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<strong>Brasileiros</strong> <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>


George Torquato Firmeza<strong>Brasileiros</strong> <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>Brasília, 2007


Direitos de publicação reservados àFundação Alexandre de GusmãoMinistério das Relações <strong>Exterior</strong>esEsplanada dos Ministérios, Bloco HAnexo II, Térreo70170-900 Brasília – DFTelefones: (61) 3411 6033/6034/6847/6028Fax: (61) 3411 9125Site: www.funag.gov.brE-mail: funag@mre.gov.brCapa:Ana Horta – Laranja150 x 100 cm – AST – Ass. CID e Dat. 1984Equipe TécnicaCoordenação:Eliane Miranda PaivaProgramação Visual e Diagramação:Cláudia Capella e Paulo PedersolliImpresso <strong>no</strong> Brasil 2007Firmeza, George Torquato. <strong>Brasileiros</strong> <strong>no</strong> exterior / George Torquato Firmeza.- Brasília : Fundação Alexandre de Gusmão, 2007.378 p.ISBN 978-85-7631-088-41. Emigração - Brasil. 2. Migração - Causas. 3. Subsecretaria-Geral para as<strong>Comunidades</strong> Brasileiras <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>. I. George Torquato Firmeza. II.Título.CDU: 314.74314.743(81)Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional conforme Decreto n° 1.825 de 20.12.1907


Capítulo III - O Tema Migratório em Foros Regionais .......................... 531. A Organização dos Estados America<strong>no</strong>s e osDireitos dos Migrantes .................................................................... 551.1 As primeiras iniciativas ............................................................. 551.2 A Relatoria Especial sobre Trabalhadores Migrantes .................. 561.3 O tema migratório nas Cúpulas das Américas ............................ 571.4 O Programa Interamerica<strong>no</strong> de Promoção dosDireitos dos Migrantes ............................................................. 581.5 A Opinião Consultiva 18 ........................................................... 602. A discussão sobre direitos dos migrantes emoutros foros regionais ..................................................................... 602.1 Encontro América Latina e Caribe-União Européia (ALC-UE)sobre Migrações ....................................................................... 612.2 Encontro Ibero-america<strong>no</strong> sobre Migrações .............................. 622.3 Conferência Sul-Americana sobre Migrações ............................. 632.4 O Tratamento da Temática Migratória <strong>no</strong> Mercosul ................... 643. Algumas considerações .................................................................. 66Capítulo IV - A Política do México para suas <strong>Comunidades</strong> .............. 691. <strong>Comunidades</strong> mexicanas <strong>no</strong> exterior: antecedentes históricos ........ 712. <strong>Comunidades</strong> mexicanas <strong>no</strong> exterior: características ....................... 733. O caso especial dos mexica<strong>no</strong>s <strong>no</strong>s EUA ......................................... 744. A Política Migratória dos EUA ......................................................... 755. As iniciativas de apoio aos mexica<strong>no</strong>s <strong>no</strong> exterior ........................... 805.1 Negociações bilaterais com os EUA ........................................... 805.2 A estrutura de apoio às comunidadesmexicanas <strong>no</strong> exterior .............................................................. 815.3 A aproximação com as comunidades ........................................ 845.4 A questão das remessas ............................................................ 855.5 A Nova Matrícula Consular ....................................................... 885.6 Iniciativas na área de saúde ....................................................... 905.7 Disseminação de informações ................................................... 915.8 Algumas iniciativas <strong>no</strong>s pla<strong>no</strong>s multilateral e regional ............... 925.9 Outros programas de apoio aos migrantes ................................ 946. Algumas considerações .................................................................. 95


Capítulo V - A Política das Filipinas para suas <strong>Comunidades</strong> .............. 991. <strong>Comunidades</strong> filipinas <strong>no</strong> exterior: antecedentes históricos .......... 1012. <strong>Comunidades</strong> filipinas <strong>no</strong> exterior: características ......................... 1033. O caso especial dos filipi<strong>no</strong>s <strong>no</strong> Japão .......................................... 1034. A Política Migratória do Japão ....................................................... 1065. As iniciativas de apoio aos filipi<strong>no</strong>s <strong>no</strong> exterior ............................. 1105.1 A estrutura de apoio ............................................................... 1105.2 As agências de recrutamento .................................................. 1125.3 A proteção aos trabalhadores migrantesde me<strong>no</strong>r qualificação ............................................................. 1135.4 A migração feminina ............................................................... 1145.5 A questão das remessas .......................................................... 1175.6 Remessas e desenvolvimento .................................................. 1175.7 Programas de treinamento empresarial.................................... 1195.8 Cartão eletrônico para migrantes ............................................ 1195.9 Outras iniciativas .................................................................... 1206. Algumas Considerações ................................................................ 121Capítulo VI - A Política da Índia para suas <strong>Comunidades</strong>.................. 1251. <strong>Comunidades</strong> indianas <strong>no</strong> exterior: antecedentes históricos .......... 1272. <strong>Comunidades</strong> indianas <strong>no</strong> exterior: características ........................ 1293. O caso especial dos india<strong>no</strong>s <strong>no</strong> Rei<strong>no</strong> Unido ............................... 1314. A Política Migratória do Rei<strong>no</strong> Unido ............................................ 1325. As iniciativas de apoio aos india<strong>no</strong>s <strong>no</strong> exterior ............................ 1345.1 A criação da Comissão de Alto Nível ....................................... 1345.2 A estrutura de apoio ............................................................... 1355.3 Cultura e civilização ................................................................ 1355.4 A dupla nacionalidade ............................................................ 1365.5 A migração feminina ............................................................... 1375.6 A questão das remessas .......................................................... 1385.7 A proteção aos trabalhadores migrantes deme<strong>no</strong>r qualificação ................................................................. 1405.8 Transformando brain drain em brain exchange ........................ 1425.9 Outras iniciativas .................................................................... 1446. Algumas considerações ................................................................ 145


Capítulo VII - A Política da Turquia para suas <strong>Comunidades</strong> ............. 1471. <strong>Comunidades</strong> turcas <strong>no</strong> exterior: antecedentes históricos ............. 1492. <strong>Comunidades</strong> turcas <strong>no</strong> exterior: características ............................ 1513. O caso especial dos turcos na Alemanha ...................................... 1524. A interação do Gover<strong>no</strong> turco com asassociações de migrantes ............................................................. 1545. A candidatura turca à União Européia ........................................... 1556. A Política Migratória da Alemanha ................................................ 1577. As iniciativas de apoio aos turcos <strong>no</strong> exterior ................................ 1587.1 As negociações bilaterais ........................................................ 1597.2 A estrutura de apoio ............................................................... 1597.3 A questão das remessas .......................................................... 1617.4 Língua e Cultura ..................................................................... 1647.5 Outras iniciativas .................................................................... 1658. Algumas considerações ................................................................ 166Capítulo VIII - As Diásporas da Itália, Espanha e Portugal ................ 1691. A política da Itália para apoio das comunidades <strong>no</strong> exterior .......... 1712. A política da Espanha para apoio das comunidades <strong>no</strong> exterior .... 1763. A política de Portugal para apoio das comunidades <strong>no</strong> exterior .... 1794. Algumas considerações ................................................................ 183Capítulo IX - A emigração de brasileiros ............................................ 1851. Causas e conseqüências ................................................................ 1872. O perfil das comunidades brasileiras ............................................. 1912.1. Europa Ocidental ................................................................... 1912.2. Estados Unidos ...................................................................... 1932.3 Japão ...................................................................................... 1952.4 América do Sul ....................................................................... 1963. As dificuldades mais comuns ....................................................... 1993.1 Situação migratória irregular ................................................... 199


3.2. Tráfico de pessoas, prostituição e criminalidade ..................... 2023.3 Educação e previdência .......................................................... 2023.4 Conflitos agrários .................................................................... 2034. Algumas considerações ................................................................ 204Capítulo X - O Esforço de Adaptação às Novas Demandas ............... 2071. Evolução recente da estrutura do serviçoconsular brasileiro ........................................................................ 2101.1 Evolução institucional <strong>no</strong> MRE ................................................ 2101.2 Rede de postos ....................................................................... 2111.3 Consulados Ho<strong>no</strong>rários ........................................................... 2122. A assistência consular tradicional .................................................. 2132.1 Consulados Itinerantes ............................................................ 2132.2 Acordos de regularização migratória ...................................... 2152.3 Assistência jurídica ................................................................. 2162.4 Repatriação de brasileiros ....................................................... 2172.5 Assistência a detentos brasileiros ............................................ 2183. Projeto de modernização consular ................................................ 2183.1 Informatização das atividades consulares ............................... 2193.2 Projeto do <strong>no</strong>vo passaporte brasileiro ..................................... 2203.3 Projeto da <strong>no</strong>va carteira de matrícula consular ........................ 2214. Iniciativas de apoio às comunidades ............................................. 2224.1 Pla<strong>no</strong> Comunidade Brasil ......................................................... 2224.2 Educação e cultura ................................................................. 2234.3 Orientação geral aos brasileiros emigrados ............................. 2244.4 Conselhos de Cidadãos ........................................................... 2265. Parcerias com a sociedade civil ..................................................... 2286. Interação com as sociedades confessionais ................................... 2327. Participação do Congresso Nacional .............................................. 2348. A reformulação do Conselho Nacional de Imigração ..................... 2359. Algumas considerações ................................................................ 236


Capítulo XI - Propostas para Fortalecimento do Apoio às<strong>Comunidades</strong> Brasileiras <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong> ................................................... 2411. Censo e pesquisas ......................................................................... 2442. Educação e Cultura ....................................................................... 2463. Desenvolvimento sócio-econômico .............................................. 2494. Foros multilaterais e regionais ....................................................... 2525. Interação com entidades locais ..................................................... 2556. Direitos políticos ........................................................................... 2567. Formas de comunicação com as comunidades ............................. 2578. Estrutura Organizacional ............................................................... 2639. Considerações finais ..................................................................... 271Notas ..................................................................................................... 273Bibliografia ........................................................................................... 345Anexos ................................................................................................... 363Anexo I - Carta de Lisboa .................................................................. 365Anexo II - Carta de Boston (2005) ..................................................... 375


INTRODUÇÃO


INTRODUÇÃO“Mudam de céu, não de espírito,os que transpõem o mar.”Horácio 1A formação da sociedade brasileira deu-se com base <strong>no</strong> afluxode imigrantes. 2 Até recentemente, o Brasil era essencialmente um paísde imigração. Só começou a ter saldos migratórios negativos <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s1980, em contexto de estagnação econômica e descontroleinflacionário. 3 No período compreendido entre 1985 e 1987, saíramdo país cerca de 1,2 milhão de brasileiros. 4 O número de nacionaisresidentes <strong>no</strong> exterior foi estimado em 1,8 milhão em 1995, 5 alcançandoo patamar aproximado de 2,6 milhões em 2005. 6 Ao longo dessesa<strong>no</strong>s, surgiram comunidades de dimensões inéditas <strong>no</strong>s EUA, Japão ealguns países da América do Sul e da Europa Ocidental. O Brasil passoua receber volume crescente de remessas financeiras de seus nacionaisemigrados. Esse fenôme<strong>no</strong> migratório levou o Itamaraty a preocuparseem rever e ampliar, constantemente, suas políticas para comunidades<strong>no</strong> exterior.Embora haja razoável produção acadêmica sobre migrações,é bastante limitada a literatura especializada <strong>no</strong> Brasil sobre o tema depolíticas públicas para comunidades emigradas. No âmbito das <strong>tese</strong>sdiplomáticas existentes, de modo específico, parece haver lacuna <strong>no</strong>tocante a pesquisas de escopo mais ampliado, que procurem refletirsobre as grandes linhas da política do Itamaraty para o conjunto dascomunidades brasileiras <strong>no</strong> exterior. Conquanto haja trabalhos de grandeutilidade, aprofundamento e relevância nessa área, estes têm tido seufoco geograficamente limitado a países individuais. 7 Nessas condições,com vistas a suprir tal lacuna, este trabalho propõe-se a fazer13


GEORGE TORQUATO FIRMEZAdiagnóstico abrangente das linhas de ação que o Brasil e outros paísesvêm adotando, <strong>no</strong> intuito de munir a recém-criada Subsecretaria-Geralpara as <strong>Comunidades</strong> Brasileiras <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong> 8 de elementos para avaliaruma próxima expansão das atividades da Secretaria de Estado nessaesfera.1. EXPLICAÇÃO DO TEMAO objetivo central do trabalho é o de realizar análisecomparativa de políticas postas em prática por determinados paísespara suas comunidades <strong>no</strong> exterior. Será priorizado o estudoaprofundado das políticas de quatro países em desenvolvimento:México, Filipinas, Índia e Turquia. Como contraponto a esse estudo,será relatada também a experiência acumulada nessa área por Itália,Espanha e Portugal, países que contam hoje com numerosa comunidade<strong>no</strong> exterior, emigrada em períodos anteriores. O estudo visa a aferirem que medida as políticas desses países de apoio a suas comunidadespoderiam fornecer elementos para o aperfeiçoamento dessa vertenteda política externa brasileira. O marco temporal da pesquisacorresponde, principalmente, ao período que vai de 1986, quando oBrasil começou a tornar-se um país também de emigração, até 2006.O estudo das políticas dos demais países para suas comunidadesenglobou, <strong>no</strong> entanto, períodos variáveis.2. ESTRUTURA DO TRABALHOO desenvolvimento do tema está estruturado em três par<strong>tese</strong>ncadeadas entre si. A primeira corresponde às discussõescontemporâneas do tema migratório em foros multilaterais e regionais.No capítulo I, é feita breve análise das diferenças de interesses entreos países de origem e de desti<strong>no</strong> de migrantes <strong>no</strong> âmbito dos referidosdebates. No capítulo II, são analisados alguns aspectos do tratamentodo tema na Organização das Nações Unidas. No capítulo III, serão14


INTRODUÇÃOdiscutidos os distintos processos regionais de diálogo sobre o temamigratório, com ênfase para a Organização dos Estados America<strong>no</strong>s eo Mercosul, na medida em que constituem foros privilegiados paraintercâmbio de melhores práticas e cooperação internacional.A segunda parte constitui o cerne do trabalho. Os capítulos deIV a VIII apresentam estudo das políticas para comunidades emigradasde dois grupos de países: de um lado, México, Filipinas, Índia, Turquia;de outro, Itália, Espanha e Portugal. Nessa escolha, buscou-se incluirpaíses de emigração localizados em diferentes regiões e comcomunidades emigradas que enfrentam problemas diversos. O Méxicoconstitui caso de relevo para a compreensão das relações Estadocomunidades.As Filipinas configuram caso especial de feminizaçãoda migração. A Índia conta com comunidades diferenciadas em cadaregião - <strong>no</strong> Golfo Pérsico, por exemplo, seus nacionais trabalhammajoritariamente <strong>no</strong> setor de construção civil, ao passo que, <strong>no</strong>s EUA,são profissionais altamente qualificados. A Turquia foi escolhida porter desenvolvido política de apoio a seus nacionais residentes em umpaís como a Alemanha, cuja política migratória é das me<strong>no</strong>s inclusivasda Europa. Formando um contraponto às políticas desses países emdesenvolvimento, três membros da União Européia – Itália, Espanha ePortugal – completam o estudo de casos. Muito embora já nãoapresentem perfil emissor de migrantes, face ao enriquecimento dasúltimas décadas <strong>no</strong> âmbito da UE, tiveram o tempo necessário paratestar e consolidar boas práticas <strong>no</strong> apoio a seus nacionais <strong>no</strong> exterior.A terceira parte do trabalho compreende dois capítulosdedicados à formação das comunidades brasileiras <strong>no</strong> exterior e àevolução das políticas desenvolvidas pelo Itamaraty. No capítulo IX,apresenta-se breve histórico do recente fenôme<strong>no</strong> da intensificação daemigração brasileira, com ênfase para a formação de comunidades<strong>no</strong>s Estados Unidos, Japão e alguns países da América do Sul e daUnião Européia. No capítulo X, historia-se o esforço de adaptaçãoempreendido pelo Itamaraty em face da <strong>no</strong>va realidade representadapela inversão da direção tradicional de fluxos populacionais do País.15


GEORGE TORQUATO FIRMEZACom base <strong>no</strong>s resultados do estudo comparado das experiênciasdos países incluídos neste trabalho, o capítulo XI apresenta propostasespecíficas de políticas brasileiras para o tratamento do tema dascomunidades <strong>no</strong> exterior.3. RELEVÂNCIA DO TEMAA criação, em dezembro de 2006, da <strong>no</strong>va Subsecretaria para<strong>Comunidades</strong> <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong> <strong>no</strong> âmbito do Itamaraty, constituiu provada relevância funcional e da atualidade do tema para a política externabrasileira. No contexto nacional, a questão encontra-se em processoevolutivo, com a conclusão, em 2006, do relatório da ComissãoParlamentar Mista da Emigração, o subseqüente estabelecimentoda Frente Parlamentar Cidadania sem Fronteiras e as atuais discussõesem tor<strong>no</strong> da possível constituição de um Conselho Nacional deMigração. No pla<strong>no</strong> internacional, a migração constitui fenôme<strong>no</strong> deescopo mundial, com conseqüências relevantes para a sociedade, aeco<strong>no</strong>mia e a segurança dos países de origem, de trânsito e de desti<strong>no</strong>.A estimativa do número de migrantes internacionais passou de 176milhões <strong>no</strong> a<strong>no</strong> 2000 para 191 milhões em 2005. 9 Se fosse colocadaem um só território, essa população constituiria o quinto país maispopuloso do mundo. Cumpre ressaltar ainda que, em diversos paísesem desenvolvimento, as remessas de migrantes já superam em muitoos níveis de ajuda oficial ao desenvolvimento.4. METODOLOGIAEm termos metodológicos, o cerne do trabalho consiste <strong>no</strong>já mencionado estudo das políticas do México, Filipinas, Índia,Turquia, Itália, Espanha e Portugal para suas comunidadesemigradas. Em cada um dos casos, são avaliadas algumas variáveisem comum, <strong>no</strong> intuito de permitir análise comparativa de medidasde fortalecimento institucional e de mecanismos de apoio direto16


INTRODUÇÃOaos migrantes, com o objetivo final de examinar a eventualaplicabilidade ao caso brasileiro.5. TERMINOLOGIACumpre aqui esclarecer o significado de alguns dos termos maisamplamente utilizados ao longo do trabalho. Na sua antiga acepção, otermo “diáspora” era usado unicamente com relação a populaçõesvitimizadas e forçadas a deixar sua terra natal. O Dicionário Houaiss,por exemplo, apresenta, como um dos significados da palavra“diáspora”, a dispersão de um povo em conseqüência de preconceitoou perseguição política, religiosa ou étnica. Os casos paradigmáticossão os das diásporas judaica e armênia. Não é este, naturalmente, ocontexto das migrações brasileiras. Mas o termo já foi incorporado àmoderna literatura especializada sobre migrações, passando a serutilizado, tanto <strong>no</strong> singular quanto <strong>no</strong> plural, com significado idênticoao atribuído ao termo “comunidade emigrada” ou “comunidade <strong>no</strong>exterior”. De sua antiga ressonância de tragicidade, a palavra guardouapenas a lembrança da dispersão por terras estrangeiras. Diversosautores contemporâneos, ao utilizarem o termo “diáspora”, afastamsede seu antigo sentido, preferindo, ao invés disso, explorar as nuancesque encerra em termos de múltiplos vínculos culturais e emotivos comos países de origem. Dessa forma, neste trabalho, não por ausência derigor termi<strong>no</strong>lógico, mas por adoção consciente do uso técnico correnteda palavra, haverá referências às diásporas brasileiras, e de outrasnacionalidades, aqui utilizadas com o significado de “comunidades”.Contemporaneamente, há uma tendência para a utilização determos como “migração”, “migrante” e “migratório”, sem os prefixos,salvo em alguns casos consagrados pelo uso ou quando se faz necessárioesclarecimento ocasional da idéia. O abando<strong>no</strong> progressivo dessesprefixos acompanha a própria evolução da substância do tema, umavez que as direções dos fluxos vêm apresentando naturezacrescentemente cambiante, com países que são, ao mesmo tempo,17


GEORGE TORQUATO FIRMEZApontos de origem, de trânsito e de desti<strong>no</strong>. Tal evolução reflete-se,portanto, na linguagem utilizada neste trabalho. Por sua vez, a expressão“migrantes internacionais” refere-se às pessoas estabelecidas em paísque não o seu de origem ou de cidadania, por período superior a uma<strong>no</strong> - segundo definição adotada pelas Nações Unidas. Para“trabalhadores migrantes”, adota-se igualmente neste trabalho adefinição da ONU, qual seja, pessoas que estiveram, estão ou estarãoengajadas em atividade remunerada em Estado do qual elas não sãonacionais. 10Os termos “país de origem/emissor” e “país de desti<strong>no</strong>/receptor/de acolhimento” são ainda utilizados neste trabalho indistintamente, porjá configurarem si<strong>no</strong>nímia consagrada pelo uso e por permitirem evitarrepetições constantes.No debate atual sobre migrações, os países de origem e dedesti<strong>no</strong> utilizam, de acordo com a conveniência de sua linhaargumentativa, os termos “ilegais” ou “indocumentados/irregulares” parareferirem-se a migrantes cuja situação migratória ainda não foiregularizada. O Brasil tem utilizado os termos “irregulares” ou“indocumentados”, com preferência para o primeiro, tanto para seusnacionais <strong>no</strong> exterior, como para estrangeiros em seu território. Nestetrabalho, foi adotado o termo “irregulares”, conforme a prática daOrganização Internacional do Trabalho (OIT), com exceção do capítuloIV, sobre o México, onde se usará o termo “indocumentados”, jáconsagrado <strong>no</strong>s EUA e sem a valoração negativa do termo “ilegais”.Utiliza-se ainda neste trabalho a expressão “tráfico demigrantes”, consagrada <strong>no</strong>s Protocolos da Convenção de Palermo, daONU, aprovada <strong>no</strong> a<strong>no</strong> 2000 para combate ao crime transnacionalorganizado.6. PRINCIPAIS FONTESA pesquisa incluiu fontes primárias e secundárias deinvestigação. Foram entrevistados representantes de órgãos públicos18


INTRODUÇÃOe instituições religiosas, além de diplomatas brasileiros e estrangeiros.Consultou-se a legislação de países receptores e emissores de migrantes,discursos de autoridades governamentais e de representantes deorganizações internacionais, comunicados, <strong>no</strong>tas à imprensa, relatóriose outros documentos oficiais de política exterior dos principais paísescontemplados na pesquisa, bem como resoluções, convenções e demaisdocumentos pertinentes ao tratamento do tema na esfera multilateral eregional. Pesquisou-se também a série telegráfica do MRE, além dejournals de política externa, sites de órgãos de pesquisa em migração,publicações periódicas de institutos de relações internacionais e centrosde pesquisa social.19


CAPÍTULO IO DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE MIGRAÇÕES


CAPÍTULO IO DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE MIGRAÇÕES“De muitos homens vi as cidadese conheci os pensamentos.”Homero 11O fenôme<strong>no</strong> das migrações internacionais apresenta hoje carátermultidimensional e envolve questões tão diversas quanto globalizaçãodos mercados de trabalho, desenvolvimento econômico, remessa derecursos, migração irregular e formação de grupos vulneráveis. 12 Anatureza predominantemente transnacional das migrações temdemonstrado aos Gover<strong>no</strong>s que debates e negociações multilaterais eregionais são indispensáveis para o tratamento da questão. 13 Emboraa formulação das políticas sobre migração continue a ser prerrogativasoberana dos Estados, a complexidade dos movimentos migratóriosrealça a necessidade de que o tema seja objeto, cada vez mais, dediversas formas de cooperação internacional. 14Antes, porém, de abordar a questão migratória em forosmultilaterais e regionais, objeto dos capítulos II e III, examinam-seaqui, brevemente, alguns dos principais enfoques e perspectivas quevêm pautando o debate contemporâneo sobre o tema.1. O FORMATO E OS PRINCIPAIS PARTICIPANTESDO DEBATE SOBRE MIGRAÇÕESO debate sobre migrações internacionais vem contrapondopaíses de desti<strong>no</strong> e de origem. Enquanto os primeiros valorizamquestões como segurança, controle das fronteiras e repercussões sobreo mercado de trabalho, os segundos preocupam-se prioritariamentecom a proteção dos direitos huma<strong>no</strong>s dos trabalhadores migrantes23


GEORGE TORQUATO FIRMEZAregulares e irregulares e o impacto da migração sobre odesenvolvimento. 15 EUA e México são bons exemplos desse embate.Enquanto os EUA vêem a temática migratória predominantemente soba ótica da segurança, o México preocupa-se sobretudo com aassistência e proteção a seus cidadãos em território <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> ecom a canalização de recursos da diáspora para projetos dedesenvolvimento nacional.Entre os países desenvolvidos com participação mais ativa <strong>no</strong>debate contemporâneo, podem ser citados, além dos EUA, Suíça,Alemanha, Rei<strong>no</strong> Unido, Austrália, Espanha e Portugal, dada a existênciade numerosas comunidades estrangeiras em suas sociedades. Entre ospaíses em desenvolvimento, o México vem consolidando importantetrabalho de articulação diplomática em foros migratórios multilaterais eregionais. Mencione-se, ainda, a participação de países como Brasil,Índia, Filipinas e Marrocos, cujo interesse se explica pelas conseqüênciasdiretas que podem advir para suas comunidades emigradas. 16 Avançoimportante tem sido o crescimento do papel das organizações nãogovernamentaiscomo agências de representação de migrantes erefugiados. Estes têm tido, tradicionalmente, dificuldades de se fazerrepresentar, pelo fato de a maioria dos países de desti<strong>no</strong> ainda teremleis restritivas quanto ao direito de sindicalização e de associação detrabalhadores estrangeiros. 17 A postura dessas ONGs está centrada<strong>no</strong>rmalmente na defesa dos direitos huma<strong>no</strong>s dos migrantes regularese irregulares.2. OS PRINCIPAIS TEMAS EM DEBATEPara o Brasil, os temas desse debate sobre migraçõesdespertam nível de interesse que reflete o fato de que o País setransformou em país também de emigração, com comunidades <strong>no</strong>exterior estimadas em cerca de 2,6 milhões de pessoas em 2005, mascontinuou a ser país de imigração, com cerca de 830 mil estrangeirosregulares e estimados 300 a 400 mil irregulares. Dessa forma, interessam24


O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE MIGRAÇÕESao País os dois lados desse debate, o que pode dar ao Brasil aoportunidade de atuar como facilitador entre grupos por vezesantagônicos. São avaliados, a seguir, os temas que mais de pertointeressam à realidade migratória brasileira, como as causas dasmigrações, direitos huma<strong>no</strong>s, migração irregular e segurança, migraçãoe desenvolvimento.2.1 Causas das migraçõesDe modo geral, a migração internacional apresenta causasvariadas: guerras, tortura, opressão política, transformaçõeseconômicas, aperfeiçoamento educacional, reunião familiar. Ou seja, abusca de uma vida melhor. De modo geral, as causas econômicascostumam ter peso maior do que as demais <strong>no</strong> processo decisóriodos migrantes. 18 Nesse sentido, a migração é marcadamente influenciadapelo processo de evolução do mercado internacional. 19 Em razão dosníveis salariais mais altos <strong>no</strong>s países de desti<strong>no</strong>, funciona como estratégiapara acumulação de capital ou para satisfação de aspirações deconsumo frustradas <strong>no</strong> país de origem. A demanda por mão-de-obraestrangeira continua hoje a crescer, em grande parte do mundodesenvolvido, diante de tendências demográficas declinantes eampliação dos mercados de trabalho. 20 Uma vez iniciada, a migraçãotende a continuar, por meio da informações disseminadas por redessociais e familiares. 21À medida que os mercados de trabalho se globalizam, ademanda por mão-de-obra estrangeira <strong>no</strong>s países desenvolvidos vaiencontrando sua oferta. Nesses países, as políticas governamentaisvisam, com freqüência, a atrair mão-de-obra qualificada, como na áreade tec<strong>no</strong>logia de informação. Mas suas eco<strong>no</strong>mias também necessitamde mão-de-obra não qualificada, para empresas que não têm a opçãode realocar suas operações para o exterior, como as de construção,hotelaria e alimentação. Mesmo em outros setores dessas eco<strong>no</strong>miasindustrializadas, o trabalho de migrantes não qualificados tem sido25


GEORGE TORQUATO FIRMEZAnecessário como recurso para sustentar empresas em setores intensivosde mão-de-obra, as quais, de outra forma, seriam apenas marginalmentecompetitivas ou viáveis.Feitas essas considerações de natureza geral sobre as causasdas migrações, descrevem-se, a seguir, pela relevância que apresentampara os debates sobre o tema, algumas das principais teorias explicativasdo fenôme<strong>no</strong> em tempos atuais. 22 A macro e a microteoria neoclássicas,por exemplo, focalizam a diferença de salários. A macroteorianeoclássica supõe que os movimentos migratórios se devem àsdiferenças de níveis salariais entre os países. Para a microteorianeoclássica, a decisão de migrar resulta do cálculo entre o custo e obenefício da experiência migratória. 23 O migrante apostaria na suacapacidade de gerar maiores rendimentos <strong>no</strong> futuro, mesmo que paratal seja necessário incorrer em custos elevados <strong>no</strong> curto prazo, comoos relativos à própria migração e à instalação <strong>no</strong> país de desti<strong>no</strong>. 24 Já achamada <strong>no</strong>va eco<strong>no</strong>mia da migração aponta os limites das proposiçõesneoclássicas. A unidade de análise não seria o indivíduo mas sim, asfamílias, domicílios ou outras unidades de produção e consumoculturalmente definidas. 25 Desse modo, as migrações funcionariam comoforma de obter recursos para uma variedade de situações: compensaçãopor colheita mal-sucedida; recursos para financiar o desemprego ou aaposentadoria de membros da família; capital necessário para aumentara produtividade da unidade de produção familiar. 26Operando em contextos mais amplos, estão a teoria do mercadode trabalho segmentado (ou dual) e a teoria do sistema mundial. 27 Nateoria do mercado de trabalho segmentado, haveria complementaridadeentre o trabalhador nativo e o migrante, os quais atenderiamrespectivamente a segmentos diferentes, ou seja, o mercado de trabalhoprimário, que requer alta qualificação e oferece melhores salários epossibilidades de ascensão, e o secundário, que não exige altaqualificação, mas oferece salários e possibilidades de ascensãoreduzidos. 28 Tal teoria considera que a migração não é causadapreponderantemente por fatores de repulsão em países de emigração,26


O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE MIGRAÇÕESmas sim por fatores de atração em países de acolhimento, em virtudeda demanda permanente por trabalhadores migrantes que seria inerenteà estrutura econômica de países desenvolvidos. 29 Por sua vez, a teoriado sistema mundial argumenta que a expansão das relações capitalistasem sociedades em desenvolvimento cria população móvel propensa amigrar. 30 As migrações internacionais seguiriam a organização domercado global em expansão. Os mecanismos específicos dedesenvolvimento e subdesenvolvimento teriam levado à criação deexcedentes de mão-de-obra nas periferias e à necessidade de atraçãode recursos huma<strong>no</strong>s adicionais <strong>no</strong>s países mais desenvolvidos. Nessecaso, seriam forças estruturais da eco<strong>no</strong>mia mundial que gerariam osdiferenciais econômicos e impulsionariam as migrações. 31 Mencionese,ainda, a teoria das cidades globais, segundo a qual tais pólos seriamresponsáveis pela atração de mão-de-obra crescentemente dualizada:profissionais de topo, para as atividades de gestão internacional, etrabalhadores de me<strong>no</strong>r qualificação, para os serviços de apoio àquelaatividade, muitas vezes inseridos na eco<strong>no</strong>mia informal. 32As condições que desencadeiam os movimentos migratóriospodem ser diferentes daquelas que os perpetuam. Embora diferençasde salários e esforços de recrutamento possam, por exemplo, motivaras pessoas a migrar, <strong>no</strong>vas condições surgidas com as migraçõespodem começar a funcionar como causas independentes. 33 Dessaforma, há duas teorias principais que buscam explicar os motivos dapersistência dos movimentos migratórios. 34 Segundo a teoria das redessociais, um conjunto de laços sociais ligam comunidades de origem apontos de desti<strong>no</strong> nas sociedades receptoras. Tais laços unem migran<strong>tese</strong> futuros migrantes em complexa teia de papéis sociais complementarese relacionamentos interpessoais que são mantidos por quadro informalde expectativas mútuas e comportamentos predeterminados. 35 O quese defende, neste caso, é que os migrantes estão inseridos em redes defamiliares, amigos, conterrâneos ou mesmo agenciadores de mão-deobra,que fornecem as informações necessárias para a migração e, emalguns casos, o apoio para a adaptação inicial ao país de acolhimento.27


GEORGE TORQUATO FIRMEZAA inserção das pessoas nessas redes ajudaria a explicar o carátercontinuado dos fluxos migratórios. 36 Uma última teoria a considerar éa da causalidade cumulativa, que parte do pressuposto de que, aolongo do tempo, cada <strong>no</strong>vo migrante reduz os custos e os riscos dasmigrações subseqüentes para um conjunto de parentes e amigos. Poresse motivo, as migrações internacionais tendem a sustentar-se de modoa tornar progressivamente mais prováveis os fluxos migratóriosadicionais.2.2 Direitos Huma<strong>no</strong>s dos trabalhadores migrantesOs instrumentos legais de proteção aos direitos dos migran<strong>tese</strong>stão dispersos em convenções internacionais, jurisprudência de cortesde direitos huma<strong>no</strong>s e acordos regionais e bilaterais sobre migrações.O principal desses é a Convenção Internacional sobre a Proteção dosDireitos de todos os Trabalhadores Migrantes e suas Famílias, de 1990,negociada <strong>no</strong> âmbito da ONU e que integra o conjunto de instrumentosjurídicos internacionais basilares de proteção aos direitos dos migran<strong>tese</strong> de outros grupos vulneráveis. 37 Tendo entrado em vigor somente em2003, ou seja, 13 a<strong>no</strong>s após a sua assinatura, o texto da convençãoobteve apenas 34 ratificações até 2006. 38 O fato de que nenhum dosprincipais países de desti<strong>no</strong> dos migrantes internacionais a tenharatificado, sob o argumento de que não faria distinção entre os direitosde migrantes regulares e irregulares, 39 retira naturalmente muito de suaeficácia. No caso dos países receptores, mais do que uma questãodos níveis de direitos garantidos pela Convenção, 40 essa ausência deapoio internacional parece dever-se mais propriamente às tensões etemores que o tema migratório suscita. 41 De resto, o instrumentotampouco foi ratificado de forma ampla pelos países emissores.A consolidação de um regime jurídico internacional sobremigrações vem erodindo a soberania dos Estados <strong>no</strong> que diz respeitoà exclusividade na definição de suas políticas migratórias, embora emritmo ainda demasiado lento e com escassa aplicação prática. No que28


O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE MIGRAÇÕESse refere às condições de trabalho, por exemplo, o direito internacionalestabelece a igualdade de tratamento entre os trabalhadores migrantes– não importa se regulares ou irregulares - e os trabalhadores locais. 42Embora tais direitos estejam consagrados na Convenção 143 daOrganização Internacional do Trabalho, de 1975, e na já mencionadaConvenção de 1990, pode-se dizer que, de certa forma, até seremrecentemente reavivadas em 2003, 43 as questões relativas aos direitosdos migrantes irregulares haviam permanecido à margem dos debates<strong>no</strong>s principais foros multilaterais. 44 Foi <strong>no</strong> bojo da Opinião Consultiva18 da Corte Interamericana de Direitos Huma<strong>no</strong>s 45 que esse deba<strong>tese</strong> viu <strong>no</strong>vamente em evidência. De fato, posteriormente, também aComissão de Direitos Huma<strong>no</strong>s das Nações Unidas reconheceu aOpinião Consultiva 18 em sua resolução 2005/47, estabelecendo queos Estados têm a obrigação de assegurar que os direitos huma<strong>no</strong>s dostrabalhadores migrantes estejam protegidos em suas políticasmigratórias, sem importar como ou quando esses migrantes ingressaramem seu território. O tema da proteção dos direitos huma<strong>no</strong>s dostrabalhadores migrantes também vem sendo objeto de debates <strong>no</strong>contexto da Organização Internacional do Trabalho. Aprovou-se, porexemplo, 46 em março de 2006, instrumento multilateral não vinculantecom enfoque centrado <strong>no</strong>s direitos concernentes à migração laboral,destinado a auxiliar os Estados membros na elaboração de políticasnessa área. 47Com o recente fenôme<strong>no</strong> da chamada feminização dasmigrações, <strong>no</strong>vos aspectos vieram somar-se à questão da proteçãodos migrantes. Em 2005, as mulheres migrantes já representavam, pelome<strong>no</strong>s, a metade do total de migrantes <strong>no</strong> mundo. 48 O aumentoproporcional do número de mulheres inseridas <strong>no</strong>s fluxos migratóriosnão deve ser atribuído somente à reunião familiar, mas antes à expansãodo mercado de trabalho de prestação de serviços domésticos.Teoricamente, a feminização das migrações poderia produzir benefíciospara a mulher na família e na sociedade, tornando a divisão do trabalhomais flexível. Na prática, contudo, em diversos casos, a migração29


GEORGE TORQUATO FIRMEZAcrescente de mulheres tem apenas incrementado seus riscos evulnerabilidades, reforçado sua subordinação em relações assimétricasde gênero, ameaçado sua dignidade e seus direitos. 49 Tais problemasvêm levando alguns Gover<strong>no</strong>s a incluir, <strong>no</strong>s debates internacionais, aquestão da necessidade de formulação de políticas especiais para essesegmento. 502.3 Migração irregular e segurançaA migração irregular vem-se intensificando <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s,tendo sido a de maior crescimento <strong>no</strong> período de 1995 a 2005. Estimaseque, em 2005, entre 30 e 40 milhões de pessoas tenham migradoirregularmente. 51 Destes, os EUA abrigam o maior número, estimadoem 13 milhões. 52 Em reação a tal fenôme<strong>no</strong>, observa-se <strong>no</strong>s forosinternacionais crescente vinculação dos temas de migração e segurançanacional.Os fluxos migratórios irregulares têm levado os países de desti<strong>no</strong>a considerar a questão, diante das ameaças terroristas, como fatoradicional de insegurança. Essa percepção negativa está na origem,embora não seja este o único motivo, da adoção de políticas migratóriascada vez mais restritivas em a<strong>no</strong>s recentes. 53 Os países de desti<strong>no</strong> têmconcentrado seus esforços <strong>no</strong> estabelecimento de exigênciascrescentemente rigorosas para a concessão de vistos, controle depassaportes, segurança portuária e fronteiriça, identificação eletrônicae biométrica dos viajantes, cruzamento de dados e aprovação delegislação que criminalize a migração irregular e o emprego detrabalhadores indocumentados. 542.4 Migração e desenvolvimentoA relação entre migração e desenvolvimento apresenta facetasdiversas. 55 De modo geral, os efeitos da migração sobre odesenvolvimento de cada país dependem da infra-estrutura local para30


O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE MIGRAÇÕESa absorção, de forma produtiva, dos fluxos de remessas. 56 Para ospaíses de desti<strong>no</strong>, a migração pode trazer benefícios macroeconômicosimportantes, ao mitigar a escassez de mão-de-obra, reforçar a formaçãode capital huma<strong>no</strong> e criar oportunidades de trabalho e riquezaprovenientes das atividades empresariais dos migrantes, assim comoda demanda pelos bens e serviços que criam. Estes fatores tambémpodem incrementar a flexibilidade e a produtividade da eco<strong>no</strong>mia econtribuir para o seu crescimento. 57 As migrações podem, ainda, ajudara solucionar problemas gerados pelo envelhecimento da população<strong>no</strong>s países industrializados. 58 Outro benefício tem sido o impactopositivo das remessas sobre a balança de pagamentos. Em termosmundiais, as remessas enviadas por canais oficiais aumentaram de US$102 bilhões em 1995 para aproximadamente US$ 232 bilhões em2005. 59 As remessas enviadas a países em desenvolvimento tambémaumentaram de US$ 58 bilhões em 1995 para cerca de US$ 167bilhões em 2005, sendo que por volta de US$ 50 bilhões se destinaramà América Latina. 60Também promissor nesse aspecto tem sido o envolvimentoprogressivo de representantes de bancos multilaterais - como oBanco Mundial -, bancos comerciais, bancos públicos e associaçõesde migrantes na discussão do tema. 61 O engajamento dessasinstituições tem contribuído para a identificação de alternativas parase reduzirem os custos das remessas e se canalizarem esses recursospara projetos de desenvolvimento. 62 Nos países emdesenvolvimento, porém, a formulação de políticas adequadas nessaesfera ressente-se da precariedade de dados estatísticos disponíveissobre o assunto. 63 Cabe mencionar aqui a participação brasileira<strong>no</strong> trabalho desenvolvido pelo Grupo Técnico sobre MecanismosFinanceiros I<strong>no</strong>vadores <strong>no</strong> âmbito da ONU, em parceria com osdemais países promotores da “Ação contra a Fome e a Pobreza”,que resultou na aprovação de resolução da Assembléia-Geral 64 comrecomendações sobre facilitação e redução do Custo daTransferência de Remessas. 6531


GEORGE TORQUATO FIRMEZAA redução das barreiras ao movimento de trabalhadores em escalamundial pode resultar em ganhos para a eco<strong>no</strong>mia global. 66 De outra parte,a migração de trabalhadores qualificados de países em desenvolvimentopara desenvolvidos pode exercer impacto negativo sobre os primeiros, 67<strong>no</strong> quadro por vezes descrito como brain drain ou fuga de cérebros. 68Tema correlato ao da questão das relações entre migrações edesenvolvimento é o da discussão sobre impactos do comércio sobrefluxos migratórios, com ênfase nas negociações <strong>no</strong> âmbito daOrganização Mundial do Comércio sobre deslocamentostransfronteiriços de mão-de-obra. Se alcançados compromissos <strong>no</strong>que se refere a migrações temporárias, poderia haver atenuação daspressões migratórias dos países em desenvolvimento sobre os paísesdesenvolvidos. Trata-se aqui, em especial, do deslocamento demigrantes temporários para prestação transfronteiriça de serviços, ochamado modo 4, na linguagem técnica da OMC. Ou seja, refere-seao quarto e último dos modos possíveis 69 de comercialização deserviços, conforme definição do Acordo Geral sobre Comércio deServiços. 70 Deve ser realçado aqui o fato de que as discussões nessamodalidade de serviços referem-se tão-somente a mão-de-obraqualificada e não envolvem aspectos relacionados à migraçãopermanente de trabalhadores. Neste particular, a Índia, com abundânciade trabalhadores qualificados em alguns setores, como o de informática,constitui um dos principais países demandantes nas negociações deserviços em modo 4, na OMC. Caso sejam reduzidos os entravesnessa área, uma empresa indiana de informática com contrato deprestação de serviços <strong>no</strong> mercado <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> poderá, porexemplo, reduzir seus custos, ao importar temporariamente, com maiorfacilidade, engenheiros india<strong>no</strong>s. Nas negociações em curso, adificuldade maior refere-se às sensibilidades políticas <strong>no</strong>s paísesreceptores, difíceis de serem superadas por conta, entre outros motivos,do receio de setores de mão-de-obra qualificada em paísesdesenvolvidos, como médicos e engenheiros, com a concorrência deprofissionais oriundos de países em desenvolvimento. 7132


O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE MIGRAÇÕES3. ALGUMAS CONSIDERAÇÕESOs temas do debate descrito acima influenciam a evolução daspolíticas migratórias <strong>no</strong>s países de desti<strong>no</strong> e têm, portanto, relevânciapara orientar as constantes adaptações que os Gover<strong>no</strong>s de paísesemissores se vêem obrigados a fazer em suas políticas para comunidades<strong>no</strong> exterior. Na área de direitos huma<strong>no</strong>s, observe-se que o Gover<strong>no</strong>brasileiro ainda não ratificou o texto da Convenção Internacional sobrea Proteção dos Direitos de todos os Trabalhadores Migrantes e suasFamílias, de 1990. 72 Não obstante, as gestões da rede consularbrasileira em defesa dos direitos huma<strong>no</strong>s dos nacionais residentes <strong>no</strong>exterior ganhariam em legitimidade, caso o País viesse a reconsideraressa decisão. Inversamente, a não ratificação da Convenção de 1990pode representar fator de erosão da legitimidade brasileira e,conseqüentemente, de seu soft power, <strong>no</strong>s debates em curso na ONUsobre a temática migratória.No que se refere às causas das migrações brasileiras, parecehaver uma combinação de fatores presentes em algumas das teoriasneoclássicas explicativas sobre o assunto. Nos fluxos para algumasregiões, os movimentos migratórios decorrem de diferenças de níveissalariais entre os mercados de trabalho do Brasil e do país de desti<strong>no</strong>.É este, por exemplo, o caso do Japão. No tocante à continuidade damigração brasileira para desti<strong>no</strong>s como a Europa Ocidental e os EstadosUnidos, a formação de redes sociais e familiares vem desempenhandopapel de relevo.No caso brasileiro, os principais problemas que afligem adiáspora se relacionam com a situação migratória irregular de expressivaparcela de seus integrantes. Nessas condições, <strong>no</strong> que se refere àsdiscussões sobre migração irregular e políticas restritivas, por exemplo,o Brasil argumenta que a preocupação de alguns países receptorescom a questão da segurança, conquanto legítima, não deve servir depretexto para a violação de direitos huma<strong>no</strong>s fundamentais e odesrespeito aos direitos trabalhistas. 73 Defende que o controle da33


GEORGE TORQUATO FIRMEZAmigração irregular seja feito a partir de mecanismos de cooperação 74entre os países. 75 Ainda <strong>no</strong> tocante à defesa dos direitos huma<strong>no</strong>s demigrantes, tome-se, como exemplo, o México. O ativismo desse país<strong>no</strong>s foros multilaterais e regionais tem sido calculado para complementar,sobretudo em períodos mais difíceis, o diálogo bilateral com os EUA,onde vivem quase todos os seus nacionais emigrados. A negociaçãobilateral é, naturalmente, insubstituível. Mas o debate internacional sobreo tema causa impacto sobre os termos em que se dá essa negociaçãobilateral, porquanto o Gover<strong>no</strong>, a mídia e a sociedade <strong>no</strong>s EUA tambémse vêem influenciados pela evolução do regime jurídico multilateralaplicável a migrantes. Foi um dos aspectos que se pretendeu mostrarao avaliar o caso do México, objeto do capítulo seguinte.Quanto às relações entre migração e desenvolvimento, o Brasiltem-se beneficiado pelo crescimento das remessas, estimadas em US$6,4 bilhões em 2005. Ainda não se pode afirmar, contudo, que essesrecursos tenham sido canalizados para projetos de desenvolvimento.Na área de migração e desenvolvimento, poderia ser citado também oexemplo da Índia, cuja diáspora vem transformando a indústria detec<strong>no</strong>logia de informação em seu país de origem. Durante décadas, emconsonância com as idéias prevalecentes <strong>no</strong> debate sobre odeslocamento de mão-de-obra especializada de países emdesenvolvimento para desenvolvidos, o Gover<strong>no</strong> india<strong>no</strong> buscoucombater a perda de profissionais altamente qualificados para mercadosde trabalho <strong>no</strong> exterior, o chamado brain drain. Aos poucos, o debateinternacional passou a reconhecer também que tal deslocamento podepropiciar a transferência de tec<strong>no</strong>logia e de capital, em face do potencialrepresentado por redes formadas por migrantes, criando o chamadobrain exchange. As políticas indianas para comunidades passaram arefletir essa inflexão <strong>no</strong> debate sobre o assunto, buscando, ao invés decombater a partida desses profissionais, atrai-los para o interior deredes de intercâmbio de idéias e informações via internet.Em contexto mais amplo, recorde-se que, para discutir econsolidar as posições brasileiras sobre os temas incluídos na pauta34


O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE MIGRAÇÕESdas grandes conferências da ONU sobre temas sociais, como a deDurban, por exemplo, o Itamaraty realizou extensa série de reuniões eseminários. O mesmo poderia ser feito com relação aos principais temasdo debate contemporâneo sobre migrações, com a participação deentidades da sociedade civil brasileira e de associações de brasileiros<strong>no</strong> exterior. Esse exercício poderia trazer maior legitimidade àparticipação brasileira <strong>no</strong>s debates sobre migrações.35


CAPÍTULO IIA ONU E AS MIGRAÇÕES


CAPÍTULO IIA ONU E AS MIGRAÇÕES“Um dos desafios do século XXI é fazer com que as migraçõesresultem em benefícios eqüitativos para os migrantes,para os países de origem e para os países de desti<strong>no</strong>.”Kofi AnnanO tema da migração internacional encontra-se pulverizado emdiversos órgãos da ONU, como o Escritório do Alto Comissariadopara Direitos Huma<strong>no</strong>s (OHCHR), o Fundo das Nações Unidas paraPopulação (UNFPA), a Organização Internacional do Trabalho (OIT),o Escritório das Nações Unidas para Combate ao Crime e às Drogas(UNODC), a Conferência das Nações Unidas para o Comércio eDesenvolvimento (UNCTAD), a Organização das Nações Unidas paraa Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), o Programa das NaçõesUnidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Alto Comissariado paraRefugiados (UNHCR). 76Em cada um desses órgãos, o tratamento do tema refletedeterminadas especificidades. No Conselho de Direitos Huma<strong>no</strong>s,por exemplo, o tema é tratado pelo viés do estabelecimento depadrões de proteção aos direitos huma<strong>no</strong>s dos migrantes. Os vínculosentre desenvolvimento e migração internacional são debatidos,sobremaneira, na Assembléia-Geral. 77 Na Segunda Comissão,discute-se sobretudo a relação entre migração e desenvolvimento e,na Terceira, as implicações na esfera dos direitos huma<strong>no</strong>s. O assuntotambém é tratado <strong>no</strong> Conselho Econômico e Social (ECOSOC), emparticular, na Comissão de População e Desenvolvimento, um deseus órgãos subsidiários. Na UNESCO, entre outros temas, reves<strong>tese</strong>de grande importância a cooperação nas áreas de museologia,para criação e aperfeiçoamento de museus de história das migrações,e de educação, tendo em vista o papel que as escolas podem39


GEORGE TORQUATO FIRMEZAdesempenhar em questões relativas à integração de migrantes nassociedades de acolhimento.Também o Banco Mundial e a Organização Mundial deComércio (OMC) têm-se envolvido com o tema migratório, sobretudo<strong>no</strong> que diz respeito a aspectos de desenvolvimento econômico. 78Atuando em paralelo ao sistema da ONU, a OrganizaçãoInternacional para Migrações (OIM), 79 tem focalizado questões demanejo operacional dos fluxos migratórios, prestando também auxíliona formulação de leis e políticas migratórias nacionais. Embora nãotenha mandato formal, a OIM vem estendendo proteção de fato amigrantes internacionais em parceria com diversos Gover<strong>no</strong>s de Estadosmembros. É importante, nesse contexto, levar em consideração oprocesso de discussão do tema migratório lançado <strong>no</strong> final de 2006pela OIM, sob a de<strong>no</strong>minação de International Migration andDevelopment Initiative: Labour Mobility for Development (IMDI).Tal Iniciativa busca envolver o setor privado <strong>no</strong> debate sobre migrações,uma vez que, <strong>no</strong>s países de desti<strong>no</strong>, trata-se de um dos atores sociaisde maior relevância para a questão, juntamente com os políticosnacionais e os próprios trabalhadores migrantes.O debate sobre migrações internacionais ensejou, <strong>no</strong>s últimosa<strong>no</strong>s, uma multiplicidade de reuniões, encontros e semináriosinternacionais e regionais. Em meio a esse universo, algumas iniciativasmultilaterais vêm-se impondo sobre as demais e logrando moldar aagenda internacional. Trata-se aqui da Iniciativa de Berna, da ComissãoGlobal sobre Migrações Internacionais e do Diálogo Internacional deAlto Nível sobre Migração e Desenvolvimento, tópicos que serãodescritos mais adiante neste capítulo. 80 Assinale-se ainda a existênciade grupo ad hoc de Estados sobre migrações, do qual o Brasil participae que se reúne mensalmente em Genebra para intercambiar idéias eformular propostas. 81Nesse contexto, para descrever, sucintamente, o modo comoa comunidade internacional vem tentando criar mecanismos paraadministrar a complexidade do fenôme<strong>no</strong> migratório sob perspectiva40


A ONU E AS MIGRAÇÕESintegral, o caminho escolhido neste capítulo foi o de seguir a linha doprincipal diálogo intergovernamental aberto <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s sobretemas migratórios. Essa linha começa com a Iniciativa de Berna, em2001, e vai até o Diálogo de Alto Nível, em 2006. Ao longo dessecaminho, serão analisados alguns aspectos do tratamento, na ONU,do tema das migrações internacionais.1. A INICIATIVA DE BERNA PARA O MANEJODAS MIGRAÇÕES INTERNACIONAISEm 2001, o Escritório Federal Suíço para Refugiados lançou aIniciativa de Berna, com o objetivo de abrir diálogo intergovernamentalsobre amplo espectro de temas migratórios. 82 De certa forma, a Iniciativaveio complementar o trabalho já em andamento do DiálogoInternacional sobre Migrações, organizado pela OIM. 83 Foi assim que,naquele a<strong>no</strong>, cerca de 80 representantes de Gover<strong>no</strong>s, agênciasinternacionais, organizações não-governamentais e universidadesreuniram-se em um simpósio em Berna para discutir tópicos comotendências demográficas, dinâmica migratória, o impacto da globalizaçãosobre a migração, demanda por trabalhadores estrangeiros, migraçãoirregular, tráfico de migrantes, a dimensão do gênero na questãomigratória, entre outros aspectos contemporâneos das migraçõesinternacionais. 84Uma das medidas daí resultantes foi a publicação, feita peloGover<strong>no</strong> suíço em coordenação com a OIM, de compilação de todasas <strong>no</strong>rmas jurídicas internacionais aplicáveis à migração. O estudo serviupara identificar áreas onde há lacunas na legislação internacional sobremigrações, bem como a existência de boas práticas adotadas por algunspaíses justamente nessas áreas, facilitando, assim, a cooperaçãointernacional sobre migrações. 85Como seguimento ao simpósio, foram realizadas consultas emdiversas regiões. Mencionem-se, nesse contexto, os Diálogos sobreMigração <strong>no</strong> Sul da África, na América Central e do Norte (Processo41


GEORGE TORQUATO FIRMEZAPuebla), na Europa Oriental (Processo Budapeste), na EuropaOcidental, na América do Norte, na Austrália, na África Oriental eOcidental, em Istambul e na América do Sul. Em 2003, foi criadogrupo de apoio intergovernamental, para guiar os desdobramentos daIniciativa. 862. A COMISSÃO GLOBAL SOBRE MIGRAÇÕES INTERNACIONAISComo desdobramento da Iniciativa de Berna e por iniciativa doentão Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan, em 2003 foi estabelecidaa Comissão Global sobre Migrações Internacionais (CGIM), commandato de dois a<strong>no</strong>s, composta por 20 especialistas em migraçãointernacional, 87 oriundos de 19 países e designados em sua capacidadepessoal, com completa auto<strong>no</strong>mia. 88 O Brasil apoiou a idéia da criaçãoda CGIM, por ensejar o tratamento integrado dos diferentes aspectosdo tema, reivindicação de longa data dos países em desenvolvimento. 89Fez parte, ainda, do grupo de apoio, espécie de órgão consultivoinformal, 90 que debateu temas como respeito à soberania estatal eproteção dos direitos huma<strong>no</strong>s, relação entre migrantes e sociedade deacolhimento, desenvolvimento e fuga de cérebros. 91Como seria de esperar, os representantes governamentais dospaíses de origem que integraram o grupo de apoio deram ênfase aosaspectos positivos da migração na sua relação com o desenvolvimento.Defenderam a necessidade de proteção aos direitos huma<strong>no</strong>s dosmigrantes, independentemente de sua situação legal. Apontaram, comouma das principais causas das migrações internacionais, as assimetriaseconômicas entre os países, enfatizando sempre a importância de sedar tratamento abrangente ao fenôme<strong>no</strong> migratório. 92 Os representantesgovernamentais de países de desti<strong>no</strong> inclinaram-se mais por discutir asimplicações de segurança e as questões de gerenciamento das migraçõesinternacionais. 93 O desafio para a CGIM foi o de estabelecer, em seurelatório final, estratégia de longo prazo para o tema de migrações quepudesse equilibrar essas posições. 9442


A ONU E AS MIGRAÇÕESRecorde-se, porém, que a posição dos Gover<strong>no</strong>s não foinecessariamente a mesma que a dos especialistas da CGIM, quereceberam mandato autô<strong>no</strong>mo e o exerceram procurando transmitirvisão balanceada sobre o fenôme<strong>no</strong>, independentemente de seu paísde origem. Ou seja, esta não parece haver constituído fator determinante<strong>no</strong> curso dos debates. Não se pode sequer afirmar que os especialistasde determinados países defenderam esta ou aquela posição específica,porquanto o texto final do relatório resultou do consenso entre todos.Finalizado em outubro de 2005 pelos especialistas da CGIM,o Relatório Migration in an interconnected world: new directionsfor actions traçou pa<strong>no</strong>rama das questões afetas à migraçãointernacional. 95 Identificou alguns princípios básicos: a migração deveser uma opção e não uma necessidade; as estratégias dedesenvolvimento devem levar em conta a contribuição potencialmentepositiva da migração; os Estados devem proteger os direitos huma<strong>no</strong>sdos trabalhadores estrangeiros em seu território; a integração destesdeve levar em consideração a diversidade cultural; e a governançamigratória, ou seja o conjunto de boas práticas <strong>no</strong> campo dogerenciamento de aspectos relacionados ao fenôme<strong>no</strong> migratório, deveser fortalecida pela cooperação internacional. 96Realçou o fato de que, ao contrário do que ocorre <strong>no</strong>smercados de bens, serviços e finanças, o mercado de trabalhoglobalizado apresenta tendência seletiva por parte dos paísesreceptores de migrantes. Enfatizou os vínculos entre migração edesenvolvimento. Criticou o alto custo das remessas e incentivou aadoção de medidas alternativas. 97 Apontou os efeitos perniciosos damigração irregular. Citou, nesse contexto, a ação de quadrilhasespecializadas em tráfico de migrantes para países desenvolvidos.Incentivou os países de acolhimento a regularizar a situação dosmigrantes. Reconheceu que o tema da soberania tende a polarizaropiniões entre aqueles que se preocupam com o controle de fronteirase os que atribuem maior importância ao direito do migrante. 98Reconheceu o direito dos Estados de determinar suas políticas em43


GEORGE TORQUATO FIRMEZArelação aos migrantes em sua sociedade, desde que estes tenham seusdireitos huma<strong>no</strong>s fundamentais respeitados. Apontou, ainda, a existênciade pressões contraditórias na formação de políticas migratórias, comalguns Gover<strong>no</strong>s adotando políticas migratórias mais restritivas, mesmoem face da constatação de que suas eco<strong>no</strong>mias necessitam de maistrabalhadores migrantes, qualificados e não qualificados, para reforçarsua competitividade internacional. 99Sobre a questão dos migrantes qualificados, a Comissão adotoupostura crítica, chamando os países desenvolvidos a serem maiscoerentes na adoção de critérios para o controle dos fluxos migratórios,de forma a evitar, também, o fenôme<strong>no</strong> de fuga de cérebros, motivode preocupação sobretudo na África e na Ásia. Diante da baixaratificação da Convenção Internacional sobre Trabalhadores Migrantes,a CGIM julgou que não valeria a pena sugerir proposta de negociaçãode <strong>no</strong>vo instrumento legal sobre migrações. 100A longo prazo, <strong>no</strong> intuito de promover maior coordenaçãoe interação entre as organizações internacionais que lidam com otema migratório, sugeriu que se refletisse sobre a criação de agênciaúnica, dentro do sistema da ONU, para tratar da questão damigração internacional, seja promovendo a fusão da OIM comórgãos da ONU, seja simplesmente transformando o escopo deatuação da OIM. 101 Independentemente de suas própriasinclinações, a CGIM parece haver-se dado conta de que não havia,naquele momento, consenso internacional para a criação de <strong>no</strong>vasinstituições <strong>no</strong> âmbito da ONU. 102A curto prazo, propôs, portanto, apenas a criação de instânciade coordenação do trabalho das diversas instâncias que lidam com otema migratório <strong>no</strong> sistema da ONU – órgãos, fundos, programasagências -, bem como a OIM. Surgiu assim o Global MigrationGroup, a partir da expansão do Geneva Migration Group, 103 o qualjá vinha coordenando as direções da OIT, OIM, UNHCR, UNCTADe UNODC. A conclusão que se parece impor aqui é a de que talGrupo só ganhará credibilidade à medida que se for mostrando de44


A ONU E AS MIGRAÇÕESutilidade para resolver problemas para os Estados e para as instituiçõesque participam da formulação de políticas migratórias. 104Não obstante o longo elenco de afirmações, a CGIM recebeudiversas críticas. Os países de origem julgaram que não foi dada adevida importância a questões de direitos huma<strong>no</strong>s dos migrantes.Também não teria sido realçada a importância da ConvençãoInternacional sobre Proteção dos Direitos de Todos os TrabalhadoresMigrantes e Membros de suas Famílias, de 1990, ou conclamadosos países a ratificarem-na. 105 Tampouco a questão da necessidadede integração local dos migrantes teria sido tratada de formasatisfatória. 106Apesar das críticas de que foi alvo, pode-se afirmar que otrabalho realizado pela Comissão será visto como um dos marcos naconstrução de políticas globais nessa área. Com efeito, o relatóriosubsidiou os debates <strong>no</strong> âmbito do DAN 107 , realizado em Nova Yorkem setembro de 2006, e teve o mérito de chamar a atenção dacomunidade internacional para a necessidade de <strong>no</strong>va arquiteturainstitucional para a governança global das migrações.Entre a criação da Comissão Global em 2003 e a realizaçãodo DAN em 2006, foram organizados encontros internacionais eregionais preparatórios, a fim de explorar os múltiplos aspectos dofenôme<strong>no</strong> migratório. Entre os eventos relizados em 2006, mencionemseo Encontro Inter-regional Europa-África (Rabat), o Encontro Iberoamerica<strong>no</strong>sobre Migrações(Madri), 108 a Conferência Regional sobreMigração (San Salvador), a Conferência Sul-Americana (Assunção),as Consultas Ásia-Pacífico, em Jacarta, e a Conferência sobreMigrações (Bali). Podem ser citadas também as reuniões havidas <strong>no</strong>âmbito da Comissão de População e Desenvolvimento (CPD), na ONU,em Nova York, em abril de 2006, e a do grupo ad hoc de Estadossobre migrações, as quais serviram para intercambiar idéias e formularpropostas para o projetado Diálogo de Alto Nível. Um dessesencontros, realizado em Lima, teve importância singular, pelo ineditismode que se revestiu e pelo potencial que encerra.45


GEORGE TORQUATO FIRMEZA3. O ENCONTRO INTERNACIONAL DE PAÍSES COMALTO CONTINGENTE MIGRATÓRIONo âmbito do processo preparatório para o Diálogo de AltoNível, foi realizado em Lima, em maio de 2005, o Encontro Internacionalde Países com Alto Contingente Migratório. O Encontro de Lima,convocado por iniciativa do gover<strong>no</strong> perua<strong>no</strong>, teve por objetivocoordenar políticas e posições sobre o tema das migraçõesinternacionais entre países com contingentes de emigrados <strong>no</strong> exteriorde mais de um milhão de pessoas. 109O Encontro teve como foco a questão do racismo, da xe<strong>no</strong>fobiae de todas as formas de intolerância e discriminação <strong>no</strong>s paísesreceptores de fluxos migratórios. Buscou identificar áreas de cooperaçãorelacionadas ao tema migratório entre Estados com elevadoscontingentes migratórios. Revestiu-se de importância singular para ospaíses em desenvolvimento, pelo potencial em termos de articulaçãode posições conjuntas em foros multilaterais sobre migrações. Reuniuum grupo de países membros do G-77. 110 Juntos, tais países reúnemparcela significativa dos cerca de 191 milhões de migrantesinternacionais. 111O Encontro deu início a mecanismo de coordenação deposições que poderá impulsionar a articulação de posições entre paísesem desenvolvimento <strong>no</strong> que diz respeito à migração internacional. OMarrocos assumiu o compromisso de realizar a segunda edição desseEncontro. 1124. O DIÁLOGO DE ALTO NÍVEL SOBREMIGRAÇÃO INTERNACIONAL E DESENVOLVIMENTOOs antecedentes do Diálogo de Alto Nível remontam aoconjunto de conferências da ONU sobre temas sociais, realizadasna década de 1990. Nestas, discutiu-se, com maior ou me<strong>no</strong>r ênfasee sob ângulos diversos, o tema migratório. Foi assim com a46


A ONU E AS MIGRAÇÕESConferência do Cairo de 1994, que tratou da relação entrepopulação e desenvolvimento, e com a Conferência de Istambul de1996 (Habitat-II), onde se debateu a questão dos assentamentoshuma<strong>no</strong>s e o desenvolvimento. Motivada por essas conferências, adelegação das Filipinas junto à ONU propôs, ainda <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1990,a convocação de uma conferência das Nações Unidas sobremigrações. A proposta só veio a ser adotada, sob <strong>no</strong>vo formato,em 2003, quando a Assembléia-Geral decidiu convocar, com apoiodo Brasil e de outros países em desenvolvimento, diálogo de altonível sobre o tema.O Diálogo foi organizado em Nova York em setembro de 2006,constando da pauta medidas de proteção aos direitos huma<strong>no</strong>s dosmigrantes, relação entre migração e desenvolvimento, remessasfinanceiras e compartilhamento de melhores práticas em políticasmigratórias. 113 Mas os debates acabaram sendo mo<strong>no</strong>polizados peladiscussão da idéia de criação de Foro Global sobre Migrações eDesenvolvimento.Logo na abertura do evento, o então SGNU Kofi Annanreiterou a proposta, veiculada anteriormente em diversas instância doprocesso preparatório, de constituição de Foro Global para darseguimento ao debate sobre migrações. Face às reservas de muitosEstados quanto à criação de mais um órgão da ONU, porém, essaproposta acabaria sendo esvaziada, vindo a constituir apenas instânciainformal para discussão de questões relacionadas à migração e aodesenvolvimento. 114 A primeira reunião do Foro Global será realizadaem 2007, 115 na Bélgica, que se ofereceu para sediá-la. 116 Ao ForoGlobal, nessas condições, não foi outorgado o status de seguimentoformal do Diálogo e nem funções de supervisão ou de prestação deserviços. Deverá ter caráter apenas informal e consultivo, com o objetivode fomentar confiança e propiciar o intercâmbio de idéias e de melhorespráticas sobre temas como facilitação de remessas, relação com asdiásporas, redução da pobreza e estabelecimento de parcerias na áreade educacão. 11747


GEORGE TORQUATO FIRMEZAAlgumas delegações, entre as quais a da Finlândia, em <strong>no</strong>meda União Européia, a da Guiana, em <strong>no</strong>me do Grupo do Rio, e as daTurquia, Marrocos, Nigéria, Fiji, Namíbia, Tailândia, Mali, Indonésia,Gana e Chipre expressaram apoio à proposta do SGNU de estabelecerum Foro Global. 118Houve resistências, sobretudo de países receptores, de aceitara criação de mecanismo deliberativo sobre migrações internacionais,por temerem a possibilidade de ingerência em assunto consideradoafeto à soberania nacional. 119 Austrália, Nova Zelândia, Rei<strong>no</strong> Unido,Alemanha e EUA indicaram não ver a necessidade ou a viabilidade deum Foro Global, referindo-se ao papel fundamental dos processosregionais e dos foros multilaterais existentes, como o GenevaMigration Group, instância já existente de coordenação das ações daOIT, ACNUR, UNCTAD e da própria OIM. Mostraram-se contráriosà criação de <strong>no</strong>vas estruturas, sugerindo, ao invés disso, que se fizessemelhor uso daquelas já existentes, sem a necessidade de aplicação derecursos adicionais. 120 No seu entender, a proposta não agregariaqualquer valor e, ao contrário, adicionaria camada burocrática aotratamento do tema. 121Os EUA afirmaram preferir apoiar a expansão das ações daOIM, por concentrarem-se em questões pragmáticas. 122 Na verdade,resistiram a conceder às Nações Unidas papel de relevância <strong>no</strong>tratamento da migração internacional, <strong>no</strong> presente momento. 123 Nãoaceitaram a criação de instituição global formal, que pudesse vir a trataro tema de migração internacional por meio de abordagem <strong>no</strong>s moldesda OMC, com a perspectiva de sanções e medidas retaliatórias. 124Outras delegações realçaram igualmente a necessidade de utilizarmecanismos e foros existentes, em particular a OIM, e algumaschegaram a questionar o valor agregado que poderia advir da criaçãode <strong>no</strong>va instância internacional. 125Mas, na verdade, a idéia de Kofi Annan tampouco obteve apoiogeneralizado das delegações dos países emissores. O debate <strong>no</strong> seiodo G-77 revelou divergências de opinião. 126 Dessa forma, coube à48


A ONU E AS MIGRAÇÕESAGNU, deliberar sobre o processo de seguimento do Diálogo, <strong>no</strong>âmbito da Segunda Comissão, com base em projeto de resolução 127tabulado pelo G-77. A resolução não endossou a idéia do Foro Global,nem considerou sua realização uma forma legítima de dar seguimento,em nível intergovernamental, ao DAN. Embora haja assinalado arelevância do tema da migração internacional e desenvolvimento, nãoapresentou perspectivas de que a matéria continue a ter, <strong>no</strong> futuropróximo, tratamento em alto nível nas Nações Unidas. 128 Estabeleceuque, apenas por ocasião da 63a. AGNU, em 2008, serão consideradasas possíveis opções relativas ao seguimento do Diálogo. 129 Essedesfecho poderá contribuir para reforçar o papel da OIM comoprincipal foro internacional para debate e concertação dos diferentesaspectos relativos à migração internacional. 130O Brasil, por sua vez, mostrou-se favorável à propostaapresentada pelo SGNU de um Foro Global. 131 De modo geral, oPaís apoiou o processo de seguimento ao diálogo, assinalando que umforo global, inclusivo e transparente, poderia gerar maior coerência <strong>no</strong>nível internacional. 132 Na avaliação brasileira, poderia ter sido formaviável de dar seguimento ao debate multilateral sobre o assunto. 1335. ALGUMAS CONSIDERAÇÕESÉ provável que um consenso internacional sobre a definiçãode uma arquitetura institucional global sobre migrações ainda tardealguns a<strong>no</strong>s para consolidar-se. Nesse meio tempo, a adesão doBrasil pode vir a contribuir para ampliar o escopo de atuação daOIM, de modo a que atenda melhor aos interesses dos países deorigem de migrantes. 134 Na condição de membro ple<strong>no</strong>, 135 o Brasilpoderá insistir na necessidade de tratamento da questão que tenhacomo elementos centrais a capacitação dos países de origem paradesenvolverem políticas mais eficazes para suas comunidades <strong>no</strong>exterior e a criação de instrumentos de proteção aos direitos huma<strong>no</strong>sdos migrantes. 13649


GEORGE TORQUATO FIRMEZAPor ter dimensão extra-regional e por envolver sobretudoeco<strong>no</strong>mias em desenvolvimento, o grupo de países com altocontingente migratório, que se reuniu pela primeira vez em Lima em2005, pode desempenhar papel de relevo na coordenação deposições entre os diversos foros regionais, trazendo benefíciostambém em termos de compartilhamento de melhores práticas. Pode,sobretudo, contribuir para o reforço da articulação entre os paísesde origem <strong>no</strong> âmbito dos debates em foros multilaterais. Se seusGover<strong>no</strong>s se articularem em tor<strong>no</strong> de propostas comuns, podemrepresentar bloco de grande legitimidade internacional <strong>no</strong>s debatessobre migração, reunindo, nesse sentido, soft power que se poderevelar de utilidade. Tal potencial ficou evidenciado durante esseprimeiro encontro em busca de postura conjunta diante do DAN.É bem verdade que os trabalhos desse grupo são ainda muitopreliminares. É necessário esperar algum tempo para saber se teráalgum peso político de relevo e se conseguirá firmar-se. Para tanto,terá de se articular, com rapidez, para fazer-se ouvir nesta fase dodebate migratório internacional.O simples reconhecimento de direitos trabalhistas dosmigrantes irregulares, com a conseqüente elevação da remuneraçãomédia pelo seu trabalho, já seria um passo na direção do futuroalmejado por Kofi Annan, <strong>no</strong> qual os movimentos migratóriosresultarão em benefícios mais eqüitativos para os migrantes, paraos países de origem e para os países de desti<strong>no</strong>. Inversamente, afalta de reconhecimento dos direitos dos migrantes irregularesequivale à apropriação dos benefícios econômicos por elesgerados. 137 Embora a tendência atual pareça ser a de que o debatecontinue, ainda por algum tempo, a ser travado majoritariamente<strong>no</strong> campo dos direitos huma<strong>no</strong>s, há espaço para que países comoo Brasil continuem reiterando uma ampliação desse tratamento, paraestendê-lo também a diversos foros <strong>no</strong> campo econômicocomercial,a exemplo do que já vem ocorrendo na Rodada Dohada OMC.50


A ONU E AS MIGRAÇÕESNo contexto desse processo evolutivo em direção a umreconhecimento maior dos direitos trabalhistas de migrantes irregulares,o sistema interamerica<strong>no</strong>, objeto do próximo capítulo, vem trazendoalgumas contribuições de interesse.51


CAPÍTULO IIIO TEMA MIGRATÓRIO EM FOROS REGIONAIS


CAPÍTULO IIIO TEMA MIGRATÓRIO EM FOROS REGIONAIS“If you look at globalization from the point of view of peoples’concerns, its single biggest failure is its inability to create jobswhere people live.” Juan Somavia 138Neste capítulo, discutem-se aspectos do tratamento do temadas migrações internacionais em foros regionais dos quais o Brasilparticipa. Além da OEA e do Mercosul, o País participa de diversosoutros foros de diálogo, concertação e consulta <strong>no</strong> contexto regional,o que vem permitindo compreender melhor o fenôme<strong>no</strong> da migração efortalecer o arcabouço jurídico regional. Como se verá mais adiante,na medida em que também incorporam diálogos com interlocutoresextra-regionais, tais foros vem trazendo ainda compreensão maiordas posições de países de grande relevância para o acolhimento demigrantes brasileiros na Europa Ocidental, como é o caso de Portugale Espanha <strong>no</strong> contexto ibero-america<strong>no</strong>.1. A ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOSE OS DIREITOS DOS MIGRANTES1.1 As primeiras iniciativasÉ relativamente recente o tratamento do tema migratório <strong>no</strong>âmbito da OEA. Apesar de alguns avanços em termos de princípiosconsolidados pela jurisprudência em casos de proteção de direitoshuma<strong>no</strong>s dos migrantes, até a primeira metade dos a<strong>no</strong>s 1990, nãohaviam ainda sido adotadas iniciativas concretas para assegurar suaefetiva proteção. 139 Somente em 1996, a Assembléia-Geral da OEAadotou resolução, 140 pela qual recomendou que a Comissão55


GEORGE TORQUATO FIRMEZAInteramericana de Direitos Huma<strong>no</strong>s incluísse em seu relatório seguinteavaliação sobre a situação dos direitos huma<strong>no</strong>s <strong>no</strong> hemisfério.Ao longo dos a<strong>no</strong>s, a jurisprudência formada por casosindividuais foi trazendo avanços para o estabelecimento de <strong>no</strong>rmasrelativas aos migrantes. Os princípios aplicáveis na região têm sidodesenvolvidos a partir dessa jurisprudência, estabelecida por sentençase opiniões consultivas da Corte Interamericana, bem como por decisõesda Comissão Interamericana de Direitos Huma<strong>no</strong>s. Dessa forma, jávêm sendo reconhecidos certos princípios básicos nesse campo, taiscomo: filhos nascidos <strong>no</strong> país de acolhimento, de pais migrantes, têm odireito à nacionalidade desse país; os Estados são obrigados a protegeras famílias de migrantes, evitando deportar pais sem os filhos ou viceversa;é proibida a expulsão coletiva de migrantes; 141 todos os migrantestêm o direito a julgamento justo, incluindo-se o recebimento de serviçosde interpretação, o acesso à assistência consular e o recurso judicialpara que seja determinado se podem ou não permanecer <strong>no</strong> país.Ao contrário da ONU, <strong>no</strong> âmbito da qual já em 1990 haviasido negociada a Convenção Internacional sobre Proteção dos Direitosde Todos os Trabalhadores Migrantes e Membros de suas Famílias, aOEA não promoveu, até o momento, a negociação de convençãosobre o tema. É bem verdade que os migrantes na região estão tambémsob a proteção genérica daquele instrumento jurídico internacional, bemcomo da Convenção Americana de Direitos Huma<strong>no</strong>s, ao me<strong>no</strong>s <strong>no</strong>spaíses que as ratificaram.1.2 A Relatoria Especial sobre Trabalhadores MigrantesPara cumprir a instrução recebida de monitorar a evolução sobreo tema na região, foi criada, em 1996, a Relatoria sobre TrabalhadoresMigrantes e suas Famílias, <strong>no</strong> âmbito da Comissão Interamericana deDireitos Huma<strong>no</strong>s. Tal Relatoria surgiu com os objetivos de apresentarrecomendações específicas aos Estados membros sobre matériasrelacionadas com a proteção e promoção dos direitos huma<strong>no</strong>s dos56


O TEMA MIGRATÓRIO EM FOROS REGIONAISmigrantes, elaborar relatórios e estudos especializados sobre a matériae atuar com prontidão a respeito de petições ou comunicações sobrealegadas violações dos direitos dos trabalhadores migrantes e suasfamílias <strong>no</strong>s Estados membros.Com a intenção de coletar dados sobre o desempenho dosEstados <strong>no</strong> cumprimento dos princípios de igualdade e de nãodiscriminaçãoestabelecidos pelo sistema interamerica<strong>no</strong> de direitoshuma<strong>no</strong>s, a Relatoria passou, em 2001, a enviar questionários aosEstados membros com o objetivo de reunir informações acerca dascondições de vida dos trabalhadores migrantes e suas famílias. Asperguntas versaram sobre tendências demográficas, xe<strong>no</strong>fobia,igualdade perante a lei, garantias judiciais, pagamento de impostos eacesso a serviços sociais. 142 Posteriormente, foi enviado um segundoquestionário, desta vez sobre legislação e práticas de processo paradetenção e expulsão de migrantes irregulares em cada país. Oquestionário foi enviado também a advogados e organizaçõesprestadores de assistência social e legal a trabalhadores migrantes. 143Com base <strong>no</strong>s elementos compilados, começaram a consolidar-secritérios de avaliação para medir o cumprimento de recomendaçõesda Corte e da Comissão Interamericanas de Direitos Huma<strong>no</strong>s.Não obstante o insuficiente apoio financeiro para cumprir omandato recebido da CIDH, a Relatoria vem conseguindo desenvolveralgumas atividades de interesse para os países membros. Entre essasatividades, mencionem-se o desenvolvimento de vínculos institucionaiscom entidades da sociedade civil que trabalham em favor dostrabalhadores migrantes nas Américas e a realização de estudosespeciais sobre reformas da legislação migratória <strong>no</strong> pós-11 deSetembro.1.3 O tema migratório nas Cúpulas das AméricasParalelamente ao envolvimento do sistema interamerica<strong>no</strong> como tema dos direitos dos migrantes, as Cúpulas das Américas o57


GEORGE TORQUATO FIRMEZAincorporaram em sua agenda de trabalho. 144 Desde a Primeira Cúpula,realizada em Miami em 1994, firmou-se o compromisso de garantira proteção dos direitos dos trabalhadores migrantes. 145 Em 2001,por ocasião da Terceira 146 Cúpula, em Québec, concedeu-se mandatoespecífico à OEA para o estabelecimento de um ProgramaInteramerica<strong>no</strong> para a Promoção e Proteção dos Direitos Huma<strong>no</strong>sdos migrantes, incluindo os trabalhadores migrantes e suas famílias,em complementação ao trabalho da Relatoria Especial sobreTrabalhadores Migrantes, mencionada <strong>no</strong> item anterior. 147 Na CúpulaEspecial de 2004, em Monterrey, destacou-se a importância dacooperação entre países de origem, trânsito e desti<strong>no</strong>. 148 Na QuartaCúpula, reunida em Mar del Plata, em 2005, reafirmou-se ocompromisso de apoiar o Programa Interamerica<strong>no</strong>. Reiterou-se,ademais, a importância da plena implementação da ConvençãoInternacional sobre a Proteção dos Direitos Huma<strong>no</strong>s de todos osTrabalhadores Migrantes e de suas Famílias. 149 Como resultado davontade política expressa em tais Cúpulas, o tema migratório vemganhando maior visibilidade <strong>no</strong> sistema interamerica<strong>no</strong>, gerandoesforços de cooperação <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s.1.4 O Programa Interamerica<strong>no</strong> dePromoção dos Direitos dos MigrantesA elaboração desse Programa, a partir da decisão adotada emQuébec, foi resultado de trabalho diplomático de grande persistênciapor parte do México. Sob a presidência argentina do Grupo deTrabalho, participou de maneira ativa e constante na elaboração ediscussão do Programa. Registre-se, em todo caso, que os EUA nãopermitiram que o México presidisse o Grupo, cuja tarefa foi concluídaem maio de 2005. O projeto do Programa, aprovado pela Assembléia-Geral da OEA <strong>no</strong> mês seguinte, 150 contemplou objetivos gerais eespecíficos, atividades a serem desenvolvidas por órgãos e entidadesvinculadas à OEA, bem como atividades sugeridas para os Estados e58


O TEMA MIGRATÓRIO EM FOROS REGIONAISoutros atores envolvidos com o fenôme<strong>no</strong> migratório, incluindo-se asorganizações da sociedade civil e os próprios migrantes. 151Além de receber o apoio da Relatoria sobre TrabalhadoresMigrantes e suas Famílias, com base nas informações coligidas desde1996 sobre a situação hemisférica nessa área, o <strong>no</strong>vo Programa passoua contar com a cooperação de vários órgãos da OEA e de fora dosistema interamerica<strong>no</strong>. O Departamento de Desenvolvimento Social eEmprego, 152 por exemplo, dedica especial atenção à interconexão entremigração e emprego e fornece informações sobre a observância das leistrabalhistas aplicáveis a trabalhadores migrantes. 153 No que se refere àcontribuição do Departamento para a Promoção da Democracia, vêmsendo realizados estudos comparativos sobre legislação relativa àrepresentação política dos migrantes e o direito de voto <strong>no</strong> exterior. Têmsido também compiladas informações sobre as dificuldades representadaspela instauração de sistemas de voto <strong>no</strong> exterior, sobretudo em termosde registro de eleitores, participação política e custos financeiros. 154Parceiro importante do Programa Interamerica<strong>no</strong> vem sendo aOIM, ao impulsionar projetos específicos na região, dois dos quaismerecem menção. 155 O primeiro diz respeito ao Fundo de Reservada Conferência Regional para Migrações, criado para permitir aassistência a migrantes intra-regionais em situação de altavulnerabilidade. Os casos atendidos com maior freqüência, segundo otipo de vulnerabilidade têm sido migrantes me<strong>no</strong>res de idade nãoacompanhados,pessoas vítimas de acidentes graves, mulheressubmetidas a traumas psicológicos e portadores de doenças graves. Osegundo projeto consiste em sistema de informação estatística, já emoperação, sobre migrantes originários do México e de outros paísesda América Central. Trata-se do Sistema de Informação Estatísticasobre as Migrações, que realiza monitoramento das dimensões e dascaracterísticas dos movimentos migratórios que envolvem cidadãos doMéxico, Belize, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras,Nicarágua e Panamá, mediante a articulação e a compatibilização dedados gerados por distintas fontes nesses países.59


GEORGE TORQUATO FIRMEZA1.5 A OPINIÃO CONSULTIVA 18Aos direitos básicos dos migrantes reconhecidos pelajurisprudência interamericana até o final dos a<strong>no</strong>s 1990, foi acrescidooutro, de extraordinária relevância regional e internacional <strong>no</strong> queconcerne à proteção de trabalhadores irregulares. Trata-se da OpiniãoConsultiva 18, datada de 17 de setembro de 2003. Na origem daOpinião Consultiva 18 esteve solicitação mexicana à CorteInteramericana para que estabelecesse as linhas básicas para orelacionamento dos Estados com os migrantes, regulares ou irregulares,em cumprimento às obrigações fixadas pelas <strong>no</strong>rmas internacionais dedireitos huma<strong>no</strong>s. 156Na mencionada Opinião Consultiva, a Corte sustenta que adiscriminação com base na situação migratória de um trabalhadorcontraria os princípios internacionais de Direitos Huma<strong>no</strong>s.Reconhecendo o direito sobera<strong>no</strong> dos Estados para decidir em quecondições admitir a entrada de estrangeiros em seu território, afirmou,<strong>no</strong> entanto, que, uma vez que um migrante se incorpore a uma relaçãotrabalhista <strong>no</strong> território de qualquer país, adquire direitos trabalhistasque devem ser respeitados e garantidos, independentemente de suasituação migratória ou da forma como ingressou nesse território. AOpinião Consultiva 18 foi incorporada ao Relatório Anual da Comissãode Direitos Huma<strong>no</strong>s aprovado pela Assembléia-Geral da OEA em2004.2. A DISCUSSÃO SOBRE DIREITOS DOS MIGRANTESEM OUTROS FOROS REGIONAISO tema migratório vem ganhando relevância crescente <strong>no</strong>contexto do Mercosul e da América do Sul em geral. Existe expressivofluxo migratório entre os próprios países da região e não exclusivamentepara fora, em direção à Europa, Japão e América do Norte. Com aintensificação do processo de integração, acredita-se que esses fluxos60


O TEMA MIGRATÓRIO EM FOROS REGIONAISregionais tenderão a aumentar. Nessa perspectiva, as iniciativas deacordos regionais visam a atender essa demanda por i<strong>no</strong>vações <strong>no</strong>manejo dos fluxos migratórios intra-regionais. 157Além da celebração de acordos de caráter essencialmenteprático para a vida cotidiana dos migrantes, ressalte-se a importânciada articulação de posições conjuntas que os países sul-america<strong>no</strong>svêm adotando em relação ao tema migratório <strong>no</strong>s foros multilaterais,ajudando a avançar a agenda de interesse dos países de origem dosmigrantes. 158 Com efeito, o tema insere-se na agenda de vários forosinter-regionais, regionais e subregionais. Assim como na OEA, aparticipação brasileira nesses foros têm-se pautado pelo esforço paraa elaboração de padrões mais elevados de proteção dos direitos dostrabalhadores migrantes. São mencionados aqui alguns dos foros ondeas discussões têm avançado recentemente.2.1 Encontro América Latina e Caribe-União Européia(ALC-UE) sobre MigraçõesMuito embora não tenha ainda registrado desdobramentosconcretos, o Encontro ALC-UE sobre migrações vem contribuindopara melhor compreensão das posições de parte a parte. Esperamos países caribenhos e lati<strong>no</strong>-america<strong>no</strong>s que esse foro possa influirsobre a evolução do tema migratório <strong>no</strong> âmbito da UE. Ao Brasil,interessa manter um diálogo bi-regional constante, na expectativa depoder influir sobre as idéias que embasam a adoção de medidas comimpacto sobre a vida do elevado contingente migratório brasileiro naEuropa. De ambos os lados, têm surgido propostas para intensificaro diálogo birregional, seja pela criação de mecanismo permanente,tomando como exemplo o mecanismo ALC-UE sobre tráfico ilícitode drogas, seja pela negociação de acordo migratório. Tempredominado, <strong>no</strong> entanto, a visão de que o canal de diálogo maisapropriado ainda é a continuação dos Encontros ALC-UE sobreMigrações. 15961


GEORGE TORQUATO FIRMEZAEntre as questões tratadas nesse diálogo birregional,sobressaem-se a necessidade de promover integração mais efetivados contingentes de migrantes nas sociedades européias e o princípioda responsabilidade compartilhada na luta contra o tráfico demigrantes. 160 Do ponto de vista europeu, entre os temas de maior relevoincluem-se o combate à migração irregular e a repatriação dos migrantesaos países de origem. Aos lati<strong>no</strong>-america<strong>no</strong>s e caribenhos, interessasobretudo buscar algum entendimento sobre a proteção dos direitosdos migrantes, regulares e irregulares, <strong>no</strong>s países da UE.2.2 Encontro Ibero-america<strong>no</strong> sobre MigraçõesSe <strong>no</strong>s debates regionais existe consenso acerca dos principaistemas relacionados à migração internacional, quando se incluem países dedesti<strong>no</strong>, os consensos restringem-se a número me<strong>no</strong>r de pontos. 161 Talvezpor esse motivo, o formato do Encontro Ibero-america<strong>no</strong> sobre Migraçõesnão envolva propriamente negociações diretas sobre temas migratórios.Antes apresenta certo caráter acadêmico, com centenas de representantesde ONGs e organismos internacionais, divididos em sessões simultâneas,com a apresentação de pesquisas e reflexões sobre temas como governançamigratória, remessas e migração de mão-de-obra qualificada. 162O Encontro Ibero-America<strong>no</strong> sobre Migrações, que conta coma participação dos países lati<strong>no</strong>-america<strong>no</strong>s, mais Portugal e Espanha,encontra dificuldades em fazer avançar a agenda de discussões. Cumprelembrar, a propósito, que estes têm obrigações sobre o tema assumidascom os demais parceiros europeus, o que lhes dificulta aceitarcompromissos mais liberais em relação à América Latina. Esta é umalimitação desse foro, porquanto os dois países europeus participantesnão podem avançar independentemente nesse domínio. 163 Ainda assim,foi possível estabelecer agenda comum em alguns pontos, <strong>no</strong> que serefere ao combate contra o tráfico de migrantes, à capacitação técnicapara tratar dos desafios da migração e à criação de mecanismos degerenciamento de trabalho temporário, entre outros aspectos do tema.62


O TEMA MIGRATÓRIO EM FOROS REGIONAISEm 2006, a celebração do Encontro Ibero-America<strong>no</strong> sobreMigrações contribuiu para a preparação do Diálogo de Alto Nível naONU sobre Migração e Desenvolvimento, bem como para os debatesda XVI Cúpula Ibero-Americana, realizada em Montevidéu. 164 Tambémem 2006, 165 institucionalizou-se o Foro Ibero-America<strong>no</strong> sobreMigração, que se pretende seja o locus para a discussão do tema. Doponto de vista brasileiro, tem sido valorizado o adensamento do diálogopolítico e o aprofundamento da compreensão das posições de parte aparte. Em termos de uma agenda substantiva, <strong>no</strong> entanto, o Foro tendea encontrar dificuldades para avançar, dadas as diferenças de interessesentre lati<strong>no</strong>-america<strong>no</strong>s e europeus.2.3 Conferência Sul-Americana sobre MigraçõesA Conferência Sul-americana 166 visa a promover aharmonização de políticas públicas, o compartilhamento de informaçõese melhores práticas, a promoção do debate entre os países sulamerica<strong>no</strong>ssobre a questão migratória e a definição de posiçõescomuns. Busca assegurar a inserção da região na corrente internacionalde mecanismos de diálogo e concertação em matéria migratória. Asdecisões emanadas desse foro têm me<strong>no</strong>r poder vinculatório do queas oriundas, por exemplo, do Mercosul. Como reflexo dessacoordenação de posições, por ocasião do Diálogo de Alto Nível sobreMigração e Desenvolvimento, a delegação paraguaia pronunciou-seem <strong>no</strong>me do grupo de países da Conferência Sul-Americana,reafirmando os consensos atingidos em Assunção. 167Além da definição de posições comuns em outros foros, asdelegações discutem na Conferência ações destinadas à assistência eproteção dos direitos huma<strong>no</strong>s dos migrantes. Apresentam ainda relatosdas atividades recentes realizadas em seus países, tais como aaprovação de <strong>no</strong>va legislação migratória e a assinatura de acordosbilaterais sobre migração. Há acentuada interação entre as reuniõesda Conferência Sul-Americana e as do Mercosul sobre assuntos63


GEORGE TORQUATO FIRMEZAmigratórios. Foi em razão do tratamento dos direitos huma<strong>no</strong>s dosmigrantes iniciado <strong>no</strong> âmbito dessa Conferência que o Mercosul decidiucriar, em 2005, um Comitê de Alto Nível para abordar essa temática.As reuniões da Conferência tratam de alguns eixos estratégicosde ação. O primeiro diz respeito a políticas, programas e ações quefacilitem a circulação, permanência e residência dos nacionais dos paísesda região <strong>no</strong> território dos demais países. O segundo refere-se àcoordenação de ações que permitam o reforço na proteção dos direitoshuma<strong>no</strong>s dos migrantes sul-america<strong>no</strong>s. O terceiro corresponde àsrelações entre migração, cooperação, desenvolvimento e integraçãona América do Sul. 168A Conferência tem contado com o apoio crescente daOrganização Internacional do Trabalho. Com efeito, por ocasião daIII Conferência Sul-Americana, realizada em 2002 em Quito, decidiuseespecificar, <strong>no</strong> Pla<strong>no</strong> de Ação, solicitação formal de ajuda da OITna difusão dos direitos dos trabalhadores migrantes nas Américas. 1692.4 O Tratamento da Temática Migratória <strong>no</strong> MercosulA intensificação do trânsito de mercadorias pelas fronteiras entreos países partes e associados do Mercosul gerou, naturalmente,mobilidade maior de trabalhadores. 170 Ainda que a temática migratóriahaja sido incluída na agenda do Mercosul desde a criação doagrupamento regional, 171 o ritmo de abertura das fronteiras vem sendoregulado de modo a permitir que se tente controlar o impacto sobre osmercados de trabalho, o nível e a qualidade do emprego, os serviçosbásicos e a seguridade social <strong>no</strong>s países do bloco. Tem-se verificadotambém a necessidade de chegar a consensos sobre questões comoas <strong>no</strong>rmas reguladoras da mobilidade de trabalhadores migrantes, oreconhecimento de competências profissionais e a harmonização dosprocedimentos de serviços de imigração. 172O tema migratório vem evoluindo consideravelmente <strong>no</strong>s últimosa<strong>no</strong>s, sendo os debates realizados <strong>no</strong> âmbito das Reuniões de Ministros64


O TEMA MIGRATÓRIO EM FOROS REGIONAISdo Interior do Mercosul. 173 Em 2003, foi criado um Foro EspecializadoMigratório, com o objetivo de estudar os impactos das migraçõesregionais e extra regionais sobre o desenvolvimento, bem como deanalisar e formular propostas sobre harmonização de legislações epolíticas. 174 Suas reuniões realizam-se três vezes por semestre, sob acoordenação do Estado Parte em exercício da Presidência ProTempore do Mercosul.É nesse foro que se negociam os projetos de acordos em matériamigratória, os quais, tomados em conjunto, começam a constituir osprimeiros passos na direção de futura livre circulação de pessoas naregião. 175 Em 2004, por exemplo, foi assinada a Declaração de Santiagosobre Princípios Migratórios, 176 a qual estabeleceu as diretrizes queviriam a conduzir o processo atual de harmonização das políticasmigratórias, com vistas a constituir, <strong>no</strong> futuro, o livre trânsito ple<strong>no</strong> naregião, aos moldes do que já ocorre na UE. Tal declaração serviuainda de base para as negociações do Mercosul com a UE, com vistasa acordo entre os dois blocos regionais na área migratória. 177 Têmsido assinados também acordos contra o tráfico ilícito de migrantes. 178Tema dos mais relevantes <strong>no</strong> âmbito do Mercosul, a integraçãofronteiriça foi tratada de maneira mais específica pelo Grupo Ad Hocde Integração Fronteiriça (GAHIF), vinculado ao Grupo MercadoComum (GMC), além do já mencionado Foro EspecializadoMigratório. O GAHIF buscou facilitar a vinculação entre as localidadesde fronteiras, harmonizando regras para a utilização de hospitais, postosde saúde, trânsito de veículos e pessoas, entre outras necessidades docotidia<strong>no</strong> das populações fronteiriças. Nesse contexto, de extremarelevância teria sido a conclusão das negociações sobre o Acordo sobre<strong>Comunidades</strong> Fronteiriças Vinculadas do Mercosul. 179 O Acordoprevia, entre outros dispositivos, a extensão de direitos trabalhistasaos cidadãos fronteiriços. A dificuldade de se chegar a consenso deveuse,sobretudo, à oposição do Paraguai, em atenção à situação específicade Ciudad del Este, onde se teme a concessão de direitos trabalhistasaos cidadãos de Foz do Iguaçu. 180 Diante da falta de consenso, as65


GEORGE TORQUATO FIRMEZAnegociações <strong>no</strong> âmbito do Mercosul viram-se inviabilizadas e asreuniões do GAHIF foram suspensas. 181 O Acordo acabou, <strong>no</strong> entanto,sendo bilateralizado entre Brasil e Argentina e entre Brasil e Bolívia. 182Além disso, documento com disposições semelhantes já está vigenteentre Brasil e Uruguai desde 2002. 183 Ainda nas zonas de fronteira, háprojetos pioneiros 184 e de grande significado para as comunidadesbrasileiras, a exemplo do que ocorre entre o Brasil e a Argentina, comas escolas bilíngües e a proposta de programa integrado de saúde. 185A despeito da freqüente coincidência de posições entre Argentinae Brasil, o ritmo dos avanços <strong>no</strong> processo negociador regional temsido retardado pela necessidade de aguardar a definição de posiçõesdos demais parceiros. Na visão argentina, seria o caso de os doisprincipais sócios regionais considerarem a bilateralização dos acordosmigratórios. 186 Foi este o procedimento adotado <strong>no</strong> caso do Acordosobre Residência para Nacionais dos Estados Partes do Mercosul, 187de 2002, que passaria a vigorar uma vez que todos os países o tivessemassinado. Todos o fizeram, à exceção do Paraguai, o que impediu suavigência em caráter multilateral. Para contornar a resistência paraguaia,o acordo foi posto em vigor bilateralmente entre Brasil, Argentina eUruguai. Estão atendidos, dessa forma, mais de 90% dos cidadãos doMercosul. 188Na visão brasileira, a bilateralização deve ser feita com ocuidado de evitar que a ação isolada de Brasil e Argentina venha a serinterpretada como retrocesso do processo de integração regional. 1893. ALGUMAS CONSIDERAÇÕESNa OEA, pôde-se constatar que o debate migratório vem sendoimpulsionado <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s pelas decisões da Corte Interamericanade Direitos Huma<strong>no</strong>s e pelo funcionamento do ProgramaInteramerica<strong>no</strong> de Promoção dos Direitos dos Migrantes, o qual temtido o efeito de disseminar boas práticas sobre o assunto entre os paísesda região.66


O TEMA MIGRATÓRIO EM FOROS REGIONAISDiversas delegações têm utilizado o recurso às OpiniõesConsultivas da Corte Interamericana de Direitos Huma<strong>no</strong>s para casosespecíficos que envolvem seus nacionais <strong>no</strong> exterior. Neste particular,podem ser citados os exemplos das delegações do México, Guatemalae Argentina. É bem verdade que as Opiniões Consultivas só sãoobrigatórias para os Estados que reconheceram a jurisdição contenciosada Corte, como o Brasil, que o fez em 1998. É fato também que oalcance das Opiniões Consultivas tem eficácia reduzida em território<strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>, justamente onde vive boa parte dos migrantesirregulares brasileiros. Os EUA sequer ratificaram a ConvençãoAmericana de Direitos Huma<strong>no</strong>s. Em todo caso, as OpiniõesConsultivas têm peso moral. 190 Ig<strong>no</strong>rá-las de todo, mesmo para umpaís como os EUA, acarreta custo político. 191 Por esses motivos, oBrasil poderia talvez recorrer com maior freqüência às OpiniõesConsultivas da Corte, sobretudo em casos relativos à situação de seusnacionais em situação migratória irregular – afinal, os de maiorvulnerabilidade - em países do hemisfério. Considerando seu <strong>no</strong>vo perfilde país tanto receptor, quanto emissor de migrantes, tais mecanismosrevestem-se de utilidade, por contribuírem para a consolidação gradualde um <strong>no</strong>vo regime jurídico sobre direitos huma<strong>no</strong>s dos migrantes.Avaliação crítica do desempenho dos demais foros regionaissobre migrações revelaria descompasso entre os respectivos ritmosde avanço. Pode-se afirmar que a cooperação sobre a temáticamigratória vem avançando concretamente <strong>no</strong> âmbito do Mercosul, comacordos de relevância sobretudo para as comunidades fronteiriças naregião, e também, subsidiariamente, na Conferência Sul-Americana,dada a importância de seus trabalho de compilação de informações ede harmonização de políticas públicas que afetam a vida dos migrantesna região. Quanto a foros inter-regionais como o Encontro AméricaLatina e Caribe-União Européia sobre Migrações e o Encontro Iberoamerica<strong>no</strong>sobre Migrações, seu interesse para o Brasil não parece irmuito além da melhor compreensão mútua de posições sobre o debatemigratório contemporâneo e do intercâmbio de melhores práticas.67


GEORGE TORQUATO FIRMEZACom o final deste capítulo, encerra-se também a primeira partedo trabalho. Pretendeu-se oferecer perspectiva geral dos principaisaspectos da discussão em foros multilaterais e regionais sobre ofenôme<strong>no</strong> migratório, buscando, assim, o enquadramento do debatesobre políticas para comunidades <strong>no</strong> exterior. Procurou-se relacionar,em contexto mais amplo, questões com incidência direta sobre aevolução de tais políticas, como, para citar apenas alguns exemplos,as relações entre migração e direitos huma<strong>no</strong>s, entre migração edesenvolvimento e entre migração irregular e políticas restritivas. Osresultados desse debate repercutem diretamente sobre a forma comose elaboram e implementam políticas para comunidades <strong>no</strong> exterior.Passa-se agora à segunda parte do trabalho, dedicada à análisedas políticas que vêm sendo desenvolvidas por México, Filipinas, Índia,Turquia, Itália, Espanha e Portugal para suas comunidades emigradas.Os próximos capítulos tratarão de questões com naturezapredominantemente bilateral ou unilateral relacionadas à elaboração eimplementação de políticas para comunidades. Mas será possívelperceber sempre a existência de pa<strong>no</strong> de fundo que influencia aevolução de tais políticas.68


CAPÍTULO IVA POLÍTICA DO MÉXICOPARA SUAS COMUNIDADES


CAPÍTULO IVA POLÍTICA DO MÉXICO PARA SUAS COMUNIDADES“How many people live today in a languagethat is <strong>no</strong>t their own?”Gilles Deleuze e Félix Guattari 192O engajamento do México em foros multilaterais e regionaissobre a questão migratória, como se viu <strong>no</strong>s capítulos precedentes,reflete, de certa forma, o esforço que o país tem feito unilateralmentepara aperfeiçoar sua atuação junto às suas comunidades <strong>no</strong> exterior,radicadas, em sua quase totalidade, <strong>no</strong>s EUA. O México é um dosmaiores emissores de migrantes do mundo. Além disso, seu territórioconstitui espécie de artéria ou enlace migratório fundamental para osfluxos da América do Sul e Central rumo aos EUA. 193Com a pressão representada por comunidade emigrada quejá ultrapassa 20 milhões de pessoas, o país tem-se visto forçado adesenvolver políticas mais consistentes na área migratória <strong>no</strong>s pla<strong>no</strong>sbilateral (com os EUA), regional e multilateral. Neste capítulo, serãocomentados, além da formação e das características das comunidades,o caso especial dos mexica<strong>no</strong>s <strong>no</strong>s EUA, as limitações impostas pelapolítica migratória <strong>no</strong>rte-americana e as principais políticas do Méxicopara sua diáspora.1. COMUNIDADES MEXICANAS NO EXTERIOR: ANTECEDENTES HISTÓRICOSA história da emigração mexicana está essencialmente vinculadaao relacionamento com os EUA. 194 Pelo Tratado de GuadalupeHidalgo, de 1848, o México foi forçado a ceder mais da metade deseu território, incluindo as áreas que hoje formam os estados daCalifórnia, Arizona, Novo México, Nevada, Colorado, Utah e parte71


GEORGE TORQUATO FIRMEZAde Wyoming. 195 Nessa época, iniciou-se a migração em direção aosEUA. Os primeiros fluxos migratórios mexica<strong>no</strong>s de grandes dimensõesocorreram durante o Gover<strong>no</strong> de Porfírio Diaz (1876-1911) e, logoem seguida, durante as fases mais violentas da Revolução Mexicana. 196A I Guerra Mundial ensejou <strong>no</strong>va onda migratória mexicana, <strong>no</strong> âmbitode programa unilateral <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> para atrair mão-de-obraestrangeira para o esforço bélico. 197 Trata-se aqui do precursor deprograma semelhante, também de trabalhadores temporários, criadodurante a II Guerra Mundial e intitulado Programa Bracero, de trabalhosazonal. 198 Este último deixou legado permanente, marcando o iníciode migração sustentada para o mercado de trabalho <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>. 199Esta tendência de crescimento migratório sofreu reversão <strong>no</strong>sa<strong>no</strong>s 1920, durante a Grande Depressão. 200 No período de 1942 a1964, estima-se que 4,5 milhões de trabalhadores mexica<strong>no</strong>s se tenhamtransferido para os EUA. O Programa Bracero parece haver dadomargem a violações sistemáticas de direitos trabalhistas. 201 Naquelaépoca, <strong>no</strong> entanto, a rede consular mexicana era insuficiente parasupervisionar as condições de trabalho dos migrantes. 202Cabe aqui mencionar, a propósito, que o Canadá criouprograma semelhante, em vigor até hoje. Trata-se do AgriculturalSeasonal Workers Program (também conhecido como OffshoreProgram), que foi estendido ao México em 1974. Desde então,trabalhadores rurais mexica<strong>no</strong>s têm sido admitidos para trabalhar, porperíodo determinado, na horticultura canadense, sobretudo na regiãode Leamington, Ontario. O caráter de circularidade do programa, comos migrantes retornando ao México ao final da temporada de trabalho,parece vir funcionando a contento, talvez pelo fato de que o Gover<strong>no</strong>canadense permite que os produtores agrícolas forneçam os <strong>no</strong>mesdos trabalhadores aos quais serão concedidos vistos. Dessa forma,muitos dos trabalhadores têm retornado ao Canadá anualmente nasúltimas duas décadas. 203Pouco depois do térmi<strong>no</strong> do Programa Bracero, em 1964,surgiu o Programa de Industrialização da Fronteira, com a instalação72


A POLÍTICA DO MÉXICO PARA SUAS COMUNIDADESde maquiladoras 204 do lado mexica<strong>no</strong>. Em pouco tempo, ainda <strong>no</strong>sa<strong>no</strong>s 1970, mais de 800 maquiladoras foram instaladas. Havia aexpectativa <strong>no</strong>s EUA de que, com a criação de empregos daí resultante,diminuiria o fluxo migratório mexica<strong>no</strong>. Na verdade, as maquiladorasacabaram atraindo mais migrantes das regiões centrais do México paraa fronteira. Contrataram sobretudo mulheres, deixando desempregadaa força de trabalho masculina. 205 Além disso, mesmo os melhoresempregos nessas empresas só ofereciam salários equivalentes a umsexto daqueles pagos <strong>no</strong>s EUA. As expectativas desses <strong>no</strong>vos migrantesnão puderam ser atendidas nessa região, gerando, na verdade, reforçodos fluxos para os EUA. 206A partir do final dos a<strong>no</strong>s 1970 e início dos a<strong>no</strong>s 1980, ofenôme<strong>no</strong> migratório foi-se tornando mais heterogêneo. As estadastemporárias passaram a conjugar-se com a aspiração à permanência<strong>no</strong>s EUA de migrantes provenientes, em número crescente, das zonasurbanas do México. À grande corrente migratória mexicana somaramseos fluxos populacionais vindos da América Central e do Sul, emdeslocamentos pela fronteira sul do país. 2072. COMUNIDADES MEXICANAS NO EXTERIOR: CARACTERÍSTICASEmbora haja alguns poucos milhares de mexica<strong>no</strong>s residentesna Europa e <strong>no</strong> Canadá, a diáspora mexicana está hoje quaseintegralmente concentrada <strong>no</strong>s EUA. 208 Em 2005, a comunidade demexica<strong>no</strong>s <strong>no</strong>s EUA, nativos e descendentes, foi estimada em 25,6milhões de pessoas. 209 São cerca de 11,6 milhões os mexica<strong>no</strong>s natose 14 milhões seus descendentes nascidos em território <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>.Desse total, entre 6 e 8 milhões correspondem aos chamadosindocumentados 210 ou migrantes em situação irregular. 211 A populaçãode mexica<strong>no</strong>s nascidos <strong>no</strong>s EUA tem crescido substancialmente desde1990, mas a de indocumentados vinda do México tem crescido emritmo ainda maior. 212 As entradas tiram proveito da porosidade de umafronteira de 3.234 quilômetros 213 - a mais extensa entre uma sociedade73


GEORGE TORQUATO FIRMEZApós-industrial e um país em desenvolvimento. 214 E a questão migratóriasegue sendo um dos pontos críticos da relação entre essas duas culturase sociedades. 215 Dos dois lados da fronteira, foi surgindo, ao longodos a<strong>no</strong>s, relação de interdependência entre os estados de um e outropaís. 216 No final dos a<strong>no</strong>s 1990, os migrantes mexica<strong>no</strong>s começaram afixar-se em <strong>no</strong>vos estados <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s. 217 Cabe mencionartambém que os migrantes mexica<strong>no</strong>s já não estão mais na base dapirâmide social e econômica <strong>no</strong>s EUA. Seus antigos empregos estãosendo ocupados por outros migrantes da América Central e do Sul. 2183. O CASO ESPECIAL DOS MEXICANOS NOS EUANa medida em que o voto lati<strong>no</strong> cresce em importância <strong>no</strong>cenário eleitoral <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>, os candidatos <strong>no</strong>s EUA se vêemobrigados a tentar atrair os eleitores 219 de origem mexicana commensagens sensíveis às diferenças que marcam sua origem nacional. 220Essa situação tende a acentuar-se. Estima-se que, em 2050, um emcada cinco <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s terá ascendência mexicana. 221 Hoje, estaproporção situa-se em tor<strong>no</strong> de um mexica<strong>no</strong> (ou descendente) paracada dez <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s. Ciente desse potencial de seus nacionais<strong>no</strong>s EUA, o Gover<strong>no</strong> mexica<strong>no</strong> realizou campanhas de mobilizaçãojunto às organizações mexica<strong>no</strong>-<strong>no</strong>rte-americanas por ocasião davotação <strong>no</strong> Congresso sobre o Tratado de Livre Comércio da Américado Norte (TLCAN, ou, NAFTA, na sigla em inglês), em 1994. 222O que ocorre, contudo, é que as comunidades mexicanas <strong>no</strong>sEUA ainda não julgam de interesse para seus próprios objetivos autilização plena de seu potencial eleitoral para tentar influenciardiretamente alguns aspectos da política externa <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>, comofaz o lobby cuba<strong>no</strong>, este, por razões muito particulares ligadas à históriapolítica de seu país. De modo geral, as principais organizações latinasde âmbito nacional <strong>no</strong>s EUA 223 dedicam-se, basicamente, a promovera igualdade de oportunidades, definindo suas agendas dentro dosparâmetros da política interna. 22474


A POLÍTICA DO MÉXICO PARA SUAS COMUNIDADESHá alguns sinais de mudança, contudo. Fator que temcontribuído para reduzir a ambivalência latina face a temas de políticaexterior diz respeito à evolução das relações entre o México e suascomunidades <strong>no</strong>s EUA. Com o reforço das credenciais democráticasdo México a partir da eleição de Vicente Fox, um presidente nãovinculado ao Partido Revolucionário Institucional, tor<strong>no</strong>u-se mais fácilpara os líderes mexica<strong>no</strong>-america<strong>no</strong>s a defesa ocasional de posiçõesde interesse do Gover<strong>no</strong> mexica<strong>no</strong>. 225 Ou seja, o início da alternânciademocrática de partidos <strong>no</strong> México trouxe aos líderes mexica<strong>no</strong>america<strong>no</strong>sa legitimidade de que eles necessitavam para poderdefender, <strong>no</strong>s EUA, os pontos de vista de seu país de origem. 226 Emboraa comunidade não constitua propriamente um lobby formal pró-México, a simples percepção de que a aproximação com o México épositiva porque traz consigo capital político, tem ampliado aspossibilidades de cooperação bilateral.Desdobramento de interesse refere-se ao potencial da diásporapara influenciar, ela própria, a política mexicana. 227 No a<strong>no</strong> 2000,estimava-se que o potencial eleitoral da diáspora chegasse a 10,7milhões de eleitores, equivalente a 15% do eleitorado em territóriomexica<strong>no</strong>. A força desse eleitorado também se pode medir pelacapacidade de influenciar os votos de amigos e familiares <strong>no</strong> México. 2284. A POLÍTICA MIGRATÓRIA DOS EUAA imigração é componente indissociável do processo formativoda civilização <strong>no</strong>rte-americana. É bem verdade que preconceitos contramigrantes influenciaram, por vezes, a política migratória do país. 229 Noséculo XIX, por exemplo, migrantes chineses sofreram discriminaçãona Califórnia, onde foram promulgadas leis contra sua presença. 230 Navirada para o século XX, foi a vez de os irlandeses serem hostilizados. 231Nas últimas décadas, migrantes lati<strong>no</strong>-america<strong>no</strong>s têm sido, comfreqüência, objeto de certa rejeição por parte de parcela da populaçãolocal. 232 A mídia, em especial, se tem mostrado majoritariamente75


GEORGE TORQUATO FIRMEZAantiimigração. Não obstante, <strong>no</strong> que se refere especificamente à evoluçãoda política migratória, são outros os fatores que se têm mostradodeterminantes.Sabe-se que, de modo geral, a cada ciclo recessivo naeco<strong>no</strong>mia, o ativismo antiimigratório ressurge. 233 Inversamente, ocrescimento da eco<strong>no</strong>mia <strong>no</strong>rte-americana desestimula um pouco dorigor na aplicação de medidas antiimigratórias. Dessa forma, motivadospela recessão econômica <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1980, os EUA endureceram suaposição com relação à migração mexicana por meio de leis e operaçõescriadas para proteger a fronteira, ao mesmo tempo em que foiregularizada a situação de boa parte dos migrantes indocumentadosque já se encontrava há a<strong>no</strong>s em território <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>. 234 Em1986, por ocasião da última grande reforma migratória <strong>no</strong>s EUA,conhecida como Lei sobre Reforma e Controle Migratório, foramintroduzidas medidas adicionais de controle fronteiriço, primeiro em ElPaso 235 e depois em San Diego, 236 reforçando-se a militarização dafronteira. 237 Na primeira metade dos a<strong>no</strong>s 1990, o Tratado de LivreComércio da América do Norte (NAFTA) 238 foi apresentado à opiniãopública <strong>no</strong>rte-americana como meio de reduzir a migração do México,o qual passaria a exportar mais mercadorias e me<strong>no</strong>s pessoas. Não foio que ocorreu.A partir de 2001, o tratamento do tema migratório passou aser influenciado fortemente pela prioridade de combate ao terrorismo.O Relatório da Comissão Nacional que exami<strong>no</strong>u as falhas de segurançaque precederam o 11 de Setembro concluiu que as autoridadesmigratórias não vinham levando em consideração aspectos de segurança<strong>no</strong> seu trabalho, limitando-se a impedir o ingresso de migrantesindocumentados <strong>no</strong> país. Foi apontado que, como os terroristas queperpetraram os ataques não pareciam interessados em trabalharirregularmente <strong>no</strong>s EUA, sua entrada não foi obstaculizada. 239 Combase nas recomendações da referida Comissão, foi aprovada em 2004<strong>no</strong>va legislação, com uma série de medidas restritivas adicionaisreferentes à política de migração. 24076


A POLÍTICA DO MÉXICO PARA SUAS COMUNIDADESIndependentemente das tendências políticas, conservadoras ouliberais, a opinião pública <strong>no</strong>rte-americana parece haver-se dado contade que parte do sistema migratório estava fora de controle. 241 No finalde 2004, em resposta às críticas sobre a inexistência de uma políticamigratória eficaz, o Presidente George W. Bush propôs reestruturar alegislação sobre o assunto. Apresentou apenas algumas linhas-mestraspara orientação do processo, entre as quais, a criação de <strong>no</strong>voprograma de trabalhadores temporários, deixando para o Congressoo seu detalhamento. Segundo o discurso presidencial, a reformamigratória deveria ter por objetivos 242 o aumento da segurança internamediante maior controle nas fronteiras e o reforço da eco<strong>no</strong>mia mediantea contratação de migrantes para empregos rejeitados pelostrabalhadores locais. 243Em 2005, as duas Casas do Congresso elaboraram projetosseparados de reforma migratória, ambos com medidas restritivas àmigração. 244 Na Câmara dos Deputados, em dezembro de 2005, foiaprovado projeto de lei 245 que, entre outros dispositivos, previa acriminalização da permanência indocumentada em território nacional ea imposição de sanções até mesmo a quem auxiliasse, de alguma forma,migrantes indocumentados a permanecer <strong>no</strong> país. 246 No Senado, emmaio de 2006, foi aprovado projeto de lei 247 que, entre outros pontos,visava a autorizar mais recursos para a construção de barreiras e cercasna fronteira com o México, a ampliar os canais de vistos regulares e acriar <strong>no</strong>vo programa de trabalhadores temporários, o que tampoucoprosperou.As Assembléias Legislativas Estaduais, por sua vez, vêmaprovando legislação nessa mesma linha desde os a<strong>no</strong>s 1990. Têmproliferado iniciativas legislativas de caráter restritivo <strong>no</strong>s Estadoscom contingente mais elevado de migrantes mexica<strong>no</strong>s, comoCalifórinia e Arizona, por exemplo. Na Califórnia, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1990,aprovou-se medida legislativa que impedia que criançasindocumentadas freqüentassem escolas públicas. Tal medida,contudo, acabou sendo derrubada em 1994 por meio de ações77


GEORGE TORQUATO FIRMEZAjudiciais. Essas medidas restritivas formariam também o conteúdoda sucessão de leis promulgadas entre agosto e setembro de 1996<strong>no</strong>s EUA: Lei de Oportunidade de Trabalho e ResponsabilidadePessoal; Lei Anti-Terrorista; e, em particular, a Lei deResponsabilidade e Reforma da Migração Ilegal. Mencione-se aquia aprovação, em <strong>no</strong>vembro de 2004, de medida legislativa <strong>no</strong>Estado do Arizona, destinada a impedir o acesso de migrantesindocumentados aos serviços públicos e a punir funcionáriosestaduais que deixem de prestar informações sobre cidadãosindocumentados que procuram utilizar tais serviços. Com a citadamedida, cidadãos residentes <strong>no</strong> estado passaram a ter de apresentarprova da regularidade de sua situação imigratória com vistas a obterassistência médica e a utilizar serviços oferecidos em creches,escolas e bibliotecas públicas. Em 2006, havia mais de 500 projetosde leis estaduais nessa área, quase todas destinadas a reduzir oacesso dos migrantes indocumentados a emprego, saúde eeducação, bem como a introduzir penalidades mais rigorosas aotráfico de migrantes. 248No pla<strong>no</strong> nacional, em 2006, os migrantes mobilizaram-separa tentar influir sobre tais projetos em discussão <strong>no</strong> Congresso.Surgiu assim a chamada Primavera Latina, um dos eventos de maiorrelevância na história recente da mobilização de migrantes <strong>no</strong>s EUA.Foram organizadas dezenas marchas de migrantes por todo o país,como resultado de esforço de ativismo político do qual participaramos jornais em língua hispânica, as coalizões de migrantes, líderessindicais, igrejas e movimentos estudantis, entre outros. 249 A primeiradessas marchas ocorreu em Chicago, em 10 de março. Até mesmoas associações de brasileiros, <strong>no</strong>rmalmente avessas a tais iniciativas,decidiram participar dos protestos. 250 No dia primeiro de maio,ocorreu a última grande manifestação em Washington, de<strong>no</strong>minadaUm Dia Sem Imigrantes. 251 O que motivou essa onda de protestospacíficos foi sobretudo o caráter draconia<strong>no</strong> do projeto de lei emdiscussão na Câmara dos Deputados. 25278


A POLÍTICA DO MÉXICO PARA SUAS COMUNIDADESApós dois a<strong>no</strong>s de discussões, a Casa Branca optou, em 2006,por enviar ao Congresso projeto vago, que não fosse hostil aossentimentos da base conservadora do Partido Republica<strong>no</strong>. 253 Daí asreferências aos benefícios para a segurança nacional e os comentárioscontrários à anistia de trabalhadores indocumentados. 254 Osdemocratas, por sua vez, reagiram com desconfiança e ceticismo,identificando na medida uma tentativa 255 de atrair a comunidadehispânica para a órbita republicana. 256 Finalmente, <strong>no</strong> final de 2006, àsvésperas das eleições parlamentares, foi aprovada legislação conjuntaCâmara/Senado 257 para construção de mais um muro na fronteira como México. 258 O de<strong>no</strong>minador comum encontrado foi efetivamentemínimo, apesar do custo financeiro elevado.As tentativas dos EUA de reter o fluxo migratório irregular nãoparecem estar tendo o êxito esperado. 259 O que tem havido é oredirecionamento das rotas migratórias – <strong>no</strong> caso dos brasileiros, viaGuatemala-México, Canadá ou mesmo Portugal e, a partir daí, compapéis falsos portugueses, para os EUA - , assim como o aumento <strong>no</strong>número de mortes de migrantes na fronteira.Ações policiais na fronteira não somente não têm sido suficientespara deter a entrada de <strong>no</strong>vos migrantes <strong>no</strong>s EUA, como também têmdesencorajado a circularidade migratória, fazendo com que número aindamaior de migrantes decidam tentar permanecer definitivamente. 260 Quanto àaplicação de sanções a empresas que contratam trabalhadoresindocumentados, os efeitos nem sempre são aqueles esperados. 261 E ademanda por mão-de-obra continua a atrair migrantes. Entre 2002 e 2012,estima-se que serão criados 56 milhões de <strong>no</strong>vos empregos <strong>no</strong>s EUA. 262Destes, aproximadamente a metade não exige qualificação maior do quesegundo grau completo. 263 O paradigma migratório <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> estáem fase de transição. 264 Apesar da prioridade atribuída a aspectos desegurança <strong>no</strong>s EUA, o empresariado local, politicamente poderoso, depende,em larga medida, de mão-de-obra estrangeira. Da interação entre essasduas vertentes, de segurança e de eco<strong>no</strong>mia, pode surgir eventualmente apróxima grande reforma da política migratória <strong>no</strong>rte-americana.79


GEORGE TORQUATO FIRMEZA5. AS INICIATIVAS DE APOIO AOS MEXICANOS NO EXTERIOREntre os países emissores de migrantes, o México pode ostentarum dos mais completos conjuntos de políticas para comunidades,conforme se verá a seguir.5.1 Negociações bilaterais com os EUADesde meados dos a<strong>no</strong>s 1970, o México vinha deixando ofluxo de emigrantes seguir seu curso, sem demonstrar interesse nacriação de mecanismos bilaterais de consulta e diálogo com os EUAnessa área. 265 Seguia a estratégia de não ter política explícita sobre amigração de seus nacionais. Em 1992 e 1993, na etapa final denegociação do NAFTA, buscou retirar ênfase da questão do temamigratório, temendo que contaminasse as discussões sobre o acordo. 266Aceitou omitir da agenda o tema da livre circulação de trabalhadores,por temer a não-aprovação congressual do acordo. 267 Contratoualgumas das mais influentes empresas de consultoria em relaçõespúblicas <strong>no</strong>s EUA para trabalhar em favor da aprovação congressualdo NAFTA e mobilizou as principais lideranças da comunidademexicana. 268 Gradualmente, as estratégias de lobby passaram a integrar,de modo permanente, o relacionamento bilateral com os EUA. 269O chamado acercamiento, o estreitamento das relações com osEUA <strong>no</strong> final dos a<strong>no</strong>s 1990, envolveu intensificação dos laços entre oGover<strong>no</strong> mexica<strong>no</strong> e a diáspora. Vicente Fox seguiria na mesma direção. 270Já durante a fase de campanha política pela presidência, Fox começou aevidenciar seu interesse pela diáspora mexicana. Como rancheiro e exgovernadorde Guanajuato, um dos maiores Estados emissores de migrantes,conhecia de perto o fenôme<strong>no</strong> migratório. Fez da negociação de acordomigratório com os EUA a prioridade de sua política externa. 271Fox parecia esperar que a criação de um Grupo Bilateral sobreMigração assegurasse a legitimação conceitual de suas aspirações emmatéria de migração. 272 No a<strong>no</strong> 2000, tal Grupo, composto por 1080


A POLÍTICA DO MÉXICO PARA SUAS COMUNIDADESespecialistas de cada país, 273 foi efetivamente criado e passou a negociarsobre questões específicas. 274 Para o México, o princípio central dasnegociações deveria ser o de responsabilidade compartilhada. Osobjetivos principais eram a criação de programa de trabalhadoresprovisórios e a regularização dos trabalhadores indocumentados. 275Em meio às negociações, o México, em um rompante de otimismo,achando que alcançaria acordo abrangente, lançou o conceito de “laenchilada completa o nada”. Pouco depois veio o 11 de Setembroe, com ele, a interrupção das negociações, em virtude da reordenaçãodas prioridades <strong>no</strong>rte-americanas. Recorde-se que o Departamentode Segurança Interna, criado em 2002, passou a abarcar algumas dasfunções relacionadas com a migração, tornando-se, assim, ator depeso nas negociações México-EUA. 276A guerra ao terrorismo veio, portanto, modificar o cenárionegociador, registrando-se mudança de viés <strong>no</strong>s debates inter<strong>no</strong>s <strong>no</strong>sEUA sobre política migratória. A tendência de reforço dos controlesfronteiriços ganhou tamanha preponderância, que foram sufocadas asvozes mais liberais, as quais passaram a ser condenadas comoimpatrióticas. Os defensores dos direitos dos migrantes viram-seconstrangidos por argumentos em prol da soberania nacional e dorealismo político. 277Consciente de que os fatos impediam a discussão de suaproposta de regularização migratória, o Gover<strong>no</strong> mexica<strong>no</strong>, enquantoesperava o momento de retomada das negociações, passou a dedicarsea outras questões: ampliar a base de aceitação da matrícula consularem território <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>, cujas iniciativas serão descritas emmaiores detalhes nas seções seguintes.5.2 A estrutura de apoio às comunidadesmexicanas <strong>no</strong> exteriorNo intuito de fortalecer os vínculos com a diáspora <strong>no</strong>s EUA,o Gover<strong>no</strong> mexica<strong>no</strong> criou em 1990 o Programa para as <strong>Comunidades</strong>81


GEORGE TORQUATO FIRMEZAMexicanas <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong> (PCME). 278 O Tlatelolco teve o cuidado deselecionar para atuar <strong>no</strong> Programa, funcionários que haviam servidoou estudado <strong>no</strong>s EUA. 279 Em 2001, 280 surgiu o Escritório de Atençãoaos Mexica<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, ligado diretamente à Presidência parasimbolizar o compromisso do Presidente Vicente Fox com os migrantes.Numa escolha dotada de certo simbolismo, o Escritório teve comoprimeiro chefe um mexica<strong>no</strong> america<strong>no</strong>, 281 nascido <strong>no</strong> Texas, de paimexica<strong>no</strong> e mãe <strong>no</strong>rte-americana. 282 Em 2003, como parte da estruturada Secretaria de Relações <strong>Exterior</strong>es, criou-se o Instituto de Mexica<strong>no</strong>s<strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, que incorporou as funções do Escritório. Logo surgiram,entretanto, conflitos entre essas duas estruturas. 283 Ficou evidenciadoque as políticas de apoio às comunidades emigradas deveriam estarcentralizadas na Chancelaria, mas, ao mesmo tempo, manter-se emsintonia com as aspirações e demandas dos migrantes nacionais. Notopo dessa estrutura institucional de apoio às comunidades <strong>no</strong> exterior,criou-se o Conselho Nacional para as <strong>Comunidades</strong>, integrado portodos os Ministros e chefiado pelo Presidente da República.O Instituto de Mexica<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong> também atua como braçoexecutivo do Conselho Nacional para as <strong>Comunidades</strong>, com o objetivode assegurar a coordenação inter-institucional necessária. 284 De grandeimportância é o fato de que, em cada consulado, foi criado setorvoltado especificamente para as comunidades, de<strong>no</strong>minado seja Setorde Assuntos Hispânicos, seja Setor de Assuntos da Comunidade.Para orientar a atuação do Instituto, criou-se o ConselhoConsultivo, composto por cerca de 120 representantes dascomunidades. A criação do Conselho Consultivo visou, inicialmente, àidentificação de agenda comum entre o Gover<strong>no</strong> e as comunidades.Com exceção de dois representantes de comunidades na Suécia e naSuíça, para a I reunião do Conselho, realizada em agosto de 2003,todos representavam entidades <strong>no</strong>s EUA. Três meses depois, na IIreunião, o Conselho passou a contar também, além dos representan<strong>tese</strong>leitos, com a participação de líderes de comunidades na AméricaLatina. 285 As reuniões do Conselho passaram a gerar recomendações82


A POLÍTICA DO MÉXICO PARA SUAS COMUNIDADESao Gover<strong>no</strong> para a elaboração de políticas públicas em benefício dascomunidades e para a preparação de posições negociadoras <strong>no</strong>tratamento da questão migratória. 286 De outra parte, os integrantes doConselho, na condição de líderes de organizações das comunidades,passaram também, em alguns casos, a levar às autoridades do país dedesti<strong>no</strong> as posições políticas de seu país de origem. As discussões <strong>no</strong>âmbito do Conselho representam, ademais, mecanismo decoordenação de posições para as dezenas de associações de emigradosmexica<strong>no</strong>s <strong>no</strong>s EUA. 287 E não apenas mexica<strong>no</strong>s. Com o objetivo deassegurar a interlocução de entidades mexicanas com outrasorganizações latinas <strong>no</strong>s EUA, foram incluídos, entre os integrantes doConselho Consultivo, nacionais de outros países lati<strong>no</strong>-america<strong>no</strong>s.Em 2005, o número de integrantes 288 do Conselho Consultivo jápassava de 150. 289 Os conselheiros estão divididos em seiscomissões. 290 Diversas recomendações práticas 291 emanaram dasprimeiras reuniões do Conselho. 292No início da década de 1990, o Gover<strong>no</strong> mexica<strong>no</strong> lançou,igualmente, engenhosa estratégia de criação de associações demigrantes, organizadas de acordo com sua região de origem, oschamados Clubes de Oriundos. Os consulados organizavamreuniões de migrantes e os estimulavam a formar times de futebolde acordo com sua região de origem. 293 Foram promovidoscampeonatos de futebol, cujos ganhadores eram premiados comviagens ao México. 294 Aos poucos, esses mexica<strong>no</strong>s oriundos dasmesmas regiões foram formando associações comunitárias, sempresob a orientação dos consulados, que sugeriam linhas de atuaçãovoltadas para o atendimento das necessidades da comunidade.No final dos a<strong>no</strong>s 1990, a rede de consulados mexica<strong>no</strong>s já tinharegistrado mais de 800 clubes de oriundos. Ao longo dos a<strong>no</strong>s,tais clubes deram origem a entidades de âmbito estadual enacional. Federações reagruparam-se em confederações, cobrindotodo o território <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> com uma rede de entidadescomunitárias.83


GEORGE TORQUATO FIRMEZAO Tlatelolco conseguiu impulsionar também a criação, <strong>no</strong>México, de escritórios para assuntos dos emigrantes em váriosGover<strong>no</strong>s de Estados com elevado contingente migratório, tais comoGuanajuato, Puebla, Mitchoacan, Oaxaca e Zacatecas. 295Paralelamente às referidas iniciativas, a Chancelaria ampliousobremaneira seu serviço consular. Registre-se, de início, que a estruturado Tlatelolco reflete o fato de que os migrantes estão concentradosmajoritariamente <strong>no</strong>s EUA: a Direção-Geral de Proteção e AssuntosConsulares está subordinada à Subsecretaria para América do Norte. 296A rede consular mexicana <strong>no</strong>s EUA começou a ser ampliada <strong>no</strong> inícioda década de 1990, atingindo 47 unidades em 2006. Ademais, nessemesmo período, a rede de institutos culturais <strong>no</strong>s EUA foi ampliada deme<strong>no</strong>s de 10 para 21 unidades. 2975.3 A aproximação com as comunidadesO aprofundamento das relações com os EUA em princípios dadécada de 1990 permitiu ao México desenvolver os vínculos com seusnacionais em território <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> de forma desimpedida, sem orisco de que algumas de suas iniciativas viessem a ser interpretadascomo intromissões em assuntos inter<strong>no</strong>s <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s. 298 Não sepode perder de vista o caráter assimétrico das relações bilaterais, oque por vezes limita a capacidade de influência do país de origem nadefesa dos direitos de seus nacionais. 299 A aproximação com a diásporacomeçou pelo apoio engajado a organizações como o NationalCouncil de la Raza e o Mexican American Legal Defense Fund. 300Na retórica oficial, tratava-se de transformar os migrantes em “amigosdo México” - e “amigos mais fortes” -, 301 bem como de fortalecer oconceito de que os migrantes – los de afuera - continuavam a formarparte da nação mexicana. Nessa perspectiva, podiam beneficiar-se,tanto quanto os nacionais que permaneciam <strong>no</strong> México, de recursospúblicos para a promoção de seu bem-estar. Nas palavras do primeirodiretor do PCME, 302 havia a ambição de criar, por assim dizer, uma84


A POLÍTICA DO MÉXICO PARA SUAS COMUNIDADESnação global mexicana. Cumpre acrescentar que, <strong>no</strong> início dessaimplementação, os principais interlocutores <strong>no</strong>s EUA foram autoridadesestaduais e municipais, uma vez que as comunidades estavam aindaexcessivamente concentradas em apenas quatro Estados: Califórnia,Texas, Arizona e Illi<strong>no</strong>is.A vertente educacional constituiu uma das prioridades doPrograma. 303 Foram enviados professores às regiões mais densamentepovoadas de migrantes mo<strong>no</strong>glotas, para exercerem a função temporáriade assistentes de professores. Foram enviados especialistas daUniversidade Pedagógica Nacional para capacitarem professoresbilíngües sobre questões idiossincráticas e culturais prejudiciais aoaproveitamento dos alu<strong>no</strong>s, particularmente em disciplinas comoespanhol e cultura mexicana. Foram doados livros em espanhol,sobretudo de obras editadas com fundos públicos.5.4 A questão das remessasEm 2005, as remessas de migrantes mexica<strong>no</strong>s, formais einformais, foram estimadas em US$ 21,8 bilhões, 304 tornando-se asegunda fonte de divisas <strong>no</strong> país, só superada pela exportação depetróleo, correspondendo já a 2,5% do PIB e superando em cerca de13% os investimentos exter<strong>no</strong>s diretos. 305 O Gover<strong>no</strong> mexica<strong>no</strong> temprocurado reduzir o custo do envio desses recursos e canalizá-los parainvestimentos produtivos geradores de empregos nas regiões emissoras,o que poderia, futuramente, reduzir os fluxos migratórios para osEUA. 306 O México tem-se, também, empenhado em obter a reduçãodos custos das remessas. A rede consular passou a divulgar as taxaspraticadas por bancos e agências de remessas, para estimular aconcorrência. O Banco Central do México negociou acordo com oFederal Reserve dos EUA, que permitiu a redução do custo unitáriopara remessas. Foi estabelecido sistema de transferência eletrônicade fundos internacionais entre os dois países. Após a entrada em85


GEORGE TORQUATO FIRMEZAvigor do acordo, o custo máximo por transação caiu de US$ 31 em1999 para cerca de US$ 5 em 2006. O programa oferece,automaticamente, o melhor tipo de câmbio divulgado <strong>no</strong> dia peloBanco Central do México, me<strong>no</strong>s uma comissão de 0,21%. Tratasede serviço destinado a bancos peque<strong>no</strong>s, uniões de crédito ecooperativas, que <strong>no</strong>rmalmente triangulam seu serviço com bancosmaiores. Para funcionar a contento, depende da adesão de outrosbancos. Em 2006, havia 37 instituições bancárias participantes. Arede de consulados encarrega-se de divulgar o programa, chamadoDirecto a México, junto à comunidade. 307 O programa tem servidotambém para o envio de salários a aposentados <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>sresidentes <strong>no</strong> México.Ademais, com a abertura de contas bancárias possibilitada pelaaceitação da <strong>no</strong>va carteira de matrícula consular, os migrantesirregulares reduziram os custos de suas remessas. Ao invés de gastaremUS$ 10, por exemplo, para fazer uma remessa, podem dar a suasfamílias <strong>no</strong> México acesso aos fundos depositados nas suas contas<strong>no</strong>s EUA, por intermédio de cartões de débito, que podem ser utilizadosem caixas automáticos <strong>no</strong> México, ao custo de US$ 3,00 portransação. 308Dado o volume global das remessas, qualquer reduçãopercentual <strong>no</strong> custo das transações pode causar aumento considerável,em termos absolutos, sobre os recursos efetivamente transferidos parao México. E tem sido justamente com base nesses recursos que o paístem lançado alguns programas de pequena escala para odesenvolvimento de infra-estrutura, bem como para a instalação deempresas nas cidades de origem de sua comunidade emigrada. Nesteparticular, a rede de clubes de oriundos, que, em 2006, já somavammais de 800, vem desempenhando papel de relevo na identificação edifusão de oportunidades de investimento e de projetos sociaiscomunitários. Tais associações têm organizado cooperativas depeque<strong>no</strong>s investidores e coletado doações, fomentando assim ganhosde escala. 30986


A POLÍTICA DO MÉXICO PARA SUAS COMUNIDADESMerecem destaque duas iniciativas lançadas <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1990:os Programas 3x1 e Minha Comunidade. Concebidos como formasde parcerias público-privadas, envolvem os gover<strong>no</strong>s <strong>no</strong>s níveis federal,estadual e municipal.Lançado em 1993, o Programa 3x1 foi implementado <strong>no</strong>Estado de Zacatecas. Para cada dólar investido por associações demigrantes em obras de desenvolvimento sócio-econômico em suascomunidades de origem, os três níveis de Gover<strong>no</strong> aportam outrostrês dólares. O programa tem canalizado remessas coletivas de amploconjunto de doadores para projetos de infra-estrutura em pequenaescala em suas cidades de origem. Na verdade, já havia certa tradiçãode coleta de fundos entre os clubes de oriundos para patrocinar festascívicas e populares <strong>no</strong> México. O que se fez foi estimular a ampliaçãode tal tradição e apresentar alternativas de doações ou investimentos.As doações são depositadas em fundo gerenciado por comitê derepresentantes do Gover<strong>no</strong> e dos clubes de oriundos. De 1994 a 2002,esse fundo financiou 400 projetos de peque<strong>no</strong> porte, com doaçõescoletivas <strong>no</strong> montante de US$ 4,5 milhões. Entre os exemplos deprojetos executados, encontram-se abertura de estradas, pavimentaçãode ruas, instalação de redes de água e eletricidade, bem comoconstrução de centros comunitários, praças e parques. O custo médiodesses projetos tem girado em tor<strong>no</strong> de US$ 50 mil. Têm sidodirecionados para municípios onde o salário médio não chega a US$ 8por dia. Nessas condições, mesmo projetos de peque<strong>no</strong> porte 310 podemcausar impacto relativamente grande na comunidade. 311 Conta-se aquicom o engajamento direto das lideranças dos clubes de oriundos nessesprojetos, não apenas <strong>no</strong> que se refere à coleta de doações, mas tambémem sua própria organização. Tais doações são feitas na forma depequenas contribuições individuais reunidas pela comunidade, às vezesem eventos organizados para levantar recursos, como festas, shows ejantares. A partir de 2003, tem havido tentativas de ampliar o esquema,com o envolvimento de empresas americanas, como agências deremessas de recursos.87


GEORGE TORQUATO FIRMEZAEm 1996, foi a vez de o Gover<strong>no</strong> do Estado de Guanajuato,em parceria com o Gover<strong>no</strong> federal, lançar o seu próprio programa,chamado Minha Comunidade. 312 O objetivo foi o de atrair recursosda comunidade para o estabelecimento de maquiladoras, voltadaspara a produção de tecidos para o mercado <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>. Dadosoficiais disponibilizados pelo Gover<strong>no</strong> de Guanajuato indicam que, <strong>no</strong>a<strong>no</strong> 2000, já havia 13 maquiladoras em operação <strong>no</strong> âmbito doprograma, com outras 9 em fase de instalação, em investimento totalde US$ 2,2 milhões realizado pelos migrantes em sistema decooperativas. 313 O investimento médio por maquiladora situou-se emtor<strong>no</strong> de US$ 100 mil, 314 mediante a participação de 20 ou maismigrantes. 315 Por ocasião do lançamento do programa, o Gover<strong>no</strong> deGuanajuato anunciou que participaria com 50% do capital necessáriopara cada maquiladora. Esse compromisso não chegou a ser cumprido,alegadamente por limitações orçamentárias <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> estadual, o queinviabilizou o aporte <strong>no</strong>s dois outros níveis. 316 Ao invés disso, foramoferecidos financiamentos subsidiados em bancos públicos mexica<strong>no</strong>s.As taxas de juros oferecidas eram, <strong>no</strong> entanto, mais elevadas que asdisponíveis <strong>no</strong>rmalmente <strong>no</strong> mercado bancário <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>. Osmigrantes decidiram, então, assumir o investimento total. O Gover<strong>no</strong>de Guanajuato acabou participando como facilitador, ajudando adesenvolver pla<strong>no</strong> de negócios, cobrindo os custos dos dois primeirosmeses de treinamento de funcionários e de pagamento de salários.Disponibilizou, também, assistência técnica, administrativa e jurídicana fase inicial. No que se refere à motivação da diáspora, parece terhavido a combinação de dois fatores, a preocupação em ajudar suascidades de origem e a expectativa de lucros. 317 O projeto continua emandamento e sua aplicabilidade em outros Estados está em estudos.5.5 A Nova Matrícula ConsularDesde 1871, a matrícula consular vem constituindo registrooficial para os cidadãos mexica<strong>no</strong>s <strong>no</strong> exterior. 318 Em 2002, com as88


A POLÍTICA DO MÉXICO PARA SUAS COMUNIDADESdificuldades adicionais dos migrantes indocumentados surgidas comas medidas de combate ao terrorismo, <strong>no</strong> pós-11 de Setembro, oGover<strong>no</strong> mexica<strong>no</strong> lançou versão de alta segurança da carteira dematrícula consular. 319 Contém 13 medidas de segurança (todas as deum cartão de crédito, mais as do Serviço Postal <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>).Despertou, de imediato, o interesse da comunidade. 320 A carteiraidentifica o portador, certifica de que se trata de cidadão mexica<strong>no</strong> efornece dados de nascimento e endereço <strong>no</strong>s EUA. 321 Custa em tor<strong>no</strong>de US$ 30 e tem validade de 5 a<strong>no</strong>s. Não revela, contudo, qualquerinformação sobre o status migratório do portador. Serve também comodocumento de autorização de regresso ao México, em casos de perdado passaporte. USAir e Aeroméxico, entre outras companhias aéreas,permitem o embarque de passageiros para desti<strong>no</strong>s <strong>no</strong> México combase apenas na apresentação da carteira de matrícula consular. Outrasempresas já começaram a aceitá-la para a abertura de contas de água,gás, eletricidade e telefone. Essencial tem sido a possibilidade de suautilização para firmar contratos de seguros. Em 2006, cerca de 560gover<strong>no</strong>s municipais <strong>no</strong>s EUA já aceitavam a matrícula consularmexicana como identificação válida. 322 A maior utilidade do documento,do ponto de vista do migrante, é a abertura de contas bancárias. Em2006, 178 bancos <strong>no</strong>s EUA já aceitavam a matrícula consularmexicana. 323 Os consulados mexica<strong>no</strong>s, bem como os bancos eautoridades <strong>no</strong>rte-americanas utilizam decodificador fornecido peloGover<strong>no</strong> mexica<strong>no</strong> para aferir a autenticidade do documento. Apesardisso, em 2005, surgiram dúvidas sobre se a segurança das carteirasnão estaria comprometida, por não haver cadastro centralizado. OMéxico investiu, então, na criação de banco de dados unificado nacidade do México e conectado por rede com todos os consulados <strong>no</strong>sEUA. O sistema foi também interligado à Procuradoria Federalmexicana. 324Nos EUA, a aceitação do documento ainda não encontrouobtáculos de monta, porquanto o México realizou cuidadoso trabalhodiplomático prévio junto às autoridades <strong>no</strong>rte-americanas <strong>no</strong> sentido89


GEORGE TORQUATO FIRMEZAde reduzir as resistências à aceitação da matrícula. 325 Naturalmente,essas negociações foram conduzidas junto aos Departamentos deSegurança Interna e de Justiça, que têm a responsabilidade por assuntosmigratórios, e, apenas subsidiariamente, junto ao Departamento deEstado. Outros países vêm seguindo o exemplo do México, expandindoo uso da matrícula consular. 326 Além do Brasil, também o Peru e aGuatemala estão implementando projetos-piloto. Honduras, El Salvadore Polônia estão planejando iniciativas idênticas. 3275.6 Iniciativas na área de saúdeO México mantém, desde o final dos a<strong>no</strong>s 1990, programachamado Vete Sa<strong>no</strong>, Regresa Sa<strong>no</strong>, que desenvolve atividades de difusão,educação, capacitação e cuidados médicos básicos. Entre as açõesimplementadas, estão a criação de rede de serviços de apoio a famílias demigrantes e a organização de Semanas Binacionales de Salud, para adifusão de informações sobre AIDs e outras doenças e a distribuição decartilhas chamadas El ABC de la Salud de los Migrantes. 328Nos consulados, foram criadas as chamadas Ventanillas deSalud, com o propósito de orientar os migrantes sobre as possibilidadesde atendimento médico, independentemente de sua situação migratória,em clínicas e hospitais da rede pública <strong>no</strong>rte-americana de saúde. Paratanto, o Gover<strong>no</strong> mexica<strong>no</strong> tem dedicado especial atenção à negociaçãode convênios com hospitais <strong>no</strong>s EUA. 329A Chancelaria mexicana chegou a produzir diversas rádio<strong>no</strong>velassobre temas sociais relacionados com a vida cotidiana dosmigrantes. Para citar apenas um exemplo, descobriu-se que acircularidade de parte das migrações mexicanas <strong>no</strong> início dos a<strong>no</strong>s1990 ajudava a disseminar a AIDs. Muitos migrantes vinham trabalhar<strong>no</strong>s EUA sem família, regressando todos os a<strong>no</strong>s ao México. Essas<strong>no</strong>velas transmitidas pela rede de estações de rádio em espanhol <strong>no</strong>sEUA discutiam aspectos da prevenção da AIDs. Essas <strong>no</strong>velas foramdescontinuadas em razão de seu alto custo.90


A POLÍTICA DO MÉXICO PARA SUAS COMUNIDADES5.7 Disseminação de informaçõesAlém de diversos canais mexica<strong>no</strong>s de televisão serem captados<strong>no</strong>s EUA, o México conta com alguns programas de informaçãoespecíficos para preservar os laços culturais com sua comunidadeemigrada. 330 Mencione-se, neste particular, o serviço informativo Lazos,iniciado em 2003. Trata-se de um boletim disponibilizado na internetde segunda a sexta, com a sín<strong>tese</strong> das <strong>no</strong>tícias publicadas na imprensamexicana e <strong>no</strong>rte-americana de interesse para a população mexicana,em particular, e hispânica, em geral, residente <strong>no</strong>s EUA. 331 O portal doInstituto de Mexica<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, por sua vez, traz informações sobretemas de importância, como o debate sobre a legislação migratória<strong>no</strong>rte-americana, o direito de voto dos mexica<strong>no</strong>s <strong>no</strong> exterior, estatísticasmigratórias e tabelas de taxas de remessas praticadas por bancos eagências. Reúne, também, todos os sítios de internet das diferentescomunidades mexicanas <strong>no</strong>s EUA. 332 Com o objetivo de promoverentre os filhos de migrantes sentimento de orgulho de pertencer àcultura mexicana, o IME vem também organizando concursos dedesenho e redação como Éste es mi México e Otra Mirada. 333 Nosformulários de inscrição do concurso, há campos que devem serpreenchidos pelos pais, constituindo mais uma fonte de informaçãosobre o perfil da comunidade. 334O Guía Paisa<strong>no</strong>, outrossim, tem-se consolidado comoinstrumento de grande utilidade na transmissão de informação básicapara orientação de migrantes. Tem sido impressas edições de baixocusto, de modo a permitir altas tiragens. A edição de 2006, por exemplo,teve tiragem de 2,2 milhões de exemplares, distribuídos, <strong>no</strong>s EUA,pela rede consular e, <strong>no</strong> México, pelo Instituto Nacional de Migraçãoe pela Secretaria de Turismo. 335 O primeiro abriu uma seção especialem seu sítio de internet dedicada a estatísticas relevantes para o temamigratório. Com vistas ao monitoramento de fluxos migratórios, oInstituto assi<strong>no</strong>u convênio de cooperação com a OIM em 2005, paraa execução do chamado “Sistema de Informação Estatística sobre as91


GEORGE TORQUATO FIRMEZAMigrações na Meso-américa)”. 336 Para difundir informação sobre osmeios legais para migração e sobre os riscos relacionados com o tráficoilícito de migrantes, o Gover<strong>no</strong> mexica<strong>no</strong> produziu documentáriochamado Del Sur al Norte e spot publicitário intitulado DenunciaCoyotes. 337 Ainda em matéria de prevenção e orientação, o Méxicoimprimiu e distribuiu, entre os funcionários públicos envolvidos com otema migratório, 3 mil exemplares da Convenção de 1990 sobre osdireitos dos trabalhadores migrantes. 3385.8 Algumas iniciativas <strong>no</strong>s pla<strong>no</strong>s multilateral e regionalÉ evidente o esforço do México para multilateralizar einstitucionalizar internacionalmente o tratamento do tema migratório.Paralelamente às negociações bilaterais com os EUA, o Gover<strong>no</strong>mexica<strong>no</strong> liderou a formação de grupo de dez países da América Latina,consubstanciado nas reuniões de Ministros de Relações <strong>Exterior</strong>es daAmérica Central. Essas reuniões foram instituídas em janeiro de 2006,durante a realização, na Cidade do México, de Encontro dos Ministrosde Relações <strong>Exterior</strong>es da América Central, em razão da aprovação,em dezembro de 2005, de projeto de lei na Câmara dos Deputadosdos EUA, com dispositivos preponderantemente voltados ao reforçode fronteiras e à repressão da migração indocumentada. A essemecanismo de consultas e discussão regional do tema migratório, logoaderiram Colômbia e Equador. O Grupo busca influenciar positivamenteo debate migratório <strong>no</strong>s EUA, ressaltando o aporte sócio-econômicopositivo dos migrantes às sociedades receptoras, ao mesmo tempo emque rechaça a criminalização da migração indocumentada e a construçãode barreiras físicas, advogando sempre o princípio da responsabilidadecompartilhada. O Brasil poderá participar das reuniões do Grupo comoobservador, <strong>no</strong>s termos de convite transmitido, em junho de 2006,pelo então Chanceler Luiz Derbez ao Ministro Celso Amorim. Alémde constituir espaço para tentar, de algum modo, influenciar o debateda questão migratória <strong>no</strong>s EUA, o mecanismo funciona como foro de92


A POLÍTICA DO MÉXICO PARA SUAS COMUNIDADESarticulação de políticas regionais voltadas para tratamento da questão<strong>no</strong> âmbito intra-regional.Por ora, o México vem advogando, assim como defende juntoao Gover<strong>no</strong> <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>, solução compartilhada sobre o assuntocom os Gover<strong>no</strong>s centro-america<strong>no</strong>s envolvidos, com os quais possuimecanismos e programas para o gerenciamento bilateral da questão.Em 2001, o México, embora negando estar cedendo às pressões dosEUA, iniciou esforço de militarização dos controles na fronteira com aGuatemala, com o anúncio do chamado Pla<strong>no</strong> Sul. 339 Em 2006, houveesforço para amenizar um pouco o sofrimento infligido aos migrantesque são detidos após cruzarem o Rio Suchiate, iniciando perigosajornada através do território mexica<strong>no</strong> até a fronteira <strong>no</strong>rte. Para tanto,foram construídas três <strong>no</strong>vas estações migratórias e ampliadas 37outras. 340Outra iniciativa mexicana, dessa vez empreendida com outrospaíses em desenvolvimento, 341 foi a proposta de convocação pela ONUde uma Conferência Internacional sobre Migrações Internacionais,resgatando, assim, idéia originalmente lançada pelas Filipinas <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s1990. Tal proposta acabou resultando <strong>no</strong> compromisso de realizar oDiálogo de Alto Nível (DAN) sobre Migrações e Desenvolvimento,em setembro de 2006, em Nova York. O México defendeu que oDAN tivesse, como mecanismo de seguimento, foro a ser instituídopelo ECOSOC, que teria entre suas atribuições as de promover maiorcoerência e coordenar o trabalho das agências e instâncias das NaçõesUnidas relevantes para a discussão do tema. Ainda <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> multilateral,o México defende a redução dos custos das remessas, a governabilidadedo fenôme<strong>no</strong> migratório por meio da circularidade da migração e aaplicação do princípio da responsabilidade compartilhada na gestãodo tema. O <strong>no</strong>vo presidente mexica<strong>no</strong> eleito em 2006, 342 em suaprimeira reunião de trabalho com Chefes de Gover<strong>no</strong> da AméricaCentral, em dezembro desse a<strong>no</strong>, já se posicio<strong>no</strong>u favoravelmente àcontinuação dos esforços de coordenação dos interesses comuns comrelação ao mercado de trabalho dos EUA.93


GEORGE TORQUATO FIRMEZA5.9 Outros programas de apoio aos migrantesEm 1994, o México aprovou emenda constitucional sobre adupla nacionalidade, assegurando, naquele momento, que os mexica<strong>no</strong>snão perderiam sua nacionalidade originária ao tornarem-se cidadãos<strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s. Numa época em que, <strong>no</strong>s EUA, a política migratóriase fazia mais restritiva, o objetivo declarado da emenda constitucionalfoi o de ajudar os mexica<strong>no</strong>s a manterem seus direitos políticos comocidadãos mexica<strong>no</strong>s, ao adquirirem a nacionalidade <strong>no</strong>rte-americana,com os direitos políticos daí resultantes, sem romper seus vínculos como México. 343 Em 1996, <strong>no</strong> bojo de emenda constitucional mais ampla,foi introduzido dispositivo que permitiu o direito de voto aos mexica<strong>no</strong>s<strong>no</strong> exterior, a partir das eleições do a<strong>no</strong> 2000. Restou, porém, aprovarlegislação ordinária que viesse regulamentar esse direito, o que só veioa ocorrer em 2006. 344Um projeto-piloto do Gover<strong>no</strong> mexica<strong>no</strong> talvez assuma, <strong>no</strong>futuro, papel crucial <strong>no</strong> bojo de suas políticas para comunidades. Tratasede programa que vem sendo desenvolvido pela Secretaria de Ciênciae Tec<strong>no</strong>logia. Partiu da constatação de que há <strong>no</strong>s EUA cerca de ummilhão de mexica<strong>no</strong>s com formação superior, muitos deles egressosde universidades <strong>no</strong>rte-americanas. Com assessoria do Banco Mundiale seguindo o modelo da rede chilena ChileGlobal, 345 o Gover<strong>no</strong> crioua rede Mexico Talent Abroad Network. A rede funciona com baseem sítio de internet criado para esse fim. Seu gerenciamento diárioficou a cargo de escritório mantido pela Secretaria de Eco<strong>no</strong>mia doMéxico na Califórnia, que é, na verdade, uma incubadora de empresas,o chamado Mexico Enterprise Accelerator. O objetivo da rede é ode acelerar a circulação de informações e capitais entre os mexica<strong>no</strong>s<strong>no</strong> exterior e <strong>no</strong> México.O Instituto de Mexica<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong> também outorgacondecoração chamada Reconhecimento Ohtli, 346 aos mexica<strong>no</strong>s,descendentes de mexica<strong>no</strong>s ou lati<strong>no</strong>s de modo geral, que se destacam<strong>no</strong> apoio aos migrantes mexica<strong>no</strong>s. Trata-se de reconhecimento94


A POLÍTICA DO MÉXICO PARA SUAS COMUNIDADESsimbólico que tem contribuído para o reforço dos vínculos afetivosdos emigrados com o México.6. ALGUMAS CONSIDERAÇÕESEntre as diversas iniciativas do Tlatelolco, a criação do Institutode Mexica<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong> terá sido talvez a de maior impacto a longoprazo. Com a criação do Instituto, o México buscou um ponto deequilíbrio entre duas estruturas pré-existentes, o Programa para<strong>Comunidades</strong> Mexicanas <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong> e o Escritório de Atenção aosMexica<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>. Em 2003, foi <strong>no</strong>meado como primeiro Diretor-Geral do Instituto um mexica<strong>no</strong>-america<strong>no</strong>, ao passo que o cargo deDiretor-Executivo do Instituto foi reservado a diplomata de carreirado Tlatelolco. Conquanto formalmente vinculado à estrutura daChancelaria, onde está fisicamente instalado, o Instituto constitui órgãorelativamente autô<strong>no</strong>mo, com interlocução privilegiada junto àPresidência e aos Ministérios.Outra iniciativa de relevo foi o estímulo à criação dos chamadosClubes de Oriundos, trabalho iniciado <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1990. Em 2006, haviainúmeras associações de mexica<strong>no</strong>s <strong>no</strong>s EUA, agrupadas emfederações e confederações. Não há, ainda, é bem verdade estruturavoltada especificamente para a ação política, a exemplo do AmericanIsraeli Political Action Committee. 347 Mas a simples existência derede de associações com cobertura nacional dá ao Gover<strong>no</strong> mexica<strong>no</strong>,por intermédio sobretudo de duas reuniões anuais do ConselhoConsultivo do Instituto dos Mexica<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, a oportunidade detransmitir sua agenda política bilateral para a rede de associaçõesmexicanas <strong>no</strong>s EUA. Estas, por sua vez, encarregam-se de difundi-lajunto a amplo espectro de interlocutores políticos nas esferas municipais,estaduais e federais estadunidenses.No que se refere à utilização de carteiras de matrícula consular,o México teve o mérito de negociar previamente sua aceitação juntoàs autoridades <strong>no</strong>rte-americanas e de montar grande campanha de95


GEORGE TORQUATO FIRMEZAdivulgação por intermédio de sua rede de 47 consulados <strong>no</strong>s EUA ede empresas privadas contratadas. Ressalte-se que se fez esseinvestimento apesar de a comunidade mexicana aceitar com maisnaturalidade do que a brasileira a necessidade de registro <strong>no</strong>sconsulados. 348 Adicionalmente, a cada três meses, aproximadamente,os consulados mexica<strong>no</strong>s funcionam durante o final de semana, paraatender a comunidade. Como resultado, somente entre 2002 e 2004,o México emitiu <strong>no</strong>s EUA cerca de 2,2 milhões de carteiras. 349Mas é justamente o aumento de sua utilização que pode criardificuldades. 350 À medida que for aumentando o número de paísesemissores 351 de carteiras de matrícula consular, deve aumentar o custoe a complexidade do controle por parte das autoridades <strong>no</strong>rteamericanas,sobretudo se nem todas essas carteiras emitidas pordiversos países para suas comunidades <strong>no</strong>s EUA tiverem o mesmograu de segurança alcançado pela do México. Pode surgir também otemor de que as características de segurança dessas carteiras não sejamsuficientes para evitar sua falsificação. 352Embora os demais Estados mexica<strong>no</strong>s já estejam tambémtentando utilizar as remessas como fonte de financiamento de projetossociais ou empresariais, Zacatecas e Guanajuato são os dois únicoscom programas realmente estruturados para captar doações coletivase investimentos de migrantes. O motivo parece residir <strong>no</strong> fato de que,incentivados pela Chancelaria mexicana, os Gover<strong>no</strong>s desses doisEstados criaram, <strong>no</strong> início dos a<strong>no</strong>s 1990, escritórios para assuntos deemigrantes. 353 Desde então, estes têm-se dedicado não apenas àcaptação de investimentos, mas também à proteção consular e difusãocultural. 354Talvez por conta de história política marcada até recentementepor denúncias de corrupção <strong>no</strong>s pleitos eleitorais, o México ainda nãoavançou muito na questão de concessão de direitos políticos à suadiáspora. Em 2006, pela primeira vez, os mexica<strong>no</strong>s <strong>no</strong> exteriorpuderam votar nas eleições presidenciais. Como a legislação queestendeu esse direito de voto aos mexica<strong>no</strong>s emigrados só foi aprovada96


A POLÍTICA DO MÉXICO PARA SUAS COMUNIDADESpoucos meses antes do pleito, não houve tempo hábil para assegurar aparticipação da maior parte da comunidade. Embora haja sidopermitido o voto pelo correio, por meio de cédulas especiais, de umtotal de 11 milhões, apenas 40 mil cidadãos mexica<strong>no</strong>s residentes <strong>no</strong>sEUA votaram.Outra questão importante a ser realçada é a de que uma dasprioridades da política mexicana para os EUA desde 1994 tem sido ade evitar que as discussões sobre o NAFTA sejam contaminadas pelodebate sobre a migração de mexica<strong>no</strong>s indocumentados para osEUA. 355 Essa postura mostra um pouco do conflito de prioridadespara o Gover<strong>no</strong> mexica<strong>no</strong>, o qual, ao mesmo tempo em que procuraassegurar a assistência e proteção a seus nacionais, teme ver o restantede sua pauta bilateral, sobretudo econômico-comercial, afetada pelaagenda negativa representada por outros temas como migração, tráficode drogas ou terrorismo.Nos últimos a<strong>no</strong>s, o tratamento do tema migratório <strong>no</strong>s EUApassou a ser influenciado fortemente pela prioridade de combate aoterrorismo, com rigor crescente na adoção de medidas restritivas emsua fronteira com o México. Este, por sua vez, vem sendo pressionadopelos EUA a estabelecer controles rígidos em sua fronteira com aGuatemala, erigindo barreiras físicas e introduzindo medidas desegurança. De certa forma, os EUA querem ver reproduzido, na fronteiraMéxico-Guatemala, o modelo de controle antiimigratório existente emsua própria fronteira com o México. Este pode acabar tendo de cederàs pressões <strong>no</strong>rte-americanas, possivelmente em troca de tratamentodiferenciado para os seus próprios nacionais residentes <strong>no</strong>s EUA. Seo fizer, contudo, estaria conferindo aos migrantes centro e sulamerica<strong>no</strong>sem seu território o mesmo tratamento que tanto critica <strong>no</strong>que tange à forma como os EUA tratam os próprios mexica<strong>no</strong>s. Haveria,portanto, nessa hipó<strong>tese</strong>, perda de coerência e credibilidade na políticamexicana diante da questão migratória.Ao avaliar as políticas mexicanas para as comunidades, ficaclara sua gradual evolução a partir dos a<strong>no</strong>s 1980. Nesse período,97


GEORGE TORQUATO FIRMEZAprevalecia o objetivo de contribuir para o bem-estar dos migrantes <strong>no</strong>que se refere a temas sociais, como saúde e educação, além de estimularo surgimento de associações na comunidade. Mais recentemente, nãoobstante continuarem a ser desenvolvidos os programas de apoio socialque se mostraram exitosos, o foco das políticas mexicanas tem-setransferido para a questão do empowerment, ou seja, do fortalecimentoda capacidade da própria comunidade de tomar em suas mãos astarefas de enfrentar as dificuldades que afligem seus integrantes.98


CAPÍTULO VA POLÍTICA DAS FILIPINASPARA SUAS COMUNIDADES


CAPÍTULO VA POLÍTICA DAS FILIPINAS PARA SUAS COMUNIDADES“Roots, roots of remembered greenery, roots of memory andpungent plants, roots, in a word, are enabled to traverse longdistances by surmounting some obstacles, penetrating others andinsinuating themselves into narrow cracks.” Vladimir Nabokov 356Assim como o México, as Filipinas estão entre os maioresexportadores mundiais de trabalhadores, porquanto a eco<strong>no</strong>mia localnão os assimila. Mas ao contrário do México, cujos migrantes estãoconcentrados majoritariamente <strong>no</strong>s EUA, as Filipinas têm seus nacionaisdispersos por mais de 150 países. 357 O objetivo deste capítulo é o deanalisar aspectos relacionados à política desenvolvida por Manila paraassistir os filipi<strong>no</strong>s emigrados. 358 Relata-se também o caso especialdos migrantes filipi<strong>no</strong>s <strong>no</strong> Japão, bem como a própria política migratóriajaponesa.1. COMUNIDADES FILIPINAS NO EXTERIOR: ANTECEDENTES HISTÓRICOSAs primeiras migrações filipinas de que se tem registro datamde 1565, quando marinheiros foram recrutados para trabalhar emnavios espanhóis na rota comercial Manila-Acapulco. 359 Mais tarde,<strong>no</strong> século XIX, ativistas políticos, como o herói nacional José Rizal,buscaram asilo na Europa, para fugir à perseguição das autoridadescoloniais espanholas. 360 Mas foi <strong>no</strong> a<strong>no</strong> de 1900 que tiveram inícioas migrações filipinas em larga escala. 361 Como resultado da GuerraHispa<strong>no</strong>-Americana, a Espanha foi forçada a entregar as Filipinasaos EUA, após cerca de 300 a<strong>no</strong>s de domínio colonial. 362 As Filipinasestavam empobrecidas e os EUA, necessitados de trabalhadoresagrícolas. 363 Como resultado dessa complementaridade, milhares de101


GEORGE TORQUATO FIRMEZAfilipi<strong>no</strong>s deixaram o país rumo ao Havaí e à Califórnia. Em 1934, jáhavia aproximadamente 120 mil filipi<strong>no</strong>s trabalhando na fruticultura <strong>no</strong>Havaí (abacaxi) e na Califórnia (uva e laranja). 364 Em 1943, <strong>no</strong> augedo enfrentamento bélico dos EUA com o Japão, o Congresso <strong>no</strong>rteamerica<strong>no</strong>alargou provisoriamente as cotas para a migração denacionais de países asiáticos aliados, como a China, a Índia e, sobretudo,as Filipinas. 365Nos a<strong>no</strong>s 1970, imaginava-se que as migrações filipinasteriam caráter temporário, até que o país superasse período decrise econômica. Mas a instabilidade política, o crescimentopopulacional, o elevado nível de desemprego e os salários reduzidoscontinuaram a impulsionar os trabalhadores para o exterior. 366Naquela época, os países do Golfo Pérsico precisavam detrabalhadores para concretizar projetos de infra-estrutura. Comoferta e demanda convergindo, as Filipinas deram início a programasde incentivo à migração em larga escala durante o Gover<strong>no</strong> deFerdinand Marcos. 367 Em 1975, já havia cerca de 250 mil filipi<strong>no</strong>s<strong>no</strong> território continental dos EUA. 368 Outro desti<strong>no</strong> comum parafilipi<strong>no</strong>s <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1970 foi o Oriente Médio, em geral, especialmenteos países do Golfo Pérsico. 369 A partir de 1980, houve reorientaçãogradual desses fluxos migratórios em direção a países asiáticos,como o Japão, Malásia e Cingapura. Ademais, desde então, amigração oriunda das Filipinas passou a enfrentar a competição 370de mão-de-obra advinda de <strong>no</strong>vos participantes do mercado globalnão-especializado, oriundos da Índia, Paquistão e Bangladesh. 371Apesar dessa competição, as Filipinas ainda são hoje um dosmaiores emissores mundiais de migrantes. O processo migratórioassumiu tamanha amplitude que, em 2004, quase metade dapopulação dependia de remessas de familiares <strong>no</strong> exterior. 372Pesquisa nacional revelou que 20% dos filipi<strong>no</strong>s gostariam de migrar,apesar dos riscos e das vulnerabilidades a que estariam expostos. 373Em 2005, estima-se que o número de migrantes filipi<strong>no</strong>s tenhachegado a 8,1 milhões. 374102


A POLÍTICA DAS FILIPINAS PARA SUAS COMUNIDADES2. COMUNIDADES FILIPINAS NO EXTERIOR: CARACTERÍSTICASA diáspora filipina de hoje apresenta algumas característicasbásicas. Uma delas é a de que as mulheres constituem pouco mais dametade do total de migrantes. A idade média das mulheres situa-se emtor<strong>no</strong> de 29 a<strong>no</strong>s e a dos homens, por volta de 36 a<strong>no</strong>s. 375 Dos 8,1milhões de filipi<strong>no</strong>s <strong>no</strong> exterior, estima-se que dois milhões se encontremem situação migratória irregular.As mulheres constituem, portanto, componente de grandevisibilidade na migração internacional das Filipinas. 376 São contratadas,<strong>no</strong>rmalmente, para trabalhar em residências ou <strong>no</strong> setor deentretenimento. Esses dois setores costumam ter pouca proteção emtermos de direitos trabalhistas, acarretando também maiorvulnerabilidade em termos de segurança e bem-estar das migrantes. 377Entre os principais desti<strong>no</strong>s dos migrantes filipi<strong>no</strong>s, estão hojeo Japão, Arábia Saudita, Kuwait, Cingapura, Emirados Árabes, Itália,Hong Kong e Taiwan. Todos esses mercados são dominados pormulheres. Hong Kong, por exemplo, ostenta mais de 90% de mulheresentre a população de origem filipina. 378Outra particularidade é a de que os filipi<strong>no</strong>s assumem diversostipos de emprego, atuando como empregados domésticos emresidências, trabalhadores especializados em hospitais (enfermeiros emédicos), operários e técnicos em indústrias, entre outras ocupações. 379Dominam o setor de transportes navais, representando, em 2004, cercade 25% do total mundial de marinheiros. 380 Na Ásia, em especial,ocupam boa parte dos empregos como artistas (entertainers).3. O CASO ESPECIAL DOS FILIPINOS NO JAPÃOJapão e Filipinas são, respectivamente, o maior país receptor eo maior país emissor de migrantes na Ásia. Os fluxos de migração, deum lado, e comércio e investimentos, de outro, criaram vínculo entreos dois países. 381 Há que se contextualizar numericamente, contudo,103


GEORGE TORQUATO FIRMEZAtal vínculo. Em termos gerais, a densidade migratória <strong>no</strong> Japão ainda éreduzida, com os migrantes representando cerca de 1,7% do total dapopulação. 382 Filipi<strong>no</strong>s constituem a quarta comunidade mais numerosa<strong>no</strong> Japão, atrás apenas das comunidades coreana, chinesa e brasileira.Em média, os salários <strong>no</strong> Japão correspondem a dez vezes ovalor pago nas Filipinas. 383 Em 2003, havia quase 70 mil migrantesfilipi<strong>no</strong>s regulares <strong>no</strong> Japão 384 e estimados 30 mil irregulares, por todoo país. 385 A dispersão dos migrantes em várias regiões do Japão e suascondições de trabalho têm dificultado a interação entre eles. A igrejacatólica constitui ponto vital de interação social e apoio comunitário.Uma das instituições católicas que se têm destacado na proteção detrabalhadoras migrantes <strong>no</strong> Japão é a House in Emergency with Loveand Peace (HELP). Outro ponto de apoio é a existência de residênciascoletivas e de pequenas comunidades surgidas em determinados bairros.Canais de televisão filipina transmitidas <strong>no</strong> exterior representam fatoresadicionais de agregação cultural. 386No Japão, há migrações internas de mulheres do campo paraa cidade. Esse fenôme<strong>no</strong> ocorre, em parte, por conta do sistema deherança ainda prevalecente em algumas áreas rurais do país. Os filhosherdam as terras dos pais. Às mulheres, resta seguir para as cidadesem busca de emprego, deixando os homens que ali permanecem compoucas opções para casamentos. Em diversos países asiáticos, écomum que os casamentos envolvam algum tipo de migração interna.Com alguma freqüência, as mulheres casam e migram para os lugaresonde seus maridos estão estabelecidos. A partir dos a<strong>no</strong>s 1980,porém, começaram a tornar-se mais comuns na Ásia casamentosque envolvem migrações internacionais. 387 Normalmente, sãomulheres de países em desenvolvimento que se casam com homensde países desenvolvidos. 388 Entre 1992 e 2000, registrou-se ingressonumeroso <strong>no</strong> Japão de mulheres vindas da China, Filipinas e Coréiapara fins matrimoniais. 389As mulheres representam cerca de 80% da comunidadefilipina <strong>no</strong> Japão. Trabalham como empregadas domésticas,104


A POLÍTICA DAS FILIPINAS PARA SUAS COMUNIDADESenfermeiras, operárias de fábricas e bar hostesses. Muitas acabaramcasando-se com cidadãos japoneses, caracterizando o que seconvencio<strong>no</strong>u chamar de “diáspora matrimonial”. 390 Em 1992, entreos casamentos de pessoas com nacionalidades diferentes <strong>no</strong> Japão,aqueles celebrados entre japoneses e filipinas já ostentavam onúmero mais alto. 391 Em 2002, já havia milhares de filhos resultantesdesses casamentos mistos. 392 No Japão, esses casamentos são malvistos por parte da população. 393 É bem verdade que tem sidodetectado também o trabalho de agenciadores de casamentosespúrios, com o único propósito de assegurar vistos de residência<strong>no</strong> Japão para mulheres filipinas. 394 A decisão do Gover<strong>no</strong> japonês,em 2005, de proibir a concessão de vistos para a contratação defilipinas para a indústria do entretenimento, com o objetivo declaradode prevenir o tráfico de mulheres para a indústria do sexo, podeestar relacionado com a preocupação, em algumas correntes deopinião <strong>no</strong> país, de proteger a homogeneidade da etnia e da culturajaponesas. 395A exemplo do que se fez <strong>no</strong> setor industrial, já está em cursoprograma de estagiários na área de saúde, que tem permitido oingresso de nacionais das Filipinas e da Indonésia. Em contraste comessa política de exportação de profissionais de saúde, registre-se ofato de que, em face dos reduzidos salários oferecidos, diversoshospitais foram fechados nas Filipinas <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s por falta demão-de-obra especializada. 396No Japão, a criação de associações formais ou informais defilipi<strong>no</strong>s tem-se revelado de grande importância como fonte de apoiomútuo. 397 Há diversas associações formadas com base na região deorigem, categoria profissional ou religião. 398 Os filipi<strong>no</strong>s tambémparticipam ativamente de instituições religiosas <strong>no</strong> Japão, muitas dasquais mantêm programas de proteção a migrantes. 399 As igrejasacabaram criando centros para abrigar trabalhadores estrangeiros queentraram em depressão ou fugiram de seus locais de trabalho, em razãode maus tratos infligidos por seus empregadores. 400105


GEORGE TORQUATO FIRMEZA4. A POLÍTICA MIGRATÓRIA DO JAPÃOQuando se iniciou a migração filipina em larga escala para oJapão, este já tinha tido a experiência de receber contingentesmigratórios de um século antes, com o estabelecimento de comunidadesde migrantes chineses em algumas cidades portuárias. Recorde-se que,em 1895, o Império Nipônico havia conquistado sua primeira colônia,Taiwan, e, em 1910, havia anexado a Coréia. 401 Em 1910, surgiramfluxos de migração da península coreana para o Japão, em decorrênciadessa invasão e ocupação. 402 Com o fim da II Guerra Mundial, osAliados liberaram as colônias japonesas. Restou a questão de comolidar com os corea<strong>no</strong>s e chineses (de Taiwan) que optaram por continuara residir em território japonês. 403 Permaneceram <strong>no</strong> país mais de 600mil corea<strong>no</strong>s e cerca de 37 mil chineses. 404 No imediato Pós-Guerra,surgiu discurso político de co<strong>no</strong>tações negativas para os corea<strong>no</strong>s echineses, atribuindo-lhes parte da culpa pelas mazelas do país. 405A legislação aprovada <strong>no</strong> final dos a<strong>no</strong>s 1940 e início dos a<strong>no</strong>s1950 visou ao registro desses antigos cidadãos do Império Nipônico. 406Em 1947, surgiu a Lei do Registro dos Estrangeiros, aplicável aoscorea<strong>no</strong>s e chineses, conquanto, naquela data, ainda ostentassemcidadania japonesa. Em 1949, aprovou-se o Regulamento de Controlede Entrada, reforçando as instâncias burocráticas para monitorar econtrolar a chegada de estrangeiros <strong>no</strong> país. Em 1950, foi aprovada aLei de Nacionalidade, baseada <strong>no</strong> princípio de jus sanguinis.Para citar apenas um exemplo, nem mesmo os corea<strong>no</strong>s deterceira ou quarta geração <strong>no</strong> Japão têm o direito à nacionalidade. 407 ALei do Controle da Imigração e Reconhecimento de Refugiados, tambémde 1952, veio completar o arcabouço básico da política migratóriajaponesa. O Escritório de Imigração passou para a esfera do Ministérioda Justiça. A política migratória japonesa estabelecida <strong>no</strong> Pós-Guerranão visava às necessidades da eco<strong>no</strong>mia. 408 Antes, refletia visãoexcludente com relação a populações estrangeiras que eram parte do106


A POLÍTICA DAS FILIPINAS PARA SUAS COMUNIDADESantigo Império Nipônico. E objetivava a institucionalizar o discursodominante sobre a homogeneidade étnica e cultural do país.O Japão só voltaria a receber influxos significativos de migrantescerca de quatro décadas após o final da II Guerra Mundial. 409 Emboratenha havido déficit de mão-de-obra <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1960, quando aeco<strong>no</strong>mia japonesa estava em plena expansão, o Gover<strong>no</strong> decidiu nãoimportar trabalhadores estrangeiros, preferindo investir na automaçãoindustrial 410 e na ampliação do recrutamento de trabalhadores rurais ede mulheres.Ao contrário dos demais países industrializados, o Japão nãoabriu as portas para a força de trabalho estrangeira quando suaeco<strong>no</strong>mia estava crescendo a taxas extremamente elevadas <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s1950, 1960 e 1970. 411 Na Europa do pós-Guerra, por exemplo, oproblema da escassez de mão-de-obra para os esforços dereconstrução foi resolvido com base em programas de trabalhadoreshóspedes, a exemplo dos turcos na Alemanha, tema tratado <strong>no</strong> capítuloVII deste trabalho. 412Por diversas vezes, o empresariado instou o Gover<strong>no</strong> a permitira entrada de migrantes para reforçar o mercado de trabalho, comoforma de manter preços e salários sob controle. 413 Trata-se dereceituário clássico – ainda que amargo - em período de rápidaexpansão econômica: manter ilimitada a oferta de trabalho de modo acomprimir os salários e expandir os lucros. Diante da demanda nãoatendida por canais formais, houve crescimento de residen<strong>tese</strong>strangeiros irregulares. A maioria era proveniente de países asiáticos,como Coréia do Sul, China, Bangladesh, Filipinas, Paquistão e Tailândia.Em geral, esses migrantes ilegais eram homens que se dirigiam aossetores de construção e manufatureiro ou mulheres empregadas comobar hostesses e entertainers. 414 Diante desse fenôme<strong>no</strong>, em 1989, oGover<strong>no</strong> japonês conseguiu aprovar a reforma da Lei do Controle daImigração e Reconhecimento de Refugiados. 415 Reorganizou ascategorias de vistos, de modo a facilitar a migração de profissionaisqualificados. Introduziu penalidades a empregadores, <strong>no</strong> intuito de107


GEORGE TORQUATO FIRMEZAdesencorajar o emprego de trabalhadores irregulares. Manteveinalterado, contudo, o critério da consangüinidade como prioritário naconcessão de vistos de trabalho. 416A entrada de trabalhadores irregulares de me<strong>no</strong>r qualificaçãotem como resultado sua marginalização <strong>no</strong> mercado de trabalho e suamanipulação por meio da figura do agenciador de mão-de-obra. 417No final dos a<strong>no</strong>s 1990, tor<strong>no</strong>u a aumentar o número de migrantesirregulares vindos sobretudo da China, Coréia do Sul, Filipinas eTailândia. 418 A liberalização das regras de admissão para nikkeis teveo objetivo específico de conter o crescimento da entrada de migrantesirregulares originários sobretudo daqueles quatro países. 419Aparentemente, aos olhos das autoridades migratórias japonesas, aetnia era mais importante do que a capacidade de trabalho. Por essavisão, os nikkeis não ameaçariam a homogeneidade da sociedadejaponesa. 420Os migrantes passaram a enfrentar também a concorrência deum tipo diferente de trabalhadores: os estagiários técnicos, oriundosde países asiáticos, recrutados ao abrigo de programas autorizadospelo Gover<strong>no</strong>. 421 Os estagiários têm sido recrutados nas Filipinas, Chinae Indonésia. Trata-se de uma forma encontrada pelas fábricas japonesasde tentar enfrentar a competição de produtos chineses. Metade dosestagiários têm sido empregados <strong>no</strong> setor têxtil, justamente um dosmais vulneráveis à concorrência chinesa. 422A globalização do mercado de trabalho japonês pôde seradiada por alguns a<strong>no</strong>s mediante a estratégia de transferência deplataformas de produção para outros países asiáticos. No entanto, ocrescimento de setores como o de construção civil e serviços deixouo país estruturalmente dependente de mão-de-obra estrangeira,regular e irregular. 423 A figura tipicamente japonesa representada peloagenciador de trabalhadores 424 introduziu componente demaleabilidade na superação das barreiras de entrada <strong>no</strong> mercado detrabalho japonês e de flexibilidade na utilização da força de trabalhoestrangeira. 425108


A POLÍTICA DAS FILIPINAS PARA SUAS COMUNIDADESEm agosto de 1999, o Gabinete japonês adotou resolução quepassaria a influenciar a política migratória do país. Decidiu-se que oGover<strong>no</strong> passaria a promover ativamente a contratação detrabalhadores estrangeiros em consonância com a situação do mercadode trabalho e as necessidades da indústria nacional, sem deixar deconsiderar o impacto dessa imigração sobre a sociedade e o estilo devida <strong>no</strong> Japão. 426 A introdução de força de trabalho estrangeira pareceuinserir-se em reestruturação mais ampla das relações capital-trabalho<strong>no</strong> país, que se estaria afastando do modelo de trabalho vitalício namesma empresa 427 para outro, caracterizado por disparidade entre ossalários e insegurança <strong>no</strong> emprego. 428O debate contemporâneo <strong>no</strong> Japão sobre migrações ocorreem diversas instâncias. 429 Para discutir formas de lidar com a questãodos trabalhadores estrangeiros, 13 cidades japonesas criaram o“Conselho das Cidades com Residentes Não-Japoneses”. Em 2001,na chamada Declaração de Hamamatsu, o Conselho sugeriu ênfasemaior das autoridades japonesas em questões de educação eprevidência. Em 2004, na chamada Declaração de Toyota, oConselho decidiu estimular os migrantes a criarem suas própriasassociações. Nesse sentido, diversos Gover<strong>no</strong>s municipais têminstaurado assembléias para trabalhadores estrangeiros,disponibilizando, assim, fóruns para discussão de seus problemas. 430Também a Nippon Keidanren (Federação de Empresas do Japão)vem participando desse debate. Sugeriu, por exemplo, a criação deMinistério ou Agência para os residentes não-japoneses. Emdezembro de 2004, a Rengo (Confederação de AssociaçõesComerciais do Japão) publicou suas “Visões sobre os trabalhadoresnão-japoneses”, defendendo o princípio de igualdade salarial entretrabalhadores locais e estrangeiros. Já o Ministério da Justiça, <strong>no</strong> seupla<strong>no</strong> qüinqüenal sobre controle imigratório, de 2005, alertou para ofato de que a entrada de trabalhadores não-qualificados teria de serconsiderada realisticamente, em conformidade com as mudançassociais e econômicas.109


GEORGE TORQUATO FIRMEZA5. AS INICIATIVAS DE APOIO AOS FILIPINOS NO EXTERIOR.Apesar da dispersão geográfica de seus nacionais <strong>no</strong> exterior,as Filipinas estão entre os países que oferecem a seus migran<strong>tese</strong>spectro mais abrangente de serviços de apoio, para todas as fases damigração, desde a preparação para o embarque até a readaptação <strong>no</strong>retor<strong>no</strong> ao país.5.1 A estrutura de apoioO desenvolvimento de uma cultura de migração nas Filipinasdeve-se, em parte, à sua institucionalização pelo Gover<strong>no</strong>, que facilitaa migração, regula operações de agências de recrutamento e supervisionaos direitos de seus nacionais <strong>no</strong> exterior. 431 Desde os a<strong>no</strong>s 1970, oGover<strong>no</strong> tem tido participação ativa <strong>no</strong> processo de exportação detrabalhadores. Foi nesse período que se criou o arcabouço jurídicopara programas de empregos <strong>no</strong> exterior, com base <strong>no</strong> CódigoTrabalhista de 1974.Ainda <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1970, foram criadas três instituições governamentaispara cuidar de assuntos relacionados com migrantes: OverseasEmployment Development Board (OEDB), National Seamen’s Board(NSB) e Bureau of Employment Services (BES). Em 1982, os doisprimeiros foram fundidos na Philippine Overseas EmploymentAdministration (POEA) e o BES foi transformado em Overseas WorkersWelfare Administration (OWWA). 432 A POEA processa os contratos demigrantes e monitora a atuação de agências de recrutamento nas Filipinas,ao passo que a OWWA tem a responsabilidade, juntamente com oMinistério dos Negócios Estrangeiros, pelo apoio aos trabalhadores <strong>no</strong>exterior. Ambos, POEA e OWWA, estão sob a jurisdição do Ministériodo Trabalho. Outra entidade, a Comissão sobre Filipi<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>,implementa programas e serviços para os migrantes. Em 2004, essaComissão foi transferida da esfera do Ministério de Negócios Estrangeirospara a Presidência da República. 433110


A POLÍTICA DAS FILIPINAS PARA SUAS COMUNIDADESÉ bem delineada a divisão de tarefas entre os diversosMinistérios com assuntos afetos aos migrantes. O Ministério do Interiorencarrega-se de disseminar, <strong>no</strong> país, oportunidades de emprego <strong>no</strong>exterior, ao passo que o Ministério do Trabalho e Emprego processa adocumentação necessária dos candidatos e reforça a atuação daChancelaria na supervisão das condições de trabalho dos trabalhadores<strong>no</strong> exterior. O Ministério dos Negócios Estrangeiros presta apoio eassistência aos migrantes e negocia acordos bilaterais de proteçãotrabalhista. A Pasta das Finanças monta esquemas especiais para captarrecursos de migrantes para investimentos <strong>no</strong> país. Entre outrasatribuições, cabe ao Ministério da Justiça investigar e, quando cabível,processar as agências de recrutamento de migrantes.As Filipinas estão entre os primeiros países de emigração naÁsia a dispor de legislação que obriga o Gover<strong>no</strong> a tentar assegurara proteção de seus migrantes, a Lei 8042, que constitui espécie deCarta Magna para os trabalhadores filipi<strong>no</strong>s <strong>no</strong> exterior. 434 Com aaprovação dessa lei, em 1995, foi possível contar com mais recursose, <strong>no</strong> âmbito da Chancelaria, maior coesão, a partir da criação daSubsecretaria para Assuntos de Trabalhadores Migrantes. 435 Entreoutras i<strong>no</strong>vações, a Lei 8042 determi<strong>no</strong>u a criação de Fundo deAssistência Legal, que passou a permitir o pagamento de ho<strong>no</strong>ráriosadvocatícios e custas processuais em casos de natureza criminal outrabalhista envolvendo migrantes desvalidos. 436 Estabeleceu penasseveras para o recrutamento ilegal e tráfico de migrantes. 437 Previu aorganização de programas de proteção a testemunhas em processosjudiciais contra pessoas envolvidas com aqueles crimes. Estipulou acriação de centros de acolhimento em cidades <strong>no</strong> exterior com númeroelevado de filipi<strong>no</strong>s. 438 Orde<strong>no</strong>u a criação de programas para informaros candidatos a migrantes sobre as condições de vida e trabalho <strong>no</strong>exterior, bem como para auxiliar na reintegração dos retornados àeco<strong>no</strong>mia local. 439 O programa de assistência aos trabalhadores <strong>no</strong>exterior é parcialmente financiado com taxa de embarque especialde cerca de US$ 25, paga por cidadãos filipi<strong>no</strong>s que viajam ao111


GEORGE TORQUATO FIRMEZAexterior. 440 Ademais, de cada migrante, o Gover<strong>no</strong> cobra taxa deprocessamento da ordem de US$ 100. 4415.2 As agências de recrutamentoNo início dos a<strong>no</strong>s 1970, o Gover<strong>no</strong> costumava participar dafase de recrutamento de trabalhadores e identificação deempregadores <strong>no</strong> exterior. Alguns a<strong>no</strong>s mais tarde, com o crescimentoexacerbado do número de trabalhadores filipi<strong>no</strong>s <strong>no</strong> exterior, oGover<strong>no</strong> deixou essa tarefa a agências privadas de recrutamento.Em 2006, o número dessas agências já passava de mil. É verdadeque ainda existe, <strong>no</strong> âmbito governamental, 442 unidade para cuidarda inserção de trabalhadores <strong>no</strong> exterior, mas seu escopo de atuaçãoé limitado. 443Ademais, as agências privadas de recrutamento têm dedepositar recursos em conta especial, para casos de ressarcimento ourepatriação. Até os anúncios sobre oportunidades específicas detrabalho <strong>no</strong> exterior têm de contar com aprovação prévia do Gover<strong>no</strong>. 444Em teoria, as agências de recrutamento não estão autorizadas a cobrartaxas superiores ao valor de um mês de salário do migrante que recorreaos seus serviços. Na prática, contudo, uma filipina que aceite contratopara trabalhar como empregada doméstica em Hong Kong, porexemplo, ganhará salário mensal de pouco me<strong>no</strong>s de US$ 500 e teráde pagar taxa de US$ 1.500 cobrada pela agência. 445Tendo em vista o recrudescimento das atividades de agênciasilegais de recrutamento de trabalhadores filipi<strong>no</strong>s, o Gover<strong>no</strong> filipi<strong>no</strong> 446criou, em 2004, a Força-Tarefa de Combate ao Recrutamento Ilegalde Migrantes, subordinada diretamente à Presidência da República.Os migrantes recrutados nessas circunstâncias costumam ingressarirregularmente em mercados de trabalho <strong>no</strong> exterior, permanecendosem a proteção mínima de um contrato de trabalho. 447 Além da funçãorepressiva, a Força-Tarefa recebeu também a atribuição de intensificaro esforço de divulgação de informações sobre as condições de trabalho112


A POLÍTICA DAS FILIPINAS PARA SUAS COMUNIDADES<strong>no</strong> exterior e sobre a legislação migratória filipina. Nesse sentido, temfirmado convênios de cooperação com agências governamentais eempresas privadas, buscando ampliar o alcance de suas iniciativas parainformação do público. 448 Não houve, ainda, tempo para avaliar osresultados da atuação dessa Força-Tarefa.5.3 A proteção aos trabalhadoresmigrantes de me<strong>no</strong>r qualificaçãoOs já mencionados seminários de orientação pré-embarque,obrigatórios para todos os migrantes recrutados legalmente, compõemsede um dia inteiro de palestras 449 proferidas por representantes deinstituições privadas autorizadas pelo Ministério do Trabalho. 450 Alémde tópicos específicos para profissões em serviços domésticos, tendoem vista sobretudo formas de se defender de possíveis abusos, osseminários pré-embarque para migrantes em geral foramaperfeiçoados. 451 No embarque <strong>no</strong> aeroporto, o certificado departicipação nesses seminários tem de ser apresentado juntamente comos demais documentos. 452Outra i<strong>no</strong>vação introduzida pelo Gover<strong>no</strong> filipi<strong>no</strong> refere-se àintrodução de módulo obrigatório com informações sobre migração<strong>no</strong> programa de ensi<strong>no</strong> de escolas públicas de segundo grau, emtrabalho conjunto dos Ministérios de Negócios Estrangeiros e deEducação, Cultura e Esportes. O objetivo é o de fornecer informaçõessobre o assunto, reduzindo erros de avaliação <strong>no</strong> futuro sobre eventuaisdecisões de migrar. 453Quanto a empregos considerados de alta vulnerabilidade <strong>no</strong>exterior, como os de empregadas domésticas e trabalhadores naindústria de entretenimento, o Gover<strong>no</strong> filipi<strong>no</strong> passou a exigir modelosdiferenciados de contratos de trabalho, sujeitos a revisões periódicas,de modo a acompanhar alterações ocorridas em cada mercado detrabalho. Foram fixadas, por exemplo, idades mínimas para candidatasàs duas ocupações. 454 É exigida, ainda, prova de conhecimentos orais113


GEORGE TORQUATO FIRMEZAe escritos de língua inglesa. A intenção é a de reforçar a proteção nessasduas categorias funcionais. 455Registre-se, ainda, a criação de centro para reintegração demigrantes, após seu retor<strong>no</strong> do exterior. O trabalho do centro consiste,basicamente, em fornecer orientação sobre os serviços públicosdisponíveis para esses migrantes, bem como oportunidades de empregona eco<strong>no</strong>mia em geral. 456Em países com larga concentração de migrantes filipi<strong>no</strong>s, oGover<strong>no</strong> designa adidos trabalhistas e previdenciários. 457 Em 2006,a rede consular filipina dispunha de um total de mais de 200 adidostrabalhistas, lotados em 26 postos <strong>no</strong> exterior. 458 Além da supervisãodas condições de trabalho e aconselhamento de trabalhadores, osadidos também têm incentivado a criação de associações demigrantes.Diversos avanços da política filipina para comunidades <strong>no</strong>exterior devem ser creditados ao trabalho de monitoramento realizadopor rede de <strong>no</strong>ve entidades da sociedade civil filipina que trabalhamem prol dos direitos huma<strong>no</strong>s dos migrantes, formando a chamadaPhilippine Migrants’ Rights Watch. 4595.4 A migração femininaConforme mencionado anteriormente, as mulheres constituem75% do total das comunidades filipinas <strong>no</strong> exterior. 460 Essa feminizaçãoda migração deu-se <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1990. Em 1987, as mulheresrepresentavam 47% do total. Em 2002, já constituíam 75%. 461 São asmais expostas a situações de vulnerabilidade <strong>no</strong> exterior. Além dosproblemas comuns aos demais migrantes, ainda têm de enfrentar riscosde violência e assédio sexual, uma vez que trabalham em faixa bemmais estreita de ocupações que os homens, limitando-se basicamentea serviços domésticos e de entretenimento. Nessas áreas, é aindaelevado o grau de isolamento, sendo difícil a negociação por padrõestrabalhistas comuns. 462114


A POLÍTICA DAS FILIPINAS PARA SUAS COMUNIDADESAs estatísticas relativas a casos de assistência consularcomprovam a vulnerabilidade das mulheres. Tomem-se, como exemplo,as estatísticas disponíveis em 1998. De 14.314 casos relativos amigrantes, as mulheres estiveram envolvidas em 90% das mortes ouproblemas graves de saúde, 80% das ofensas verbais ou violênciasfísicas e 78% das violações contratuais. 463 Os problemas mais comunsrelacionados às migrantes filipinas são violação de contratos de trabalho,não pagamento ou atraso de salários, violência física ou verbal,prostituição forçada, uso forçado de drogas, cárcere privado e confiscode documentos. 464De certa forma, a imagem externa das Filipinas vê-se associadaà de suas nacionais <strong>no</strong> exterior, como se o país também estivessedestinado a ocupar posição subalterna na divisão internacional dotrabalho. 465 Essa percepção terá influenciado o esforço do Gover<strong>no</strong>para aperfeiçoar suas políticas para as comunidades emigradas. 466 Foia partir dos a<strong>no</strong>s 1990, quase 20 a<strong>no</strong>s após a institucionalização dofenôme<strong>no</strong> migratório filipi<strong>no</strong>, que começaram a repercutir <strong>no</strong> país críticassobre a atuação governamental nessa área, com base em casos degrande visibilidade relacionados ao sofrimento de trabalhadoras filipinas<strong>no</strong> exterior. 467Em setembro de 1991, obteve grande repercussão na mídianacional a morte de uma filipina de apenas 22 a<strong>no</strong>s, Maricris Sioson, 468que trabalhava na indústria de entretenimento <strong>no</strong> Japão. 469 A mídiafilipina estendeu a cobertura do caso Sioson para descrever tambémos abusos a que estavam submetidas as demais trabalhadoras filipinasnaquele país. 470Quatro a<strong>no</strong>s mais tarde, surgiu outro caso de grande visibilidadena mídia, relacionado com uma empregada doméstica filipina emCingapura. 471 Tratou-se do martírio de Flor Contemplación, condenadaà pena de morte sob a acusação, negada por ela, 472 de haver participadodo assassinato de outra filipina e de seu patrão. 473 A opinião públicanas Filipinas convenceu-se de que o Gover<strong>no</strong> não ofereceu o apoio ea assistência jurídica adequadas durante o julgamento. 474 De modo115


GEORGE TORQUATO FIRMEZAgeral, a mídia filipina descreveu Flor Contemplación como símbolodos maus tratos aos quais estariam expostas as trabalhadoras <strong>no</strong>exterior. Sua execução em Cingapura causou comoção popular semprecedentes. 475 Desta vez, além das críticas veiculadas na mídia, haviaum fato <strong>no</strong>vo, que viria dar repercussão ainda mais ampla ao caso.Os protestos sobre o caso Sioson foram realizados por grupos demulheres nas Filipinas em 1991. Quando ocorreu o casoContemplación, já se havia consolidado uma organização nãogovernamentaltransnacional chamada Migrante International. Foijustamente a Migrante International que organizou protestosinternacionais antes e depois da execução de Flor Contemplaciónem Cingapura. 476Ainda em 1995, surgiu um terceiro caso de grande exposiçãona mídia, o de Sarah Balabagan, uma empregada doméstica filipina deapenas 16 a<strong>no</strong>s de idade <strong>no</strong>s Emirados Árabes, ré confessa dehomicídio. Em sua defesa, alegou haver sido agredida sexualmente. 477Condenada à forca, acabou tendo sua pena comutada para um a<strong>no</strong> deprisão, 100 chibatadas e US$ 41 mil de compensação para a famíliado ex-patrão. 478 Um empresário doou o dinheiro da compensação eSarah Balabagan foi liberada para retornar às Filipinas, sendo recebidacomo heroína.A mobilização em tor<strong>no</strong> da situação dessas migrantes forçou oGover<strong>no</strong> a empreender mudanças em suas políticas paracomunidades. 479 Os Ministros dos Negócios Estrangeiros e do Trabalhoe Emprego tiveram de entregar os cargos. 480 Surgiu daí a Lei 8042,com base nas conclusões do relatório da Comissão Gancayco, 481formada pelo Gover<strong>no</strong> em resposta ao caso Flor Contemplación. Orelatório elencou medidas necessárias à proteção dos trabalhadores<strong>no</strong> exterior. 482 Pressionado pela opinião pública, o Congresso discutiue aprovou a Lei 8042 em apenas um mês. E, três meses depois daexecução de Flor Contemplación, o Gover<strong>no</strong> ratificou a Convençãodas Nações Unidas de 1990 para a Proteção dos Direitos dosTrabalhadores Migrantes e de suas Famílias. 483116


A POLÍTICA DAS FILIPINAS PARA SUAS COMUNIDADES5.5 A questão das remessasEm 2005, as remessas de migrantes filipi<strong>no</strong>s foram estimadasem US$ 13,4 bilhões. 484 Calcula-se que pouco mais de 60% dosmigrantes utilizem regularmente o sistema bancário para suas remessase os demais, sistemas comerciais informais. 485 O uso dos bancos paraa realização de remessas pode ser atribuído à redução de seu custodesde os a<strong>no</strong>s 1990. 486 O Banco Central tem atuado <strong>no</strong> sentido deestabelecer padrões mínimos de confiabilidade para bancos e agênciasde remessa de recursos, com o objetivo de proteger os migrantes detaxas excessivas, câmbio injusto e entrega deficiente. 487Mas há relatos de que os bancos levam até uma semana paracompletar as remessas. 488 Por esse motivo, os migrantes filipi<strong>no</strong>s <strong>no</strong>Golfo Pérsico, por exemplo, ainda utilizam diversos esquemas informaisde remessas de recursos door-to-door, os quais oferecem coleta <strong>no</strong>slocais de trabalho e entrega aos beneficiários nas Filipinas emaproximadamente 24 horas. 489 Um indicador de que parte das remessassão efetuadas por meios informais é a existência, em basesdesproporcionais ao tamanho da eco<strong>no</strong>mia, de escritórios de câmbioem todo o país.5.6 Remessas e desenvolvimentoAs remessas de trabalhadores <strong>no</strong> exterior tornaram-se, nasúltimas décadas, componente crucial para a eco<strong>no</strong>mia filipina,contribuindo para compensar as perdas em outros setores. Partindodo pressuposto de que uma família média filipina tem de 4 a 5 integran<strong>tese</strong> que 5 milhões dos 8,1 milhões de filipi<strong>no</strong>s <strong>no</strong> exterior conseguemfazer remessas com regularidade, é possível afirmar que de 20 a 25milhões de filipi<strong>no</strong>s se beneficiam diretamente dessa migração. 490 Asremessas são gastas <strong>no</strong>rmalmente na aquisição de lotes agrícolas oucasas, bem como na abertura de micro-empresas. Sustentam,indiretamente, cerca de 2 milhões de empregos nas Filipinas. De 1985117


GEORGE TORQUATO FIRMEZAa 1995, durante as Administrações Aqui<strong>no</strong> 491 e Ramos 492representaram mais de 25% dos fluxos globais de capital para opaís. 493 A partir dos a<strong>no</strong>s 1990, o Gover<strong>no</strong> passou a oferecer a seusnacionais <strong>no</strong> exterior outras alternativas de investimento, tendo comoobjetivo de médio e longo prazos o retor<strong>no</strong> desses trabalhadores esua readaptação à sociedade. 494 Concebido em 1997, o chamadoflexi-fund constitui sistema de investimentos para migrantesinteressados em assegurar pensão adicional para suaaposentadoria. 495 Os recursos do fundo são investidos unicamenteem letras do tesouro. Há flexibilidade para alteração do valor mensaldas contribuições dos migrantes.O Gover<strong>no</strong> filipi<strong>no</strong> oferece, igualmente, aos migrantes aoportunidade de investir na aquisição, construção ou reforma deimóveis, por meio de fundo para financiamento de moradiaspopulares. As prestações mensais situam-se em tor<strong>no</strong> de US$ 50.Há a previsão de período mínimo de 10 a<strong>no</strong>s, durante o qual osrecursos investidos pelos participantes não podem ser retirados. Esseinvestimento tem garantia integral do Gover<strong>no</strong> e é isento detributação. 496 Em 2005, estimava-se que cerca de 25% dos <strong>no</strong>vosempreendimentos imobiliários <strong>no</strong> país tinham algum tipo departicipação de filipi<strong>no</strong>s emigrados. Forma freqüente de divulgaroportunidades de financiamento para aquisição de moradia tem sidoa realização de feiras de habitação em cidades com alto contingentemigratório filipi<strong>no</strong>. 497O Ministério de Negócios Estrangeiros, em coordenação como Ministério de Finanças, também tem buscado divulgar junto aosmigrantes alternativas de investimento em papéis do Gover<strong>no</strong>, sendoos recursos canalizados para projetos de desenvolvimento.As Filipinas oferecem, ainda, aos migrantes a possibilidadede abertura de contas em moeda estrangeiras. Os recursos podemser repatriados a qualquer momento sem a cobrança de taxas ouimpostos. 498118


A POLÍTICA DAS FILIPINAS PARA SUAS COMUNIDADES5.7 Programas de treinamento empresarialParte das microempresas abertas por migrantes retornados oupor seus familiares nas Filipinas, com recursos enviados do exterior,acabam, passado algum tempo, indo à falência. Preocupado com osproblemas sociais daí advindos, o Gover<strong>no</strong> tem acompanhado eestimulado o surgimento de programas de ensi<strong>no</strong> de curta duração,oferecidos por empresas privadas, para dar aos migrantes orientaçãobásica sobre a abertura de peque<strong>no</strong>s negócios. Esses programas têm adesignação genérica de entrepi<strong>no</strong>y. 499 São baseados em textos didáticoselaborados com linguagem e exemplos adaptados ao nível sócio-culturalmédio dos migrantes filipi<strong>no</strong>s. O objetivo é o de oferecer treinamentobásico em técnicas empresariais, de modo a aumentar as chances deêxito de microempresas abertas com recursos de migrantes. 500Normalmente, organizam a carga horária de modo a nãorepresentar fardo excessivo para pessoas já às voltas com pesadacarga de trabalho. Esses cursos tipicamente têm a duração de seis mesese envolvem a utilização de cerca de 15 apostilas 501 para estudo em casae total de 12 horas 502 de aulas, divididas em seis sessões mensais. Cadaturma é composta por até 300 participantes. 503 Os módulos de ensi<strong>no</strong>concentram-se em temas práticos. 504 Cursos dessa natureza nãocostumam aconselhar os participantes a recorrer a empréstimos para aabertura de negócios, sugerindo, ao invés, esquemas cooperativos entremigrantes oriundos das mesmas cidades. Há relatos de peque<strong>no</strong>s negóciosabertos nas Filipinas com recursos conjuntos de migrantes filipi<strong>no</strong>s quefrequentaram cursos desse nível em Hong Kong. 5055.8 Cartão eletrônico para migrantesAntes de partirem, os migrantes filipi<strong>no</strong>s recebem, do Ministériodo Trabalho e Emprego, cartão eletrônico 506 com múltiplas funções,expedido gratuitamente em Manila pelo Gover<strong>no</strong>. O cartão funciona,antes de mais nada, como documento de identificação válido para todos119


GEORGE TORQUATO FIRMEZAos trabalhadores migrantes com situação migratória regular, podendoser utilizado <strong>no</strong>s contatos com a rede consular filipina. 507 Traz asinformações necessárias para o processamento de benefícios dotrabalhador junto ao sistema gerenciado pelo Ministério do Trabalho eEmprego ou quaisquer outras agências governamentais. Mas funcionatambém como cartão de crédito/débito para utilização em caixasautomáticos, caso o portador decida abrir conta em um dos bancoscredenciados pela rede consular filipina. Dessa forma, antes mesmodo embarque dos migrantes, seus parentes nas Filipinas já dispõem decartão para retirar, em caixas automáticos, os recursos a seremdisponibilizados em contas <strong>no</strong> exterior. 5085.9 Outras iniciativasNo a<strong>no</strong> 2000, o Gover<strong>no</strong> filipi<strong>no</strong> criou o chamado Sistema Geralde Compartilhamento de Informações sobre Migração, com a finalidadede integrar melhor o trabalho e estimular a troca de informações entretodos os órgãos governamentais engajados na prestação de serviços amigrantes ou cujas funções guardam relação com alguma fase do processomigratório. Foi montada força-tarefa interministerial para funcionar comouma rede integrada de consolidação dos dados estatísticos de diversosórgãos envolvidos com migrações internacionais. 509A Constituição de 1987 autorizou o voto aos cidadãos filipi<strong>no</strong>s<strong>no</strong> exterior. Restou, <strong>no</strong> entanto, aprovar legislação ordinária que viesseregulamentar esse direito. 510 Em 2003, tanto o direito de voto, quanto aaceitação da dupla nacionalidade acabaram regulamentados pela Lei9225.Em abril de 2003, o Gover<strong>no</strong> filipi<strong>no</strong> estabeleceu em Manilaexperiência-piloto chamada Philippine One-Stop Shop Center, <strong>no</strong> intuitode simplificar o processo de obtenção da documentação necessária paramigração. Nesse lugar, estão representadas todas as agênciasgovernamentais que emitem ou processam documentos necessários aosmigrantes que viajam ao exterior com contratos de trabalho. 511120


A POLÍTICA DAS FILIPINAS PARA SUAS COMUNIDADESEm 2002, o Gover<strong>no</strong> criou rede composta por familiares detrabalhadores migrantes, com o objetivo de gerar apoio mútuo, forneceracesso mais rápido a benefícios governamentais específicos, disseminarinformações sobre a situação dos migrantes em determinados países epossibilitar a prestação de aconselhamento psico-social. A rede chamaseCírculos Familiares e é operada a partir de site na internet. 512Essa rede vem somar-se a organizações da sociedade civil que existemdesde os a<strong>no</strong>s 1970, integradas por migrantes retornados ao país esuas famílias, como Friends of the Filipi<strong>no</strong> Migrant Workers eCongress of Overseas Filipi<strong>no</strong> Workers. 513De outra parte, as Filipinas têm buscado negociar acordosbilaterais, <strong>no</strong> intuito de regulamentar a entrada de seus nacionais emmercados de trabalho <strong>no</strong> exterior. Nem todos possuem as mesmascaracterísticas, ainda que tenham sempre a finalidade de assegurarmaior proteção aos migrantes filipi<strong>no</strong>s. 514 Até 2006, porém, nenhumdeles havia sido negociado com os grandes países receptores. 515Tampouco há estudos aprofundados sobre o real impacto de acordosbilaterais sobre migração. Sua eficácia depende de muitas variáveis.Mas a experiência parece indicar que, apesar de suas limitações,facilitam a atuação do Gover<strong>no</strong> <strong>no</strong> apoio a seus nacionais. 516Em 2005, após décadas de envolvimento com o fenôme<strong>no</strong> damigração de seus nacionais, o Gover<strong>no</strong> tomou a iniciativa de firmarparceria com a Organização Internacional do Trabalho para conduziranálise do desempenho de sua rede consular <strong>no</strong> que se refere à proteçãoe apoio a seus trabalhadores migrantes em algumas cidades. A iniciativa,conquanto limitada, tende a levantar dados de relevância para oplanejamento das ações nesse setor.6. ALGUMAS CONSIDERAÇÕESDesde os a<strong>no</strong>s 1970, um dos focos primordiais do trabalho doGover<strong>no</strong> filipi<strong>no</strong> em assuntos migratórios parece vir sendo a expansãodos mercados de trabalho para seus nacionais <strong>no</strong> exterior, com as121


GEORGE TORQUATO FIRMEZAremessas daí resultantes. É possível que essa preocupação empromover a exportação de mão-de-obra venha reduzindo a eficáciado Gover<strong>no</strong> na tarefa específica de proteção de seus nacionais. 517 Adependência das divisas representadas pelas remessas parece haverafetado o poder de barganha das Filipinas com o Japão, na negociaçãode acordo bilateral sobre a proteção de migrantes. 518 Outrossim, emdiversas ocasiões, as Filipinas cederam a pressões da Arábia Saudita,por temer a perda desse lucrativo mercado de trabalho para seusnacionais. 519 Após o caso Flor Contemplacion, o Gover<strong>no</strong> filipi<strong>no</strong>proibiu a migração de seus nacionais para Cingapura. Voltou atráspouco tempo depois. 520 Com a visita a Manila do Primeiro-MinistroGoh Chok Tong em 1997, as relações bilaterais foram rapidamente<strong>no</strong>rmalizadas. 521A migração filipina vem sendo impulsionada pela atuaçãode agências de recrutamento de trabalhadores, as quais surgiram, <strong>no</strong>sa<strong>no</strong>s 1970, por estímulo governamental. Trata-se de experiência quenão parece indicada para a realidade brasileira. De início, o Gover<strong>no</strong>filipi<strong>no</strong> tentou assumir, ele próprio, o trabalho de recrutar ostrabalhadores para mercados <strong>no</strong> exterior. Em seguida, autorizouagências privadas a realizar tal trabalho, retendo apenas a função demonitoramento. Por fim, vem tentando coibir a proliferação de agênciasilegais de recrutamento. De modo geral, o sistema tende a gerarestrutura burocrática que se destina ao controle das atividades dasagências e que não parece imune ao surgimento de práticas decorrupção.Com freqüência, os países de origem estão do lado mais fracoem relações de poder assimétricas estabelecidas com os países dedesti<strong>no</strong>. Por esse motivo, não é raro que os países de origem priorizem,em detrimento da proteção de seus nacionais, a manutenção de boasrelações com os países de desti<strong>no</strong> nas demais áreas. Parece ser este ocaso das Filipinas com relação a países como a Arábia Saudita e oJapão, à semelhança, de certa forma, do que ocorre na relação doMéxico com os Estados Unidos.122


A POLÍTICA DAS FILIPINAS PARA SUAS COMUNIDADESDe modo geral, a legislação migratória do Japão passou adificultar a entrada de trabalhadores filipi<strong>no</strong>s após a reforma de 1989,que manteve inalterado o critério da consangüinidade como prioritáriona concessão de vistos de trabalho, privilegiando assim os nikkeis.No entanto, os debates sobre política migratória naquele país vêm sendoinfluenciados simultaneamente pela tendência de envelhecimento dapopulação em geral e a conseqüente diminuição da populaçãoeco<strong>no</strong>micamente ativa. Em 2001, os investimentos que o Japão tinhade fazer para financiar a aposentadoria e serviços de saúde para seuscidadãos aproximavam-se de 12,5% do PIB. 522 Neste particular, hádéficit de profissionais qualificados justamente na área de enfermagem,a qual apresenta potencial para a expansão do número de migrantesfilipi<strong>no</strong>s. 523 Em 2001, por exemplo, registrou-se a migração de 13.536enfermeiras filipinas. 524 Registre-se que o salário médio de médico nasFilipinas situa-se abaixo do patamar de US$ 500. 525 Muito delespassaram a estudar enfermagem <strong>no</strong> intuito de migrarem para o Japão. 526Têm surgido oportunidades de trabalho para filipi<strong>no</strong>s igualmente naárea de acompanhamento de idosos, 527 os quais representarão quase30% da população <strong>no</strong> a<strong>no</strong> 2025. 528 A negociação de Acordo deParceria Econômica entre o Japão e as Filipinas, em 2004, previuespecificamente espaço maior para mão-de-obra filipina especializadana área de enfermagem. 529 Já há projetos para construção de hospitaise vilas para aposentados japoneses em Davao, nas Filipinas, cominvestimentos e gerenciamento japoneses. 530A experiência filipina de acolher em suas repartições consularesrede de mais de 200 adidos oriundos dos quadros do Ministério doTrabalho parece haver representado aporte significativo à capacidadede sua rede consular em termos de monitoramento de condições detrabalho e de orientação sobre legislação trabalhista em benefício dosmigrantes.Concluindo-se a análise da participação do Gover<strong>no</strong> filipi<strong>no</strong><strong>no</strong> fenôme<strong>no</strong> migratório de seus nacionais ao longo das últimas duasdécadas, tem-se a impressão de que houve ênfase na exportação de123


GEORGE TORQUATO FIRMEZAmão-de-obra, ao passo que se revelou insuficiente o trabalho deincentivo ao fortalecimento da estrutura organizacional das associaçõesda diáspora. Nesse ponto, a atuação do Gover<strong>no</strong> filipi<strong>no</strong> lembra a doMéxico <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1960, com a negociação do Programa Bracero,comentado <strong>no</strong> capítulo anterior.124


CAPÍTULO VIA POLÍTICA DA ÍNDIA PARA SUAS COMUNIDADES


CAPÍTULO VIA POLÍTICA DA ÍNDIA PARA SUAS COMUNIDADES“Éramos uma comunidade de emigrantes asiáticos em uma pequena ilhaaçucareira do Novo Mundo. Para mim, a Índia parecia distante, mítica,embora naquela época só uns 40 ou 50 a<strong>no</strong>s <strong>no</strong>s separassem dela. Ainda<strong>no</strong>s dominavam os instintos dos povos da planície do Ganges, se bem que,a<strong>no</strong> após a<strong>no</strong>, <strong>no</strong>s fosse absorvendo a vida na colônia”. V.S. Naipaul 531Os india<strong>no</strong>s estão dispersos pelo mundo, em cerca de 110países, por vezes, <strong>no</strong> intuito de escapar de realidade adversa em seupaís. 532 Estima-se que 35% da população da Índia ainda viva abaixoda linha nacional de pobreza, tendo de sobreviver com me<strong>no</strong>s de umdólar por dia 533 e que 50% se situe na faixa etária inferior a 25 a<strong>no</strong>s. 534Ao mesmo tempo, o país atravessa fase de crescimento acelerado,com migrações significativas do campo para a cidade. Esses fatoresparecem favorecer a continuação dos fluxos migratórios para o exterior.1. COMUNIDADES INDIANAS NO EXTERIOR: ANTECEDENTES HISTÓRICOSAs origens da diáspora indiana remontam à expansão cultural epolítica do país <strong>no</strong> século VI, com migrações significativas em direçãoao Sudeste Asiático, em particular, para regiões que corresponderiammais tarde a Mianmar, Sri Lanka, Malásia, Indonésia, Tailândia eCamboja. 535Seguiu-se longo período sem migrações de vulto, para além doque seria <strong>no</strong>rmal esperar em função das trocas comerciais e culturaisna região. Pode ter contribuído para esse hiato migratório aconsolidação do sistema de castas na Índia, com a recomendação aoshindus devotos para que evitassem viagens ao exterior, dadas asdificuldades de se cumprirem, fora da Índia, as prescrições rituais. 536No caso de necessidade de realização de viagens ao exterior, eram127


GEORGE TORQUATO FIRMEZAprescritos rituais 537 de purificação <strong>no</strong> regresso. 538 Em suas memórias,Gandhi recordou haver sido repreendido pelos líderes de sua casta nacidade de Bombaim, por decidir viajar ao Rei<strong>no</strong> Unido para estudardireito <strong>no</strong> final do século XIX. 539 Essa antiga tradição indiana estabeleciaque um hindu que deixasse a Índia perdia o lugar na sua casta e nasociedade. Por esse motivo, os india<strong>no</strong>s residentes <strong>no</strong> exterior aindasão vistos por parte da população como uma espécie de sem-casta. 540À parte essas restrições, não havia impedimentos legais à migração deindia<strong>no</strong>s.Durante o período colonial britânico, as conexões entre colôniae metrópole contribuíram para o surgimento de comunidades indianasem quase todas as regiões do Império. Houve substanciais ondas demigrantes india<strong>no</strong>s <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1833 e 1834, logo após a abolição daescravatura em territórios britânicos. Funcionários india<strong>no</strong>s foramutilizados pela administração colonial em países do Caribe, dando origema diversas comunidades. 541 As necessidades do Império Britânicoocasionaram a transferência de trabalhadores india<strong>no</strong>s para as colôniasde mo<strong>no</strong>cultura agrícola nas Índias Ocidentais, Sri Lanka, SudesteAsiático, Maurícius, Fiji e África do Sul. Estima-se que cerca de 30milhões de india<strong>no</strong>s tenham deixado o país <strong>no</strong> período de 1834 a1947. 542 Após a independência da Índia, surgiram as primeiras grandeslevas de migrantes india<strong>no</strong>s em direção ao Rei<strong>no</strong> Unido, atraídos pelasoportunidades de trabalho abertas pelo esforço de reconstrução <strong>no</strong>pós-guerra. 543 Muitos dos que serviram <strong>no</strong> Exército britânico nas duasGrandes Guerras Mundiais também acabaram fixando-se <strong>no</strong> Rei<strong>no</strong>Unido. 544Desde então, ainda que com variações, duas correntesmigratórias principais têm-se formado: trabalhadores altamentequalificados em direção a países desenvolvidos e trabalhadores semiqualificadose não-qualificados com desti<strong>no</strong> aos mercados do OrienteMédio. A primeira corrente cresceu <strong>no</strong> período de 1950 a 2000. Quase1,25 milhão de trabalhadores migraram para os EUA, Rei<strong>no</strong> Unido,Canadá e Austrália. A migração para o Oriente Médio cresceu128


A POLÍTICA DA ÍNDIA PARA SUAS COMUNIDADESrapidamente <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1970, estag<strong>no</strong>u <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1980 e voltou a crescer<strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1990. Em 2006, estimava-se em 3 milhões o número deindia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> Oriente Médio. 545Nas décadas de 1960 e 1970, houve ondas de migrantesindia<strong>no</strong>s que deixaram a África Oriental, onde se haviam radicado <strong>no</strong>período colonial britânico como comerciantes, em direção ao Rei<strong>no</strong>Unido, em decorrência das perseguições empreendidas por Gover<strong>no</strong>sdespóticos como o de Idi-Amin Dada em Uganda. 546 Os fluxosmigratórios para países industrializados <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1980 e 1990 alteraramo perfil da diáspora indiana. Nesse período, surgiram <strong>no</strong>vos países dedesti<strong>no</strong>, como Alemanha e Japão. 547 A partir do a<strong>no</strong> 2000, tornaramsemais numerosas as comunidades <strong>no</strong>s EUA, Austrália, Nova Zelândiae Canadá. Registrou-se alteração na composição dos fluxos demigrantes. 548 Seu perfil passou a englobar majoritariamente profissionaisde alta qualificação, como engenheiros, professores, médicos eespecialistas em informática.2. COMUNIDADES INDIANAS NO EXTERIOR: CARACTERÍSTICASA diáspora indiana soma hoje cerca de 25 milhões de pessoas, 549sendo 6,7 milhões de india<strong>no</strong>s e 18,3 milhões de descendentes. 550Essa diáspora representa mais de 40% da população de Fiji, Maurícius,Guiana e Suriname, bem como mi<strong>no</strong>rias de peso <strong>no</strong> Rei<strong>no</strong> Unido,Austrália, Canadá, Malásia, África do Sul, Sri Lanka e EUA. 551Contemporaneamente, a maioria dos migrantes vêm dos Estados deKerala, 552 Tamil Nadu, Andhra Pradesh e Punjab. 553A migração indiana assumiu formas variadas em regiões e épocasdiferentes. Nos países do Golfo Pérsico, por exemplo, sãomajoritariamente trabalhadores de me<strong>no</strong>r qualificação, atraídos pelaoferta de empregos na construção civil desde os a<strong>no</strong>s 1970.Independente de seu nível de qualificação profissional, a legislação localnesses países veda o acesso à obtenção de nacionalidade. Esse fatorestimulou um tipo de migração circular, com alta rotatividade de129


GEORGE TORQUATO FIRMEZAmigrantes. 554 Conseqüentemente, manteve-se elevado grau dedependência dos migrantes com relação à Índia. E as demandas dessacomunidade são bastante específicas, relacionando-se, por exemplo,à proteção consular contra abusos de empregadores e à criação deescolas indianas para seus filhos.No caso da África, a comunidade indiana compõe-se, emgrande medida, de peque<strong>no</strong>s comerciantes. Nos a<strong>no</strong>s 1970, muitossofreram perseguições ou expulsões. 555 Em vários países africa<strong>no</strong>s,pela precariedade das condições de segurança locais, os descendentesde india<strong>no</strong>s aspiram a obter também a nacionalidade indiana, comoalternativa <strong>no</strong> caso de serem forçados a partir. 556Na Europa, a diáspora indiana vem-se afirmando como fonte deprofissionais altamente qualificados, em especial na área de tec<strong>no</strong>logia deinformação. 557 No Caribe, em países como Trinidad e Tobago, Surinamee Guiana, os india<strong>no</strong>s constituem entre 30% e 50% da população. 558 Parcelaexpressiva dessa comunidade, contudo, tem migrado para os EUA, Canadáe Holanda em busca de outras oportunidades.No Sudeste Asiático, a diáspora indiana apresenta grandevariedade. Inclui trabalhadores de me<strong>no</strong>r qualificação, legado da épocaem que india<strong>no</strong>s trabalharam em mo<strong>no</strong>culturas agrícolas introduzidaspela administração colonial britânica. 559 Mas engloba tambémprofissionais de alta qualificação, como médicos, engenheiros eespecialistas em tec<strong>no</strong>logia da informação, atraídos pela pujança daseco<strong>no</strong>mias da região a partir dos a<strong>no</strong>s 1980. Pela proximidadegeográfica e cultural com a Índia, a diáspora nessa região ostenta grandevitalidade cultural, preservando tradições e mantendo vínculos estreitoscom suas regiões de origem. Na região da Ásia Pacífico, encontra-sea presença de migrantes india<strong>no</strong>s sobretudo na Austrália, Nova Zelândiae Hong Kong. Número substancial de india<strong>no</strong>s fugiram das Ilhas Fiji,onde se havam estabelecido <strong>no</strong> final do século XIX, por conta dainstabilidade política que se seguiu ao golpe de Estado de 1987, paraa Austrália e a Nova Zelândia. 560 Ainda assim, em 2002, restavamcerca de 340 mil india<strong>no</strong>s nas Ilhas Fiji. 561130


A POLÍTICA DA ÍNDIA PARA SUAS COMUNIDADESNos EUA, a comunidade indiana, de cerca de 1,7 milhão depessoas, representa uma história de sucesso, bem-sucedida <strong>no</strong>snegócios e atuante na política. A renda média anual da comunidadesitua-se em tor<strong>no</strong> de US$ 60 mil. Há aproximadamente 300 mil india<strong>no</strong>sem empresas de alta tec<strong>no</strong>logia e cerca de 70 mil estudantes india<strong>no</strong>s<strong>no</strong> sistema universitário. Desdobramento de interesse, <strong>no</strong> que se refereao poder de mobilização política, tem sido a aproximação das liderançasda diáspora indiana com o lobby judaico <strong>no</strong>s EUA, consubstanciado<strong>no</strong> American Israeli Political Action Committee (AIPAC). 562 Dolado india<strong>no</strong>, tem-se consolidado uma entidade que busca emular oAIPAC. Trata-se do Indian-American Leadership Initiative PoliticalAction Committee (IALIPAC). Essa aproximação, negociada combase na percepção de que haveria pontos em comum entre alguns dosobjetivos de política externa da Índia e de Israel, vem possibilitandoatuação conjunta e trazendo ganhos para as lideranças indianas emtermos de experiência com métodos de ação política <strong>no</strong>s EUA. 5633. O CASO ESPECIAL DOS INDIANOS NO REINO UNIDOA diáspora indiana configura a mais expressiva mi<strong>no</strong>ria étnica<strong>no</strong> Rei<strong>no</strong> Unido, totalizando 1,2 milhão de pessoas. 564 É a única quepode aspirar a representar, ainda que parcialmente, a imensidão dadiversidade cultural de seu país de origem. 565 Está estabelecida,sobretudo, em Londres ou <strong>no</strong> seu entor<strong>no</strong>, onde vivem cerca de 40%de seus integrantes. Responde por aproximadamente 35% do comérciovarejista. Ostenta quase mil organizações de ação política ou cultural,15 grandes entidades comerciais e mais de 800 comitês para atividadesreligiosas, encarregados de administrar templos religiosos por todo opaís. 566 Reúne grupos intitulados “Amigos da Índia” nas bancadasparlamentares dos principais partidos britânicos. Cerca de 6% dosmédicos do Serviço Nacional Britânico de Saúde são india<strong>no</strong>s. Noa<strong>no</strong> 2000, a comunidade indiana já contava com quatro representantesna Câmara dos Comuns e 11 na Câmara dos Lordes. 567 Está131


GEORGE TORQUATO FIRMEZArepresentada, igualmente, em todas as câmaras de comércio e indústriado país, que mantêm seções asiáticas <strong>no</strong>rmalmente chefiadas porindia<strong>no</strong>s. Segundo dados de 2002 coligidos pelo Gover<strong>no</strong> britânico, 568a segunda geração de india<strong>no</strong>s apresenta rendimento escolar edesempenho profissional acima da média local. 569A comunidade mostra-se, contudo, dividida ao longo de linhasétnicas, religiosas e regionais. Há associações de india<strong>no</strong>s hindus,cristãos e muçulma<strong>no</strong>s. Reproduzem-se, <strong>no</strong> exterior, por vezes atémesmo as divisões por castas. 570 Essas divisões enfraquecem o poderde mobilização da comunidade, para influir sobre questões de interessepara o Gover<strong>no</strong> india<strong>no</strong> ou para a própria comunidade.De outra parte, o fato de ser próspera e ordeira não basta paratorná-la invulnerável à xe<strong>no</strong>fobia e à discriminação. Assim como osárabes na França e os turcos na Alemanha, os india<strong>no</strong>s passaram asimbolizar <strong>no</strong> imaginário popular britânico, de certo modo, todos osestrangeiros estabelecidos <strong>no</strong> Rei<strong>no</strong> Unido. Por esse motivo, com aindignação popular causada pelos ataques terroristas em Londres,india<strong>no</strong>s <strong>no</strong> Rei<strong>no</strong> Unido – sikhs, em particular - foram alvo de ameaçasem 2001. Nesses momentos, as lideranças tendem a buscar reforçoda coesão interna da comunidade e aproximação ainda maior com opaís de origem.4. A POLÍTICA MIGRATÓRIA DO REINO UNIDOA primeira tentativa britânica de restringir os fluxos de imigraçãoocorreu em 1905, com a aprovação da Lei dos Estrangeiros, 571 cujoobjetivo era o de recusar o acesso a migrantes provenientes de áreasexternas ao Império Britânico. 572 Posteriormente, os cidadãos dasantigas colônias britânicas foram tendo os seus direitosprogressivamente reduzidos. 573 Como acontece sempre que um impériose vê forçado a emancipar os territórios coloniais, começou a erodirsea vontade política de preservar o acesso irrestrito à metrópole porparte dos antigos súditos. A Lei dos Imigrantes da Commonwealth de132


A POLÍTICA DA ÍNDIA PARA SUAS COMUNIDADES1962 introduziu distinções entre os direitos dos que nasceram <strong>no</strong> Rei<strong>no</strong>Unido, dos portadores de passaportes do Rei<strong>no</strong> Unido e dos que tinhampassaporte concedido pelas antigas colônias britânicas. 574 Pessoasprovenientes da Índia, Paquistão, Jamaica e outras ilhas do Caribe,por exemplo, passaram a ter de comprovar que possuíam empregofixo <strong>no</strong> Rei<strong>no</strong> Unido para serem admitidas. No caso da migração dosul da Ásia, a Lei obteve, <strong>no</strong> entanto, o efeito oposto ao pretendido. 575O temor a futuras restrições motivou diversos india<strong>no</strong>s a ver na Leide 1962 uma última oportunidade para tirarem vantagem das <strong>no</strong>rmasde reunião familiar e se estabelecerem permanentemente, aumentando,dessa forma, o contingente migratório. 576 A Lei de Imigração de 1971encorajou a imigração de indivíduos provenientes de antigas colônias,com base em laços de parentesco e descendência predominantementeeuropéia, favorecendo, assim, a migração de indivíduos de “origembritânica”, de países como o Canadá, África do Sul, Nova Zelândia eAustrália. 577 A Lei de 1981 sobre cidadania britânica, inversamente,objetivou diminuir a imigração. 578 Nos a<strong>no</strong>s subseqüentes, em 1993,1996, 1999, 2002 e 2004, o Gover<strong>no</strong> aprovou leis restritivas à imigração,<strong>no</strong> intuito de administrar crescente e complexo fluxo de migrantes. 579 Apartir de 2001, em contexto de crescente preocupação com aspectosde segurança, a política migratória saiu da alçada do Ministério doTrabalho e passou a ser atribuição do Ministério do Interior. O Rei<strong>no</strong>Unido permite a solicitação de nacionalidade após cinco a<strong>no</strong>s deresidência. Admite, ademais, a dupla nacionalidade. Os indivíduosnascidos em seu território adquirem cidadania automaticamente. 580 Em2005, o Gover<strong>no</strong> britânico adotou conjunto de propostas paraequacionar questões de imigração e de asilo, sob o formato de pla<strong>no</strong>qüinqüenal. 581 O pla<strong>no</strong> redefiniu várias categorias de migrantes. 582 Apenasos migrantes altamente qualificados e os qualificados passaram a poderrequerer visto permanente, após comprovarem período de residênciade cinco a<strong>no</strong>s, aprovação em teste de língua inglesa e de conhecimentosgerais sobre o Rei<strong>no</strong> Unido. 583 Em 2006, o Gover<strong>no</strong> britânico introduziumais alguns ajustes em sua política migratória. 584133


GEORGE TORQUATO FIRMEZAA população estrangeira <strong>no</strong> Rei<strong>no</strong> Unido praticamentedobrou entre 1984 e 2003, de 1,5 milhões para aproximadamente2,8 milhões. 585 Em conjunto, os cidadãos dos países europeus 586totalizaram a metade do total da população estrangeira em 2003, 587com significativos índices provenientes também de países da Ásia,como Índia e Paquistão. 588 O Rei<strong>no</strong> Unido tem a terceira maiorforça de trabalho estrangeira na Europa Ocidental, 589 altamenteconcentrada em Londres. 590 Em média, mais de 200 mil migranteschegam a cada a<strong>no</strong>, dos quais 30 mil são da UE. 591 Em 2005, onúmero de migrantes irregulares 592 era calculado emaproximadamente 500 mil. 5935. AS INICIATIVAS DE APOIO AOS INDIANOS NO EXTERIORAs seções apresentadas, a seguir, discorrem sobre a formacomo o Gover<strong>no</strong> india<strong>no</strong> vem lidando com esses fluxos migratórioscontemporâneos e também com sua diáspora antiga já de váriosséculos.5.1 A criação da Comissão de Alto NívelNo início dos a<strong>no</strong>s 1990, o modelo econômico india<strong>no</strong> entrouem fase de reformas liberais, para tentar sair de crise financeira devulto. O Gover<strong>no</strong> percebeu a importância de captar investimentosde india<strong>no</strong>s residentes <strong>no</strong> exterior. Surgiram daí as primeiras políticasgovernamentais voltadas especificamente para as comunidadesemigradas. 594 No a<strong>no</strong> 2000, o Gover<strong>no</strong> decidiu elaborar <strong>no</strong>vaestratégia com vistas ao estreitamento de vínculos com suascomunidades. Como primeiro passo nesse sentido, criou umaComissão de Alto Nível, composta por parlamentares, diplomatas,acadêmicos e empresários, com o objetivo de elaborar relatóriosobre a situação das comunidades 595 e das políticas governamentaisnessa área. 596134


A POLÍTICA DA ÍNDIA PARA SUAS COMUNIDADES5.2 A estrutura de apoioCom base nas recomendações de tal relatório, foi criado, em2004, o Ministério para Assuntos de India<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>. 597 A ele seintegraram a Divisão de India<strong>no</strong>s Não-residentes do Ministério dasRelações <strong>Exterior</strong>es e a Divisão de Emigração do Ministério doTrabalho. O <strong>no</strong>vo Ministério está dividido em cinco grandes áreas,responsáveis pelos seguintes assuntos: remessas e investimentos demigrantes; formulação de políticas para as comunidades; supervisãodas condições de trabalho dos india<strong>no</strong>s <strong>no</strong> exterior; serviços sociais ebem-estar das comunidades; e proteção geral aos emigrantes. Na Índia,o Ministério mantém rede de escritórios nas regiões de origem damaior parte dos migrantes, com a função não apenas de protegê-loscontra agenciadores ilegais de mão-de-obra, mas também de servir depontos focais <strong>no</strong> relacionamento com autoridades estaduais.Com o estímulo do Ministério de Assuntos dos India<strong>no</strong>s <strong>no</strong><strong>Exterior</strong>, foram criados pontos focais em diversos Ministérios eescritórios especiais para assuntos de migrantes <strong>no</strong>s Estados de Gujarat,Rajasthan, Tamil Nadu, Andhra Pradesh, Uttar Pradesh, Karnatak eGoa.5.3 Cultura e civilizaçãoO Gover<strong>no</strong> vem estudando como reforçar a atuação, junto àdiáspora, do Conselho para Relações Culturais, responsável peladifusão da cultura indiana <strong>no</strong> exterior. 598 Em 1992, em iniciativa deimpacto junto à comunidade em Londres, o Gover<strong>no</strong> criou o CentroNehru, integrado à estrutura da Embaixada. A televisão também temrepresentado papel de relevo para a continuidade dos contatos das<strong>no</strong>vas gerações de india<strong>no</strong>s com seu país de origem. São <strong>no</strong>ve canaisda comunidade, além de diversos outros, cuja grade de programaçãoé retransmitida diretamente da Índia. Todos apresentam <strong>no</strong>ticiário comfoco na realidade indiana.135


GEORGE TORQUATO FIRMEZADiversos india<strong>no</strong>s emigrados têm contribuído para as relaçõesda Índia com seus países de acolhimento. Há, além do mais,personalidades indianas <strong>no</strong> exterior, nas áreas esportiva, literária ecultural, entre outras, que têm contribuído para compreensão maisaprofundada da realidade de seu país de origem. O Gover<strong>no</strong> india<strong>no</strong>passou a agraciá-los com condecorações em cerimônias oficiaisorganizadas por suas missões diplomáticas.Estuda-se, atualmente, o projeto de criação de Museu eBiblioteca da Diáspora, com o objetivo de reconhecer e celebrarsua contribuição ao desenvolvimento da Índia, bem como incentivarestudos acadêmicos sobre o tema. Iniciativa já implantada é ainstituição do Dia da Comunidade Indiana, celebrado na Índia e<strong>no</strong> exterior, <strong>no</strong> dia 9 de janeiro, que tem o simbolismo de marcaro retor<strong>no</strong> de Gandhi à Índia, após temporada passada na Áfricado Sul.5.4 A dupla nacionalidadeIniciativa das mais aguardadas pela diáspora foi anunciadapelo Gover<strong>no</strong> india<strong>no</strong> em 2003, qual seja, a aceitação de duplanacionalidade, em alguns casos, para descendentes de india<strong>no</strong>s <strong>no</strong>exterior. Tratava-se de demanda específica das comunidades indianas<strong>no</strong>s EUA e em vários países. 599 Para os descendentes de india<strong>no</strong>s <strong>no</strong>exterior, a dupla nacionalidade, além de reforçar os vínculos afetivoscom o país de origem, representa garantia de serem acolhidos naÍndia em caso de tensões raciais ou étnicas em seus países deacolhimento. Em países como Fiji ou África do Sul, a concessão denacionalidade indiana oferece segurança adicional diante dapossibilidade de deterioração das condições de segurança locais. 600As resistências do Gover<strong>no</strong> à aceitação do instituto da duplanacionalidade deveram-se historicamente ao temor de quepaquistaneses <strong>no</strong> exterior, descendentes de cidadãos da Índia de antesda partilha, 601 pudessem requerer também a dupla nacionalidade,136


A POLÍTICA DA ÍNDIA PARA SUAS COMUNIDADEScom os riscos em termos de segurança nacional vislumbrados pelosmilitares india<strong>no</strong>s. 602 A decisão, em 2003, de rever essa posiçãoparcialmente, abrindo a possibilidade apenas para descendentes deindia<strong>no</strong>s residentes em países desenvolvidos, como os EUA, Rei<strong>no</strong>Unido ou Cingapura, e deixando de fora as comunidades em paísesde me<strong>no</strong>r renda relativa, como Fiji, Guiana e Quênia, possivelmenteas que mais necessidade têm desse tipo de garantia legal, deixou aimpressão de que a iniciativa teria tido motivação marcadamenteeconômico-comercial 603 .5.5 A migração femininaDos cerca de 400 mil migrantes india<strong>no</strong>s que deixam o paístodos os a<strong>no</strong>s em busca de empregos, as mulheres representam fraçãoinferior a 10%. 604 Essa situação deve-se ao fato de que o Gover<strong>no</strong>adota política de emigração condicionada por considerações degênero, aplicando medidas restritivas à migração feminina. 605 Asrestrições à migração feminina referem-se, entretanto, apenas à mãode-obranão-qualificada, <strong>no</strong>rmalmente dependente de contratos detrabalho previamente negociados. Dessas mulheres, o Gover<strong>no</strong> exigedepósito equivalente ao valor de uma passagem aérea, para aeventualidade de repatriação. O contrato de trabalho tem ainda deser validado pela Embaixada da Índia <strong>no</strong> país de desti<strong>no</strong> após conferira idoneidade do empregador. Se for casada, a candidata a migrantetem de apresentar autorização do marido; se não, dos pais. 606 Essasmedidas restritivas têm tido o efeito de desestimular a migraçãofeminina, que parece ser justamente o objetivo do Gover<strong>no</strong>. 607 Oobjetivo declarado é o de protegê-las contras abusos e violênciaspor parte de empregadores <strong>no</strong> exterior. Assim, mulheres com idadeinferior a 40 a<strong>no</strong>s e sem qualificação profissional não podem emigrar. 608Há proibições ocasionais à emigração de indianas para trabalharemcomo empregadas domésticas. Foi o caso da proibição de emigraçãode indianas <strong>no</strong> Kuwait entre 1999 e 2001. 609137


GEORGE TORQUATO FIRMEZA5.6 A questão das remessasAs comissões cobradas pelo sistema bancário sobre remessasa partir do Rei<strong>no</strong> Unido para a Índia situam-se 610 em tor<strong>no</strong> de 8%. 611Por conta dessas comissões elevadas e da demora na transferênciados recursos, muitos dos migrantes originários de regiões rurais daÍndia têm mostrado certa inclinação pelo uso do tradicional sistemahawala de transferência informal de fundos. Trata-se de antigo sistemade crédito informal utilizado por mercadores árabes que percorriam aantiga Rota da Seda na Ásia. 612 O sistema ganhou <strong>no</strong>vo ímpeto <strong>no</strong>sa<strong>no</strong>s 1970, quando passou a ser usado por contrabandistas de ourode Dubai e Abu Dhabi, que usavam barcos para atingir clandestinamenteo mercado india<strong>no</strong>. Esses contrabandistas perceberam que poderiamaproveitar as remessas de recursos dos trabalhadores migrantesindia<strong>no</strong>s para fazer a compensação com os pagamentos que tinham areceber de suas contrapartes na Índia. Desde então, Dubai vem-seconsolidando como um dos principais centros de gerenciamento dehawala, administrando bilhões de dólares a cada a<strong>no</strong>.Em árabe, a palavra hawala significa “câmbio”, mas também“confiança”. Funciona com base na confiança, cultivada ao longo degerações, entre os brokers, chamados hawaladars. O sistema transfererecursos, sem movimentá-los. As transferências são realizadas,<strong>no</strong>rmalmente, <strong>no</strong> âmbito de operações de importação-exportação entreparceiros comerciais. O valor das faturas é manipulado para cima oupara baixo, de modo a compensar as transferências de recursos. Apesarde haver diversas outras formas de transferir recursos, essas operaçõesde importação-exportação são as mais utilizadas. Aos olhos dostrabalhadores migrantes irregulares, parece haver diversas vantagensna utilização do hawala. Não exige a apresentação de quaisquerdocumentos. Cobra preço competitivo, oscilando entre 1% e 2%,abaixo, portanto, do valor médio das comissões bancárias. Atingevilarejos remotos da Ásia em, <strong>no</strong> máximo, 2 dias. Para esses mesmosvilarejos, a rede bancária tradicional pode levar uma semana. A138


A POLÍTICA DA ÍNDIA PARA SUAS COMUNIDADESconfiabilidade é elevada, porquanto este é o cerne do negócio. Nãoenvolve burocracia, sendo os negócios feitos, <strong>no</strong>rmalmente, comdinheiro em espécie. Oferece taxas de câmbio ligeiramente maisfavoráveis que as praticadas pela rede bancária. Não deixa rastrosdas operações, uma vez que o único registro mantido por um hawaladaré o de débitos/créditos entre ele e os demais hawaladars. Facilita aevasão fiscal <strong>no</strong> país de origem, por parte dos parentes dos migran<strong>tese</strong> beneficiários das remessas. Ressalve-se, <strong>no</strong> entanto, que aformalização dos fluxos de remessas financeiras ganhou estímuloinesperado com o 11 de Setembro. 613 No intuito de bloquear ofinanciamento de organizações terroristas, as autoridades <strong>no</strong>rteamericanaspassaram a reprimir com maior rigor os sistemas bancáriosclandesti<strong>no</strong>s e as redes informais de remessa de dinheiro, como ahawala, usada por migrantes india<strong>no</strong>s.Em 2005, as remessas globais, formais e informais, dosmigrantes india<strong>no</strong>s foram estimadas em US$ 23,5 bilhões. 614 Nos a<strong>no</strong>s1970 e 1980, financiaram parte dos déficits na balança de pagamentosdo país. 615 Quando a escalada dos preços do petróleo aprofundou acrise econômica e a incerteza <strong>no</strong>s EUA, Europa e Japão, esse mesmofator ocasio<strong>no</strong>u a expansão dos projetos de infra-estrutura <strong>no</strong>s paísesdo Golfo Pérsico e a demanda por trabalhadores estrangeiros. Essefenôme<strong>no</strong> teve dimensões tão expressivas que, em 1975, a força detrabalho estrangeira constituía 39% do total na Arábia Saudita, 71%<strong>no</strong> Kuwait e 89% <strong>no</strong>s Emirados Árabes. Foram as remessas dosmigrantes <strong>no</strong> Golfo que ajudaram a eco<strong>no</strong>mia indiana a suportar esseperíodo de turbulência. 616O Gover<strong>no</strong> vem oferecendo várias vantagens aos india<strong>no</strong>sresidentes <strong>no</strong> exterior, na esperança de convencê-los a abrir contasem moeda estrangeira na Índia. Concedeu aos migrantes a possibilidadede abertura de contas em moeda estrangeira (libras esterlinas ou dólares<strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s), com juros acima dos praticados <strong>no</strong> mercadofinanceiro internacional. Os recursos nessas contas podem serlivremente repatriados, sem o pagamento de taxas. Sobre esses139


GEORGE TORQUATO FIRMEZArecursos, tampouco incidem impostos. 617 Esses privilégios despertarama atenção dos residentes na Índia, que passaram a chamar os residentes<strong>no</strong> exterior de os “<strong>no</strong>vos brâmanes”. 618 Não foram, porém, suficientespara atrair depósitos significativos de india<strong>no</strong>s residentes <strong>no</strong> exterior.5.7 A proteção aos trabalhadores migrantesde me<strong>no</strong>r qualificaçãoJá em 1922, a preocupação com o tratamento dispensado atrabalhadores india<strong>no</strong>s de me<strong>no</strong>r qualificação em outras regiões doImpério Britânico havia levado à aprovação, pelo ParlamentoBritânico, da Lei de Emigração, que passou a regular os fluxos detrabalhadores migrantes e criou a figura do Protetor de Emigrantes,<strong>no</strong> âmbito do Ministério para Assuntos de India<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>. 619Cerca de meio século depois, com a aceleração do número de india<strong>no</strong>satraídos pelos empregos oferecidos <strong>no</strong> Oriente Médio, a mesmapreocupação ressurgiu <strong>no</strong> âmbito do Gover<strong>no</strong> em Nova Délhi. 620 Apresença de número expressivo de trabalhadores india<strong>no</strong>s nessaregião <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1970 expôs as limitações da Lei de Migração de1922. Nesse período, surgiu grande número de agências derecrutamento ilegais, que extorquiam e fraudavam os candidatos amigrantes. Foi, então, aprovada a Lei de Emigração de 1983, com oobjetivo de regular os termos dos contratos, que passaram a serrevisados pelo Escritório do Protetor de Emigrantes, de modo aassegurar condições dignas de trabalho e moradia para a força detrabalho não-qualificada indiana <strong>no</strong> exterior. 621 Outro aspectorelevante da Lei foi a disposição sobre os preços que as agências derecrutamento poderiam cobrar por seus serviços, US$ 40 para ostrabalhadores não-qualificados, US$ 60 para os semi-qualificados eUS$ 100 para os qualificados. 622 Não obstante tais controles, hárelatos de inúmeros abusos cometidos, com trabalhadores levandomais de um a<strong>no</strong> para pagar dívidas contraídas para pagar taxasexorbitantes. 623140


A POLÍTICA DA ÍNDIA PARA SUAS COMUNIDADESNo final de 2006, <strong>no</strong>vamente em virtude da violação sistemáticade direitos dos trabalhadores india<strong>no</strong>s <strong>no</strong> Oriente Médio, o Gover<strong>no</strong>propôs emenda à Lei de Emigração de 1983, a ser debatida <strong>no</strong>Parlamento. O objetivo foi o de registrar todas as agências derecrutamento de trabalhadores e torná-las legalmente responsáveis peloeventual descumprimento dos contratos de trabalho assinados, bemcomo pelo tratamento dispensado aos india<strong>no</strong>s por seus empregadores<strong>no</strong> exterior. 624Em alguns Estados da Índia, foram estabelecidas agênciaspúblicas de recrutamento, <strong>no</strong> intuito de oferecer gratuitamente serviçosde busca de oportunidades de emprego <strong>no</strong> exterior. Mas tais agênciasmostraram-se bem me<strong>no</strong>s eficientes do que suas congêneres privadas.Por esse motivo, mesmo diante do risco de fraude ou de cobrança depreços exorbitantes, os candidatos a migrantes têm preferido utilizaros serviços das agências privadas ao invés das públicas, as quais seviram confinadas a cuidar apenas de contratos para médicos eenfermeiras, justamente o tipo de profissionais não necessitados deproteção especial. 625Os esforços governamentais não lograram impedir que ostrabalhadores não-qualificados enfrentem problemas antes da partidae durante a permanência <strong>no</strong> exterior. Os problemas encontrados antesda partida referem-se <strong>no</strong>rmalmente a violações das condiçõesacordadas para o recrutamento, como atrasos na partida, nãocumprimentodo compromisso de encontrar emprego, recrutamentoilegal e, sobretudo, cobrança de taxas extorsivas, muito acima da tabelaoficial. 626 Dessa forma, os trabalhadores acabam tendo de comprometerantecipadamente vários meses de seu salário <strong>no</strong> exterior. De igualgravidade é o recrutamento ilegal, porque os trabalhadores viajam sema cobertura proporcionada pelo sistema governamental de proteção e,muitas vezes, com contratos que não garantem seus direitos. 627No exterior, os trabalhadores india<strong>no</strong>s, como, de resto, ocorrea migrantes de outros países, raramente apresentam queixas contraseus empregadores, pelo temor de perderem o emprego. 628 Nos casos141


GEORGE TORQUATO FIRMEZAem que decidem apresentar queixa, costumam denunciar o problemadiretamente à Embaixada ou Consulado da Índia. Além de ser levadoao conhecimento das autoridades locais na busca de solução, o casoé também retransmitido ao Escritório do Protetor dos Emigrantes, naÍndia. Se o recrutamento houver sido feito legalmente, o caso éretransmitido à agência responsável, que, <strong>no</strong> mais das vezes, alega nãoter responsabilidade por violação contratual cometida pelo empregador.Se as explicações não forem consideradas satisfatórias, solicitam-seinvestigações policiais e, dependendo de seus resultados, dá-se inícioa ação judicial. 629 O trabalhador também pode esperar para agirsomente após regressar à Índia, registrando queixa junto ao Escritóriodo Protetor de Emigrantes, seja contra a agência recrutadora, sejacontra o empregador estrangeiro. 630 Se, após investigações preliminares,o empregador for, de fato, julgado culpado, é incluído na relação deempresas proibidas de contratar trabalhadores india<strong>no</strong>s. 631Em situações de extrema gravidade, como, por exemplo, ainvasão do Kuwait pelo Iraque, verificou-se que as associações deindia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> exterior constituem recurso de grande valia na prestaçãode assistência. 632 Exemplo dessa atuação foi o papel de relevodesempenhado na repatriação de muitas empregadas domésticasindianas cujos patrões kuwaitia<strong>no</strong>s, ao fugirem após a invasão, asdeixaram abandonadas à própria sorte. 6335.8 Transformando brain drain em brain exchangeDesde os a<strong>no</strong>s 1950, o Gover<strong>no</strong> india<strong>no</strong> tem buscado formasde reverter o fenôme<strong>no</strong> representado pela “fuga de cérebros”. Em1958, foi lançado um programa chamado Scientists’ Pool, pelo qual oGover<strong>no</strong> contratava temporariamente cientistas, engenheiros, médicose outros profissionais de alta qualificação vindos do exterior, até queeles fossem absorvidos de forma definitiva pelo mercado de trabalho.Em 1963, surgiu outro programa governamental chamadoSupernumerary, que criava postos especiais em vários ministérios,142


A POLÍTICA DA ÍNDIA PARA SUAS COMUNIDADESpermitindo a indicação de cientistas india<strong>no</strong>s residentes <strong>no</strong> exterior.Posteriormente, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1970, outra iniciativa foi adotada, medianteesquemas de entrevistas efetuadas pela Union Public ServiceComission e pelo Council for Scientific and Industrial Research,<strong>no</strong> intuito de recrutar cientistas residentes <strong>no</strong> exterior. Nos a<strong>no</strong>s 1980,o Gover<strong>no</strong> passou a oferecer, além de empregos, apoio <strong>no</strong> retor<strong>no</strong>para a Índia, isenção de impostos na importação de bens por ocasiãodessa transferência e facilidades cambiais. No intuito de estimular oretor<strong>no</strong> ao país de trabalhadores de alta qualificação, foi também lançadapolítica de apoio à busca de empregos <strong>no</strong> setor privado. 634 Nenhumadessas políticas obteve o êxito esperado. 635No início dos a<strong>no</strong>s 1990, ao invés de tentar atrair de voltaindia<strong>no</strong>s altamente qualificados residentes <strong>no</strong> exterior, o Gover<strong>no</strong> passoua investir <strong>no</strong>s ganhos potenciais desse processo. 636 Começou aconsiderar que o mais realista seria incentivar a criação de redes dadiáspora, como forma de transformar a “fuga de cérebros” (brain drain)em “intercâmbio de cérebros” (brain exchange). Nesse contexto,registre-se a importância da formação de redes da diáspora para odesenvolvimento da indústria de tec<strong>no</strong>logia de informação na Índia. OGover<strong>no</strong> passou a cultivar os contatos com membros da diásporaatuantes na indústria de tec<strong>no</strong>logia de informação <strong>no</strong> Rei<strong>no</strong> Unido,EUA e Canadá. Esses india<strong>no</strong>s residentes <strong>no</strong> exterior, por sua vez,começaram a intensificar os contatos com professores, executivos,empresários, cientistas e engenheiros desse setor na Índia. Tais contatosacabaram resultando na formação de duas das mais bem-sucedidasredes da diáspora indiana: a The Indus Entrepreneurs (TiE) e a SiliconIndian Professional Association, as quais ajudaram a moldar aspolíticas da Índia <strong>no</strong> setor de tec<strong>no</strong>logia de informação. 637 Surgidasinicialmente <strong>no</strong>s EUA com o propósito de apoiar o desenvolvimentoprofissional de jovens india<strong>no</strong>s do setor de tec<strong>no</strong>logia de informação,em poucos a<strong>no</strong>s tornaram-se redes mundiais da diáspora. Em 2004, aTiE já estava presente em 42 países. 638 As redes também abriram asportas para que a migração de profissionais india<strong>no</strong>s preenchessem os143


GEORGE TORQUATO FIRMEZAdéficits existentes <strong>no</strong>s mercados de trabalho especializados <strong>no</strong>s EUA,Canadá e Rei<strong>no</strong> Unido. E direcionaram para a Índia investimentosde empresas <strong>no</strong>rte-americanas, a exemplo da Microsoft.Estimularam também a aplicação de recursos dos india<strong>no</strong>s emigradosna abertura de empresas na Índia. Das 20 maiores empresas indianasde software, 19 foram fundadas ou financiadas por india<strong>no</strong>semigrados. 639 Não se pode quantificar, com precisão, o impactodo surgimento dessas redes sobre o crescimento da indústria detec<strong>no</strong>logia de informação na Índia. Mas o fato é que as exportaçõesdesse setor da eco<strong>no</strong>mia indiana passaram de US$ 129 milhõesem 1990 para US$ 12,2 bilhões em 2003. 6405.9 Outras iniciativasAlém das iniciativas mencionadas acima, a Índia ostenta diversosoutros programas voltados para suas comunidades, a maioriadirecionados para os Estados tradicionalmente emissores de migrantes.Um deles refere-se à coordenação de programas de voluntariado paraindia<strong>no</strong>s não-residentes que queiram engajar-se em trabalhos de cunhoassistencial na Índia. 641Com o objetivo de reforçar os vínculos do país com osdescendentes de india<strong>no</strong>s <strong>no</strong> exterior, o Gover<strong>no</strong> criou um cartão paradescendentes de india<strong>no</strong>s residentes <strong>no</strong> exterior, portadores depassaportes estrangeiros. O cartão oferece alguns benefícios. Dispensaa necessidade de vistos para a Índia. Dá acesso a uma variedade dealternativas de investimentos e de acesso a crédito exclusivos paracidadãos india<strong>no</strong>s. Concede, ainda, facilidades de ingresso eminstituições públicas de ensi<strong>no</strong> superior na Índia. 642Uma terceira iniciativa foi a criação de Centros de Apoio aosIndia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong> em países com expressiva população deemigrados india<strong>no</strong>s. Trata-se de trabalho desenvolvido em conjuntopelos Ministérios das Relações <strong>Exterior</strong>es e para Assuntos de India<strong>no</strong>s<strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>.144


A POLÍTICA DA ÍNDIA PARA SUAS COMUNIDADES6. ALGUMAS CONSIDERAÇÕESO funcionamento dos esquemas criados pelo Gover<strong>no</strong> india<strong>no</strong>para atrair investimentos de seus nacionais <strong>no</strong> exterior parece haversido obstruído por questões burocráticas. 643 Mais do que incentivosfiscais de qualquer natureza, as solicitações dos potenciais investidoresda diáspora centram-se na necessidade de eliminação de entraves dessanatureza. 644 Esta talvez seja parte da explicação para o fato de queexpressiva parcela dos investimentos da diáspora foram canalizadospara aplicações voláteis, de curto prazo, em bolsas de valores.Em regiões rurais da Índia, os recursos originários de remessasde migrantes não têm tido o efeito de induzir o desenvolvimentosustentável. 645 Os recursos impulsionam o setor de serviços, emespecial, o de construção de moradias, mas o setor de produçãoagrícola, justamente aquele <strong>no</strong> qual boa parte dos migrantescostumavam trabalhar, não tem sido dinamizado. 646No Rei<strong>no</strong> Unido, a fragmentação da comunidade indiana eminúmeras organizações tem limitado sua capacidade de influênciapolítica. Nos grandes temas de interesse da Índia, todavia, a comunidadeconseguiu mostrar o grau de coesão necessário para transmitir suasposições ao Gover<strong>no</strong> britânico.Dispor de grupo de pressão moderadamente alinhado a seusinteresses dentro de um país com grande influência <strong>no</strong> cenáriointernacional pode ser uma vantagem. Nesse sentido, as relações doGover<strong>no</strong> india<strong>no</strong> com seus nacionais <strong>no</strong> Rei<strong>no</strong> Unido e <strong>no</strong>s EUA sãoindissociáveis de suas relações com os Gover<strong>no</strong>s desses países. Masas tentativas de mobilização da diáspora têm tido de ser feitas comhabilidade, de modo a refletirem também a agenda e as inclinações daspróprias associações de migrantes india<strong>no</strong>s, respeitando, ademais, aatmosfera política do país de acolhimento.Ao oferecer facilidades para a concessão de vistos permanen<strong>tese</strong> a naturalização de trabalhadores altamente qualificados, a atual políticamigratória britânica tende a atrair fluxos adicionais de migrantes da145


GEORGE TORQUATO FIRMEZAÍndia, porquanto esse país se vem destacando na formação deprofissionais em alguns setores específicos, como o de tec<strong>no</strong>logia deinformação. De fato, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> 2000, por exemplo, dos 18.250profissionais estrangeiros desse setor que receberam vistos de trabalho<strong>no</strong> Rei<strong>no</strong> Unido, 11.474 eram india<strong>no</strong>s.A política indiana para comunidades adquiriu <strong>no</strong>vo vigor a partirda criação de Comissão de Alto Nível, incumbida de viajar pelosprincipais países de acolhimento durante dois a<strong>no</strong>s para ouvir dospróprios emigrados seus problemas e aspirações. Antes disso, oGover<strong>no</strong> india<strong>no</strong> adotava políticas com base, em grande medida, <strong>no</strong>que lhe parecia melhor para a diáspora, sem o cuidado de antesauscultar sistematicamente as opiniões daqueles aos quais aquelaspolíticas eram dirigidas. A Comissão representou um ponto de inflexão<strong>no</strong> tratamento do tema das comunidades na Índia. Recorde-se quetambém <strong>no</strong> caso das Filipinas, o aperfeiçoamento das políticas paracomunidades deu-se com base <strong>no</strong> trabalho de uma comissão criadaespecialmente para avaliar o desempenho do Gover<strong>no</strong> nesse setor, achamada Comissão Gancayco.146


CAPÍTULO VIIA POLÍTICA DA TURQUIAPARA SUAS COMUNIDADES


CAPÍTULO VIIA POLÍTICA DAS TURQUIA PARA SUAS COMUNIDADES"Nós encomendamos mão-de-obra e vieram seres huma<strong>no</strong>s."Max FrischSão relatadas aqui, da mesma forma que <strong>no</strong>s capítulosanteriores, iniciativas governamentais de apoio às comunidades <strong>no</strong>exterior. O caso turco apresenta particularidade interessante, qual seja,a propensão dos migrantes a manterem sua identidade social, culturale religiosa, por vezes, interpretada como obstáculo à integração <strong>no</strong>spaíses de acolhimento. Como se verá, porém, neste capítulo, com aanálise da situação dos turcos na Alemanha, o que estes desejam étão-somente evitar sua assimilação total na sociedade de acolhimento.1. COMUNIDADES TURCAS NO EXTERIOR: ANTECEDENTES HISTÓRICOSAlguns dos primeiros migrantes otoma<strong>no</strong>s de que se tem registrona Europa Ocidental parecem haver sido mercadores que seestabeleceram em Londres a partir do início do século XVII. 647 Maistarde, já <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1860, registrou-se um influxo para cidades comoParis e Londres de intelectuais otoma<strong>no</strong>s fugindo do absolutismo doSultão Abdulaziz. Chegaram a fundar nessas cidades uma sociedadesecreta chamada Novos Otoma<strong>no</strong>s, que publicava jornais críticosdaquele regime autocrático. 648 Na virada do século, foi a vez de outrogrupo de intelectuais, os chamados Jovens Turcos, buscar refúgio emcapitais européias, de onde combatiam o Gover<strong>no</strong> do SultãoAbdulhamit. 649 A eclosão da I Guerra Mundial fez com que levas derefugiados turcos buscassem abrigo em países europeus. No Entre-Guerras, com o início da Revolução Nacionalista de Mustafa Kemal149


GEORGE TORQUATO FIRMEZAAtatürk, surgiram refugiados turcos na Europa, entre os partidários doantigo regime. 650Nos a<strong>no</strong>s 1960, 651 a migração de trabalhadores turcos para aEuropa começou a ser regulamentada por uma série de acordosbilaterais. O conteúdo desses acordos incluiu o recrutamento doschamados Gastarbeiter 652 (trabalhadores hóspedes) para empregos<strong>no</strong> setor industrial que requeriam me<strong>no</strong>r qualificação. 653 Data de 1961a assinatura do primeiro acordo de recrutamento de trabalhadorescelebrado entre a Turquia e a Alemanha, reproduzido <strong>no</strong> período de1964 a 1967 com outros países da Europa, como Holanda, Bélgica,Áustria, França e Suécia. 654 Nessa época, milhares de camponeses daregião da Anatólia Central tomaram o rumo desses países e assumiramtrabalhos de me<strong>no</strong>r qualificação, indo morar em comunidades étnicasisoladas da sociedade local. No início, esses acordos visavamessencialmente à contratatação de mão-de-obra masculina.Os acordos beneficiaram a todas as partes envolvidas. AAlemanha, engajada na reconstrução de sua dilapidada eco<strong>no</strong>mia <strong>no</strong>pós-Guerra, pôde atender a demanda de setores industriais emexpansão. A migração aliviou a taxa de desemprego e as remessas dosmigrantes trouxeram aporte financeiro de vulto para os países deorigem. Os trabalhadores hóspedes, por sua vez, tiveram a chance dealcançar qualidade de vida melhor. 655 As políticas de recrutamentoforam encerradas em meados dos a<strong>no</strong>s 1970, 656 quando a demandapor trabalhadores estrangeiros diminuiu, com o início de período derecessão econômica na Alemanha. 657O fim dos contratos de trabalhadores hóspedes não significou,<strong>no</strong> entanto, a interrupção completa da migração turca para a EuropaOcidental. Por conta dos mecanismos de política de asilo e do institutoda reunião familiar, os fluxos mantiveram-se relativamente constantesde 1980 a 2000, embora com quedas ocasionais devido à aprovaçãode legislações restritivas e à adoção de programas de estímulo aoretor<strong>no</strong> de migrantes aos seus países de origem. 658 As dimensões dadiáspora turca na Europa Ocidental viram-se igualmente reforçadas150


A POLÍTICA DA TURQUIA PARA SUAS COMUNIDADESpelo influxo de refugiados políticos. Por conta de perseguiçõesocasionadas pelo golpe militar de 1980 e pelos conflitos com osnacionalistas curdos 659 na região sudeste do país, mais de 370 mil turcossolicitaram asilo político à Alemanha naquele período. 660Nos a<strong>no</strong>s 1990, surgiram poucas oportunidades para migrantesturcos <strong>no</strong>s mercados de trabalho da Europa Ocidental. Em 1998, cercade 600 mil turcos estavam inscritos em listas de espera mantidas peloServiço Nacional Turco para Empregos <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>. 661 Paralelamenteà diminuição da demanda por mão-de-obra na Europa Ocidental, osmercados de trabalho <strong>no</strong> Oriente Médio (Arábia Saudita, Líbia eKuwait) e Rússia ganharam maior importância, atraindo migração deperfil estritamente masculi<strong>no</strong>. 662Contemporaneamente, a prática de reunião familiar continuacontribuindo para manter certo impulso <strong>no</strong>s deslocamentospopulacionais para países da UE, uma vez que os migrantes aindacostumam buscar seus futuros cônjuges na Turquia. 663 No a<strong>no</strong> 2000,por exemplo, mais da metade dos cerca de 75 mil turcos que partiramcom desti<strong>no</strong> a países europeus se enquadravam <strong>no</strong> instituto da reuniãofamiliar. 6642. COMUNIDADES TURCAS NO EXTERIOR: CARACTERÍSTICASA comunidade turca é a mais expressiva mi<strong>no</strong>ria étnica naEuropa Ocidental. São os chamados euroturcos, predominantementede religião islâmica. 665 Historicamente, os turcos sempre buscaram o<strong>no</strong>rte da Europa, em especial, a Alemanha. 666 Com exceção da ArábiaSaudita, que inclui muitos trabalhadores sob contrato de empresasturcas, e da Austrália e Estados Unidos, que recebem grandecontingente de mão-de-obra qualificada e de estudantes universitários,a União Européia abriga a quase totalidade dos migrantes turcos. 667Estima-se que 4 milhões de turcos residam <strong>no</strong> exterior, dispersossobretudo pela Europa Ocidental (3,5 milhões, sendo 2,3 milhões naAlemanha), Oriente Médio, EUA e Austrália. 668 O maior jornal da151


GEORGE TORQUATO FIRMEZAcomunidade turca na Europa, o Hürriyet, cuja circulação diária equivaleao somatório da tiragem de todos os demais jornais turcos combinados,é lido em todos os países da UE e dispõe de correspondentes emdiversas capitais européias. 669Originalmente, os migrantes turcos eram, em sua maioria, rudescamponeses da Anatólia Central, recrutados <strong>no</strong> âmbito de programaseuropeus de trabalhadores hóspedes. Passadas algumas décadas desdea chegada desses primeiros trabalhadores, a comunidade apresentaperfil heterogêneo em termos sócio-econômicos. Ao mesmo tempoem que se registra número crescente de empresários na comunidade,se verificam índices elevados de desemprego entre a juventude turca. 670Contemporaneamente, o tema da candidatura à UE passou a representarfonte de mobilização entre os turcos na Alemanha. 6713. O CASO ESPECIAL DOS TURCOS NA ALEMANHAOs turcos constituem hoje aproximadamente 35% do total dosestrangeiros na Alemanha. 672 Os cerca de 2,3 milhões de migrantes deorigem turca constituem, de longe, a mais numerosa comunidadeestrangeira <strong>no</strong> país. Com grau reduzido de integração à sociedade local,os migrantes turcos formaram verdadeiros enclaves étnico-religiososem cidades médias e grandes da Alemanha. Nos a<strong>no</strong>s 1980, foiaprovada legislação específica alemã para promover a repatriaçãovoluntária de estrangeiros, mediante o oferecimento de compensaçãofinanceira para migrantes que desejassem retornar, em caráterpermanente, a seu país de origem. Foi a chamada Lei dos 10.500marcos. Tal incentivo, somado ao temor provocado por incidentes deracismo e violência contra estrangeiros na Alemanha, levou mais de370 mil turcos a optar pelo retor<strong>no</strong> a seu país de origem. 673Por outro lado, a unificação da Alemanha trouxe, em um primeiromomento, a expectativa de rápida melhora <strong>no</strong>s padrões de vida dosalemães orientais. À medida que se tor<strong>no</strong>u evidente que essa expectativanão se concretizaria a curto prazo, o racismo e a xe<strong>no</strong>fobia encontraram152


A POLÍTICA DA TURQUIA PARA SUAS COMUNIDADEScampo fértil <strong>no</strong> território alemão. 674 Mesmo assim, a maioria dos turcosdecidiram permanecer na Alemanha, seja por temer as incertezas daeco<strong>no</strong>mia turca, seja pelo enraizamento local de seus filhos. 675De outra parte, embora consciente das reduzidas possibilidadespara sua participação política na Alemanha, a comunidade turca passoua registrar, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1990, crescente interesse em filiar-se a partidospolíticos locais. 676 Dez a<strong>no</strong>s mais tarde, porém, segue limitada acapacidade das associações de migrantes turcos de influenciar ocomportamento dos partidos políticos alemães <strong>no</strong> tocante a questõesde seu interesse.Desde 1990, os migrantes da Turquia têm passado porprocesso de transformação social e econômica. Eles já não trabalham,predominantemente, em empregos que requerem ofícios manuais. Eassumem, cada vez mais, seus próprios negócios. 677 Tem havido, ainda,crescimento do número de estudantes turcos em universidades alemãs:de 4 mil em 1975 a 14.700 em 1993. 678 Tais universitários criaram,<strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1990, a Associação Européia dos Acadêmicos Turcos,reunindo ainda estudantes na Holanda, Bélgica, França, Dinamarca,Áustria, Suíça e Suécia.A comunidade divide-se ao longo de várias linhas, o que aenfraquece em termos de capacidade de mobilização política. Partedos migrantes são, na verdade, da etnia curda. 679 Diversas organizaçõesbanidas na Turquia encontram espaço de atuação mais livre naAlemanha e em outros países da Europa Ocidental, 680 apesar de oGover<strong>no</strong> alemão já vir pondo na ilegalidade algumas delas, a exemplodo partido curdo PKK. 681 Há suspeitas, ademais, de que o serviçosecreto turco (MIT) 682 viria tentando controlar 683 as atividades deativistas sindicais, militantes nacionalistas curdos, políticos de extremaesquerda, entre outros migrantes. 684 No que se refere à religião, registresea divisão entre muçulma<strong>no</strong>s alevitas 685 e sunitas. Politicamente, háassociações de migrantes afiliados a vasto espectro de partidos políticosna Turquia. 686 Há duas grandes federações de migrantes turcos naAlemanha. A primeira delas é a Comunidade Turca na Alemanha,153


GEORGE TORQUATO FIRMEZAfundada em 1985, que reúne hoje mais de cem associações demigrantes. A segunda é o Conselho para os Cidadãos Turcos, quereúne quase igual número de associações, de tendências políticasconservadoras ou representativas de muçulma<strong>no</strong>s sunitas.Conquanto diga respeito tão-somente a uma fração dacomunidade turca, o fundamentalismo islâmico tem encontrado algumeco entre os jovens, inclusive por razões econômico-sociais, já que odesemprego, problema grave para o conjunto da sociedade alemã,afeta de modo particular as comunidades de migrantes. 687 Após o 11de Setembro, intensificaram-se, ademais, os temores com relação àsatividades de grupos extremistas islâmicos.4. A INTERAÇÃO DO GOVERNO TURCO COMAS ASSOCIAÇÕES DE MIGRANTESAté o final dos a<strong>no</strong>s 1970, parecia prevalecer entre os migrantesa percepção de que o Gover<strong>no</strong> em Âncara os via como meras “máquinasde remeter recursos”, sem maiores preocupações com a luta porigualdade de direitos e contra a discriminação social <strong>no</strong>s países dedesti<strong>no</strong>. Contemporaneamente, diversas associações turcas têm-seengajado na discussão com as autoridades governamentais sobre asituação dos migrantes <strong>no</strong>s países de desti<strong>no</strong>, a candidatura da Turquiaà União Européia e a extensão dos direitos políticos da diáspora. 688A partir dos a<strong>no</strong>s 1980, quando então o Gover<strong>no</strong> passou aconceder maior prioridade à integração e à mobilidade social de seusnacionais <strong>no</strong> exterior, foram adotadas uma série de medidas parafortalecer os vínculos econômicos, políticos e culturais com a diáspora.Nos a<strong>no</strong>s 1990, começou a generalizar-se, entre os partidos políticosturcos, a prática de <strong>no</strong>meação de parlamentar para atuar comoelemento de ligação com as comunidades emigradas. Cumpre ressaltar,contudo, que o bem-estar de sua diáspora não parece haver sido oúnico motor por detrás de tais medidas. Estas foram motivadas nãoapenas pela importância econômica das remessas, mas também pelo154


A POLÍTICA DA TURQUIA PARA SUAS COMUNIDADESpapel de relevo que os migrantes poderiam desempenhar nas relaçõesbilaterais e multilaterais da Turquia com os países membros da UE. 689A rede consular tem sido instruída a organizar reuniões comassociações de migrantes, <strong>no</strong> intuito de reiterar os apelos para que semobilizem em reação a críticas contra a Turquia, 690 formuladas porgrupos de pressão organizados por curdos, armênios e gregos. 691 Asautoridades governamentais turcas têm, ademais, instado com freqüênciaseus nacionais <strong>no</strong> exterior a apoiarem políticos que se mostramfavoráveis a assuntos de interesse da política externa turca, a exemploda candidatura à UE. 692É bem verdade que a agenda política do país de origem nemsempre pode ser dissociada daquela formulada pelas associações demigrantes. 693 Assim, da agenda política da Turquia podem constartópicos de interesse para a agenda política de seus nacionais <strong>no</strong> exteriore vice-versa. Para citar um exemplo, algumas associações de migrantescostumavam instar os Gover<strong>no</strong>s de países membros da UE a manterema Turquia a distância, enquanto não fosse regularizada sua situação dedireitos huma<strong>no</strong>s. Mais recentemente, <strong>no</strong> entanto, quase todas parecemmostrar-se favoráveis à candidatura turca, seja por julgarem que, dessaforma, haveria evolução em termos de política interna, seja porreconhecerem que, juntamente com o ingresso da Turquia na UE, viria,em algum momento, o direito de livre circulação <strong>no</strong> espaço comunitárioaos cidadãos turcos. 6945. A CANDIDATURA TURCA À UNIÃO EUROPÉIAQuase ao mesmo tempo em que os turcos começaram a migrarpara a Alemanha, a Turquia candidatou-se ao que viria a ser a UE. 695Nesse contexto, a migração tor<strong>no</strong>u-se tema de relevância nas relaçõesda Turquia com a UE e, bilateralmente, com a Alemanha e os demaispaíses membros. 696 Os temores de um potencial êxodo migratório ede um eventual crescimento do fundamentalismo islâmico <strong>no</strong> bojo dadiáspora turca continuam a dificultar a aceitação da candidatura turca.155


GEORGE TORQUATO FIRMEZAAdemais, o influxo de refugiados políticos reforçou as dúvidas, entreos países membros da UE, sobre a estabilidade política e econômicada Turquia, suscitando pressões européias para que Âncaraaprofundasse reformas para modernização em diversas áreas. Asautoridades em Âncara vêm tentando afastar os temores dos paísescomunitários com relação à perspectiva de levas de migrantes, 697 que,<strong>no</strong> entender dos opositores do acesso turco à UE, poderiam alcançaro patamar de 15 milhões de pessoas. 698 Há, naturalmente, argumentosem favor da candidatura turca. A existência de comunidade emigradade vastas dimensões vinculou a Turquia com os países europeus deacolhimento, podendo ser interpretada como argumento em favor deintegração maior. 699O relatório da Comissão Européia a respeito do estado deprogresso das negociações de adesão com a Turquia em 2006 apontoualgumas dificuldades, como a intromissão excessiva dos militares navida política do país, a falta de auto<strong>no</strong>mia e de independência do PoderJudiciário, o desrespeito aos direitos das mi<strong>no</strong>rias, principalmente curdase ciganas, a ausência de liberdade de culto religioso e a vigência doartigo 301, do <strong>no</strong>vo Código Penal, que criminaliza críticas à chamada“turquicidade”, reduzindo assim a liberdade de expressão e de opinião.Em dezembro de 2006, o Conselho de Assuntos Gerais eRelações Externas da UE acatou, com pequenas alterações, asrecomendações da Comissão. 700 Assim, diante da resistência de Âncaraem cumprir integralmente os termos do Protocolo Adicional ao Acordode Livre Comércio entre a Turquia e a União Européia, recusando-sea abrir seus portos e fronteiras a Chipre, julgou apropriado suspendertemporariamente a negociação com a Turquia sobre as áreas deeco<strong>no</strong>mia e de relacionamento exter<strong>no</strong>. 701É especialmente amarga para Âncara a mudança de abordagemda Alemanha, uma vez que o último Chanceler, Gerhard Schröder,havia sido um dos principais aliados da Turquia <strong>no</strong> período queantecedeu o início das negociações. Angela Merkel, a qual, comocandidata, defendia apenas “parceria privilegiada” com a Turquia, havia156


A POLÍTICA DA TURQUIA PARA SUAS COMUNIDADESdeclarado, ao assumir o Gover<strong>no</strong>, que cumpriria os pactos acordadospela Alemanha. O descumprimento por Âncara de suas obrigaçõesem relação a Chipre constituiu, porém, oportunidade para reabrir aquestão. Em 2006, delineavam-se, <strong>no</strong> seio da União Européia, doiscampos: o antagonístico à Turquia, capitaneado por França, Alemanha,Áustria, Holanda, Grécia, Chipre e Itália, e o favorável, liderado peloRei<strong>no</strong> Unido, Espanha e países escandinavos. 7026. A POLÍTICA MIGRATÓRIA DA ALEMANHAA política migratória alemã é das me<strong>no</strong>s integracionistas daEuropa. 703 As taxas anuais de naturalização são significativamentebaixas, tendo variado entre 0.3% e 0.6%, <strong>no</strong> período de 1974 a 1993,o que tem sido atribuído aos requisitos extenuantes para a naturalizaçãoe ao alto custo do processo. A lei é federal mas sua aplicação está acargo dos estados, o que permite distorções e diferenças deprocedimento. 704 Contudo, mesmo após mudanças introduzidas em1993 para facilitar o acesso à naturalização, a taxa continuourelativamente baixa. A legislação alemã segue sendo restritiva nesseaspecto. Quem se naturaliza alemão tem de abdicar de sua nacionalidadede origem. 705 Os turcos, <strong>no</strong> entanto, relutam em abrir mão danacionalidade original, 706 considerada parte de sua identidade étnica ereligiosa. 707A partir de 1998, 708 vários projetos de lei relacionados àimigração começaram a ser discutidos. 709 Os defensores de legislaçãomais liberal deram ênfase ao déficit demográfico e à escassez de pessoalqualificado em alguns setores da eco<strong>no</strong>mia. Os opositores da ampliaçãoda entrada de migrantes apontaram, por sua vez, para a taxa dedesemprego na eco<strong>no</strong>mia, que, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> 2000, atingiu 9% do total dapopulação (16% <strong>no</strong> caso dos estrangeiros). Questionaram também acapacidade da própria sociedade alemã de absorver mais estrangeiros.Como resultado daqueles debates, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> 2000, foi aprovadoprojeto de lei relativo à aquisição de nacionalidade, permitindo que157


GEORGE TORQUATO FIRMEZAfilhos de estrangeiros residentes na Alemanha passassem a recebercidadania alemã automaticamente, desde que um dos pais pudessecomprovar residência legal mínima de oito a<strong>no</strong>s. 710 Até então, prevaleciana Alemanha o princípio do jus sanguinis. 711Nesse mesmo a<strong>no</strong>, o Gover<strong>no</strong> <strong>no</strong>meou Comissão para elaborarpropostas para <strong>no</strong>va política de imigração e integração. Em julho de2001, a Comissão apresentou relatório intitulado “Estruturando aImigração, Promovendo a Integração”. Recomendou iniciar programade migração controlada para estrangeiros com características favoráveisà integração, tanto <strong>no</strong> mercado de trabalho, quanto na sociedade.Propôs a implementação de sistema de pontuação como parâmetropara selecionar 20 mil migrantes por a<strong>no</strong>, com base em critérios deeducação, idade e habilidades lingüísticas. 712 O processo de revisãolegislativa somente foi concluído em 2004, com a aprovação de Leide Imigração baseada em tais recomendações.7. AS INICIATIVAS DE APOIO AOS TURCOS NO EXTERIOR.Nos a<strong>no</strong>s 1960, a política turca para comunidades limitava-se,em larga medida, à prestação de assistência temporária e apoio <strong>no</strong>retor<strong>no</strong> dos migrantes. Pouca atenção era realmente dispensada aosproblemas dos trabalhadores <strong>no</strong>s países de desti<strong>no</strong>, posto que apercepção governamental ainda era a de que esses trabalhadores logoretornariam ao país. 713 Somente a partir dos a<strong>no</strong>s 1980, contudo,parece haver surgido conscientização maior sobre a necessidade deformulação de políticas para as comunidades emigradas.Apresentam-se, a seguir, alguns aspectos da lenta evoluçãodas políticas turcas para as comunidades emigradas, à medida que oGover<strong>no</strong> se foi dando conta de que os seus nacionais <strong>no</strong> exterior sevinham estabelecendo permanentemente <strong>no</strong>s países de acolhimento,ao contrário do previsto <strong>no</strong>s acordos originais celebrados comGover<strong>no</strong>s europeus para o recrutamento de trabalhadorestemporários.158


A POLÍTICA DA TURQUIA PARA SUAS COMUNIDADES7.1 As negociações bilateraisDa pauta do diálogo bilateral Alemanha-Turquia sobremigração, têm constado temas como o direito à dupla nacionalidade, ouso da língua nativa dos filhos de migrantes <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> escolar e a inclusãosocial dos turcos. 714 A partir do início dos a<strong>no</strong>s 1990, a pauta passoua refletir, com maior intensidade, a preocupação com formas de reduzira discriminação e a xe<strong>no</strong>fobia contra os turcos na Alemanha. 715No que diz respeito à adoção de políticas mais eficazes deintegração dos migrantes na Alemanha e em outros países europeus,representa elemento complicador o fato de que a comunidade turcase compõe também de curdos. O Gover<strong>no</strong> turco, opõe-se, portanto,a políticas multiculturais que contemplem a especificidade da língua, dahistória e da cultura curdas, alegando que têm o efeito de realimentarmovimento político de cunho subversivo e separatista. 716 Ademais, écontrário a medidas assimilacionistas por supostamente não deixaremespaço para a especificidade cultural turca.No que se refere à questão curda, o Gover<strong>no</strong> alemão vê-se àsvoltas, por exemplo, com demandas de associações de migrantes paraa realização de gestões políticas junto à Turquia em razão de alegadasviolações de direitos huma<strong>no</strong>s. Ao mesmo tempo, recebe pressões daTurquia para que não permita o desenvolvimento, por tais associações,de políticas anti-turcas em seu território. 717 Trata-se aqui, naturalmente,de problema específico da comunidade turca. Foi relatado nestecapítulo, contudo, como exemplo das ambigüidades que podem estarcontidas <strong>no</strong> relacionamento triangular país de origem-diáspora-país dedesti<strong>no</strong>.7.2 A estrutura de apoioOs princípios básicos da legislação turca referentes à emigraçãoestão contemplados na Constituição de 1982, emendada em 1995,que estabelece que o Estado adotará as medidas necessárias para159


GEORGE TORQUATO FIRMEZAgarantir a segurança, educação e necessidades culturais dos turcos <strong>no</strong>exterior, bem como para manter seus vínculos com a Turquia e auxiliálos<strong>no</strong> retor<strong>no</strong> ao seu país de origem. Essas diretrizes básicas foramregulamentadas, posteriormente, por vasta legislação ordinária.Com vistas a adequar a estrutura do serviço consular àsnecessidades de prestar assistência e apoio à diáspora, o Ministériodas Relações <strong>Exterior</strong>es passou por reorganização interna, com acriação de uma Direção-Geral de Assuntos Consulares, de Migraçãoe de Turcos <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>. 718 A rede consular foi reforçada especialmentena Alemanha, onde passou-se a contar com rede de 14 consulados. Apartir dos a<strong>no</strong>s 1990, cada consulado começou a representar quaseque um microcosmo da administração federal. Além de funcionáriosdiplomáticos, foram incorporados também representantes da Direção-Geral de Assuntos Religiosos e dos Ministérios do Trabalho, Tesouro,Educação, Comércio e Defesa. 719Em 1995, diante de pressões de setores da mídia e doParlamento, o Gover<strong>no</strong> turco criou Comissão Especial para avaliar asituação dos turcos <strong>no</strong> exterior, que estariam sendo tratados comocidadãos de segunda classe, sujeitos à discriminação social edesprovidos de direitos políticos. O relatório da Comissão fez diversasrecomendações para aperfeiçoar as políticas para as comunidades. 720Questão recorrente <strong>no</strong> debate <strong>no</strong> âmbito da Comissão foi o daconveniência de criação de Ministério para os Turcos <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, nãohavendo sido alcançado consenso sobre o assunto até o momento.Em 1997, foi criada uma Comissão Consultiva para CidadãosResidentes <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, presidida pelo Ministro dos NegóciosEstrangeiros, com o objetivo de facilitar o diálogo entre o Executivo, oLegislativo e as comunidades, bem como permitir a discussão depolíticas de apoio. 721 A Comissão engloba também representantes dosMinistérios que tratam de assuntos afetos à diáspora, como Cultura,Saúde e Previdência Social, bem como do Parlamento. Integram aComissão 45 cidadãos turcos residentes <strong>no</strong> exterior, selecionados pelarede consular. Há representantes de todas as comunidades turcas,160


A POLÍTICA DA TURQUIA PARA SUAS COMUNIDADESsendo que o número de representantes é proporcional às dimensõesde cada comunidade. Dessa forma, os representantes da comunidadena Alemanha, por exemplo, equivalem a mais da metade do númerototal de representantes na Comissão Consultiva. O processo de escolhados representantes, porém, foi objeto de críticas quase unânimes dasassociações de migrantes, que o acusaram de não ser democrático. 722Não obstante tais críticas, a Comissão constitui, do ponto de vista doGover<strong>no</strong> turco, foro privilegiado para transmitir aos seus nacionais <strong>no</strong>exterior as prioridades do país em termos de política externa. Exemploconcreto ocorreu em Chipre <strong>no</strong> a<strong>no</strong> 2000, por ocasião da reuniãoanual da Comissão, quando cada representante da diáspora recebeumaterial e explicações detalhadas sobre a versão oficial turca da questãocipriota e suas possibilidades de resolução. 723Com a chegada ao poder do Primeiro-Ministro Recep TayyipErdogan, em 2002, as comunidades emigradas ganharam maior pesopolítico em Âncara. 724 Parcela significativa dos migrantes são oriundosde segmentos da população turca responsáveis pela ascensão doPartido Justiça e Desenvolvimento. 725 Assim, a partir de 2002, teveinício <strong>no</strong>va fase de evolução nas instituições e políticas turcas dedicadasao atendimento das comunidades emigradas. 7267.3 A questão das remessasÀ primeira vista, a evolução das remessas de migrantes turcos<strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s constitui um enigma. De 1998 a 2003, a populaçãoemigrada cresceu. E, <strong>no</strong> entanto, as remessas decresceram. Em 1998,as remessas atingiram o montante de US$ 5,3 bilhões. Em 2003, caírampara US$ 1,7 bilhão. 727 Em 2005, chegaram a patamar ainda maisbaixo: US$ 1 bilhão. 728 O que explicaria esse fenôme<strong>no</strong>? Uma respostapossível é que o perfil da diáspora mudou com o tempo. 729 Entre 1961e 1967, por exemplo, a proporção de mulheres entre os migrantes erade cerca de 16%. No final dos a<strong>no</strong>s 1990, chegou a 40%. Com índicesmais altos de reunião familiar, os migrantes passaram a ter me<strong>no</strong>s161


GEORGE TORQUATO FIRMEZAincentivos para fazer remessas ou voltar definitivamente à Turquia, postoque seus familiares já residiam <strong>no</strong> exterior. 730No que se refere aos métodos utilizados, acredita-se que asremessas sejam feitas majoritariamente pelo sistema bancário. Asprincipais agências de transferência de recursos utilizadas pelosmigrantes turcos são a Western Union e a MoneyGram. As remessastêm sido efetuadas, também, por agências de correio. As taxas cobradaspelos bancos situam-se entre 0,3 e 8,4%, pelas agências detransferência, em tor<strong>no</strong> de 8,5%, e, pelas agências de correios, emcerca de 2,8%. 731Nos a<strong>no</strong>s 1960, quando começou a promover a exportaçãode mão-de-obra para a Europa Ocidental, o Gover<strong>no</strong> turco pareciater elevadas expectativas com relação aos benefícios da migração paraa modernização do país. 732 Nessa época, o planejamento econômico<strong>no</strong> país havia assumido a forma de pla<strong>no</strong>s qüinqüenais dedesenvolvimento, os quais incluíam a emigração como resposta aoproblema do excesso de mão-de-obra. Esses pla<strong>no</strong>s deram ênfase ànecessidade de enviar ao exterior os trabalhadores de me<strong>no</strong>rqualificação, bem como aqueles das regiões me<strong>no</strong>s desenvolvidas, <strong>no</strong>leste do país. O Gover<strong>no</strong> desenvolveu, então, programas para incentivaros trabalhadores dessas regiões a migrarem. 733 Acreditava-se que oretor<strong>no</strong> dos migrantes traria mão-de-obra qualificada por a<strong>no</strong>s detrabalho <strong>no</strong> exterior, bem como o capital necessário para aindustrialização do país.Foram experimentadas algumas políticas com o objetivo decaptar recursos da diáspora para investimentos financeiros.Mencionem-se, por exemplo, esquemas especiais de investimentospara migrantes, com taxas de câmbio e de juros mais favoráveis quea média <strong>no</strong>rmalmente praticada <strong>no</strong> mercado bancário turco. 734 Foramoferecidas, ainda, oportunidades de investimento <strong>no</strong> sistema bancárioislâmico e de contribuições para projetos comunitários nas regiõesde origem dos migrantes. 735 Houve, na verdade, competição tantoentre bancos públicos e privados turcos, quanto entre bancos turcos162


A POLÍTICA DA TURQUIA PARA SUAS COMUNIDADESe estrangeiros, pelos recursos excedentes dessa comunidadeemigrada. 736Algumas tentativas foram feitas também para canalizar asremessas para atividades produtivas. Mais especificamente, registremsedois programas governamentais nessa área: as cooperativas dedesenvolvimento local e as companhias de trabalhadores turcos. Oprimeiro programa visava a promover o desenvolvimento em áreasrurais. Ainda <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1960, foram criadas as primeiras dessascooperativas de desenvolvimento. Em 1965, havia 128. Esse númeroelevou-se para 6.590 em 1977. Após esse período, <strong>no</strong> entanto, essascooperativas foram entrando em decadência. 737 O programa acaboureduzindo-se quase que apenas a uma espécie de “taxa de migração”,uma vez que o pagamento de taxa de inscrição nessas cooperativasdava direito a lugar prioritário nas filas para preenchimento de vagasde trabalho <strong>no</strong> exterior oferecidas pelas agências oficiais de recrutamentode trabalhadores de me<strong>no</strong>r qualificação.O segundo programa consistiu na criação das chamadasCompanhias de Trabalhadores Turcos. Tais companhias foram criadassobretudo na Anatólia Central, região de origem da maior parte dosmigrantes. 738 A lógica por trás dos pla<strong>no</strong>s governamentais era a de queas remessas de recursos dos trabalhadores permitiriam a criação defábricas. Ao retornarem a sua região de origem, os antigos camponeses,então já possuidores de conhecimentos técnicos que os teriam tornadocapacitados para funções <strong>no</strong> setor industrial, seriam contratados poressas fábricas. Os salários oferecidos equivaliam, entretanto, a umafração daqueles praticados <strong>no</strong> mercado de trabalho alemão. Na prática,os migrantes retornados acabaram preferindo trabalhar de outra forma,investindo suas eco<strong>no</strong>mias na abertura de micro-empresas ou naaquisição de táxis ou caminhões. 739 As companhias de trabalhadoresacabaram indo à falência uma por uma ou tendo de ser resgatadascom dinheiro público, o que apenas adiou o problema por alguns a<strong>no</strong>s.Nos poucos casos em que as companhias foram exitosas, ostrabalhadores que delas participaram <strong>no</strong> início acabaram sendo163


GEORGE TORQUATO FIRMEZAdeslocados pelos demais acionistas, os quais assumiram o controledas companhias. A burocracia turca e o valor declinante da moedalocal parecem haver constituído obstáculos intransponíveis para osmigrantes que haviam decidido participar desses dois programas deinvestimentos, os quais acabaram sendo abandonados. 740Não obstante as iniciativas governamentais acima mencionadas,as remessas do exterior têm sido absorvidas <strong>no</strong> sistema econômicoturco, aumentando os padrões de consumo em vigor e criando <strong>no</strong>vasdemandas existentes, mas sem alterar, de modo significativo o sistemaeconômico. Nas cidades de origem de muitos migrantes, a ausência deinfra-estrutura dificulta o retor<strong>no</strong> dos investimentos e faz com que osmigrantes relutem em arriscar as eco<strong>no</strong>mias de a<strong>no</strong>s passados <strong>no</strong>exterior. 7417.4 Língua e CulturaPercebe-se hoje clara preocupação das autoridadesgovernamentais quanto à consolidação do contato da segunda e terceiragerações da diáspora com a língua e a cultura turcas. A Turquia apóiaa integração, e não a assimilação, dos seus nacionais <strong>no</strong>s países deacolhimento.Reconhecendo a mudança de caráter da migração, de masculinaa familiar, o Gover<strong>no</strong> voltou-se, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1980, primeiramente, para aprestação de serviços que reforçassem os laços com a pátria, como oenvio de professores de língua turca para os filhos dos emigrados,tarefa que ficou a cargo do Ministério da Educação, 742 e de religiososdevidamente treinados e sujeitos à jurisdição da Direção de AssuntosReligiosos. 743 Hoje, os imãs pagos por Âncara controlam rede dequase 800 mesquitas na Alemanha. 744 Desde os a<strong>no</strong>s 1980, o Ministérioda Educação e a Direção Geral de Assuntos Religiosos têm despachadoao exterior grande número de professores de língua e religião. Alémdisso, o número de professores de língua e civilização turca naquelepaís chegou a 470 em 2003. Se aos imãs cabe transmitir a versão164


A POLÍTICA DA TURQUIA PARA SUAS COMUNIDADESoficial turca de islamismo, aos professores enviados ao exterior incumbea tarefa de transmitir à segunda e terceira gerações de migrantes aversão oficial da Turquia sobre sua história e civilização. 745Realizaram-se mudanças nas políticas do Ministério daEducação e da Direção de Assuntos Religiosos. 746 A partir de 2002,com a ascensão ao poder do Primeiro-Ministro Recep Tayyip Erdogan,o Gover<strong>no</strong> passou a dar re<strong>no</strong>vada ênfase ao treinamento e capacitaçãode uma parcela dos cerca de 70 mil imãs turcos <strong>no</strong> uso de idiomaseuropeus. Entre 2002 e 2005, foram enviados 800 <strong>no</strong>vos clérigos paraa Alemanha e 300 para outros países da UE. 747 O objetivo não parecehaver sido tão-somente o de prover os migrantes turcos com apoioespiritual. A medida visaria também a difundir a imagem do islã comoreligião de paz, desvinculando-a da violência gerada pelofundamentalismo, e a melhorar a própria imagem do país. 748 Trata-sede exemplo de como o investimento <strong>no</strong> aperfeiçoamento da imagemda diáspora pode reverter igualmente em benefícios para a imagem dopaís de origem.7.5 Outras iniciativasOutra iniciativa governamental diz respeito ao processo eleitoral.Para a concessão de direito de voto aos eleitores <strong>no</strong> exterior, foiaprovada emenda à Constituição em 1995. Restou, <strong>no</strong> entanto,disciplinar a questão por meio de legislação ordinária, sendo que esseprocesso ainda não foi concluído. 749 Para votar, os turcos emigradostêm de deslocar-se, pelo me<strong>no</strong>s, até as sessões eleitorais estabelecidasnas fronteiras do país. Por esse motivo, o número de votantes nuncachegou a ultrapassar o patamar de 100 mil. Somente na Alemanha, oseleitores turcos poderiam, teoricamente, eleger até 25 parlamentaresem seu país de origem.Ainda <strong>no</strong> campo dos direitos políticos, em 1995, a Turquiamodificou a Constituição 750 para incorporar o instituto da duplanacionalidade. Em 1998, decidiu que, aos cidadãos turcos forçados165


GEORGE TORQUATO FIRMEZAa abrir mão de sua nacionalidade originária para adquirir anacionalidade de seu país de acolhimento, seria oferecido o chamadoCartão Rosa, que outorga o direito de permanência <strong>no</strong> país porvinte a<strong>no</strong>s (prorrogáveis) e isenção do serviço militar, entre outrosprivilégios. 751Para migrantes que retornam ao país de origem, reveste-sede grande importância a possibilidade de acesso a esquemas deprevidência social. O Gover<strong>no</strong> turco passou, portanto, a oferecerlhesa possibilidade de assegurar a aposentadoria mediante opagamento retroativo de contribuições previdenciárias equivalentesaos a<strong>no</strong>s passados <strong>no</strong> exterior. Mesmo assim, esses migrantescontinuaram prejudicados, porquanto não puderam recuperar ascontribuições feitas para os sistemas previdenciários <strong>no</strong>s paíseseuropeus onde trabalharam. Por esse motivo, a negociação de acordosbilaterais sobre previdência social passou a figurar entre as prioridadesdo Gover<strong>no</strong>. 7528. ALGUMAS CONSIDERAÇÕESO caso da Turquia demonstra que o relacionamento doGover<strong>no</strong> com a diáspora não se transforma com rapidez. Da partedo Gover<strong>no</strong>, parece haver faltado, em algumas ocasiões, a habilidadenecessária para levar em conta a situação de seus nacionais <strong>no</strong>exterior. Após fase de negligência <strong>no</strong> atendimento das necessidadesde suas comunidades emigradas até os a<strong>no</strong>s 1980, quando estas aindaeram vistas, até certo ponto, tão-somente como fontes de remessade divisas, Âncara levou mais de uma década até conseguir que suasiniciativas de apoio a seus nacionais <strong>no</strong> exterior começassem aadquirir credibilidade.No que se refere à <strong>no</strong>va legislação migratória da Alemanha,esta parece haver sido redigida de modo a não mais permitir o ingressode migrantes com características similares àquelas dos antigosGastarbeiter turcos, passando a estabelecer minucioso sistema de166


A POLÍTICA DA TURQUIA PARA SUAS COMUNIDADESpontuação para facilitar a concessão de vistos apenas a migrantescom perfil favorável à integração na sociedade alemã. De outra parte,com a aprovação da <strong>no</strong>va Lei de Nacionalidade naquele país, quepassou a acatar o princípio de jus soli para fins de naturalização, os2,3 milhões de turcos tendem a transformar-se em força com certopeso eleitoral, à medida que as <strong>no</strong>vas gerações forem tendo acessoà cidadania alemã.A análise das tentativas da Turquia de canalizar as remessasdos migrantes para projetos de desenvolvimento em suas regiões deorigem parecem haver malogrado, entre outros motivos, pelainsuficiência de infra-estrutura adequada justamente nessas regiões.Conquanto substanciais, tais remessas não chegaram a ser utilizadasde modo a gerar desenvolvimento e reduzir os fluxos migratóriosoriundos das regiões me<strong>no</strong>s desenvolvidas do país, em particular, daAnatólia Central. 753As políticas para mi<strong>no</strong>rias <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> doméstico podemcomprometer a eficácia de ações voltadas para comunidades <strong>no</strong>exterior. No caso da Turquia, os curdos que migraram para a EuropaOcidental por conta de perseguições políticas passaram a usar seuspaíses de acolhimento como plataformas para lançar denúncias arespeito das políticas turcas na área de direitos huma<strong>no</strong>s. Comoresultado, parte dos recursos huma<strong>no</strong>s e financeiros que poderiamser destinados a políticas para comunidades <strong>no</strong> exterior têm sidogastos, por exemplo, em tarefas de monitoramento e controle dasatividades de grupos de pressão curdos na Europa, reduzindo,portanto, a eficiência daquelas políticas como ações de aglutinação emobilização das comunidades.Cabe ressaltar, finalmente, que o Gover<strong>no</strong> turco talvez haja,em demasia, concentrado seus esforços na negociação de acesso àUE, imaginando decerto que um desfecho favorável traria, com otempo, o direito de livre circulação de seus nacionais <strong>no</strong> espaçocomunitário. Esse objetivo de longo prazo pode haver acarretadoperdas na qualidade da formulação e na velocidade de implementação167


GEORGE TORQUATO FIRMEZAdas políticas de curto e médio prazo voltadas para as comunidades.Não foi o que aconteceu com o México, por exemplo, o qual, comorelatado <strong>no</strong> capítulo IV, soube aliar a aproximação com ascomunidades emigradas ao objetivo de aprovação do NAFTA peloCongresso dos EUA.168


CAPÍTULO VIIIAS DIÁSPORAS DA ITÁLIA, ESPANHA E PORTUGAL


CAPÍTULO VIIIAS DIÁSPORAS DA ITÁLIA, ESPANHA E PORTUGAL“De família <strong>no</strong>bre, sábia e infinitamente prudente,Niccolò e Matteo decidiram partir para além doMar Negro para comerciar em seu proveito.” Marco Polo 754Apresenta-se, a seguir, análise sucinta de alguns aspectos daspolíticas de Itália, Espanha e Portugal para suas comunidades <strong>no</strong>exterior. Não obstante apresentarem o perfil e as demandas dessascomunidades algumas variações em relação ao da diáspora de paísesem desenvolvimento, busca-se aqui identificar boas práticas que possamservir eventualmente de inspiração a países atualmente emissores demigrantes.1. A POLÍTICA DA ITÁLIA PARA APOIO DAS COMUNIDADES NO EXTERIORA migração italiana contemporânea ganhou força a partir de1870, período de unificação nacional e de turbulências políticas. Nosprimeiros dez a<strong>no</strong>s dessa onda de migração, os principais países dedesti<strong>no</strong> foram França, Suíça, Bélgica, Luxemburgo e a recém-unificadaAlemanha. Em seguida, de 1880 até 1920, Brasil e Argentina passarama receber o maior influxo dessa migração. Gradualmente, a partir doinício do século XX, os migrantes italia<strong>no</strong>s tomaram o rumo dos EUA 755e, em me<strong>no</strong>r escala, da Austrália e Canadá. No período de 1876 a1976, o total de emigrados ultrapassou 27 milhões. 756 É bem verdadeque metade desses migrantes acabariam retornando à Itália. 757 Emconseqüência desses movimentos migratórios, formou-se uma diásporade peso, integrada por nacionais italia<strong>no</strong>s e seus descendentes. Em2005, estimava-se em 4,2 milhões o número de nacionais italia<strong>no</strong>s <strong>no</strong>exterior 758 e em 70 milhões seus descendentes, distribuídos <strong>no</strong> Brasil171


GEORGE TORQUATO FIRMEZA(25 milhões), <strong>no</strong>s EUA e Canadá (17 milhões), na Argentina (13milhões) e outros países, com remessas estimadas em US$ 2,1bilhões. 759 As características dos trabalhadores italia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> exteriorevoluíram ao longo dos últimos a<strong>no</strong>s, registrando-se acréscimo emtermos de mobilidade dentro do espaço da UE. 760As atuais políticas italianas para essas comunidades emigradaspermanecem, em grande medida, a cargo da Farnesina. 761 Aparticipação de representantes das comunidades na formulação eimplementação das políticas que lhes dizem respeito ocorre,tradicionalmente, por dois canais: os Comitês de Cidadãos formadosem cada jurisdição consular e o Conselho-Geral de Italia<strong>no</strong>s <strong>no</strong><strong>Exterior</strong>. O Conselho-Geral de Italia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong> 762 funciona comoórgão consultivo do Gover<strong>no</strong> e do Parlamento para temas de interesseda diáspora italiana, sendo sua Presidência ocupada pelo Ministro dosNegócios Estrangeiros. 763 Deriva sua legitimidade da eleição direta de65 representantes de Comitês de Cidadãos <strong>no</strong> exterior. Os outros 29Conselheiros, de um total de 94, são <strong>no</strong>meados pelo Gover<strong>no</strong>. 764 Oórgão é composto por uma Comissão da Presidência, sete ComissõesTemáticas, três Comissões Continentais, uma Assembléia Plenária ediversos Grupos de Trabalho. 765 Ao Ministério dos NegóciosEstrangeiros, cabe a responsabilidade pela condução dos temas afetosà diáspora. Durante curto período de tempo, 766 <strong>no</strong> entanto, a Farnesinapartilhou essa responsabilidade com o Ministério para os Italia<strong>no</strong>s <strong>no</strong>Mundo, criado em 2001, <strong>no</strong> início do mandato do ex-Presidente doConselho de Ministros, Silvio Berlusconi, com atribuições de ordempolítica, além do acompanhamento indireto de assuntos de naturezaconsular relacionados com a presença italiana <strong>no</strong> exterior. 767Enquanto existiu, o Ministério para os Italia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> Mundo esteveinstalado fisicamente <strong>no</strong> prédio da Chancelaria italiana, o que jásinalizava sua limitada auto<strong>no</strong>mia para conduzir políticas voltadas parao apoio às comunidades <strong>no</strong> exterior. 768 A criação do Ministério paraos Italia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> Mundo representou tentativa de atribuir viés político àquestão das comunidades <strong>no</strong> exterior. 769 Exemplo de sua atuação foi o172


AS DIÁSPORAS DA ITÁLIA, ESPANHA E PORTUGALenvolvimento da pasta na atuação do Gover<strong>no</strong> italia<strong>no</strong>, na assistênciaaos seus nacionais, após o maremoto que atingiu o Sudeste asiáticoem dezembro de 2005. O objetivo parece haver sido o de evidenciaro fato de que a diáspora italiana seria tratada como trunfo político aser explorado. 770Em 2001, 771 surgiu mais um canal de participação política paraos italia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> exterior, que constitui, possivelmente, a maior i<strong>no</strong>vaçãona política italiana para as comunidades, a saber, a concessão aosnacionais emigrados não apenas do direito de votar nas eleições gerais,mas, também, de eleger seus próprios representantes <strong>no</strong> Parlamentoem Roma. Ao <strong>no</strong>vo Ministério, foi confiada a missão de organizar aprimeira eleição de representantes das comunidades <strong>no</strong> exterior, em2006, com a escolha de 12 Deputados e 6 Senadores residentes naEuropa, América do Norte e Central, América Latina e África-Ásia-Oceania. Nessas regiões, foram criados quatro distritos eleitoraisespeciais. 772 A Câmara de Deputados passou a ter 630 cadeiras e oSenado, 315. 773 Tratou-se de i<strong>no</strong>vação de impacto junto àscomunidades, que passaram assim a ter voz e voto <strong>no</strong>s debates <strong>no</strong>Parlamento italia<strong>no</strong>. 774 Também aos descendentes de italia<strong>no</strong>s quereceberam cidadania por conta de sua filiação foi estendido o direitode participar das eleições. 775 Foi eleito em São Paulo, por exemplo,um dos <strong>no</strong>vos Senadores da diáspora, Eduardo Pollastri. Dentre asprioridades elencadas pelos candidatos eleitos <strong>no</strong> pleito de 2006,constaram a necessidade de aperfeiçoamento dos serviços consulares,a ampliação de cursos de língua e cultura italianas para os descendentesde migrantes italia<strong>no</strong>s, a oferta de serviços sociais para italia<strong>no</strong>s idosos<strong>no</strong> exterior, a discussão da própria política da Itália para migran<strong>tese</strong>strangeiros em seu território, à luz da experiência dos parlamentaresitalia<strong>no</strong>s residentes <strong>no</strong> exterior, bem como a concessão de cidadaniaitaliana aos migrantes que tiveram de renunciar a ela antes da aprovaçãoda legislação, em 1992, que passou a permitir a dupla cidadania. Nototal, havia mais de 2,6 milhões de eleitores cadastrados comoresidentes <strong>no</strong> exterior. 776 A Argentina ostentou o número mais elevado173


GEORGE TORQUATO FIRMEZAde eleitores, mais de 400 mil. Um partido independente criado apenaspara a campanha na América do Sul 777 fora das duas coalizõespartidárias principais conseguiu eleger representantes <strong>no</strong> Parlamento. 778O comparecimento às urnas <strong>no</strong> dia das eleições gerais foi de 1,1milhão, 779 representando cerca de 42% do total dos eleitorescadastrados, 780 proporção reduzida se comparada aos 84% decomparecimento de eleitores em território italia<strong>no</strong>. Foi o suficiente,contudo, para decidir o resultado final das eleições italianas de 2006ao Conselho de Ministros, definindo a derrota da coalizão de centrodireitaCasa das Liberdades, liderada por Silvio Berlusconi, e aascensão de Gabinete chefiado por Roma<strong>no</strong> Prodi. 781O <strong>no</strong>vo Primeiro-Ministro decidiu alterar a estrutura doGover<strong>no</strong> para a formulação e implementação de políticas paracomunidades, extinguindo o Ministério dos Italia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> Mundo edevolvendo à Farnesina a responsabilidade por todos os assuntosrelativos às comunidades emigradas. Ressalve-se, porém, que asfunções do extinto Ministério foram transferidas para a esfera de cargocriado dentro da estrutura da Farnesina, o de Vice-Ministro paraItalia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> Mundo, para o qual foi <strong>no</strong>meado político cuja carreiraesteve sempre ligada ao tema. 782 No orçamento do Gover<strong>no</strong> italia<strong>no</strong>para 2007, foi aprovada alocação de recursos da ordem de 14 milhõesde euros para <strong>no</strong>vos projetos relacionados com as comunidadesemigradas. 783Com a mudança, a Direção-Geral para os Italia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>e para Políticas Migratórias do Ministério dos Assuntos Estrangeirosteve seu papel revalorizado. 784 Essa Direção-Geral atua em consonânciacom outra unidade da Farnesina, subordinada diretamente à Secretaria-Geral, responsável pela administração, em colaboração com outrosórgãos estatais, de de situações internacionais de tensão 785 que exigemações de tutela dos interesses e da segurança dos cidadãos italia<strong>no</strong>s<strong>no</strong> exterior – a Unidade de Crise. 786Na rede consular italiana, que tradicionalmente asseguraassistência 787 aos cidadãos italia<strong>no</strong>s em caso de violação de seus direitos174


AS DIÁSPORAS DA ITÁLIA, ESPANHA E PORTUGALfundamentais e de limitação ou privação de sua liberdade pessoal, 788foi introduzido aperfeiçoamento. Tratou-se aqui das <strong>no</strong>vas atribuiçõesem matéria de previdência social, em colaboração com outros órgãos, 789incluindo a negociação e atualização de acordos bilaterais. Estes têmsobretudo o objetivo de assegurar que os períodos de trabalho <strong>no</strong>exterior possam ser adicionados àqueles prestados na Itália. No espaçoda União Européia, a tutela social já é garantida por regulamentosespecíficos. 790 Os trabalhadores <strong>no</strong> exterior passaram também a teracesso facilitado a oportunidades nas áreas de contribuição para aprevidência social e de financiamento para aquisição de casa própriana Itália. 791Igualmente de interesse, <strong>no</strong> contexto das políticas gerais paraas comunidades <strong>no</strong> exterior, parece ter sido a tentativa deaproximação com os empresários italia<strong>no</strong>s. Nesse sentido, aFarnesina lançou projeto de<strong>no</strong>minado Itenets, com o objetivo defazer uma radiografia das empresas da comunidade de italia<strong>no</strong>s eítalo-descendentes residentes <strong>no</strong> exterior e buscar vinculá-las àestrutura de promoção comercial da Itália, criando, assim, rede deconexões para o desenvolvimento de negócios. Na mesma linha,foram aumentadas as linhas de financiamento governamental para odesenvolvimento de negócios por parte de italia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> exterior.Outra iniciativa de interesse, adotada em resposta àcrescente mobilidade da diáspora italiana <strong>no</strong> espaço da UE, foi asimplificação dos procedimentos para o reconhecimento dos títulosuniversitários e profissionais obtidos por italia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> exterior.Na área cultural, merece destaque o esforço de reformada rede de institutos de cultura italiana, com ênfase <strong>no</strong>aperfeiçoamento da formação de seu corpo docente e <strong>no</strong>estreitamento da cooperação com instituições regionais na Itália.Um dos projetos atuais é o aumento da oferta de cursosespecíficos de língua e cultura italianas para filhos de migrantes,na sua rede de institutos, a qual, em 2006, alcançou o número de89 unidades <strong>no</strong> exterior. 792175


GEORGE TORQUATO FIRMEZAUm dos principais eventos utilizados para divulgar a ofertadesses cursos é a Semana da Língua Italiana <strong>no</strong> Mundo, organizada,tradicionalmente, <strong>no</strong> mês de outubro. Desde 2001, a Semana vemconstituindo o evento de ponta na estratégia de promoção levada acabo pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros em colaboraçãocom instituições públicas e privadas empenhadas na divulgação da línguae da cultura italiana. Em 2005, por exemplo, foram realizados, <strong>no</strong> âmbitoda Semana, cerca de mil eventos culturais, em grande medida literários,em 80 países. 793Outro instrumento de utilidade para a Itália <strong>no</strong> esforço de mantere reforçar os vínculos culturais com seus residentes <strong>no</strong> exterior temsido a RAI Televisão, por meio de programas voltados para ascomunidades. O objetivo da Farnesina, em especial, de seu Vice-Ministro para Italia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> Mundo, é o de envolver o Conselho-Geralde Italia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong> <strong>no</strong> esforço de reflexão sobre o conteúdotelevisivo da RAI Internacional e da RAI News 24, e de buscar recursosgovernamentais e privados para ampliar o alcance e a qualidade desua programação. 794 Uma das idéias em discussão é a de passar aexigir que, entre os executivos da RAI, sejam selecionadas pessoascom conhecimento e experiência aprofundados sobre as questõesrelativas à diáspora italiana. 795Outro projeto que vem sendo desenvolvido em conjunto entrea Farnesina e o Conselho-Geral dos Italia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> Mundo é o de criaçãode um Museu da Emigração e dos Italia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> Mundo. A instituiçãoteria atuação voltada para a conservação de documentação e detestemunhos de emigrantes italia<strong>no</strong>s, além de funcionar como centrode pesquisa sobre o tema da emigração. 7962. A POLÍTICA DA ESPANHA PARA APOIO DAS COMUNIDADES NO EXTERIORDurante cem a<strong>no</strong>s, entre 1850 e 1950, emigraram para asAméricas em busca de trabalho 3,5 milhões de espanhóis, origináriosbasicamente de três regiões: Galícia, Astúrias e Ilhas Canárias. 797176


AS DIÁSPORAS DA ITÁLIA, ESPANHA E PORTUGALRegistre-se, também, a migração espanhola, originária de regiões comoa Múrcia e as Ilhas Baleares, para o Norte da África. Com oestabelecimento de Protetorado espanhol <strong>no</strong> Marrocos entre 1916 e1919, cerca de 85 mil espanhóis estabeleceram-se em lugares comoMelila e Tânger. 798A partir de 1950, a Europa do <strong>no</strong>rte e central passou a ser odesti<strong>no</strong> de escolha de cerca de 75% dos migrantes espanhóis. Essatendência perdurou até meados dos a<strong>no</strong>s 1970. 799 A migração deespanhóis foi então minguando até estacionar, três décadas mais tarde,em níveis de pouca expressão, em tor<strong>no</strong> de 2 mil pessoas por a<strong>no</strong>.Sobretudo após o ingresso na Comunidade Européia <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1980,o país transformou-se em porta de entrada para migrantes vindossobretudo do Norte da África e da América Latina. 800É relativamente recente a transformação da Espanha em paísde imigração. Até meados dos a<strong>no</strong>s 1970, a Espanha era essencialmenteum país de emigração, com fluxos de mão-de-obra direcionadossobretudo para o continente america<strong>no</strong> e para os países industrializadosda Europa Ocidental (especialmente, França e Alemanha). A partirdos a<strong>no</strong>s 1980, registrou-se mudança gradual neste quadro e, de paísemissor, a Espanha passou a país receptor de mão-de-obra. 801 Aspolíticas de proteção aos espanhóis <strong>no</strong> exterior vêm acompanhando,naturalmente, a evolução do perfil do país em matéria de migração. 802Em 2005, os nacionais espanhóis residentes <strong>no</strong> exterior atingiram opatamar de 1,5 milhão 803 e fizeram remessas estimadas em US$ 6,8bilhões. 804A estrutura do sistema espanhol de proteção e assistênciaconsular a suas comunidades emigradas está englobada naSubsecretaria-Geral de Assuntos <strong>Exterior</strong>es e de Cooperação daChancelaria. Subordinado a essa Subsecretaria, encontra-se oDepartamento de Assuntos e Assistência Consulares, estruturado emcinco divisões, 805 dotado de orçamento de vulto. 806 Nos postos, foramcriados, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1980, os chamados Conselhos de Residentes, órgãosde assessoramento das repartições consulares que ostentam certo grau177


GEORGE TORQUATO FIRMEZAde auto<strong>no</strong>mia, já que são compostos por representantes eleitos pelasrespectivas comunidades.Os espanhóis que hoje residem <strong>no</strong> exterior são, em grandemedida, pessoas de meia idade ou idosos. 807 Para atender àsnecessidades desses emigrados, vêm sendo implementados programasnas áreas de previdência social, assistência consular a presos eassistência legal e jurídica lato sensu. No que respeita à previdênciasocial, o Estado paga a seus nacionais residentes <strong>no</strong> exterior pensõesde aposentadoria com valores análogos aos vigentes <strong>no</strong> territórioespanhol. Nos casos em que a pensão vigente <strong>no</strong> país de residênciaseja inferior ao mínimo valor pago na Espanha, a previdência espanholarepõe a diferença a favor do interessado de modo a atingir o valorpraticado na Espanha. Trata-se aqui do programa de equalização depensões e aposentadoria. Outro programa que se reveste de especialsensibilidade política, em virtude do grau de visibilidade que vemadquirindo junto à opinião pública, é o de assistência aos presos 808espanhóis em países estrangeiros. 809 A Espanha já firmou 18 acordosbilaterais 810 de transferência de detentos, permitindo aos seus nacionaiso cumprimento da pena em estabelecimentos prisionais na Espanha.A rede consular espanhola, com um total de 159 811 consulados,só não está consolidada em algumas poucas regiões do mundo, comoa Ásia Central, onde a presença diplomática do país é ainda muitorecente. Há a intenção do Gover<strong>no</strong> de ampliar e fortalecer a rede deconsulados ho<strong>no</strong>rários, 812 que já ultrapassa o patamar de 500. 813Na área cultural, ressalte-se a política de consolidação da redede institutos de cultura hispânica Cervantes, presentes já em 27 países.A televisão também tem sido utilizada como instrumento de reforçodos vínculos culturais da Espanha com seus residentes <strong>no</strong> exterior. Paratanto, a Televisión Española (TVE) produz e emite dois serviçosinternacionais: TVE Internacional América e TVE Internacional Europa/-Ásia/-África, canais expressamente projetados para difusãointernacional. Em 2003, a TVE Internacional Europa já possuía maisde 18 milhões de assinantes <strong>no</strong> continente europeu. 814 A TVE178


AS DIÁSPORAS DA ITÁLIA, ESPANHA E PORTUGALInternacional América ostenta grade de programação diferenciada,com dois telejornais diários e ênfase para o cinema espanhol e lati<strong>no</strong>america<strong>no</strong>,só podendo ser captada por assinantes de TV a cabo.3. A POLÍTICA DE PORTUGAL PARA APOIO DASCOMUNIDADES NO EXTERIORHá três grandes ciclos da emigração portuguesa. 815 O primeiro,do início do século XIX até 1950, tem sido definido como o cicloclássico, correspondendo essencialmente a deslocamentostransoceânicos, em caráter permanente. Durante esse ciclo, as migraçõesportuguesas totalizaram cerca de 2 milhões de pessoas rumo a regiões<strong>no</strong> mundo lusófo<strong>no</strong>, predominantemente, o Brasil, e aos EUA. 816 Acorrente principal rumo aos EUA teve origem nas ilhas dos Açores evisou sobretudo à Costa Leste. A este, sucede-se o chamado ciclomoder<strong>no</strong>, de natureza majoritariamente intra-européia. Nos final dosa<strong>no</strong>s 1950, os fluxos de migrantes portugueses tornaram-se maisintensos na direção de mercados de trabalho na Europa Ocidental, emparticular, a França. Paris, por exemplo, tem hoje mais portugueses doque o Porto. 817 Nos a<strong>no</strong>s seguintes, até 1974, 818 mais de 1,5 milhãode portugueses migraram seja em busca de empregos, seja para escaparda ditadura 819 salazarista. 820 Essa corrente intra-européia, porém, nãosignificou o fim da emigração para outros desti<strong>no</strong>s transoceânicos. 821Tornaram-se desti<strong>no</strong>s significativos a África do Sul, com colôniaestimada hoje em 600 mil pessoas, Venezuela, com 400 mil pessoas, eo Canadá, com mais de 500 mil portugueses.A partir de 1974, os fluxos migratórios arrefeceram – semcontudo desaparecer -, em virtude de dois fatores principais: a criseeconômica nas maiores eco<strong>no</strong>mias européias e a Revolução dos Cravosem Portugal, que veio restabelecer a democracia em Portugal. 822 Ofenôme<strong>no</strong> emigratório ressurgiu a partir de 1986 e sobretudo <strong>no</strong> iníciodos a<strong>no</strong>s 1990, já em outro formato, com a admissão de Portugal naUE. A migração assumiu, então, <strong>no</strong>vas características, com caráter179


GEORGE TORQUATO FIRMEZAmarcadamente europeu, elevação <strong>no</strong> número de trabalhadoresqualificados e maior proporção de mulheres entre os migrantes. 823 Noa<strong>no</strong> 2000, o fluxo anual de emigrantes portugueses já se tinhaestabilizado em tor<strong>no</strong> de 5 mil, enquanto o número de imigrantes paraPortugal chegava a 70 mil, totalizando, em 2004, estimados 400 miltrabalhadores estrangeiros residentes <strong>no</strong> país. 824Portugal continua a buscar equilíbrio entre duas forças: de umlado, diásporas com as quais tenta reforçar os laços econômicos eculturais; de outro, fluxos de migrantes para seu território oriundos dasex-colônias, beneficiando-se de algumas preferências legais em relaçãoa migrantes de outras regiões. 825 Gradualmente, as autoridadesportuguesas começam a buscar consolidar os laços com suacomunidade emigrada estimada em 4,3 milhões de pessoas, 826 comremessas de cerca de US$ 3,2 bilhões em 2005. 827Os temas relacionados com o apoio das comunidades estãoatualmente sob a responsabilidade da Chancelaria, 828 maisespecificamente da Secretaria de Estado das <strong>Comunidades</strong> Portuguesas,que conta com uma Direção-Geral dos Assuntos Consulares e<strong>Comunidades</strong> Portuguesas. Somente a partir da segunda metade dosa<strong>no</strong>s 1990, a Chancelaria portuguesa parece vir tentando suprir a lacunarepresentada pela insuficiência das ações do Estado em apoio a suascomunidades <strong>no</strong> exterior. Os emigrados passaram a ter direito derepresentação na Assembléia Nacional. 829Data de 1996, 830 por exemplo, a criação do Conselho das<strong>Comunidades</strong> Portuguesas, órgão consultivo do Gover<strong>no</strong> para políticasrelativas à emigração e às comunidades portuguesas <strong>no</strong> exterior. 831 Écomposto por, <strong>no</strong> máximo, cem membros, eleitos pelos portuguesesregistrados em cada Consulado. Divide-se em duas instânciasdeliberativas, o Conselho Permanente, estrutura executiva com 15integrantes e que se reúne duas vezes por a<strong>no</strong>, e o Conselho Plenário,que realiza suas reuniões em Lisboa de dois em dois a<strong>no</strong>s. Nos postos,foram criados, ainda, os chamados Conselhos Consultivos das ÁreasConsulares, órgãos de apoio e de acompanhamento da ação consular,180


AS DIÁSPORAS DA ITÁLIA, ESPANHA E PORTUGALcom a participação de representantes eleitos das respectivascomunidades.Mais recentemente, a partir de 2004, foram realizadas maisalgumas reformas, 832 <strong>no</strong> intuito de ajustar a rede consular 833 à realidadedas comunidades emigradas. Expandiu-se o processo de informatizaçãodas repartições consulares. 834 Lançou-se experiência-piloto de emissãoon-line de carteiras de matrícula consular em alguns postos consulares,em coordenação com o Ministério da Justiça.Foram anunciados também <strong>no</strong>vos programas de ensi<strong>no</strong> da línguae da cultura portuguesas, prioritários nas políticas de Portugal parasuas comunidades emigradas. 835 O objetivo tem sido o de financiar aaplicação de <strong>no</strong>vos métodos para o ensi<strong>no</strong> de português, tirandoproveito da rede implantada pelo Instituto Camões em catorze países.O Ministério dos Negócios Estrangeiros tem apoiado, também, arealização de projetos de pesquisa e edição de obras sobre migraçãoe comunidades portuguesas. Vêm contribuindo também para umconhecimento maior em Portugal sobre a história das migrações aatuação de instituições como o Museu da Emigração e das<strong>Comunidades</strong>, composto por diversos núcleos históricos, <strong>no</strong> municípiode Fafe, <strong>no</strong> <strong>no</strong>rte do país.Ainda na área de difusão cultural, percebe-se elevação dosinvestimentos <strong>no</strong> canal público de televisão representado pela RTP 836Internacional (RTPi). Criada em 1992, a RTPi foi criada com o objetivode difundir a língua e cultura portuguesas <strong>no</strong> exterior. Em 2006, jáestava conectada a rede de cinco satélites que permitem a recepçãoem qualquer ponto <strong>no</strong> exterior, assim como a redistribuição do sinalpara diferentes plataformas digitais via satélite. Os conteúdos da RTPiprovêm de canais nacionais e regionais da RTP, de algumas estaçõesde TV privadas, e também de produção própria, em especial, comorigem nas comunidades portuguesas. 837 Com o Brasil, por exemplo,o intercâmbio de conteúdo televisivo é feito com base, entre outros,em convênio assinado entre a Radiobrás e a RTP. Para a elaboração eedição de programas voltados especificamente para a audiência <strong>no</strong>s181


GEORGE TORQUATO FIRMEZApaíses de língua portuguesa, em especial, na África, a RTP dispõe,hoje em Lisboa, de um dos estúdios mais moder<strong>no</strong>s de Portugal. 838Existem cerca de 2.300 associações portuguesas de caráterbeneficente, cultural e recreativo em 27 países, algumas já centenárias.Deve ser esclarecido que essas associações foram formadas poriniciativa privada, a exemplo das Casas da Beira, do Minho e de Trásos-Montes.839 Contemporaneamente, contudo, a Chancelaria vemdemonstrando disposição em passar a apoiar o associativismo <strong>no</strong>spaíses de desti<strong>no</strong> dos migrantes portugueses, por meio de subsídiosfinanceiros ou remessa de material cultural. 840Vêm sendo criados também programas voltados para jovensluso-descendentes. Um deles é o de organização de visitas de estudoa Portugal de jovens de nacionalidade ou origem portuguesa. Em média,têm-se registrado algumas centenas de beneficiários do programa pora<strong>no</strong>. Nos a<strong>no</strong>s 1990, foi criado programa de concessão de bolsas deestudo a filhos de portugueses residentes <strong>no</strong> exterior. Têm sidoconcedidas cerca de 15 bolsas de estudo para cursos universitários ajovens luso-descendentes por a<strong>no</strong>. Mencione-se, ainda, a existênciade programa de estágios em Portugal, que visa a complementar eaperfeiçoar as qualificações sócio-profissionais de jovens portuguesesou luso-descendentes, com idades compreendidas entre 18 e 30 a<strong>no</strong>s,na iniciativa privada ou na administração pública.O Gover<strong>no</strong> português também começou a desenvolverprogramas voltados especificamente para migrantes idosos. 841 Um delesenvolve o apoio 842 a instituições de solidariedade social que, emPortugal, acolhem migrantes regressados em situação vulnerável. 843Ressalte-se, igualmente, a existência de programa de apoio social aidosos desvalidos. Esta medida destina-se a portugueses idososresidentes <strong>no</strong> estrangeiro que se encontrem em situação de absolutacarência de meios de subsistência, não superável pelos mecanismosexistentes <strong>no</strong>s países onde residem. Consiste na concessão de subsídiode apoio social para garantir a subsistência. Os recursos para esseprograma não advêm do orçamento do Ministério dos Negócios182


AS DIÁSPORAS DA ITÁLIA, ESPANHA E PORTUGALEstrangeiros, mas sim do Instituto de Gestão Financeira da SegurançaSocial. 844 Em 1996, começou a ser implantado outro programa paraidosos nas comunidades emigradas. Trata-se do chamado Portugal<strong>no</strong> Coração, que leva a Lisboa cidadãos portugueses com mais de 65a<strong>no</strong>s de idade, residentes fora da Europa e que, por razões de ordemeconômica, não visitam seu país de origem há mais de dez a<strong>no</strong>s. OMinistério dos Negócios Estrangeiros obtém as passagens aéreas paraesse programa gratuitamente junto à TAP.De outra parte, com base em convênio de cooperação com aUniversidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, o Ministério dosNegócios Estrangeiros criou o Portal das <strong>Comunidades</strong>, visando adisseminar informações sobre Portugal e sobre as comunidadesportuguesas. Em esquema de cooperação negociado com o Institutode História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, aqueleMinistério deu início ainda, em 2004, a projeto dedicado à memóriada emigração. Seu objetivo é o de facilitar o acesso ao acervopatrimonial e documental histórico da Chancelaria sobre emigraçõesde portugueses ao longo dos séculos XIX e XX.Com os países da UE, desenvolvem-se projetos que visam àinserção de trabalhadores portugueses em programas de formaçãoprofissional. Mencionem-se os programas operacionais desenvolvidoscom a Alemanha <strong>no</strong> setor industrial, e com a Suíça, <strong>no</strong> setor de construçãocivil, para a realização de cursos de capacitação em Portugal. Tais cursosvêm beneficiando média anual de 100 migrantes portugueses sazonais.4. ALGUMAS CONSIDERAÇÕESCotejando-se as políticas italiana, espanhola e portuguesa parasuas comunidades, revelam-se alguns pontos em comum. O primeirodeles refere-se à própria estrutura organizacional das áreas responsáveispelo tema de assistência e proteção consular nas Chancelarias. Aexistência de conselhos consultivos para facilitar a interação Estado-Diáspora constitui ponto em comum.183


GEORGE TORQUATO FIRMEZATraço a ser destacado é o caráter relativamente democráticodas políticas desses países para suas comunidades, na medida em quesão parcialmente formuladas a partir do diálogo, ainda que anual oubianual, com as comunidades, institucionalizado em estruturaspermanentes. De fato, nesses países, há, sempre, ao lado dasChancelarias, com sua participação e orientação, alguma forma deconselho geral das comunidades, que serve de locus de debate ecoordenação para membros do Gover<strong>no</strong>, do Parlamento e das própriascomunidades.Outra semelhança entre as políticas desses países é apreocupação em cultivar vínculos afetivos com as comunidadesemigradas. Neste particular, os programas de difusão cultural assumempapel de relevo. Podem ser levados ao exterior, na forma da oferta decursos de língua e cultura para os descendentes de migrantes, <strong>no</strong> âmbitoda atuação de suas redes de centros culturais <strong>no</strong> exterior. Ou podemainda envolver a vinda a esses países de jovens integrantes da diáspora,mediante a concessão de bolsas para cursos universitários ouorganização de estágios profissionalizantes.Ressalte-se, ainda, a percepção comum sobre os ganhos queadvêm do reforço da estrutura de geração, transmissão e distribuiçãode programas em canais públicos internacionais de televisão, em termosde estreitamento de vínculos com a diáspora.É possível perceber também i<strong>no</strong>vações restritas a um ou outropaís. A Itália e Portugal, por exemplo, expandiram os direitos políticosde seus nacionais <strong>no</strong> exterior para além do simples direito ao voto,reservando-lhes representação <strong>no</strong> Parlamento. No caso da Espanha,tem-se registrado maior utilização dos consulados ho<strong>no</strong>rários,consolidando-se extensa rede, ao ponto de somar dezenas de unidadesapenas na Argentina, por exemplo. Portugal, por sua vez, parece estardespertando para o potencial representado pelo estímulo às associaçõesjá existentes de seus nacionais emigrados.184


CAPÍTULO IXA EMIGRAÇÃO DE BRASILEIROS


CAPÍTULO IXA EMIGRAÇÃO DE BRASILEIROS“Vou-me embora pra PasárgadaAqui eu não sou feliz.”Manuel Bandeira 845Concluído o estudo comparativo das políticas de México,Filipinas, Índia, Turquia, Itália, Espanha e Portugal para suascomunidades <strong>no</strong> exterior, inicia-se aqui a terceira parte deste trabalho,cujo propósito é o de avaliar, em linhas gerais, a presença de brasileirosem outros países, objeto deste capítulo, bem como as medidas que oItamaraty vem adotando <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s para o apoio à diásporabrasileira, que serão tratadas a seguir, <strong>no</strong> capítulo X.Serão analisadas aqui a intensificação da emigração debrasileiros a partir dos a<strong>no</strong>s 1980 e a formação das principaiscomunidades <strong>no</strong> exterior. Não há, naturalmente, a pretensão de realizaranálise exaustiva da experiência migratória brasileira, seja pelacomplexidade e dinamismo de tema com tantas variantes e sempre emmutação, seja pela ausência de pesquisas realizadas com rigor científicosobre as dimensões e características das comunidades emigradas. Oque se pretende é descrever o pa<strong>no</strong>rama geral das comunidadesbrasileiras <strong>no</strong> exterior, em países onde sua dimensão é expressiva ousua vulnerabilidade, acentuada.1. CAUSAS E CONSEQÜÊNCIASAs causas do recente fenôme<strong>no</strong> emigratório brasileirorelacionam-se, em larga medida, às sucessivas crises econômicas dosa<strong>no</strong>s 1980 e 1990. Contribuíram também para essas migrações a maiordisponibilidade de informações sobre oportunidades de trabalho <strong>no</strong>187


GEORGE TORQUATO FIRMEZAexterior, como resultado do avanço das comunicações nessaépoca, 846 além da própria existência de colônias de imigração <strong>no</strong>Brasil, facilitando os contatos, em duas direções, com os mercadosde trabalho em países como Portugal, Espanha, Japão, Alemanha eItália. De fato, o influxo de migrantes para a sociedade brasileiraabriu espaço maior também para o movimento inverso, debrasileiros com desti<strong>no</strong> a países anteriormente de emigração. 847 Nocaso da migração para países vizinhos, ressalte-se ainda a atraçãorepresentada por oportunidades de cunho econômico-comercial,como a existência de terras de boa qualidade e preços reduzidos<strong>no</strong> Paraguai e na Bolívia ou o garimpo de ouro na Guiana e <strong>no</strong>Suriname. Decisivo foi igualmente o papel desempenhado pelasredes sociais e familiares na manutenção dos fluxos migratóriosbrasileiros.Conforme mencionado na introdução geral deste trabalho,a transformação do Brasil em país também emissor de migrantes éfenôme<strong>no</strong> recente. Entre 1980 e 1990, o saldo migratório negativobrasileiro foi de aproximadamente 1,8 milhão. 848 No período 1990-2000, continuou negativo, em cerca de 550 mil pessoas. 849 Nesseperíodo, o número de estrangeiros regulares 850 <strong>no</strong> Brasil manteveserelativamente estável. 851 Tais dados sinalizam, portanto, que, nadécada de 1990, o número de brasileiros residentes <strong>no</strong> exterioraumentou me<strong>no</strong>s que na década de 1980. Não há, ainda, dadosconsolidados que permitam calcular, de modo confiável, o saldomigratório brasileiro <strong>no</strong> período 2000-2006. Sabe-se apenas que,nas estimativas realizadas pela rede de postos, o número denacionais residentes <strong>no</strong> exterior foi estimado em 1,9 milhão <strong>no</strong> a<strong>no</strong>2000, 852 alcançando o patamar aproximado de 2,6 milhões em2005. 853 Nesse cálculo efetuado pelo MRE com base em dadosaproximativos enviados pela rede de postos, o número de brasileirosem situação migratória irregular estaria situado em tor<strong>no</strong> de 1,335milhão. 854 As principais comunidades estão situadas <strong>no</strong>s EstadosUnidos, Paraguai, Japão, Portugal, Rei<strong>no</strong> Unido, Alemanha e188


A EMIGRAÇÃO DE BRASILEIROSItália. 855 Cabe aqui alertar para o fato de que esses números nãoconfiguram estatísticas, mas sim levantamentos administrativosinter<strong>no</strong>s, com valor apenas aproximativo.Não se pode afirmar, porém, que o Brasil tenha deixado deser um país de imigração para simplesmente tornar-se um país deemigração. Apesar da existência de saldos migratórios negativos<strong>no</strong>s períodos apontados, continuou a registrar-se a entrada de <strong>no</strong>voscontingentes de estrangeiros <strong>no</strong> Brasil, ainda que em escala reduzidae com perfil distinto daquele dos movimentos migratóriosanteriores. 856 Ou seja, o País passou a reunir, a um só tempo,características de imigração e emigração.O fenôme<strong>no</strong> migratório brasileiro expandiu-se <strong>no</strong>s últimosa<strong>no</strong>s para além da esfera de alguns poucos estados emissores, comoMinas Gerais e Paraná, o que sugere que as redes sociais e familiaresestabelecidas entre os migrantes <strong>no</strong>s países de desti<strong>no</strong> e oscandidatos a migrantes <strong>no</strong> Brasil passaram por processo deampliação e diversificação. 857 Conquanto os migrantes oriundos deMinas Gerais ainda sejam maioria entre os migrantes <strong>no</strong>s EUA,Portugal e Inglaterra, por exemplo, diversos outros estadosbrasileiros, em 2006, também já constituíam regiões de origem demigrantes, como Espírito Santo, São Paulo, Mato Grosso do Sul,Santa Catarina, Goiás e Rondônia.No que se refere à questão das remessas de migrantesbrasileiros, os valores têm apresentado crescimento expressivo <strong>no</strong>súltimos a<strong>no</strong>s, passando de estimados US$ 2,6 bilhões em 2001para cerca de US$ 6,4 bilhões em 2005. 858 No que tange à origemgeográfica dessas remessas, dados disponíveis sobre o a<strong>no</strong> de 2003,quando as remessas foram estimadas em US$ 5,8 bilhões, indicamque US$ 3 bilhões teriam vindo do Japão, US$ 1 bilhão, dos EUA,US$ 1 bilhão, de países na Europa Ocidental (metade de Portugal)e US$ 800 milhões, dos demais países. 859 A cobrança de taxasbancárias elevadas ainda tem representado um dos motivos pelosquais os migrantes optam por enviar os recursos por canais informais.189


GEORGE TORQUATO FIRMEZAAdemais, o fato de significativo contingente de emigrantes brasileirosna Europa e <strong>no</strong>s EUA viverem sob condições irregulares dificulta oacesso à rede bancária. 860 Mas os esforços do Gover<strong>no</strong> brasileiropara reduzir tais taxas apresentaram alguns resultados. 861 Em 2004,a taxa de remessa era de quase 10%. Por esse motivo, em 2005, aCaixa Econômica Federal 862 recebeu autorização do Banco Centralpara operar como casa de câmbio, entrando, dessa forma, <strong>no</strong>mercado de remessas. Nesse mesmo a<strong>no</strong>, foram realizadas missõesda Caixa, com apoio do Itamaraty, para divulgar seus produtosbancários junto às comunidades brasileiras em Portugal, EstadosUnidos e Japão. Não dispondo de rede de agências <strong>no</strong> exterior, asremessas via Caixa têm de ser feitas, <strong>no</strong> entanto, pela internet, com ouso de cartão de crédito, o que afastou a maior parte de seuspotenciais clientes na comunidade brasileira. Para superar essadificuldade <strong>no</strong>s Estados Unidos, a Caixa firmou convênio para permitira captação de remessas por agências de bancos portugueses, medidaque se revelou, contudo, insuficiente. Em parceria com o BancoInteramerica<strong>no</strong> de Desenvolvimento, a Caixa vem agora tentandodesenvolver projetos específicos junto aos brasileiros residentes <strong>no</strong>estado de Massachusetts, não apenas para captar remessas demigrantes, mas também para divulgar alguns de seus produtosbancários. Em parte como resultado desses esforços, em 2006, ataxa média de remessas havia caído para 2,5%.Quanto aos lugares de desti<strong>no</strong> das remessas, observa-se certaconcentração em alguns municípios brasileiros. 863 No que se refereàs finalidades, 864 visam majoritariamente à ajuda para as famílias. 865As remessas raramente destinam-se a algum propósito produtivo,como a abertura de peque<strong>no</strong>s negócios. 866 Especificamente emGovernador Valadares, foi detectado que a entrada dos chamadosmigradólares tem sido prejudicial à agricultura, uma vez que osmigrantes passaram a adquirir terras como investimento, sem intençõesde produzir a curto prazo. Como resultado, o preço da terra foiinflacionado e a produção agrícola decaiu. 867190


A EMIGRAÇÃO DE BRASILEIROS2. O PERFIL DAS COMUNIDADES BRASILEIRASO pouco que se conhece do perfil das comunidades brasileirasadvém de registros consulares, relatórios de gestão e análises diversasenviadas pelos postos, além de eventuais estudos acadêmicos e artigosde imprensa. De modo geral, sabe-se hoje que, com exceção dostrabalhadores agrícolas e dos garimpeiros em regiões fronteiriças daAmérica do Sul, os brasileiros que partiram <strong>no</strong> bojo dessas grandesmigrações iniciadas <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1980 não provinham das camadas de maisbaixa renda da população. Eram majoritariamente egressos das classesmédias urbanas. 868 Em termos geográficos, as comunidades estãodispersas pelo mundo. Já começam a consolidar-se, por exemplo, núcleosde concentração de brasileiros na Oceania, com estimados 5 mil brasileirosna Austrália e 3 mil na Nova Zelândia. A seguir, faz-se breve compilaçãodas informações mais relevantes de que se dispõe sobre as comunidadesbrasileiras <strong>no</strong>s principais países e regiões de desti<strong>no</strong>.2.1. Europa OcidentalNos a<strong>no</strong>s 1980, muitos migrantes brasileiros partiram comdesti<strong>no</strong> à Europa Ocidental. De modo geral, o perfil dos que partemcom desti<strong>no</strong> à Europa assemelha-se ao dos que optam por tentarestabelecer-se <strong>no</strong>s Estados Unidos. 869 Verifica-se, entretanto, umadiferença na composição dos fluxos migratórios por gênero, conquantodifícil de mensurar. Mais mulheres, proporcionalmente ao total, parecemdirigir-se a desti<strong>no</strong>s na Europa. 870 Outra diferença reside na incidênciade fatores históricos e culturais sobre a formação dos deslocamentospopulacionais para a Europa, com os emigrantes brasileiros de hojeseguindo o caminho inverso de imigrantes portugueses, espanhóis,alemães, japoneses e italia<strong>no</strong>s do passado. 871No Rei<strong>no</strong> Unido, embora não se tenha podido quantificar, comexatidão, a evolução do número de brasileiros <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s, aampliação da demanda por serviços consulares pode representar indício191


GEORGE TORQUATO FIRMEZAde crescimento. Registrou-se aumento significativo, de 2000 a 2004,de serviços demandados por brasileiros junto ao Consulado-Geral emLondres. 872 As estimativas apontam hoje para comunidade brasileirada ordem de 100 mil pessoas. 873A migração brasileira para a Itália, por sua vez, é relativamenterecente, assumindo maior intensidade a partir do final dos a<strong>no</strong>s 1980. 874Os descendentes de italia<strong>no</strong>s representam parte dos <strong>no</strong>vos migrantes. Operfil sócio-econômico dos migrantes brasileiros nesse país é heterogêneo,com experiências profissionais e graus de instrução variados. 875 Sãooriundos de quase todas as regiões brasileiras. Seu número já supera opatamar de 140 mil, sendo cerca de 82 mil na jurisdição do Consulado-Geral em Milão e aproximadamente 60 mil na do Consulado-Geral emRoma. 876 Na verdade, a comunidade é bastante dispersa, com brasileirosem praticamente todas as regiões italianas. Assim, em Roma propriamente,vivem me<strong>no</strong>s de 2 mil brasileiros, mas como o Consulado-Geral emRoma cobre desde Florença até a Sicília, Calábria e Sardenha, chegase,somando todos, de acordo com registros de atendimento consular, acerca de 60 mil. Ademais, os números estimados pelos Consulados-Gerais 877 discrepam consideravelmente dos registros oficiais italia<strong>no</strong>s,os quais não chegam a 20 mil, porquanto é grande o número de brasileirosna Itália com dupla cidadania. 878 Estes ingressam na Itália com opassaporte italia<strong>no</strong> e, por essa razão, não constam das estatísticas deestrangeiros na Itália. Muitos dos brasileiros foram atraídos porinformações recebidas de redes sociais de recrutamento e apoio. 879 Asmulheres constituem atualmente a ampla maioria da comunidade. Naverdade, tal representação elevada do componente femini<strong>no</strong> já haviasido detectada em meados dos a<strong>no</strong>s 1990, por exemplo, na configuraçãoda comunidade brasileira em Milão, então estimada em um total de 25mil a 30 mil pessoas. 880No caso da Alemanha, estima-se que a comunidade tenhaatingido o número de 50 mil pessoas, 881 com grande diversidade sócioeconômica.882 A tendência de crescimento tem sido detectada peloaumento na renda consular na Embaixada em Berlim, da ordem de192


A EMIGRAÇÃO DE BRASILEIROS79% entre 2000 e 2003, 883 sendo que os serviços que apresentarammais acentuado crescimento foram aqueles prestados exclusivamenteà comunidade. 884 As mulheres representam em tor<strong>no</strong> de 66% dosnacionais que residem na Alemanha. 885 Em sua maioria, são casadascom cidadãos alemães. 886Na Espanha, estima-se que tenha havido aumento expressivodo número de migrantes brasileiros, chegando a 75 mil em 2005. 887Esses brasileiros situam-se, sobretudo, na faixa etária de 20 a 45 a<strong>no</strong>s,<strong>no</strong>rmalmente apenas com instrução básica, <strong>no</strong>s setores de construçãocivil, <strong>no</strong> caso dos homens, e de serviços (bares, hotéis, restaurantes,residências) <strong>no</strong> caso das mulheres. 888Como ponto de trânsito para os EUA, com o auxílio dedocumentos portugueses falsificados, como opção mais barata demigração ou ainda como ponte para outros lugares na Europa, Portugalvem-se tornando desti<strong>no</strong> preferencial. 889 A comunidade brasileira,estimada em 130 mil em 2005, 890 está em expansão, a julgar pelocrescimento do atendimento consular, que se vem intensificando tanto<strong>no</strong> Porto, 891 quanto em Lisboa. 892 A comunidade brasileira em Portugalé formada por pessoas entre 25 e 32 a<strong>no</strong>s, em sua maioria. 893 Ocontingente maior está radicado em Lisboa e arredores e provémmajoritariamente do sudeste do Brasil. 894 Nesse país, a presença dosbrasileiros é mais <strong>no</strong>tada em serviços de restaurantes, casas <strong>no</strong>turnas,bares e lojas. Ocupam também cada vez mais postos de trabalho naconstrução civil e <strong>no</strong> serviço doméstico. 895Mencionem-se ainda as comunidades brasileiras na Suíça, comaproximadamente 65.000 pessoas, e na França, com estimados 30.000brasileiros.2.2. Estados UnidosNos Estados Unidos, as estimativas oficiais do Itamaraty sobreo contingente de migrantes brasileiros passaram de 610 mil em 1995 896para pouco me<strong>no</strong>s de 1,2 milhão em 2005. 897 Em 1995, a partir das193


GEORGE TORQUATO FIRMEZAinformações fornecidas pela rede de postos em resposta a consultafeita pela Divisão de Assistência Consular, 898 os brasileiros <strong>no</strong>s EstadosUnidos estariam distribuídos da seguinte forma, conforme as áreas dejurisdição dos Consulados-Gerais: 230 mil em Nova York, 150 mil emBoston, 130 mil em Miami, 47 mil em Washington, D.C., 15 mil emHouston, 13 mil em Los Angeles, 15 mil em São Francisco e 10 mil emChicago. Comparem-se esses dados com idêntico levantamento feitopela rede de postos <strong>no</strong>s Estados Unidos em 2005, quando a presençabrasileira estaria assim localizada: 350 mil em Nova York, 250 mil emBoston, 250 mil em Miami, 50 mil em Washington, D.C., 100 mil emHouston, 70 mil em Los Angeles, 30 mil em São Francisco e 20 mil emChicago. Ao avaliar as alterações na dimensão e localização dacomunidade brasileira <strong>no</strong>s dez a<strong>no</strong>s transcorridos entre as duasestimativas, percebe-se crescimento generalizado do número denacionais em todas as jurisdições consulares, com exceção deWashington. As principais comunidades continuam localizadas nasjurisdições dos Consulados-Gerais em Nova York, Boston e Miami, oque parece indicativo da importância do funcionamento de redes sociaise familiares na manutenção dos fluxos migratórios para essas regiões.Registrou-se ainda crescimento superior a 600% da comunidade emHouston.Apesar da escassez de dados estatísticos que permitam precisaro ritmo atual de crescimento da comunidade brasileira <strong>no</strong>s EUA, oaumento verificado pelos postos na demanda por serviços consularespode ser indicador válido. Tome-se, por exemplo, o caso de Boston, 899onde o Consulado-Geral detectou expansão acentuada da demanda dedocumentos, <strong>no</strong> período de 2000 a 2004. 900 O número de passaportesprocessados por essa repartição pode servir de indicador: <strong>no</strong> a<strong>no</strong> 2000,2.953 passaportes, em 2001, 6.991, em 2002, 7.964, em 2003, 12.905,e, em 2004, 16 mil. 901 Idêntica tendência parece verificar-se na área dejurisdição do Setor Consular da Embaixada em Washington, comcomunidade estimada em 50 mil pessoas. Nessa repartição, os serviçosprestados mais do que dobraram entre 2001 e 2005. 902194


A EMIGRAÇÃO DE BRASILEIROSDe modo geral, os brasileiros são jovens e pertencentes àsclasses médias. 903 Entram clandestinamente <strong>no</strong> país e ocupam postosde trabalho não qualificado, como balconistas, ma<strong>no</strong>bristas, garçons eoutros. Quanto ao grau de instrução dos nacionais residentes <strong>no</strong>s EUA,a maioria possui apenas nível de escolaridade equivalente ao segundograu completo ou incompleto. Percentual muito peque<strong>no</strong> concluiu cursosuniversitários de graduação. Na comunidade <strong>no</strong>s Estados Unidos,proliferam jornais, de periodicidade variável, voltados para o cotidia<strong>no</strong>dos brasileiros. 904 Mencione-se aqui a existência de cerca de 20 milbrasileiros <strong>no</strong> Canadá.2.3 JapãoNo Japão, a população brasileira situa-se em tor<strong>no</strong> de 300mil. 905 O contingente que se dirigiu ao Japão decorre basicamente daimigração japonesa para o Brasil iniciada em 1908. 906 São os filhos enetos daqueles imigrantes japoneses que agora vão ao Japão com asmesmas intenções que seus ancestrais: trabalhar por alguns a<strong>no</strong>s,acumular capital e retornar ao país de origem. 907 A jornada de trabalhodesses brasileiros é de cerca de 14 horas por dia, seis dias porsemana. 908 De modo geral, são as seguintes as características dacomunidade: gerações mais avançadas (nissei e sansei); faixa etáriajovem; mão-de-obra não qualificada, sem o domínio da línguajaponesa; 909 presença de pessoas de origem não-nipônica 910 entre oscônjuges dos descendentes de japoneses; proporção entre homens emulheres relativamente equiparada, indicativa de número maior defamílias, em relação ao que ocorria <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1980, quando ostrabalhadores migravam sozinhos. 911Inicialmente, o objetivo desses migrantes era o de fazerpoupança que permitisse abrir seu próprio negócio <strong>no</strong> Brasil.Posteriormente, a diminuição do valor dos salários desses trabalhadores<strong>no</strong> Japão teve como conseqüência a dilatação do período médio depermanência e a ida de suas famílias. 912 A contratação de cerca de195


GEORGE TORQUATO FIRMEZAdois terços dos migrantes brasileiros é feita por agenciadores legais demão-de-obra, conhecidos localmente como empreiteiros, queestabelecem o valor de seu salário e horas extras. 913 As despesas deviagem e de instalação são financiadas por esses agenciadores. 914 Seriade esperar que, ao longo do processo migratório, os empreiteiros fossemperdendo sua importância, à medida que os migrantes contassem comapoio e ajuda de seus parentes, familiares e amigos <strong>no</strong> Japão. Maspesquisa de campo realizada em 2005 na cidade de Maringá (PR) indicouque cerca de 70% dos nipo-brasileiros de Maringá continuam indo aoJapão por intermédio de agências de viagens e de recrutamento. 915 Evão para diversas cidades de desti<strong>no</strong> <strong>no</strong> Japão, não se concentrando emnenhuma região específica, onde pudessem ter parentes e amigos jáestabelecidos, mas sim onde estão os empregos. 916 Nesse sentido, ostrabalhadores brasileiros constituem comunidade de grande mobilidade,ao sabor da mudança na oferta de vagas nas fábricas japonesas. 917 Têmamplo acesso à mídia em língua portuguesa, inclusive por meio de jornaissemanais e canal de TV por assinatura. 918 Os dois jornais semanais demaior circulação possuem tiragem de cerca de 50 mil exemplares cada,ao passo que o canal de TV por assinatura tem audiência estimada emcerca de 150 mil brasileiros. 9192.4 América do SulComenta-se, a seguir, brevemente, a presença brasileira emalgumas das principais regiões de desti<strong>no</strong> na América do Sul. Na verdade,os deslocamentos populacionais brasileiros para alguns países da regiãojá vinham ocorrendo há décadas, 920 mantendo-se, em diversos casos,relativamente estáveis as dimensões das comunidades. O número debrasileiros na Argentina, por exemplo, chegou a diminuir entre 1960 e1991, passando de 48 mil para 33 mil. 921 Em 2001, esse númeromanteve-se na faixa de 34 mil. 922 Em 2005, estimou-se em cerca de 38mil o número de brasileiros na Argentina, dos quais, pouco mais de 32mil em Bue<strong>no</strong>s Aires. 923 Nesse país, os migrantes brasileiros fixaram-se196


A EMIGRAÇÃO DE BRASILEIROSpredominantemente na região de Missiones, sobretudo trabalhadores epeque<strong>no</strong>s proprietários agrícolas, e na área da Grande Bue<strong>no</strong>s Aires,muitos deles funcionários de empresas brasileiras e internacionais. 924 Jáos deslocamentos populacionais em direção ao Uruguai tiveram origem,em parte, na elevação dos preços das terras <strong>no</strong> Brasil entre as décadasde 1960 e 1980. 925 Nos a<strong>no</strong>s 1970, migraram peque<strong>no</strong>s produtoresrurais para o país vizinho. A partir dos a<strong>no</strong>s 1980, estancieiros gaúchose grandes produtores paulistas passaram a comprar terras uruguaias parao cultivo de arroz.No Paraguai, os colo<strong>no</strong>s brasileiros, situam-se hoje em tor<strong>no</strong>de 450 mil, 926 radicados em regiões de fronteira. 927 São os chamadosbrasiguaios. Na região da Tríplice Fronteira Brasil-Paraguai-Argentina, a situação da comunidade brasileira é complexa. Trata-sede região marcada por diversas modalidades de atividades ilícitas,sendo ainda acusada, sem provas, de acobertar ou financiar terroristasinternacionais. 928 Organismos internacionais 929 têm investido emprojetos de combate à exploração sexual de crianças e adolescen<strong>tese</strong> ao tráfico de seres huma<strong>no</strong>s. 930 O perfil de trabalhadores migrantesde me<strong>no</strong>r qualificação começou a alterar-se na década de 1970. Apartir de então, surgiram migrantes brasileiros acostumados com aagricultura mecanizada, vindos sobretudo de Santa Catarina, Paranáe Rio Grande do Sul. Como fatores de atração para esses migrantes,havia a alta qualidade e o baixo preço das terras, bem como incentivosfiscais para a agricultura, oferecidos pelo Gover<strong>no</strong> do General AlfredoStroessner. 931 Como fatores de expulsão do lado brasileiro, haviaem curso o processo de concentração fundiário na região sul, bemcomo a construção da hidrelétrica de Itaipu, que acarretou odeslocamento de mais de 40 mil peque<strong>no</strong>s agricultores brasileiros daregião onde se formaria o lago da represa. 932 Estes receberamindenizações pela desapropriação de suas terras e foram estabelecersedo lado paraguaio da fronteira. Estima-se que esses brasileirospossuam hoje em tor<strong>no</strong> de 1,2 milhão de hectares de terras <strong>no</strong>Paraguai, na fronteira com Paraná e Mato Grosso do Sul. 933197


GEORGE TORQUATO FIRMEZANa Bolívia, as certezas são poucas sobre o número e alocalização dos brasileiros. 934 As estimativas oscilam entre 10 mil 935 e30 mil 936 pessoas. São os chamados brasivia<strong>no</strong>s. À exceção de algunsempresários do ramo madeireiro, a comunidade é, em geral, formadapor pessoas de condição social humilde, com baixo nível educacional.Suas principais ocupações são a agricultura de subsistência, oextrativismo (castanha e látex) e a indústria madeireira. Ainda que grandeparte das famílias se encontrem radicadas na região há décadas, suasituação migratória é, com freqüência, irregular. 937 A situação é bemdiferente <strong>no</strong> tocante aos sojicultores brasileiros radicados na região deSanta Cruz de la Sierra. Esses brasileiros levaram para a Bolíviatec<strong>no</strong>logia e capitais, sendo hoje responsáveis por cerca de 32% daprodução e de 35% da exportação boliviana de soja. 938Entre os principais locais de desti<strong>no</strong> de migrantes brasileiros naAmérica do Sul, há alguns que devem ser mencionados nãopropriamente pelas dimensões da comunidade, mas por suavulnerabilidade. É o caso de Venezuela, Suriname, Guiana e GuianaFrancesa, onde os brasileiros vivem em meio a constantes conflitos.Muitos têm situação migratória irregular, o que aumenta suavulnerabilidade. 939 Com o declínio da mineração de ouro na região<strong>no</strong>rte, garimpeiros brasileiros migraram para a Venezuela <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1980e 1990, para atuarem <strong>no</strong> garimpo clandesti<strong>no</strong>. 940 A comunidadebrasileira é estimada hoje em cerca de 5 mil pessoas. Sobretudo emCiudad Bolívar e Santa Elena do Uairen, registra-se também a presençabrasileira <strong>no</strong> setor de comércio, com negócios de compra e venda deouro e diamantes, casas de câmbio e lojas de autopeças, entre outros.No Suriname, as estimativas sobre o número de brasileiros oscilamentre 7 mil e 60 mil, dependendo dos interlocutores e dos interesses emjogo. 941 Sempre que a presença brasileira, sobretudo de garimpeiros,incomoda os locais por algum motivo tópico, além daqueles estruturais,seu número parece ser inflado pela mídia local. 942 A Embaixada emParamaribo estimou em cerca de 15 mil o número de brasileiros em 2005.A maioria dos migrantes brasileiros foi atraída pelo garimpo do ouro.198


A EMIGRAÇÃO DE BRASILEIROSJá as estimativas existentes sobre a comunidade brasileira naGuiana apontam para número situado entre 2 mil e 3 mil pessoas. 943As migrações brasileiras para a Guiana ocorreram sobretudo <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s1980, em períodos de intensificação do garimpo como atividadeeconômica e, em 1998, com a criação do Estado de Roraima, quecontribuiu para elevar a densidade demográfica nessa região defronteira. 944 Parte desses migrantes são também irregulares. 945 Aperspectiva de conclusão, <strong>no</strong> final de 2007, de ponte sobre o RioTacutu, ligando Bonfim, <strong>no</strong> Brasil, com Lethem, na Guiana, poderáaumentar significativamente o número de brasileiros nesse país. 946 Suapresença é considerada, por alguns segmentos da sociedade guianense,como ameaça à cultura anglo-caribenha do país e à prevalência daetnia indiana. 947 Sofrem também acusações de causarem da<strong>no</strong>sambientais, em razão das técnicas de garimpo utilizadas.Na Guiana francesa, em uma população total de 170 milhabitantes, estima-se que o número de brasileiros ultrapasse 18 mil. 948As maiores concentrações situam-se em Caiena, Régina (leste), SaintElie e Haut Maroni (oeste). 949 O que tem atraído a migração de brasileirospara a Guiana Francesa são os empregos na construção civil e <strong>no</strong> garimpodo ouro. Trata-se de comunidade formada, em sua grande maioria, porpessoas oriundas do Amapá, Pará e Maranhão. Os primeiros migranteschegaram por volta dos a<strong>no</strong>s 1960, para trabalhar na construção dasresidências dos engenheiros da futura base espacial de Kourou. Passadasalgumas décadas, os filhos desses migrantes consideram-se, por vezes,mais franceses do que propriamente brasileiros. 9503. AS DIFICULDADES MAIS COMUNS3.1 Situação migratória irregularO principal problema dos brasileiros que vivem <strong>no</strong> exterior é,sem dúvida, a situação migratória irregular. No Paraguai, a ausência dedocumentação pessoal adequada, que comprove sua situação199


GEORGE TORQUATO FIRMEZAmigratória, dificulta sobremodo a vida dos brasileiros. 951 Na Bolívia,em face da situação migratória irregular da maioria dos brasileiros, oItamaraty negociou Acordo sobre Regularização Migratória em 2005. 952Em virtude do isolamento em que vivem, a maioria das famílias nãodispõem de quaisquer papéis que possam comprovar sua permanência<strong>no</strong> país, ainda que estejam radicadas há décadas. 953Os principais problemas dos brasileiros <strong>no</strong> Suriname também serelacionam com a situação migratória irregular. Em decorrência dessasituação, tornam-se vulneráveis à exploração por ampla gama deaproveitadores. 954 Igualmente preocupante é a situação dos migrantesirregulares brasileiros na Guiana Francesa. 955 Existe acordo bilateral paraa repatriação de migrantes irregulares. Os migrantes deportados, contudo,logo regressam, utilizando <strong>no</strong>mes falsos, sendo <strong>no</strong>vamente deportados,em ciclo recorrente. 956 Em virtude de seu baixo nível de instrução, tornamsepresas fáceis de negociantes locais inescrupulosos, que celebramcontratos fictícios prometendo-lhes a propriedade do garimpo ao cabo dedois a<strong>no</strong>s, mediante o pagamento mensal de certa quantidade de ouro.Ao fim do prazo, denunciam os garimpeiros à polícia por situação migratóriairregular. Estes são deportados, tendo antes seus bens confiscados. 957Nos EUA, a migração irregular de brasileiros vem assumindodimensões sem precedentes. Após o México e a Índia, o Brasil foi opaís cujo número de indocumentados apresentou o maior crescimentoentre 2000 e 2005, da ordem de 70%. 958 Em 2004, o Brasil respondeupelo índice de crescimento mais acelerado <strong>no</strong> ingresso de migrantesindocumentados <strong>no</strong>s EUA, 959 da ordem de 78%, além de ocupar oquinto lugar entre os principais países de origem de imigrantesirregulares. 960 Parte desses migrantes indocumentados detidos sãotransferidos de um Estado para outro, com as mãos algemadas e ospés presos por correntes, para centros regionais de detenção demigrantes, sobretudo <strong>no</strong> Texas. 961 A título de ilustração, entre <strong>no</strong>vembrode 2005 e fevereiro de 2006, o Departamento de Polícia Federalconduziu <strong>no</strong> Brasil a Operação Êxodo, cujo objetivo foi desmantelarquadrilha especializada em aliciar brasileiros para entrada ilegal <strong>no</strong>s200


A EMIGRAÇÃO DE BRASILEIROSEstados Unidos através do México. 962 Estima-se que 120 pessoas eramenviadas mensalmente pela quadrilha. Como resultado da operação, forampresas 6 pessoas e cumpridos 13 mandados de busca e apreensão. OMéxico, pressionado pelos EUA, suspendeu unilateralmente a vigênciado Acordo de Isenção de Vistos com o Brasil <strong>no</strong> segundo semestre de2005. 963 Em conseqüência, ainda que, em um primeiro momento, a medidatenha reduzido a migração indocumentada brasileira para o México, osbrasileiros mostraram capacidade de readaptação, mudando, após areimposição de vistos, sua rota de entrada <strong>no</strong>s EUA, seja via Canadá,seja via Guatemala (pela fronteira sul do México), submetendo-se a <strong>no</strong>vose graves riscos em sua agora mais longa travessia pelo território mexica<strong>no</strong>até chegar à fronteira com os EUA.Também na Europa Ocidental, o principal problema dosmigrantes brasileiros consiste na situação irregular, agravada pelo portede documentos falsos, em geral portugueses. 964 No Rei<strong>no</strong> Unido,problema correlato é o da existência de brasileiros soropositivos 965que, devido a situação imigratória irregular, não têm acesso à assistênciamédica gratuita na rede de hospitais públicos. Têm surgido igualmentecasos de escolas públicas que passaram a exigir prova de situaçãoimigratória regular para a matrícula de crianças. 966 A comunidadebrasileira <strong>no</strong> Rei<strong>no</strong> Unido ganhou maior visibilidade em virtude dacomoção causada pela morte do migrante irregular Jean Charles deMenezes. Então residente em Londres, foi executado pela políciainglesa, sob a suspeita - afinal, falsa - de envolvimento com atividadesterroristas. 967 Na Itália, é também em virtude da situação migratóriairregular que parte das migrantes brasileiras irregulares têm de contentarsecom ocupações aqüém de suas qualificações profissionais,<strong>no</strong>rmalmente <strong>no</strong> trabalho doméstico. E, ainda assim, têm de enfrentara concorrência de migrantes filipinas. 968 Na Espanha, verifica-se ocrescimento do número de detenções e expulsões de brasileiros porpermanência ilegal <strong>no</strong> país. 969 Em 2004, 25% dos estrangeiros nãoadmitidos <strong>no</strong> aeroporto de Madri, por suspeita das autoridades locaisde tentativa de migração irregular, eram brasileiros. 970201


GEORGE TORQUATO FIRMEZA3.2. Tráfico de pessoas, prostituição e criminalidadeTambém o problema do tráfico de pessoas para o exterior temcrescido. Centenas de denúncias são recebidas anualmente <strong>no</strong> Brasilpela Divisão de Direitos Huma<strong>no</strong>s do Departamento de Polícia Federal.Em 2006, havia mais de vinte casos em andamento e quatro grandesoperações em curso nessa área. 971 Paralelamente a esses esforços,mencione-se a elaboração, <strong>no</strong> âmbito das Reuniões de Ministros daJustiça e do Interior, de pla<strong>no</strong> de ação do Mercosul, voltadoespecificamente para o combate ao tráfico de seres huma<strong>no</strong>s. 972 NoPorto, há um fluxo constante de brasileiras trazidas por membros dequadrilhas internacionais para o exercício da prostituição. 973 NoSuriname, houve uma série de denúncias de que brasileiras seriammantidas prisioneiras 974 em áreas de garimpo. 975 Idênticas denúnciassobre prostituição forçada surgiram na Guiana. 976 Na Itália, a prostituiçãoenvolve mulheres, travestis e transsexuais.Com base <strong>no</strong> registro de assistência consular de diversos postos,pode-se perceber também aumento do número de casos de brasileirosenvolvidos com problemas de criminalidade <strong>no</strong> exterior. Em Madri,quase todos os cerca de 300 presos brasileiros aguardando julgamentoou cumprindo pena em estabelecimentos penitenciários na jurisdiçãoda Embaixada em 2005 respondiam por delitos correlatos ao tráficode drogas. 977 No Japão, cresceu, <strong>no</strong> período de 2003 a 2006, opercentual da participação de brasileiros em atos de delinqüência. 978Há atualmente, nesse país, centenas de brasileiros 979 cumprindo penaem reformatórios, prisões e hospitais psiquiátricos. 9803.3 Educação e previdênciaEm alguns países, como o Japão, a comunidade brasileira nãoenfrenta problemas sérios de irregularidade migratória. Ao invés disso,vê-se às voltas com dois outros problemas, relacionados à educação eà previdência. Diversos filhos de brasileiros enfrentam dificuldades para202


A EMIGRAÇÃO DE BRASILEIROSadaptar-se à vida <strong>no</strong> país de acolhimento, por conta das diferençassócio-culturais e da falta de proficiência em língua japonesa. Asdificuldades de adaptação em escolas japonesas explicam a existênciade mais de 60 escolas privadas brasileiras <strong>no</strong> Japão. 981 O valor dasmensalidades, <strong>no</strong> entanto, na faixa de US$ 500, é muito elevadoproporcionalmente aos salários dos trabalhadores brasileiros, em tor<strong>no</strong>de US$ 2 mil. 982 Nos Estados Unidos, uma dificuldade tem residido naausência do ensi<strong>no</strong> de língua portuguesa como opção nas escolas.De outra parte, a questão previdenciária é hoje, depois daeducação, problema de grande relevância para a comunidade <strong>no</strong>exterior, sobretudo em países onde se observa o caráter decircularidade da migração brasileira, como é o caso <strong>no</strong> Japão, muitoembora essa característica venha sendo reduzida <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s,com ciclos de permanência dos brasileiros <strong>no</strong> Japão cada vez maislongos. 9833.4 Conflitos agráriosEm alguns países sul-america<strong>no</strong>s, as principais dificuldades dosbrasileiros referem-se a conflitos de terras. No Paraguai, a questão daprecariedade da titularidade de terras afeta boa parte dos fazendeirosbrasileiros. 984 Muitos dos colo<strong>no</strong>s brasileiros residem <strong>no</strong> Paraguai hámais de 30 a<strong>no</strong>s. 985 De modo geral, são trabalhadores agrícolas e aolongo dos a<strong>no</strong>s efetuaram melhorias importantes nas terras queocupam. 986 No entanto, a maioria não recebeu a documentaçãomigratória das autoridades locais que regulariza sua situação, nãoobstante já terem feito a solicitação e efetuado o pagamento de todasas taxas correspondentes. 987 Por não disporem de documentaçãomigratória, a posse das terras é questionada por paraguaios que têminteresse em ocupá-las e expulsar os colo<strong>no</strong>s de suas casas. Umagravante é o fato de o Paraguai ainda não haver ratificado os Acordosdo Mercosul sobre residência e regularização migratória, o que dificultaainda mais a situação dos colo<strong>no</strong>s brasileiros. Os sem-terra paraguaios203


GEORGE TORQUATO FIRMEZAfalam da necessidade de recuperar as terras malhabidas (irregulares)dos brasileiros. 988 Conquanto a maioria dos brasileiros tenha compradoaquelas propriedades de camponeses paraguaios, de empresas e dopróprio Instituto de Bienestar Rural, alguns não têm as escrituraspúblicas e continuam somente com os contratos de compra e venda. 989Além disso, acontece, com alguma freqüência, de as terras terem váriostítulos simultâneos de propriedade. 990 Também na Bolívia, sãofreqüentes os desentendimentos com camponeses locais que reclamama posse das terras onde se encontram brasileiros. 991 Com a ascensãoao poder do Presidente Evo Morales, em janeiro de 2006, veio oanúncio de medidas de nacionalização e desapropriação depropriedades rurais na faixa de 50 quilômetros ao logo da fronteira, oque tende a afetar os sojicultores brasileiros. 9924. ALGUMAS CONSIDERAÇÕESAs colônias de imigrantes <strong>no</strong> Brasil parecem funcionar comopontes para os atuais deslocamentos populacionais brasileiros parapaíses como Alemanha, Itália, Espanha, Portugal e Japão. Essasituação não decorre apenas das informações disponibilizadas emredes sociais e familiares que ligam parcelas das sociedades nessespaíses a candidatos a migrantes <strong>no</strong> Brasil, mas também de facilidademaior, em alguns casos, <strong>no</strong> que se refere à regularização migratória.Como desdobramento natural da emigração brasileira, empaíses de acolhimento como Japão e Estados Unidos, começam adisseminar-se peque<strong>no</strong>s negócios intra-comunitários, dedicados oraà importação de roupas ou produtos alimentícios nacionais, ora àprestação de serviços. Essas empresas apresentam caráter familiar<strong>no</strong> mais das vezes e são de propriedade de brasileiros que ostentam,<strong>no</strong>rmalmente, situação migratória regular. Ao me<strong>no</strong>s <strong>no</strong>s EstadosUnidos, ainda ressentem-se, contudo, de escassez de capital degiro para expandir os negócios. 993 Não parecem tampouco haverchegado ao ponto de se organizarem em associações específicas204


A EMIGRAÇÃO DE BRASILEIROSou de buscarem interação efetiva com a rede consular brasileira, nacondição de peque<strong>no</strong>s empresários.No capítulo V, viu-se como a morte de uma migrante filipina,indiretamente, fez avançar a política do Gover<strong>no</strong> filipi<strong>no</strong> paracomunidades <strong>no</strong> exterior. No Brasil, o que mais parece haver-seaproximado dessa situação foi o caso Jean Charles. Recorde-seque o brasileiro foi executado pela polícia britânica em julho de2005. A comoção nacional causada pela morte desse humildemigrante irregular, que trabalhava como eletricista em Londres, terácontribuído, entre diversos outros fatores, para iniciativas, <strong>no</strong> a<strong>no</strong>seguinte, de criação de <strong>no</strong>vas estruturas de apoio aos brasileiros<strong>no</strong> exterior, tanto pelo Itamaraty, quanto pelo Congresso Nacional,como se verá <strong>no</strong>s próximos capítulos.Os deslocamentos populacionais brasileiros para paíseslimítrofes diferenciam-se daqueles realizados para os EstadosUnidos, Europa e Japão, porquanto envolvem, em larga medida,agricultores e garimpeiros. Tais migrantes vêem-se, com freqüência,imersos em situações potencialmente geradoras de violência, emrazão de conflitos de terras ou da criminalidade que costuma estarassociada à busca do ouro na região. Sobre eles pesa também aacusação de perpetrarem da<strong>no</strong>s ao meio ambiente, como agentesdo desmatamento para a abertura de zonas agrícolas ou comopoluidores de águas fluviais em decorrência de técnicas rudimentaresde garimpo.A situação migratória irregular constitui o maior componentede vulnerabilidade para a diáspora brasileira, seja por tornar seusintegrantes suscetíveis de exploração nas sociedades de desti<strong>no</strong>,seja por induzi-los a outros delitos, como a aquisição de documentosfalsos, e, em conseqüência, a condenação e prisão, e não apenas adeportação para o Brasil. 994Ao analisar o perfil da comunidade brasileira <strong>no</strong> exterior,vê-se que ainda não se configura como problema grave para oBrasil a questão da fuga de cérebros (brain drain). Os migrantes205


GEORGE TORQUATO FIRMEZAbrasileiros constituem, em sua maioria, força de trabalho nãoqualificada. Apenas pequena parcela do total de nacionais residentes<strong>no</strong> exterior poderiam ser caracterizados como altamente qualificados,como professores universitários brasileiros radicados na Costa Oestedos Estados Unidos.206


CAPÍTULO XO ESFORÇO DE ADAPTAÇÃOÀS NOVAS DEMANDAS


CAPÍTULO XO ESFORÇO DE ADAPTAÇÃO ÀS NOVAS DEMANDAS“Minha terra tem macieiras da CalifórniaOnde cantam gaturamos de Veneza.Ai quem me dera chupar uma carambola de verdadeE ouvir um sabiá com certidão de idade!”Murilo Mendes 995É descrita, a seguir, em grandes linhas, a forma comoevoluiu, <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s, a política brasileira de apoio aosnacionais residentes <strong>no</strong> exterior, a título de subsídio para a seçãopropositiva deste trabalho. O método utilizado aqui foi o de relatar,sumariamente, a evolução recente das principais estruturas einiciativas para o tratamento do tema na Secretaria de Estado,com o especial cuidado de buscar, na rotina das repartiçõesconsulares, as informações de maior vigor elucidativo. Ao invésde ater-se a considerações de natureza genérica, o texto apoiouseem exemplos concretos proporcionados por diversos postosem países onde a comunidade brasileira apresenta dimensõesexpressivas, como os Estados Unidos e o Japão, ouvulnerabilidade aparente, como o Suriname e a Guiana, sem deixarde mencionar também exemplos de ações empreendidas porpostos na Europa e na América do Sul. Foram privilegiados casosrelativos à comunidade brasileira <strong>no</strong>s EUA, por tratar-se da maiorde todas, com número estimado em 1,2 milhão. Embora o focodeste trabalho esteja centrado na análise de políticasgovernamentais, será também relatado o envolvimento deorganizações não-governamentais, associações de migrantes,instituições religiosas e Congresso Nacional, na medida em queinteragem com o Itamaraty <strong>no</strong> processo de atendimento dasdemandas decorrentes do crescimento da diáspora brasileira.209


GEORGE TORQUATO FIRMEZA1. EVOLUÇÃO RECENTE DA ESTRUTURA DO SERVIÇO CONSULAR BRASILEIRO1.1 Evolução institucional <strong>no</strong> MRENo tocante às comunidades emigradas, até meados dadécada de 1990, o MRE limitava-se, em grande medida, àprestação de serviços de assistência e proteção consular. Coma <strong>no</strong>va realidade representada pelo crescimento da emigraçãode brasileiros, o Itamaraty promoveu, em 1995, o lançamentodo Programa de Apoio aos <strong>Brasileiros</strong> <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>. 996 No bojodesse Programa, surgiram iniciativas que viriam a constituirmarcos de <strong>no</strong>va fase do serviço consular brasileiro, como visitasde ouvidoria às comunidades <strong>no</strong> exterior, em especial, <strong>no</strong> Japãoe <strong>no</strong>s Estados Unidos, realização de consulados itinerantes,organização de conselhos de cidadãos e reestruturação doDepartamento Consular e Jurídico (DCJ), com a criação doNúcleo de Assistência a <strong>Brasileiros</strong>, 997 <strong>no</strong> intuito de constituirelo de ligação mais ágil entre os brasileiros <strong>no</strong> exterior e seusfamiliares e amigos <strong>no</strong> Brasil.A estrutura da área de assistência consular seria<strong>no</strong>vamente modificada em 2004, sendo criada a Subsecretaria-Geral de Cooperação e <strong>Comunidades</strong> Brasileiras <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>(SGEC), o que representou elevação de patamar <strong>no</strong> tratamentodo tema <strong>no</strong> MRE. 998 O Departamento das <strong>Comunidades</strong>Brasileiras <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong> (DCB) substituiu o antigo DCJ, havendosido reforçadas, em termos de recursos huma<strong>no</strong>s e financeiros,as possibilidades de assistência consular aos brasileiros <strong>no</strong>exterior. Em dezembro de 2006, o MRE criou umaSubsecretaria-Geral para as <strong>Comunidades</strong> Brasileiras <strong>no</strong><strong>Exterior</strong>, com atribuições divididas entre os Departamentos deEstrangeiros e de <strong>Comunidades</strong> Brasileiras <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>. O temada estrutura da <strong>no</strong>va Subsecretaria-Geral voltará a ser tratadomais adiante, <strong>no</strong> capítulo XI.210


O ESFORÇO DE ADAPTAÇÃO ÀS NOVAS DEMANDAS1.2 Rede de postosAcompanhando o aumento das comunidades <strong>no</strong> exterior, oItamaraty tem ampliado a rede de postos <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s. 999 Em 1995,para cobrir jurisdição com mais de 100 mil brasileiros residentes, foiinaugurado o Consulado-Geral em Tóquio. No a<strong>no</strong> seguinte, criou-seo Consulado na Cidade do Cabo (África do Sul), 1000 onde, conquantonão haja propriamente uma comunidade de nacionais emigrados nessajurisdição, registra-se fluxo relativamente intenso de turistas eempresários brasileiros. Em 1997, criou-se o Consulado-Geral emCórdoba. Entre 2003 e 2006, foram criados <strong>no</strong>vos Consulados-Geraisem Genebra, Lagos, Beirute, Paris, Madri, Mumbai e Mendoza, 1001além do Consulado em Iquitos (Peru) e do Vice-Consulado em PuertoAyacucho (Venezuela). Também <strong>no</strong> período de 2003 a 2006, oGover<strong>no</strong> brasileiro criou diversas Embaixadas 1002 e Missões, 1003embora motivado por questões não necessariamente afetas aocrescimento das comunidades emigradas.Observe-se, <strong>no</strong> entanto, que em alguns países, apesar de acomunidade brasileira haver crescido nas últimas décadas, a redeconsular diminuiu. Nos EUA, por exemplo, registre-se que o Brasil játeve rede consular mais ampla. 1004 Já houve consulados em Portland,Baltimore, Dallas, Filadélfia, Atlanta, Porto Rico e Nova Orleans, todoshoje desativados. 1005 Deve ser mencionada aqui a projetada aberturado Consulado-Geral em Atlanta, cujo decreto de criação foi expedidoem 30 de setembro de 2004. Não obstante, sua abertura vem sendoobstaculizada pelo Departamento de Estado, como medida dereciprocidade diante da existência de impedimento legal à venda deimóveis de propriedade do Gover<strong>no</strong> dos EUA <strong>no</strong> Brasil, em razão dedívida de natureza previdenciária da Embaixada <strong>no</strong>rte-americana emBrasília. 1006 Para superar esse impasse, foi negociado acordo por trocade <strong>no</strong>tas, 1007 o que deverá permitir a necessária expansão da redeconsular brasileira <strong>no</strong>s Estados Unidos. Em 2006, havia consuladosbrasileiros em apenas sete cidades - Boston, Chicago, Houston, Los211


GEORGE TORQUATO FIRMEZAAngeles, Miami, Nova York e São Francisco -, 1008 o que atribui aalgumas dessas repartições a responsabilidade por jurisdiçõesexcessivamente extensas.Os Estados Unidos não constituem o único caso deencolhimento da rede consular. Na Alemanha, igualmente, o númerode repartições decresceu. Nas décadas de 1980 e 1990, foramfechados os consulados em Dusseldorf e Hamburgo, bem como a seçãoconsular da antiga Embaixada em Bonn. 10091.3 Consulados Ho<strong>no</strong>ráriosEmbora de forma alguma substituam os consulados de carreirae tenham funções limitadas, os consulados ho<strong>no</strong>rários podemrepresentar pontos de apoio para a realização de missões itinerantes ede outras modalidades de assistência e proteção à comunidade.Ademais, constituem, algumas vezes, primeiro passo para a aberturade repartições consulares. 1010O MRE vem ampliando a rede consular ho<strong>no</strong>rária à medidaque vêm crescendo as comunidades brasileiras <strong>no</strong> exterior e que vêmsendo identificadas necessidades reais nesse sentido pelos chefes deposto. Nos a<strong>no</strong>s 1990, foram abertos <strong>no</strong>s EUA, por exemplo,consulados ho<strong>no</strong>rários em Birmingham (Alabama), Phoenix (Arizona)e Seattle (Washington). Mais recentemente, o processo de ampliaçãoda rede consular parece vir-se intensificando em diversas regiões. Entre2003 e 2006, foram criados 31 consulados ho<strong>no</strong>rários, perfazendo-sehoje o total de 165 consulados ho<strong>no</strong>rários. Na Argentina, emconsonância com os objetivos de interiorização da diplomacia brasileira,a rede consular ho<strong>no</strong>rária passou a englobar também Posadas eConcordia. Registre-se, ainda, a <strong>no</strong>meação de <strong>no</strong>vos cônsulesho<strong>no</strong>rários em Bahía Blanca e Rosário. 1011 No total, a jurisdição deBue<strong>no</strong>s Aires passou a contar com seis cônsules ho<strong>no</strong>rários. 1012 NaItália, para citar outro exemplo, foi criado o consulado ho<strong>no</strong>rário emGê<strong>no</strong>va em 2006.212


O ESFORÇO DE ADAPTAÇÃO ÀS NOVAS DEMANDASNão obstante, <strong>no</strong>s Estados Unidos, existem apenas trezeconsulados ho<strong>no</strong>rários, para, juntamente com sete Consulados-Gerais(e um setor consular na Embaixada em Washington), prestar apoio àmaior das comunidades brasileiras <strong>no</strong> exterior. No Paraguai, onde seestima que a comunidade brasileira se situe em tor<strong>no</strong> de 450 mil pessoas,não há consulados ho<strong>no</strong>rários brasileiros. Tampouco existem consuladosho<strong>no</strong>rários <strong>no</strong> Suriname, apesar da tensão que envolve a presença dosbrasileiros nesse país.Além da ampliação da rede de consulados ho<strong>no</strong>rários, faz-senecessário repensar sua forma de atuação, atribuindo-lhes funções demodo a aliviar a carga burocrática que recai sobre os consulados decarreira. 1013 Ampliar as atribuições dos consulados ho<strong>no</strong>ráriosrequereria, nturalmente, despesas adicionais, seja dos próprios cônsulesho<strong>no</strong>rários, seja do Itamaraty. Alternativa possível seria a decontratação pelo MRE e treinamento <strong>no</strong> posto sede de funcionárioscujo trabalho seria o de apoiar o funcionamento dos consuladosho<strong>no</strong>rários. 10142. A ASSISTÊNCIA CONSULAR TRADICIONALA ação da Secretaria de Estado, com relação às comunidadesbrasileiras, diz respeito, em primeiro lugar, à assistência consulartradicional. A seguir, encontra-se esforço de sín<strong>tese</strong> de alguns dosprincipais aspectos dessa atividade <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s.2.1 Consulados ItinerantesA criação de consulados, ou missões, itinerantes refletiumudança conceitual que ganhou força <strong>no</strong> Itamaraty em meados dosa<strong>no</strong>s 1990, qual seja, a de que os consulados deveriam sair ao encontrodas comunidades, ao invés de tão-somente esperarem para receber asdemandas dos brasileiros. 1015 Os primeiros itinerantes foram organizados<strong>no</strong> Paraguai em 1995, dada a preocupação <strong>no</strong> MRE com a situação213


GEORGE TORQUATO FIRMEZAde cerca de 70 mil trabalhadores rurais que não dispunham sequer dosdocumentos brasileiros que lhes permitissem pleitear vistos de residêncialocais. Em seguida, nesse mesmo a<strong>no</strong>, passaram a ser organizadostambém <strong>no</strong>s Estados Unidos, pelos consulados em Boston, Miami,Los Angeles, Nova York e São Francisco. Com o passar do tempo,essa experiência foi sendo expandida de modo a englobar boa partedos países de intensa presença de brasileiros, como Japão, Alemanhae outros países europeus.O custo desses consulados itinerantes varia, naturalmente, deacordo com uma série de fatores, como distância a ser percorrida,número de funcionários envolvidos e tipo de apoio recebido de entidadeslocais. Tais missões podem, <strong>no</strong> entanto, apresentar custosextremamente reduzidos em algumas de suas modalidades, como é ocaso daquelas realizadas semanalmente pelo Consulado-Geral em NovaYork, em trajetos relativamente curtos feitos de carro <strong>no</strong> horário deexpediente. Mesmo <strong>no</strong> caso de itinerantes que envolvem deslocamentosaéreos, os custos não parecem elevados, em face dos benefíciostrazidos, como, por exemplo, nas missões itinerantes para Seattleorganizadas pelo Consulado-Geral em São Francisco. 1016A partir da experiência acumulada desde 1996, o formato dosconsulados itinerantes vem sendo adaptado de acordo com asnecessidades de cada região. Na Argentina, por exemplo, registre-sea criação de programa de missões consulares itinerantes para os viceconsulados,permitindo a aproximação das repartições consulares namesma jurisdição, o intercâmbio de experiências e o aprofundamentodo conhecimento sobre os problemas consulares fronteiriços. 1017 Oprograma foi estendido também às jurisdições da Embaixada emCaracas e dos consulados em Assunção, Ciudad del Este eMontevidéu. 1018Gradualmente, os postos vêm aprendendo a superar dificuldadesrelacionadas à organização das missões itinerantes. Estas podem darorigem a dificuldades, se forem feitas fora do horário de expediente.Assim, em Boston, em 2004, o formato de deslocamentos únicos em214


O ESFORÇO DE ADAPTAÇÃO ÀS NOVAS DEMANDASfins de semana verificou-se inconciliável, na prática, com a necessidadede compensar os auxiliares administrativos pelas horas de trabalhoextraordinário. A alternativa encontrada foi a de realizar essesatendimentos fora da sede em horário <strong>no</strong>rmal de expediente, mas comequipes reduzidas e em duas etapas distintas: em uma semana,recolhem-se documentos para processamento na chancelaria; em outra,restituem-se os documentos providenciados. Por vezes, as dificuldadesmaiores para a organização de consulados itinerantes referem-se àquestão do deslocamento. Parece ser este o caso <strong>no</strong> Suriname, ondeo interior, local de concentração de garimpeiros brasileiros, é de difícilacesso, tendo o deslocamento de ser feito de barco. 10192.2 Acordos de regularização migratóriaDiante do problema representado pela situação migratóriairregular de pouco mais da metade dos brasileiros residentes <strong>no</strong> exterior,segundo consolidação de dados da rede de postos em 2005, conformemencionado <strong>no</strong> capítulo precedente, o Itamaraty vem tentando encontrarsoluções para regularizar a situação migratória dos brasileiros <strong>no</strong> exterior,sobretudo <strong>no</strong> caso dos residentes em regiões de fronteira.Nos últimos a<strong>no</strong>s, foram negociados acordos de regularizaçãomigratória na América do Sul, muitas vezes, tirando proveito do fatode que existem também nacionais desses países em situação irregular<strong>no</strong> Brasil, a exemplo da Bolívia, Suriname e Guiana. Segundo oMinistério da Justiça, o número de bolivia<strong>no</strong>s já beneficiados peloAcordo Bilateral de 2005 seria de cerca de 4 mil, número ainda reduzidose se consideram as estimativas sobre os bolivia<strong>no</strong>s em situaçãomigratória irregular <strong>no</strong> território nacional, da ordem de 60 mil.Para serem eficazes, porém, essas iniciativas dependem doenvolvimento dos postos na implementação dos acordos assinados.No caso da situação dos brasileiros na Bolívia, por exemplo, o MREorganizou missões à Bolívia em 2006, para visitar as cidades de LaPaz, Santa Cruz de La Sierra e Cobija, com o objetivo justamente de215


GEORGE TORQUATO FIRMEZAagilizar a aplicação do Acordo de Regularização Migratória. NoSuriname, resta assegurar a aprovação congressual e, sobretudo, asubseqüente implementação do acordo assinado em 2004. Aimplementação do Acordo sobre Regularização Migratória deve resolverparcialmente a questão, ao me<strong>no</strong>s colocando-a em patamardesapaixonado. 1020Ressalte-se, também, a extrema relevância da assinatura, em2002, de acordos sobre regularização migratória <strong>no</strong> âmbito doMercosul, com o objetivo de facilitar o processo e abolir, por exemplo,a obrigatoriedade de os migrantes retornarem a seus países de origempara poderem dar início aos trâmites jurídicos. 1021Em Portugal, o Acordo sobre Contratação Recíproca deNacionais, assinado em Lisboa a 11 de julho de 2003, criou apossibilidade de regularização de brasileiros que pudessem comprovarentrada em Portugal antes dessa data e vínculo empregatício vigente,sem a obrigação de regressar ao Brasil para obter o visto de trabalho.Este seria concedido em consulado de fronteira. 1022 A implementaçãodo acordo, porém, não seria feita a curto prazo, mas sim na medidada capacidade do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras deoperacionalizar o processo de regularização. 1023 A repercussão <strong>no</strong>Brasil, de forma distorcida, das implicações da assinatura do acordogerou, <strong>no</strong> entanto, de imediato, <strong>no</strong>vos fluxos migratórios paraPortugal. 10242.3 Assistência jurídicaA prática de autorizar a contratação de assistência jurídicaem casos de desvalimento de cidadãos brasileiros, disseminada <strong>no</strong>sa<strong>no</strong>s 1990, vem assumindo formas crescentemente eficazes. Deespecial utilidade tem sido a concessão de recursos para que asrepartições consulares em algumas regiões específicas, seja pelasdimensões, seja pela vulnerabilidade da comunidade residente, possacontar com assessoria legal permanente. 1025 Entre as áreas de maior216


O ESFORÇO DE ADAPTAÇÃO ÀS NOVAS DEMANDASinteresse para a contratação desses serviços advocatícios,sobressaem-se as de direito criminal, legislação migratória e direitode família. Também os postos têm desenvolvido soluções alternativasnessa área. Em Boston, por exemplo, a colaboração comorganizações e lideranças comunitárias permitiu a conclusão delevantamento de entidades locais que prestam aconselhamentojurídico gratuito ou de baixo custo e a atualização da relação deadvogados que atendem à comunidade. 10262.4 Repatriação de brasileirosA assistência consular pode implicar também a repatriação debrasileiros desvalidos. A Secretaria de Estado tem proporcionado aospostos recursos, sempre que solicitados e à vista da situação dedesvalimento do interessado, para a repatriação. 1027 Em 2006, porexemplo, foram custeadas mais de 100 repatriações de brasileirosdesvalidos. Neste particular, a reativação dos vôos do Correio AéreoNacional vem desempenhando papel de relevo <strong>no</strong> apoio à comunidadebrasileira na América do Sul, 1028 com rotas semanais para Assunção,Santiago, Bue<strong>no</strong>s Aires, Montevidéu, Santa Cruz de la Sierra, Lima eQuito, bem como bimestrais para Georgetown e Paramaribo. Arepatriação pode, ademais, assumir a forma de operações de vulto,em situações de crise. Em decorrência do conflito entre Israel e oHezbollah em 2006, por exemplo, a operação de retirada dos brasileirosdo Líba<strong>no</strong> exigiu a realização de catorze vôos da Força Aérea Brasileirae quatro vôos de empresas aéreas, com o transporte de 2.678 nacionaispara o Brasil.A repatriação, contudo, permite o transporte dos brasileirosdevalidos somente até o primeiro porto de entrada <strong>no</strong> Brasil, restandoa questão de como assegurar a transferência, em seguida, para suascidades de origem. Para tanto, começam a ser feitos contatos comGover<strong>no</strong>s estaduais e organizações não-governamentais de cunhoassistencialista <strong>no</strong> Brasil.217


GEORGE TORQUATO FIRMEZA2.5 Assistência a detentos brasileirosDesde a década de 1990, o Itamaraty tem tido o cuidado desolicitar, periodicamente, à rede de postos informações sobre os detentosbrasileiros <strong>no</strong> exterior. Em 1995, o levantamento efetuado revelou númerode 900 brasileiros encarcerados. Dez a<strong>no</strong>s mais tarde, estes somam poucomais de 2.700. 1029 A assistência prestada pelas repartições consularesrefere-se aos nacionais que cumprem pena por crimes cometidos e, emvários países, também aos que são detidos em razão de situação migratóriairregular. 1030A assistência aos detidos por motivos migratórios tem sidonecessária, em especial, <strong>no</strong>s EUA, onde se concentra a maior parcela dosbrasileiros em situação migratória irregular. Nesse país, a assistência vê-sedificultada, entretanto, pelo fato de que as autoridades do Departamentode Segurança Interna costumam transferir os detidos entre váriosestabelecimentos em um mesmo Estado ou em diferentes Estados até quesejam concluídos os processos de deportação. 1031 Neste particular, asreuniões bilaterais de cooperação consular e judiciária têm constituídoocasiões propícias à discussão do tema da detenção de migrantes brasileirosindocumentados. Em 2005, na IX Reunião, 1032 por exemplo, foi discutidaa questão da necessidade de fornecimento de informações, em português,aos brasileiros detidos <strong>no</strong>s portos de entrada ou em território <strong>no</strong>rteamerica<strong>no</strong>,acerca de seu direito de contactar os consulados brasileiros. 1033Acontece, com freqüência, de os brasileiros detidos não tomaremconhecimento de seu direito de contactar os consulados brasileiros, o quelhes impede de receber a assistência necessária. Por esse motivo, aEmbaixada em Washington encaminhou ao Departamento de Estadosugestão de texto de carta ao detido brasileiro. 10343. PROJETO DE MODERNIZAÇÃO CONSULARTendo em vista a pressão acumulada sobre a rede de postosdecorrente do crescimento da demanda da comunidade brasileira <strong>no</strong>218


O ESFORÇO DE ADAPTAÇÃO ÀS NOVAS DEMANDASexterior pela prestação de serviços consulares, o Itamaraty deu inícioà implementação de projeto de modernização do serviço consular em2004. 1035 Entre seus objetivos, estão a eliminação das estampilhasconsulares, a padronização dos documentos expedidos, a uniformizaçãoe automação das rotinas e a emissão de documentos de viagem queincorporem elevadas tec<strong>no</strong>logias de segurança. 1036Se essa iniciativa alcançar de fato êxito, reduzindo a cargaburocrática que pesa sobre as repartições consulares, é possível queresulte na liberação de funcionários <strong>no</strong>s postos, para o trabalho deapoio aos brasileiros emigrados.No intuito de descrever em maiores detalhes o projeto demodernização consular, são analisadas, a seguir, as iniciativas deinformatização das atividades consulares e de emissão de <strong>no</strong>vosmodelos de passaporte e carteira de matrícula consular.3.1 Informatização das atividades consularesUm dos componentes do projeto de modernização consular éa padronização dos serviços, mediante a adoção de programainformático unificado. 1037 As <strong>no</strong>rmas 1038 que regem o setor consular ejurídico estão sendo adaptadas ao <strong>no</strong>vo sistema. A operação se farápor meio de Portal Consular, que deverá disponibilizar, para o públicoem geral, <strong>no</strong>tícias, informações diversas de interesse dos brasileiros <strong>no</strong>exterior e aspectos peculiares de cada jurisdição, descrição dos serviçosconsulares e arquivos com os formulários para download, perguntasfreqüentes, área para sugestões e comentários e ferramenta de busca.Parte do conteúdo será editado pela própria SERE, parte será deresponsabilidade do Posto. 1039 Em sua face interna, acessível somentepara os postos, o Portal apresentará todas as opções de serviçosconsulares automatizados, desde o registro e a expedição dedocumentos <strong>no</strong>tariais, vistos e documentos de viagem até o controleda renda consular e a impressão do mapa de emolumentos para envioà Secretaria de Estado. 1040 Na etapa inicial de testes dos primeiros219


GEORGE TORQUATO FIRMEZAmódulos do Portal Consular, foram selecionados como postospiloto1041 os Consulados-Gerais em Bue<strong>no</strong>s Aires, Madri e Nova York.3.2 Projeto do <strong>no</strong>vo passaporte brasileiroDada a insuficiência de características de segurança, avulnerabilidade do antigo modelo de passaporte tem sido uma das razõesdos constrangimentos sofridos por viajantes brasileiros em aeroportos<strong>no</strong> exterior. Em Miami, por exemplo, têm sido comuns situações depassaportes brasileiros documentalmente autênticos, mas comidentidades forjadas. 1042Nesse contexto, seguindo os padrões da Organização deAviação Civil Internacional, o <strong>no</strong>vo passaporte brasileiro passará aincorporar diversos elementos de segurança em sua emissão, comofotografia digital, fio de segurança com 1,3mm de espessura, marcad’água, linha de costura composta por fio verde e dois amarelos quemudam de cor ao serem expostos a raios ultravioleta, além de códigode barras com informações sobre o portador. Ao lançar esse documentode viagem, o objetivo do Itamaraty foi o de reduzir os casos de fraudese assegurar melhor tratamento aos seus portadores. Trata-se aqui deoperação de grande envergadura. Para que se possam vislumbrar osnúmeros envolvidos, registre-se que, <strong>no</strong> exterior, os postos concedem,em média, cerca de 200 mil passaportes por a<strong>no</strong>, ao passo que, <strong>no</strong>Brasil, a Polícia Federal emite, em média, um milhão de cadernetaspor a<strong>no</strong>. 1043O lançamento do <strong>no</strong>vo passaporte foi anunciado pela PolíciaFederal em dezembro de 2006, ao que parece, prematuramente, jáque não se iniciou naquela data a emissão dos passaportes <strong>no</strong> Brasil,atualmente prevista para o primeiro semestre de 2007. Ademais, <strong>no</strong>momento em que o anúncio foi feito, apenas as agências da PolíciaFederal em Brasília e Goiânia estavam habilitadas a emitir passaportes,entre as mais de 100 dispersas pelo País. Para o exterior, a previsãodo Itamaraty, <strong>no</strong> início de 2007, era a de entrega dos equipamentos220


O ESFORÇO DE ADAPTAÇÃO ÀS NOVAS DEMANDASnecessários à emissão de passaportes <strong>no</strong>s 34 postos com maiormovimento consular até o final do primeiro semestre de 2007, quandoseriam iniciadas a fase de testes e, posteriormente, a de produção.3.3 Projeto da <strong>no</strong>va carteira de matrícula consularEm 2004, o projeto de <strong>no</strong>va matrícula consular foi identificadocomo iniciativa de relevância para a comunidade <strong>no</strong> exterior, porquantoa posse de documento de identificação pode representar, para ocidadão brasileiro, o acesso ao segmento bancário, garantindo <strong>no</strong>voscanais para a remessa de recursos a seus familiares. Em setembrodaquele a<strong>no</strong>, o Itamaraty decidiu dar início a projeto-piloto <strong>no</strong>Consulado-Geral em Chicago. Em dezembro, foram autorizados osrecursos para contratação de empresa que forneceria os equipamentose software correspondentes. Em fevereiro de 2005, foram entreguesos equipamentos/software ao Consulado-Geral em Chicago e definiusemodelo de holograma e desenho final da carteira. O projeto entrouem fase de testes em 2006, com vistas à sua implementação em 2007em todo o território <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>. O sistema de computaçãofuncionará de maneira centralizada, com os servidores em Chicago, eum espelho em São Francisco. Os postos obterão os dados doscidadãos brasileiros em suas respectivas jurisdições, mas as carteirassó serão emitidas em Chicago. Tal medida permite que as carteirastenham numeração seqüencial, assegurando assim sua credibilidadeante as autoridades e instituições dos EUA.No início de 2007, os equipamentos haviam sido instalados emtodos os postos <strong>no</strong>s EUA, os computadores em Chicago e SãoFrancisco estavam prontos e os insumos, comprados. O <strong>no</strong>voRegulamento de Documentos de Viagem havia também sido aprovado,incluindo como <strong>no</strong>vidade a carteira de matrícula, na condição dedocumento válido para viagem de regresso ao Brasil, da mesma formaque a ARB. A previsão do Itamaraty é a de lançar oficialmente o projeto<strong>no</strong> primeiro semestre de 2007.221


GEORGE TORQUATO FIRMEZA4. INICIATIVAS DE APOIO ÀS COMUNIDADESDesde meados da década de 1990, o Itamaraty vem buscandoconsolidar <strong>no</strong>vo paradigma nas relações Estado-Diáspora,desenvolvendo iniciativas em benefício das comunidades. Nessa <strong>no</strong>vafase, a ênfase tem sido não apenas nas funções consulares clássicas deassistência e proteção, mas também em áreas como direitos huma<strong>no</strong>se trabalhistas, saúde, educação, informação, previdência, cultura eacompanhamento da legislação migratória. Trata-se do que se poderiachamar de serviços consulares de segunda geração, cada vez maisdemandados pelas comunidades <strong>no</strong> exterior. A seguir, são apresentadosalguns de seus desdobramentos mais recentes.4.1 Pla<strong>no</strong> Comunidade BrasilO Pla<strong>no</strong> Comunidade Brasil consiste, até o momento, emprojeto-piloto que o Itamaraty implantou, em caráter experimental, <strong>no</strong>Consulado em São Francisco em 2005, com o objetivo de testar, emjurisdição consular com comunidade de dimensões médias, 1044iniciativas que pudessem ser ampliadas para abranger, em seguida, osoutros consulados <strong>no</strong>s EUA e, posteriormente, os demais postos emáreas com grandes concentrações de brasileiros. Para poderdesempenhar essas <strong>no</strong>vas funções, aquele Consulado-Geral foiautorizado a contratar auxiliar local com formação jurídica eespecialização na área de legislação migratória <strong>no</strong>rte-americana, a qualse dedica unicamente à implementação do Pla<strong>no</strong>, sem ter aresponsabilidade de lidar com o trabalho consular de rotina.As iniciativas do Pla<strong>no</strong> não se limitam às funções consularesclássicas, procurando abarcar também <strong>no</strong>vas áreas de atuação. 1045 Demodo geral, seu objetivo tem sido o de expandir o papel do consuladopara atuar também como órgão de apoio comunitário. Tem buscado,para citar alguns exemplos, oferecer orientação consular maisdetalhada e focada na situação dos migrantes indocumentados, organizar222


O ESFORÇO DE ADAPTAÇÃO ÀS NOVAS DEMANDASseminários para discutir questões de interesse da comunidade e realizarações culturais voltadas para a preservação dos vínculos das <strong>no</strong>vasgerações de migrantes com a cultura brasileira. No que se refere àproteção dos direitos huma<strong>no</strong>s dos migrantes irregulares, por exemplo,tem permitido ao consulado acompanhar <strong>no</strong>tícias relativas a iniciativasantiimigrantes <strong>no</strong>s EUA, monitorar violações de direitos huma<strong>no</strong>s queafetem os migrantes brasileiros e pesquisar desdobramentos legislativosna área de migração. As informações assim coletadas passaram asubsidiar a orientação jurídica básica prestada aos brasileiros. Outraação de interesse direto para a comunidade tem sido a prestação deinformações sobre acesso a serviços públicos de saúde disponíveispara migrantes. Nesse campo, tem sido aprofundado o contato compsicólogos e assistentes sociais, sendo constante o encaminhamentode brasileiros a tais profissionais, principalmente às diversas associaçõesque prestam serviços gratuitos ou de baixo custo a migrantesdesvalidos. 10464.2 Educação e culturaNa área de educação e cultura, o Itamaraty vem realizandoações voltadas para a preservação da cultura e da língua nacionaisjunto à comunidade emigrada. Visam, dessa forma, a contrarrestar atendência, em alguns países, em particular <strong>no</strong>s EUA, de progressivaperda de contato com a língua portuguesa entre filhos e netos demigrantes. Têm por objetivo, ademais, manter os vínculos culturais eafetivos entre o Brasil e as <strong>no</strong>vas gerações de nacionais <strong>no</strong> exterior.Nesse contexto, iniciou-se a impressão de coleção de contos paradistribuição gratuita à comunidade brasileira, em alguns postosselecionados, com edições de bolso que trazem trabalhos de autoresclássicos, como Machado de Assis e Gracilia<strong>no</strong> Ramos.Nos EUA, o Itamaraty decidiu apoiar a realização de semináriossobre bilingüismo, em sessões voltadas para grupos de pais, nas quaisse discutem atividades de apoio ao desenvolvimento da língua223


GEORGE TORQUATO FIRMEZAportuguesa pelas crianças da comunidade. Em São Francisco, porexemplo, a Secretaria de Estado apoiou a realização de curso sobrebilingüismo para a comunidade em 2005, intitulado Brasil ou Brazil:Nossas Crianças Têm de Escolher?A partir de 2006, o Itamaraty passou também a intensificar oapoio à criação de cursos especiais de português para filhos de brasileiros<strong>no</strong> exterior, a serem ministrados na rede de ensi<strong>no</strong> oficial brasileira <strong>no</strong>exterior, constituída por Institutos Culturais e Centros de Estudos<strong>Brasileiros</strong>. Já há projeto-piloto nesse sentido em funcionamento emWashington, <strong>no</strong> Brazilian-American Cultural Institute (BACI).Ainda <strong>no</strong> âmbito da temática cultural, mencione-se a instituição,a partir de 2005, do Dia da Comunidade Brasileira <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, queconsiste em comemoração com atividades culturais e palestras sobreassuntos consulares, organizada por postos selecionados entre aquelesonde as dimensões e as carcterísticas da comunidade sejam adequadas.Essa iniciativa teve por objetivo criar <strong>no</strong>vas formas de interação entrea comunidade emigrada e as respectivas representações diplomáticasou consulares. De modo geral, o formato do evento tem envolvidoatividades de natureza predominante cultural, 1047 mas também tempermitido a divulgação de informações sobre ações dos postos na áreaconsular. 1048 Em Los Angeles, por exemplo, tem sido organizada festade ingresso gratuito, <strong>no</strong> mês de setembro, em um parque, com músicaao vivo, espetáculo de capoeira, barracas de venda de produtos ecomidas brasileiros, kid’s corner e sorteio de passagens para oBrasil. 10494.3 Orientação geral aos brasileiros emigradosA rede consular tem-se deparado com demanda crescente dosbrasileiros residentes <strong>no</strong> exterior por orientação de caráter geral sobreseus direitos, sobre como se adaptarem à vida <strong>no</strong> país de acolhimentoe sobre a identificação de dispositivos legais com implicações para seudia-a-dia. A orientação, naturalmente, tem variado de acordo com as224


O ESFORÇO DE ADAPTAÇÃO ÀS NOVAS DEMANDASnecessidades locais. Alguns postos têm procurado difundir informaçõessobre acesso a serviços de saúde. Aos brasileiros que entram <strong>no</strong>Suriname em busca de trabalho <strong>no</strong>s garimpos, por exemplo, tem sidodistribuído material educativo em português sobre AIDS e medidaspara sua prevenção. 1050 A rede consular tem procurado, ainda,disponibilizar na internet 1051 material de orientação geral para acomunidade, em temas como remessas de dinheiro entre os dois países,abertura de contas bancárias, procedimentos para poder dirigir, estudare trabalhar <strong>no</strong> país, assistência médica e dentária. 1052No que se refere à preparação para a volta de migrantes,ressalte-se a iniciativa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro ePequenas Empresas (Sebrae) de lançamento do Projeto DecasséguiEmpreendedor, 1053 com o apoio dos Consulados-Gerais em Tóquio eNagóia, e em parceria com o Banco Interamerica<strong>no</strong> deDesenvolvimento 1054 e a Associação Brasileira de Decasséguis. Oobjetivo é o de capacitar brasileiros que vivem <strong>no</strong> Japão ou que járetornaram ao Brasil, de modo a aumentar a taxa de sucesso de seuinvestimento. 1055 Em um primeiro momento, o programa atenderá osdecasséguis de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e Pará, comprevisão de abertura de escritório em Nagóia. Como o projeto estáem fase inicial, será necessário aguardar alguns a<strong>no</strong>s para avaliar seusresultados.Ainda <strong>no</strong> âmbito da orientação geral a trabalhadores migrantesbrasileiros, outra questão que se têm revelado crescentemente relevanteé a de como assegurar a inclusão em sistemas de previdência social.Essa questão afeta os nacionais brasileiros sobretudo em paísesindustrializados. Nesses países, os postos vêm orientando os brasileirosa não deixar de pagar a contribuição previdenciária.Concomitantemente, o MRE vem negociando com o Japão, desde2003, um acordo de previdência social, para que os períodos detrabalho e contribuição previdenciária em cada país possam contarpara a aposentadoria do trabalhador <strong>no</strong> outro país. Além de encaminharde forma sistemática a questão previdenciária dos trabalhadores225


GEORGE TORQUATO FIRMEZAbrasileiros, o acordo proposto permitiria assegurar maior fiscalizaçãodas obrigações dos empresários japoneses que empregam mão-deobrabrasileira. 10564.4 Conselhos de CidadãosNo bojo da política para comunidades, o reforço e aatualização dos Conselhos de Cidadãos revestem-se de importânciacentral. Recorde-se que os primeiros Conselhos foram criados <strong>no</strong>sa<strong>no</strong>s 1990, sendo mais antigo o de Boston, implantado em fevereirode 1996, com a experiência estendendo-se, posteriormente, aoutros postos. 1057 Os Conselhos constituem foros de discussãoinformais e apolíticos, servindo de canais para a transmissão desugestões dos nacionais residentes para os consulados. Buscam,em linhas gerais, aprofundar o diálogo entre as repartições e ascomunidades. A forma de atuação dos Conselhos vem evoluindode maneiras diferentes, de acordo com as peculiaridades de cadaregião, auxiliando a rede consular em ações de cunho social ecultural. Já existem dezenas de Conselhos em funcionamento,distribuídos por todas as regiões onde se têm formado comunidadesemigradas.Um dos desafios <strong>no</strong> que diz respeito ao funcionamento eficazdos Conselhos tem sido o de encontrar um foco para sua atuação,permitindo que desempenhem a contento sua função de órgãos deassessoramento da rede de postos para o aperfeiçoamento do apoioaos brasileiros <strong>no</strong> exterior. Em Londres, por exemplo, foi possívelgerar <strong>no</strong> Conselho algumas iniciativas bem-sucedidas <strong>no</strong> períodode 2002 a 2006, 1058 como a publicação de cartilha de orientaçãoaos brasileiros e a criação de entidade não-governamental deorientação jurídica a migrantes. Em outros postos, os Conselhospodem também ajudar a disseminar informações de utilidade paraa comunidade brasileira. Este foi o caso da iniciativa do Conselhoem Georgetown, em 2004, de elaborar folheto para leitura <strong>no</strong>s226


O ESFORÇO DE ADAPTAÇÃO ÀS NOVAS DEMANDASrádios e para publicação <strong>no</strong>s principais estabelecimentos deconcentração de brasileiros sobre denúncias de prostituição deme<strong>no</strong>res brasileiras <strong>no</strong> interior do país. 1059 O Consulado-Geral emFrankfurt, por exemplo, direcio<strong>no</strong>u as atividades dos Conselhospara atividades de cunho cultural, em coordenação com o CentroCultural Brasileiro, e social, em parceria com a Iniciativa de MulheresBrasileiras contra a Discriminação e a Violência. 1060 Já na jurisdiçãodo Consulado-Geral em Boston, foram criadas comissões temáticasde orientação, em temas específicos, ao migrante recém-chegado,de questões da criança e do adolescente, de assuntos educacionais,e de esforços para a obtenção da carteira de motorista. 1061Resta ainda outro desafio, qual seja o de incentivar osConselhos a assumir crescentemente também a função derepresentatividade, fazendo chegar aos consulados as preocupaçõesda comunidade. Sobre os Conselhos pesa, <strong>no</strong> entanto, o fatornegativo representado pelo reduzido nível de organização dacomunidade brasileira em geral. Por esse motivo, os própriosrepresentantes comunitários <strong>no</strong>s Conselhos relutam em assumir graurazoável de auto<strong>no</strong>mia em relação aos consulados. De modo geral,os Conselhos não têm auto<strong>no</strong>mia, mantendo-se estreitamentevinculados aos consulados, em consonância com o planejamentoda Secretaria de Estado que lhes deu origem ainda na década de1990 e que lhes atribuiu apenas funções de assessoramento eorientação dos consulados. Tem sido este o caso, por exemplo, naárea de jurisdição do Consulado-Geral em Chicago, 1062 como, deresto, na da maioria dos postos.A fragilidade da estrutura dos Conselhos, cujos membrossão <strong>no</strong>meados pelos Cônsules, pode representar uma das razõespelas quais, <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s, diversos Conselhos foram desativadose, por vezes, reativados. Na jurisdição do setor consular emWashington, por exemplo, o Conselho, criado <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1990,encontra-se desativado. Também na América do Sul e na Europa,há casos idênticos.227


GEORGE TORQUATO FIRMEZA5. PARCERIAS COM A SOCIEDADE CIVILApesar de contatos esporádicos realizados <strong>no</strong> Brasil e <strong>no</strong>exterior, o Itamaraty ainda não parece haver desenvolvido políticaabrangente e sistemática para interagir com a sociedade civil <strong>no</strong> que serefere às políticas para comunidades emigradas.Com relação às organizações não-governamentais localizadas<strong>no</strong> Brasil que têm entre suas preocupações a situação dos brasileiros<strong>no</strong> exterior, percebe-se o despertar sobretudo para o problema dasredes de tráfico de pessoas e de prostituição forçada. 1063 É o caso,por exemplo, do Centro Humanitário de Apoio à Mulher, sediado emSalvador, que tem como objetivo mobilizar a população e o poderpúblico para a realidade do tráfico internacional de mulheres. Notocante a entidades que discutem migrações <strong>no</strong> âmbito do Mercosul,mencione-se o exemplo do Instituto Brasileiro de Análises Sociais eEconômicas, que reúne organizações sindicais e sociais como alternativaà vertente estritamente comercial do Mercosul. 1064 Há também ONGsvoltadas para a situação dos brasileiros <strong>no</strong> Japão, como a Associaçãode Apoio aos Decasséguis, fundada em Curitiba por grupo de exdecasséguisque trabalham voluntariamente na identificação deproblemas dos migrantes brasileiros. 1065Com relação às ONGs estrangeiras que se preocupam com asituação dos brasileiros <strong>no</strong> exterior, a Secretaria de Estado tomou ainiciativa de elaborar, 1066 em 2006, com o auxílio dos postos, cadastropreliminar de dados para contato, disponibilizando-o <strong>no</strong> site do MRE.Resta, <strong>no</strong> entanto, elaborar política sistemática de aproximação ecooperação com essas entidades.À medida que a diáspora foi crescendo, os emigrados brasileiroscomeçaram a reunir-se em associações. Em 2006, já havia dezenas deassociações de brasileiros, dispersas em países como Paraguai,Portugal, Espanha, Alemanha, Suíça, Itália, Japão, EUA e Canadá. Onível de organização, <strong>no</strong> entanto, é reduzido. Por esse motivo, nãoparecem ainda haver sido bem-sucedidas as tentativas de lideranças228


O ESFORÇO DE ADAPTAÇÃO ÀS NOVAS DEMANDASdas associações de brasileiros em diferentes países de estabelecerinstâncias de coordenação entre si. Em Lisboa, organizou-se em 1997,o I Simpósio de <strong>Brasileiros</strong> <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, com o objetivo de contribuirpara a criação de instância internacional de coordenação dosbrasileiros. Em 2002, foi realizado, também em Lisboa, o I EncontroIbérico da Comunidade de <strong>Brasileiros</strong> <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, do qual resultou oDocumento de Lisboa. 1067 Em 2005, a comunidade brasileira emterritório america<strong>no</strong> organizou Encontro de Lideranças Brasileiras <strong>no</strong>sEUA. O evento convocou organizações comunitárias, ativistasbrasileiros e <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s, legisladores, acadêmicos e amigos dacomunidade imigrante brasileira para desenvolver agenda comum aosimigrantes brasileiros baseados <strong>no</strong>s EUA e para criar rede deorganizações comunitárias que representasse os diversos interesses dosimigrantes brasileiros <strong>no</strong>s EUA. 1068 Desse encontro resultou a Cartade Boston, que apresentou diversas reivindicações. 1069No que se refere às associações de migrantes na Europa, emdiversos casos, o nível de organização interna das comunidades pareceestar ainda <strong>no</strong> princípio de seu processo evolutivo. Alguns exemplosbastariam para dar uma idéia geral da situação em que se encontramas associações de brasileiros. No Rei<strong>no</strong> Unido, a comunidade, talvezpor estar crescendo muito rapidamente, ostenta nível de organizaçãoainda relativamente baixo. 1070 Em Munique, tampouco há um nível deorganização perceptível. No período de 2002-2005, alguns brasileirosparticiparam de um Conselho de Estrangeiros, organizado pelo Gover<strong>no</strong>municipal, mas se queixavam do pouco interesse da comunidade comoum todo pelo trabalho desenvolvido naquela instância. 1071 Em Portugal,também parece incipiente o nível de organização, na medida em queenvolve percentual peque<strong>no</strong> da comunidade, com cerca de 4 milbrasileiros filiados às quatro principais organizações nãogovernamentais.1072 Embora não se possa afirmar que os brasileirosem Lisboa estejam propriamente organizados, tais associaçõesfuncionam a contento e preenchem algumas necessidades dacomunidade, oferecendo orientação, apoio e lazer. 1073 A maior delas,229


GEORGE TORQUATO FIRMEZAchamada Casa do Brasil em Lisboa, reúne sozinha mais de três milassociados e exerce liderança junto à comunidade, inclusive comexperiência da luta em prol dos direitos dos imigrantes e a favor daliberalização da política nacional de imigração. 1074 Essas instituiçõesfuncionam também como veículo de comunicação informal com acomunidade. 1075No Japão, os postos têm conseguido estabelecer parcerias comentidades da sociedade civil. Entre estas, destaca-se o CB-SABJA,responsável, em outras atividades, por serviço de atendimento telefônicode caráter assistencial, em colaboração com o Consulado-Geral emTóquio e por serviço de “disque-saúde”, em cooperação com oConsulado-Geral em Nagóia. No caso das associações de brasileiros<strong>no</strong> Japão, porém, a pesada carga de trabalho dos migrantes dificulta aparticipação. É o caso dos decasséguis na área de jurisdição doConsulado em Tóquio, os quais trabalham até catorze horas por dia,de segunda-feira a sábado, não restando muito tempo ou disposiçãopara a participação em associações comunitárias. 1076 Nessas condições,as tentativas da rede consular de incentivar a organização interna dacomunidade, inclusive por intermédio dos Conselhos Regionais deCidadãos, com reuniões realizadas aos domingos, não têm obtidoresultados satisfatórios. 1077Na América do Sul, tampouco parece avançado o nível deorganização da comunidade brasileira. No Paraguai, sobressai-seentidade formada por proprietários rurais brasileiros, que se sentemameaçados pelas ocupações de terras efetuadas por diversos gruposde camponeses locais. 1078 No Suriname e na Guiana, há alguns ensaiosde consolidação de associações de garimpeiros brasileiros, diante dasconstantes tentativas de extorsão a que estão sujeitos. O nível dearticulação, porém, é ainda muito reduzido.É ainda incipiente a organização da comunidade brasileira naCosta Oeste e <strong>no</strong> Centro Oeste dos Estados Unidos, onde a migraçãobrasileira é fenôme<strong>no</strong> relativamente recente e a comunidade secaracteriza pela dispersão e rotatividade. Há carência de núcleos230


O ESFORÇO DE ADAPTAÇÃO ÀS NOVAS DEMANDASaglutinadores que permitam e estimulem a criação de organizaçõescomunitárias, ajudando a defender os interesses dos migrantesbrasileiros na região. 1079 O nível de organização alcançado pelacomunidade na jurisdição do Consulado em Los Angeles também éreduzido. 1080 Já não funciona mais, por exemplo, o Grupo das MulheresBrasileiras, formado <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1990, que chegou a reunir quase 400participantes. 1081 Em Chicago, a comunidade também não se temorganizado formalmente em tor<strong>no</strong> de objetivos comuns. 1082 O Conselhode Cidadãos em Chicago é o único grupo formal de que se tem registro,constituído para tratar de assuntos da comunidade, ainda assim, decaráter oficial. 1083Na Costa Leste, a migração brasileira é mais antiga, existindoregiões com grande concentração de brasileiros, sobretudo nasjurisdições dos Consulados-Gerais em Miami, Boston e Nova York. 1084Visando ao mercado representado pela comunidade brasileira emMiami, já surgiram 16 veículos de mídia impressa comunitária, comtiragem de 185 mil exemplares. E as agências de publicidade voltadaspara este mercado comunitário já até criaram entidade de classe. 1085Nos estados sob jurisdição do Consulado-Geral em Nova York, onível de organização alcançado pela comunidade brasileira já se encontraem patamar mais elevado, ocorrendo essencialmente em tor<strong>no</strong> de trêspólos principais: associações comunitárias; 1086 igrejas (católicas eevangélicas) administradas por padres e pastores brasileiros; e jornaiscomunitários editados <strong>no</strong> idioma português. 1087Na área da Grande Boston, de concentração maciça demigrantes brasileiros, parece haver quadro de maior coesão entre asdiversas lideranças, 1088 com avanços 1089 em termos de organizaçãopolítica <strong>no</strong>s últimos dez a<strong>no</strong>s. 1090 Duas organizações nãogovernamentaisde brasileiros merecem ser destacadas. O Centro doImigrante Brasileiro trabalha com questões de educação e direitostrabalhistas de migrantes, recebendo financiamento de 12 fundações<strong>no</strong>rte-americanas diferentes. Também o Centro do TrabalhadorBrasileiro é mantido majoritariamente por fundações <strong>no</strong>rte-americanas.231


GEORGE TORQUATO FIRMEZAO contato com as universidades na região da Grande Boston vempermitindo às organizações não-governamentais de brasileiros firmarparcerias para projetos de cunho social. 1091 Tais organizações procuramtambém cultivar vínculos com sindicatos que contam, entre seusassociados, com trabalhadores brasileiros, como os de pintores e defaxineiros. 1092 Nos EUA, a tradição é a de que as organizações nãogovernamentaisse voltem para a prestação de serviços, sem nenhumconteúdo político. Dessa forma, conseguem apoio financeiro doGover<strong>no</strong> e fundações <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s. 1093 Em relação às associaçõesfundadas por brasileiros, estas têm um nível de organização políticaque lhes permitiu levar a Boston três ministros de Estado para debateros problemas da comunidade <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s. Têm tido, porém,dificuldade em obter recursos financeiros disponíveis em fundações<strong>no</strong>rte-americanas, por não estarem direcionadas para a prestação deserviços. 1094 Como a aproximação com os trabalhadores é feita,<strong>no</strong>rmalmente, mediante a prestação de serviços de apoio seja pelasONGs, seja pela igrejas, parece haver distanciamento entre acomunidade dos trabalhadores migrantes e os líderes das associaçõesde brasileiros. Em razão sobretudo dos serviços sociais que prestam,as entidades confessionais parecem de fato ter bases de apoio junto àcomunidade, conforme se examina a seguir. 10956. INTERAÇÃO COM AS SOCIEDADES CONFESSIONAISReligião e migração são temas que se tocam. O cristianismo eo universo das migrações apresentam vínculos históricos esimbólicos. 1096 Coincidindo com a época das grandes migraçõesbrasileiras de meados dos a<strong>no</strong>s 1980, registrou-se crescimento donúmero de instituições religiosas envolvidas em assistência aos migrantes.A presença dessas instituições tem crescido à medida que ascomunidades brasileiras se vão estabilizando. 1097 Trata-se do chamadoprotestantismo de migração. 1098 Tais instituições constituem um dospontos de apoio para os brasileiros que vivem <strong>no</strong> exterior. 1099 Além do232


O ESFORÇO DE ADAPTAÇÃO ÀS NOVAS DEMANDASconforto espiritual, oferecem aos migrantes espaço de sociabilizaçãoe ajuda, com orientações para suas demandas mais imediatas demoradia, trabalho, saúde e educação. 1100 Dão ênfase ao trabalho social,com distribuição de comida e roupa, e de recuperação de dependentesde drogas. Em momentos de mobilização, como por ocasião damanifestação de Primeiro de Maio de 2006 <strong>no</strong>s EUA, de<strong>no</strong>minada“Um Dia Sem Imigrantes”, os pastores evangélicos e os padres católicostambém se voltam para questões de caráter político, abrindo seustemplos para que as lideranças dos migrantes possam convocar osfiéis para as manifestações. 1101Os vários ramos do protestantismo brasileiro têm-se expandido,com rapidez, 1102 <strong>no</strong> exterior, como a Universal do Rei<strong>no</strong> de Deus,Internacional da Graça e Deus é Amor. 1103 O procedimento usual ésempre o mesmo. A cúpula dirigente efetua levantamento de países ecidades em que pensa instalar a Igreja, levando em conta a presençade brasileiros ou hispânicos. 1104 Escolhidos o país e a cidade, é ativadoprocesso cuidadoso de abertura de <strong>no</strong>vas sedes. Envia-se comissãopara avaliar as probabilidades de sucesso, estudar as leis do país, cuidarda constituição jurídica da Igreja e examinar os melhores locais para ainstalação de templos. 1105 Alugam-se espaços, de preferência, cinemasou outros de tamanho razoável desativados, situados em lugar de grandecirculação de pessoas, para dar início ao trabalho religioso. 1106Paralelamente, a transnacionalização religiosa também se dá por meioda circulação de idéias via mídia (imprensa, rádio, televisão, internet).Tais igrejas alugam espaços em satélites para transmitir as pregações.A Universal foi a primeira, por meio da Rede Record Internacional. AInternacional da Graça e a Renascer em Cristo também estão alugandoespaço em satélite. A Deus é Amor mantém programa internacionalchamado A voz da libertação.Também a Igreja Católica tem-se envolvido <strong>no</strong> apoio à diásporabrasileira, ainda que com estratégia de atuação diferente daquelaempregada pelas igrejas protestantes. 1107 Tem estimulado oenvolvimento com os migrantes por parte das igrejas <strong>no</strong>s países de233


GEORGE TORQUATO FIRMEZAacolhimento ou enviado religiosos para atuar nessas igrejas. 1108 Otrabalho é mais de articulação, cooperação e informação recíprocaentre igrejas <strong>no</strong>s países emissores e receptores. 1109 A Pastoral dos<strong>Brasileiros</strong> <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong> surgiu em 1996, 1110 já tendo enviado dezenasde sacerdotes em missão aos países onde se concentram as maiorescomunidades emigradas. 1111 A partir do a<strong>no</strong> 2000, passou a editar oboletim Além Fronteiras, para promover a comunicação entre osmissionários e a Igreja do Brasil, bem como entre as própriascomunidades. 1112 Outro exemplo da forma de atuação da IgrejaCatólica nessa área é a criação da Comissão Católica Internacional deMigração (CCIM), 1113 com sede em Genebra, presença em quasequarenta países e filiação de mais de 170 organizações nãogovernamentais.1114 No que se refere especificamente a trabalhadoresmigrantes, tem enfoque baseado na proteção dos direitos huma<strong>no</strong>s. 11157. PARTICIPAÇÃO DO CONGRESSO NACIONALNo Congresso Nacional, o tema das migrações internacionaisde brasileiros é tratado tanto na Comissão de Direitos Huma<strong>no</strong>s, quantona Comissão de Relações <strong>Exterior</strong>es. 1116 O Itamaraty, por sua vez,tem apoiado o envolvimento do Congresso com a temática migratória.Não apenas tem prestado informações sempre que solicitadas porparlamentares, como também tem ajudado a organizar missões decongressistas para visitar países receptores de migrantes brasileiros <strong>no</strong>exterior, as quais se intensificaram a partir dos a<strong>no</strong>s 1990. A Comissão deRelações <strong>Exterior</strong>es da Câmara dos Deputados acompanhou, por exemplo,as dificuldades enfrentadas pelos dentistas brasileiros em Portugal. 1117 Fezsepresente, ainda, <strong>no</strong> primeiro grande encontro sobre a emigraçãobrasileira, realizado em Lisboa, em 1997. 1118 Em 2005, com a execuçãopela polícia londrina do brasileiro Jean Charles de Menezes, o CongressoNacional acompanhou de perto o andamento dos trabalhos de investigaçãorelativos ao caso, chegando a organizar missão parlamentar a Londrespara efetuar gestões junto a autoridades britânicas.234


O ESFORÇO DE ADAPTAÇÃO ÀS NOVAS DEMANDASDe especial interesse, foi a instituição, <strong>no</strong> período 2005-2006,de Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre a Emigração, querealizou seus trabalhos <strong>no</strong> Brasil e <strong>no</strong> exterior. 1119Em 2006, o Senador Valdir Raupp (PMDB-RO), havendointegrado a mencionada CPMI, apresentou projeto de lei para a criaçãode Secretaria Especial de Apoio a <strong>Brasileiros</strong> <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>. 1120 Aassistência às comunidades brasileiras é, <strong>no</strong> entanto, tarefa delicada,que requer capacidade e conhecimento específicos <strong>no</strong> complexorelacionamento com autoridades de outros países e que por isso mesmo,como se argumentará <strong>no</strong> capítulo final deste trabalho, deve continuar aser executada pelo Itamaraty, cuja tradição e experiência consularesdatam de 1822, quando, em seguida à Independência, foram criadosos primeiros consulados brasileiros.Ainda em 2005, os integrantes da mencionada CPMI criarama chamada Frente Parlamentar Cidadania Sem Fronteiras, 1121 paracontinuar a acompanhar as questões referentes a migrantes brasileiros<strong>no</strong> exterior. Essas iniciativas parecem refletir o envolvimento crescentedo Poder Legislativo com o tema dos nacionais emigrados, na medidaem que este ganha maior visibilidade junto à sociedade brasileira.8. A REFORMULAÇÃO DO CONSELHO NACIONAL DE IMIGRAÇÃOO processo de elaboração de um <strong>no</strong>vo Estatuto do Estrangeiroestá em fase de anteprojeto legislativo. De acordo com esseanteprojeto, o Conselho Nacional de Imigração (CNIg), instituído porlei em 1980, será substituído por um Conselho Nacional deMigração. 1122 O projetado Conselho Nacional de Migração talvezconfigure estrutura mais adequada para coordenar a atuação dosdiversos órgãos do gover<strong>no</strong> brasileiro com relação às políticas parasuas comunidades emigradas.Segundo debates ainda preliminares <strong>no</strong> âmbito do grupo detrabalho que se ocupa da discussão e redação do referido anteprojetode lei, este <strong>no</strong>vo Conselho poderia ser vinculado à Presidência da235


GEORGE TORQUATO FIRMEZARepública e teria a função de propor políticas e coordenar as açõesdos vários ministérios envolvidos, sendo sua presidência rotativa entreos órgãos governamentais que o compõem. 1123 Por conta da suacomposição, este poderá ser um órgão capaz de implementar umapolítica brasileira de emigração mais eficaz.9. ALGUMAS CONSIDERAÇÕESÉ limitada, de modo geral, a capacidade de países emissoresde proteger seus cidadãos <strong>no</strong> exterior, uma vez que são as autoridadesdos países receptores que formulam e implementam as políticasmigratórias que estabelecem os direitos dos trabalhadores estrangeiros.E proporção cada vez maior de migrantes é irregular. Os paísesreceptores são crescentemente protecionistas de seus mercados detrabalho. No Suriname e na Bolívia, por exemplo, o Brasil pôde firmaracordos de regularização migratória. Tais acordos deverão inspirarações governamentais em outras áreas de características similares, ouseja, em países limítrofes que também possuem contingentes demigrantes irregulares <strong>no</strong> Brasil. Mas <strong>no</strong>s Estados Unidos e na UniãoEuropéia, por exemplo, não tem havido muita flexibilidade para anegociação de acordos que permitam a regularização de nacionaisbrasileiros.As comunidades brasileiras <strong>no</strong> exterior esperam do Estadopolíticas mais amplas para o atendimento de suas demandas, ou seja,que se estendam também às áreas de saúde, educação, trabalho,previdência social e representação política. 1124 Inexistem, <strong>no</strong> entanto,canais regulares bem organizados para a transmissão de reivindicaçõesda comunidade <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> das relações com a rede de postos. Asassociações de brasileiros são ainda pouco estruturadas e os conselhosde cidadãos não mostram, eles próprios, disposição para assumir graurazoável de auto<strong>no</strong>mia. Os migrantes carecem, dessa forma, deinstrumentos eficazes para formularem suas demandas da forma quelhes pareça mais adequada. Talvez por esse motivo as reivindicações236


O ESFORÇO DE ADAPTAÇÃO ÀS NOVAS DEMANDAScomunitárias surjam por espasmos, na forma de manifestos, como oDocumento de Lisboa em 2001 e a Carta de Boston em 2005. Emtodo caso, seria necessário revalorizar a importância de tais manifestos,como instâncias de discussão democrática de políticas para ascomunidades. Passados alguns a<strong>no</strong>s do Encontro de Lisboa, porexemplo, ainda poderia ser aprofundada a discussão de algumassugestões de largo alcance, como a de estabelecimento de mecanismosde representação dos migrantes junto ao Estado brasileiro. Restamtambém por examinar algumas das reivindicações emanadas doEncontro de Boston, como a reestruturação do corpo organizacionaldos consulados brasileiros, de maneira que haja um setor diretamenteresponsável por relações com a comunidade.As organizações não-governamentais, as associações debrasileiros e as igrejas têm sido úteis ao trabalho de apoio e assistênciaàs comunidades. Crescentemente, os brasileiros desvalidos têm sidoamparados por algumas dessas entidades, sobretudo as confessionais.Mas estas nem sempre trabalham de forma coordenada com a redeconsular brasileira. No Japão, as igrejas brasileiras instaladas em cidadesna área de jurisdição do Consulado-Geral em Tóquio, como Gunma,Naga<strong>no</strong> e Saitama, simplesmente seguem sua própria agenda. 1125 Falta,possivelmente, uma política pensada globalmente pelo MRE para lidarcom essas entidades.Com a instalação da Frente Parlamentar Cidadania SemFronteiras, 1126 o Congresso Nacional passou a contar com um grupode parlamentares comprometidos com as questões migratórias. Poderiaser estabelecido diálogo institucional com essa Frente. Do ponto devista do Itamaraty, entre as vantagens potenciais desse diálogo, estariama obtenção de apoio para a ampliação de suas políticas nessa área, aaprovação de recursos adicionais para iniciativas em favor dosmigrantes e a agilização do processo de ratificação de instrumentosinternacionais de interesse nessa área, como a Convenção Internacionalsobre a Proteção dos Direitos de todos os Trabalhadores Migrantes esuas Famílias, de 1990.237


GEORGE TORQUATO FIRMEZAO tema das migrações internacionais ainda não parecesuficientemente internalizado na sociedade brasileira. E será sempreconveniente monitorar o que está dando certo nas políticas deemigração de outros países, separando-se o que é específico de certaconjuntura do que pode ser trasladado para outras realidades. OMéxico parece haver encontrado forma simples de fazer esseexercício de atualização de políticas públicas e de gerar espaço namídia para divulgação doméstica do tema migratório. Com esseobjetivo, organiza na Cidade do México a cada dois a<strong>no</strong>s, aConferência Internacional sobre as Relações Estado-Diáspora(CIRED), com palestrantes selecionados entre os países de maiorcontingente migratório. No Brasil, o Itamaraty poderia passar aorganizar uma conferência nesses moldes, possivelmente em MinasGerais, por exemplo, dada a existência de elevado contingente demigrantes oriundos desse estado.Apesar dos avanços obtidos em inúmeras áreas do serviçoconsular brasileiro, ainda existe descompasso de vulto entre a demandacrescente por parte dos brasileiros emigrados, conquanto aindainsuficientemente verbalizada, e os recursos huma<strong>no</strong>s e financeiros deque dispõem as repartições consulares. A expansão da comunidadeemigrada passou a exigir não apenas o correspondenteredimensionamento dessa rede, mas sobretudo sua reestruturaçãointerna para poderem atuar ainda mais como órgãos de apoio àscomunidades.A exemplo do que fez o México <strong>no</strong> início da década de 1990,quando sua diáspora ainda estava majoritariamente concentrada emquatro estados <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s, 1127 poderia ser elaborada agendasistemática de visitas de autoridades brasileiras, sob a coordenaçãodo Itamaraty, direcionadas especificamente a interlocutores <strong>no</strong>sgover<strong>no</strong>s estaduais e municipais em países de maior concentração debrasileiros. Além do MRE, também os Ministérios da PrevidênciaSocial, Cultura e Educação poderiam designar representantes paraessas visitas.238


O ESFORÇO DE ADAPTAÇÃO ÀS NOVAS DEMANDASConforme relatado <strong>no</strong> capítulo V, o Gover<strong>no</strong> filipi<strong>no</strong> estabeleceuparceria com a Organização Internacional do Trabalho para conduziranálise do desempenho de sua rede consular <strong>no</strong> que se refere à proteçãoe apoio a seus trabalhadores migrantes em algumas cidades. A iniciativa,se adotada também pelo Brasil, poderia coletar dados de utilidadepara o planejamento de futuras ações nesse campo.De 2004 a 2006, o MRE atuou, com eficiência e criatividade,como o locus de referência dentro do País para as comunidades <strong>no</strong>exterior. A modernização e informatização do serviço consular brasileiroconstituiu um marco na evolução da estrutura do Itamaraty. Como seviu neste capítulo, foi possível avançar sobremaneira na elaboração depolíticas para comunidades. Esse período pode, portanto, serreconhecido como um divisor de águas na evolução do serviço consularbrasileiro e das políticas para comunidades. A expansão da diásporapassou a exigir não apenas o correspondente redimensionamento darede consular, mas sobretudo sua reestruturação interna, de modo apoder oferecer <strong>no</strong>vos serviços. Esse tema voltará a ser tratado <strong>no</strong>capítulo final.Encerra-se aqui a terceira parte deste trabalho, na qual sebuscou analisar a reformulação que o Itamaraty, desde os a<strong>no</strong>s 1990,procurou empreender em seus métodos de trabalho, com diversasiniciativas de relevo e com a criação de <strong>no</strong>vas unidades na estrutura doserviço consular em Brasília e <strong>no</strong> exterior. Passa-se agora ao capítulofinal, que pretende aportar, sob a ótica brasileira, algumas propostasde políticas para comunidades.239


CAPÍTULO XIPROPOSTAS PARA FORTALECIMENTO DO APOIO ÀSCOMUNIDADES BRASILEIRAS NO EXTERIOR


CAPÍTULO XIPROPOSTAS PARA FORTALECIMENTO DO APOIO ÀSCOMUNIDADES BRASILEIRAS NO EXTERIOR“A minha Pátria é onde não estou.”Álvaro de Campos 1130A valorização profissional do serviço consular e a existênciade repartições bem estruturadas, com espaço físico, dotaçãoorçamentária e lotação de pessoal adequados, são elementosfundamentais para qualquer política voltada para comunidades. Semesses pressupostos básicos, nem a mais imaginativa política para adiáspora se sustentaria. Nas duas últimas décadas, o número debrasileiros <strong>no</strong> exterior cresceu em ritmo superior ao da elevação dosrecursos huma<strong>no</strong>s e materiais disponibilizados à rede consular. Najurisdição de alguns postos, a estrutura tor<strong>no</strong>u-se inferior ao que serianecessário para dar conta de casos individuais de assistência eproteção a brasileiros. Para que essas repartições desempenhemtarefas adicionais de apoio a comunidades que podem somar dezenasde milhares de pessoas, sua estrutura precisa, portanto, serperiodicamente reforçada. 1129Além de seguir tentando diminuir esse hiato entre recursos edemandas, pode ser de utilidade também identificar experiências deoutros países <strong>no</strong> desenvolvimento de métodos criativos de apoio àscomunidades emigradas. Nesse sentido, apresentam-se, a seguir, asconclusões e propostas que resultaram deste trabalho. Com o objetivode alcançar maior clareza expositiva, estão divididas por seções: censoe pesquisas; educação e cultura; desenvolvimento sócio-econômico;foros multilaterais e regionais; interação com entidades locais; direitospolíticos; formas de comunicação com a comunidade; e estruturaorganizacional.243


GEORGE TORQUATO FIRMEZA1. CENSO E PESQUISASDa ausência de conhecimento aprofundado sobre a situaçãoda diáspora nacional, surge a constatação da necessidade de realizaçãode um censo dos brasileiros <strong>no</strong> exterior. A deficiência de dados dificultadesde a tomada de decisões sobre a localização mais adequada para aabertura de <strong>no</strong>vos consulados até a elaboração de diagnósticos maisprecisos da situação das comunidades emigradas com vistas àelaboração de políticas públicas. Com efeito, não há dados precisossobre as dimensões. O Itamaraty trabalha com o somatório dasestimativas da rede de postos. Coleta de dados solicitada aos postos<strong>no</strong> exterior em 2005 apontou número aproximado de 2,6 milhões debrasileiros residentes <strong>no</strong> exterior, o qual foi adotado como referênciabásica neste trabalho. Mas já há diversas outras estimativas, de 3milhões, utilizada, por exemplo, pela CPMI da Emigração, ou até 4milhões de brasileiros emigrados. Todas essas estimativas devem serrecebidas com reservas, visto que não seria razoável esperar dos postos,os quais não dispõem de funcionários especializados nesse tipo detrabalho, rigor metodológico na coleta de dados em suas jurisdições.Ademais, cada posto <strong>no</strong> exterior, na medida de suas possibilidades,adota método próprio para chegar aos números estimados. A situaçãomigratória irregular de expressiva parcela dos brasileiros <strong>no</strong> exterioraumenta a margem de erro dessas estimativas, com exceção do Japão,onde a situação migratória predominantemente regular dos brasileirosapresenta quadro diverso dos demais países de acolhimento.Em todo caso, não se trata simplesmente da necessidade deestimar as dimensões das comunidades. Seria necessário levantamentoabrangente e minucioso, que reunisse também informações sobrelocalização geográfica, divisão por gênero, faixa etária, nível educacional,contribuição atual e potencial para o comércio com o Brasil, fluxo deremessas, participação em redes, grupos, associações e entidadeslocais, bem como principais dificuldades de adaptação aos países dedesti<strong>no</strong>.244


PROPOSTAS PARA FORTALECIMENTO DO APOIO ÀS COMUNIDADES BRASILEIRAS NO EXTERIORUma vez identificada a necessidade, coloca-se a questão decomo supri-la. A rede consular teria dificuldade em encarregar-se dessatarefa. O documento atualmente disponível de coleta de informações éo formulário de matrícula de cidadão brasileiro. A designação defuncionários para fazer a pesquisa seria difícil nas atuais condições,tendo em vista o volume de trabalho envolvido e a escassez de pessoaldisponível. A começar pelo fato de que, por temerem as autoridadesmigratórias estrangeiras, os brasileiros irregulares costumam ser avessosà participação em enquetes de qualquer natureza. Diante da magnitudee complexidade da tarefa, a melhor solução parece ser a de contrataçãode serviços de empresas especializadas e entidades com experiênciana área migratória, que possam efetuar radiografia detalhada da diásporabrasileira. A participação de universidades brasileiras poderia tambémajudar a formular a pesquisa, guiar sua execução e analisar seusresultados. O censo poderia, ademais, ser feito por etapas, inicialmentesomente <strong>no</strong>s Estados Unidos, onde reside a comunidade maisnumerosa, e, posteriormente, <strong>no</strong>s demais países com presençaexpressiva de brasileiros.A inexistência de um censo sobre os brasileiros <strong>no</strong> exterior nãoé a única lacuna <strong>no</strong> tocante aos elementos necessários para a elaboraçãode políticas públicas sobre migrações. Também há certa carência deinformações em outros aspectos, como, por exemplo, o volume e asformas das remessas, sua destinação geográfica e utilização econômica.Tampouco existem dados precisos sobre as conseqüências da migraçãointernacional nas comunidades de origem <strong>no</strong> Brasil ou sobre aparticipação das mulheres <strong>no</strong>s fluxos migratórios internacionais. Tambémaqui avultam as dificuldades. Restaria a possibilidade de celebraçãode parcerias com o Banco Interamerica<strong>no</strong> de Desenvolvimento e oBanco Mundial, instituições com larga experiência nessa área.Ademais, a exemplo do que se vem fazendo desde 2005 <strong>no</strong>Departamento Cultural para estimular o interesse e a pesquisa sobreliteratura brasileira, com o lançamento do Concurso Machado de Assis,o Itamaraty poderia criar concurso, para trabalhos de mestrado e245


GEORGE TORQUATO FIRMEZAdoutoramento, sobre aspectos variados das migrações internacionaisbrasileiras. Poderiam ser também concedidas bolsas para viabilizarpesquisas de campo <strong>no</strong> exterior por doutorandos com <strong>tese</strong>s centradasna diáspora brasileira.2. EDUCAÇÃO E CULTURAA criação de <strong>no</strong>vos espaços e instituições dedicados aofenôme<strong>no</strong> emigratório pode contribuir para a consolidação de vínculosculturais e emocionais com a diáspora. Sabe-se que a cultura, paraflorescer, não precisa estar enraizada em um único lugar e que seusramos podem sobreviver em múltiplos lugares e ao longo de sucessivasgerações. 1130 Na Índia, por exemplo, vem-se discutindo a criação deum Museu e Biblioteca da Diáspora, 1131 com o objetivo de reconhecere celebrar a contribuição da diáspora ao desenvolvimento nacional,bem como de incentivar estudos sobre o tema. Também na Itália, surgiuprojeto para a criação de um Museu da Emigração e dos Italia<strong>no</strong>s <strong>no</strong>Mundo, o qual teria atuação voltada para a coleta de documentação ede testemunhos de emigrantes. Em Portugal, já existe o Museu daEmigração e das <strong>Comunidades</strong>, de Fafe, um dos primeiros do gênero<strong>no</strong> mundo. No caso do Brasil, poderia, de início, ser criada Seção daDiáspora <strong>no</strong> âmbito da Biblioteca Azeredo da Silveira, não apenascom livros adquiridos pelo Itamaraty <strong>no</strong> Brasil e <strong>no</strong> exterior, mas tambémcom doações solicitadas de outras Chancelarias. Quanto à possibilidadede criação de um Museu da Emigração Brasileira, seria recomendávelprimeiro aprofundar a cooperação <strong>no</strong> âmbito da UNESCO nessa área.Registre-se, nesse contexto, que o Brasil já se vem beneficiando dessacooperação em museologia voltada para a história das migrações, coma participação de instituições brasileiras em eventos organizadosconjuntamente pela UNESCO e OIM. Em outubro de 2006, porexemplo, realizou-se em Roma o Encontro de Especialistas sobreMuseus de Migração, 1132 com a participação do Memorial doImigrante, de São Paulo. Em julho de 2007, também com patrocínio246


PROPOSTAS PARA FORTALECIMENTO DO APOIO ÀS COMUNIDADES BRASILEIRAS NO EXTERIORdaquelas duas organizações, prevê-se a realização, <strong>no</strong> município deFafe (Portugal), do Seminário Internacional Memórias e Migrações,com a participação da Fundação Casa de Rui Barbosa, do Rio deJaneiro. Com iniciativas assim, a UNESCO e a OIM vêm tentandoconsolidar rede para compartilhamento de informações e boas práticasentre especialistas de países que já dispõem de museus de história dasmigrações.De outra parte, iniciativa adotada pela Índia <strong>no</strong> que se refereao aprofundamento de laços com sua diáspora foi a de instituição doDia da Comunidade Indiana, celebrado na Índia e <strong>no</strong> exterior, em umaúnica data. Desde 2004, o Dia da Comunidade Brasileira vem sendocelebrado, em caráter experimental, em alguns postos, como Frankfurt,Los Angeles e Assunção. Naturalmente, a idéia de celebrar um Dia daComunidade exige planejamento e divulgação rigorosos em cidadescom elevado contingente migratório irregular brasileiro, pelo temordesses migrantes de se reunirem e de serem descobertos pelasautoridades locais. Ao contrário da experiência indiana, a celebraçãobrasileira do Dia da Comunidade ocorre apenas <strong>no</strong> exterior, em algunspostos selecionados, e em datas não coincidentes. Dessa forma, perdeseum pouco do impacto que a iniciativa poderia alcançar se fossecelebrada em data única tanto <strong>no</strong> exterior, quanto em Brasília. E, aexemplo do que se faz em Nova Délhi, poderia ser organizadoseminário internacional em Brasília para marcar a data.A diáspora brasileira ainda está em fase de transição, compostana sua quase totalidade por brasileiros natos. A julgar pela análise deoutras comunidades, como a mexicana e a indiana, sua composiçãotende a transitar, com o passar do tempo, de uma maioria de nascidos<strong>no</strong> Brasil para uma maioria de descendentes. Transição dessa naturezatende, naturalmente, a enfraquecer os vínculos com o país de origem àmedida que os a<strong>no</strong>s passam. Quanto maior o tempo de residência <strong>no</strong>país de acolhimento, me<strong>no</strong>r a propensão de manter relacionamentoestreito com o país de origem. O ideal, do ponto de vista do país deorigem, é que seus nacionais <strong>no</strong> exterior sejam plenamente integrados247


GEORGE TORQUATO FIRMEZAà sociedade de acolhimento, mas sem perder seu legado cultural elingüístico originário.Em uma visão de longo prazo, o Gover<strong>no</strong> brasileiro necessitamanter os vínculos culturais e afetivos com a segunda geração debrasileiros <strong>no</strong> exterior, projetando ações que assegurem a continuidadedo relacionamento com a diáspora. De imediato, seria recomendávelampliar o foco de atuação da rede oficial de ensi<strong>no</strong> brasileira <strong>no</strong>exterior, 1133 <strong>no</strong> intuito de facilitar o estudo da língua portuguesa aosfilhos de migrantes brasileiros e de reverter o fenôme<strong>no</strong>, que ora seinicia, de progressiva perda de domínio da língua nacional entre as<strong>no</strong>vas gerações. 1134 A exemplo do que fazem as Filipinas, o Brasilpoderia também buscar parcerias mais estreitas com as igrejas, <strong>no</strong>intuito de aproveitar seus espaços de sociabilização para fins de difusãocultural. Aquelas igrejas envolvidas com a assistência a brasileiros<strong>no</strong>rmalmente costumam oferecer cursos de português para crianças,dispondo de espaços adequados para aulas, localizados nas regiõesonde vivem os migrantes brasileiros. Com apoio financeiro do Itamaraty,tais cursos poderiam ser multiplicados, com rapidez, <strong>no</strong>s bairros ondevivem os brasileiros. 1135 Cabe aqui recordar que, preocupado com amanutenção de vínculos com as <strong>no</strong>vas gerações de seus nacionais <strong>no</strong>exterior, o México, por exemplo, expandiu sua rede de institutos culturais<strong>no</strong>s EUA para 21 unidades <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s. No caso brasileiro, existeatualmente um único centro cultural oficial <strong>no</strong>s EUA. 1136 No que serefere à criação de <strong>no</strong>vos Centros de Estudos <strong>Brasileiros</strong> (CEBs), oprocesso decisório deveria guiar-se crescentemente não apenas peloobjetivo de difundir a cultura brasileira junto aos nacionais de outrospaíses, mas também em função da localização geográfica das principaiscomunidades <strong>no</strong> exterior. Poderia ser considerada a possibilidade dereforço da presença oficial cultural brasileira em cidades que, a um sótempo, constituem pólos culturais de expressão internacional e reúnemsignificativo número de migrantes brasileiros.A implementação de política cultural voltada para ascomunidades <strong>no</strong> exterior ajuda a manter sempre aberta, para os248


PROPOSTAS PARA FORTALECIMENTO DO APOIO ÀS COMUNIDADES BRASILEIRAS NO EXTERIORnacionais emigrados e seus descendentes, a hipó<strong>tese</strong> de plena reinserçãona sociedade brasileira, caso decidam eventualmente retornar. Alémdesse mérito intrínseco, haveria também o interesse em que, mantendoos emigrados seus vínculos com o Brasil, o ritmo de quedas dasremessas <strong>no</strong>s próximos a<strong>no</strong>s poderia ser atenuado. De fato, o volumede remessas de migrantes parece seguir ciclos razoavelmente previsíveis.Percebe-se redução <strong>no</strong>s níveis de remessas à medida que crescem osíndices de reunião familiar, de formação de <strong>no</strong>vas famílias <strong>no</strong> exterior einstalação permanente <strong>no</strong> país de desti<strong>no</strong>. Quem remete é o migranteque mantém sua família <strong>no</strong> Brasil ou que, viajando com ela, pretenderegressar um dia ao País. 1137 À medida que seus filhos vão sendoassimilados na sociedade de acolhimento, a motivação para fazerremessas vai diminuindo. 1138 Nesse contexto, a manutenção dosvínculos culturais de um país com sua diáspora parece exercer influênciapositiva para a manutenção do volume das remessas.3. DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ECONÔMICOAs remessas para o Brasil, estimadas em US$ 6,4 bilhões em2006, ainda não têm sido aproveitadas especificamente como fontefinanciadora do desenvolvimento, muito embora contribuam para oaumento da renda nacional, com os benefícios daí decorrentes para aeco<strong>no</strong>mia.Nas relações Estado-Diáspora, começa a ganhar corpo oconceito de co-desenvolvimento, ou seja, a possibilidade de articulaçãoentre, de um lado, as associações de migrantes, e, de outro, osformuladores de políticas públicas nas suas cidades de origem. Noexterior, os recursos provêm de doações coletivas reunidas por aquelasassociações. Numa determinada etapa de consolidação dascomunidades, os migrantes passam a dispor de níveis de poupançaque lhes permitem fazer doações para projetos sociais. Tais experiênciaspodem ser bem-sucedidas, na medida em que costumam envolverinteresse direto dos migrantes <strong>no</strong> seu gerenciamento, reduzindo, assim,249


GEORGE TORQUATO FIRMEZAa possibilidade de desperdício ou mesmo de desvio de recursos.Exemplo nesse sentido é o do programa mexica<strong>no</strong> 3x1, pelo qual,para cada dólar investido por associações de migrantes em obras dedesenvolvimento sócio-econômico em suas comunidades de origem,os três níveis de Gover<strong>no</strong> <strong>no</strong> México aportam outros três dólares. Adiáspora brasileira ainda não chegou a essa etapa de consolidação. Osrecursos eco<strong>no</strong>mizados são enviados ao Brasil em larga medida paraassegurar o sustento de familiares. Mas programas como o 3x1poderiam ser experimentados, por exemplo, em regiões <strong>no</strong>s EUA ondea comunidade brasileira se origina majoritariamente de uma única cidade,como Governador Valadares. Na hipó<strong>tese</strong> de vir a ser feita essaexperiência, a relação utilizada pelo México entre os aportes dosmigrantes e os dos Gover<strong>no</strong> federal, estadual e municipal poderia seralterada. No caso brasileiro, em benefício dos migrantes, a proporçãopoderia ser de 9x1, ou seja, para cada dólar investido por associaçõesde migrantes em obras de desenvolvimento sócio-econômico em suascomunidades de origem, os três níveis de Gover<strong>no</strong> <strong>no</strong> Brasil aportariamoutros <strong>no</strong>ve dólares. O interesse de tal iniciativa não residiriaprioritariamente <strong>no</strong> levantamento de fundos para projetos sociais <strong>no</strong>Brasil. Antes visaria a utilizar a discussão e a implementação dessesprojetos como forma de criar <strong>no</strong>vas associações de brasileiros ou degerar maior coesão <strong>no</strong> âmbito das que já existem.À medida que se elevar o grau de utilização da rede bancáriapara remessas pelos brasileiros <strong>no</strong> exterior, 1139 caso a <strong>no</strong>va matrículaconsular venha de fato a ser aceita como documento válido para aabertura de contas, independentemente do status migratório, 1140 oprincipal desafio passará a ser o de aumentar concomitantemente onível de informações sobre produtos financeiros à disposição dosremetentes. As repartições consulares turcas, por exemplo, vêmbuscando estimular os migrantes a abrirem contas em moeda estrangeiraem bancos públicos na Turquia, mediante o oferecimento de isençõesfiscais. Na linha de iniciativas adotadas <strong>no</strong> passado em Portugal, 1141antes da adoção do euro, poderia ser criado <strong>no</strong> Brasil sistema pelo250


PROPOSTAS PARA FORTALECIMENTO DO APOIO ÀS COMUNIDADES BRASILEIRAS NO EXTERIORqual o migrante pudesse abrir, em sua cidade de origem, uma poupançamigrante,que seria irrigada apenas com moeda estrangeira e renderiajuros também nessa moeda. O segundo titular, <strong>no</strong> Brasil, sacaria emreais. O migrante poderia utilizá-la para lastrear empréstimos em linhasde crédito especiais para aquisição de casa própria ou abertura depequena empresa. 1142 Como medida dessa natureza exigiriamodificações legislativas, o assunto poderia ser discutido, <strong>no</strong> CongressoNacional, com a Frente Parlamentar Cidadania Sem Fronteiras.A rede consular poderia contribuir para a redução do custodas remessas. A exemplo do que vêm fazendo suas congêneresmexicanas, as repartições consulares brasileiras poderiam divulgarquadro comparativo diário das taxas cobradas pelas principais agênciase bancos que oferecem serviços de remessas. Cumpre mencionar, apropósito, que já começa a perceber-se expectativa nesse sentido deparcela da comunidade brasileira <strong>no</strong> exterior, em especial, <strong>no</strong> que serefere aos trabalhadores de me<strong>no</strong>r qualificação.Conforme descrição feita <strong>no</strong> capítulo V, o Gover<strong>no</strong> filipi<strong>no</strong> temoferecido a seus nacionais <strong>no</strong> exterior algumas alternativas deinvestimento, tendo como objetivo de médio e longo prazos seu retor<strong>no</strong>e readaptação à sociedade. Uma delas é o chamado flexi-fund, fundode investimentos para migrantes interessados em assegurar pensãoadicional para sua aposentadoria. Os recursos do fundo são investidosunicamente em letras do tesouro, têm garantia integral do Gover<strong>no</strong> esão isentos de tributação. 1143 Com vistas a aferir sua possíveladaptabilidade à realidade brasileira, o Itamaraty poderia encaminharconsultas ao Banco do Brasil.Também com base <strong>no</strong> exemplo filipi<strong>no</strong>, poderia ser consultadaa Caixa Econômica Federal sobre o interesse em divulgar asoportunidades de financiamento de casa própria para camadas de baixarenda, por meio da realização de feiras de habitação em cidades comalto contingente migratório brasileiro.Nas Filipinas, diversos Ministérios 1144 participam das discussõessobre as ações governamentais direcionadas aos migrantes. Tal251


GEORGE TORQUATO FIRMEZAabordagem pode facilitar a incorporação do tema migratório aoplanejamento doméstico de políticas públicas de inclusão social. NoBrasil, a questão das migrações internacionais poderia ser incorporada,por exemplo, ao planejamento para programas do Ministério doDesenvolvimento Social e Combate à Fome. Dessa forma, seria possívelabordagem mais integrada para a redução da pobreza, à medida quese vão identificando as áreas e as causas principais da migraçãointernacional. A temática migratória poderia ser incorporada tambémaos programas de desenvolvimento sócio-econômico do BNDES. Estepoderia ser incentivado a elaborar projetos de apoio a investimentosde migrantes, em pequena escala, que poderiam servir, por exemplo,de complementação aos esforços do SEBRAE para a capacitação demigrantes regressados do Japão, <strong>no</strong> âmbito do projeto DecasséguiEmpreendedor.Vem sendo, igualmente, debatida na Índia a aplicabilidade deintrodução da exigência de um “relatório de impacto migratório”, aexemplo do que se faz na área ambiental, como forma de reforçar acoesão entre as políticas governamentais <strong>no</strong> tocante à questãomigratória. 1145 Tal relatório seria inserido <strong>no</strong> bojo de grandes iniciativasde desenvolvimento sócio-econômico, como obras regionais de infraestrutura,reformas <strong>no</strong> sistema educacional nacional ou até mesmotransformações <strong>no</strong> modelo agrícola. No caso do Brasil, a prática deelaboração de relatórios de impacto migratório talvez pudesse contribuirpara dar maior visibilidade ao tema <strong>no</strong> âmbito da formulação de políticaspúblicas <strong>no</strong>s diversos ministérios, contanto que não tivesse caráter deobrigatoriedade capaz de obstaculizar a rapidez das açõesgovernamentais.4. FOROS MULTILATERAIS E REGIONAISCom relação ao debate sobre temas migratórios em forosmultilaterais e regionais, tratados <strong>no</strong>s três primeiros capítulos destetrabalho, pode-se afirmar, de início, que o direito internacional apresenta252


PROPOSTAS PARA FORTALECIMENTO DO APOIO ÀS COMUNIDADES BRASILEIRAS NO EXTERIORinsuficiências em matéria de proteção dos migrantes irregulares. Há anecessidade de fortalecer as <strong>no</strong>rmas internacionais nesse campo, emparticular mediante a ratificação da Convenção Internacional sobre osDireitos de Todos os Trabalhadores Migratórios e suas Famílias, de1990. O Itamaraty poderia posicionar-se inequivocamente em favorda ratificação da Convenção, pelo ganho que essa decisão representariaem termos de legitimidade das ações em defesa dos direitos huma<strong>no</strong>ssobretudo dos migrantes irregulares brasileiros <strong>no</strong> exterior.No âmbito da OEA, a efetiva implementação do ProgramaInteramerica<strong>no</strong> para a Promoção e Proteção dos Direitos Huma<strong>no</strong>sdos Migrantes, criado em 2005, reveste-se de tamanha importânciaque poderia justificar o aperfeiçoamento da avaliação de seus resultados.Poderia ser tomado como modelo o mecanismo de avaliação mútua jáem curso na OEA na área de combate ao tráfico de drogas e que setor<strong>no</strong>u referência para outros instrumentos de avaliação em esferascomo as de combate à corrupção e de defesa dos direitos da mulher.Esse mecanismo permitiria identificar lacunas nas legislações e políticasnacionais migratórias dos países membros da OEA. De especialinteresse seria medir o desempenho dos Estados <strong>no</strong> respeito aosprincípios de igualdade e de não-discriminação estabelecidos pelaConvenção Americana de Direitos Huma<strong>no</strong>s e pelo próprio Programa.Caso viesse a ser estabelecido, mecanismo dessa natureza teria debuscar evitar o risco de seletividade ou politização dos debates sobreos tópicos a serem avaliados. 1146 Cuidado ainda maior teria de serempregado para não perturbar o equilíbrio delicado entre a questãoda soberania dos Estados para formular sua política migratória e aobrigação de cumprimento pelos Estados dos compromissos assumidosinternacionalmente na área de direitos huma<strong>no</strong>s dos migrantes. 1147 OBrasil poderia tomar a iniciativa de, após consultas prévias a outrospaíses, propor a criação de Mecanismo de Avaliação Mútua sobrepráticas migratórias dos Estados membros da OEA, destinado amonitorar o cumprimento dos princípios básicos do ProgramaInteramerica<strong>no</strong> para a Proteção de Direitos Huma<strong>no</strong>s dos253


GEORGE TORQUATO FIRMEZATrabalhadores Migrantes. No Brasil, a coordenação da participaçãonacional em tal mecanismo poderia ficar a cargo do Itamaraty.A cooperação em matéria migratória entre países de emigraçãoainda não avançou muito, em parte, talvez, pela própria naturezacompetitiva da migração internacional. 1148 Em todo caso, por terdimensão extra-regional e por envolver sobretudo eco<strong>no</strong>mias emdesenvolvimento, o Grupo de Países com Alto Contingente Migratório,cujo Encontro inaugural em Lima foi relatado <strong>no</strong> capítulo II, podedesempenhar papel de relevo na fertilização transversal entre osdiversos foros regionais, trazendo benefícios em termos decompartilhamento de melhores práticas. Pode, ademais, contribuir parao reforço da articulação entre os países de origem, sobretudo <strong>no</strong> âmbitodo G-77, com vistas aos debates sobre a temática migratória na ONU.O Brasil poderia assumir postura ainda mais ativa com relação ao Grupo,oferecendo-se, por exemplo, para sediar o Encontro de 2008. 1149Poderia ser estudada a possibilidade de adaptação à realidadeda Conferência Sul-Americana de Migrações de dois projetos quevêm sendo implementados <strong>no</strong> âmbito da Conferência Regional paraMigrações e do Programa Interamerica<strong>no</strong> de Promoção dos Direitosdos Migrantes, em parceria com a OIM: um Fundo de Reserva paraassistência a migrantes intra-regionais em situação de alta vulnerabilidadee um sistema de informação estatística sobre migrantes.Com o ingresso do Brasil na OIM em 2004, 1150 surgiu apossibilidade de desenvolver com essa Organização, projetos decooperação em benefício das comunidades brasileiras emigradas. Ébem verdade que, em 2006, a situação da filiação brasileira aindapermanecia de certa forma indefinida. Apesar de o País ter sido aceitoem dezembro de 2004 na OIM e de ser devedor desde então, não sepode efetuar qualquer pagamento enquanto não houver aprovaçãoformal do Congresso Nacional. Dessa forma, o Brasil é membro, mastem tido sua livre atuação tolhida por essa indefinição. Nesse meiotempo, têm sido mantidos entendimentos preliminares do Ministériodo Trabalho com o Escritório da OIM em Bue<strong>no</strong>s Aires para a254


PROPOSTAS PARA FORTALECIMENTO DO APOIO ÀS COMUNIDADES BRASILEIRAS NO EXTERIORrealização de seminários para capacitação dos membros do ConselhoNacional de Imigração sobre assuntos de política migratória em Brasíliaem 2007. 1151 Nesse contexto, o Itamaraty poderia, inicialmente, realizargestões para agilizar o processo de aprovação congressual da adesãodo Brasil à OIM. Posteriormente, poderia propor a abertura deEscritório Regional dessa Organização em Brasília, permitindo, assim,diálogo mais fluido para o estabelecimento de parcerias.5. INTERAÇÃO COM ENTIDADES LOCAISA rede consular talvez pudesse intensificar os esforços paraincentivar as associações de brasileiros <strong>no</strong> exterior a reforçar suaestrutura organizacional e a agir de forma coordenada entre si, evitandoa interlocução fragmentada com autoridades locais. Trata-se dochamado empowerment das comunidades, ou seja, o impulso dadopara o aprimoramento do seu nível de organização interna, de modoque passem a trabalhar em maior sintonia umas com as outras pararesguardar, elas próprias, seus direitos e fazer avançar seus interessescomuns. Essa tendência foi discutida <strong>no</strong> capítulo dedicado ao México,como elemento de interesse em suas políticas para comunidades. Ainterlocução da comunidade com autoridades do país de acolhimento,para ter resultados duradouros, deve ser, sempre que possível, feitapor ela própria, com o apoio da rede consular e de autoridadesgovernamentais <strong>no</strong> Brasil, quando cabível.Dadas as limitações das repartições consulares em termos deespaços físicos, recursos financeiros e número de funcionários, pareceindispensável aproximação maior também com instituições religiosas eorganizações não-governamentais orientadas para o apoio de migrantesbrasileiros. Nesse contexto, as Filipinas podem fornecer idéias, comoa de criação de organização não-governamental sediada na Europa 1152para orientação jurídica de migrantes filipi<strong>no</strong>s, com a ajuda de rede deadvogados voluntários <strong>no</strong>s principais países de acolhimento. Conformeexposto <strong>no</strong> capítulo X, a Comissão Católica Internacional para255


GEORGE TORQUATO FIRMEZAMigrações organizou coalizão de ONGs em prol da ratificação daConvenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de todos osTrabalhadores Migrantes e suas Famílias, de 1990, negociada <strong>no</strong> âmbitoda ONU. No caso brasileiro, um primeiro passo na direção de <strong>no</strong>vasparcerias nessa área poderia ser a organização, pelos consulados, dereuniões de coordenação com representantes de organizações nãogovernamentais,associações de brasileiros e instituições religiosas <strong>no</strong>spaíses de maior contingente migratório brasileiro. Essas reuniões teriamde partir, naturalmente, de objetivo definido previamente e que fossealém da simples formação de redes de contato entre essas entidades,os postos e a Secretaria de Estado. Assim como o Itamaraty já fazcom alguns institutos culturais <strong>no</strong> exterior, uma possibilidade seria a denegociação de convênios com essas entidades para a prestação deserviços sociais de apoio aos migrantes brasileiros <strong>no</strong>s países de desti<strong>no</strong>,mediante aporte de recursos do Gover<strong>no</strong> brasileiro.6. DIREITOS POLÍTICOSOs eleitores brasileiros <strong>no</strong> exterior têm o direito de votar paraPresidente e para Vice-Presidente da República, o que é importante,mas ainda não suficiente. A ampliação desse direito de voto a outroscargos eletivos lhes permitiria expor, <strong>no</strong> Congresso Nacional, suas reaisnecessidades. 1153 Os brasileiros <strong>no</strong> Japão, por exemplo, poderiamajudar a eleger <strong>no</strong> Brasil um deputado federal que se dedicasse à defesade seus direitos. 1154Sem prejuízo da discussão sobre a ampliação do direito devoto, faz-se necessária, atualmente, campanha de recadastramentoda comunidade brasileira. Ademais, a experiência <strong>no</strong>s EUA e <strong>no</strong> Japãovem demonstrando que não basta conceder o direito de votar. É precisodar aos eleitores condições mais fáceis de acesso às urnas, com redeampliada de seções eleitorais <strong>no</strong> exterior.Outrossim, mencione-se a discussão sobre a possibilidade deconcessão aos cidadãos brasileiros emigrados do direito de se256


PROPOSTAS PARA FORTALECIMENTO DO APOIO ÀS COMUNIDADES BRASILEIRAS NO EXTERIORapresentarem como candidatos a cargos eletivos <strong>no</strong> CongressoNacional. No capítulo VIII, descreveu-se a experiência italiana deabertura de circunscrições eleitorais especiais <strong>no</strong> exterior em 2006.No Congresso Nacional, há proposta de emenda à Constituição queversa sobre o tema. 1155 A idéia seria a de conceder às principais regiõesde concentração de brasileiros <strong>no</strong> exterior status de circunscriçõesespeciais, com representação na Câmara dos Deputados e <strong>no</strong> Senado,mediante eleições majoritárias. Recorde-se que, sobre tal possibilidade,a CPMI da Emigração se manifestou favoravelmente. Resta saber, <strong>no</strong>entanto, se seria de fato recomendável, <strong>no</strong> caso brasileiro, essa iniciativa.Parece prudente, nesse contexto, aguardar alguns a<strong>no</strong>s, de modo apoder avaliar os resultados da experiência da Itália, em especial, <strong>no</strong>que tange ao balanço a ser feito sobre o mandato do Senador brasileiroeleito em 2006 pela diáspora italiana na América do Sul, conformemencionado anteriormente.7. FORMAS DE COMUNICAÇÃO COM AS COMUNIDADESDe modo geral, a política de disseminação de informações paraa diáspora deve ser estruturada não como fluxo unidirecional, como,por exemplo, do Brasil, ou, mais especificamente, da Secretaria deEstado, para o exterior, ou para associações de brasileiros <strong>no</strong> exterior.Deve ser imaginada como incentivo à difusão de informações e idéiasem várias direções, sobretudo, entre os próprios brasileiros emigrados.Em fase de implantação <strong>no</strong> bojo da política de modernizaçãodo serviço consular lançada pela Secretaria de Estado em 2006, o<strong>no</strong>vo Portal Consular poderá permitir uma comunicação mais eficazcom a comunidade brasileira <strong>no</strong> exterior. 1156 Mas deve ser visto apenascomo de fato é: uma porta de entrada para conteúdo a ser criado demúltiplas formas e com variados objetivos.Nesse sentido, seguindo a experiência da Índia, já exitosa, naformação das redes TiE e Silicon Indian Professional Association,descritas <strong>no</strong> capítulo VI, e do México, ainda incipiente, com a rede257


GEORGE TORQUATO FIRMEZAMexico Talent Abroad (por sua vez, inspirada na rede chilenaChileGlobal), descrita <strong>no</strong> capítulo IV, poderiam ser criadas redes dadiáspora brasileira (diaspora networks) em áreas específicas deconhecimento, hospedadas em sites especialmente criados para essefim, com a inserção de links <strong>no</strong> Portal Consular. O primeiro passonessa direção poderia ser a contratação de assessoria do BancoMundial para a montagem inicial das projetadas redes, assim comofizeram Chile e México. Paralelamente, poderia ser firmada parceriacom o Ministério de Ciência e Tec<strong>no</strong>logia e uma universidade brasileira,para a criação de rede desenhada para ligar acadêmicos epesquisadores envolvidos em áreas tec<strong>no</strong>lógicas específicas <strong>no</strong> Brasile <strong>no</strong> exterior. Essas instituições parceiras ficariam responsáveis pelogerenciamento diário da rede. Um possível ponto de partida para aescolha dos participantes, a exemplo do que fez o México, poderia sera identificação de ex-alu<strong>no</strong>s brasileiros egressos de grandesuniversidades <strong>no</strong>rte-americanas e européias, em cursos correlatos àárea selecionada. Já há dezenas de associações de estudantesuniversitários brasileiros <strong>no</strong> exterior. Em 1997, somente nasuniversidades da região da Nova Inglaterra, <strong>no</strong>s EUA, havia cerca dedois mil estudantes brasileiros de pós-graduação. 1157 Nesse mesmoa<strong>no</strong>, apenas <strong>no</strong> Massachusetts Institute of Tech<strong>no</strong>logy (MIT), aBrazilian Students Association contava 70 doutorandos. 1158 Embora aparticipação em tais associações tenha caráter intrinsecamente efêmero,pode servir também de apoio inicial para a criação da mencionadarede.Uma segunda rede da diáspora poderia ser hospedada naBraziltradenet e gerenciada, conjuntamente, pelo Departamento dePromoção Comercial e uma universidade brasileira a ser definida, coma qual seria firmada uma parceria. Poderia ter como objetivo, partindodo exemplo italia<strong>no</strong> do projeto Itenets, descrito <strong>no</strong> capítulo VIII, fazerlevantamento dos brasileiros emigrados que trabalham <strong>no</strong> exterior, sejapor conta própria, seja vinculados a empresas, <strong>no</strong> intuito de tentarvinculá-los à estrutura de promoção comercial do Brasil, criando, assim,258


PROPOSTAS PARA FORTALECIMENTO DO APOIO ÀS COMUNIDADES BRASILEIRAS NO EXTERIORuma rede de conexões para o desenvolvimento de negócios. A políticade promoção comercial poderia levar ainda mais em conta o potencialrepresentado pela comunidade <strong>no</strong> exterior. Os brasileiros <strong>no</strong> exteriorsão não apenas consumidores de produtos nacionais. Também podemajudar a introduzir esses produtos <strong>no</strong> mercado mais amplo do paísonde residem.Ainda <strong>no</strong> que tange à disseminação de informações, mencioneseo serviço informativo Lazos, iniciado em 2003 pela Chancelariamexicana. Trata-se de boletim eletrônico com <strong>no</strong>tícias de interessepara a população mexicana, em particular, e hispânica, em geral,residente <strong>no</strong>s EUA. No caso brasileiro, parceria com a Radiobráspoderia disponibilizar idêntico serviço <strong>no</strong> <strong>no</strong>vo Portal Consular. Nãose pode, <strong>no</strong> entanto, perder de vista o fato de que as estratégias decomunicação direcionadas a migrantes irregulares devem obedecer alógica diferente. O acesso à internet não está disponível para muitosdesses migrantes, os quais utilizam preferencialmente o rádio, a televisão,os jornais comunitários e os celulares como meios de comunicação einformação.No tocante à questão do agenciamento de migrantes, observouse<strong>no</strong> capítulo V que a migração filipina é organizada por intermédiodo trabalho de agências, legais e ilegais. No caso brasileiro, na prática,também já existem agências de recrutamento de trabalhadores, <strong>no</strong> maisdas vezes, agindo na ilegalidade, e cuja atuação vem sendo combatidapelo Departamento de Polícia Federal, conforme relatado <strong>no</strong> capítuloIX. Aquelas que se dedicam a levar migrantes brasileiros sem visto detrabalho para os mercados na Europa Ocidental e <strong>no</strong>s Estados Unidos,por exemplo, nada mais são que quadrilhas de tráfico de migrantes. Orecrutamento para o Japão, por sua vez, é feito, <strong>no</strong>rmalmente, de formalegal, com a obtenção de vistos de trabalho para descendentes dejaponeses, sendo todo o trâmite organizado por agências de viagem<strong>no</strong> Brasil em parceria com os chamados empreiteiros de mão-de-obranaquele país. O papel do Itamaraty aqui parece ser sobretudo o deaperfeiçoar o esquema de obtenção de informações, <strong>no</strong> exterior, sobre259


GEORGE TORQUATO FIRMEZAas redes de tráfico de migrantes para repasse às autoridades policiais<strong>no</strong> Brasil, bem como disseminar, em parceria com outros órgãos emterritório nacional, informações sobre as condições de trabalho <strong>no</strong>exterior.No Brasil, o Itamaraty depara-se com a necessidade de fazerchegar aos brasileiros que desejam emigrar informações confiáveissobre as condições de trabalho <strong>no</strong> exterior, de modo a reduzir errosde avaliação <strong>no</strong> futuro sobre a decisão de migrar, a qual deve caber, nasua essência, ao indivíduo. Configura-se, assim, um dilema. Cabe aoItamaraty alertar sobre os perigos da migração irregular? Se o fizer,estará interferindo <strong>no</strong> direito de ir e vir? Se não o fizer, estará falhandona obrigação de proteger seus nacionais? Se decidir fazê-lo, que meiosutilizar? O melhor seria fazê-lo <strong>no</strong> Brasil ou <strong>no</strong> exterior?Ao divulgar tais informações, pode estar involuntariamenteestimulando a migração irregular. Se der ênfase aos riscos da migraçãoirregular, pode estar contribuindo para redirecionar os fluxos migratóriosbrasileiros de um país para outro. Mas são os migrantes irregularesjustamente os que mais necessitarão de assistência e proteção <strong>no</strong>s paísesde desti<strong>no</strong>. E a desinformação aumenta o espaço de ma<strong>no</strong>bra dasagências clandestinas de recrutamento de migrantes irregulares. Estesacabam partindo sem receber orientação sobre tópicos relevantes paraa vida <strong>no</strong> país de desti<strong>no</strong>, como o direito à assistência e proteçãoconsulares, <strong>no</strong>ções de legislação trabalhista e migratória e alternativaspara remessas de fundos.Os argumentos favoráveis e contrários são variados. Mas averdade é que a migração irregular comporta riscos elevados, por vezes,de morte, e que, uma vez <strong>no</strong> exterior, é limitado o escopo de ação doGover<strong>no</strong> brasileiro em favor de seus nacionais com situação migratóriairregular. Essa mensagem simples deve ser veiculada, com asqualificações necessárias, <strong>no</strong>s principais estados emissores de migrantes.No Brasil, tendo em vista sobretudo o público-alvorepresentado pelos brasileiros que que têm a intenção de deixar o paísem busca de trabalho <strong>no</strong> exterior mesmo sem dispor dos vistos260


PROPOSTAS PARA FORTALECIMENTO DO APOIO ÀS COMUNIDADES BRASILEIRAS NO EXTERIORapropriados, o Itamaraty, em parceria com os Ministérios da Justiça edo Trabalho e Emprego, poderia aperfeiçoar a prática de elaboraçãode cartilhas informativas de caráter geral. O objetivo seria o de distribuirtais cartilhas sobretudo junto a instituições religiosas, organizações nãogovernamentaise órgãos governamentais <strong>no</strong> Brasil. Essas cartilhaspoderiam inspirar-se <strong>no</strong> modelo mexica<strong>no</strong> do Guía Paisa<strong>no</strong>, cujaelaboração envolveu a participação de mais de 20 entidades daadministração pública federal com políticas afetas aos migrantes. Nessecaso, para garantir que a linguagem empregada <strong>no</strong>s textos teria asimplicidade e a clareza necessárias, foram realizadas sessões com aparticipação de trabalhadores migrantes durante a fase de redação.No exterior, especificamente na jurisdição de postos compresença expressiva de brasileiros, poderia ser priorizada também aimpressão de cartilhas de instalação para migrantes, o que já vem sendofeito por iniciativa de alguns consulados.De outra parte, merece ser estudada, com cuidado, a i<strong>no</strong>vaçãorepresentada pela introdução, nas Filipinas, do estudo do temamigratório na grade curricular das escolas de segundo grau. Embora oângulo pelo qual o assunto poderia ser tratado em eventual materialdidático para distribuição à rede escolar inspire cuidados, pelo riscode vir a incentivar a emigração, não se pode ig<strong>no</strong>rar o fato de que ahistória de milhões de brasileiros que partiram para trabalhar em outrospaíses nas duas últimas décadas necessita ser contada nas escolasnacionais. Tal história deveria ser objeto de tratamento o mais objetivoe realista possível, relatando suas causas, formas e conseqüências, semdeixar de mencionar os riscos e as adversidades a que estão sujeitosaqueles que optam por emigrar sem os vistos de trabalho adequados.Quanto à orientação para migrantes com vistos de trabalho,como é o caso da maioria dos que se dirigem ao Japão, pode serválida a experiência das Filipinas. Nesse país, os seminários deorientação pré-embarque para trabalhadores de me<strong>no</strong>r qualificaçãocompõem-se de um dia de palestras organizadas por instituiçõesprivadas autorizadas pelo Ministério do Trabalho. Considerando a261


GEORGE TORQUATO FIRMEZAvulnerabilidade a que estão expostas as candidatas a empregos emserviços domésticos <strong>no</strong> exterior, tais seminários discutem tambémformas de se defender de abusos por parte de empregadores. Nocaso do Brasil, além do Gover<strong>no</strong>, associações de trabalhadoresregressados do exterior e organizações não-governamentais poderiamparticipar da montagem de seminários de orientação pré-embarque.Poderiam, ainda, ser firmadas parcerias com instituições internacionaisque ostentam vasta experiência na organização de cursos e semináriosnessa área, como a Organização Internacional para Migrações e aComissão Católica Internacional de Migração. Experiência que poderiaser estendida a outros postos é a do Centro de Informação e Apoio aoTrabalhador <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, de São Paulo, voltado para o oferecimentode cursos aos brasileiros que pretendem emigrar para o Japão.Embora represente instituto muito antigo, a matrícula consularhavia caído em desuso entre os brasileiros <strong>no</strong> exterior. O mesmo haviaocorrido entre os mexica<strong>no</strong>s <strong>no</strong> exterior. Ao relançá-la <strong>no</strong>s EUA em2002, o Gover<strong>no</strong> mexica<strong>no</strong> teve o cuidado de negociar comautoridades <strong>no</strong>rte-americanas, em diversos níveis, sua aceitação comodocumento de identificação válido <strong>no</strong>s EUA. Realizou, além disso,campanha publicitária para orientar seus nacionais sobre o <strong>no</strong>vodocumento. No momento em que se está lançando <strong>no</strong>vo modelo dematrícula consular brasileiro, seria recomendável adotar essas duaslinhas de ação. Não se pode esquecer, conforme mencionadoanteriormente, que a comunidade em situação migratória irregular aindateme fornecer dados pessoais de residência às repartições consulares.Muitos migrantes irregulares sequer dispõem de endereço fixo,mudando-se, com freqüência, de um endereço para outro, mantendocomo dado permanente para contato apenas o seu número de celular.A televisão internacional também poderia ser utilizada comoinstância privilegiada de transmissão de informações e instrumento dereforço dos vínculos culturais do Brasil com seus nacionais <strong>no</strong> exterior.Assim como nas transmissões nacionais, também na grade deprogramação dos canais privados brasileiros para o exterior afigura-262


PROPOSTAS PARA FORTALECIMENTO DO APOIO ÀS COMUNIDADES BRASILEIRAS NO EXTERIORse extremamente difícil abrir espaço para conteúdos televisivos deinteresse governamental. Há, <strong>no</strong> entanto, a alternativa de aprofundarexperiência já em andamento, gerenciada pela Radiobrás, mascomposta por representantes de TVs dos Três Poderes. Trata-se daTV Brasil: Canal Integração, que entrou <strong>no</strong> ar em caráter definitivo emsetembro de 2005, embora com apenas quatro horas de transmissãodiária, voltada para a América do Sul. O Itamaraty participou ativamentede todas as etapas de implantação dessa emissora pública de televisãointernacional desde 2004 e integra seu Conselho Diretor. A médio prazo,partindo da infra-estrutura já existente, a TV Brasil poderia serexpandida, tanto em alcance de transmissão, quanto em conteúdo deprogramação, de modo a tornar-se um dos principais veículos decomunicação com a diáspora, somando-se às transmissões de outrasTVs brasileiras já presentes <strong>no</strong> exterior, com grade de programaçãodiferenciada e essencialmente educativa e cultural, com foco naprodução audiovisual brasileira. Como se viu <strong>no</strong> capítulo VIII, estetem sido o modelo utilizado pela Itália, com a RAI Televisão, Espanha,com a TVE Internacional América e TVE Internacional Europa/Ásia/África, e Portugal, com a RTP Internacional.A curto prazo, a TV Brasil poderia firmar parceria com algumasdas TVs privadas brasileiras que já transmitem para o exterior, <strong>no</strong> intuitode abrir espaço em sua grade de programação para conteúdo televisivovoltado para as comunidades.8. ESTRUTURA ORGANIZACIONALNo Brasil, como o fenôme<strong>no</strong> da emigração é relativamenterecente, ainda não há uma estrutura governamental completa nessaárea. Ao lado das competências próprias dos órgãos envolvidos coma emigração, principalmente o Itamaraty, há, vinculado ao Ministériodo Trabalho, o Conselho Nacional de Imigração (CNIg), que, como o<strong>no</strong>me indica, tem apenas a função de acompanhar a imigração para oBrasil. 1159 O Itamaraty tem participado das reuniões do CNIg, 1160 cujas263


GEORGE TORQUATO FIRMEZAdecisões são voltadas para a regulamentação do mercado de trabalhodos estrangeiros e, em alguns casos, para questões relativas a demandasde visto temporário e permanente. A inexistência de uma estrutura quecoordene a atuação dos diversos órgãos do Gover<strong>no</strong> brasileiro <strong>no</strong> quediz respeito às políticas para seus nacionais <strong>no</strong> exterior vem configurandolacuna grave, porquanto a complexidade do fenôme<strong>no</strong> migratório exigerespostas interdisciplinares que vão além dos serviços atualmenteoferecidos pelo Itamaraty.Por um lado, a idéia de criação de Ministério ou SecretariaEspecial de Apoio a <strong>Brasileiros</strong> <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, tal como propôs o SenadorValdir Raupp em projeto de lei de 2006, não parece ser opçãodesejável. O mais provável é que apenas duplicasse os esforçosdesenvolvidos e os recursos despendidos pela União nessa área. Nãodispondo, <strong>no</strong> exterior, de rede de postos e agentes devidamentetreinados, não contaria o <strong>no</strong>vo órgão com os meios básicos eindispensáveis para atuação tempestiva e eficiente em favor dosbrasileiros <strong>no</strong> exterior, continuando a depender do Itamaraty para tanto.A experiência mexicana aponta para a dificuldade de coexistência entreduas estruturas paralelas responsáveis pela formulação de políticas paracomunidades. Funcionando concomitantemente <strong>no</strong> período de 2000 a2002, o Programa para <strong>Comunidades</strong> Mexicanas <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong> e oEscritório de Atenção aos Mexica<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong> (ligado à Presidênciada República) entraram em choque diversas vezes por disputas deespaço de atuação e duplicidade de funções. A solução encontrada foia de concentrar na Chancelaria a estrutura governamental de apoioaos migrantes, com a criação do Instituto de Mexica<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>.Por outro lado, a proposta em discussão do <strong>no</strong>vo Estatuto doEstrangeiro, como relatado <strong>no</strong> capítulo anterior, pretende ampliar opapel do Conselho Nacional de Imigração, incorporando a atribuiçãode lidar também com a questão da emigração. Nas reuniões do grupode trabalho interministerial para a criação do <strong>no</strong>vo Estatuto, o Itamaratypoderia propor a criação, <strong>no</strong> bojo do <strong>no</strong>vo Conselho, de secretariatécnica para assuntos de emigração, da qual se poderia ocupar.264


PROPOSTAS PARA FORTALECIMENTO DO APOIO ÀS COMUNIDADES BRASILEIRAS NO EXTERIORAdemais, a atuação do MRE <strong>no</strong> âmbito de tal Conselho seriaenriquecida caso buscasse estreita coordenação com os Ministériosda Cultura, Saúde, Educação e Previdência Social, dadas as <strong>no</strong>vasdemandas das comunidades emigradas nessas áreas.Ainda <strong>no</strong> que se refere a questões de estrutura, os canais dediálogo Estado-Diáspora poderiam ser ampliados com a criação deuma Comissão Consultiva. Poderia ser considerado, parcialmente, omodelo da Turquia, que criou, em 1997, a Comissão Consultiva paraCidadãos Residentes <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, integrada por representantes de todasas comunidades turcas, com número de representantes proporcionalàs dimensões de cada comunidade. Equívoco a evitar seria o de ig<strong>no</strong>raras associações de nacionais <strong>no</strong> exterior, como fez Âncara, <strong>no</strong> momentode estabelecer os critérios de escolha dos representantes da diáspora<strong>no</strong> Conselho Consultivo, conforme explicado <strong>no</strong> capítulo VII. Há, ainda,entre diversos outros, o modelo da Itália, com o Conselho-Geral deItalia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, 1161 que funciona como órgão consultivo doGover<strong>no</strong> para temas de interesse da diáspora. 1162 Deriva sualegitimidade da eleição direta de 65 representantes de Comitês deCidadãos <strong>no</strong> exterior. 1163 No caso do Brasil, a Comissão Consultivapoderia ser integrada por líderes de associações de brasileirosselecionados pelos Conselhos de Cidadãos, <strong>no</strong> intuito de prestigiá-lase dar-lhes <strong>no</strong>vo campo de atuação. Poderia reunir-se uma vez pora<strong>no</strong>, sob a presidência do Ministro de Estado das Relações <strong>Exterior</strong>es,com a participação de representantes do Congresso Nacional e dofuturo Conselho Nacional de Migração, bem como, na condição deobservadores, representantes de instituições religiosas e organizaçõesnão-governamentais envolvidas com a assistência a brasileiros <strong>no</strong>exterior. A pauta dessas reuniões poderia ser montada com base emconsultas prévias aos ministérios com assuntos afetos a migrantes, bemcomo aos representantes da diáspora.Quanto à estrutura do MRE para o tratamento de questõesrelativas às comunidades, o mais recente desdobramento foi a criaçãoda Subsecretaria-Geral para as <strong>Comunidades</strong> Brasileiras <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>,265


GEORGE TORQUATO FIRMEZAem dezembro de 2006. 1164 A essa estrutura sucedânea da SGEC,caberia aprofundar o diálogo com outros órgãos da AdministraçãoFederal e Estadual, e, sobretudo, com as próprias <strong>Comunidades</strong>. Nesteparticular, uma unidade da <strong>no</strong>va Subsecretaria-Geral mereceria atençãoespecial, a Divisão das <strong>Comunidades</strong> Brasileiras <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, antigaDivisão de Assistência Consular (DAC).Não está explicitada, na estrutura da <strong>no</strong>va Subsecretaria-Geraldas <strong>Comunidades</strong> Brasileiras <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, a existência de unidadeespecífica encarregada do planejamento estratégico de políticas paracomunidades. 1165 E as tarefas que se impõem nessa área, emboraintimamente relacionadas às de assistência e proteção, não seconfundem com estas. Entre outras diversas atribuições, 1166 poderiamcaber a uma unidade dessa natureza a identificação de projetos-chaveque poderiam embasar uma agenda comum com as diásporas, acoordenação de setores de comunidades brasileiras que venham a sercriados <strong>no</strong>s postos e o aprofundamento dos canais de diálogo entre oExecutivo e o Congresso Nacional, de um lado, e as comunidades <strong>no</strong>exterior, de outro. Dificilmente será viável a implementação de <strong>no</strong>vaagenda de trabalho para a Divisão das <strong>Comunidades</strong> Brasileiras <strong>no</strong><strong>Exterior</strong>, caso continue a carregar o fardo representado pela assistênciae proteção a nacionais <strong>no</strong> exterior. Por esse motivo, à medida que forevoluindo a experiência da <strong>no</strong>va Subsecretaria-Geral, poderia serconsiderada a criação de Núcleo de Políticas para <strong>Comunidades</strong> dentroda recém-criada Divisão das <strong>Comunidades</strong> Brasileiras <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, oqual poderia, <strong>no</strong> futuro, ser elevado à categoria de Divisão de Políticaspara <strong>Comunidades</strong>. Alternativamente, tal evolução poderia iniciar-sepela criação de uma Coordenação de Políticas para <strong>Comunidades</strong>,anexa ao Gabinete do Diretor do Departamento das <strong>Comunidades</strong>Brasileiras <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>.Nesse contexto, parece difícil tratar a migração considerandosomente um dos seus aspectos. Deve-se ter visão ampla que leve emconta as saídas de nacionais, mas também a chegada e o trânsito dosmigrantes. Com a provável ampliação das funções do CNIg para266


PROPOSTAS PARA FORTALECIMENTO DO APOIO ÀS COMUNIDADES BRASILEIRAS NO EXTERIORabranger também políticas de emigração, <strong>no</strong> bojo de sua transformaçãoem Conselho Nacional de Migração, poderia ser consideradaigualmente, na estrutura regimental do Itamaraty, a ampliação do escopooficial de atuação da Divisão de Imigração (DIM), transformando-aem Divisão de Migração, com lotação reforçada para poderacompanhar a temática migratória também em foros multilaterais. Essaalteração poderia acarretar ganhos de eficácia, considerando que aDIM já acompanha esses assuntos <strong>no</strong> âmbito regional e que o interessebrasileiro em foros multilaterais está, em grande medida, focado naproteção dos direitos dos trabalhadores migrantes irregulares.Em consonância com a reestruturação em curso <strong>no</strong> Gover<strong>no</strong>Federal e na Secretaria de Estado em área de interesse para a diáspora,seria de grande importância a criação, <strong>no</strong>s postos com elevadocontingente migratório, de setores voltados especificamente para ascomunidades brasileiras. 1167 Educação, previdência social, proteçãotrabalhista, proteção contra discriminação, entre outros, são temasque fogem das atribuições tradicionais da rede consular. 1168 A criaçãode setores de comunidades em postos localizados em países comexpressivo número de migrantes brasileiros poderá favorecer melhorencaminhamento das ações governamentais pertinentes. 1169 Aexperiência da Índia, por exemplo, aponta para a necessidade deexpansão do papel da rede consular, de maneira que possa atuar cadavez mais, não apenas na assistência consular tradicional, mas tambémcomo órgão de apoio comunitário. A estrutura de setores decomunidades estará condicionada, evidentemente, ao próprio perfil eàs necessidades e reivindicações da comunidade brasileira em cadajurisdição consular. Em termos gerais, com um diplomata, um funcionáriodo quadro e um funcionário local, o setor poderia funcionaradequadamente. 1170 A título ilustrativo, registre-se que, na rede consulare diplomática indiana, a chefia desses setores é reservada a diplomatascom o nível hierárquico de ministro de segunda classe, de modo aelevar a interlocução com as autoridades locais. Poderia ser,considerada, por exemplo, a alternativa de implantar setores de267


GEORGE TORQUATO FIRMEZAcomunidades brasileiras inicialmente em quinze postos <strong>no</strong>s EUA,Paraguai, Rei<strong>no</strong> Unido, Alemanha, Portugal, Espanha e Itália. Em umasegunda etapa, poderia ser considerada também a implantação dessessetores em outros países, como Bolívia e Argentina, que reúnemcomunidades emigradas de dimensões medianas.Passada a fase experimental de implantação do Pla<strong>no</strong>Comunidade Brasil <strong>no</strong> Consulado-Geral em São Francisco em 2005 e2006, restaria agora estender sua abrangência aos demais postos emáreas com grandes concentrações de brasileiros, com o ritmo deampliação que for permitido pelas disponibilidades orçamentárias doMRE. Conforme demonstrado <strong>no</strong> capítulo anterior, o projeto-pilotoem São Francisco realçou a necessidade de poder contar com seçãode implementação do Pla<strong>no</strong> Comunidade Brasil que disponha, aome<strong>no</strong>s, de um funcionário em tempo integral, dispensado da cargarepresentada pelo trabalho consular de rotina.De outra parte, seria recomendável estimular a criação denúcleos para assuntos de migrantes em Gover<strong>no</strong>s de Estados eMunicípios brasileiros com elevado contingente emigrado. No México,os Gover<strong>no</strong>s dos Estados de Zacatecas e Guanajuato criaram escritóriospara assuntos de emigrantes <strong>no</strong> início dos a<strong>no</strong>s 1990, graças ao estímulodo Tlatelolco, <strong>no</strong> âmbito do Programa para Mexica<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>.Esses escritórios têm-se dedicado não apenas à captação deinvestimentos ou doações de migrantes. Também têm-se engajado,em coordenação com a rede consular, na proteção dos direitos dosmigrantes, estendendo-lhes apoio e orientação jurídica, bem como ajudaconsular direta em casos de emergência. Promovem, ainda, atividadesculturais direcionadas para as comunidades. 1171Poderia ser considerada, ainda, a criação de Adidâncias Policiaisem Caiena, Paramaribo e Georgetown, <strong>no</strong> intuito de permitir maiorefetividade nas tarefas de apoio das comunidades brasileiras. Nessasregiões de elevada incidência de ilícitos transnacionais, muitos dos quaiscom impacto sobre as comunidades brasileiras, a presença de AdidosPoliciais poderia permitir maior rapidez na cooperação entre as268


PROPOSTAS PARA FORTALECIMENTO DO APOIO ÀS COMUNIDADES BRASILEIRAS NO EXTERIORautoridades policiais e contribuir para assegurar maior agilidade nacooperação policial em temas que afetem os brasileiros residentes.Ademais, poderia ser avaliado o exemplo da Índia e de Portugalna utilização de fundos especiais de assistência aos migrantes. No Brasil,poderia ser estudada a conveniência de criar fundo que viessecomplementar a já existente reserva de assistência consular do MRE,a qual tem por objetivo custear despesas urgentes e imprevistas deassistência consular. Tal fundo complementar permitiria a implementaçãode <strong>no</strong>vas atividades de apoio às comunidades brasileiras, caso viessea ser estabelecido por dotação específica do Congresso Nacional, apartir, por exemplo, de articulação com a Frente Parlamentar CidadaniaSem Fronteiras. Entre outras possibilidades, estaria a de financiarconvênios, em benefício dos migrantes brasileiros, com organizaçõesnão-governamentais e instituições religiosas <strong>no</strong> exterior, conformemencionado anteriormente.No que se refere especificamente à estrutura de proteçãotrabalhista a migrantes, seria recomendável reforçar a capacidade darede consular nacional em termos de monitoramento de condições detrabalho e de orientação sobre legislação trabalhista em favor dosmigrantes, sem recorrer a quadros alheios ao Itamaraty. Nesse sentido,a experiência filipina de acolher em suas repartições consulares redede mais de 200 adidos trabalhistas oriundos dos quadros do Ministériodo Trabalho, conforme relato feito <strong>no</strong> capítulo V, não parece adequarseà realidade brasileira. Alternativa de custo relativamente reduzidopoderia ser representada pelo investimento em programa de formaçãoe treinamento nessa matéria de funcionários das repartições consulares.Ainda com vistas a reforçar a atuação da rede consular <strong>no</strong>apoio às comunidades, poderia ser de utilidade a realização de cursosde capacitação dos funcionários do Itamaraty da área consular e decomunidades, <strong>no</strong> Brasil e <strong>no</strong> exterior, em matéria de <strong>no</strong>rmasinternacionais contemporâneas para a proteção dos direitos huma<strong>no</strong>sdos migrantes, regulares e irregulares. Esses cursos poderiam serpreparados com assessoria de entidades como a Organização269


GEORGE TORQUATO FIRMEZAInternacional para Migrações e a Comissão Católica Internacional deMigração. Também o curso de formação de diplomatas ministradopelo Instituto Rio Branco e os cursos de remoção organizados pelaSubsecretaria-Geral do Serviço <strong>Exterior</strong> poderiam ser atualizados, demodo a estimular a conscientização e a reflexão sobre as <strong>no</strong>vasdemandas da comunidade brasileira <strong>no</strong> exterior.No cotidia<strong>no</strong> das relações com a rede de postos, poderiam serreforçados os canais regulares para a transmissão de reivindicaçõesda comunidade. As associações de brasileiros são, muitas vezes, aindapouco estruturadas e os Conselhos de Cidadãos não têm grau razoávelde auto<strong>no</strong>mia. Nesse contexto, recordem-se as experiências deEspanha e Portugal, relatadas <strong>no</strong> capítulo VIII, com a criação,respectivamente, dos Conselhos de Residentes e dos ConselhosConsultivos das Áreas Consulares, ambos com auto<strong>no</strong>mia derivadada escolha de seus integrantes pelo voto da comunidade. Não restadúvida de que o caráter eletivo dos Conselhos reforçaria sua auto<strong>no</strong>miaem relação à rede consular. As experiências espanhola e portuguesanessa área teriam, contudo, de ser avaliadas à luz das características epeculiaridades de cada comunidade brasileira, como indicado <strong>no</strong>capítulo anterior.Os migrantes brasileiros ainda não parecem dispor deinstrumentos de comprovada eficácia para formular suas demandas daforma que lhes pareça mais adequada. Talvez por esse motivo, asreivindicações comunitárias surjam por espasmos, na forma demanifestos, como os já mencionados Documento de Lisboa em 2001e Carta de Boston em 2005. Seria necessário revalorizar a importânciade manifestações como as de Lisboa e Boston, como instâncias dediscussão democrática de políticas para as comunidades. Passadosalguns a<strong>no</strong>s do Encontro de Lisboa, por exemplo, ainda não mereceramdiscussão aprofundada algumas sugestões de largo alcance, como ade criação de instância interministerial para coordenar as políticas paraas comunidades ou a de estabelecimento de mecanismos derepresentação dos migrantes junto ao Estado brasileiro. Restam também270


PROPOSTAS PARA FORTALECIMENTO DO APOIO ÀS COMUNIDADES BRASILEIRAS NO EXTERIORpor examinar algumas das reivindicações emanadas do Encontro deBoston, como a expansão do papel dos consulados para atuaremtambém como órgãos de apoio comunitário e a reestruturação do corpoorganizacional dos consulados brasileiros, de maneira que haja um setordiretamente responsável por relações com a comunidade.9. CONSIDERAÇÕES FINAISAs sugestões precedentes, baseadas na pesquisa dos aspectosessenciais da emigração brasileira e na experiência de terceiros paísescom a formulação e implementação de políticas para comunidades <strong>no</strong>exterior, naturalmente não esgotam o tema.Ao cotejar as políticas dos países estudados, o que se pretendeuneste trabalho foi elaborar bases de reflexão para o aperfeiçoamentoda política brasileira para comunidades. Para tanto, buscou-se aquiapresentar espectro o mais amplo possível de informações e depropostas que pudessem subsidiar as discussões sobre o assunto, nãoapenas em seus aspectos de proteção e apoio às comunidades, mastambém <strong>no</strong> que diz respeito às oportunidades que a emigração podeoferecer para a ação diplomática brasileira.Em busca de vida melhor para si e para as famílias quepermanecem <strong>no</strong> Brasil, os migrantes expõem-se a desafios edificuldades. Para esses cidadãos brasileiros <strong>no</strong> exterior, convém queas ações do Itamaraty possam ir além da assistência e proteçãoconsulares tradicionais. O Itamaraty tem aqui valioso espaço paraampliar sua atuação, incorporando formas i<strong>no</strong>vadoras e úteis de apoioaos brasileiros <strong>no</strong> seu esforço de integração às sociedades deacolhimento e, ao mesmo tempo, fomentando a manutenção dos laçoscom a pátria onde, nas palavras de Álvaro de Campos que servem deepígrafe a este capítulo, “já não estão.”271


NOTAS


NOTASINTRODUÇÃO1Epístolas.2De 1822 até 1949, o país recebeu cerca de cinco milhões de imigrantes,sobretudo italia<strong>no</strong>s, portugueses e espanhóis, além de alemães, japoneses,russos, austríacos, sírio-libaneses e poloneses. A partir da segunda metade doséculo XIX, as lavouras de café atraíram ainda mais imigrantes europeus. Noperíodo de 1886 a 1895, por exemplo, a migração italiana para o Brasil era superioràquela dirigida aos EUA. De 1880 a 1903, entraram 1,9 milhão de europeus,sobretudo, portugueses, espanhóis e alemães. De 1904 a 1930, entraram outros2,1 milhões, destacando-se a presença de italia<strong>no</strong>s, poloneses, russos e rome<strong>no</strong>s.De 1932 a 1935, vieram imigrantes japoneses. Entre 1953 e 1960, registrou-seuma imigração significativa de espanhóis, gregos e sírio-libaneses.3Cardoso, Arnaldo. “Migrações internacionais: os blocos regionais e amobilidade mundial de mão-de-obra”, in São Paulo Perspec., São Paulo, v.16,n.2, 2002, pp. 112-124.4Relatório Final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Emigração.Brasília: Congresso Nacional, 2006, pp. 21-30.5Amaral, Ernesto e Fusco, Wilson. “Shaping Brazil: The Role of InternationalMigration”. University of Texas at Austin/Universidade Estadual de Campinas,2005, pp. 1-10.6Relatório consular, Estimativa de <strong>Brasileiros</strong> Residentes <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>,Departamento das <strong>Comunidades</strong> Brasileiras <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, 2005, pp. 1-4.7Podem ser citados os exemplos de Japão, Paraguai, Estados Unidos e Itália.8Em dezembro de 2006. Vide circular telegráfica 62307/1649, de 08.12.06.9Fonte: United Nations’ Trends in Total Migrant Stock: the 2005 Revision.10Convenção Internacional para a Proteção dos Direitos de todos osTrabalhadores Migrantes e suas Famílias, artigo segundo.CAPÍTULO I11Odisséia.12Despacho telegráfico 212, da Secretaria de Estado para a Embaixada emAssunção, em 28.04.06.275


GEORGE TORQUATO FIRMEZA13Solomon, Michele e Bartsch, Kerstin. “The Berne Initiative: Toward theDevelopment of an International Policy Framework on Migration”. MigrationPolicy and Research Programme, International Organization for Migration.01.01.03, pp. 1-4.14Idem.15Papademetriou, Demetrios. “The Global Struggle with Illegal Migration: NoEnd in Sight. Migration Policy Institute”. 01.09.06, pp. 1-11.16Telegrama 1700, de Delbrasgen para a Secretaria de Estado, em 26.06.06.17Castro, Mary Garcia. “Migrações Internacionais e Políticas: algumasexperiências internacionais”, in Berquó, Elza (ed). Migrações Internacionais:contribuições para políticas, Brasília: CNPD, 2001, pág 24.18Telegrama 1700, de Delbrasgen para a Secretaria de Estado, em 26.06.06.19Massey, Douglas. “The March of Folly: immigration policy after NAFTA.”The American Prospect, vol 9, <strong>no</strong>. 37, março-abril, 1998, pp. 2-9.20OIT. “An ILO Briefing Note for the OAS. Consultation on Migrants WorkersRights”,Washington, DC, 16.03.06.21Idem, pp. 2-9.22Massey, Douglas; Arango, Joaquín; Graeme, Hugo; Kouauchi, Ali; Pellegri<strong>no</strong>,Adela; e Taylor, Edward. Worlds in Motion: understanding internationalmigration at the end of the millennium. New York: Clarendon Press-Oxford,2005, p. 17.23Sasaki, Elisa M. e Assis, Gláucia. “Teorias das migrações internacionais”,paper apresentado <strong>no</strong> XII Encontro Nacional da ABEP, Caxambu, outubro de2000, p.6.24Peixoto, João. “As Teorias Explicativas das Migrações: Teorias Micro e Macro-Sociológicas”, publicação seriada n. 11, Centro de Investigação em SociologiaEconómica e das Organizações, Instituto Superior de Eco<strong>no</strong>mia e Gestão,Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa, 2004, p. 16.25Massey, Douglas. Op. Cit., p. 21.26Idem, pp. 23-25.27Ibidem, p. 18.28Sasaki, Elisa M. e Assis, Gláucia. Op. Cit., pp.7-8.29Massey, Douglas, Arango, Joaquín, Graeme, Hugo, Kouauchi, Ali, Pellegri<strong>no</strong>,Adela e Taylor, Edward. Op. Cit., p. 28.30Idem, p. 36.31Peixoto, João. Op. Cit., p. 26.32Idem, p.27.33Massey, Douglas, Op. Cit., p. 42.276


NOTAS34Patarra, Neide. “Migrações internacionais: teorias, políticas e movimentossociais”, in Estudos Avançados, v. 20, n.57, 2006, pp. 7-24.35Massey, Douglas, Op. Cit., p. 42.36Peixoto, João. Op. Cit., p. 28.37Os outros seis instrumentos jurídicos são: o Tratado de Direitos Civis ePolíticos, o Tratado Internacional de Direitos Sociais, Econômicos e Culturais,a Convenção para a Eliminação do Racismo e da Discriminação Racial, aConvenção contra a Tortura, a Convenção para a Eliminação da Discriminaçãocontra a Mulher e a Convenção sobre os Direitos da Criança. Registre-se,ainda, a relevância da Convenção de Palermo, aprovada pelas Nações Unidas<strong>no</strong> a<strong>no</strong> 2000, para combater o crime transnacional organizado, em especial, osprotocolos sobre tráfico de migrantes. Textos disponíveis <strong>no</strong> site www.unhchr.ch.38Yau, Jennifer. “Promise and Prospects of the UN’s Convention on MigrantWorkers”, in Migration Policy Institute. 01.03.05, pp. 2-6.39Grant, Stefanie. “Migrants’Human Rights: from the margins to the mainstream”.Migration Information Source, 01.03.05, p. 4.40São poucos os direitos previstos na Convenção que não estão aindacontemplados em outros instrumentos jurídicos internacionais sobre o tema.41Idem, pp. 2-6.42Entre outros aspectos, segurança, saúde, licença-maternidade, horário máximode trabalho, remuneração mínima, não-discriminação, direito de associação.43No bojo da Opinião Consultiva 18 da Corte Interamericana de DireitosHuma<strong>no</strong>s, datada de 17.09.03.44Solomon, Op. Cit., pp. 1-4.45Datada de 17.09.03.46Após negociações realizadas durante reunião de peritos sobre a questão emoutubro/<strong>no</strong>vembro de 2005.47Telegrama 1700, de Delbrasgen para a Secretaria de Estado, em 26.06.06.48Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais, Divisão de População daONU, 2005.49Neste particular, mencione-se que o Brasil já ratificou a Convenção contra aDelinqüência Organizada Transnacional, o Protocolo Adicional para Prevenir eSancionar o Tráfico de Pessoas, principalmente Mulheres e Crianças, e oProtocolo Adicional contra o Tráfico Ilícito de Migrantes.50Telegrama 881 da Embaixada em Madri para a Secretaria de Estado, em 26.07.06.51Fonte: United Nations’ Trends in Total Migrant Stock: the 2005 Revision.52Papademetriou, Demetrios. Op. Cit., pp. 2-11.53Telegrama 1700, de Delbrasgen para a Secretaria de Estado, em 26.06.06.277


GEORGE TORQUATO FIRMEZA54Telegrama 1622, de Delbrasonu para a Secretaria de Estado, em 21.09.2006.55Os efeitos benéficos da migração podem ocorrer, <strong>no</strong>s países de origem,mediante redução de pressões <strong>no</strong> mercado de trabalho; remessas; investimentoe comércio das comunidades da diáspora. Nos países de desti<strong>no</strong>, migrantespreenchem os hiatos <strong>no</strong> mercado de trabalho, pagam taxas, contribuem para ocrescimento econômico e enriquecem as sociedades e culturas locais. Asmigrações tendem igualmente a beneficiar a eco<strong>no</strong>mia global, sobretudo quandodemanda e oferta do mercado de trabalho são apropriadamente gerenciadas.56McKinley, Brunson. Discurso pronunciado por ocasião da ConferênciaInternacional Especial de Países em Desenvolvimento com um FluxoConsiderável de Migração Internacional. Lima, 15.05.06.57Idem.58Foi o que ocorreu na América do Norte e na Europa, entre 1990 e 2000, ondecerca de 56% do crescimento populacional se deveu à imigração.59Banco Mundial. Global Eco<strong>no</strong>mic Prospects, 2006.60Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais, Divisão de População daONU, 2005.61Russell, Sharon. Migration and Development: Reframing the InternationalPolicy Agenda. Russell Massachusetts Institute of Tech<strong>no</strong>logy. 01.06.03, pp. 1-3.62Idem, pp. 1-3.63Ibidem.64ONU. Algeria, Brazil, Chile, France, Germany and Spain: facilitation andreduction of the cost of transfer of migrant remittances. Doc. A/C.2/60/L.15/Rev.1. Nova York, 14.12.2005.65Despacho telegráfico 75 da Secretaria de Estado para Brasaladi, em 17.03.06.66Telegrama 1700, de Delbrasgen para a Secretaria de Estado, em 26.06.06.67Para citar um exemplo, os migrantes regulares com nível educacional superiorforam responsáveis por quase a metade do aumento de migrantes a partir de 25a<strong>no</strong>s de idade em países da OCDE durante os a<strong>no</strong>s 1990. Em comparação comos 12 milhões de 1990, o número desses migrantes chegou a 20 milhões <strong>no</strong> a<strong>no</strong>2000, sendo que seis de cada dez procediam de países em desenvolvimento.Tem-se registrado evolução nas posições dos países em desenvolvimento sobreo assunto desde os a<strong>no</strong>s 1980. As preocupações com a fuga de cérebrospermanecem atuais e legítimas, mas não se podem ig<strong>no</strong>rar as contribuiçõeseconômicas, sociais e culturais desses migrantes qualificados para associedades de seus países de origem. Há também um crescente reconhecimentodo valor da transferência de conhecimentos e habilidades dos migrantes quedecidem retornar aos seus países de origem, de modo temporário ou permanente.278


NOTAS68Idem.69Descrevem-se, a seguir, os quatro modos de prestação de serviçoscontemplados <strong>no</strong> GATS. No modo 1, o serviço é oferecido em um país a partirde outro. Não há deslocamentos transfronteiriços nem do fornecedor nem doconsumidor. Como exemplos, mencionem-se serviços telefônicos fornecidosem um país por uma empresa baseada <strong>no</strong> exterior ou uma consulta jurídica feitapor telefone a uma empresa <strong>no</strong> exterior. O modo 2 compreende serviços prestadosem um país a consumidores de outro país. Há deslocamento do consumidor aopaís onde os serviços são prestados. Exemplos desse modo são o turismo ou aeducação superior. O modo 3 diz respeito a serviços prestados em um país emvirtude da presença de uma empresa sediada em outro país. Há deslocamentode uma pessoa juridíca para o país onde prestará serviços. Citem-se os exemplosde bancos, empresas de telefonia e agências de publicidade de um país comoperações em terceiros países. O modo 4 envolve o deslocamento temporáriode trabalhadores de alta qualificação a um país estrangeiro para prestar serviços.Um exemplo possível seria o de um especialista em informática da Índia quetrabalha para uma empresa <strong>no</strong>s EUA.70AGCS, ou, na sigla em inglês, GATS.71Telegrama 2852, de Delbrasgen para a Secretaria de Estado, em 06.11.2006.72Consultado pelo MRE em 06.04.06, o Ministério da Justiça não se manifestoucontrário à ratificação da Convenção de 1990, havendo ponderado apenas quea eventual adesão brasileira deveria ser feita com reservas, em virtude daexistência de trechos conflitantes com o ordenamento jurídico nacional.73Despacho telegráfico 212, da Secretaria de Estado para a Embaixada emAssunção, em 28.04.06.74De modo geral, os países em desenvolvimento argumentam que haveria umrealismo maior na ampliação dos canais regulares de concessão de vistos detrabalho, em contraste com a articulação de políticas crescentemente restritivas,que só contribuem para gerar uma atmosfera de intolerância <strong>no</strong>s países dedesti<strong>no</strong>.75Papademetriou, Demetrios. Op. Cit., pp. 2-11.CAPÍTULO II76Desptel 1104, da Secretaria de Estado para Delbrasonu, em 05.10.05.77A Segunda e a Terceira Comissões preparam as resoluções a seremposteriormente adotadas pela Assembléia-Geral.78Idem.279


GEORGE TORQUATO FIRMEZA79Fundada em 1951, a OIM tem hoje 120 Estados membros, entre os quais oBrasil.80Telegrama 1700, de Delbrasgen para a Secretaria de Estado, em 26.06.06.81Idem.82Solomon, Op. Cit., pp. 1-4.83Entre as atividades previstas pela Iniciativa, o Gover<strong>no</strong> suíço, em coordenaçãocom a Organização Internacional para Migrações, organizou e publicou umacompilação de todas as <strong>no</strong>rmas jurídicas internacionais aplicáveis à migração.O estudo serviu para identificar áreas onde há lacunas na legislação internacionalsobre migrações, bem como a existência de boas práticas adotadas por algunspaíses justamente nessas áreas.84Solomon, Op. Cit., pp. 1-4.85Idem.86Idem.87O Brasil indicou a professora Mary Garcia de Castro, da Universidade Católicade Salvador.88Newland, Kathleen. “Migration’s Unrealized Potential: The Report of theGlobal Commission on International Migration”. Migration Policy Institute.01.11.05, pp. 1-4.89Telegrama 3137, de Delbrasonu para a Secretaria de Estado, em 02.11.06.90Telegrama 2784, de Delbrasonu para a Secretaria de Estado, em 07.10.05.91Telegrama 1451 de Delbrasgen em 26.05.2005.92Idem.93Ibidem.94Ibidem.95Newland, Op. Cit., pp. 1-4.96Telegrama 2093 de Delbrasgen em 25.07.2005.97Neste particular, o Brasil trabalhou <strong>no</strong> âmbito do Grupo Técnico sobreMecanismos Financeiros I<strong>no</strong>vadores, em parceria com os demais paísespromotores da “Ação contra a Fome e a Pobreza”, em proposta de entendimentomultilateral que visou a reduzir os custos e estimular o uso produtivo dasremessas dos emigrantes. Os países do Grupo apresentaram projeto de resoluçãosobre o tema, partindo do princípio de que as remessas representam importantefonte de recursos para países em desenvolvimento, com impacto positivo nasvariáveis econômicas dos recipiendários. A resolução aprovada instou osGover<strong>no</strong>s a seguirem políticas que possam facilitar e reduzir os custos do fluxode remessas, tais como o maior acesso ao sistema financeiro formal; o estímuloà competição <strong>no</strong> mercado de remessas; divulgação mais ampla dos custos dos280


NOTASdiversos serviços de transferências de remessas disponíveis; campanhaseducacionais junto a comunidades de imigrantes; e medidas de i<strong>no</strong>vaçãofinanceira para alavancar o uso produtivo dos recursos <strong>no</strong>s países receptores.A proposta tomou como pressuposto o fato de que as remessas constituemfonte privada de recursos, não devendo ser vistas como substituto aos fluxosoficiais de assistência ao desenvolvimento.98Desptel 1104, da Secretaria de Estado para Delbrasonu, em 05.10.2005.99Newland, Op. Cit., pp. 1-4.100Telegrama 2094 de Delbrasgen para a Secretaria de Estado, em 25.07.2005.101Telegrama 2582 de Delbrasgen para a Secretaria de Estado, em 27.09.2005.102Newland, Op. Cit., pp. 1-4.103Grupo que congrega as direções da OIT, OIM, UNHCR, UNCTAD e UNODC.104Idem, pp. 1-4.105Telegrama 3027, de Delbrasgen para a Secretaria de Estado, em 04.11.2005.106Idem.107Telegrama 2784, de Delbrasonu para a Secretaria de Estado, em 07.10.05.108Estabelecido em cumprimento ao mandato da XIV Cúpula de Salamanca, deoutubro de 2005.109Do Encontro participaram os seguintes países em desenvolvimento: Áfricado Sul, Argélia, Bangladesh, Bolívia, Brasil, China, Colômbia, Egito, El Salvador,Equador, Filipinas, Jamaica, Índia, Indonésia, Marrocos, México, Paquistão,Peru, República Democrática do Congo, República Dominicana, Senegal e SriLanka. Foram convidadas ainda várias ONGs e organizações internacionais, aexemplo da Organização Internacional para Migrações, Fundo de Populaçãodas Nações Unidas, Organização Internacional do Trabalho, Programa dasNações Unidas para o Desenvolvimento, UNESCO, CEPAL, Secretaria-GeralIbero-americana e Comunidade Andina de Nações.110Telegrama 246 de Brasemb Lima em 13.02.2006.111Discurso de Brunson McKinley, Diretor-Geral da Organização Internacionalpara as Migrações, pronunciado por ocasião do Encontro Internacional dePaíses com Alto Contingente Migratório. Lima, 15.05.06.112Telegrama 1081 de Brasemb Lima em 07.06.06.113Telegrama 3137, de Delbrasonu para a Secretaria de Estado, em 02.11.06.114Telegrama 1764, de Delbrasgen para a Secretaria de Estado, em 03.07.06.115Em dezembro de 2006, a primeira reunião do Foro Global foi agendada,tentativamente, para o período de 9 a 11 de julho de 2007.116Telegrama 3139, de Delbrasonu para a Secretaria de Estado, em 02.11.06.117Telegrama 3137, de Delbrasonu para a Secretaria de Estado, em 02.11.06.281


GEORGE TORQUATO FIRMEZA118Idem.119Telegrama 1764, de Delbrasgen para a Secretaria de Estado, em 03.07.06.120Discurso de Brunson McKinley, Diretor-Geral da Organização Internacionalpara as Migrações, pronunciado por ocasião do Encontro Internacional dePaíses com Alto Contingente Migratório. Lima, 15.05.06.121Telegrama 3027, de Delbrasgen para a Secretaria de Estado, em 04.11.2005.122Telegrama 3139, de Delbrasonu para a Secretaria de Estado, em 02.11.06.123Telegrama 2094 de Delbrasgen para a Secretaria de Estado em 25.07.2005.124Desptel 1104, da Secretaria de Estado para Delbrasonu, em 05.10.2005.125Telegrama 3137, de Delbrasonu para a Secretaria de Estado, em 02.11.06.126Telegrama 2949, de Delbrasonu para a Secretaria de Estado, em 17.10.06.127A Segunda Comissão adotou, em 01.12.06, por consenso, projeto de resoluçãosobre Migração Internacional e Desenvolvimento (documento A/C.2/61/L.47),o qual foi, em 20.12.06, referendado pela AGNU.128Telegrama 3618, de Delbrasonu para a Secretaria de Estado, em 20.12.06.129Idem.130Idem131Telegrama 1622, de Delbrasonu para a Secretaria de Estado, em 21.09.06.132Telegrama 1764, de Delbrasgen para a Secretaria de Estado, em 03.07.06.133Telegrama 2949, de Delbrasonu para a Secretaria de Estado, em 17.10.06.134Telegrama 2094, de Delbrasgen para a Secretaria de Estado, em 25.07.2005.135Apesar de o Brasil já ser membro da OIM, falta a ratificação pelo CongressoNacional, para que se possam pagar as contribuições que se encontram em atrasopela falta de aprovação interna, o que tem limitado o escopo de atuação do Brasil.136Telegrama 287, de Delbrasgen para a Secretaria de Estado, de 10.02.06.137Patarra, Op. Cit. Cit, , pp. 7-24.CAPÍTULO III138Diretor-Geral da Organização Internacional do Trabalho.139Portal para a promoção e proteção dos direitos dos migrantes.www.december18.net.140Resolução 1404 (XXVI-O/96), parágrafo 20, 07.06.96.141Ainda assim, na prática, os EUA têm feito deportações em grupo de brasileirosindocumentados. Da mesma forma, a França tem adotado a prática de deportaçãoem grupo, <strong>no</strong> caso dos migrantes irregulares brasileiros na Guiana Francesa.142Informe da Relatoria sobre Trabalhadores Migrantes <strong>no</strong> Hemisfério, OEA,Washington, 2005.282


NOTAS143Idem.144Conquanto não esteja inserido precisamente na estrutura da OEA, otratamento do tema migratório nas Cúpulas das Américas foi incluído nesteitem em razão do envolvimento direto da OEA na organização das cúpulas e, emespecial, na implementação de suas decisões.145Relatório da Comissão de Assuntos Jurídicos e Políticos da OEA, Washington,2006.146A Segunda Cúpula foi realizada em Santiago.147Informe da Relatoria sobre Trabalhadores Migrantes <strong>no</strong> Hemisfério, OEA,Washington, 2005.148Idem.149Idem.150O projeto foi aprovado pela Comissão de Assuntos Jurídicos e Políticos doConselho Permanente da OEA e pela XXXV Assembléia-Geral da OEA, celebradaem junho de 2005.151Informe da Relatoria sobre Trabalhadores Migrantes <strong>no</strong> Hemisfério, OEA,Washington, 2005.152Cumpre a função de secretariado técnico da Conferência Interamericana deMinistros do Trabalho, a mais antiga da OEA. Desde 1963, os Ministros doTrabalho se reúnem periódicamente <strong>no</strong> marco dessa Conferência, reconhecidacomo foro primordial de discussão e decisão política sobre as prioridades eações a seguir em matéria trabalhista.153Também à luz dos princípios e direitos trabalhistas contidos na Declaraçãoda Organização Internacional do Trabalho relativa aos Princípios e DireitosFundamentais <strong>no</strong> Trabalho.154Informe da Relatoria sobre Trabalhadores Migrantes <strong>no</strong> Hemisfério, OEA,Washington, 2005.155Relatório da Organização Internacional para Migrações, por ocasião de SessãoEspecial da Comissão de Assuntos Jurídicos e Políticos da OEA, Washington,2006.156MRE. México. Relatório do Gover<strong>no</strong> mexica<strong>no</strong> sobre foros internacionais dediscussão do tema migratório. www.sre.gob.mx.157Idem.158Entrevista com a Ministra Ana Lucy Gentil Cabral, Diretora do DHS, em08.12.06.159Telegrama 299, da Embaixada em Bogotá para a Secretaria de Estado, em03.03.06.160Idem.283


GEORGE TORQUATO FIRMEZA161Entrevista com a Ministra Ana Lucy Gentil Cabral, Diretora do DHS, em08.12.06.162Telegrama 859, da Embaixada em Madri para a Secretaria de Estado, em20.07.06.163Idem.164Telegrama 27, da Secretaria de Estado para o Secretário-Geral Ibero-america<strong>no</strong>,em 19.05.06.165Durante a Reunião de Montevidéu.166A Conferênia conta com o apoio da Organização Internacional paraMigrações.167Entrevista com a Ministra Ana Lucy Gentil Cabral, Diretora do DHS, em08.12.06.168Telegrama 1666, da Embaixada em La Paz para a Secretaria de Estado, em28.12.04.169OIT. “Discusión general sobre trabajadores migrantes basada en un enfoqueintegrado”. Genebra, Setor de Proteção Social da OIT, 2006, p. 7.170Sant’ana, Marcílio R. “Migração e livre circulação <strong>no</strong> Mercosul”, 10.12.2000,pp. 1-7.171Com o Tratado de Assunção.172Sant’ana, Marcílio R. “Migração e livre circulação <strong>no</strong> Mercosul”, 10.12.2000,pp. 1-7.173Carta datada de 24.08.06 dirigida ao Secretário-Geral da ONU peloRepresentante Permanente do Brasil, sobre o tratamento da questão migratória<strong>no</strong> âmbito do Mercosul, como contribuição ao Diálogo de alto Nível sobre aMigração Internacional e Desenvolvimento.174Idem.175Ibidem.176A Declaração prevê a coordenação de medidas policiais e judiciais para combatero tráfico ilícito de migrantes, o fortalecimento de iniciativas para facilitar e regular osfluxos migratórios na região e o respeito aos direitos huma<strong>no</strong>s. Insta as nações quenão integram o Mercosul a outorgar um tratamento justo e humanitário aos emigrantesda região, em concordância com o tratamento que se outorga aos seus nacionais.Reconhece o direito dos Estados a exercer o adequado controle de suas fronteiras,mas sem tratar a irregularidade migratória como ato punível do direito penal.177Carta datada de 24.08.06 dirigida ao Secretário-Geral da ONU peloRepresentante Permanente do Brasil, sobre o tratamento da questão migratória<strong>no</strong> âmbito do Mercosul, como contribuição ao Diálogo de alto Nível sobre aMigração Internacional e Desenvolvimento.284


NOTAS178Decisão do Conselho de Mercado Comum Nº 37/04 que aprova os Acordoscontra o Tráfico Ilícito de Migrantes de 16 de dezembro de 2004 (Mercosul/CMC/DEC N° 37/04).179Telegrama 1129, da Embaixada em Bue<strong>no</strong>s Aires para a Secretaria de Estado,em 17.05.05.180Entrevista com o Conselheiro Ralph Peter Henderson, Chefe da Divisão deImigração do MRE, em 11.01.07.181Idem.182Ibidem.183Ibidem.184Esses projetos ainda dependem, contudo, do encaminhamento satisfatóriode questões contempladas em acordo bilateral sobre a matéria, <strong>no</strong> que dizrespeito ao exercício profissional por professores, médicos e técnicos.185Telegrama 1129, da Embaixada em Bue<strong>no</strong>s Aires para a Secretaria de Estado,em 17.05.05.186Telegrama 1680 da Embaixada em Bue<strong>no</strong>s Aires para a Secretaria de Estado,em 29.07.05.187Telegrama 183 do Consulado-Geral em Bue<strong>no</strong>s Aires para a Secretaria deEstado, em 21.03.06.188Entrevista com a Ministra Ana Lucy Gentil Cabral, Diretora do DHS, em08.12.06.189Telegrama 1680, da Embaixada em Bue<strong>no</strong>s Aires para a Secretaria de Estado,em 29.07.05.190Idem.191Ibidem.CAPÍTULO IV192Kafka: toward a mi<strong>no</strong>r literature.193O país enfrenta o desafio de administrar a situação de centenas de milharesde migrantes da América Central.194Griego, Manuel, Weeks, John, e Chande, Roberto. “Mexico”, in Handbookon International Migration. Londres: Greewood Press, 1990, pp. 205-220.195Cohen, Robin. Migration and its enemies: Global Capital, Migrant Labourand the Nation-State. Hampshire: Ashgate Publishing Limited, 2006, pp. 154-175.1961910-1919.197Alba, Francisco.”México: un Difícil Cruce de Cami<strong>no</strong>s.”El Colégio de México.Março de 2004, pp.3-9.285


GEORGE TORQUATO FIRMEZA198Martínez-Saldaña, Jesús. “Los olvidados become heroes: the Evolution ofMexico’s policies towards citizens abroad”, in Østergaard-Nielsen, Eva.International Migration in Sending Countries: Perceptions, Policies andTransnational Relations. Hampshire: Palgrave Macmillan, 2003, pp. 33-56.199Alba, Op. Cit., pp. 3-9.200Idem, pp. 33-56.201Martínez-Saldaña, Op. Cit., pp. 33-56.202Idem.203Basok, Tanya. “Human rights and citizenship: the case of Mexican migrantsin Canada”. Working paper <strong>no</strong>. 72, University of California, San Diego, abril de2003, pp. 8-9.204Indústrias que se beneficiam de benefícios fiscais para exporter sua produçãopara o Mercado <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>.205Cohen, Robin. Op. Cit., 2006, pp. 154-175.206Idem, pp. 154-175.207Chávez, Ernesto. “Frontera sur y política migratoria en México”, in ForeignAffairs en Español, outubro-dezembro, 2006 disponível em www.foreignaffairsesp.org/20061001faenespessay.060408/ ernesto- rodriguez-chavez/frontera-sury-politica-migratoria-en-mexico.html,p.1-2.20898%.209Fonte: Relatório do Gover<strong>no</strong> mexica<strong>no</strong>. Ministério das Relações <strong>Exterior</strong>es.2005.210Uma situação paradoxal consiste <strong>no</strong> fato de que cerca de 2,1 milhões decrianças de cidadania <strong>no</strong>rte-americana têm pais indocumentados.211Fonte: Relatório do Gover<strong>no</strong> mexica<strong>no</strong>. Ministério das Relações <strong>Exterior</strong>es.2005.212Passel, Jeffrey. “Immigration to the US: The Latest Estimates”. 01.03.04,pp. 1-3.213Telegrama 1753, da Embaixada <strong>no</strong> México para a Secretaria de Estado em30.12.04.214Garreau, Joel. “The Nine Nations of North America”. Palestra apresentadaem Kansas City, Missouri, 10.09.81, pp. 1-15.215Castro, Rafael e Dominguez, Jorge. Sócios o Adversários? Mexico-EUAHoy. Cidade do México: Editorial Ocea<strong>no</strong>. 2001, p. 281.216A área limítrofe entre os dois países abrange quatro estados <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s(Califórnia, Arizona, Novo México e Texas) e seis mexica<strong>no</strong>s (Baja California,So<strong>no</strong>ra, Chihuahua, Coahuila, Nuevo Leon e Tamaulipas). No início da décadade 1990, a população da região fronteiriça cresceu, em ambos os lados, mais286


NOTASrápido que o restante da população dos respectivos países. Os estadosfronteiriços do México atraíram migrantes de regiões ao sul.217Os quatro estados tradicionais de desti<strong>no</strong> – Califórnia, Texas, Illi<strong>no</strong>is eArizona – continuaram a atrair migrantes, mas uma parcela significativa foipara <strong>no</strong>vos desti<strong>no</strong>s. Ao todo, o número de mexica<strong>no</strong>s fora dos quatroestados tradicionais aumentou em mais de 500% entre 1990 e 2002, pp. 2-8.218Jornal Público. “Immigration on the top of the agenda for the PortugueseEU presidency”, entrevista com Demetrios Papademetriou, em 01.02.06,disponível em www.ceg.ul.pt/metropolis2006, p.4.219Os eleitores lati<strong>no</strong>s representaram 5% do eleitorado nacional em 1996,7% <strong>no</strong> a<strong>no</strong> 2000 e cerca de 10% em 2004.220Gutiérrez, Carlos González. “Los lati<strong>no</strong>s y la política exterior de EUA”, inForeign Affairs en español. Outo<strong>no</strong>-inver<strong>no</strong> 2002, 113-122.221Idem.222Ayón, David. “El Voto Lati<strong>no</strong> en la Política Estadounidense”, in ForeignAffairs en Español. Primavera de 2001, pp. 147-159.223Como National Council of La Raza, Mexican American Legal Defenseand Educational Fund, League of United Latin American Citizens eNational Association of Lati<strong>no</strong> Elected Officials, entre outras.224Gutiérrez, Op. Cit., pp. 113-122.225Idem, pp. 113-122.226Ibidem.227Diante da demora na regulamentação do direito de voto <strong>no</strong> exterior, osmexica<strong>no</strong>s <strong>no</strong>s EUA formaram um grupo, chamado “coalizão dos mexica<strong>no</strong>s<strong>no</strong> exterior pelo direito de voto nas eleições do a<strong>no</strong> 2000”, com o objetivode tentar influenciar o Gover<strong>no</strong> e o congresso mexica<strong>no</strong>s.228Martínez-Saldaña, Op. Cit., pp. 33-56.229Gepp, Michael. “Diplomacia consular: assistência e proteção a nacionais”.XXXIV Curso de Altos Estudos, IRBr, MRE, julho de 1997, p. 82.230Idem.231Ibidem.232Neste particular, o pensamento de Samuel Huntington, consubstanciadoem livros como The Clash of Civilizations and the Remaking of WorldOrder (1996) e Who are we? The Challenges to America’s National Identity(2004), parece, a um só tempo, refletir e estimular esse sentimentoantiimigração.233Esta foi uma das conclusões do Estudo Binacional México-EUA sobreMigrações, realizado <strong>no</strong> final dos a<strong>no</strong>s 1990.287


GEORGE TORQUATO FIRMEZA234Na década de 1990, os EUA destinaram uma grande quantidade de recursosà construção de cercas e outras barreiras na frontera com o México. Em 1986,foi aprovada a Lei de Reforma e Controle Migratório. Foram criadas sançõescontra empregadores que contratassem migrantes irregulares. Ao mesmotempo, foi estendida anistia a cerca de 3 milhões de migrantes irregulares.Mas essa legislação provocou um aumento, e não uma redução do número demexica<strong>no</strong>s <strong>no</strong>s EUA. A aprovação, em 1986, da Lei sobre Reforma e ControleMigratório <strong>no</strong>s EUA acabaria sendo um fator de indução à permanência demexica<strong>no</strong>s em território <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>. Ademais, a migração mexicanaautorizada aumentou sobremaneira <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1990, em função do mecanismode reunião familiar. Somente <strong>no</strong> a<strong>no</strong> de 1996, cerca de 160 mil mexica<strong>no</strong>spassaram a ser residentes permanentes, nas categorias de admissão porreunião familiar.235Operation Holding the Line.236Operation Gatekeeper.237Em decorrência dessas operações, os migrantes seriam obrigados a percorrerrotas de travessia para os EUA crescentemente arriscadas, resultando emcentenas de mortes anuais.238Utiliza-se aqui a sigla NAFTA, do original em inglês, uma vez que seu uso sedissemi<strong>no</strong>u <strong>no</strong> Brasil, ao invés do acrônimo TLCAN, a partir do original emportuguês.239Castro, Rafael. “Seguridad y migración: un nuevo paradigma”, Foreign Affairsen Español, vol. 6. <strong>no</strong>. 4, outubro-dezembro, 2006, pp. 20-23.240Seguimento em todos os estados de requisitos mínimos para a emissão decertidões de nascimento e para o fornecimento de carteiras de habilitação;reforço <strong>no</strong> controle de dados para o fornecimento de carteiras do PrevidênciaSocial; reforço na região fronteiriça, <strong>no</strong>s cinco a<strong>no</strong>s seguintes, de pelo me<strong>no</strong>s2 mil guardas de fronteira e de 800 agentes de migração a cada a<strong>no</strong>; fortalecimentodas penalidades atribuídas a traficantes de migrantes clandesti<strong>no</strong>s e garantiade deportação de qualquer cidadão estrangeiro que tenha recebido treinamentomilitar de organização terrorista; exigência de entrevistas pessoais com todasas pessoas que solicitam vistos.241Jacoby, Tamar. “Inmigración: entre el pragmatismo y el control”, in ForeignAffairs en español, outubro-dezembro, vol. 6, <strong>no</strong>. 4, 2006, disponível emwww.foreignaffairs-esp.org/ 20061001faenespessay.060405/tamar-jacoby/inmigracion-entre-el-pragmatismo-y-el-control.html, p.2.242Telegrama 60, da Embaixada em Washington para a Secretaria de Estado, em07.01.04.288


NOTAS243A reforma deveria exigir que empregos oferecidos a estrangeiros <strong>no</strong>programa temporário fossem antes ofertados a cidadãos <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s.244Telegrama 2267, da Embaixada em Washington para a Secretaria de Estado,em 22.09.06.245Projeto de lei HR-4447, de autoria do Deputado republica<strong>no</strong> JamesSensenbrenner.246Tuirán, Rodolfo. “México y el debate migratorio en Estados Unidos”, inForeign Affairs en español, outubro-dezembro, vol. 6, <strong>no</strong>. 4, 2006 disponível emwww.foreignaffairs-esp.org/ 20061001 faenespessay.060403/rodolfo-turan/mexico-y-el-debate-migratorio-en-estados-unidos.html, p.1-7.247Projeto de lei S-2611, de autoria dos Senadores republica<strong>no</strong>s Chuck Hagel eMel Martínez.248Castro, Rafael, Op. Cit, pp-20-23.249Suro, Roberto e Escobar, Gabriel. “La Primavera latina de 2006”, in ForeignAffairs en español, outubro-dezembro, vol. 6, <strong>no</strong>. 4, 2006, disponível emwww.foreignaffairs-esp.org/ 20061001faenespessay.060404/roberto-surogabriel-escobar/la-primavera-latina-de-2006.html,p.1-5.250Telegrama 847, da Embaixada em Washington para a Secretaria de Estado, em12.04.06.251Sales, Teresa. “ONGs Brasileiras em Boston”, in Estudos avançados, 2006,vol. 20, <strong>no</strong>. 57, pp. 75-91.252Jonas, Susanne. “Reflections on the great immigration battle of 2006 and thefuture of the Americas”, in Social Justice, vol. 33, <strong>no</strong>. 1, 2006, p. 6.253Telegrama 1753, da Embaixada <strong>no</strong> México para a Secretaria de Estado, em30.12.04.254Martin, Philip L. “El espejismo de los trabajadores huéspedes mexica<strong>no</strong>s”, inForeign Affairs. Volume 80, nº 6. Primavera de 2002, pp. 2-8.255Por inspiração de um dos estrategistas políticos do partido, Karl Rove.256Telegrama 1761, da Embaixada <strong>no</strong> México para a Secretaria de Estado, em30.12.2004.257Secure Fence Act.258Desta vez, com 1.050km de extensão, ao longo da fronteira com o México, euma série de barreiras eletrônicas nas fronteiras com o México e o Canadá,incluindo 1.800 torres equipadas com câmaras e sensores, além de veículosaéreos de controle remoto, a um custo que deve chegar a US$ 6 bilhões. ODepartamento de Segurança Interna foi instruído a instalar os equipamentosaté maio de 2007. O prazo previsto para o térmi<strong>no</strong> da construção da cerca édezembro de 2008. A <strong>no</strong>va cerca dificilmente bastará para resolver a questão.289


GEORGE TORQUATO FIRMEZAMesmo se construída na íntegra, ainda deixará por volta de 2.000km de fronteiracom o México sem proteção.259Massey, Douglas. “The March of Folly: immigration policy after NAFTA.”Op. Cit., pp. 2-9.260Idem.261Empregadores <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s voltam-se cada vez mais para subcontratos,com o intuito de evitar riscos de processo. Em troca de assumir os riscos deprocesso, subcontratantes retêm uma parte dos ganhos dos migrantes comointermediação, reduzindo assim os salários líquidos. Ao invés de negar empregosa indocumentados, empregadores têm terceirizado a contratação detrabalhadores. Assim, o principal efeito das sanções a empregadores não temsido reduzir a migração irregular, mas sim aviltar ainda mais o emprego demigrantes indocumentados, submetendo-os ao mercado negro de trabalho.262Jacoby, Tamar. “Immigration nation”, in Foreign Affairs, <strong>no</strong>vembro-dezembro,2006, vol.85, n.6,p. 52.263Idem.264Castro, Rafael, Op. Cit, pp. 20-23.265Os principais mecanismos de consulta e diálogo bilaterais México-EUA emmatéria consular são: Grupo de Estudos Binacional sobre Migração; Grupo deTrabalho sobre Migração e Assuntos Consulares da Comissão Binacional México-EUA; Mecanismos de Consulta sobre Funções do antigo Serviço de Migração eNaturalização dos EUA; o Memorando de Entendimento sobre Proteção Consularde Nacionais do México e dos EUA, assinado em 1996; e a Carta de Acordo entrea SRE e a Administração de Segurança e Saúde Ocupacional do Departamento doTrabalho dos EUA com relação às Proteções de Segurança e Saúde LaboraisAplicáveis aos Trabalhadores Mexica<strong>no</strong>s <strong>no</strong>s EUA.266Telegrama 1753, da Embaixada <strong>no</strong> México, para a Secretaria de Estado, em30.12.04.267Martínez-Saldaña, Jesús. Op. Cit., pp. 33-56.268Idem.269Foi a tramitação da Medida Legislativa 187 que ensejou a primeira mobilizaçãode lobby profissional com o apoio do Gover<strong>no</strong> do México em matéria deassistência e proteção aos indocumentados. A referida medida visava a impedirque filhos de migrantes indocumentados freqüentassem escolas públicas.270Smith, Robert C. “Migrant membership as an instituted process: comparativeinsights from the Mexican and the Italian cases”. Paper apresentado por ocasiãoda Conferência “Transnational Migration: Comparative Perspectives”, PrincetonUniversity, 30.06.01, pp. 2-32.290


NOTAS271Telegrama 171, da Embaixada em Washington para a Secretaria de Estado, em25.01.05.272Baer, Delal. “Mexico at an impasse”, in Foreign Affairs, janeiro/fevereiro,2004, pp. 110-111.273Provenientes de distintos segmentos: empresários, sindicalistas, acadêmicos,religiosos, funcionários públicos e representantes de mi<strong>no</strong>rias étnicas. O grupofoi coordenado conjuntamente pelo Carnegie Endowment for International Peacee pelo Instituto Tec<strong>no</strong>lógico Autô<strong>no</strong>mo do México.274Promoção de um programa de trabalhadores temporários que não repetisseos erros do Programa Bracero; regularização da situação migratória dosindocumentados; fomento de programas de impulso ao desenvolvimentoregional <strong>no</strong> México; promoção de programas visando ao fortalecimento dasegurança fronteiriça, de modo a reduzir o índice de mortes de indocumentados;revisão dos programas de cotas para a concessão de green cards.275Baer, Op. Cit., pp. 110-111.276Entre as 22 agências federais transferidas para a jurisdição do <strong>no</strong>voDepartamento, encontra-se o Serviço de Migração e Naturalização, de especialinteresse para o México por concentrar as funções de controle e vigilância dasfronteiras, além da aplicação das leis migratórias em todo o território <strong>no</strong>rteamerica<strong>no</strong>.Cabe a essa repartição federal, por exemplo, decidir quais os migrantescom direito a regularizar sua situação migratória e requerer cidadania <strong>no</strong>rteamericana.277Cohen, Robin. Op. Cit., pp. 154-175.278Durante o sexênio de Carlos Salinas de Gortari.279Smith, Robert. “Migrant membership as an instituted process: comparativeinsights from the Mexican and the Italian cases”. Paper apresentado por ocasiãoda Conferência “Transnational Migration: Comparative Perspectives”, PrincetonUniversity, 30.06.01, pp. 2-32.280No início do sexênio do Presidente Vicente Fox.281Juan Hernández.282Martínez-Saldaña, Jesús. Op. Cit., pp. 33-56.283Entrevista com o Conselheiro Jacob Prado Gonzalez, Chefe do Setor deAssuntos Hispânicos da Embaixada do México em Washington, em 25.10.06.284Derbez, Luis E. Conferência na 110ª Assembléia da União Interparlamentar.Cidade do México, 20.04.04.285Gutiérrez, Carlos. Discurso por ocasião da apresentação das recomendaçõesdo Conselho Consultivo do Instituto dos Mexica<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>. Cidade doMéxico, 21.08.03.291


GEORGE TORQUATO FIRMEZA286Idem.287Ibidem.288Assim distribuídos: 105 líderes mexica<strong>no</strong>s, mexica<strong>no</strong>-america<strong>no</strong>s e mexica<strong>no</strong>canadenses(líderes eleitos, que vivem <strong>no</strong>s EUA e <strong>no</strong> Canadá); 10 conselheirosdas organizações latinas mais representativas <strong>no</strong>s EUA; e 10 assessoresespeciais e 32 representantes dos Gover<strong>no</strong>s dos Estados.289Telegrama 1761, da Embaixada <strong>no</strong> México, para a Secretaria de Estado, em31.12.04.290Organização Comunitária, Saúde e Cultura; Assuntos Econômicos eNegócios; Assuntos Jurídicos; Assuntos Fronteiriços; Assuntos Educativos;e Assuntos Políticos.291Realização de campanhas de divulgação junto ao público <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>em favor da regularização migratória de mexica<strong>no</strong>s <strong>no</strong>s EUA, incluindoinformações sobre o andamento de negociações bilaterais México-EUA; difusão,pela rede de consulados mexica<strong>no</strong>s, informações detalhadas sobre critériospara a emissão de carteiras de motorista <strong>no</strong>s distintos Estados <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s;aperfeiçoamento de métodos para o envio de remessas financeiras ao México,aproveitando a cobertura nacional dos bancos Bank of America, U.S. Bank eWells Fargo, que aceitam a matrícula consular para a abertura de contas;documentação de iniciativas anti-imigrantes, classificando-as segundo seu tipo,alcance e âmbito jurídico; participação dos consulados na orientação dacomunidade sobre serviços disponíveis para migrantes <strong>no</strong>s pla<strong>no</strong>s local,estadual e federal, sobretudo nas áreas de saúde e educação; organização deseminários itinerantes de formação de <strong>no</strong>vas lideranças comunitárias; elaboraçãode um diretório de entidades da comunidade mexicana <strong>no</strong>s EUA; promoção dejornadas informativas sobre o México, em temas como migração, saúde,educação e cultura; realização de uma reunião anual entre cônsules, líderes epúblico em geral; preocupação com o fortalecimento da identidade cultural elinguística entre os filhos de migrantes mexica<strong>no</strong>s também surgiu <strong>no</strong>s debates.292Derbez, Luis. Conferência na 110ª Assembléia da União Interparlamentar.Cidade do México, 20.04.04.293Entrevista com o Conselheiro Jacob Prado Gonzalez, Chefe do Setor deAssuntos Hispânicos da Embaixada do México em Washington, em 25.10.06.294Circular telegráfica 53167, de 03.01.05.295Smith, Op. Cit., pp. 2-32.296Integram a Direção-Geral de Proteção e Assuntos Consular três Direções-Gerais Adjuntas. À primeira Direção-Geral Adjunta, subordinam-se a Direçãode Assuntos Migratórios e a Direção de Assuntos Consulares. Tal Direção-292


NOTASGeral Adjunta reúne, portanto, as áreas vinculadas à expedição de vistos e dedocumentos em geral, incluindo a matrícula consular, passaportes e atos <strong>no</strong>tariais.À segunda Direção-Geral Adjunta, subordina-se a Direção de Proteção, que seramifica na Subdireção de Proteção para os Estados Unidos (que, por sua vez,se divide <strong>no</strong> Departamento de Proteção para o Texas e <strong>no</strong> Departamento deProteção para o Sudoeste dos EUA); na Subdireção de Proteção para o Restodo Mundo; na Subdireção para Assuntos Especiais (que inclui o Departamentode Operação de Programas Especiais); na Subdireção de Coordenação deGestão; e na Subdireção de Planejamento e Acompanhamento. À terceiraDireção-Geral Adjunta, de Políticas de Proteção, subordinam-se, por fim, emtrês níveis sucessivos, a Direção de Política de Proteção, a Subdireção dePolítica de Proteção e o Departamento de Análise Prospectiva.297Smith, Op. Cit, pp. 2-32.298Idem.299Martínez-Saldaña, Op. Cit., pp. 33-56.300O Gover<strong>no</strong> contratou empresas de consultoria em relações públicas <strong>no</strong>sEUA para fazer uma campanha específica pela aprovação congressual doNAFTA e para iniciar uma mobilização política das associações de migrantes. OPCME também buscou aperfeiçoar a imagem dos migrantes junto à mídia <strong>no</strong>rteamericana.301Smith, Op. Cit., pp. 2-32.302Roger Diaz de Cossio.303Circular telegráfica 53167, de 03.01.05.304Banco Interamerica<strong>no</strong> de Desenvolvimento.305Fonte: Banco Central do México, 2006.306Segundo o discurso presidencial, a reforma da política migratória deveria serorientada pelos seguintes objetivos: aumentar a segurança interna mediantemaior controle nas fronteiras; beneficiar a eco<strong>no</strong>mia <strong>no</strong>rte-americana mediantea contratação de migrantes para empregos que os trabalhadores dos EUA jánão querem mais aceitar. Deveria exigir que empregos oferecidos a estrangeiros<strong>no</strong> programa temporário fossem antes ofertados a cidadãos <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s.Além disso, deveria ser criado um sistema para facilitar os contatos entrepotenciais trabalhadores e empregadores, bem como proteger migrantesindocumentados de empregadores inescrupulosos. Os participantes do <strong>no</strong>voprograma de trabalho temporário teriam, além disso, acesso a uma identidadeque permitiria visitas a seus países de origem com reingresso garantido <strong>no</strong>sEUA. O visto de trabalho temporário teria, em princípio, duração de três a<strong>no</strong>s,possivelmente re<strong>no</strong>váveis por mais três.293


GEORGE TORQUATO FIRMEZA307OEA. Relatório do Gover<strong>no</strong> mexica<strong>no</strong> sobre a implementação de atividadesespecíficas opcionais contidas <strong>no</strong> Programa Interamerica<strong>no</strong> para a Promoçãodos Direitos Huma<strong>no</strong>s dos Migrantes e de suas Famílias. 16.03.06.308Maimbo, Samuel e Ratha, Dilip (eds). Remittances: Development Impact andFuture Prospects. Washington: the World Bank, 2005, pp. 134-142.309Kuznetsov, Yevgeny, e Torres, Federico. “Mexico: leveraging migrants’ capitalto develop hometown communities” in Diaspora networks and the internationalmigration of skills. Washington: WBI Development Studies, 2006, pp. 99-128.310Estudos eco<strong>no</strong>métricos realizados com dados relativos à totalidade dosmunicípios mexica<strong>no</strong>s <strong>no</strong> a<strong>no</strong> 2000 parecem sugerir, com certo grau aproximativo,que uma variação de 5% <strong>no</strong> número de famílias beneficiadas por remessasfinanceiras <strong>no</strong> valor médio de US$ 300 mensais pode corresponder a reduçõesdos níveis de pobreza da ordem de 29%.311Córdova, Ernesto. “Globalization, migration and development: the role ofMexican migrant remittances”. Paper, Banco Interamerica<strong>no</strong> deDesenvolvimento, 01.10.04. pp. 1-18.312Kuznetsov, Yevgeny, e Torres, Federico. Op. Cit., pp. 99-128.313Idem, pp. 99-128.314Ibidem.315Ibidem.316Ibidem.317Ibidem.318OEA. Relatório do Gover<strong>no</strong> mexica<strong>no</strong> sobre a implementação de atividadesespecíficas opcionais contidas <strong>no</strong> Programa Interamerica<strong>no</strong> para a Promoçãodos Direitos Huma<strong>no</strong>s dos Migrantes e de suas Famílias. 16.03.06.319Idem.320O’Neil, Kevin. “Consular ID Cards: Mexico and Beyond”. Migration PolicyInstitute, 01.04.03, pp. 1-4.321Na Flórida, por exemplo, um quarto de todo o trabalho na sede do Consulado-Geral do México em Miami e dois terços do trabalho dos seus consuladositinerantes têm sido dedicados à matrícula consular. A confecção das carteiras érealizada <strong>no</strong>s próprios consulados, que dispõem, para tanto, de máquinas próprias.322OEA. Relatório do Gover<strong>no</strong> mexica<strong>no</strong> sobre a implementação de atividadesespecíficas opcionais contidas <strong>no</strong> Programa Interamerica<strong>no</strong> para a Promoçãodos Direitos Huma<strong>no</strong>s dos Migrantes e de suas Famílias. 16.03.06.323No pla<strong>no</strong> municipal, a carteira de matrícula consular é aceita para váriasfinalidades: registro em bibliotecas e edifícios públicos, registro de empresas ematrícula em escolas.294


NOTAS324Além desses aspectos práticos, a carteira parece dar alguma sensação desegurança aos indocumentados. Há, <strong>no</strong> entanto, um debate sobre os méritosde sua utilização. De um lado, seus defensores afirmam que ela protege osmigrantes, suas famílias e a própria comunidade onde residem, facilitando otrabalho da polícia. De fato, setores da polícia têm-se mostrado favoráveis asua utilização, um vez que, permitindo a abertura de contas bancárias, reduz aincidência de assaltos a residências de migrantes. Ademais, dispondo de algumtipo de identificação, os migrantes, em alguns casos, não se negam a apresentarsecomo testemunhas de crimes ocorridos. Muitas cidades já dotaram seusdepartamentos de polícia com equipamentos eletrônicos para verificar aautenticidade das carteiras mexicanas de matrícula consular. De outro lado,seus detratores alegam que ela protege migrantes indocumentados, subverte aprópria política migratória e estimula a migração irregular. Em alguns estados,como Arizona e Colorado, já foi aprovada legislação contrária à aceitação, porórgãos públicos estaduais e municipais, da carteira de matrícula consular paraqualquer finalidade.325Normalmente, o acesso a serviços públicos federais pressupõe prova deresidência legal. O Departamento de Segurança Interna ainda não se posicio<strong>no</strong>uclaramente sobre o assunto. No Congresso, há projetos de lei tanto para endossaro uso da carteira de matrícula consular, quanto para impedir órgãos federais deaceitar qualquer tipo de identificação emitida por Gover<strong>no</strong>s estrangeiros, comexceção dos passaportes. De modo geral, sob a ótica do Gover<strong>no</strong> <strong>no</strong>rteamerica<strong>no</strong>,a matrícula consular mexicana parece ser vista como simples iniciativade assistência consular do Gover<strong>no</strong> mexica<strong>no</strong> a seus nacionais, propiciadorade eventuais benefícios de caráter local ou estadual (registro em escolas,abertura de contas bancárias, identificação perante a polícia), sem, <strong>no</strong> entanto,servir para regularizar a situação de indocumentados.326O’Neil, Op. Cit., pp. 1-4.327Idem.328OEA. Relatório do Gover<strong>no</strong> mexica<strong>no</strong> sobre a implementação de atividadesespecíficas opcionais contidas <strong>no</strong> Programa Interamerica<strong>no</strong> para a Promoçãodos Direitos Huma<strong>no</strong>s dos Migrantes e de suas Famílias. 16.03.06.329Idem.330Ibidem.331Ibidem.332Ibidem.333Ibidem.334Ibidem.295


GEORGE TORQUATO FIRMEZA335Ibidem.336SIEMMES.337OEA. Relatório do Gover<strong>no</strong> mexica<strong>no</strong> sobre a implementação de atividadesespecíficas opcionais contidas <strong>no</strong> Programa Interamerica<strong>no</strong> para a Promoçãodos Direitos Huma<strong>no</strong>s dos Migrantes e de suas Famílias. 16.03.06.338Idem.339Revelli, Philippe. “Mexico, devourer of migrants”, in Le Monde Diplomatique,edição inglesa, julho de 2003, disponível em www.mondediplo.com, p. 3.340Como a de Tapachula, que passou a ser a maior do país, em Chiapas, junto àfronteira com a Guatemala.341Frustrada, por razões fora do alcance mexica<strong>no</strong>, ou seja, pela resistência depaíses receptores.342Felipe Calderón.343Smith, Op. Cit., pp. 2-32.344Mesmo antes de ter seu direito de voto regulamentado, a diáspora já passoua assumir uma importância política maior <strong>no</strong> México. Em 1999, o então candidatopresidencial Vicente Fox fez várias viagens aos EUA, em campanha política.Nos comícios ali realizados, junto às comunidades, distribuiu milhares de cartõestelefônicos, com o pedido de que os mexica<strong>no</strong>s ligassem para suas famílias <strong>no</strong>México e pedissem votos para ele. Mais tarde, como presidente eleito, suaprimeira viagem foi para visitar lideranças da comunidade emigrada em NovaYork. Durante seu sexênio, chegou a manifestar apoio público à idéia, nuncaconcretizada, de conceder representação política <strong>no</strong> Congresso aos mexica<strong>no</strong>s<strong>no</strong> exterior, mediante o estabelecimento de circunscrições eleitorais especiais.345O programa chile<strong>no</strong> está abrigado na Fundação Chile, que financia projetosi<strong>no</strong>vadores de negócios. Em 2006, a rede já incluía cerca de 70 chile<strong>no</strong>s influentesvivendo <strong>no</strong> Canadá, <strong>no</strong>s EUA e na Europa.346Palavra indígena, náhuatl, que significa “caminho reto, honrado”.347Possivelmente, o mais articulado e bem-sucedido lobby político <strong>no</strong>s EUA,que visa a assegurar apoio financeiro, político e militar <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> aoEstado de Israel.348O México iniciou, além disso, investimentos na criação de uma redecomputadorizada para dar a todos os consulados acesso instantâneo àsinformações disponíveis sobre os portadores de carteiras de matrícula consular.349OEA. Relatório do Gover<strong>no</strong> mexica<strong>no</strong> sobre a implementação de atividadesespecíficas opcionais contidas <strong>no</strong> Programa Interamerica<strong>no</strong> para a Promoçãodos Direitos Huma<strong>no</strong>s dos Migrantes e de suas Famílias. 16.03.06.350O’Neil, Op. Cit., pp. 1-4.296


NOTAS351Brasil, Peru, Guatemala, Honduras, El Salvador e Polônia.352O’Neil, Op. Cit., pp. 1-4.353No caso de Guanajuato, o orçamento anual do escritório de atenção aosemigrantes alcançou US$ 850.000,00 em 2002354Kuznetsov, Yevgeny, e Torres, Federico. Op. Cit., pp. 99-128.355Papademetriou, Op. Cit., pp. 2-11.CAPÍTULO V356Speak, memory.357Alcid, Mary. “Overseas Filipi<strong>no</strong> workers: sacrificial lambs at the altar ofderegulation” in Østergaard-Nielsen, Eva (ed). International Migration inSending Countries: Perceptions, Policies and Transnational Relations.Hampshire: Palgrave Macmillan, 2003, pp. 99-120.358Entrevista com o Embaixador Carlos Sette Camara, Embaixador do Brasil emManila, em 06.12.06.359Alcid, Op. Cit., pp. 99-120.360Idem.361Ibidem.362Ibidem.363Ibidem.364Candazo, Romeo.”A critique of the Philippine Overseas EmploymentProgram”. Relatório da Comissão Especial sobre TrabalhadoresMigrantes.Manila: Câmara dos Deputados, 2001, pp.1-6.365Lien, Pei-Tei. The making of Asian America through political participation.Philadelphia: Temple University Press, 2001, p. 4-5.366Idem, pp. 1-21.367Ibidem.368Idem, pp. 1-6.369Ofreneo, Rene e Samonte, Isabelo. “Empowering Filipi<strong>no</strong> Migrant Workers:Policy Issues and challenges”. Social protection sector. Genebra, InternationalLabour Office, International Labour Organization, 2005, pp. 13-62.370Como resultado dessa competição, tem-se verificado, em a<strong>no</strong>s recentes, umaredução generalizada <strong>no</strong>s níveis salariais e nas condições de trabalho dosmigrantes filipi<strong>no</strong>s.371Ofreneo, Op. Cit., pp. 13-62.372Brillantes, Jose. “Filipi<strong>no</strong> Policies and Mechanisms on Migration and ForeignWork”. Discurso. Foreign Workers Affairs, Departamento de Negócios297


GEORGE TORQUATO FIRMEZAEstrangeiros, República das Filipinas, International Conference on State-Diaspora Relations (CIRED), Cidade do México, outubro, 2004, pp. 1-4.373Asis, Op. Cit., pp. 1-21.374Fonte: Relatório do Gover<strong>no</strong> filipi<strong>no</strong>. Departamento dos NegóciosEstrangeiros. 2006. www.dfa.gov.ph.375Piper, Nicola e Ball, Rochelle. “Globalisation of Asian migrant labor: reevaluatio<strong>no</strong>f state and regional dynamics in human rights negotiations: thePhilippine-Japan connection”, in Journal of Contemporary Asia, Manial, 2001,31 (4), pp. 533-554.376Ibidem, pp. 1-21.377Ibidem.378Ibidem.379Brillantes, Op. Cit., pp. 1-4.380Asis, Op. Cit., pp. 1-21.381Piper, Op. Cit., pp. 533-554.382Dados de 2005.383Cohen, Op. Cit., pp. 154-175.384Fonte: Ministério da Justiça do Japão: “Registered Aliens by Nationalityand Status of Residence”.385Makoto, Ogawa. “Current issues concerning foreign workers in Japan”.Foreign Workers’ Affairs Division, Ministry of Health, Labour and Welfare.Tóquio, 2006, pp. 6-23.386Anderson, James. “A Gendered Diaspora: filipi<strong>no</strong>s in Japan”. Departmentode Antropologia, University de California, Berkeley, 2003, pp. 1-2.387Suzuki, Nobue. “Cross-border marriages and national governance”. Paperapresentado na Wesleyan University, Nagasaki, pp.1-17.388Idem, pp.1-17.389Muncada, Felipe. “Japan and the Philippines: Migration Turning Points”,2005, p. 1.390As mulheres filipinas divorciadas ou abandonadas por seus maridosjaponeses passam a enfrentar problemas sociais e culturais para continuar aviver <strong>no</strong> país, muitas vezes em áreas rurais isoladas. Há relatos também deproblemas na criação de filhos desses casamentos mistos. Para os funcionáriosdo serviço consular filipi<strong>no</strong>, tem surgido, dessa forma, o desafio de providenciarserviços de aconselhamento familiar e orientação psicológica, para além daassistência consular em questões legais de migração, aquisição de cidadania,guarda de filhos, entre outras.391Suzuki, Op. Cit., pp.1-17.298


NOTAS392Idem.393Ibidem.394Tig<strong>no</strong>, Jorge. “Migration, the market and society: issues in Philippine laborflows to Japan”, in Understanding Filipi<strong>no</strong> migration. Manila: University ofthe Philippines Press, 1993. p. 64.395Ibidem, pp.1-17.396Entrevista com o Embaixador Carlos Sette Camara, Embaixador do Brasil emManila, em 06.12.06.397Ofreneo, Op. Cit., pp. 13-62.398Idem.399Ibidem.400Ibidem.401Pak, Katherine. “Development of national migration regimes: Japan incomparative perspective”. Paper apresentado <strong>no</strong> Center for ComparativeImmigration Studies, University of California, San Diego, 19.10.04, p. 4-17.402O número de trabalhadores corea<strong>no</strong>s aumentou sobremaneira com atransferência forçada de trabalhadores até 1945.403Pak, Katherine Op. Cit. , p. 4-17.404Kashiwazaki, Op. Cit., pp. 2-8.405Nessa época, cunhou-se o termo daisankokujin (nacionais de terceirospaíses), usado pejorativamente com referência aos chineses e corea<strong>no</strong>s.406Pak, Katherine, Op. Cit., p. 4-17.407E, pelo Tratado de Paz de São Francisco, de 1952, que marcou o final daOcupação Aliada, os corea<strong>no</strong>s e chineses que eram cidadãos do antigo ImpérioNipônico perderam a nacionalidade japonesa, tornando-se estrangeirosresidentes <strong>no</strong> Japão.408Pak, Katherine, Op. Cit., p. 4-17.409Idem.410Kashiwazaki, Op. Cit., pp. 2-8.411Pak, Op. Cit., p. 4-17.412Idem.413Ibidem, p. 4-17.414Sasaki, Elisa. “A imigração para o Japão” in Estudos avançados, vol. 20, <strong>no</strong>.57, São Paulo, maio-agosto, 2006, pp. 99-117.415Idem.416Surgiu, então, o fenôme<strong>no</strong> da migração de nipo-brasileiros e nipo-perua<strong>no</strong>s.Os nissei, segunda geração, são agraciados com o visto de permanência de trêsa<strong>no</strong>s, ao passo que os sansei, terceira geração, recebem visto de um a<strong>no</strong>. A299


GEORGE TORQUATO FIRMEZAquarta geração (yonsei) não tem assegurado visto de trabalho. Os cônjugesnão-nikkeis são contemplados com visto de um a<strong>no</strong>, independentemente se ocompanheiro é nissei ou sansei. Não há limitações quanto à natureza do trabalhoa ser exercido. Trata-se, em todo o caso, de vistos temporários, que devem serre<strong>no</strong>vados a cada período de expiração.417Piper, Op. Cit., pp. 533-554.418Global Affairs. “Immigration and Japan’s Eco<strong>no</strong>mic Future”. 14.11.01.www.japansociety.org, pp. 1-2.419Kashiwazaki, Op. Cit., pp. 2-8.420No que se refere especificamente aos nikkeis, houve uma mudança <strong>no</strong> perfilde seus empregos. Apenas <strong>no</strong> primeiro momento da migração dos nikkeis, acontratação foi feita de forma direta. Durante o período recessivo dos a<strong>no</strong>s1990, os migrantes já eram contratados de forma majoritariamente indireta, poragenciadores de mão-de-obra, e enviados para as linhas de produção das fábricasjaponesas, ao invés de contratados diretamente por elas. No períodocompreendido entre 1997 e 2001, houve uma redução da ordem de 40% nacategoria “emprego direto” entre os nikkeis. Esse sistema permitiu que osmigrantes se mantivessem <strong>no</strong> mercado de trabalho mesmo com o aumento dastaxas de desemprego locais, que chegaram a 5% <strong>no</strong> a<strong>no</strong> 2000. Por vezes, seuscontratos apresentam curta duração, com sucessivas re<strong>no</strong>vações e reduzidaproteção trabalhista, possibilitando uma diminuição de custos para as empresas.421Esses programas de estagiários guardam semelhanças com os clássicosprogramas de trabalhadores temporários não-especializados, com a diferençade que, nas fábricas, os estagiários recebem salários inferiores aos trabalhadores,embora façam praticamente o mesmo tipo de trabalho.422Kashiwazaki, Op. Cit., pp. 2-8.423Piper, Op. Cit., pp. 533-554.424Conhecido entre os brasileiros <strong>no</strong> Japão como empreiteiro.425Global Affairs. “Immigration and Japan’s Eco<strong>no</strong>mic Future”. 14.11.01.www.japansociety.org, pp. 1-2.426Makoto, Ogawa. “Current issues concerning foreign workers in Japan”.Foreign Workers’Affairs Division, Ministry of Health, Labour and Welfare.Tóquio, 2006, pp. 6-23.427A tendência foi igualmente observada entre os jovens japoneses, os quais,ao ingressarem <strong>no</strong> mercado de trabalho, já não manifestam a intenção deprenderem-se à mesma empresa por toda a vida, como faziam seus pais.428Piper, Op. Cit., pp. 533-554.429Makoto, Op. Cit., pp. 6-23.300


NOTAS430Sasaki, Elisa. “A imigração para o Japão”, Op. Cit, pp. 99-117.431Asis, Op. Cit., pp. 1-21.432Tomas, Patricia. “Filipi<strong>no</strong>s working overseas: opportunity and challenge”.World Migration 2005, pp. 239-252.433Asis, Op. Cit., pp. 1-21.434Idem.435Brillantes, Op. Cit., pp. 1-4.436Idem.437Asis, Op. Cit., pp. 1-21.438Idem.439Ibidem.440Telegrama 2852, de Delbrasgen para a Secretaria de Estado, em 06.11.2006.441Asis, Op. Cit., pp. 1-21.442Philippine Overseas Employment Administration (POEA).443Asis, Op. Cit., pp. 1-21.444Tomas, Op. Cit., pp. 239-252.445Alcid, Op. Cit., pp. 99-120.446Decreto 325, de 09.07.04, Presidência Gloria Macapagal-Arroyo.447Brillantes, Op. Cit., pp. 1-4.448Idem.449Os temas discutidos nesses seminários relacionam-se, entre outros, a riscose recompensas do trabalho <strong>no</strong> exterior, aspectos de segurança, condições detrabalho <strong>no</strong> exterior (acesso a serviços de saúde e educação), previdência social,esquemas públicos para investimentos de migrantes, procedimentos legais pararemessa de recursos e modalidades de assistência consular oferecida pela redediplomática filipina.450Brillantes, Op. Cit., pp. 1-4.451Rodriguez, Robyn. “Domestic insecurities: female migration from thePhilippines, development and national subject-status”. Paper apresentado <strong>no</strong>Center for Comparative Immigration Studies, University of California, San Diego,em março de 2005, pp.4-22.452Idem.453Brillantes, Op. Cit., pp. 1-4.454Sendo 25 a<strong>no</strong>s para empregados domésticos em geral (30 a<strong>no</strong>s <strong>no</strong>s casos daArábia Saudita e do Bareine) e 21 a<strong>no</strong>s para trabalhadores na indústria deentretenimento.455Brillantes, Op. Cit., pp. 1-4.456Ofreneo, Op. Cit., pp. 13-62.301


GEORGE TORQUATO FIRMEZA457Asis, Maruja. Philippines’Culture of Migration. Scalabrini Migration Center-Filipinas, Manila, janeiro de 2006, pp. 1-21.458Tomas, Op. Cit., pp. 239-252.459Ogena, Nimfa. “Policies on international migration: Philippine issues andchallenges”, in Ananta, Aris e Arifin, Evi (eds), International Migration inSoutheast Asia. Cingapura: Institute of Southeast Asian Studies, 2004, p. 302.460Estão excluídos desse cálculo os migrantes que trabalham <strong>no</strong> mar, emcompanhias de navegação.461Alcid, Op. Cit., pp. 99-120.462Piper, Op. Cit., pp. 533-554.463Idem.464Ibidem.465Rodriguez, Op. Cit., pp. 4-22.466Idem.467Ibidem.468O laudo expedido por um hospital japonês concluiu que a causa da mortehavia sido hepatite. A família da vítima não acreditou. Solicitou uma segundaautópsia em um hospital filipi<strong>no</strong>, que detectou sinais de tortura e violênciasexual.469Rodriguez, Op. Cit., pp. 4-22.470Idem.471Ibidem.472Flor Contemplación negou até o final a autoria dos homícidios. Imediatamenteantes de sua execução, ainda surgiram duas testemunhas em favor de suai<strong>no</strong>cência. De nada valeram os pedidos do Gover<strong>no</strong> filipi<strong>no</strong> por clemência. FlorContemplación acabou sendo condenada pelas cortes de Cingapura à pena demorte, por enforcamento.473Asis, Op. Cit., pp. 1-21.474Alcid, Op. Cit., pp. 99-120.475Brillantes, Op. Cit., pp. 1-4.476Rodriguez, Op. Cit, pp. 4-22.477Oishi, Nana. Women in Motion: globalization, state policies, and labormigrations in Asia. Stanford: Stanford University Press, 2005, pp. 57-81.478Oishi, Op. Cit., pp. 57-81.479Rodriguez, Op. Cit., pp. 4-22.480Oishi, Op. Cit., pp. 57-81.481Assim chamada por haver sido chefiada pelo juiz Emilio Gancayco.482Ofreneo, Op. Cit., pp. 13-62.302


NOTAS483Alcid, Op. Cit., pp. 99-120.484Fonte: Global Eco<strong>no</strong>mic Prospects: Migration and Remittances Datasets.Documento do Banco Mundial. 2006.485Bagasao, I.F. “Migration and Development: the Philippine Experience” inRatha, Dilip e Maimbo, Samuel (eds). Remittances: development impact andfuture prospects. Washington: The World Bank, 2005, pp. 134-142.486Asis, Op. Cit., pp. 1-21.487Idem.488Waddington, Clare. “International migration policies in Asia”. Paperapresentado em Conferência Regional sobre Migração, Desenvolvimento eEscolha de Políticas de Inclusão Social na Ásia”. Dacca, 22.06.03, pp. 2-21.489Idem, pp. 2-21.490Ofreneo, Op. Cit., pp. 13-62.4911986-1991.4921992-1995.493Massey, Douglas e Taylor, J. Edward. International Migration: Prospectsand Policies in a Global Market. Nova York: Oxford University Press, 2004,201-229.494Ofreneo, Op. Cit., pp. 13-62.495Idem.496Ibidem.497Tomas, Op. Cit., pp. 239-252.498Waddington, Op. Cit., pp. 2-21.499Migrante filipi<strong>no</strong> empresário.500Ofreneo, Op. Cit., pp. 13-62.501Ao custo médio de US$ 4.00 cada.502Ao custo médio de US$ 5.00 por hora.503Ofreneo, Op. Cit., pp. 13-62.504Exemplos desses temas são “sinais de perigo na sua empresa” e“gerenciamento para qualidade total”.505Ofreneo, Op. Cit., pp. 13-62.506Overseas Foreign Workers Electronic Card.507Entrevista com o Cônsul-Geral das Filipinas em Tóquio, Claro S. Cristobal,em 11.01.07.508Tomas, Op. Cit., pp. 239-252.509Samonte, Elena et al (eds). Issues and concerns of overseas Filipi<strong>no</strong>s: anassessment of the Philippine government’s response. Quezon City: TheUniversity of the Philippines Press, 1995. pp. 200-201.303


GEORGE TORQUATO FIRMEZA510Alcid, Op. Cit., pp. 99-120.511Idem, pp.239-252.512Ibidem.513Waddington, Op. Cit., pp. 2-21.514Normalmente, apresentam algumas características básicas: procedimentospara seleção de candidatos, procedimentos para credenciamento deempregadores por parte dos adidos trabalhistas filipi<strong>no</strong>s <strong>no</strong> exterior,documentação necessária, tipo de visto, contrato de trabalho, condições detrabalho, papel dos sindicatos, remessas, reunião familiar, proteção dos direitostrabalhistas, procedimentos em caso de rompimento de contratos, contribuiçõespara previdência social, treinamento de mão-de-obra recrutada e esquema demonitoramento do acordo.515Com o Japão, não conseguiu superar a resistência a negociar um acordodessa natureza, apesar da importância da migração para esse país e do caráterproblemático da migração feminina. Tampouco foi possível negociar um acordosemelhante com a Arábia Saudita, ou mesmo com outros países asiáticos, comoMalásia, Brunei, Cingapura e Coréia do Sul.516Tomas, Op. Cit., pp. 239-252.517Piper, Op. Cit, pp. 533-554.518Idem, pp. 533-554.519Alcid, Op. Cit., pp. 99-120.520Battistella, Grazia<strong>no</strong>. “Philippine migration policy: dilemmas of a crisis”, inSojourn, vol. 14, <strong>no</strong>. 1, 1999, p. 239.521Cibulka, Frank. “The Philippine Foreign Policy of the Ramos Administration:the quest for security of a weak state”, in Asian Journal of Political Science, vol.7, <strong>no</strong>. 1, junho de 1999, p. 130.522Global Affairs. “Immigration and Japan’s Eco<strong>no</strong>mic Future”. 14.11.01.www.japansociety.org, pp 1-2.523Kashiwazaki, Chikako. “Japan: from Migration Control to MigrationPolicy?” Keio University, agosto, 2002, pp. 2-8.524Idem, p. 1.525Entrevista com o Embaixador Carlos Sette Camara, Embaixador do Brasil emManila, em 06.12.06.526Idem.527Ofreneo, Op. Cit., pp. 13-62.528Idem.529Muncada, Op. Cit., p. 1.530Ofreneo, Op. Cit., pp. 13-62.304


NOTASCAPÍTULO VI531Leer y escribir: una versión personal.532Dados de 2006. Relatório do Gover<strong>no</strong> india<strong>no</strong>. Ministério dos Assuntos dosIndia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>. www.moia.gov.in.533Skeldon, Ronald. “Migration and migration policy in Asia: a synthesis ofselected cases”. Paper apresentado durante a Conferência Regional sobreMigração, Desenvolvimento e Políticas Sociais na Ásia, Dacca, 24.06.03.534Dados de 2006. Relatório do Gover<strong>no</strong> india<strong>no</strong>. Ministério dos Assuntos dosIndia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>. www.moia.gov.in.535Visaria, Pravin e Visaria, Leela. “India” in Handbook on InternationalMigration. Londres: Greewood Press, 1990, pp. 89-114.536Idem.537Há relatos de viajantes india<strong>no</strong>s, com a descrição detalhada de rituaiscelebrados para purificarem-se de viagens realizadas à Europa.538Visaria, Op. Cit., pp. 89-114.539Gandhi, M.K. An autobiography or the story of my experiments with truth.Boston: Beacon Press, 1993, pp. 40-41.540Lall, Marie. “Mother India’s forgotten children” in Østergaard-Nielsen, Eva(ed). International Migration in Sending Countries: Perceptions, Policies andTransnational Relations. Hampshire: Palgrave Macmillan, 2003, pp. 121-139.541Report of the High Level Committee on the Indian Diaspora. Nova Délhi:Gover<strong>no</strong> da Índia, 2002, pp. 2-8.542Srivastava, Ravi e Giri, Sasikumar. “An overview of migration in India, itsimpacts and key issues”. Paper apresentado durante a Conferência Regionalsobre Migração, Desenvolvimento e Políticas Sociais na Ásia, Dacca, 22.06.03,pp. 2-21.543Report of the High Level Committee on the Indian Diaspora. Op. Cit., pp. 2-8.544Idem.545Srivastava, Ravi e Giri, Sasikumar. “An overview of migration in India, itsimpacts and key issues”. Paper apresentado durante a Conferência Regionalsobre Migração, Desenvolvimento e Políticas Sociais na Ásia, Dacca, 22.06.03,pp. 2-21.546Report of the High Level Committee on the Indian Diaspora. Op. Cit., pp. 2-8.547Srivastava, Op. Cit., pp. 2-21.548Report of the High Level Committee on the Indian Diaspora. Op. Cit., pp. 2-8.549Dados de 2006. Relatório do Gover<strong>no</strong> india<strong>no</strong>. Ministério dos Assuntos dosIndia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>. www.moia.gov.in.305


GEORGE TORQUATO FIRMEZA550Pandey, Abhishek, Aggarwal, Alok, Devane, Richard, e Kuznetsov, Yevgeny.“The Indian Diaspora: a unique case?” in Kuznetsov, Yevgeny (ed). Diasporanetworks and the international migration of skills. Washington: the WorldBank, 2006, pp. 71-98.551Idem, pp. 71-98.552O caso mais expressivo é o de Kerala, onde as remessas representaram cercade 20% da renda total do Estado <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1990. Nesse período, a parcela dapopulação vivendo abaixo da linha de pobreza diminuiu em cerca de 3%. Em1998, estimou-se em 3,75 milhões o número de pessoas originárias desse Estadoque estavam trabalhando <strong>no</strong> exterior ou já haviam retornado. Quase todosestavam trabalhando ou haviam trabalhado em países do Oriente Médio.553Srivastava, Ravi e Giri, Sasikumar. Op. Cit, pp. 2-21.554Report of the High Level Committee on the Indian Diaspora. Op. Cit., pp. 2-8.555Idem.556Ibidem.557Ibidem.558Ibidem.559Ibidem.560Ibidem.561Bhat, C.S, Narayan, K. Laxmi e Sahoo, Sadananda. “Indian Diaspora: a BriefOverview”. “Indian Diaspora: a Brief Overview”. Hyderabad: Centre for theStudy of Indian Diaspora, 2002, pp. 2-8.562Gupta, Amit. “The Indian Diaspora’s political efforts in the United States”.Observer Research Foundation, 2004, pp. 1-18.563Idem, pp. 1-18.564Relatório do Gover<strong>no</strong> india<strong>no</strong>. Ministério das Relações <strong>Exterior</strong>es. 2002, pp.2-8. www.meaindia.nic.in.565Report of the High Level Committee on the Indian Diaspora. Op. Cit., pp. 2-8.566Idem.567Pandey, Abhishek, Aggarwal, Alok, Devane, Richard, e Kuznetsov, Yevgeny.Op. Cit., pp.71-98.568De acordo com dados da Unidade de Estratégia do Gabinete do Primeiro-Ministro britânico.569Spencer, Sarah. “Recent Changes and Future Prospects in the UnitedKingdom”. Migration Policy. Londres, Institute for Public Policy Research,14.02.05, pp. 1-11.306


NOTAS570Registrando-se, por exemplo, associações de brâmanes em Londres.571Aliens Act.572Sriskandarajah, Dhananjayan e Road, Francesca. “United Kingdom: RisingNumbers, Rising Anxieties”. Londres, Institute for Public Policy Research.2005, pp. 1-6.573Idem.574Ibidem.575Ibidem.576Ibidem.577Ibidem.578Ibidem.579Ibidem.580Spencer, Op. Cit., pp. 1-11.581Entre os principais ajustes, figuraram: a introdução de sistema de pontuaçãopara os solicitantes de vistos de trabalho <strong>no</strong> Rei<strong>no</strong> Unido; a instalação de<strong>no</strong>vos controles eletrônicos <strong>no</strong>s portos e aeroportos de entrada <strong>no</strong> país e aidentificação digital de todos os detentores de vistos; a limitação da concessãode vistos para reunião familiar apenas aos parentes diretos; a adoção de <strong>no</strong>vasmedidas de combate ao tráfico de migrantes e a introdução de sistema maisrápido de processamento de pedidos de asilo; a aplicação de multa de 2 millibras a empregadores que utilizarem trabalhadores em situação ilegal; aconcessão de autorização temporária arefugiados para permanecerem <strong>no</strong> Rei<strong>no</strong>Unido até que a situação em seus respectivos países de origem seja reavaliada;a introdução da obrigatoriedade de depósito-caução por empregadores quedesejarem importar mão-de-obra de países considerados de risco.582Os altamente qualificados (médicos, engenheiros, especialistas <strong>no</strong> mercadofinanceiro, entre outros); os qualificados (enfermeiros, por exemplo); os deme<strong>no</strong>r qualificação (como trabalhadores na agricultura); e estudantes ouespecialistas (como esportistas, por exemplo).583Telegrama 130, da Embaixada em Londres para a Secretaria de Estado, em09.02.05.584O <strong>no</strong>vo sistema foi baseado, em parte, <strong>no</strong> modelo australia<strong>no</strong>. Com o objetivode tornar mais simples e transparentes as regras de entrada <strong>no</strong> país, foramdisponibilizados na internet testes para que o interessado possa fazer suaprópria avaliação, contabilizar seus pontos e identificar em qual categoria elepoderá ser beneficiado.585Sriskandarajah, Op. Cit., pp. 1-6.586Não somente os da UE.307


GEORGE TORQUATO FIRMEZA587Uma significativa proporção de imigrantes ainda é proveniente de paíseseuropeus e das antigas colônias, tais como Canadá, Austrália e Nova Zelândia.588Sriskandarajah, Dhananjayan e Road, Francesca. Op. Cit., pp. 1-6.589Depois da Alemanha e da França.590Spencer, Op. Cit., pp. 1-11.591Idem.592Há relatos de migrantes da China e do Leste Europeu vivendo e trabalhandoem condições atrozes, para pagar os agenciadores que financiaram sua entradaclandestina <strong>no</strong> Rei<strong>no</strong> Unido.593Spencer, Op. Cit., pp. 1-6.594Gupta, Op. Cit., pp. 1-18.595Telegrama 122, da Embaixada em Nova Délhi para a Secretaria de Estado, em11.02.05.596Revisão da situação legal dos india<strong>no</strong>s emigrados, na Índia e <strong>no</strong>s paísesreceptores; exame das características e aspirações das comunidades indianas<strong>no</strong> exterior; análise das contribuições dos india<strong>no</strong>s expatriados para odesenvolvimento socio-econômico e tec<strong>no</strong>lógico da Índia; revisão do regimede vistos para entrada e permanência de india<strong>no</strong>s expatriados <strong>no</strong> país erecomendações para a elaboração de políticas flexíveis e adaptadas a cada paísrecipiente, a fim de facilitar a interação dos membros das comunidades emigradascom a sociedade indiana, bem como sua participação <strong>no</strong> desenvolvimentoeconômico da Índia.597São da competência desse órgão os seguintes assuntos: migração de india<strong>no</strong>sa outros países e retor<strong>no</strong> de india<strong>no</strong>s emigrados à Índia; coordenação com osGover<strong>no</strong>s estaduais na Índia sobre temas relativos às comunidades expatriadas;concessão de bolsas de estudos em instituições na Índia a estudantes dascategorias India<strong>no</strong>s Não-Residentes e Pessoas de Origem Indiana, emcoordenação com o Ministério das Relações <strong>Exterior</strong>es; publicidade externarelacionada a assuntos de interesse das comunidades emigradas;estabelecimento de iniciativas, em coordenação com os órgãos competentes,que facilitem a interação dos india<strong>no</strong>s emigrados em atividades desenvolvidasna Índia nas áreas de comércio, cultura, turismo, comunicação, saúde, educação,ciência, tec<strong>no</strong>logia, e juventude (incluídas as atividades esportivas);desenvolvimento de estratégias de comunicação e marketing para assegurar amanutenção de fortes vínculos com a Índia por parte das comunidadesemigradas; contribuições, ao Gover<strong>no</strong> india<strong>no</strong>, por parte de membros dacomunidade emigrada, em coordenação com o Ministério da Eco<strong>no</strong>mia; erepresentação junto ao Conselho india<strong>no</strong> de Relações Culturais.308


NOTAS598A idéia seria emular o modelo dos Conselhos Britânicos em cidades comampla concentração de migrantes india<strong>no</strong>s e o da Aliança Francesa nas demaiscidades com presença diplomática indiana.599Gupta, Op. Cit., pp. 1-18.600Kapur, Devesh. “Indian Diaspora as a Strategic Asset”, in Eco<strong>no</strong>mic Weekly,vol 38(5), 01.02.03, pp. 445-448.601Índia e Paquistão formaram um só território até 1947, tornando-seindependentes simultaneamente.602Gupta, Op. Cit., pp. 1-18.603Idem.604Mesmo em Kerala, o principal Estado emissor de migrantes, a participaçãodas mulheres não ultrapassa 9%.605Oishi, Op. Cit., pp. 57-81.606Idem.607Ibidem.608Ibidem.609Ibidem.610Essas comissões variam um pouco em função do volume de recursos e dalocalização da cidade de desti<strong>no</strong>.611Ballard, Roger. “Remittances and eco<strong>no</strong>mic development in India andPakistan” in Ratha, Dilip e Maimbo, Samuel (eds). Remittances: developmentimpact and future prospects. Washington: The World Bank, 2005, pp. 134-142.612Idem.613Østergaard-Nielsen, Eva. “International Migration and sending countries:key issues and themes”, Op. Cit., p. 3-29.614Cohen, Op. Cit., pp. 154-175.615Srivastava, Ravi e Giri, Sasikumar. Op. Cit, pp. 2-21.616Cohen, Op. Cit., pp. 154-175.617Waddington, Op. Cit., pp. 2-21.618Massey, Douglas e Taylor, J. Edward. Op. Cit., pp. 217-218.619Visaria, Pravin e Visaria, Leela. Op. Cit, pp. 89-114.620Idem.621Ibidem.622Skeldon, Op. Cit., p. 9.623Idem.624“Emigration Act to be amended to check workers’exploitation”, The Eco<strong>no</strong>micTimes Online, 05.06.06.625Massey, Douglas e Taylor, J. Edward. Op. Cit., pp. 174-200.309


GEORGE TORQUATO FIRMEZA626Srivastava, Ravi e Giri, Sasikumar. Op. Cit, pp. 2-21.627Idem.628Durante a permanência desses trabalhadores não-qualificados <strong>no</strong> exterior,os problemas detectados, com maior freqüência, pelo Gover<strong>no</strong> india<strong>no</strong> referemseao térmi<strong>no</strong> intempestivo dos contratos, mudança de cláusulas contratuaisem detrimento dos trabalhadores, atraso <strong>no</strong> pagamento de salários, violaçãodos padrões salariais mínimos, descumprimento de termos contratuais relativosa benefícios relacionados com moradia ou tratamento de saúde, retenção depassaportes e não pagamento de horas extras.629Srivastava, Ravi e Giri, Sasikumar. Op. Cit., pp. 2-21.630No caso de queixa contra a agência recrutadora, o procedimento inicia-sepor uma audiência pública, com a presença das partes envolvidas. No caso dequeixa contra o empregador estrangeiro, o Escritório do Protetor de Emigran<strong>tese</strong>ncaminha, então, o caso para as providências cabíveis por parte da Embaixadaou Consulado da Índia.631Srivastava, Op. Cit., pp. 2-21.632Idem.633Ibidem.634Telegrama 122, da Embaixada em Nova Délhi para a Secretaria de Estado,em11.02.05.635Visaria, Pravin e Visaria, Leela. Op. Cit., pp. 89-114.636Cohen, Op. Cit., pp. 154-175.637Pandey, Abhishek, Aggarwal, Alok, Devane, Richard, e Kuznetsov, Yevgeny.Op. Cit., pp. 71-98.638Idem.639Ionescu, Dina. “Engaging diasporas as development partners for home anddestination countries: challenges for policymakers”, paper apresentado naOrganização Internacional para Migrações, 2006, p. 23.640Pandey, Abhishek, Aggarwal, Alok, Devane, Richard, e Kuznetsov, Yevgeny.Op. Cit., pp. 71-98.641Kerala, Tamil Nadu, Andhra Pradesh e Punjab.642Para requerer o cartão, é necessário preencher, ao me<strong>no</strong>s, um dos requisitosa seguir: já ter tido um passaporte india<strong>no</strong> <strong>no</strong> passado; ter um dos pais ou umdos avós nascido na Índia; ter um cônjuge india<strong>no</strong>. A taxa de inscrição é decerca de US$ 1,000.00. Os pedidos podem ser encaminhados na Índia ou juntoàs missões diplomáticas. O cartão tem validade de 20 a<strong>no</strong>s, sujeita à validadedo passaporte do portador.643Srivastava, Op. Cit, pp. 2-8.310


NOTAS644Kapur, Op. Cit., pp. 445-448.645Ballard, Op. Cit., pp. 134-142.646Idem.CAPÍTULO VII647Sonyel, Salahi. “Turkish migrants in Europe”. Perceptions: journal ofinternational affairs, volume V, n. 3, setembro/<strong>no</strong>vembro, 2000. pp. 1-8.648Idem.649Ibidem.650Ibidem.651Em 1960, o número de estrangeiros na Alemanha era de aproximadamente 700mil, em sua maioria, italia<strong>no</strong>s.652Trabalhadores hóspedes.653Sob o chamado princípio de rotatividade, a maioria dos migrantes masculi<strong>no</strong>sentraram na Alemanha por um período de um ou dois a<strong>no</strong>s e foram solicitadosa retornar a seus países de origem para dar lugar a outros trabalhadoreshóspedes. Essa política visava a evitar a fixação desses migrantes na Alemanhae a dar treinamento em atividades industriais ao maior número possível detrabalhadores estrangeiros.654Sen, Faruk, “Turkish communities in Western Europe”, in Mastny, Vojtech eNation, Craig (ed.) Turkey between East and West: new challenges for a risingregional power. Boulder: Westview Press, 1996, p.233.655Aydin, Mehmet. “Some Reflections on the Turkish Diaspora”. Paperapresentado na Conferência Internacional sobre Relações Estado-diáspora, de18 a 22 de outubro de 2004,na cidade do México,pp.1-4.656Soysal, Levent. “Turkish Diaspora in Europe: past, present and future”.Paper apresentado na Conferência Internacional sobre Relações Estadodiáspora,de 18 a 22 de outrubro de 2004, na cidade do México, pp. 1-4.657Oezcan, Veysel. “Germany: Immigration in Transition”. Centro de CiênciasSociais de Berlim, julho de 2004, pp. 1-9.658Soysal, Op. Cit., pp. 1-4.659A propósito, cerca de 30% da comunidade originária da Turquia estabelecidaem países da UE é de etnia curda. Não se pode afirmar, <strong>no</strong> entanto, que a migraçãocurda seja motivada apenas por perseguições políticas, nem que a migração turcase deva exclusivamente a motivos econômicos. Há diversos casos de curdos quechegaram ao mercado de trabalho europeu como trabalhadores hóspedes, assimcomo há muitos casos de turcos que chegaram como refugiados políticos.311


GEORGE TORQUATO FIRMEZA660Østergaard-Nielsen, Eva. Transnational politics: Turks and Kurds inGermany. Nova York: Routledge, 2003, pp. 3-11.661Martin, Philip. Relatório de Seminário sobre Migração e Desenvolvimento:Foco na Turquia. Istambul, 15.07.02, pp 1-4.662Focus Migration - Country Profile: Turkey. Nr. 5, abril de 2006. www.focusmigration.de.663Na Dinamarca, em 2002, para citar um outro exemplo, detectou-se que 80%das mulheres e 90% dos homens, entre os migrantes com mais de 10 a<strong>no</strong>s deresidência, casaram-se com pessoas trazidas da Turquia.664Østergaard-Nielsen, Eva. “Turkey and the Euro Turks: Overseas Nationalsas an Ambiguous Asset”, Op. Cit., pp. 77-98.665Østergaard-Nielsen, Eva. Transnational politics: Turks and Kurds inGermany, Op. Cit., pp. 1-13.666Telegrama 60 da Embaixada em Âncara para a Secretaria de Estado, em28.01.05.667Dados de 2002, pp. 2-8. Relatório do Gover<strong>no</strong> turco. Ministério dos NegóciosEstrangeiros. www.mfa.gov.tr.668Göçmen, Elvan. “International Remittance Experience of Turkey”. Paperapresentado na 2ª. Conferência Internacional sobre Remessas de Migrantes.Londres, 13.11.06, pp. 4-6.669Østergaard-Nielsen, Eva. Transnational politics: Turks and Kurds inGermany. Op. Cit., pp. 70-84.670Østergaard-Nielsen, Eva. “Turkey and the Euro Turks: Overseas Nationalsas an Ambiguous Asset”, Op. Cit., pp. 77-98.671Østergaard-Nielsen, Eva. Transnational politics: Turks and Kurds inGermany. Op. Cit., pp. 3-112.672Segundo dados de 2002. Relatório do Gover<strong>no</strong> turco. Ministério dos NegóciosEstrangeiros. www.mfa.gov.tr, pp. 2-8.673Mastny, Op. Cit., p. 236.674Idem, p. 262.675Pesquisa conduzida pelo Centro de Estudos Turcos na Alemanha.676Mastny, Op. Cit., p. 252.677Aydin, Op. Cit. , pp. 1-3.678Centro de Estudos Turcos. Relatório sobre estudantes turcos na Alemanha.1993.679Um exemplo da capacidade de mobilização de associações curdas naAlemanha foi dado por ocasião da prisão do líder curdo Abdullah Öcalan <strong>no</strong>Quênia em fevereiro de 1999. Em poucas horas, foram organizados protestos312


NOTASdiante de várias embaixadas e consulados turcos na Europa. O protestos foramcoordenados por fax, internet e também por intermédio do canal de televisãocurdo Medya TV.680Østergaard-Nielsen, Eva. Transnational politics: Turks and Kurds inGermany. Op. Cit., pp. 70-84.681Idem.682A sigla formada pelo original Milli Ishhbarat Teºkilati.683Em 1990, o programa Pa<strong>no</strong>rama, do canal de televisão alemã ARD, denuncioua presença de 30 agentes do MIT trabalhando disfarçados como funcionáriosde consulados turcos na Alemanha. Como resultado da crise diplomáticadesencadeada por essa denúncia, foram expulsos 15 funcionários da redeconsular turca, sob a justificativa de que estariam engajados em atividades nãorelacionadas com sua missão. Há também rumores de que os imãs turcosdispersos pelas mesquitas na Alemanha coletariam informações sobre asatividades de associações consideradas subversivas por Âncara.684Østergaard-Nielsen, Eva. Transnational politics: Turks and Kurds inGermany. Op. Cit., pp. 70-84.685Uma corrente moderada do islamismo.686Østergaard-Nielsen, Eva. Transnational politics: Turks and Kurds inGermany. Op. Cit., pp. 3-112.687Telegrama 1476 da Embaixada em Berlim para a Secretaria de Estado, em04.09.03.688Idem, pp. 77-98.689Østergaard-Nielsen, Eva. “Turkey and the Euro Turks: Overseas Nationalsas an Ambiguous Asset”, Op. Cit., pp. 77-98.690Trata-se, aqui, do desejo do Gover<strong>no</strong> turco de contrapor-se à atuação desimpatizantes de sistemas políticos banidos na Turquia, como é o caso doPartido Comunista, além de ativistas sindicais e militantes curdos. Asautoridades turcas preocupam-se, naturalmente, com grupos de curdos queapóiam correntes de oposição dentro da Turquia e, sobretudo, procuraminfluenciar os Gover<strong>no</strong>s dos países de acolhimento, relatando-lhes sua versãodos conflitos políticos inter<strong>no</strong>s na Turquia.691Nesses casos, a Turquia costuma também queixar-se junto aos própriosGover<strong>no</strong>s dos países de acolhimento, acusando-os de abrigar forças contráriasao Estado turco, tolerando o separatismo curdo e ig<strong>no</strong>rando as preocupaçõesturcas com a integridade política e territorial do país.692Com o envolvimento direto do Gover<strong>no</strong>, os jornais turcos de maior circulaçãona Europa têm exortado seus leitores <strong>no</strong>s países de acolhimento a enviar313


GEORGE TORQUATO FIRMEZAmensagens de protesto a políticos responsáveis pela formulação de críticas àsituação dos direitos huma<strong>no</strong>s na Turquia, à questão curda ou às relações daTurquia com a UE. A própria imprensa turca tem também sido instada peloGover<strong>no</strong> turco a monitorar a atuação de parlamentares de ascendência turcaeleitos em países europeus, com o objetivo de aferir o grau de afinidade com asprioridades da Turquia.693Østergaard-Nielsen, Eva. Transnational politics: Turks and Kurds inGermany. Nova York: Routledge, 2003, pp. 85-106.694Idem, pp. 3-112.695Adanal, Op. Cit., p. 1-4.696Soysal, Op. Cit., p. 1-4.697Há receios quanto às conseqüências políticas e financeiras da admissão deum país que, em duas décadas, terá população superior à da própria Alemanha,atualmente o Estado mais populoso da UE. Causa apreensão, ademais, o fatode que, com a incorporação daquele país, passaria a UE a ter fronteira compaíses como o Iraque ou a Síria.698Telegrama 430 da Embaixada em Âncara para a Secretaria de Estado, em16.09.03.699Østergaard-Nielsen, Eva. “Turkey and the Euro Turks: Overseas Nationalsas an Ambiguous Asset”, Op. Cit., pp. 77-98.700Telegrama 975, da Embaixa em, Âncara para a Secretaria de Estado, em 14.12.06.701Telegrama 882 da Embaixada em Âncara para a Secretaria de Estado em09.11.06.702Telegrama 964, da Embaixada em Âncara para a Secretaria de Estado, em06.12.06.703Oezcan, Op. Cit., pp. 1-9.704Telegrama 1466 da Embaixada em Berlim para a Secretaria de Estado, em14.09.05.705A dupla cidadania é concedida somente em casos excepcionais, por exemplo,se o país de origem do requerente não o liberar de sua cidadania.706A legislação permite, <strong>no</strong> entanto, que as crianças dos migrantes que nasceramna Alemanha mantenham sua dupla nacionalidade até os 23 a<strong>no</strong>s.707Adanal, Ahmet Hadi. “Immigration and its Contribution to Cultural Wealth”.Paper apresentado por ocasião da Conferência Internacional de RelaçõesEstado-diáspora, de 18 a 22 de outubro de 2004, na Cidade do México, pp. 1-4.708Quando uma coalizão do Partido Social Democrata e do Partido Verde chegouao poder.709Oezcan, Op. Cit. pp. 1-9.314


NOTAS710Idem.711Os filhos de cidadãos turcos não podiam requerer a nacionalidade alemãmesmo que tivessem nascido na Alemanha. Como resultado, até aquela data,me<strong>no</strong>s de um quinto dos turcos com residência permanente tinham adquirido anacionalidade alemã.712No caso de diminuição do número de trabalhadores, outros 20 mil migrantespoderiam ser direcionados para o país, por um período de cinco a<strong>no</strong>s. Sugeriumedidas para agilizar o processo de concessão de asilo e dificultar, ao mesmotempo, a formulação de pedidos fraudulentos. A lei permitiu que trabalhadoresnão-europeus qualificados, tais como cientistas ou gerentes de alto nível,pudessem obter um visto de residência de duração ilimitada. Contudo, ascompanhias somente poderiam contratar trabalhadores não-europeus, se nãohouvesse cidadãos da Alemanha ou de outros países da UE disponíveis para otrabalho. Além disso, também seriam bem-vindos todos os que planejassemestabelecer <strong>no</strong>vas empresas. Não haveria um limite estabelecido para taisempreendedores, mas eles seriam obrigados a investir, <strong>no</strong> mínimo, US$ 1,2milhão <strong>no</strong>s seus projetos e criar, pelo me<strong>no</strong>s, 10 <strong>no</strong>vos empregos. De acordocom outros aspectos da legislação, os estudantes estrangeiros poderiampermanecer na Alemanha por um período de um a<strong>no</strong>, após terminar seus estudos,para procurar trabalho.713Telegrama 60 da Embaixada em Âncara para a Secretaria de Estado, em28.01.05.714Østergaard-Nielsen, Eva. Transnational politics: Turks and Kurds inGermany. Op. Cit., pp. 85-106.715Idem.716Ibidem.717Ibidem.718À qual se subordina um Departamento de Turcos <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>.719Østergaard-Nielsen, Eva. Transnational politics: Turks and Kurds inGermany. Op. Cit., pp. 46-69.720A Comissão constatou um enfraquecimento dos laços com a Turquia porparte da terceira geração de turcos, que estariam oscilando entre a cultura turcae a do país de acolhimento e enfrentando, assim, uma crise de identidade cultural.Com relação à primeira recomendação, o Gover<strong>no</strong> turco nada mais fez que instaros Gover<strong>no</strong>s dos países de desti<strong>no</strong> a melhorar a situação dos migrantes turcos.No segundo caso, que permitia uma latitude maior de ação, o Gover<strong>no</strong> passoua adotar medidas especificamente direcionadas à preservaão da cultura e dolegado nacional entre os migrantes. Uma dessas medidas foi uma recomendação315


GEORGE TORQUATO FIRMEZApara que o canal de televisão pública internacional da Turquia, TRT-Int, passassea adequar não apenas os horários de transmissão, mas também o conteúdoprogramático aos usos e costumes dos espectadores turcos <strong>no</strong> exterior. Decidiutambém simplificar os procedimentos burocráticos para permitir o envio aoexterior de exposições de artistas turcos. Resolveu igualmente incrementar onúmero de professores e imãs nas cidades com maior concentração de migrantes,além de passar a conceder apoio material e financeiro às associações e centrosculturais turcos <strong>no</strong> exterior.721Østergaard-Nielsen, Eva. “Turkey and the Euro Turks: Overseas Nationalsas an Ambiguous Asset”, Op. Cit., pp. 77-98.722Em 1998, foram veiculados anúncios na televisão turca internacional e <strong>no</strong>sjornais de maior circulação junto à comunidade emigrada sobre a abertura devagas para integrar a Comissão. O recrutamento foi efetuado pela rede consular.Os candidatos deveriam ostentar sólida formação, preferencialmente em direito,não poderiam estar desempregados ou serem dependentes de algum tipo deassistência social <strong>no</strong>s países de desti<strong>no</strong>. Tampouco poderiam já ter sofridoalguma condenação penal. Quando se deu início ao processo seletivo para aescolha dos 45 representantes de migrantes que integrariam a ComissãoConsultiva de Turcos, apenas 468 cidadãos apresentaram-se como candidatos.Nesse processo, foram deixadas de lado justamente as associações de migrantes,as quais, durante a<strong>no</strong>s, se haviam batido pela criação da Comissão.723Østergaard-Nielsen, Eva. “Turkey and the Euro Turks: Overseas Nationalsas an Ambiguous Asset”, Op. Cit., pp. 77-98.724Telegrama 60, da Embaixada em Âncara para a Secretaria de Estado, em28.01.05.725AKP, pelas iniciais da de<strong>no</strong>minação original turca.726Telegrama 60, da Embaixada em Âncara para a Secretaria de Estado, em28.01.05.727Cortina, Jerónimo, Garza, Rodolfo, e Ochoa-Reza, Enrique. “Remesas: límitesal optimismo”. Foreign Affairs en Español, julho-setembro, 2005, p.3-4.728Fonte: Banco Central da Turquia.729Cortina, Op. Cit., pp. 3-4.730Idem.731Göçmen, Op. Cit., pp. 4-6.732Martin, Op. Cit., pp. 1-4.733Teitelbaum, Michael e Martin, Philip. “Está Turquía preparada para Europa?”Foreign Affairs en Español, julho/setembro, 2003, pp. 97-111.734Teitelbaum, Op. Cit., pp. 97-111.316


NOTAS735Idem.736Ibidem.737Barisik, Ayfur; Erayin, Ayda; Gedik, Ayse. “Turkey”, in Serow, Op. Cit.738Teitelbaum, Op. Cit., pp. 97-111.739Idem, pp. 97-111.740Østergaard-Nielsen, Eva. “Turkey and the Euro Turks: Overseas Nationalsas an Ambiguous Asset”, in International Migration and Sending Countries:Perceptions, Policies and Transnational Relations. Londres: PalgraveMacMillan Ltd., 2003, pp. 77-98.741Massey, Douglas (et al). Worlds in Motion: Understanding InternationalMigration at the End of the Millennium. Op. Cit., pp. 174-200.742Com base em entendimentos mantidos com o Gover<strong>no</strong> alemão, a Turquia temdoado livros didáticos, em língua turca, para utilização nas escolas, como apoioao trabalho desenvolvido por professores turcos.743Telegrama 60, da Embaixada em Âncara para a Secretaria de Estado, em28.01.05.744Estima-se que haja cerca de meio milhão desses livros em bibliotecas deescolas alemãs.745Ostergaard-Nielsen, Eva. “Turkey and the Euro Turks: Overseas Nationalsas an Ambiguous Asset”, Op. Cit., pp. 77-98.746Telegrama 60, da Embaixada em Âncara para a Secretaria de Estado, em28.01.05.747Telegrama 29, da Embaixada em Âncara para a Secretaria de Estado, em13.01.05.748Idem.749Østergaard-Nielsen, Eva. “Turkey and the Euro Turks: Overseas Nationalsas an Ambiguous Asset”, Op. Cit., pp. 77-98.750De 1982.751Østergaard-Nielsen, Eva. “Turkey and the Euro Turks: Overseas Nationalsas an Ambiguous Asset”, Op. Cit., pp. 77-98.752Barisik, Ayfur; Erayin, Ayda; Gedik, Ayse. “Turkey”, in Serow, Op. Cit., pp.301-324.753Massey, Douglas (et al). Worlds in Motion: Understanding InternationalMigration at the End of the Millennium. Op. Cit., pp. 174-200.CAPÍTULO VIII754Viagens.317


GEORGE TORQUATO FIRMEZA755Em especial, de cidades como Nova York, Boston e Filadélfia.756Taunay, Raul. “O fenôme<strong>no</strong> da emigração brasileira: o fluxo <strong>no</strong>rte-italia<strong>no</strong>”.MRE, IRBr, XXXII Curso de Altos Estudos, julho de 1996, p.28.757Gabaccia, Donna. Italy’s many diasporas. Seattle: University of WashingtonPress, 2000, p.7.758Fonte: Relatório do Gover<strong>no</strong> italia<strong>no</strong>. Ministério dos Negócios Estrangeiros.2006. www.esteri.it.759Fonte: Global Eco<strong>no</strong>mic Prospects: Migration and Remittances Datasets,documento do Banco Mundial. 2006.760Fonte: Documento da Embaixada da Itália em Brasília. “Linhas Programáticasda Atividade do Gover<strong>no</strong> Italia<strong>no</strong> para os Italia<strong>no</strong>s Residentes <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>”,2004, pp. 1-3.761Ministério dos Negócios Estrangeiros.762Criado pela Lei n. 368, de 06.11.1989, alterada pela Lei n. 198, de 18.06.98, edisciplinada pelo Regulamento n. 329, de 14.09.98.763Fonte: Relatório do Gover<strong>no</strong> italia<strong>no</strong>. Ministério dos Negócios Estrangeiros.2006. www.esteri.it.764Idem.765Ibidem.7662001-2006.767Telegrama 12, da Embaixada em Roma para a Secretaria de Estado, em 07.01.05.768Idem.769Segundo o Decreto relativo à instituição e organização interna do Ministériopara os Italia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> Mundo, este encarregar-se-ia das funções de naturezapolítico-administrativas voltadas para as comunidades italianas.Estruturalmente, o Ministério dividia-se em quatro seções, encarregadas: dapromoção cultural e da informação das comunidades italianas <strong>no</strong> exterior; dapromoção e tutela dos direitos civis e políticos dos italia<strong>no</strong>s residentes emoutros países; da intervenção coordenada do Estado e das Regiões em favordas comunidades italianas; e das políticas gerais referentes às comunidadesitalianas <strong>no</strong> exterior.770Fonte: Documento da Embaixada da Itália em Brasília. “Linhas Programáticasda Atividade do Gover<strong>no</strong> Italia<strong>no</strong> para os Italia<strong>no</strong>s Residentes <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>”,2004, pp. 1-3.771Lei 459/2001.772Os candidatos teriam de fornecer comprovação de residência legal <strong>no</strong> exterior.773Rivera, Rachel. “Expatriate Italians win new voice in Rome”. AssociatedPress Writer. 12.04.06.318


NOTAS774A previsão é a de que os Parlamentares eleitos pela diáspora trabalharão emRoma, recebendo passagens para retornar periodicamente a suas baseseleitorais.775David, Ariel. “Overseas vote proves decisive, and divisive, in Italian election”.www.cbc.ca. 11.04.06.776Idem.777Partido Associações Italianas na América do Sul.778Um Deputado e um Senador.779Europa, 38,45%; América Latina, 51,54%; América do Norte, 37,32%; África-Ásia-Oceania, 44,07%.780David, Op. Cit.781Após a contagem dos votos, 4 das 6 cadeiras de Senadores pela diásporaforam para a coalizão de centro-esquerda de Prodi, cujo bloco chegou ao patamarde 158 cadeiras <strong>no</strong> Senado, contra 156 para a coalizão de centro-direita deBerlusconi. Recorde-se que Berlusconi havia sido justamente o responsávelpela aprovação, em 2001, da legislação que concedeu o direito de voto e derepresentação <strong>no</strong> Parlamento aos italia<strong>no</strong>s residentes <strong>no</strong> exterior, bem comopela criação de um Ministério para os Italia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> Mundo.782Para o cargo, foi <strong>no</strong>meado o Senador Franco Danieli.783Discurso do Vice-Ministro para Italia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, Franco Danieli, em04.10.06.784Funciona com base em uma estrutura composta por 7 divisões, que se ocupam,em linhas gerais, das seguintes atribuições: (a) formulação de políticas para ascomunidades emigradas, projetos de lei sobre os direitos dos italia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> exteriore relações com os Comitês de Cidadãos mundo; (b) iniciativas para difusão dalíngua e cultura italianas junto às comunidades emigradas e coordenação com aRAI (rádio e televisão) Internacional; (c) prestação de assistência consular; (d)assuntos jurídicos; (e) política migratória e concessão de asilo; (f) concessão devistos; (g) implementação do direito de voto para italia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> exterior (eleiçõesgerais para o Parlamento italia<strong>no</strong>, eleições para o Parlamento europeu, eleiçãodos membros do Conselho-Geral de Italia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>).785Telegrama 12, da Embaixada em Roma para a Secretaria de Estado, em 07.01.05.786Suas funções são subdivididas em: (a) Fase de <strong>no</strong>rmalidade, com observaçãoe análise, através da resenha de <strong>no</strong>tícias provenientes dos postos <strong>no</strong> exterior, daimprensa ou de outras fontes, de áreas específicas de tensão ou de conflito ondeexista um perigo para a comunidade ou para interesses italia<strong>no</strong>s; levantamento eatualização de informações concernentes a países incluídos em tais áreas (emparticular aquelas relativas a telecomunicações, transporte, consistência e319


GEORGE TORQUATO FIRMEZAdeslocamento das comunidades italianas); troca de informações sobre áreas de crisecom outros Ministérios italia<strong>no</strong>s e com chancelarias da União Européia e dos paísesenvolvidos; recomendações de viagem; (b) Fase de crise, com análise, planificação eatuação de ações diretas <strong>no</strong> teatro da crise (envio de militares, fornecimento degêneros de primeira necessidade, socorro e evacuação de nacionais).787Provê assistência em casos de emergência, a exemplo da busca de familiarese de traslado de corpos. Entre os serviços oferecidos aos residentes nacircunscrição consular estão: elaboração e transcrição de atos de estado civil;publicação e celebração de matrimônios; emissão e re<strong>no</strong>vação de passaportes;atos inerentes à cidadania; atos inerentes ao serviço militar; funçõesconcernentes à navegação marítima nacional <strong>no</strong> exterior; atos <strong>no</strong>tariais etestamentos, autenticação de firmas, traduções e legalizações; certificaçõesalfandegárias ligadas à repatriação; atos inerentes ao serviço eleitoral; subsídiosem dinheiro e contribuição para tratamento médico de cidadãos desvalidos; epráticas relativas à aposentadoria e à assistência social.788Telegrama 12, da Embaixada em Roma para a Secretaria de Estado, em 07.01.05.789Ministério do Bem-Estar Social, Ministério do Trabalho e de Políticas Sociais,Instituto Nacional de Previdência Social e Instituto Nacional de Seguro dosAcidentes de Trabalho.790Telegrama 12, da Embaixada em Roma para a Secretaria de Estado, em 07.01.05.791Idem.792Danieli, Franco. Discurso. Vice-Ministro para Italia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>. Roma:Ministério dos Negócios Estrangeiros, 04.10.06.793Conferência de imprensa para apresentação da VI Semana de Língua Italiana<strong>no</strong> Mundo. Roma: Ministério dos Negócios Estrangeiros, 12.10.06.794Danieli, Franco. Discurso. Vice-Ministro para Italia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>. Roma:Ministério dos Negócios Estrangeiros, 04.10.06.795Idem.796Ibidem.797Desse total, a Argentina recebeu mais de 1,5 milhão.798Pérez, Nieves. “España: Hacia una nueva política migratoria”. Universidadde Granada. Fevereiro, 2003, pp. 2-7.799Com a crise econômica internacional, os mercados de trabalho na Alemanha,França e Suíça tiveram de reduzir os níveis de absorção de mão-de-obraestrangeira.800Pérez, Op. Cit., pp. 2-7.801Telegrama 1058, da Embaixada em Madri para a Secretaria de Estado, em30.11.04.320


NOTAS802Idem.803Fonte: Relatório do Gover<strong>no</strong> espanhol. Ministério dos Assuntos <strong>Exterior</strong>ese Cooperação. 2006. www.mae.es.804Fonte: Global Eco<strong>no</strong>mic Prospects: Migration and Remittances Datasets,documento do Banco Mundial. 2006.805De proteção dos espanhóis <strong>no</strong> exterior, responsável pela formulação eimplementação de políticas para as comunidades emigradas; de assuntosjurídicos consulares; de assuntos sociais, responsável, entre outros temas,pela participação eleitoral dos espanhóis <strong>no</strong> exterior e pela gestão do sistemade registro de matrículas consulares; de assuntos de estrangeiros, que se ocupada política migratória espanhola; de assuntos Schengen, encarregada doacompanhamento dos grupos de avaliação Schengen da UE, bem como daaplicação das diretrizes comunitárias na área consular.806Em 2003, o valor global dos recursos para assistência consular do Ministériode Assuntos <strong>Exterior</strong>es e Cooperação foi de cerca de 1.167.000 euros. A verbadestinada pelo Gover<strong>no</strong> espanhol para gastos com assistência consular <strong>no</strong>Brasil, por exemplo, foi de 120 mil euros naquele mesmo a<strong>no</strong>. A totalidade dosrecursos destinados à manutenção da rede consular e despesas correlatasprovém da dotação orçamentária do Ministério de Assuntos <strong>Exterior</strong>es eCooperação ou, em alguns poucos casos (assistência a ex-combatentes deguerra, antigos exilados políticos), do orçamento de outros ministérios comoDefesa e Trabalho e Assuntos Sociais. O volume de recursos arrecadados narubrica da renda consular deve ser recolhido, por determinação legal, diretamenteao Tesouro espanhol.807Segundo a lei espanhola apenas a primeira geração nascida <strong>no</strong> estrangeiropode pleitear automaticamente a nacionalidade.808Cabe às repartições consulares avaliar as condições do sistema penitenciáriodo país de reclusão e relatar os casos ao Ministério de Assuntos <strong>Exterior</strong>es eCooperação. Na maioria dos casos, tais condições são consideradas maisprecárias do que as vigentes na Espanha e procede-se então ao fornecimentode auxílios materiais e financeiros (com limite de 100 euros mensais para cadapreso) cujo montante atingiu, em 2003, a cifra de 614 mil euros, para um total de1.600 presos espanhóis em todo o mundo.809Telegrama 1058, da Embaixada em Madri para a Secretaria de Estado, em30.11.04.810Inclusive com o Brasil.811Dados de 2006. Ministério dos Assuntos <strong>Exterior</strong>es e Cooperação.www.mae.es.321


GEORGE TORQUATO FIRMEZA812Somente na Argentina, esse número chega a 60, segundos dados de 2006, doMinistério dos Assuntos <strong>Exterior</strong>es e Cooperação. www.mae.es.813Telegrama 1058, da Embaixada em Madri para a Secretaria de Estado, em30.11.04.814Além dos espectadores com acesso à programação por meio de antenasparabólicas, uma vez que a TVE Internacional oferece essa possibilidade.815Rocha-Trindade, Maria B. “História das migrações portuguesas”, disponívelem www.janusonline.pt, pp. 1-5.816Malheiros, Jorge. “Portugal Seeks Balance of Emigration, Immigration.”Centro de Estudos Geográficos. Universidade de Lisboa. Dezembro, 2002, pp.2-8.817Financial Times. “Emigrant banking: a mainstay of the eco<strong>no</strong>my”, 20.10.04,p. 3.818Em 1974, registra-se a partida de 80 mil migrantes portugueses.819De 1932 a 1968.820Malheiros, Op. Cit., pp. 2-8.821Rocha-Trindade, Maria B. “História das migrações portuguesas”, disponívelem www.janusonline.pt, pp. 1-5.822Malheiros, Op. Cit., pp. 2-8.823Idem.824Financial Times. “Emigrant banking: a mainstay of the eco<strong>no</strong>my”, 20.10.04, p. 3.825Por exemplo, a exigência de um período de residência me<strong>no</strong>r para fins desolicitação da cidadania portuguesa.826Fonte: Relatório do Gover<strong>no</strong> português. Ministério dos Negócios Estrangeirose <strong>Comunidades</strong> Portuguesas. 2006. www.min-nestrangeiros.pt/mne.827Fonte: Global Eco<strong>no</strong>mic Prospects: Migration and Remittances Datasets,documento do Banco Mundial. 2006.828Chamada justamente de Ministério dos Negócios Estrangeiros e das<strong>Comunidades</strong> Portuguesas.829Entrevista com o Embaixador Júlio Cézar Zelner Gonçalves, Cônsul-Geral emLisboa, em 10.01.07.830Foi criado pela Lei 48/96 de 4 de setembro de 1996 e alterado pela Lei 21/2002de 21 de agosto de 2002.831Mensagem do Secretário de Estado das <strong>Comunidades</strong> Portuguesas, Lisboa,10.08.04.832Conferência de Imprensa do Secretário de Estado das <strong>Comunidades</strong>Portuguesas sobre Reestruturação da Rede Consular Portuguesa, Lisboa,23.12.02.322


NOTAS833A partir de 2004, foram criados um Consulado em Manchester,inaugurado em junho de 2006, e um Escritório Consular na Córsega,inaugurado em setembro de 2005, tendo igualmente sido iniciado o processode ampliação dos postos da rede emissora de carteiras de matrículaconsular, passando a incluir Luxemburgo, Venezuela, EUA, Alemanha eFrança.834No âmbito do programa de informatização global do Ministério dos NegóciosEstrangeiros.835Mensagem do Secretário de Estado das <strong>Comunidades</strong> Portuguesas porocasião do Dia de Portugal, de Camões e das <strong>Comunidades</strong> Portuguesas, Lisboa,09.06. 2005.836Rádio e Televisão de Portugal.837A RTPi transmite em sinal aberto, sem codificação, e promove suaretransmissão através de sistemas de TV a cabo e por satélite. Tem penetraçãonas redes de cabo, mantendo relações contratuais com distribuidores locais emtodos os continentes. O potencial de assinantes que diariamente recebem aRTPi, por TV a cabo, atingiu, em 2006, perto de 20 milhões de assinantes <strong>no</strong>exterior. A RTPi criou, ademais, canais específicos para a África, Açores eMadeira.838Malheiros, Op. Cit., pp. 2-8.839Entrevista com o Embaixador Júlio Cézar Zelner Gonçalves, Cônsul-Geral emLisboa, em 10.01.07.840Mensagem do Secretário de Estado das <strong>Comunidades</strong> Portuguesas, Lisboa,10.08.04.841Mensagem do Ministro dos Negócios Estrangeiros e das <strong>Comunidades</strong>Portuguesas aos Portugueses residentes <strong>no</strong> estrangeiro, Lisboa, 22.12.04.842Esse apoio assume a forma de concessão de subsídios eventuais, destinadosa despesas de funcionamento, reforma de instalações e aquisição deequipamentos.843Sobretudo, idosos e portadores de necessidades especiais.844Dados disponíveis de 2003 indicam gastos mensais da ordem de 230.000,00euros com esse programa.CAPÍTULO IX845Vou-me embora pra Pasárgada.846Barros, Sebastião do R. “O Itamaraty e os brasileiros <strong>no</strong> exterior”, in PolíticaExterna, vol. 5, nr. 3, dezembro de 1996, p. 107.323


GEORGE TORQUATO FIRMEZA847Barros, Sebastião do R. “A execução da política externa brasileira: um balancedos últimos 4 a<strong>no</strong>s,” in Revista Brasileira de Política Internacional, vol. 42,nr. 2, 1998, p. 24.848Carvalho, José e Campos, Marden. “A variação do saldo migratóriointernacional do Brasil”. Estudos avançados, vol. 20, <strong>no</strong>. 57, 2006, pp. 55-58.849Idem.850Segundo dados de 2006 do Ministério da Justiça, haveria cerca de 830 milestrangeiros regulares <strong>no</strong> Brasil. O número de migrantes irregulares é estimadoentre 300 mil e 400 mil. Entre estes, o maior grupo é representado pelos bolivia<strong>no</strong>s,com, <strong>no</strong> mínimo, 60 mil pessoas.851Barreto, Luiz Paulo. “Considerações sobre a imigração <strong>no</strong> Brasilcontemporâneo”, in Migrações Internacionais: contribuições para políticas,Brasília: CNPD, 2001, p. 66.852Relatório consular, Estimativa de <strong>Brasileiros</strong> Residentes <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, DCJ, 2000.853Relatório consular, Estimativa de <strong>Brasileiros</strong> Residentes <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>,Departamento das <strong>Comunidades</strong> Brasileiras <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, 2005, pp. 1-4.854Mais precisamente, 1.291.813 brasileiros em situação migratória regular e1.335.591 em situação irregular. Relatório consular, Estimativa de <strong>Brasileiros</strong>Residentes <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, Departamento das <strong>Comunidades</strong> Brasileiras <strong>no</strong><strong>Exterior</strong>,2005, pp. 1-4.855Dados de 2006. Relatório Final da Comissão Parlamentar Mista de Inquéritoda Emigração. Op. Cit., pp.21-30.856Nos a<strong>no</strong>s 1990, surgiram <strong>no</strong>vos contingentes <strong>no</strong> Brasil, principalmenteasiáticos e sul-america<strong>no</strong>s. A indústria de confecção em São Paulo, por exemplo,vem sendo, em parte, administrada por corea<strong>no</strong>s, que, por sua vez, contratambolivia<strong>no</strong>s, perua<strong>no</strong>s e colombia<strong>no</strong>s, boa parte deles em situação irregular.857Relatório Final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Emigração.Op. Cit., pp. 21-30.858Estimativas do Banco Interamerica<strong>no</strong> de Desenvolvimento.859Patarra, Neide. “Migrações internacionais de e para o Brasil contemporâneo:volumes, fluxos, significados e políticas,” in São Paulo em Perspectiva, v. 19, n.3, julho-setembro, 2005, p. 30.860Relatório Final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Emigração.Op. Cit., pp. 167-183.861De modo geral, os custos das remessas dos migrantes <strong>no</strong>s EUA têm sidoreduzidos, passando, em média, de 8% do valor total em 1996 para 2% em 2006.862Em pouco tempo, passou a cobrar taxa de 2,5%, mais baixa que a prevalecente<strong>no</strong> mercado em 2005-2006.324


NOTAS863Governador Valadares, 14%, Ipatinga, 5%, São Paulo, 4%, Goiânia, 4%,Vitória, 3%, Belo Horizonte, 3%, Criciúma, 2%, Curitiba, 2% e Sorocaba(2%).864Ajuda para família, 76%; aquisição de imóveis, 25%; pagamento de dívidas,6%; ajuda a entidades <strong>no</strong> Brasil, 4%.865Martes, Ana e Weber, Soares. “Remessa de recursos dos imigrantes”. Estudosavançados, vol. 20, <strong>no</strong>. 57, 2006, pp. 41-54.866Idem.867Ibidem.868Patarra, Neide. “Migrações internacionais de e para o Brasil contemporâneo:volumes, fluxos, significados e políticas,” in São Paulo em Perspectiva, v. 19, n.3, julho-setembro, 2005, p. 25.869Idem, p. 27.870Ibidem.871Ibidem.872Telegrama 342 do Consulado-Geral em Londres para a Secretaria de Estado,em 06.09.04.873Em sua maioria, esses nacionais brasileiros ingressaram <strong>no</strong> Rei<strong>no</strong> Unido comvistos de turista ou estudante.874Bassanesi, M. Silvia e Bógus, Lucia M. M. “<strong>Brasileiros</strong> na Itália: movimentosmigratórios e inserção social.” Paper apresentado <strong>no</strong> XXII Encontro Anual daANPOCS, 31.10.98, Caxambu, Minas Gerais, pp. 1-10.875Idem.876Relatório consular, Estimativa de <strong>Brasileiros</strong> Residentes <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>,Departamento das <strong>Comunidades</strong> Brasileiras <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, 2005, pp. 1-4.877Os números informados pelos Consulados-Gerais derivam dos registros deprestação de serviços consulares.878Além do fato de que uma parte dos brasileiros está em situação migratóriairregular.879Bassanesi, Op. Cit., pp. 1-10.880Taunay, Raul. “O fenôme<strong>no</strong> da emigração brasileira: o fluxo <strong>no</strong>rte-italia<strong>no</strong>”.MRE, IRBr, XXXII Curso de Altos Estudos, julho de 1996, p.74.881Relatório consular, Estimativa de <strong>Brasileiros</strong> Residentes <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>,Departamento das <strong>Comunidades</strong> Brasileiras <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, 2005, pp. 1-4.882De engenheiros e acadêmicos a faxineiras e babás.883Telegrama 1664 da Embaixada em Berlim para Secretaria de Estado, em 05.10.04.884Entre 2000 e 2003, o número de PACOMs emitidos cresceu 225% e os registrosde nascimento, 60%.325


GEORGE TORQUATO FIRMEZA885Telegrama 1466 da Embaixada em Berlim para a Secretaria de Estado, em14.09.05.886Idem.887Relatório consular, Estimativa de <strong>Brasileiros</strong> Residentes <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>,Departamento das <strong>Comunidades</strong> Brasileiras <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, 2005, pp. 1-4.888Telegrama 446, da Embaixada em Madri para a Secretaria de Estado, em20.05.05.889Machado, Igor. “Imigração em Portugal” in Estudos avançados, vol 20, <strong>no</strong>.57, São Paulo, 2006, pp. 119-135.890Relatório consular, Estimativa de <strong>Brasileiros</strong> Residentes <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>,Departamento das <strong>Comunidades</strong> Brasileiras <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, 2005, pp. 1-4.891Telegrama 125 do Consulado <strong>no</strong> Porto para a Secretaria de Estado, em 15.04.04.892Entrevista com o Embaixador Júlio Cézar Zelner Gonçalves, Cônsul-Geral emLisboa, em 10.01.07.893Guimarães Jr, Rubem. Relatório da Divisão de Assistência Consular, abril de2005, p. 7.894Idem.895Machado, Igor, Op. Cit., pp. 119-135.896Relatório consular, Estimativa de <strong>Brasileiros</strong> Residentes <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, DCJ, 1995.897Relatório consular, Estimativa de <strong>Brasileiros</strong> Residentes <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>,Departamento das <strong>Comunidades</strong> Brasileiras <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, 2005, pp. 1-4.898Gepp, Michael. “Diplomacia consular: assistência e proteção a nacionais”.XXXIV Curso de Altos Estudos, IRBr, MRE, julho de 1997, p. 57.899O número de brasileiros na jurisdição do Consulado-Geral em Boston éestimado em 250 mil.900Telegrama 510, do Consulado-Geral em Boston para a Secretaria de Estado,em 22.12.04.901Idem.902Telegrama 185, da Embaixada em Washington para a Secretaria de Estado, em26.01.05.903Patarra, Neide. “Migrações internacionais de e para o Brasil contemporâneo:volumes, fluxos, significados e políticas,” in São Paulo em Perspectiva, v. 19, n.3, julho-setembro, 2005, p. 27.904No sul da Flórida, por exemplo, ao redor do mercado representado pelacomunidade, surgiram 16 veículos de mídia impressa, com tiragem acumuladade 185 mil exemplares.905Relatório consular, Estimativa de <strong>Brasileiros</strong> Residentes <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>,Departamento das <strong>Comunidades</strong> Brasileiras <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, 2005, pp. 1-4.326


NOTAS906Reis, M. Edileuza F. <strong>Brasileiros</strong> <strong>no</strong> Japão: o elo huma<strong>no</strong> das relaçõesbilaterais. São Paulo, Kaleidus-Primus, 2001, p. 13.907Sasaki, Elisa. “A imigração para o Japão”, Op. Cit, pp. 99-117.908Entrevista com o Embaixador Renato Guimarães, Cônsul-Geral em Tóquio,em 30.11.06.909Dada a grande presença de brasileiros <strong>no</strong> Japão, diminui a necessidade de os<strong>no</strong>vos migrantes saberem falar a língua japonesa.910Aqueles que não têm ancestralidade japonesa passam a ter os mesmos direitosque os cônjuges de origem nipônica e são igualmente classificados comonikkeijin.911Sasaki, Elisa. “A imigração para o Japão”, Op. Cit., pp. 99-117.912Telegrama 520, da Embaixada em Tóquio para a Secretaria de Estado, em04.05.05.913Idem.914Ibidem.915Sasaki, Elisa. “A imigração para o Japão”, Op. Cit, pp. 99-117.916Idem.917Na província de Aichi, com quase 60 mil brasileiros, a oferta de empregosadvêm, sobretudo, das fábricas que fornecem autopeças para Toyota eMitsubishi. Na província de Shizuoka, com mais de 40 mil brasileiros, asoportunidade de emprego estão ligadas às fábricas de motocicletas da Yamaha,Suzuki e Honda. Outros setores com grande concentração de operáriosbrasileiros são os de produtos eletrônicos, de alimentos, de maquinária deprecisão e de vidros.918Guimarães Jr, Op. Cit., p. 7.919Idem, p. 7.920Sprandel. Marcia. “<strong>Brasileiros</strong> na fronteira com o Paraguai”. Estudosavançados, vol.20, <strong>no</strong>.57, São Paulo, maio/agosto, 2006, pp. 137-156.921Baeninger, Rosana. “O Brasil na rota das migrações internacionais recentesJornal da Unicamp”, edição 226, 25.08.03, pp. 1-4.922Telegrama 355 do Consulado-Geral em Bue<strong>no</strong>s Aires para a Secretaria deEstado, em 10.06.04.923Relatório consular, Estimativa de <strong>Brasileiros</strong> Residentes <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>,Departamento das <strong>Comunidades</strong> Brasileiras <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, 2005, pp. 1-4.924Tachinardi, Maria Helena. “Expansão da agropecuária brasileira na Américado Sul: integração e conflito”, disponível em www.iconebrasil.org.br, 2006, pp.1-6.925Idem.327


GEORGE TORQUATO FIRMEZA926Relatório consular, Estimativa de <strong>Brasileiros</strong> Residentes <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>,Departamento das <strong>Comunidades</strong> Brasileiras <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, 2005, pp. 1-4.927Sprandel. Marcia. “<strong>Brasileiros</strong> na fronteira com o Paraguai”. Estudosavançados, vol.20, <strong>no</strong>.57, São Paulo, maio/agosto, 2006, pp. 137-156.928Idem.929Como a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Fundo das NaçõesUnidas para a Infância (Unicef) e a Organização Internacional para as Migrações(OIM).930Sprandel, Marcia. “<strong>Brasileiros</strong> na fronteira com o Paraguai”, Op. Cit., pp.137-156.9311954-1989.932Tachinardi, Maria Helena. “Expansão da agropecuária brasileira na Américado Sul: integração e conflito”, disponível em www.iconebrasil.org.br, 2006, pp.1-6.933Idem.934Não existem estatísticas oficiais sobre a comunidade brasileira residente <strong>no</strong>Departamento de Pando, na fronteira com o sul do Estado do Acre, por exemplo.935Relatório consular, Estimativa de <strong>Brasileiros</strong> Residentes <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>,Departamento das <strong>Comunidades</strong> Brasileiras <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, 2005, pp. 1-4.936Tachinardi, Maria Helena. “Expansão da agropecuária brasileira na Américado Sul: integração e conflito”, disponível em www.iconebrasil.org.br, 2006, pp.1-6.937Telegrama 697 da Embaixada em La Paz para a Secretaria de Estado, em17.05.06.938Tachinardi, Maria Helena. “Expansão da agropecuária brasileira na Américado Sul: integração e conflito”, disponível em www.iconebrasil.org.br, 2006, pp.1-6.939Telegrama 889 da Embaixada em Paramaribo para a Secretaria de Estado, em11.07.06.940Rodrigues, Francilene. “Migração transfronteiriça na Venezuela”, in Estudosavançados, 2006, vol. 20, <strong>no</strong>. 57, pp. 203.941Entrevista com o Embaixador Ricardo Borges, Embaixada em Paramaribo,10.11.06.942Idem.943Entrevista com o Embaixador Arthur V.C. Meyer, Embaixador em Georgetown,em 05.12.06.944Pereira, Mariana. “Processos migratórios na fronteira Brasil-Guiana” inEstudos avançados, 2006, vol. 20, <strong>no</strong>. 57, São Paulo, pp. 209-219.328


NOTAS945Telegrama 267, da Embaixada em Georgetown para a Secretaria de Estado, em17.05.05.946Entrevista com o Embaixador Arthur V.C. Meyer, Embaixador em Georgetown,em 05.12.06.947Telegrama 267, da Embaixada em Georgetown para a Secretaria de Estado, em17.05.05.948Relatório consular, Estimativa de <strong>Brasileiros</strong> Residentes <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>,Departamento das <strong>Comunidades</strong> Brasileiras <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, 2005, pp. 1-4.949Telegrama 47, do Consulado-Geral em Caiena para a Secretaria de Estado, em17.02.04.950Telegrama 233, do Consulado-Geral em Caiena para Secretaria de Estado, em24.06.04.951Relatório Final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Emigração.Op. Cit., pp. 274-320.952Mas tem havido dificuldades pelo valor dos emolumentos cobrados para ainstauração do processo, bem como pela exigência de apresentação de provade entrada na Bolívia.953Telegrama 698, da Embaixada em La Paz para a Secretaria de Estado, em17.05.06.954Entrevista com o Embaixador Ricardo Borges, Embaixada em Paramaribo,10.11.06.955Entrevista com o Ministro Carlos Augusto Carvalho, Cônsul-Geral em Caiena,em 12.12.06.956Idem.957Ibidem.958Telegrama 2692, de Brasemb Washington para a Secretaria de Estado, em14.11.06.959Os chamados coiotes (ou polleros ou pateros) e cônsules são as peçaschave<strong>no</strong> fluxo migratório brasileiro irregular pela fronteira México-EUA.Numa travessia que se pode estender por até cinco dias, os coiotes indicama cidade mexicana de transição, corrompem autoridades, definem data ehorário da partida, lideram a caminhada e estabelecem os pontos para atravessia do Rio Grande. Os cônsules são os financiadores dessa migração.O custo situa-se entre US$ 10.000,00 e US$ 12.000,00. Há relatos de que osmigrantes brasileiros, após a chegada aos EUA, costumam levar até mais deum a<strong>no</strong> para conseguir completar o pagamento do valor tomado emprestadopara a viagem.960Fonte: Departamento de Segurança Interna (DHS) dos EUA.329


GEORGE TORQUATO FIRMEZA961Telegrama 554, do Consulado em Houston para a Secretaria de Estado, em27.10.06.962Entrevista com o Secretário-Executivo do Ministério da Justiça, Luiz PauloBarreto, em 26.11.06.963O Gover<strong>no</strong> brasileiro reciprocou.964Entrevista com o Embaixador Fernando Barreto, Embaixador em Camberra,ex-Cônsul-Geral em Londres, em 29.10.06.965Cerca de 1.200.966Telegrama 342 do Consulado-Geral em Londres para a Secretaria de Estado,em 06.09.04.967Em 22 de julho de 2005, uma sexta-feira, às 10h06 da manhã, o brasileiro JeanCharles de Menezes, eletricista, 27 a<strong>no</strong>s, situação migratória irregular, foiexecutado com sete tiros na parte anterior da cabeça e um <strong>no</strong> ombro, por membrosda Polícia Metropolitana Londrina, dentro de vagão do metrô parado na estaçãode Stockwell, em Londres. Desde 20 minutos antes da morte, ao deixar o edifícioem que morava, Jean Charles estava sendo seguido por policiais, que oconfundiram com terrorista buscado pelos atentados de 7 de julho, <strong>no</strong> metrô deLondres. O brasileiro foi seguido dentro do ônibus que tomou para levá-lo aStockwell, e dentro da estação e do próprio vagão, onde foi abordado, dominadoe executado. Dois dias depois, chegou a Londres o Ministro Celso Amorim.Manteve entrevista com Lorde Triesman, encarregado da América Latina <strong>no</strong>Foreign Office, para tratar da morte do brasileiro. No dia seguinte, reuniu-secom Jack Straw, para falar sobre o assunto. Após ouvir que o Gover<strong>no</strong> britânicoenviaria representante para apresentar desculpas à família de Jean Charles,comentou que, quando soube da morte de um i<strong>no</strong>cente, tinha ficado preocupadodo ponto de vista dos direitos huma<strong>no</strong>s, mas quando soube que o morto era umbrasileiro i<strong>no</strong>cente, tinha ficado chocado, consternado e perplexo. Aduziu quehavia estado com familiares de Jean Charles, e mais perplexo havia ficado, porse tratar da morte de um cidadão do Brasil, país sobre cujos nacionais não pesanenhuma acusação de terrorismo. O pedido de desculpas à família era, pois,bem-vindo, mas faltariam também desculpas ao Gover<strong>no</strong> e ao povo brasileiros.Lembrou que, quando houve execuções sumárias perpetradas pela políciabrasileira, o Gover<strong>no</strong> chamou o representante da ONU para direitos huma<strong>no</strong>sao País para permitir que a comunidade internacional obtivesse esclarecimentos.Indicou que faltava, porém, menção à indenização, motivo de alívio para afamília. Straw respondeu que a responsabilidade legal pela indenização seriatratada pelo Gover<strong>no</strong> britânico com rapidez, o que, de fato, aconteceu.Posteriormente, o Itamaraty coorde<strong>no</strong>u o envio de duas missões a Londres330


NOTASpara averiguar o andamento dos trabalhos de investigação, além de haver dadoapoio a uma missão da CPMI da Emigração, chefiada pelo Senador MarcelloCrivella. O processo judicial relativo ao caso continua em andamento, sendoacompanhado pelo Consulado-Geral em Londres.968Bassanesi, Op. Cit., pp. 1-10.969Também as expulsões registraram expressivo aumento em 2004 e 2005, devidosobretudo ao elevado número de brasileiras que exercem a prostituição naEspanha e são amiúde detidas e expulsas.970Telegrama 446, da Embaixada em Madri para a Secretaria de Estado, em20.05.05.971Entrevista com o Secretário-Executivo do Ministério da Justiça, Luiz PauloBarreto, em 26.11.06.972Idem.973Telegrama 125, do Consulado <strong>no</strong> Porto para a Secretaria de Estado, em 15.04.04.974O que não pôde ser confirmado por averiguações empreendidas pelaEmbaixada em Paramaribo.975Entrevista com o Embaixador Ricardo Borges, Embaixada em Paramaribo,10.11.06.976Telegrama 295, da Embaixada em Georgetown para a Secretaria de Estado, em07.07.04.977Telegrama 446, da Embaixada em Madri para a Secretaria de Estado, em20.05.05.978Telegrama 520, da Embaixada em Tóquio para a Secretaria de Estado, em04.05.05.979Trata-se de número reduzido se comparado ao total da comunidade brasileiraresidente <strong>no</strong> país, mas expressivo quando inserido <strong>no</strong> contexto carcerário. Osbrasileiros constituem hoje o segundo maior contingente de presos estrangeiros<strong>no</strong> Japão.980À frente dos corea<strong>no</strong>s e atrás apenas dos chineses.981Telegrama 520, da Embaixada em Tóquio para a Secretaria de Estado, em04.05.05.982Relatório Final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Emigração.Op. Cit., pp. 203-273.983Da mesma forma que o sistema brasileiro, a Previdência Social <strong>no</strong> Japãoengloba a aposentadoria e o seguro de saúde pública. O pagamento dacontribuição mensal à previdência também é responsabilidade conjunta detrabalhadores e empregadores.984Responsáveis por cerca de 70% da produção de soja <strong>no</strong> Paraguai.331


GEORGE TORQUATO FIRMEZA985Telegrama 595 da Embaixada em Assunção para a Secretaria de Estado, em26.04.06.986Introduziram <strong>no</strong>vas técnicas agrícolas e mecanização onde cultivam soja,trigo e milho, entre outros. Construíram estradas, escolas, igrejas e em algunscasos, até infra-estrutura para abrigar a polícia local.987Telegrama 595 da Embaixada em Assunção para a Secretaria de Estado, em26.04.06.988Relatório Final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Emigração.Op. Cit., pp. 274-320.989Idem.990Ibidem.991Telegrama 698, da Embaixada em La Paz para a Secretaria de Estado, em17.05.06.992Tachinardi, Maria Helena. “Expansão da agropecuária brasileira na Américado Sul: integração e conflito”, disponível em www.iconebrasil.org.br, 2006, pp.1-6.993Martes, Ana. “A emigração brasileira e os peque<strong>no</strong>s empresários”, inMigrações Internacionais: contribuições para políticas, Brasília: CNPD, 2001,p. 386.994Entrevista com o Embaixador Fernando Barreto, Embaixador em Camberra,ex-Cônsul-Geral em Londres, em 29.10.06.CAPÍTULO X995Canção do exílio.996Gepp, Op. Cit., p. 152.997No âmbito da Divisão de Assistência Consular.998Pelo Decreto 5032, de 5 de abril daquele a<strong>no</strong>.999Para prestar assistência consular, o MRE dispõe de uma rede de 144 postos, dos quais 88 Embaixadas, 34 Consulados-Gerais, 8 consulados e 14 Viceconsulados,a grande maioria localizados em regiões de concentração debrasileiros.1000Elevado à categoria de Consulado-Geral em 2005.1001Circular telegráfica 62486/1970, da Secretaria de Estado aos postos, em22.12.06.1002Iaundê (Camerun), Dar-es-Salaam (Tanzânia), Doha (Catar), Belmopan(Belize), Zagreb (Croácia), Malabo (Guiné Equatorial), Cartum (Sudão), Coto<strong>no</strong>u(Benin), Nassau (Bahamas), Colombo (Sri Lanka), Lomé (Togo), Astana332


NOTAS(Cazaquistão), Conacri (República da Guiné), Lusaca (Zâmbia) e Gaborone(Botsuana).1003Junto à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (Lisboa) e junto àAgência Internacional de Energia Atômica (Viena).1004Telegrama 457, da Embaixada em Pretória para a Secretaria de Estado, em11.08.04.1005Idem.1006Telegrama 2306, da Embaixada em Washington para a Secretaria de Estado,em 30.09.05.1007Em janeiro de 2007, o acordo estava sob exame da Casa Civil.1008Além do setor consular da Embaixada em Washington.1009Telegrama 40, do Consulado-Geral em Tóquio para a Secretaria de Estado,em 31.01.06.1010O Consulado-Geral em Los Angeles, por exemplo, em cuja jurisdição háestimados 50 mil brasileiros, conta com um cônsul ho<strong>no</strong>rário em San Diego.Trata-se de uma região de fronteira, ao sul da Califórnia, onde é crescente adetenção de brasileiros indocumentados. É possível que, <strong>no</strong> futuro, se façanecessária a abertura de um consulado em San Diego.1011Telegrama 289 do Consulado-Geral em Bue<strong>no</strong>s Aires para a Secretaria deEstado, em 14.05.04.1012Telegrama 295 do Consulado-Geral em Bue<strong>no</strong>s Aires para a Secretaria deEstado, em 18.05.04.1013Entrevista com o Embaixador Júlio Cézar Zelner Gonçalves, Cônsul-Geralem Lisboa, em 10.01.07.1014Idem.1015Barros, Sebastião do R. “O Itamaraty e os brasileiros <strong>no</strong> exterior”, in PolíticaExterna, vol. 5, nr. 3, dezembro de 1996, p. 108.1016Não há despesas com aluguel de equipamentos ou de salas, cedidosgratuitamente pelos proprietários dos lugares onde as missões são realizadas.Restam, portanto, as despesas de passagens e diárias. Normalmente, integram asmissões um diplomata, um oficial de chancelaria e um auxiliar administrativo, como dispêndio de duas diárias e meia para cada um, diplomata (nível de conselheiro),US$ 360, oficial de chancelaria, US$ 320, e auxiliar administrativo, US$ 250. Aspassagens aéreas para os funcionários do quadro, pela agência licitada peloMRE, custam, cada uma, cerca de US$ 800. Os auxiliares administrativos compramsuas passagens pela internet, ao custo aproximado de US$ 250.1017Telegrama 183 do Consulado-Geral em Bue<strong>no</strong>s Aires para a Secretaria deEstado, em 21.03.06.333


GEORGE TORQUATO FIRMEZA1018Circular Telegráfica 58680, de 17.03.06.1019Entrevista com o Embaixador Ricardo Borges, Embaixada em Paramaribo,10.11.06.1020Idem.1021Carta datada de 24.08.06 dirigida ao Secretário-Geral da ONU peloRepresentante Permanente do Brasil, sobre o tratamento da questão migratória<strong>no</strong> âmbito do Mercosul, como contribuição ao Diálogo de alto Nível sobre aMigração Internacional e Desenvolvimento.1022Entrevista com o Embaixador Júlio Cézar Zelner Gonçalves, Cônsul-Geralem Lisboa, em 10.01.07.1023Idem.1024Ibidem.1025Circular Telegráfica 57849, de 12.01.06.1026Telegrama 240, do Consulado-Geral em Boston para a Secretaria de Estado,em 15.06.04.1027Por via aérea ou, se a partir de país de fronteira, por via terrestre.1028Tome-se, como exemplo da utilidade desse reativação do CAN, um vôo demaio de 2005 de Paramaribo a Macapá, possibilitando a repatriação de quinzecidadãos brasileiros, entre os quais, mulheres grávidas, um doente comLeichmaniose, um acidentado desvalido, vários migrantes irregularesdeportados e um bebê ferido <strong>no</strong> rosto por cobra.1029Dados de 2005. Fonte: Departamento das <strong>Comunidades</strong> Brasileiras <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>.1030Telegrama 458 da Embaixada em Pretória para a Secretaria de Estado, em11.08.04.1031Ibidem.1032Realizada em Washington em 29.09.05.1033Telegrama 2306, da Embaixada em Washington para a Secretaria de Estado,em 30.09.05.1034Nota nr. 160, de 30.09.04, da Embaixada em Washington ao Departamento deEstado.1035Circular telegráfica 61551/1392, da Secretaria de Estado aos postos, em11.10.2006.1036Idem.1037Ibidem.1038Manual do Serviço Consular e Jurídico, Portaria de Emolumentos e anexos“Regulamento para Emprego de Estampilhas e Cobranças dos EmolumentosConsulares” e “Tabela de Emolumentos Consulares”, Portaria de JurisdiçõesConsulares e Regulamento de Documentos de Viagem.334


NOTAS1039Circular telegráfica 61551/1392, da Secretaria de Estado aos postos, em11.10.2006.1040Idem.1041Circular telegráfica 61628/1423, da Secretaria de Estado aos postos, em18.10.2006.1042Telegrama 457, da Embaixada em Pretória para a Secretaria de Estado, em11.08.04.1043Fonte: Departamento das <strong>Comunidades</strong> Brasileiras <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>. 2006.1044Estimada em 30 mil pessoas.1045Telegrama 435, do Consulado-Geral em São Francisco para a Secretaria deEstado, em 06.09.06.1046Idem.1047Exibição de filme brasileiro; palestra sobre iniciativas do Gover<strong>no</strong> brasileirode interesse para as comunidades <strong>no</strong> exterior, como exames supletivos,reconhecimento de escolas, negociação de acordos previdenciários, facilitaçãode vistos para professores; premiação dos alu<strong>no</strong>s de escolas brasileirasganhadores de concursos de redação e desenho; atividades e jogos infantis;venda de comida típica; e apresentação de bandas de música brasileira.1048Consulados itinerantes, disque-saúde, atendimento jurídico profissionalgratuito, atendimento em feriados.1049Entrevista com a Embaixadora Thereza Quintella, Cônsul-Geral em LosAngeles, em 02.11.06.1050Telegrama 815, da Embaixada em Paramaribo para a Secretaria de Estado, em28.06.06.1051Nesse sentido, desde 2002, a Secretaria de Estado tem feito um esforçosistemático para dotar todos os postos de um sítio na internet, bem como paraaperfeiçoar os já existentes.1052Um exemplo é o guia produzido pela Embaixada em Washington (Viajarpara os EUA Hoje: Guia Prático).1053Para orientação de migrantes na eventual abertura de peque<strong>no</strong>s negócios<strong>no</strong> Brasil.1054O Banco Interamerica<strong>no</strong> de Desenvolvimento investirá, ao longo de quatroa<strong>no</strong>s, US$ 1,5 milhão. O Sebrae comprometeu-se a investir o mesmo valor.1055Relatório Final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Emigração.Brasília: Congresso Nacional, 2006, pp. 203-273.1056Telegrama 520, da Embaixada em Tóquio para a Secretaria de Estado, em04.05.05.1057Gepp, Op. Cit., p. 134.335


GEORGE TORQUATO FIRMEZA1058Entrevista com o Embaixador Fernando Barreto, Embaixador em Camberra,ex-Cônsul-Geral em Londres, em 29.10.06.1059Telegrama 295 da Embaixada em Georgetown para a Secretaria de Estado em07.07.04.1060Telegrama 40, do Consulado-Geral em Tóquio para a Secretaria de Estado,em 31.01.06.1061Telegrama 240, do Consulado-Geral em Boston para a Secretaria de Estado,em 15.06.04.1062Entrevista com o Embaixador Ricardo Carvalho, Cônsul-Geral em Chicago,em 08.12.06.1063Sprandel, Marcia. “Migrações internacionais e a sociedade civil brasileira”in Migrações Internacionais: contribuições para políticas, CNPD, pp. 547-562.1064Idem.1065Ibidem.1066Circular telegráfica 59014, em 12.04.06.1067Listam-se, a seguir, algumas das propostas emanadas desse Encontro:criação de uma instância interministerial para coordenar as políticas para ascomunidades; criação de uma Secretaria <strong>no</strong> âmbito do Ministério da Justiçae do Ministério das Relações <strong>Exterior</strong>es para os assuntos de emigração;criação de mecanismos de representação dos migrantes junto ao Estadobrasileiro; implementação de subcomissões permanentes nas Comissões deRelações <strong>Exterior</strong>es da Câmara dos Deputados e do Senado Federal paratratar de questões específicas de interesse dos brasileiros <strong>no</strong> exterior; criaçãode um Estatuto do Brasileiro <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>; envolvimento direto das embaixadasnas questões políticas, sociais, jurídicas e econômicas relacionadas aosemigrantes; reforço dos consulados; ampliação dos consulados itinerantes;instituição de um plantão consular permanente <strong>no</strong> primeiro domingo decada mês; implementação de serviço jurídico local de apoio aos emigrados;criação pelo Estado brasileiro de um call center para atendimentos e registrosde casos urgentes envolvendo brasileiros <strong>no</strong> exterior; criação de umobservatório da emigração, que reúna informações sobre os emigrantes;realização de um censo da emigração; isenção de taxa bancária em remessasde até US$ 500,00 dólares mensais; criação de produtos financeirosespecíficos para migrantes, a fim de viabilizar o acesso ao crédito para aaquisição da casa própria <strong>no</strong> Brasil; promoção pelo SEBRAE de ações deformação dirigidas a funcionários de embaixadas brasileiras, orientadas parapeque<strong>no</strong>s empresários emigrantes, ou a criação de balcões do SEBRAE ou336


NOTASoutra entidade similar nas embaixadas; ratificação da ConvençãoInternacional sobre a Proteção dos Direitos de todos TrabalhadoresMigrantes e de seus Familiares; e ampliação de acordos bilaterais de trocade presos entre o Brasil e cada um dos países de acolhida.1068Relatório Final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Emigração.Op. Cit., pp. 52-54.1069Relacionam-se, a seguir, as principais reivindicações: abertura de <strong>no</strong>vosconsulados, de acordo com a distribuição geográfica dos brasileiros; aumentoda frequência dos consulados itinerantes; expansão do papel dos consulados,de maneira que atuem como órgãos de apoio comunitário; reestruturação docorpo organizacional dos consulados brasileiros, de maneira que haja umapessoa diretamente responsável por relações com a comunidade; criação deuma política de Estado para lidar com os interesses e necessidades dascomunidade; apoio a organizações não-governamentais representativas dacomunidade; e intensificação da defesa dos direitos huma<strong>no</strong>s e de cidadaniados migrantes brasileiros.1070Entrevista com o Embaixador Fernando Barreto, Embaixador em Camberra,ex-Cônsul-Geral em Londres, em 29.10.06.1071Entrevista com o Embaixador Virgilio Andrade, ex-Cônsul-Geral em Munique,em 14.12.06.1072Entrevista com o Embaixador Júlio Cézar Zelner Gonçalves, Cônsul-Geralem Lisboa, em 10.01.07.1073Idem.1074Ibidem.1075Ibidem.1076Entrevista com o Embaixador Renato Guimarães, Cônsul-Geral em Tóquio,em 30.11.06.1077Idem.1078Sprandel. Marcia. “<strong>Brasileiros</strong> na fronteira com o Paraguai”, Op. Cit., pp.137-156.1079Telegrama 531, do Consulado-Geral em São Francisco para a Secretaria deEstado, em 15.11.2006.1080Entrevista com a Embaixadora Thereza Quintella, Cônsul-Geral em LosAngeles, em 02.11.06.1081Idem.1082Entrevista com o Embaixador Ricardo Carvalho, Cônsul-Geral em Chicago,em 08.12.06.1083Idem.337


GEORGE TORQUATO FIRMEZA1084Telegrama 531, do Consulado-Geral em São Francisco para a Secretaria deEstado, em 15.11.2006.1085Telegrama 640, do Consulado em Miami para a Secretaria de Estado, em12.09.06.1086Listem-se, entre as principais, as seguintes associações: BAUA (BrazilianAmerican United Association) de Newark, NJ, que reúne número expressivo deassociados; Brazcon (Conselho Comunitário Brasileiro de Connecticut), deDanbury - CT; ABE (Associação Brasil-Estados Unidos) de Hartford, CT; BFA(Brazilian Foundation of America) de Long Island, NY; Centro Cultural Shaheen,Hartford, CT; Civic Center, de Mount Ver<strong>no</strong>n, NY; Conselho de <strong>Brasileiros</strong> daPensilvânia, PA; Conselho de Cidadãos de Nova York.1087Entrevista com o Embaixador José Alfredo Graça Lima, Cônsul-Geral emNova York, em 03.11.06.1088Telegrama 240, do Consulado-Geral em Boston para a Secretaria de Estado,em 15.06.04.1089Em parte, esses avanços foram uma reação a movimentos antiimigrantes. Nacidade de Framingham, <strong>no</strong> entor<strong>no</strong> de Boston, por exemplo, surgiu ummovimento organizado por cidadãos <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s contra a presença dosbrasileiros: Concerned Citizens and Friends of Immigration Law Enforcement.Tal movimento antiimigração pode ser, por suas vez, decorrente da maiorvisibilidade e organização dos migrantes brasileiros <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s.1090Sales, Teresa. “ONGs Brasileiras em Boston”. Estudos avançados, 2006,vol. 20, <strong>no</strong>. 57, pp. 75-91.1091No Centro do Imigrante Brasileiro, há um projeto com jovens na area desaúde e segurança <strong>no</strong> trabalho. No Grupo Mulher Brasileira, é desenvolvidoum projeto de formação de uma cooperativa de faxineiras.1092Sales, Op. Cit, pp. 75-91.1093Idem.1094Ibidem.1095Ibidem.1096Marinucci, Roberto. “A Pastoral dos <strong>Brasileiros</strong> <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>”. CNBB, 2003,pp. 1-4.1097Dornelas, Sidnei. “Aspectos da migração brasileira <strong>no</strong> início do séculoXXI”. São Paulo: Centro de Estudos Migratórios, 06.04.05, pp. 1-5.1098Freston, Paul. “A Igreja universal do rei<strong>no</strong> de Deus na Europa”. UniversidadeFederal de São Carlos, outubro de 1997, pp. 1-21.1099Cosso, Roberto. “Igrejas evangélicas auxiliam imigrantes ilegais”. Folha deSão Paulo, cader<strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong>, 15.08.03.338


NOTAS1100Teresa, Sales. “ONGs Brasileiras em Boston”, Op. Cit., pp. 75-91.1101Idem.1102O início da expansão internacional da Universal do Rei<strong>no</strong> de Deus data de1985, quando abre uma igreja <strong>no</strong> Paraguai. Em 1986, instalou-se <strong>no</strong>s EUA e, em1989, na Argentina, <strong>no</strong> Uruguai e em Portugal. O ritmo começou a acelerar-se apartir dos a<strong>no</strong>s 1990. Em 1995, o número de templos instalados <strong>no</strong> exterior foiestimado em 221. Em 2001, já tinha chegado a mil. Em 2004, a Deus é Amor, jáestava instalada em 136 países, a Universal, em mais de 80, a Renascer emCristo, em 11 países, a Internacional da Graça de Deus, em 7 países. Adeptos daAssembléia de Deus criaram filiais em países como Portugal, EUA, Inglaterra,Suíça, Holanda e Liechtenstein. Nenhuma delas revela o valor arrecadado <strong>no</strong>exterior. No a<strong>no</strong> 2000, a Assembléia de Deus abriu sua primeira igreja em Londres,com três pessoas. Em 2002, já tinha seis igrejas.1103Nascimento,Gilberto e Gil, Felipe. “Exportação da fé”. Revista Istoé. 22.09.04.1104Oro, Ari P. “A presença religiosa brasileira <strong>no</strong> exterior: o caso da IgrejaUniversal do Rei<strong>no</strong> de Deus”. Estud. Av. , São Paulo, v.18, n. 52, 2004, pp. 139-155.1105Freston, Op. Cit., pp. 1-21.1106Oro, Op. Cit., pp. 139-155.1107Para funcionar a contento, essa articulação depende de uma intensacolaboração entre as igrejas de origem e de chegada das correntes migratórias.Trata-se aqui do princípio da co-responsabilidade pastoral.1108Marinucci, Op. Cit., pp. 1-4.1109Idem.1110Origi<strong>no</strong>u-se de uma sugestão da Conferência Episcopal Americana, <strong>no</strong>sentido de estabelecer uma cooperação para melhor atender os emigradosbrasileiros <strong>no</strong>s EUA. Vinculou-se à Comissão Episcopal para a Ação Missionáriae Cooperação Intereclesial.1111Um aspecto da programação da Pastoral é a visita do Bispo responsávelpor esta área, pelo me<strong>no</strong>s em duas comunidades por a<strong>no</strong>. São freqüentestambém as visitas de outros missionários que, em articulação com a Pastoral,respondem a solicitações para missões temporárias.1112A Pastoral busca desenvolver um trabalho de articulação junto aos atores sociaisque podem ajudar, de alguma maneira, os brasileiros <strong>no</strong> exterior, considerando queseria estéril um serviço pastoral alicerçado exclusivamente <strong>no</strong> envio de missionários.As parcerias incluem atores eclesiais, governamentais e da sociedade civil. Um exemploconcreto de atividade em parceria foi a realização do I Encontro Ibérico da Comunidadede <strong>Brasileiros</strong> <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong> realizado em maio de 2002, em Portugal.339


GEORGE TORQUATO FIRMEZA1113Com orçamento anual de US$ 15 milhões.1114www.icmc.net.1115Ajudou a fundar, em 2005, a Plataforma Internacional de ONGs pelaConvenção da ONU sobre Trabalhadores Migrantes de 1990, uma coalizãodedicada a promover sua ratificação, divulgação e implementação. Lançou,ademais, as publicações Como incrementar a proteção dos trabalhadoresmigrantes valendo-se dos tratados internacionais de direitos huma<strong>no</strong>s e o Guiapara ONGs sobre a aplicação da Convenção de 1990. Tem atuado tambémdiretamente na assistência a migrantes, com ações de repatriação em casoshumanitários e assistência a migrantes em situação de extrema vulnerabilidade.1116Ibidem, p. 116.1117Sprandel, Marcia. “O Parlamento e as Migrações Internacionais”, Op. Cit.,p. 99.1118Idem.1119Paraguai, Japão, Rei<strong>no</strong> Unido, Espanha, Portugal, Estados Unidos.1120PL/47 de 09.03.06.1121Em junho de 2006.1122Entrevista com o Secretário-Executivo do Ministério da Justiça, Luiz PauloBarreto, em 26.11.06.1123Entrevista com Duval Fernandes, ex-Coordenador do Grupo de Trabalhosobre Migrações do Conselho Nacional de População e Desenvolvimento(CNPD), em 26.10.06.1124Sprandel. Marcia. “<strong>Brasileiros</strong> na fronteira com o Paraguai”. Estudosavançados, vol.20, <strong>no</strong>.57, São Paulo, maio/agosto, 2006, pp. 137-156.1125Entrevista com o Embaixador Renato Guimarães, Cônsul-Geral em Tóquio,em 30.11.06.1126Em junho de 2006.1127Califórnia, Texas, Arizona e Illi<strong>no</strong>is.CAPÍTULO XI1128Opiário.1129Foi o que a Secretaria de Estado fez quando implantou o Pla<strong>no</strong> ComunidadeBrasil em São Francisco em 2005.1130Papastergiadis, Nikos. The turbulence of migration. Cambridge: Polity Press,2004, p. 123.1131O Museu contaria com expaço expositivo, arquivos, biblioteca, centro depesquisa e auditório para eventos.340


NOTAS1132Expert Meeting on Migration Museums, Roma, 23 a 25 de outubro de 2006.1133A Rede de Ensi<strong>no</strong> contava em 2006 com cerca de 30 mil alu<strong>no</strong>s em 16 CEBs,8 Institutos Culturais, 45 Leitorados e 4 Núcleos de Estudos <strong>Brasileiros</strong>.1134Nesse sentido, em Washington, o BACI (Brazilian-American CulturalInstitute) iniciou, em 2006, cursos para filhos de brasileiros.1135Entrevista com a Embaixadora Thereza Quintella, Cônsul-Geral em LosAngeles, em 02.11.06.1136Brazilian-American Cultural Institute (BACI), em Washington, DC.1137Pereira, Op. Cit., p.3.1138No caso das Filipinas, não parece haver o risco de que o volume de remessasvenha a diminuir a curto prazo, dada a elevada circularidade dos fluxosmigratórios. No que se refere ao México, o fato de que seus nacionais emigradosse estão instalando permanentemente <strong>no</strong>s EUA poderá levar a uma diminuiçãodo volume de remessas. Quanto à Turquia, esse fenôme<strong>no</strong> já vem ocorrendo,como se pôde verificar <strong>no</strong> capítulo VII, ao comparar as remessas de 2005 comaquelas dos a<strong>no</strong>s 1990. De cerca de US$ 4,5 bilhões em meados dos a<strong>no</strong>s 1990as remessas turcas caíram para US$ 1 bilhão em 2005.1139Muitos brasileiros ainda temem terem problemas com o fisco, <strong>no</strong> Brasil, seefetuarem remessas pela rede bancária.1140Há exigências bancárias cada vez mais estritas em todos os países em razãode terrorismo e lavagem de dinheiro.1141Pereira, Ma<strong>no</strong>el G. “Algumas reflexões sobre as remessas de emigrantes”.Paper apresentado em seminário organizado pelo Banco Interamerica<strong>no</strong> deDesenvolvimento em 24.06.2005, p.3.1142Idem.1143Ibidem, pp. 13-62.1144Justiça, Trabalho e Emprego, Relações <strong>Exterior</strong>es, Finanças, Interior, entreoutros.1145Skeldon, Op. Cit., p. 9.1146Entrevista com o Embaixador Osmar Chohfi, delegação do Brasil junto àOEA, em 13.12.06.1147Idem.1148No caso das Filipinas, as tentativas de impor padrões trabalhistas mínimospara seus migrantes em um determinado mercado de trabalho aumentam o custoda mão-de-obra, tornando o país me<strong>no</strong>s competitivo neste particular, em relaçãoa outros países emissores, como Bangladesh ou Paquistão.1149A realizar-se após o do Marrocos, previsto para 2007.1150O respectivo processo de ratificação está em curso <strong>no</strong> Congresso Nacional.341


GEORGE TORQUATO FIRMEZA1151Entrevista com o Senhor Nilton Freitas, Presidente do Conselho Nacionalde Imigração, em 17.12.06.1152Eco<strong>no</strong>mic Resource Center for Overseas Filipi<strong>no</strong>s (ERCOF).1153Já há projetos de lei em tramitação em ambas as Casas Legislativas sobre aampliação dessa faculdade eleitoral para outros cargos eletivos.1154Sprandel, Marcia. “O Parlamento e as Migrações Internacionais”, Op. Cit.,p. 115.1155De autoria do Senador Cristovam Buarque.1156Entrevista com a Embaixadora Thereza Quintella, Cônsul-Geral em LosAngeles, em 02.11.06.1157Tachinardi, Maria Helena. “Atrair de volta a inteligência” in Gazeta Mercantil,26.03.97, pp. 01 e A-4.1158Idem.1159Conselho é <strong>no</strong>rmativo e também endereça recomendações para órgãos deEstado. Avalia a aplicação das suas <strong>no</strong>rmas e recomendações por meio dasinstituições vinculadas aos seus representantes de Estado (como a fiscalizaçãodo trabalho, receita federal, polícia federal, vigilância sanitária), com a ajuda dacapilaridade dos representantes da sociedade (sindicatos de trabalhadores eassociações empresariais de comércio, agricultura, indústria). Reúne especialistasde diversas áreas de Gover<strong>no</strong> (saúde, educação, cultura, trabalho, direitos,etnias e diversidade).1160Sendo representado pela DIM, DTS e DNU.1161Criado pela Lei n. 368, de 06.11.1989, alterada pela Lei n. 198, de 18.06.98, edisciplinada pelo Regulamento n. 329, de 14.09.98.1162Fonte: Relatório do Gover<strong>no</strong> italia<strong>no</strong>. Ministério dos Negócios Estrangeiros.2006. www.esteri.it.1163Os outros 29 Conselheiros, de um total de 94, são <strong>no</strong>meados pelo Gover<strong>no</strong>.É composto por uma Comissão da Presidência, 7 Comissões Temáticas, 3Comissões Continentais, uma Assembléia Plenária e diversos Grupos deTrabalho.1164Circular telegráfica 62307/1649, de 08.12.06.1165A Subsecretaria-Geral compõe-se do Departamento das <strong>Comunidades</strong>Brasileiras <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, integrado pela Divisão das <strong>Comunidades</strong> Brasileiras <strong>no</strong><strong>Exterior</strong> e pela Divisão de Documentos de Viagem, e do Departamento deEstrangeiros, que reúne a Divisão Jurídica, a Divisão de Atos Internacionais ea Divisão de Imigração.1166Mencionem-se, ainda, a elaboração constante de subsídios para assegurara aprovação de recursos compatíveis com a necessidade de implementação de342


NOTASobjetivos de políticas para comunidades; a adequação de ações do Itamaratyàs especificidades de cada diáspora em seus países de acolhimento; aidentificação de parceiros específicos na diáspora e o reconhecimento de suaspróprias agendas; o estímulo à formação de redes de diáspora; o incentivo àcriação de unidades para assuntos de migrantes em Gover<strong>no</strong>s estaduais emunicipais <strong>no</strong> Brasil, com elevado contingente migratório; e a busca de coerênciaentre iniciativas de órgãos legislativos e executivos, nas esferas federal, estaduale municipal.1167Na experiência brasileira, algumas iniciativas nesse sentido já estão emandamento. Na Embaixada em Tóquio, funciona já um Setor de <strong>Comunidades</strong>Brasileiras. No Consulado-Geral em Miami, existe a proposta de criação de umNúcleo de Apoio à Comunidade Brasileira.1168Entrevista com o Conselheiro Paulo Tarrisse da Fontoura, ex-chefe do Setorde <strong>Comunidades</strong> na Embaixada do Brasil em Tóquio, atualmente lotado naEmbaixada em Manila, em 08.12.06.1169Idem.1170Ibidem.1171No caso de Guanajuato, o orçamento anual desse escritório alcançou US$850 mil em 2002.343


BIBLIOGRAFIA


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BIBLIOGRAFIA- Telegrama 1664, da Embaixada em Berlim para Secretaria de Estado, em05.10.04.- Telegrama 342, do Consulado-Geral em Los Angeles para a Secretaria deEstado, em 22.11.04.- Telegrama 1058, da Embaixada em Madri para a Secretaria de Estado, em30.11.04.- Telegrama 510, do Consulado-Geral em Boston para a Secretaria de Estado,em 22.12.04.- Telegrama 1666, da Embaixada em La Paz para a Secretaria de Estado, em28.12.04.- Telegrama 1753, da Embaixada <strong>no</strong> México para a Secretaria de Estado em30.12.04.- Telegrama 1761, da Embaixada <strong>no</strong> México para a Secretaria de Estado em30.12.04.- Telegrama 12, da Embaixada em Roma para a Secretaria de Estado, em07.01.05.- Telegrama 29 da Embaixada em Âncara para a Secretaria de Estado, em13.01.05.- Telegrama 171, da Embaixada em Washington para a Secretaria de Estado,em 25.01.05.- Telegrama 185, da Embaixada em Washington para a Secretaria de Estado,em 26.01.05.- Telegrama 60 da Embaixada em Âncara para a Secretaria de Estado, em28.01.05.- Telegrama 520, da Embaixada em Tóquio para a Secretaria de Estado, em04.05.05.- Telegrama 267, da Embaixada em Georgetown para a Secretaria de Estado,em 17.05.05.- Telegrama 446, da Embaixada em Madri para a Secretaria de Estado, em20.05.05.- Telegrama 1451 de Delbrasgen para a Secretaria de Estado em 26.05.05.- Telegrama 349, da Embaixada em Paramaribo para a Secretaria de Estado, em26.05.05.- Telegrama 2094 de Delbrasgen para a Secretaria de Estado, em 25.07.05.- Telegrama 1680 da Embaixada em Bue<strong>no</strong>s Aires para a Secretaria de Estado,em 29.07.05.- Telegrama 1466 da Embaixada em Berlim para a Secretaria de Estado, em14.09.05.349


GEORGE TORQUATO FIRMEZA- Telegrama 2582 de Delbrasgen para a Secretaria de Estado, em 27.09.05.- Telegrama 2306, da Embaixada em Washington para a Secretaria de Estado,em 30.09.05.- Telegrama 2784, de Delbrasonu para a Secretaria de Estado, em 07.10.05.- Telegrama 3027, de Delbrasgen para a Secretaria de Estado, em 04.11.05.- Telegrama 3255, de Delbrasgen para a Secretaria de Estado, em 25.11.05.- Telegrama 40, do Consulado-Geral em Tóquio para a Secretaria de Estado,em 31.01.06.- Telegrama 287 de Delbrasgen para a Secretaria de Estado, em 10.02.06.- Telegrama 246 de Brasemb Lima para a Secretaria de Estado em 13.02.06.- Telegrama 299, da Embaixada em Bogotá para a Secretaria de Estado, em03.03.06.- Telegrama 183 do Consulado-Geral em Bue<strong>no</strong>s Aires para a Secretaria deEstado, em 21.03.06.- Telegrama 847 da Embaixada em Washington para a Secretaria de Estado,em 12.04.06.- Telegrama 595 da Embaixada em Assunção para a Secretaria de Estado, em26.04.06.- Telegrama 697, da Embaixada em La Paz para a Secretaria de Estado, em17.05.06.- Telegrama 698, da Embaixada em La Paz para a Secretaria de Estado, em17.05.06.- Telegrama 27, da Secretaria de Estado para o Secretário-Geral Iberoamerica<strong>no</strong>,em 19.05.06.- Telegrama 1081 de Brasemb Lima para a Secretaria de Estado em07.06.06.- Telegrama 1700, de Delbrasgen para a Secretaria de Estado, em 26.06.06.- Telegrama 815, da Embaixada em Paramaribo para a Secretaria de Estado, em28.06.06.- Telegrama 889, da Embaixada em Paramaribo para a Secretaria de Estado, em11.07.06.- Telegrama 859 da Embaixada em Madri para a Secretaria de Estado, em20.07.06.- Telegrama 435,do Consulado-Geral em São Francisco para a Secretaria deEstado, em 06.09.06.- Telegrama 640, do Consulado em Miami para a Secretaria de Estado, em12.09.06.- Telegrama 1622 de Delbrasonu para a Secretaria de Estado, em 21.09.06.350


BIBLIOGRAFIA- Telegrama 2267, da Embaixada em Washington para a Secretaria de Estado,em 22.09.06.- Telegrama 2432 da Embaixada em Washington para a Secretaria de Estado,em 12.10.06.- Telegrama 554, do Consulado em Houston para a Secretaria de Estado, em27.10.06.- Telegrama 3137, de Delbrasonu para a Secretaria de Estado, em 02.11.06.- Telegrama 882 da Embaixada em Âncara para a Secretaria de Estado em09.11.06.- Telegrama 531,do Consulado-Geral em S. Francisco para a Secretaria deEstado, em 15.11.06.- Telegrama 964, da Embaixada em Âncara para a Secretaria de Estado, em06.12.06.- Telegrama 975, da Embaixa em, Âncara para a Secretaria de Estado, em14.12.06.- Telegrama 1764, de Delbrasgen para a Secretaria de Estado, em 03.07.06.- Telegrama 881 da Embaixada em Madri para a Secretaria de Estado, em26.07.06.- Telegrama 1622 de Delbrasonu para a Secretaria de Estado, em 21.09.06.- Telegrama 2949, de Delbrasonu para a Secretaria de Estado, em 17.10.06.- Telegrama 3137, de Delbrasonu para a Secretaria de Estado, em 02.11.06.- Telegrama 3138, de Delbrasonu para a Secretaria de Estado, em 02.11.06.- Telegrama 3139, de Delbrasonu para a Secretaria de Estado, em 02.11.06.- Telegrama 2852, de Delbrasgen para a Secretaria de Estado, em 06.11.06.- Telegrama 2692, de Brasemb Washington para a Secretaria de Estado, em14.11.06.- Telegrama 3618, de Delbrasonu para a Secretaria de Estado, em 20.12.06.- Despacho telegráfico 75 da Secretaria de Estado para Brasaladi, em 17.03.06.- Despacho telegráfico 212, da Secretaria de Estado para a Emb. em Assunção,em 28.04.06.- Despacho telegráfico 230 da Secretaria de Estado para a Embaixada em La Paz,em 12.05.06.- Despacho telegráfico 1104, da Secretaria de Estado para Delbrasonu, em 05.10.05.4. Circulares telegráficas- Circular telegráfica 53167, de 03.01.05.- Circular Telegráfica 57849, de 12.01.06.351


GEORGE TORQUATO FIRMEZA- Circular Telegráfica 58680, de 17.03.06.- Circular telegráfica 59014, de 12.04.06.- Circular telegráfica 61551, de 11.10.06.- Circular telegráfica 61628, de 18.10.06.- Circular telegráfica 62307, de 08.12.06.5. LITERATURA- Barreto, António (ed.). Globalização e migrações. Lisboa: ICS, 2005.- Berquó, Elza (ed). Migrações Internacionais: contribuições para políticas.Brasília: CNPD, 2001.- Castro, Rafael e Dominguez, Jorge. Sócios o Adversários? Mexico-EUA Hoy.Cidade do México: Editorial Ocea<strong>no</strong>, 2001.- Cohen, Robin. Migration and its enemies: Global Capital, Migrant Labourand the Nation-State. Hampshire: Ashgate Publishing Limited, 2006.- Gabaccia, Donna. Italy’s many diasporas. Seattle: University of WashingtonPress, 2000.- Gandhi, M.K. An autobiography or the story of my experiments with truth.Boston: Beacon Press, 1993.- Kuznetsov, Yevgeny (ed). Diaspora networks and the internationalmigration of skills. Washington: WBI Development Studies, 2006.- Lien, Pei-Tei. The making of Asian America through political participation.Philadelphia: Temple University Press, 2001.- Massey, Douglas; Arango, Joaquín; Graeme, Hugo; Kouauchi, Ali; Pellegri<strong>no</strong>,Adela; e Taylor, Edward. Worlds in Motion: understanding internationalmigration at the end of the millennium. -- Massey, Douglas e Taylor, J. Edward (eds). International migration: prospectsand policies in a global market. Nova York: Oxford University Press,2004.- Mastny, Vojtec e Nation, Craig (eds). Turkey between East and West: newchallenges for a rising regional power. Boulder: Westview Press, 1996.- Maimbo, Samuel e Ratha, Dilip (eds). Remittances: Development Impact andFuture Prospects. Washington: the World Bank, 2005.- Oishi, Nana. Women in Motion: globalization, state policies, and labormigrations in Asia. Stanford: Stanford University Press, 2005.- Østergaard-Nielsen, Eva (ed). International Migration and SendingCountries: Perceptions, Policies and Transnational Relations.Hampshire: Palgrave Macmillan, 2003.352


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BIBLIOGRAFIA- Entrevista com o Embaixador Ricardo Carvalho, Cônsul-Geral em Chicago,em 08.12.06.- Entrevista com a Ministra Ana Lucy Gentil Cabral, Diretora do DHS, em08.12.06.- Entrevista com o Conselheiro Paulo Tarrisse da Fontoura, ex-chefe do Setorde <strong>Comunidades</strong> na Embaixada do Brasil em Tóquio, atualmente lotado naEmbaixada em Manila, em 08.12.06.- Entrevista com o Ministro Carlos Augusto Carvalho, Cônsul-Geral em Caiena,em 12.12.06.- Entrevista com o Embaixador Osmar Chohfi, Delegação do Brasil junto àOEA, em 13.12.06.- Entrevista com o Embaixador Virgilio Andrade, ex-Cônsul-Geral em Munique,em 14.12.06.- Entrevista com Nilton Freitas, Presidente do Conselho Nacional de Imigração,em 17.12.06.- Entrevista com Duval Fernandes, ex-Coordenador de Populações, Min. doTrabalho, e Emprego, em 26.10.06.- Entrevista com o Padre Hugo Franca, Paróquia de S. João Batista, El Cerrito,Califórnia, em 19.12.06.- Entrevista com o Ministro Michael Francis Gepp, Cônsul-Geral em Beirute,em 05.01.07.- Entrevista com o Embaixador Júlio Cézar Zelner Gonçalves, Cônsul-Geralem Lisboa, em 10.01.07.- Entrevista com o Conselheiro Ralph Peter Henderson, Chefe da Divisão deImigração do MRE, em 11.01.07.- Entrevista com o Cônsul-Geral das Filipinas em Tóquio, Claro S. Cristobal,em 11.01.07.361


ANEXOS


ANEXO ICARTA DE LISBOAI Encontro Ibérico da Comunidade de <strong>Brasileiros</strong> <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>Documento de Lisboa - Lisboa, 9 a 11 de Maio de 2002No contexto da eco<strong>no</strong>mia mundializada, verifica-se hoje grandemovimentação de migrantes, nas mais variadas direções. No Brasil,país tradicionalmente de imigrantes, a emigração começa a se acentuara partir do final da década de setenta. No momento, apesar dainexistência de estatísticas oficiais, por se tratar de fenôme<strong>no</strong> recente,estima-se que o número de brasileiros e brasileiras <strong>no</strong> exterior oscileentre dois e três milhões. Segundo as informações disponíveis, os paísesde maior concentração deste contingente são, pela ordem, EstadosUnidos, Paraguai e Japão, aos quais se seguem países da Europa, comrelevância para Portugal. Do ponto de vista da eco<strong>no</strong>mia brasileira,cabe ressaltar que a emigração é responsável pela remessa unilateralde cerca de dois bilhões de dólares anuais para o Brasil, contribuindosignificativamente para diminuir o desequilíbrio da balança depagamentos, e, do ponto de vista social, para inclusão <strong>no</strong> mercadoconsumidor das famílias beneficiadas por estas remessas.Constata-se que, distantes da pátria, os brasileiros e brasileirastêm sua cidadania comprometida. Sejam eles estudantes, trabalhadores,turistas ou detentos, independentemente de sua situação regular ouirregular, de sua condição pessoal ou profissional, enfrentam situaçõese problemas os mais variados. Há registros de graves violações dedireitos huma<strong>no</strong>s, de natureza criminal, com envolvimento de máfiasde agenciamento de mão de obra e de prostituição, tráfico de crianças,discriminação, excessos das polícias de fronteira, trabalho escravo,365


GEORGE TORQUATO FIRMEZAentre outros casos de flagrante desrespeito à dignidade de brasileiros.É uma realidade que <strong>no</strong>s desafia a buscar caminhos e soluções doponto de vista jurídico, econômico, trabalhista, sócio-cultural ereligioso.Sabe-se que o exercício dos direitos civis de brasileiros <strong>no</strong>spaíses de acolhimentodepende de sua situação jurídica (regularizadoou não) e do grau de desenvolvimento local dasliberdadesdemocráticas. Espera-se que o Estado brasileiro lhes garantaincondicionalmente seus direitos de cidadania, preferencialmente pormeio de políticas públicas voltadas para sua defesa. Como contribuiçãoà elaboração de tais políticas, o I Encontro da Comunidade de<strong>Brasileiros</strong> <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong> aprovou as seguinte propostas:I – FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARAA EMIGRAÇÃO1. GRUPO DE TRABALHO INTERMINISTERIAL –Criação de uma instância orgânica interministerial para coordenar umapolítica para atendimento e apoio aos emigrantes brasileiros e incentivoao seu regresso, integrando esforços de vários Ministérios.2. SECRETARIA OU DEPARTAMENTO PARAASSUNTOS DE EMIGRAÇÃO - Criação de uma Secretaria ouDepartamento com poderes jurídicos <strong>no</strong> âmbito do Ministério da Justiçae do Ministério das Relações <strong>Exterior</strong>es para os assuntos de emigração.II – REPRESENTAÇÃO POLÍTICA PARA OSEMIGRANTES BRASILEIROS3. MECANISMO DE REPRESENTAÇÃO DOSEMIGRANTES BRASILEIROS - Criação de mecanismos de366


ANEXOrepresentação dos emigrantes junto ao Estado brasileiro, a exemplodo que já existe em outros países, como Portugal e Cabo Verde. Abase desta representação deveria ser a eleição direta, por emigrantesregistrados <strong>no</strong> consulado, de um conselho de representantes.4. SUBCOMISSÕES NO CONGRESSO NACIONAL -Implementação de subcomissões permanentes nas Comissões deRelações <strong>Exterior</strong>es da Câmara dos Deputados e do Senado Federalpara tratar das questões específicas de interesse dos brasileiros <strong>no</strong>exterior, incluindo a sua representação política, a ser estudada. Asreferidas subcomissões trabalharão articuladas com a Comissão deDireitos Huma<strong>no</strong>s da Câmara dos Deputados.III – ELABORAÇÃO DO ESTATUTO DOBRASILEIRO NO EXTERIOR5. ESTATUTO DO BRASILEIRO NO EXTERIOR -Criação de uma legislação específica que contemple os direitos edeveres de brasileiros <strong>no</strong> exterior, consolidando a regulação jurídicapertinente às suas questões. Para tanto, sugere-se a constituição deum grupo de trabalho, incluindo parlamentares e membros doMinistério Público Federal, a integrar-se ao já criado grupointerministerial do Ministério das Relações <strong>Exterior</strong>es e do Ministérioda Justiça, para dar início, o mais rapidamente possível, à elaboraçãode um anteprojeto de Estatuto do Brasileiro <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>, ouvindo ascomunidades.IV – ATUAÇÃO DE CONSULADOS E EMBAIXADASBRASILEIRAS6. ATUAÇÃO DAS EMBAIXADAS - Envolvimento diretodas embaixadas nas questões políticas, sociais, jurídicas e econômicasrelacionadas aos emigrantes.367


GEORGE TORQUATO FIRMEZA7. FORTALECIMENTO DA ESTRUTURA DOSCONSULADOS - Reforço das capacidades humanas efinanceiras dos consulados para o devido atendimento aosbrasileiros <strong>no</strong> exterior,com a ampliação do número defuncionários, terceirização de mão-de-obra em situações deemergência, identificação das necessidades de capacitação ecredenciamento de entidades que possam realizá-la e integraçãodo MRE com órgãos federais competentes (Secretaria da ReceitaFederal, Justiça Eleitoral, etc.) para identificação das necessidadesde treinamento.8. INSCRIÇÃO CONSULAR - Implementação de umprograma de incentivo à inscrição consular informatizada dos emigrantesbrasileiros na área de jurisdição de cada consulado, permitindo umamelhor comunicação do Consulado com os emigrantes, consultascensitárias e estudos demográficos.9. REPATRIAMENTO DE BRASILEIROS - Reforço dosmeios financeiros e operacionais para o repatriamento deemigrantes em situação de carência e para traslado de corposde brasileiros falecidos <strong>no</strong> exterior. Negociação de protocoloentre o Estado brasileiro e companhias de transporte depassageiros para perdão de multa na revalidação de passagens,pagamento de preços mínimos ou eventual transporte gratuitode repatriados.10. RECADASTRAMENTO ELEITORAL -Recadastramento eleitoral permanente <strong>no</strong>s consulados.11. RELAÇÃO ESTADO/COMUNIDADE - Criação efortalecimento de instrumentos de mediação entre o Estado e acomunidade de imigrantes brasileiros, principalmente <strong>no</strong> que se refereà assistência social.368


ANEXO12. CONSULADOS ITINERANTES E PLANTÃOCONSULAR - Implementação e/ou ampliação dos consuladositinerantes, e instituição de um plantão consular permanente <strong>no</strong> primeirodomingo de cada mês.13. ASSESSORIA JURÍDICA A EMIGRANTES –Implementação de serviço jurídico local de apoio aos emigrados,prestado preferencialmente por profissionais que trabalhem comassociações ligadas à comunidade. Este serviço deverá ser financiadopelo Estado brasileiro, mediante apresentação e aprovação de projetosespecíficos por entidades ou associações.V– DOTAÇÕES ORÇAMENTÁRIAS14. AMPLIAÇÃO DE DOTAÇÃO ORÇAMENTÁRIA -Ampliação da dotação orçamentária e da meta de atendimento do programa“Assistência a Cidadãos <strong>Brasileiros</strong> <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>” (PPA 2000- 2003), tendoem vista a existência de mais de 2 milhões de emigrantes brasileiros.15. NOVA RUBRICA ORÇAMENTÁRIA - Inscrição <strong>no</strong>orçamento do Ministério das Relações <strong>Exterior</strong>es, de <strong>no</strong>va rubricadestinada ao apoio financeiro a entidades de imigrantes brasileiros ouassociações de apoio aos mesmos, legalmente existentes, mediante aapresentação de projetos específicos.16. ISENÇÃO OU REDUÇÃO DE TAXAS BANCÁRIASPARA O EMIGRANTE – Isenção de taxa bancária por parte do Bancodo Brasil em remessas de até US$ 500,00 dólares mensais, ou seuequivalente em euros. Acima disto, a taxa deverá ser a mais baixa domercado financeiro.Eventualmente, se necessário, criação de um regulamento doBanco Central que permita ao Banco do Brasil oferecer as condiçõesde envio acima estipuladas.369


GEORGE TORQUATO FIRMEZA17. INCENTIVO À REMESSA DE RECURSOS AOBRASIL - Visando atrair a poupança pessoal de emigrantes brasileiros,propõe-se a criação de produtos financeiros específicos, a fim deviabilizar o acesso ao crédito para a aquisição da casa própria <strong>no</strong> Brasil,inclusive com poupança habitacional.VII – SEBRAE18. FORMAÇÃO A PEQUENOS EMPRESÁRIOS -Promoção pelo SEBRAE de ações de formação dirigidas a funcionáriosde embaixadas brasileiras, orientadas para peque<strong>no</strong>sempresários emigrantes. Quando possível criação de balcõesdo SEBRAE ou outra entidade similar nas embaixadas.VIII – ACORDOS E NEGOCIAÇÕES DIPLOMÁTICAS19. POLÍTICAS GERAIS DE PROTEÇÃO - Ampliação eefetivação de acordos bilaterais entre o Brasil e os países de acolhimentocom o objetivo de proteger os interesses dos emigrantes brasileirosconcernentes a seguridade social, emigração / imigração,reconhecimento de títulos ou de equivalência na educação média esuperior, atendimento <strong>no</strong> sistema de saúde, entre outros.20. TRATADO DE AMIZADE BRASIL-PORTUGAL -Gestões junto ao Estado português para o cumprimento efetivo doscapítulos 4 e 5 do Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta assinadoem 22/04/2000, que determina, respectivamente, o reconhecimentode graus e títulos acadêmicos e títulos de especialização e acesso aprofissões e seu exercício, e para que os respectivos valores finais oumédias finais de curso constem do documento de reconhecimento.21. GARANTIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DETRABALHADORES MIGRANTES BRASILEIROS -370


ANEXORecomendação da ratificação da Convenção Internacional sobre aProteção dos Direitos de todos Trabalhadores Migrantes e de seusFamiliares, aprovada pela Assembléia Geral da ONU, em 18/12/1990,que estabelece <strong>no</strong>rmas de tratamento igualitário entre trabalhadoresnacionais e estrangeiros e atribui direitos huma<strong>no</strong>s fundamentais a todosos trabalhadores migrantes, legais ou ilegais.22. REPATRIAÇÃO DE BRASILEIROS PRESOS NOEXTERIOR - Ampliação e efetivação de tratados bilaterais sobre atransferência de presos entre o Brasil e cada um dos países de acolhida,permitindo que os brasileiros condenados <strong>no</strong> exterior possam cumpriras penas restritivas de liberdade <strong>no</strong> Brasil, favorecendo a sua reinserção<strong>no</strong> meio social e familiar.23. INCENTIVO AO ESTUDO E DIFUSÃO DA LÍNGUAPORTUGUESA - Ampliação e/ou efetivação de acordo bilateral entreBrasil e Portugal, com o objetivo de facilitar o estudo da línguaportuguesa aos emigrantes, seus cônjuges estrangeiros e seusdescendentes. Poderá ser aproveitada a infra-estrutura portuguesa deensi<strong>no</strong> já existente <strong>no</strong> exterior.24. PROTEÇÃO A BRASILEIROS CONTRA ABUSOSDOS SERVIÇOS DE IMIGRAÇÃO - Ação rigorosa e imediatado Estado brasileiro diante de denúncias de abusos ou práticasdegradantes contra brasileiros <strong>no</strong> exterior, pelos serviços deimigração.25. AUTORIZAÇÕES DE TRABALHO E DEPERMANÊNCIA EM PORTUGAL - Gestões, por parte do Estadobrasileiro, junto aos Ministérios de Administração Interna e do Trabalhode Portugal, <strong>no</strong> sentido de cumprir as <strong>no</strong>rmas legais vigentes de entradae permanência <strong>no</strong> território português, tendo em vista os contratos detrabalho já aceitos pelos órgãos competentes em Portugal.371


GEORGE TORQUATO FIRMEZA26. EXERCÍCIO DO DIREITO DE VOTO AEMIGRANTES BRASILEIROS NO PAÍS DE ACOLHIMENTO- O Estado brasileiro deve adotar políticas com vistas a apoiar oprincípio do direito de voto a emigrantes brasileiros nas eleiçõesmunicipais <strong>no</strong> país de acolhimento, assegurando reciprocidade <strong>no</strong>Brasil.IX – QUESTÕES CRIMINAIS27. REPRESSÃO A ATIVIDADES CRIMINOSASRELACIONADAS À EMIGRAÇÃO - Investigação permanentee adoção de medidas legais cabíveis, por parte do Ministério daJustiça e do Ministério Público Federal, contra empresas ouindivíduos envolvidos em atividades crimi<strong>no</strong>sas relacionadas àemigração, como o agenciamento ilegal de mão-de-obra e o tráficode mulheres. Coordenação entre a Polícia Federal, Consulados e<strong>Comunidades</strong> de <strong>Brasileiros</strong> <strong>no</strong> exterior.28. CRIMES RELACIONADOS À EMIGRAÇÃO -Análise do enquadramento penal dos crimes relacionados àemigração de brasileiros. Propõe-se a atualização da tipificaçãodesses crimes e agravamento das penas.X– CALL CENTER29. CRIAÇÃO DE CALL CENTER - Criação pelo Estadobrasileiro de um call center para atendimentos e registros de casosgraves e urgentes envolvendo brasileiros <strong>no</strong> exterior.XI – REGISTROS CIVIS30. TRANSCRIÇÃO DE REGISTROS CIVISCONSULARES - Tendo em vista a função de oficial de registro372


ANEXOcivil conferida aos cônsules e vice-cônsules do Brasil pelaConvenção de Viena de 1963, propõe-se aos órgãos do PoderJudiciário Brasileiro que seja viabilizada, com a possível dispensade processo judicial, a transcrição dos registros de nascimento defilhos de brasileiros nascidos <strong>no</strong> exterior e casamentos celebradospor autoridade estrangeira <strong>no</strong> exterior.31. REGISTRO DE NASCIMENTO DE BRASILEIRONO EXTERIOR - Aprovação urgente pelo Congresso Nacionalda PEC 272/00-A (PEC 24/99 <strong>no</strong> Senado), de autoria doSenador Lúcio Alcântara, que dá <strong>no</strong>va redação à alínea “c”doinciso I do artigo 12 da Constituição Federal e acrescenta aoartigo o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias,assegurando o registro <strong>no</strong>s consulados de brasileiros nascidos<strong>no</strong> estrangeiro.XII – ACESSO À INFORMAÇÃO32. CARTILHA DE DIREITOS E DEVERES – Elaboraçãoe divulgação de cartilha, a ser disponibilizada também na Internet,contendo toda a legislação brasileira e do país de acolhimento queseja considerada de interesse para os brasileiros <strong>no</strong> exterior. Acartilha deverá ser elaborada por representantes do Poder Executivo,do Poder Legislativo e do Ministério Público Federal e conter, deforma clara e compreensiva, as <strong>no</strong>rmas de cada país de acolhimentopara orientar os brasileiros que estão saindo do País, sobre seusdireitos e deveres em cada um desses territórios, os serviçosprestados pelo Consulado e os <strong>no</strong>mes e endereços das entidadesque congregam brasileiros nesses países.33. OBSERVATÓRIO DA EMIGRAÇÃO- Criação de umobservatório da emigração, que reuna toda informação oficial,acadêmica e das entidades que atuam com os emigrantes.373


GEORGE TORQUATO FIRMEZAXIII – CENSO34. CENSO DA EMIGRAÇÃO - Realização de um censoque permita o mapeamento sócioeconômico e demográfico dosemigrantes, a ser equacionado pelas entidades competentes na matéria(IBGE e CNPD).CONCLUSÃOAlcançados os objetivos traçados para o Encontro, o presentedocumento contempla as propostas aprovadas, que visam a melhoriadas condições de vida e a garantia dos direitos fundamentais dosbrasileiros e brasileiras <strong>no</strong> exterior.Estas propostas serão encaminhadas às instâncias dos PoderesExecutivo, Legislativo e Judiciário do Brasil, para que sejam analisadase se adotem as medidas consideradas necessárias para suaimplementação. Às entidades confessionais e da sociedade civilrecomenda-se a divulgação dos resultados do presente evento e aadoção, <strong>no</strong> âmbito de sua atuação, das iniciativas pertinentes.O I Encontro da Comunidade de <strong>Brasileiros</strong> <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong> foi aprimeira etapa do Projeto <strong>Brasileiros</strong> <strong>no</strong> <strong>Exterior</strong>. Ciente de que asrealidades dos demais países onde vivem brasileiros enriquecerão eampliarão a pauta de propostas já elaborada, a Procuradoria Regionaldos Direitos do Cidadão do Distrito Federal dará prosseguimentoimediato ao referido Projeto, sendo certo, porém, que caberá ao EstadoBrasileiro demonstrar, através de medidas concretas, o seu interesseem garantir aos emigrantes brasileiros a sua condição de titulares dedireitos fundamentais.374


ANEXO IICARTA DE BOSTON (2005)Em Outubro de 2002, o então candidato a presidente do Brasilpelo Partido dos Trabalhadores (PT), Luis Inácio Lula da Silva enviouaos brasileiros residentes <strong>no</strong> exterior a “Carta aos brasileiros que vivemlonge de casa.” Os brasileiros residentes <strong>no</strong>s Estados Unidos receberamesta carta com grande esperança de que seus anseios fossem atendidospelo futuro Gover<strong>no</strong> Lula.A Carta propunha políticas <strong>no</strong>vas a ser implantadas pelaadministração do Gover<strong>no</strong> Lula, como por exemplo, o apoio à criaçãode organismos de representação de emigrantes junto aos Consuladose Embaixadas brasileiras <strong>no</strong> exterior, a criação de instrumentos <strong>no</strong>Ministério de Relações <strong>Exterior</strong>es e da Justiça para coordenar oatendimento e apoio aos imigrantes, e a redução de taxas bancáriaspara remessa de recursos para o Brasil.Nos últimos três a<strong>no</strong>s lideranças da comunidade brasileira <strong>no</strong>sEstados Unidos tem dado passos importantes para organizar seusdiversos segmentos em busca de melhores condições de vida e trabalho<strong>no</strong>s Estados Unidos da América. Em outubro de 2005 foi realizado emBoston o I Encontro de Lideranças Brasileiras <strong>no</strong>s Estados Unidos.Os participantes deste evento resolveram elaborar a presente Cartade Boston para reivindicar a implementação das políticas propostaspela Carta de 2002 e atualizá-las de acordo com as recentes discussõese propostas debatidas neste Encontro.Diante dos avanços obtidos <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s <strong>no</strong> relacionamentoentre a comunidade brasileira e o Gover<strong>no</strong> brasileiro, o Comitê375


GEORGE TORQUATO FIRMEZAOrganizador do I Encontro gostaria de apresentar as seguintespropostas ao Gover<strong>no</strong> Lula e ao Congresso do Brasil:• Abertura de <strong>no</strong>vos consulados do Brasil <strong>no</strong>s Estados Unidosde acordo com a distribuição geográfica dos brasileirosresidentes neste país.• Aumento da frequência dos consulados itinerantes para quepossam atender um maior número de pessoas que seencontram distantes das sedes consulares.• Expansão do papel dos consulados, de maneira que osconsulados não sejam apenas órgãos emissores dedocumentos mas atuem como orgão de apoio comunitáriopara responder as diversas necessidades dos cidadãosbrasileiros residentes <strong>no</strong>s Estados Unidos.• Reestruturação do corpo organizacional dos consuladosbrasileiros, de maneira que haja uma pessoa diretamenteresponsável por relações com comunidades brasileiras.• Criação de Política de Estado <strong>no</strong> Brasil para lidar com osinteresses e necessidades das comunidades brasileirasresidentes <strong>no</strong> exterior. Esta política deve almejar incluir todosos setores do gover<strong>no</strong> que podem auxiliar a melhoria dascondições de vida dos brasileiros emigrados, como osMinistérios da Justiça, Relações <strong>Exterior</strong>es, Educação,Saúde, Cultura, o Congresso Brasileiro, a Caixa Eco<strong>no</strong>micaFederal, o SEBRAE, entre outros.• Abertura de amplo debate e negociação com o gover<strong>no</strong>america<strong>no</strong> para que este incremente o número de vistos detrabalho e reunificação familiar oferecidos anualmente a376


ANEXObrasileiros que desejem emigrar para os Estados Unidos.• Apoio às Organizações Não Governamentais (ONGs)representativas da comunidade brasileira residente <strong>no</strong>sEstados Unidos. Este apoio deve manifestar-se em iniciativasconjuntas com empresas e órgãos governamentais visandofortalecer a organização da comunidade brasileira <strong>no</strong>sEstados Unidos da América.• Intensificação dos esforços diplomáticos do Gover<strong>no</strong>brasileiro na defesa dos direitos huma<strong>no</strong>s e de cidadaniados brasileiros emigrantes para os Estados Unidos.Gostaríamos de destacar as centenas de brasileiros que seencontram em prisões americanas a espera de deportaçãoou de auxílio jurídico por parte da autoridade consular. Alémdisto, é necessário auxílio financeiro para o traslado para oBrasil dos corpos de brasileiros falecidos em solo america<strong>no</strong>cujas famílias não possuem recursos financeiros para arcarcom as despesas deste traslado.O rápido aumento do número de brasileiros vivendo <strong>no</strong> exterior,principalmente <strong>no</strong>s Estados Unidos, e a mudança <strong>no</strong> perfil dacomunidade brasileira, aliados ao <strong>no</strong>vo tipo de necessidades destascomunidades, exigem que o gover<strong>no</strong> brasileiro mude sua políticaconsular de maneira a tratar os brasileiros residentes <strong>no</strong> exterior comoseres huma<strong>no</strong>s e cidadãos cujos direitos de cidadania e huma<strong>no</strong>s sejamprioridade.Confiantes na sensibilidade e capacidade do gover<strong>no</strong> brasileiro,<strong>no</strong>s colocamos ao inteiro dispor das autoridades brasileiras <strong>no</strong> que forpreciso para colocar em prática, o mais rápido possível, as medidasaqui propostas.377

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