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He-Man para The Strange

Fireball%203

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era a do mestre; todos os aprendizes a conheciam.<br />

No pátio escuro, à luz dos archotes das muradas, o mestre aguardava,<br />

já montado sobre o cavalo de marcha, ao lado do qual um muar de<br />

médio porte esperava, com aquele característico olhar obtuso que ele<br />

tanto detestava; aliás, detestava quase todas as coisas obtusas e limitadas.<br />

Uma rápida saudação ao mestre, num reclinar de cabeça e encurvamento<br />

da coluna; montou e saíram pelo portão norte, sob um olhar<br />

ligeiramente perquiridor dos soldados vigilantes.<br />

Penetraram no bosque, por algumas dezenas de metros. Não traziam<br />

tochas nem qualquer luz; uma meia lua passeava pelo céu, com<br />

seu cortejo de estrelas diminutas. O mestre não dizia nada.<br />

Cavalo e muar avançavam e avançavam mais. Uma trilha que o jovem<br />

não conhecia. Num trecho de mata alta, a lua se perdeu <strong>para</strong> além<br />

das copas e a escuridão se fechou sobre eles. O mestre não dizia nada.<br />

Uma curva, depois outra, um pequeno riacho. As copas rarearam<br />

um pouco mais, a luz voltou, aparecendo aqui e ali. Um lobo uivou<br />

muito longe deles. Uma coruja. Vagalumes aqui e ali. Alguma coisa<br />

longilínea e escura se esgueirou <strong>para</strong> longe das patas dos animais, perto<br />

da trilha que deveria estar ali (mas que Gïlian não podia ver, no negrume<br />

em que seguiam), deixando o jovem a se perguntar se era uma<br />

de constrição ou de veneno. O mestre não dizia nada.<br />

Sua mente começou a dialogar com as incertezas. Destino e motivo<br />

eram as dúvidas principais, mas não se atrevia a questionar.<br />

Atingiram uma clareira, onde repousavam ruínas cobertas de musgo<br />

tortuosos arbustos estéreis. O mestre saltou do cavalo, rápido e silencioso,<br />

voltou-se <strong>para</strong> ele e esticou um braço longo e forte; uma mão<br />

de ferro fechou-se sobre seu manto e ele foi atirado no solo, com força,<br />

estatelando-se na terra úmida da noite. A primeira incerteza estava<br />

meio respondida; o destino era aquele, uma clareira sem qualquer significação<br />

aparente, numa noite aparentemente comum. Motivo?...<br />

– Erga-se! Tome sua espada!... O mestre sorriu. - Esqueci-me! Por<br />

deus! Você não trouxe sua espada! Uma pena... Então chafurde nas ruínas<br />

e apanhe qualquer coisa que lhe possa servir. Não sairá daqui sem<br />

27<br />

lutar! Talvez não saia...<br />

Atônito, olhou o mestre em busca de respostas, mas o rosto do outro<br />

estava oculto na sombra, a meia lua às suas costas, muito distante<br />

no céu. Trêmulo, rastejou de costas até as ruínas e, ainda mirando seu<br />

mestre, lançou a destra <strong>para</strong> trás, tateando por entre os grandes tijolos<br />

caídos e arbustos. Capim, insetos, terra... Não há nada aqui!... Pedra,<br />

capim, terra...<br />

– Não há nada aqui, mestre! Não saberia dizer se fora um protesto<br />

ou um lamento. O outro replicou aborrecido:<br />

– Pouco me importa! Encontre alguma coisa... É triste matar alguém<br />

de mãos vazias.<br />

Morte?... Agitou-se ainda mais. Lançou o braço esquerdo <strong>para</strong> trás,<br />

colocando a outra mão na tarefa. Capim. Terra. Tronco!<br />

Ergueu a mão esquerda com força, desequilibrado e trêmulo, apontando<br />

sua arma <strong>para</strong> o outro... Então percebeu, com um grito reprimido.<br />

Segurava um grande osso, um fêmur talvez, não saberia dizer.<br />

Amarelado e enegrecido, quase caiu-lhe das mãos. Enojado, decidiu<br />

largar a coisa, mas uma gargalhada o fez cerrar os punhos, inclusive o<br />

destro, vazio.<br />

– Tudo o que você tem é a perna de um homem morto... Deve servir<br />

e logo você saberá se ele se importou com o sacrilégio!<br />

O mestre partiu <strong>para</strong> ele, com um rugido de uma ferocidade que<br />

jamais imaginou que aquele homem pudesse possuir, o escultor da serenidade<br />

que era o responsável pelas tarefas de escriba, <strong>para</strong> os noviços<br />

e escudeiros.<br />

Um golpe do outro e a clava improvisada partiu-se em duas, arranhando<br />

levemente o antebraço, quando dançou no ar à sua frente.<br />

Outra investida e sentiu as costelas doerem como nunca em sua vida; a<br />

terra úmida recebeu seu corpo sem se perturbar e seu peito exalou um<br />

grunhido abafado, enquanto seus olhos miravam o peito, em busca de<br />

sangue. Bateu com a lateral da lâmina... Por quê?...<br />

Com um grito de fúria, o mestre arremeteu uma vez mais. Gïlian<br />

não esboçou reação. Pensava apenas se encontrariam seu corpo, com<br />

o passar dos dias. A lâmina subiu, recebeu um pouco da luz fugidia do

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