <strong>de</strong>slumbramentos e sua mirag<strong>em</strong>. “Palavra-luz”, expressão dopróprio poeta, que é capaz <strong>de</strong> “iluminar”, ainda que por alguns instantes, o mistério impenetrável do Universoinerente ao ser humano.PALAVRA-CHAVE: Imag<strong>em</strong> poética; poesia <strong>de</strong> trincheira; palavra-luz; poesia mo<strong>de</strong>rna italiana; GiuseppeUngaretti.BRASIL E ÁFRICA: UMA CONVERSA POÉTICALidiane Moreira e Silva, PG - (<strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)A partir do diálogo literário entre Brasil e África é possível compreen<strong>de</strong>r a construção do fazer poético naliteratura africana e a s<strong>em</strong>elhanças entre os países colonizados por Portugal. Em busca <strong>de</strong> reconhecer o eucoletivo,poetas africanos lançam olhar para a poesia brasileira e reconhec<strong>em</strong>-se na proposta mo<strong>de</strong>rnista <strong>de</strong>nosso país <strong>em</strong> repudiar os mo<strong>de</strong>los sociais <strong>em</strong> voga. Diante disso, escritores brasileiros figuram como estímuloIV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


37ao questionamento sobre a socieda<strong>de</strong> e cultura afro-colonizada, ainda que manifestadas por intermédio dalíngua portuguesa. O olhar para si, para o lócus e para o cotidiano, incitado pela literatura brasileira é uma dasformas utilizadas para reconhecer sua cultura como singular. Diversos nomes repercutiram na poesia africanacomo Manuel Ban<strong>de</strong>ira, Ribeiro Couto, Jorge <strong>de</strong> Lima, João Cabral <strong>de</strong> Melo Neto, Carlos Drummond <strong>de</strong>Andra<strong>de</strong>, entre outros. Buscar-se-á neste trabalho, dar observância e explanar acerca da relação entreDrummond e a poesia africana; haja vista que o poeta, um dos gran<strong>de</strong>s nomes <strong>de</strong> nossa literatura brasileira,tornou-se fomento para a escrita dos países luso-africanos na constituição da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> literária nacional,principalmente no trabalho do moçambicano Luís Carlos Patraquim. Para tanto, será utilizada como base aobra Sentimento do Mundo <strong>de</strong> Drummond publicada <strong>em</strong> 1940, a qual revigora a consciência do universohistórico concreto, contribuindo na elaboração da dor e na expressão dos sentimentos do povo brasileiro, quese equiparam nitidamente aos sentimentos que formam o ser africana.PALAVRA-CHAVE: poesia africana; literatura brasileira; i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacionalCECÍLIA MEIRELES E A VIAGEM PELOS TEMPOSMárcia Eliza Pires, PG (<strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)A questão t<strong>em</strong>poral s<strong>em</strong>pre foi uma das constantes na poesia <strong>de</strong> Cecília Meireles. Atenta a tudo aquilo quepossa revelar a essência dos seres e das coisas, é inerente a sua lírica o tom questionador e a cont<strong>em</strong>plaçãocrítica. Refletir sobre o cronológico e transgredir seus limites através da transfiguração da linguag<strong>em</strong> sãointenções presentes <strong>em</strong> “Viag<strong>em</strong>”, po<strong>em</strong>a da obra Vaga Música (1942).PALAVRA-CHAVE: Cecília Meireles, “Viag<strong>em</strong>”, Vaga Música..REPRESENTAÇÕES DO EXÍLIO NA POESIA DE JORGE DE SENAMárcio Roberto Pereira, PG - (<strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)A proposta <strong>de</strong>ste trabalho é discutir as representações do exílio na produção poética <strong>de</strong> Jorge <strong>de</strong> Sena (1919-1978), mais especificamente no po<strong>em</strong>a “Camões dirige-se aos seus cont<strong>em</strong>porâneos”, publicado no ano <strong>de</strong>1961 na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Assis</strong>, quando da passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Jorge <strong>de</strong> Sena por <strong>Assis</strong>. Alguns t<strong>em</strong>as, como a condiçãodo intelectual <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> ditadura, a posição do escritor e suas relações com a estética e a condição doexílio, serão importantes assuntos que compõ<strong>em</strong> gran<strong>de</strong> parte das preocupações <strong>de</strong> Jorge <strong>de</strong> Sena ao situarsena mesma condição <strong>de</strong> Luís <strong>de</strong> Camões: um poeta <strong>de</strong>slocado <strong>de</strong> seu t<strong>em</strong>po, mas com pulsações universais.Jorge <strong>de</strong> Sena, na condição <strong>de</strong> exilado, no Brasil e <strong>de</strong>pois nos Estados Unidos, faz um retrato distanciado <strong>de</strong>Portugal <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> barbárie; Camões, <strong>em</strong> Portugal <strong>de</strong> outros t<strong>em</strong>pos, tece consi<strong>de</strong>rações sobre umarealida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte que não percebe a grandiosida<strong>de</strong> e o engenho <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> poeta. Dessa forma, aaproximação entre esses escritores torna-se um espaço <strong>de</strong> reflexão sobre diversos t<strong>em</strong>as que centralizam aposição do intelectual frente a um mundo marcado pela condição <strong>de</strong> exílio, seja <strong>em</strong> seu próprio país, no caso<strong>de</strong> Camões, ou <strong>em</strong> terras estrangeiras, como no caso <strong>de</strong> Jorge <strong>de</strong> Sena.PALAVRAS CHAVE: Jorge <strong>de</strong> Sena; exílio; m<strong>em</strong>óriaDIÁLOGOS E TENSÕES ENTRE ARMANDO FREITAS FILHO E JOÃO CABRAL DE MELO NETOMichely Resino Oliveira da Costa, G - (<strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)Em Fio Terra (2000) Armando nos apresenta uma escrita que v<strong>em</strong> antes do pensamento, ou atrás <strong>de</strong>le. Traçose vestígios <strong>de</strong> pensamentos, sensações que nos levam a enxergar aquilo que é invisível, a materializar o quenão é palpável. Fio Terra é um po<strong>em</strong>a-diário <strong>de</strong> 450 versos que marca a passag<strong>em</strong> do t<strong>em</strong>po nas datas àmarg<strong>em</strong> <strong>de</strong> cada trecho. Mas contrariando a concepção <strong>de</strong> diário tradicional o longo po<strong>em</strong>a é ausente <strong>de</strong>marcas t<strong>em</strong>porais. Trata-se <strong>de</strong> um po<strong>em</strong>a tenso e vertiginoso cuja leitura é marcada pela dificulda<strong>de</strong> epercalços. A presente comunicação t<strong>em</strong> como objetivo estabelecer um paralelo, marcando os poentos <strong>de</strong>aproximação e distanciamento, entre a escrita <strong>de</strong> Armando, <strong>em</strong> Fio Terra e <strong>de</strong> João Cabral <strong>de</strong> Melo Neto <strong>em</strong>Psicologia da Composição. Como her<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> um legado, recusa o papel <strong>de</strong> mero seguidor. De modo que, suaIV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


38poética, profundamente inserida no mo<strong>de</strong>rnismo, inscreve-se num misto <strong>de</strong> reverência e confronto, <strong>de</strong> louvor ecrítica a esta tradição, <strong>de</strong>ixando exposto o impasse entre não romper e não repetir o mestre. Por meio daanálise interpretativa <strong>de</strong> certos t<strong>em</strong>as, motivos e procedimentos formais, presentes nos po<strong>em</strong>asmetalingüísticos <strong>de</strong> Fio Terra , <strong>de</strong> Armando Freitas Filho, esta comunicação busca investigar <strong>de</strong> que modo opoeta reage e dramatiza, no espaço da linguag<strong>em</strong>, sua atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> permanente <strong>de</strong>safio frente à poética <strong>de</strong> JoãoCabral, a fim <strong>de</strong> avaliar o impacto da herança cabralina <strong>em</strong> sua obra.PALAVRA-CHAVE: poesia cont<strong>em</strong>porânea; Armando Freitas Filho; João Cabral <strong>de</strong> Melo Neto; Psicologia <strong>de</strong>Composição; Fio Terra.A MITIFICAÇÃO DE FACUNDO NA POÉTICA DE BORGESMuryel da Silva Papeschi, PG - (<strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)Trata-se <strong>de</strong> uma análise dos procedimentos <strong>de</strong> mitificação <strong>de</strong> Facundo utilizados por Borges <strong>em</strong> seus po<strong>em</strong>as“El general Quiroga va en coche al muere”, do livro Luna <strong>de</strong> Enfrente (1925) e “La tentación”, publicado <strong>em</strong> “Eloro <strong>de</strong> los tigres (1972). Esses po<strong>em</strong>as trabalham especificamente dois aspectos míticos recorrentes <strong>em</strong> todapoétic latinoamericana: o pampa como espaço ficcional por excelência para a criação <strong>de</strong> um poética dabarbárie e, obviamente, o “tigre” dos pampas, ou seja, o personag<strong>em</strong> históric Juan Facundo Quiroga. O vaziopampeano apresenta-se, segundo Maria Rosa Lojo, com um t<strong>em</strong>a altamente produtivo e se torna, pelas mãos<strong>de</strong> Domingo Faustino Sarmiento matéria sobre a qual se molda a construção <strong>de</strong> um protótipo estético dabarbárie: Facundo. Assim, consi<strong>de</strong>rando-se os pressupostos teóricos expostos por Lojo <strong>em</strong> “La seducción <strong>de</strong> labarbarie <strong>em</strong> Facundo”, preten<strong>de</strong>-se analisar as estratégias utilizadas por Jorge Luis Borges <strong>em</strong> ambos po<strong>em</strong>asna construção literária <strong>de</strong> Facundo e do espaço pampeano e que se insere. Se <strong>em</strong> “El general Quiroga va encoche al muere” encontramos um Facund <strong>de</strong>scrente <strong>de</strong> sua morte anunciada ter<strong>em</strong>os, mais tar<strong>de</strong>, <strong>em</strong> “Latentación”, um Facund que t<strong>em</strong> consciência da conspiração <strong>de</strong> Rosas contra ele, mas que assim mesmo não<strong>de</strong>sist <strong>de</strong> caminhar rumo à morte, numa versão mais próxima à <strong>de</strong> Sarmiento. É, portanto, nesse segundopo<strong>em</strong>a que se revela a trilogia Sarmiento, Facundo e Rosas, caracterizada po Lojo <strong>de</strong> “estrutura triangular do<strong>de</strong>sejo”. Assim, com base na obra <strong>de</strong> Sarmiento e no pressupostos teóricos <strong>de</strong> Lojo, <strong>de</strong>screv<strong>em</strong>os asestratégias borgeanas na construção das diversas facetas que formam a figura mítica <strong>de</strong> Facundo <strong>em</strong> suaprodução poética e qu foram retomadas, inclusive, pela própria Maria Rosa Lojo <strong>em</strong> suas obras ficcionaisPALAVRA-CHAVE: Facundo, Sarmiento, Rosas, Lojo, barbárieDA INDISTINÇÃO DOS ATOS: POESIA E CRÍTICA DA POESIA EM MURILO MENDES E FRANCIS PONGEPatrícia Aparecida Antônio, PG - (<strong>UNESP</strong>/FCLAr)A presente comunicação t<strong>em</strong> por objetivo discutir como opera a indistinção entre poesia e crítica da poesia naobra <strong>de</strong> Murilo Men<strong>de</strong>s (1901-1975) e Francis Ponge (1899-1988). O brasileiro e o francês proce<strong>de</strong>m à fusão<strong>de</strong> discurso da obra e discurso sobre a obra num movimento <strong>em</strong> que sujeito lírico e crítico (eles mesmosficcionais) se encontram <strong>em</strong> permanente tensão. Enten<strong>de</strong>ndo poesia e crítica como ativida<strong>de</strong>s reflexivasfundamentadas na linguag<strong>em</strong>, as questões principais às quais preten<strong>de</strong>mos nos lançar são: a) Como seconfigura e opera a indistinção entre discurso poético e crítico <strong>em</strong> Murilo Men<strong>de</strong>s e Francis Ponge? b) Como seconfigura a voz poético-crítica para se a<strong>de</strong>quar a um ato <strong>de</strong> dupla face como esse? c) O que se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong> daaproximação ou do distanciamento da conduta lírico-crítica, levando-se <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração subjetivida<strong>de</strong> eobjetivida<strong>de</strong>? Nesse sentido, t<strong>em</strong>os por horizonte poesia e crítica enquanto atos indistintos, <strong>de</strong> caráterinacabado, <strong>em</strong> que autor e leitor participam ativamente. Assim, os po<strong>em</strong>as aparec<strong>em</strong> como atos queconfiguram uma prática literária, que é lírica, crítica e criativa, a um só t<strong>em</strong>po. No centro <strong>de</strong>ssa prática, ossujeitos lírico-críticos manipulam a criação partindo <strong>de</strong> um corpo-a-corpo com o texto, como fica claro com asobras que selecionamos para esta fala: O discípulo <strong>de</strong> Emaús (1945) <strong>de</strong> Murilo Men<strong>de</strong>s e Proêmes (1948) <strong>de</strong>Francis Ponge. Poesia e crítica, então, po<strong>de</strong>m ser compreendidadas no sentido da poiesis (cuja raíz etmológicaé a mesma que a da palavra crítica), <strong>de</strong> uma construção que coloca <strong>em</strong> crise o lírico, o crítico, a prosa, apoesia, b<strong>em</strong> como uma i<strong>de</strong>ia fechada <strong>de</strong> literatura e <strong>de</strong> gêneros literários.PALAVRAS-CHAVE: Poesia. Crítica. Poetas-críticos. Murilo Men<strong>de</strong>s. Francis Ponge.IV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


39POESIA MARGINAL: ERÓTICA OU PORNOGRÁFICA?Rafaela Godoi Bueno Gimenes, G - (UEL)Primeiramente, é significativo salientar que esta comunicação advém da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> artigo científico,com fins avaliativos, para a disciplina “O po<strong>em</strong>a” do curso <strong>de</strong> Especialização <strong>em</strong> Literatura Brasileira daUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Londrina. Preten<strong>de</strong>-se, antes <strong>de</strong> tudo, abordar questões relevantes sobre a <strong>de</strong>finiçãoe distinção <strong>de</strong> erotismo e pornografia; após, anseia-se analisar o modo como os marginais usarão essesaspectos <strong>em</strong> seus po<strong>em</strong>as. Tendo como base a poesia completa <strong>de</strong> Chacal, Cacaso e Francisco Alvim, AnaCristina Cesar e fragmentos poéticos <strong>de</strong> Alice Ruiz, com seu livro <strong>de</strong> haikais Desorientais, <strong>de</strong> Waly Salomão,com Me segura qu'eu vou dar um troço, e <strong>de</strong> Leila Míccolis, encontrados <strong>em</strong> site oficial, visa-se traçar umpanorama da produção erótica na poesia da década <strong>de</strong> 70. Essencial para o <strong>de</strong>senrolar <strong>de</strong>sta pesquisa, é aantologia organizada por Heloísa Buarque <strong>de</strong> Hollanda intitulada 26 poetas hoje. De fundamentação teórica ecrítica, há Octavio Paz, Anthony Gid<strong>de</strong>ns, José Paulo Paes, Affonso Romano <strong>de</strong> Sant’Anna e FernandaTeixeira <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros; <strong>de</strong> <strong>em</strong>basamento histórico, há Peter Stearns, com A história da sexualida<strong>de</strong>, AlfredoBosi, História concisa da literatura brasileira, e um historiador literário mais cont<strong>em</strong>porâneo, Carlos Nejar.PALAVRA-CHAVE: erotismo; poesia marginal; haikai.“OS 4 ELEMENTOS DA PAIXÃO” EM OLGA SAVARYRaquel Teixeira Otsuka, G - (UEL)O presente trabalho visa analisar cinco po<strong>em</strong>as da escritora paraense Olga Savary, os quais versam sobre osquatro el<strong>em</strong>entos da natureza, ou, como prefere a autora, “os 4 el<strong>em</strong>entos da paixão” – ar, água, terra e fogo.Olga Savary é poeta, tradutora, jornalista, contista, haicaísta. Os po<strong>em</strong>as escolhidos para este estudo foramretirados <strong>de</strong> dois <strong>de</strong> seus livros: “Fogo”, “Ar”, “A Água” e “Terra” abr<strong>em</strong> Sumidouro (1977) e “Signo” faz parte <strong>de</strong>Linha d’Água (1987). Este trabalho propõe uma análise dos po<strong>em</strong>as, com o intuito <strong>de</strong> apontar característicasdo simbolismo dos quatro el<strong>em</strong>entos na poética savaryana, incluindo a t<strong>em</strong>ática da natureza e do erotismo,ambas recorrentes <strong>em</strong> sua obra, e esta última presente <strong>em</strong> alguns dos po<strong>em</strong>as selecionados; a propósito,Savary é consi<strong>de</strong>rada a primeira mulher a publicar um livro todo <strong>de</strong> t<strong>em</strong>ática erótica no Brasil – Magma (1982),o qual recebeu o Prêmio Olavo Bilac da Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras. A pesquisa contará com estudos sobrea poesia savaryana <strong>de</strong> modo geral, b<strong>em</strong> como estudos sobre o simbolismo <strong>de</strong> cada um dos el<strong>em</strong>entos doscinco po<strong>em</strong>as. Para tanto, conta-se com o <strong>em</strong>basamento teórico <strong>de</strong> TOLEDO (1999; 2009), PASTORE (2004),GOTLIB (2003), SOARES (1992), CHEVALIER e GHEERBRANT (2005), CASCUDO (2002), <strong>de</strong>ntre outros.PALAVRAS-CHAVE: Olga Savary; fogo; terra; ar; água.AS DIFERENTES REPRESENTAÇÕES DO FEMININO EM MAR ABSOLUTO E OUTROS POEMAS, DECECÍLIA MEIRELESRoberta Donega Silva, PG - (<strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong>)Cecília Meireles é um dos gran<strong>de</strong>s nomes que compõ<strong>em</strong> o cânone literário brasileiro. Nascida <strong>em</strong>1901, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, começou a escrever ainda jov<strong>em</strong>, aos 18 anos, porém, sua maturida<strong>de</strong> poética ereconhecimento vieram <strong>em</strong> 1939, com a publicação <strong>de</strong> Viag<strong>em</strong>. Além disso, também traduziu diversas obrasestrangeiras e contribuiu com crônicas <strong>em</strong> diversos jornais, alcançando reconhecimento não só nacional, comointernacional. Ao ler a obra da poetisa perceb<strong>em</strong>os que muitos po<strong>em</strong>as possu<strong>em</strong> o eu lírico no f<strong>em</strong>inino, porémpoucos possu<strong>em</strong> como t<strong>em</strong>a a representação do f<strong>em</strong>inino. Em vários casos o sujeito poético f<strong>em</strong>inino trata <strong>de</strong>outros assuntos, como a morte, transcendência, ef<strong>em</strong>erida<strong>de</strong> da vida entre outros t<strong>em</strong>as. Por esse motivoalguns críticos disseram que Cecília Meireles ocupava uma posição neutra <strong>em</strong> relação à representaçãof<strong>em</strong>inina, po<strong>de</strong>ndo, portanto, ser chamada <strong>de</strong> poeta ao invés <strong>de</strong> poetisa. Porém, ao ler a obra ceciliana, épossível perceber que tal posicionamento não se mantém. O leitor po<strong>de</strong> encontrar <strong>em</strong> vários po<strong>em</strong>as traços doser f<strong>em</strong>inino <strong>em</strong> suas várias possibilida<strong>de</strong>s. A mulher é múltipla, ou seja, não po<strong>de</strong> ser resumida <strong>em</strong> algumaspoucas características encontradas na maioria das representantes <strong>de</strong>ste sexo. Ao pensá-las, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>-se levarIV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE


40<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração as diversas maneiras <strong>de</strong> ser. Tendo isso <strong>em</strong> vista, é possível perceber também as váriasrepresentações do f<strong>em</strong>inino na obra <strong>de</strong> Cecília Meireles. Para este trabalho, serão explorados alguns po<strong>em</strong>asda obra Mar absoluto e outros po<strong>em</strong>as que tenham como eu lírico uma mulher e possuam como t<strong>em</strong>ática arepresentação f<strong>em</strong>inina.BERNARDO DA MATA NA POESIA DE MANOEL DE BARROSSabrina Vieira Mioto, G- (UEL)O presente trabalho t<strong>em</strong> como objeto <strong>de</strong> estudo a poética <strong>de</strong> Manoel <strong>de</strong> Barros, visando analisar arepresentativida<strong>de</strong> do personag<strong>em</strong> Bernardo da Mata na obra do autor. O poeta, importante figura na literaturabrasileira cont<strong>em</strong>porânea, apresenta como aspecto dos mais relevantes <strong>em</strong> sua produção a matéria-prima queutiliza como t<strong>em</strong>ática, pois opta pela eleição <strong>de</strong> coisas, animais e pessoas que são <strong>de</strong>sprezados <strong>em</strong>arginalizados pela socieda<strong>de</strong>, tais como latas e parafusos velhos, o cisco, lagartixas e formigas, mendigos,loucos e crianças etc. Outra singularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Manoel <strong>de</strong> Barros está na utilização da linguag<strong>em</strong>, visto que, pormeio <strong>de</strong> um estilo particular, reinventa as palavras, transformando-as e subvertendo-as. Tal fato po<strong>de</strong> serevi<strong>de</strong>nciado nas seguintes afirmações paradoxais do poeta: “tudo que não invento é falso” e “noventa por centodo que escrevo é invenção”. Não por acaso, há três livros <strong>de</strong> sua autoria intitulados M<strong>em</strong>órias inventadas. Emmeio às “coisas” que a poesia manoelina aborda, neste trabalho preten<strong>de</strong>-se analisar o personag<strong>em</strong> Bernardoda Mata, um andarilho que, <strong>de</strong>ntre outros atributos, figura a pobreza <strong>de</strong> índole franciscana e a comunhão como mundo natural. Desse modo, objetiva-se verificar a representação <strong>de</strong> Bernardo da Mata como sendoexpoente da essência <strong>de</strong> toda a prática poética <strong>de</strong> Manoel <strong>de</strong> Barros. Para tanto, o corpus fundamental <strong>de</strong>steestudo é o po<strong>em</strong>a “O personag<strong>em</strong>”, pertencente ao Livro <strong>de</strong> pré-coisas.Palavras-chave: Manoel <strong>de</strong> Barros; Bernardo da Mata; Literatura Cont<strong>em</strong>porâneaPERSPECTIVAS SOBRE A REALIDADE: DO REAL COTIDIANO AO SURREALAna Cristina Joaquim (USP)Trata-se <strong>de</strong> pensar <strong>de</strong> que maneira os po<strong>em</strong>as “Canção do vento e da minha vida”, <strong>de</strong> Manuel Ban<strong>de</strong>ira e“Brasileira”, <strong>de</strong> Mário Cesariny estabelec<strong>em</strong> ou romp<strong>em</strong> vínculos com o real extra literário, isto é, <strong>de</strong> qu<strong>em</strong>aneira o real cotidiano se faz presente. Para tanto, importa consi<strong>de</strong>rar as respectivas posturas <strong>em</strong> relação àsvanguardas europeias que, tanto num caso como <strong>em</strong> outro, irão nortear as perspectivas sobre o real.Consi<strong>de</strong>rando o Mo<strong>de</strong>rnismo brasileiro como her<strong>de</strong>iro das vanguardas europeias, cabe, porém, enfatizar aausência <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são – especialmente por parte <strong>de</strong> Manuel Ban<strong>de</strong>ira – a uma vertente específica do movimentovanguardista, não sendo possível caracterizar sua poética, stricto sensu, como futurista, cubista,expressionista ou surrealista. No que diz respeito a Mário Cesariny, há, diferent<strong>em</strong>ente, uma a<strong>de</strong>são engajadaao movimento surrealista.Atentando para o fato <strong>de</strong> que o po<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Cesariny é uma releitura do po<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Ban<strong>de</strong>ira mediante a inserçãodo advérbio <strong>de</strong> negação (‘não’), nota-se, por um lado, a manifestação da recusa ou <strong>de</strong>molição das afirmaçõescontidas <strong>em</strong> “Canção do vento e da minha vida” e, por outro, um jogo b<strong>em</strong> ao gosto dos surrealistas, já queesse procedimento <strong>de</strong> releitura evi<strong>de</strong>ncia um dos métodos <strong>de</strong> criação bastante usado pelo surrealismoportuguês: a elaboração do po<strong>em</strong>a a partir <strong>de</strong> outro po<strong>em</strong>a, confirmando a recorrência, entre os poetassurrealistas, da apropriação e consequente subversão dos dados da cultura.Palavras-chave: Mo<strong>de</strong>rnismo brasileiro; surrealismo português; figurações do real.IV SEMINÁRIO LEITURAS DA MODERNIDADE

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!