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Revista Dr Plinio 22

Janeiro de 2000

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LUZES DA CIVILIZAÇÃO CRISTÃ<br />

Depois de Zurbaran e do<br />

Beato Fra Angélico, o<br />

pintor cujas obras mais<br />

me impressionaram foi Claude Lorrain.<br />

Artista do século XVII, seu estilo<br />

é diáfano, encantador, que revela<br />

uma habilidade única de reproduzir<br />

em suas telas aquilo sem o que —<br />

no dizer de um poeta francês — as<br />

coisas não seriam senão o que elas<br />

são: a luz do sol.<br />

Lorrain é o pintor do sol. Seus<br />

quadros são fantasias em torno do<br />

astro diurno, que ele se compraz em<br />

representar na sua beleza plena, esplendorosa<br />

e régia, projetando a feeria<br />

dessa luz sobre naturezas e ce-<br />

nários os quais, sob a ação dela, parecem<br />

se transformar em imensas e<br />

suntuosas cortes.<br />

Em geral, os temas de suas pinturas<br />

são frutos de uma privilegiada<br />

imaginação, misturando-se neles elementos<br />

antagônicos e quase se diria<br />

contraditórios. Por exemplo, um porto<br />

em que as águas do mar penetram<br />

por um lado da cidade e formam<br />

uma espécie de enorme laguna, cercada<br />

de magníficos palácios, que ombreiam<br />

com ruínas de construções<br />

romanas. As ondas banham prestigiosas<br />

escadarias de mármores policromados,<br />

ou investem contra uma<br />

torre medieval que está posta naquele<br />

panorama como a proa de um<br />

navio apontada para o amplo oceano.<br />

Nesse porto estão ancoradas várias<br />

embarcações, grandes e pequenas,<br />

a bordo das quais se vêem camponeses<br />

tocando e dançando uma<br />

tarantela. São pessoas do fundo do<br />

país, de regiões onde não há mar, e<br />

que ele coloca ali, em tombadilhos<br />

enfeitados, junto a marinheiros e estivadores<br />

que desembarcam mercadorias.<br />

Tudo isso é irreal, imaginário, e<br />

chega a ser inconciliável: escadas de<br />

mármore banhadas pela água do<br />

mar (que corrói essa pedra facil-<br />

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