Edição 2 - Especial Reforma da Previdência
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40 Pública - <strong>Edição</strong> <strong>Especial</strong>: <strong>Reforma</strong> <strong>da</strong> <strong>Previdência</strong> Pública - <strong>Edição</strong> <strong>Especial</strong>: <strong>Reforma</strong> <strong>da</strong> <strong>Previdência</strong> 41<br />
Artigo<br />
A Importância <strong>da</strong> Retoma<strong>da</strong> do<br />
Crescimento para Manutenção<br />
<strong>da</strong>s Estruturas Públicas e dos<br />
Direitos Sociais<br />
A crescente necessi<strong>da</strong>de de financiamento<br />
do setor público tem suscitado discussões e<br />
propostas, em sua maioria, volta<strong>da</strong>s para corte<br />
de despesas públicas. Percebe-se, porém, que a<br />
análise do modelo de desenvolvimento adotado<br />
no país desde o início dos anos 90 não possui<br />
posição prioritária na busca por alternativas<br />
para viabilização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des do Estado.<br />
A dívi<strong>da</strong> pública federal, segundo a Secretaria do<br />
Tesouro Nacional, teve aumento de 11,42% em<br />
2016, para R$ 3,11 trilhões, o maior valor desde<br />
o início <strong>da</strong> série histórica inicia<strong>da</strong> em 2004. Em<br />
2015, a dívi<strong>da</strong> estava em R$ 2,79 trilhões. O BC<br />
informou ain<strong>da</strong> que a dívi<strong>da</strong> líqui<strong>da</strong> encerrou<br />
2016 em 45,9 % e a bruta em 69,5 % do PIB.<br />
Com uma taxa média de crescimento do PIB de<br />
3% ao ano, segundo o IBGE, de 2000 a 2014, a<br />
economia do país é incapaz de comportar as<br />
deman<strong>da</strong>s <strong>da</strong> população por serviços públicos e<br />
mesmo a necessi<strong>da</strong>de de financiamento <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong><br />
pública, que é indexa<strong>da</strong> a uma <strong>da</strong>s maiores<br />
taxas do mundo (SELIC – 13% ao ano). Segundo<br />
Por Vinícius Barile<br />
Economista e Diretor <strong>da</strong> ANESP<br />
Associação Nacional dos <strong>Especial</strong>istas em Políticas Públicas<br />
o FMI, em estudo realizado em 188 países, o Brasil<br />
teve o segundo pior desempenho econômico<br />
em 2016, ficando atrás apenas <strong>da</strong> Venezuela.<br />
A capaci<strong>da</strong>de de arreca<strong>da</strong>ção do Estado é diretamente<br />
proporcional à ativi<strong>da</strong>de econômica do<br />
país, e, portanto, a formulação e implementação<br />
de políticas de estímulo ao crescimento, capazes<br />
de desfazer ou reduzir as dificul<strong>da</strong>des hoje<br />
enfrenta<strong>da</strong>s pelas empresas que atuam no país,<br />
pode contribuir de forma eficaz para a viabilização<br />
<strong>da</strong>s contas públicas. O baixo crescimento<br />
do PIB brasileiro e a deman<strong>da</strong> por financiamento<br />
para os serviços públicos deveriam trazer<br />
para o centro <strong>da</strong>s discussões a necessi<strong>da</strong>de de<br />
priorizar a construção de políticas de desenvolvimento,<br />
de forma a permitir a rápi<strong>da</strong> retoma<strong>da</strong><br />
do crescimento do país.<br />
A partir de 1990 a priorização <strong>da</strong> política macroeconômica<br />
em detrimento <strong>da</strong> política industrial<br />
aprofundou diversos problemas enfrentados<br />
por empresas que possuem estruturas de<br />
produção no país. Esse novo modelo econômico,<br />
em vigor até o presente, tem como pilares<br />
a liberalização comercial unilateral, que deixa<br />
produtores nacionais sem acesso privilegiado a<br />
nenhum mercado e, desta forma, incapazes de<br />
manter a escala industrial mínima para garantir<br />
competitivi<strong>da</strong>de, altas taxas de juros e câmbio<br />
sobrevalorizado, que reduzem a competitivi<strong>da</strong>de<br />
internacional <strong>da</strong>s empresas em função do<br />
valor <strong>da</strong> moe<strong>da</strong> e dos custos impostos por gargalos<br />
de infra-estrutura gerados pela incapaci<strong>da</strong>de<br />
de investimento do Estado.<br />
O setor agrícola e de mineração, favorecidos<br />
pelas condições naturais do país, têm sido capazes<br />
de absorver os custos e ineficiências impostas<br />
pelo Estado, mantendo suas vantagens<br />
comparativas e superávits comerciais extremamente<br />
importantes para as contas externas do<br />
país. O setor de serviços é singular uma vez que,<br />
na maioria dos casos, possui concorrência com<br />
base em custos domésticos, pois empresas nacionais<br />
e concorrentes estrangeiras atuam no<br />
mercado interno de forma minimamente equipara<strong>da</strong>,<br />
além, obviamente, de por sua própria<br />
natureza, empresas estrangeiras não terem<br />
como se furtar de montar no país estruturas similares<br />
às de seus países de origem, exceto pela<br />
alta administração e P&D, nos casos em que isto<br />
é relevante. O setor de serviços, por essas características,<br />
e com a entra<strong>da</strong> de inúmeras empresas<br />
estrangeiras e a conseqüente construção<br />
de suas redes no país em setores variados, <strong>da</strong><br />
telefonia a alimentação, teve crescimento em<br />
sua participação no PIB, de 60,06% em 1990<br />
para 67,41% em 2010, segundo o IBGE. Porém,<br />
este setor depende do mercado doméstico, e é<br />
sensível a oscilações de crescimento dos outros<br />
setores, o que pode ser observado nos resultados<br />
de 2016, que fechou em que<strong>da</strong> de 5%, o pior<br />
resultado <strong>da</strong> série histórica <strong>da</strong> PMS do IBGE, inicia<strong>da</strong><br />
em 2012, seguindo uma retração de 3,6%<br />
em 2015.<br />
Na área industrial, porém, houve níti<strong>da</strong> redução<br />
<strong>da</strong> participação na geração de riqueza do país, o<br />
que demonstra a necessi<strong>da</strong>de de que sejam altera<strong>da</strong>s<br />
significativamente as condições de competitivi<strong>da</strong>de<br />
para aqueles que produzem bens<br />
de maior valor agregado em território nacional.<br />
Desta forma seria possível melhorar a posição<br />
brasileira na divisão mundial do trabalho e gerar<br />
os recursos financeiros necessários para a<br />
manutenção <strong>da</strong> máquina pública.<br />
Indústria de<br />
Transformação<br />
% PIB.<br />
Fonte: IBGE –<br />
Sistema de Contas<br />
Nacionais.