CAPAem alguns países, atendendo às necessidadesinternas de energia, ou seja, deimportador poderá se tornar produtor.Em alguns casos, como na Rússia, podesignificar uma revitalização da economia”,destaca.Também chamado de gás não convencional,o gás de folhelho encontra-seaprisionado dentro do folhelho. “Os folhelhossão rochas que, em princípio, sãogeradoras de hidrocarbonetos e não umarocha-reservatório propriamente dita,devido à sua baixíssima permeabilidade.Além disso, os poros onde está esse gássão da ordem de micrômetros de diâmetro,então é um tipo de reservatórionão convencional, não obedecendo aoscritérios do reservatório convencional –que é aquela rocha porosa de onde éextraído o gás natural das bacias sedimentares”,explica Maraschin.A utilização da nomenclatura “gásde xisto”, apesar de muito disseminadapela mídia, está geologicamente incorreta,conforme o pesquisador, pois o xistoé uma rocha metamórfica que nãosuporta gás na sua estrutura. “Isso seespalhou porque folhelho em Portugalé xisto. Então, há uma confusão nessetermo que aos poucos me parece queestá sendo resolvida”, relata.Fraturamento hidráulicoPor ter sido pioneiro em sua exploração,foram os Estados Unidos que desenvolveramuma tecnologia eficaz para extraçãodo gás aprisionado no subsolo, aqual é também a principal fonte de críticasa essa fonte energética. Chamadade fraturamento hidráulico (fracking),como o nome anuncia, a técnica consisteem fraturar artificialmente a rocha, ativandofraturas preexistentes ou ocasionandonovas fraturas, através da injeção,em alta pressão, de uma mistura de água,solventes químicos (géis tensoativos) eareia, liberando assim o gás contido narocha, que pode então ser recolhido. Segundoo Geólogo Anderson Maraschin,a técnica já vem sendo utilizada no Brasilem reservatórios compostos por arenitosfriáveis da Bacia de Campos, quesão arenitos com baixa permeabilidade.“Para gás de folhelho, ainda não existenada em andamento, estamos ainda numestágio prematuro, mas há interesse ementrar nesse mercado competitivo”, afirmao profissional, citando, no entanto,que estudos do Instituto de PesquisasTecnológicas (IPT), encomendados pelaSecretaria Estadual de Energia de SãoPaulo, viabilizam algumas áreas das baciasde Taubaté (SP) e do Paraná, noestado de São Paulo. “Além disso, as baciasdo Vale do Parnaíba (MG), dos Parecis(MT) e Recôncavo (BA) mostramgrandes potencialidades para a comercializaçãodo gás”, complementa.Impactos ambientaisComemorada pelo governo norte-americano,devido principalmente à sua viabilidadeeconômica, diversos países europeus,como França e Bulgária, proibiramo uso da técnica. Em outros, comoIrlanda, Romênia, Alemanha e Espanha,foi declarada moratória até que se tenhammais estudos sobre os possíveisimpactos da exploração. Mesmo nos EstadosUnidos há uma forte campanha,envolvendo inclusive celebridades, paraalertar sobre os prejuízos ambientais resultantesdo fraturamento, principalmentepara as comunidades das regiões deexploração. Rodaram o mundo as imagensdo documentário Gasland, de 2011,onde um morador da área do estado daPensilvânia, onde ocorre a extração dogás de folhelho, “incendeia” a água quesai da torneira com um fósforo.Entre as críticas ao método, estão osgrandes volumes de água empregados– os quais podem chegar a 20 milhõesde litros por poço –, riscos de explosãocom a liberação de gás metano e a possibilidadede contaminação das águassubterrâneas pelos resíduos químicosempregados. É por esses motivos queum grupo de geólogos encaminhou àpresidenta Dilma Rousseff carta solicitando,a exemplo da Europa, uma moratóriade cinco anos até que se tomeuma decisão estratégica sobre a conveniênciade explorar gás de folhelho noBrasil. Entre os signatários do documento,– enviado também à SBPC e ABC –,está o Geólogo, professor da UniversidadeFederal de Santa Catarina e coordenadordo Projeto Rede Guarani/SerraGeral, Luiz Fernando Scheibe. “Enquantoo gás natural e o petróleo ocorremem estruturas geológicas e nichos próprios,o gás de xisto impregna toda arocha ou formação geológica. Nesta condição,a tecnologia de extração de gásestá embasada em processos invasivosda camada geológica portadora do gás,com a injeção de água e substâncias químicas,podendo ocasionar vazamentose contaminação de aquíferos de águadoce que ocorrem acima do xisto. Estaé uma grande preocupação dos técnicose gestores da área de recursos hídricose meio ambiente”, alertam os autores.Para ele, “os milhões de litros de águaque resultam poluídos em cada poço, porhidrocarbonetos e por outros compostose metais presentes na rocha, nos explosivose nos próprios aditivos químicosrequeridos pela complexa atividade demineração do gás, exigindo dispendiosastécnicas de purificação e de descarte dosresíduos finais, que podem vir a poluirtanto a água de superfície como os própriosaquíferos”, também são questõesmuito importantes. Scheibe e os demaisautores da carta demonstram preocupaçãocom os diversos aquíferos brasileiros,destacando que o risco potencial de contaminaçãopor perfurações pelo frackingseria maior do que com os métodos convencionaisde perfuração de poços deextração de petróleo ou gás. “É, por exemplo,a situação do Aquífero Guarani, naBacia Geológica do Paraná, a principalreserva de água subterrânea do ConeSul, a qual, segundo as primeiras estimativasda ANP, concentraria mais de 50%das reservas do ‘gás de xisto’ no Brasil,e que seria atravessado pelas perfuraçõese processos de injeção na camadainferior”, justifica. Outra situação argumentadaé de que as técnicas usadasainda são pouco conhecidas. “É uma tecnologiaque começou a ser massiva hámenos de 10 anos e sempre nos perguntamosse a longo prazo as consequênciasnão serão danosas demais.” Ele citaum exemplo norte-americano, que reforçaa atenção ao tema. “Veja que enquantoo Estado da Pensilvânia liberou a exploração,o de Nova York a proibiu, poisé desses aquíferos que vem a água deabastecimento da grande cidade.”Já o pesquisador do Cepac, Geól. Maraschin,acredita não haver motivo paratantos receios. “Na verdade, isso tudo émuito especulativo ainda. Claro, semprehá essa preocupação de que a partir domomento que se tiver uma pré-viabilidadeeconômica e tecnológica para aextração, é importante também ter o controleambiental, pois um poço mal perfuradopode ocasionar eventualmentealgum prejuízo ambiental”, declara. Deacordo com ele, não existem ainda estudoscientíficos comprovando as afirmaçõessobre a possível poluição dos lençóisfreáticos pelos produtos químicosutilizados no processo, nem mesmo depequenos abalos sísmicos ocasionais pelofraturamento. “Por enquanto, não existenada científico. Então, é claro, há essa28crea-rs.org.brtwitter.com/creagauchofacebook.com/creagaucho
Figura indica atécnica defraturamentohidráulico (fracking)para extração degás de folhelhopreocupação ambiental, isso é importante.Mas nada, hoje, alarmante.” Sobre ouso da água, afirma que há várias empresas,entre elas gigantes do setor energético,como a Halliburton Corp. e aSchlumberger Ltd., na corrida de encontrarmaneiras de reciclar e reutilizar a águaempregada no fraturamento hidráulico.O Geólogo Rohde parte da mesmapremissa para defender uma aceleraçãono processo de exploração em terrasbrasileiras. “As críticas existentes devemser confrontadas com os resultados nospaíses em que essas tecnologias foramdesenvolvidas e aplicadas extensivamente,no caso os Estados Unidos e o Canadá.Deve-se levar em conta, além domais, que a Agência de Proteção Ambientaldos Estados Unidos tem um quadrotécnico excepcional e uma independênciadecisória que jamais deixaria umatecnologia que pudesse prejudicar a águasubterrânea ser utilizada. Para finalizar,as condicionantes subterrâneas nos EUAe no Canadá são muito mais adversasdo que as do Brasil, tendo em vista inclusivea possibilidade de ocorrência desolos congelados, o famoso permafrost”,sustenta.Outro ponto de questionamento levantadopelos contrários ao fracking é ofato de o Brasil investir na exploração decombustíveis fósseis, em vez de apostarem fontes renováveis e a possibilidadeque a exploração do folhelho venha a inibirtais pesquisas. “Nos Estados Unidos,havia debate até sobre o uso de etanol,porque o petróleo estava caro e difícil deconseguir, mas com o gás convencional,as opções foram esquecidas. O mesmoestá acontecendo no Brasil, por causa dopetróleo do pré-sal”, argumenta Scheibe.Conselho em revista • SET/OUT’1329