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Jornal Paraná Março 2016

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OPINIÃO<br />

<strong>2016</strong> e o projeto de energia verde do País<br />

Diante do quadro de ausência de<br />

política energética, o estímulo da<br />

produção desta a partir da biomassa<br />

não é prioridade no curto prazo<br />

LUIZ CARLOS CORRÊA<br />

CARVALHO (*)<br />

Milton Friedman, ganhador<br />

do Nobel de Economia de<br />

1976, cunhou a frase “se puserem<br />

o governo federal para administrar<br />

o Deserto do Saara,<br />

em cinco anos faltará areia”. No<br />

Brasil, o prazo pode ser menor.<br />

Em relação ao setor, a brincadeira<br />

ganhou ares de realidade.<br />

Apesar da recente alta nos preços<br />

da commodity e no câmbio,<br />

a situação dos produtores<br />

de etanol ficou bem crítica<br />

desde que o atual governo impôs<br />

restrições ao alinhamento<br />

de preços para segurar a inflação,<br />

exacerbar o populismo e<br />

conseguir a reeleição.<br />

A manutenção da política de<br />

preços do governo, para subsidiar<br />

o consumo de gasolina,<br />

além de causar prejuízos à Petrobrás,<br />

desorganizou a indústria<br />

de etanol. Conseguiram<br />

quebrar dois ícones nacionais:<br />

a Petrobrás e o etanol, pioneirismo<br />

que encantou o mundo.<br />

Os preços congelados dos<br />

combustíveis fósseis, em período<br />

de elevadíssimos preços<br />

do petróleo, desestimularam a<br />

produção e o consumo do etanol<br />

no país.<br />

O etanol hidratado tornou-se<br />

presa fácil com a perda da Cide<br />

– cuja alíquota sobre o preço da<br />

gasolina foi reduzida e depois<br />

zerada -, e com a manutenção<br />

da defasagem do preço da gasolina<br />

em relação ao mercado<br />

internacional. O etanol perdeu<br />

competitividade, ficando sem<br />

uma Cide capaz de refletir seus<br />

benefícios ambientais, sem um<br />

programa junto à indústria automobilística<br />

incentivando a eficiência<br />

dos motores flex e sem<br />

a definição do papel do etanol<br />

na matriz de combustíveis.<br />

Como o anidro é, via regulação,<br />

amarrado aos preços do hidratado,<br />

sofre junto!<br />

No período, o setor foi acometido<br />

por outros efeitos nocivos:<br />

o aumento da dívida, o<br />

corte na expansão de investimentos<br />

e produção e o aumento<br />

de oferta global subsidiada<br />

de açúcar na Ásia, gerando elevados<br />

excedentes. O resultado<br />

final: uma crise generalizada no<br />

setor, com dívida estimada em<br />

R$ 85 bilhões, mais de 80 usinas<br />

paradas e cerca de 70 em<br />

recuperação judicial.<br />

Nota-se, portanto, que a falta<br />

de previsibilidade e a inexistência<br />

de regras claras e duradouras,<br />

quanto ao uso da Cide e à<br />

formação de preços no mercado<br />

doméstico de gasolina<br />

nos últimos anos, associadas<br />

ao considerável aumento de<br />

custos de produção do etanol,<br />

desestimularam os investimentos<br />

para expansão da produção.<br />

Estes demandam um longo<br />

prazo de maturação. A rentabilidade<br />

do negócio está associada<br />

à política adotada para<br />

os preços da gasolina e, principalmente,<br />

a uma política tributária<br />

que reflita as vantagens<br />

ambientais do etanol e de todo<br />

potencial energético da biomassa.<br />

“Brasil tem uma verdadeira<br />

‘camada de pré-sal’ oculta nas<br />

regiões canavieiras e poderia<br />

colocar-se mundialmente como um<br />

ícone na energia renovável e limpa.”<br />

Para uma melhor exploração<br />

desta como fonte de energia<br />

seria necessário: uma definição<br />

clara do seu papel na matriz<br />

energética brasileira; o equilíbrio<br />

entre as diversas fontes na geração<br />

de energia, aproveitando<br />

as particularidades de cada<br />

uma como a complementaridade<br />

com a hidreletricidade,<br />

criando mecanismos para reduzir<br />

custos, com incentivos ao<br />

retrofit dos equipamentos das<br />

usinas, próprios para gerar<br />

energia.<br />

Também, averiguação de<br />

soluções de viabilidade técnica<br />

e de investimentos para a<br />

conexão dos sistemas à rede<br />

de transmissão e distribuição<br />

de energia; e tornar viável o interesse<br />

e a margem de venda<br />

de energia gerada por biomassa,<br />

com leilões exclusivos e<br />

regionais voltados para as fontes<br />

renováveis descentralizadas,<br />

com a fixação de aquisição<br />

de um porcentual significativo<br />

do crescimento projetado<br />

do mercado.<br />

A bioeletricidade deveria ser<br />

incentivada, pois além de ser<br />

limpa, complementa a gerada<br />

por hidrelétricas e está presente<br />

na Região Sudeste, maior consumidora<br />

do País. Contudo a<br />

política do setor elétrico continua<br />

velha e olhando só para o<br />

curto prazo. Não enxerga as<br />

mudanças de paradigma que<br />

ocorrem no mundo, com incentivo<br />

à produção de energia<br />

limpa e renovável.<br />

Preços elevados do diesel se<br />

traduzem em impacto inflacionário<br />

e fazem subir os custos<br />

de produção do agronegócio.<br />

Na média de 2015, o diesel na<br />

refinaria brasileira ficou 17%<br />

acima dos preços do mercado<br />

internacional.<br />

Diante desse quadro de ausência<br />

de política energética, o<br />

estímulo da produção de energia<br />

da biomassa não é prioridade<br />

no curto prazo. Tal postura<br />

é lamentável, pois o Brasil<br />

tem uma verdadeira “camada<br />

de pré-sal” oculta nas regiões<br />

canavieiras, e poderia colocarse<br />

mundialmente como um ícone<br />

na energia renovável e limpa,<br />

principalmente num momento<br />

em que as lideranças planetárias<br />

estão abduzidas pela questão<br />

climática.<br />

(*) Luiz Carlos Corrêa Carvalho<br />

é presidente da ABAG –<br />

Associação Brasileira do<br />

Agronegócio.<br />

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<strong>Março</strong> <strong>2016</strong> - <strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong>

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