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Revista Dr Plinio 143

Fevereiro de 2010

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Publicação Mensal Ano XIII - Nº <strong>143</strong> Fevereiro de 2010<br />

Ardoroso devoto<br />

da Eucaristia


Apostolado e sacrifício,<br />

ações inseparáveis<br />

Por que razão Nossa Senhora quis a morte<br />

precoce de Jacinta e Francisco, videntes de<br />

Fátima?<br />

Em geral, quando se trata da salvação dos homens, é<br />

necessário haver vítimas que se associem à intervenção<br />

de Deus com o sacrifício de suas vidas.<br />

Isto é especialmente frisante no que diz respeito<br />

às aparições de Fátima: trata-se de uma intervenção<br />

direta da Santíssima Virgem — atestada por milagres<br />

estupendos como, por exemplo, a rotação do Sol — com a<br />

transmissão de uma das mais importantes mensagens de<br />

Nossa Senhora aos homens ao longo de toda a História.<br />

Pois bem, nesta ocasião Maria Santíssima quis<br />

a imolação de duas almas, as quais se ofereceram<br />

na intenção do pleno cumprimento dos planos da<br />

Providência.<br />

Este oferecimento nos atesta como o sofrimento é<br />

insubstituível e como ele abre, verdadeiramente, os<br />

caminhos para a Igreja.<br />

(Extraído de conferência de 19/2/1965)<br />

2


Sumário<br />

Publicação Mensal Ano XIII - Nº <strong>143</strong> Fevereiro de 2010<br />

Ano XIII - Nº <strong>143</strong> Fevereiro de 2010<br />

Ardoroso devoto<br />

da Eucaristia<br />

Na capa, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

assiste uma procissão<br />

do Santíssimo<br />

Sacramento.<br />

Foto: J.S.Dias.<br />

As matérias extraídas<br />

de exposições verbais de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

— designadas por “conferências” —<br />

são adaptadas para a linguagem<br />

escrita, sem revisão do autor<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

<strong>Revista</strong> mensal de cultura católica, de<br />

propriedade da Editora Retornarei Ltda.<br />

CNPJ - 02.389.379/0001-07<br />

INSC. - 115.227.674.110<br />

Diretor:<br />

Antonio Augusto Lisbôa Miranda<br />

Conselho Consultivo:<br />

Antonio Rodrigues Ferreira<br />

Carlos Augusto G. Picanço<br />

Jorge Eduardo G. Koury<br />

Redação e Administração:<br />

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02461-010 S. Paulo - SP<br />

Tel: (11) 2236-1027<br />

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Impressão e acabamento:<br />

Pavagraf Editora Gráfica Ltda.<br />

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03335-000 S. Paulo - SP<br />

Tel: (11) 2606-2409<br />

Preços da<br />

assinatura anual<br />

Comum . . . . . . . . . . . . . . R$ 90,00<br />

Colaborador . . . . . . . . . . R$ 130,00<br />

Propulsor . . . . . . . . . . . . . R$ 260,00<br />

Grande Propulsor . . . . . . R$ 430,00<br />

Exemplar avulso . . . . . . . R$ 12,00<br />

Serviço de Atendimento<br />

ao Assinante<br />

Tel./Fax: (11) 2236-1027<br />

Editorial<br />

4 Ardoroso<br />

devoto da Eucaristia<br />

Datas na vida de um cruzado<br />

5 3 de fevereiro de 1975<br />

Um oferecimento aceito por Deus<br />

Dona Lucilia<br />

6 Sumamente tranquila,<br />

sumamente vigilante<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> comenta...<br />

10 De graça recebestes...<br />

As metáforas de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

14 Divina visita<br />

Ardoroso devoto da Eucaristia<br />

16 Mane nobiscum Domine<br />

O Santo do mês<br />

20 2 de fevereiro:<br />

Nossa Senhora do Bom Sucesso<br />

A sociedade, analisada por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

24 Alguns lutam por um ideal.<br />

Outros... por uma vida gostosa.<br />

Apóstolo do pulchrum<br />

30 Lição das flores<br />

Última página<br />

36 Minha mãe, dizei por mim!<br />

3


Editorial<br />

C<br />

Ardoroso<br />

devoto da Eucaristia<br />

omo haveria de se realizar a promessa feita por Nosso Senhor Jesus Cristo: “Estarei convosco<br />

até a consumação dos séculos”?<br />

Explica-nos a Teologia que a continuidade da presença de Jesus entre os homens, após sua partida<br />

para o Pai Eterno, realiza-se também através do Santíssimo Sacramento. Nele encontramos, à nossa<br />

inteira disposição, Aquele mesmo Jesus que andou sobre as águas do lago de Genezaré, que dava vista<br />

aos cegos e curava os leprosos, e que nos trouxe a salvação.<br />

Jesus não poderia conceder-nos, através da Eucaristia, os mesmos dons dispensados outrora em<br />

sua vida terrena? Ou cumular-nos daquelas mesmas consolações que proporcionava aos que estavam<br />

em sua proximidade?<br />

***<br />

A Eucaristia é um dos pilares da piedade pliniana. Ao longo de sua vida, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> sempre manifestou<br />

a profunda devoção que nutria para com Jesus Eucarístico. De suas conferências — ou até das<br />

simples conversas que tivera com seus mais próximos colaboradores — podem-se tirar valiosos princípios,<br />

como também encontrar ricas considerações teológicas acerca de tão elevado tema.<br />

Por esta razão, a revista <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> inicia neste mês a seção “Ardoroso devoto da Eucaristia”, na qual<br />

poderá o leitor beneficiar-se deste piedoso acervo de explicitações e obter respostas às questões que,<br />

no decorrer da vida cristã, não poucas vezes surgem à nossa alma:<br />

“Qual deve ser nossa atitude diante da Sagrada Eucaristia?<br />

“Esta é uma pergunta que respondo com outra: Que atitude tomaríamos se, de repente, Nosso Senhor<br />

aparecesse pessoalmente a um de nós? Compreender-se-ia outra reação que não fosse a prostração<br />

diante d’Ele em sinal de adoração?<br />

“Ora, Cristo está tão presente na Eucaristia quanto estava, em sua existência terrena, andando pelas<br />

cidades da Terra Santa.<br />

“Alguém poderia objetar: ‘Não tem dúvida, mas seria uma graça muito maior vê-Lo fisicamente<br />

com os olhos, do que adorá-Lo na Sagrada Hóstia.’ A este eu respondo o seguinte: Por mais espantoso<br />

que possa parecer, eu não concordo! Vê-Lo fisicamente é uma dádiva enorme, mas exprimir nossa<br />

Fé, crendo em sua presença sem O ver, e assim amá-Lo como se O víssemos, é atrair para si a bemaventurança<br />

anunciada a São Tomé: ‘Bem-aventurados os que não viram mas creram.’ 1<br />

“Terminada a Santa Missa, as partículas nela consagradas que não foram consumidas pelos fiéis<br />

são guardadas no sacrário, e Nosso Senhor lá permanece. Todos saem da igreja, ela é fechada, as horas<br />

passam, a noite vai avançada. A lamparina tilinta e o seu estalo faz eco no edifício sagrado. A capela<br />

está na solidão completa, porém, Ele está ali à espera de que alguém vá adorá-Lo.<br />

“Eu sou cristão. E cristão é aquele que reconhece em Jesus Cristo o Homem-Deus, que nos redimiu<br />

e nos salvou e por cujas graças nós podemos chegar até o Céu.<br />

“Mas esse Deus não está apenas no Céu, a uma grande distância de mim. Ele está aqui perto. Como<br />

posso eu não fazer da Sagrada Eucaristia o tema central da minha piedade?”<br />

1) Jo. 20, 29<br />

(Extraído de conferências de 3/4/1969, 28/4/1973 e 21/9/1991)<br />

Declaração: Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontífice Urbano VIII, de 13 de março de 1625 e<br />

de 5 de junho de 1631, declaramos não querer antecipar o juízo da Santa Igreja no emprego de palavras ou<br />

na apreciação dos fatos edificantes publicados nesta revista. Em nossa intenção, os títulos elogiosos não têm<br />

outro sentido senão o ordinário, e em tudo nos submetemos, com filial amor, às decisões da Santa Igreja.<br />

4


Datas na vida de um cruzado<br />

3 de fevereiro de 1975<br />

Um oferecimento<br />

aceito por Deus<br />

As grandes realizações sobrenaturais são<br />

frutos de grandes sofrimentos. Ao longo<br />

da História pululam os fatos que no-lo<br />

demonstram.<br />

Entre muitos, tomemos o exemplo por excelência:<br />

Nosso Senhor Jesus Cristo no cimo do<br />

Calvário, pregado a uma Cruz, escarnecido, mal<br />

tratado, Homem de dores acostumado ao sofrimento.<br />

Porém, com este doloroso ato, comprou<br />

nossa redenção, apagando os efeitos da culpa<br />

original.<br />

É bem verdade que — se o próprio Deus feito<br />

Homem passou pela Paixão e imolou-se na Cruz,<br />

a fim de obter a vitória sobre o pecado e a morte<br />

— também o homem que se ponha a militar nas<br />

fileiras de Jesus Cristo, deve, sem pesar nem tristeza,<br />

cheio de garbo e decisão, preparar-se para os<br />

sofrimentos que lhe hão de vir.<br />

Não foi diverso o que se passou com Doutor<br />

<strong>Plinio</strong>. Notando ser necessário algum sacrifício<br />

particular, para que seu apostolado desse frutos<br />

agradáveis à Santa Igreja, logo se dispôs espiritualmente<br />

a receber os sofrimentos que fossem da vontade<br />

de Deus. E em 3 de Fevereiro de 1975, dois<br />

dias após haver feito tal oferecimento,foi vítima de<br />

um grave desastre de automóvel:<br />

Para que nosso Movimento fosse adiante, era<br />

necessário um sacrifício que conquistasse graças<br />

diante de Deus. Eu pensei: “Não posso oferecer<br />

minha vida, porque sei que Nossa Senhora não<br />

quereria isto, mas posso oferecer qualquer outra<br />

coisa que Ela queira me fazer sofrer.”<br />

Dois ou três dias depois, eu partia para uma<br />

sede nossa, na cidade de Amparo, interior de<br />

São Paulo. Antes desta viagem, eu atendi a um<br />

membro de nosso Movimento e saí da conversa<br />

com muito mal-estar, não pelo que tínhamos<br />

conversado, mas por um imponderável que<br />

sentia no ar — não me lembrava do oferecimento<br />

que havia feito. Tive a seguinte impressão:<br />

“Se eu viajar no banco da frente, vou acabar<br />

dormindo e assim, caso aconteça um acidente,<br />

vou escangalhar-me num desastre de automóvel<br />

sem dar-me conta. Seria melhor viajar<br />

atrás para vigiar melhor.” Mas concluí: “Não se<br />

deve dar atenção a esses pressentimentos; eu<br />

vou na frente.” E dormi, acordando no hospital<br />

de Jundiaí...<br />

Alguém que estava comigo no carro, no banco<br />

de trás, disse-me que eu acordei na hora do<br />

choque, vi o carro da frente derrapando de um<br />

lado para o outro e perguntei: “O que é isso? É<br />

com nosso carro?”<br />

Eu havia sofrido um desastre de automóvel<br />

gravíssimo, estava com dificuldade de raciocinar<br />

— minha cabeça levara um trauma horroroso<br />

—, não sabia o que tinha me acontecido.<br />

Lembro-me que, estando no hospital, confusamente<br />

eu emergia do subconsciente para<br />

o consciente, e percebia, por momentos, gotas<br />

claras e grandes de realidade, de um lado; mas,<br />

de outro, gotas fugidias que rolavam pelo abismo<br />

das circunstâncias pré-operatórias e pósoperatórias.<br />

Nos momentos de consciência eu percebia —<br />

por todas as condições de meu corpo — que eu<br />

talvez imergisse no subconsciente logo mais, e<br />

que assim seriam as coisas indefinidamente, enquanto<br />

Nossa Senhora dispusesse.<br />

A Providência havia aceito meu oferecimento.<br />

(Extraído de conferências de 29/9/1980,<br />

6/2/1982 e 25/4/1992 )<br />

5


Dona Lucilia<br />

Sumamente tranquila,<br />

sumamente vigilante<br />

Há quem confunda bondade com ingenuidade. Este é um equívoco<br />

não cometido por Dona Lucilia. Extremamente bondosa e afetuosa, ela<br />

formou seus filhos na mais intransigente escola da vigilância.<br />

Q<br />

ual foi a impressão causada<br />

por Dona Lucilia, em<br />

meu interior, durante toda<br />

a vida?<br />

O amor materno<br />

Recordando os mais antigos fatos<br />

da infância, momentos onde o<br />

filho começa a deter-se atenciosamente<br />

em sua mãe e tomar consciência<br />

de que ela possui uma relação<br />

especial com ele, lembro-me de<br />

me sentir envolvido pelo trato materno.<br />

Era uma impressão forte, doce,<br />

estável e cheia de luz. Dona Lucilia<br />

era sumamente tranquila, sem, entretanto<br />

deixar de ser íntegra e intransigente.<br />

Embora sofresse muito durante a<br />

vida, mamãe possuía uma paz decorrente<br />

da convicção de que estava vivendo<br />

e sofrendo como devia, e que<br />

o caminho trilhado por ela era o desejado<br />

por Deus. Este estado de alma<br />

proporcionava a ela uma enor-<br />

Fotos: Arquivo revista / S. Miyazaki<br />

6


me tranquilidade de consciência. Isso<br />

explica o fato de ela não se agitar<br />

com coisa alguma.<br />

Por outro lado, Dona Lucilia<br />

não tolerava o menor mal. Em<br />

qualquer circunstância ela exigia<br />

que as coisas fossem inteiramente<br />

bem feitas. Nunca considerando<br />

o mal pelo seu lado mais divertido<br />

ou engraçado, ela não tolerava<br />

de nenhuma forma as coisas ruins.<br />

Isto dava a mamãe um bonito aspecto<br />

de alma pelo qual nunca a vi<br />

mentir, ou procurar fazer um sofisma,<br />

enganando alguém. Dizia a todos<br />

a verdade como era, cumprindo<br />

seu dever até onde necessário.<br />

Isso se dava, sobretudo, em relação<br />

aos filhos.<br />

Nessa eu posso confiar!<br />

Eu nasci muito fraco, e por isso,<br />

quando pequeno, Dona Lucilia<br />

cuidou de minha saúde o quanto<br />

pôde.<br />

Devido a minha frágil saúde, eu<br />

tinha muita dificuldade em dormir à<br />

noite. Então, acordava e via o quar-<br />

Embora sofresse<br />

muito durante<br />

a vida, mamãe<br />

possuía uma paz<br />

decorrente da<br />

convicção de que<br />

estava vivendo<br />

e sofrendo como<br />

devia, e que o<br />

caminho trilhado<br />

por ela era o<br />

desejado por<br />

Deus.<br />

7


Dona Lucilia<br />

to todo escuro. Dava-me uma<br />

sensação de isolamento, de solidão,<br />

não tendo a quem dirigir-me.<br />

Por esta razão, mamãe mandava<br />

colocar minha cama ao<br />

lado da sua. Ao acordar, ficava<br />

um pouco intimidado em despertá-la,<br />

mas, afinal, chegava<br />

um momento em que não era<br />

mais possível ficar sozinho, e,<br />

então, punha a ponta do dedo<br />

em seu braço.<br />

Como toda criança, eu não<br />

pronunciava bem as palavras.<br />

E tendo apenas dois anos de<br />

idade, queria dizer mãezinha,<br />

mas dizia manguinha.<br />

Às vezes, quando acordada,<br />

ela logo percebia tratar-se de<br />

mim, e começava a entreterme,<br />

até notar que estava sossegado.<br />

Então me deitava novamente<br />

na cama e ambos dormíamos.<br />

Porém, em algumas ocasiões —<br />

pelo fato de estar indisposta ou simplesmente<br />

por ter um sono muito<br />

profundo — Dona Lucilia não acordava.<br />

E possuindo um temperamento<br />

categórico desde pequeno, eu passava<br />

para a cama dela — era um verdadeiro<br />

“alpinismo” — e tocava-a<br />

para que despertasse.<br />

Para ter bom êxito em minha “escalada”,<br />

eu tinha de me pôr de pé e<br />

tentar galgar uma grade alta que havia<br />

em minha cama para evitar qualquer<br />

acidente...<br />

Passando para a sua cama, começava<br />

a chamá-la, porém não era<br />

atendido. Então me aproximava e<br />

abria os olhos dela, pois, assim, naturalmente<br />

acordaria.<br />

Nunca aconteceu algo senão isto:<br />

ela acordar, e imediatamente sorrir,<br />

dizendo:<br />

— Meu filhinho. É você?<br />

Imediatamente ela se sentava na<br />

cama, fazia com que eu me sentasse<br />

no travesseiro dela, e iniciava o<br />

conto de uma história. Eu me sentia<br />

penetrando na história através<br />

Quando eu voltei,<br />

Dona Lucilia<br />

estava sentada<br />

numa poltrona,<br />

no hall de entrada<br />

da casa, nós nos<br />

abraçamos e<br />

beijamos de modo<br />

efusivo.<br />

Ela me disse:<br />

“Graças a Deus,<br />

você ainda é o<br />

mesmo.”<br />

dos olhos dela. Ela me queria muito<br />

bem, e eu tinha noção — talvez confusa<br />

pela pouca idade, porém real<br />

— desse afeto do qual era objeto. E<br />

por ser cauto desde pequeno, pensava<br />

comigo mesmo: “Nessa eu posso<br />

confiar, porque ela me quer<br />

bem.”<br />

Meu coração está<br />

à procura de <strong>Plinio</strong><br />

e não o encontra<br />

Inúmeros episódios como<br />

esse se repetiram ao longo de<br />

minha vida. Lembro-me também<br />

daqueles momentos nos<br />

quais a severidade dela se manifestava.<br />

Por exemplo, quando<br />

na década de cinquenta<br />

viajei à Europa.<br />

Dona Lucilia ficava muito<br />

apreensiva quando alguém<br />

da família fazia viagens de<br />

avião, pois naquele tempo os<br />

aviões eram ainda muito primitivos.<br />

E atravessar o oceano<br />

de avião tinha seus riscos,<br />

os quais ela não queria que<br />

seu filho passasse. Então, não cheguei<br />

a dizer a ela que ia à Europa.<br />

Disse que ia ao Rio de Janeiro —<br />

naturalmente precisava ir ao Rio<br />

para depois ir para a Europa.<br />

Pedi que Dona Lucilia me preparasse<br />

uma mala com muitas roupas,<br />

pois talvez me demorasse um pouco<br />

mais no Rio. Ela parecia estar tranquila,<br />

e por isso julguei que não desconfiasse<br />

de nada.<br />

Contou-me um parente próximo,<br />

muito ligado a ela, que no dia seguinte<br />

ao da viagem, minha mãe pediu<br />

que ele fosse a minha casa. Este<br />

parente chegou, e Dona Lucilia lhe<br />

disse:<br />

— Diga-me uma coisa: onde está<br />

o <strong>Plinio</strong>?<br />

— O <strong>Plinio</strong>?<br />

E deu uma resposta evasiva. Entretanto,<br />

ela disse:<br />

— Meu coração está à procura de<br />

<strong>Plinio</strong> e não o encontra. Procuro-o<br />

no Rio e ele não está; procuro-o em<br />

Santos — lugares onde costumava ir<br />

— e <strong>Plinio</strong> não está lá. Você precisa<br />

me dizer onde está o <strong>Plinio</strong>.<br />

Ele sorriu e disse a ela:<br />

8


— Lucilia, o <strong>Plinio</strong> está na Europa.<br />

— Como Europa?!<br />

— Sim, ele resolveu ir para a Europa,<br />

passar alguns meses, por motivos<br />

de seu apostolado.<br />

Então, mamãe chorou e rezou por<br />

mim. Pouco tempo depois, chega para<br />

ela uma cesta de flores enorme<br />

que eu tinha encomendado, calculando<br />

a hora aproximada em que ela<br />

saberia da notícia, acompanhada de<br />

uma carta sumamente afetuosa, dirigida<br />

a ela.<br />

Não preciso dizer que ela gostou<br />

muito da cesta. À tardinha, na hora<br />

do crepúsculo, chega outra cesta<br />

de flores com outra carta minha. E<br />

durante toda a viagem escrevi várias<br />

cartas a ela — as quais eram invariavelmente<br />

respondidas.<br />

Quando voltei — Dona Lucilia<br />

sabia que estava chegando —, ela estava<br />

sentada numa poltrona, no hall<br />

de entrada da casa. Abriu-se a porta<br />

e eu a vi sentada no sofá.<br />

Era costume mamãe levantar tarde,<br />

pois rezava muito à noite, indo<br />

dormir às 3h da manhã. Consequentemente,<br />

acordava lá pelo meio-dia<br />

e ainda ficava rezando na cama por<br />

mais algum tempo, pois, como sofria<br />

do fígado, ela devia ficar muito tempo<br />

recostada.<br />

No dia de minha chegada, porém,<br />

ela levantou-se mais cedo e já estava<br />

inteiramente à minha espera. Quando<br />

entrei, abracei-a e beijei-a de modo<br />

efusivo.<br />

Dona Lucilia recuou um pouco<br />

e fixou o olhar no fundo dos meus<br />

olhos. Eu fiquei curioso de perguntar<br />

o que significava aquilo. Ela me<br />

disse:<br />

— Graças a Deus, você ainda é<br />

sempre o mesmo.<br />

Era a vigilância materna: um afeto<br />

cheio de vigilância, uma vigilância<br />

cheia de afeto.<br />

v<br />

(Extraído de conferência de<br />

27/10/1988)<br />

9


<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> comenta...<br />

De graça<br />

recebestes...<br />

Na esfera<br />

sobrenatural, há<br />

momentos em que<br />

à vontade resta<br />

apenas dobrar<br />

reverentemente os<br />

joelhos, submetendose<br />

aos desígnios da<br />

Providência. Assim se<br />

passa com as graças<br />

que recebemos de<br />

Deus: nos são dadas<br />

gratuitamente, sem<br />

mérito algum de<br />

nossa parte. Tratando<br />

sobre este tema,<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> nos traz<br />

valiosos princípios.<br />

Fotos: S. Hollmann / R. C. Branco / H. Grados / Arquivo revista<br />

10<br />

Depois da culpa original, a<br />

natureza humana não raras<br />

vezes é levada a atribuir<br />

a si própria as boas obras que<br />

executou.<br />

Imaginemos um exemplo: No alto<br />

de um púlpito está um pregador, o<br />

À esquerda, nossos primeiros<br />

pais ao serem expulsos<br />

do Paraíso - Museu do Prado,<br />

Madri; à direita,<br />

Moisés com as tábuas da Lei.


qual fala para um público que o ouve<br />

contrito e devoto.<br />

O orador está — como Moisés no<br />

alto da montanha — vituperando<br />

contra os pecados, censurando os erros,<br />

increpando as doutrinas falsas,<br />

abatendo as heresias. Evidentemente,<br />

se estabelece uma diferença entre<br />

ele e os ouvintes. Ele faz o papel de<br />

homem puro, santo, imaculado como<br />

a hóstia que vai ser oferecida<br />

no altar; ele censura os outros pela<br />

vida má que levam; ele é um homem<br />

que foi separado dos outros,<br />

por Deus, para ser o sal e a luz do<br />

mundo (Mateus 5,13).<br />

Entretanto, este sacerdote cometerá<br />

um erro se julgar que a sabedoria<br />

de suas palavras nasce dele<br />

mesmo, pensando: “Vejam como<br />

eu sou bom: tirei das<br />

profundezas de minha personalidade,<br />

a energia e a lucidez para pensar<br />

acertadamente e trilhar o bom<br />

caminho. Realmente, minha natureza<br />

pessoal foi dotada por Deus de recursos<br />

admiráveis, mas eu sou o dono<br />

das qualidades naturais que Deus<br />

me deu; usei bem delas e as aumentei.<br />

Fui bom o suficiente para valorizar<br />

meus talentos, e por isso Deus<br />

me premiará.”<br />

Qual é o erro deste raciocínio?<br />

É o de esquecer-se que todo homem<br />

é concebido no pecado original<br />

e, por isso, é débil por natureza. E,<br />

assim sendo, sobrenaturalmente falando,<br />

por suas forças próprias não<br />

pode produzir nada de bom.<br />

O fato de sermos herdeiros de<br />

Adão e Eva põe em nós um “fermento”<br />

que nos leva frequentemente ao<br />

mal, criando assim, em nós, uma tendência<br />

estável e permanente para o<br />

pecado.<br />

11


<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> comenta...<br />

Púlpito da Basílica<br />

de São Jorge -<br />

Ferrara, Itália.<br />

Com a<br />

correspondência à<br />

graça, tornamo-nos<br />

verdadeiros heróis<br />

católicos, capazes de<br />

todas as audácias, de<br />

todas as coragens, de<br />

todas os martírios, de<br />

todas as investidas e<br />

de todas as vitórias.<br />

12


À menor ocasião de pecado, o homem<br />

sente-se solicitado. Tal solicitação<br />

é tão forte que, por sua simples<br />

natureza, não é possível à pessoa permanecer<br />

durante um tempo razoável,<br />

fora do estado de pecado mortal.<br />

Sem a graça de Deus<br />

não temos força<br />

para praticar a virtude<br />

Assim também com o nosso pregador:<br />

Se não contasse com a graça<br />

dada por Deus, seria um celerado,<br />

um criminoso.<br />

A graça é uma luz dada ao intelecto<br />

que nos ajuda a ver a verdade,<br />

uma força dada à<br />

A partir da<br />

sacada de seu<br />

escritório (na<br />

sede Nossa<br />

Senhora do<br />

Amparo),<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

contempla o<br />

panorama.<br />

vontade que nos ajuda<br />

a querer o bem.<br />

Sem a graça, o homem<br />

pode praticar algumas<br />

virtudes isoladamente,<br />

porém, nunca<br />

em sua totalidade.<br />

Sem essa assistência<br />

de Deus, o homem<br />

não terá a capacidade<br />

de cumprir estável e<br />

duravelmente os Dez<br />

Mandamentos.<br />

A graça de Deus é<br />

dada ao homem sem<br />

que ele a mereça; ela<br />

é um espontâneo ato<br />

da misericórdia do<br />

Criador. Foi por livre<br />

e espontânea iniciativa,<br />

que Deus deu a fé<br />

para o pregador crer,<br />

e a força para ele praticar<br />

os Dez Mandamentos.<br />

A graça atual não<br />

entra no homem à<br />

maneira de uma injeção<br />

fortificante que<br />

um médico coloca na<br />

veia do doente. Esta<br />

se incorpora ao doente<br />

e passa a ser uma<br />

propriedade de seu<br />

sangue, de maneira tal que tomada a<br />

injeção, o paciente não precisa mais<br />

do médico. A graça não é assim, ela<br />

é renovada a todo o momento, dando-nos<br />

a capacidade de praticar a<br />

virtude de um modo que nossa natureza,<br />

por si só, não seria capaz.<br />

Em síntese, o homem não é a origem<br />

e o ponto de partida da santidade<br />

que ele possa ter, mas sim, ele<br />

é santificado pela graça que vem de<br />

Deus. Aceitando essa bondade de<br />

Deus, a graça penetra em nós e nos<br />

modifica. Mas, é preciso ter presente<br />

que foi a graça que operou esta modificação.<br />

Para aceitar a graça,<br />

é necessária outra graça<br />

Alguém dirá: “Mas, Doutor<br />

<strong>Plinio</strong>, essa aceitação não tem certo<br />

mérito?” Eu digo: “Tem, mas a força<br />

para aceitar a graça vem da graça.”<br />

Dou um exemplo:<br />

Imaginemos um doente que se encontra<br />

no último estado de prostração,<br />

de abatimento, devido a uma<br />

doença que lhe faz manter, constantemente,<br />

os lábios cerrados. Um médico<br />

dá-lhe um fortificante e, ao mesmo<br />

tempo, ajuda-lhe a abrir a boca<br />

para que ele possa engolir o remédio.<br />

É evidente que se o paciente não tivesse<br />

colaborado com o médico, não<br />

se beneficiaria do remédio; mas, se<br />

não fosse para tomar o remédio, ele<br />

não teria sequer tentado abri-la.<br />

Isto nos faz compreender qual é o<br />

papel do livre arbítrio e da graça em<br />

nossa vida espiritual.<br />

Deus, na sua infinita bondade,<br />

não nos dá apenas graças suficientes,<br />

mas, nos dá também graças que vão<br />

muito além delas: as graças eficazes.<br />

Esta é um tipo de graça, a bem dizer,<br />

avassaladora, que o homem recebendo,<br />

certamente, não resiste.<br />

Isso não quer dizer que o homem<br />

não tenha mérito em aceitá-la. O mérito<br />

da aceitação da graça não vem só<br />

do sacrifício que o indivíduo fez para<br />

a aceitar, mas também de uma certa<br />

disposição fundamental da alma,<br />

sempre inerente ao convite da graça,<br />

pela qual o indivíduo renuncia-se a si<br />

e dá-se a Deus. E isso sempre constitui<br />

um mérito, porque descolar-se de<br />

si e entregar-se a Deus é sempre doloroso<br />

para qualquer criatura no estado<br />

de prova em que nos encontramos.<br />

Sempre existe a possibilidade<br />

de o homem rechaçar as graças enviadas<br />

por Deus, não há graça que o<br />

homem, absolutamente falando, não<br />

tenha possibilidade de repelir.<br />

A graça nos torna<br />

capazes de todas<br />

as audácias<br />

A trajetória da graça na vida de<br />

alguém é mais ou menos a seguinte:<br />

Na medida em que uma criança<br />

batizada atravessa os vários estágios<br />

da infância, e a luz da razão<br />

nela vai se desenvolvendo, a graça a<br />

vai iluminando e robustecendo, de<br />

modo que, com o passar do tempo,<br />

sua vontade vai se tornando mais<br />

forte.<br />

Esta criança, quando corresponde<br />

à graça, faz-se um herói católico, capaz<br />

de todas as audácias, de todas as<br />

coragens, de todos os martírios, de<br />

todas as investidas e de todas as vitórias.<br />

Há, portanto, uma batalha constante<br />

que é travada em nós: De um<br />

lado, a ação do demônio, que nos<br />

quer levar para baixo de nossa natureza,<br />

ou seja, de mera criatura, a<br />

qual se apropria dos dons dados por<br />

Deus; de outro, a ação de Deus que<br />

quer nos levar para o Céu, e à ordem<br />

sobrenatural.<br />

É o pêndulo de nossa vontade que<br />

está continuamente convidada por<br />

Deus para subir, pelo demônio para<br />

descer. Subir, descer. Subir, descer.<br />

Esta é a situação do homem. v<br />

(Extraído de conferências de<br />

20/3/1970 e 11/5/1994)<br />

13


As metáforas de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

Fotos: G. Kralj / Otávio M. / Arquivo revista<br />

14


Divina visita<br />

Qual não seria nossa alegria ao saber que à porta de<br />

nossa residência está um personagem ilustre, o qual veio<br />

nos visitar? Como o receberíamos?<br />

Imaginemos que, de repente,<br />

parasse diante de nossa casa<br />

um magnífico Rolls-Royce, e<br />

dele descesse um ajudante de campo,<br />

esplendidamente fardado, tocasse<br />

a campainha e anunciasse a chegada<br />

da Rainha da Inglaterra, dizendo:<br />

— Aqui mora fulano de tal?<br />

A criada que o atendesse diria<br />

surpresa:<br />

— Sim, é aqui que ele mora.<br />

— Então abra as portas porque<br />

Sua Graciosa Majestade, a Rainha<br />

Elisabeth II, veio fazer-lhe uma visita<br />

a fim de demonstrar toda a estima<br />

que tem por ele, e aqui permanecerá<br />

por dez minutos.<br />

Imediatamente se abririam as<br />

portas, e nós não saberíamos o que<br />

fazer para agradecer à rainha que estaria<br />

honrando nossa casa com sua<br />

presença.<br />

Mais ainda do que honrar a casa,<br />

ela nos estaria beneficiando com o<br />

seu convívio: quando se trata de um<br />

visitante tão especial, algo de sua nobreza,<br />

de sua excelência, de seu talento<br />

é transmitido ao visitado.<br />

***<br />

Pois bem, haveria algum propósito,<br />

ao cabo de dez minutos, nós dizermos<br />

à rainha: “Majestade, me<br />

desculpe, mas esta conversa está demasiado<br />

cansativa. Precisaríamos<br />

encerrá-la.”?<br />

Pelo contrário, ficasse a rainha<br />

o tempo que quisesse, multiplicaríamos<br />

nossos esforços para conseguir<br />

que ela permanecesse onze minutos<br />

em vez de dez; e, caso conseguíssemos,<br />

pensaríamos: “Está vendo?<br />

Ela iria ficar aqui por dez minutos,<br />

mas porque eu sou simpático ficou<br />

onze.”<br />

***<br />

Ora, quando na Sagrada Eucaristia,<br />

Jesus penetra em nós, dá-se um<br />

convívio infinitamente mais intenso<br />

do que aquele da visita feita pela<br />

Rainha da Inglaterra.<br />

Na Sagrada Comunhão, Nosso<br />

Senhor Jesus Cristo visita nossa alma<br />

intimamente; não se trata de algo<br />

externo ao nosso ser — como visitar<br />

nossa casa —, mas sim, de algo<br />

interno: Ele entra em nós.<br />

Poderíamos, após esta visita de<br />

Nosso Senhor, estar contando os minutos<br />

para encerrar nossa ação de<br />

graças?<br />

Pelo contrário, devemos fazer<br />

uma compenetrada ação de graças<br />

após a Comunhão; e para isso é indispensável<br />

que para ela nos preparemos<br />

bem, adequadamente, tendo<br />

bem presente o ato maravilhoso e<br />

grandioso que vai se dar. v<br />

(Extraído de conferências de<br />

19/2/1971 e 16/7/1977)<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> durante uma conferência para jovens participantes de seu movimento.<br />

15


Ardoroso devoto da Eucaristia<br />

Mane nobis<br />

A Sagrada Eucaristia constituiu um dos<br />

principais pilares da espiritualidade de <strong>Dr</strong>.<br />

<strong>Plinio</strong>. Inaugurando a seção “Ardoroso devoto<br />

da Eucaristia”, procuraremos dar a lume o<br />

amor que transbordava de sua alma: “A boca<br />

fala do que transborda o coração!” No presente<br />

artigo, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> nos ensina a bem nos<br />

prepararmos para a Sagrada Comunhão.<br />

Fotos: H. Mattos; S. Miyazaki; S. Hollmann<br />

Para compreender a variedade<br />

de métodos e modos que há<br />

para realizar a ação de graças<br />

e a preparação para a Comunhão, é<br />

necessário compreender o modo pelo<br />

qual a graça trabalha as almas.<br />

O Apóstolo São Paulo afirma que<br />

stella differt stella 1 — uma estrela é<br />

diferente da outra. Desta forma, não<br />

existem dois santos iguais, pois cada<br />

qual tem sua vida espiritual própria,<br />

com características inconfundíveis.<br />

E, como não pode deixar de<br />

ser, a graça guia cada alma no caminho<br />

da virtude de acordo com seus<br />

desígnios, proporcionando atrativos,<br />

ou também aversões, que modelam<br />

o espírito e indicam o itinerário que<br />

a alma deve seguir.<br />

Portanto, não se pode dizer que<br />

um método de preparação para a<br />

Comunhão é igualmente válido a todas<br />

as almas.<br />

Entretanto, São Luís Maria Grignion<br />

de Montfort possui um ponto<br />

de vista marial para a Comunhão,<br />

onde ele coloca Nossa Senhora como<br />

mediadora entre Deus e quem<br />

recebe a Eucaristia. Isto sim é valido<br />

para todos os católicos, em todos<br />

os tempos e lugares. Sendo a varie-<br />

dade de métodos imensa, descreverei,<br />

então, um que possa ser benéfico<br />

a todos.<br />

Ação de graças por<br />

meio de Maria<br />

Sendo Mãe de Nosso Senhor Jesus<br />

Cristo, Maria Santíssima é perfeita.<br />

Ele A criou com tudo quanto<br />

Ela deveria possuir para ser sua<br />

Mãe. Concebida sem pecado original<br />

desde o primeiro instante de<br />

seu ser; Virgem antes, durante e depois<br />

do parto, de tal forma perfeita,<br />

que em todos os instantes de sua vida<br />

nunca deixou de corresponder inteiramente<br />

à graça de Deus, estava<br />

numa altura inimaginável de virtude<br />

quando chegou o momento bendito<br />

em que Deus resolveu colhê-La<br />

da Terra para o Céu!<br />

Nossa Senhora é também Mãe de<br />

todos nós, e a Mãe tem sempre pena<br />

do filho mais esfarrapado, mais torto<br />

e mais desarranjado. Quanto pior o<br />

filho, mais Ela se compadece.<br />

Devemos, pois, ao receber a Eucaristia,<br />

nos colocar na presença d’Ela<br />

como filhos necessitados, implorando<br />

que Ela tenha pena de nós. Natu-<br />

16


cum Domine<br />

ralmente, Ela sempre se compadecerá<br />

em relação aos seus filhos. E quando<br />

o Divino Filho d’Ela vier a nós na<br />

Comunhão, será por sua intercessão.<br />

Contudo, o pedido feito por Maria<br />

a seu Divino Filho, é que Ele entre<br />

na “cabana” que é a alma de cada<br />

um de nós. Mas essa “cabana” pode<br />

ser ordenada e enfeitada por Nossa<br />

Senhora, para que esteja agradável<br />

a Ele. E, como a intercessora é a<br />

própria Mãe d’Ele, Nosso Senhor se<br />

sentirá comprazido.<br />

Por isso devemos pedir que Nossa<br />

Senhora esteja espiritualmente presente<br />

em nossa comunhão a fim de<br />

que preencha, de algum modo, o infinito<br />

espaço que nos separa de seu<br />

Divino Filho, o qual nos acolherá satisfeito<br />

por havermos recorrido à sua<br />

Mãe. Ele então nos dirá: “Tu és um filho<br />

de Maria, minha Mãe; pede-me o<br />

que queres.” Ao que devemos responder:<br />

“Senhor, antes de pedir, eu Vos<br />

agradeço! Quanta bondade, quanta<br />

misericórdia! Mas, como agradecer-<br />

Vos suficientemente? Suplico, pois,<br />

à Vossa Mãe — que também é minha<br />

— que agradeça por mim.”<br />

Servir-se das moções<br />

espirituais na preparação<br />

para a Comunhão<br />

Ao nos prepararmos para a Sagrada<br />

Comunhão, devemos também rememorar<br />

alguns momentos do dia<br />

que tivemos, como também as perspectivas<br />

do dia que ainda teremos<br />

diante de nós. Não me refiro aos<br />

problemas corriqueiros, mas sim,<br />

aos de nossa vida espiritual.<br />

Supondo que se faça uma Comunhão<br />

vespertina, devo me perguntar<br />

como foi meu dia em matéria de vida<br />

espiritual: o que necessito, o que desejo,<br />

o que mais profundamente tocou<br />

minha alma e o que a atraiu mais<br />

durante o dia. Isto mais facilmente<br />

nos estimulará a um ato de amor, de<br />

louvor e de reparação mais perfeitos.<br />

Caso haja um pensamento que<br />

considere ser mais fecundo para minha<br />

alma, é louvável concentrar nele<br />

minha atenção. Muitas vezes esses<br />

pensamentos correspondem a um<br />

atrativo especial da graça à alma.<br />

Podemos também apanhar uma<br />

invocação de alguma ladainha que<br />

tenha tocado mais especialmente,<br />

por exemplo, a do Sagrado Coração<br />

de Jesus, e meditar sobre ela. Este é<br />

um modo muito vivo — e para muitas<br />

etapas da vida espiritual, excelente<br />

— de nos preparar bem.<br />

Uma das invocações muito bonitas<br />

nesse sentido é: “Coração Eucarístico<br />

de Jesus”. Meditando nesta<br />

jaculatória, adoramos Nosso Senhor<br />

enquanto tendo o desejo de instituir<br />

a Eucaristia, movido por aquele<br />

amor especial que Ele demons-<br />

Devemos pedir que<br />

Nossa Senhora esteja<br />

espiritualmente<br />

presente em nossa<br />

comunhão a fim<br />

de que preencha,<br />

de algum modo, o<br />

infinito espaço que<br />

nos separa de seu<br />

Divino Filho.<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> durante<br />

a Santa Missa.<br />

17


Ardoroso devoto da Eucaristia<br />

Jesus com a Eucaristia.<br />

(Catedral de Dijon, França.)<br />

trou na última ceia: “Desejei ardentemente<br />

comer convosco esta ceia.”<br />

O Coração Eucarístico de Jesus,<br />

transbordante de misericórdia, vem<br />

a nós na Comunhão; peçamos então<br />

que o Imaculado Coração de Maria<br />

nos prepare para bem recebê-Lo, a<br />

fim de que na Sagrada Eucaristia recebamos<br />

especialmente as graças<br />

que dizem respeito ao cumprimento<br />

de nosso chamado individual.<br />

Este é um modo bonito e lícito de<br />

variar as ações de graças e as preparações<br />

para a Comunhão, quase ao<br />

infinito, de acordo com a inclinação<br />

e as aspirações da alma.<br />

Aridez e consolação:<br />

benefícios distintos,<br />

porém, eficazes!<br />

Haverá também ocasiões onde<br />

nossas Comunhões — segundo a linguagem<br />

muito adequada da piedade<br />

católica — serão áridas. Assim como<br />

a terra árida não produz fruto,<br />

temos, muitas vezes, a impressão da<br />

aridez em nossa alma: comungamos<br />

e não sentimos nada.<br />

Muitas vezes, nossa<br />

Ação de Graças é<br />

feita de modo árido.<br />

Nestas ocasiões devemos<br />

ter presente que tais<br />

cirunstâncias podem<br />

trazer mais vantagens<br />

para nossa alma do que<br />

aquelas que nos trazem<br />

consolações inúmeras.<br />

Reza-se e pede-se, mas tem-se a<br />

sensação de que nossas súplicas foram<br />

meros termos piedosos sem nenhuma<br />

profundidade. Nessa situação,<br />

qual o valor de aproximar-se do sacramento<br />

da Eucaristia? A pergunta<br />

que parece ser tão razoável, quando<br />

bem analisada mostra-se infantil.<br />

Seria como a pergunta de uma<br />

pessoa que toma um remédio cientificamente<br />

certo de produzir um<br />

bem incalculável. Após a ingestão, e<br />

nos dez minutos que se seguem, não<br />

se sente melhora alguma. Neste caso,<br />

diríamos que tal medicina é ineficaz?<br />

Claro que não: seus efeitos se<br />

prolongarão no decurso dos dias, e<br />

até dos anos. Só então sentir-se-á a<br />

melhora desejada.<br />

Algo parecido dá-se, sem dúvida,<br />

com a Sagrada Comunhão. Muitas<br />

vezes comungamos, mas a ação de<br />

graças é árida; abrimos um livro de<br />

piedade, mas o livro não nos inspira<br />

nada; temos impressão de que não<br />

adiantou rezar.<br />

Ora, Deus visitou minha alma,<br />

mas a presença d’Ele foi inútil?<br />

Aquele que é Todo-Poderoso, Criador<br />

do Céu e da Terra, de todas as<br />

maravilhas, esteve presente em mim,<br />

e não me fez um bem sequer?<br />

Devemos ter presente que, não raras<br />

vezes, a Comunhão inteiramente<br />

árida traz, em si, mais vantagens para<br />

a alma do que aquela que nos dá<br />

consolações inúmeras. Isto porque<br />

Nossa Senhora e Nosso Senhor querem,<br />

como homenagem, que peçamos<br />

ainda quando não percebemos<br />

como nossa oração Lhes é grata.<br />

Ou seja, Ele não desejou que este<br />

contato fosse sensível, para que minha<br />

Fé crescesse. Pois muitas vezes<br />

Ele nos prova a fim de verificar se<br />

somos daquela espécie de almas que<br />

só creem quando sentem: “Tomé, tu<br />

creste porque viste; bem-aventurados<br />

os que não viram, mas creram!”<br />

São Francisco de Sales, exímio<br />

nas comparações encantadoras, tem<br />

um magnífico exemplo:<br />

Dois cantores apresentam-se sucessivamente<br />

ao rei.<br />

Um deles é normalmente constituído<br />

em sua natureza física, e, enquanto<br />

canta, vê a fisionomia de encantamento<br />

do rei ao ouvi-lo. Ele<br />

ouve sua própria voz, nota como<br />

ela é bela, compreende como o rei<br />

se deleita com seu cântico, e, enfim,<br />

contenta-se em ver o rei<br />

comprazido. Este homem<br />

possui duas alegrias: de ver<br />

o encanto do rei, e de ouvir<br />

a sua própria voz.<br />

O outro cantor, por<br />

sua vez, é cego e surdo!<br />

Ele não vê o rei, contudo<br />

sabe que o rei está lá;<br />

Elevação da óstia após<br />

a Consagração.<br />

18


não ouve sua própria voz, mas diz ao<br />

rei: “Senhor, eu estou aqui por obediência.<br />

Na minha ‘noite’, eu não vejo<br />

onde estais; na minha surdez, não<br />

ouço minha voz; mas para fazer a<br />

vossa vontade eu cantarei, encantado<br />

de saber que minha voz também<br />

vos agradou!”<br />

Qual dos dois músicos dá maior<br />

prova de amor ao rei?<br />

Pois bem, muitas de nossas Comunhões<br />

são as do “cego e do surdo”.<br />

Não vemos, nem sequer sentimos a<br />

presença de Nosso Senhor em nós.<br />

Não percebemos como é bela a nossa<br />

súplica, nem como Ele se encanta<br />

com ela. Mas, pela Fé, cremos que estamos<br />

em estado de graça, e que Ele<br />

se alegra de estar em nós, ao ponto de<br />

dizer: “Minhas delícias consistem em<br />

estar com os filhos dos homens.”<br />

Ele estará realmente presente em<br />

mim, embora na aridez. Nestas horas,<br />

será de grande benefício lembrarmo-nos<br />

disso.<br />

Aproveitando<br />

as perspectivas<br />

angustiosas...<br />

Quando o meu dia não tenha contribuído<br />

para a sensibilidade eucarística,<br />

mas, pelo contrário, tenha<br />

sido um dia de luta, o qual deixa<br />

prever que o dia seguinte<br />

será angustioso, é louvável<br />

fazer que minha Comunhão<br />

centre-se nessa dificuldade,<br />

dizendo: “Senhor,<br />

em vossa agonia<br />

no Horto,<br />

quando suastes sangue, Vós fizestes<br />

a seguinte oração: ‘Pai, se for possível,<br />

afaste-se de mim esse cálice, mas<br />

faça-se a vossa vontade e não a minha’;<br />

Senhor, eu temo o que vai me<br />

suceder, e estremeço de terror diante<br />

de uma hipótese que me gela até<br />

os ossos. Peço-Vos, através de vossa<br />

Mãe Santíssima, que afasteis de mim<br />

essa provação, mas, se essa não for a<br />

vossa vontade, faça-se a vossa e não<br />

a minha. E Vos peço que isso concorra<br />

para o bem de minha alma.”<br />

Podemos rezar repetidas vezes<br />

nesse sentido, no momento em que<br />

Quem recebe uma<br />

manifestação<br />

da bondade de Deus,<br />

deve contemplá-Lo<br />

como Ele se mostra.<br />

Neste caso, devo<br />

adorar especialmente<br />

no Criador,<br />

o amor especial que<br />

Ele me tem<br />

se recebe a Eucaristia: “Senhor,<br />

Vós estais presente em minha alma,<br />

com inteira intimidade. E não<br />

pode haver intimidade maior que<br />

a vossa, quando, através da Sagrada<br />

Comunhão, Vos fazeis presente<br />

numa alma. Neste momento de<br />

dificuldade, Vos peço que ouçais<br />

o brado de angústia vindo de minha<br />

alma. Quantos Salmos inspirados<br />

por Vós foram também brados<br />

de angústia! Aqui está também<br />

o meu: Tende pena de mim, e atendei-me.”<br />

Desenvolver a ação de<br />

graças em função das<br />

necessidades diárias<br />

Muitas vezes, para bem nos prepararmos<br />

para o divino encontro<br />

com Jesus na Eucaristia, bastará<br />

nos lembrarmos de algo que lemos<br />

em algum livro de piedade, que nos<br />

marcou profundamente, ou então de<br />

alguma graça que recebemos no decorrer<br />

do dia.<br />

Às vezes, algum aspecto novo de<br />

Nossa Senhora nos impressiona.<br />

Neste caso, nossa preparação poderá<br />

ser: “Nossa Senhora é Mãe de<br />

Nosso Senhor; Ele concedeu a Ela<br />

tal privilégio que eu não conhecia.<br />

Vou pedir a Ela que me obtenha na<br />

Sagrada Eucaristia tal favor que necessito.”<br />

A propósito de qualquer movimento<br />

de piedade durante o dia, pode-se<br />

articular a Comunhão e depois<br />

a ação de graças. Caso tenhamos<br />

um dia de grande alegria, e essa<br />

alegria tenha sido um sinal manifesto<br />

da bondade de Nossa Senhora<br />

e de Deus Nosso Senhor para conosco,<br />

podemos fazer a ação de graças<br />

tomando em consideração esta graça<br />

recebida.<br />

Quem recebe uma manifestação<br />

da bondade de Deus, deve contemplá-Lo<br />

como Ele se mostra:<br />

sorridente, afável, manifestando<br />

afeto e desejo de proteger-me.<br />

Neste caso, quando recebê-Lo, devo<br />

adorar n’Ele a bondade, o amor<br />

especial que Ele me tem, o encorajamento<br />

que Ele quis me dar em<br />

meu apostolado ou em minha vida<br />

interior.<br />

Ubi Spiritus, ibi libertas, onde está<br />

o Espírito Santo, aí sopra a liberdade.<br />

Enfim, há uma tal variedade de<br />

movimentações das almas, que é impossível<br />

descrever todos os métodos<br />

que cabem para alguém fazer a Sagrada<br />

Comunhão. Aqui ficam, entretanto,<br />

algumas sugestões. v<br />

1) I Cor 15, 41.<br />

(Extraído de conferências de<br />

28/3/1967 e 4/2/1984)<br />

19


O Santo do Mês<br />

–– * Fevereiro * ––<br />

1. Santa Brígida da Irlanda. Abadessa<br />

e Fundadora do Mosteiro de<br />

Kildare. (séc. V)<br />

2. Apresentação de Nosso Senhor<br />

no Templo. A fim de cumprir a Lei,<br />

Maria e José, com a oferenda de duas<br />

rolas, foram ao Templo de Jerusalém<br />

onde apresentaram o Menino<br />

Jesus. Nesta ocasião, o profeta Simeão<br />

predisse os sofrimentos futuros<br />

(“uma espada transpassará tua<br />

alma”) da Mãe, e que o Filho seria<br />

“luz para iluminar as nações” (Lc 2,<br />

2-9 ss.).<br />

Nossa Senhora do Bom Sucesso.<br />

3. São Brás, Bispo e Mártir. Martirizado<br />

em Sebaste, na Armênia. (+<br />

323)<br />

4. Santa Joana de Valois, Rainha<br />

da França. (séc. XVI)<br />

5. Santo Avito, Bispo de Vienne,<br />

na Gália (hoje França). Lutou contra<br />

a heresia ariana. (+ 518)<br />

Beata Isabel Canori Mora, Viúva,<br />

sobressaiu-se na caridade,<br />

além de ter sido favorecida com<br />

grandes dons místicos. Terciária<br />

trinitária, venerada em Roma.<br />

(1774-1825)<br />

6. São Paulo Miki, Presbítero, e<br />

seus 25 companheiros, mártires do<br />

Japão. Foram crucificados em Nagasaki,<br />

em 5 de fevereiro de 1597. Do<br />

alto da cruz, Paulo continuava a pregar,<br />

perdoando os verdugos e convidando-os<br />

à conversão.<br />

7. V Domingo do Tempo Comum.<br />

Santo Egídio de Taranto, Religioso<br />

Franciscano italiano, canonizado<br />

por João Paulo II em 1996. (sécs.<br />

XVIII-XIX)<br />

8. São Jerônimo Emiliani, Presbítero,<br />

Fundador da Congregação dos<br />

Clérigos Regulares (padres Somascos).<br />

(1486-1537)<br />

9. Santa Apolônia, Mártir de Alexandria.<br />

(séc. III)<br />

10. Santa Escolástica, Virgem, irmã<br />

gêmea de São Bento, nascida em<br />

Núrsia, Itália. De sua vida se conhecem<br />

só alguns detalhes narrados pelo<br />

Papa São Gregório Magno. (sécs.<br />

V-VI)<br />

11. Nossa Senhora de Lourdes.<br />

12. São Bento de Aniane, Abade.<br />

(sécs. VIII-IX)<br />

13. Santo Estêvão, Bispo de Lyon,<br />

Gália. (+ 515)<br />

14. VI Domingo do Tempo Comum.<br />

Santos Cirilo, Monge; e Metódio,<br />

Bispo. Irmãos, nascidos em<br />

Tessalônica, foram enviados para<br />

a Morávia, onde pregaram aos eslavos.<br />

João Paulo II os proclamou<br />

Padroeiros da Europa junto a São<br />

Bento. (séc. IX)<br />

15. São Cláudio da Colombière,<br />

Presbítero, Jesuíta, apóstolo<br />

na Inglaterra e pregador no convento<br />

de Paray-le-Monial, onde<br />

tomou conhecimento das aparições<br />

do Sagrado Coração de Jesus<br />

a Santa Margarida Maria Alacoque.<br />

Tornou- se eminente propagador<br />

dessa devoção, difundindo-a<br />

até na Inglaterra, onde foi capelão<br />

da futura Rainha Maria de Modena.<br />

(1641- 1682)<br />

16. Santo Onésimo, antigo escravo,<br />

evangelizado por São Paulo<br />

enquanto este se achava prisioneiro<br />

em Roma (cf. Carta a Filemon).<br />

(séc. I)<br />

17. Quarta-feira de Cinzas.<br />

18. Beato Angélico (Giovanni di<br />

Pietro ou da Fiesole). (sécs. XIV-<br />

XV)<br />

19. São Mansueto, Bispo de Milão<br />

e Confessor. (séc. VII)<br />

20. Beatos Francisco e Jacinta<br />

Marto. Pastorinhos aos quais Nossa<br />

Senhora apareceu, em Fátima, no<br />

ano de 1917. (conferir página 2)<br />

21. I Domingo da Quaresma.<br />

22. Cátedra de São Pedro, Apóstolo.<br />

23. Santa Romana de Todi. (+<br />

324)<br />

24. São Modesto, Bispo de Trier<br />

(Tréveris), Alemanha. (+ 486)<br />

25. Santa Jacinta de Marescotti,<br />

Religiosa Clarissa. (1585-1640)<br />

26. São Vitor, Eremita em Arcissur-Aube,<br />

na região de Champagne,<br />

França. (séc. VII)<br />

27. São Gabriel da Virgem Dolorosa.<br />

Seminarista da Ordem Passionista,<br />

reluziu pela excelência de<br />

suas virtudes e profunda devoção a<br />

Nossa Senhora das Dores. (1838-<br />

1862)<br />

28. II Domingo da Quaresma.<br />

Santos Romano e Lupicino, irmãos,<br />

Abades de Condat (Borgonha).<br />

(séc. V)<br />

20


2 de fevereiro:<br />

Nossa<br />

Senhora do<br />

Bom Sucesso<br />

Na pequenina Quito do século XVI um<br />

grande acontecimento se deu: Maria<br />

Santíssima apareceu a uma religiosa<br />

concepcionista e lhe fez revelações sobre o<br />

futuro de seu país. Embora não tendo tomado<br />

tais revelações como infalíveis, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> deu<br />

a elas uma atenção especial.<br />

Fotos: H. Restrepo / S. Miyazaki<br />

Nossa Senhora do Bom Sucesso.<br />

Poucas vezes ao ano a imagem é<br />

exposta neste altar para veneração<br />

dos fiéis. Normalmente ela<br />

permanece na clausura do convento.<br />

N<br />

o dia 2 de fevereiro, a comunidade<br />

das Irmãs Concepcionistas<br />

celebra em<br />

Quito, Equador, a festa de Nossa Senhora<br />

do Bom Sucesso. Qual é a história<br />

desta devoção?<br />

Madre Mariana<br />

de Jesus Torres e o<br />

triunfo de Maria<br />

Madre Mariana de Jesus Torres,<br />

religiosa concepcionista, foi ao<br />

Equador em 1576, quando ainda<br />

era menina, acompanhando sua tia,<br />

Madre Mariana de Jesus Taboada, a<br />

qual partia com a intenção de lá fundar<br />

um convento.<br />

Com elas viajaram várias outras<br />

religiosas espanholas, as quais se fixaram<br />

em Quito — cidade que naquele<br />

tempo era ponta avançada da<br />

penetração espanhola na América<br />

do Sul. Pelo que se conhece de suas<br />

vidas, essas religiosas fundadoras<br />

morreram em odor de santidade<br />

e eu tenho muita esperança de que<br />

— para a maior glória do Equador e<br />

das Américas em geral — elas sejam<br />

canonizadas.<br />

Na pequenina Quito daqueles<br />

tempos, Madre Mariana de Jesus<br />

Torres, sendo abadessa do convento,<br />

teve extraordinárias visões e revelações<br />

privadas de Nossa Senhora.<br />

Embora não tomemos estas revelações<br />

como dogma — a Revelação<br />

oficial está encerrada com o Novo<br />

Testamento — devemos considerálas<br />

especialmente.<br />

Tais revelações prenunciam um<br />

tempo onde o Equador se torna-<br />

21


O Santo do Mês<br />

ria independente da Espanha e seria<br />

sacudido por uma grande revolução<br />

de caráter religioso-temporal;<br />

no mundo inteiro a Fé se extinguiria<br />

em muitas almas, e haveria inúmeras<br />

calamidades morais. Mas após<br />

esses acontecimentos terríveis<br />

seria instaurado<br />

um tempo de glória<br />

para a<br />

Igreja.<br />

História da imagem<br />

Qual é a história da imagem de<br />

Nossa Senhora que a partir de então<br />

passou a presidir o convento?<br />

Numa das aparições 1 , a Santíssima<br />

Virgem pediu a Madre Mariana<br />

que fizesse uma imagem sua, em tamanho<br />

real. Para isto, a vidente desejou<br />

medi-la a fim de que se cumprisse<br />

esse desejo.<br />

Então, Nossa Senhora<br />

segurou uma das pontas<br />

do cordão franciscano<br />

que trazia em sua cintura,<br />

para auxiliar Madre<br />

Mariana a tomar suas<br />

medidas.<br />

A confecção da imagem foi confiada<br />

a um escultor local 2 .<br />

Certo dia, ao subir ao coro da<br />

igreja do Convento — lugar onde<br />

esculpia a imagem — qual não foi<br />

a surpresa do escultor: encontrou a<br />

imagem pronta! Ela estava magnífica!<br />

Nenhuma mão humana havia terminado<br />

a imagem; durante toda a<br />

noite a igreja havia permanecido fechada.<br />

É uma imagem feita por mão<br />

de anjo 3 .<br />

O que a imagem<br />

nos comunica<br />

O que essa imagem nos inspira no<br />

fundo da alma?<br />

A mensagem que ela contém:<br />

uma grande promessa, um grande<br />

triunfo. Algo posto pela graça se<br />

acrescenta aos recursos da escultura<br />

e anuncia, no fundo de nossas almas,<br />

as alegrias e as certezas da promessa.<br />

O báculo e as chaves, que Nossa<br />

Senhora traz consigo, dão a entender<br />

que é Ela quem abre e fecha<br />

os acontecimentos grandiosos;<br />

mas também as misérias e catástrofes<br />

dos homens; enfim, as vitórias<br />

de Deus dentro da História.<br />

Mais do que as jóias, quem A<br />

adorna realmente é seu Divino<br />

Filho! Ela O traz triunfalmente,<br />

como quem diz: “Estou vencendo,<br />

mas venço para que Ele vença. Eu<br />

sou Rainha, sim, porém o sou porque<br />

Ele é o Rei!”<br />

Nela há também um aspecto sobre<br />

o qual chamo a atenção: Ela<br />

comunica sua virginalidade extraordinariamente.<br />

É impossível<br />

olhar para esta imagem sem ter<br />

a impressão de que, em torno<br />

dela, a pureza se irradia.<br />

Ela está inundada por uma<br />

felicidade de alma que é prêmio<br />

pela virtude da pureza.<br />

22


A pureza concede<br />

isto à alma que a<br />

pratica: segurança,<br />

discernimento, dignidade,<br />

compostura<br />

por onde se calca<br />

aos pés os infortúnios.<br />

Daí provem<br />

a louçania da<br />

vitória e do triunfo<br />

transmitida por essa<br />

imagem.<br />

A luta ainda<br />

vai ser maior<br />

Deste modo Ela<br />

nos prepara para as<br />

agruras da luta, falando-nos<br />

da alegria<br />

e da glória que<br />

virão.<br />

Antigamente,<br />

até meados do século<br />

passado, talvez,<br />

não se conheciam<br />

os anestésicos,<br />

e as operações<br />

se faziam a frio. O<br />

paciente — muitas<br />

vezes acordado —<br />

de vez em quando,<br />

perguntava ao médico<br />

como ia o andamento da cirurgia.<br />

Era compreensível que o cirurgião,<br />

amigo do paciente — ou simplesmente<br />

movido por sentimentos<br />

de compaixão que aquelas dores não<br />

podiam deixar de causar —, durante<br />

a primeira fase da operação lhe dissesse:<br />

“Vai indo bem, eu estou conseguindo<br />

abrir tal zona, já estou em<br />

tal outra, etc.; daqui a pouco vem a<br />

extração.” Este “daqui a pouco vem<br />

a extração” animava o paciente! Ou<br />

seja, as fases mais delicadas do perigo<br />

estão se aproximando e vão terminar.<br />

Depois que a amputação foi realizada,<br />

se a dores persistem ou au-<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> na década de 90.<br />

Mais do que as jóias,<br />

quem A adorna<br />

realmente é seu<br />

Divino Filho! Nossa<br />

Senhora O traz<br />

triunfalmente, como<br />

quem diz: “Estou<br />

vencendo, mas venço<br />

para que Ele vença.<br />

Eu sou Rainha, sim,<br />

porém o sou porque<br />

Ele é o Rei!”<br />

mentam, o que faz<br />

o médico? Ele diz:<br />

“Olhe, o pior já foi,<br />

daqui por diante as<br />

dores vão declinar,<br />

nós já estamos chegando<br />

ao fim.” Ele<br />

começa a apontar<br />

para aquilo que é o<br />

ideal do doente: o<br />

fim da operação.<br />

É o caminho da<br />

normalidade: na<br />

fase ascendente fala-se<br />

que tudo vai<br />

bem e incita-se a<br />

ter coragem; quando<br />

ela atinge um<br />

ponto no qual é<br />

preciso toda a resistência,<br />

compreende-se<br />

que se diga<br />

“agora vai melhorar”.<br />

Nossa Senhora<br />

do Bom Sucesso<br />

dá-nos a impressão<br />

de que está<br />

dizendo no fundo<br />

de nossas almas:<br />

“Meus filhos, a luta<br />

ainda vai ser maior,<br />

mas o meu Reino<br />

já vai começar a luzir no horizonte!”<br />

É a alegre e vitoriosa proclamação<br />

do Reino de Maria! v<br />

(Extraído de conferências de<br />

14/8/1982 e 2/2/1983)<br />

1) No ano de 1610.<br />

2) A própria Virgem Maria escolheu o<br />

escultor, dizendo: “Para esta tarefa,<br />

deves chamar Francisco del Castillo,<br />

o qual é um hábil escultor, e dar-lhe<br />

as descrições de minhas medidas.”<br />

3) De fato, Madre Mariana teve uma visão<br />

dos anjos concluindo a imagem<br />

enquanto o escultor se ausentava para<br />

buscar vernizes e tintas para o acabamento.<br />

23


A sociedade analisada por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

Alguns lutam por um<br />

Outros... por uma<br />

Passando pela Europa no ano de 1988, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> teve ocasião<br />

de assistir a uma campanha feita por membros de seu Movimento no<br />

centro de Madri. Muito propenso a analisar mentalidades,<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> fez elucidativos comentários dos diversos tipos humanos<br />

presentes nas ruas dessa cidade.<br />

Para bem analisarmos a opinião<br />

pública, devemos nos<br />

despir dos preconceitos espalhados<br />

por uma espécie de mito<br />

numérico que sempre faz consistir a<br />

vitória na obtenção da maioria.<br />

Distinção entre<br />

povo e massa<br />

Pio XII, num discurso admirável,<br />

faz a distinção entre a massa humana<br />

e o povo. A massa é um aglomerado<br />

de indivíduos que simplesmente<br />

existem juntos e formam uma espécie<br />

de multidão, sem especiais vinculações<br />

de uns com os outros. Pelo<br />

contrário, o povo é um conjunto de<br />

pessoas em que cada uma tem com<br />

Fotos: J.S.Dias / T. Ring<br />

24


T. Ring<br />

ideal.<br />

vida gostosa.<br />

as outras determinadas relações,<br />

certos modos de se impostar, formando<br />

uma espécie de organismo vivo.<br />

Para compreendermos a diferença<br />

entre povo e massa, consideremos<br />

o seguinte:<br />

Nestas três salas conjugadas em<br />

que estou falando, há aproximadamente<br />

cem pessoas. Imaginem<br />

meus ouvintes que não fossem membros<br />

de nosso Movimento e estivessem<br />

num grande ônibus, sem se conhecerem,<br />

não tendo, portanto, entre<br />

si relações individuais e pessoais,<br />

mas apenas as vinculações anônimas<br />

existentes entre os passageiros<br />

de um veículo coletivo.<br />

Quer dizer, eles têm o interesse<br />

comum de que o ônibus ande, pare<br />

nos locais solicitados para o desembarque<br />

de alguns passageiros e<br />

chegue até o ponto terminal. Por isso<br />

não querem briga nem encrenca<br />

dentro do veículo; desejam boa paz e<br />

mais nada. Cada um gosta de ser um<br />

anônimo para o outro.<br />

Se alguém pergunta de repente a<br />

um passageiro “O senhor, quem é?”,<br />

ele fica desagradado e pensa: “Para<br />

que deseja saber quem sou eu? Sou<br />

um passageiro de ônibus como ele,<br />

um anônimo. O que esse indivíduo<br />

está querendo comigo?”<br />

O anonimato é a regra da massa,<br />

a qual vale pelo número de seus<br />

componentes: cinco, dez, cem indivíduos.<br />

Entre os que estão aqui presentes<br />

a situação é bem diferente: não<br />

constituem massa, e sim um organismo,<br />

uma gota<br />

de povo. Quer<br />

dizer, todos se<br />

conhecem individualmente<br />

e, pelo convívio<br />

cotidiano,<br />

cada um acaba<br />

tendo uma<br />

espécie de situação<br />

criada<br />

por ele mesmo,<br />

a qual —<br />

por inabilidade<br />

ou qualquer<br />

outra razão<br />

— pode<br />

não ser a que<br />

desejaria. A<br />

vida se faz com base nessas relações<br />

pessoais; não é um mecanismo que<br />

se reduz a um número, mas algo vivo,<br />

uma interseção de várias personalidades<br />

que, dando graças a Nossa<br />

Senhora, tenho diante de mim e<br />

constituem um conjunto de filhos.<br />

Vejo que são de várias partes da<br />

Espanha e também de outras nações,<br />

formando um conjunto vivo,<br />

orgânico, em que cada um é, não<br />

como uma gotinha de metal fundido,<br />

integrando uma máquina, mas<br />

uma célula viva dentro de um tecido.<br />

Se olharmos pelo microscópio um<br />

tecido celular vivo, discerniremos<br />

grande quantidade de células; cada<br />

uma atua como se fosse uma pequena<br />

personalidade: tem sua dose<br />

de vitalidade e de reatividade sobre<br />

Praça Real - Madri.<br />

as outras, análoga à de um indivíduo<br />

dentro de uma família ou numa organização<br />

como a nossa.<br />

É da vida de cada pessoa encontrando-se<br />

com a das outras que se<br />

forma um tecido, daí resultando um<br />

povo.<br />

Considerado nosso Movimento<br />

como um tecido, um organismo vivo,<br />

qual a repercussão de nossa campanha<br />

na Espanha, que é um tecido,<br />

um organismo incomparavelmente<br />

maior? A campanha está conseguindo<br />

sua finalidade?<br />

O mais baixo grau<br />

onde o ente humano<br />

pode chegar<br />

A vitória sobre a opinião pública<br />

não consiste em obter a maioria,<br />

25


A sociedade analisada por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

A vitória sobre a<br />

opnião pública não<br />

consiste em obter a<br />

maioria. É preciso,<br />

antes de tudo,<br />

saber que espécie<br />

de pessoas estamos<br />

influenciando, e, que<br />

possibilidades têm elas<br />

de influenciar outras.<br />

como os plebiscitos e as eleições fazem<br />

pensar: quantos espanhóis querem<br />

tal coisa, quantos desejam tal<br />

outra. Trata-se de saber: que espécie<br />

de pessoas estamos influenciando, e,<br />

dentro do tecido vivo que é a Espanha,<br />

que possibilidades têm elas de<br />

influenciar outras?<br />

O público que estava na praça<br />

Puerta del Sol 1 se dividia em três partes<br />

bem claras.<br />

Havia um círculo formado em<br />

torno da nossa fanfarra e do nosso<br />

sistema de propaganda. Em sua<br />

parte externa era impreciso, pois algumas<br />

pessoas chegavam, outras saíam,<br />

mas a parte interna do círculo<br />

apresentava certa precisão de desenho.<br />

Pouco adiante, existiam dois pequenos<br />

círculos de indivíduos, sentados<br />

em volta dos dois chafarizes,<br />

simplesmente porque as bordaduras<br />

dos mesmos, um tanto largas,<br />

forneciam-lhes um assento cômodo.<br />

Constituíam um público contrário<br />

àquele reunido em torno dos nossos.<br />

Alheios uns aos outros e dando<br />

as costas para o que na aparência<br />

os unia — os chafarizes —, eles<br />

estavam todos adormecidos. Alguns<br />

mastigavam alguma coisa, e o faziam<br />

com preguiça, não olhando para nada<br />

de fixo, não pensando em nada<br />

de determinado, mas sentindo que<br />

estão vivendo, e encontrando nisto<br />

certo prazer. É o gosto de respirar,<br />

de digerir, de mexer as pernas, de ter<br />

um corpo, e não o de possuir uma alma.<br />

Têm essas pessoas uma vida vegetativa<br />

a mais parecida possível com a<br />

do animal. Olhando certos animais,<br />

às vezes temos impressão de que<br />

possuem bem-estar. Quer dizer, eles<br />

sentem deleite de estar vivendo, mas<br />

não têm conhecimento desse deleite.<br />

São Tomás de Aquino, com uma<br />

linguagem muito precisa, diz que o<br />

bicho não conhece nada. Ele tem notícia<br />

das coisas, mas não o conhecimento,<br />

que é uma compreensão intelectiva.<br />

A palavra “notícia” é perfeita.<br />

Por exemplo, um pássaro vê<br />

diante dele uma folha que cai. Ele<br />

tem notícia de que caiu alguma coisa,<br />

mas nem sabe que é uma folha;<br />

e não pensa a respeito disso, porque<br />

não tem pensamento.<br />

Aqueles indivíduos são entes humanos;<br />

entretanto têm o menor grau<br />

de pensamento possível: “Que gostoso!<br />

Eu estou aqui sentindo viver.<br />

Estou mastigando, piscando, olhando,<br />

respirando, batendo as pernas,<br />

mexendo os braços, estou vivo.”<br />

Sob certa perspectiva — mas que<br />

atinge uma realidade muito profun-<br />

Em ambas páginas,<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> analisa a reação<br />

da opnião pública.<br />

26


da — é o mais baixo grau aonde<br />

a criatura humana pode<br />

chegar. Essa é propriamente<br />

a descrição do dormente.<br />

Os dormentes<br />

Para tudo quanto é fenômeno<br />

de pensamento, de ideal,<br />

de ato de vontade, de definição,<br />

de atitude, eles estão<br />

no sono.<br />

Sucede inúmeras vezes<br />

com todo indivíduo que, acordando<br />

de manhã, diz para<br />

consigo: “Que bom sono eu<br />

dormi essa noite!” Estando<br />

dormindo e não tendo consciência<br />

de nada, como sabe ele<br />

que teve um sono bom?<br />

Em parte é porque, quando<br />

despertou e sentou-se<br />

na cama, as últimas névoas<br />

do sono estavam se retirando.<br />

Ele não tinha acabado<br />

de dormir inteiramente e sentiu<br />

o gostoso do sono que ainda<br />

existia. E, por memória, teve<br />

a idéia de que aquele prazer,<br />

cujo último fim estava notando,<br />

ele havia sentido a noite<br />

inteira.<br />

Esses indivíduos têm o gostoso<br />

de estarem acordados e sentados<br />

próximo aos chafarizes. E, de<br />

modo analógico, digo que eles estão<br />

dormentes.<br />

Como se chega a esse estado?<br />

A graça atua no fundo das pessoas,<br />

máxime das batizadas, e proporciona<br />

movimentos de alma elevados,<br />

nobres.<br />

A Revolução explora<br />

o desejo do gostoso<br />

Mas, de outro lado, o corpo age<br />

no sentido de a pessoa se entregar<br />

aos meros prazeres materiais. Quando<br />

criança, ela pensa, por exemplo:<br />

“Como é gostoso correr de bicicleta,<br />

tomar vento!” E, em todas as idades:<br />

“Como é gostoso megalar 2 !” Ela<br />

comparece no colégio com um sorvete<br />

especial que comprou, dizendo<br />

que um sorveteiro perto de sua casa<br />

Nós somos os<br />

arautos do sacrifício,<br />

os que lutam<br />

contra o mero gostoso,<br />

a favor de um ideal.<br />

Assim, estragamos<br />

a festa daqueles<br />

que só procuram<br />

o gozo.<br />

lho deu porque a achou muito<br />

simpática; inventa uma série<br />

de mentiras.<br />

Tais indivíduos querem levar<br />

uma vida gostosa e recusam<br />

os movimentos da graça<br />

que conduzem suas almas para<br />

as coisas mais elevadas. E<br />

se alguém afirma que a vida<br />

não consiste em gozar, mas é<br />

necessário o sacrifício, consideram-no<br />

como louco e não<br />

se interessam por ele.<br />

Cada época revolucionária<br />

que sucede outra acrescenta<br />

um gostoso para a vida.<br />

Por exemplo, a sensualidade.<br />

O pecado contra a castidade,<br />

há trinta anos atrás, tinha<br />

a intensidade X, a frequência<br />

X. Mas as modas tornaram-se<br />

cada vez mais imorais,<br />

o convívio entre as pessoas<br />

de sexo diferente foi ficando<br />

mais frequente, mais livre e<br />

menos controlado. A Revolução<br />

na mentalidade delas caminha<br />

em direção ao cada vez<br />

mais gostoso.<br />

Nós nos opomos a isso, somos<br />

os arautos do sacrifício,<br />

os que lutam contra o mero<br />

gostoso, a favor de um ideal;<br />

assim, estragamos a festa daqueles<br />

que só procuram o gozo. E não pugnamos<br />

por um ideal qualquer, mas<br />

por um ideal de Fé. E a Fé não se refere<br />

a uma crença religiosa qualquer,<br />

mas à Santa Igreja Católica Apostólica<br />

Romana.<br />

Isso os revolucionários rejeitam e<br />

dormem porque já não têm remorsos.<br />

Estão entregues completamente<br />

às suas próprias delícias, lamentando<br />

precisar aguentar dificuldades,<br />

inconvenientes, etc. E por esse<br />

processo vai ficando cada vez mais<br />

fácil adormecer os partidários do<br />

gostoso.<br />

E existia uma terceira categoria:<br />

os que vão e vêm, olham a campanha,<br />

e os que estão sentados, mas<br />

27


A sociedade analisada por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> toma apontamentos<br />

durante a campanha.<br />

Pouco importa que<br />

grande número de<br />

pessoas recuse cooperar<br />

conosco. Não se trata<br />

de transformar<br />

tudo em fermento,<br />

mas de fermentar a<br />

massa. Assim se<br />

reconquista o país.<br />

não prestam atenção. Esses estão<br />

dormindo também? O que se passa<br />

na alma deles?<br />

Um deles é, digamos, um advogado<br />

que vai ao escritório de um outro<br />

para discutir uma questão, e está<br />

preparando seu raciocínio para derrotar<br />

o colega. Ele passa tão preocupado,<br />

que não presta atenção em<br />

nossa campanha ou a observa muito<br />

por alto.<br />

O mesmo pode acontecer com<br />

um médico que se dirige à casa de<br />

um cliente, o qual ele examinou na<br />

véspera, consultou alguns livros e<br />

colegas, mas está na dúvida quanto<br />

ao diagnóstico. Às vezes, a vida de<br />

um paciente depende do diagnóstico<br />

de seu médico: opera ou não<br />

opera? Se for feita a cirurgia, provavelmente<br />

ele morrerá. O que fazer?<br />

É possível que isso também suceda<br />

a um homem de negócios, o qual<br />

Poder-se-ia perguntar:<br />

como é possível<br />

uma pessoa achar gostoso<br />

enfrentar complicações?<br />

A resposta é simples.<br />

Em vários jornais do<br />

mundo há uma secção<br />

onde se publicam problemas<br />

de xadrez. Viajando<br />

de ônibus ou de<br />

trem, às vezes há passageiros<br />

procurando solucioná-los.<br />

Tomam as<br />

questões existentes somente<br />

no tabuleiro, não<br />

na própria vida, e gostam<br />

de resolver problemas<br />

difíceis porque pertencem a<br />

uma categoria um pouco mais elevada<br />

do que os amantes do gostoso,<br />

sentados em torno dos chafarizes.<br />

Eles usam a inteligência, que é<br />

uma faculdade tão nobre, não para<br />

conhecer a verdade, o bem, o belo,<br />

Deus, mas porque acham gostoso<br />

acionar o intelecto. Assim, são eles<br />

semelhantes aos indivíduos dos chafarizes.<br />

É comum verem-se nas ruas pessoas<br />

correndo a pé, usando traje o<br />

mais sumário possível, achando que<br />

estão fazendo um bonito papel junto<br />

aos outros.<br />

Antes desse desastre de automóvel<br />

que me semi-imobilizou 3 , eu andava<br />

pouco, pois não gostava de fazê-lo.<br />

E pensava o seguinte: “As minhas<br />

pernas foram feitas para me<br />

carregar e não para que eu as carregue.<br />

Um homem que anda pelo gosto<br />

de andar, vai carregando as perse<br />

pergunta: “Telegrafo ou não para<br />

os Estados Unidos ou Canadá a fim<br />

de fechar um negócio?”<br />

Porém, a maior parte dos passantes<br />

está pensando nos seus próprios<br />

interesses, muito menos cogentes.<br />

Um caminha para o seu escritório,<br />

mas não tem nada de muito importante<br />

para tratar; outro é médico<br />

que vai ver um cliente atingido por<br />

um resfriado muito forte, ao qual ele<br />

quer receitar um remedinho; um terceiro<br />

é homem de negócios que, para<br />

fechar um negociozinho em algum<br />

lugar da Espanha, precisa dar<br />

um telefonema. São coisas que não<br />

preocupam.<br />

Entretanto, são da mesma categoria<br />

daqueles que estão em torno<br />

dos chafarizes. Eles fazem andando<br />

o que os outros fazem sentados. Julgam<br />

que os trabalhos e os problemas<br />

da vida são interessantes e a eles se<br />

dedicam para ganhar dinheiro, pois<br />

este proporciona facilidades<br />

gostosas para a<br />

vida.<br />

Alguns acionam<br />

o intelecto<br />

porque acham<br />

gostoso<br />

28


nas pelo caminho. Eu ando apenas<br />

se for necessário.”<br />

Quando eu era menino me diziam:<br />

— Para você ser um homem forte<br />

é preciso fazer esporte.<br />

Eu cogitava: “Não acredito nessa<br />

balela. Sinto em mim mesmo que<br />

serei um homem razoavelmente forte<br />

e não vou fazer esforço físico, pois<br />

não tenho obrigação de tornar-me<br />

um touro. Preciso pensar, ler, lutar,<br />

tenho um ideal para servir.”<br />

Os que somente pensam em jogar<br />

xadrez são esportistas da cabeça:<br />

não procuram um livro para resolver<br />

um alto problema, nem indagam<br />

sobre as elevadas questões da inteligência<br />

e da vida, porque não lhes interessa.<br />

A seu modo, são vegetativos;<br />

vegetam com o espírito.<br />

Compreendo que uma pessoa jogue<br />

xadrez para descansar o espírito.<br />

É legítimo, como beber água.<br />

Qual a diferença entre a mentalidade<br />

dessas pessoas e os membros<br />

de nosso Movimento?<br />

A parábola do fermento<br />

Considerem uma paróquia. Antigamente<br />

a Espanha era uma nação<br />

com muitas vocações sacerdotais.<br />

Mas deve estar havendo uma infeliz<br />

diminuição dessas vocações.<br />

A Igreja espera e nós esperamos<br />

que, se em cada paróquia com quatro<br />

ou cinco mil fiéis houvesse dois<br />

ou três padres completamente da<br />

Santa Igreja Católica, e contrarrevolucionários,<br />

uma cidade mudaria.<br />

Células de uma alta vitalidade,<br />

com uma missão divina — o sacerdócio<br />

—, e por isso favorecidos especialmente<br />

pelas bênçãos de Deus,<br />

eles poderiam levar quatro ou cinco<br />

mil pessoas. É a realidade evidente.<br />

Nosso Senhor estigmatizou essa<br />

adoração das maiorias numéricas<br />

quando empregou aquela parábola<br />

tão bonita da massa e do fermento,<br />

dizendo aos Apóstolos: “Vós sois<br />

A campanha realiza<br />

o fundamental de<br />

sua tarefa: atrai<br />

os maravilháveis, o<br />

que da Espanha é<br />

espanhol. Através<br />

desse aspecto da alma<br />

espanhola, Dom<br />

Pelayo começou sua<br />

epopéia.<br />

nhas palavras para falar-lhes?” De<br />

fato, alguma delas pode logo depois<br />

ser chamada por Deus, como aconteceu<br />

com o nosso Lúcio 4 , cujo nono<br />

mês de morte se celebra hoje. Tendo<br />

agora um bom movimento, um ato<br />

de amor, poderá receber os últimos<br />

sacramentos e salvar sua alma.<br />

Se cada um de nós durante a campanha<br />

se lembrasse disso sumariamente...<br />

São João Batista Vianey, Cura<br />

d’Ars, na França, viveu no século<br />

XIX e praticava milagres. Foi um<br />

grande Santo.<br />

Dom Chautard, em seu livro magnífico<br />

“A Alma de Todo Apostola-<br />

o fermento. A massa são os outros.<br />

Vós deveis fermentar a massa”.<br />

A cena que presenciei hoje na<br />

Puerta del Sol era o fermento agindo...<br />

Pouco importa que grande número<br />

de pessoas recuse. Não se trata de<br />

transformar tudo em fermento, mas<br />

de fermentar a massa. Assim se reconquista<br />

o país.<br />

O participante da campanha deve<br />

se perguntar: “Como está minha<br />

alma quando vou para a rua? Qual<br />

é o meu grau de fervor e de amor à<br />

nossa Causa? Enquanto estou abordando<br />

as pessoas, etc., lembro-me<br />

de que a Providência está seguindo a<br />

cada um de nós e se servindo de mido”,<br />

o qual lhes recomendo muito,<br />

conta este fato:<br />

Um advogado de Paris viajou até<br />

Ars para conhecer o Santo. Tendo regressado,<br />

um amigo perguntou-lhe:<br />

— O que você foi ver em Ars?<br />

— Fui ver Deus num homem.<br />

Devemos ser mais modestos. Não<br />

suponhamos que se vai ver Deus em<br />

nós; nossa dimensão não é essa, pelo<br />

menos por enquanto. Mas se pode<br />

ver em nós nosso Anjo da Guarda,<br />

no qual se pode ver a Deus.<br />

Em termos mais concretos: pode-se<br />

perceber algum reluzimento<br />

da graça também em nós. E esse é o<br />

ponto essencial da campanha.<br />

Atrair os maravilháveis<br />

Aquelas pessoas que estavam em<br />

torno dos nossos, após lhes ser explicada<br />

a campanha, entendiam melhor<br />

e ficavam maravilhadas.<br />

A campanha realiza o fundamental<br />

de sua tarefa: atrai os maravilháveis,<br />

o que da Espanha é espanhol.<br />

Através desse aspecto da alma espanhola,<br />

Dom Pelayo 5 começou sua<br />

epopéia.<br />

v<br />

(Extraído de conferência de<br />

27/10/1988)<br />

1) Situada no centro de Madri.<br />

2) Palavra criada por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> para indicar<br />

a mania de imaginar-se possuidor<br />

de qualidades que não tem, ou<br />

exagerar as que possui.<br />

3) Em 3 de fevereiro de 1975, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

sofreu grave acidente automobilístico,<br />

na estrada Jundiaí-Amparo, Estado<br />

de São Paulo<br />

4) Lúcio Chao. Membro do Movimento<br />

fundado por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, o qual morreu<br />

em Madri, vítima de atropelamento.<br />

5) Dom Pelayo (+ 737), chefe dos visigodos<br />

e Rei das Astúrias; em 718 obteve<br />

a vitória de Covadonga, considerada<br />

como o início da Reconquista<br />

espanhola.<br />

29


Apóstolo do pulchrum<br />

Lição das flores<br />

A rosa, a orquídea, a tulipa, três belas flores criadas por<br />

Deus. Que ensinamentos elas nos dão? Acompanhemos<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> na consideração destas maravilhas.<br />

Há três flores que especialmente<br />

me agradam: a tulipa,<br />

a rosa e a orquídea.<br />

A rosa<br />

Fotos: G. Kralj / Arquivo revista<br />

Para meu gosto pessoal, a rosa<br />

ocupa o primeiro lugar entre as flores.<br />

Ela é inteiramente bonita, perfeita<br />

e acabada, é uma glória, uma<br />

beleza, uma maravilha.<br />

A rosa é eminentemente ordenada.<br />

Nela, todas as pétalas estão postas<br />

em ordem e todas as suas formas<br />

de beleza obedecem a um raciocínio.<br />

Eu estaria longe de afirmar que a rosa<br />

é planejada, mas dir-se-ia que, como<br />

que, um poeta a planejou. Sim,<br />

Deus Nosso Senhor a planejou, a<br />

destinou.<br />

Ela tem o perfume próprio à sua<br />

forma de beleza. A rosa tem a beleza<br />

da ordem prevista, racional e explícita,<br />

ela é uma soberba explicitação do<br />

conceito da beleza.<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> no início dos<br />

anos 90. Ao fundo e em<br />

destaque, diversas rosas.<br />

30


31


Apóstolo do pulchrum<br />

A orquídea<br />

Depois da rosa, na escala das flores,<br />

está uma que é abundante no<br />

Brasil e na Colômbia: a orquídea.<br />

Se a rosa traz consigo o esplendor<br />

da ordem, a orquídea é bem o<br />

contrário! Ela é singular, prega surpresas.<br />

Suas pétalas se “movem”<br />

semelhantemente a um ballet. Parece<br />

dançar um ballet vegetal para direções<br />

que ninguém imagina.<br />

Sua parte central possui uma beleza<br />

magnífica, mas imprevista. Algumas<br />

destas flores têm, por exemplo,<br />

uma coloração branco-avermelhada<br />

na orla de suas pétalas que vai<br />

se intensificando e assumindo uma<br />

profunda cor vermelha à medida em<br />

que se aproxima da parte central, de<br />

modo que quanto mais se aproxima<br />

do interior da flor, mais misteriosa fica.<br />

Tem-se a impressão de que há um<br />

vermelhíssimo sublime que não se<br />

mostra, por uma espécie de recato.<br />

Assim, as orquídeas possuem<br />

uma beleza fantasiosa, inesperada,<br />

de uma alta distinção, mas de uma<br />

distinção que parece dizer a quem a<br />

vê: “Confessa que tu não me imaginavas<br />

e que eu sou superior a tudo<br />

quanto pensavas.”<br />

Há um “não me toque” na orquídea,<br />

que faz parte de outra família<br />

de beleza. Não é a beleza da desordem<br />

— porque a desordem não<br />

tem nenhuma forma de beleza —,<br />

mas é uma forma superior da ordem,<br />

que o raciocínio não constrói<br />

e que só a fantasia sabe compor.<br />

Dir-se-ia que a orquídea é semelhante<br />

ao espírito de duas nações latino-americanas<br />

psicologicamente<br />

muito parecidas: Brasil e Colômbia.<br />

O capricho, o inesperado, o entusiasmo;<br />

às vezes, o ressentimento,<br />

a vingança; conforme a ocasião,<br />

a violência, mas sempre seguida<br />

de uma reconciliação afetuosa; todo<br />

este “vai-e-vem temperamental”<br />

muito comum no brasileiro e no colombiano,<br />

estão marcados de alguma<br />

maneira na orquídea.<br />

A orquídea é singular,<br />

prega surpresas. Suas<br />

pétalas se “movem”<br />

semelhantemente a<br />

um ballet : Ela parece<br />

dançar um ballet vegetal<br />

para direções que<br />

ninguém imagina.<br />

Ao fundo, orquídeas de<br />

diversas tonalidades<br />

32


33


Apóstolo do pulchrum<br />

A tulipa<br />

A tulipa, por sua vez, é uma flor<br />

tão bonita que, quando a vemos,<br />

nos perguntamos se algo pode<br />

ser mais belo do que ela. É<br />

grande sua variedade de cores,<br />

mas entre as mais belas<br />

está a bordeaux. Ao contrário<br />

das cores da orquídea,<br />

a tulipa tem uma coloração<br />

leal, estável, definida.<br />

Enquanto a orquídea<br />

é, como que, uma parasita,<br />

o todo da tulipa fala de autossuficiência,<br />

de independência. Ela<br />

se levanta altaneira, e carrega, bem<br />

na ponta, uma espécie de equilíbrio.<br />

É um equilíbrio um pouco altivo,<br />

as próprias folhas cercam a haste e<br />

se desprendem para deixar passar a<br />

haste, a qual vence todos os obstáculos,<br />

se afirma quase como uma lança.<br />

Alguém poderia perguntar: em<br />

síntese, qual é então a beleza da tulipa?<br />

Eu diria que é beleza da harmonia.<br />

Há uma proporção entre a al-<br />

34


Ao analisar um jarro de<br />

tulipas e ver uma de cor<br />

negra entre outras de<br />

diversas cores, vi como<br />

a escura realçava todas<br />

as outras tonalidades,<br />

e compreendi porque<br />

Deus a havia criado.<br />

tura, o diâmetro, o tamanho de cada<br />

pétala, que faz dela uma obra-prima<br />

de coerência. E quando se admira<br />

isto, sente-se alegria de ser um ente<br />

racional, sente-se a beleza da razão.<br />

É uma ordem de belezas no estilo<br />

da maravilhosa Europa: equilibrada,<br />

racional!<br />

Certa vez, ao saber que existiam<br />

tulipas negras, tive certa perplexidade<br />

e me perguntei: “Para que servirá<br />

uma flor preta? Será para cruzes de<br />

Missas de defunto? Eu não compreendo.<br />

Mas haverá uma razão qualquer<br />

para que Deus tenha criado a<br />

tulipa negra.”<br />

Qual não foi minha surpresa<br />

quando, passando de automóvel<br />

por uma rua de Paris,<br />

vi um jarro com tulipas de<br />

várias cores, entre as quais<br />

havia também uma negra,<br />

posto junto à vitrine de<br />

uma loja.<br />

O automóvel passou rápido<br />

— com a rapidez dos<br />

velhos táxis da França —,<br />

e eu arregalei os olhos<br />

com aquilo, mas, sobretudo,<br />

regalei minha inteligência,<br />

compreendendo a razão de ser<br />

daquela maravilha de Deus.<br />

Ao analisar o jarro e ver como a<br />

tulipa negra realçava a beleza de todas<br />

as outras cores, eu compreendi<br />

por que Deus criou as tulipas pretas.<br />

Era tal o contraste produzido por ela<br />

junto às demais cores, que se alguém<br />

quisesse tirá-la de lá eu diria: não tire,<br />

porque é uma das notas mais bonitas<br />

do jarro.<br />

Era uma forma de fantasia racional,<br />

à maneira francesa. Era um teorema<br />

a respeito de cores.<br />

Escala de valores<br />

A análise destas flores nos dá uma<br />

interessante lição:<br />

Para muitos homens, só tem verdadeiro<br />

valor aquilo que for de primeira<br />

ordem; o que for de segunda<br />

não serve para nada, é lixo. Isto não<br />

é verdade, há uma gradação entre as<br />

coisas, a qual nos incita a amar a beleza<br />

própria a cada grau.<br />

Bela como a rosa, para meu gosto,<br />

a tulipa não é. Entretanto, ela não é<br />

de “segunda classe”, no sentido pejorativo<br />

da expressão.<br />

A escala hierárquica não impõe<br />

um achatamento do inferior,<br />

mas sim um<br />

“resplandecimento”<br />

do superior.<br />

Até entre as flores<br />

há uma hierarquia<br />

de valores. Aplicando o<br />

princípio de hierarquia à<br />

análise feita, podemos dizer<br />

que a rosa e a tulipa são<br />

as flores do anti-igualitarismo.<br />

Uma é bela no grau supremo; a<br />

outra, não sendo a primeira, dá a<br />

Deus glória, mostrando a beleza<br />

que há também nos graus intermediários.<br />

v<br />

(Extraído de conferência de<br />

6/3/1971)<br />

35


Minha<br />

mãe, dizei<br />

por mim!<br />

F. Boulay<br />

Minha Mãe, quando Jesus<br />

estava em vosso<br />

claustro, Vós encontrastes<br />

inúmeras coisas para Lhe<br />

dizer; vede, entretanto, que misérias<br />

eu digo no momento<br />

que O recebo na Sagrada<br />

Eucaristia!<br />

Por isso, eu Vos peço:<br />

Falai por mim, minha<br />

Mãe, e dizei a<br />

Ele tudo quanto eu<br />

quereria ser capaz de<br />

dizer, mas não o sou.<br />

Adorai-O como eu quereria<br />

adorá-Lo; dai-Lhe a ação de graças<br />

que eu quereria dar-Lhe; apresentai-Lhe<br />

atos de reparação pelos<br />

meus pecados e pelos do mundo<br />

inteiro com um calor de reparação<br />

que, infelizmente, eu não tenho.<br />

Minha Mãe, pedi por mim e por<br />

todos os homens tudo quanto for<br />

necessário para que realizemos a<br />

vossa glória; porque, minha Mãe,<br />

o que eu peço mais do que tudo é a<br />

vossa glória, o vosso Reino.<br />

Amém.<br />

Nossa<br />

Senhora do<br />

Santíssimo<br />

Sacramento.<br />

(Extraído de conferência<br />

de 24/3/1984)

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