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LEO_HUBERMAN_-_HISTÓRIA_DA_RIQUEZA_DO_HOMEM

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Na verdade, as populações das cidades em luta, dirigidas pelas associações<br />

de mercadores organizados, não eram revolucionárias, no sentido que<br />

emprestamos à palavra. Não lutavam para derrubar seus senhores, mas<br />

apenas para fazê-los abandonar algum as das práticas feudais já gastas pelo<br />

uso, que constituíram um estorvo decisivo à expansão do comércio. Não<br />

teriam escrito, como os revolucionários americanos, que "todos os homens<br />

foram criados livres e iguais". Nada disso. "A liberdade pessoal, por si só,<br />

não era exigida como direito natural. Era desejada apenas pelas vantagens<br />

que proporcionava. E tanto isso é verdade que em Arrás, por exemplo, os<br />

mercadores tentaram enquadrar-se na classe dos servos do Mosteiro de St.<br />

Vast, a fim de gozar da isenção das taxas de pedágio nos mercados, que<br />

havia sido concedida àqueles." As cidades desejavam libertar-se das<br />

interferências à sua expansão, e depois de alguns séculos o conseguiram. O<br />

grau de liberdade variava consideravelmente, de forma que é tão difícil<br />

apresentar um quadro geral dos direitos, liberdades e organização da cidade<br />

medieval quanto do feudo. Havia cidades totalmente independentes, como as<br />

cidades- repúblicas da Itália e Flandres; havia comunas livres com graus<br />

diversos de independência; e havia cidades que apenas superficialmente<br />

conseguiram arrebatar uns poucos privilégios de seus senhores feudais, mas<br />

na realidade permaneciam sob seu controle. Mas, fossem quais fossem os<br />

direitos da cidade, seus habitantes tinham o cuidado de obter uma carta que<br />

os confirmasse. Isso ajudava a evitar disputas, se alguma vez o senhor ou<br />

seus representantes por acaso se esquecessem desses direitos. Eis aqui o<br />

início de uma carta dada pelo Conde de Ponthieu à cidade de Abbeville, em<br />

1184. Logo na primeira linha, o próprio conde apresenta uma, das razões por<br />

que os habitantes das cidades tanto prezavam as cartas e as guardavam<br />

cuidadosamente a sete chaves - por vezes chegando mesmo a transcrevê-las<br />

em letras de ouro, nos muros da cidade ou da igreja. "Como o que se deixa<br />

escrito fica mais bem guardado na memória humana, eu, Jean, Conde de<br />

Ponthieu, faço saber a todos os presentes, e aos que virão, que meu avô,<br />

Conde Guillaume Talvas, tendo vendido à cidade de Abbeville o direito de<br />

manter uma comuna, e não tendo a cidade uma cópia autenticada desse

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