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Psicose - Robert Bloch

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Capítulo 15<br />

LILA subiu os degraus e bateu à porta antes que a chuva desabasse.<br />

A casa era velha, a madeira de que era feita tão feia quanto encardida à meia-luz da<br />

tormenta que se aproximava. O soalho do alpendre rangia sob seus pés, e ela podia ouvir o<br />

vento chocalhando as janelas do primeiro andar.<br />

Bateu com fúria, agora, sem esperar resposta nenhuma do interior. Já não esperava que<br />

alguém fizesse o que quer que fôsse.<br />

A verdade era que ninguém se importava. Não se importavam com Mary — nenhum dêles<br />

se importava. Mr. owery só queria rehaver o dinheiro; Arbogast, investigando o furto, só<br />

queria rehavê-lo para Mr. Lowery; quanto ao xerife, só estava interessado em evitar<br />

amolações— mas era a conduta de Sam que a deixava mais confusa.<br />

Bateu de novo e a casa soltou um gemido cavernoso. O ruído da chuva abafou-o, e ela não<br />

se deu o trabalho de aplicar um ouvido mais atento.<br />

Muito bem ,e ali estava ela, muito zangada — era preciso confesar... E por que não o<br />

estaria? Uma semana a ouvir que tivesse calma, que distendesse os nervos, que relaxasse a<br />

tensão, que tivesse paciência! Se os tivesse ouvido, estaria ainda em Fort Worth, nem ao<br />

menos' teria ido a Fairvale. Nem ao menos podia contar com o auxílio de Sam.<br />

Devia tê-lo percebido antes: Sam era bom, de certo modo até atraente, mas tinha aquêle<br />

jeito lerdo, cauteloso e conservador, peculiar aos moradores de cidade pequena. Êle e o xerife<br />

faziam um bom par. Não se arrisque — era o lema dêles dois, Pois bem, ela não pensava<br />

assim. Não pensava, desde que achou o brinco. Como podia se alhear do caso, mandando-a<br />

procurar o xerife? Por quê não agarrou Bates, fazendo-o confessar? Era isso o que faria ela, se<br />

fôsse homem. Uma coisa era certa: estava farta de depender dos outros; dos outros que não<br />

ligavam, que apenas desejavam não ser importunados. Sam já não voltaria a pôr a cabeça para<br />

fóra e ela certamente não confiava no xerife.<br />

Não tivesse ficado com tanta raiva, não estaria fazendo aquilo; mas estava enjoada da<br />

cautela dêles. Cheia de suas teorias. Há ocasiões em que a gente tem que parar de pensar e<br />

ceder à emoção. Foi a pura emoção — frustração, seria a palavra mais exata — que a levou a<br />

prosseguir naquela busca desesperada, até encontrar o brinco de Mary. E devia haver alguma<br />

coisa na casa de Bates. Devia haver. Já não era boba, conservaria a calma ,ia investigar por<br />

conta própria. Depois haveria tempo suficiente para Sam e o xerife fazerem o resto.<br />

Mas só pensar no comodismo dêles fazia-a sacudir com mais fôrça a maçaneta. Não<br />

adiantava. Não estava em casa ninguém para a atender. Era isso. E ela queria entrar.' O<br />

problema era êsse.<br />

Meteu a mão na bôlsa. Oh, as velhas piadas sem graça, que dizem que uma bôlsa de mulher<br />

tem tudo quanto existe na face da terra — piadas gastas, que só matutos como Sam e o xerife<br />

ainda podiam apreciar... Lima de unhas? Não. Não servia. Mas de um modo ou de outro,

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