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Publicação Mensal Ano XI - Nº <strong>121</strong> Abril de 2008<br />
Há quarenta<br />
anos...
“<br />
Empregai-vos em eleger para mim um sucessor zeloso, que não procure senão a<br />
glória do Salvador e que não tenha outro interesse aqui embaixo senão a honra<br />
da Santa Sé Apostólica e o bem da cristandade” — disse o Papa São Pio V, antes<br />
de morrer, aos cardeais que escolheriam um novo Pontífice.<br />
Palavras supremas de um chefe genuíno, que dirige, que protege, que nutre um amor à<br />
verdade até a audácia. No mais elevado degrau da Igreja Católica era ele uma alma sublime,<br />
um autêntico pastor disposto a dar a vida pelas suas ovelhas.<br />
(Extraído de conferência em 4/5/1967)<br />
S.Hollmann<br />
Papa São Pio V –<br />
Igreja de<br />
Notre-Dame de<br />
Bordeaux, França
Sumário<br />
Publicação Mensal Ano XI - Nº <strong>121</strong> Abril de 2008<br />
Ano XI - Nº <strong>121</strong> Abril de 2008<br />
Há quarenta<br />
anos...<br />
Na capa, Dona Lucilia<br />
em março de 1968,<br />
um mês antes de<br />
seu falecimento<br />
Foto: J.S.Dias<br />
As matérias extraídas<br />
de exposições verbais de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
— designadas por “conferências” —<br />
são adaptadas para a linguagem<br />
escrita, sem revisão do autor<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
<strong>Revista</strong> mensal de cultura católica, de<br />
propriedade da Editora Retornarei Ltda.<br />
CNPJ - 02.389.379/0001-07<br />
INSC. - 115.227.674.110<br />
Editorial<br />
4 No décimo aniversário da “<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>”,<br />
40 anos de um “até breve”<br />
Ec o fidelíssimo d a Ig r e j a<br />
6 Vida interior e eficácia no apostolado<br />
Diretor:<br />
Antonio Augusto Lisbôa Miranda<br />
10 Calendário dos Santos<br />
Conselho Consultivo:<br />
Antonio Rodrigues Ferreira<br />
Carlos Augusto G. Picanço<br />
Jorge Eduardo G. Koury<br />
Redação e Administração:<br />
Rua Santo Egídio, 418<br />
02461-010 S. Paulo - SP<br />
Tel: (11) 2236-1027<br />
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assinatura anual<br />
Comum .............. R$ 85,00<br />
Colaborador . . . . . . . . . . R$ 120,00<br />
Propulsor ............. R$ 240,00<br />
Grande Propulsor ...... R$ 400,00<br />
Exemplar avulso ....... R$ 11,00<br />
Serviço de Atendimento<br />
ao Assinante<br />
Tel./Fax: (11) 2236-1027<br />
Do n a Lucilia<br />
12 Compaixão e serenidade<br />
até o fim<br />
“R-CR” e m p e r g u n ta s e r e s p o s ta s<br />
20 Atitudes erradas em face<br />
dos “slogans” da Revolução<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> c o m e n ta ...<br />
22 A Santa Igreja, espelho<br />
das virtudes de Maria<br />
O Sa n t o d o m ê s<br />
26 Santa Catarina de Siena<br />
e o zelo pela causa da Igreja<br />
Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />
30 Florão no cajado do Pastor<br />
Últ i m a p á g i n a<br />
36 Fonte de nossa coragem<br />
3
Editorial<br />
No décimo aniversário da “<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>”,<br />
40 anos de um “até breve”<br />
Há dez anos, em abril de 1998, vinha a lume a<br />
primeira edição da revista “<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>”, destinada<br />
a dar a conhecer a vida e ensinamentos<br />
de <strong>Plinio</strong> Corrêa de Oliveira, sua vida, como também sua<br />
vasta obra de varão católico, apostólico e plenamente romano.<br />
Apesar de nos encontrarmos na publicação deste <strong>121</strong>º<br />
número, em meio ao abundante tesouro do pensamento<br />
e das explicitações de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, continua ainda o embaraço<br />
da escolha...<br />
Profundamente reconhecidos, pois, pelo infalível amparo<br />
da Santíssima Virgem que até aqui nos tem assistido,<br />
de toda a alma esperamos que este significativo marco<br />
editorial se multiplique pelos tempos vindouros.<br />
*<br />
Por uma particular concordância de datas, este décimo<br />
aniversário coincide com os 40 anos do passamento<br />
de Dona Lucilia, mãe de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, à qual ele tributou<br />
entranhado amor de filho, tendo-a como exemplo de alma<br />
cristã e como apoio no quotidiano de seu apostolado.<br />
Naquela manhã de 21 de abril de 1968, após fazer um<br />
grande Sinal da Cruz, Dona Lucilia — como mais tarde diria<br />
alguém — “saía com majestade de uma vida que soube<br />
levar com honra”. Conservou em seus últimos instantes a<br />
mesma serenidade com que, durante nove décadas, arrostara<br />
muitos sofrimentos, sem surpresa nem inconformidade.<br />
Para <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, a despedida não significou propriamente<br />
um adeus, pois a sentiu sempre presente junto a si,<br />
conforme ele mesmo se comprazia em frisar:<br />
“Na hora do corpo de mamãe deixar a casa em direção<br />
ao cemitério, comecei a sentir que o apartamento estava<br />
todo impregnado da presença dela, como se ainda estivesse<br />
lá. Essa ação de presença suave, essa forma de tranqüilidade<br />
post mortem que ela me comunicou, dentro da existência<br />
e das condições comuns do dia-a-dia, tudo tão normal,<br />
tão corrente, tão autêntico, representa para mim uma<br />
fonte de contínua alegria.<br />
“Eu peregrinei dentro do olhar<br />
dela, feito de doçura, desde os<br />
Majestosa<br />
e maternal<br />
misericórdia<br />
Paixão de Cristo,<br />
confortai-nos!<br />
Publicação Mensal Ano IX - Nº 102 Setembro de 2006<br />
Publicação Mensal Ano XI - Nº 120 Março de 2008<br />
meus primeiros olhares de criança<br />
recém-nascida, até o derradeiro<br />
olhar do último ‘boa noite’,<br />
depois do qual não nos vimos<br />
mais em vida. Eu, que<br />
tanto amei essa doçura, que<br />
tanto fiz dela um gáudio,<br />
uma razão de bem-estar<br />
para minha vida, sinto-a<br />
pairar ainda a todo momento<br />
na casa, que é dela,<br />
não minha.<br />
“Dona Lucilia se foi, mas<br />
nunca deixei de sentir sua presença<br />
junto a mim, como a<br />
sentia quando era viva. E, devo<br />
dizer, durante o nosso convívio<br />
terreno, esse sentimento<br />
se enriquecia por uma peculiar<br />
consonância entre o espírito<br />
de mamãe e a atmosfera<br />
da igreja do Coração de Jesus.<br />
Não posso me esquecer de quando, durante a<br />
Missa ou uma visita ao Santíssimo Sacramento, ajoelhava-me<br />
ao lado dela e, observando-a, notava como se embebia<br />
daquela atmosfera da igreja, quase como se fosse<br />
uma segunda natureza.<br />
“De tal maneira que, ao retornarmos à casa, um ambiente<br />
digno, porém sem a espiritualidade própria ao<br />
4
Fotos: Arquivo revista<br />
Dona Lucilia<br />
aos 91 anos<br />
edifício sagrado, eu<br />
pensava: ‘É pena que<br />
minha casa não possa<br />
ser como a igreja’. Contudo,<br />
ao ver mamãe caminhar<br />
de um lado para outro, eu<br />
me dava conta: ‘Bem, mas é como<br />
se um raio de luz da igreja reluzisse por<br />
aqui...’<br />
“E é interessante que, quando eu precisava me ausentar<br />
em viagens curtas ou longas, separando-me de Dona Lucilia,<br />
consolava-me a idéia de que a lembrança dela e a do<br />
ambiente da Igreja do Sagrado Coração de Jesus me acompanhariam.<br />
E que assim eu conservaria na minha memória<br />
uma espécie de presença dela, tão grata, tão afim comigo,<br />
que não representaria para mim propriamente uma separação.<br />
“Nesse caso, o<br />
provérbio francês tão<br />
adequado — partir, c’est<br />
mourir un peu 1 — não se<br />
aplicava. Partir era apenas tomar<br />
distância. E no outro extremo<br />
da distância estava ela e, sobretudo, a<br />
Igreja do Sagrado Coração de Jesus...” 2<br />
*<br />
Com as vistas postas no benefício espiritual que essas e<br />
outras tocantes recordações propiciarão às almas de nossos<br />
leitores, rendemos nestas páginas uma penhorada homenagem<br />
a <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> e à sua querida mãe, Dona Lucilia.<br />
1) Partir é morrer um pouco.<br />
2) Conferências em 7/5/1977, 21/4/1981 e 22/4/1983.<br />
Dec l a r a ç ã o: Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontífice Urbano VIII, de 13 de março de 1625 e<br />
de 5 de junho de 1631, declaramos não querer antecipar o juízo da Santa Igreja no emprego de palavras ou<br />
na apreciação dos fatos edificantes publicados nesta revista. Em nossa intenção, os títulos elogiosos não têm<br />
outro sentido senão o ordinário, e em tudo nos submetemos, com filial amor, às decisões da Santa Igreja.<br />
5
Ec o f i d e l í s s i m o d a Ig r e j a<br />
Vida interior<br />
e eficácia<br />
no apostolado<br />
Líder mariano e guia do movimento<br />
católico nos idos de 30 e 40, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> sempre se preocupou com<br />
o progresso espiritual dos seus seguidores, bem como com a<br />
fecundidade de seu apostolado. No intuito de melhor orientá-los,<br />
ofereceu-lhes, em diversas ocasiões, conselhos de vida interior<br />
e piedade, como estes aqui transcritos.<br />
Aobra da Redenção não se fez para um pequeno<br />
número de aristocratas do espírito. Pelo contrário,<br />
o anelo de Nosso Senhor é que “todos<br />
fossem um”, isto é, que todos os povos, sem distinção,<br />
fossem beneficiados com os frutos do Santo Sacrifício da<br />
Cruz.<br />
Apostolado e caridade não<br />
conhecem limites<br />
Não há, pois, ponto do globo que não deva ser atingido<br />
pelos pregadores da Boa Nova. Não há classe social,<br />
não há setor de opinião, não há grupo, corrente,<br />
facção ou partido para o qual não se deva voltar a solicitude<br />
evangélica. “Todos” devem ser evangelizados.<br />
E o apostolado católico — o da Ação Católica inclusive<br />
— deve ter necessariamente essa imensa extensão.<br />
O apostolado só conhece um limite: o do mundo. E a<br />
caridade para com o próximo, nem ante esse limite se<br />
contém, pois que ainda se estende, como torrente caudalosa<br />
e benéfica, sobre os que, tendo deixado a vida<br />
terrena, ainda expiam no Purgatório os pecados cometidos.<br />
Pio XI disse certa vez que, se se devesse aliar ao próprio<br />
demônio para conquistar as almas para a Igreja, ele<br />
o faria. Essa deve ser a norma do apostolado da Ação Católica:<br />
todos os apoios, todos os recursos, todas as simpatias<br />
que encontrar em seu caminho devem ser por ela minuciosamente<br />
aproveitadas até o último ponto. E, no dia<br />
do Juízo Final, cada membro da Ação Católica será responsável<br />
pelo que, por preguiça, indolência ou mal compreendida<br />
intransigência, tiver deixado de aproveitar.<br />
Quanto mais intensa a vida interior,<br />
maior a fecundidade apostólica<br />
Como se vê, a característica de um apostolado bem<br />
desenvolvido deve ser uma grande largueza de movimentos,<br />
e um imenso descortínio no encarar os problemas sugeridos<br />
pela atividade evangelizadora. Neste sentido, há<br />
lacunas imensas a preencher. E a preencher logo, porque<br />
caritas Christi urget nos.<br />
6
Isto posto, perguntamos: como chegar a tão almejado<br />
resultado?<br />
A resposta, a meu ver, só pode ser uma: pela seleção<br />
precedida por uma boa formação.<br />
Mil circunstâncias conspiram para apagar, mal<br />
grado nosso, a noção fundamental que deve presidir<br />
a todas as obras de apostolado, e é que a eficiência<br />
deste está na razão direta da vida interior de<br />
quem serve à Santa Igreja de Deus.<br />
Todos os povos do globo devem<br />
ser atingidos pelos pregadores<br />
da Boa Nova, e cumpre ao<br />
apostolado católico ter essa<br />
imensa extensão<br />
À esquerda: <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> quando presidente da<br />
Ação Católica de São Paulo; abaixo: ele (o 5º da<br />
esquerda para a direita) na sede do “Legionário”<br />
Fotos: Arquivo revista<br />
7
Ec o f i d e l í s s i m o d a Ig r e j a<br />
Enquanto o leigo que faz apostolado não se persuadir<br />
de que é um mero reservatório da graça divina, que deve<br />
transmiti-la depois aos outros, enquanto ele não estiver<br />
ciente de que a conversão não é obra dele, mas de Deus,<br />
e que portanto, como mero instrumento que ele é, deve<br />
ter Deus presente em si para irradiá‐lo aos outros, seu<br />
apostolado será ineficaz.<br />
A este respeito, ainda, gostaríamos de enumerar alguns<br />
princípios fundamentais:<br />
I ‐ Quem converte é Deus. A pessoa que faz apostolado<br />
não é senão um veículo da graça. Mas essa graça,<br />
Deus não a dá senão àqueles que têm uma vida interior<br />
autêntica;<br />
II - Quanto mais intensa a vida interior, tanto maior<br />
a fecundidade do apostolado; em razão inversa, quanto<br />
menos intensa a vida interior, tanto menos eficaz o apostolado.<br />
Sem vida interior os dons<br />
naturais serão inúteis<br />
III ‐ A inteligência, a cultura, a habilidade, são qualidades<br />
pessoais que podem e devem ser aproveitadas para o apostolado<br />
como preciosos dons de Deus. Mas todos esses<br />
dons naturais serão inúteis sem a vida interior.<br />
E, pelo contrário, uma vida interior intensa<br />
pode suprir a ausência desses dons.<br />
IV ‐ Aplicando a outro campo o<br />
mesmo princípio, uma associação pode<br />
e deve munir‐se de todos os recursos<br />
naturais para a perfeição do seu<br />
apostolado. Mas deve lembrar‐se<br />
sempre de que obras perfeitíssimas<br />
a esse respeito têm fracassado<br />
miseravelmente, porque<br />
não havia em seus promotores<br />
verdadeira vida interior. E<br />
que, inversamente, Nosso Senhor<br />
tem dado triunfos brilhantes<br />
a algumas associações<br />
privadas de tais recursos naturais,<br />
mas em cujas fileiras estuava<br />
e superabundava a vida interior.<br />
Pensar como a<br />
Igreja pensa e agir<br />
como ela manda<br />
V ‐ A vida interior não significa só prática<br />
assídua dos Sacramentos, mas prática viva,<br />
sincera e esclarecida, que gera na inteligência<br />
uma perfeita conformidade<br />
com a doutrina católica,<br />
uma aptidão maravilhosa<br />
para discernir entre tudo<br />
que é e não é católico, e um<br />
zelo vivo para manter sempre<br />
exatas essas fronteiras.<br />
Na vontade, essa vida interior<br />
deve gerar um amor intenso<br />
por tudo aquilo que<br />
a Igreja manda, um zelo de<br />
obediência que se manifesta<br />
não apenas nos atos, mas<br />
nos sentimentos, não apenas<br />
nas linhas gerais, mas<br />
nas minúcias, não apenas<br />
nos conselhos, mas sobretudo<br />
no exemplo. Pensar como<br />
a Igreja pensa, sentir como<br />
a Igreja sente, agir como<br />
Fotos: S. Hollmann / T. Alarcón<br />
8
a Igreja manda, e depois reconhecer em tudo isto a obra de<br />
Deus em nós, eis o ideal da vida interior;<br />
A vida interior valoriza as<br />
qualidades naturais<br />
VI ‐ Longe de diminuir a própria aptidão das faculdades<br />
e qualidades naturais para o apostolado, a vida interior<br />
as valoriza imensamente. Se São Tomás foi tão sábio,<br />
deve‐o em grande parte ao fator de ter sido imensamente<br />
ativo no sentido intelectual. Ativo, diligente e metódico.<br />
Ele aplicou em seu estudo todas as suas qualidades<br />
naturais com o máximo de sua intensidade. E se o fez,<br />
foi porque a vida interior exigiu isto dele. Se Santo Inácio<br />
de Loyola foi tão ativo, deve‐o em grande parte ao fato<br />
de ter a vida interior valorizado nele todas as suas qualidades<br />
naturais, sua energia incomparável, sua penetração<br />
de espírito soberana, sua combatividade sem reservas.<br />
Essas qualidades naturais, elevadas ao auge pelo zelo,<br />
e coroadas pelas virtudes que só vêm da vida sobrenatural,<br />
constituem a realização da obra da vida interior.<br />
A vida interior não é só a valorização das qualidades<br />
naturais, nem sequer é principalmente isto. Mas é também<br />
isto.<br />
Autenticidade do espírito: razão<br />
do progresso no apostolado<br />
Elevadas ao auge pelo zelo e<br />
coroadas pelas virtudes que<br />
só vêm da vida sobrenatural,<br />
as qualidades naturais<br />
constituem a realização da<br />
obra da vida interior<br />
Acima: São Tomás de Aquino – Museu de<br />
Sevilha (Espanha); na página 8: Santo Inácio<br />
de Loyola – Catedral de Santiago do Chile<br />
Se quisermos ter apóstolos enérgicos, zelosos, prudentes,<br />
ativos, inteligentes, hábeis, queiramo‐los real e<br />
sinceramente piedosos. Todas as qualidades naturais e<br />
sobrenaturais, postas a serviço da santificação das almas,<br />
é este o ideal do apóstolo;<br />
VII ‐ Com esta autenticidade de espírito católico,<br />
o apostolado pode ter uma maravilhosa liberdade de<br />
movimentos. Mas, sem este espírito, qual a qualidade<br />
que não corre o risco de uma pronta transformação<br />
em defeito? Qual a habilidade que não se transforma<br />
facilmente em perfídia? Qual a caridade que não<br />
se transforma em vã complacência? Qual a concessão<br />
que não se transforma em capitulação?<br />
VIII ‐ Se, pois, a Ação Católica quer progredir, ela<br />
deve velar primordialmente pela autenticidade do espírito<br />
em seus membros. Que cada um deles renuncie realmente<br />
às seduções do mundo, às insinuações do demônio,<br />
às exigências da carne, e siga Nosso Senhor Jesus<br />
Cristo com a cruz às costas. O mais virá por acréscimo,<br />
que Nosso Senhor prometeu aos que O amam. v<br />
(Extraído do “Legionário” de 30/4/1939.<br />
Título e subtítulos da redação.)<br />
9
Ca l e n d á r i o d o s Sa n t o s<br />
1. São Celso de Armagh (Irlanda),<br />
Bispo, 1080-1129. Desenvolveu<br />
importante papel na reforma<br />
da Igreja na Irlanda, no séc. XII,<br />
especialmente através de um concílio<br />
convocado em 1111, ao qual<br />
compareceram o rei, 50 bispos, 300<br />
sacerdotes e 3000 eclesiásticos.<br />
2. São Francisco de Paula, eremita<br />
e fundador, 1416-1507. Originário<br />
da Calábria, fundou os “Mínimos”,<br />
dedicados a viverem só de<br />
esmola, sem possuir bens, além de<br />
observarem o ano inteiro um jejum<br />
semelhante ao da Quaresma.<br />
3. São José, o Himnógrafo, assim<br />
chamado pelos seus célebres<br />
hinos sacros, 816-886. Nascido<br />
na Sicília, foi abade de<br />
Santa Sofia em Constantinopla.<br />
1595. Morto em York, por ter sido<br />
ordenado sacerdote no exterior (o<br />
que naquela época era considerado<br />
traição, na Inglaterra).<br />
8. Santo Ágabo, Profeta. O novo<br />
Martiriológio Romano lhe atribui a<br />
categoria de profeta, no Novo Testamento.<br />
Como narram os Atos dos<br />
Apóstolos, “por aqueles dias desceram<br />
alguns profetas de Jerusalém a<br />
Antioquia. Um deles, chamado Ágabo,<br />
levantou-se e deu a entender pelo<br />
Espírito que haveria uma grande fome<br />
em toda a Terra. Esta, com efeito,<br />
veio no reina- do de Cláudio. Os<br />
V. Domingues<br />
9. São Libório, Bispo de Le<br />
Mans, na Gália (atual França),<br />
séc. IV.<br />
10. São Beda, o Jovem, monge,<br />
+ 883.<br />
11. São Felipe, Bispo de Górtina,<br />
na Ilha de Creta, séc. II. Defendeu<br />
a fé contra os pagãos no tempo do<br />
imperador Antonino Vero.<br />
12. Santo Alfério, Abade em Salerno<br />
(Itália), + 1050. Discípulo de<br />
Santo Odilon de Cluny.<br />
13. São Sabas Reyes Salazar. Mártir<br />
na perseguição mexicana, + 1927.<br />
14. São Pedro González,<br />
(chamado São Telmo),<br />
sacerdote dominicano,<br />
+ 1246.<br />
4. Santo Isidoro de Sevilha,<br />
Bispo e Doutor da<br />
Igreja, 505-636. O último<br />
dos padres latinos.<br />
Discípulo de<br />
seu irmão, São Leandro,<br />
sucedeu a<br />
este como Bispo de<br />
Sevilha. Formou-se<br />
com a leitura de Santo<br />
Agostinho e São Gregório<br />
Magno.<br />
5. São Gerardo, Abade<br />
de Saint-Sauve (França),<br />
+ 1095.<br />
6. São Pedro de Verona, sacerdote<br />
dominicano e mártir, +1253.<br />
Beato Miguel Rua, 1837-1910. Discípulo<br />
de Dom Bosco e seu sucessor<br />
à frente da Congregação Salesiana.<br />
7. Santo Henry Walpole, sacerdote<br />
jesuíta e mártir inglês, 1558-<br />
Beato Miguel Rua<br />
discípulos resolveram, cada um conforme<br />
as suas posses, enviar socorro<br />
aos irmãos da Judéia” (At 11, 27-29).<br />
15. Santos Mártires<br />
Mercedários Redentores<br />
da África, + 1393.<br />
Foram capturados<br />
no mar pelos muçulmanos<br />
e mortos<br />
após terríveis<br />
torturas.<br />
16. São Bento José<br />
Labre, Peregrino,<br />
1748-1783. Morreu após<br />
viver 13 anos peregrinando<br />
na França e na Itália.<br />
Costumava dizer: “Nesta<br />
vida todos somos peregrinos<br />
para o Céu”.<br />
17. São Pedro, diácono, e Hermógenes,<br />
seu servo, mártires em Melitene,<br />
na antiga Armênia.<br />
18. São João Isauro, monge da<br />
Ilha Égina, defendeu o uso das imagens<br />
contra os iconoclastas.<br />
10
* Ab r i l *<br />
G. Kralj<br />
Aragão e Catalunha (Espanha) e<br />
da Inglaterra (cuja bandeira leva<br />
sua cruz, junto à de Santo André).<br />
Santo Anselmo<br />
Bem-Aventurada Maria da<br />
Encarnação (Barbara Avrillot),<br />
+ 1618. Carmelita Descalça. Foi<br />
pioneira em introduzir na França o<br />
Carmelo reformado por Santa Teresa,<br />
pelo que é chamada “Mãe e<br />
Fundadora do Carmelo na França”.<br />
19. São Leão IX, Papa, 1002-<br />
1154.<br />
20. Santo Aniceto, Papa, + 166.<br />
Recebeu São Policarpo, discípulo de<br />
São João Evangelista, em Roma.<br />
21. Santo Anselmo de Canterbury,<br />
+ 1109.<br />
22. São Leônidas, mártir em Alexandria,<br />
no Egito, sob o Imperador<br />
Septimio Severo, + 204.<br />
23. São Jorge, mártir na Palestina,<br />
padroeiro dos militares, de<br />
24. São Fidelis de Sigmaringa,<br />
capuchinho e mártir, + 1622. Morto<br />
por ódio a fé pelos hereges na Suíça.<br />
25. São Marcos, Evangelista.<br />
Discípulo de São Paulo Apóstolo e,<br />
posteriormente, de São Pedro, sob<br />
cuja inspiração escreveu o segundo<br />
Evangelho.<br />
26. São Pascásio Radberto,<br />
abade na Néustri (hoje,<br />
França), + 865. Expôs<br />
a verdade sobre a Sagrada<br />
Eucaristia.<br />
27. São Lourenço<br />
Nguyen Van Huong, mártir<br />
no Vietnã, + 1856.<br />
28. São Luís Maria Grignion<br />
de Montfort, sacerdote,<br />
fundador e pregador pontifício,<br />
+ 1716. O arauto da devoção<br />
a Nossa Senhora, e autor<br />
do Tratado da Verdadeira Devoção<br />
à Santíssima Virgem.<br />
29. Santa Catarina de Sena,<br />
Virgem e Doutora da Igreja, séc.<br />
XIV. (Ver artigo na página 26.)<br />
São Severo, Bispo de Nápoles,<br />
grande amigo de Santo Ambrósio.<br />
30. São Pio V, Papa, + 1572.<br />
Sumo Pontífice que, após empreender<br />
importantes reformas na<br />
Igreja, contribuiu de modo decisivo<br />
para a vitória da esquadra cristã<br />
na Batalha de Lepanto.<br />
São Marcos<br />
Evangelista<br />
F. Boulay / G. Kralj
Do n a Lucilia<br />
Compaixão e<br />
serenidade até o fim<br />
Ao celebrarmos o 40º aniversário<br />
da passagem de Dona Lucilia para a<br />
eternidade, nada melhor do que evocar,<br />
pelas próprias palavras de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>,<br />
alguns aspectos da bondade de sua mãe,<br />
manifestada ao longo de uma edificante<br />
existência, até o derradeiro sinal da<br />
Cruz com que se despediu deste mundo.<br />
Talis vita, finis ita: tal como foi sua vida,<br />
repassada de fé e compaixão, tal se<br />
apresentou a Deus.<br />
Um dos predicados morais<br />
de Dona Lucilia que mais<br />
me tocava e estreitava minha<br />
união com ela era sua compaixão.<br />
Em diversos episódios e circunstâncias<br />
me era dado notar a ternura<br />
de mamãe para comigo e o modo como<br />
considerava as necessidades de<br />
uma criança, máxime sendo filho dela.<br />
A fragilidade daquele ser pequenino<br />
despertava em seu coração materno<br />
um desejo de proteção, ao lado<br />
de uma compreensão íntima, pormenorizada<br />
e delicada das carências<br />
próprias às condições<br />
de um menino.<br />
Compassiva nas<br />
doenças do filho<br />
Ela percebia bem como eu mesmo<br />
sentia as minhas debilidades, e<br />
me acompanhava com um olhar solícito,<br />
como quem diz: “Essa é a trajetória<br />
de todo homem. Mas, é natural<br />
que um homem tenha uma mãe, e<br />
12
Fotos: Arquivo revista / J. S. Dias<br />
Dona Lucilia aos 91 anos;<br />
à esquerda, ela com seu<br />
filho <strong>Plinio</strong> em 1909<br />
13
Do n a Lucilia<br />
que esta seja toda ternura para ele. É<br />
conforme à lei da vida que as coisas<br />
se passem assim; você deve se sentir<br />
compreendido em tudo e não ter nenhuma<br />
espécie de amor próprio falso<br />
que lhe faça esconder de mim a<br />
sua debilidade. Pelo contrário, coloque-a<br />
em minhas mãos, que eu tratarei<br />
dela”. Essa disposição me era<br />
manifestada com um sorriso cumulado<br />
de afeto, e da promessa de que<br />
ela atravessaria comigo aquele caminho<br />
semeado de dificuldades.<br />
De maneira especial, a compaixão<br />
de Dona Lucilia se mostrava<br />
inteira quando eu adoecia. Nessas<br />
circunstâncias, seu desvelo e<br />
seu carinho eram levados ao extremo,<br />
com uma preocupação inteira<br />
por causa de minha doença. Eu,<br />
sempre observador, não deixava de<br />
considerar sua atitude ao entrar no<br />
“A compaixão de mamãe<br />
para comigo se manifestou<br />
invariável, ao longo de<br />
toda a vida dela”<br />
Dona Lucilia aos 50 anos; acima,<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> em fins da década de 30<br />
meu quarto nas pontas dos pés, sorrindo,<br />
com um copo de remédio de<br />
homeopatia nas mãos, e dizer-me:<br />
“Filhinho, chegou a hora de tomar<br />
o medicamento”. Na verdade, era a<br />
consolação de minha alma tê-la ali<br />
perto, e a presença dela compensava<br />
a dor que eu sofria.<br />
14
Como se sabe, as analogias na cabeça<br />
de uma criança são vivazes, e<br />
eu fazia correlação entre o refrigério<br />
da água com que eu tomava o remédio<br />
e a bondade de mamãe. Pensava:<br />
“Ela é para mim o que esta água é<br />
para meu corpo doente — um refrigério.<br />
Sinto o meu espírito refrigerado<br />
na companhia dela”.<br />
O mesmo desvelo na<br />
maturidade de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
Essa compaixão manifestou-se invariável<br />
ao longo de toda a vida dela.<br />
Por exemplo, quando eu já era<br />
homem feito e formado, morávamos<br />
numa casa na Rua Itacolomi, onde<br />
tive uma indisposição física muito<br />
forte. Mamãe, num tom afetuoso<br />
e inquiridor de quem havia percebido,<br />
me perguntou:<br />
— Filhão, você está indisposto,<br />
não é?<br />
— Meu bem, realmente estou,<br />
mas prefiro não recorrer aos seus<br />
médicos. Eu não gostaria de dizer<br />
“não” à proposta da senhora de chamar<br />
algum deles, mas sobretudo não<br />
quero dizer “sim”.<br />
Ela, com sua calma característica,<br />
aproximou-se de mim e colocou<br />
a mão sobre minha testa, e<br />
só aquele contato o frescor de sua<br />
mão me transmitiu alívio e tranqüilidade.<br />
Disse-me: “Você está<br />
com febre”. E eu pensei: “Agora<br />
ela vai colocar o termômetro e este<br />
indicará 38°, 39°. Mamãe ficará<br />
preocupada e eu vou me meter em<br />
uma engrenagem que não me agrada<br />
em nada”. Ela pôs o termômetro<br />
e, após alguns minutos, verificou<br />
a temperatura.<br />
— Não é nada. O que você quer<br />
fazer meu filho?<br />
— Meu bem, quero ganhar tempo,<br />
deitado e tranqüilo.<br />
Então, ela trouxe uma cadeira do<br />
quarto, colocou-a próximo à minha<br />
cama, sentou-se e começou a rezar.<br />
Ali permaneceu durante horas, até<br />
“Se minha doença se agravasse, o desvelo de<br />
Dona Lucilia se desdobraria até o fim; se eu<br />
morresse, ela não sobreviveria por<br />
muito tempo...”<br />
anoitecer. Em certo momento, eu<br />
disse:<br />
— Meu bem, estou com muita fome<br />
e a senhora vai querer que eu coma<br />
algo.<br />
— Diga o que você quer que sua<br />
mãe traz.<br />
Ela mesma foi preparar o que eu<br />
pedi, serviu-me, conversamos um<br />
pouco, e quando nos despedimos ela<br />
Dona Lucilia no início da década de 60<br />
me disse, no mesmo tom de carinho<br />
e solicitude: “De outras vezes, você<br />
não esconda nada de sua mãe, porque<br />
ela percebe e não vai lhe impor<br />
coisa alguma”.<br />
Só então eu percebi como ela não<br />
considerava bagatela aquela minha<br />
indisposição. Entretanto, a rogos de<br />
Nossa Senhora, a Providência me favorecera<br />
com boa saúde e na manhã<br />
15
Do n a Lucilia<br />
seguinte eu já estava recuperado. Assim<br />
que me levantei, fui ao quarto de<br />
mamãe para cumprimentá-la, tranqüilizá-la<br />
e agradecê-la pelos cuidados<br />
da véspera. E retomamos a vida<br />
comum de todos os dias.<br />
Porém, ficara-me a certeza de<br />
que, se a doença se agravasse, o desvelo<br />
dela se desdobraria até o fim. E,<br />
provavelmente, se eu morresse, ela<br />
não sobreviveria por muito tempo.<br />
Acolhida à sombra da<br />
árvore que plantara<br />
É interessante constatar como essa<br />
compaixão de mamãe para comigo,<br />
embora se manifestasse sempre<br />
que as circunstâncias a despertavam,<br />
ia adquirindo feições novas ao longo<br />
de minha vida. Quando eu era menino,<br />
ela inteira se debruçava sobre<br />
mim para me amparar. Mais tarde,<br />
no período de constituição do meu<br />
caráter, a solicitude dela se fez sentir<br />
em relação à luta que eu era obrigado<br />
a travar, como adolescente, para<br />
a minha própria formação. Quando<br />
homem maduro, eu notava nela<br />
uma espécie de legítima ufania, à<br />
semelhança de quem construiu um<br />
barco e se compraz ao vê-lo navegar:<br />
“Deixe-o singrar, alegra-me ver<br />
como ele enfrenta as ondas; sinto satisfação<br />
por ter feito isso, em ter tido<br />
um filho e o haver formado para<br />
que depois enfrentasse a vida de peito<br />
aberto!”. Essa era a alegria dela.<br />
E quando se aproximavam seus<br />
últimos anos de vida, a missão protetora<br />
e formadora da compaixão dela,<br />
enquanto mãe, ia cessando. Ela sentia<br />
esse compreensível minguamento<br />
e, por sua vez, passou a como que<br />
“se encostar” na minha compaixão<br />
para com ela. Portanto, deu-se uma<br />
nobre e natural inversão da situação<br />
antiga, ela veio se acolher à sombra<br />
da árvore que ela mesma tinha plantado.<br />
Presença sempre<br />
enternecedora<br />
Seja como for, já com seus 91<br />
anos, a presença dela continuava<br />
sempre enternecedora, cumulandome<br />
de agrado. Durante toda a vida,<br />
a conversa de mamãe foi agradável,<br />
mas sua presença era ótima, pelo fato<br />
de sua pessoa irradiar algo muito<br />
mais valioso do que a palavra humana<br />
possa exprimir, e de comunicá-lo<br />
com doçura, suavidade, alegria,<br />
ao mesmo tempo com tanto recolhi-<br />
“Deu-se uma<br />
natural inversão<br />
da situação<br />
antiga: mamãe,<br />
por sua vez, passou<br />
a se encostar na<br />
minha compaixão<br />
para com ela”<br />
Dona Lucilia e <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> em 1959<br />
16
“A presença dela<br />
permaneceu sempre<br />
enternecedora,<br />
cumulando-me de<br />
agrado e jamais me<br />
saciando de tê-la<br />
junto a mim”<br />
Dona Lucilia aos 80 anos;<br />
abaixo, o escritório de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
com a cadeira de balanço que<br />
sua mãe costumava usar<br />
Assim transcorreu nosso convívio,<br />
até alguns meses antes de ela falecer.<br />
Na véspera da morte,<br />
calma e serenidade<br />
Em fins de 1967, comecei a notar<br />
os primeiros sintomas da doen-<br />
mento, tanta dignidade e seriedade,<br />
que eu jamais me saciava de estar<br />
perto dela.<br />
Lembro-me de que, às vezes, estando<br />
eu trabalhando no meu escritório,<br />
ela entrava, sentava-se na cadeira<br />
de balanço que ali havia e permanecia<br />
quieta ao meu lado, desfiando<br />
seu rosário. Quiçá, movida<br />
pela generosidade materna, ela encontrasse<br />
algum entretenimento na<br />
minha presença, mas a recíproca era<br />
inteiramente verdadeira, e eu me<br />
comprazia de modo prodigioso em<br />
estar com Dona Lucilia: dizia-lhe algo<br />
afetuoso, fazia-lhe um carinho, e<br />
a deixava contente.<br />
17
Do n a Lucilia<br />
ça que haveria de me prostrar durante<br />
semanas, culminando numa operação<br />
1 . Quando retornei do hospital,<br />
mamãe ainda estava viva, mas havia<br />
envelhecido muito. Acredito que ela<br />
não tenha percebido que eu estive<br />
fora tanto tempo, ou ao menos não<br />
se manifestou a esse respeito.<br />
A convalescença me obrigava a<br />
permanecer com a perna estendida<br />
durante todo o tempo, numa posição<br />
bastante incômoda e desagradável.<br />
Após esse período de penosa recuperação,<br />
quando eu apenas começava<br />
a poder andar com o auxílio de<br />
muletas, afirmaram-me que a saúde<br />
de mamãe se agravara de modo alarmante:<br />
ela caminhava para o fim.<br />
Recordo-me que na véspera da<br />
morte dela, mamãe se achava muito<br />
pior do coração, e por isso passei o<br />
dia inteiro no quarto dela. A falta de<br />
ar a oprimia de tal maneira que a impedia<br />
de conversar, e ela sofria muito<br />
com o mal-estar e a agonia que a asfixia<br />
traz consigo. Entretanto, mantinha-se<br />
calma, tranqüila, serena.<br />
Um grande Sinal da<br />
Cruz antes de partir<br />
Eu formara a idéia de que seria<br />
melhor, nas minhas condições, que<br />
mamãe não morresse durante a noite,<br />
pois a dificuldade de me locomover,<br />
somada a outros incômodos, não<br />
me possibilitariam de dar-lhe toda a<br />
assistência que eu gostaria de oferecer<br />
a ela nesse supremo momento.<br />
Quisera, antes, que fosse de manhã,<br />
depois de eu ter dado as orientações<br />
necessárias ao desenvolvimento do<br />
nosso apostolado naquele dia, e assim,<br />
poder estar ao lado dela quando<br />
Deus a chamasse a Si. Contudo,<br />
não imaginei que esse passamento se<br />
desse tão logo.<br />
No dia seguinte, 21 de abril, acordei<br />
e perguntei por mamãe. Disseram-me<br />
que o estado dela permanecera<br />
mais ou menos o mesmo. Trouxeram-me<br />
o lanche da manhã e o jornal.<br />
Ora, mal acabara de lê-lo, o médico<br />
que a assistia entra no meu quarto<br />
e me diz: “<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, venha depressa.<br />
Dona Lucilia está morrendo!”<br />
Tão rápido quanto me era possível<br />
naquelas condições eu me dirigi<br />
ao quarto dela, e assim que entrei, o<br />
médico me disse: “Ela já morreu”.<br />
Contou-me, então, que a respiração<br />
de mamãe tornara-se cada vez mais<br />
ofegante, mas ela não quis me chamar.<br />
Quando ele percebeu que eram<br />
seus últimos instantes, foi me avisar<br />
e, ao voltar, a viu fazer um grande<br />
Nome do Padre e, em seguida, estender<br />
as mãos ao longo do corpo.<br />
Entregara sua alma a Deus.<br />
Tristeza envolta<br />
em suavidade<br />
Apesar dos meus 60 anos, à vista<br />
de mamãe morta, chorei copiosamente,<br />
e em altos soluços, entremeados<br />
com frases de gratidão e de amor<br />
para com ela. Na desolação profunda<br />
em que me encontrava, repetia<br />
que ela era a luz dos meus olhos, o<br />
que havia de mais precioso para mim<br />
na vida. Lamentei não ter podido vêla<br />
no derradeiro momento, e rezei<br />
muito por sua alma.<br />
Depois disso, era preciso que eu<br />
me aprontasse, e dei as recomendações<br />
necessárias para se preparar o<br />
velório e o sepultamento. Curiosamente,<br />
enquanto fazia minha toilette,<br />
não obstante a imensa tristeza<br />
que me confrangia, senti-me tomado<br />
de uma tranqüilidade suave e distendida,<br />
de maneira que o peso trágico<br />
do fato deixou de acabrunhar a minha<br />
alma. Assim me foi possível estar<br />
o tempo inteiro ao lado do corpo<br />
de mamãe, até a hora em que seria<br />
levado para o cemitério.<br />
Era minha intenção acompanhála<br />
até à beira da sepultura. Porém,<br />
a ferida cirúrgica no meu pé ainda<br />
não estava inteiramente cicatrizada,<br />
de um lado; de outro, era-me muito<br />
penoso vê-la pela última vez no caixão,<br />
e este em seguida ser depositado<br />
no fundo da cova, coberto de terra...<br />
Não tive coragem. Permaneci no meu<br />
automóvel, à porta do cemitério.<br />
No restante do dia passei recebendo<br />
os cumprimentos de parentes<br />
e amigos. Na manhã seguinte, atendendo<br />
aos conselhos dos médicos que<br />
cuidavam de minha recuperação, di-<br />
18
igi-me a uma fazenda que nosso movimento<br />
possuía no interior de São<br />
Paulo e ali fiquei até retornar para a<br />
Missa do Sétimo Dia de mamãe.<br />
Um sorriso do Céu...<br />
Uma última recordação. Como<br />
se sabe, segundo a doutrina católica,<br />
mesmo almas que praticaram a virtude<br />
neste mundo podem passar pelo<br />
Purgatório, a fim de se purificarem<br />
de alguma imperfeição. Se, conforme<br />
se lê em relatos de certas visões, até<br />
mesmo almas de grandes santos tiveram<br />
de pagar esse tributo, era natural<br />
que eu me perguntasse se a de mamãe<br />
não estaria ainda ali, purgandose<br />
de qualquer defeito. Essa idéia me<br />
incomodava, e eu, com confiança na<br />
misericórdia divina, pedi a Nossa Senhora<br />
que me desse um sinal de que<br />
a alma de Dª Lucilia já estivesse na<br />
bem-aventurança eterna.<br />
“Veio-me a certeza de que aquele<br />
raio de luz era o sinal que eu havia<br />
pedido: mamãe estava no Céu!”<br />
Dona Lucilia aos 91 anos; coroa<br />
de flores depositada por<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> na sepultura de sua mãe<br />
Com essa esperança, dirigi-me à<br />
Igreja de Santa Teresinha, no bairro<br />
de Higienópolis, onde seria celebrada<br />
a Missa do Sétimo Dia. Ocupei<br />
um lugar no primeiro banco, junto<br />
com pessoas de minha família, e<br />
notei que nos degraus do presbitério<br />
havia sido colocada uma mortalha<br />
feita de rosas vermelhas, tendo no<br />
entroncamento dos dois braços da<br />
cruz um lindo buquê de orquídeas.<br />
Ora, no momento da Consagração,<br />
surpreendo-me com este fato<br />
extraordinário: pela fenda aberta<br />
num dos vitrais da igreja passou um<br />
raio de sol que incidiu exatamente<br />
sobre a cruz de rosas, deslocando-se<br />
de modo lento até se fixar no buquê<br />
de orquídeas. Mas, iluminou-o com<br />
tanta intensidade que a luz parecia<br />
penetrar as pétalas das flores e fazêlas<br />
refulgir por dentro.<br />
Ao término da Consagração, o<br />
raio de luz deslizou em direção à<br />
porta oposta à sacristia e desapareceu.<br />
Porém, moveu-se de um tal jeito<br />
que me fez lembrar o andar de<br />
Dª Lucilia, e então me veio o pensamento,<br />
senão a certeza, de que aquele<br />
era o sinal que eu havia pedido:<br />
“ela está no Céu!” Essa idéia muito<br />
me consolou, e saí da igreja aliviado.<br />
Sem dúvida, podem as almas do<br />
Purgatório rezar pelas que estão na<br />
Terra. A de mamãe, se lá estivesse,<br />
estaria pedindo por mim. Mas, que<br />
alegria saber que ela já o fazia na visão<br />
beatífica, inundada daquela felicidade<br />
eterna que um dia, pela misericórdia<br />
de Nossa Senhora, nos inundará<br />
a todos nós!<br />
v<br />
(Extraído de conferências<br />
em 11/1/1982 e 20/4/1991)<br />
1) Em dezembro de 1967, em conseqüência<br />
de uma grave crise de diabetes, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
teve gangrena no seu pé direito, sendo<br />
submetido a uma cirurgia no Hospital<br />
Sírio-Libanês, em São Paulo, para<br />
debelar a infecção. Cf. “<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>” nº<br />
117, pp. 4-5.<br />
19
“R-CR” e m p e r g u n ta s e r e s p o s ta s<br />
Atitudes erradas<br />
em face dos “slogans”<br />
da Revolução<br />
Reafirmando a necessidade de se combater a Revolução como esta<br />
age em concreto junto à opinião pública, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> alerta os contrarevolucionários<br />
sobre o triste equívoco de se apresentarem sob uma<br />
luz “simpática e positiva”, esquivando-se de atacar o adversário.<br />
Com essa atitude, adverte-os, a Contra-Revolução só tende a perder<br />
em conteúdo e dinamismo.<br />
O mais importante para combater a Revolução é ler muitos<br />
livros?<br />
“O esforço contra-revolucionário não deve ser livresco,<br />
isto é, não pode contentar-se com uma dialética com<br />
a Revolução no plano puramente científico e universitário.<br />
Reconhecendo a esse plano toda a sua grande e até<br />
muito grande importância, o ponto de mira habitual da<br />
Contra-Revolução deve ser a Revolução tal qual ela é<br />
pensada, sentida e vivida pela opinião pública em seu<br />
conjunto. E neste sentido os contra-revolucionários<br />
devem atribuir uma importância muito particular à refutação<br />
dos ‘slogans’ revolucionários” (p. 119).<br />
Sem polêmica, diminui a reação<br />
contra-revolucionária<br />
Não seria mais eficaz eliminar os aspectos polêmicos<br />
da ação contra-revolucionária?<br />
“A idéia de apresentar a Contra-Revolução sob uma<br />
luz mais ‘simpática’ e ‘positiva’, fazendo com que ela<br />
20
não ataque a Revolução, é o que pode haver de mais tristemente<br />
eficiente para empobrecê-la de conteúdo e de<br />
dinamismo” (p. 119).<br />
Poderia desenvolver este ponto?<br />
“Quem agisse segundo essa lamentável tática mostraria<br />
a mesma falta de senso de um chefe de Estado que,<br />
em face de tropas inimigas que transpõem a fronteira, fizesse<br />
cessar toda resistência armada, com o intuito de cativar<br />
a simpatia do invasor e, assim, paralisá-lo. Na realidade,<br />
ele anularia o ímpeto da reação, sem deter o inimigo.<br />
Isto é, entregaria a pátria...” (p. 120).<br />
O exemplo do Divino Mestre<br />
Mas às vezes não é necessário empregar uma linguagem<br />
matizada?<br />
“Não quer isto dizer que a linguagem do contra-revolucionário<br />
não seja matizada segundo as circunstâncias.<br />
O próprio Divino Mestre<br />
matizou sua linguagem segundo<br />
as circunstâncias: mais candente<br />
junto aos fariseus; menos<br />
polêmica e mais docente, junto ao<br />
povo simples da Galiléia<br />
“Deixai vir a Mim os pequeninos” –<br />
Carmelo de Lisieux, França<br />
“O Divino Mestre, pregando na Judéia, que estava<br />
sob a ação próxima dos pérfidos fariseus, usou<br />
de uma linguagem candente. Na Galiléia, pelo contrário,<br />
onde predominava o povo simples e era menor<br />
a influência dos fariseus, sua linguagem tinha um<br />
tom mais docente e menos polêmico” (p. 120) 1 . v<br />
1) Para todas as citações: Revolução e Contra-Revolução, Editora<br />
Retornarei, São Paulo, 2002, 5ª edição em português.<br />
S. Hollmann<br />
21
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> c o m e n ta ...<br />
A Santa Igreja,<br />
espelho das<br />
virtudes<br />
de Maria<br />
Fotos: S. Hollmann<br />
Ao comentar os<br />
ardorosos louvores que<br />
Santo Agostinho dirige<br />
a Nossa Senhora,<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> tece um<br />
paralelo entre os<br />
excelsos predicados de<br />
Maria e a Santa Igreja<br />
Católica Apostólica<br />
Romana — virgem<br />
na sua perfeição<br />
sem mácula, e mãe<br />
de todos homens<br />
nela batizados e<br />
engendrados como<br />
filhos de Deus.<br />
22
Ogrande Santo Agostinho<br />
deixou-nos esse belo texto<br />
a propósito das virtudes de<br />
Nossa Senhora:<br />
Ó Maria, cumpristes perfeitamente<br />
a vontade do Pai Celeste. Vossa<br />
maior honra, vossa maior felicidade<br />
não foi de ter sido a Mãe, mas a<br />
discípula de Cristo. Bem‐aventurada<br />
sois por terdes ouvido o Verbo de<br />
Deus e conservado [sua palavra] em<br />
vosso coração. Vós guardastes a verdade<br />
de Cristo em vossa inteligência,<br />
mais ainda que sua carne em vosso<br />
seio. Não se saberia comparar‐vos<br />
às mulheres do Antigo Testamento,<br />
a Ana, a Suzana. A que alturas não<br />
vos elevastes acima delas? Aqui ainda<br />
não falamos na santa virgindade;<br />
vossas outras virtudes, ó Maria, há no<br />
mundo alguém que as ignore?<br />
Maria, “beleza e<br />
dignidade da Terra”<br />
Para exemplo e ensinamento para<br />
todas as mulheres, convém somente<br />
não esquecer vossa santa e admirável<br />
modéstia.<br />
Cumpre ressaltar que, na linguagem<br />
católica, modéstia não significa<br />
acanhamento, nem a pessoa estar de<br />
olhos baixos, apagada, sumida. Trata-se<br />
de ter boas maneiras, compostas<br />
e elevadas, de acordo com a virtude<br />
cristã. Prossegue o comentário<br />
de Santo Agostinho:<br />
Vós fostes julgada digna de conceber<br />
o filho do Altíssimo e, entretanto,<br />
permanecestes a mais humilde de todas<br />
as criaturas; porque fizestes sem<br />
cessar a vontade de Deus, sois segundo<br />
a carne e o espírito, a Mãe de Cristo,<br />
sua Mãe e sua irmã, mulher única,<br />
mãe e virgem, e o sois corporal e espiritualmente.<br />
Mãe da nossa cabeça, que é o Salvador,<br />
sois também, e perfeitamente,<br />
mãe de todos os membros de Cristo,<br />
porque cooperastes, por vossa caridade,<br />
para o nascimento dos fiéis na<br />
Igreja.<br />
A Virgem e o Menino - Sainte Chapelle, Paris;<br />
na página 20, Imagem alegórica da Igreja<br />
Católica – Catedral de Strasbourg, França<br />
23
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> c o m e n ta ...<br />
Única entre todas as mulheres sois,<br />
ainda uma vez, mãe e virgem. Mãe de<br />
Cristo e virgem de Cristo. Foi por vós,<br />
ó Mãe do Senhor, que a dignidade virginal<br />
começou sobre a Terra. Por Vós,<br />
ó Maria, que merecestes ter um filho,<br />
mas que o merecestes sem deixar de<br />
ser virgem. Para honra do Salvador<br />
Jesus, o pecado não se aproximou de<br />
Vós. Sabemos que para vencer o pecado,<br />
e vencê-lo por completo, foi dada<br />
a graça abundante à criatura digna de<br />
conceber e de cuidar do Impecável.<br />
A beleza e a dignidade da Terra sois<br />
Vós, ó Virgem, que fostes sem cessar a<br />
figura da Santa Igreja. Por uma mulher,<br />
a morte; por uma mulher, a vida.<br />
E essa última sois Vós, ó Mãe de<br />
Deus.<br />
Assim como Nossa<br />
Senhora, a Igreja<br />
é virgem e mãe<br />
Desse lindo trecho de Santo Agostinho<br />
parece-me oportuno salientar<br />
o pensamento final, quando ele se<br />
refere a Nossa Senhora como sendo<br />
a figura perfeita da Santa Igreja<br />
Católica. Se ousarmos aprofundar<br />
a idéia do insigne autor, poderíamos<br />
nos perguntar em que sentido a<br />
Igreja, assim como Nossa Senhora, é<br />
igualmente virgem e mãe, tornandose,<br />
por sua vez, imagem magnífica de<br />
Maria Santíssima.<br />
A Igreja é virgem no sentido de<br />
que manifesta uma santidade inteira,<br />
sem nenhuma forma de condescendência<br />
para com o mal. Por causa<br />
disso, nela não se acha mácula alguma<br />
e é, portanto, intacta como uma<br />
virgem consagrada a Deus.<br />
Por outro lado, ela é mãe, pois<br />
todos os homens nascem para a vida<br />
espiritual de dentro da Igreja;<br />
no seio desta são batizados e engendrados<br />
como filhos de Deus e irmãos<br />
de Nosso Senhor Jesus Cristo.<br />
E ela procede como uma mãe em relação<br />
a seus rebentos, nutrindo-os<br />
com os sacramentos, propiciandolhes<br />
os dons sobrenaturais da graça,<br />
formando-os por meio de seu magistério<br />
infalível e os guiando em bom<br />
caminho por meio da autoridade da<br />
hierarquia eclesiástica. Dessa forma,<br />
ela exerce junto a cada católico<br />
todos os ofícios e misteres que uma<br />
boa mãe dedica a seu filho.<br />
Estabelecido esse paralelo, podese<br />
aplicar à Esposa Mística de Cristo<br />
a mesma afirmação — repassada de<br />
beleza e de veracidade — que se faz<br />
de Nossa Senhora: ninguém é mais<br />
virgem do que a Igreja, e ninguém<br />
mais do que ela é mãe, pois entre todas<br />
as instituições e todas as mães<br />
da Terra, nenhuma teve uma mater-<br />
nidade mais copiosa do que a Igreja<br />
Católica. Desde o momento em<br />
que foi fundada, até o fim do mundo,<br />
a maioria dos homens que se salvarem<br />
serão gerados em seu grêmio<br />
e por ela conduzidos à bem-aventurança<br />
eterna.<br />
Remédio para as<br />
dificuldades espirituais<br />
Daí se compreende como o<br />
amor à Igreja Católica é uma fonte<br />
de todas as virtudes. Quem a considera<br />
e a ama como à melhor das<br />
mães, alcança graças e forças para<br />
se santificar.<br />
24
Não raro, ouço lamentações de<br />
pessoas que sentem dificuldade em<br />
perseverar na prática dos Mandamentos<br />
ou em progredir na vida espiritual.<br />
Ora, uma das muitas solu-<br />
Eucaristia, a confissão<br />
e o Papado — três<br />
esplendores da Igreja,<br />
dignos de nosso amor e<br />
entusiasmo<br />
Confessionário e imagem do Papa<br />
São Pio X – Catedral de Montréal,<br />
Canadá; no centro, âmbula com a<br />
Sagrada Eucaristia- São Paulo<br />
ções — pois a Igreja é a cidade da<br />
salvação onde para toda doença há<br />
diversos remédios — é exatamente<br />
aumentar nosso amor a ela. Crescendo<br />
nesse amor, nossa determinação<br />
para praticar o bem e repudiar o<br />
mal também aumentará.<br />
Fixemos, então, esse pensamento<br />
valioso: a Igreja é a figura de Nossa<br />
Senhora, ela é resplandecente e bela<br />
na Terra, e devemos procurar amála<br />
como desejamos amar a Santíssima<br />
Virgem hoje e no Céu. Amemos<br />
a Igreja acima de todas as coisas no<br />
mundo, na sua hierarquia, nos seus<br />
mil aspectos autenticamente<br />
divinos.<br />
Fotos: F. Boulay / G. Kralj<br />
Três elementos da<br />
beleza da Igreja<br />
Por exemplo, evoquemos apenas<br />
três elementos da Igreja, dignos de<br />
nosso amor e de nosso entusiasmo.<br />
Primeiro, a infalibilidade pontifícia:<br />
a figura de um homem infalível, governando<br />
a todos e ensinando à humanidade<br />
o caminho da salvação.<br />
Nunca se concebeu, em matéria de<br />
autoridade e orientação, algo mais<br />
belo e mais nobre do que o Papado.<br />
Admiremos, por outro lado, a Eucaristia.<br />
Sob as espécies consagradas,<br />
de modo misteriosamente oculto, está<br />
Nosso Senhor Jesus Cristo, realmente<br />
presente entre nós, em corpo,<br />
alma e divindade. E é a Igreja que<br />
oferece essa possibilidade de o homem<br />
estabelecer com Deus um convívio<br />
tão íntimo e até insondável. O<br />
Criador vem ao homem e como que<br />
se faz um com este. Pode-se imaginar<br />
algo mais esplêndido do que o<br />
Onipotente condescender em ter tal<br />
familiaridade com cada um de seus<br />
filhos?<br />
Por fim, pensemos no sacramento<br />
da Penitência. Difícil seria conceber<br />
nossa existência neste vale de<br />
lágrimas se não nos fosse dado abrir<br />
sobre os nossos pecados e não tivéssemos<br />
a certeza do perdão de Deus<br />
através da absolvição ministrada pelo<br />
sacerdote no confessionário. Um<br />
confessionário: que obra-prima de<br />
sabedoria e de discrição, com a inviolabilidade<br />
do segredo de consciência<br />
nunca traído!<br />
Então compreendemos melhor<br />
quão maravilhosa é a Igreja e quão<br />
digna de nosso amor. Meditemos<br />
nessas verdades e, com o misericordioso<br />
auxílio da Virgem Mãe, encontraremos<br />
em nós maior resolução<br />
para combater nossos defeitos e praticar<br />
a virtude.<br />
v<br />
(Extraído de conferência<br />
em 24/9/1969)<br />
25
O Sa n t o d o m ê s<br />
Santa Catarina de Siena<br />
e o zelo pela causa da Igreja<br />
F. Lecaros<br />
Sobressaindo na fé, esperança e<br />
caridade numa época semeada<br />
de provações para a Igreja,<br />
Santa Catarina de Siena tornouse<br />
modelo de alma fervorosa e<br />
batalhadora, envidando todos<br />
os esforços para ver a Esposa<br />
Mística de Cristo triunfar sobre<br />
suas adversidades. Razão pela<br />
qual <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> no-la apresenta<br />
como a padroeira de todos<br />
aqueles que trabalham e lutam<br />
pela causa católica.<br />
Ao celebrarmos a memória de Santa Catarina de<br />
Siena, virgem e Doutora da Igreja, cuja festa<br />
transcorre no dia 29 de abril, parece-me oportuno<br />
evocarmos a seguinte passagem de sua vida, narrada<br />
por um biógrafo:<br />
Aproximava-se o Natal, primeiro que Catarina passava<br />
em Roma. Quando menina, sempre gostara de presentear<br />
seus amigos nessa santa comemoração, com flores e cruzes.<br />
Agora, porém, que dispunha de prestígio, era conseguindo<br />
indulgências e concessões da Igreja que proporcionava alegria<br />
aos amigos.<br />
26
S. Hollmann<br />
Grande mística,<br />
favorecida por<br />
visões de Nosso<br />
Senhor, Santa<br />
Catarina<br />
escrevia<br />
suas cartas<br />
e conselhos<br />
inspirada por<br />
tais revelações<br />
Santa Catarina de Siena –<br />
Igreja de Notre-Dame<br />
de Bordeaux, França;<br />
na página 26: ela em<br />
afresco na Igreja de Santa<br />
Catarina, Siena (Itália)<br />
Cinco laranjas para o Papa<br />
Não se esqueceu do Papa, e enviou-lhe cinco laranjas<br />
que ela mesma dourara, acompanhando o presente com essas<br />
linhas expressivas: “Sede uma árvore de amor enxertada<br />
sobre a á rvore da Vida, Cristo, o doce Jesus. Desta árvore<br />
nascerá uma flor brotada de vossa vontade, o pensamento<br />
das virtudes e os seus frutos amadurecerão para a maior<br />
honra de Deus e salvação de vosso rebanho. Esse fruto parece<br />
amargo a princípio, ao ser mordido pela boca do santo<br />
desejo, mas tornar-se-á doce, desde que a alma se resolva<br />
a sofrer até a morte pelo Cristo crucificado e pelo amor<br />
do bem.<br />
“Assim se dá com a laranja, que se põe na água a fim de<br />
lhe retirar o amargor, açucarando-a em seguida e dourando-a<br />
por fora. E agora, onde lhe ficou o azedume? Na água<br />
e no fogo. O mesmo se passa, Santíssimo Padre, com a alma<br />
que concebe o amor da virtude. O que a princípio lhe<br />
parece amargo, provém de sua imperfeição. O remédio está<br />
no sangue de Cristo crucificado, que proporciona a água<br />
da graça, purificando-a do amor próprio e sensual, que enche<br />
a alma de tristeza.<br />
“E como o sangue está ligado ao fogo, pois que foi derramado<br />
com o fogo do amor, podemos dizer, na verdade,<br />
que o fogo e a água purificam a alma do amor próprio e<br />
dela extraem o azedume [das ofensas feitas a Deus] que<br />
a princípio continha, enchendo-a de força pela perseverança<br />
e paciência, e adocicando-a pelo mel de uma humildade<br />
profunda.<br />
“Assim preparado o fruto, este é então dourado, simbolizando<br />
o ouro da pureza e o ouro reluzente da caridade, que<br />
se manifesta por uma verdadeira paciência no serviço do<br />
próximo, suportado com imensa ternura de coração.<br />
Suscitada para servir a Igreja<br />
numa difícil conjuntura<br />
Florido, rico em idéias e simbolismos, esse texto sobre<br />
Santa Catarina de Siena nos remete à época em que<br />
ela viveu, marcada por graves acontecimentos na história<br />
da Igreja.<br />
Santa Catarina de Siena pertenceu à Ordem Terceira<br />
dominicana, e desde seus 15 anos de idade consagrouse<br />
às obras de caridade, a uma intensa vida de piedade e<br />
mortificação. Distribuía abundantes esmolas aos pobres,<br />
servia os doentes, visitava os prisioneiros e consolava os<br />
desafortunados. Como sói acontecer com as almas particularmente<br />
queridas por Deus, a Providência permitiu<br />
que fosse afligida desde cedo por doenças crônicas, que<br />
não fizeram senão se agravar no decorrer de sua breve<br />
existência, vindo a falecer aos 33 anos, em Roma.<br />
Dirigida pelo bem-aventurado Raimundo de Cápua<br />
— que, além de seu confessor, foi também seu biógrafo,<br />
autorizado por ela a publicar o conteúdo de suas visões<br />
e revelações — Catarina de Siena se santificou e se tornou<br />
um dos mais luminosos florões do catolicismo no século<br />
XIV.<br />
27
O Sa n t o d o m ê s<br />
Porém, como dissemos, nessa época a situação da<br />
Igreja não era o que se poderia desejar como ideal. Pelo<br />
contrário, a barca de Pedro era então ameaçada por<br />
toda espécie de ondas nefastas que procuravam pô-la a<br />
fundo. Sinais de decadência da fé e de relaxamento dos<br />
costumes se faziam notar um pouco por toda a parte, nos<br />
mais variados ambientes católicos. Até mesmo nos mosteiros<br />
e conventos, que deviam proporcionar aos seus religiosos<br />
a tranqüilidade e a estabilidade que trazem o desapego<br />
dos bens terrenos, instalara-se um desejo de luxo<br />
e opulência oposto aos ideais evangélicos.<br />
Como se tal não bastasse, a sede do Papado se transferira<br />
de Roma para Avignon, feudo que os Pontífices romanos<br />
possuíam na França, e ali viviam sobre o domínio<br />
dos soberanos franceses. Ora, aqueles germens de decomposição<br />
moral atingiram também as fileiras do clero<br />
secular, disseminando um espírito de revolta contra a autoridade<br />
do Vigário de Cristo e outros desmandos. Donde<br />
se estabelecer, por volta de 1378, uma situação de cisma<br />
dentro da Igreja, com o Papa legítimo, Urbano VI, e<br />
um ilegítimo eleito apenas por cardeais franceses.<br />
Em meio a essa confusão, as almas retas lamentavam a<br />
ausência dos Papas de Roma, e desejavam ardentemente<br />
que a Cidade Eterna voltasse a ser o centro da Cristandade,<br />
e a paz, a dignidade da fé e o bom aroma da virtude<br />
reinasse novamente no orbe católico.<br />
Uma dessas almas foi Santa Catarina de Siena, suscitada<br />
por Deus para, através de suas célebres cartas e admoestações<br />
dirigidas às autoridades eclesiásticas — sobretudo<br />
à maior delas, o próprio Papa — reconduzir as<br />
ovelhas de Cristo a serem outra vez um só rebanho sob a<br />
égide de um só pastor. Grande mística, favorecida por visões<br />
de Nosso Senhor Jesus Cristo, ela escrevia essas missivas<br />
inspirada por tais revelações, e acabou granjeando<br />
influência e admiração entre os que aceitavam seus conselhos.<br />
Contribuiu, dessa forma, para sustentar a nau da<br />
Igreja em sua conturbada trajetória, embora não chegasse<br />
a presenciar em vida o fim do chamado grande cisma<br />
do Ocidente, que se deu trinta anos depois de sua morte.<br />
Seja como for, confiante na infinita solicitude de Nosso<br />
Senhor Jesus Cristo por sua Esposa Mística, Santa Catarina<br />
rezou e se sacrificou até o derradeiro suspiro pela<br />
salvação e reunificação da Igreja. Nessas disposições entregou<br />
a alma a Deus, no dia 27 de abril de 1380.<br />
Não há flores sem cruzes,<br />
nem cruzes sem flores<br />
D. Domingues<br />
É essa Santa Catarina que se comprazia em dar presentes<br />
de Natal aos seus amigos. Percebe-se nessa peculiaridade<br />
o espírito ameno, alegre (no bom sentido da<br />
palavra) e afável de uma religiosa tão penitente e mortificada.<br />
Mas, os presentes que ela oferecia eram simbólicos.<br />
Quando menina, ela dava flores, de que o solo italiano<br />
é fecundo, e cruzes, de que a vida do católico é também<br />
fecunda.<br />
Essa idéia de oferecer flores e cruzes parece-me muito<br />
equilibrada, pois o Natal é uma época de felicidade<br />
e convém externar esse júbilo por meio do colorido das<br />
flores. Contudo, para o católico não há flores sem cruzes,<br />
e por isso sempre será oportuno, na hora do júbilo florido,<br />
lembrar a alma que ela deve se preparar para os sofrimentos.<br />
Eu diria mais: também não há cruzes sem flores. Pois<br />
o católico sabe aceitar as provações como algo valioso<br />
para a sua santificação e para uni-lo a Nosso Senhor e<br />
Nossa Senhora. Razão pela qual a cruz é por ele recebida<br />
com alegria, como se adornada de flores, a exemplo<br />
de Nosso Senhor ao abraçar a cruz que Ele deveria levar<br />
até o alto do Calvário. Segundo piedosa crença, no momento<br />
em que Lhe impingiram o instrumento de seu suplício,<br />
o Divino Redentor o osculou afetuosamente antes<br />
de carregá-lo nos ombros, porque era o meio para a realização<br />
da missão que O trouxera ao mundo, isto é, a redenção<br />
do gênero humano.<br />
Advertências salutares<br />
Quando alcançou notoriedade, dotada de prestígio<br />
junto aos Papas, Santa Catarina de Siena passou a dar<br />
28
ela na noite de Natal, um documento do Papa concedendo<br />
tais e tais indulgências. Com um detalhe interessante<br />
de notar. É que por meio dessa forma amena de agradar<br />
o próximo, envolta no bimbalhar dos sinos natalinos<br />
e sob o invólucro do perdão, Santa Catarina não deixava<br />
de lhe dizer uma importante verdade: “Não se esqueça<br />
de que você tem contas a pagar. Essas indulgências serão<br />
suficientes para cobri-las? Examine sua alma, abra os<br />
olhos e pense em como se comportará doravante.”<br />
Havia, portanto, subjacente ao gesto de afeto e amizade,<br />
uma salutar advertência para a vida espiritual do seu<br />
conhecido.<br />
Um lindo modo de estimular o<br />
Papa à prática da virtude<br />
Até o último suspiro, Santa<br />
Catarina rezou e se sacrificou<br />
para sustentar a nau de<br />
Pedro em meio ao mar agitado<br />
no qual singrava; de modo<br />
especial rogava a Deus pelo<br />
Sumo Pontífice<br />
Santa Catarina de Siena e o Papa – Roma<br />
presentes mais elevados, quer dizer, obtinha para seus<br />
favorecidos certas indulgências concedidas pelo Pontífice<br />
e outros dons espirituais.<br />
Para compreendermos o valor de uma indulgência<br />
cumpre considerar que as almas de quase todos os fiéis<br />
defuntos passam pelo Purgatório, onde se purificam e<br />
expiam as penas devidas às faltas cometidas nesta vida.<br />
Ora, pelos méritos das indulgências, uma alma consegue<br />
abreviar seu período de expiação no Purgatório, ou<br />
até mesmo eliminá-lo de todo.<br />
Podemos imaginar, então, com que felicidade os amigos<br />
de Santa Catarina de Siena recebiam, mandado por<br />
Há ainda o pitoresco fato de ela ter mandado cinco<br />
laranjas de presente para o Papa. Entende-se que Santa<br />
Catarina fez uma compota, “dourando” os frutos no açúcar<br />
e no fogo, o que lhe inspirou a bela comparação que<br />
expressou nas linhas dirigidas ao Vigário de Cristo.<br />
Na verdade, encontrara um modo gracioso e igualmente<br />
ameno de estimular o Pontífice à prática da virtude,<br />
à paciência, ao desapego das coisas materiais, ao<br />
amor à cruz e ao espírito de penitência, quão mais necessários<br />
naquele que era o guia e modelo de todos os católicos<br />
do mundo. Então se refere ao amargor que a fruta<br />
apresenta num primeiro momento, para depois tornarse<br />
doce e agradável ao paladar: assim como a virtude, a<br />
princípio amarga para o homem ainda presa de suas imperfeições<br />
e apegos; em seguida suave e deleitosa, pelo<br />
sofrimento unido ao de Cristo e abraçado com perseverança<br />
e humildade<br />
Padroeira dos que trabalham<br />
e lutam pela Igreja<br />
Concluo esses comentários salientando um ponto<br />
que me parece muito oportuno. Uma vez que Santa Catarina<br />
de Siena distinguiu-se por seu zelo e fervor no<br />
serviço da Esposa Mística de Cristo, posto que ela tanto<br />
trabalhou para reerguer a Igreja no tempo dela, não<br />
será despropositado tomá-la como padroeira de todos<br />
aqueles que igualmente trabalham e lutam pelos interesses<br />
católicos.<br />
E, portanto, é de extrema conveniência que a ela elevemos<br />
nossas preces, rogando seu auxílio e sua intercessão<br />
junto a Maria Santíssima e ao Sagrado Coração de<br />
Jesus, a fim de que possamos, nós também, conquistarmos<br />
em nossa época grandes vitórias para a Igreja. v<br />
(Extraído de conferência em 30/4/1971)<br />
29
Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />
Fotos: G. Kralj / D. Domingues / V. Toniolo<br />
Florão no cajado<br />
do Pastor<br />
30
Desde as minhas primeiras<br />
impressões a respeito<br />
do garbo e da beleza dos<br />
trajes com que certas corporações<br />
militares se apresentavam outrora,<br />
transformei-me numa espécie de colecionador,<br />
em minha memória, dos<br />
vários e lindos tipos de uniforme que<br />
conheci ao longo dos anos.<br />
De maneira particular me entusiasmei<br />
quando, pelos idos de 1950,<br />
fui convidado a assistir uma cerimônia<br />
de canonização na Basílica de<br />
São Pedro, em Roma, e, em meio à<br />
pompa toda particular e grandiosa<br />
dessa solenidade, pude considerar<br />
de modo mais minucioso o uniforme<br />
da Guarda Suíça do Papa. A<br />
meu ver, concebido com extremo<br />
Regimento da Guarda<br />
Suíça postado na Praça<br />
de São Pedro, em Roma;<br />
ao fundo, o célebre<br />
balcão onde aparecerá<br />
o Sumo Pontífice<br />
31
Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />
Uniforme concebido<br />
com extremo<br />
bom gosto, cujo<br />
esplendor culmina<br />
no capacete<br />
prateado, ornado<br />
de plumas vermelhas<br />
ou brancas<br />
Cerimônias de Juramento da<br />
Guarda Suíça: abaixo, na Sala<br />
Paulo VI; na página 33, no Pátio<br />
de São Dâmaso, Vaticano<br />
bom gosto e, no seu conjunto, manifestando<br />
um esplendor que culmina<br />
no seu capacete prateado, superiormente<br />
adornado por plumas vermelhas<br />
ou brancas.<br />
Quando os vi, veio-me logo o desejo<br />
de comprar um daqueles capacetes<br />
a fim de trazê-lo para casa, como<br />
recordação desse maravilhamento<br />
que senti ao contemplá-los no<br />
meio dos fulgores de uma cerimônia<br />
de canonização.<br />
De fato, antes de retornar ao Brasil<br />
procurei o comando da Guarda<br />
Suíça, onde fui atendido de forma<br />
muito amável pelo comandante,<br />
na época um fidalgo da Suíça alemã.<br />
Após nos cumprimentarmos, expuslhe<br />
o motivo de minha visita e o meu<br />
intuito de adquirir um dos seus capacetes.<br />
Ele sorriu, conservando a sua<br />
nobre cortesia, e me disse: “Professor,<br />
eu lamento, mas não temos senão<br />
os capacetes necessários para<br />
nosso uso, porque são de prata”.<br />
Pelo que consta, todo o traje da<br />
Guarda Suíça fora desenhado pelo<br />
próprio Michelângelo, o que o tornava<br />
ainda mais valioso. À medida<br />
que o comandante ia falando, aumentava<br />
meu desejo de ter o capacete.<br />
Como argumento mais persuasivo,<br />
ele acrescentou: “O senhor pode<br />
bem compreender que são quase<br />
peças de museu, e não sairia a preço<br />
acessível para qualquer um. Além<br />
disso, se eu lhe vendesse, desfalcaria<br />
o uniforme de um dos meus soldados”.<br />
O meu nobre interlocutor percebeu<br />
que a explicação não me convencia<br />
inteiramente, e então arrematou:<br />
“Caso o senhor deseje comprová-lo<br />
pessoalmente, seria um prazer<br />
32
33
Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />
Acima: a Guarda Suíça vela sobre<br />
as dependências do Vaticano: à<br />
esquerda e na página 35: outros<br />
aspectos da cerimônia de Juramento<br />
levá-lo até a sala de armas e ali poderá<br />
cotejar o número de capacetes<br />
com o de soldados que servem o Sumo<br />
Pontífice”.<br />
A proposta me pareceu interessante,<br />
pois se não me era possível<br />
adquirir um dos capacetes, ao menos<br />
os contemplaria todos juntos, de<br />
perto. Aquiesci com gentileza à oferta<br />
do comandante e descemos juntos<br />
à sala onde, numa prateleira, os capacetes<br />
se achavam enfileirados. Realmente,<br />
não sobrava nenhum...<br />
Essa reminiscência vem a propósito<br />
para salientar a beleza e a importância<br />
da instituição da Guarda<br />
Suíça. Esta é, na verdade, um rico<br />
florão na ponta desse fabuloso cajado<br />
que é um Papa. Chamado a velar<br />
sobre as dependências do Vaticano,<br />
a preservar seus tesouros eclesiásticos,<br />
a manter a ordem e guiar as multidões<br />
de fiéis na Praça de São Pedro,<br />
sobretudo disposto a dar a vida<br />
em defesa do Pontífice, o guarda suíço<br />
está à altura — com seu belo uniforme<br />
e seu heroísmo militar — da<br />
dignidade do Vigário de Cristo e<br />
Pastor Supremo da Santa Igreja Católica.<br />
v<br />
(Extraído de conferências em<br />
4/4/1990 e 2/2/1993)<br />
34
35
Virgem e o Menino –<br />
Igreja de São Tiago,<br />
Reims (França)<br />
Incomparavelmente mais perfeita<br />
que a mais perfeita das mães,<br />
de Nossa Senhora podemos esperar<br />
o socorro indizível, a proteção<br />
inefável, a solução inimaginável para<br />
todas as nossas dificuldades espirituais<br />
e temporais. N’Ela confiando, temos<br />
sobejos motivos para nunca desanimar<br />
e jamais desfalecer na coragem.<br />
Por meio d’Ela, alcançaremos as<br />
graças mais insignes, maior força de<br />
alma e de vontade, lograremos a constante<br />
perseverança na virtude e um<br />
crescente amor a seu Divino Filho.<br />
(Extraído de conferência<br />
em 31/7/1988)<br />
S. Hollmann<br />
Fonte de nossa coragem