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Revista Dr Plinio 56

Novembro de 2002

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PERSPECTIVA PLINIANA DA HISTÓRIA<br />

No Paraíso<br />

terrestre, a par de<br />

desfrutarem de<br />

qualidades<br />

naturais excelentes<br />

e de outros dons<br />

preciosísismos,<br />

Adão e Eva foram<br />

elevados à ordem<br />

sobrenatural, o que<br />

lhes dava a possibilidade<br />

de verem<br />

Deus face a face<br />

(O Padre Eterno aparece<br />

a Adão, no Éden —<br />

iluminura medieval)<br />

ralidade dos teólogos católicos entende que se trata de<br />

uma fruta no sentido próprio e literal da palavra.<br />

A malícia da sugestão da serpente a Eva, e desta a<br />

Adão, consistia em desconfiar de Deus, insinuando haver<br />

sido por receio de que os homens se nivelassem a Ele que<br />

lhes proibira comerem do fruto. Consistia também na desobediência,<br />

pois conduzia à transgressão da vontade expressa<br />

do Criador. E por fim, segundo uma interpretação<br />

muito penetrante, implicava em magia, pois o homem, pela<br />

virtude de um objeto material – o fruto – e de um ato<br />

material, isto é comer, tentava roubar poderes divinos.<br />

Os efeitos da queda<br />

Adão e Eva compendiavam em si todo o gênero humano,<br />

de que eram fonte. Assim, embora a culpa pessoal<br />

fosse só deles, os efeitos da queda recaíram sobre eles e<br />

sobre toda a sua descendência.<br />

Antes de tudo, o homem ficou privado da graça de Deus,<br />

e se trancaram para ele as portas do Céu. Ademais, sua<br />

inteligência se obscureceu e ficou sujeita a erro. Sua vontade<br />

se debilitou, e sua sensibilidade desregrou-se, solicitando-o<br />

para o mal. A partir desse momento, passou ele<br />

a ser um ente dividido em si mesmo, como diz São Paulo.<br />

Por fim, tornou-se sujeito à morte, à dor, à fadiga, perdeu<br />

o domínio sobre a natureza, e foi expulso do Paraíso<br />

para esta terra de exílio: “in hac lacrimarum valle”.<br />

De filho de Deus, o homem se transformou em criminoso.<br />

Extinguiu-se nele a vida sobrenatural. Passou a ser<br />

um condenado à morte e à perda do Céu, um ser débil,<br />

enfermiço, fatigado, devastado interiormente por problemas<br />

e lutas cruciantes.<br />

Antes da queda, o homem não experimentava a menor<br />

dificuldade em pensar, sentir, querer e agir de modo reto<br />

no tocante a Deus, a si próprio, ao próximo e aos seres<br />

materiais sujeitos ao seu domínio. Todas as suas forças<br />

interiores o levavam, sem relutância, a ver a verdade a<br />

respeito de tudo e de todos, a amar cada ser na medida<br />

em que merecia, a apetecer as coisas segundo a ordem<br />

natural pedia, etc.<br />

Como Deus é infinitamente sábio e santo, queria do<br />

homem essa retidão, de sorte que nossos primeiros pais<br />

viviam na plena sujeição à vontade de Deus.<br />

Ocorrida a queda, essa situação interrompeu-se. A fragilidade<br />

da inteligência, o desregramento dos apetites, a<br />

fraqueza da vontade levaram o homem a se enganar sobre<br />

qual seria o reto modo de pensar, querer, sentir e agir em<br />

relação a Deus, a si mesmo, ao próximo e a todo os seres.<br />

Mais ainda: levaram-no a abraçar muitas vezes, e conscientemente,<br />

o erro e o mal.<br />

Daí, para o homem, uma situação de tal obscuridade<br />

que, se Deus não lhe revelasse a Lei, promulgando<br />

o Decálogo, ser-lhe-ia impossível conhecê-la inteiramente.<br />

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