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Revista Unicaphoto Ed.07

Revista do curso de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap)

Revista do curso de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap)

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<strong>Revista</strong> do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Unicap - #7, ago 2016<br />

www.unicap.br/unicaphoto


Na web<br />

www.unicap.br/unicaphoto<br />

/fotografiaunicap<br />

Expediente<br />

Coordenação: Renata Victor<br />

Edição: Carolina Monteiro<br />

Diagramação: Arline Lins<br />

Textos: Dario Brito, Suann Medeiros,<br />

Augusto Cataldi, Germana Soares, Frederico<br />

Paulo de Barros e Rafaela Bôaviagem<br />

Cavalcanti da Silva, Marcos D´Rua, Paulo<br />

Souza, Juliana Nascimento Torezani, Rafael<br />

Martins, Diego Araújo, Rautemberg Nóbrega,<br />

Ãngela Grangeiro<br />

Fotos: Ivan Alecrim, Hélia Scheppa, Marcela<br />

Freire, Renata Victor, Marcos D´Rua, Rafael<br />

Martins, Diego Araújo, Rautemberg Nóbrega,<br />

Suann Medeiros<br />

A UnicaPhoto é uma publicação semestral do<br />

Curso Superior de Tecnologia em Fotografia<br />

da Universidade Católica de Pernambuco<br />

(ISSN 2357-8793).<br />

Fotos da capa: Yêda Bezerra de Melo<br />

[2]


EDITORIAL<br />

Foto: Daniel Guimarães<br />

Viva a fotografia!<br />

Apesar da fotografia ser uma jovem senhora de 190 anos, não para de surpreender e se reinventar. Ela<br />

muda de artefato, amplia as suas funções sociais e se afirma como importante instrumento para história,<br />

memória e cultura mundial.<br />

Ao longo da minha vida profissional, trabalhando e lecionando na área da fotografia, tenho me<br />

encantado com o poder que ela tem de agregar pessoas, aumentar a autoestima e ser um forte<br />

instrumento de inclusão social. Tempos atrás, trabalhando em um jornal local, fui escalada para uma<br />

pauta com uma médica que havia voltado de uma residência em um hospital francês que desenvolvia<br />

uma pesquisa com mães e filhos separados após o nascimento porque os bebês necessitavam de<br />

maiores cuidados e permaneciam no hospital enquanto as mães recebiam alta médica. Para amenizar o<br />

sofrimento deles, mães e filhos eram fotografados. Uma foto era dada à mãe e outra ficava na incubadora<br />

do filho. Os resultados foram extraordinários, pois as mães demostravam mais tranquilidade e os bebês<br />

apresentavam melhoras e levavam menos tempo no hospital.<br />

O objetivo maior da UNICAPHOTO é ampliar e compartilhar conhecimentos imagéticos. Hoje,<br />

trazemos a 7ª edição da UNICAPHOTO para comemorar o Dia Mundial da Fotografia, 19 de agosto.<br />

A seleção temática desta edição contém estudos e ensaios fotográficos desenvolvidos por alunos<br />

do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia e da especialização As Narrativas Contemporâneas da<br />

Fotografia e do Audiovisual, entrevista com os agraciados com o prêmio Alcir Lacerda 2016, os fotógrafos<br />

Yeda Bezerra de Mello e Fernando Neves, o lançamento da Coleção ADI de fotografia, as tradicionais<br />

colunas e seções e, as novas seções fotossíntese e tutoriais.<br />

Por fim, agradeço aos alunos, professores, colaboradores que contribuem para a existência da<br />

UNICAPHOTO, em especial às professoras/editoras Carolina Monteiro e Julianna Torezani e à jornalista e<br />

diagramadora Arline Lins.<br />

Boa leitura!<br />

Renata Victor<br />

Coordenadora do Curso Superior de<br />

Tecnologia em Fotografia da Unicap<br />

[3]


Sumario<br />

Aconteceu<br />

no Curso de Fotografia da Unicap<br />

6<br />

8<br />

Acervo Unicap com Ivan Alecrim<br />

Entrevista com Fernando Menezes<br />

10<br />

13<br />

Entrevista com Yêda Bezerra de Mello<br />

Reportagem<br />

ADI lança coleção de<br />

imagens artísticas.<br />

16<br />

19<br />

Reportagem<br />

As narrativas contemporâneas da<br />

fotografia e do audiovisual<br />

Ensaio<br />

Florscience<br />

De Marcela Freire<br />

22<br />

28<br />

Reportagem<br />

Sobre o fluxo de<br />

gerenciamento de cor<br />

Reportagem<br />

Edward Weston: do lugar<br />

comum ao incomum<br />

31<br />

36<br />

Ensaio<br />

Ciclo da vida<br />

De Renata Victor


Coluna Foto _Síntese com Marcos Jr.<br />

46<br />

48<br />

Reportagem<br />

A fotografia de Cinema,<br />

Aspirinas e Urubus<br />

Coluna<br />

Direito autoral e direito de imagem<br />

com Julianna Torezani<br />

54<br />

56<br />

Ensaio<br />

Photografo Ergo Sum<br />

De Rafael Martins<br />

Coluna<br />

Foto_Síntese com Diego Araújo<br />

62<br />

64<br />

Reportagem<br />

Revelação caseira de filme<br />

fotográfico diapositivo chromo<br />

Reportagem<br />

Expedição Endurance: a incrível<br />

viagem à Antárdida completa 100 anos<br />

68<br />

72<br />

Ensaio<br />

Quem é você nas cores?<br />

De Suann Medeiros<br />

Reportagem<br />

O fotógrafo, a fotografia<br />

e a história<br />

78<br />

80<br />

Coluna<br />

Dicas de filmes, livros e sites<br />

com Juliana Torezani


ACONTECEU<br />

MAIO<br />

1. Lançamento da 6ª edição da UnicaPhoto<br />

2. Fotografia na Gastronomia é tema de aula<br />

3. 1ª Gincana do Saber Fotográfico (foto)<br />

4. Aluno Rautemberg Nóbrega visita a<br />

Exposição Genesis de Sebastião Salgado<br />

JUNHO<br />

1. Início das 2ª e 3ª etapas da especialização As<br />

Narrativas Contemporâneas da<br />

Fotografia e do Audiovisual<br />

2. Exposição Interdisciplinar<br />

3. Ex-estagiária Ashley Melo tem foto selecionada<br />

para final do Prêmio Cristina Tavares (foto)<br />

4. Ex-aluna Vanessa Dias é eleita para o<br />

hanking do Bride Association<br />

5. Aniversário da professora Carolina Monteiro<br />

[6]


MAI-AGO 2016<br />

JULHO<br />

1. Colação de Grau 2016.1 (foto)<br />

2. Parabéns aos alunos que participaram<br />

do Intercom NE 2016<br />

3. Exposição do Pernambuco Foto Clube<br />

“Tributo a Sebastião Salgado”<br />

4. Último dia do estagiário Augusto Cataldi<br />

5. Vestibular Portas Abertas<br />

6. Workshop de Fotografia de Gastronomia<br />

com Rafael Medeiros<br />

AGOSTO<br />

1. Abertura do 2º semestre (foto)<br />

2. Exposição da aluna Amanda Pietra em Garanhuns<br />

3. Lançamento da Coleção Fineart da ADI<br />

[7]


ACERVO<br />

UNICAP<br />

Adeus a Dom Miguel<br />

o ultimo dos idealistas<br />

Coluna organizada pelo<br />

professor Dario Brito<br />

FOTÓGRAFO - Ivan Alecrim<br />

CAMERA - Canon EOS<br />

LENTE - 50mm<br />

ISO - 100<br />

LUZ - Natural<br />

DATA - 14 de agosto de 2005<br />

[8]


“No dia da morte Miguel Arraes eu estava de<br />

folga do jornal. Era agosto de 2005, eu estagiava<br />

na Folha de Pernambuco havia uns oito meses e,<br />

entre outras coisas, era o plantonista dele nas últimas<br />

semanas, cobrindo o hospital onde ele estava<br />

internado. O telefone tocou e me avisaram: “Arraes<br />

faleceu, venha para a redação”. Quando cheguei lá,<br />

estavam escalando quem ia para o velório e quem<br />

não ia, quem ficaria dando suporte ao restante<br />

da equipe. Vi que eles separaram uma time peso<br />

pesado para a cobertura. Tinha Daniela, Clemilson,<br />

Bobby, Betini... e de estagiário apenas eu. Quando<br />

me disseram “Você também vai”, eu gelei. Hoje,<br />

penso que foi ótimo, mas na hora foi tenebroso.<br />

Na divisão das atribuições, teve gente que foi para<br />

o aeropoto, para o Palácio do Campo das Princesas,<br />

registrando quem visitava o caixão, enfim, e<br />

eu fiquei no entorno do Palácio sozinho. Essa era a<br />

minha missão. Me coloquei ali na frente da praça e<br />

o choque foi maior ainda quando cheguei porque<br />

os outros jornais só mandaram gente de renome<br />

também e muitos deles lá fora comigo. Pensei:<br />

“Vou ser comido pelos leões aqui, mas bem, se não<br />

tem o que fazer, o que eu vou fazer é nada”. Tudo<br />

foi acontecendo bem naturalmente e, para mim, foi<br />

muito marcante porque apesar de não ter militância<br />

ou formação política alguma, lembrava sempre<br />

dos meus pais falando de Miguel Arraes e da força<br />

dele diante do povo. Ele sempre foi uma figura<br />

muito comentada dentro de casa. Depois eu percebi<br />

a sorte que eu tive de ficar do lado de fora porque<br />

via as pessoas chegando e, principalmente, como<br />

estavam chegando, tanto os oficiais, políticos, artistas,<br />

quanto as pessoas reais chegando também.<br />

E essas eram as mais interessantes. De repente,<br />

chega um caminhão carregado de ex-eleitores de<br />

Arraes, todos de chapéu de palha, cantando jingles<br />

antigos de campanha. Fiquei ali no melhor lugar, no<br />

camarote, sem saber. Via pessoas chorando e toda<br />

aquela energia do momento. Depois de um tempo,<br />

gritaram: “Vai sair”, e percebi que estavam falando<br />

do caixão. Vi, então, que eu estava na melhor das<br />

posições. Subi numa estrutura de ao vivo de uma<br />

TV local e veio aquela história gigante na minha<br />

cabeça: Arraes havia saído do Palácio na época do<br />

Golpe para o exílio, pelo mangue, depois voltou<br />

ao Brasil logo que eu nasci. Foi eleito e entrou de<br />

novo no Palácio pela porta da frente, assim como<br />

saiu quando acabou o mandato. Então ele entrou<br />

e saiu diversas vezes daquele local. Mas aquela era<br />

a última vez que ele saía do Palácio e certamente<br />

era a mais emblemática: no caixão, pelos braços do<br />

povo. Consegui registrar isso de frente, toda essa<br />

manifestação, todos os eleitores ali, de chapéu de<br />

palha. Sei que não é a minha foto mais bonita, mas<br />

é a mais incrível e a história depois dela também<br />

me enche de orgulho. Cheguei muito cansado naquele<br />

dia em casa e umas horas depois, o telefone<br />

toca. Era alguém do jornal. Eu, estagiário, já pensei:<br />

“Deu alguma bronca, fiz algo de errado”. Mas era o<br />

pessoal da minha editoria me dando parabéns. Eu<br />

havia ganho a minha primeira capa: “Ivan, essa sua<br />

foto é sensacional, vai abrir o jornal de amanhã”. Só<br />

tive a real noção do que havia feito no dia seguinte,<br />

quando cheguei na redação e os meus colegas estavam<br />

lá, vibrando e me parabenizando. Ainda teria<br />

uma outra alegria imensa: meses depois, essa foto<br />

me renderia o primeiro prêmio da carreira, o Cristina<br />

Tavares de Fotografia na categoria estudante”.<br />

[9]


Entrevista<br />

Com a palavra,<br />

os homenageados<br />

A 7ª edição da UnicaPhoto traz uma conversa com duas das<br />

grandes personalidades da fotografia brasileira. Yêda Bezerra de<br />

Melo e Fernando Neves, homenageados no 5º Prêmio Alcir Lacerda,<br />

falam de suas histórias, a relação com a fotografia e contam sobre<br />

fatos inusitados e ainda, dão dicas e conselhos para quem começa<br />

a aventura na área da escrita da luz. Quem proseou com eles foi a<br />

aluna do Curso de Fotografia, Suann Medeiros. Deleitem-se!<br />

Fernando Neves (centro) com Simonetta Persichetti e Thomaz Farkas.<br />

UnicaPhoto: Fernando, como a fotografia entrou na<br />

sua vida?<br />

Fernando Neves: Acho que foi a curiosidade. Meu<br />

pai fotografava, porém pouco. Tínhamos pouca<br />

convivência com ele, por ser Jornalista e Advogado.<br />

Mas a fotografia sempre esteve presente nos cantos<br />

da casa. Na época de jovem, comecei a mexer na<br />

máquina Olympus Trip. Em seguida, quando nasceu<br />

[10]<br />

f e r n a n d o neves<br />

Fotos: Arquivo ADI<br />

meu primeiro filho, descobri que da curiosidade<br />

passou a ser uma paixão. Então, iniciei a consumir<br />

rolos e rolos de filmes. Por semana, eram de três a<br />

quatro rolos de 36 mm. Fotografei muito a infância<br />

dos meus filhos.<br />

UnicaPhoto: Qual é a sua formação profissional?<br />

Fernando Neves: Sou formado em Economia, pela<br />

Universidade Católica de Pernambuco. Trabalhei


inicialmente no Banorte, uma grande escola<br />

para todos da área da minha geração. Depois<br />

passei para área financeira na administração dos<br />

Shoppings Centers durante 15 anos e por último,<br />

no projeto de implantação do Paço Alfândega. Até<br />

que “paquerando” o prédio em frente a esse último<br />

emprego, resolvi mudar de vida e assumir o que seria<br />

uma aposentadoria compulsória, um plano B de vida,<br />

a Arte Plural Galeria. No fundo é só uma mudança de<br />

profissão, porque o trabalho é o mesmo e até maior.<br />

UnicaPhoto: Você está com quanto tempo de Arte<br />

Plural Galeria? E quais são as maiores dificuldades?<br />

Fernando Neves: Fizemos onze anos em maio deste<br />

ano (2016). A dificuldade que temos na galeria<br />

são bem típicas das áreas que exigem uma certa<br />

insistência. O consumidor, a pessoa que curte a arte<br />

hoje, tem uma certa dificuldade por uma questão<br />

de mercado. Até os anos 80, nós víamos que o<br />

grande curtidor de arte era o profissional liberal<br />

que gostavam e curtiam artes. Após os anos 90,<br />

começamos a sentir uma nova realidade no país.<br />

Temos uma ascendência de uma classe média que<br />

não tem uma base de educação voltada para arte,<br />

que nos exige um certo “jogo” para poder convencer<br />

a conviver com ela, a dar valor a arte como um<br />

elemento não apenas decorativo, mas como um<br />

produto de experiência, de prazer, querer colecionar.<br />

UnicaPhoto: Durante esses 11 anos você promoveu<br />

várias exposições, nos destaque algumas, por favor.<br />

Fernando Neves: É difícil. Pois já ocorreram, até<br />

recentemente, 72 exposições. Na realidade, tivemos<br />

várias exposições interessantes, como a de Walter<br />

Filho e de Thomas Farkas, que foi uma oportunidade<br />

incrível não só pela mostra e, sim, por conviver com<br />

ele durante uma semana, além de nomes como<br />

Raul Córdoba e César Romero. E também tem os<br />

pernambucanos, sempre tivemos boas exposições,<br />

como a do Maurício Arraes, de Dantas Suassuna e<br />

do Carlos Pragana.<br />

UnicaPhoto: Existe o Fernando colecionador,<br />

galerista e o fotógrafo. Parece que você é um<br />

pouco tímido quando falamos do Fernando<br />

fotógrafo….<br />

Fernando Neves: Acho que a questão é mais de<br />

saber até onde vai o hobby e o prazer de fotografar<br />

e até onde pode ir o mostrar fotografia. Sou muito<br />

crítico, não sou tímido. Acho que sou crítico em<br />

mostrar o que faço. O valor da fotografia que realizo<br />

é algo mais pessoal. E tem outro ponto que é não<br />

colocar fotografias minhas na galeria. Isso seria<br />

o cúmulo. Se o meu papel é de galerista, preciso<br />

priorizar as imagens dos profissionais.<br />

UnicaPhoto: Mas como é a sua relação com a<br />

fotografia?<br />

Fernando Neves: Gosto de sair para fotografar.<br />

Quando viajo, levo sempre meus equipamentos.<br />

Entrevista<br />

No cotidiano uso mais o celular. Mas nas viagens<br />

carrego minhas câmeras e gosto de fotografar<br />

paisagens, pessoas nas ruas. Me dá prazer ficar<br />

sentado num café ou em algum ponto que haja um<br />

trafego de pessoas para ficar observando de longe.<br />

Como diz o professor Walter Filho, roubando as<br />

imagens. Ser o ladrão da fotografia.<br />

UnicaPhoto: Como fotógrafo, galerista,<br />

colecionador… Quem são os fotógrafos que você<br />

admira e gostaria de trazer para a Arte Plural e<br />

ainda não teve essa oportunidade?<br />

Fernando Neves: A lista é enorme. Quando comecei<br />

a Arte Plural, sempre brinquei dizendo que gostaria<br />

de trazer o Thomas Farkas, Evandro Teixeira e<br />

Sebastião Salgado. Os dois primeiros eu já cumpri,<br />

o Salgado é mais salgado (risos), é outra história.<br />

Mas admiro muito o trabalho do Sebastião Salgado<br />

e dos outros fotógrafos também. Lembrar assim no<br />

Brasil tem nomes novos surgindo e grandes nomes<br />

da fotografia nascendo. O Walter Carvalho, na minha<br />

opinião, é um dos grandes fotógrafos do Brasil que<br />

se dedica muito ao cinema mas faz fotografia como<br />

ninguém.<br />

UnicaPhoto: Sem sombras de dúvidas, com o<br />

surgimento da galeria, tivemos um fortalecimento<br />

na fotografia pernambucana. Como é que você vê<br />

a galeria dentro deste contexto?<br />

Fernando Neves: Acho que só estava faltando o<br />

lugar. As relações já estavam maduras entre os<br />

fotógrafos para se encontrarem e saberem das<br />

necessidades e procurarem estabelecer seus laços e<br />

buscar um caminho para o crescimento da fotografia<br />

pernambucana. Neste momento, quando a galeria<br />

estava apenas começando, decidimos realizar uma<br />

exposição com o grupo ‘Vixe Marias’. E isso marcou<br />

como ponto de encontro dos fotógrafos. Porque a<br />

partir dessa primeira mostra, trouxemos, na medida<br />

do possível, uma conversa com o Alcir Lacerda - que<br />

até sua morte, era o grande nome que tínhamos<br />

na cidade. Como fotógrafo, professor, ser humano,<br />

incentivador. E essa prosa foi muito bonita, forte<br />

e agradável. Ele mostrando com a simplicidade<br />

que tinha do seu trabalho e a partir disso, vários<br />

fotógrafos começaram a querer mostrar também<br />

seus trabalhos para os amigos, colegas, e até<br />

mesmo os desconhecidos. E isso foi gerando uma<br />

demanda de encontros que nós apelidamos de Terça<br />

Foto.Com isso, a galeria foi crescendo. Em seguida,<br />

já veio o Atelier de Impressão (ADI) completando esse<br />

trabalho da galeria com impressões de qualidade.<br />

UnicaPhoto: Como você enxerga o mercado? O<br />

que você projeta para o futuro da galeria e como<br />

você acha que o mercado da fotografia está sendo<br />

conduzido?<br />

Fernando Neves: Acho que toda vez que falamos<br />

de mercado, temos que ter um certo cuidado<br />

[11]


Entrevista<br />

porque essa palavra tem várias conotações. A parte<br />

comercial de retorno é algo lento que demanda<br />

tempo. A parte de investimento que cada artista<br />

precisa fazer, não só o fotógrafo, mas o próprio<br />

artista de uma forma geral, é importante porque<br />

está investindo na sua carreira. Muitas vezes a<br />

galeria é um elemento, um caminho, uma forma de<br />

empurrar. Mas que o trabalho já está pronto para ser<br />

apresentado ao público. Atualmente, nós estamos<br />

investindo na Coleção ADI de Fotografias buscando<br />

uma forma de incentivar o colecionismo. Temos<br />

que procurar meios e caminhos para as pessoas<br />

entenderem que a fotografia é uma arte e vai além de<br />

uma decoração.<br />

UnicaPhoto: Qual conselho você daria para<br />

as pessoas que estão começando agora na<br />

fotografia?<br />

Fernando Neves: Diria para as pessoas terem foco.<br />

Depois, saber que isso requer não só aprendizado,<br />

mas requer também investimento próprio na sua<br />

carreira. Você precisa saber como elaborar, planejar<br />

aquilo que estás fazendo para que tenha retorno no<br />

futuro. E isso demanda trabalho e dedicação.<br />

UnicaPhoto: Nesta sua jornada de fotografia, houve<br />

algum momento de fortes emoções?<br />

Fernando Neves: Sempre tem. A vida sempre nos<br />

emociona. A vinda do Thomas Farkas para a galeria<br />

foi carregada de emoções pela própria história<br />

dele, pelo fato da idade avançada, pela lucidez<br />

e debilidade da saúde dele. Ouvimos histórias<br />

riquíssimas e trocamos muitas informações. Mas<br />

outras figuras também trouxeram emoções para<br />

a galeria, como o próprio Evandro Teixeira e suas<br />

histórias fantásticas no fotojornalismo, o Walter Filho.<br />

Todos eles tiveram coisas para nos acrescentar e nos<br />

emocionar. Foram bons e ainda está tendo vários<br />

momentos ótimos que continuem se reproduzindo.<br />

UnicaPhoto: E o fotógrafo Fernando Neves, lembra<br />

de alguma emoção ao fazer uma fotografia?<br />

Fernando Neves: Eu acho que a cada fotografia<br />

ela tem uma história própria. Minha encanta muito<br />

as nuances. Você trabalhar com camadas. Eu me<br />

emociono mais com as imagens dos outros. Mas<br />

certa coias que fazemos, nos dá prazer. Eu fiz<br />

umas fotografias na cabeceira do rio Capibaribe<br />

que remontaram a água e que depois até renderam<br />

uma exposição em um sobrado em Olinda. Aquele<br />

momento mágico que passei de carro, parei e<br />

comecei a fotografar. As fotos saíram legais e que<br />

gosto muito. Como também tem a fotografia que fiz<br />

no ateliê de um amigo que me dá uma sensação de<br />

tranquilidade e prazer toda vez que a vejo.<br />

UnicaPhoto: Fernando, você citou Alcir Lacerda<br />

como um profissional que agregou conhecimento<br />

não só a ele como a muitos de uma determinada<br />

geração. Você está sendo agraciado com o prêmio<br />

Alcir Lacerda, o que isso significa para você?<br />

Fernando Neves: Acho que isso é de um peso muito<br />

grande e ao mesmo tempo de uma satisfação forte.<br />

Mas eu não me vejo merecedor disso. Tudo que<br />

fazemos aqui na galeria, sem nenhuma demagogia,<br />

é juntar as pessoas. Damos espaço para as pessoas<br />

conversarem, discutirem e olharem a fotografia. É<br />

um peso bom, porém ao mesmo tempo é um peso<br />

receber esse prêmio com o nome do mestre Alcir<br />

Lacerda que tanto frequentou nosso espaço.<br />

UnicaPhoto: Em uma frase, Fernando, o que é a<br />

fotografia para você?<br />

Fernando Neves: Vou ser meio que clichê, mas<br />

fotografia é luz, paixão e realidade.<br />

[12]


Entrevista<br />

YÊDA BEZERRA DE MELLO<br />

Fotos: Renata Victor<br />

UnicaPhoto: Como a fotografia surgiu na sua vida?<br />

Yêda Bezerra de Mello: A lembrança mais antiga que<br />

tenho é de uma viagem que fiz para a Amazônia.<br />

Acredito que tinha 11 ou 12 anos e levei uma<br />

Olympus Pen EE-2. Essa câmera, na verdade,<br />

duplicava as imagens. Se o filme tinha 36 poses,<br />

depois da revelação você tinha 72 fotos. E eu<br />

lembro que me encantei com a floresta e fiz muitas<br />

fotos. Voltei e ficava olhando as imagens após a<br />

revelação. Elas ficaram na minha lembrança. Essa foi<br />

a primeira vez que olhei para fotografia como forma<br />

de contar algo. Depois comecei a fotografar teatro,<br />

devido à influência da minha família nesta área. Foi a<br />

partir deste momento que a luz começou a ter uma<br />

certa importância. É quando começo a observar a<br />

grandeza da luz na construção da imagem, tentando<br />

através também da luz contar e falar história. Depois<br />

de um tempo, na época em que cursava Educação<br />

Artística, na UFPE, participei de um concurso<br />

de fotografia pela Prefeitura do Recife e acabei<br />

ganhando o primeiro lugar. A partir disso, resolvi<br />

largar a graduação e estudar fotografia, de fato, na<br />

Escola Panamerica de Artes, em São Paulo. Após o<br />

término do curso, fui convidada a lecionar no próprio<br />

estabelecimento de ensino. Depois, voltei para o<br />

Recife e recebi o convite para trabalhar como repórter<br />

fotográfica no Jornal do Commercio. Em seguida,<br />

exerci o cargo de editora de fotografia na Folha de<br />

Pernambuco - outro tipo de lição e escola na área<br />

da imagem - e, hoje, trabalho na área independente,<br />

mas autoral. Ah, sem esquecer que lecionei na<br />

Universidade Católica de Pernambuco, no curso de<br />

Fotografia, na disciplina de Curadoria e Montagem<br />

de Portfólio, em 2011. Foi outra experiência onde<br />

retomei a aulas e trocar e compartilhar com os alunos<br />

as informações de fotografia.<br />

UnicaPhoto: Você vivenciou a transição do<br />

analógico para o digital. Como foi isso para você?<br />

Yêda Bezerra de Mello: A minha geração fez parte<br />

de um momento de transição da fotografia analógica<br />

para a digital. Para mim foi um pouco dolorido. Tive<br />

uma certa resistência, até porque fiz um caminho<br />

longo até entender, de fato, a fotografia analógica.<br />

Cada filme, como ele respondia. Como eu podia<br />

trabalhar filme X em determinado momento. E de<br />

repente, me vejo sem filme e com a máquina digital<br />

tendo que aprender tudo de novo. No começo,<br />

a resolução não era muito boa. então, não tinha<br />

a resposta como nas películas. O resultado, às<br />

vezes, não correspondia para mim. Só que depois<br />

[13]


Entrevista<br />

de um tempo comecei a relaxar, me entregar… e<br />

a resolver tudo de novo, no ato de fotografar. Foi<br />

quando comecei a aprender e a trabalhar neste novo<br />

caminho. Hoje trabalho com o digital, mas sempre<br />

digo que trabalho pensando analogicamente. Pois<br />

ainda continuo pensando em obturador e diafragma.<br />

Depois de passar por tudo isso, percebo que a<br />

transição foi muito boa e tivemos muitos ganhos.<br />

UnicaPhoto: Como é seu trabalho autoral, hoje? E<br />

como é o seu processo de criação?<br />

Yêda Bezerra de Mello: Após sair do trabalho fixo<br />

do jornal e seguir sozinha, foi um momento difícil<br />

se lançar para um lugar onde você não sabe bem<br />

o que vai acontecer. Porém, com o tempo tudo foi<br />

acontecendo. E, ao mesmo tempo, voltei a frequentar<br />

os grupos de exposições, como Vixe Marias - grupo<br />

só de mulheres fotógrafas. Foi quando surgiu a Arte<br />

Plural Galeria que apostou e incentivou o trabalho<br />

fotográfico na cidade do Recife e abriu as portas<br />

para as mostras. A Arte Plural nos proporcionou essa<br />

mudança. Foi um momento bem importante não só<br />

para mim mas para a fotografia de Pernambuco.<br />

UnicaPhoto: O que a fotografia lhe trouxe após o<br />

fotojornalismo?<br />

Yêda Bezerra de Mello: Em meados dos anos 2000,<br />

meu trabalho fotográfico começa a sofrer uma<br />

transformação. Porque até então ele estava ligado<br />

ao Fotojornalismo. Comecei a contar histórias não<br />

só dos outros, mas minhas também. Foi quando<br />

Fernando Neves me convidou para realizar a minha<br />

primeira exposição autoral, na Arte Plural, intitulada<br />

‘A saudade que sinto de você’ que nasce da minha<br />

intimidade com meu marido e acaba extrapolando<br />

para o público. Em seguida, surge também outro<br />

trabalho autoral muito interior que foiquando minha<br />

mãe faleceu chamado ‘Para poder te olhar’ com<br />

fotografias dela onde eu fiz tela para trabalhos<br />

artesanais como pintura, crochê e sobreposição das<br />

imagens. E acabou virando uma exposição e livro.<br />

Em seguida, virei os olhos para nossa cidade, o<br />

Recife, que gosto tanto e sinto que está abandonada.<br />

Então, resgatei um trabalho de 2009 que foi quando<br />

eu comecei a retratar a cidade tentando trazer uma<br />

relação da cidade com a fotografia. Pensando a<br />

fotografia tida como um instante, como um momento<br />

e tentando reverter isso. Com esse ensaio, estou<br />

repensando e dando um novo olhar sobre ela que em<br />

breve irei divulgar.<br />

UnicaPhoto: Qual conselho você dá para quem<br />

está começando?<br />

Yêda Bezerra de Mello: A fotografia para mim<br />

sempre foi uma forma de estar no mundo. Eu acho<br />

Foto: Yêda Bezerra de Mello<br />

[14]


Entrevista<br />

Sobre a fotografia da capa da<br />

UnicaPhoto<br />

UnicaPhoto: Fale-nos sobre o projeto e sobre as<br />

fotografias que serão expostas.<br />

Yêda Bezerra de Mello: Na verdade, essa imagem<br />

são fotos de Recife que estou fazendo, que é<br />

desse novo ensaio, esse novo projeto que estou<br />

empenhada. A ideia é fotografar a cidade e tentar<br />

fazer uma relação e questionar a respeito da<br />

fotografia e da cidade também. Ao mesmo tempo<br />

que eu quero questionar a fotografia enquanto<br />

instante único, momento único, também questionar<br />

essa cidade que é tão bonita e está tão abandonada.<br />

Então, as imagens são formadas por muitas<br />

imagens e o título de cada foto remete ao número<br />

de fotogramas que a qual é formada. As fotos se<br />

chamam assim: ‘427’, ‘328’, ‘284’...<br />

UnicaPhoto: Este projeto é inédito?<br />

Yêda Bezerra de Mello: Na verdade, eu comecei<br />

a fotografá-lo em 2009 e fiz três fotografias, aí, o<br />

projeto ficou guardado e estou retomando agora.<br />

Ele te três fotos que já foram expostas e estou<br />

retomando agora, fazendo outras fotos e ampliando<br />

muito mais.<br />

UnicaPhoto: Como é ter uma foto do projeto na capa<br />

da revista UnicaPhoto, que será lançada no dia em<br />

que receberá o prêmio Alcir Lacerda?<br />

Yêda Bezerra de Mello: É um privilégio, eu fiquei<br />

muito feliz com o convite e com a homenagem. A<br />

foto que vai sair na capa da revista, é uma foto que<br />

fiz do Marco Zero, vem pelo chão e passa por toda<br />

calçada, até a Rosa dos Ventos, feita pelo Cícero<br />

Dias. Na verdade, descobri depois que ele tem<br />

um trabalho enorme sobre Recife e o título desse<br />

trabalho é ‘Eu vi o mundo e ele começa em Recife’.<br />

Estou pensando em usar isso em alguma coisa desse<br />

meu projeto.<br />

UnicaPhoto: Como começou o seu interesse por<br />

colagens?<br />

Yêda Bezerra de Mello: Comecei a trabalhar assim<br />

por conta das possibilidades de juntar mais de uma<br />

imagem para dar um significado só. Gostei e estou<br />

explorando. Uso o photoshop para isso, mas de uma<br />

forma bem básica.<br />

que sou uma pessoa privilegiada por ter a sorte de<br />

descobrir uma profissão que me dá tanto prazer. O<br />

meu conselho para quem está começando é olhar e<br />

fotografar bastante. E pensar o que está fotografando<br />

e porque está fotografando.<br />

UnicaPhoto: O que é para você receber o prêmio<br />

Alcir Lacerda?<br />

Yêda Bezerra de Mello: O fato de estar recebendo o<br />

prêmio Alcir Lacerda é de uma honra sem tamanho.<br />

Eu iniciei na fotografia sempre levando e revelando<br />

filmes no laboratório de Alcir. Ele sempre muito<br />

atento e prestativo. Chegava até ceder o laboratório<br />

para ensinar como revelar os filmes. E isso sempre<br />

foi muito encantador. Alcir nos revelar sempre o<br />

que a gente estava fazendo. Guardo sempre boas<br />

lembranças dele. Ele foi uma grande escola. E estou<br />

muito feliz em estar recebendo um prêmio no nome<br />

dele.<br />

Foto: Yêda Bezerra de Mello<br />

[15]


ADI lança coleção de imagens<br />

artísticas<br />

Projeto tem como ideia incentivar o colecionismo e<br />

valorizar a arte fotográfica<br />

Texto de Suann Medeiros<br />

Fotos: Hélia Scheppa<br />

[16]<br />

O Atelier de Impressão (ADI) acaba de<br />

lançar o projeto itinerante “Coleção ADI de<br />

Fotografias” composto por 50 fotografias de 30<br />

reconhecidos fotógrafos brasileiros. As imagens<br />

têm tamanho A3, com tiragem limitada, assinadas<br />

pelos autores e estão sendo apresentadas<br />

dentro de uma caixa, que mescla o design de<br />

uma maleta e de um móvel dos anos 50.“Como<br />

o Atelier é formado por fotógrafos, a gente<br />

pensou em fazer algo que promovesse a fotografia<br />

e ajudasse a formar o mercado atento a<br />

essa fotografia de qualidade com longevidade,<br />

fidelidade e conservação e ao mesmo tempo<br />

que fossem acessíveis e as pessoas pudessem<br />

colecionar. Com isso, começamos a pensar<br />

em um produto final onde tivesse os padrões<br />

de qualidade de impressão e convidamos os<br />

fotógrafos”, explicou um dos sócios Gustavo<br />

Bettini.<br />

Participam do projeto os fotógrafos Amélia<br />

Córdula, Ana Araújo, Arnaldo Carvalho, Cristiana<br />

Dias, Evandro Teixeira, Fred Jordão, Geraldo<br />

Pestalozzi, Gustavo Bettini, Hélia Scheppa,<br />

Hesíodo Góes, João Urban, Juliana Leitão,<br />

Mateus Sá, Miva Filho, Nando Chiappetta, Priscilla<br />

Buhr, Renata Victor, Renato Vale, Ricardo<br />

Labastier, Roberta Guimarães, Rodrigo Lobo,<br />

Teresa Maia e Yêda Bezerra de Melo entre<br />

outros profissionais.<br />

Com intuito de incentivar o colecionismo e<br />

valorizar a arte fotográfica, as imagens têm<br />

tiragem máxima de 50 impressões e são acompanhadas<br />

de certificado, nota técnica com recomendações<br />

de manuseio e conservação, além<br />

de vir dentro de uma caixa, com design assinado<br />

por Marcos Pinheiro, da Pick Image. “Essa é<br />

a primeira caixa e já estamos produzindo mais<br />

três maletas. A ideia é que essas caixas percorram<br />

vários estabelecimentos, como pontos culturais<br />

da cidade. Não queremos que a fotografia<br />

de qualidade esteja só na galeria e, sim, em<br />

diversos ambientes da cidade do Recife - como<br />

cafés, lojas de decoração, livrarias, festivais de<br />

artes”, afirmou Bettini.


[17]


O Projeto “Coleção ADI de Fotografias”<br />

se encontra na Arte Plural Galeria, no Bairro<br />

do Recife Antigo, no Recife, e fica até o final<br />

de agosto. Todas as fotos são impressas em<br />

altíssima qualidade, montadas em passe-partout,<br />

entregues em uma embalagem especial<br />

de PH neutro, assegurando durabilidade às<br />

imagens e os preços variam a partir R$ 400.<br />

[18]


Pós<br />

As narrativas contemporâneas<br />

da fotografia e do audiovisual<br />

Texto de Augusto Cataldi<br />

Fotos de Pedro Pereira, Renata Victor, Karina Rocha e Suann Medeiros<br />

O mundo hoje é mediado pelas imagens.<br />

A cultura visual se impôs sobre os processos<br />

narrativos da Comunicação, principalmente<br />

no ambiente das mídias digitais e o contexto<br />

previsto pelo fotógrafo húngaro Lázló Moholy-<br />

-Nagy, na década de 20, quando disse que o<br />

analfabeto do futuro não será quem não souber<br />

ler e escrever, mas aquele que não souber<br />

se comunicar através das imagens já chegou.<br />

Neste sentido, não apenas os profissionais de<br />

Fotografia mas de outras áreas da comunicação<br />

precisam estar preparados para atuar<br />

neste campo de maneira aprofundada e conectada<br />

com as formas narrativas da contemporaneidade.<br />

No primeiro semestre de 2016, a Universidade<br />

Católica de Pernambuco (Unicap) lançou<br />

uma oportunidade para buscar esta formação<br />

ampliada através do curso de Especialização<br />

sobre As Narrativas Contemporâneas da Fotografia<br />

e do Audiovisual. Pioneiro na região, o<br />

curso teve sua aula inaugural no último dia 20<br />

de maio, ministrada pela Profª Dra. Simonetta<br />

Persichetti no primeiro módulo sobre Fotografia:<br />

Crítica e Curadoria. Ao longo de 16 meses,<br />

as demais disciplinas oferecidas serão Direção<br />

de Fotografia, Narrativas Poéticas da Imagem,<br />

Literatura, Fotografia e Audiovisual, História<br />

e Estética do Audiovisual, Gêneros do Audiovisual,<br />

Produção de Audiovisual, Processos<br />

Criativos e Gestão de Projetos em Fotografia e<br />

AudiovisualMetodologia da Pesquisa e Edição<br />

de vídeo e finalização.<br />

A pós-graduação lato sensu trouxe de volta à<br />

casa ex-alunos que hoje atuam no mercado da<br />

fotografia e atraiu também outros profissionais,<br />

inclusive de outros estados do Nordeste. É o<br />

caso de Rafael Martins. Baiano, fotojornalista,<br />

Rafael veio ao Recife em busca de novas oportunidades<br />

e encontrou no curso a proposta de<br />

aprofundamento que buscava. “Fazer um curso<br />

focado em Narrativas é uma possibilidade para<br />

um profissional, com algum tempo de mercado<br />

como eu, de aprofundar meu trabalho enquanto<br />

identidade, focando no sujeito que o constrói”,<br />

reforça o fotógrafo.<br />

[19]


A proposta de ampliar o debate crítico sobre<br />

o processo fotográfico e ampliar as possibilidades<br />

narrativas para o campo do Audiovisual<br />

tem promovido incursões dos alunos nas áreas<br />

de cinema, do documentário e da fotografia<br />

multimídia, em perspectivas quem passam<br />

pelos estudos da cultura, da poética e da estética,<br />

além de fornecer também um instrumental<br />

técnico que habilita os futuros pós-graduados<br />

a também praticarem os conhecimentos adquiridos<br />

em atividades de análise e leitura de<br />

imagens, bem como de produção de produtos<br />

audiovisuais como curtas metragens de ficção<br />

e documentários.<br />

“A pós em fotografia e audiovisual oferece<br />

uma nova dimensão dos estudos da imagem.<br />

Temos construído relações entre as linguagens<br />

da fotografia, do vídeo e da literatura, abordando<br />

elementos narrativos, estéticos e de produção<br />

de sentido. Há um nítido estímulo à criação<br />

de textos acadêmicos, assim como a pesquisa<br />

e à criação de fotografia e cinema. O espaço<br />

dado às análises e produções no campo audiovisual<br />

tem me despertado especial interesse e<br />

apreço pelo curso. Certamente é um processo<br />

de aprofundamento teórico e analítico em relação<br />

ao curso de graduação, contribuindo para<br />

a consistência e relevâncias de nossas produções”,<br />

comenta o aluno Paulo Souza, graduado<br />

em Fotografia pela Unicap.<br />

A coordenadora Renata Victor, explica a proposta<br />

que originou o curso. “A especialização<br />

foi criada baseada na solicitação constante dos<br />

graduados do Curso Superior de Tecnologia em<br />

Fotografia da Unicap e em uma demanda de<br />

mercado também. Embora Pernambuco tenha<br />

uma grande produção visual, pouco se aborda<br />

isso na academia. Então, esperamos que essa<br />

especialização venha a suprir esta necessidade.<br />

A base do nosso curso é comunhão da<br />

fotografia, audiovisual e literatura”.<br />

[20]


[21]


[22]<br />

ENSAIO


Florscience<br />

A aluna do quarto módulo do curso<br />

de Fotografia da Unicap, Marcela<br />

Freire, é a autora do ensaio que ilustra<br />

estas páginas. O trabalho, chamado<br />

de Florscience, foi desenvolvido como<br />

atividade de Fotografia Mobile da<br />

disciplina de Mídias Digitais.<br />

Marcela comenta o trabalho: “Feito<br />

com ediçāo em aplicativos mobile, o<br />

Florscience, foi fruto de um trabalho<br />

de faculdade que se deu de forma<br />

bastante intuitiva, receio de fotografar<br />

rua, centros do Recife, simplesmente<br />

retratos, a ideia foi ir um pouco mais<br />

além. Criatividade, sensibilidade e o<br />

ingrediente principal: intuiçāo. Foi<br />

preciso plantar, cuidar, e de várias<br />

tentativas sairam algumas dessas artes.<br />

Feitas com dupla exposiçāo, unindo<br />

flores, vegetais e cores. Pretendo dar<br />

continuidade ao projeto e criar uma<br />

exposiçāo!”<br />

[23]


[24]


[25]


[26]


[27]


Foto: XRite<br />

Sobre o fluxo de<br />

gerenciamento de<br />

cor<br />

Primeiro passo:<br />

CALIBRAÇÃO DE MONITOR<br />

Texto de Germana Soares<br />

Quando o assunto é o gerenciamento<br />

das cores, infelizmente alguns profissionais<br />

não dão a devida importância ou até mesmo<br />

desconhecem o que estamos tratando. Por<br />

isso, decidi trazer um pouco do conteúdo<br />

abordado na disciplina de Gerenciamento de<br />

cor e Impressão para mostrar que, na verdade,<br />

esse processo não é o monstro que<br />

parece ser.<br />

Podemos dividir o fluxo do gerenciamento<br />

em três etapas:<br />

- Calibração de monitor;<br />

[28]


- Calibração de câmera;<br />

- Criação de perfil de Impressão.<br />

Nesta edição vou falar sobre a calibração<br />

dos monitores: a importância do processo,<br />

os instrumentos disponíveis e como ocorre<br />

na prática. Vamos lá?<br />

Imagine: depois de horas, você fez aquela<br />

foto incrível e conferiu no visor da câmera.<br />

Ficou tudo como planejou: foco, brilho<br />

e contraste do jeito que queria. Aí quando<br />

você vai passar para o computador, abre o<br />

arquivo e.......... Bate aquele desespero!!! A<br />

sua foto maravilhosa aparece toda verde ou<br />

magenta. Totalmente diferente daquilo que<br />

você fez, com as cores todas alteradas. E<br />

agora? O que aconteceu de errado? Como<br />

você fará as edições necessárias na foto se<br />

as cores não são aquelas capturadas?<br />

A resposta é bem simples: o monitor que<br />

você está utilizando está com os canais<br />

RGB descalibrados.<br />

Não precisa se apavorar. Seu arquivo<br />

continuar preservando as cores e ajustes<br />

maravilhosos, basta você calibrar seu monitor<br />

para iniciar o processo de tratamento da<br />

forma correta.<br />

De forma grosseira e simples a calibração<br />

de cor do monitor significa fazer com que ele<br />

apresente as cores da forma que mais se<br />

aproxime do real, dentro da sua capacidade<br />

de reprodução.<br />

(Apenas abrindo um parênteses: quando<br />

falamos de fotografia digital, devemos saber<br />

que os equipamentos que utilizamos (câmera,<br />

monitores e impressoras) possuem capacidades<br />

de reprodução de cor diferentes um<br />

dos outros. E a função do gerenciamento é<br />

justamente fazer com que as cores capturadas<br />

sejam preservadas ao máximo durante<br />

todo o processo de tratamento, até chegar a<br />

fase da impressão.)<br />

Então depois de toda essa historinha que<br />

contei, já sabemos qual importância da calibração<br />

do monitor, não é?! Como você fará<br />

ajustes nos canais, exposição, contraste e<br />

baixas luzes se a imagem apresentada não<br />

é a real? A calibração de monitor é nosso<br />

primeiro passo para que possamos garantir<br />

estar visualizando o arquivo da melhor<br />

forma possível, sem a influência excessiva<br />

de qualquer um dos canais do RGB (vermelho,<br />

verde ou azul) e com o ponto de brilho<br />

balanceado.<br />

E como faremos isso?<br />

Os próprios sistemas operacionais, tanto<br />

da apple quanto Windows trazem utilitário<br />

que permitem uma “calibração” da tela. Mas<br />

é claro que não iremos tratar esse assunto<br />

de forma tão resumida e subjetiva, então<br />

vou apresentar os instrumentos indicados<br />

para esse processo.<br />

Os colorímetros são equipamentos que<br />

caracterizam amostras coloridas para obter<br />

uma medida objetiva das características da<br />

cor. No mercado encontramos os modelos:<br />

colormunky display, i1 display, Spyder 5 pro<br />

entre outros.<br />

[29]


Todos eles funcionam com softwares específicos que<br />

acompanham o aparelho ou podem ser baixados na<br />

internet. O processo é muito simples e intuitivo. Como<br />

cada aparelho possui interfaces diferentes, vou abordar<br />

alguns pontos que não devem ser esquecidos:<br />

1<br />

Antes de iniciar a calibração, o monitor deve estar ligado por pelo menos<br />

30 minutos para que esteja em sua máxima capacidade de luminância e<br />

garantir a estabilidade. Desative qualquer proteção de tela.<br />

2<br />

O fundo da área de trabalho deve ser cinza médio. Isso<br />

facilita o equilibro entre os canais RGB.<br />

3<br />

O colormunky display e o i1 display, citados acima, tem a função de<br />

fazer a medição da luminância ambiente. Isso é importante para que<br />

o ponto de brilho do monitor seja ajustado de acordo com a intensidade<br />

da luz. Caso você esteja trabalhando com notebook ou não<br />

tem como manter o colorímetro sempre conectado ao computador, o<br />

ideal é ajustar o ponto de branco para 120 cd/m2. E para fazer a<br />

medição corretamente ele deve estar posicionado próximo à tela.<br />

4<br />

Após a criação do perfil, ele é salvo no diretório correto automaticamente.<br />

Sendo assim, todas as vezes que o sistema operacional for<br />

inicializado o último perfil criado automaticamente será carregado.<br />

E é isso. Espero que esses primeiros passos possam<br />

auxiliar quem está iniciando nesse mundo colorido do<br />

gerenciamento. Na próxima edição da revista, falaremos<br />

sobre a criação do perfil de câmera.<br />

[30]


Edward Weston:<br />

do “lugar comum” ao incomum<br />

Texto de Frederico Paulo de Barros e<br />

Rafaela Bôaviagem Cavalcanti da Silva<br />

Fotos: Met Museum, ESPM, Artnet, The Getty e Socially Curated Lists<br />

Edward Weston é uma inspiração<br />

para os artistas modernistas. Foi um dos<br />

mais importantes fotógrafos do século<br />

XX, pela sua fotografia artística, com um<br />

olhar diferente sobre os objetos comuns,<br />

unindo o simples e o real com a abstração.<br />

Nasceu em Hilland Park, Illinois,<br />

em 24 de março de 1886, e foi criado<br />

em Chicago, maior cidade do Estado.<br />

Era filho de Edward Burbank Weston e<br />

Alice Jeanette Brett, que morreu quando<br />

ele tinha apenas cinco anos. Seu pai era<br />

médico, mas ele foi criado pela sua irmã<br />

Mary Jeanette-May. Em sua juventude<br />

era retraído, inquieto e melancólico.<br />

Estava sempre de mau humor.<br />

[31]


Armco, Middletown, Ohio<br />

Copyright: © 1981 Arizona Board of Regents, Center for Creative Photography<br />

Not currently on view<br />

Sua primeira câmera fotográfica foi uma<br />

Kodak, que ganhou de seu pai aos 16 anos<br />

de idade. Autodidata, começou a fotografar<br />

em seus tempos<br />

Object<br />

livres<br />

Details<br />

e foi trabalhar porta a<br />

porta como fotógrafo retratista ao se mudar<br />

Title:<br />

para morar na Califórnia, em 1906. Publicou<br />

Armco, Middletown, Ohio<br />

livros, ganhou vários prêmios importantes na<br />

Artist/Maker:<br />

área fotográfica e realizou exposições.<br />

Ao sentir a necessidade de se aperfeiçoar,<br />

retornou<br />

1886<br />

para<br />

- 1958)<br />

Effingham, Illinois, para<br />

estudar na Culture: Illinois College of Photography,<br />

em 1908. Seis meses após a conclusão do<br />

curso, Weston retorna para a Califórnia. Em<br />

Los Angeles foi contratado no George Steckel<br />

Portrait Studio. Mudou para o estúdio<br />

Louis A. Mojoiner, em 1909, para trabalhar<br />

como fotógrafo, onde se destacou pela sua<br />

luz e seus retratos.<br />

Em 1911, abriu seu próprio estúdio, localizado<br />

em Trópico, Califórnia. Seus retratos<br />

de estilo pictorialista, com foco suave, ganharam<br />

vários prêmios profissionais, incluindo<br />

prêmios internacionais. As fotos foram<br />

publicadas em várias revistas especializadas<br />

da época, como a American Photography.<br />

Produziu retratos com estilo pictorialista em<br />

seu estúdio até 1919, quando migrou para<br />

uma fotografia mais abstrata, retratando partes<br />

do corpo humano em ângulos incomuns.<br />

[32]<br />

Edward Weston começou a escrever diários<br />

em 1915 que ficaram conhecidos como<br />

seus Daybooks, crônicas de sua vida e desenvolvimento<br />

fotográfico feitas até meados<br />

dos anos 1930. Em 1912, conhece a mulher<br />

que ele dizia ser a mais importante da sua<br />

vida, Margrethe Mather. Ela passa a ser a<br />

sua assistente de estúdio e modelo por dez<br />

anos. Mather era uma forte influência para<br />

Weston.<br />

Em 1922, viajou para Middletown, Ohio,<br />

onde fotografou a indústria ARMCO. Foi<br />

um marco na mudança de estilo fotográfico<br />

Página 1 de 3<br />

de Weston. Durante esse período ele deu<br />

novas características ao seu trabalho, enfatizando<br />

formas abstratas e mais nítidas, com<br />

ângulos retos, fiel à realidade.<br />

No mesmo ano viajou para Nova York,<br />

onde conheceu Alfred Stieglitz, Charles<br />

Sheeler e Paul Strand, fotógrafos da Straight<br />

Photography, uma vanguarda moderna que<br />

nasceu no começo do século XX, nos Estados<br />

Unidos, que se opunha ao tradicional<br />

pictorialismo e buscava a objetividade na<br />

imagem.<br />

Edward Weston, com sua veia repleta de<br />

vontade de inovação, se permitiu fotografar<br />

uma série linda de nus, de Tina Modotti, com<br />

quem viajou, em 1923, para o México, onde<br />

Edward Weston (/art/collection/artists/1641/edward-weston-american-1886-1958/) (American,<br />

http://www.getty.edu/art/collection/objects/37716/edward-weston-armco-middletown-ohio-american-1941/?dz=0.5000,0.4165,0.67


morou por cinco anos. Nessa época ele também<br />

registrou o cotidiano do país, os seus<br />

agregados familiares, fauna, flora, formações<br />

rochosas e as nuvens. Nasce, então,<br />

uma nova estética apoiada pelos artistas da<br />

Renascença Mexicana como Rivera, Siqueiro<br />

e Orozco.<br />

É durante a estada de Weston e Tina<br />

Modotti no México que ele inicia suas experiências<br />

fotográficas de natureza-morta.<br />

Momento de mudança do estilo fotográfico<br />

pictorialista para o modernista, o qual<br />

deu muito certo. Fotografava objetos da<br />

sua coleção de arte folclórica e brinquedos<br />

enquanto esperava seus clientes para retratá-los.<br />

Em 1926, ele retorna para Califórnia onde<br />

inicia um novo estudo, desta vez valorizando<br />

detalhes do inusitado, como árvores retorcidas<br />

pelo vento, couve, conchas, cactos,<br />

dunas. Das suas fotografias ricas em detalhes,<br />

a mais famosa é a Pimentão nº 30, a<br />

qual faz parte de uma amostra fotográfica<br />

de pimentões verdes. São mais de 40 fotografias<br />

de pimentões feitas entre os anos de<br />

1927 e 1930, utilizando luz natural.<br />

Através do enquadramento e da composição<br />

da luz, Weston consegue chamar a<br />

atenção para as curvas do pimentão e o remete<br />

diretamente ao corpo humano. Dessa<br />

forma, com essas novas experiências, ele<br />

consegue unir o simples e real do comum<br />

com a abstração e amplia a imaginação do<br />

espectador.<br />

De acordo com a filósofa americana<br />

Susan Sontag: “...um dos êxitos mais duradouros<br />

da fotografia foi sua estratégia de<br />

transformar seres vivos em coisas, e coisas<br />

em seres vivos. As pimentas que Weston<br />

fotografou em 1929 e 1930 são voluptuosas<br />

de um modo que raramente acontece em<br />

suas fotos de mulheres nuas. Tanto os corpos<br />

nus como as pimentas são fotografados<br />

pelo jogo de formas — mas o corpo é mostrado,<br />

caracteristicamente, curvado sobre si<br />

mesmo, todas as extremidades cortadas, a<br />

carne tão opaca quanto o permitem a iluminação<br />

e o foco, reduzindo assim sua sensualidade<br />

e elevando o caráter abstrato da<br />

forma do corpo; a pimenta é vista em close<br />

mas em sua inteireza, a pele lustrosa ou<br />

oleosa, e o resultado é uma descoberta da<br />

sugestão erótica de uma forma ostensivamente<br />

neutra, uma ampliação de sua palpabilidade<br />

aparente” (SONTAG, 2004, p. 58).<br />

Na década de 1930, Edward Weston<br />

também produziu nus fotográficos de Charlis<br />

Wilson, que na época era sua assistente e<br />

[33]


tinha apenas 19 anos de idade. Segundo<br />

Carol King, no livro Tudo sobre Fotografia:<br />

“... a precisão que empregava fotografando<br />

objetos inanimados se transferiu ao estudo<br />

da nudez... as fotografias estão cheias de<br />

uma carga erótica baseada não na passividade<br />

do nu tradicional, mas na excitação<br />

da mulher moderna sexualmente liberada”.<br />

(KING, 2012, p.254)<br />

Seu primeiro livro foi o The Art of Edward<br />

Weston, publicado em 1932, com imagens<br />

fotografadas por ele. Dois anos antes, havia<br />

realizado sua primeira exposição individual,<br />

em Nova York.<br />

Edward Weston, como pioneiro em fotografia<br />

direta, sem intervenções durante o<br />

processo, em 1932, juntamente com os fotógrafos<br />

Ansel Adams, Imogen Cunningham,<br />

John Paul Edwards, Sonya Noskowiak,<br />

Henry Swift e Willard Van Dyke fundou o<br />

Grupo f/64. O grupo, que durou apenas até<br />

o ano de 1935, tinha como características<br />

fotográfica, além da ampla profundidade de<br />

campo, excelentes composições, temáticas<br />

cotidianas, manejo e controle da exposição<br />

e o caráter realista. A primeira exposição do<br />

grupo f/64 foi realizada em 15 de novembro<br />

do mesmo ano no Museu Memorial H. M.<br />

Young, em San Francisco.<br />

Após o grupo f/64 se desfazer, Weston<br />

foi residir em Santa Mônica, onde encontrou<br />

lugares que o inspiraram fotograficamente.<br />

No ano seguinte inicia um trabalho de fotografias<br />

de nus e dunas, que para alguns foi<br />

sua melhor fase. Ele foi o primeiro fotógrafo<br />

a receber, em 1937, por um trabalho experimental,<br />

a bolsa da Fundação Guggenheim.<br />

Passou dois anos seguintes viajando pela<br />

Califórnia, sudoeste e oeste americano, com<br />

Charis Wilson. Em 1941, usa suas fotos<br />

realizadas durante sua viagem em uma nova<br />

edição de Walt Whitman, Folhas de Relva.<br />

Em 1946, foi apresentada a maior exposição<br />

de todo seu repertório fotográfico,<br />

no Museu de Arte Moderna, em Nova York.<br />

Após dois anos, fotografou pela última vez,<br />

já com sintomas de Síndrome de Parkinson,<br />

em Point Lobos, Califórnia. Brett e Cole,<br />

seus filhos, continuaram a ampliar fotos<br />

de seus negativos, com a supervisão de<br />

Edward Weston até sua morte em 1958.<br />

[34]


Referências:<br />

DIAS, Mariana. Edward Weston: o mestre das curvas, [s.d.]. Disponível em:<br />

. Acesso em: 14 de abril de 2016.<br />

FIGUEREDO, Hernâni de Lemos. Recensão critica da obra de Edward<br />

Weston, “Seeing Photographically”, 2011. Disponível em: .<br />

Acesso em: 18 de abril de 2016.<br />

KING, Carol. O corpo moderno. In: HACKING, Juliet (editora geral). Tudo<br />

sobre fotografia. Tradução de Fabiano Morais, Fernanda Abreu e Ivo Korytowski.<br />

Rio de Janeiro: Sextante, 2012.<br />

MARTINS, Eloise. O olhar direto de Edward Weston, 2013. Disponível em:<br />

< http://www.ideafixa.com/o-olhar-direto-de-edward-weston/ >. Acesso em: 10 de<br />

abril de 2016.<br />

O´HAGAN, Sean. Edward Weston: the greatest American photographer of<br />

his generation?, 2010. Disponível em: < http://www.theguardian.com/artanddesign/2010/aug/18/edward-weston-photography>.<br />

Acesso em: 07 de abril de 2016.<br />

PEUTER, Luisa de. Un acercamiento a la vida y obra del que aún hoy<br />

es considerado “el fotógrafo americano más influyente del siglo XX, 2001.<br />

Disponível em: .<br />

Acesso em: 31 de março de 2016.<br />

SONTAG, Susan. Sobre Fotografia. Tradução de Rubens Figueiredo. São<br />

Paulo: Companhia de Letras, 2004.<br />

TRAVELLI, María Marcela. Grupo f/64: la belleza de la fotografía directa,<br />

2013. Disponível em: .<br />

Acesso em: 18 de abril de 2016.<br />

[35]


[36]<br />

ENSAIO


CICLO DA VIDA<br />

Fotos de Renata Victor<br />

[37]


[38]


[39]


[40]


[41]


[42]


[43]


[44]


[45]


Foto_Síntese<br />

Uma cadela que como tanto outros animais foi<br />

levada para o lixão pelo seu “dono” para se livrar<br />

de um “peso”. Para mim, esta fotografia, além<br />

de um toque poético também faz uma denúncia<br />

sobre os maus tratos do homem contra os animais<br />

e o meio ambiente. O que vemos é um registro de<br />

um ser com um olhar misterioso como se quisesse<br />

dizer algo. Ao me ver em meio aos entulhos do<br />

lixão onde vive e disputa espaço e comida com<br />

outros animais, a cadela parou por alguns segundos<br />

me olhando, deixando assim que eu fizesse o<br />

registro. O fato da imagem está monocromática é<br />

uma opção para que o observador percorra toda a<br />

imagem sem influência das cores.<br />

Texto e foto: Marcos D`’Rua<br />

[46]


[47]


A fotografia de Cinema,<br />

aspirinas e urubus<br />

Texto de Paulo Souza<br />

Fotos: still do filme<br />

O presente trabalho se propõe a analisar<br />

a fotografia em Cinema, aspirinas e urubus<br />

(2005), do diretor Marcelo Gomes, através de<br />

elementos de linguagem como luz, planos,<br />

ângulos e composições. O filme insere dois<br />

personagens de pensamentos e sentimentos<br />

delicados, em busca de superar vidas difíceis,<br />

em um encontro na árida e dura paisagem do<br />

agreste paraibano.<br />

Assim que a primeira imagem surge na tela é<br />

impossível não associar a paisagem ao padrão<br />

estético do Cinema Novo, que explora a luz<br />

tropical brasileira sem disfarçá-la ou escondê-<br />

-la. A luz que castiga a vegetação da caatinga é<br />

também elemento de significação, dura e seca,<br />

se contrapondo a Johann e Ranulpho, com<br />

suas inquietações, sonhos e planos.<br />

“Em primeiro lugar, é preciso dizer que a proposição<br />

de reconhecer traços do Cinema Novo<br />

numa obra contemporânea parte de pressupostos<br />

mais estéticos do que políticos. É sobretudo<br />

a textura visual do filme de Marcelo Gomes que<br />

remete a certos filmes do Cinema Novo, sobretudo<br />

à tríade Vidas secas /Os fuzis /Deus e o<br />

diabo na terra do sol. Em parte, essa textura é<br />

fruto da própria locação em que foi filmado (o<br />

agreste paraibano), em parte das condições de<br />

produção. Sabemos que o diretor usou técnicas<br />

de produção que em muito lembram aquelas<br />

utilizadas por Glauber Rocha ou Nelson Pereira<br />

dos Santos: filmagem em locação; câmera<br />

16mm, na maior parte do filme fora do tripé́;<br />

poucos recursos de iluminação; figurantes da<br />

própria região onde se filmou. Independentemente<br />

da história que se conta, esse esquema<br />

de produção por si só leva a uma série de identificações<br />

com o Cinema Novo e até́ mesmo<br />

com o Neo-Realismo” (MULLER, 2016, pg. 22).<br />

[48]


Cor<br />

A direção de fotografia é de Mauro Pinheiro<br />

Jr, que nos apresenta uma paisagem de tonalidade<br />

sépia, um tanto amarronzada, tanto nas<br />

cenas externas quanto nas internas. Em uma<br />

das cenas Johann faz um elogio ao casaco<br />

que a mulher está usando, rosa, observando<br />

que ela fica bem com essa cor (figura 01).<br />

Acontece que o que vemos na tela é uma cor<br />

quase que imperceptível, pois prevalecem tons<br />

pastéis e não há cenas com grande saturação<br />

ao longo da película. O céu na tela não é azul<br />

como vemos, as poucas folhas verdes se apresentam<br />

tão secas e sem vida quanto os galhos<br />

da vegetação (figura 02). A paleta de cores reforça<br />

a criação de um universo quente e seco,<br />

que é comum a Ranulpho, mas que conflita<br />

com o conhecido pelo imigrante Johann.<br />

Luz<br />

A primeira cena do filme é um anúncio de<br />

uma escolha, uma aderência as propostas de<br />

fotógrafos como Waldemar Lima e Luiz Carlos<br />

Barreto, que no cinema novo decidiram assumir<br />

as singularidades da luz brasileira, sobretudo<br />

da luz nordestina, uma luz forte, que produz sobras<br />

duras, se afastando da estética europeia e<br />

americana do belo.<br />

Logo após os créditos iniciais o espectador é<br />

lançado a uma tela totalmente branca, como se<br />

estivesse em um quarto escuro e subitamente<br />

todas as paredes fossem derrubadas (figura<br />

03). O sol incandesce nossas vistas ao ponto<br />

de não identificarmos nada para além do branco<br />

total.<br />

Aos poucos a fotometria vai sendo ajustada<br />

e nossa “retina fotográfica” vai passando a<br />

reconhecer o ambiente, como se estivéssemos<br />

nos adaptando e sendo convidados a integrar<br />

o universo fílmico (figuras 04 e 05). A fotografia<br />

fala: aqui é o agreste do Brasil, aqui não há luz<br />

difusa e suave quando estamos com o sol a<br />

pino. Só depois de alguns longos segundos reconhecemos<br />

os elementos da cena, um homem<br />

dirige um caminhão em um cenário desértico.<br />

[49]


O momento final da cena, de iluminação<br />

mais balanceada, nos revela um desafio da<br />

luz tropical, não é possível expor céu e terra,<br />

interior e exterior, sem perder detalhes. Não<br />

há como evitar o estouro da luz e nem a dureza<br />

negra das sombras (figura 06). No quadro<br />

observamos que as margens da estrada apresentam<br />

detalhes, o céu não está totalmente estourado,<br />

ainda conseguimos ver uma gradação<br />

do azul ao branco, já o centro da entrada está<br />

claramente superexposto em alguns pontos e<br />

o interior do caminhão, refletido no espelho,<br />

apresenta uma subexposição. É evidente, o fotógrafo<br />

estará sempre diante de escolhas sobre<br />

suas prioridades diante de uma situação limite<br />

como essa.<br />

É fundamental discutir o papel dessa escolha<br />

de representação sócio-política herdada<br />

do Cinema Novo. Não se trata de uma escolha<br />

puramente estética, mas de um compromisso<br />

histórico e cultural, de valorização de nossa<br />

regionalidade e brasilidade, da rejeição a uma<br />

colonização visual e cinematográfica. É a defesa<br />

de um cinema coerente e original.<br />

Waldemar Lima, diretor de Deus e o Diabo<br />

na Terra do Sol (1964) e Bebel, Garota Propaganda<br />

(1968), é talvez um dos maiores defensores<br />

e estudiosos da luz tropical brasileira.<br />

O cinema é uma arte cuja leitura é feita<br />

através de imagens, uma arte que se manifesta<br />

através de fotografia. Se o filme conta uma história<br />

em uma determinada região, a fotografia<br />

deve fazer parte da história, as luzes e as cores<br />

da região estão lá. Caso isso não aconteça, de<br />

que valeria ir a uma região fotografar os seus<br />

habitantes, os seus costumes, as suas danças,<br />

sua arquitetura? Não estaríamos descaracterizando<br />

a textura da luz? A luz que é também<br />

uma característica daquela região (LIMA, 2013,<br />

pg. 330)?””<br />

[50]


Em Cinema, aspirinas e urubus, a caatinga<br />

não é mera locação escolhida ao acaso ou<br />

disponibilidade, ainda que não carregue caráter<br />

alegórico de crítica social ou política, de denúncia<br />

da fome e miséria. É em um viés humano e<br />

afetivo que o agreste se faz presente, em sua<br />

textura, monotonia e aridez.<br />

Os contrastes de luz poderiam ser atenuados<br />

pelo uso de iluminação das cenas, refletores,<br />

espelhos, rebatedores. Mas seria um<br />

ataque cruel ao real efeito desejado. Por isso<br />

observamos um de viés natural, onde viajamos<br />

com os personagens em uma cabine de caminhão<br />

cheia de sombras com uma paisagem<br />

seca e estourada ao fundo.<br />

Câmera e planos<br />

A câmera na mão é mais uma peça do conjunto<br />

de uma obra que preza pela naturalidade<br />

e humanidade, a câmera vai tremer nas estradas<br />

de barro, vai estar próxima aos atores e vai<br />

revelar imperfeições de movimento, que nada<br />

mais são que um espelho do real.<br />

Na cena em que Jovelina pede carona e<br />

entra no caminhão temos uma belíssima composição<br />

planos, um enquadramento os há um<br />

verdadeiro balé de cabeças, em disputa pela<br />

atenção da moça.<br />

A mulher entre no caminhão visivelmente<br />

triste e passa a ser consolada por Johann e<br />

Ranulpho. A câmera mostra a cabine do caminhão<br />

com os personagens em um plano médio,<br />

que enfatiza as expressões faciais dos atores<br />

(figura 08).<br />

Em um primeiro momento Johann e Jovelina<br />

são colocados em planos distintos, mas a comunicação<br />

visual se dá no extra plano. Quando<br />

Johann pega um cantil e o direciona para fora<br />

do quadro (figura 09), não há dúvidas quanto<br />

a sua destinatária, há uma comunicação visual<br />

no extracampo, seu olhar para fora do quadro<br />

indubitavelmente fita aquela estranha que acabara<br />

de chegar.<br />

[51]


Considerações finais<br />

O resultado apresentado no filme representa<br />

o domínio da técnica colocado a serviço da<br />

intencionalidade criativa. Cinema, aspirinas<br />

e urubus é um marco no cinema brasileiro. O<br />

filme transita entre o potencial crítico e criativo<br />

de seus autores e o diálogo com o público,<br />

apresentando uma obra que trata de emoções<br />

universais, mas que constrói um universo particular,<br />

representado fortemente por suas escolhas<br />

estéticas de imagem e de som, sendo a<br />

fotografia, talvez a mais evidente delas.<br />

Referências<br />

LIMA, Waldemar. Luz Tropical Brasileira.<br />

Rebeca: revista brasileira de estudos de<br />

cinema e audiovisual, São Paulo, ano 2, n. 3,<br />

p.327-332, jun. 2013.<br />

MÜLLER, Adalberto. Cinema (de) novo,<br />

estrada, sertão: notas para (se) pensar Cinema,<br />

aspirinas e urubus. Logos: cinema,<br />

imagens e imaginário, Rio de Janeiro: UERJ,<br />

Faculdade de Comunicação Social, Vol. 1, n.<br />

24, p. 21-27, 2006. Semestral. Disponível em:<br />

. Acesso em: 05/07/2016.<br />

[52]


Aos poucos a comunicação entre Johann e<br />

Jovelina dá sinais de evolução, parece haver<br />

um interesse mútuo, mas Ranulpho insiste em<br />

evidenciar sua posição, ele não está entre os<br />

dois apenas fisicamente, é também um elemento<br />

de interrupção das tentativas de diálogo.<br />

Conforme a afinidade vai se tornando mais<br />

evidente, Ranulpho termina perdendo espaço<br />

e sai de cena, se recolhendo e afundando no<br />

banco do caminhão (figura 13). A câmera é<br />

posicionada muito perto dos atores, o que torna<br />

inevitável o desfoque no rosto de Jovelina em<br />

primeiro plano, ainda assim suas expressões<br />

são facilmente identificáveis, elementos essenciais<br />

para evolução da cena. O resto da cena<br />

está em foco, o que certamente mostra o uso<br />

de uma boa profundidade de campo. Provavelmente<br />

veríamos os detalhes da vegetação,<br />

se não houvesse uma gritante diferença de luz<br />

entre interior e exterior da cabine.<br />

A cena se encerra com um grande plano<br />

geral (figura 14), mostrando o caminhão em<br />

meio a caatinga, contrastando com os planos<br />

próximos que precederam toda a construção<br />

anterior.<br />

[53]


PROJETO CREATIVE COMMONS<br />

DIREITO AUTORAL E<br />

DIREITO DE IMAGEM<br />

Julianna Nascimento Torezani,<br />

professora do Curso de Fotografia da Unicap.<br />

Email: juliannatorezani@yahoo.com.br.<br />

Como uma alternativa do direito autoral, que<br />

requer autorização prévia e expressa de obras<br />

intelectuais, surge o Projeto Creative Commons<br />

em 2011, criado por Lawrence Lessing, professor<br />

da Universidade de Stanford, nos Estados<br />

Unidos. Trata-se de uma entidade sem fins<br />

lucrativos para garantir maior flexibilização na<br />

utilização de obras protegidas por direitos autorais.<br />

O projeto é colaborativo e tem por finalidade<br />

expandir a quantidade de obras criativas<br />

disponíveis ao público, já autorizadas pelos<br />

autores para o uso respeitando os limites que<br />

o criador indica a cada obra, permitindo assim,<br />

criar outras obras sobre a original e compatilhá-<br />

-las.<br />

Trata-se do processo de licenciamento de<br />

obras, ou seja, autorização de uso, mas não há<br />

transferência de patrimônio como nos casos de<br />

cessão e concessão (a Lei de Direito Autoral,<br />

Lei n. 9.610/1998, trata de licenciamento no<br />

Artigo 49). Vale ressaltar que quem viola uma<br />

licença Creative Commons viola os direitos autorais.<br />

No Brasil, o projeto é coordenado pelo<br />

Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola<br />

de Direito da Fundação Getúlio Vargas no Rio<br />

de Janeiro com apoio do Ministério da Cultura.<br />

Para Manuella Santos (2009, p. 140), na<br />

obra Direito autoral na era digital: impactos,<br />

controvérsias e possíveis soluções, “o Creative<br />

Commons oferece licenças que abrangem<br />

possibilidades entre a proibição total dos usos<br />

sobre uma obra (todos os direitos reservados)<br />

e o domínio público (nenhum direito reservado).<br />

Trata-se, pois, de um meio-termo (alguns<br />

direitos reservados). Assim, o autor que optar<br />

por alguma licença Creative Commons conserva<br />

seu direito autoral ao mesmo tempo em que<br />

permite certos usos de sua obra”.<br />

O projeto indica a possibilidade dos usos<br />

através de quatro tipos de licença que devem<br />

estar explícitas na exibição das obras através<br />

dos ícones a seguir:<br />

• Atribuição: O autor permite que outras<br />

pessoas copiem, distribuam e utilizem sua obra<br />

[54]<br />

contanto que seja dado crédito ao autor da criação<br />

original. Pode criar obras derivadas mesmo<br />

que para uso com fins comerciais. É a licença<br />

menos restritiva.<br />

• Uso não comercial: O autor permite que outras<br />

pessoas copiem, distribuam e utilizem sua<br />

obra e obras derivadas criadas a partir dela,<br />

mas somente para fins não comerciais.<br />

• Não a obras derivadas: O autor permite que<br />

outras pessoas copiem, distribuam e utilizem<br />

somente cópias exatas da sua obra, ou seja,<br />

não permite que sejam criadas obras derivadas<br />

a partir da sua.<br />

• Compartilhamento pela mesma licença: O<br />

autor pode permitir que outras pessoas distribuam<br />

obras derivadas somente com a mesma<br />

licença que sua obra possui. Convém ressaltar<br />

que a condição do compartilhamento pela<br />

mesma licença só se aplica a obras derivadas,<br />

o que implica dizer que uma licença não pode<br />

conter as opções Compartilhamento pela mesma<br />

licença e Não a obras derivadas.<br />

Mais informações podem ser encontradas no<br />

endereço . Pelo<br />

site é feito um contrato entre o titular do direito<br />

autoral e os que desejam utilizar a obra.


Sua fotografia merece esta ampliação<br />

Atelier de Impressão, agora em instalações novas, amplas e ainda mais modernas.<br />

Fotografias: Gustavo Bettini<br />

Atelier de Impressão em novas<br />

instalações que continuam<br />

atendendo aos rigorosos requisitos<br />

da verdadeira impressão fine-art.<br />

Infraestrutura ampla e moderna,<br />

equiparada aos maiores centros de<br />

impressões artísticas do mundo.<br />

Mais uma ação que vem para<br />

reafirmar o rigor técnico que faz<br />

do ADI referência em qualidade e<br />

tratamento de imagem no mercado<br />

nacional. Atelier de Impressão,<br />

aqui sua fotografia é tratada como<br />

obra de arte. Venha conhecer!<br />

www.atelierdeimpressao.com.br<br />

Recife<br />

R. da Moeda, 140, Bairro do Recife, 81 3424.1310<br />

São Paulo<br />

Al. Lorena, 1257, Casa 05, Jd Paulista, 11 4432.1253<br />

[55]


[56]<br />

ENSAIO


Photografo Ergo Sun<br />

Salvador, BA - Brasil | 2013<br />

O jogo de luz e sombra é um convite ao diálogo com o universo<br />

da mulher. A partir do contraste entre o olhar externo e o mirar-se<br />

a si mesma se desenha um corpo fragmentado que se expande e se<br />

contrai. Um corpo de afetos.<br />

Photografo Ergo Sum é um elogio à dúvida. Aponta mais para<br />

indagação e menos para respostas.<br />

Texto e fotos de Rafael Martins<br />

[57]


[58]


[59]


[60]


[61]


Foto_Síntese<br />

O Projeto Hiatos Urbanos (http://hiatosurbanos.<br />

wix.com/projeto) foi criado a partir de inquietações<br />

referentes aos espaços urbanos ociosos<br />

na cidade do Recife e da necessidade de estudar<br />

e conhecer cada um deles. Tomou-se então como<br />

primeira amostra destes espaços os baixios sob<br />

alguns dos viadutos espalhados pela cidade, registrados<br />

e mapeados através de recursos multimídia.<br />

Com esse primeiro material é possível ter uma<br />

amostra do alvo das nossas investigações e submetê-las<br />

à interação com o público em geral, ouvindo<br />

suas opiniões, experiências e sugestões sobre o<br />

projeto e sobre as ações que devem ou não ser tomadas<br />

para a melhoria de cada local. A ideia é que o site<br />

se torne uma ferramenta de interação entre profissionais<br />

de arquitetura e cidadãos interessados na construção<br />

de uma cidade melhor.<br />

Texto e foto: Diego Araújo<br />

[62]


[63]


Revelação caseira<br />

de filme fotográfico<br />

diapositivo chromo<br />

O universo fotográfico vem se expandido para o<br />

digital, mas existe um mundo inteiro que ainda<br />

vive de forma analógica e encara como algo<br />

mágico. Fotografar com filmes, revelar, aguardar<br />

cada imagem, fascina esses seres apaixonados<br />

pelo analógico. Mesmo com toda a escassez do<br />

material no território brasileiro, muitos acabaram<br />

adaptando e fazendo da sua casa seu próprio<br />

laboratório. É o caso do nosso aluno Rautemberg<br />

Nóbrega. Atualmente estudando no quarto módulo,<br />

ele é um apaixonado por esse mundo e resolveu<br />

relatar um pouco da experiência com revelação<br />

caseira tanto em P&B quanto em Chromo.<br />

[64]


Sempre fui entusiasta por filme fotográfico e<br />

câmeras analógicas manuais. Além de fotografar<br />

procuro ser o mais completo e envolvo as<br />

várias etapas da fotografia analógica desde sua<br />

revelação. No inicio dos meus estudos minha<br />

pretensão era aprender a revelar filmes 35mm<br />

negativo preto & branco. Com a dificuldade de<br />

encontrar lojas específicas para revelações e<br />

comprar materiais químicos, precisei tornar-me<br />

o próprio laboratorista. Tenho produzido reveladores<br />

energéticos, banhos interruptores ácidos,<br />

estabilizadores e outros. Não possuo nenhum<br />

estudo avançado no campo da química, mas<br />

tudo isso foi possível através de pesquisas em<br />

livros antigos de fotografia com suas receitas<br />

caseiras.<br />

Hoje, depois de inúmeras tentativas e erros<br />

de revelação preto & branco, posso afirmar que<br />

produzo uma revelação limpa e contrastante<br />

por meio de banhos interruptores precisos e<br />

longa fixação ressaltando a importância da<br />

lavagem para a remoção de resíduos. Isso não<br />

quer dizer que cheguei na perfeição da revelação<br />

de um filme negativo preto & branco, mas<br />

que posso transpor esses conhecimentos para<br />

revelar as cores de um filme cromo, diapositivo.<br />

Diferente dos químicos que produzem o<br />

revelador de filme preto & branco, os químicos<br />

ficha técnica:<br />

- Praia de Tamandaré<br />

- Filme 35mm<br />

Fuji Chrome Provia 100F<br />

- Nikkor 80-200mm<br />

para originar os reveladores de filmes cromo<br />

estão escassos e alguns deles com venda<br />

restrita no território nacional. Contornei essa<br />

dificuldade importando um kit de revelação<br />

cromo de 1 litro já vencido dos EUA. Esse kit<br />

acompanha garrafas com soluções de revelador,<br />

fixador e estabilizador. O rendimento esperado<br />

é de revelar 12 rolos de filmes 35mm ou<br />

120mm no período de até 6 meses. O processo<br />

de revelação do filme cromo é bem parecido<br />

com o preto & branco, após enrolar seu filme<br />

no quarto escuro e colocar no tanque de revelação,<br />

basta seguir as recomendações descritas<br />

no manual.<br />

Através de banho-maria, mantendo a temperatura<br />

da água em constantes 38ºC, é feito um<br />

banho inicial de 5 minutos para aquecer o tanque<br />

de revelação e as 3 soluções (First Developer,<br />

Color Developer e Bleach + Fix) diluídas<br />

em água. A quarta solução chamada de STAB<br />

também diluída em água deverá ser mantida<br />

na temperatura entre 20ºC e 25ºC. A agitação é<br />

[65]


[66]


constante nos primeiros 15 segundos e depois<br />

a cada 15 segundos em todas as etapas.<br />

Nota: A temperatura é algo primordial durante<br />

o processo. Qualquer diferença na temperatura<br />

trará resultados não satisfatórios.<br />

Tempos utilizados na revelação:<br />

• Primeiro revelador (First Developer): 6 minutos e 30 segundos.<br />

• Banho de interrupção: 2 minutos.<br />

• Revelador de cor (Color Developer): 6 minutos.<br />

• Banho de interrupção: 2 minutos.<br />

• Branqueador e Fixador (Bleach + Fix): 6 minutos.<br />

• Banho de interrupção: 4 minutos.<br />

• Estabilizador (STAB): 1 minuto.<br />

O resultado desta primeira tentativa vindo de<br />

uma solução química vencida e de todo processo<br />

ter sido feito em casa me surpreendeu. Acredito<br />

que com a compra de um kit de revelação<br />

cromo dentro da validade as cores fiquem mais<br />

marcantes com transparência e um contraste<br />

profundo sem manchas. Continuarei a pesquisa<br />

com os mesmos químicos em novas revelações<br />

com tempos e diluições diferentes... é assim<br />

com a fotografia analógica, tentar e tentar até<br />

chegar no resultado desejado. Sempre há algo<br />

para melhorar e, com esse propósito adoto o<br />

campo da fotografia analógica praticando esse<br />

assunto fascinante. Creio que desse rito é que<br />

surge a qualidade e a técnica do processo.<br />

Foto: Karina Rocha<br />

Meu nome é Rautemberg Nóbrega e estou<br />

no 4º módulo do Curso Superior de Tecnologia<br />

em Fotografia da Unicap. Busco investir meus<br />

esforços em carreira acadêmica e em projetos<br />

de fotografia autoral. Agradeço ao ensino dos<br />

professores, colaboração dos laboratoristas<br />

e do apoio imprescindível da coordenadora<br />

Renata Victor pela oportunidade de contribuir<br />

com a revista UnicaPhoto.<br />

[67]


Expedição Endurance<br />

a incrível viagem para a<br />

Antártida completa 100 anos<br />

Capitão Sir Ernest Shackleton<br />

“A fotografia documental tem o mérito de registrar um momento de<br />

tempo real que não mais se repetirá, e que será sempre lembrado,<br />

como é o caso da Expedição de Sir Ernest Shakleton à Antártida em<br />

1912, que foi extensivamente registrada pelo fotógrafo australiano<br />

Frank Hurley, e que ficou conhecida como uma das maiores aventuras<br />

do homem na luta pela sobrevivência no século XX”.<br />

Eduardo Masami Kitahara (2007, p. 127)<br />

Texto de Julianna Nascimento Torezani<br />

Fotógrafo Frank Hurley<br />

[68]


Viagem!<br />

Aventura!<br />

Desafio!<br />

Sobrevivência!<br />

Essas palavras ajudam a definir a viagem<br />

realizada no início do século XX da Europa<br />

para a Antártida. O capitão Sir Ernest Henry<br />

Shackleton (1874-1922) tinha por objetivo<br />

cruzar o continente antártico a pé e de trenó,<br />

além de desenvolver pesquisas no Pólo Sul,<br />

mas essa aventura resultou também em um<br />

marco na fotografia documental e ambiental.<br />

O plano era cruzar o Círculo Polar Antártico,<br />

atravessar o traiçoeiro Mar de Weddell e<br />

aportar na Baía de Vahsel, uma caminhada<br />

de 3300 quilômetros onde uma parte da tripulação<br />

desembarcaria para a travessia por terra<br />

até o Mar de Ross, para isso levou 69 cães<br />

canadenses treinados para puxar trenós. No<br />

entanto, essa viagem teve outra percurso.<br />

A viagem teve diversos financiadores sob<br />

a venda de todos os direitos sobre notícias e<br />

imagens da expedição, visto que esse tipo de<br />

fotografia teve grande apelo popular desde a<br />

expedição de Robert Falcon Scott, em 1902,<br />

no qual Shackleton também participou. Assim,<br />

Shackleton colocou no jornal um anúncio<br />

com o seguinte texto: “Procura-se homens<br />

para jornada perigosa, salário baixo, frio cortante,<br />

retorno seguro duvidoso”.<br />

A Expedição Transatlântica Imperial de<br />

Shackleton partiu no navio Endurance (uma<br />

embarcação de madeira preparada para enfrentar<br />

o gelo) de Londres em 1º de agosto de<br />

1914, dias antes do início da Primeira Grande<br />

Guerra. Mesmo com a guerra recebeu autorização<br />

de Winston Churchill para continuar a<br />

viagem. A equipe comandada pelo explorador<br />

irlandês Shackleton (que já tinha participado<br />

de duas expedições à Antártida) tinha 27<br />

pessoas, entre marinheiros, pesquisadores<br />

e o fotógrafo australiano Frank Hurley (1885-<br />

1962).<br />

Levou como equipamento fotográfico: câmeras<br />

Graflex; câmera de fole para negativos<br />

de vidro; Kodak’s de vários tamanhos, inclusive<br />

uma V. P. K. (Vest Pocket Kodak), número<br />

3 e 3A F.P.K.; filme N. C. da Kodak; chapas<br />

Austral Standard; chapas Austral Lantern<br />

para preparer diapositivos; lentes Cooke de<br />

foco e aberturas variáveis, inclusive a conhecida<br />

Portrait, de doze polegadas f/3.5; lente<br />

Ross Telecentric de dezesseis polegadas<br />

f/5.4.<br />

[69]


Em 7 de dezembro de 2014, a expedição<br />

chegou ao banco de gelo na Antártida, as<br />

banquisas. Shackleton resolveu esperar o<br />

inverno passar e o gelo derreter para seguir<br />

viagem, neste momento já registrava quase<br />

15 graus negativos.<br />

Neste período mantém toda tripulação<br />

ocupada em atividades de pesquisa (como<br />

a coleta de plâncton), cuidados com o navio<br />

ou atividade de lazer como ouvir gramofone,<br />

jogar xadrez e futebol.<br />

Em 27 de outubro de 1915, o Endurance é<br />

esmagado pelo gelo e a tripulação abandona<br />

o navio. Shakleton permite que cada tripulante<br />

recolha cerca de um quilo de pertences e<br />

monta um acampamento oceânico. O naufrágio<br />

completo do navio ocorreu em 21 de<br />

novembro de 1915.<br />

Hurley teve que abandonar o equipamento<br />

fotográfico mais pesado, das 500 fotografias<br />

feitas guardou 120 imagens e quebrou as<br />

demais placas de vidro. Shakleton temia que<br />

Hurley colocasse sua vida em risco, tentando<br />

recuperar as chapas posteriormente, por isso<br />

que as imagens foram quebradas. Para o<br />

resto da viagem, Hurley ficou com uma Kodak<br />

V. P. K. e 3 rolos de filmes.Os homens foram<br />

divididos em três botes pequenos e passaram<br />

sete dias no oceano Atlântico Sul até chegar<br />

a Ilha Elefant em 15 de abril de 1916. Desta<br />

forma, a tripulação passou 497 dias no gelo<br />

e no mar para chegar a Terra firme. O problema<br />

que a ilha estava fora da rota dos navios<br />

baleeiros, por isso em 24 de abril Shackleton<br />

resolveu seguir com cinco pessoas da tripulação<br />

no bote James Caird que tinha 6,6 metros<br />

de comprimento para tentar chegar à Ilha<br />

[70]


Georgia do Sul habitada por noruegueses,<br />

há 1300 quilômetros de distância. Durante a<br />

viagem no bote poderiam enfrentar ventos de<br />

130 km/h e ondas de até 20 metros.<br />

Após 17 dias no mar em condições precárias,<br />

enfrentaram um furacão até chegar a<br />

estação baleeira da Ilha Georgia do Sul em<br />

10 de maio de 1916. Lá desembarcam no<br />

lado contrário da estação, não tiveram como<br />

seguir navegando porque o bote estava muito<br />

avariado. Sheckleton com dois homens atravessaram<br />

a pé as geleiras no interior da ilha,<br />

um percurso de 37 quilômetros, onde tiveram<br />

que escalar montanhas, glaciais e picos nevados,<br />

até alcançar a Vila Stromness após 36<br />

horas de caminhada. Foram resgatados por<br />

um navio, que deu uma volta na ilha e resgataram<br />

os demais tripulantes do outro lado. No<br />

entanto, ainda faltavam buscar os integrantes<br />

da expedição na Ilha Elephant, por conta da<br />

guerra a Inglaterra não tinha navio para o resgate,<br />

assim Shackleton teve que buscar apoio<br />

na Argentina, Uruguai e Chile para encontrar<br />

uma embarcação que suportasse a viagem<br />

de volta.<br />

Shackleton só conseguiu chegar à Ilha<br />

Elefant apenas na terceira tentativa. Dentro<br />

do navio, ainda no mar ele contou quantas<br />

pessoas estavam na ilha e observou que todos<br />

estavam vivos. O resgate ocorreu em 30<br />

de agosto de 1916 pelo navio chileno Yelcho,<br />

comandado por Luis Pardo Villalón. Todos retornaram<br />

à Inglaterra. Shackleton foi recebido<br />

como um herói pois lutou pela sobrevivência<br />

de todos da equipe da sua expedição. Em<br />

1922, Shackleton voltou para a quarta experdição<br />

à Antártida, ao chegar na Ilha Geórgia<br />

do Sul sofreu um ataque cardíaco e faleceu<br />

aos 47 anos, foi sepultado na própria ilha.<br />

Essa emocionante história de sobrevivência<br />

foi contada no documentário A Lendária<br />

Expedição Antártica de Shackleton dirigido<br />

por George Butler, em 2001. É até hoje considerada<br />

uma das grandes aventuras de todos<br />

os tempos.<br />

Referências:<br />

KITAHARA, Eduardo Masami. O uso da<br />

fotografia e da imagem digital em pesquisas<br />

oceanográficas: novos rumos proporcionados<br />

pela evolução do processo<br />

digital. In: Conexão – <strong>Revista</strong> de Comunicação<br />

e Cultura da Universidade de Caxias do<br />

Sul, UCS. Caixas do Sul, v. 6, n. 12, jul./dez.<br />

2007.<br />

Dicas de livros:<br />

ALEXANDER, Caroline. Endurance. São<br />

Paulo: Companhia das Letras, 1999.<br />

LANSING, Alfred. A incrível viagem de<br />

Shackleton. Rio de Janeiro: Sextante, 2009.<br />

[71]


[72]<br />

ENSAIO


Quem é você nas cores?<br />

Cada um de nós somos formados por cores, somos representados<br />

por uma ou várias delas. Essa é a tradução de nossa essência e é<br />

justamente a essência a protagonista dos ensaios do projeto “Você<br />

nas cores”, de Suann Medeiros, jornalista formada, estudante de<br />

fotografia e, acima de tudo, uma pessoa que usa suas cores para<br />

colorir o mundo de todos ao seu redor: uma apaixonada.<br />

O projeto vem da vontade da autora de evidenciar as nossas<br />

cores interiores, em composições que são mistos de cenário<br />

original, olhar poético e técnico e principalmente, a beleza única<br />

de quem está sendo fotografado. Além disso, a pessoa fotografada<br />

também é entrevistada e instigada a refletir sobre o papel das cores<br />

em sua vida.<br />

[73]


[74]


[75]


[76]


[77]


O FOTÓGRAFO, A FOTOGRAFIA<br />

E A HISTÓRIA<br />

Texto de Angela Grangeiro<br />

Fotografia e restauração (segunda imagem): José Nunes<br />

Formar um fotógrafo demanda mais que ensinar a técnica<br />

do manuseio da câmera, da utilização do flash, do conhecimento<br />

das regras básicas de enquadramento e aproveitamento da<br />

luz. O curso de fotografia estimula o fotógrafo a compreender,<br />

através da história, como a fotografia vem mudando conceitos<br />

e se estabelecendo como uma arte, que como qualquer outra,<br />

exige cada vez mais o aperfeiçoamento dos seus adeptos.<br />

Sob essa perspectiva, vem sendo agregada, ao fotógrafo<br />

contemporâneo, mais uma competência: a recuperação da fotografia,<br />

que para ser bem desempenhada, exige grande conhecimento,<br />

não apenas da técnica, mas da história e principalmente<br />

do domínio do software atualmente utilizado para o exercício<br />

dessa atividade.<br />

Quando se recupera uma fotografia se garante que a história<br />

de uma família, uma cidade, um país, da humanidade, seja<br />

resgatada e preservada. Nessa matéria conheceremos um pouco<br />

sobre um processo fotográfico muito utilizado em meados dos<br />

século XIX, a ferrotipia.<br />

Ferrotipia (em inglês, tintype ou ferrotype), consiste em uma<br />

fotografia feita sobre uma chapa fina de metal revestida de colódio<br />

úmido (uma substância formada por álcool, éter, algodão<br />

e pólvora permitia que a foto ficasse pronta em 30 segundos) e<br />

banhada em sal de prata. Datada da década de 1850, mais de<br />

160 anos atrás. O processo surgiu como alternativa mais barata<br />

em relação à daguerreotipia, firmando-se nas duas décadas<br />

seguintes especialmente entre fotógrafos itinerantes. Esse foi<br />

o método usado nos registros de Mathew B. Brady na Guerra<br />

Civil Americana.<br />

Marie Loup Sougez na obra História da Fotografia (2001,<br />

p. 110) afirma que “o ferrótipo era muito econômico e tinha a<br />

vantagem de poder enviar-se pelo correio, sem risco de partir:<br />

foi o meio ideal para os retratos dos pioneiros do Oeste, ou dos<br />

[78]


pesquisadores de ouro que podiam, assim, mandar<br />

o seu retrato ou receber o de uma pessoa querida.<br />

Essa matéria é ilustrada pelo ferrótipo de Fiel<br />

Grangeiro, nascido em 1844 em Catolé do Rocha.<br />

Formou-se na Faculdade de Direito do Recife e<br />

estabeleceu residência em Palmares, onde adquiriu<br />

dois engenhos e constituiu família. Faleceu em<br />

1897, aos 53 anos, deixando quatro filhos, sendo<br />

um deles o meu avô. A família doou os seus livros<br />

à Biblioteca Pública de Palmares.<br />

O processo de desgaste do ferrótipo, em questão,<br />

ainda não foi estabilizado, sabemos que não poderemos<br />

reverter o dano causado pelo tempo e mau<br />

acondicionamento, porém como já citado anteriormente,<br />

é possível recuperar a informação.<br />

José Nunes, fotojornalista e aluno do Curso de<br />

Fotografia da UNICAP, após fotografar o ferrótipo,<br />

tratou-o no Photoshop, recuperando não apenas as<br />

características físicas do personagem assim como<br />

a indumentária e a tendência da época, pois no<br />

século XIX, quando foi feito, era habitual posar<br />

em estúdios com cenários devidamente construídos<br />

para esse fim. Graças a esse trabalho, o registro<br />

não apenas foi perpetuado, mas também compartilhado,<br />

agora a imagem virou informação, que<br />

pode ser disponibilizada na internet e acessada<br />

por qualquer pessoa ou entidade interessadas no<br />

assunto.<br />

Assim desde 1826, data atribuída a primeira<br />

fotografia conhecida, até os dias atuais, a fotografia<br />

vem se consolidando como um efetivo meio de<br />

perpetuação e disseminação da história da humanidade.<br />

Fontes:<br />

SALLABERRY, Diogo. App TinType simula processo fotográfico de ferrotipia, mas sem a<br />

magia analógica. Disponível em: . Acesso em:<br />

03/08/2016 às 10:51<br />

SOUGEZ, Marie-Loup. História da Fotografia. Lisboa: Dinalivro, 2001.<br />

[79]


F O T O G R A F I A :<br />

MÁQUINA DO TEMPO<br />

Texto de Julianna Nascimento Torezani<br />

A imagem fotográfica como elemento do<br />

processo cultural, estético, técnico e ideológico<br />

é o tema da obra Os tempos da fotografia: o<br />

efêmero e o perpétuo de Boris Kossoy. Neste<br />

livro o autor também apresenta pesquisas sobre<br />

fotógrafos do passado e a censura na imprensa<br />

brasileira no século XX. Como o título indica<br />

os tempos da fotografia, Kossoy apresenta o<br />

tempo da criação como a primeira realidade, ato<br />

de registro e momento efêmero e o tempo da<br />

representação como a segunda realidade, foto<br />

documental, momento perpétuo.<br />

A primeira parte da obra trata da “Teoria<br />

e metodologia: conceitos, proposições,<br />

abordagens”, nesta são apresentadas as fases de<br />

construção e desmontagem da fotografia. O autor<br />

expõe uma importante lista de autores e obras<br />

que serviram como referencial teórico de suas<br />

pesquisas, etapa extremamente importante no<br />

desenvolvimento de uma investigação, ou seja, a<br />

revisão de literatura sobre o tema que se deseja<br />

analisar. Kossoy apresenta as ideias de Erwin<br />

Panofsky que elabora três fases de investigação<br />

de imagens: descrição pré-iconográfica da cena,<br />

os elementos visíveis; análise iconográfica, para<br />

identificação de tais elementos; interpretação<br />

iconológica para buscar significados e sentidos<br />

a cada imagem criada. Após essa explanação,<br />

o autor indica o estudo da codificação formal<br />

(captura de luz, equipamentos, produção e pósprodução)<br />

e da codificação cultural (elementos<br />

explícitos e implícitos) das cenas são essências<br />

para encontrar os significados destas. A partir<br />

de tais elementos pode chegar a estética de<br />

representação das fotografias, já que “toda<br />

fotografia tem atrás de si uma história” (KOSSOY,<br />

2007, p. 52).<br />

“Imprensa e história” é o título que abre a<br />

segunda parte do livro, inicialmente Kossoy conta<br />

a trajetória de vida da fotógrafa suíça Hildegard<br />

Rosenthal que deixou a Alemanha nos anos 30<br />

por conta do seu futuro marido Walter Rosenthal<br />

ser judeu. No Brasil, registrou a cidade de São<br />

Paulo como metrópole durante o Estado Novo<br />

trabalhando para a agência Press Information.<br />

Durante dez anos (entre final da década de<br />

[80]<br />

1930 e final da década de 1940) Rosenthal criou<br />

imagens utilizando fotomontagens e foi pioneira<br />

no fotojornalismo brasileiro. Kossoy também<br />

relata como era a imprensa na Era Vargas, tendo<br />

o jornal O Estado de São Paulo, no período<br />

de 1933 a 1938, publicações antissemitas e<br />

anticomunistas, na maioria das vezes eram<br />

textos sem imagens, caracterizando um imprensa<br />

controlada, o que ocorre também a partir do<br />

Golpe de 1964 com a instauração da ditadura<br />

militar no país.<br />

Na terceira parte do livro chamada de<br />

“Imaginário e memória”, o autor afirma que<br />

fotografia é memória, é o assunto retirado do seu<br />

contexto de criação, que há a memória coletiva<br />

nacional (documentação fotográfica oficial) e a<br />

memória individual (retratos e álbuns de família).<br />

Volta a tratar do tempo da criação e o tempo<br />

da representação, lembrando que este segundo<br />

é perpétuo se as imagens forem preservadas.<br />

Segundo Kossoy (2007, p. 147), “através da<br />

fotografia dialogamos com o passado”. E, ainda, a<br />

questão do tratamento digital de cena, chamando<br />

de reciclagem das imagens. Como máquina do<br />

tempo, a imagem preservada é o ‘frigorífico’ da<br />

memória, através principalmente dos bancos<br />

informatizados, que pela pesquisa fazendo a<br />

leitura dos diálogos e dos silêncios, o aparente e<br />

o oculto se relacionam.<br />

Por fim, o autor indica que sem a<br />

fotografia o século XIX seria outro. O mundo<br />

portátil e ilustrado trouxe uma referência<br />

mental ao indivíduo acerca do mundo real,<br />

assim conhecemos o mundo também pelas<br />

representações que são feitas dele. A imagem<br />

como o ‘ópio da imaginação’. Assim, as imagens<br />

são “espelhos que guardam memórias” (KOSSOY,<br />

2007, p. 163).


Confira outras dicas de livros, filmes<br />

e sites dos professores do curso de<br />

Fotografia da Unicap<br />

A<br />

A Lendária Expedição<br />

Antártica de<br />

Shackleton.<br />

Diretor: George Butler,<br />

2001.<br />

Os tempos da fotografia:<br />

o efêmero e o perpétuo.<br />

Boris Kossoy, 2007.<br />

Portal Photos<br />

B<br />

A história da<br />

eternidade.<br />

Diretor: Camilo<br />

Cavalcante, 2015.<br />

A ilusão especular: uma<br />

teoria da fotografia.<br />

Arlindo Machado, 2015.<br />

Icônica<br />

C<br />

Grande Hotel<br />

Budapeste.<br />

Diretor: Wes Anderson,<br />

2014.<br />

Índia.<br />

Steve McCurry, 2015.<br />

Hypeness<br />

D<br />

Mia madre.<br />

Diretor: Nanni Moretti,<br />

2015.<br />

Os gestos.<br />

Osman Lins, 1957.<br />

Porto das Letras<br />

E<br />

A Insustentável<br />

Leveza do Ser.<br />

Diretor: Philip Kaufman,<br />

1988.<br />

Pensamento crítico em<br />

fotografia: Antologia<br />

Brasil, 1890-1930.<br />

Ricardo Mendes, 2013.<br />

Marketing para<br />

fotográfos<br />

Dicas de:<br />

A - Julianna Torezani<br />

B - Sofia Queiroga (aluna do curso)<br />

C - Marcela Freire (aluna do curso)<br />

D - Robson Teles Gomes<br />

E - Carolina Monteiro<br />

[81]

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