caderno 2

Moda
As diferentes
faces da
moda
Pode até parecer um contrassenso,
mas a designer de sapatos Mari Giudicelli
não usa salto alto. E não é por uma
questão física, mas filosófica mesmo.
Ela, que acaba de trazer para o Rio sua
linha de calçados hit entre as it-girls de
Nova York, se justifica:
— Ao longo da história, o salto alto
foi implementado como símbolo de poder
e ícone de discernimento entre realeza
e plebe. Mas, acredito que saltos
baixos intitulam as mulheres, dando
liberdade de movimento.
Lutamos tanto por direitos iguais;
a ideia de salto alto não faz sentido
para mim.
Colecionadora assumida — ela estima
ter 80 pares —, Mari conta que
tem desde tabis (modelo tradicional
japonês) até exemplares contemporâneos.
No closet, itens da Prada, Gucci,
Miu Miu, Céline, Martiniano, Maryam
Nassir Zadeh, Dries Van Noten, Lemaire
e tênis Converse e Vans:
— Todos baixos — resume ela, que
conseguiu salvar a maioria do incêndio
que atingiu seu apartamento no
Brooklyn, no fim do ano passado.
Na marca que leva seu nome, Mari
busca trabalhar silhuetas clássicas,
atualizando-as com uma combinação
distinta de materiais. A mule, um dos
ícones dos anos 1990, está entre os
seus shapes favoritos:
— Ela é elegante e também despojada,
podendo ser usada em qualquer
ocasião. O que é importante para mim,
na criação de um guarda-roupa holístico.
Esse estilo limpo, prático, utilitário
e industrialista (como ela mesmo define)
da carioca chamou a atenção do
fotógrafo Dan McMahon, que a viu nas
ruas de Nova York e a convidou para
trabalhar como modelo.
— Os clientes que me contratam
sabem que sou designer acima de qualquer
coisa e que não tenho medidas-
-padrão. A maioria dos trabalhos chega
até mim por boca a boca.
Casting é muito desagradável, então
eu evito — diz ela, que já posou
para grifes cools como Maryam Nassir
Escolher as roupas,
de uma grande e
badalada festividade
ou mesmo as
vestimentas
do dia a dia requer
despojamento,
interação e sintonia
com a vida
Zadeh, Jacquemus, Mansur Gavriel e
Eckhaus Latta; e, no ano passado, assinou
contrato com a agência Ford Models.
Claro que, para ser modelo, a beleza
também conta. O cabelo, sua marca
registrada, ela corta com o amigo Tim
Wandrey:
— Ele, por acaso, trabalha num salão
super fancy que é zero eu, chamado
Red Door.
Escova? Nem pensar.
— Eu uso o xampu Iles Formula
(criado para tratar os cabelos castigados
das famosas), e lavo antes de dormir,
assim ele acorda amassado — conta
ela, que faz as próprias unhas uma
vez por mês e não usa esmalte.
REFERÊNCIA INDIEE
Por estar em um time especial de
modelos, Mari garante que não faz dieta,
mas pratica a ioga Iyengar há oito
anos, além de TRX (método de exercícios
físicos em que se utiliza o peso do
próprio corpo).
— Me alimento de forma saudável,
com muitos vegetais e frutas, pouca
carne, açúcares e nada artificial.
Meu único vício é o café — conta ela,
que adora cozinhar e costuma matar
as saudades da comida brasileira
nos restaurantes Miss Favela, Beco e
Casa:
— Amo pedir moqueca, caldo verde
e banana frita.
O tipo excêntrico e os traços marcantes
fizeram de Mari uma espécie
de musa indie em Nova York, sendo
aclamada por revistas como a “Vogue”
americana, a “W”, o jornal “New York
Times” e o site “Huffington Post”. n
Mari
Giudiccelli,
colecionadora
assumida de
sapatos
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