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As estratégias empresariais para os vinhos finos no Brasil e no ...

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Dedico esta tese às pessoas que caminham embusca da concretização de um sonho e, em especial, aLeonardo, Andrea, Daniel e Fany.5


AGRADECIMENTOS7Muitas pessoas e entidades tornaram p<strong>os</strong>sível a conclusão desta tese, àsquais expresso o meu muito obrigado pela colaboração. G<strong>os</strong>taria, <strong>no</strong> entanto,de agradecer em especial:- à Fundação de Eco<strong>no</strong>mia e Estatística, pela compreensão e pelo apoio,especialmente, às direções da FEE que viabilizaram minha licença <strong>para</strong>freqüentar o curso e o tempo necessário <strong>para</strong> a conclusão deste trabalho;- ao Professor Walter Meucci Nique, mais que um orientador, parceiro eamigo, que acreditou sempre nas minhas p<strong>os</strong>sibilidades e me apoioucom disp<strong>os</strong>ição e competência em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> meus pass<strong>os</strong> <strong>no</strong>doutoramento, sendo o principal responsável por esse momento;- a<strong>os</strong> professores do PPGA-UFRGS, com <strong>os</strong> quais tive a oportunidade deaprender muito, especialmente a<strong>os</strong> Professores Luiz Antônio Slongo eCarl<strong>os</strong> Alberto R<strong>os</strong>si, membr<strong>os</strong> da banca de exame de qualificação e doprojeto, pelas suas vali<strong>os</strong>as e oportunas contribuições;- a Leonardo, meu marido, a meus filh<strong>os</strong>, Andrea e Daniel, e à minha mãe,Fany, d<strong>os</strong> quais roubei tempo de moment<strong>os</strong> afetiv<strong>os</strong> <strong>para</strong> me ocupar dasatividades de estudo e pesquisa, tendo recebido sempre palavras de apoio,carinho e compreensão. Eles tiveram a paciência e a gener<strong>os</strong>idade deaceitar minhas ausências, sendo <strong>os</strong> meus incentivadores em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong>moment<strong>os</strong>;- a<strong>os</strong> meus irmã<strong>os</strong> e amig<strong>os</strong>, que muito me estimularam quando pareciaque tudo ficava mais difícil;- a<strong>os</strong> especialistas entrevistad<strong>os</strong> e às empresas que viabilizaram <strong>os</strong> estud<strong>os</strong>de caso, sem <strong>os</strong> quais seria imp<strong>os</strong>sível chegar às conclusões desteestudo, e, em especial, ao Diretor da Cooperativa Vinícola Aurora Ltda.,Carl<strong>os</strong> Za<strong>no</strong>tto, que propiciou vári<strong>os</strong> contat<strong>os</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong> Uruguai;- a<strong>os</strong> meus colegas da FEE, em particular, aTeresinha da Silva Bello e aBeky Moron de Macadar, pelo grande estímulo recebido, por colaboraremsempre com a sua opinião sobre o meu trabalho e pelo esforço extra aoassumirem as tarefas de pesquisa que deixei <strong>para</strong> trás em razão doafastamento da Instituição nesse período;- a<strong>os</strong> meus colegas de curso, com <strong>os</strong> quais tive o prazer de conviver nesseperíodo, pelo coleguismo e pela camaradagem, particularmente a Ana


8Maria Toaldo, que sempre esteve disponível <strong>para</strong> discutir minhas idéias eopinar sobre o meu trabalho.Sem o apoio dessas pessoas, seria difícil concluir esta tese, e, por isso, omeu especial agradecimento.


9Sonho Imp<strong>os</strong>sível“SonharMais um sonho imp<strong>os</strong>sívelLutarQuando é fácil cederVencer o inimigo invencívelNegar quando a regra é venderSofrer a tortura implacávelRomper a incabível prisãoVoar num limite improvávelTocar o inacessível chãoÉ minha lei, é minha questãoVirar esse mundoCravar esse chãoNão me importa saberSe é terrível demaisQuantas guerras terei que vencerPor um pouco de pazE amanhã, se esse chão que eu beijeiFor meu leito e perdãoVou saber que valeu delirarE morrer de paixãoE assim, seja lá como forVai ter fim a infinita afliçãoE o mundo vai ver uma florBrotar do imp<strong>os</strong>sível chão.”(J. Darion; M. Leigh, Versão Chico Buarque)


11RESUMO<strong>As</strong> rápidas e abrangentes mudanças n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> mundial e regional de vinh<strong>os</strong>,com significativ<strong>os</strong> impact<strong>os</strong> sobre algumas vinícolas, estimularam a realizaçãodeste estudo. O objetivo central foi descrever e com<strong>para</strong>r <strong>os</strong> process<strong>os</strong> deformulação e de implementação das estratégias <strong>empresariais</strong> <strong>para</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>fin<strong>os</strong> das vinícolas brasileiras e uruguaias após 1990. Para tanto, foram realizadasduas pesquisas qualitativas. Na primeira, foi feito um levantamento de dad<strong>os</strong>e colhidas informações em fontes secundárias e em uma pesquisa, ondeforam efetuadas entrevistas, em profundidade, com especialistas em vinh<strong>os</strong>,sendo oito entrevistad<strong>os</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e sete <strong>no</strong> Uruguai. P<strong>os</strong>teriormente, fez-seuma pesquisa exploratória, através do método de estud<strong>os</strong> de cas<strong>os</strong> múltipl<strong>os</strong>,com duas unidades de análise em cada caso. Foram realizadas entrevistas, emprofundidade, em cinco vinícolas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e em quatro <strong>no</strong> Uruguai, selecionadasentre as maiores elaboradoras de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, observando-se as peculiaridadesdo setor em cada país. De acordo com a análise de conteúdo realizada, foiconfirmado o previsto na literatura sobre estratégias. A globalização e o MercadoComum do Sul (Merc<strong>os</strong>ul) afetaram, de forma direta ou indireta, as estratégiasde produt<strong>os</strong> e de mercad<strong>os</strong> <strong>para</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>. <strong>As</strong> ações estratégicastambém foram moldadas, e seus retorn<strong>os</strong> influenciad<strong>os</strong> pelo ambiente d<strong>os</strong> paísese da indústria em particular, assim como pelo ambiente inter<strong>no</strong> das empresas.No ambiente da indústria, salienta-se, <strong>no</strong> Uruguai, o planejamento setorialda cadeia produtiva. Quanto ao processo estratégico, verificou-se que a formulaçãoe a implementação das estratégias ocorreram, preponderantemente, deforma simultânea. Com relação ao conteúdo das estratégias, cabe ressaltar queas de produt<strong>os</strong> e produção foram semelhantes em todas as vinícolas participantesda pesquisa. Em relação às demais estratégias, <strong>no</strong>tam-se maiores similaridadesentre as vinícolas de um mesmo país. Quanto às estratégias de mercad<strong>os</strong>e distribuição, destacaram-se as significativas diferenças relatadas nasestratégias <strong>para</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> intern<strong>os</strong> de amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países. No que se refere àsalianças estratégicas, oito vinícolas realizaram algum tipo de aliança. Tambémfoi p<strong>os</strong>sível detectar que todas as estratégias estão inter-relacionadas, tendoem vista <strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> da organização. Algumas foram deliberadas racionalmente,enquanto outras foram emergentes. Pôde-se concluir que, não obstante acomplexidade de se definir o que é estratégia e as diferenças das vinícolaspesquisadas e de seus ambientes extern<strong>os</strong>, <strong>os</strong> estud<strong>os</strong> de cas<strong>os</strong> investigad<strong>os</strong>p<strong>os</strong>sibilitam a generalização analítica.


12Palavras-chaveEstratégias <strong>empresariais</strong>; vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>; vinícolas-<strong>Brasil</strong>; vinícolas-Uruguai.


13ABSTRACTThis study was stimulated by the quick and broad changes in worldwide andregional wine markets, which had meaningful impact on some wineries. Themain goal of the study was to describe and compare the formulation process andthe implementation process of strategies for the fine wines of Brazilian andUruguayan wineries, after 1990. Therefore were realized two qualitative researches.The first one collected data and information at secondary sources as well asrealized a research through eight in-depth interviews with Brazilian experts andseven Uruguayans. Afterwards, an exploratory research took place using multiplecase study method with two analytical units in each case. In five wineries inBrazil and four in Uruguay, selected among the biggest fine wine makers, wererealized through in-depth interviews, observing the sector singularities of eachcountry. The analysis confirmed all foresights of the literature on strategies. Theglobalization and the Merc<strong>os</strong>ul affected directly or indirectly the product andmarket strategies for fine wines. The strategic actions were also molded and itsresults influenced by the countries environment and particularly by the industries,as well as by the internal environment of the companies. Within the industry, thesector planning of the productive chain is distinguished in Uruguay. <strong>As</strong> to thestrategic process, it was verified that the formulation and the implementation ofthe strategies occurred alm<strong>os</strong>t all simultaneously. With respect to the content ofthe strategies it is important to highlight that de product and production strategieswere alike in all wineries covered by the research. With respect to the remainingstrategies, greater similarities among wineries of the same country can bementioned. <strong>As</strong> to the market and distribution strategies, outstanding differenceswere mentioned on the strategies for internal market of both countries. Concerningstrategic alliances, eight wineries realized some kind of alliance. It was alsop<strong>os</strong>sible do detect that all strategies are inter-related, concerning the objectivesof the organization. Some strategies were rationally deliberate, whereas othersemergent. One may conclude that, despite the complexity to define what strategyis and the existing differences among the researched wineries and their externalenvironment, the case study investigated make it p<strong>os</strong>sible do analytical generalize.Key wordsCompanies strategies; fine wines; wineries-Brazil; wineries-Uruguay.


15SUMÁRIOLISTA DE SIGLAS ........................................................................LISTA DE FIGURAS ......................................................................LISTA DE TABELAS .....................................................................LISTA DE QUADROS ....................................................................1 - VISÃO CONTEXTUAL DA PESQUISA .......................................1.1 - Introdução ........................................................................1.2 - Justificativa do estudo ........................................................1.3 - Objetiv<strong>os</strong> ..........................................................................1.3.1 - Objetivo geral .........................................................1.3.2 - Objetiv<strong>os</strong> específic<strong>os</strong> ..............................................2 - REFERENCIAL TEÓRICO .........................................................2.1 - A globalização e o Merc<strong>os</strong>ul ...............................................2.1.1 - A globalização ........................................................2.1.2 - O Merc<strong>os</strong>ul ............................................................2.2 - <strong>As</strong> estratégias <strong>empresariais</strong> ...............................................2.2.1 - A evolução da estratégia na administração ................2.2.2 - Os vári<strong>os</strong> conceit<strong>os</strong> de estratégia .............................2.2.3 - <strong>As</strong> estratégias e as vantagens competitivas ..............2.2.4 - <strong>As</strong> estratégias organizacionais n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>internacionais .........................................................2.2.5 - <strong>As</strong> estratégias das empresas domésticas frente àglobalização e à regionalização ...............................2.2.6 - <strong>As</strong> estratégias e as culturas nacionais e organizacionais..................................................................3 - MÉTODO ................................................................................3.1 - O método na pesquisa social ............................................3.1.1 - Tip<strong>os</strong> de pesquisas .................................................3.2 - Fase pre<strong>para</strong>tória .............................................................3.2.1 - Pesquisa em fontes secundárias ...........................3.2.2 - Entrevistas com expert<strong>os</strong> na área vinícola ................192123252728313636363737384250515766677881838384868687


163.3 - Pesquisa qualitativa ..........................................................3.3.1 - Estudo de caso ......................................................3.3.2 - Seleção de am<strong>os</strong>tra ................................................3.3.3 - Roteiro das entrevistas ............................................3.3.4 - Coleta de dad<strong>os</strong> ......................................................3.3.5 - Análise das entrevistas ............................................4 - RESULTADOS DA FASE PREPARATÓRIA .................................4.1 - Os vinh<strong>os</strong>: uma visão geral ................................................4.1.1 - O vinho fi<strong>no</strong> e suas características ............................4.1.2 - A evolução da indústria do vinho <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong>Uruguai: breve histórico ...........................................4.1.3 - O mercado de vinh<strong>os</strong> ..............................................4.2 - Análise das entrevistas d<strong>os</strong> expert<strong>os</strong> ..................................4.2.1 - Principais problemas das empresas de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> ....4.2.2 - A abertura de mercad<strong>os</strong> e as importações .................4.2.3 - A abertura d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> e as exportações ...............4.2.4 - A entrada de capital estrangeiro na indústria de vinh<strong>os</strong>4.2.5 - <strong>As</strong> principais instituições da área do vinho ................4.2.6 - Tendências d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> .....................................4.3 - À guisa de algumas reflexões .............................................5 - RESULTADOS DA FASE QUALITATIVA ......................................5.1 - Caracterização das empresas entrevistadas ........................5.1.1 - Empresas brasileiras ...............................................5.1.2 - Empresa uruguaias .................................................5.1.3 - Uma visão conjunta das empresas ............................5.2 - Os process<strong>os</strong> de formulação e de implementação das estratégias..............................................................................5.2.1 - A formulação e a implementação: process<strong>os</strong> interligad<strong>os</strong>5.2.2 - Formação e implementação: uma análise com<strong>para</strong>tiva5.3 - O conteúdo das estratégias ....................................................5.3.1 - Estratégias de produto e de produção .......................5.3.2 - Estratégias <strong>para</strong> o mercado inter<strong>no</strong> ...........................5.3.3 - Estratégias <strong>para</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong> ....................5.3.4 - Estratégias de recurs<strong>os</strong> human<strong>os</strong> ............................5.3.5 - Estratégias financeiras ............................................5.3.6 - <strong>As</strong> analogias e dissimilitudes existentes n<strong>os</strong> conteúd<strong>os</strong>das estratégias ................................................959597102104107109109110113122135136139140142144147150157158159163167168170184189189197202208210213


175.4 - <strong>As</strong> estratégias de cooperação .............................................5.4.1 - <strong>As</strong> estratégias de relacionamento com as instituições5.4.2 - <strong>As</strong> alianças estratégicas ............................................5.4.3 - Algumas análises com<strong>para</strong>tivas .................................6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................6.1 - Conclusões ......................................................................6.2 - Limitações do estudo .........................................................6.3 - Implicações da pesquisa e sugestões <strong>para</strong> estud<strong>os</strong> futur<strong>os</strong>REFERÊNCIAS .............................................................................APÊNDICE ...................................................................................Apêndice A - Roteiro das entrevistas exploratórias .......................Apêndice B - Roteiro das entrevistas nas empresas ......................218219221230235235241242245261263267


19LISTA DE SIGLASABE - <strong>As</strong>ociación de Bodegas ExportadorasAgavi - <strong>As</strong>sociação Gaúcha de VinicultoresALCA - Área de Livre-Comércio das AméricasAlimur - Aliment<strong>os</strong> do Uruguai Ltda.Apex - Agência de Promoção às ExportaçõesAprovale - <strong>As</strong>sociação d<strong>os</strong> Produtores de Vinh<strong>os</strong> Fin<strong>os</strong> do Vale d<strong>os</strong> Vinhed<strong>os</strong><strong>As</strong>ean - <strong>As</strong>sociação das Nações do Sudoeste <strong>As</strong>iáticoBCG - B<strong>os</strong>ton Consulting GroupCAUCE - Convênio Argenti<strong>no</strong>-Uruguaio de Cooperação EconômicaCBU - Centro de Bodeguer<strong>os</strong> del UruguayCNPUV - Centro Nacional de Pesquisa de Uva e VinhoCREA - Centr<strong>os</strong> Regionales de Experimentación AgrícolaEmbrapa - Empresa <strong>Brasil</strong>eira de Pesquisa AgropecuáriaEUA - Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong> da AméricaF&A - Fusões e AquisiçõesFecovinho - Federação de Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do SulFIERGS - Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do SulFundovitis - Fundo de Desenvolvimento da Vitivinicultura do EstadoGATT - General Agreement on Tariffs and TradeGE - General EletricIPVV - Indicação de Procedência Vale d<strong>os</strong> Vinhed<strong>os</strong>Ibravin - Instituto <strong>Brasil</strong>eiro do VinhoICMS - Imp<strong>os</strong>to Sobre Circulação de Mercadorias e Serviç<strong>os</strong>IDE - Investimento direto estrangeiroInavi - Instituto Nacional de Vitivinicultura Agrícola del UruguayINIA - Instituto Nacional de Investigación AgrícolaLatu - Laboratorio Tec<strong>no</strong>lógico del UruguayMerc<strong>os</strong>ul - Mercado Comum do SulMSM - Marketing Strategic MakingNAFTA - North American Free Trade AgreementOIV - Organização Internacional da Uva e do VinhoOMC - Organização Mundial do ComércioONV - Organización Nacional de VinicultoresPEC - Programa de Expansão ComercialP&D - Pesquisa e Desenvolvimento


20PIB - Produto Inter<strong>no</strong> BrutoPICE - Programa de Integração e Cooperação EconômicaPIMS - Profit Impact Market StrategiesRVM - Regulamento Vitivinícola do Merc<strong>os</strong>ulSWOT - Strengths/Weaknesses/Opportunities/ThreatsTEC - Tarifa Externa ComumUE - União EuropéiaUvibra - União <strong>Brasil</strong>eira de VitiviniculturaVCP - Vi<strong>no</strong> de Calidad PreferenteZLC - Zona de livre-comércio


21LISTA DE FIGURASFigura 2.1 -Figura 4.1 -Figura 4.2 -Figura 4.3 -Grau de integração e de interdependência mútua dasempresas ......................................................................Exportações de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> do <strong>Brasil</strong> e do Uruguai —1996-02 .........................................................................Importações de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> do <strong>Brasil</strong> e do Uruguai —1998-02 .........................................................................Relação da comercialização de vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong> e nacionais<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong> Uruguai — 1996-02 ......................75134134135


23LISTA DE TABELASTabela 4.1 -Tabela 4.2 -Tabela 4.3 -Tabela 4.4 -Comercialização de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> importad<strong>os</strong> e de vinh<strong>os</strong>fin<strong>os</strong> nacionais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> — 1996-02 ..............................Comercialização de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> inter<strong>no</strong> eexter<strong>no</strong> do <strong>Brasil</strong> — 1998-02 .........................................Comercialização de vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong> e de vinh<strong>os</strong> VCPnacionais <strong>no</strong> Uruguai — 1994-02 ..................................Comercialização de vinh<strong>os</strong> VCP n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> inter<strong>no</strong> eexter<strong>no</strong> do Uruguai — 1994-02 ......................................128129131133


25LISTA DE QUADROSQuadro 2.1 -Quadro 3.1 -Quadro 4.1 -Quadro 4.2 -Quadro 5.1 -Dimensões das 10 escolas de Mintzberg ......................Tip<strong>os</strong> básic<strong>os</strong> de desenho <strong>para</strong> estud<strong>os</strong> de cas<strong>os</strong> .........Principais joint ventures com empresas estrangeiras <strong>no</strong>Uruguai — 2002 .........................................................Principais resultad<strong>os</strong> das entrevistas realizadas comespecialistas do <strong>Brasil</strong> e do Uruguai — 2002 ................Participação das empresas uruguaias e brasileirasem alianças estratégicas ................................................6496144148231


271 - VISÃO CONTEXTUALDA PESQUISAA opção do tema de um trabalho acadêmico surge de interesses e circunstânciassociais e/ou profissionais decorrentes da inserção do pesquisador narealidade, com suas razões e objetiv<strong>os</strong>. A forma de conduzi-lo é influenciadapela temática selecionada.Nesta tese, o tema atende a<strong>os</strong> interesses da pesquisadora, que vem atuandona área de pesquisa internacional, <strong>no</strong> Rio Grande do Sul. Havia o interesse emanalisar como o incremento da concorrência em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> afetou asempresas e quais as estratégias adotadas pelas organizações e pelo setor devinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, em especial, <strong>para</strong> verificar se a abertura comercial propiciou <strong>no</strong>vasoportunidades e desafi<strong>os</strong>.A escolha do produto, o vinho fi<strong>no</strong>, deve-se a dois fatores. É um produtoque tem acompanhado a evolução de quase toda a humanidade, à exceçãodaquelas culturas que não permitem a bebida alcoólica; é relevante <strong>para</strong> aseco<strong>no</strong>mias que têm <strong>no</strong> agronegócio a base <strong>para</strong> a manutenção da população <strong>no</strong>campo, em uma atividade que p<strong>os</strong>sibilita um nível e uma distribuição de rendaadequad<strong>os</strong>. E, apesar de ser um produto inserido dentro de um segmento industrialtradicional, como o é o de bebidas, este vem se alterando, de forma significativa,em nível mundial.Sendo assim, foi realizada uma pesquisa junto às empresas de vinh<strong>os</strong>fin<strong>os</strong> do Uruguai e do <strong>Brasil</strong>, <strong>para</strong> descrever e com<strong>para</strong>r <strong>os</strong> process<strong>os</strong> de formulaçãoe de implementação das estratégias <strong>empresariais</strong>, tendo em vista aglobalização e o Mercado Comum do Sul.Para contextualizar a pesquisa, este capítulo compreende três itens. No1.1, faz-se uma introdução ao tema, destacando-se como <strong>os</strong> process<strong>os</strong> deglobalização e de regionalização das eco<strong>no</strong>mias podem afetar as estratégiasdas empresas (as quais, por sua vez, também podem alterar o ambiente), comoa indústria de vinho tem-se alterado ao longo d<strong>os</strong> últim<strong>os</strong> an<strong>os</strong> e como estásubdivida esta tese. No 1.2, apresenta-se a justificativa do tema escolhido, ondeé ressaltada a importância de se verificar como ocorre o processoestratégico nas empresas de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>. No 1.3, dada a delimitação do tema,apresentam-se <strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> da pesquisa.


281.1 - IntroduçãoA abertura das eco<strong>no</strong>mias e a assinatura de inúmer<strong>os</strong> acord<strong>os</strong> de naturezaeconômico-comercial, ao estimularem o aumento das transações comerciais,intensificam a concorrência entre as empresas, provocando significativas alteraçõesn<strong>os</strong> seus ambientes intern<strong>os</strong> e extern<strong>os</strong>, com reflex<strong>os</strong> sobre acompetitividade e as estratégias <strong>empresariais</strong>. <strong>As</strong> crescentes interaçõesregionais e globais, mais intensas nas últimas décadas, foram acompanhadasda emergência contínua de <strong>no</strong>v<strong>os</strong> atores n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, do incremento do tamanhoe da concentração do poder das empresas multinacionais e globais.A passagem de um mercado internacional, com interação limitada entre <strong>os</strong>mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong>, <strong>para</strong> um mercado global não implicou apenas mudanças deescala, mas de escopo (Oliver, 2000). A globalização e/ou a regionalização d<strong>os</strong>mercad<strong>os</strong>, a aceleração da mudança tec<strong>no</strong>lógica, a dinamização do ciclo devida d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> e as mudanças n<strong>os</strong> hábit<strong>os</strong> de consumo são alguns d<strong>os</strong>fatores que podem originar profundas transformações nas empresas e alteraras vantagens competitivas existentes. Além disso, o acirramento da concorrênciaglobal tem ocasionado uma crescente redução das margens de lucro e dificuldades<strong>para</strong> manter <strong>os</strong> níveis de competitividade, requerendo, muitas vezes,modificações nas práticas <strong>empresariais</strong> e reestruturação das firmas.Nesse contexto, existem pouc<strong>os</strong> negóci<strong>os</strong> que não estão exp<strong>os</strong>t<strong>os</strong> à concorrênciaexterna, o que obriga <strong>os</strong> empresári<strong>os</strong> locais a superarem <strong>os</strong> referenciaisdo mercado inter<strong>no</strong> e a terem como parâmetro a prática internacional, ampliandoa necessidade de muitas empresas, mesmo daquelas que não participamd<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> internacionais, de reavaliarem o seu negócio e as suas estratégias.E ser competitivo internacionalmente tor<strong>no</strong>u-se um requisito básico <strong>para</strong>manter-se em seu próprio mercado.A abertura d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, ao aumentar a exp<strong>os</strong>ição das empresas à concorrênciainternacional, ocasio<strong>no</strong>u, ao mesmo tempo, <strong>no</strong>vas oportunidades egrandes desafi<strong>os</strong>. O incremento da concorrência deu-se pela entrada de produt<strong>os</strong>,em seus mercad<strong>os</strong> de atuação, com qualidade e preç<strong>os</strong> competitiv<strong>os</strong>; atravésda instalação de <strong>no</strong>vas empresas n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> doméstic<strong>os</strong>, muitas delasmultinacionais, com elevad<strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> financeir<strong>os</strong>, avançadas tec<strong>no</strong>logias emarcas consagradas; e pela grande articulação entre empresas de diversaspartes do mundo, <strong>para</strong> penetrar em <strong>no</strong>v<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> com maiores vantagens.Essa alteração do ambiente competitivo colocou em jogo a própria sobrevivênciadas empresas, até mesmo em seus mercad<strong>os</strong> doméstic<strong>os</strong>, em especial<strong>para</strong> aquelas que estavam ac<strong>os</strong>tumadas a um ambiente antes protegido porbarreiras tarifárias e não tarifárias.


Ao colocar em evidência a questão da competitividade nas empresas, aglobalização ocasio<strong>no</strong>u uma necessidade de reavaliar <strong>os</strong> negóci<strong>os</strong> desenvolvid<strong>os</strong>.Nov<strong>os</strong> produt<strong>os</strong>, process<strong>os</strong> de produção e de distribuição surgem constantemente,e alguns preç<strong>os</strong> vêm caindo <strong>no</strong> comércio internacional, pelo incrementoda oferta, pela alteração de insum<strong>os</strong>, process<strong>os</strong> e canais de distribuição. Emdecorrência, as empresas passaram, muitas vezes, a ter necessidade de i<strong>no</strong>var,desenvolvendo <strong>no</strong>vas idéias e práticas, criando <strong>no</strong>vas estratégias oureformulando as antigas.Portanto, com a globalização, <strong>os</strong> negóci<strong>os</strong> estão mais complex<strong>os</strong> edinâmic<strong>os</strong>, e o ambiente empresarial mais competitivo, instável e repleto derisc<strong>os</strong>. Os consumidores tornam-se mais exigentes, dada a maior variedade deprodut<strong>os</strong> disponíveis, intensificando ainda mais a concorrência. O grande desafiopassou a ser como construir e manter <strong>os</strong> negóci<strong>os</strong> nesse <strong>no</strong>vo ambiente. <strong>As</strong>empresas devem estar atentas <strong>para</strong> p<strong>os</strong>sibilidades e risc<strong>os</strong> p<strong>os</strong>síveis da suaincorporação, em maior ou me<strong>no</strong>r grau, à eco<strong>no</strong>mia mundial e <strong>para</strong> as alteraçõesem curso da competitividade, próprias do mundo contemporâneo.Esse ambiente global, acompanhado de relações entre países mais intensase profundas, decorrentes da formação d<strong>os</strong> bloc<strong>os</strong> econômic<strong>os</strong>, origina <strong>no</strong>vasfontes de instabilidade, com risco de exclusão daquelas empresas que nãoestiverem pre<strong>para</strong>das <strong>para</strong> as alterações necessárias. A formação do Merc<strong>os</strong>ul,ao eliminar as tarifas intrabloco, estimulou as transações comerciais entre empresasde um mesmo segmento industrial e, particularmente, entre filiais deuma mesma empresa, pela especialização propiciada, bem como a formaçãode alianças estratégicas entre empresas d<strong>os</strong> países-membr<strong>os</strong> e também comas de fora do bloco, tendo em vista o mercado ampliado que o Merc<strong>os</strong>ulrepresenta.Nesse cenário, o mercado mundial de vinh<strong>os</strong> alterou-se, com o surgimentode <strong>no</strong>v<strong>os</strong> e importantes atores <strong>no</strong> mercado, em distintas regiões, e com aocorrência de inúmeras aquisições, fusões e alianças estratégicas entre empresas,aumentando a concorrência em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, com reflex<strong>os</strong> sobre asvinícolas já instaladas.A resp<strong>os</strong>ta a esses <strong>no</strong>v<strong>os</strong> desafi<strong>os</strong> depende não só da empresa, mastambém do setor ao qual ela está vinculada, pois a “(...) estrutura industrialtem uma forte influência na determinação das regras competitivas do jogo,assim como das estratégias potencialmente disponíveis <strong>para</strong> a empresa” (Porter,1996a, p. 22).Por conseguinte, as mudanças n<strong>os</strong> ambientes sociopolítico, econômico,legal e tec<strong>no</strong>lógico, dentre outras, afetam o nível de concorrência dentro de umsegmento industrial, podendo alterar a p<strong>os</strong>ição das empresas dessa indústria.29


30Mas <strong>os</strong> atores organizacionais também podem influir <strong>no</strong> ambiente, seja pel<strong>os</strong>eu grande poder econômico, sob a forma de pressão, seja como resultado deuma i<strong>no</strong>vação fundamental que afete a indústria por exemplo.Essa relação organização-ambiente, que, na visão indeterminística, é percebidacomo partes interligadas em um continuum, implica que, se, por umlado, o ambiente afeta a organização, por outro, <strong>os</strong> tomadores de decisão,situad<strong>os</strong> <strong>no</strong> topo da organização, podem alterá-lo, provocando ou assumindo astransformações tanto em nível tec<strong>no</strong>lógico como de mercado (Bignetti; Paiva,2001). E essa situação pode gerar <strong>no</strong>vas estratégias e/ou adaptação dasexistentes.O vinho fi<strong>no</strong> não é um produto homogêneo, tem níveis de qualidade e depreç<strong>os</strong> diferenciad<strong>os</strong>, destinando-se a consumidores de divers<strong>os</strong> níveis de renda,em especial a<strong>os</strong> de renda mais elevada, que são, muitas vezes, conhecedoresde padrões internacionais. Ele pode ser produzido em diferentes localidades,cada uma com as suas peculiaridades, e em vinícolas de distint<strong>os</strong> tamanh<strong>os</strong>e níveis tec<strong>no</strong>lógic<strong>os</strong>. E as vinícolas que atuam apenas <strong>no</strong> mercadodoméstico também estão sujeitas ao ambiente competitivo, atual e potencial,d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> inter<strong>no</strong> e exter<strong>no</strong> e necessitam tomar como referência o padrãode competitividade internacional.Por outro lado, <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> internacionais são um meio de a empresacrescer, melhorar sua p<strong>os</strong>ição competitiva e consolidar sua performance financeira,onde as estratégias de marketing internacional constituem um componentecrítico. <strong>As</strong> vinícolas elaboradoras de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> devem ter habilidades<strong>para</strong> responder, efetivamente, às mudanças ocorridas, <strong>para</strong> identificar eventuaisoportunidades <strong>no</strong> mercado e <strong>para</strong> se anteciparem às situações passíveis deprejuízo ao seu desempenho. Isto é, <strong>para</strong> desenvolver uma estratégia eficaz demarketing internacional, as vinícolas devem conhecer todas as alternativas p<strong>os</strong>síveisde sua inserção e do aumento de sua participação nesse mercado.Diante da globalização e d<strong>os</strong> process<strong>os</strong> de integração d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, como incremento da concorrência em níveis mundial e regional, esta tese buscaidentificar, de forma com<strong>para</strong>da, como as empresas vinícolas produtoras devinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> do <strong>Brasil</strong> e do Uruguai reagiram, quais as estratégias adotadas <strong>para</strong>enfrentar as alterações ocorridas e como essas estratégias <strong>empresariais</strong> foramformadas e implementadas. Espera-se que esta pesquisa p<strong>os</strong>sa contribuir <strong>para</strong>a maior compreensão de um produto industrial que é complexo, dadas as suasinter-relações a jusante e a montante.Esta tese de doutorado está estruturada em seis capítul<strong>os</strong>, conforme segue.O Capítulo 1, que inclui esta introdução, contempla também a justificativa<strong>para</strong> a realização deste estudo e <strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> da pesquisa. O Capítulo 2 abrangeuma revisão teórica d<strong>os</strong> process<strong>os</strong> de globalização e de regionalização, com


ênfase <strong>no</strong> Merc<strong>os</strong>ul, e das estratégias <strong>empresariais</strong>, que subsidiam as análiseselaboradas. No Capítulo 3, apresenta-se o método de pesquisa adotado <strong>para</strong> acoleta d<strong>os</strong> dad<strong>os</strong> e das informações <strong>para</strong> as duas pesquisas realizadas, emamb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países. No Capítulo 4, demonstram-se <strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> da fase pre<strong>para</strong>tória,que compreende uma análise da indústria do vinho e das entrevistas com<strong>os</strong> expert<strong>os</strong> dessa indústria. No Capítulo 5, são analisad<strong>os</strong> <strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> dafase qualitativa, que abrange as entrevistas realizadas nas vinícolas brasileiras euruguaias. No Capítulo 6, são apresentadas as considerações finais, queincluem as conclusões, as limitações da pesquisa, bem como sugestões<strong>para</strong> futur<strong>os</strong> estud<strong>os</strong>. Por fim, são apresentad<strong>os</strong> a lista de referências e <strong>os</strong>apêndices.311.2 - Justificativa do estudoO acirramento da globalização d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> e o aprofundamento d<strong>os</strong> process<strong>os</strong>de integração afetaram a concorrência na indústria de vinh<strong>os</strong> e alterarama p<strong>os</strong>ição de algumas vinícolas n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> brasileiro e uruguaio, tendoem vista a entrada de produt<strong>os</strong> importad<strong>os</strong> n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> doméstic<strong>os</strong>, <strong>os</strong> quais,muitas vezes, passaram a ser o referencial <strong>para</strong> o consumidor. A maior exp<strong>os</strong>içãoà concorrência internacional representou uma ameaça <strong>para</strong> algumas empresasde vinh<strong>os</strong> de me<strong>no</strong>r competitividade e colocou as questões da i<strong>no</strong>vação,da produtividade, da qualidade e d<strong>os</strong> cust<strong>os</strong>, dentre outras, como relevantes<strong>para</strong> enfrentar a competição com empresas localizadas em qualquer parte domundo, que têm, agora, maior facilidade <strong>para</strong> entrar em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>.Por conseguinte, a partir do final da década de 80 e principalmente <strong>no</strong>decorrer d<strong>os</strong> an<strong>os</strong> 90, as empresas produtoras de vinho fi<strong>no</strong> brasileiras euruguaias, preocupadas em garantir a sua sobrevivência e em ampliar sua participaçãon<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, têm dedicado um esforço, cada vez mais intenso, <strong>para</strong>se adequarem ou se anteciparem às freqüentes alterações n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>.Mudanças <strong>no</strong> ambiente macroeconômico em que se inserem as empresas,i<strong>no</strong>vações tec<strong>no</strong>lógicas, modificações n<strong>os</strong> g<strong>os</strong>t<strong>os</strong> e preferências d<strong>os</strong> consumidores,entrada de <strong>no</strong>v<strong>os</strong> concorrentes n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, problemas de suprimentode matérias-primas ou junto a<strong>os</strong> canais de distribuição, dentre outr<strong>os</strong>, têmocorrido com intensa rapidez. E, dependendo da magnitude dessas mudanças,elas podem alterar a maneira de conduzir <strong>os</strong> negóci<strong>os</strong>, exigir <strong>no</strong>vas estratégiasou adaptação das já existentes, dadas as maiores complexidade e instabilidadeambientais.


32Mas não é fácil conceituar as estratégias, pois elas podem ser vistas tantocomo “uma combinação única de valor”, segundo Porter (1989, 1996a e 1998),como decorrentes de um processo de melhorias <strong>para</strong> que a empresa p<strong>os</strong>saexercer atividades semelhantes melhor do que <strong>os</strong> rivais (Ansof; Mcdonnell, 1993;Mintzberg, 2001; Motta, 1993; Quinn, 2001). Dada a p<strong>os</strong>sibilidade de conceituaras estratégias de várias maneiras, estas podem ser analisadas sob diferentesprismas, <strong>os</strong> quais podem ser complementares — como partes do mesmo processo—, ou divergentes — como diferentes process<strong>os</strong> (Mintzberg; Lampel,1999; Mintzberg; Ahlstrand; Lampel, 2000).<strong>As</strong> estratégias dependem, em grande parte, de como <strong>os</strong> detentores depoder nas empresas percebem a sua situação frente à concorrência (Shoham;Fiegenbaum, 1999). E as condições da indústria são importantes na medida emque são percebidas por aqueles que tomam as decisões. Como a culturainfluencia o estilo de pensar, ela “(...) influencia o processo de formação deestratégia” (Mintzberg; Ahlstrand; Lampel, 2000, p.197). Portanto, distint<strong>os</strong> atorespodem perceber o mesmo fenôme<strong>no</strong> de maneiras diversas, o que explica comoempresas do mesmo setor atuam de forma diferente frente às condições dadas.Destaca-se, pois, a relação entre as estratégias e <strong>os</strong> valores d<strong>os</strong> principaisadministradores e de seus fundadores (Hofstede, 1985; Jonhson,1999a;Schein,1984).<strong>As</strong>sim, o processo estratégico, que engloba a formulação e aimplementação de estratégias, pode ser distinto entre as empresas, pois nãoexiste uma estratégia única ou melhor, dada a sua amplitude. Através daimplementação das estratégias, as empresas buscam aumentar as suas vantagenscompetitivas e, por decorrência, o seu desempenho.Apesar de men<strong>os</strong> ambíguo, também não existe um consenso sobre o conceitode implementação das estratégias. Noble e Mokwa (1999), através de umarevisão da literatura, apresentam distint<strong>os</strong> conceit<strong>os</strong>, dentre eles, aimplementação como um estágio final do processo da estratégia; uma espéciede controle ou monitoramento; a aplicação de recurs<strong>os</strong> <strong>para</strong> uma estratégia,etc. Também destacam que as estratégias de marketing só p<strong>os</strong>sibilitam à organizaçãoum retor<strong>no</strong> superior se forem implementadas com sucesso. Por isso,de acordo com levantament<strong>os</strong> da revista Fortune, grande parte d<strong>os</strong> fracass<strong>os</strong><strong>empresariais</strong> não decorre de falhas <strong>no</strong> pensamento estratégico, mas, sim, desua má execução, uma vez que o ponto-chave <strong>para</strong> melhorar o desempenho deuma empresa está na implementação da estratégia (Bennett et al. 2001). Contudo,dependendo do olhar sobre as estratégias, o “(...) verdadeiro problemapode estar além: na se<strong>para</strong>ção entre formulação e implementação, na dissociaçãoentre pensar e agir” (Mintzberg; Ahlstrand; Lampel, 2000, p. 135). Ademais, emalguns cas<strong>os</strong>, as empresas podem encontrar resistências na sua implementação,


quando ocorrem alterações significativas nas empresas, com repercussõessobre as relações internas de poder.Tendo em vista que não existe um conceito único de estratégia e que elapode se formar de distintas maneiras e ser implementada de forma simultâneaou sucedendo a sua formulação, torna-se relevante compreendê-la. Em virtudedas rápidas e abrangentes mudanças n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, com <strong>os</strong> process<strong>os</strong> deglobalização e de regionalização, e de seus impact<strong>os</strong> sobre as empresas,justifica-se estudar o processo estratégico em empresas de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> <strong>no</strong><strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong> Uruguai. É importante destacar que o segmento de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> éparte da indústria vinícola, pois ela inclui vári<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> de vinh<strong>os</strong>, espumantese derivad<strong>os</strong> do vinho.Inicialmente, pensou-se em considerar também <strong>os</strong> espumantes; porémesse tipo de produto não é representativo <strong>no</strong> Uruguai, o que dificultariauma análise com<strong>para</strong>tiva. E, em relação a<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> de mesa, apesar de tambémserem transacionad<strong>os</strong> externamente pelo <strong>Brasil</strong>, sua quantidade vem diminuindoacentuadamente, 1 e, em geral, não são exportad<strong>os</strong> em outr<strong>os</strong> paísesprodutores.Para este estudo, a escolha d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> deve-se a vári<strong>os</strong> fatores,dentre <strong>os</strong> quais se salientam: a produção de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> <strong>para</strong> o mercado, apesarde ser recente <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong> Uruguai, tem destacado papel n<strong>os</strong> principaispaíses produtores de vinh<strong>os</strong> há bastante tempo; <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> constituemparte de uma indústria já existente, em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países, há mais de umséculo; a indústria vinícola é caracterizada pela coexistência de empresas dediferentes tamanh<strong>os</strong>, com predominância, em número, de pequenas e médiasempresas, muitas das quais com características de gestão familiar; e grandeparte das empresas produz, simultaneamente, vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> e outr<strong>os</strong> produt<strong>os</strong>vinícolas. Além do mais, tem se observado uma concentração da produção acompanhadade uma desconcentração d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>.A opção por fazer uma análise com<strong>para</strong>tiva das estratégias de vinícolasprodutoras de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong> Uruguai, por sua vez, deve-se, emprimeiro lugar, ao fato de haver interesse em com<strong>para</strong>r empresas do <strong>Brasil</strong> comas de outro país-membro do Merc<strong>os</strong>ul. A escolha recaiu sobre as empresasuruguaias, porque, por um lado, na Argentina, a indústria vinícola é muito maior,caracterizada por algumas empresas domésticas de grande porte de produção,com elevado volume de comercialização interna e externa há muit<strong>os</strong> an<strong>os</strong>, alémda intensidade de alianças estratégicas realizadas com empresas estrangeiras;331De acordo com dad<strong>os</strong> da União <strong>Brasil</strong>eira de Vitivinicultura, as exportações de vinh<strong>os</strong> demesa foram de 1.741 mil litr<strong>os</strong> em 1998; 1.366 mil litr<strong>os</strong> em 1999; 334 mil litr<strong>os</strong> em 2000; 160mil litr<strong>os</strong> em 2001; e 67 mil litr<strong>os</strong> em 2002.


34e, por outro, o Paraguai é um produtor muito peque<strong>no</strong>, quase marginal, sendoum grande importador de vinh<strong>os</strong> d<strong>os</strong> parceir<strong>os</strong> do bloco. Outr<strong>os</strong>sim, as empresasbrasileiras e uruguaias produtoras de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> passaram a se reestruturarcom a abertura de amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, e, a partir de 1990, a produção desseproduto tomou um <strong>no</strong>vo impulso, com algumas alterações significativas n<strong>os</strong>process<strong>os</strong> estratégic<strong>os</strong> das vinícolas.O número de vinícolas que comercializaram vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, objeto deste estudo,em 2002, era de 89 <strong>no</strong> Uruguai e de 119 <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, de acordo com informaçõesobtidas junto ao Inavi e à Uvibra respectivamente.Os vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, apesar de sua me<strong>no</strong>r representatividade tanto pelo númerode empresas envolvidas como pelo seu faturamento, são muito importantesna indústria vinícola, pois agregam maior valor à produção. Ao envolveremmaiores cuidad<strong>os</strong> em todo o seu processo produtivo — desde o manejo e apodas das uvas —, além de maiores níveis tec<strong>no</strong>lógic<strong>os</strong> e conheciment<strong>os</strong>e<strong>no</strong>lógic<strong>os</strong>, contribuem, indiretamente, <strong>para</strong> a melhoria d<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> devinh<strong>os</strong>, pela disseminação d<strong>os</strong> conheciment<strong>os</strong> e do uso de parte das instalaçõesfísicas comuns. Como já comentado anteriormente, muitas empresas produzemtambém outr<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> de vinh<strong>os</strong>, cujo número é significativamente maiselevado, em especial <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.A produção de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> é relevante fonte de ocupação da mão-de-obra,pelo seu encadeamento com o cultivo da uva, feito, em geral, nas pequenaspropriedades e na agricultura familiar, e por contribuir <strong>para</strong> a obtenção de divisasatravés da exportação, p<strong>os</strong>sibilitando uma redução do déficit ou, até mesmo,um superávit <strong>no</strong> saldo da balança comercial de produt<strong>os</strong> vinícolas.Existem várias pesquisas e estud<strong>os</strong> sobre a indústria de vinh<strong>os</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>,dentre <strong>os</strong> quais se podem citar <strong>os</strong> de Gerchman (1995), Instituto <strong>Brasil</strong>eiro doVinho (2001), Lapolli et al. (1995), Mello e Matuella (1999), Protas et al. (2001),Sant<strong>os</strong> (1999), Vargas (2000), Wilk (2000), Zylberstajn e Miele (2001), além dealguns estud<strong>os</strong> sobre vinícolas específicas, como Hexsel e Toni (2002) e Jalfim(1991; 1993). No Uruguai, as pesquisas são preponderantes na área da produçãoda uva, existindo men<strong>os</strong> estud<strong>os</strong> que abordem o segmento das empresasde vinh<strong>os</strong>, mas devem-se distinguir <strong>os</strong> estud<strong>os</strong> e/ou as pesquisas realizadaspor Piñeiro et al. (1996), S<strong>no</strong>eck (1998) e Uruguay (1996).Esta pesquisa diferencia-se sobremaneira de todas as demais, por se tratarde uma abordagem com<strong>para</strong>da 2 das estratégias das empresas de um mesm<strong>os</strong>egmento industrial, entre países com diferentes formações históricas e2A despeito de tratar-se de uma análise com<strong>para</strong>da, também se diferencia da dissertação dePipkin (1998), que estudou <strong>os</strong> element<strong>os</strong> estimuladores e <strong>os</strong> element<strong>os</strong> inibidores de relacionament<strong>os</strong>entre empresas do setor metal-mecânico automotivo brasileiro e argenti<strong>no</strong>.


sociais, bem como com distint<strong>os</strong> tamanh<strong>os</strong> econômic<strong>os</strong>, frente às mudançasdo ambiente mundial pelo incremento da concorrência.Tendo em vista o exp<strong>os</strong>to, considera-se relevante realizar uma pesquisacom<strong>para</strong>da das estratégias das empresas produtoras de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> do Uruguaie do <strong>Brasil</strong>, <strong>para</strong> se obterem algumas resp<strong>os</strong>tas como:- as estratégias das empresas foram alteradas? Quais <strong>os</strong> fatoresdeterminantes?- como o acirramento das concorrências mundial e regional afetou as estratégiasdas empresas?- quais as estratégias adotadas <strong>para</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> inter<strong>no</strong> e exter<strong>no</strong>?Por quê?- a empresa realizou alguma aquisição, fusão ou parceria com outras empresas?Por quê? Isso resultou em alguma alteração das estratégiasexistentes?- como e por quem as estratégias foram formuladas e implementadas?Esses process<strong>os</strong> ocorreram de forma sucessiva ou interligada?- quais as semelhanças e as diferenças das estratégias adotadas pelasempresas d<strong>os</strong> dois países? Por quê?<strong>As</strong> resp<strong>os</strong>tas a essas questões p<strong>os</strong>sibilitam, através de uma análise com<strong>para</strong>tiva,compreender como as estratégias das empresas de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> seformaram e foram implementadas, quais as estratégias adotadas, seus problemase resultad<strong>os</strong>, tendo em vista o ambiente local e, principalmente, a aberturad<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> e a formação do Merc<strong>os</strong>ul, que ocorreram <strong>no</strong> início d<strong>os</strong> an<strong>os</strong> 90.Ao se obter um conjunto de conheciment<strong>os</strong> sobre <strong>os</strong> process<strong>os</strong> estratégic<strong>os</strong>das empresas de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, inseridas em um setor ainda considerad<strong>os</strong>ensível 3 <strong>no</strong> Merc<strong>os</strong>ul, espera-se poder contribuir <strong>para</strong> o maior discernimentod<strong>os</strong> reflex<strong>os</strong> da globalização e da regionalização sobre as empresas. Isso érelevante, tendo em vista que alguns problemas poderão ocorrer nas empresasvinícolas, quando forem finalizadas as restrições na união aduaneira, peloaprofundamento do processo de integração do Merc<strong>os</strong>ul, e, principalmente, quandoforem finalizadas as negociações do Merc<strong>os</strong>ul <strong>para</strong> a conformaçãode uma zona de livre-comércio com o Chile, com a União Européia e na<strong>As</strong>sociação de Livre Comércio das Américas. Na medida em que esses acord<strong>os</strong>353A sensibilidade da indústria pode ser visualizada devido à existência de algumas restriçõesà circulação de vinh<strong>os</strong> e ao fato de a Tarifa Externa Comum do vinho ser bastante superiorà média da TEC.


36forem concluíd<strong>os</strong>, com a eliminação das tarifas alfandegárias, aumentará substancialmentea concorrência n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> de vinh<strong>os</strong>, dad<strong>os</strong> <strong>os</strong> volumes deprodução e comercialização externa da Europa, d<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong> e do Chile.1.3 - Objetiv<strong>os</strong>Como decorrência do exp<strong>os</strong>to anteriormente, <strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> a serem atingid<strong>os</strong>foram dividid<strong>os</strong> em objetivo geral e objetiv<strong>os</strong> específic<strong>os</strong>.1.3.1 - Objetivo geralDescrever e com<strong>para</strong>r o processo de formulação e de implementaçãodas estratégias <strong>empresariais</strong> <strong>para</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> das vinícolas brasileiras euruguaias a partir de década de 90.1.3.2 - Objetiv<strong>os</strong> específic<strong>os</strong>Identificar as estratégias <strong>empresariais</strong> <strong>para</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> adotadas, <strong>para</strong><strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> inter<strong>no</strong> e exter<strong>no</strong>, pelas vinícolas brasileiras e uruguaias.Identificar, n<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> de fusões, aquisições e de alianças estratégicas,suas causas e resultad<strong>os</strong> em term<strong>os</strong> de alterações estratégicas.Avaliar as conseqüências da abertura d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> e do Merc<strong>os</strong>ul <strong>para</strong>as empresas produtoras de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>.


2 - REFERENCIAL TEÓRICO37Visando fornecer uma sustentação teórica <strong>para</strong> as análises, neste capítuloapresenta-se uma revisão teórica, que engloba dois itens. No primeiro, faz-seuma breve abordagem sobre a globalização e o Merc<strong>os</strong>ul, em especial d<strong>os</strong>principais aspect<strong>os</strong> que p<strong>os</strong>sam influir nas estratégias <strong>empresariais</strong>, <strong>para</strong> subsidiaras análises realizadas. No segundo, abordam-se as estratégias <strong>empresariais</strong>,considerando-se a sua evolução histórica, discutindo-se <strong>os</strong> diferentes conceit<strong>os</strong>existentes de estratégia e especificando-se as estratégias <strong>empresariais</strong> n<strong>os</strong>mercad<strong>os</strong> internacionais, onde se destaca o relevante papel das empresasmultinacionais e globais, bem como as aquisições, fusões e alianças estratégicascom capitais estrangeir<strong>os</strong>. Também são contempladas as estratégias dasempresas domésticas frente à globalização, bem como as relações dasestratégias <strong>empresariais</strong> com as culturas nacional e organizacional.2.1 - A globalização e o Merc<strong>os</strong>ulUma vez que <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> estão cada vez mais inter-relacionad<strong>os</strong> e queas empresas precisam manter-se competitivas em nível internacional, apresenta-seuma discussão sobre a globalização e o Merc<strong>os</strong>ul, o que p<strong>os</strong>sibilitaráa compreensão das suas repercussões sobre as estratégias adotadas pelasempresas.A eco<strong>no</strong>mia mundial vem passando, desde o pós-guerra, por sucessivastransformações, aumentando a internacionalização da produção e d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>.A revolução tec<strong>no</strong>lógica, iniciada em mead<strong>os</strong> da década de 70, ocasio<strong>no</strong>umudanças significativas, com reestruturações das atividades produtivas e deserviç<strong>os</strong>, modificações nas estruturas das organizações, na comercializaçãode bens e serviç<strong>os</strong> e <strong>no</strong> próprio comportamento huma<strong>no</strong>.A abertura das eco<strong>no</strong>mias e a assinatura de inúmer<strong>os</strong> acord<strong>os</strong> de naturezaeconômico-comercial entre países estimularam a expansão d<strong>os</strong> flux<strong>os</strong> decomércio entre empresas de diferentes segment<strong>os</strong> industriais, pela existênciade vantagens com<strong>para</strong>tivas entre países, principalmente das relações intra--indústria, baseadas nas vantagens da produção em larga escala realizada entrepaíses com dotação similar de fatores. Também aumentaram sobremaneira <strong>os</strong>flux<strong>os</strong> internacionais de capitais, de investiment<strong>os</strong> de risco e de tec<strong>no</strong>logias,


38tornando as relações políticas e socioeconômicas entre países maisinterdependentes.Os acord<strong>os</strong> de integração podem tomar distintas formas, aumentando seunível de complexidade a partir das áreas de tarifas preferenciais, passando porzonas de livre-comércio, como a <strong>As</strong>sociação das Nações do Sudoeste <strong>As</strong>iáticoe o Acordo de Livre Comércio da América do Norte — North American Free TradeAgreement —, pelas uniões aduaneiras, como o Merc<strong>os</strong>ul e a ComunidadeAndina, <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> comuns e, finalmente, as uniões econômicas, como aUnião Européia (Ball; Mcculloch, 1996; Cateora, 1996; Jeannet; Hennessey,1995; Robson, 1985).A dinâmica da integração leva a que, quanto mais se avança, mais complexasse tornam as negociações, e maiores são <strong>os</strong> desafi<strong>os</strong>. O incremento dastrocas comerciais e a crescente interdependência das eco<strong>no</strong>mias aumentam ap<strong>os</strong>sibilidade de fricções, exigindo negociações e renegociações contínuas, poismodificações nas políticas internas d<strong>os</strong> países-membr<strong>os</strong> podem alterar ascondições de competitividade intrazona. Entretanto <strong>os</strong> membr<strong>os</strong> de um bloco,ao adotarem uma política externa comum e coordenarem p<strong>os</strong>ições conjuntasem for<strong>os</strong> internacionais, aumentam seu poder de negociação e diminuem suavulnerabilidade frente a concorrentes extern<strong>os</strong>.Os acord<strong>os</strong> regionais, como o Merc<strong>os</strong>ul, foram incrementad<strong>os</strong> como umaforma defensiva ante as condições de concorrência mundial, como uma alternativade adaptação e fortalecimento d<strong>os</strong> países <strong>para</strong> fazer frente ao processo deglobalização. Mas, ao eliminarem parte das barreiras existentes entre países,tornaram-se importantes instrument<strong>os</strong> dinamizadores da globalização.Destarte, a globalização e <strong>os</strong> bloc<strong>os</strong> econômic<strong>os</strong> desenvolvem-se<strong>para</strong>lelamente e, apesar de terem contorn<strong>os</strong> aparentemente contraditóri<strong>os</strong>, partemde um mesmo pressup<strong>os</strong>to: o ple<strong>no</strong> desenvolvimento das forças produtivas deum país depende d<strong>os</strong> relacionament<strong>os</strong> de interdependência que são estabelecid<strong>os</strong>com outr<strong>os</strong> países.2.1.1 - A globalizaçãoA globalização é um termo que pode ser entendido de diferentes formas,sendo, algumas vezes, usada como sinônimo de mundialização e deinternacionalização. É um processo que tem distintas dimensões econseqüências <strong>para</strong> <strong>os</strong> países e <strong>os</strong> setores de atividades. Discutem-se, a seguir,as diferentes p<strong>os</strong>ições existentes e adota-se uma p<strong>os</strong>ição frente às discussõesapresentadas.


2.1.1.1 - <strong>As</strong> diversas formas de entendimentoO termo globalização tem sido entendido de diversas formas. Para alguns,ele é sinônimo de mundialização, termo usado pel<strong>os</strong> franceses; <strong>para</strong> outr<strong>os</strong>, elecorresponde à expressão internacionalização. No discurso dominante, de acordocom Chesnais (1996, p. 3), a globalização “(...) está ligada a uma ‘globalizaçãoda eco<strong>no</strong>mia’ imp<strong>os</strong>ta pelo livre jogo das leis do mercado”, isto é, enfatiza aglobalização da concorrência. Fazendo uma crítica ao uso do termo globalização,Chesnais (1996, p. 17) chama atenção <strong>para</strong> o fato de que se trata de movimentode capitais, e, por isso, a “(...) expressão ‘mundialização do capital’ é a quecorresponde mais exatamente à substância do termo inglês ‘globalização’(...).” 1A globalização tem sido considerada tanto como um processo antigo, delongo prazo, iniciado <strong>no</strong> século XV, e, atualmente, vista apenas como acontinuidade do mesmo fenôme<strong>no</strong>, que aparece sob <strong>no</strong>va roupagem (Balanco,1999; Batista Júnior, 1997; Ferrer, 1999), quanto como um processo recente,uma <strong>no</strong>va forma da evolução capitalista (Braga, 1997).Para alguns, a globalização promoverá a convergência de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> paísesem direção à pr<strong>os</strong>peridade, desde que <strong>os</strong> países adaptem suas políticas,empreendendo reformas e liberalizando seus mercad<strong>os</strong> (Fondo MonetarioInternacional, 1997). Para outr<strong>os</strong>, tende a beneficiar <strong>os</strong> países grandes e ric<strong>os</strong>(Braga, 1999). E ainda há <strong>os</strong> que acreditam que, <strong>no</strong> atual estágio do capitalismomundial, a globalização não seria mais do que uma p<strong>os</strong>sibilidade futura, aquelado capitalismo em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> países, em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> segment<strong>os</strong> das atividadeshumanas (Amaral Filho; Melo, 2001).Apesar das divergências, existe um relativo consenso a respeito daglobalização como a conjugação de dois fenômen<strong>os</strong>: a adoção de políticas decunho liberal por um grande número de países, principalmente a partir d<strong>os</strong> an<strong>os</strong>80, a qual resultou <strong>no</strong> crescente movimento de liberalização e desregulamentaçãod<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>; e o advento do <strong>para</strong>digma das tec<strong>no</strong>logias de informação, quep<strong>os</strong>sibilitou rápida comunicação, processamento, armazenamento e transmissãode informações em nível mundial, a cust<strong>os</strong> decrescentes.O processo de globalização caracteriza-se pelo aumento do volume e davelocidade: da circulação d<strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> financeir<strong>os</strong>; do comércio intrafirma eintra-indústria; d<strong>os</strong> flux<strong>os</strong> de investimento direto estrangeiro; das formas de associaçãoentre empresas; da consolidação de oligopóli<strong>os</strong> e de grandes conglomerad<strong>os</strong>,dentre outr<strong>os</strong> (Baumann,1996). Como decorrência, há um crescimen-391“O uso da expressão ‘mundialização do capital’ denuncia uma filiação teórica que correspondeàquela d<strong>os</strong> estud<strong>os</strong> franceses d<strong>os</strong> an<strong>os</strong> 70, de inspiração marxiana, sobre ainternacionalização do capital.” (Chesnais, 1996, p. 6).


40to da interconexão e da interdependência d<strong>os</strong> espaç<strong>os</strong> nacionais e d<strong>os</strong> agenteseconômic<strong>os</strong> em nível mundial, além de uma convergência das característicasd<strong>os</strong> process<strong>os</strong> produtiv<strong>os</strong> e de regulação entre <strong>os</strong> países, com o incrementodas similitudes das estruturas de demanda e oferta entre as eco<strong>no</strong>mias. Entretanto<strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> e <strong>os</strong> impact<strong>os</strong> da globalização fazem-se sentir de forma diferenciadaem divers<strong>os</strong> países, regiões, setores de atividades, indústrias e empresas.2.1.1.2 - <strong>As</strong> dimensões da globalizaçãoConsidera-se que a globalização envolve dimensões como as econômicas,sociais e culturais. A globalização produtiva envolve o processo de integraçãodas estruturas produtivas domésticas em uma estrutura produtiva internacional,que ocorre, basicamente, pelo investimento direto internacional, através deaquisições, fusões ou da instalação de <strong>no</strong>vas empresas, bem como por aliançasestratégicas e pelo reinvestimento d<strong>os</strong> lucr<strong>os</strong> auferid<strong>os</strong>; pela difusão de padrõestec<strong>no</strong>lógic<strong>os</strong> e model<strong>os</strong> de organização industrial; e pela internacionalizaçãodas estruturas de mercado e da competição empresarial, onde o comérciointernacional tem relevante papel.A abertura das eco<strong>no</strong>mias foi acompanhada de políticas domésticas dedesregulamentação d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> e da privatização de empresas em quasetod<strong>os</strong> <strong>os</strong> países. Essas iniciativas tiveram um forte impacto sobre <strong>os</strong> flux<strong>os</strong>internacionais de capitais, dada a elevada participação d<strong>os</strong> investiment<strong>os</strong> diret<strong>os</strong>estrangeir<strong>os</strong> tanto nas privatizações, visando aumentar a eficiência da eco<strong>no</strong>miae colaborar <strong>para</strong> o ajuste das contas públicas, como n<strong>os</strong> process<strong>os</strong> de fusões eaquisições de empresas nacionais, com reflex<strong>os</strong>, em geral, negativ<strong>os</strong> nas taxasde emprego, devid<strong>os</strong> às reestruturações ocorridas em quase tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> setoresdas eco<strong>no</strong>mias.Segundo Mortimore e Peres (2001), o processo de globalização pode serverificado pela preponderância de empresas transnacionais, as quais representamcerca de 75% d<strong>os</strong> flux<strong>os</strong> de IDE, grande parte d<strong>os</strong> quais destinad<strong>os</strong> a aquisiçõese fusões de empresas, e 75% do comércio internacional, sendo 25% deoperações intra-empresa. Nesse processo, as grandes empresas multinacionais//transnacionais 2 têm relevante papel. Essas empresas, de acordo com Prado(2002), p<strong>os</strong>suem <strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> de oligopóli<strong>os</strong> diferenciad<strong>os</strong>, devido à força de2Alguns autores usam o termo empresa transnacional como sinônimo de empresa global, masa maioria deles usa o termo transnacional como sinônimo de empresa multinacional.


suas marcas, de oligopóli<strong>os</strong> concentrad<strong>os</strong>, devido às barreiras de entrada, e derendiment<strong>os</strong> crescentes de escala.Portanto, a globalização reúne dois fenômen<strong>os</strong>: de um lado, há umadesconcentração de mercad<strong>os</strong>, com a internacionalização d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> debens, serviç<strong>os</strong> e fatores de produção pela abertura das eco<strong>no</strong>mias; e, de outro,observa-se uma concentração da produção em nível mundial, com o incrementodas grandes empresas, que atuam em vári<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> ou em escala global.Essa situação está criando concorrentes muito poder<strong>os</strong><strong>os</strong>, que se ligam a umae<strong>no</strong>rme teia de interesses cruzad<strong>os</strong>, com elevado poder de influência nasdecisões políticas e econômicas, o que tem gerado muitas críticas.Ademais, essas grandes empresas entram em mercad<strong>os</strong> ainda nãoconsolidad<strong>os</strong> e afetam sobremaneira a concorrência interna em alguns paísese/ou setores, colocando em jogo a sobrevivência de algumas empresas men<strong>os</strong>competitivas.O processo de globalização, segundo Ferrer (1998), deve ser analisad<strong>os</strong>ob dois enfoques: <strong>no</strong> que o autor de<strong>no</strong>mina de pla<strong>no</strong> real, que abarca a área daprodução, e na esfera financeira, que é mais abrangente. No primeiro, aglobalização manifesta-se em um crescimento do comércio internacional a taxassuperiores às da produção e pela grande internacionalização das empresas quepassam a operar em escala mundial. Contudo o seu alcance é seletivo, dada aexistência de medidas protecionistas n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> de bens, serviç<strong>os</strong> e fatoresde produção.A significativa redução das barreiras tarifárias <strong>no</strong> comércio internacional foiacompanhada de um incremento de <strong>no</strong>vas formas protecionistas não tarifáriaspel<strong>os</strong> países desenvolvid<strong>os</strong>. Nestes, a liberalização vem ocorrendo, quaseexclusivamente, n<strong>os</strong> setores de manufaturad<strong>os</strong>, cuja produção e comercializaçãoestão sob o controle das empresas multinacionais e globais. Já n<strong>os</strong> setoresonde existe clara vantagem competitiva d<strong>os</strong> países em desenvolvimento, comotêxteis, calçad<strong>os</strong> e particularmente na agricultura, subsistem, n<strong>os</strong> paísesdesenvolvid<strong>os</strong>, barreiras não tarifárias elevadas à importação e/ou poder<strong>os</strong><strong>os</strong>sistemas de subsídi<strong>os</strong> à produção interna. Dentre essas barreiras, cabe destacaro uso freqüente, pel<strong>os</strong> países desenvolvid<strong>os</strong>, de regras técnicas, regulament<strong>os</strong>sanitári<strong>os</strong> e fit<strong>os</strong>sanitári<strong>os</strong>, salvaguardas, medidas “antidumping” e direit<strong>os</strong>compensatóri<strong>os</strong>.No segundo enfoque, na esfera financeira, o alcance da globalização étotal e tem sido fonte de grande instabilidade. Por conseguinte, as autoridadesmonetárias d<strong>os</strong> países periféric<strong>os</strong> são praticamente impotentes <strong>para</strong> controlar<strong>os</strong> ataques especulativ<strong>os</strong> e reduzir a volatilidade d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, agravando asassimetrias entre <strong>os</strong> países desenvolvid<strong>os</strong> e <strong>os</strong> demais (Ferrer, 1998).41


42À medida que diminuem as fronteiras, elevam-se as interdependências, asquais restringem a auto<strong>no</strong>mia de algumas políticas nacionais, o que, entretanto,não significa o fim do Estado-nação. Na realidade, a globalização coexiste com<strong>os</strong> espaç<strong>os</strong> nacionais, pois as decisões políticas são locais ou regionais (AmaralFilho; Melo, 2001) e a maior parte das transações econômicas de bens é realizada<strong>no</strong> interior d<strong>os</strong> espaç<strong>os</strong> nacionais, o que representa, em média, mais de 80% doconsumo mundial (Ferrer, 1999).2.1.1.3 - P<strong>os</strong>ição frente à globalizaçãoEm síntese, considera-se a globalização como um fenôme<strong>no</strong> histórico,presente em todo o desenvolvimento capitalista, mas que tomou <strong>no</strong>vas proporçõesna atualidade, apresentando uma natureza multidimensional e complexa, queabrange <strong>os</strong> camp<strong>os</strong> político, econômico, social e cultural. Em conseqüência, aglobalização é um processo intenso, porém parcial, heterogêneo e desequilibrado.E, assim como não ocorre com a mesma intensidade em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> países,dentro destes o seu avanço é mais rápido em alguns setores — principalmente<strong>os</strong> ligad<strong>os</strong> a<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong> — e mais lento em outr<strong>os</strong>.Se, por um lado, a globalização pode incrementar a produtividade internad<strong>os</strong> países, pelo acesso a bens de capital, tec<strong>no</strong>logicamente mais avançad<strong>os</strong>,e a insum<strong>os</strong> a preç<strong>os</strong> mais competitiv<strong>os</strong>, por outro, ela poderá aumentar adistância econômico-social existente entre alguns países ou regiões, visto queela gera mais riquezas <strong>para</strong> o país ou <strong>para</strong> o grupo mais desenvolvido, dad<strong>os</strong> opatamar tec<strong>no</strong>lógico diferenciado e seu maior poder econômico e político <strong>para</strong>aproveitar as oportunidades do mercado. Portanto, <strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> resultantes daglobalização serão maiores <strong>para</strong> <strong>os</strong> países desenvolvid<strong>os</strong>, devido às assimetriasdescomunais existentes em term<strong>os</strong> de poder político, econômico e social. Umaquestão básica a ser solucionada é como dividir <strong>os</strong> ganh<strong>os</strong> entre <strong>os</strong> países ric<strong>os</strong>e <strong>os</strong> pobres e entre <strong>os</strong> diferentes grup<strong>os</strong> dentro desses países.2.1.2 - O Merc<strong>os</strong>ulO Merc<strong>os</strong>ul vem passando, desde o seu início, por algumas modificações,com o aprofundamento do processo de integração, o qual teve repercussõessobre as relações comerciais entre <strong>os</strong> parceir<strong>os</strong> e destes com <strong>os</strong> demais paísese sobre a entrada de investiment<strong>os</strong> diret<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong>. <strong>As</strong> assimetriasintrabloco, pel<strong>os</strong> divers<strong>os</strong> tamanh<strong>os</strong> econômic<strong>os</strong> e demográfic<strong>os</strong> d<strong>os</strong> paísesenvolvid<strong>os</strong>, tornaram-se mais visíveis à medida que <strong>Brasil</strong> e Argentina passaram


43por significativ<strong>os</strong> problemas e alteraram suas políticas macroeconômicas, comreflex<strong>os</strong> sobre as eco<strong>no</strong>mias me<strong>no</strong>res. Discutem-se, ainda, as perspectivas doMerc<strong>os</strong>ul, tendo em vista o incremento d<strong>os</strong> process<strong>os</strong> de integração em divers<strong>os</strong>níveis.2.1.2.1 - <strong>As</strong> negociações iniciaisO Merc<strong>os</strong>ul foi estabelecido, em 1991, entre a Argentina, o <strong>Brasil</strong>, o Paraguaie o Uruguai, mas as suas origens remontam ao processo de integração bilateral<strong>Brasil</strong> e Argentina, iniciado em 1986. 3Mudanças significativas nas conjunturas econômica e política do ConeSul, entre 1985 e 1990, como as difíceis negociações na Rodada Uruguai doGeneral Agreement on Tariffs and Trade 4 , a entrada em vigor do acordo de livrecomércioentre Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong> e Canadá em 1989, a Iniciativa Para as Américasprop<strong>os</strong>ta em 1990, com o objetivo de criar uma zona de livre-comérciohemisférica, além da perspectiva da maior integração européia, favoreceram aconformação do Merc<strong>os</strong>ul (Almeida, 2002).Dentre seus objetiv<strong>os</strong>, cabe destacar: criar um mercado comum com livrecirculação de bens, serviç<strong>os</strong> e fatores produtiv<strong>os</strong>; adotar uma política externacomum; coordenar p<strong>os</strong>ições conjuntas em for<strong>os</strong> internacionais; coordenarpolíticas macroeconômicas e setoriais; e harmonizar legislações nacionais, comvistas a uma maior integração.2.1.2.2 - O aprofundamento do blocoO Merc<strong>os</strong>ul emergiu como resp<strong>os</strong>ta política a um triplo desafio: preservar eaprofundar a estabilidade política na região; estimular o desenvolvimento e amodernização econômica; e fortalecer a capacidade de negociação d<strong>os</strong> países--membr<strong>os</strong> frente a<strong>os</strong> seus principais interlocutores e n<strong>os</strong> for<strong>os</strong> internacionais(Vaz, 2001). Portanto, o bloco resultou da convergência de interesses entrepaíses fronteiriç<strong>os</strong>, situad<strong>os</strong> em patamares de desenvolvimento econômico e3Para uma análise sobre a evolução do Merc<strong>os</strong>ul, ver sua cro<strong>no</strong>logia: de 1985 até o primeir<strong>os</strong>emestre de 1999, em Mallmann e Seitenfus (2001); e, a partir do segundo semestre de 1999até 2000, em Soares (2001). A cro<strong>no</strong>logia do Merc<strong>os</strong>ul <strong>no</strong> contexto exter<strong>no</strong>, de 1986 a 2001,é apresentada em Almeida (2002).4<strong>As</strong> negociações da Rodada Uruguai (1986-93) foram longas e muito abrangentes e resultaram<strong>no</strong> estabelecimento da Organização Mundial do Comércio em 1995.


44social próxim<strong>os</strong>, a despeito de diferenças de tamanho entre eles. Atualmente, oMerc<strong>os</strong>ul p<strong>os</strong>sui um amplo e diversificado setor industrial, sendo consideradoum grande produtor mundial de aliment<strong>os</strong>, e tem um sistema financeirocrescentemente internacionalizado. A população do bloco é de mais de 200milhões de pessoas.Tendo em vista <strong>os</strong> princípi<strong>os</strong> de gradualismo e flexibilidade que orientarama integração, inicialmente foi estabelecida uma zona de livre-comércio, quese caracteriza pela extinção da alíquota de importação entre <strong>os</strong> seus países--membr<strong>os</strong>. Com o Protocolo de Ouro Preto, assinado em dezembro de 1994, oMerc<strong>os</strong>ul passou a ser estruturado como uma união aduaneira, com a adoçãoda Tarifa Externa Comum. Também foi adotada uma estrutura institucional denatureza intergovernamental 5 <strong>para</strong> administrar o Merc<strong>os</strong>ul e dada personalidadejurídica internacional à organização, a qual lhe p<strong>os</strong>sibilitou atuar internacionalmentecomo bloco nas áreas de sua competência.Foram realizad<strong>os</strong> acord<strong>os</strong> comerciais do Merc<strong>os</strong>ul com a Bolívia e o Chileem 1996, <strong>para</strong> a formação de uma ZLC até 2004, e hoje esses países sãoassociad<strong>os</strong> ao bloco. Por isso, quando <strong>os</strong> estud<strong>os</strong> se referem ao Merc<strong>os</strong>ulampliado, incluem <strong>os</strong> países-membr<strong>os</strong> e <strong>os</strong> associad<strong>os</strong>. Também estão emnegociações acord<strong>os</strong> com a União Européia, com a Comunidade Andina e como Mercado Comum Centro-America<strong>no</strong>. E continuam em andamento asnegociações <strong>para</strong> a conformação da Área de Livre Comércio das Américas, apartir de 2005. <strong>As</strong> relações do Merc<strong>os</strong>ul com outr<strong>os</strong> bloc<strong>os</strong> de integração regional,à medida que reduziram as barreiras alfandegárias, tornaram-se importantesinstrument<strong>os</strong> de desenvolvimento da região.<strong>As</strong> principais vantagens econômicas de um processo de integração comoo Merc<strong>os</strong>ul, segundo Robson (1985, p. 14), são o acréscimo da produção, comoconseqüência da especialização realizada de acordo com as vantagenscom<strong>para</strong>tivas e/ou de um melhor aproveitamento das eco<strong>no</strong>mias de escala; asmudanças na quantidade e na qualidade d<strong>os</strong> fatores, tais como crescimento <strong>no</strong>fluxo de capitais e avanço tec<strong>no</strong>lógico; o aumento na eficiência pelo incrementoda concorrência dentro do grupo; e a melhoria d<strong>os</strong> term<strong>os</strong> de troca com o restodo mundo. Portanto, <strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> dinâmic<strong>os</strong> de um processo de integração envolvemo surgimento e a difusão das eco<strong>no</strong>mias de escala, pelo incremento do comércioe da concorrência de produt<strong>os</strong> intrazona, a diminuição das incertezas e asmudanças na localização e <strong>no</strong> volume de investiment<strong>os</strong> intrabloc<strong>os</strong>, dentre outr<strong>os</strong>.5Para uma compreensão mais detalhada das relações de poder na estrutura organizacional,ver Teruchkin (1999).


A eliminação de barreiras tarifárias entre <strong>os</strong> países, decorrente do processode integração, pode alterar a competitividade de várias indústrias e empresasdentro do bloco, favorecendo o comércio intrabloco e a realização de inúmer<strong>os</strong>acord<strong>os</strong> de produção e de distribuição de produt<strong>os</strong>, pela especialização ecomplementaridade, como forma de aumentar sua competitividade. Comoresultado, houve, <strong>no</strong> Merc<strong>os</strong>ul, um significativo aumento do número de fusões eaquisições de empresas, bem como de alianças estratégicas entre empresas 6 .Já a convergência gradual à Tarifa Externa Comum, que atualmente varia entre0% e 20%, acordada pel<strong>os</strong> quatro países, também tem tido conseqüências <strong>no</strong>comércio intrabloco e com o resto do mundo. A união aduaneira <strong>no</strong> Merc<strong>os</strong>ul,entretanto, é dita incompleta, pois ainda permanecem algumas exceções. 7Além disso, devido às crises internas por que passaram <strong>os</strong> países-membr<strong>os</strong>,em especial a Argentina <strong>no</strong> a<strong>no</strong> de 2001, foram feitas alterações unilaterais daTEC pela Argentina, pelo Paraguai e pelo Uruguai <strong>para</strong> uma vasta gama deprodut<strong>os</strong>, que contribuíram <strong>para</strong> o enfraquecimento do bloco como união aduaneira.Essa situação tem dificultado as negociações do bloco, mas, assim que <strong>os</strong>problemas forem sendo amainad<strong>os</strong>, acredita-se que a TEC voltará a exercer opapel <strong>para</strong> o qual foi criada.452.1.2.3 - <strong>As</strong> relações comerciais <strong>no</strong> blocoAnalisando-se o comércio <strong>no</strong> Merc<strong>os</strong>ul entre 1991 e 2002, devem serconsiderad<strong>os</strong> alguns moment<strong>os</strong> importantes, n<strong>os</strong> quais houve uma alteração deseu ritmo. Este se amplia <strong>no</strong> início do Merc<strong>os</strong>ul, porque grande parte dasconcessões tarifárias — aquelas sobre as quais não houve maiores divergências— foram feitas n<strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> an<strong>os</strong>. Mas, a partir de 1997, a eco<strong>no</strong>miainternacional começou a sofrer o impacto da crise asiática, com reflex<strong>os</strong> nastransações comerciais do bloco. No período 1991-97, houve um incremento de312% <strong>no</strong> comércio intrazona e de 98% <strong>no</strong> extrabloco, sendo que o crescimentodas importações (168%) foi muito maior do que o das exportações (53%), emdecorrência das reduções tarifárias e das políticas cambiais das principaiseco<strong>no</strong>mias. E a entrada de um grande número de produt<strong>os</strong> importad<strong>os</strong> ampliouconsideravelmente a concorrência interna em vári<strong>os</strong> setores.6Sobre as alianças estratégicas <strong>no</strong> Merc<strong>os</strong>ul, ver Lopes et al. (2000).7Com a conclusão do regime de adequação <strong>no</strong> a<strong>no</strong> 2000, quase 90% d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong>comercializad<strong>os</strong> intrabloco são isent<strong>os</strong> de tarifas de importação, com exceção de telecomunicaçõese computadores, que deverão convergir à TEC até 2006 (Argentina, 2000).


46Considerando-se o período 1997-00, a situação altera-se um pouco. De1997 a 1999, o comércio intrabloco e com o resto do mundo caiu, devido a<strong>os</strong>fatores de conjuntura internacional, à sobrevalorização das moedas do <strong>Brasil</strong> eda Argentina, que reduziu a competitividade d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> regionais, e à recessãonas eco<strong>no</strong>mias da Argentina, do Paraguai e do Uruguai.Em janeiro de 1999, o <strong>Brasil</strong> adotou o câmbio flutuante, que foi acompanhadode uma desvalorização do real, o que favoreceu uma diminuição das importaçõesbrasileiras e, portanto, da corrente de comércio intrabloco, pois as exportaçõesnão foram favorecidas, tendo em vista a recessão n<strong>os</strong> demais países-membr<strong>os</strong>.A desvalorização do real mudou a competitividade entre <strong>os</strong> parceir<strong>os</strong> do ConeSul e provocou o desvio do comércio <strong>para</strong> países de fora do bloco. A participaçãodo comércio intrazona <strong>no</strong> total, que inclui as importações e as exportações, quechegou a 23,1% em 1998, perdeu importância relativa em 1999, quando passoua 19,8% (Taccone; Nogueira, 2001). <strong>As</strong> transações comerciais, de 1998 a 2001,diminuíram 5,2% nas relações extrabloco e 25,3% nas intrabloc<strong>os</strong>. No que tangeao pa<strong>no</strong>rama regional, o triênio 1999-01 foi muito difícil <strong>para</strong> o bloco, devido, porum lado, à crise externa brasileira, que culmi<strong>no</strong>u com a desvalorização cambialdo início de 1999, e, por outro, à crise na Argentina, que se agravou <strong>no</strong> decorrerde 2001, com repercussões sobre as eco<strong>no</strong>mias uruguaia e <strong>para</strong>guaia.O comércio <strong>no</strong> Merc<strong>os</strong>ul ainda é peque<strong>no</strong>, quando com<strong>para</strong>do com o deoutr<strong>os</strong> bloc<strong>os</strong>. Em 1999, a corrente de comércio entre <strong>os</strong> países-membr<strong>os</strong> emrelação ao total comercializado pelo bloco foi inferior a 20% <strong>no</strong> Merc<strong>os</strong>ul, aopasso que atingiu 47% <strong>no</strong> NAFTA e 65% na União Européia. Em relação aocomércio mundial, a participação do Merc<strong>os</strong>ul cresceu continuamente de 1990a 1998, em especial pelo incremento das importações, passando de 2,2% a3,3%, e reduziu-se em 1999, quando atingiu 2,8% (Argentina, 2000).No início de 2002, a crise econômica e social na Argentina pôs fim à“conversibilidade” da moeda, ao mesmo tempo em que reduzia ainda mais asrelações comerciais intrabloco. Com a recessão, a Argentina diminuiusobremaneira suas importações d<strong>os</strong> demais sóci<strong>os</strong>, em especial do <strong>Brasil</strong>. Pordecorrência, as transações intrabloco diminuíram 13,8%, enquanto as extrablococresceram 1,8% <strong>no</strong> biênio 2001-02, segundo Taccone e Nogueira (2002, p. 40).Essa situação aumentou as incertezas sobre <strong>os</strong> rum<strong>os</strong> futur<strong>os</strong> das políticaseconômica e externa do País, com repercussões imediatas sobre o Merc<strong>os</strong>ul.Esse cenário regional levou a uma nítida deterioração d<strong>os</strong> indicadoresmacroeconômic<strong>os</strong> do bloco, com aumento do nível de desemprego e queda narenda. <strong>As</strong> taxas de crescimento do Produto Inter<strong>no</strong> Bruto do bloco, a preç<strong>os</strong>constantes, foram de -0,4% em 1999, 2,9% em 2000 e 0,0% em 2001 (Taccone;Nogueira, 2002, p. 20), o que revela um crescimento per capita negativo nesteúltimo triênio.


<strong>As</strong> desvalorizações das taxas de câmbio do <strong>Brasil</strong> e da Argentina, emdistint<strong>os</strong> moment<strong>os</strong>, e suas conseqüências em term<strong>os</strong> de mudança nascondições de competitividade intrabloco foram acompanhadas de um aumentoda percepção de risco desses países n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> financeir<strong>os</strong> extern<strong>os</strong>,resultando em me<strong>no</strong>r oferta e maior custo de recurs<strong>os</strong> extern<strong>os</strong> <strong>para</strong> <strong>os</strong> paísesda região.472.1.2.4 - Os investiment<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong>No pla<strong>no</strong> econômico-comercial, o aumento das transações e d<strong>os</strong>investiment<strong>os</strong> dentro do Merc<strong>os</strong>ul ampliou as p<strong>os</strong>sibilidades de consumo, commaior variedade de bens comercializad<strong>os</strong>, e p<strong>os</strong>sibilitou uma ampliação da escalaprodutiva, estimulando o incremento da produtividade. Uma vez que o comérciointrabloco é caracterizado por produt<strong>os</strong> de maior valor agregado, permite aobtenção de sinergias tec<strong>no</strong>lógicas, produtivas e comerciais, aumentando asvantagens competitivas e melhorando a sua inserção frente a<strong>os</strong> competidoresextrazona.Esse processo foi acompanhado de um incremento na maior atração deinvestiment<strong>os</strong> diret<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> de diversificadas origens. D<strong>os</strong> US$ 198,7bilhões de IDEs que entraram <strong>no</strong> Merc<strong>os</strong>ul, entre 1989 e 2000, cerca de 98% sedestinaram à Argentina e ao <strong>Brasil</strong>, que foram, respectivamente, <strong>os</strong> principaisreceptores na primeira e na segunda metade da década, sendo que, nesta última,<strong>os</strong> IDEs foram muito mais volum<strong>os</strong><strong>os</strong>, tendo em vista as inúmeras privatizaçõesocorridas n<strong>os</strong> países-membr<strong>os</strong>. Os principais setores que receberam essesinvestiment<strong>os</strong> foram: telecomunicações (23%), petróleo e gás (14%), eletricidade(12%) e manufaturas (11%), em geral, através de aquisições, fusões ou formaçãode alianças estratégicas com empresas domésticas (Argentina, 2002).Como decorrência, aumentou a participação relativa do Merc<strong>os</strong>ul comoreceptor n<strong>os</strong> flux<strong>os</strong> mundiais de IDEs, que passou de 2% na década de 80 <strong>para</strong>2,4% de 1990 a 1995, atingindo 4,5% de 1996 a 2000, quando se consolidou oprocesso de integração. Entretanto ainda não foi atingido o percentual que <strong>os</strong>quatro países detinham <strong>no</strong> período 1970-80, que era de 7%. Enquanto mais de90% d<strong>os</strong> ingress<strong>os</strong> na Argentina e <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> tiveram por origem <strong>os</strong> Estad<strong>os</strong>Unid<strong>os</strong> da América e a Europa, <strong>no</strong> Uruguai e <strong>no</strong> Paraguai <strong>os</strong> flux<strong>os</strong> intra--regionais tiveram maior relevância. Os IDEs provenientes d<strong>os</strong> sóci<strong>os</strong> aumentarama sua representatividade <strong>no</strong> Uruguai, de 23% em 1992 <strong>para</strong> 45,5% em 2000,e <strong>no</strong> Paraguai, de 43% em 1992 <strong>para</strong> 56% em 2000 (Chud<strong>no</strong>vsky; López, 2002).É interessante ressaltar o relevante papel d<strong>os</strong> govern<strong>os</strong> locais <strong>para</strong> favorecera entrada d<strong>os</strong> IDEs mediante medidas que afetam o ambiente geral de negó-


48ci<strong>os</strong>, como a alteração de regulamentações ou outorga de incentiv<strong>os</strong> e de benefíci<strong>os</strong>fiscais às empresas estrangeiras, com o objetivo de obter <strong>no</strong>vas instalaçõesou de sustentar a presença dessas empresas (Chud<strong>no</strong>vsky; López, 2002,p. 15).2.1.2.5 - <strong>As</strong> relações de poder intrablocoNas relações intra-regionais, observa-se a dominância econômica do <strong>Brasil</strong>seguido da Argentina; <strong>os</strong> demais membr<strong>os</strong> dependem, comercialmente, muitodesses sóci<strong>os</strong>. Destarte, as crises econômicas n<strong>os</strong> países grandes repercutemcom grande intensidade n<strong>os</strong> demais sóci<strong>os</strong>.A despeito da constatação de certa relação de dependência entre <strong>os</strong> Estad<strong>os</strong>-partes,em virtude da existência de um poder econômico assimétricointrabloco, tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> parceir<strong>os</strong> podem ganhar com o processo de integração,embora <strong>os</strong> ganh<strong>os</strong> p<strong>os</strong>sam diferir em intensidade ao longo do processo deintegração. Dentre <strong>os</strong> ganh<strong>os</strong>, podem ser citad<strong>os</strong> a geração de maior capacidadede exportação <strong>para</strong> terceir<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, o aumento d<strong>os</strong> investiment<strong>os</strong> diret<strong>os</strong>estrangeir<strong>os</strong> pela ampliação do mercado e a p<strong>os</strong>sibilidade de enfrentar, commaiores chances de êxito, as negociações na Organização Mundial do Comércioe com a União Européia e na conformação futura da Área de Livre Comércio dasAméricas (Teruchkin; Nique, 2001).Sem dúvida, o Merc<strong>os</strong>ul trouxe ganh<strong>os</strong> a<strong>os</strong> seus integrantes, embora sep<strong>os</strong>sa discutir até que ponto a sua distribuição foi eqüitativa. O <strong>Brasil</strong>, em term<strong>os</strong>estritamente comerciais, é o que men<strong>os</strong> tem a ganhar com a integração, embora,mesmo aí, <strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> sejam significativ<strong>os</strong>, especialmente <strong>no</strong> tocante àexportação de produt<strong>os</strong> de maior densidade tec<strong>no</strong>lógica. Já o Paraguai e oUruguai, países com me<strong>no</strong>res população e extensão territorial e sem grandesparques industriais, além das vantagens políticas na adesão, também tiveramproveito comercial da integração, pela ampliação de seus mercad<strong>os</strong>, com destaque<strong>para</strong> o Uruguai.<strong>As</strong> negociações entre bloc<strong>os</strong> ampliam sobremaneira as oportunidadescomerciais <strong>para</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> países do Merc<strong>os</strong>ul, especialmente <strong>para</strong> <strong>os</strong> de me<strong>no</strong>rporte, como o Uruguai, cuja eco<strong>no</strong>mia, além do conhecido <strong>para</strong>íso fiscal, tem,<strong>no</strong> agronegócio, um de seus pilares mais importantes (Taccone; Nogueira, 2001).Entretanto o Uruguai, pela conjugação de divers<strong>os</strong> fatores, foi levado a umasituação recessiva. Dentre esses fatores, podem-se citar: a desvalorização damoeda brasileira em 1999; a recessão da eco<strong>no</strong>mia argentina, que diminuiuprincipalmente as receitas do turismo e p<strong>os</strong>tergou as decisões de investiment<strong>os</strong>;<strong>os</strong> problemas climátic<strong>os</strong> e da febre aft<strong>os</strong>a, que reduziram as rendas da


agropecuária; e as restrições não tarifárias que foram imp<strong>os</strong>tas pelo <strong>Brasil</strong> epela Argentina à venda de alguns produt<strong>os</strong> agrícolas. Com o fim da conversibilidadee a desvalorização do peso argenti<strong>no</strong> em 2002, <strong>os</strong> produt<strong>os</strong> argentin<strong>os</strong>tornaram-se mais barat<strong>os</strong>, dificultando ainda mais as relações comerciaisdo Uruguai. Essa situação também tem trazido inúmer<strong>os</strong> problemas <strong>para</strong> oParaguai.492.1.2.6 - <strong>As</strong> perspectivas do Merc<strong>os</strong>ulEnquanto <strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> da globalização determinam políticas “adaptativas”,<strong>os</strong> process<strong>os</strong> de integração, dada a maior interdependência d<strong>os</strong> países, requerema coordenação de suas políticas, tanto macro como microeconômicas. Essanecessidade tende a se acentuar, à medida que as restrições tarifárias e nãoalfandegárias intra-regionais diminuem. Mas, além de levar a termo as uniõesaduaneiras, é preciso liberalizar <strong>os</strong> serviç<strong>os</strong>, harmonizar <strong>os</strong> sistemas de <strong>no</strong>rmas,coordenar eficientemente as políticas macroeconômicas e fortalecer asinstituições regionais, <strong>para</strong> aprofundar as relações <strong>no</strong> bloco e formar um mercadocomum <strong>no</strong> futuro.N<strong>os</strong> últim<strong>os</strong> an<strong>os</strong>, alguns esforç<strong>os</strong> têm sido realizad<strong>os</strong>, visando à maiorconvergência de políticas e das legislações entre <strong>os</strong> países-membr<strong>os</strong>, atravésde “aproximações sucessivas”, objetivando criar uma base competitiva comume facilitar a superação de p<strong>os</strong>síveis ou reais conflit<strong>os</strong> existentes, bem como atomada de decisões conjuntas, 8 o que, entretanto, foi dificultado, na década de90, pelas distintas políticas cambiais adotadas pel<strong>os</strong> dois maiores sóci<strong>os</strong>: <strong>Brasil</strong>e Argentina.A aproximação das políticas macroeconômicas d<strong>os</strong> países do Merc<strong>os</strong>ultor<strong>no</strong>u-se mais fácil a partir de 2002, depois que a Argentina abando<strong>no</strong>u o regimede conversibilidade e desvalorizou a moeda, pois o Uruguai e o Paraguaicontinuaram mantendo um sistema de bandas cambiais informais. Mas, enquant<strong>os</strong>e mantiver a crise argentina, as negociações internas e as externas ficamp<strong>os</strong>tergadas. O maior problema está na crise interna d<strong>os</strong> países que compõemo bloco e não <strong>no</strong> processo de integração em si.O Merc<strong>os</strong>ul ainda está em construção, pois é um projeto político de longoprazo. Portanto, o processo é dinâmico, e as táticas podem ser modificadas emresp<strong>os</strong>ta às situações específicas. Dessa forma, apesar de algumas rupturas, aintegração vem se solidificando, com um emaranhado de interesses entre <strong>os</strong>parceir<strong>os</strong> (Teruchkin; Nique, 2001). Existem, <strong>no</strong> momento, inúmeras questões e8Sobre a forma como ocorrem as relações de poder <strong>no</strong> Merc<strong>os</strong>ul, ver Teruchkin (1999).


50impasses que ameaçam o ritmo do processo de integração, o que poderá acarretaralgumas modificações das regras até então acordadas entre <strong>os</strong> membr<strong>os</strong>.Atualmente, o bloco enfrenta impasses polític<strong>os</strong>, econômic<strong>os</strong> einstitucionais, <strong>os</strong> quais geram conflit<strong>os</strong> e agravam as incertezas, prorrogando aresolução d<strong>os</strong> problemas intrazona e a negociação conjunta com terceir<strong>os</strong>mercad<strong>os</strong>. Apesar de a região estar passando por um momento difícil, seusfundament<strong>os</strong> são fortes, e as variáveis econômicas estão se aproximando deum <strong>no</strong>vo nível de equilíbrio.<strong>As</strong> negociações com a ALCA e a UE ficam um pouco dificultadas pelasbarreiras não tarifárias existentes nesses bloc<strong>os</strong> <strong>para</strong> produt<strong>os</strong> onde existe claravantagem com<strong>para</strong>tiva d<strong>os</strong> países em desenvolvimento, como na área deagronegóci<strong>os</strong>, em que o Merc<strong>os</strong>ul tem significativa representatividade. Os países--membr<strong>os</strong> do bloco reivindicam uma ação multilateral <strong>para</strong> as questões dastarifas agrícolas, d<strong>os</strong> subsídi<strong>os</strong> à exportação e de políticas nacionais inadequadasde apoio ao setor agrícola.Apesar de <strong>os</strong> países ficarem sujeit<strong>os</strong> a sofrer retaliações na adoção debarreiras ou medidas protecionistas a favor de suas empresas locais, continuamexistindo inúmeras discussões na Organização Mundial do Comércio a esserespeito, sem uma solução definitiva. Mas, como tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> process<strong>os</strong> deintegração implicam ajustes e reajustes, estes certamente virão com o tempo.E, à medida que avançar o processo de negociação com a ALCA e com a UniãoEuropéia, muitas oportunidades aparecerão, e muit<strong>os</strong> desafi<strong>os</strong> terão de serenfrentad<strong>os</strong>. É, pois, importante, <strong>para</strong> <strong>os</strong> negociadores e <strong>para</strong> o setor privado,antecipar que produt<strong>os</strong> e setores emergirão com alta competitividade e quais <strong>os</strong>que sofrerão uma maior concorrência. Nesse sentido, torna-se relevante indagaro que acontecerá quando <strong>os</strong> produt<strong>os</strong> do Merc<strong>os</strong>ul tiverem que competir comtarifa zero e nenhuma margem de preferência em mercad<strong>os</strong> mais desenvolvid<strong>os</strong>e que têm maior competitividade e quais as conseqüências <strong>para</strong> o comérciointra-regional.2.2 - <strong>As</strong> estratégias <strong>empresariais</strong><strong>As</strong> rápidas mudanças econômicas, sociais e tec<strong>no</strong>lógicas com a integraçãod<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> mundiais, acentuada pelo aprofundamento d<strong>os</strong> process<strong>os</strong> deintegração, têm ocasionado grandes transformações nas organizações e levadoas empresas a alterarem ou a adaptarem suas estratégias, visando criar vantagenscompetitivas e melhorar sua performance.


Entretanto a palavra estratégia pode ter um grande número de significad<strong>os</strong>.Por isso, discutem-se, a seguir, a evolução da estratégia, <strong>os</strong> vári<strong>os</strong> conceit<strong>os</strong> deestratégia, suas características, seus process<strong>os</strong> de formação e de implementação,bem como, especificamente, as estratégias n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>internacionais, as estratégias das empresas domésticas com a abertura d<strong>os</strong>mercad<strong>os</strong> internacionais e as inter-relações das estratégias com a cultura.Pretende-se destacar que as estratégias podem ser analisadas de váriasmaneiras, pois estão inter-relacionadas com vári<strong>os</strong> aspect<strong>os</strong> dentro daorganização e com seu ambiente exter<strong>no</strong>. Destarte, sua compreensão não éfácil, pois podem ser definidas a priori ou ser o resultado de várias decisõesadotadas. O importante é ter claro que as várias definições agregam importanteselement<strong>os</strong> <strong>para</strong> a compreensão das estratégias.512.2.1 - A evolução da estratégia naadministraçãoFaz-se uma apreciação histórica, buscando destacar as principais idéias,tendo como pa<strong>no</strong> de fundo as modificações econômicas e sociais ao longo dotempo. É preciso ter presente que as estratégias não seguiram um comportamentobiológico evolucionista, onde uma espécie sucede a outra. Portanto, algunsestud<strong>os</strong> se complementam, outr<strong>os</strong> se sucedem, e há aqueles que vêem asestratégias de formas radicalmente diferentes.2.2.1.1 - A origem <strong>no</strong> contexto militarEstratégia é uma palavra de origem grega, usada <strong>para</strong> designar a funçãoadministrativa do generalato. O estratego, ou estrategista, era, então, ocomandante militar que formulava e projetava as ma<strong>no</strong>bras necessárias àconsecução de um fim específico (Motta, 1993). A expressão estratégia, emlinguagem militar, aparece como o caminho, o meio ou a forma de alcançar avitória, uma vez definid<strong>os</strong> <strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> da guerra. Ao longo do tempo, esse termoevoluiu do significado de papel de general <strong>no</strong> comando <strong>para</strong> as habilidadesgerenciais.Os primeir<strong>os</strong> registr<strong>os</strong> escrit<strong>os</strong> sobre estratégia datam de mais de 2.000an<strong>os</strong>. Tratavam da seleção de estratégias ótimas <strong>para</strong> p<strong>os</strong>ições específicas <strong>no</strong>contexto de batalhas militares. Dentre eles, destaca-se A Arte da Guerra, deSun Tzu, que era um general chinês, profundo conhecedor das ma<strong>no</strong>bras milita-


52res, por volta de 400 a.C. A estratégia, como arte da guerra, passou a ser utilizadaapós a Renascença, salientando-se <strong>os</strong> escrit<strong>os</strong> de Maquiavel 9 e, p<strong>os</strong>teriormente,<strong>os</strong> de Clausewitz 10 , que desenvolveu a idéia de estratégia em seu sentidoatual (Quinn, 2001; Mintzberg; Ahlstrand; Lampel, 2000).À semelhança de algumas idéias entre <strong>os</strong> negóci<strong>os</strong> e um campo de batalha,como definição clara de objetiv<strong>os</strong> e visão de escopo, comand<strong>os</strong> e liderançasfavoreceram o uso de idéias e de métod<strong>os</strong> de planejamento de operaçõesmilitares nas empresas, a partir da Segunda Revolução Industrial e, principalmente,<strong>no</strong> início do século XX. Nesse período, ocorreram importantes fat<strong>os</strong> polític<strong>os</strong>e econômic<strong>os</strong>, 11 que provocaram profundas modificações n<strong>os</strong> ambientessociopolítico e econômico mundiais e n<strong>os</strong> process<strong>os</strong> de produção e deadministração das organizações.Com o surgimento d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> de massa, as empresas desenvolveram--se e diversificaram seus produt<strong>os</strong> e mercad<strong>os</strong>, com a difusão das grandesunidades organizacionais e a concentração de capitais. Nesse <strong>no</strong>vo ambiente,aumentaram as preocupações com a gerência das empresas, mas, apenasapós 1950, o conceito de estratégia começou a ser aplicado na administração ea ter um grande desenvolvimento teórico em seu sentido atual. Enquanto o objetivona estratégia militar é tomar o território inimigo e/ou proteger o seu território, oobjetivo na estratégia organizacional é, em geral, mais amplo e complexo, tendoem vista as ambigüidades, as incertezas e as rápidas mutações <strong>no</strong> ambienteem geral e <strong>no</strong> organizacional.2.2.1.2 - <strong>As</strong> mudanças na visão da empresae as modificações estratégicasAté o fim da década de 50, a visão da empresa era de dentro <strong>para</strong> fora, e asperspectivas de negóci<strong>os</strong> eram vistas sob o enfoque das diferentes unidades daorganização e das linhas tradicionais de produt<strong>os</strong>. Com o fim da Segunda Guerrae após um período de reconstrução mundial, as eco<strong>no</strong>mias capitalistas toma-9Maquiavel (1469-1527) era escritor, diplomata e pensador político. Formulou uma série deconselh<strong>os</strong> ao príncipe <strong>no</strong> interesse do Estado, em sua obra mais fam<strong>os</strong>a O Príncipe.10Clausewitz (1780-1831), general prussia<strong>no</strong>, escreveu On War, com comentári<strong>os</strong> sobre aestratégia e a relação existente entre a guerra, a política e a sociedade.11O período entre 1870 e 1945 foi caracterizado pela ocorrência de grandes evoluçõestec<strong>no</strong>lógicas e sociais e significativas crises <strong>no</strong> sistema capitalista, como as duas grandesdepressões econômicas (entre 1873 e 1895 e a de 1929) e as duas guerras mundiais(1914-18 e 1939-45).


am um <strong>no</strong>vo impulso de crescimento. Nessa época começou a ser utilizado oconceito de estratégia na administração, como uma metáfora militar, <strong>no</strong> intentode p<strong>os</strong>sibilitar às empresas uma <strong>no</strong>va perspectiva de futuro. E, na década de 50,surgia o conceito de “competência distintiva”, introduzido na administração estratégicade negóci<strong>os</strong> por Philip Selznick, e a idéia de estratégia como “umadireção deliberadamente escolhida” de Andrews Kenneth.532.2.1.3 - <strong>As</strong> décadas de 60 e 70N<strong>os</strong> an<strong>os</strong> 60, com a grande diversificação de mercad<strong>os</strong> e de produt<strong>os</strong>pelas grandes empresas, em virtude do aumento da concorrência, a análiseestratégica passou a dar ênfase cada vez maior às perspectivas de negóci<strong>os</strong> daempresa. Nas décadas de 60 e 70, destacam-se <strong>os</strong> estud<strong>os</strong> sobre a relaçãoestratégia-estrutura, a análise SWOT — Strengths/Weaknesses/Opportunities//Threats —, e sobre o planejamento estratégico.Chandler, em 1962, estabeleceu a <strong>no</strong>ção de estratégia de negóci<strong>os</strong> e suarelação com a estrutura. Analisando as mudanças estruturais em grandesorganizações <strong>no</strong>rte-americanas, concluiu que a estrutura das empresas foicontinuamente adaptada à estratégia. Já a análise SWOT, através de um inventáriodas forças e das fraquezas da empresa, das oportunidades e das ameaças domeio ambiente e do grau de adequação entre elas, buscava verificar acompetitividade da empresa. Esta última abordagem, segundo Hatch (1997),visava combinar <strong>os</strong> curs<strong>os</strong> selecionad<strong>os</strong> de ação, intencionalmente eracionalmente, com a alocação de recurs<strong>os</strong> <strong>para</strong> atingir as metas e <strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong>organizacionais, através de um ajuste estratégico, e, assim, obter a vantagemcompetitiva.O planejamento estratégico, por sua vez, teve grande impacto naadministração, na década de 70, pela repercussão do livro Corporate Strategy,de Ansoff, publicado em 1965. O planejamento é, essencialmente, um processoda gerência de alto nível, e a avaliação e o controle são permanentes, comobases <strong>para</strong> decisões e correções d<strong>os</strong> curs<strong>os</strong> de ação. Apesar de se<strong>para</strong>r aformulação da sua implementação, o planejamento pode ser revisto durantetodo o processo da ação; e o futuro pode, ou não, ser uma extrapolação emrelação ao passado. Nesse contexto, a estratégia é determinada pela análisedas perspectivas e d<strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong>, que representam <strong>os</strong> fins que a empresa tentaalcançar (Ansoff; McDonnell, 1993). Portanto, a formação da estratégia é umprocesso formal, programado, passível de decomp<strong>os</strong>ição em distintas etapasesboçadas por check lists e sustentado por técnicas, <strong>para</strong> que p<strong>os</strong>sa serimplementado.


54Porém a estratégia válida dentro de um conjunto de objetiv<strong>os</strong> pode perdersua validade quando estes se modificam. <strong>As</strong> origens de tal mudança podem serinternas, como uma alteração n<strong>os</strong> valores e nas relações de poder, bem comoexternas, em conseqüência, por exemplo, de <strong>no</strong>vas exigências imp<strong>os</strong>tas àorganização pela sociedade.Na década de 70, ocorreram modificações muito rápidas e de grandemagnitude n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, na concorrência, <strong>no</strong> nível tec<strong>no</strong>lógico e na diversificaçãode negóci<strong>os</strong>. Esse contexto impôs às empresas uma maior preocupação comas questões estratégicas, e o planejamento estratégico deliberado, tal comoera concebido até então, tor<strong>no</strong>u-se inócuo. Dada a imp<strong>os</strong>sibilidade de controled<strong>os</strong> fatores extern<strong>os</strong> e a imprevisibilidade do futuro, surgiu o planejamento comoum processo emergente de um conjunto de decisões e ações. Mesmo assim,houve grandes críticas a esse processo.O uso do planejamento <strong>para</strong> a adoção de uma estratégia foi contestado porHamel (1996), Quinn e Voyer (2001) e Mintzberg (1994a, 1994b), dentre outr<strong>os</strong>.Para eles, a incapacidade de diferenciar o planejamento da estratégia foi umadas causas do fracasso de muitas empresas. O planejamento é apenas umaatividade de programação, que articula as estratégias já existentes em plan<strong>os</strong>formais e analític<strong>os</strong>, construíd<strong>os</strong> sobre categorias que existem na organização.Além disso, conforme Mintzberg (1994a, 1994b), o planejamento estratégicoreduz o poder d<strong>os</strong> administradores sobre a elaboração de estratégias, devido àsua formalização, que falha por sua incapacidade de predizer as descontinuidadese desencoraja o aprendizado, ao não reconhecer as qualidades emergentes daestratégia. Considera, ainda, que a se<strong>para</strong>ção entre a formulação e aimplementação do planejamento é falaci<strong>os</strong>a, pois são process<strong>os</strong> inter--relacionad<strong>os</strong>.O aumento do mercado foi considerado por muitas empresas, n<strong>os</strong> an<strong>os</strong>70, como o meio aparentemente ilimitado do crescimento corporativo, e, comoresultado, a ênfase <strong>no</strong> mercado atrativo tor<strong>no</strong>u-se o componente mais importanteda estratégia empresarial. Essa mudança de perspectiva na estratégia foiacompanhada por modificação na estrutura corporativa, com a formação degrandes organizações conglomeradas, formadas, principalmente, por aquisiçõesexternas. Segundo Varadarajan, Jayachandran e White (2001), a fil<strong>os</strong>ofiacorporativa de crescimento era focada nas sinergias financeiras, proporcionadaspela diversificação.Conseqüentemente, passaram a ser considerad<strong>os</strong> dois níveis de estratégia:a estratégia das unidades de negóci<strong>os</strong> e a estratégia corporativa, tendo havidoum desenvolvimento de model<strong>os</strong> de portfólio estratégico. O B<strong>os</strong>ton ConsultingGroup desenvolveu duas técnicas, muito usadas, principalmente pelas empresas<strong>no</strong>rte-americanas: a matriz de crescimento-participação, muito popular, e a


curva de experiência. E, em 1972, a General Eletric desenvolveu o modelo ProfitImpact of Market Strategies (PIMS). No modelo BCG, as ações estratégicasdas unidades de negóci<strong>os</strong> visavam maximizar a contribuição ao crescimento ouà liquidez, <strong>para</strong> p<strong>os</strong>sibilitar o desenvolvimento da corporação. Mas, de acordocom Ansoff e McDonnell (1993), quando a turbulência ambiental alcança níveiselevad<strong>os</strong>, as matrizes de p<strong>os</strong>icionamento, tal como a BCG, tornam-se inadequadas<strong>para</strong> refletir a amplitude da incerteza <strong>no</strong> ambiente futuro.Em razão da preocupação em definir futur<strong>os</strong> alternativ<strong>os</strong>, foi desenvolvida atécnica de cenári<strong>os</strong>, que teve suas origens <strong>no</strong> trabalho realizado por Pierre Wack,na Royal Dutch/Shell, <strong>no</strong> início da década de 70. Essa técnica, ao considerar aexistência de diferentes cenári<strong>os</strong>, estimula <strong>os</strong> gestores a refletirem sobre asestratégias de longo prazo e reduz as incertezas frente a alterações daconcorrência ou do mercado. 12552.2.1.4 - A estratégia n<strong>os</strong> an<strong>os</strong> 80 e 90<strong>As</strong> turbulências tec<strong>no</strong>lógicas, o surgimento de <strong>no</strong>v<strong>os</strong> concorrentes, adesaceleração do crescimento econômico e as pressões sociais e políticasmodificaram o cenário mundial <strong>no</strong> fim da década de 70 e início da seguinte.Como resultado, a perspectiva d<strong>os</strong> negóci<strong>os</strong> alterou-se da visão do mercadoatrativo <strong>para</strong> a necessidade do fortalecimento inter<strong>no</strong> das empresas. A atençãovoltou-se <strong>para</strong> a análise da indústria e/ou d<strong>os</strong> concorrentes, estimulada, emparticular, pelo estudo das estratégias competitivas de Porter (1996a).A estratégia competitiva, <strong>para</strong> Porter, envolve <strong>os</strong> fatores intern<strong>os</strong> e extern<strong>os</strong>às empresas, focando seus recurs<strong>os</strong> e competências distintivas e as condiçõesda concorrência e da demanda, na busca de uma p<strong>os</strong>ição competitiva favorável,lucrativa e sustentável frente a<strong>os</strong> concorrentes. Por decorrência, na formulaçãoda estratégia, devem-se avaliar as forças competitivas <strong>no</strong> ambiente, que são: aentrada de <strong>no</strong>v<strong>os</strong> concorrentes, a ameaça de substitut<strong>os</strong>, o poder de negociaçãod<strong>os</strong> compradores e o d<strong>os</strong> fornecedores e a rivalidade entre <strong>os</strong> concorrentesexistentes. Essas “forças” dependem da estrutura industrial básica ou dascaracterísticas técnicas e econômicas de algumas indústrias, e suas alteraçõespodem levar a modificações nas estratégias adotadas. A estratégia pode ser de“foco na diferenciação” ou de “foco na liderança em custo”, não podendo ser“tudo <strong>para</strong> tod<strong>os</strong>”, conforme já discutido anteriormente. Cada uma dessasestratégias requer diferentes estil<strong>os</strong> de liderança e de culturas nas empresas,12Sobre a técnica de cenári<strong>os</strong>, ver Fahey (1998) e Kania (1998).


56pois apresentam risc<strong>os</strong> de perderem sua validade ou de serem imitadas, dentreoutr<strong>os</strong>. Relevante papel cabe ao conceito de cadeia de valor introduzido porPorter, que p<strong>os</strong>sibilita o exame de todas as atividades e como elas interagementre si, tornando p<strong>os</strong>sível compreender o comportamento d<strong>os</strong> cust<strong>os</strong> e as fontesexistentes e potenciais de diferenciação (Porter, 1996a; 1989; 1998).Com as mudanças tec<strong>no</strong>lógicas, competitivas e de mercado, a abordagembaseada <strong>no</strong> tripé estratégia-estrutura-sistema administrativo <strong>para</strong> gerenciar empresas,muito usada na década de 50 até o início da de 80, modificou-se <strong>para</strong>um modelo mais flexível e orgânico, baseado <strong>no</strong> desenvolvimento de objetiv<strong>os</strong>,process<strong>os</strong> e pessoas (Bartlett; Gh<strong>os</strong>hal, 1994).A mudança de foco <strong>para</strong> <strong>os</strong> process<strong>os</strong> organizacionais, como o empreendedorismo,o desenvolvimento de competências e a re<strong>no</strong>vação, tem estimulado<strong>os</strong> administradores a criarem um ambiente favorável <strong>para</strong> o desenvolvimentode iniciativa, cooperação e aprendizagem das pessoas que participam daorganização (Gh<strong>os</strong>hal; Bartlett, 1995).Foram desenvolvidas várias e diferentes prop<strong>os</strong>ições estratégicas, como anecessidade da empresa de repensar a natureza das suas “competênciasessenciais” e adquirir <strong>no</strong>vas competências (Prahalad; Hamel, 1998); de reavaliaro papel da i<strong>no</strong>vação, considerando-a como uma oportunidade <strong>para</strong> a criação deum <strong>no</strong>vo modelo de negóci<strong>os</strong> (Hamel, 1996); e a necessidade de as empresasde sucesso terem valores e propósit<strong>os</strong> essenciais (Collins; Porras, 1996).Tendo em vista a ampliação da abertura d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, as empresas podemescolher entre diversificar <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, estendendo o escopo geográfico deseus negóci<strong>os</strong> atuais, e a diversificação de negóci<strong>os</strong> n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> em que jáatua. Conforme estud<strong>os</strong> de Varadarajan, Jayachandran e White (2001, p. 18),quanto maior a abertura do mercado internacional, maior é a intensidade dedesconglomeração, ou seja, o crescimento é focado na reorganização d<strong>os</strong>negóci<strong>os</strong> em tor<strong>no</strong> das competências essenciais da firma. Portanto, aglobalização tem influenciado o comportamento das empresas e estimulado aadoção de diferentes estratégias.No final do século XX, igualmente se ampliou o reconhecimento danecessidade de adequar o crescimento das empresas ao bem-estar daspopulações. Fruto do processo de globalização, inúmeras empresas deslocaram--se, transferindo parte da produção “poluente” <strong>para</strong> <strong>os</strong> países men<strong>os</strong> desenvolvid<strong>os</strong>e com me<strong>no</strong>r grau de regulamentações ambientais e trabalhistas. Tal situaçãoexigiu o aumento de controle das atividades industriais através de diversasregulamentações, principalmente ambientais, pois as pesquisas empí-ricas têmdemonstrado “(...) que a responsabilidade ambiental da empresa é raramentevoluntária, ocorrendo mais freqüentemente em resp<strong>os</strong>ta a enérgicasregulamentações e à pressão do consumidor” (Egri; Pinfield, 1999, p. 380).


Conscientes de que o relacionamento empresa/sociedade é um problema crucial,muitas empresas têm se preocupado em formular estratégias sociais, pois elasp<strong>os</strong>sibilitam uma “(...) melhoria da imagem institucional, criação de um ambienteinter<strong>no</strong> e exter<strong>no</strong> favorável, estímul<strong>os</strong> adicionais <strong>para</strong> melhoria e i<strong>no</strong>vaçõesn<strong>os</strong> process<strong>os</strong> de produção (...)” (BNDES, 2002, p. 7).Nesse contexto, cada vez mais, as empresas precisam desenvolver,segundo Ansoff e McDonnell (1993, p. 254), três estratégias correlatas: aestratégia de legitimação, que visa influenciar as regras do jogo, <strong>para</strong> facilitar aotimização das atividades da empresa; a estratégia de responsabilidade social,que inclui um código de ética a ser respeitado <strong>no</strong> seu comportamento inter<strong>no</strong> eexter<strong>no</strong>; e a estratégia sociopolítica e comercial, que integra as regras prováveisdo jogo à estratégia empresarial, buscando tirar o melhor proveito das mesmas.572.2.2 - Os vári<strong>os</strong> conceit<strong>os</strong> de estratégiaDe acordo com Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) e Mintzberg (2001),as estratégias admitem pelo men<strong>os</strong> cinco definições:- como um pla<strong>no</strong> ou um curso de ação pretendido <strong>para</strong> o futuro — estratégiapretendida (olhar <strong>para</strong> frente);- um padrão consistente de comportamento ao longo do tempo — estratégiarealizada (olhar <strong>para</strong> o passado);- uma p<strong>os</strong>ição <strong>no</strong> ambiente (produt<strong>os</strong> e mercad<strong>os</strong>);- uma perspectiva ou uma maneira fundamental de fazer as coisas;- um pretexto ou truque <strong>para</strong> enganar o concorrente.A estratégia como p<strong>os</strong>ição é defendida por Porter (1996b, p. 68), <strong>para</strong> oqual a “(...) estratégia é a criação de uma p<strong>os</strong>ição única e vali<strong>os</strong>a que englobaum conjunto diferente de atividades”. Para ele, a estratégia competitiva consisteem ser diferente, em selecionar, deliberadamente, um conjunto de atividadesdistintas. Nesse caso, a essência da estratégia está nas atividades — optar porexercer atividades de modo diferente ou exercer atividades diferentes das d<strong>os</strong>rivais.Portanto, <strong>para</strong> Porter (1996a), o processo estratégico é deliberado e dedutivo,pois a estratégia significa fazer escolhas de p<strong>os</strong>icionamento competitivo. E op<strong>os</strong>icionamento estratégico surge de três fontes diferentes, mutuamenteexclusivas e, por vezes, sobrep<strong>os</strong>tas. <strong>As</strong>sim, o p<strong>os</strong>icionamento estratégico ébaseado:- na variedade — na produção de um vasto conjunto de produt<strong>os</strong> ou serviç<strong>os</strong>de uma indústria;


58- em necessidades — que se aproxima mais da visão tradicional sobresegmentação de mercado e surge quando existem grup<strong>os</strong> de consumidorescom diferentes necessidades;- <strong>no</strong> acesso — segmentar <strong>os</strong> clientes que são acessíveis de maneirasdiferentes. Nesse caso, apesar de as suas necessidades serem parecidascom as de outr<strong>os</strong> clientes, a configuração de atividades que melhor <strong>os</strong>satisfaz é diferente.A estratégia, como perspectiva ou “maneira de fazer as coisas”, depended<strong>os</strong> valores existentes em uma empresa, que são fortemente influenciad<strong>os</strong> pel<strong>os</strong>istema de valores nacionais e inter-relacionad<strong>os</strong>, em maior ou me<strong>no</strong>r grau, a<strong>os</strong>valores d<strong>os</strong> seus fundadores e d<strong>os</strong> administradores do topo (Hofstede, 1985;Jonhson, 1999a; Schein, 1984). Por conseguinte, a estratégia está interligada àcultura organizacional, que pode ser mudada, mas isso não é fácil (Hofstede,1993; Luppi, 1995).Se, por um lado, as empresas podem adotar estratégias defensivas ouofensivas (Porter, 1996a), essas estratégias “(...) [às] vezes, são produt<strong>os</strong> dooportunismo ou da visão d<strong>os</strong> executiv<strong>os</strong>; em outras ocasiões, são imp<strong>os</strong>tas àempresa por uma entidade externa (como um órgão governamental) ou peloambiente de atuação” (Johnson, 1999a). Portanto, a estratégia não pode serapenas focada na intensidade do ajuste entre <strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> e as oportunidadesatuais.Observa-se, igualmente, que, quando algumas ações adotadas se ajustamàs demandas ambientais e p<strong>os</strong>sibilitam o sucesso organizacional, asorganizações, através de mecanism<strong>os</strong> de reforço e de aprendizagem, tendem apr<strong>os</strong>seguir em tais ações (Machado-da-Silva; Fonseca; Fernandes, 2001). Essasações, baseadas <strong>no</strong> aprendizado, podem convergir, com o passar do tempo,<strong>para</strong> padrões de atuação estratégic<strong>os</strong>. Nesse caso, o papel d<strong>os</strong> líderes não épreconceber estratégias deliberadas, mas, sim, gerenciar o processo deaprendizagem estratégico, pelo qual <strong>no</strong>vas estratégias podem emergir (Mintzberg;Ahlstrand; Lampel, 2000).Existem aquelas estratégias que são i<strong>no</strong>vadoras e que podem alterar omercado. É o caso, por exemplo, das vendas de produt<strong>os</strong> pela internet, queampliou o poder de escolha do consumidor, modificou o ambiente d<strong>os</strong> negóci<strong>os</strong>e aumentou o nível de concorrência.Buscando esclarecer o conceito de estratégia, Quinn (2001, p. 20) procurafazer uma clara distinção com metas (ou objetiv<strong>os</strong>), afirmando que a estratégiaé o padrão ou o pla<strong>no</strong> que integra as principais metas e políticas de umaorganização, que m<strong>os</strong>tra como vão ser obtid<strong>os</strong> <strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> ou as metas queapenas afirmam “(...) quais e quando <strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> precisam ser alcançad<strong>os</strong>”.


2.2.2.1 - <strong>As</strong> estratégias deliberadase as emergentesDe acordo com as cinco definições, as estratégias podem ser deliberadas,quando as intenções foram realizadas, ou emergentes, que são as estratégiasnão pretendidas, que se formam como reação a event<strong>os</strong> inesperad<strong>os</strong> (Mintzberg;Ahlstrand; Lampel, 2000; Mintzberg, 1998).Uma estratégia emergente é essencialmente não planejada e ocorre semque haja uma intenção definida ou, ainda que haja tal intenção, surge como senão a houvesse (Mintzberg, 1998, p. 425). <strong>As</strong>sim, muitas delas se formam pelaocorrência de mudanças internas, como <strong>os</strong> conflit<strong>os</strong> existentes, dadas asrelações de poder, ou externas, como as mudanças de políticas econômicas ouregulatórias. E, em períod<strong>os</strong> de mudanças, <strong>no</strong>vas estratégias podem emergir naorganização.Todavia, dependendo da maneira de analisar uma empresa, as estratégiaspodem ser visualizadas como deliberadas, emergentes, baseadas em plan<strong>os</strong><strong>para</strong> atingir determinadas p<strong>os</strong>ições <strong>no</strong> mercado, ou tendo por fundamento aaprendizagem por tentativa e erro. Interessante exemplo é o caso da entrada daHonda <strong>no</strong> mercado <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> de mot<strong>os</strong> 13 . Apesar das distinções existentesentre as estratégias emergentes e as deliberadas, segundo Mintzberg, Ahlstrande Lampel (2000) e Mintzberg (1998), existe um continuum que representa asp<strong>os</strong>sibilidades de combinação na formulação de estratégias.Logo, as estratégias emergentes podem ocorrer junto com as deliberadas.Esse é o exemplo da “estratégia guarda-chuva”, onde a gerência sênior defineas diretrizes abrangentes e deixa a decisão de quais <strong>os</strong> produt<strong>os</strong> específic<strong>os</strong> afabricar àqueles que ocupam níveis mais baix<strong>os</strong> na organização. Essa estratégianão é apenas deliberada (em suas diretrizes) e emergente (em seus detalhes),mas é também deliberadamente emergente pelo fato de que o processo éconscientemente gerenciado <strong>para</strong> permitir que estratégias p<strong>os</strong>sam emergir(Mintzberg,1998).Como o ambiente é percebido, interpretado e avaliado por atores human<strong>os</strong>dentro das organizações, as condições ambientais só são importantes à medidaque são percebidas por aqueles que tomam as decisões. Por conseguinte,diferentes atores podem perceber o mesmo fenôme<strong>no</strong> de distintas maneiras.5913A entrada da Honda <strong>no</strong> mercado <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> foi vista como uma consistente formulaçãoestratégica pelo B<strong>os</strong>ton Consulting Group, enquanto, de acordo com a empresa, as açõesestratégicas foram sendo adaptadas e modificadas à medida que a empresa passou aconhecer melhor o mercado <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> (Pascale, 2001; Mintzberg; Ahlstrand; Lapel,2000).


602.2.2.2 - <strong>As</strong> estratégias incrementaise revolucionáriasEm geral, as estratégias ocorrem de forma incremental, ou seja, tendem aemergir de uma maneira tipicamente fragmentada, evolutiva e largamente intuitiva.<strong>As</strong>sim, as organizações refinam o curso estratégico geral, incrementalmente, àmedida que <strong>no</strong>vas informações emergem do ambiente. Contudo o incrementalismológico não é algo confuso, mas, sim, uma técnica administrativa intencional,efetiva e pró-ativa, <strong>para</strong> desenvolver e integrar <strong>os</strong> aspect<strong>os</strong> analític<strong>os</strong> ecomportamentais da formulação estratégica (Quinn, 1989). Essa visão dasestratégias pelo incrementalismo difere bastante da abordagem racional.O incrementalismo lógico facilita: enfrentar <strong>os</strong> limites cognitiv<strong>os</strong> e doprocesso em cada decisão principal; construir uma estrutura analítica lógica<strong>para</strong> essas decisões requeridas; criar consciência, entendimento, aceitação ecomprometimento pessoal e organizacional necessári<strong>os</strong> <strong>para</strong> implementarefetivamente as estratégias (Quinn, 1989).O incrementalismo é usado, pelo seu potencial, <strong>para</strong> a efetividade d<strong>os</strong>resultad<strong>os</strong> e <strong>para</strong> diminuir o tempo da implementação das estratégias. Nã<strong>os</strong>endo p<strong>os</strong>sível prever tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> event<strong>os</strong>, o programa estratégico pode serdesenvolvido por mudanças incrementais, à medida que <strong>no</strong>vas informações setornem disponíveis. O próprio pla<strong>no</strong> formal é parte da lógica incremental, umavez que muit<strong>os</strong> administradores, prop<strong>os</strong>itadamente, desenham seus plan<strong>os</strong>esquematizad<strong>os</strong>, visando à maior coesão e ao comprometimento d<strong>os</strong> membr<strong>os</strong>da organização na tomada das futuras decisões. Além disso, facilita o aprendizadoestratégico. E as estratégias, como um processo de aprendizagem, podemsurgir de várias maneiras e lugares.Não existe uma unanimidade quanto à formação das estratégias de formaincremental. Para Hamel (1996), é necessário, por parte daqueles que elaborama estratégia, libertar-se das regras existentes e criar as próprias regras,reinventando o negócio. Nesse caso, a estratégia é encarada como uma revolução,e nenhuma i<strong>no</strong>vação estratégica será bem-sucedida sem uma mudança préviaem perspectiva.Apesar de as organizações poderem alterar o curso estratégico geral, atravésde <strong>no</strong>vas estratégias emergentes, que podem ser incrementalmente adotadas,existem situações em que pode ocorrer uma grande ruptura na empresa. Nocaso de uma i<strong>no</strong>vação radical, por exemplo, pode ser necessária uma mudançasimultânea em vári<strong>os</strong> padrões estabelecid<strong>os</strong>.Isso não implica negar a existência das estratégias emergentes, quecontinuam a existir. No entanto, algumas empresas podem não colocá-las em


prática, esperando o momento adequado <strong>para</strong> lançar alguma grande e radicali<strong>no</strong>vação por exemplo. Nesse momento, passam a implementá-las de formaconjunta, realizando várias mudanças ao mesmo tempo. Esse processo éconhecido como mudança quântica, que “(...) significa a mudança de muit<strong>os</strong>element<strong>os</strong> ao mesmo tempo”. Essa “(...) mudança pode ser rápida — revolucionária—”, ou pode ocorrer de “forma gradual”. Essas mudanças drásticas resultam<strong>no</strong> que “(...) Miller e Friesen chamam de revolução estratégica”, quandouma empresa passa de uma configuração <strong>para</strong> outra (Mintzberg; Ahlstrand;Lampel, 2000, p. 230).Dada a forma como são observadas as organizações, o que parecemudança incremental <strong>para</strong> um pode parecer revolucionária <strong>para</strong> outro, e, nessecaso, “(...) <strong>os</strong> dois poderiam estar descrevendo dois estági<strong>os</strong> seqüenciais domesmo processo” (Mintzberg; Ahlstrand; Lampel, 2000, p. 31).De acordo com Hamel (1996), as companhias de sucesso são as queousam alterar as leis do seu mercado, encarando a estratégia como umarevolução, pois as empresas realizam mudanças fundamentais. Essas empresascriam <strong>no</strong>vas regras competitivas, estabelecem estratégias ousadas e geram<strong>no</strong>vas oportunidades, modificando, muitas vezes, as condições do ambiente domercado.612.2.2.3 - Os diferentes níveis da estratégia<strong>As</strong> estratégias de uma empresa podem ocorrer em vári<strong>os</strong> níveis: dacorporação, que especifica <strong>os</strong> negóci<strong>os</strong> n<strong>os</strong> quais o grupo escolheu competir;de negóci<strong>os</strong>, que considera como as diferentes unidades de negóci<strong>os</strong> vão competir<strong>no</strong> mercado; e de áreas funcionais, com as atividades e as decisões específicasa elas relacionadas. Nesses três níveis, as estratégias estão interligadas,visando aumentar a vantagem competitiva de um negócio específico <strong>no</strong>portfólio da empresa (Varadarajan; Jayachandran, 1999; Varadarajan;Jayachandran; White, 2001). Mudanças na estratégia em um determinado nívelpodem conduzir a significativas mudanças em outr<strong>os</strong>.A estratégia corporativa engloba <strong>os</strong> negóci<strong>os</strong> diversificad<strong>os</strong> existentes,especifica como a companhia pretende estabelecer as p<strong>os</strong>ições d<strong>os</strong> negóci<strong>os</strong>em diferentes indústrias e as ações e abordagens empregadas <strong>para</strong> alcançar aperformance do grupo de negóci<strong>os</strong> em que a companhia está envolvida. Dessaforma, pode estabelecer as prioridades de investiment<strong>os</strong> e de recurs<strong>os</strong> nas unidadesde negóci<strong>os</strong> mais competitivas (Thompson; Strikland, 1996, p. 37-40).Já as estratégias de negóci<strong>os</strong> buscam, em geral, construir uma fortep<strong>os</strong>ição competitiva de longo prazo em uma linha de negóci<strong>os</strong>. Contudo essa


62distinção entre estratégias corporativas e de negóci<strong>os</strong> só é relevante se existemdiversificadas firmas dentro de uma companhia.O desenvolvimento e a implantação das estratégias das áreas funcionais,além de sua inter-relação com as estratégias de negóci<strong>os</strong>, requerem, muitasvezes, uma integração entre distintas áreas, as quais participam, em diferentesníveis, do processo estratégico. Nas estratégias de marketing, existem interfacesda orientação ao cliente, segmentação e seleção de mercad<strong>os</strong>-alvo,p<strong>os</strong>icionamento do produto, decisões sobre o processo de estabelecimento deparcerias e estratégias do comp<strong>os</strong>to de marketing, como produto, preço promoçãoe distribuição. Por isso, Keegan e Green (2000) e Montgomery e Webster(1977) destacam a coordenação eficaz do marketing com as outras áreas funcionais,isto é, do envolvimento interfuncional <strong>para</strong> a organização.Enquanto grande parte d<strong>os</strong> estud<strong>os</strong> se dedica a compreender a formaçãodas estratégias, a sua implementação é pouco abordada. Para Noble e Mokwa(1999), não há um consenso entre <strong>os</strong> pesquisadores da área sobre a definiçãode implementação, assim como são rar<strong>os</strong> <strong>os</strong> estud<strong>os</strong> exclusivamente sobreimplementação. Definem a implementação da estratégia de marketing comocomunicação, interpretação, adoção e representação de uma estratégia demarketing. Com o objetivo de focar explicitamente a implementação, identificamvariáveis-chave e relacionament<strong>os</strong> que influenciam o processo de implementação.Thompson e Strickland (1996, p. 11), por sua vez, destacam <strong>os</strong> principais aspect<strong>os</strong><strong>para</strong> o sucesso da implementação, como a motivação das pessoas envolvidas,a existência de recurs<strong>os</strong> orçamentári<strong>os</strong>, a criação de um clima propício<strong>para</strong> o sucesso da implementação estratégica, o destacado papel do líderna condução da implementação <strong>para</strong> alcançar <strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> pretendid<strong>os</strong>, dentreoutr<strong>os</strong>.Como as estratégias podem existir em vári<strong>os</strong> níveis da organização, àsvezes elas são usadas como sinônimo de táticas. Usando uma metáfora militar,Hatch (1997) afirma que uma estratégia organizacional é um esquema <strong>para</strong>competir <strong>no</strong> mercado, sendo usadas táticas que se ajustam continuamente àsituação competitiva. E a distinção entre as estratégias e as táticas, segundoQuinn (2001, p. 21), “(...) reside na escala de ação ou na perspectiva do líder”.Destarte, o que pode ser tática <strong>para</strong> um executivo pode ser estratégia <strong>para</strong>outro, em diferente p<strong>os</strong>ição na empresa. O que as diferencia é o fato de astáticas serem de “curta duração, adaptáveis”, ao passo que a “estratégia defineuma base contínua <strong>para</strong> ordenar essas adaptações”.


2.2.2.4 - <strong>As</strong> 10 escolas de MintzbergMintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), <strong>no</strong> livro Safári de Estratégia,apresentam uma evolução do gerenciamento estratégico sob o enfoque de 10importantes escolas, como m<strong>os</strong>tra o Quadro 2.1.<strong>As</strong> três escolas prescritivas (“o que deveria ser”) dominaram sucessivamente,a saber: n<strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> an<strong>os</strong>, a do design; n<strong>os</strong> an<strong>os</strong> 70, a doplanejamento; e, depois (an<strong>os</strong> 80), a escola do p<strong>os</strong>icionamento, que era a men<strong>os</strong>preocupada com o processo de formulação e mais com o conteúdo dasestratégias, a qual, apesar de ter perdido parte de sua popularidade, aindapermanece altamente influente. Já na década de 90, ampliou-se o espectro,com todas as outras seis escolas descritivas (“aquilo que é”) destacando-se deuma ou outra forma. E a décima escola, a de configuração, envolve todas asdemais, ou seja, são integrad<strong>os</strong> <strong>os</strong> process<strong>os</strong> de formulação e de conteúdo dasestratégias, além de considerar as estruturas das organizações e seus context<strong>os</strong>,tendo em vista que está ligada à transformação, ou seja, às mudançasestratégicas.Pode-se verificar que cada escola segue diferentes process<strong>os</strong> e p<strong>os</strong>suidistint<strong>os</strong> conteúd<strong>os</strong> <strong>para</strong> a formulação das estratégias, gerando mudanças quevariam de raras até freqüentes, as quais podem ocorrer de distintas formas. <strong>As</strong>palavras-chave, por sua vez, p<strong>os</strong>sibilitam uma melhor compreensão de suascaracterísticas. <strong>As</strong> escolas apresentadas tanto podem ser diferentes abordagensda formação da estratégia quanto partes diferentes do mesmo processo(Mintzberg; Lampel, 1999). Algumas são claramente etapas ou aspect<strong>os</strong> daformação da estratégia. <strong>As</strong>sim, por exemplo, a escola cognitiva está na mentedo estrategista e olha <strong>para</strong> dentro do processo; a escola do planejamento avistaligeiramente <strong>para</strong> frente, <strong>para</strong> programar as estratégias criadas; a do desenhoenxerga ainda mais longe; e a empreendedora olha <strong>para</strong> uma perspectiva estratégica,<strong>para</strong> uma visão única do futuro.A estratégia, portanto, pode ser vista de várias maneiras ao mesmo tempo.Ela p<strong>os</strong>sibilita envolver um julgamento de valor, uma visão intuitiva e umaaprendizagem emergente; pode exigir o conhecimento individual e a interaçã<strong>os</strong>ocial, tanto cooperativa como conflitu<strong>os</strong>a; permite incluir uma análise antes euma programação depois, além de uma negociação durante; e também deveresponder ao ambiente. <strong>As</strong>sim como algumas estratégias parecem ser maisdeliberadas racionalmente (principalmente em indústrias maduras de produçãoem massa e <strong>no</strong> Gover<strong>no</strong>), outras tendem a ser mais emergentes, de formaadaptativa (como nas indústrias dinâmicas e de alta tec<strong>no</strong>logia). Existem, pois,tendências reconhecíveis de etapas e períod<strong>os</strong> identificáveis na formação daestratégia (Mintzberg; Lampel, 1999).63


64Quadro 2.1Dimensões das 10 escolas de MintzbergESCOLAS PALAVRAS-CHAVE PROCESSOS CONTEÚDO MUDANÇASDesignPlanejamentoP<strong>os</strong>icionamentoEmpreendedoraCognitivaAprendizadoCompetênciadistintiva, SWOT,formulação/implementação.Programação,orçamentação,cenári<strong>os</strong>.Estratégia genérica,grupo estratégico,análisecompetitiva, portfólio,curva deexperiência.Golpe ousado,visão, critério.Mapa, quadro,conceito, esquema,percepção,interpretação, racionalidade,estilo.Incrementalismo,espírito empreendedor,aventura,defensor, competênciaessencial.De concepção,deliberado.Formal,decomp<strong>os</strong>to,deliberado.Analítico,sistemático,deliberado.Visionário,intuitivo, deliberado(emgrande parte).Mental,emergente.Emergente,informal,confuso.Perspectivaplanejada,única.Plan<strong>os</strong> eprogramas.P<strong>os</strong>ições genéricasplanejadasema<strong>no</strong>bras.Perspectiva(visão) pessoale única.Perspectivamental (individual).Padrões, ú-nica.Ocasional,quântica.Periódica,incremental.A<strong>os</strong> pouc<strong>os</strong>,freqüente.Ocasional,oportunista,revolucionária.Infreqüente(resistênciasmentais).Contínua,incremental,ou critéri<strong>os</strong>quântic<strong>os</strong>ocasionais.(continua)


65Quadro 2.1Dimensões das 10 escolas de MintzbergESCOLAS PALAVRAS-CHAVE PROCESSOS CONTEÚDO MUDANÇASFreqüente,pouco a pouco.PoderBarganha, conflito,Negociação, Padrões ecoalizão, inte-emergente p<strong>os</strong>ições po-resses, jogo político,(nível micro) e lític<strong>os</strong> (micro)estratégia co-letiva, rede, aliança.deliberado(nível macro). e cooletiva,perativ<strong>os</strong>(macro); maquinaçõesa-bertas e o-cultas.Cultural Valores, crenças, Coletivo, ideológico,Perspectivamit<strong>os</strong>, cultura, i-força-coletiva, úni-deologia, simbolismododo,deliberaca.Ambiental Adaptação, evolução,Reativo, im-P<strong>os</strong>ições escia,contingênp<strong>os</strong>toe emerpecíficasge-seleção, complexidadegentenéricas.nicho.De configuração Configuração, arquétipo,Interativo, epi-estágio, sódico e se-ciclo de vida, qüenciado; descritivotransformação, revolução,reformulação,(configu-rações). Delibeçãocritivorevitalizaradoe presrações).(transformações).Qualquerd<strong>os</strong>anteriores.Infreqüente(resistênciasideológicas).Rara e quântica(ecologia);a<strong>os</strong> pouc<strong>os</strong>(contingência).Ocasional e revolucionária(outras vezes,incremental).FONTE DOS DADOS BRUTOS: MINTZBERG, Henry; AHLSTRAND, Bruce;LAMPEL, J<strong>os</strong>eph. Safari da estratégia: umroteiro pela selva do planejamentoestratégico. Porto Alegre: Boockman, 2000.


66Por outro lado, existe a p<strong>os</strong>ição segundo a qual as escolas representamprocess<strong>os</strong> fundamentalmente diferentes. Nesse caso, elas são analisadas sobduas dimensões: estad<strong>os</strong> do processo inter<strong>no</strong>, que vão do natural ao racional, eestad<strong>os</strong> do mundo exterior, que podem ser caracterizad<strong>os</strong> como comparável,controlável, imprevisível e confuso. Por exemplo: na escola do p<strong>os</strong>icionamento,a dimensão interna é racional, e a externa é comparável; na escola cultural, ap<strong>os</strong>ição interna está situada entre o racional e o natural, e a externa é imprevisível;já a escola do poder macro, situada internamente entre a p<strong>os</strong>ição racional e anatural, <strong>no</strong> ambiente exter<strong>no</strong> é controlável; e a do poder micro está <strong>no</strong> ambientenatural e imprevisível (Mintzberg; Lampel, 1999). Sob diferentes process<strong>os</strong>, ficamuito difícil combiná-las.2.2.3 - <strong>As</strong> estratégias e as vantagenscompetitivas<strong>As</strong> estratégias são usadas, preponderantemente, <strong>para</strong> manter e sustentaras vantagens competitivas de uma empresa (Day, 1992; Porter, 1998; R<strong>os</strong>si,1993; Varadarajan; Jayachandran, 1999). Essas vantagens, de acordo comGhemawat (1998), estão ancoradas na eco<strong>no</strong>mia do setor que inclui o porte <strong>no</strong>mercado-alvo, <strong>no</strong> acesso superior a recurs<strong>os</strong> ou a clientes e nas restrições aopções d<strong>os</strong> concorrentes.Para Barney (1991), a vantagem competitiva sustentada deriva do fato de<strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> e as capacidades que a firma controla serem vali<strong>os</strong><strong>os</strong>, rar<strong>os</strong>,inimitáveis e imperfeitamente substituíveis. Esses recurs<strong>os</strong> e capacidades incluem<strong>os</strong> ativ<strong>os</strong> tangíveis e <strong>os</strong> intangíveis da empresa, como as habilidades deadministração da empresa, seus process<strong>os</strong> organizacionais, as rotinas, ainformação e o conhecimento que controla. Portanto, as estratégias que sãovali<strong>os</strong>as e raras somente podem ser fontes de uma vantagem competitivasustentada se as outras organizações, que não p<strong>os</strong>suem esses recurs<strong>os</strong>, nãoconseguem imitá-las, ou são imperfeitamente imitáveis. <strong>As</strong> razões <strong>para</strong> tal,segundo Rowe e Barnes (1998), devem-se a um d<strong>os</strong> ou a uma combinação detrês motiv<strong>os</strong>: a estratégia depende da história singular da organização; o vínculoentre a estratégia da organização e a fonte da vantagem competitiva sustentávelda organização tem origem ambígua; a estratégia de criar a vantagem competitivasustentada da organização é resultado de relacionament<strong>os</strong> socialmentecomplex<strong>os</strong>, como as relações interpessoais entre gerentes de uma organização,a cultura de uma organização, o prestígio de uma organização entre <strong>os</strong>fornecedores, entre clientes e consumidores.


Conforme Hamel e Prahalad (1989) e Prahalad e Hamel (1998), as reaisfontes de vantagens devem ser encontradas na essência das estratégias, situadasnas competências centrais, que definem onde a organização tem que concentrar<strong>os</strong> seus esforç<strong>os</strong> <strong>para</strong> poder criar as vantagens competitivas futuras maisrapidamente do que <strong>os</strong> concorrentes podem imitar as que já existem hoje.<strong>As</strong> empresas, buscando uma particular p<strong>os</strong>ição n<strong>os</strong> negóci<strong>os</strong>, podemdesenvolver uma intenção estratégica, que implica ter objetiv<strong>os</strong> estratégic<strong>os</strong> delongo prazo e concentrar suas ações estratégicas <strong>para</strong> atingi-l<strong>os</strong> (Hamel;Prahalad, 1989). Enquanto a intenção estratégica <strong>para</strong> uma grande empresapode ser a liderança <strong>no</strong> mercado nacional ou até global, <strong>para</strong> uma pequenaempresa a intenção estratégica pode ser dominar um nicho de mercado(Thompson; Strickland, 1996, p. 33). A necessidade de as empresas de sucessoterem valores e propósit<strong>os</strong> essenciais, que permanecem fix<strong>os</strong>, enquanto asestratégias e as práticas <strong>empresariais</strong> se adaptam continuamente, é destacadapor Collins e Porras (1996).672.2.4 - <strong>As</strong> estratégias organizacionaisn<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> internacionais<strong>As</strong> empresas buscam oportunidades <strong>no</strong> mercado internacional como formade expandir seu mercado, obter recurs<strong>os</strong> tec<strong>no</strong>lógic<strong>os</strong> e/ou de capital, insum<strong>os</strong>de melhor qualidade e me<strong>no</strong>r preço, <strong>no</strong>v<strong>os</strong> canais de distribuição, dentre outr<strong>os</strong>.Portanto, a internacionalização pode p<strong>os</strong>sibilitar a extensão do ciclo de vida dademanda d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> e a extensão da vida útil da tec<strong>no</strong>logia da empresa (Ansoff;Mcdonnell, 1993); pode ser um meio de a empresa crescer, melhorar sua p<strong>os</strong>içãocompetitiva e consolidar sua performance financeira. <strong>As</strong> mudanças emtec<strong>no</strong>logias, na estrutura da demanda, na política governamental, na infra-estruturad<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> ou nas diferenças institucionais podem alterar a p<strong>os</strong>içãocompetitiva das empresas n<strong>os</strong> diferentes países (Porter, 1993).Quando as empresas entram n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> internacionais, <strong>os</strong> process<strong>os</strong>de formulação e de implementação das estratégias podem se tornar maiscomplex<strong>os</strong>, pois as empresas lidam com diferentes sistemas polític<strong>os</strong> e legais,com distintas moedas e culturas. <strong>As</strong>sim, as estratégias das empresas n<strong>os</strong>mercad<strong>os</strong> internacionais estão sujeitas ao ambiente do país em questão, cuj<strong>os</strong>element<strong>os</strong> mais significativ<strong>os</strong> são as forças econômicas, as forças competitivas,o nível de tec<strong>no</strong>logia, a estrutura de distribuição, a geografia e a infra-estrutura,as forças culturais e as forças político/legais. Cabe ao marketing o desafio deadaptar o seu comp<strong>os</strong>to — produto, preço, promoção e distribuição — a<strong>os</strong>


68element<strong>os</strong> do mercado, como estrutura competitiva, políticas, leis, comportamentodo consumidor, nível de tec<strong>no</strong>logia, dentre outr<strong>os</strong>, <strong>os</strong> quais fazem partedo ambiente e que são fontes adicionais de incertezas (Cateora,1996). Nasoperações internacionais, é preciso ter muito clara a influência desses element<strong>os</strong>,<strong>os</strong> quais podem determinar alterações n<strong>os</strong> produt<strong>os</strong>, n<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> e n<strong>os</strong>demais element<strong>os</strong> do mix de marketing, bem como nas estratégias de entradanesses mercad<strong>os</strong>.Tendo em vista o aumento da complexidade das relações <strong>no</strong> ambienteinternacional, a empresa deve ter a habilidade de identificar e responderefetivamente às mudanças ocorridas, visando não só reagir, mas também seantecipar a situações que poderiam prejudicar o seu desempenho, bem comoidentificar eventuais oportunidades <strong>no</strong> mercado.Em geral, as empresas, <strong>para</strong> entrar em mercad<strong>os</strong> regionais e internacionais,usam as mesmas estratégias de marketing: <strong>no</strong>meação de distribuidores ourepresentantes; acord<strong>os</strong> de complementação industrial, de cooperação comerciale de distribuição; construção de <strong>no</strong>vas plantas, associações, fusões, aquisiçõese joint ventures.<strong>As</strong> empresas que atuam n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong> podem ser classificadasem internacionais, multinacionais ou globais (Ball; Mccullog, 1996; Cateora,1996; Jeannet; Hennessey, 1995), tendo em vista as três orientações <strong>para</strong> administraro marketing internacional: como uma extensão d<strong>os</strong> conceit<strong>os</strong> demercad<strong>os</strong> doméstic<strong>os</strong>, multidoméstic<strong>os</strong> e global.Uma visão um pouco distinta é apresentada por Keegan (1995) e Keegan eGreen (2000), <strong>para</strong> <strong>os</strong> quais uma empresa atua n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> internacional,regional e/ou global conforme sua visão de mundo, que pode ser descrita pelasorientações gerenciais, que se classificam em:- et<strong>no</strong>cêntrica, quando o administrador vê o país doméstico como superiore vê similaridades em países estrangeir<strong>os</strong>. Nesse caso, n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>extern<strong>os</strong> são vendid<strong>os</strong> <strong>os</strong> mesmo produt<strong>os</strong> do mercado inter<strong>no</strong>, assimcomo são usadas as mesmas práticas;- policêntrica, onde cada país anfitrião é único. A administração vê diferençasentre países estrangeir<strong>os</strong>, e, nesse caso, cada subsidiária desenvolveseu próprio negócio;- regiocêntrica, implicando desenvolver estratégias regionais, e, fora da regiãode interesse, vê similaridades e diferenças, ou seja, é et<strong>no</strong>cêntricaou policêntrica em sua visão do resto do mundo;- geocêntrica, representando uma visão mundial, a síntese entre o et<strong>no</strong>centrismoe o policentrismo, que vê similaridades e diferenças entre <strong>os</strong>países e <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, mas busca criar uma estratégia global.


Nas empresas internacionais que exportam ou importam bens e serviç<strong>os</strong>,as operações <strong>no</strong> estrangeiro são vistas como sendo secundárias ou subordinadasàs domésticas, e as estratégias utilizadas <strong>no</strong> exterior são, <strong>no</strong>rmalmente,idênticas às do mercado inter<strong>no</strong>.<strong>As</strong> empresas de maior porte têm, <strong>no</strong>rmalmente, maiores facilidades derealizar exportações diretas ou indiretas, pel<strong>os</strong> cust<strong>os</strong> envolvid<strong>os</strong>. Mas a literaturatem m<strong>os</strong>trado que um conjunto de pequenas e médias empresas internacionaispode mais facilmente penetrar n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong>, se atingirem eco<strong>no</strong>miasde escala e níveis de eficiência comparáveis a<strong>os</strong> das empresas de grande porte,através da cooperação. Nesse caso, <strong>os</strong> produtores cooperam na conquista deterceir<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, o que não implica deixar de competir <strong>para</strong> manter seusclientes, pois a “(...) competição é essencialmente horizontal e a cooperação évertical na medida em que as empresas se associam <strong>para</strong> ganhar externalidadesp<strong>os</strong>itivas (...)” (Lopes; Brandão, 2000, p. 43). Entretanto, <strong>no</strong> caso de aliançasestratégicas, pode ocorrer a cooperação entre empresas do mesmo estágioprodutivo, como será analisado p<strong>os</strong>teriormente.<strong>As</strong> empresas multinacionais e as globais p<strong>os</strong>suem características deatuação distintas e, por isso, são analisadas mais detalhadamente. Destacam--se, também, as fusões, aquisições e alianças estratégicas que têm crescido<strong>no</strong> ambiente internacional, como forma de algumas empresas poderem participardo mercado internacional, de maneira mais rápida e com me<strong>no</strong>res risc<strong>os</strong>, asquais também serão consideradas a seguir.692.2.4.1 - <strong>As</strong> estratégias das empresasmultinacionais e globais<strong>As</strong> tendências d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> internacionais e a alteração d<strong>os</strong> níveis deconcorrência resultante da abertura comercial e financeira, já comentadasanteriormente, atraíram <strong>no</strong>vas empresas a<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> doméstic<strong>os</strong> e obrigaramas empresas multinacionais já instaladas em vári<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> a redefiniremsuas estratégias. Algumas empresas transnacionais se retiraram d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>,optando por abastecer <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> locais através de exportações; outrasracionalizaram suas operações <strong>para</strong> defender e incrementar a sua participação<strong>no</strong> mercado, basicamente por meio de estratégias defensivas em relação àsimportações; e houve aquelas que alteraram seus investiment<strong>os</strong>, tendo em vistaas modificações n<strong>os</strong> context<strong>os</strong> sub-regional e internacional, com a formaçãod<strong>os</strong> bloc<strong>os</strong> econômic<strong>os</strong> (Mortimore; Peres, 2001).Estudo realizado por Mortimore e Peres (2001, p. 22) m<strong>os</strong>tra que asprincipais estratégias das empresas transnacionais na América Latina, n<strong>os</strong> an<strong>os</strong>


7090, <strong>no</strong> setor da indústria, foram a busca de maior eficiência e, principalmente,de acesso a mercad<strong>os</strong> nacionais e sub-regionais, sendo este último tambémobjetivo estratégico das empresas de serviç<strong>os</strong>. No que se refere às empresasdo Setor Primário, a principal estratégia foi a busca de matérias-primas.Essas empresas se instalam em países estrangeir<strong>os</strong>, através deinvestiment<strong>os</strong> diret<strong>os</strong> em <strong>no</strong>vas plantas, associações, aquisições ou fusõescom empresas já existentes na localidade. Elas p<strong>os</strong>suem algumas vantagenscompetitivas em relação às nacionais, <strong>no</strong> que diz respeito à eficiência emlocalização, instalando-se em qualquer lugar do mundo que ofereça o customais baixo de produção e/ou de distribuição, acesso a matérias-primas e aoutr<strong>os</strong> insum<strong>os</strong> necessári<strong>os</strong> que p<strong>os</strong>sibilitem um incremento da qualidade deseus produt<strong>os</strong> e serviç<strong>os</strong>. A flexibilidade de múltipl<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> p<strong>os</strong>sibilita,também, um maior conhecimento, pois a relação com <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> locais podecontribuir <strong>para</strong> o aprendizado dessas firmas, que operam em várias localidades<strong>no</strong> mundo. Basicamente, o que as diferencia é a estratégia escolhida <strong>para</strong> <strong>os</strong>seus negóci<strong>os</strong>.2.2.4.1.1 - <strong>As</strong> estratégias das empresas multinacionais<strong>As</strong> empresas multinacionais organizam seus negóci<strong>os</strong> em tor<strong>no</strong> de paísesou de regiões geográficas. O nível de concorrência e as diferenças entre <strong>os</strong>consumidores são algumas das variáveis que podem afetar decisivamente aescolha das estratégias (Ramarapu; Timmerman; Ramarapu, 1999).Sem concorrência direta <strong>no</strong> país, uma empresa pode mais facilmente usaro produto padronizado e, em presença da concorrência direta, tende a adotarestratégias localizadas, com base na vantagem competitiva. A principal questão<strong>para</strong> as multinacionais torna-se, então, decidir que element<strong>os</strong> devem seradaptad<strong>os</strong> e em que extensão.Em geral, as multinacionais formulam e implementam estratégiasespecíficas <strong>para</strong> cada mercado, dada a sup<strong>os</strong>ição de que existem diferençasn<strong>os</strong> g<strong>os</strong>t<strong>os</strong> e preferências d<strong>os</strong> consumidores de diferentes culturas, ou seja,cada país <strong>no</strong> qual negociam é único. Dessa forma, buscam ajustar o mix demarketing a cada mercado-alvo, adaptando sua linha de produt<strong>os</strong> e criandoprodut<strong>os</strong> e serviç<strong>os</strong> <strong>no</strong>v<strong>os</strong> <strong>para</strong> um mercado local, <strong>para</strong> atender às suasespecificidades, visando aumentar a sua fatia nesse mercado e obter maiorretor<strong>no</strong>. Essa adaptabilidade às diferentes necessidades d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> de cadapaís está baseada, segundo Cateora (1996), <strong>no</strong> conceito de mercadomultidoméstico, sendo que essas empresas são também de<strong>no</strong>minadas demultidomésticas por Porter (1993). O maior desafio do responsável pelo marketing


multinacional é encontrar a melhor adaptação p<strong>os</strong>sível, sendo que as estratégiasmais usadas são: a segmentação de produt<strong>os</strong>, quando estes precisam seradaptad<strong>os</strong> às características locais; a segmentação de mercado, <strong>para</strong> produt<strong>os</strong>padronizad<strong>os</strong>; e a segmentação de especialidade, que envolve o desenvolvimentode produt<strong>os</strong> específic<strong>os</strong> <strong>para</strong> um mercado (Hutt; Speh, 2002, p. 250).Dentro dessa perspectiva, as subsidiárias operariam de forma independente,com poder decisório sobre produt<strong>os</strong>, campanhas publicitárias, preço e distribuição.Mas existem diferentes tip<strong>os</strong> de relacionamento da matriz com as suassubsidiárias; segundo Bartlett e Gh<strong>os</strong>hal (1998), observa-se, na maioria dasorganizações, uma forte tendência d<strong>os</strong> gerentes da matriz de tentarem coordenaras principais decisões, forçando as subsidiárias a implementarem e a adaptarema estratégia global em suas localidades. De acordo com um estudo realizadojunto a<strong>os</strong> gerentes de <strong>no</strong>ve grandes multinacionais por Bartlett e Gh<strong>os</strong>hal (2001),esse tratamento simétrico não atende às especificidades de mercad<strong>os</strong>estrategicamente importantes. Destarte, nem todas as subsidiárias têmauto<strong>no</strong>mia <strong>para</strong> realizar todas as adaptações necessárias a cada mercado.<strong>As</strong> estratégias adotadas dependem de vári<strong>os</strong> fatores, dentre <strong>os</strong> quais sedestacam: as diferenças de hábit<strong>os</strong> e de preferências d<strong>os</strong> consumidores e ascondições de uso d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong>; as influências regulamentares e governamentaisque estimulam a adaptação d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong>; o nível de competição local; o tamanhod<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, que devem ser suficientemente grandes <strong>para</strong> comportar asadaptações necessárias; <strong>os</strong> tip<strong>os</strong> de produt<strong>os</strong> da empresa, quanto à suasensibilidade cultural, ao nível tec<strong>no</strong>lógico e à reputação da marca entreconsumidores locais; e <strong>os</strong> canais de distribuição intern<strong>os</strong>.Existem produt<strong>os</strong> que, culturalmente, são men<strong>os</strong> sensíveis, como <strong>os</strong> bensde capital e de consumo duráveis, e aqueles que apresentam maior sensibilidade,como <strong>os</strong> bens de consumo não duráveis, onde se destacam <strong>os</strong> aliment<strong>os</strong>.Salientam-se, ainda, <strong>os</strong> produt<strong>os</strong> que satisfazem a necessidades universais, <strong>os</strong>quais, em geral, requerem pouca adaptação.<strong>As</strong>sim, as empresas multinacionais podem usar quatro tip<strong>os</strong> de estratégias:- padronizadas, como usualmente ocorre com produt<strong>os</strong> não diferenciad<strong>os</strong>,como <strong>os</strong> produt<strong>os</strong> químic<strong>os</strong> e o carvão;- de produto e de marketing, adaptadas localmente <strong>para</strong> produt<strong>os</strong> diferenciad<strong>os</strong>;- mistas, adaptadas, por um lado, <strong>para</strong> as grandes unidades de negóci<strong>os</strong>,quando o tamanho do mercado permite amortização de cust<strong>os</strong> dedesenvolvimento de produt<strong>os</strong> ou mercad<strong>os</strong>, e, por outro, padronizadas<strong>para</strong> as pequenas;71


72- específicas, onde cada unidade de negócio desenvolve sua própria estratégia,e, nesse caso, as divisões do conglomerado multinacional nã<strong>os</strong>e relacionam (Ansoff; Mcdonnell, 1993).Segundo Keegan (1995), existem cinco estratégias de adaptação de produtoe promoções <strong>para</strong> o mercado exter<strong>no</strong>, através de diferentes combinações destes.Um produto pode ser lançado <strong>no</strong> mercado sem qualquer mudança, com ou semmodificação na promoção. Outr<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> são adaptad<strong>os</strong> às condições e àspreferências locais, com ou sem adaptação das campanhas de propaganda epromoções. Por fim, pode ocorrer a criação de um <strong>no</strong>vo produto, de acordo comas necessidades locais. Ao padronizar o comp<strong>os</strong>to de marketing, como produto,propaganda e canais de distribuição, em nível mundial, a empresa assegurame<strong>no</strong>res cust<strong>os</strong> e, ao adaptá-lo, pode incorrer em maiores cust<strong>os</strong>, mas essaadaptação pode propiciar elevad<strong>os</strong> retorn<strong>os</strong>. <strong>As</strong> <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias de produçãoflexíveis têm p<strong>os</strong>sibilitado a produção de pequenas quantidades a baixo custo,facilitando a produção diferenciada n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>.Quanto a<strong>os</strong> preç<strong>os</strong> praticad<strong>os</strong>, as empresas também podem fixar um preço:único em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, independentemente do poder de compra d<strong>os</strong>diferentes países; diferenciado por país, de acordo com o seu mercado; baseado<strong>no</strong> custo de cada país, <strong>os</strong> quais poderiam ser muito distint<strong>os</strong> entre <strong>os</strong> países,de acordo com <strong>os</strong> seus cust<strong>os</strong>. Os preç<strong>os</strong>, dentro de um mercado particular,são determinad<strong>os</strong>, de acordo com Czinkota, Ronkainen e Moffet (1996), porobjetiv<strong>os</strong> da corporação, cust<strong>os</strong>, condições de mercado e de comportamento docliente, estrutura do mercado e por restrições ambientais.<strong>As</strong> i<strong>no</strong>vações tec<strong>no</strong>lógicas, principalmente <strong>no</strong> campo da informática e dastelecomunicações, estão realizando uma grande transformação em duasimportantes dimensões d<strong>os</strong> ambientes, o espaço e o tempo, afetando asorganizações internamente e a sua relação com o ambiente. A internet, porexemplo, ao ampliar a oferta de produt<strong>os</strong> e fornecer mais informação em temporeal a<strong>os</strong> clientes, afetou a existência de mo<strong>no</strong>póli<strong>os</strong> locais e, segundo Stottinger(2001), tor<strong>no</strong>u mais difícil <strong>para</strong> as firmas estabelecer preç<strong>os</strong> diferenciad<strong>os</strong> pormercad<strong>os</strong> <strong>para</strong> alguns tip<strong>os</strong> de produt<strong>os</strong>. Produt<strong>os</strong> facilmente adquirid<strong>os</strong> atravésda internet, com baixo custo de distribuição, tornam o ambiente mais competitivo,e o preço pode ser uma estratégia de marketing fundamental <strong>para</strong> ampliar <strong>os</strong>mercad<strong>os</strong>.2.2.4.1.2 - <strong>As</strong> estratégias das empresas globaisAlgumas empresas globais concentram as suas atividades em um país, apartir do qual atendem ao mercado mundial. Outras atuam em vári<strong>os</strong> países e,


muitas vezes, levam consigo <strong>os</strong> mesm<strong>os</strong> fornecedores globais. Em geral, desenvolvemestratégias padronizadas em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> países e caracterizam-se pelauniformidade do produto. Entretanto elas não produzem, necessariamente, produt<strong>os</strong>homogêne<strong>os</strong> <strong>para</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, nem atuam globalmente com todaa sua linha de produt<strong>os</strong>. Como a escala mundial alarga a p<strong>os</strong>sibilidade de escolhade produt<strong>os</strong>, é p<strong>os</strong>sível a adaptação da empresa às especificidades localizadas,por razões culturais, econômicas, climáticas, etc. Contudo, <strong>para</strong> que aestratégia diferenciada por mercad<strong>os</strong> seja rentável, estes devem ser suficientementegrandes <strong>para</strong> comportar as adaptações necessárias.Além disso, a p<strong>os</strong>ição competitiva de uma empresa em um país afetasignificativamente a sua p<strong>os</strong>ição em outr<strong>os</strong> países e é por ela afetada, uma vezque a competição é global, e <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> estão cada vez mais inter-relacionad<strong>os</strong>(Porter, 1993).A escolha da estratégia depende de vári<strong>os</strong> fatores, dentre <strong>os</strong> quais, o setorda empresa em questão. Empresas que requerem volum<strong>os</strong><strong>os</strong> investiment<strong>os</strong>têm maior probabilidade de sucesso com o uso de estratégias globais, porfacilitarem a diluição desses investiment<strong>os</strong> (Yip, 2001). Os principais fatoresque encorajam a padronização de produt<strong>os</strong> são as eco<strong>no</strong>mias de escala, pesquisae desenvolvimento em marketing, a integração regional e d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> mundiaise a competição global (Czinkota; Ronkainen, 2001).Segundo Keegan (1995) e Keegan e Green (2000), as principais estratégiasde marketing global são a padronização do <strong>no</strong>me de marca, do projeto de produtoou serviço, do p<strong>os</strong>icionamento de produto, da embalagem, da comercialização,do atendimento ao consumidor e da determinação da fonte de supriment<strong>os</strong>sourcing.Uma marca ou conceito de produto pode ser estandardizado, e, ao mesmotempo, a produção física variar entre mercad<strong>os</strong>. <strong>As</strong> estratégias globais de marcasão importantes quando o cliente é exp<strong>os</strong>to à publicidade mundial. Contudo asdiferenças socioculturais podem requerer que as firmas repensem as marcas,<strong>os</strong> designs e as embalagens d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> (Ball; Mcculloch, 1996; Czinkota;Ronkainen, 2001).A padronização das estratégias pode resultar em inúmeras vantagens, mastambém pode trazer desvantagens em mercad<strong>os</strong> diferenciad<strong>os</strong>. De acordo comLevitt (1998), devido à tec<strong>no</strong>logia, a interação e a comunicação entre as culturastornaram as necessidades e <strong>os</strong> desej<strong>os</strong> das pessoas, em todo o mundo, maishomogeneizad<strong>os</strong>, o que justifica a padronização das estratégias pelas empresasglobais. Através dessa padronização, as empresas que atuam <strong>no</strong> mercadointernacional poderiam ganhar uma substancial vantagem frente a<strong>os</strong> seuscompetidores, fornecendo produt<strong>os</strong> de elevada qualidade a preç<strong>os</strong> mais baix<strong>os</strong>.Esse autor, apesar de reconhecer que algumas diferenças entre países são73


74imutáveis, afirma que uma corporação global só deve se ajustar a elas, e commuita relutância, após tentar, de diversas formas, a introdução de produt<strong>os</strong> epráticas padronizadas (Levitt, 1998).Uma estratégia global pode ser difícil de ser adotada, tendo em vista certascaracterísticas ambientais, em determinad<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>. Destacam-se asdiferentes culturas nacionais, que estão cristalizadas nas instituições, comofamília, educação, religião, leis, etc., as quais podem limitar a padronização deprodut<strong>os</strong> e serviç<strong>os</strong>.2.2.4.2 - Fusões, aquisições e aliançasestratégicasDadas as modificações <strong>no</strong> ambiente global, algumas empresas têm mudado,com vistas à sua sobrevivência ou à manutenção d<strong>os</strong> lucr<strong>os</strong>. Nesse processo,destaca-se a migração de parte d<strong>os</strong> negóci<strong>os</strong> <strong>para</strong> outr<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, através dainstalação de <strong>no</strong>vas plantas, de aquisições, de fusões, ou da formação de aliançasestratégicas com empresas locais.Essa <strong>no</strong>va dinâmica de internacionalização das empresas, que implica aentrada n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>-alvo com o apoio de um parceiro local, procura minimizar<strong>os</strong> risc<strong>os</strong> de entrada pelo conhecimento das práticas do mercado, do sistemade regulação e d<strong>os</strong> g<strong>os</strong>t<strong>os</strong> e c<strong>os</strong>tumes do consumidor, bem como pelap<strong>os</strong>sibilidade de maior acesso ao meio empresarial e ao sistema institucional.Dessa forma, o investimento é reforçado, e o capital necessário, reduzido.Embora seja um meio rápido de expansão <strong>no</strong> mercado internacional,permanecem <strong>os</strong> risc<strong>os</strong> de choques culturais entre empresas de diferentes países,tornando as taxas de sucesso em fusões e alianças internacionais pequenas.Apresentam-se, na Figura 2.1, alguns tip<strong>os</strong> de estratégias de entrada em<strong>no</strong>v<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, segundo o grau de integração das empresas envolvidas e deinterdependência mútua, passando d<strong>os</strong> acord<strong>os</strong> contratuais a consórci<strong>os</strong>, jointventures, participação societária e fusões e aquisições. Quanto maior o grau deintegração e de interdependência, mais difícil a dissolução d<strong>os</strong> negóci<strong>os</strong> emcomum.


75Figura 2.1 1Grau de integração e de interdependência mútua das empresasGrandeGrau de integraçãoBaixoFusões eaquisiçõesParticipaçã<strong>os</strong>ocietáriaJoint venture Consórci<strong>os</strong> Acord<strong>os</strong>contratuaisGrandeGrau de interdependência mútuaBaixoNOTA: Elaboração da autora.2.2.4.2.1 - Fusões e aquisições<strong>As</strong> fusões e aquisições entre empresas de diferentes países são uma dasformas de penetrar rapidamente em <strong>no</strong>v<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>. <strong>As</strong> aquisições podem serparciais, como uma forma de associação em outra empresa, ou totais. <strong>As</strong> F&Apodem ocorrer entre empresas de um mesmo segmento de produt<strong>os</strong> ou serviç<strong>os</strong>,visando a eco<strong>no</strong>mias de escala e escopo e à elevação de market-share, e entreempresas que estão à frente ou atrás da cadeia produtiva, <strong>para</strong> obter maiorcontrole das atividades desenvolvidas, assegurar o fornecimento e/ou o preço damatéria-prima e ter maior facilidade na distribuição de produt<strong>os</strong>. Mas tambémtem-se observado um grande número de F&A de empresas com produt<strong>os</strong> ouserviç<strong>os</strong> não similares ou complementares, que podem, ou não, apresentar algumtipo de sinergia, tendo por finalidade diluir <strong>os</strong> cust<strong>os</strong> de distribuição, diversificar<strong>os</strong> risc<strong>os</strong>, adquirir k<strong>no</strong>w-how, ampliar a linha de produt<strong>os</strong> e aproveitaroportunidades de investimento, dentre outr<strong>os</strong>.2.2.4.2.2 - Alianças estratégicas<strong>As</strong> alianças estratégicas são formas de associações de empresas <strong>para</strong>atingir as metas estratégicas conjuntas em longo prazo. Podem assumirdiferentes classificações, dependendo da tipologia usada. Quanto a<strong>os</strong> model<strong>os</strong>


76de alianças estratégicas, Lorange e Ro<strong>os</strong> (1996, p. 21) propõem uma divisãobaseada em duas dimensões de recurs<strong>os</strong>, isto é, quanto dinheiro e recurs<strong>os</strong>organizacionais (pessoas, tec<strong>no</strong>logias, capital e assessoria) colocar e recuperar(sob a forma de lucr<strong>os</strong>, de conheciment<strong>os</strong>, etc.) de uma aliança estratégica.Como decorrência, são definid<strong>os</strong> quatro model<strong>os</strong> de alianças estratégicas: acordoprovisório, consórcio, joint venture baseada em projeto e joint venture plena.Os acord<strong>os</strong> provisóri<strong>os</strong> caracterizam-se pela colocação mínima de recurs<strong>os</strong>pelas empresas-mãe, freqüentemente em base temporária, <strong>os</strong> quais são totalmenteresgatad<strong>os</strong>. Os consórci<strong>os</strong>, por sua vez, envolvem mais recurs<strong>os</strong>, e <strong>os</strong>valores gerad<strong>os</strong> são distribuíd<strong>os</strong> entre <strong>os</strong> sóci<strong>os</strong>. Nas joint ventures baseadasem projet<strong>os</strong>, as empresas-mãe colocam um mínimo de recurs<strong>os</strong> estratégic<strong>os</strong>,dado o acordo <strong>para</strong> criá-l<strong>os</strong> em conjunto, enquanto, nas joint ventures plenas,ambas as partes colocam recurs<strong>os</strong> em abundância. Nesses dois tip<strong>os</strong> de jointventures, <strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> gerad<strong>os</strong> são mantid<strong>os</strong> na aliança, exceto dividend<strong>os</strong>,pagamento de royalties, etc. (Lorange; Ro<strong>os</strong>, 1996).Diante do aumento da complexidade d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> internacionais, asparcerias têm se revelado como uma das alternativas <strong>para</strong> se firmarem na <strong>no</strong>vaordem econômica, social e política. <strong>As</strong> alianças estratégicas internacionais têmsido formadas entre as empresas multinacionais e as globais de grande porte,sediadas, em especial, em um peque<strong>no</strong> grupo de países ric<strong>os</strong> (Japão, Estad<strong>os</strong>Unid<strong>os</strong> da América e alguns países europeus), que vêm estendendo as suasalianças a<strong>os</strong> parceir<strong>os</strong> comerciais n<strong>os</strong> países em desenvolvimento (Lorange;Ro<strong>os</strong>, 1996; Rodrigues, 1994).<strong>As</strong> alianças têm sido importante veículo de alavancagem do comérciointernacional (Rodrigues, 1994). Os motiv<strong>os</strong> <strong>para</strong> uma empresa engajar-se emalianças internacionais estratégicas podem ser oportunidades de rápida expansãoem <strong>no</strong>v<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, acesso às <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias, aprendizagem gerencial,acesso a<strong>os</strong> insum<strong>os</strong> e a fontes adicionais de capitais, maior eficiência de produçãoe de cust<strong>os</strong> e <strong>para</strong> contemplar exigências institucionais, principalmentede caráter regulamentário. E as principais desvantagens, segundo Porter (1993)e Keegan e Green (2000), são <strong>os</strong> cust<strong>os</strong> em term<strong>os</strong> estratégic<strong>os</strong> e organizacionais,dad<strong>os</strong> <strong>os</strong> problemas de coordenação com o associado, pelo fato de que <strong>os</strong>sóci<strong>os</strong> são potenciais concorrentes futur<strong>os</strong> e ficam com parte d<strong>os</strong> lucr<strong>os</strong>. Comfreqüência, <strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> são transitóri<strong>os</strong>, e as alianças, instáveis, podendo serdissolvidas, falhar ou evoluir <strong>para</strong> uma fusão.Em uma aliança estratégica, à medida que aumentam <strong>os</strong> níveis deintegração e o grau de interdependência entre <strong>os</strong> parceir<strong>os</strong>, conforme exp<strong>os</strong>tona Figura 2.1, cresce a complexidade e o risco da parceria. Quanto a<strong>os</strong> risc<strong>os</strong>,podem-se classificar as alianças, em ordem crescente, em acord<strong>os</strong> contratuais(também de<strong>no</strong>minad<strong>os</strong> licenciamento), que envolvem: <strong>os</strong> contrat<strong>os</strong> de produ-


ção, de distribuição, de prestação de serviç<strong>os</strong>, de assistência técnica, de licençade marcas e de patentes; <strong>os</strong> consórci<strong>os</strong>; e as joint ventures.No caso das licenças ou contrat<strong>os</strong>, uma firma multinacional concede acessoa uma empresa nacional, em geral de peque<strong>no</strong> e médio portes, o direito de usode seus process<strong>os</strong> de produção, tec<strong>no</strong>logia, procediment<strong>os</strong> de marketing, marcaou patente, mediante pagamento. Nesse caso, <strong>os</strong> risc<strong>os</strong> são me<strong>no</strong>res do que odo investimento direto <strong>para</strong> a multinacional, e, <strong>para</strong> a empresa local, pode seruma excelente forma de aprendizagem. Destacam-se também <strong>os</strong> contrat<strong>os</strong> dedistribuição n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong> entre empresas de diferentes países; asempresas locais fazem acord<strong>os</strong> com empresas multinacionais <strong>para</strong> usarem <strong>os</strong>canais de distribuição já existentes, dad<strong>os</strong> <strong>os</strong> elevad<strong>os</strong> cust<strong>os</strong> de terem redespróprias de comercialização.Em nível internacional, <strong>os</strong> acord<strong>os</strong> de produção são feit<strong>os</strong> de tal maneiraque uma empresa local tem a responsabilidade restrita de produzir, e a empresainternacional, usualmente, assume as responsabilidades pelo marketing, incluindovendas, promoção e distribuição. Esses contrat<strong>os</strong> são empregad<strong>os</strong> quando atec<strong>no</strong>logia de produção é amplamente disponível e quando o marketing é crucial<strong>para</strong> o sucesso do produto. Também é muito usual a operação de montagem, ouseja, parte do processo produtivo é realizada em um país estrangeiro, sendo oexemplo mais significativo as empresas automobilísticas, que usam essasoperações em grande número de países. Em geral, a principal vantagem é emrelação a cust<strong>os</strong>, principalmente em operações intensivas <strong>no</strong> uso da mão-de--obra (Jeannet; Hennessey, 1995). Entretanto existe o risco de o licenciado,através da aprendizagem junto ao licenciador, acabar por se tornar um importanteconcorrente futuro (Keegan; Green, 2000).O consórcio de empresas é uma forma de associação <strong>para</strong> alcançar umobjetivo em comum, onde as empresas consorciadas mantêm sua personalidadejurídica e sua auto<strong>no</strong>mia. De acordo com Cateora (1996), ele tem duascaracterísticas: envolve um grande número de participantes e, freqüentemente,opera em países ou mercad<strong>os</strong> em que nenhum d<strong>os</strong> participantes seja ativo <strong>no</strong>momento. Os consórci<strong>os</strong> visam agregar recurs<strong>os</strong> administrativ<strong>os</strong> e financeir<strong>os</strong>,diminuindo <strong>os</strong> risc<strong>os</strong>, sendo muito usad<strong>os</strong> em grandes projet<strong>os</strong> de construção e<strong>para</strong> as empresas entrarem em <strong>no</strong>v<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>.Um tipo de consórcio usado <strong>para</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong> é o consórcio deexportação. Ele é formado por empresas locais concorrentes, ou com linhascomplementares, <strong>para</strong> entrar em <strong>no</strong>v<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> e ampliar as exportações emconjunto. Através do consórcio de exportação, as empresas participam de feiras,m<strong>os</strong>tras e missões <strong>no</strong> exterior, diminuindo <strong>os</strong> cust<strong>os</strong> e <strong>os</strong> risc<strong>os</strong>, que são compartilhad<strong>os</strong>entre <strong>os</strong> consorciad<strong>os</strong>.77


78Dentre as alianças estratégicas, as joint ventures apresentam-se como asmais complexas, pelo fato de <strong>os</strong> parceir<strong>os</strong> de diferentes países formarem uma<strong>no</strong>va empresa, com participações similares ou diferenciadas. Porém asdiversidades interculturais interferem nas relações intra e interorganizações,dadas as diferenças n<strong>os</strong> estil<strong>os</strong> de autoridade e de tomada de decisão, quepodem gerar conflit<strong>os</strong> na forma de gerenciamento. A teoria d<strong>os</strong> cust<strong>os</strong> de transaçãotem sido a lente teórica dominante usada <strong>no</strong> estudo de joint ventures, explicando-asem term<strong>os</strong> de fracasso de mercado.<strong>As</strong> alianças são empregadas como instrument<strong>os</strong> <strong>para</strong> ampliar ou fortaleceras estratégias existentes e, só muito raramente, <strong>para</strong> criá-las (Mintzberg;Ahlstrand; Lampel, 2000). Por isso, Thompson e Strikland (1996, p. 169) afirmamque as alianças estratégicas são mais efetivas <strong>para</strong> combater as desvantagenscompetitivas do que <strong>para</strong> ganhar vantagens competitivas. Mas <strong>no</strong>vasestratégias podem emergir de parcerias entre organizações (Mintzberg; Lampel,1999). Essas parcerias podem alterar as relações de poder entre as empresase colocar frente a frente <strong>os</strong> diferentes valores das empresas. Quando se trata dealianças entre empresas de distint<strong>os</strong> países, esse confronto pode ser maior.2.2.5 - <strong>As</strong> estratégias das empresasdomésticas frente à globalizaçãoe à regionalizaçãoUma empresa que atua apenas <strong>no</strong> mercado doméstico também está sujeitaao ambiente da concorrência atual e potencial d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> intern<strong>os</strong> e extern<strong>os</strong>e necessita tomar como referência o padrão de competitividade internacional,que difere entre <strong>os</strong> setores e <strong>os</strong> grup<strong>os</strong> de indústrias. Nesse <strong>no</strong>vo cenário, asestratégias de marketing inter<strong>no</strong> também devem ser reavaliadas, <strong>para</strong> p<strong>os</strong>sibilitara permanência das empresas, dadas as pressões da globalização. Sercompetitivo internacionalmente é requisito básico <strong>para</strong> se manter em seu própriomercado. Algumas empresas domésticas, ac<strong>os</strong>tumadas a p<strong>os</strong>ições dominantes,em mercad<strong>os</strong> antes protegid<strong>os</strong>, quando fazem face à concorrência de empresasmultinacionais, com elevad<strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> financeir<strong>os</strong>, avançada tec<strong>no</strong>logia e marcasconsagradas, vêem a sua sobrevivência colocada em jogo.Portanto, frente a <strong>no</strong>v<strong>os</strong> e poder<strong>os</strong><strong>os</strong> concorrentes, as empresas domésticasprecisam reavaliar suas vantagens competitivas e criar <strong>no</strong>vas vantagens,<strong>para</strong> não desaparecerem. Às vezes, torna-se necessário adotar formas maiseficientes de produção, e, dentre as estratégias mais utilizadas pelas empre-


sas, podem-se destacar a redefinição das linhas de produt<strong>os</strong>, a desverticalizaçãoda produção e a implementação de i<strong>no</strong>vações organizacionais. É indispensávelbuscar um espaço alternativo <strong>para</strong> se manter ou ampliar sua atuação <strong>no</strong> mercado.Alguns desses espaç<strong>os</strong> p<strong>os</strong>síveis são <strong>os</strong> <strong>no</strong>v<strong>os</strong> segment<strong>os</strong> de clientela,<strong>no</strong>vas maneiras de produzir determinad<strong>os</strong> itens ou de atingir determinad<strong>os</strong> grup<strong>os</strong>de clientes.Para outr<strong>os</strong>, a estratégia não é encontrar um nicho existente <strong>no</strong> espaçoindustrial, mas criar um <strong>no</strong>vo espaço, através de uma mudança revolucionária,como reconceber um <strong>no</strong>vo produto ou serviço, redefinir o espaço de mercado eredesenhar as fronteiras do segmento, o que requer um espírito empreendedor(Hamel, 1996).Existe ainda a p<strong>os</strong>sibilidade da formação de redes e de associações entreempresas domésticas e entre as locais e as multinacionais. Essa estratégia decooperação apresenta-se como uma alternativa <strong>para</strong> enfrentar <strong>os</strong> elevad<strong>os</strong> cust<strong>os</strong>exigid<strong>os</strong> <strong>para</strong> o desenvolvimento de <strong>no</strong>v<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> e serviç<strong>os</strong> e o acirramentoda competição n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> internacionalizad<strong>os</strong>. Ademais, observa-se umnúmero cada vez maior de estratégias cooperativas entre empresas domésticas,visando aumentar as eco<strong>no</strong>mias de escala e, dessa forma, diminuir a entrada de<strong>no</strong>v<strong>os</strong> concorrentes e aumentar o poder de barganha junto a fornecedores ecompradores.É importante que a empresa local esteja continuamente ampliando e criando<strong>no</strong>vas vantagens, aumentando sua sustentabilidade, <strong>para</strong> que <strong>os</strong> concorrentesextern<strong>os</strong> tenham maiores dificuldades de penetrar n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> intern<strong>os</strong> eenfrentem empresas mais competitivas. <strong>As</strong> empresas domésticas também devemestar atentas às ma<strong>no</strong>bras estratégicas das empresas concorrentes, <strong>para</strong> quep<strong>os</strong>sam ser capazes de antecipar as estratégias a serem adotadas.De acordo com Dawar e Fr<strong>os</strong>t (1999, p. 121), o empresário doméstico deveter claro quão forte é a pressão <strong>para</strong> globalizar na sua indústria e quão internacionalmentetransferíveis são <strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> competitiv<strong>os</strong> de sua empresa, poisesses parâmetr<strong>os</strong> guiam as estratégias. De acordo com as estratégias adotadas,as empresas podem ser classificadas em quatro tip<strong>os</strong>: defender, extender, dodger,contender.No caso de a pressão da globalização ser fraca, as empresas domésticaspodem defender o seu mercado inter<strong>no</strong> (defender) ou, até mesmo, pensar emampliá-lo <strong>para</strong> o exterior (extender), se p<strong>os</strong>suírem recurs<strong>os</strong> que sejam transferíveis.Sugerindo ações <strong>para</strong> as empresas, conforme sua classificação, Dawar eFr<strong>os</strong>t (1999) consideram a chave do sucesso <strong>para</strong> as empresas defensoras aconcentração em suas vantagens competitivas, diferenciando-se <strong>no</strong> mercadodoméstico e focando segment<strong>os</strong> onde as multinacionais são fracas, pois a suaflexibilidade de mudar <strong>os</strong> produt<strong>os</strong> oferecid<strong>os</strong> é uma vantagem que as79


80multinacionais, em geral, não p<strong>os</strong>suem. <strong>As</strong> extender, por sua vez, devem focar asua expansão em mercad<strong>os</strong> similares a<strong>os</strong> da base doméstica, usando suascompetências desenvolvidas domesticamente.Contudo, se a pressão <strong>para</strong> a globalização for forte, a empresa deve fazermudanças substanciais. Nesse caso, se <strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> só são disponíveisinternamente, a empresa dodger deverá contar com sua habilidade junto a seus<strong>no</strong>v<strong>os</strong> competidores pela reestruturação em tor<strong>no</strong> da cadeia de valor, onde seusrecurs<strong>os</strong> locais estão disponíveis. Nessa circunstância, as melhores estratégiassão realizar uma joint venture com uma multinacional, que pode fortificar suap<strong>os</strong>ição defensiva, vender a empresa <strong>para</strong> as multinacionais ou redefinir o seunegócio, focada n<strong>os</strong> segment<strong>os</strong> de mercado. Não obstante, existem empresasque, mesmo com a forte pressão da globalização, têm condições de transferirseus recurs<strong>os</strong> e capitais <strong>para</strong> o exterior, que são as empresas competidoras(contender), as quais devem focar melhorias nas suas capacidades e recurs<strong>os</strong><strong>para</strong> se igualar às multinacionais, mas resguardando seu nicho de mercado(Dawar; Fr<strong>os</strong>t, 1999).No caso das empresas brasileiras que adotaram estratégias deinternacionalização, alguns estud<strong>os</strong> demonstram que grande parte destas temsido absorvida pelas empresas multinacionais (Bonelli, 2000).A expansão de grandes unidades produtivas multinacionais, principalmenteintensivas em capital e tec<strong>no</strong>logias, cria espaç<strong>os</strong> suficientemente ampl<strong>os</strong>, quepodem ser eficazmente ocupad<strong>os</strong> pela empresa doméstica, cujo desempenhofica condicionado à adoção de estratégias conjuntas com as grandes empresasglobalizadas. Nesse sentido, o processo de terceirização incorpora-as comoparceiras, <strong>no</strong>rmalmente como fornecedoras de algum insumo ou serviçoespecífico. Existem vantagens e desvantagens nessas alianças, e <strong>os</strong> risc<strong>os</strong> deinsucesso sempre existirão, mas poderão ser minimizad<strong>os</strong>.Somente compreendendo as pressões da globalização e as vantagenscompetitivas em sua indústria, uma empresa doméstica poderá apreciar as forçasde sua rival multinacional. Existem setores em que <strong>os</strong> elevad<strong>os</strong> cust<strong>os</strong> fix<strong>os</strong> dodesenvolvimento de produt<strong>os</strong> só podem ser cobert<strong>os</strong> por múltipl<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>.Todavia há outr<strong>os</strong>, em que o sucesso está em encontrar uma particular demandad<strong>os</strong> consumidores locais (Dawar; Fr<strong>os</strong>t, 1999). Em lugar de operar <strong>no</strong> mercadoaltamente competitivo e dominado pelas multinacionais, as firmas locais podemtirar proveito melhor do seu potencial operando em domíni<strong>os</strong> alternativ<strong>os</strong>(Ger, 1999).Bartlett e Gh<strong>os</strong>hal (2000) chamam atenção <strong>para</strong> o fato de que a entrada deuma multinacional <strong>no</strong> mercado doméstico pode não resultar em grandes prejuíz<strong>os</strong><strong>para</strong> as empresas locais, se elas aproveitarem <strong>para</strong> aprender com essasempresas algumas estratégias, realizando as i<strong>no</strong>vações necessárias e adaptando


<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> às necessidades locais. Exemplificam com as estratégias adotadaspela rede de fast-food Jollibee, nas Filipinas, com a entrada da rede McDonalds<strong>no</strong> mercado.812.2.6 - <strong>As</strong> estratégias e as culturas nacionaise organizacionaisSem entrar na abordagem específica das diferentes culturas nacionais eorganizacionais, é importante ter presente que a cultura nacional interfere naforma como <strong>os</strong> gestores tomam suas decisões em relação a<strong>os</strong> problemas dasorganizações e que o conceito de cultura tem sido utilizado em divers<strong>os</strong> context<strong>os</strong>e com acentuadas diferenças de significado. Isso decorre das diferentesperspectivas utilizadas e do que é assumido como essencial: crenças, pressup<strong>os</strong>t<strong>os</strong>básic<strong>os</strong>, valores compartilhad<strong>os</strong>, ideologia, significad<strong>os</strong>, sentid<strong>os</strong> compartilhad<strong>os</strong>,programação mental coletiva e outr<strong>os</strong> (Hofstede, 1993; 1998;Hickson; Pugh, 1995; Schein, 1984; Smircich, 1983).Com o objetivo de estudar as culturas nacionais nas organizações, Hofstede(1985) fez uma pesquisa sobre crenças e valores junto a organizações de maisde 50 países, usando, inicialmente, quatro dimensões:- distância do poder - indica quanto uma sociedade aceita o fato de o poderem uma organização ser distribuído de maneira desigual;- aversão à incerteza - de<strong>no</strong>ta quanto <strong>os</strong> membr<strong>os</strong> de uma sociedade sesentem mal em situações não estruturadas, pois distintas culturasapresentam diferentes coeficientes de aversão ao risco e, quanto maior aincerteza, maior a formalização;- individualismo versus coletivismo - indica o grau de integração d<strong>os</strong>indivídu<strong>os</strong> na sociedade, pela valorização individual ou d<strong>os</strong> relacionament<strong>os</strong>de grup<strong>os</strong>;- masculinidade versus feminilidade - expressa <strong>os</strong> valores dominantes nasociedade, como o heroísmo, a determinação e o sucesso material(integrantes competitiv<strong>os</strong> e agressiv<strong>os</strong>), ou valores de integrantes quevalorizam a cooperação e relacionament<strong>os</strong> mais próxim<strong>os</strong>.P<strong>os</strong>teriormente, Hofstede (1993, 1998) adicio<strong>no</strong>u uma quinta dimensão,conhecida por dinamismo confucia<strong>no</strong> ou orientação de curto prazo versus delongo prazo, onde se destacam, de um lado, o tradicional, a estabilidade e <strong>os</strong>resultad<strong>os</strong> rápid<strong>os</strong> e, de outro, o pragmático e a aceitação da mudança e aperseverança.


82A cultura de uma sociedade, juntamente com outr<strong>os</strong> fatores, é capaz deinfluenciar a definição de estrutura da organização e a forma como ela é administrada,pois a cultura define como as pessoas fazem as coisas e representavalores compartilhad<strong>os</strong> que tipificam a sociedade (Hickson; Pugh, 1995).No caso de fusões e aquisições de empresas, ocorre a união de duasculturas organizacionais, o que não é um processo fácil. <strong>As</strong>sim, a <strong>no</strong>va culturaé construída, à medida que a empresa realiza <strong>no</strong>vas tarefas e aprende a lidarcom elas. Problemas similares ocorrem na constituição de uma joint venture,pelas diferenças de culturas verificadas. Por isso, o papel d<strong>os</strong> líderes é relevante,tendo em vista a relação existente entre poder e cultura organizacional.Portanto, <strong>no</strong>vas estratégias podem surgir, tanto do confronto como deparcerias entre empresas. Se, por um lado, o aumento da concorrência e oconfronto entre empresas podem exigir <strong>no</strong>vas idéias e práticas <strong>para</strong> abater orival, por outro, as relações de colaboração entre empresas oportunizam umaprendizado, que pode contribuir <strong>para</strong> ampliar a visão d<strong>os</strong> process<strong>os</strong> e d<strong>os</strong>mercad<strong>os</strong>, favorecendo <strong>no</strong>vas estratégias e táticas nas empresas.Diferenças operacionais e culturais podem emergir como decorrência dediferenças n<strong>os</strong> estil<strong>os</strong> de autoridade e tomada de decisão. Segundo Bertero(1996), é p<strong>os</strong>sível ver o poder sob três óticas distintas: entendendo-o como umelemento e componente da cultura organizacional, que pode moldar a cultura daorganização; perpetuar a cultura existente; e mudar a cultura, o que é um processolento. Pettigrew (1996), por sua vez, ressalta que existem alguns pont<strong>os</strong>importantes <strong>para</strong> que a mudança cultural tenha êxito, tais como um contextoexter<strong>no</strong> receptivo e a pressão da alta administração <strong>para</strong> que a mudança ocorra.A transformação da estratégia organizacional exige o reconhecimento d<strong>os</strong>pressup<strong>os</strong>t<strong>os</strong> ocult<strong>os</strong> e das regras implícitas que governam <strong>os</strong> procediment<strong>os</strong>vigentes. O conhecimento da cultura organizacional ajuda a identificar <strong>os</strong> bloquei<strong>os</strong>prováveis na efetivação da mudança estratégica. Por isso, é importante aparticipação de diferentes níveis gerenciais <strong>no</strong> processo de desenvolvimento daestratégia. Ela aumenta a probabilidade de maior difusão do sentimento depropriedade e de comprometimento em relação à estratégia em todo o âmbitoda empresa (Johnson, 1999a).


833 - MÉTODOEste capítulo contempla o método utilizado <strong>para</strong> a elaboração das pesquisasrealizadas. Para facilitar a leitura e a compreensão, ele foi subdividido emtrês itens: o primeiro faz uma introdução ao método científico e à pesquisarealizada; o segundo analisa o método usado na fase pre<strong>para</strong>tória; e o terceiro,o método na fase qualitativa da pesquisa.3.1 - O método na pesquisa socialPara atender a<strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> prop<strong>os</strong>t<strong>os</strong>, é importante a escolha do métodoadequado à realidade social a ser investigada, <strong>no</strong> caso, as estratégias das vinícolasprodutoras de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>. Logo, este estudo é objeto das ciênciassociais e aplicadas, pois analisa um segmento da atividade produtiva que temuma dinâmica interna intrinsecamente relacionada com as demais organizaçõese com a sociedade em geral, de forma complexa e em permanentetransformação.A maneira de abordar um assunto em ciências sociais é baseada emsup<strong>os</strong>ições, implícitas ou explícitas, sobre a natureza do mundo social e domodo pelo qual ele pode ser investigado. O método, que determina a maneira deinvestigar e de obter conhecimento, é influenciado pelo fenôme<strong>no</strong> sob investigação,pela maneira como se percebem as relações fundamentais desse conhecimento(a epistemologia) e a relação do homem com seu ambiente. 1 Portanto, ométodo é o instrumental que pode ser usado <strong>para</strong> abordar uma realidade, queestá ligado às concepções científicas do pesquisador. Para a investigaçã<strong>os</strong>ocial, é relevante também a experiência do pesquisador, que, aliada ao seurigor científico, propicia, junto com a teoria e com um conjunto de técnicas, ascondições indispensáveis <strong>para</strong> apreender o objeto de estudo através de umapesquisa.A pesquisa científica visa ampliar o conhecimento de determinado fato,sendo desenvolvida segundo <strong>os</strong> princípi<strong>os</strong> gerais, como a “objetividade e siste-1Burrel e Morgan (1979) fazem uma interessante análise sobre as sup<strong>os</strong>ições a respeito danatureza da ciência social, m<strong>os</strong>trando que ela pode ser abordada sob duas dimensões:subjetivista e objetivista, tendo em vista as sup<strong>os</strong>ições ontológicas, epistemológicas e anatureza humana, que têm implicações diretas na metodologia usada.


84matização de informações fragmentadas”, e particulares do método científico,que são “determinad<strong>os</strong> pelas condições particulares da ciência nesse setor epela natureza especial do objeto dessa ciência”. E fazer uma pesquisa científicade fat<strong>os</strong> sociais, se, por um lado, não é fácil, pois “(...) o sujeito e o objeto doconhecimento se confundem” (Abramo, 1979, p. 25), por outro, p<strong>os</strong>sibilita, atravésda inter-relação e da interdependência da teoria e d<strong>os</strong> fat<strong>os</strong>, criar, rejeitar,reformular ou redefinir as teorias, bem como descobrir <strong>no</strong>v<strong>os</strong> fat<strong>os</strong>. Dado o carátercientífico da pesquisa, cabe ao pesquisador conduzir o estudo, buscando semprecom um minuci<strong>os</strong>o discernimento em relação à verdade e à objetividade d<strong>os</strong>fat<strong>os</strong>, visando a uma interpretação adequada d<strong>os</strong> mesm<strong>os</strong>.3.1.1 - Tip<strong>os</strong> de pesquisasPara conhecer cientificamente um aspecto da realidade social, é p<strong>os</strong>sívelfazer diferentes pesquisas, as quais podem ser classificadas a partir de determinad<strong>os</strong>critéri<strong>os</strong>, segundo <strong>os</strong> componentes agrupad<strong>os</strong>.De acordo com Abramo (1979), existem várias tipologias de pesquisas naárea das ciências sociais. Estas podem ser classificadas segundo:- <strong>os</strong> camp<strong>os</strong> da atividade humana ou <strong>os</strong> setores de conhecimento — mo<strong>no</strong>disciplinares,multidisciplinares e interdisciplinares;- a utilização d<strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> — pura, básica ou fundamental e aplicada;- <strong>os</strong> process<strong>os</strong> de estudo — estrutural, histórico, com<strong>para</strong>tivo, funcionalista,estatístico e mo<strong>no</strong>gráfico;- a natureza d<strong>os</strong> dad<strong>os</strong> — pesquisa de dad<strong>os</strong> ou fat<strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong>, pesquisasubjetiva ou de opiniões e atitudes;- a procedência d<strong>os</strong> dad<strong>os</strong> — primári<strong>os</strong> e secundári<strong>os</strong>;- o grau de generalização d<strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> — pesquisa censitária e poram<strong>os</strong>tragem;- a extensão do campo de estudo — levantament<strong>os</strong>, surveys, etc., pesquisasmo<strong>no</strong>gráficas e de profundidade;- as técnicas e <strong>os</strong> instrument<strong>os</strong> — observação direta e observação indireta;- <strong>os</strong> métod<strong>os</strong> de análise — construção de tip<strong>os</strong>, de model<strong>os</strong>, de tipologiase classificações;- o nível de interpretação — pesquisas identificativas, descritivas, mensuráveise explicativas.Essa diversidade de tipologias ocorre tendo em vista <strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong>, a amplitudee a profundidade da pesquisa, a natureza e o grau de relacionamento dasvariáveis pesquisadas, dentre outr<strong>os</strong>. Em uma mesma pesquisa, pode-se, e


geralmente se deve, combinar mais de uma tipologia, e, além disso, em algunscritéri<strong>os</strong>, as categorias não são mutuamente exclusivas.Quanto a<strong>os</strong> níveis da pesquisa social, grande parte d<strong>os</strong> autores classificam-naem estud<strong>os</strong> exploratóri<strong>os</strong>, descritiv<strong>os</strong> e causais (Seltiz et al, 1974;Churchill Junior, 1995) ou, de forma bastante próxima, em pesquisa exploratóriae conclusiva — descritiva ou causal — (Malhotra, 2001). Deve-se destacar quea distinção entre esses tip<strong>os</strong> de pesquisa não é absoluta, e eles podem servist<strong>os</strong> como estági<strong>os</strong> de um processo contínuo, sendo que <strong>os</strong> estud<strong>os</strong>exploratóri<strong>os</strong> são freqüentemente considerad<strong>os</strong> como o degrau inicial do processo,<strong>para</strong> prover o entendimento do problema em questão pelo pesquisador.Da mesma forma que um mesmo estudo pode ser aplicado tendo em vistadistint<strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong>, cert<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> de desenh<strong>os</strong> de pesquisa são mais adequad<strong>os</strong><strong>para</strong> alguns objetiv<strong>os</strong> do que <strong>para</strong> outr<strong>os</strong> (Churchill Junior, 1995).Tendo em vista a natureza do problema, foi selecionado o método. Paradescrever e analisar as estratégias das empresas de vinh<strong>os</strong> brasileiras euruguaias, objeto desta tese, foram realizadas pesquisas exploratórias e qualitativas.Como a estratégia não tem um único conceito e pode-se formar devárias maneiras, requer que sejam captad<strong>os</strong> aspect<strong>os</strong> essenciais que não sãonecessariamente objetiv<strong>os</strong>, pois envolvem também valores e crenças, que sãorealidades subjetivas. Portanto, a realidade social é complexa e pode melhorser explicada por uma pesquisa qualitativa. Esta tem por fim captar tod<strong>os</strong> <strong>os</strong>aspect<strong>os</strong> relevantes ao tema em estudo, <strong>para</strong> verificar o que há de comum e deespecífico entre as estratégias adotadas pelas vinícolas.O processo de pesquisa qualitativa pode ser classificado, segundo Malhotra(2001), em direto, através de grup<strong>os</strong> focais e de entrevistas em profundidade, ouindireto, por meio de técnicas projetivas. Neste estudo, as pesquisas feitas <strong>para</strong>a detenção d<strong>os</strong> dad<strong>os</strong> qualitativ<strong>os</strong> foram de abordagem direta, isto é, <strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong>foram revelad<strong>os</strong> ao respondente, nas entrevistas, em profundidade.O caráter exploratório deve-se ao fato de que se buscou aprofundar asinformações acerca d<strong>os</strong> process<strong>os</strong> de formulação e de implementação dasestratégias organizacionais, tendo como pa<strong>no</strong> de fundo <strong>os</strong> process<strong>os</strong> de aberturad<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> de amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países e a formação do Merc<strong>os</strong>ul. Esse tipo depesquisa internacional com<strong>para</strong>da entre empresas de um mesmo setor aindanão foi aplicada <strong>no</strong> setor de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> de países do Merc<strong>os</strong>ul e pode subsidiara compreensão das estratégias, tendo em vista as mudanças <strong>no</strong> ambiente competitivo,internacional e regional, e estimular a realização de futur<strong>os</strong> estud<strong>os</strong>.Justifica-se o uso da pesquisa exploratória, uma vez que ela tem comoobjetivo “(...) explorar um problema ou uma situação <strong>para</strong> prover critéri<strong>os</strong> decompreensão” e, como características, o fato de o processo de pesquisa serflexível e não estruturado, a am<strong>os</strong>tra ser pequena e a análise d<strong>os</strong> dad<strong>os</strong> primá-85


86ri<strong>os</strong> ser qualitativa (Malhotra, 2001, p. 106). Por conseguinte, esse tipo de pesquisapermite que se obtenham <strong>no</strong>vas percepções ou idéias sobre determinadoassunto, aumentando a familiaridade com o objeto de estudo e p<strong>os</strong>sibilitandoformular problemas mais precis<strong>os</strong> de investigação ou desenvolver hipóteses,bem como estabelecer prioridades <strong>para</strong> futuras pesquisas (Churchill Junior, 1995;Sampieri; Collado; Pilar, 1994). Ademais, <strong>os</strong> estud<strong>os</strong> exploratóri<strong>os</strong> têm comoobjetiv<strong>os</strong> determinar tendências, identificar relações potenciais entre variáveis eestabelecer rum<strong>os</strong> <strong>para</strong> investigações p<strong>os</strong>teriores mais rigor<strong>os</strong>as (Sampieri;Collado; Pilar, 1994). Mesmo quando já existem conheciment<strong>os</strong> sobre oassunto, a pesquisa exploratória pode ser útil, pela p<strong>os</strong>sibilidade de haver váriasexplicações alternativas <strong>para</strong> um mesmo fato.Em uma pesquisa exploratória, existem várias técnicas que podem seradotadas. Dada a sua natureza, esse estudo foi dividido em duas etapas, quese complementam: uma, de<strong>no</strong>minada fase pre<strong>para</strong>tória, <strong>para</strong> a obtenção dedad<strong>os</strong> e informações de fontes secundárias e de especialistas; e outra, de<strong>no</strong>minadapesquisa qualitativa, que consistiu em estud<strong>os</strong> de cas<strong>os</strong> selecionad<strong>os</strong>.3.2 - Fase pre<strong>para</strong>tóriaA fase de<strong>no</strong>minada pre<strong>para</strong>tória apresentou duas etapas complementares:uma pesquisa de dad<strong>os</strong> e informações em fontes secundárias, tendo em vistamelhor entender o segmento de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, e em fontes primárias, através deentrevistas com expert<strong>os</strong> ou com especialistas, <strong>para</strong> prover a pesquisadora deum maior nível de compreensão da temática a ser estudada e de informaçõesindispensáveis <strong>para</strong> pre<strong>para</strong>r a pesquisa da fase seguinte, realizada junto àsempresas. Essa fase ainda se tor<strong>no</strong>u mais relevante por se tratar de umapesquisa internacional, ou seja, de diferentes condições ambientais.3.2.1 - Pesquisa em fontes secundáriasOs dad<strong>os</strong> secundári<strong>os</strong> são, em geral, de acesso mais fácil e rápido, sendomen<strong>os</strong> dispendi<strong>os</strong><strong>os</strong>, e podem fornecer critéri<strong>os</strong> vali<strong>os</strong><strong>os</strong> <strong>para</strong> a obtenção e <strong>para</strong>a interpretação d<strong>os</strong> dad<strong>os</strong> primári<strong>os</strong>, desde que sejam verificadas a confiabilidadee a validade das informações obtidas e de suas fontes, tendo presente as suaslimitações (Malhotra, 2001).Esta pesquisa teve por objetivo determinar as principais característicasd<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> mundial e regional de vinh<strong>os</strong>, bem como a evolução desse


segmento <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong> Uruguai, tendo em vista as principais políticas adotadase seus reflex<strong>os</strong> sobre o setor de vinh<strong>os</strong>. É indispensável o conhecimento tantodo ambiente em que as empresas desenvolvem <strong>os</strong> seus negóci<strong>os</strong>, como daexistência, ou não, de políticas setoriais, bem como conhecer quais asprincipais instituições ligadas à área do vinho e seus objetiv<strong>os</strong>, tendo em vistaque esse ambiente exter<strong>no</strong>, como já comentado anteriormente, pode afetar,direta ou indiretamente, as estratégias <strong>empresariais</strong>, assim como elas podemtambém alterá-lo.Para tanto, foram pesquisadas:- a evolução da indústria do vinho <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong> Uruguai, já que muitasempresas têm sua origem <strong>no</strong> início do século XX e são fruto de vivênciasfamiliares há várias gerações;- as principais características dessa indústria, <strong>para</strong> ressaltar as peculiaridadesdo vinho fi<strong>no</strong> e o atual estágio em que se encontram as empresasprodutoras;- a situação do mercado de vinh<strong>os</strong> nesses países, baseada em dad<strong>os</strong> deprodução, comercialização interna e externa e de importações, <strong>para</strong>subsidiar o entendimento do setor e, principalmente, as pesquisas realizadasjunto às empresas.Essa fase incluiu várias fontes de evidências. Para a obtenção d<strong>os</strong> dad<strong>os</strong>e das informações quantitativas e qualitativas, foi feito um levantamento bibliográficod<strong>os</strong> estud<strong>os</strong> e das pesquisas realizad<strong>os</strong> nessa área, em artig<strong>os</strong>especializad<strong>os</strong>, dissertações, teses, livr<strong>os</strong>, bem como foram colhidas informaçõessobre as vinícolas n<strong>os</strong> dois países, obtidas em jornais, revistas, sites nainternet específic<strong>os</strong> de vinh<strong>os</strong> e material multimídia. Também foi realizado umlevantamento da legislação referente a<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> n<strong>os</strong> dois países e <strong>no</strong>Merc<strong>os</strong>ul. Destacam-se as home pages de instituições, em vári<strong>os</strong> países, ligadasà área de vinho, bem como as de algumas importantes vinícolas <strong>no</strong> mundo,e <strong>os</strong> dad<strong>os</strong> estatístic<strong>os</strong>, por países, disponibilizad<strong>os</strong> pela Organização Internacionalda Uva e do Vinho, <strong>os</strong> da União <strong>Brasil</strong>eira de Vitivinicultura, <strong>para</strong> o <strong>Brasil</strong>,e do Instituto Nacional de Vitivinicultura, <strong>para</strong> o Uruguai.873.2.2 - Entrevistas com expert<strong>os</strong>na área vinícolaTendo em vista que muitas pessoas acumulam conheciment<strong>os</strong> ao longode sua experiência profissional, que necessariamente não estão disponíveis emfontes secundárias, foi realizada uma pesquisa exploratória, através de entrevis-


88tas individuais com especialistas. Foi feito um roteiro prévio, visando obter umconjunto de informações relevantes, <strong>para</strong> realizar, p<strong>os</strong>teriormente, umapesquisa junto às vinícolas sobre as estratégias organizacionais.A pesquisa exploratória com <strong>os</strong> expert<strong>os</strong> buscou esclarecer, dentre outrasinformações relevantes:- quais são <strong>os</strong> principais problemas das empresas de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>?- como a abertura d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> e o aumento das importações afetaram aindústria de vinh<strong>os</strong>? Como as empresas responderam a essas modificaçõesambientais?- quais <strong>os</strong> principais problemas nas exportações? Qual o papel do consórciode exportação? Que empresas participam?- quais as principais multinacionais e cooperativas de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>? Quaispapéis ocupam n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>?- ocorreram aquisições, fusões ou alianças estratégicas entre vinícolas?Em que empresas?- quais as principais instituições ligadas à área de vinho? Qual a suarelevância <strong>para</strong> as empresas?- quais as principais empresas produtoras e as principais exportadorasde vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>? Por que as empresas têm se instalado em <strong>no</strong>vasáreas?- existe uma estratégia setorial <strong>para</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>? Existem diferençasentre as estratégias adotadas pelas empresas nacionais,multinacionais e cooperativas?- observa-se a ocorrência de grandes mudanças na tec<strong>no</strong>logia de produdução/processoou de i<strong>no</strong>vações em produt<strong>os</strong> na indústria vinícola?Tendo em vista esses questionament<strong>os</strong>, foi elaborado um roteiro <strong>para</strong> asentrevistas e foram selecionad<strong>os</strong> <strong>os</strong> expert<strong>os</strong> a serem entrevistad<strong>os</strong>, comodescrito a seguir.3.2.2.1 - O roteiro das entrevistasO roteiro foi construído visando orientar as entrevistas realizadas; como eleé um guia, não pode prever todas as situações e condições de trabalho decampo. Portanto, o roteiro foi submetido, a priori, a um pré-teste com dois executiv<strong>os</strong><strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, dadas as maiores dificuldades e o ônus de realizá-lo <strong>no</strong>Uruguai. Escolheu-se, <strong>para</strong> tal, um representante do setor de vinh<strong>os</strong>, que tambémjá havia sido executivo em várias vinícolas, e um executivo ligado à área deexportações de vinh<strong>os</strong>. Uma vez verificado que o roteiro estava adequado, o


mesmo foi utilizado nas entrevistas, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, tendo sido traduzido <strong>para</strong> oespanhol, <strong>para</strong> facilitar as entrevistas <strong>no</strong> Uruguai.Esse roteiro (Apêndice A) contempla, basicamente, 10 temas que tratamde: problemas das empresas de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>; abertura de mercad<strong>os</strong> e entradade vinh<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong>; instituições da área do vinho; exportações; principaisempresas; multinacionais; aquisições, fusões e alianças estratégicas;terceirização; estratégias; i<strong>no</strong>vação e mudança. Esses temas inter-relacionad<strong>os</strong>foram abordad<strong>os</strong> através de perguntas abertas, <strong>os</strong> quais tinham por objetivo,de um lado, propiciar uma visão geral do setor e, de outro, principalmente,subsidiar a seleção das empresas a serem entrevistadas e o roteiro das entrevistasda etapa subseqüente.Como o ambiente exter<strong>no</strong> pode influenciar <strong>os</strong> process<strong>os</strong> de formulação ede implementação das estratégias das vinícolas, foram contemplad<strong>os</strong> <strong>os</strong> principaisproblemas das empresas de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, as conseqüências da aberturad<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> intern<strong>os</strong> e do Merc<strong>os</strong>ul e o papel das instituições ligadas à viniculturaem amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países, <strong>para</strong> construir o roteiro junto às empresas.Algumas questões foram introduzidas <strong>para</strong> obter informações específicas,visando, de um lado, à seleção das empresas a serem entrevistadas n<strong>os</strong> doispaíses e, de outro, subsidiar a construção do roteiro a ser usado na fase qualitativa.Esse foi o caso das questões relativas às maiores empresas, à importâncian<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> das cooperativas e das multinacionais, à ocorrência de aquisiçõese fusões, bem como de alianças estratégicas, com destaque <strong>para</strong> <strong>os</strong>consórci<strong>os</strong> de exportação e <strong>para</strong> a terceirização estratégica.Verificou-se a importância de conhecer algumas das estratégias maiscomuns, bem como as i<strong>no</strong>vações e as mudanças, pois essas informaçõesembasariam a seleção das empresas e o roteiro a ser construído na faseseguinte, assim como trariam um maior nível de informações à pesquisadora,indispensável ao pr<strong>os</strong>seguimento das pesquisas.893.2.2.2 - A seleção d<strong>os</strong> expert<strong>os</strong>Uma vez validado o roteiro das entrevistas, passou-se à seleção d<strong>os</strong> especialistas,também conhecid<strong>os</strong> como expert<strong>os</strong>. Experto é definido como o “(...)indivíduo que adquiriu grande conhecimento ou habilidade graças à experiência,à prática”; o "perito", a pessoa “(...) que sabe ou tem conhecimento” (Ferreira,1999). Buscou-se selecionar pessoas, por conveniência e julgamento, em funçãoda p<strong>os</strong>sibilidade de contribuição com o trabalho, baseado n<strong>os</strong> seguintesfatores:


90- obter conhecimento efetivo da indústria e/ou da comercialização vinícolan<strong>os</strong> seus países;- abarcar diferentes pessoas envolvidas diretamente com produção, comercialização,pesquisa e regulamentação da área vinícola;- entrevistar executiv<strong>os</strong> de empresas de diferentes tamanh<strong>os</strong> (grande,médio e peque<strong>no</strong> portes);- entrevistar representantes da maior cooperativa brasileira (CooperativaVinícola Aurora) e de uma multinacional <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, pela suarepresentatividade na indústria vinícola, com significativa liderança einfluência na produção e na comercialização vinícola;- entrevistar, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, um importador de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, pelo grande incrementodas importações com repercussões sobre a concorrência <strong>no</strong> mercadointer<strong>no</strong>;- entrevistar, <strong>no</strong> Uruguai, uma pessoa diretamente ligada à exportação devinh<strong>os</strong>, dada a importância das vendas externas <strong>para</strong> a indústria vinícolado País;- entrevistar pessoas que estejam atuando junto a vinícolas, mas que jáocu<strong>para</strong>m carg<strong>os</strong> em instituições vinícolas, pela p<strong>os</strong>sibilidade de conheciment<strong>os</strong>mais abrangentes do setor.A partir desses critéri<strong>os</strong>, contataram-se algumas pessoas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong>Uruguai, bem como a Faculdade de Eco<strong>no</strong>mia da Universidade Federal do Riode Janeiro, que tinha realizado uma pesquisa sobre vinh<strong>os</strong> <strong>no</strong> Uruguai, comoparte de uma ampla pesquisa sobre arranj<strong>os</strong> e sistemas produtiv<strong>os</strong>, <strong>para</strong> seobterem informações sobre <strong>os</strong> responsáveis por essa pesquisa. De p<strong>os</strong>se devári<strong>os</strong> <strong>no</strong>mes, muit<strong>os</strong> d<strong>os</strong> quais em comum, e da informação de que dois especialistasdo <strong>Brasil</strong> conheciam bem a indústria vinícola uruguaia e que, portanto,também poderiam fornecer informações adicionais sobre aquelas vinícolas, passou-sea efetuar alguns contat<strong>os</strong> preliminares, via telefone, <strong>para</strong> apurar a listad<strong>os</strong> expert<strong>os</strong>, primeiro, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e, p<strong>os</strong>teriormente, <strong>no</strong> Uruguai.Foram, então, selecionadas oito pessoas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, sendo quatro diretoresde empresas, dois executiv<strong>os</strong> de importantes instituições da área de vinh<strong>os</strong>, umdiretor de uma empresa importadora de vinh<strong>os</strong> e um consultor de empresas naárea de vinh<strong>os</strong>, a saber:- Carl<strong>os</strong> Za<strong>no</strong>tto, Diretor Operacional da Cooperativa Aurora S/A e ex-Diretorda Aurora S/A do Uruguai;- Danilo Cavagnas, Diretor da multinacional Chandon do <strong>Brasil</strong> e ex-Presidenteda União <strong>Brasil</strong>eira de Vitivinicultura, por três mandat<strong>os</strong>;- Ademir Brandelli, Diretor da Vinícola Dom Laurindo e ex-Presidente da<strong>As</strong>sociação d<strong>os</strong> Produtores de Vinh<strong>os</strong> Fin<strong>os</strong> do Vale d<strong>os</strong> Vinhed<strong>os</strong>;


- Rinaldo Dal Pizzoll, Diretor da Vinícola Monte Lem<strong>os</strong> Ltda. (Vinh<strong>os</strong> DalPizzol) e ex-Presidente do Uvibra, por três mandat<strong>os</strong>;- Jaime Milan, Diretor Executivo da Aprovale e ex-Presidente da Uvibra;- J<strong>os</strong>é Fernando da Silva Protas, Chefe Geral da Embrapa/Centro Nacionalde Pesquisa de Uva e Vinho;- Juarez D’Ambr<strong>os</strong>, Diretor da empresa Vinh<strong>os</strong> do Mundo e importador;- Remi Paulo Acordi, Consultor de empresas.Todas as entrevistas foram agendadas com antecedência, por telefone,momento em que o entrevistado era informado sobre o objetivo da pesquisa e deque a duração provável seria de 45 minut<strong>os</strong>.No Uruguai, após vári<strong>os</strong> contat<strong>os</strong> telefônic<strong>os</strong> e por e-mail com a responsávelpela pesquisa e com executiv<strong>os</strong> ligad<strong>os</strong> às instituições e vinícolas, 2 foramselecionadas sete pessoas. Destas, uma era diretor de uma vinícola de grandeporte; três eram executiv<strong>os</strong> — um de uma empresa comercial de grande portede vinh<strong>os</strong>, o outro, de uma vinícola de peque<strong>no</strong> porte, que se destaca pelaqualidade d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> exportad<strong>os</strong>, e o terceiro, ligado à comercialização externade uma vinícola de grande porte —; dois eram executiv<strong>os</strong> de importantesinstituições, um ligado à área de regulação do setor, e outro, à de exportação; e,por fim, uma pesquisadora que tinha realizado um trabalho na área de vinh<strong>os</strong> doUruguai, conforme detalhado abaixo:- Francisco Carrau, Diretor da Viñ<strong>os</strong> Fin<strong>os</strong> Juan Carrau, Pesquisador eProfessor Universitário de e<strong>no</strong>logia;- Miguel Aguerre, Administrador da Aurora S/A;- Maria Filgueira, executiva da área de marketing de Viñed<strong>os</strong> y BodegaFilgueira;- Heinz Rippe, Export Manager de Estabelecimient<strong>os</strong> Vitivinícolas DanteIrurtia S/A;- Francisco Zuni<strong>no</strong>, Secretário executivo do Instituto Nacional de Vitivinicultura;- Lauro Arias, International Marketing Manager da <strong>As</strong>ociación de BodegasExportadoras;- Michèle S<strong>no</strong>eck, Gerente do Departamento de Projet<strong>os</strong> de Ciência eTec<strong>no</strong>logia do Ministério de Educação e Cultura e Pesquisadora.Em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países, o número de entrevistas definido a priori nãoprecisou ser aumentado, tendo em vista que, a partir de um determinado mo-912Inicialmente, com o auxílio de Za<strong>no</strong>tto, da Cooperativa Aurora, e, p<strong>os</strong>teriormente, de umexecutivo da Aurora S/A do Uruguai.


92mento, as <strong>no</strong>vas entrevistas já não traziam tantas contribuições, isto é, haviavári<strong>os</strong> fat<strong>os</strong> e experiências semelhantes.3.2.2.3 - <strong>As</strong> entrevistas<strong>As</strong> entrevistas foram antecipadamente marcadas, por telefone, quando eraexplicado o seu objetivo e o tempo necessário. Em geral, p<strong>os</strong>teriormente, foimandado um e-mail com maiores detalhes da pesquisa. Entretanto as entrevistas<strong>no</strong> Uruguai foram mais difíceis de agendar, pois, devido à distância e a<strong>os</strong>cust<strong>os</strong> de h<strong>os</strong>pedagem, se buscou concentrar todas na mesma semana.Todas as entrevistas foram realizadas pela própria pesquisadora, tanto <strong>no</strong><strong>Brasil</strong> como <strong>no</strong> Uruguai, e duraram, em média, de 40 a 55 minut<strong>os</strong>. Elas foramgravadas com a autorização d<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> e transcritas logo que p<strong>os</strong>sível,p<strong>os</strong>sibilitando a retomada de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> pronunciament<strong>os</strong>.<strong>As</strong> entrevistas com <strong>os</strong> expert<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong> foram efetuadas em Bento Gonçalves,Garibaldi e Porto Alegre, cidades situadas <strong>no</strong> Rio Grande do Sul, n<strong>os</strong>meses de abril e maio de 2002; as com <strong>os</strong> especialistas uruguai<strong>os</strong> foramefetivadas em junho de 2002, nas Cidades de Montevidéu (Departamento deMontevidéu) e Las Piedras, situada <strong>no</strong> Departamento de Canelones.Essas entrevistas, com perguntas abertas sobre tópic<strong>os</strong> já exp<strong>os</strong>t<strong>os</strong>,ocorreram, em geral, nas empresas d<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>. Para <strong>os</strong> expert<strong>os</strong> doUruguai, o roteiro foi versado <strong>para</strong> o espanhol. Não houve uma ordem rígida dasquestões, p<strong>os</strong>sibilitando que <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> discorressem com liberdadesobre <strong>os</strong> temas prop<strong>os</strong>t<strong>os</strong>.A entrevista em profundidade é um método bastante utilizado <strong>para</strong> a obtençãode dad<strong>os</strong> qualitativ<strong>os</strong>. Ela é direta e pessoal, e, mesmo com um roteiroprévio, a ordem da formulação das perguntas é influenciada pelas resp<strong>os</strong>tas d<strong>os</strong>entrevistad<strong>os</strong>, sendo, pois, relevante o papel do entrevistador <strong>para</strong> obter todasas resp<strong>os</strong>tas. Ademais, algumas explicações e comentári<strong>os</strong> d<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>podem oferecer vali<strong>os</strong>as contribuições <strong>para</strong> o pesquisador e, por isso, são muitoúteis na pesquisa exploratória (Malhotra, 2001). R<strong>os</strong>si e Slongo (1997) colocamque a entrevista em profundidade faz com que <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, ao responderemàs questões formuladas por um único entrevistador, se sintam mais confortáveise men<strong>os</strong> constrangid<strong>os</strong>.


3.2.2.4 - A análise de conteúdoA análise de conteúdo foi a técnica utilizada <strong>para</strong> analisar as entrevistasrealizadas nas empresas, assim como as realizadas com <strong>os</strong> expert<strong>os</strong>. Essaanálise pode ser quantitativa, quando busca identificar a freqüência de temas oude palavras, ou qualitativa, que foi a adotada nas duas pesquisas realizadas.Este último tipo de análise, que visa entender melhor as resp<strong>os</strong>tasobtidas extraindo <strong>os</strong> moment<strong>os</strong> mais importantes, deve ser eficaz, rigor<strong>os</strong>o epreciso. Através da análise de conteúdo em base temática, muito usada emresp<strong>os</strong>tas às perguntas abertas, trata-se de perquirir o discurso, aprofundand<strong>os</strong>uas características e extraindo as situações significativas (Richardson, 1989).Existem pass<strong>os</strong> a serem obedecid<strong>os</strong> nessa técnica, quais sejam:codificação das entrevistas, que consiste nas leituras do material obtido emcada entrevista, com o objetivo de limpá-lo e de prepará-lo <strong>para</strong> as fasesp<strong>os</strong>teriores, ao mesmo tempo em que p<strong>os</strong>sibilita uma impregnação d<strong>os</strong> conteúd<strong>os</strong>a serem analisad<strong>os</strong>; definição das unidades de análise, ou unidades deregistro, ou unidades de significado; e a categorização, que é a operação declassificação d<strong>os</strong> element<strong>os</strong> seguindo determinad<strong>os</strong> critéri<strong>os</strong>. <strong>As</strong> categoriaspodem ser estabelecidas previamente, e, nesse caso, <strong>os</strong> element<strong>os</strong> são distribuíd<strong>os</strong>da melhor forma p<strong>os</strong>sível entre as categorias ou podem resultar da classificaçãoprogressiva d<strong>os</strong> element<strong>os</strong> (Richardson, 1989).Como todas as entrevistas foram feitas pela própria pesquisadora, tendoem vista <strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> prop<strong>os</strong>t<strong>os</strong>, foi bastante facilitada a pré-análise, que consistena leitura superficial do material, <strong>para</strong> conhecer a estrutura da narrativa. Paraa análise temática, foi utilizada a categorização prévia, uma vez que o roteiro jáfoi construído visando a essa categorização. A análise temática consiste emisolar temas das entrevistas, isto é, a afirmação a respeito de determinadoassunto, extraindo as partes utilizáveis, de acordo com o objeto da pesquisa,p<strong>os</strong>sibilitando a sua com<strong>para</strong>ção.Foram tomad<strong>os</strong> <strong>os</strong> devid<strong>os</strong> cuidad<strong>os</strong> <strong>para</strong> todas as categorias apresentaremas características prop<strong>os</strong>tas por Richardson (1989, p. 194), quais sejam:exaustividade, concretitude, homogeneidade, objetividade e fidelidade. Isso implicouque cada categoria estabelecida permitia a inclusão de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> element<strong>os</strong>do tema em questão, sendo que nenhum elemento podia ser classificadoem mais de uma categoria. <strong>As</strong> categorias devem p<strong>os</strong>sibilitar fácil classificaçãod<strong>os</strong> element<strong>os</strong>, baseadas em um mesmo princípio de classificação, comcritéri<strong>os</strong> precis<strong>os</strong> de escolha, e devem ser adequadas e bem definidas.Contudo, como as entrevistas foram longas, gerando um grande materialtranscrito, as unidades temáticas, até por uma questão de viabilidade do trabalho,foram abrangentes, assim como sugere Moraes (1998). Por fim, foi realiza-93


94da a análise, com base nas principais idéias expressas pel<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>,transcrevendo-se algumas passagens consideradas significativas, as quais descrevem,com clareza, uma situação ou um fato relevante <strong>para</strong> a análise. Essasinserções, de acordo com Moraes (1999), tornam as descrições mais consistentese, dessa forma, contribuem <strong>para</strong> a construção da validade do produtoresultante.O objetivo final da análise foi tratar as evidências de forma adequada, produzirconclusões analíticas convincentes e irrefutáveis e “(...) eliminar interpretaçõesalternativas” (Yin, 2001, p. 106).3.2.2.5 - A análise da fase exploratóriaEssa fase foi muito importante <strong>para</strong> o pr<strong>os</strong>seguimento da pesquisa levadaa efeito na fase qualitativa. O levantamento d<strong>os</strong> dad<strong>os</strong> secundári<strong>os</strong> permitiu àpesquisadora conhecer muito melhor o setor em questão. Já as entrevistas com<strong>os</strong> expert<strong>os</strong> foram indispensáveis, uma vez que:- subsidiaram a seleção das empresas a serem entrevistadas, pela discussã<strong>os</strong>obre as características das maiores empresas produtoras e exportadoras,onde foram destacadas, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, a relevância das multinacionaise das cooperativas n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> intern<strong>os</strong>, e, <strong>no</strong> Uruguai, a existência dealianças estratégicas de vinícolas nacionais com empresas estrangeiras,e pela comprovação da existência de consórci<strong>os</strong> de exportação emamb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países;- auxiliaram na elaboração do roteiro das entrevistas em outra fase dapesquisa, pelo conhecimento d<strong>os</strong> term<strong>os</strong> técnic<strong>os</strong>, de algumas importantesdistinções nas estruturas d<strong>os</strong> setores vitivinícolas em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong>países, da ocorrência de alterações tec<strong>no</strong>lógicas e de produt<strong>os</strong>, da existênciade um planejamento setorial <strong>no</strong> Uruguai, da existência de dificuldades<strong>para</strong> penetrar em mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong> e de alguns acord<strong>os</strong> e jointventures entre vinícolas <strong>no</strong> Uruguai;- complementaram parte das informações pesquisadas com dad<strong>os</strong> secundári<strong>os</strong>;- facilitaram a comunicação entrevistado/entrevistadora pelo conhecimentodesta última de term<strong>os</strong> técnic<strong>os</strong> específic<strong>os</strong> do segmento vinícola;- p<strong>os</strong>sibilitaram à entrevistadora/pesquisadora estar mais atenta às informaçõesprestadas e, sempre que necessário, solicitar maiores esclareciment<strong>os</strong>d<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>;- determinaram uma maior atenção <strong>para</strong> as resp<strong>os</strong>tas d<strong>os</strong> interlocutores,tendo em vista <strong>os</strong> divers<strong>os</strong> mod<strong>os</strong> como um mesmo fenôme<strong>no</strong>, <strong>no</strong> caso,


as estratégias, pode ser visto, observado ou considerado pel<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>.Como as entrevistas foram muito informativas, foi aproveitada grande parted<strong>os</strong> relat<strong>os</strong> obtid<strong>os</strong> <strong>para</strong> contextualizar o segmento de vinho fi<strong>no</strong>, através deuma análise do conteúdo das informações, que é apresentada <strong>no</strong> Capítulo 4deste trabalho. Para essa análise, <strong>os</strong> depoiment<strong>os</strong> foram subdivid<strong>os</strong> com<strong>os</strong>egue: <strong>os</strong> principais problemas das empresas de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>; a abertura d<strong>os</strong>mercad<strong>os</strong> e as importações e exportações; a entrada de capital estrangeiro naindústria vinícola; e as principais instituições da área do vinho. Considerandoque muit<strong>os</strong> d<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> fizeram alguns comentári<strong>os</strong> adicionais, foi criadamais uma categoria <strong>no</strong> decorrer da análise, através de agrupament<strong>os</strong> poranalogias, que aborda as tendências d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>.953.3 - Pesquisa qualitativaDe p<strong>os</strong>se da análise d<strong>os</strong> dad<strong>os</strong> da entrevista com <strong>os</strong> expert<strong>os</strong> em amb<strong>os</strong><strong>os</strong> países, foi construído o roteiro (Apêndice B) e selecionadas as empresas<strong>para</strong> a pesquisa exploratória e qualitativa, visando atender a<strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> prop<strong>os</strong>t<strong>os</strong>por esta pesquisa.Tendo em vista que as estratégias <strong>empresariais</strong>, objeto deste estudo,fazem parte da realidade das organizações, que estão inseridas em um ambientesocial dentro de seu próprio país e inter-relacionadas com o ambiente globale, portanto, estritamente vinculadas a<strong>os</strong> ambientes sociopolítico e econômico,foi feita uma pesquisa qualitativa <strong>para</strong> a sua compreensão. Esse tipo de pesquisa,de acordo com Malhotra (2001), permite a compreensão de um determinadoassunto e envolve um peque<strong>no</strong> número de cas<strong>os</strong>, baseada em uma coleta dedad<strong>os</strong> não estruturada e em uma análise não estatística.Nessa fase da pesquisa, foi adotada a abordagem direta, onde se buscouesclarecer, antecipadamente, <strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> da pesquisa <strong>para</strong> <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> eforam realizadas entrevistas em profundidade n<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> selecionad<strong>os</strong>.3.3.1- Estudo de casoO método escolhido foi o estudo de caso, dado o tipo de questão de pesquisaprop<strong>os</strong>to — “como” as estratégias eram formuladas e implementadas e“por que” foram adotadas essas estratégias —, adicionando-se o fato de a pesquisadoranão ter o controle sobre <strong>os</strong> event<strong>os</strong> comportamentais e de o estudo


96estar focado em aconteciment<strong>os</strong> contemporâne<strong>os</strong>. Destarte, o estudo de casopermite uma investigação que preserva as características holísticas e significativasd<strong>os</strong> event<strong>os</strong> da vida real, tais como <strong>os</strong> process<strong>os</strong> organizacionais eadministrativ<strong>os</strong>, conforme desenvolvido por Yin (2001). Ademais, <strong>os</strong> estud<strong>os</strong> decas<strong>os</strong> p<strong>os</strong>sibilitam uma explicação em maior profundidade, obter um maior nívelde informações e com<strong>para</strong>r diferentes cas<strong>os</strong>.Yin (2001) apresenta quatro tip<strong>os</strong> de designs, resultantes de uma matrizde dupla entrada, considerando o número de cas<strong>os</strong> envolvid<strong>os</strong> <strong>no</strong> projeto: ocaso único e o caso múltiplo, amb<strong>os</strong> com unidades simples ou múltiplas deanálise, dependendo do que for pretendido obter. Quando mais de uma unidadeé selecionada, trata-se de estudo de caso incorporado; em contraste, se oexame for de natureza global de uma organização, trata-se de um caso holístico,conforme pode ser visualizado <strong>no</strong> Quadro 3.1.Quadro 3.1Tip<strong>os</strong> básic<strong>os</strong> de desenho <strong>para</strong> estud<strong>os</strong> de cas<strong>os</strong>TIPOS DE DESENHO CASO ÚNICO CASOS MÚLTIPLOSHolístico(unidade única de análise)Incorporad<strong>os</strong>(unidades múltiplas deanálise)Tipo 1 Tipo 3Tipo 2 Tipo 4FONTE: Yin (2001, p. 61).Nesta pesquisa, foi adotado o tipo de cas<strong>os</strong> múltipl<strong>os</strong> incorporad<strong>os</strong> (tipo4), por se configurar como o mais adequado, dado que o objetivo era analisar asestratégias de empresas de diferentes países. Esse tipo de estudo p<strong>os</strong>sibilitaprovas mais convincentes, apesar de exigir maior tempo e mais recurs<strong>os</strong>.A escolha de duas unidades de análise, em cada caso, ocorreu pelo interesseem obter mais de um relato do mesmo caso. Buscou-se, pois, compreender asestratégias de uma mesma empresa, sob a visão de duas pessoas que ocupamcarg<strong>os</strong> diferentes, dada a complexidade do conceito de estratégias e da p<strong>os</strong>sibilidadede as táticas <strong>para</strong> um executivo poderem ser estratégias <strong>para</strong> outro,conforme já explicitado n<strong>os</strong> argument<strong>os</strong> teóric<strong>os</strong>.


Os estud<strong>os</strong> de caso múltipl<strong>os</strong> devem propiciar resultad<strong>os</strong> semelhantes oucontrastantes, por razões previsíveis (Yin, 2001). Nesse sentido, esperava-se,na pesquisa realizada, que as empresas de um mesmo país tivessemestratégias muito mais similares entre si do que as de diferentes países. Ouseja, que as estratégias das empresas f<strong>os</strong>sem influenciadas, direta ouindiretamente, pel<strong>os</strong> respectiv<strong>os</strong> ambientes competitiv<strong>os</strong> d<strong>os</strong> dois países, alémda história e da evolução da indústria vinícola, que podem gerar distintasestratégias, tal como já explicitado na fundamentação teórica.Foram tomadas todas as medidas <strong>para</strong> garantir a maior objetividade p<strong>os</strong>sívelda pesquisa, como a formulação de algumas questões similares de formadistinta, de tal maneira que foi p<strong>os</strong>sível captar problemas de comunicação ou deresistência a algumas questões durante as entrevistas realizadas, retomando--as <strong>no</strong>vamente. Além disso, o fato de terem sido entrevistadas duas pessoas damesma empresa com um roteiro idêntico p<strong>os</strong>sibilitou perquirir, de formaminuci<strong>os</strong>a, algumas questões consideradas relevantes na entrevista. Essemétodo permitiu explicar, com grande profundidade, <strong>os</strong> cas<strong>os</strong> considerad<strong>os</strong>,bem como relacioná-l<strong>os</strong> entre si.973.3.2 - Seleção da am<strong>os</strong>tra<strong>As</strong> empresas selecionadas atenderam a alguns critéri<strong>os</strong> gerais e a outr<strong>os</strong>específic<strong>os</strong> <strong>para</strong> cada país, tendo em vista a obtenção de importantes informaçõessobre as mesmas na fase pre<strong>para</strong>tória. Portanto, fazem-se primeiro asconsiderações que serviram de base <strong>para</strong> a seleção, e, após, apresentam-se,em se<strong>para</strong>do, <strong>os</strong> critéri<strong>os</strong> específic<strong>os</strong> de cada país.Como primeiro critério <strong>para</strong> a seleção de empresas, foram consideradasas de maior volume de produção e/ou comercialização de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, visandoatender a<strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> p<strong>os</strong>p<strong>os</strong>t<strong>os</strong> pelo estudo, tendo em vista <strong>os</strong> seguintesfatores:- em geral, é mais fácil <strong>para</strong> uma empresa maior exportar <strong>os</strong> seus produt<strong>os</strong>do que <strong>para</strong> as me<strong>no</strong>res, uma vez que essa atividade implica algunscust<strong>os</strong> administrativ<strong>os</strong> e financeir<strong>os</strong>, além da necessidade de conheciment<strong>os</strong>d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong>;- as relações de cooperação entre uma empresa internacional e umanacional ocorrem por divers<strong>os</strong> motiv<strong>os</strong>, mas a empresa internacional buscarealizar acord<strong>os</strong> com empresas que tenham uma estrutura adequadaa<strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> da parceria. Portanto, é mais provável a existência de aliançasinternacionais em empresas de médio e grande portes.


98Para obter a listagem das maiores empresas, foram solicitadas informaçõesjunto à Uvibra (<strong>Brasil</strong>) e ao Inavi (Uruguai). <strong>As</strong> listagens foram apresentadas<strong>para</strong> alguns d<strong>os</strong> expert<strong>os</strong>, e foram discutidas as peculiaridades de cadaempresa, visando selecionar empresas com diferentes perspectivas e pont<strong>os</strong> devista.O segundo critério geral foi selecionar empresas que tivessem realizadoalguma fusão, aquisição ou aliança estratégica, em especial com empresasinternacionais. De acordo com as informações disponibilizadas nas entrevistascom <strong>os</strong> expert<strong>os</strong> e em consulta a dad<strong>os</strong> secundári<strong>os</strong>, não ocorreram fusões; asaquisições só aconteceram <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>; parcerias com empresas estrangeirasatuais, só <strong>no</strong> Uruguai; mas havia ocorrido uma, já encerrada, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, com aCooperativa Aurora.De p<strong>os</strong>se da listagem das maiores empresas produtoras e observadas aspeculiaridades do setor em cada país, obtidas através de pesquisa bibliográficae na internet, bem como de entrevistas exploratórias realizadas, selecionaram--se, a priori, seis empresas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e sete <strong>no</strong> Uruguai, <strong>para</strong> marcar duasentrevistas em cada empresa, a serem realizadas pela pesquisadora. Entretantotinha-se presente que o número final de entrevistas seria me<strong>no</strong>r. Como setratava de uma pesquisa qualitativa, a preocupação era com o aprofundamento ea abrangência da compreensão do objeto de estudo e não com a generalizaçãod<strong>os</strong> seus resultad<strong>os</strong>.Acreditava-se ser necessário entrevistar cerca de cinco empresas <strong>no</strong><strong>Brasil</strong> e de quatro a cinco empresas <strong>no</strong> Uruguai, tendo em vista que, nesteúltimo país, entre as maiores, todas as empresas eram familiares, o que nãoocorria <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Por outro lado, a diferença do número de empresas selecionadasocorreu pela p<strong>os</strong>sibilidade de alguma delas não querer ou não poder participarda pesquisa, sendo que, <strong>para</strong> o Uruguai, adotou-se uma maior margem de segurança,tendo em vista problemas ligad<strong>os</strong> ao deslocamento da pesquisadoraao País.Para todas as empresas, em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países, foi feito um contato telefônicoinicial explicando <strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> da pesquisa, <strong>para</strong> verificar a disponibilidade decolaboração das mesmas e <strong>para</strong> identificar as duas pessoas que seriam entrevistadas,em geral, presidentes, diretores e/ou gerentes, sendo um deles ligado,preferencialmente, à área de marketing ou de exportação. P<strong>os</strong>teriormente, foifeito <strong>no</strong>vo contato com cada um d<strong>os</strong> identificad<strong>os</strong>, <strong>para</strong> agendar as entrevistas,em se<strong>para</strong>do, sendo comunicada a necessidade de cada entrevistadodisponibilizar cerca de 50 minut<strong>os</strong> <strong>para</strong> responder às perguntas. Ainda, <strong>para</strong>algumas empresas do <strong>Brasil</strong> e <strong>para</strong> todas do Uruguai, foi enviado e-mail, explicandomaiores detalhes da pesquisa e solicitando a confirmação dasentrevistas.


Os critéri<strong>os</strong> específic<strong>os</strong> de seleção das empresas são explicitad<strong>os</strong> porpaís, dadas as peculiaridades locais, pois, em uma pesquisa internacional, sedeve levar em conta as diferenças de contexto entre <strong>os</strong> países.993.3.2.1 - A seleção <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>De acordo com dad<strong>os</strong> obtid<strong>os</strong>, as 10 maiores empresas brasileiras produtorasde vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> em 2002 compunham-se de duas multinacionais, trêscooperativas e cinco predominantemente familiares. Frente a essas características,decidiu-se que, pelo men<strong>os</strong>, uma empresa de cada tipo seria entrevistada.Selecio<strong>no</strong>u-se, dentre as cooperativas, a Cooperativa Aurora, por ser amaior cooperativa de vinh<strong>os</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e por já ter realizado, em an<strong>os</strong> passad<strong>os</strong>,uma aliança estratégica com empresa estrangeira.Dentre as multinacionais, selecio<strong>no</strong>u-se a Vinícola De Lantier, que é umaunidade de negóci<strong>os</strong> da Bacardi Martini do <strong>Brasil</strong>. A outra empresa multinacional,a Seagram do <strong>Brasil</strong> Per<strong>no</strong>d Ricard, que é a maior empresa produtora de vinh<strong>os</strong>fin<strong>os</strong>, apresentou uma situação peculiar, explicada a seguir.A aquisição, em dezembro de 2001, da Seagram do <strong>Brasil</strong>, produtora d<strong>os</strong>vinh<strong>os</strong> nacionais Almadén e Forestier, pelo grupo francês Per<strong>no</strong>d Ricard foi frutode uma ampla alteração <strong>no</strong> mercado de bebidas alcóolicas, em nível mundial. 3A empresa <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> passou a se de<strong>no</strong>minar Seagram do <strong>Brasil</strong> Per<strong>no</strong>d Ricard,e essa <strong>no</strong>va empresa, em 2002, de acordo com <strong>os</strong> expert<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> <strong>no</strong><strong>Brasil</strong>, sofreu grandes transformações, com alterações de executiv<strong>os</strong>, retor<strong>no</strong>da linha de engarrafamento d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> da empresa de São Paulo <strong>para</strong> o RioGrande do Sul e ampliação da distribuição de vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong> <strong>no</strong> mercadobrasileiro. Com a saída d<strong>os</strong> principais dirigentes, detentores de importantesinformações <strong>para</strong> esta pesquisa, considerou-se que poderia haver muita perdade informação, sendo que essa multinacional não foi selecionada na am<strong>os</strong>tra.Tendo em vista <strong>os</strong> critéri<strong>os</strong> discutid<strong>os</strong> acima e as informações já acumuladas,foram averiguad<strong>os</strong> <strong>os</strong> cas<strong>os</strong> de aquisição.De acordo com as informações obtidas, uma vinícola produtora de vinh<strong>os</strong>comuns, a Antônio Basso & Filh<strong>os</strong> Ltda., havia comprado uma empresa produ-3Em dezembro de 2000, a Diageo (Inglaterra) e a Per<strong>no</strong>d Ricard (França), duas grandesempresas de bebidas alcoólicas, assinaram um acordo <strong>para</strong> a aquisição da divisão debebidas da Seagram (Canadá) em nível mundial, processo este que se estendeu até dezembrode 2001, uma vez que a aquisição foi condicionada à necessidade de esta ser submetidaà aprovação por autoridades antitrustes, em vári<strong>os</strong> países, devido ao porte das empresasenvolvidas (Per<strong>no</strong>d, 2000; Seagram, 2002).


100tora de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, a Remy Lacave do <strong>Brasil</strong>, de capital francês, situada emCaxias do Sul, <strong>no</strong> Rio Grande do Sul. Como essa aquisição tinha ocorridohá pouco tempo, essa empresa não foi considerada, uma vez que a suaexperiência em vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> era recente e que grande parte das informaçõesficaria prejudicada.A Vinícola Miolo Ltda., através de uma joint venture, havia adquirido umavinícola desativada <strong>no</strong> Nordeste do País.Tendo em vista a lista inicial segundo o volume comercializado, adicionadadas informações sobre as aquisições ocorridas, que, <strong>no</strong> caso da Basso, não erafactível de ser analisado, passou-se à seleção das demais empresas. Procurou--se, ainda, que pelo men<strong>os</strong> algumas destas participassem do consórcio deexportação existente, apesar de se saber que ele se encontrava em uma faseincipiente, o que foi verificado nas empresas Vinh<strong>os</strong> Salton S/A Indústria eComércio, Vinícola Miolo Ltda. e Cooperativa Aurora.Foram, então, selecionadas mais quatro empresas, uma das quais, apósvári<strong>os</strong> contat<strong>os</strong>, colocou uma série de empecilh<strong>os</strong> <strong>para</strong> a realização da pesquisa.Como essa empresa tinha como peculiaridade uma grande relação do vinhocom o turismo, a qual, se sabia, seria encontrada também em outras empresas,pelas informações já obtidas, a mesma foi desconsiderada. Foram escolhidasduas empresas grandes e familiares: a Vinh<strong>os</strong> Salton S/A Indústria e Comércio,que é a mais antiga das vinícolas existentes, e a Vinícola Miolo Ltda., que éuma das empresas que mais cresceu em term<strong>os</strong> de produção n<strong>os</strong> últim<strong>os</strong> an<strong>os</strong>e que tinha realizado uma joint venture, através da qual adquiriu outra vinícola.A Vinícola Cordelier foi selecionada porque tinha comprado, há mais de cincoan<strong>os</strong>, marcas de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> tradicionais, como a Granja União, da CooperativaVinícola Riograndense, que encerrou suas atividades.<strong>As</strong> empresas selecionadas foram:- De Lantier Vinh<strong>os</strong> Fin<strong>os</strong>;- Cooperativa Vinícola Aurora;- Vinh<strong>os</strong> Salton S/A Indústria e Comércio;- Vinícola Miolo Ltda.;- Vinícola Cordelier Ltda.3.3.2.2 - A seleção <strong>no</strong> UruguaiDe acordo com informações do Inavi, obtiveram-se as 11 maiores empresasprodutoras, por volume, de vinh<strong>os</strong> com uvas viníferas, portanto, incluindo<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, Vi<strong>no</strong> de Calidad Preferente, e/ou vinh<strong>os</strong> comuns.


101Procurou-se averiguar quais dessas empresas eram as mais importantes emVCP, <strong>para</strong> poder com<strong>para</strong>r com as empresas brasileiras. 4Analisando-se a listagem recebida junto com alguns expert<strong>os</strong> do Uruguai,além de outr<strong>os</strong> vári<strong>os</strong> contat<strong>os</strong> telefônic<strong>os</strong> e de e-mails com algumas instituiçõesligadas à área do vinho naquele país, selecionaram-se, inicialmente, seteempresas, considerando-se as quatro empresas que tinham realizado aliançasestratégicas com empresas estrangeiras. Todas eram empresas nacionais, epredominavam as empresas familiares, pois, <strong>no</strong> Uruguai, não existem empresasmultinacionais instaladas <strong>no</strong> País, e as cooperativas não são representativas,sendo sua participação em tor<strong>no</strong> de 2% da produção.Foram feit<strong>os</strong> contat<strong>os</strong> por telefone e, p<strong>os</strong>teriormente, mandado ume-mail <strong>para</strong> cada empresa, explicando o objetivo das entrevistas, seu tempoprovável de duração e a semana em que se estaria <strong>no</strong> Uruguai <strong>para</strong> agendar asentrevistas. Solicitou-se colaboração da <strong>As</strong>ociación de las Bodegas Exportadoras,<strong>no</strong> sentido de enfatizar a importância das entrevistas entre <strong>os</strong> seusassociad<strong>os</strong> selecionad<strong>os</strong>.Dentre as empresas que haviam realizado alianças estratégicas com empresasestrangeiras e que eram as maiores em volume, uma delas não pôdemarcar as entrevistas, devido a problemas intern<strong>os</strong>, pois se encontrava emsituação de concordata. <strong>As</strong> demais foram: Establecimiento Juanicó S/A, Vin<strong>os</strong>Fin<strong>os</strong> Juan Carrau S/A e Juan T<strong>os</strong>canini & Hij<strong>os</strong>.Após várias comunicações por telefone com cada um d<strong>os</strong> identificad<strong>os</strong>pelas respectivas empresas, pôde-se completar as datas das entrevistas emseis empresas, as quais foram confirmadas por e-mail. O maior problema encontradofoi que algumas delas agendavam as duas entrevistas em dias distint<strong>os</strong>,o que demandaria mais tempo, aliado às dificuldades de <strong>no</strong>v<strong>os</strong> deslocament<strong>os</strong><strong>para</strong> outras cidades e departament<strong>os</strong> (equivalentes a<strong>os</strong> estad<strong>os</strong> <strong>no</strong><strong>Brasil</strong>).<strong>As</strong> entrevistas foram, então, agendadas na:- Aria<strong>no</strong> Hn<strong>os</strong> S/A;- Dante Irurtia, a maior empresa vinícola do Uruguai;- Juan T<strong>os</strong>canini & Hij<strong>os</strong>;- Vin<strong>os</strong> Fin<strong>os</strong> Juan Carrau S/A, proprietária das adegas Bodegas CastelPujol e Cerro Chapéu Bodegas e Viñed<strong>os</strong>;- Establecimiento Juanicó S/A;4Enquanto, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, todo o vinho fi<strong>no</strong> é aquele produzido com uvas viníferas, <strong>no</strong> Uruguai,grande parte d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> de mesa é também produzido com vitiviníferas.


102- Viñed<strong>os</strong> Y Bodegas Bella Union S/A, mais conhecida pel<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>Calvi<strong>no</strong>r.O maior número de vinícolas em relação ao <strong>Brasil</strong> visava garantir umnúmero mínimo de empresas, caso houvesse algum problema durante o percurso,tendo em vista as dificuldades de mais um deslocamento ao Uruguai.3.3.3 - Roteiro das entrevistasO roteiro foi construído tendo por base a fase pre<strong>para</strong>tória. O roteiro inicialtinha, na parte sobre formação e implementação das estratégias, questões comincidente crítico. Isto é, solicitava-se que o entrevistado considerasse umaestratégia da empresa que tivesse sido implementada há pouco tempo,independentemente de seus resultad<strong>os</strong> (sucesso ou fracasso), e respondessea algumas questões, tendo por base a estratégia, tais como: quem foi o responsávelpela sua formulação e implementação? Como ocorreu o processo detomada de decisão?Esse roteiro inicial foi submetido a um pré-teste em duas entrevistasrealizadas com empresári<strong>os</strong> de vinícolas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. O teste do instrumento depesquisa, segundo Abramo (1979, p. 52),“(...) tem por objetiv<strong>os</strong> principais:a) verificar a adequação do universo de linguagem do pesquisador edo informante;b) verificar a correção da construção formal d<strong>os</strong> itens ou das questões;c) verificar a p<strong>os</strong>sibilidade prática de obter resp<strong>os</strong>tas;d) verificar as razões das recusas de dar resp<strong>os</strong>tas;e) verificar o grau de fidedignidade das resp<strong>os</strong>tas;f) estimar condições e tempo de aplicação do instrumento, <strong>para</strong> efeitode providências administrativas capazes de imprimir a organizaçãomais adequada à execução da pesquisa”.O roteiro inicial foi alterado após a realização do pré-teste, pois se m<strong>os</strong>troude difícil operacionalidade. De acordo com o pré-teste, <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> faziamquestão de ressaltar quais as estratégias adotadas e por que algumas foramalteradas e ainda explicavam que, dependendo da estratégia, havia diferença deresponsáveis. <strong>As</strong> estratégias citadas eram, muitas vezes, confundidas com astáticas, uma vez que sua distinção é tênue e depende da p<strong>os</strong>ição da pessoa naempresa, conforme Quinn (2001).Como resultado, foram retiradas as questões com incidente crítico naprimeira parte do roteiro, referente ao processo de formação e de implementação


103das estratégias. E as perguntas passaram a ser exp<strong>os</strong>tas de forma direta, <strong>para</strong>facilitar a entrevista e torná-la mais fluida, evitando p<strong>os</strong>síveis resp<strong>os</strong>tas dúbias.Além disso, agregaram-se mais dois itens ao roteiro: o item 5, que se refere àpercepção do entrevistado em relação às estratégias da empresa,visando a resp<strong>os</strong>tas objetivas a perguntas já formuladas de outra forma; e o item6, que p<strong>os</strong>sibilitou ao entrevistado comentar algum aspecto considerado relevanteque não havia sido contemplado <strong>no</strong> roteiro. Esses comentári<strong>os</strong>, como ahistória da vinícola e alguma opinião específica sobre o mercado de vinh<strong>os</strong> ou daviticultura, apareceram durante as entrevistas do pré-teste, e, por isso, foi colocadoesse item, uma vez que o roteiro serve de guia <strong>para</strong> o entrevistador e não<strong>para</strong> cercear a fala do entrevistado. Dessa forma, o roteiro foi alterado<strong>para</strong> se adequar a<strong>os</strong> propósit<strong>os</strong> da pesquisa e eliminar p<strong>os</strong>síveis problemaspotenciais.O roteiro das entrevistas utilizado junto às empresas selecionadas, após opré-teste, foi estruturado em duas grandes partes: a primeira refere-se àsinformações gerais da empresa, tais como, tip<strong>os</strong> de produt<strong>os</strong> produzid<strong>os</strong>,produção anual e faturamento de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, exportações, etc., visando à suacaracterização e permitindo a com<strong>para</strong>ção d<strong>os</strong> dad<strong>os</strong> entre as empresas, <strong>para</strong>ter melhor compreensão do objeto e poder estabelecer algumas relaçõesnecessárias; a segunda parte trata de questões sobre as estratégias propriamenteditas, tendo em vista atender a<strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> previst<strong>os</strong> pela pesquisa. Essaparte está subdividida em seis itens temátic<strong>os</strong> e contemplou apenas perguntasabertas e diretas.Foi usado o mesmo roteiro <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong> Uruguai. Uma vez que esseroteiro foi aplicado junto às empresas de países com distint<strong>os</strong> idiomas, foiversado <strong>para</strong> o espanhol, visando a uma equivalência das formas de linguagem<strong>no</strong> roteiro de entrevista.O roteiro era extenso, e algumas perguntas se repetiam de outra forma.Esse formato foi intencional, pois p<strong>os</strong>sibilitava verificar se o entrevistado tinharespondido adequadamente alguma questão mais delicada ou se ele tinha sidovago na resp<strong>os</strong>ta, uma vez que algumas perguntas continham situaçõesbastante pessoais, como a maneira de pensar e de atuar, que envolve a realidadesubjetiva do entrevistado. Ademais, o ato de não falar de determinado assuntoou de tangenciá-lo, evitando aprofundar determinadas questões, tambémde<strong>no</strong>ta o que pensa o entrevistado.Dado que todas as questões eram abertas, algumas perguntas eramrespondidas junto com outras, e, nesse caso, as questões, além de não seguiremuma ordem rígida, muitas vezes não necessitavam ser todas formuladas.


1043.3.4 - Coleta de dad<strong>os</strong><strong>As</strong> entrevistas em profundidade, conduzidas pela pesquisadora, foramrealizadas com duas pessoas em cada empresa, em geral, com o dirigente daempresa e com uma pessoa da administração intermediária, responsável pelasvendas externas ou da área de marketing.Apesar de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> cuidad<strong>os</strong> na confirmação das respectivas entrevistas,surgiram alguns percalç<strong>os</strong> ao longo das mesmas. Algumas, previamenteagendadas, não ocorreram na data programada por problemas d<strong>os</strong> respectiv<strong>os</strong>entrevistad<strong>os</strong>.No <strong>Brasil</strong>, em duas empresas, fez-se apenas uma entrevista na datapreviamente combinada e teve-se que retornar em outra data, agendada p<strong>os</strong>teriormente,devido à ocorrência de imprevist<strong>os</strong> com <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>. Mesmoassim, todas as entrevistas foram realizadas n<strong>os</strong> meses de outubro e<strong>no</strong>vembro de 2002, na sede das empresas, em Bento Gonçalves e em Garibaldi,exceto a do responsável pela exportação da Aurora, que aconteceu <strong>no</strong> seuescritório em Porto Alegre. Das 10 entrevistas realizadas, que duraram, emmédia, 50 minut<strong>os</strong>, <strong>no</strong>ve foram gravadas, e, em apenas uma, por solicitação doentrevistado, não foi utilizado o gravador, sendo as resp<strong>os</strong>tas a<strong>no</strong>tadas pelapesquisadora. Nesse caso, <strong>para</strong> evitar o erro de registro que “(...) surge devido aerr<strong>os</strong> na escuta, na interpretação e <strong>no</strong> registro das resp<strong>os</strong>tas dadas pel<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>”,segundo Malhotra (2001, p. 118), uma vez concluída essa entrevista,confirmaram-se algumas resp<strong>os</strong>tas com o interlocutor.Os entrevistad<strong>os</strong>, com <strong>os</strong> respectiv<strong>os</strong> carg<strong>os</strong> em cada empresa, são listad<strong>os</strong>abaixo:- na Vinícola Miolo Ltda., Adria<strong>no</strong> Miolo,Diretor Geral, e Carl<strong>os</strong> EduardoNogueira, Gerente de Marketing e de Exportação;- na Cooperativa Vinícola Aurora Ltda., Carl<strong>os</strong> Za<strong>no</strong>tto, Diretor Operacional,e Rafael Koff Acordi, International Trade Advisor ;- na Vinh<strong>os</strong> Salton S/A Indústria e Comércio, Antônio Augusto Salton, DiretorSuperintendente, e Daniel Salton, Diretor Comercial;- na Vinícola Cordelier Ltda., Lídio Ziero, Diretor Presidente, e Silvio B.Pasin, Diretor Comercial;- na Vinícola De Lantier, Adolfo Alberto Lona, Diretor, e Carl<strong>os</strong> Reni Zanus,Gerente de Operações.


105No Uruguai, nas empresas Juanicó e Bella Unión, apenas foram entrevistad<strong>os</strong><strong>os</strong> responsáveis pela área de comércio exter<strong>no</strong> 5 , já que <strong>os</strong> diretores geraisde ambas viajaram, de forma imprevista, exatamente na época das referidasentrevistas e só retornariam muito além. Ainda se tentou marcar uma <strong>no</strong>va data,com essas duas empresas, <strong>para</strong> o mês seguinte, mas, p<strong>os</strong>teriormente, foramcanceladas por falta de tempo d<strong>os</strong> referid<strong>os</strong> diretores gerais, uma vez que seaproximava a data da colheita da uva e, portanto, da elaboração d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> da<strong>no</strong>va safra. <strong>As</strong>sim, apesar de se ter realizado uma entrevista em cada umadessas empresas, elas não foram consideradas <strong>para</strong> fins do estudo de cas<strong>os</strong>.De qualquer forma, essas entrevistas serviram <strong>para</strong> melhor esclarecer pont<strong>os</strong> jáabordad<strong>os</strong> em outras empresas, dada a homogeneidade de grande parte dasresp<strong>os</strong>tas <strong>no</strong> Uruguai.<strong>As</strong> entrevistas, <strong>no</strong> Uruguai, foram realizadas na primeira quinzena dedezembro de 2002, nas sedes das vinícolas, <strong>no</strong> caso da Aria<strong>no</strong>, da T<strong>os</strong>canini eda Carrau, situadas, na mesma ordem, nas localidades de Las Piedras, CanelonChico, <strong>no</strong> Departamento de Canelones, e em Montevidéu. Já as entrevistas com<strong>os</strong> selecionad<strong>os</strong> da Irurtia foram realizadas <strong>no</strong> escritório de vendas, emMontevidéu. Todas as entrevistas duraram, em média, 55 minut<strong>os</strong> e foram gravadascom o consentimento d<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>.Os entrevistad<strong>os</strong>, com seus respectiv<strong>os</strong> carg<strong>os</strong>, por empresa, são apresentadoa seguir:- na Aria<strong>no</strong> Hn<strong>os</strong> S/A, Nelson Aria<strong>no</strong>, Diretor, e Elizabeth Aria<strong>no</strong>, Gerentede Marketing e de Exportação;- na Establecimient<strong>os</strong> Vitivinícolas Dante Irurtia S/A, Heinz Rippe, ExportManager, e Liliana Irurtia, Diretora Comercial;- na Juan T<strong>os</strong>canini e Hij<strong>os</strong>, Jorge T<strong>os</strong>canini, Diretor, e Andres T<strong>os</strong>canini,responsável pelo marketing e pela exportação;- na Vin<strong>os</strong> Fin<strong>os</strong> Juan Carrau S/A, Javier Carrau, Diretor, e María Etchamendi,Gerente de Administração.Normalmente, as entrevistas ocorreram em um clima ame<strong>no</strong>, sendo <strong>os</strong>entrevistad<strong>os</strong> muito disponíveis, e acredita-se que, parte disso, se deve à informaçãodo tempo necessário, pois muit<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> solicitaram que sóhouvesse interrupção da entrevista por problemas inadiáveis na empresa.Portanto, tod<strong>os</strong> pareceram estar bastante à vontade <strong>para</strong> falar livremente.5Na Viñed<strong>os</strong> y Bodegas Bella Unión S/A, foi entrevistado Daniel Bellesi, responsável pela áreade exportação <strong>no</strong> escritório, em Montevidéu, e, na Establecimiento Juanicó S/A, entrevistou--se Christian Wylie, Diretor de Exportação da vinícola, localizada em Juanicó, <strong>no</strong> Departamentode Canelones.


106A interação entre o pesquisador e <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> é essencial <strong>para</strong> o êxitoda pesquisa qualitativa. De acordo com Mynayo (1989, p. 170-171), o “(...)envolvimento do entrevistado com o entrevistador, em lugar de ser tomado comouma falha ou um risco comprometedor da objetividade, é pensado comocondição de aprofundamento de uma relação intersubjetiva”.Alguns d<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> eram muito objetiv<strong>os</strong> nas suas resp<strong>os</strong>tas,outr<strong>os</strong>, bastante prolix<strong>os</strong>. Muitas vezes, o entrevistado já respondia a váriasquestões simultaneamente, alterando a ordem das questões, tal como previstona literatura. Além disso, dadas as características de cada empresa, <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>focavam com maior intensidade alguns temas. Todavia, como, <strong>no</strong>decorrer das entrevistas, “(...) o entrevistador tem oportunidade <strong>para</strong> observar apessoa e a situação total a que responde” (Seltiz et al., 1974, p. 267), foip<strong>os</strong>sível olhar com atenção não apenas o que dizia o entrevistado, mas comodizia e verificar as afirmações contraditórias ou inconsistentes. Nesses cas<strong>os</strong>,esclareciment<strong>os</strong> adicionais sempre foram solicitad<strong>os</strong>.Em todas as ocasiões p<strong>os</strong>síveis, as instalações das vinícolas selecionadasforam visitadas, sendo que, algumas vezes, com um d<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> da empresa,por sugestão deste. Nesses moment<strong>os</strong>, de maneira informal, procurou--se, ainda, complementar alguns aspect<strong>os</strong> que não foram esgotad<strong>os</strong> durante aentrevista. Essas visitas, aliadas a conversas informais com funcionári<strong>os</strong>, p<strong>os</strong>sibilitaramfazer algumas observações diretas nas empresas selecionadas, asquais serviram como fontes de evidência adicionais <strong>no</strong> estudo de caso.Além disso, sempre que p<strong>os</strong>sível, tratou-se de obter folders ou revistas dasrespectivas vinícolas junto a<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, <strong>para</strong> melhor compreensão detod<strong>os</strong> <strong>os</strong> aspect<strong>os</strong> das empresas.De p<strong>os</strong>se das entrevistas, passou-se à sua transcrição, visando não perdernenhuma informação obtida. Também foram feitas algumas a<strong>no</strong>taçõespessoais quanto à empresa, que auxiliaram depois na análise das entrevistas.3.3.5 - Análise das entrevistasFoi realizada uma análise de conteúdo, da mesma forma que a já exp<strong>os</strong>tana parte referente à fase pre<strong>para</strong>tória. <strong>As</strong> entrevistas com <strong>os</strong> dois element<strong>os</strong> decada empresa foram transcritas das gravações, o que gerou um material ricoem informação e volum<strong>os</strong>o, tornando-se necessário prepará-lo <strong>para</strong> as fasesp<strong>os</strong>teriores da análise. A fase de pré-análise foi bastante facilitada, uma vezque, tendo realizado as entrevistas pessoalmente, já havia total familiarizaçãocom o conteúdo das entrevistas.


107Segundo Richardson (1989), a análise em base temática tem sido amplamenteutilizada em entrevistas com perguntas abertas, em especial <strong>para</strong> estud<strong>os</strong>de opiniões. Nesse caso, <strong>os</strong> divers<strong>os</strong> element<strong>os</strong> do texto são classificad<strong>os</strong>em forma de agrupament<strong>os</strong> analógic<strong>os</strong>.Para evitar a fragmentação das informações, tendo em vista <strong>os</strong> long<strong>os</strong>depoiment<strong>os</strong> obtid<strong>os</strong>, as unidades de análises, que foram predefinidas, tiveramcomo característica a sua abrangência, conforme recomendado por Moraes(1998). Isso facilitou a retirada de partes do conteúdo d<strong>os</strong> relat<strong>os</strong> d<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>,com<strong>para</strong>ndo-<strong>os</strong> por empresa e entre estas. Do cruzamento de todas asentrevistas, puderam-se destacar as semelhanças e as divergências, bem comoas singularidades, chegando-se à identificação de grandes similaridades e dealgumas diferenças entre as mesmas.Foram utilizad<strong>os</strong> dad<strong>os</strong> descritiv<strong>os</strong>, com freqüentes citações literais d<strong>os</strong>entrevistad<strong>os</strong>, <strong>para</strong> dar maior ênfase ao que se afirmava, de acordo com o sugeridopor Moraes (1999). Ademais, sempre que p<strong>os</strong>sível, colocaram-se percepçõesantagônicas, buscando-se explicitar <strong>no</strong>vas e diferentes compreensões <strong>para</strong>o mesma tema.Para poder apresentar uma síntese das entrevistas, o que ocorre <strong>no</strong>Capítulo 5 desta tese, as unidades de significado foram agrupadas em unidadestemáticas, de tal forma que era sempre p<strong>os</strong>sível retornar a<strong>os</strong> text<strong>os</strong> originaisquando necessário. Também se conservaram as gravações <strong>para</strong> p<strong>os</strong>síveisesclareciment<strong>os</strong> durante as análises.


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1094 - RESULTADOS DA FASEPREPARATÓRIATendo em vista a necessidade de entender a indústria de vinh<strong>os</strong>, em especialas empresas de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, realizaram-se, como já explicitado <strong>no</strong> capítul<strong>os</strong>obre o método, uma ampla pesquisa de dad<strong>os</strong> secundári<strong>os</strong> e várias entrevistascom expert<strong>os</strong> selecionad<strong>os</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong> Uruguai.A pesquisa de dad<strong>os</strong> secundári<strong>os</strong> compreendeu o levantamento deinformações e de dad<strong>os</strong> estatístic<strong>os</strong>, bem como d<strong>os</strong> principais estud<strong>os</strong> epesquisas realizad<strong>os</strong> na área vinícola de amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países. Ela subsidiou asentrevistas com <strong>os</strong> expert<strong>os</strong> e também as entrevistas qualitativas realizadasp<strong>os</strong>teriormente nas vinícolas selecionadas, à medida que propiciou oentendimento de alguns conceit<strong>os</strong> básic<strong>os</strong> e de peculiaridades do segmento devinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, além de uma visão histórica e socioeconômica deste.A pesquisa junto a<strong>os</strong> expert<strong>os</strong>, além de p<strong>os</strong>sibilitar a seleção das vinícolase a elaboração do roteiro da pesquisa qualitativa — seus principais objetiv<strong>os</strong>—, esclareceu alguns aspect<strong>os</strong> relevantes das empresas e aprofundou asinformações obtidas na pesquisa de dad<strong>os</strong> secundári<strong>os</strong>.De fato, as duas pesquisas estão inter-relacionadas, sendo que, depoisdas entrevistas, <strong>no</strong>vas pesquisas foram realizadas, <strong>para</strong> aprofundar aspect<strong>os</strong>levantad<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> especialistas, muitas vezes junto às próprias fontes deinformação, como Uvibra, Aprovale, Inavi e ABE.A seguir, são apresentad<strong>os</strong> <strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> deste capítulo, subdividid<strong>os</strong> emtrês itens. O primeiro trata da indústria de vinh<strong>os</strong> e analisa as principaiscaracterísticas do produto, sua evolução histórica <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong> Uruguai e, porfim, o mercado de vinh<strong>os</strong>, em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países, n<strong>os</strong> últim<strong>os</strong> an<strong>os</strong>. O segundoitem é uma análise das entrevistas exploratórias junto a<strong>os</strong> expert<strong>os</strong>, onde seapresentam <strong>os</strong> principais resultad<strong>os</strong>, tendo por base as afirmações destes. E oterceiro realiza algumas reflexões, tendo em vista o resultado das duas pesquisas,uma vez que elas são complementares.4.1 - Os vinh<strong>os</strong>: uma visão geralEste item tem por objetivo subsidiar a pesquisa realizada junto às empresase abrange uma visão global dessa indústria, destacando, basicamente, o


110segmento de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, que é o objeto de análise p<strong>os</strong>terior. Ele está subdividoem três subitens.O primeiro faz um levantamento das principais características d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>,em especial d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, destacando a existência de uma regulamentação<strong>no</strong> setor vitivinícola em níveis mundial e regional.O segundo apresenta um breve retr<strong>os</strong>pecto histórico d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>, desde asua origem até a sua chegada <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong> Uruguai, além de aspect<strong>os</strong> históric<strong>os</strong>determinantes, nesses países, do desenvolvimento da indústria vinícola a partirde fins do século XIX.Já o terceiro aborda o mercado de vinh<strong>os</strong>, com ênfase <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong> Uruguai,basicamente a partir de 1990 até a atualidade, permitindo uma visão maisabrangente do setor e revelando algumas peculiaridades nacionais.4.1.1 - O vinho fi<strong>no</strong> e suas característicasO vinho é o resultado da fermentação alcoólica da uva ou do m<strong>os</strong>to da uva,obtido pelo esmagamento ou prensagem da uva. P<strong>os</strong>sui característicasorga<strong>no</strong>lépticas, ou seja, propriedades resultantes de fatores naturais e human<strong>os</strong>,tanto <strong>no</strong> que se refere à produção da uva como à sua elaboração e a seuenvelhecimento. É uma bebida que tem um tempo de vida, e sua qualidadedepende da matéria-prima e da tec<strong>no</strong>logia de elaboração, bem como d<strong>os</strong> cuidad<strong>os</strong>de conservação adotad<strong>os</strong>.Em 1996, foi acordado o Regulamento Vitivinícola do Merc<strong>os</strong>ul, que tempor objetivo harmonizar as legislações e as condições de circulação d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong>vitivinícolas entre <strong>os</strong> Estad<strong>os</strong>-parte e d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> provenientes de outrasregiões ou países que ingressem em qualquer um d<strong>os</strong> países-membr<strong>os</strong>, baseadon<strong>os</strong> princípi<strong>os</strong> da Organização Internacional da Uva e do Vinho. <strong>As</strong> legislaçõesvitivinícolas de cada país mantêm sua plena vigência dentro d<strong>os</strong> mesm<strong>os</strong>,de modo a preservar sua identidade vitivinícola <strong>no</strong> marco do Merc<strong>os</strong>ul (Merc<strong>os</strong>ur,1996).De acordo com esse regulamento, <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> são classificad<strong>os</strong> em de mesa,leves, fin<strong>os</strong>, espumantes naturais, frisantes, gaseificad<strong>os</strong>, licor<strong>os</strong><strong>os</strong> e comp<strong>os</strong>t<strong>os</strong>,cada um d<strong>os</strong> quais com suas características peculiares. O vinho fi<strong>no</strong> caracteriza--se por ter um conteúdo alcoólico que varia de 8,6% a 14,0% em volume,proveniente exclusivamente de variedades Vitis vinifera, elaborado medianteprocess<strong>os</strong> tec<strong>no</strong>lógic<strong>os</strong> adequad<strong>os</strong> que assegurem a otimização de suascaracterísticas sensoriais. No Uruguai, o vinho fi<strong>no</strong> recebe a de<strong>no</strong>minação Vinhode Qualidade Preferente (Merc<strong>os</strong>ur,1996).


111Entretanto, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> são classificad<strong>os</strong> — segundo a Lei nº7.687 (<strong>Brasil</strong>, 1988), uma vez que o País ainda não internalizou o Regulamentodo Merc<strong>os</strong>ul, 1 ao contrário do Uruguai, que o segue integralmente — em:a) de mesa (vinho frisante ou gaseificado; vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> ou <strong>no</strong>bres; vinh<strong>os</strong>especiais; e vinh<strong>os</strong> comuns ou de consumo corrente);b) leve;c) champanha ou espumante;d) licor<strong>os</strong>o;e) comp<strong>os</strong>to.Tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> são feit<strong>os</strong> com Vitis vinifera, que é o <strong>no</strong>me botânicodas uvas de origem européia que apresentam um conjunto de qualidadesorga<strong>no</strong>lépticas próprias. Mas nem tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> produzid<strong>os</strong> com as castaseuropéias dão origem a vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>. No Uruguai, assim como em outr<strong>os</strong> países,parte d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> comuns também são produzid<strong>os</strong> com uvas européias. Nessecaso, <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> (VCP), além de serem elaborad<strong>os</strong> a partir de Vitis viniferade reconhecida qualidade e<strong>no</strong>lógica e aceitas pelo Inavi, devem corresponder adeterminadas qualidades analíticas e orga<strong>no</strong>lépticas, verificadas por esse instituto,e, em suas garrafas, são colad<strong>os</strong> sel<strong>os</strong> onde consta a de<strong>no</strong>minação VCP. ODecreto nº 283/993, de 16 de junho de 1993, estabelece as condições deelaboração, apresentação e circulação d<strong>os</strong> VCP (Uruguay, 1993).Os vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, dependendo do número de variedades utilizadas, podemser varietais ou de corte, também de<strong>no</strong>minad<strong>os</strong> assemblage. Os vinh<strong>os</strong> elaborad<strong>os</strong>a partir de duas ou mais variedades de uvas de<strong>no</strong>minam-se vinh<strong>os</strong> de corte, e ovarietal é o vinho que é feito com uma única variedade de uva ou produzido com,<strong>no</strong> mínimo, um percentual desta, que varia de um país <strong>para</strong> outro, sendo de 60%e de 80%, respectivamente, segundo as legislações brasileira e uruguaia. Essesvinh<strong>os</strong> trazem <strong>no</strong> rótulo a indicação da espécie que predomina. Contudo algumasvinícolas adotam critéri<strong>os</strong> mais rígid<strong>os</strong> <strong>para</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> varietais, chegando aproduzi-l<strong>os</strong> com até 100% da espécie indicada <strong>no</strong> rótulo.Os vinh<strong>os</strong> podem ser classificad<strong>os</strong>, quanto à cor, em tinto, r<strong>os</strong>ado ou r<strong>os</strong>ée branco. Os vinh<strong>os</strong> tint<strong>os</strong> são obtid<strong>os</strong> só de uvas tintas, que são espremidas ecolocadas <strong>para</strong> fermentar junto com as cascas, as quais p<strong>os</strong>suem pigment<strong>os</strong>vermelh<strong>os</strong> que passam ao suco. Os vinh<strong>os</strong> r<strong>os</strong>és são obtid<strong>os</strong> de uvas tintascolocadas <strong>para</strong> fermentar, retirando-se as cascas quando o suco atinge atonalidade r<strong>os</strong>a. Já <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> branc<strong>os</strong> podem ser feit<strong>os</strong> com uvas brancas ou1Para entrarem em vigor, <strong>os</strong> tratad<strong>os</strong> assinad<strong>os</strong> devem ser ratificad<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> respectiv<strong>os</strong>parlament<strong>os</strong> nacionais. Para maiores detalhes, ver Teruchkin (1999), Teruchkin e Nique(2001).


112com o suco obtido da prensagem de uvas tintas e levado <strong>para</strong> fermentar sem ascascas.Em relação a<strong>os</strong> teores de açúcar, <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> classificam-se, segundoo Regulamento Vitivinícola do Merc<strong>os</strong>ul, em sec<strong>os</strong> (até 4g de açúcar por litro),demi-sec, meio seco ou meio doce (mais de 4 até 25g de açúcar) e suave oudoce (superior a 25g e até 80g de açúcar por litro). Já a lei do vinho brasileirasubdivide-<strong>os</strong> em brut; extra-seco; seco, ou sec ou dry; meio seco; meio doce oudemi-sec; suave; e doce.Quando as condições climáticas não p<strong>os</strong>sibilitam a formação de açúcarsuficiente na uva, é permitida a sua adição ao m<strong>os</strong>to, <strong>para</strong> elevar o teor alcoólicodo vinho. Essa prática, conhecida como "chaptalização", é usada <strong>para</strong> corrigireventuais deficiências <strong>no</strong> conteúdo de açúcar e está contemplada <strong>no</strong> RegulamentoVitivinícola do Merc<strong>os</strong>ul, mas não é permitida na Argentina.A qualidade do vinho depende, e muito, da qualidade da uva utilizada comomatéria-prima, que está diretamente relacionada às condições do solo e doclima, dentre outras. Em geral, a qualidade da matéria-prima é, de certa forma,inversa à sua quantidade na parreira, pois as que produzem muito não permitem,muitas vezes, a intensidade da cor da uva necessária a um bom vinho, sendoimportante as podas. Então, o custo de produzir a uva européia, <strong>para</strong> ser usadana elaboração do vinho fi<strong>no</strong>, é mais elevado, mas este é comercializado a ummaior preço.Para <strong>os</strong> empresári<strong>os</strong> do vinho, a busca simultânea da qualidade e de maiorquantidade de uvas constitui-se em um <strong>para</strong>doxo, o qual é intensificado emregiões onde o custo da terra é alto. Quanto mais cara a terra, o cultivo da uvatorna-se mais oner<strong>os</strong>o, o que aumenta o incentivo <strong>para</strong> obter maiores quantidadespor hectare, <strong>para</strong> cobrir <strong>os</strong> cust<strong>os</strong>. Mas, <strong>para</strong> um bom vinho, é preciso me<strong>no</strong>rprodução por hectare; <strong>os</strong> melhores vinh<strong>os</strong>, feit<strong>os</strong> das melhores uvas, sãonecessariamente mais car<strong>os</strong> (Mcleod, 1998).A qualidade do vinho também está diretamente relacionada a<strong>os</strong> avanç<strong>os</strong>e<strong>no</strong>lógic<strong>os</strong> e tec<strong>no</strong>lógic<strong>os</strong> de produção, processamento e armazenamento doproduto. Várias vinícolas têm incorporado o uso de máquinas sofisticadas, taiscomo <strong>no</strong>v<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> de filtr<strong>os</strong>, de engarrafadeiras, de tanques e de barricas, dentreoutras. O uso de tanques de aço i<strong>no</strong>xidável, ao invés de tonéis de madeira,permite o controle artificial da temperatura de fermentação, fazendo com que aprodução deixe de ser tão dependente das condições climáticas.Todavia existem aqueles conheciment<strong>os</strong> tradicionais acumulad<strong>os</strong> etransmitid<strong>os</strong> de geração em geração, que podem p<strong>os</strong>sibilitar produt<strong>os</strong>diferenciad<strong>os</strong>, onde a conjugação do moder<strong>no</strong> e do tradicional tem resultado emvinh<strong>os</strong> de qualidade, em geral nas pequenas vinícolas.


113A conservação d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> é vital <strong>para</strong> que se mantenha a qualidade. Osvinh<strong>os</strong> branc<strong>os</strong> e <strong>os</strong> r<strong>os</strong>ad<strong>os</strong> são vinh<strong>os</strong> jovens, que não requerem envelhecimento,sendo comercializad<strong>os</strong> pouco depois de sua elaboração. Já <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> tint<strong>os</strong>podem, ou não, requerer um período de amadurecimento em barricas de carvalhoantes de serem engarrafad<strong>os</strong>, bem como a permanência de algum tempo emrepouso na adega da vinícola, em temperatura adequada, antes de seremcomercializad<strong>os</strong>.Estud<strong>os</strong> desenvolvid<strong>os</strong> na área médica têm m<strong>os</strong>trado <strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> doconsumo moderado do vinho à saúde humana, afirmando que ele é a bebidaalcóolica mais eficaz na redução d<strong>os</strong> risc<strong>os</strong> de mortalidade por doenças docoração e por derrame. Ele é benéfico <strong>para</strong> a saúde, devido à presença de polifenóisnas cascas e nas sementes de uvas tintas, que agem como antioxidantes,protegendo especialmente as células da oxidação, causadora do envelhecimentoe de doenças. Além disso, pessoas que bebem uma taça de vinho por dia têmuma redução de 59% <strong>no</strong> risco de formação da primeira pedra n<strong>os</strong> rins, e pesquisasna França sugerem que o consumo moderado de vinho pode proteger contra omal de Alzheimer e a demência (Federico, 2002). Esses estud<strong>os</strong> têm estimuladoo consumo de vinh<strong>os</strong>, particularmente o d<strong>os</strong> tint<strong>os</strong>.4.1.2 - A evolução da indústria do vinho<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong> Uruguai: brevehistóricoApresenta-se, neste item, a evolução da produção de vinh<strong>os</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong>Uruguai, com o objetivo de m<strong>os</strong>trar que fatores históric<strong>os</strong>, culturais e econômic<strong>os</strong>foram decisiv<strong>os</strong> <strong>para</strong> a formação da indústria vinícola nesses países. E <strong>para</strong>compreender a situação atual, é importante conhecer, em linhas gerais, a suaevolução.Cabe destacar que a expansão da vitivinicultura <strong>no</strong> mundo está intimamenteligada a<strong>os</strong> flux<strong>os</strong> migratóri<strong>os</strong> e a<strong>os</strong> process<strong>os</strong> de fixação das populações. E,em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países, a imigração européia foi importante fator de introdução daprodução de vinh<strong>os</strong>: primeiro, <strong>para</strong> consumo doméstico, tendo em vista <strong>os</strong> hábit<strong>os</strong>d<strong>os</strong> imigrantes, e, p<strong>os</strong>teriormente, como atividade industrial.Destaca-se também a importância do tamanho do mercado inter<strong>no</strong> comofator de atração de empresas multinacionais produtoras de vinh<strong>os</strong>. Elas seinstalaram <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e realizaram parcerias com empresas nacionais antes mesmoda intensificação da abertura d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, o que não ocorreu <strong>no</strong> Uruguai. Por


114último, salienta-se, ao longo da história da vinicultura nesses dois países, orelevante papel das instituições vitivinícolas <strong>para</strong> o desenvolvimento do setor, emespecial <strong>no</strong> Uruguai. Essa visão histórica e institucional subsidia o entendimentodo setor vinícola na atualidade, nesses dois países, sendo necessária <strong>para</strong> acompreensão da pesquisa realizada junto às vinícolas.4.1.2.1 - Os seus primórdi<strong>os</strong>Existem inúmeras lendas sobre o surgimento do vinho. No VelhoTestamento, o vinho é citado na passagem do Dilúvio e da Arca de Noé, ondeNoé, após desembarcar <strong>os</strong> animais, teria plantado uma videira, feito vinho e seembebedado. Desde a Antigüidade, a história do vinho encontra-se ligada àmitologia grega, onde ele aparece nas narrativas de Homero sobre a Guerra deTróia. Durante o século VII a.C., o culto a Dionísio, deus do vinho, era dedicadoà celebração do vinho (Johnson, 1999b).Supõe-se que <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> provavelmente tenham se formado poracaso, através da fermentação espontânea de uvas amassadas, deixadas emum recipiente qualquer, pela ação de leveduras presentes nas cascas das frutas.Só com a fixação do homem à terra, as videiras passaram a ser plantadas.Pesquisas arqueológicas sugerem que as videiras começaram a sercultivadas <strong>no</strong> Cáucaso e, pouco depois, na Mesopotâmia, por volta de 6000a.C., e <strong>os</strong> mais antig<strong>os</strong> vestígi<strong>os</strong> de vinho datam do a<strong>no</strong> 3500 a.C. e foramlocalizad<strong>os</strong> <strong>no</strong> atual Irã. No Egito, as evidências mais antigas são do a<strong>no</strong> 3000a.C. e, na Grécia, em tor<strong>no</strong> de 2000 a.C. (Torres, 2002).Os greg<strong>os</strong> destacaram as propriedades medicinais do vinho, as quais foramreconhecidas por Hipócrates (460-370 a.C.) e são citadas em text<strong>os</strong> de históriada medicina. Os egípci<strong>os</strong>, por sua vez, registraram a vinificação com detalhes(Johnson, 1999b).Da Grécia, o cultivo da vinha difundiu-se pelo Mediterrâneo, chegando a<strong>os</strong>ul da Itália a partir de 800 a.C. O Império Roma<strong>no</strong> espalhou o cultivo por tod<strong>os</strong><strong>os</strong> seus domíni<strong>os</strong>, expandindo a vitivinicultura pela Europa Ocidental. Com asinvasões bárbaras e a queda do Império Roma<strong>no</strong>, a vitivinicultura foi preservadae desenvolvida n<strong>os</strong> m<strong>os</strong>teir<strong>os</strong> e nas abadias. E a Igreja Católica, na Idade Média,desempenhou importante papel <strong>no</strong> desenvolvimento e <strong>no</strong> aprimoramento d<strong>os</strong>vinhed<strong>os</strong> e do vinho, que se espalharam por toda a Europa (Johnson,1999b).Com as expedições colonizadoras, as vinhas da Europa chegaram a outr<strong>os</strong>continentes. Foi Cristóvão Colombo quem trouxe a uva <strong>para</strong> o continenteamerica<strong>no</strong> na sua segunda viagem às Antilhas, em 1493. O cultivo da uva,p<strong>os</strong>teriormente, espalhou-se <strong>para</strong> o México e o sul d<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>, chegando


115às colônias espanholas da América do Sul, em especial, à Argentina e ao Chile.Só mais tarde, foi introduzido <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong> Uruguai.Apesar de consideravelmente difundido, o processo de produção d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>só foi explicado <strong>no</strong> início do século XIX, com as pesquisas do francês LuísPasteur, que comprovou que a fermentação era provocada pelas leveduras, quesão microorganism<strong>os</strong> de origem vegetal. Essa descoberta foi fundamental <strong>para</strong>o desenvolvimento da e<strong>no</strong>logia moderna, que, aliada a <strong>no</strong>v<strong>os</strong> desenvolviment<strong>os</strong>tec<strong>no</strong>lógic<strong>os</strong>, <strong>no</strong> século XX, contribuiu <strong>para</strong> a melhoria da qualidade do vinho.Ainda na segunda metade do século XIX, em especial na década de 70,ocorreu na Europa uma doença <strong>para</strong>sitária nas videiras, provocada pelo insetoPhylloxera vastatrix, cuja larva ataca as raízes, dizimando praticamente todasas videiras européias (Johnson,1999b). Essa mesma doença também extermi<strong>no</strong>uparte d<strong>os</strong> parreirais da América do Sul, como <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong> Uruguai.4.1.2.2 - A história do vinho <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><strong>As</strong> videiras européias <strong>para</strong> a produção de vinho foram trazidas <strong>para</strong> o <strong>Brasil</strong>da Ilha da Madeira, em 1532, pelo donatário português Martim Afonso de Souza.Nessa expedição, encontrava-se Brás Cubas, que iniciou a produção de vinhoem 1551, <strong>no</strong> atual Estado de São Paulo.No século XVII, a plantação de videiras européias foi introduzida pel<strong>os</strong>jesuítas na região das Missões, <strong>no</strong> sul do <strong>Brasil</strong>, sendo extinta com a destruiçãodas reduções jesuíticas, na década de 30 desse mesmo século (Vinho, 2001).Mas a dificuldade de adaptação de variedades viníferas impediu a disseminaçãoda vitivinicultura <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Como decorrência, n<strong>os</strong> dois sécul<strong>os</strong> seguintes, foramintroduzidas as castas americanas. No último quarto do século XIX, com aintensificação da imigração, principalmente italiana, a vinicultura desenvolveu--se <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, com destaque <strong>para</strong> o Rio Grande do Sul.4.1.2.2.1 - A produção de vinho <strong>no</strong> Rio Grande do SulO cultivo das videiras começou <strong>no</strong> Estado, <strong>no</strong> século XVII, com <strong>os</strong> jesuítas,e foi retomado em 1742, com a chegada d<strong>os</strong> açorian<strong>os</strong> e d<strong>os</strong> madeirenses, quese fixaram em Rio Grande e em Porto Alegre. A chegada d<strong>os</strong> imigrantes alemães,em 1824, com <strong>no</strong>vas cepas de videiras européias, deu um <strong>no</strong>vo impulso àprodução. Entretanto, só em 1840, quando foi introduzida <strong>no</strong> Rio Grande do Sula videira americana Isabel, a produção de vinho, inicialmente <strong>para</strong> consumo


116doméstico, espalhou-se rapidamente <strong>no</strong> Estado. A uva americana era mais resistentea doenças e a pragas e facilmente adaptável ao clima e ao solo daregião.Com a chegada d<strong>os</strong> imigrantes italian<strong>os</strong> ao Rio Grande do Sul, em 1875,que trouxeram consigo mudas de videiras européias <strong>para</strong> produzirem o vinho,formou-se a indústria do vinho brasileira, tendo por base o solo gaúcho. Contudoas uvas <strong>no</strong>bres foram, a<strong>os</strong> pouc<strong>os</strong>, sendo dizimadas por doenças causadas porfung<strong>os</strong>. Foram, então, obtidas <strong>no</strong>vas mudas, não mais as européias, mas as davariedade Isabel, na zona de colonização alemã, <strong>no</strong> Vale do Rio Caí. Essasmudas, que eram muito mais resistentes, foram levadas às colônias italianas,situadas na Enc<strong>os</strong>ta Superior da Serra do Nordeste do Estado do Rio Grande doSul (Vinho, 2001). Com o incremento da produção, parte desta passou aser comercializada <strong>no</strong> Estado e, p<strong>os</strong>teriormente, em São Paulo e <strong>no</strong> Rio deJaneiro.Em 1900, consciente de que a uva Isabel não era a mais adequada <strong>para</strong> aprodução do vinho, pois gera um produto de me<strong>no</strong>r qualidade, o Gover<strong>no</strong> doEstado fundou, em Porto Alegre, a Estação Agronômica. E, <strong>no</strong>vamente, foramtrazidas da Europa diversas castas viníferas, as quais foram disponibilizadas edistribuídas a<strong>os</strong> viticultores da região de colonização italiana, onde atualmentese situam <strong>os</strong> Municípi<strong>os</strong> de Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Garibaldi. Portanto,a serra gaúcha tor<strong>no</strong>u-se a mais importante região vinícola do <strong>Brasil</strong> por razõeshistóricas.Em 1907, ainda objetivando aumentar e melhorar a produção de vinho, oGover<strong>no</strong> trouxe dois enólog<strong>os</strong> italian<strong>os</strong> <strong>para</strong> realizar a divulgação d<strong>os</strong> métod<strong>os</strong>mais modern<strong>os</strong> de cultivo e de vinificação. A partir de então, através de iniciativasgovernamentais, como a criação de estações experimentais de viticultura e delaboratóri<strong>os</strong> de e<strong>no</strong>logia, e do esforço privado, a produção começou a crescer,tendo surgido várias vinícolas, como a Dreher e a Salton, em 1910, e oEstabelecimento Vinícola Armando Peterlongo S/A, 2 em 1915 (Vinho, 2001).Em 1928, com <strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> de regular a produção e de melhorar a qualidadeda uva, foi criado o Sindicato Vitivinícola, que se tor<strong>no</strong>u um canal decomercialização do vinho gaúcho. Em 1936, esse sindicato foi substituído peloInstituto Rio-Grandense do Vinho.Ainda na primeira metade do século XX, várias cooperativas produtoras devinh<strong>os</strong> foram formadas com estímulo governamental, como a Companhia Vinícola2A Salton e a Peterlongo continuam em operação, sendo que esta última, produtora basicamentede espumantes, devido a problemas da empresa, suspendeu suas atividades durantealgum tempo.


117Rio-Grandense S/A (1929), a Cooperativa Vinícola Garibaldi e a Cooperativa VinícolaAurora (1931). Cabe destacar a Vinícola Rio-Grandense S/A 3 , por terlançado <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> varietais brasileir<strong>os</strong>, com a marca Granja União, e pela suaimportante representatividade na produção de vinh<strong>os</strong>, tendo chegado a representar,n<strong>os</strong> an<strong>os</strong> de 1940 a 1950, um terço da produção do setor (Jalfim, 1991). Ela foidissolvida na década de 90, sendo que todas as suas marcas foram vendidas<strong>para</strong> outra vinícola, muitas das quais continuam <strong>no</strong> mercado. <strong>As</strong> outras duascooperativas permanecem em funcionamento, sendo que a Aurora é, hoje, amaior cooperativa vinícola brasileira.A partir da década de 40, as vinícolas gaúchas realizaram algumasexportações esporádicas <strong>para</strong> <strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>, como a feita pela Peterlongo,em 1942, e <strong>para</strong> a França, em 1958, como as realizadas pela Cooperativa VinícolaAurora e pela Federação das Cooperativas de Vinho do Estado.Além disso, a partir da década de 50, algumas empresas brasileirasrealizaram acord<strong>os</strong> contratuais com empresas estrangeiras de vinh<strong>os</strong>. Dentreesses, cabe realçar <strong>os</strong> contrat<strong>os</strong> de produção e de distribuição, como <strong>os</strong>realizad<strong>os</strong> entre a Companhia Vinícola Rio-Grandense e a multinacional italianaMartini & R<strong>os</strong>si 4 entre 1951 e 1984. No início, a Vinícola Rio-Grandense forneciavinho-base <strong>para</strong> a multinacional produzir o vermute e, a partir de 1969, industrializavae engarrafava o vinho <strong>para</strong> a Martini & R<strong>os</strong>si, que o rotulava com marcaprópria, Chateau Duvalier, e o comercializava (Jalfim, 1991). A Cooperativa VinícolaAurora também realizou um acordo comercial, a partir de 1962, com a BernardTaillan Importadora (empresa francesa), o qual foi interrompido em 1969, quandoa Aurora comprou a marca Bernard Taillan em troca de sald<strong>os</strong> de dívida daempresa. Ainda na década de 60, a Aurora passou a engarrafar vinh<strong>os</strong> <strong>para</strong>outras empresas. Em 1973, realizou uma associação com a multinacionalSeagram <strong>para</strong> lançamento da marca Forestier, vinho que era engarrafado naCooperativa, e começou a exportar, <strong>para</strong> <strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>, vinh<strong>os</strong> comuns,varietais e suc<strong>os</strong> concentrad<strong>os</strong> (Jalfim, 1993). Essas alianças p<strong>os</strong>sibilitaram<strong>no</strong>v<strong>os</strong> conheciment<strong>os</strong> e maior crescimento da empresa nacional e atraíram ainstalação de algumas empresas multinacionais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.Mesmo assim, até a década de 60, a produção de vinho p<strong>os</strong>suía um padrãotec<strong>no</strong>lógico relativamente baixo. Mas, na década de 70, houve um importante3Essa vinícola foi fundada sob o <strong>no</strong>me de Sociedade Vitivinícola Rio-Grandense Ltda. Passoupor várias de<strong>no</strong>minações até 1964, quando da mudança de sua razão social <strong>para</strong> S/A.P<strong>os</strong>suía uma área de 150 hectares com parreiras de uvas viníferas, que lhe p<strong>os</strong>sibilitoucomercializar vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> ainda na década de 30 (Jalfim, 1991).4Essa empresa, p<strong>os</strong>teriormente, realizou uma fusão, em nível internacional, com a Bacardi,dando origem à Bacardi Martini, que permanece <strong>no</strong> mercado brasileiro.


118marco na evolução da vinicultura brasileira, com a implantação de empresasmultinacionais na serra gaúcha, como a Martini & R<strong>os</strong>si, a Möet & Chandon,que, em 1973, instalou a Chandon do <strong>Brasil</strong>, a Maison Forestier, a Heublein e aNational Distiller, que se instalou na zona da Campanha do Estado (Vinho, 2001).Nessa época, caracterizada como um período ainda de substituição deimportações, o fluxo de investimento direto das empresas multinacionais foimotivado, em grande parte, pela necessidade de superar as elevadas barreirascontra as importações. Essas empresas produziam basicamente <strong>para</strong> o mercadodoméstico, e suas ligações com o exterior restringiam-se à importação de bensde capital (máquinas e equipament<strong>os</strong>) e de alguns componentes sem similaresnacional.Os investiment<strong>os</strong> das multinacionais na produção de vinh<strong>os</strong> foramestimulad<strong>os</strong>, em grande parte, pelas elevadas taxas de crescimento do mercadodoméstico brasileiro, pois <strong>os</strong> an<strong>os</strong> 70 caracterizaram-se por apresentar <strong>os</strong> maioresacréscim<strong>os</strong> do produto brasileiro. O incremento do poder aquisitivo das classesmédias urbanas p<strong>os</strong>sibilitou a criação de um mercado doméstico <strong>para</strong>consumidores de vinh<strong>os</strong> nacionais de melhor qualidade, em substituição aoproduto importado, com elevada alíquota de importação, ou por agregar <strong>no</strong>v<strong>os</strong>consumidores.<strong>As</strong> empresas multinacionais implementaram um programa de estímulo àmodificação do sistema de plantio e fomentaram a produção de cepas viníferas,contribuindo <strong>para</strong> a melhoria da matéria-prima. Além disso, trouxeram process<strong>os</strong>de vinificação mais modern<strong>os</strong>. Como decorrência, o pa<strong>no</strong>rama competitivo daindústria de vinh<strong>os</strong> brasileira alterou-se, pela modernização tec<strong>no</strong>lógica egerencial e pelo incremento da participação d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> na produção vinícolanacional. O desenvolvimento tec<strong>no</strong>lógico do processo de elaboração de vinh<strong>os</strong>estimulou as empresas nacionais a se atualizarem, e muitas delas passaram aabsorver as mudanças tec<strong>no</strong>lógicas introduzidas. Em 1970, a produção de vinh<strong>os</strong>fin<strong>os</strong> já alcançava 23 milhões de litr<strong>os</strong>.A década de 70 também se destacou por abrir uma <strong>no</strong>va frente <strong>para</strong> avitivinicultura brasileira na região da fronteira do Rio Grande do Sul 5 e por darinício à exploração das potencialidades da região do Vale do São Francisco,com a introdução de variedades de mesa. Mas, só há pouc<strong>os</strong> an<strong>os</strong>, foramintroduzidas as variedades viníferas. Nessas regiões, o perfil da propriedade (em5Em 1974, a vinícola Almadén, pertencente à National Distiller (EUA), foi a pioneira ao plantaruvas européias na Campanha, região de fronteira do RS, que, devido à sua topografia, épropícia <strong>para</strong> a mecanização. A Almadén foi adquirida pela Seagram do <strong>Brasil</strong> em 1990. Em2001, a Seagram foi adquirida pela Per<strong>no</strong>d Ricard em nível internacional, mas continuaproduzindo vinh<strong>os</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.


119grandes áreas e com uso intensivo de capital, que p<strong>os</strong>sibilita a mecanização)difere do existente na serra gaúcha.Pode-se dizer, então, que, na indústria vinícola brasileira, houve três fases:a primeira, das empresas familiares; a segunda, das cooperativas; e a terceira,da entrada das multinacionais e da ampliação da fronteira vitícola e vinícola, queresultaram em algumas mudanças significativas <strong>no</strong> processo produtivo, desde amatéria-prima até o produto final, melhorando a qualidade deste.Devido à formação histórica, as principais vinícolas brasileiras produtorasde vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> situam-se <strong>no</strong> Estado do Rio Grande do Sul, em especial naSerra gaúcha e também na zona da Campanha. Mas a expansão da área temcontinuado, conforme descrito a seguir.4.1.2.2.2 - A expansão da vinicultura <strong>no</strong> Valedo São FranciscoA região do Vale do São Francisco, situada <strong>no</strong> semi-árido <strong>no</strong>rdesti<strong>no</strong>, abrange<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> da Bahia e de Pernambuco e é, atualmente, a principal região vinícolatropical e a segunda maior produtora do <strong>Brasil</strong>. <strong>As</strong> características do solo e doclima são favoráveis à produção de vinh<strong>os</strong> frutad<strong>os</strong> e com me<strong>no</strong>r acidez, compredominância da produção de vinh<strong>os</strong> jovens. O pólo vinícola do Vale do SãoFrancisco, que é recente, tem atraído empresári<strong>os</strong> de outras regiões do <strong>Brasil</strong>,em especial do RS, além de empresas estrangeiras, especialmente as francesase as portuguesas, que buscam vantagens competitivas proporcionadas pelaregião.4.1.2.3 - A história d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> <strong>no</strong> UruguaiA produção de vinh<strong>os</strong> uruguai<strong>os</strong>, iniciada há mais de três sécul<strong>os</strong>,alterou-se sobremaneira <strong>no</strong> último quartil do século XX. A produção de vinh<strong>os</strong>fin<strong>os</strong> foi estimulada, em grande parte, pelas instituições vitivinícolas existentes.4.1.2.3.1 - Antecedentes históric<strong>os</strong><strong>As</strong> primeiras vinhas foram introduzidas <strong>no</strong> Uruguai pel<strong>os</strong> colonizadoresespanhóis, n<strong>os</strong> sécul<strong>os</strong> XVII e XVIII. Em 1726, com a chegada das primeirasfamílias das Ilhas Canárias, foi introduzida a tradição espanhola de cultivar a uvae de elaborar o vinho <strong>para</strong> o consumo familiar. Aqueles espanhóis, junto comoutr<strong>os</strong> imigrantes europeus, em especial <strong>os</strong> provenientes da Itália e alguns da


120Alemanha, da Suíça e da França, se instalaram <strong>no</strong> sul do Uruguai, próxim<strong>os</strong> deonde hoje está localizada Montevidéu, e foram muito importantes <strong>para</strong> odesenvolvimento da vitivinicultura comercial.Somente por volta de 1870, foi iniciada a produção comercial do vinho, coma introdução de <strong>no</strong>vas variedades, em especial as cepas francesas da variedadeTannat e Folle Noire. Os pioneir<strong>os</strong> que introduziram essas variedades sãoconsiderad<strong>os</strong> <strong>os</strong> fundadores da indústria do vinho <strong>no</strong> Uruguai: Harriague, umbasco-francês, que plantou o primeiro vinhedo de Tannat <strong>no</strong> Departamento deSalto, ao <strong>no</strong>rte do Uruguai; e Vidiella, um catalão, que foi o primeiro a plantar asuvas Folle Noir e Gamay Blanc. A uva Tannat adaptou-se ao clima úmido edifundiu-se, devido à fácil conservação de seus vinh<strong>os</strong>, por sua alta acidez e porseu teor alcoólico (Uruguay, 2001).Nas últimas décadas do século XIX, foram fundadas importantes vinícolas,como a Adegas y Vinhed<strong>os</strong> Santa R<strong>os</strong>a S/A, em 1860, e a Vinh<strong>os</strong> de La Cruz,em 1887 (<strong>As</strong>ociación de las Bodegas Exportadoras, 2002). Em 1893, a pragafiloxera deteve a expansão desse cultivo de uvas, e, <strong>no</strong> início do século XX,ocorreu a primeira transformação d<strong>os</strong> vinhed<strong>os</strong> <strong>no</strong> País, com videiras enxertadas.4.1.2.3.2 - O vinho <strong>no</strong> século XXNo início do século XX, <strong>no</strong>vas vinícolas familiares foram fundadas <strong>no</strong> País,impulsionadas pela imigração européia, especialmente a italiana, como a AdegaSantiago Giacobbe (1903), a Juan T<strong>os</strong>canini e Hij<strong>os</strong> S/A (1908), a Adega Carl<strong>os</strong>Pizzor<strong>no</strong> (1910), a Dante Irurtia S/A (1913), dentre outras (<strong>As</strong>ociación de lasBodegas Exportadoras, 2002).Dentre <strong>os</strong> aconteciment<strong>os</strong> mais importantes do início desse século, cabedestacar a primeira Lei do Vinho, criada em 1903, visando ao maior controle dequalidade; a fundação da primeira cooperativa vitícola, em 1917; e o início doensi<strong>no</strong> de e<strong>no</strong>logia, em nível universitário, em 1917. No período 1915-30, aprodução de vinho aumentou rapidamente, alcançando, neste último a<strong>no</strong>, 30milhões de litr<strong>os</strong> (S<strong>no</strong>eck, 1998).A segunda fase do desenvolvimento da indústria do vinho <strong>no</strong> Uruguai foi de1930 a 1970, onde se observou um intenso incremento da produção e doconsumo. No período 1950-70, houve um grande desenvolvimento tec<strong>no</strong>lógico<strong>no</strong> setor vinícola, e o acréscimo na quantidade de vinho produzido foi muitomaior do que na qualidade do produto. Esse elevado crescimento da quantidadefoi resultado do aumento do consumo inter<strong>no</strong> per capita, que passou de 15litr<strong>os</strong>/a<strong>no</strong> <strong>para</strong> 28 litr<strong>os</strong>/a<strong>no</strong>, ao mesmo tempo em que o mercado inter<strong>no</strong> estavaprotegido da entrada de vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong>. A incipiente qualidade deveu-se, em


121parte, à expansão d<strong>os</strong> vinhed<strong>os</strong>, principalmente com a introdução das variedadeshíbridas, de me<strong>no</strong>r qualidade e<strong>no</strong>lógica, prejudicando a qualidade d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>produzid<strong>os</strong> (S<strong>no</strong>eck, 1998). Por decorrência, o incremento da oferta, estimuladopelo aumento da demanda interna, foi de vinh<strong>os</strong> de me<strong>no</strong>r qualidade.A terceira fase, iniciada na década de 70, teve como características abusca de um maior nível de qualidade, através da melhoria da matéria-prima, doaperfeiçoamento do processo de produção de vinho e da abertura d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>extern<strong>os</strong>. A baixa qualidade d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>, além de sua adulteração, e a necessidadede aumentar a competitividade <strong>no</strong> mercado nacional foram as razões iniciais<strong>para</strong> a transformação do setor na década de 70.Até 1987, a gestão e o controle da indústria vitivinícola estavam a cargo doPoder Executivo e foram descentralizad<strong>os</strong> com a criação do Inavi, que tinhacomo objetivo inicial controlar e apoiar a reconversão d<strong>os</strong> vinhed<strong>os</strong> <strong>para</strong> melhorara qualidade do vinho. P<strong>os</strong>teriormente, com o incremento da elaboração de vinh<strong>os</strong>fin<strong>os</strong> de qualidade, o Inavi passou a apoiar a comercialização externa desses,devido ao limitado mercado inter<strong>no</strong> uruguaio.Apesar de o volume de vinho produzido <strong>no</strong> início d<strong>os</strong> an<strong>os</strong> 90 ser equivalenteao de 1970, a queda da produção foi compensada pelo crescente processo desubstituição d<strong>os</strong> vinhed<strong>os</strong> por outr<strong>os</strong> de variedades cultivadas de melhorqualidade. Esse processo de reconversão d<strong>os</strong> vinhed<strong>os</strong>, que implicou asubstituição de variedades de baixa qualidade e<strong>no</strong>lógica por variedades Vitisviniferas, de melhor qualidade, gerou maiores cust<strong>os</strong> iniciais <strong>para</strong> <strong>os</strong> produtoresde uva que se caracterizam por ter men<strong>os</strong> de 5ha de terras <strong>no</strong> Uruguai. Essaproblemática foi resolvida em nível institucional, mediante um importante programade apoio ao peque<strong>no</strong> produtor de uva (S<strong>no</strong>eck,1998).O Programa de Reconversão d<strong>os</strong> Vinhed<strong>os</strong> alterou sobremaneira a qualidaded<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> produzid<strong>os</strong>, pois a produção d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> requer, principalmente,matéria-prima de boa qualidade, além de conheciment<strong>os</strong> e<strong>no</strong>lógic<strong>os</strong> e maiornível tec<strong>no</strong>lógico. Salienta-se o fato de que, atualmente, <strong>no</strong> Uruguai, existemvinhas de Tannat em quantidade maior do que em sua região de origem, o sudoestefrancês.P<strong>os</strong>teriormente, o Inavi adotou o Programa de Reconversão Industrial,visando dotar as vinícolas de maior capacidade competitiva. Nesse programa,estavam contemplad<strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> <strong>para</strong> capacitação empresarial, contratação detécnic<strong>os</strong> e realização de promoções comerciais, bem como <strong>para</strong> investiment<strong>os</strong>nas vinícolas, <strong>no</strong> que se refere à incorporação de maquinarias e às obras deinfra-estrutura. O investimento na vinicultura, em sua grande maioria, tem sidonacional, mas, de forma crescente, estão se estabelecendo parcerias cominvestidores europeus.


122O aumento da qualidade d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> foi acompanhado de um processo deconcentração industrial, com a diminuição do número de adegas, em especialdas que produziam até 50 mil litr<strong>os</strong> anuais, ao mesmo tempo em que cresceu onúmero de vinícolas com mais de 500 mil litr<strong>os</strong> anuais. Segundo dad<strong>os</strong>disponibilizad<strong>os</strong> pelo Inavi, em 1978, havia <strong>no</strong> Uruguai 557 vinícolas, sendo que75% produziam até 100 mil litr<strong>os</strong> anuais, e apenas 3% produziam mais de 500mil litr<strong>os</strong> anuais. Já em 1992, havia 393 vinícolas, 56% produzindo até 100 millitr<strong>os</strong> anuais, e 10%, mais de 500 mil litr<strong>os</strong> anuais.A maior parte d<strong>os</strong> viticultores e produtores de vinho concentra-se na regiã<strong>os</strong>ul, n<strong>os</strong> Departament<strong>os</strong> de Montevidéu, Canelones, San J<strong>os</strong>é e Colônia. Outrasimportantes regiões produtoras estão n<strong>os</strong> Departament<strong>os</strong> de Salto, Artigas, Rivera— em especial na região de Cerro Chapéu — e Paysandú.Portanto, <strong>no</strong> Uruguai, as vinícolas foram, essencialmente, empresas nacionais,grande parte delas de propriedade familiar. <strong>As</strong> cooperativas existem emnúmero reduzido e não p<strong>os</strong>suem representatividade <strong>no</strong> País. Por outro lado, <strong>os</strong>investiment<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> apenas entraram em forma de parcerias, em décadasrecentes.4.1.3 - O mercado de vinh<strong>os</strong>Uma vez exp<strong>os</strong>tas a evolução da indústria vinícola e as suas características,apresenta-se, a seguir, um breve retr<strong>os</strong>pecto do mercado de vinh<strong>os</strong>, nadécada de 90, <strong>no</strong> Merc<strong>os</strong>ul e em especial <strong>no</strong> Uruguai e <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. 6 Deve-sedestacar que esta análise se restringe à produção e à comercialização tantointerna como externa.Toda a produção de vinho é regulada pela OIV, que é a uma organizaçãointergovernamental com o objetivo de regular as <strong>no</strong>rmas internacionais de produçãoe de contribuir <strong>para</strong> a harmonização internacional das práticas e das <strong>no</strong>rmasexistentes. Atualmente, p<strong>os</strong>sui 46 países-membr<strong>os</strong> (Oficina Internacionalde la Viña y el Vi<strong>no</strong>, 2001).Na década de 90, o consumo mundial de vinh<strong>os</strong> manteve-se relativamenteestável, 7 dadas características bem diferenciadas e op<strong>os</strong>tas: a redução verificada6Existe uma interessante pesquisa realizada <strong>para</strong> o Instituto <strong>Brasil</strong>eiro do Vinho (2001) quefaz uma avaliação do mercado brasileiro de vinh<strong>os</strong>, espumantes e suc<strong>os</strong> de uva, tendocomo foco de investigação <strong>os</strong> consumidores finais e o canal de distribuição. Essa pesquisanão está inserida nesta análise por fugir ao escopo deste trabalho.7Com<strong>para</strong>ndo-se o consumo mundial de vinh<strong>os</strong> em 1999 com a média de 1991-95, houve umdecréscimo de 0,72%. Dentre <strong>os</strong> países de maior consumo, destacam-se as reduções deconsumo na França, na Itália, na Argentina, em Portugal, na Espanha e na Rússia (Wine...,2001).


123<strong>no</strong> consumo de vinh<strong>os</strong> comuns, em praticamente tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> países classificad<strong>os</strong>como grandes consumidores; o maior consumo de vinh<strong>os</strong> em países devitivinicultura mais recente; e o aumento lento, porém sustentado, do consumode vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> ou de maior qualidade.<strong>As</strong> mudanças ocorridas n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> de vinh<strong>os</strong> devem-se a alterações nademanda, sobretudo com a crescente urbanização e a maior participação damulher <strong>no</strong> mercado de trabalho e suas conseqüências em term<strong>os</strong> de alteraçãodo tipo e do local das refeições. Aliam-se a esse fato a perda de poder aquisitivoda população em alguns importantes países consumidores e a relevância daestética, associada ao baixo consumo de aliment<strong>os</strong> com alt<strong>os</strong> valores energétic<strong>os</strong>e à me<strong>no</strong>r ingestão de álcool. Além disso, destaca-se a existência de outrasbebidas alcóolicas, como a cerveja e <strong>os</strong> destilad<strong>os</strong>, que investem somas vult<strong>os</strong>asem propaganda <strong>para</strong> ampliar o seu consumo, que podem ser substitut<strong>os</strong> dovinho em algumas ocasiões.Nov<strong>os</strong> e importantes atores <strong>no</strong> mercado internacional, como <strong>os</strong> Estad<strong>os</strong>Unid<strong>os</strong>, a Austrália, o Chile, a Argentina e a África do Sul, incrementaram suasrepresentatividades nas exportações mundiais e alteraram <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> de vinh<strong>os</strong>pelo aumento da concorrência, ao desenvolverem <strong>os</strong> negóci<strong>os</strong> destacando asvariedades d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> e enfatizando as tec<strong>no</strong>logias de produção e o marketing.Como decorrência, diminuiu o preço médio d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> transacionad<strong>os</strong> n<strong>os</strong>mercad<strong>os</strong> internacionais e ampliou-se o poder de escolha d<strong>os</strong> consumidoresem muit<strong>os</strong> países pelo incremento das importações. Destaca-se o incentivo aoconsumo pela divulgação d<strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> terapêutic<strong>os</strong> do vinho, como prevenção adoenças coronárias e seus efeit<strong>os</strong> benéfic<strong>os</strong> sobre o colesterol, que vêm sendo<strong>no</strong>ticiad<strong>os</strong> e confirmad<strong>os</strong> por médic<strong>os</strong> do mundo inteiro.4.1.3.1 - Os vinh<strong>os</strong> <strong>no</strong> Merc<strong>os</strong>ulNo Merc<strong>os</strong>ul, salienta-se, pela quantidade produzida e exportada, aArgentina, seguida do <strong>Brasil</strong> e do Uruguai, uma vez que a produção de vinh<strong>os</strong>fin<strong>os</strong> <strong>no</strong> Paraguai é praticamente nula. Mas as indústrias de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> do<strong>Brasil</strong> e do Uruguai são mais facilmente comparáveis, uma vez que <strong>os</strong> númer<strong>os</strong>da Argentina 8 são muito superiores.8Em 1999, a Argentina ocupava o sexto lugar na produção mundial e o quinto <strong>no</strong> consumomundial de vinh<strong>os</strong>, com um consumo per capita de 34,5 litr<strong>os</strong>/a<strong>no</strong> (Wine..., 2001). Entretantoesse consumo, preponderantemente de vinh<strong>os</strong> comuns, vem decrescendo acentuadamente,pois se situava em 90 litr<strong>os</strong>/a<strong>no</strong> na década de 70.


124<strong>As</strong> exportações de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> da Argentina foram de mais de US$ 100milhões em 1998 (Fuentes, 1999) e atingiram <strong>os</strong> valores de US$ 120 milhõesem 2001 e de US$ 103 milhões em 2002, que representaram mais de 80% dovalor total exportado em vinh<strong>os</strong> pelo País (Argentina, 2003). A quantidade exportadade vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, por exemplo, em 1999, totalizou 44,6 milhões de litr<strong>os</strong>, sendoum pouco inferior à produção brasileira e mais de 15 vezes superior à produçãouruguaia nesse mesmo a<strong>no</strong>. <strong>As</strong>sim, a Argentina conta com uma produção demuito maior escala, tem maior inserção n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> internacionais e avançoumuito mais na associação com capitais estrangeir<strong>os</strong>.Analisando-se <strong>os</strong> dad<strong>os</strong> do consumo de vinh<strong>os</strong>, que incluem outr<strong>os</strong> tip<strong>os</strong>além d<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, n<strong>os</strong> países-membr<strong>os</strong> do Merc<strong>os</strong>ul, percebe-se que houve umaforte queda na Argentina e um incremento <strong>no</strong> Uruguai e <strong>no</strong> Paraguai 9 , enquanto,<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, ele tem <strong>os</strong>cilado um pouco, mas sem mudanças significativas. Osdiferentes níveis de consumo devem-se a vári<strong>os</strong> fatores, tais como: hábit<strong>os</strong> deconsumo, nível de renda e cultura, dentre outr<strong>os</strong>. Tanto é assim que o consumoper capita <strong>no</strong> sul do <strong>Brasil</strong> é mais elevado do que <strong>no</strong> resto do País 10 , devido, emparte, à grande influência européia na sua cultura.Quando se considera o Merc<strong>os</strong>ul ampliado, cabe também ressaltar aprodução e a comercialização externa do Chile 11 , onde tem ocorrido importantesinvestiment<strong>os</strong> na área vinícola por destacad<strong>os</strong> produtores internacionais, muit<strong>os</strong>d<strong>os</strong> quais através da formação de joint ventures com empresas chilenas. Em2002, foi ampliado o acordo comercial do <strong>Brasil</strong> com o Chile, sendo previstauma cota de 100 mil caixas com tarifa zero <strong>para</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> chilen<strong>os</strong> que custemmais de US$ 50 por garrafa, ou seja, esses vinh<strong>os</strong> podem entrar <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> isent<strong>os</strong>de tarifas. Em relação à Bolívia, país também associado, sua produção ainda éincipiente, quando com<strong>para</strong>da com a da Argentina, a do Chile ou a do <strong>Brasil</strong>.Situações de perda de poder aquisitivo têm significativas repercussõesnas vendas de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>. Não sendo um produto homogêneo, seu preço9Esse aumento do consumo <strong>no</strong> Paraguai deve ser analisado com certas ressalvas, poisgrande parte d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> que entram <strong>no</strong> País são comercializad<strong>os</strong> a turistas e/oucontrabandead<strong>os</strong> <strong>para</strong> países vizinh<strong>os</strong>.10De acordo com um estudo realizado pela Foreign Agricultural Service-EUA, o consumoregional per capita <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, em litr<strong>os</strong>/a<strong>no</strong>, é, nas Regiões Sul e Sudeste, de 3,23; na RegiãoCentro-Oeste, de 2,81; e, nas Regiões Norte e Nordeste, de 0,79 (Westman; Figueiredo--Stevenson, 2002).11No qüinquênio 1986-90, a média anual de exportações de vinh<strong>os</strong> era de 23 milhões de litr<strong>os</strong>,tendo passado <strong>para</strong> 184 milhões em 1996. De acordo com Fuentes (1999), em 1998, o Chileexportou US$ 370 milhões em vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, quantidade muito superior as do <strong>Brasil</strong> e doUruguai.


125<strong>no</strong>rmalmente se eleva à medida que se passa <strong>para</strong> níveis superiores de qualidade.Dentre <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, existem várias subdivisões de qualidade, desde <strong>os</strong>básic<strong>os</strong>, <strong>os</strong> intermediári<strong>os</strong>, <strong>os</strong> premium, <strong>os</strong> “superpremium”, até <strong>os</strong> “ultrapremium”,cuja classificação, em determinad<strong>os</strong> países, é oficial e, em outr<strong>os</strong>, depende daspróprias vinícolas.No que se refere a<strong>os</strong> canais de distribuição d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>, cabe salientar oelevado crescimento de suas vendas em supermercad<strong>os</strong>, n<strong>os</strong> últim<strong>os</strong> an<strong>os</strong>, <strong>no</strong>Merc<strong>os</strong>ul. Mas essa é uma característica comum em vári<strong>os</strong> países, decorrente,basicamente, do elevado grau de concentração d<strong>os</strong> supermercad<strong>os</strong> em grandescadeias, muitas das quais atacadistas e varejistas, fruto de um grande númerode aquisições e fusões, aliado à grande entrada de redes de supermercad<strong>os</strong>multinacionais em mercad<strong>os</strong> locais.Essas grandes redes de supermercad<strong>os</strong> e de hipermercad<strong>os</strong> passaram adesempenhar relevante papel nas vendas de vinh<strong>os</strong> pela grande variedade demarcas e pel<strong>os</strong> preç<strong>os</strong> competitiv<strong>os</strong>, além das freqüentes promoções, muitasdas quais com ônus das vinícolas produtoras. Por p<strong>os</strong>suírem eco<strong>no</strong>mias deescala, tornaram-se importantes distribuidoras n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> de vinh<strong>os</strong> nacionaise importad<strong>os</strong>, muit<strong>os</strong> d<strong>os</strong> quais adquirid<strong>os</strong> diretamente. Com a concentraçãod<strong>os</strong> supermercad<strong>os</strong> em poucas e grandes redes, eles impõem condições <strong>para</strong>as vinícolas, dificultando as negociações. Ademais, muitas redes desupermercad<strong>os</strong> já vendem marcas próprias, o que diminui a rentabilidade dasvinícolas produtoras, pela perda do valor agregado do seu produto e pela não--formação de imagem de marca.O grande poder de negociação d<strong>os</strong> compradores, que forçam umadiminuição de preç<strong>os</strong> e barganham por um aumento de serviç<strong>os</strong> à custa darentabilidade das empresas, foi salientado por Porter (1996a). Nesse caso, <strong>os</strong>supermercad<strong>os</strong> exigem gast<strong>os</strong> em promoções, como degustações a<strong>os</strong> clientes,dentre outr<strong>os</strong>.A drástica redução das barreiras à entrada de vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong> e <strong>os</strong> baix<strong>os</strong>preç<strong>os</strong> praticad<strong>os</strong> em alguns cas<strong>os</strong>, em relação ao nacional de mesma qualidade,foram acompanhad<strong>os</strong> por um grande aumento na relação comercialização devinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong>/vinh<strong>os</strong> nacionais, muito mais representativa <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> do que<strong>no</strong> Uruguai.Apesar de o faturamento da indústria do vinho (tanto <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> como <strong>no</strong>Uruguai) ser peque<strong>no</strong> em relação a outr<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> de indústrias, deve-se destacarsua inter-relação com a agricultura, com outr<strong>os</strong> segment<strong>os</strong> industriais, como <strong>os</strong>de insum<strong>os</strong>, máquinas e implement<strong>os</strong>, e com o setor serviç<strong>os</strong>, pela distribuiçãoe pelo comércio. A integração vertical da vinícola com o cultivo da uva, com opredomínio da pequena propriedade familiar, é observada, em maior ou me<strong>no</strong>rescala, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong> Uruguai.


126Vinh<strong>os</strong> elaborad<strong>os</strong> com a mesma tec<strong>no</strong>logia, provenientes de diferentesregiões, são distint<strong>os</strong>, pois p<strong>os</strong>suem características próprias. Visando valorizaras peculiaridades das distintas regiões de produção, têm sido importantes asindicações geográficas 12 , as quais já estão implementadas n<strong>os</strong> países produtoresdo Merc<strong>os</strong>ul ampliado, como Argentina, Chile, Uruguai e <strong>Brasil</strong>.Se, por um lado, a globalização d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> do vinho é um fatoincontestável, que impõe a tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> atores esforç<strong>os</strong> <strong>para</strong> garantir uma p<strong>os</strong>içãocompetitiva, por outro, a globalização da produção é uma realidade bem diferente.O vinho não pode ser produzido em qualquer lugar, e cada região tem as suasvantagens com<strong>para</strong>tivas, que são importantes e determinantes <strong>para</strong> a imagemdo vinho e <strong>para</strong> a sua p<strong>os</strong>ição <strong>no</strong> mercado, assim como <strong>para</strong> <strong>os</strong> cust<strong>os</strong> deprodução.4.1.3.2 - O mercado brasileiro de vinh<strong>os</strong>Como foi visto anteriormente, a partir da década de 70 e principalmente nade 80, houve um grande desenvolvimento tec<strong>no</strong>lógico das vinícolas brasileiras.Contudo este não foi acompanhado, na mesma velocidade, pela alteração daprodução vitícola, pois a qualidade da uva <strong>para</strong> processamento ainda apresentapotencial e<strong>no</strong>lógico inferior ao d<strong>os</strong> principais concorrentes, como Chile, Argentina,Itália, França e Portugal. Essa situação afeta a capacidade competitiva do setor<strong>no</strong> segmento de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, que se ressente, dado o atual contexto deglobalização d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> (Protas et al., 2001).Ocorrida a alteração nas preferências d<strong>os</strong> consumidores brasileir<strong>os</strong>, houveuma diminuição do consumo de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> r<strong>os</strong>ad<strong>os</strong> a favor d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> branc<strong>os</strong>,cuja participação cresceu de 1980 a 1993. Entretanto, a partir de 1994, começoua aumentar a produção d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> tint<strong>os</strong>, pressionada pela maior demanda,12Segundo a Oficina Internacional de la Vina y el Vi<strong>no</strong> (2001), De<strong>no</strong>minação de Origem eIndicação Geográfica é o <strong>no</strong>me do país, da região, ou do lugar, utilizada <strong>para</strong> designar umproduto originário desse país, dessa região, desse lugar ou da área definida <strong>para</strong> esse fimsob esse <strong>no</strong>me e reconhecida pelas autoridades componentes do respectivo país. O que asdiferencia é que a Indicação Geográfica reconhecida está ligada a uma qualidade e/ou a umacaracterística do produto atribuída ao meio geográfico, que compreende <strong>os</strong> fatores naturaisou <strong>os</strong> fatores human<strong>os</strong>, e está subordinada à colheita da uva <strong>no</strong> país, na região, <strong>no</strong> lugar ouna área definida. Já a De<strong>no</strong>minação de Origem reconhecida designa um produto cuja qualidadeou características são devidas exclusivamente, ou essencialmente, ao meio geográfico,que compreende <strong>os</strong> fatores naturais e <strong>os</strong> fatores human<strong>os</strong>; e está subordinada àcolheita da uva, bem como à sua transformação <strong>no</strong> país, na região, <strong>no</strong> lugar, ou na áreadefinida.


127elevando sua participação na produção d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> de 25% em 1992-93<strong>para</strong> 43% em 2000-01. Tal fato foi atribuído, em grande parte, à difusão d<strong>os</strong>benefíci<strong>os</strong> do vinho tinto <strong>para</strong> a saúde. Todavia <strong>os</strong> viticultores não estavampre<strong>para</strong>d<strong>os</strong> <strong>para</strong> o aumento da demanda por uvas viníferas tintas, e as vinícolasnão as conseguiam em quantidade suficiente, sendo necessári<strong>os</strong> alguns an<strong>os</strong><strong>para</strong> qualquer alteração de varietais, desde a produção da uva até o vinho estarpronto <strong>para</strong> ser comercializado. Vinh<strong>os</strong> branc<strong>os</strong>, por necessitarem me<strong>no</strong>r tempode envelhecimento, permitem maior rotatividade de estoques e me<strong>no</strong>res cust<strong>os</strong>de produção.No <strong>Brasil</strong>, a drástica redução das alíquotas de importação a partir de 1988 13e <strong>os</strong> baix<strong>os</strong> preç<strong>os</strong> d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong> em relação a<strong>os</strong> nacionais de mesmaqualidade resultaram em grande aumento na relação comercialização de vinh<strong>os</strong>fin<strong>os</strong> importad<strong>os</strong>/vinh<strong>os</strong> nacionais, que atingiu 37% <strong>no</strong> biênio 1996-97, passandoa 49% <strong>no</strong> período 2001-02. Isso pode ser explicado, em parte, porque a reduçãoobservada na comercialização de vinh<strong>os</strong> nacionais, que atingiu 31% de 1999 a2002, foi significativamente maior do que a queda das importações, de 8%,conforme pode ser visto na Tabela 4.1. Já o decréscimo da comercializaçãointerna, 14 que inclui <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> nacionais e <strong>os</strong> importad<strong>os</strong>, deveu-se, em grandeparte, à redução do poder aquisitivo da população.O crescimento da quantidade importada foi acompanhado de um incremento<strong>no</strong> valor médio do litro importado, na década de 90, com a alteração da origemd<strong>os</strong> principais fornecedores, que eram Alemanha e Portugal em 1991-96, <strong>para</strong>Itália, Portugal e Chile em 1999-01, segundo dad<strong>os</strong> da Uvibra. O preço médio dacaixa de vinho <strong>os</strong>cilou, <strong>no</strong> período 1996-02, ao redor de US$ 15,8, significandoque o preço médio da garrafa (750ml) de vinho que entrou <strong>no</strong> País durante operíodo considerado variou entre US$ 1,3 e US$ 1,8.A formação da união aduaneira do Merc<strong>os</strong>ul também ampliou a entrada devinh<strong>os</strong> d<strong>os</strong> países parceir<strong>os</strong>, tanto em quantidade como em valor. Os maioresacréscim<strong>os</strong> foram observad<strong>os</strong> nas importações do Uruguai, cujas quantidadese valores passaram, respectivamente, de 61,2 mil litr<strong>os</strong> e US$ 135 mil em13A alíquota de importação de vinho, que, <strong>no</strong> período 1980-87, era, em média, de 82,3%, foireduzida <strong>para</strong> cerca de 45,3% de 1988 a 1990, e atingiu em tor<strong>no</strong> de 19% <strong>no</strong> biênio 1994--95. Em 2000, nas transações intrabloco, ela foi zerada, e, com <strong>os</strong> demais países, a TECsitua-se em 21,5%.14De acordo com estudo realizado pelo Instituto <strong>Brasil</strong>eiro do Vinho (2001), <strong>os</strong> cinco fatoresconsiderad<strong>os</strong> mais importantes pel<strong>os</strong> consumidores <strong>para</strong> aumentar o consumo de vinh<strong>os</strong>fin<strong>os</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> são: expor <strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> do consumo, reduzir o preço, melhorar a qualidade,conhecer mais <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> e ter mais propaganda.


1281996 <strong>para</strong> cerca de 1,8 milhão de litr<strong>os</strong> ao a<strong>no</strong> e US$ 3,4 milhões, a preç<strong>os</strong>correntes, <strong>no</strong> período 2000-01. Da Argentina, as importações após 1996 cresceramsignificativamente, atingindo 2,6 milhões de litr<strong>os</strong> e US$ 6,4 milhões aoa<strong>no</strong> <strong>no</strong> biênio 2000-01. Já o Chile, país-sócio, também incrementou as vendas<strong>para</strong> o <strong>Brasil</strong>, sobremaneira após 1997, passando de US$ 5,4 milhões <strong>para</strong> US$11,5 milhões, como média anual em 2000-01.Tabela 4.1Comercialização de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> importad<strong>os</strong> e de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>nacionais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> — 1996-02DISCRIMINAÇÃO 1996 1997 1998 1999Vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong> (1 000l) 19 079 23 799 22 191 26 274Vinh<strong>os</strong> nacionais (1 000l) ... 35 369 36 681 31 740 36 899Total comercializado(1 000l) ...............................54 448 60 480 53 931 63 173Vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong>/total (%) 35,0 39,3 41,1 41,6US$ FOB/cx. 9l ………….... 15,8 18,1 21,6 21,0DISCRIMINAÇÃO 2000 2001 2002Vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong> (1 000 l) 29 072 28 058 24 184Vinh<strong>os</strong> nacionais (1 000l) ... 34 109 28 653 25 376Total comercializado(1 000l) ...............................63 181 56 711 49 559Vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong>/total (%) 46,0 49,5 48,8US$ FOB/cx. 9l ……….….. 20,0 20,4 18,7FONTE: Uvibra.Esses três países, que participavam com 18% do valor das importações<strong>no</strong> biênio 1996-97, passaram a representar 33% em 2000-01. Em quantidade,sua participação passou de 4,5% em 1996 <strong>para</strong> 16,6% em 2001. Já o preçomédio da caixa de <strong>no</strong>ve litr<strong>os</strong> (ou 12 garrafas de 750ml) de vinho importado foi,em 2001, de US$ 19,4 <strong>para</strong> o vinho do Chile, de US$ 21,6 <strong>para</strong> o da Argentina ede US$ 16,8 <strong>para</strong> o do Uruguai, segundo dad<strong>os</strong> fornecid<strong>os</strong> pela Uvibra.Como <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong> se destinam basicamente ao mercado inter<strong>no</strong>,pois as exportações 15 não apresentam númer<strong>os</strong> expressiv<strong>os</strong>, conforme pode15Em geral, as estatísticas de exportação de vinh<strong>os</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> consideram tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>,incluindo <strong>os</strong> comuns, <strong>os</strong> especiais, <strong>os</strong> fin<strong>os</strong> e <strong>os</strong> frisantes. Portanto, a quantidade exportada


129ser visto na Tabela 4.2, o aumento das importações refletiu-se significativamentena indústria vinícola brasileira, pelo aumento da concorrência <strong>no</strong> mercadointer<strong>no</strong>.Tabela 4.2Comercialização de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> inter<strong>no</strong> e exter<strong>no</strong>do <strong>Brasil</strong> — 1998-02MERCADOS 1998 1999 2000Mercado inter<strong>no</strong> (1 000l) ...... 31 740 36 899 34 109Mercado exter<strong>no</strong> (1 000l) ..... 716 197 87Total comercializado(1 000l) ................................ 32 456 37 097 34 196Exportação/total (%) ........... 2,21 0,53 0,25MERCADOS 2001 2002∆%2002/1998Mercado inter<strong>no</strong> (1 000l) ...... 28 653 25 376 -20,1Mercado exter<strong>no</strong> (1 000l) ..... 49 57 -92,0Total comercializado(1 000l) ................................ 28 702 25 432 -21,6Exportação/total (%) ........... 0,17 0,22 -FONTE: Uvibra.A quantidade comercializada d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> nacionais n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> intern<strong>os</strong>e extern<strong>os</strong>, ao longo da década de 90, foi irregular, tendo atingido seu ápice em1993, seguido de 1994 e 1997.<strong>As</strong> exportações de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, por sua vez, também vêm apresentandoum comportamento declinante a partir de 1998, quando atingiram 716 mil litr<strong>os</strong>,sendo que, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> de 2001, foram vendid<strong>os</strong> ao exterior apenas 49 mil litr<strong>os</strong>,conforme dad<strong>os</strong> disponibilizad<strong>os</strong> pela Uvibra. A grande redução das exportaçõespode ser explicada por vári<strong>os</strong> fatores, dentre <strong>os</strong> quais se destacam abrusca queda das vendas da Cooperativa Vinícola Aurora, com interrupção daexportação do vinho Marcus James, dada a descontinuidade contratual comuma empresa estrangeira que o distribuía n<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>, e a redução dasencomendas do vinho Brazilian Wine, também produzido pela Aurora, importadopela Tesco, da Inglaterra.de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> é muito me<strong>no</strong>r do que a de vinh<strong>os</strong> de mesa, cuj<strong>os</strong> dad<strong>os</strong> são disponibilizad<strong>os</strong>pela Embrapa (2002). Apresentam-se apenas <strong>os</strong> dad<strong>os</strong> a partir de 1998, <strong>para</strong> <strong>os</strong> quais seobtiveram, em se<strong>para</strong>do, <strong>os</strong> d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>.


130Apesar da desvalorização cambial ocorrida em janeiro de 1999, gerandoacréscim<strong>os</strong> exógen<strong>os</strong> na rentabilidade potencial das vendas externas, estasnão cresceram. Tal fato explica-se, por um lado, porque a venda externa devinh<strong>os</strong> era muito concentrada em pouquíssimas empresas, e problemas naCooperativa Aurora, principal exportadora, repercutiram sobremaneira <strong>no</strong> mercado;por outro, pela existência de uma defasagem temporal entre a alteração cambiale a entrada de <strong>no</strong>vas vinícolas e de produt<strong>os</strong> <strong>no</strong> comércio internacional, tendoem vista a falta de tradição exportadora. Além disso, como soe acontecer, amelhora na taxa de paridade é parcialmente compensada por descont<strong>os</strong> exigid<strong>os</strong>pel<strong>os</strong> compradores internacionais, uma vez que o nível da concorrência n<strong>os</strong>mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong> é cada vez maior.4.1.3.3 - O mercado uruguaio de vinh<strong>os</strong>O Uruguai é um país peque<strong>no</strong>, quando com<strong>para</strong>do ao <strong>Brasil</strong>. Em 2000, seuPIB era de cerca de US$ 20 bilhões, mas, devido à sua pequena população (3,3milhões), a renda per capita era de US$ 6.036, bem acima da brasileira (BancoCentral del Uruguay, 2002). Apesar do elevado consumo de vinh<strong>os</strong> em geral, oconsumo per capita de vinho VCP, que, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> 2000, foi estimado em cerca de1,2 litr<strong>os</strong>/a<strong>no</strong> 16 , é ainda considerado peque<strong>no</strong>. Mesmo assim, representa maisdo que o triplo do consumo per capita de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.<strong>As</strong> vendas de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong> cresceram 65% de 1994 a2000, impulsionadas pelo consumo de vinh<strong>os</strong> nacionais, que cresceu 74%, umavez que o consumo de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> importad<strong>os</strong> aumentou, nesses sete an<strong>os</strong>,44%. Já em 2001 e 2002, houve uma redução da comercialização tanto devinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> nacionais como de importad<strong>os</strong>, ocasionada, em parte, pela recessãoda eco<strong>no</strong>mia uruguaia, que teve repercussões sobre o poder aquisitivo dapopulação.Pela abertura da eco<strong>no</strong>mia, com as reduções tarifárias a partir de 1991, ea integração do Merc<strong>os</strong>ul, a entrada de vinh<strong>os</strong> extern<strong>os</strong> teve um acréscimo de50% entre 1994 e 1997, a<strong>no</strong> em que atingiu o seu ápice. A partir daí, diminuiuem 1998-99, voltando a crescer em 2000, quando atingiu 846 mil litr<strong>os</strong>, masvoltou a decrescer de forma drástica até 2002, quando sua representatividade foide apenas 11% d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> comercializad<strong>os</strong> <strong>no</strong> mercado uruguaio. <strong>As</strong>16O consumo per capita de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> foi obtido pela relação comercialização interna//população. Na comercialização interna, estão incluíd<strong>os</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> de produção doméstica e<strong>os</strong> importad<strong>os</strong>.


131principais origens d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> VCP importad<strong>os</strong>, segundo o Inavi, são: Argentina,Chile, França, Espanha e Alemanha.No Uruguai, as maiores aquisições externas foram de vinh<strong>os</strong> comuns, deforma diferente da verificada <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, e, por decorrência, a participação d<strong>os</strong>vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> importad<strong>os</strong> <strong>no</strong> Uruguai, durante todo o período considerado,apresentou percentuais bastante inferiores a<strong>os</strong> registrad<strong>os</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Os dad<strong>os</strong>sobre a comercialização são apresentad<strong>os</strong> na Tabela 4.3.Tabela 4.3Comercialização de vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong> e de vinh<strong>os</strong> VCPnacionais <strong>no</strong> Uruguai — 1994-02DISCRIMINAÇÃO 1994 1995 1996 1997 1998Vinh<strong>os</strong> nacionais (1 000l) ........ 1 780 1 942 2 072 2 380 2 823Vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong> (1 000l) ..... 602 735 770 906 740Total comercializado(1 000l) .................................... 2 382 2 677 2 842 3 286 3 563Vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong>/total (%) .... 25,3 27,5 27,1 27,6 20,8DISCRIMINAÇÃO 1999 2000 2001 2002Vinh<strong>os</strong> nacionais (1 000l) ........ 3 027 3 094 3 043 2 642Vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong> (1 000l) ..... 633 846 614 338Total comercializado(1 000l) .................................... 3 660 3 940 3 657 2 980Vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong>/total (%) .... 17,3 21,5 16,8 11,3FONTE: Inavi.A reconversão do setor vitivinícola, com alteração n<strong>os</strong> vinhed<strong>os</strong> e nas vinícolas,é um processo difícil, lento e cust<strong>os</strong>o, mas <strong>os</strong> conheciment<strong>os</strong> e astec<strong>no</strong>logias estavam disponíveis, e seus resultad<strong>os</strong> foram uma significativamelhora d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> VCP. Em 1995, o número de vinícolas que elaborava essesvinh<strong>os</strong> era de 40, o que representava 11% do total das empresas produtoras devinh<strong>os</strong>. Apenas 12 empresas eram responsáveis por 80% da produção de VCP,todas de grande porte, ou seja, com produção anual de mais de 1 milhão delitr<strong>os</strong>/a<strong>no</strong> de vinh<strong>os</strong> em geral (Uruguay, 1996). Já em 2001, 92 vinícolascomercializavam vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, representando 31% do total das empresas devinho, que diminuíram, em 2002, <strong>para</strong> 89 vinícolas, segundo dad<strong>os</strong> do Inavi. <strong>As</strong>empresas elaboradoras de vinho estão concentradas n<strong>os</strong> Departament<strong>os</strong> de


132Canelones e de Montevidéu, que participavam, em 2000, respectivamente, com57% e 25% do número total de vinícolas.Pelo reduzido tamanho do mercado doméstico de vinh<strong>os</strong> VCP, insuficiente<strong>para</strong> permitir que um número importante de empresas produtoras se desenvolva,as exportações são indispensáveis. Considerando-se o total comercializadointernamente, que inclui <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> doméstic<strong>os</strong> e <strong>os</strong> importad<strong>os</strong>, em 2000, porexemplo, que foi o a<strong>no</strong> de maior comercialização, o mercado inter<strong>no</strong> absorveu,aproximadamente, 5,2 milhões de garrafas de 750ml, o que é pouco, ao secom<strong>para</strong>r com a capacidade de produção das maiores vinícolas. Aumentar oconsumo inter<strong>no</strong> de VCP não é fácil, uma vez que implica deslocamento departe da demanda de vinh<strong>os</strong> comuns, já que aí o consumo per capita érelativamente elevado, e de outras bebidas substitutas, frente a uma situação debaixa n<strong>os</strong> níveis de renda da população em geral.Até 1996, havia um saldo negativo <strong>no</strong> comércio internacional de VCP, poisas importações eram superiores às exportações. Mas, a partir daí, a situaçãoreverteu-se, e as vendas externas cresceram acentuadamente, enquanto asaquisições do exterior diminuíram. Então, <strong>no</strong> período 1994-01, o incremento doconsumo de vinh<strong>os</strong> doméstic<strong>os</strong> foi acompanhado de um aumento muito maiordas exportações, que passaram de apenas 170 mil litr<strong>os</strong> em 1994 <strong>para</strong> 3,2milhões de litr<strong>os</strong> em 2000, reduzindo-se p<strong>os</strong>teriormente (Tabela 4.4).Destaca-se a importância das exportações, que aumentaram a suarepresentatividade durante <strong>os</strong> últim<strong>os</strong> an<strong>os</strong>, sendo que, em 1999-00, cerca de50% d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> VCP foram exportad<strong>os</strong>, reduzindo-se <strong>para</strong> 45% em 2001-02.Essas exportações, n<strong>os</strong> últim<strong>os</strong> an<strong>os</strong>, têm sido realizadas por cerca de 25 a 30vinícolas, de acordo com informações obtidas junto ao Inavi. 17De 1994 a 2001, <strong>os</strong> principais destin<strong>os</strong> das exportações uruguaias foram o<strong>Brasil</strong>, seguido do Rei<strong>no</strong> Unido e da Noruega. A partir de 1998, a participação do<strong>Brasil</strong> <strong>no</strong> total de vinh<strong>os</strong> exportad<strong>os</strong> aumentou, sobremaneira, passando de 29%<strong>para</strong> 64% em 2001, o que pode ser explicado, em grande parte, pela instalaçãoda Aurora S/A <strong>no</strong> Uruguai, que exporta apenas <strong>para</strong> a Cooperativa Aurora, <strong>no</strong><strong>Brasil</strong>. Já as principais empresas exportadoras <strong>para</strong> o Rei<strong>no</strong> Unido, segundo aABE, <strong>no</strong> período 1996-00, foram Bodegas Castillo Viejo S/A e EstablecimientoJuanicó S/A.17Cabe destacar que o Uruguai também exporta vinh<strong>os</strong> produzid<strong>os</strong> com Vitis viniferas de boaqualidade a granel, prática que é proibida nas transações intrabloco pelo RegulamentoVitivinícola do Merc<strong>os</strong>ul, e em embalagens de um litro. Entretanto essas exportações nã<strong>os</strong>ão computadas, uma vez que não se tratam de vinh<strong>os</strong> VCP.


133Tabela 4.4Comercialização de vinh<strong>os</strong> VCP n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> inter<strong>no</strong> e exter<strong>no</strong>do Uruguai — 1994-02DISCRIMINAÇÃO 1994 1995 1996 1997 1998Mercado inter<strong>no</strong> (1 000l) ... 1 780 1 942 2 072 2 380 2 823Mercado exter<strong>no</strong> (1 000l) .. 170 219 564 1 066 1 107Total comercializado(1 000l) .............................. 1 950 2 161 2 636 3 446 3 930Exportação/total (%) .......... 8,7 10,1 21,4 30,9 28,2DISCRIMINAÇÃO 1999 2000 2001 2002Mercado inter<strong>no</strong> (1 000l) ... 3 027 3 094 3 043 2 642Mercado exter<strong>no</strong> (1 000l) .. 3 005 3 209 2 590 2 112Total comercializado(1 000l) .............................. 6 032 6 303 5 633 4 754Exportação/total (%) .......... 49,8 50,9 46,0 44,3FONTE: Inavi.4.1.3.4 - Dad<strong>os</strong> com<strong>para</strong>tiv<strong>os</strong>: <strong>Brasil</strong> e UruguaiQuanto a<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> intern<strong>os</strong>, existem substanciais diferenças deconsumo de vinho per capita, que, em 1999, era, <strong>no</strong> Uruguai, de 32,6 litr<strong>os</strong>/a<strong>no</strong>e, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, de 1,7 litro/a<strong>no</strong> (Wine Institute, 2001), ou de 1,8 litro/a<strong>no</strong> conformeProtas et al. (2001). Mas, quando se calcula o consumo per capita do vinho fi<strong>no</strong>,ainda <strong>para</strong> 1999, <strong>para</strong> efeit<strong>os</strong> de com<strong>para</strong>ção, verifica-se que este se reduzsubstancialmente, atingindo 1,11 litro/a<strong>no</strong> e 0,37 litro/a<strong>no</strong>, respectivamente, <strong>no</strong>Uruguai e <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Portanto, apesar d<strong>os</strong> diferentes tamanh<strong>os</strong> de mercad<strong>os</strong>, oconsumo per capita de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países é muito mais próximodo que o de vinh<strong>os</strong> em geral. Caso se tome um a<strong>no</strong> mais recente, <strong>no</strong>ta-se que oconsumo per capita de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> é ainda me<strong>no</strong>r em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países, umavez que o decréscimo da comercialização interna foi concomitante com ocrescimento populacional.Tendo em vista <strong>os</strong> dad<strong>os</strong> e as análises apresentad<strong>os</strong> acima, m<strong>os</strong>tra-se,através de gráfic<strong>os</strong>, uma com<strong>para</strong>ção entre as importações (Gráfico 4.1), asexportações (Gráfico 4.2) e a relação da comercialização de vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong>e vinh<strong>os</strong> nacionais (Gráfico 4.3) do <strong>Brasil</strong> e do Uruguai.


134Gráfico 4.1Importações de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> do <strong>Brasil</strong> e do Uruguai — 1996-02200220012000199919981997199624 18433828 05861429 07284626 27463322 19174023 79990619 079770(1 000l)0 3 000 6 000 9 000 12 000 15 000 18 000 21 000 24 000 27 000 30 000Legenda:FONTE: Tabelas 4.1 e 4.3.Uruguai<strong>Brasil</strong>Gráfico 4.2(1 000l)3 2503 0002 7502 5002 2502 0001 7501 5001 2501 0007505002500Exportações de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> do <strong>Brasil</strong> e do Uruguai — 1998-021998 1999 2000 2001 2002Legenda:Uruguai BRASILFONTE: Tabelas 4.2 e 4.4.


135Gráfico 4.3Relação da comercialização de vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong> e nacionais<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong> Uruguai — 1996-02(%)55%50%555045%4540%4035%3530%3025%2520%2015%1510%5% 50%01996 1997 1998 1999 2000 2001 2002Legenda: BRASIL <strong>Brasil</strong> URUGUAI UruguaiFONTE DOS DADOS BRUTOS: Tabelas 4.1 e 4.3.Através d<strong>os</strong> gráfic<strong>os</strong>, pode-se visualizar que as exportações brasileirassão significativamente me<strong>no</strong>res do que as uruguaias, apesar d<strong>os</strong> diferentes níveisde produção, muito maiores <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. É preciso ter presente que <strong>os</strong> dad<strong>os</strong>das vendas externas brasileiras são apenas a partir de 1998, <strong>para</strong> <strong>os</strong> quais seobtiveram, em se<strong>para</strong>do, as vendas de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>. Entretanto as exportaçõesbrasileiras já foram bem mais elevadas, conforme exp<strong>os</strong>to anteriormente. Destaca--se que, enquanto a relação vinho importado/vinho nacional vem crescendo <strong>no</strong><strong>Brasil</strong>, ela vem diminuindo <strong>no</strong> Uruguai.4.2 - Análise das entrevistasd<strong>os</strong> expert<strong>os</strong>Tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> comentári<strong>os</strong> a seguir baseiam-se nas entrevistas realizadas, sendoapresentadas algumas passagens relevantes citadas pel<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, conformerecomendado por Moraes (1999). Contudo, como as entrevistas envolveramopiniões e expressões subjetivas, <strong>para</strong> p<strong>os</strong>sibilitar que <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>


136ficassem mais à vontade <strong>para</strong> discorrer sobre algumas questões mais delicadas,como as que envolviam opiniões sobre concorrentes e instituições, foi garantidoo sigilo das informações. Então, a fim de resguardar o entrevistado, ascitações estão codificadas com uma letra e um número. A letra significa o paísa que pertence o entrevistado (B <strong>para</strong> <strong>Brasil</strong>, ou U <strong>para</strong> Uruguai), e cada entrevistadorecebeu um número, que p<strong>os</strong>sibilita a recuperação da informação, senecessário.Em muitas entrevistas, verificou-se a citação das repercussões de alteraçõesdas políticas econômicas sobre as empresas. Por isso, deve-se atentar<strong>para</strong> o fato de que as mudanças nas eco<strong>no</strong>mias brasileira e uruguaia, como <strong>os</strong>programas de estabilização econômica e de reformas estruturais, implicaramalterações nas variáveis macroeconômicas — como n<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> de câmbio, nastaxas de jur<strong>os</strong>, etc. —, assim como alterações d<strong>os</strong> marc<strong>os</strong> regulamentares einstitucionais vigentes nas respectivas eco<strong>no</strong>mias. Essas modificações tiveramreflex<strong>os</strong> sobre as empresas e, destarte, devem ser consideradas como pa<strong>no</strong> defundo de todas as entrevistas.Como parte das questões do roteiro (Apêndice A) serviu <strong>para</strong> subsidiar aseleção das vinícolas e o outro roteiro (Apêndice B), que foi adotado nas entrevistasda fase qualitativa, apreciada p<strong>os</strong>teriormente, esta análise contemplaapenas <strong>os</strong> aspect<strong>os</strong> relevantes <strong>para</strong> o entendimento do segmento vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>.Apresenta--se também um quadro-resumo com<strong>para</strong>tivo d<strong>os</strong> principais resultad<strong>os</strong>das entrevistas realizadas n<strong>os</strong> dois países. Conforme exp<strong>os</strong>to <strong>no</strong> método, aanálise é realizada por tema, conforme segue.4.2.1 - Principais problemas das empresasde vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>Solicitou-se a<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> que expusessem <strong>os</strong> principais problemascom <strong>os</strong> quais as vinícolas se defrontavam. Foram destacad<strong>os</strong> <strong>os</strong> financeir<strong>os</strong> e<strong>os</strong> referentes à produção e à distribuição interna.4.2.1.1 - Problemas na produçãoComo problema comum n<strong>os</strong> dois países, foi destacado o custo de algunsinsum<strong>os</strong>; <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, foram salientad<strong>os</strong> a escassez e o elevado preço da uvatinta, com repercussões sobre a produção interna desse tipo de vinho.


137Foi mencionado o elevado custo d<strong>os</strong> insum<strong>os</strong>, em particular <strong>os</strong> de<strong>no</strong>minad<strong>os</strong>“sec<strong>os</strong>”, como a garrafa, o rótulo e a rolha. A garrafa é produzida <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>por apenas uma empresa, e, mesmo assim, “(...) hoje em dia, estam<strong>os</strong> importandoda Argentina, pois é mais barata (...)” (B, 2). Já a rolha é importada pel<strong>os</strong>dois países, principalmente de Portugal e da Espanha. Esse alto custo foi maisenfatizado <strong>no</strong> Uruguai, devido à maior participação de insum<strong>os</strong> importad<strong>os</strong>, cujocusto <strong>os</strong>cila de acordo com as variações cambiais nas respectivas eco<strong>no</strong>mias.Já <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, foram muito destacad<strong>os</strong> a escassez e o elevado preço da uvatinta. Com a divulgação d<strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> à saúde do consumo moderado de vinh<strong>os</strong>tint<strong>os</strong>, sua demanda aumentou n<strong>os</strong> últim<strong>os</strong> an<strong>os</strong>, em detrimento d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>branc<strong>os</strong>, cuja oferta de matéria-prima é abundante <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, sendo considerado“(...) um d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> melhores que a gente pode tomar” (B, 7).De acordo com <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong>, a pequena oferta de uvas tintasfrente à demanda existente encareceu a matéria-prima e, por decorrência, ocusto do vinho tinto fi<strong>no</strong>, além de ter limitado a sua produção. Essa situaçãofavoreceu sobremaneira a entrada de vinh<strong>os</strong> do Exterior, que atenderam aoincremento do consumo a um preço mais acessível.Os entrevistad<strong>os</strong> acreditam que, dentro de dois ou três an<strong>os</strong>, serásolucionada a carência de uvas tintas, tendo em vista que “(...) muitas empresas,tanto as grandes e, principalmente, as pequenas, partiram <strong>para</strong> planti<strong>os</strong> própri<strong>os</strong>ou estimularam o plantio” (B, 4).A carência de uvas tintas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> está sendo paulatinamente solucionadapela integração a montante, através da produção própria e/ou pela formação deparcerias com produtores de uvas, <strong>para</strong> garantia de fornecimento e da qualidadeda matéria-prima e, em alguns cas<strong>os</strong>, <strong>para</strong> diminuição de cust<strong>os</strong>. É interessanteobservar que a parceria com produtores é mais relevante <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> do que <strong>no</strong>Uruguai, apesar de também ocorrer nesse país, uma vez que “(...) hoje não háproblema de matéria-prima, pois mais de 60% d<strong>os</strong> vinhed<strong>os</strong> já foram reconvertid<strong>os</strong>”(U, 2).Como decorrência da escassez e do elevado custo da uva tinta, há reduzidaprodução interna de vinh<strong>os</strong> tint<strong>os</strong> de qualidade — de preço elevado — em relaçãoao importado de mesma qualidade. No custo, foi salientado também o peso daalta carga tributária existente <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, que “(...) está em tor<strong>no</strong> de 42% e, n<strong>os</strong>outr<strong>os</strong> países do Merc<strong>os</strong>ul, não chega a 30%” (B, 1).4.2.1.2 - Problemas na comercialização internaPara <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> uruguai<strong>os</strong>, o maior problema é o reduzido mercadointer<strong>no</strong>, pois todo o “(...) crescimento da produção tem que ir <strong>para</strong> a exportação”


138(U, 1). Apesar do elevado consumo de vinh<strong>os</strong> comuns, o aumento do consumode vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> é dificultado pela diminuição do poder aquisitivo da populaçãoem geral, pois “(...) as pessoas estão buscando vinh<strong>os</strong> de preço baixo, que têmque custar, por litro, men<strong>os</strong> de US$ 1” (U, 6). Também foi destacado que “(...) <strong>os</strong>jur<strong>os</strong> estão muito alt<strong>os</strong>, então toda a cadeia de comercialização foi afetada”(U, 7).Já <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, a maior dificuldade é a de comercializar com as grandesredes de supermercad<strong>os</strong>, a qual também foi abordada por alguns d<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong><strong>no</strong> Uruguai, mas de forma mais amena.Os expert<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong> afirmam que as grandes redes de supermercad<strong>os</strong>dão tratamento diferenciado <strong>para</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong>, em caso de promoção,e, dado o seu grande poder de compra, impõem as condições <strong>para</strong> a aquisiçãode vinh<strong>os</strong>, “(...) porque eles dizem quanto compram de produto e quanto queeles pagam e as condições que eles te pagam” (B, 3).Nas vendas internas, <strong>os</strong> expert<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong> ainda salientam a concorrênciad<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> comuns vendid<strong>os</strong> em garrafas de 750ml e a d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong>de baixo preço e de baixa qualidade, <strong>os</strong> quais “(...) confundem o consumidorque não conhece” (B, 6). Também destacam a elevada carga tributária emcascata, as diferenças de Imp<strong>os</strong>to Sobre Circulação de Mercadorias e Serviç<strong>os</strong>entre <strong>os</strong> estad<strong>os</strong>, que dificultam a instalação de pont<strong>os</strong> de distribuição em algunsestad<strong>os</strong>, e <strong>os</strong> elevad<strong>os</strong> cust<strong>os</strong> de distribuição <strong>no</strong> mercado nacional, pelasua grande dimensão.Os entrevistad<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong> salientam a falta da imagem interna do vinho,pela escassa divulgação e pela dificuldade de promover o produto, pois “(...) hojeo <strong>Brasil</strong> produz excelentes vinh<strong>os</strong>, só que ele não conseguiu comunicar isso<strong>para</strong> o consumidor ainda” (B, 1), fato este não comentado pel<strong>os</strong> uruguai<strong>os</strong>, <strong>os</strong>quais consideram que <strong>os</strong> seus vinh<strong>os</strong> são reconhecid<strong>os</strong> nacionalmente devido àampla campanha publicitária <strong>para</strong> consumi-l<strong>os</strong>.4.2.1.3 - Problemas financeir<strong>os</strong>No Uruguai, há um elevado nível de endividamento das empresas, devidoa<strong>os</strong> investiment<strong>os</strong> realizad<strong>os</strong> <strong>para</strong> a reconversão d<strong>os</strong> vinhed<strong>os</strong> e das vinícolas,“(...) mas a margem de lucro permite a amortização do endividamento” (U, 7).Ademais, observou-se uma redução do número de vinícolas existentes, emespecial de pequenas adegas, o que é explicado pel<strong>os</strong> expert<strong>os</strong> uruguai<strong>os</strong> como“(...) um processo natural de seleção” (U, 4).Quanto à situação financeira das empresas brasileiras, <strong>os</strong> maioresproblemas levantad<strong>os</strong> foram em relação às cooperativas, pois “(...) o setor das


139cooperativas é um setor quebrado” (B, 1). Algumas fecharam, outras apresentamgrandes dificuldades financeiras, com destaque a<strong>os</strong> passiv<strong>os</strong> tributári<strong>os</strong>, ehá ainda aquelas que estão pagando dívidas contraídas <strong>no</strong> passado, como aCooperativa Aurora, sendo que apenas poucas estão bem. Já a falência e/ou asituação concordatária de algumas importantes vinícolas foram explicadas muitomais por problemas gerenciais do que de mercado, sendo salientado que “(...)as empresas grandes que faliram foi devido à estagnação, tanto na mentalidadegerencial quanto <strong>no</strong> nível tec<strong>no</strong>lógico” (B, 5).4.2.2 - A abertura de mercad<strong>os</strong>e as importaçõesA redução e/ou a eliminação tarifária, por um lado, facilitou às empresas oacesso a<strong>os</strong> insum<strong>os</strong> utilizad<strong>os</strong> a preç<strong>os</strong> próxim<strong>os</strong> daqueles praticad<strong>os</strong> <strong>no</strong>mercado internacional. Mas, por outro, afetou o mercado inter<strong>no</strong> de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>,de forma muito mais acentuada <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> do que <strong>no</strong> Uruguai.Segundo <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> de amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países, a abertura da eco<strong>no</strong>mia eo Merc<strong>os</strong>ul obrigaram as empresas a ficarem mais atentas ao mercado inter<strong>no</strong>e a aumentarem a qualidade d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> produzid<strong>os</strong>, tendo em vista aentrada de vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong>, em especial de países extrabloco. Contudo,enquanto, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, a relação vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong>/vinh<strong>os</strong> nacionais aumentousubstancialmente, o mesmo não ocorreu <strong>no</strong> Uruguai, cuja maior pressão foiobservada sobre <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> comuns.O incremento continuado das importações de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> pelo <strong>Brasil</strong> éexplicado, em parte, pelo fato de a demanda interna ser superior à produçãonacional, decorrente da escassez da uva tinta. Também o preço do importadode mesma categoria é inferior ao do nacional, devido ao incremento do preço dauva tinta <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong> e houve uma diminuição <strong>no</strong> preço d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong>pelo <strong>Brasil</strong>, em vista da existência de elevad<strong>os</strong> estoques internacionais,ao mesmo tempo em que as importações em maior volume propiciam melhorespreç<strong>os</strong>.Segundo um d<strong>os</strong> especialistas, “(...) vale a pena importar, porque existeum mercado crescente de consumo de vinho e (...) a produção é limitada <strong>para</strong>vinh<strong>os</strong> bons. E compensa, porque hoje <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> nacionais ainda são muitocar<strong>os</strong>” (B, 7). Igualmente, foi salientado que <strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong>, muitas vezes, compramo vinho importado “(...) porque têm o conceito, já de muito tempo, de que oimportado é bom (...)” (B, 1) e “(...) consumir importado ainda é uma questão destatus, é um problema de cultura” (B, 5).


140Além disso, algumas vinícolas brasileiras passaram a importar vinh<strong>os</strong> e adistribuí-l<strong>os</strong> internamente. Destacam-se dois cas<strong>os</strong> de importação de vinh<strong>os</strong> deparceir<strong>os</strong> do Merc<strong>os</strong>ul: a Cooperativa Aurora, que importa vinh<strong>os</strong> produzid<strong>os</strong> poruma empresa de sua propriedade <strong>no</strong> Uruguai, e a Chandon do <strong>Brasil</strong>, quesuspendeu a produção de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e passou a importá-l<strong>os</strong> da filialargentina. Essas importações foram facilitadas pela redução inicial e pela p<strong>os</strong>teriorisenção tarifária dentro do Merc<strong>os</strong>ul.Já <strong>no</strong> Uruguai, a importação de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> não foi destacada como umproblema relevante <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong>. A me<strong>no</strong>r representatividade dasimportações <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong> deve-se, segundo <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, à melhorada qualidade do vinho uruguaio, aliada a uma ampla campanha de consumo devinh<strong>os</strong> uruguai<strong>os</strong>, pois “(...) se educou muito o consumidor uruguaio” (U, 4). Elesdestacam, ainda, que essas alterações ocorreram muito mais como reflexo dasestratégias da cadeia produtiva, de reconversão d<strong>os</strong> vinhed<strong>os</strong> e das vinícolas,sob a orientação do Inavi, do que da concorrência d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong> <strong>no</strong>mercado inter<strong>no</strong>.4.2.3 - A abertura d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>e as exportaçõesNa atualidade, enquanto, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, as exportações de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> sãoinsignificantes em relação à produção nacional, <strong>no</strong> Uruguai elas têm um papeldestacado nesse segmento, apesar das pequenas quantidades produzidasquando com<strong>para</strong>das com a produção brasileira. Os uruguai<strong>os</strong> consideram que asaída <strong>para</strong> o vinho fi<strong>no</strong> está na exportação, porque o seu mercado é muito restrito.Em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países, as principais dificuldades <strong>para</strong> exportar são a faltade conhecimento e de imagem do próprio país como produtor de vinh<strong>os</strong> e agrande concorrência n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> internacionais. Essa situação foi assimexp<strong>os</strong>ta por um d<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong>: “(...) é preciso criar uma imagemdo vinho brasileiro, porque lá fora n<strong>os</strong> falta imagem (...). Então, eu acho que faltauma política em marketing, de reconhecimento, o que requer investimento” (B,2). Os expert<strong>os</strong> uruguai<strong>os</strong> destacaram, ainda, a falta de recurs<strong>os</strong> financeir<strong>os</strong><strong>para</strong> promover <strong>os</strong> seus vinh<strong>os</strong> <strong>no</strong> Exterior e o alto custo de manutenção d<strong>os</strong>mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong> já conquistad<strong>os</strong>. Segundo <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, “(...) o maiorproblema é que ninguém conhece o Uruguai. O Uruguai tem muito pouco vinhoe muito pouco dinheiro <strong>para</strong> promoção, e a entrada de <strong>no</strong>v<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> é muitolenta” (U, 5).


141Os perit<strong>os</strong> uruguai<strong>os</strong> também salientaram a importância do planejamentoestratégico setorial, em especial do Pla<strong>no</strong> de Marketing <strong>para</strong> o mercado exter<strong>no</strong>,elaborado em conjunto com o Inavi. Nele, constam <strong>os</strong> principais mercad<strong>os</strong> esalienta-se a importância da uva Tannat como estratégia de entrada de vinh<strong>os</strong>fin<strong>os</strong> em <strong>no</strong>v<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, produzid<strong>os</strong> como vinho varietal ou como vinho decorte, uma vez que “(...) este é o país que mais produz Tannat” (U, 4).Para promover as exportações <strong>no</strong> a<strong>no</strong> de 2002, o Inavi aumentou a taxa dearrecadação vitivinícola, visando subsidiar as exportações, seja na aquisição deuvas por empresas, que se comprometem a exportar, seja diretamente as vinícolasexportadoras, seja na promoção d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> uruguai<strong>os</strong> <strong>no</strong> exterior. Também foiressaltado o importante papel da união d<strong>os</strong> empresári<strong>os</strong> na participação deevent<strong>os</strong> internacionais, na abertura de <strong>no</strong>v<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> e nas divulgações <strong>para</strong> amanutenção desses mercad<strong>os</strong>. Essas atividades são promovidas e parcialmentesubsidiadas pelo Inavi, o qual foi muito destacado pel<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, pelo seurelevante papel.N<strong>os</strong> dois países, a principal estratégia de entrada n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>internacionais é a participação em feiras e concurs<strong>os</strong>, onde amb<strong>os</strong> têm recebidoprêmi<strong>os</strong>. Destaca-se, ainda <strong>no</strong> Uruguai, a formação de parcerias com empresasestrangeiras, visando ampliar as exportações.No Uruguai, vári<strong>os</strong> expert<strong>os</strong> salientaram que “(...) <strong>para</strong> incrementar asexportações, muitas vinícolas, visando atender a alguns mercad<strong>os</strong>, trouxeramenólog<strong>os</strong> do exterior. O objetivo era adaptar o vinho ao padrão do consumidorexter<strong>no</strong>” (U, 7). No <strong>Brasil</strong>, isso não foi destacado.A irrisória quantidade exportada pelo <strong>Brasil</strong> n<strong>os</strong> últim<strong>os</strong> an<strong>os</strong> é explicadade diversas maneiras: pela falta de produção, devido ao grande tamanho domercado inter<strong>no</strong>; por um problema de falta de competência, segundo alguns,pois “(...) chegam<strong>os</strong> a exportar um milhão de caixas, e perdem<strong>os</strong> este mercado<strong>para</strong> quem era mais competitivo e agora vam<strong>os</strong> ser competitiv<strong>os</strong>, por quê? Oque é que mudou?” (B, 4) “Nós já tivem<strong>os</strong>, <strong>no</strong> passado, exportações bastantesignificativas e não fom<strong>os</strong> capazes de manter” (B, 5). Nesse caso, <strong>os</strong> expert<strong>os</strong>estavam referindo-se ao rompimento do contrato da Cooperativa Aurora com umparceiro exter<strong>no</strong>. Ainda foi manifestado que as reduzidas exportações ocorremou porque “(...) não existe ambição, não existe discernimento <strong>para</strong> se criar umapolítica exportadora” (B, 1), ou pela falta de uma clara definição da estratégia deentrada n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> e de recurs<strong>os</strong> financeir<strong>os</strong>.A interrupção das exportações d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> Marcus James pela Aurora foisempre comentada de forma implícita, como citado <strong>no</strong> parágrafo anterior, excetopor um d<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, que se manifestou explicando-a como um problemaeminentemente de preço, em decorrência da alteração cambial:


142“Se tu me perguntares a origem do fracasso do processo, ele temmuito a ver com a realidade cambial, pois, <strong>no</strong> Pla<strong>no</strong> Real, a paridadefoi achatada. Então, um projeto altamente vencedor, como era o daAurora, foi difícil de sustentar. A Aurora chegou a vender 1,2 milhão decaixas e já tinha uma presença marcante. A marca estava consolidada.Só que, a partir desse momento, o projeto em si ficou inviável” (B, 8).Contudo alguns d<strong>os</strong> expert<strong>os</strong> afirmam que, n<strong>os</strong> próxim<strong>os</strong> an<strong>os</strong>, com asolução do problema de escassez de uvas de boa qualidade, será indispensávelum incremento das exportações, uma vez que as importações tendem aaumentar.No que se refere ao consórcio de exportação <strong>no</strong> Uruguai, ele está um tantodesativado, mas “(...) serviu <strong>para</strong> coordenar atividades em conjunto” (U, 1),enquanto, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, “(...) essa experiência do consórcio está lenta <strong>para</strong> avançar,mas, mesmo assim, ela está dando resultado” (B, 5).4.2.4 - A entrada de capital estrangeirona indústria de vinh<strong>os</strong>Neste item, tinha-se por objetiv<strong>os</strong> entender qual o papel das multinacionaisinstaladas n<strong>os</strong> países e verificar se houve fusões, aquisições ou aliançasestratégicas com empresas estrangeiras. Os especialistas de amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> paísesusaram, em geral, o termo parceria como sinônimo de alianças, em especialquando se referiam a consórci<strong>os</strong> e joint ventures.De acordo com as entrevistas realizadas em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países, não houvefusões ou aquisições de empresas com capital exter<strong>no</strong>, as multinacionais sóestão instaladas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, e as parcerias com capitais estrangeir<strong>os</strong> só ocorreram<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, <strong>no</strong> passado, e atualmente têm aumentado <strong>no</strong> Uruguai.No <strong>Brasil</strong>, as empresas multinacionais produtoras de vinh<strong>os</strong> instalaram-seprincipalmente nas décadas de 60 e 70, atraídas pelo grande tamanho e pelataxa de crescimento do mercado inter<strong>no</strong>. 18 Elas tiveram um relevante papel atémead<strong>os</strong> da década de 90, pela introdução e pela disseminação de i<strong>no</strong>vações deprocess<strong>os</strong> produtiv<strong>os</strong>, com a exploração de <strong>no</strong>vas áreas vitivinícolas e <strong>no</strong>vastec<strong>no</strong>logias, contribuindo <strong>para</strong> a melhora qualitativa e <strong>para</strong> o marketing inter<strong>no</strong>18Esses investiment<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> buscaram, basicamente, explorar o mercado doméstico e,eventualmente, <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> de países próxim<strong>os</strong>. O tamanho e a taxa de crescimento domercado foram fatores decisiv<strong>os</strong> nesse tipo de IDE, o qual predomi<strong>no</strong>u na América Latinadurante o período de industrialização substituta de importações (Chud<strong>no</strong>vsky; López, 2002).


143d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>. Atualmente, é considerado relevante o seu “(...) papel nadistribuição e imagem. <strong>As</strong> multinacionais levam vantagem na parte da tec<strong>no</strong>logia,de capital e institucional, em term<strong>os</strong> de marca” (B, 3).Foi muito comentada a experiência de instalar uma vinícola na zona dafronteira gaúcha, realizada pela multinacional National Stuart, em 1974, com oprojeto d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> Almadém, que, p<strong>os</strong>teriormente, foi adquirido pela Seagram.De acordo com <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, ao se instalar na região da Campanha, amultinacional m<strong>os</strong>trou ser p<strong>os</strong>sível produzir em diferentes tip<strong>os</strong> de sol<strong>os</strong>, e issofoi a ruptura de um tabu existente <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Os vinh<strong>os</strong> eram, inicialmente,produzid<strong>os</strong> e engarrafad<strong>os</strong> na Cidade de Santana do Livramento, <strong>no</strong> Rio Grandedo Sul, e, depois, passaram a ser engarrafad<strong>os</strong> em São Paulo, o que foi criticadopor vári<strong>os</strong> d<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>. “E passaram a se preocupar mais com volumes.(...). Eu acho que isto abriu uma brecha <strong>para</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, permitindo a entradae o crescimento de outras vinícolas” (B, 2). 19Atualmente, há apenas duas multinacionais produtoras de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>,que são a Seagram do <strong>Brasil</strong> 20 e a Martini Bacardi do <strong>Brasil</strong>, e seu papel <strong>no</strong>mercado brasileiro é considerado men<strong>os</strong> relevante do que <strong>no</strong> passado, dad<strong>os</strong> <strong>os</strong>avanç<strong>os</strong> da vinicultura nacional. Mesmo assim, as multinacionais, tendo emvista a sua maior capacidade financeira e o seu maior portfólio de produt<strong>os</strong>, têmmelhores p<strong>os</strong>sibilidades de distribuição <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong>, em especial <strong>para</strong>negociar junto às grandes redes de supermercad<strong>os</strong>. Além disso, “(...) elas aindaimportam <strong>para</strong> vender <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong>” (B, 5).Até 1997, existiram alguns acord<strong>os</strong> de distribuição entre vinícolas brasileirase estrangeiras visando à exportação de vinh<strong>os</strong>. P<strong>os</strong>teriormente, conforme <strong>os</strong>entrevistad<strong>os</strong>, não houve, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, <strong>no</strong>vas alianças com empresas de capitalestrangeiro.No Uruguai, de acordo com <strong>os</strong> participantes da pesquisa, <strong>os</strong> investiment<strong>os</strong>estrangeir<strong>os</strong> só entraram sob a forma de alianças estratégicas com algumasempresas nacionais, havendo atualmente sete empreendiment<strong>os</strong> importantes.A entrada de capital estrangeiro, com o predomínio do francês, n<strong>os</strong> últim<strong>os</strong>an<strong>os</strong>, ocorreu basicamente através da formação de joint ventures, tendo porobjetivo a produção e a distribuição de vinh<strong>os</strong> de elevada qualidade, destinad<strong>os</strong>à exportação. Esses capitais foram atraíd<strong>os</strong>, principalmente, pela disponibilidadede matéria-prima de qualidade. Para as empresas uruguaias, as joint ventures19Essa citação m<strong>os</strong>tra como a estratégia de uma empresa pode afetar o ambiente da indústriae, dessa forma, propiciar que <strong>no</strong>vas empresas entrem <strong>no</strong> mercado.20Essa empresa, em 2002, depois, portanto, de realizada a pesquisa junto a<strong>os</strong> expert<strong>os</strong>, foiadquirida pela Per<strong>no</strong>d Ricard.


144representaram as p<strong>os</strong>sibilidades de aumentar as exportações, penetrando deforma mais rápida <strong>no</strong> mercado europeu, de obter fontes adicionais de capital emaiores conheciment<strong>os</strong> e<strong>no</strong>lógic<strong>os</strong>, dentre outras. No Quadro 4.1, apresentam--se, de forma resumida, as principais joint ventures destacadas nas entrevistas.Quadro 4.1Principais joint ventures com empresas estrangeiras <strong>no</strong> Uruguai — 2002VINÍCOLAURUGUAIAEMPRESAESTRANGEIRAATIVIDADESVin<strong>os</strong> Fin<strong>os</strong> Juan Carrau J. F. Lurton (França) Produção de vinh<strong>os</strong> <strong>para</strong> exportação,distribuição de alguns vinh<strong>os</strong> Carrau<strong>no</strong> Exterior.Vin<strong>os</strong> Fin<strong>os</strong> Juan Carrau Freixennet S/A(Espanha)Produção de vinh<strong>os</strong> <strong>para</strong> exportação.Establecimiento Juanicó William Peters (França) Produção de vinh<strong>os</strong> <strong>para</strong> exportação.Castillo ViejoJean JaquesLesgourgues (França)Produção de vinh<strong>os</strong> <strong>para</strong> exportação.L<strong>os</strong> Cerr<strong>os</strong> de San Juan Chandon (Argentina) Produção de vinh<strong>os</strong> <strong>para</strong> exportação,distribuição de produt<strong>os</strong> da Moet &Chandon S/A (França) e da Chandon(Argentina) <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong>.FONTE: Entrevistas com <strong>os</strong> especialistas.4.2.5 - <strong>As</strong> principais instituições da áreado vinho<strong>As</strong> vinícolas mantêm relações com várias instituições ao mesmo tempo,desde sindicat<strong>os</strong>, associações de classes, até órgã<strong>os</strong> de regulação, etc. <strong>As</strong>eguir, são destacadas apenas as principais instituições comentadas nasentrevistas e suas características <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong> Uruguai.4.2.5.1 - Principais instituições do <strong>Brasil</strong>A Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul e a União<strong>Brasil</strong>eira de Vitivinicultura são as entidades mais antigas, criadas em 1952 e1967 respectivamente. A Uvibra procurou unir tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> produtores de uvas e


145vinh<strong>os</strong> do País. Em função de algumas divergências, surgiu, p<strong>os</strong>teriormente, a<strong>As</strong>sociação Gaúcha de Vinicultores, que reúne aqueles centrad<strong>os</strong> n<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>comuns. Após, foi criado o Instituto <strong>Brasil</strong>eiro do Vinho, como descrito por umd<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>:“Como todas estas entidades têm objetiv<strong>os</strong> semelhantes em camp<strong>os</strong>divers<strong>os</strong>, mas não têm recurs<strong>os</strong> financeir<strong>os</strong> <strong>para</strong> aplicar, foi criado,em 1997, o Ibravin, atendendo à Lei do Fundovitis. Este é alimentadopor recolhiment<strong>os</strong> compulsóri<strong>os</strong> das vinícolas, que recebem acorrespondente compensação <strong>no</strong> ICMS, por renúncia do Gover<strong>no</strong> doEstado. Os valores recolhid<strong>os</strong> pelo Fundovitis seriam obrigatoriamenterepassad<strong>os</strong> a projet<strong>os</strong> do setor, através do Ibravin, que é o órgãomáximo do setor” (B, 5).Portanto, o Ibravin reúne diferentes segment<strong>os</strong> da cadeia produtiva do vinho,como as cooperativas (Fecovinho), as indústrias (Uvibra e Agavi) e <strong>os</strong> agricultores(Comissão da Uva), em iguais participações. Apesar de ter sido citado por tod<strong>os</strong><strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> como o principal órgão ligado ao vinho, houve várias críticas àsua atuação, pois “(...) o Ibravin não assumiu o papel <strong>para</strong> o qual foi criado (...),e <strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> do Fundovites, por pressão da Uvibra, estão sendo mal usad<strong>os</strong>”(B, 3).Existem também diversas associações que representam algumas regiõesprodutoras, dentre as quais se destaca a <strong>As</strong>sociação d<strong>os</strong> Produtores de Vinh<strong>os</strong>Fin<strong>os</strong> do Vale d<strong>os</strong> Vinhed<strong>os</strong>, criada em 1995. Essa associação conseguiu aprimeira indicação de procedência <strong>para</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong>. E, na área depesquisa, cabe relevante papel à Embrapa, que p<strong>os</strong>sui um Centro Nacional dePesquisa de Uva e Vinho, localizado na Cidade de Bento Gonçalves, <strong>no</strong> RS.Ainda de acordo com <strong>os</strong> expert<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong>, há muitas críticas às instituiçõespela sua falta de representatividade <strong>para</strong> ajudar a solucionar <strong>os</strong> problemasexistentes, pela tímida ação <strong>no</strong> mercado, com esforç<strong>os</strong> desperdiçad<strong>os</strong>, e pelasua falta de união. Salientam ainda que, apesar do grande número de entidades,“(...) todas estão muito deficientes com relação a seus plan<strong>os</strong> e estratégias” (B,5) e há uma grande dificuldade em pensar o setor como um todo.4.2.5.2 Principais instituições do UruguaiPara <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> uruguai<strong>os</strong>, as suas instituições são muito eficientes,ao contrário da percepção d<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong>. De acordo com um d<strong>os</strong> especialistasconsultad<strong>os</strong>,“Existem instituições que fazem investigações, como o INIA, parecidocom a Embrapa do <strong>Brasil</strong>, o LATU, que certifica <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> que se


146exportam, e <strong>os</strong> Grup<strong>os</strong> CREA, ligado a<strong>os</strong> viticultores. Ao nível dasadegas, as três associações mais importantes são: CBU, <strong>As</strong>sociaçãode Adegas Exportadoras e Organização Nacional de Vinicultores. Edestaca-se o Inavi pelo seu papel” (U, 2).O CBU, fundado na década de 30 e afiliado à Câmara de Indústrias doUruguai, atualmente agrupa 17 empresas, muitas das quais dedicadas à elaboraçãode vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> e relevantes exportadoras. Ele tem sido um importantemeio da modernização industrial, e foram as empresas agrupadas <strong>no</strong> CBU querealizaram as primeiras exportações de vinh<strong>os</strong> do Uruguai. Já a <strong>As</strong>sociação deAdegas Exportadoras de Vinh<strong>os</strong> Fin<strong>os</strong> do Uruguai é uma instituição comercialfundada em 1999, com <strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> de abrir <strong>no</strong>v<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> <strong>no</strong> exterior e deconsolidar <strong>os</strong> já existentes, mediante a promoção d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> uruguai<strong>os</strong>. É men<strong>os</strong>abrangente do que o CBU, pois seu objetivo é apenas a exportação.“Atualmente, são 24 empresas participantes, com uma produção de15 milhões de garrafas de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> por a<strong>no</strong>. Mas, devido adivergências entre as vinícolas, cinco importantes empresasexportadoras não fazem parte da associação: Irurtia, Bella Unión(vinh<strong>os</strong> Calvi<strong>no</strong>r), Carrau, T<strong>os</strong>canini e Cerr<strong>os</strong> de San Juan que fazemparte do CBU.” (U, 4).O Inavi, criado em 1987, dinamizou o processo de transformação dasestruturas produtivas e industriais vitivinícolas. Ele é gerido por um conselho deadministração, comp<strong>os</strong>to por <strong>no</strong>ve membr<strong>os</strong>, sendo três delegad<strong>os</strong> oficiais querepresentam três ministéri<strong>os</strong> e seis delegad<strong>os</strong> representantes de associaçõesprivadas. Suas principais funções são fiscalizar e aplicar as <strong>no</strong>rmas legais vigentese assessorar o Poder Executivo na formulação de políticas de vitivinicultura. Osrecurs<strong>os</strong> do Instituto são obtid<strong>os</strong> mediante uma taxa de controle e promoçãovitivinícola, que é cobrada sobre a uva e o vinho que se produz e se importa <strong>no</strong>País.Em 1994, foi criado o Fundo de Promoção das Exportações da Uva e doVinho, que é distribuído proporcionalmente entre as firmas exportadoras, deacordo com <strong>os</strong> volumes exportad<strong>os</strong>, o que equivale a uma devolução de imp<strong>os</strong>t<strong>os</strong>à exportação, como forma de fomentar a mesma.O Inavi tem um relevante papel nas políticas de desenvolvimento e n<strong>os</strong>programas de promoção da indústria vinícola uruguaia, onde se destaca areconversão de cerca de 3.000 hectares de vinhed<strong>os</strong>, com a substituição deuvas de qualidade e<strong>no</strong>lógica inferior por variedades viníferas que proporcionamum vinho de melhor qualidade. Salienta-se também o seu papel <strong>no</strong> levantamentode dad<strong>os</strong> — Cens<strong>os</strong> Vitícola e Vinícola — e na difusão dessa informação, bemcomo na política de promoção exterior, que consiste em difundir <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> uruguai<strong>os</strong>n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong>.


147De acordo com <strong>os</strong> perit<strong>os</strong> uruguai<strong>os</strong>, todas as instituições são eficientes eajudam <strong>os</strong> vinicultores. A única crítica é quanto ao excessivo controle do Inavi.“Todas as empresas estão sujeitas a um conjunto de <strong>no</strong>rmas, quesão promovidas, aplicadas e controladas pelo Inavi. Para alguns, oInavi é um órgão controlador e repressor. Mas tod<strong>os</strong> concordam queseu papel foi importante, principalmente devido à promoção e àpublicidade <strong>no</strong> Exterior.” (U, 3).“O Inavi ajuda as adegas a participarem das feiras internacionais etrata de passar as informações <strong>para</strong> <strong>os</strong> que não vão às feiras. E tratade juntar as adegas me<strong>no</strong>res <strong>para</strong> que elas tenham condições departicipar.” (U, 2).Cabe ainda destacar a Organización Nacional de Vinicultores, que p<strong>os</strong>suio maior número de afiliad<strong>os</strong> e o Laboratório Tec<strong>no</strong>lógico do Uruguai, que estáligado ao comércio exter<strong>no</strong> de vinh<strong>os</strong>, pois concede <strong>os</strong> certificad<strong>os</strong> de exportação,depois de efetuar o controle de qualidade d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>, e controla as importaçõesde vinho e de insum<strong>os</strong>.4.2.6 - Tendências d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>Durante as entrevistas, <strong>no</strong> quesito referente a comentári<strong>os</strong> adicionais, foramdestacadas, pel<strong>os</strong> especialistas de amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países, as tendências <strong>para</strong> ofuturo próximo.No Uruguai, foram ressaltadas as seguintes tendências: aumento daprodução de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, das exportações e do número de parcerias entre empresas,ao mesmo tempo em que decresce o número de adegas e as importaçõesde vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> continuam estáveis ou decrescem. De acordo com um d<strong>os</strong>expert<strong>os</strong>:“<strong>As</strong> adegas muito pequenas tendem a desaparecer ou se juntam comoutras <strong>para</strong> se tornar maiores ou, ainda, se juntam uma grande comuma empresa do exterior, através de joint ventures ou outr<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> deparcerias. Isto já vem ocorrendo e pode ser demonstrado pelo fato deter diminuído o número de adegas, mas aumentado a produção emlitr<strong>os</strong>” (U, 5).Já <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, foram salientad<strong>os</strong> <strong>os</strong> aument<strong>os</strong> da produção de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>na zona sul e <strong>no</strong> <strong>no</strong>rte da serra do Rio Grande do Sul e na Região Nordeste doPaís, sendo, nesta última região, em especial, de vinh<strong>os</strong> tint<strong>os</strong> jovens e refrescantes;o incremento da participação das importações de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>; a maior


148concentração da produção de vinh<strong>os</strong> nas grandes empresas, ao mesmo tempoem que é previsto o crescimento do número de empresas pequenas, estimuladaspelo mercado e pelo e<strong>no</strong>turismo; e a entrada, via aquisição, de outrasmultinacionais <strong>no</strong> mercado, tendo em vista que algumas grandes empresas têmsido assediadas. Conforme <strong>os</strong> expert<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong>, n<strong>os</strong> próxim<strong>os</strong> an<strong>os</strong> haveráalterações: “O setor vai passar, n<strong>os</strong> próxim<strong>os</strong> an<strong>os</strong>, por uma acomodação muitogrande, d<strong>os</strong> grandes ficarem ainda maiores, e <strong>os</strong> pequen<strong>os</strong> cada vez me<strong>no</strong>res”(B, 1).No Quadro 4.2, faz-se um resumo d<strong>os</strong> principais resultad<strong>os</strong> das entrevistasrealizadas com <strong>os</strong> expert<strong>os</strong> em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países.Quadro 4.2Principais resultad<strong>os</strong> das entrevistas realizadas com especialistasdo <strong>Brasil</strong> e do Uruguai — 2002DISCRIMINAÇÃO BRASIL URUGUAIPrincipaisproblemasCooperativasProblemas de produção: carênciae elevado preço da uvatinta; reduzida produção internade vinh<strong>os</strong> tint<strong>os</strong> de qualidade;elevado preço do vinho nacionalpelo custo da uva e pelacarga tributária.Dificuldades de comercializaçãointerna: concorrência dovinho importado; negociar comas grandes redes de supermercad<strong>os</strong>.Dificuldades na distribuição:diferenças de ICMS entre <strong>os</strong>estad<strong>os</strong>; elevad<strong>os</strong> cust<strong>os</strong> pelasdimensões internas doPaís; falta de imagem internado vinho.Problemas financeir<strong>os</strong>: elevadonível de endividamento dascooperativas devido a passiv<strong>os</strong>financeir<strong>os</strong>.São importantes <strong>no</strong> mercado;em geral, estão com dificuldadesfinanceiras.Problemas de produção: elevadopreço d<strong>os</strong> insum<strong>os</strong> sec<strong>os</strong> (rolha,garrafa, rótulo e embalagem).Dificuldades de comercialização interna:principalmente o reduzidomercado inter<strong>no</strong>.Problemas financeir<strong>os</strong>: elevado nívelde endividamento das empresas,devido à reconversão d<strong>os</strong> vinhed<strong>os</strong>e das vinícolas.Existem três ou quatro, mas não sãoimportantes em term<strong>os</strong> de produção.(continua)


149Quadro 4.2Principais resultad<strong>os</strong> das entrevistas realizadas com especialistasdo <strong>Brasil</strong> e do Uruguai — 2002DISCRIMINAÇÃO BRASIL URUGUAIAquisições,fusões e aliançasestratégicascom empresasde capital estrangeiroTerceirizaçãoda produçãoInstituiçõesEstratégiainstitucionalTendênciasFusões e aquisições: nãoocorreram.Alianças estratégicas: já ocorreramacord<strong>os</strong> contratuais <strong>no</strong>passado; o consórcio de exportaçãoestá em fase inicial.Utilizada por várias vinícolaspequenas, <strong>para</strong> diminuir cust<strong>os</strong>fix<strong>os</strong>; mais usual em emgarrafament<strong>os</strong>.Muito usada nas marcas própriasde redes de supermercad<strong>os</strong>.Existem várias, as mais citadasforam: Uvibra; Ibravin eAprovale.Muitas críticas à atuação daUvibra e da Ibravin.Não há uma estratégia dacadeia produtiva.Aumento da participação dasimportações.Maior concentração da produçãode vinh<strong>os</strong> nas grandesempresas.Crescimento do número deempresas pequenas com oaumento do e<strong>no</strong>turismo.Incremento da produção nazona sul e <strong>no</strong> <strong>no</strong>rte da serrado RS e na Região Nordestedo <strong>Brasil</strong>.Fusões e aquisições: não ocorreram.Alianças estratégicas: existem algunsacord<strong>os</strong> de distribuição visandoà exportação; o papel do consórciojá foi mais relevante; há váriasjoint ventures.Muito pouco utilizada entre as vinícolas;foi destacada a Aurora S/A,que utiliza muito <strong>para</strong> elaboraçãoe/ou engarrafamento.Muito usada nas marcas próprias derestaurantes e supermercad<strong>os</strong>.Existem várias, as mais citadas foram:Inavi; ABE e CBU.São consideradas muito eficientes; aúnica crítica é o demasiado controledo Inavi.Existe um planejamento setorial, coordenadopelo Inavi, de reconversãod<strong>os</strong> vinhed<strong>os</strong> e das vinícolas e umpla<strong>no</strong> de marketing <strong>para</strong> o desenvolvimentodas exportações de vinho.Aumento das exportações.Acréscimo do número de aliançasestratégicas com empresas estrangeiras.<strong>As</strong> importações de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>continuam estáveis ou decrescem.Aumento da produção de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>e diminuição da de vinh<strong>os</strong> comuns.FONTE: Entrevista com <strong>os</strong> especialistas.


1504.3 - À guisa de algumas reflexões<strong>As</strong> indústrias de vinh<strong>os</strong> brasileira e uruguaia têm raízes históricas, nasquais <strong>os</strong> imigrantes europeus, em especial <strong>os</strong> italian<strong>os</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>os</strong> espanhóise italian<strong>os</strong> <strong>no</strong> Uruguai, desempenharam importante papel, trazendo consigo aexperiência e a tradição da arte de elaborar vinh<strong>os</strong>. A cultura desses imigrantes,que fundaram muitas das vinícolas até hoje existentes, influenciou odirecionamento das empresas, principalmente n<strong>os</strong> seus primeir<strong>os</strong> estági<strong>os</strong> devida, tendo em vista a grande predominância de empresas familiares produtorasde vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países. Novas gerações assumiram o poder, o queimplicou <strong>no</strong>vas experiências de aprendizagem, sendo necessário encontrar suaspróprias soluções. Mas, em muitas delas, permanecem aqueles valores básic<strong>os</strong>d<strong>os</strong> seus fundadores, conforme a literatura afirma e <strong>os</strong> expert<strong>os</strong> confirmam.Isso é visível em culturas, como a brasileira e a uruguaia, onde as relaçõesfamiliares são cultivadas e as dimensões de lealdade e de preocupação sãomais fortes do que em sociedades onde o personalismo é dominante. A questãoda família influencia a forma de gerenciar, e, às vezes, a organização funcionamelhor quando ela coincide com a da família. Essa situação foi descrita porHofstede (apud Hickson; Pugh, 1995), quando identificou as culturas comorientação mais coletiva, ao analisar as dimensões de coletivismo e deindividualismo em vári<strong>os</strong> países.Com a mudança de gestores nas empresas, muitas vezes com a entradadas <strong>no</strong>vas gerações na administração, ocorreram mudanças organizacionaisem algumas vinícolas, conforme <strong>os</strong> relat<strong>os</strong> obtid<strong>os</strong>. A alteração do poder nasorganizações pode gerar mudanças culturais nas mesmas, pois, segundo Bertero(1996), o poder pode moldar, perpetuar ou mudar a cultura. Além disso, asalterações <strong>no</strong> ambiente exter<strong>no</strong> também podem causar modificações n<strong>os</strong> padrõesculturais da sociedade ou da organização (Luppi, 1995), uma vez que, segundoSchein (1984), a cultura é um conjunto de pressup<strong>os</strong>t<strong>os</strong> básic<strong>os</strong> inventad<strong>os</strong>,descobert<strong>os</strong> ou desenvolvid<strong>os</strong> por um grupo, à medida que aprende a lidar comproblemas de adaptação interna e ligação externa. Dito em outras palavras, acultura é aprendida e desenvolve-se com a experiência.De acordo com as análises realizadas, pode se perceber que o mercadode vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, tanto <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> como <strong>no</strong> Uruguai, se alterou ao longo d<strong>os</strong> últim<strong>os</strong>an<strong>os</strong>. Transformações e/ou ampliação da viticultura, modificações tec<strong>no</strong>lógicasn<strong>os</strong> process<strong>os</strong> produtiv<strong>os</strong>, incremento da concorrência <strong>no</strong> mercado mundial devinh<strong>os</strong> e suas repercussões sobre <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> doméstic<strong>os</strong>, mudanças de hábit<strong>os</strong>de vida e de preferências d<strong>os</strong> consumidores e crescente poder d<strong>os</strong>supermercad<strong>os</strong> como canais intern<strong>os</strong> de venda de vinh<strong>os</strong> foram alguns d<strong>os</strong> fatores


151que contribuíram <strong>para</strong> essas mudanças. E compradores poder<strong>os</strong><strong>os</strong>, segundoPorter (1998), podem exercer um grande poder de barganha, forçando um rebaixamenton<strong>os</strong> preç<strong>os</strong> ou demandando uma maior qualidade ou melhores serviç<strong>os</strong>pelo mesmo preço, e ainda podem acirrar a concorrência, jogando um produtorcontra o outro.Destacam-se também fatores intern<strong>os</strong> de amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países, como questõesconjunturais de desaceleração do crescimento, aliad<strong>os</strong> a elevadas taxasde jur<strong>os</strong> reais e a políticas cambiais ora de depreciação, ora de apreciação dasmoedas nacionais em relação ao dólar, com suas repercussões sobre asempresas e sobre o poder de compra d<strong>os</strong> consumidores, bem como fatoresextern<strong>os</strong> que afetaram de forma adversa as eco<strong>no</strong>mias brasileira e uruguaia,dentre <strong>os</strong> quais a desaceleração do ritmo de crescimento da eco<strong>no</strong>mia mundiale, em especial, d<strong>os</strong> principais mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong> de vinh<strong>os</strong> desses países. Emmercad<strong>os</strong> recessiv<strong>os</strong>, a tendência é uma diminuição da demanda, com umaumento d<strong>os</strong> estoques mundiais de vinh<strong>os</strong>, reduzindo o seu preço n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>internacionais e pressionando ainda mais a concorrência em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>.De acordo com <strong>os</strong> dad<strong>os</strong> disponíveis e com as informações das entrevistasem amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países, com a abertura d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, a concorrência <strong>no</strong> mercadodoméstico de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> foi muito mais acentuada <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> do que <strong>no</strong> Uruguai,pela maior relação da quantidade comercializada de vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong>/vinh<strong>os</strong>nacionais. Parte desse acréscimo deve-se à importação pelas próprias vinícolasbrasileiras, até mesmo com a interrupção ou a diminuição da produção interna, 21conforme exp<strong>os</strong>to pel<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>. Por outro lado, o Uruguai soube aproveitarmelhor as oportunidades, pois exportou mais vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, apresentando maiorrelação de vinh<strong>os</strong> comercializad<strong>os</strong> <strong>no</strong> mercado exter<strong>no</strong>/mercado inter<strong>no</strong>. No<strong>Brasil</strong>, as exportações de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> vêm diminuindo desde 1998.Os entrevistad<strong>os</strong> de amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países concordam que a única maneira deas empresas uruguaias de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> crescerem é através das exportações,devido ao peque<strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong>. É difícil aumentar muito o consumo domercado doméstico de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, de um lado, porque a população é reduzidae apresenta baix<strong>os</strong> níveis de natalidade, não sendo p<strong>os</strong>sível contar com a taxade crescimento demográfico; de outro, porque o consumo per capita de vinho21Um d<strong>os</strong> métod<strong>os</strong> clássic<strong>os</strong> <strong>para</strong> analisar <strong>os</strong> ganh<strong>os</strong> de uma união aduaneira, como é o casodo Merc<strong>os</strong>ul, é verificar se <strong>os</strong> cas<strong>os</strong> de criação de comércio são superiores a<strong>os</strong> de desviode comércio. N<strong>os</strong> relat<strong>os</strong> obtid<strong>os</strong> junto a<strong>os</strong> especialistas brasileir<strong>os</strong>, foi verificada a ocorrênciade criação de comércio <strong>no</strong> Merc<strong>os</strong>ul. Este ocorre quando há uma substituição doconsumo de produt<strong>os</strong> intern<strong>os</strong> de custo mais elevado por produt<strong>os</strong> de um país parceiro, comcust<strong>os</strong> mais baix<strong>os</strong>. Essa substituição pode significar uma redução ou uma eliminação daprodução interna (Robson, 1985, p. 30).


152comum ou de mesa já é elevado, por ser adquirido a baixo custo e, muitasvezes, consumido junto às refeições, com o preço da taça de vinho próximo aode um refrigerante. Dadas as sucessivas crises por que passou a eco<strong>no</strong>miauruguaia, o poder aquisitivo da população diminuiu, sendo, pois, cust<strong>os</strong>o aousuário passar a consumir um vinho de preço mais elevado, como é o caso d<strong>os</strong>vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, enquanto não aumentar o nível de renda inter<strong>no</strong>.No que se refere ao <strong>Brasil</strong>, tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> especialistas uruguai<strong>os</strong> e parte d<strong>os</strong>brasileir<strong>os</strong> acham que, dado o tamanho do mercado inter<strong>no</strong> e o baixo consumoper capita atual, o <strong>Brasil</strong> não deve se preocupar com as exportações, enquantooutr<strong>os</strong> perit<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong> acham que o <strong>Brasil</strong> pode e deve investir mais nasexportações. Tendo em vista o reduzido consumo inter<strong>no</strong> de vinh<strong>os</strong> nacionais,há um grupo que considera necessário, primeiro, ampliá-lo, absorvendo parte doespaço ocupado pel<strong>os</strong> importad<strong>os</strong>, e, principalmente, melhorando, ainda mais,as condições competitivas das empresas brasileiras e a qualidade do produto,devido às dificuldades de entrar <strong>no</strong> mercado exter<strong>no</strong> e às experiências anteriores,frustradas, de exportações. É interessante observar que praticamente tod<strong>os</strong> <strong>os</strong>perit<strong>os</strong> uruguai<strong>os</strong> consideram que o vinho branco brasileiro é de boa qualidade,mas o tinto não. No que diz respeito àqueles que consideram as exportaçõesimportantes, podem-se destacar, de acordo com <strong>os</strong> relat<strong>os</strong> obtid<strong>os</strong>: o uso dasvendas externas como argumento de marketing inter<strong>no</strong>; as eco<strong>no</strong>mias de escala,propiciadas pelo incremento da produção; <strong>os</strong> cust<strong>os</strong> de distribuição em <strong>no</strong>v<strong>os</strong>mercad<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong>, distantes geograficamente, às vezes mais oner<strong>os</strong><strong>os</strong> doque as vendas <strong>para</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong>; a p<strong>os</strong>sibilidade de fazer caixa pel<strong>os</strong>adiantament<strong>os</strong> de câmbio obtido, etc.Amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países melhoraram a qualidade d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>; <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, poriniciativa d<strong>os</strong> empresári<strong>os</strong>, tendo em vista a concorrência do importado, e, <strong>no</strong>Uruguai, por uma política setorial apoiada pelo Gover<strong>no</strong>, pel<strong>os</strong> viticultores e pel<strong>os</strong>vinicultores. Mas, acima de tudo, <strong>os</strong> expert<strong>os</strong> de amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países salientam aimportância de aumentar o número de consumidores de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>intern<strong>os</strong>, o que não é tão fácil, como já explicado. Os perit<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong>destacaram que um d<strong>os</strong> caminh<strong>os</strong> é buscar parte do consumo de vinh<strong>os</strong>importad<strong>os</strong>, <strong>para</strong> que as empresas brasileiras p<strong>os</strong>sam, pelo men<strong>os</strong>, manter asua participação <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong>. No Uruguai, acreditam que isso só poderáse dar pelo deslocamento parcial do consumo d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> comuns <strong>para</strong> o d<strong>os</strong>vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>.Cabe destacar que <strong>os</strong> dois países p<strong>os</strong>suem distint<strong>os</strong> tamanh<strong>os</strong> e que nemsempre uma política adotada em um país pode ser transplantada <strong>para</strong> o outro.Ou seja, apesar de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> expert<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong> considerarem importante aexistência de uma estratégia setorial e elogiarem a política adotada pelo Inavi


153<strong>para</strong> o Uruguai, também admitem que, <strong>no</strong> caso do <strong>Brasil</strong>, esta deveria ser diferenteem alguns aspect<strong>os</strong>.No <strong>Brasil</strong>, <strong>os</strong> especialistas consideram que é necessária uma reconversãod<strong>os</strong> vinhed<strong>os</strong>, mas de forma diferente da que foi feita <strong>no</strong> Uruguai, isto é, nãoarrancando <strong>os</strong> parreirais existentes de uvas americanas, mas, sim, ampliando--<strong>os</strong> com variedades adequadas de uvas viníferas, conforme exp<strong>os</strong>to abaixo:“Devem ser determinad<strong>os</strong> quais <strong>os</strong> varietais que têm dotes <strong>para</strong>permanecer <strong>no</strong> País, pois existem alguns que não têm. O <strong>Brasil</strong> nãoprecisa cortar parreiras, uma vez que a área plantada de uvas comunspode ser usada <strong>para</strong> a exportação de suc<strong>os</strong>. Por isso, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, areconversão deve ser diferente. É preciso aumentar a área plantadadas viníferas <strong>para</strong> compensar essa fuga das uvas comuns <strong>para</strong> <strong>os</strong>suc<strong>os</strong>. Esta é uma estratégia necessária” (B, 3).Chama atenção o fato de que <strong>os</strong> expert<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong> conhecem, em geral,bem as empresas uruguaias e acreditam que algumas delas fazem vinh<strong>os</strong> tãobons, e alguns até melhores, quanto <strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong>. Já <strong>os</strong> uruguai<strong>os</strong> poucoconhecem das empresas brasileiras e não têm uma opinião muito favorável daqualidade d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong>, pois <strong>os</strong> consideram sempre inferiores a<strong>os</strong>seus. Também foi destacado que <strong>os</strong> principais problemas da indústria sãodistint<strong>os</strong>. No Uruguai, o maior problema citado foi a comercialização externa; já<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, <strong>os</strong> problemas são a carência e o alto custo da uva tinta, aliad<strong>os</strong> àsdificuldades de comercialização interna.A adoção de uma estratégia de cooperação horizontal entre empresas foidestacada <strong>no</strong> Uruguai, ao contrário do <strong>Brasil</strong>. Essa estratégia é evidenciadapela participação das vinícolas em diversas instituições, o que tem permitido ointercâmbio de conheciment<strong>os</strong> e de experiências com outr<strong>os</strong> produtores. Mas,<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> afirmam que não há formas relevantes de cooperaçãoentre as empresas, que se limitam à troca ou ao empréstimo de matérias-primase a discussões sobre preç<strong>os</strong> a serem pag<strong>os</strong> pela matéria-prima. Já a terceirizaçãoé mais comum <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> do que <strong>no</strong> Uruguai, mas muito mais como uma formade diminuir cust<strong>os</strong> fix<strong>os</strong> por empresas pequenas, ocupar a capacidade oci<strong>os</strong>a eaumentar o faturamento de grandes empresas do que como uma estratégia decooperação.Entretanto foi destacado, pel<strong>os</strong> expert<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong>, que a instalação dasmultinacionais <strong>no</strong> mercado, até mead<strong>os</strong> da década de 90, contribuiu <strong>para</strong> adisseminação de i<strong>no</strong>vações tec<strong>no</strong>lógicas e estratégicas, corroborando o queBartlett e Gh<strong>os</strong>hal (2000) afirmam, ou seja, que a entrada de uma multinacional<strong>no</strong> mercado doméstico pode contribuir <strong>para</strong> o aprendizado estratégico, nãoresultando em prejuíz<strong>os</strong>.


154Ainda <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, as instituições da área do vinho são percebidas comopouco expressivas, havendo muitas críticas, por não estarem cumprindo o papel<strong>para</strong> o qual foram criadas. Mas, sobretudo, não existe uma maior cooperaçãoentre as empresas, de acordo com alguns entrevistad<strong>os</strong>, porque existe uma“cultura de desconfiança” entre <strong>os</strong> própri<strong>os</strong> empresári<strong>os</strong>.Os expert<strong>os</strong> de amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países concordam que algumas empresas, comoas grandes e as envolvidas n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong>, têm estratégias e outrasnão, sendo salientado o relevante papel do Inavi em relação às estratégias demarketing <strong>para</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong>, as quais são seguidas por todas asempresas exportadoras uruguaias.Do exp<strong>os</strong>to, conclui-se que o segmento de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> do Uruguai soubeaproveitar melhor as oportunidades propiciadas pela globalização <strong>para</strong> se inserir<strong>no</strong> mercado exter<strong>no</strong>. A adoção de uma estratégia setorial, em função dasp<strong>os</strong>sibilidades apresentadas, tem propiciado uma maior inserção d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>fin<strong>os</strong> uruguai<strong>os</strong> na eco<strong>no</strong>mia mundial, apesar de sua ainda pequenarepresentatividade. Esse processo implicou alguns risc<strong>os</strong>, originad<strong>os</strong> de <strong>no</strong>vasfontes de instabilidade comercial, <strong>os</strong> quais foram, em parte, amenizad<strong>os</strong> pelaformação de alianças estratégicas com grandes empresas estrangeirasprodutoras e/ou distribuidoras de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, em especial na Europa, e pelagrande colaboração entre as empresas produtoras através das suas instituições.Se a abertura das eco<strong>no</strong>mias pode ampliar o risco comercial, pois asempresas ficam mais exp<strong>os</strong>tas às variações de oferta e a<strong>os</strong> preç<strong>os</strong> n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>internacionais, o maior problema é o de risc<strong>os</strong> de exclusão das empresas nãoadequadamente pre<strong>para</strong>das <strong>para</strong> as fortes demandas de competitividade, própriasdo mundo contemporâneo globalizado. Nesse sentido, Dawar e Fr<strong>os</strong>t (1999)chamam atenção <strong>para</strong> a importância de o empresário doméstico ser perspicazquanto a<strong>os</strong> seus recurs<strong>os</strong> competitiv<strong>os</strong>, <strong>para</strong> poder defender o seu mercadointer<strong>no</strong> das pressões da globalização e/ou ampliá-lo através de exportações.O relevante papel da estratégia setorial do vinho <strong>no</strong> Uruguai, com um pla<strong>no</strong>de marketing que especifica <strong>os</strong> principais mercad<strong>os</strong> de entrada, com acoordenação do Inavi, envolve a partilha de informações, de responsabilidades ede esforç<strong>os</strong>. Sabe-se que o Gover<strong>no</strong> pode ter uma participação importante namanutenção ou na criação de vantagens competitivas. Porter (1993) ressaltaque <strong>os</strong> govern<strong>os</strong> podem influir sobre as condições d<strong>os</strong> fatores, através deinformações sobre mercad<strong>os</strong>, tec<strong>no</strong>logia, competição, etc., bem como atravésde subsídi<strong>os</strong> <strong>para</strong> tentar influenciar <strong>os</strong> cust<strong>os</strong> d<strong>os</strong> fatores, ressaltando que <strong>os</strong>subsídi<strong>os</strong> diret<strong>os</strong> são benéfic<strong>os</strong> apenas se cobrirem uma fração modesta docusto em questão e se forem utilizad<strong>os</strong> como sinais de direção <strong>para</strong> ocomportamento empresarial. E isso é o que ocorreu <strong>no</strong> Uruguai, pois, conformeum d<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>,


155“O Inavi significou <strong>para</strong> nós uma externalidade p<strong>os</strong>itiva, ou seja, quandoo Inavi começou havia subsídi<strong>os</strong>, <strong>os</strong> subsídi<strong>os</strong> <strong>para</strong> trocas de plantas.(...) <strong>os</strong> vinicultores perceberam que o Inavi estava ap<strong>os</strong>tando <strong>no</strong> vinho.Na verdade, essa externalidade p<strong>os</strong>itiva foi perceber que talvez o vinhoteria futuro. Então, a crença <strong>no</strong> setor foi mais importante que o valordo subsídio” (U, 5).Em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países, predominam, em número, as pequenas empresasfamiliares, com a concentração do poder decisório n<strong>os</strong> dirigentes. O produto emsi não é considerado i<strong>no</strong>vador, e somente algumas grandes empresas têmrealizado gast<strong>os</strong> em i<strong>no</strong>vação e em desenvolvimento de produt<strong>os</strong>, pois as demais,em geral, copiam ou adaptam produt<strong>os</strong> e designs de outras empresas nacionaisou estrangeiras.


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1575 - RESULTADOS DA FASEQUALITATIVANa fase qualitativa, foram realizadas entrevistas em profundidade, junto adois executiv<strong>os</strong>, em cada uma das empresas selecionadas. Conforme exp<strong>os</strong>to<strong>no</strong> capítulo do método, todas as entrevistas foram realizadas pela própriapesquisadora e gravadas, exceto uma, que foi feita com a<strong>no</strong>tações, a pedido doentrevistado. Todas as entrevistas, depois de transcritas, foram analisadas,usando-se <strong>para</strong> tal a análise de conteúdo por tema. O roteiro das entrevistasencontra-se <strong>no</strong> Apêndice B, e a análise é apresentada tendo em vista respondera<strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> desta tese.Uma vez que muit<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> respondiam em algumas questões váriasoutras correlatas, a seqüência do roteiro alterou-se de uma <strong>para</strong> outra entrevista,sendo, pois, importante que as transcrições f<strong>os</strong>sem examinadas com minúcia,<strong>para</strong> retirar <strong>os</strong> trech<strong>os</strong> mais significativ<strong>os</strong> a serem destacad<strong>os</strong> na análise deconteúdo. Essa técnica de análise é recomendada por vári<strong>os</strong> autores (Moraes,1999; Richardson, 1989).Como o método utilizado foi o de cas<strong>os</strong> múltipl<strong>os</strong> com duas unidades deanálise, tratando-se, pois, de cas<strong>os</strong> múltipl<strong>os</strong> incorporad<strong>os</strong> (Yin, 2001), buscou--se analisar <strong>os</strong> dad<strong>os</strong> construindo uma explanação sobre as estratégias <strong>para</strong> <strong>os</strong>vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>. Segundo Yin (2001, p. 140), a explicação de “(...) um fenômen<strong>os</strong>ignifica estipular um conjunto de el<strong>os</strong> causais em relação a ele”. Nesse sentido,as análises feitas foram baseadas nas entrevistas em profundidade, sendocolocadas todas as evidências obtidas e tendo ocorrido, algumas vezes, <strong>para</strong> omesmo fato, explicações alternativas. Não houve preocupação em registrar aopinião de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> em cada um d<strong>os</strong> aspect<strong>os</strong> analisad<strong>os</strong>, mas,sim, de ressaltar aqueles que conseguiam passar melhor a idéia que estavasendo desenvolvida. Como foi esclarecido o objetivo da entrevista e solicitado <strong>os</strong>eu uso <strong>para</strong> a tese, quando é feita alguma citação, coloca-se o <strong>no</strong>me doentrevistado e a empresa a que pertence. Entretanto, nas citações, é colocadoapenas o <strong>no</strong>me pelo qual a pessoa é referida, que está entre parênteses, assimcomo se fez em relação às empresas, a fim de tornar mais fácil e agradável aleitura, conforme segue.- pela Miolo, Adria<strong>no</strong> Miolo (Adria<strong>no</strong>) e Carl<strong>os</strong> Eduardo Nogueira (Nogueira);- pela Aurora, Carl<strong>os</strong> Za<strong>no</strong>tto (Za<strong>no</strong>tto) e Rafael Koff Acordi (Rafael);- pela Salton, Antônio Augusto Salton (Antônio) e Daniel Salton (Daniel);


158- pela Cordelier, Lídio Ziero (Lídio) e Silvio B. Pasin (Silvio);- pela De Lantier, Adolfo Alberto Lona (Lona) e Carl<strong>os</strong> Reni Zanus (Carl<strong>os</strong>);- pela Aria<strong>no</strong>, Nelson Aria<strong>no</strong> (Nelson) e Elizabeth Aria<strong>no</strong> (Elizabeth);- pela Irurtia, Heinz Rippe (Rippe) e Liliana Irurtia (Liliana);- pela T<strong>os</strong>canini, Jorge T<strong>os</strong>canini (Jorge) e Andres T<strong>os</strong>canini (Andres);- pela Carrau, Javier Carrau (Javier) e María Etchamendi (Maria).Este capítulo está dividido em quatro itens. No primeiro, faz-se uma brevecaracterização das empresas entrevistadas, <strong>para</strong> melhor entendimento dapesquisa levada a efeito junto a elas. P<strong>os</strong>sibilita também m<strong>os</strong>trar que asempresas selecionadas, conforme critéri<strong>os</strong> explicitad<strong>os</strong> <strong>no</strong> capítulo referente aométodo, são representativas do volume produzido e comercializado de vinh<strong>os</strong>fin<strong>os</strong> em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países. No segundo, apresentam-se <strong>os</strong> process<strong>os</strong> deformulação e de implementação das estratégias. No terceiro, o conteúdo dasestratégias, que compreende as estratégias de produto e produção, dedistribuição <strong>para</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> intern<strong>os</strong> e extern<strong>os</strong>, de recurs<strong>os</strong> human<strong>os</strong> e asestratégias financeiras.Quanto às fusões e aquisições que também foram questionadas, tendoem vista ser parte de um d<strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> desta pesquisa, cabe destacar que, nasempresas entrevistadas, elas não ocorreram, exceto o caso da fusão damultinacional Bacardi-Martini, que, indiretamente, se refletiu na corporação <strong>no</strong><strong>Brasil</strong> e na sua unidade de vinh<strong>os</strong>. Por isso, <strong>no</strong> quarto item, apresentam-seapenas as estratégias de cooperação das vinícolas com as instituições da áreado vinho e as alianças estratégicas que implicam cooperação entre empresas,com fornecedores e/ou distribuidores.5.1 - Caracterização das empresasentrevistadasA produção total de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> nas empresas brasileiras analisadas foi de24.055 mil litr<strong>os</strong>, o que representa cerca de 60% da produção de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>nacionais, 1 pois, só <strong>no</strong> RS, foram produzid<strong>os</strong> 34.159 mil litr<strong>os</strong> de vinh<strong>os</strong> deviníferas em 2001, de acordo com dad<strong>os</strong> disponibilizad<strong>os</strong> pela Embrapa (Embrapa,2002).1A Embrapa só dispõe d<strong>os</strong> dad<strong>os</strong> da produção de vinh<strong>os</strong> por estado até 1999 (Embrapa,2002). Ainda <strong>no</strong> a<strong>no</strong> de 2001, foram comercializad<strong>os</strong>, <strong>no</strong> RS, 28.653 litr<strong>os</strong> de vinh<strong>os</strong> deviníferas.


159No Uruguai, a produção de vinh<strong>os</strong> VCP das empresas analisadas foi decerca de 3.150 mil litr<strong>os</strong>. Como o Inavi só controla a comercialização do vinho,não se dispõe d<strong>os</strong> dad<strong>os</strong> de produção em se<strong>para</strong>do <strong>para</strong> o VCP. Apenas <strong>para</strong>efeito de com<strong>para</strong>ção, pois <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> podem ser comercializad<strong>os</strong> <strong>no</strong> mesmoa<strong>no</strong> em que são elaborad<strong>os</strong> (como <strong>no</strong> caso de vinh<strong>os</strong> jovens), ou em an<strong>os</strong>p<strong>os</strong>teriores (<strong>no</strong> caso de vinh<strong>os</strong> mais envelhecid<strong>os</strong>), em 2001 e 2002, foramcomercializad<strong>os</strong> ao a<strong>no</strong>, em média, n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> inter<strong>no</strong> e exter<strong>no</strong>, cerca de5.105 mil litr<strong>os</strong>, o que demonstra que essas empresas são representativas domercado.Esta seção está baseada nas entrevistas realizadas, em especial na primeiraparte do roteiro (Apêndice B), que trata da caracterização das empresas, queinclui informações sobre a data de criação e o volume produzido, importado eexportado de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> em 2001, bem como busca fazer uma com<strong>para</strong>çãod<strong>os</strong> principais indicadores, como produção, faturamento e rentabilidade, alémdo volume de exportação e de importação de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> pelas empresas <strong>no</strong>triênio 1999-01. Buscou-se, com isso, com<strong>para</strong>r <strong>os</strong> dad<strong>os</strong> com <strong>os</strong> an<strong>os</strong>anteriores, uma vez que as entrevistas foram realizadas ao longo do a<strong>no</strong> 2002,e, portanto, <strong>os</strong> dad<strong>os</strong> desse a<strong>no</strong> ainda não estavam disponíveis.Os dad<strong>os</strong> de faturamento, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, foram solicitad<strong>os</strong> em reais, mas, <strong>no</strong>Uruguai, em dólares, pois essa moeda tem muito maior circulação interna, e <strong>os</strong>empresári<strong>os</strong> trabalham mentalmente em dólar, pelas características peculiaresdessa eco<strong>no</strong>mia. Já <strong>os</strong> empresári<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong> teriam dificuldade em convertermentalmente as informações <strong>para</strong> dólar, devido às alterações da paridade real//dólar ao longo do período 1999-01 e ao fato de o dólar não ser de uso corrente.Entretanto isso não dificultou as com<strong>para</strong>ções entre as empresas, uma vez queas de um mesmo país eram comparáveis, e usou-se mais o critério de volume<strong>para</strong> as com<strong>para</strong>ções de produção. Já <strong>no</strong> que se refere a exportações eimportações, sempre foram solicitadas informações em dólares <strong>para</strong> <strong>os</strong>entrevistad<strong>os</strong> de amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países.Algumas informações foram complementadas através de folders recebid<strong>os</strong>das empresas durante as entrevistas, bem como pelas home pages dasrespectivas vinícolas. Foram entrevistadas cinco empresas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e quatro <strong>no</strong>Uruguai, conforme segue.5.1.1 - Empresas brasileiras<strong>As</strong> empresas brasileiras entrevistadas, conforme já explicitado <strong>no</strong> método,foram: De Lantier Vinh<strong>os</strong> Fin<strong>os</strong>, Cooperativa Vinícola Aurora, Vinícola Miolo Ltda.,


160Vinícola Cordelier Ltda. e Vinh<strong>os</strong> Salton S/A Indústria e Comércio (nesta última,apenas a divisão de vinh<strong>os</strong>), que são caracterizadas a seguir.5.1.1.1 - Cooperativa Vinícola AuroraFoi criada em 1931, quando 16 famílias produtoras de uvas se uniram <strong>para</strong>produzir vinh<strong>os</strong>. Ela foi constituída como uma cooperativa, que, segundo aOrganização das Cooperativas <strong>Brasil</strong>eiras (Organização das Cooperativas<strong>Brasil</strong>eiras, 2003), é uma associação de pessoas que se unem, tendo em vistaseus interesses comuns, por meio de uma empresa de propriedade coletiva edemocraticamente gerida. A Aurora é controlada por representantes d<strong>os</strong>membr<strong>os</strong>, e o resultado financeiro pode ser utilizado <strong>para</strong> o desenvolvimento daCooperativa, <strong>para</strong> atividades aprovadas por seus membr<strong>os</strong> e/ou distribuída a<strong>os</strong>membr<strong>os</strong>, na proporção das suas transações com a Cooperativa.Atualmente, a Cooperativa Vinícola Aurora p<strong>os</strong>sui 1.265 famílias associadas,produtores de uvas, cujo número já foi superior em épocas passadas, com umsistema de produção totalmente integrado. Os cooperad<strong>os</strong> fornecem, de formaregular e exclusiva, toda a sua produção de uvas <strong>para</strong> a vinícola, que dá garantiade compra a preç<strong>os</strong> de mercado.A Aurora ocupa a liderança <strong>no</strong> mercado nacional há décadas, sendo amaior empresa produtora de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> do <strong>Brasil</strong>, destacando-se também pelaprodução de vinh<strong>os</strong> comuns, espumantes, Keep Cooler e suc<strong>os</strong>. Dado seu grandeparque industrial, com maior capacidade que a comercialização da empresa,presta serviç<strong>os</strong> <strong>para</strong> outras vinícolas me<strong>no</strong>res, elaborando vinh<strong>os</strong> e/ouengarrafando-<strong>os</strong>.Já foi uma importante exportadora de vinh<strong>os</strong> de mesa na década de 70; e,de 1988 a 1998, exportou <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> Marcus James <strong>para</strong> <strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>,através de um acordo feito com a empresa <strong>no</strong>rte-americana Canandaigua WineCo.Na segunda metade da década de 90, passou por uma crise financeiraacentuada, que culmi<strong>no</strong>u com o afastamento da diretoria da época e com aindicação de <strong>no</strong>v<strong>os</strong> executiv<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> credores, liderad<strong>os</strong> pelo Banco do <strong>Brasil</strong>,<strong>para</strong> negociar o passivo da empresa com instituições financeiras, fornecedores,gover<strong>no</strong> e associad<strong>os</strong>. Como decorrência, grande parte desse passivo já foipaga.De acordo com informações da empresa, com<strong>para</strong>ndo-se <strong>os</strong> dad<strong>os</strong> de1999 com <strong>os</strong> de 2001, o volume produzido, o faturamento e a quantidade importadade vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> cresceram mais de 20%. Mas o volume exportado está em


161decréscimo e foi, em 2001, bastante abaixo d<strong>os</strong> valores históric<strong>os</strong> de décadaspassadas.5.1.1.2 - De Lantier Vinh<strong>os</strong> Fin<strong>os</strong>Foi constituída em 1978, como uma divisão de vinh<strong>os</strong> da Martini & R<strong>os</strong>si.Entretanto essa empresa iniciou suas atividades <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> em 1950, instalando--se em São Paulo, <strong>para</strong> elaborar o vermute Martini, cuj<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> <strong>para</strong> o vermuteeram adquirid<strong>os</strong> na serra gaúcha. Em 1968, iniciou a produção d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> ChâteauDuvalier, inicialmente terceirizad<strong>os</strong> na Vinícola Rio-Grandense, e, em 1973,construiu a cantina em Garibaldi-RS, de onde passou a operar em 1974 até apresente data.Em 1978, a De Lantier lançou outra linha de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, o Baron de Lantier.Atualmente, produz vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> e espumantes, além d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>-base <strong>para</strong> aelaboração do vermute, que são transportad<strong>os</strong>, a granel, até São Paulo.Em 1993, a Martini & R<strong>os</strong>si (italiana) e a Bacardi (cubana), dois d<strong>os</strong> maioresgrup<strong>os</strong> mundiais de bebidas, uniram-se internacionalmente. Como resultado dafusão, surgiu a Bacardi-Martini, uma companhia global. A De Lantier continuoucomo uma divisão de vinh<strong>os</strong> da Bacardi-Martini do <strong>Brasil</strong> até 2002, quando passoua ser uma Unidade de Negóci<strong>os</strong> de Vinh<strong>os</strong>, a única, dessa empresa, existente<strong>no</strong> mundo.Conforme <strong>os</strong> dad<strong>os</strong> informad<strong>os</strong>, o volume produzido e o faturamentodecresceram em 30% e 20%, respectivamente, entre 1999 e 2001, comodecorrência da perda de foco n<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> pela multinacional à qual pertence. <strong>As</strong>exportações foram interrompidas em 1999, e a rentabilidade decresceu <strong>no</strong> triênio.5.1.1.3 - Vinícola Miolo Ltda.A empresa foi constituída em 1989, mas sua história teve início em 1897,com a chegada de Giuseppe Miolo, que recebeu um lote de terras na região hojede<strong>no</strong>minada Vale d<strong>os</strong> Vinhed<strong>os</strong>, pertencente ao Município de Bento Gonçalves--RS. Nessa região, onde <strong>os</strong> imigrantes plantaram uvas de qualidade, até hoje aempresa tem vinhed<strong>os</strong> e uma grande unidade produtora.Com as <strong>no</strong>vas gerações, com formação em e<strong>no</strong>logia, a família Miolo, apartir de 1990, passou a produzir seus própri<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>. A Miolo é considerada aempresa que mais cresceu em produção, em pouco mais de uma década deexistência, sendo hoje a segunda maior vinícola do <strong>Brasil</strong>. Além de sua sede emBento Gonçalves, na serra gaúcha, também p<strong>os</strong>sui duas fazendas com plantação


162de videiras: Estância Fortaleza do Seival (na região da Campanha do RS) e aFazenda Ouro Verde (em Casa Nova, na Bahia).A Miolo produz basicamente vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> (90%) e uma pequena parte deespumantes, diferenciando-se das demais por não produzir vinh<strong>os</strong> de mesa.P<strong>os</strong>sui três escritóri<strong>os</strong> <strong>para</strong> a comercialização de seus produt<strong>os</strong>, em BentoGonçalves (RS), São Paulo (SP) e Recife (PE).Com<strong>para</strong>ndo-se <strong>os</strong> dad<strong>os</strong> de 2001 com <strong>os</strong> de 1999, a empresa apresentoucrescimento superior a 20% do volume produzido, do volume exportado, dofaturamento e da rentabilidade. Nesse período, não realizou importações, e asexportações, apesar de seu crescimento, ainda eram pouco significativas, quandocom<strong>para</strong>das com as vendas <strong>para</strong> o mercado inter<strong>no</strong>.5.1.1.4 - Vinh<strong>os</strong> Salton S/A Indústria e ComércioEm 1878, a família Salton (Paulo Salton e seis irmã<strong>os</strong>) veio do Vêneto, naItália, e instalou-se na cidade hoje conhecida como Bento Gonçalves (RS). Em1910, foi criada a empresa Paulo Salton & Irmão, dedicada à produção de vinh<strong>os</strong>,cuja de<strong>no</strong>minação atual é Vinh<strong>os</strong> Salton S/A Indústria e Comércio. É, atualmente,a vinícola mais antiga do País que produz vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>.Em 1948, instalou uma filial em São Paulo e introduziu <strong>no</strong> mercado oConhaque Presidente, produzido, <strong>no</strong> início, em Bento Gonçalves, sendo,p<strong>os</strong>teriormente, engarrafado em São Paulo (SP), onde, mais tarde, passoutambém a ser produzido. 2 Já a matriz, <strong>no</strong> RS, produz vinh<strong>os</strong> de mesa, vinh<strong>os</strong>fin<strong>os</strong>, que representam cerca de 30% da sua produção, espumantes e suc<strong>os</strong> deuva.<strong>As</strong>sim como outras vinícolas, a Salton passou por uma crise financeira, nadécada de 80, fruto, em parte, da recessão econômica brasileira <strong>no</strong> período1981-83, a qual se acentuou <strong>no</strong> final da década, pela grande concorrência <strong>no</strong>mercado do conhaque (que representava seu principal faturamento). 3 Essa crisena empresa foi superada com aporte de recurs<strong>os</strong> financeir<strong>os</strong> da própria empresa,proveniente da divisão de conhaque, permitindo a ampliação da produção devinh<strong>os</strong>, com destaque <strong>para</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>.2A produção foi transferida <strong>para</strong> São Paulo, porque houve uma alteração na comp<strong>os</strong>ição doconhaque. Este era, inicialmente, produzido com destilado de vinho, mas, <strong>no</strong> final da décadade 80, passou a ser produzido com destilado de cana-de-açúcar. E São Paulo era maispróxima da fonte de cana-de-açúcar, a <strong>no</strong>va matéria-prima básica.3Para uma análise da crise e de como ela foi superada, ver Hexsel e Toni (2002).


163Com<strong>para</strong>ndo-se <strong>os</strong> dad<strong>os</strong> de 2001 com <strong>os</strong> de 1999, a empresa aumentoua produção e o faturamento de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, e a sua rentabilidade foi estável. Nãoimportava nem exportava vinh<strong>os</strong> até a data da entrevista. Nessa época, estavaem construção uma <strong>no</strong>va sede, uma vez que a atual se situa <strong>no</strong> centro dacidade, o que torna imp<strong>os</strong>sível a sua expansão. Esse projeto envolve, ainda, amodernização de equipament<strong>os</strong> e a ampliação da produção.5.1.1.5 - Vinícola Cordelier Ltda.Foi fundada em 1989, em Bento Gonçalves, com a de<strong>no</strong>minação CasaCordelier. Em 2002, mudou a razão social <strong>para</strong> Vinícola Cordelier Ltda., visandofacilitar a identificação do ramo de atividade e do produto comercializado.Seu proprietário é descendente de imigrantes italian<strong>os</strong>, que chegaram ao<strong>Brasil</strong> em 1886, trazendo mudas de videiras da família em sua bagagem. Atradição do cultivo de videiras e a elaboração de vinh<strong>os</strong> foram preservadas pelafamília Ziero e reiniciadas pelo atual proprietário.A vinícola destaca-se pel<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> Cordelier e Granja União, que têmsignificativa participação <strong>no</strong> faturamento, mas elabora também vinh<strong>os</strong> de mesa,espumantes e destilad<strong>os</strong> (uísque) 4 . Está em fase de ampliação das instalações,sendo previsto um aumento de sua capacidade de produção, com a instalaçãode <strong>no</strong>v<strong>os</strong> equipament<strong>os</strong> de alta tec<strong>no</strong>logia importad<strong>os</strong> da Itália.Considerando-se <strong>os</strong> dad<strong>os</strong> de produção e de faturamento <strong>no</strong> período 1999--01, houve um acréscimo; <strong>no</strong> entanto, a rentabilidade manteve-se estável, devidoa<strong>os</strong> elevad<strong>os</strong> preç<strong>os</strong> d<strong>os</strong> insum<strong>os</strong>. Nunca exportou, apenas importou vinh<strong>os</strong>fin<strong>os</strong> <strong>para</strong> distribuí-l<strong>os</strong> <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong>, em 1998.5.1.2 - Empresas uruguaiasConforme exp<strong>os</strong>to <strong>no</strong> capítulo do método, foram realizadas entrevistas emquatro empresas: Aria<strong>no</strong> Hn<strong>os</strong> S/A, Vin<strong>os</strong> Fin<strong>os</strong> Juan Carrau, Juan T<strong>os</strong>canini yHij<strong>os</strong> S/A e Dante Irurtia S/A.4O uísque é elaborado na vinícola, com o malte produzido por outra empresa, da qual um d<strong>os</strong>don<strong>os</strong> é o mesmo da Vinícola Cordelier, segundo informações obtidas junto à empresa.


1645.1.2.1 - Aria<strong>no</strong> Hn<strong>os</strong> S/AEmpresa familiar, fundada em 1929 por dois irmã<strong>os</strong>, Adélio e Amílcar Aria<strong>no</strong>,imigrantes italian<strong>os</strong>, que, em 1927, chegaram ao Uruguai e adquiriram oitohectares de terra em El Colorado, Departamento de Canelones, onde, atualmente,se situa a adega. Hoje, um d<strong>os</strong> filh<strong>os</strong> destes e a terceira geração seguem coma tradição familiar.Inicialmente, produziam apenas vinh<strong>os</strong> de mesa e vermute. Houve algumaprodução de vinho fi<strong>no</strong> ainda na década 70, que depois foi suspensa e só foiretomada e ampliada em 1990. A empresa p<strong>os</strong>sui vinhed<strong>os</strong> <strong>no</strong> Departamento deCanelones (40 hectares) e na região de Constancia, <strong>no</strong> Departamento de Paysandú(70 hectares). Fez uma reconversão total de seus vinhed<strong>os</strong>, com <strong>no</strong>vas cepasfrancesas, e conta com equipament<strong>os</strong> necessári<strong>os</strong> <strong>para</strong> assegurar um vinho dequalidade.Em 2001, produziu cerca de 400 mil litr<strong>os</strong> de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, o que representou29% da sua produção, pois, atualmente, só elabora vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> e de mesa.Mais da metade desses vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> foi transacionada <strong>no</strong> mercado exter<strong>no</strong>, emespecial EUA, <strong>Brasil</strong>, Canadá, Polônia, Alemanha, Suíça e Noruega. No período1999-01, enquanto as exportações aumentaram, a produção, o faturamento e arentabilidade mantiveram-se relativamente estáveis.5.1.2.2 - Juan T<strong>os</strong>canini y Hij<strong>os</strong> S/AFoi fundada em 1908 pelo imigrante italia<strong>no</strong> Don Juan T<strong>os</strong>canini, que chegouao Uruguai em 1894, em Canelón Chico, <strong>no</strong> Departamento de Canelones, ondese localiza até hoje a vinícola. A produção de vinh<strong>os</strong> foi seguida pel<strong>os</strong> filh<strong>os</strong>,pel<strong>os</strong> net<strong>os</strong> e pel<strong>os</strong> bisnet<strong>os</strong>.No início da década de 80, a vinícola começou a reconversão d<strong>os</strong> vinhed<strong>os</strong>,substituindo as velhas variedades por <strong>no</strong>vas cepas viníferas de origem francesa.Na época da entrevista, p<strong>os</strong>suía 75 hectares de vinhed<strong>os</strong> própri<strong>os</strong> e vinificavaunicamente uvas provenientes de seus vinhed<strong>os</strong>. Começou a elaborar vinh<strong>os</strong>VCP em 1987 e a exportar em 1995. É uma empresa que mantém ascaracterísticas e <strong>os</strong> princípi<strong>os</strong> de uma empresa familiar.Em 2001, produziu 400 mil litr<strong>os</strong> de vinh<strong>os</strong> VCP, o que representou cercade 30% da sua produção de vinh<strong>os</strong>, pois também produz vinh<strong>os</strong> de mesa. Dototal de VCP produzido, 120 mil litr<strong>os</strong> foram destinad<strong>os</strong> à exportação, em especial<strong>para</strong> Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>, Alemanha e Suíça.Com<strong>para</strong>ndo-se <strong>os</strong> dad<strong>os</strong> de 1999 com <strong>os</strong> de 2001, essa empresaapresentou crescimento superior a 20% da produção, do faturamento e da


165rentabilidade d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>. Já as exportações cresceram cerca de 14%; enunca importou vinh<strong>os</strong> <strong>para</strong> distribuição.5.1.2.3 - Dante Irurtia S/AEssa empresa foi fundada em 1913, com a chegada de Don Lorenzo Irurtia,de origem basca (Espanha), à zona de Cerro Carmelo, <strong>no</strong> atual Departamentode Colônia, <strong>no</strong> início de século XX, onde, até hoje, se situam a adega e <strong>os</strong>vinhed<strong>os</strong>. Essa é uma zona muito especial pelo seu clima, pois faz mais calor<strong>no</strong> verão e mais frio <strong>no</strong> inver<strong>no</strong> do que <strong>no</strong> resto do País.A partir de 1954, Dante Irurtia, atual proprietário, promoveu a instalação devinhed<strong>os</strong> selecionad<strong>os</strong> e, na década de 70, começou a trazer as cepasimportadas, tendo, p<strong>os</strong>teriormente, realizado i<strong>no</strong>vações tec<strong>no</strong>lógicas n<strong>os</strong> vinhed<strong>os</strong>e na adega.É a maior empresa produtora de vinh<strong>os</strong> em geral, com capacidade deprodução de seis milhões de litr<strong>os</strong>, sendo seus principais produt<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> demesa; VCP; mistela 5 ; xerez 6 e espumante, além de comercializar uvas de mesain natura. No a<strong>no</strong> de 2001, produziu cerca de 1,6 milhão de litr<strong>os</strong> de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>,o que representou 50% da sua produção, tendo exportado 7% d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> VCPproduzid<strong>os</strong>. Em an<strong>os</strong> anteriores, também exportou vinh<strong>os</strong> a granel <strong>para</strong> a Suíça.Os principais mercad<strong>os</strong> da vinícola são <strong>os</strong> países europeus, Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>,América Central, Canadá e México.É uma empresa familiar, conduzida por Dante Irurtia e seus três filh<strong>os</strong>,sendo um encarregado da parte de elaboração do vinho, o outro, especializadoem vitivinicultura, está se dedicando mais à área de parreirais, e a terceira é aDiretora Comercial.Com<strong>para</strong>ndo-se <strong>os</strong> dad<strong>os</strong> de 1999 com <strong>os</strong> de 2001, a produção e ofaturamento de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> decresceram, em decorrência, de acordo com <strong>os</strong>entrevistad<strong>os</strong>, basicamente, de problemas climátic<strong>os</strong> e da perda de poderaquisitivo do mercado inter<strong>no</strong>, que consumiu vinh<strong>os</strong> mais barat<strong>os</strong>. Mesmo assim,a rentabilidade manteve-se estável, e as exportações cresceram.5M<strong>os</strong>to de uva misturado ao álcool <strong>para</strong> impedir a fermentação.6É um tipo de vinho espanhol.


1665.1.2.4 - Vin<strong>os</strong> Fin<strong>os</strong> Juan CarrauA empresa Vin<strong>os</strong> Fin<strong>os</strong> Juan Carrau teve o seu início <strong>no</strong> a<strong>no</strong> de 1976, coma instalação de Bodegas Castel Pujol, mas é fruto de longa tradição vitivinícolada família Carrau, desde o século XVIII, na Espanha.O emigrante espanhol Juan Carrau Sust chegou ao Uruguai <strong>no</strong> século XX,e continuou com a tradição, sendo sucedido por seu filho, Juan Francisco CarrauPujol, que, depois de ter participado da Bodega Santa R<strong>os</strong>a durante mais de 40an<strong>os</strong>, se retirou dessa firma e fundou a Carrau. Atualmente, ela é uma empresafamiliar, conduzida por cinco filh<strong>os</strong> de Juan C. Pujol, sendo que dois deles sãodiretores da empresa.Essa empresa p<strong>os</strong>sui duas adegas, a Castel Pujol, localizada emMontevidéu, e, mais recentemente, construiu a Cerro Chapéu, na zona de fronteiracom o <strong>Brasil</strong>. Ambas são d<strong>os</strong> mesm<strong>os</strong> proprietári<strong>os</strong>, que são irmã<strong>os</strong>, ediferenciam-se pel<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> de vinh<strong>os</strong> produzid<strong>os</strong>. P<strong>os</strong>sui vinhed<strong>os</strong> em duas zonas:na região de Las Violetas, <strong>no</strong> Departamento de Canelones, e em Cerro Chapéu,<strong>no</strong> Departamento de Rivera. Essa área de vinhed<strong>os</strong>, localizada na zona de fronteiracom o <strong>Brasil</strong>, foi selecionada durante um projeto de investigação, dirigido porJuan Carrau Pujol, em colaboração com a Universidade da Califórnia, n<strong>os</strong> an<strong>os</strong>de 1974 e 1975, <strong>no</strong> sul do <strong>Brasil</strong>, com o objetivo de plantar vinhed<strong>os</strong> em zonasadequadas junto ao projeto Almadén 7 , da Califórnia.Essa vinícola se distingue das demais entrevistadas <strong>no</strong> Uruguai por doisimportantes fat<strong>os</strong>: é a única empresa de porte médio que não produz vinho demesa; elabora apenas vinh<strong>os</strong> VCP e uma muito pequena quantidade deespumantes; é uma empresa que mantém uma área específica de pesquisa edesenvolvimento, cujo diretor é um d<strong>os</strong> proprietári<strong>os</strong>, com vári<strong>os</strong> projet<strong>os</strong> emandamento junto com institut<strong>os</strong> e faculdades internacionais; é reconhecida comouma empresa i<strong>no</strong>vadora em níveis nacional e internacional. Seu objetivo precípuoé produzir vinh<strong>os</strong> de qualidade superior <strong>para</strong> exportação.Em 2001, produziu 750 mil litr<strong>os</strong> de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> e exportou 263 mil litr<strong>os</strong>,cuj<strong>os</strong> principais mercad<strong>os</strong> foram: Rei<strong>no</strong> Unido, Canadá, Noruega, Alemanha.Devido à situação d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> internacional e nacional, <strong>no</strong> triênio 1999-01 suaprodução foi estável, mas seu faturamento, rentabilidade e exportaçõesdecresceram.7Esse projeto, de propriedade da multinacional National Stuart, foi instalado na zona defronteira do <strong>Brasil</strong> com o Uruguai <strong>para</strong> a produção d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> Almadén.


1675.1.3 - Uma visão conjunta das empresasAtravés dessa breve caracterização das empresas, pode-se observar que,em todas as empresas uruguaias e em três empresas brasileiras de propriedadefamiliar, houve um conjunto de condicionantes históric<strong>os</strong> e culturais queinfluenciaram a formação e a evolução inicial das empresas analisadas.Em nenhum momento, foi objetivo desta pesquisa estudar a história dasempresas, o que sairia do foco da pesquisa. Todavia, <strong>no</strong> decorrer das entrevistas,foram destacadas as origens das empresas. <strong>As</strong> vinícolas familiares foramfundadas por imigrantes ou descendentes de imigrantes italian<strong>os</strong> ou espanhóis,que viviam, em seus países de origem, da produção vitivinícola.Já a Aurora, apesar de se distinguir das demais pelo fato de ser umacooperativa, em sua origem apresentou uma situação similar, ou seja, foiestabelecida por um grupo de famílias ligadas à vitivinicultura, também deimigrantes ou de seus descendentes. Dado que a cultura não é característicade uma pessoa, mas do grupo que é condicionado pelo mesmo tipo de educaçãoe experiência de vida, a cultura desses imigrantes influenciou as empresas.Segundo Barney (1995), a história das empresas tem significativaimportância, pois m<strong>os</strong>tra como evoluem as empresas, como elas adquiremhabilidades, capacidades e recurs<strong>os</strong>, que são únic<strong>os</strong> e que refletem o caminhoparticular de cada empresa, incluindo suas experiências e relações. Além disso,como já referenciado na parte teórica, as decisões estratégicas são muitoinfluenciadas pela história da empresa e pelas vivências d<strong>os</strong> seus administradores,“(...) que filtram as informações externas e interpretam as capacidades internas.<strong>As</strong>sim, esse ‘direcionamento’ tácito, que dá origem à estratégia, é o produto deuma rede de pressup<strong>os</strong>t<strong>os</strong>, crenças e valores (...)” (Johnson, 1999a, p. 444).No caso da De Lantier, a situação difere, pois se tratou da instalação inicialde uma divisão de vinh<strong>os</strong> de uma multinacional, cujo objetivo era a elaboraçãodo vinho base <strong>para</strong> o vermute, que é um produto vinícola, transacionado <strong>no</strong>mercado inter<strong>no</strong> com a estratégia de marca global. Recentemente, foitransformada em uma unidade de negóci<strong>os</strong>, e seu diretor, que é o mesmo emtodo o período de existência, também é um imigrante, que imprimiu seu estilogerencial. Nessas circunstâncias, é p<strong>os</strong>sível que a cultura da sociedade, quedefine como as pessoas fazem as coisas e representa valores compartilhad<strong>os</strong>,segundo Hickson e Pugh (1995), juntamente com outr<strong>os</strong> fatores, como a culturado executivo do topo, tenham influenciado nas estratégias adotadas pela vinícola,as quais precisam da aprovação da Bacardi-Martini do <strong>Brasil</strong>.


1685.2 - Os process<strong>os</strong> de formulação e deimplementação das estratégiasEste item tem por objetivo compreender como e por quem as estratégiasforam formuladas e implementadas e se esses process<strong>os</strong> ocorreram de formasucessiva ou interligada. A estratégia não p<strong>os</strong>sui um único conceito, suacompreensão é complexa, podendo ser planejada, deliberada ou emergente(Mintzberg; Ahlstrand; Lampel, 2000). Mas existem três aspect<strong>os</strong> da estratégiaque devem ser considerad<strong>os</strong>: o que a estratégia é; o processo de formulação,como se chegou a essa estratégia; e a implementação, como a estratégia foip<strong>os</strong>ta em prática. <strong>As</strong> ações estratégicas são moldadas, e seus retorn<strong>os</strong> sãoinfluenciad<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> ambientes exter<strong>no</strong> e inter<strong>no</strong> das empresas. Primeiro, peloambiente em geral (instituições, fatores macr<strong>os</strong>societais, cultura). Depois, peloambiente da indústria (fornecedores, competidores e canal). E, finalmente, pel<strong>os</strong>eu ambiente inter<strong>no</strong> (Varadarajan; Jayachandran, 1999).À medida que as eco<strong>no</strong>mias brasileira e uruguaia diminuíram as tarifas deimportação <strong>no</strong> início da década de 90, aumentou a vulnerabilidade da produçãointerna à concorrência externa. Com o fim da desgravação tarifária dentro doMerc<strong>os</strong>ul em 2000, essa fragilidade foi acentuada. Entretanto, conforme jácomentado <strong>no</strong> referencial teórico, assim como a globalização não afeta tod<strong>os</strong><strong>os</strong> setores da mesma maneira, o mesmo ocorre com <strong>os</strong> process<strong>os</strong> de integração.Depende de como as empresas estão articuladas e de como a indústriadoméstica está estruturada <strong>para</strong> enfrentar o incremento da concorrência, tanto<strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong> como n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> internacionais, bem como <strong>para</strong> aproveitaras oportunidades que se ampliam pela abertura d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong>, emespecial d<strong>os</strong> parceir<strong>os</strong> <strong>no</strong> bloco.Praticamente tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> d<strong>os</strong> dois países concordaram quetanto a abertura d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> como o Merc<strong>os</strong>ul modificaram <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>intern<strong>os</strong>. Em primeiro lugar, alteraram a oferta de produt<strong>os</strong> <strong>no</strong> mercado, pelamaior diversidade, beneficiando o consumidor. Em segundo lugar, mudaram onível da concorrência interna, com repercussões sobre as empresas domésticas.Entrementes, <strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> ocasionad<strong>os</strong> nas empresas domésticas e a forma comoelas reagiram não foram semelhantes em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países. Se, por um lado, aentrada de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> foi muito mais expressiva <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, com reflex<strong>os</strong>significativ<strong>os</strong> sobre as empresas locais, por outro, a entrada de vinh<strong>os</strong> comuns<strong>no</strong> Uruguai, que foi muito mais importante, estimulou as empresas a produziremvinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, forçando-as a encontrar saídas <strong>para</strong> o crescimento da produção.


169Portanto, apesar de passarem por process<strong>os</strong> similares, a abertura d<strong>os</strong>mercad<strong>os</strong> e o processo de integração do Merc<strong>os</strong>ul não tiveram o mesmo impact<strong>os</strong>obre as empresas de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> do <strong>Brasil</strong> e do Uruguai, tendo em vista <strong>os</strong>diferentes tamanh<strong>os</strong> de mercad<strong>os</strong> intern<strong>os</strong> e, por decorrência, de volume deprodução; as distintas conjunturas políticas e econômicas; o desigual ritmo eabrangência do capital estrangeiro <strong>no</strong> setor; e o diverso papel das instituiçõesexistentes.Deve-se ainda salientar que não há o determinismo do ambiente, e aestratégia não é apenas focada na intensidade do ajuste entre <strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> e asoportunidades atuais. A relação estratégia-ambiente é recíproca, e assim comoa estratégia pode ser formada tendo em vista as mudanças ambientais (internasou externas à empresa), a implementação das estratégias pode modificar essesambientes.Em geral, <strong>os</strong> autores de estratégia enfatizam mais a sua formulação doque a sua implementação. No que diz respeito à formação da estratégia,Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), conforme exp<strong>os</strong>to <strong>no</strong> Quadro 2.1 doreferencial teórico, m<strong>os</strong>traram que cada escola tem uma visão distinta. Entretantoas escolas estão interligadas e podem ser consideradas como partes diferentesdo mesmo processo de formação (Mintzberg; Lampel, 1999). Destarte, não existeuma maneira única de as estratégias serem formadas.Para Noble e Mokwa (1999), a performance estratégica permeia aimplementação, e há uma ligação crítica entre a formação das estratégias demarketing e a obtenção de uma performance organizacional superior. Salientamque pouco se aborda na literatura sobre sua implementação ou realização, aocontrário do que ocorre com a formulação, mas, de forma similar, não há umconsenso sobre a sua definição.Ora, sabe-se que as estratégias formuladas podem, ou não, ser realizadas,porém, <strong>para</strong> efeit<strong>os</strong> de estudo desses cas<strong>os</strong>, era importante saber como ocorriamesses process<strong>os</strong>, de forma sucessiva ou concomitante, se houve alterações depercurso, se as estratégias são, ou não, formalizadas, se há comprometimentodas pessoas e de recurs<strong>os</strong> financeir<strong>os</strong> <strong>para</strong> a implementação das estratégias.Cabe destacar dois fat<strong>os</strong>. Primeiro, as questões sobre a formulação e aimplementação foram apresentadas em se<strong>para</strong>do, intencionalmente, mas, naanálise, esses process<strong>os</strong> são apresentad<strong>os</strong> de forma conjunta, uma vez queocorrem, habitualmente, de forma integrada, com algumas alterações durante opercurso. Segundo, quando as questões relativas à formação das estratégiasforam exp<strong>os</strong>tas, não se questio<strong>no</strong>u se todas tinham sido implementadas, umavez que “(...) a não-implementação da estratégia planejada ou almejada nã<strong>os</strong>ignifica que a empresa não tem estratégia” (Johnson, 1999a).


170Mas, com exceção de duas estratégias, uma da Aurora e outra da Miolo,as quais, como soe acontecer, não foram expressas como tal, mas, sim, comouma intenção de longo prazo, todas as demais foram realizadas, ou estão emprocesso de implementação. <strong>As</strong> estratégias ocorreram, <strong>no</strong>rmalmente, de formaincremental, excetuando-se algumas verificadas na Miolo e na Carrau, que seformaram junto com as empresas.Os process<strong>os</strong> de formulação e de implementação das estratégias são inter--relacionad<strong>os</strong> entre si e com o conteúdo das estratégias, bem como com asestratégias de cooperação das empresas, muitas das quais propiciaram aimplementação das estratégias.Esta seção busca descrever e com<strong>para</strong>r o processo de formulação e deimplementação das estratégias estabelecidas pelas empresas brasileiras euruguaias de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>. Para tanto ela foi dividida em duas partes: a formaçãoe a implementação das estratégias, por país, destacando-se <strong>os</strong> fat<strong>os</strong> maisrelevantes em cada vinícola, e uma análise com<strong>para</strong>tiva desses process<strong>os</strong> nasvinícolas d<strong>os</strong> dois países.5.2.1 - A formulação e a implementação:process<strong>os</strong> interligad<strong>os</strong>Tendo em vista que as forças competitivas moldam as estratégias (Porter,1998) e que uma estratégia competitiva envolve fatores básic<strong>os</strong> intern<strong>os</strong>, como<strong>os</strong> pont<strong>os</strong> fortes e <strong>os</strong> pont<strong>os</strong> frac<strong>os</strong> da companhia e <strong>os</strong> valores pessoais d<strong>os</strong>principais implementadores, bem como fatores extern<strong>os</strong>, que incluem as ameaçase as oportunidades da indústria (econômicas e técnicas) e as expectativas maisamplas das sociedades (Porter, 1996a), <strong>para</strong> se verificarem esses process<strong>os</strong>estratégic<strong>os</strong> é importante ressaltar o ambiente macr<strong>os</strong>societal e o da indústria,<strong>para</strong>, p<strong>os</strong>teriormente, se considerar o ambiente inter<strong>no</strong> às vinícolas. Do exp<strong>os</strong>to,as análises a seguir são feitas por país, onde, primeiro, se abordam asrepercussões da concorrência d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> importad<strong>os</strong> sobre <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>intern<strong>os</strong>, com destaque <strong>para</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>; após, n<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> em que ocorreramalterações significativas n<strong>os</strong> ambientes intern<strong>os</strong> das empresas, as quaisimplicaram mudanças ou adaptações das estratégias existentes, essas vinícolassão apresentadas em se<strong>para</strong>do.


5.2.1.1 - Estratégias <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>171Algumas empresas sentiram mais do que outras a concorrência <strong>no</strong> mercadointer<strong>no</strong>, resultante do incremento da importação de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>. Em 1994, teveinício uma grande importação de vinh<strong>os</strong> alemães branc<strong>os</strong> e suaves em umagarrafa azul cobalto, com preço muito baixo. Inicialmente, <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong>estimularam o consumo de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> <strong>no</strong> mercado brasileiro, servindo comomarketing <strong>para</strong> o vinho nacional, pois essa importação “(...) ajudou a divulgar ovinho e aumentou o consumo inter<strong>no</strong>” (Lídio/Cordelier).A grande concorrência foi considerada salutar <strong>para</strong> algumas vinícolas pelofato de ter induzido à alteração de suas estratégias, inicialmente de produt<strong>os</strong> e,p<strong>os</strong>teriormente, de mercado, como a De Lantier e a Aurora. Para outras,dificultou, sobremaneira, <strong>os</strong> negóci<strong>os</strong> e antecipou a implementação de algumasestratégias previstas, como a Miolo. Com a mudança de hábito do brasileiro,que começou a consumir mais <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> tint<strong>os</strong>, as importações destesaumentaram, e as de vinh<strong>os</strong> branc<strong>os</strong> se reduziram. O acréscimo da importaçãode vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, em alguns cas<strong>os</strong> realizad<strong>os</strong> pelas próprias vinícolas, aumentoua relação vinho importado/vinho nacional, acirrando, ainda mais, a concorrência<strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong>, o que foi destacado por tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> participantes da pesquisa.O principal problema, segundo tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, foi a importação devinh<strong>os</strong> barat<strong>os</strong>, adquirid<strong>os</strong>, em geral, apenas por serem oriund<strong>os</strong> de outr<strong>os</strong> países,por uma questão de status. O seu reduzido preço em relação ao nacional foiexplicado com vári<strong>os</strong> argument<strong>os</strong>, como: a existência de subsídi<strong>os</strong> na origem; adiferença de tribut<strong>os</strong> que incidem sobre o produto, que é mais elevada e emcascata <strong>no</strong> país; o p<strong>os</strong>sível subfaturamento das importações; ou como resultadode um produto de qualidade muito duvid<strong>os</strong>a na origem.Inicialmente, com o Pla<strong>no</strong> Real, também a paridade cambial favorecia asimportações. Apesar da desvalorização da moeda brasileira em 1999, o queonerava as importações, <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> continuaram entrando <strong>no</strong> mercadobrasileiro. De um lado, <strong>os</strong> excedentes mundiais de produção pressionavam opreço <strong>para</strong> baixo, e, de outro, as maiores escalas de importações realizadaspelas grandes importadoras e atacadistas, incluindo as redes de supermercad<strong>os</strong>,p<strong>os</strong>sibilitaram adquirir o produto mais barato, elevando <strong>os</strong> estoques <strong>no</strong> mercadointer<strong>no</strong>. Essa situação ocorreu ao mesmo tempo em que <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> tint<strong>os</strong> nacionaisaumentaram, sobremaneira, o seu preço, em especial pelo incremento do preçoda uva tinta, devido à sua reduzida oferta <strong>no</strong> mercado frente a uma demandacrescente. Conforme um d<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>:“No momento que nós tiverm<strong>os</strong> aqui matéria-prima de qualidade apreço competitivo, nós poderem<strong>os</strong> fazer concorrência frente ao vinhoimportado. O vinho importado assumiu o seu lugar por incompetência


172do setor, que não conseguiu produzir a matéria-prima a preç<strong>os</strong>acessíveis. A culpa não é do vinho importado. O mercado nacional éque não conseguiu se abastecer” (Carl<strong>os</strong>/De Lantier).Todavia também foi enfatizado que o elevado preço do vinho nacional édecorrente da elevada demanda existente frente à oferta interna, que ainda propicialucr<strong>os</strong> acima da média.Portanto, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, o crescimento do mercado de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> 8 foi capturadopel<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong>, em especial oriund<strong>os</strong> da Europa, seguid<strong>os</strong> do Merc<strong>os</strong>ulampliado. Contudo essas importações foram importantes <strong>para</strong> o desenvolvimentoe o aprimoramento do produto. O incremento da concorrência <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong>exigiu maior eficiência e competitividade por parte d<strong>os</strong> vinicultores nacionais.Isso se revelou, de forma geral, como uma circunstância propícia, que ensejourealizar as alterações necessárias nas empresas, com destaque <strong>para</strong> a melhoriada qualidade d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> nacionais.De acordo com <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, além dessas modificações <strong>no</strong> ambienteexter<strong>no</strong>, em algumas empresas houve causas internas <strong>para</strong> as alteraçõesestratégicas. E as principais estratégias de três empresas selecionadas foramestabelecidas ou reformuladas a partir de uma modificação na empresa, como acrise financeira por que passaram a Salton e a Aurora e a perda de participação<strong>no</strong> mercado pela De Lantier. Já, na Miolo, as estratégias foram-se formando esendo implementadas ao longo d<strong>os</strong> an<strong>os</strong>, e, na Cordelier, destaca-se a existênciade um líder que conduz amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> process<strong>os</strong>.Em síntese, <strong>no</strong> que se refere a<strong>os</strong> process<strong>os</strong> de formulação e implementação,observou-se, em geral, que eles envolvem element<strong>os</strong> de várias áreas, exceto naCordelier, onde o processo decisório é mais concentrado. Algumas empresasp<strong>os</strong>suem plan<strong>os</strong> estratégic<strong>os</strong> formais, como o da Aurora, que é o mais antigo, oda Miolo e o da De Lantier, que são mais recentes. A Cordelier p<strong>os</strong>sui apenasum pla<strong>no</strong> em linhas muito gerais, e a Salton não p<strong>os</strong>sui nenhum pla<strong>no</strong> explícito,apesar de p<strong>os</strong>suir estratégias muito claras e precisas. Como nenhuma empresarealizou uma modificação estratégica radical, não houve nas empresas, relat<strong>os</strong>de resistências às mudanças.8No <strong>Brasil</strong>, foi realizada uma pesquisa <strong>para</strong> o Instituto <strong>Brasil</strong>eiro do Vinho (2001, p. 44), na qualfoi constatado que: “Com<strong>para</strong>tivamente a<strong>os</strong> importad<strong>os</strong>, o vinho nacional (ou gaúcho) évisto como tendo me<strong>no</strong>r preço, apesar de algumas manifestações afirmarem que a melhorrelação custo benefício é encontrada n<strong>os</strong> importad<strong>os</strong>; (...) O aumento do consumo de vinhofi<strong>no</strong> passa, de acordo com a percepção do consumidor, por uma maior exp<strong>os</strong>ição quantoa<strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> da bebida, por uma maior ‘educação’ da população brasileira sobre o vinho(seus efeit<strong>os</strong> e características) e por uma redução de preço”. Não se conhece pesquisasimilar <strong>no</strong> Uruguai.


173Tendo em vista que cada uma dessas situações foi peculiar, comenta-secada vinícola em se<strong>para</strong>do.5.2.1.1.1 - De LantierCom a fusão da Bacardi-Martini em 1993, a empresa passou a se concentrarmais em destilad<strong>os</strong>, e a divisão de vinh<strong>os</strong> De Lantier continuou suas atividadesde produção de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>. Mas, devido à perda de foco da multinacional n<strong>os</strong>vinh<strong>os</strong>, a vinícola não realizou grandes investiment<strong>os</strong> e começou a diminuir asua participação <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong>, depois de já ter sido líder de vendas n<strong>os</strong>egmento de vinh<strong>os</strong> básic<strong>os</strong> semiluxo, com o vinho Chateau Duvalier. Dasentrevistas, conclui-se que a fusão 9 da corporação afetou a Bacardi-Martini do<strong>Brasil</strong> e, por decorrência, a De Lantier.Como conseqüência das dificuldades d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> de bebidas destiladas,bem como do crescimento do consumo de vinh<strong>os</strong> <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong>, ocupadopel<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong>, a multinacional percebeu, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> de 2002, que eranecessário reverter a situação, dando maior ênfase a<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>, o que foi feitocom uma alteração na estrutura da corporação <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. “Há cinco ou seismeses atrás, ela verificou que isto era um erro estratégico. Porque estávam<strong>os</strong>perdendo terre<strong>no</strong> (...) E não foi por um problema de mercado, foi o problema defalta de foco da companhia” (Lona/De Lantier).Com a transformação da De Lantier em Unidade de Negóci<strong>os</strong> do Vinho, foidada maior auto<strong>no</strong>mia à vinícola, o que p<strong>os</strong>sibilitou maior rapidez do processodecisório. De acordo com <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, observou-se também uma melhoriada comunicação entre as diversas áreas da multinacional, em especial nas demarketing, vendas e produção. Essa situação implicou a realização de umplanejamento mais detalhado da unidade, concebido pelo diretor e por quatrogerentes da Unidade, o qual está inserido dentro do pla<strong>no</strong> estratégico damultinacional <strong>para</strong> o <strong>Brasil</strong>. Então, “(...) as estratégias são decididas por cincopessoas, estas quatro mais o Presidente Geral da companhia” (Lona/De Lantier).Portanto, o maior foco n<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> provavelmente significou muito mais umaoportunidade de ampliar uma área promissora que já existia do que alterar asestratégias da Bacardi-Martini do <strong>Brasil</strong>. Na verdade, a formação da Unidade deNegóci<strong>os</strong> do Vinho, cujo principal objetivo é fortalecer as linhas de produt<strong>os</strong>,9Clegg (1998), ao analisar a perspectiva do poder, salienta que, historicamente, as fusões têmgerado um aumento da concentração do poder, provocando mudanças d<strong>os</strong> ambientesorganizacionais e <strong>no</strong>vas relações competitivas.


174bem como ampliar a sua atuação, ao dar muito maior auto<strong>no</strong>mia às decisões davinícola, p<strong>os</strong>sibilitou que <strong>no</strong>vas estratégias f<strong>os</strong>sem definidas. “Essa estratégia<strong>para</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>, sem dúvida alguma, fecha com a estratégia da corporação. Aempresa tem uma política de vendas na qual nós estam<strong>os</strong> alinhad<strong>os</strong> (...) Eudiria que hoje a estratégia corresponde ao sonho que sempre tivem<strong>os</strong> (...)” (Lona//De Lantier).O processo de formação das estratégias foi planejado, baseado em estud<strong>os</strong>de mercad<strong>os</strong> de diferentes segment<strong>os</strong> de preç<strong>os</strong>, <strong>para</strong> verificar as oportunidadesexistentes. E, na época das entrevistas, já existia um pla<strong>no</strong> formal, com objetiv<strong>os</strong>anuais, trienais e qüinqüenais.Porém cabe destacar que as principais estratégias previstas <strong>para</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>fin<strong>os</strong> <strong>no</strong> planejamento da multinacional já existiam na De Lantier, sob a forma deum consenso de idéias entre <strong>os</strong> principais executiv<strong>os</strong> da vinícola, mas que nãoeram compartilhadas com a multinacional, pela falta de foco <strong>no</strong> vinho. Do exp<strong>os</strong>to,percebem-se claramente as relações de poder existentes na companhia e aimportância da alteração da estrutura, fruto de uma situação d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> devinh<strong>os</strong> e destilad<strong>os</strong>, <strong>para</strong> que as estratégias pudessem ser formuladas eimplementadas.Atualmente, <strong>os</strong> responsáveis pela formulação e implementação são <strong>os</strong>mesm<strong>os</strong>, sendo delegadas as atividades específicas. Mas alguns investiment<strong>os</strong>de maior vulto dependem de aprovação da corporação em nível internacional.Todavia, como a multinacional aplica cerca de 20% de seu faturamento emmarcas, <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> afirmaram que, quando se decide uma estratégia, nãohá problema de recurs<strong>os</strong>, e, “(...) agora, reconhecendo a importância do vinho,eles começam a liberar mais recurs<strong>os</strong>” (Lona/De Lantier).Além disso, <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> acreditam que, à medida que o faturamento ea rentabilidade dessa unidade de negóci<strong>os</strong> aumentem, a estratégia corporativapoderá ser alterada, isto é, se <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> m<strong>os</strong>trarem ser um negócio lucrativo, acorporação poderá decidir adquirir outras vinícolas em outr<strong>os</strong> países, assim comotem ocorrido em outras grandes empresas de bebidas destiladas.5.2.1.1.2 - AuroraA Aurora passou por uma grande crise financeira em mead<strong>os</strong> da década90, tendo sido necessárias uma grande negociação com <strong>os</strong> credores, cujasdívidas ainda estão sendo pagas, e uma alteração da diretoria. A partir de 1996,as estratégias da cooperativa foram redefinidas, e foi alterado o foco da empresa,que passou a ser a produção e a comercialização de vinh<strong>os</strong> de qualidade, sendo


175criado um pla<strong>no</strong> estratégico. De acordo com seu diretor, “(...) a Aurora, de 1996<strong>para</strong> cá, é outra empresa“ (Za<strong>no</strong>tto/Aurora).<strong>As</strong> estratégias foram planejadas por oito pessoas, sendo quatro da direçãodo conselho, três diretores executiv<strong>os</strong> e um consultor exter<strong>no</strong>. Por se tratar deuma cooperativa, <strong>os</strong> cooperad<strong>os</strong> participam na formulação das estratégias e emoutras decisões, através de seus representantes junto ao conselho deadministração. E quem implementa é a direção executiva, formada por um diretorsuperintendente e duas diretorias, uma operacional, responsável pelas compras,vendas e produção, e outra administrativa e financeira, com suporte da direçãodo conselho, ou seja, as mesmas pessoas que são do staff da cooperativa.A empresa p<strong>os</strong>sui um pla<strong>no</strong> estratégico formal, que contempla 10 an<strong>os</strong>, eplan<strong>os</strong> bienais, de<strong>no</strong>minad<strong>os</strong> business plan, <strong>os</strong> quais foram decidid<strong>os</strong> pela direçãodo conselho e pel<strong>os</strong> diretores. “Elaboram<strong>os</strong> o primeiro pla<strong>no</strong> em 1996 e já oreformulam<strong>os</strong> duas vezes, até 2001. Houve mudanças de política, mudanças demercado e <strong>no</strong>vas tendências.” (Za<strong>no</strong>tto/Aurora). Ainda falta discriminar odetalhamento das estratégias de exportação, uma vez que as ações <strong>para</strong> talestão ainda em elaboração, tendo em vista a ampla pesquisa de mercad<strong>os</strong>extern<strong>os</strong> que está sendo realizada.A comunicação das estratégias é formal, devido a<strong>os</strong> programas de qualidadeexistentes na cooperativa. Tem aumentado muito o comprometimento das pessoascom as estratégias e as metas da vinícola. E há um comprometimento de recurs<strong>os</strong>por parte da empresa <strong>para</strong> a implementação das estratégias.“Nós conseguim<strong>os</strong> fazer um trabalho de endomarketing inter<strong>no</strong>, ondeo próprio planejamento estratégico migrou <strong>para</strong> <strong>os</strong> níveis hierárquic<strong>os</strong>me<strong>no</strong>res da empresa. E hoje existe um comprometimento que eu tediria bastante vertical <strong>para</strong> o cumprimento do que foi decidido.” (Za<strong>no</strong>tto//Aurora).Apesar de não ter sido relatada, na cooperativa, resistência às mudançasestratégicas, quando inquirid<strong>os</strong> sobre <strong>os</strong> principais impact<strong>os</strong> destas, foi referido,apenas por um d<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, que houve certa op<strong>os</strong>ição inicial àsexportações. “A empresa não pode mais voltar só <strong>para</strong> o mercado inter<strong>no</strong>, e aspessoas têm que ser mais flexíveis, ou seja, men<strong>os</strong> resistentes à mudança”(Rafael/Aurora).5.2.1.1.3 - SaltonA Salton passou por uma grande crise financeira, quando o conhaque, queproduzia com destilado de vinho, perdeu competitividade. A partir daí, diminuiu aprodução de vinh<strong>os</strong>, mas manteve suas instalações e concentrou seus recurs<strong>os</strong>


176na divisão de conhaque, alterando as estratégias dessa divisão existente emSão Paulo. Com a consolidação da marca do conhaque Presidente, obteve <strong>os</strong>recurs<strong>os</strong> financeir<strong>os</strong> necessári<strong>os</strong> <strong>para</strong> poder dar <strong>no</strong>vo impulso ao segmento devinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, visando diminuir a dependência do conhaque na empresa.Com a entrada de mais dois irmã<strong>os</strong> na empresa, que já era presidida poroutro irmão, começou a reestruturação da divisão de vinh<strong>os</strong>, localizada em BentoGonçalves-RS. <strong>As</strong> estratégias <strong>para</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> foram se formando de maneiraincremental, e as decisões foram baseadas uma sobre as outras, dependendod<strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> obtid<strong>os</strong>. Esta forma é bastante usual, pois “(...) as decisõesestratégicas são fortemente influenciadas pela história da empresa e pelaexperiência d<strong>os</strong> gerentes, que filtram as informações externas e interpretam ascapacidades internas” (Johnson, 1999a, p. 444).A Salton já tinha reformulado as estratégias da divisão de conhaque; algunsdiretores tinham participado desse processo, que foi lento em sua decisão, mascom resultad<strong>os</strong> financeir<strong>os</strong> muito bons. Inicialmente, começaram produzindovinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> só com marca fantasia, de forma a aproveitar-se do nicho de mercadocom a grande importação d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> alemães. À medida que aumentou aqualidade do vinho, as estratégias alteraram-se, pois a empresa passou a sepreocupar em produzir vinh<strong>os</strong> de maior valor agregado, vincular o vinho com amarca Salton e abrir <strong>no</strong>v<strong>os</strong> canais de comercialização. Os entrevistad<strong>os</strong>consideram que as estratégias foram fruto de um processo de aprendizagem,como segue: “A gente foi criando as estratégias, implantando e aprendendo earrumando (...)” (Antonio/Salton);“Quando se está implementando uma estratégia e se percebe quealguma coisa não está andando bem e a gente viu que tem que mudar,se muda. Nem sempre a estratégia segue exatamente o que haviasido previsto. Tudo é uma aprendizagem, e vai se mudando conformea necessidade” (Daniel/ Salton).Portanto, as estratégias foram sendo formuladas e implementadas poucoa pouco, muitas das quais emergiram de reformulações durante o processo,não havendo na vinícola nenhum tipo de pla<strong>no</strong> formal. Tudo é resultado de acord<strong>os</strong>entre <strong>os</strong> seis diretores; a formulação e a implementação das estratégias sãoprocess<strong>os</strong> concomitantes, <strong>os</strong> quais, por serem basead<strong>os</strong> na aprendizagem,algumas vezes não são distinguíveis. Nesse caso, a estratégia emergente édecorrente de ações regidas pelas intenções e p<strong>os</strong>sibilita o “(...) aprendizadoestratégico, porque reconhece a capacidade da organização de experimentar”(Mintzberg; Ahlstrand; Lampel, 2000, p. 143).Apesar de tod<strong>os</strong> na organização poderem contribuir <strong>para</strong> o processo daestratégia, coube um papel relevante ao seu presidente, como líder na formaçãoe na implementação de algumas estratégias realizadas, como a estratégia de


177marca e de <strong>no</strong>v<strong>os</strong> canais de distribuição.“Essas estratégias surgiram em SãoPaulo, com o Presidente da empresa (...) a comercialização foi feita, <strong>no</strong> início,pelo próprio Presidente” (Antônio/Salton).Quando ocorreram as principais alterações estratégicas, a empresa realizoureuniões <strong>para</strong> comunicá-las, e, de acordo com o relatado, “(...) tod<strong>os</strong> secomprometeram com a estratégia e com as metas definidas, pois não houvemaiores resistências” (Antonio/Salton). Além do mais, não houve problema derecurs<strong>os</strong> <strong>para</strong> a implementação das estratégias, inicialmente pel<strong>os</strong> ganh<strong>os</strong> obtid<strong>os</strong>na divisão de conhaque, adicionad<strong>os</strong>, atualmente, d<strong>os</strong> ganh<strong>os</strong> da divisão devinh<strong>os</strong>.Portanto, o processo de formação das estratégias na Salton foi, basicamente,fruto do ambiente exter<strong>no</strong> e da decisão interna de recolocar a divisão de vinh<strong>os</strong>em condições de participar do mercado de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>. Algumas estratégias seoriginaram da liderança de seu presidente, outras foram baseadas nasexperiências d<strong>os</strong> tomadores de decisão e <strong>no</strong> processo de aprendizagem. Àmedida que as estratégias vão dando certo, estes têm p<strong>os</strong>sibilidade de refinar odesenvolvimento de suas estratégias, “(...) convertendo, assim, as estratégiasemergentes do passado em estratégias deliberadas <strong>para</strong> o futuro” (Mintzberg;Ahlstrand; Lampel, 2000, p. 150). Com <strong>os</strong> acert<strong>os</strong>, elas se tornam um padrãodentro da empresa. Atualmente, a Salton baseia sua vantagem competitiva naescala produtiva, que p<strong>os</strong>sibilita reduzir seus cust<strong>os</strong>.5.2.1.1.4 - CordelierNa Cordelier, por ser, talvez, uma empresa relativamente pequena emrelação às demais, cujo proprietário é o seu Diretor-Gerente, as decisões sãobastante concentradas. De acordo com o Diretor-Gerente, ele formula asestratégias e as implementa, junto com seu staff. E, a despeito de haver algumasreuniões com <strong>os</strong> demais diretores <strong>para</strong> a discussão das estratégias, a decisãofinal é do Diretor-Gerente, pois é ele “(...) quem disponibiliza <strong>os</strong> recurs<strong>os</strong>necessári<strong>os</strong>” (Silvio/Cordelier). Portanto, <strong>para</strong> a implementação das estratégias,<strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> provêm da vinícola ou do patrimônio pessoal do Sócio-Gerente.Na empresa, existe um pla<strong>no</strong> estratégico, concebido em linhas gerais <strong>para</strong>cinco an<strong>os</strong>, onde constam elevad<strong>os</strong> investiment<strong>os</strong> <strong>para</strong> a ampliação da unidadeprodutiva. Essa obra sofreu ajustament<strong>os</strong> <strong>no</strong> seu cro<strong>no</strong>grama, pois, “(...) em1999, <strong>os</strong> plan<strong>os</strong> foram alterad<strong>os</strong>, com a suspensão do financiamento” (Lídio//Cordelier). A Cordelier, inicialmente, terceirizava toda a sua produção, mas, àmedida que vem concluindo as obras das instalações físicas e adquirindo as


178máquinas e equipament<strong>os</strong>, essa terceirização estratégica, também conhecidacomo acordo de subcontratação da produção, vem diminuindo.De acordo com <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> na empresa, uma vez que as estratégiassão decididas, são comunicadas a<strong>os</strong> demais funcionári<strong>os</strong>, e tod<strong>os</strong> secomprometem com elas. Na Cordelier, algumas estratégias foram deliberadas,e outras ocorreram de forma emergente, como a suspensão da importação devinh<strong>os</strong> dentro da marca Granja União.5.2.1.1.5 - MioloA Miolo foi criada com o objetivo explícito de só produzir vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>. <strong>As</strong>estratégias eram formuladas pela família, e a sua implementação dependia, emgrande parte, da disponibilidade de recurs<strong>os</strong>. Portanto, em seu início (1989), aformação e a implementação das estratégias eram, em geral, sucessivas. “Antesse ia fazendo conforme tinha <strong>os</strong> recurs<strong>os</strong>, se ia fazendo conforme tinhadisponibilidade de tec<strong>no</strong>logia, de terras, etc.” (Adria<strong>no</strong>/Miolo).Com a abertura do mercado, “(...) nós concluím<strong>os</strong> que era importante tervinh<strong>os</strong> de qualidade com escala” (Adria<strong>no</strong>/ Miolo). E, com a entrada de <strong>no</strong>v<strong>os</strong>membr<strong>os</strong> da família, com maior nível de formação, em importantes carg<strong>os</strong>, avinícola ampliou, sobremaneira, <strong>os</strong> seus negóci<strong>os</strong> e alterou algumas estratégias.Atualmente, a Miolo vem apresentando um grande incremento na sua produçãode vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, maior do que todas as demais empresas, com ump<strong>os</strong>icionamento estratégico bastante diferenciado, alicerçado na qualidade e nadiferenciação d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> e <strong>no</strong> escopo reduzido. Essas estratégias, inicialmente,foram acordadas entre <strong>os</strong> diretores, depois passaram a constar de um pla<strong>no</strong>,em linhas muito gerais, não formalizado, que, com o tempo, foi sendo avaliado ereformulado, até a sua concepção final. De acordo com seu diretor, apesar dehaver um “(...) planejamento estratégico há cerca de dois an<strong>os</strong>, só agora nósestam<strong>os</strong> colocando ele <strong>no</strong> papel. Hoje ele já está formalizado, apesar de nãoestar totalmente pronto. N<strong>os</strong>so planejamento é de 10 an<strong>os</strong>, então nós estam<strong>os</strong>falando até 2012” (Adria<strong>no</strong>/Miolo).Os process<strong>os</strong> de formação/implementação das estratégias são bastanteabrangentes, envolvendo várias pessoas de distintas áreas da empresa, incluindo<strong>os</strong> Diretores de Vendas de Recife e de São Paulo, além do de Bento Gonçalves,que transmitem as informações do mercado, bem como uma consultoria naárea financeira. “Então, na formação da estratégia, se envolvem praticamentetod<strong>os</strong> departament<strong>os</strong> da empresa. E, na implementação, cada departamentofica responsável pela sua parte.” (Adria<strong>no</strong>/Miolo).


179Como todas as decisões são tomadas em conjunto, as estratégias, umavez definidas, contam com recurs<strong>os</strong> <strong>para</strong> sua implementação, “(...) pois aplicam<strong>os</strong><strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> da empresa (...) <strong>os</strong> lucr<strong>os</strong> são a principal fonte <strong>para</strong> <strong>no</strong>v<strong>os</strong>investiment<strong>os</strong>” (Adria<strong>no</strong>/Miolo). Também não encontram resistências <strong>para</strong> seremimplementadas, cuja responsabilidade é delegada <strong>para</strong> as respectivas áreasenvolvidas, até porque não ocorrem alterações radicais. Além disso, acomunicação flui de maneira muito rápida na empresa, e tod<strong>os</strong>, a partir daformalização do planejamento estratégico, recebem uma cópia <strong>para</strong> ficaremperfeitamente sintonizad<strong>os</strong> com <strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> e as metas da empresa. Esseplanejamento é reavaliado anualmente.Na Miolo, as estratégias foram deliberadas. “A empresa já tem definido asestratégias. Esta é a minha tese [de doutorado].” (Adria<strong>no</strong>/Miolo).5.2.1.2 - Estratégias <strong>no</strong> UruguaiOs entrevistad<strong>os</strong>, em geral, pareceram pouco preocupad<strong>os</strong> com asimportações de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, uma vez que estas vêm decrescendo n<strong>os</strong> últim<strong>os</strong>an<strong>os</strong>. Essa redução foi explicada, pel<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, por um conjunto de medidasadotadas internamente: as importações foram reguladas pelo Inavi, com “(...)um controle muito grande do vinho importado em relação à qualidade e outrasbarreiras não tarifárias (...) E o vinho fi<strong>no</strong> que entra tanto da Argentina como do<strong>Brasil</strong>, em geral, tem um preço mais elevado do que o uruguaio” (Elisabeth//Aria<strong>no</strong>). Foi também realizada uma ampla campanha publicitária <strong>para</strong> melhorara imagem do vinho fi<strong>no</strong> nacional e ampliar o seu consumo.Contudo é importante ressaltar que o grande incremento das importaçõesde vinh<strong>os</strong> de mesa, a preç<strong>os</strong> inferiores a<strong>os</strong> praticad<strong>os</strong> <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong>, alterouas estratégias das empresas, que também produziam ou que poderiam produzirvinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, como em três das empresas entrevistadas: Vinícolas Aria<strong>no</strong>, Irurtiae T<strong>os</strong>canini.Na segunda metade da década de 80, proliferaram <strong>os</strong> acord<strong>os</strong> bilaterais,tais como o Programa de Integração e Cooperação Econômica, entre <strong>Brasil</strong> eArgentina; o Programa de Expansão Comercial, entre <strong>Brasil</strong> e Uruguai; e oConvênio Argenti<strong>no</strong>-Uruguaio de Cooperação Econômica, entre Uruguai eArgentina (Teruchkin, 1992). Esses acord<strong>os</strong> comerciais tinham por objetivo aabertura seletiva d<strong>os</strong> respectiv<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, o que estimulou as transações entreesses países, em especial com a Argentina, grande produtora de vinh<strong>os</strong>. Com aformação do Merc<strong>os</strong>ul e a decorrente redução tarifária, as importações de vinh<strong>os</strong>comuns da Argentina aumentaram sobremaneira, pois entravam <strong>no</strong> País a preç<strong>os</strong>extremamente baix<strong>os</strong>, devido às elevadas eco<strong>no</strong>mias de escala em algumas


180vinícolas argentinas. Essa alteração <strong>no</strong> ambiente das empresas afetou aconcorrência interna e exigiu das empresas uma mudança de estratégias, comoforma de se adaptarem ao <strong>no</strong>vo ambiente competitivo.Como essas três vinícolas tiveram seus process<strong>os</strong> de formação e deimplementação bastante similares, a análise contempla, em conjunto, asVinícolas Aria<strong>no</strong>, Irurtia e T<strong>os</strong>canini. A Carrau será analisada em se<strong>para</strong>do, poisjá foi criada com estratégias definidas <strong>para</strong> produzir vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> de qualidade eexportar.5.2.1.2.1 - Aria<strong>no</strong>, Irurtia e T<strong>os</strong>caniniEssas vinícolas, desde a sua fundação, entre 1908 e 1929, vinhamproduzindo basicamente vinh<strong>os</strong> de mesa. P<strong>os</strong>teriormente, em alguns cas<strong>os</strong>,passaram a produzir pequena quantidade de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, mas o mercado inter<strong>no</strong>era muito incipiente, e não continuaram de forma sistemática. Só em an<strong>os</strong>recentes, o vinho fi<strong>no</strong> passou a ter uma representatividade <strong>no</strong> faturamento dasempresas.Com o incremento da concorrência n<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> de mesa, as margens delucro decresceram. A Irurtia, por ser a maior empresa produtora de vinh<strong>os</strong>, tinhamaior disponibilidade de recurs<strong>os</strong> financeir<strong>os</strong>, mas, <strong>para</strong> a Aria<strong>no</strong> e a T<strong>os</strong>canini,alterar as estratégias era quase uma questão de sobrevivência das empresas,como explicado pelo diretor da T<strong>os</strong>canini.“Na década de 80, nós verificam<strong>os</strong> que, se não mudássem<strong>os</strong>, nósdesapareceríam<strong>os</strong> como adega. É imp<strong>os</strong>sível competir com a Argentinaou com o Chile. Então, com o n<strong>os</strong>so pai, decidim<strong>os</strong> que a melhorcoisa era mudar a qualidade do vinho produzido. Tínham<strong>os</strong> quereconverter <strong>os</strong> vinhed<strong>os</strong> <strong>para</strong> concorrer com qualidade e não comquantidade.” (Jorge/T<strong>os</strong>canini).<strong>As</strong> principais alterações estratégicas “(...) foram muito influenciadas peloque ocorreu <strong>no</strong> Uruguai, pela ação do Inavi (...). Mas também pela abertura domercado e, principalmente, pelo Merc<strong>os</strong>ul” (Elizabeth/Aria<strong>no</strong>).Portanto, a estratégia de produzir vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> em qualidade e quantidadefoi fruto do incremento da concorrência d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> de mesa e d<strong>os</strong> estímul<strong>os</strong>recebid<strong>os</strong> inicialmente pel<strong>os</strong> grup<strong>os</strong> CREA na área de viticultura, CBU navitivinicultura e, em especial, pelo Inavi, com seu pla<strong>no</strong> de reconversão d<strong>os</strong>vinhed<strong>os</strong> e das vinícolas. Esse pla<strong>no</strong> subsidiou parte dessa transformação erepresentou uma importante externalidade <strong>para</strong> as empresas, à medida quehavia um planejamento setorial e apoio institucional e financeiro. Ela foi ou está


181sendo implementada, aproveitando parte das instalações físicas já existentes,com uma substituição parcial e crescente d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> de mesa — que ainda têmum grande mercado inter<strong>no</strong> — por vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>. Em 2001, <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>representavam entre 29% (Aria<strong>no</strong>) e 50% (Irurtia) da produção total de vinh<strong>os</strong>dessas empresas.Para essas empresas, as estratégias <strong>para</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> formaram-se evêm sendo implementadas ao longo do tempo, adequando-se às mudanças <strong>no</strong>ambiente exter<strong>no</strong>, tendo em vista <strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> e as capacitações das vinícolas,e com o respaldo de algumas instituições, conforme exp<strong>os</strong>to por dois diretores.“Se vai monitorando o que estão passando e, pouco a pouco, nós vam<strong>os</strong> formandoas estratégias (...) <strong>As</strong> estratégias ocorreram de forma natural, de maneira práticae intuitiva." (Elizabeth/Aria<strong>no</strong>). “Na verdade, as estratégias ocorreram ao longodo tempo, pois a decisão de produzir vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> se deu há cerca de 15 an<strong>os</strong>atrás, e a decisão de exportar é algo que naturalmente ocorreu pela produção dovinho fi<strong>no</strong>.” (Andres/T<strong>os</strong>canini).Algumas estratégias foram implementadas pouco a pouco, por tentativa eerro, sob a forma de um processo de aprendizagem: “Fazíam<strong>os</strong>, erram<strong>os</strong> ecorrigim<strong>os</strong> até obter o melhor que podíam<strong>os</strong>” (Nelson/Aria<strong>no</strong>).Como tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> principais carg<strong>os</strong> diretiv<strong>os</strong> pertencem a um membro dafamília, sendo cada um responsável por uma área, exceto na Irurtia, onde foicontratado um executivo <strong>para</strong> implementar as estratégias de exportação, emgeral <strong>os</strong> membr<strong>os</strong> da família que participam da empresa são <strong>os</strong> responsáveispela formação e pela implementação das estratégias. Destarte, esses doisprocess<strong>os</strong> estão interligad<strong>os</strong>. Em geral, <strong>os</strong> familiares discutem as idéias, e asestratégias são formuladas em conjunto, mas a implementação fica a cargo doresponsável por cada área. Entretanto as decisões são mais concentradas doque parecem ser a princípio, pelo men<strong>os</strong> na Aria<strong>no</strong> e na Irurtia.Na Aria<strong>no</strong>, até há pouco tempo atrás, todas as estratégias eram formuladaspor três pessoas, <strong>os</strong> dois sóci<strong>os</strong> proprietári<strong>os</strong> e uma das filhas, que é responsávelpela comercialização interna e externa. Com a morte de um d<strong>os</strong> sóci<strong>os</strong> aindaem 2002, “(...) as decisões foram tomadas um pouco entre tod<strong>os</strong>, mas,principalmente, por mim e por minha filha Elizabeth. É uma empresa bem familiar,e as decisões são concentradas” (Nelson/Aria<strong>no</strong>).Na Irurtia, destaca-se o relevante papel do proprietário e chefe da família,que supervisiona todas as atividades da vinícola e tem o maior poder decisório:“Antes, todas decisões eram tomadas por meu pai; agora se discute em família,mas a palavra final continua sendo dele, que é o grande chefe” (Liliana/Irurtia).A concentração do poder e a inexistência de qualquer tipo de pla<strong>no</strong> sãoconsideradas pel<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> como uma característica das vinícolasuruguaias, de gestão familiar. Portanto, as empresas não redigem as decisões,


182pois “(...) tudo está na n<strong>os</strong>sa cabeça; nós n<strong>os</strong> entendem<strong>os</strong>” (Andres/T<strong>os</strong>canini),e as idéias discutidas são implementadas “(...) com base <strong>no</strong> que ocorrediariamente <strong>no</strong> país e <strong>no</strong> grupo de adegas e um pouco de intuição” (Elizabeth//Aria<strong>no</strong>). Mas, na Irurtia, foram estipuladas metas de longo prazo <strong>para</strong> asexportações, e existem, em linhas gerais, as principais estratégias de produt<strong>os</strong>,tendo em vista que a empresa p<strong>os</strong>sui consultorias estrangeiras de enólog<strong>os</strong> ena área de marketing. Além disso, foi destacado que, ao longo da implementaçãodas estratégias de exportação, muitas ações são alteradas, em especial pelaaprendizagem, conforme relato do responsável pelas exportações.“Eu acho muito difícil cumprir um pla<strong>no</strong> de metas, pois a concorrênciaé muito grande <strong>no</strong> mercado internacional. O planejamento ocorre àmedida que <strong>os</strong> fat<strong>os</strong> ocorrem. Na verdade, muitas vezes, ele ocorredepois d<strong>os</strong> fat<strong>os</strong> (...). Para o mercado exter<strong>no</strong>, nós pretendem<strong>os</strong>aumentar as vendas. Isto é conseguido com a aprendizagem, comviagens, passo a passo.” (Rippe/Irurtia).<strong>As</strong> relações dentro das vinícolas são informais, assim como o sistema decomunicação inter<strong>no</strong>. Todavia, na Irurtia, na área “(...) de comercialização interna,toda a comunicação é feita por escrito, é formal” (Liliana/Irurtia), <strong>para</strong> que tod<strong>os</strong><strong>os</strong> membr<strong>os</strong> p<strong>os</strong>sam trabalhar <strong>no</strong> mesmo sentido.Todas as três empresas afirmaram que a estratégia decidida não encontraproblemas <strong>para</strong> sua implementação, porque, por um lado, só são adotadas aquelas<strong>para</strong> as quais se têm recurs<strong>os</strong> <strong>para</strong> implementar, pois ,“(...) se decidirm<strong>os</strong> algo,só decidim<strong>os</strong> com recurs<strong>os</strong>” (Liliana/Irurtia), e, por outro, porque a comunicaçãodas mesmas ocorre de forma imediata e flui <strong>para</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> escalões da empresa.Dado o comprometimento das pessoas com as estratégias e pelo fato de elasterem sido implementadas de forma paulatina, não foram verificadas resistências.5.2.1.2.2 - CarrauAtualmente, a empresa é de propriedade de cinco irmã<strong>os</strong>, porém apenasdois trabalham nas vinícolas, ocupando carg<strong>os</strong> de diretoria. E estes são <strong>os</strong>principais responsáveis, mas não únic<strong>os</strong>, pelas decisões adotadas. Todavia, deforma diferente das demais empresas entrevistadas <strong>no</strong> Uruguai, “(...) a empresajá começou com uma idéia fixa, tendo claro o que queria” (Javier/Carrau). Logo,as estratégias de só produzir vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> e exportar existem, de forma deliberada,desde que a empresa foi criada, em 1976. Isso não significa a inexistência dealgumas dificuldades, como as exportações iniciais da empresa <strong>para</strong> o <strong>Brasil</strong> e<strong>para</strong> a Argentina, que foram interrompidas, ou que <strong>no</strong>vas estratégias deixaram


183de ser formadas e implementadas à medida que a empresa cresceu, com mudançasem seu ambiente inter<strong>no</strong> e exter<strong>no</strong>.Presentemente, <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> são produzid<strong>os</strong> em duas adegas, que são d<strong>os</strong>mesm<strong>os</strong> proprietári<strong>os</strong> e atuam da mesma maneira, apenas se diferenciandopela qualidade d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> produzid<strong>os</strong>, pois a Cerro Chapéu foi criada <strong>para</strong>produzir somente vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> premium ou superiores.Foi observado que a empresa p<strong>os</strong>sui um tipo de gestão democrática, coma participação de executiv<strong>os</strong> de outras áreas na discussão das estratégias. Deacordo com <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, muitas das idéias são alteradas <strong>no</strong> decorrer d<strong>os</strong>process<strong>os</strong> de formulação das estratégias, através de amplas discussões, e,<strong>para</strong> a sua implementação, tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> envolvid<strong>os</strong> participam das discussões edas tomadas de decisão. “Isto facilita muito o trabalho, e há muita democraciana tomada de decisão. Todas as decisões logo são discutidas com as pessoasenvolvidas que vão executá-las.” (Maria/Carrau).Essa empresa p<strong>os</strong>sui um planejamento estratégico formal, desde a suaconstituição, e, atualmente, <strong>os</strong> plan<strong>os</strong> qüinqüenais e <strong>os</strong> plan<strong>os</strong> anuais, que sãoum ajustamento d<strong>os</strong> plan<strong>os</strong> de longo prazo, são elaborad<strong>os</strong> pelo conselho dadireção. Também adota um sistema de comunicação interna formal. Não foiconstatada nenhuma resistência às mudanças estratégicas, primeiro porque aempresa tem, de forma muito nítida, <strong>os</strong> seus objetiv<strong>os</strong>, e não houve mudançasradicais; segundo, porque existe um compromisso das pessoas e de recurs<strong>os</strong>com as estratégias. “Tem<strong>os</strong> um sistema de qualidade, uma gestão de qualidade,que n<strong>os</strong> obriga a formalizar a tomada de decisões. E há muito compromissocom as decisões adotadas, compromisso de pessoas e compromisso derecurs<strong>os</strong>.” (Maria/Carrau).A empresa é pró-ativa, e muitas de suas estratégias adotadas são, depois,seguidas por outras vinícolas uruguaias, como foram <strong>os</strong> cas<strong>os</strong> da abertura devári<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong> e da produção do vinho Tannat. Dado o seu caráteri<strong>no</strong>vador, a Carrau foi declarada de interesse nacional na área do vinho por duasvezes. A primeira, quando apresentou o seu projeto de criação da empresa, emque destacou a importância d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> e da exportação; a segunda, por terapresentado um projeto i<strong>no</strong>vador em term<strong>os</strong> de design da sua <strong>no</strong>va adega.Ademais, recebeu um prêmio internacional como empresa i<strong>no</strong>vadora em 1992,por um trabalho de pesquisa, o que de<strong>no</strong>ta elevada capacidade profissional ei<strong>no</strong>vadora d<strong>os</strong> membr<strong>os</strong> da empresa.“Em 1977, a empresa foi declarada uma empresa de interesse nacionalde vinho, a única do Uruguai. Isto quando nós falávam<strong>os</strong> que eraprimordial exportar e produzir vinh<strong>os</strong> de qualidade (...). E agora, em1997, 20 an<strong>os</strong> depois, quando nós apresentam<strong>os</strong> o projeto de


184elaboração da cantina em Rivera e <strong>os</strong> equipament<strong>os</strong> que seriamutilizad<strong>os</strong> nesta cantina, fom<strong>os</strong> declarad<strong>os</strong> <strong>no</strong>vamente.” (Javier/Carrau).“Em 1992, n<strong>os</strong> 500 an<strong>os</strong> de descobrimento da América, o InstitutoIbero-America<strong>no</strong> de Ciências e Tec<strong>no</strong>logia declarou 100 empresasi<strong>no</strong>vadoras, e nós fom<strong>os</strong> a única cantina das 100 empresas (....)Ganham<strong>os</strong> este prêmio com um trabalho de pesquisa em leveduras.”(Javier/Carrau).5.2.2 - Formação e implementação: umaanálise com<strong>para</strong>tivaUma vez analisad<strong>os</strong> <strong>os</strong> process<strong>os</strong> de formação e implementação dasestratégias em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países, existem alguns pont<strong>os</strong> a destacar. Todas asempresas entrevistadas tinham uma certa clareza de como se formaram asestratégias, desde que se aceite que esse conceito é abrangente e complexo.<strong>As</strong> reduções tarifárias em nível mundial e sua extinção em nível regionalcolocaram as empresas de vinh<strong>os</strong> frente a um <strong>no</strong>vo ambiente, muito maiscompetitivo n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> intern<strong>os</strong>, e representaram, <strong>no</strong> primeiro momento, umaameaça <strong>para</strong> quase todas as empresas entrevistadas, estimulando-as a reagiremfrente a esse <strong>no</strong>vo contexto. <strong>As</strong> empresas buscaram um espaço <strong>para</strong> manter ouampliar sua atuação <strong>no</strong> mercado.Mas, como as estratégias dependem, em grande parte, de como <strong>os</strong>detentores de poder nas empresas percebem a sua situação frente à concorrência(Shoham; Fiegenbaum, 1999), estas não se alteraram da mesma maneira enem <strong>no</strong> mesmo momento em todas as empresas.Para fazer frente às <strong>no</strong>vas situações, a empresa depende de vári<strong>os</strong> fatores,dentre <strong>os</strong> quais, sua lucratividade, seus cust<strong>os</strong>, sua capacidade de i<strong>no</strong>var e,principalmente, de reagir de forma rápida quando o mercado se altera. Além doambiente exter<strong>no</strong>, algumas vinícolas, particularmente <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, salientaram <strong>os</strong>problemas intern<strong>os</strong> por que passaram as empresas.Quando perguntadas sobre a formação das estratégias, as empresasdestacaram as estratégias pretendidas e em fase de realização ou as estratégiasjá realizadas, independentemente de se foram pretendidas ou não. Pouc<strong>os</strong> foram<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> citad<strong>os</strong> de estratégias que não puderam, por uma ou outra razão, serimplementadas ou de estratégias que resultaram em insucesso. Nessasocasiões, foram citadas sempre como principais problemas as alterações daspolíticas econômicas ou as modificações na competição e n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, decaráter estrutural e/ou conjuntural.


185Normalmente, as decisões estratégicas foram baseadas na disponibilidadede recurs<strong>os</strong> financeir<strong>os</strong> <strong>para</strong> a sua implementação, que é um trabalhocontínuo e sujeito a constantes ajustes e revisões, podendo ter seu curso alterado.Essa situação, aliada a alguns comentári<strong>os</strong> nas entrevistas, sugere que aformulação e a implementação são interativas 10 em todas as empresas entrevistadas.Em algumas empresas, as estratégias foram mais deliberadas, baseadasem análise d<strong>os</strong> ambientes inter<strong>no</strong>, detectando as capacidades existentes, eexter<strong>no</strong>, através da identificação e da avaliação das alternativas existentes, porintermédio de um pla<strong>no</strong> formal, como na Aurora, na De Lantier, na Miolo e naCarrau. Na Cordelier, existe um pla<strong>no</strong> em linhas mais gerais, com me<strong>no</strong>r nívelde detalhamento e análise. <strong>As</strong> empresas que relataram p<strong>os</strong>suir um planejamentoestratégico formal e detalhado não tiveram problemas em alterar o curso destequando necessário. Isso não significa, por um lado, garantia de que as estratégiasimplementadas terão êxito e, por outro, negar a existência de estratégiasemergentes, pois existe um contínuo entre as estratégias, conforme exp<strong>os</strong>toabaixo.“<strong>As</strong>sim, estratégias deliberadas e emergentes formam <strong>os</strong> pont<strong>os</strong>extrem<strong>os</strong> de uma série contínua ao longo da qual encontram-se asestratégias que são esculpidas <strong>no</strong> mundo real. Algumas delas podemse aproximar desses extrem<strong>os</strong>, mas muitas se encontram em pont<strong>os</strong>intermediári<strong>os</strong>.” (Mintzberg, 1998, p. 426).A formação das estratégias, como um processo de aprendizagem, foimanifesta na Salton, na Aria<strong>no</strong> e na Irurtia. E, à medida que as estratégias dãocerto, elas se tornam um padrão de atuação. E isso é compatível com o fato deessas empresas não p<strong>os</strong>suírem um pla<strong>no</strong> ou o terem na forma de grandesobjetiv<strong>os</strong>. De acordo com Mintzberg (1998, p. 421) “(...) um padrão não tem queresultar de um pla<strong>no</strong>. Uma organização pode ter um padrão (ou estratégiarealizada) sem se dar conta dele e, muito men<strong>os</strong>, torná-lo explícito”. Na T<strong>os</strong>canini,também se verificou a existência de um padrão, e foi salientado que as estratégiasvêm sendo adaptadas às situações contingentes.10Me<strong>no</strong>n et al. (1999) apresenta um modelo integrador da formação da estratégia demarketing — Marketing Strategic Making (MSM) —, que incorpora element<strong>os</strong> da formulaçãoe da implementação da estratégia de marketing, abordando <strong>os</strong> antecedentes e as conseqüênciasdo processo de formação dessa estratégia, <strong>para</strong> avaliar a influência d<strong>os</strong> element<strong>os</strong>que compõem o modelo MSM na performance empresarial. Nesse modelo, a formulação//implementação é apresentada de forma conjunta, pois, segundo Me<strong>no</strong>n et al. (1999, p. 21),o processo de formação da estratégia de marketing é definido como “(...) um complexoconjunto de atividades, processo e rotinas envolvidas na formulação e execução d<strong>os</strong>plan<strong>os</strong> de marketing”.


186Por conseguinte, enquanto algumas estratégias foram deliberadas racionalmente,outras foram emergentes, dada a complexidade e a imprevisibilidadedo ambiente da organização (Mintzberg; Lampel, 1999). Normalmente, as empresaspassam por long<strong>os</strong> períod<strong>os</strong> em que a estratégia evolui de maneiraincremental, isto é, as decisões baseiam-se nas anteriores. E a acumulaçãodas decisões do passado molda a estratégia do futuro. A mudança estratégicaincremental pode ser vista como uma excelente reação adaptativa em ambientesem constante mutação. Contudo, de acordo com Johnson (1999a, p. 442), essepadrão incremental “(...) nem sempre é a conseqüência do planejamento gerencialdeliberado. Às vezes é o produto da cultura organizacional”. E, à medida que<strong>no</strong>vas idéias são colocadas em ação e que as iniciativas são bem-sucedidas,estas podem ser incorporadas pelas lideranças, sob a forma de estratégiasemergentes, como ocorreu nas vinícolas, em especial, naquelas em que oprocesso de aprendizagem estratégico foi mais acentuado.Todas as empresas afirmaram não ter encontrado maiores resistências naimplementação e/ou na alteração de alguma estratégia, havendo, de acordocom tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, um comprometimento de pessoas e d<strong>os</strong> recurs<strong>os</strong><strong>para</strong> a sua implementação. Isso significa que tod<strong>os</strong> estão compromissad<strong>os</strong>com a estratégia e que ela é considerada importante <strong>para</strong> a empresa. Essasituação facilita, mas não garante, que a estratégia seja bem-sucedida.Entretanto, Noble e Mokwa (1999), em uma ampla pesquisa sobre aimplementação das estratégias de marketing com <strong>os</strong> gerentes de níveisintermediári<strong>os</strong>, constataram que a visão da estratégia, a importância percebidada estratégia e o compromisso de tod<strong>os</strong> na organização influenciaram <strong>no</strong>compromisso da estratégia. Por sua vez, o compromisso de tod<strong>os</strong> exerceuinfluência diretamente <strong>no</strong> sucesso da implementação. Daí se depreende arelevância de tod<strong>os</strong> estarem envolvid<strong>os</strong> na empresa.Por outro lado, a não-resistência pode ser explicada, em parte, pelo fato deque em nenhuma das empresas analisadas ocorreu uma mudança radical. Apesarde o diretor da Aurora ter afirmado que, a partir de 1996, época em que ocorreusua maior crise, a empresa é diferente, ao longo das entrevistas nessa vinícola,<strong>no</strong>tou-se que hoje a empresa está mais focada nas suas estratégias e em resolveras pendências financeiras do passado, mas não houve uma ruptura que tenhaoriginado uma <strong>no</strong>va configuração, pois essa mudança vem ocorrendo de formagradual. Por conseguinte, nas <strong>no</strong>ve empresas analisadas, não foi observado oque é explicado como mudança quântica ou salto quântico por Mintzberg,Ahlstrand e Lampel (2000) e por Mintzberg (1998), ou seja, quando há umdistanciamento significativo das práticas anteriores, sendo necessária,repentinamente, uma mudança simultânea em vári<strong>os</strong> padrões estabelecid<strong>os</strong>.


187Comumente, as estratégias são formadas pela imp<strong>os</strong>ição ou com grandeinfluência d<strong>os</strong> desej<strong>os</strong> e das aspirações d<strong>os</strong> membr<strong>os</strong> que detêm o poder, poisa estrutura de poder pode impor a<strong>os</strong> demais element<strong>os</strong> da empresa <strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong>a serem perseguid<strong>os</strong> ou influenciar <strong>os</strong> seus membr<strong>os</strong> <strong>para</strong> que <strong>os</strong> adotem.Porém a estrutura de poder pode incorporar a seus desej<strong>os</strong> e aspirações <strong>os</strong> deoutras categorias da empresa (Bethlem, 1998). Onde o processo decisório émais concentrado, como na Cordelier, na Aria<strong>no</strong>, na Irurtia e na T<strong>os</strong>canini, essasituação de imp<strong>os</strong>ição ou de grande influência foi mais visível. Em outrasempresas, essa relação da estratégia com o poder apareceu de forma implícitae mais sutil.A maior concentração do poder decisório n<strong>os</strong> principais executiv<strong>os</strong> écaracterística das empresas de me<strong>no</strong>r porte; à medida que aumenta o tamanhoda organização e a complexidade das tarefas, há, em geral, um crescimento dahierarquia e maior delegação de autoridade. Apesar de a questão da centralizaçãoenvolver uma distribuição do poder (Hall, 1982), o qual pode ser originado dediversas fontes, como o controle de recurs<strong>os</strong>, do processo de tomada de decisão,do conhecimento e da informação, da tec<strong>no</strong>logia, dentre outr<strong>os</strong>, em nenhummomento, durante as entrevistas, foi comentada a existência de conflit<strong>os</strong> nasrelações internas das empresas. Ao contrário, foi enfatizado que havia sempreuma equipe bem integrada <strong>para</strong> atingir objetiv<strong>os</strong>, metas e estratégiasestabelecidas. Isso não significa ig<strong>no</strong>rar a existência do poder nas empresas.Segundo Morgan (1996, p. 164), a autoridade 11 formal é a primeira fonte de poder,pois é “(...) um tipo de poder legitimado, que é respeitado e conhecido por aquelescom quem se interage”.Nas empresas uruguaias Aria<strong>no</strong>, Irurtia e T<strong>os</strong>canini, destaca-se o relevantepapel do modelo familiar de gestão, com a delegação de autoridade <strong>no</strong> âmbitoda família, onde se observa a importância do parentesco de maneira muito maisacentuada do que em outras empresas de propriedade familiar, como a Salton,a Miolo e a Carrau, uma vez que, na Cordelier, só trabalha um d<strong>os</strong> sóci<strong>os</strong> (ooutro é sua esp<strong>os</strong>a). Nas três primeiras empresas, todas as estratégias sãoformuladas/implementadas pela família; nas três seguintes, a família continuatendo um relevante papel, mas alguns executiv<strong>os</strong> passam a participar destas,porém sempre com a supervisão direta de um d<strong>os</strong> diretores, que é da família.11Lukes (1980) faz uma interessante distinção entre poder e autoridade, m<strong>os</strong>trando que opoder é considerado como uma parte integrante ou como oriundo da autoridade. “(...) aautoridade envolve o não-exercício do julgamento privado. Quem aceita a autoridade, aceitacomo razão suficiente <strong>para</strong> agir ou acreditar <strong>no</strong> fato de ter sido instruído nesse sentido poralguém, cuja pretensão de fazer isso é por ele reconhecida” (Lukes, 1980, p. 831).


188Hickson e Pugh (1985), analisando o impacto da cultura de diferentes sociedadesnas organizações, m<strong>os</strong>tram como a cultura de uma sociedade, juntamentecom outr<strong>os</strong> fatores, é capaz de influenciar a definição de estrutura daorganização e a forma como ela é administrada. Salientam que, em culturasonde as relações familiares são cultivadas, as dimensões de lealdade e confiançasão mais fortes do que em sociedades onde o personalismo é dominante. Eonde as relações de parentesco são fortes, a organização funciona melhor quandocoincide com a família. Em culturas com orientação mais coletivista, <strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong>têm uma preocupação maior com grup<strong>os</strong> de afinidades, parentes e organizações,ao contrário do observado em culturas mais individualistas. Essas idéias sereferem à dimensão coletivismo-individualismo (Hofstede, 1993; 1998) abordadana parte teórica, na qual <strong>os</strong> latin<strong>os</strong> são considerad<strong>os</strong> mais coletivistas.A formação e a implementação das estratégias também estão diretamenterelacionadas com <strong>os</strong> process<strong>os</strong> decisóri<strong>os</strong>, concentrad<strong>os</strong> ou não. De acordocom Simon (1965), <strong>no</strong> processo decisório racional, há uma com<strong>para</strong>ção d<strong>os</strong>mei<strong>os</strong> alternativ<strong>os</strong>, dad<strong>os</strong> <strong>os</strong> fins, visando à obtenção de resultad<strong>os</strong> máxim<strong>os</strong>com mei<strong>os</strong> limitad<strong>os</strong>, tendo em vista a variável temporal, uma vez que existemdecisões que influenciam de forma irreversível as decisões subseqüentes. Aindasegundo esse autor, a racionalidade é limitada por imperfeições <strong>no</strong> conhecimentoe por dificuldades de antecipar as conseqüências. <strong>As</strong>sim sendo, as estratégiasestão ligadas às escolhas entre as alternativas mais adequadas, apenas entreas disponíveis.Como resultad<strong>os</strong> da formação/implementação das estratégias, todas asempresas ressaltaram algum tipo de aprendizagem organizacional em uma ouvárias áreas. Todas esperam como resultado um aumento do faturamento e dolucro, pois o lucro é a principal fonte de recurso das empresas <strong>para</strong> seusinvestiment<strong>os</strong> e de capital de giro, em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países, devido às dificuldadesna obtenção de financiament<strong>os</strong> e das elevadas taxas de jur<strong>os</strong>.Cabe ressaltar que a Carrau p<strong>os</strong>sui uma cultura organizacional i<strong>no</strong>vadora,tendo em vista a ênfase dada à i<strong>no</strong>vação, onde se destaca por atividades depesquisa e desenvolvimento na indústria do vinho. A i<strong>no</strong>vação é uma intençãopredeterminada, oriunda, conforme Hall (1982, p. 151), “das práticas ou tec<strong>no</strong>logiasexistentes”.Por fim, as estratégias podem se formar de diferentes maneiras e seremformuladas de maneira formal ou não, e a sua implementação está diretamenteligada à existência de recurs<strong>os</strong> <strong>para</strong> tal. Mas pode se observar, dentre outr<strong>os</strong>fatores, o relevante papel da cultura, da racionalidade limitada e das relações depoder na formação/implementação das estratégias. E isso também torna maiscomplexo o seu entendimento.


1895.3 - O conteúdo das estratégiasUma vez discutido o processo de formação das estratégias, passa-se acontemplar uma análise de seus conteúd<strong>os</strong>, isto é, quais foram as estratégiasformuladas e implementadas <strong>para</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, conforme relat<strong>os</strong> obtid<strong>os</strong> nasentrevistas realizadas. Para tanto, foram analisadas as estratégias de produto eprodução, as estratégias de mercad<strong>os</strong>, subdivididas em mercad<strong>os</strong> intern<strong>os</strong>, ondese destaca a importância d<strong>os</strong> tamanh<strong>os</strong> d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> doméstic<strong>os</strong>, e mercad<strong>os</strong>extern<strong>os</strong>, onde se salientam <strong>os</strong> relacionament<strong>os</strong> institucionais <strong>no</strong> Uruguai.Também foram descritas as estratégias de recurs<strong>os</strong> human<strong>os</strong> e as estratégiasfinanceiras, e, <strong>no</strong> final, apresentam-se as principais semelhanças e diferençasobtidas das entrevistas realizadas.5.3.1 - Estratégias de produto e de produçãoPara analisar as estratégias de produto e de produção, foi solicitado a<strong>os</strong>participantes que, além de citá-las, fizessem algumas considerações sobre <strong>os</strong>produt<strong>os</strong> elaborad<strong>os</strong> atualmente, bem como sobre <strong>os</strong> pretendid<strong>os</strong>, a matéria--prima utilizada, <strong>os</strong> controles de qualidade realizad<strong>os</strong>, o nível tec<strong>no</strong>lógico e anecessidade de <strong>no</strong>v<strong>os</strong> equipament<strong>os</strong>, a relevância d<strong>os</strong> cust<strong>os</strong> de produção e dadiferenciação de produt<strong>os</strong>, conforme consta <strong>no</strong> roteiro do Apêndice B.Entretanto é preciso ter presente que o vinho fi<strong>no</strong> não é um produto que secaracterize por ter grandes i<strong>no</strong>vações, pois, “(...) como produto, o vinho vocênão inventa. Você pode apenas mudar o varietal e a embalagem. Mas têm ocorridoalterações de processo, em term<strong>os</strong> de evolução tec<strong>no</strong>lógica” (Za<strong>no</strong>tto/Aurora).Além disso, a produção de vinho articula-se diretamente com a agricultura,pois a qualidade do vinho tem sua origem na qualidade da uva. Destarte, existeuma interdependência estrita entre a produção da uva e do vinho, de modo queas fragilidades da viticultura, se não superadas, podem se propagar com efeit<strong>os</strong>nefast<strong>os</strong> sobre a quantidade e a qualidade do vinho fi<strong>no</strong>.<strong>As</strong> estratégias de produto e de produção adotadas pelas empresasbrasileiras e uruguaias são similares, apesar de as táticas terem algumasdiferenças.Duas estratégias de produto foram referidas de forma similar pelas vinícolasbrasileiras e uruguaias pesquisadas: aumentar a produção de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> elançar <strong>no</strong>v<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> <strong>no</strong> mercado, as quais visam, basicamente, aumentar ofaturamento.


190Já uma outra estratégia, que é melhorar a qualidade d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>, foiexplicitada por todas as vinícolas uruguaias e apenas por uma empresa <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>(a Aurora). Entretanto, de forma implícita, ela está presente em todas asempresas brasileiras, pois todas as vinícolas brasileiras pretendem produzir vinh<strong>os</strong>de maior valor agregado e/ou obter certificad<strong>os</strong> de procedência, o quesignifica agregar valor ao vinho e, portanto, aumentar a sua qualidade. Então, aestratégia de incremento da qualidade existe de forma implícita, e ela foi realizadanessas empresas. Nesse caso, essa estratégia poderia ser entendida comouma perspectiva ou “maneira de fazer as coisas”, ou como um padrão (estratégiarealizada) sem se dar conta, tendo em vista <strong>os</strong> valores existentes em umaempresa, <strong>os</strong> quais são fortemente influenciad<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> valores de seus fundadorese d<strong>os</strong> principais administradores, conforme Hofstede (1985) e Schein (1984).Todas as empresas buscaram destacar a diferenciação de seus vinh<strong>os</strong>,em especial <strong>os</strong> de maior valor agregado, que permitem maior rentabilidade. Mastambém ressaltaram a importância de trabalhar com vinh<strong>os</strong> de preç<strong>os</strong> maisacessíveis, <strong>para</strong> atingir determinad<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, e, <strong>para</strong> esses vinh<strong>os</strong>, <strong>os</strong> cust<strong>os</strong>passam a ser muito relevantes.Portanto, existem cinco estratégias comuns em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países:- aumentar a produção de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>;- lançar <strong>no</strong>v<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> dentro das linhas já existentes e/ou ampliar aslinhas de produt<strong>os</strong>;- melhorar a qualidade do vinho fi<strong>no</strong> produzido;- estratégia de diferenciação <strong>para</strong> vinh<strong>os</strong> de qualidade superior;- estratégia de me<strong>no</strong>r custo <strong>para</strong> vinh<strong>os</strong> básic<strong>os</strong> populares.<strong>As</strong> estratégias de aumento da produção, da qualidade e do lançamento de<strong>no</strong>v<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> estão diretamente relacionadas com a qualidade e adisponibilidade da uva vinífera, nas cepas demandadas, à existência de instalaçõese equipament<strong>os</strong> de produção adequad<strong>os</strong>, ao controle de qualidade d<strong>os</strong>produt<strong>os</strong>, à capacitação d<strong>os</strong> enólog<strong>os</strong>, dentre outr<strong>os</strong>.O incremento da produção e da qualidade de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> pode se dar devárias maneiras. No que se refere à garantia de fornecimento da matéria-primaprincipal, que é a uva, a custo mais acessível, pode ser obtida por:- maior integração <strong>para</strong> trás, através da aquisição de vinhed<strong>os</strong> própri<strong>os</strong>(Miolo, Salton, Cordelier e De Lantier);- produção própria de mudas de videiras (Aurora);- reconversão d<strong>os</strong> vinhed<strong>os</strong> (Aria<strong>no</strong>, Irurtia, Carrau e T<strong>os</strong>canini).Em relação às unidades elaboradoras, estão previstas ou foram realizadas:- a construção de <strong>no</strong>vas unidades produtivas (Miolo e Salton, Carrau);- ampliação das unidades produtivas existentes (Miolo e Cordelier);


191- aquisição de <strong>no</strong>v<strong>os</strong> equipament<strong>os</strong>, de maior nível tec<strong>no</strong>lógico <strong>para</strong>vinificação e/ou engarrafamento (Aurora, Cordelier, Miolo, Salton, Irurtia,Carrau, T<strong>os</strong>canini);- maior ocupação da capacidade instalada e/ou diminuição da produção devinh<strong>os</strong> de mesa (Irurtia, T<strong>os</strong>canini, Aria<strong>no</strong>).Quanto a<strong>os</strong> produt<strong>os</strong>, estão previst<strong>os</strong> <strong>no</strong>v<strong>os</strong> lançament<strong>os</strong> e aumento dequalidade, muit<strong>os</strong> d<strong>os</strong> quais basead<strong>os</strong> na diferenciação d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong>, e outr<strong>os</strong>em vinh<strong>os</strong> de me<strong>no</strong>r custo, <strong>para</strong> serem transacionad<strong>os</strong> n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> a preç<strong>os</strong>mais baix<strong>os</strong>. Para tanto, as ações das empresas pretendem ou já conseguiram:- aumentar a produção de vinh<strong>os</strong> de maior valor agregado (Miolo, Salton eDe Lantier, Carrau, T<strong>os</strong>canini);- aumentar a produção de vinh<strong>os</strong> focad<strong>os</strong> em clientes específic<strong>os</strong>, emespecial <strong>os</strong> jovens (Salton, Miolo, Irurtia, T<strong>os</strong>canini);- produzir produt<strong>os</strong> diferenciad<strong>os</strong>, basead<strong>os</strong> <strong>no</strong> terroir 12 (Miolo);- elaborar vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> com certificado de procedência (Miolo e Cordelier,Aria<strong>no</strong>, Carrau, Irurtia e T<strong>os</strong>canini);- ter a certificação ISO 9000 (Carrau e Miolo);- a recomp<strong>os</strong>ição d<strong>os</strong> níveis de estoque pela importação de vinh<strong>os</strong>, dentrode uma linha já existente (Aurora e Cordelier);- manter e melhorar a estabilidade da qualidade d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> pelo incrementod<strong>os</strong> estoques em quantidade e qualidade (Aurora).Por conseguinte, as estratégias são similares, e o meio de atingi-las, emalguns cas<strong>os</strong>, são muito parecid<strong>os</strong>, em outr<strong>os</strong> não, tendo em vista <strong>os</strong>condicionantes bastante distint<strong>os</strong>, <strong>os</strong> quais são abordad<strong>os</strong> a seguir.Para poder executar as estratégias prop<strong>os</strong>tas, observou-se que todas asvinícolas brasileiras entrevistadas têm como restrição a uva, principal insumo dovinho, quer na qualidade e/ou quantidade da casta específica demandada, querpelo elevado preço da uva <strong>no</strong> mercado. Como afirmou um d<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>:“Chegam<strong>os</strong> à conclusão que um d<strong>os</strong> limites <strong>para</strong> produzir vinh<strong>os</strong> de qualidadeestava na produção da matéria-prima” (Antônio/ Salton). Portanto, <strong>para</strong> concretizara ampliação da produção de vinh<strong>os</strong> e/ou ampliar e diversificar <strong>os</strong> produt<strong>os</strong>existentes, as vinícolas brasileiras estão prevendo a ampliação de vinhed<strong>os</strong>própri<strong>os</strong>. O processo de integração vertical das vinícolas visa garantir a produçãoem quantidade e qualidade. “O parreiral próprio é muito importante <strong>para</strong> a empresa,eu diria que é quase estratégico, porque você fica men<strong>os</strong> vulnerável ao humor12O terroir é uma expressão francesa que significa a conjugação do solo, do clima, da castae do homem com a tec<strong>no</strong>logia disponível. <strong>As</strong>sim, em cada região, o terroir é distinto, produzindoum vinho diferente.


192d<strong>os</strong> preç<strong>os</strong>, você tem uma uniformidade de qualidade maior e você tem umagarantia de quantidade.” (Lona/De Lantier).Essa situação difere, sobremaneira, nas empresas uruguaias, onde asuvas européias, ao contrário das do <strong>Brasil</strong>, não se constituem em problema <strong>para</strong>as vinícolas entrevistadas, tendo em vista a reconversão d<strong>os</strong> vinhed<strong>os</strong> ocorrida eainda em fase de implantação, com estímul<strong>os</strong> governamentais, e, atualmente, apercentagem de uvas não viníferas é reduzida. Ademais, as empresas uruguaiasentrevistadas dependem muito men<strong>os</strong> do fornecimento de uvas de terceir<strong>os</strong>,pois a produção própria é mais significativa.Essa reconversão d<strong>os</strong> vinhed<strong>os</strong> deu-se, basicamente, pela necessidadede ampliar a produção de VCP, que exige uma uva européia com manejo epodas diferenciadas, tendo em vista o grande incremento da concorrência devinh<strong>os</strong> de mesa argentin<strong>os</strong> <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong>, pelas drásticas reduções tarifáriasdentro do Merc<strong>os</strong>ul. Como salientado por uma entrevistada, “(...) o Merc<strong>os</strong>uln<strong>os</strong> chamou a atenção que, se não tomássem<strong>os</strong> algumas atitudes, ficaríam<strong>os</strong><strong>para</strong> trás. Então, <strong>para</strong> sobreviver, era preciso reconverter (...)” (Elizabeth/Aria<strong>no</strong>).Já, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, a maior integração das vinícolas a montante, pela ampliaçãod<strong>os</strong> vinhed<strong>os</strong> própri<strong>os</strong>, o que já vem ocorrendo, deve-se ao fato de que grandeparte da uva ainda é adquirida de pequen<strong>os</strong> produtores, através de contrat<strong>os</strong>formais ou informais, conforme será analisado na seção das estratégias decooperação.Essa maior integração vertical é prevista por todas as vinícolas brasileiras,exceto a Aurora, que tem uma característica peculiar, por se constituir em umacooperativa de associad<strong>os</strong> produtores de uva. <strong>As</strong>sim, a Salton e a Miolo p<strong>os</strong>suemvideiras na zona da Campanha do RS, onde a De Lantier pretende se instalar. AMiolo também produz uvas na Região Nordeste do País, onde adquiriu terrasatravés de uma joint venture, e a Cordelier pretende plantar na serra gaúcha.A aquisição de terras na zona sul do RS e na região do Vale do SãoFrancisco, além das favoráveis condições do solo à plantação de videiras, devidoàs suas características, p<strong>os</strong>sibilita me<strong>no</strong>res cust<strong>os</strong> tanto da terra, em relação àzona da serra gaúcha, como pelas p<strong>os</strong>sibilidades de mecanização, o que diminui<strong>os</strong> cust<strong>os</strong> de produção. <strong>As</strong>sim, essas <strong>no</strong>vas zonas de produção tendem a permitiruma viticultura mecanizada, integrada e especializada na produção de uvaseuropéias e aumentam o poder de negociação das vinícolas com <strong>os</strong> fornecedoresde uva.Mas duas empresas manifestaram que pretendem continuar semprevinificando uvas provenientes da serra gaúcha, que são a Cordelier e a Aurora,pois acreditam “na auto-suficiência aqui da região da serra gaúcha em curtoespaço de tempo” (Za<strong>no</strong>tto/Aurora). Nesse caso, o preço de mercado da uvatenderá a se estabilizar.


193Contudo, dada a escassez ainda existente de cepas demandadas, algumasempresas passaram a importar vinh<strong>os</strong> com as suas marcas <strong>para</strong> complementaras variedades dentro da linha de produt<strong>os</strong> que vêm sendo comercializada.Esse é o caso da Aurora, que importa <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> tint<strong>os</strong> Marcus James das variedadesCabernet Sauvig<strong>no</strong>n e Tannat de uma empresa comercial de sua propriedade,a Aurora S/A do Uruguai. Esses vinh<strong>os</strong> são adquirid<strong>os</strong> com boa relaçãocusto/benefício, “(...) e a elaboração deles é supervisionada pel<strong>os</strong> enólog<strong>os</strong> daAurora” (Za<strong>no</strong>tto/Aurora). Essas importações, que visam aumentar <strong>os</strong> estoquesde vinh<strong>os</strong> tint<strong>os</strong>, tendem a permanecer enquanto houver esse problema, pois,“(...) se o meu quadro social fizer principalmente o varietal Cabernet Sauvig<strong>no</strong>n,frente às minhas necessidades, eu interrompo a importação” (Za<strong>no</strong>tto/Aurora).E a vinícola Cordelier, através da importação de vinh<strong>os</strong> do Chile e da Argentina,procurou distribuir vinh<strong>os</strong> de maior valor agregado dentro da linha Granja União,a qual foi suspensa, de acordo com um d<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, pelo problema cambial,que realmente ocorreu, mas o diretor comercial da empresa assim explicou:“Nós importam<strong>os</strong> um vinho dentro de uma de n<strong>os</strong>sas marcas, só quenós fizem<strong>os</strong> um erro estratégico na hora da importação (...) Nóslançam<strong>os</strong> estes vinh<strong>os</strong> dentro da linha Granja União, quando, naverdade, nós deveríam<strong>os</strong> ter lançado dentro da linha Cordelier, poisera um produto de primeira linha” (Silvio/Cordelier).Isso ocorreu porque foram importad<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> de qualidade e preço superiore distribuíd<strong>os</strong> em uma linha basic semiluxo 13 , onde o preço ainda é fator relevante.E, como a avaliação da estratégia, de acordo com Bethlem (1998, p. 72), podeser feita antes, durante ou após sua implementação, pode ocorrer um erroestratégico, até porque, antes da implementação, o julgamento só pode serfeito baseado, parcialmente, em estimativas.Os vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> subdividem-se em vári<strong>os</strong> níveis de qualidade, conformeexp<strong>os</strong>to pelo entrevistado:“No mercado internacional, <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> se dividem em ícone, 'ultrapremium','superpremium', premium e basic. No <strong>Brasil</strong>, estes vinh<strong>os</strong>basic ainda podem ser subdividid<strong>os</strong> em luxo, semiluxo, e vinh<strong>os</strong>populares. Os países tradicionais têm a de<strong>no</strong>minação de origemcontrolada. Então, <strong>para</strong> eles, essa subdivisão está muito bem definida,o que não ocorre <strong>no</strong> <strong>no</strong>vo mundo do vinho” (Adria<strong>no</strong>/Miolo).A estratégia de lançar <strong>no</strong>v<strong>os</strong> produt<strong>os</strong>, presente em todas as entrevistas,pode ocorrer através de <strong>no</strong>v<strong>os</strong> varietais, <strong>no</strong>v<strong>os</strong> cortes ou misturas de varietais e13De acordo com o Diretor da Miolo, <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> Château Duvalier, Almadén, Marcus James eGranja União podem ser classificado como um vinho fi<strong>no</strong> basic semiluxo.


194<strong>no</strong>vas embalagens, com alterações de garrafas e de rótul<strong>os</strong>. A boa qualidade dauva é uma condição necessária, mas não suficiente, <strong>para</strong> a produção de vinh<strong>os</strong>fin<strong>os</strong> de qualidade, pois eles dependem também do processo produtivo, de equipament<strong>os</strong>adequad<strong>os</strong>, em níveis tec<strong>no</strong>lógic<strong>os</strong> satisfatóri<strong>os</strong>, de outr<strong>os</strong> insum<strong>os</strong>,como a rolha e a garrafa, da forma como são estocad<strong>os</strong> e transportad<strong>os</strong>, etc.Em todas as empresas brasileiras entrevistadas, houve, ou está havendo,“investiment<strong>os</strong> pesadíssim<strong>os</strong>, principalmente, na área de elaboração e deengarrafamento” (Za<strong>no</strong>tto/Aurora), devido a <strong>no</strong>vas instalações, ampliações oumodernização d<strong>os</strong> equipament<strong>os</strong>. Isso também foi verificado <strong>no</strong> Uruguai, emtrês vinícolas: Irurtia, T<strong>os</strong>canini e Carrau. “Nós melhoram<strong>os</strong> muito o plantio emelhoram<strong>os</strong> a maquinaria, com apoio do Gover<strong>no</strong> <strong>para</strong> tudo isso, pois houveuma certa subvenção de dinheiro <strong>para</strong> fazer essas mudanças.” (Liliana/Irurtia).No Uruguai, excetuando a Carrau, que só produz vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, as outrastrês empresas ou p<strong>os</strong>suem capacidade oci<strong>os</strong>a de vinificação, ou podem diminuirparte da produção de vinh<strong>os</strong> de mesa ou comuns, onde a rentabilidade é me<strong>no</strong>r,<strong>para</strong> aumentar a produção de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>. Como afirmado anteriormente, nãoexiste problema de matéria-prima, desde que haja um tempo necessário <strong>para</strong>apurar algumas qualidades orga<strong>no</strong>lépticas, assim como de equipament<strong>os</strong>, quesão considerad<strong>os</strong> de um bom nível tec<strong>no</strong>lógico. Mas a vinícola Aria<strong>no</strong> constitui--se em exceção, uma vez que necessita “(...) adquirir <strong>no</strong>v<strong>os</strong> equipament<strong>os</strong>,equipament<strong>os</strong> mais modern<strong>os</strong>, mas agora não é o momento” (Elizabeth/Aria<strong>no</strong>).Portanto, não existe empecilho <strong>para</strong> a ampliação da produção e da qualidaded<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, desde que sejam realizadas as modificações necessárias, e,se tal não ocorre com maior intensidade, é por problemas de mercad<strong>os</strong>.Por conseguinte, todas as empresas brasileiras entrevistadas e trêsempresas uruguaias, exceto a Aria<strong>no</strong>, se encontram em um nível tec<strong>no</strong>lógicocompatível com as principais vinícolas do mundo, o que p<strong>os</strong>sibilita, junto com amatéria-prima de qualidade, o incremento da produção de vinh<strong>os</strong> de qualidadesuperior, vinh<strong>os</strong> premium, como foi destacado por quase todas as vinícolas d<strong>os</strong>dois países. No <strong>Brasil</strong>, basicamente <strong>para</strong> concorrer com o importado e, <strong>no</strong>Uruguai, <strong>para</strong> poder exportar. “Nós só atuam<strong>os</strong> <strong>no</strong> mercado de maior valor agregadoe aonde consideram<strong>os</strong> que tem<strong>os</strong> maiores chances de sucesso. N<strong>os</strong>so objetivoé concorrer com importad<strong>os</strong> e substituir o importado.” (Adria<strong>no</strong>/ Miolo).Para aumentar a produção de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, com destaque <strong>para</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>superiores, foi construída, recentemente, uma <strong>no</strong>va unidade produtiva pelo grupoCarrau, em Rivera, na fronteira com o <strong>Brasil</strong>. “A adega da fronteira é mais elitista,ou seja, só trabalha com vinh<strong>os</strong> premium de grande qualidade.” (Javier/Carrau).Nessa zona, onde foi construída a adega Cerro Chapéu, já existia, há maisde duas décadas, vinhed<strong>os</strong> da Carrau. Estes situam-se próxim<strong>os</strong> d<strong>os</strong> vinhed<strong>os</strong>do projeto Almadén, instalad<strong>os</strong> na fronteira brasileira, em 1974, como já foi referido


195anteriormente. Isso deve-se ao fato de que a escolha da área fronteiriça — Rivera(Uruguai) <strong>para</strong> a instalação da Carrau e Santana do Livramento (<strong>Brasil</strong>) <strong>para</strong> <strong>os</strong>vinh<strong>os</strong> Almadén — foi fruto de um projeto de investigação realizado em colaboraçãocom a Universidade da Califórnia, durante <strong>os</strong> an<strong>os</strong> de 1974 e 1975, <strong>no</strong> sul do<strong>Brasil</strong>, dirigido por Juan Carrau Pujol, que foi o fundador d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> Carrau, em1976. Portanto, a ampliação da fronteira vitícola do <strong>Brasil</strong> e do Uruguai ocorreu<strong>para</strong> a mesma área e de forma simultânea.Quanto a<strong>os</strong> <strong>no</strong>v<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> <strong>para</strong> ampliar o portfólio, verificou-se, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>e <strong>no</strong> Uruguai, a ocorrência tanto da produção de vinh<strong>os</strong> de maior valor agregadoe preço, como citado acima, como a produção de vinh<strong>os</strong> mais jovens e/ou depreç<strong>os</strong> mais acessíveis, alguns com embalagens me<strong>no</strong>res, <strong>para</strong> atender aomercado inter<strong>no</strong>, devido à diminuição do consumo de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, tendo emvista a redução do poder aquisitivo de ambas as populações.O desenvolvimento de <strong>no</strong>v<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> pode permitir a segmentação demercad<strong>os</strong> e/ou a abrangência de <strong>no</strong>v<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, e essas i<strong>no</strong>vações em produt<strong>os</strong>podem ser fundamentais <strong>para</strong> a viabilidade da firma, em longo prazo, n<strong>os</strong>mercad<strong>os</strong>. A necessidade de constantes i<strong>no</strong>vações d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> é resultanteda própria dinâmica do mercado, impulsionada por alterações nas preferênciase n<strong>os</strong> hábit<strong>os</strong> d<strong>os</strong> consumidores, como ocorreu com o maior incremento dademanda por vinho tinto, e pelo acréscimo da pressão competitiva, que estimulaa oferta de <strong>no</strong>v<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> de vinh<strong>os</strong> n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>.Portanto, em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países, foram citad<strong>os</strong> o uso da estratégia dadiferenciação <strong>para</strong> produt<strong>os</strong> superiores e a de me<strong>no</strong>r custo <strong>para</strong> produt<strong>os</strong> básic<strong>os</strong>ou intermediári<strong>os</strong>, como fala um d<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>: “Em uma linha de vinh<strong>os</strong> depreço intermediária, com qualidade intermediária, o preço é determinante. Ouseja, o consumidor compra muito pelo preço. Na linha mais alta d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>premium ou ‘ultrapremium’, o preço passa a ser secundário” (Andres/T<strong>os</strong>canini).De acordo com tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, a diferenciação do produto é umaestratégia muito usual, e tod<strong>os</strong> consideram seu vinho diferenciado por distintasrazões: por ser mais envelhecido (De Lantier); por ser resultante de uma matéria--prima de melhor qualidade (Aurora); por p<strong>os</strong>suir uma relação preço/qualidademuito boa; por ter uma identidade própria e ser baseado <strong>no</strong> terroir (Miolo); porproduzir vinh<strong>os</strong> com qualidade comprovada, p<strong>os</strong>suindo a certificação ISO 9000(Carrau); por produzir vinh<strong>os</strong> muito encorpad<strong>os</strong> e com muito tani<strong>no</strong> (T<strong>os</strong>canini);por produzir vinh<strong>os</strong> mais jovens e aromátic<strong>os</strong> (Aria<strong>no</strong>); por p<strong>os</strong>suir certificaçãode procedência (Miolo, Cordelier, Aria<strong>no</strong>, Carrau, Irurtia e T<strong>os</strong>canini).A diferenciação foi mais destacada pelas duas empresas que só produzemvinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, ou seja, a Carrau e a Miolo. Nesta última, foi afirmando que,“(...) em cada região, farem<strong>os</strong> um vinho diferente, segundo o terroir. São realida-


196des diferentes <strong>para</strong> atingir mercad<strong>os</strong> diferentes” (Adria<strong>no</strong>/Miolo). Nesse caso, amarca Miolo é “a marca guarda-chuva”, que engloba <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> Miolo Terra Nova,originário do Vale do São Francisco, onde a empresa, através de uma jointventure com a Lovara de Bento Gonçalves, adquiriu terras e uma vinícola; <strong>os</strong>vinh<strong>os</strong> Miolo Fortaleza do Seival, que serão produzid<strong>os</strong> na Campanha; e o Miolodo Vale d<strong>os</strong> Vinhed<strong>os</strong>. Ou seja, tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> levam em seu <strong>no</strong>me a procedência,havendo interesse em certificar todas as áreas.“Esta é a minha primeiragrande diferenciação.” (Adria<strong>no</strong>/Miolo). Já a Carrau adota um grande controle dequalidade e, na <strong>no</strong>va vinícola, a de Cerro Chapéu, produz apenas vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> dealto valor agregado.A certificação de indicação de procedência existente <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> é apenas ado Vale d<strong>os</strong> Vinhed<strong>os</strong> 14 , avalizada pela Aprovale, sendo necessária a comprovação,por parte da vinícola, de que pelo men<strong>os</strong> 85% das uvas provêm da região.Tanto a Miolo como a Cordelier têm alguns vinh<strong>os</strong> com Indicação de ProcedênciaVale d<strong>os</strong> Vinhed<strong>os</strong>. Já <strong>no</strong> Uruguai, todas as quatro empresas entrevistadasp<strong>os</strong>suem indicações geográficas aprovadas. É interessante destacar que asindicações de procedência d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> foram muito valorizadas por tod<strong>os</strong> <strong>os</strong>entrevistad<strong>os</strong> <strong>no</strong> Uruguai, o mesmo não ocorrendo <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, apesar de tod<strong>os</strong>concordarem que ela contribui <strong>para</strong> a preservação das características e datipicidade d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong>.Por conseguinte, as estratégias de produto e de produção, em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong>países, são, basicamente, as mesmas: aumentar a produção, aumentar aqualidade do vinho, lançar <strong>no</strong>v<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> e diferenciação <strong>para</strong> vinh<strong>os</strong> de maiorvalor agregado e me<strong>no</strong>r custo <strong>para</strong> vinh<strong>os</strong> básic<strong>os</strong>. Como foi destacado <strong>no</strong>referencial teórico, a compreensão das estratégias não é fácil, pois algumaspodem ser definidas a priori, e outras podem ser o resultado de várias decisõesadotadas, como n<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> citad<strong>os</strong> acima. Ademais, algumas estratégias podemnão resultar em sucesso, como foi o caso mencionado pela Cordelier, quandodas importações de vinh<strong>os</strong>.Mas também cabe salientar que existem estratégias que são pretendidase que não são necessariamente realizadas, como a evidenciada pelo Diretor daAurora. “Em um momento, eu sonhei buscar a ISO 14000, que é a ambiental.Eu acho que ela tem um apelo muito forte, principalmente <strong>para</strong> exportação.14O Regulamento da Indicação de Procedência Vale d<strong>os</strong> Vinhed<strong>os</strong> inclui aspect<strong>os</strong> da produção,do controle e da comercialização d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>, como a obrigatoriedade de serem elaborad<strong>os</strong>,envelhecid<strong>os</strong> e engarrafad<strong>os</strong> na área geográfica delimitada. Para maiores detalhes,ver <strong>As</strong>sociação d<strong>os</strong> Produtores de Vinh<strong>os</strong> Fin<strong>os</strong> do Vale d<strong>os</strong> Vinhed<strong>os</strong> (2002).


197Está n<strong>os</strong> n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> sonh<strong>os</strong> transformar a Aurora em uma empresa selo verde (...)”(Za<strong>no</strong>tto/Aurora).5.3.2 - Estratégias <strong>para</strong> o mercado inter<strong>no</strong>No Uruguai e <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, existem algumas estratégias comuns e outrasbastante distintas, devido às características socioeconômicas e culturais que<strong>os</strong> diferem, bem como distint<strong>os</strong> níveis de concorrência d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong>,pela abertura d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> e pela formação do Merc<strong>os</strong>ul. Por isso, sãoapresentadas em se<strong>para</strong>do as estratégias por país.5.3.2.1 - Estratégias brasileirasNo mercado inter<strong>no</strong>, as estratégias comuns de todas as empresasentrevistadas são discriminadas abaixo. Mas as ações adotadas <strong>para</strong> a suaimplementação não são, necessariamente, as mesmas:- ampliar e/ou consolidar <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> já existentes através de ampliaçãode canais de distribuição e aumento do número de centr<strong>os</strong> de distribuiçãoem outr<strong>os</strong> estad<strong>os</strong>;- realizar campanhas promocionais <strong>para</strong> aumentar o consumo de vinh<strong>os</strong>fin<strong>os</strong>;- segmentação d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, em especial por faixas de preç<strong>os</strong>, com oaumento da participação d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> de maior valor agregado e/ou de vinh<strong>os</strong>a preç<strong>os</strong> mais acessíveis, por alteração de tamanho, de embalagens,etc.Além dessas estratégias comuns a todas as empresas existem outrasque vêm sendo implementadas pelas vinícolas, tais como:- aumentar o portfólio de distribuição pela importação de vinh<strong>os</strong>, <strong>para</strong>distribuição <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong> (Aurora, De Lantier);- estratégias da marca, buscando a sua consolidação e o seu p<strong>os</strong>icionamentoe/ou rep<strong>os</strong>icionamento <strong>no</strong> mercado (Cordelier, Miolo, Salton e De Lantier);- incrementar o e<strong>no</strong>turismo, através de obras de infra-estrutura e/ou decurs<strong>os</strong> (Cordelier, Miolo, Salton, De Lantier);- estratégia de fidelização d<strong>os</strong> clientes (De Lantier, Cordelier).<strong>As</strong> estratégias de produto e de mercado estão interligadas. Visando ampliaro faturamento e o lucro, objetivo de todas as empresas, foi decidido ampliar omercado, em especial d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> de qualidade superior, que p<strong>os</strong>sibilitam maior


198rentabilidade às vinícolas, e, <strong>para</strong> tanto, o reconhecimento da marca, peloconsumidor, passou a ser uma estratégia relevante.Foi destacada a importância da segmentação de mercad<strong>os</strong>: por desti<strong>no</strong>,por tipo de consumidores e por faixa de preço. “O mercado já está segmentadoe vam<strong>os</strong> segmentar cada vez mais. Essa segmentação será por faixas de preç<strong>os</strong>e por faixa de estil<strong>os</strong> de público-alvo.” (Adria<strong>no</strong>/Miolo).Para ampliar <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, tendo em vista as dimensões geográficas do<strong>Brasil</strong>, foram previst<strong>os</strong> o uso e a ampliação de centr<strong>os</strong> de distribuição em outr<strong>os</strong>estad<strong>os</strong>. Algumas empresas já p<strong>os</strong>suem centr<strong>os</strong> de distribuição em outr<strong>os</strong>estad<strong>os</strong>, como a Miolo, a Salton e a Aurora. Isso se reveste de grande importância,pelo papel da logística nas vinícolas. Atualmente, não basta ter um bom produto,uma vez que “(...) hoje as empresas que são líderes de mercado, o são peladistribuição que elas têm, pela logística que elas p<strong>os</strong>suem” (Za<strong>no</strong>tto/Aurora). ADe Lantier distribui seus produt<strong>os</strong> <strong>no</strong> País através da Bacardi-Martini do <strong>Brasil</strong>e, nesse caso, não tem maiores problemas.A ampliação através do uso de <strong>no</strong>v<strong>os</strong> canais de distribuição 15 visa tambémaumentar a rentabilidade das vinícolas, uma vez que o fornecimento a<strong>os</strong>supermercad<strong>os</strong>, principais canais de vendas, têm se revelado de difícil negociaçãon<strong>os</strong> preç<strong>os</strong>, corroborando o já manifestado pelas entrevistas realizadas juntoa<strong>os</strong> expert<strong>os</strong>. De acordo com o diretor da Salton:“A Salton começou a usar <strong>no</strong>v<strong>os</strong> canais de distribuição, como distribuirem restaurantes e casas especializadas. (...) Estam<strong>os</strong> buscando<strong>no</strong>v<strong>os</strong> segment<strong>os</strong>, como a venda direta ao consumidor, difundindomais a imagem de empresa tradicional produtora” (Antonio/Salton).O aumento do portfólio de vinh<strong>os</strong> a serem distribuíd<strong>os</strong> está previsto comum incremento na participação d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> superiores e pela importação de vinh<strong>os</strong>de outras vinícolas <strong>para</strong> distribuir <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong>. <strong>As</strong> “(...) importações servem<strong>para</strong> aumentar o portfólio, <strong>para</strong> entrar <strong>no</strong> mercado que a gente não atua. (...)Com a importação, nós vam<strong>os</strong> aproveitar a estrutura de distribuição já existente”(Lona/De Lantier).A estratégia de ampliar o mercado pela distribuição de outras marcas devinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong>, <strong>para</strong> “(...) fortalecer o canal pelo qual nós vendem<strong>os</strong> o n<strong>os</strong>soproduto, ou seja, o n<strong>os</strong>so representante ou o distribuidor do n<strong>os</strong>so produto seria15É interessante ressaltar que, em nenhuma das empresas entrevistadas, foi citada a ampliaçãode vendas <strong>para</strong> as lojas de conveniência, o que chamou atenção, dado que, na pesquisarealizada pelo Instituto <strong>Brasil</strong>eiro do Vinho (2001) junto a consumidores de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>,essa foi, junto com as casas especializadas de vinh<strong>os</strong>, a segunda opção de compra após<strong>os</strong> supermercad<strong>os</strong>.


199mais forte, com maior poder de barganha” (Nogueira/Miolo), está sendo discutidana Miolo, com o propósito de implementá-la <strong>no</strong> futuro. Essa mesma estratégiajá foi tentada pela Aurora em 2001. Entretanto foi interrompida pelo fato de que,ao distribuir usando a mesma equipe de vendas de seus produt<strong>os</strong> <strong>no</strong> mercadointer<strong>no</strong>, a sua implementação se m<strong>os</strong>trou inadequada, pois “(...) a n<strong>os</strong>sa equipede vendas não tem o foco <strong>no</strong> importado e, sim, <strong>no</strong> nacional” (Za<strong>no</strong>tto/Aurora).A necessidade de promoção <strong>para</strong> divulgar a imagem do vinho foi destacadapor tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, que salientaram a sua falta <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong>,pela escassa divulgação e pela dificuldade de promover o produto. Mesmo assim,tem ocorrido um grande número de ações de marketing junto a<strong>os</strong> pont<strong>os</strong> ded<strong>os</strong>e, em especial n<strong>os</strong> hotéis e n<strong>os</strong> restaurantes, pois é aí que, mais facilmente,se desenvolve o conceito de um vinho pel<strong>os</strong> formadores de opinião.A estratégia da marca m<strong>os</strong>trou-se relevante <strong>para</strong> algumas empresas, pois,através dela, buscam o reconhecimento da mesma e d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> a elavinculad<strong>os</strong> e tentam estabelecer credibilidade junto a<strong>os</strong> clientes. No caso daSalton, devem-se destacar dois moment<strong>os</strong> em relação às estratégias de marca,sendo o inicial na metade da década de 90.“A Salton assimilou a estratégia d<strong>os</strong> importad<strong>os</strong> e passou a lançar <strong>no</strong>mercado marcas com <strong>no</strong>mes alemães, ou seja, marcas fantasias,pois a concorrência d<strong>os</strong> alemães era muito grande (...) Cerca de quatroan<strong>os</strong> <strong>para</strong> cá, a estratégia da divisão de vinh<strong>os</strong> é divulgar a marcaSalton. Tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> produt<strong>os</strong> são lançad<strong>os</strong> com a marca Salton(...)”(Daniel/Salton).A Miolo está buscando a consolidação da marca, em especial através deum marketing mais ativo, unindo o marketing do vinho com gastro<strong>no</strong>mia, turismo,cultura, artes e moda (fashion), onde se destaca o e<strong>no</strong>turismo.Já a Vinícola Cordelier, através de uma ampla campanha de marketing,vem buscando o rep<strong>os</strong>icionamento da marca Granja União, “(...) tanto em nívelde preç<strong>os</strong> como de produto, visando rejuvenescer a marca e passar <strong>para</strong> umpatamar de mais alto preço do produto” (Silvio/Cordelier). Como resultado, deacordo com o entrevistado, houve um aumento de vendas, ampliando ofaturamento e a lucratividade da vinícola.A Cordelier e a De Lantier têm como estratégia a fidelização d<strong>os</strong> clientes.Esta visa manter a clientela cativa à empresa, que, segundo alguns entrevistad<strong>os</strong>,é mais factível em vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> de marcas reconhecidas e difundidas <strong>no</strong> mercado.Por isso, ambas destacam a relevância do marketing institucional do vinho e dopapel da distribuição d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> <strong>no</strong> mercado, pois reconhecem que o mercad<strong>os</strong>e tor<strong>no</strong>u muito mais difícil, devido ao elevado aumento do número de marcas epelo fato de o consumidor buscar a melhor relação preço/qualidade.


200O e<strong>no</strong>turismo, ou seja, a conjugação da e<strong>no</strong>logia com o turismo, além dep<strong>os</strong>sibilitar às empresas projetar uma imagem, tem demonstrado ser um nichode negóci<strong>os</strong> altamente lucrativo. A existência de restaurantes e lojas comdegustação e venda de vinh<strong>os</strong>, algumas já em funcionamento, como na Aurora,na Salton, na Cordelier e na Miolo, e outr<strong>os</strong> em fase de construção ou ampliaçãojunto às vinícolas (Cordelier, Salton e Miolo) são uma forma de atrair <strong>os</strong> turistas,<strong>os</strong> quais têm sido importante fonte de renda das vinícolas e de divulgação d<strong>os</strong>vinh<strong>os</strong> produzid<strong>os</strong>. Portanto, além de ampliar o faturamento, contribui <strong>para</strong> aimagem da marca.A De Lantier pretende desenvolver o e<strong>no</strong>turismo basicamente através decurs<strong>os</strong> e vendas diretas na vinícola. A Salton, na construção de sua <strong>no</strong>va indústriade vinh<strong>os</strong>, localizada <strong>no</strong> distrito em Tuiuty, a 10 quilômetr<strong>os</strong> de Bento Gonçalves,agregou um parque temático da uva e do vinho, onde, juntamente com oincremento da produção de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, haverá toda uma estrutura voltada aoturismo.Todavia a Miolo destaca-se, dentre as empresas entrevistadas, por ter umcomplexo turístico dentro da sua concepção de marketing de unir o vinho aoturismo e à história. Na sua unidade <strong>no</strong> Vale d<strong>os</strong> Vinhed<strong>os</strong>, onde já são recebid<strong>os</strong>muit<strong>os</strong> turistas, está em construção a Villa Europa Spa do Vinho, que será “(...)o segundo centro de vinhoterapia do mundo, ligando o vinho com a saúde e como turismo ao mesmo tempo” (Adria<strong>no</strong>/Miolo). Nas outras unidades da empresa,tanto na Campanha do Rio Grande do Sul como na Região Nordeste do <strong>Brasil</strong>,também estão previst<strong>os</strong> investiment<strong>os</strong> em e<strong>no</strong>turismo, ligando-<strong>os</strong> à históriadessas regiões.É interessante <strong>no</strong>tar que, apesar de o e<strong>no</strong>turismo não ser o foco estratégicoda Aurora — pois “(...) estrategicamente está decidido que o negócio da Auroraé elaborar e comercializar vinh<strong>os</strong> de qualidade. Este é o negócio da Aurora e,portanto, não tem<strong>os</strong> interesse em ampliar a infra-estrutura turística” (Za<strong>no</strong>tto//Aurora) —, a Cooperativa p<strong>os</strong>sui, desde a década de 80, um centro de recepçãoturística, que recebe grande numero de turistas, <strong>para</strong> <strong>os</strong> quais propicia umavisitação nas suas instalações, com degustações e venda de vinh<strong>os</strong>, além dacomercialização de produt<strong>os</strong> de artesanato d<strong>os</strong> associad<strong>os</strong>.5.3.2.2 - Estratégias uruguaiasNo mercado inter<strong>no</strong>, todas as vinícolas tiveram apenas uma estratégiacomum: manter as campanhas <strong>para</strong> aumentar o consumo de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>uruguai<strong>os</strong>.


201<strong>As</strong> demais estratégias compõem um quadro diversificado:- estratégia de marca, buscando a sua consolidação (Irurtia) e seu p<strong>os</strong>icionamento<strong>no</strong> mercado de alto poder aquisitivo (Carrau e T<strong>os</strong>canini);- estratégia de fidelização d<strong>os</strong> clientes (T<strong>os</strong>canini);- segmentação d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, em especial por faixas de preç<strong>os</strong>, ampliandoa participação d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> de maior valor agregado (Carrau, T<strong>os</strong>canini);- aumento das vendas de vinh<strong>os</strong> a preç<strong>os</strong> mais acessíveis, por alteraçãode tamanho, de embalagens, etc. (Irurtia, Aria<strong>no</strong>, T<strong>os</strong>canini);- terceirização da distribuição interna (Irurtia).Visando ampliar o faturamento e o lucro, objetivo de todas as empresas, etendo em vista as dificuldades <strong>para</strong> ampliar o mercado inter<strong>no</strong>, que é restrito,duas das empresas entrevistadas — Carrau e T<strong>os</strong>canini — têm como estratégiao “p<strong>os</strong>icionamento d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> da empresa como <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> de melhor qualidade<strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong>” (Maria/Carrau). Através da venda de vinh<strong>os</strong> de uma qualidadeum pouco mais elevada que a concorrência, essas empresas buscam “(...)p<strong>os</strong>icionar-se frente a um público de alto poder aquisitivo” (Andres/T<strong>os</strong>canini), oque p<strong>os</strong>sibilita maior rentabilidade às vinícolas que concorrem diretamente com<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> importad<strong>os</strong>. Nesse caso, o reconhecimento da marca pelo consumidorde maior poder aquisitivo passou a ser uma estratégia relevante.Mas, tendo em vista o decréscimo do poder aquisitivo da população, asempresas também passaram a se preocupar em ter <strong>no</strong> portfólio vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>jovens, de linha intermediária, em embalagens mais baratas ou de me<strong>no</strong>r tamanho.Ainda <strong>no</strong> que se refere à distribuição interna, algumas empresas p<strong>os</strong>suemrepresentantes ou distribuidores em algumas localidades e fazem a venda diretaem outras. A Irurtia, recentemente, fechou seu depósito de distribuição emMontevidéu, tendo em vista que a vinícola está localizada em Carmelo, eterceirizou a distribuição interna.Foi salientada, por vári<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, a relevância das vendas <strong>no</strong> litoral,em especial em Punta del Este. Nesse mercado, as vinícolas, ao mesmo tempoem que buscam <strong>os</strong> clientes de alto poder aquisitivo, tratam de tornar conhecidasua marca junto a<strong>os</strong> turistas oriund<strong>os</strong> de outr<strong>os</strong> países, tendo em vista asexportações de vinh<strong>os</strong>.Já a manutenção da campanha <strong>para</strong> aumentar o consumo de vinh<strong>os</strong>uruguai<strong>os</strong> é institucional, ou seja, todas as vinícolas participam através do Inavi.Em relação ao e<strong>no</strong>turismo, cabe destacar que, <strong>no</strong> Uruguai, ele ainda émuito incipiente, quando com<strong>para</strong>do com o do <strong>Brasil</strong>, em especial na região doVale d<strong>os</strong> Vinhed<strong>os</strong>-RS. Das empresas entrevistadas, apenas a T<strong>os</strong>canini convida<strong>os</strong> clientes <strong>para</strong> visitarem a adega, quando oferece um almoço e degustaçãode vinh<strong>os</strong>. Porém a única empresa que p<strong>os</strong>sui uma infra-estrutura visando unir ovinho ao turismo é a Juanicó, apesar de não participar da pesquisa, como já


202explicado <strong>no</strong> método. Transcrevem-se algumas passagens de seu Diretor deExportação, Christian Wylie, que elucidam essa estratégia. A Juanicó tem umprograma de visitação da vinícola, em especial <strong>para</strong> turistas estrangeir<strong>os</strong> queaportam em Montevidéu em cruzeir<strong>os</strong> marítim<strong>os</strong>.“Em geral, em cada cruzeiro, vêm à Juanicó cerca de 50 a 100pessoas, e fazem<strong>os</strong> um tour pela bodega, uma degustação e vendem<strong>os</strong><strong>os</strong> produt<strong>os</strong>. Tem<strong>os</strong> também um programa <strong>para</strong> <strong>os</strong> uruguai<strong>os</strong> visitarema adega. E tem<strong>os</strong> um pla<strong>no</strong> de, <strong>no</strong> futuro, construir um hotel. (...)Também estam<strong>os</strong> negociando com outras adegas <strong>para</strong> construir umarota do vinho que atraia o turista <strong>para</strong> que ele adquira vinh<strong>os</strong>.” (ChristianWylie/Juanicó).Com o desenvolvimento de uma base de dad<strong>os</strong> sobre seus clientes, aT<strong>os</strong>canini busca conhecer melhor <strong>os</strong> seus clientes <strong>para</strong> torná-l<strong>os</strong> mais efetiv<strong>os</strong>e fieis à marca. Esse tipo de estratégia p<strong>os</strong>sibilita desenvolver programas demarketing <strong>para</strong> clientes específic<strong>os</strong>, segundo Rowe e Barnes (1998).5.3.3 - Estratégias <strong>para</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>extern<strong>os</strong><strong>As</strong> empresas entrevistadas já vêm participando do mercado exter<strong>no</strong>, sejavia importação de vinh<strong>os</strong>, <strong>para</strong> distribuir internamente, seja através da exportação.Mas somente esta última é objeto de análise, uma vez que as importações, talcomo vêm sendo realizadas, estão inseridas dentro das estratégias de produtoe de distribuição <strong>para</strong> o mercado inter<strong>no</strong>, as quais já foram analisadas.A globalização e <strong>os</strong> process<strong>os</strong> de integração oferecem oportunidades <strong>para</strong>o crescimento de algumas empresas, desde que as estratégias <strong>empresariais</strong>sejam desenhadas em função das p<strong>os</strong>sibilidades apresentadas, tendo em vista<strong>os</strong> pré-requisit<strong>os</strong> <strong>para</strong> uma maior incorporação à eco<strong>no</strong>mia mundial. Essap<strong>os</strong>sibilidade foi mais bem aproveitada pelas vinícolas uruguaias, pois todas asempresas entrevistadas exportam e participam d<strong>os</strong> vári<strong>os</strong> consórci<strong>os</strong> deexportação n<strong>os</strong> últim<strong>os</strong> an<strong>os</strong>.No <strong>Brasil</strong>, por ser uma eco<strong>no</strong>mia de dimensões continentais, destaca-se oelevado peso que, tradicionalmente, tem tido o mercado inter<strong>no</strong> <strong>para</strong> todas asempresas, apesar d<strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> polític<strong>os</strong> de busca de uma maior inserçãocompetitiva do País por várias décadas.Com a abertura das eco<strong>no</strong>mias e com a formação do Merc<strong>os</strong>ul, três vinícolasbrasileiras já exportaram (Miolo, Aurora e De Lantier), com maior destaque <strong>para</strong>


203a Aurora, que já vem realizando vendas externas, de maneira cíclica, há muit<strong>os</strong>an<strong>os</strong>, sendo que, ao ser interrompida a aliança estratégica que ela mantinhacom uma empresa estrangeira, as exportações brasileiras de vinh<strong>os</strong> diminuíramacentuadamente. Atualmente, duas empresas (Miolo e Aurora) pretendem ampliaras exportações que vêm realizando e estão em processo de negociação <strong>para</strong> aformação de alianças estratégicas com empresas estrangeiras. A Salton pretendecomeçar a exportar, e as outras duas empresas (De Lantier e Cordelier) não têmcomo foco as exportações neste momento.Os principais problemas <strong>para</strong> entrar e se manter n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong> e<strong>para</strong> aumentar as exportações são comuns às empresas d<strong>os</strong> dois países, ondese destacam, basicamente:- o desconhecimento, tanto do <strong>Brasil</strong> como do Uruguai, como países produtoresde vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>;- <strong>os</strong> elevad<strong>os</strong> cust<strong>os</strong> <strong>para</strong> entrar em <strong>no</strong>v<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>;- <strong>os</strong> gast<strong>os</strong> necessári<strong>os</strong> <strong>para</strong> se manter n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong>;- a grande concorrência n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> internacionais, com um excedentede vinh<strong>os</strong> <strong>no</strong> mundo e, por conseqüência, com queda n<strong>os</strong> preç<strong>os</strong>.Esses problemas foram destacad<strong>os</strong> por todas as empresas que exportamn<strong>os</strong> dois países. Entretanto todas as empresas uruguaias salientaram que maisdifícil do que entrar n<strong>os</strong> <strong>no</strong>v<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> é a permanência n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>conquistad<strong>os</strong>, como exp<strong>os</strong>to pelo responsável pelas exportações da Irurtia:“Se, por um lado, é difícil encontrar o importador, por outro, quando seencontra, é importante fazer um trabalho conjunto, principalmente dedegustação, de promoções, ou seja, é preciso investir nesses <strong>no</strong>v<strong>os</strong>mercad<strong>os</strong>. Às vezes, é preciso gastar muito até fazer o mercado”(Rippe/Irurtia).Como existem estratégias comuns e algumas distintas <strong>para</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>extern<strong>os</strong> e, principalmente, muitas diferenças na forma de atuação das vinícolasd<strong>os</strong> dois países <strong>para</strong> implementar as estratégias, estas serão analisadas porpaís.5.3.3.1 - Estratégias brasileirasComo a Salton, até a data das entrevistas, não tinha exportado, suaestratégia era começar a exportar e, <strong>para</strong> tanto, já participava do consórcio deexportação, onde seu objetivo era conhecer melhor o mercado exter<strong>no</strong>. Atravésdo aprendizado, pretende ampliar o seu mercado.


204<strong>As</strong> empresas Miolo e Aurora p<strong>os</strong>suem duas estratégias similares e umaespecífica de cada empresa, como segue:- aumentar as exportações;- ampliar e diversificar <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>;- estratégia de diferenciação segundo o terroir (Miolo);- estratégia de distribuição diferenciada por mercado e por canal dedistribuição (Aurora).Para atingir as estratégias comuns, está previsto pelas duas empresas:- participação em feiras internacionais e em concurs<strong>os</strong> internacionais;- participação <strong>no</strong> consórcio de exportação;- negociações <strong>para</strong> a formação de alianças estratégicas com empresasestrangeiras.A participação <strong>no</strong> consórcio de exportação visa reduzir <strong>os</strong> cust<strong>os</strong> depr<strong>os</strong>pecção em <strong>no</strong>v<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, da participação nas feiras internacionais e depromoções específicas de degustação em vári<strong>os</strong> países, além de outras açõesde marketing necessárias <strong>para</strong> impulsionar as exportações.Para atingir as estratégias prop<strong>os</strong>tas, a Aurora e a Miolo também estãobuscando concretizar joint ventures com empresas estrangeiras <strong>para</strong> a produçãoe a distribuição de vinh<strong>os</strong> n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong>. Portanto, visam facilitar aimplementação de estratégias já existentes e não a sua alteração. Essasnegociações já se encontravam em andamento na Miolo, com uma empresaportuguesa, e na Aurora, com mais de uma vinícola estrangeira. Mas nenhumaaliança com capital estrangeiro tinha sido concretizada até a data das entrevistas.Ambas pretendem exportar, em especial, <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> premium. Mas aestratégia utilizada nas exportações por cada empresa é distinta e reflete avisão d<strong>os</strong> seus formuladores/implementadores. Enquanto, na Miolo, <strong>os</strong> doisentrevistad<strong>os</strong> destacaram sobremaneira a diferenciação d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> segundo oterroir, na Aurora, <strong>os</strong> dois participantes da pesquisa salientaram que ocrescimento das empresas depende, em grande parte, da sua logística. E essassão as bases <strong>para</strong> as estratégias.A Miolo propõe-se a realizar as vendas <strong>no</strong> exterior, baseada na estratégiada diferenciação de vinh<strong>os</strong> segundo o terroir da região produtora, da mesmaforma como vem atuando <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong>, pois “(...) lá fora também nós nãovam<strong>os</strong> vender o vinho brasileiro, nós vam<strong>os</strong> vender o vinho de São Francisco, daCampanha, e do Vale d<strong>os</strong> Vinhed<strong>os</strong>” (Adria<strong>no</strong>/Miolo). E, <strong>para</strong> agregar maiorvalor ao vinho exportado, a Miolo pretende ampliar <strong>os</strong> produt<strong>os</strong> com selo deprocedência d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>, pois ele “(...) está começando a ser relevante <strong>para</strong> asexportações” (Nogueira/Miolo), e vem buscando a certificação ISO 9000.Já na Aurora, “(...) a exportação é a n<strong>os</strong>sa principal estratégia, <strong>no</strong> momento”(Za<strong>no</strong>tto/Aurora). Para tanto, a empresa desenvolveu um pla<strong>no</strong> estratégico <strong>para</strong>


205o mercado exter<strong>no</strong>, onde definiu <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> em que pretende, prioritariamente,atuar e como ocorrerá a distribuição, tendo em vista as particularidades de cadaregião <strong>para</strong> “(...) desenvolver canais de distribuição específic<strong>os</strong> (...)” (Rafael//Aurora).Tanto na Aurora como na Miolo, hoje a exportação representa um percentualpouco significativo do faturamento, mas, com as ações em andamento, essaparticipação tende a crescer, e esse deve ser o principal impacto das exportações.Sabe-se que <strong>os</strong> contat<strong>os</strong> com o exterior podem ocasionar outras modificaçõesnas empresas, contribuindo <strong>para</strong> a melhoria d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong>, <strong>para</strong> maiores i<strong>no</strong>vaçõesem produt<strong>os</strong> e embalagens, <strong>para</strong> me<strong>no</strong>r resistência a mudanças, etc.Portanto, as exportações são vistas como vantaj<strong>os</strong>as pelas duas empresas.No caso da Aurora, por ser grande importadora de vinh<strong>os</strong> do Uruguai, da AuroraS/A, as exportações tornam-se ainda mais relevantes. Segundo um d<strong>os</strong>entrevistad<strong>os</strong>:“<strong>As</strong> vantagens são o ingresso de moeda forte na empresa, porquehoje, como se sabe, ela importa do Uruguai, e, assim, se faria umhedge natural, e esta é a maior vantagem. A segunda maior vantagemseria ter diferentes clientes e também a difusão da marca” (Rafael//Aurora).5.3.3.2 - Estratégias uruguaiasTodas as empresas entrevistadas exportam, e algumas estratégias comunssão similares às do <strong>Brasil</strong>, outras não. <strong>As</strong> estratégias de todas as quatro empresassão:- aumentar as exportações;- ampliar e diversificar <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>; e a- estratégia de diferenciação baseada <strong>no</strong> vinho Tannat.Para atingir as estratégias de exportação, estão previstas as seguintesações por todas as empresas entrevistadas:- participação em feiras internacionais e em concurs<strong>os</strong> internacionais;- participar de promoções específicas de degustações em vári<strong>os</strong> países;- participação em consórci<strong>os</strong> de exportação;- formar ou incrementar as alianças estratégicas com empresas estrangeiras,<strong>para</strong> a produção e a exportação de vinh<strong>os</strong>.Para ampliar as vendas e <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, estão previstas várias atividades.Todavia, de forma diferente do observado <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> manifestaramuma grande preocupação com a melhoria da coordenação das vendas <strong>para</strong>o exterior, que inclui o maior controle da qualidade d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> que é levado <strong>para</strong>


206as degustações <strong>no</strong> exterior e uma maior união das vinícolas. Salientaram que,<strong>para</strong> continuar n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong>, ainda é necessário fazer a apresentaçãode produt<strong>os</strong> e a divulgação, tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> an<strong>os</strong>, nesses mercad<strong>os</strong>.Para todas as vinícolas entrevistadas, o mercado exter<strong>no</strong> tor<strong>no</strong>u-se umimperativo ao crescimento da produção, com ganh<strong>os</strong> de escala e diluição decust<strong>os</strong> fix<strong>os</strong>, e do faturamento de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, pelo reduzido tamanho do mercadointer<strong>no</strong>. <strong>As</strong> exportações também podem ser muito rentáveis em determinad<strong>os</strong>moment<strong>os</strong>, tendo em vista a relação cambial existente <strong>no</strong> mercado. Segundo<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, com as exportações só existem vantagens.“O mercado internacional gera uma maior capacidade de concorrênciaque também n<strong>os</strong> fazem mais competitiv<strong>os</strong> <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong>. Geraimagem <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong>, pois <strong>os</strong> produt<strong>os</strong> são aceit<strong>os</strong> <strong>no</strong> mercadointernacional. E gera capacidade de absorver cust<strong>os</strong> fix<strong>os</strong> muitointeressantes, pois o mercado nacional é muito peque<strong>no</strong>, e a situaçãoestá recessiva.” (Maria/Carrau).“A principal vantagem é que a exportação é um mercado semlimites.(...) A outra vantagem é o fato de receber em dólares, que émuito mais rentável. A terceira vantagem é que, exportando <strong>para</strong> vári<strong>os</strong>países, ficam<strong>os</strong> men<strong>os</strong> vulneráveis às crises econômicas, ou seja,se diluem <strong>os</strong> risc<strong>os</strong>.” (Andres/T<strong>os</strong>canini).Para incrementar as exportações, muitas vinícolas — <strong>para</strong> atender a algunsmercad<strong>os</strong> — trouxeram enólog<strong>os</strong> do exterior. O objetivo era adaptar o vinho aopadrão do consumidor exter<strong>no</strong>, pois “(...) o g<strong>os</strong>to d<strong>os</strong> suec<strong>os</strong> não é o mesmoque d<strong>os</strong> ingleses, e a empresa tem que ter distint<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> <strong>para</strong> distint<strong>os</strong>mercad<strong>os</strong>” (Rippe/Irurtia).Na Irurtia, as exportações representam apenas 7% da produção de vinh<strong>os</strong>fin<strong>os</strong>, mas a meta é “(...) atingir 20% da produção <strong>para</strong> exportação” (Rippe//Irurtia). Nas demais empresas entrevistadas, as exportações representarammais de 30% em 2001.Mas, como a Carrau só produz vinho fi<strong>no</strong>, suas exportações em volume evalor são muito mais elevadas, tendo atingido 50% em an<strong>os</strong> anteriores a 2001,mas esse percentual diminuiu pelo decréscimo do volume exportado, ao mesmotempo em que <strong>os</strong> preç<strong>os</strong> intern<strong>os</strong> se elevaram, de acordo com o seu diretor.Essa empresa se destaca das demais na área externa, não só pela participaçãodas exportações nas vendas, como pelo fato de ter sido uma das primeiras quecomeçou a exportar, pois foi fundada com esse objetivo. Além disso, ela abriupraticamente quase tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong> <strong>para</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> uruguai<strong>os</strong>,conforme exp<strong>os</strong>to.


207“Quando essa empresa começou, o objetivo era produzir vinh<strong>os</strong> dequalidade, somente, e exportar. Ninguém falava, naquela época, emexportar vinh<strong>os</strong>. (...) Tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong>, exceto a França,aqui <strong>no</strong> Uruguai, foram abert<strong>os</strong> pela família Carrau. E abrir o mercadoe entrar pela primeira vez em um país é o mais difícil.” (Javier/Carrau).Portanto, às estratégias comuns, devem-se agregar as específicas daCarrau:- exportar vinh<strong>os</strong> de qualidade cada vez mais superior e de preç<strong>os</strong> maiselevad<strong>os</strong>;- exportar apenas <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> com marca própria.A estratégia de vender apenas com a marca das bodegas da Carrau difereda das demais empresas, que exportam com marcas do importador oudistribuidor, como exp<strong>os</strong>to pela T<strong>os</strong>canini e pela Aria<strong>no</strong>. Já a venda de vinh<strong>os</strong> dequalidade e preço superior foi assim explicada: “A n<strong>os</strong>sa estratégia, que jáestam<strong>os</strong> aplicando neste a<strong>no</strong>, é aumentar o preço da caixa de vinho. (...) Emgeral, as empresas uruguaias exportam a caixa com 12 garrafas de US$ 18 aUS$ 19. A n<strong>os</strong>sa média é de US$ 38 a caixa” (Javier/Carrau).Deve-se destacar que existe, <strong>no</strong> Uruguai, um pla<strong>no</strong> de marketing <strong>para</strong> <strong>os</strong>etor de vinh<strong>os</strong>, cujo objetivo é consolidar mercad<strong>os</strong> e aumentar as exportações.Esse pla<strong>no</strong> foi reavaliado, em 2002, por todas as organizações vinculadas a<strong>os</strong>etor vinícola e por algumas empresas exportadoras, sob a coordenação doInavi. Todas as vinícolas entrevistadas partici<strong>para</strong>m dessa reavaliação.Nesse pla<strong>no</strong>, são apresentadas as conclusões quanto a produto, mercad<strong>os</strong>e algumas ações específicas de marketing. A seguir, apresentam-se as principaisconclusões. No que se refere ao produto e às ações de comunicação, percebe--se, claramente, que todas essas estratégias são seguidas pelas quatro empresasentrevistadas.Quanto ao produto:- o Uruguai pode aumentar as exportações de vinh<strong>os</strong> de qualidade emrelação ao que atualmente exporta (estratégia da Carrau);- a uva Tannat deve continuar predominando, porque é elemento fundamentalde diferenciação (estratégia de todas);- visando atender às preferências do consumidor, as empresas precisamtrabalhar com enólog<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> que conheçam diferentes mercad<strong>os</strong>de interesse (estratégia de todas).No que se refere a<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, as promoções devem ser concentradasem três mercad<strong>os</strong>: Rei<strong>no</strong> Unido, Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong> e <strong>Brasil</strong>, sem desatendereventuais oportunidades. <strong>As</strong> empresas entrevistadas exportam <strong>para</strong> vári<strong>os</strong>


208mercad<strong>os</strong>, com ênfase <strong>para</strong> o <strong>no</strong>rte da Europa e <strong>para</strong> <strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>, e, emmaior ou me<strong>no</strong>r quantidade, <strong>para</strong> o <strong>Brasil</strong>, em conformidade com o pla<strong>no</strong>.Ademais, esse pla<strong>no</strong> especifica várias ações de comunicação, tendo porobjetivo tornar o vinho uruguaio mais conhecido <strong>no</strong> exterior, onde se destaca aimportância de as empresas participarem de algumas feiras internacionais, quesão referências mundiais <strong>para</strong> importadores, além de realizarem atividades <strong>no</strong>exterior <strong>para</strong> incentivar o consumo do vinho uruguaio (estratégias de todas).A relevância do Inavi <strong>para</strong> a promoção externa é tamanha, que um d<strong>os</strong>entrevistad<strong>os</strong> afirmou: “(...) este a<strong>no</strong>, nós não vam<strong>os</strong> à Alemanha nem à Inglaterra,porque o Inavi não tem mais dinheiro” (Rippe/Irurtia).<strong>As</strong> alianças estratégicas existentes <strong>no</strong> Uruguai, como acord<strong>os</strong> de produçãoe/ou de distribuição e as joint ventures com empresas estrangeiras, que serãoanalisadas p<strong>os</strong>teriormente, visam ao intercâmbio tec<strong>no</strong>lógico e de experiências,mas, em especial, a aumentar a comercialização externa, pois a exportaçãod<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> é facilitada pelo grande canal de distribuição das empresasestrangeiras, que atuam em vári<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>.5.3.4 - Estratégias de recurs<strong>os</strong> human<strong>os</strong>Uma vez delinead<strong>os</strong> <strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> e as estratégias das empresas, pretende--se avaliar como <strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> human<strong>os</strong> são inserid<strong>os</strong> e, em especial, se existemproblemas <strong>no</strong> que se refere à sua carência e às políticas de treinamento, visandoo crescimento do capital huma<strong>no</strong>, pois “(...) a força de trabalho representa umrecurso estratégico <strong>para</strong> as organizações” e, em alguns cas<strong>os</strong>, “(...) o capitalhuma<strong>no</strong> não pode ser se<strong>para</strong>do do produto final” (Almeida; Teixeira; Martinelli,1993, p. 24).Não houve uma estratégia comum de capacitação d<strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> human<strong>os</strong>de todas as vinícolas porque uma empresa uruguaia, a Aria<strong>no</strong>, afirmou não ter“nenhuma política de treinamento ou capacitação técnica” (Elizabeth/Aria<strong>no</strong>).Essa empresa é pequena, e várias pessoas da família trabalham em distintasatividades, sendo que um diretor é enólogo, e a engenheira responsável pel<strong>os</strong>produt<strong>os</strong> mantém-se atualizada porque “(...) participa de vári<strong>os</strong> seminári<strong>os</strong>, eviaja ao exterior (...) mas é pelo fato de ela ser professora de e<strong>no</strong>logia” (Elizabeth//Aria<strong>no</strong>).Portanto, à exceção da Aria<strong>no</strong>, existe uma estratégia comuns às oitovinícolas e algumas específicas <strong>para</strong> um grupo de empresas, como segue.- aprimoramento d<strong>os</strong> enólog<strong>os</strong> (De Lantier, Salton, Aurora, Miolo, Cordelier,Irutia, Carrau, T<strong>os</strong>canini);


209- maior capacitação e treinamento de vendedores (De Lantier, Salton, Aurora,Miolo, Irutia, Carrau, T<strong>os</strong>canini);- maior capacitação e treinamento de pessoal ligado ao turismo (Miolo eCordelier);- capacitar alguns técnic<strong>os</strong> envolvid<strong>os</strong> na área de exportação (Carrau, Irurtia);- contratação de consultores internacionais de e<strong>no</strong>logia (Carrau, Irurtia,Miolo).Nas empresas entrevistadas de amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países, observou-se que nãoexistem maiores problemas de recurs<strong>os</strong> human<strong>os</strong>, e, por isso, grandesinvestiment<strong>os</strong> são dirigid<strong>os</strong> à área técnica, em especial a<strong>os</strong> enólog<strong>os</strong>, uma vezque estes são <strong>os</strong> responsáveis diret<strong>os</strong> pela obtenção de um produto de qualidade.Algumas vinícolas também vêm investindo na maior capacitação e/ou <strong>no</strong>treinamento de vendedores intern<strong>os</strong> e <strong>para</strong> a exportação, <strong>para</strong> obter maioresresultad<strong>os</strong> nas vendas, e em pessoal ligado à área turística dentro das vinícolas,<strong>no</strong> caso do <strong>Brasil</strong>.Todas as empresas brasileiras afirmaram ter estratégias de treinamento e//ou de aperfeiçoamento profissional. No Uruguai, exceto na Aria<strong>no</strong>, como jáexplicado anteriormente, também há estratégias de capacitação.Na área de e<strong>no</strong>logia, muit<strong>os</strong> técnic<strong>os</strong> têm viajado <strong>para</strong> o exterior, participandode seminári<strong>os</strong> e visitando as vinícolas existentes. <strong>As</strong> vinícolas trazem algunsenólog<strong>os</strong> do exterior, visando, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, em especial, desenvolver a tec<strong>no</strong>logiade process<strong>os</strong>, contribuir <strong>para</strong> a melhoria do produto e <strong>para</strong> o aprimoramento d<strong>os</strong>enólog<strong>os</strong>. Mas, <strong>no</strong> Uruguai, além desses objetiv<strong>os</strong>, <strong>os</strong> enólog<strong>os</strong> extern<strong>os</strong> têmpor fim adaptar o vinho ao g<strong>os</strong>to do consumidor exter<strong>no</strong>. De acordo com <strong>os</strong>entrevistad<strong>os</strong> <strong>no</strong> Uruguai, há determinad<strong>os</strong> procediment<strong>os</strong>, <strong>para</strong> alguns países,que são importantes de serem aplicad<strong>os</strong>, e isso, de certa forma, avaliza o produto<strong>no</strong> exterior. É uma política de penetração <strong>no</strong> mercado, pois o enólogo é que vaimarcar um estilo de vinho, conhecendo o consumidor a que se destina. Essap<strong>os</strong>ição foi contestada, especialmente pel<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> da Miolo.“Não existe esse negócio de contratar um enólogo <strong>para</strong> adaptar aog<strong>os</strong>to exter<strong>no</strong>. O vinho está aqui, com a tipicidade daqui e com oterroir daqui, pois o terroir já define qual a característica do produto(...) A contratação de consultores internacionais de e<strong>no</strong>logia seria daraquele plus que nós estam<strong>os</strong> precisando <strong>para</strong> fazer esses vinh<strong>os</strong>superiores ao premium” (Adria<strong>no</strong>/Miolo).Duas vinícolas destacam-se na área de capacitação. No Uruguai, a Carrau,que tem uma grande preocupação em manter atualizado e muito bem informadoo pessoal em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> níveis — <strong>os</strong> envolvid<strong>os</strong> com <strong>os</strong> vinhed<strong>os</strong>, com a produ-


210ção, a administração e as vendas —, como pode ser verificado pelo relato obtido:“(...) sempre estam<strong>os</strong> capacitando o pessoal. Isto inclui tod<strong>os</strong> de cima <strong>para</strong>baixo, e tod<strong>os</strong> participam de seminári<strong>os</strong>. Isto tem contribuído muito <strong>para</strong> asestratégias” (Javier/Carrau).No <strong>Brasil</strong>, a Aurora, por ser uma cooperativa de produtores, tem uma políticade treinamento mais ampla. No quadro social, segundo seu Diretor, formaram-sequatro grup<strong>os</strong>, com treinament<strong>os</strong> específic<strong>os</strong>, visando:- estimular a maior participação da mulher do cooperado <strong>no</strong> processodecisório, através de treinamento e informações, <strong>para</strong> que a decisãonão seja só do associado, mas seja da família;- realizar curs<strong>os</strong> e palestras <strong>para</strong> <strong>os</strong> filh<strong>os</strong> do cooperado e estimular <strong>para</strong>que venham a receber as informações da cooperativa. Isso objetiva queeles p<strong>os</strong>sam discutir com o pai e que vislumbrem a p<strong>os</strong>sibilidade de afamília continuar na cooperativa;- propiciar a<strong>os</strong> associad<strong>os</strong>, esp<strong>os</strong>a e filh<strong>os</strong> que trabalham um treinamentotécnico em uso de equipamento de proteção individual, <strong>para</strong> que eles nã<strong>os</strong>e contaminem com agrotóxic<strong>os</strong>, e na questão da planilha de cust<strong>os</strong> dapropriedade, <strong>para</strong> que eles comecem a gerenciar a sua própria propriedadee que p<strong>os</strong>sam perceber onde é p<strong>os</strong>sível baixar seus cust<strong>os</strong> de produção.Portanto, <strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> human<strong>os</strong> não parecem constituir maiores problemas<strong>para</strong> a consecução d<strong>os</strong> negóci<strong>os</strong> e <strong>para</strong> a implementação das estratégias deprodut<strong>os</strong> e mercad<strong>os</strong>.5.3.5 - Estratégias financeiras<strong>As</strong> estratégias financeiras têm por objetivo verificar a existência de problemasfinanceir<strong>os</strong> e as fontes de recurs<strong>os</strong> <strong>para</strong> o desenvolvimento d<strong>os</strong> negóci<strong>os</strong>. Todasas vinícolas entrevistadas, tanto <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> como <strong>no</strong> Uruguai, afirmaram não haverproblemas de recurs<strong>os</strong> financeir<strong>os</strong> <strong>para</strong> implementar as estratégias, pois sópensam em implementá-las quando p<strong>os</strong>suírem recurs<strong>os</strong> <strong>para</strong> tal.A estratégia financeira comum a todas empresas entrevistadas é trabalharbasicamente com recurs<strong>os</strong> própri<strong>os</strong>.Existem também algumas estratégias específicas de algumas empresas,como:- diminuir o nível de endividamento (Aria<strong>no</strong>, Aurora);- aplicar valores crescentes do faturamento da vinícola em investiment<strong>os</strong>(De Lantier);- reaplicar <strong>os</strong> lucr<strong>os</strong> n<strong>os</strong> <strong>no</strong>v<strong>os</strong> investiment<strong>os</strong> (Miolo).


211Todas as empresas, tanto <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> como <strong>no</strong> Uruguai, utilizam pouc<strong>os</strong>recurs<strong>os</strong> do sistema financeiro, e a estratégia de uso de recurs<strong>os</strong> própri<strong>os</strong> émuito mais por uma situação de conjuntura econômica, devido às elevadas taxasde jur<strong>os</strong> em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, do que por opção. A exceção fica por conta daDe Lantier, que pode contar com <strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> da corporação, desde que estaconsidere importante. Por conseguinte, não foi uma estratégia deliberada. Parapoderem trabalhar com recurs<strong>os</strong> própri<strong>os</strong>, é indispensável que as empresasaumentem o faturamento e o lucro, pois só assim poderão amortizar <strong>os</strong>financiament<strong>os</strong> e/ou as dívidas passadas e reinvestir <strong>os</strong> lucr<strong>os</strong> obtid<strong>os</strong> em <strong>no</strong>v<strong>os</strong>investiment<strong>os</strong>.No <strong>Brasil</strong>, as empresas relataram grandes dificuldades <strong>para</strong> obtenção derecurs<strong>os</strong> <strong>para</strong> ampliação e/ou construção das instalações, como <strong>no</strong> caso daCordelier e da Salton, que tinham tratado de obter financiamento junto a banc<strong>os</strong>de desenvolvimento, <strong>os</strong> quais, com a troca do Gover<strong>no</strong> Estadual, em 1999,acabaram não saindo. Entretanto elas têm se utilizado de recurs<strong>os</strong> bancári<strong>os</strong>,em especial <strong>para</strong> <strong>os</strong> financiament<strong>os</strong> de máquinas e equipament<strong>os</strong>. Mas todasas empresas salientaram a relevância d<strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> própri<strong>os</strong>. Na Miolo, foidestacado que “(...) <strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> captad<strong>os</strong> em banc<strong>os</strong> não chegam a 10% d<strong>os</strong>investiment<strong>os</strong> realizad<strong>os</strong> pela empresa. Nós fazem<strong>os</strong> a aplicação d<strong>os</strong> resultad<strong>os</strong>”(Adria<strong>no</strong>/Miolo).A De Lantier, que é a única vinícola que faz parte de uma empresamultinacional, só utiliza recurs<strong>os</strong> própri<strong>os</strong> da empresa. “Estes recurs<strong>os</strong> sãocomprometid<strong>os</strong> através de um orçamento anual, de onde parte do que se faturavai <strong>para</strong> investiment<strong>os</strong>” (Lona/De Lantier). De acordo com o seu Diretor, a Bacardi--Martini do <strong>Brasil</strong> investe cerca de 20% de seu faturamento em marcas. Mas aDe Lantier não vinha recebendo esse percentual <strong>para</strong> investimento, situaçãoesta que foi alterada com a criação da Unidade de Negóci<strong>os</strong> de Vinho. “Agora,reconhecendo a importância do vinho, eles começaram a liberar mais recurs<strong>os</strong>.(...) E o sentimento da unidade é que este valor pode ser aumentado muito (...)”(Lona/De Lantier).No Uruguai, devido ao processo de reconversão de vinhed<strong>os</strong> e das vinícolas,as empresas realizaram um grande volume de investiment<strong>os</strong>, parte d<strong>os</strong> quaisfinanciad<strong>os</strong> pelo Inavi. <strong>As</strong> vinícolas, em geral, recorreram a<strong>os</strong> financiament<strong>os</strong>bancári<strong>os</strong>, tomando empréstim<strong>os</strong> em dólares, a taxas de jur<strong>os</strong> baixas na época,<strong>os</strong> quais estão sendo amortizad<strong>os</strong> atualmente. Porém, com a desvalorizaçãodo peso em relação ao dólar, o comprometimento das receitas com <strong>os</strong> banc<strong>os</strong>aumentou sobremaneira, dificultando a situação financeira das vinícolas: “(...)pegam<strong>os</strong> financiament<strong>os</strong> em dólar, o que foi nefasto <strong>para</strong> a empresa. A moedainterna se desvalorizou, e a dívida mais do que duplicou” (Nelson/Aria<strong>no</strong>).


212Portanto, o incremento das exportações é relevante <strong>para</strong> as vinícolasuruguaias obterem dólares necessári<strong>os</strong> <strong>para</strong> o pagamento das dívidas e <strong>para</strong> seresguardarem em caso de desvalorização do peso. Quando a receita e a dívidada empresa são na mesma moeda, há a p<strong>os</strong>sibilidade de a vinícola se defenderdas <strong>os</strong>cilações cambiais que porventura ocorram.Como, “(...) atualmente, <strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> financeir<strong>os</strong> são difíceis e muito car<strong>os</strong>”(Jorge/T<strong>os</strong>canini), as vinícolas utilizam-se de financiament<strong>os</strong> apenas quandonecessári<strong>os</strong> e <strong>para</strong> atividades específicas, em especial <strong>para</strong> financiar asexportações e/ou o capital de giro, como relatado pela T<strong>os</strong>canini, pela Irurtia epela Carrau.No Uruguai, de 1999 a 2001, apenas uma empresa apresentou crescimentode faturamento e de rentabilidade, pois a rentabilidade <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong> “(...)diminuiu muito n<strong>os</strong> últim<strong>os</strong> an<strong>os</strong>, devido à crise conjuntural que passa a eco<strong>no</strong>miado Uruguai” (Elizabeth/Aria<strong>no</strong>).Já <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, <strong>no</strong> triênio 1999-01, excetuando a De Lantier, todas as demaistiveram incremento de faturamento, o mesmo não ocorrendo com a rentabilidade,que variou, entre as vinícolas entrevistadas, de grande crescimento (Miolo) atédecréscimo (De Lantier).Duas empresas destacaram a importância de pagar as dívidas existentes,sendo que, <strong>no</strong> caso da Aurora, através da aplicação d<strong>os</strong> lucr<strong>os</strong> d<strong>os</strong> associad<strong>os</strong>.“Hoje, a estratégia financeira é manter a empresa n<strong>os</strong> trilh<strong>os</strong> e pagaras contas. A empresa vem dando resultado n<strong>os</strong> últim<strong>os</strong> an<strong>os</strong>, e <strong>os</strong>associad<strong>os</strong> estão utilizando <strong>os</strong> dividend<strong>os</strong> <strong>para</strong> pagar as dívidas. E aempresa se recuperou daquela crise do final d<strong>os</strong> an<strong>os</strong> 90.” (Za<strong>no</strong>tto//Aurora).“Apenas estam<strong>os</strong> pagando as n<strong>os</strong>sas contas, isto é, <strong>os</strong> financiament<strong>os</strong><strong>para</strong> investiment<strong>os</strong>.” (Nelson/Aria<strong>no</strong>).Portanto, a estratégia de uso preponderante do capital próprio foi adotadatendo em vista as alterações do macroambiente, como as restrições de crédit<strong>os</strong>bancári<strong>os</strong>, ao mesmo tempo em que as taxas de jur<strong>os</strong> se elevaram, bem comopela alteração nas taxas de câmbio vigentes n<strong>os</strong> respectiv<strong>os</strong> países, queencareceu <strong>os</strong> financiament<strong>os</strong> extern<strong>os</strong> ou captad<strong>os</strong> em dólares. Mais do queuma estratégia planejada ou pretendida, ela foi realizada devido às alteraçõesdo ambiente exter<strong>no</strong> às empresas, ou seja, emergiu, tendo em vista <strong>os</strong> event<strong>os</strong>inesperad<strong>os</strong>.Já a estratégia de amortização das dívidas é resultado de diferentescircunstâncias na Aurora e na Aria<strong>no</strong>, devido às distintas situações por que


213passaram essas empresas. E a De Lantier p<strong>os</strong>sui uma estratégia similar àusada pela Bacardi-Martini do <strong>Brasil</strong> <strong>no</strong> segmento de destilad<strong>os</strong>, e visa ampliar<strong>os</strong> seus recurs<strong>os</strong> disponíveis.Do exp<strong>os</strong>to, compreende-se a importância <strong>para</strong> as empresas de aumentaro faturamento e o lucro, a fim de incrementar a capacidade de investimentonecessária <strong>para</strong> a consecução das demais estratégias, como as de produt<strong>os</strong> emercad<strong>os</strong>, diminuir as vulnerabilidades e aumentar as suas forças competitivas.5.3.6 - <strong>As</strong> analogias e dissimilitudesexistentes n<strong>os</strong> conteúd<strong>os</strong>das estratégias<strong>As</strong> empresas podem mudar por várias razões, dentre as quais: <strong>para</strong> fazerfrente a deficiências específicas e/ou em virtude de <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias, de restriçãode recurs<strong>os</strong> e de adequação a <strong>no</strong>vas legislações, quando é necessário alterar asua missão ou a sua estratégia; e, também, a mudança pode surgir por opção,quando a organização não está sujeita a nenhuma pressão. Contudo a maioriadas organizações muda em resp<strong>os</strong>ta às crises (atitude reativa), sendo limitadoo número de cas<strong>os</strong> de atitudes pró-ativas (Wood Junior, 1995).Tendo em vista que algumas estratégias foram adotadas de forma similarpel<strong>os</strong> dois países, apesar de distintas táticas, e outras de forma bastante diferente,apresentam-se algumas considerações sobre essas similitudes e diferenças.<strong>As</strong> estratégias de produt<strong>os</strong> e produção são similares: aumentar a produçãode vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, lançar <strong>no</strong>v<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> e incrementar a qualidade e/ou o valoragregado d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>. Elas podem ser implementadas de distintas maneiras, talcomo ocorreu ou vem ocorrendo nas vinícolas brasileiras e uruguaias quepartici<strong>para</strong>m desta pesquisa. Tal fato pode ser explicado porque o vinho é umabebida tradicional, e suas i<strong>no</strong>vações são restritas, isto é, as modificações podemser na qualidade ou <strong>no</strong> tipo do produto. Um bom vinho depende de vári<strong>os</strong> fatores,como a qualidade da uva, o processo de elaboração, de envelhecimento, quandonecessário, o engarrafamento e a vedação, o estilo do enólogo, etc. Já a alteraçãod<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> de produt<strong>os</strong> verifica-se pela elaboração de <strong>no</strong>v<strong>os</strong> varietais de uvas oude <strong>no</strong>v<strong>os</strong> cortes de vinh<strong>os</strong>, bem como por modificações de embalagens, rótul<strong>os</strong>,etc.Quanto às estratégias de mercad<strong>os</strong> e à distribuição, destacaram-se assignificativas diferenças relatadas nas estratégias adotadas, n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>intern<strong>os</strong> de amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países.


214No Uruguai, devido ao elevado consumo per capita de vinh<strong>os</strong> de mesa, aoreduzido tamanho do mercado doméstico e à grande concorrência, pelo elevadonúmero de vinícolas produtoras de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, todas as empresas entrevistadasconsideram que existem poucas p<strong>os</strong>sibilidades de ampliar muito o consumodoméstico de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, exceto pela redução d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> de mesa. Já <strong>no</strong><strong>Brasil</strong>, as empresas consideram p<strong>os</strong>sível esse incremento, desde que <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>concorram com o importado, que vem absorvendo o crescimento do consumo,e/ou seja ampliado o reduzido consumo per capita, através de uma ampla campanhapromocional.No <strong>Brasil</strong>, as vendas são mais concentradas nas redes de supermercado,enquanto, <strong>no</strong> Uruguai, apesar de <strong>os</strong> supermercad<strong>os</strong> serem um canal de distribuiçãoutilizado, grande parte das vendas ainda é realizada <strong>para</strong> casasespecializadas em vinh<strong>os</strong>, em pequen<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> e em restaurantes. Porconseguinte, as vendas <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong> uruguaio são mais fragmentadas.A segmentação de mercad<strong>os</strong>, grup<strong>os</strong> de clientes, linhas de produt<strong>os</strong> oumercad<strong>os</strong> geográfic<strong>os</strong> foi adotada por várias empresas d<strong>os</strong> dois países. SegundoPorter (1989, 1996a), a estratégia pode ser de “foco na diferenciação”, pela qualas ofertas são diferenciadas <strong>no</strong> mercado almejado, ou de “foco na liderança emcusto”, pela qual a empresa vende a baixo custo <strong>no</strong> mercado almejado. E essasduas estratégias foram utilizadas, com destaque <strong>para</strong> o foco na diferenciação,nas linhas de maior valor agregado, uma vez que a de me<strong>no</strong>r custo só é usadaem linhas de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> mais populares. Entretanto as modificações conjunturaisn<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, como a redução do nível de atividade das eco<strong>no</strong>mias e asalterações <strong>no</strong> poder aquisitivo d<strong>os</strong> consumidores, fez com que algumas vinícolaspassassem a comercializar um <strong>no</strong>vo produto, de me<strong>no</strong>r preço, tanto <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>como <strong>no</strong> Uruguai. Dadas as alterações <strong>no</strong> ambiente, as empresas reagiramcom <strong>no</strong>vas ações, visando atender a mercad<strong>os</strong> específic<strong>os</strong>.A estratégia de importar vinh<strong>os</strong> de outras marcas <strong>para</strong> distribuir <strong>no</strong> mercadodoméstico já foi realizada <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> (Aurora) e <strong>no</strong> Uruguai (Carrau) e foi suspensa,em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, por distintas razões. Entretanto, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, estãoprevistas <strong>no</strong>vas importações, o mesmo não ocorrendo <strong>no</strong> Uruguai, em virtude d<strong>os</strong>eu restrito mercado inter<strong>no</strong>.A estratégia de marca também foi muito mencionada nas entrevistas d<strong>os</strong>dois países, que permite um diferencial <strong>para</strong> criar e agregar valor a produt<strong>os</strong> e àsempresas. A visão da marca p<strong>os</strong>sibilita que o consumidor a diferencie de todasas demais, o que é destacado por Aaker (1996), <strong>para</strong> o qual a marca de umaempresa é a fonte primária de sua vantagem competitiva e um vali<strong>os</strong>o recursoestratégico. Nesse sentido, foi salientado o papel do marketing, em especialpela participação das vinícolas em feiras e promovendo degustações <strong>no</strong> mercadointer<strong>no</strong>; pela participação em concurs<strong>os</strong> internacionais e por receber medalhas,


215visando tornar suas marcas mais difundidas n<strong>os</strong> própri<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> intern<strong>os</strong>,em especial <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.Mas desenvolver um valor de marca através de propaganda da imagem éuma atividade essencialmente de longo prazo, que requer, por um lado,investiment<strong>os</strong> em concurs<strong>os</strong> internacionais, cuj<strong>os</strong> prêmi<strong>os</strong> facilitam a aceitaçãodo produto <strong>no</strong> mercado, e por outro, um amplo trabalho de divulgação e distribuiçãojunto a<strong>os</strong> formadores de opinião, que inclui alguns sommeliers, expert<strong>os</strong>, pessoasligadas à mídia, em restaurantes e casas especializadas, incluindo algunssupermercad<strong>os</strong> com seções específicas <strong>para</strong> vinh<strong>os</strong>. A<strong>os</strong> consideráveis gast<strong>os</strong>com propaganda, devem ser adicionad<strong>os</strong> <strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> específic<strong>os</strong> <strong>para</strong> vendaspromocionais.Analisando a fragmentação da indústria vinícola d<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong> atémead<strong>os</strong> da década de 60, quando a situação se modificou pela atuação dealgumas grandes empresas, Porter (1996a, p. 199) m<strong>os</strong>trou que estas estavampresas a práticas tradicionais da indústria ou sem capacidade de perceber asmudanças, pois <strong>os</strong> “(...) produtores foram por muito tempo orientad<strong>os</strong> <strong>para</strong> aprodução e aparentemente fizeram pouco esforço <strong>para</strong> fomentar uma distribuiçãonacional ou o reconhecimento da marca registrada de consumo”. Essapreocupação ocorreu antes <strong>no</strong> Uruguai, pela me<strong>no</strong>r extensão territorial e pelomaior número de registr<strong>os</strong> de indicação de procedência. É interessante destacarque as indicações de procedência d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> foram muito valorizadas por tod<strong>os</strong><strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> <strong>no</strong> Uruguai e por alguns d<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, comoforma de agregar valor ao produto e facilitar a distribuição interna e a externa.Destaca-se, dentre as estratégias das vinícolas pesquisadas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, oe<strong>no</strong>turismo, que tende a ganhar um <strong>no</strong>vo impulso quando da conclusão d<strong>os</strong><strong>no</strong>v<strong>os</strong> investiment<strong>os</strong> previst<strong>os</strong> e/ou em andamento. No Uruguai, a estratégia dee<strong>no</strong>turismo só foi implementada por uma vinícola (Juanicó), que não participouda pesquisa, e a T<strong>os</strong>canini está apenas iniciando algo nesse sentido.Já <strong>no</strong> que se refere às estratégias <strong>para</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong>, destaca-sea similaridade das dificuldades de penetrar <strong>no</strong> exterior, apesar d<strong>os</strong> distint<strong>os</strong>tamanh<strong>os</strong> das empresas que partici<strong>para</strong>m desta pesquisa n<strong>os</strong> dois países. <strong>As</strong>estratégias de exportação <strong>para</strong> todas as empresas entrevistadas <strong>no</strong> Uruguai e<strong>para</strong> apenas duas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> (Aurora e Miolo) são as de aumentar as exportaçõese ampliar e diversificar <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>. Entretanto o Uruguai p<strong>os</strong>sui mais umaestratégia comum que é a exportação do vinho Tannat. No Uruguai, deve sersalientado o pla<strong>no</strong> setorial <strong>para</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong>, com objetiv<strong>os</strong> clar<strong>os</strong> ecom programação do processo. Na formulação das conclusões deste, partici<strong>para</strong>mas quatro empresas uruguaias selecionadas e, em cada uma delas, umd<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> desta pesquisa, corroborando o fato de essas terem muitas


216estratégias e táticas similares. Foi definido que a estratégia de p<strong>os</strong>icionamentoa ser adotada <strong>para</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong> é a de diferenciação, visando construira imagem do país baseada <strong>no</strong> vinho Tannat.No Uruguai, a Carrau destaca-se por vir exportando há mais tempo, por sera maior empresa exportadora dentre as entrevistadas 16 e por ter aberto <strong>os</strong>principais mercad<strong>os</strong>. No <strong>Brasil</strong>, as empresas que exportam p<strong>os</strong>suem tambémestratégias específicas, a Miolo, de diferenciação de produt<strong>os</strong>, e a Aurora, umaestratégia de marketing diferenciada por canal de distribuição e por região.Quando as empresas entram n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> internacionais, a implementaçãodas estratégias pode se tornar mais complexa, pois as empresas lidamcom diferentes sistemas polític<strong>os</strong> e legais, com distintas moedas e culturas. Ecabe ao marketing o desafio de adaptar <strong>os</strong> element<strong>os</strong>, como produto, preço,promoção e distribuição a<strong>os</strong> demais element<strong>os</strong> do ambiente exter<strong>no</strong> (Cateora,1996). Além disso, a pr<strong>os</strong>pecção de <strong>no</strong>v<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, em geral, é bastanteoner<strong>os</strong>a.Por isso, o maior relacionamento entre as empresas de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> e aexistência de um pla<strong>no</strong> setorial podem p<strong>os</strong>sibilitar que empresas competidorasn<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> intern<strong>os</strong> cooperem entre si e reforcem as suas forças n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>internacionais, com maiores p<strong>os</strong>sibilidades de sucesso e me<strong>no</strong>res cust<strong>os</strong>e risc<strong>os</strong> de entrada n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>. Além disso, o planejamento estratégico setorialp<strong>os</strong>sibilita às organizações pensarem globalmente e avaliarem as forças e <strong>os</strong>recurs<strong>os</strong> disponíveis <strong>para</strong> alcançarem <strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> e, dessa forma, conceberemas ações necessárias à superação de eventuais problemas e ao aproveitamentodas oportunidades.N<strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> human<strong>os</strong>, a principal atividade é de treinamento, em especiald<strong>os</strong> enólog<strong>os</strong> nacionais, e a troca de experiências entre enólog<strong>os</strong> e consultoresde e<strong>no</strong>logia estrangeir<strong>os</strong>. Enquanto, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, o objetivo é a melhoria da qualidadedo vinho produzido, o principal objetivo <strong>no</strong> Uruguai é adaptar o vinho produzidoao g<strong>os</strong>to de consumidores extern<strong>os</strong> específic<strong>os</strong> <strong>para</strong> aumentar as exportações.Também foi constatada a relevância da qualificação e do desenvolvimento d<strong>os</strong>recurs<strong>os</strong> human<strong>os</strong> considerad<strong>os</strong> chave <strong>para</strong> as empresas, como na área devendas e de turismo, este último especificamente <strong>no</strong> caso de empresas brasilei-16A Bodegas Castillo Viejo S/A foi a maior vinícola exportadora em an<strong>os</strong> anteriores, mas nãoparticipou da pesquisa, conforme exp<strong>os</strong>to <strong>no</strong> método. E, atualmente, encontra-se em situaçãoconcordatária. Destaca-se ainda o fato de que a maior empresa exportadora de vinh<strong>os</strong>do Uruguai é a Aurora S/A, de propriedade da Cooperativa Aurora, também já comentadaanteriormente. Entretanto essa é uma empresa comercial, que terceiriza todas as atividadesde elaboração e engarrafamento de vinh<strong>os</strong> e só exporta <strong>para</strong> a Cooperativa Aurora.


217ras. Apesar de algumas exceções, <strong>no</strong>tou-se uma preocupação em desenvolveras capacidades d<strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> human<strong>os</strong> nas vinícolas, tornando-<strong>os</strong> maiscomprometid<strong>os</strong> com as estratégias das empresas.No que se refere à estratégia financeira, em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países predominam<strong>os</strong> investiment<strong>os</strong> com capital próprio, muito mais como uma contingência demercado, dad<strong>os</strong> <strong>os</strong> elevad<strong>os</strong> jur<strong>os</strong> n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> intern<strong>os</strong>, a desvalorização dasrespectivas moedas em relação ao dólar e a dificuldade de obtenção de recurs<strong>os</strong>junto ao sistema bancário. No <strong>Brasil</strong>, basicamente têm sido financiad<strong>os</strong> <strong>os</strong>investiment<strong>os</strong> em máquinas e equipament<strong>os</strong>, e, <strong>no</strong> Uruguai, a exportação temsido um meio <strong>para</strong> antecipar recurs<strong>os</strong> <strong>para</strong> a produção. Portanto, as estratégiasfinanceiras foram essencialmente emergentes, ou seja, segundo Mintzberg(1998), não foram planejadas e surgiram sem que houvesse uma intenção definidaou, ainda que esta existisse, emergiram como se assim não f<strong>os</strong>se.<strong>As</strong> estratégias, como já visto, podem ocorrer de forma deliberada ouemergente, podem ou não ser realizadas, bem como podem levar a <strong>no</strong>vasestratégias e/ou à alteração de táticas. E essas estratégias visam, precipuamente,manter e sustentar as vantagens competitivas de uma empresa e melhorar suaperformance (Porter, 1998; Varadarajan; Jayachandran, 1999), conforme jáexp<strong>os</strong>to <strong>no</strong> referencial teórico.Três empresas destacaram p<strong>os</strong>suir vantagens competitivas de formaexplícita: a Salton, uma vantagem de custo; a Aurora, pela qualidade da matéria--prima e pel<strong>os</strong> elevad<strong>os</strong> estoques; e a Carrau, por ser uma empresa i<strong>no</strong>vadora ediferenciada de todas as demais do País, conforme relat<strong>os</strong> de seus diretores.A Salton, devido ao fato de ser uma empresa de grande porte, capitalizadae financeiramente sólida, tem adquirido insum<strong>os</strong> em grandes quantidades, oque lhe permite comprar mais barato do que a concorrência.Na Aurora, a vantagem em relação à matéria-prima deve-se ao programade qualidade desenvolvido junto a<strong>os</strong> cooperad<strong>os</strong> em décadas passadas e aofato de ter iniciado a produção própria de mudas de videira em 2002, o que lhep<strong>os</strong>sibilitará, <strong>no</strong> futuro, se tornar independente da importação de mudas e diminuir<strong>os</strong> seus cust<strong>os</strong>. Pelo lado da produção, a vantagem é que p<strong>os</strong>sui elevad<strong>os</strong>estoques de vinho, o que lhe permitirá manter um padrão de qualidade constante<strong>no</strong> vinho, através do uso de diferentes safras na sua elaboração, quando umadas safras for de qualidade inferior, conforme explicado pelo seu Diretor. Alémdisso, dado o seu elevado volume de produção, ela é, <strong>no</strong>rmalmente, a primeira aser procurada pel<strong>os</strong> fornecedores <strong>para</strong> a introdução de <strong>no</strong>v<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> de embalagens,destacando-se como i<strong>no</strong>vadora em rótul<strong>os</strong>, caixa, rolha, etc.Na Carrau, a vantagem competitiva da empresa foi destacada pelo seudiferencial, isto é, por ser a única empresa <strong>no</strong> Uruguai que só produz vinh<strong>os</strong>fin<strong>os</strong> e que foi criada com o objetivo de exportar, por ser uma empresa muito


218i<strong>no</strong>vadora em produt<strong>os</strong> e process<strong>os</strong>, por ser grande exportadora e conhecermelhor todas as tendências n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> internacionais, além de ser a pioneira,em geral, na abertura de <strong>no</strong>v<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong>. A Carrau pode ser consideradauma empresa que tende a ser a impulsionadora de mudança na indústria devinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> do País.A Miolo, apesar de não ter explicitado as suas vantagens competitivas,demonstrou p<strong>os</strong>suí-las. Ela foi criada <strong>para</strong> produzir vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> e p<strong>os</strong>sui vinhed<strong>os</strong>e instalações <strong>para</strong> vinificação, prontas ou em construção, em três distintas áreas,o que lhe p<strong>os</strong>sibilita a diferenciação de produt<strong>os</strong> baseada <strong>no</strong> terroi, além d<strong>os</strong>investiment<strong>os</strong> que vem realizando <strong>para</strong> unir o vinho ao turismo, à gastro<strong>no</strong>mia, àsaúde, às artes e à história, e essas estratégias agregam valor. Portanto, p<strong>os</strong>suivantagens competitivas que têm lhe propiciado um desempenho acima da média,e apenas algumas poucas estão sendo implementadas pel<strong>os</strong> concorrentes.Portanto, as estratégias fixam a direção e focalizam <strong>os</strong> esforç<strong>os</strong> (Mintzberg;Ahlstrand; Lampel, 2000, p. 22), visando coordenar todas as atividades, tendoem vista o curso a ser seguido pela empresa, conforme pode se perceber nasentrevistas realizadas.5.4 - <strong>As</strong> estratégias de cooperaçãoTendo em vista que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> estão cada vez mais interligad<strong>os</strong> eque a concorrência tem aumentado em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> níveis, algumas empresaspassaram a se reestruturar, visando à sua sobrevivência, à ampliação de marketshare n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> e/ou ao aumento da lucratividade, dentre outr<strong>os</strong>.Apesar da intensa competição horizontal entre as empresas de vinh<strong>os</strong>,existem relações de cooperação entre estas e de cooperação vertical entre <strong>os</strong>el<strong>os</strong> da cadeia produtiva. <strong>As</strong> estratégias de cooperação entre empresas, comfornecedores, com clientes e com determinadas instituições têm se reveladoindispensáveis em várias circunstâncias. Elas têm sido muito utilizadas,principalmente <strong>para</strong> a obtenção de matérias-primas, de <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias e/oude conheciment<strong>os</strong>, <strong>para</strong> a adequação às legislações existentes em diferentespaíses, <strong>para</strong> a ampliação de mercado, <strong>para</strong> a entrada em <strong>no</strong>v<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> comme<strong>no</strong>res cust<strong>os</strong> e risc<strong>os</strong>, etc.Algumas estratégias de cooperação podem gerar uma produtividadecrescente associada à maior eficiência produtiva e comercial, criando umavantagem de custo. Outras p<strong>os</strong>sibilitam uma redução <strong>no</strong> custo de capital,indispensável <strong>para</strong> <strong>no</strong>v<strong>os</strong> investiment<strong>os</strong> <strong>no</strong> negócio. E há <strong>os</strong> relacionament<strong>os</strong>com fornecedores e clientes, muit<strong>os</strong> d<strong>os</strong> quais basead<strong>os</strong> na troca de informa-


219ções e de confiança, que permitem a garantia de fornecimento de matérias--primas, de produt<strong>os</strong> e de serviç<strong>os</strong>. Nesses cas<strong>os</strong>, o marketing de relacionamentoreflete uma mudança de ênfase, de trocas discretas <strong>para</strong> trocas relacionaisde longo prazo.De acordo com Varadarajan e Jayachandran (1999), divers<strong>os</strong> estud<strong>os</strong> têmsido realizad<strong>os</strong> <strong>para</strong> determinar quais <strong>os</strong> motiv<strong>os</strong> <strong>para</strong> a formação de aliançasestratégicas. Estes sugerem que a incerteza do mercado, o direcionamento pormaior eficiência, a dependência de recurs<strong>os</strong>, as habilidades e a heterogeneidadede recurs<strong>os</strong> e outr<strong>os</strong> fatores de mercado levam as empresas às alianças, nabusca por vantagens competitivas.Com a expansão da concorrência em nível global, as alianças, tanto entreempresas nacionais como entre nacionais e estrangeiras, vêm se expandindo.E a manutenção dessas alianças depende de que <strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> que levaram àsua formação sejam atingid<strong>os</strong>. Quanto mais uma empresa depender da outra<strong>para</strong> atingir seus objetiv<strong>os</strong> econômic<strong>os</strong>, é mais provável que ela deseje que orelacionamento continue. Mas é importante que ambas obtenham benefíci<strong>os</strong>dessa relação de cooperação, pois as parcerias estratégicas não são um jogode soma zero. Muitas alianças são interrompidas por problemas entre <strong>os</strong>parceir<strong>os</strong>, como falta de flexibilidade ou de foco <strong>no</strong> longo prazo. Nas alianças deempresas nacionais com empresas estrangeiras, alterações nas políticasmacroeconômicas em um d<strong>os</strong> países-sede dessas empresas podem afetarsobremaneira as relações entre <strong>os</strong> parceir<strong>os</strong>.Este item está subdivido em três subitens. O primeiro compreende asrelações das vinícolas com as principais instituições ligadas à área do vinho,pois estas têm demonstrado ser fundamentais <strong>para</strong> a consecução das estratégias,em especial <strong>no</strong> Uruguai. O segundo, descreve todas as alianças estratégicasrealizadas entre as vinícolas entrevistadas com outras empresas, nacionais eestrangeiras, que estão diretamente articuladas com a implementação dasestratégias já exp<strong>os</strong>tas <strong>no</strong> capítulo anterior. Por fim, faz-se uma exp<strong>os</strong>ição dasdiferenças observadas nas estratégias de cooperação entre as vinícolasentrevistadas n<strong>os</strong> dois países.5.4.1 - <strong>As</strong> estratégias de relacionamentocom as instituiçõesEm amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países, existe um grande número de instituições direta ouindiretamente ligadas à produção do vinho fi<strong>no</strong>, e muit<strong>os</strong> d<strong>os</strong> executiv<strong>os</strong>entrevistad<strong>os</strong> ocupam ou já ocu<strong>para</strong>m carg<strong>os</strong> de direção nessas instituições.


220<strong>As</strong> empresas mantêm um relacionamento com as principais instituiçõesda área do vinho, visando ampliar as informações sobre o setor, buscar um canal<strong>para</strong> discutir problemas comuns e encaminhar soluções. No Uruguai, destaca--se o fato de as instituições facilitarem as exportações.Quanto mais serviç<strong>os</strong> forem proporcionad<strong>os</strong> pelas instituições, que sejamconvenientes às empresas, maior o interesse destas em se manterem ligad<strong>os</strong>às instituições. Entretanto existem fatores legais que obrigam a alguns tip<strong>os</strong> derelacionament<strong>os</strong>; outr<strong>os</strong> são iniciad<strong>os</strong> por motiv<strong>os</strong> polític<strong>os</strong> ou de interesse davinícola. Alguns relacionament<strong>os</strong> são mais intens<strong>os</strong> e duradour<strong>os</strong>, e outr<strong>os</strong> sãointerrompid<strong>os</strong>.No <strong>Brasil</strong>, as empresas entrevistadas vinculam-se, basicamente, à Aprovale,ao Ibravin, à Uvibra, à <strong>As</strong>sociação de E<strong>no</strong>logia e ao Sindicato do Vinho. Algumasempresas consideram que as instituições têm contribuído muito, em particular,<strong>para</strong> as discussões políticas e por p<strong>os</strong>sibilitarem, em conjunto, maior poder debarganha <strong>para</strong> realizar as mudanças necessárias. “Uma empresa sozinha nãotem condições de mudar e, atuando em bloco, tem condições de ter resultad<strong>os</strong>muito melhores” (Nogueira/Miolo). Foi ressaltado o significativo papel da Aprovale,pela indicação de procedência d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>. Também foram relatadas várias críticasa algumas instituições, pelo pouco que foi realizado, mas sempre foi destacadoque o principal problema é a falta de união das vinícolas brasileiras <strong>para</strong> tratar deinteresses comuns. Nesse caso, foi enfatizada a grande desconfiança existenteentre <strong>os</strong> empresári<strong>os</strong> do setor vinícola.No Uruguai, as empresas entrevistadas mantêm relações principalmentecom o Inavi, com a ABE e/ou com o CBU, com grup<strong>os</strong> CREA, com a OrganizaçãoNacional de Vinicultores, além de outras mais ligadas à e<strong>no</strong>logia, a<strong>os</strong> viticultores,ao controle de qualidade do vinho, etc. Mas destaca-se o relevante papel doInavi, conforme já mencionado nas estratégias <strong>para</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong>.Tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> salientaram que as empresas têm uma estreitarelação com o Inavi, pois elas estão sujeitas a um conjunto de <strong>no</strong>rmas que sãopromovidas, aplicadas e controladas pela instituição. Entretanto, nas reuniõesdo Inavi, participam outras instituições, o que m<strong>os</strong>tra o maior relacionamentoentre elas, em especial quando se trata das estratégias <strong>para</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>extern<strong>os</strong>, como explicado por um d<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>: “(...) a comissão de comércioexterior do Inavi reúne <strong>os</strong> responsáveis pelo CBU e pela ABE, e fixam<strong>os</strong> todasas promoções comuns de todas as adegas uruguaias” (Rippe/Irurtia).Por uma divisão interna, as empresas Carrau, Irurtia e T<strong>os</strong>canini sóparticipam do CBU, enquanto a Aria<strong>no</strong> participa tanto da ABE como do CBU.Essas agremiações realizam diversas atividades <strong>para</strong> incrementar as exportações.Tanto que a ABE funcio<strong>no</strong>u como uma espécie de consórcio em seu


221início, mas, depois, foi transformada em uma associação, segundo informaçãod<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, que também destacaram as informações disponíveis, comoo maior benefício obtido.5.4.2 - <strong>As</strong> alianças estratégicas<strong>As</strong> alianças estratégicas pressupõem que duas ou mais empresas se unam<strong>para</strong> cumprir um conjunto de metas combinadas e <strong>para</strong> compartilhar <strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong>da aliança. Portanto, são formas de associações <strong>para</strong> atingir as metasestratégicas conjuntas. Essas alianças podem se formar em linha horizontal,isto é, entre concorrentes, ou de forma vertical, quando ocorrem entre a vinícolae seus fornecedores e/ou clientes.Destarte, as empresas entram em alianças estratégicas visando: penetrarem <strong>no</strong>v<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>; diminuir o tempo e <strong>os</strong> risc<strong>os</strong> de entrada n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>; termaior eficiência n<strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> ou ampliá-l<strong>os</strong>; intensificar as habilidades e ascompetências das empresas; ampliar conheciment<strong>os</strong>; acelerar o processo delançamento de <strong>no</strong>v<strong>os</strong> produt<strong>os</strong>; aumentar o portfólio de produt<strong>os</strong>; gerar eco<strong>no</strong>miasde escala; superar barreiras legais e comerciais, dentre outr<strong>os</strong>.Conforme exp<strong>os</strong>to <strong>no</strong> referencial teórico, as alianças estratégicas abrangem<strong>os</strong> acord<strong>os</strong> contratuais ou licenciament<strong>os</strong>, <strong>os</strong> consórci<strong>os</strong> e as joint ventures, <strong>os</strong>quais serão analisad<strong>os</strong> em se<strong>para</strong>do, dadas as suas características peculiares.5.4.2.1 - Acord<strong>os</strong> contratuaisOs acord<strong>os</strong> contratuais (ou licenças) abrangem <strong>os</strong> contrat<strong>os</strong> de produção,de distribuição, de prestação de serviç<strong>os</strong>, de assistência técnica, de licença demarcas e de patentes. De acordo com Porter (1993), destacam-se também <strong>os</strong>acord<strong>os</strong> de fornecimento de longo prazo.Os acord<strong>os</strong> podem abranger distintas áreas de uma empresa, tendo emvista <strong>os</strong> seus objetiv<strong>os</strong>. Alguns visam à busca de complementaridade de recurs<strong>os</strong>ou de competências, quando são basead<strong>os</strong> <strong>no</strong> princípio da especialização e/ou<strong>no</strong> compartilhamento de algumas atividades; outr<strong>os</strong> visam garantir insum<strong>os</strong>necessári<strong>os</strong> à produção e/ou reduzir cust<strong>os</strong> de forneciment<strong>os</strong>; há ainda aquelesque objetivam diminuir a necessidade de grandes investiment<strong>os</strong>; e <strong>os</strong> que têmpor fim aumentar seu mercado e/ou seu poder <strong>no</strong> mercado, tendo em vistaalgumas características da outra organização, como a imagem, a reputação e opoder econômico.


222De acordo com as entrevistas realizadas, foi constatada a existência deacord<strong>os</strong> das vinícolas com fornecedores, acord<strong>os</strong> de produção e de distribuição,conforme analisado a seguir.5.4.2.1.1 - Acord<strong>os</strong> com fornecedoresOs acord<strong>os</strong> com fornecedores dão-se em nível doméstico, em especialcom viticultores, <strong>para</strong> garantir o fornecimento da matéria-prima de qualidade.Esses são usad<strong>os</strong> por vinícolas de vári<strong>os</strong> tamanh<strong>os</strong>, e sua ocorrência só foiverificada em duas vinícolas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, apesar de existirem várias parceriasinformais das vinícolas com <strong>os</strong> produtores de uvas em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países. Essasparcerias entre as vinícolas e <strong>os</strong> viticultores são, em geral, de longa duração,baseadas em relacionament<strong>os</strong> pessoais que estabelecem a confiança. Maselas são men<strong>os</strong> intensas <strong>no</strong> Uruguai, uma vez que as suas vinícolas têm <strong>os</strong>seus process<strong>os</strong> produtiv<strong>os</strong> mais integrad<strong>os</strong>.Deve-se destacar que, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, fez parte da pesquisa uma cooperativacujo sistema de produção é integrado, pois <strong>os</strong> cooperad<strong>os</strong> fornecem toda a suaprodução de uvas <strong>para</strong> a cooperativa, que é uma empresa de propriedade coletiva.Nesse caso, <strong>os</strong> cooperad<strong>os</strong> são, ao mesmo tempo, <strong>os</strong> fornecedores e <strong>os</strong> sóci<strong>os</strong>da cooperativa, o que não se constitui em um acordo com fornecedores.A Miolo mantém um acordo contratual <strong>para</strong> o fornecimento de uvas apenascom <strong>os</strong> viticultores que p<strong>os</strong>suem terras <strong>no</strong> Vale d<strong>os</strong> Vinhed<strong>os</strong>, o mesmo nãoocorrendo nas demais sedes. Conforme seu Diretor, “(...) a parceria comviticultores é formal, com um contrato de 10 an<strong>os</strong>, onde nós dam<strong>os</strong> a assistênciatécnica, importam<strong>os</strong> a planta e passam<strong>os</strong> <strong>para</strong> o produtor, que paga com aprodução” (Adria<strong>no</strong>/Miolo). Já a Cordelier adquire praticamente toda a uva d<strong>os</strong>viticultores (99%), e “(...) existem alguns contrat<strong>os</strong> formais e outr<strong>os</strong> informais”(Lídio/Cordelier), com o predomínio d<strong>os</strong> informais.<strong>As</strong> duas outras empresas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, a De Lantier e a Salton, mantêmparcerias informais com <strong>os</strong> viticultores. Conforme exp<strong>os</strong>to na De Lantier: “Eucompro uva de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> produtores faz mais de 20 an<strong>os</strong> e nunca, jamais,assinam<strong>os</strong> um papel. Não são contrat<strong>os</strong> formais, mas existem contrat<strong>os</strong> deparcerias já consolidad<strong>os</strong>” (Lona/De Lantier). “Na verdade, existe um contratoquase como <strong>no</strong> ‘fio do bigode’ (...)” (Carl<strong>os</strong>/De Lantier).No Uruguai, além de as empresas dependerem men<strong>os</strong> do fornecimento deuva de produtores, não foi verificado nenhum contrato formal entre as vinícolas e<strong>os</strong> produtores. Dentre as empresas entrevistadas, a T<strong>os</strong>canini elabora todo ovinho fi<strong>no</strong> com uvas provenientes de parreirais própri<strong>os</strong>. Nas demais vinícolas,existem apenas parcerias informais, com um reduzido número de produtores. A


223Carrau, na sua vinícola situada na fronteira, produz toda a uva, enquanto, naBodega Castel Pujol, “(...) 50% da uva é de produção própria, e o restante éproveniente de cinco ou seis produtores” (Javier/Carrau). A Irurtia e a Aria<strong>no</strong>adquirem de produtores apenas 5% e cerca de 10% da uva respectivamente.5.4.2.1.2 - Acord<strong>os</strong> de produçãoOs principais tip<strong>os</strong> de acord<strong>os</strong> de produção são: de produção conjunta, emque as partes acordam produzir determinad<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> junt<strong>os</strong>; de especialização,quando as partes acordam cessar a produção de um produto e comprá-lo emoutra parte; e <strong>os</strong> de subcontratação, n<strong>os</strong> quais a empresa contratante confia àoutra, a contratada, a elaboração de um produto. Esses acord<strong>os</strong> podem sertemporári<strong>os</strong> ou de longa duração, dependendo das causas que <strong>os</strong> originaram ed<strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> das empresas envolvidas.Na pesquisa realizada, as empresas destacaram apenas <strong>os</strong> acord<strong>os</strong> desubcontratação, tanto <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> como <strong>no</strong> Uruguai, <strong>os</strong> quais foram preponderantementerealizad<strong>os</strong> entre vinícolas do mesmo país, exceto em uma empresauruguaia, que foi subcontratada por uma empresa estrangeira. Esse tipo deacordo é também conhecido como a “(...) terceirização estratégica [que] é umaforma muito utilizada de acordo cooperativo. Ela diz respeito à contratação foradaquilo que poderia ser feito ‘internamente’” (Mintzberg; Ahlstrand; Lampel, 2000,p. 189).Dentre <strong>os</strong> acord<strong>os</strong> de subcontratação, o mais destacado foi o realizadoentre vinícolas <strong>para</strong> a elaboração e/ou o engarrafamento de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>. Para asempresas que oferecem <strong>os</strong> serviç<strong>os</strong>, contribuem <strong>para</strong> o aumento do faturamentoe da ocupação de capacidade oci<strong>os</strong>a. Para as empresas que usam <strong>os</strong> serviç<strong>os</strong>,<strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> podem ser o acesso a produt<strong>os</strong> diferentes d<strong>os</strong> produzid<strong>os</strong> e umaredução de cust<strong>os</strong> ou de investiment<strong>os</strong> em máquinas e equipament<strong>os</strong>.No Uruguai, apenas a Vinícola Aria<strong>no</strong> destacou a prestação de serviç<strong>os</strong><strong>para</strong> outras vinícolas, em especial <strong>para</strong> o engarrafamento de vinh<strong>os</strong> <strong>para</strong> pequenasvinícolas. “São apenas duas ou três adegas, cuj<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> são vendid<strong>os</strong> <strong>para</strong> o<strong>Brasil</strong>” (Elizabeth/Aria<strong>no</strong>).Já <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, a Aurora produz e/ou envasa vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> <strong>para</strong> várias vinícolasme<strong>no</strong>res, tendo em vista sua elevada capacidade produtiva e de armazenamento,além do bom nível tec<strong>no</strong>lógico d<strong>os</strong> equipament<strong>os</strong>. Dentre as empresas entrevistadas,presta serviç<strong>os</strong> <strong>para</strong> a Cordelier, que está em fase de ampliação da empresa,com a aquisição de <strong>no</strong>v<strong>os</strong> equipament<strong>os</strong> de vinificação e deengarrafamento. Apesar de a Cordelier vir diminuindo a vinificação fora, há ointeresse de manter sempre uma percentagem de cerca de 20% terceirizada,


224<strong>para</strong> dar maior margem de segurança à vinícola em caso de <strong>os</strong>cilações dademanda. A Cordelier já importou uma engarrafadora e, quando esta estiver emfuncionamento, passa a envasilhar na própria vinícola, conforme relatado nasentrevistas.“Antes nós terceirizávam<strong>os</strong> toda a vinificação. (...) Atualmente, 50%são vinificad<strong>os</strong> fora, e 50% são vinificad<strong>os</strong> dentro da vinícola. Nóspretendem<strong>os</strong> vinificar até 80% do n<strong>os</strong>so volume, sempre deixandocerca de 20% <strong>para</strong> fazer fora.” (Silvio/Cordelier).A Vinícola T<strong>os</strong>canini realizou um acordo com uma vinícola francesa <strong>para</strong>produzir um vinho Tannat, de qualidade superior, a ser comercializado <strong>no</strong>exterior pela empresa estrangeira, sob uma marca diferente das duas vinícolasenvolvidas <strong>no</strong> acordo. “Mas, <strong>no</strong> rótulo, consta que ele foi elaborado por JuanT<strong>os</strong>canini e que é um produto uruguaio.” (Jorge/T<strong>os</strong>canini).Para a T<strong>os</strong>canini, <strong>os</strong> principais resultad<strong>os</strong> ainda não foram obtid<strong>os</strong>, umavez que o vinho só entrará <strong>no</strong> mercado em 2004. <strong>As</strong> vantagens esperadasdesse acordo são: aumentar as exportações e o faturamento e tornar a marcaT<strong>os</strong>canini mais conhecida <strong>no</strong> mercado exter<strong>no</strong>, pela venda do vinho em vári<strong>os</strong>países da Europa, em especial na França e na Bélgica, bem como melhorar aimagem <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong>, pelo fato de ter um acordo com uma empresafrancesa. Portanto, o acordo vai ser utilizado como estratégia promocional <strong>no</strong>mercado inter<strong>no</strong>. “No momento, está prevista a elaboração de vinh<strong>os</strong> por trêsan<strong>os</strong> consecutiv<strong>os</strong>, mas poderá continuar, como poderá ser interrompida. Istonão vai alterar nenhuma estratégia da empresa.” (Andres/T<strong>os</strong>canini).A terceirização da produção das vinícolas também ocorre <strong>para</strong> algunssupermercad<strong>os</strong> e restaurantes, que colocam as suas marcas em vinh<strong>os</strong> quecomercializam. Nas entrevistas realizadas <strong>no</strong> Uruguai, foram destacad<strong>os</strong>, emparticular, <strong>os</strong> restaurantes <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong> e <strong>os</strong> grandes importadores <strong>no</strong>mercado internacional. No <strong>Brasil</strong>, foi men<strong>os</strong> salientada, ocorrendo maisesporadicamente. Isso m<strong>os</strong>tra que o domínio do mercado é mais relevante,muitas vezes, que o domínio da produção, acontecendo n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>doméstic<strong>os</strong> e mundiais. Todavia duas vinícolas, uma brasileira, a Miolo, e outrauruguaia, a Carrau, salientaram que só vendem produt<strong>os</strong> com marcas próprias enão terceirizam nada.5.4.2.1.3 - Acordo de distribuiçãoDentre as empresas entrevistadas, apenas <strong>no</strong> Uruguai houve acord<strong>os</strong> dedistribuição, um <strong>para</strong> o mercado inter<strong>no</strong>, com empresas locais, e outro <strong>para</strong> omercado exter<strong>no</strong>, com uma empresa estrangeira.


225A Irurtia está em fase de reestruturação da distribuição de vinh<strong>os</strong> <strong>para</strong> omercado inter<strong>no</strong>, visando agilizá-la. Pretende trabalhar apenas com “empresasterceirizadas <strong>para</strong> distribuição” (Liliana/Irurtia). Com isso, não espera grandesalterações na empresa, mas é algo recente, pois, na época da entrevista, estavafechando <strong>os</strong> depósit<strong>os</strong> de vinh<strong>os</strong> existentes em Montevidéu <strong>para</strong> distribuiçãointerna, tendo em vista que a vinícola está localizada em Carmelo, <strong>no</strong> Departamentode Colônia, bastante distante da Capital.A Vinícola T<strong>os</strong>canini realizou um acordo de distribuição de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>com uma empresa da Califórnia (EUA), visando ampliar o seu faturamento eentrar em <strong>no</strong>v<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, tornando a empresa mais conhecida <strong>no</strong> exterior,pois eles serão distribuíd<strong>os</strong> em vári<strong>os</strong> países. Conforme foi destacado por seudiretor:“Eles distribuem <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> em free-shops, n<strong>os</strong> aeroport<strong>os</strong>, e tambémem muit<strong>os</strong> hotéis cinco estrelas e em cruzeir<strong>os</strong> marítim<strong>os</strong>. Para nós,era interessante ingressar nesse mercado de alto poder aquisitivo,pois, <strong>para</strong> entrar sozinho, seria muito difícil” (Jorge/T<strong>os</strong>canini).Convém lembrar que, na década de 90, a Cooperativa Aurora realizou umacordo com uma empresa d<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong> <strong>para</strong> exportar o vinho MarcusJames, conforme já referido na análise exploratória. Esse vinho teve grandesucesso de vendas, mas o acordo foi rompido, e, conforme seu diretor, “(...)após 1997, não fizem<strong>os</strong> nenhum outro” (Za<strong>no</strong>tto/Aurora).5.4.2.3 - Consórci<strong>os</strong>Existem consórci<strong>os</strong> de exportação de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> <strong>no</strong> Uruguai e <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>,com o objetivo de incrementar as exportações através da pr<strong>os</strong>pecção demercad<strong>os</strong>, de atividades de promoção e publicidade (catálog<strong>os</strong>, folders,degustações, etc.) ou de participação de feiras <strong>no</strong> exterior ou <strong>no</strong> País, dentreoutr<strong>os</strong>. Em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países, as empresas participantes podem exportar atravésde um consórcio e também vender a sua marca <strong>no</strong> mercado exter<strong>no</strong>. Porém <strong>os</strong>consórci<strong>os</strong> de exportação diferem sobremaneira.No <strong>Brasil</strong>, o consórcio de exportação é um agrupamento de empresas,reunidas em uma entidade estabelecida juridicamente, sem fins lucrativ<strong>os</strong>. <strong>As</strong>empresas consorciadas definem como vão trabalhar em conjunto, com o objetivode melhorar a oferta exportável e de promover a exportação (Sebrae, 2002). NoUruguai, não existe uma figura jurídica <strong>para</strong> o consórcio, e <strong>os</strong> integrantes vinculam-setemporariamente <strong>para</strong> a realização de uma atividade, e cada integrantedeve responder pessoalmente frente a terceir<strong>os</strong> pelas obrigações que contraia


226(S<strong>no</strong>eck, 1998, p. 39). Tendo em vista essas diferenças, as análises das entrevistasserão realizadas por país.5.4.2.3.1 - UruguaiInicialmente, foi contratada uma consultoria <strong>para</strong> estudar a maneira de asvinícolas se associarem <strong>no</strong> Uruguai, com a ajuda financeira do Inavi. Em 1993,15 empresas consorciaram-se <strong>para</strong> exportar um vinho Tannat ao mercado <strong>no</strong>rte--america<strong>no</strong>. Segundo <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, devido à falta de estímul<strong>os</strong>, esse processonão pr<strong>os</strong>seguiu. P<strong>os</strong>teriormente, cinco vinícolas reuniram-se e formaram um<strong>no</strong>vo consórcio de exportação de vinh<strong>os</strong>, realizando algumas vendas externasconjuntas. Mas, atualmente, ele tem estado pouco ativo.De acordo com <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, o consórcio serve <strong>para</strong> coordenar asatividades em conjunto, e a sua principal vantagem é a obtenção de volumes,<strong>para</strong> atender a grandes pedid<strong>os</strong> e reduzir gast<strong>os</strong> de comercialização.Cabe destacar que, apesar de esses dois consórci<strong>os</strong> terem se sucedido,concomitantemente surgiram outr<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> de consórci<strong>os</strong>, tendo em vista que,<strong>no</strong> Uruguai, não existe apenas um consórcio de exportação de vinh<strong>os</strong>. Vári<strong>os</strong>consórci<strong>os</strong> têm sido criad<strong>os</strong> e suspens<strong>os</strong>, conforme as empresas e/ou <strong>os</strong>produt<strong>os</strong> envolvid<strong>os</strong>.De acordo com a diretora da Irurtia, “(...) <strong>no</strong> passado, participam<strong>os</strong> de umconsórcio de empresas <strong>para</strong> atender o mercado argenti<strong>no</strong>; dada a crise naArgentina, ele foi suspenso” (Liliana/Irurtia). Destaca-se, igualmente, a existênciade consórci<strong>os</strong> não formalizad<strong>os</strong>, como foi explicado por um entrevistado: “(...)participam<strong>os</strong> de um outro tipo de consórcio, sem contrato assinado, com maisoutras adegas, <strong>para</strong> vender <strong>para</strong> Miami” (Rippe/Irurtia).Portanto, <strong>no</strong> Uruguai, existem consórci<strong>os</strong> de exportação diferenciad<strong>os</strong>.Alguns são formad<strong>os</strong> só por vinícolas; outr<strong>os</strong>, por empresas produtoras de produt<strong>os</strong>distint<strong>os</strong>, em especial, de produt<strong>os</strong> alimentíci<strong>os</strong>, a<strong>os</strong> quais algumas adegasse incorporam. Estes têm por objetivo penetrar em determinad<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>com uma oferta diversificada de produt<strong>os</strong>. Apesar de não contribuir <strong>para</strong> a formaçãode volumes de vinh<strong>os</strong>, esse tipo de consórcio tem sido usado como alternativade entrada e de manutenção d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> em mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong>.Um tipo de consórcio citado foi o formado entre várias empresas que mantêmuma empresa distribuidora própria instalada <strong>no</strong> país de desti<strong>no</strong>, em especial<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e na Argentina. Esse tipo de consórcio foi verificado na entrevista


227realizada <strong>no</strong> Viñed<strong>os</strong> y Bodegas Bella Unión S/A 17 , produtora d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> Calvi<strong>no</strong>r,que destina 75% das suas exportações ao <strong>Brasil</strong>. Conforme exp<strong>os</strong>to por DanielBellesi, responsável pelo comércio exterior:“No <strong>Brasil</strong>, nós participam<strong>os</strong> da Alimur [Aliment<strong>os</strong> do Uruguai Ltda.],com sede em Ca<strong>no</strong>as [RS], que é um consórcio de produt<strong>os</strong> uruguai<strong>os</strong>que existe desde 1994. Este consórcio vende vári<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> lácte<strong>os</strong>,hortícolas e massas, mas a única adega que participa é a n<strong>os</strong>sa, aCalvi<strong>no</strong>r”.Portanto, <strong>no</strong> Uruguai, apesar de as quatro empresas selecionadas napesquisa afirmarem que participam de consórci<strong>os</strong> de exportação, estes nãovêm funcionando n<strong>os</strong> moldes de um consórcio único.5.4.2.3.2 - <strong>Brasil</strong>O consórcio de exportação <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> foi criado em 2002, com a de<strong>no</strong>minaçãoWines from Brazil. Inicialmente, eram sete empresas, que se reuniram em parceriacom a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul e com aAgência de Promoção às Exportações <strong>para</strong> formar um consórcio, sendo cincodo Rio Grande do Sul — Aurora, Salton, Miolo, Lovara e Casa Valduga — e duasdo Estado de Pernambuco — Picolli e Santa Maria. Portanto, três das empresasque participam do consórcio fazem parte desta pesquisa.Através do consórcio, essas vinícolas buscam facilitar a pr<strong>os</strong>pecção de<strong>no</strong>v<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> e reduzir <strong>os</strong> cust<strong>os</strong> da participação nas feiras internacionais,pois “(...) a idéia é dividir as despesas (...) 50% d<strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> são da Apex, 15%são da FIERGS, e 35% são das empresas” (Nogueira/Miolo). O consórcio tambémtem como vantagem a “troca de informações” (Rafael/Aurora).Ele não alterou as estratégias da Miolo, que já exportava, mas contribuiu<strong>para</strong> o incremento das exportações. Conforme o Diretor da Miolo, “(...) o difícil éentrar <strong>no</strong> mercado, pois é inviável <strong>para</strong> as empresas fazerem, por si só, apromoção. E isso já é p<strong>os</strong>sível através do consórcio” (Adria<strong>no</strong>/Miolo). Para aSalton, o consórcio, como relatado pelo diretor de marketing, “(...) é importante<strong>para</strong> participar das feiras e <strong>para</strong> começar a entender as vendas externas, ouseja, estam<strong>os</strong> n<strong>os</strong> pre<strong>para</strong>ndo <strong>para</strong>, <strong>no</strong> futuro, poder exportar” (Daniel/ Salton).17Conforme já explicitado <strong>no</strong> Capítulo 3, essa empresa não faz parte das quatro selecionadas<strong>no</strong> Uruguai, uma vez que só foi p<strong>os</strong>sível realizar uma entrevista na empresa; mas seuexemplo de consórcio é muito ilustrativo e, por isso, comentado.


228Através do consórcio, a Salton pretende conhecer o mercado exter<strong>no</strong>, o quedeverá alterar a sua estratégia de distribuição, hoje restrita ao mercado doméstico.Cabe ao consórcio as ações de marketing necessárias <strong>para</strong> impulsionaras exportações, bem como dar o apoio logístico <strong>para</strong> efetuá-las. Como o consórcioé recente, <strong>os</strong> seus resultad<strong>os</strong> começam, pouco a pouco, a aparecer.5.4.2.4 - Joint ventureToda joint venture se caracteriza, como já foi visto <strong>no</strong> referencial teórico,pela constituição de uma <strong>no</strong>va empresa, cuj<strong>os</strong> associad<strong>os</strong> podem ter distintasparticipações de capital e buscam se complementar <strong>para</strong> atingir objetiv<strong>os</strong> comuns.Na época das entrevistas, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, havia sido formada uma joint ventureentre duas vinícolas gaúchas, e estava em negociação a formação de duas jointventures com vinícolas estrangeiras. No Uruguai, já existiam duas joint venturescom empresas européias. Apresentam-se <strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> por país, devido àsdiferentes ocorrências relatadas pel<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>.5.4.2.4.1 - <strong>Brasil</strong>A Miolo e a Vinícola Lovara 18 , de Bento Gonçalves, formaram uma jointventure que adquiriu, na região do Vale do São Francisco, uma antiga vinícola,situada <strong>no</strong> Município de Casa Nova, na Bahia. Essa empresa, a Fazenda OuroVerde, p<strong>os</strong>sui uma área de 700 hectares, com vinhed<strong>os</strong> própri<strong>os</strong> e instalações<strong>para</strong> vinificação. Essa joint venture foi formada com participações idênticas,sendo a Miolo a responsável pela distribuição d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> e d<strong>os</strong> espumantesproduzid<strong>os</strong>.Essa associação é fruto da decisão estratégica da Miolo de diversificar <strong>os</strong>produt<strong>os</strong> segundo o terroir, conforme já analisado. De acordo com o Diretor daMiolo, a “(...) sociedade foi feita porque nós já n<strong>os</strong> conhecíam<strong>os</strong> aqui da serragaúcha, e tem<strong>os</strong> uma fil<strong>os</strong>ofia de empresa muito similar” (Adria<strong>no</strong>/Miolo). Comoresultado, ela p<strong>os</strong>sibilitou ampliar a produção de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> e produzir umvinho diferenciado, aumentando as p<strong>os</strong>sibilidades de exportar. Ou seja, foiimportante <strong>para</strong> dar continuidade às estratégias já estabelecidas.Em 2002, à época das entrevistas, duas empresas previam a formação dejoint ventures com empresas estrangeiras, visando, basicamente, aumentar asexportações e entrar n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong> de forma mais rápida e eficaz.18Essa empresa é uma divisão vinícola da Móveis Bentec (Lovara), localizada na serra gaúcha.


229A Miolo estava negociando a formação de uma joint venture com uma vinícolaportuguesa, a ser localizada na zona da Campanha do Estado do Rio Grandedo Sul, visando à produção de um vinho com castas de uvas portuguesas.Esse vinho, produzido pela Miolo, quando concretizada a sociedade, será distribuídopor ambas as empresas em partes iguais (50%). A empresa portuguesa odistribuirá <strong>no</strong> mercado europeu, e a Miolo, n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> brasileiro e <strong>no</strong>rte--america<strong>no</strong>. Conforme um d<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, “(...) n<strong>os</strong>so primeiro interesse éuma questão de imagem deste produto, depois vem esta questão de distribuiçãona Europa e também <strong>para</strong> se fazer uma experiência” (Adria<strong>no</strong>/Miolo).Na Aurora, estão em fase de negociação parcerias com empresas estrangeiras,que poderão ser joint ventures, <strong>para</strong> a produção de vinh<strong>os</strong> específic<strong>os</strong> aserem comercializad<strong>os</strong> <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong> e exportad<strong>os</strong>, visando, principalmente,“(...) ajudar na distribuição” (Rafael/Aurora). De acordo com o seu diretor,“A principal vantagem é crescer mais rápido, pelo aporte financeiro e de tec<strong>no</strong>logia(...)” (Za<strong>no</strong>tto/Aurora).5.4.2.4.2 - UruguaiDas empresas uruguaias entrevistadas, destaca-se a Carrau, que realizouduas joint ventures, uma em sociedade com a empresa Casa Lurton, da França,em 1997, e a outra com a Freixenet, da Espanha, em 1999. Dessas associações,resultaram vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> de qualidade, destinad<strong>os</strong> ao mercado de alto poderaquisitivo e, em especial, <strong>para</strong> exportação.A participação da Carrau é igualitária <strong>no</strong> caso da joint venture com a CasaLurton, e “(...) a aliança estratégica também inclui a importação d<strong>os</strong> n<strong>os</strong>s<strong>os</strong>vinh<strong>os</strong>, que são distribuíd<strong>os</strong> pela Lurton, naqueles países onde nós não tem<strong>os</strong> oimportador exclusivo” (Javier/Carrau). Já com a Freixenet, a participação da Carraué mi<strong>no</strong>ritária, e estava sendo lançado um top Tannat.Essas joint ventures são ditas incompletas, uma vez que tais empresasainda não estão com instalações próprias. Seus objetiv<strong>os</strong> são ampliar acomercialização, pelo grande canal de distribuição dessas empresas estrangeiras,que atuam em vári<strong>os</strong> países, e a criação de marca, pelo prestígio que essasempresas têm <strong>no</strong> mercado internacional de vinh<strong>os</strong>. De acordo com uma entrevistada,as duas joint ventures “(...) não vão alterar as estratégias da empresa.Estam<strong>os</strong> usando-as como canal de distribuição, como uma alternativa decomercialização, e estam<strong>os</strong> aprendendo muito na área comercial” (Maria/Carrau).No Uruguai, várias outras vinícolas realizaram joint ventures, conforme jáexp<strong>os</strong>to <strong>no</strong> Quadro 4.1 da análise exploratória. Cabe destacar a explicaçãodada pelo Diretor de Exportação Christian Wylie, da Vinícola Establecimiento


230Juanicó 19 , que fez uma joint venture com a William Peters, da França, criando aWilliam Peters Uruguai S/A, <strong>para</strong> produzir vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> destinad<strong>os</strong> à exportação,conforme segue.“Nós tem<strong>os</strong> uma joint venture completa. (...) Como tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>são distribuíd<strong>os</strong> pela empresa William Peters em vári<strong>os</strong> países, estajoint venture muitas vezes torna a Juanicó mais conhecida. (...) Onegócio só do ponto de vista financeiro é muito interessante, pois sedividem <strong>os</strong> cust<strong>os</strong>; como transferência de tec<strong>no</strong>logia e k<strong>no</strong>w-how,também é muito interessante, pois eles contribuem muito. Além disso,dá prestígio <strong>para</strong> o Uruguai o fato de a Juanicó ter uma joint venturecom uma empresa francesa, p<strong>os</strong>icionando o País em outra categoria.”(Cristian/Juanicó).De acordo com <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> e conforme a teoria, as joint ventures sãoresultad<strong>os</strong> de estratégias já existentes e não alteram as estratégias das empresas.5.4.3 - Algumas análises com<strong>para</strong>tivasTendo em vista o exp<strong>os</strong>to anteriormente, conclui-se que: a cooperaçãoentre vinícolas e <strong>os</strong> relacionament<strong>os</strong> destas com as instituições foram muitomais destacad<strong>os</strong> <strong>no</strong> Uruguai do que <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>; a articulação entre empresas temoriginado relações fortemente sinérgicas, criando condições <strong>para</strong> o incrementoda competitividade; todas as quatro empresas uruguaias entrevistadas participamde algum tipo de aliança estratégica; e, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, das cinco empresasentrevistadas, apenas a De Lantier não p<strong>os</strong>sui e nem realizou nenhuma aliançaestratégica.A De Lantier destaca-se das demais empresas pelo fato de ser uma unidadede negóci<strong>os</strong> de uma empresa multinacional, que só produz vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> <strong>no</strong><strong>Brasil</strong>. Ademais, essa vinícola não tem como estratégia a distribuição <strong>no</strong> mercadoexter<strong>no</strong>, que revelou ser um d<strong>os</strong> principais motiv<strong>os</strong> <strong>para</strong> a formação de alianças.Ao fazer parte de uma corporação, a De Lantier pode se beneficiar dealgumas eco<strong>no</strong>mias, pois usa <strong>os</strong> mesm<strong>os</strong> canais de distribuição <strong>no</strong> mercadointer<strong>no</strong> da Bacardi-Martini do <strong>Brasil</strong>, e tem maior facilidade <strong>para</strong> obter recurs<strong>os</strong>financeir<strong>os</strong>, pelo tamanho da companhia.A seguir, apresenta-se um quadro-resumo (Quadro 5.1) das alianças estratégicasrealizadas por empresa.19Essa empresa não foi considerada na pesquisa pelo fato de ter-se obtido apenas umaentrevista. Entretanto, como o caso é peculiar, de uma joint venture completa com empresaestrangeira, o que implica ter instalações próprias, acha-se relevante colocá-lo.


231Quadro 5.1Participação das empresas uruguaias e brasileiras em alianças estratégicasEMPRESASACORDOSCONTRATUAIS/EMPRESASFONTE: Entrevistas nas empresas.CONSÓRCIOSJOINTVENTURESUruguaiAria<strong>no</strong> De produção/vinícolas nacionaisParticipa -Carrau - Participa Com duas empresasestrangeirasIrurtia De distribuição/distribuidores Participa -nacionaisT<strong>os</strong>canini De produção/vinícola estrangeiraParticipa -De distribuição/vinícola estrangeira<strong>Brasil</strong>AuroraCordelierDe produção/vinícolas nacionaisCom fornecedores/produtoresde uvasDe produção/vinícola nacionalParticipa Em negociaçãocom empresasestrangeiras- -De Lantier - - -MioloCom fornecedores/produtoresde uvasParticipaCom uma empresanacionalEm negociaçãocom empresaestrangeiraSalton - Participa -


232No que se refere a<strong>os</strong> acord<strong>os</strong> contratuais, destacaram-se <strong>os</strong> acord<strong>os</strong> realizad<strong>os</strong>com <strong>os</strong> fornecedores, seguid<strong>os</strong> d<strong>os</strong> de produção e de distribuição. Algunsaspect<strong>os</strong> podem ser salientad<strong>os</strong> nas empresas entrevistadas: <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>,tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> acord<strong>os</strong> das vinícolas entrevistadas foram feit<strong>os</strong> com empresasnacionais; <strong>no</strong> Uruguai, houve acord<strong>os</strong> com empresas nacionais e estrangeiras;não ocorreram acord<strong>os</strong> com fornecedores <strong>no</strong> Uruguai; não se verificou a ocorrênciade acord<strong>os</strong> de distribuição <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, apesar de ter sido realizado na décadapassada pela Aurora; e nenhum desses acord<strong>os</strong> alterou as estratégias dasempresas.Quinn, Doorley e Paquette (1998), analisando as estratégias como umabusca de vantagem competitiva, salientam que, com as <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias decomunicação, <strong>os</strong> dirigentes podem dividir as cadeias de valor de suas empresas,lidando internamente com <strong>os</strong> principais element<strong>os</strong> estratégic<strong>os</strong>, terceirizandooutr<strong>os</strong> e coordenando todas as atividades essenciais. Destacam, ainda, queuma organização mais focalizada e men<strong>os</strong> integrada é viável e indispensável,podendo aumentar a vantagem competitiva, desde que a empresa p<strong>os</strong>sa adquirirde terceir<strong>os</strong>, que produzam de forma mais eficiente e eficaz do que a empresa ofaria. Como exemplo, citam o caso da vinícola <strong>no</strong>rte-americana E&J Gallo Winery,que terceirizou a produção da uva usada na elaboração de seus vinh<strong>os</strong>, comresultad<strong>os</strong> benéfic<strong>os</strong>. “Um importante benefício decorrente disso é que a Galloevitou <strong>os</strong> investiment<strong>os</strong> e <strong>os</strong> risc<strong>os</strong> própri<strong>os</strong> da atividade de plantar uvas” (Quinn;Doorley; Paquette, 1998, p. 324).Entretanto, nas empresas brasileiras entrevistadas — exceto na Aurora,por ser uma cooperativa —, como <strong>os</strong> acord<strong>os</strong> formais e as parcerias informaiscom <strong>os</strong> fornecedores não conseguiram suprir as vinícolas de uvas na quantidadee na qualidade requeridas, a<strong>os</strong> preç<strong>os</strong> de mercado, observou-se uma maiorintegração vertical a montante, o que já ocorre <strong>no</strong> Uruguai. Com essa integração,as empresas poderão ampliar a quantidade e a qualidade de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>,estratégias de produto, e aumentar as suas vantagens competitivas pela p<strong>os</strong>sed<strong>os</strong> recurs<strong>os</strong>. Portanto, integrar a produção foi uma contingência do mercado deuvas.No caso d<strong>os</strong> acord<strong>os</strong> contratuais de produção (ou de terceirização),destacaram-se alguns fat<strong>os</strong>: duas empresas — Miolo e Carrau — afirmaramnão terceirizar a sua produção; a Aurora é uma grande prestadora de serviç<strong>os</strong> devinificação e de engarrafamento; já a Cordelier destacou que sempre utilizaráparte da produção (20%) terceirizada <strong>para</strong> evitar a capacidade oci<strong>os</strong>a em cas<strong>os</strong>de <strong>os</strong>cilação da demanda. Esta última situação foi descrita por Quinn, Doorleye Paquette (1998), m<strong>os</strong>trando as vantagens <strong>para</strong> as vinícolas da terceirizaçãoestratégica.


233Em nível internacional, <strong>os</strong> acord<strong>os</strong> de produção são feit<strong>os</strong> de tal maneiraque uma empresa local tem a responsabilidade restrita de produzir, e a empresainternacional, usualmente, assume as responsabilidades pelo marketing, incluindoas vendas, a promoção e a distribuição. Esses contrat<strong>os</strong> são empregad<strong>os</strong>quando a tec<strong>no</strong>logia de produção é amplamente disponível e quando o marketingé crucial <strong>para</strong> o sucesso do produto. Para a empresa estrangeira, em geral, aprincipal vantagem é de cust<strong>os</strong> (Jeannet; Hennessey, 1995).A T<strong>os</strong>canini, <strong>para</strong> ampliar as suas exportações, estratégia da empresa,realizou com empresas estrangeiras um acordo de produção de um vinho especiale um acordo de distribuição de vinh<strong>os</strong> <strong>no</strong> exterior.Quanto a<strong>os</strong> consórci<strong>os</strong> de exportação, cabe salientar as diferençasexistentes, pois, enquanto, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, existe apenas um que congrega asempresas de vinh<strong>os</strong>, <strong>no</strong> Uruguai, há vári<strong>os</strong> de distintas modalidades.Nas empresas entrevistadas, existem três joint ventures: uma <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>,entre a Miolo e uma vinícola nacional, e duas <strong>no</strong> Uruguai, da Carrau com empresaseuropéias. Estas contribuíram <strong>para</strong> a implementação das estratégias dasempresas.Portanto, as empresas Carrau e T<strong>os</strong>canini, tendo em vista a intensidadecompetitiva e o grau de globalização d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, buscaram as aliançasestratégicas com empresas estrangeiras <strong>para</strong>, basicamente, ampliar as vendasexternas. Uma aliança estratégica internacional, de acordo com Cateora (1996),é baseada <strong>no</strong> relacionamento entre empresas que compartilham <strong>os</strong> risc<strong>os</strong> <strong>para</strong>atingir um objetivo comum e, dessa forma, aumentar as vantagens competitivasdas empresas envolvidas.Todas as empresas uruguaias têm interesse em formar alianças estratégicascom parceir<strong>os</strong> extern<strong>os</strong> ou ampliá-las, principalmente <strong>para</strong> aumentar asexportações e <strong>para</strong> entrar em <strong>no</strong>v<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, com me<strong>no</strong>res cust<strong>os</strong> e maiorrapidez. No <strong>Brasil</strong>, exceto a Miolo e a Aurora, que já vêm atuando <strong>no</strong> mercadoexter<strong>no</strong>, as demais pareceram pouco preocupadas com a formação de futurasalianças estratégicas com empresas estrangeiras.Portanto, as causas que levaram as empresas a entrarem em aliançasestratégicas foram várias. Os acord<strong>os</strong> foram resultantes da carência de matérias-primas,<strong>no</strong> caso, a uva (acord<strong>os</strong> de fornecimento); da necessidade de acessoa equipament<strong>os</strong> de vinificação e/ou de engarrafamento de quem necessita eda existência de capacidade oci<strong>os</strong>a d<strong>os</strong> equipament<strong>os</strong> de quem <strong>os</strong> disponibiliza(acordo de produção); e do maior acesso a <strong>no</strong>v<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> e/ou maior agilidadena distribuição (acord<strong>os</strong> de distribuição). Os consorciad<strong>os</strong> buscam, atravésda cooperação, diminuir <strong>os</strong> cust<strong>os</strong> e <strong>os</strong> risc<strong>os</strong> de entrada em <strong>no</strong>v<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>.Já as joint ventures com as empresas estrangeiras permitiram o incremento dasexportações, o acesso a <strong>no</strong>v<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> e obter k<strong>no</strong>w how comercial; a joint


234venture realizada entre empresas nacionais p<strong>os</strong>sibilitou dividir <strong>os</strong> cust<strong>os</strong> de <strong>no</strong>v<strong>os</strong>investiment<strong>os</strong>, <strong>para</strong> ampliar a produção de produt<strong>os</strong> diferenciad<strong>os</strong>. Mas, emnenhum d<strong>os</strong> cas<strong>os</strong>, gerou <strong>no</strong>vas estratégias e/ou implicou alterações estratégicas.Portanto, <strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> encontrad<strong>os</strong> na pesquisa confirmaram o já previstopela literatura. Dentre <strong>os</strong> principais motiv<strong>os</strong> <strong>para</strong> a formação de uma aliançaestratégica, são citad<strong>os</strong>: a expansão de mercad<strong>os</strong>, a obtenção de recurs<strong>os</strong>tec<strong>no</strong>lógic<strong>os</strong> e/ou de capital, <strong>os</strong> insum<strong>os</strong> de melhor qualidade e/ou de me<strong>no</strong>rpreço, e <strong>no</strong>v<strong>os</strong> canais de distribuição (Ansoff; Mcdonnell, 1993); as eco<strong>no</strong>miasde escala ou de aprendizado; o acesso a<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> locais, às tec<strong>no</strong>logiasnecessárias ou <strong>para</strong> atender a exigências governamentais de propriedadenacional; a distribuição do risco, dentre outr<strong>os</strong> (Porter, 1993); a penetração emmercad<strong>os</strong> rivais e a obtenção de tec<strong>no</strong>logias ou de k<strong>no</strong>w how com o parceiro(Rodrigues, 1994); e a p<strong>os</strong>sibilidade de as empresas penetrarem em um mercad<strong>os</strong>em precisar brigar com <strong>os</strong> concorrentes (Hamel; Prahalad, 1989).<strong>As</strong> alianças estratégicas nas empresas pesquisadas ampliaram oufortaleceram as estratégias já existentes, corroborando o previsto por Mintzberg,Ahlstrand e Lampel (2000), não sendo verificada a existência de <strong>no</strong>vas estratégiascomo resultado das parcerias. Os autores destacam também que, apesar deseus objetiv<strong>os</strong> serem econômic<strong>os</strong>, muitas alianças podem p<strong>os</strong>suir uma dimensãopolítica, deliberada ou não, o que não se verificou n<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> analisad<strong>os</strong>.Além disso, observou-se que foram aquelas empresas que já vêm exportandoas que p<strong>os</strong>suem ou buscam o acesso superior a<strong>os</strong> clientes, pela formação dealianças com parceir<strong>os</strong> extern<strong>os</strong>. E, de acordo com Ghemawat (1998), esseacesso preferencial a clientes deve ser de longo prazo, garantindo que <strong>os</strong>concorrentes não <strong>os</strong> p<strong>os</strong>sam obter <strong>no</strong> futuro, o que depende da p<strong>os</strong>se decontrat<strong>os</strong> de longo prazo em vigência. Esse tipo de ação p<strong>os</strong>sibilita aumentaras vantagens competitivas já existentes, além de criar <strong>no</strong>vas vantagens. Portanto,a pesquisa comprovou o que foi analisado <strong>no</strong> referencial teórico.


2356 - CONSIDERAÇÕES FINAISEsta pesquisa, tendo em vista ser exploratória, não se propõe a estenderas conclusões a respeito d<strong>os</strong> process<strong>os</strong> de formação das estratégias <strong>para</strong> todasas empresas elaboradoras de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, mas, sim, propõe-se a analisar, deforma com<strong>para</strong>tiva, como ocorreram esses process<strong>os</strong>, quais foram as estratégiasadotadas, quais as causas e <strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> das alianças estratégicas verificadase como <strong>os</strong> process<strong>os</strong> de globalização e de integração afetaram as empresasbrasileiras e uruguaias de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> que partici<strong>para</strong>m desta pesquisa.Com efeito, ao proporcionar um conjunto de conheciment<strong>os</strong> a respeito dasestratégias <strong>empresariais</strong>, delimitadas a<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, permite algumas reflexõesrelevantes <strong>para</strong> esse produto, com algumas implicações sobre <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> emgeral.A seguir, apresentam-se as seções que compreendem as ConsideraçõesFinais, as quais abordam <strong>os</strong> seguintes temas: as conclusões, as limitações dapesquisa, as suas implicações e sugestão <strong>para</strong> futur<strong>os</strong> estud<strong>os</strong>.6.1 - ConclusõesTendo em vista <strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> desta pesquisa, pode-se chegar a algunsimportantes resultad<strong>os</strong> <strong>para</strong> o conjunto de empresas analisadas. <strong>As</strong> conclusõesora apresentadas estão consubstanciadas pelas análises desenvolvidas n<strong>os</strong>capítul<strong>os</strong> anteriores desta tese.Nesta pesquisa, procurou-se analisar, de forma com<strong>para</strong>da, as estratégiasdas vinícolas, em relação a<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong> Uruguai. Avaliou-se omesmo objeto de estudo, <strong>no</strong> mesmo espaço de tempo, em duas distintassociedades, que se diferenciam não só por sua história e cultura, como porimportantes indicadores econômic<strong>os</strong> e demográfic<strong>os</strong> que influíram <strong>no</strong>desenvolvimento d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> nesses países. E concluiu-se que existemmais similaridades do que se supunha a priori.O processo de formulação e de implementação das estratégias ocorreu,preponderantemente, de forma simultânea nas empresas entrevistadas, sendoconduzido pel<strong>os</strong> ocupantes de carg<strong>os</strong>-chave nas vinícolas, que estiveramenvolvid<strong>os</strong>, em todas as fases do processo estratégico, diretamente naformulação, em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> cas<strong>os</strong> analisad<strong>os</strong>, e na implementação nas empresasde me<strong>no</strong>r porte e/ou de gestão familiar ou em algumas estratégias consideradas


236cruciais. Em outras situações, apesar de continuar sendo supervisionada pel<strong>os</strong>ocupantes de carg<strong>os</strong> do topo, a implementação é delegada <strong>para</strong> <strong>os</strong> responsáveispelas respectivas áreas. Não foi observada a se<strong>para</strong>ção d<strong>os</strong> process<strong>os</strong> deformação e implementação, até porque, <strong>no</strong>rmalmente, só foram citadasestratégias já realizadas e/ou em realização, independentemente de terem sido,ou não, pretendidas.Foi comentada, em todas as vinícolas entrevistadas, a importância da históriaempresarial e da relevância d<strong>os</strong> fundadores em algumas delas, em especial nasde gestão familiar (três <strong>no</strong> Uruguai), cuj<strong>os</strong> pressup<strong>os</strong>t<strong>os</strong> se tornaram parte daorganização, influindo <strong>no</strong> processo de formação das estratégias. Sobressai-se,nesses cas<strong>os</strong>, o papel da cultura organizacional.Apesar de o processo estratégico <strong>para</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> ter muitassemelhanças, constataram-se algumas diferenças, quando se com<strong>para</strong>ram asvinícolas do <strong>Brasil</strong> e do Uruguai participantes da pesquisa, tendo em vistacircunstâncias particulares, <strong>no</strong> ambiente exter<strong>no</strong> — em nível de país e, pordecorrência, <strong>no</strong> segmento industrial.No ambiente exter<strong>no</strong>, destaca-se a abertura d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> <strong>para</strong> asempresas de amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países, com reflex<strong>os</strong> significativ<strong>os</strong> diret<strong>os</strong> na produçãodoméstica de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e, em me<strong>no</strong>r intensidade, <strong>no</strong> Uruguai,mormente neste último país, pelo incremento da concorrência n<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> demesa oriund<strong>os</strong> do Merc<strong>os</strong>ul, como resultado da redução tarifária até a suaextinção intrabloco.No ambiente da indústria uruguaia, salienta-se o planejamento setorial dacadeia produtiva, sob a orientação do Inavi, com <strong>os</strong> plan<strong>os</strong> de reconversão devinhed<strong>os</strong> e, p<strong>os</strong>teriormente, das vinícolas, <strong>os</strong> quais foram sucedid<strong>os</strong> pelo pla<strong>no</strong>de marketing <strong>para</strong> as exportações, tendo em vista a necessidade de ampliar <strong>os</strong>mercad<strong>os</strong>.No <strong>Brasil</strong>, ocorreu, inicialmente, uma mudança <strong>no</strong> papel das empresasmultinacionais, que eram as maiores disseminadoras de i<strong>no</strong>vações em process<strong>os</strong>produtiv<strong>os</strong> na área de vitivinicultura, com destaque <strong>para</strong> a ampliação inicial dafronteira agrícola. A partir de mead<strong>os</strong> da década de 90, algumas dessas empresassuspenderam a produção de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> (Chandon), passando a importar deoutras filiais; outras perderam o foco n<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> (De Lantier), e houve aquelasque passaram a se preocupar mais com volumes e men<strong>os</strong> com a qualidadedestes (Almadén). Entretanto <strong>no</strong>ta-se, já <strong>no</strong> começo do <strong>no</strong>vo século, uma reversãonessa tendência. E essas multinacionais, que passaram por vári<strong>os</strong> process<strong>os</strong>de mudanças em nível internacional, com fusões, aquisições e aliançasestratégicas, voltaram a se preocupar com <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, alterand<strong>os</strong>uas estratégias significativamente, havendo a previsão, inclusive, de empresas,


237hoje basicamente voltadas à produção de destilad<strong>os</strong> ou de espumantes, passarema importar vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> e, talvez, virem a produzir <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong>.No que se refere ao ambiente inter<strong>no</strong> das empresas, <strong>os</strong> problemas quelevaram à alteração estratégica foram relatad<strong>os</strong> de forma mais enfática <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.Destarte, a globalização e o Merc<strong>os</strong>ul afetaram, direta ou indiretamente,as estratégias de produt<strong>os</strong> e/ou de mercad<strong>os</strong> <strong>para</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> em grandeparte das empresas entrevistadas n<strong>os</strong> dois países. Produt<strong>os</strong> substitut<strong>os</strong>importad<strong>os</strong> alteraram a competitividade n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> intern<strong>os</strong>, induzindo asempresas a modificarem ou a adaptarem as estratégias de produt<strong>os</strong> e demercad<strong>os</strong> <strong>para</strong> sobreviverem e/ou concorrerem com esses em melhorescondições. Em nível nacional, as alterações socioeconômicas — e, em especial,das políticas monetárias, fiscais e cambiais —, legais e tec<strong>no</strong>lógicas d<strong>os</strong> paísestambém afetaram o nível de concorrência dentro da indústria de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>.Mas problemas intern<strong>os</strong> às vinícolas foram, em alguns cas<strong>os</strong>, determinantes<strong>para</strong> as ações estratégicas.Portanto, a pesquisa comprovou que o processo estratégico foi influenciadopelo ambiente competitivo global. Além disso, foi confirmado o previsto na literatura,isto é, as ações estratégicas foram moldadas, e seus retorn<strong>os</strong>, influenciad<strong>os</strong>pelo ambiente competitivo geral (instituições, fatores econômic<strong>os</strong> e sociais,cultura), da indústria (fornecedores, competidores e canal) em particular, bemcomo pelo ambiente inter<strong>no</strong> das organizações (Mintzberg, 1998; Mintzberg;Ahlstrand; Lampel, 2000; Porter, 1996a; Varadarajan; Jayachandran, 2001).Isso não significa que todas as estratégias sejam reativas ao ambiente,pois as empresas podem adotar estratégias pró-ativas (Thompson; Strickland,1996), as quais, por sua vez, podem modificar o ambiente da indústria. A Carraufoi, dentre todas as vinícolas entrevistadas, a que demonstrou, de forma maisvisível, a adoção de estratégias pró-ativas. No <strong>Brasil</strong>, destacaram-se a Miolo e aAurora.Com relação ao conteúdo das estratégias, cabem algumas considerações.Como <strong>os</strong> estud<strong>os</strong> de cas<strong>os</strong> múltipl<strong>os</strong> devem propiciar resultad<strong>os</strong> semelhantesou contrastantes, por razões previsíveis (Yin, 2001), era esperada, como de fatoaconteceu, a ocorrência de maiores similaridades entre as vinícolas de um mesmopaís, devido ao fato de estarem situadas em um mesmo ambiente (em geral eda indústria). Além disso, podem ser explicadas por um conjunto decondicionantes históric<strong>os</strong>, institucionais, econômic<strong>os</strong>, sociais e culturais, quepodem influenciar, decisivamente, o processo estratégico.Contudo as estratégias de produt<strong>os</strong> e produção foram semelhantes nas<strong>no</strong>ve empresas entrevistadas: aumentar a produção de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, lançar <strong>no</strong>v<strong>os</strong>produt<strong>os</strong> e incrementar a qualidade e/ou o valor agregado d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>. Essaanalogia pode ser explicada como resultado do processo de globalização, o


238qual pressupõe uma tendência ao aumento das similaridades das estruturas dedemanda e oferta entre <strong>os</strong> países. Uma importante dimensão do processo deglobalização é a gradual generalização de algumas idéias e valores, bem comode produt<strong>os</strong> e tec<strong>no</strong>logias, que podem afetar as preferências d<strong>os</strong> consumidorese <strong>os</strong> process<strong>os</strong> produtiv<strong>os</strong>, apesar das diversidades culturais entre <strong>os</strong> membr<strong>os</strong>de distint<strong>os</strong> países.Em relação às demais estratégias, <strong>no</strong>tam-se maiores similaridades entreas empresas de um mesmo país e maiores diferenças entre vinícolas de diferentespaíses. Quanto às estratégias de mercad<strong>os</strong> e distribuição, destacaram-se assignificativas diferenças relatadas nas estratégias adotadas n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>intern<strong>os</strong> de amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> países. A literatura de marketing e de estratégiasinternacionais e globais (Ball; McCulloch, 1996; Cateora, 1996; Czinkota;Ronkainen, 2001; Czinkota; Ronkainen; Moffet, 1996; Hutt; Speh, 2002; Jeannet;Hennessey, 1995; Keegan, 1995; Keegan; Green, 2000) aponta uma série devariáveis ambientais que diferem entre <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> nacionais. Estas, como sepode deduzir, influíram nas estratégias <strong>para</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> doméstic<strong>os</strong>, pois <strong>Brasil</strong>e Uruguai têm significativas diferenças n<strong>os</strong> principais indicadores socioeconômic<strong>os</strong>.Além disso, <strong>no</strong> Uruguai, as exportações destacam-se em relação aomercado inter<strong>no</strong>, dado seu reduzido tamanho.<strong>As</strong> estratégias de distribuição <strong>para</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong>, <strong>no</strong> Uruguai, sãomen<strong>os</strong> diferenciadas, e a principal distinção é conseqüência do pla<strong>no</strong> demarketing setorial <strong>para</strong> as exportações, onde foi destacada a diferenciação doPaís pelas vendas de vinho Tannat. Esse pla<strong>no</strong>, aliado ao maior relacionamentoverificado entre as empresas competidoras de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> e destas com asprincipais instituições da área vinícola, favoreceu o aprendizado, reduziu <strong>os</strong> cust<strong>os</strong>e <strong>os</strong> risc<strong>os</strong> das exportações e reforçou as competências das vinícolas uruguaias.Nas estratégias de recurs<strong>os</strong> human<strong>os</strong>, o importante destaque <strong>para</strong> oaperfeiçoamento de enólog<strong>os</strong> em oito vinícolas entrevistadas deriva,particularmente, da relevância do conhecimento e da perícia destes <strong>para</strong> aimplementação da estratégia de melhoria da qualidade do vinho. Em algumasempresas, foi salientado que o desenvolvimento e o treinamento d<strong>os</strong> recurs<strong>os</strong>human<strong>os</strong> em diferentes áreas <strong>os</strong> torna mais fortemente comprometid<strong>os</strong> com asestratégias <strong>empresariais</strong>.<strong>As</strong> estratégias de recurs<strong>os</strong> financeir<strong>os</strong> aproximaram-se muito nas vinícolasentrevistadas, à exceção da De Lantier, por ser uma unidade de negóci<strong>os</strong> deuma multinacional. <strong>As</strong> principais diferenças residem em características peculiaresde cada vinícola, como nível de endividamento, volume de recurs<strong>os</strong> aplicad<strong>os</strong>,necessidades de <strong>no</strong>v<strong>os</strong> investiment<strong>os</strong>, etc.<strong>As</strong> empresas, em geral, destacaram as estratégias de produto, produção,distribuição e promoção como as mais relevantes, o que reflete que as estratégias


239de marketing são as mais significativas. <strong>As</strong> estratégias genéricas de Porter(1989, 1996a), de diferenciação e de custo <strong>para</strong> distintas categorias de vinh<strong>os</strong>fin<strong>os</strong>, foram verificadas. Percebeu-se também, pel<strong>os</strong> relat<strong>os</strong> das entrevistas,uma alteração das estratégias, que eram mais focadas na produção, passandoa ter o foco <strong>no</strong> cliente. Nesse ambiente de mercado global hipercompetitivo, aimportância da orientação <strong>para</strong> o mercado (Kohli; Jaworski, 1990; Matsu<strong>no</strong>;Mentzer, 2000; Narver; Slater, 1990) ganha destaque. A orientação <strong>para</strong> clientese concorrentes, bem como o desenvolvimento de suas capacidades e habilidades,torna a empresa mais sensível ao mercado e agiliza as suas resp<strong>os</strong>tas àsmudanças <strong>no</strong> ambiente.No que se refere às aquisições e fusões entre as empresas entrevistadas,n<strong>os</strong> últim<strong>os</strong> an<strong>os</strong> estas não ocorreram. Mas a De Lantier sofreu as conseqüênciasda fusão da Martini-Bacardi em nível mundial.Nas estratégias de cooperação, destacam-se as vinícolas do Uruguai, pelomaior nível de relacionamento existente entre elas e com as principais instituiçõesda área vinícola. Esses contat<strong>os</strong> colaborativ<strong>os</strong> entre organizações propiciaramque <strong>no</strong>vas estratégias emergissem, confirmando o exp<strong>os</strong>to por Mintzberg e Lampel(1999), e facilitaram a implementação de algumas delas. Em relação às aliançasestratégicas, até a data das entrevistas, enquanto, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, elas só foramrealizadas entre empresas nacionais, <strong>no</strong> Uruguai, foi verificada a existência dealianças com vinícolas nacionais e estrangeiras. Todas as empresas, exceto aDe Lantier, realizaram, pelo men<strong>os</strong>, algum tipo de acordo, consórcio ou jointventure.A partir d<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> analisad<strong>os</strong>, é p<strong>os</strong>sível inferir que as causas dessasalianças estão diretamente ligadas à obtenção de matéria-prima, de recurs<strong>os</strong>tec<strong>no</strong>lógic<strong>os</strong> e de conheciment<strong>os</strong>; de acesso a mercad<strong>os</strong> e/ou a <strong>no</strong>v<strong>os</strong> canaisde distribuição; de partilha de risc<strong>os</strong>, diminuição de cust<strong>os</strong> e/ou de investiment<strong>os</strong>;de aprendizado estratégico, dentre outr<strong>os</strong>, já previst<strong>os</strong>, <strong>no</strong> todo ou em parte,pela literatura (Ansoff; Mcdonnell, 1993; Cateora, 1996; Jeannet; Hennessey,1995; Porter, 1993; Rodrigues, 1994; Varadarajan; Jayachandran, 2001). E <strong>os</strong>resultad<strong>os</strong> dessas alianças ampliaram ou fortaleceram as estratégias jáexistentes (Mintzberg; Ahlstrand; Lampel, 2000).De acordo com a pesquisa realizada, acredita-se que as aliançasestratégicas com parceir<strong>os</strong> extern<strong>os</strong> devam ocorrer <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e crescer aindamais <strong>no</strong> Uruguai, sobretudo com o objetivo de ampliar as exportações. <strong>As</strong>estratégias de cooperação têm sido consideradas como uma opção eficaz <strong>para</strong>as firmas que desejam internacionalizar suas operações, pela literatura demarketing de relacionamento e de marketing internacional. Contudo parece que,<strong>no</strong> contexto do Merc<strong>os</strong>ul, sua adoção continuará não sendo significativa, pelonível da produção e da concorrência já existente, com a isenção tarifária intrabloco.


240Outras constatações podem ser feitas pela análise d<strong>os</strong> cas<strong>os</strong>, conformerelatado a seguir.Todas as empresas declaram ter estratégia, independentemente da formacomo <strong>os</strong> process<strong>os</strong> de formulação ocorreram: deliberad<strong>os</strong> racionalmente; deforma emergente, à medida que ocorreram algumas alterações significativas; demaneira um pouco informal e intuitiva; de forma reativa às alterações ambientais;de maneira a imitar algumas estratégias de empresas bem-sucedidas; de acordocom a visão pessoal do administrador, dentre outr<strong>os</strong>. Por conseguinte, não existeuma única forma de analisar as estratégias, comprovando o exp<strong>os</strong>to por Mintzberg,Ahlstrand e Lampel (2000). Pela análise d<strong>os</strong> cas<strong>os</strong>, concluiu-se que a claradefinição de estratégias e a forma como ocorre o processo estratégico não sãoconseqüência do porte da organização.Foi verificada uma maior concentração do poder decisório em algumasempresas, independentemente de seu tamanho, nas quais a influência do líderou d<strong>os</strong> líderes nas estratégias foi destacada. Portanto, as estratégias podemser imp<strong>os</strong>tas, em estruturas mais centralizadas; discutidas entre <strong>os</strong> membr<strong>os</strong>,em empresas mais democráticas; como podem surgir a<strong>os</strong> pouc<strong>os</strong> ou ser frutode um visionário, em distint<strong>os</strong> moment<strong>os</strong>. Do exp<strong>os</strong>to, verifica-se que as relaçõesde poder, em distint<strong>os</strong> níveis, estão diretamente relacionadas com o processoestratégico.Em todas as empresas, foi declarado haver o comprometimento das pessoase de recurs<strong>os</strong> <strong>para</strong> a implementação das estratégias, não tendo sido manifestadonenhum problema de resistências às mudanças. Esse resultado pode serexplicado por várias e diferentes causas, onde se destacam as relações depoder dentro da empresa — estas podem ser derivadas do controle e dapropriedade da empresa e/ou da estrutura organizacional, que é uma forma delegitimar a autoridade, bem como do conhecimento — e o fato de as mudançasem geral terem sido evolutivas. Johnson (1999a) destaca que a participação dediferentes níveis gerenciais <strong>no</strong> processo de desenvolvimento da estratégia diminuias p<strong>os</strong>sibilidades de resistências às mudanças. Todas essas situações, deuma forma ou de outra, foram relatadas nas entrevistas.Também foi p<strong>os</strong>sível detectar que todas as estratégias estão inter--relacionadas, <strong>para</strong> atingir resultad<strong>os</strong> consistentes com <strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> daorganização, apesar de muitas delas terem emergido como resp<strong>os</strong>ta a algumasituação. Tendo em vista que as empresas são comp<strong>os</strong>tas de diferentes áreas,como compras, produção, marketing, finanças, recurs<strong>os</strong> human<strong>os</strong>, etc., o quepode ser estratégia <strong>para</strong> uma área pode ser tática <strong>para</strong> outra. <strong>As</strong>sim, compreende--se a importância da comunicação interna, da aceitação e d<strong>os</strong> comprometiment<strong>os</strong>pessoal e organizacional <strong>para</strong> implementar efetivamente as estratégias.


241Por fim, pode-se concluir, a partir d<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> investigad<strong>os</strong>, que, não obstanteo fato de <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> estarem intrinsecamente relacionad<strong>os</strong> com a cadeiaprodutiva, a sustentação das vantagens competitivas depende d<strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> edas capacitações acumuladas das vinícolas ao longo de an<strong>os</strong> e, principalmente,das estratégias adotadas <strong>para</strong> fazer face a<strong>os</strong> desafi<strong>os</strong> competitiv<strong>os</strong>.6.2 - Limitações do estudoOs procediment<strong>os</strong> empregad<strong>os</strong> <strong>para</strong> o desenvolvimento deste estudo, porterem seguido o rigor metodológico indicado <strong>para</strong> <strong>os</strong> estud<strong>os</strong> acadêmic<strong>os</strong>, nãopermitem a generalização das conclusões <strong>para</strong> as demais empresas de vinh<strong>os</strong>fin<strong>os</strong>, por se tratar de estudo de cas<strong>os</strong> exploratóri<strong>os</strong>. Pode-se, sim, contribuir<strong>para</strong> o entendimento das estratégias <strong>para</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> e inferir algumas relaçõese tendências <strong>no</strong> que se refere ao produto em questão, uma vez que, das <strong>no</strong>veempresas entrevistadas, apenas duas eram, basicamente, produtoras só devinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>.Com efeito, as principais limitações das pesquisas realizadas são que <strong>os</strong>resultad<strong>os</strong> gerad<strong>os</strong> não podem ser generalizad<strong>os</strong> <strong>para</strong> todas as vinícolasentrevistadas, nem <strong>para</strong> todas as vinícolas produtoras de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, conformeexplicitado adiante.A análise foi especificamente sobre as estratégias d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> e, nessecaso, não estão contempladas, necessariamente, todas as estratégias dasempresas participantes desta pesquisa. Então, a primeira grande limitação éque o estudo de cas<strong>os</strong> se refere a um produto específico, cuja participação <strong>no</strong>faturamento das empresas variou de 30% a 100%.A segunda restrição é a dificuldade de inferir tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> obtid<strong>os</strong>,por duas razões: <strong>os</strong> distint<strong>os</strong> volumes produzid<strong>os</strong> e <strong>os</strong> tip<strong>os</strong> de empresasselecionadas <strong>para</strong> <strong>os</strong> estud<strong>os</strong> de cas<strong>os</strong>.Apesar de terem sido selecionadas vinícolas representativas, em amb<strong>os</strong><strong>os</strong> países, em term<strong>os</strong> de volume produzido de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, obteve-se um conjuntode informações próprias a esse tipo de empresa, que variou muito em tamanhon<strong>os</strong> dois países. No <strong>Brasil</strong>, as empresas analisadas produziam, em litr<strong>os</strong>/a<strong>no</strong>,em 2001, uma quantidade que variou de 910 mil litr<strong>os</strong> (Cordelier) a 11 milhões delitr<strong>os</strong> (Aurora), sendo que, em três delas, a produção variou entre 3.240 mil e4.860 mil litr<strong>os</strong>. No Uruguai, a produção de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> em 2001 variou de 400mil litr<strong>os</strong> (T<strong>os</strong>canini e Aria<strong>no</strong>) a 1.600 mil litr<strong>os</strong> anuais (Irurtia). Portanto, sãoempresas de distint<strong>os</strong> tamanh<strong>os</strong>, que atuam em mercad<strong>os</strong> intern<strong>os</strong> diferenciad<strong>os</strong>,


242onde o mercado exter<strong>no</strong> <strong>para</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> uruguai<strong>os</strong> é mais importante, frenteao tamanho do mercado doméstico.Por outro lado, de acordo com o exp<strong>os</strong>to <strong>no</strong> Capítulo 3, foram entrevistadas,<strong>no</strong> Uruguai, apenas empresas familiares e, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, uma unidade de vinh<strong>os</strong> deuma multinacional, uma divisão de vinh<strong>os</strong> de uma empresa familiar, umacooperativa, além de outras duas vinícolas de propriedade familiar. Porconseguinte, as conclusões do Uruguai podem, talvez, estender-se às empresasfamiliares do País. No caso do <strong>Brasil</strong>, as ilações são mais tênues, devido a<strong>os</strong>distint<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> de empresas, que podem envolver diferentes estruturas e relaçõesinternas de poder, relacionament<strong>os</strong> e valores, <strong>os</strong> quais podem ter afetado deforma diferenciada a formação e a implementação das estratégias.De acordo com as entrevistas realizadas com <strong>os</strong> expert<strong>os</strong> e com algumasinformações obtidas junto às empresas entrevistadas, as estratégias nasempresas brasileiras de me<strong>no</strong>r porte devem ser um pouco distintas das de maiorporte, em especial <strong>no</strong> que se refere às estratégias de distribuição e de mercado,pelo significativo papel das vendas diretas nas cantinas, em especial peloe<strong>no</strong>turismo. Destaca-se também a distribuição em mercad<strong>os</strong> mais delimitad<strong>os</strong>sob o ponto de vista espacial, pelo fato de, em geral, não transacionarem seusprodut<strong>os</strong> junto às grandes redes atacadistas ou de supermercad<strong>os</strong>, até por umaquestão de falta de volume, de elevad<strong>os</strong> cust<strong>os</strong> de promoções e d<strong>os</strong> baix<strong>os</strong>preç<strong>os</strong> pag<strong>os</strong> pelas grandes redes, além de outr<strong>os</strong> ônus envolvid<strong>os</strong>.Já <strong>no</strong> Uruguai, as estratégias são mais similares, dada a relevância dopapel do Inavi na formulação das estratégias <strong>empresariais</strong> em consonância comas setoriais. Além do mais, o tamanho do mercado inter<strong>no</strong> é me<strong>no</strong>r, as vendassão mais pulverizadas <strong>para</strong> todas as vinícolas, com destacado papel das casasespecializadas de vinh<strong>os</strong> e de pequen<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, pois as grandes cadeias desupermercad<strong>os</strong> se revelaram men<strong>os</strong> importantes <strong>para</strong> as empresas pesquisadas.6.3 - Implicação da pesquisae sugestões <strong>para</strong> estud<strong>os</strong> futur<strong>os</strong>A pesquisa propiciou algumas relevantes conclusões, mas suas limitaçõese implicações levam, necessariamente, à formulação de alguns comentári<strong>os</strong> equestões que p<strong>os</strong>sibilitam sugerir o pr<strong>os</strong>seguimento desse tipo de estudo. Nessesentido, apresentam-se algumas considerações, tendo em vista <strong>os</strong> cas<strong>os</strong>estudad<strong>os</strong>.A existência de um pla<strong>no</strong> de reconversão de vinhed<strong>os</strong> e das vinícolas, bemcomo de marketing <strong>para</strong> as exportações, é considerada uma externalidade p<strong>os</strong>itiva


243que beneficiou as vinícolas uruguaias. N<strong>os</strong> relat<strong>os</strong> obtid<strong>os</strong>, verificou-se tambémque a maior inserção <strong>no</strong> mercado internacional, além do planejamento setorial,foi explicada, de maneira contundente, pela ocorrência de estratégias derelacionament<strong>os</strong> entre empresas e com as instituições locais.No caso das vinícolas brasileiras, seria interessante aprofundar algunsaspect<strong>os</strong>.N<strong>os</strong> relacionament<strong>os</strong> entre as empresas e destas com as instituições, porque foram relatadas tantas dificuldades? Chama atenção o fato de existir, <strong>no</strong><strong>Brasil</strong>, um grande número de instituições vitivinícolas, sendo que, em muitasdelas, <strong>os</strong> própri<strong>os</strong> empresári<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> ocupam ou ocu<strong>para</strong>m carg<strong>os</strong>diretiv<strong>os</strong>.<strong>As</strong> reduzidas exportações seriam provenientes do amplo mercado inter<strong>no</strong>ou também da falta de um planejamento setorial? Que tipo de planejament<strong>os</strong>etorial poderia contribuir <strong>para</strong> o aumento das vantagens competitivas dasvinícolas brasileiras?Acredita-se que, necessariamente, um pla<strong>no</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> seria distinto doprop<strong>os</strong>to <strong>no</strong> Uruguai, pois é discutível a reconversão de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> vinhed<strong>os</strong> deuvas americanas, uma vez que existe um amplo consumo inter<strong>no</strong> de vinh<strong>os</strong> demesa, de vinagre e de suco de uva, e as exportações de suc<strong>os</strong> têm aumentadon<strong>os</strong> últim<strong>os</strong> an<strong>os</strong>. Seria o caso de se selecionarem alguns tip<strong>os</strong> de videiras aserem plantadas? Ou o problema residiria mais na falta de integração entretod<strong>os</strong> <strong>os</strong> el<strong>os</strong> da cadeia produtiva? Pesquisas futuras poderiam prover resp<strong>os</strong>tas<strong>para</strong> essas e outras perguntas.Sabe-se que a concorrência, em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>, tende a se acentuar,à medida que forem concluídas outras etapas do processo de integração entre<strong>os</strong> países-membr<strong>os</strong> do Merc<strong>os</strong>ul e que ocorrer a formação de uma zona de livre--comércio do bloco com outr<strong>os</strong> países e bloc<strong>os</strong> econômic<strong>os</strong>.Como ficariam as empresas de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> do Uruguai e do <strong>Brasil</strong> frente aconcorrentes com grandes ganh<strong>os</strong> de escala, como argentin<strong>os</strong>, chilen<strong>os</strong> e <strong>no</strong>rte--american<strong>os</strong>, em caso da constituição da ALCA? Haveria algumas estratégiasde cooperação passíveis de serem realizadas entre parceir<strong>os</strong> do Merc<strong>os</strong>ul, detal forma a aumentar as suas vantagens frente a poder<strong>os</strong><strong>os</strong> concorrentes? Essasseriam mais interessantes do que a aquisição de vinh<strong>os</strong> d<strong>os</strong> parceir<strong>os</strong> dentro delinhas de produt<strong>os</strong>, como vem ocorrendo atualmente?Verificou-se que as estratégias não foram muito distintas pelo porte dasempresas, apesar das diferenças observadas. Entretanto, como só foramanalisadas, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, uma empresa multinacional e uma cooperativa, não sepode afirmar que o tipo de empresa pode levar a maiores similaridades n<strong>os</strong>process<strong>os</strong> estratégic<strong>os</strong>. Será que, ao se confrontarem as estratégias de distintascooperativas produtoras de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, o processo de formação e o conteúdo


244das estratégias serão similares? O mesmo poderia ser dito <strong>no</strong> caso de seestudarem várias multinacionais? Em relações às multinacionais, tendo em vistaas alterações ocorridas em nível mundial (aquisições, fusões e aliançasestratégicas), quais foram <strong>os</strong> principais impact<strong>os</strong> sobre as estratégias das filiaisprodutoras de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>?Vê-se, pois, que a pesquisa realizada sinaliza a existência de outr<strong>os</strong>interrogantes, que podem dar lugar a <strong>no</strong>v<strong>os</strong> estud<strong>os</strong>, tanto <strong>no</strong> que diz respeitoa<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> como a outr<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> vinícolas. Sobretudo destaca-se que ateoria e o método adotad<strong>os</strong> na pesquisa podem ser utilizad<strong>os</strong> também <strong>para</strong>analisar as estratégias <strong>empresariais</strong> de outr<strong>os</strong> setores da atividade econômica,dentro de um país ou, de forma com<strong>para</strong>da, entre distint<strong>os</strong> países, pois <strong>os</strong>estud<strong>os</strong> de cas<strong>os</strong> p<strong>os</strong>sibilitam ao pesquisador, segundo Yin (2001, p. 29), ageneralização analítica, isto é, expandir e generalizar as teorias.


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APÊNDICE261


262


263Apêndice ARoteiro das entrevistas exploratórias1 - Problemas das empresas de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>1.1 - Quais <strong>os</strong> principais problemas das empresas e como eles têm sido resolvid<strong>os</strong>?1.2 - Existe capacidade oci<strong>os</strong>a nas empresas em geral?1.3 - Qual é, em geral, a percentagem de uvas provenientes de parreirais própri<strong>os</strong>das vinícolas?2 - A abertura de mercad<strong>os</strong> e a entrada d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong>estrangeir<strong>os</strong>2.1 - Como a abertura d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> e o aumento das importações afetaram aindústria de vinh<strong>os</strong>?2.2 - Como as empresas nacionais vêm enfrentando a concorrência externa?Houve alterações nas empresas?2.3 - Os acord<strong>os</strong> do Merc<strong>os</strong>ul afetaram as empresas de vinh<strong>os</strong>? Por quê?2.4 - Existem questões políticas e legais que afetam <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>?3 - Exportações3.1 - Quais as principais dificuldades de entrada n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong>?3.2 - Quais <strong>os</strong> principais mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong> de vinh<strong>os</strong>?3.3 - Quais as principais estratégias de entrada nesses mercad<strong>os</strong>?3.4 - Qual o papel do consórcio de exportação?3.5 - Existem produção e qualidade suficientes <strong>para</strong> aumentar as exportações?4 - <strong>As</strong> multinacionais4.1 - Quais as principais multinacionais produtoras de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> existentes <strong>no</strong>País?4.2 - Qual o papel das multinacionais <strong>no</strong> mercado de vinh<strong>os</strong>? Elas são maisi<strong>no</strong>vadoras em term<strong>os</strong> de process<strong>os</strong> e/ou de produt<strong>os</strong>?4.3 - <strong>As</strong> multinacionais sediadas <strong>no</strong> País alteraram o nível da concorrência? Porquê?4.4 - Existem diferenças entre a maneira de conduzir as empresas por parte dasmultinacionais versus cooperativas versus empresas nacionais?


2645 - Aquisições, fusões e alianças estratégicas5.1 - Houve aquisições e/ou fusões de vinícolas? Quais? Ocorreram por parte deempresas estrangeiras?5.2 - <strong>As</strong> vinícolas realizam parcerias com produtores, com distribuidores ouentre si?5.3 - Que tip<strong>os</strong> de parcerias existem? Essas parcerias têm alterado <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>?6 - Terceirização6.1 - Tem ocorrido?6.2 - Em que áreas? Por quê?6.3 - Quais as vantagens?7 - Instituições da área do vinho7.1 - Quais as principais instituições ligadas ao vinho? Em que áreas elas atuam?7.2 - Como elas contribuem <strong>para</strong> o desenvolvimento da indústria de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>?7.3 - Existem questões políticas e legais que afetam <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>?8 - <strong>As</strong> empresas8.1 - Quais as seis maiores empresas em produção? E em exportação?8.2 - Por que algumas empresas estão se instalando em <strong>no</strong>vas áreas vitivinícolas?Quais as principais vantagens?9 - <strong>As</strong> estratégias9.1 - O setor como um todo p<strong>os</strong>sui uma estratégia?9.2 - <strong>As</strong> empresas, em geral, têm claras as suas estratégias?9.3 - Existem diferenças entre as estratégias adotadas pelas empresas nacionais,pelas multinacionais e pelas cooperativas?9.4 - Quando ocorre uma mudança n<strong>os</strong> plan<strong>os</strong>, n<strong>os</strong> programas de ação e n<strong>os</strong>objetiv<strong>os</strong> das empresas:• quem em geral decide? Como decide?• quem em geral implementa? Como implementa?• existe algum sistema de acompanhamento?• existem resistências internas ou externas às mudanças? Como elas sãovencidas?


10 - I<strong>no</strong>vação e mudança26510.1 - Têm ocorrido alterações na tec<strong>no</strong>logia de produção e/ou processo naindústria vinícola?10.2 - Têm ocorrido grandes i<strong>no</strong>vações em produt<strong>os</strong> e/ou serviç<strong>os</strong> na indústria?10.3 - Por que algumas empresas têm se instalado em <strong>no</strong>vas áreas? Quais asvantagens?10.4 - Existe uma preocupação com: i<strong>no</strong>vação e mudança de produt<strong>os</strong>, process<strong>os</strong>,mercad<strong>os</strong>-alvo? <strong>As</strong> alterações têm sido muito diferentes daquelasdesenvolvidas <strong>no</strong> passado, nas empresas? Por quê?


266


267Apêndice BRoteiro das entrevistas nas empresasNome e cargo d<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>: ................................................................Caracterização da empresaNome da empresa: .....................................................................................Endereço: ......................................................................................................Tel.:............Fax:.............. E-mail: ...............................................................A<strong>no</strong> de criação: ................................................................................................Origem do capital: nacional versus estrangeiro (nacionalidade ........................)Produt<strong>os</strong> produzid<strong>os</strong>: ......................................................................................Dad<strong>os</strong> de 2001Volume (ou %) de produção de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>: ....................................................Volume da produção de vinh<strong>os</strong> mais espumantes: ...............................................Capacidade de produção de vinh<strong>os</strong> mais espumantes: ........................................Valor do faturamento de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> em: ..........................................................Valor do faturamento de vinh<strong>os</strong> mais espumantes: ...............................................Volume (ou %) de exportações de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>: ...............................................Valor das exportações de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>: .............................................................Países de desti<strong>no</strong> (em importância): ..................................................................Valor total das exportações: ..............................................................................Volume de importações de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>: ............................................................Valor das importações de vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>: ...............................................................Países de origem (em importância): ..................................................................


268Situação d<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> de 2001 em relação a 1999Volumeproduzido↑ mais de 20% ↑ men<strong>os</strong> de 20% ± estável em decréscimoFaturamento ↑ mais de 20% ↑ men<strong>os</strong> de 20% ± estável em decréscimoExportações(em volume)Importações(em volume)↑ mais de 20% ↑ men<strong>os</strong> de 20% ± estável em decréscimo↑ mais de 20% ↑ men<strong>os</strong> de 20% ± estável em decréscimoRentabilidade ↑ mais de 20% ↑ men<strong>os</strong> de 20% ± estável em decréscimo1 - Processo de formação e de implementaçãodas estratégias1.1 - A empresa definiu alguma estratégia <strong>para</strong> <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong>, <strong>para</strong> <strong>os</strong> próxim<strong>os</strong>an<strong>os</strong>? Em que consiste?1.2 - Quem foi o(s) responsável(is) pela sua formulação? Como será implementada?1.3 - Quantas pessoas estavam envolvidas na formulação e na implementaçãoda(s) estratégia(s)?1.4 - Como ocorreu o processo de tomada de decisão? Quem decidiu o quê?Houve um líder na organização que guiou e se responsabilizou por todo oprocesso? Quem?1.5 - Quais <strong>os</strong> fatores que levaram à decisão dessa estratégia? O contexto ambiental(concorrência, instituições, gover<strong>no</strong>, etc.) tem algum impacto <strong>no</strong>processo de planejamento da sua estratégia? Qual?1.6 - Existe um pla<strong>no</strong> que estabelece a estratégia da empresa, com objetiv<strong>os</strong>,metas e políticas definidas?1.7 - Quais <strong>os</strong> principais pont<strong>os</strong> em que está focado o planejamento estratégicoda empresa — <strong>no</strong> mercado nacional, <strong>no</strong> mercado internacional, na disponibilidadede matéria-prima, na linha atual de produt<strong>os</strong>, na tec<strong>no</strong>logia,na disponibilidade financeira, n<strong>os</strong> cust<strong>os</strong> d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong>, n<strong>os</strong> plan<strong>os</strong> deempresas similares, n<strong>os</strong> plan<strong>os</strong> governamentais <strong>para</strong> o setor, outr<strong>os</strong> (especificar)— ?


2691.8 - Quão detalhado foi o desenvolvimento da estratégia final? Quão complexofoi esse processo?1.9 - O processo de implementação da estratégia foi diferente do que havia sidoprevisto anteriormente? Por quê?1.10 - Como ocorreu a comunicação com <strong>os</strong> demais membr<strong>os</strong> da empresa?Formalmente e/ou informalmente? Houve comprometimento com oconsenso da estratégia?1.11 - Houve comprometimento com <strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> relacionad<strong>os</strong> à estratégia?1.12 - Qual a relação da estratégia implementada com o pla<strong>no</strong> estratégico organizacional?A estratégia afetará o futuro da organização? Por quê?1.13 - Sua organização teve um aprendizado com o processo de criação e implementaçãodessa estratégia? Como?1.14 - A estratégia escolhida foi muito diferente daquelas desenvolvidas <strong>no</strong> passado?Essa estratégia foi i<strong>no</strong>vadora? Como?1.15 - Essa estratégia teve algum impacto <strong>no</strong> desempenho de mercado de suaempresa? Como?2 - <strong>As</strong> estratégias <strong>empresariais</strong> n<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> inter<strong>no</strong>e exter<strong>no</strong>Estratégias de produto e de produção2.1 - Matéria-prima: a empresa p<strong>os</strong>sui parreirais própri<strong>os</strong>? Qual a percentagemde matéria-prima própria? A empresa tem algum acordo com produtoresde uvas? Como ele ocorre? Qual sua importância <strong>para</strong> a vinícola?2.2 - Controle de qualidade: a empresa realiza controles de qualidade? Em quefase da produção?2.3 - A empresa pretende adquirir <strong>no</strong>v<strong>os</strong> equipament<strong>os</strong>? Por quê? Qual é o níveltec<strong>no</strong>lógico da empresa em relação à concorrência?2.4 - Para a empresa, o me<strong>no</strong>r custo d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> é o mais importante ?2.5 - Nov<strong>os</strong> produt<strong>os</strong>: como são criad<strong>os</strong> <strong>no</strong>v<strong>os</strong> produt<strong>os</strong>? Quem decide?2.6 - Diferenciação: <strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> fin<strong>os</strong> dessa empresa se diferenciam d<strong>os</strong> demaisconcorrentes <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong>? Como?Estratégias de mercado e de distribuiçãoMercad<strong>os</strong> doméstic<strong>os</strong>2.7 - <strong>As</strong> vendas são realizadas diretamente ou via distribuidor? Quais <strong>os</strong> principaistip<strong>os</strong> de clientes? Especifique se supermercad<strong>os</strong>, casas especializadas,restaurantes, consumidor final.


2702.8 - Existem acord<strong>os</strong> de distribuição de produt<strong>os</strong>? Quais? Como ocorreram?Quais <strong>os</strong> seus resultad<strong>os</strong>?Mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong> — exportações2.9 - Se não exporta: por que não exporta?2.10 - Quais <strong>os</strong> principais destin<strong>os</strong> (países)? Por quê?2.11 - Quais <strong>os</strong> principais tip<strong>os</strong> de clientes?2.12 - Quem distribui <strong>os</strong> produt<strong>os</strong>? Existem acord<strong>os</strong> de distribuição de produt<strong>os</strong>?Quais? Como ocorreram? Quais <strong>os</strong> seus resultad<strong>os</strong>?2.13 - Quais as maiores dificuldades <strong>para</strong> penetrar <strong>no</strong> Exterior?2.14 - Quais as vantagens e as desvantagens das exportações <strong>para</strong> a empresa?2.15 - A empresa está ligada a algum consórcio ou associação de exportadores?Quais as vantagens?Mercad<strong>os</strong> extern<strong>os</strong> — importações2.16 - Quais as razões de importar?2.17 - Qual a origem d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong>?2.18 - Existe algum acordo com fornecedores? Quais seus objetiv<strong>os</strong>?<strong>As</strong>pect<strong>os</strong> gerais2.19 - Existem oportunidades de mercado (inter<strong>no</strong> e exter<strong>no</strong>) <strong>para</strong> aumentar aprodução?2.20 - Existe uma preocupação com a i<strong>no</strong>vação e a mudança de produt<strong>os</strong>, deprocess<strong>os</strong> e de mercad<strong>os</strong>?2.21 - Existe algum tipo de relacionamento com <strong>os</strong> compradores? Conhece <strong>os</strong>compradores?2.22 - A empresa realiza avaliações e análises regulares d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong>, d<strong>os</strong>serviç<strong>os</strong> e da força de mercado de seus principais concorrentes? Quala situação em relação a<strong>os</strong> concorrentes intern<strong>os</strong>? E frente a<strong>os</strong> extern<strong>os</strong>?Estratégias financeiras2.23 - Quais as fontes de recurs<strong>os</strong> financeir<strong>os</strong> usadas pela empresa (banc<strong>os</strong>comerciais, de investimento, intern<strong>os</strong>, societári<strong>os</strong>, outr<strong>os</strong>)?2.24 - Qual o tipo de financiamento existente (capital de giro versus investiment<strong>os</strong>)?


Estratégias de recurs<strong>os</strong> human<strong>os</strong>2712.25 - A empresa p<strong>os</strong>sui alguma política de treinamento ou de capacitação técnicade recurs<strong>os</strong> human<strong>os</strong>? Qual? Esta tem contribuído <strong>para</strong> se atingirem asestratégias prop<strong>os</strong>tas? Como?Estratégias de relacionament<strong>os</strong>2.26 - A empresa participa de algum tipo de agrupamento empresarial <strong>no</strong> Paísou <strong>no</strong> Exterior? Qual a natureza e o âmbito dessas relações? <strong>As</strong> associaciaçõestêm sido produtivas em term<strong>os</strong> de gerenciamento e/ou resultad<strong>os</strong>das empresas?2.27 - Existe algum nível de cooperação com outras vinícolas? Qual?3 - Fusões, aquisições e alianças estratégicas:suas causas e resultad<strong>os</strong>3.1 - Essa empresa já participou de alguma aquisição ou fusão de empresas?3.2 - A empresa tem acord<strong>os</strong> com outras empresas, nacionais ou estrangeiras,que impliquem em algum tipo de cooperação ou complementação n<strong>os</strong> níveiscomercial, produtivo, tec<strong>no</strong>lógico, ou de investigação? Qual seu objetivoe em que consiste? Quais seus resultad<strong>os</strong>? Estes alteraram as estratégiasdas empresas?3.3 - A empresa p<strong>os</strong>sui ou já realizou alguma parceria com outras empresas?Quais seus objetiv<strong>os</strong> e resultad<strong>os</strong>? Esta alterou as estratégias da empresa?Como?3.3.1.1 - Em caso de alianças estratégicas com empresas estrangeiras, qual opapel do capital estrangeiro em <strong>no</strong>vas estratégias? Como são decididasalterações de produt<strong>os</strong> e/ou process<strong>os</strong>?3.3.1.2 - Em caso de empresas multinacionais, qual o papel da matriz nas decisõesda vinícola estabelecida? <strong>As</strong> estratégias são decididas em nívelcorporativo ou pela unidade de negóci<strong>os</strong>?4 - Conseqüências da abertura d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong>e do Merc<strong>os</strong>ul <strong>para</strong> as empresas de vinh<strong>os</strong>4.1 - A abertura d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> e o aumento das importações de vinh<strong>os</strong> <strong>no</strong> mercadointer<strong>no</strong> afetaram a empresa? Como? Quais as medidas adotadas?4.2 - A abertura d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> facilitou a formação de alianças estratégicas comempresas estrangeiras? Há interesse em formar alianças? De que tipo?Por quê?


2724.3 - O que foi mais relevante <strong>para</strong> sua empresa: a globalização (com as reduçõestarifárias) ou o Merc<strong>os</strong>ul (com a eliminação de tarifas intrabloco)?Por quê?4.4 - Quais são as principais dificuldades que enfrenta a empresa <strong>no</strong> contextoregional e/ou mundial? Por quê?5 - Em sua opinião, quais estratégias podem ser melhoratribuídas à p<strong>os</strong>tura da empresa5.1 - A empresa lança produt<strong>os</strong> <strong>no</strong> mercado antes d<strong>os</strong> concorrentes ou depoisd<strong>os</strong> concorrentes?5.2 - A empresa está mais preocupada em <strong>no</strong>v<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> ou em consolidar <strong>os</strong>já existentes?5.3 - A empresa busca competir basicamente em cust<strong>os</strong>, qualidade, produt<strong>os</strong>diferenciad<strong>os</strong> ou outro?6 - Existe algum aspecto não comentado que considererelevante <strong>para</strong> a análise a ser realizada?


273EDITORAÇÃOSupervisão: Valesca Casa Nova Nonnig.RevisãoCoordenação: R<strong>os</strong>elane Vial.Revisores: Bre<strong>no</strong> Camargo Serafini, R<strong>os</strong>a Maria Gomes da Fonseca, Sidonia TherezinhaHahn Calvete e Susana Kerschner.EditoriaCoordenação: Ezequiel Dias de Oliveira.Comp<strong>os</strong>ição, diagramação e arte final: Cirei Pereira da Silveira, Denize Maria Maciel, IedaKoch Leal e Rejane Maria Lopes d<strong>os</strong> Sant<strong>os</strong>.Conferência: Elisabeth Alende Lopes e Rejane Schimitt Hübner.Impressão: Cassia<strong>no</strong> Osvaldo Machado Vargas e Luiz Carl<strong>os</strong> da Silva.


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