05.03.2017 Views

LEO_HUBERMAN_-_HISTÓRIA_DA_RIQUEZA_DO_HOMEM

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

empréstimos a juros enormes porque corriam grande risco, eram odiados e<br />

perseguidos, desprezados em toda parte como usurários. Os banqueiros<br />

italianos emprestavam dinheiro em grande escala, fazendo negócios enormes<br />

- e freqüentemente, quando seus juros não eram pagos, o próprio Papa ia<br />

cobrá-los, ameaçando com um castigo espiritual! Mas a despeito do fato de<br />

ser um dos maiores pecadores, a Igreja continuava a gritar contra os<br />

usurários.<br />

Ë fácil ver que a doutrina do pecado da usura iria limitar os processos do<br />

novo grupo de comerciantes que desejava negociar numa Europa em<br />

expansão comercialmente. Tornou-se na verdade um obstáculo quando o<br />

dinheiro começou a ter um papel cada vez mais importante na vida<br />

econômica.<br />

A nascente classe média não guardava seu dinheiro em caixas-fortes. (Esse<br />

hábito pertence ao período feudal, quando eram limitadas as oportunidades<br />

de investimento.) O novo grupo de mercadores podia empregar todo o<br />

dinheiro de que dispusesse e mais ainda. Para manter seu negócio, para<br />

ampliar o campo de suas operações e aumentar os lucros, o comerciante<br />

precisava de mais dinheiro. Onde obtê-lo? Podia recorrer aos que<br />

emprestavam, aos judeus, como Antônio, o Mercador de Veneza, recorreu a<br />

Shylock, o Judeu. Ou podia procurar comerciantes maiores - alguns dos<br />

quais haviam deixado de comerciar com mercadorias para comerciar com<br />

dinheiro - e que eram os grandes banqueiros do período. Não era fácil,<br />

porém. Essa lei da Igreja barrava o caminho, proibindo aos banqueiros ou<br />

usurários o empréstimo a juros.<br />

Que aconteceu então, quando a doutrina da Igreja, destinada a uma economia<br />

antiga, chocou-se com a força histórica representada pelo aparecimento da<br />

classe de comerciantes? Foi a doutrina quem cedeu. Não de uma só vez,<br />

evidentemente. Lentamente, centímetro por centímetro, nas novas leis que<br />

diziam: "A usura é um pecado - mas, sob certas circunstâncias”..., ou então:<br />

"Embora seja pecado exercer a usura, não obstante em casos especiais”...<br />

Os casos especiais que neutralizavam a doutrina da usura são esclarecedores.<br />

Se o banqueiro B emprestasse dinheiro ao comerciante M, não estava certo<br />

que cobrasse juros pelo empréstimo. Mas, dizia a Igreja, como o

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!