15.08.2015 Views

Bocapiu - Plantando Prosperidade

Contando experiências por um sertão mais justo.

Contando experiências por um sertão mais justo.

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Gente do MOCNa série Gente do MOC vamos contar, a partir desta edição, as histórias de pessoas que dedicamsua vida ao MOC e à sua missão. Sempre na última página, retrataremos os caminhos daqueles queacreditam num semi-árido justo e solidário, caminhos que se assemelham com os grupos que acompanhamos.A primeira história a ser contada é também uma das mais longas: com 38 anos de atuação,Ildes Ferreira é o funcionário mais antigo do MOC e tem muito, mas muito mesmo para contar.Sociólogo do campoOsociólogo Ildes Ferreira de Oliveiranasceu no município de Valente,a 240 km de Salvador, em 1948.Seus pais, Rosalvo Ferreira de Oliveira e LuciaGonçalves de Oliveira, eram proprietáriosde uma pequena roça onde criaram cincofilhos. A casa era simples, porémrebocada com estrume de gado (para protegeras paredes), reboco e piso de cimento.Não tinha pintura nem banheiro. Aos 12 anosjá assumia muitas tarefas dos adultos, na roçaou no motor de sisal. “Fui alfabetizado numaescolinha particular rural. Gostava de ler. Alémdo trabalho da roça, meu pai vendia cereaisno dia de feira do Município, pra completaro minguado orçamento”, lembra.“Estudo é pra malandro”Ildes conta que jornais velhos, que eramutilizados para embrulhar produtos que vinhamda feira, eram recolhidos por ele parauma leitura posterior. “Certa feita, meu paiconversou com uma delegada escolar sobremeu interesse por livros velhos e outros materiaisliterários, seu objetivoera que começassea freqüentar umaescola da cidade”.Ildes fez umteste e ingressouna 4ª sériedo primário. Estudava à tarde. Pela manhã,trabalhava duro, na roça ou no motor de sisalonde se começava a jornada às 2 horas damadrugada. A escola ficava a três quilômetros,o equivalente a quarenta minutos de caminhada.Mas a freqüência na escola nuncafoi bem aceita. “Sempre ouvi do meu pai expressõesdo tipo: Estudo é pra malandro oufilho de rico, filho de pobre tem que trabalhar.Enfrentei. Queria continuar estudando,não sabia exatamente para o quê”.Aos 14 anos, Ildes ingressou no SeminárioDiocesano de Menores de Senhor doBonfim, a cerca de 120 quilômetros de Valente,que se constituiu na grande alternativapara ele poder estudar.Tábua de salvação: a formaçãopolíticaIldes sempre esteve ligado à igreja. Apósconcluir o ginásio, a diocese o enviou juntamentecom outros seminaristas paraAmélia Rodrigues, sob a orientação do Pe.Aldo Giazzon, um italiano, de formação progressista.“Foi à tábua da salvação. Atravésdele, engajei-me na JAC (Juventude AgráriaCatólica) e aí iniciou propriamente a minhaformação política”.O MOC já tinha nascido há um ano. Oentão Pe. Antonio Albertino Carneiro,idealizador de um “escritório técnico paraassessorar o clero”, era um jovem e famosopelas suas posturasinovadoras e atérevolucionárias paraa época. Frequentementeele era convidadopara orientaros seminaristas.“Essa foi a segundagrande oportunidade que me apareceu: Pe.Albertino acabou me convidando para trabalharem Feira de Santana, no MOC”.Nome: Ildes Ferreira de OliveiraIdade: 58 anosEstado Civil: CasadoNaturalidade: Valente-BahiaFormação: SociólogoO MOC: a grande academiaA curiosidade e a disposição em aprenderfizeram com que ele acompanhasse técnicosdo MOC (um sociólogo, um assistente sociale um padre) em quase todas as atividades.Naquele mesmo ano, quando o MOC iniciousua atuação na zona rural, Ildes começou avisitar algumas comunidades (Lagoa Grande,Maria Quitéria, Feira de Santana) junto a outrotécnico e, no ano seguinte, assumiu o acompanhamentoda comunidade da Matinha.No MOC, ele começou a interessar-sepelas Ciências Sociais, ingressando na UniversidadeFederal da Bahia (UFBA) em 1973.“Já assumia algumas responsabilidades maioresno MOC que, mesmo criando facilidadespara que pudesse estudar, tinha quededicar todos os finais de semana ao trabalho,além de alguns dias durante a semana.Em 1977 concluí o curso de Ciências Sociaise passei a me dedicar integralmente ao trabalhodo MOC”. Em 1983, Ildes fez ummestrado em Campina Grande, porém, continuavacolaborando com o MOC na elaboraçãode relatórios, projetos etc, retornandoapós 2 anos.Ildes foi Secretario Executivo do MOCdurante dois anos, até que foi convidadopara a assumir uma Secretaria Municipal(Habitação Popular e Desenvolvimento Comunitário)passando a Secretaria Executivapara ser assumida por Naidison Baptista.“O MOC foi, e continua sendo, a grandeacademia: não apenas pela influênciana minha formação profissional como lugarde aprendizagem. Nele, aprendi, entretantas outras coisas, a conviver com as diversidades,a exercitar a democracia, a construirrelações de igualdade e de solidariedadeque pude praticar nos outros meiosem que militei e milito: família, universidade,esfera governamental, câmara municipal,partido político, movimentos sociais.Sou um privilegiado”, concluiu.Ildes Ferreira atualmente é o coordenadodo Programa de Políticas Públicas do MOC.Expediente . Realização: Movimento de Organização Comunitária - MOC Coordenação: Programa de Comunicação: Klaus Minihuber,Cristiane Melo, Lorena Amorim, Nayara Silva e Paulo Marcos Edição e Revisão: Cristiane Melo (DRT 3275) Reportagem: Paulo MarcosFotos: Klaus Minihuber e Paulo Marcos Diagramação e Design: Karime Salomão Tiragem: 2.000 exemplares Fale conosco: MOC - R . Pontal 61,Cruzeiro, Feira de Santana - Bahia. CEP: 44.017-170. Tel: (75) 3221.1393 fax: (75) 3221.1604 e-mail: comunica@moc.org.br site: www.moc.org.brApoio


EditorialProsperarcom AgroecologiaAo percebermos a satisfação e elevadaauto-estima das agricultoras da comunidadede Jibóia em Conceição do Coité, salientamosa valorização da mulher no seupapel histórico na agricultura e na garantiada segurança alimentar das famílias e dascomunidades. Elas estão envolvidas tantono cultivo de produtos, na fomentação dasaúde e no manejo dos recursos naturaiscomo no beneficiamento, comercializaçãoe ainda, como responsáveis pelo patrimônioculinário do Brasil.A Agricultura Familiar embasada naAgroecologia e na Convivência com o Semiáridoé condição indispensável para que asnovas práticas e técnicas promovam transformaçõesestruturais e sociais em benefícioprincipalmente das famílias agricultoras. Mastambém beneficiam a sociedade, integrandoe articulando conhecimentos de diferentesciências com os saberes populares, construindoo conhecimento agroecológico,referenciando-se pelos ideais dasustentabilidade em médios e longos prazos.Nesta edição do <strong>Bocapiu</strong>, a experiênciadessas mulheres nos dá uma mostra deum processo de transição agroecológica,nos permitindo refletir a respeito de limitese potencialidades para uma maiorsustentabilidade.É necessário que essa valorização setransponha em políticas deempoderamento e autonomiadas mulheres, com geraçãode renda, distribuiçãode terra e garantia dasegurança alimentar.Renata SantanaCoordenadora do Sub-programade ATER do MOC2 <strong>Bocapiu</strong> . dezembro 2006Mulherescom o bocapiu cheio“Antes a gente trabalhava em casa e naroça, mas só plantava as leiras no inverno.Hoje não, a gente começou a trabalhar eganhar um dinheirinho. Estamos juntandopara investir aqui mesmo”, conta MariaRaimunda Reis, uma das integrantes doProjeto Prosperar na comunidade de Jibóiaem Conceição do Coité. Ela têm cinco filhose diz que está feliz com a nova atividade.As famíliasvão à feira-livrevender seus produtostoda semana.Um dinheiroque representauma vida melhore independência.“O que tem aquina comunidadepara as mulheres fazer é só isso mesmo.São seis famílias envolvidas com a horta ea gente já vê os resultados”, completa aagricultora.A produção das mulheres édiversificada e já tem comércio garantidodevido à qualidade dos produtos. “A genteleva pra Salgadália, comunidade que ficahá 2 Km daqui e lá vende tudo.Temos alface,coentro, pimentão,chuchu, tomate,cebola,repolho, couve,e muitas outras coisas”, comenta outraagricultora, Raimunda da Silva. Para ela,novas idéias empreendidas devem-se aoinvestimento na produção familiaragroecológica. “O Prosperar trouxe as hortase as técnicas de trabalhar com agriculturafamiliar que nós não sabíamos”.Com auxílio de um técnico e uma jovemmultiplicadora de assistência técnicarural o grupo“O Prosperar trouxe as hortase as técnicas de trabalharcom agricultura familiar quenós não sabíamos”,Raimunda da Silva, Agricultora Familiarfaz parte deuma rede deagricultoresfamiliaresatendidos diretamentecom crédito,assistênciatécnica ecapacitações em agroecologia na RegiãoSisaleira. As produtoras contam ainda quea comunidade sofre com a falta de investimentospúblicos e carece de infra-estrutura,educação e trabalho. “Aqui não temtelefone e nem água encanada. Chegouagora o Luz para todos do governo federal”,cita uma moradora.Antes das cisternas do Programa UmMilhão de Cisternas (P1MC) a falta d’águana estiagem faziam com que a comunidadefosse em busca de socorro na prefeitura.“Antes do projeto das cisternas a águaaqui era só no carro-pipa. Quando o prefeitodava a ‘ordem’ eles traziam a águaRaio X da experiênciaJibóiaLocalização: Jibóia está localizada no Sertão da Bahia,Região Sisaleira, em Conceição do Coité, a 220 km deSalvador. A comunidade dista 20 km da sede do município.Habitantes: Moram na comunidade cerca de 70 famílias, na JornadaAmpliada do PETI estudam 34 crianças.Origem histórica: Jibóia surgiu há mais de 100 anos, segundo moradores,a localidade antes era uma fazenda que pertencia ao senhor JoséSilvério. Hoje o morador mais velho tem 84 anos de idade.Vegetação: a vegetação predominante no lugar é a caatinga.As principais fontes de renda são: sisal, mandioca, milho, feijão ebatata, além da criação de pequenos animais como galinhas, ovelhas e bode.de graça, mas quandonão dava a genteque pagava do nossobolso”, denunciam astrabalhadoras.“Hoje quase todomundo aqui temcisterna, só nãotem quem ainda estavaconstruindo acasa na época que oprojeto chegou”.O sonho das mulheresjá está próximode se realizar. Coma venda dos produtoselas querem adquirir umterreno para ampliaçãoda horta. “Hoje a gentevende os produtos e como dinheiro a gente compranovas sementes, mas também guardaum pouco no banco. A nossa vontadeé ter um local mais apropriado paraplantar, pois esse terreno aqui é daassociação comunitária que tambémnos ajuda muito”, explica Raimundada Silva.Saiba maissobre AgroecologiaA Agroecologia surge na década de 1970como campo de produção científica e ciênciamultidisciplinar, preocupada com a aplicaçãodireta de seus princípios na agricultura,na organização social e no estabelecimentode novas formas de relação entre sociedadee natureza.Ou seja, as práticas agroecológicas podemser vistas como práticas de resistênciada agricultura familiar, ao processo deexclusão do meio rural e homogeneizaçãodas paisagens de cultivo. As práticasagroecológicas se baseiam na pequena propriedade,na mão de obra familiar, em sistemasprodutivos complexos e diversos,adaptados às condições locais e em redesregionais de produção e distribuição dealimentos.Criar condições de melhoria da qualidadede vida das famílias do Programa deErradicação do Trabalho Infantil - PETI, éo grande desafio do Projeto Prosperar. Ainiciativa busca promover alternativas degeração de renda na região, através dacapacitação, assistência técnica e créditoaos pequenos produtores. Deste modo, sebusca criar processos sustentáveis entre asfamílias e, conseqüentemente, a garantiada manutenção das crianças na escola independentedo Bolsa Escola.O Prosperar começou a ser implantadoem 2001 pelo MOC, em parceria com aSecretaria do Trabalho e Ação Social (SETRAS)O Projeto Prosperare a Secretaria de Estado e Ação Social doMinistério da Previdência Social (SEAS). É,assim, um Projeto do PETI na Bahia que surgiua partir da demanda das próprias famíliasatendidas pelo Programa. A comunidade reivindicavaalternativas viáveis de geração derenda para a Região.As famílias participam decapacitações para que possam com autonomiaplanejar e gerir sua propriedade, escolheros projetos específicos para os quaisdesejam financiamentos e, junto a tudoisso, obter outras capacitações que lhesgarantam condições técnicas para a convivênciacom o semi-árido.dezembro 2006 . <strong>Bocapiu</strong> 3

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!