Infertilidade sazonal associada ao estresse pelo calor em ... - Suinotec
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<strong>Infertilidade</strong> <strong>sazonal</strong><br />
<strong>associada</strong> <strong>ao</strong> <strong>estresse</strong><br />
<strong>pelo</strong> <strong>calor</strong> <strong>em</strong> fêmeas<br />
suínas: impactos<br />
produtivos e medidas<br />
de controle<br />
1 Cristina V. Ferrari. Autora para<br />
correspondência. Médica Veterinária,<br />
Mestranda Setor de Suínos<br />
da UFRGS. Porto Alegre,RS,<br />
BRASIL.<br />
2 Pedro E. Sbardella, Médico<br />
Veterinário, Mestrando Setor de<br />
Suínos da UFRGS. Porto Alegre,<br />
RS, BRASIL.<br />
3 Fernando P. Bortolozzo e Ivo<br />
Wentz, Médicos Veterinários,<br />
Doutores, Professores de Medicina<br />
de Suínos da UFRGS – Setor<br />
de Suínos. Porto Alegre, RS,<br />
BRASIL.<br />
INTRODUÇÃO<br />
INFLUÊNCIA DO FOTOPERÍODO NA<br />
PRODUTIVIDADE DAS FÊMEAS<br />
INFLUÊNCIA DO ESTRESSE PELO<br />
CALOR NA PRODUTIVIDADE DAS<br />
FÊMEAS<br />
ESTRATÉGIAS PARA MINIMIZAR OS<br />
EFEITOS DA INFERTILIDADE<br />
SAZONAL E ESTRESSE PELO CALOR<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
INTRODUÇÃO<br />
O suíno selvag<strong>em</strong> apresenta normalmente<br />
um parto <strong>ao</strong> ano sendo que a estação<br />
reprodutiva ocorre no início do inverno, possibilitando<br />
o nascimento dos leitões na primavera,<br />
período de maior disponibilidade de<br />
alimento (Peltoni<strong>em</strong>i et al., 2000). As fêmeas<br />
suínas domésticas mantêm alguns resquícios<br />
sazonais de seus ancestrais e apresentam um<br />
comprometimento no des<strong>em</strong>penho reprodutivo<br />
no final do período de verão e início<br />
de outono (Love, 1993), sendo este fenômeno<br />
A fêmea suína é considerada poliéstrica anual,<br />
no entanto observa-se uma redução no des<strong>em</strong>penho<br />
reprodutivo <strong>em</strong> determinadas épocas do ano. Essa<br />
queda na produtividade, que ocorre especificamente<br />
nos meses mais quentes do ano, é chamada<br />
infertilidade <strong>sazonal</strong>. Há indícios que o <strong>estresse</strong> <strong>pelo</strong><br />
<strong>calor</strong>, associado <strong>ao</strong> fotoperíodo, seja a principal causa<br />
deste processo. O objetivo desta revisão é descrever<br />
as consequências da infertilidade <strong>sazonal</strong> <strong>associada</strong><br />
<strong>ao</strong> <strong>estresse</strong> <strong>pelo</strong> <strong>calor</strong> e estratégias para minimizar<br />
os efeitos sobre o des<strong>em</strong>penho produtivo das<br />
fêmeas suínas.<br />
C. V. FERRARI 1 , P. E. SBARDELLA 2 ,<br />
F. P. BORTOLOZZO 3 , I. WENTZ 3 .<br />
denominado infertilidade <strong>sazonal</strong>.<br />
As manifestações de infertilidade <strong>sazonal</strong><br />
inclu<strong>em</strong> atraso na puberdade de leitoas,<br />
aumento do intervalo desmame-estro<br />
(Peltoni<strong>em</strong>i et al., 2000), redução na taxa de<br />
parto (Xue et al., 1994) e redução no tamanho<br />
da leitegada. A Figura 1 d<strong>em</strong>onstra o efeito<br />
da <strong>sazonal</strong>idade, durante 13 períodos de 28 dias<br />
<strong>ao</strong> longo do ano, <strong>em</strong> um sist<strong>em</strong>a de produção<br />
de leitões com mais de 150 mil matrizes, onde<br />
pode-se perceber um decréscimo na produção<br />
de leitões nos meses de junho (6) a set<strong>em</strong>bro<br />
(9), <strong>em</strong> razão das perdas reprodutivas que acontec<strong>em</strong><br />
nos meses de verão (Brandt, 2008).<br />
INFLUÊNCIA DO FOTOPERÍODO<br />
NA PRODUTIVIDADE DAS FÊMEAS<br />
Na espécie suína, a secreção do hormônio<br />
melatonina aumenta durante o período<br />
escuro (dias curtos) e diminui nos períodos<br />
de luz (dias longos) (Love et al., 1993).<br />
O aumento da melatonina estimula os pulsos<br />
de GnRH e, consequent<strong>em</strong>ente, a secreção de<br />
gonadotrofinas, estimulando a atividade ovari-<br />
44 A Hora Veterinária – Ano 32, nº 188, julho/agosto/2012
ana (Peltoni<strong>em</strong>i et al., 2000). No entanto, cabe salientar que o<br />
fotoperíodo, no nosso meio, varia muito pouco do verão para o<br />
inverno, aproximadamente três horas (Mellagi et al., 2006).<br />
Xue et al. (1994) observaram um aumento no intervalo<br />
desmame-estro durante o verão. Porém, esta manifestação n<strong>em</strong><br />
s<strong>em</strong>pre é observada, pois a redução do t<strong>em</strong>po de lactação, a<br />
detecção e estimulação de estro com o macho e os melhores<br />
níveis nutricionais durante a lactação e no período pós desmame,<br />
observados na suinocultura tecnificada, permit<strong>em</strong> uma<br />
redução do intervalo desmame-estro (Love et al., 1993) desde<br />
que b<strong>em</strong> controlados. Além disso, mesmo <strong>em</strong> fêmeas jovens,<br />
o IDE é uma variável que não é tão influenciada <strong>pelo</strong><br />
catabolismo de verão nos genótipos modernos.<br />
Quanto à interrupção <strong>sazonal</strong> na gestação, não se sabe<br />
<strong>ao</strong> certo se o retorno <strong>ao</strong> estro é devido à morte <strong>em</strong>brionária<br />
ou <strong>ao</strong> inadequado reconhecimento materno da gestação (Xue<br />
et al., 1994). Durante o período de infertilidade <strong>sazonal</strong>, ocorre<br />
tanto uma diminuição na secreção de progesterona quanto na<br />
pulsatilidade de LH no início da gestação, indicando a ocorrência<br />
de falha maternal (Love et al., 1993). Além disso, a<br />
diminuição da secreção de progesterona também pode ser<br />
agravada pela restrição alimentar pós-cobertura, sendo que a<br />
redução nos níveis de progesterona após 12 dias de gestação<br />
t<strong>em</strong> impacto negativo na sobrevivência <strong>em</strong>brionária, pois dificulta<br />
a segunda sinalização da gestação que ocorre a partir<br />
de 18 dias após a ins<strong>em</strong>inação (Peltoni<strong>em</strong>i et al., 2000).<br />
Embora os estudos citados anteriormente observar<strong>em</strong> alterações<br />
nos níveis séricos de progesterona, Tast et al (2002)<br />
avaliaram a influência do fotoperíodo <strong>em</strong> fêmeas ins<strong>em</strong>inadas<br />
no período de verão-outono <strong>em</strong> relação àquelas na primaverainverno<br />
e não observaram diferença na concentração sérica de<br />
progesterona e no tamanho da leitegada. Porém o intervalo desmame-estro<br />
foi maior nas fêmeas ins<strong>em</strong>inadas no período de<br />
verão-outono.<br />
INFLUÊNCIA DO ESTRESSE PELO CALOR NA<br />
PRODUTIVIDADE DAS FÊMEAS<br />
O <strong>estresse</strong> causado por t<strong>em</strong>peraturas ambientes elevadas<br />
parece ser um dos principais fatores responsáveis pela baixa<br />
eficiência reprodutiva durante o período de infertilidade <strong>sazonal</strong><br />
(Tast et al., 2002). Para Bortolozzo et al. (2011), esse efeito<br />
A Hora Veterinária – Ano 32, nº 188, julho/agosto/2012<br />
Figura 1. Indicador de<br />
produtividade<br />
representando o<br />
número de leitões<br />
vendidos por fêmea<br />
por ano nos anos 2002<br />
a 2007 (considerando<br />
13 períodos de 28<br />
dias)<br />
Fonte: Brandt, 2008.<br />
deve ser abordado levando <strong>em</strong> conta a fase produtiva <strong>em</strong> que<br />
as matrizes são expostas às altas t<strong>em</strong>peraturas, sendo que, quando<br />
esse <strong>estresse</strong> acontece durante a fase de lactação (pré-cobertura)<br />
e nos primeiros 30 dias após a ins<strong>em</strong>inação (pós-cobertura),<br />
observam-se efeitos negativos no des<strong>em</strong>penho reprodutivo.<br />
Fase Gestacional<br />
A t<strong>em</strong>peratura de termoneutralidade para fêmeas gestantes<br />
está entre 16-19°C, tendo como t<strong>em</strong>peraturas críticas<br />
inferior e superior, 10°C e 24°C, respectivamente (Perdomo<br />
et al., 1985). Nas condições climáticas de nosso país, as fêmeas<br />
pod<strong>em</strong> sofrer <strong>estresse</strong> tanto por t<strong>em</strong>peraturas elevadas<br />
como por t<strong>em</strong>peraturas muito baixas. Fêmeas expostas a t<strong>em</strong>peraturas<br />
abaixo da zona crítica inferior pod<strong>em</strong> ter suas reservas<br />
corporais comprometidas, pois necessitam de mais<br />
energia para manter a t<strong>em</strong>peratura corporal e, nesses casos há<br />
necessidade de incr<strong>em</strong>entar a quantidade de energia ingerida.<br />
Porém, como esta revisão está dando foco para o <strong>estresse</strong> <strong>pelo</strong><br />
<strong>calor</strong>, deve-se salientar que o <strong>calor</strong> excessivo pode afetar as<br />
funções reprodutivas das fêmeas suínas.<br />
No momento da ins<strong>em</strong>inação artificial, t<strong>em</strong>peraturas<br />
ambientais elevadas causam aumentos significativos na t<strong>em</strong>peratura<br />
retal das fêmeas, levando a probl<strong>em</strong>as na fecundação<br />
e fixação dos <strong>em</strong>briões. Brandt et al. (1995) mediram a t<strong>em</strong>peratura<br />
corporal das fêmeas na manhã do primeiro dia da<br />
ins<strong>em</strong>inação e compararam com os índices reprodutivos das<br />
mesmas e observaram que a elevação da t<strong>em</strong>peratura corporal<br />
das fêmeas suínas, no dia da primeira cobertura, está relacionada<br />
<strong>ao</strong> aumento na taxa de retorno <strong>ao</strong> cio e, consequent<strong>em</strong>ente,<br />
diminuição na taxa de parto e tamanho da leitegada.<br />
Omtvedt et al., (1971) avaliaram a influência do <strong>estresse</strong><br />
<strong>pelo</strong> <strong>calor</strong> no início (0-16 dias), meio (53-61 dias) e final da<br />
gestação (102-110 dias) na performance reprodutiva, sendo<br />
que a fase inicial foi dividida <strong>em</strong> pré-implantação (0-8 dias) e<br />
implantação (8-16 dias). Para isso, eles mantiveram leitoas<br />
<strong>em</strong> câmaras ambientais com t<strong>em</strong>peratura controlada a 37,8ºC<br />
por 17 horas diariamente, diminuindo para 32,2°C no restante<br />
do dia. O grupo controle foi mantido continuamente a uma<br />
t<strong>em</strong>peratura de 23,3°C. As leitoas mantidas nas câmaras com<br />
t<strong>em</strong>peraturas elevadas na fase inicial (0-16 dias) após a cobertura<br />
tiveram taxas de concepção e tamanhos de leitegada menores<br />
que o grupo controle. Os autores também observaram<br />
45
que o <strong>estresse</strong> <strong>pelo</strong> <strong>calor</strong> na segunda s<strong>em</strong>ana (dia 8-16) após<br />
a cobertura foi mais prejudicial para sobrevivência <strong>em</strong>brionária<br />
do que na primeira s<strong>em</strong>ana (dia 0-8). Foi observado<br />
também que fêmeas submetidas a altas t<strong>em</strong>peraturas no final<br />
da gestação tiveram maior número de natimortos quando comparadas<br />
às fêmeas do grupo controle. Estes dados d<strong>em</strong>onstram<br />
que fêmeas no meio da gestação são mais resistentes as<br />
t<strong>em</strong>peraturas elevadas, enquanto que durante a fase inicial ou<br />
final da gestação, o <strong>estresse</strong> <strong>pelo</strong> <strong>calor</strong> pode provocar grandes<br />
prejuízos <strong>ao</strong> des<strong>em</strong>penho reprodutivo.<br />
Fase Lactacional<br />
Fêmeas <strong>em</strong> lactação necessitam de uma t<strong>em</strong>peratura ambiente<br />
entre 12-16°C para estar<strong>em</strong> na sua zona de conforto, sendo<br />
que nessa fase, a t<strong>em</strong>peratura crítica superior é 23°C e a inferior é<br />
7°C (Perdomo et al., 1985). As t<strong>em</strong>peraturas elevadas na maternidade<br />
diminu<strong>em</strong> o consumo voluntário de ração e acarretam redução<br />
na produção de leite, exigindo que as fêmeas mobiliz<strong>em</strong> reservas<br />
corporais para manutenção da produção (Black et al., 1993).<br />
Em consequência disso, o peso dos leitões <strong>ao</strong> desmame pode ser<br />
10 a 23% menor <strong>em</strong> ambientes a 27-30°C comparado com aqueles<br />
animais mantidos <strong>em</strong> ambientes a 18-20°C. Ainda, com o baixo<br />
consumo, a d<strong>em</strong>anda energética das fêmeas desmamadas não<br />
é suprida, o que compromete os níveis de LH acarretando maior<br />
frequência de anestro pós-desmame (Britt et al., 1986).<br />
Mullan et al. (1992) aumentaram a t<strong>em</strong>peratura ambiente<br />
de 20 para 30 °C e o consumo das fêmeas diminuiu de 4,05 para<br />
3,13 kg/dia e a produção de leite diminuiu de 8,88 para 7,53 kg/<br />
dia. Resultados s<strong>em</strong>elhantes foram encontrados por Farmer et<br />
al. (2007), onde as fêmeas mantidas durante toda a lactação a<br />
29°C ingeriram menos ração (3,6 vs 4,6 kg/dia) e mais água (35,5 vs<br />
16,4 L/dia) do que fêmeas mantidas a 21°C. Segundo Black et al.<br />
(1993), para cada 1°C de aumento na t<strong>em</strong>peratura ambiente (a<br />
partir de 16°C) há uma redução de 170g no consumo de ração.<br />
A redução no consumo de alimento associado a t<strong>em</strong>peraturas<br />
elevadas acentua o grau de catabolismo lactacional, principalmente<br />
<strong>em</strong> primíparas. Esse catabolismo acentuado promove<br />
efeitos prejudiciais <strong>ao</strong> des<strong>em</strong>penho reprodutivo<br />
subsequente (Britt et al., 2006). Em genótipos modernos, a taxa<br />
ovulatória tende a não ser afetada pela restrição de alimento na<br />
lactação, mas a qualidade folicular e a sobrevivência <strong>em</strong>brionária<br />
pod<strong>em</strong> ser afetadas. Os efeitos do catabolismo na qualidade<br />
do pool de folículos, maturação de oócitos e sobrevivência<br />
<strong>em</strong>brionária, pod<strong>em</strong> explicar a redução no tamanho da<br />
leitegada e, caso comprometam a sinalização<br />
da gestação, pod<strong>em</strong> explicar<br />
uma redução na taxa de parição<br />
(Willis et al., 2003).<br />
ESTRATÉGIAS PARA<br />
MINIMIZAR OS EFEITOS<br />
DA INFERTILIDADE SAZO-<br />
NAL E ESTRESSE PELO<br />
CALOR<br />
As condições climáticas de regiões<br />
tropicais e subtropicais estão acima<br />
da t<strong>em</strong>peratura máxima da zona de<br />
conforto térmico para os suínos <strong>em</strong> alguns meses do ano. Exist<strong>em</strong><br />
diferentes preocupações <strong>em</strong> relação às instalações e fases<br />
de produção (lactação e gestação). Na lactação, o fornecimento<br />
de alimento é à vontade e o <strong>estresse</strong> <strong>pelo</strong> <strong>calor</strong> pode restringir<br />
o consumo voluntário, resultando <strong>em</strong> probl<strong>em</strong>as tanto para<br />
as fêmeas como para os leitões. Dessa forma, buscam-se alternativas<br />
para melhorar o conforto das fêmeas de modo a reduzir<br />
essa restrição e, consequent<strong>em</strong>ente, o catabolismo. Em<br />
contrapartida, na gestação o fornecimento de ração é restrito,<br />
de modo que o <strong>estresse</strong> <strong>pelo</strong> <strong>calor</strong> não vai interferir no consumo<br />
alimentar, mas há indícios que este pode afetar negativamente<br />
o des<strong>em</strong>penho reprodutivo (Mellagi et al., 2006). De<br />
acordo com Bortolozzo et al. (2010) exist<strong>em</strong> algumas estratégias<br />
para minimizar o <strong>estresse</strong> <strong>pelo</strong> <strong>calor</strong> (Quadro 1).<br />
Mesmo as edificações sendo construídas para proporcionar<br />
maior conforto térmico, nas épocas mais quentes do<br />
ano há necessidade de utilizar ferramentas que mantenham a<br />
t<strong>em</strong>peratura ambiente das instalações dentro da faixa de conforto<br />
para os suínos, pois estes possu<strong>em</strong> mecanismos fisiológicos<br />
pouco eficientes para eliminação do <strong>calor</strong> corporal.<br />
Como alternativas de climatização das instalações, pod<strong>em</strong><br />
ser citados diversos sist<strong>em</strong>as, como o uso de ventiladores<br />
ou nebulizadores (Nunes et al., 2003), mecanismos de evaporação<br />
adiabática (Abreu et al., 1999), sist<strong>em</strong>as de gotejamento<br />
e ar refrigerado sobre a nuca das fêmeas (Mcglone et al., 1988).<br />
A ventilação pode ser natural ou mecânica, sendo uma<br />
alternativa muito utilizada <strong>em</strong> galpões de maternidade e gestação<br />
devido <strong>ao</strong> seu baixo custo. Porém, muitas vezes somente<br />
a presença de ventiladores não é suficiente para manter<br />
a t<strong>em</strong>peratura de conforto para os suínos, havendo necessidade<br />
também do uso de nebulizadores. Nunes et al. (2003)<br />
avaliaram a utilização de ventiladores e nebulizadores associados<br />
no período de outono. As fêmeas foram submetidas <strong>ao</strong><br />
ambiente climatizado até os 35 dias de gestação e observouse<br />
que este sist<strong>em</strong>a não foi eficiente <strong>em</strong> reduzir a t<strong>em</strong>peratura<br />
do ambiente, porém manteve a t<strong>em</strong>peratura retal das fêmeas<br />
dentro da normalidade, indicando que não foram submetidas<br />
a uma situação severa de <strong>estresse</strong> <strong>pelo</strong> <strong>calor</strong>.<br />
Mcglone et al. (1988) avaliaram o sist<strong>em</strong>a de gotejamento<br />
sobre a nuca das fêmeas na maternidade e observaram um aumento<br />
no consumo de ração e menor perda de peso nas fêmeas<br />
submetidas a esse sist<strong>em</strong>a. Os autores também verificaram que<br />
houve uma melhora na performance da leitegada quando estas<br />
estavam alojadas <strong>em</strong> piso plástico quando comparado <strong>ao</strong> ripado<br />
Quadro 1: Estratégias para minimizar o <strong>estresse</strong> <strong>pelo</strong> <strong>calor</strong><br />
46 A Hora Veterinária – Ano 32, nº 188, julho/agosto/2012
de concreto, o que leva a acreditar que a umidade no piso<br />
provocada por esse sist<strong>em</strong>a afeta o des<strong>em</strong>penho.<br />
O sist<strong>em</strong>a de resfriamento adiabático evaporativo com<br />
placas consiste na passag<strong>em</strong> do ar por alvéolos de uma placa,<br />
que úmidos evaporam adiabaticamente uma parcela desta<br />
água. O <strong>calor</strong> para evaporação é retirado do ar, reduzindo a<br />
t<strong>em</strong>peratura do ambiente (Abreu et al., 1999). Este sist<strong>em</strong>a<br />
pode apresentar-se associado à ventilação negativa (“pad<br />
cooling”), ou a ductos (Bortolozzo et al., 2010).<br />
O sist<strong>em</strong>a de resfriamento adiabático evaporativo associado<br />
à ventilação negativa (“pad cooling”) é uma alternativa<br />
bastante utilizada <strong>em</strong> centrais de ins<strong>em</strong>inação e <strong>em</strong> avicultura<br />
de corte e, é formado por placas evaporativas (carvão, celulose<br />
ou madeira) posicionadas <strong>em</strong> uma das extr<strong>em</strong>idades<br />
do galpão e exaustores no lado oposto. Morales (2010) comparou<br />
este sist<strong>em</strong>a, na maternidade, com outros tipos de climati<br />
zação e observou que, este foi mais eficiente para diminuir a<br />
t<strong>em</strong>peratura do ambiente e umidificar o ar.<br />
O sist<strong>em</strong>a de resfriamento adiabático evaporativo associado<br />
a ductos (SRAED) consiste <strong>em</strong> uma placa evaporativa<br />
localizada na extr<strong>em</strong>idade do galpão, conectada a um ducto<br />
central de lona plástica do qual part<strong>em</strong> ductos acessórios que<br />
des<strong>em</strong>bocam na parte anterior da gaiola onde as fêmeas estão<br />
alojadas. O ar refrigerado que sai da placa é <strong>em</strong>purrado por<br />
um ventilador para o interior do ducto e distribuído para os<br />
animais. Morales (2010) testou diferentes tipos de climatização<br />
na maternidade, sendo que um destes foi o SRAED.<br />
Apesar de não haver mudanças na t<strong>em</strong>peratura do ambiente,<br />
as fêmeas tiveram um maior consumo alimentar e menor perda<br />
de peso na lactação, levando a acreditar que esse sist<strong>em</strong>a<br />
proporcionou um melhor conforto térmico para estes animais.<br />
A maioria dos sist<strong>em</strong>as estudados e utilizados no Brasil<br />
refere-se à maternidade, devido à importância que se dá <strong>ao</strong><br />
catabolismo nas fêmeas neste período. Porém, na gestação exist<strong>em</strong><br />
poucos estudos mostrando a avaliação de sist<strong>em</strong>as de<br />
climatização na performance reprodutiva dessas fêmeas. Portanto,<br />
torna-se necessária a realização de mais estudos nessa área.<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
A infertilidade <strong>sazonal</strong> <strong>associada</strong> <strong>ao</strong> <strong>estresse</strong> <strong>pelo</strong> <strong>calor</strong><br />
t<strong>em</strong> grande influência sobre o des<strong>em</strong>penho reprodutivo nas<br />
fêmeas suínas. Em vários estudos realizados até agora, foi possível<br />
observar uma expressiva redução na produtividade das<br />
fêmeas <strong>em</strong> determinados períodos, como consequência do baixo<br />
des<strong>em</strong>penho reprodutivo nas épocas onde a infertilidade<br />
<strong>sazonal</strong> se estabelece. Essas informações esclarec<strong>em</strong> a importância<br />
desta característica na produção das granjas suínas.<br />
Tendo <strong>em</strong> vista esta significativa redução de produtividade,<br />
se torna necessário a utilização de sist<strong>em</strong>as que propici<strong>em</strong><br />
um melhor conforto para as fêmeas nestes períodos para<br />
tentar reduzir essa queda no des<strong>em</strong>penho. Já exist<strong>em</strong> algumas<br />
alternativas eficientes para esses fins, principalmente no setor<br />
de maternidade, onde se consegue reduzir a t<strong>em</strong>peratura ambiente<br />
e minimizar a influência das altas t<strong>em</strong>peraturas no consumo<br />
das fêmeas. Porém, no setor de gestação, ainda existe poucos<br />
estudos que mostr<strong>em</strong> alternativas eficientes para fornecer<br />
um ambiente de conforto para as fêmeas, tendo <strong>em</strong> vista que,<br />
A Hora Veterinária – Ano 32, nº 188, julho/agosto/2012<br />
muitas vezes, não se dá a devida atenção para essa fase. Dessa<br />
maneira, ainda é necessária a elaboração de mais estudos nesse<br />
sentido, para tentar reduzir essa influência do fotoperíodo e do<br />
<strong>estresse</strong> <strong>pelo</strong> <strong>calor</strong> na produtividade das fêmeas suínas.<br />
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