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PERSPECTIVA PLINIANA DA HISTÓRIA<br />
No Paraíso<br />
terrestre, a par de<br />
desfrutarem de<br />
qualidades<br />
naturais excelentes<br />
e de outros dons<br />
preciosísismos,<br />
Adão e Eva foram<br />
elevados à ordem<br />
sobrenatural, o que<br />
lhes dava a possibilidade<br />
de verem<br />
Deus face a face<br />
(O Padre Eterno aparece<br />
a Adão, no Éden —<br />
iluminura medieval)<br />
ralidade dos teólogos católicos entende que se trata de<br />
uma fruta no sentido próprio e literal da palavra.<br />
A malícia da sugestão da serpente a Eva, e desta a<br />
Adão, consistia em desconfiar de Deus, insinuando haver<br />
sido por receio de que os homens se nivelassem a Ele que<br />
lhes proibira comerem do fruto. Consistia também na desobediência,<br />
pois conduzia à transgressão da vontade expressa<br />
do Criador. E por fim, segundo uma interpretação<br />
muito penetrante, implicava em magia, pois o homem, pela<br />
virtude de um objeto material – o fruto – e de um ato<br />
material, isto é comer, tentava roubar poderes divinos.<br />
Os efeitos da queda<br />
Adão e Eva compendiavam em si todo o gênero humano,<br />
de que eram fonte. Assim, embora a culpa pessoal<br />
fosse só deles, os efeitos da queda recaíram sobre eles e<br />
sobre toda a sua descendência.<br />
Antes de tudo, o homem ficou privado da graça de Deus,<br />
e se trancaram para ele as portas do Céu. Ademais, sua<br />
inteligência se obscureceu e ficou sujeita a erro. Sua vontade<br />
se debilitou, e sua sensibilidade desregrou-se, solicitando-o<br />
para o mal. A partir desse momento, passou ele<br />
a ser um ente dividido em si mesmo, como diz São Paulo.<br />
Por fim, tornou-se sujeito à morte, à dor, à fadiga, perdeu<br />
o domínio sobre a natureza, e foi expulso do Paraíso<br />
para esta terra de exílio: “in hac lacrimarum valle”.<br />
De filho de Deus, o homem se transformou em criminoso.<br />
Extinguiu-se nele a vida sobrenatural. Passou a ser<br />
um condenado à morte e à perda do Céu, um ser débil,<br />
enfermiço, fatigado, devastado interiormente por problemas<br />
e lutas cruciantes.<br />
Antes da queda, o homem não experimentava a menor<br />
dificuldade em pensar, sentir, querer e agir de modo reto<br />
no tocante a Deus, a si próprio, ao próximo e aos seres<br />
materiais sujeitos ao seu domínio. Todas as suas forças<br />
interiores o levavam, sem relutância, a ver a verdade a<br />
respeito de tudo e de todos, a amar cada ser na medida<br />
em que merecia, a apetecer as coisas segundo a ordem<br />
natural pedia, etc.<br />
Como Deus é infinitamente sábio e santo, queria do<br />
homem essa retidão, de sorte que nossos primeiros pais<br />
viviam na plena sujeição à vontade de Deus.<br />
Ocorrida a queda, essa situação interrompeu-se. A fragilidade<br />
da inteligência, o desregramento dos apetites, a<br />
fraqueza da vontade levaram o homem a se enganar sobre<br />
qual seria o reto modo de pensar, querer, sentir e agir em<br />
relação a Deus, a si mesmo, ao próximo e a todo os seres.<br />
Mais ainda: levaram-no a abraçar muitas vezes, e conscientemente,<br />
o erro e o mal.<br />
Daí, para o homem, uma situação de tal obscuridade<br />
que, se Deus não lhe revelasse a Lei, promulgando<br />
o Decálogo, ser-lhe-ia impossível conhecê-la inteiramente.<br />
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