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OPINIÃO<br />
<strong>2016</strong> e o projeto de energia verde do País<br />
Diante do quadro de ausência de<br />
política energética, o estímulo da<br />
produção desta a partir da biomassa<br />
não é prioridade no curto prazo<br />
LUIZ CARLOS CORRÊA<br />
CARVALHO (*)<br />
Milton Friedman, ganhador<br />
do Nobel de Economia de<br />
1976, cunhou a frase “se puserem<br />
o governo federal para administrar<br />
o Deserto do Saara,<br />
em cinco anos faltará areia”. No<br />
Brasil, o prazo pode ser menor.<br />
Em relação ao setor, a brincadeira<br />
ganhou ares de realidade.<br />
Apesar da recente alta nos preços<br />
da commodity e no câmbio,<br />
a situação dos produtores<br />
de etanol ficou bem crítica<br />
desde que o atual governo impôs<br />
restrições ao alinhamento<br />
de preços para segurar a inflação,<br />
exacerbar o populismo e<br />
conseguir a reeleição.<br />
A manutenção da política de<br />
preços do governo, para subsidiar<br />
o consumo de gasolina,<br />
além de causar prejuízos à Petrobrás,<br />
desorganizou a indústria<br />
de etanol. Conseguiram<br />
quebrar dois ícones nacionais:<br />
a Petrobrás e o etanol, pioneirismo<br />
que encantou o mundo.<br />
Os preços congelados dos<br />
combustíveis fósseis, em período<br />
de elevadíssimos preços<br />
do petróleo, desestimularam a<br />
produção e o consumo do etanol<br />
no país.<br />
O etanol hidratado tornou-se<br />
presa fácil com a perda da Cide<br />
– cuja alíquota sobre o preço da<br />
gasolina foi reduzida e depois<br />
zerada -, e com a manutenção<br />
da defasagem do preço da gasolina<br />
em relação ao mercado<br />
internacional. O etanol perdeu<br />
competitividade, ficando sem<br />
uma Cide capaz de refletir seus<br />
benefícios ambientais, sem um<br />
programa junto à indústria automobilística<br />
incentivando a eficiência<br />
dos motores flex e sem<br />
a definição do papel do etanol<br />
na matriz de combustíveis.<br />
Como o anidro é, via regulação,<br />
amarrado aos preços do hidratado,<br />
sofre junto!<br />
No período, o setor foi acometido<br />
por outros efeitos nocivos:<br />
o aumento da dívida, o<br />
corte na expansão de investimentos<br />
e produção e o aumento<br />
de oferta global subsidiada<br />
de açúcar na Ásia, gerando elevados<br />
excedentes. O resultado<br />
final: uma crise generalizada no<br />
setor, com dívida estimada em<br />
R$ 85 bilhões, mais de 80 usinas<br />
paradas e cerca de 70 em<br />
recuperação judicial.<br />
Nota-se, portanto, que a falta<br />
de previsibilidade e a inexistência<br />
de regras claras e duradouras,<br />
quanto ao uso da Cide e à<br />
formação de preços no mercado<br />
doméstico de gasolina<br />
nos últimos anos, associadas<br />
ao considerável aumento de<br />
custos de produção do etanol,<br />
desestimularam os investimentos<br />
para expansão da produção.<br />
Estes demandam um longo<br />
prazo de maturação. A rentabilidade<br />
do negócio está associada<br />
à política adotada para<br />
os preços da gasolina e, principalmente,<br />
a uma política tributária<br />
que reflita as vantagens<br />
ambientais do etanol e de todo<br />
potencial energético da biomassa.<br />
“Brasil tem uma verdadeira<br />
‘camada de pré-sal’ oculta nas<br />
regiões canavieiras e poderia<br />
colocar-se mundialmente como um<br />
ícone na energia renovável e limpa.”<br />
Para uma melhor exploração<br />
desta como fonte de energia<br />
seria necessário: uma definição<br />
clara do seu papel na matriz<br />
energética brasileira; o equilíbrio<br />
entre as diversas fontes na geração<br />
de energia, aproveitando<br />
as particularidades de cada<br />
uma como a complementaridade<br />
com a hidreletricidade,<br />
criando mecanismos para reduzir<br />
custos, com incentivos ao<br />
retrofit dos equipamentos das<br />
usinas, próprios para gerar<br />
energia.<br />
Também, averiguação de<br />
soluções de viabilidade técnica<br />
e de investimentos para a<br />
conexão dos sistemas à rede<br />
de transmissão e distribuição<br />
de energia; e tornar viável o interesse<br />
e a margem de venda<br />
de energia gerada por biomassa,<br />
com leilões exclusivos e<br />
regionais voltados para as fontes<br />
renováveis descentralizadas,<br />
com a fixação de aquisição<br />
de um porcentual significativo<br />
do crescimento projetado<br />
do mercado.<br />
A bioeletricidade deveria ser<br />
incentivada, pois além de ser<br />
limpa, complementa a gerada<br />
por hidrelétricas e está presente<br />
na Região Sudeste, maior consumidora<br />
do País. Contudo a<br />
política do setor elétrico continua<br />
velha e olhando só para o<br />
curto prazo. Não enxerga as<br />
mudanças de paradigma que<br />
ocorrem no mundo, com incentivo<br />
à produção de energia<br />
limpa e renovável.<br />
Preços elevados do diesel se<br />
traduzem em impacto inflacionário<br />
e fazem subir os custos<br />
de produção do agronegócio.<br />
Na média de 2015, o diesel na<br />
refinaria brasileira ficou 17%<br />
acima dos preços do mercado<br />
internacional.<br />
Diante desse quadro de ausência<br />
de política energética, o<br />
estímulo da produção de energia<br />
da biomassa não é prioridade<br />
no curto prazo. Tal postura<br />
é lamentável, pois o Brasil<br />
tem uma verdadeira “camada<br />
de pré-sal” oculta nas regiões<br />
canavieiras, e poderia colocarse<br />
mundialmente como um ícone<br />
na energia renovável e limpa,<br />
principalmente num momento<br />
em que as lideranças planetárias<br />
estão abduzidas pela questão<br />
climática.<br />
(*) Luiz Carlos Corrêa Carvalho<br />
é presidente da ABAG –<br />
Associação Brasileira do<br />
Agronegócio.<br />
2<br />
<strong>Março</strong> <strong>2016</strong> - <strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong>