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Revista Dr Plinio 22

Janeiro de 2000

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ECO FIDELÍSSIMO DA IGREJA<br />

E, como se não bastassem estas afirmações, vem o<br />

recurso da graça e da oração, que faz de nós até participantes<br />

da onipotência divina! De párias que éramos no<br />

paganismo, o Cristianismo nos eleva a príncipes e a gigantes!<br />

Que magnífica vida, que estupendo destino!<br />

Vemos, senhores, que importância, que mar de felicidades<br />

representa para um homem o ser cristão. E em<br />

que estupenda época a Divina Providência nos fez<br />

nascer! Por toda a parte ouvimos rufos de tambor e<br />

toques de clarim, a chamar os combatentes para a<br />

grande luta que se vai travar. Por toda a parte já se engajam<br />

as primeiras escaramuças entre as duas imensas<br />

hostes do bem e do mal. E as do bem, pequenas, disciplinadas<br />

e aguerridas, reeditarão a vitória das Termópilas,<br />

em que poucos gregos venceram uma avalanche<br />

persa.<br />

Mas, para isto, é preciso que compreendamos que,<br />

longe de sermos como os pagãos, não devemos fugir ao<br />

sacrifício. O paganismo é a caça ao prazer, no fundo do<br />

qual só há sacrifício. O Cristianismo é a caça do sacrifício,<br />

no fundo do qual há prazer, mas com a admiração<br />

cheia de gratidão e unção religiosa de quem contempla<br />

um firmamento fulgurante, inundado de raios de sol<br />

que cortam o azul do espaço, e despejam sobre o mundo<br />

oceanos de luz e de paz. [...]<br />

Desilusões face aos prazeres pagãos<br />

Efetivamente, senhores, desde os seus primeiros instantes,<br />

vê o homem erguer-se diante de si o espectro da<br />

dor.<br />

Não há escritor, por mais profundo ou por mais banal,<br />

que não tenha descrito, entre atônito e temeroso, o<br />

terrível combate entre o homem e a dor. A existência<br />

humana nada mais é do que uma luta entre o homem e<br />

a dor. Luta trágica, luta terrível, em que a dor sempre<br />

vence o homem.<br />

Lutando com o polvo do sofrimento, mal consegue o<br />

homem desenvencilhar-se de um dos tentáculos que o<br />

oprimiam, logo outro se apodera dele, infligindo-lhe as<br />

mais dolorosas contorções.<br />

Muito conhecido é o vulto mitológico que, condenado<br />

pelos deuses a viver com sede, via subir até seus<br />

beiços as águas de que estava rodeado. Mas mal ia beber<br />

um gole apenas, que lhe refrescasse a boca ressequida<br />

pela sede, o nível das águas descia, e ele ficava<br />

impossibilitado de beber. Era, seguramente, um mito<br />

inventado pelo paganismo desiludido, que mal via<br />

aproximar-se de si o fantasma da felicidade, este se<br />

afastava, deixando apenas a ferida incandescente de<br />

uma dolorosa desilusão.<br />

A banalidade é uma espécie de consagração. As figuras<br />

e as imagens, quando se tornam banais, recebem<br />

a consagração que lhes presta este conjunto anônimo<br />

de inteligências que se chama senso comum.<br />

Por isso, julgo-me no direito de lançar mão de uma<br />

figura tão usada, que já é de domínio comum: os prazeres<br />

pagãos são como as praias de areias movediças. Na<br />

atraente beleza de sua alvura sem nódoas, são como<br />

que um convite mudo para o infeliz que ousa pisar sobre<br />

ela. Mas o solo se abre a seus pés e, sem ponto de<br />

apoio, ele está irremissivelmente perdido.<br />

30<br />

“Os funerais<br />

de César” —<br />

a dor era um<br />

espantalho<br />

para o velho<br />

paganismo<br />

romano,<br />

desiludido<br />

em meio aos<br />

seus<br />

desenfreados<br />

prazeres

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