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Caminhos para a inovação em segurança pública no Brasil - DHnet

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Artigos<strong>Caminhos</strong> <strong>para</strong> a <strong>i<strong>no</strong>vação</strong><strong>em</strong> <strong>segurança</strong> <strong>pública</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>Marcos Rolimnegros ser<strong>em</strong> apenas 8% do total da populaçãocarioca, formam 33% da massa carcerária e 30%dos civis mortos pela polícia.Sob a expressão “autos de resistência”, as execuçõesaparec<strong>em</strong> <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> dos relatos policiaise da mídia s<strong>em</strong>pre associadas ao “enfrentamento aquadrilhas” de traficantes. Os estudos disponíveissobre o perfil dessas mortes, entretanto, suger<strong>em</strong>claramente outra interpretação:A polícia paulista fulmina mais dametade de suas vítimas com tiros nas costas;acerta um terço delas na cabeça; cometea maioria dos homicídios à <strong>no</strong>ite,muitas vezes s<strong>em</strong> test<strong>em</strong>unha. Na maiorparte dos casos, não há provas de que avítima cometia algum crime. Esses são osdados da análise de inquéritos policiais elaudos periciais de 224 (33,7%) de umtotal de 664 vítimas fatais da ação policial<strong>no</strong> a<strong>no</strong> de 1999. Especificamente, 36%foram atingidos na cabeça e, <strong>em</strong> média,as vítimas foram mortas com 3,17 tiros.Em 20,7% delas, havia 5 a 9 perfuraçõesfeitas por balas. Do total, 131 (68%) doshomicídios ocorreram <strong>no</strong> período <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>e, destes, 81,6% foram ocasionadospor perfurações na cabeça ou nas costas.A análise também concluiu que 52% dasvítimas não possuíam antecedentes criminais.(MIR, 2004, p.445)Mudanças nas estruturas de policiamento,<strong>no</strong>s procedimentos e rotinas policiais são, viade regra, mal recebidas pelas instituições e vistascomo ameaças a um equilíbrio que se pretend<strong>em</strong>anter. Mudanças aceitáveis <strong>para</strong> essa tradiçãosão apenas aquelas que permitam aos policiaisespaços ainda maiores de auto<strong>no</strong>mia, somadosà autorização <strong>para</strong> ações hoje limitadas ou nãoadmitidas pelo ordenamento jurídico. Duranteo desenvolvimento de qualquer mudança, é comumque muitos policiais se sintam inseguros ebusqu<strong>em</strong> formas de resistir aos projetos i<strong>no</strong>vadores(CORDNER et al., 1991). Isso será especialmenteverdadeiro quando as mudanças for<strong>em</strong>compreendidas como materialização de umaabordag<strong>em</strong> “leve” na luta contra o crime. Isso émuito comum, por ex<strong>em</strong>plo, quando se mostraaos policiais que seu trabalho poderia ser b<strong>em</strong>mais eficaz na redução das taxas de criminalidadee violência se estivesse articulado e comprometidocom projetos sociais de caráter inclusivo.Nesses casos, a reação sustentada com base nasubcultura policial dirá que projetos de prevençãosão matéria de “assistentes sociais” — o queseria, portanto, uma forma de negar a presumida“essência” da atividade policial: a repressão.Assim, <strong>para</strong> todos aqueles que estão acostumadosa um tipo de abordag<strong>em</strong> repressiva e queimaginam que a atividade policial seja exclusivamenteisso, será, por certo, bastante difícil operaruma transição <strong>para</strong> um modelo fundado <strong>em</strong> outraspr<strong>em</strong>issas; um modelo <strong>em</strong> que, por ex<strong>em</strong>plo,a repressão esteja subordinada a uma racionalidadepreventiva. Por óbvio, a resistência à <strong>i<strong>no</strong>vação</strong>oferecida pelas instituições policiais não é apenasmotivada por diferenças culturais ou ideológicas.Ocorre que o atual modelo de polícia t<strong>em</strong>permitido também que determinados interessesparticulares, articulados ilegalmente e mesmo<strong>em</strong> estreita colaboração com grupos criminais,tenham fincado raízes nas instituições policiais.Reformas, então, também ameaçam práticas altamentelucrativas já acomodadas na instituição,e que beneficiam parte das elites policiais. Assim,como diria Maquiavel, “o i<strong>no</strong>vador t<strong>em</strong> por ini-36Revista <strong>Brasil</strong>eira de Segurança Pública | A<strong>no</strong> 1 Edição 1 2007

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