Caminhos para a inovação em segurança pública no Brasil - DHnet
Caminhos para a inovação em segurança pública no Brasil - DHnet
Caminhos para a inovação em segurança pública no Brasil - DHnet
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
nuarão sendo muito importantes <strong>para</strong> qualquerestrutura moderna de policiamento, mas pod<strong>em</strong>e dev<strong>em</strong> ser desenvolvidas por uma racionalidadeprogramática orientada pelos objetivos da paz, daproteção aos direitos huma<strong>no</strong>s e da prevenção aocrime e à violência.Como vimos, esse processo de modernizaçãoe racionalização do “campo” da <strong>segurança</strong> <strong>pública</strong>ainda não “decolou” <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, o que agrava acrise do setor e prolonga modelos, rotinas, práticase valores incapazes de enfrentar <strong>no</strong>ssos desafiosmais urgentes. Independent<strong>em</strong>ente desselimite histórico — marcado por uma defasag<strong>em</strong>de décadas —, é possível avançar <strong>em</strong> uma amplareforma do sist<strong>em</strong>a de <strong>segurança</strong> <strong>pública</strong> <strong>no</strong><strong>Brasil</strong> se construirmos uma adequada d<strong>em</strong>andasocial e política <strong>em</strong> favor da mudança.Com efeito, o <strong>Brasil</strong> não pode mais sustentara irresponsabilidade do rumo da política criminal,escolhido por suas elites, que se estruturaa partir da promessa dissuasória a ser oferecidapela pena privativa da liberdade. O modelo deencarceramento <strong>em</strong> massa praticado contra osexcluídos e marginalizados socialmente <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>nunca produziu os resultados prometidos porseus defensores. Greene (1980), por ex<strong>em</strong>plo,<strong>em</strong> um estudo que aplicou modelos mat<strong>em</strong>áticos<strong>para</strong> estimar os efeitos do encarceramento,d<strong>em</strong>onstrou persuasivamente que os níveis decriminalidade são praticamente insensíveis aotamanho da população carcerária. Estimativasdo Home Office (UK) apontam <strong>para</strong> uma reduçãode apenas 1% nas taxas criminais <strong>para</strong> cadaaumento de 15% da população carcerária; umarelação ainda considerada muito “otimista” poralguns pesquisadores. As evidências <strong>em</strong> favordesta conclusão são inúmeras. Holanda e França,por ex<strong>em</strong>plo, tiveram 12% de aumento nas taxascriminais entre 1987 e 1996, sendo que a Holandaencarcerou, <strong>no</strong> mesmo período, 20 vezes maisdo que a França. 9 Situações ass<strong>em</strong>elhadas fizeramcom que, <strong>em</strong> <strong>no</strong>v<strong>em</strong>bro de 2002, os gestores dossist<strong>em</strong>as penitenciários de 44 países do ConselhoEuropeu, reunidos <strong>em</strong> Estrasburgo, observass<strong>em</strong>que o número de presos <strong>em</strong> cada nação é determinadopelas respectivas políticas criminais e nãopelas taxas criminais. Uma conclusão <strong>em</strong>basada<strong>em</strong> trabalhos de fôlego como o de Tonry & Frase(2001), que d<strong>em</strong>onstraram que cada sociedadepode escolher, por várias razões, o número de presosque deseja ter, se quer altas taxas de encarceramentoou não. Finlândia, Canadá e Al<strong>em</strong>anha,por ex<strong>em</strong>plo, escolheram diminuir drasticamentesuas populações carcerárias s<strong>em</strong> que disso tenharesultado qualquer dinâmica criminógena. Pelocontrário, os estudos disponíveis apontam <strong>para</strong>o sucesso das experiências, que apostaram <strong>em</strong>penas alternativas à prisão <strong>para</strong> a grande maioriados delitos (SEYMOUR, 2006).Como costuma ocorrer <strong>em</strong> todos os d<strong>em</strong>aist<strong>em</strong>as cruciais da <strong>segurança</strong> <strong>pública</strong> <strong>em</strong> <strong>no</strong>ssoPaís, carec<strong>em</strong>os de dados e estudos específicosque estim<strong>em</strong> o custo do crime e da violência <strong>no</strong><strong>Brasil</strong>. De qualquer modo, os estudos realizados<strong>em</strong> outros países, com taxas criminais inferioresàs <strong>no</strong>ssas, <strong>no</strong>s permit<strong>em</strong> ter uma idéia doprobl<strong>em</strong>a. Nos Estados Unidos 10 , por ex<strong>em</strong>plo,Miller, Cohen & Wiers<strong>em</strong>a (1996) estimaramo custo do crime <strong>para</strong> o a<strong>no</strong> de 1993 <strong>em</strong> 450bilhões de dólares. Em relatório mais recente,da organização Fight Crime: Invest In Kids, estimou-seo custo anual da criminalidade <strong>no</strong>s EstadosUnidos <strong>em</strong> 655 bilhões de dólares (CHRIS-TESON & NEWMAN, 2004). A maior partedesse custo é aquele imposto diretamente àsArtigos<strong>Caminhos</strong> <strong>para</strong> a <strong>i<strong>no</strong>vação</strong><strong>em</strong> <strong>segurança</strong> <strong>pública</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>Marcos RolimA<strong>no</strong> 1 Edição 1 2007 | Revista <strong>Brasil</strong>eira de Segurança Pública41