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Capítulo 15<br />
LILA subiu os degraus e bateu à porta antes que a chuva desabasse.<br />
A casa era velha, a madeira de que era feita tão feia quanto encardida à meia-luz da<br />
tormenta que se aproximava. O soalho do alpendre rangia sob seus pés, e ela podia ouvir o<br />
vento chocalhando as janelas do primeiro andar.<br />
Bateu com fúria, agora, sem esperar resposta nenhuma do interior. Já não esperava que<br />
alguém fizesse o que quer que fôsse.<br />
A verdade era que ninguém se importava. Não se importavam com Mary — nenhum dêles<br />
se importava. Mr. owery só queria rehaver o dinheiro; Arbogast, investigando o furto, só<br />
queria rehavê-lo para Mr. Lowery; quanto ao xerife, só estava interessado em evitar<br />
amolações— mas era a conduta de Sam que a deixava mais confusa.<br />
Bateu de novo e a casa soltou um gemido cavernoso. O ruído da chuva abafou-o, e ela não<br />
se deu o trabalho de aplicar um ouvido mais atento.<br />
Muito bem ,e ali estava ela, muito zangada — era preciso confesar... E por que não o<br />
estaria? Uma semana a ouvir que tivesse calma, que distendesse os nervos, que relaxasse a<br />
tensão, que tivesse paciência! Se os tivesse ouvido, estaria ainda em Fort Worth, nem ao<br />
menos' teria ido a Fairvale. Nem ao menos podia contar com o auxílio de Sam.<br />
Devia tê-lo percebido antes: Sam era bom, de certo modo até atraente, mas tinha aquêle<br />
jeito lerdo, cauteloso e conservador, peculiar aos moradores de cidade pequena. Êle e o xerife<br />
faziam um bom par. Não se arrisque — era o lema dêles dois, Pois bem, ela não pensava<br />
assim. Não pensava, desde que achou o brinco. Como podia se alhear do caso, mandando-a<br />
procurar o xerife? Por quê não agarrou Bates, fazendo-o confessar? Era isso o que faria ela, se<br />
fôsse homem. Uma coisa era certa: estava farta de depender dos outros; dos outros que não<br />
ligavam, que apenas desejavam não ser importunados. Sam já não voltaria a pôr a cabeça para<br />
fóra e ela certamente não confiava no xerife.<br />
Não tivesse ficado com tanta raiva, não estaria fazendo aquilo; mas estava enjoada da<br />
cautela dêles. Cheia de suas teorias. Há ocasiões em que a gente tem que parar de pensar e<br />
ceder à emoção. Foi a pura emoção — frustração, seria a palavra mais exata — que a levou a<br />
prosseguir naquela busca desesperada, até encontrar o brinco de Mary. E devia haver alguma<br />
coisa na casa de Bates. Devia haver. Já não era boba, conservaria a calma ,ia investigar por<br />
conta própria. Depois haveria tempo suficiente para Sam e o xerife fazerem o resto.<br />
Mas só pensar no comodismo dêles fazia-a sacudir com mais fôrça a maçaneta. Não<br />
adiantava. Não estava em casa ninguém para a atender. Era isso. E ela queria entrar.' O<br />
problema era êsse.<br />
Meteu a mão na bôlsa. Oh, as velhas piadas sem graça, que dizem que uma bôlsa de mulher<br />
tem tudo quanto existe na face da terra — piadas gastas, que só matutos como Sam e o xerife<br />
ainda podiam apreciar... Lima de unhas? Não. Não servia. Mas de um modo ou de outro,