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Livro Caminhos

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<strong>Caminhos</strong>


<strong>Caminhos</strong><br />

Autor: Sandro Souza<br />

<strong>Livro</strong> – Novela, com capítulos diários para leitura.<br />

Sinopse:<br />

Uma história que se passa nos dias atuais, mas com ligações profundas atreladas ao passado, onde um<br />

rico e competente empresário, acionista majoritário de um grupo multinacional, passa por um de seus mais<br />

difíceis momentos, pois devido a um grave acidente automobilístico, ficou temporariamente sem suas<br />

lembranças e memórias, e isso o faz percorrer uma busca pela verdade.<br />

Um grande mistério envolve todos ao seu redor, se trata de um conjunto de peças antigas, aos quais são<br />

chamadas de relíquias, gerando a cobiça de muitas pessoas, trazendo à tona inimigos ocultos e<br />

inescrupulosos, que não pouparão medidas e nem forças, agindo brutalmente a qualquer custo, para tê-las<br />

definitivamente em suas mãos.<br />

A fonte de poder, que é a peça principal destas relíquias, é denominada detentora de uma grande força, e<br />

que gera energia para cristais (pedras), que por sua vez, mantém a juventude de quem estiver com a sua<br />

posse, fazendo que ele passe de um século para outro, se mantendo vivo e curado de todas as<br />

enfermidades, se tornando um homem quase que imortal, e possuidor de grande sabedoria e riqueza.<br />

Uma antiga ordem secreta, também travará uma grande batalha, pois segundo as suas crenças e leis,<br />

nenhum ser humano é detentor do direito de viver mais que o outro, e também lutará incessantemente, na<br />

tentativa de neutralizar em definitivo, destruindo todo este conjunto de relíquias, e no centro desta grande<br />

disputa, estarão seus amigos e companheiros de jornada.<br />

Mas a trama não se concentra apenas nisso, haverá vários personagens divididos em núcleos, que se<br />

passam em uma favela, um condomínio, num grupo de empresas, na mansão principal, e diversas viagens<br />

por vários países e cidades, como Dubai, Londres, Nova Iorque, Paris, Denver, Rio de Janeiro e São<br />

Paulo, trazendo minunciosamente ao leitor, as vivências, as alegrias, os dramas, e o carisma de cada um<br />

individualmente, fazendo uma mistura da fantasia com a realidade.<br />

Muita ação, mistério, suspense, romance, numa narrativa bem detalhada, repleta de emoção e adrenalina,<br />

com personagens cativantes e surpreendentes, onde certamente trará o prazer de uma boa leitura, espero<br />

que você goste.


<strong>Caminhos</strong><br />

"Somos livres para agir e pensar, transformamos pensamentos e sonhos em realidade, mas as escolhas<br />

que fazemos, fazem toda a diferença em nossas vidas, são caminhos que decidimos ao percorrer,<br />

escolhendo sempre entre o certo, que quase sempre são caminhos difíceis, ou o errado, que muitas vezes<br />

se apresentam como fáceis, mas certamente para toda ação, há uma reação correspondente."<br />

• Capítulo 1 •<br />

Pouco se sabe sobre o acidente, os freios do carro sendo acionados, o barulho da batida, depois tudo<br />

girando e girando, onde tempo parece ter parado por alguns segundos, onde foram se passando diversas<br />

imagens, na mente impactada daquela vítima, como se fossem flashes, mas tão rápidas, que sequer se<br />

poderia entender, ou tentar compreende-las, mas havia restado a lembrança de alguém, o retirando<br />

cuidadosamente dentre as ferragens, além deste momento, não se recordou de mais nada, nenhuma<br />

memória anterior a este lamentável fato, e agora se encontrava internado em um hospital.<br />

Pelo que contam seus dois acompanhantes, o rapaz já se encontrava em tratamento, há quase três<br />

meses, e hoje finalmente recebia a alta, podendo retornar para a sua casa, e assim poder tentar retomar a<br />

sua vida.<br />

Letícia se apresentou como namorada alegava estarem juntos há dois anos, Já Caio além de morar com<br />

ele, disse também serem sócios e grandes amigos, e agora Nathan terá de buscar respostas sobre seu<br />

passado, possibilidades de recuperar sua memória, e se preparar para o presente, onde terá de<br />

recomeçar praticamente do zero, estando preparado para os desafios.<br />

São Paulo, já na saída do hospital, ao se sentar no banco do carro, comentaram com ele a data atual,<br />

onde estranhou um pouco o ano, e isso seria mais um mistério a desvendar, e durante o percurso até a<br />

residência, sentia que tudo era novo e diferente, sendo que após percorrerem uma longa distância,<br />

chegaram ao portão de uma enorme mansão, onde Caio lhe deu um forte abraço, e comentou muito<br />

sorridente:<br />

– Amigão chegamos, tenho certeza que logo estará recuperado, e tudo será como era antes,<br />

pode contar comigo como sempre!<br />

– Obrigado, você parece ser mesmo um grande amigo!<br />

Letícia fez ar de quem não aprovou o abraço, tampouco o comentário do suposto amigo, ela desceu<br />

rapidamente do carro, indo em direção da entrada da casa, onde alguns empregados já os aguardavam, e<br />

já estando lá dentro, esperou o namorado estendendo os braços.<br />

– Venha amor, eu levo você até o seu quarto!<br />

Caio lançou um olhar de contrariado, mesmo assim seguiu o casal, que subiu uma enorme escada,<br />

que dava para um corredor largo e iluminado, onde haviam vários quadros, esculturas e caixas<br />

de vidro, que continham diversos objetos de arte, dignas de um grande colecionador, como armas antigas,<br />

algumas espadas, relógios, e muitas joias, e Nathan super curioso perguntou:<br />

– O que são todas estas coisas?<br />

Caio olhou em volta por um momento, e respondeu muito seguro de si:<br />

– É a sua preciosa coleção dos caminhos!<br />

– <strong>Caminhos</strong>, isso é algum tipo de nome que foi dado, para todos estes diversos objetos?<br />

Letícia preocupada com a sua reação, interveio rapidamente.<br />

1


<strong>Caminhos</strong><br />

– Não se lembra de nada, de nenhuma peça?<br />

– Por enquanto nada, me sinto estranho, é como se eu tivesse perdido todo o chão!<br />

– Você costumava passar várias horas aqui, ficava parado olhando peça por peça, em especial aquele<br />

colar azul.<br />

Ele se aproximou do vidro, e como se quisesse toca-lo, indagou informações sobre o objeto,<br />

mas Letícia balançando a sua cabeça, deu sinais claros que nada sabia a respeito, e Caio tomando a<br />

frente, tentou mudar a direção da conversa.<br />

– Um passo de cada vez meu amigo, cada coisa ao seu devido tempo, venha para seu quarto<br />

e descanse um pouco, mais tarde falaremos sobre o assunto.<br />

– Está certo, eu me sinto um pouco atordoado com tudo isso, vou fazer o que me sugeriu, e agradeço<br />

aos dois por me ajudarem!<br />

Caio Fechou a porta rapidamente, não dando oportunidade de Letícia se despedir, deixando ela furiosa<br />

e cabisbaixa, e sem dizer nada, desceu rapidamente os degraus da escada, indo embora para a sua casa.<br />

Era Sábado, e o dia passou muito rapidamente, já anoitecia quando Caio que havia saído, retornou a<br />

luxuosa mansão, com a firme intenção de acordar o amigo, mas para a sua surpresa, o encontrou no<br />

corredor do andar de cima, observando novamente as relíquias e obras de arte, onde procurou<br />

se aproximar com cuidado, e falou com o companheiro:<br />

– São todos maravilhosos, conseguiu se lembrar de algo, ou de algum detalhe?<br />

– Infelizmente não, é como estar dentro de um sonho, onde parece que conhecemos as pessoas e os<br />

lugares, mas quando saímos do sono e acordamos, esquecemos parcialmente de tudo, restando apenas<br />

algumas impressões e sensações, eu queria muito compreender o porquê, deste colar me chamar tanto a<br />

atenção.<br />

Caio olhou firmemente para o objeto, e aparentando estar chateado com a situação, procurou<br />

tranquiliza-lo.<br />

– Tenho certeza que em muito pouco tempo, tudo voltará a sua normalidade, onde provavelmente se<br />

lembrará de tudo, até lá precisa repousar bastante!<br />

– Você tem razão, e nem sei como agradecer a vocês por tudo, por cuidarem de mim no hospital, e por<br />

me apoiarem neste momento difícil, mas aonde está a Letícia, ela não vem agora a noite?<br />

– Acredito que não, ela me ligou há pouco, e disse que estava um pouco indisposta, mas que amanhã<br />

sem falta passa aqui para te ver!<br />

Houve um breve silêncio, e Nathan com um semblante de desapontamento, se abriu com o amigo:<br />

– É uma pena, eu precisava muito ter uma conversa franca com ela, penso ter sido muito frio todo<br />

este tempo, mas você saberia me dizer precisamente, como era este meu relacionamento com ela?<br />

– Eu não gosto muito de me intrometer, nesta sua relação amorosa com a Letícia, mas pelo que eu pude<br />

perceber, ultimamente vocês andavam meio que distantes, mas deixa isso para lá, não é da minha conta,<br />

vamos descer para o jantar, a Elvira cozinha muito bem, e você fica bem tranquilo, pois é um homem de<br />

muita sorte!<br />

2


Algo o incomodou ao ouvir a última frase de Caio, "é um homem de muita sorte", parecia soar como<br />

uma lembrança distante, mas mesmo com um tremendo esforço, nada veio a sua memória<br />

enfraquecida, sendo assim o acompanhou, e foram juntos para a sala de jantar.<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Um pouco mais tarde, depois de terminarem a refeição, foram beber um drinque na enorme biblioteca,<br />

onde Nathan ficou extremamente admirado, com a diversidade de livros ali armazenados, principalmente<br />

pelos mais antigos, e após uma rápida conversa, se retiram para seus luxuosos quartos, perante a certeza<br />

que a noite seria bem longa, pois com tantas coisas em mente, provavelmente teriam dificuldades para<br />

dormir.<br />

Do outro lado da cidade, Letícia olhava as luzes dos prédios pela janela, com um olhar entristecido, e o<br />

coração muito apreensivo, tentava em vão conter as lágrimas, que não cessavam de rolar em seu rosto,<br />

e mesmo assim, a sua beleza realçava a todo aquele cenário.<br />

Amanheceu um domingo de sol brilhante com poucas nuvens, algo que raramente acontece em São<br />

Paulo, e bem cedo Letícia chegou a mansão, com a intenção de ver e conversar com o namorado, pois ela<br />

sentia falta e saudades dos encontros, passeios, e beijos apaixonados do casal, mas quando começou a<br />

subir as escadas, deu de cara com Caio que lhe pediu silencio, e a levou para a biblioteca, a moça sem<br />

entender nada o indagou:<br />

– O que houve, porque não posso subir ao quarto do Nathan?<br />

– É que conversamos ontem a noite, e ele achou melhor por enquanto, se afastar de tudo e de você, até<br />

que recupere a sua memória, ele não acha justo o jeito frio que vem te tratando, e eu peço que você<br />

compreenda e aceite, é por muito pouco tempo, até que ele possa se recuperar, e quem sabe se lembrar<br />

de tudo, ok?<br />

– Mas eu nem pude conversar com ele, nem quando acordou no hospital, você ficou cercando o tempo<br />

todo, e agora você me pede para me afastar, não consigo compreender esta sua atitude, porque faz isso<br />

comigo?<br />

Ele desviou o olhar para o lado, e procurou ser frio em sua resposta.<br />

– Não é nada pessoal, eu só quero o bem-estar de Nathan, e é claro o seu também, somente isso!<br />

– Eu não sei o que te fiz, mas sempre pareceu não gostar muito de mim, o que foi que eu te fiz?<br />

– Pelo contrário, eu te prezo muito, mas as coisas nem sempre podem ser, exatamente como a gente<br />

quer!<br />

Ambos se exaltaram, e Nathan que estava descendo as escadas, acabou ouvido em parte, o que<br />

parecia ser um princípio de discussão, e foi rapidamente até a biblioteca, para ver o que estava<br />

acontecendo.<br />

Ao abri a porta ele já avistou os dois, e notou que Letícia chorava disfarçadamente, mas ela sem pensar<br />

duas vezes, correu em sua direção e o abraçou, chegando a soluçar por estar muito nervosa, e o<br />

namorado procurou acalma-la.<br />

– Calma, o que aconteceu, porque está assim desse jeito?<br />

– Eu não quero perder você, não desista de mim por favor!<br />

Ela olhou bem dentro de seus olhos, e saiu rapidamente sem dizer mais nada, e Caio fazendo um gesto<br />

com os ombros, balançando negativamente a cabeça, dava a entender como se nada tivesse acontecido,<br />

mas Nathan pediu-lhe satisfações:<br />

3


<strong>Caminhos</strong><br />

– Aconteceu alguma coisa? É impressão minha, ou vocês estavam brigando aqui?<br />

– Não estávamos brigando, é que ela está assim nervosa e ansiosa, desde o dia do seu acidente, e<br />

também porque você não se lembra dela, mas isso tudo vai passar, e logo voltara a normalidade, agora<br />

vamos aproveitar o dia, vou te levar para dar uma volta no clube, assim você distrai os seus pensamentos,<br />

e quem sabe com um pouco de sorte, recorda de algo vendo velhos amigos!<br />

Nathan concordou, mas ficou com muitas dúvidas sobre o ocorrido, e pelo modo que os dois agiram,<br />

certamente o amigo e namorada, haviam se desentendido bruscamente.<br />

Por volta de uma hora da tarde, os dois chegaram ao clube, onde imediatamente, Nathan olhou tudo ao<br />

seu redor, e com um largo sorriso no rosto, deu a entender que havia se lembrado de algo, e Caio o<br />

questionou sobre isso:<br />

– O que foi, se lembrou do lugar, recordou de alguma coisa?<br />

– Não sei, mas senti algo bom dentro de mim, mas não sei dizer o que é exatamente.<br />

– Vamos nos sentar em uma mesa na piscina, pediremos algo para comer e beber, e aí você me conta<br />

com mais detalhes, o que realmente sentiu.<br />

Nathan ficou olhando para todos os cantos, e seguindo a sugestão de Caio, se sentou à beira da piscina,<br />

e enquanto era preparado o pedido, ficou um bom tempo refletindo, em um modo de abordar o suposto<br />

amigo, pois estava cheio de dúvidas e incertezas, tinha receio de fazer muitas perguntas, afinal de contas<br />

ele sentia que Caio, era um pessoa que mal acabara de conhecer, mas bem lá no fundo, percebia<br />

semelhanças nas atitudes, na sua voz, e no seu jeito de ser, sendo assim, ele preferiu ficar um pouco<br />

em silêncio, e o deixou falar por um certo tempo, até que decidiu perguntar:<br />

– Você disse que somos grandes amigos, então deve conhecer muito bem a minha vida, fala um pouco<br />

de mim, sobre o que eu fazia, o que eu gostava ou não gostava, conta o que puder sobre o meu passado.<br />

– Certo vamos lá, você é um grande empresário, dono e presidente do Grupo Etros, trabalhamos com<br />

importação e exportação, e temos outros seguimentos pelo mundo todo, aqui em São Paulo<br />

exclusivamente no ramo imobiliário, e no ano passado as ações do grupo, foram as que mais valorizaram<br />

na bolsa de valores, e estamos prestes a fechar um contrato com os árabes, de mais de um bilhão de<br />

dólares, enfim estamos muito bem obrigado!<br />

Ele procurou absorver todas aquelas informações, mas rapidamente voltou a conversa.<br />

– De alguma forma isso não me surpreende, e me soa bem familiar, mas me fala um pouco de você,<br />

disse que somos grandes amigos, e que também moramos juntos, poderia me contar algo a respeito, para<br />

que eu fizesse uma tentativa de me recordar?<br />

– Isso é um pouco complicado, acho que se contar tudo de uma só vez, você vai achar que sou maluco,<br />

eu preciso de um certo tempo, para procurar uma forma de te contar aos poucos, mas posso começar lhe<br />

dizendo que juntos, nós já passamos por muitas coisas boas, mas também por várias situações adversas,<br />

isso eu posso lhe garantir!<br />

– Porque não tenta me dizer, creio que posso assimilar seja o que for!<br />

– Faremos assim, hoje é dia de relaxar e descanso, não vamos falar nem de empresa, nem de negócios,<br />

muito menos de passado, pode ser assim?<br />

Nathan aceitou momentaneamente, e concordou com um balançar de cabeça, mas no fundo ficou um<br />

pouco decepcionado, e com uma incômoda desconfiança, pela falta de informações fornecidas a ele.<br />

4


<strong>Caminhos</strong><br />

O resto da tarde foi bem descontraído, ambos se divertiram na piscina, no barzinho, e na sala de jogos<br />

do clube, e ao entardecer, voltaram para a luxuosa mansão, sendo que cada qual retornou ao seu quarto,<br />

onde Nathan resolveu procurar em gavetas, armários, e até mesmo em seu celular, fotos ou algum tipo de<br />

informação, sobre a namorada Letícia, mas nada encontrou, e aparentemente desanimado, se sentou em<br />

uma poltrona no canto, e ficou por um tempo pensativo, olhando para aquele enorme quarto vazio.<br />

5


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 2 •<br />

Do outro lado da cidade em uma favela, encontramos outros personagens de nossa história, se tratava<br />

de um dos chefes do narcotráfico Raul, e de seus comparsas Otto, Militão e Situação.<br />

Raul tinha de demonstrar firmeza e maldade em suas ações, para se firmar como um líder da sua área,<br />

mas em contrapartida, sua esposa Iris era meiga, gentil, e totalmente contra as ações do marido, na<br />

verdade ela lutava para manter seu filho Gabriel, longe do mundo das drogas e do crime, e fazia questão<br />

de sobreviver com o seu suado dinheiro, arrecadado na venda de salgados, balas e bolos.<br />

Otto era o braço direito de Raul, tinha toda maldade possível em seu coração, além da enorme ganancia<br />

de subir a qualquer preço, e secretamente almejava assumir todo o comando, sem medir consequência<br />

alguma, eles tinham mais dois comparsas, mas eram analfabetos e muito desajeitados, e na maioria das<br />

vezes, acabavam atrapalhando as ações da quadrilha, um deles era Militão.<br />

– Chefe, chefe...<br />

– Eu já não disse a vocês, para não entrarem sem bater na porta?<br />

– Mas a porta tá aberta chefe, pra que bater?<br />

– Esquece, deixa pra lá, o que os dois imprestáveis querem?<br />

O outro sujeito era Situação, e ofegante pela correria, deu o recado a Raul:<br />

– A polícia tá dando batida lá em baixo, mas acho que vão vir pra cá!<br />

– É sim chefe, eu vi e quase mijei nas calças!<br />

Otto tentou disfarçar para não rir, enquanto Raul furioso gritou com os dois:<br />

– Mas que tipo de bandido são vocês seus molengas? Escondam todas as coisas e rápido, eu vou sair<br />

pelos fundos e vou para casa, o Otto foi fazer um servicinho para mim, só deve chegar a noite, depois nós<br />

vamos ter uma conversa séria!<br />

Os dois ficaram parados e sorrindo para Raul, que ficou mais bravo ainda e esbravejou:<br />

– O que estão esperando, ande logo seus quadrúpedes!<br />

Situação demonstrando curiosidade, perguntou ao companheiro de crimes:<br />

– Militão o que é quadrúpede?<br />

– Sei lá, mas deve ser coisas de bandido!<br />

– Deve ser mesmo, eu vou anotar numa caderneta, todas essas palavras que o chefe ensina, para<br />

depois aprender tudinho!<br />

Os dois deram um suspiro juntos, e começaram a guardar tudo dentro de alguns buracos, que haviam na<br />

parede atrás de um armário, enquanto Raul saia sorrateiramente pelos fundos, indo em direção de sua<br />

casa, e tão logo entrou pela porta, já procurou pela esposa.<br />

– Iris cheguei, onde você está?<br />

– Aqui na cozinha!<br />

6


<strong>Caminhos</strong><br />

– Já te disse tantas vezes, que não quero você mexendo com essas coisas de doces, não precisamos<br />

disso!<br />

– Achei que este assunto já estava resolvido, ainda mais depois da conversa que tivemos outro dia, você<br />

sabe muito bem o que eu penso, desses teus negócios ilícitos!<br />

Ela se aproximou carinhosamente de Raul, e o abraçando fez um pedido:<br />

– Querido, vamos embora daqui para bem longe, e assim viver nossas vidas em paz, longe de toda esta<br />

sujeira, eu você e o Gabriel, por favor me escuta!<br />

– Você sabe que eu não posso fazer isso, demorei muito para chegar onde estou, não vou desistir agora<br />

que já cheguei tão longe.<br />

– Eu já não aguento mais esta vida, mas não quero brigar com você o tempo todo!<br />

Dizendo estas palavras ela largou o que estava fazendo, e foi chorando para seu quarto, onde entrou e<br />

trancou a porta, Raul tentou várias vezes em vão, convencê-la a deixa-lo entrar, porém depois de algum<br />

tempo, foi até uma das janelas, e ficou olhando todo o movimento, para ver se tudo já havia se acalmado<br />

nas redondezas.<br />

Em um dos bairros nobres de São Paulo, Marina e seu pai Duarte, que são negociantes e pesquisadores<br />

de objetos de arte, estão analisando uma nova remessa, que acabara de chegar da Europa Central, eram<br />

na maioria quadros e documentos antigos, onde uma grande parte destes objetos, seriam negociados em<br />

leilões, enquanto os outros ficam arquivados, para pesquisas diversas em seu antiquário.<br />

A moça estava curiosa, pois observou que o pai vasculhava tudo, e depois de algum tempo o<br />

questionou:<br />

– Pai, porque não me fala o que tanto procura, pois todas as vezes que chegam remessas novas, o<br />

senhor fica muito ansioso, se me contar eu poderia te ajudar.<br />

– O meu contratante me disse, para ficar atento e ser minucioso, porque este lote fazia parte da coleção,<br />

mas não vejo nenhum vestígio da marca, mas como sempre não posso desanimar, tenho de continuar a<br />

procura, agora que tal jantar com seu velho pai?<br />

– Está bem, mas eu preciso saber mais informações, do que realmente estamos procurando, você fala<br />

muito pouco sobre o assunto, e vive cercado de segredos.<br />

Ele sorriu para ela, e concordou com a sua colocação.<br />

– Você tem toda razão, mas no momento certo lhe conto tudo, primeiro eu preciso encontrar algum tipo<br />

de prova, para que não pense que eu sou maluco.<br />

– Pai, você é maluco!<br />

Ambos sorriram, e Duarte fez um leve sinal com sua cabeça, aceitando a brincadeira da Filha, mas<br />

este mistério não ficará oculto por muito tempo, pois muitos personagens de nossa trama, estão<br />

envolvidos diretamente a ele, e mal sabem que uma peça chave deste quebra-cabeças, se encontra ali<br />

mesmo dentre os arquivos recebidos, bem diante dos olhos dos dois especialistas.<br />

As estrelas começavam a surgir mostrando que a noite chegava, Nathan saiu de fininho do seu quarto, e<br />

procurou por Elvira na cozinha, onde estava preparando o Jantar.<br />

– Elvira, preciso de um favor seu.<br />

7


<strong>Caminhos</strong><br />

– Pois não Sr. Nathan, o que precisa?<br />

– Não me chame de senhor, me faz sentir muito velho, sei lá é uma sensação muito estranha, mas<br />

voltando ao assunto, por acaso sabe me informar precisamente, onde posso encontrar a Letícia?<br />

– Ela não vinha muito aqui, o senhor... quer dizer você, não trazia muitas visitas a casa, a única coisa<br />

que posso dizer sobre ela, é que muitas vezes marcavam de se encontrar na Ong, que o senhor ajudou a<br />

fundar na favela.<br />

Ele se esforçou para puxar esta lembrança, mas nada veio a sua mente, e quis saber mais detalhes.<br />

– Ong que eu fundei, não me lembro de nada, o que sabe a este respeito?<br />

– Me desculpe, por um momento me esqueci de sua memória, não sei detalhes, mas gostava muito de lá<br />

por causa das crianças!<br />

– Como faço para chegar até lá, você tem o endereço, algum número de telefone?<br />

– Eu não saberia lhe falar, mas pensando bem sei alguém que pode, o Moreira!<br />

– Quem é Moreira?<br />

– Seu Motorista, ele mora lá nos fundos da mansão, acredito que deve estar por lá agora.<br />

Nathan sem perca de tempo, pediu para que Elvira, o levasse até o quarto do motorista, porém lhe fez<br />

um pedido, que não comentasse nada com Caio sobre isso.<br />

Elvira bateu na porta e se retirou, deixando Nathan e Moreira conversando, acertando a ida até a favela,<br />

sendo que naquela noite clara e enluarada, havia pouco movimento nas ruas, e após o longo<br />

percurso, eles chegaram até um beco sem saída, onde Moreira apontou para o edifício da<br />

propriedade, onde funcionavam as instalações da Ong.<br />

Já se passava das vinte horas, quando ele entrou em uma sala, onde haviam algumas crianças que ali<br />

se encontravam, arrumando muitos brinquedos e objetos, e quando Gabriel avistou Nathan, foi<br />

ligeiramente ao seu encontro, o abraçando fortemente, e ele meio que sem jeito, permitiu todo o gesto de<br />

carinho, e muito admirado com o afeto recebido, aguardou mais alguns segundos, até que perguntou ao<br />

menino:<br />

– Você me conhece?<br />

– Não se lembra de mim?<br />

– Sinto muito, mas não me lembro.<br />

– Sei do acidente, a Letícia já tinha conversado comigo, as outras crianças não sabem, ela só contou<br />

para mim, porque somos bem amigos.<br />

O empresário se admirou com a resposta, e notou a inteligência de Gabriel, e o clima ficou muito<br />

interessante.<br />

– Muito bom ouvir isso, e por acaso poderia contar algo sobre mim, qualquer coisa que saiba, porque<br />

todos ao meu redor até agora, procuram se esquivar de perguntas, pode me ajudar?<br />

– Não sei muita coisa da sua vida, mas você já me ajudou muito, e também a grande maioria das<br />

crianças da favela, esta é a sala de brinquedos onde nos divertimos, vem comigo que lhe mostro tudo,<br />

quem sabe vendo as outras salas, você se lembra de alguma coisa.<br />

8


9<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Ele mostrou as salas da escolinha, a do descanso, e da merenda, deixando por último a quadra de<br />

esportes, onde pegou uma bola de futebol, e jogou nos pés de Nathan, lhe dizendo que todos os sábados,<br />

ele batia uma bola com eles, e após trocarem alguns passes e chutes, retornaram até a sala de descanso,<br />

onde dois se sentaram para conversar, e ele ouviu atentamente o garoto.<br />

– Todos inclusive eu, somos muito pobres, antes eram só as professoras Dulce e Letícia, e não tínhamos<br />

quase nada, aí um dia você apareceu aqui no bairro, veio num super carrão de luxo, e trouxe muitas<br />

cestas de alimentos, e você mesmo desceu e começou a distribuir, assim foi conhecendo todas<br />

as pessoas daqui, inclusive a tia Letícia, que é agora a sua namorada.<br />

– Continua, fale tudo o que sabe!<br />

– Depois deste dia, você continuou a vir aqui toda semana, e sempre aos sábados, soube de um projeto<br />

antigo dos moradores, em construir uma escolinha para crianças e adolescentes, e imediatamente<br />

começou o projeto da Ong, mas tem a parte ruim da história...<br />

Quando Gabriel se preparava para contar o restante, sua mãe o chamou lá de fora, porque já<br />

havia passado a hora de voltar para casa, e ao se despedir do amigo que retornava, o olhou com ares de<br />

esperança, e de grande felicidade por sua volta.<br />

Dulce que era uma das professoras, e voluntária permanente da entidade, estava no aguardo de Nathan,<br />

que terminava de olhar todo o local, ele estava à procura de algum detalhe, que o fizesse se lembrar<br />

daquele lugar, mas percebendo o olhar de cansaço da moça, lhe pediu desculpas pelo incomodo, e<br />

quando já se preparava para se retirar, resolveu perguntar sobre Letícia:<br />

– O seu nome é Dulce certo, mais uma vez me perdoe por lhe importunar, mas com já deve ter<br />

percebido, não me lembro de nada a seu respeito, mas eu precisava muito saber como e onde, posso<br />

encontrar a Letícia.<br />

– Tudo bem não precisa se desculpar, eu sei tudo sobre o acidente, mas faltou um lugar para o senhor<br />

conhecer!<br />

Ela o levou calmamente até os fundos, onde havia uma pequena sala, que funcionava como escritório da<br />

Ong, e apontando para um armário no canto esquerdo, disse que todos os registros das crianças, dos<br />

voluntários, e dos professores, estavam lá em um fichário, Nathan a agradeceu, viu o que precisava ser<br />

visto, e saiu da propriedade voltando para o carro, enquanto isso Dulce trancou o lugar.<br />

Lá do alto da favela, Otto e seus dois comparsas, observam todos os passos dados nos arredores,<br />

inclusive na entrada daquela extensa área, e não deixaram de perceber a visita de Nathan, porém pela<br />

cara que ambos fizeram, a sua vinda e o retorno ao local, não foi aprovado pelos bandidos, e Situação fez<br />

um comentário para Otto:<br />

– Chefinho olha o cara de novo, ele não tinha batido as botas?<br />

– Achei que estava livre deste aí, mas vou preparar uma lição para ele, não perde por esperar!<br />

Militão que estava ao lado deles, não deixou de participar do assunto.<br />

– Não sabia que o chefinho era professor não, eu até que preciso aprender algumas lições, o senhor me<br />

ensina também?<br />

– Sabe de uma coisa, não vou nem perder meu tempo com vocês dois, pela miséria que ganham vou<br />

deixar quieto, e assim que tiver uma oportunidade, vou falar diretamente com o Raul, para tomar as<br />

devidas providencias!<br />

Como sempre, eles entediam tudo ao contrário, e Situação comentou a última frase de Otto:


<strong>Caminhos</strong><br />

– O que será que ele quis dizer com miséria, será que ele vai dar aumento pra nós?<br />

– Vai saber, o chefinho é todo esquisito e misterioso, vai ver que ele resolveu nos dar valor, e<br />

reconhecer os nossos serviços prestados, deve ser isso!<br />

Já dentro do carro, Nathan passou para o seu motorista, o endereço que havia conseguido com Dulce,<br />

ele estava aparentemente muito ansioso e preocupado, e durante todo o trajeto ficou pensando nas<br />

palavras, no que falaria ao reencontrar Letícia, mas bem lá no fundo, ele sabia que sentia algo muito forte<br />

por ela, mas era um tipo de sentimento, que ainda não conseguia entender, tão somente pela falta<br />

de lembranças, contudo, haveria muito tempo para refletir, pois o trajeto seria lento, porque havia um<br />

grande congestionamento naquela noite.<br />

10


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 3 •<br />

No antiquário do colecionador e pesquisador Duarte, sua filha Marina estava no depósito de<br />

antiguidades, listando alguns documentos e fotos antigas, quando ela derrubou por acidente no chão, uma<br />

das caixas que haviam sido enviadas ao pai, e após olhar a etiqueta, se certificando que não havia o nome<br />

do destinatário, viu que se travava de mais um acervo, dentre os que já haviam chegado, fazendo parte<br />

dos mistérios do pai.<br />

Chegou a coloca-la de volta no seu lugar de origem, pois Duarte era muito metódico, e gostava das<br />

coisas nos seus devidos lugares, mas uma grande curiosidade brotou dentro dela, e não resistindo desceu<br />

novamente a caixa, a limpou, e com todo cuidado tirou o lacre e a abriu.<br />

Começou a olhar minunciosamente todos os documentos, e algumas fotos de quadros e relíquias<br />

antigas, foi quando duas destas fotos trouxeram à tona, aquele singelo olhar de descoberta, que ela<br />

sempre trazia nos olhos, quando se deparava com algo de muita importância, sendo que em uma delas,<br />

trazia a foto de uma espada muito antiga, e a outra foto de um quadro artístico, com a retratação de alguns<br />

cavalheiros, e um tipo de castelo ao fundo.<br />

Após algum tempo os observando, decidiu leva-las até a presença do pai, com a séria intenção de<br />

questiona-lo, sobre todos estes acervos enviados, que haviam de cair praticamente em suas mãos.<br />

– Pai, estava arrumando umas prateleiras do estúdio, e encontrei por acaso esta caixa, com fotos e<br />

documentos muito antigos, e pelo meu criterioso conhecimento, deve pertencer aproximadamente entre o<br />

século 14 e 15.<br />

– Sim filha, como sempre é muito precisa com a idade das antiguidades, este lote veio junto com uma<br />

coleção, que arrematamos há uns dez anos atrás, vieram diretamente do museu nacional do País de<br />

Gales, alguns conseguimos negociar e vender, e outros ficaram arquivados, para quem sabe um dia<br />

destes, haja alguém interessado que os queira comprar.<br />

Ela sabia que ele estava mentindo, mas já estava mais do que acostumada, com alguns negócios que<br />

ele realizava, por diversas vezes bem secretamente, isso para não a envolver mais do que o necessário,<br />

assim ela disfarçou, e continuou com as perguntas.<br />

– Uma das fotos é de uma espada, e a outra de alguns cavalheiros, que parecem pertencer a algum tipo<br />

de ordem.<br />

– Acertou novamente, veja que a fotos foram tiradas de quadros antigos, pintados por algum artista da<br />

época, e estas obras parecem ter sido feitas, após alguma grande batalha, ou algum tipo de ação dos<br />

cavalheiros, veja que alguns estão com as armaduras avariadas, talvez pelo tipo de combate, ou confronto<br />

que tiveram.<br />

Ela balançou a cabeça concordando com a opinião, e colocando os óculos observou mais detalhes.<br />

– Quem as pintou, teve o cuidado de descrever todos os detalhes da cena, veja como os rostos dos três<br />

homens, são quase que perfeitos, eu poderia ficar por um tempo com a caixa, para poder estudar com<br />

mais detalhes, prometo devolver em perfeito estado, cada um ao seu local de origem!<br />

– Exatamente minha filha, mas faça isso com todo o cuidado de sempre, pois são documentos muito<br />

importantes, e não podemos danifica-los de forma alguma!<br />

Ela sorriu, deu um longo abraço no pai, e foi em direção ao pequeno escritório, começando a procura de<br />

informações pela internet, e também nos documentos anexos as fotos, a moça adorava investigar fatos<br />

antigos.<br />

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<strong>Caminhos</strong><br />

Já passava das vinte e duas horas, quando o motorista particular de Nathan, encostou o carro em frente<br />

a um sobrado, localizado no luxuoso bairro do Morumbi, ele havia seguido corretamente, o endereço que<br />

lhe fora passado na Ong, e finalmente parecia que Nathan, teria a conversa tão esperada com Letícia,<br />

Moreira desligou o carro, e olhando pelo retrovisor avisou o patrão:<br />

– Chegamos patrão, o endereço que me passou é aqui!<br />

Era uma linda casa e pelo jeito, a moça também tinha muitas posses, ele agradeceu e desceu do<br />

veículo, pedindo que o aguardasse ali mesmo, caminhou até o portão principal, e se anunciou pelo<br />

interfone.<br />

A própria Letícia é que lhe atendera, hesitou um pouco por causa do espanto, em ver o namorado na<br />

porta de casa, mas desceu ligeiramente as escadas, abrindo o imenso portão da propriedade, o abraçando<br />

com muito carinho, e a moça não conseguiu disfarçar algumas lágrimas, que rolavam copiosamente em<br />

seu rosto, vendo isso retirou um lenço do bolso, e enxugando seus olhos a confortou:<br />

– Não precisa chorar, está tudo bem, eu estou aqui agora, e precisamos muito conversar.<br />

– É que tem sido muito difícil para mim, e eu não esperava uma surpresa destas, você só havia vindo<br />

aqui uma vez, e foi um pouco antes do acidente, você se lembrou é isso?<br />

– Eu até que gostaria, mas na verdade não, eu fui até a Ong na favela, e lá conheci pessoas que me<br />

ajudaram, e uma delas me passou o seu endereço, eu posso entrar?<br />

– Claro que sim, me desculpe, é que fiquei meio atordoada, e sem saber o que dizer!<br />

Ela deu mais um abraço longo e apertado, pensou também e lhe dar um beijo, pois estava morrendo de<br />

saudades, mas preferiu não forçar uma situação, queria que tudo acontecesse naturalmente, e tudo ao<br />

seu devido tempo, contudo disfarçando a sua ansiedade, a professora contou a ele que seus pais,<br />

estavam em uma viagem de férias pela Europa, e que ela se encontrava sozinha naquela noite.<br />

Delicadamente a moça o convidou, para tomar uma bebida na sala de estar, e após alguns minutos de<br />

silêncio, ele resolveu ter a iniciativa da conversa, que aparentemente poderia definir a relação dos dois.<br />

– Eu gostaria muito que me desculpasse, pelo modo que venho lhe tratando, mas a verdade é que eu<br />

não consigo me lembrar, destes nossos sentimentos anteriores ao acidente, porém tenho pensando muito<br />

em você, e quem sabe me contando um pouco sobre nós, do que fazíamos, onde costumávamos ir juntos,<br />

sobre essa Ong que foi fundada, eu acabe recordando sobre o nosso namoro, enfim, me conta tudo o que<br />

sabe, pois o Caio fica querendo me poupar, e acaba por esconder as coisas de mim.<br />

Letícia já se sentia mais segura de si, e com um singelo sorriso na face, foi bem franca com Nathan:<br />

– Você está coberto de razão, vou contar tudo o que eu sei, porém terá de confiar em mim, pois o Caio<br />

já fez algumas tentativas frustradas, de me separar definitivamente de você!<br />

– E que motivos ele teria para isso?<br />

– Na verdade eu ainda não consegui entender, as diversas e estranhas reações dele, quando nós<br />

estamos juntos, mas vamos subir para o meu quarto, tem uma coisa que eu quero te mostrar.<br />

Ele concordou e ambos subiram as escadas, onde ela o levou até perto da janela, e lá apontando para o<br />

céu, mostrou-lhe uma grande constelação, sendo que ele por sua vez, ficou olhado por um determinado<br />

tempo, até que balançou negativamente a sua cabeça, fazendo um pequeno sinal, de que não se<br />

lembrava de nada, e pacientemente ela comentou, que se tratava da constelação de Orion, "O Caçador<br />

Gigante", e a noite parecia que seria bem longa, pois eles tinham muito a conversar.<br />

12


<strong>Caminhos</strong><br />

Ela aproveitou-se de um momento de coragem, e de inspiração nas estrelas e o beijou.<br />

Foi um longo e inspirado beijo, e ao final após afastar as suas faces, ambos não tinham palavra alguma,<br />

para descrever o forte sentimento que sentiram, ele a abraçou com sentimento, olhou fundo nos seus<br />

olhos esverdeados, dando a entender que deviam conversar, assim sendo, eles saíram da sacada, e se<br />

sentaram na beira da cama, e Nathan lhe falou com sinceridade:<br />

– Peço que compreenda, que tudo está muito complicado para mim, tirando este momento que acabou<br />

de acontecer, tudo parece ser um grande pesadelo, sem falar nas milhares de dúvidas que tenho, porém,<br />

a única certeza que carrego agora, é que realmente sinto algo bem profundo por você, senti isso logo<br />

quando te vi no hospital.<br />

Letícia que sempre chorava facilmente, tentou disfarçar algumas lágrimas, que deslizaram suavemente<br />

pelo seu rosto, parecia uma mistura de alívio e felicidade, e ele percebendo a fragilidade do momento, lhe<br />

fez um suave carinho nos cabelos, e voltou a falar:<br />

– Quero que conte tudo o que sabe de mim, principalmente os últimos momentos que tivemos, até<br />

mesmo antes do meu acidente, por favor não me esconda nada!<br />

– Claro, vou contar tudo o que eu sei, mas saiba que você não se abria muito, carregava quase todo o<br />

tempo, um certo ar de mistério, e procurava sempre fugir do assunto, quando se tratava de seu passado.<br />

– Eu saí daquele hospital, determinado a me lembrar de tudo, ou de pelo menos o que eu conseguir<br />

descobrir, agora fala tudo o que sabe, mesmo que sejam coisas ruins.<br />

Ela se levantou e foi até o frigobar, onde pegou uma pequena garrafa de água, e andando de um lado<br />

para outro, começou a falar sem hesitação:<br />

– Nós nos conhecemos na favela, você havia acabado de chegar no local, e estava descarregando<br />

algumas cestas de alimentos, naquele exato instante, eu caminhava até a casa da Dulce, para iniciarmos<br />

as aulas do dia, ao qual ensinávamos as crianças carentes, pois ainda não tínhamos um lugar<br />

apropriado para isso, e você ficou ali parado me olhando, depois deste dia quando voltava, fazia<br />

muitas perguntas sobre mim, e isso acabou chegando ao meu conhecimento, mas também onde não<br />

devia.<br />

– Como assim? Do que é que você está falando?<br />

– Tem um pessoal barra pesada ali na favela, principalmente um tal de Otto, que vive dando em cima de<br />

mim, e me cercando o tempo todo, mas depois que você apareceu por aqui, e praticamente começamos a<br />

namorar, anda pegando um pouco mais leve, ele e seus capangas querem mandar por lá, e não gostaram<br />

nada do nosso projeto, onde tiramos as crianças das ruas, do tráfico de drogas, e incentivamos ao estudo<br />

e ao esporte.<br />

– São fatos muito importantes, e eu entendo que deve ser difícil para você, ter de me contar tantas<br />

coisas e acontecimentos, tudo assim de uma só vez, por isso fale agora somente, o que achar realmente<br />

essencial.<br />

Ela achou prudente continuar a conversa, somente com a parte boa das lembranças, e sorrindo<br />

comentou:<br />

– Depois de ficar me espionando, ficou sabendo de todas as dificuldades e necessidades, que tínhamos<br />

no dia a dia, de amparar e educar as crianças da favela, você me procurou e ofereceu ajuda, confesso<br />

agora que no início, ficamos meio que desconfiadas, mas depois que nós te conhecemos melhor, vimos<br />

que realmente estava determinado a ajudar, e assim uma de suas empresas, financiou as obras e todas<br />

as instalações, da nossa querida Ong “Fábrica de Sonhos”.<br />

13


<strong>Caminhos</strong><br />

– É, eu vi o nome quando fui te procurar, é bem intrigante!<br />

– Foi você quem o escolheu, disse na época para as crianças, que devemos sonhar e lutar por nossos<br />

ideais, e uma vez por semana você vinha, conversava com todos eles, e ainda jogava um futebolzinho<br />

com os meninos!<br />

O Empresário abriu um largo sorriso, tentando imaginar todas estas cenas, que momentaneamente,<br />

fugiam a sua enfraquecida memória, e comentou com ela esta sua impressão:<br />

– Nossa, é muito bom saber que fiz algo importante assim, as vezes tenho pesadelos terríveis, e acabo<br />

acordando no meio da noite, sempre fico com uma sensação de muito cansaço, e também sinto uma<br />

profunda tristeza, por não poder me lembrar de nada!<br />

– Esquece isso, o que importa agora de verdade, é que você está aqui do meu lado, tira esta fixação de<br />

ter de se lembrar de tudo, vai mais devagar e com mais calma, tenho certeza que no seu devido tempo,<br />

tudo vai se encaixando e sendo esclarecido.<br />

– Obrigado por me ajudar, e também pela paciência comigo, eu fico olhando para você, e procuro tentar<br />

entender, este sentimento de paz, de conforto, que estou sentindo neste momento.<br />

– O que eu quero de verdade, é que você se lembre da paixão, que sempre dizia sentir por mim!<br />

Depois alguns segundos de silencio, e de algumas trocas de olhares, eles se beijaram novamente...<br />

Houve até um clima a mais, mas ele achou melhor se levantar, se despedir como um cavalheiro,<br />

marcando um novo encontro para o dia seguinte, onde queria ficar a par de tudo sobre a Ong.<br />

Na mansão Caio já o havia procurado, por toda a grande extensão da propriedade, até que acabou se<br />

esbarrando em Elvira, onde a indagou sobre o paradeiro de Nathan, ficando muito furioso ao saber, que<br />

ele havia ido sozinho à favela, sabia o quanto o bando de Raul, e principalmente Otto, estavam<br />

incansavelmente na cola dele.<br />

Já era bem tarde da noite, quando Nathan entrando pelos fundos da mansão, agradeceu e se despediu<br />

do motorista, Caio ainda estava acordado, e ficou seriamente olhando pela janela de vidro, ele até pensou<br />

em descer e falar com ele, mas achou melhor se recolher, e não causar nenhum tipo de<br />

conflito, deixando a conversa para o outro dia.<br />

14


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 4 •<br />

Amanheceu um dia chuvoso em São Paulo, nuvens negras e carregadas, escureciam os céus da grande<br />

metrópole, dando a sensação que a noite havia se prolongado, Caio já estava na mesa do café, quando<br />

Nathan desceu e o cumprimentou.<br />

– Bom dia!<br />

– Bom dia amigão, como está se sentindo hoje?<br />

– Estou bem, dormi um pouco melhor esta noite, obrigado por perguntar!<br />

Caio deu uma disfarçada, e em seguida tentou interroga-lo:<br />

– Vi que chegou tarde ontem, e sei também que foi até a favela atrás da Letícia.<br />

– Sim eu fui, desde que eu cheguei do hospital, não tinha tido oportunidade de conversar com ela, por<br />

isso achei melhor procura-la.<br />

– Você precisa saber de uma coisa, não é bem-vindo naquele lugar, tem um cara chamado Otto, que<br />

não se conforma de maneira alguma, o que você tem feito pela comunidade, e principalmente, é seu rival<br />

direto pelo amor de Letícia.<br />

– É eu já estou sabendo, ela me contou tudo ontem a noite, e vou tomar as devidas precauções, aliás<br />

porque você não me falou da Ong, e nem sobre este pessoal da favela?<br />

Caio se levantou da mesa, e deu a volta até ficar de frente com o amigo.<br />

– O doutor Estevam, que é o médico que esta te tratando, me recomendou, ou melhor, praticamente<br />

exigiu que deixasse, você ir se ajustando as situações aos poucos, isso para não prejudicar a sua<br />

recuperação, e para não sofrer nenhum tipo de colapso, que viesse a lhe causar mais danos, e piorar de<br />

vez o seu caso.<br />

– Se é assim, eu agradeço o seu cuidado e preocupação, mas eu penso que preciso descobrir<br />

rapidamente, quem realmente eu sou, porque sinto dentro de mim algo desconfortável, as vezes me passa<br />

pela cabeça, até que eu possa vir a ser, uma pessoa muito ruim e complicada!<br />

– Nada disso, você é uma ótima pessoa, e todos gostam muito de você, agora toma o seu café<br />

rapidinho, que em seguida vamos dar uma saída, você tem uma consulta marcada para hoje com o doutor,<br />

ele quer fazer a primeira avaliação pós alta, e dar continuidade ao seu tratamento, que agora<br />

será através de algumas terapias.<br />

Nathan tomou o seu suco matinal, se levantou ligeiramente, a ponto de deixar o amigo Caio, admirado<br />

com toda aquela pressa, assim chamaram o motorista Moreira, e partiram para o consultório.<br />

Por volta das dez horas, a colecionadora Marina, estava consultando em um site financeiro, a cotação<br />

diária do dólar paralelo, isso era uma rotina de praxe de importadores, ela precisava desta informação,<br />

para poder passar um orçamento, de uma obra de arte pedida por um cliente, mas ao rolar a página na<br />

tela da web, acabou visualizando uma das notícias, numa postagem de uma coluna social.<br />

"Empresário e presidente do Grupo Etros, se recupera de grave acidente, e volta para casa após alguns<br />

meses de tratamento".<br />

Ela ficou observando a foto por algum tempo, na tentativa de se lembrar, de onde conhecia aquele rosto,<br />

que aparentemente lhe parecia muito familiar, mas como o seu tempo estava curto, e precisava terminar o<br />

orçamento da peça, veria isso mais tarde e com mais calma.<br />

15


16<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Caio e Nathan acabavam de chegar ao consultório, e pouco aguardaram até o seu atendimento, mas<br />

quando ambos iam entrando na sala, o médico acabou barrando Caio.<br />

– Eu sinto muito, mas hoje é o início da terapia, e eu preciso ficar a sós com o paciente, depois se ele<br />

concordar com a divulgação, será repassado os procedimentos a você, peço-lhe que aguarde na sala<br />

reservada, vou pedir para a Kelly lhe servir um café.<br />

Médico e paciente entraram no consultório, Caio fez caras e bocas de descontentamento, mas não<br />

interferiu, concordando parcialmente com a exigência, e lá dentro se dava início ao tratamento, mas antes<br />

Nathan quis saber mais detalhes.<br />

– Doutor, acha que vou recuperar minha memória?<br />

– Eu não vou mentir para você, há uma grande chance de sua recuperação, mas tem uma coisa muito<br />

importante, ao qual eu pedi para que ninguém lhe contasse, porque isso teria de ser feito delicadamente, e<br />

com um certo grau de preparação, e é por isso que está aqui hoje.<br />

– Nossa, agora eu fiquei preocupado, do que se trata afinal?<br />

Estevam com toda a sua experiência, procurou acalmar a ansiedade do paciente.<br />

– Deite-se ali que vou iniciar os procedimentos, e dependendo da sua evolução hoje, eu determinarei o<br />

número aproximado de sessões, mas não precisar ficar tão preocupado, no final desta sessão, eu lhe<br />

contarei tudo o que precisa saber.<br />

Ele se deitou conforme lhe fora indicado, mas o seu semblante era muito tenso, enquanto isso o médico<br />

havia colocado, um fundo musical de relaxamento, e se posicionou sentado ao seu lado, lhe passando<br />

todos os passos.<br />

– Feche os seus olhos, solte a respiração completamente, e relaxe bem o seu corpo, e imagine-se em<br />

um lugar, onde realmente queira estar neste momento, deixe que os seus pensamentos o levem a este<br />

lugar, sinta-se bem à vontade, e sem pressa alguma!<br />

Nathan deixou mesmo se levar em seu pensamento, a um lugar muito calmo e tranquilo,<br />

momentaneamente em seus pensamentos, ele se encontrava a margem de um pequeno rio, que era<br />

rodeado de muitas arvores floridas, e de uma mata muito densa, ele sentia vontade de atravessar e ir a<br />

outra margem, mas faltava-lhe a coragem para este feito, sendo assim se sentou, tirou as botas que<br />

acreditava calçar, e colocou os pês naquela água fria, que corria vagarosamente para o sul, e ali ficou<br />

parado observando cada detalhe, de toda aquela cena totalmente intrigante.<br />

Depois de algum tempo, o médico tratou de traze-lo de volta.<br />

– Nathan acorde, está me ouvindo?<br />

– Sim eu estou, mas parecia que eu estava longe, quanto tempo se passou?<br />

– Na verdade se passou meia hora, que é o tempo limite permitido, para este tipo de tratamento e<br />

terapia.<br />

– Incrível, não parece que foi todo este tempo, mas achei muito bom e interessante, até parece que eu<br />

consegui descansar um pouco, uma coisa que não acontecia há um bom tempo.<br />

O Médico demonstrou satisfação com o resultado, e o convidou a se sentar em sua mesa, e como havia<br />

prometido no início da sessão, começou a lhe contar algumas coisas.<br />

– O que você sabe sobre o seu acidente, o que realmente se lembra?


– Muito pouco, apenas barulhos, o carro girando, algumas imagens rápidas, acho que somente isso<br />

mesmo.<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Por padrão toda pessoa que perde a memória, sofre algum tipo de lesão no cérebro, porém o que você<br />

precisa ter conhecimento, é que você sofreu alguns ferimentos em seu corpo, mas nada referente a sua<br />

cabeça, todos os exames que fizemos no hospital, deram resultados negativos, fisicamente está tudo<br />

correto e perfeito, nos restando somente trabalharmos, com a hipótese de você ter sofrido, algum tipo de<br />

trauma psicológico, que neste caso é totalmente compreensível, isso acontece muito!<br />

O empresário esboçou um leve sorriso, e falou ao médico o que pensava:<br />

– Eu não sei porque esconderam isso de mim, porque ao meu ver é uma boa notícia, pior se fosse<br />

algum tipo de fato irreversível.<br />

– Muito boa a sua reação, assim fica muito mais fácil, trabalharmos em pró de seu tratamento, agora vá<br />

para casa e repouse, até a próxima semana!<br />

Assim foi finalizada a primeira sessão, Nathan pouco comentou com Caio, sobre o que ocorreu durante<br />

toda a consulta, e durante o retorno para a mansão, procurou permanecer em silêncio dentro do carro,<br />

relembrando alguns momentos do tratamento, e tentando compreender as cenas que visualizou, e<br />

sobretudo, do que lhe foi lhe falado no consultório.<br />

A noite já no seu enorme quarto, Nathan resolveu fazer um reconhecimento, olhou peças de roupas,<br />

documentos, e algumas gavetas, até que acabou encontrando uma pequena chave, e se lembrou de algo,<br />

que havia um cofre em seu quarto.<br />

Procurou em toda parte, até que foi em direção de um quadro, que ficava no corredor de seu lavabo, o<br />

retirou com cuidado, e confirmou que havia mesmo um cofre, e este continha um painel digital,<br />

provavelmente estava travado com um segredo, mas agora a questão já era outra, como abri-lo, pois não<br />

se lembrava dos números.<br />

Ficou bem ali parado e pensativo, por vários minutos se esforçou em vão, na tentativa de descobrir a<br />

informação que precisava, até que resolveu chamar pelo amigo, que ainda estava acordado em seu<br />

quarto, Nathan contou a ele sobre a sua lembrança, e percebendo de imediato, que ele já sabia<br />

da existência do mesmo, o convidou para ir ao seu quarto e ajuda-lo, mas Caio foi bem objetivo<br />

e comentou:<br />

– Cada um tem seu próprio cofre, e dentro dele seus segredos guardados a sete chaves,<br />

logo você pode presumir que a senha é muito pessoal, eu sinto muito mesmo, mas nisso realmente não<br />

poderei lhe ajudar!<br />

– Jura que não é mais uma daquelas histórias, de me proteger e de me poupar, das coisas do meu<br />

passado?<br />

– Eu juro a você que é pessoal mesmo, mas prometo que assim que eu perceber, que está se firmando<br />

e melhorando, vou poder lhe ajudar muito mais, inclusive contar coisas muito importantes, ao qual não<br />

seriam apropriadas neste momento, em que você ainda se encontrava muito fragilizado.<br />

– Tudo bem, o médico disse mesmo para ir devagar, e assim não piorar a minha situação, e nem a<br />

saúde, por enquanto eu agradeço a sua ajuda, boa noite!<br />

– Boa noite, se precisar de algo é só chamar.<br />

Caio lhe deu um forte abraço, e fechou a porta do quarto, já Nathan ficou novamente pensativo, e parece<br />

não ter acreditado muito nele, havia sempre algo de muito duvidoso, nas atitudes e conversas de Caio.<br />

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18<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Uma semana se passou, e Nathan havia seguido as orientações médicas, para ficar em total repouso,<br />

ele passou todo este tempo sem sair da mansão, entre ler os livros antigos na biblioteca, e longas ligações<br />

de celular para Letícia, ela havia viajado recentemente para a França, onde almejava se encontrar com<br />

seus pais, e finalmente havia chegado o dia do empresário, conhecer uma de suas empresas.<br />

Quando ele desceu para tomar o café, Caio já estava o aguardando, e após um desjejum fabuloso,<br />

ambos partiram rumo a Avenida Paulista, onde se estabelecia a sede do Grupo Etros, que aliás, diga-se<br />

de passagem, possuíam várias empresas pelo mundo todo.<br />

Quando o amigo lhe mostrou o prédio, aparentemente ele não ficou impressionado, porém admirado<br />

com a modernidade do local, e após passarem pela entrada, notou que todos os olhares estavam voltados<br />

para ele, onde alguns apenas sorriam, enquanto outros o cumprimentavam com muito respeito, e foi assim<br />

até chegarem a uma sala de reuniões, onde acionistas, diretores, e funcionários executivos já os<br />

aguardavam.<br />

Respeitando a hierarquia, cada um foi recepcionando o patrão, o primeiro foi Vasques, o atual presidente<br />

da aglomeração.<br />

– Estávamos ansiosos pelo seu retorno!<br />

Depois com muita humildade, o diretor financeiro Murilo.<br />

– Chefe seja bem-vindo, muito bom vê-lo bem e de volta!<br />

Em seguida puxando a cadeira principal, a secretaria executiva Bianca.<br />

– Seja bem-vindo, por favor, sente-se no seu lugar de direito.<br />

Murilo além de ser uma ótima pessoa, era extremamente eficiente, já Vasques se fazia de bonzinho, e<br />

era cheio de malicia, além de tratar todos abaixo dele, com muita rispidez e arrogância, já Bianca além de<br />

muito simpática, inteligente, era querida por todos na empresa.<br />

Caio aguardou Nathan se acomodar na mesa, sentou-se ao seu lado, e com delicadeza pediu a palavra,<br />

passando a ser observados por todos os presentes na sala.<br />

– Bom, como eu já havia informado a todos vocês ontem, o Nathan como podem ver, está muito bem de<br />

saúde, e atualizado sobre todas as operações da empresa.<br />

Vasques mais do que depressa, intrigado com o retorno do empresário, tratou logo de interromper.<br />

– Imagino que sua vinda a empresa hoje, deva ser para retomar a posse da presidência, devemos<br />

preparar esta pauta?<br />

Nathan olhou para todos, se sentia um peixe fora d'água, por alguns segundos forçou a sua mente, mas<br />

de nada se recordou, mas no fundo sabia que tinha de ser forte, e também não poderia mentir para eles.<br />

– Não necessariamente, eu preciso de mais algum tempo, para poder me recuperar totalmente, e<br />

voltarei quando eu me sentir preparado!<br />

Ele havia sido orientado por Caio, a não informar sobre a sua perda de memória, ninguém na empresa<br />

sabia sobre o problema, isso poderia afetar todos os negócios, e seu prestigio no mercado financeiro.<br />

Murilo deu um sorriso amarelo, dando para ver claramente em seu semblante, que havia ficado<br />

decepcionado com a resposta, pois aguardava o retorno imediato do chefe, houve também decepção por<br />

parte de Bianca, porém Vasques ficou muito satisfeito com a notícia, porque ele seria mantido no cargo,<br />

um fato consumado logo após o acidente, e pretendia ficar assim por mais tempo.


<strong>Caminhos</strong><br />

A conversa prosseguiu, e Caio fez questão de mostrar a todos os presentes, o crescimento trimestral de<br />

todos os negócios, ressaltando principalmente os lucros do grupo, que tinha vários seguimentos<br />

empresariais, tendo o ramo imobiliário como o principal.<br />

Ao término da reunião, todos se cumprimentaram e se despediram, e os dois amigos voltaram para a<br />

mansão, Vasques com ar de alta superioridade, foi direto para a sala da presidência, enquanto Murilo que<br />

guardava alguns documentos, aproveitando-se que quase todos haviam saído, resolveu puxar conversa<br />

com Bianca.<br />

– Ótimo o Nathan estar quase recuperado, isso provavelmente representa, que as coisas vão voltar a ser<br />

como era antes do acidente.<br />

– Nem me fale, estou farta dessa arrogância do Vasques, e conto os dias para tudo isso se resolver!<br />

O rapaz aproveitou o embalo da conversa, e se aproximou mais da secretária.<br />

– Então, mudando de assunto, se não tiver nenhum compromisso, gostaria de jantar comigo esta noite?<br />

– Não posso, na verdade eu já havia marcado algo com uma pessoa.<br />

– Porque me evita tanto, eu sempre lhe tratei com carinho, nos damos muito bem no trabalho, e você<br />

sabe que gosto muito de você!<br />

– Sei disso, e saiba que não tenho nada contra você, te acho até um cara muito bacana, mas tem algo<br />

que não sabe sobre mim, eu acabei adiando isso por muito tempo, mas acho que está na hora de você<br />

saber.<br />

– Do que se trata afinal?<br />

Ela hesitou por um certo tempo, mas depois se abriu com ele:<br />

– Eu tenho as minhas preferências, e eu gosto mesmo é de garotas, sei que não era isso que queria<br />

ouvir, mas eu precisava te falar a verdade!<br />

Isso caiu feito bomba, momentaneamente ele ficou sem palavras, e nem sequer conseguiu reagir a<br />

notícia, Bianca lhe fez um carinho no rosto, e retornou para a sua mesa na diretoria, enquanto Murilo ficou<br />

totalmente desolado, e foi o último a deixar a sala de reuniões.<br />

19


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 5 •<br />

Após este fato isolado da revelação, o dia correu normalmente na empresa, até o final de seu<br />

expediente, sendo que por volta das seis horas já escurecia, e Murilo saiu de sua sala na Avenida<br />

Paulista, e foi até um bar nos arredores da Vila Madalena, onde havia um barzinho frequentado<br />

exclusivamente por executivos, e pessoas do seguimento imobiliário, no local o seu grande amigo Diego,<br />

já o aguardava por ali como de costume, onde se reuniam uma vez por semana para fugir da rotina.<br />

Depois de cumprimenta-lo em sua chegada, Diego percebendo imediatamente, que o amigo parecia<br />

estar muito aborrecido, já foi pedindo uma rodada de cerveja, e alguns petiscos para acompanhar, porém<br />

ele aguardou por um determinado tempo, e somente depois iniciou o bate papo.<br />

– Pelo jeito o dia hoje foi puxado né companheiro?<br />

– Nem me fale, estou totalmente arrasado!<br />

– Dia ruim na empresa, a ações cairão na bolsa?<br />

– Nada disso, até que por este lado foi tudo ótimo, o dono da empresa que parece estar recuperado,<br />

participou da reunião e se mostrou pronto para retomar, eu torço muito para que ele volte a presidência.<br />

– Então o que é que tá pegando, não me diga que esta assim deste jeito, novamente por causa daquela<br />

secretaria?<br />

Murilo olhou para o amigo, e com um olhar de intensa desolação, tomou um gole daquela cerveja<br />

gelada, e completou:<br />

– Pior que é por causa dela mesmo.<br />

– Cara você é mesmo gamado nessa garota, realmente eu não entendo, como aguenta tomar tantos<br />

foras! (Risos)<br />

– Você fica aí rindo e tirando sarro, mas a coisa toda é muito séria, eu a amo muito, e até que tento<br />

evitar este sentimento, mas é muito difícil e complicado, mas agora perante as circunstancias que<br />

surgiram, eu preciso esquecer de tudo e partir para outra.<br />

– Pera aí, o que foi que aconteceu para te chatear tanto, a ponto ter de mudar radicalmente?<br />

Ele pensou em uma maneira de não se expor, e muito menos a garota Bianca, porque acima de tudo e<br />

qualquer coisa, eram amigos e companheiros de trabalho, por inúmeras vezes eles se confidenciavam,<br />

sobre coisas pessoais e de assuntos da empresa, sempre baseados na confiança que tinham, e ele<br />

tentaria ao máximo não revelar isso ao amigo, assim sendo, deu um outro rumo a informação.<br />

– Ela me disse que tem outra pessoa.<br />

– Poxa, eu sinto muito mesmo, mas tenho certeza de que vai encontrar alguém, que realmente mereça<br />

você, pois é um cara bacana, um cara super legal e muito responsável, e te falo outra coisa, um dia<br />

desses ela vai perceber que perdeu um partidão!<br />

– Acho pouco provável isso acontecer, mas vamos deixar de conversa e vamos beber!<br />

– Com certeza, vamos fazer um brinde a amizade, que é o mais importante de tudo!<br />

Murilo concordou, e juntos bateram o copo selando este brinde, em seguida ficaram trocando algumas<br />

ideias, e por volta das vinte horas, encerraram a bebedeira retornado para suas casas, afinal o dia<br />

seguinte era dia de trabalho.<br />

20


<strong>Caminhos</strong><br />

Chegando em seu apartamento, Murilo foi direto para o chuveiro, tomou um banho bem gelado, na<br />

tentativa de se recuperar dos efeitos do álcool, após isso ele colocou uma bermuda, e procurou algo para<br />

comer na cozinha, retirando um congelado do freezer, e colocando-o no micro-ondas.<br />

Enquanto esperava a comida ficar pronta, abriu uma lata de refrigerante, e ficou olhando a foto de<br />

Bianca, que havia sido tirado em uma festa de natal, que fora realizado no passado pela empresa, este<br />

porta retrato ficava em cima de uma mesinha, entre o estreito corredor e a cozinha, após isso comeu um<br />

pouco, e em seguida foi se deitar.<br />

Diego como de costume, havia bebido muito no bar, mas mesmo assim, depois de tomar um banho e<br />

trocar de roupa, ainda achou espaço para a saideira, tomando mais uma bebida até também se recolher.<br />

Em outro ponto da grande cidade, em seu apartamento, Bianca havia se sentado em uma poltrona, que<br />

ficava bem perto da janela, ela se encontrava chateada e muito pensativa, a respeito da conversa que<br />

havia tido com Murilo, se sentia mal por causa da amizade, e cumplicidade dos dois, mas não podia<br />

arrastar esta situação por mais tempo, e permitindo que ele ficasse se iludindo por ela.<br />

Passaram-se alguns minutos e o telefone tocou, rapidamente reconheceu o número pelo bina, era Talita<br />

a outra ponta do triangulo amoroso, ela estava retornando as ligações, que Bianca já havia feito<br />

inúmeras vezes, e que não havia obtido sucesso, mas agora ela hesitava em atender, aguardou um<br />

pouco, mas por fim pegou o aparelho.<br />

– Oi, que bom que você retornou, estava precisando ouvir sua voz.<br />

– Eu estava no banho, e quando sai, vi que tinha várias chamas suas perdidas, fiquei muito preocupada,<br />

aconteceu algo?<br />

– Aconteceu muita coisa, mas eu não quero falar disso por telefone, podemos nos ver amanhã?<br />

– Com certeza, aposto que tem algo a haver com aquele idiota, que trabalha contigo na empresa.<br />

– Não fale assim que eu não gosto, ele não é idiota, eu o respeito muito, e é um grande amigo!<br />

Houve um início de clima ruim, Talita começou a roer as unhas, e depois de um breve silêncio, voltou ao<br />

ponto do conflito.<br />

– Sabia que tinha o dedo dele, mas tudo bem, vou respeitar o seu pedido, mas amanhã eu quero saber<br />

de tudo, não quero que me esconda nada!<br />

– Claro, não vou te esconder nada, nos encontramos no lugar de sempre, e lhe explico tudo<br />

pessoalmente, está bom as nove da noite?<br />

– Pode ser, mas você vai ficar bem até lá?<br />

– Fica tranquila, vou ficar bem sim, eu já estou indo me deitar.<br />

– Faça isso e descanse, até amanhã, beijo!<br />

– Um para você também, Tchau!<br />

Ela desligou o telefone, pegou um pouco de café na cozinha, e foi até a janela observar a chuva que<br />

caía, onde ficou parada olhado o horizonte, mas ela estranhava muito o sentimento, que parecia ruminar<br />

tudo por dentro, pois em vez de se sentir mais aliviada, por ter dito toda a verdade a Murilo, a moça sentia<br />

uma imensa tristeza, que vinha lá do fundo do seu coração.<br />

21


22<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

A madrugada estava chegando, e um longo dia terminava, mais uma página na vida de cada pessoa,<br />

havia sido escrita e autenticada, com suas escolhas, suas decisões, traçando os seus caminhos.<br />

Amanheceu e os paulistanos iniciavam mais um dia, entre filas, correria, e transito muito pesado, havia o<br />

orgulho no ar de que São Paulo, é o berço dos maiores negócios da América Latina, e já bem cedo<br />

o diretor Vasques, já havia chegado na empresa Etros, e com toda precaução, falava com alguém no<br />

telefone, aparentemente muito importante para ele.<br />

– Não tenho boas notícias para lhe dar, ele veio aqui ontem e parece recuperado, eu receio que deva<br />

retornar em breve, voltando a ocupar o cargo da presidência.<br />

Do outro lado alguém desconhecido, se contorceu com a notícia, e com tom extremamente sério,<br />

respondeu esbravejando:<br />

– Eu já previa por isso, afinal toda a operação foi um total fracasso, agora eu lhe pergunto, o que<br />

pretende fazer para resolver esta questão?<br />

– Já estou pensando em um novo plano, mas preciso de mais tempo para planeja-lo, primeiramente eu<br />

preciso saber, do que ele realmente se lembra, ou se desconfia de algo sobre o acontecido, obtendo estas<br />

respostas poderei me preparar, e executar uma ação infalível!<br />

– Está bem, mas temos que agir rapidamente, e não aceitarei mais falhas de sua parte, resolva isso<br />

logo!<br />

Ele colocou o telefone no gancho, abriu uma gaveta que era trancado a chaves, e retirou uma agenda<br />

preta, onde fez algumas anotações rápidas, após isso a trancou novamente, e voltou para a sua rotina,<br />

agindo como se nada tivesse acontecido, mas não restava dúvidas, que por detrás alguém lhe dava<br />

ordens.<br />

Na favela o dia começou movimentado, com a viagem de Letícia para a França, as tarefas da Ong<br />

ficaram divididas, para Dulce que era a coordenadora, e para Amanda que também era professora.<br />

As crianças chegaram pontualmente, e foram diretamente para o refeitório, onde eram servidos o café<br />

da manhã, antes de iniciarem as atividades do dia, Gabriel que nunca perdia a aula, procurou saber<br />

notícias de Nathan e Letícia, e depois se juntou com as outras crianças, que já entravam na sala de<br />

estudos.<br />

Como de costume, havia também nesta imensa favela, outro tipo de movimentação, que era operado<br />

pelo bando de Raul, onde Otto e seus dois comparsas, visitavam os pontos de jogos e entorpecentes,<br />

recolhendo o dinheiro arrecadado do dia anterior, e apesar de Militão e Situação, parecerem totalmente<br />

lesados, eles até que eram bem responsáveis e obedientes, sempre seguindo à risca as ordens do chefe.<br />

Otto por sua vez, ficava de longe observando tudo, se assegurando que nem a polícia, e nem<br />

integrantes de outros bandos, estavam nas redondezas para atrapalhar os negócios, e como sempre ele<br />

pegava escondido, uma boa parte dos rendimentos, que ia para o seu próprio bolso, levando apenas o que<br />

restasse para Raul, que até então não desconfiava de nada, e assim todas as pessoas, tudo na<br />

comunidade, seguia a sua rotina de sempre.<br />

Nathan conversava por telefone, todos os dias com a namorada Letícia, apesar de não poder se lembrar<br />

de detalhes, deste relacionamento anterior ao seu acidente, a paixão o invadia com todas as forças, e<br />

mesmo carregando consigo muitas dúvidas, tomou repentinamente a decisão de ir até a França, e também<br />

resolveu não comunicar a ninguém, nem mesmo a ela.<br />

Caio já havia mencionado, que a empresa mantinha dois jatinhos próprios, que estavam sempre<br />

preparados no aeroporto, e antes que o amigo se levantasse, arrumou rapidamente uma pequena<br />

bagagem, e pediu que Moreira o levasse ao aeroporto.


<strong>Caminhos</strong><br />

Assim que chegou no hangar, já procurou por todas as informações, acertando todos os detalhes da<br />

viagem, com o comandante da aeronave, e também com os comissários de bordo, que por sinal já o<br />

conheciam muito bem, de viagens anteriores do rico empresário, e resolvendo todos os procedimentos<br />

legais da viagem, por volta do meio dia, eles receberam permissão para a decolagem, e partiram rumo a<br />

Paris.<br />

Devido ao longo percurso entre Brasil e França, a aeronave teve que fazer escalas, isso para o<br />

reabastecimento, e o descanso devido a tripulação, e ao final de quase dezenove horas, entre voo e<br />

paradas obrigatórias, ele chegava na cidade luz, a bela e estonteante Paris.<br />

Nathan queria fazer surpresa, por esse motivo só avisou Letícia de sua chegada, após colocar os pés<br />

em solo Francês, ela havia viajado dias antes, para poder se encontrar com a família, que ali mantinha<br />

uma casa de férias, e nem é preciso comentar, que a moça ficou muito feliz e emocionado, com esta<br />

surpresa do namorado, e tratou logo de se arrumar, combinando um local para se encontrarem, que se<br />

tratava de um belo jardim, nas proximidades da torre Eiffel, um lugar conhecido e muito romântico.<br />

Já havia amanhecido, e assim que sua bagagem foi liberada, pela rigorosa alfandega do aeroporto,<br />

ele pegou um táxi e se surpreendeu, quando o motorista lhe perguntou em francês:<br />

– Bon monsieur de la journée, vous voulez aller? (Bom dia senhor, para onde deseja ir?)<br />

O empresário respondeu normalmente, informando o trajeto desejado, isso era uma ótima notícia, será<br />

que alguma parte de sua memória havia voltado?<br />

Depois de algum tempo, ele havia chegado no local combinado, e de dentro do carro, já avistou a<br />

espetacular e majestosa torre, que irradiava os primeiros raios solares do dia, ele pagou o taxista,<br />

agradeceu cordialmente, e foi caminhando na direção de Letícia, que já o aguardava ansiosa.<br />

Ela correu para os seus braços, e o beijou apaixonadamente, debaixo de uma pequena neve, que caia<br />

naquele exato momento, e após o longo beijo, ela pegou em sua mão, e sorrindo o convidou para<br />

caminhar.<br />

– Nem acredito que você está aqui, fez tudo isso sozinho?<br />

– Por incrível que pareça sim, eu precisava muito te ver, estava sentindo dentro de mim, uma enorme<br />

vontade enorme de ficar contigo, quando eu vi, já estava dentro do táxi e até falando em francês! (Risos)<br />

– Sério, se lembrou daqui e dos lugares, sua memória voltou?<br />

– Infelizmente ainda não, me parece que algumas coisas, acontecem meio que no automático, o médico<br />

disse que seria assim mesmo, e que aos poucos, e bem naturalmente, irei me recuperar.<br />

– Que bom, você deve estar com fome, eu estou faminta! Mas antes de irmos tomar um café, quero te<br />

levar a um lugar!<br />

Letícia o levou até uma parte do jardim, que ficava bem em frente a torre, e com olhares e gestos<br />

apaixonados, permaneceram ali conversando e namorando, por um longo tempo até a neve se cessar, foi<br />

quando resolveram ir para uma cafeteria, uma das mais tradicionais das redondezas.<br />

23


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 6 •<br />

Sentados em uma mesa na calçada, Juntos Nathan e Letícia tomaram o café, e conversaram por um<br />

longo tempo, riram bastante, e rolaram muitos beijos românticos, ele nem percebeu o quanto ficava à<br />

vontade, quando estava junto a ela, podia até não se lembrar, mas era algo que acontecia naturalmente, e<br />

com muita maturidade.<br />

Ao terminar o desjejum, foram até a torre e subiram até o topo, e lá ficaram contemplando toda a linda<br />

Paris, sendo que por volta das treze horas local, a neve voltou a cair na cidade, e desta vez com mais<br />

intensidade, eram um espetáculo maravilhoso da natureza, e aos poucos a paisagem ao longe foi<br />

desaparecendo, na cortina fina e branca gerada pelo gelo, foi aí que decidiram descer e ir almoçar, e com<br />

um sorriso largo no rosto, Letícia olhou em seus olhos, e afirmou:<br />

– Estou tão feliz, está tudo perfeito, você junto comigo, toda essa paisagem europeia, nem em sonho eu<br />

poderia imaginar, que fosse assim maravilhoso, eu te amo!<br />

– Para mim também está tudo perfeito, estou muito feliz de verdade, e rola um sentimento muito forte por<br />

você, mas peço que não fique chateada, porque não vou dizer palavras apenas por falar, não posso ainda<br />

lhe dizer que te amo!<br />

– Eu entendo, e para falar a verdade, você nunca me disse mesmo, sempre que chega nesta parte você<br />

emperra, isso é bem típico de homem. (Risos)<br />

Ele também achou graça, e em vez de gerar um clima desagradável entre os dois, aconteceu bem ao<br />

contrário, saíram caminhando abraçados pela calçada, que estava toda coberta pela neve, e alguns<br />

minutos depois, chegaram ao restaurante Maison Blanche, famoso por seu menu gourmet, sem falar das<br />

mesas em seu terraço, onde era possível degustar com sofisticação, tendo a visão privilegiada, para a<br />

maravilhosa torre Eiffel.<br />

Do outro lado do mundo, em território brasileiro, Duarte e Marina estavam avaliando uma obra de arte, a<br />

pedido de um cliente importante, e ao seu término, foram diretos para o escritório, para formular e certificar<br />

a peça em questão, foi quando ela esbarrou em uma caixa de fotos antigas, ao qual havia deixado por ali,<br />

para a conclusão daquela outra pesquisa, relacionada as fotos da espada e dos cavalheiros, sendo que<br />

esta última, caiu virada para cima.<br />

Ela se abaixou para pega-la, e ao se levantar, olhando fixamente para os rostos pintados, que faziam<br />

parte daquela cena antiga, tratou de soltar o seu sorriso perspicaz, que deu a entender ao pai, que havia<br />

descoberto algo importante.<br />

– Sabia que este semblante não me era estranho, e que se parecia com alguém que eu já tinha visto!<br />

O pai ficou observando ela correr para o computador, sem conseguir entender o que acontecia, ela<br />

parou em frente a tela, clicou nos seus sites favoritos, onde em um deles havia arquivado, aquela foto que<br />

havia visto na coluna social, e ao confirmar suas suspeitas, soltou sua palavra preferida:<br />

– Eureka... Pai vem até aqui precisa ver algo!<br />

– O que foi minha filha, qual o motivo de toda esta euforia?<br />

– Olhe bem devagar nos detalhes desta foto do quadro, e olha esta outra da internet.<br />

– Está bem, deixa eu colocar meus óculos, deixe me ver...<br />

Ele olhou minunciosamente naquela foto, do quadro pintado por um artista da época, e depois a foto que<br />

estava na tela, e verificou que a semelhança entre os dois, era incrivelmente satisfatória, mas o que mais<br />

chamou a atenção dele, era a posição das duas mãos juntas, coladas no corpo em frente a barriga, na foto<br />

24


<strong>Caminhos</strong><br />

antiga ele segurava uma espada, e nesta foto atual, era como se ainda a segurasse, como se fosse um<br />

costume, que o tempo não havia apagado.<br />

Duarte abraçou a filha, fez um gesto singular com a cabeça, concordando com a sua descoberta, e ficou<br />

muito intrigado e pensativo, indo em seguida na direção do depósito, onde ficavam armazenadas as<br />

coleções e obras, e lá procurou por uma outra caixa, e quando finalmente a encontrou, colocou aberta em<br />

cima da mesa, com um olhar enigmático, Marina o questionou:<br />

– Pai do que se trata, você nem comentou nada sobre a minha descoberta!<br />

– Sabe aquela busca ao qual, eu tenho mantido segredo de você, por todo este tempo?<br />

– Claro que sim, nós até já brigamos várias vezes, por ficar viajando escondido, comprar e receber<br />

muitas peças, sem permitir que eu fizesse as avaliações, mas o que isso tem a ver com a minha<br />

descoberta?<br />

– Não tenho certeza absoluta sobre as fotos, mas já está mais do que na hora, de você saber grande<br />

parte da verdade, só peço que aguarde por mais um dia, até que eu possa preparar alguns documentos, e<br />

amanhã voltamos a conversar.<br />

Os olhos de Marina brilharam, enfim os segredos que o pai, sempre fez questão de esconder, seriam<br />

parcialmente esclarecidos, mas o que isso tinha de comum, com relação a foto de Nathan na coluna<br />

social, perguntas que seriam respondidas brevemente.<br />

Voltando a Paris, e longe de toda esta tensão e mistério, o casal já havia terminado o almoço, e juntos<br />

foram dar mais uma volta, e bem mais tarde, quando começavam a acender as primeiras luzes, nas<br />

famosas ruas da cidade luz, ela o convidou para ir a outro lugar, um que já havia sido especial para os<br />

dois, se tratava de um pequeno hotel no centro, onde ficaram muitas vezes juntos, e ao chegar em frente<br />

ao prédio, Nathan fez um breve comentário:<br />

– Esse lugar não me é estranho, já estive aqui antes?<br />

– Já passamos momentos incríveis neste lugar, vamos entrar, eu vou reservar um quarto para nós, me<br />

espere na recepção.<br />

Ela foi até o balcão de atendimento, e solicitou o quarto vinte e cinco, que por sorte estava vazio naquele<br />

entardecer, este era o mesmo onde ficaram juntos, na última vez que vieram a cidade, e após preencher<br />

as fichas de cadastro, ela o buscou na entrada, e juntos subiram pelo elevador do prédio, que só<br />

tinha três andares, ao chegar, caminharam até o final do corredor, abriram a porta, e entraram.<br />

O quarto não era muito grande, nele havia uma pequena sala, que antecedia o quarto e a suíte, mas era<br />

totalmente luxuoso, ela tirou o seu casaco, e ele fez o mesmo, depois foram até um dos cantos do quarto,<br />

onde havia uma mesinha de bebidas, e ela misturou e preparou algo para beberem, sendo que ao levar o<br />

copo até a sua boca, Letícia ficou olhando fixamente para ele, com um leve sorriso intencional, o<br />

empresário sentiu naquele exato momento, um clima diferente que rolava.<br />

– O que foi, porque está me olhando assim deste jeito?<br />

– Olhar não tira pedaços, estou com muitas saudades de você, não perde mais tempo não, vem comigo<br />

para a cama!<br />

Ela o Beijou na boca, e já foi tirando a camisa do empresário, depois tirou o seu vestido, e pediu para<br />

que ele desabotoasse o seu sutiã, ela se virou e terminou de tirar toda a roupa dele, em seguida abaixou a<br />

sua calcinha, o puxou vagarosamente para a cama, e juntos trocaram muitos beijos e caricias, fazendo<br />

amor por toda aquela noite.<br />

25


26<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Amanheceu um lindo dia na capital francesa, antes que Letícia acordasse, Nathan enviou uma<br />

mensagem de texto para Caio, que já havia deixado inúmeros recados, sempre com tons de preocupação,<br />

avisando-o que estava tudo bem, e que dentro de dois dias estaria de volta, e a tempo para a segunda<br />

seção de seu tratamento.<br />

Ele pediu que o café fosse servido no quarto, e acordou cuidadosamente a namorada, a enchendo de<br />

beijos e de carinhos, mas assim que ela saiu de seu banho, tratou de ligar e dar notícias a seus pais, os<br />

comunicando, que retornaria para São Paulo com Nathan, e após passarem o resto do dia juntos,<br />

arrumaram as malas, e viajaram de volta para o Brasil.<br />

Era mês de dezembro, e faltavam três semanas para a chegada do Natal, quando o casal desembarcou<br />

em Guarulhos, Moreira já os aguardava no saguão, pegou suas malas, e os levou diretamente para a Ong,<br />

pois já havia se passado muitos dias, desde que Letícia fora para a cidade francesa, ela precisava de<br />

informações e ficar a par, de tudo o que havia acontecido nestes dias, principalmente fazer as compras,<br />

para reposição de alimentos, e materiais didáticos necessários.<br />

Quando eles chegaram na favela, todas as crianças fizeram questão de ir cumprimenta-los, afinal de<br />

contas, eles eram os principais fundadores, e assíduos colaboradores da instituição, o menino Gabriel foi o<br />

primeiro a abraçar o amigo, mas nem percebeu que na porta principal da Ong, Otto estava de pé olhando<br />

toda aquela cena, e balançando a cabeça negativamente, deu meia volta e foi embora, na certa contaria<br />

para o chefe Raul, do retorno dos dois a comunidade, e da intimidade de Gabriel com eles.<br />

O bandido terminou de fazer a ronda matinal, e ao terminar retornou para o esconderijo, onde Raul o<br />

esperava para receber, todo o dinheiro por ele arrecadado, ao chegar, pediu para os dois comparsas<br />

ficarem do lado de fora, porque teriam uma conversa em particular, Raul impaciente, tratou logo de<br />

abordar o assunto.<br />

– Tudo certo ou houve algum problema hoje?<br />

– Tudo certo, o movimento foi bom e todos pagaram.<br />

– Sei, mas parece que algo lhe perturba, o que é que tá pegando?<br />

– É que o casalzinho está de volta!<br />

Ele ficou furioso, mas procurou manter a calma, e especulou mais a fundo.<br />

– Então é esse o motivo desta sua cara, é por causa da garota?<br />

– Se não fosse este cara aparecer por aqui, eu é que tinha ficado com ela!<br />

– Será isso mesmo, pelo que me consta ela vivia correndo de você.<br />

– Pode deixar que vou resolver isso e logo, e tem mais uma coisa, o Gabriel estava lá cheio de<br />

intimidades com eles, principalmente com o ricaço.<br />

– Já estou farto destes encontros, mas acontece que a Iris, é favor do moleque ir para a escola, se<br />

dependesse só de mim, ele estaria aqui todo dia aprendendo, para mais tarde poder assumir tudo, mas<br />

vamos deixar de conversa fiada, e me passa os nomes dos que já pagaram, para eu dar a baixa no<br />

caderno.<br />

Do lado de fora, os dois cúmplices aguardavam, o final da reunião diária sem pressa alguma, porque<br />

ambos eram bem sossegados, e normalmente sem nenhuma iniciativa, e Militão, que era um pouco mais<br />

malicioso, comentou com o companheiro:<br />

– O chefinho tá com uma cara de bravo, será que o chefão negou aumento que ele ia pedir?


<strong>Caminhos</strong><br />

– Eu acho que é por causa da moça de olhos verdes, mas se ele ganhar o aumento dele,<br />

nós também vamos pedir né?<br />

– O seu burro, o chefinho disse que no natal, nós dois vamos ganhar presente, então é bom ficar quieto<br />

até lá.<br />

– Bem lembrado companheiro, vou anotar na caderneta para não esquecer, depois a gente pede.<br />

Eles iam dar prosseguimento ao assunto, quando Otto saiu de dentro do barraco, chamando-os para<br />

irem embora, e ambos observaram que ele estava bem inquieto, e acharam melhor fazer toda a volta,<br />

mantendo o silencio absoluto, sendo que neste exato momento, a noite já chegava na favela.<br />

Anteriormente, Duarte havia prometido a filha, contar o seu misterioso e grande segredo, mas acabou<br />

ficando adoentado, passando muito mal por alguns dias, e isto havia adiado toda a conversa, mas hoje ele<br />

se sentia melhor, assim a chamou, e a levou para a parte de baixo, onde ficava o depósito do Antiquário.<br />

Ele pediu para que ela se sentasse, montou um pequeno telão, apagou as luzes, e começou a mostrar<br />

slides através de um projetor, no entanto, conforme mostrava as imagens, ia comentando e explicando<br />

todos os fatos.<br />

– A primeira coisa que precisa saber, é que minha pesquisa é sobre algo muito antigo, relacionada a<br />

alguns cavalheiros revolucionários, que no início tinham uma grande formação, mas que em uma<br />

determina época, entre muitas lutas e severas batalhas, um grupo se desligou dos demais, formando uma<br />

nova ordem sistematizada, impondo suas próprias leis, e suas próprias crenças, mas com o passar do<br />

tempo, a formação foi se reduzindo, até restarem somente seis homens.<br />

– Mas porque estes cavalheiros, decidiram criar esta outra ordem?<br />

– Segundo o que foi me contado, por causa de um disputa interna entre eles, pois em um determinado<br />

ano, na procura de um abrigo para o repouso, e para cuidarem de todos os feridos, encontraram um velho<br />

homem, que tinha consigo uma relíquia, que a princípio acreditavam, se tratar de mais um peça antiga,<br />

aos quais já haviam vistas tantas outras, mas na verdade esta era muito diferente e especial, ela continha<br />

enormes poderes de cura, e supostamente um tipo de imortalidade, que não chegava a ser totalmente<br />

definitiva, porque poderiam ser passados a outra pessoa, caso isso fosse de sua própria vontade.<br />

Ela olhou para ele, como se estivesse a observar se falava a verdade, e com um tom meio que evasivo,<br />

perguntou o que desejava saber.<br />

– Pai tudo isso tudo é sério, ou o senhor ainda está variando, por causa da febre alta que teve?<br />

– Fique tranquila estou muito bem, e tudo isso que lhe conto é verdade, criei estas imagens no<br />

computador, para lhe mostrar uma simples simulação, de toda a minha pesquisa até este momento, não<br />

tenho como precisar todos os fatos, por isso listei alguns mais importantes, isto tudo é fruto de um grande<br />

colecionador, ao qual fez questão de se manter em sigilo.<br />

– Bom, vou lhe dar um voto de confiança, e fazer o possível para acreditar, mas afinal, chegou a alguma<br />

conclusão verídica desta história?<br />

– Creio que sim, como eu estava dizendo, sobraram apenas seis homens, e estes chegaram a um termo<br />

de acordo, em que o objeto fosse dividido em seis partes, assim nenhum deles teria o poder absoluto, e<br />

não dependeriam mais um do outro, pois como as lutas e guerras haviam cessado, decidiram que era a<br />

hora de se separarem, e cada um seguiu sua vida e seu destino, alguns até chegaram a se casar, e<br />

consequentemente, formaram novas famílias.<br />

Ela respirou fundo, e percebendo que tudo isso era fabuloso, continuou a questionar suas dúvidas.<br />

27


<strong>Caminhos</strong><br />

– Mesmo dividia, quem tinha essa parte da relíquia, ainda tinha o mesmo poder?<br />

– Não totalmente, apesar de não participarem mais de guerras, alguns deles viviam em lutas constantes,<br />

por disputas de terras e de tesouros, e quando os ferimentos eram mais leves, eles obtinham uma cura<br />

mais rápida, mas quando eles eram mais graves, eles descobriram que a cura era muito lenta, sendo que<br />

alguns acabaram morrendo, restando no final apenas três cavalheiros.<br />

– Vai me dizer que eles ainda estão vivos, mesmo depois de todos estes séculos?<br />

O colecionador se sentou, pegou na mão da filha, e explicou mais detalhes deste mistério.<br />

– Isso eu não sei dizer ao certo, porque tenho dúvidas se estes poderes foram mantidos, ou se foram<br />

repassados a outras pessoas, sendo que pelos últimos documentos enviados, ao me parecer, apenas dois<br />

deles sobreviveram, porque o terceiro havia sido morto, em circunstancias muito duvidosas, pode até ser<br />

que um destes cavalheiros, tenha cometido um crime brutal, ficando assim com uma parte a mais da<br />

relíquia, obtendo mais poderes para si próprio.<br />

– Então isso quer dizer, que tem dois homens seculares andando por aí, vivendo a vida plenamente,<br />

sem sequer serem notados?<br />

– É por isso que tenho me dedicado todo este tempo, a procurar em todos os objetos que consigo<br />

negociar, ou até mesmo ter acesso, uma marca ou vestígio de algum deles, e pelo que tudo indica, já se<br />

passaram mais ou menos quatrocentos anos, então provavelmente, já era para terem passado o poder<br />

para outra pessoa, a não ser que não se cansaram de viver, ou descobriram uma outra forma, de se<br />

manterem imunes a esta transição, por mais tempo do que é realmente possível.<br />

Ele deu seguimento nos slides, até parar no ponto de uma imagem intrigante, que continha um colar<br />

antigo, e segundo os seus estudos e pesquisas, desde quando esta ordem fora fundada, eles costumavam<br />

colocar esta marca, em quase tudo que lhes pertenciam, e este era o rastro que o misterioso colecionador,<br />

que havia contratado os serviços do antiquário, seguia incansavelmente até os dias de hoje, mas agora<br />

com a descoberta de Marina, sobre a semelhança entre o cavalheiro antigo, e do empresário da coluna<br />

social, provavelmente dará novos rumos, a toda esta investigação.<br />

28


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 7 •<br />

Alguns dias se passaram, as pessoas já aguardavam a chegada do natal, e como nos anos anteriores, o<br />

grupo Etros fazia uma grande confraternização, para os diretores, funcionários, e também enviava alguns<br />

convites, para fornecedores e parceiros de negócios.<br />

Dentre estes parceiros estava Arthur, um dos melhores advogados da capital, e que representava<br />

juridicamente a empresa, ele era uma pessoa muito bem-sucedida financeiramente, porém era muito<br />

frustrado em relação a parte amorosa, já havia sofrido várias decepções, por esse motivo procurava não<br />

se envolver com ninguém, e atualmente estava sozinho.<br />

Seus pais eram falecidos, e os poucos parentes que tinha, estavam espalhados pelo interior paulista, e a<br />

pessoa mais próxima a ele, era sua fiel empregada Dirce, que além de cuidar da casa e propriamente<br />

dele, havia se tornado um ombro amigo, eles sempre procuravam conversar, quando o magistrado se<br />

encontrava em sua residência.<br />

– Então Dirce, o que vai querer de presente de natal este ano?<br />

– Patrão, não se preocupe com isso, o senhor já faz muito por mim o ano todo!<br />

– Eu sei que gosta de ganhar presentes, então me dê uma dica.<br />

– Quem é que não gosta, não é mesmo, bom já que insiste, compre apenas uma lembrancinha, o que<br />

vale mesmo é a sua intenção, para mim já é o suficiente!<br />

– Tudo bem, mas eu quero que seja um natal diferente, este ano não quero sair de casa, a gente faz<br />

uma ceia aqui mesmo, algo que seja bem simples, o que acha?<br />

Ela se admirou com esta atitude, pois sempre preferiu passar junto dos amigos, e com um largo sorriso<br />

no rosto, fez questão de perguntar da festa.<br />

– E a festona da empresa, que o senhor faz sempre questão de estar presente?<br />

– Desta vez eu quero ficar mais sossegado, quero curtir o natal, sei lá, de repente me deu uma grande<br />

vontade, de entrar no espirito natalino.<br />

– Minha mãe dizia, que o verdadeiro espirito do natal, é compartilhar e ajudar os necessitados, fazendo<br />

uma boa ação, principalmente para aqueles que nos procuram, e cruzam os nossos caminhos!<br />

– É verdade, hoje em dia pensamos tantos em nós mesmos, que esquecemos de olhar para tantos<br />

outros, que passam por diversas dificuldades, então vamos fazer diferente, vou comprar o seu presente, e<br />

mais alguns para o pessoal do meu escritório, na volta pensaremos em algo juntos, para realizarmos esta<br />

boa ação, até breve então...<br />

Mal ela sabia, que a ideia e o incentivo que deu a ele, iriam acarretar tantas mudanças, a vida e a rotina<br />

de todos naquela casa, porque as vezes, o universo parece conspirar para que os fatos,<br />

se assemelhem as nossas ideias e vontades.<br />

Ele passou toda a tarde fazendo compras, havia acabado de sair da última loja, já se locomovia para o<br />

estacionamento, quando viu que um certo tumulto ocorria por lá, e procurou de uma certa maneira, se<br />

desviar das pessoas e sair rapidamente dali, mas quando já abria a porta de seu carro, acabou ouvindo<br />

um comentário parcial, de uma mulher que haviam presenciado todo o problema.<br />

– Coitada, está toda machucada, seu eu pudesse eu ajudaria ela...<br />

29


<strong>Caminhos</strong><br />

Nesse momento, ele se lembrou do que Dirce havia falado, talvez fosse a oportunidade de fazer uma<br />

boa ação, não somente pelo motivo natalino, mas na intenção mesmo de ajudar o próximo, assim travou o<br />

alarme do carro, e se aproximou de uma pequena roda de pessoas, que cercavam a moça naquele<br />

momento, esta por sua vez, se encontrava caída no chão, com o rosto coberto de hematomas, e com o<br />

nariz sangrando muito, mal dava para ver o seu semblante, devido a todos os ferimentos.<br />

Arthur chegou logo perguntando, se alguém sabia o que havia ocorrido, mas todos afirmaram<br />

negativamente, até que uma mulher se aproximou, lhe contando que havia encontrado a moça, toda<br />

machucada e desmaiada no chão, mas que ela havia recusado a sua ajuda, e também o pedido de uma<br />

ambulância para socorre-la, a única coisa que conseguiu dela, foi saber o seu nome, que era Elisa.<br />

Pela pressa, a maioria das pessoas por ali, pegaram seus carros e foram embora, Arthur se agachou, e<br />

tentou dialogar com a moça, que por causa de seus ferimentos, inclusive vários deles na boca, mal<br />

conseguia falar.<br />

– Você esta muito ferida, precisa imediatamente de cuidados médicos.<br />

– Não por favor, não chama nada, nem a ambulância e a nem a polícia, eu já vou melhorar e<br />

vou embora.<br />

Ela tentou se levantar, mas não aguentou e caiu novamente ao chão, o advogado a pegou pelo braço, e<br />

ajudado por uma outra mulher, que ainda estava presente no local, a levaram até um banco próximo, que<br />

ficava na entrada do estacionamento.<br />

A mulher que também precisava ir embora, disse algumas palavras de conforto para Elisa, enquanto<br />

Arthur decidia em seu pensamento, entre ir embora e não se meter em problemas, ou fazer mais uma<br />

tentativa em ajudar a moça, que nesta altura já se encontrava, com a blusa coberta de sangue, então ele<br />

optou em ficar e ajudar.<br />

– Moça, você está fraca e muito ferida, e ao meu entender um pouco desorientada, pela<br />

minha experiência de trabalho, você me parece estar bem encrencada, por recusar ajuda pelos meios<br />

legais.<br />

Ele ainda falava, quando teve que fazer um movimento bem rápido, para amparar a moça que desmaiou<br />

em seus braços, na verdade ele ficou por algum tempo, sem saber que medidas deveria tomar, mas<br />

percebendo a gravidade da situação, pediu a ajuda para um homem que se aproximava, e ambos a<br />

colocaram no banco de trás de seu carro, e sem perca de tempo, saiu rapidamente do estacionamento.<br />

Assim que passou pelo primeiro semáforo, se deu conta que teria de decidir rapidamente, para onde a<br />

levaria, o correto sem dúvida nenhuma, era leva-la a um hospital mais próximo, mas devido<br />

as circunstancias do fato, correndo algum tipo de risco, ao qual poderia afetar todo o seu prestigio, e<br />

atendendo ao apelo que moça havia feito, resolveu ligar para uma grande amigo seu, que era dono de um<br />

clínica médica particular, e este o atendendo prontamente, aceitou o pedido de internação, e assim que<br />

chegaram no local, iniciou-se o atendimento necessário.<br />

Nathan e Caio se evitaram por alguns dias, ele ainda estava bem chateado, pela viagem repentina do<br />

amigo a França, que este havia realizado sem avisa-lo, afinal de contas, era ele que cuidava de seu<br />

tratamento, dos assuntos financeiros da empresa, e praticamente de sua vida pessoal, durante toda esta<br />

fase de sua recuperação.<br />

Era Véspera de Natal, dia de confraternização do Grupo, na mesa do café da manhã, Nathan acabou<br />

puxando conversa, e lhe pediu sinceras desculpas, por ter agido por impulso e sem avisar, prometendo<br />

que a partir deste momento, iria informar todos os seus passos, se comprometendo a se aconselhar com o<br />

amigo, antes de tomar qualquer tipo de atitude, pelo menos até ele se recuperar.<br />

30


<strong>Caminhos</strong><br />

Ele aceitou as desculpas, e passaram a conversar sobre a grande festa, que aconteceria logo mais a<br />

noite, Caio explicou como funcionava o evento, falando sobre todos os detalhes, inclusive de que cada<br />

convidado, poderia levar um acompanhante, com exceção aos dois sócios majoritários da empresa, que<br />

poderiam levar quantos quisessem.<br />

Assim que terminaram o café, cada um saiu para um lado diferente, Nathan havia combinado com<br />

Letícia de ir até a Favela, e juntos entregarem os presentes das crianças da Ong, juntamente as demais<br />

que também comparecessem por lá, já Caio iria cuidar dos últimos preparativos da festa, e confirmar a<br />

presença de todos os convidados.<br />

Como nos últimos dois anos, a maioria das mães e pais da comunidade, levavam as crianças até a Ong,<br />

para receberem esta lembrança carinhosa, e para retirarem a cesta de natal, que também eram<br />

distribuídas por eles, Raul e seu bando suspendiam suas ações neste dia, era como um tipo de regra, e<br />

não colocavam nenhum obstáculo, isso para não gerar conflitos com os moradores, mas já que se tratava<br />

de uma área de risco, para o caso de algum eventual tumulto, havia alguns seguranças particulares.<br />

Mesmo estando muito contrariados, Todos os membros do bando, que não aprovavam de forma alguma,<br />

toda a popularidade que Nathan e Letícia conquistavam, ficaram observando todo o movimento de longe,<br />

sem tomar nenhuma ação contra o evento.<br />

Em outra parte da capital paulista, Arthur, que havia passado a noite em claro na clínica, aguardava o<br />

médico para ter notícias, sobre a primeira avaliação do estado de saúde de Elisa, que havia chegado na<br />

noite anterior, desmaiada e com diversos ferimentos.<br />

O Advogado falava ao telefone com sua empregada Dirce, pedindo para que ela se tranquilizasse, pois<br />

ele não havia dado nenhuma notícia, desde o acontecimento no dia anterior, foi neste momento que<br />

Olivares, seu amigo, médico e dono da clínica, veio até a sala de espera para conversar, o advogado<br />

rapidamente o cercou.<br />

– Então como a moça está?<br />

– A paciente passa bem, fizemos todos os exames necessários, e não encontramos nenhum tipo de<br />

ferimento interno, e nenhuma fratura pelo corpo, somente mesmo os machucados externos,<br />

principalmente no que diz respeito ao rosto, porque ela parece ter recebido socos e pontapés, e há<br />

também um agravante, os exames de sangue realizados, apontaram que ela estava totalmente drogada,<br />

mas agora está sob medicação e repousando, e se o quadro dela não se alterar, pode ser que a tarde já<br />

receba alta, podendo retornar para casa.<br />

No dia anterior, Arthur já havia explicado ao médico, os motivos de não tê-la levado para um hospital<br />

público, também garantiu todas as despesas do internamento, inclusive remédios e cuidados médicos,<br />

deixando um cheque assinado em branco, assim ele já imaginava que havia feito a sua parte, e<br />

juntamente a sua boa ação de natal, por isso se despediu de todos, agradeceu, e foi até o seu carro, mas<br />

ao dar a partida, pensou mais um vez na situação da moça, chegando a ficar com muitas dúvidas sobre o<br />

ocorrido, afinal qual seria o motivo em questão, porque teria levado uma surra daquelas, o que levaria ela<br />

não querer a polícia envolvida, teria uma família para ampara-la em sua recuperação, teria uma casa para<br />

voltar?<br />

Ficou ali parado no estacionamento da clínica, por cerca de dez minutos, até que resolveu entrar de<br />

volta no prédio, pedindo a permissão de sua entrada no quarto, ele se dirigiu até a porta, e percebendo<br />

que ela estava acordada, entrou e a cumprimentou.<br />

– Oi moça, se sente melhor hoje?<br />

– Um pouco, não sei dizer ao certo, mas quem é você mesmo?<br />

31


<strong>Caminhos</strong><br />

– Meu nome á Arthur, fui eu quem lhe trouxe ao hospital, só vim para saber se tem para onde ir, por seu<br />

caso não ser considerado grave, então irão lhe dar alta hoje a tarde.<br />

– Agradeço por ter me trazido para um lugar, onde não ficaram fazendo um monte de perguntas, e não<br />

foi preciso registrar boletim de ocorrência, isto me traria grandes problemas.<br />

– Veja bem, o melhor seria mesmo ter feito o boletim, pois quem fez tudo isso com você, deveria<br />

responder por esta ação, mas se caso você voltar atrás de sua decisão, eu posso lhe ajudar, porque eu<br />

sou advogado.<br />

Ao ouvir isso, ela se assustou colocando a mão na boca, que por sinal, ainda estava muito inchada e<br />

dolorida, Arthur acabou entendendo, que além de não tocar mais no assunto, Elisa necessitava de<br />

continuar repousando, e se despedindo com um gesto amigo, saiu do quarto indo até a administração da<br />

clínica, pedindo que o mantivesse informado, no caso de alguma mudança no quadro, ou quando fosse<br />

determinada a alta da paciente.<br />

Bianca e Talita, haviam saído juntas para comprar presentes, como a maioria das pessoas, elas<br />

deixaram tudo para a última hora, e como só lhe restavam a parte da tarde, trataram de se apressar, pois<br />

era véspera de natal, e Talita, incomodada com o semblante desanimado da namorada, quis especular o<br />

motivo.<br />

– Você não me parece animada como no ano passado, aconteceu alguma coisa?<br />

– Não é nada, é que estou com uma certa dúvida, se vou ou não a festa da empresa.<br />

– O que, nem pense nisso, eu sempre quis ir nesta festa, agora que você resolveu me assumir, eu faço<br />

questão de estar presente ao teu lado!<br />

– A questão é que eu só contei para o Murilo, as outras pessoas ainda não sabem, eu não fico falando<br />

para todo mundo, sobre a minha vida pessoal, me sinto desconfortável com isto.<br />

Talita tratou logo de assuntar sobre Murilo, na tentativa de jogar um contra o outro.<br />

– Duvido que ele não fez fofoquinha a seu respeito, para os outros funcionários entre um cafezinho e<br />

outro, não ia perder esta oportunidade de desmoralizar você!<br />

– Você diz isso porque não o conhece, ele não é assim deste jeito, não este tipo de pessoa que tripudia,<br />

ele é um grande amigo.<br />

– Se você diz, quem sou eu para dizer ao contrário, e como ele te tratou estes dias, depois<br />

que você falou de nosso relacionamento?<br />

– Me tratou normalmente como faz todos os dias, me cumprimentou, falou somente de questões de<br />

trabalho, mas deu para perceber de longe, que ele estava muito aborrecido.<br />

– Sei, quer saber de uma coisa, vamos mudar de assunto, vamos nos concentrar nos presentes!<br />

Ela concordou, estava na cara que aquele assunto a incomodava, e passando de loja em loja, foram<br />

caminhando juntas pelos corredores do shopping, procurando o que haviam planejado para a noite<br />

natalina, e de mão dadas mostravam a todos, que estavam em um relacionamento muito sério.<br />

32


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 8 •<br />

A noite começava a surgir, algumas estrelas já reluziam naquele céu, de tom cinza da capital paulista,<br />

Murilo estava demasiadamente chateado, e tinha dúvidas entre ir ou não a grande festa, foi quando o seu<br />

celular tocou, era seu amigo Diego.<br />

– Grande Murilo, animado para a festança?<br />

– Cara estou meio que decidido a ficar quieto, aqui mesmo no meu apartamento.<br />

– Que isso meu camarada, vai perder todas aquelas bebidas importadas, sem falar na variada comida<br />

internacional, e principalmente não se esqueça, que vai estar cheio de gatinhas maravilhosas, não fica<br />

assim não e sai dessa, tem de voltar a se divertir!<br />

– Ainda é cedo, vou aproveitar e descansar um pouco, e mais tarde eu decido o que fazer.<br />

– Você é que sabe, mas eu preciso de um favor seu.<br />

– Se tiver ao meu alcance, que tipo de favor precisa?<br />

– É que eu descolei uma garota para ir na festa comigo, porém tem uma priminha dela do interior, que<br />

está passando uns dias com a família, será que você consegue um convite para elas, afinal você é um<br />

membro da diretoria, e também ajuda na organização da festa.<br />

– Sem problemas, vou ligar para a promoter da festa, e pedir para adicionar mais duas convidadas,<br />

vinculado ao seu nome e mesa.<br />

– Valeu amigão, vê se anima, te vejo na festa, até mais!<br />

– Ok eu vou pensar, agora vou me deitar um pouco, até.<br />

Na Clínica Elisa havia recebido alta, ela vestiu algumas roupas novas, que o advogado havia comprado,<br />

pois as suas haviam se sujado por causa dos ferimentos, e para a sua surpresa, Arthur a aguardava do<br />

lado de fora.<br />

– Eu imaginei que talvez, não haveria ninguém para te levar para casa, então eu vim para lhe dar uma<br />

carona.<br />

– Não precisa, eu consigo me virar sozinha.<br />

– De maneira alguma, não vou deixar você sair sozinha por aí, sei que não tem dinheiro, e só carrega<br />

consigo sua identidade, deixa eu te ajudar.<br />

– Não sou daqui, e não tenho onde ficar.<br />

– Entre no carro, você ainda está fraca e toda machucada, no caminho a gente tenta resolver sobre isso!<br />

Ela hesitou um pouco mas resolveu entrar, durante o caminho, ele a convenceu a aceitar a hospedagem<br />

em sua casa, pelo menos por esta noite, depois ela poderia ir para onde quisesse, e com muitas<br />

expectativas das duas partes, eles foram até lá mantendo silêncio.<br />

Precisava ver a cara de espanto de Dirce, quando estes chegaram em casa, ele não precisava ter ido<br />

tão fundo, na ideia que ela havia dado ao patrão, de fazer caridade e boa ação no natal, mesmo assim,<br />

ajudou a moça delicadamente, a se recolher em um quarto de hóspedes, e acatou fielmente as ordens<br />

dele, em colocar mais um prato a mesa, e preparar uma bela ceia de natal, ao qual ela também estava<br />

convidada.<br />

33


<strong>Caminhos</strong><br />

Duarte e Marina, também haviam sidos convidados para a festa, por um dos diretores financeiro, de uma<br />

das empresas do grupo, ele era um cliente assíduo de suas obras de arte, mas na verdade eles haviam<br />

forçado este convite, pois queriam muito se aproximar de Nathan, e ver de perto se o motivo das suas<br />

suspeitas, eram realmente plausíveis, ao ponto de investirem nesta investigação do passado.<br />

Já na favela, a família de Raul resolveu fazer um churrasco, onde Otto e seus dois capangas,<br />

também haviam sido convidados, e apesar de Iris demonstrar contrariedade com a presença deles,<br />

procurou agir normalmente para não estragar a noite.<br />

E enfim chegara a hora tão esperada, da famosa e balada festa do grupo Etros, os convidados iam<br />

chegando aos poucos, entre eles estavam alguns políticos importantes, empresários dos mais altos níveis,<br />

pessoas da alta sociedade, e amigos como o doutor Estevam e sua esposa Melissa, enfim, estava tudo<br />

maravilhoso, todos sorridentes e bem animados.<br />

Por volta das vinte e três horas, Nathan e Letícia chegaram a festa, sendo que logo em seguida, Caio<br />

também chegou em grande estilo, trazendo consigo um grupo de lindas mulheres, chamando a atenção de<br />

todos os presentes, que ficaram olhando esta sua entrada triunfal, mas não houve espanto por parte dos<br />

que já o conhecia, porque ele sempre gostava de causar impacto, em todos os eventos ao qual<br />

participava.<br />

Bianca e Talita já haviam chegado antes da maioria, estavam bem discretas e sem muitas insinuações,<br />

se mantiveram e um cantinho bebendo e curtindo a festa, mas Bianca ainda carregava aquele ar de<br />

intranquilidade, era a primeira vez que levava a namorada em público, e bem na frente dos patrões, e os<br />

amigos de trabalho.<br />

Diego já usufruía das bebidas com suas duas convidadas, pois Murilo havia conseguido o convite extra,<br />

e estes já estavam no seu aguardo, quando finalmente o viu chegar na porta de entrada, foi até o ouvido<br />

da prima de sua acompanhante, e sussurrou:<br />

– Maísa, o amigo ao qual lhe falei chegou, é aquele de camisa azul que acabou de entrar.<br />

Ela o olhou com ar de admiração, pois ele era jovem e muito bonito, mais cedo Diego já havia contado a<br />

ela, que o amigo é quem havia arranjado os convites para a festa, e deu a entender a ela, que ele<br />

estava sozinho e precisando de companhia.<br />

Do lado oposto do salão, Bianca também viu a sua chegada, ela ficou olhando fixamente para o amigo,<br />

causando ciúmes imediato em Talita, que sabia da amizade e intimidade pessoal, que os dois mantinham<br />

a anos, e ambas tinham algum tipo de certeza, que ele passaria por lá para cumprimentar Bianca, que não<br />

iria deixar passar uma oportunidade dessas.<br />

Murilo caminhou para pegar um champanhe, que eram entregues aos convidados na entrada, quando<br />

avistou Bianca e sua acompanhante, tentou disfarçar o aborrecimento que sentiu, mas causou grande<br />

surpresa a elas, quando fez de longe apenas um sinal de comprimento, e foi na direção do amigo Diego,<br />

mas mesmo com toda esta delicada situação, deu para ver no semblante de Bianca, que ela esperava<br />

muito mais do que isso, e ficou visivelmente muito decepcionada.<br />

Diego o recebeu com alegria e um grande abraço, tratou logo de apresentar as duas garotas, e a prima<br />

que sem perder tempo, pegou em seu ombro e deu beijinhos de apresentação, a noite praticamente<br />

começava, e a festa prometia muitas emoções.<br />

Nathan e Letícia se sentaram na mesa principal, juntamente com Dulce e Amanda da Ong, sendo que<br />

todas as mesas ao lado, tinham a presença de figuras bem ilustres, e o bom mesmo de uma festa desta<br />

proporção, é que a boa música, regadas a bebidas e diversos tipos de comida, colaborariam para esta ser,<br />

a maior festa dos últimos anos.<br />

34


<strong>Caminhos</strong><br />

Caio que já havia tomado umas e outras, estava dançando divertidamente, e se exibindo com duas<br />

garotas, que fazia parte das demais que o acompanhavam, já Estevam e sua esposa, Duarte e Marina,<br />

pegavam a imensa fila do buffet, que já começa a servir o prato principal.<br />

Perto da meia noite, Caio pediu para parar a música, e chamou a atenção de todos para o brinde<br />

tradicional, pediu uma salva de palmas para o Anfitrião Nathan, disse algumas palavras de agradecimento<br />

aos fornecedores, diretores, e funcionários do grupo, e convidou para que cada um pegasse uma taça, e<br />

fosse ao centro do salão para juntos brindarem, a chegada do natal.<br />

Após o brinde, a maioria voltou para as mesas, inclusive o ex-diretor administrativo Vasques, que no<br />

momento era presidente interino do grupo, ele estava presente com a sua família, porém permanecia de<br />

cara fechada, pois não era muito de seu feitio, ficar se enturmando e se misturando com os demais, mas<br />

ao contrário dele, outros convidados foram para a pista de dança, e neste movimento não houve como<br />

evitar, o encontro entre Murilo e Bianca, e moça fez questão de se aproximar.<br />

– Oi, tudo bem, está se divertindo?<br />

– Um pouco, a festa me parece ótima, e você, o que está achando?<br />

– Estou curtindo, me lembrei de festas passadas, e senti saudades de nossas conversas divertidas!<br />

– Olha eu tenho que voltar para a mesa, o pessoal está me chamando para mais um brinde, depois a<br />

gente se fala, até mais tarde.<br />

Ele olhou profundamente em seus olhos, deu meia volta e a deixou, e por mais difícil que fosse, ele se<br />

esforçou muito para manter a frieza, porque ela estava muito linda e perfeita, e seu coração totalmente<br />

apaixonado, foi contido pelo óbvio motivo, das preferências escolhidas por Bianca.<br />

Ela por sua vez, retornou amplamente aborrecida, estava acostumada a receber muitos elogios, e até<br />

algumas cantadas bem discretas dele, além da amizade sincera que sempre mantiveram, Talita<br />

percebendo o clima gerado pelo encontro, preferiu se manter em silêncio, mas não escondeu toda sua<br />

insatisfação, ficando um longo tempo de cara fechada.<br />

Bianca até que tentou voltar ao clima da festa, mas acabou optando em ir embora, disse a Talita que não<br />

se sentia bem, e que precisava ficar um pouco sozinha, se despediu dela muito rapidamente, sem ao<br />

menos dar chances para ela argumentar, e tentou sair sem ser notada.<br />

Murilo se virou para pegar uma bebida, e acabou observando a saída dela, olhou também para a mesa<br />

onde estavam, e viu que a companhia que estava com ela, havia ficada sozinha na mesa, e estava com<br />

uma cara de poucos amigos, sem pensar muito resolveu ir até lá.<br />

Ele já chegou se sentando na mesa, e a coragem para tal feito, obviamente vinha das bebidas já<br />

ingeridas, mesmo assim manteve a coerência para aborda-la.<br />

– Oi como vai, tudo bem?<br />

Ela pegou a sua bolsa, e ia se levantando da mesa para se retirar, quando ele a pegou pelo braço, e<br />

insistiu na conversa.<br />

– Não sou seu inimigo, eu não tenho nada contra você, saiba que respeito as circunstâncias, e prometo<br />

que não vou fazer nada, nem para interferir, e nem para prejudicar a felicidade de Bianca, seja como e<br />

com quem for, entenda que eu só quero o bem dela!<br />

Ela ouviu, assimilou as palavras dele e tornou a se sentar, permitindo o diálogo entre os dois.<br />

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36<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Olha no último seis meses, eu ouço falar de você quase todos os dias, sei da consideração dela por<br />

você, e agora até me parece ser uma pessoa sincera e de caráter, mas fique sabendo que esta conversa,<br />

não nos tornam amigos!<br />

– Está certo, eu compreendo você, mas me diga, porque a Bianca foi embora mais cedo e sozinha?<br />

– Ela disse que não estava passando bem, e saiu tão rápido, que nem pude acompanha-la.<br />

– É uma pena mesmo, tomara que não seja nada demais, se quiser pode se juntar a nós na mesa, o<br />

pessoal é bem legal!<br />

– Agradeço, mas vou tomar mais uma bebida, e também vou me retirar.<br />

– Ok, você é quem sabe, qual é mesmo o seu nome?<br />

Ela admirada com a atitude dele, lhe disse o seu nome, se levantou, e foi até na direção do Barman da<br />

festa, e ele voltou pensativo e aliviado, para junto de seus amigos.<br />

Na casa de Arthur, Dirce havia arrumado a mesa da ceia com todo carinho, chamou o patrão e buscou<br />

Elisa no quarto de hospedes, ambos se sentaram a mesa, e apesar de muito acanhada, ela parecia estar<br />

com tanta fome, que não fez nenhum tipo de cerimônia, os dois procuraram não tocar no assunto ocorrido<br />

com a moça, e tiveram uma noite de natal normal e tranquila, mais tarde ele entregou os presentes de<br />

Dirce, e um que também havia comprado para Elisa, momentos antes de a buscar na clínica, depois cada<br />

um se recolheu ao seu quarto.<br />

Voltando a grande festa, Marina e seu pai, estavam aproveitando muito a comemoração, mas ela estava<br />

atenta ao principal objetivo da noite, que era a proximidade de Nathan, e esperando o momento certo o<br />

abordou, justamente quando ele havia saído de uma mesa, e acabado de terminar uma rápida conversa,<br />

com um de seus convidados.<br />

– Boa noite, então é você nosso anfitrião ilustre?<br />

– Anfitrião pode ser, mas ilustre não, sou uma pessoa igual a todos.<br />

– Melhor assim, detesto demais gente metida, muito prazer, meu nome é Marina.<br />

– Bom, com certeza já sabe o meu nome, então o prazer é todo meu, e pelo jeito a gente não se<br />

conhecia, não é mesmo?<br />

– Creio que não tive esta oportunidade, conheço você somente das colunas sociais, falando nisso, me<br />

parece que já se recuperou do acidente que sofreu!<br />

– Eu estou bem, mas ainda estou em recuperação, mas deixa eu lhe perguntar, trabalha para alguma<br />

empresa do grupo?<br />

– Não, sou apenas convidada de um cliente, que é integrante da sua empresa, na verdade trabalho com<br />

objetos de arte, eu e meu pai Duarte, aquele ali sentado a sua direita, temos um antiquário aqui em São<br />

Paulo, somos estudiosos e especialistas no assunto.<br />

– Sério, que coincidência, eu tenho em uma parte de minha casa, diversos objetos de arte, e eu seria<br />

muito grato, se pudesse me ajudar a catalogar eles, como por exemplo, indicar épocas, idades,<br />

e procedências.<br />

Marina ficou surpresa com o convite, esperava mais dificuldades na aproximação, e assim lhe deu o seu<br />

cartão, se despediu de Nathan, e voltou rapidamente para a mesa, para contar a ótima novidade ao pai, e<br />

este ficando um pouco menos empolgado, a alertou de um possível equívoco, estranhando o motivo do


<strong>Caminhos</strong><br />

dono, possível colecionador dos objetos, pedir ajuda para obter informações dos mesmos, mas mesmo<br />

assim ficaram muitos satisfeitos, por considerar um avanço nas investigações.<br />

A festa já se encaminhava para o seu final, quando ao ouvir uma música que gostava muito, Letícia tirou<br />

Nathan para dançar, e com a pista praticamente vazia, os dois dançaram a música toda, com os rostos<br />

bem colados, sendo que ao término da canção, pegaram uma bebida e se beijaram.<br />

37


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 9 •<br />

Após o encerramento da festa, cada um deu seu próprio seguimento na madrugada afora, alguns<br />

retornaram para suas casas, outros ainda tinham folego para passar em outras festas, enquanto que a<br />

maioria foram namorar, este era o caso de Nathan e Letícia, que terminaram a noite em um motel de luxo,<br />

assim terminando a noite festiva.<br />

Amanheceu e surgiu no horizonte, os primeiros raios do dia natalino, a gigantesca cidade, acostumada a<br />

imensa movimentação diária, parecia estar em câmera lenta, criando uma cena muita rara de se ver, já na<br />

favela, a garotada já frequentavam as ruas com suas bolas, bonecas e pipas coloridas, presentes típicos,<br />

ganhados dos colaboradores da Ong, Gabriel havia pulado bem cedo da cama, ele também havia<br />

ganhado presentes dos pais, e após abri-los correu para a rua, e foi brincar com as outras crianças.<br />

A Ong fecharia suas portas, até a primeira semana de janeiro, onde após este período de férias, voltaria<br />

as atividades normais, era uma época em que Otto e seus capangas, obedecendo a ordens de<br />

Raul, aproveitavam para tentar aliciar as crianças, para a venda no trabalho com as drogas.<br />

A grande parte das empresas da Etros, também fechavam suas portas neste período, e a maioria dos<br />

executivos, por se tratarem de pessoas bem-sucedidas financeiramente, viajam para o exterior, era o caso<br />

do diretor Vasques, que secretamente embarcou para Nova Iorque, onde havia marcado uma reunião<br />

misteriosa, com o homem que sempre lhe passava ordens pelo telefone.<br />

Diego foi para o interior paulista, para passar alguns dias na casa de um tio, chegou a convidar o amigo<br />

Murilo, mas este preferiu alugar um apartamento no litoral, alegando que queria ficar sozinho, e pôr em<br />

ordem os seus sentimentos, Bianca acabou se desculpando com a namorada, e juntas passaram o<br />

feriado.<br />

O Advogado Arthur quando se levantou, deu de cara com Elisa que descia as escadas, Dirce a havia<br />

chamado para tomar o café, ela ainda estava com o rosto muito inchado, principalmente nos olhos e na<br />

boca, para quem não a conhecia direito, não saberia falar precisamente, se a moça era feia ou era bonita.<br />

Marina foi bem cedo para o antiquário, para examinar novamente todos os documentos, que poderiam<br />

fazer a ligação entre passado e o presente, estava empolgada com a ideia de se aproximar daquele, que<br />

passara a ser o alvo das suas investigações, já Duarte resolveu ficar na parte de cima descansando.<br />

Perto do meio dia, Letícia acordou o namorado com um selinho, ele sorriu, sentou na beira da cama, e<br />

por um certo tempo trocaram algumas carícias, indo em seguida tomar o banho juntos, e após<br />

a chuveirada, enquanto se enxugavam, ele ficou em pé parado, olhando ela dos pés à<br />

cabeça, principalmente nos olhos dela, e se sentindo desejada, a professora jogou seu charme.<br />

– O que foi, porque está me olhando desse jeito, gosta do que vê?<br />

– Você me faz tão bem, me faz sentir melhor, queria poder explicar todo este sentimento, que está aqui<br />

dentro de mim, mas não encontro as palavras certas.<br />

– Nossa, ele acordou todo romântico! (Risos)<br />

– Foi uma noite ótima, tudo perfeito!<br />

– Que bom, fico lisonjeada, e faço minhas as suas palavras, foi tudo maravilhoso!<br />

Após este papo descontraído, ela notou que algo também o perturbava, mas não precisou insistir muito,<br />

para que ele abrisse o jogo e falasse.<br />

– Eu voltei a ter aqueles pesadelos terríveis, e acordei várias vezes durante a madrugada.<br />

38


<strong>Caminhos</strong><br />

– Mas porque não me acordou?<br />

– Não queria te perturbar com meus problemas, e penso que você não poderia fazer nada.<br />

– Porque não fala com o seu médico, aliás quando está marcado, a próxima consulta do tratamento?<br />

– O Caio marcou para o começo de janeiro, pois o doutor entraria de férias, durante este período de<br />

festas, apesar dele ter nos mencionado, que este ano não sairia de São Paulo.<br />

– Porque não liga para ele, e vê se pode adiantar a sua consulta, tenho certeza que ele não vai se<br />

recusar, ainda mais se talvez lhe oferecer, uma boa gratificação por isso!<br />

Ele pensou rapidamente e concordou, mas resolveram ligar mais tarde, pois já era hora do almoço,<br />

como não haviam tomado café, decidiram pedir algo para comer, ali mesmo no motel que estavam, e logo<br />

após fazerem uma leve refeição, Nathan ligou para o seu médico, que atendeu prontamente o seu pedido,<br />

e antecipou a sua consulta, sendo que este recusou a oferta, de um pagamento extra pelo feito, e a<br />

remarcou a para o dia seguinte.<br />

De volta à casa do Advogado, como havia sobrado muita comida da ceia, Dirce reaproveitou tudo e<br />

preparou o almoço, depois do café, Arthur ficou em seu escritório particular, que ele mantinha em casa,<br />

para estudar leis e casos em que trabalhava, enquanto Elisa havia ficado o tempo todo no quarto.<br />

Após ter organizado seus papéis, ele procurou saber notícias da moça, mas a empregada comentou,<br />

não a ter visto mais após a refeição matinal, assim, ele aguardou por mais meia hora, e resolveu subir até<br />

o quarto, pois estava demasiadamente preocupado.<br />

Arthur bateu na porta, chamou por ela várias vezes em vão, e após muitas tentativas, verificou que a<br />

porta estava trancada por dentro, a esta altura dos acontecimentos, Dirce já havia escutado todo o<br />

barulho, e foi rapidamente ao encontro do patrão.<br />

– O que está acontecendo patrão?<br />

– Ela se trancou lá dentro, não responde ao meu chamado, não estou gostando nada disso!<br />

– Ai meu Deus, será que a moça fez alguma besteira?<br />

– Me faz um favor, corre até o armário no corredor da cozinha, e pega um chaveiro que tem lá<br />

pendurado, tenho uma cópia de todas as chaves da casa, vai depressa!<br />

Dirce, voltou rapidamente com as chaves, quando abriram a porta, se depararam com Elisa desacordada<br />

em cima da cama, ela havia bebido sozinha, toda uma garrafa de whisky, e era visível o<br />

estado deplorável em que se encontrava.<br />

Elisa não respondia aos chamados, estava totalmente alcoolizada, com uma certa dificuldade, eles a<br />

colocaram debaixo do chuveiro, a deixando por ali um bom tempo, até que deu sinais de estar consciente.<br />

Eles ficaram sem entender, ela parecia bem normal na hora do almoço, e agora estava neste<br />

estado lamentável, se ele pudesse adivinhar que ela faria isso, teria escondido todas as garrafas de<br />

bebidas, que ficavam em cima de um carrinho, entre a sala de estar e os quartos.<br />

Arthur se retirou do quarto, para que Dirce pudesse tirar dela, as roupas molhadas e a trocasse, depois<br />

ao ser chamado para entrar novamente, ele e a empregada a colocaram na cama.<br />

– Patrão, o que leva uma pessoa a beber deste jeito?<br />

39


– Vício, o médico da clínica me disse, que ela estava drogada naquele dia, e como ela ficou sem as<br />

drogas, a pelo menos dois dias, ela tentou suprir essa falta através da bebida.<br />

– Cruz credo, eu hem, tanta coisa boa que tem para aproveitar na vida, e ficam aí se acabando com<br />

essas porcarias todas!<br />

– Tem toda a razão, nada justifica tais atitudes, mas vamos agir com cautela, não vamos julgar a<br />

moça sem conhecimento de causa!<br />

40<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Ela concordou com as palavras do advogado, ele estava acostumado a ver casos parecidos, em sua<br />

rotina diária de trabalho, e também sabia como proceder em casos assim, o melhor agora era deixar Elisa<br />

repousar, e a mais tarde voltaria para argumentar o fato.<br />

Perto das dezenove horas, ele ordenou a empregada, que servisse ali no quarto mesmo, uma refeição<br />

mais leve, com certeza depois da bebedeira, o estomago de Elisa deveria estar bem enjoado, e ela<br />

precisava muito se alimentar, porque ainda se encontrava em recuperação, das lesões que havia sofrido, e<br />

depois se certificando que já havia se alimentado, a procurou para uma conversa amena.<br />

– Está se sentindo melhor?<br />

– Estou sim, me desculpe por toda esta confusão que causei, prometo que não faço mais isso!<br />

– Fica tranquila, o mais importante agora, é que você repouse bastante, amanhã cedo vamos a clínica<br />

trocar os curativos, e depois precisamos muito dialogar, sobre tudo o que se passa com você.<br />

Ela fez um sinal com a cabeça, concordando parcialmente com ele, porém havia um medo em seu olhar,<br />

ela parecia muito determinada, a não querer tocar neste tipo de assunto.<br />

A noite parecia ter sido mais longa, havia muitas expectativas para o dia seguinte, até que os sons da<br />

grande cidade, percorrendo todos os cantos, anunciava o novo amanhecer que surgia, era Sábado e<br />

estava chuvoso, e conforme combinado, Letícia passou logo cedo para pegar Nathan, ela iria acompanhalo,<br />

até o consultório do doutor Estevam, que o atenderia pelo pedido realizado, em caráter especial no dia<br />

anterior, era formalizada assim a segunda sessão.<br />

Letícia ficou sentada na sala de espera, tentando se distrair lendo uma revista, enquanto Nathan era<br />

preparado para o início do tratamento, por padrão o médico fazia perguntas, preenchia um formulário no<br />

computador, e dava seguimento ao procedimento, colocando o paciente deitado na maca, com uma<br />

música bem suave de fundo, e lhe explicando como seria.<br />

– Hoje além do tratamento, vou fazer um teste com você, é algo que desconfiei na primeira sessão, e<br />

pretendo hoje tirar esta dúvida.<br />

– É algo com que eu deva me preocupar?<br />

– De forma alguma, pode ficar tranquilo, na verdade é algo muito importante, que pode ajudar no seu<br />

tratamento, agora relaxe, respire bem fundo, e feche os seus olhos, no final conversaremos.<br />

O paciente seguiu todas as orientações, e sem muita demora, seus pensamentos foram se distanciando<br />

dali, onde novamente ele se viu sozinho, naquele estranho e pequeno riacho, rodeado por diversas pedras<br />

e arvores, onde voltou a sentir aquela imensa vontade, de tentar atravessa-lo, desta vez não hesitou<br />

muito, colocou os pés nas águas límpidas, e percebeu que não era medo que sentira anteriormente, mas<br />

uma grande e devastadora angustia, que vinha lá no fundo de seu peito, e isso o perturbava.<br />

Mesmo com este forte sentimento, iniciou a curta travessia com precaução, e chegando ao outro lado,<br />

ele notou que havia uma pequena trilha, onde a seguiu até sair em um descampado, avistando ao longe, o<br />

que parecia ser um pequeno povoado.


<strong>Caminhos</strong><br />

Ele caminhou com passos largos, tinha pressa e curiosidade em descobrir, o significado de todo aquele<br />

cenário, que parecia vivenciar de verdade naquele momento, e as pessoas que passavam por ele, faziam<br />

questão de cumprimenta-lo, como se já o conhecesse a tempos, mas traziam seriedade em seus<br />

semblantes.<br />

Prestando mais atenção, notou que as roupas e as construções eram bem antigas, mas uma casa<br />

chamou mais sua atenção, pelo grande movimento que lá havia, e quando se deu conta, já se encontrava<br />

defronte a porta de entrada, mas por mais que se esforçasse, não conseguia entrar naquele local, foi<br />

quando ouviu alguém chamar pelo seu nome.<br />

Foi como se ele fizesse, todo o percurso que havia feito, rapidamente e ao contrário, até que acordou no<br />

consultório, era o doutor que havia lhe chamado, sendo que depois que despertou, ele o convidou para<br />

tomar uma água, e se sentar à mesa para finalizar a consulta.<br />

– Esta se sentido bem, tem algo que queira comentar ou perguntar?<br />

– Essas visões que tenho, são iguais aos sonhos que temos, ou é uma criação de nossa mente?<br />

– As vezes sim, são manifestações psíquicas da mente, as vezes são recordações vivenciadas no dia a<br />

dia, misturadas a imagens sem nexo algum.<br />

– Com certeza é criação da mente, porque tudo o que acabei de visualizar, parecia ser muito antigo, e<br />

de uma outra época.<br />

– Veja bem, não fique preocupado com estes detalhes, se são sonhos ou se são recordações, o que<br />

realmente importa é a evolução, que cada sessão pode lhe proporcionar.<br />

– E ao seu ver, qual seria essa evolução?<br />

– Eu já havia notado na sessão anterior, mas eu precisava testar novamente hoje, para não tirar<br />

conclusões precipitadas, porque normalmente as pessoas demoram, um pouco mais de tempo para se<br />

desligar, e entrar nesse estado de mentalização, ao qual desde a primeira sessão, você assimilou<br />

facilmente.<br />

– E o que isso pode significar?<br />

– Creio que anteriormente, você tenha feito um procedimento de hipnose!<br />

O médico explicou todo o argumento, para que ele pudesse assimilar e compreender, logicamente<br />

precisaria da realização de mais sessões, para poder dar um parecer mais preciso, mas por hora este era<br />

seu diagnóstico.<br />

Nathan agradeceu pelos esclarecimentos, e principalmente pelo atendimento concedido, fora da data de<br />

agendamento, e após a consulta ele e Letícia, voltaram juntos para a mansão, onde a convidou para<br />

passar o resto da tarde, sendo que primeiramente, eles foram até a biblioteca da propriedade, onde lhe<br />

contou tudo o que havia visto, e sentido durante toda a segunda sessão, principalmente sobre toda aquela<br />

angustia, do intrigante riacho e o antigo povoado.<br />

41


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 10 •<br />

Anoiteceu, Dirce estava iniciando os preparativos para o jantar, quando Arthur subiu as escadas, e bateu<br />

na porta do quarto de Elisa, onde esta demorou um pouco para abrir, por estar demasiadamente receada,<br />

sobre a conversa que provavelmente teriam, mas decidiu encarar Arthur deixando-o entrar.<br />

Ela também estava com muita vergonha, um dos motivos era pelo seu rosto, ainda apresentar muito<br />

inchaço, e o outro por ter dado o vexame de sua bebedeira, Elisa ficou sentada na cama, enquanto o seu<br />

benfeitor lhe falava.<br />

– Muito bom, pelo que estou vendo já está melhor, mas como já deve ter previsto, nós precisamos ter<br />

esta conversa!<br />

– Não tenho nada para falar, sei que só lhe dei trabalho, e estou sendo um estorvo para o senhor,<br />

amanhã bem cedo eu vou embora!<br />

– Quero que entenda o seguinte, que não sairá desta casa até que se recupere, ou eu tenha certeza que<br />

ficará melhor em outro lugar, quanto a dar trabalho, dentro da minha rotina diária, já passei por coisas bem<br />

piores, e estou convicto que posso lhe ajudar, e eu só tenho uma pergunta a lhe fazer, quer realmente ser<br />

ajudada?<br />

– Que tipo de ajuda está me propondo, é sobre dinheiro? O que eu terei de fazer em troca, o que quer<br />

de mim de verdade?<br />

– Pelo tom de sua voz, e pelo que eu pude entender, acha que quero lhe ajudar, para depois me<br />

aproveitar de você, não é mesmo?<br />

– Me desculpe a franqueza, mas todos os homens que conheci, só queriam me pagar para fazer sexo,<br />

tomar meu dinheiro ganho, ou na maioria das vezes me bater, isso quando não me deixavam chapada<br />

para me estuprar!<br />

Agora tudo se encaixava, a surra que levou, o medo de se envolver com a polícia, as drogas e a<br />

bebedeira, entendendo claramente a situação, ele se sentou ao seu lado, e pegando em sua mão lhe<br />

falou:<br />

– Eu sinto muito por tudo o que acabou de contar, quando lhe ofereci ajuda, em nenhum momento<br />

passou pela minha cabeça, em tirar alguma vantagem, ou de me aproveitar de você, tudo que fiz foi por<br />

um impulso, na verdade, também por algo que a Dirce havia me dito, em uma conversa nas vésperas do<br />

natal, mas isso é uma outra história, e que não vem agora ao caso.<br />

– Mas todos sempre querem alguma coisa em troca!<br />

– Tem toda a razão, o ser humano sempre faz algo esperando por outra, mas pode se desarmar, porque<br />

este não é o meu caso, neste momento só quero mesmo a sua amizade, e sua total recuperação, por isso<br />

lhe peço que aceite a minha ajuda.<br />

Ela jogou o corpo para traz, passando a ficar deitada na cama, e olhando fixamente para o teto, ficou<br />

refletindo sobre as palavras do novo amigo, ele também se deitou ao seu lado, pegou novamente em sua<br />

mão, e ficou aguardando a moça falar algo.<br />

Pela demora, pois o patrão já havia entrado no quarto, a cerca de mais ou menos meia hora, Dirce muito<br />

preocupada, subiu e tentou escutar atrás da porta, mas como não ouviu nada, voltou para a cozinha<br />

pensativa, ficando tudo por conta de sua imaginação, o que supostamente, poderia estaria acontecendo lá<br />

dentro com os dois, mas logo após isso, a moça resolveu falar.<br />

42


<strong>Caminhos</strong><br />

– Eu vim do Rio de Janeiro para cá com meu namorado, a minha família foi contra o tempo todo, pois já<br />

haviam percebido que ele não prestava, enquanto eu que estava totalmente apaixonada, não enxergava<br />

nada pela frente, a não ser a ilusão de ser feliz ao seu lado.<br />

– Continue, você deve desabafar tudo, vai lhe fazer bem!<br />

– Depois que chegamos, ele me levou junto para morar de favor, com um suposto amigo dele de<br />

infância, no início eu via aquela movimentação entre eles, muitos cochichos pelos cantos da casa, que era<br />

bem pequena, e não percebia nada, ele me comprava muitas roupas, e não deixava me faltar nada, eu<br />

acreditava que gostava mesmo de mim.<br />

– E o que aconteceu depois?<br />

– Houve uma briga por causa de dinheiro, eles acharam que eu não estava em casa, e por<br />

detrás da porta, eu ouvi toda a discussão, que era sobre uma quantia muita alta, que meu namorado havia<br />

pego emprestado, para poder comprar muitas drogas, com a intenção de revende-las a usuários, mas algo<br />

acabou dando errado na transação, e ele acabou perdendo quase tudo, e com isso não tinha como repor<br />

todo esse dinheiro, que havia pego deste seu companheiro, e depois de alguns empurrões, socos, e<br />

pontapés, houve alguns disparados de revolver, e ao sair do quarto, vi que ele havia matado o Junior, meu<br />

querido e amado namorado.<br />

– Minha nossa, deve ter sido uma cena terrível e traumatizante!<br />

– Na hora minhas pernas bambearam, e eu não consegui ter reação alguma, o cara me pegou pelo<br />

braço, me amarrou na cama, e colocou um pano dentro da minha boca, para que eu não gritasse por<br />

socorro, e bem na minha frente, ele ligou para um comparsa seu, pedindo ajuda para remover o cadáver,<br />

e dar sumiço em seu corpo.<br />

Ao contar os fatos, Elisa se emocionou muito, e lágrimas corriam pelos ferimentos em seu rosto, ele se<br />

levantou rapidamente, pegou um lenço em uma das gavetas da cômoda, e fez com que ela retornasse a<br />

posição anterior, se sentando junto a ele na beira da cama, e com todo o cuidado necessário, começou a<br />

enxugar todo o seu rosto, que já se encontrava todo molhado, e foi compreensivo com ela.<br />

– Se quiser parar por aqui, não tem problema algum, outro dia você termina de contar a sua história.<br />

– Não eu vou falar tudo, tenho de tirar este nó, que está entalado em minha garganta!<br />

– Tudo bem, respira fundo e continue, não tenha pressa.<br />

– Ele me deixou trancada por muitos dias, só me levava o que comer e beber a noite, o resto do dia eu<br />

ficava amarrada, o meu banheiro era a própria cama, e eu tinha que conviver com tudo isso, ao ponto de<br />

chegar a pensar seriamente, em tirar minha própria vida, até que um certo dia, ele mesmo não suportando<br />

mais o mal cheiro, que estava dentro daquele quarto fechado, me desamarrou, rasgou toda minha roupa, e<br />

me jogou dentro do chuveiro.<br />

– E ele chegou a te bater?<br />

– Até aquele momento não, como não havia me dado uma toalha, tive que sair totalmente nua, ele me<br />

pegou pelo braço, levou até o outro quarto, e acabou me pegando a força, e além de me estuprar, me<br />

obrigou a ingerir drogas, me levando a perder todos os meus sentidos, e ele provavelmente pôde fazer, o<br />

que quisesse comigo, foi assim dia após dia, até que em um deles, eu consegui escapar de lá, me<br />

aproveitando de um descuido da parte dele, assim passei algumas semanas nas ruas, e tive que me<br />

prostituir para poder sobreviver, também passei e me drogar diariamente, para suportar toda esta situação,<br />

mas ele acabou me encontrando, e querendo me levar de volta a força, eu resisti, e ele acabou me<br />

batendo, o resto você já sabe, foi o dia que me achou caída no estacionamento.<br />

43


<strong>Caminhos</strong><br />

Nem mesmo Arthur, acostumado a advogar casos complicados e complexos, não suportando a história<br />

da moça, acabou também se emocionando muito, dando-lhe um abraço bem apertado, lhe dizendo que a<br />

partir deste momento, poderia ficar bem tranquila, porque passaria a cuidar dela, caso a mesma aceitasse.<br />

Ele saiu do quarto, foi até o seu escritório na casa, pesquisou no computador por clinicas de reabilitação,<br />

e optando pela mais recomendada, ligou para o plantão em busca de informações, estava mesmo muito<br />

determinado, a ajudar Elisa a se recuperar.<br />

Nathan e Letícia, que haviam passado praticamente toda a tarde, conversando e lendo livros na biblioteca,<br />

resolveram sair a noite para jantar fora, ela o levou a um restaurante italiano, ao qual já haviam<br />

frequentado antes do acidente.<br />

Ela se admirou quando ao entrar na portaria, ele cumprimentou pelo nome o Hostess, (nome dado<br />

aos recepcionistas), depois se acomodaram na mesa, e o garçom sugeriu um vinho envelhecido e<br />

importado, acompanhado de uma salada de entrada, até que escolhessem o prato principal.<br />

Enquanto saboreavam o delicioso vinho, e descontraidamente trocavam conversas, sobre as<br />

lembranças da viagem que fizeram a Paris, ela aproveitou o momento, tirou uma aliança de prata de sua<br />

bolsa, e colocou no dedo dele, lhe dizendo o seu significado.<br />

– Estou devolvendo a você, é a nossa aliança de compromisso, eles tiraram e guardaram junto com seus<br />

pertences, quando foi atendido por conta do acidente!<br />

Ele sorriu, e ficou surpreso com a novidade, segurou a sua mão e a beijou, causando inveja a todos os<br />

presentes do estabelecimento, em seguida fizeram o pedido da refeição, e ela apontando para a recepção<br />

falou:<br />

– Tem uma coisa que fez e nem percebeu, e eu preciso lhe contar, você chamou ele pelo nome!<br />

– Sério, eu nem percebi que fiz isso, a minha memória me prega peças, falando em lembranças,<br />

enquanto esperamos o pedido ser servido, me fale como estava o nosso relacionamento, dias antes do<br />

acidente?<br />

– Bem, quanto ao nosso namoro, eu penso que tudo estava normal, mas uma semana antes, em um<br />

final de semana, você me levou para a casa de praia em Angra, dizendo que tinham coisas do seu<br />

passado, que gostaria de compartilhar comigo.<br />

– E porque não me contou isso antes?<br />

– Olha se coloca no meu lugar, minha cabeça deu um nó imenso, quando não se lembrou de mim, ainda<br />

por cima o doutor Estevam e o Caio, me pediram para não ficar lhe contando muita coisa, para não<br />

atrapalhar o seu tratamento, eu achei que por se lembrar do nome do moço, seria uma oportunidade de te<br />

contar algumas coisas, só que algumas são meio que sem sentido, na verdade acabei não entendendo<br />

quase nada.<br />

Ele parecia compreender o que ela lhe dizia, e intrigado com estes fatos, prosseguiu com o<br />

questionamento.<br />

– Como o que por exemplo?<br />

– Primeiro me falou, que não tinha um relacionamento sério com outra mulher, há muitos anos, e que eu<br />

era diferente e especial.<br />

– Você é tudo isso mesmo!<br />

44


<strong>Caminhos</strong><br />

– Seu bobo, então, depois começou com uma conversa estranha, dizendo que se eu ficasse com você,<br />

eu nunca chegaria a ver o final da estrada.<br />

– Não faz sentido algum, o que mais lhe falei?<br />

– Muita coisa esquisita (Risos). Não consigo me lembrar de tudo, mas falou algo parecido como,<br />

estar muito cansado de tudo, que já era hora de passar a fonte para outra pessoa, e que provavelmente eu<br />

era a pessoa certa para isso.<br />

– Fonte, este nome me parece familiar, você sabe ou faz alguma ideia do que seja isto?<br />

– Nenhuma, mas disse também que com o tempo, iria me preparar para uma transição, mas após este<br />

dia houve o acidente, e o resto você já sabe.<br />

– Agora concordo contigo, são mesmo coisas difíceis de assimilar, será que o Caio sabe algo sobre esse<br />

negócio de fonte?<br />

– Bom já que me perguntou, vou te falar o que eu penso sobre ele, porque no início do nosso namoro,<br />

ele até que ele era bem legal, mas depois que você me levou para Angra, ele passou a me tratar bem<br />

diferente, sei lá, as vezes ele parece ter ciúmes de você!<br />

– Há muitos fatos circulando, que eu ainda preciso de tempo para poder entender, rola entre vocês um<br />

ar de desconfiança, parecido como uma disputa, que as vezes me deixa com muitas dúvidas.<br />

– Saiba que eu compreendo, deve ficar pensando muito, tipo em quem devo confiar?<br />

Ele fez um gesto carinhoso como as mãos em seu rosto, e demonstrando admiração completou:<br />

– Fico admirado pela sua sinceridade, peço que me perdoe por ter estas dúvidas, porque é muito<br />

complicado não se lembrar das coisas.<br />

– Eu sei disso, não se preocupe, eu entendo perfeitamente.<br />

– A diferença é que você se abre comigo, me conta as coisas, e ele fica se esquivando toda vez que<br />

faço perguntas, outro dia eu chamei ele no meu quarto, para mostrar um cofre ao qual eu havia me<br />

lembrado, ele ficou super estranho, e quando pedi a sua ajuda para abrir, porque eu tinha as chaves, mas<br />

não conseguia lembrar da senha, ele me disse que também tinha um em seu quarto, e que cada qual de<br />

nós por segurança, tinha sua senha pessoal, e que ele não podia ajudar.<br />

– Você fala do cofre atrás do quadro?<br />

– Sim este mesmo, como sabe?<br />

– O Caio lhe falou a verdade, ele não tem mesmo o acesso, mas agora vou te dar uma prova, que vai<br />

mostrar a você, o quanto confiava em mim, você tem as chaves, e eu tenho a senha!<br />

Ele ficou muito surpreso com a revelação, mas todos os comentários se cessaram, quando o garçom<br />

começou a servir a comida, ela piscou e sorriu para ele, com ares de quem havia vencido esse round, e<br />

ele entendera o recado.<br />

Haviam combinado entre si, em fazer a refeição calmamente e sem pressa, conter toda a ansiedade que<br />

os cercavam, terminar de beber a garrafa de vinho, e somente depois retornariam a mansão, para<br />

verificarem juntos a veracidade do fato.<br />

45


<strong>Caminhos</strong><br />

Após pagar a conta, e agradecer o chefe pelo excelente prato, foram rapidamente para a propriedade,<br />

porque Caio havia acabado de ligar, avisando que já se encontrava no aeroporto, e que não tardaria em<br />

voltar, sendo que o ideal era manter tudo em sigilo, até saber os reais motivos de tanto mistério.<br />

Quando chegaram, foram diretamente para o quarto, ele retirou o quadro e colocou a chave, ela<br />

demonstrando uma grande expectativa, digitou a senha e abriu o cofre, e ambos olharam para ver o que<br />

havia dentro, onde continham muitos dólares, títulos de bancos, algumas joias, e ao fundo um objeto muito<br />

brilhante, mas percebendo a chegada de Caio, eles acharam melhor trancar e colocar de volta o quadro na<br />

parede.<br />

46


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 11 •<br />

Na continuidade da chegada de Caio, após ele guardar todas as suas bagagens, foi direto ao quarto do<br />

amigo, Letícia já havia ido embora sem ser vista, e depois de um abraço apertado, contou a Nathan<br />

detalhes de sua viagem, uma conversa que se estendeu até alta madrugada, e quando terminou se<br />

recolheu para descansar.<br />

O dia começou com um telefonema de Dulce, que era a coordenadora voluntária da Ong, informado<br />

tristemente a Letícia, de uma tragédia que havia acontecido na favela, Nicolas que era um jovem de<br />

apenas vinte e cinco anos, que eles haviam recuperado e retirado das drogas, e o colocado como zelador<br />

da instituição, havia sido assassinado.<br />

Era domingo, e a notícia abateu todos os membros da Ong e da comunidade, ela ligou imediatamente<br />

para Nathan, o avisando do fatídico acontecimento, e apesar de não ter se lembrado o rapaz, pediu para<br />

que o amigo Caio, o ajudasse a tomar todas as providencias necessárias, e após todos os trâmites legais,<br />

ambos foram para o local, primeiramente pensando em dar um pouco de conforto a família, depois<br />

buscariam informações sobre o fato acontecido.<br />

Era quase meio dia, quando o corpo do jovem rapaz, chegou para ser velado na comunidade, a pedido<br />

de Letícia, o velório seria feito em um salão, que ficava defronte a quadra da Ong, ao qual eles haviam<br />

acabado de reformar, para agregar as atividades da instituição.<br />

Entre muitas lágrimas e abatimento, os pais de Nicolas chegaram para velar o filho, com olhares de<br />

agradecimento, eles cumprimentaram todos os integrantes da Ong, que ali estavam presentes, e<br />

prestando toda a solidariedade para os familiares.<br />

Haviam vários boatos, de que bem antes do feriado de Natal, ele havia sofrido uma recaída, tornando a<br />

consumir as drogas, e assim acumulando uma dívida muito alta, vindo a ser morto por um ajuste de<br />

contas, isso era uma derrota que todos sofriam, e que de maneira alguma, os autores poderiam ficar<br />

impunes.<br />

Rapidamente as suspeitas caíram sobre Raul, que era o chefe local de todo o tráfico, mas ainda era<br />

cedo e precipitado afirmar qualquer coisa, pois não haviam provas de seu envolvimento, mas ele acabou<br />

sendo abordado sobre o assunto, por sua amada esposa Iris, que havia acabado de voltar do velório, e<br />

sofrido com rumores e olhares de acusação.<br />

– Me diga a verdade, você tem algo a ver com isso?<br />

– Sabe que não consigo mentir para você, mas para sua própria segurança e do Gabriel, não conte nada<br />

a ninguém, eu não mandei matar o rapaz, era para somente lhe dar um susto, um bom corretivo para<br />

impor respeito, senão daqui a pouco todos iriam achar, que podiam comprar as coisas e dar calote,<br />

mas o Otto disse que ele acabou reagindo, e por acidente atirou nele.<br />

Ela ao ouvir a dura confirmação, não pensou duas vezes, e lhe dando um tapa no rosto, mostrou toda<br />

sua indignação com o marido, que também estava apreensivo com o fato ocorrido, mas ele não revidou a<br />

agressão, abaixou a sua cabeça, e foi direto para o esconderijo, pois se fazia necessário ficar escondido.<br />

Iris depois de chorar e pensar muito, decidiu arrumar suas coisas e de Gabriel, ela estava decidida a ir<br />

embora, e deixar definitivamente Raul, isso tinha sido a gota d'água, já não aguentava mais toda esta<br />

situação, que envolvia sua família com toda bandidagem.<br />

Devido ao acontecimento, a polícia fez um cerco e começou a investigar os fatos, mas não podiam tomar<br />

providências, baseadas somente em boatos que circulavam, mesmo assim, Raul era tido como o principal<br />

suspeito do crime, e Otto, Militão e Situação, também se afastaram dos arredores da favela.<br />

47


<strong>Caminhos</strong><br />

Caio havia ficado a tarde toda no velório, e deu todo o apoio que foi necessário, mas depois precisou se<br />

ausentar, por causa de um compromisso já marcado anteriormente, Letícia que não estava se sentindo<br />

bem, pediu para que Nathan a levasse embora, e faltando cerca de uma hora para o enterro, acharam que<br />

era o momento de deixar apenas os familiares, e todos os amigos da comunidade, se despedirem do<br />

rapaz.<br />

Quando entravam no carro, eles avistaram Gabriel e sua mãe, carregando sacolas e uma pequena mala,<br />

eles pareciam estar deixando o local, Letícia vendo esta cena o chamou, e pediu para que esperassem por<br />

ela, Moreira tocou o carro por alguns metros, até onde os dois se encontravam, a professora queria saber<br />

o que estava acontecendo.<br />

– Iris, onde você vai com o Gabriel, vão embora daqui?<br />

– Sei que está parecendo covardia de minha parte, mas não aguento mais viver desta maneira!<br />

– Não vou lhe pedir para me dizer o motivo real, para ter chegado ao ponto de tomar esta atitude<br />

drástica, mas eu tenho que perguntar, tem certeza que vai ser o melhor para vocês?<br />

– Absoluta, qualquer lugar é melhor que aqui no momento, quero sair do meio de toda esta sujeira.<br />

– Bem, se você acredita que é a coisa certa a fazer, tem todo o meu apoio, vocês estão indo para onde<br />

afinal, tem onde ficar?<br />

– Na verdade, tenho uma tia que mora em Santo André, mas não consegui falar no celular dela, estou<br />

indo meio que na sorte, como eu lhe disse antes, preciso sair logo daqui.<br />

Nathan que havia se aproximado, acabou ouvindo toda conversa, e de imediato chamou o seu motorista,<br />

para carregar os seus pertences, não poderia permitir de forma alguma, que eles saíssem dali sem destino<br />

certo, e a mercê de sua própria sorte, e tratou logo de comunicar a sua decisão.<br />

– Não se preocupem com nada, vocês vão conosco para casa!<br />

Gabriel saiu correndo em sua direção, e abraçou aquele que tinha por um grande amigo, Iris voltou a<br />

chorar, mas desta veze emocionada, pelo motivo da ajuda que recebiam, neste momento tão difícil de<br />

suas vidas, Letícia vendo todo o desfecho, também não resistiu e chorou muito, e assim todos foram para<br />

a mansão.<br />

Na hora marcada, o cortejo fúnebre saiu em direção do Cemitério, alguns amigos do rapaz, fizeram<br />

questão de carregar o caixão, sendo que os familiares foram logo atrás, e todos acompanharam em<br />

silêncio, e com uma profunda tristeza, a despedida de Nicolas, mais um jovem que perdia a vida, por<br />

causa do envolvimento com as drogas.<br />

Era a última semana do ano, a noite no antiquário, pai e filha conversavam muito sobre planos, e os<br />

projetos para o futuro, eles estavam muito empolgados, por estarem prestes a tentar desvendar, o<br />

misterioso e antigo histórico, do cavalheiro e sua relíquia, e ansiosa como sempre, Marina tentava o<br />

convencer.<br />

– Pai, estou pensando em procurar pelo número do telefone, e me antecipar ligando para ele.<br />

– Não acha um pouco precipitado, de repente pode até estragar tudo, o ideal é que ele mesmo nos<br />

procure, para não levantar nenhum tipo de suspeita.<br />

– Eu sei disso, mas também não podemos deixar esfriar muito, ele deve ser um homem muito ocupado,<br />

pode ser que daqui a pouco se esqueça, e aí ficará mais difícil a aproximação, temos que aproveitar este<br />

seu interesse, em nos mostrar a peças para catalogar.<br />

48


49<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Bom filha, pelo que lhe conheço, nada fará você mudar de ideia, então faça o que achar necessário!<br />

Ela não pensou duas vezes, pegou a lista telefônica, e iniciou a procura pelo telefone, mas nada<br />

encontrou, provavelmente ele não permitia a divulgação do número, não desistiu e fez também buscas<br />

pela internet, onde acabou encontrando o seu endereço, foi quando então tomou uma medida drástica, se<br />

arrumou, avisou o pai rapidamente sobre sua saída, não permitindo assim que ele opinasse, pegou o seu<br />

carro na garagem, e foi até a Mansão.<br />

Perto das vinte horas, Marina chegou no local apontado, e já foi logo apertando o interfone se<br />

anunciando, e para a sua grande surpresa minutos depois, Nathan apareceu no portão para atendê-la,<br />

mais do que depressa, tratou logo de esclarecer sua visita.<br />

– Boa noite, achei que não se lembraria de mim, deve ter conversado como muita gente importante,<br />

naquele dia da festa!<br />

– Claro que me lembro, me desculpe por perguntar, mas eu havia marcado algo para hoje e me<br />

esqueci? É que ando com alguns problemas de memória.<br />

– Não, eu é que lhe devo desculpas por vir assim sem avisar, ainda mais a estas horas da noite, mas é<br />

que para falar a verdade, eu sou muito aficionada por arte, e estou louca para ver esta sua coleção, e é<br />

claro também ajudá-lo, catalogando todas estas obras.<br />

– Eu entendo o seu lado, mas creio que hoje não será possível, nem tanto pelo horário, mas foi um dia<br />

muito difícil, chegamos a pouco de um velório, e estou acolhendo dois amigos, acertando por assim dizer,<br />

os detalhes de suas acomodações.<br />

– Mais uma vez peço-lhe desculpas, era parente seu?<br />

– Não, era um colaborador de uma Ong que cuidamos, mesmo assim foi um pesar para todos nós.<br />

– Eu sinto muito por isso, neste caso eu vou embora, e outro dia se puder me atender, eu retornarei.<br />

– Saiba que preciso muito saber a sua opinião, e quero que faça a uma perícia completa, em todas as<br />

obras de arte da casa, mas vamos fazer assim, vou marcar para a segunda-feira, depois do ano novo, e<br />

lhe receberei com o maior prazer!<br />

– Claro, se não for lhe atrapalhar, eu gostaria muito, para mim está ótimo!<br />

– Então está combinado, vamos marcar para a parte da tarde, me dê o seu número de telefone, eu ligo<br />

para confirmar.<br />

Ele se despediu e voltou para dentro, e ela retornava para casa satisfeita, tinha valido a pena ir até lá e<br />

se arriscado, o que era apenas uma tentativa, acabou virou um sério compromisso, e Marina não via a<br />

hora de dar a boa notícia ao pai.<br />

Do outro lado da cidade, na casa do advogado Arthur, Elisa havia decido e jantado com ele, e ao<br />

terminarem, a convidou para irem até o escritório, onde precisavam muito conversar, ele notou que ela<br />

procurava de todas as formas, esconder os ferimentos do rosto com seus cabelos, e depois que se<br />

sentaram ele iniciou a conversa.<br />

– Não precisa se preocupar com o seu rosto, logo ele ficará bom!<br />

– É que eu fico com vergonha, devo estar horrível.<br />

– Isso não é o mais importante, agora eu preciso lhe falar sobre algo, um assunto de suma importância<br />

para você, mas tudo dependerá pelo modo que reagir, a esta proposta que vou lhe fazer.


<strong>Caminhos</strong><br />

– Assim você me assusta, ainda não havia visto você falar assim tão sério, o que seria?<br />

– Vou direto ao ponto, você aceitaria a minha ajuda, para tratar o vício das drogas e do álcool?<br />

A moça parecia não acreditar em sua proposta, e ainda tentando entender este seu gesto, procurou<br />

entender do que se tratava.<br />

– Essa me pegou de surpresa, mas de que tipo de ajuda estamos falando?<br />

– De uma internação, em uma clínica particular de recuperação para viciados.<br />

– Mas eu não teria como pagar por um tratamento destes, sei que deve ser bem caro.<br />

– Não se preocupe com dinheiro, o que eu preciso saber mesmo, é se realmente quer se cuidar, e<br />

alcançar a cura dos vícios, para poder voltar a ter uma vida normal, porque é um processo a médio prazo,<br />

e vai requerer muito esforço da sua parte.<br />

– Por quer me ajudar tanto, é algum um tipo de caridade que pratica?<br />

– Não costumo fazer muito por outras pessoas, mas eu sinto que devo lhe ajudar, então o que diz da<br />

minha proposta?<br />

– Seria burrice minha não aceitar, já que não tenho para onde ir, nem como me sustentar,<br />

e provavelmente ficando nas ruas, acabaria passando por tudo novamente, então não tenho outra escolha,<br />

a não ser lhe agradecer muito, e aceitar a sua ajuda.<br />

Ele sorriu satisfeito e muito aliviado, com a resposta positiva da moça, até pensou que ela fosse se<br />

rebelar, com esta sua generosa oferta, mas muito pelo contrário, ela claramente demonstrava sinais, de<br />

que realmente queria mudar de vida, e assim combinaram a sua internação, para o início do próximo ano.<br />

Alguns dias se passaram, era véspera de ano novo, e por tradição todo ano, um grupo de amigos<br />

pessoais e de trabalho, se reuniam para juntos almoçarem, em uma rotisserie localizada num shopping da<br />

cidade, entre eles estava o diretor Murilo, que desta vez fora sozinho ao encontro, já que o amigo ainda<br />

não havia retornado do interior, e Bianca que nunca havia perdido a confraternização, também havia<br />

faltado naquele dia.<br />

O encontro fui muito proveitoso e divertido, ambos contaram as façanhas e acontecimentos, que<br />

marcaram o ano que estava terminando, Murilo que era muito de ficar na dele, curtiu mais e falou muito<br />

pouco, mas acabou bebendo o suficiente, para perceber que já estava meio alto, e decidiu que já era hora<br />

de parar, e retornar para o seu apartamento.<br />

Deu um abraço nos rapazes, cumprimentou as moças que estavam presentes, tomou a saideira<br />

por insistência dos amigos, e desceu pela escada rolante, pois o restaurante ficava no primeiro andar<br />

do shopping, e ao chegar no térreo deu de cara com Bianca, que havia acabado de chegar.<br />

– Olha ela veio, mas está atrasada para a reunião, já foram quase todos embora!<br />

– Este ano eu achei melhor não participar, eu vim mesmo até aqui, para ver se acho uma fantasia para<br />

usar hoje a noite, no baile anual de máscaras.<br />

– Puxa vida é verdade, havia me esquecido da festa, creio que até o Diego se esqueceu, ele deve estar<br />

viajando de volta, e pode ser que ele chegue a tempo de ir, mas provavelmente eu não vou.<br />

– Vai sim, a vida é curta e temos de aproveitar!<br />

– Você vai à festa com a sua namorada?<br />

50


<strong>Caminhos</strong><br />

– Não sei ainda, é bem complicado, mas não quero falar sobre isso com você.<br />

– Falo e repito, acima de qualquer sentimento entre nós, o que mais me importa é a sua amizade.<br />

– Eu sei disso, e acho que deveria ir na festa sim, tentar se divertir e curtir um pouco, tenho certeza que<br />

vai ser ótima, de repente a gente se encontra por lá.<br />

– Quem sabe, vou pensar nisso, mas agora preciso ir descansar, e tentar eliminar esta bebedeira até a<br />

noite, se eu conseguir melhorar eu vou, até mais!<br />

Ao se despedirem com o habitual gesto de beijinhos no rosto, eles acabaram sem querer, trocando de<br />

lado, e seus lábios acabaram se esbarrando um ao outro, e ele não resistindo ao momento, aproveitando a<br />

oportunidade que surgiu, acabou a beijando na boca, deixando-a totalmente sem ação, mas tão logo ela<br />

caiu em si, se afastou, e foi embora sem dizer praticamente nada.<br />

51


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 12 •<br />

A tarde na Mansão, Iris e Gabriel que já haviam se hospedados há alguns dias, mesmo abatidos com<br />

tudo o que havia acontecido, estavam admirados com o tamanho, e todo o luxo daquela propriedade,<br />

Letícia que havia vindo de manhã para ajuda-los, se despediu com carinho dos dois hóspedes, e chamou<br />

Nathan para uma conversa em particular.<br />

– Estou preocupada com toda esta situação, tenho receio de que quando o marido souber, que estão<br />

aqui abrigados em sua casa, vai ficar muito furioso, e provavelmente vai vir direto para cá.<br />

– Creio que agora ele não faça isso, pelo pouco que Iris me contou, ele deve ficar desaparecido por mais<br />

algum tempo, até a poeira baixar como eles mesmos dizem, enquanto isso pensaremos em algo, e<br />

tomaremos as medidas necessárias.<br />

– Você deve saber o que está fazendo, e tem todo o meu apoio, agora mudando de assunto, sobre a<br />

festa de hoje a noite, o que pensa em fazer, acabou ficando um pouco sem clima!<br />

– Você sempre acaba se esquecendo, do meu pequeno probleminha de memória, do que estamos<br />

falando mesmo?<br />

– Meu amor, me desculpe, pensei que o Caio havia comentado algo com você.<br />

– Acho eu ele até que comentou sobre as festas de dezembro, mas não tivemos oportunidade de falar<br />

a respeito de todas.<br />

– Se trata de um baile de máscaras, onde todo ano se reúnem pessoas da alta sociedade, e alguns<br />

convidados executivos, inclusive algum pessoal da Etros, que também estarão presentes ao evento, vai<br />

ficar um pouco chato se você não comparecer.<br />

– Penso que já fizemos a nossa parte, com relação a tudo o que aconteceu estes dias, e no momento só<br />

podemos ficar no aguardo, para ver que rumo as coisas tomarão, e além do mais quanto mais pessoas,<br />

mais lugares eu puder conhecer, maior serão as minhas chances de recuperar, todas as minhas<br />

lembranças.<br />

– Assim é que se fala, vamos erguer a cabeça e seguir em frente!<br />

– Com toda essa correria e confusão, eu ainda não pude abrir novamente o cofre, utilizando a senha que<br />

me passou naquela noite, mas amanhã a tarde se nada atrapalhar, eu vou dar uma vasculhada em tudo<br />

que há lá dentro.<br />

Ela concordou com o namorado, e juntos foram fazer as compras, passando todo resto daquela tarde, a<br />

procura de fantasias para a festa, eles também aproveitaram para passar um tempo a sós, já que os<br />

últimos dias haviam sido tumultuados, e nem sequer puderam namorar.<br />

O pôr do sol anunciava o final do dia, o último horizonte de tom avermelhado do ano, trazia para muitos<br />

a esperança de uma renovação, de realizar e alcançar as novas metas planejadas, de poder recomeçar<br />

tudo novamente, e também poder contar com dias melhores, era esse o sentimento que pairava no ar,<br />

para todos na residência de Arthur, e Dirce procurou pelo advogado.<br />

– Patrão, o senhor não se esqueceu né?<br />

– Claro que não minha querida, já pode ir embora, sei que é sua noite de folga!<br />

– Se não fosse pela família, eu juro que eu ficava esta noite, para ajudar o senhor com a moça Elisa,<br />

mas é a única vez no ano todo, que todos os parentes vão estar reunidos, e vou poder ver meu filho<br />

52


<strong>Caminhos</strong><br />

Dimas, e matar toda esta minha saudade, ele vai vir direto da faculdade para cá, estou contando as horas<br />

para este encontro!<br />

– Pode ir sossegada, e curte bastante a sua família, eu estou pensando em convidar a Elisa para jantar<br />

fora.<br />

– Vê lá em patrão, vai acabar se apegando a moça, o senhor nem sabe de onde ela vem!<br />

– Não se preocupe com isso, assim que ela tiver totalmente recuperada, e quem sabe até, encaminhada<br />

em algum trabalho, eu me desligo dela, e cada um segue a sua vida!<br />

Ao terminar de falar, a empregada deu um suspiro, e ficou com a cara de quem tinha a quase certeza,<br />

que não era bem assim, que os rumos dos acontecimentos iriam tomar, ela tinha suspeitas de que Arthur,<br />

já se encontrava interessado pela moça.<br />

Antes de bater na porta, ele chegou ao entendimento, que provavelmente por causa dos hematomas no<br />

rosto, ela poderia recusar o convite, assim sendo, ele deu meia volta, foi até o seu escritório, e ligou<br />

imediatamente para um Delivery, pedindo que entregassem a comida em casa, providenciando assim o<br />

jantar para eles dois.<br />

Mudando de localidade, o telefone tocou no apartamento de Murilo, ele que havia se deitado a tarde<br />

para descansar, foi acordado pelo amigo Diego, que havia acabado de chegar de viagem, e estava todo<br />

empolgado para a festa.<br />

– Fala aí meu camarada, animado para logo mais?<br />

– Cara, estou com a cabeça a mil por hora, nem sei se vou na festa!<br />

– Me diga ai, o que aconteceu para te deixar assim?<br />

– É que já faz algum tempo, que estou segurando uma barra sozinho, e eu até preciso muito desabafar<br />

com alguém, senão vou enlouquecer!<br />

– Para te falar a verdade, eu já havia percebido antes, e suspeitei que você está com algum tipo de<br />

problema, sei que suas finanças vão muito bem, então só pode ser uma coisa, é aquela garota que<br />

trabalha contigo!<br />

– Não tem com te enganar, não é mesmo?<br />

– Sabia que era isso, olha faz assim, se arruma com uma roupa normal, coloca no porta malas a fantasia<br />

que vai usar na festa, e me encontra no bar, vamos conversar um pouco e beber umas, e de lá seguimos<br />

para o réveillon certo?<br />

– Ok combinado, obrigado por estar sempre por perto quando preciso.<br />

– Fica frio, amigo é para estas coisas, além do mais, a gente já vai chegar na festa turbinado. (Risos)<br />

– Só você mesmo para me fazer rir, vou me trocar e daqui a pouco estarei lá.<br />

Por volta das vinte e uma horas, Murilo chegou ao local combinado, estacionou o carro e entrou no<br />

estabelecimento, o bar não estava lotado como de costume, e ele não teve dificuldades para localizar o<br />

amigo, que já estava há algum tempo a sua espera, e assim que pediram uma rodada de chope, ele<br />

iniciou o seu desabafo, estava realmente disposto a contar tudo, sobre a sua desilusão amorosa, sobre a<br />

outra garota envolvida, e o beijo que havia rolado no shopping.<br />

53


54<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Marina e Duarte, foram juntos jantar na casa de amigos, que formavam um casal muito simpático, donos<br />

de uma galeria de artes plásticas, famosa por suas aquisições e volume de negócios, e já era de costume<br />

passarem a véspera do ano novo juntos.<br />

Na mansão antes de ir para a festa, Nathan fez questão de jantar com Iris e Gabriel, sabia<br />

da importância do seu apoio e de sua amizade, num momento delicado como este, era a primeira vez que<br />

ela e o filho, passavam este dia sem a presença de Raul.<br />

Em sua casa Talita terminava de se arrumar, para uma festinha que haveria na casa de amigos, faltava<br />

apenas alguns detalhes da maquiagem, ela estava muito linda e sensual, e resolveu ligar para a<br />

namorada, perguntando se ela já estava a caminho para pega-la, mas houve um desapontamento<br />

imediato, Bianca alegando estar muito indisposta, pediu desculpas e cancelou o compromisso.<br />

Ela achou tudo isso muito estranho, até o tom da voz dela estava diferente, ficou por um tempo<br />

pensativa, tentando imaginar o que poderia ter acontecido, após isso pegou o seu celular, e ligou<br />

novamente para ela, mas depois de chamar por um determinado tempo, acabou caindo na caixa postal,<br />

mesmo assim continuou tentando, até que decidiu ir até o seu apartamento, iria pessoalmente tirar isso a<br />

limpo.<br />

Voltando ao Bar, os dois amigos iniciaram a conversa que haviam combinado, e Murilo tomando<br />

coragem, abriu seu coração e contou tudo.<br />

– Sei que não preciso te pedir isso, mas não comente nada com ninguém, o que vou lhe falar.<br />

– Com certeza, pode ficar tranquilo que o assunto vai morrer aqui.<br />

– A Bianca tem uma namorada!<br />

– O que, você tá de brincadeira né?<br />

– Ante fosse meu amigo, antes fosse.<br />

Diego ficou pasmo com a notícia, e por um momento ficou sem palavras, mas era bem inteligente, e logo<br />

ligaria os pontos.<br />

– Fala sério, mas pensando melhor, isso explica algumas atitudes dela, e até a rejeição a você, mas não<br />

dava para desconfiar de nada, desde quando sabe?<br />

– Há bem pouco tempo, mas tem outro lance que me incomoda, na festa de natal ela me procurou para<br />

conversar, só que eu estava muito chateado com tudo, e fui muito frio, não dando muita atenção a ela,<br />

praticamente dei um gelo daqueles, mas logo depois eu vi ela indo embora, deixando a namorada para<br />

traz.<br />

– É verdade, eu me lembro de ter visto, ela estava mesmo acompanhada por outra garota, mas estou<br />

ficando maluco, ou eu vi mesmo você sentado conversando com a tal?<br />

– Não está maluco, naquele momento da festa eu já estava meio alto, a coragem surgiu e fui até a mesa<br />

dela, para saber porque a Bianca havia ido embora, mas ela não gostou nem um pouco da minha atitude,<br />

mesmo assim ela trocou algumas palavras comigo, foi beber algo e também se retirou da festa.<br />

– Amigo, que situação é esta, eu não queria estar na sua pele!<br />

– Tem mais uma coisa, hoje a tarde acabei encontrando a Bianca no shopping, e na hora de se<br />

despedir, eu dei um beijo na boca dela.<br />

– Não brinca, fez mesmo isso?


<strong>Caminhos</strong><br />

– Fiz, e foi um beijo daqueles inesquecíveis!<br />

– Cara nem sei o que te falo, que doideira tudo isso!<br />

– Concordo, muito doido mesmo, pode ter certeza disto.<br />

Ambos tomaram o restinho do copo, e trataram de pedir uma bebida mais forte, Diego agora super<br />

curioso, quis saber mais detalhes.<br />

– Como ela reagiu ao seu beijo, te xingou, lhe deu um tapa?<br />

– Na verdade não fez nada, e nem disse coisa alguma, simplesmente saiu e foi embora, me deixando ali<br />

mesmo plantado, no meio das pessoas que passavam por lá.<br />

– Vamos com muita calma, estou tentando assimilar tudo o que me contou, mas quer saber o que<br />

realmente eu penso?<br />

– Como eu sei que vai dizer de qualquer maneira, pode mandar!<br />

– Enquanto você a assediava, era cômodo para ela resistir, rejeitar seus convites, enfim em lhe dizer<br />

não, mas a partir do momento que você parou, ela acabou sentindo falta de tudo aquilo, na verdade a<br />

maioria das pessoas, só sentem falta ou percebem o que realmente querem, depois que perdem a pessoa.<br />

– Onde está querendo chegar?<br />

– Isso mesmo que está pensando, ela sentiu na pele o gelo que lhe deu, com certeza isso lhe deixou<br />

balançada, e deve estar com muitas dúvidas, sobre o que realmente ela quer para si!<br />

O amigo podia ter razão, ele a estava evitando desde aquele dia, em que todo o fato veio à tona, e para<br />

quem estava acostumada todos os dias, com as palavras carinhosas, olhares românticos, e a amizade<br />

sincera, aquele singelo desprezo aplicado, foi como um balde de água fria.<br />

Murilo ficou um tempo refletindo e assimilando, o que o amigo havia lhe falado, foi quando Diego<br />

apontando para o relógio, mostrava que já era hora de ir para a festa, pagaram a conta e se foram.<br />

Os convidados começavam a chegar, e no local haviam muitos seguranças, por se tratar de uma festa<br />

da alta sociedade, e como não poderia faltar, um bando de repórteres e paparazzos, cercavam toda a<br />

entrada principal, na tentativa de tirar algumas fotos dos convidados.<br />

Por volta das vinte e três horas, o casal Nathan e Letícia chegaram para o evento, estavam fantasiados<br />

a caráter, e foram pomposamente recebidos, pela maioria das pessoas presentes a festa, mas de<br />

longe, dois convidados os observam minunciosamente, um deles eram o diretor Vasques, que já havia<br />

retornado de Nova Iorque, e ao seu lado um desconhecido lhe falava:<br />

– É aquele ali o sujeito, pelo qual contratou os meus serviços?<br />

– Esse mesmo, marca bem o seu rosto, hoje vamos deixar ele aproveitar a festa, mas seus dias estão<br />

contados, no momento certo você faz o que tem de fazer.<br />

– Pode considerar feito, tenho que manter minha reputação, serviços cem por cento garantidos.<br />

– Assim eu espero, não posso mais falhar, meu pescoço está em jogo, se espalhe por aí, eu tenho de<br />

voltar para a mesa da diretoria, tenha muito cuidado!<br />

55


<strong>Caminhos</strong><br />

Letícia tirou Nathan para dançar, os dois sorriam e curtiam este momento tão romântico, ao qual<br />

estavam atravessando, mal sabiam eles do perigo que corriam, que pessoas tramavam contra as suas<br />

vidas, tentando comprometer todo o futuro do casal.<br />

56


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 13 •<br />

Os primeiros fogos de artifício anunciavam, a proximidade do ano novo, a música parou, cada um pegou<br />

uma taça de champanhe, e todos foram chamados a participar da contagem regressiva.<br />

– Dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três, dois, um... Feliz Ano Novo!<br />

Terminava mais um ano, ficava para trás alegrias ou tristezas, vitórias ou derrotas, realizações ou<br />

frustrações, acima de tudo o mais importante agora, era começar o novo ano com pensamentos positivos<br />

e construtivos, e continuar escrevendo as páginas na história de cada um.<br />

A festa deu seu prosseguimento com muitos fogos, e conversas regadas a comida e muita bebida,<br />

Vasques fez questão de ir até a mesa e cumprimentar o casal, ele até chegou a ser convidado para se<br />

juntar a eles, mas já em tom de despedida, alegou uma reunião familiar que o aguardava.<br />

Letícia aceitando um convite de duas amigas, foi se divertir na pista de dança, além de dançar muito<br />

bem, ela conseguia sempre atrair a atenção de todos, por conta da sua beleza estonteante, enquanto Caio<br />

e uma garota que o acompanhava, conversavam descontraidamente com Nathan.<br />

– É meu amigo, ainda bem que este ano difícil acabou, você está aqui conosco, se recuperou bem<br />

do acidente que sofreu, agora é continuar pelos caminhos que nos aguardam!<br />

– Você sempre cita esta palavra "caminhos", ela me soa bem familiar, tem algum significado especial?<br />

– Tem sim, de momento lhe posso adiantar, que tem a ver com o nosso passado, porém é um assunto<br />

muito delicado, que necessita primeiramente da sua melhora, eu creio que logo teremos esta<br />

oportunidade, mas até lá não se preocupe, é algo para resolvermos com bastante calma.<br />

– Tudo bem, tem me apoiado e ajudado muito, vou fazer como me pede, aguardarei até que tenha<br />

condições de assimilar tudo, quem sabe depois da terceira seção do tratamento, não acha?<br />

– É quem sabe, agora vamos fazer mais um brinde, ao futuro que nos aguarda!<br />

Letícia acabava de retornar a mesa, e a tempo de participar do brinde proposto pelo amigo, porém<br />

notava nele um olhar fixo em sua pessoa, mas era de um jeito indecifrável, não sabia se ele secretamente<br />

mantinha algum interesse por ela, ou se era algum tipo de ciúmes do próprio amigo, mas ela pretendia<br />

futuramente investir a fundo, para tentar descobrir esse ponto de interrogação, chamado Caio.<br />

Na mansão, Gabriel havia ido até a sacada do quarto, onde estava acomodado com a mãe, para ver os<br />

fogos do ano novo, ele achou tudo muito diferente, do que estava acostumado a ver na favela, ao perceber<br />

que havia terminado, Iris o chamou para dentro, e ambos carregavam em seu semblante, uma tristeza<br />

profunda de um futuro incerto, que provavelmente encontrariam pela frente, tudo isso juntado a saudades<br />

do companheiro, e do pai que sempre esteve presente.<br />

Também se encerrava em toda a favela, com uma menor proporção de comemorações, a sua queima de<br />

fogos, Otto juntamente com seus dois comparsas, já davam as caras pelas redondezas, enquanto Raul se<br />

encontrava solitário em seu esconderijo, e estava fixamente pensando em uma maneira de sair, de toda<br />

desta enrascada que havia se metido, principalmente pela perda temporária de sua família, ele tinha muita<br />

vontade de resolver toda esta situação, mas de qualquer maneira, teria de abrir mão de uma das partes<br />

envolvidas, ou a família ou a bandidagem.<br />

Na Casa do advogado, Elisa havia se recolhido logo após o jantar, solitário e muito pensativo, Arthur foi<br />

até a sua pequena adega, abriu uma garrafa de vinho tinto, e com a taça na mão, acompanhou pela janela<br />

de seu quarto, alguns fogos de artifícios, que ainda queimavam nos céus de São Paulo, ele sabia que teria<br />

uma batalha pela frente, um tratamento químico é sempre muito desgastante, tanto para quem o faz,<br />

quanto para quem apoia e acompanha o fato.<br />

57


<strong>Caminhos</strong><br />

O jantar na casa dos amigos havia terminado, Duarte fez praticamente todo o trajeto de volta para casa,<br />

conversando e orientando a filha Marina, em relação ao encontro marcado com Nathan, sobre a<br />

catalogação dos objetos de artes.<br />

– Filha tome muito cuidado, para não fazer nenhum comentário, a respeito de nossas pesquisas e<br />

suspeitas, nem em relação ao passado do rapaz, procure examinar minunciosamente os objetos, na busca<br />

de algo parecido com a marca, ou que nos tragam indícios que estamos no caminho certo.<br />

– Pode deixar, venho me preparando a dias para esse encontro, prometo que vou ser discreta e bem<br />

objetiva, ele ficou de me ligar na segunda-feira cedo, para confirmar o horário da visita.<br />

– Tem outra coisa, e isso é muito importante, se ele for quem pensamos que realmente seja, considere a<br />

possibilidade de estar bem a frente, de uma pessoa que possui muita sabedoria, alta perspicácia, e uma<br />

suprema inteligência, vá com muita clama, e seja acima de tudo muito profissional.<br />

– Pode ficar sossegado pai, como eu disse estou preparadíssima!<br />

De volta a Festa, Murilo e Diego estavam ao lado da pista de dança, observavam as pessoas que se<br />

divertiam por ali, e davam sequência a aquela conversa, que haviam iniciado anteriormente no bar, foi<br />

quando uma mulher de máscara se aproximou dele, segurou seu rosto com as duas mãos, e lhe beijou<br />

com muita vontade.<br />

Após o beijo, ela olhou profundamente nos seus olhos, e se afastou sem dizer nenhuma palavra, ele por<br />

sua vez surpreso com tal atitude, não consegui esboçar reação alguma, enquanto seu amigo Diego que<br />

estava ao lado, acabou ficando de boca aberta, com a cena que acabara de presenciar.<br />

– Cara o que foi isso que aconteceu aqui, quem é essa gata?<br />

– Não faço a mínima ideia, do que acabou de rolar aqui, e nem de quem seja esta mulher, mas uma<br />

coisa eu posso lhe dizer, ela beija muito bem!<br />

– Vai atrás dela logo, o que está esperando?<br />

Naquela altura da festa, ele já estava um pouco alcoolizado, mesmo assim, saiu andando pelo enorme<br />

salão, a procura daquela mulher misteriosa, mas como ainda havia muita gente no local, ele acabou<br />

perdendo-a de vista, e desistindo voltou para a companhia do amigo, onde continuaram bebendo e<br />

comentando, sobre o fato casual deste beijo.<br />

Mas havia outra pessoa interessada no ocorrido, escondida em dos cantos do salão estava Talita, que<br />

de longe havia acompanhado toda a cena, pois ela havia seguido uma pessoa desde o seu apartamento,<br />

até este local da festa, e sabia perfeitamente, quem era essa mulher mascarada.<br />

Surgiu um novo dia, de um novo ano, a festa da noite anterior havia sido um enorme sucesso, e tudo<br />

estava formalmente registrado, em vários sites de colunas sociais do país, era um domingo típico da<br />

capital paulistana, e em meio a poluição desta grande cidade, se destacavam um bando de pássaros que<br />

voavam para o sul, e diga-se de passagem, que poucas pessoas podiam observar tal fato, já que a maioria<br />

ainda dormia.<br />

Na grande mansão, todos haviam combinado de passar o dia na piscina, Nathan, Letícia, Caio, Iris e<br />

Gabriel, e até que foi um dia muito tranquilo e divertido, o menino estava maravilhado com todo o conforto<br />

e a amizade sincera, que todos faziam questão de deixar transparecer, mas nem todos que estavam ali<br />

por perto, compartilhavam deste mesmo pensamento, Raul que havia burlado a segurança da<br />

propriedade, observava a esposa por detrás de uma folhagem, e acabou vendo quando o filho Gabriel,<br />

saiu alegremente de dentro da água, e abraçou carinhosamente o amigo Nathan, fato este que o deixou<br />

profundamente muito chateado, sendo que em seguida ele foi embora.<br />

58


<strong>Caminhos</strong><br />

Murilo e Diego combinaram de almoçar juntos, apesar da ressaca da noite anterior, eles até que<br />

estavam bem animados, um como sempre super feliz, por manter a velha fama de pegador, e ter ficado<br />

com uma garota linda da festa, o outro que sempre foi mais contido, pela lembrança dos dois beijos<br />

marcantes, um meio que forçado no shopping em Bianca, e o outro por aquela garota desconhecida na<br />

festa, este último ele ainda sentia na pele, porque havia sido diferente e muito bom, e após a refeição, os<br />

dois conversaram um pouco, e em seguida tiraram uma soneca pelo resto da tarde, afinal ninguém era de<br />

ferro.<br />

A noite já chegava, e o domingo ia se despedindo mais uma vez, na casa de Arthur ele e a sua<br />

empregada, arrumavam algumas coisas de Elisa, dias antes ele havia comprado roupas novas e calçados,<br />

deixando Dirce encarregada das peças mais íntimas, e sob o olhar da moça, arrumavam uma pequena<br />

mala que seria utilizada, na sua internação na clínica de reabilitação, e estava tudo acertado para a seu<br />

tratamento, que já se iniciaria na segunda-feira, e ela parecia estar muito apreensiva, por isso o advogado<br />

procurou tranquiliza-la.<br />

– Sinto que você está muito nervosa, e eu entendo perfeitamente, as preocupações que devem estar<br />

rondando em sua cabeça, neste momento tão delicado de sua vida.<br />

– Nada lhe escapa, tem toda razão estou mesmo, eu fico pensando como deve ser lá dentro, como vão<br />

me tratar, que tipo de pessoas irei encontrar por lá, e principalmente o medo de falhar, e não conseguir me<br />

curar dos vícios!<br />

– Estas são expectativas comuns, e qualquer pessoa no seu lugar estaria assim, mas o que você pode<br />

ter certeza, é que escolhi com muito critério, a clínica mais bem recomendada para este tipo<br />

de tratamento, e eu lhe garanto que será muito bem tratada, pois lá encontrará várias pessoas que como<br />

você, querem e merecem uma segunda chance, para poderem retornar para a sociedade, e passarem a<br />

ter uma vida normal.<br />

– Mas se ficarem fazendo perguntas, sobre meus ferimentos no corpo e no rosto, eu conto a eles a<br />

verdade?<br />

– Veja bem, pelo que entendi uma vez por semana, os médicos se reúnem com os internados, e<br />

realizam uma conversa em grupo, somente neste caso, e se a pessoa quiser falar, cada qual conta os<br />

seus problemas e vícios, e compartilha tudo com as outras internas, este ato faz com que a pessoa<br />

reconheça os seus erros, e assim ajuda no progresso do tratamento.<br />

– Do jeito que fala, parece ser tudo tão fácil!<br />

– Na verdade sei que é bem difícil, a começar pelo que vimos aqui em casa, eu não queria comentar<br />

isso com você, mas escutamos ontem a sua inquietação, e alguns barulhos vindo do seu quarto, e lá<br />

provavelmente será testada todos os dias, porque o corpo vai sentir a falta do álcool e das drogas, de<br />

tudo ao qual já havia a dependência, mas você terá de ser muito forte, deverá lutar e resistir firmemente,<br />

seguindo todas as orientações e procedimentos, tomando todos os remédios que lhe forem ministrados.<br />

– Poderei contar com o apoio de vocês, irão me visitar?<br />

– A Dirce irá uma vez por semana, por se tratar de uma clínica que só atende mulheres, somente é<br />

permitido visitas femininas, mas vou acompanhar tudo de perto, todas as informações serão repassadas a<br />

mim, e tudo o que você precisar pode falar com a Dirce.<br />

– Está bem, vou encarar com muita coragem e perseverança, eu tenho que aproveitar esta chance, esta<br />

grande oportunidade que me proporciona!<br />

Ela se levantou indo na direção dele, lhe deu um beijo de agradecimento no rosto, fechou a mala e foi se<br />

deitar, apesar de todo medo, angústia, e os receios em torno da internação, claramente ela parecia estar<br />

59


feliz e satisfeita, ao menos uma vez na vida, havia encontrado um homem de verdade, que não se<br />

aproveitasse de suas fraquezas e de seu corpo, e ainda a incentivava a se tratar.<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

A noite foi longa, mas enfim amanheceu e chegou a segunda-feira, o advogado internou sua protegida<br />

na clínica, conversou muito com o médico responsável pelo local, tratando de todo os detalhes<br />

necessários, pedindo-lhe que o mantivesse totalmente informado, sobre tudo o que acontecesse com<br />

Elisa, e ao término da conversa, saiu da clínica, e foi atender a um cliente, que se encontrava com<br />

problemas na justiça.<br />

Por volta das nove horas, o telefone tocou no Antiquário, era Nathan que cumprindo o prometido, ligava<br />

para agendar a visita de Marina a sua casa, e assim catalogar as suas obras de arte, mas quem atendeu<br />

foi Duarte.<br />

– Antiquário Sinclair, o que deseja?<br />

– Bom dia, meu nome é Nathan, eu gostaria de falar com a colecionadora Marina.<br />

– Senhor Nathan bom dia, aqui quem fala é Duarte, o pai de Marina, um momento que vou chama-la.<br />

A moça veio correndo, catou o telefone rapidamente, e ainda ofegante atendeu a ligação.<br />

– Olá tudo bem, eu tinha certeza que era um homem de palavra, vamos confirmar para hoje a<br />

catalogação?<br />

– Sim é por isso que estou ligando, vamos marcar para as quatorze horas, está bom para você?<br />

– Perfeito, depois do almoço eu pego um táxi, pois meu carro foi para o concerto, e no horário marcado<br />

estarei aí.<br />

– Nada de Táxi, meu motorista irá pega-la.<br />

– Se não for incômodo, eu agradeço a sua gentileza.<br />

– Incomodo algum, me passe o seu endereço.<br />

Enquanto ela terminava os detalhes finais do encontro, com um largo sorriso no rosto, demonstrava todo<br />

o seu contentamento e otimismo, finalmente poderia ver de perto toda a coleção, e dar prosseguimento a<br />

sua investigação, em busca de respostas e da marca.<br />

60


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 14 •<br />

O interfone tocou no apartamento de Murilo, era o porteiro informando a subida de uma mulher, que não<br />

quis se identificar, e praticamente entrou sem autorização, mas nem deu tempo de fazer nada, ela já batia<br />

em sua porta, era Talita que foi entrando e gritando com ele.<br />

– Cadê ela, onde está escondida?<br />

– Ei vai com calma, do que você está falando?<br />

– Não se faça de bobo, cadê a minha namorada?<br />

– Como assim, por acaso acha que a Bianca está aqui, e porque motivo ela haveria de estar?<br />

– Vocês dois estão me fazendo de idiota, pensa que eu não vi lá na festa?<br />

– Definitivamente eu não sei do que se trata, por favor se acalme, porque não estou entendendo nada do<br />

que me fala!<br />

Percebendo que Murilo dizia a verdade, e que realmente não sabia do paradeiro de sua amada, muito<br />

menos sobre o que havia acontecido na festa, ela se calou para não acabar entregando o jogo, e foi<br />

rapidamente embora, o deixando falando sozinho.<br />

Ele ainda fez mais uma tentativa, antes que ela entrasse no elevador, mas foi acabou sendo em vão,<br />

não conseguindo arrancar mais nada, e voltando para dentro de seu apartamento, ficou pensativo<br />

tentando entender o motivo, de toda aquele furor de acusações, afinal de contas de que festa ela falava,<br />

se tudo isso ainda fosse pelo motivo do beijo roubado no shopping, ele até que a entenderia, mas nada<br />

sabia sobre festa alguma, mas depois de um longo tempo a ficha caiu, seria Bianca a mulher mascarada<br />

que o beijou?<br />

Murilo não perdeu tempo, trocou de roupa, pegou o carro na garagem, e foi até o prédio onde ela<br />

morava, mas acabou constatando que ela não se encontrava, fez mais uma tentativa em um restaurante,<br />

que ela acostumava ir para almoçar, mas ninguém a tinha visto por lá, assim ficou mais um tempo sentado<br />

no carro, sem rumo algum a tomar, pensou muito, tentou lembrar das conversas que tinham fora do<br />

trabalho, na tentativa de se lembrar de algo que indicasse um lugar, onde a ela pudesse ter ido, até que<br />

um nome veio a sua mente, praça do pôr do sol!<br />

Ela já havia comentado mais de uma vez, que quando queria ficar sozinha, e colocar a cabeça no lugar,<br />

ia até este local afastado, porque além de sua beleza natural, havia também uma vista privilegiada, de<br />

todo o bairro de Pinheiros na zona oeste paulista, e mais do que depressa, programou o GPS do carro e<br />

foi até o local.<br />

O percurso durou cerca de 40 minutos, ao chegar e estacionar o carro, já constatou a presença de<br />

Bianca, seu carro também estava por ali, restava agora localizar onde estava a garota, e tirar toda esta<br />

questão a limpo, mas não demorou muito para ele a encontrar, e nem é preciso dizer que ela ficou muito<br />

surpresa, ao ver ele vindo em sua direção, e já chegando puxando conversa.<br />

– Então é aqui que você se esconde de todos nós?<br />

– O que está fazendo aqui, e como me achou?<br />

– Me lembrei que havia dito que gostava daqui, agora eu é que te pergunto, o que aconteceu, porque<br />

sua namorada me procurou, e quase derrubou a minha porta?<br />

– Não acredito que ela fez isso, sei que desde de ontem eu tenho procurado evita-la, mas daí a te<br />

procurar, nada a ver!<br />

61


<strong>Caminhos</strong><br />

– Será mesmo, ela me disse que sabe sobre a festa de ontem, o que ela quis dizer com isso?<br />

Envergonhada, ela cobriu o rosto com as duas mãos, e até chegou a fazer uma tentativa de sair dali,<br />

mas ele a impediu segurando firme os seus braços.<br />

– Não faça isso, me deve uma explicação, foi você quem me beijou no réveillon?<br />

– Sim, fui eu que lhe beijei.<br />

– Eu não entendo isso, é algum tipo de troco ou vingança, por eu ter lhe beijado no shopping?<br />

– Não é nada disso, você entendeu tudo errado!<br />

– Então me diga o que é, qual é a sua justificativa para este feito, o que lhe levou a fazer isso?<br />

– É muito complicado, não sei se vou achar as palavras certas, para dizer tudo o que se passa na minha<br />

cabeça, parece que ela deu um nó bem grande.<br />

Ao falar isso, as lagrimas rolaram em seu rosto, ele sentiu sinceridade nas suas palavras, e também se<br />

acalmando, a levou até um banco onde se sentaram, tirou do bolso o seu lenço, para que ela enxugasse<br />

os olhos molhados, e tornou a pegar em sua mão, aguardando pacientemente em silêncio, até que a moça<br />

se pronunciasse.<br />

– Houve uma época, bem antes de trabalhar para o grupo, em que eu namorei um rapaz, eu havia me<br />

apaixonado muito, ao ponto de nos tornarmos noivos, mas faltando alguns dias para o casamento, eu o<br />

peguei na cama com outra mulher, ela era uma ex dele.<br />

– Deve ter sido horrível!<br />

– Eu fiquei totalmente sem chão, fiquei dias trancada no quarto da universidade, envolvida em uma<br />

depressão profunda, não comia, e não queria ver mais ninguém a frente, até o ponto em que o corpo não<br />

aguentou mais, e tiveram que me internar no hospital, foram dias terríveis, não gosto nem de me lembrar.<br />

– Não podia imaginar nunca, que você havia passado por isso tudo.<br />

– Pois é nem eu, é nesta parte que entra a Talita, eu a conheci quando estava no leito do hospital, ela<br />

me deu a sua amizade sincera, e todo o afeto que eu precisava, naquele momento difícil de minha vida, foi<br />

com este apoio que consegui me levantar, terminar a faculdade e me formar.<br />

– Compreendo, digamos que o fato que ocorreu com seu noivo, te deixou muito traumatizada, foi por<br />

isso que não quis mais se relacionar com outro homem?<br />

– Isso é o que eu também pensava, até te conhecer na empresa, só que até um certo momento, eu<br />

achava que o sentimento que tinha por você, era somente fruto da forte amizade, e lealdade<br />

que mantínhamos no trabalho, mas na verdade ao se afastar, e me privar de todo aquele carinho diário, foi<br />

moldando dentro de mim um outro sentimento, que veio à tona quando me pegou desprevenida, me dando<br />

aquele beijo no shopping.<br />

– Depois que te beijei, eu acabei ficando muito mal, pensava o tempo todo que havia lhe ofendido, fiquei<br />

até com medo de perder a sua amizade.<br />

– Aquele beijo só bagunçou mais a minha cabeça, e me balançou demais, fiquei desnorteada e cheia de<br />

dúvidas, e pensei que o modo de resolver tudo isso, seria ir até a festa de réveillon, me aproveitando<br />

de que era um baile a fantasia, e que ninguém poderia me reconhecer, e assim tirar a prova definitiva,<br />

sobre o que eu realmente sentia por você, por este motivo eu lhe beijei.<br />

62


<strong>Caminhos</strong><br />

– Então tudo era um teste, mas porque não me procurou, podia ter conversado sobre tudo isso, creio<br />

que devido a nossa grande amizade, tínhamos intimidade suficientes para falar do assunto.<br />

– Primeiro eu preciso acertar as coisas comigo mesmo, ter certeza destes meus sentimentos, para não<br />

acabar errando novamente, por isso eu vim até aqui hoje, preciso ficar sozinha, e tomar a decisão certa.<br />

– Eu entendo e já vou indo, mas antes preciso lhe falar algo, não tenho certeza se isso vai lhe ajudar, ou<br />

embaralhar ainda mais tudo o que está sentindo, embora a tempos você já saiba disso, eu te amo muito, é<br />

a mulher que quero ter sempre ao meu lado!<br />

Ele fez um carinho em seus cabelos, lhe deu um beijo no rosto, e foi-se embora, deixandoa<br />

sozinha com suas dúvidas e seus pensamentos, e assim na tentativa de chegar a uma conclusão<br />

definitiva, ficou ali sentada olhando para o horizonte, precisava encontrar dentro de si mesma, a resposta<br />

definitiva, de seus verdadeiros sentimentos.<br />

Por volta de treze horas e trinta minutos, Moreira o motorista particular de Nathan, encostou o carro<br />

no antiquário, Marina que já o aguardava na entrada, entrou no veículo e seguiu rumo a mansão, a sua<br />

ansiedade era aparentemente visível, além de demonstrar muito nervosismo, por estar prestes a entrar em<br />

possível território desconhecido, ou segundo seu pai, talvez até em terreno inimigo.<br />

Ao chegar Elvira a acompanhou até a biblioteca, onde supostamente ele a aguardava, como boa<br />

visualizadora e conhecedora de antiguidades, não deixou de notar o grande estilo e o luxo, da enorme<br />

casa que visitava pela primeira vez, apesar de se tratar de um encontro informal, Nathan estava vestindo<br />

camisa social e gravata, e com um largo sorriso e um aperto de mãos, recebeu muito bem a sua<br />

convidada.<br />

– Seja muito bem-vinda, antes de subirmos até os objetos de arte, deseja tomar um suco ou alguma<br />

outra bebida?<br />

– Não muito obrigado, eu estou pronta, e quando quiser podemos iniciar.<br />

– Então não percamos mais tempo, venha comigo!<br />

Eles subiram as escadas e foram até o corredor, e mal chegou perto e ela já ficou deslumbrada, haviam<br />

muitos objetos e quadros antigos, nem sabia por onde começaria, ele até deu um pouco de espaço a ela,<br />

ficando mais a frente observando cada gesto, cada comentário, e o que ela anotava em sua agenda.<br />

Ela estranhava um pouco o fato de Nathan, não saber responder algumas de suas perguntas, como<br />

sobre autores das obras, valores e datas das aquisições, mas bem lá no fundo, ela tinha quase certeza<br />

que ele estava mentindo e a testando, até que ele lhe mostrou o colar de esmeraldas, aquele ao qual lhe<br />

chamava tanta a atenção, e que Caio havia dito que era seu objeto favorito, e com uma chave ele abriu a<br />

caixa de vidro, permitindo o acesso e que ela o pegasse.<br />

– Este colar é maravilhoso, e dá para perceber que é muito antigo, não sabe mesmo nada sobre ele?<br />

– No momento eu só posso lhe falar, que sinto uma atração muito forte quando o vejo, digamos por<br />

assim dizer, que parece ser a minha peça preferida.<br />

– Posso ser franca?<br />

– Claro por favor!<br />

– Acredito que esta zombando de mim, ou fazendo algum tipo de teste, para ver se sou realmente<br />

entendida no assunto.<br />

63


<strong>Caminhos</strong><br />

– Não é nada disso, mas eu entendo totalmente sua posição, mas vamos fazer o seguinte, vou permitir<br />

que tire algumas fotos, e termine de catalogar as outras peças, e depois sairemos para beber alguma<br />

coisa, assim podermos esclarecer alguns pontos e dúvidas.<br />

Ela concordou de imediato, mesmo assim estava bem preocupada, afinal era uma situação muito<br />

desconfortável, ela tinha ciência de seus objetivos, mas afinal qual seriam os dele?<br />

Neste meio tempo, Caio que havia acabado de chegar da natação, subiu as escadas, e acabou dando<br />

de cara com Marina, ela ainda estava manuseando a coleção, e a princípio pensou que era uma invasora,<br />

mas percebendo a presença de Nathan mais ao fundo, mudou de atitude e os cumprimentou.<br />

Ele não havia gostado nada daquela cena, disfarçou o descontentamento e foi para o quarto, mas<br />

preocupado com esta situação, permaneceu atrás da porta bem atento, ouvindo tudo o que os dois<br />

conversavam, e ficou se indagando sobre o real motivo daquela visita, e porque o amigo nada havia lhe<br />

contado, nesse meio tempo ela encerrou as fotos e anotações.<br />

– Terminei, creio que já tenho material e informações suficientes, para poder estudar e determinar<br />

parcialmente, as origens, as idades, e os valores das peças!<br />

– Excelente, tem um barzinho aqui perto, lá continuaremos a nossa conversa, só vou pegar minha<br />

carteira e o celular.<br />

Ela estava um pouco desapontada, não havia encontrado nenhum vestígio da marca, ou de que ele era<br />

realmente a pessoa que procuravam, mas ainda assim estava bem satisfeita, pois se tratava de uma bela<br />

coleção, e com certeza receberia uma boa comissão de seus serviços, e se aproveitando que havia ficado<br />

sozinha, ligou para o pai.<br />

– Pai sou eu, já terminei a catalogação, estou indo conversar com ele agora.<br />

– Encontrou algo do que procuramos?<br />

– Ainda não, nada da marca, mas vamos seguir em frente, pode ser que esteja em outra peça, ou em<br />

outro lugar que não tiver acesso.<br />

– Certo, mas tome muito cuidado, até sabermos com certeza, com quem estamos lhe dando!<br />

– Pode deixar, eu dou notícias mais tarde, agora tenho que desligar, beijo.<br />

Nathan retornou de seu quarto, e a levou até o carro na entrada da mansão, mas o que ela não havia<br />

percebido, é que Caio havia escutado toda a ligação, e já tinha alguma de suas suspeitas confirmadas, ela<br />

provavelmente estava ali a mando de alguém, e em busca de uma informação preciosa, ele bem sabia o<br />

significado da palavra "marca", rapidamente pegou o telefone e ligou para Letícia.<br />

– Letícia tudo bem, é o Caio, preciso urgentemente de uma informação, você sabe de alguma coisa a<br />

respeito de uma mulher, que vinha aqui hoje para catalogar as obras?<br />

– Sim o Nathan comentou algo a respeito, me parece que a pessoa vai fazer um levantamento, sobre<br />

os detalhes de época, e de valores reais das peças, porque?<br />

– Preciso da sua ajuda, peço que venha mais rápido que puder, e me encontre em um lugar aqui perto,<br />

eu vou lhe passar o endereço, depois lhe explico tudo com mais detalhes.<br />

Ela ficou surpreendida com o telefonema, pois normalmente ele mal falava com ela, e procurava sempre<br />

interferir em todo os assuntos, relacionados com o seu namorado, mas mesmo assim pegou papel e<br />

caneta, e foi se encontrar com ele no local solicitado, enquanto isso Nathan e Marina já haviam chegado<br />

64


ao estabelecimento, e enquanto aguardavam um pedido de bebidas, ele tomou a frente e iniciou a<br />

conversa.<br />

– Vou direto ao assunto, ambos sabemos que estamos mentindo um para o outro, então vamos<br />

combinar uma coisa, de agora em diante só falaremos a verdade!<br />

– Estou surpresa com a sua sinceridade, está certo eu concordo, quem começa a falar?<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Eu começo, tenho certeza que você tem conhecimento, sobre o acidente que sofri há um tempo atrás,<br />

o que não sabe porque foi mantido em segredo, é que eu acabei perdendo minha memória, e não me<br />

lembro de nenhum fato anterior a isso.<br />

– Nossa, eu sinto muito por isso, eu juro que pensei que estava me enganando, não imaginava que<br />

ainda tinha sequelas do acidente, peço-lhe minhas humildes desculpas, agora entendo o motivo de ter<br />

aceito a minha visita, e me permitido inspecionar tudo.<br />

– Não há necessidades de desculpas, como eu disse poucos sabem deste fato, e peço-lhe que por<br />

enquanto guarde este segredo, pelo menos até que eu me recupere, agora é a sua vez, sei que tem<br />

alguma coisa bem suspeita, por detrás de todo esse seu interesse pelas minhas obras, percebi isso<br />

quando me procurou aquela noite.<br />

– Tem razão, há um motivo muito sério e importante.<br />

– E qual seria ele, me conte tudo o que sabe!<br />

– Meu pai tem buscado ao longo dos anos, através de pesquisas em obras antigas, informações que<br />

poderiam nos levar a solucionar, sobre uma questão relacionada ao passado.<br />

– Mas o que isso tem a ver comigo, e o que procurava nas minhas obras?<br />

– Digamos que um documento que temos, acabou nos levando até você, e o que procuramos é uma<br />

marca nos objetos, mas não encontrei nada parecido na sua coleção, eu até tenho aqui no meu Laptop,<br />

um suposto esboço dela, se aproxime que vou lhe mostrar.<br />

Ele olhou na tela e fez um sinal de negativo, não havia reconhecido aquele pequeno símbolo, nem<br />

mesmo o visto em qualquer parte da mansão, mas nesse momento chegaram Caio e Letícia, que ficaram<br />

parados e olhando para os dois, que estavam sentados um ao lado do outro.<br />

65


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 15 •<br />

Nathan e Marina estavam tão concentrados olhando a imagem, que nem perceberam a chegada dos<br />

dois, Caio estava por dentro do assunto entre eles, porém Letícia ainda sem entender nada, estava a<br />

pensar que se tratasse de um encontro, e que ele a havia trazido para dar um flagrante, mas como ela era<br />

muito sensata e educada, apenas fez notar a sua presença no recinto, Nathan se levantou e foi ao<br />

encontro deles.<br />

– Olha vocês por aqui, aconteceu alguma coisa?<br />

– Nada de importante, a Letícia chegou em casa te procurando, e como você não estava, eu a convidei<br />

para vir aqui tomar uma bebida.<br />

A namorada toda enciumada, quis saber mais detalhes deste encontro.<br />

– Não vai nos apresentar a sua companhia?<br />

– Claro me desculpe, vamos até lá, esta é a colecionadora Marina, lembra que eu lhe disse que a havia<br />

contratado, para catalogar as obras da mansão, então após terminarmos, viemos até aqui para discutir<br />

algumas questões.<br />

– Acho que me falou algo, mas qual o motivo deste outro encontro, ou há algum outro tipo de assunto a<br />

ser tratado?<br />

– Viemos para terminar de acertar alguns detalhes, mas estou estranhando sem tom de voz, o que<br />

realmente está pensando?<br />

Caio Ficou do lado apenas observando a conversa, enquanto Marina percebendo a sai justa que se<br />

encontrava, sendo motivo provável de ciúmes da namorada de Nathan, recolheu seus pertences e se<br />

levantou para ir embora.<br />

– Bom, acho que já terminamos por hoje, vou analisar todas as minhas anotações, e depois lhe dou uma<br />

posição exata, de todas as informações que eu conseguir.<br />

– Agradeço pelo seu tempo e pela sua paciência, prometo recompensar todos os seus serviços, a altura<br />

dos seus esforços, muito obrigado!<br />

– Eu que agradeço a ótima oportunidade, depois com mais calma continuaremos aquele assunto,<br />

então já vou indo, tudo de bom a vocês!<br />

Ela foi embora levando consigo um ar de realização, pois havia tudo ocorrido bem, enquanto Caio e<br />

Letícia, se sentaram ao lado do empresário, que fazia gestos de não ter entendido nada, e o amigo fez<br />

questão de explicar.<br />

– Antes que vocês dois falem algo, me deixem explicar tudo com calma, depois vão entender os motivos<br />

de ter vindo até aqui, mas será melhor que façamos isso na mansão, é uma conversa muito séria e<br />

particular, peço que confiem em mim.<br />

Ambos acabaram concordando, Nathan chamou o garçom e pagou a conta, depois foram diretamente<br />

para a mansão, Letícia estava aparentemente brava com os dois, um por ter montado toda aquela cena,<br />

deixando parecer que se tratava de uma intriga, na sua relação amorosa com o namorado, já o outro<br />

motivo era ciúmes mesmo, mas resolveu aguardar mais um pouco, e descobrir o que realmente se<br />

passava.<br />

Do outro lado da cidade, Elisa se adaptava aos poucos a sua internação, mas o ambiente era muito<br />

diferente do que havia imaginado, ao contrário do que havia pensado, tinha a liberdade de entrar e sair de<br />

66


<strong>Caminhos</strong><br />

seu quarto, a hora que bem lhe entendesse, havia um jardim cheio de flores para passeios, e também uma<br />

grande horta, onde os internos plantavam e colhiam as próprias verduras, que eram consumidas nas<br />

refeições diárias, mas a parte que ela havia mais gostado era a biblioteca, onde passava a maior parte do<br />

tempo entre as medicações, palestras, e as refeições diárias, Dirce que já havia feito uma visita, foi<br />

questionada pelo patrão a respeito.<br />

– Então o que achou, ela está se sentindo bem, teve uma boa aceitação do lugar?<br />

– Eu acredito que ainda é muito cedo, para tirar qualquer tipo de conclusão, mas eu achei ela bem<br />

animada, e os ferimentos também melhoraram muito, ela só está com algumas manchas roxas no rosto, e<br />

algumas espalhadas pelo corpo, mas de resto me parece tudo certo.<br />

– Muito bom, fico satisfeito em poder estar ajudando ela, principalmente a se erguer e recomeçar uma<br />

nova vida!<br />

– Doutor, para mim o senhor não precisa esconder, o senhor tem uma quedinha por ela né?<br />

– Nada disso, meu interesse é apenas em ajudar, aliás você não tinha que buscar umas coisas no<br />

supermercado?<br />

Ela saiu dali rindo da atitude dele, certamente havia se interessado pela moça, mas ele ainda não tinha<br />

coragem de admitir o fato.<br />

Na mansão, mãe e filho conversavam particularmente no quarto, ela falava das suas expectativas para<br />

as novas situações, que deveriam surgir na vida deles com o afastamento do marido, e Gabriel apesar de<br />

sentir muito a falta do pai, estava muito satisfeito com a moradia temporária, a pedido de Nathan, Caio<br />

havia comprado brinquedos e um vídeo game, sem falar das muitas roupas e calçados novos, que Letícia<br />

havia presenteado, eles faziam de tudo para tornar toda esta situação, um pouco mais agradável<br />

e suportável, mas Iris estava bem chateada.<br />

– Eu queria tanto que as coisas fossem diferentes, mas seu pai nunca me escutou, e agora temos que<br />

tomar nosso rumo na vida.<br />

– Sinto falta do pai, ele era bravo mas brincava comigo, comprava coisas que eu precisava, ele podia<br />

ficar bonzinho!<br />

Ela não aguentou, e disfarçando as lagrimas em seu rosto, abraçou o menino que também começou a<br />

chorar, e foi confortando ele com o carinho, que somente uma mãe pode dar.<br />

Caio, Nathan e Letícia haviam chegado, a pedido do amigo, eles entraram discretamente pelos fundos,<br />

onde os levou até um determinado local, onde havia uma porta de ferro blindada, e pedindo que ali o<br />

aguardasse, foi até o seu quarto para pegar uma chave, e voltou disposto a revelar todo este mistério.<br />

Após abrir a porta, eles desceram por uma escada dupla, e Caio sempre seguindo na frente, acendeu as<br />

luzes e revelou um extenso porão, onde haviam vasos antigos, pinturas abstratas, prateleiras e cristaleiras<br />

com dezenas de objetos, e bem ao fundo em cima de uma mesa, havia um pequeno baú trancado com<br />

cadeado, certamente algo de muito importância e de valor, se encontrava dentro dele.<br />

Letícia e Nathan curiosos, acompanharam o amigo até o fundo do porão, onde ele pegou o baú<br />

segurando com as duas mãos, e começou logo a dar uma explicação plausível, sobre o motivo de os levar<br />

a esse lugar secreto.<br />

– Vou tentar contar a vocês, em partes e aos poucos, uma história sobre este misterioso passado, e tudo<br />

que eu sei e vou falar, foi me contado pelo próprio Nathan, quando nos conhecemos anos atrás, onde<br />

primeiramente precisam saber, que neste momento todos nós corremos um grande risco.<br />

67


<strong>Caminhos</strong><br />

O empresário olhou para ele assustado, e quis logo saber do que se tratava.<br />

– Grande risco, sobre o que nós estamos falando?<br />

– Eu não queria envolver a Letícia nisso tudo, na verdade eu fiz de tudo para tentar deixa-la de fora, mas<br />

você insistiu em querer treina-la, e assim começou a passar informações, como o segredo do seu cofre<br />

por exemplo, onde há uma peça valiosa e fundamental de sua existência.<br />

Vendo que seu nome entrava na conversa, ela interveio rapidamente.<br />

– Me lembro agora de você dizer algo, sobre me preparar para a transferência, disse algumas coisas<br />

sem nexo que não compreendi, me ensinou a abrir o cofre, mas na semana em que me mostraria a tal<br />

fonte, acabou acontecendo o acidente.<br />

Nathan olhou para os dois, e bastante intrigado quis saber mais.<br />

– Isso ainda não faz sentido algum para mim, do que vocês dois estão falando?<br />

Caio pediu calma a ambos, e bem devagar foi narrando uma curta história.<br />

– Eu vou tentar explicar da melhor forma possível, há muito tempo atrás, um grupo de sete jovens<br />

amigos, que pertenciam a um mesmo povoado, participavam de um grupo de cavalheiros<br />

saqueadores, mas depois de passado algum tempo, eles começaram a descordar das atitudes, e dos<br />

meios gananciosos de seus líderes, que pareciam nunca ficarem totalmente saciados, queriam sempre<br />

mais e mais, e isso acabou gerando um conflito entre todos eles, assim os sete decidiram fugir dali, e<br />

formaram uma outra ordem, como suas próprias leis e crenças, e se esconderam nas margens das<br />

montanhas geladas, mas não imaginaram que passariam por tantas dificuldades, porque era uma época<br />

de inverno total, e a espessa neve cobriu todas as ervas e raízes comestíveis, e os poucos animais que<br />

sobreviviam por ali, os saqueadores acabavam capturando, deixando apenas os restos deles pelo<br />

caminho.<br />

Letícia ficou com a cabeça embaralhada, e precisou interromper para questioná-lo.<br />

– Eu não consigo compreender, povoado, saqueadores, ainda existem estas coisas?<br />

– Eu também não entendi, onde quer chegar com esta história?<br />

– Calma, escutem tudo o que eu tenho para falar, e depois tirem suas próprias conclusões, mas como eu<br />

estava dizendo, ficaram sozinhos a sua própria sorte, sendo que no início eram em sete pessoas, e como<br />

todos estavam famintos e feridos, um deles não conseguiu sobreviver e seguir, e mesmo com um grande<br />

pesar, tiveram de deixa-lo para trás, pois os lobos os estavam perseguindo e caçando-os, até que depois<br />

de muitos dias de caminhada, quando as forças já haviam sido consumadas, um homem velho e sábio os<br />

encontrou, e os levou para uma espécie de caverna, onde ele também se abrigava.<br />

– Agora que mencionou esta parte da caverna, me veio alguma coisa em mente, me lembro de algo<br />

sobre um homem de cabelos brancos, de ser muito simpático.<br />

– Segundo o que me contou, o nome dele era Dorran, que significa "estranho ao mundo", ele os acolheu,<br />

os alimentou, e curou todos os ferimentos rapidamente, pois possuía um artefato que ele chamava de<br />

fonte, e quando ele os tocava com este objeto brilhante, os cortes, as dilacerações, e a febre ardente, se<br />

curavam quase que instantaneamente, e assim ele cuidou de todos durante alguns meses, até que o<br />

inverno chegou ao seu final.<br />

O empresário parecia ir decifrando algumas partes, e comentava cada uma delas.<br />

– Até que ele começou a ficar doente, eu me recordo desta parte da história.<br />

68


69<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Isso mesmo, é porque sem que soubessem, ele havia passado propositadamente, aquele poder da<br />

fonte para todos do grupo, ele alegava estar muito cansado de tudo, e que já havia vivido o suficiente,<br />

porém com a convivência deste longo tempo, em que todos ficaram alojados naquela caverna, ele pôde<br />

avaliar cada um de seus protegidos, observando as atitudes e caráter de cada um.<br />

– Eu me lembro disso, mas parece que ele ainda ficou um tempo com eles, parece que ensinava coisas,<br />

com livros muito antigos, e também a lutar com espadas.<br />

– Pelo que me contou, ele ainda se fez presente por mais dois anos, foi envelhecendo muito<br />

rapidamente, até que acabou morrendo, os deixando preparados para seguir em seus destinos, a essa<br />

altura, a maioria dos jovens já haviam completado vinte anos, e certamente foi um reinicio muito difícil,<br />

mas ele havia escolhido um sucessor, como o protetor e detentor da poderosa fonte, porque este sempre<br />

havia sido o preferido dele, mas isso trouxe muita discordância, pois a maioria não concordava com essa<br />

situação, e cada um queria o poder para si próprio.<br />

Letícia querendo compreender o que eles falavam, interveio novamente.<br />

– E você Caio, onde entra nesta história, como conheceu o Nathan, também tem parte desta relíquia?<br />

– Isso já é uma história para um outro dia, porque eu e o Nathan temos algum tipo de afinidade, por isso<br />

ele teve uma conversa comigo em particular, e me contou toda esta sua sabedoria, que o mestre e mentor<br />

intelectual da época, havia passado somente para um dos jovens, e este escolhido acabou entendendo,<br />

que realmente era muito poder para somente uma pessoa, e decidiu dividir esta fonte em seis partes, e<br />

cada um ficou com sua própria fonte de poder, depois acabaram se separando, e cada qual seguiu o seu<br />

destino.<br />

Nathan ainda tendendo encaixa partes, neste imenso quebra-cabeça, solicitou mais informações.<br />

– Quanto tempo faz isso?<br />

– Pelo que me contou, em torno de uns quatrocentos anos.<br />

A professora se assustou com esta informação, e duvidando de toda esta conversa, achou que se<br />

tratava de uma tapeação.<br />

– O que, não está pensando que vou acreditar numa bobagem destas!<br />

– Realmente é bem fantasioso, por outro lado isso explica muita coisa, o meu cansaço, os pesadelos<br />

que tenho, e os diversos objetos antigos!<br />

– Por falar em seus objetos, eis porque os trouxe até aqui, para lhes mostrar este símbolo secreto, que<br />

foi guardado aqui dentro deste pequeno baú, eu sei que devia ter lhe falado antes, mas como pode<br />

perceber, o ideal seria que você se lembrasse por conta própria, e ir assimilando aos poucos, é por este e<br />

por outros vários motivos, que tento evitar ao máximo, quando me faz perguntas sobre seu passado.<br />

– E algum de vocês dois, poderiam me dizer o que este símbolo representa?<br />

Caio olhou para ela, colocou o colar em suas mãos, e detalhou sobre o objeto.<br />

– É uma cruz celta, na época antes de se separarem, escolheram para ser como um tipo de marca, uma<br />

espécie de código entre vocês, para que todos sempre soubessem, por onde cada um passou e o que<br />

realizou, ou no caso de precisarem encontrar algum dos integrantes, mas com o passar do tempo foram<br />

utilizando com outros objetivos, sendo um deles para marcarem alguns objetos e posses, como um tipo de<br />

troféu de suas realizações, e com isso sem perceberem, deixaram um rastro enorme e perigoso.<br />

– Era algo parecido com isso, que Marina a colecionadora que contratei, estava à procura.


<strong>Caminhos</strong><br />

– Exatamente por este motivo, que resolvi antecipar e contar tudo a vocês, porque eu acabei ouvindo no<br />

corredor, quando ela falou com alguém no celular sobre a marca, você havia ido pegar sua carteira no<br />

quarto, e acabou não percebendo este fato, neste momento toda precaução se faz necessária,<br />

porque temos inimigos poderosos.<br />

Letícia ainda confusa com todas as informações, ficou preocupada com esta última frase.<br />

– Caio, qual seria o motivo destes supostos inimigos, estarem atrás de vocês?<br />

– Lembra que eu disse que eram em seis integrantes, e cada qual com sua parte da relíquia, então,<br />

alguns perderam a sua vida por acreditarem, que podiam fazer qualquer tipo de coisa, que eram<br />

até imortais e invencíveis, se metiam em lutas, disputas por terras e riquezas, porém a fonte em partes<br />

separadas, tinha poderes menores e mais limitados, e dependendo do tipo de grau do ferimento, não<br />

conseguiam se curar a tempo, levando a morrerem precocemente e estupidamente, mas acabou-se<br />

chegando a conclusão, que um dos seis os traíram e revelou todo o segredo, e desde então começaram a<br />

serem perseguidos, e exterminados um a um.<br />

Ela parecia começar a compreender parte da história, e demonstrou isso em suas palavras.<br />

– Então podemos dizer que alguém possa estar querendo, juntar todas as estas peças, e ter um poder<br />

maior somente para si próprio?<br />

– Isso mesmo, sendo que a partir de agora, temos que tomar algumas precauções, e tomar todo o<br />

cuidado necessário, pois já sabem quem somos e onde nos encontrar, e tem mais uma coisa, o Nathan<br />

possuí consigo mais que uma parte do precioso artefato, na verdade ele possui quase todos, e está<br />

guardado a sete chaves, mas não me contou como tinha estas partes a mais.<br />

– É mais uma coisa que tenho de me lembrar, e agradeço por ter compartilhado conosco, todas estas<br />

informações e segredos, agora entendo os motivos por ter me poupado, mas não creio que a Marina seja<br />

nossa inimiga, pois ela não me escondeu sobre o que procurava.<br />

Caio com sua perspicácia de sempre, tratou logo de alertar o amigo.<br />

– Pode ser que ela esteja a mando de alguém, eu vou procurar investigar tudo, e ver o que descubro<br />

sobre ela, mas enquanto isso vamos ficar atentos, agora vamos sair daqui debaixo, essa poeira toda esta<br />

me matando!<br />

Eles trancaram o porão e foram para dentro da mansão, Nathan retirou sua gravata enquanto Caio<br />

servia uma bebida, afinal eles precisavam assimilar toda esta história, e também decidirem juntos que<br />

rumo tomariam, nos caminhos que teriam de seguir a partir de agora.<br />

70


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 16 •<br />

A noite já estava chegando, na favela as luzes começavam a se acender, quando Raul discretamente<br />

caminhava até o esconderijo, depois de alguns dias afastado, e mantendo pouco contado com seus<br />

capangas, decidiu vir pessoalmente, e verificar como estavam os negócios, mas para sua surpresa ele foi<br />

barrado nas proximidades do local, por Militão um de seus supostos comandados.<br />

– Chefe, quer dizer ex-chefe, você não tem mais permissão para entrar aqui!<br />

– O que, você enlouqueceu?<br />

Situação que estava ao lado, reforçou o bloqueio feia a ele.<br />

– Sabe, é que o chefinho, ou melhor agora é o chefão, nos deu a ordem de não te deixar mais, circular<br />

aqui pelo nosso território, ele disse que o senhor está fora dos negócios, e que agora é ele que manda<br />

aqui no pedaço.<br />

Raul ficou furioso, a ponto de dar socos em vão no ar, e olhando com os dentes serrados para eles,<br />

revidou.<br />

– Uma traição, eu não deveria ter confiado tanto no Otto, e vocês dois imprestáveis também fazem parte<br />

disto?<br />

– Foi sempre ele quem pagou nosso salário, que nos dava todas as ordens, e nos deu um aumento bom,<br />

coisa que você nunca fez, né Situação!<br />

– Já entendi tudo, a morte do garoto, a culpa em cima de mim, o meu afastamento e da minha família, foi<br />

tudo uma armação desde o início, tudo planejado.<br />

– Eu e o Militão não temos nada a ver com isso, seguimos tudinho as ordens dele!<br />

– Já entendi tudo, não vou mais perder tempo com vocês dois, mas isso não vai ficar assim, não perdem<br />

por esperar!<br />

Ele ficou furioso, começou a andar de um lado para o outro, depois virou as costas e foi direto para sua<br />

casa, chegando lá constatou que estava toda saqueada e revirada, e o pouco que sobrou não servia nem<br />

para o lixo, sem forças por estar vendo tudo ruir ao seu redor, se sentou no chão de sua cozinha, tendo<br />

em seu olhar coberto em lágrimas, misturadas entre a tristeza e o todo o seu ódio, viu que de uma hora<br />

para outra, ele havia perdido praticamente tudo, a família, os negócios, e aqueles a quem mais confiava,<br />

criou forças e se levantou, recolheu um porta retrato quebrado do chão, e foi embora para um outro<br />

esconderijo.<br />

No antiquário, Duarte que já havia encerrado o expediente, subiu as escadas que davam acesso a casa,<br />

e viu que Marina havia dormido no sofá, sendo assim, resolveu deixa-la descansar mais um pouco, mas<br />

aproveitando que a filha cochilava, pegou a sua agenda, e começou a ler as anotações que ela havia feito,<br />

a respeito das peças e objetos de arte da mansão, e percebendo que ela destacava uma das obra dentre<br />

as outras, ele retornou para a parte de baixo, e fez uma ligação misteriosa ao seu contratante.<br />

– Sou eu, está podendo falar?<br />

– Seja breve.<br />

– Sobre a visita de minha filha hoje, creio que ele seja a pessoa que procuramos!<br />

– Tem certeza disso, o que descobriu?<br />

71


72<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Ela não encontrou nenhum vestígio da marca, porém uma das obras desaparecidas, e que<br />

acreditamos que há muito tempo, o portador da relíquia o havia adquirido, está entre os objetos de arte do<br />

local, é uma das principais obras de Caravaggio "A adoração".<br />

– Perfeito muito bom trabalho, é a pista que precisávamos para começar a agir, vou tomar as<br />

providências necessárias, eu mando notícias!<br />

O Desconhecido desligou o telefone, sem ao menos dar oportunidade a ele, de poder obter mais<br />

informações, sobre o que seriam essas tais providências, isso lhe deixou totalmente preocupado, afinal<br />

havia colocado inocentemente a filha nesta situação, sem que ela soubesse de toda a verdade, pode<br />

detrás destas pesquisas que fazia, para Marina tudo não passava de uma questão financeira e de<br />

pesquisas.<br />

Perto das vinte horas, a campainha tocou no apartamento de Murilo, ele havia acabado de tomar seu<br />

banho, vestiu rapidamente uma bermuda e uma camisa, indo em seguida atender a porta, e ficou muito<br />

surpreso por se tratar de Bianca, ele não a via e nem tinha tido mais contato, desde o dia que a encontrou<br />

na praça, e agora ela estava ali bem a sua frente.<br />

– Boa noite, não vai me convidar para entrar?<br />

– Claro, por favor entre e fique à vontade, só vou trocar de roupa e já volto!<br />

– Espere, repete o que me disse aquele dia na praça, o que realmente sente por mim, eu preciso muito<br />

ouvir você dizer!<br />

O rapaz sem entender onde ela queria chegar, foi sincero em suas palavras.<br />

– É muito fácil dizer eu te amo, qualquer um pode falar sem sentir nada pela pessoa, porém eu não<br />

encontro palavras, para dizer tudo o que sinto por você, é algo que queima em todo o meu peito, algo que<br />

me faz sentir vivo, mas ao mesmo tempo também me sufoca.<br />

Ela não o deixou terminar de falar, colocou as duas mãos em seu rosto, e lhe beijou na boca<br />

profundamente, foi um beijo tão longo, que os dois pareciam terem se perdido no tempo, até que as bocas<br />

se afastaram lentamente, e ficaram se olhando um ao outro, olhos nos olhos.<br />

Ele foi com todo cuidado, trouxe ela bem perto colada a seu corpo, fez um carinho em seus longos<br />

cabelos, beijou o seu lindo e suave pescoço, deu uma leve mordida em seu queixo, e deslizou suas mãos<br />

suavemente sobre seus seios, fazendo com que ela lhe agarrasse, e mordesse sua boca, assim<br />

vagarosamente, eles foram trocando muitos carinhos, indo na direção do quarto.<br />

Bianca tirou a blusa, deixando a vista seus pequenos e lindos seios, Murilo arrancou a camisa,<br />

transparecendo todo o seu peito sarado, bem devagar ela foi deslizando as mãos pelo seu corpo,<br />

sentindo todo o seu vigor físico, em seguida ela abaixou a saia, permitindo ver toda a sua beleza natural,<br />

pois estava sem a calcinha, e por fim ele tirou a bermuda, e os dois foram para a cama.<br />

Entre movimentos, muitos beijos e abraços apertados, os dois se amaram loucamente, onde ele a sentia<br />

tremer e gemer, em baixo do seu corpo macio e suado, e ela parecia nunca ter experimentado algo assim<br />

tão forte, tão prazeroso, e tão romântico, e mais tarde exauridos pelo cansaço, eles juntos adormeceram.<br />

Ao acordar Bianca percebeu que já havia amanhecido, se levantou, tomou um banho, e acordou Murilo<br />

com um beijo, assim que percebeu que o havia despertado, sorriu conversou um pouco, e lhe falou sobre<br />

sua decisão.<br />

– Bom dia, você fica lindo dormindo!<br />

– Assim não vale, você acordou primeiro!


<strong>Caminhos</strong><br />

– Tem razão, mas eu preciso ir, tenho que resolver algumas coisas.<br />

– O que tem assim de tão importante, fica mais um pouco, nem ao menos tomou o café da manhã, não<br />

pode resolver seja o que for uma outra hora?<br />

– Tem coisas que a gente não pode ficar deixando para depois, eu preciso falar com a Talita, ela tem me<br />

ligado todos estes dias, e eu a tenho evitado todo o tempo, porque estava cheia de dúvidas.<br />

Mutilo se levantou rapidamente, e se dirigiu a ela com mais seriedade.<br />

– E não está mais, e isso quer dizer o que?<br />

– Neste momento, eu tenho certeza que é com você que quero ficar, e preciso ser franca e direta, pois<br />

ela ainda é muito importante para mim, me ajudou muito no passado, é justo que lhe fale toda a verdade,<br />

eu tenho que enfrentar e resolver isso ainda hoje.<br />

– Sério, quer dizer, fico feliz por saber que me escolheu, e por ver que é uma mulher de caráter, então<br />

faça isso, e depois volte aqui para mim!<br />

– Mas não vou te prometer nada, porque creio que vai ser uma conversa longa e difícil, e não sei se terei<br />

cabeça para mais alguma coisa hoje.<br />

– Eu entendo, tem todo o tempo que precisar, eu esperei tanto, posso aguardar mais um dia.<br />

Ela se vestiu, se despediu e foi embora, o deixando dormir por mais um tempo, mas sabia que a<br />

conversa com Talita, não seria nada fácil e bem complicada, afinal ninguém aceita, e nem quer ser trocado<br />

por outra pessoa.<br />

Na mansão depois do café da manhã, Letícia que havia dormido com Nathan, voltou sozinha para a sua<br />

casa, pois era o último dia de férias, e já no dia seguinte, a Ong voltaria as suas atividades normais, ela<br />

precisava organizar algumas coisas, e se preparar para o novo ano letivo, já Caio esperou o amigo sair da<br />

cozinha, e depois o chamou para uma conversa na biblioteca.<br />

– Precisamos conversar, tem algumas coisas que não lhe contei ontem, vou deixar para você decidir<br />

depois, se compartilha ou não com a Letícia.<br />

– Tem sido um bom amigo, e mostrou ser de muita confiança, ao revelar todas aquelas coisas, pode<br />

dizer que estou ouvindo!<br />

– Percebeu pela conversa que tivemos, que tem muitos anos de bagagem, e por um longo período,<br />

tinha este problema de acumular todas as lembranças, as boas e as ruins, todos os negócios realizados,<br />

as lutas que surgiram pelos caminhos, as percas de amigos e de companheiros de jornada, de mulheres<br />

que amou e conviveu, enfim, tudo o que se foi vivenciado nestes anos todos.<br />

– Você mencionou que eu tinha este problema, isto significa que foi resolvido, e como isso se procedeu?<br />

– Sim isto mesmo, por volta do ano de dois mil e dois, teve a ideia de buscar possibilidades de minimizar<br />

este problema, e depois de várias tentativas inúteis, encontrou um meio de fazer isso, e de uma forma<br />

bem simples.<br />

– Como isso foi feito, poderia me dar explicações?<br />

– Através de uma hipnose profunda, na época eu fui com você até o Canadá, e procuramos por um<br />

especialista no assunto, e ele o ajudou a solucionar esta questão.<br />

Nathan se sentou, se lembrou da última sessão da terapia, e comentou isso com o amigo:<br />

73


<strong>Caminhos</strong><br />

– Por isso o doutor Estevam me falou que suspeitava, que eu já havia feito algum tipo de hipnose, será<br />

que isto tem a ver com meu problema de memória?<br />

– Muito provável que sim, porque os exames mostraram que seu acidente, não afetou nenhuma parte do<br />

seu cérebro, mas eu não tinha como ir despejando, tudo isso em cima de você de uma só vez, eu<br />

pretendia ir compartilhando aos poucos, todas as coisas que havia me falado, logo que nós nos<br />

conhecemos, e as outras ao qual acabei participando, mas o surgimento destas pessoas vasculhando a<br />

sua vida, atrás de informações do seu passado, me fez ter de acelerar as coisas.<br />

– Mas como isso funciona, e por qual motivo não me lembro de quase nada?<br />

– Isso de não se lembrar de nada, é também um mistério para mim, porque você decidiu fazer no<br />

Canadá, o que chamam de arquivamento da memória, e isso você resolveu fazer de dez em dez anos, o<br />

último foi em dois mil e doze, como era algo bem particular, eu não sei se nesta última vez, você decidiu<br />

arquivar somente o que não queria, ou reativar alguma lembrança do passado, mas pelo menos os últimos<br />

anos, eram para estarem presentes em sua memória.<br />

O empresário se sentou, andou de um lado para o outro, e questionou a sua atitude.<br />

– E porque já não me levou direto a esse especialista no Canadá, ele não poderia restaurar minhas<br />

lembranças, e resolver este problema de uma vez por todas?<br />

– Não é tão simples assim meu amigo, primeiramente porque o hipnólogo já é falecido, quando o<br />

conhecemos ele já tinha uma idade avançada, segundo porque não precisava dele para fazer isso, ele lhe<br />

ensinou uma técnica, ao qual através de um pêndulo em frente a um espelho, e o uso de uma palavrachave,<br />

podia fazer sozinho todo o processo de arquivamento, ou até mesmo restaurar memórias<br />

anteriores.<br />

– Então não percamos mais tempo, me ensine agora como fazer isso, e assim acabamos de vez com o<br />

problema!<br />

Caio balançou a cabeça, e tentou ser direto em nas suas palavras.<br />

– Como eu disse não é tão simples, por segurança você criou uma palavra-chave pessoal, sendo assim<br />

somente você sabe qual é, pode ser até que escreveu em algum lugar e guardou, mas sem esta palavra<br />

nada feito!<br />

– Por isso tem me levado as sessões, para ver se consigo me lembrar desta palavra, já que as<br />

lembranças estão parcialmente bloqueadas.<br />

– Perfeita a sua conclusão, agora consegue entender e enxergar tudo!<br />

– Eu penso que deve ser algo bem simples, fácil de ser lembrado ou visto.<br />

– Pode até ser que sim, bem agora já sabe de tudo, e que depende somente de você!<br />

Caio abraçou o amigo e se despediu, porque já havia marcado um compromisso, Nathan foi até seu<br />

quarto, abriu o cofre, e vasculhou tudo o que havia dentro, mas acabou sendo uma tentativa em vão, ele<br />

não encontrou vestígios da tal palavra, inclusive ficou por um certo tempo, segurando algo que brilhava<br />

muito, acreditando ser o seu suposto fragmento da fonte, mas mesmo assim nada surgiu em sua mente, e<br />

por fim se sentando em uma poltrona, demonstrou estar muito chateado e apreensivo, afinal se tudo isso<br />

era realmente verdade, se o que já havia vivido e presenciado todos estes anos, durante esta sua longa<br />

jornada pela vida, dependia simplesmente de uma mera palavra-chave.<br />

74


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 17 •<br />

Terminavam as férias da Ong, Nathan que mal dormira a noite toda, fez questão de acompanhar<br />

Letícia logo de manhã, e junto a ela, receberem todas as crianças e adolescentes, que frequentavam a<br />

organização de caridade, como de costume, os trabalhadores da casa se organizavam, e faziam uma<br />

espécie de triagem de todos os integrantes, um controle para verificar o comportamento de cada um,<br />

durante a parada de fim de ano.<br />

Ao terminar o levantamento, a coordenadora Dulce, encaminhou todos para as duas salas de aula, onde<br />

lecionavam a professora Amanda, e a outra obviamente da professora Letícia, é claro que havia um<br />

abatimento geral, por conta do acontecido com o jovem zelador Nicolas, que havia perdido a vida na<br />

época do natal, sentiam falta de suas brincadeiras, e toda empolgação que dispensava, e que fazia<br />

questão de demonstrar todos os dias, pena que ele havia se perdido, em um dos maus caminhos da vida.<br />

O motorista Moreira, deu um leve toque na buzina sinalizando para Nathan, que já estava na hora de ir,<br />

pois havia uma reunião importante na Etros, e a presença dele se fazia necessária, pelo motivo de ter sido<br />

convocada por um grupo de acionistas, que pertencia a uma das empresas do grupo.<br />

Arthur, que também prestava serviços a organização, também fora convocado na qualidade de<br />

advogado, para prestar todas as garantias legais a documentos, e termos acordados entre todos os<br />

presentes, ele havia saído um pouco mais cedo de casa, e antes deu uma passada rápida pela clínica,<br />

para conversar com uma das médicas da instituição.<br />

– Bom dia, muito prazer, meu nome é Lisley, entre e fique bem a vontade!<br />

– Bom dia, me chamo Arthur, o prazer é todo meu, e agradeço por fazer uma exceção, me recebendo<br />

aqui em sua sala, sei que tem sua agenda bem cheia!<br />

– Imagina, será sempre um prazer recebe-lo, e sei o motivo que o traz aqui, assim sendo vou direto ao<br />

assunto, tenho boas notícias!<br />

– Que ótimo, e quais são elas?<br />

– Nós trabalhamos aqui com várias faixas de tratamento, a inicial, a secundária, a intermediaria, e<br />

a seletiva, onde avaliamos se a interna se encontra reabilitada, a conviver normalmente com as demais<br />

pessoas da sociedade.<br />

– Em que faixa a Elisa se encontra neste momento?<br />

– Por sorte, a paciente ainda não sofria da total dependência, nem do álcool, nem de outro tipo de droga,<br />

por isso ela se adaptou rapidamente ao tratamento, pulando algumas etapas do processo, e creio que<br />

dentro de um mês, ela provavelmente poderá retornar para casa, sei que deve estar ansioso para vê-la,<br />

mas está a par das normas da clínica, onde é permitido somente visitas femininas, visando a própria<br />

segurança das internas, que vivem a maior parte do tempo medicadas, evitando assim abusos de<br />

qualquer gênero.<br />

– Eu entendo perfeitamente, na verdade foi um dos principais motivos, de ser o local escolhido para<br />

interna-la, sei que a maioria que aqui chega, sofreu algum tipo de violência ou abuso, portanto ficam<br />

preservadas de qualquer tipo de problema.<br />

– Exatamente, quero que fique bem tranquilo, ela está muito bem, e sempre pergunta por você, posso<br />

ajudá-lo em algo mais?<br />

– Por hora é só, agradeço mais uma vez por me receber, qualquer mudança que houver, e o que ela<br />

precisar, pode mandar me telefonar ou me chamar, seja a hora que for!<br />

75


<strong>Caminhos</strong><br />

– Não se preocupe, de momento tudo corre bem, passar bem!<br />

Ele saiu dali muito satisfeito, além da ótima notícia que havia recebido, da melhora rápida e recuperação<br />

da moça, ela ainda havia perguntado sobre ele, sinal que a moça de alguma forma, se lembrava e se<br />

importava com ele, neste bom clima pegou o seu carro, e foi diretamente para a reunião na Etros, para<br />

providenciar os documentos requisitados pelos acionistas.<br />

No grupo, Murilo já havia chegado para assessorar Caio e Nathan, no pleito que estava prestes a se<br />

iniciar, porém notou a ausência de Bianca, que era a principal secretária da diretoria, e após tentativas<br />

frustrantes de contato, e devido ao tempo escasso que tinha, não pode averiguar o que havia acontecido a<br />

ela, e teve de substituí-la por uma outra secretária.<br />

Os acionistas representantes no Brasil, de uma grande empresa árabe, já se posicionavam na sala de<br />

reuniões, no exato momento em que Nathan adentrou, e foi encaminhado até a cadeira principal, mas este<br />

se recusou, deixando a vaga que por hora, era de direito e pertencia a Vasques, que era o atual<br />

presidente, Caio que havia ido na frente para organizar a papelada, combinou antecipadamente com o<br />

amigo, que procurasse falar o menos possível, para não despertar suspeitas de seu esquecimento, e<br />

assim não prejudicar o andamento das negociações.<br />

Vasques iniciou mostrando uma planilha de custos, onde afirmava que uma queda brusca no mercado<br />

interno, havia afetado as exportações de produtos e negócios, e que neste momento se fazia<br />

necessário, parcerias com empresas no mercado externo, para poder sanar os défices de crescimento, e<br />

de baixa nos lucros de todo o grupo.<br />

Todos opinaram, e cada um colocou o seu ponto de vista, mas ele insistiu na parceira árabe,<br />

acrescentando que por se tratar de uma negociação muito importante, que o próprio Nathan, sendo o<br />

sócio majoritário das empresas envolvidas, fosse pessoalmente representar, e firmar este acordo tão<br />

essencial, mas somente depois de muito diálogo houve um consenso, e a maioria votou a favor da<br />

resolução do atual presidente.<br />

Nathan ao lado de Caio, ouvia atentamente os argumentos finais de Vasques, ele afirmava que um<br />

contrato de fusão, com esta empresa dos Emirados Árabes, neste momento atual de crise mundial, seria<br />

de fundamental importância, para todos os negócios do grupo, e principalmente para todos os acionistas.<br />

Após o término da reunião, uma ligação entre Vasques e aquele homem misterioso, dava continuação<br />

ao um plano muito bem elaborado, ao qual envolvia uma armadilha mortal, e o presidente prestava algum<br />

tipo de satisfação.<br />

– Sou eu novamente, tudo acertado para a viagem, agora é com o seu pessoal!<br />

– Muito bom trabalho, genial a sua ideia de unir uma negociação ao nosso plano, agora é só contar as<br />

horas, para que eu possa colocar as mãos em toda esta fortuna, que foi depositada nos bancos Suíços.<br />

– Não se esqueça da minha parte combinada, depois de concretizado, como pretende transferir os<br />

fundos para a outra conta?<br />

– Digamos que tenho uma pessoa muito especializada, e que vai realizar todo o serviço sem deixar<br />

rastros, porque todos os depósitos e registros bancários, estão disponíveis e destinados ao portador,<br />

portanto, quem tiver as senhas e os documentos assinados, ao qual você forjou com a sua perspicácia,<br />

permitirá pleno poderes a quem os detiver, liberando assim todos os fundos do grupo.<br />

– É um plano perfeito, vamos deixar eles fecharem o negócio, e na volta concluímos todo o plano,<br />

tenho certeza que desta vez vai tudo dar certo, e não haverá erros como a tentativa anterior, agora tenho<br />

de desligar porque estão me aguardando, até breve!<br />

Eles tinham planejado tudo, já haviam reservado as passagens aéreas, a hospedagem em um hotel de<br />

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77<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

luxo, e firmado a reunião para dentro de dois dias, sendo que o voo até a maravilhosa Dubai, durava cerca<br />

de quinze horas, por este motivo após o término da reunião, Nathan e Caio foram diretamente para a<br />

mansão, já que teriam poucas horas para arrumar suas malas e pertences, e através de uma ligação pelo<br />

celular, ele informou Letícia da viagem repentina e urgente, combinando de se encontrarem logo mais, e<br />

assim poder explicar tudo a namorada.<br />

No caminho Caio contou a Nathan, que sempre faziam viagens deste tipo, e que nestas ocasiões<br />

levavam consigo, os seus secretos fragmentos da fonte, para o caso de precisarem de uma restauração,<br />

era assim que eles chamavam os processos, tanto de cura como o de rejuvenescimento, e depois de um<br />

longo percurso chegaram na residência, não percebendo que Raul rondava a casa, ele acompanhava todo<br />

o movimento dos moradores do local, principalmente os passos da esposa e do filho, que haviam acabado<br />

de chegar da Ong, juntamente com Letícia.<br />

Ambos tomaram seu banho, se arrumaram, e depois que fizeram todas as malas, cada um abriu seu<br />

cofre, separou uma quantia em dólares, e pegou a pequena relíquia, que conforme Caio havia<br />

contado, sempre passavam pela alfandega do aeroporto, como sendo uma pequena peça de decoração,<br />

isso por causa de seu brilho intenso que ao olhos humanos, pareciam mesmo peças sem valor algum,<br />

sendo declaro como simples suvenires, e quando terminaram de arrumar todas as coisas, desceram juntos<br />

até a biblioteca, onde Letícia, Iris, e Gabriel os aguardavam, para conversarem e se despedirem dos dois,<br />

a primeira a falar foi a professora.<br />

– Oi amor aconteceu algo, porque esta viagem assim tão repentina?<br />

– Essa eu vou passar para o Caio, porque também me pegou meio de surpresa, ele está mais por dentro<br />

do assunto, eu só me inteirei hoje da proposta de negócios.<br />

– Na verdade, eu tinha ciência desta negociação e fusão com os árabes, porém não sabia que havia<br />

toda esta urgência, que foi apresentada agora a pouco, pelo presidente Vasques e parte dos acionistas,<br />

eles alegam que uma outra empresa americana, também está na concorrência deste rentável acordo,<br />

então quem chegar lá primeiro, e fazer uma proposta convincente, provavelmente irá fechar o negócio.<br />

– Então é um tipo uma corrida contra o tempo?<br />

– Garoto inteligente, isso mesmo, esse o motivo de já estarmos indo neste momento, rumo ao aeroporto!<br />

Iris achando a interversão do filho inconveniente, o advertiu:<br />

– Gabriel fica quieto, não se meta nos assuntos que não nos diz respeito!<br />

Para amenizar a bronca, Nathan procurou favorecer o garoto.<br />

– Deixa o menino, agora ele também faz parte da família, e também não falou nada demais.<br />

Letícia a procura de mais informações, se dirigiu a Caio novamente.<br />

– Mas se foi assim em cima da hora, como conseguiram as reservas de hotel e passagens?<br />

– Isso não é problema para o nosso grupo, digamos que além de termos certos tipos de privilégios,<br />

conhecemos pessoas influentes em todas as áreas.<br />

Com ar de admiração, cercado a uma singela tristeza, todos se despediram entre abraços e beijos,<br />

desejando aos dois uma boa e segura viagem, Moreira já os aguardava do lado de fora, e assim que<br />

carregou as bagagens, os levou até o aeroporto de Guarulhos, onde fizeram o check-in, despacharam as<br />

malas, e aguardaram, até que por volta das quinze horas local, embarcaram para os Emirados Árabes.<br />

Por volta das seis horas da manhã, o Boeing 777 pousava em Dubai, exaustos da longa viagem, os


<strong>Caminhos</strong><br />

dois empresários brasileiros, desembarcavam em uma das cidades mais ricas e moderna do mundo, onde<br />

ambos pegaram um táxi para o hotel, e a certeza que predominava no momento, é que eles<br />

precisavam descansar e se preparem, para a tão esperada reunião executiva, que estava marcada para<br />

as quatorze horas.<br />

Caio lidava com todas as pessoas, pois falava fluentemente a língua local, e também dominava muito<br />

bem o inglês, quando este se fazia necessário, Nathan provavelmente também tinha consigo, as mesmas<br />

habilidades e conhecimentos, porém estavam obscurecidas pela perda de memória, e procurava<br />

acompanhar tudo bem de perto, procurando se habituar e familiarizar, com todas as circunstâncias que<br />

surgiam.<br />

Sem tempo para se adaptarem ao fuso horário local, após descansarem muito pouco, por volta do meio<br />

dia, pediram uma leve e saudável refeição, que foi servida ali mesmo no quarto do hotel, e após se<br />

alimentarem rapidamente, se aprontaram e saíram para reunião, era hora de encarar frente a frente, um<br />

dos maiores empresários do país, o Sheik Mahdi Jasir.<br />

Faltavam vinte minutos para o encontro, quando os dois amigos chegaram ao local marcado, se travava<br />

de um luxuoso edifico, localizado bem no centro de Dubai, sendo que após fazerem as suas identificações,<br />

e a integração dos documentos a serem utilizados, foram amplamente recebidos na sala de reuniões, pelo<br />

Sheik árabe e todos os seus assessores, e logo após os cumprimentos tradicionais, se sentaram a mesa,<br />

e imediatamente iniciaram toda a negociação, onde Caio havia se encarregado formalmente, de traduzir a<br />

conversa entre ambos.<br />

‏”ا‏ ‏ن دوا‏ ‏روري ‏ر ، ‏ط‏ أن ‏ول وود ‏ل واد – Jasir “Mahdi<br />

Traduzindo: É uma enorme satisfação para todos nós, podermos contar com a presença de vocês dois.<br />

‏”ن ‏ن اذن ‏ر!‏ أن ‏ون ! وودم،‏ وأب أن ا‏ ر&‏ ! ھذا اروع ا#ري ار – “Caio<br />

Traduzindo: Nós é que estamos honrados, em estar em vossa presença, e gostaríamos muito<br />

de participar, deste grandioso projeto imobiliário.<br />

‏”ھذا ‏رى،‏ وأظ(ر ‏(م ارن ‏دي اروع )، ‏وف ‏دث ‏ن ا-ر رأس ال،‏ ون اداد ‏#دم – Jasir “Mahdi<br />

Traduzindo: Isso veremos a seguir, meus assessores lhes apresentaram todo o projeto, depois<br />

falaremos sobre o capital de investimento, que estamos dispostos a disponibilizar.<br />

E assim seguiu a negociação, Nathan comentou com o sócio tudo o que apreciou, durante toda a<br />

apresentação do projeto, e ambos ficaram muitos satisfeitos com a dimensão, e as perspectivas do que<br />

aparentava ser, um grande e ousado negócio imobiliário, e ao terminar a reunião, o Sheik fez questão de<br />

mostrar pela janela, toda a exuberância da arquitetura de Dubai.<br />

78


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 18 •<br />

No Brasil o Expediente já havia terminado, Vasques tinha adiantado a todos na empresa, que a reunião<br />

com o Sheik árabe e assessores, ainda estava em andamento naquele exato instante, mas que não havia<br />

a necessidade, que os membros da diretoria ficassem na retaguarda, sendo assim foram dispensados, e<br />

Murilo aproveitou para ir até o apartamento de Bianca.<br />

Durante todo o caminho ele ficou pensativo, qual seria o real motivo desta sua falta, ainda mais em<br />

numa reunião de tamanha importância, como a que tiveram no dia anterior a viagem, até então ela sempre<br />

foi muito responsável e pontual, e agora depois de terem ficados juntos, ela já estava sem dar notícias há<br />

dois dias, mas teria ela se arrependido e voltado atrás, ou teria acontecido algo de mais grave, todas estas<br />

questões o perturbava.<br />

Já anoitecia quando ele chegou na porta do prédio, estacionou o carro e foi até a portaria, onde foi<br />

meramente informado, de que ela não estava em seu apartamento, que havia estado lá somente na parte<br />

da manhã, mas depois havia saído novamente, e até o momento não havia retornado.<br />

Ali estava ele, mais uma vez correndo atrás dela, parecia uma repetição sem fim, e chegou até a ir na<br />

mesma praça, onde a havia encontrado da outra vez, mas ao constatar que ali não estava, se sentou no<br />

carro, procurou em seus contatos o telefone de Cesar, que era o gerente do departamento pessoal do<br />

grupo.<br />

Na correria ele acabou se esquecendo de o procurar, pois possivelmente ela poderia ter ligado, e dado<br />

satisfações sobre as faltas, ou até mesmo deixado algum tipo de aviso, tanto para ele quanto a diretoria do<br />

grupo, e assim telefonou para ele:<br />

– Cesar boa noite, é o diretor Murilo tudo bem?<br />

– Comigo está tudo bem, e com você?<br />

– Tudo bem, desculpe eu ligar assim depois do horário de trabalho, mas eu preciso de uma informação<br />

vossa, por acaso a Bianca lhe comunicou algo, sobre sua falta e ausência nestes dois dias, houve algum<br />

tipo de contato dela?<br />

– Houve sim, mas foi somente hoje a tarde, eu já estava arrumando as coisas para ir embora, quando<br />

ela ligou e avisou que precisava de alguns dias, alegando que teria de cuidar de uma pessoa muito<br />

próxima, e que está internada em um hospital, me pediu para dar uma licença sem remuneração, isso<br />

perante as regras vigentes da empresa, e neste caso ela pode se afastar por dez dias, mas porque a<br />

pergunta, está acontecendo algo, posso ajudar em alguma coisa?<br />

– Digamos que é um assunto pessoal, mas poderia me dar mais detalhes, ela falou quem é a pessoa, ou<br />

pelo menos disse em que hospital ela se encontrava?<br />

– Desculpe, ela não mencionou nada, e também não é do meu feitio ficar especulando, principalmente<br />

sobre assuntos fora do trabalho, mas se for alguém de sua família, provavelmente ela pode ter internado<br />

essa pessoa, no hospital que a empresa mantém o convenio.<br />

– Mas é claro, olha Cesar obrigado pelas informações, e me desculpe mais uma vez por te importunar,<br />

até amanhã na empresa!<br />

Depois de meia hora ele chegou no hospital, e foi até o balcão em busca de informações, porém pelo<br />

nome ou sobrenome de Bianca nada encontrou, e por não ser um membro da família de um internado,<br />

eles não podiam dar mais nenhum tipo de informação.<br />

Após ficar andando de um lado para o outro, tentando achar uma maneira de solucionar o problema,<br />

resolveu novamente ligar para o celular dela, e desta vez obteve sucesso, pois ela o atendeu:<br />

79


<strong>Caminhos</strong><br />

– Que bom que você atendeu, você sumiu e não deu notícias, o que houve?<br />

– Quase uma tragédia, estou em um hospital.<br />

– Eu sei disso, mas em qual hospital se encontra, porque eu estou aqui no do convênio, e não encontrei<br />

nenhuma informação a seu respeito.<br />

– Você está aqui, como me achou?<br />

– Isso não importa, estou na sala de espera, preciso muito saber o motivo de seu sumiço, e o que<br />

realmente aconteceu.<br />

– Eu estou em um quarto no segundo andar, espere um minuto que eu descer aí.<br />

Não demorou muito, e ela chegou onde Murilo se encontrava, estava aparentemente muito abatida, e ele<br />

até fez uma tentativa de abraça-la, mas ela se esquivou e se sentou por ali mesmo, pedindo para que ele<br />

também se sentasse, para que assim pudessem conversar.<br />

– Vai me dizer o que ocorreu, alguém da sua família ficou doente?<br />

– É a Talita, ela tentou cometer suicídio ontem.<br />

– Minha nossa, como e porque isso aconteceu?<br />

– Depois que sai do seu apartamento, eu fui direto até a casa dela, e como eu passei a noite com você,<br />

e percebendo esta minha ausência, ela tinha me procurado a noite toda, haviam inúmeras ligações<br />

perdidas no meu celular, e eu precisava lhe dar algum tipo de explicação, estava decidida a terminar tudo<br />

com ela.<br />

– E pelo jeito ela não reagiu bem a essa conversa!<br />

– Como pode ver, é claro que não aceitou este fato, a princípio ela chorou muito, depois ficou perturbada<br />

e muito furiosa, a ponto de me dar um tapa no rosto, surpreendida com aquela cena eu fui embora, pois<br />

não havia mais clima para diálogo algum, mas ao sair eu disse que voltaria mais tarde, quando ela<br />

estivesse mais calma para conversarmos, mas quando retornei depois do almoço, a encontrei caída no<br />

chão da sala.<br />

– Mas o que ela fez, tomou algum tipo de medicamento forte?<br />

– Antes fosse, ela cortou os pulsos com uma faca, e acabou perdendo muito sangue, se eu não<br />

chegasse naquele momento, aconteceria o pior, ela morreria ali mesmo largada no chão, e no desespero<br />

eu acabei gritando muito, foi onde um vizinho ouviu e me ajudou a socorre-la, pegamos ela, colocamos no<br />

carro, e a trouxemos até aqui no hospital.<br />

Ele ficou pasmo com o que havia escutado, como pode alguém chegar a um ponto destes, de atentar<br />

contra a própria vida, e após alguns minutos de silêncio, ele tornou a dialogar com ela:<br />

– Não sei nem o que te dizer, mas podia ter me ligado e avisado, não precisava passar por tudo isso<br />

sozinha!<br />

– Sei que poderia contar com você, mas agora eu preciso muito que se afaste, estou novamente muito<br />

confusa, você sabe da minha história com ela, e do enorme carinho que mantemos, de como ela sempre<br />

me ajudou e apoiou, e se chegou ao ponto de cometer este ato, pode facilmente tentar novamente, por<br />

isso eu tenho que ficar ao lado dela, para que isso não torne mais a acontecer!<br />

– Olha, eu entendo tudo isso que me falou, mas acho uma atitude desnecessária, como a gente fica?<br />

80


<strong>Caminhos</strong><br />

– É muito complicado, é melhor a gente não se ver por enquanto, agora eu lhe peço que vá embora, e<br />

nos deixe passar por este momento difícil.<br />

Ele havia ficado extremamente aborrecido, se levantou vagarosamente, e por um determinado tempo,<br />

ficou ali de pé olhando para ela, que havia permanecido sentada e com a cabeça baixa, Murilo porém, era<br />

uma pessoa muito digna, e entendendo perfeitamente que naquele momento, não adiantaria argumentar<br />

mais nada, se virou e foi embora do hospital, a deixando sozinha na sala de espera.<br />

No antiquário, Pai e filha se reuniram após o fechamento, os dois se acomodaram no pequeno escritório,<br />

e começaram a conversar sobre suas pesquisas recentes, principalmente a respeito dos objetos da<br />

mansão.<br />

– Filha, como anda a pesquisa das obras de artes do milionário?<br />

– Pai não o trate deste jeito, ele até me parece ser uma pessoa do bem, mas já que perguntou eu tenho<br />

feito progressos, dois dos quadrados que fotografei e analisei, pertencem a uma grande coleção que<br />

desapareceu no século 19, mas nada que o ligasse ao artefato que mencionou.<br />

– Acredito que temos de investigar muito mais, em algum lugar daquela casa deve ter vestígios, ou<br />

pistas que nos levem até o paradeiro da marca, aí sim poderemos dar uma boa prensa nele, e faze-lo<br />

confessar toda a verdade sobre o seu passado, e se realmente cometeu crimes para ficar com a fonte!<br />

– Credo pai, estou estranhando o seu modo de agir, além do mais mesmo que ache algo, como pode ter<br />

certeza que há coisas erradas em seu passado, poderia ser qualquer pessoa que teve acesso a estas<br />

informações, e assim podendo ter cometido os crimes.<br />

– Tenho quase certeza de quem fez isso, tem mais de que um fragmento da peça, e se eu estiver certo,<br />

não vai ser difícil comprovar este fato!<br />

– Estou aguardando ele voltar de viagem, e assim que for possível vou marcar uma nova visita, e quem<br />

sabe poderei ter acesso a outras partes da casa, e assim descobrir algo importante, que nos aproxime de<br />

toda a verdade.<br />

– Assim eu espero, há muito tempo gerações buscam a solução deste fato!<br />

Em Dubai Nathan e Caio, conseguiram fechar o grande negócio imobiliário, e a partir da metade do<br />

próximo semestre, já começariam o envio de pessoal especializado, e de todos os materiais básicos<br />

necessários, para o início da mega obra do Sheik Mahdi Jasir, que fez questão absoluta, que ambos<br />

jantassem em sua companhia, antes que fizessem a longa viagem de volta.<br />

Enquanto isso no Brasil, Vasques já sabendo do acordo firmado entre eles, tratou de comunicar<br />

imediatamente ao seu misterioso chefe, dando a ele todo os detalhes da bilionária transação, e sendo o<br />

atual presidente da empresa, teria plenos poderes e todo o acesso ao negócio, no caso de que algo<br />

acontecesse aos dois sócios, por isso deu sequência ao seu plano mirabolante, ligando para um dos seus<br />

comparsas.<br />

– Sou eu, eles retornam amanhã, o voo deles parte por volta das vinte e três horas, no horário local<br />

de Dubai, devem chegar aqui por volta das dezessete horas.<br />

– Já coloquei a bomba no carro da empresa que me indicou, agora você tem de garantir que seja este<br />

que vão utilizar, para busca-los no aeroporto.<br />

– Eu vou cuidar pessoalmente de tudo, para que nada dê errado desta vez, e o detonador como vai ser<br />

acionado?<br />

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82<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Na bomba tem um aparelho celular conectado a ela, assim que eles entrarem nas proximidades da<br />

cidade, um de meus homens de confiança vai segui-los, e vai acionar quando julgar apropriado, através de<br />

um sinal de um outro celular, que está programado para a detonação.<br />

– Perfeito, muito bom trabalho, mas faça isso em um local mais movimentado, não podemos levantar<br />

nenhum tipo de suspeita, agora é contar as horas para estarmos livres, e poder pegar toda a imensa<br />

fortuna, que está armazenada nos bancos suíços, agora vou desligar, voltamos a nos falar mais tarde.<br />

– Certo chefe, fico no aguardo de sua ligação, e da minha grana!<br />

Tudo estava de acordo com os planos traçados por eles, mas quem estaria por detrás de toda esta<br />

armação, quem seria assim tão cruel, ao ponto de planejar a morte dos dois empresários, seria o fim de<br />

suas jornadas?<br />

Voltando aos Emirados Árabes, Nathan e Caio ficaram maravilhados, com todo o luxo e requinte do<br />

jantar oferecido a eles, o Sheik havia tido o cuidado e a delicadeza, de mandar preparar um menu<br />

requintado, com comidas internacionais e típicas do local, e logicamente também as brasileiras.<br />

O auge do jantar foi a dança do ventre, proporcionadas por três lindas mulheres nativas, que entreteram<br />

todos os convidados, por cerca uma hora e meia, sendo que após estes eventos, foram servidos diversos<br />

tipos de sobremesas, principalmente as delícias árabes e turcas, que ficaram entre os principais pratos<br />

oferecidos pelo anfitrião.<br />

Por volta das vinte e uma horas, ambos se despediram do Sheik Mahdi Jasir, agradeceram a enorme<br />

hospitalidade, e principalmente o excelente acordo firmado, entre os dois países e suas empresas, ainda<br />

houve um procedimento de cumprimentos entre eles, e após isso foram diretamente para o hotel, onde<br />

pegaram suas bagagens e pertences pessoais, e se encaminharam até o aeroporto internacional.<br />

Com o check-in realizado, os dois ficaram aguardando sentados no saguão, até o momento em que<br />

embarcaram na aeronave, e sem atrasos o voo MJ 255, decolou suavemente rumo as terras brasileiras,<br />

agora restava cerca de quatorze horas, era o tempo que os separavam da emboscada, que havia sido<br />

preparada contra eles.<br />

Exaustos pela maratona, que alternou entre a viagem repentina, a reunião de negócios, e o exuberante<br />

jantar, eles acabaram por dormir por cerca de seis horas, e foram acordados por uma das aeromoças, que<br />

oferecia uma leve refeição e bebidas a bordo, Caio aproveitou para beber um pouco, aparentemente<br />

parecia muito apreensivo, e querendo dar uma relaxada em toda esta tensão, então pegou duas taças de<br />

champanhe, e convidou Nathan para um brinde.<br />

– Ao sucesso da nossa viagem de negócios, e a nossa grande amizade!<br />

– Sim, estou satisfeito que tudo tenha dado certo, vamos brindar principalmente a esta parceria,<br />

agradeço toda a sua ajuda, e principalmente esta sua lealdade.<br />

Eles ficaram ainda algumas horas conversando, até que o comandante informou aos passageiros, que o<br />

pouso estava autorizado, e após efetuar o desembarque, ambos retiraram as suas bagagens, e juntos se<br />

encaminharam até o estacionamento externo.<br />

Em meio ao grande tráfego de veículos, ainda nos arredores do aeroporto, uma caminhonete seguia o<br />

carro do grupo, certamente aguardando o momento certo, para acatar as ordens demandadas por<br />

Vasques, que já havia sido informado da chegada dos empresários, e seguindo à risca o maléfico plano,<br />

eles aguardaram até a chegada um local público, para pôr em prática o ataque planejado.<br />

Nas proximidades da Avenida Paulista, houve a detonação da bomba, além do imenso barulho<br />

provocado, carros, prédios e tudo mais ao redor, sofreram com o forte impacto da explosão, e o veículo<br />

particular da empresa, ficou totalmente destruído.


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 19 •<br />

Após acionar a bomba, o próprio homem que fez a detonação, teve a frieza de sai da caminhonete em<br />

que se encontrava, e ir até perto dos destroços em chamas, para averiguar se não havia a possibilidade<br />

de sobreviventes, e em meio a todo aquele caos, gritos e pânico dos que haviam presenciado a explosão,<br />

ele levava consigo um leve sorriso de satisfação, de um dever meramente cumprido, e retornando para o<br />

veículo, ligou para Vasques, um dos mandantes do crime.<br />

– Serviço executado e limpo, sem sobreviventes.<br />

– Maravilha, vou transferir o restante combinado para sua conta, muito bom trabalho!<br />

– Ok, assim que pegar a minha grana eu vou embora da cidade, vou sumir do mapa por uns tempos.<br />

– Preste muita atenção, não deixe pista alguma, se precisar novamente de seus serviços, eu entro em<br />

contato, até breve.<br />

– Até, precisando é só me chamar.<br />

Vasques ligou imediatamente para o cabeça da operação, e o comunicou sobre a confirmação do<br />

atentado, e que agora o caminho estava livre para a conclusão da operação, efetuando a retirada do<br />

dinheiro e títulos ao portador, uma imensa fortuna que acreditavam estar em bancos suíços, segundo<br />

informações que haviam sido repassadas a quadrilha.<br />

O incidente tomou grandes proporções, no total foram atingidos três veículos, uma loja, e uma<br />

lanchonete, resultando em cinco mortes e onze feridos, imediatamente toda a mídia se deslocou para o<br />

local, havia muitos repórteres e fotógrafos, e uma das emissoras presentes ao incidente, começou a<br />

transmitir a notícia ao vivo, chegando assim rapidamente a toda população, e logicamente também a Ong,<br />

onde as crianças assistiam desenhos.<br />

Gabriel que estava presente na sala, a princípio não deu muita atenção ao fato, porém quando ouviu a<br />

repórter dizer, que um dos carros mais atingidos pela bomba, pertencia ao Grupo Etros, imediatamente<br />

correu até a sala das professoras, o menino já estava chorando, quando correu para os braços de Letícia:<br />

– O que houve Gabriel, por que está chorando deste jeito?<br />

– É por causa deles, estão falando lá na televisão, que o carro que o Nathan e o Caio estavam explodiu,<br />

e que foi totalmente destruído!<br />

As suas pernas bambearam na hora, e ela teve de ser amparada por Dulce, que havia presenciado toda<br />

a conversa, e ficado chocada com esta notícia, sendo que demorou um certo tempo, para que Letícia<br />

voltasse a realidade, pois havia ficado totalmente atordoada, não acreditando nos fatos que aconteciam.<br />

Aos prantos ela mal conseguia falar, nem sequer tinha forças para se levantar, para perguntar o que<br />

realmente havia acontecido, pediu para Dulce ir até a sala de brinquedos, onde a televisão estava ligada, e<br />

ali ficou assistindo a toda a reportagem, vendo que o local do incidente acontecido, havia ficado parecido a<br />

um cenário de guerra, e certamente horrorizada, voltou para consolar a amiga e companheira da<br />

instituição.<br />

Inconformada, Letícia pediu para que Dulce a levasse até o hospital, onde as vítimas haviam sido<br />

encaminhadas, ambas estavam pálidas e angustiadas, não acreditavam que isso tudo fosse real, e desde<br />

o momento em que souberam do acontecido, a namorada de Nathan havia perdido o seu chão, e<br />

permaneceu em silêncio total durante todo o trajeto.<br />

83


84<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Não demorou muito, e a relação dos supostos mortos no atentado a bomba, foi divulgado praticamente<br />

em todos os canais, e também em redes sociais, tendo como base os depoimentos de testemunhas, de<br />

pessoas ligadas ao grupo, e alguns documentos encontrados entre os destroços.<br />

- Caio Green Ville - 33 Anos<br />

- Nathan Collin Miller - 30 Anos<br />

- Moreira Soares de Oliveira - 47 Anos<br />

- Elza Xavier Saldanha - 28 Anos<br />

- Alex Mattos Junior - 16 Anos<br />

A notícia circulou rapidamente pela favela, onde as crianças da Ong, que haviam sido dispensadas,<br />

espalhou o boato do que haviam visto e escutado, sobre o acontecido com um de seus principais<br />

benfeitores, e de outras pessoas envolvidas na explosão, sendo que alguns dos estudantes, já chegavam<br />

chorando em suas casas, isto porque tinham um enorme carinho, e também uma grande estima por<br />

Nathan, que naquele determinado momento, já era dado como um dos mortos no atentado, Militão assim<br />

que soube, correu para contar o ocorrido.<br />

– Chefe, não sabe o que aconteceu!<br />

– Espero que seja algo muito importante, porque estou conferindo as embalagens!<br />

– É importante sim chefe, sabe o bacana granfino?<br />

– Fala do playboy da Ong, o que tem ele, está aqui na favela?<br />

– Antes fosse, estão falando por aí que ele bateu as botas, que o carro que ele tava explodiu!<br />

– Esta é mais uma das suas babaquices?<br />

– Nada disso, eu quero morrer mortinho se não for verdade, eu acho!<br />

– Mas isto é uma excelente notícia, e pelo visto, tinha mais gente querendo acabar com a raça dele, eu<br />

vou descer já até o mercadinho do Jair, e tentar saber o que realmente aconteceu, e sabe de uma coisa,<br />

por ter me trazido esta informação, vou te dar um bônus!<br />

– Oba, obrigado chefinho, o Situação vai ficar morrendo de inveja!<br />

Duarte também soube do acontecido, e antes de levar a frustrante notícia até Marina, que estava desde<br />

a parte da manhã trabalhando, em uma perícia de um quadro muito antigo, ficou em frente a um retrato na<br />

parede de seu quarto, se tratava de algum parente já falecido, mas não demonstrava tristeza com as<br />

notícias, e sim uma profunda insatisfação pessoal, respirou bem fundo, desceu as escadas, indo até o<br />

local onde a filha se encontrava.<br />

– Filha, infelizmente não tenho boas notícias!<br />

– Nossa pai que cara é esta, você está pálido, o que aconteceu?<br />

– Uma brutalidade, uma imensa fatalidade, parece que o nosso investigado, o milionário Nathan, morreu<br />

em um atendado a bomba.<br />

– Como assim? O senhor fala mesmo sério, mas quando e onde foi isso?<br />

– Está em todos os noticiários, acho melhor você subir e ver por si mesma.<br />

Ela também ficou atordoada ao receber a notícia, havia lágrimas em seus olhos, de algum modo tinha se<br />

afeiçoado a ele, e o contrário do pai, ela ficou muito triste com o ocorrido, mas de qualquer maneira o fato


era que, as pesquisas ficariam totalmente comprometidas, pois Nathan era o foco principal de suas<br />

investigações.<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Chegando no hospital, Letícia foi logo em busca de informações, ela estava muito desesperada e aflita, e<br />

quando se aproximava do balcão de atendimento, viu que um médico conversava com um rapaz e uma<br />

moça, se tratava dos filhos do motorista Moreira, provavelmente também ali estavam, em busca de algum<br />

tipo de informação.<br />

Toda a frente do prédio do Grupo, estava repleto de repórteres e curiosos, Vasques percebendo todo<br />

aquele tumulto, resolveu sair pelos fundos do estacionamento, desta forma ninguém percebeu sua saída<br />

da empresa, porém quando parou em um cruzamento próximo, foi surpreendido por dois homens em uma<br />

moto, sendo que um deles efetuou nele cinco disparos, e se certificando que ele estava realmente morto,<br />

debandaram do local do crime rapidamente, era uma provável queima de arquivo.<br />

Mas as vezes, nem tudo parece ser o que realmente é, na cidade do Guarujá, mais precisamente no Iate<br />

Clube Santos, um carro alugado acabava de estacionar no local, e dentro dele saíram dois homens, que<br />

se encaminharam até a guarita de entrada, onde um deles, demostrando ter total conhecimento das<br />

normas e regras deste local, se aproximou do porteiro se identificando, para poder ter sua entrada<br />

autorizada, mas assim que o reconheceu, ficou totalmente abalado.<br />

– O que, mas não pode ser...<br />

– Qual é o problema, parece que viu um fantasma!<br />

– É mesmo o senhor?<br />

– Você está tremendo, o que se passa? Porque ficou assim?<br />

– Estão falando no rádio e na televisão, que o senhor morreu em uma explosão!<br />

Caio se virou olhando para Nathan, e ambos não entenderam nada daquela cena, pois parecia falar<br />

coisas sem sentido algum, e mesmo com a estranheza do fato, pediram para que se acalmasse um pouco,<br />

e explicasse sobre o que estava falando, mas achando mais fácil mostrar do que falar, o porteiro pegou a<br />

pequena televisão portátil, a retirando de cima de sua mesa, e a virando para que ambos pudessem ver,<br />

do que realmente se tratava.<br />

Voltando um pouco no tempo, eles haviam chegado em Guarulhos, perto das treze horas, Caio havia<br />

preparado uma surpresa para Nathan, mas para isso dispensou os serviços do motorista Moreira, que<br />

estava com o veículo da empresa, e alugou um carro ali mesmo no aeroporto, onde ambos seguiram para<br />

o litoral paulista, onde se encontravam neste exato instante.<br />

Ao ver o noticiário, os dois ficaram aparentemente abalados, e totalmente alarmados com a situação,<br />

eles rapidamente verificaram seus celulares, e checaram para ver se haviam ligações perdidas, mas o<br />

sinal estava muito fraco, impedindo que ligassem ou recebem chamadas.<br />

Imediatamente o porteiro do clube, viu que se tratava de um terrível engano, mas Caio tirando um maço<br />

de dinheiro do bolso, acabou comprando o seu total silêncio, pelo menos até que pudessem esclarecer os<br />

fatos ocorridos, porem Nathan que parecia estar bem lúcido, contestou o amigo:<br />

– Você me disse que tinha uma surpresa, mas no final nós dois é que fomos surpreendidos!<br />

– Olha, nós já passamos por muitas coisas nos últimos anos, mas nada parecido com o que está<br />

acontecendo agora, mas devemos agir com muita cautela e prudência, pode ter sido apenas um engano,<br />

ou até mesmo um mero acidente, mas não podemos descartar a hipótese, de ter sido uma sabotagem<br />

contra nossas vidas!<br />

85


Passaram várias coisas na cabeça de Nathan, mas logo veio em mente os negócios com os árabes.<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Muita coincidência isso acontecer agora, logo após fecharmos este contrato com o Sheik, será que é<br />

obra de alguma empresa concorrente?<br />

– Como eu disse, não vamos descartar nada, e temos que tomar algumas providencias, e isso em<br />

caráter de urgência!<br />

– E quais seriam elas, o que pensa em fazer?<br />

– Primeiro, vamos desligar nossos celulares, afinal morto não atende ligações, e também podem estar<br />

grampeados, nesta altura todo cuidado é pouco, segundo, vamos procurar um local seguro para nos<br />

escondermos, e terceiro, vamos procurar um telefone público, e ligar para o nosso advogado, o Arthur é de<br />

minha extrema confiança, e tenho certeza absoluta que vai nos auxiliar, a resolver todas estas questões<br />

imediatamente.<br />

– Concordo com estas providencias, vamos fazer isso tudo que falou, mas afinal de contas que surpresa<br />

era esta, que praticamente acabou salvando nossas vidas?<br />

– Nem me fale, é que uma vez você acabou mencionando, que apesar de ter muitos bens e diversas<br />

coisas, nunca havia comprado um iate, mas de alguma forma acabou se interessando por um, fazendo<br />

questão de mostrar a foto em uma revista, e realmente era um barco esplêndido, ao qual havia lhe<br />

agradado muito mesmo, o detalhe é que este modelo era somente feito por encomenda, e eu mandei fazer<br />

um para você, e está aqui ancorado neste clube.<br />

O empresário ficou admirado com este gesto, porém mantendo o pé no chão, tratou de voltar a<br />

realidade.<br />

– Amigo, eu agradeço de coração este seu gesto, e fico muito sentido por esta sua surpresa, ter sido<br />

estragada por este terrível acontecimento, aliás são tantas coisas passando em nossas cabeças, que<br />

esquecemos do nosso Moreira, parece que perdemos nosso fiel motorista!<br />

– Minha nossa é verdade, só agora que a minha ficha caiu, que perda irreparável, ele já estava conosco<br />

há quase dez anos, sempre trabalhou corretamente, e nos serviu muito dignamente, pode deixar que vou<br />

tomar todas as providências, inclusive um amparo financeiro para a sua família.<br />

– Bem pensado, sei que nenhum dinheiro do mundo, vai poder substitui-lo perante a família, mas quero<br />

que seja um generoso valor, que garanta o futuro da esposa e de seus filhos.<br />

– Farei isso com certeza, agora vamos procurar um lugar e um telefone seguro, vamos ter de<br />

desaparecer por uns tempos!<br />

Após dar algumas instruções ao porteiro, e reforçar o pedido de sigilo absoluto, eles voltaram para carro,<br />

e foram até um hotel de beira de estrada, onde alugaram um quarto na parte de cima, e com mais calma,<br />

passaram todo o resto da tarde, conversaram sobre as providências que teriam de tomar, e quando já<br />

anoitecia, Caio tratou de ligar para o advogado.<br />

– Arthur boa noite, peço que mantenha a calma, aqui quem fala é o Caio do Grupo Etros.<br />

– Mas que tipo de brincadeira é esta, pois me consta que ele morreu, quem é que está falando?<br />

– Sou eu mesmo, é uma situação muito complicada, eu e o Nathan estamos bem, não estávamos<br />

naquele carro que explodiu, estou ligando para lhe pedir que nos ajude, pois não sabemos em quem<br />

podemos confiar, vou lhe passar o local onde estamos hospedados, por favor venha o mais rápido<br />

possível, e peço-lhe principalmente, não comente isso com mais ninguém.<br />

86


<strong>Caminhos</strong><br />

– Isso me pegou de surpresa, mas eu compreendo a delicadeza da situação, e vou fazer o que me pede,<br />

mas chegando aí vou precisar saber de todos os detalhes, agora me passe o endereço que se encontram.<br />

Seguindo fielmente as recomendações, o advogado viajou imediatamente para o litoral, eles contavam<br />

com toda sua experiência, e principalmente com a confiança de sua lealdade, para cuidar de toda esta<br />

grave situação, enquanto isso na cidade de São Paulo, Letícia saía de casa para tomar algumas<br />

providências, ela estava inconformada e chorava muito, com a suposta morte do namorado e seu amigo.<br />

87


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 20 •<br />

Na favela, Otto pensava viver o seu melhor momento, além de ter assumido o controle total daquela<br />

área, também acreditava que Letícia por estar agora sozinha, ficaria mais vulnerável e fácil de ser<br />

conquistada, e empolgado com essas supostas melhorias em sua vida, resolveu convidar os seus dois<br />

comparsas para um churrasco.<br />

– Situação, as coisas melhoraram com essa mudança de chefe, você não acha?<br />

– Ô se acho, a gente vai até comer uma carninha, e tomar uma cervejinha no simidão!<br />

– Isso é verdade, mas ele não dá ponto sem nó não, pode ter certeza que está planejando alguma coisa!<br />

Ele tinha razão, Otto planejava aproveitar o momento de fragilidade, e além da tentativa de se aproximar<br />

de Letícia, tentaria assumir o controle total da Ong, para aos poucos ir extinguindo a entidade, assim<br />

voltaria a ter a possibilidade de ter acesso aos menores, os aliciando para trabalhos no narcotráfico.<br />

Bianca também ficou a par das notícias no hospital, ela ainda estava no quarto junto de Talita, que já<br />

havia apresentado sinais de melhora, quando soube desta tragédia com a empresa, pensou em ligar<br />

imediatamente para Murilo, a procura de informações mais precisas, mas acabou desistindo da ideia, pois<br />

havia acabado de terminar com o rapaz, mesmo assim ela estava extremamente chocada, pois tinha muito<br />

apreço pelos dois patrões.<br />

Já Murilo estava indignado, e não tinha ninguém a recorrer dentro da empresa, afinal abaixo de<br />

Vasques, ele era o mais próximo da elite executiva, e neste momento por regras pré-estabelecidas, ele<br />

automaticamente já era nomeado e empossado, como o presidente interino de todo o grupo, pelo menos<br />

até a próxima convocação dos acionistas, e a realização de uma nova indicação feita por eles, para a<br />

ocupação efetiva do cargo.<br />

No hotel em uma estrada de Santos, Nathan e Caio aguardavam a chegada do Advogado,<br />

para começarem a tomar medidas pós atentado, ainda perplexos com os acontecimentos recentes,<br />

conversavam entre si sobre os fatos ocorridos, e Nathan estava super preocupado coma namorada.<br />

– Não posso deixar a Letícia acreditar que estou morto, ela deve estar sofrendo muito, estou muito<br />

preocupado com isso, tem de haver uma maneira de contar a ela, e de não a expor a perigo algum!<br />

– Aguente mais um pouco, quando o Arthur chegar aqui, vamos pedir para ele fazer algumas ligações,<br />

eu também tenho uma pessoa que estou ficando, e preciso comunicar a ela que estou vivo.<br />

– É alguém que conheço, e acredita ser de confiança?<br />

– Creio que ainda não teve esta oportunidade, sabe que sou bem discreto com meus relacionamentos,<br />

além do que, nunca fico por muito tempo com uma só garota, mas essa é bem diferente e especial, e até<br />

acho que estou gostando dela.<br />

– Queria tanto saber mais coisas do nosso passado, mas agora temos que nos concentrar totalmente,<br />

em nosso atual e abalado presente, acha que ainda corremos risco de morte?<br />

– Tenho absoluta certeza disso, creio que teremos de desaparecer por uns tempos, e se esconder em<br />

algum lugar afastado, pelo menos até a poeira baixar!<br />

– Peço que me fale a verdade, já passamos por momentos parecidos assim?<br />

– Já passamos por muitas dificuldades, a fortuna e o sucesso nos trouxeram muita inveja, e também<br />

muitos inimigos, mas nada destas proporções, agora só nos resta esperar e ter muita paciência.<br />

88


<strong>Caminhos</strong><br />

Por volta das duas horas da manhã, Arthur chegou no hotel onde eles se encontravam, entrou e pediu<br />

informações para o atendente, se certificando corretamente do quarto onde era aguardado, em seguida<br />

subiu para o andar de cima, desejando ver e reencontrar os empresários.<br />

Ao entrar foi recebido positivamente pelo dois, que claramente demostravam em seus gestos e<br />

semblantes, toda a tensão deste momento crucial em suas vidas, e seguindo instruções que Caio havia<br />

lhe passado, o advogado levou um notebook da empresa, ao qual tinha sua própria conexão de internet,<br />

facilitando assim, o acesso aos negócios onde quer que estivessem, e Caio foi o primeiro a lhe dirigir a<br />

palavra.<br />

– Arthur, que bom ver um rosto amigo, estávamos o aguardando ansiosos, precisamos tomas<br />

várias medidas preventivas, e tudo com uma certa urgência, muito obrigado por ter vindo até aqui, e por<br />

nos atender prontamente.<br />

– Não imaginam o alivio e o imenso prazer, em encontra-los assim sãos e salvos, mas infelizmente trago<br />

mais notícias ruins, além das que já souberam pelos noticiários.<br />

Nathan já preocupado com pessoas mais próximas, ficou tenso e quis mais informações.<br />

– Aconteceu algo também com alguém que conhecemos?<br />

– Infelizmente sim, o presidente Vasques também foi assassinado!<br />

Caio colocou as mãos na cabeça, e procurou um lugar para se sentar, porque as coisas eram muito mais<br />

graves, e agitado pediu mais detalhes.<br />

– Minha nossa, coitado do Vasques, é pior do que pensávamos, é formalmente um ataque contra o<br />

grupo, e não pessoal como havia imaginados, como foi que isto aconteceu?<br />

– Fizeram uma emboscada hoje a tarde, eles aguardaram ele sair da sede da empresa, e em um<br />

cruzamento próximo atiraram nele, infelizmente morreu ali mesmo no local.<br />

Nathan chocado com mais esta informação, não tinha dúvidas e fez a sua colocação:<br />

– Agora tenho a certeza absoluta, que tem tudo a haver com o acordo bilionário, que acabamos de<br />

fechar em Dubai, porque ele era o principal mediador desta fusão, mas será que essa é uma ação de<br />

algum concorrente, e nos eliminando, tomariam nosso lugar no empreendimento? Acha que é isso Caio?<br />

– Com mais este fato acrescentado, tudo nos leva a crer que sim, e será uma das providências que<br />

tomaremos, Arthur você conseguiu comprar o aparelho celular, como eu havia lhe pedido?<br />

– Comprei sim, no caminho passei em um shopping, e já registrei o chip com um CPF aleatório, assim<br />

não tem como ninguém nos rastrear.<br />

– Bom trabalho, a nossa primeira ação vai ser bloquear os bens do grupo, e também os nossos<br />

particulares, alguém o viu pegar o notebook?<br />

– Não, eu fiz como me pediu, passei discretamente na mansão, e o peguei em seu quarto, pode ficar<br />

tranquilo que ninguém percebeu.<br />

– Ótimo, vou acessar as contas pelo internet banking, e bloquear já todas as movimentações financeiras,<br />

inclusive pedir o travamento dos cofres particulares, que estão espalhados por vários bancos<br />

internacionais, para que ninguém possa ter acesso ao dinheiro, e principalmente dos títulos ao portador.<br />

89


<strong>Caminhos</strong><br />

De todos os bens, apenas um bloqueio não foi realizado, pois a senha de acesso havia sido alterada, e<br />

provavelmente todo o seu conteúdo, já devia ter sido retirado, mas prosseguindo e executando a segunda<br />

ação, Caio ligou para o Sheik Mahdi Jasir.<br />

Era madrugada no brasil e manhã em Dubai, o Sheik chegava de um passeio com seu bicho de<br />

estimação, quando recebeu a inesperada ligação, e com muita calma colocando palavras precisas, o<br />

brasileiro lhe deu todas as informações, sobre os atentados sofridos pelos membros do grupo, e de que<br />

ele e Nathan estavam vivos, o empresário procurou explicar o que sabiam até o momento, pedindo para<br />

que ele também tomasse medidas preventivas, quanto a um possível ataque pessoal.<br />

A terceira ação foi verificar os procedimentos do hospital, com relação aos corpos encontrados no local<br />

do atentado, provavelmente por ser tratar de um local público, outras pessoas morreram pela proximidade<br />

ao carro explodido, e pelo imenso impacto provocado, os restos mortais devem ter sido misturados aos<br />

destroços, dificultando a identificação de todas as vítimas, o advogado tomou frente e fez algumas<br />

ligações, e após isso explicou tudo aos empresários.<br />

– Num caso destes as identificações de todos os corpos, serão feitas através de exames de DNA,<br />

geralmente fornecidos por uma pessoa com grau maior de parentesco, o senhor Moreira já foi identificado,<br />

por material coletado de um dos seus filhos, o seu corpo, ou o que sobrou do pobre coitado, já foi liberado<br />

para os procedimentos fúnebres, os das outras duas pessoas que também morreram no local, não<br />

precisaram deste tipo de teste, porque houve o reconhecimento facial e de vestes, e também foram<br />

liberadas pelos legistas, agora falta resolver o problema de vocês.<br />

Nathan olhou para o amigo, e visivelmente abatido pelas informações, desabafou perante aos dois:<br />

– Minha nossa Caio, falando deste jeito eu me sinto muito mal, é como se eu realmente estivesse lá!<br />

– Mas não está, e isso é o que importa, quais são os procedimentos, o que nos aconselha Arthur?<br />

– Funciona assim, para todos vocês estavam no carro, por isso, mesmo que não encontre muito do que<br />

sobrou, consta que mais duas mortes ocorreram, e não havendo uma pessoa da família, que possa<br />

fornecer assim de imediato, o material necessário para o exame, eles abrirão um procedimento de espera,<br />

e aguardarão por um determinado período, depois não havendo nenhuma reclamante dos<br />

corpos, através das leis vigentes, eles os sepultaram como indigentes.<br />

Enquanto o advogado falava, Nathan com o seu raciocínio muito aguçado, levantou uma outra hipótese.<br />

– Mas pode ser que estes restos mortais, sejam realmente de outras pessoas, que poderiam estar<br />

próximas ao carro, e certamente a família ou os amigos, perceberão os seus desaparecimentos, e<br />

certamente irão a procurara deles!<br />

– Amigo você sempre tem razão, por isso temos que nos antecipar, e resolver esta questão dos exames.<br />

– E como pretendem fazer isto, por acaso temos algum parente vivo?<br />

– Não que eu saiba, mas temos um forte aliado, muito dinheiro, e creio que isso pode ser resolvido,<br />

encontrando a pessoa certa, não é mesmo Arthur?<br />

– É muito provável que sim, mas saibam que somente farei isso, porque ambos correm risco de vida,<br />

mas por fora vou contratar um detetive particular, precisamos descobrir quem realmente, são as pessoas<br />

que morreram no atentado, e vocês farão uma boa doação anônima, para todos os seus familiares, de<br />

acordo?<br />

Ambos concordaram plenamente, e o advogado acreditando que por hora, as medidas principais<br />

estavam decididas, ouviu orientações a respeito de Letícia, e finalizou a secreta reunião.<br />

90


<strong>Caminhos</strong><br />

– Bom neste caso creio que por hoje terminamos, já está quase amanhecendo, vou voltar para São<br />

Paulo e descansar um pouco, conversarei com a Letícia como me pediram, vou também até a empresa<br />

pegar alguns documentos, e depois irei até o Instituto Médico Legal, e ver se consigo a liberação dos<br />

corpos, vou alegar que são de origem estrangeira, e que serão levados para o seu país de origem, e é<br />

claro, molhar a mão das pessoas certas, assim que eu puder notifico vocês dois, e os colocarei a par de<br />

tudo o que for resolvido.<br />

– Muito obrigado por ajudar eu e o Nathan, e pela sua total lealdade, nestas horas vemos quem são<br />

nossos amigos de verdade!<br />

– Obrigado Arthur, sei que vai ter muito trabalho pela frente, mas faça tudo o que for possível, tanto pelo<br />

Moreira e sua família!<br />

– Podem ficar tranquilos, vou me esforçar ao máximo para resolver todas estas questões!<br />

O advogado viajou de volta para a capital, e o sol da manhã já estava bem alto, quando ele chegou em<br />

sua casa, tomou um banho e se deitou um pouco, precisava descansar e se preparar, para a maratona<br />

que vinha pela frente, sua experiência tanto na área jurídica, quanto na de relações humanas, ao qual<br />

também era graduado, nunca foram tão fortemente requisitadas.<br />

No dia anterior, após sair do hospital Letícia havia ido até a mansão, precisava confortar os amigos, e<br />

também buscar conforto para si própria, passou a noite em claro com Iris e Gabriel, o menino havia<br />

chorado muito, e ambos não acreditavam no que havia acontecido, tudo ainda era muito confuso, e todos<br />

estavam muito desorientados, sem saber ao certo que providências teriam de tomar, até que o celular dela<br />

tocou, era o advogado que após um breve descanso, ligou para ela dando início as suas tarefas.<br />

– Letícia, não sei se você lembra de mim, meu nome é Arthur, sou advogado da Etros.<br />

– Sim, acho que me lembro de você, foi quem tratou da papelada de abertura da Ong.<br />

– Isto mesmo, você está bem?<br />

– Claro que não, estou me sentindo péssima!<br />

– Me desculpe por lhe importunar, sei que passa por um momento muito difícil, mas eu preciso de sua<br />

ajuda.<br />

– Não estou lhe entendendo, em que eu poderia lhe ajudar?<br />

– Peço-lhe um voto de confiança, são coisas que não posso lhe contar por telefone, eu preciso que vá<br />

comigo em alguns lugares, posso ir lhe buscar agora, você se encontra em casa?<br />

– Eu estou na mansão, mas para lhe falar a verdade, não sei o que lhe responder, estou bastante<br />

confusa!<br />

– Eu entendo, mas eu lhe asseguro que tenho informações importantes, sobre todos estes<br />

acontecimentos que ocorreram, por favor faça o que estou lhe pedindo, e lhe explico tudo pessoalmente.<br />

– Certo, o Nathan confiava muito em você, e creio que também deva confiar, me dê algum tempo para<br />

me recompor, e depois pode vir me buscar.<br />

Cerca de uma hora depois, o advogado pegava a moça na porta da mansão, e se notava a sua<br />

aparência muito abatida, mas ela mal entrou no carro, e já começou a questiona-lo, queria saber o motivo<br />

de tanto rodeio e mistério, e precisamente queria todas as informações, sobre os supostos lugares que ela<br />

deveria ir com ele.<br />

91


<strong>Caminhos</strong><br />

Arthur iniciou a conversa lhe acalmando, dizendo que ela precisava ter muita serenidade, e que ele<br />

contava muito com sua ajuda, para poder tomar algumas providências urgentes, a primeira delas seria<br />

passarem na empresa, e pegarem alguns documentos de relevada importância, e sem perca de tempo,<br />

eles foram até a sede do grupo na Avenida Paulista.<br />

92


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 21 •<br />

Enquanto isso na favela, Otto aproveitava o fechamento por luto da ONG, para fazer sua política com as<br />

crianças e adolescentes, seguido de perto por seus dois comparsas, ele procurava se aproveitar ao<br />

máximo da situação, chegou até procurar pela coordenadora Dulce, em busca de informações sobre<br />

Letícia, insistindo e ameaçando para obter o endereço dela, mas mesmo assim não cedeu, por já estar<br />

acostumada com a violência do local, nem mesmo se intimidou com a situação.<br />

No hospital Talita recebia alta, e estava pronta para retomar sua vida, e acompanhada por Bianca voltou<br />

para sua casa, certamente precisariam de algum tempo, para resolverem toda esta questão de<br />

relacionamento, e rever esta atitude drástica que havia tomado, para que no futuro não voltasse a se<br />

repetir.<br />

Por uma dupla decisão, o antiquário também havia fechado as portas por luto, em respeito as mortes<br />

dos dois empresários, pai e filha cancelaram todos os seus compromissos, e ambos buscavam a todo<br />

momento por notícias, procuravam também tentar entender os recentes acontecimentos, sendo que a<br />

colecionadora Marina, parecia ser a que mais havia sentido o impacto, e a suposta morte de seu novo<br />

cliente, além de provavelmente ter de buscar outras pistas, outros recursos, para suas pesquisas sobre a<br />

fonte, e o mistério de todo este passado oculto.<br />

Outra pessoa de seus convívios, que também havia sentido o impacto do atentado, foi o doutor Estevam<br />

e sua secretária Kelly, pelo seguimento de sua agenda de tratamentos, exatamente hoje havia marcado o<br />

retorno de Nathan, e era com uma imensa tristeza e pesar, que ele teria de arquivar o seu caso, seria a<br />

primeira vez em anos, que ele não conseguiria a cura de um paciente, eles também estavam à procura de<br />

esclarecimentos.<br />

Elisa havia recebido na clínica Jardins, a visita autorizada e semanal de Dirce, a empregada orientada<br />

pelo patrão Arthur, não comentou nada sobre o assunto recente, levou as palavras de conforto e carinho<br />

do advogado, e também conversou com a médica Lisley, sobre a evolução do quadro da paciente, tendo<br />

em vista as boas notícias, com relação a todo o seu tratamento.<br />

Na sede do grupo, o luto também havia sido decretado, mas por se tratar de várias empresas<br />

interligadas, em diversos países do mundo, nem todo movimento e volume de negócios, podiam ser<br />

suspensos ou cancelados, por isso o ex-diretor e agora atual presidente Murilo, tentava administrar este<br />

caos momentâneo, e tomar as primeiras providências cabíveis, para poder amenizar uma suposta crise<br />

financeira, causada pelos rumores do atentado e das mortes, pois desde o dia anterior ao qual tudo<br />

ocorreu, as ações globais do grupo na bolsa de valores, haviam caído mais de vinte por cento, e isso<br />

afetou e agitou todos os acionistas.<br />

Arthur e Letícia já haviam chegado, eles aguardaram na entrada a permissão para entrarem, e<br />

devidamente identificados por crachá, foram até a diretoria para retirar os documentos, que foram<br />

previamente requisitados pelo advogado, ela ainda estava sem entender o que faziam ali, apenas<br />

acompanhava e via tudo de perto, depois Murilo os recebeu em sua nova sala, e apesar de ter subido<br />

precocemente de cargo, as custas de todo estas mudanças repentinas, ele demonstrava<br />

muita competência e serenidade, e com uma profunda insatisfação por ser nestas circunstâncias, falou<br />

com os dois visitantes:<br />

– Arthur que bom que você veio até aqui, tudo aconteceu assim tão de repente, que está muito difícil de<br />

ser assimilado, os acionistas estão todos em pavorosa, com todos estes rumores que circulam, e com a<br />

queda das ações na bolsa, sem falar que me perguntam o tempo todo, sobre o que aconteceu, e os reais<br />

motivos do atentado a bomba, e eu não tenho todas as respostas!<br />

– Por enquanto ninguém as tem, procure agir com muita tranquilidade, e acalme todos os acionistas,<br />

principalmente com relação a fusão com os Emirados Árabes, falei esta madrugada diretamente com o<br />

Sheik, e o acordo realizado será mantido e assegurado, quanto as perguntas que forem feitas, a partir de<br />

93


<strong>Caminhos</strong><br />

agora você está autorizado a dizer, que foi um atentado fulminante contra o grupo, e que a polícia tomará<br />

as devidas providências.<br />

– Enfim boas notícias, vou divulgar uma nota para a impressa e para os acionistas, e peço lhe desculpas<br />

Letícia, com tudo isso em minha cabeça, eu até esqueci de lhe cumprimentar, meus sinceros sentimentos!<br />

Com um semblante bem debilitado, ela fez um leve gesto com a cabeça, e foi breve em suas palavras.<br />

– Obrigado e não se preocupe, eu entendo toda a situação que estão passando.<br />

– De minha parte eu prometo que vou fazer de tudo, para honrar os compromissos das empresas, eu<br />

tinha muita amizade e afeição pelos patrões, mas agora temos de seguir em frente, agora eu vou deixá-los<br />

a vontade, todos os documentos que foram requisitados, estão em uma pasta na sala do jurídico.<br />

– Muito obrigado Murilo, nos encontramos na reunião de amanhã, agora preciso ir, tenho de levar a<br />

Letícia a um lugar!<br />

Após conferir todos os documentos, ambos saíram da sede da empresa, e foram diretamente até uma<br />

vara civil no centro, para pegarem uma ordem judicial requerida, que foi fornecida e assinada por um juiz<br />

de plantão, que era amigo pessoal e de trabalho de Arthur, em seguida se encaminharam para o<br />

instituo médico legal, onde Letícia que era a pessoa mais próxima a eles, foi orientada pelo advogado a<br />

reclamar pelos corpos, pedindo a extradição deles para a Grã Bretanha, que era o país de origem que<br />

constava em seus documentos, ela ainda permanecia sem compreender, os motivos reais de toda estas<br />

ações, mas mesmo assim acatou tudo em silêncio, e executou todos os pedidos do advogado.<br />

Depois de cerca de duas horas, todos os trâmites legais estavam resolvidos, uma funerária local<br />

contratada por eles, faria todo o serviço de expedição, e despacho dos restos mortais para o outro país,<br />

onde foi realizada uma parceira, com uma outra empresa do ramo fúnebre, localizada na cidade de<br />

Manchester, e com o documento assinado pelo juiz, somados a um bom dinheiro, tudo estava solucionado<br />

e encaminhado, a assim que saiu do lado de fora, o advogado explicou as últimas providências.<br />

– Agora que uma grande parte dos problemas, já estão parcialmente resolvidos, iremos fazer uma curta<br />

viagem até o Guarujá, tem uma pessoa lá que quer muito falar com você!<br />

– De quem se trata, e o que eu teria para conversar com esta pessoa?<br />

– Descanse um pouco, sei que está sem dormir há dois dias, quando estiver chegando eu lhe acordo, e<br />

poderá ver do que realmente se trata, peço que confie mais um pouco em mim!<br />

– Tudo bem, para falar a verdade estou sem forças, até mesmo para discutir todas estas coisas, que me<br />

pediu para fazer até agora, tenho certeza que me esconde algo, mas tão logo cheguemos ao Guarujá,<br />

eu exijo que me conte toda a verdade!<br />

– Combinado, lá com certeza você saberá e entenderá tudo, agora durma um pouco!<br />

Assim seguiram até o litoral paulista, e como não havia muito trânsito, levaram cerca de duas horas para<br />

chegarem, até as proximidades do hotel em que os dois estavam, Arthur já havia comunicado aos<br />

empresários, que já estavam bem próximos ao local, e faltando poucos metros do estabelecimento, ele<br />

procurou acordar Letícia suavemente, a avisando que já haviam chegado ao seu destino.<br />

A linda moça prendeu o cabelo, e fechou o seu sobretudo de couro, pois estava frio e começava a<br />

anoitecer, e assim que o carro estacionou, ela já avistou o namorado Nathan, que já os esperava do lado<br />

de fora, e mesmo sem acreditar no que estava vendo, ela abriu a porta do carro rapidamente, e saiu<br />

correndo até os seus braços, beijando-o como se não houvesse o amanhã.<br />

94


<strong>Caminhos</strong><br />

Letícia tinha tantas dúvidas e perguntas, que não fazia ideia por onde começar, mas o que realmente<br />

importava agora, é que o seu grande amor estava ali, bem vivo e inteiro a sua frente, e Arthur os<br />

interrompendo brevemente, pediu para que entrassem no hotel, e imediatamente ao chegar dentro do<br />

quarto, ela também deu um longo abraço em Caio, era um alívio ver que os dois estavam são e salvos.<br />

Ela tremia de emoção dos pés à cabeça, além de estar muito eufórica com toda aquela cena, sem contar<br />

que estava muito fraca, pois mal havia se alimentado desde o episódio acontecido, ambos percebendo a<br />

situação atual da moça, trataram logo de acomoda-la e de acalma-la, servindo-lhe um copo d'água com<br />

adoçante, e com algumas palavras sóbrias, Caio sugeriu que comprassem roupas para a amiga, e<br />

enquanto Arthur foi até uma pequena loja do hotel, Nathan a colocou debaixo do chuveiro, e em seguida<br />

pediu que fosse servido no quarto, uma pequena refeição para todos.<br />

Após o jantar improvisado, sentindo que os ânimos estavam mais brandos, eles deixaram os dois a sós<br />

por um certo tempo, claramente eles precisavam conversar, e principalmente deviam a ela uma<br />

explicação plausível, pelo menos do que sabiam e podiam falar, e o empresário com bastante calma,<br />

contou-lhe o que sabia:<br />

– Nem sei o que como começar, para mim também é tudo muito confuso!<br />

– Eu nem acredito que estou assim, pertinho de você novamente, podendo te tocar, te beijar, parece que<br />

sai de dentro um terrível pesadelo!<br />

– Me perdoe por não ter te ligado antes, mas aconteceu tudo muito rápido, e por precaução tivemos que<br />

nos isolar, é um momento em que podemos confiar, somente em pessoas muito próximas a nós.<br />

– Não se preocupe com isso agora, eu entendo perfeitamente a reação de vocês, e não estou brava com<br />

você, mas agora o que pretendem fazer?<br />

– Amanhã bem cedo o Arthur volta para São Paulo, se você quiser pode voltar com ele, porque eu e o<br />

Caio temos outros planos, não podemos mais ficar por aqui e se arriscar, pelo menos até tudo ser<br />

esclarecido, nós estamos de partida!<br />

– De maneira alguma vou te deixar de novo, eu vou para onde você for, a não ser que não me queira por<br />

perto!<br />

Nathan desmontou a cara de serenidade, e abrindo um largo sorriso em seu rosto, falou com carinho a<br />

namorada:<br />

– Isso é o que eu mais quero agora, ter você meu amor o mais perto possível...<br />

Eles se abraçaram e se beijaram, e por um breve momento de silêncio, se olharam mutualmente, até<br />

que ela o questionou:<br />

– E para onde pretendem ir, quais os seus planos realmente?<br />

– Conforme o planejamento do Caio, assim que comprarmos roupas e comida, partiremos de barco para<br />

a cidade de Angra, ficaremos por uns dias ali ancorados, em uma das propriedades do grupo, e<br />

dependendo do rumo que as coisas tomarem, seguiremos para a Inglaterra em um jatinho.<br />

– Por mim tudo bem, vou a qualquer lugar contigo, mas antes eu preciso pegar as minhas coisas,<br />

somente algumas roupas e objetos pessoais, e também preciso avisar os meu pais, que vou ficar fora por<br />

um indeterminado tempo.<br />

– Então está tudo acertado, você deve voltar com o Arthur para a capital, e depois alugar um carro e vir<br />

até o Guarujá, onde estaremos lhe aguardando no Iate Clube.<br />

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96<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Neste momento Caio e Arthur retornaram para o quarto, onde juntos cuidaram de todos os detalhes, o<br />

advogado já havia também feito algumas ligações, dentre elas um telefonema para um amigo, que<br />

trabalha na sede da polícia federal, pedindo para que este estivesse formalmente presente, na partida dos<br />

empresários e de Letícia, era de fundamental importância que as autoridades, ficassem a par de todos os<br />

passos e de toda a verdade, isso asseguraria o direito civil de todos eles, principalmente para quando<br />

pudessem retornar, visando claramente a ajuda nas investigações do atentando, para assim poder punir<br />

severamente, todos os culpados envolvidos no incidente.<br />

A madrugada se foi lentamente, cedendo lugar a um lindo amanhecer, Caio e Arthur ficaram em um<br />

quarto ao lado, deixando Nathan e Letícia a sós no outro apartamento, e após tomarem um breve café da<br />

manhã, os dois empresários chamaram um táxi e partiram para o porto, enquanto o advogado e a<br />

professora voltaram para São Paulo, cada qual tinha seu papel de fundamental importância, em todo este<br />

plano de fuga e proteção.<br />

As horas deste dia correram rapidamente, e por volta das quatro horas da tarde, Letícia retornou da<br />

capital paulista, chegando ao clube onde o iate estava ancorado, Caio havia contratado ali mesmo dois<br />

tripulantes, e sob a supervisão da policial federal e dentro da lei, todos partiram rumo à região dos lagos.<br />

O destino era Angra dos Reis, onde foi ordenado a tripulação, para que a embarcação fosse em baixa<br />

velocidade, porque obviamente todos precisavam tomar um folego, e pressa é o que menos eles tinham<br />

neste momento, Nathan e a namorada ficaram sentados na proa do barco, e ali permaneceram<br />

conversando e namorando, até que as primeiras estrelas surgiram no horizonte, e ela sentindo toda a sua<br />

inquietação, procurou conforta-lo:<br />

– Você deve estar se sentindo péssimo, agora que estava se recuperando de seu acidente, acontece<br />

tudo isso em sua vida.<br />

– Às vezes eu sinto que vou pirar, queria muito me lembrar de tudo em minha vida, de repente poderia<br />

ajudar mais o Caio, sinto que ele está intensamente sobrecarregado, tendo que sempre decidir a maioria<br />

das coisas, e ao mesmo tempo tenho muito medo!<br />

– Você fala do risco que correram e ainda correm, ou outra coisa lhe amedronta?<br />

– Tenho receio de me lembrar e descobrir, que na verdade não sou uma boa pessoa, e que fiz coisas<br />

erradas no meu passado, e que isto tudo que acontece tem a ver com isso!<br />

– Não acredito nisso, creio que todo o caráter de uma pessoa, é independente das lembranças ou de<br />

seu passado, não pense nestas coisas agora, o que importa é ser a pessoa que é hoje, e desde quando<br />

eu lhe conheço, sempre vejo você tratar todos muito bem, ajuda os necessitados, e adora todas as<br />

crianças, aliás será que nunca teve filhos?<br />

– Vai saber, mas mudando de assunto, não se importa de namorar alguém assim tão velho?<br />

– Deixa de ser bobo, eu nem penso nestas coisas, como eu já lhe disse não me importa o seu passado,<br />

o que somente conta agora neste momento, é que eu te amo muito, seja o jeito que for!<br />

Após ouvir a declaração dela, ele teve uma ideia brilhante, procurou informações com o comandante do<br />

iate, para saber qual a localidade mais próxima, a que estavam naquele exato momento, e este o informou<br />

que era a cidade de Paraty, e por se tratar de uma cidade turística, que havia alguns pontos de<br />

ancoragem, em que a embarcação podia atracar seguramente, sendo assim ele conversou<br />

particularmente com Caio, para que pudessem parar nesta localidade.<br />

Depois de chegar e ancorar o barco, Nathan pediu para que Letícia se arrumasse e o aguardasse, pois<br />

iria até a cidade para fazer algumas compras, o tempo estava fechado e prestes a chover, o amigo o<br />

acompanhou até o centro de compras, enquanto os outros permanecerem ali a sua espera, e depois de<br />

um determinado tempo, cercado de um certo mistério, ele voltou e a convidou formalmente para saírem do


<strong>Caminhos</strong><br />

barco, para que fizessem um pequeno passeio, sendo que Caio já estava por dentro de tudo, e<br />

sabia muito bem o que o amigo iria fazer.<br />

Neste momento começou a chover, ela abriu o guarda-chuvas e se virou, enquanto ele se ajoelhou e<br />

tirou um anel do bolso, e ali mesmo no caís de Paraty, a pediu formalmente em casamento, nem é preciso<br />

dizer o quanto Letícia se surpreendeu, era uma grande reviravolta do destino, pois em poucos dias, ela<br />

havia ido do inferno ao céu, e com muitas lágrimas nos olhos, demonstrando estar extremamente<br />

emocionada, aceitou o seu pedido.<br />

97


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 22 •<br />

Após ter realizado o pedido de casamento, Nathan a levou até uma pequena floricultura, onde lhe<br />

comprou um lindo buquê de rosas vermelhas, seguido a um convite de passeio pela orla, e pelas ruas<br />

históricas e românticas de Paraty, neste momento a chuva e o vento haviam cessados, e aproveitando<br />

este perfeito clima amoroso, de mãos dadas caminharam até perto de uma praça, onde conversaram e se<br />

beijaram muito, e mais tarde voltaram para o caís.<br />

Por se tratar de uma embarcação de luxo, o iate contava com três quartos exuberantes, onde um em<br />

especial, havia sido reservado para o casal, afinal de contas, depois de passarem por estas situações<br />

difíceis, poderiam compartilhar deste momento tão feliz, recebendo esta privacidade e tranquilidade, Caio<br />

aproveitando o clima romântico fez uma ligação, queria notícias da garota ao qual mantinha um<br />

relacionamento, e ela por sua vez já estava a sua espera e hospedada, o aguardando ansiosamente na<br />

casa de Angra, enquanto isso o comandante deu prosseguimento a viagem, enquanto alguns se<br />

recolheram a suas acomodações, terminando aquela noite maravilhosa.<br />

Os primeiros raios de sol começaram a surgir no horizonte, Caio que havia acordado bem cedo,<br />

observava o mar calmo daquela manhã, ele estava muito preocupado e pensativo, porque aguardava por<br />

uma ligação da capital paulista, e por volta das nove e meia, recebeu o telefonema tão esperado, era o<br />

advogado Arthur.<br />

– Bom dia, está podendo falar?<br />

– Bom dia, já o estava aguardando, conseguiu as informações do banco suíço, sobre o único cofre<br />

que foi violado?<br />

– Sim, falei pessoalmente com Sr. Williams, ele é o presidente adjunto do banco de Genebra, como cada<br />

cofre reservado é pessoal, o banco não tem informações sobre o seu conteúdo, mas segundo consta em<br />

seus relatórios de movimento, foram realizadas apenas duas pequenas movimentações, desde a<br />

aquisição do serviço bancário, uma em dois mil e sete, e a outra em dois mil e onze, ambas feitas pelo<br />

senhor mesmo, mas esta última foi realizada por uma pessoa anônima, ao qual tinha documentos e<br />

senhas que o autorizava a abri-lo, sei que são pouquíssimas informações estas que lhe trago, mas foram<br />

as únicas que consegui!<br />

– Pelo contrário, agora eu me lembro bem deste cofre, atualmente continham nele muitos títulos ao<br />

portador, digamos que se tratava de um bom dinheiro, mas nada que valesse tudo isso que fizeram, pelo<br />

menos não agora!<br />

– Anteriormente havia algo de mais valor, e o senhor já o havia retirado?<br />

– Exatamente, havia lá uma pequena fortuna, mas com isso as coisas mudam de figura, este ataque não<br />

foi contra o grupo, e sim algum tipo de roubo contra eu e o Nathan, e digamos de passagem que foi muito<br />

bem planejado.<br />

– Não se faz necessário a divulgação da quantia para mim, mas e o Vasques, se acredita mesmo que é<br />

ataque pessoal, onde ele se encaixaria em tudo isso, qual seria o motivo da morte dele?<br />

– É isso que precisamos investigar e descobrir, mas de momento siga normalmente com todas as<br />

instruções, daqui a pouco chegaremos na casa de Angra, e de lá faremos uma vídeo conferência com o<br />

Sheik e seus acionistas, nós precisamos tranquiliza-los e convence-los, a não desistirem deste grande<br />

acordo firmado, e com estas informações que acabou de me passar, vamos poder descartar a relação<br />

entre o atentado, e a fusão do negócio imobiliário.<br />

Arthur percebendo que Caio finalizava a conversa, o alertou sobre um outro problema.<br />

– Tem mais uma coisa que precisamos resolver!<br />

98


<strong>Caminhos</strong><br />

– Mais um? Do que se trata agora?<br />

– É sobre o pai do menino Gabriel, os seguranças da mansão já perderam a conta das vezes, que<br />

pegaram ele rondado a casa e a família, o que acha que devemos fazer, chamar a polícia para prendê-lo?<br />

– Nada disso, o Nathan preza muito aquele garoto e sua mãe, então faça o seguinte, assim que tiver um<br />

tempo disponível, verifique como anda o processo ao qual ele está envolvido, e depois o procure<br />

oferecendo ajuda, e se ele aceitar, ajude-o a resolver toda esta questão judicial, arranje também uma<br />

acomodação na mansão, para que ele possa ficar junto a família, vamos passar ele de intruso a hospede,<br />

teremos de nos arriscar, todos merecem uma nova chance, você entendeu?<br />

– Sim perfeitamente, vou ver o que posso fazer!<br />

– Muito obrigado por tudo Arthur, depois voltamos a nos falar, qualquer novidade me ligue!<br />

Caio aguardou que Nathan e Letícia saíssem do quarto, e que tomassem o café da manhã romântico, ao<br />

qual a tripulação havia preparado para os dois, afinal de contas ambos mereciam este momento de<br />

felicidade, e após o término chamou o amigo para uma conversa, precisava notifica-lo sobre a sua<br />

descoberta, o empresário já com ares de preocupação, quis logo saber do que se tratava.<br />

– Pelo seu jeito aconteceu mais alguma coisa, mais notícias ruins?<br />

– Sabe aquele único cofre, ao qual já havia sido saqueado antes dos bloqueios?<br />

– Sim o que tem ele, havia coisas importantes ou de alto valor?<br />

– A pergunta é o que não havia mais nele!<br />

– Seja mais claro, não estou lhe entendendo!<br />

Caio pediu que o amigo se sentasse, e explicou tudo detalhadamente.<br />

– Alguns anos atrás, seguindo todas as suas orientações, eu depositei nele uma alta quantia em<br />

espécies, que seria utilizada na abertura de uma empresa petrolífera, ao qual você me encarregou de<br />

fazer pessoalmente, foi uma medida preventiva que tomamos por segurança, mas o negócio acabou não<br />

dando certo.<br />

– Não me recordo, mas continue...<br />

– Então você me pediu para deixar toda esta quantia, depositada por mais algum tempo, no caso das<br />

negociações serem retomadas, mas contrariando a sua vontade eu retirei tudo, e transferi para outra conta<br />

no exterior, digamos que fiz isso por debaixo dos panos, fazendo com que este movimento não<br />

aparecesse, em nenhum dos relatório financeiro do grupo, logicamente pagando muito caro para este<br />

serviço, isso quer dizer que quem tenha feito tudo isso, estava rastreando esta conta todo este tempo, e<br />

acreditava que esta grande quantia ainda estavam lá!<br />

Nathan podia não se lembrar de fatos passados, porém sua inteligência e perspicácia pareciam, estar<br />

devidamente intactas, e argumentou:<br />

– Isso tudo quer dizer que está descartado, a relação com os negócios de Dubai?<br />

– Exatamente, agora temos uma pista mais concreta dos fatos, e temos de tomar todo cuidado, pois<br />

quem estava atrás do dinheiro, estava muito bem informado sobre as nossas transações, a partir de agora<br />

tomaremos as devidas precauções.<br />

– E esta conta ao qual transferiu o alto valor, é da empresa, ou é uma de suas contas pessoais?<br />

99


<strong>Caminhos</strong><br />

– Isto é uma outra história, eu lhe conto quando tudo isso passar.<br />

– Caio, acha que o pessoal do antiquário, tem algo a haver com isso?<br />

– Acredito que não teriam cacife para tal, creio que é coisa de dentro da empresa, de uma ou mais<br />

pessoas, que teriam acesso a estes documentos, a partir de agora ficaremos atentos!<br />

– Temos que dobrar a atenção, e precisamos investigar isso mais a fundo, principalmente os que estão<br />

ligados a diretoria, mas temos de ficar abertos a outras possibilidades.<br />

– Tem toda a razão, mas vamos dar um passo de cada vez, senão ficaremos loucos!<br />

Eles navegaram por mais uma hora, até se aproximaram de seu destino, a propriedade que pertencia<br />

aos empresários, ficava em uma área muito restrita, permitindo o isolamento e a segurança de todos por<br />

ali, sendo que no ancoradouro, uma linda mulher de semblante tenso já os aguardava, era Alba, ela<br />

acompanhou a proximidade do luxuoso iate, aguardando o desembarque de Caio e seus amigos.<br />

Enquanto isso em São Paulo, por unanimidade na votação de transição de cargo, os acionistas<br />

decidiram manter Murilo na presidência do grupo, ele havia comandado com muito profissionalismo<br />

e serenidade, a primeira semana após a crise que atingiu as empresas, que obviamente foram provocados<br />

pelo atentado a bomba, e pela queda das ações na bolsa de valores, e quando ele se preparava para<br />

encerrar o expediente, recebeu a visita inesperada de Bianca, que estava afastada pela licença<br />

requisitada.<br />

– Boa tarde como vai, tem um minuto?<br />

– Claro que sim, que surpresa boa!<br />

– Meus parabéns pelo cargo, acabei de saber que é o novo presidente da Etros!<br />

– Obrigado, mas não tenho motivos para comemorar, mesmo porque, isso só aconteceu pela fatalidade<br />

dos acontecimentos, saiba que de minha parte vou procurar dar o meu melhor, e fazer jus a decisão dos<br />

acionistas.<br />

– Eu compreendo perfeitamente, mas mesmo assim você merece o cargo, todos sabem que sempre se<br />

dedicou ao máximo, em todos os projetos e negócios ao qual participou, mas o motivo principal que me<br />

trouxe até aqui, é para me despedir de você!<br />

– Se despedir, como assim?<br />

– Eu pedi hoje a minha transferência, para uma filial no Rio de Janeiro, vim também para pegar minhas<br />

coisas, e assinar documentos para a baixa da minha carteira.<br />

– Eu não consigo entender esta sua atitude, isso tudo é por causa dos problemas pessoais, causados<br />

pelo nosso breve relacionamento?<br />

A secretária se sentou, e procurou colocar as palavras certas, pois não queria magoa-lo.<br />

– Não vou mentir para você, digamos que agora neste momento, eu tenho que ignorar o coração e<br />

escutar a razão, não vou repetir a você toda a minha história, e tenho certeza que compreende que agora,<br />

eu tenho de ficar ao lado desta pessoa, que me amparou nos meus dias mais difíceis.<br />

– Olha eu estaria mentindo, se lhe dissesse que compreendo esta sua atitude, e apesar de discordar<br />

plenamente de sua saída, e de ficar muito chateado e triste com esta notícia, eu lhe digo que respeito esta<br />

sua decisão, além do que, não tenho mais argumentos para debater, nem para lutar novamente contra<br />

esta situação, eu te desejo boa sorte na outra filial!<br />

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101<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Obrigado por tudo mesmo, pela sua amizade sincera, por toda ajuda e todo o apoio, que sempre me<br />

deu dentro e fora da empresa, e principalmente pelos poucos momentos que estivemos juntos!<br />

Ao dizer estas últimas palavras, ela o abraçou e lhe deu um beijo no rosto, se<br />

despedindo melancolicamente, do grande amigo e companheiro de trabalho, e nem é preciso descrever,<br />

que ambos tinham lágrimas em seus olhos, havia sem dúvidas no ar muito amor e emoção, um sentimento<br />

muito especial entre os dois, e assim mudavam-se os cursos de seus caminhos, e uma nova página na<br />

história de cada um, começava a ser escrita.<br />

A noite já surgia no horizonte, Duarte se preparava para fechar o antiquário, quando um homem<br />

devidamente credenciado como policial federal, bateu em sua porta e começou a fazer perguntas, ele<br />

pretendia investigar a fundo pai e filha, sobre os envolvimentos deles com os dois empresários,<br />

principalmente sobre a última visita relatada, ao qual Marina havia feito a trabalho na mansão, dias antes<br />

do fatídico atentado.<br />

Eles haviam sido pegos de surpresa, e ambos demonstraram estremo nervosismo, durante todo o<br />

inesperado interrogatório, o fato deles terem agidos com interesses secundários, os deixaram totalmente<br />

inseguros, e apesar do policial ter ficado com uma certa suspeita, ficaram convencidos de que nenhum<br />

fato, indicava o envolvimento deles ao acontecido, e logo após o federal se retirar do local, eles iniciaram<br />

uma séria conversa.<br />

– Pai a polícia suspeita da gente, e agora o que faremos para nos defender?<br />

– Por enquanto nada, além disso falamos somente o que ele precisava ouvir, que nosso interesse era<br />

apenas nas obras de arte, e que não havia outro tipo de relacionamento conosco.<br />

– Acho que tem razão, mas porque essa suspeita caiu sobre nós, será que houve algum tipo de<br />

denúncia?<br />

– Pelo que me consta além de nós, somente os dois empresários que morreram, sabiam da nossa<br />

procura pela marca.<br />

– Não é bem assim, tinha também a namorada do Nathan, ela me pareceu ter ficado bem desconfiada,<br />

na única vez em que nos encontramos, provavelmente ele deve ter contado tudo a ela, e por sua vez<br />

comentado com a polícia, neste caso eles podem estar pensando que somos suspeitos, e que<br />

tínhamos outros tipos de interesses.<br />

– Pode até ser verdade, mas provavelmente eles devem levar em conta, que a morte deles também nos<br />

prejudicou, mas mesmo assim vou me precaver, ligarei agora para o nosso advogado, e o colocarei a par<br />

de todo o assunto.<br />

Ela concordou com a medida anunciada pelo pai, e marcaram para o dia seguinte uma reunião, para<br />

tratarem dos argumentos para as suas defesas, juntamente com o magistrado de direito mencionado, mas<br />

o que ela ainda não sabia, é que havia outra pessoa envolvida nesta história, ao qual seu pai sempre<br />

mantinha secretamente, conversas e muitas trocas de informações, e este sim, poderia estar envolvido<br />

diretamente ao atentado.<br />

Conforme ordens dadas por Arthur, os seguranças da mansão entregaram um envelope a Raul, quando<br />

este rondava novamente por ali, acostumados a esta rotina diária, eles tinham uma orientação para não<br />

interferirem, e através de uma carta escrita pelo advogado, ele foi comunicado sobre a decisão de ajudalo,<br />

e se aceitasse todas as condições impostas, receberia toda a defesa que seria necessária, relacionada<br />

ao assassinato do zelador Nicolas, e receberia também a permissão para se hospedar, juntamente a sua<br />

mulher e filho.<br />

Conforme a descrição da carta e o horário combinado, ele compareceu pontualmente a mansão, sendo<br />

que desta vez, entrava pela porta da frente como convidado, e ao pisar na imensa sala de estar, viu que


<strong>Caminhos</strong><br />

a família e o advogado já o aguardava, e depois de muito tempo afastado, ele voltava a ficar frente a frente<br />

com Iris.<br />

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<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 23 •<br />

Depois de abraçar esposa e filho, muito emocionado pelo reencontro com seus entes queridos, Raul se<br />

sentou para ouvir a proposta do advogado, e estava feliz por se aproximar novamente da família, e<br />

ao mesmo tempo ansioso para saber todos os detalhes, desta oportunidade de ajuda e conciliação, já que<br />

na carta que havia recebido anteriormente, não havia muitos detalhes sobre o assunto, mas antes fez<br />

questão de agradecer.<br />

– Bom, eu agradeço muito as oportunidades que está me dando, principalmente de poder estar aqui<br />

junto aos meus!<br />

– Primeiramente saiba que tudo isto, desde este encontro familiar, até a ajuda que vou lhe oferecer no<br />

seu caso, está sendo realizado a pedido de uma pessoa, ao qual no momento eu não estou autorizado a<br />

falar.<br />

– Isto me causa estranheza e também espanto, mas afinal de contas do que se trata?<br />

– Bom, vamos ao que interessa, vou direto ao assunto principal, mas peço agora que se despeça de seu<br />

filho, e se sua esposa quiser participar da conversa, creio que não haverá problema algum, a não ser que<br />

você faça algum tipo de objeção.<br />

Iris permitiu que Gabriel desse mais um abraço no pai, e rapidamente o levou para cima até o seu<br />

quarto, retornando para ouvir toda a conversa, e assim que ambos se acomodaram, ele explicou tudo:<br />

– Vou lhe fazer duas perguntas, que são de fundamental importância para continuarmos, peço que<br />

pense bem na resposta que vai dar, pois não haverá outra oportunidade de nossa parte, você<br />

compreendeu?<br />

– Mais claro que isso impossível, pode prosseguir e vamos ver no que vai dar!<br />

– Melhor assim, você me aceita como seu advogado e defensor, no caso que se refere ao assassinato<br />

de Nicolas Freitas?<br />

– Não sei não, para fazer isso eu teria de me entregar para a polícia, e por outro lado tem a questão do<br />

dinheiro, no momento eu não tenho recursos, para pagar um advogado do seu nível!<br />

– Quanto à questão financeira não se preocupe, todos os meus honorários já estão acertados, o que<br />

realmente precisamos saber de sua parte, é se está disposto a fazer tudo o que lhe dissermos, e com isso<br />

arcar com suas responsabilidades.<br />

– Estou ouvindo, o que pretende fazer para me ajudar?<br />

– Se concordar com todos os meus termos, vamos procurar uma delegacia para que você se apresente,<br />

e como não foi pego em flagrante delito, e por estar se entregando por livre e espontânea vontade,<br />

provavelmente será estipulada uma fiança em dinheiro vivo, e você poderá responder ao processo em<br />

liberdade, até que o julgamento do caso seja marcado.<br />

– Falando assim não parece coisa complicada, e essa tal fiança o senhor ou sei lá quem seja, também<br />

vai arcar com ela?<br />

– Como já lhe disse antes, não se preocupe com a parte financeira da questão, mas tem outra coisa que<br />

precisa fazer!<br />

– Ainda tem mais, assim fica complicado!<br />

Neste momento houve a interversão de Iris, a esposa procurou alerta-lo.<br />

103


– Raul escuta o advogado, aproveita esta oportunidade que estão nos oferecendo, faça isso por seu<br />

filho, faça por nós!<br />

– Tudo bem, pode continuar falando ai da tal coisa!<br />

104<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– É algo aparentemente bem simples, você terá de contar a sua versão do fato para o delegado, mas<br />

antes eu preciso saber de toda a verdade, você participou ou deu ordens diretas, para a execução<br />

do Nicolas?<br />

– Nem uma coisa nem outra, mas tenho a minha parcela de culpa, a ordem de dar um corretivo nele foi<br />

minha, mas era somente para dar uma prensa, para que pagasse a dívida contraída, não tive culpa do que<br />

aconteceu a ele!<br />

Ambos se sentiram mais aliviados, tanto a esposa quanto o advogado, agora tinham esperanças que o<br />

caso pudesse ser resolvido, ou pelo menos ser mais amenizado, e depois de passar mais algumas<br />

orientações, ele deixou que o casal conversassem a sós, para que pudessem resolver suas pendências<br />

familiares, e talvez até tratarem de algumas coisas importantes, relativas ao futuro da família e de seu<br />

casamento, onde ele aproveitou para pedir desculpas, por todos os seus erros e falhas do passado, e<br />

também para ficar por de dentro de tudo, sobre o que havia acontecido aos donos da casa.<br />

Depois de tudo acertado, Arthur o levou para a delegacia mais próxima, e o apresentou junto a<br />

autoridade competente, que o fez prestar um longo e detalhado depoimento, ao qual contou sobre a sua<br />

ordem dada, e apontava com todos os detalhes, o verdadeiro culpado pela morte do jovem, e ao término<br />

deste cansativo interrogatório, assinou o seu depoimento, onde o delegado prometendo investigar as<br />

denúncias, estipulou o valor da fiança de soltura, que foi pago em dinheiro vivo pelo advogado.<br />

De volta a mansão, Raul soube que tinha a permissão de ficar, e que seria acomodado em um dos<br />

quartos de hospedes, por tempo indeterminado, até que toda situação fosse resolvida, apesar do marido<br />

ter confessado seus erros, de ter se apresentado a polícia, e implorado pelo perdão da esposa, Iris não<br />

permitiu a sua aproximação, ela ainda manteria a separação de corpos, pelo menos até tudo ser<br />

totalmente esclarecido, e quem sabe assim poder perdoar seus erros.<br />

Em Angra dos Reis, todos desembarcaram na bela casa de veraneio, ao chegar Caio Abraçou e Beijou<br />

Alba, a sua suposta affair da vez, ela realmente era muito linda e estonteante, e deslumbrava os olhos de<br />

qualquer um, porém ao ser apresenta a Nathan, houve um certo déjà-vu entre eles, e o empresário não<br />

deixou passar desapercebido.<br />

– O seu rosto me parece familiar, já nos encontramos antes?<br />

– Creio que não tive esta oportunidade, muito prazer!<br />

– Claro me desculpe, é muito bom conhecer a namorada do Caio.<br />

– Na verdade ainda estamos nos conhecendo melhor, e eu fiquei muito sentida, por tudo o que está<br />

acontecendo com vocês, o Caio já me explicou tudo por telefone, e no que precisar podem contar comigo!<br />

Letícia pareceu não ter gostado muito da moça, principalmente ao fato de ela ter despertado interesse, e<br />

a curiosidade do seu amado, mas ela soube conter a situação sobre controle, lembrando e comentando<br />

que estavam cansados, e que ainda precisavam guardar suas malas e pertences pessoais, a esta altura<br />

dos acontecimentos, esta nova moradia temporária, parecia que iria render algumas empolgantes<br />

situações.<br />

Mais tarde Caio e Alba, se sentaram no barzinho da sala para um drinque, conversaram um pouco sobre<br />

os acontecimentos, e também sobre a intensa relação afetiva, que já era mantida secretamente pelos dois,<br />

aproximadamente a oito meses, mas o que ele ainda não sabia, é que por detrás de tanta beleza, havia<br />

uma mulher calculista e muito perigosa.


<strong>Caminhos</strong><br />

Já acomodados em seu quarto, Nathan e Letícia guardaram suas roupas e pertences, e foram até uma<br />

pequena varanda, que dava para a frente do mar atlântico, eles queriam privacidade para conversar um<br />

pouco, e ambos servidos de uma deliciosa taça de vinho, perante uma linda e imensa lua cheia, que<br />

brilhava no esplendoroso céu de Angra, iniciaram o diálogo.<br />

– É tão lindo aqui, nunca mencionou que tinham esta casa na praia!<br />

– Pois é, nem eu mesmo me lembrava, mas segundo o que Caio me contou, temos diversas<br />

propriedades pelo mundo todo.<br />

– Mas se vocês têm tanto dinheiro assim, porque ainda almejam tanto os negócios, acho que deviam<br />

aproveitar mais a vida!<br />

– Eu também queria poder entender isso, mas o fato de não me lembrar de meu passado, complica um<br />

pouco estas coisas, e aí eu tenho de ir seguindo os fatos e meu instinto, conforme eles vão surgindo e<br />

acontecendo, mas eu pretendo dar continuidade ao meu tratamento, porém com tudo isso acontecendo,<br />

creio que vai levar mais tempo que eu pensava.<br />

– Pensa em ligar para o doutor Estevam, e contar que nada lhe aconteceu e que está vivo?<br />

– Amanhã cedo teremos uma conversa com o Arthur, ele ficou nos colocar a par de toda a investigação,<br />

e dependendo do que ele falar ou ter descoberto, decidiremos se vamos sair do país, ou voltar e anunciar<br />

a todos a verdade.<br />

Ela tocou suavemente eu seu rosto, olhou carinhosamente por alguns segundos, e lhe falou com o<br />

coração:<br />

– Agora chega destes assuntos, vamos curtir a noite que está maravilhosa, olhe como as estrelas estão<br />

brilhando hoje, nem acredito que estou aqui juntinho de você!<br />

– Como sempre coberta de razão, então o que está esperando para me beijar?<br />

Palavras não conseguiriam descrever todo aquele cenário, as águas calmas refletiam o intenso brilho<br />

lunar, trazendo uma cena extremamente romântica, o que importava agora, era viver este momento muito<br />

especial, não se importando com fatos ligados ao passado, e tampouco com acontecimentos futuros,<br />

apenas vivenciando esta noite perfeita.<br />

Caio e Alba se retiraram para os seus aposentos, o casal também queria aproveitar o clima romântico, e<br />

entre o luxo e os lençóis de seda, entrelaçaram seus corpos por longas horas, ela sabia muito bem usar a<br />

fraqueza do empresário, para aos poucos ir conseguindo todo o espaço, e toda a confiança que precisava.<br />

Por volta das vinte e três horas, Duarte percebendo a ausência da filha, que não havia saído de seu<br />

quarto, nem mesmo para o jantar, decidiu bater em sua porta.<br />

– Filha você está bem, aconteceu alguma coisa?<br />

– Está tudo certo pai, só preciso ficar um pouco sozinha!<br />

Ele percebeu que sua voz estava um pouco embargada, assim pediu licença e entrou no quarto, e<br />

constatando o que havia percebido, a encontrou sentada na beira da cama, com os olhos cheios de<br />

lágrimas.<br />

– Me desculpe por entrar assim, sabe que não sou de fazer isso, mas fiquei muito preocupado, você<br />

quer conversar um pouco?<br />

105


<strong>Caminhos</strong><br />

– Ha pai, não estou aguentando esta pressão toda, nossa vida parecia ser tão tranquila, até nos<br />

metermos com toda esta história, de ficar remexendo no passado de outras pessoas, e agora poderemos<br />

estar envolvidos até com a polícia, eu vou ser muito sincera com o senhor, estou com muito medo!<br />

– Peço que me perdoe por isso, não poderia imaginar que a nossa investigação, tomaria tamanhas<br />

proporções, mas pode ficar mais tranquila, eu vou tentar resolver tudo isso ainda hoje, agora desça e faça<br />

pelo menos um lanche.<br />

– Como assim ficar tranquila, o que pensa em fazer?<br />

– Não quero que se envolva em mais nada, este assunto a partir de agora, é somente problema meu!<br />

Ela não havia entendido nada, será que o pai pensava em procurar a polícia, e contar a eles que haviam<br />

outros interesses, além da história da avaliação dos objetos de arte, ao qual haviam sido contratados pelo<br />

empresário?<br />

O colecionador havia deixado no ar muitas dúvidas, mas um pouco mais tarde, Duarte acreditando que a<br />

filha já havia dormido, desceu até antiquário para dar um telefonema, estava decidido a tentar contornar<br />

esta situação, ao qual havia envolvido a filha e a si próprio, e ligou para o seu contratante.<br />

– Alô sou eu, desculpe eu ligar a esta hora da noite, mas precisamos muito conversar.<br />

– Do que se trata?<br />

– Quero sair fora do esquema todo, minha filha está sofrendo muito com toda esta situação, ainda mais<br />

que a polícia nos procurou, e nos enterrou com diversas perguntas sobre o caso, e agora que os<br />

empresários estão mortos, não tem como continuarmos com nossas pesquisas!<br />

– Compreendo, o que ela sabe?<br />

– Só o que havíamos combinado, ela ainda pensa e acredita totalmente, que é somente um assunto<br />

relacionado a fatos antigos.<br />

– Melhor assim, neste caso vou pedir para alguém ir aí amanhã a noite, e recolher todo o material que<br />

lhe forneci, incluindo as pinturas e todos os documentos, enquanto isso não tome nenhuma atitude, e evite<br />

falar com a polícia ou qualquer outra pessoa, entendeu?<br />

– Sim entendi, vou acatar isso como sendo as últimas ordens, e depois peço que se esqueça de nós,<br />

amanhã bem cedo vou separar e encaixotar todos os objetos, e fico aguardando o seu enviado para pegar<br />

as coisas.<br />

– Que assim seja então!<br />

– Eu fico agradecido por sua compreensão, boa noite!<br />

O que ele não tinha percebido, é que a filha havia descido a procura dele, e acabou ouvindo toda a<br />

misteriosa conversa, e percebendo que a ligação havia terminado, ela voltou para a sala na parte de<br />

cima, aguardando ansiosamente o retorno do pai, precisa tirar a limpo toda esta história.<br />

Com esta resolução tomada, o colecionador pensava em tentar resolver, uma grande parte de todo este<br />

problema, relacionado ao plano de encontrar as relíquias antigas, faltava agora resolver a questão da<br />

polícia federal, ao qual procuraria contar com a ajuda de seu advogado, e assim solucionar definitivamente<br />

o caso, porém antes de subir as escadas, ele se sentou um pouco em sua cadeira favorita, aparentando<br />

estar muito preocupado e arrependido, mas podia ser tarde demais para isso.<br />

106


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 24 •<br />

Já passava da meia-noite, quando Duarte subiu para o andar de cima, Marina que estava nervosa o<br />

aguardava, e queria de toda forma e sem nenhum rodeio, explicações sobre o que havia ouvido, e o<br />

porquê também mencionava o seu nome.<br />

– Então pai, com quem falava ao telefone, e que história é esta de pedir para sair do esquema?<br />

– Minha menina, como eu pude errar tanto assim com você!<br />

– Caramba, fazia tempo que não me chamava assim, me conta a verdade vai, o que está acontecendo<br />

de verdade?<br />

– Sabe quando você vai fazendo as coisas na empolgação, mas depois quando a ficha cai, a gente<br />

sente a pancada de uma só vez, então é assim que estou me sentindo.<br />

– Vai me falar que você meteu os pés pelas mãos de novo, e se envolveu em alguma transação<br />

clandestina, o que foi desta vez, outro quadro contrabandeado?<br />

– Quem me dera fosse coisa fácil assim de se resolver!<br />

– Credo senhor Duarte, está me assustando cada vez mais...<br />

Ele abaixou a cabeça, pensou por mais alguns instantes, e lhe deu algumas instruções.<br />

– Vou te pedir para fazer algo, mas quero que ouça com muita atenção, e nada de fazer mais perguntas,<br />

neste momento quanto menos souber, mais ficará protegida desta toda esta situação, ao qual acabei lhe<br />

envolvendo sem que soubesse, apesar de não merecer mais a sua confiança, peço que atenda a este<br />

meu pedido.<br />

– Está certo, mas saiba que seja o que for, que o senhor tenha feito de errado, vou estar sempre ao seu<br />

lado, porque é tudo que tenho em minha vida!<br />

– Não sabe o quanto é importante ouvir isto de você, ainda mais nesta hora tão difícil de nossas vidas,<br />

mas o tempo é realmente curto, então ouça tudo com muita atenção!<br />

– Estou ouvindo, pode começar a falar.<br />

– Quero que pegue uma mala, coloque nela algumas roupas, calçados e alguns pertences pessoais,<br />

compre uma passagem de ônibus no terminal, e fique por um tempo na casa do Fernandes, aquele velho<br />

amigo meu de Limeira.<br />

– E por quanto tempo terei de ficar por lá?<br />

– Não saberia lhe precisar isso agora, mas é somente até as coisas se acalmarem, é claro se isso for<br />

realmente possível!<br />

– Pai, isso tem a ver com o atentado com os empresários, e porque a polícia ter vindo nos procurar?<br />

– Com eu lhe disse sem mais perguntas, apenas siga as minhas instruções, e durante todo este período,<br />

não fale com estranhos, nem conte a ninguém onde se encontra, e principalmente não ligue para mim.<br />

– Minha nossa, a coisa é mesmo muito séria, eu já estava super preocupada, agora então estou<br />

morrendo de medo, mas se é assim tão perigoso, então porque não vem comigo?<br />

107


– Digamos que ainda se faça necessário a minha presença, para poder resolver todas as questões<br />

pendentes, agora vai porque o tempo urge contra nós!<br />

– Está bem, mas o senhor me promete que tudo vai ficar bem, e que nada vai lhe acontecer?<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Claro minha filha, este velho ainda tem muitas coisas por fazer, pode acreditar, no final tudo vai dar<br />

certo!<br />

Ela acatou o pedido do velho pai, e foi para seu quarto arrumar suas coisas, enquanto isso ele voltou ao<br />

antiquário, pegou uma boa soma em dinheiro no cofre, e o colocou dentro de um envelope, vindo mais<br />

tarde a entregá-lo a ela, deu mais algumas instruções sobre a viagem, e se despediu copiosamente da<br />

filha e companheira de vida, pedindo para que saísse pela porta dos fundos, onde um táxi já a aguardava,<br />

para conduzi-la ao terminal rodoviário Tiete.<br />

Depois que Marina se foi, Duarte deu mais um misterioso telefonema, e começou a embalar alguns<br />

objetos e documentos, com isso ele passou em claro toda a madrugada, onde ele agiu com muita<br />

determinação, mas acabou adormecendo entre as caixas e artefatos, a exaustão o havia vencido.<br />

O dia amanheceu na grande metrópole, e já bem longe dali, a moça já se aproximava de seu destino, ela<br />

praticamente chorou por toda a viagem, e seria a primeira vez em toda sua vida, que teria de conviver sem<br />

a presença do pai, lógico que por inúmeras vezes, já havia viajado a negócios dentro e fora do país, mas<br />

ficar assim desta forma, sem poder nem ao menos falar por telefone, a deixava totalmente angustiada.<br />

Na casa do Advogado, Dirce começou a servi o café da manhã, e aproveitou a oportunidade para tratar<br />

de dois assuntos, que já estavam pendentes há alguns dias, pois praticamente ele só chegava em casa<br />

para dormir, e estava aparentemente atarefado e esgotado, e com muito jeito lhe falou:<br />

– Patrão, sei que a vida do senhor é muito corrida, e que nem tempo para dormir direito está tendo, mas<br />

eu preciso tratar de umas coisas.<br />

– Claro que sim Dirce, eu nem tenho conversado com você estes dias, estou até com saudades de<br />

nossos papinhos de fim de noite, vamos lá diga!<br />

– Na verdade são dois assuntos, o primeiro é com relação a Elisa.<br />

– Aconteceu alguma coisa na clínica, ela está bem?<br />

– Calma não é nada disso, é que a doutora Lisley ligou ontem, e pediu para o senhor entrar em contato<br />

com ela, me parece que é sobre um documento de autorização.<br />

– Menos mal, lá do escritório eu ligo para ela, e vejo os detalhes sobre este documento, e o outro<br />

assunto do que trata?<br />

– Então é sobre o meu filho Dimas, como o senhor sabe ele terminou a faculdade, e eu queria poder<br />

trazer ele para junto de mim, eu acredito que na aqui na capital, ele vai ter mais oportunidade de arranjar<br />

um bom emprego, e o que eu gostaria de saber, é se ele pode ficar na casa dos fundos comigo, pelo<br />

menos até ele se ajeitar.<br />

– Ora Dirce claro que pode, traga o rapaz imediatamente para cá, e me informe sobre tudo o que ele<br />

precisar, com certeza você já deve ter me falado, mas como eu ando com a cabeça bem cheia, devo ter<br />

me esquecido, no que ele se formou mesmo?<br />

– Administração, foi o que eu pude pagar para ele.<br />

108


<strong>Caminhos</strong><br />

– Se sinta orgulhosa por este feito, porque hoje em dia não é qualquer pessoa, que consegue realizar a<br />

formação de um filho, eu vou te falar mais, pode deixar que já tenho um emprego para ele, mas primeiro<br />

acomode seu filho, depois voltamos a falar sobre este assunto.<br />

Nem é preciso dizer o quanto ela ficou satisfeita, este ato realizado pelo querido patrão, só aumentava<br />

toda a gratidão e toda a admiração, que ela já sentia por ele nestes anos todos, e logo após terminar a<br />

rápida conversa, ele seguiu com pressa para o trabalho, mas a caminho de sua firma de advocacia, ele<br />

decidiu repentinamente mudar o seu trajeto, resolvendo ir pessoalmente conversar com a médica, que<br />

cuidava de todo o tratamento de Elisa.<br />

Nas dependências da clínica Jardins, Arthur aguardou a doutora Lisley terminar uma triagem, e logo pós<br />

entrou em sua sala, a esta altura pelo sorriso da médica, ele pôde desfazer o seu semblante de<br />

preocupação, e foi recebido atenciosamente por ela.<br />

– Bom dia, como vai?<br />

– Bom dia, me desculpe por não ter retornado antes, mas tive alguns contratempos no trabalho, e estou<br />

muito sobrecarregado!<br />

– Eu posso imaginar, eu fiquei sabendo do que aconteceu a seus clientes, e eu sinto muito por isso!<br />

– Obrigado, as coisas já estão ficando sobre controle, mas mudando de assunto, precisava falar comigo<br />

sobre um documento?<br />

– Sim, preciso da sua autorização por escrito, para passarmos a Elisa para a fase dois do tratamento,<br />

vou lhe entregar o relatório completo, onde consta a planilha de custos desta fase final.<br />

– Que ótima notícia, para lhe falar a verdade, com toda esta correria destes dias, eu acabei deixando de<br />

obter o acompanhamento dela, mas creio que agora vou conseguir me atualizar, como ela está hoje?<br />

– Pergunte você mesmo a ela!<br />

– Como assim, não compreendo, não é uma norma rígida da clínica, que as pacientes não recebem<br />

visitas masculinas?<br />

– Com certeza, porém isso somente dentro das dependências internas, mas como ela avançou de fase,<br />

e está de mudança para a outra parte, ela também terá de assinar um documento aqui, concordando com<br />

os termos ao qual será submetida, e você aproveita para ver e falar com ela, vou mandar busca-la.<br />

Ele havia ficado muito satisfeito com a novidade, havia se passado um bom tempo, desde a última vez<br />

em que a havia visto, e também conversado com ela, mas o dia ainda reservava mais uma surpresa,<br />

aquela imagem que ele guardava dela em sua memória, de um rosto todo inchado, dos cabelos<br />

desajeitados, e dos inúmeros hematomas espalhados pelo corpo, haviam desaparecido e estavam<br />

curados, e quando a médica voltou para a sala, causou um tremendo espanto ao advogado, ver que a<br />

moça estava diferente e muito linda.<br />

Arthur se levantou rapidamente da cadeira, enquanto Elisa ficou parada na porta, e a médica notando<br />

um certo impasse, tratou logo de quebrar o gelo.<br />

– Desculpe pela nossa demora, é que Elisa quis se arrumar para lhe encontrar, agora vou deixar vocês<br />

dois a sós para conversarem.<br />

Ele agradeceu, e aguardou que a moça se aproximasse, para demonstrar sem receio algum, toda a<br />

emoção deste feliz reencontro.<br />

109


110<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Não sabe a minha imensa satisfação, em ver que está praticamente recuperada, e não precisava se<br />

preocupar em ficar se arrumando!<br />

Ela sorriu e o abraçou bem forte, e este gesto não deixava dúvidas, quanto a toda sua gratidão, e por<br />

todo o apoio que se fez necessário, na realização de sua internação médica, lhe proporcionado a chance<br />

de sua recuperação, sem falar dos altos custos que havia bancado, e momentaneamente emocionada,<br />

disse-lhe francamente o que sentia:<br />

– Estava com muitas saudades de você, nem acreditei quando me disseram que estava aqui, e que eu<br />

podia te ver!<br />

– Eu não sabia de nada, também fui pego de surpresa, e estou feliz de ver que está ótima, e também<br />

muito linda!<br />

– Nossa obrigada, mas você não me parece bem, aconteceu algo?<br />

– Apenas coisas rotineiras de trabalho, acompanhadas de algumas noites mal dormidas, não precisa se<br />

preocupar com isso, aliás fiquei sabendo agora há pouco, que está de mudança para novas acomodações.<br />

– Estou tipo super animada, ouvir falar que lá do outro lado, tem até uma piscina aquecida, e uma mini<br />

academia de ginástica, assim eu vou ter mais coisas para fazer, e o tempo com certeza vai passar bem<br />

mais rápido.<br />

– Deixa eu lhe falar uma coisa importante, não tenha pressa alguma de sair daqui, não sabe a loucura<br />

que está lá fora, considere esta sua estadia como se fossem férias, aproveita tudo ao máximo, e segue<br />

tudo direitinho o que lhe recomendarem!<br />

Ela concordou, lhe deu mais um longo e apertado abraço, e no final após perceber o retorno da médica,<br />

que voltou a sua sala para busca-la, Elisa deu um beijo no rosto do advogado, demonstrando todo o<br />

carinho que sentia por ele, e após se despedirem cordialmente, ambos voltaram para a suas rotinas, onde<br />

a perspectiva era que em muito breve, ela poderia receber a alta do tratamento, e poderia retornar para<br />

casa.<br />

Na favela Otto, que pretendia submeter as crianças e jovens ao narcotráfico, e assim poder comandar<br />

com mão de ferro, todas as coisas em toda esta área, ficou totalmente surpreendido, quando um de seus<br />

capangas lhe trouxe uma informação, que voltaria a alterar todos os seus planos, e Situação ofegante lhe<br />

contou:<br />

– Chefe, o pessoal da Ong está de volta, eles estão abrindo tudo de novo, e avisando o povo que vão<br />

continuar as atividades!<br />

– Isso é péssimo para os negócios, mas me diga uma coisa, a moça também veio junto?<br />

– Não vi ela não, mas tem um novo bacana por lá, e parece que está tomando a frente de tudo!<br />

– Mais essa agora, mais uma pedra no meu sapato, já tinha visto este individuo por aqui antes?<br />

– Esse aí nunquinha, é um engravatado igualzinho ao outro que explodiu, mas chefe só te lembrando<br />

duma coisa, é que da outra vez que o Militão veio até aqui, e te trouxe uma notícia quentinha como esta,<br />

ele ganhou um gordo aumento, eu também vou ganhar?<br />

– Só pode estar de brincadeira, cara ou vocês são mesmo burros, ou fazem isso de propósito<br />

para me irritar, agora chega de perder tempo, eu vou até lá para ver isso de perto!<br />

Ele andou pelas ruas estreitas e apertadas, até que chegou nas proximidades da sede da entidade, onde<br />

acabou ouvindo uma parte da conversa, ao qual Murilo explicava a todos os presentes, que a empresa


<strong>Caminhos</strong><br />

daria continuação ao projeto do antigo dono, e que a professora Letícia ficaria fora por algum tempo,<br />

devido a uma viagem para fora do país, onde faria um mestrado e aprimoramentos acadêmicos, e estas<br />

duas notícias ouvidas secretamente, deixaram o traficante profundamente irritado e vingativo, e na certa<br />

faria algum tipo de represália, para prejudicar novamente os trabalhos dos benfeitores, ao qual se<br />

disponibilizavam pelo bem da comunidade.<br />

Enquanto isso na mansão, Raul aguardava a decisão da justiça em liberdade, ele curtia e aproveitava ao<br />

máximo a estadia e sua família, seguindo ordens repassadas pelo advogado, eles eram tratados como<br />

verdadeiros donos da casa, tinham permissão e acesso a todas as coisas, inclusive iriam descer e<br />

aproveitar o dia ensolarado, para nadarem e também se divertirem, em uma das piscinas da propriedade.<br />

111


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 25 •<br />

Em Angra todos acordaram tarde, porém durante o café servido na varanda, Letícia desceu até a casa<br />

de barcos, pois ela queria verificar se na propriedade, havia alguma lancha em condições de uso, a moça<br />

planejava um passeio romântico a dois, e ao entrar no local constatou que realmente, havia uma<br />

praticamente nova.<br />

Depois ela se dirigiu até o caseiro, pedindo todas as informações necessárias, sobre a possibilidade de<br />

uso da embarcação, constatando que a mesma se encontrava abastecida, e estava apta para qualquer<br />

tipo de navegação, restando apenas carregar os suprimentos básicos, para um eventual passeio<br />

planejado, Letícia o agradeceu, e procurou por Nathan, que estava a sua procura.<br />

– Bom dia meu amor, estava te procurando, onde estava?<br />

– Bom dia meu querido, eu fui até a casa de barcos, estava preparando uma surpresa para você!<br />

– Bom se é uma surpresa, então não vou fazer nenhum tipo de pergunta, e seja o que for, se você<br />

estiver junto a mim, estará ótimo!<br />

– Hum, hoje ele acordou romântico, que bom!<br />

– A paz e a beleza deste lugar, juntamente com a sua presença, deixa tudo praticamente perfeito!<br />

– Fala a verdade, dá vontade de ficar aqui para sempre não acha?<br />

– Com certeza sim, agora vamos tomar o café que está um espetáculo, e depois você me explica melhor<br />

esta tal surpresa.<br />

Os dois que haviam se tornado noivos durante a viagem, fizeram tranquilamente a refeição matinal, após<br />

isso ela o levou até a lancha, ao qual já se encontrava pronta no ancoradouro, o deixando boquiaberto<br />

com esta sua surpresa, e além de navegar pela região, se planejou mergulhar em pleno mar aberto.<br />

Nathan ficou muito empolgado com tudo, ele chegou a mencionar para a noiva, que não se lembrava se<br />

sabia ou não manobrar uma lancha, mas ficou tranquilizado ao saber, que ela era habilitada e sabia<br />

pilotar, pois já havia feito isto por diversas vezes, quando passava as férias com a família, e afirmou que<br />

quando tudo isso passasse, ela o levaria sem falta para conhece-los pessoalmente, coisa que ainda não<br />

havia feito, nem mesmo antes do acidente ter acontecido.<br />

Quando ambos comunicaram o passeio aos amigos, Caio aparentemente não se importou com o fato,<br />

porém Alba ficou visivelmente aborrecida, mas isso fazia parte de todo o mistério, que a cercava desde a<br />

sua chegada por ali, em seguida se retirou para o quarto em silêncio, precisava tentar manter a calma e a<br />

serenidade, para não cometer nenhum deslize ou ato, que atrapalhasse o plano que tinha em mente.<br />

Por volta das treze horas, o casal saiu em direção ao horizonte, o mar atlântico com suas águas calmas<br />

e transparentes, colaborava para o que seria uma tarde perfeita, para que os dois curtissem e<br />

aproveitassem o passeio, e certamente haveria muito amor e diversão.<br />

De vez em quando, eles cruzavam com outras lanchas das redondezas, até que acharam um lugar ao<br />

lado de uma pequena ilha, onde ancoraram e nadaram um pouco, sendo que ali em alto mar, pareciam<br />

ganhar toda a liberdade, e se sentiam com se vivessem dentro de um sonho, ao qual não pretendiam<br />

acordar tão cedo.<br />

As horas pareciam correr rapidamente, e o entardecer já coroava o céu com todas as suas cores, em um<br />

mesclado de tons alaranjados e vermelhos, a natureza como sempre, fornecia o seu espetáculo à parte,<br />

bastava que houvesse espectadores dispostos a contempla-la, e nosso par romântico aproveitando todo<br />

112


este clima, se sentaram na proa da lancha para namorar, e aproveitaram toda esta privacidade, para<br />

conversarem sobre o futuro, e num tom meio que nostálgico, Letícia se abriu com ele.<br />

113<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Uma coisa que me encanta desde que era criança, quando meu pai me levava para passear de barco,<br />

era a mudança da luz do sol para a luz do luar, ele sempre dizia que os reflexos nas águas, poderiam ser<br />

comparados a reflexos de nossas vidas.<br />

– Muito profundas as palavras dele, e agora olhando bem e prestando a atenção, vejo que seu pai tem<br />

toda a razão sobre isso, as vezes as coisas parecem tão complicadas, e olhando toda esta paisagem<br />

complexa, parece que a vida é bem mais simples do que pensamos.<br />

– O raciocínio é este mesmo, mas o que pensa em fazer quando tudo isso passar?<br />

– Veja bem, eu creio que isto está longe de terminar, pelo menos até descobrirmos os verdadeiros<br />

culpados, ainda podemos considerar que estamos em grande perigo, mas estou muito tentado a voltar<br />

para São Paulo, e encarar tudo isso de frente, de peito aberto.<br />

– Não acho uma boa ideia, é algo muito perigoso, porque quem arquitetou tudo isso, pensa que os dois<br />

estão mortos e fora do jogo, mas não deixo de compartilhar o seu pensamento, e tem todo o meu apoio<br />

para o que venha a decidir!<br />

– Obrigado, não sei o que seria de mim sem você e o Caio, agora olhe bem nos meus olhos, porque não<br />

me canso de dizer, que te amo muito!<br />

– Também amo muito você, e quero passar o resto de minha vida contigo, isto é, somente apenas até eu<br />

ficar velhinha! (Risos)<br />

– Sei muito bem o que quis dizer com isso, mas é outra coisa que eu preciso resolver, mas de momento<br />

apenas me beije...<br />

Era uma cena estonteante, um casal se beijando ao pôr do sol, com direito ao fundo musical das ondas<br />

calmas, límpidas, e iluminadas, daquele mar maravilhoso de Angra dos Reis, mas como estava<br />

começando a anoitecer, acharam que já estava na hora de partirem, e assim navegaram de volta para a<br />

casa de praia, enquanto isso Alba fazia perguntas sobre o casal.<br />

– Poxa eles estão demorando tanto, será que aconteceu algo?<br />

– Acredito que não, eles devem é estar curtindo e namorando bastante, daqui a pouco devem estar<br />

chegando no ancoradouro.<br />

– Tomara que sim, a noite a maré costuma subir rapidamente, e o mar costuma ficar agitado e perigoso!<br />

– Não fique preocupada, pelo que a Letícia nos contou mais cedo, ela tem experiência suficiente em<br />

navegação, e estou bem tranquilo com relação a isso, agora vou tomar meu banho de sais, quer vir e me<br />

acompanhar?<br />

– Só se for agora, e acho que vou ser bem boazinha com você, pensando melhor, hoje vou deixar você<br />

fazer o que quiser comigo!<br />

Com estas palavras ela o deixou ainda mais excitado, e como sempre fazia, se utilizava de todo o seu<br />

charme e beleza física, para se aproveitava das fraquezas do corpo, ao qual o empresário não fazia<br />

questão de esconder, e ao chegar dentro do quarto, ela se sentou na beira da cama, e começou a tirar<br />

toda a sua roupa.<br />

Neste exato momento na capital paulista, o pesquisador e colecionador Duarte, aguardava<br />

ansiosamente pelo desfecho inevitável, por causa de seu envolvimento junto aos criminosos, conforme ele


<strong>Caminhos</strong><br />

havia combinado por telefone, seriam retirados ali mesmo no antiquário, todos os documentos e demais<br />

objetos, ao qual haviam sido lhe repassados anteriormente, para que investigasse o caso em questão.<br />

No início ele fora contratado e muito bem remunerado, apenas para investigar o paradeiro de uma pista,<br />

ao qual os levassem até a pretendida fonte e seus poderes, mas assim que a filha Marina acidentalmente<br />

descobriu, através de uma pintura de um quadro muito antigo, que se tratava de alguém com fisionomia<br />

parecida, com a do empresário e milionário Nathan, ele passou a receber ordens para avançar no caso, e<br />

assim também acabou a envolvendo nesta trama.<br />

A partir de um determinado momento, ao qual as coisas começaram a se complicar, devido a toda<br />

intensidade do atendado a bomba, e principalmente pelo recente fato da polícia federal, tê-los interrogados<br />

de forma muito intensa, deixando transparecer a sensação de suspeita sobre eles, o fez repensar em seus<br />

envolvimentos no plano.<br />

Mas o colecionador era muito experiente e perspicaz, ele já havia percebido que a casa e seus<br />

arredores, estavam sendo vigiadas por policiais disfarçados, e se aproveitou desta situação para marcar<br />

este encontro, e mesmo temendo a sua eliminação imediata, como uma provável queima de arquivo, ele<br />

contava muito com a interversão dos federais, pois através de uma ligação anônima feita por ele, simulou<br />

uma séria denúncia ao qual informava, sobre uma importante transação ilegal, que aconteceria hoje a<br />

noite no estabelecimento.<br />

Por volta das dezenove horas, um pequeno furgão estacionou nos fundos, e de dentro dele saíram<br />

dois homens armados, e um deles verificando que a porta já estava aberta, entrou no estabelecimento<br />

buscando por Duarte, que o aguardava em uma sala mais ao fundo, porém ao se deparar com o indivíduo<br />

mascarado, ele apontou ligeiramente para um local, onde se encontravam os objetos embalados e<br />

encaixotados.<br />

Ao verificar visualmente todos os materiais, ele deu ordens ríspidas a Duarte, mandando que ele<br />

posicionasse as mãos para trás, e se sentasse em uma cadeira no canto, onde foi amarrado e também<br />

amordaçado, após isso comunicou via rádio para o outro elemento, dando instruções para abrir as portas<br />

do furgão, e que entrasse para ajudá-lo no carregamento, mas assim que este segundo homem entrou,<br />

vários policiais armados invadiram a propriedade, sendo recebidos a bala pelos indivíduos, e houve<br />

uma intensa troca de tiros.<br />

Em poucos mais de meia hora, o efetivo policial havia dominado toda a situação, e no meio de todo<br />

aquele caos, ambulâncias chegavam para socorrer os feridos, mas infelizmente houve baixas neste<br />

conflito, sendo que os dois suspeitos e um policial federal, não resistindo aos ferimentos a bala, vieram a<br />

óbito ali mesmo no local, enquanto isso Duarte que fora gravemente ferido, sendo alvejado nas pernas e<br />

nas costas, estava sendo encaminhado para o hospital mais próximo.<br />

Simultaneamente em Angra dos Reis, Alba recebia uma ligação inesperada e misteriosa, ela havia<br />

deixado o seu celular no modo silencioso, para não chamar a atenção de ninguém na casa, e se<br />

aproveitando de que Caio havia ido até a cozinha, foi até a sacada do lado de fora, e atendeu a chamada.<br />

– Está sozinha?<br />

– Sim estou, havíamos combinado que eu te ligaria, o pessoal está aqui por perto, e pode desconfiar de<br />

alguma coisa, aconteceu algo importante?<br />

– Duas células da organização foram abatidas, e estamos literalmente expostos, inicie a operação<br />

imediatamente, e que fique claro que não aceitarei falhas, entendeu as ordens?<br />

– Entendi perfeitamente, já vou tomar as primeiras providências, e assim que obtiver algum resultado, eu<br />

comunico ao senhor, agora vou desligar...<br />

114


<strong>Caminhos</strong><br />

Ela tremia ao terminar a ligação, uma forte tensão a dominou em poucos segundos, Alba sabia de que<br />

não poderia cometer erros, era uma missão ao qual havia sido preparada, por uma mente altamente<br />

perigosa e sem escrúpulos, e com isso deixaram transparecer que o tempo todo, eles sabiam que os dois<br />

empresários paulistas, não haviam morridos naquela explosão da bomba.<br />

Ela foi até o banheiro do quarto, jogou água no rosto e penteou o cabelo, se olhou no espelho e procurou<br />

se recompor, pois tinha que demonstrar que nada havia acontecido, e agir com calma e muita frieza,<br />

dando prosseguimento as novas ordens recebidas, iniciando um procedimento já planejado anteriormente,<br />

onde ela pegou um pequeno frasco em sua bolsa, que continha uma substancia incolor e inodora, e se<br />

encaminhou até a adega da propriedade.<br />

Nathan e Letícia acabavam de chegar, e assim que todos se reuniram na sala de estar, Alba surgiu com<br />

as taças de vinho nas mãos, a primeira foi dado a Letícia que estava de pé, a segunda para o amante Caio<br />

que sorriu, e as duas restantes respectivamente para ela e Nathan, que agradeceu sugerindo um brinde a<br />

amizade e a sorte, sendo apoiado pela sua querida amada, que inicialmente concordou plenamente, mas<br />

porém demonstrava muita desconfiança em seu olhar, estava sempre com um pé atrás em relação a ruiva,<br />

que de vez em quando era pega, olhando fixamente para o seu noivo, a deixando totalmente enciumada.<br />

Passado cerca de quarenta minutos, Caio avisou que iria se retirar para o quarto, alegando estar<br />

cansado e com muito sono, ele até chegou a chamar Alba para acompanha-lo, mas esta se recusou<br />

inteiramente alegando, que ainda não havia comido nada até o momento, e que iria dar uma passada na<br />

cozinha antes de subir, ao mesmo tempo Letícia também se retirou, comentando que o vinho havido<br />

subido rapidamente, e pediu para que Nathan ao terminar sua bebida, retornasse ao quarto do casal.<br />

Alba havia colocado um fortíssimo sonífero, somente nas bebidas de Caio e de Letícia, com isso ela<br />

poderia ficar a sós com Nathan, dando prosseguimento ao sinistro plano, e quando ela percebeu o<br />

movimento do empresário para se retirar, o convidou para um passeio rápido no ancoradouro, alegando<br />

que precisava lhe contar algo.<br />

Acreditando se tratar de algum assunto sobre Caio, ele concordou e a acompanhou até o local<br />

mencionado, onde ela procurou o enrolar o máximo possível, com conversas sobre a sua relação com o<br />

seu amigo, mas a partir de um certo momento, ela começou a especular sobre outro tipo de assunto.<br />

– Ouvir dizer que você está com um problema de memória, e que não se lembra de nada do seu<br />

passado, isso é realmente verdade?<br />

– Infelizmente sim, mas peço que não comente isso com mais ninguém, a maioria das pessoas não<br />

sabem, principalmente nossos parceiros de negócios.<br />

– Incrível isso, mas tem certeza que não se lembra mesmo de mim?<br />

– Você não me é estranha, mas não consigo recordar nada a seu respeito, entretanto eu andei notando<br />

o jeito que me olha, aliás, até mesmo a Letícia percebeu isso, e ficou muito enciumada com estas atitudes,<br />

afinal de contas, de onde nos conhecemos?<br />

– É normal ela ter ficado com ciúmes, mas não há motivo real para isso, nós já nos vimos antes em uma<br />

festa, é por isso que você se recorda da minha fisionomia, mas se não se lembra das coisas que<br />

aconteceram, como faz para levar a vida e os negócios adiante?<br />

– Para falar a verdade, o Caio e a Letícia me ajudam o tempo todo, e também estou fazendo um<br />

tratamento para tentar me recuperar.<br />

– E este tratamento, ele obtém os resultados esperados, se lembrou de algo importante?<br />

– Até o momento houve pouco progresso, mas porque se interessa tanto pelo meu passado?<br />

115


<strong>Caminhos</strong><br />

– Tem razão me desculpe, estou sendo mesmo uma intrometida, vamos voltar lá para dentro, e tomar<br />

um último drinque, eu faço questão!<br />

– Tudo bem, mas depois cada um vai para seu quarto, ok?<br />

– Combinado, então vamos!<br />

Ela teve a certeza que precisava, de que ele não havia mentindo para todos, e realmente havia sofrido<br />

um colapso de memória, e assim que retornaram para sala de estar, Alba foi bem discreta e muito precisa,<br />

colocando também o forte sonífero na taça dele, Nathan porém não chegou a tomar todo o líquido,<br />

alegando que também estava muito cansado, ela por sua vez, mesmo ficando com uma certa dúvida,<br />

quanto a eficácia da droga ministrada ao vinho, procurou disfarçar a sua preocupação, aguardando que<br />

ele subisse as escadas e se retirasse, e ficou de plantão ali mesmo naquela sala, maquinando os<br />

próximos passos a serem dados.<br />

Ao chegar dentro do quarto, Nathan observou que Letícia havia se deitado com roupa e tudo, e com todo<br />

o cuidado para não acorda-la, tirou delicadamente as suas sandálias, a ajeitou carinhosamente em seu<br />

travesseiro, e a cobriu com o um macio lençol de cetim, mas antes de se deitar ao seu lado, devido ao<br />

forte calor daquela noite carioca, ele resolveu se refrescar um pouco no chuveiro, mas ao caminhar na<br />

direção do banheiro, acabou tropeçando na bolsa da noiva, que estava jogada no chão ao lado da cama,<br />

vindo a espalhar todos os seus pertences.<br />

Contudo ao começar a recolher os objetos, viu que havia um crachá de visitante da empresa,<br />

provavelmente ela havia se esquecido de devolver na saída, quando a mesma acompanhou o advogado<br />

Arthur, em busca dos documentos naquele dia, mas algo lhe chamou muita a atenção, ao recolher este<br />

objeto do carpete, por este estar de cabeça para baixo, deu para ler claramente a palavra "SORTE", que<br />

era contrária ao nome do grupo "ETROS", ou seja, virando e desvirando o objeto, ambas continham as<br />

mesmas letras, e isto o deixou totalmente intrigado.<br />

116


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 26 •<br />

Aquela foi uma longa madrugada, e primeiramente iniciamos o novo dia que surgiu, apresentando novos<br />

personagens de nossa trama, onde mostraremos um pouco da vivência de cada um, seus sonhos, suas<br />

tristezas, suas lutas, e suas alegrias, mesmo que se limitem as coisas mais simples da vida.<br />

Esta parte de nossa história, se passará em um pequeno condomínio, na zona norte da grande São<br />

Paulo, e seus moradores, que são pessoas de baixa renda, e que lutam no dia a dia para sobreviverem, a<br />

falta de dinheiro e de recursos básicos, que impossibilitam a melhora da qualidade de vida, isso sem falar,<br />

dos atrasos constantes com o pagamento de aluguel dos imóveis, por este motivo logo bem de manhã,<br />

uma reunião foi convocada pelo Sindico Xavier.<br />

– Peço silêncio a todos, e que cada um se acomode no recinto, para iniciarmos a nossa reunião!<br />

Dona Angelina é uma senhora idosa e simpática, que procura sempre que pode, acompanhar a vida de<br />

todas as pessoas por ali, na maioria das vezes ela até os aconselha, e acaba exagerando em dar palpite,<br />

com isso ganhou o apelido de fofoqueira, e ela foi a primeira a comentar:<br />

– Lá vem mais uma bomba Regina!<br />

– Não fale assim, a senhora está sempre pessimista com as coisas, quem sabe pode ser uma notícia<br />

boa!<br />

– Não sou pessimista, sou realista, agora você pelo contrário, é que vive em um mundo fora<br />

da realidade, a vida é muito dura e um dia você vai enxergar, o que eu vejo hoje nas pessoas, basta olhar<br />

bem dentro dos olhos de cada um!<br />

– Credo dona Angelina, os meninos daqui já brincam a toda hora, dizendo que a senhora faz coisas<br />

estranhas em seu apartamento, e dizem até que faz alguns pequenos feitiços, relacionados a vida afetiva<br />

das pessoas, e a senhora ainda fala coisas deste tipo para mim, vou acabar acreditando nestas bobagens!<br />

– Podem falar o quanto quiserem, eu sei que a maioria daqui me chama de bruxa pelas costas, mas eu<br />

não ligo para o que dizem, porque tenho apenas alguns pequenos dons, que as vezes utilizo para ganhar<br />

algum trocado, como ler as cartas por exemplo, é somente para ajudar nas contas no final do mês, mas<br />

você no que acredita?<br />

– Sabe que não acredito nestas coisas, agora vamos ouvir o que o sindico tem a falar, e descobrir do<br />

que se trata afinal.<br />

Regina era uma viúva muito nova, pois seu marido havia morrido em um acidente trágico, e desde então<br />

lutava também para sobreviver, com uma pequena pensão recebida, e através de encomendas de enfeite<br />

de festas, ao qual era muito conhecida nesta região, e neste momento todos fizeram silêncio total, para<br />

ouvir o pronunciamento de Xavier.<br />

– Como todos estão cansados de saber, este condomínio pertence a uma empresa privada, e que nos<br />

estão pressionando muito, por causo dos atrasos abusivos da maioria dos inquilinos, e já falam até<br />

em despejo de moradores, principalmente daqueles que estão há mais de três meses, em atraso com<br />

todas as suas obrigações, isso inclui água, força e a vigilância!<br />

Outra que não deixava de dar o seu pitaco, era a dona de casa Tamares, que ao lado de seu esposo<br />

Juliano, falou bem alto para todos ouvirem:<br />

– Ora essa, o mês passado três casas foram assaltadas aqui, que vigilância é essa afinal de contas, ao<br />

qual temos de pagar todo mês?<br />

117


118<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Calma mulher, deixa ele terminar de falar, depois todos teremos oportunidades para contestar, e dizer<br />

o que se pensa de cada assunto!<br />

– Acho bom você calar a sua boca, eu falo o que eu quiser e quando der na telha!<br />

Juliano era sempre tratado muito mal, e a esposa não fazia questão alguma, de demonstrar este<br />

desafeto na frente dos vizinhos e conhecidos, mas como sempre ele se calava, e aceitava em silêncio esta<br />

sua rispidez, e mesmo com algumas interrupções, o sindico voltou a falar:<br />

– Com eu estava falando, os donos dos prédios não vão tolerar mais atrasos, e assim sendo, todos aqui<br />

têm o prazo de quinze dias, para pelo menos negociarem e acertarem parte das dívidas, eu fico muito<br />

sentido por ter chegado a este ponto, mas não há outra solução aparente, e aqueles que realmente não<br />

tiverem condições deste acerto, terão de sair e procurar outro imóvel para morarem.<br />

Silvia era uma das moradoras locais, e sentada ao lado do filho Leonardo, se levantou rapidamente, e<br />

contestou o síndico:<br />

– Isto é mesmo um absurdo, a maioria aqui não tem para onde ir, e não pode ser resolvido assim as<br />

pressas!<br />

– Concordo mãe, é muito pouco tempo para uma questão destas, precisamos de mais tempo!<br />

O síndico entendendo perfeitamente, a imposição da maioria dos presentes, tratou de não se exaltar, e<br />

com uma calma expressiva, pegou o microfone e tornou a falar:<br />

– Sinto muito mesmo, mas é uma decisão tomada por eles, e segundo a empresa é irreversível, e assim<br />

eu declaro encerrada esta reunião, onde todos devem retornar as suas casas, para que com muita calma,<br />

tentem encontrar uma solução adequada!<br />

Silvia era separada do marido, que morava e trabalhava em Curitiba, mas segundo ele havia relatado<br />

por carta, este passava por uma situação financeira complicada, e por isso o dinheiro que era enviado todo<br />

mês, para as despesas básicas de moradia, e para o tratamento e remédios do filho Leonardo, haviam<br />

sido cortadas bruscamente, e até este momento, não havia previsão do retorno destes recursos.<br />

Mãe e filho, já estavam em São Paulo há quase um ano, eles vieram para um tratamento de Leonardo,<br />

pois acreditavam haver mais recursos nos hospitais daqui, o moço havia sido diagnosticado com<br />

um câncer no estômago, mas por ter sido descoberto rapidamente, e pelo tumor estar em sua fase inicial,<br />

as chances de cura seria em torno de sessenta por cento, por isso, eles apostavam que era realmente<br />

possível, e que tinham de achar uma solução rápida, para este problema com as contas atrasadas.<br />

Uma outra inquilina, que não se fez presente, era a moça Vanessa que havia se ausentado, por também<br />

estar passando por problemas de saúde, e esta por sua vez, morava sozinha em um dos apartamentos,<br />

mas ao contrário de os outros moradores, não passava por dificuldades financeiras, pois<br />

sua família bancava à risca todas as suas despesas, mas a sua estadia na capital paulista, era contrária a<br />

vontade de todos os seus entes queridos, era uma espécie de refúgio e teimosia, porque sua doença já<br />

era dada como terminal e sem cura, mas através de medicações caras e importadas, e bem longe de<br />

todas aquelas conversas em tons de despedida, a proporcionava algum tipo de paz e forças, na tentativa<br />

do prolongamento de sua vida.<br />

Com muita certeza, a convivência entre os moradores deste pequeno condomínio, renderá muitos<br />

encontros e desencontros, nos proporcionando verdadeiras experiências da vida real, onde cada um irá<br />

demonstrar o seu caráter, e também a sua personalidade, traçando assim os seus próprios caminhos.<br />

Nos próximos capítulos, teremos com certeza amplas oportunidades, de melhor conhecer estes novos<br />

personagens, onde alguns nos levaram a situações inimagináveis, enquanto outros nos trarão para as<br />

realidades do cotidiano.


<strong>Caminhos</strong><br />

Mas agora voltaremos a Angra dos Reis, onde fatos cruciais e de grande importância, agitaram todos os<br />

seus hóspedes, sendo que mais uma vez um desconhecido vilão, agiu através de várias células<br />

contratadas, para executar seus planos maléficos, em busca das relíquias tão cobiçadas.<br />

No dia Anterior na casa de praia, Nathan havia feito a descoberta do trocadilho, onde o nome do Grupo<br />

Etros invertido no crachá, representava fielmente a palavra sorte, mas ele não teve muito tempo para<br />

refletir sobre isto, pois mesmo tendo tomado apenas um gole do vinho, ao qual foi servido com sonífero<br />

por Alba, e este por ser demasiadamente muito forte, o acabou fazendo retornar a cama para se deitar, e<br />

acabou ficando inconsciente a noite toda.<br />

Por volta das dez horas da manhã, o empresário foi acordado por uma voz feminina, e conforme foi<br />

retomando a sua lucidez, notou que Alba estava sentada ao seu lado, e percebendo a ausência de<br />

Letícia no quarto, indagou a moça que carregava um semblante muito sério, sobre o que estava<br />

acontecendo.<br />

– O que houve, cadê a Letícia, e o que está fazendo aqui no quarto?<br />

– Calma uma pergunta de cada vez, respire fundo e se levante, quero que veja uma coisa, ao qual<br />

deverá responder a todas estas questões!<br />

– Minha cabeça está doendo, parece até que estou de ressaca, não me lembro de ter bebido assim<br />

ontem!<br />

– Não sei lhe falar nada sobre isso, porque eu me recolhi antes de todo mundo, estava muita cansada, e<br />

também um pouco alta, agora eu vou descer até a sala, e lhe aguardo lá em baixo.<br />

Ele notou que havia se deitado de roupa e tudo, e estranhava toda esta incomoda situação, onde<br />

esperava ter algum esclarecimento claro, sobre todas estas estranhas circunstâncias, e assim que<br />

se recompôs, Nathan desceu as escadas e foi para a sala de estar, onde Alba já o aguardava<br />

pacientemente, e apontando para uma pequena mesa no centro, lhe mostrou uma espécie de carta, com o<br />

seu nome escrito do lado de fora, e mesmo estando com um certo receio, a pegou e começou a ler.<br />

"Caro amigo e companheiro, gostaria de ter coragem suficiente, para lhe encarar e dizer tudo isso<br />

pessoalmente, mas me faltou forças para este feito, é com pesar que digo que estou indo embora com a<br />

Letícia, já faz algum tempo desde o seu acidente, que acabamos nos aproximando e nos apaixonando, e<br />

todo este tempo, tanto eu como ela, queríamos lhe contar e encerrar com estas mentiras, mas devido ao<br />

seu problema de memória, fomos adiando este delicado assunto, até que chegamos a um certo ponto, de<br />

não aguentarmos mais lhe enganar, sentimos muito por tudo isso, mas nós dois nos amamos loucamente,<br />

e agora estamos indo para o exterior, onde acreditamos que possamos ser felizes juntos, e espero que um<br />

dia possa nos perdoar, assinado: Caio".<br />

Ao ler estas duras palavras, Nathan parece ter perdido parte de suas forças, onde procurou se sentar<br />

para não cair, e ainda sem praticamente entender nada, olhou para Alba como se procurasse respostas,<br />

para o que parecia ser um total colapso, de tudo que tinha compartilhado até o momento, que era a<br />

suposta grande amizade do amigo, e do profundo amor sentido por sua amada noiva.<br />

Imediatamente correu até o ancoradouro de barcos, onde constatou que realmente o iate havia partido,<br />

em seguida se dirigiu até a casa do caseiro, onde procuraria se informar a respeito de tudo, e assim<br />

chegou batendo fortemente na porta da casa.<br />

– Senhor Nathan, aconteceu alguma coisa?<br />

– Saberia me informar a respeito dos outros hóspedes, a que horas eles partiram com a tripulação, e se<br />

comentaram algo para onde iriam?<br />

119


<strong>Caminhos</strong><br />

– Infelizmente vou ficar lhe devendo estas respostas, quando eu me levantei pela manhã, e olha que eu<br />

acordo muito cedo, o barco não estava mais lá ancorado, eu até que escutei um certo movimento de<br />

madrugada, mas achei que eram vocês que costumavam ir e vir, sempre bem tarde da noite.<br />

Alba percebendo que já era hora de interromper, tratou de convencer rapidamente o empresário.<br />

– Não vê que ele não sabe de nada, vamos voltar para a casa principal, e com mais calma trataremos<br />

deste delicado assunto!<br />

– Espere um pouco, tem certeza que não viu ou não ouviu mais nada, qualquer coisa que possa me<br />

ajudar, a esclarecer o que realmente aconteceu?<br />

– Sinto muito senhor, seu soubesse de qualquer coisa que fosse, pode ter certeza de que lhe contaria!<br />

Ela praticamente o agarrou pelo braço, e o levou até o ponto inicial do problema, a sala de estar, onde<br />

supostamente a carta havia sido encontrada, e notava-se que ele estava muito transtornado, enquanto a<br />

moça fazia friamente a dissimulação, de que realmente estava chocada e decepcionada, isto por também<br />

ter sido trocada pelo amante.<br />

Em São Paulo, Duarte havia dado a entrada na UTI do hospital, seus ferimentos eram muito graves, sem<br />

falar que havia perdido muito sangue, sendo que ele já se encontrava inconsciente, no momento em que<br />

fora socorrido, e a equipe médica fazia todos os procedimentos necessários, na tentativa de salvar a sua<br />

vida.<br />

Por volta das onze horas, longe de tudo o que havia ocorrido, Marina se encontrava lendo um livro no<br />

quarto, quando percebeu que os donos da casa onde se hospedava, atendia alguém na porta da<br />

residência, e ouviu com todas as letras, quando mencionaram o seu nome e que a procuravam,<br />

descobrindo logo em seguida, que se tratava de dois policiais militares da cidade, que traziam a notícia do<br />

fato acontecido, intimamente ela já parecia ter sentido uma tristeza profunda, e imediatamente pegou o<br />

aparelho celular, fazendo uma tentativa em vão, em falar com o seu velho pai, e no momento restou-lhe<br />

apenas tirar os óculos, e chorar amargamente.<br />

120


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 27 •<br />

Ao perceber a dura realidade dos fatos, Marina acabou se sentindo muito mal, e foi amparada pelas<br />

pessoas da casa e pelos policiais, sendo que após tomar um copo de água com açúcar, recuperando em<br />

parte suas forças físicas, escutou todas as informações que lhe foram passadas, e mais do que depressa,<br />

após o término da dolorosa conversa, arrumou todas as suas coisas, e voltou para a capital paulista, ela<br />

pretendia ir ao hospital em que o pai estava internado.<br />

Na casa de praia, Nathan ainda procurava tentar entender, o que havia se passado entre o amigo e a<br />

noiva, em sua cabeça passava flashes das cenas românticas, e das diversas palavras de amor e carinho,<br />

que ambos trocaram muitas vezes entre si, durante este curto espaço de tempo.<br />

Alba fingia descaradamente tentar acalma-lo, mas na verdade ficava todo o tempo o espetando, com<br />

palavras amargas de traição e de abandono, certamente cumprindo todo o seu papel como planejado, e se<br />

fazendo também de vítima destas circunstâncias, e o empresário revoltado desabafou:<br />

– Isso não vai ficar assim, esta história está muito mal contada, não podem ter fingido este tempo todo,<br />

não da forma que as coisas foram acontecendo!<br />

– Não fique nervoso assim deste jeito, eles não merecem suas lágrimas e sofrimento, está tudo aí bem<br />

explicado na carta, certamente eles se amam e nos enganaram, só não tiveram coragem para nos<br />

enfrentar!<br />

– Tem alguma coisa errada, isso não pode ser simples assim, tem algo por detrás de tudo isso, você não<br />

desconfiou de nada?<br />

– São coisas de sua cabeça, na verdade o que você não quer acreditar, é que foi traído pelas duas<br />

pessoas ao qual mais confiava!<br />

Ele olhou friamente para ela, não concordando com as palavras por ela impostas, se retirando da sala<br />

em direção aos quartos, onde acabou vasculhando um a um, na expectativa de encontrar algo que lhe<br />

trouxesse, alguma pista que o levasse ao paradeiro de ambos.<br />

Por sua vez, Alba acompanhou tudo bem de perto, mas percebendo toda ira de Nathan, procurou ficar<br />

quieta sem dizer nada, apenas observando atentamente a sua movimentação, dentro da enorme e luxuosa<br />

casa de praia, e depois de revirar praticamente todas as coisas, acabou desistindo e se entregando a<br />

desolação.<br />

Após um longo e duradouro silêncio, ele pediu para que ela o deixasse sozinho, pensou mais um pouco,<br />

e foi até o ancoradouro da propriedade, onde fez uma ligação para o advogado Arthur, que neste nebuloso<br />

momento, era a única pessoa ao seu alcance, ao qual depositava total confiança.<br />

– Arthur onde você está, preciso muito de sua ajuda!<br />

– Neste momento saindo de um tribunal, aconteceu mais alguma coisa?<br />

– Aconteceu sim, mas eu prefiro falar deste assunto pessoalmente, e independente de qualquer coisa<br />

que diga, eu preciso de transporte para voltar a São Paulo, o mais rápido possível!<br />

– Se é deste jeito sem contestação, posso fretar um helicóptero para busca-lo, porém antes<br />

é necessário verificar, se há algum local apropriado nas redondezas, para o pouso e decolagem da<br />

aeronave.<br />

– Não vejo problemas para isso, aqui na propriedade tem um local próprio para isso!<br />

– Tem mais um problema a se resolver.<br />

121


<strong>Caminhos</strong><br />

– E o que seria?<br />

– As coisas ainda estão agitadas por aqui, ainda ontem a noite atiram no senhor Duarte, é o pai daquela<br />

colecionadora, que você contratou para catalogar as suas obras, e pelo que parece, a polícia já os<br />

estavam investigando antes deste fato.<br />

– Está parecendo outra provável queima de arquivo, não acha?<br />

– Pode ser que sim, é o que todos parecem acreditar por aqui, inclusive passou a ser uma linha de<br />

investigação do caso, e ao vir para cá terá de assumir publicamente, que está vivo, e terá de prestar<br />

contas as todas as pessoas, principalmente pelos corpos das vítimas do atentado, ao qual vocês utilizaram<br />

com sendo vossos!<br />

– Eu já esperava por uma complicação deste tipo, e preciso de algum tempo para resolver estas<br />

questões, mas agora envie alguém para me tirar daqui!<br />

– Neste caso eu também vou junto, e levarei também um segurança da empresa, para nos precaver de<br />

que nada aconteça.<br />

– Muito bem pensado, vou ficar aguardando a todos, muito obrigado por sua presteza!<br />

O advogado tomou rapidamente todas as providências, e voaram até a propriedade em Angra dos Reis,<br />

onde Nathan e Alba já os aguardavam para o retorno, sendo que um silêncio absoluto, prevaleceu durante<br />

toda a viagem, que durou de cerca de uma hora e meia.<br />

Parecia que o destino conspirava nas circunstancias, pois Marina também havia retornado a capital, e<br />

chegando no hospital indicado, procurou saber todas as informações possíveis, sobre as condições em<br />

que Duarte se encontrava, e soube pelo médico de plantão que o atendia, que o estado dele era muito<br />

grave.<br />

Mesmo inconformada, e sem ter muito o que fazer por ali, resolveu ir até a delegacia que cuidava do<br />

caso, para buscar esclarecimentos do que havia acontecido, mas foi surpreendida ao ser informada pelo<br />

delegado, que ela também era suspeita e alvo das investigações, sendo aconselhada a contratar um<br />

advogado especializado, para acompanha-la quando fosse chamada a prestar o depoimento.<br />

Nem é preciso dizer o quanto este fato a irritou, além de ter tido sua vida revirada de cabeça para baixo,<br />

e de seu pai estar lutando entre a vida e morte, ainda por cima, acabava de ser acusada formalmente pela<br />

autoridade, de ser uma suspeita direta no envolvimento, dos recentes crimes ocorridos na grande<br />

metrópole.<br />

O dia já se encaminhava para o seu final, e os céus de São Paulo já suspiravam pela noite, quando<br />

Nathan e Alba chegaram na mansão, acompanhados pelo advogado e um segurança, sendo que Elvira,<br />

Iris, e Gabriel, quase que não acreditaram nos que seus olhos viam, que ele estava ali bem vivo, são e<br />

salvo, e ele prometeu mais tarde, explicar a eles todos os detalhes.<br />

Enquanto o empresário e sua recente convidada, subiram aos quartos para guardarem seus pertences,<br />

Iris absorvendo este susto repentino, pediu para Arthur se sentar ao seu lado, onde aproveitou a ausência<br />

do marido, para fazer perguntas importantes com relação ao caso, que envolvia Raul ao assassinato do<br />

jovem Nicolas, ela precisava saber quais eram as chances reais, que ele tinha de ser absolvido e não ser<br />

preso.<br />

Arthur era um profissional admirável, num momento em que tantas coisas aconteciam simultaneamente,<br />

sabia perfeitamente, separar os assuntos de cada caso com muita presteza, e tudo isto tratado com muita<br />

tranquilidade, passando a seus clientes total confiança em seu trabalho, e com uma certa discrição, iniciou<br />

um pequeno diálogo com Iris.<br />

122


<strong>Caminhos</strong><br />

– Eu vou procurar ser bem franco e objetivo, o caso de seu marido é muito complexo e difícil!<br />

– Agradeço que seja direto comigo, e tenho plena consciência, que ele se complicou muito ao fugir e se<br />

esconder da polícia.<br />

– Isso somado a outros fatores importantes, como por exemplo, a ordem direta feita por ele aos<br />

capangas, para procurarem pelo jovem rapaz, e darem a prensa sugerida por ele.<br />

– Eu entendo perfeitamente, e lamento muito por ele ter chegado a este ponto, mas não foi por falta de<br />

conselhos!<br />

– Mas ainda não é uma situação irreversível, é muito provável que não fique preso até o seu julgamento,<br />

isto por ele não ter passagens anteriores na justiça, e assim ser considerado com um réu primário.<br />

– E o como o senhor pretende defende-lo, mesmo sabendo de todas estas circunstâncias?<br />

– Estou trabalhando com uma hipótese, de que algum dos indicados citados por ele, resolva contar toda<br />

a verdade, e assim esclarecer sua inocência no caso do assassinato, porém mesmo que isso aconteça,<br />

ainda temos a questão da ordem efetuada por ele.<br />

– Digamos que alguém conte a verdade, mesmo assim ele ainda será processado?<br />

– Vai depender muito da confissão do verdadeiro mandante, que teria de admitir que distorceu as ordens<br />

dadas, isentando totalmente o Raul.<br />

– Isso vai ser muito difícil de acontecer, ali todos tem muito a perder com esta história, eu duvido que<br />

abram a boca e contem a verdade.<br />

– Vamos aguardar as próximas semanas, todos serão chamados para esclarecimentos, e os<br />

depoimentos serão imprescindíveis para a investigação.<br />

– Obrigado por tudo mesmo doutor, nem sabe o quanto a sua ajuda é importante para nós!<br />

– Nada faço nada além de meu trabalho, e de minhas obrigações como contratado, mas procure ficar<br />

calma e confiante!<br />

Com um curto aperto de mãos, ela se despediu rapidamente e saiu da sala, enquanto o advogado que<br />

havia sido dispensado por hoje, retornou de carro para a sua residência, onde procuraria descansar de<br />

mais um dia longo e complicado.<br />

Na favela, Otto que era esperto e muito liso, havia percebido a presença de investigadores nas<br />

redondezas, por este motivo, se absteve indiretamente dos negócios do narcotráfico, procurando agir<br />

sorrateiramente e com muita cautela, passando a comandar tudo bem de longe, deixando que os seus<br />

dois fieis comparsas, agissem em seu nome para negociar e vender as drogas.<br />

Como de praxe, toda vez que havia policiais na região, todos ficavam precavidos com seus atos<br />

cotidianos, pelo menos até que percebessem a poeira baixar, e tivessem a certeza que não houvessem<br />

mais nenhum, em todo aquele vasto setor criminoso, onde o medo predominava nos semblantes dos<br />

moradores.<br />

Bem longe dali, Alba descia as escadas em busca da cozinha, onde encontrou Elvira, que apesar de<br />

estar atarefada na preparação do jantar, estava animada e cantarolando, e a hospede procurou conhecela.<br />

– Olá tudo bem?<br />

123


<strong>Caminhos</strong><br />

– Agora com o retorno do patrão ficou ótimo, eu ainda estou demorando em acreditar, que ele está bem<br />

vivo e aqui conosco novamente, mas em que lhe posso ser útil?<br />

– Na verdade é sobre ele que eu vim falar, é que o Nathan não comeu o dia todo, e quem sabe se fizer<br />

algo que ele goste muito, ele talvez não se recuse a de alimentar.<br />

– Eu já estou preparando o seu prato predileto, mas se achar que devo fazer uma outra coisa, é só me<br />

dizer que faço, mas agora prestando mais atenção, estou vendo que senhora não me é estranha, já esteve<br />

aqui antes?<br />

Alba percebendo que poderia ser reconhecida, tratou logo de desconversar.<br />

– Primeiro não me chame de senhora, não precisa desta formalidade comigo, e você deve estar me<br />

confundindo com uma outra pessoa, porque eu ainda não tinha tido esta oportunidade, e estou achando<br />

tudo maravilhoso, a casa é mesmo como todos falam, realmente um espetáculo!<br />

– Me desculpe se estou sendo enxerida, e isso não é do meu feitio, certamente eu devo ter me<br />

confundido, também com tanta coisa acontecendo, a gente fica meio que atordoada com tudo.<br />

– Não tem importância, vou deixar você em paz para terminar o jantar, mande nos avisar quando estiver<br />

tudo pronto, e eu me encarrego de trazê-lo para baixo.<br />

Ela procurou sair rapidamente dali, e a cozinheira não havia se enganado, anteriormente embora<br />

parcialmente disfarçada, Alba havia tido uma passagem pela casa, em um outro estágio de sua secreta<br />

missão, onde mais a frente conheceremos detalhadamente.<br />

Um pouco mais tarde, Gabriel feliz e ao mesmo tempo muito curioso, pensou em bateu na porta do<br />

quarto do amigo, pois como muitos por ali procurava respostas, sem falar que estava morrendo de<br />

saudades, ainda mais que depois que veio morar junto a ele, ainda não havia tido a oportunidade de<br />

agradecer, por todo o amparo e ajuda a sua família, mas acabou desistindo na última hora, achando<br />

melhor esperar pelo momento certo.<br />

Por volta das vinte e uma horas, Elvira avisou que o jantar estava servido, e aproveitando desta ampla<br />

oportunidade, já que depois que chegaram de Angra não haviam conversado, Alba convidou Nathan para<br />

descer e se alimentar, enaltecendo o cheiro delicioso da comida preparada.<br />

O empresário desceu logo após o chamado, e apesar de ter se esforçado muito, na tentativa de se<br />

alimentar um pouco, sentiu que não havia mais condições de permanecer ali, abaixou desoladamente a<br />

cabeça, e se levantou em silêncio indo em direção das escadas, e sem perca de tempo, Alba se<br />

aproximou, e o amparou carinhosamente pelo braço, o acompanhando até a porta de seu quarto.<br />

124


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 28 •<br />

Nathan já carregava dentro de si, todo o peso de um passado sem nenhuma memória, somados ao<br />

recente atentado sofrido, e agora sentia na pele as dores de uma dupla traição, mesmo para uma pessoa<br />

que supostamente, teria vivenciado tantas situações adversas, em muitas épocas distintas, onde<br />

provavelmente tenha passado por terríveis experiências, as suas forças pareciam ter se exaurido, o<br />

deixando com sintomas semelhantes a uma depressão.<br />

Mesmo determinada a seguir com seu plano, até mesmo Alba, reconheceu a adversidade por ele<br />

sofrida, e pelo menos por esta noite, resolveu poupa-lo de seus comentários venenosos, e as intrigas<br />

dispensadas a todo momento, sempre procurando confundi-lo, na tentativa de se mostrar uma<br />

pessoa confiável, mas assim que o deixou sozinho no quarto, se aproveitando que a porta havia ficado<br />

entreaberta, Gabriel o procurou para conversar.<br />

– Oi amigo, me desculpe entrar assim sem a sua permissão, mas eu ouvi a minha mãe comentando com<br />

a cozinheira, que você saiu da mesa sem comer nada, você está doente?<br />

– Venha aqui meu pequeno amigo, e me dê um abraço assim bem forte, porque eu estou precisando<br />

muito!<br />

– Falaram para nós que você havia morrido, e agora voltou bem vivo, você parece não estar feliz, o que<br />

você tem?<br />

– Acabou de me perguntar se estou doente, e eu lhe digo com todas as letras, que estou doente da<br />

alma!<br />

– Não sabia que a gente ficava doente disto também, e qual é o remédio que precisa tomar para<br />

melhorar?<br />

– Desta vez não vou ter resposta para esta pergunta, na verdade, não estou com cabeça nem mesmo<br />

para conversar, se não se importar eu prefiro ficar sozinho.<br />

– Eu já vou sair, mas não fica assim não, você sempre me dizia para não abaixar a cabeça, se levantar e<br />

seguir em frente, você vai ver, as coisas vão melhorar!<br />

Ele fez um leve movimento com a cabeça, em sinal de agradecimento ao menino, que saiu e deu de<br />

cara com Alba, que estava ali bem próxima a porta, passando uma ligeira impressão, de que ouviu toda a<br />

conversa as escondidas, mas procurou disfarçar sua desconfiança, e foi se deitar junto a mãe.<br />

Em uma outra localidade, sozinha em seu quarto na clínica de reabilitação, Elisa olhava através da<br />

vidraça da janela, as pequenas partículas de água que escorriam, da chuva que começava a cair em São<br />

Paulo, e apesar de se sentir ali tão solitária, se reconfortava com um grande sentimento, que havia<br />

realçado o seu coração nos últimos dias, ela procurava reviver em suas lembranças, aquele encontro<br />

rápido com Arthur, foi um curto e doce momento, e se firmava nele para ter mais determinação, para<br />

atingir a reabilitação e a sua cura.<br />

Simultaneamente em outro ponto da grande cidade, o advogado acabava de se recolher em seu quarto,<br />

e assim que deitou a cabeça em seu travesseiro, na tentativa de deixar para trás, todos os inúmeros<br />

problemas do dia, também elevou o seu pensamento até Elisa, a moça realmente havia mexido muito com<br />

ele, porém pesava em suas emoções afetivas, o fato de ele ser bem mais velho do que ela, e após um<br />

certo tempo, por estar muito cansado, acabou por adormecer.<br />

Marina havia se hospedado em um apart-hotel, não diferente a milhares de outras pessoas, que<br />

passavam neste exato instante, por situações bem parecidas com as dela, procurava se recompor e<br />

ganhar forças, para voltar ao hospital e encarar mais uma vez, a dolorosa situação ao qual o pai se<br />

125


<strong>Caminhos</strong><br />

encontrava, mas antes passou em uma lanchonete, onde procurou comer algo rapidamente, pois estava<br />

sem se alimentar, desde que havia pego o ônibus de volta.<br />

Por volta das vinte e três horas, a colecionadora adentrou apreensiva no hospital, onde procurou se<br />

informar com uma atendente na recepção, sobre o último boletim médico expedido, com a situação atual<br />

de saúde de Duarte, onde constatou que o quadro clínico do pai, não havia se alterado desde a parte da<br />

tarde, e que ainda permanecia em estado muito grave, e sem ter muito o que fazer no momento,<br />

permaneceu ali sentada pela madrugada adentro.<br />

No dia seguinte na sede do Grupo, Murilo fazia a conferencia de alguns documentos, ao qual havia<br />

preparado para a reunião da tarde, e por se tratar de ser uma sexta-feira, seu amigo Diego para não<br />

perder o costume, ligou para marcar de tomarem uma cerveja após o expediente.<br />

– Fala amigão, de pé o rappy hour de hoje?<br />

– Cara estava pensando nisso agora a pouco, estou exausto depois da maratona destes dias, onde tive<br />

que me adequar a tantas mudanças, preciso mesmo sair um pouco para desanuviar tudo isso!<br />

– Vai me dizer que está arregando, não é de seu feitio fazer isso! (Risos)<br />

– Se você sabe que não sou assim, não devia brincar com este assunto sério, tem muita coisa errada<br />

aparecendo por aqui, estou até pensando em contratar uma auditoria, mas não quero falar disso agora,<br />

então fica combinado, mesma hora no mesmo lugar, ok?<br />

– Ok, até a noite!<br />

O ex-diretor e atual presidente, começava a encontrar vários indícios, de que o falecido diretor Vasques,<br />

havia feito desvios de comissões e alugueis de imóveis, de uma das principais empresas imobiliárias do<br />

grupo, ele havia feito depósitos em uma conta secreta no exterior, mas antes de relatar este fato aos<br />

principais acionistas, teria de obter provas conclusivas e satisfatórias, preservando assim sua reputação<br />

e idoneidade.<br />

Após a reunião que atrasou por cerca de uma hora, Murilo voltou a sua sala na presidência, e arquivou<br />

alguns documentos que foram utilizados, foi quando constatou que já escurecia lá fora, assim caminhou<br />

até a janela, e ficou observando as luzes da cidade, se lembrando de Bianca ali mesmo ao seu lado, nos<br />

tempos em que trabalhavam juntos, onde muitas vezes deixava escapar, pequenas e gentis declarações<br />

de amor, e a saudade bateu forte em seu peito.<br />

Após se recuperar de sua melancolia passageira, Murilo terminou de arrumar a sua mesa, e se<br />

certificando de que todos já haviam ido embora, pegou o seu carro no estacionamento, e dirigiu até o bar<br />

que frequentava, onde seu amigo já o estava aguardando, para as costumeiras bebedeiras de fim de<br />

semana, e Diego logo de cara o interpelou:<br />

– Minha nossa, como você demorou hoje, achei que havia desistido, aconteceu algo?<br />

– Nada demais, me atrasei porque estava arrumando uma papelada, o que está esperando, pede aquela<br />

no capricho, cervejaaaaaaa!<br />

Apesar de serem bastante responsáveis no trabalho, eles não deixavam de curtir e aproveitar a vida,<br />

ainda mais depois que descobriram este novo bar, onde as bebidas eram servidas por garotas, de saias<br />

curtas e mini blusas super decotadas, onde praticamente ficavam seminuas, fazendo a alegria de toda a<br />

rapaziada, que era a maioria presente ao estabelecimento, e quando eles já estavam na terceira rodada, o<br />

celular de Murilo tocou repetidamente, e vendo na tela que era o advogado, atendeu rapidamente.<br />

– Oi Arthur tudo bem, aconteceu alguma coisa?<br />

126


<strong>Caminhos</strong><br />

– Me desculpe eu ligar a esta hora, mas tenho um assunto urgente para tratar com você.<br />

– É alguma coisa relacionada a empresa, porque para falar a verdade, no momento eu me encontro num<br />

bar, e não estou em condições de resolver nada, nem para tratar de algum assunto importante.<br />

– Eu entendo perfeitamente, mas peço que confie em mim, e no caso de ter bebido não tem problema,<br />

se quiser vá para casa se recompor, e depois venha até a minha residência, preciso de você para um<br />

favor, e para me ajudar numa decisão.<br />

– Se é assim, vou me despedir do meu amigo aqui, e fazer o que me pediu, preciso pelo menos de umas<br />

duas horas, para ficar em condições e chegar até aí.<br />

– Fique tranquilo, leve o tempo que precisar, até breve então!<br />

Diego que estava ao lado ouvindo tudo, e vendo todo o semblante de preocupação, ao qual o amigo<br />

transparecia naquele instante, rapidamente acertou a conta e o tirou dali, e somente do lado de fora do<br />

bar, o questionou sobre a ligação:<br />

– Cara, não me fala que aconteceu outra tragédia no seu trabalho, pela cara que você fez lá dentro,<br />

parece ter se surpreendido com este telefonema, o que foi?<br />

– Realmente me pegou de surpresa, para o principal advogado do grupo me ligar, a esta hora e no fim<br />

de semana, cara só pode ser pepino e dos grandes, sendo assim eu vou nessa, vamos ver no que vai dar,<br />

sinto muito por estragar a sua noite.<br />

– Tudo bem, faz o que é preciso, só não vou compartilhar de sua ida, e não se preocupe comigo, vou<br />

ficar com a companhia daquela gatinha ali. (Risos)<br />

– Vou te dar um desconto, porque sei que já está meio alto, e com certeza já bebeu mais do que eu,<br />

amanhã nos falamos direito, boa noite!<br />

Ele se despediu do amigo com um abraço, no fundo Diego havia percebido a gravidade da situação, mas<br />

procurou levar tudo com o bom senso de humor, que sempre foi a sua principal característica, e quando<br />

retornou para dentro, percebendo que não havia mais clima sem o amigo, pediu a conta e também foi<br />

embora.<br />

Após ir até o seu apartamento, tomar um banho e trocar de roupas, Murilo ligou para Arthur e pegou o<br />

seu endereço, porque havia se esquecido de sua agenda no trabalho, onde mantinha todas as anotações<br />

e dados, referentes aos membros do corpo executivo, e se surpreendeu ainda mais, quando o advogado o<br />

comunicou, que o encontro havia mudado de local, e que seria na mansão de Nathan.<br />

Procurando ser bem discreto, não fez pergunta alguma sobre este encontro, além do que, ainda se<br />

sentia sob o efeito da bebedeira, e não queria se arriscar a falar alguma besteira, e assim que desligou<br />

seu celular, chamou por um táxi, e se dirigiu até o local indicado.<br />

Em outro estado bem longe dali, encontramos Bianca e Talita em seu apartamento, ambas haviam<br />

vendido seus imóveis em São Paulo, e comprado um novinho no Rio de Janeiro, onde pretendiam dar<br />

sequência ao seu relacionamento amoroso, e ter uma qualidade de vida muito melhor, já que a cidade<br />

maravilhosa, contava com muitas praias e diversos lazeres, de fazer inveja a qualquer outra cidade, e<br />

neste momento Talita conversava com a companheira.<br />

– Nem acredito que arrumamos toda aquela bagunça, estou exausta, mas valeu a pena, e você amor,<br />

preocupada com o novo emprego, quando começa mesmo?<br />

– Na segunda eu já faço a integração, provavelmente vão fazer uma triagem comigo, e depois farão a<br />

liberação do cargo, mas estou bem tranquila, por ser tratar de uma filial do grupo, as exigências são<br />

127


<strong>Caminhos</strong><br />

de menores proporções, ainda mais por eu estar acostumada sempre, a grandes volumes de negócios,<br />

acredito que vou tirar tudo de letra, e falando de trabalho, você já verificou as galerias que estão<br />

disponíveis, para poder apresentar o novo trabalho de seu cliente?<br />

– Com essa correria ainda não tive tempo, mas vou aproveitar que vai trabalhar, e vou passar pelas mais<br />

conhecidas, assim eu verifico tudo pessoalmente, as estruturas e disponibilidades de cada uma.<br />

– Faz isso mesmo, sabe de uma coisa, eu até achei que seria mais difícil, e que sentiria um baque por<br />

tantas mudanças, mas estou ficando entusiasmada com tudo, é como se fosse um mundo novo, repleto de<br />

oportunidades neste nosso recomeço.<br />

– Espero que seja realmente assim deste jeito, devemos passar uma borracha em nosso passado, e<br />

viver plenamente nossas vidas, assim bem juntinhas!<br />

– De minha parte vou fazer de tudo, para que seja sempre perfeito!<br />

As duas garotas trocaram um selinho e se abraçaram, firmando o que parecia ser uma história resolvida,<br />

mas na verdade não era bem assim, pois as circunstancias mudam de um dia para o outro, e brevemente<br />

um fato que já havia se iniciado, traria muitas mudanças em seus destinos.<br />

128


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 29 •<br />

Arthur já esperava por Murilo na porta de entrada, e aguardou enquanto ele pagava o taxista, o motivo<br />

desta espera pessoal tinha um motivo, de prepará-lo para o que viria a seguir, mas a grande questão<br />

seria, se esta surpresa que vinha pela frente, seria considerada favorável ou desfavorável, já que ocupava<br />

o cargo de presidente da empresa, justamente pela falta do verdadeiro dono da cadeira, e o advogado<br />

tratou o assunto com todo cuidado.<br />

– Seja bem-vindo, mas antes tenho de lhe contar um fato novo, que vai voltar a agitar muita gente,<br />

principalmente aos membros mais importantes do grupo.<br />

– Não sei se agora estou em condições, de assimilar algum tipo de problema, se eu soubesse deste<br />

encontro, não teria saído e nem bebido nada, mas pelo que vejo em sua feição, a coisa não parece ser tão<br />

ruim assim, está aparentemente muito tranquilo, o que é afinal?<br />

– É que este encontro não é de trabalho, é apenas uma reunião pessoal entre amigos, e quanto a<br />

bebida, até eu já tomei uma boa dose de whisky, vamos até a sala da biblioteca, eu vou servir uma para<br />

você também, pois acredito que vai precisar!<br />

Cada vez mais Murilo ficava curioso, e sem entender nada acompanhou o advogado, que mais cedo<br />

recebeu uma ligação de Iris, pedindo incessantemente pela sua ajuda, com relação a aparente depressão<br />

do empresário, e por este motivo Arthur resolveu convidar Murilo, que além de ser de plena confiança,<br />

ainda havia passado recentemente, por uma dolorida circunstância amorosa, coisa que todos comentavam<br />

na empresa.<br />

Ao entrar na porta da sala, Murilo deu de cara com Nathan, que já se encontrava aguardando a sua<br />

chegada, e pelo jeito a intenção começou a dar resultados, ao ver a cara de espanto feita por ele, o<br />

empresário esboçou um leve sorriso, e foi rapidamente ao seu encontro, pois gostava muito do rapaz,<br />

além de considerá-lo um funcionário capaz, e um homem totalmente de bem, enquanto meio que<br />

boquiaberto, o rapaz soltou algumas palavras:<br />

– Por esta eu não esperava mesmo, você está vivo!<br />

– Vivo sim, mas totalmente destruído por dentro.<br />

– Mas isso é fabuloso, eu vim até aqui pensando só coisas ruins, e agora encontro você assim, inteiro e<br />

sem nenhum arranhão, mas conta para mim, o que realmente aconteceu de verdade, e o que quis dizer<br />

com destruído por dentro?<br />

– Primeiro se acalme um pouco, pegue uma bebida de sua preferência, e se acomode em uma poltrona,<br />

que vamos explicar tudo a seu tempo.<br />

– Claro, perdoe a minha empolgação, eu avisei que eu falaria demais!<br />

– Não se preocupe com estas coisas, estamos entre amigos aqui, agora até eu fiquei um pouco<br />

animado, acho que também vou tomar um drinque!<br />

A ideia de Iris e Arthur, havia substancialmente dado resultados, ele sabia que Murilo era uma pessoa<br />

empolgante, e capaz de tira-lo daquela tristeza profunda, ao qual já se encontrava, desde o sumiço da<br />

noiva e do amigo, na casa de praia de Angra dos Reis, além disso, ficou sabendo através de conversas no<br />

trabalho, que o rapaz também havia sido trocado, e que também sofria sentimentalmente, mas nem por<br />

isso parou a sua vida, e seguiu bem firme em seus objetivos.<br />

Elvira estava observando de longe, e se aproveitou que o patrão havia se descontraído, e serviu petiscos<br />

e uma salada para eles, e ficou feliz ao ver que Nathan voltou a comer, distraído pela conversa de Murilo,<br />

129


que contava a ele da reação de que todos terão, ao vê-lo retornando a empresa, foi exatamente neste<br />

ponto, que Arthur interferiu e deu a sua opinião.<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– O Nathan ainda não tem condições de voltar ao trabalho, por enquanto vamos deixar tudo como está,<br />

e depois ele decide como resolver estas coisas.<br />

– Mas seria ótimo que os acionistas, e principalmente os parceiros de negócios, como é o caso da fusão<br />

em Dubai, saberem que o dono do grupo não morreu e está vivo!<br />

– Sabemos de tudo isso, porém além de você, e as pessoas aqui na mansão, ainda não sabemos em<br />

quem podemos confiar, por este motivo ainda manteremos sigilo, na empresa e principalmente na<br />

imprensa.<br />

– E quanto a polícia, se passar por uma pessoa morta não é crime?<br />

– Digamos que esta parte já está sendo resolvida, desde que fui informado sobre a confusão das mortes,<br />

eu tratei de colocar a polícia federal a par de tudo, e desde então, estão trabalhando sigilosamente no<br />

caso, mas sabemos que isso não durará para sempre, e que mais cedo ou mais tarde, todos deverão<br />

saber da verdade, e quanto a fusão, o Sheik também sabe de sua sobrevivência.<br />

Murilo tentando assimilar tudo aquilo, se virou para Nathan, e medindo as palavras o indagou:<br />

– Neste caso onde eu posso lhe ser útil, já que por enquanto, não poderei lhe devolver o cargo, o que<br />

querem que eu faça?<br />

– Já está nos ajudando muito, fiquei sabendo a pouco pelo Arthur, que faz um excelente trabalho na<br />

empresa, e que também está investigando todos os fatos, descobrindo vestígios de corrupção no grupo,<br />

por isso queremos que permaneça a frente de tudo, e que continue a nos representar como tem feito,<br />

confiamos em você!<br />

O atual presidente se sentiu aliviado, depois de receber todos estes elogios, se animou a pegar mais<br />

uma bebida, onde foi também acompanhado por eles dois, ao ser sugerido um brinde a vida e aos<br />

negócios, e neste momento foram interrompidos por Alba, que estava deslumbrante como sempre, e<br />

chegou se intrometendo no assunto.<br />

– Não me convidam para o brinde?<br />

Murilo mostrando todo o seu cavalheirismo, se antecipou, e procurou ser gentil com a moça.<br />

– Claro, deixa que eu lhe sirva uma dose, do que gosta?<br />

– Pode ser whisky mesmo, mas quero com gelo!<br />

Arthur acreditando, que a permanência dela por ali, poderia atrapalhar o rumo deste encontro, resolveu<br />

interferir.<br />

– Vou fazer melhor, vou convida-la para tomar um drinque na piscina, fiquei sabendo que o jardim de lá<br />

é fabuloso, e assim deixamos os dois a sós, eles precisam conversar um pouco, vamos!<br />

Ele praticamente a tirou dali na marra, porque uma de suas principais intenções, era que Murilo contasse<br />

a Nathan, sobre toda a sua desilusão amorosa, para que o empresário compreendesse, que não era<br />

tão somente ele, que passava por uma situação complicada destas, e Alba apesar de ter concordado,<br />

ficou plenamente insatisfeita com o isolamento, pois era sua função ficar o tempo todo colada, e par de<br />

todos os passos do dono da casa.<br />

130


131<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Murilo que era muito inteligente, e sempre ligado nas situações, havia percebido a falta de Caio e de<br />

Letícia, e aguardava o momento oportuno, para tentar entender o que realmente se passava, por detrás<br />

deste encontro secreto e amigável, mas enquanto isso não acontecia, curtia o papo descontraído com o<br />

patrão, e apreciava a boa bebida.<br />

Já era bem tarde da noite, quando Nathan resolveu se abrir um pouco, contando sobre a fuga para a<br />

casa de praia, e também sobre o seu pedido de casamento, foi onde Murilo percebendo a tristeza<br />

profunda, em que o empresário demonstrou claramente, após esta sua menção, aproveitou para perguntar<br />

sobre as duas pessoas ausentes.<br />

– Que bom que você tocou no assunto, eu estava sem jeito de lhe perguntar, receoso de se passar por<br />

um intrometido, mas onde está o Caio e a Letícia?<br />

– Por incrível que possa parecer, eles planejaram as escondidas e fugiram juntos, e me deixaram<br />

praticamente a ver navios em Angra.<br />

– Mas como assim, ele me parecia ser tão fiel a sua amizade, e ela tão apaixonada por você, inclusive a<br />

Letícia sofreu mesmo de verdade, quando soube entre aspas, da sua morte naquele atentado.<br />

– Pois é, isso é que tem acabado comigo, ela aceitou o meu pedido de casamento, havíamos passado<br />

juntos um dia maravilhoso, e a noite estava tudo aparentemente normal, inclusive o Caio estava ficando<br />

com a Alba, que é a mulher que entrou aqui há pouco, e eles pareciam estar muito bem, até aquela<br />

fatídica manhã, onde encontramos a carta escrita por ela, contando sobre o caso e fuga dos dois.<br />

– Eu acho tudo isso muito estranho, é lógico que por eu estar fora do círculo, possa estar interpretando<br />

erroneamente esta situação toda, mas é a minha opinião!<br />

– Não sei mais o que pensar, me dá a sensação de falha de minha parte, e me faz ficar muito<br />

preocupado, em que pessoa eu possa ter sido em meu passado.<br />

– Me desculpe, mas não entendi, o que quis dizer com isto?<br />

O empresário havia deixado escapar se segredo, e vendo que não havia mais necessidade de mentir,<br />

contou toda a verdade a ele.<br />

– Tem mais uma coisa que você não sabe, depois do meu acidente no ano passado, eu perdi toda a<br />

minha memória, e não consigo me recordar de meu passado.<br />

Era mesmo uma noite daquelas para Murilo, onde as surpresas pareciam não ter fim, e apesar de nestas<br />

alturas, toda bebida já ingerida desde o entardecer, o fazia pensar bem mais lentamente, e por ter<br />

uma educação muito refinada, aguardou que o confidente, que neste caso era o seu patrão e anfitrião,<br />

falasse abertamente sem muitas especulações.<br />

– Devo ter sido uma pessoa terrível mesmo, para que pessoas tão próximas a mim, chegassem ao ponto<br />

de fugirem, de me abandonar, mesmo sabendo deste problema circunstancial, sem falar no terrível<br />

atentado a bomba, é porque não devo ser um bom amigo, nem mesmo um bom amante, a não ser que<br />

saibam de coisas ruins, que eu possa ter cometido anteriormente, para merecer um tratamento assim!<br />

– Creio que não deva pensar desta maneira, as vezes nos acontecem coisas assim, que acabam fugindo<br />

ao nosso controle, por acaso sabe do meu caso com a Bianca?<br />

– Creio que não estou a par, por acaso estamos falando de sua secretária da diretoria?<br />

– Ela mesma, na verdade minha ex-secretária, já que ela pediu a sua transferência, para uma filial no<br />

Rio de Janeiro, mas como eu estava lhe falando, eu sempre fui loucamente apaixonado por ela, e em um<br />

certo momento, até achei que havia conquistado o seu amor, mas um fato que surgiu na vida dela, mudou


totalmente os rumos planejados, e ela acabou me deixando para traz, justamente para ficar com uma<br />

garota, ao qual já estava ficando antes de mim.<br />

– Este seu papo é sério, ou é uma história para eu descontrair?<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Não foi preciso ouvir esta resposta, pela cara que Murilo fez ao terminar a confissão, dava para ver que<br />

ele não estava brincando, e com isso, Nathan percebeu que não somente ele, estava a mercê<br />

de circunstancias adversas, mas que outras pessoas também estavam expostas, a passarem diversidades<br />

e constrangimentos, e neste momento oportuno, Arthur retornou do jardim, os convidando para uma<br />

pequena refeição, que Elvira havia preparado a seu pedido, mesmo já se passando da meia noite.<br />

Ainda impressionado pela história de Murilo, Nathan pareceu reagir positivamente ao episódio, mérito<br />

totalmente creditado a Arthur, e este ao se esbarrar com Iris na cozinha, onde ajudava a cozinheira com os<br />

quitutes, fez um discreto sinal de agradecimento, reconhecendo que o seu apelo fora providencial.<br />

Enquanto um tentava se recuperar dos fatos adversos, outra pessoa sofria muito na recepção de um<br />

hospital, onde após muito tempo de espera, conseguiu informações sobre o estado de saúde do pai,<br />

estamos falando de Marina, que nem em seus pesadelos mais terríveis, se imaginaria passando por uma<br />

situação destas.<br />

Ao questionar o médico, sobre as possibilidades de uma recuperação de Duarte, o doutor foi muito direto<br />

e objetivo, lhe dizendo que este hospital por ser público, não tinha todos os recursos necessários, para<br />

poder tratá-lo adequadamente.<br />

Imediatamente ela procurou outros médicos de plantão, procurando reunir informações mais precisas, de<br />

onde e como, ela poderia encontrar estes recursos mencionados, que supostamente poderiam reverter<br />

este quadro negativo, ao qual o seu amado pai se encontrava, até que um deles, por também atender em<br />

um hospital particular, o recomendou, por acreditar ter todos estes equipamentos, que poderiam atender o<br />

grave caso de Duarte.<br />

Por já ser início de madrugada, Marina retornou para o apart-hotel onde se hospedava, e após tomar um<br />

banho rápido, e comer um lanche simples, procurou descansar um pouco, e juntar forças para o dia<br />

seguinte, onde procuraria o hospital indicado pelo médico, e trataria de toda a transferência do pai, para<br />

que ele tivesse ao seu alcance, as chances reais de permanecer com vida, e quem sabe poder voltar a<br />

rotina normal.<br />

De volta a mansão, depois que todos fizeram a leve refeição, já verificando que era muito tarde, cada um<br />

procurou tomar seu rumo, e vendo o estado em que Murilo se encontrava, Nathan o convidou para dormir<br />

na propriedade, o mesmo convite se estendeu a Arthur, que havia consumido uma pequena dose, porém o<br />

advogado não aceitando a gentileza, retornou sem pressa para a sua residência, enquanto os demais<br />

moradores da luxuosa casa, se retiraram devidamente para seus quartos, e assim terminava esta noite,<br />

que por sinal, havia sido demasiadamente muito longa.<br />

132


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 30 •<br />

Amanheceu um belo e ensolarado dia de sábado, Raul havia voltado bem cedo para a mansão, ele<br />

retornava da cidade de Campinas, onde no dia anterior, havia ido em busca de levantar algumas<br />

informações, sobre uma testemunha foragida, ao qual poderia ajudar muito no seu caso, e como viajou<br />

boa parte da madrugada, foi direto para o seu quarto de hospedes.<br />

Marina também havia acordado bem cedo, onde praticamente não dormira a noite toda, devido a<br />

ansiedade de tentar resolver, o caso complicado em que o pai se encontrava, e sem ao menos tomar o<br />

café matinal, ao qual tinha direito pela sua hospedagem, tomou um táxi, e foi diretamente para o hospital,<br />

para tratar dos documentos necessários, para a transferência de Duarte.<br />

Tudo corria bem, mas após o preenchimento de toda a papelada, e apresentar os documentos<br />

requeridos pela entidade, faltava o detalhe principal, que era o pagamento de uma certa quantia, ao qual<br />

dava garantias do atendimento especializado, e na tentativa de passar o seu cartão de débito, teve<br />

uma terrível constatação, de que sua conta estava bloqueada.<br />

Tempo é o que ela menos tinha nestas circunstancias, pois a cada hora perdida, as chances de Duarte<br />

sobreviver diminuíam, e mais do que depressa, ela correu até o banco, e por ser um sábado estava<br />

fechado, ela havia se perdido nos dias, mas chegando lá, avistou pelo vidro o seu gerente de conta, e<br />

começou a gritar bem alto, até chamar a atenção dos funcionários presentes, inclusive dele, que procurou<br />

se aproximar rapidamente, e ver do que se tratava.<br />

– Senhorita Marina, um momento que vou pedir para abrir a porta.<br />

Um dos guardas que já estava por perto, acatou o pedido do gerente, onde este agindo com extrema<br />

tranquilidade, a convidou para ir até a sua mesa, e antes mesmo que ele se sentasse, a colecionadora lhe<br />

dirigiu a palavra:<br />

– Muito obrigado por me atender!<br />

– Bom, sabe que não atendemos aos sábados, e somente aqui estamos hoje, fazendo um balancete<br />

anual, mas em que posso ajuda-la?<br />

– Preciso saber o que houve com a minha conta, eu tentei há pouco utilizar o meu cartão, e a<br />

administradora o recusou, alegando que a conta foi bloqueada, eu não entendo, tenho esta conta a mais<br />

de dez anos, e creio ter saldo suficiente na conta corrente, e também nas aplicações financeiras, para<br />

cobrir este gasto que necessito!<br />

– Por favor sente-se, normalmente eu não poderia atendê-la fora do expediente, mas vendo o estado de<br />

nervosismo em que se encontra, abrirei uma pequena exceção, e com calma veremos o que está<br />

acontecendo.<br />

Vendo a presteza que o gerente lhe deu, ela conseguiu se acalmar parcialmente, até o momento em que<br />

ele verificou no sistema, que a conta e as aplicações financeiras da moça, haviam sido bloqueadas pela<br />

justiça, e que neste caso o banco nada poderia fazer.<br />

Mesmo chocada pela notícia, por ela ser demasiadamente inteligente, logo sacou, que só podia ser por<br />

causa das investigações, e certamente a polícia federal, havia bloqueado todos os bens da família, e isto<br />

no mínimo, ficaria assim até a conclusão do caso, e diante desta sucessão de fatos negativos, ela<br />

praticamente ficou sem chão.<br />

Após alguns minutos de um ligeiro apagão, ela buscou forças dentro de si, e pegou novamente um táxi,<br />

praticamente sem una direção certa, mas no meio do caminho tomou uma resolução, iria até a fonte<br />

principal do problema, quem sabe lá na mansão, não teria alguém com autoridade suficiente, para pelo<br />

menos emprestar o dinheiro que necessitava.<br />

133


<strong>Caminhos</strong><br />

Em contrapartida a polícia fazia a sua parte, e prendia na favela os dois ex-comparsas de Raul,<br />

enquanto Otto que já havia percebido anteriormente, toda a movimentação de policiais à paisana, vivia<br />

camuflado entre os moradores da localidade, e assim que soube das duas prisões, se refugiou novamente<br />

em seu esconderijo.<br />

Ao chegar na delegacia, tanto Militão como Situação, foram encaminhados para uma pequena sala,<br />

onde aguardaram a chegada do advogado, e cada qual foi ouvido separadamente, sobre o caso do<br />

assassinato de Nicolas, onde orientados pelo seu magistrado, responderam com muita cautela e com<br />

poucas palavras, todas as perguntas realizadas pelo delegado Siqueira, e como haviam sidos<br />

surpreendidos pelos investigadores, portando uma certa quantia em dinheiro e drogas, foram decretadas<br />

suas prisões por tráfico.<br />

Mais uma vez Otto se safava, a questão era até quando duraria esta impunidade, porque certamente ele<br />

não abandonaria a vida criminosa, e a pura demonstração deste fato, foi quando ele se sentindo seguro<br />

para sair, procurou imediatamente recrutar novos trabalhadores, pois o negócio das drogas não podia<br />

parar.<br />

Por volta das dez e meia, Marina chegou defronte ao portão da mansão, e foi logo tratando de fazer<br />

contato, com algum morador da propriedade, na tentativa de um auxílio, para resolver parte de seu<br />

problema, mas vendo que os seguranças do lado de dentro, ficaram parados e sem ação, começou a<br />

gritar bem alto para todos ouvirem, o seu apelo de ajuda e necessidade.<br />

Do lado de dentro, todos escutaram os apelos da moça, inclusive Nathan, que acabava de descer para o<br />

café, e havia topando de frente com Murilo, e ambos querendo entender todo este tumulto, que vinha do<br />

lado de fora, caminharam rapidamente até o jardim central, onde o empresário acabou vendo, de quem<br />

realmente se tratava.<br />

Ao ver Nathan de longe e bem vivo, os seus gritos se cessaram completamente, e tentando se segurar<br />

na grade do portão, ela que já se encontrava abatida, e com o corpo demasiadamente enfraquecido,<br />

desabou ali mesmo, vindo a desmaiar na frente de todos.<br />

Os primeiros a socorrerem a moça caída no chão, foram os dois seguranças que estavam próximos ao<br />

portão, e tanto Nathan como Murilo, também correram até a entrada para ajudá-la, e por ela permanecer<br />

desacordada, eles a levaram para dentro com todo o cuidado, iniciando uma tentativa de faze-la voltar a si.<br />

Quando Murilo já fazia a ligação para a emergência, por ela não ter respondido pelos chamados, Marina<br />

foi aos poucos recobrando a sua consciência, e amparada por Iris que se fazia presente, se sentou e olhou<br />

fixamente para Nathan, que dispensando os seguranças, tratou logo de explicar tudo a moça.<br />

– Eu não morri naquele atentado a bomba, e como pode ver estou bem vivo!<br />

– Eu não entendo, estou muito confusa, o meu pai está entre a vida e a morte, entubado em um leito de<br />

hospital, sem falar que nós dois, estamos entre os principais suspeitos de sua morte, inclusive todos os<br />

nossos bens financeiros, estão bloqueados e indisponíveis para o uso, e tudo isso praticamente por sua<br />

causa, que espécie de pessoa é você, afinal de contas, com que tipo de gente se envolveu?<br />

– Primeiramente pelo que me recordo, foi vocês mesmos que me procuraram, e insistiram em entrar aqui<br />

para catalogar as obras, e eu lhe faço a mesma pergunta, no que é que estão metidos, ao ponto de seu<br />

pai se encontrar nesta situação, ao qual acabou de nos contar agora?<br />

– Não tente reverter a conversa a seu favor, aliás nem sei porque estou aqui, preciso ir embora agora!<br />

– Vamos procurar nos acalmar um pouco, todos ficamos nervosos com esta sua agitação, mas o que<br />

pretendia fazer, derrubar os portões com as próprias mãos?<br />

134


– Para falar a verdade, quando eu já me dei conta, estava plantada em frente a sua casa, só perdi o<br />

pouco tempo que eu tenho!<br />

– Você não fala coisa com coisa, podemos lhe ajudar em algo?<br />

– Deixa para lá, sem querer eu acabei caindo no covil dos lobos, só me mostre onde é a saída.<br />

Ela bem que tentou se levantar, mas ainda permanecia fraca e desnorteada, e mais uma vez foi<br />

amparada pelos que estavam na sala, até que Iris acabou se intrometendo, pedindo para que eles se<br />

retirassem, deixando-a a sós com a moça para conversar.<br />

– Eu me chamo Iris, qual é o seu nome?<br />

– Marina, você é da família?<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Não sou, eu e toda a minha família, estamos hospedados de favor aqui, o Nathan nos acolheu e<br />

amparou, até que possamos resolver alguns problemas sérios, que estamos enfrentando neste momento,<br />

mas eu posso lhe assegurar com convicção, que ele também passa por muitas adversidades, e que é<br />

inocente nesta história toda!<br />

– Estou tão confusa, que nem sei mais o que pensar, só preciso me recuperar rápido, para poder sair e<br />

tentar salvar o meu pai.<br />

Iris pegou com carinho na mão da moça, e olhando em seus olhos lhe perguntou:<br />

– Me fale o motivo de sua vinda até aqui, parecia que estava desesperada, o que pretendia?<br />

– Você deve ter ouvido toda a conversa, eu vim atrás de ajuda, mais precisamente de dinheiro, para<br />

poder transferir o meu pai de hospital, nós temos a quantia necessária, porém por causa de toda esta<br />

confusão, a justiça bloqueou nossas contas.<br />

– Eu entendi tudo, mas vamos fazer o seguinte, me promete que vai tentar se acalmar, que vai aceitar<br />

um copo de água, ou melhor, que vai comer um pouco, porque pelo o que aparenta o seu estado, ainda<br />

não deve ter comido nada hoje.<br />

– Nem tive cabeça para isso!<br />

– Foi o que pensei, faça tudo o que lhe pedi, enquanto isso converso com ele e explico tudo.<br />

– Está bem, vou aceitar o que me sugeriu, obrigado por me ajudar!<br />

Iris saiu em direção a cozinha a procura de Elvira, e depois que encaminhou o pedido de um lanche, foi<br />

até a biblioteca, onde Nathan e Murilo aguardavam o desfecho da conversa, para poder entender com<br />

todas as letras, o que realmente se passava.<br />

Após contar a eles tudo que soube da moça, Nathan imediatamente pediu ajuda a Murilo, que mesmo<br />

por se tratar de um dia de sábado, sendo a sua folga dos serviços da empresa, se colocou a inteira<br />

disposição do patrão, para tudo o que se necessitasse fazer, inclusive se prontificou a conversar com<br />

Marina, para ver com clareza toda a situação, e tentar resolve-la na medida do possível.<br />

Ele que era o atual presidente do Grupo Etros, tinha pleno poderes para dispensar recursos, fossem eles<br />

em questões jurídicas, como também nos assuntos financeiros, e após aguardar um certo tempo, ao qual<br />

a colecionadora levou para a sua alimentação, se inteirou de todos os procedimentos necessários, para a<br />

transferência de seu pai.<br />

135


<strong>Caminhos</strong><br />

Segurando na mão de Murilo, Marina foi até um dos carros na garagem, onde juntos saíram rumo ao<br />

hospital, onde ela já havia dado entrada na documentação, e logo que chegaram ao local de destino, os<br />

dois se encaminharam até a administração, e Murilo pedindo permissão para utilizar um computador,<br />

efetuou através do Internet Bank, a transferência do valor total do contrato, possibilitando assim, todos<br />

os custeios inclusos da internação, e do tratamento médico de Duarte.<br />

Nathan havia ficado na mansão, ele ainda mantinha o pé atrás com toda esta história, pois conforme o<br />

seu advogado havia passado anteriormente, a polícia federal que trabalhava intensamente no caso, havia<br />

grampeado o telefone do antiquário, e assim descoberto inúmeras ligações realizadas, entre o<br />

colecionador e um dos suspeitos do atentado a bomba, mas o que parecia deixar ele com mais dúvidas,<br />

era se Marina era cúmplice e sabia da coisa toda, ou se na verdade também havia sido enganada, e isso<br />

era mais uma dentre diversas coisas, que ele precisava desvendar e entender.<br />

136


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 31 •<br />

Após resolver todos os procedimentos, Murilo levou Marina até o outro hospital, onde ela daria entrada<br />

da petição legal, e formalizar toda a transferência do pai, e assim que ele se certificou que tudo havia se<br />

resolvido, se despediu dela e voltou para a mansão, pois precisava devolver o carro da empresa, e pegar<br />

um táxi retornando ao seu apartamento.<br />

Ao chegar foi abordado por Nathan, que o estava aguardando desde cedo, para saber o desfecho destas<br />

providências, e vendo que já se aproximava da hora do almoço, insistiu para que ele ficasse e almoçasse<br />

com ele, possibilitando uma conversa mais ampla sobre o assunto, ele pretendia descobrir a sincera<br />

opinião, daquele que agora se apresentava ali, como uma pessoa bem próxima e confiável.<br />

Alba que tinha presenciado todo o acontecido, e procurado ouvir e se inteirar do assunto, já havia<br />

percebido que precisaria conquistar amplamente, a confiança de Nathan e de todos da propriedade, para<br />

poder assim colocar em prática, a segunda parte de seu plano, já que a primeira executada, havia sido um<br />

total sucesso.<br />

Enquanto isso na biblioteca, Nathan e Murilo, aguardando o preparo do almoço, iniciaram uma conversa<br />

sigilosa, e o empresário procurou ser bem claro com ele.<br />

– Bom, agora que sabe sobre a minha memória, sobre a minha escapatória no atentado, e da traição de<br />

pessoas em que mais confiava, é bem visível que eu estou com o pé atrás com todo mundo, eu quero ser<br />

bem sincero sobre isto.<br />

– Não se preocupe, eu bem sei o que é este sentimento, eu mesmo até os dias de hoje, ainda me<br />

recupero de um tombo ao qual lhe mencionei, ainda bem que tenho um grande amigo, e este nunca me<br />

decepcionou, pelo menos não até agora.<br />

– Neste caso você é um homem de sorte, aliás esta frase sempre me soa familiar, mas mudando de<br />

assunto, o que achou de toda esta história?<br />

– É difícil opinar com precisão, mas a princípio ela me pareceu falar a verdade, até mesmo pelo modo<br />

que ela se dirigiu a você, ela parecia agir como se fosse o culpado, e em nenhum momento temeu ser<br />

acusada!<br />

– Pode ser que tenha razão, mas a minha vida está tão confusa, que minha cabeça não consegue mais<br />

assimilar, quem é quem, ou que rumo devo tomar.<br />

– Eu entendo perfeitamente, e me coloco a sua inteira disposição, como funcionário, e também como<br />

seu amigo se me aceitar!<br />

– Eu agradeço muito pelo seu apoio e sua ajuda, vou agradecer também pessoalmente o Arthur, ele<br />

enxergou em você uma pessoa confiável, e absolutamente responsável e competente, isso o faz uma<br />

pessoa muito importante para todos nós!<br />

– Agradeço as palavras, mas eu procuro fazer sempre o que é preciso, mas as vezes se faz necessário<br />

muita ponderação, como por exemplo, algo que tenho de fazer agora a tarde.<br />

– É algum assunto pessoal, ou apesar de ser fim de semana e sua folga, se trata de algo sobre a<br />

empresa?<br />

– Da empresa e pessoal ao mesmo tempo, porque quando eu ainda era diretor, acabei conhecendo os<br />

moradores de um condomínio, ao qual somos proprietários e locadores, e por se tratar de pessoas muito<br />

simples, acabei me apegando a algumas delas, e mesmo não fazendo mais parte das minhas tarefas, eu<br />

quero tentar resolver uma grave questão.<br />

137


<strong>Caminhos</strong><br />

– Isso me admira muito, mas do que se trata afinal?<br />

Murilo vendo que o patrão, se interessou amplamente pelo assunto, resolver lhe contar o que se<br />

passava com os moradores.<br />

– A maioria está com os aluguéis atrasados, e não tem como pagarem a dívida que se acumulou, porém<br />

há alguns que já são idosos, e outros que estão muito doentes, e eu marquei com os moradores hoje a<br />

tarde uma reunião, para vermos se conseguimos chegar a um acordo, e uma solução viável para todos.<br />

– Posso ir com você, é claro se achar que não vou atrapalhar, gostaria de ver isso de perto, creio que vai<br />

fazer bem para mim mudar os ares, e sair um pouco de dentro de casa, porque estou me sentindo<br />

sufocado!<br />

– Claro que sim, só que por não se tratar de uma reunião formal, eu irei vestido com roupas normais, é<br />

uma visita não oficial.<br />

– Neste caso eu também irei, faremos ainda melhor, não diga nada sobre mim a eles, apenas que sou<br />

um interessado na solução, e quem sabe assim, eu possa conhecer novas pessoas, que gostem de mim<br />

por ser uma pessoa normal, e não por ser um empresário milionário!<br />

– Isso vai ser bem interessante, me parece uma grande oportunidade para ambos os lados, e tenho<br />

certeza que vai gostar dos inquilinos, mas agora eu vou em casa trocar de roupas, e lá pelas quatorze<br />

horas, eu passo aqui para lhe pegar, fechado?<br />

– Fechado, estarei a sua espera!<br />

Logo que entrou em seu carro, Murilo ligou e comunicou a Arthur, sobre o encontro de logo mais a tarde,<br />

e o convidou também a ir e participar da reunião, mas este achou melhor que fossem sozinhos, pois<br />

por serem quase da mesma idade, os assuntos e as conversas fluiriam melhor, já que estariam entrosados<br />

em alguns assuntos pessoais, e nisso ele tinha toda a razão.<br />

Na parte de cima, observando tudo pela sacada, estava Alba, que já havia ligado mais cedo para o seu<br />

chefe, passando o relatório diário de todos os movimentos, tanto de Nathan, como de todos que<br />

circulavam pela Mansão, Murilo mal sabia que esta aproximação com empresário, o colocaria entre os<br />

alvos desta organização criminosa, mas por enquanto, ela tinha ordens para se manter neutra, e não<br />

tomar nenhuma ação ou medida, que interferisse nos novos rumos que se iniciaram, dos quais poderiam<br />

tirar grande proveito, tornado os seus objetivos cada vez mais sinistros.<br />

Aos sábados à tarde, na clínica de recuperação Jardins, havia uma reunião metódica semanal, onde as<br />

internas e as médicas confraternizavam, e cada paciente tinha a total liberdade, de compartilhar suas<br />

experiências de vida, seus avanços no tratamento, e também a oportunidade de dar sugestões, e efetuar<br />

reclamações se este foste o caso.<br />

Elisa estava completamente empolgada, é como se ela estivesse tirando férias de seu passado,<br />

vivenciando um novo recomeço, onde existiriam enormes possibilidades, de ao menos uma vez na vida,<br />

encontrar a plena e verdadeira felicidade, e como já de costume desde a sua chegada, ela sempre<br />

procurava enaltecer com palavras, a grande oportunidade que havia tido, ao qual havia surgido em sua<br />

vida pelo destino, em conhecer pessoas que realmente a ajudasse, sem esperar nada em troca por isso.<br />

Dentre as médicas especializadas, a doutora Lisley era a que mais se destacava, além de ser muito<br />

eficiente e gentil, era simplesmente carismática com todos, o seu bom humor contagiava o ambiente,<br />

fazendo questão de não diferenciar ninguém, e assim que terminou a reunião, ela chamou Elisa para uma<br />

conversa.<br />

– Pelo seu sorriso no rosto, o assunto parece ser bom!<br />

138


<strong>Caminhos</strong><br />

– Nada lhe escapa nada, não é mesmo?<br />

– Digamos que isto é a única coisa boa de meu passado, a de prestar atenção na feição das pessoas,<br />

mas nem quero me lembrar destas coisas!<br />

– Está certíssima, vamos falar hoje só de coisas boas, e uma delas é que daqui a duas semanas, se<br />

tudo continuar a percorrer da forma que está, você poderá decidir se sente apta a retornar para a<br />

sociedade, ou se ainda precisa de mais tempo e tratamento, para assim alcançar a reabilitação total.<br />

– Eu sempre achei que fosse ao contrário, e que eram vocês que dessem a alta aos pacientes!<br />

– Num tratamento convencional sim, é sempre o médico que faz a liberação, mas no caso de<br />

reabilitação, quando vemos que a pessoa evoluiu clinicamente, damos esta oportunidade de decisão a ela,<br />

para que se auto avalie e decida por si mesma, se está totalmente curada e reabilitada, mas cada caso é<br />

um caso, nem todas conseguem evoluir assim desta forma, e você terá esta oportunidade!<br />

– Fico muito satisfeita em ouvir isso, o Arthur já sabe da boa notícia?<br />

– Ele já foi notificado por e-mail, assim como sempre foi durante todo o seu tratamento, como são<br />

proibidas a visitas masculinas, os tutores legais da paciente, recebe por escrito todas as fazes da<br />

internação, você tem alguma dúvida ou pergunta?<br />

– Não nenhuma, eu só tenho a agradecer a vocês todos, principalmente a senhora doutora!<br />

– Não precisa agradecer, fazemos apenas o nosso trabalho, neste caso então, esta dispensada para<br />

aproveitar a piscina, até amanhã!<br />

A moça que já demonstrava total contentamento, quase foi as nuvens com esta informação, porém<br />

procurou não comentar com outras internas, já que a maioria ainda lutava contra as suas dependências, e<br />

também com seus próprios fantasmas, referentes aos problemas do álcool e das drogas, e procurou se<br />

conter nos seus sentimentos e palavras.<br />

Com pontualidade britânica, Murilo passou no horário combinado com Nathan, para juntos irem até o<br />

condomínio, onde seria discutida una tentativa de solução, no caso dos alugueis atrasados dos<br />

condôminos, onde o atual presidente do grupo mesmo sem precisar, fazia questão de atender a todos, e<br />

procuraria ouvir boa a boca, cada um dos humildes inquilinos, e falando neles, alguns já comentavam e<br />

aguardavam esta reunião, um deles era o Sindico Xavier.<br />

– Dona Angelina boa tarde, como sempre, a senhora é a primeira a chegar!<br />

– Boa tarde, sabe como é né, pessoa idosa precisa sempre pegar um bom lugar, para poder ver tudo de<br />

perto, e ouvir melhor o que dizem!<br />

– Mas hoje a reunião vai ser um pouco diferente, o Sr. Murilo, vai conversar em particular com um de<br />

cada vez, na pequena sala da tesouraria, mas antes ele falará a todos os moradores, sobre algumas<br />

questões que foram reivindicadas pelos inquilinos.<br />

– Sei disso, por isso quero ver de perto o que ele tem a falar, até hoje não cumpriram com nenhuma das<br />

promessas, ao qual nos fizeram no ano passado!<br />

– Tomara que se consiga resolver a maioria dos problemas, porque até o meu salário atrasaram este<br />

mês!<br />

– Eu concordo com você, porque todos aqui sabem do seu esforço, e do bom trabalho que faz para nós<br />

todos, eles não podem deixar de te pagar!<br />

139


<strong>Caminhos</strong><br />

Aos poucos foram chegando diversos moradores, procurando pelos melhores lugares do recinto, onde<br />

basicamente se iniciaram vários comentários, sendo que o assunto principal, era referente a um pedido de<br />

parcelamento das dívidas, e também uma carência de sessenta dias, para que todos pudessem por suas<br />

contas em dia, ou pelos menos uma tentativa de realizar isto.<br />

Perto das quinze horas, dentro do horário marcado com os moradores, Murilo estacionou o carro dentro<br />

do condomínio, mas antes de sair do veículo, foi questionado pelo seu acompanhante Nathan, sobre<br />

algumas coisas aos quais, ainda não haviam dialogado pelo caminho.<br />

– Eu me esqueci de lhe perguntar, sabe se já vim aqui alguma vez, ou se algum deles me conhece?<br />

– Não que eu saiba, se você preferir se manter em sigilo, eu lhe apresento como um membro do<br />

conselho, creio que vai até ser melhor assim, porque de outra maneira, ficariam o tempo todo lhe<br />

assediando, e certamente cobrando algumas reivindicações pendentes, mas lá dentro você ficará a par de<br />

tudo!<br />

Eles concordaram que esta seria a melhor decisão, com isso ele ganharia a neutralidade, e teria a<br />

oportunidade de acompanhar toda a evolução, destes problemas que ambas as partes enfrentavam, e<br />

depois de algumas recomendações por parte de Murilo, entraram na sala de reuniões, onde todos já<br />

aguardavam impacientes, mal sabiam eles, que a presença de Nathan por ali, mudariam suas vidas para<br />

sempre.<br />

140


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 32 •<br />

Ao ver a entrada de Murilo, acompanhado de até em tão um desconhecido, o síndico os cumprimentou<br />

amigavelmente, lhes indicou um lugar para se sentarem, pegou o microfone, e pediu silêncio absoluto a<br />

todos, e em seguida, Xavier início a reunião oficial.<br />

– Boa tarde, agradeço antecipadamente a todos que vieram, pois hoje trataremos de assuntos<br />

importantes, por isso peço que permaneçam em silêncio, para ouvirmos hoje um membro da diretoria<br />

imobiliária, que representa os interesses do grupo, e gerencia este nosso condomínio e nossos lares, e<br />

agora lhe dou a palavra.<br />

Murilo se levantou, e foi até a mesa central, onde se acomodou e iniciou o seu pequeno discurso.<br />

– Comprimento a todos os presentes, desejando-lhes uma boa tarde, primeiramente informo a vocês,<br />

que estou aqui para dar o meu melhor, e farei o possível para ouvir todas as reivindicações, sei também<br />

que há muitas dificuldades, de um acordo entre ambas as partes, por isso tentaremos chegar a um<br />

resultado satisfatório!<br />

Tamares que não era de ficar calada, foi a primeira a esbravejar:<br />

– Da outra vez falou a mesma coisa, e até agora continua tudo a mesma porcaria!<br />

Juliano que estava ao seu lado, envergonhado pela atitude da esposa, tentou chamar sua atenção.<br />

– Fica quieta mulher, vamos escutar o que o homem tem a falar, quem sabe hoje ele tenha uma solução!<br />

– Veja bem o jeito que fala comigo, tá todo mundo me olhando, a gente resolve depois isto em casa!<br />

Juliano acabou como sempre, ficando quieto e engolindo certas palavras, ao qual realmente tinha<br />

vontade de dizer, mas as pessoas ao redor do casal, comentavam mesmo, o jeito grosseiro que a mulher<br />

tratava o marido, uma delas era Regina.<br />

– Viu Dona Angelina, como ele é maltratado toda vez, ela não dá o valor que o marido merece, eu fico<br />

super revoltada com isso!<br />

– Todo mundo enxerga este fato, mas enquanto ele não tomar coragem e a enfrentar, esta situação não<br />

vai se modificar.<br />

Percebendo alguns rumores vindos dos moradores, Xavier fez uma rápida interversão, e Murilo pôde<br />

dar prosseguimento.<br />

– Conforme eu estava dizendo, hoje aqui estou para atender a cada um de vocês, e pessoalmente vou<br />

ouvir todas as reivindicações, com também as suas propostas, com relação aos aluguéis atrasados, e há<br />

presente aqui também, um membro importante do conselho do grupo, e ele vai me acompanhar até a<br />

tesouraria, onde iniciaremos o atendimento, e mais tarde se acharmos necessário, voltaremos a nos reunir<br />

aqui, agora peço para que todos se organizem, para iniciarmos as negociações.<br />

Mesmo com alguns comentários negativos, aquele que se apresentava como diretor, mas na verdade<br />

sem que as pessoas soubessem, era nada mais nada menos que o atual presidente, procurou manter a<br />

serenidade, sem falar de Nathan, que nem em sonhos imaginariam, que era praticamente o principal dono<br />

de tudo por ali.<br />

Enquanto isso na mansão, Alba que estava tomando sol na piscina, ficava a todo momento checando o<br />

seu celular, verificando se havia alguma mensagem de seu chefe, mas em sua mente só passava uma<br />

coisa, ela precisava agir imediatamente, e criar uma nova tentativa, de conquistar a simpatia e confiança<br />

141


de Nathan, e para isso, pretendia o seduzir mais tarde da noite, quando todos na casa já tiverem se<br />

recolhido.<br />

142<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

O que ela não contava, é que Marina também pretendia visita-lo a noite, a colecionadora queria<br />

agradecer pessoalmente, toda a ajuda que tanto ele como Murilo, haviam dispensado ao seu velho pai,<br />

que já havia sido transferido de hospital, porém seu quadro ainda permanecia como grave, mas ela<br />

carregava consigo muita esperança, pois com equipamentos mais modernos, e com mais médicos a<br />

disposição do enfermo, havia muita chance de Duarte conseguir sobreviver.<br />

Arthur que passava aquela tarde de sábado em casa, após ter descansado e dormido um pouco, se<br />

levantou, e foi até o seu computador pessoal, onde verificando a sua caixa postal, constatou que a doutora<br />

Lisley havia enviado, aquele e-mail ao qual comentou com Elisa, contendo o relatório semanal do<br />

tratamento, e o informando claramente sobre o poder de decisão, que ela teria nas próximas semanas, e<br />

isso o deixou extremamente feliz, ao ponto de correr até a empregada Dirce, para contar a novidade.<br />

Enquanto isso Murilo recebia cada um dos moradores, e sempre atento a todas as conversas, Nathan<br />

acompanhava caso a caso, e percebia naquele instante que em geral, todas as pessoas passavam por<br />

problemas e dificuldades, mas a lição que tirava disto tudo, é que apesar de ser imensas as barreiras, a<br />

grande maioria dos atendidos, demonstravam muita esperança e confiança, que as coisas iriam melhorar<br />

daqui para a frente.<br />

Ao término de cerca de duas horas e meia, Murilo havia atendido a todas as famílias presentes, porém<br />

constavam duas ausências em seu relatório, e chamou o síndico para pedir informações.<br />

– Xavier, saberia me informar as ausências de dois moradores, a senhorita Vanessa, e a senhora Silvia,<br />

sabe por que não vieram?<br />

– A dona Silvia não pôde comparecer, pois acompanha o filho no hospital, ela está entre as pessoas que<br />

mais devem os aluguéis, e assim como os outros, ela aguarda a decisão sobre o parcelamento e a<br />

carência, em que a maioria já vos solicitou, enquanto a moça Vanessa, além de estar muito doente,<br />

e pouco sair de seu apartamento, não viu a necessidade de participar, pois ela é uma das poucas<br />

moradoras, que tem os seus vencimentos sempre em dia.<br />

Murilo checou a planilha de pagamentos, e constatou as duas informações passadas pelo síndico, e<br />

percebendo que momentaneamente, havia atendido a todos os solicitantes, não vendo mais nenhuma<br />

razão para permanecer ali, se despediu do síndico, o agradeceu pela ajuda e apoio, e convidou Nathan<br />

para se retirarem.<br />

O entardecer já começava a tomar conta de São Paulo, quando o carro com os dois executivos, cruzava<br />

a Ponte Estaiada, uma das grandes obras de infraestrutura da capital paulista, percurso este que Murilo<br />

realizava, com a intenção de levar o patrão para casa, mas este dia ainda estava longe de terminar, muitos<br />

acontecimentos ainda surgiriam durante a noite.<br />

No andar de cima da mansão, mais precisamente no quarto de hóspedes, Iris havia permitido um<br />

encontro com o marido, mas era apenas para terem uma conversa a sós, sobre assuntos relacionados ao<br />

filho Gabriel, e também sobre o seu envolvimento com a polícia, e Raul meio que cabisbaixo, tentou<br />

argumentar com ela:<br />

– Obrigado por me permitir entrar em seu quarto, eu entendo perfeitamente os seus motivos, mas eu<br />

tenho de ser sincero com você, estou morrendo de saudades!<br />

– Não fique assim tão animado, trata-se apenas de alguns assuntos pendentes, aos quais precisamos<br />

resolver o mais breve possível.<br />

– Minha nossa, você é mesmo osso duro de roer, não abre a guarda de maneira alguma, é realmente<br />

uma mulher de muita fibra!


143<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Você teve várias oportunidades de enxergar isso, afinal já são muitos anos de casamento, mas vamos<br />

ao que interessa, você sabe que estamos aqui de passagem e de favores, precisa ao menos arranjar um<br />

bom emprego, tem alguma coisa em mente?<br />

– Sabe muito bem que não, ainda mais agora com uma ficha na polícia, mas pode ficar tranquila que<br />

isso tudo é provisório, eu vou dar um jeito nas coisas.<br />

Ela olhou bem para ele, e conhecendo aquele seu jeito sinistro, tratou logo de deixar as coisas bem<br />

claras.<br />

– Pense bem no que vai fazer, porque já errou muito conosco até agora, nos expondo por diversas<br />

vezes ao perigo, e já decepcionou por demais o seu filho!<br />

– Sei que o Gabriel espera muito mais de mim, inclusive você também espera este algo a mais, mas eu<br />

preciso lhe fazer uma pergunta, mesmo depois de tudo que causei a vocês, acredita que ainda tenho<br />

chances de ter os dois de volta?<br />

– Isso vai depender muito das atitudes, que vier a tomar daqui por diante, espero que tudo o que<br />

aconteceu o faça refletir, para quem sabe mudar as suas convicções, principalmente com relação ao<br />

Nathan, que nos auxiliou em tudo lhe estendendo a mão, pagando até mesmo o seu defensor!<br />

– Sabe que nunca havia gostado dele, desde que apareceu lá pela favela, acabou melando os negócios<br />

que eu tinha, e eu ainda preciso de mais algum tempo, para assimilar todas estas mudanças na minha<br />

vida.<br />

– E como anda a investigação do seu caso, alguma novidade?<br />

– Falei ontem com o doutor Arthur, e ele me disse que a semana que vem, vai ter uma acareação entre<br />

eu, e aqueles dois emprestáveis, já que ainda não conseguiram pegar o Otto para depor, e tenho quase<br />

certeza que eles vão abrir o bico.<br />

– Estes ao qual você chama de imprestáveis, podem ter muitas divergências e magoas, da época em<br />

que trabalhavam para você, e que eu saiba, sempre os tratou e pagou muito mal, porque acha que eles<br />

lhe ajudarão?<br />

– Pensando melhor, pode ser que tenha razão sobre isto, mas vou ter de pagar para ver, porque já<br />

recebi a intimação para me reapresentar.<br />

– Bom, mas enquanto este dia não chega, procure brincar e conversar um pouco com o Gabriel, o<br />

menino sente saudades das suas brincadeiras, e principalmente da presença do pai.<br />

– Tem razão, primeiro vou tomar um banho, e depois irei até o quarto dele, obrigado pela conversa e<br />

pelos toques, e saiba sempre, que eu amo muito você!<br />

Ela deu um leve sorriso, mas manteve a serenidade de sempre, era uma fase em que ela não podia<br />

baixar a guarda, e devia se manter bem firme, no propósito de tentar mudar o marido, mas no fundo<br />

estava morrendo de saudades também.<br />

Eles não perceberam a presença de Alba, que ouviu toda a conversa por detrás da porta, se<br />

escondendo rapidamente em seguida, descendo alguns degraus da escada, e ali ficou parada, planejando<br />

os seus próximos passos, onde havia uma possibilidade de tentar colocar Raul, contra o seu alvo principal<br />

da casa, já que ele tinha um passado recente de crimes, e também por afirmar a esposa, que não gostava<br />

muito de seu anfitrião.<br />

Neste momento, Murilo e Nathan chegavam da reunião, e mais do que depressa, ela procurou ir<br />

recepciona-los na sala principal, procurando demonstrar uma verdadeira amizade, persuadindo como


sempre suas vítimas, com seu o enorme charme, e a sua estonteante beleza, ao qual se utilizava para<br />

seduzir a todos, principalmente os homens.<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Visivelmente cansado pela maratona de negociações, e também por dirigir por um longo trajeto, Murilo<br />

iniciou uma conversa em tom de despedida, mas Nathan percebendo o esgotamento do rapaz, o acabou<br />

convencendo a ficar, e passar mais uma noite na propriedade, e para isso lhe cedeu roupas de seu guarda<br />

roupa, permanecendo no mesmo quarto luxuoso da mansão.<br />

Elvira estava animadíssima, pois nunca havia visto tantos hóspedes, e tanto movimento nos<br />

últimos tempos, e percebendo que ela estava muito atarefada, Iris ofereceu ajuda para preparar o jantar,<br />

que foi aceito com muito prazer pela cozinheira.<br />

– Nem sei como lhe agradecer, eu estou tão empolgada com a volta do patrão, e com todas estas visitas<br />

na casa, que acabei me esquecendo de contratar uma ajudante!<br />

– Nada de agradecimentos, saiba que a minha vida é a cozinha, onde eu costumava passar a maior<br />

parte de meu tempo, cozinhando doces e bolos que eu revendia, mas não percamos mais tempo, mãos a<br />

obra! (Risos)<br />

O jantar foi esplêndido, por um momento aquela mesa repleta de pessoas, lembrava uma grande família<br />

reunida e feliz, e nem parecia haver tantos problemas e conflitos, aos quais rondavam a cabeça de cada<br />

um deles, sendo que após o término da saborosa refeição, cada um procurou ir para o seu quarto,<br />

inclusive Murilo que estava exausto.<br />

Nathan também se preparava para se retirar, quando foi surpreendido por um convite de Alba, a moça<br />

insistiu tanto em leva-lo ao teatro, justificando ter uma vontade imensa de ver uma peça, que já estava há<br />

algum tempo em cartaz, que ele não teve como recusar o pedido, e com isso ela começava a pôr em<br />

prática, o seu plano de conquista-lo.<br />

Por volta das vinte e uma horas, após se arrumarem para o passeio, os dois se esbarraram nas<br />

escadas, onde ela propositadamente já o aguardava, e aproveitando-se da distração do empresário,<br />

pegou ligeiramente em sua mão, e ambos com um largo sorriso no rosto, causados pelo gesto ousado da<br />

moça, desceram os degraus da escada em direção a porta, porém uma visita inesperada, poderia frustrar<br />

os planos ardilosos de Alba.<br />

144


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 33 •<br />

Quando já se prepararam para entrar no carro, Nathan foi informado por um dos seguranças, que uma<br />

mulher estava a sua espera no portão, e que se travava da mesma do dia anterior, era a colecionadora<br />

Marina.<br />

Alba ficou visivelmente enfurecida, e até chegou a pedir para que Nathan a dispensasse, alegando não<br />

estar na propriedade naquele momento, mas ele não concordou, e disse que precisava muito falar com a<br />

moça, pois tinham assuntos importantes pendentes.<br />

Ele fez questão de ir até o portão principal, e pediu a outro segurança que ali estava, que permitisse a<br />

sua entrada, e ela já se dirigiu a ele, em um tom claro de agradecimento.<br />

– Obrigado por me deixar entrar, sei que é um homem muito ocupado, mas o assunto é bem rápido, vim<br />

apenas lhe agradecer pela ajuda com o meu pai!<br />

– Eu fiz o que considerei ser o correto, e sabe que temos muitas coisas mal resolvidas, mas me diga,<br />

como está o estado de saúde dele?<br />

– Devido a mudança de hospital, eles tiveram que refazer todos os exames médicos, e me prometeram<br />

soltar até as vinte e duas horas, um boletim atualizado de seu estado de saúde, somente então saberei, as<br />

suas reais chances de sobreviver.<br />

– Vamos entrar, faz muito frio aqui fora!<br />

– Não é preciso, pois já estou indo embora, só passei mesmo para agradecer pessoalmente, além do<br />

mais, me parece que está de saída para um passeio, e não quero atrapalhar mais do que já fiz, eu tenho<br />

de voltar ao hospital.<br />

– Vamos fazer o seguinte, entre e me aguarde na sala de estar, me dê alguns minutos para acertar<br />

alguns detalhes, e em seguida vou com você até lá, assim conversamos e tentamos entender juntos, tudo<br />

o que está acontecendo ao nosso redor.<br />

Alba nitidamente já havia percebido, que o seu planejado encontro no teatro, havia ido por água abaixo,<br />

sem falar, que não estava de maneira alguma em seus planos, uma aproximação do empresário com<br />

Marina, o ideal é que ambos acreditassem que eram inimigos.<br />

A Colecionadora de artes, que era extremamente perspicaz, não deixou de observar as caras e bocas,<br />

que a acompanhante de Nathan havia feito, após o cancelamento do aparente encontro romântico, mas<br />

em contrapartida, havia ficado muito satisfeita com a atitude dele, dando sinais claros de ser confiável, e<br />

de se tratar de uma boa pessoa.<br />

Enquanto as duas aguardavam sentadas no sofá, Nathan subiu até o quarto de Iris, bateu na porta, e<br />

pediu-lhe um grande favor:<br />

– Me perdoe por importuná-la, mas eu preciso de sua ajuda, estaria interessada em assistir uma peça no<br />

teatro municipal?<br />

– Não sei se tenho roupas adequadas, para frequentar um lugar como este, mas pelo que vejo, isto é<br />

muito importante para você, neste caso eu dou um jeito, e afinal, sempre tive vontade de ver um<br />

espetáculo ao vivo, pode deixar que me arrumo rapidinho!<br />

Ela que já era bem vivida, teve a noção de perceber que ele na verdade, estava à procura de um bom<br />

pretexto, para não sair no passeio com Alba, e ao que parece, a visita de Marina veio mesmo a calhar,<br />

sem falar que seria uma ótima oportunidade, para Nathan poder tirar muitas dúvidas, a respeito dos dois<br />

colecionadores.<br />

145


O empresário, havia ficado no corredor do lado de fora, aguardando pacientemente Iris ficar pronta,<br />

enquanto Raul no fim do corredor, observava com curiosidade toda aquela cena, e quando a exesposa,<br />

surgiu na porta mais linda do que nunca, ficou totalmente enciumado com o seu anfitrião.<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Ao descerem as escadas, se tratando de uma pessoa totalmente maliciosa, Alba já percebeu a mudança<br />

de acompanhante, e demonstrando um falso sorriso no rosto, pegou na mão de Iris, se encaminhou até o<br />

carro, e saiu sem dizer coisa alguma.<br />

Na polícia federal, já tendo ultrapassado o seu horário de expediente, o delegado geral encarregado da<br />

operação "Atentado", ficou sabendo por intermédio de seus investigadores, da transferência de Duarte<br />

para um hospital particular, e prontamente para assegurar, a integridade física do colecionador, já que<br />

além de ainda ser um suspeito, poderia ser uma peça fundamental nas investigações, enviou dois policiais<br />

para fazerem a sua segurança, e para realizar tal feito, requereu uma ordem judicial, assinada por um juiz<br />

de plantão.<br />

Enquanto isso, Marina que havia ido de táxi até a mansão, acompanhou Nathan até um dos vários<br />

carros na garagem, e juntos foram até o hospital particular, sendo que durante todo o percurso até o local,<br />

ambos foram dialogando sobre os últimos acontecimentos, mas percebendo que a moça estava<br />

apreensiva, com toda a situação atual do pai, ele achou melhor poupa-la de questionamentos, deixando<br />

para um momento mais oportuno.<br />

Ao chegarem, foram até a recepção, onde aguardaram um médico da equipe, que não demorou muito a<br />

aparecer, trazendo algumas novidades sobre o seu quadro, e pela gravidade do assunto, ele achou melhor<br />

conversar em uma sala particular.<br />

O Doutor explicou minunciosamente a eles dois, que novos exames realizados pelo hospital, revelaram<br />

uma outra lesão feita pelos tiros, ao qual havia passado desapercebida, provavelmente por falta de<br />

equipamentos no hospital público, sendo que este novo ferimento, era o provável causador da grave<br />

hemorragia, mas que neste exato momento, Duarte estava sendo operado por uma equipe especializada,<br />

e que as chances de sua sobrevivência, dependerá da eficácia deste delicado procedimento.<br />

Nathan percebeu que Marina deu uma baqueada, na verdade ela ficou muito dividida, entre ficar feliz<br />

pela esperança dada pelo médico, e amedrontada pela gravidade da delicada cirurgia, mas pelo menos<br />

desta vez, ela tinha alguém para lhe amparar e dar forças.<br />

Passados alguns minutos, ele a pegou delicadamente pelo braço, e a levou até a sala de espera, onde<br />

procurou acalma-la, com palavras de força e otimismo, e após aguardar um longo tempo em silêncio,<br />

resolveu quebrar o gelo, e conversou com a moça:<br />

– Então, antes de tudo isso acontecer, como era a sua vida, do que realmente gostava?<br />

– Olhando hoje para trás, parece que eu vivia dentro de um sonho, fazia tudo o que eu queria, era muito<br />

ousada no trabalho, e praticamente ditava o meu próprio destino, sempre junto ao meu velho pai, além<br />

disso, viajei para diversos lugares, e conheci muitas pessoas diferentes, mas agora, pareço que estou<br />

mergulhada dentro de um pântano, vivendo um grande pesadelo!<br />

– Vai parecer que estou lhe agradando dizendo isso, mas eu concordo, é assim também que me sinto<br />

nos dias de hoje.<br />

– Vou lhe ser bem franca, mas não é o que mostra as aparências, pelo que acabei de ver agora a pouco,<br />

você estava saindo com aquela mulher para um passeio, não me parecia estar assim tão infeliz!<br />

– Digamos que você me pegou numa hora diferenciada, na verdade, foi um dos raros momentos bons<br />

destes últimos dias, mas não vou lhe encher com os meus problemas, você me parece já ter uma coleção<br />

deles! (Risos)<br />

146


<strong>Caminhos</strong><br />

– Bem bolada esta sua última frase, "coleção", é o que sempre achei que fiz de melhor, mas agora tenho<br />

dúvidas quanto a isso.<br />

Nathan aproveitou que ela baixou a guarda, e tentou esclarecer os últimos acontecimentos.<br />

– Quer falar a respeito?<br />

– Eu quero sim, creio que vai me distrair, e talvez ajudar a passar o tempo, até que tenhamos notícias<br />

concretas de meu pai, e também temos de resolver algumas diferenças!<br />

– Gosto do seu jeito, você é direta e objetiva, e não procura esconder o que realmente pensa, vamos<br />

fazer o seguinte, vamos até a cantina do hospital tomar um café, e lá conversaremos tudo o que se<br />

precisa.<br />

Ela concordou plenamente com a sugestão, e naquela altura dos acontecimentos, eles já tinham uma<br />

certa afinidade, e um pouco mais de respeito pelo outro, porém ainda faltava remover muitas dúvidas, ou<br />

como outros diriam, algumas pedras para desvencilhar as barreiras, que ainda haviam entre os dois.<br />

Naquele exato momento, o espetáculo no teatro municipal chegava ao segundo ato, Iris que nunca havia<br />

estado neste maravilhoso ambiente, estava admirada com a beleza do lugar, sem falar da insinuante peça<br />

apresentada, onde via de perto dois de seus atores prediletos, que eram os protagonistas da peça em<br />

cartaz, mas Alba estava inquieta e ansiosa, e para não dar muito na cara, fazia um ou outro comentário<br />

sobre as cenas, disfarçando muito bem a sua real insatisfação, pois em seus planos iniciais, que foram<br />

amplamente frustrados, ela tentaria seduzir e levar Nathan para cama, após o término do espetáculo.<br />

Após tomarem o café na cantina, os dois voltaram para a sala de espera, onde procuraram informações<br />

da operação, mas a procedimento cirúrgico, ainda estava em andamento, e o novo boletim, somente seria<br />

divulgado em seu final, enquanto isso, procuraram um lugar para se sentarem, e Marina continuou o<br />

diálogo:<br />

– Agora que me toquei, a pessoa que você estava saindo da mansão, não é a mesma mulher daquele<br />

dia no restaurante, por acaso já trocou de namorada?<br />

– Nada disso, é apenas uma amiga, quanto a Letícia, era para ser a minha noiva, acabei pedindo ela em<br />

casamento um tempo depois, mas acabou fugindo com o meu melhor amigo.<br />

– Isso é sério?<br />

– Extremamente sério!<br />

– Me desculpe, eu não devia ter tocado neste assunto, não sabia que também tinha passado por isto!<br />

– Para você ver, além do meu problema de memória, do atentado a bomba que sofri, ainda tomei esta<br />

apunhalada pelas costas!<br />

– Eu sinto muito, e nem sei o que dizer numa hora dessas!<br />

– Não se preocupe com palavras, digamos que estou me curando aos poucos, mais é<br />

muito difícil ser traído, pelas duas pessoas a quem mais se confiava, e não tenho vergonha de lhe dizer<br />

isso, mas as vezes eu perco as forças, e acabo desabando em lágrimas.<br />

– Me perdoe por me intrometer neste assunto, mas pelo pouco que pude ver naquele dia, ela parecia<br />

estar cheia de ciúmes de você, e isto é coisa de mulher apaixonada, mas pelo menos vocês conversaram,<br />

esclareceram sobre o término da relação, eles deram os seus motivos?<br />

147


<strong>Caminhos</strong><br />

– Pior que não, só me restou uma carta de despedida, saíram escondidos e de mansinho na madrugada,<br />

enquanto todos dormiam na casa de praia, aliás, aquela mulher que eu estava indo ao teatro, é a Alba, ela<br />

estava meio que ficando com o Caio, e também foi deixada para trás!<br />

Marina ficou abismada, nunca imaginaria que o empresário, passasse por tantas adversidades em sua<br />

vida, mas mesmo tendo achado muito estranha, toda esta história contada por ele, desta suposta dupla<br />

traição repentina, ela preferiu guardar a sensação para si mesma, e procurou não ferir ainda mais, aquele<br />

que lhe compartilhava os seus sentimentos.<br />

Eles aguardaram por mais uma hora, até que o médico responsável pela cirurgia, foi até onde eles se<br />

encontravam, e procurou ser objetivo contando a Marina, que haviam conseguido conter a hemorragia, e<br />

que neste momento o pai Duarte, tinha amplas chances de sobreviver, e que tudo passaria a depender, da<br />

reação de seu próprio organismo, nestas primeiras vinte e quatro horas, e ambos ficaram mais aliviados.<br />

148


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 34 •<br />

Após receberem o boletim médico, Nathan levou Marina até o apart-hotel, onde se despediram<br />

trocando números de celular, e ele retornou sem pressa para a Mansão, sendo que por todo o caminho de<br />

volta, veio refletindo sobre este longo dia de sábado, onde pôde conhecer melhor a colecionadora, e<br />

também as pessoas do condomínio, sem contar da situação envolvendo Alba.<br />

Por falar em condomínio, ainda havia algum movimento em um barzinho, que um dos moradores o Seu<br />

Barbosa, havia improvisado na sala de recreação, um pedido especial dos outros condôminos, por saber,<br />

que ele já fora proprietário de um estabelecimento similar, quando ainda morava em Salvador na Bahia.<br />

Este era uma das únicas diversões por ali, inclusive servia alguns pratos típicos de boteco, para Silvia e<br />

seu filho Leonardo, que haviam acabado de chegar do hospital, após ele realizar seu tratamento contra<br />

o câncer, e não tendo tempo de fazer o jantar, comeram por ali mesmo, e enquanto se alimentava, Silvia<br />

preocupada com o filho, procurava ver como ele se sentia.<br />

– Melhorou o mal estar e o enjoo no estômago?<br />

– Daqui a pouco melhora, eu já devia ter me acostumado com a quimioterapia, mas tem dia que parece<br />

me derrubar mais.<br />

– Queria que isso fosse comigo, se eu pudesse trocava de lugar com você agora!<br />

– Deixa de falar besteira mãe, assim que sair os papeis de liberação, do tratamento nos Estados Unidos,<br />

e eu receber as novas medicações, e vou me curar rapidinho, você vai ver!<br />

– Fico tão esperançosa vendo-o falar assim, tenho muito orgulho de você, apesar de ainda ser um rapaz,<br />

luta com um homem maduro e de fibra.<br />

– Seguinte mãezona, não adianta eu ficar me lastimando pelos cantos, isso só me traria<br />

mais constrangimentos, além do que, eu não posso deixar a doença me vencer, por isso tenho de seguir<br />

bem forte, e com extrema determinação, para não ser derrotado no final da batalha.<br />

Realmente o jovem era muito forte, e mesmo passando por todas estas circunstâncias, tais como o<br />

abandono do pai durante a sua doença, a falta de dinheiro para custear todas as despesas, e as fortes<br />

dores na região do estômago, onde se concentrava o seu maligno tumor, não se permitiu abater e<br />

desanimar, e seguia em frente em busca de seu sonho, que era de se tornar um grande cartunista.<br />

Quando terminou de comer, Leonardo avisou a mãe que daria uma volta pelo jardim, onde havia muitas<br />

flores plantadas pelos moradores, e como ele quase não tinha tempo, e muitas vezes não saía de seu<br />

quarto, raramente ia até este local calmo e tranquilo.<br />

A noite de sábado estava terminando, mas o luar daquela noite estava tão esplêndido, que fez<br />

desaparecer momentaneamente, todos estes problemas que o moço carrega consigo, e quando se<br />

aproximou do único banco do local, notou ali a presença de uma jovem, que se encontrava sentada<br />

e sozinha.<br />

Para a surpresa de Leonardo, ao se aproximar na tentativa de cumprimenta-la, ela o avistou, e saiu<br />

rapidamente pelo outro lado, deixando-o praticamente falando sozinho, e sem ter muito o que fazer, ele se<br />

sentou calmamente, e acabou rindo da própria situação, seria ela um destas prováveis pessoas, que<br />

correm de doentes com câncer, com medo de isso ser contagioso?<br />

Perto da meia-noite, ele se levantou do banco e saiu do jardim, estava indo na direção de seu<br />

apartamento, quando acabou encontrando o síndico pelo caminho, que estava se certificando de tudo em<br />

sua última ronda, e este que havia mais cedo, observado a cena entre ele e a moça, não deixou de<br />

comentar:<br />

149


<strong>Caminhos</strong><br />

– Meu caro jovem, eu não gosto de me intrometer na vida dos moradores, mas não pude deixar de<br />

perceber a cena de agora a pouco, não ligue muito para as atitudes da garota Vanessa, ela evita mesmo o<br />

contato com todos por aqui, é porque ela se encontra muito doente, e procura se distanciar das pessoas,<br />

principalmente daquelas que demonstram ter pena dela.<br />

– Eu percebi mesmo que não estava bem, qual o problema dela Xavier?<br />

– Infelizmente é um câncer em fase terminal, ela nem está mais se tratando, acabou desistindo de tudo,<br />

até da própria família!<br />

– Valeu por me contar, eu havia tido uma outra impressão dela, eu acho até que compreendo sua atitude<br />

agora!<br />

– Bom eu já vou indo, preciso descansar um pouco, porque hoje foi um longo dia, boa noite!<br />

– Boa noite, bom descanso!<br />

O rapaz até que havia percebido a frágil aparência da jovem, mas agora sabendo de seu problema,<br />

passava em sua mente contar tudo a ela, que ele também era uma pessoa doente, e com isso tentar de<br />

alguma forma ajuda-la, mas o que ele não sabia, é que isso seria uma missão quase impossível, pois ela<br />

realmente não se abria com mais ninguém.<br />

Sentada em sua cama, Vanessa aplicava em si mesma, uma de suas doses diárias de morfina, era um<br />

dos raros momentos do dia, ao qual ela podia conviver sem as dores sufocantes, que atacavam todo o seu<br />

jovem e já esgotado corpo, pois a doença já havia se espalhado por toda parte.<br />

Restava-lhe somente fazer uma pequena prece, ao qual buscaria forças para realiza-la, e ao se deitar na<br />

cama, cobrindo parcialmente o corpo dolorido, elevou seus pensamentos ao céu e ao infinito, apelando a<br />

quem pudesse ouvir as suas súplicas, pedindo simplesmente que um anjo, viesse em seus sonhos mais<br />

profundos, a tocasse com as suas mãos, e a levasse embora para sempre deste mundo, para assim poder<br />

ficar totalmente livre, de todo este pesado fardo que carregava.<br />

No início da madrugada paulistana, Alba e Iris finalmente chegaram do teatro, e devido ao extenso<br />

transito que enfrentaram, elas levaram mais de duas horas, para concluírem o trajeto e retornarem para<br />

casa, enquanto uma estava eufórica pelo espetáculo assistido, a outra estava aparentemente aborrecida,<br />

porque provavelmente seria cobrada pelo seu chefe, sobre os planos que tinham para aquela noite, que<br />

era iniciar a sedução de Nathan, conquistar sua confiança, e descobrir onde ele guardava as relíquias, que<br />

eram o alvo de toda esta grande armação.<br />

O Empresário que havia chegado um pouco mais cedo, trancou a porta de seu quarto, ligou o som em<br />

volume baixo, e se deitou na cama pensativo, repassando em sua mente todo aquele intenso dia, foi<br />

quando tocou uma canção no rádio, que o fez lembrar prontamente de Letícia, a doce e antiga melodia, se<br />

misturou as memórias dos dias passados em Angra, principalmente daquela última tarde, ao qual<br />

passearam juntos de lancha, e o romantismo predominou entre os dois amantes, mas não demorou muito,<br />

e ele veio a adormecer pelo cansaço.<br />

Aquela fria madrugada, foi uma das mais longas para Marina, que também se recolheu com<br />

pensamentos diversificados, entre o pai em recuperação no hospital, e todo o auxílio que Murilo, e<br />

principalmente Nathan, haviam plenamente dispensados a ela, mas aos poucos o sono foi chegando, e ela<br />

finalmente conseguiu dormir.<br />

Amanheceu um domingo chuvoso na capital, Murilo havia acordado bem cedo, e acompanhou Iris e Raul<br />

no café da manhã, ela ainda estava maravilhada pelo passeio ao teatro, enquanto o marido ouvia tudo e<br />

guardava silêncio, ele sabia bem que aquele não eram o mundo deles, e que mais cedo ou mais tarde,<br />

eles deveriam tomar seus próprios caminhos, e voltarem para a vida real.<br />

150


<strong>Caminhos</strong><br />

Alba por sua vez, vendo que o empresário ainda não havia descido, resolveu ir até a cozinha, e preparou<br />

uma bandeja especial, com um pouco de cada coisa da mesa do café, e foi bater na porta de seu quarto,<br />

onde pretendia entrar e acompanha-lo no desjejum.<br />

Elvira olhou para Iris, que olhou para Raul, que fez cara de desentendido, mas no fundo ambos<br />

perceberam esta forçação de barra, que a moça fazia o tempo todo, desde o dia em que haviam chegado,<br />

dando em cima de Nathan descaradamente, e desta vez Alba obteve sucesso, ela conseguiu que ele<br />

a deixasse entrar, e toda sorridente entrou o cumprimentando:<br />

– Bom dia, preparei um café super especial, quer dividi-lo comigo?<br />

– Bom dia, não precisava se incomodar, eu já estava me preparando para descer!<br />

– Precisava sim, eu ainda não tive oportunidade de lhe agradecer, toda a força que tem me dispensado,<br />

depois do que aconteceu em Angra do Reis, e também por ter me hospedado, aqui em sua maravilhosa<br />

Mansão!<br />

– Não fiz nada de mais, não precisa me agradecer por isso, além do mais, lhe devo desculpas por ontem<br />

a noite, mas eu precisava conversar com a Marina, e esclarecer muitas coisas que estavam pendentes.<br />

Se aproveitando que Nathan, aparentemente havia baixado a guarda, procurou especular mais a fundo.<br />

– E conseguiu esclarecer?<br />

– Digamos que uma boa parte sim, mas agora que temos alguma afinidade, eu creio que não<br />

será difícil de prosseguir, e procurar resolver todas as questões.<br />

– E o que pretende fazer para isso?<br />

– Vou dar um tempo a ela, até que obtenha notícias de melhora de seu pai, e depois pretendo traze-la<br />

até aqui, para deciframos de vez esta história da marca, e do artefato antigo ao qual chamam de fonte,<br />

que ela e o pai tanto almejavam encontrar comigo.<br />

– Interessante, e por acaso sabe onde estão guardados estes objetos?<br />

– Sei exatamente onde estão, a medalha com a tal marca, está em um porão aqui mesmo na mansão, o<br />

artefato fica guardado numa sala secreta, as outras peças estão em meu cofre, e certamente também com<br />

o Caio.<br />

– E se lembrou para que eles servem, eu poderia vê-los?<br />

– Porque está tão interessada neste assunto?<br />

– Só curiosidade mesmo, é que o Caio comentava sempre comigo, que um dia ia me mostrar uma tal de<br />

fonte, ao qual lhe dava imunidade a doenças, ferimentos, enfim, eu nunca acreditei muito nas bobagens<br />

que ele falava, mas agora ouvindo de sua própria boca, fiquei super curiosa em saber mais a respeito, e<br />

se realmente estas peças tem estes poderes todos.<br />

– Não vejo problemas em você ter acesso aos objetos, porém eu mesmo já estive com a peça em mãos,<br />

e nada de anormal aconteceu, por isso preciso da Marina, eu penso que através da marca, ela encontre<br />

mais pistas, que desvende como funciona realmente, este mecanismo de proteção e de forças, por isso<br />

vamos aguardar por ela!<br />

Com um sorriso forçado, Alba procurou demonstrar uma pequena concordância, porém o seu prazo<br />

estava acabando, e agora sabendo da localização dos objetos, restava a ela planejar, e quem sabe até<br />

151


<strong>Caminhos</strong><br />

arrumar um cúmplice, para ajudá-la a roubar estas peças importantes, e após tomarem o café, cada qual<br />

ficou isolado em seu quarto, até a hora que saiu o almoço, que foi perto das quatorze horas.<br />

Hoje era dia de visitas no presídio, e tanto Militão como Situação, receberam a presença de alguns<br />

familiares, que perceberam que ambos após dias na prisão, estavam abatidos e apreensivos quanto ao<br />

futuro, onde teriam de encarar frente a frente, o seu ex-chefe de bando do narcotráfico, e que teriam de<br />

confirmar seus depoimentos, incriminando ou inocentando Raul, sobre o assassinato do jovem Nicolas.<br />

Apesarem de serem analfabetos e desajeitados, eles tinham noção que estavam bem encrencados, se<br />

contassem a verdade, que Raul havia apenas mandado dar uma lição no rapaz, e que em vez disso, Otto<br />

atirou e matou o jovem, certamente corriam o risco de serem eliminados, ali mesmo na cadeia através de<br />

outros detentos, as quais obedeciam ao comando do crime, e por outro lado, se mentissem o apoiando no<br />

fato, poderiam mais tarde serem incluídos como cúmplices, neste crime hediondo cometido na favela.<br />

E assim que terminaram as visitas, voltaram a ficar trancafiados na pequena cela, que era ocupada por<br />

vários detentos, em sua maioria amontados pelo chão, e também encostados de pé nas paredes sujas, e<br />

os dois através das grades, ficaram parados e refletindo, durante o final daquela tarde de domingo.<br />

152


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 35 •<br />

A chuva cessou ao anoitecer, e apesar do tempo estar parcialmente nublado, em alguns pontos do céu<br />

paulistano, se avistava algumas estrelas que resplandeciam, perante um olhar triste e ainda apaixonado,<br />

levando seus pensamentos a um recente passado.<br />

Na sacada de seu quarto, Nathan revivia aqueles últimos momentos com Letícia, ele ainda sentia na<br />

pele todas as emoções, daquela tarde ensolarada em Angra dos Reis, onde sob o entardecer do mar<br />

Atlântico, um casal entrelaçado entre abraços e beijos, prometiam um ao outro juras de amor, e de alguma<br />

forma ele ainda tentava compreender, aquela suposta traição.<br />

Um pouco mais distante dali, mais precisamente na cidade do Rio de Janeiro, Bianca e Talita, que<br />

haviam passado o dia todo na praia, retornavam tranquilamente de táxi para casa, quando o motorista teve<br />

de fazer uma rápida parada, em um posto de gasolina das redondezas, porque uma das garotas passava<br />

mal.<br />

Ao descer do veículo, Bianca correu rapidamente em direção ao banheiro, onde colocou para fora, tudo<br />

o que havia comido durante todo o dia, e não era primeira vez que o fato acontecia, por diversas vezes já<br />

havia sentido estes enjoos, e a necessidade imediata de vomitar, já era algo bem frequente nos últimos<br />

dias.<br />

Após se restabelecer com a ajuda da companheira, ela conseguiu voltar para o carro, e terminar o trajeto<br />

até o apartamento, onde novamente fez todo o processo anterior, porém quando passou o mal súbito, ela<br />

se sentou na tampa do vaso sanitário, e começou a chorar.<br />

Talita havia notado algumas alterações na namorada, tanto de comportamento, como na aparência<br />

física, mas nem de longe passava pela sua cabeça, o que Bianca já havia percebido, pois suas regras<br />

estavam atrasadas, a praticamente dois meses e meio, restava agora somente fazer o teste, para<br />

confirmar o que praticamente já tinha certeza.<br />

Naquela noite em que ficou com Murilo, os dois perdidos na sedução de seus corpos e paixões,<br />

acabaram se descuidando totalmente, e não utilizaram os preservativos necessários, para todas as vezes<br />

em que juntos, chegaram ao auge de seus orgasmos, porém num determinado momento, em que o ciclo<br />

da natureza agiu, uma nova vida surgiu dentro dela.<br />

E assim terminava a noite de domingo, onde sempre ficava parcialmente no ar, dentro da maioria das<br />

pessoas, aquela sensação de incertezas e dúvidas, e por muitas vezes um medo assustador, de se<br />

deparar com as dificuldades e situações, que a realidade sempre fez questão de nos apresentar.<br />

Na manhã de segunda-feira, na cidade mais agitada do país, encontramos a coordenadora Dulce, e a<br />

professora Amanda, acertando a programação semanal da Ong, as duas estavam se desdobrando, para<br />

cobrirem as aulas e todas as tarefas, aos quais pertenciam a Letícia, antes de seu eventual sumiço, e este<br />

era o assunto ao qual conversavam, e Dulce indagou Amanda:<br />

– Já se passaram tantos dias, e nada de notícias da Letícia, você não acha isso estranho?<br />

– Com certeza, ela nunca perdeu um dia de atividade, até mesmo as vezes quando se atrasava, ela<br />

ligava avisando para nos organizarmos, e agora não conseguimos falar nem no telefone residencial, e nem<br />

em seu celular.<br />

– Eu também já tentei até mesmo a noite, só dá caixa postal em ambos os telefones, eu tenho certeza<br />

que ela desanimou de tudo, depois da morte trágica do namorado!<br />

– Mas tem alguma coisa errada nisso tudo, porque alguns dias depois daquele atentado, ela me ligou<br />

avisando que ia tirar uns dias, dizendo que ia viajar com uns amigos, e me parecia bem feliz na ligação, e<br />

a partir daí não deu mais notícias.<br />

153


<strong>Caminhos</strong><br />

– Eu vou esperar mais uma semana, de repente quer ficar longe de todos os ambientes, que a façam<br />

lembrar de seu grande amor, nestes casos a pessoa precisa mesmo de um bom tempo, para poder<br />

amenizar todos os seus sentimentos.<br />

– É mesmo uma pena tudo isso que aconteceu, mas temos de seguir em frente, vamos as aulas?<br />

– Vamos lá, ao trabalho!<br />

As duas integrantes da instituição, como a maioria das pessoas, não sabiam que Nathan não havia<br />

morrido, naquele fatídico dia do atentado a bomba, por esse motivo, acreditavam que o sumiço da moça,<br />

estava ligado a esta tragédia pessoal, mal sabiam elas, que esta história era muito mais complicada.<br />

Conforme haviam combinado, Murilo e Nathan almoçariam juntos, e para isso, escolheram um lugar bem<br />

reservado, onde não pudessem reconhecê-lo, e assim decidirem algumas questões pendentes,<br />

relacionadas as empresas do grupo, e também as dos moradores do condomínio.<br />

O empresário queria acompanhar tudo de perto, já estava na hora de dar um novo rumo a sua vida, e<br />

logicamente começar a se posicionar, e a decidir os assuntos mais importantes, e logo após os dois se<br />

acomodarem, fizeram o pedido sugerido pelo chefe, e Murilo iniciou uma sigilosa conversa.<br />

– Bom, primeiramente trataremos do assunto de corrupção, ao qual estamos investigando severamente,<br />

após os desvios constatados nas contas.<br />

– E o que descobriram de concreto até agora?<br />

– Foi apurado pelos auditores contratados, que todo o dinheiro desviado de uma das empresas, foram<br />

parar em um banco em Londres, divididas em duas contas correntes.<br />

– Qual das empresas sofreu este golpe, e qual é o valor total do desfalque?<br />

– Foi a empresa imobiliária, e o valor chega perto da casa dos vinte milhões!<br />

– É realmente uma alta soma em dinheiro, e como pretendem descobrir os responsáveis pelos desvios?<br />

– Vamos enviar um de nossos diretores financeiros, já estamos avaliando o mais apto e confiável, para<br />

viajar até a Inglaterra e investigar tudo, isto já deve acontecer nos próximos dias!<br />

– Perfeito, quando mais rápido descobrirmos os responsáveis, mais confiança passaremos aos<br />

investidores e acionistas!<br />

O atual presidente do grupo mencionou a ele, qual seria a próxima pauta a ser discutida, foi quando o<br />

garçom iniciou o serviço, colocando a mesa a refeição que haviam pedido, e resolveram unanimemente<br />

entre si, terminarem a conversa após o almoço, e pelo semblante que Nathan demonstrava, ele parecia<br />

aprovar sem dúvida alguma, a competência e lealdade de Murilo.<br />

Certamente foi uma excelente ideia, terem marcado este almoço de hoje, onde uniram-se o útil ao<br />

agradável, e pela segunda vez seguida, a ótima presença de espírito de Murilo, envolvia este encontro<br />

numa atmosfera amigável, onde ele passava as informações das empresas, e também tudo sobre o<br />

condomínio, e após almoçarem, continuaram de onde haviam parado, e Murilo deu início ao diálogo:<br />

– Vou pedir um cafezinho, é como um vício após as refeições!<br />

– Também vou querer um, assim lhe acompanho.<br />

– Alguma dúvida sobre as questões dos desfalques?<br />

154


– Nenhuma dúvida, vamos aguardar os resultados das investigações, e quanto aos problemas dos<br />

moradores, já tem alguma solução?<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Está tudo muito complicado, porque de um lado estão os investidores, que são os proprietários legais<br />

dos apartamentos, e eles afirmam veementes, que sem o dinheiro arrecadado dos aluguéis, não tem caixa<br />

suficiente para atender as reformas, e melhorias requeridas pelos condôminos.<br />

– É mesmo uma situação difícil, pelo que entendi alguns não estão pagando, justamente por não terem<br />

cumprido com as promessas realizadas.<br />

– Exatamente, veja só, você pode ter pedido parte de sua memória, mas não perdeu o jeito de lidar com<br />

os negócios!<br />

– Pelos menos me restou alguma coisa, mas voltando ao assunto, por acaso tem em sua planilha de<br />

imóveis, a porcentagem exata da propriedade, que pertence ao grupo e aos investidores?<br />

– Sim, eu já havia feito um levantamento, são sessenta e cinco por cento pertencentes aos acionistas, e<br />

trinta e cinco por cento a nossa empresa imobiliária.<br />

Nathan pensou um pouco, e parece ter levado os seus pensamentos, até aqueles momentos com os<br />

moradores, e depois de alguns longos segundos, fez um pedido a Murilo:<br />

– Me faça um favor, verifique o valor de mercado destes imóveis, e faça uma proposta de compra a eles,<br />

creio que isso não será difícil, já que dizem estar tomando prejuízos.<br />

– Mas é claro, sem problemas, quanto ao valor eu tenho em mãos, vou formalizar a proposta, e<br />

marco uma reunião para tratar disto, só preciso saber exatamente, de qual das empresas do grupo,<br />

pretende fazer esta retirada, caso haja um acordo de venda da parte deles.<br />

– Então são dois favores, peça ao nosso gerente financeiro, que verifique todas as minhas contas<br />

pessoais, penso em fazer esta aquisição em meu nome, e não misturar com os negócios da empresa.<br />

Murilo ficou admirado com a resposta, mas não entendendo a visão do empresário, o indagou:<br />

– Posso perguntar o que pretende fazer?<br />

– Digamos que tenho algumas coisas em mente, mas dependerá muito destes favores que lhe pedi, mas<br />

com certeza você será o primeiro a saber, porque tem a minha total confiança!<br />

– Eu fico muito lisonjeado em ouvir isso, vou me empenhar ao máximo para atender o seu pedido.<br />

– Temos mais algum assunto para tratar?<br />

– De urgente somente estes dois.<br />

– Então neste caso eu já vou indo, ainda tenho agora a tarde, uma outra reunião importante com o<br />

Arthur, muito obrigado por tudo que está fazendo, eu aguardo notícias suas!<br />

O empresário fez questão de se levantar, e dar um longo abraço de agradecimento, no principal<br />

executivo do grupo, e depois cada um tomou um rumo diferente, onde Murilo voltou para a sede na<br />

Avenida Paulista, e Nathan retornou para a Mansão.<br />

Enquanto isso não acontecia, Alba escondida pelos cantos da propriedade, seguia de perto todos os<br />

passos e conversas de Raul, ela precisava encontrar todas as suas fraquezas, e assim poder agir na<br />

tentativa de recrutá-lo, para dar prosseguimento as buscas, e também o roubo dos objetos, mas ao ver<br />

155


Arthur chegando, procurou ficar por perto da biblioteca, onde o advogado ficou aguardando o patrão<br />

chegar.<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Não demorou muito, e Nathan encostou o carro de luxo na garagem, somente neste momento ele<br />

percebeu algo muito importante, ao qual ninguém mais havia percebido, ele dirigiu sozinho e sem ajuda, a<br />

ida e toda a volta do restaurante, e fez isso automaticamente, significando que nem tudo em sua memória,<br />

havia sido perdido e esquecido, e isso o deixou plenamente satisfeito.<br />

Ao entrar na sala, foi comunicado por um dos funcionários da casa, sobre a presença de Raul na<br />

biblioteca, para onde se encaminhou imediatamente, pois sabia que estava um pouco atrasado, devido a<br />

longa conversa que teve com Murilo, por esse motivo, já entrou se desculpando:<br />

– Me perdoe este pequeno atraso, e por deixa-lo esperando, sei que é muito ocupado.<br />

– Não se preocupe, eu acabei até dando uma olhada em seus livros, alguns são bem interessantes, e a<br />

maior parte são bem antigos não?<br />

– É verdade, mas pouco sei a respeito depois de meu apagão, mas se algum lhe interessar, pode levar<br />

para ler, sem problemas!<br />

– Agradeço a gentileza, o meu assunto é bem rápido, foi marcado a sua apresentação na polícia federal,<br />

e deverá acontecer na próxima semana, e com isso você obrigatoriamente, também terá de falar com toda<br />

a imprensa, esclarecendo tudo sobre seus motivos pessoais, de se manter morto no lugar de outra<br />

pessoa.<br />

– Eu já esperava por isso, venho me preparando psicologicamente há alguns dias.<br />

– Melhor assim, quando se aproximar o dia da audiência, eu lhe procuro para acertamos todos os<br />

detalhes, e era isso que eu queria lhe comunicar, achei melhor falar pessoalmente, e se não precisar mais<br />

de mim por hoje, eu já estou de saída para o trabalho.<br />

– Creio que de momento é só mesmo, mais uma vez muito obrigado, a gente vai se falando!<br />

Os dois se cumprimentaram com um aperto de mãos, e cada qual seguiu o seu destino, Arthur retornou<br />

a sua empresa de advocacia, enquanto Nathan foi ao seu quarto para refletir, e sem que ambos<br />

soubessem, Alba havia escutado toda a conversa, escondida atrás de uma das estantes de livros, e assim<br />

que percebeu a saída dos dois, ficou de pé mentalizando, como alcançar todos os seus objetivos.<br />

156


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 36 •<br />

Em seu quarto, Nathan depois de ter passado algum tempo pensativo, em todas as decisões que<br />

pretendia tomar nos próximos dias, acabou adormecendo pelo cansaço, e mergulhado em um sono<br />

profundo, o levou a sonhar com o seu amor Letícia, ao quais estes caminhavam juntos e de mãos dadas,<br />

por uma extensa área coberta por muitas flores, mas este singelo momento foi bruscamente cortado,<br />

quando alguém bateu em sua porta, ele se levantou e foi atender.<br />

– Quem é?<br />

– Sou eu Gabriel, está muito ocupado?<br />

– Entre, estava apenas descansando um pouco.<br />

– Quer que eu volte uma outra hora?<br />

– De maneira alguma, deixe-me jogar um pouco d'água no rosto, para que eu possa acordar direito, e aí<br />

conversaremos.<br />

O menino procurou se acomodar em uma das poltronas do quarto, ele estava aparentemente<br />

preocupado e inquieto, porque havia uma situação em sua família, ao qual procuraria dividir com o seu<br />

anfitrião, e assim que ele retornou do lavabo, Nathan prosseguiu com a conversa.<br />

– Agora que estive pensando, eu não tenho lhe dado atenção nestes últimos dias, e peço que me perdoe<br />

por isso, mas são tantas questões a se resolverem, que mal tenho tempo para mim mesmo.<br />

– Não precisa se desculpar, posso ser criança, mas eu vejo as coisas, e sei tudo o que está passando<br />

estes dias.<br />

– Mas você me parece triste, o que foi que aconteceu?<br />

– São minha mãe e meu pai, eles não se intendem de jeito nenhum, principalmente por causa daquele<br />

problema com a polícia.<br />

– Pelo que eu sei, estão prestes a resolver este caso complicado, porém ele depende da confissão dos<br />

outros envolvidos, mas vamos ter pensamentos positivos, de que tudo vai dar certo, ok?<br />

– Ok, mas tem uma outra coisa que tá pegando, ele precisa arranjar um serviço, mas com uma ficha na<br />

polícia fica mais difícil, não teria como você arrumar um emprego para ele, eu ouvi falar que é dono de<br />

muitas empresas!<br />

– Minha nossa é verdade, é algo que eu já deveria ter feito, mas nem de longe passou pela minha<br />

cabeça.<br />

– Sei que não devia lhe pedir mais nada, porque já nos ajudou muito até agora, mas é muito importante<br />

o meu pai ter um trabalho, tenho medo de ele ficar sem dinheiro, e voltar a fazer coisas erradas<br />

novamente.<br />

– Você está coberto de razão, pode deixar que vou resolver esta questão ainda hoje!<br />

– Muito obrigado por tudo, a professora Letícia sempre falava para todo mundo, que você era um<br />

homem muito bom, falando nisso onde ela está, minha mãe me disse que fez uma viagem, quando ela<br />

volta?<br />

– Esta é uma questão que não sei lhe responder, mas com certeza ela deve estar bem, e morrendo de<br />

saudades de você, agora vamos ao que interessa, resolver o assunto com o seu pai!<br />

157


– Só te peço um grande favor, que não comente nada sobre o que pedi, tenho medo dele ficar bravo<br />

comigo!<br />

– Pode ficar tranquilo, que não vou dizer nada a ele, fica como um segredo só nosso!<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Os dois se despediram, e o menino deixou o quarto, o empresário pensava em um pouco mais tarde,<br />

convidar Raul para uma conversa na biblioteca, onde pretendia descobrir como lhe dar uma oportunidade,<br />

e para isso, precisava saber quais eram as suas aptidões.<br />

Já anoitecia quando uma séria discussão, envolvendo o casal Juliano e Tamares, chamava a atenção de<br />

alguns moradores no condomínio, inclusive de Dona Angelina e de Regina, que estavam na área de lazer<br />

jogando damas, e não deixaram de comentarem o fato.<br />

– Dona Angelina, a senhora está ouvindo, estão brigando novamente.<br />

– Vou te falar uma coisa Regina, não sei como ele aguenta aquela mulher, se fosse outro já tinha dado<br />

um pé no traseiro dela!<br />

– Eu também acho que sim, o que não consigo realmente entender, é porque ela o trata desta maneira,<br />

pois é um homem muito trabalhador, não perde um dia de serviço, além de ser simpático e atencioso com<br />

todos.<br />

– Eu sei de algo, já tenho fama de fofoqueira mesmo, então lá vai, ouvi dizer que ela o trata desta<br />

maneira, porque não puderam ter filhos no casamento, é que ele tem um probleminha, e não pode gerar<br />

filhos nela.<br />

– Verdade Dona Angelina?<br />

– Como diria o Nelson Rubens, eu aumento, mas não invento!<br />

As duas até que ensaiaram uma pequena gargalhada, mas esta foi abatida por intensos barulhos, vindo<br />

do lado sul do condomínio, justamente de onde o casal brigava, e havia uma ligeira impressão, que se<br />

estava quebrando tudo por lá, deixando a todos os que escutavam apreensivos.<br />

Um pouco mais tarde, quando todos já haviam se recolhido, Juliano saiu cabisbaixo de seu apartamento,<br />

ele era um homem de média idade, e além de sofrer com problemas conjugais, ainda enfrentava<br />

dificuldades no trabalho, onde era perseguido injustamente por seu encarregado, que procurava puxar o<br />

seu tapete, sempre que ele se destacava em suas ações, e ali sozinho, sentado na rampa de acesso,<br />

abaixou a cabeça procurando respostas, por ter de sofrer tanto assim.<br />

Perto das vinte e três horas, Raul retornou a mansão, havia ficado fora a noite toda, fazendo algumas<br />

cobranças antigas, em busca de arrecadar um pouco de dinheiro, e Nathan que já o aguardava, o abordou<br />

na entrada da propriedade, o convidando para uma conversa na sala de estar.<br />

– O motivo de meu assunto é bem simples, acharia ruim se eu lhe oferecesse um emprego?<br />

– Um emprego? Mas porque faria isso por mim, por acaso foi alguém da minha família que lhe pediu?<br />

– Eu tenho percebido diariamente, a sua inquietação pelos cantos da casa, e também sei que todo<br />

homem, quer ter o seu próprio dinheiro, e principalmente não depender de favores dos outros.<br />

– Quanto a isso você tem toda razão, não me sinto muito a vontade com a atual situação, e da maneira<br />

que estamos vivendo por aqui, mas que tipo de emprego pretende me oferecer?<br />

– Se caso aceitar a minha proposta, analisaremos algo dentro de suas aptidões.<br />

158


159<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Neste momento, Alba entrou no ambiente propositadamente, e sob o pretexto de levar um café para os<br />

dois, colocou em prática mais um de seus planos, onde desta vez pretendia incluir Raul, dentro de suas<br />

armações da organização.<br />

– Desculpe a minha intromissão Nathan, mas não pude deixar de ouvir em minha entrada, e pelo o que<br />

pude observar por aqui, vocês estão sem um motorista fixo, e sempre dependem de carona ou de um táxi,<br />

além de que, acredito que ele pode simultaneamente, também lhe fornecer proteção pessoal, agindo como<br />

o seu segurança!<br />

– Não é necessário se desculpar, e agradeço a sua observação, realmente desde a morte estúpida do<br />

Moreira, acabamos por ficar sem ninguém no cargo, então eu refaço a minha pergunta, acredita que<br />

poderia exercer estes cargos?<br />

– Não vejo problema algum, sei andar bem aqui em São Paulo, e também sou experiente o bastante,<br />

para enxergar de longe qualquer tipo de encrenca!<br />

– Pense nisso como uma coisa provisória, até que possa trabalhar em algo que realmente queira, então<br />

estamos entendidos?<br />

– Tudo bem, estamos sim!<br />

– Excelente, amanhã eu peço para o Murilo tratar de sua contratação, e de acertar todos os detalhes que<br />

faltarem, como documentos e a sua remuneração mensal, e assim ambos solucionaremos<br />

provisoriamente, algumas de nossas maiores necessidades.<br />

– Eu agradeço pela ajuda de vocês, não era bem o que eu tinha em mente para o futuro, mas como você<br />

mesmo disse é provisório, e vai me ajudar até que as coisas se resolvam.<br />

O que Alba havia planejado deu certo, agora restava convencer Raul a se juntar a ela, e para tal feito,<br />

disponibilizaria todos os recursos a seu alcance, inclusive dois dos quais ele estava com mais carência,<br />

que eram um bom dinheiro imediato, e suprir a falta de uma mulher, para as suas necessidades de<br />

homem, já que se encontrava há um bom tempo, separado de sua esposa Iris.<br />

Por não se tratar de uma conversa privada, Iris e Gabriel ouviram tudo do corredor, e ficaram<br />

satisfeitíssimos como o seu fechamento, parecia que tudo estava melhorando em suas vidas, e que desta<br />

vez, as coisas podiam ser bem diferentes, e naquele final de noite enluarada, todos se recolheram antes<br />

da meia-noite, ambos cheios de expectativas para o futuro.<br />

Passaram-se rapidamente alguns dias, e enfim havia chegado o dia da acareação na polícia, onde Raul,<br />

Militão e Situação, prestariam depoimentos ao delegado Siqueira, que cuidava pessoalmente, de toda a<br />

investigação do caso Nicolas.<br />

Devidamente acompanhado pelo advogado Arthur, Raul chegou pontualmente no horário marcado, e ele<br />

estava aparentemente muito nervoso, embora procurasse demonstrar total confiança, por se considerar<br />

inocente da acusação de assassinato, enquanto isso pelo outro lado do prédio, chegava os seus dois excomparsas<br />

dentro da viatura, ambos haviam vindos diretamente da penitenciária.<br />

Em uma ampla sala espelhada e preparada, todos os indiciados começaram a serem acomodados, em<br />

posições estratégicas e contundentes, onde seriam gravadas as conversas pelos investigadores, para<br />

mais tarde analisarem tudo minunciosamente, na tentativa de descobrirem toda a verdade, mas isso<br />

dependeria do andamento do interrogatório, onde tentariam arrancar toda a verdade, procurando<br />

solucionar este caso de homicídio.<br />

Do outro lado da grande cidade, Otto que ainda não havia sido encontrado, nem ao menos para receber<br />

uma das várias intimações, para prestar depoimentos sobre o caso em si, estava atento a todas as<br />

notícias da acareação, logicamente informado em tempo real, por alguém de dentro da própria polícia,


pago pelos serviços prestados a facção criminosa, que estão espalhados pela maioria dos presídios, e<br />

delegacias de todo o país.<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Enquanto isso no Rio de Janeiro, Bianca que trabalhava em uma empresa do Grupo, desde a sua<br />

transferência de São Paulo, havia pedido um dia de licença médica, para a realização de alguns exames<br />

de sua gravidez, que já havia sido constada há alguns dias atrás, desde aquela tarde em que passou<br />

muito mal.<br />

Nem é preciso mencionar, o quanto este fato alterou os projetos iniciais, planejados entre ela e Talita<br />

para o futuro, em nenhum momento deste relacionamento, poderiam se imaginar numa situação destas, e<br />

por conta disso, passavam por uma séria crise na relação.<br />

E sem um apoio sequer da companheira, Bianca foi sozinha até o hospital conveniado, e mesmo abatida<br />

por este fato inesperado, mais uma vez procurou arranjar forças, encarando tudo de maneira muito<br />

positiva, e já posicionada na sala de exames, ela ficou extremamente emocionada, e pôde observar os<br />

movimentos e batimentos cardíacos, daquela nova vida que carregava dentro de si.<br />

160


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 37 •<br />

Ao Término de todos os exames, deste seu primeiro pré-natal, Bianca deixou o hospital completamente<br />

diferente, pois das outras vezes em que aconteciam adversidades, sempre abaixava a cabeça<br />

questionando o destino, pelas coisas que sempre aconteciam com ela, mas pela primeira vez não tinha<br />

dúvidas, e sim uma grande certeza que carregava consigo, e foi desta maneira que retornou para casa.<br />

Ao chegar, já notou que Talita estava sentada na pequena sala, demonstrando uma cara amarrada, não<br />

escondendo o fato de que estava contrariada, permanecendo em silêncio, e não abrindo a boca para<br />

nada, por outro lado, mantendo a determinação que trouxe consigo da rua, Bianca conversou abertamente<br />

com a companheira,<br />

– Fiz os exames, e está tudo bem com o bebê, estou grávida de seis semanas!<br />

– Com toda esta situação complicada, você me parece estar muito feliz, o que deu em você?<br />

– Para falar a verdade estou sim, mas ao mesmo tempo, preocupada com diversas coisas, como por<br />

exemplo o meu trabalho, eu ainda estou em experiência na nova empresa, e não sei como eles vão lidar<br />

com este fato.<br />

– Há uma outra maneira mais fácil, de se resolver todas estas coisas, você sabe do que estou falando!<br />

– Nós já discutimos muito sobre este assunto, não vou fazer um aborto como sugeriu, e não chame o<br />

meu bebê de coisa, eu estou decidia a seguir com a gravidez até o seu final!<br />

– Se você está preparada para arcar com as consequências, que a sua decisão vai lhe proporcionar,<br />

então siga em frente, e acate com tudo o que vai lhe acarretar.<br />

– Sinto muito pelo que vou lhe falar agora, mas vou procurar ser bem franca e delicada, você me ajudou<br />

muito, e me levantou quando estava no fundo do poço, porém quando fez aquela besteira de tentar<br />

o suicídio, eu deixei toda a minha vida para traz por você, abandonei meu cargo de prestigio na diretoria, e<br />

também o meu melhor amigo, ao qual eu acreditava estar apaixonada, e agora creio que estamos quites,<br />

não pense que vai fazer algum tipo de chantagem emocional, porque desta vez a prioridade vai ser o meu<br />

bebê!<br />

Talita se surpreendeu com as palavras firmes, e a severa atitude tomada pela namorada, com isso, ela<br />

deixava mais do que claro, que nenhum fato, nem mesmo outra tentativa idiota de se matar, mudaria a<br />

determinação que ela havia imposta, e ao terminar de expor tudo o que pensava, foi para o quarto ler a<br />

papelada médica, inclusive todas as orientações da cartilha, quanto as vitaminas e a alimentação<br />

balanceada, necessárias durante toda a sua gestação.<br />

Em São Paulo, Murilo se encontrava em sua sala da presidência, era um dia em que teria de tomar<br />

muitas decisões, pois os auditores haviam encontrado na antiga sala de Vasques, uma agenda preta, ao<br />

qual continham informações importantes, que determinariam uma mudança brusca nas investigações,<br />

referentes as grandes somas de dinheiro desviadas do grupo.<br />

Segundo estas anotações, se confirmaram as duas contas já descobertas em Londres, porém existiam<br />

várias subcontas associadas a estas, isso significava que muitas pessoas estavam envolvidas, e seguindo<br />

as orientações de Nathan, ele nomearia um diretor financeiro de confiança, para viajar até a Inglaterra, e<br />

desvencilhar todos estes movimentos, descobrindo de uma vez por todas, que são os verdadeiros<br />

responsáveis, pelos diversos desvios milionários.<br />

Mas antes de ir para a sala de reuniões, como de costume ficou de pé na janela de vidro, e olhando toda<br />

aquela paisagem cheia de edifícios, se lembrou de Bianca nos tempos de diretoria, certamente se ela<br />

estivesse ao seu lado trabalhando, hoje estaria exercendo um cargo importante na presidência, e estaria<br />

161


lhe orientando em suas decisões, mas ele não estava totalmente aborrecido, algo lhe trazia por dentro<br />

uma pequena sensação, de muito ânimo para tocar a sua vida em frente.<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Passado este momento nostálgico, ele vestiu seu paletó, ajeitou a gravata, e partiu para a reunião com<br />

os membros da diretoria, onde conversaria com todos os indicados para o novo cargo, na tentativa de<br />

escolher o mais apto, a exercer a importante tarefa de ir ao estrangeiro, para desvendar o caso da<br />

corrupção.<br />

Enquanto isso na Mansão, Nathan se preparava para assistir tudo ao vivo, através de um equipamento<br />

instalado na biblioteca, próprio para uma teleconferência, assim como os demais acionistas também<br />

tinham, porém, o sinal de vídeo com a sua imagem, havia sido previamente desligado, possibilitando que<br />

apenas ele, visse e ouvisse todos os participantes, ficando oculto para os demais conferencistas.<br />

Alba ficava rondando o tempo todo, pois havia um dos indicados ao cargo, que pertencia a folha de<br />

pagamentos da organização, e logicamente a sua torcida é para que este infiltrado, que bem orientado,<br />

reverteria esta situação a favor dos criminosos.<br />

As treze horas, deu-se início aos trâmites legais da pauta, e cada um dos candidatos escolhidos, pôde<br />

apresentar seus argumentos e qualidades, aos quais levassem o presidente a escolher, o mais preparado<br />

para este importante trabalho, que envolvia milhares de dólares roubados do grupo.<br />

Inicialmente Murilo explicou a todos, os motivos que o levou a criar o novo cargo, e fez questão de deixar<br />

bem claro, que era uma tarefa difícil e de fundamental importância, que exigiria muita coragem, e grande<br />

determinação do escolhido, e após este pequeno discurso, iniciou-se as entrevistas individuais, que eram<br />

acompanhadas pelos presentes na sala, e também pelos que assistiam pela internet.<br />

E depois de quase duas horas, terminava a apresentação dos candidatos, e houve uma votação entre os<br />

acionistas e diretores, como também o voto de Nathan, que opinou secretamente através de mensagens,<br />

enviadas para o celular de Murilo, e houve um consenso geral em torno de um candidato, e felizmente não<br />

era o que trabalhava para a organização.<br />

O escolhido era um diretor financeiro do exterior, que trabalhava em uma das empresas na área de<br />

imóveis, e por ser tratar de uma pessoa muito viajada, e influente em muitas línguas estrangeiras, foi<br />

nomeado o novo diretor internacional do grupo, e ao término desta importante reunião, Carlos Renato foi<br />

cumprimentado por quase todos os membros, e iniciava-se naquele instante, uma das fases mais<br />

importantes de sua vida.<br />

Carlos Renato fez questão de cumprimentar um a um, e agradeceu aqueles que votaram na sua<br />

promoção, ele havia se preparado muito para subir de cargo, mas não imaginaria nem em seus sonhos,<br />

que seria algo destas proporções, exigindo confiança e tamanha responsabilidade, ao qual era este cargo<br />

internacional.<br />

Imediatamente ele se deslocou até o hotel, e começou a arrumar documentos e pertences, porque todos<br />

os candidatos a este pleito, já haviam sidos informados antecipadamente, que por se tratar de uma ação<br />

emergencial, o escolhido teria apenas dois dias para se preparar, para a viagem até as terras inglesas.<br />

Por exigências do próprio grupo, todos os seus diretores executivos e auxiliares, mantinham seus vistos<br />

e passaportes em dia, sempre atentos a alguma convocação de viagem, de qualquer uma das empresas<br />

associadas da Etros, e neste caso, ele só precisaria mesmo arrumar as malas, e se despedir dos amigos e<br />

familiares.<br />

Voltando a delegacia de polícia, o delegado já havia ouvido separadamente todos os suspeitos, e isso<br />

havia levado cerca de três horas, e durante um curto intervalo, ambas as partes tomaram um fôlego, e<br />

tiveram um tempo para avaliações, e cada um pôde expor a sua defesa no caso, mediante as orientações<br />

de seus advogados.<br />

162


163<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Tanto Militão como o Situação, mantiveram firmes seus depoimentos anteriores, afirmando que não<br />

participaram da ação final, e que Raul havia ficado a sós com Nicolas, procedendo a sua execução como<br />

acerto de contas.<br />

Por outro lado, Raul continuou afirmando veemente, que era inocente quanto ao fato de matar o jovem,<br />

que não estava presente no momento dos tiros, e que havia dado aos dois empregados, apenas ordens<br />

para dar uma boa lição, para tentar receber a dívida das drogas consumidas, ou seja, até aquele presente<br />

momento, tudo permanecia inalterado como no princípio.<br />

Mas os investigadores tinham um trunfo em mãos, e esperariam o momento certo para expô-lo aos<br />

interrogados, e neste exato momento, se iniciava a verdadeira acareação, onde todos os acusados seriam<br />

colocados frente a frente, e sob um clima extremamente tenso, as conversas se iniciaram, dirigidas pelo<br />

delegado Siqueira.<br />

– Senhor Militão, por favor, conte novamente a todos os presentes, o que realmente houve<br />

naquela fatídica noite?<br />

– Como eu já disse antes para todos vocês, nós seguimos ordens de nosso antigo chefe, e fomos buscar<br />

o rapaz que estava caído no chão, ele estava bastante chapado, e mal conseguia parar em pé, e também<br />

não falava coisa com coisa, aí deixamos ele na porta do nosso esconderijo, e no dia seguinte ficamos<br />

sabendo que ele tinha morrido.<br />

– Confirma sua afirmação anterior, de que o entregou nas mãos do senhor Raul?<br />

Antes de responder esta última pergunta, ele olhou primeiramente para o companheiro, e depois com<br />

todo o cuidado, olhou discretamente para o seu antigo chefe, que estava do outro lado da sala, e<br />

visivelmente desconsertado voltou a falar:<br />

– Sim, acho que foi isso mesmo, deixamos ele com o Raul!<br />

O delegado olhou para os investigadores, pois este era o momento principal, onde ela arrancaria a<br />

verdade dos meliantes.<br />

– Agora vamos ao outro suspeito, senhor Situação, estava presente neste momento da entrega, quando<br />

o jovem Nicolas foi deixado para o acusado?<br />

– Estava sim senhor!<br />

– E confirma tudo o que o seu companheiro afirmou?<br />

– Afirmo sim senhor, tudinho!<br />

– Pois bem, antes de prosseguirmos com esta acareação, que fique bem claro a todos os três<br />

envolvidos, que ambos serão indiciados por suas participações, mesmo que tenham sidos indiretas ao<br />

assassinato, e cada qual prestará suas contas a justiça, mediante a sua parcela de culpa no ocorrido, e<br />

agora daremos a palavra ao senhor Raul, que terá a oportunidade de contar a sua versão do fato.<br />

Raul se aproximou, se sentou no lugar que estava o outro acusado, e iniciou a sua breve defesa,<br />

argumentando ao delegado:<br />

– Eu quero mais uma vez lembrar ao doutor delegado, e a todos os investigadores presentes aqui, que<br />

eu me apresentei de livre e espontânea vontade, e que nunca omiti a verdade dos fatos, de que havia<br />

dado ordens a estes dois emprestáveis, para dar um sacode, uma lição ao garoto pelas dívidas<br />

acumuladas.<br />

– Estamos cientes destes fatos, por favor prossiga.


<strong>Caminhos</strong><br />

– Naquela noite, logo após eu dar as ordens mencionadas, eu tranquei tudo e fui para a minha casa,<br />

onde permaneci com minha esposa e com o meu filho, e somente no dia seguinte quando acordei, é que<br />

soube do que havia acontecido.<br />

– E se não tinha culpa na morte do rapaz, porque se evadiu fugindo da comunidade?<br />

– Porque no primeiro momento, eu achei que estes dois, que viviam se atrapalhando em tudo, podiam<br />

ter feito alguma besteira, e que a culpa toda cairia sobre mim, como de fato realmente aconteceu, só mais<br />

tarde é que a minha ficha caiu, e me vi prejudicado por uma grande armação do Otto, para poder me<br />

derrubar e assumir o meu lugar.<br />

– Pelo que nós todos escutamos aqui, todos mantiveram seus depoimentos anteriores, mas há um novo<br />

e importante fato, os investigadores obtiveram duas provas importantes, que podem ser fundamentais para<br />

esclarecer, todos os passos daquela noite de assassinato.<br />

Dando um sinal para um dos investigadores, este lhe entregou uma caderneta vermelha, ao qual<br />

pertencia exclusivamente, a um dos suspeitos ali presentes, que ao vê-la ficou surpreendido e temeroso,<br />

pois ele bem sabia do que se tratava, e o delegado aguardando o tempo necessário, para que todos<br />

vissem esta prova, voltou a falar:<br />

– Esta caderneta em minhas mãos, foi encontrada na casa de um dos suspeitos, e peço ao senhor<br />

escrivão, que a conste nos autos deste processo.<br />

Em seguida ele apresentou a segunda prova, se tratava da arma utilizada no crime, onde exames<br />

balísticos realizados previamente, apontaram com exatidão as comparações efetuadas, com os projéteis<br />

encontrados no corpo do jovem, sem falar das digitais espalhadas pelo objeto, e certamente estes dois<br />

novos fatos, mudariam totalmente a linha de investigação.<br />

164


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 38 •<br />

Enquanto isso no hospital, Marina recebia uma ótima notícia do médico, seu pai estava totalmente fora<br />

de perigo, e que brevemente sairia da UTI, sendo colocado em seu quarto, onde respectivamente poderia<br />

receber visitas, desde que estas sejam previamente autorizadas, já que ele estava sob a proteção da<br />

polícia federal, desde o dia de sua internação.<br />

Mais do que depressa, ela ligou para todos os seus parentes e amigos, comunicando-lhes a melhora de<br />

Duarte, não se esquecendo das duas pessoas mais responsáveis, por tudo isso de bom que acontecia,<br />

que era Murilo, por realizar todos os procedimentos de internação, e o empresário Nathan, que<br />

disponibilizou os recursos financeiros necessários, para que tudo se realizasse com muito sucesso.<br />

Na polícia, o delegado havia feito uma pequena pausa, para que os suspeitos pudessem dialogar com<br />

seus advogados, porém em vão um deles, mais precisamente o magistrado de Militão e Situação, tentou<br />

anular a sequência da acareação, alegando não ter sido informado a tempo, para revisar e preparar as<br />

suas defesas, sobre estas novas provas apresentadas.<br />

Doutor Siqueira, que já comandava este pleito com muita seriedade, e uma extrema autoridade<br />

exemplar, se recusou ao pedido realizado por ele, e seguiu com este longo interrogatório, onde o reiniciou,<br />

comentando sobre a primeira prova, a caderneta vermelha.<br />

– Algum de vocês reconhece este objeto?<br />

Ninguém abriu a boca, ambos sabiam a quem pertencia a prova apresentada, mas como todos tinham o<br />

rabo preso, certamente por causa do envolvimento no narcotráfico, ficaram temerosos com as<br />

supostas anotações, que poderiam revelar seus negócios e segredos, e o delegado voltou a argumentar:<br />

– Como eu imaginava, ninguém quer dar o primeiro passo, neste caso vou ler somente um trecho, ao<br />

qual se refere especificamente a esta investigação, pois a maioria das anotações são coisas sem sentido,<br />

consideradas sem nenhuma importância, alguém deseja se pronunciar?<br />

– Se o que está escrito pode ajudar a investigação, somos a favor da leitura!<br />

Vendo que estava num beco se saída, Situação acabou abrindo o bico, e falou para que todos ouvissem:<br />

– Esta caderneta é minha, eu anoto aí as coisas para eu aprender, e algumas coisas de dinheiro, junto<br />

com as continhas que tenho para acertar!<br />

– Muito bem senhor Valdomiro, vulgo Situação como é chamado, concordo com tudo o que comentou,<br />

mas com eu disse a pouco, há um trecho escrito muito importante, que vai mudar completamente o rumo<br />

das coisas, vou pedir para o investigador Fernandes, ler esta descrição a todos os presentes.<br />

– Bom, eu vou fazer o possível para tentar manter o texto original, porque algumas palavras estão com a<br />

sua escrita prejudicada, devido a diversos erros de português, e neste caso, vou procurar substitui-las por<br />

alguma similar!<br />

– Está comunicado, pode prosseguir.<br />

"Esta noite eu e Militão ganhamos um dinheirinho fácil, só por causa de ter trazido o moleque para o<br />

nosso chefinho, foi até bom porque não tivemos de bater nele, como nosso chefão tinha mandado,<br />

amanhã vou pagar o Valdir e comer uma carninha".<br />

Houve um silencio da parte dos dois ex-capangas, porém houve uma moderada comemoração por parte<br />

de Raul, que foi contida imediatamente por Arthur, sendo que estas poucas palavras, o inocentava<br />

totalmente de ter cometido o crime, e aliviava em parte também Situação e Militão, deixando o problema<br />

todo para Otto, que passava a ser o principal suspeito do assassinato.<br />

165


O delegado aguardou alguns segundos, guardou as provas dentro de um saco plástico, e deu o seu<br />

parecer final:<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Como podem observar, é uma prova determinante para o caso, ambos sabemos que o termo<br />

"chefinho", se refere a Otto Sales que permanece foragido, e o outro termo "chefão", ao senhor Raul Maia<br />

que está aqui presente, e juntamente com a arma do crime que foi recuperada, onde as impressões<br />

digitais serão analisadas, eu creio que estamos prestes a resolver este caso.<br />

Houve mais algumas considerações finais, e em seguida foi finalizada a acareação, que levou cerca de<br />

cinco horas desde o seu início, e tanto Militão como Situação, foram algemados e enviados de volta para o<br />

presidio, onde já cumpriam suas penas por tráfico de drogas, e Arthur juntamente com Raul, saíram da<br />

delegacia pela porta da frente, e ambos se dirigiram para a mansão, onde todos aguardavam ansiosos por<br />

notícias.<br />

Otto através de seu informante, ficou sabendo rapidamente do desfecho, e ficou profundamente irritado<br />

com o vacilo de seu capanga, ele bem que sabia das tais anotações atrapalhadas, mas nunca que poderia<br />

imaginar, que uma bobagem destas, iria estragar todo o seu plano de incriminar Raul, para que ele<br />

pudesse tomar o seu lugar, e usufruir de tudo o que sempre almejou.<br />

Como ele já vivia escondido e bem disfarçado, não se preocupou muito com a polícia, que já o procurava<br />

anteriormente, para que prestasse depoimento no caso, o que ele precisava resolver agora, é o que faria<br />

com relação aos dois comparsas presos, mesmo o tendo incriminado por causa da caderneta, eles se<br />

mantiveram fiéis e não o delataram, e esta dúvida ficou pairando em sua cabeça.<br />

Já pelo lado dos dois detentos, ainda dentro da viatura que os levava para a prisão, comentaram entre<br />

si, que seus dias estavam praticamente contados, e que provavelmente seriam mortos dentro do próprio<br />

presidio, onde falaria mais alto as ordens diretas do comando, certamente se caso Otto exigisse tal fato.<br />

Pelo celular, Arthur se adiantou e comunicou a Nathan, o resultado favorável da longa tarde na<br />

delegacia, onde Raul saiu praticamente inocentado do crime, e nem é preciso comentar da imensa alegria<br />

de Gabriel, ainda mais ele, que sempre acreditou na inocência do pai, enquanto isso Iris que<br />

estava felicíssima com a notícia, havia subido ao quarto para se arrumar, ela mesma se prometeu perdoar<br />

o marido, se realmente ele fosse tido como inocente, e tudo se encaminhava para uma reconciliação do<br />

casal.<br />

Com o céu totalmente nublado, houve a sensação de se escurecer mais cedo, e em sua sala da<br />

presidência, Murilo terminava os últimos detalhes com Carlos Renato, sobre a viagem e todos os<br />

procedimentos legais, para que ele detivesse as autorizações necessárias, para poder averiguar as contas<br />

nos bancos ingleses.<br />

Houve também a transferência de um valor significativo, para a sua conta corrente pessoal, para cobrir<br />

as despesas de viagem e de hospedagem, o novo diretor financeiro internacional, tinha em mãos<br />

importantes documentos, que lhe outorgava no presente momento, plena autoridade em nome de todo o<br />

grupo, nestas circunstancias, o único acima dele era o presidente Murilo, já que Nathan ainda não havia se<br />

declarado vivo.<br />

Carlos Renato era muito organizado, não era de deixar as coisas para a última hora, por isso mesmo,<br />

todas as suas malas, e seus pertences pessoais de viagem, já estavam previamente arrumados em sua<br />

casa, restava apenas trocar o dinheiro por libras no câmbio, coisa que faria no dia seguinte, um pouco<br />

antes de embarcar.<br />

No condomínio, encontramos mais uma vez Dona Angelina e Regina, perambulando e conversando<br />

pelos corredores, a duas tinham bastante afinidades, além de uma grande amizade pela convivência<br />

diária, as duas já tinham até fama de fofoqueiras, mas na verdade, o que conversavam ficava ali mesmo,<br />

nunca repassaram nada para outras pessoas.<br />

166


<strong>Caminhos</strong><br />

Tendo todo o cuidado, de que não havia ninguém por perto, Regina não se conteve, e reclamou a amiga:<br />

– Nossa, fiquei muito triste outro dia, quando eu vi lá de cima da janela, o Juliano encolhido na rampa de<br />

acesso, ele parecia acabado, e acho até que estava chorando!<br />

– É um coitado mesmo, tenho muita pena dele, só que tudo na vida tem um limite, e acredito que o dele<br />

já deu, um dia desses creio eu, que ele vai acabar se rebelando.<br />

– A senhora acha mesmo, as vezes fica a impressão que ele já se acostumou, porque aceita tudo sem<br />

tomar atitude alguma, não é verdade?<br />

– Tenho de concordar com você, se fosse outro no lugar dele, já tinha dado uns bons tabefes nela!<br />

(Risos)<br />

– Só a senhora mesmo Dona Angelina! (Risos)<br />

Havia uma paixão secreta por Juliano, e a viúva Regina, procurava de todas as formas, abafar e<br />

esconder este sentimento, pois se tratava de um homem casado e de respeito, que mesmo recebendo<br />

este mal tratamento da esposa, procurava ter seu nome limpo e respeitado, mantendo suas contas em dia,<br />

e trabalhando rigorosamente sem perder um dia sequer, preservando assim o seu emprego.<br />

Outro morador do condomínio, procurou sair um pouco do apartamento, Leonardo não havia feito<br />

quimioterapia no dia de hoje, e mesmo com um pequeno mal-estar, resolveu caminhar um pouco, e ao<br />

chegar perto do jardim das flores, avistou logo de cara Vanessa, que se encontrava ali como<br />

sempre, sozinha, e sentada no banco de madeira.<br />

Para não repetir o erro da outra vez, ele procurou não abordar diretamente a moça, e foi na direção do<br />

canteiro de margaridas, onde ficou parado de pé apenas observando, o leve balançar das centenas de<br />

pétalas, que estavam caprichosamente ao sabor do vento, daquele princípio de noite paulistana.<br />

A moça disfarçadamente, ficou observando todos os movimentos do jovem, e apreciou a sua discrição<br />

em não a perturbar, se fosse em outros tempos, onde ela tinha um jeito todo extrovertido, certamente já<br />

havia se aproximado para dialogar, era muito aberta para relacionamentos e amizades, mas agora com a<br />

doença, tudo era bem diferente.<br />

Ao perceber que Vanessa iria se retirar, ele arrancou uma das belas margaridas, e delicadamente<br />

colocou em suas mãos fragilizadas, e fez tudo sem dizer uma palavra sequer, respeitando a privacidade<br />

que a jovem prezava tanto, por sua vez, ela olhou para ele, e foi-se embora.<br />

Ambos os jovens voltaram a seus apartamentos, repassando todas aquelas cenas há pouco vividas,<br />

para Vanessa, aquilo soou como uma pequena dose de alívio, perante a tanto sofrimento que passava<br />

pelo câncer, já para Leonardo, representou um sintoma bem diferente, era como uma sensação de amor à<br />

primeira vista, já que nunca tinha se apaixonado por ninguém.<br />

O relógio já se aproximava das dezenove horas, quando finalmente Arthur e Raul, chegaram e<br />

adentraram na mansão, onde foram recepcionados alegremente por todos, e enquanto Raul era abraçado<br />

por esposa e filho, Nathan chamou o advogado para um canto da sala, onde lhe cumprimentou pelo<br />

excelente trabalho, dando lhe um gordo cheque de bonificação, no valor de vinte e cinco mil reais.<br />

Arthur até que chegou a recusar veemente, pois já cobrava o suficiente pelo seu trabalho, mas a<br />

insistência do empresário foi tanta, que ele não teve como se recusar, e ainda por cima foi praticamente<br />

convocado, para um jantar de celebração, ao qual Elvira e Iris haviam preparado com carinho, podendo<br />

assim dizer, que era realmente uma noite perfeita, para todos ali sob o teto da propriedade.<br />

167


Enquanto Raul comentava com Iris e Gabriel, algumas das passagens importantes da acareação, o<br />

advogado convidou o patrão para uma conversa, e para isso se utilizaram mais uma vez, da ampla e<br />

confortável biblioteca.<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Nathan a conversa é bem rápida, apenas um pequeno lembrete, da sua apresentação a polícia federal<br />

depois de amanhã.<br />

– Estou ciente deste fato, e venho me preparando dia após dia, para enfrentar todas<br />

as consequências que virão, inclusive da reação negativa das pessoas, pelo fato de ter se passado por um<br />

morto, no lugar de uma outra pessoa!<br />

– Sei que não vai ser fácil, e terá de encarar mais este desafio, mas não vamos estragar esta noite de<br />

vitória, daremos um passo de cada vez!<br />

O empresário concordou, e ambos voltaram para a sala onde estavam, e assim que cruzaram a porta,<br />

foram imediatamente abordados por Iris, que ainda não tinha tido a oportunidade, de agradecê-los por<br />

tudo que realizaram no dia de hoje, um pelo apoio fundamental e a ajuda financeira, o outro, pelo grande<br />

trabalho como defensor no caso, e com um largo sorriso no rosto, procurou demonstrar toda a sua<br />

gratidão.<br />

168


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 39 •<br />

Para dois grandes amigos, a noite de quarta-feira estava apenas começando, porque de vez em quando,<br />

Murilo e Diego, assistiam juntos uma partida de futebol, apesarem de torcerem para times diferentes, o<br />

que importava mesmo era se distrair um pouco, e tentar esquecer a correria da rotina diária, mas isto hoje<br />

seria muito difícil.<br />

Murilo estava numa fase maravilhosa, depois de sofrer pelo desafeto amoroso que teve, tinha dado a<br />

volta por cima com a promoção, juntamente a todo o sucesso alcançado na presidência, por estar à frente<br />

dos negócios do Grupo, mas notando que faltava no companheiro de noitadas, aquela empolgação que<br />

lhe era sempre peculiar, o questionou sobre este fato.<br />

– Estou vendo que não está bem hoje, aconteceu algo que queira compartilhar?<br />

– Deu para perceber é, tentei disfarçar o máximo que pude!<br />

– Qual é, você vive me aguentando, nunca tivemos segredos um com o outro, amigos não são também<br />

para desabafar os problemas?<br />

– Claro que sim, mas é que você está tão animado, que eu não queria estragar a sua noite!<br />

– Diga lá, o que está acontecendo contigo, para te deixar assim tão para baixo?<br />

– Cara dificuldades no trabalho, com esta crise no mercado de ações, as vendas caíram muito nos<br />

últimos meses, e estamos com os salários atrasados, sem falar nos boatos que estão espalhando, que vão<br />

dispensar boa parte dos funcionários.<br />

– Quantos anos trabalha nesta empresa mesmo?<br />

– Cerca de cinco anos, há uma grande chance de demitirem os funcionários mais antigos, e substituírem<br />

por novos com salários menores, assim garante a folha de pagamento, e tentam manter a firma aberta.<br />

– Sempre achei que não tinha muito futuro ali, mas nunca comentei isso, porque vi que gostava muito de<br />

seu serviço, mas já venho pensando a algum tempo, em lhe fazer uma proposta de trabalho, e acho que<br />

esta é a melhor hora para fazê-la, que vir trabalhar comigo no grupo Etros?<br />

– Fala sério? Sempre pensei em lhe pedir um emprego por lá, porém, fiquei muito temoroso em você<br />

acreditar, que eu podia estar me aproveitando, desta nossa longa e grande amizade, e eu não queria<br />

misturar as coisas.<br />

– Típico de você pensar uma coisa destas, porque desde a saída da Bianca, não encontrei<br />

ninguém a altura de ocupar o cargo, que é de extrema confiança e responsabilidade, e eu acredito que<br />

pela sua formação, cursos realizados, e toda a bagagem no mercado financeiro e de imóveis, seja a<br />

pessoa ideal para me ajudar.<br />

– Seria excelente trabalhar ao seu lado, ouvi falar que estão em grande acessão, e que<br />

remuneram muito bem os seus executivos!<br />

– Quanto a isto, posso lhe assegurar que é a pura verdade, realmente estamos indo muito bem, então<br />

façamos o seguinte, pense direitinho, veja se é isso mesmo que deseja fazer, e depois me procure na<br />

sede, para tratarmos de todos os detalhes, tanto de sua admissão, quanto ao seu salário mensal!<br />

– Cara isso salvou a minha noite, vamos comemorar com grande estilo, garçom por favor, uma rodada<br />

de tequila!<br />

169


<strong>Caminhos</strong><br />

Sempre que tinham coisas boas para comemorarem, faziam isso com uma boa dose desta bebida, isto<br />

porque haviam visto em uma cena de filme, e desde então combinaram que seria uma marca registrada,<br />

tão somente em ocasiões especiais.<br />

Depois de alguns dias sem se falarem, Talita que havia pensando muito na última conversa, procurou<br />

por Bianca que estava na cozinha, onde procurava por frutas, para satisfazer sua fome repentina, algo que<br />

havia se tornado muito comum, depois que ela havia engravidado, e de mansinho abordou a companheira.<br />

– Posso conversar contigo?<br />

– Resolveu quebrar o jejum de diálogos?<br />

– Eu devo desculpas pelo modo que lhe tratei, e pelas bobagens que andei insinuando, você sabe que<br />

eu tenho este grande defeito, que sou muito temperamental!<br />

– Você deveria trabalhar este problema, procurando um psicólogo que lhe ajude a superar, mas isso<br />

agora não vem ao caso, temos de sentar e resolver certas coisas, como ficamos a partir de agora?<br />

Talita hesitou um pouco, mas depois de algum tempo, criou coragem e falou para Bianca:<br />

– Eu andei pensando muito, e com isso cheguei a conclusão, que terá de tomar algumas decisões<br />

importantes, como por exemplo, se vai contar ou não sobre a sua gravidez, para o pai biológico desta<br />

criança.<br />

– De qualquer forma vou ter de contar, não acho justo esconder algo tão importante do Murilo, e além de<br />

ter o seu direito como pai, ele precisa autorizar o registro da criança, e lhe dar o seu sobrenome, isso para<br />

garantir legalmente os direitos de pensão, e ajudas nos custos da criação.<br />

– Eu entendo a sua posição, acredita que ele vai querer mesmo fazer isso?<br />

– Espero que sim, pelos anos de convivência que tive com ele, acredito que assuma esta<br />

responsabilidade.<br />

– E nós, como ficamos?<br />

– Preciso de um tempo para me adaptar, e me preparar para receber com todo carinho, esta criança que<br />

carrego dentro de mim, mas não posso lhe pedir que altere a sua vida, se achar que o fardo será pesado<br />

demais, eu vou entender.<br />

Houve um profundo silêncio entre as duas, onde ambas preferiram colocar em ordem seus<br />

pensamentos, e ninguém se arriscou a comentar mais nada, foram alguns minutos tensos e desgastantes,<br />

sendo que Talita se retirou, indo em seguida para o quarto, enquanto Bianca, que estava visivelmente<br />

aborrecida, mesmo tendo perdido a fome, se sentou à mesa, e tentou aos poucos se alimentar.<br />

As horas passavam ligeiramente, e a noite já estava quase terminando, quando Murilo e Diego deixaram<br />

o barzinho, porém antes de irem para suas respectivas casas, os dois se acertaram de encontrarem no dia<br />

seguinte, na sede do grupo para tratarem do novo emprego, e depois se despediram com um forte abraço.<br />

O jantar na mansão já estava encerrado, Arthur se despediu de todos e se retirou, e Iris subiu para<br />

colocar Gabriel para dormir, ela havia percebido que Raul ficou muito enciumado, por ela ter dado alguma<br />

atenção ao advogado, e pensava em um pouco mais tarde, o procurar para conversar e esclarecer,<br />

enquanto isso, Alba iniciava um diálogo com Nathan.<br />

– Acho tão maravilhoso ver uma família assim tão feliz!<br />

170


<strong>Caminhos</strong><br />

– É verdade, parece que depois de passarem por uma grande dificuldade, as coisas começam a voltar<br />

ao normal, torço para eles se acertarem de vez, principalmente por causa do Gabriel.<br />

– Você é mesmo uma pessoa incrível sabia?<br />

– Porque diz isso?<br />

– Fica o tempo todo cuidando de todos ao seu redor, e praticamente acaba se esquecendo de si mesmo,<br />

é muito raro encontrar pessoas assim hoje em dia!<br />

– Não faço nada que seja demais, penso que devemos sempre fazer o máximo possível,<br />

principalmente para aqueles que estão em nosso convívio.<br />

– Nisso você tem toda razão, mas devia cuidar mais de você, e procurar curtir a vida intensamente,<br />

deixando para traz as coisas que lhe aborrecem, não acha?<br />

– Esta é a parte mais difícil, tem certas coisas que aconteceram, que não tem como a gente arrancar do<br />

peito, principalmente de dentro da nossa cabeça, ainda é tudo muito recente e doloroso, e creio que ainda<br />

vai levar um tempo para cicatrizar.<br />

– Eu compreendo, porém não se esqueça, que também estou inclusa nesta parte dolorosa, mas não<br />

vamos ficar falando do passado, senão vai estragar o clima bom desta noite, me acompanha em uma<br />

bebida?<br />

– Por que não? Preciso tomar algo para dar uma relaxada, depois de amanhã eu presto depoimento na<br />

polícia, e voltarei entre aspas, a viver entre os vivos novamente.<br />

Ela achou graça, pelo modo que colocou a questão, e por sentir que dificilmente, ele cairia em suas<br />

insinuantes seduções, por sempre manter uma pequena distância entre si, Alba passava a apostar todas<br />

as suas fichas em Raul, e pretendia agir ainda hoje, após todos da mansão se recolherem.<br />

Ainda havia algum movimento, dentro da luxuosa propriedade, enquanto alguns seguranças circulavam<br />

pelo lado de fora, Elvira e sua nova ajudante Berenice, terminavam de tirar a mesa do jantar, e arrumar a<br />

cozinha para o dia seguinte, e a nova contratada, aproveitou para papear um pouco.<br />

– É todo dia assim mesmo, este montão de gente para servir?<br />

– Se eu te falar que está tão bom desta maneira, você vai achar que estou ficando louca, mas houve<br />

tempos em que o patrão sofreu o acidente, que não havia uma alma sequer nesta enorme casa!<br />

– Muita gente significa mais serviço, mas sem ninguém é muito ruim mesmo, melhor deixar tudo como<br />

está.<br />

– Só para que você fique sabendo, foi por causa de todas estas pessoas, que estão hospedadas aqui<br />

agora, que eu precisei de uma ajudante na cozinha, então levanta a mão para o céu e agradece, porque<br />

hoje em dia é difícil arrumar um bom emprego.<br />

– A senhora tem toda a razão, melhor mesmo é eu ficar quieta e não reclamar, mas só tem uma coisa<br />

estranha que não entendi, aquela moça loira que é toda bonitona, fica andando de um lado para o outro da<br />

casa, cruz credo, parece que ela fica de olho em tudo o que acontece, não acha isso estranho?<br />

– Acho e muito, porém isso não é da nossa conta, vamos dar uma acelerada e terminar tudo logo, que<br />

estou morrendo de cansaço!<br />

171


<strong>Caminhos</strong><br />

Todos estavam de olho em Alba, até mesmo Gabriel, que já havia notado e comentado com a mãe, a<br />

respeito destes estranhos movimentos dela, porém como acontecia uma coisa em cima da outra, eles<br />

acabavam fazendo vista grossa, e não levando muito a sério como deveriam fazer.<br />

Falando nela, agindo com muita inteligência e precisão, aguardou todos se recolherem a seus<br />

aposentos, e com todo o cuidado, bateu na porta do quarto de Raul, que se surpreendeu ao ver de quem<br />

se travava, pois ele acreditava que a esposa iria lhe procurar, para enfim fazer as pazes no casamento,<br />

mas Iris acabou adormecendo ao lado de Gabriel, e bem ali a sua frente, estava uma enorme tentação.<br />

Alegando não ter mais a quem recorrer, por causa da hora avançada da noite, onde todos os<br />

funcionários já estavam ausentes, Alba lhe pediu para tentar resolver um pequeno problema, nas<br />

dependências da sauna na parte inferior, onde ela pretendia utilizar para dar uma relaxada, e como ele<br />

agora pertencia ao quadro de funcionários, não teve como se recusar ao pedido, e se prontificou a atendêla.<br />

Enquanto ele trocava de roupa, pois já estava pronto para dormir, ela foi na frente, e preparou a sua<br />

grande armadilha, e assim que Raul chegou, na sala de troca de roupas da sauna, se deparou com a<br />

moça deitada e seminua, onde ela se insinuou declaradamente, utilizando todos os seus poderes de<br />

sedução, pois sabia muito bem, que ele estava sem mulher há um bom tempo, restava agora saber, se ele<br />

cairia nesta sua armação, ou seria forte o suficiente para resistir.<br />

172


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 40 •<br />

A esta altura dos acontecimentos, todos nós esperávamos a mudança total de Raul, de um comandante<br />

do narcotráfico, a um trabalhador correto e comum, de um marido e pai totalmente ausente, a um chefe de<br />

família exemplar, era pedir muito mesmo, pois ninguém muda assim da noite para o dia.<br />

Tendo a certeza absoluta, de que todos já dormiam na propriedade, sem pensar nas consequências que<br />

este ato geraria, acabou não resistindo aos encantos de Alba, e se entregou aos prazeres do sexo<br />

consensual, cedendo aos seus caprichos pessoais.<br />

Por detrás daquele rosto bonito, e da silhueta perfeita de seu corpo, estava uma profissional ardilosa e<br />

muito inteligente, ela que iniciou ainda em sua juventude, atuando como uma prostituta de luxo, acabou<br />

entrando para a organização criminosa, através de seu envolvimento com uma das células, do alto<br />

comando do submundo do crime.<br />

Logo agora, que as coisas pareciam estar se encaixando na família, suas fraquezas e toda a luxúria de<br />

seu corpo, abdicam de tudo por algumas horas de diversão, onde Alba que sabia perfeitamente, como<br />

manejar e agradar um homem, deixava que ele fizesse certas coisas, que Iris nunca havia permitido, e<br />

durante muito tempo, ali ficaram na sauna da mansão, que mais parecia um quarto de motel.<br />

Já era alta madrugada, quando os dois deixaram separadamente o trocador, e atentos a presença<br />

inoportuna de alguém, cuidadosamente voltaram a seus aposentos, onde tomaram uma chuveirada, e<br />

caíram em um sono profundo, dando final aquela noite de prazeres.<br />

São Paulo amanheceu com o céu encoberto, e todos estavam atentos a previsão de uma forte chuva,<br />

que não tardou a se realizar, e em poucas horas, tudo se transformou num verdadeiro caos, devido a<br />

vários pontos de alagamentos, afetando boa parte da população.<br />

Logo bem cedo, Murilo deu uma passada no hospital antes do trabalho, e devidamente credenciado,<br />

autorizado pela polícia federal, entrou no quarto onde estava Duarte, que por se tratar de uma entidade<br />

particular, não tinha restrições de dias e horários, e ele foi muito bem recebido por Marina, que havia<br />

dormido como acompanhante do pai, e todo sorridente o executivo a cumprimentou:<br />

– Bom dia, me desculpe pelo horário, sei que ainda é muito cedo para visitas, mas era a única maneira<br />

de ver como estão as coisas, você está bem? E o seu pai, se encontra melhor?<br />

– Não há a necessidade de desculpas, agora que o mais complicado passou, eu posso dizer que estou<br />

bem, pena que meu pai ainda se encontra dormindo, é por causa dos sedativos ministrados, mas ontem,<br />

ele deu seus primeiros passos até o banheiro, e se recupera muito bem.<br />

– Que ótima notícia, isso é mesmo fantástico, ainda mais para o estado que estava, muito bom mesmo!<br />

– Tudo isso graças a vocês todos, mas assim que a justiça desbloquear nossos bens, vou pagar cada<br />

centavo que gastaram com a internação.<br />

– Isso você vai ter de brigar com o chefe, porque eu duvido, que ele aceite a devolução do dinheiro, mas<br />

não deve se preocupar com estas coisas, o mais importante é o seu pai estar a salvo.<br />

– Você está mais do que certo, então me deixe pelo menos lhe pagar um café, tenho certeza que ainda<br />

nem tomou o seu, não é verdade?<br />

Ele sorriu e concordou com a colecionadora, no fundo sua ida até as dependências do hospital, além de<br />

ter a função justificada, de manter o patrão sempre informado, sobre o real estado de saúde de Duarte,<br />

verificando se ela e o pai precisavam de alguma coisa, já nascia dentro dele um pequeno sentimento,<br />

havendo uma incessante vontade de ver a moça.<br />

173


174<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Mais tarde, um pouco antes do almoço, Nathan levado por seu novo motorista, também compareceu ao<br />

hospital, e devidamente acompanhado, por um integrante da polícia federal, que estava a par de todo o<br />

caso, recebeu um forte e longo abraço de Marina, ela estava tão agradecida, que chegou ligeiramente a<br />

derramar algumas lágrimas, e lhe falou emocionada:<br />

– Não esperava por uma visita sua, achei que o Murilo já havia lhe passado as informações, de que meu<br />

pai estava bem e melhorando!<br />

– Ele me informou sim, mas achei que seria melhor vim pessoalmente, principalmente porque eu ainda<br />

não conhecia o seu pai, ele já está podendo falar com as pessoas?<br />

– Ele ainda está muito fraco e abatido, mas consegue pronunciar algumas palavras, vem para mais perto<br />

da cama, assim ele pode ver você e te ouvir.<br />

Nathan se aproximou, e de alguma forma aqueles aparelhos, agulhas e apetrechos hospitalares, o fez<br />

relembrar dos dias de internação, e após este breve devaneio, dirigiu a palavra a Duarte:<br />

– Oi seu Duarte, ouvir dizer que o senhor já está andando sozinho, que bom hem!<br />

– Muito obrigado meu filho, agradeço por tudo que fez!<br />

– Fico feliz em saber de sua melhora, agora procure repousar bastante, e tome direitinho todos os<br />

remédios, está certo?<br />

– Pode deixar, quero sair logo daqui.<br />

– Assim é que se fala, eu já vou indo agora, porque vocês precisam de privacidade e descanso, tudo<br />

de bom para o senhor!<br />

Antes de se retirar, Nathan conversou em particular com Marina, ele queria saber como ela estava se<br />

sentindo, e se alguém revezava com ela o acompanhamento, pelo menos para que pudesse tomar um<br />

banho, e se alimentar nas refeições diárias e necessárias, mas ficou aliviado em saber, que Murilo havia<br />

providenciado tudo, até mesmo uma enfermeira particular que lhe auxiliava.<br />

Perto das quinze horas locais, com aproximadamente quatro horas de diferença com o Brasil, Carlos<br />

Renato chegava na cidade de Londres, a capital inglesa marcava perto dos nove graus, era uma tarde<br />

bem fria e movimentada, e o executivo devidamente preparado, estava muito centrado no que deveria<br />

fazer, principalmente, pela gravidade e importância de sua tarefa.<br />

Ao chegar no hotel, mesmo cansado pela longa viagem, Carlos Renato por ser muito organizado,<br />

tratou logo de arrumar todos os seus pertences, e já foi colocando em cima de uma mesa, toda a papelada<br />

que havia trazido do Brasil, e juntamente com o seu notebook, já foi revisando todos os documentos da<br />

empresa, ao qual levaria consigo para banco no dia seguinte.<br />

Em São Paulo, Dimas chegava de viagem do interior, ele era o único filho de Dirce, e conforme ela havia<br />

pedido anteriormente, os dois ficariam hospedados juntos na casa do advogado, e o rapaz que havia<br />

acabado de se formar, estava agora para assumir seu primeiro emprego, e o rapaz, falava justamente<br />

sobre este assunto, após a sua acomodação na residência.<br />

– Mãe, será que ele vai mesmo cumprir a promessa, e me arranjar um emprego na firma dele?<br />

– Mas é claro, o patrão é muito justo e atencioso, inclusive já me perguntou várias vezes, quando é que<br />

você chegaria.<br />

– Eu sei que demorei um pouco para vir, mas é que eu tinha de resolver algumas questões, mas agora<br />

não tenho mais nenhum vínculo, estou pronto para trabalhar!


<strong>Caminhos</strong><br />

– Se ele vier jantar hoje em casa, eu apresento um ao outro, tenho certeza que vai gostar muito dele!<br />

O rapaz parecia preocupado com algo, e depois de pensar bem no assunto, resolveu se abrir com a<br />

mãe:<br />

– A senhora não tem nada com ele, não né?<br />

– Imagina filho, ele é um homem muito digno, e sempre me respeitou direitinho, além do que, está<br />

caidinho pela moça Elisa, que provavelmente também vai acabar conhecendo.<br />

– Melhor assim mãe, vou tomar um banho e descansar um pouco, me chama quando ele chegar.<br />

Ela tinha razão, Elisa estava prestes a deixar a clínica, e após passar por várias etapas, vencidas com<br />

muita determinação, realizava neste final de tarde, a sua última avaliação, e estava na pauta desta<br />

provável última consulta, uma entrevista franca e direta, e de forma muito descontraída, a doutora Lisley, a<br />

recebeu em seu consultório.<br />

– Aí está minha paciente favorita, sente-se e fique bem à vontade!<br />

– Estou tão nervosa, tenho receio de não passar neste último exame, andei escutando das outras<br />

internas, que várias já foram reprovadas, e tiveram que permanecer aqui.<br />

– Se esse é o seu maior medo, então pode ficar bem tranquila, porque esta avaliação é bem simples, eu<br />

procuro essencialmente sentir na pessoa, as reais condições de estar preparada ou não, para poder<br />

retornar ao convívio da sociedade, e minha única pergunta é, quais são as suas expectativas quanto a<br />

esta volta?<br />

– Não sei muito bem o que lhe responder, mas creio que são as melhores possíveis, sei que agora,<br />

tenho pessoas que me querem muito bem, que estão ansiosas pelo meu retorno, e também que quero<br />

arranjar um bom emprego, enfim tentar recomeçar a minha vida!<br />

– Muito bem, era isso que eu precisava ouvir, porque normalmente as entrevistadas, se preocupam<br />

muito em falar, de que não vão voltar a beber ou a utilizar drogas, isso porque ainda estão bitoladas ao<br />

vício, e ainda não conseguiram tira-los de suas cabeças, e neste caso, ainda não podemos libera-las, mas<br />

o seu é bem diferente, todas as últimas vezes que conversamos, em nenhum momento tocou neste<br />

assunto, isto significa que realmente está reabilitada, então lhe concedo neste exato momento, a sua tão<br />

esperada alta da clínica, pode arrumar todas as suas coisas, que eu vou comunicar o seu tutor!<br />

– Muito obrigado por tudo, eu sei que faz muito mais além de seu trabalho, que procura fazer o máximo<br />

por todas nós, valeu mesmo!<br />

Ela fez questão de ir abraça-la, e de lhe dar um beijo de agradecimento, suas lágrimas de<br />

contentamento rolavam copiosamente, e após se despedir daquela, que se tornou uma grande amiga lá<br />

dentro, foi rapidamente arrumar seus pertences, e ficou pronta no aguardo, de que alguém a fosse buscar.<br />

Arthur havia se reunido com Nathan na mansão, ambos se preparavam para a sua apresentação a<br />

polícia, que já seria realizada no dia seguinte, ele já finalizava a conversa, quando o seu celular vibrou, era<br />

uma mensagem da médica, o informando sobre a alta de Elisa, e assim que terminou a revisão, e acetou<br />

tudo com o empresário, pegou o carro, e foi busca-la na clínica.<br />

Enquanto isso ali mesmo, arrependido em parte pela noite anterior, Raul procurou evitar ao máximo, o<br />

contato com a esposa Iris, sempre se esquivando, alegando estar muito atarefado, devido as funções<br />

acumuladas, de motorista e segurança particular, mas em determinado momento, ela percebendo que ele<br />

a estava evitando, o chamou para uma conversa.<br />

175


<strong>Caminhos</strong><br />

– O que foi, você está tão estranho hoje, nem conversou comigo, nem deu atenção ao Gabriel, o que<br />

houve?<br />

– Nada demais, é que ainda estou meio perdido com o trabalho, acho que vai levar mais tempo do que<br />

eu pensava, para poder me acostuma a receber ordens, e cumprir todos os meus horários.<br />

– Tem certeza que é só isso mesmo, ou ficou chateado por ontem, por eu ter pegado no sono, e não ter<br />

ficado com você? Era para acertamos a nossa volta!<br />

– Nada disso, na verdade eu também fui me deitar cedo, estava cansando por causa da longa audiência,<br />

mas a noite a gente conversa sobre tudo, agora me deixe trabalhar, tenho de ver se o patrão vai a algum<br />

lugar.<br />

De fato, Nathan tinha planos para mais tarde, ele havia combinado com Marina, em saírem juntos para<br />

jantar, e assim começarem a esclarecer, certos assuntos que estavam pendentes, pretendendo com isso<br />

descobrir, a reais intenções dela e do pai, com relação aos objetos de arte, que procuravam pesquisar na<br />

propriedade.<br />

Por volta das dezenove horas, Arthur encostou no estacionamento da clínica, ele se preparava para<br />

travar o alarme, quando avistou que Elisa, já saía pela porta da frente, ela estava tão ansiosa pela sua<br />

chegada, que havia reconhecido o carro assim que estacionou, e carregando uma pequena mala, e<br />

algumas sacolas com os seus pertences, se encaminhou na direção do veículo, ao encontro do melhor<br />

homem que havia conhecido, iniciava-se a partir deste momento, a sua segunda chance na vida.<br />

176


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 41 •<br />

Conforme combinado previamente, Nathan pegou Marina no apart-hotel em que estava, e juntos foram<br />

jantar fora, e para isso, escolheram um restaurante mais movimentado, onde podiam se misturar com as<br />

outras pessoas, para que ele não fosse reconhecido por ninguém, e assim que foram acomodados em<br />

uma mesa, pediriam uma garrafa de vinho tinto branco, e o empresário iniciou a conversa.<br />

– E o seu pai, passou o dia bem?<br />

– Passou sim, obrigado por perguntar!<br />

– E a enfermeira contratada, está fazendo tudo direitinho?<br />

– Ela é muito boa no que faz, e neste momento ficou no hospital cuidando dele, para que eu pudesse<br />

estar aqui com você.<br />

– Se está aparentemente tudo certo, vamos finalmente ter a nossa conversa, quero que conte tudo o que<br />

sabe ao meu respeito, e também o que tanto queriam na minha casa, principalmente se realmente sabem,<br />

quem está por traz de tudo que vem acontecendo conosco.<br />

– Alguma destas questões, eu até acredito que vou saber lhe dizer, mas a maioria delas, somente o<br />

velho Duarte quem sabe, pois ele é que havia sido previamente contratado, para descobrir as peças que<br />

eu pesquisava.<br />

– Então fale o que sabe, e depois que ele se recuperar totalmente, veremos se nos conta o restante dos<br />

fatos.<br />

– Ok, tudo começou mais ou menos um ano atrás, quando chegaram algumas caixas dos Estados<br />

Unidos, nelas continham cópias de documentos bem antigos, algumas réplicas de quadros desconhecidos,<br />

e principalmente, algumas fotos reprodutivas de pinturas, a maioria de uma ordem de cavalheiros, em<br />

suas passagens em povoados e castelos, e o meu pai manteve isso em segredo, até o dia que<br />

acidentalmente eu vi uma das fotos.<br />

– E qual a relevância desta foto?<br />

– Era de alguns cavalheiros armados, pareciam terem acabado de sair de uma batalha, e um deles me<br />

chamou muito a atenção, porque seu rosto era meio que familiar, e eu sabia que já o havia visto em algum<br />

lugar!<br />

– E se lembrou, descobriu de quem se tratava?<br />

– Sim descobri, após alguns dias eu vi uma manchete na web, comparei as fotos e confirmei que estava<br />

certa, o homem era muito parecido com você.<br />

Nathan se admirou como fato, pareciam coisas de histórias fictícias, e procurado assimilar todas estas<br />

palavras, a questionou:<br />

– Se isso que falou é mesmo verdade, eu preciso ver esta foto o mais breve possível, pode ser que<br />

me ajude a lembrar de alguma coisa, me fazendo recordar desse meu passado, você a tem guardada com<br />

você?<br />

– Infelizmente não está mais comigo, no dia em que atiraram no meu pai, levaram todos os documentos<br />

e objetos, ele fazia uma tentativa de sair fora desta enrascada, em que havia nos colocado em perigo, mas<br />

quase perdeu a sua vida fazendo isto.<br />

– Estou compreendendo tudo, mas onde eu me encaixo nisso tudo?<br />

177


<strong>Caminhos</strong><br />

– Procurávamos em sua mansão uma marca, ou pelos menos um vestígio dela, igual ao esboço<br />

desenhado no meu Laptop, aquele que lhe mostrei no restaurante, dias antes de acontecer tudo o que<br />

houve, mas não encontrei nada parecido em sua coleção, e depois destes acontecimentos, não tive mais<br />

oportunidade de continuar minhas pesquisas.<br />

– E o que sabe sobre as relíquias, ou principalmente desta tal de fonte?<br />

Marina tomou um gole de vinho, colocou a taça na mesa, e abriu tudo o que sabia ao empresário:<br />

– Meu pai me contou sobre uma lenda antiga, e que estes artefatos, foram divididos a vários homens,<br />

aos quais boa parte se definharam pelo caminho, e ele acreditava que restaram apenas dois deles, e que<br />

ainda conviviam no meio de nós, seriam hoje pessoas com cerca de quatrocentos anos ou mais,<br />

dependendo se haviam ou não repassados o poder a outros, e agora eu é que lhe pergunto, esta história é<br />

verídica, você é um destes homens?<br />

– Pela história que o meu ex-amigo me contou, se tudo o que ele falou for verdade, é provável sermos<br />

estes homens que procuram, porém, por causa da minha perca de memória, eu não posso lhe afirmar<br />

nada com certeza, por isso eu preciso descobrir tudo bem rápido!<br />

– Se você me permitir, ter acesso a todos estes objetos, eu lhe prometo que farei o meu melhor, para<br />

desvendar e esclarecer estas coisas de seu passado, sou muito boa nisso!<br />

– Concordo, assim que o seu pai receber alta, e você estiver com a cabeça mais tranquila, eu lhe mostro<br />

tudo o que tem na mansão, inclusive os meus cristais, e vários objetos contidos no sótão, ao quais você<br />

não teve acesso naquele dia, pois tive conhecimentos deles há pouco tempo.<br />

– Combinado, vou fazer de tudo para descobrir quem são nossos inimigos, já está na hora de<br />

encerramos todo este mistério, e botar atrás das grades os verdadeiros criminosos!<br />

– Eu gosto muito de sua determinação, me faz ter esperanças quanto ao futuro, que neste momento está<br />

repleto de incertezas e perigos, mas agora vamos aproveitar o nosso jantar, e fazer logo o pedido, já<br />

escolheu o seu prato?<br />

– Sim, pode chamar o garçom!<br />

Ele ainda tinha um trunfo guardado, que era a palavra-chave que havia descoberto, porém, resolveu<br />

guardar este segredo, para tão somente o revelar no momento preciso, ao qual poderia lhe restaurar suas<br />

memorias arquivadas, e quem sabe, trazer à tona todas as respostas necessárias.<br />

Em outra parte do mundo, mais precisamente em Nova Iorque, veremos pela primeira vez, quem<br />

comandava todas as ações da organização, e para se manter neutra a todos os seus planos, a<br />

maquiavélica Heloise, se utilizava sempre de uma voz masculina e de confiança, para que todos<br />

acreditassem que um homem, é quem ditava todas as normas e regras.<br />

Com uma aparência muito séria e carregada, acompanhada por um de seus seguranças, se preparava<br />

para sair de seu prédio, e ir ao um encontro muito importante, com uma de suas principais células, onde<br />

trataria pessoalmente, sobre assuntos de extrema relevância.<br />

O encontro para jantar entre Nathan e Marina, havia sido tranquilo e muito proveitoso, e ao seu final,<br />

trocaram mais algumas impressões sobre os objetos, e ao término da deliciosa sobremesa, o empresário<br />

ergueu a mão pedindo a conta, se prontificando imediatamente, a levá-la de volta ao seu apartamento, e<br />

Raul fazendo seu papel de motorista, dirigiu prudentemente até o seu destino final.<br />

Ao chegarem à mansão, Alba abordou o empresário ainda na entrada, ela veio pedir a ele uma prévia<br />

autorização, para poder utilizar seu carro, juntamente com o motorista, alegando que mais tarde, precisaria<br />

178


<strong>Caminhos</strong><br />

ir até ao aeroporto, para recuperar uma bagagem extraviada, de quando viajou da Espanha para o Brasil,<br />

com destino a Angra dos Reis.<br />

Ele até que se ofereceu para a retirada, mas houve a recusa imediata, alegando não haver esta<br />

necessidade, e que era preciso assinar documentos, e tão somente ela a proprietária, poderia realizar este<br />

procedimento, assim sendo, ele ordenou que a levasse ao seu destino, e Raul sem desconfiar de nada,<br />

acatou as ordens e ficou à disposição, mas isso era apenas um pretexto, para que ela o encurralasse em<br />

sua armação.<br />

Enquanto isso em terras americanas, a chefe da organização criminosa, chegava ao seu encontro<br />

marcado, ela havia feito uma reserva especial, no famoso restaurante Four Seasons, que além de seu luxo<br />

e alto requinte, mantinha ambientes discretos, e de total privacidade aos clientes, e era num lugar cheio de<br />

estilo como este, que se pretendiam tratar de assuntos importantes.<br />

Um homem de meia idade, vestido elegantemente com um terno branco, já a aguardava, se tratava do<br />

Sr. Black, era um dos principais membros do bando, e assim que a chefe se sentou, ele procurou a ouvir<br />

atentamente.<br />

– Muito bom Sr. Black, aprecio muito a sua pontualidade, mas antes de iniciarmos nossa conversa,<br />

preciso tomar o meu Martín!<br />

– Vou pedir ao garçom para trazer dois, assim eu lhe acompanho.<br />

Ela era uma pessoa muito excêntrica e exigente, e trazia consigo uma extensa bagagem de vivência,<br />

dentre elas o preciosismo, a ganância, e uma extrema e exagerada arrogância, sem falar na sua total<br />

impaciência, como por exemplo, falhas consecutivas de alguns de seus comandados, no caso específico<br />

das relíquias, e a procura da fonte de poder, tão fortemente almejados por ela.<br />

Obviamente, ela não divulgava o poder que os cristais continham, e assim que tomou parte da bebida,<br />

foi direta com ele:<br />

– Agora me fale tudo sobre o interrogatório, algum dos dois abriu o bico?<br />

– Após exaustivas sessões de torturas físicas e psicológicas, descobrimos apenas que a moça, tinha<br />

poucos conhecimentos da causa, sabia sobre os cristais, como também sobre o cordão com a marca,<br />

mais nada além disso!<br />

– E o rapaz, o que arrancaram dele?<br />

– Desse menos ainda, certamente sabe muito mais do que tenta passar, mas este é duro na queda, até<br />

parece que já sofreu torturas anteriores, ou que recebeu algum tipo de treinamento.<br />

– E a pedra que ele carregava consigo, trouxe como lhe ordenei?<br />

– Mas é claro, está aqui comigo, um momento que vou pega-la.<br />

Ele enfiou a mão no bolso esquerdo, e pegou algo enrolado num lenço, e ao abri-lo em cima da mesa,<br />

uma pequena luz brilhante, iluminou parcialmente aquele ambiente, e com os seus olhos intrigantes e<br />

mirabolantes, reluzindo sob o reflexo daquele cristal, a chefe pegou a pedra, e retrucou em seguida:<br />

– Mas ela é muito pequena, eu pensei que pelo barulho que ele andou fazendo por aí, fosse pelo menos<br />

do tamanho das outras, ao qual eu já possuo há tempos!<br />

– Segundo o que ele falou, fora aquela que perdeu no jogo, esta é a última presenteada pelo<br />

empresário, me pareceu que estava falando a verdade.<br />

179


<strong>Caminhos</strong><br />

– Pode ser que sim, não faria sentido algum, ter recebido mais destes cristais, a não ser que o<br />

empresário, tenha lhe prometido mais, por ter acesso direto a fonte geradora, é por este precioso objeto,<br />

que devemos focar em nossa procura.<br />

– Minha nossa, se tem mesmo valor de coleção, e estão pagando a você esta fortuna, isso renderia<br />

muita grana!<br />

– Exatamente, mas fique de bico fechado, fica proibido de tocar neste assunto com alguém,<br />

compreendeu?<br />

– Compreendi claramente, mas o que faço com a moça e o rapaz?<br />

Ele não havia desconfiado de nada, acreditava fielmente, que alguém pagava milhares de dólares, tão<br />

somente por colecionar as pedras, Heloise pensou por alguns segundos, e deu o seu veredito:<br />

– Ele você pode mandar executar, enquanto ela, manteremos por hora aprisionada, tenho certeza<br />

absoluta, que poderá nos servir para algum tipo de barganha, agora vamos comer, estou morrendo de<br />

fome!<br />

– Pois bem, vamos fazer o nosso pedido, depois acertamos o meu pagamento em euros.<br />

Com um sorriso forçado e bem frio, ela deu a entender que concordava, mas nada para a chefe era<br />

definitivo, e hoje, alguém que fosse de fundamental importância a seus planos, amanhã, poderia<br />

ser facilmente descartada, e após este breve jantar de negócios, entregou a seu comandado uma maleta<br />

preta, ao qual estava repleta de dinheiro vivo, e retornou para a sua cobertura no Central Park.<br />

Durante todo o percurso, ela procurou segurar o precioso objeto entre as mãos, pois sabia bem que suas<br />

forças vitais, estavam se esgotando aos poucos, e que dependia muito deste novo cristal, ao qual lhe daria<br />

mais algum tempo de proteção, e que manteria sua bela aparência e juventude.<br />

Mas o que ela realmente procurava, em uma busca incessante através de décadas, se utilizando de<br />

todos os subterfúgios necessários, cometendo os mais bárbaros e hediondos crimes, era a fonte de todo<br />

estes poderes, ao quais determinados tipos de pedras e cristais, poderiam armazenar esta poderosa<br />

energia, mas que com o passar do tempo, ao serem utilizadas por seus detentores, para a cura física e<br />

seu rejuvenescimento, acabavam se esgotando.<br />

E já acomodada confortavelmente em seus aposentos, Heloise pegou de dentro de seu cofre, um<br />

punhado de pedras idênticas, aos quais já não continham poder algum, porque já haviam sido utilizadas<br />

por ela, restando apenas a que acabava de adquirir.<br />

180


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 42 •<br />

Já passava das vinte e duas horas, quando Raul aguardava na garagem da mansão, enquanto Alba se<br />

preparava em seu quarto, aonde iriam até o aeroporto de Guarulhos, em busca de sua mala perdida na<br />

viagem, e assim que ela desceu e entrou no carro, prontamente mudou o trajeto, indicando ao motorista o<br />

novo destino.<br />

– Não vamos mais ao aeroporto, tenho outros planos em mente, dirija rápido até a Avenida do Estado, lá<br />

tem um local mais tranquilo onde podemos conversar.<br />

– Sim senhora, posso saber aonde vamos?<br />

– Não me chame assim, creio que já temos intimidade suficiente, me chame pelo meu primeiro nome.<br />

– Como quiser, eu queria mesmo falar sobre aquela noite, acho que foi uma coisa muito boa, mas<br />

devemos esquecer tudo que aconteceu lá, e cada um segue a sua vida normal, de acordo com isso?<br />

– Tarde demais para se arrepender, o que está feito não se muda mais, você é um homem muito<br />

experiente, e sabe do que estou falando, mas assim que chegarmos no local, conversaremos sobre isso!<br />

Ele ficou em silêncio, passavam em sua cabeça todos os momentos marcantes, entre os dois na sala de<br />

troca da sauna, e de alguma forma ele se arrependia parcialmente, de ter se entregado aos prazeres da<br />

carne, e não tardou muito, até chegarem ao lugar indicado, que era um motel de luxo e alto requinte.<br />

Ao parar na entrada do estabelecimento, Alba abriu lentamente o vidro de traz do carro, e pagou a<br />

pernoite em dinheiro vivo, escolhendo uma das suítes mais caras e elegantes, com isso, ela pretendia<br />

mais uma vez, seduzir completamente Raul, com a intenção de incluí-lo em seus planos, o colocando<br />

contra o empresário.<br />

Nathan havia se recolhido mais cedo, estava muito tenso e nervoso, por causa de sua apresentação a<br />

polícia, que seria daqui a dois dias, ele temia muito a reação de todas as pessoas, tanto na vida comum,<br />

quanto no mundo dos negócios, onde todos até agora, acreditavam que ele estava morto.<br />

Iris como de costume, colocou Gabriel para dormir, mas desta vez não pegou no sono e se arrumou, ela<br />

pretendia esperar pela volta do marido, e pôr um fim a este jejum no relacionamento, já era hora deles se<br />

acertarem, e tentarem um novo recomeço na vida, mas ela tinha muitas dúvidas, se isso era apenas um<br />

sonho da parte dela.<br />

Do outro lado da grande cidade, Elisa e Arthur chegavam a casa do advogado, e Dirce aguardava<br />

ansiosa o retorno da moça, ao qual havia se afeiçoado em tão pouco tempo, e assim que chegou, ela foi<br />

recepcionada com imensa satisfação, se sentindo plenamente feliz, curtindo este momento maravilhoso,<br />

fez questão de agradecer.<br />

– Não tenho palavras para agradecê-los, o que fizeram por mim não tem preço, eu prometo que vou<br />

recompensa-los de alguma forma, muito obrigado mesmo!<br />

Arthur sorriu, balançou a cabeça positivamente, e fez questão de fazer uma colocação a ela:<br />

– De minha parte está tudo certo, só de ver a felicidade estampada em seu rosto, e recuperada de todos<br />

os ferimentos e problemas, já está de bom tamanho!<br />

Elvira pegou carinhosamente na mão da moça, e reforçou o apoio a moça.<br />

– Comigo também está tudo acertado, mas agora vamos todos a sala de jantar, eu preparei algo<br />

especial para o seu retorno, e já coloquei a mesa para você e o patrão.<br />

181


182<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Está tudo perfeito, nem sei o que dizer a vocês dois, eu estou morrendo de fome, mas faço questão<br />

que participe conosco, quem é aquele rapaz, é o seu filho?<br />

– Sim é o meu querido Dimas, acabou de chegar do interior onde se formou, mas acho melhor a gente<br />

comer na cozinha mesmo!<br />

O Advogado interferiu na conversa das duas, e discordou de sua empregada.<br />

– Nada disso, vamos ficar todos juntos na mesa, a ocasião é especial, por isso vou até a adega pegar<br />

um vinho, e assim comemoramos a volta de Elisa!<br />

Todos ficaram muito animados com este jantar, parecia até uma verdadeira família, a chegada dos<br />

novos moradores, havia modificado e dado vida ao ambiente, e após um brinde, com palavras animadas<br />

de Arthur, Dirce colocou a mesa a refeição, e se sentou ao lado de seu jovem filho.<br />

De volta ao motel, Raul e Alba, haviam bebido quase meia garrafa de whisky, e novamente ele acabou<br />

se rendendo, ao seu belo e tentador corpo, mas um homem vivido como ele, conhece uma mulher ao lidar<br />

com ela, e pelo jeito que as coisas fluíram no sexo, ele teve a certeza absoluta, que ela sabia muito bem o<br />

que fazia, e que não se tratava de uma transa comum, e assim que terminaram, após tomarem um longo<br />

banho e se vestirem, ela encheu os dois copos, e foi direta com ele:<br />

– Gostou do modo que tratei você?<br />

– Achei interessante, nunca tive um tratamento destes antes, você é muito boa no que faz!<br />

– Obrigado pela parte que me toca, mas você também é muito bom e viril, mas temos um assunto<br />

importante para tratar, eu preciso que faça uma coisa por mim!<br />

– Sabia que tinha algo por detrás destas gentilezas, estava achando muito você se envolver assim, com<br />

uma pessoa suburbana como eu.<br />

– Nisso você tem toda razão, mas não se preocupe que por estes serviços, vou lhe pagar uma boa<br />

quantia em dinheiro, sei que quer seguir sua própria vida, e sem depender de favores de terceiros.<br />

Ele se admirou com o que ela disse, e começando a ficar interessado, a questionou mais sobre a<br />

proposta:<br />

– De quantia estamos falando, e que tipo de serviços deseja que eu faça?<br />

– Digamos que estou disposta a lhe dar, trezentos mil dólares, caso consiga pegar algumas coisas para<br />

mim, se fazer as contas vai ver, que é uma grande soma em reais!<br />

– Nossa, é uma alta quantia mesmo, realmente daria para eu dar uma guinada na minha vida, apesar de<br />

uma parte de mim querer muito mudar, a outra me empurra para este lado negro que carrego, do que se<br />

trata?<br />

– Preciso que me ajude a encontrar alguns objetos, que estão escondidos dentro da propriedade, pelo<br />

que fui informada, alguns estão em lugares secretos, e também dentro de um cofre, no quarto do Nathan.<br />

Nem de longe passava em sua cabeça, que teria de trair justamente aquele ao qual, havia ajudado ele e<br />

toda a sua família, dando lhes moradia e toda a estrutura necessária, sem falar de todo o empenho do<br />

empresário e seu advogado, em lhe auxiliar na sua liberdade junto a justiça, e neste complicado momento,<br />

ele havia ficado muito balançado, sem saber o que realmente deveria decidir.<br />

Já era bem tarde da noite, quando Raul e sua passageira chegaram à mansão, Iris havia deixado várias<br />

mensagens na caixa postal, e acabou desistindo de esperar o marido indo dormir, e tendo respeitado o


<strong>Caminhos</strong><br />

silêncio do motorista durante todo o trajeto, Alba aguardou a chegada deles na garagem, para dar o seu<br />

golpe de misericórdia.<br />

Insistindo na adesão dele ao seu plano de roubo, ela lhe mostrou um vídeo gravado em seu celular,<br />

onde os dois transavam naquele dia na sauna, e praticamente sem dizer muita coisa, deixou bem claro<br />

que era um tipo de chantagem, e que Raul não teria muitas alternativas, a não ser aceitar o dinheiro<br />

oferecido, e cometer os delitos impostos por ela.<br />

E assim terminava mais uma longa noite, onde cada um havia traçado os seus próprios caminhos,<br />

realizado as suas escolhas diferenciadas, restava agora aguardar o novo dia que surgiria, dando a imensa<br />

oportunidade a todos, de mudarem os seus próprios destinos e atitudes.<br />

Finalmente havia chegado o dia da apresentação de Nathan, sendo que todos que conviviam ao seu<br />

redor, estavam ali presentes cheios de expectativas, e assim que saiu do quarto e desceu as escadas, o<br />

empresário foi recebido pelos hóspedes, pelo seu advogado Arthur, pelo presidente Murilo, e também pela<br />

colecionadora Marina, que fez questão absoluta de também dar esta força.<br />

Surpreendido por todas estas presenças, Nathan se sentiu confortado e mais seguro, ele podia contar<br />

com todos que ali estavam, mas percebia que a missão era muito difícil, mesmo a polícia sabendo de sua<br />

sobrevivência, pelo comunicado feito nos dias seguintes a explosão da bomba, ele temia muito a reação<br />

das pessoas.<br />

Foi preparado um belíssimo café da manhã, onde Gabriel fez questão de se sentar ao seu lado, e<br />

nenhuma das pessoas que participou deste evento, sequer tocou nesta questão a ser resolvida, e com<br />

assuntos mais leves e diversificados, procuraram descontrai-lo durante a pequena refeição.<br />

Por volta das oito e meia, a pequena comitiva saiu rumo ao seu destino, e no carro dirigido por Raul,<br />

além de Nathan e seu fiel advogado, também estava o presidente do grupo Murilo, que também<br />

acompanharia seu patrão, para apoia-lo neste evento de apresentação, e dentro do horário marcado, eles<br />

chegaram na sede da polícia federal.<br />

Como já era de se esperar, havia dezenas de repórteres e fotógrafos os aguardando, bem sabia eles,<br />

que esta informação poderia ser vazada, e mesmo tendo a certeza absoluta, de toda a competência dos<br />

federais envolvidos, sempre tinha alguém de dentro que se favorecia, repassando estas informações<br />

privilegiadas.<br />

Após evitarem o cerco dos jornalistas, todos se acomodarem em suas cadeiras, e sem nada que<br />

atrapalhasse a sua abertura, o interrogatório se iniciou com a leitura de um termo, que foi previamente<br />

escrita pelo advogado, ao qual dava início em sua defesa ao empresário, e Arthur com palavras firmes, se<br />

dirigiu as autoridades:<br />

– É do conhecimento de todos aqui presentes, que o meu cliente Nathan Collin Miller, se manteve<br />

afastado este tempo todo, principalmente procurando evitar assim, um revide de seus prováveis<br />

agressores, ao quais poderiam ataca-lo novamente, caso soubessem de sua sobrevivência ao atentado.<br />

O delegado ouviu atentamente, e aparentemente concordando com o que havia escutado, fez a sua<br />

colocação:<br />

– Certamente estamos cientes deste fato, constam nos autos do processo de investigação, que houve<br />

um comunicado por parte da defesa, dois dias após o fato acontecer, mas quero que conste também no<br />

processo, a falta da presença de um dos principais envolvidos, assim peço que o prezado advogado,<br />

prossiga com o andamento da defesa.<br />

– De fato efetuamos este comunicado, e hoje de livre e espontânea vontade, meu cliente está presente<br />

aqui no recinto, para responder a todas as perguntas que julgarem necessárias, mas quanto ao outro<br />

183


<strong>Caminhos</strong><br />

envolvido nesta questão, o senhor Caio Green Ville, afirmamos perante a justiça, não termos o<br />

conhecimento de seu paradeiro.<br />

O delegado separou alguns papéis, e olhando diretamente para o réu, iniciou o interrogatório.<br />

– Sendo assim vamos prosseguir com o inquérito, onde farei a primeira pergunta sobre aquele dia,<br />

Senhor Nathan, sabia antecipadamente que havia uma bomba naquele carro?<br />

– De forma alguma, eu afirmo que não tinha esta informação, senão teria evitado a morte estúpida de<br />

meu motorista, e de outras pessoas que acabaram envolvidas.<br />

– E por qual motivo não entrou naquele veículo, após a sua chegada da viagem de Dubai?<br />

– O meu sócio alterou em cima da hora, a mudança para um veículo alugado, nos levando em uma outra<br />

direção, e o nosso motorista recebeu ordens para retornar.<br />

– E o que causou esta mudança repentina, e qual o destino que os senhores pretendiam?<br />

– Ele me disse que tinha uma surpresa para mim, e assim que chegamos no Guarujá, ele me contou que<br />

havia comprado um barco, mas o porteiro do Iate Clube nos alertou imediatamente, sobre o atentado e<br />

nossas suposta mortes.<br />

– E o que fizeram após tomarem ciência dos fatos?<br />

– A nossa primeira reação foi de nos escondermos, certamente nos queriam mortos naquele dia, e<br />

procuramos um local seguro para ficarmos, foi quando chamamos pelo nosso advogado, e lhe pedimos<br />

toda assistência possível, para nos orientar em todas nossas ações, e tentar descobrir o que realmente<br />

havia acontecido.<br />

– Além das mortes na explosão, houve mais uma morte naquela tarde, um de seus diretores o senhor<br />

Vasques, foi brutalmente assassinado a tiros, nas proximidades da sede de sua empresa, o que sabe<br />

sobre este fato?<br />

– Ficamos sabendo do ocorrido a noite, quando o senhor Arthur aqui presente, chegou ao hotel<br />

que estávamos hospedados, a princípio acreditávamos que era um ataque ao grupo, pelo motivo de<br />

termos fechado um grande negócio, mas isso já foi descartado.<br />

O delegado pediu para que um dos policiais trouxesse, uma pasta que continham alguns documentos,<br />

mas antes de se pronunciar a este respeito, ele foleou algumas páginas em busca de algo específico,<br />

enquanto isso Nathan, devidamente tenso pelo depoimento, ficou aguardando a definição da autoridade.<br />

184


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 43 •<br />

Enquanto isso na cidade de Londres, Carlos Renato acabava de entrar na sala executiva, do Banco<br />

central do Reino Unido, onde o diretor já era aguardado por seus membros, e também por uma autoridade<br />

da Interpol, que acompanhava de perto a interversão financeira, em conjunto com bancos e autoridades do<br />

Brasil, e assim que se acomodou em sua poltrona, iniciaram-se as conversas sobre as contas fantasmas,<br />

e o diretor brasileiro, foi o primeiro a falar:<br />

– Many thanks to all those present for their cooperation and assistance, especially giving all documents<br />

so that we can accurately assess the values and destinations, the diverted amount of our companies.<br />

Traduzindo: Muito obrigado a todos os presentes, pela colaboração e ajuda, principalmente cedendo<br />

todos os documentos, para que possamos avaliar com precisão os valores e os destinos, do montante<br />

desviado de nossas empresas.<br />

Mr. Peterson, presidente do banco central, se pronunciou em seguida:<br />

– There is no need for thanks, as we have an agreement between our countries, which allow us to<br />

exchange information, just prioritize, to stop the corrupt and fight against crime, and I will intermediate the<br />

sweep of accounts presented!<br />

Traduzindo: Não há a necessidade de agradecimentos, pois temos um acordo entre nossos países, que<br />

nos permitem estas trocas de informações, justamente tendo a prioridade, de acabar com os corruptos e<br />

combater a criminalidade, e eu intermediarei a varredura nas contas apresentadas!<br />

Outro presente a reunião, que era o senhor Dalton, representante legal da Interpol, se levantou<br />

discretamente, e se apresentou formalmente a todos.<br />

– Allow me to present, I am the delegate with international jurisdiction Interpol and accompany this check<br />

accounts, because we suspect that this money has been washed in your business, and returned again to<br />

the outside.<br />

Traduzindo: Permita-me se apresentar, sou o delegado com jurisdição internacional da Interpol, e<br />

acompanharei esta verificação de contas, pois temos suspeita que este dinheiro, foi lavado em uma de<br />

vossas empresas, e retornado novamente para o exterior.<br />

Assim que todos foram apresentados, cada um acoplou seu Laptop a rede do banco, e se iniciou a<br />

operação de varredura, onde seriam analisadas conta a conta, até a tentativa de encontrar seu destino<br />

final, que poderia apontar o cabeça desta fraude, aplicadas amplamente nos cofres do Grupo Etros, e por<br />

se tratar de uma busca minuciosa, provavelmente levaria uma boa parte do dia.<br />

De volta ao Brasil, com quatro horas de diferença a menos, com relação ao fuso horário da Inglaterra,<br />

voltamos ao distrito da polícia federal, onde após o delegado encontrar a página procurada, deu sequência<br />

ao interrogatório.<br />

– Encontrei o que estava procurando, vamos continuar com as perguntas ao senhor Nathan, o que sabe<br />

a respeito do Casino Poker Black, situado na cidade de Nova Iorque?<br />

O empresário olhou rapidamente para seu advogado, como estivesse à procura de respostas, mas<br />

observando, que ele também nada sabia a respeito, respondeu à pergunta:<br />

– De momento não me recordo nada ligado a este nome, seria muito abuso de minha parte, saber o<br />

motivo desta pergunta?<br />

Arthur interveio rapidamente, recorrendo em defesa de seu cliente, e com o devido respeito, contestou<br />

junto a autoridade.<br />

185


<strong>Caminhos</strong><br />

– Permita-me uma interversão, pois consta nos autos da investigação, que qualquer assunto relacionado<br />

anterior ao acidente, ao qual o meu cliente sofreu a perca total de sua memória, fica bem claro, que não<br />

deverá responder a certas questões!<br />

– Realmente estou ciente deste fato, e tenho em anexo o atestado do médico do psiquiatra, mas mesmo<br />

assim tenho dúvidas, porque o seu sócio e também amigo pessoal, tinha um grande envolvimento com<br />

este cassino de jogos, tem certeza que não sabe mesmo de nada sobre isso?<br />

– Pode até parecer estranho aos senhores, mas eu queria me lembrar de todos os fatos, pois a cada dia<br />

que se passa, surgem mais mistérios e complicações, e quero deixar bem claro, que ele não é mais meu<br />

amigo, e que já estamos tratando da separação da sociedade, e assim que conseguirmos localiza-lo,<br />

acertaremos todas estas pendências.<br />

O delegado intrigado com esta afirmação, procurou especular mais sobre o assunto.<br />

– Vou lhe fazer uma pergunta pessoal, e o senhor só responda se quiser, o que o levou ao término da<br />

sociedade, e desta amizade entres vocês dois?<br />

– É um assunto muito delicado, que como o senhor mesmo disse, são mesmo muito pessoais, e eu<br />

prefiro me isentar desta questão!<br />

– Eu compreendo perfeitamente, sabe senhor Nathan, nós policiais, também possuímos o nosso lado<br />

humano, e temos pleno conhecimento de alguns entreveres, que aconteceram recentemente com a sua<br />

pessoa, por isso mudaremos de assunto.<br />

– Eu agradeço a vossa compreensão!<br />

– Pois bem, é de nosso conhecimento também, que houve um envolvimento direto seu, com os serviços<br />

de um Antiquário, pertencente a tradicional família Altmayer, onde o senhor Duarte também sofreu um<br />

ataque, qual o seu envolvimento com ele?<br />

– A colecionadora Marina que é sua filha, havia me procurado por mais de uma vez, querendo muito<br />

inspecionar alguns objetos de arte, pertencentes a uma coleção que mantenho em minha residência, eu<br />

até cheguei a contratar os seus serviços, mas depois acabaram acontecendo todos<br />

estes lastimáveis fatos!<br />

– De fato procede os seus argumentos, bate com relação ao depoimento que ela própria fez, sendo<br />

assim, eu creio que terminamos por hoje, mas peço veemente que se mantenha a nossa disposição, e que<br />

de forma alguma saia do país, sem uma prévia autorização da justiça.<br />

O empresário concordou com a colocação da autoridade, e juntamente com Arthur se retiraram da sala,<br />

mas acabaram encontrando um batalhão de jornalistas, que queriam entrevista-lo a qualquer custo, e<br />

seguindo orientações de seu advogado, não cedeu a nenhuma entrevista, apenas comunicando que faria<br />

no dia seguinte, uma coletiva respondendo a todas as perguntas.<br />

Algumas emissoras de televisão, transmitiam ao vivo a sua saída, e muitas pessoas que o davam como<br />

morto, ficaram surpreendidas com esta notícia, e Dona Angelina, que nunca perdia a sua novela da tarde,<br />

também assistiu a este furo de reportagem, e ficou tentando descobrir em suas lembranças, de onde<br />

conhecia aquele homem, pois o seu rosto lhe era familiar.<br />

Já dentro do Carro, enquanto retornavam para a mansão, Arthur explicou detalhadamente para Nathan,<br />

que as autoridades sabiam muito mais sobre a investigação, e que algumas fontes de dentro da polícia,<br />

comentaram sobre supostas gravações realizadas, onde Duarte conversou com pessoas ligadas aos<br />

criminosos, que mais tarde, o atacaram em seu próprio Antiquário, e o empresário ouvindo atentamente, já<br />

não se surpreendia com mais nada.<br />

186


<strong>Caminhos</strong><br />

No Banco Central de Londres, a análise de todas as contas havia terminado, e junto a dois analistas que<br />

a própria entidade forneceu, eles desmembraram todas as contas e subcontas, e fizeram um minucioso<br />

levantamento de todos os nomes, aos quais estavam envolvidos nas transações, inclusive apareceram os<br />

nomes de Caio, Heloise, e de Austin, conhecido como Sr. Black, dono de um Casino Poker em Denver,<br />

nos Estados Unidos.<br />

Assim que terminou a reunião, Carlos Renato retornou para o hotel onde se hospedava, e depois que fez<br />

uma rápida refeição, pois havia ficado praticamente o dia todo sem se alimentar, fez um resumo de todos<br />

os documentos, e os enviou para o e-mail da presidência do Grupo, ao qual Murilo ao recebê-los, fez<br />

cópias e impressão dos mesmos, os preparando para o dia seguinte, onde os apresentaria aos diretores e<br />

advogados do grupo, pois já era final de expediente no Brasil.<br />

As notícias sobre o depoimento do empresário, que já circulavam nos principais veículos de<br />

comunicação, tiveram repercussões em todas as empresas do grupo, principalmente nas cotações da<br />

bolsa de valores, onde as ações despencaram bruscamente, devido a prévia divulgação coletiva, de que o<br />

sócio majoritário do grupo, estava são e salvo.<br />

Na Ong Fabrica de Sonhos, Dulce e a professora Amanda, já se preparavam para encerrar o dia letivo,<br />

quando um de seus alunos, que estava na sala de descanso, veio correndo com a intenção de contar as<br />

duas, sobre a notícia que havia visto na televisão, deixando ambas de queixo caído, e quando assistiram a<br />

reportagem na íntegra, mostrando que Nathan estava bem vivo, fizeram uma breve reunião, e Dulce foi a<br />

primeira a desabafar.<br />

– Mas como é possível uma coisa destas?<br />

– Inacreditável, mas se não foi ele quem morreu na explosão, quem foi então?<br />

– Isso está muito mal explicado, e creio que vai dar uma grande reviravolta, mas será que a Letícia sabia<br />

de tudo?<br />

Amanda procurou se lembrar, das últimas conversas que teve com ela, e acabou chegando a uma óbvia<br />

conclusão.<br />

– Pensando melhor agora, eu achei mesmo muito estranho, ela ter se animado naquele dia em que<br />

ligou, avisando que ia viajar com alguns amigos, porque um dia antes, estava ai chorando pelos cantos!<br />

– Mas se ele voltou e se apresentou, ela também deve ter voltado junto, vou ligar para o celular dela!<br />

Houve várias tentativas frustradas, sendo que todas caíram na caixa postal, e por fim, resolveram ligar<br />

para a casa dos pais da moça, e estes não sabendo nada sobre as notícias, ligaram a sua televisão e<br />

assistiram a tudo, porém, eles já sabiam da sobrevivência de Nathan e Caio, porque Letícia havia contado<br />

isso a eles, no dia em que chegou a Angra dos Reis, mas depois não obtiveram mais contato com a filha,<br />

e ficaram extremamente preocupados, por ela não ter mais os procurado, e nem sequer mesmo ter ligado,<br />

para avisa-los de seu retorno.<br />

Por este e outros motivos cabíveis, tanto os pais da moça, quanto as integrantes da Ong, decidiram ir<br />

até a propriedade de Nathan, onde juntos pretendiam descobrir o paradeiro de Letícia, e tirarem<br />

satisfações sobre todo este mistério, que rondava suas mentes naquele momento, e certamente mais uma<br />

vez, o empresário sofreria diversas acusações, pois nem ele mesmo sabia do destino da moça.<br />

A notícia se espalhou rapidamente pela favela, todos ficaram admirados e felizes ao mesmo tempo, pois<br />

o empresário cuidava de muitos por ali, incluindo seu programa de cestas de alimentos, os custeios da<br />

Ong e a escola, e também a prática de esportes coletivos, e nem é preciso mencionar, que uma pessoa<br />

ficou furiosa ao saber de tudo, se tratava do bandido Otto, que extremamente furioso, falava aos berros<br />

com o seu novo comparsa.<br />

187


<strong>Caminhos</strong><br />

– Mas que porcaria é esta, este filho duma mãe está vivo?<br />

– É o que estão dizendo por aí, que ele não morreu naquele atentado a bomba!<br />

– Faça uma coisa, traga o carro até aqui, e me leve até um local que indicarei, preciso ver tudo isto de<br />

perto.<br />

– Sim senhor chefe, vou busca-lo no esconderijo.<br />

– Enquanto traz o carro, eu vou trocar de roupa, e procurar me disfarçar um pouco, não quero ser<br />

reconhecido por ninguém, está cheio de investigadores me procurado pelas redondezas.<br />

O novo chefe do narcotráfico, ficou abalado com esta notícia, e pretendia tirar a limpo, todos estes novos<br />

eventos, principalmente, porque frustravam seus planos de domínio, e também da tentativa amorosa, de<br />

conquistar a fundadora da Ong, e já era final de tarde, quando eles deixaram a favela rumo a mansão.<br />

A reação não foi diferente, na casa da família do motorista Moreira, os dois filhos juntamente com a mãe,<br />

relembraram todo aquele duro e fatídico dia, em que perderam o seu ente mais querido e precioso, e<br />

imediatamente, ligaram para um advogado conhecido, lhe colocando a par de toda esta situação, sendo<br />

aconselhados a procurarem por Nathan, em busca dos esclarecimentos necessários.<br />

No hospital onde Duarte estava internado, se iniciou pelos seus corredores, todos os tipos de<br />

comentários sobre este assunto, e como Marina e seu pai sabiam de tudo, procuram não falar muito sobre<br />

o fato, mas ela também pretendia ir até a propriedade, para prestar todo apoio e conforto, para aquele que<br />

os ajudou tanto nos últimos dias.<br />

Enquanto isso em um local secreto da organização, situado em uma cidade Norte Americana,<br />

finalmente, descobriremos o paradeiro de Caio e Letícia, que estavam aprisionados em um porão, de uma<br />

antiga casa de fazenda, onde ninguém poderia suspeitar do que acontecia, e ambos acorrentados na<br />

parede, sofriam todos os tipos de torturas, tantas físicas como psicológicas, e se encontravam neste<br />

instante, totalmente feridos e debilitados.<br />

188


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 44 •<br />

Os dois que haviam sidos sequestrados, estavam há mais de um dia sem água e comida, isto fazia parte<br />

de uma tática dos bandidos, para que eles ficassem fracos e desnorteados, mas pela primeira vez depois<br />

de muito tempo, eles ficaram sozinhos e isolados, sem ninguém que os observasse ou torturasse, e Caio<br />

que estava bastante ferido, aproveitou e falou com Letícia:<br />

– Aguente firme, daqui a pouco eles voltam para nos alimentar, e também para nos deixar ir ao banheiro.<br />

– Eu não aguento mais tudo isso, meu corpo está todo dolorido e muito fraco, não sei se vou aguentar!<br />

– São poucas as oportunidades que temos para conversar, por isso eu vou tentar lhe contar algumas<br />

coisas, preciso que saiba de toda a verdade!<br />

– Me desculpe por ser tão egoísta, você está aí todo machucado, e cheio de sangue pelo corpo todo, e<br />

não reclamou em nenhum momento.<br />

– Isto não tem importância agora, não se preocupe comigo está bem?<br />

– Está certo, diga o que tem para me falar.<br />

– Peço que me perdoe, é por minha culpa que todas estas coisas estão acontecendo.<br />

– O que você tem a ver com este sequestro?<br />

Caio olhou para o chão, respirou fundo por duas vezes, e se abriu com ela:<br />

– Tudo começou a seis anos atrás, quando eu conheci o Nathan num voo comercial, com destino a<br />

Toronto no Canadá, e durante esta longa viagem, acabamos conversando sobre muitos assuntos,<br />

principalmente sobre os nossos trabalhos, e descobrimos que tínhamos algumas afinidades, inclusive ao<br />

mencionar, que eu trabalhava por conta própria, no ramo de venda e compra de imóveis, surgiu um<br />

convite da parte dele, e para isso marcamos de se encontrar em um jantar, no dia seguinte a nossa<br />

chegada.<br />

– Eu acreditava que se conheciam há mais tempo!<br />

– É onde começam as minhas mentiras, a maior parte das coisas que sabe a meu respeito, foram<br />

inventadas, isso para cobrir a minha verdadeira personalidade, é por isso que preciso contar tudo a você.<br />

– Vou tentar ficar acordada, pois estou tonta e muito fraca.<br />

– Por favor, aguente firme... Como eu estava lhe dizendo, no dia seguinte a nossa chegada, fui ao seu<br />

encontro em um restaurante, e lá ele me contou um pouco sobre suas empresas, e que precisava de<br />

alguém com bagagem internacional, para uma grande transação ali mesmo no Canadá, onde pretendiam<br />

construir uma vila olímpica, para os jogos de inverno do ano seguinte, e assim surgiu a sociedade neste<br />

ramo de empresas, ele entrou com o capital, e eu com o trabalho.<br />

– E onde entra a parte ruim desta história?<br />

– Tudo foi muito bem, nós dois crescemos e ganhamos muito dinheiro, e conseguimos concluir o projeto<br />

e suas obras, rigorosamente dentro dos prazos iniciais, e tivemos presentes a grande festa de abertura, e<br />

após o seu encerramento, decidimos comemorar num destes bares populares, onde todos costumavam se<br />

reunir para beber, após os jogos de hóquei no gelo, devo continuar?<br />

– Creio que possa aguentar mais um pouco!<br />

189


<strong>Caminhos</strong><br />

– Naquela noite, houve uma séria discussão entre torcedores, e um deles estava armado e efetuou<br />

alguns disparos, e muitas pessoas ficaram feridas, sendo que uma destas balas, acabou atingindo<br />

o abdômen do Nathan, mas ao invés de ser levado para um hospital, ele insistiu que eu o levasse<br />

diretamente até o hotel, e já dentro de seu quarto, me revelou e compartilhou o seu segredo, que tinha<br />

dentro de sua mala algumas pedras, ao qual as chamava de relíquias.<br />

– E o ferimento dele, o que aconteceu?<br />

– Ele pegou uma destas pedras, que na verdade são cristais rolados, e segurou entre as mãos, e em<br />

pouco mais de meia hora, ele conseguiu reverter a situação, aquilo era incrível aos meus olhos, o pequeno<br />

projetil que o alvejou, foi sendo expelido de seu corpo, conforme o ferimento foi se fechando, e quando<br />

terminou o processo, deixou apenas uma pequena cicatriz, e assim que passou a minha empolgação pelo<br />

fato, ele me contou toda a sua história do passado, e uma boa parte dela você já conhece, daquele dia em<br />

que contei na mansão.<br />

Letícia se esforçava muito, para manter os olhos abertos, e buscando forças além de seus limites, tentou<br />

continuar com o diálogo.<br />

– Eu ainda não me acostumei com esta ideia de poderes, ela me parece bem absurda e fantasiosa, mas<br />

ainda não entendi, onde isso nos trouxe até aqui!<br />

– Vai entender agora, porque ele me presenteou com alguns destes cristais, me pedindo sigilo absoluto<br />

sobre isto, e por estar muito agradecido pela confiança e ajuda, acabou me convidando para morar na<br />

mansão, e com o passar e convívio dos anos, nos tornamos grande e inseparáveis amigos, mas eu acabei<br />

traindo esta confiança que me depositou.<br />

– O que você fez para isso acontecer?<br />

– Com muito dinheiro no bolso e diversas facilidades, sobretudo tendo em mãos um poder, que<br />

acreditava me proteger de tudo e de todos, numa destas viagens de negócios aos Estados Unidos, eu<br />

acabei parando em um cassino, e entre bebidas e drogas muito pesadas, eu acabei perdendo o controle, e<br />

todo o dinheiro que possuía, e quando eu não tinha mais nada para apostar, acabei dando uma pedra<br />

como garantia de jogo, e para que acreditassem na minha história, eu fiz um pequeno corte no braço, e a<br />

utilizei para a minha cura, e com isso eu despertei a cobiça de muita gente.<br />

Ela havia entendido tudo, agora se encaixava todas as perguntas feitas, durante a tortura de ambos no<br />

cativeiro, estavam atrás das outras relíquias pertencentes a Nathan, e provavelmente esta seria a causa<br />

de todos estes eventos, desde o acidente misterioso envolvendo o empresário, até ao ponto de chegar a<br />

este sequestro, onde dificilmente seriam encontrados, por se tratar de uma pequena fazenda entre as<br />

montanhas.<br />

Com três horas a mais com relação aos Estados Unidos, já escurecia na cidade do Rio de Janeiro, onde<br />

encontramos Bianca e Talita, que passavam por mais uma séria discussão, a verdade é que, desde a<br />

descoberta de sua gravidez, o relacionamento nunca mais fora o mesmo, e os atritos eram constantes, até<br />

que Bianca desabafou:<br />

– Estou de saco cheio de você, fica me dando patada o tempo todo, me maltrata e não me ajuda com as<br />

tarefas da casa!<br />

– Se não está contente é muito simples, arruma todas as suas coisas, e vai para os braços de seu<br />

queridinho, não é isso mesmo que você quer?<br />

– Eu sempre te achei um pouco desequilibrada, mas agora já passou dos limites, primeiro diz que vai me<br />

ajudar, depois fica pisando em mim, não estou te entendo, até parece que tem personalidade bipolar!<br />

190


– Cale a sua boca, não vou tolerar que fale de mim desta forma, acho melhor cada uma tomar o seu<br />

rumo, para mim já deu!<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Eu que o diga, fui uma idiota em acreditar, que seria feliz ao seu lado, eu vou arrumar minhas coisas e<br />

sair daqui, e se ficar em depressão como da outra vez, eu quero mais é que você se dane!<br />

Após esta última frase, Bianca tratou de pegar toda a sua roupa do armário, e ligou para pedir um táxi,<br />

enquanto Talita sentada no sofá da sala, assistia a tudo sem dizer uma palavra sequer, ela bem sabia, que<br />

este seria um fato irreversível, e que provavelmente não teria mais volta.<br />

Assim que o porteiro anunciou a chegada do taxista, ela pegou sua bagagem e até tentou se despedir,<br />

mas Talita ficou com a cabeça abaixada, e não respondeu as últimas palavras de Bianca, preferindo o<br />

silêncio e o desprezo, para aquela que dizia aos quatros cantos, que a amaria para sempre.<br />

Bianca era muito organizada, e tinha um bom dinheiro guardado, e até que as coisas se resolvessem por<br />

assim dizer, ela pretendia ficar em um hotel perto do trabalho, e depois pensar em uma maneira de contar<br />

a Murilo, sobre o filho que ela carregava em seu ventre, fruto daquela intensa noite de amor.<br />

Falando no presidente do grupo, ele já havia encerrado o seu expediente na empresa, e repetindo o<br />

mesmo gesto de todas as tardes, ficou de pé em frente a janela de vidro, olhando para as luzes das<br />

centenas de prédios no horizonte, mesmo tudo em sua vida estar dando muito certo, ele se sentia muito<br />

solitário, pela falta de ter uma mulher que amasse ao seu lado, e passados alguns minutos, resolveu ligar<br />

para uma pessoa, ao qual havia se afeiçoado muito.<br />

– Alô, Marina tudo bem?<br />

– Estou bem, mas quem está falando?<br />

– É o Murilo do Grupo Etros, estou ligando para saber se você e o seu pai estão bem, e se estão<br />

precisando de alguma coisa.<br />

– Oi Murilo me desculpa, eu devia ter gravado seu nome nos contatos, é que está tão corrido estes dias,<br />

que acabei me esquecendo de anotar, o meu pai está muito melhor, e já pode receber visitas autorizadas,<br />

porque não vem até aqui e conversamos, isso se não tiver nenhum outro compromisso!<br />

– Que ótima notícia, eu vou dar uma passada por aí então, é só o tempo de ir em casa, e tomar um<br />

banho rápido, até já!<br />

– Eu fico te aguardando, beijo!<br />

Como dizia aquela música do Cazuza, "o tempo não para", e a fila anda como dizem as outras pessoas,<br />

dentro destes paradoxos de tudo que nos cerca, os caminhos do executivo e da colecionadora,<br />

começavam a se entrelaçarem mutuamente, e poderia surgir daí, algo mais que uma simples amizade.<br />

Após Nathan e Arthur terem chegado da polícia federal, se juntaram na biblioteca para tomar um<br />

drinque, e também para trocarem as impressões do interrogatório, onde o assunto principal foi a ausência<br />

de Caio, que não apareceu para o interrogatório, e o empresário tinha muitas dúvidas.<br />

– Será que o Caio não compareceu a audiência, com receio de ter de me encarar de frente?<br />

– Apesar dos horários serem um pouco diferentes, havia uma grande possibilidade de se esbarrarem<br />

pelos corredores, mas com a polícia federal não se brinca, ele pode ser processado por esta ausência, e<br />

passar a ser um procurado pela justiça.<br />

191


<strong>Caminhos</strong><br />

– Às vezes eu custo a acreditar, que eles fizeram tudo isso comigo, porque não combina com as suas<br />

personalidades, além de que, os dois estavam sempre se estranhando, havia algum tipo de tensão entre<br />

os dois.<br />

– Eu não tive muita oportunidade, de poder conhecer melhor a Letícia, mas convivi bastante com o Caio<br />

na empresa, e ele sempre me pareceu ser bem fiel a você, é realmente muito lamentável para todos, as<br />

coisas terem chegado a este ponto, nenhum dos dois deram mais notícias?<br />

– Nada, nem ao menos um simples telefonema, ou um pedido formal de desculpas, sequer uma<br />

satisfação ou um motivo, que justificasse o que fizeram comigo!<br />

– Sempre acredito que de uma forma ou de outra, que as coisas sempre se esclarecem no final, e mais<br />

dia ou menos dia, tenho certeza que tudo vai ser esclarecido, e o melhor que tem a fazer neste momento,<br />

é tentar tocar a sua vida para frente, procurando se esquecer destes lamentáveis fatos.<br />

O conselho do advogado era excelente, caberia a qualquer outra pessoa menos ao empresário, porque<br />

além de amar muito a professora, ainda teria de enfrentar uma avalanche que vinha pela frente, a começar<br />

pelo imenso batalhão de repórteres, que começavam a se aglomerar em frente a propriedade, sem falar<br />

das famílias e o pessoal da Ong, que também se dirigiam ao local, na tentativa de tirar satisfações cara a<br />

cara com ele, mas prevenidos antecipadamente pela experiência de Arthur, cercaram a casa com muitos<br />

seguranças, que tinham ordens expressas, para que não deixassem ninguém passar.<br />

192


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 45 •<br />

Ao ser informado por um funcionário da casa, do tumulto que havia se formado do lado de fora,<br />

rapidamente Arthur tomou medidas preventivas, acionando a polícia militar para a defesa da propriedade,<br />

e reforçando as orientações dadas aos seguranças, impedindo assim qualquer tentativa de invasão a<br />

mansão.<br />

O advogado também aconselhou Nathan a se ausentar, e para isso ambos saíram em seu carro, pelo<br />

outro portão na parte detrás, e seguiram para o bairro em que situava a sua casa, bem longe de toda<br />

aquela perturbação, enquanto Alba, Raul, Iris, e Gabriel ficaram em seus quartos, acompanhando a<br />

repercussão pela televisão, vendo o empresário sendo massacrado injustamente, por toda a mídia.<br />

Pouco depois os pais de Letícia chegaram ao local, e ficaram admirados com todas aquelas pessoas,<br />

mesmo assim localizaram Dulce e Amanda, que já haviam chegado minutos antes, e procurando se<br />

afastar daquela pequena multidão, foram para o outro lado para conversarem, e a coordenadora super<br />

nervosa, falou com todos:<br />

– Minha nossa, quantos jornalistas! Eu acredito que não teremos como falar com ele hoje!<br />

Eleonora, mãe de Letícia, também estava muito aflita, e também deu a sua firme opinião.<br />

– Também acredito que não, o meu marido já desistiu e voltou para o carro, tudo bem com vocês?<br />

Amanda se aproximou, deu-lhe um forte abraço, e receosamente respondeu à pergunta.<br />

– Na medida do possível sim, estamos preocupadas com a Letícia, faz quase dois meses que não<br />

falamos com ela, e a senhora, quando foi a última vez que a viu?<br />

– Com este costume que temos de viajar sempre, o Jorge e eu falávamos muito pouco com ela, mas<br />

tenho de confessar a vocês duas, que antes de sair para Angra do Reis, ela me contou que estava lá com<br />

ele, nós sabíamos de sua sobrevivência ao atentado, e pensamos que nossa filha ficaria bem.<br />

Dulce balançava a cabeça, andava de um lado para outro, parecendo estar insatisfeita consigo mesma,<br />

e quebrando aquele breve silencio, disse o que pensava para elas:<br />

– Tenho de admitir a vocês, que por essa eu não esperava, como pode uma pessoa se fingir de morto,<br />

será que nos enganamos tanto assim, sobre o seu caráter e sua pessoa?<br />

Eleonora abaixou a cabeça, e buscando recordações da filha, falou abertamente:<br />

– Eu creio que falei com ele umas duas vezes, mas sempre me pareceu ser do bem, além de que a<br />

Letícia o amava muito.<br />

Amanda olhando para Dulce, completou e afirmou:<br />

– Quanto a isso eu concordo plenamente, ela estava totalmente apaixonada por ele!<br />

– Eu não sei quanto a senhora e você Amanda, mas eu estou indo embora, amanhã eu verifico como<br />

isto aqui está, aí sim com mais calma eu retorno, e pedirei satisfações sobre o paradeiro dela.<br />

– Você tem toda a razão, mas eu como mãe, não posso voltar para casa assim sem notícias, sendo<br />

assim, eu vou ficar mais um pouco, e por favor, me liguem avisando, assim que obtiverem alguma notícia,<br />

ou caso conseguiam falar com ele.<br />

– Pode deixar amanhã cedo a gente se fala, até amanhã.<br />

193


<strong>Caminhos</strong><br />

– Até amanhã, e obrigado por se preocuparem com a nossa filha!<br />

Dentro das dependências do hospital, Marina auxiliava a enfermeira a alimentar o pai, quando Murilo<br />

chegou na porta do quarto, apresentado estar sem jeito para lidar com a situação, ele que havia comprado<br />

um buquê de flores, não sabia se entregava na mão da moça, ou se colocava em cima de uma pequena<br />

mesa, e ela percebendo o que se passava, o abraçou com carinho, e agradeceu pela sua gentileza.<br />

A colecionadora havia acabado de retornar de seu apartamento, onde havia tomado banho e trocado de<br />

roupas, e assim que Murilo a cumprimentou, e trocou algumas palavras com Duarte, reparou na exaustão<br />

que a moça aparentava, por cuidar sucessivamente por dias de seu pai, e a convidou para que fossem<br />

jantar fora, assim poderia se distrair um pouco, saindo de toda aquela tensão de hospital, e ela por sua<br />

vez, aceitou com um belo sorriso no rosto.<br />

Dava para sentir facilmente no ar, que havia uma certa eletricidade rolando entre os dois, mesmo que<br />

precavidos, pois acabavam de sair de relações complicadas, onde ambos sofreram pela grande<br />

desilusão amorosa, pareciam estar dispostos a se arriscarem, e ao chegarem na porta do restaurante,<br />

Murilo fez questão de pegar em sua mão, e encaminha-la até a mesa reservada, e pelo menos para estes<br />

dois, esta noite parecia ser muito agradável.<br />

Já por outro lado Nathan, que ainda não havia superado aquele difícil dia, chegou com o advogado em<br />

sua residência, e foi recebido por todos com muito cuidado, pois Arthur os havia orientado previamente,<br />

para não tocarem no assunto em referência, mas mal ele adentrou na residência, e já ligou o seu aparelho<br />

celular, onde viu inúmeras mensagens e recados, e quando observou que o seu médico psiquiatra, já<br />

havia ligado sequencialmente algumas vezes, na tentativa de se comunicar com ele, imediatamente<br />

retornou a ligação.<br />

– Estevam, é o Nathan tudo bem, você me ligou?<br />

– Que surpresa você nos preparou hem, sentimos tanto quando tudo aconteceu, que agora eu nem<br />

tenho palavras, nem mesmo para lhe criticar, mas independente do que esteja acontecendo, liguei para<br />

lhe dar o nosso apoio, tenho certeza absoluta, que tenha uma explicação plausível!<br />

– Sei que devo muitas explicações a todos, e vou procurar me retratar publicamente, dando uma coletiva<br />

de imprensa, e pretendo fazer isso nos próximos dias.<br />

– Antes de fazer isso, venha aqui falar comigo, pode ser que eu possa lhe ajudar na preparação, se<br />

quiser, eu desmarco as consultas que tenho a tarde, dando total privacidade a você, o que acha?<br />

– Se puder fazer isso fico agradecido, além do mais, eu preciso lhe contar algo sobre uma descoberta,<br />

acho que sei qual é a palavra-chave!<br />

– Então já fica tudo acertado, pode vir lá pelas quatorze horas, está bom para você?<br />

– Excelente, muito obrigado mesmo, acredito que quando ouvir o meu lado da história, verá que não tive<br />

muitas escolhas, um grande abraço, e até amanhã a tarde!<br />

Este telefonema veio mesmo a calhar, porque houve uma melhora singular em seu ânimo, como<br />

também em sua aparência e atitudes, e ali fora do alcance de todas aquelas pessoas, conseguiu dar uma<br />

pequena descontraída, enquanto isso na cozinha, Elisa ajudava Dirce a terminar o jantar, e apesar de<br />

estar a par de todas as circunstâncias, que trazia o empresário ali naquela noite, estava satisfeita por estar<br />

presente a este ambiente, junto a alguém de tamanha importância.<br />

Do outro lado da grande cidade, Eleonora ficou observando atentamente, todos os seguranças da<br />

mansão, até que um deles ficou mais próximo a grade, foi então que se aproximou para aborda-lo, e ele<br />

percebendo que não se travava de um repórter, e sim de uma distinta senhora, procurou dar atenção as<br />

suas palavras.<br />

194


<strong>Caminhos</strong><br />

– Rapaz, por favor, eu preciso falar urgentemente com o Nathan!<br />

– Sinto muito minha senhora, mas não temos autorização de deixar ninguém entrar.<br />

– Eu compreendo que esteja fazendo o seu trabalho, mas ele é noivo de minha filha Letícia, e eu preciso<br />

muito saber notícias dela, eu lhe peço encarecidamente, que me faça uma gentileza, poderia comunicar a<br />

alguém que estou aqui?<br />

Ele percebendo de imediato, o desespero em que ela se encontrava, passou um rádio para um outro<br />

segurança, que se encontrava guardando a porta de entrada, e este procurou naquele momento, alguém<br />

que pudesse tentar resolver esta questão, e fui justamente para Alba, que esta informação foi repassada.<br />

Sem que mais ninguém percebesse, ela foi até o lado posterior ao tumulto, e saiu por um pequeno<br />

portão lateral, onde procurou conversar com a genitora de Letícia, e com toda a falsidade que carregava<br />

consigo, tratou de alfinetar ainda mais a situação.<br />

– A senhora que é a mãe da Letícia, muito prazer, meu nome é Alba.<br />

– Eu agradeço por ter vindo me atender, os seguranças barraram a minha entrada.<br />

– Eles têm ordens expressas, para que ninguém entre na propriedade, além do mais, o Nathan não se<br />

encontra aqui esta noite, o seu advogado achou melhor que ele se ausentasse, e evitasse todos estes<br />

jornalistas.<br />

– Mas e minha filha, preciso muito falar com ela, também está com ele em outro lugar?<br />

– Eu nem sei com dizer isso para a senhora...<br />

– O que foi, aconteceu alguma coisa com ela?<br />

– Já tem quase dois meses que não a vemos, ela acabou fugindo secretamente com o Caio, isso<br />

aconteceu quando ainda estávamos em Angra, parece que os dois estavam tendo um caso amoroso.<br />

Eleonora deu um passo para traz, gesticulou negativamente com as mãos, e afirmou com veemência:<br />

– Isso é inadmissível, da última vez que nos falamos por telefone, ela estava extremamente feliz, e nos<br />

contou sobre o seu noivado, ela amava tanto o Nathan, que estava disposta a enfrentar todos estes<br />

obstáculos, certamente tem coisa errada nisso tudo, eu vou pedir para o meu marido ir direto para a<br />

delegacia, vou dar queixa de seu desaparecimento!<br />

– Não há a necessidade de se fazer isso, existe uma carta com todas as explicações...<br />

Ela deixou Alba falando sozinha, e totalmente transtornada pela situação, se dirigiu até o carro onde o<br />

marido se encontrava, e relatou a ele o que havia descoberto, e imediatamente, foram até o distrito policial<br />

mais próximo, deixando a bandida extremamente preocupada, porque nem de longe estava em seus<br />

planos, o envolvimento da polícia também neste caso, podemos assim dizer que o seu tiro, acabou saindo<br />

pela culatra.<br />

O jantar de Murilo e Marina já havia terminado, e gentilmente ele a levou até o apart-hotel, onde recebeu<br />

o convite para um último drinque, ali mesmo no barzinho do hotel, pois ela havia percebido a sua tensão a<br />

noite toda, e resolveu questionar os motivos para o rapaz.<br />

– Está preocupado por causo da repercussão sobre o Nathan?<br />

– Também por isso, hoje foi um dia super difícil no grupo, muita gente queria tomar satisfações, algumas<br />

ações das empresas despencaram na bolsa, foi um verdadeiro caos por assim dizer.<br />

195


<strong>Caminhos</strong><br />

– Eu imagino como deve ter sido o seu dia, mas tem algo mais lhe deixando assim?<br />

– Na verdade tem sim, é que há pouco tempo eu me envolvi num relacionamento, e digamos que foi<br />

bastante constrangedor para mim, e com isso eu acabei ficando meio que receoso, de me envolver com<br />

alguém novamente.<br />

– Eu entendo perfeitamente o que quer dizer, eu também terminei um envolvimento recente, e foi muito<br />

frustrante para mim.<br />

– Sério, mas é que no meu caso teve alguns agravantes, foi bem complicado mesmo!<br />

– Vamos fazer o seguinte, deixemos todo o passado de lado, e vamos tentar prosseguir com nossas<br />

vidas, porque ambos temos grandes lutas pela frente, ainda mais tendo como amigo próximo, uma pessoa<br />

muito em comum, e que vive envolvido em muitas coisas misteriosas.<br />

– Você tem toda a razão, então peça a bebida que me sugeriu, e vamos curtir este momento!<br />

Os dois já se interessavam um pelo outro, restava agora apenas saber, quem teria coragem de dar o<br />

primeiro passo, já que a colecionadora era muito interessante e inteligente, e o presidente do grupo era<br />

demasiadamente charmoso, resumindo em outras palavras, os dois faziam um par perfeito.<br />

De volta as redondezas da mansão, Otto que havia ido secretamente até o local, ficou de longe<br />

observando todo o movimento, e chegou a ver Raul, que conversava com alguns seguranças na entrada,<br />

o deixando imediatamente furioso com aquela cena, por perceber que ele havia dado a volta por cima, e<br />

acreditando, que não tinha mais nada a fazer por ali, porque não havia visto as pessoas que lhe<br />

interessava, principalmente a professora Letícia, o seu grande amor secreto, entrou no carro do comparsa,<br />

e retornou para a favela.<br />

Por volta das vinte e duas horas, todos haviam deixado a porta da propriedade, e as coisas puderam<br />

voltar ao seu normal, mas isso não duraria por muito tempo, porque a queixa dos familiares a polícia,<br />

sobre o desaparecimento de sua filha, tomaria grandes proporções no dia seguinte.<br />

Já prevendo estes acontecimentos, devido a sua conversa lá fora com Eleonora, Alba aproveitou que<br />

Raul havia entrado, e o chamou até a biblioteca para um ultimato, onde pretendia prensa-lo contra a<br />

parede, e para isso colocou em cima da mesa de centro, uma caixa que havia recebido secretamente mais<br />

cedo, era uma parte do dinheiro que havia prometido, para que ele a ajudasse a roubar, os pretendidos<br />

objetos de dentro da mansão.<br />

196


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 46 •<br />

Os olhos de Raul brilharam perante aquela imensa quantia, e imediatamente tampou aquela caixa, para<br />

que numa eventual presença indesejada, ninguém o avistasse com esta pequena fortuna em mãos, que já<br />

eram frutos do início de sua traição, ao empresário e amigo de seus familiares.<br />

Alba explicou minunciosamente todos os detalhes, principalmente sobre alguns dos objetos mais<br />

pretendidos, que eram as duas supostas pedras no cofre, e o medalhão com uma marca antiga, que<br />

poderia conter indícios da tal desejada fonte, faltavam agora arrumar uma maneira estratégica, de tirar a<br />

maioria dos moradores da casa, para que os dois pudessem agir, iniciando o plano combinado.<br />

Já era bem tarde da noite, quando Nathan retornou a mansão, e como não havia mais movimento do<br />

lado de fora, ele pôde entrar normalmente pelo portão da frente, onde fez questão de conversar com<br />

alguns seguranças, para tentar descobrir o que ouviram das pessoas, que estiveram presentes por ali<br />

mais cedo, e em seguida, adentrou rapidamente na casa.<br />

Iris que já havia colocado Gabriel para dormir, resolveu esperar na sala pela volta do anfitrião, enquanto<br />

Raul e Alba, preferiram fingir de desentendidos, fazendo de conta que o empresário dormiria fora, mas na<br />

verdade, estavam atentos a todos os movimentos, inclusive a esta conversa entre os dois.<br />

– Ainda está acordada, pensei que todos já haviam se recolhido para dormir.<br />

– Eu estava muito preocupada, e resolvi aguardar mais um pouco, como se sente?<br />

– Péssimo, eu não pensava que esta minha apresentação, gerasse tanta polêmica entre as pessoas, eu<br />

ouvi a pouco da boca de um dos seguranças, que muitos comentaram coisas horríveis a meu respeito.<br />

– Posso imaginar a sua decepção, mas você tem condições e toda a capacidade, de reverter esta<br />

situação que lhe envolve, dizendo a todo mundo a verdade, de que realmente é inocente!<br />

– Eu sei, o Arthur me falou a mesma coisa, mas para isso terei de enfrenta-los cara a cara, só que neste<br />

momento estou muito frágil, e sinto a falta de forças e de confiança.<br />

– Porque não sai de São Paulo por uns dias, e marca esta entrevista coletiva com a imprensa, quando<br />

se sentir mais preparado?<br />

– Não sei se devo recuar e me esconder novamente, toda vez que faço isso acontece outra adversidade,<br />

mas vou pensar sobre este conselho com mais calma, agora vou me deitar porque estou exausto, e<br />

morrendo de dor de cabeça, obrigado mesmo pela força.<br />

– Faça isso, quem sabe amanhã com a mente mais descansada, poderá tomar uma medida mais<br />

apropriada, boa noite então!<br />

Na cidade de Nova Iorque, a chefe da poderosa organização criminosa, acabava de sair de sua luxuosa<br />

banheira, onde havia tomado o seu tradicional banho de sais e ervas, quando um de seus celulares tocou<br />

na sala, e prontamente Parker, que era diretamente o seu braço direito, e que sempre a acompanhava<br />

muito de perto, atendeu se passando como o mandatário, pois viu que se tratava de Alba.<br />

– Espero que seja algo muito importante, para estar me ligando a uma hora dessas, alguma novidade?<br />

– Me desculpe por ligar assim de repente, mas só agora é que as coisas se acalmaram por aqui, tem um<br />

minuto?<br />

– Seja breve!<br />

197


<strong>Caminhos</strong><br />

– Já repassei o dinheiro que me enviou, para o nosso novo contratado, e creio que estamos bem<br />

próximos, de encontrar parte dos objetos antigos, o próprio Nathan me confirmou outro dia, que estão aqui<br />

mesmo na propriedade.<br />

– Perfeito, estou apreciando muito a sua dedicação, mas vá com muito cuidado, porque não queremos<br />

levantar suspeitas como da outra vez, em que desconfiaram de nosso cerco, e saiu naquela fuga que<br />

resultou em acidente!<br />

– Pode deixar que desta vez, não haverá falhas de minha parte, eu posso garantir isso a você!<br />

– Espero que sim, já estou farto dessas sequencias de erros, e se fazer tudo corretamente como<br />

planejado, sua recompensa será o dobro do combinado, agora vou desligar.<br />

– Ok, eu ligo dando notícias!<br />

Heloise havia escutado tudo pelo viva-voz, e havia ficado satisfeitíssima com esta informação, porque<br />

após muitos anos de buscas incessantes, mais uma vez, se encontrava muito perto das relíquias, e de<br />

talvez concluir, esta longa e perversa procura, onde muitos já haviam perecidos em suas mãos, por estes<br />

tortuosos caminhos.<br />

No Brasil, mais precisamente no condomínio, por já se tratar de início de madrugada, a maioria dos<br />

moradores já haviam se recolhido, menos a garota Vanessa, que havia tido uma crise forte de dores<br />

e enjoos, e mesmo mantendo a sua automedicação, ministrada através de altas doses de morfina, não<br />

aguentou, e precisou se levantar da cama, indo em direção do jardim, do lado oposto de seu apartamento.<br />

Devido à proximidade das casas, alguns moradores chegaram a ouvir suas lamentações e gemidos,<br />

dentre eles estava Leonardo, que também não passava bem naquela noite, devido ao seu tratamento<br />

recente de quimioterapia, e ao olhar pela janela de seu quarto, viu quando a moça se sentou no banco, e<br />

começou a chorar amargamente pelo sofrimento.<br />

Por estar demasiadamente enfraquecido, ele desceu vagarosamente pela rampa de acesso, e sem<br />

saber muito o que fazer, com a intenção de não a perturbar, sabendo de suas restrições de proximidade,<br />

foi até o canteiro de flores, apanhou uma bela margarida, sabendo que era a flor preferida de Vanessa, e a<br />

colocou com carinho em seu colo.<br />

Depois se sentou cuidadosamente ao seu lado, e procurou ficar parado e em silêncio, até que em um<br />

determinado momento, ele aproximou a sua mão a dela, e fez um pequeno gesto de carinho com os<br />

dedos, e apesar de Vanessa ter se retirado, sem dizer coisa alguma, por estar muito envergonhada pelo<br />

choro, estes eram os primeiros e importantes passos, de um relacionamento muito simples e verdadeiro.<br />

O resto daquela madrugada para os dois jovens, foram demasiadamente reconfortantes, onde cada um<br />

reviveu em seus pensamentos, toda aquela marcante cena no jardim, e embora houvesse muita<br />

empolgação no ar, ambos sabiam de suas condições e limitações.<br />

Mais um dia amanhecia na capital paulista, e logo bem cedo na sede do grupo, Murilo tentava se<br />

reorganizar do dia anterior, onde uma fúria avassaladora, tomou conta dos negócios na maioria das<br />

empresas, após o impacto das notícias sobre o empresário Nathan.<br />

Pela sua extensa visão profissional, ele entendia que o momento era crítico, e que ainda levaria um<br />

tempo para a poeira baixar, e para amenizar um pouco os ânimos dos acionistas, convocou uma reunião<br />

emergencial com todos, para buscar soluções junto a diretoria, na tentativa de sanar as quedas das ações,<br />

ocorridos na bolsa de valores.<br />

Juliano também havia saído bem cedo do condomínio, ele chegava a pegar dois ônibus até o seu<br />

trabalho, e após de ter vivido mais uma noite intensa, cheia de discórdia e desavenças com a esposa,<br />

198


199<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

ainda tinha de encarar o seu encarregado geral, que não lhe dava trégua alguma, o seu nome era Fausto,<br />

e logo na primeira hora, o questionou sobre aspectos de trabalho.<br />

– Está pronto o relatório de estoque, ao qual lhe pedi na segunda?<br />

– Ainda falta uma parte do galpão norte, porque ontem chegou uma remessa de mercadorias, e já vou<br />

acrescentar estas a nova planilha, e se nada atrapalhar, te entrego tudo até a tarde.<br />

– Melhor assim, e não se esqueça de acrescentar o gráfico semanal, estamos entendidos?<br />

– Sim senhor, pode deixar que irei fazer tudo como me pediu!<br />

Eles trabalhavam para uma grande empresa exportadora, e além de exercer todas as tarefas de<br />

expedição, Juliano ainda tinha de agregar outros serviços, que eram de obrigações deste seu chefe, mas<br />

em vez agradecimentos pelo o que fazia, ainda por cima, recebia duras críticas no dia a dia.<br />

Ele também sofria muito com as humilhações, que eram feitas propositadamente, sempre na frente dos<br />

colegas de trabalho, mas carregava dentro de si uma esperança, de que um dia as coisas melhorassem,<br />

tanto em sua vida pessoal, como também na profissional, e quem sabe saber o gostinho, desta tal de<br />

felicidade.<br />

Sem que ninguém na mansão desconfiasse, Nathan saiu de mansinho pelo portão de serviços, onde<br />

um táxi já o aguardava, e pedindo total discrição a dois seguranças, seguiu em direção ao consultório<br />

médico, onde o doutor Estevam, e sua secretária Kelly, preparavam tudo para atendê-lo, e ao chegar à<br />

clínica, foi muito bem recebido pelos dois, sendo encaminhado para a sala de consultas, onde ambos<br />

conversaram, antes do início de sua sessão.<br />

– É muito bom ter você de volta as seções, não faz ideia do que passamos por aqui, quando surgiu o<br />

boato de sua morte, ficamos tão chocados com o fato, que fechamos as portas por quase uma semana,<br />

pois fiquei sem condição alguma, de atender os meus pacientes.<br />

– Eu peço desculpas por todos os transtornos, que acabei causando a vocês, mas não foi uma opção<br />

minha se esconder, se fazia necessário naquele momento, para assegurar a minha própria vida, e faço<br />

questão absoluta, de lhe ressarcir todos os seus prejuízos.<br />

– De maneira alguma, nem pense numa bobagem dessas, eu entendo perfeitamente o que deve ter<br />

passado, e eu faria a mesma coisa no seu lugar, agora deite-se, e vamos iniciar o relaxamento, e depois<br />

me conta sobre o que descobriu.<br />

Ele concordou com o pedido e se deitou, e enquanto se ajeitava para relaxar, o médico colocou uma<br />

doce e suave música, e perante um ambiente extremamente positivo, aos poucos foi se desvencilhando<br />

dos problemas comuns, e procurou se fixar naquele momento em Angra dos Reis, onde por acidente,<br />

havia descoberto a palavra-chave, e percebendo que já estava pronto, o médico iniciou o tratamento.<br />

– Respire fundo, e expire lentamente, repita este processo até que se sinta mais leve, e depois com<br />

muita calma, me conte tudo o que descobriu.<br />

– Eu já me sinto preparado, posso lhe contar agora?<br />

– Sim, já está tudo pronto para gravarmos a sessão, pode começar!<br />

Nathan respirou fundo, e confiando totalmente no médico, se abriu com ele:<br />

– Como eu havia dito na sessão anterior, Caio o meu ex-sócio, me revelou sobre uma<br />

possível hipnose, feita há alguns anos atrás no Canadá, onde foi realizado um tipo de arquivamento de<br />

memórias, a princípio não acreditei muito nesta história, mas agora isso faz muito sentido, por tudo que


estou passando ultimamente, e eu creio que descobri qual é esta palavra, que pode desbloquear esta<br />

hipnose profunda, que oculta todas as minhas lembranças.<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Muito interessante, o processo parece simples, mas na verdade é bem complexo, eu já tinha ouvido<br />

falar em algo parecido, mas sempre achei este método muito arriscado, imagine você ter diversas<br />

experiências boas e felizes, e por outro lado ter também as ruins e tristes, se isso vier tudo de uma só vez<br />

à tona, pode fazer danos irreversíveis a sua mente, podendo até o levar a um estado vegetativo.<br />

– Eu compreendi, isso quer dizer que teremos de fazer aos poucos, perante muita cautela, e talvez por<br />

muitas sessões.<br />

– Isso mesmo, a hipnose é muito complexa, agora não adianta ter pressa alguma, o importante, é<br />

vermos se realmente vai funcionar na prática, e para isso faremos um pequeno teste hoje, acha que pode<br />

realiza-lo?<br />

– Sei que estou muito ansioso, e isso pode até atrapalhar um pouco, mas vamos lá, pode começar este<br />

teste de reversão!<br />

– Relaxe novamente, e tente levar o seu pensamento, até um ponto imaginário de seu passado, ao<br />

qual queira tentar se lembrar, você pode mentalizar uma data, ou um período qualquer, o que achar mais<br />

apropriado, e depois repita com firmeza a palavra-chave.<br />

Ele procurou fazer exatamente como o médico disse, mas a parte mais difícil foi de se fixar em alguma<br />

época, principalmente, sabendo de suas limitações de memória, e enquanto ele se preparava, o médico<br />

permanecia ali sentado, e aparentava ter grandes expectativas para esta sessão.<br />

200


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 47 •<br />

Depois de refletir e conter o seu nervosismo, Nathan tentou firmar a sua mente, na única imagem que<br />

tinha de seu passado, que era de seu último dia de tratamento, antes da fatalidade do atentado a bomba,<br />

ele pensou fixamente, naquele pequeno riacho do vilarejo, mentalizou a palavra-chave, que era o nome do<br />

grupo "ETROS" ao contrário, e em tom bem alto falou "Sorte".<br />

Houve um breve momento de suspense, o médico chegou até a se preparar, caso acontecesse algo fora<br />

da normalidade, e percebeu quanto o empresário deu uma leve sacudida, e abriu seus olhos olhando para<br />

tudo ao seu redor, como se estivesse vislumbrando outras paisagens.<br />

Em poucos minutos, Nathan voltou ao seu normal, e com a ajuda de Estevam, se levantou dando alguns<br />

passos até a mesa, onde se sentou e tomou um copo de água, tudo isso supervisionado, com muita<br />

presteza pelo médico, e assim que se sentiu preparado, começou a contar sobre tudo que ocorreu.<br />

– Nossa, eu nem sei por onde começar, é como se eu tivesse ligado a uma tomada de força, e<br />

recebesse um intenso choque, só que repleto de imagens e de lembranças!<br />

– Confesso que estou maravilhado com tudo isso, é uma experiência incrível que me proporciona, e lhe<br />

peço desculpas por esta minha empolgação.<br />

– Eu compreendo perfeitamente, a sua posição e condição de médico, e se de alguma forma, isso poder<br />

ajudar outros pacientes, eu lhe autorizo a utilizar as gravações para este fim.<br />

– Como sempre muito gentil e prestativo, mas percebi que ficou muito triste e chateado, e caso queira<br />

compartilhar o que se lembrou, ou precisar de algum tipo de apoio, estou a sua disposição!<br />

– Me lembrei de quase tudo, das pessoas do pequeno vilarejo, de meus pais que eram fazendeiros, e<br />

também acabei me recordando, porque tinha tanto trauma daquele riacho, é porque tenho más<br />

recordações daquelas redondezas.<br />

O médico lhe deu mais um pouco de água, e depois seguiu com o diálogo:<br />

– Essa é uma das partes ruins que lhe mencionei, e vai ter de aprender a lidar com estes sentimentos,<br />

porque provavelmente terá muitos outros parecidos, mas poderia ser mais preciso, e me contar se são<br />

lembranças de sua infância, ou eram de sua juventude recente?<br />

– Doutor, ainda tem algumas coisas sobre o meu passado, que ainda preciso descobrir para poder<br />

entender, e assim verificar a sua veracidade, perante o que me contaram até agora, portanto, assim que<br />

eu conseguir juntar este quebra-cabeça, eu prometo que lhe conto todos os detalhes, mas neste momento,<br />

penso que me acharia meio maluco, por se tratar de coisas um pouco fantasiosas.<br />

– Claro, com certeza só deverá se abrir comigo, somente com as coisas que julgar necessárias, o seu<br />

passado pertence somente a você, não é obrigado a compartilhar ele com outras pessoas, e este é o<br />

ponto que eu queria chegar!<br />

Acostumado a só receber notícias ruins, o empresário se ajeitou na cadeira, e indagou o médico:<br />

– Do que se trata, é algum tipo de alerta?<br />

– Exatamente, peço encarecidamente que não tente fazer isso sozinho, pois dependendo do tipo de<br />

recordação que tiver, pode ser muito traumatizante para a sua mente, e em vez de você progredir e<br />

melhorar, poderá lhe custar uma retardação mental.<br />

– Pode ficar tranquilo quanto a isto, além do mais, eu ainda tenho de assimilar com mais calma, esta<br />

201


202<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

recordação que consegui resgatar hoje, para somente depois continuar a minha busca, e total recuperação<br />

de minhas lembranças.<br />

– Perfeito, é assim que deve proceder a cada sessão, reflexão e ponderação de todas as informações, e<br />

não se esqueça, seja o que for que tenha lembrado, é passado, e nada poderá ser mudado, estamos<br />

conversados?<br />

– Estamos sim, muito obrigado pela confiança e ajuda, por ter reservado toda esta tarde para me<br />

atender, por favor, me envie a conta para efetuar o depósito.<br />

– Pode deixar que a Kelly cuida desta parte, me avise quando se sentir novamente preparado, para<br />

realizarmos uma outra sessão, fico lhe aguardando.<br />

– No que depender de mim, será o mais breve possível, obrigado, tenha uma boa tarde!<br />

Eles se despediram com um pequeno abraço, e era visível a grande satisfação do psicólogo, ainda mais,<br />

se tratando de uma pessoa tão importante, e totalmente sensível e amigável, que neste caso fazia toda a<br />

diferença, na relação entre médico e paciente.<br />

O que ele ainda não podia contar ao médico, é sobre a história das relíquias de poder, e de que segundo<br />

as palavras de Caio, que ele era uma pessoa com vivência secular, e convenhamos que isso<br />

soaria ridiculamente, aos olhos de uma pessoa formada e instruída como Estevam.<br />

Ao invés de voltar para a mansão, ele preferiu caminhar para pôr a cabeça no lugar, e agora com mais<br />

tranquilidade, pôde avaliar as lembranças que havia recordado, que eram de sua infância, numa época<br />

muito remota, em que vivenciou um de seus mais pesados traumas, que foi a morte de seus pais.<br />

A mãe havia sido sequestrada por bandidos, e o pai era amplamente chantageado, para entregar os<br />

preciosos objetos, em troca da salvação da esposa, mas ao perceberem, que haviam sidos enganados por<br />

ele, os dois foram mortos pelos malfeitores, que recebiam inescrupulosamente ordens diretas, de uma<br />

pessoa já conhecida por todos nós, era Heloise, que já era muito gananciosa e perigosa, se tornando mais<br />

tarde, a poderosa chefe da organização criminosa.<br />

Desde aquela época, a vilã já almejava as relíquias antigas, e fazia qualquer coisa para possuí-las, mas<br />

um pequeno baú, que havia sido escondido pelo pai, na presença do próprio Nathan, perto da cabeceira<br />

do riacho, continham dentro dele, algumas pedras energizadas, um antigo mapa, e um colar com um<br />

pingente, onde através de uma carta deixada para o filho, ele explicava com detalhes, como era o<br />

funcionamento, de todos estes objetos, e agora ele voltava a entender, o motivo de tanta cobiça.<br />

Era o último dia de trabalho em Londres, do diretor Carlos Renato, ele já havia reunido todos os<br />

documentos necessários, para apontar com todos os detalhes, os dados de rastreamento dos envolvidos,<br />

nos desfalques de verbas das empresas do grupo.<br />

E com todas as suas tarefas cumpridas, restava a ele relaxar um pouco, e pensando nisso, decidiu ir até<br />

uma destas boates diurnas, que funcionavam em várias partes da cidade londrina, eram um sonho que<br />

tinha desde a sua adolescência, de frequentar um destes lugares de Strip-tease, e principalmente ver de<br />

bem perto, aquelas maravilhosas garotas dançantes.<br />

Pelo fuso horário da Inglaterra, já passavam das dezessete horas, e através de uma indicação de um<br />

amigo, ele foi diretamente a um lugar específico, se tratava de uma boate com brasileiras, com direito a<br />

pole dance "a dança no tubo", e a tradicional camiseta molhada, era hora de se descontrair.<br />

O local era frequentado por pessoas mais requintadas, entre elas muitos executivos da bolsa de valores,<br />

ao qual já havia encerrado o seu pregão, e se sentindo um pouco sem jeito e envergonhado, procurou se<br />

sentar na segunda fileira, assistindo o pessoal da frente colocar dinheiro, dentro das lingeries das<br />

dançarinas do palco.


203<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Lógico que depois de duas bebidas, ele se soltou um pouco mais, e até arriscou a colocar também as<br />

cédulas, mas em vez de olhar para as partes intimas da garota, ele foi justamente olhar dentro de seus<br />

olhos, e por se tratar de um rapaz muito carente, que não tinha muita sorte com mulheres, acabou ficando<br />

muito impressionado, com o seu jeito sedutor, e a sua beleza estonteante.<br />

Através de conversas ao seu redor, ele descobriu que após cada show, as moças circulavam pelas<br />

mesas da boate, e que era possível contata-las para um programa, e assim que a moça terminou a sua<br />

apresentação, ele ficou próximo a saída dos camarins, e já parcialmente entorpecido, pelas várias doses<br />

de álcool, se apresentou a moça:<br />

– Oi como vai, meu nome é Carlos Renato, e também sou brasileiro, posso lhe oferecer uma bebida?<br />

– Olha, eu sei muito bem o que quer de mim, mas hoje estou indo embora mais cedo, porque a minha<br />

semana foi puxada, estou completamente exausta, e sem condições de atender hoje.<br />

– Neste caso tome a bebida comigo, vai lhe ajudar a dar uma relaxada, e depois pode ir embora para a<br />

sua casa.<br />

– Tudo bem, mas hoje é só a bebida mesmo, nada de passadas de mãos e agarrões, ok?<br />

– Ok, qual é sua bebida favorita?<br />

– Pode ser um gim tônica com gelo!<br />

Ele estava totalmente empolgado, por ter uma companhia feminina ao seu lado, e mesmo sabendo que<br />

o encontro não iria adiante, ficou satisfeito em ver que todos os olhares masculinos, estavam voltados para<br />

aquele canto do bar, porque a garota era mesmo de tirar o fôlego, mas assim que terminou o seu drinque,<br />

se despediu com um beijo no rosto, deixando-lhe um cartão com o seu telefone, caso quisesse um<br />

encontro, em uma outra ocasião, após isso ele pagou a conta, e retornou para o hotel.<br />

Na mansão todos estavam muitos apreensivos, pelo sumiço repentino de Nathan, porque quando se<br />

levantaram para o café, perceberam que não havia dormido na propriedade, e imediatamente acionaram o<br />

seu advogado, lhe comunicando a preocupação de todos por ali, por ele nem atender as ligações que<br />

realizaram, e Arthur se prontificou a ajudar na sua procura.<br />

Por volta do meio-dia, novamente do lado de fora do portão, começou a se juntar jornalistas e curiosos,<br />

todos também em busca de notícias do empresário, e seria mais uma tarde complicada, porque haviam<br />

chegado os familiares de Moreira, como também os pais de Letícia, que estavam acompanhados com um<br />

delegado, dois investigadores, e seus advogados, aguardando apenas a chegada das professoras da Ong,<br />

para tomarem as medidas que julgavam necessárias.<br />

Cerca de meia hora depois, Dulce e Amanda chegaram ao local, e com as expressões faciais muito<br />

carregadas, elas se entenderam com os demais reclamantes, e exigiram a entrada na propriedade, e para<br />

tal feito, o delegado apresentou aos seguranças, um mandato assinado por um juiz de plantão, e sem têlos<br />

como impedir, imediatamente um deles procurou por Iris.<br />

– Senhora Iris, tem um delegado no portão, juntamente com algumas pessoas, exigindo entrar na<br />

propriedade, e desta vez não tem como impedi-los, porque tem um documento autorizando a entrada!<br />

– Não sei o que fazer, porque o Raul saiu para levar a Alba no centro, e o Arthur está para chegar, faça<br />

o seguinte, leve todos eles até a biblioteca, vou pedir para que Elvira sirva um suco, assim ganhamos mais<br />

um tempinho.<br />

– Sim senhora, vou fazer como me ordenou!<br />

Utilizando de muita experiência, o segurança fez o percurso com aquelas pessoas, pelo outro portão da


<strong>Caminhos</strong><br />

propriedade, e com isso, ele ganhou o tempo suficiente, pois o carro do advogado acabava de chegar, e<br />

trazia junto com ele nada mais, nada menos, que o empresário Nathan, que havia entrado em contato com<br />

ele, lhe pedido para busca-lo num hotel, onde havia passado a noite anterior, procurando ficar sozinho<br />

para refletir.<br />

Ele ficou mais uma vez muito impressionado, com a quantidade de pessoas na frente do portão principal,<br />

e ao perceberem que se tratava do empresário, houve um pequeno alvoroço dos jornalistas, que foram<br />

afoitamente em direção do veículo, numa rápida tentativa de entrevista-lo, causando um princípio de<br />

tumulto.<br />

Nathan resolveu abrir o vidro do carro, e prometeu a todos uma coletiva no final da tarde, onde<br />

responderia a todas as perguntas, mas mal sabia ele, que lá dentro já havia várias pessoas, como o<br />

mesmo intuito de questiona-lo, e Iris fazendo o que podia naquelas circunstâncias, procurou acomodar<br />

todos até a sua entrada, e ficou de pé parada na porta, ouvindo junto com os demais, o que as professoras<br />

argumentavam.<br />

204


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 48 •<br />

Alba havia saído propositadamente com Raul, alegando ter de pagar algumas contas, deixando a<br />

mansão pouco antes de tudo se iniciar, pois sabia com muita antecedência, que policiais iram acompanhar<br />

os pais de Letícia, isso através de um dos contatos da organização, e o que todos por ali não sabiam, é<br />

que ela era uma foragida da Interpol, procurada por mais de dez países.<br />

Se tratava de uma grande golpista internacional, que tinha em seu extenso currículo, um rastro de<br />

roubos e assassinatos, agindo da mesma maneira objetiva de sempre, aliciando homens com muita<br />

sedução, para depois concluir seus planos criminosos, deixando as vezes para os seus comparsas, as<br />

execuções como queimas de arquivos.<br />

Raul bem sabia onde estava se metendo, não era tão inocente a este ponto, de se deixar enganar por<br />

uma pessoa tão ardilosa, contudo, ele tinha uma carta guardada na manga, e deixaria para utiliza-la no<br />

momento certo, quando as coisas chegassem ao seu extremo.<br />

Nos Estados Unidos, a chefe Heloise estava a par de tudo, e aguardava a qualquer momento, uma<br />

ligação do senhor Black, ao qual havia dado ordens expressas naquele encontro, para executar o<br />

empresário Caio, por não ter mais serventia aos seus planos, pois já haviam retirado a sua relíquia, e<br />

quase todas as informações que precisavam, e a outra de manter Letícia como prisioneira, para poder<br />

fazer uma espécie de barganha, e não demorou para que o celular tocasse.<br />

– Está feito o serviço, exatamente como a senhora pediu!<br />

– E a moça, ainda permanece na fazenda?<br />

– Sim, tiramos todas as suas correntes, pois já estava muito debilitada, e a colocamos dentro de um<br />

quarto escuro, assim não perceberá se é dia ou noite, tenho certeza absoluta, que ela não sabe de mais<br />

nada, nem mesmo o paradeiro dos objetos que procura.<br />

– Mantenha tudo assim por enquanto, até eu decidir o que fazer com ela, bom trabalho!<br />

– Se algo mudar eu lhe aviso, não se esqueça de depositar o pagamento do pessoal, eles estão<br />

esperando aquela gratificação que prometeu.<br />

– Vou transferir o dinheiro ainda hoje, agora tenho de deligar, tenho um compromisso importante,<br />

qualquer coisa me comunique.<br />

A esta altura para a chefe da organização, tudo se encaminhava conforme o planejado, dependia agora<br />

da finalização de Alba, para conseguir roubar os objetos tão pretendidos, para assim aumentar ainda mais<br />

o seu poder, e manter a sua aparente e perversa juventude.<br />

Na mansão, Nathan foi avisado da presença de todos na biblioteca, e juntamente com Arthur, se<br />

encaminhou até lá, onde se encontravam os pais de Letícia, os filhos de Moreira com um advogado, as<br />

duas professoras da Ong, e o delegado com dois investigadores, aguardando o empresário para tomarem<br />

satisfações, e assim que adentrou na sala, já foi abordado pela mãe de Letícia.<br />

– Até que enfim você teve coragem de aparecer, onde está a minha filha Letícia?<br />

Dulce que já estava de pé, se aproximou do empresário, e também o questionou:<br />

– Isso mesmo, o que fez com a nossa amiga, porque não está aqui junto com você?<br />

Antes mesmo que Nathan se defendesse, Arthur tomou a frente, e procurou amenizar os ânimos.<br />

205


<strong>Caminhos</strong><br />

– Peço muita calma a todos, temos de ser razoáveis para que o meu cliente, possa conversar<br />

civilizadamente com cada um!<br />

Nathan observando que não houve efeito, se colocou mais a frente, e falou abertamente:<br />

– Pode deixar Arthur, eu vou responder a todas as perguntas, mas antes de me julgarem, peço um<br />

tempo para lhes contar toda a história, e depois que ouvirem tudo, vocês terão todo o direito de questionar,<br />

o que realmente acharem necessário!<br />

A professora Amanda se antecipou, e conhecendo a boa índole, de um de seus maiores benfeitores,<br />

deu-lhe o apoio que precisava.<br />

– Vamos dar um voto de confiança a ele, pois sempre demonstrou ter um bom caráter, então<br />

vamos ouvir o que tem a dizer!<br />

Houve um breve silêncio, Nathan procurou olhar nos olhos de cada um, na tentativa de sentir na pele, o<br />

que cada pessoa poderia estar pensando dele, após isso voltou a falar:<br />

– Primeiro, eu vou me dirigir aos filhos do senhor Moreira, quero que saibam que era um amigo muito<br />

querido, e que se eu pudesse ter evitado aquele atentado, pode ter certeza que eu o faria, porque muitos<br />

inocentes morreram naquela explosão, e pelo que eu sei, todas as famílias já foram localizadas, e<br />

receberam uma grande indenização por suas mortes, e sei perfeitamente, que nenhum dinheiro do mundo,<br />

poderá trazer de volta os seus entes queridos, e deixo aqui as minhas sinceras condolências.<br />

Por estar excessivamente nervosa, Eleonora não se conteve e se levantou, e aos gritos o interpelou:<br />

– E quanto a Letícia, o que aconteceu com ela, e porque você se escondeu se fingindo de morto?<br />

Novamente Arthur se intrometeu, procurando defender seu amigo e cliente.<br />

– Quanto a se esconder de todos, foi uma medida necessária, adotada por todos os envolvidos, para se<br />

precaverem de um novo atentado a suas vidas, e tudo isso foi supervisionado, e recomendado pela polícia<br />

federal, que sabia de todos os passos dados, nada foi feito sem a autorização prévia deles.<br />

O delegado presente, que ouvia tudo atentamente, interferiu rapidamente no diálogo, e expressou a sua<br />

palavra.<br />

– Se tudo isso que diz é verdade, terei de averiguar junto às autoridades, e pedir o cancelamento desta<br />

sua ordem de prisão, que trago hoje aqui em mãos, vou ligar imediatamente para meus superiores!<br />

Arthur retirou papeis de sua maleta, e os apontou para o delegado e investigadores.<br />

– Estou aqui com toda a documentação do caso, estamos a sua inteira disposição, para esclarecermos<br />

todos os fatos, envolvendo o meu cliente Nathan Collin Miller.<br />

Em meio ao falatório que se estendeu, Nathan achou que já era hora, de falar sobre a suposta traição.<br />

– Agora eu peço a atenção dos pais da Letícia, quero que deem uma olhada numa carta, que está<br />

guardada aqui na biblioteca, e estas poucas linhas contidas nela, me foram deixadas em Angra dos Reis.<br />

Após Nathan retirar o papel de uma gaveta, Jorge deu um passo à frente, pegou com um certo receio a<br />

carta, levando-a até próximo a Eleonora, onde ambos leram atentamente toda a sua escrita, mas no final<br />

nada havia mudado, eles não acreditaram em uma única frase, e revidaram com palavras muito ásperas.<br />

Neste momento, os ânimos ficaram muito acirrados, e tanto o advogado quanto os policiais, tiveram que<br />

interferir na discussão, e seguranças que estavam do lado de fora, fizeram menção de entrar na sala, mas<br />

206


<strong>Caminhos</strong><br />

Nathan fez-lhes um sinal para recuarem, e percebendo a gravidade da situação, Iris fez uma<br />

pequena interversão, servindo água para todos os presentes, e mais uma vez, tudo estava contra o<br />

empresário, que sem reação alguma cruzou os braços, e ficou aguardando a oportunidade de se defender.<br />

Ao sair da biblioteca, enquanto todos tentavam se acalmar, Iris pegou o telefone e ligou para Murilo na<br />

empresa, e o informou tudo que se passava naquele momento, e afirmou com muita veemência, que<br />

Nathan estava encarecidamente necessitado, de amigos para lhe apoiarem e firmarem sua benevolência,<br />

perante a maioria que estava contra o empresário.<br />

Por sorte, a reunião emergencial já havia terminado, e como era a primeira semana de trabalho de<br />

Diego, ele ainda estava se adaptando como assessor da presidência, mas mesmo assim, Murilo fez<br />

questão que ele o acompanhasse até a mansão, levando consigo alguns documentos que Carlos Renato,<br />

havia lhe enviado de manhã por e-mail, e que continham informações de suma importância, para mais<br />

esta crise em torno do patrão.<br />

Durante o trajeto, ele também ligou para a colecionadora Marina, e reforçou o pedido que Iris havia<br />

realizado, e pediu que também se deslocasse até a propriedade, para que também prestasse este apoio,<br />

aquele ao qual, havia tanto ajudado a salvação de seu pai, e ela por sua vez, atendeu prontamente ao seu<br />

chamado, deixando Duarte aos cuidados da enfermeira, já que ele estava se sentindo bem melhor.<br />

Naquele ambiente intenso e hostil, Nathan se preparava para argumentar sobre a carta, quando o<br />

delegado interrompeu, para informar a todos os interessados, sobre o telefonema que havia feito, onde<br />

procurou saber junto às autoridades policiais, a verdadeira situação do empresário.<br />

– Saibam todos os presentes aqui reunidos, que o senhor Nathan realmente disse a verdade, no que diz<br />

respeito a estar todo este tempo, sob a custódia legal da polícia federal, onde todos os seus passos foram<br />

monitorados, desde o dia seguinte aquela fatalidade do atentado.<br />

Mais uma vez Eleonora não se conteve, e se dirigiu bruscamente ao delegado.<br />

– E quanto a minha filha Letícia, que providências vão tomar, para poder descobrir o seu paradeiro?<br />

Dulce também o questionou:<br />

– Nós também queremos entender isso, e pelo que ficamos sabendo de seus pais, é que eles estavam<br />

noivos e apaixonados, ela não tinha motivos para ir embora com outro!<br />

O delegado achou prudente, fazer lhe um novo questionamento:<br />

– Senhor Nathan, o que tem a dizer sobre este suposto desaparecimento?<br />

– Nada além desta carta que apresentei, sendo que no dia anterior, havíamos saído para um passeio de<br />

lancha, onde passamos um dia maravilhoso e romântico, e até nos retirarmos para quarto e dormir, estava<br />

tudo aparentemente normal.<br />

– E houve algum tipo de discussão ou atrito, entre vocês dois nesta tarde que mencionou, ou mesmo a<br />

noite?<br />

– Nada disso, estava tudo bem até a manhã seguinte, onde a Alba me acordou com a carta já em mãos,<br />

foi assim que fiquei sabendo que tinham partido, ela e o que era considerado o meu melhor amigo.<br />

A mãe de Letícia se admirou com isso, e rapidamente defendeu a filha.<br />

– Impossível uma coisa dessas, ela vivia reclamando dos tratamentos deste rapaz, e praticamente o<br />

detestava por suas implicâncias, além de ser completamente apaixonada por você!<br />

207


<strong>Caminhos</strong><br />

Amanda reafirmou o romance, detalhando a todos ali, o que presenciava no dia a dia.<br />

– Eu também concordo, ela vivia suspirando pelos cantos este amor, e sofreu muito quando achou que<br />

estava morto, em nenhuma de nossas conversas anteriores, ela mencionou outro homem que não fosse<br />

você!<br />

Nathan olhou para as duas, e gesticulando negativamente com a cabeça, as questionou:<br />

– Estão querendo me dizer, que posso ter sido enganado, e que ela não me traiu com o Caio?<br />

Demonstrando a sua neutralidade, o delegado interferiu na conversa, e advertiu a todos:<br />

– Ainda é cedo para afirmarmos qualquer coisa, mas temos de levar em conta, as palavras de sua mãe,<br />

e uma de suas melhores amigas.<br />

Neste momento, Nathan pareceu ter perdido o chão, é como se ele caísse em si, e conseguisse<br />

raciocinar mais claramente, onde antes só havia raiva e ressentimentos, pois a fúria pela traição<br />

mencionada na carta, havia entorpecido seu julgamento a respeito da noiva, mas agora as coisas<br />

pareciam fazer algum sentido.<br />

Vendo que o empresário parecia, ter perdido parcialmente suas forças, houve um singelo silêncio, e o<br />

abrandamento dos ânimos, porque era muito nítida e transparente, a reação que teve ao saber de todas<br />

estas informações, foi quando Murilo, Diego e Marina também chegaram, e se juntaram a todas aquelas<br />

pessoas.<br />

O delegado procurando indícios, quis saber mais sobre o episódio de Angra.<br />

– Você mencionou um nome, quem é esta Alba, que supostamente encontrou esta carta?<br />

– Ela é a moça que acompanhava meu sócio na ocasião, eles tinham um tipo de relacionamento<br />

amoroso, e creio que também deva estar sofrendo muito, como todas estas circunstâncias de abandono.<br />

– E podemos tomar o seu depoimento, ela se encontra aqui em sua propriedade?<br />

Iris que ouvia tudo perto da porta, se dirigiu à autoridade:<br />

– Desculpe a minha intromissão, mas ela está fora esta tarde, mas deve chegar a qualquer momento.<br />

Jorge indignado com tudo, se irritou com tanta conversa, e desabafou:<br />

– Tudo isso parece muito estranho, mas não estamos chegando a lugar algum, precisamos<br />

urgentemente, de notícias de nossa filha Letícia!<br />

Murilo que havia chegado a pouco, sentiu que era o momento certo de falar:<br />

– Agora sou eu que peço perdão, por me intrometer no assunto, mas acho que deviam ver este relatório,<br />

que chegou para mim hoje de manhã, se trata de um documento importante, enviado por um de nossos<br />

diretores, que está a frente de uma investigação interna, sobre um desvio de verbas de nosso grupo, e o<br />

nome de Letícia Villares, aparece em uma das transações financeiras recentes.<br />

Furiosa com o que acabara de ouvir, Eleonora avançou na direção de Murilo, ficando frente a frente.<br />

– O que quer dizer com isso, agora vão acusar minha filha de roubar a empresa?<br />

– Não necessariamente, na verdade, uma das subcontas principais, que armazenavam uma grande<br />

parte dos desvios, recebeu uma transferência de valores da conta de Letícia, e isso pode ter sido feito<br />

208


<strong>Caminhos</strong><br />

com, ou sem a sua autorização prévia, já que pelo que a investigação da Interpol aponta, é uma grande e<br />

perigosa quadrinha internacional.<br />

Mesmo ouvido, o delegado quis uma confirmação de Murilo.<br />

– A Interpol também está envolvida nisso?<br />

– Infelizmente sim, se trata de pessoas altamente perigosas.<br />

Eleonora e Jorge se sentaram, e colocando as mãos na cabeça, a mãe começou a chorar se<br />

lamentando:<br />

– Meu Deus, estas pessoas podem ter pego a minha filha!<br />

Houve outro grande momento de tensão, e cada vez ficava mais aparente, que tanto Caio como Letícia,<br />

tinham também sido alvos destes bandidos, e o delegado achou melhor se retirar com os investigadores,<br />

porque já se tratava de uma situação de proporções maiores, e fugia a sua alçada de investigação,<br />

enquanto isso Alba e Raul, entravam pelo portão dos fundos, e por muita sorte, acabou evitando o<br />

confronto com os policiais.<br />

209


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 49 •<br />

Do lado de fora os jornalistas aguardavam o empresário, ele havia prometido a todos uma coletiva de<br />

imprensa, onde tentaria se defender das acusações e boatos, que circulavam na mídia por todo o país,<br />

mas será que depois de ter sofrido este forte interrogatório, teria condições de enfrentar mais esta<br />

batalha?<br />

Mesmo abalado por mais um dia difícil, entre novas descobertas do passado, acusações contra a sua<br />

pessoa, e perceber que sua amada e seu melhor amigo, pareciam não ter cometido a traição tão<br />

evidenciada, ele ainda teve a sensibilidade de demonstrar carinho e atenção, aos filhos de seu exmotorista<br />

Moreira, que ficaram ouvindo toda aquela discussão, mas no final compreenderam que Nathan,<br />

também era vítima das circunstâncias, e depois de algumas palavras eles foram embora.<br />

Dulce e Amanda também conversaram com ele, e aproveitaram que Murilo estava presente, para<br />

marcarem uma pequena reunião para um outro dia, onde colocariam o seu fundador e benfeitor, a par de<br />

todas as últimas conversas com Letícia, como também o estado real da organização não governamental.<br />

Os pais de Letícia dispensaram o seu advogado, e fizeram questão de aguardar todos saírem, para<br />

finalmente conversarem a sós, com aquele que era considerado como genro, porém como perceberam<br />

que ele era inocente, e que também fora enganado, procuraram acalmar seus ânimos, e se dirigiram a ele,<br />

a primeira a falar foi Eleonora.<br />

– Nós estávamos tão desesperados, que nem ao menos levamos em consideração, todas as menções<br />

boas que nossa filha nos fez, quanto ao seu caráter e benevolência, não é Jorge?<br />

– É verdade, eu nem sei o que lhe dizer, só peço que tente se colocar em nosso lugar, e nos ajude a<br />

encontrar Letícia!<br />

Nathan se aproximou, pegou nas mãos dos dois genitores, e foi objetivo em suas palavras.<br />

– O momento agora, não é de pensar nestes detalhes, o que precisamos mesmo é nos concentrar, e<br />

tentarmos encontrar uma maneira rápida, de contatar estes criminosos, e dar a eles o que tanto procuram.<br />

Jorge e Eleonora, reagiram rapidamente, e se colocaram à disposição.<br />

– Sabe se é dinheiro que eles querem?<br />

– Se for este o caso a gente pode dar um jeito, temos uma boa quantia guardada!<br />

O empresário balançou a cabeça negativamente, e explicou o verdadeiro motivo.<br />

– Eu acredito plenamente, que tenha muito dinheiro envolvido nisso tudo, mas não é isso que realmente<br />

querem de mim.<br />

– E o que isto seria, para levar eles a este extremo todo?<br />

– São alguns objetos de minha coleção antiga, digamos que eu descobri isso hoje, mas não vem ao<br />

caso agora, o importante é que sei o que procuram, e tenho uma ideia de como chamar a atenção deles!<br />

Jorge demonstrou em seu semblante, além de toda a preocupação, uma pequena esperança que<br />

parecia surgir, e olhando fixamente para o genro, disse o que ele precisava ouvir.<br />

– Seja o que for que esteja pensando, se vai ajudar a encontrar a nossa filha, pode contar com a nossa<br />

ajuda, mas deixa eu lhe fazer uma pergunta, é mesmo verdade que não se lembra das coisas?<br />

– De quase nada antes do meu acidente, porque, eu deveria me lembrar de algo importante?<br />

210


<strong>Caminhos</strong><br />

– Não se lembra daquele dia no clube, onde a Letícia nos apresentou a você?<br />

– Na verdade eu fui lá um tempo atrás, e percebi que aquele local me trazia uma sensação boa, talvez<br />

possa ser deste dia, quem sabe!<br />

Eleonora pegou em seu braço, e com um sorriso marcante, lhe descreveu aqueles momentos.<br />

– Foi um dia maravilhoso, onde passamos muitas horas agradáveis, eu e o Jorge ficamos<br />

satisfeitíssimos, pela escolha que nossa filha havia feito, ela te amava muito!<br />

– Fui mesmo um tolo em pensar na traição, e agora me sinto envergonhado, mas vou dar um jeito de<br />

reverter esta situação, eu só preciso falar com alguns amigos, aguarde um instante por favor.<br />

Ele pediu que Iris os acompanhasse até a sala de estar, e pediu para que Murilo e seu assessor<br />

Diego, providenciassem um local adequado para a coletiva, enquanto isso permaneceu na biblioteca, onde<br />

iniciou uma conversa importante com Marina, que também acompanhava tudo bem de perto, e a<br />

colecionadora procurou adverti-lo:<br />

– Está certo de que tem amplas condições de falar, mesmo com aquele batalhão de jornalistas?<br />

– Para lhe ser franco nenhuma, mas não vejo outra alternativa a não ser esta, e também tenho um plano<br />

em mente, e para isso eu preciso de sua ajuda.<br />

– Claro, pode contar comigo no que precisar, no que está pensando?<br />

– Não tem como lhe contar todos os detalhes, mas hoje eu recordei algumas coisas de meu passado,<br />

dentre elas sobre os objetos que você e seu pai pesquisavam, e sei agora exatamente para que servem as<br />

relíquias, e aquele colar com um pingente Celta.<br />

– Sério, mas isso de você se lembrar de seu passado, é um grande sinal de que está melhorando, e isso<br />

é realmente ótimo!<br />

– Eu sei, e é por este motivo que lhe peço, para que me acompanhe até um porão nos fundos, e lá você<br />

verá sobre o que estou falando.<br />

– Está bem, estou muito curiosa para ver do que se trata!<br />

Gabriel havia descido de seu quarto, queria ver de perto o motivo de tanta agitação, e acabou se<br />

escondendo embaixo das escadas, quando o pai chegou acompanhado de Alba, observou também<br />

quando eles cochicharam entre si, sendo que a moça deu a volta por trás da biblioteca, e ficou ouvindo<br />

toda a conversa de Nathan com Marina.<br />

O garoto era muito inteligente, pois havia crescido dentro de uma perigosa favela, onde desde cedo se<br />

aprendia a ter muita malícia, e estava na cara que algo estava muito errado, pela maneira que seu pai agia<br />

com aquela mulher, e mais suspeito ainda, era a forma sorrateira que ela demonstrou, ao ficar sondando<br />

um assunto alheio.<br />

E escondida atrás de uma parede, Alba ouviu toda a conversa entre eles, onde o empresário estava<br />

disposto a expor um dos objetos, e isto estava totalmente fora de seus planos, pois ela já deveria ter se<br />

antecipado, e tomado posse definitiva de todas estas peças, e um sentimento temerário tomou conta de si,<br />

porque uma nova falha com a organização, poderia lhe custar a própria vida.<br />

Murilo e Diego foram até o portão de entrada, e comunicaram a todos da imprensa em geral, que o<br />

empresário os receberia em uma sala reservada, que ficava no lado norte da propriedade, e era utilizada<br />

para recepções particulares, mas deixaram bem claro, que só adentrariam para esta coletiva, aqueles que<br />

estivessem devidamente credenciados.<br />

211


Houve um pequeno alvoroço entre eles, pois diversos curiosos, e alguns fotógrafos freelancer,<br />

reclamaram muito desta exigência, mas esta medida era justamente para impor a ordem, e o devido<br />

respeito que deveriam ter, com esta delicadíssima situação, que envolvia o empresário Nathan.<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Já era final de tarde em São Paulo, quando a maioria das principais emissoras, noticiaram a cobertura<br />

ao vivo, e muitos que já estavam acompanhando o caso a dias, procuraram uma maneira de se posicionar<br />

em algum lugar, onde poderiam assistir a transmissão, e assim não perder nenhum detalhe das notícias.<br />

No condomínio não era diferente, ainda mais por saberem que o dono do lugar, era justamente o<br />

entrevistado, e dependendo do rumo que a situação tomasse, poderia afetar em muito, a situação da<br />

maioria dos moradores, que já era bem complicada devido a atrasos, e na guarita de entrada dos<br />

apartamentos, Xavier assistia a tudo, e ouvia atentamente o que Regina Dizia:<br />

– Que coisa este caso deste empresário, será que ele se envolveu com gente da pesada?<br />

– Eu não queria ficar comentando com os moradores, mas este homem aí, é o que veio aquele dia para<br />

a reunião, parece que ele é o dono de tudo isso aqui.<br />

– Agora que você falou é que percebi, é ele mesmo!<br />

– Pois é, ele parecia muito interessado nos problemas daqui, mas até agora nada foi resolvido, será que<br />

vão prender ele?<br />

– Tomara que não, se realmente estão tentando matar ele, deve ser por algo muito importante, e pode<br />

até ser que seja inocente.<br />

– Pode ser que sim, mas agora tenho de ir trocar um chuveiro, daqui a pouco eu volto para acompanhar<br />

a entrevista.<br />

Ela tratou de ir rapidamente, até o apartamento da amiga, isso somente para manter a pequena fama, de<br />

serem as fofoqueiras do lugar, e assim que tocou a campainha do número treze, Angelina que estava<br />

deitada repousando, se levantou lentamente, e foi abrir a porta.<br />

– Desculpa Dona Angelina, a senhora estava dormindo?<br />

– Só estava descansando um pouco, entra!<br />

– Dona Angelina, a senhora não imagina o que eu acabei de saber, lembra daquele moço alto e bonito,<br />

que veio junto com o representante da imobiliária?<br />

– Acho que me recordo sim, o quem tem ele?<br />

– Então, ele é aquele empresário, que acharam que tinha morrido no atentado, e que tem passando a<br />

toda hora na televisão, a senhora não vem acompanhando?<br />

– Ha então é isso, eu vi outro dia quando mostrou ele no jornal, que eu já o conhecia de algum lugar,<br />

isso mesmo é ele!<br />

– Para a senhora ver onde vamos parar, a gente pensa que porque a pessoa tem dinheiro, ela não tem<br />

problemas e é feliz, vai saber se ele não mexe com coisas ilícitas né?<br />

Angelina discordou da amiga, e empregando sabiamente a palavra, deu-lhe um conselho:<br />

– A gente não pode julgar as pessoas, sem antes também ver o lado delas, pois podemos cair no erro de<br />

pré-julgar, e nem sempre as coisas são como parecem!<br />

212


<strong>Caminhos</strong><br />

– A senhora tem muita sabedoria mesmo, e pode ter razão quanto a isso, melhor a gente ver como<br />

termina tudo, agora vou lá para casa, preciso começar a preparar a janta, e já aproveito para ver o começo<br />

da reportagem.<br />

– Eu também preciso preparar algo, nem sei o que vou fazer ainda.<br />

– Vamos fazer o seguinte, a senhora vai comigo e me ajuda, assim unimos o útil ao agradável, jantamos<br />

e assistimos juntas, o que acha?<br />

– Acho ótimo, estava mesmo morrendo de vontade, de comer a sua deliciosa comida!<br />

Angelina trancou o apartamento, e juntas foram fazer o combinado, correndo para a frente da televisão,<br />

onde milhares de expectadores, também acompanhavam o desenrolar dos fatos, assim como Otto, que<br />

estava nos arredores da favela, e parou em frente a um bar para assistir, ele era um dos que torciam<br />

contra Nathan.<br />

No Rio de Janeiro, Bianca em sua sala de trabalho, já encerrando o seu expediente, ouviu alguns<br />

rumores pelos corredores, e por se tratar de uma das empresas do Grupo, a maioria dos funcionários<br />

estavam apreensivos com as notícias, pois os negócios estavam sendo atingidos em massa, pela<br />

avalanche de boatos no mercado financeiro, e temiam muito por seus cargos e empregos, e ela procurou<br />

assistir pela internet, para poder se inteirar de todos os acontecimentos.<br />

O psiquiatra Estevam, também foi avisado por sua secretária Kelly, e ficou impressionado, com a fase<br />

que seu cliente atravessava, onde algumas horas atrás, ali estava com ele em seu tratamento, e que<br />

certamente, mal devia ter tido tempo de assimilar, o que havia acabado de recuperar em sua memória, e já<br />

estava passando por mais uma situação constrangedora.<br />

E neste momento, se iniciava a transmissão da coletiva, e todos estavam ansiosos pelas palavras de<br />

Nathan, que estava visivelmente muito nervoso, onde basicamente suas mãos tremiam, e dava para notar<br />

nitidamente, que havia recolocado a sua aliança, a mesma de seu noivado com Letícia, naquele<br />

inesquecível dia em Paraty.<br />

213


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 50 •<br />

Vendo que os jornalistas cercaram o empresário, Murilo e Diego fizeram uma pequena interversão, e<br />

procuram organizar fazendo uma lista, com os nomes de cada repórter das emissoras, somente após este<br />

acerto entre eles, é que se iniciaram as perguntas.<br />

Primeiro Repórter:<br />

– O que tem a dizer as pessoas, sobre ter se fingindo de morto, e deixar que outro fosse enterrado em<br />

seu lugar?<br />

– Sua pergunta é muito importante, e primeiramente eu tenho de pedir desculpas, a todas as famílias<br />

que foram envolvidas, principalmente as que perderam seus entes queridos, agora sobre fingir isto não é<br />

verdade, porque a polícia federal foi informada, e estava a par de tudo o tempo todo, eu fui obrigado a me<br />

refugiar em outra localidade, para poder preservar assim a minha integridade.<br />

Segundo Repórter:<br />

– Sabe qual o motivo de atentarem contra a sua vida, e houve algum tipo de envolvimento seu, com<br />

pessoas do crime organizado?<br />

– Eu sei o motivo desta e outras perseguições, que venho sofrendo desde o ano passado, vocês devem<br />

saber que sofri um grave acidente, e desde então tive uma perca de memória, mas agora eu recuperei<br />

uma pequena parte dela, e agora entendo perfeitamente, o que estes criminosos alvejam.<br />

Terceiro Repórter:<br />

– Há boatos que durante o seu refúgio, houve o desaparecimento de sua noiva, e de um sócio de suas<br />

empresas, acredita que isso tem relação com o atentado?<br />

– Tenho plena certeza disso, seja quem for, que esteja por detrás de tudo, procurava se utilizar sempre<br />

de várias pessoas, na procura de alguns objetos muito antigos, pertencentes a minha coleção pessoal,<br />

sendo que um deles está aqui em meu bolso, e no final da coletiva eu mostrarei a todos, e quanto a minha<br />

noiva e meu amigo, eu farei de tudo para encontrá-los, e para isso estou disposto a pagar qualquer<br />

quantia, para quem souber ou dar informações, sobre os seus paradeiros!<br />

Quarto Repórter:<br />

– Estes objetos que o senhor mencionou, teriam para estes supostos criminosos, um valor material<br />

especifico, ou são algum tipo de artefatos colecionáveis?<br />

– Não são para revender, se é o que querem saber, são peças de valores inestimáveis, e também de<br />

extrema periculosidade, se acabarem caindo em mãos erradas.<br />

Quinto Repórter:<br />

– Por acaso seria algum tipo de arma, poderia ser um pouco mais específico, para que os<br />

telespectadores possam entender?<br />

– Infelizmente não posso dar mais detalhes, creio que ainda não estão preparados para compreender<br />

tudo, mas posso assegurar a vocês todos, no que depender de mim, farei de tudo para que prendam estes<br />

criminosos!<br />

Houve uma grande confusão, onde todos queriam perguntar ao mesmo tempo, e vendo que a ordem<br />

pré-estabelecida se dissolveu, Murilo foi até os microfones e esbravejou, pedindo silêncio a todos os<br />

presentes, e assim que os ânimos se acalmaram, Nathan tirou o colar do bolso e mostrou a todos.<br />

214


<strong>Caminhos</strong><br />

– Este é um dos objetos que eles tanto cobiçam, é um colar Celta muito valioso e antigo, ele é chamado<br />

de marca, justamente porque o detentor desta peça, poderá ter acesso a uma outra relíquia, e<br />

aproveitando que todos estão assistindo, eu falo diretamente ao chefe deste bando, que cederei todas as<br />

peças pretendidas, em troca de minha noiva, e também de meu amigo, exijo a liberdade de seus cárceres!<br />

Mais uma vez os jornalistas se exaltaram, e com a ajuda de Arthur e Marina, que ficaram ao seu lado o<br />

tempo todo, o empresário conseguiu sair pela porta lateral, e protegido por vários seguranças, retornou<br />

para dentro da mansão, onde os outros moradores o aguardavam.<br />

Raul, que comandava os seguranças de todo o local, ficou intrigado com todas aquelas palavras, e<br />

agora entendia os motivos da cobiça de Alba, mas bem sabia ele, que alguém maior estava por traz de<br />

todas as ações, e que tinha se envolvido numa grande enrascada.<br />

Ela por sua vez, ficou sentada na sala junto de Iris, e assistiram toda a entrevista pela tevê, enquanto<br />

Elvira e Berenice na cozinha, distraiam Gabriel preparando um lanche, tentando o manter fora de todo<br />

aquele agito, mas isso não o impedia de observar os fatos.<br />

Duarte quase saltou da cama no hospital, ao ver a peça que ele tanto cobiçava, não tão somente pelo<br />

contrato que quase o matou, mas também por se tratar de uma raridade, e acabou ficando apreensivo e<br />

temeroso, ao ver que a sua amada filha, estava presente ao lado do empresário, quando este apresentou<br />

a peça pela televisão.<br />

Marina por sua vez, ficou tensa com toda esta agitação, mas por outro lado satisfeitíssima, por estar<br />

participando de perto desta descoberta, onde Nathan se comprometeu a lhe revelar mais tarde, todos os<br />

detalhes envolvendo estas relíquias, e isso para a colecionadora, era uma realização profissional.<br />

Na Favela, Otto ficou surpreendido, ao saber do sequestro envolvendo Letícia, já que seu coração<br />

apaixonado, falava mais alto naquela circunstancia dos fatos, e mais do que depressa, retornou ao seu<br />

esconderijo, onde ficou pensando em uma maneira, de tomar posse de tais objetos valiosos, e de quebra<br />

quem sabe, poder de alguma forma resgatar sua amada.<br />

Pelo resto daquela tarde, e por toda a noite que se seguiu, Nathan procurou ficar isolado em seu quarto,<br />

enquanto os outros moradores da mansão, procuravam absorver todo aquele impacto das notícias, que<br />

continuavam a circular pela internet, pelos jornais, e pela televisão.<br />

Também anoitecia no outro lado do continente, Heloise que acabava de retornar a Nova Iorque,<br />

guardava alguns pertences e joias, quando o seu braço direito Parker, lhe trouxe um destes jornais<br />

expressos, que costumavam circular no final da tarde, e para a sua imensa surpresa, ficou sabendo de<br />

todos estes acontecimentos, inclusive sobre a apresentação pública da marca, e ficou expressivamente<br />

furiosa com Alba, por não ter comunicado nada a este respeito, e ela não era de perdoar este tipo de falha.<br />

No aeroporto internacional de Heathrow em Londres, Carlos Renato se preparava para embarcar para o<br />

Brasil, ele havia cumprido à risca sua missão, e trazia consigo informações significativas, porém também<br />

estava muito apreensivo, com os recentes acontecimentos envolvendo o nome do grupo.<br />

Dentro dele havia uma grande divisão, entre ficar eufórico pelo excelente trabalho realizado, e pelos<br />

boatos de quebra de contrato, do grande empreendimento imobiliário, fechado pelos empresários<br />

nos Emirados Árabes, que havia demorado alguns meses para sair do papel, devido a um embargo local,<br />

causado por problemas ambientalistas.<br />

Com o projeto cem por cento aprovado, o Sheik aguardava o desenrolar dos fatos, para dar o seu aval, e<br />

liberar toda a verba destinada, mas começava a ter muitas dúvidas quanto ao negócio, principalmente<br />

devido aos enormes problemas, que o sócio majoritário das empresas enfrentava.<br />

Antes de entrar na fila de embarque, Carlos Renato decidiu fazer uma ligação, ele havia ficado<br />

215


<strong>Caminhos</strong><br />

balançado com aquela garota, principalmente com o encontro de olhares, e achou que devia se despedir<br />

dela, e quem sabe por sorte, ela também se lembraria dele.<br />

– Boa noite moça, tudo bem?<br />

– Boa noite, quem é que está falando?<br />

– Talvez não se lembre de mim, eu e você tomamos um drinque outro dia.<br />

– Cara eu faço isso como muitos homens, e infelizmente não tenho, como me recordar individualmente<br />

de cada um!<br />

– Eu compreendo perfeitamente, eu só queria mesmo me despedir e ouvir a sua voz, eu estou<br />

retornando para o Brasil hoje.<br />

– Mas eu acho que me lembro de você, é o brasileiro de nome composto, deixa eu pensar, é o Carlos<br />

Renato?<br />

– Se lembrou mesmo do meu nome, agora você me surpreendeu!<br />

– Para ser bem sincera, te achei um pouco diferente de outros clientes da boate, geralmente eles<br />

agarram primeiro e conversam depois, e você foi muito legal e simpático, pena que já está indo embora.<br />

– Eu estava aqui a trabalho, mas como havia sido um pouco fria naquela noite, eu fiquei com um pouco<br />

de receio, e acabei desistindo de te procurar, e agora estou ligando para dizer um até breve!<br />

– Lhe devo minhas sinceras desculpas, pelo modo que lhe tratei, é que o meu dia tinha sido terrível, e eu<br />

estava péssima mesmo, mas o que quis dizer com até breve, vai voltar quando?<br />

– Pode ser que eu precise retornar a trabalho, mas você parece estar com algum tipo de problema, há<br />

algo em que eu possa ajudar?<br />

– Problemas, eu faço praticamente coleção deles, mas não esquente com isso, quando vier a Londres<br />

me procure, estou lhe devendo uma bebida, beijos!<br />

– Combinado então, um beijinho especial só para você!<br />

A companhia aérea iniciava o chamado dos passageiros, e ele havia ficado plenamente satisfeito, com o<br />

tratamento que ela havia dispensado, e vejam só como é o destino das pessoas, um simples olhar, uma<br />

bebida num bar, e um curto telefonema, poderiam alterar os destinos de duas pessoas, traçando um novo<br />

rumo em seus caminhos.<br />

Aquela noite terminava com grandes expectativas, e Nathan havia se isolado em seu quarto, pois<br />

precisava assimilar todos os acontecimentos, daquele longo e sinuoso dia, onde descobriu coisas de seu<br />

passado, de que não havia sofrido a traição simulada, e que praticamente a maioria das pessoas, tinham<br />

dúvidas quanto ao seu caráter, e com tudo isso em sua mente, não conseguiu pregar os olhos.<br />

Enquanto isso na sauna da propriedade acontecia, mais um encontro secreto entre Alba e Raul, ela<br />

estava totalmente desequilibrada, e praticamente o arrastou até este local, tendo a pretensão de<br />

convencer o cúmplice, a executar imediatamente o roubo das peças.<br />

– Raul, tem certeza de que ninguém te seguiu até aqui?<br />

– Me admira muito você ter esta preocupação, porque ficou me fazendo sinais na frente de todos,<br />

porque está assim tão desesperada?<br />

216


217<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Aquele colar que o Nathan mostrou na coletiva, é uma das peças que eu tenho de pegar, e o pior de<br />

tudo que a esta altura, meu chefe já deve saber de tudo, e o meu prazo está se esgotando!<br />

– Pelo que tenho percebido é um pessoal da pesada, e provavelmente não deve aturar certas falhas,<br />

estou correto?<br />

– Corretíssimo, eu não devia nem estar me abrindo assim com você, mas é que eu não tenho mais<br />

ninguém para desabafar, e estou disposta a dobrar aquela quantia que combinamos, caso consiga pegalas<br />

para mim ainda hoje.<br />

– Não estou certo se quero continuar com esta história, a princípio eu imaginava que fossem algum tipo<br />

de joias, e acabei me deixando levar por certos vícios, mas agora vejo que ficou muito perigoso, e tenho<br />

receio de envolver a minha família nesta história.<br />

– Tarde demais para se arrepender, devia ter pensado antes de dormir comigo, e ter aceitado pegar<br />

parte do dinheiro, agora você não tem mais escolha!<br />

Ele ficou por alguns instantes pensativo, até que voltou a lhe dirigir a palavra, pedindo-lhe um tempo<br />

para pensar em tudo, e o adiamento até o dia seguinte, mas ela negou, devido a urgência<br />

das circunstâncias, e deu-lhe apenas uma hora para se preparar, voltando a se encontrar naquele local.<br />

Na maioria das vezes, nós mesmos somos os causadores de nossas feridas, e quando uma<br />

encruzilhada destas aparece, cabe a cada um refletir muito para decidir, se deve escolher entre o certo e o<br />

errado, tendo a certeza absoluta que um dia, se colherá o próprio fruto que plantou, e no caso de Raul,<br />

isso não era diferente, e ele tinha pouco tempo para resolver esta questão.<br />

Alba ficava observando em seu celular, as inúmeras ligações de seu suposto chefe, ela havia deixado o<br />

aparelho no silencioso, até que conseguisse executar o serviço, e assim poder recuperar a sua<br />

credibilidade, perante aquela importante e perigosa organização, e quem sabe em vez de perder a vida,<br />

conseguisse até mesmo se promover, e acumular a fortuna prometida pelo serviço.<br />

Antes de retornar até a bandida, Raul deu uma espiada em sua esposa e filho, que dormiam juntos no<br />

mesmo quarto, e naquele momento ele compreendeu o significado, de que as pequenas coisas é que nos<br />

tornam felizes, como por exemplo, poder estar ali ao lado deles dois, e receber todo o imenso carinho, que<br />

sempre tentaram lhe proporcionar, mas que pela sua dureza de coração, se recusou a compartilhar.<br />

A caminho do trocador da sauna, ele ainda deu uma pequena olhada pelo vidro, onde se certificou que<br />

ninguém circulava do lado de fora, mas antes de retornar ao local combinado, ele passou pelo jardim, e<br />

pegou o seu celular, e por alguns minutos falou com uma pessoa, transparecendo ser uma tensa<br />

conversa, certamente de suma importância, somente depois deste fato, ele se deslocou até Alba, e<br />

chegou se impondo a ela:<br />

– Pois bem, estou pronto, mas tenho algumas condições, e não abro mão delas!<br />

– E quais seriam estas condições?<br />

– Primeiro preciso saber, porque querem tanto estes objetos, e também o que fizeram com Caio e a<br />

Letícia.<br />

– Quanto as peças antigas não sei ao certo, mas acredito que tenha algum tipo de valor pessoal, porque<br />

já aprontaram muito por causa destas coisas, e pelo que sei até agora, este colar pode nos levar a uma<br />

outra relíquia, e esta sim, parece a mais cobiçada dentre todas.<br />

– E quanto aos dois que vocês sequestraram?<br />

– Porque está tão preocupado com o paradeiro deles?


– Digamos que os dois ajudaram muito a minha família, e com certeza você fez parte deste plano,<br />

vamos lá, pode se abrir comigo!<br />

– Não tenho o porquê te esconder a verdade, mesmo porque você já está ferrado mesmo!<br />

– Nisso você tem toda a razão, então como aconteceu tudo?<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Eu coloquei sonífero na bebida de todos eles, e quando tive a certeza que haviam apagado, eu liguei<br />

para os meus cúmplices, que já aguardavam nas proximidades de Angra, e com todo o cuidado que a<br />

situação exigia, pegamos os dois cordeirinhos, e os colocamos no próprio iate, assim todos pensariam que<br />

tinham fugidos juntos, mas com toda esta exposição de hoje, já desconfiaram que foi tudo uma armação.<br />

– Foi realmente um grande plano, mas até agora não me disse o que aconteceu a eles, ainda estão<br />

vivos?<br />

– Sobre isso não posso lhe afirmar, sei apenas que foram levados até uma das células, que é dono de<br />

um cassino nos Estados Unidos, mas creio que já devem estar mortos, principalmente a moça, porque não<br />

sabia basicamente de nada, agora chega de conversa e vamos agir, vou lhe contar todo o meu plano!<br />

E assim que ela expôs a ele todos os detalhes, cada um foi para um lado diferente da mansão, e<br />

iniciando o combinado, Raul chamou um dos encarregados da segurança, e o avisou sobre uma possível<br />

ameaça de bomba, solicitando a sua ajuda para retirar todos os moradores, mas nem sempre as coisas<br />

são o que parecem, e aquele secreto telefonema no jardim, poderá mudar totalmente o rumo e a sorte, de<br />

todos os que estavam envolvidos, neste nefasto plano criminoso.<br />

218


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 51 •<br />

Um pouco antes de diversos fatos se desenrolarem, naquele sinistro e temeroso final de noite, Nathan<br />

estava atormentado pelo enorme desejo, de tentar se lembrar de mais coisas sobre o seu passado, pois já<br />

não aguentava mais tantas dúvidas, e contrariando todos os conselhos de seu psicólogo, decidiu fazer<br />

uma tentativa por conta própria.<br />

Para tal feito, aproveitou aquele momento de silêncio, em que imaginava todos já terem se retirado,<br />

e procurou por alguma música relaxante, que tivesse algum tipo de semelhança, com as que o seu médico<br />

colocava, nos dias das sessões de seu tratamento.<br />

Assim que localizou uma faixa musical mais leve, trancou a porta, e se deitou na enorme cama,<br />

procurando relaxar totalmente o corpo e a mente, tentando refazer todos os passos de Estevam,<br />

simulando uma verdadeira sessão de hipnose, e logicamente, tomando todas as precauções possíveis.<br />

Após cinco longos minutos ele finalmente, se fixou em algo que queria recordar, na verdade não era bem<br />

um destes dias, que tivesse vontade de se lembrar, mas sabia que era de fundamental importância, e que<br />

poderia conter a solução de todos estes mistérios, que o envolvia em tantos dissabores, e quando teve a<br />

confiança do que faria, disse a palavra-chave...<br />

Neste momento ele parece ter apagado visualmente, mas estava viajando em sua consciência, e tinha<br />

plena noção de tudo que se passava, mas era uma sensação parecida com um sonho, onde ao mesmo<br />

tempo parecia observar as cenas, em que ele próprio e outras pessoas atuavam, e agora vamos entender<br />

tudo como aconteceu, voltando naquela fatídica noite, em que se envolveu no acidente de carro.<br />

Era por volta das dezenove horas, Caio havia chegado muito apavorado na mansão, e imediatamente foi<br />

procurar por Nathan, que se encontrava lendo um livro antigo na biblioteca, e vendo toda aquela aflição de<br />

seu amigo, procurou saber os motivos reais de seu desespero.<br />

A sua tentativa de acalma-lo foi em vão, e Caio com um grande pavor que demonstrava nos olhos,<br />

procurou ser franco e direto em suas palavras, revelando a Nathan toda a sua traição, por causa de suas<br />

fraquezas e dos vícios, contando a ele com detalhes, sobre a perca de um dos cristais, em uma dura<br />

partida de pôquer, quando este estava viajando em território americano.<br />

Se isso ainda não bastasse, também havia realizado uma grande retirada, dos cofres de uma das<br />

empresas do grupo, para que o novo detentor desta pedra guardasse, o segredo de seu suposto poder,<br />

mas apesar de ter pago por esta chantagem, este fato foi espalhado aos quatro cantos da terra, pois tratou<br />

deste assunto como uma simples lorota.<br />

Este homem era conhecido como o senhor Black, dono de um cassino clandestino nos Estados Unidos,<br />

e foi procurado prontamente por Heloise, que também ficou sabendo dos boatos, e ela espertamente o<br />

enrolou dizendo, que se tratava de uma peça muito antiga, que carregava consigo um tipo de lenda, e que<br />

tinha apenas valor de colecionador.<br />

Como ele não acreditava mesmo nesta história, e a chefe da organização lhe ofereceu uma pequena<br />

fortuna, não se aprofundou para ver a sua veracidade, e a partir deste dia começou a lhe prestar serviços,<br />

que em sua maioria era na prática de crimes, e na lavagem de dinheiro sujo.<br />

A partir do momento que ela se apoderou do objeto, passou a perseguir Caio em todas as suas ações,<br />

com objetivos bem maiores, do que obter os outros cristais, que era de encontrar a fonte de sua geração,<br />

ao qual ela já perseguia por muitos e muitos anos, e para isso, precisava de uma peça fundamental, que<br />

era o pingente com a marca, que estava agregada naquele colar antigo.<br />

Após Caio ter contado ao seu sócio, este terrível erro cometido com o segredo, o avisou de uma possível<br />

invasão da propriedade, já que o haviam seguido desde a empresa, por dois carros durante todo o trajeto,<br />

e numa tentativa frustrada de despista-los, acabou os trazendo diretos para o local.<br />

219


<strong>Caminhos</strong><br />

Como na época, não havia a necessidade de ter seguranças, eles estavam praticamente a sua própria<br />

sorte, contando apenas com Moreira e Elvira, e sendo assim, rapidamente decidiram se separem em dois<br />

carros, numa tentativa de tentarem os confundir, e quem sabe poupar a vida de todos.<br />

Antes de iniciarem as suas escapatórias, Nathan foi até o seu cofre no quarto, e retirou uma das pedras,<br />

enquanto Caio pegou a única que lhe restava, e seguiram com o seu plano de fuga, se dirigindo<br />

rapidamente até a garagem, escolhendo dentre os carros disponíveis, os que eram mais velozes e<br />

potentes.<br />

Cada um tomou uma direção diferente, com a intenção de despistar os bandidos, só que Caio conseguiu<br />

êxito e escapou, enquanto um dos carros perseguidores, ainda estava na cola absoluta de Nathan, até que<br />

em certo momento, os carros se aparelharam, e com uma arma colocada para fora do vidro, exigiram que<br />

ele encostasse o seu veículo, e já esperando pelo pior, o empresário tomou algumas medidas extremas,<br />

que julgava serem necessárias naquelas circunstâncias.<br />

Uma delas, foi de pegar um pequeno canivete, que carregava sempre consigo desde a infância, o<br />

utilizando para fazer um pequeno corte, na região abaixo do Abdômen, e mesmo com muita dor, e o<br />

sangramento que se seguiu, conseguiu inserir a sua relíquia e dizer as palavras "Sanare Corpus", aos<br />

quais faziam o corpo absorver a sua energia, significando no latim "Curar o Corpo".<br />

A outra medida, foi de exercer o aprendizado de arquivar o passado, e para isso se firmou em esquecer<br />

tudo, dizendo em seguida a palavra-chave, para que a informação sobre a localização da fonte, fosse<br />

totalmente preservada, mas nestes movimentos que precisou realizar, acabou perdendo o controle do<br />

carro, levando este a capotar por diversas vezes, até despencar numa ribanceira.<br />

Nos primeiros momentos deste terrível acidente, Nathan ainda estava consciente, e conseguiu ver o<br />

rosto de alguns de seus perseguidores, e dentre eles, estava alguém que vivia bem próximo, e antes de<br />

perder todos os seus sentidos, ainda conseguiu ouviu parte da conversa, entre uma mulher e um homem.<br />

– Revistem rapidamente ele e todo o carro, foquem principalmente em algum tipo de cristal, e alguma<br />

peça que pareça ser antiga.<br />

– Eu acho que este daí já era, parece que arrebentou todo o corpo, principalmente na região do<br />

estômago, olha só como está sangrando!<br />

– O pior, é que se as peças não estiverem em seu poder, teremos de pedir socorro imediato, para que<br />

ele não venha a morrer.<br />

– Não tem nada além de alguns documentos, e um pequeno canivete velho, não encontrei mais nenhum<br />

objeto, o que quer que eu faça agora?<br />

– São mais espertos do que pensávamos, retirem-se e não deixe nenhum vestígio, isso tem de parecer<br />

que foi mesmo só um acidente!<br />

Deste momento em diante, o empresário apagou por completo, e os criminosos depois de chamarem<br />

pela emergência, se debandaram completamente daquela região, acreditando que ele poderia até já estar<br />

morto, mas por estar interagindo com a relíquia, que estava dentro de seu próprio corpo, quando os<br />

paramédicos chegaram, ele já havia alcançado uma restauração, restando apenas alguns arranhões, e a<br />

roupa rasgada coberta de sangue.<br />

Voltando ao tempo presente, ele foi acordado bruscamente de sua hipnose, por alguém que batia<br />

fortemente na porta de seu quarto, e ainda se sentindo tonto e um pouco enjoado, se levantou lentamente<br />

de sua cama, e verificou que se tratava do chefe dos seguranças, que vinha alerta-lo:<br />

– Doutor me desculpe por incomoda-lo, mas é um assunto muito urgente!<br />

220


<strong>Caminhos</strong><br />

– O que foi, aconteceu alguma coisa?<br />

– Fomos notificados de uma ameaça de bomba, e teremos de evacuar toda a propriedade.<br />

– Uma bomba dentro da mansão, tem certeza disso?<br />

– Numa situação destas proporções, somos treinados para primeiramente preservar as vidas, para<br />

depois averiguar a veracidade do fato, por isso peço que me acompanhe até o lado de fora, por favor, eu<br />

insisto!<br />

– Está certo, mas e os outros moradores, já foram notificados?<br />

– Todos estão sendo levados para um lugar seguro, assim como o senhor.<br />

– Me leve até eles, o Gabriel deve estar com muito medo, e certamente precisando de um apoio.<br />

– Sim senhor, venha comigo.<br />

No caminho entre o quarto e as escadas, eles passaram por aquele enorme corredor, onde ficavam<br />

todas as peças de sua coleção, e se sentindo como acordasse de um longo sonho, recordou daquela<br />

última cena do acidente, onde lembrou claramente, daquela mulher que comandava todas as ordens, e<br />

imediatamente questionou o segurança:<br />

– Onde está a Alba, também foi levada para fora junto com os outros?<br />

– Pelo que o Raul nos contou, ela não se encontra por estar em outro local, parece que ele mesmo a<br />

levou para um shopping.<br />

– Se pensam que vou cair em outra armadilha, estão redondamente enganados!<br />

– Não entendi, sobre o que o senhor está falando?<br />

– Não tenho tempo para explicações, verifique se a polícia já foi acionada, enquanto isso, eu vou dar<br />

uma rápida olhada nos cômodos, tenho uma pequena suspeita de que é uma armação.<br />

O segurança ficou extremamente dividido, entre seguir o protocolo de retirada, ou obedecer às ordens<br />

repassadas pelo patrão, mas acabou acatando o seu pedido, e Nathan ao chegar perto da biblioteca,<br />

desconfiou quando ouviu uma pequena discussão, era Alba e Raul que naquela altura dos<br />

acontecimentos, acreditavam que todos já haviam sidos retirados.<br />

Os dois discutiam sobre o perigo desta ação de roubo, onde Raul contestava o envolvimento de sua<br />

família e dos amigos, quando foram surpreendidos pelo empresário, e dissimuladamente na tentativa de<br />

disfarçar, ela foi em sua direção, e o abraçou com palavras de conforto.<br />

– Meu caro amigo, acabei de chegar na mansão, e pedi para o Raul me acompanhar até aqui, para<br />

pegar minha bolsa e o meu celular, eu já estava em meu compromisso, quando percebi que os havia<br />

esquecido, e agora fiquei a par de tudo que está acontecendo, estão atentando novamente contra a sua<br />

vida!<br />

– Tire estas suas mãos sujas de mim, eu me recordei daquela noite do acidente, e é por isso que lá em<br />

Angra dos Reis, eu desconfiei que te conhecia de algum lugar, era você que nos manipulava o tempo todo,<br />

é você o cabeça desta organização criminosa?<br />

– Isso não é da sua conta, e agora já não importa mais nada, nem mesmo o que sabe sobre mim!<br />

Num gesto rápido, ela pegou uma pequena arma, que estava escondida dentro de uma de suas botas, e<br />

221


<strong>Caminhos</strong><br />

obrigou o empresário a lhe revelar, o local onde se encontravam o colar e a fonte de poder, e ele ficou<br />

admirado em ver que Raul, aparentemente não reagiu contra ela, e demonstrava estar ao lado da bandida.<br />

E acuado pelas circunstâncias, Nathan os levou até uma estante de livros, em que Caio havia mostrado<br />

anteriormente a ele, antes de viajarem a negócios para Dubai, e ao acionar uma pequena alavanca, o<br />

pesado objeto se afastou, revelando-lhes uma porta secreta, e Alba ficou totalmente boquiaberta, por<br />

enfim ter encontrado a fonte tão cobiçada por todos, e atentamente observou bem ao centro da caixa<br />

dourada, o local onde provavelmente, aquele pingente do colar se encaixaria.<br />

222


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 52 •<br />

Enquanto isso do lado de fora da mansão, os seguranças já haviam retirado todos os outros moradores,<br />

mas Iris começou a questionar com o chefe deles, porque a demora de Raul e Nathan em saírem, e este<br />

se defendeu dizendo, que cumpria à risca as ordens do patrão, e que já havia acionado a polícia, com<br />

também alertado os outros seguranças.<br />

De volta a Biblioteca, Raul também havia ficado surpreso com a sala secreta, ainda mais, quando viu<br />

aquela caixa dourada, que parecia ser toda revestida de ouro, porém, após esta sua desatenção inicial, ele<br />

voltou a focar naquela situação de perigo, e a pergunta que ficava no ar era, será que ele tomaria algum<br />

tipo de atitude, ou ficaria passivo assistindo a toda esta cena.<br />

Alba exigiu que o empresário lhe entregasse o colar, e como este ainda estava em seu bolso, desde a<br />

coletiva com a imprensa, tentou negociar com ela um tipo de barganha, que seria a libertação de Letícia e<br />

Caio, que ele acreditava estar em poder de sua organização, mantidos como reféns por causa das<br />

relíquias, e procurou ser incisivo em suas palavras com ela:<br />

– Eu lhe entrego o colar com o pingente da marca, mas antes tem de me garantir e provar, que minha<br />

noiva e meu amigo estão bem, sem isso nada feito!<br />

– Você não está em condições de negociar nada, se esqueceu que estou com a arma apontada para a<br />

sua cabeça?<br />

– Eu tenho muito dinheiro e joias, e tenho certeza que cobrem muito mais que o dobro, do que estão lhe<br />

pagando por estes serviços, pode ser tudo somente seu, a única coisa que peço, é que nos deixem em<br />

paz!<br />

– Você ainda não entendeu a situação, não existe esta possibilidade de negociação, quando se trata de<br />

assuntos da organização, ou você faz exatamente o que lhe ordenaram, ou é considerado carta fora do<br />

baralho!<br />

– E você Raul, também se associou a estes bandidos, mesmo depois do que fizemos para você e a sua<br />

família, colocou em risco a vida de todos nós por dinheiro?<br />

Raul se calou e abaixou a cabeça, porque acreditava que naquele momento crucial, nenhuma desculpa<br />

ou frase feita, reverteria a situação em que se meteu, mas uma pequena ação lhe ajudava muito, a lidar<br />

com a sua consciência pesada, era o telefonema que havia feito no jardim, um pouco antes desta<br />

armadilha ser iniciada.<br />

Quando Alba engatilhou o seu revolver, e apontou para o empresário disposta a atirar, no caso de se<br />

recusar a entregar o colar antigo, ambos ouviram um barulho vindo da sala de estar, que era a entrada de<br />

diversas pessoas, dentre elas o advogado Raul, juntamente com alguns policiais federais, que deram<br />

ordem expressas aos seguranças, para cercarem todo o lado de fora, e que não permitissem a saída<br />

de ninguém dali, e para informar a sua presença, um dos policiais gritou bem alto:<br />

– É a polícia, a mansão está toda cercada, exigimos a libertação dos reféns, e a sua rendição<br />

imediatamente!<br />

Alba deu um passo a frente, e revidou com palavras ásperas:<br />

– Se algum de vocês entrarem aqui, eu atiro e mato ele, sou a única que posso fazer exigências por<br />

aqui, eu quero um carro seguro até o aeroporto, e somente lá libertarei o empresário!<br />

Foi um momento decisivo para todos, Alba estava disposta a levar tudo até as últimas consequências, e<br />

Nathan temendo a vida de todos ali presentes, resolveu ceder e lhe entregar o colar, e foi neste exato<br />

instante, que Raul decidiu reagir, estava na hora de ele sair de cima do muro.<br />

223


<strong>Caminhos</strong><br />

Cumprindo a ordem dada por ela, ele foi até Nathan, pegou o colar de suas mãos, e se aproveitando de<br />

uma distração da bandida, enquanto ele lhe entrega a peça tão cobiçada, agarrou firmemente a sua arma,<br />

e se iniciou uma luta corporal pela posse do revolver, mas apesar de Raul ser experiente neste tipo de<br />

coisa, Alba tinha um forte treinamento, e soube como dominar esta situação.<br />

Vendo que Raul havia voltado atrás e desistido, não pensou duas vezes em atirar contra ele, e ao ouvir<br />

os estampidos dos disparos, a polícia arrombou a porta e entrou, ela se vendo acuada, rapidamente pulou<br />

pela janela lateral, tentando desesperadamente a fuga pelos fundos, sendo que enquanto os policiais<br />

corriam atrás de Alba, Arthur também entrou e foi até Nathan, acreditando que ele é quem estava ferido,<br />

por haver sangue espalhado próximo a ele.<br />

– Está ferido, onde foi que lhe acertaram?<br />

– Em mim não, ela atirou no Raul enquanto lutavam, chame o resgate para socorrê-lo!<br />

Imediatamente ele pegou o celular, e chamou pela emergência, enquanto isso, alguns seguranças que<br />

ouviram o disparo, correram em disparada para o lado de dentro, facilitando sem querer a fuga da<br />

bandida, e tanto Elvira, Iris e Gabriel, ficaram desesperados com toda aquela correria, principalmente<br />

temendo pela vida de Nathan e de Raul, que ainda não haviam saído para o lado de fora.<br />

Alba conseguiu a sua escapatória, e levou consigo o colar com a marca, era com este trunfo em mãos,<br />

que ela pretendia se redimir perante a organização, e quem sabe ter uma remota possibilidade, de<br />

negociar a sua permanência no bando, principalmente por saber, a localização precisa da Fonte de poder.<br />

O resgate não tardou a chegar, e se iniciaram os procedimentos de atendimento a Raul, que foi alvejado<br />

por dois tiros, e havia perdido muito sangue, e assim que recebeu os primeiros socorros, foi levado pela<br />

unidade de emergência, onde mais tarde, já nas dependências do hospital, Nathan e Iris, que aguardavam<br />

notícias dos médicos, se abraçaram consolando um ao outro, e ficava claro que após mais este incidente,<br />

os dois estavam nitidamente arrasados.<br />

Durante aquela intensa madrugada, os médicos trabalharam na cirurgia de Raul, principalmente para<br />

estancar uma séria hemorragia interna, e por volta das cinco horas da manhã, um dos médicos trouxe a<br />

boa notícia, de que o paciente estava fora de perigo.<br />

Iris não conseguiu conter as lágrimas em seu rosto, até mesmo Nathan se emocionou muito com a<br />

notificação, se sentindo aliviado e bem mais leve, por não ter de carregar mais esta culpa consigo, dentre<br />

as muitas já acumuladas pelas circunstâncias, afinal era para ser ele o alvo daqueles tiros.<br />

Arthur havia comunicado ao presidente das empresas, sobre os fatos ocorridos na mansão, e logo bem<br />

cedo, Murilo compareceu ao hospital, trazendo consigo a colecionadora Marina, que aos olhos de todos, já<br />

pareciam terem formados um belo casal, só restava eles mesmos assumirem, os seus próprios<br />

sentimentos.<br />

Assim que eles encontram Nathan e Iris, que estavam tomando café na cantina do hospital, fizeram<br />

questão de abraça-los e conforta-los, e pós estes comprimentos iniciais, foram convidados a se juntarem a<br />

eles, para este simples desjejum entre amigos, e conversaram um pouco sobre a noite passada, e<br />

admirado com mais este acontecimento, Murilo tentou argumentar:<br />

– Minha nossa Nathan, eu nem sei o que lhe dizer, não encontro mais palavras para consola-lo, porque<br />

acontece uma coisa atrás da outra contigo, isto tem de ter um fim!<br />

– Concordo com a sua afirmação, estou farto de toda esta perseguição, principalmente por sempre<br />

envolver pessoas, que estão mais próximas junto a mim, e isso me deixa muito aborrecido.<br />

A colecionadora pegou em suas mãos, olhou em seu rosto, e também lhe prestou o seu apoio.<br />

224


<strong>Caminhos</strong><br />

– Não fique assim, todos nós sabemos que não é culpa sua, e procure enxergar as coisas maravilhosas,<br />

que tem feito por nós ultimamente, se não fosse por você, eu teria perdido o meu pai.<br />

– E como ele tem passado, está se recuperando bem da cirurgia?<br />

– O velho Duarte está mais forte do que nunca, e se tudo der certo, deve receber alta nos próximos dias.<br />

– Fico muito satisfeito em receber esta notícia, e vocês pretendem ir para onde quando isto acontecer,<br />

creio que não seja muito seguro, voltar para o Antiquário neste momento.<br />

– Nisso você tem toda razão, a polícia nos deu toda a proteção no hospital, mas acredito que aqui fora,<br />

as coisas serão mais complicadas, ainda mais por todas as nossas contas e bens, terem sidos bloqueadas<br />

pela justiça, ficamos praticamente na estaca zero.<br />

Murilo se antecipou, e se colocou a sua inteira disposição.<br />

– Se precisarem podem ficar no meu apartamento, é um pouco pequeno e apertado, mas os receberei<br />

com enorme prazer!<br />

Nathan pensou por alguns instantes, e voltou a falar com Marina:<br />

– Eu tenho uma ideia melhor, mas digo quando ele sair do hospital, por enquanto vamos nos fortalecer,<br />

e tomar algumas providências cabíveis, e para isso eu gostaria que você Murilo, marcasse uma reunião<br />

com o nosso Advogado, mas isso pode ser um pouco mais tarde, já que ele saiu a pouco do hospital, onde<br />

nos prestou toda a sua solidariedade.<br />

Iris que havia permanecido em silêncio, devido a todo trauma sofrido, também afirmou o apoio de Arthur.<br />

– Ele é mesmo uma pessoa maravilhosa, além de ser um ótimo e perfeito advogado, se revelou um<br />

verdadeiro amigo para nós, principalmente a você Nathan!<br />

– Certamente ele é mesmo tudo isso que falou, e tem sido o nosso companheiro fiel, nestas horas<br />

tão difíceis!<br />

Murilo deu um pequeno aperto de mãos, e se despediu de Iris e o patrão.<br />

– Vejo que tudo se encaminhou por aqui, sendo assim vou para o trabalho, e lhe passo mais tarde por<br />

telefone, informando o horário da reunião que me pediu, me liguem se precisarem de alguma coisa!<br />

– Eu agradeço a sua presteza e amizade, e quanto a você Marina, precisamos muito ter uma conversa,<br />

sobre os recentes fatos que aconteceram, que dizem respeito sobre os artefatos antigos, preciso muito de<br />

sua ajuda.<br />

– Claro que sim, estou a sua inteira disposição, onde e quando pretende ter esta conversa?<br />

– Se possível antes do almoço, porque a tarde como pôde ver, já tenho este compromisso que é<br />

inadiável!<br />

Iris demonstrando a sua fortaleza, e se utilizando de uma aguçada intuição, sugeriu a eles:<br />

– Porque vocês não vão para um outro lugar, que seja neutro para ter esta conversa, e não precisam se<br />

preocupar comigo, porque agora só nos resta rezar e esperar, nestas primeiras vinte e quatro horas, para<br />

saber o real estado do Raul.<br />

Marina a abraçou, e se despediu com algumas palavras:<br />

225


– Tenho certeza que ele vai ficar bem, agora vocês devem ir descansar um pouco, e você Nathan,<br />

depois me liga para termos a conversa, ok?<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Eu preciso de pelo menos umas duas horas, para dar um cochilo e me recompor, assim que eu fizer<br />

isso te ligo, obrigado pela visita de vocês.<br />

Ao saírem do hospital, Iris e Nathan foram levados para a mansão, por seguranças que os<br />

acompanharam por toda a madrugada, enquanto os demais que ficaram na propriedade, organizaram uma<br />

varredura em todas as dependências, na procura da arma e do objeto roubado, além de vasculharem<br />

minuciosamente, todos os pertences de Alba, que em sua fuga alucinante, acabou deixando em seu<br />

quarto.<br />

Foram contratadas duas equipes de serviços, uma para consertar a vidraça da janela, que a bandida<br />

quebrou ao pular para escapar, e outra para a limpeza de remoção do sangue, sendo que a pedido de<br />

Nathan, ao chefe geral da segurança, a sala secreta foi trancada e preservada, para que ninguém tivesse<br />

acesso ao local.<br />

Enquanto isso no aeroporto de Guarulhos, após ter feito duas escalas, o avião trazendo Carlos Renato<br />

da Inglaterra, pousava na pista parcialmente molhada, por uma pancada de chuva que já havia cessado, o<br />

diretor trazia documentos muito importantes, aos quais iriam ajudar na localização dos criminosos, e quem<br />

sabe até dos dois sequestrados.<br />

226


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 53 •<br />

Era o último dia da semana, e no trabalho, Juliano estava em um dos galpões, fazendo a conferência de<br />

algumas caixas, que acabavam de chegar vindo do porto, e por se tratar de uma grande importadora, era<br />

de fundamental importância, que todo o movimento, tanto de entradas como de saídas, batessem com a<br />

quantidade real dos produtos em estoque.<br />

Neste tipo de serviço ele era bem experiente, e tinha muita responsabilidade em seus apontamentos,<br />

porém ao checar o lote anterior das mercadorias, percebeu uma discordância de quantidades, onde<br />

faltavam alguns itens nas embalagens, e imediatamente voltou para a sala no almoxarifado, e iniciou uma<br />

vasta pesquisa em seu sistema, visualizando as notas de compras e de vendas, e como não conseguiu<br />

localizar o erro, procurou por seu encarregado Fausto.<br />

– Está a minha procura?<br />

– Estou sim, é que há uma falha na contagem de estoque, sendo que os documentos lançados estão<br />

corretos, porém alguns produtos não se encontram no galpão.<br />

– Tem ideia do que possa ter ocorrido, para ter causado este tipo de falha?<br />

– Creio que teremos de fazer um balanço, e rever desde o ano passado para cá, na tentativa de localizar<br />

esta diferença, pode ser que itens tenham saídos daqui, sem nota fiscal de venda, e isso certamente nos<br />

trará muita dor de cabeça, podem até parecer que foram roubados!<br />

– Tem toda a razão, comentou com mais alguém sobre isso além de mim?<br />

– Claro que não, o senhor é quem comanda toda esta parte da expedição, de maneira alguma passaria<br />

por cima de sua autoridade.<br />

– Melhor assim, mas façamos o seguinte, sei que deve estar sobrecarregado, com aqueles gráficos que<br />

havia lhe pedido, por isso não se preocupe que vou resolver tudo, vou convocar alguns ajudantes para me<br />

auxiliar, e com certeza acharemos o ponto desta falha, agora pode voltar a sua sala, e continuar o seu<br />

trabalho.<br />

– Se o senhor prefere assim, eu acato a sua ordem, se precisar de mim é só chamar!<br />

Ele estranhou muito, que Fausto tomasse a frente deste trabalho, pois na maioria das vezes, ele até<br />

passava os seus próprios serviços para os outros, utilizando-se do poder de cargo que exercia, sendo na<br />

maioria das vezes arrogante, e extremamente estúpido com seus subordinados, e Juliano manteve<br />

consigo aquela suspeita, de que alguém poderia ter desviados os itens, causando a diferença no estoque<br />

da importadora.<br />

Quase perto da hora do almoço, Marina a convite de Nathan, foi trazida por um forte esquema de<br />

segurança, e mesmo sabendo, que o perigo ainda circulava pelos arredores, ambos resolveram se ariscar,<br />

e seguiram em frente, pelos motivos óbvios, de que várias peças da coleção, ainda estavam dentro da<br />

propriedade, e o empresário apostava tudo na colecionadora, que poderia exercer um papel fundamental,<br />

para desvendar todo este quebra-cabeça, e assim que se reuniram, Nathan iniciou o diálogo:<br />

– Quem bom que aceitou o meu pedido, vamos dar uma passada pela biblioteca, onde lhe mostrarei<br />

algo que você e se pai, provavelmente estavam procurando por aqui, quando ainda ele era contratado da<br />

organização.<br />

– Isto é algo que ele se arrepende amargamente, se soubesse que estas pessoas fossem perigosas,<br />

nunca teria aceitado este tipo de trabalho, onde acreditava se tratar apenas de alguns colecionadores.<br />

227


– Todos erramos em algum ponto de nossas vidas, o importante é que ao reconhecer estes erros,<br />

tenhamos em mente uma mudança de traçado, dentre estes vários caminhos de nossas vidas!<br />

228<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Você sempre fala com muita sabedoria, mas creio que não temos tempo para muita conversa, vamos<br />

focar no assunto que me traz até aqui, o que quer me falar e mostrar?<br />

– Lembra-se de iniciarmos um assunto sobre as relíquias, e que você ficou fascinada com a vasta<br />

possibilidade, de existir uma fonte de poder tão imensa, que poderia tornar as pessoas quase que<br />

imortais?<br />

– Me lembro de algo parecido, só que depois daquele dia, não tivemos mais oportunidade de tocarmos<br />

no assunto, por acaso recobrou as suas memórias, e se lembrou do paradeiro desta raridade, ela existe<br />

mesmo, ou é mais um destes mitos antigos?<br />

– Ainda não recordei de todas as de minhas lembranças, mas descobri a verdade sobre as peças, e<br />

agora vou lhe mostrar uma sala secreta, onde contém uma caixa dourada, onde provavelmente se<br />

encontra a chamada fonte.<br />

– Puxa vida, estou realmente muito empolgada, com esta grande oportunidade, agradeço por confiar e<br />

compartilhar isso comigo!<br />

O empresário puxou a alavanca da estante de livros, e abriu novamente o pequeno cômodo, onde se<br />

escondia aquela preciosa raridade, e ao perceber todo o entusiasmo da colecionadora, aguardou por um<br />

breve momento, e depois lhe mostrou a fenda central da caixa, explicando que o pingente chamado de<br />

marca, era um tipo de chave que a abria, mas que havia sido roubado por Alba, e diante destes novos<br />

fatos, Marina acabou pedindo um tempo, para poder assimilar todo este evento.<br />

Do outro lado da cidade, Jorge o pai de Letícia, havia ido ao banco em busca de informações, e para<br />

isso, marcou uma reunião com uma supervisora, e com a gerente das contas de sua família, onde<br />

descobriu que alguns cartões da filha, haviam sido movimentados recentemente, para compras em alguns<br />

estabelecimentos comerciais, localizados nos arredores de uma cidade, do estado do Colorado nos<br />

Estados Unidos, era um indicio concreto, de que alguém estava se utilizando dos créditos, e do saldo<br />

desta conta.<br />

Depois de uma longa pausa, Marina sugeriu a Nathan, que se fizesse uma tentativa de uma cópia, que<br />

pudesse ser similar ao pingente do colar, mas para isso ela precisaria de sua autorização, para poder levar<br />

a caixa dourada até o Antiquário, onde além de ter as ferramentas necessárias, mantinha em seus<br />

arquivos aquela imagem com a marca.<br />

Ele teve muitas dúvidas a este respeito, porque até agora havia sofrido diversas traições, e estava<br />

confuso em relação em quem confiar, ainda mais por se tratar de uma peça preciosíssima, e também de<br />

alta periculosidade, no caso de cair em mãos erradas.<br />

Como o empresário tinha um compromisso na empresa, não poderia acompanhar este processo de<br />

perto, e decidiu se arriscar com a colecionadora, e a autorizou a manipular a chave da relíquia,<br />

recomendando toda a cautela necessária, reforçando o pedindo que o aguardasse, caso obtivesse<br />

sucesso com a cópia.<br />

Auxiliado pelo chefe dos seguranças, eles colocaram aquela enorme peça, no maior porta malas que<br />

encontraram na garagem, e cedeu um dos carros com dois seguranças, para que a colecionadora, se<br />

deslocasse da mansão até o seu destino, e ela agradeceu por esta imensa oportunidade.<br />

Enquanto isso no Rio de Janeiro, Talita terminava de arrumar sua exposição, onde pretendia receber<br />

muitos convidados, principalmente os que apreciavam pinturas abstratas, esperando poder faturar uma<br />

boa comissão, para poder comprar a sua parte do apartamento, ela estava mesmo decidida a se separar<br />

da namorada.


229<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Bianca já não tinha tantos recursos para isso, pois vivia de seu salário como secretária da diretoria, e<br />

quando vendeu seu apartamento em São Paulo, deu o dinheiro e parte de suas economias, para a sua<br />

metade do novo imóvel, juntamente com aquela que seria sua companheira, mas que rompeu o<br />

relacionamento, assim que soube de sua gravidez, onde não queria que contasse o fato, ao verdadeiro pai<br />

que era Murilo.<br />

Ela havia pensado por várias vezes, em ligar para ele contando toda a verdade, porém tinha um grande<br />

receio da rejeição, por tê-lo trocado friamente, quando ele se declarava totalmente apaixonado, e<br />

acreditava que isso seria imperdoável.<br />

Por falar no presidente do grupo, Murilo já tinha acertado todos os detalhes da reunião, e estariam<br />

presentes a esta conferencia emergencial, seu novo assessor Diego, o advogado Arthur, o diretor<br />

internacional Carlos Renato, e logicamente Nathan, dono de todo este aglomerado de empresas, que já<br />

havia chegado à sede.<br />

Não é preciso dizer que todo este local, estava previamente cercado de seguranças, sendo que a<br />

maioria dos funcionários, haviam sidos dispensados um pouco mais cedo, pois quanto menos pessoas<br />

presentes no prédio, mas fácil seria a identificação de algum suspeito, ainda mais sabendo que a<br />

organização criminosa, tinha gente espalhada pelos quatro cantos do mundo, e assim que tudo foi<br />

ajustado, o empresário deu início a reunião.<br />

– Muito obrigado a todos por terem vindos, eu creio que não conheço ou não me lembro, de alguns dos<br />

que estão presentes aqui, por isso peço que me perdoe por esta falta.<br />

Murilo desejando o inteirar do quadro atual, foi lhe apresentando uma a um.<br />

– Não se preocupe com este detalhe, vou apresentar um novo integrante do grupo, o nome dele é Diego,<br />

que é o meu assessor e braço direito.<br />

– É uma honra trabalhar com o senhor, sempre ouvi falar grandes coisas de seu grupo!<br />

– Seja bem-vindo as empresas, e espero que todos estes acontecimentos, não abalem sua fé em nós<br />

todos!<br />

– É para lidar com este tipo de situação, que estamos aqui reunidos hoje, vamos tentar reverter as<br />

coisas a nosso favor.<br />

Com um leve sorriso no rosto, Nathan parece ter obtido, uma boa impressão a seu respeito.<br />

– Gostei de você, de minha parte já está aprovado!<br />

Após este comentário agradável, o atual presidente do grupo, deu prosseguimento com as<br />

apresentações.<br />

– O outro integrante presente, além é claro de nosso advogado Arthur, é o novo diretor de assuntos<br />

internacionais, que aliás, foi muito competente, e nos trouxe importantes informações e documentos, que<br />

foram levantados recentemente em Londres, lhe apresento Carlos Renato.<br />

– É um enorme prazer mesmo, não deve se lembrar de mim, nós nos conhecemos quando eu trabalhava<br />

em Nova Iorque, em uma das filiais do grupo.<br />

– O prazer é todo meu, e peço desculpas por não me recordar, mas vamos ao que nos trouxe até aqui,<br />

me relatem tudo o que descobriram, e depois tomaremos as atitudes necessárias!<br />

E assim prosseguiu a reunião, onde era relatada todas as movimentações de contas, que se referiam<br />

aos diversos desvios de verbas, apontando também como provável cúmplice, o ex-diretor já falecido


Vasques, que mantinha em uma gaveta de sua mesa, uma agenda de couro preta, contendo diversas<br />

informações, inclusive referentes a vários depósitos.<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Enquanto isso nas dependências do condomínio, Leonardo, que naquela tarde se sentia bem, mesmo<br />

após ter feito no dia anterior, a sua sessão de quimioterapia, resolveu dar uma volta pelo jardim, e acabou<br />

dando de cara com Vanessa, que também descia a rampa de acesso, o garoto aproveitou para puxar<br />

assunto.<br />

– Dizem por aí, que você proibiu as pessoas de conversarem contigo, mas posso pelo menos falar um<br />

oi?<br />

– É isto mesmo o que pensam de mim, eu apenas evito falar com eles, porque insistem no assunto<br />

sobre o meu problema, e eu já fugi até mesmo de minha família, justamente porque eu detesto que<br />

tenham piedade, agora entendo porque você se aproximava em silêncio, achei que era porque também<br />

estava doente, e queria apenas se manter na sua!<br />

– Na verdade é bem assim mesmo, mas não vamos falar de coisas ruins hoje, venha dar uma volta<br />

comigo, só lhe peço que confie em mim, e me acompanhe.<br />

Por ter abandonado o tratamento, os cabelos de Vanessa já haviam crescido novamente, enquanto<br />

Leonardo, já sentia o seus caírem aos poucos, mas isso não abalava a sua fé em vencer a doença, e<br />

depois de dar mais alguns passos, o rapaz pegou em sua mão, notando que ela usava luvas naquele<br />

dia, justamente para tentar esconder a sua fragilidade, e assim a levou delicadamente até o jardim, onde<br />

juntos deitaram e fecharam os olhos, fazendo de conta, que viviam em uma outra realidade.<br />

230


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 54 •<br />

Naquela Tarde acontecia uma outra reunião, se tratava do advogado de Militão e Situação, que havia<br />

sido contratado por suas famílias, para defendê-los da acusação de cúmplices de assassinato, no caso do<br />

garoto Nicolas.<br />

Ele argumentava veemente como o delegado Siqueira, sobre um relaxamento efetivo de suas prisões,<br />

alegando que até o momento em que entregaram o rapaz, nas mãos de seu verdadeiro assassino, ele não<br />

havia sofrido nenhum tipo de agressão, e como ele trazia consigo um documento de soltura, o oficial não<br />

teve como negar a petição.<br />

Após o documento ser encaminhado ao diretor do presídio, os dois detentos foram liberados<br />

imediatamente, e foram recebidos do lado de fora por alguns familiares, que os acompanharam até as<br />

suas casas na favela, mas eles ainda temiam por represálias por parte de Otto, que acabou sendo<br />

incriminado por conta de uma caderneta, porém não tinham outra alternativa, a não ser de encarar o que<br />

vinha pela frente.<br />

Voltando a reunião no grupo Etros, todos já haviam analisado os documentos apresentados, cabia agora<br />

juntar todas as conclusões e opiniões, para tentar entender todas estas transações, que tinham a<br />

finalidade compulsiva, de fraudar os caixas das empresas, e quem tomou frente para debater a questão,<br />

foi o diretor de assuntos internacionais.<br />

– Peço a palavra para o presidente, para expor o meu entendimento, ressaltando que algumas destas<br />

conclusões, foram feitas antecipadamente por especialistas monetários, e por um agente experiente da<br />

Interpol, sendo que outras são de minha própria opinião.<br />

– Você tem a permissão de expor suas conclusões!<br />

– Bem, vamos começar pela primeira transferência bancária, que foi realizada por um dos sócios da<br />

empresa imobiliária, o senhor Caio Green Ville, mas até neste ponto não houve nenhuma irregularidade,<br />

porque a quantia que foi transferida, saiu de uma de suas contas pessoais, e segundo o levantamento feito<br />

aqui mesmo na sede, era um dinheiro de dois imóveis que havia vendido, e que pertenciam realmente a<br />

ele.<br />

Nathan interveio, e quis saber mais detalhes de seu sócio:<br />

– Isto o isenta dos outros depósitos realizados?<br />

– Exatamente, mesmo o destino final sendo o mesmo, havia uma outra pessoa aqui de dentro, que<br />

continuou a enviar valores mensais, através de outras contas se utilizando de laranjas, acreditando assim<br />

que poderiam despistar a todos.<br />

Com a agenda do ex-presidente em mãos, o advogado Arthur apresentou a sua conclusão, e falou<br />

abertamente a todos:<br />

– Pelo que eu entendi, as anotações na agenda de Vasques, são exatamente os mesmos números<br />

destas contas, isso nos leva a crer, que era ele mesmo quem efetuava os desvios, isto está correto?<br />

Carlos Renato juntou os papeis, e apontando para um deles, confirmou:<br />

– Isso mesmo, o nome dele acabou aparecendo apenas uma única vez, e foi exatamente naquele dia do<br />

atentado, seguido de seu assassinato, onde ele abriu uma conta nas Ilhas Cayman, certamente ele<br />

aguardava algum depósito de grande valor, mas isso não acabou acontecendo.<br />

Nathan pediu um minuto, olhou os papeis que haviam chegado da Inglaterra, e concluiu:<br />

231


– O que está parecendo, é que o Caio deve ter comentado, ou até mesmo pedido ajuda ao Vasques,<br />

quando era chantageado por esta quadrilha, e acredito ser muito provável, que acabou envolvido com<br />

estes criminosos, concorda Murilo?<br />

– Também acho, ele sempre despertou em todos por aqui, algum tipo de aversão a sua pessoa, mas<br />

nunca passou pela cabeça de ninguém, este tipo de suspeita.<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

O diretor Carlos Renato, ouviu atentamente os seus superiores, e depois selecionou um documento, que<br />

havia sido previamente escrito por ele, e vendo que tinha a atenção de todos, procurou ler em voz alta.<br />

– A conclusão final, é de que todo este dinheiro, foi lavado em um cassino no território americano, mais<br />

precisamente em Denver no Colorado, por uma quadrilha especializada em estelionatos, e na minha<br />

opinião, são de alta periculosidade!<br />

Nathan achou viável expor a todos, o que já sabia com antecedência, e falou diretamente para Arthur:<br />

– Eu penso que estamos entre pessoas de confiança, por isso, vou revelar uma informação muito<br />

importante, o Jorge que é o pai da Letícia, descobriu através de sua agência bancária, que a conta da<br />

filha, está sendo saqueada aos poucos, e justamente nesta mesma região.<br />

– Mas se isso é verdade, já deveriam ter me comunicado imediatamente, porque se faz necessário o<br />

acionamento das autoridades!<br />

– Isso já foi providenciado pela sua família, e eu não queria tirar o foco desta nossa reunião, porque eu<br />

tinha quase certeza, de que eram os mesmos criminosos.<br />

Atento a todos estes detalhes, Carlos Renato expôs a sua sugestão:<br />

– Senhor Nathan, creio que podemos dar uma acelerada neste processo, se me autorizar é claro, eu<br />

entro em contato com um amigo meu de Nova Iorque, que trabalha internamente no FBI, que certamente<br />

tomará as providências necessárias, quer que eu faça este contato?<br />

– O que acha Raul?<br />

– Eu acho que é uma grande ideia, e caso decida por esta opção, eu me encarrego de comunicar a<br />

polícia federal, não devemos deixá-los de fora desta situação.<br />

Diego que estava calado até então, resolver também dar a sua opinião:<br />

– Se permitem uma opinião pessoal, eu acredito que deveriam ter uma certa precaução, principalmente<br />

a quem repassar estas informações, porque pelo que me parece, eles sempre têm alguém infiltrado nestas<br />

áreas, eu acho senhor Nathan, que deveria ter cuidado com esta ação.<br />

– Você tem toda razão, assim sendo, eu autorizo a fazer esta denúncia ao FBI, e que se peça<br />

firmemente a eles, que tratem isso também como um sequestro, e que tenham muita cautela em suas<br />

ações, e quanto a avisar aos federais, vamos deixar isso para o dia seguinte, assim ganhemos algum<br />

tempo, já que há um fuso horário entre os dois países.<br />

Algumas horas depois da denúncia, o senhor Black que era o dono do cassino, vigiava de perto o<br />

movimento das mesas de jogos, e nem desconfiava que do lado de fora, já havia uma formação de um<br />

cerco policial, na tentativa de efetuar a sua prisão, e supostamente encontrar as vítimas do sequestro.<br />

Ao encerrarem a reunião no grupo, todos decidiram se unir a Nathan, que por causa dos últimos<br />

acontecimentos, resolveu retirar todos os moradores da mansão, e os hospedarem junto a ele em um<br />

hotel, inclusive a sua cozinheira Elvira, que já vivia com ele há bastante tempo.<br />

232


<strong>Caminhos</strong><br />

Para esta ação, o empresário ordenou a Murilo, que fizesse as reservas necessárias, e hospedassem<br />

todos no mesmo local, inclusive aqueles que se ofereceram, e pretendiam acompanhar o desfecho de<br />

todas as denúncias, realizadas por Carlos Renato ao FBI americano, também pediu para que os pais de<br />

Letícia, se juntassem a eles rapidamente.<br />

Mais tarde após todos se acomodarem, Murilo que havia reservado uma sala de eventos, que ficava no<br />

andar térreo do hotel, começou a receber todos os envolvidos na grande vigília, e contavam<br />

exclusivamente, com o amigo americano do diretor internacional, que prometeu acompanhar o caso<br />

pessoalmente, inclusive participando a paisana, de toda a operação que estava em andamento.<br />

Eleonora e Jorge estavam muito aflitos, principalmente por saber que os americanos, não costumavam<br />

negociar muito com criminosos, e temiam por uma invasão avassaladora dos agentes, caso encontrassem<br />

o cativeiro de sua filha, e tanto a mãe como o pai, insistiram sobre isso com Carlos Renato.<br />

– Por favor, peça para o seu amigo conversar com os policiais, para que não permitam machucar a<br />

minha filha!<br />

– Sei que ele já está fazendo muito por todos nós, mas pelo que sempre nós vemos pelos noticiários,<br />

eles costumam agir impulsivamente, e com isso há sempre um grande risco de mortes, poderia fazer-nos<br />

mais esta gentileza?<br />

O diretor se aproximou, e procurou olhar nos olhos de cada um, para poder exprimir a sua preocupação,<br />

e foi verdadeiro em suas palavras:<br />

– Dizer a vocês a esta altura dos acontecimentos, para que todos fiquem calmos, seria uma grande<br />

incoerência de minha parte, mas peço que mantenham a fé no trabalho destas pessoas, porque farão de<br />

tudo para encontrar sua filha, e certamente o sócio da empresa.<br />

Murilo demonstrando a sua imensa capacidade, comunicou aos presentes, uma ação que havia<br />

efetuado.<br />

– Eu também pedi para o nosso escritório em Nova Iorque, contratar um bom detetive particular, para<br />

acompanhar os agentes nesta investigação, e através de uma indicação de nosso advogado local, eles<br />

conseguiram os serviços de um aposentado do próprio FBI, que além da experiência em casos como este,<br />

tem um tipo de respeito e autoridade, perante os demais envolvidos na ação.<br />

Nathan e Arthur, aprovaram instantaneamente a sua ação.<br />

– Que brilhante ideia que teve, com isso teremos mais tranquilidade, sabendo de antemão, que temos<br />

dois homens nossos, juntos a esta equipe de resgate, concorda Arthur?<br />

– Realmente foi uma interversão fundamental, certamente haverá um grande equilíbrio nestas ações, e<br />

são enormes as chances de tudo terminar bem!<br />

Iris passou pelo local, e deu uma grande força a todos, mas precisou se retirar indo para o hospital, onde<br />

acompanhava de perto o marido, que ainda estava internado na UTI, porém Raul, já estava ficando<br />

consciente, e insistiu em dizer repetidamente uma palavra: "rastrear telefone".<br />

Logo que ela chegou à recepção, procurando pelo último boletim médico, foi procurada por um dos<br />

médicos dele, que lhe passou esta importante informação, lhe contando desta insistência do marido, em<br />

dizer por muitas vezes a frase em questão.<br />

A mãe de Gabriel era muito inteligente, e não tardou para entender o recado do marido, e sem perca de<br />

tempo, ligou para o celular de Nathan, que imediatamente contou ao advogado Arthur, e este por sua vez,<br />

agindo com toda experiência e conhecimento de causa, entrou em contato com um delegado federal, lhe<br />

233


<strong>Caminhos</strong><br />

contando tudo sobre esta grande operação, e lhe pediu ajuda para rastrear, todas as últimas ligações, que<br />

foram realizadas no telefone fixo da mansão.<br />

Enquanto isso no Colorado, os policiais e os agentes envolvidos na operação, invadiram o cassino Poker<br />

Black, evacuando com extrema cautela, todas as pessoas que ali estavam jogando, e iniciou prisões dos<br />

que acreditavam serem suspeitos, começando pelos supervisores das mesas, chefes das bancas, e<br />

principalmente o dono do cassino, o senhor Austin Black.<br />

Sendo o principal alvo desta missão, ele foi imediatamente levado até uma van preta, onde se iniciou os<br />

primeiros interrogatórios, a respeito dos dois brasileiros sequestrados, e obviamente negou o seu<br />

envolvimento, alegando não saber nada sobre este assunto, e insistindo na presença de seu advogado.<br />

Simultaneamente no hotel em terras brasileiras, todos eram informados pelos seus dois homens<br />

implantados, que passavam a eles todos os passos, do que acontecia nos arredores do cassino, inclusive<br />

da prisão do principal suspeito, de todas as operações de desvios e do sequestro, no qual acreditavam ser<br />

ele o chefe, que comandava todos os crimes, inclusive do atentado a bomba.<br />

Já era tarde da madrugada, quando o celular de Arthur tocou, era o delegado federal o notificando, sobre<br />

o resultado do levantamento telefônico, das contas dos últimos dois meses, que foram pedidas pelo<br />

advogado, onde constava apenas uma ligação diferenciada, que era justamente para os Estados Unidos.<br />

Imediatamente o número do telefone, foi repassado para o investigador contratado, e este sem perca de<br />

tempo, iniciou juntamente com as autoridades presentes, o rastreamento que indicaria o local da chamada,<br />

e assim ficaram aguardando estas informações.<br />

Não tardou muito em localizarem o número, e por se tratar de uma área perto do local, rapidamente uma<br />

grande parte dos policiais, se deslocou até uma pequena fazenda, sendo que ao invadi-la, não avistaram<br />

nenhum dos criminosos, mas encontraram a professora Letícia, que estava amarrada em um quarto<br />

escuro, e enquanto os agentes tomavam algumas providências, inclusive o seu atendimento médico, o<br />

amigo de Carlos Renato, e o investigador aposentado, se abraçaram fortemente comemorando, por terem<br />

encontrado a moça com vida.<br />

234


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 55 •<br />

No Brasil, todos acompanhavam na sala de eventos, o desfecho desta perigosa ação dos policiais, e<br />

houve muita tensão entre eles, principalmente dos pais de Letícia, quando o amigo de Carlos Renato por<br />

telefone, os avisou sobre a invasão dos agentes na fazenda, foram minutos intensos e pareciam infinitos,<br />

até que ele voltou a se comunicar com ele:<br />

– Encontraram a moça, repito, encontraram a moça!<br />

– Está vendo ela, tudo bem com a Letícia?<br />

– Aparentemente está consciente, e não apresenta ferimentos graves, e neste exato momento, estão<br />

chamando pelos paramédicos, mas não acharam o rapaz, ele não se encontra neste local, eu creio que<br />

está tudo sob controle, e a moça me parece estar realmente bem!<br />

Ao ouvir estas últimas palavras pelo viva-voz, houve uma grande comemoração de todos os presentes,<br />

onde se abraçavam ente lágrimas e sorrisos, sendo que Carlos Renato era o centro dos agradecimentos,<br />

pois o diretor foi extremamente competente, ao agilizar a denúncia aos agentes americanos.<br />

Mas quanto a encontrar o cativeiro de Letícia, este crédito foi todo para a conta de Raul, e vejam como<br />

são as coisas, em um determinado momento, parecia que ele se perderia novamente na bandidagem, e de<br />

uma hora para outra, se transformara no herói que salvou Nathan, dos tiros que Alba disparou contra ele,<br />

e agora havia dado a precisa informação, sobre a ligação feita na casa pela bandida.<br />

Para que tudo fique bem esclarecido, Alba sempre fazia ligações para o seu chefe, de seu próprio<br />

celular, se utilizando de um segundo chip, que só colocava em seu aparelho, quando necessitava falar<br />

com seu mandatário, assim não corria o risco de receber ligações, onde alguém poderia desconfiar de<br />

algo, mas houve um dia, em que a rede estava fora do ar, e como precisava se comunicar urgentemente,<br />

efetuou a ligação do telefone fixo da mansão, sendo vista por Raul, que escondido ouviu uma parte da<br />

conversa.<br />

Eleonora deu um longo abraço em Nathan, seguido por um forte aperto de mãos de Jorge, ambos<br />

estavam muito emocionados, e aguardavam agora o desfecho de todos os fatos, inclusive notícias sobre a<br />

saúde de Letícia, para depois tomarem algumas providências, eles tinham firmemente a intensão de<br />

embarcarem, o mais rápido possível para os Estados Unidos.<br />

Imediatamente, o empresário se ofereceu para acompanhar o casal, porém mantendo<br />

o equilíbrio necessário, que toda esta situação dispensava, o advogado fez uma pequena interversão, o<br />

chamando para conversar em particular.<br />

– Desculpe lhe atrapalhar neste momento importante, mas tenho que lembrar ao senhor, que por estar<br />

sob investigação da polícia federal, não poderá deixar o país sem uma prévia autorização.<br />

– Tem toda a razão, por um momento me esqueci deste empecilho, acha que consegue agilizar algum<br />

tipo de liberação?<br />

– Acredito que sim, mas deve demorar pelo menos uns dois dias, farei o que for possível!<br />

– Por favor, conto mais uma vez com a sua máxima competência, mas parece que algo lhe incomoda,<br />

existe mais alguma coisa que queira me contar?<br />

– Eu deveria aguardar por uma outra ocasião, mas como acontece uma coisa atrás da outra, acredito<br />

que não fará diferença mesmo, então lá vai mais uma bomba, acharam os corpos dos tripulantes do iate,<br />

eles foram brutalmente assassinados, e enterrados em uma propriedade perto de Angra, e somente ontem<br />

foram encontrados por pescadores locais.<br />

235


236<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Que fatalidade, com isso segue o rastro de mortes ao meu redor, estou farto de tantas pessoas<br />

perderem suas vidas, tão somente pela ganância e busca desenfreada, destes objetos antigos de minha<br />

coleção, eu preciso dar um término a esta loucura!<br />

– Se isso lhe faz sentir melhor, já pedi para o meu sócio no escritório de advocacia, cuidar das<br />

indenizações e despesas de cada um, e logicamente dar toda a assistência às famílias.<br />

– Eu agradeço muito, façamos pelo menos a nossa parte, mas sei que nada fará mudar o que ocorreu,<br />

mas agora eu preciso avisar para a Iris, que encontraram a Letícia para tranquiliza-la, além disso,<br />

perguntarei sobre o estado de Raul.<br />

– Ele teve um papel fundamental nos últimos acontecimentos, eu ainda não tive a oportunidade de lhe<br />

contar, mas antes daquele tiroteio na biblioteca, ele me ligou avisando dos planos que a Alba tinha, de<br />

esvaziar a casa com o boato da bomba, e de roubar algumas peças de sua propriedade, e fez questão de<br />

mencionar, de que havia se envolvido com ela, e quando percebeu já estava no meio desta lama toda.<br />

– Não sabia deste fato, foi por isso que você e aqueles policiais fizeram, aquela interversão na<br />

biblioteca?<br />

– Isso mesmo, ainda bem que chegamos a tempo de salvar a sua vida, e tudo isso pela ligação que o<br />

Raul me fez, ele tem ajudado e muito!<br />

O empresário ficou surpreso com esta informação, e o pai de Gabriel ao poucos, ia modificando toda<br />

aquela má impressão, que havia se bandeado para o lado da organização, e a esta altura tinha toda a sua<br />

admiração, mas a conversa foi interrompida por Murilo, que recebeu uma ligação do investigador<br />

contratado, dizendo que Letícia já havia chegado no hospital, e que mesmo estando muito debilitada, por<br />

causa dos maus tratos recebidos, estava completamente sã e salva, e isso foi um alivio para todos.<br />

Em Nova Iorque, Heloise foi avisada das ações do FBI, e apesar de quase ninguém saber de seu<br />

envolvimento, ela temia por uma deleção por parte do senhor Black, pois era o único a saber, sobre a sua<br />

verdadeira identidade, sendo assim, imediatamente se retirou em fuga, e Parker que era seu fiel protetor e<br />

amante, achou prudente que eles se retirassem do país.<br />

A reunião no hotel havia chegado ao seu final, e na sala de eventos só restavam três pessoas, que eram<br />

Nathan, Murilo, e Arthur, e vendo que parte da situação já tinha se resolvido, o prestativo advogado se<br />

despediu de ambos, e foi para casa.<br />

Ao mencionar se precisava de algo mais, Murilo ia se despedindo do patrão, quando este perguntou por<br />

Marina e Duarte, pois ele já havia percebido de antemão, que eles estavam bem próximos nos últimos<br />

dias, sem falar também, que estava curioso em saber se a colecionadora, lhe disse algo sobre a caixa<br />

dourada, ao qual levou para o Antiquário, e com jeito lhe perguntou:<br />

– Tem notícias se o Duarte está bem, e se ele já recebeu a alta?<br />

– Agora que tocou neste assunto, me lembrei que hoje já é quinta-feira, e a Marina me disse, que ele<br />

receberia alta na sexta, neste caso deve sair amanhã do hospital!<br />

– E a Marina, tem tido notícias dela?<br />

– Temos nos falado pouco estes últimos dias, eu por esta correria com os assuntos da empresa, e<br />

também no apoio a todo este caso, enquanto ela, parece estar fazendo algum tipo de pesquisa, coisas do<br />

trabalho dela.<br />

– E ela lhe disse alguma coisa, do que se tratava este trabalho?<br />

– Eu até que perguntei sobre esta questão, tentando demonstrar um interesse em ajudar, caso ela


<strong>Caminhos</strong><br />

precisasse de algo, mas se esquivou rapidamente do assunto, eu creio que deva ser algum assunto<br />

relacionado, com o que vem acontecendo a eles dois, mas porque a pergunta, sabe se ela está com algum<br />

tipo de problema?<br />

– Na verdade ela está trabalhando para mim, eu lhe pedi para me ajudar com uma peça, que faz parte<br />

da minha coleção antiga, mas como você mesmo acabou de dizer, com tudo o que aconteceu estes dias,<br />

já não fazemos contato há algum tempo.<br />

– Eu até estava pensando em ligar para ela, mas já é muito tarde, e provavelmente já deve estar<br />

dormindo, passarei bem cedo amanhã no hospital, e verificarei se realmente o seu pai vai ter a alta, e lhe<br />

comunico tudo assim que puder, deseja dar algum recado para ela?<br />

– Não é preciso, faz da maneira que me falou, verifica tudo e me avisa, ok?<br />

– Ok, combinado!<br />

Ao contrário do que pensavam, a colecionadora estava acordada no Antiquário, e trabalhava<br />

intensamente em busca de manipular, uma peça semelhante ao pingente da marca, ao qual juntamente<br />

com o empresário, tentariam substitui o objeto roubado por Alba.<br />

Por falar na bandida, ela estava viajando nos últimos dias, clandestinamente de país a país, procurando<br />

evitar os principais aeroportos, por ser uma foragida procurada pela polícia, e por ser uma criminosa<br />

habilmente treinada e preparada, sempre tinha um plano B para suas fugas, onde mantinha em um<br />

armário alugado, dinheiro, documentos, e passaportes falsos, pois havia deixado suas coisas na mansão,<br />

quando fugiu na noite do tiroteio.<br />

Por não conseguir falar com o seu suposto chefe, já que ela não sabia da sua verdadeira identidade,<br />

enviou vários torpedos de mensagens a Heloise, comunicando que havia obtido parcial sucesso, e que<br />

estava de posse do precioso objeto, mas mesmo assim, estava totalmente temerosa, com receio<br />

de represálias por parte da organização.<br />

A noite entrou madrugada adentro, logo que terminou a conversa, Murilo retornou ao seu apartamento, e<br />

Nathan foi para o seu quarto no hotel, e ambos carregados de emoções e preocupações, exaustos por<br />

mais um dia complicado em suas vidas, caíram em um sono profundo, aguardando o novo dia chegar.<br />

Amanheceu uma sexta-feira ensolarada, e logo bem cedo o presidente do grupo, chegou no hospital e<br />

soube através de Marina, que Duarte havia mesmo recebido a alta, e com receio de acordar Nathan, lhe<br />

enviou uma mensagem de voz, deixando-o a par de tudo, conforme fora combinado na noite anterior.<br />

O Empresário também caiu da cama muito cedo, e logo que recebeu o recado, retornou de imediato a<br />

ligação.<br />

– Bom dia Murilo, acabei de receber a sua mensagem, a Marina deve estar aí ao seu lado, posso falar<br />

com ela?<br />

– Bom dia patrão, só um instante, Marina é o Nathan, ele quer falar com você, vou sair e deixar vocês<br />

conversarem!<br />

– Obrigado, oi Nathan tudo bem?<br />

– Vou seguindo minha sina, eu fiquei sabendo há pouco pelo Murilo, que seu pai recebeu alta, estou<br />

muito feliz por vocês!<br />

– Eu também estou super feliz, por ele ter conseguido escapar desta, mas nós dois temos que manter os<br />

pés no chão, porque ainda temos muitas lutas pela frente!<br />

237


– Tem a ver com vocês estarem preocupados, com um possível revide da organização criminosa?<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Também, mas não é somente com isso, tem as questões de nosso dinheiro e bens bloqueados, e já<br />

que não podemos retornar com segurança a nossa casa, ainda não sei o que vamos fazer, eu estou<br />

entrando e saindo escondida do antiquário, mas de maneira alguma o levo para lá!<br />

– Se não houvesse riscos a vocês dois, eu os hospedaria com prazer em minha mansão, porém eu<br />

retirei todos os moradores da propriedade, pelo perigo que todos corremos por conta destes criminosos,<br />

mas façamos o seguinte, vou ver a disponibilidade do hotel em que estamos, e já lhe retorno.<br />

Ele nem deu chances da moça negar a ajuda, e desligou rapidamente, e após acertar todos os detalhes,<br />

de um quarto para ela e o pai na recepção, se dirigiu até a entrada do hotel, e muito bem vestido de terno<br />

e gravata, ficou aguardando pelo advogado Arthur, aonde juntos iriam até a casa de um juiz, para lhe<br />

pedirem um favor especial, que era uma permissão temporária, para que o empresário pudesse sair do<br />

país, e visitar Letícia no hospital.<br />

238


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 56 •<br />

Jorge e Eleonora, haviam conseguido comprar as passagens, e embarcaram em um voo comercial para<br />

Denver, era nítido seus semblantes carregados de ansiedade, afinal Letícia além de ser a única filha do<br />

casal, era muito amada e querida, por sempre ter se dado muito bem com seus genitores.<br />

Dulce e Amanda se encontravam na Ong, quando receberam o aviso deles sobre a viagem, através de<br />

uma mensagem de texto, isso porque saíram bem cedo do Brasil, e acreditaram não ser necessário as<br />

acordarem, para tão somente comunica-las do feito, mas ambas estavam radiantes de felicidade, por<br />

saberem que a amiga estava bem e segura.<br />

Com sua pontualidade Britânica, Arthur pegou Nathan na porta do Hotel, e juntos se dirigiram até uma<br />

casa no Morumbi, onde morava seu grande amigo de trabalho, se tratava do Juiz Cesar de Holanda, que<br />

já os aguardava em seu pequeno escritório, que ficava em sua própria residência, e assim que chegaram<br />

ao local, foram bem recebidos por ele.<br />

– Sejam bem-vindos ao meu humilde escritório, por favor sentem-se!<br />

– Cézinha muito obrigado por nos receber, este aqui é o meu cliente Nathan, e como eu já lhe havia dito<br />

anteriormente, ele precisa de uma autorização oficial, para poder deixar o país legalmente, e visitar sua<br />

noiva que está no hospital, em Denver nos Estados Unidos.<br />

– Sim, eu já me inteirei de todo o caso dele, e lhes afirmo com todas as letras, que certamente lhe<br />

concederei este documento, porém se faz necessário apresenta-lo as autoridades, para somente depois,<br />

dar sequência a sua pretendida viagem.<br />

Nathan sorriu imediatamente, e com muito respeito, se dirigiu a autoridade:<br />

– Eu nem sei como agradecer o senhor, por estar me prestando este grande favor!<br />

– Na verdade, trata-se também de se fazer a justiça, e o Arthur sabe muito bem sobre o meu trabalho, e<br />

se por um segundo sequer, eu percebesse que não era inocente das acusações, a probabilidade de lhe<br />

conceder a minha assinatura, seria zero consequentemente!<br />

O advogado concordou com a sua colocação, e não dispensou elogios ao juiz.<br />

– Se tivéssemos mais homens como você, sem dúvida alguma, teríamos julgamentos mais lícitos, e<br />

certamente, a justiça seria aplicada em todo o seu contexto, e como podemos gratifica-lo por este serviço<br />

prestado, que foi fora de seu horário habitual?<br />

– Desconta daquele trabalho que realizou para o meu sobrinho, e que nunca quis me cobrar por ele,<br />

quem sabe um dia chegaremos a um termo, não é?<br />

– Só você mesmo Cézinha, neste caso então vamos indo, porque meu cliente tem urgência em viajar,<br />

depois a gente tira um dia para conversar, e para relembrar os velhos tempos da juventude, obrigado por<br />

tudo!<br />

Rapidamente foram até a sede da polícia federal, com a carta assinada pelo juiz, que dava plenos<br />

direitos ao empresário, de poder se ausentar por um tempo determinado, que seriam apenas de três dias,<br />

porque além dos efeitos burocráticos de nosso sistema, a lei americana também mantinha restrições,<br />

quanto a envolvidos em algum tipo de processo criminal.<br />

Assim que conseguiram os papéis, e todas as autorizações necessárias, foram até o consulado<br />

americano, onde também sem dificuldade alguma, realizaram a liberação de seu passaporte, restava<br />

agora somente, reservar as passagens dele e do advogado, para finalmente ir ao encontro de sua amada<br />

239


<strong>Caminhos</strong><br />

noiva, contudo, ele estava bem chateado por dentro, porque enquanto ela sofria com os maus tratos, ele<br />

acreditava que ela o havia traído, imaginando um turbilhão de coisas negativas a seu respeito.<br />

Sentia também muita preocupação com Caio, que ainda estava desaparecido, e reforçou a Arthur, e<br />

também ao diretor internacional, que ficassem em contato com o FBI e a Interpol, pedindo uma solução<br />

rápida desta questão, e para que fizessem de tudo para encontrar o seu amigo.<br />

Depois de resolvido todas estas questões, havia mais uma a resolver, se tratava da recusa de Duarte em<br />

ficar no hotel, pois ele se sentia extremamente envergonhado, por ter participado de alguns fatos<br />

relacionados, com ações que a organização praticou contra Nathan, e mesmo todos tendo ciência de que<br />

foi involuntário, e que não sabia do plano por trás de sua pesquisa, não podia ficar ali debaixo do mesmo<br />

teto.<br />

Ao saber deste fato, o empresário compreendeu o lado do colecionador, e com muita determinação e<br />

inteligência, ligou para Murilo que se encontrava na empresa.<br />

– Murilo, bom dia de novo, preciso que levante uma informação para mim, verifique se temos mais<br />

alguma propriedade, que seja bem afastada e próxima ao mar, sem ser aquela de Angra dos Reis, eu tive<br />

uma ideia, e creio que pode dar certo, veja rapidamente isso para mim, e depois lhe dou mais detalhes a<br />

respeito.<br />

– Pode deixar, eu preciso de pelo menos uma hora, e assim que obtiver algum resultado, eu lhe<br />

comunico imediatamente.<br />

Não tardou muito e o presidente do grupo, retornou a ligação para o patrão, informando de uma outra<br />

propriedade, localizada bem distante de São Paulo, e que se situava em Maragogi no Alagoas, onde<br />

também mantinham caseiros e infraestrutura, para receberem hóspedes em qualquer época do ano, e<br />

sendo assim, Nathan lhe contou a sua brilhante ideia, de levar para lá Marina e o seu pai.<br />

Pediu também para que ele pessoalmente cuidasse, de preparar o jatinho da empresa, e de levá-los do<br />

hospital ao aeroporto, e insistiu veemente, para que o rapaz fosse juntamente a eles, lhe concedendo o<br />

resto do dia de folga, e por já se tratar de ser uma sexta-feira, teria o final de semana para descansar, e<br />

assim unir o útil ao agradável, e muito feliz com a solicitação e o convite, Murilo iniciou imediatamente,<br />

todos os preparativos com a viagem.<br />

No caminho de volta do consulado, o empresário aproveitou a carona do advogado, e deu uma passada<br />

em outro hospital, onde estavam Iris e Elvira, que conversavam com o médico de Raul, e assim que<br />

terminaram, foram até o encontro deles na sala de espera.<br />

– Que bom que veio, acabei de falar como o doutor, e ele disse que o meu Raul, já vai para o quarto no<br />

final tarde, e que se recupera muito bem das cirurgias!<br />

– Ótimas notícias, parece que as coisas estão se clareando, se faz preciso mantermos os nossos<br />

pensamentos positivos, para que esta onda de acontecimentos ruins, se afastem definitivamente de<br />

nossas vidas, e assim eu espero, mas se a Elvira está aqui com você, o Gabriel ficou com quem no hotel?<br />

– Não se preocupe patrão, eu o levei para a Ong bem cedinho, o motorista novo que o senhor pediu<br />

para contratar, já começou hoje mesmo, e está sendo muito útil para nós, e quanto ao garoto, ele ficará<br />

bem nas mãos das professoras de lá!<br />

– Tenho certeza disso, mas agora que estou mais tranquilo com estas notícias, vou retornar a mansão<br />

para pegar algumas roupas, estou indo para Denver nos Estados Unidos, consegui uma autorização para<br />

ir ver a Letícia.<br />

– E como ela está, tem notícias recentes dela?<br />

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<strong>Caminhos</strong><br />

– Por enquanto está segura e se recuperando, parece que ficou muito debilitada pelos maus tratos, e<br />

também pelas torturas que sofreu, e o Arthur vai me acompanhar nesta viagem, justamente para tratar<br />

diretamente com a polícia americana, sobre todo o andamento das investigações, inclusive sobre o<br />

desaparecimento de Caio, que não foi encontrado no cativeiro.<br />

Elvira aparentemente aborrecida, fez questão de prestar o seu apoio.<br />

– Tomara que o encontre bem e com vida, eu gosto muito daquele rapaz, sempre que podia, ele ia na<br />

cozinha conversar comigo, estou com muitas saudades dele!<br />

– Todos nós estamos, mas agora deixe-me ir, o Arthur ficou lá fora a minha espera!<br />

Iris se aproximou do amigo, deu-lhe um abraço bem forte, e se despediu com algumas recomendações.<br />

– Manda um abraço meu para o Arthur, e desejo boa sorte a vocês dois, tomem muito cuidado por lá, e<br />

assim que a Letícia puder atender o telefone, diga que quero muito falar com ela!<br />

O empresário, também recebeu um longo abraço de Elvira, e partiu rapidamente para mansão, em<br />

busca de seus pertences, mas durante o trajeto, fez questão de ligar para Marina, e a orientou em levar a<br />

caixa dourada na viagem, juntamente com seus equipamentos, para que depois deste final de semana,<br />

voltasse a trabalhar na peça chave, na tentativa de abrir a antiga fonte de poder.<br />

Assim que retirou suas coisas da propriedade, que estava praticamente vazia, e contava com apenas<br />

dois seguranças na entrada, eles foram até a casa do advogado, onde também pegaram malas e<br />

pertences, segundo até o aeroporto de Guarulhos, onde embarcaram para Denver no Colorado, e a<br />

previsão de duração do voo, era cerca de quinze horas.<br />

Na sede do Grupo Etros, Murilo já havia tomado todas as providências da viagem, aonde iria com<br />

destino à paradisíaca Maragogi, juntamente com a colecionadora Marina, e seu velho pai Duarte, e com<br />

muita certeza, passariam um maravilhoso final de semana, longe de toda esta agitação da capital paulista,<br />

e para que tivesse o resto da tarde de folga, livre de preocupações com os assuntos da empresa, deixou<br />

seu assessor Diego a par de todas as coisas, e foi para o seu apartamento arrumar a bagagem.<br />

O mesmo aconteceu com Marina e Duarte, que foram levados de carro até o Antiquário, por alguns<br />

seguranças cedidos pela empresa, para que também pegassem seus pertences, e assim que todos<br />

estavam prontos, foram levados até Congonhas, onde Murilo já dentro do jatinho da empresa, já<br />

os aguardava para o embarque, e para a decolagem rumo ao estado de Alagoas.<br />

Marina e Duarte já acomodados confortavelmente, ficaram admirados com o luxo e o requinte da<br />

aeronave, mas o colecionador não pôde aproveitar todas as regalias, que foram oferecidas pela<br />

comissária de bordo, e por estar ainda tomando algumas medicações, não os acompanhou na requintada<br />

champanhe, que foram apenas servidas aos dois.<br />

A duração da viagem foi de duas horas e meia, e quando desembarcaram em Maceió, pegaram um<br />

carro alugado até o litoral norte, onde se localizava a cidade de Maragogi, e ambos ficaram maravilhados,<br />

pela paisagem e a beleza natural do lugar, por um momento até pareciam estar fora do Brasil, tamanha<br />

era a diferença da vida na cidade grande.<br />

Assim que chegaram à casa de praia, a primeira providência foi de acomodar Duarte no quarto, pois<br />

ainda se sentia fraco e cansado, mas assim que também ajeitaram suas coisas nos aposentos, Marina<br />

convidou Murilo para um passeio a beira mar, pois estava esperando ansiosamente por isto, desde que<br />

saíram de São Paulo, e o rapaz sorrindo aceitou prontamente, porém, como havia algumas dúvidas com<br />

relação a moça, resolveu tomar a coragem necessária, e aproveitou o momento para conversar com ela:<br />

– Foi uma grande ideia do Nathan, em nos enviar para este lugar maravilhoso, mas eu preciso lhe fazer<br />

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<strong>Caminhos</strong><br />

uma pergunta, porque tenho observado muito vocês dois, e me parecem bem mais íntimos nos últimos<br />

dias, sei que não é da minha conta, mas está tendo algum tipo de relacionamento com ele?<br />

– Que bom que perguntou, achei que não tocaria nunca neste assunto, mas fique sabendo que minha<br />

relação com ele, é apenas de âmbitos profissionais, mas é claro que me afeiçoei muito a ele,<br />

principalmente pela ajuda com o meu pai, mas é somente amizade e negócios, nada além disso!<br />

Ele se sentiu feliz e aliviado com a notícia, pois era claro o seu interesse por ela, tanto que Marina não<br />

pensou duas vezes, e acabou pegando em sua mão, e ambos sorrindo um para o outro, caminharam na<br />

areia molhada pelas águas do mar, observando aquele espetacular e lindo pôr do sol.<br />

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<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 57 •<br />

Na favela em São Paulo, o final da tarde também havia chegado, e as crianças da Ong começaram a<br />

serem dispensadas, e Otto que já sabia da ida de Gabriel, ficou observando todo o movimento do lado de<br />

fora, e sem que ninguém por ali percebesse, seguiu o carro até o seu destino final, que era o hotel em que<br />

estava hospedado, e ficou de olho até ver que Iris e Elvira, saíram para fora e pegaram o garoto, isto podia<br />

significar muita coisa, como por exemplo, a mansão completamente vazia.<br />

Sem perder tempo foi até a propriedade, e ficou por algumas horas observando todo o local, e tendo a<br />

certeza de que precisava, de que havia poucos seguranças na propriedade, começou a bolar seu plano de<br />

roubar todas as joias, dinheiro, e objetos de valor, ao qual pretendia lucrar e tirar grande proveito, mas ele<br />

ainda não sabia sobre terem encontrado Letícia.<br />

Quando retornou à comunidade, sua primeira providência foi enviar um recado, para que Militão e<br />

Situação, o encontrasse no esconderijo no dia seguinte, para tratarem de assuntos de seus interesses, e<br />

logicamente para pedir explicações sobre a caderneta, que o acabou incriminando no assassinato.<br />

De volta a casa de praia, os três hóspedes iniciavam o jantar daquela noite, já que o lugar dispunha de<br />

caseiros e uma cozinheira, que cuidavam muito bem da propriedade a beira mar, contudo, havia ainda um<br />

clima temeroso no ar, ambos sabiam que não era uma hospedagem de férias, e sim um tipo de retiro para<br />

resguardo, para protegerem suas próprias vidas, e após o término da deliciosa refeição, Murilo levou<br />

Marina até a varanda, e lá sentados iniciaram uma séria conversa.<br />

– Eu entendo tudo o que você e seu pai estão passando, mas ainda há alguma coisa além disso, pois dá<br />

para perceber na troca de olhares entre vocês, todas as vezes que se aproximam um do outro, quer<br />

conversar sobre isso?<br />

– Eu achei mesmo que perceberia, é que eu e ele ainda não conversamos, sobre toda esta enrascada<br />

que nos metemos, e também há algo importante sobre um trabalho, que eu vou tentar continuar por aqui.<br />

– Este trabalho tem a ver com aquela caixa dourada que trouxe?<br />

– Sim, aquela peça pertence ao Nathan, e estou trabalhando em um tipo de chave, para que ele possa<br />

ter acesso ao que tem dentro dela, mas é algo muito complexo, e creio que talvez não compreendesse,<br />

por se tratar de algo quase que inimaginável, e também não queremos o envolver nestas coisas, é muito<br />

complicado!<br />

– Bom, sendo assim, pode ter a certeza de que não vou me intrometer mais, se caso um dia precisarem,<br />

ou até mesmo acreditarem, que eu possa ajudar ou contribui de alguma forma, certamente poderão contar<br />

com minha discrição e lealdade.<br />

– Tenho certeza que sim, agora vamos mudar de assunto, vamos curtir a noite que está maravilhosa, me<br />

oferece uma bebida?<br />

– Certamente, vou lá dentro pegar e já volto!<br />

Claramente a colecionadora desviou da conversa, mas em contrapartida, tinha mesmo a intenção de<br />

falar sobre outros assuntos, mais precisamente, sobre coisas pessoais e de sentimentos, onde ambos<br />

haviam sofrido desilusões amorosas, e quem sabe poderia pintar neste final de semana, um novo início de<br />

relacionamento.<br />

Dentro do avião rumo aos Estados Unidos, Nathan e Arthur conversavam sobre todos os últimos<br />

acontecimentos, principalmente sobre o desaparecimento de Caio, e a recente hospitalização de Letícia,<br />

ao qual era o motivo desta longa e cansativa viagem, que tinha a previsão de chegada às sete horas da<br />

manhã.<br />

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244<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Após concluírem este diálogo, os dois procuram se ajeitar em seus leitos, e tentaram dormir um pouco,<br />

aproveitado que era um voo calmo e sem turbulências, e em meio a todo este cansaço dos últimos dias,<br />

rapidamente eles adormeceram, e somente foram acordados pela voz do comandante, que anunciava a<br />

todos a proximidade, do aeroporto internacional de Denver, enfim eles haviam chegado aos Estados<br />

Unidos, mais precisamente ao estado do Colorado.<br />

Imediatamente após o desembarque, e a checagem de seus passaportes e autorizações, foram levados<br />

por duas autoridades policiais, que já aguardavam previamente suas chegadas, e sem perca de mais<br />

tempo, eles os escoltaram até as dependências do Hospital, onde encontraram com Jorge e Eleonora, que<br />

desceram do quarto para recebê-los de braços abertos.<br />

Houve muita comoção por parte dos pais de Letícia, que ainda estavam muito abalados pelos<br />

acontecimentos, e por encontrarem a filha tão fraca e debilitada, principalmente traumatizada pelas<br />

torturas sofridas, por isso, prepararam antecipadamente Nathan, para este tão esperado encontro.<br />

Depois de uma longa conversa entre eles, e vendo toda a ansiedade do empresário, finalmente o<br />

levaram até o seu quarto, sendo que já ao chegar à porta, as lágrimas já escorriam no rosto do rapaz, que<br />

não se conteve por conta da emoção, de poder rever novamente, a mulher que tanto amava.<br />

Ela pareceu não acreditar no que via, e sem forças para poder se levantar, estendeu as mãos para que<br />

ele as tocasse, e ao pega-las, viu todas as marcas e ferimentos, provocados pelas algemas e correntes,<br />

ao qual ficou presa no cativeiro, enquanto era refém dos criminosos.<br />

Letícia percebeu a sua hesitação, em lhe dar um beijo em sua boca, pois ela ainda não sabia nada a<br />

respeito da carta, ao qual forjaram a sua traição em Angra, e a pedido de Nathan, os seus pais nada lhe<br />

contaram, ele acreditava que tinha de lhe falar pessoalmente, sobre o erro que cometeu em relação a ela,<br />

e ali parado, segurando em suas mãos, ficou olhando fixamente para o seu rosto, procurando uma forma<br />

de lhe contar toda a verdade.<br />

Após alguns segundos que pareceram infinitos, e uma troca carinhosa de olhares apaixonados, Nathan<br />

ainda sem jeito por estar envergonhado, até ensaiou em soltar uma frase a noiva, mas um nó em sua<br />

garganta, causado pelo impacto de a ver tão enfraquecida, acabou embargando a sua voz, mas mesmo<br />

assim algo acabou saindo.<br />

– Oi, como você está?<br />

– Do jeito que pode ver, estou acabada, desarrumada e feia, não queria que me visse assim!<br />

– Não se preocupe com estas coisas, você está conosco e isso é o que importa, eu nem sei o que lhe<br />

dizer, porque me falta palavras para poder me expressar, porque tudo isso é culpa minha!<br />

– Não deve se culpar por causa da ganancia das pessoas, e se a vida lhe escolheu para ser o guardião,<br />

destas peças tão cobiçadas por terceiros, é porque você tem este merecimento, e agora mais do que<br />

nunca, deve proteger a si mesmo, e a estes objetos preciosos.<br />

– Eu sei disso, mas tem algumas coisas que aconteceram, que me fizeram duvidar das pessoas que<br />

mais amo, e eu não sei se irão me perdoar por isso.<br />

– Seja o que for não importa mais, porque eu achei que nunca mais veria você, e está aqui agora ao<br />

meu lado, para mim isso é o suficiente!<br />

– Eu concordo com você, no momento certo a gente conversa sobre tudo, eu tenho tanta coisa para lhe<br />

falar e perguntar, mas sei que precisa de muito repouso, para poder se recuperar e voltar logo para casa,<br />

por isso durma um pouco e descanse, mais tarde eu volto para a gente matar a saudade, vai ficar bem?<br />

– Sim, mas volta logo, porque estou morrendo de saudades dos seus carinhos, eu amo muito você!


<strong>Caminhos</strong><br />

– Eu também te amo muito, agora vou te deixar com a enfermeira, até já!<br />

O empresário se sentiu um pouco mais aliviado, e estava feliz por estar perto de seu amor, mas sabia<br />

que muita coisa ainda precisava ser esclarecida, como por exemplo, informações sobre a caçada que o<br />

FBI fazia neste momento, em busca de informações sobre o paradeiro de Caio, intensificando os<br />

interrogatórios, com o Senhor Black, e alguns dos suspeitos capturados, no dia daquela ação policial.<br />

Depois de falar alguns minutos com os pais de Letícia, e conversar com Arthur que o acompanhava de<br />

perto, ele foi até um dos corredores da sala hospitalar, e fez uma ligação muito importante, se travava de<br />

seu médico psiquiatra.<br />

– Estevam tudo bem, é o Nathan, tem um minuto?<br />

– Que surpresa, você sumiu e não me ligou mais, eu estava muito preocupado, tudo bem com você?<br />

– Doutor, se tratando da minha pessoa, as coisas nunca estão bem, mas eu preciso saber de algumas<br />

informações, será que poderia me ajudar?<br />

– Claro que sim, do que precisa?<br />

– Não sei se está a par do assunto, que minha noiva e meu sócio foram sequestrados, e eu precisava<br />

muito saber, se há alguma sequela traumática, quando a pessoa sofre torturas físicas e psicológicas, o<br />

que pode me dizer a respeito?<br />

– Primeiramente, eu lhe digo que sinto muito, por mais uma vez estar passando por adversidades, e<br />

segundo, que estou sim sabendo destes acontecimentos, os noticiários não falam de outra coisa por aqui,<br />

e sei que agora está aí nos Estados Unidos, e quanto a sua pergunta, sim, pode haver vários problemas<br />

interligados, a uma exposição a este tipo de trauma!<br />

– E o que acha que podemos fazer, que atitudes deveremos tomar, diante destas circunstâncias?<br />

– O melhor que tem a fazer neste caso, é evitar ao máximo tocar neste assunto, e procurar conversar<br />

sobre coisas ou lembranças boas, e nada que traga o acontecido à tona, e se quiserem, quando voltarem<br />

ao Brasil, eu faço questão de cuidar do caso deles.<br />

– Então doutor, este é um outro problema a se resolver, ainda não encontraram o meu amigo Caio, ele<br />

ainda está desaparecido!<br />

– Não me diga, isso me deixa duplamente entristecido por vocês todos, e fico aqui torcendo para que<br />

tudo termine bem, aguardo notícias suas, assim que souber de algo me comunique, estamos entendidos?<br />

– Certamente, e mais uma vez muito obrigado por me atender, não vou me esquecer de sua ajuda<br />

jamais, até breve!<br />

Os dois se despediram, e o empresário voltou até a sala de espera, onde ficou dialogando com o seu<br />

advogado, juntamente com o seu sogro e sogra, enquanto aguardavam o detive que haviam contratado,<br />

desde o início desta grande operação de resgate, onde ansiavam por notícias do paradeiro de Caio, e<br />

também sobre os rumos da investigação, em busca dos verdadeiros culpados da ação.<br />

O policial aposentado ao chegar, apresentou detalhadamente a eles, todas as evidências colhidas até o<br />

momento, e assegurou que em poucos dias, certamente desvendarão todo o caso do sequestro, sendo<br />

que toda a área em torno da fazenda, onde foi encontrado o cativeiro da refém, estava sendo<br />

minunciosamente averiguado, por diversos agentes especializados, e também por muitos cães taticamente<br />

treinados, e que se fazia necessário terem muita paciência.<br />

245


<strong>Caminhos</strong><br />

Neste exato momento, dois foragidos chegavam a uma localidade afastada, que ficava na divisa do<br />

estado de Nebraska, onde eram esperados por outros membros da organização, que preparavam tudo<br />

meticulosamente, para que os dois pudessem sair impunemente do país, e fortemente armados, Heloise e<br />

Parker seguiam seu plano de fuga.<br />

246


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 58 •<br />

O sábado já chegava perto do meio-dia, quando alguns moradores do condomínio, reclamavam para o<br />

síndico Xavier, sobre o intenso barulho que vinha de uma das garagens, se tratava de alguns amigos que<br />

haviam se reunidos, para ensaiarem com sua banda de rock.<br />

Como das outras vezes, ele foi até o local e pediu gentilmente, que abaixassem o som dos instrumentos,<br />

que eram compostos de guitarra, baixo, e bateria, mas pelos equipamentos serem precários, não tinham<br />

muitos recursos ou tecnologia, e assim tentaram ao máximo suavizarem, o som barulhento que estavam<br />

tocando.<br />

As únicas pessoas que não compartilhavam das reclamações, além dos pais dos rapazes, eram Regina<br />

e Dona Angelina, que acreditavam que era muito melhor estarem ali, do que pelas ruas fazendo coisas<br />

erradas, e nisso elas tinham toda a razão, e quem sabe, haveria um termo bom para os dois lados, onde<br />

pudessem tocar as suas músicas, e não incomodassem tanto os condôminos.<br />

Vanessa estava deitada em seu quarto, lutando com suas dores espalhadas pelo corpo, enquanto<br />

Leonardo estava ajudando Silvia a arrumar a casa, sendo que tanto mãe como filho, estavam mais<br />

animados no dia de hoje, porque aguardavam para a próxima semana, a resposta do pedido feito ao<br />

hospital americano, onde o jovem pretendia realizar o tratamento contra o Câncer, e quem sabe alcançar o<br />

a cura tão desejada.<br />

Juliano assistia televisão em seu apartamento, quando a esposa Tamares iniciou a limpeza, e<br />

rapidamente surgiram as implicâncias costumeiras, fazendo com que ele perdesse a paciência, e saísse<br />

em direção do pequeno bar, que ficava dentro da área de Lazer do condomínio, e percebendo que ele<br />

estava mais uma vez cabisbaixo, o dono do simples estabelecimento, o seu Barbosa, tentou anima-lo<br />

batendo um papo.<br />

– Posso servir o de sempre?<br />

– Isso mesmo meu caro amigo, manda uma dose dupla de conhaque!<br />

– Os sábados não são tão animadores como antigamente, parece que perdeu um pouco daquele brilho e<br />

magia, que nos fazia sentir algo diferente por dentro.<br />

– O senhor tem toda razão, os tempos são outros agora, e a gente parece acumular mais problemas a<br />

cada dia, e isso nos faz deixar de enxergar muitas coisas, principalmente aquelas que nos faziam sentir<br />

assim.<br />

– Sabe o que eu penso a respeito, que as coisas sempre mudam, e que tudo tem seu início, o meio, e o<br />

seu próprio fim, e mais cedo ou mais tarde, tudo acaba se resolvendo, um dia desses quando você estiver<br />

melhor, eu lhe conto a minha história na Bahia, agora beba um pouco para animar, acho até que vou lhe<br />

acompanhar numa dose!<br />

Os dois ficaram papeando um bom tempo, e quando retornou para almoçar, encontrou um bilhete da<br />

esposa pendurado na porta, que dizia para ele voltar ao boteco, porque não faria almoço para um<br />

vagabundo, e isto o ofendeu profundamente, pois sabia que era um grande trabalhador, e com isso<br />

Tamares não imaginava, que a sua quota de paciência estava terminando, e este turbulento casamento,<br />

havia ficado apenas por um fio.<br />

Em Maragogi, Murilo e Marina almoçaram juntos com Duarte, e depois foram juntos até a varanda, que<br />

ficava bem defronte ao lindo mar azul, e o presidente do grupo tentou por diversas vezes, contato com o<br />

patrão que estava nos Estados Unidos, e Marina percebendo a sua preocupação, sentou ao seu lado<br />

tentando animá-lo:<br />

– Deve estar tudo bem por lá, além do mais, não há mais nada que se possa resolver agora, o melhor<br />

247


que temos a fazer no momento, é aproveitar estes dois dias que nos restam, para depois voltarmos as<br />

nossas rotinas.<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Sei que tem razão, mas é que na verdade, eu tenho mais de um patrão, apesar do Caio ser sócio<br />

apenas no grupo, das empresas ligadas ao ramo imobiliário, eu sempre o respeitei e tive amizade, e me<br />

causa grande preocupação este seu desaparecimento.<br />

– Eu entendo o que está sentindo, mas vamos aguardar até segunda-feira, porque o Nathan retorna da<br />

viagem, e com certeza nos colocará a par de todos os fatos, agora vamos dar uma caminhada na praia?<br />

– Vamos sim, e mais tarde eu quero dar uma mergulhada, estou louco para entrar no mar desde que<br />

cheguei aqui, vamos lá!<br />

Mais uma vez os dois andaram de mão juntas, e ambos percebiam que esta proximidade, havia feito<br />

crescer um sentimento, que já sentiam desde os primeiros encontros, e mesmo que ainda nenhum deles<br />

tivesse a coragem, de dar o primeiro passo para uma relação, uma grande possibilidade de namoro estava<br />

no ar.<br />

Por falar em relacionamentos, Carlos Renato que já havia encerrado parcialmente, seus trabalhos aqui<br />

no Brasil, viajou diretamente para a Inglaterra, antes de partir para a sua nova missão, que era ir até os<br />

Emirados Árabes, para convencer o poderoso Sheik Mahdi Jasir, a não cancelar o contrato imobiliário<br />

firmado, por causa dos boatos e últimos acontecimentos.<br />

O diretor tinha intenção de visitar aquela garota, ao qual havia conhecido vagamente, na viagem anterior<br />

a Londres, e que por sinal, não saiu de sua cabeça desde então, e como sabia que dependo da<br />

negociação, poderia ficar em Dubai por alguns meses, pretendia passar estes poucos momentos, com a<br />

sua secreta e repentina paixão.<br />

E logo que chegou ao país, tomou um táxi do aeroporto até a boate, estava ansioso por ver aquela linda<br />

mulher, e assim que entrou no estabelecimento, se sentou no balcão do bar, pediu uma dose de<br />

whisky puro, e ficou aguardando por ali, até que Josie pisou no pequeno palco, onde iniciou uma dança<br />

sensual e provocante, e com os seus lindos seios à mostra, e um shortinho bem curto e apertado, levou a<br />

loucura todos os presentes no local, e Carlos Renato estava realmente decidido, a lhe fazer uma proposta<br />

bem interessante.<br />

Enquanto dançava em torno da barra, a moça avistou de longe o seu admirador, que lhe fez um<br />

cumprimento a distância, e com um largo sorriso no rosto, Josie continuou sua performance até o final, e<br />

assim que terminou e desceu do palco, colocou de volta o top e o seu sobretudo, e foi em direção ao bar,<br />

logicamente sob olhar da maioria dos clientes do ambiente, e com um jeito bem sutil, ela lhe dirigiu a<br />

palavra:<br />

– Me lembro de você, esteve aqui naquela minha noite difícil, e depois me ligou quando partiu para<br />

o Brasil, não é mesmo?<br />

– Achei que havia se esquecido do meu rosto, pois nem chegou a me dar muita atenção, mas isso agora<br />

não tem importância alguma, águas passadas!<br />

– Engano seu, porque jamais eu poderia me esquecer, do quanto foi gentil e atencioso comigo, digamos<br />

que não estou muito acostumada, a ser tratada como gente de vez em quando, está aqui novamente a<br />

trabalho?<br />

– Sim e não.<br />

– É uma resposta esclarecedora, mas sei que não é da minha conta, me desculpe por ser intrometida,<br />

me paga uma bebida?<br />

248


<strong>Caminhos</strong><br />

– Com certeza, se minha memória não falha, a sua predileta é gim tônica acertei?<br />

– Você não se esqueceu, ou este é algum tipo de truque masculino?<br />

Ele soltou uma pequena gargalhada, e lhe disse o motivo de tal acerto.<br />

– Sei que a maioria das mulheres do mundo, preferem especialmente esta bebida, mas por coincidência,<br />

foi a que pediu aquela noite, e como você tem passado, está tudo bem agora?<br />

– Eu estou bem, não sei por que, mas a sua presença aqui hoje, me trouxe um ânimo repentino e bom,<br />

fazia tempo que não me sentia assim!<br />

– Fico feliz pela parte que me toca, que hora termina seu trabalho por aqui?<br />

– Eu tenho de ficar revezando e dançando, até que todos os clientes tenham ido embora, ou caso algum<br />

deles, combine com o chefe um programa particular, esse é o meu carma diário!<br />

– Eu compreendo, gostaria de sair daqui, e ir jantar em algum lugar?<br />

– Sério, estaria mesmo disposto, a pagar para jantar comigo?<br />

– Por que não, é um convite normal e formal, para uma linda e interessante mulher!<br />

Ela ficou parada por alguns instantes, parecendo não acreditar em sua proposta romântica, pois estava<br />

acostumada a ser tratada todos os dias, como uma prostituta comum, e depois que voltou ao seu estado<br />

normal, chamou de lado o cafetão da boate, e moço pagou o preço que lhe foi proposto, levando pelos<br />

braços a garota mais linda dali, e para ele era como se fosse um troféu conquistado.<br />

Enquanto na Inglaterra, a noite estava apenas começando, no Brasil com três horas a menos,<br />

encontramos Iris e Elvira, conversando calmamente no hospital, onde aguardavam o início do horário de<br />

visitas, pois Raul havia tido uma melhora considerável, por se tratar de um homem forte e muito sadio, e<br />

com o marido fora de qualquer perigo, Iris desabafou:<br />

– Estou sentindo muito remorso por dentro, eu devia ter reatado com o meu marido, antes que tudo isso<br />

acontecesse, mas como sempre eu tenho de bancar a durona, me arrependo tanto de ter agido assim,<br />

será que ele vai me perdoar?<br />

– Acho que não devia pensar assim, o que importa é que tudo vai acabar bem, e quando voltarem juntos<br />

para casa, não perca mais tempo, e se acerte de vez com ele!<br />

– É quem sabe.... Vou enxugar minhas lágrimas para não o entristecer, além de que, preciso dar o<br />

recado do Gabriel para ele, que seu filho está morrendo de saudades do pai.<br />

– Isso mesmo, trate apenas de assuntos que o anime, e com certeza as palavras do filho, lhe farão muito<br />

bem a sua recuperação!<br />

– Veja só como são as coisas, eu acreditei que fugindo com Gabriel da favela, escaparia de todas as<br />

adversidades e perigos, e quando as coisas pareciam todas se acertarem, aconteceu tudo isso conosco<br />

na mansão, e até agora não entendi muito o que houve por lá, sabe de alguma coisa?<br />

– Sei pouca coisa, mas o que eu entendi foi que aquela moça, a tal de Alba, estava tentando roubar<br />

algum objeto lá de dentro, e parece que ela acabou conseguindo o que queria, ouvi falar que roubou uma<br />

valiosa peça, acho que foi aquele colar que o patrão mostrou, quando apareceu na televisão.<br />

– Eu nunca fui muito com a cara dela, mas não parecia ser tão perigosa assim, pensa o mesmo?<br />

249


<strong>Caminhos</strong><br />

– Sabe que depois que tudo aconteceu, eu fiquei matutando na minha cabeça, porque eu tinha certeza<br />

que conhecia ela de algum lugar, e acabei me lembrando de uma noite, seguinte ao acidente de carro do<br />

Nathan, onde ela foi até a mansão querendo entrar, acho que desde aquela época, já estava tentando<br />

efetuar este roubo!<br />

As duas cessaram a interessante conversa, assim que foi anunciado a liberação das visitas, onde ambas<br />

se revezaram em olhar Gabriel, que estava junto a elas na sala de espera, enquanto cada uma entrava no<br />

quarto de Raul, que ficou muito animado ao recebe-las.<br />

Em um hotel no Rio de Janeiro, Bianca passava o final do sábado em seu quarto, se sentindo totalmente<br />

só e desamparada, principalmente por que sua ex-namorada Talita, a havia procurado para lhe dar o<br />

dinheiro, pela sua parte no apartamento em que viviam, e deitada no sofá da sala, com a sua barriga já<br />

demonstrando a gravidez, chorava copiosamente com medo do futuro, e o que lhe aguardava pela frente.<br />

250


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 59 •<br />

Depois de passado algum tempo, Bianca engoliu o choro, se levantou rapidamente do sofá, e saiu<br />

correndo até o banheiro, e a causa era mais um enjoo repentino, porém ela entendia claramente, que<br />

muitas mulheres deviam passar por isso, principalmente de ficarem sozinhas, sem o apoio de ninguém<br />

que seja, e isso a entristecia profundamente, porém estava decidida e contar tudo a Murilo, só não sabia<br />

como, e quando faria esta abordagem.<br />

Por volta das vinte horas na Inglaterra, Carlos Renato e Josie, chegavam a um restaurante tradicional, e<br />

ela se sentia como uma adolescente, que saia para um grande encontro romântico, porque estava<br />

acostumada apenas a programas sexuais, onde os homens somente a usavam como o tal, e rapaz a<br />

tratava simplesmente como uma dama.<br />

Ao entrarem e se acomodarem em uma mesa, ele notou que muitos olhares estavam direcionados,<br />

justamente para o local que se encontraram, porque a beleza do que parecia um casal de namorados, se<br />

destacava em meio a todas aquelas pessoas, tornando o clima muito prazeroso para ambos, e notando<br />

uma mudança súbita em Carlos Renato, Josie o indagou:<br />

– O que foi, porque sorriu de repente?<br />

– Nada importante, é que pela primeira vez em toda minha vida, me sinto muito bem a vontade, por estar<br />

junto a uma garota, e digamos de passagem, que é algo muito raro em minha vida!<br />

– Não sente vergonha por estar comigo em público, porque pode ser que alguém me reconheça, e tenho<br />

receio de que venha a se constranger, o que faria se isso acontecesse?<br />

– Nada disso me importa agora, só quero viver esta noite contigo e ao seu lado, venho pensando nisso<br />

desde a última viagem, e até agora tem saído tudo como eu havia imaginado, mas me conta um pouco<br />

sobre você, da sua vida aqui em Londres, tem planos para o futuro?<br />

– Não tenho muito o que contar, minha vida tem sido um verdadeiro caos, e desde que vim aqui para<br />

estudar a dois anos atrás, tudo acabou dando errado comigo, acabei me envolvendo com as pessoas<br />

erradas, cheguei a ficar alcoolizada algumas vezes, e estacionei minha vida, naquela boate onde me<br />

encontrou.<br />

– Mas tem vontade de sair desta situação, e dar um novo rumo a sua vida, tipo um upgrade?<br />

– Vontade eu tenho muito, queria retomar os estudos de onde parei, viajar para outros lugares, conhecer<br />

culturas diferentes, este era o meu grande sonho, mas acredito que é muito tarde para isso, pois acabei<br />

ferrando com todas estas possibilidades, acho que não tem mais volta não!<br />

A moça abaixou a sua cabeça, tentando esconder algumas lágrimas que caíam, e ele por sua vez,<br />

segurou em suas delicadas mãos, pegou em seu queixo, e ergueu devagar o seu rosto, dizendo algumas<br />

palavras de conforto, e tentando voltar a aquele clima bom e agradável, tratou de pedir uma garrafa de<br />

vinho branco, e fez um positivo brinde ao futuro, que ela nem imaginava que seria extraordinário.<br />

Após o excelente jantar, os dois foram a um hotel perto dali, onde ele a tratou com muito carinho e<br />

cuidado, para que tudo parece um encontro real e normal, muito distante do que ela estava acostumada,<br />

inclusive Josie permitiu que Carlos Renato, a beijasse muito em sua boca, coisa que ela não admitia a<br />

seus clientes, e os dois se entregaram ali de corpo e alma.<br />

Nos Estados Unidos, Nathan havia ficado com Letícia no quarto, e juntamente com os pais dela, deram<br />

todo apoio e atenção necessária, que a sua delicada situação precisava naquele instante, pois ela se<br />

encontrava muito tensa e assustada, e demasiadamente preocupada com Caio, ela temia que o pior<br />

pudesse ter lhe acontecido.<br />

251


Ao encerrar a visita, o empresário se despediu com um beijo, e recomendou que ela procurasse<br />

descansar, e lhe prometeu que faria de tudo para encontrar o amigo, ainda mais por estar com sua<br />

consciência pesada, por ter duvidado veemente da integridade dos dois, e ficou revezando por toda a<br />

madrugada, com Jorge, Eleonora, e o prestativo advogado Arthur.<br />

252<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Enquanto isso o FBI e a polícia local, continuavam as buscas por todas as áreas da investigação, e<br />

pretendiam no domingo de manhã, iniciar os interrogatórios com Austin Black, na tentativa de arrancar<br />

informações, sobre o duplo sequestro dos brasileiros, e também sobre os desvios e lavagens do dinheiro,<br />

roubados das contas do Grupo Etros.<br />

Não muito longe dali, mais precisamente na divisa do Canadá, um pequeno avião bimotor, pousava num<br />

aeroporto secundário, trazendo a bordo a perigosa Alba, que depois de passar por uma grande rota de<br />

fuga, tinha planos de trocar a relíquia roubada, oferecendo ao suposto chefe da organização, em troca de<br />

poupar sua vida pelos erros cometidos, e também por uma considerável quantia em dólares.<br />

Mas o que ela não imaginava, que alguns federais da inteligência americana, já estavam rastreando<br />

seus passos desde o Paraguai, onde ela iniciou seu plano de evasão do Brasil, e com uma extrema<br />

eficiência, descobriram a tempo este seu último destino, e ficaram plantados a sua espera em lugares<br />

estratégicos, aguardando apenas a sua saída da aeronave.<br />

Mas ao perceber uma certa movimentação na pista, o piloto desconfiou, e tentou acelerar novamente<br />

para fugir, porem foi interceptado por um dos carros da polícia, mas Alba que era muito esperta e<br />

experiente, abriu a porta com o avião ainda em movimento, e correu ligeiramente pela pista, até<br />

as dependências do modesto aeroporto, onde fez uma tentativa de escapar.<br />

E depois de uma grande correria, onde os policiais procuravam capturar a bandida, ela tentou sair pela<br />

sala de controle, e foi cercada por um dos agentes especiais, que acompanhava todos os seus passos,<br />

através das câmeras espalhadas pelo local, e recebendo a ordem de rendição, seguida da voz de prisão,<br />

ficou completamente sem ação, e foi algemada enquanto liam os seus direitos.<br />

Houve muitos cumprimentos entre os agentes e policiais, afinal de contas, a semanas estavam na cola<br />

desta perigosa bandida, e mais uma vez ficou comprovado, toda a eficiência e ação dos policiais no caso,<br />

e ali mesmo no aeroporto, enquanto aguardavam a chegada de um outro avião, ao qual levariam todos<br />

para Denver no Colorado, se iniciou um intenso questionamento, eles a pressionavam para contar tudo o<br />

que sabia, principalmente sobre o sumiço e paradeiro de Caio.<br />

Já começava a amanhecer o domingo, e o sol já iluminava parte do território americano, quando o<br />

empresário Nathan, que havia dormido na cadeira da recepção do hospital, foi acordado por Arthur, que<br />

estava acompanhado por Andrew, o mesmo que havia ajudado a encontrar o cativeiro, e juntos trouxeram<br />

algumas notícias, que certamente agitariam aquela manhã.<br />

– Nossa, eu acabei cochilando aqui, e não vi quando vocês chegaram, aconteceu alguma coisa?<br />

– Temos notícias boas e também ruins, o Andrew também fala a nossa língua, e vai lhe explicar tudo<br />

como aconteceu.<br />

– Seja o que for, peço que não me escondam nada!<br />

– A primeira informação que temos, é que capturaram Alba Stuart nesta madrugada, ela tentava fugir<br />

para o Canadá, quando foi presa por agentes especiais, e neste exato momento, estão trazendo a<br />

prisioneira para cá, onde será colocada junto aos outros suspeitos.<br />

– Realmente é uma grande notícia, e por caso encontraram a peça que foi roubada?<br />

– Não estava de posse dela, nem mesmo em sua pequena bagagem no avião, provavelmente deve ter<br />

escondido em um outro local, para mais tarde poder trocar ou até vender.


<strong>Caminhos</strong><br />

O Advogado aguardou eles se falarem, e completou a informação.<br />

– Agora tem a má noticia, e creio que deve se preparar para recebê-la.<br />

– Não me diga que é sobre o Caio, encontraram ele?<br />

O Agente interno com todo cuidado, procurou relatar tudo a ele:<br />

– Temo que seja ele, há alguns dias atrás, alguns fazendeiros dos arredores do cativeiro, encontraram<br />

um corpo na floresta, e apesar de estar num estado avançado de decomposição, acreditamos que pode se<br />

tratar de seu amigo, eu sinto muito!<br />

O empresário sentiu suas pernas bambearem, e quando perceberam que seus sentidos estavam<br />

enfraquecidos, ambos o ampararam pelos braços, o levando até uma cadeira mais próxima, onde recebeu<br />

um copo de água, e aos poucos foram estabilizando os seus sentidos.<br />

– Não pode ser verdade, certamente ele estava protegido, já sabem qual foi a causa da morte?<br />

– Parece que os legistas que o examinaram, encontraram vários cortes pelo corpo, e parece que ele<br />

sangrou até morrer, e alguém terá de ir fazer o reconhecimento, para que se façam os<br />

documentos necessários, para que ele possa receber a liberação, e ser encaminhado para um enterro<br />

decente.<br />

Arthur também sentiu este golpe, mas procurando demonstrar firmeza, não se abateu, e tentou confortálo:<br />

– Eu sinto muito por ter terminado assim, quer que eu faça o reconhecimento?<br />

– Não, pode deixar, eu mesmo tenho de fazer isto, só peço que não conte nada a Letícia, porque pode<br />

piorar o estado em que se encontra.<br />

– Certamente, e quanto aos pais dela?<br />

– Conte tudo com muito cuidado, porque certamente ficarão mais assustados do que já estão, por isso<br />

tenha muita cautela, e depois que eu fizer o reconhecimento, aí sim vou precisar que me ajude com os<br />

documentos.<br />

O agente tendo a percepção da fatalidade, procurou o ajudar de alguma forma.<br />

– Se você quiser, posso leva-lo de carro até o necrotério, quer uma carona?<br />

– Vou aceitar sim, pois não conheço nada por aqui, então sem perca de tempo, façamos o que tem de<br />

ser feito!<br />

Durante todo o trajeto, o empresário parecia reviver um filme, que passava lentamente em sua cabeça,<br />

eram alguns momentos dos quais conseguia recordar, das últimas vezes com que esteve com Caio,<br />

principalmente da estadia em Angra, onde o viu pela última vez, e um grande sentimento de<br />

dor, ruminava por dentro de seu ser, era o arrependimento por ter duvidado de sua amizade, e<br />

provavelmente não se perdoaria por este erro.<br />

Enquanto isso no hospital, Arthur contava a Jorge e Eleonora, tudo sobre a provável morte de Caio, ele<br />

tentou ser bem delicado ao dar a terrível notícia, mesmo assim houve comoção e muito medo, porque<br />

temiam que os bandidos pudessem ainda, atentar contra a vida de todos, por isso recomendou ao<br />

advogado, que tomasse todas as providências necessárias, para a proteção deles e da própria filha.<br />

Letícia havia passado toda a madrugada, e boa parte da manhã de domingo, dormindo sob efeito de<br />

253


<strong>Caminhos</strong><br />

sedativos, pois fazia parte do tratamento de recuperação, um repouso amplo a base também de vitaminas<br />

e soro, mas de uma forma ou de outra, uma hora teriam de contar a ela toda a verdade.<br />

Nathan chegou ao seu destino, e com a ajuda imprescindível de Andrew, entrou e se dirigiu até o setor<br />

de necropsia, onde ficavam as geladeiras como os corpos, e pedindo para ficar sozinho com o médico,<br />

respirou bem fundo, e se preparou firmemente, dando em seguida o seu consentimento, para que se<br />

levantasse o lençol do cadáver.<br />

Ele se espantou prontamente, ao ver o estado que o corpo se encontrava, e não deu para ver<br />

nitidamente o que precisava, pois o rosto estava totalmente desfigurado, além do grande inchaço e<br />

diversos cortes, espalhados por todas as partes, e se sentindo muito mal com esta cena, encerrou o seu<br />

reconhecimento.<br />

Apesar de ter dado ao médico um sinal negativo, de que não havia reconhecido o corpo, como sendo de<br />

seu sócio e amigo Caio, ele saiu do local totalmente indiferente, com um olhar que podia significar muitas<br />

coisas, menos de que havia acabado de perder um grande amigo.<br />

254


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 60 •<br />

O agente especial e novo amigo, aguardava o empresário do lado de fora, e assim que viu a sua palidez,<br />

o abordou, e segurou o seu braço.<br />

– Nathan você não me parece bem, era mesmo o corpo do seu amigo?<br />

– Na verdade eu não sei lhe dizer, porque além do estado em que já se encontra, eu fui fraco e acabei<br />

passando mal, e a partir deste momento em diante, não consegui mais fazer a visualização, mas no início<br />

eu tive uma forte sensação, de que não era o corpo dele, mas não sei lhe dizer o porquê desta sensação.<br />

– Quero que se acalme, é assim mesmo que se sente, quando se trata de alguém bem próximo, a gente<br />

quer de qualquer forma acreditar, que tudo não passa de um simples engano, mas eu andei conversando<br />

com os investigadores, e eles afirmam que pela descrição que foi passada, e também pelas roupas que a<br />

senhorita Letícia descreveu, quando o viu pela última vez, eles têm certeza de que se trata dele mesmo.<br />

– Se tinham toda esta certeza, porque precisavam de mim para a confirmação?<br />

– Infelizmente isso se faz necessário, que alguém faça esta confirmação visual, para que se possa<br />

preparar os documentos, e assim liberarem o corpo para o seu funeral, e como você não o reconheceu, ou<br />

caso ninguém possa fazê-lo, eles coletarão algumas amostras, para mais tarde poderem fazer o exame de<br />

DNA, ou até mesmo da sua arcada dentária, se isso for realmente necessário.<br />

– Meu Deus, e enquanto isso não acontece, o que farão com o corpo?<br />

– Por um determinado tempo, eles o manterão na geladeira, e creio que depois terão de enterra-lo,<br />

como um simples indigente, até que alguma solução reverta este processo.<br />

– Por favor, me leve embora deste lugar, acho que perdi minhas forças novamente...<br />

O agente o amparou até o carro, e o levou novamente até o hospital, onde permaneceu deitado em uma<br />

maca, até que recuperasse todas as suas forças, enquanto isso Andrew, repassou todas estas<br />

informações para Arthur, juntamente aos pais de Letícia, que ouviram atentamente todos os detalhes.<br />

De volta ao Brasil, Elvira que praticamente estava de férias, por estar hospedada num hotel luxuoso,<br />

enquanto não podia retornar a mansão, e voltar as suas tarefas de cozinheira, brincava com o menino<br />

Gabriel, na divertida área de jogos, e aproveitaram para bater um papo.<br />

– Legal este lugar né Gabriel, tem tudo o que a gente precisa para se divertir, não é mesmo?<br />

– Tem sim, mas não chega nem perto das brincadeiras na favela, onde a gente soltava pipa, batia uma<br />

bola com a turminha, sem falar da escola e as atividades, não vejo a hora de estar com as professoras<br />

novamente!<br />

– Sabe, quando a gente é ainda criança, as vezes tudo parece ser maravilhoso, e outras tudo ser bem<br />

mais difíceis, porque os sentidos ainda estão tentando se equilibrar, mas é muito boa esta fase, e logo as<br />

coisas vão se ajustar, e quem sabe voltar a vida normal.<br />

– Tudo vai depender de prender estes bandidos, que roubaram o Nathan e atiraram em meu pai, acha<br />

que isso vai demorar?<br />

– Tomara que não, a sorte de todo mundo precisa melhorar, agora vamos entrar e tomar um banho,<br />

daqui a pouco a sua mãe vem lhe buscar, e vai poder visitar seu pai novamente no hospital!<br />

O menino concordou, ele não havia questionado sobre outros assuntos, como por exemplo, a situação<br />

255


<strong>Caminhos</strong><br />

de seus amigos nos Estados unidos, pois Nathan e Letícia praticamente, já tinham grande importância em<br />

sua vida.<br />

Na favela, por se tratar de um domingo, havia menos movimento que o normal, e tirando proveito deste<br />

fato rotineiro, Otto mandou chamar Militão e Situação novamente, já que não haviam comparecido ao<br />

chamado anterior, e para se certificar que desta vez não faltariam, mandou seu novo capanga armado os<br />

buscarem.<br />

Não demorou muito, e ambos chegaram ao esconderijo, e os dois aparentemente assustados, temiam<br />

pelo pior a estas alturas, acreditando que se travava de um acerto de contas, já que eles praticamente o<br />

havia incriminado, ao anotar naquela caderneta vermelha, as circunstâncias de todo o crime, e agora só<br />

restavam ver o que aconteceria, e aparentemente com cara de bravo, Otto os colocou contra a parede.<br />

– Aí estão vocês seus imprestáveis, achei que teria de busca-los pessoalmente, não acham que me<br />

devem algumas satisfações?<br />

Situação já não se importando com o desfecho, foi o primeiro a lhe falar:<br />

– A culpa é toda minha chefinho, fui eu que anotei todas aquelas besteiras, o Militão não tem culpa<br />

nenhuma!<br />

Militão se colocou a frente, e com unhas e dentes o defendeu:<br />

– Nada disso parça, tamos juntos nessa enrascada, não vou te abandonar numa hora dessas!<br />

– Vejam só quem diria, que dois molengas como vocês, teriam esta cumplicidade um com o outro, o que<br />

vocês têm a me dizer sobre tudo?<br />

Militão, que já o estava encarando de frente, lhe apontou o dedo e disparou:<br />

– Já que estamos ferrados mesmo, vou dizer na lata o que eu penso a respeito, é o seguinte chefinho,<br />

agimos corretamente quando fomos presos, em nenhum momento dissemos seu nome, ou qualquer coisa<br />

sobre as drogas, principalmente sobre aquela noite, então parece que ao contrário que se pensa, fomos<br />

leais ao senhor o tempo todo!<br />

– Pelo jeito a cadeia fez bem aos dois, parece que estão mais maduros, um pouco mais arrogantes,<br />

mais donos de si mesmos, mas isso não importa muito agora, porque vocês têm apenas duas alternativas,<br />

ou fazem um servicinho especial para mim, ou irão acabar numa vala como o Nicolas, o que escolhem?<br />

Houve um breve silêncio naquele ambiente hostil, onde os dois companheiros se olhavam mutuamente,<br />

e sem nenhuma opção melhor a escolher, ouviram o plano ganancioso de Otto, que pretendia assaltar<br />

ainda nesta mesma tarde, a rica e luxuosa mansão do empresário, e depois de acertarem todos os<br />

detalhes do roubo, partiram da favela rumo ao seu objetivo.<br />

Era um dia de muitas expectativas na casa do Advogado, embora ele estivesse ausente em viagem,<br />

Elisa e Dimas, conversavam sobre a próxima semana com Dirce, onde ambos se apresentariam para o<br />

novo emprego, na firma de advocacia de Arthur, e a empregada compactuava com esta euforia.<br />

– Que empolgação de vocês dois hem, tomara que quando forem trabalhar, mantenham esta animação<br />

toda!<br />

– É lógico que sim mãe, eu me preparei durante toda a minha juventude, para alcançar este meu<br />

objetivo, e não posso de jeito algum, perder esta grande oportunidade, e você Elisa, já havia trabalhado<br />

antes?<br />

256


<strong>Caminhos</strong><br />

– Já trabalhei numa loja de calçados, mas não acabou dando muito certo, porque eu queria trabalhar e<br />

estudar ao mesmo tempo, e no final fiquei sem nenhum dos dois, depois acabei me perdendo pela vida.<br />

Dirce interveio rapidamente.<br />

– Vamos deixar o passado em seu devido lugar, o importante é trilhar nestes novos caminhos, que vocês<br />

terão agora pela frente, façamos o seguinte, vamos todos lá para a cozinha, que eu vou preparar um bolo<br />

com chá para nós!<br />

Ela havia percebido que por um instante, toda aquela vibração boa que estava no ar, poderia facilmente<br />

se desfazer, por isso agiu sabiamente mudando o assunto, e assim o trio procurou se distrair naquela<br />

tarde, falando somente de coisas boas e felizes.<br />

Outro trio que também passava este domingo, de uma forma muita descontraída, eram Murilo, Marina, e<br />

o velho Duarte, que aproveitavam o dia de praia em Maragogi, sendo que as águas calmas e cristalinas do<br />

mar, parecia suavizar suas duras realidades, mas o colecionador que estava inquieto, acabou comentando<br />

sobre este assunto com eles.<br />

– Eu só havia visto o mar assim de perto, quando eu ainda era criança, e agora enxergo claramente, que<br />

perdi quase toda minha vida, dentro de um porão no meio de objetos antigos, e agora estou praticamente<br />

arruinado, de que tudo isso me adiantou?<br />

– Não fala assim pai, o senhor sempre fez o que gostava, além do mais, ainda terá muito tempo para<br />

aproveitar, assim que recuperarmos todos os nossos bens, que tal comprarmos uma casa de praia?<br />

– Isso mesmo seu Duarte, sua filha teve uma excelente ideia, eu mesmo já havia pensado numa coisa<br />

parecida para mim, tem horas que se faz imprescindível, fugir um pouco daquela correria da cidade<br />

grande.<br />

Duarte conseguiu esboçar um pequeno sorriso, e contemporizou:<br />

– Gostaria de ter o ânimo de vocês, mas creio que estou muito enroscado com a justiça, e não vai ser<br />

fácil reverter esta situação toda.<br />

– Tenha fé seu Duarte, nada que um bom advogado, e a uma sincera confissão de todos os fatos,<br />

resolva todas estas circunstâncias, não é verdade?<br />

– Isso mesmo pai, vamos aproveitar o máximo que pudermos, este maravilhoso dia de sol, e a partir de<br />

amanhã, nós dois vamos iniciar a manipulação daquele objeto, devemos isso ao nosso amigo Nathan, e<br />

quanto a você Murilo, mais a frente se me for autorizado, lhe contarei detalhes deste nosso trabalho, tudo<br />

bem assim?<br />

– Não se preocupe comigo, eu entendo perfeitamente a sua discrição, isso demonstra que são mesmo<br />

grandes profissionais!<br />

Duarte se levantou, olhou para toda aquela linda paisagem, e anunciou a sua retirada.<br />

– Bom, eu vou dar uma volta pela praia, pensa que não percebi que estão cheios de intimidades, vou<br />

deixá-los a sós!<br />

Os dois sorriram com as palavras do colecionador, claramente demonstravam interesses amorosos, e<br />

quem sabe uma grande paixão, poderia resultar deste marcante final de semana, onde tudo contribuía<br />

para o amor, bastava apenas que os dois se entregassem, aos seus verdadeiros sentimentos.<br />

No hospital americano, Nathan havia melhorado de seu mal-estar, e notou que tanto os pais de Letícia, o<br />

257


agente americano, e Arthur, estavam postados ao lado de sua maca, e quando notou que ele estava<br />

melhor, Eleonora lhe dirigiu palavras de incentivo, e o confortou:<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Está se sentindo bem? Gostaria muito de poder lhe dizer alguma coisa, mas não encontro palavras<br />

para tamanho desalento, saiba que te apoiamos, e estamos ao seu lado!<br />

– Ainda estou um pouco zonzo, e estou com um enorme vazio dentro de mim, tudo de ruim sempre<br />

acontece, com quem convive ao meu redor, acredito que seria bem melhor a vocês todos, que se<br />

afastassem de mim!<br />

– Não fale assim desta maneira, você não tem culpa da ruindade dos outros, não pense assim desta<br />

forma, não é mesmo Jorge?<br />

– Concordo plenamente com suas palavras, e temos que agir com rigor contra estes criminosos, mas<br />

enquanto isso tenha certeza absoluta, de que lhe apoiaremos!<br />

– Muito obrigado por este apoio, é muito importante para mim neste momento, sabe me falar se a Letícia<br />

acordou?<br />

– Ainda não, mas o médico nos disse há pouco, que lá pelas dezoito horas ela deve acordar, e que<br />

depois que ela jantar poderemos vê-la, o que acha de tomarmos um lanche, creio que todos aqui devem<br />

estar famintos, não é verdade?<br />

Mesmos com todos os problemas e constantes perigos, esta união entre todos, davam forças para<br />

enfrentarem as adversidades, principalmente com relação ao empresário, que há muito tempo não sabia, o<br />

que era ter paz em sua vida.<br />

Em São Paulo, Otto e seus comparsas, chegaram aos arredores da mansão, sendo que primeiramente,<br />

sondaram o movimento na propriedade, já que os seguranças haviam sido reduzidos, por se tratar de um<br />

dia de domingo, e também por seus moradores estarem ausentes, hospedados temporariamente no hotel.<br />

Se aproveitando de um vacilo deles, Otto e seu novo capanga, os renderam rapidamente com armas<br />

pesadas, enquanto isso pelo portão dos fundos, Militão e Situação, entraram devidamente mascarados,<br />

evitando serem reconhecidos pelas câmeras, enquanto um vigiava tudo ao redor, o outro arrombava a<br />

porta lateral, para assim iniciarem este grande e ousado roubo.<br />

258


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 61 •<br />

Não foi difícil a entrada dos bandidos na mansão, enquanto um ficou vigiando os seguranças amarrados,<br />

Otto, Militão e Situação, começaram a revirar os principais cômodos, mas como não eram assaltantes<br />

profissionais, não tinham equipamentos próprios para abrir os cofres, porém se depararam com aquele<br />

enorme corredor, onde estavam todos os objetos da preciosa coleção, e o chefe todo empolgado<br />

comentou:<br />

– Era disso que eu estava falando, aí estão as coisas que vão nos tirar do buraco!<br />

Situação arregalou os olhos, e observou tudo ao seu redor.<br />

– Chefinho tem um montão de coisas velhas, mas as prateleiras estão cheias de joias, será que valem<br />

muita grana?<br />

Militão já fazendo contas antecipadas, já foi criando em sua imaginação, o que faria com os produtos do<br />

furto.<br />

– Caramba pessoal, acho que vai dar até para eu comprar um carango!<br />

– Calem a boca vocês dois e mãos a obra, não temos muito tempo até a troca de turno dos seguranças,<br />

coloquem tudo o que puderem dentro dos sacos, e eu vou começar com estes brincos de pérolas, que<br />

devem valer uma verdadeira fortuna, o que estão esperando?<br />

– O senhor é quem manda chefe, vamos tomar o porre hoje!<br />

E sem mais delongas iniciaram o roubo, e sem cuidado algum com os objetos antigos, foram quebrando<br />

vidros e madeiras, abrindo bruscamente para retirar as preciosidades, e depois de cerca de uma hora,<br />

limparam praticamente quase tudo, menos uma armadura e espada antiga, que deixaram Situação<br />

fascinado, porém não havia como transportarem tais objetos, pois além de já estarem sobrecarregados, o<br />

peso e a falta de transporte adequado, impediam estas duas aquisições.<br />

Ao término, colocaram uma parte no porta malas, e outra embaixo dos bancos do carro, fugindo em<br />

disparada rumo a favela, e conforme o combinado anterior ao assalto, os objetos seriam divididos em<br />

partes proporcionais, certamente que a porcentagem maior, ficaria com o chefe e mentor de todo o plano.<br />

Um pouco mais tarde dois dos seguranças, que chegavam para a troca de serviço, se depararam com<br />

os portões abertos, e com os colegas de trabalho amarrados e amordaçados, e assim que os soltaram, e<br />

se inteiraram de todas as circunstancias, deram uma busca geral dentro da propriedade, ficando<br />

admirados com a ousadia dos bandidos, como também a bagunça e destruição que causaram, e<br />

imediatamente chamaram a polícia.<br />

Do outro lado da grande cidade, era uma típica tarde de domingo no condomínio, onde o prestativo<br />

síndico Xavier, havia acabado de instalar um chuveiro, e voltava calmamente para a guarita de entrada,<br />

quando observou que era a garota Vanessa, conversava com Leonardo no banco do jardim, e achou raro<br />

que ela se permitisse a tal fato.<br />

Leonardo preocupado com a saúde da moça, com muito jeito a interpelou:<br />

– Fiquei sabendo por um de seus vizinhos, que você não estava muito bem ontem a noite, está se<br />

sentindo melhor hoje?<br />

– O pessoal daqui é muito linguarudo, não devem ficar comentando sobre a vida das pessoas!<br />

– Na verdade fui eu que perguntei, é que fui até perto da escada do seu apartamento, e acabei<br />

259


260<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

desistindo de bater na sua porta, com medo que você achasse ruim, e que ficasse com raiva de mim, aí eu<br />

acabei por perguntar por notícias suas.<br />

– Ousado você hem, mas perto da crise de ontem, eu diria que estou melhor hoje, por que não tenta de<br />

novo um dia destes, voltar lá, e bater em minha porta?<br />

– Fala mesmo sério, permitiria a minha entrada?<br />

– Quem sabe...<br />

Ambos sorriram ao mesmo tempo, e embora a moça estivesse muito debilitada, ele não parecia se<br />

importar com a sua aparência, pois estava definitivamente apaixonado por ela, e imediatamente foi até o<br />

canteiro de flores, e apanhou a margarida mais bonita que havia por ali, e fazendo um gesto meio que<br />

romântico, lhe entregou com muito carinho, e lhe deu um simples beijo no rosto.<br />

Embalando neste clima romântico, na cidade de Londres, pelo horário diferenciado com relação ao<br />

Brasil, já era início de uma linda noite, e como o diretor Carlos Renato, havia passado todo este final de<br />

semana, ao lado da dançarina Josie, aproveitava as últimas horas ao seu lado, e quis saber como ela se<br />

sentia.<br />

– E aí, o que achou de tudo?<br />

– Nossa, foi o melhor fim de semana dos últimos tempos, eu já havia até me esquecido, como é tão bom<br />

se sentir assim tão à vontade, te agradeço por todos estes momentos, eu adorei ter ficado com você!<br />

– Gostou de verdade, ou só disse isso para me agradar?<br />

– Imagina, não sou de ficar fazendo elogios assim à toa, você é totalmente diferente dos homens que<br />

conheci, simplesmente porque demonstrou ter carinho comigo, amei muito mesmo a sua companhia,<br />

quando vai embora?<br />

– Na terça-feira, amanhã preciso pegar alguns documentos no banco, e depois vou direto para Dubai,<br />

onde tenho um grande compromisso de trabalho, e aproveitando que toquei no assunto, eu tenho uma<br />

proposta para lhe fazer.<br />

– E o que seria esta proposta?<br />

– Eu estou a frente de um grande negócio imobiliário, e se eu conseguir convencer um Sheik, a<br />

continuar um contrato de construção firmado, provavelmente eu terei de ficar por lá alguns meses, talvez<br />

até mais que um ano, e queria te convidar para ir junto comigo, será que você aceitaria?<br />

Ela ficou admirada e muito surpresa, e ali bem perto, de um dos mais lindos cartões postais, da<br />

maravilhosa cidade inglesa, Josie ficou praticamente calada, olhando seriamente para o rapaz, tentando<br />

absorver o forte impacto, que o seu convite havia lhe causado.<br />

Depois de algum tempo meio que estonteada, Josie parecia não acreditar no que havia escutado, porém<br />

ao notar a expectativa de Carlos Renato, decidiu quebrar o silêncio e indagou:<br />

– Por um breve momento, achei que fosse algum tipo de piada, está mesmo falando sério?<br />

– Não brincaria sobre isso contigo, penso neste fato desde quando fui nomeado, a exercer esta<br />

importante missão em Dubai, e se quiser eu te levo junto comigo, o que me diz?<br />

– Isso quer dizer que você me quer como uma namorada, sei lá, é isso?<br />

– Como namorada, como mulher, te desejo e te quero muito mesmo!


261<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Eu já tinha ouvido falar algumas vezes, que homens se apaixonam por garotas de programa, e até<br />

assumem elas por causa de paixão, mas nunca pensei que aconteceria comigo, essa me pegou mesmo<br />

de surpresa, me dá um tempo para pensar?<br />

– Como eu lhe disse antes, eu viajo depois de amanhã, na terça eu já embarco a trabalho.<br />

– Você deve estar pensando agora, mas que mulher burra, leva uma vida depravada e sem futuro, e<br />

ainda pede para pensar numa proposta destas, não é?<br />

– Na verdade estou pensando em outra coisa.<br />

– Agora fiquei mais curiosa, me conta, eu quero saber o que é!<br />

– Que é preciso ter muita coragem e determinação, para passar por todas estas adversidades, e ainda<br />

permanecer firme, carregando consigo todos estes sonhos, e é isso que me faz gostar cada vez mais de<br />

você...<br />

Ela nem esperou ele terminar a frase, e o beijou por um longo tempo, sendo que ao seu final, eles se<br />

olharam dentro dos olhos, talvez procurando respostas para o futuro, onde cada um tinha a oportunidade,<br />

de escrever seus próprios caminhos, e eles decidiram ali sob a luz do luar, que iriam juntos aos Emirados<br />

Árabes.<br />

Em São Paulo, Otto e seu bando chegaram à favela, e discretamente descarregaram todos os objetos,<br />

que haviam roubados na luxuosa mansão, e após terminarem, se reuniram em seu novo esconderijo, para<br />

acertarem a divisão de cada um, e eles estavam tão fascinados com a promessa desta fortuna, que se<br />

esqueceram de um detalhe importante, onde venderiam as joias e os objetos de arte.<br />

Depois de passado a euforia do ousado feito, isso foi motivo de uma pequena discussão entre eles, e<br />

como não chegaram a um acordo plausível, resolveram guardar tudo bem escondido, e tentariam resolver<br />

tudo no dia seguinte, onde cada um pegaria a sua parte, e a repassaria para a frente como bem<br />

entendesse, mas Otto certamente, procuraria uma forma de passar a perna em todos, coisa que já era<br />

peculiar e costumeira.<br />

Na América do Norte, os pais de Letícia, haviam ficado um tempo conversando com a filha, já que só<br />

eram permitidas duas visitas por vez, enquanto na sala de espera do hospital, Nathan aguardava ansioso<br />

que eles saíssem, porque era o seu último dia de autorização, pois logo bem cedo na segunda-feira, teria<br />

de sair do país e retornar ao Brasil, e assim que eles saíram do quarto, ele entrou, e se aproximou da<br />

cama para conversar.<br />

– Oi amor, como você se sente hoje?<br />

– Ainda um pouco tonta, acredito que é por causa de todos estes remédios, mas muito feliz que esteja<br />

aqui ao me lado, estou morrendo de saudades dos seus carinhos!<br />

– Também tenho muitas saudades, mas eu tenho pouco tempo, e tem algumas coisas que precisamos<br />

conversar, porque mesmo que eu não lhe contasse, provavelmente ficaria sabendo de outra boca, então<br />

gostaria que prestasse muita atenção, no que tenho a lhe dizer.<br />

– Pela sua fisionomia fechada, e pelo seu amargo tom de voz, creio que sejam mais notícias ruins, mas<br />

depois de tudo o que passei, acho que aguento qualquer coisa!<br />

– Primeiramente lhe devo muitas desculpas, a começar por tudo isso que acabou de passar, pois é tudo<br />

culpa minha, por causa destas malditas relíquias antigas, mas sei o que pensa a este respeito, por isso<br />

vou lhe falar das outras coisas.<br />

– Por favor, não me esconda nada, é sobre o Caio, não é?


<strong>Caminhos</strong><br />

– Para começar, eu tenho de ir embora amanhã bem cedo, pois só tenho visto de permanência aqui,<br />

para somente este final de semana, isto por causa de toda a investigação no Brasil, e infelizmente não vou<br />

poder ficar ao seu lado, e acompanhar de perto a sua recuperação, mas me conforta saber que estará ao<br />

lado de seus pais.<br />

– Desta parte eu já sabia, eles me contaram ainda há pouco, mas você está enrolando muito, fala logo o<br />

que aconteceu com o Caio, encontraram ele?<br />

– Infelizmente parece que sim, encontraram um corpo nas proximidades do cativeiro, ao qual vocês<br />

estavam presos, eu até que tentei reconhecer o corpo, mas estava muito desfigurado e inchado, e acabei<br />

passando mal na hora.<br />

– Não posso acreditar, não me diga uma coisa destas, não pode terminar assim...<br />

– O pior é que o Arthur acredita, que é muito provável que a polícia, também peça a você para fazer este<br />

reconhecimento, já que foi uma das últimas pessoas que esteve com ele, e talvez possa reconhecer as<br />

roupas, ou algum outro detalhe importante, eu sinto muito por ter de passar por mais isso!<br />

Apesar de toda a sua fraqueza e debilitação, ela se ergueu e se sentou na beira da cama, e tentando<br />

encobrir as marcas no rosto, principalmente os lábios machucados pela tortura, não resistiu a triste e<br />

dolorosa notícia, e começou a chorar pela provável perca do amigo.<br />

262


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 62 •<br />

Nathan abraçou a noiva com todo cuidado, porque Letícia ainda estava toda dolorida, pelas<br />

circunstâncias óbvias do sequestro, e sem saber o que dizer numa hora destas se calou, e permaneceu<br />

em silêncio, até que ela se pronunciou:<br />

– Não consigo acreditar que ele morreu, o Caio me prometeu que sairíamos de lá com vida, mas<br />

depois o levaram embora, e desde então não o vi mais.<br />

– Eu também custo a acreditar, por acaso ele mencionou que carregava consigo, alguma das pedras de<br />

energia, mostrou as relíquias para alguém?<br />

– Houve somente uma vez, que o levaram para uma outra sala, e depois de muito tempo o trouxeram de<br />

volta, e estava todo machucado e coberto de sangue, acredito que o torturaram muito mesmo, e um dos<br />

bandidos mostrou aos outros, que havia encontrado uma pedra com ele.<br />

– Deve ter sido terrível, mas você disse que acharam uma relíquia, nada mais além desta?<br />

– Somente esta mesmo, porque deveria haver mais?<br />

– Talvez, ainda sofro por não me recordar direito do passado, mas algo me diz que está errado, mas não<br />

sei lhe dizer no momento o que é!<br />

– Parece que as coisas perderam seus sentidos, me sinto sem chão neste momento, e agora o que<br />

vamos fazer?<br />

– Não sei, também estou perdido em meio a tudo isso, principalmente por me sentir muito culpado, mas<br />

quero que volte a se deitar, e se esforce ao máximo para se recuperar, assim voltará logo para o Brasil, e<br />

infelizmente eu tenho de ir agora, o Arthur já me espera para irmos até o Hotel, onde arrumaremos nossas<br />

coisas, e amanhã bem cedo, pegamos o voo para São Paulo.<br />

– Estou preocupada com você, estes bandidos podem estar esperando o seu retorno, para poderem<br />

ataca-lo novamente, acredito que só irão parar esta guerra, quando atingirem os seus objetivos!<br />

– Não se preocupe comigo, eu vou estar precavido e bem protegido, quando se recuperar faremos uma<br />

longa viagem, e tentaremos juntos seguir com nossas vidas, você concorda?<br />

– Concordo, agora vem aqui mais perto de mim, para que eu possa me despedir de você...<br />

Ela o abraçou, e o beijou com todo carinho, e em ambos os rostos rolavam muitas lágrimas, parte delas<br />

pela dor da perda do grande amigo, e também por terem de se separar novamente, ficando um sem o<br />

outro, em mais este momento tão difícil, e assim se despediram temporariamente, com juras e muitas<br />

palavras de amor.<br />

Ao sair do quarto, o empresário conversou muito com Jorge e Eleonora, e depois de deixar um cheque<br />

na administração, para cobrir todas as despesas hospitalares, ele e Arthur voltaram para onde estavam<br />

hospedados, arrumaram todos os seus pertences, e repousaram um pouco até a hora do embarque.<br />

A noite já terminava no Brasil, e aproveitando que Duarte já havia se recolhido, Murilo e Marina,<br />

iniciaram uma conversa mais intima, e a colecionadora deu o primeiro passo.<br />

– Pois é, acabou o final de semana, tem mesmo de ir embora?<br />

– Infelizmente sim, teremos mais uma semana difícil na empresa, porque enviamos um diretor até Dubai,<br />

onde tentará salvar um grande contrato, que está prestes a ser quebrado por eles, por causa de todos<br />

263


264<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

estes últimos acontecimentos ruins, então estaremos todos de prontidão, para dar a ele o suporte e apoio<br />

necessários.<br />

– Eu compreendo, eu também tenho uma semana decisiva, porque trouxemos uma peça muito<br />

importante para cá, onde eu e meu pai precisamos, descobrir uma maneira de restaurar este objeto, que<br />

foi roubado recentemente do Nathan, e isso vai ser uma prova de fogo para nós!<br />

– Vou ficar torcendo por vocês, tenho certeza que tem competência suficiente, para realizar este grande<br />

trabalho, agora mudando de assunto, precisamos conversar sobre nós dois, acha que tem alguma chance<br />

da gente ficar juntos?<br />

– Estava esperando você dizer algo a respeito, mas ainda carrego dentro de mim, alguns vestígios da<br />

frustrante relação que tive, coisa que aconteceu pouco tempo atrás.<br />

– Eu sei bem do que está falando, pois também passo por um processo parecido, mas não podemos<br />

parar nossas vidas por isso, e que tal a gente tentar esquecer o passado, e apostar num relacionamento<br />

novo entre nós, o que acha?<br />

– Eu te acho muito interessante, pois além de ser um cara legal e muito culto, também é muito lindo e<br />

sexy!<br />

Murilo achou graça de seu comentário, e meio que embaraçado, procurou ser objetivo em suas palavras.<br />

– Obrigado pela parte que me toca, eu também te acho linda e maravilhosa, e estou tentado desde o dia<br />

que cheguei aqui, em passar uma noite a sós e de amor contigo, mas não tive coragem de me aproximar<br />

desta forma, fiquei com receio de estar avançando o sinal.<br />

– Da minha parte agora o sinal ficou verde, e pelo que sei isso significa siga em frente, então o que está<br />

esperando?<br />

O rapaz se aproximou, pegou delicadamente em suas mãos, a levantou da poltrona que se encontrava,<br />

e a beijou na boca com muita vontade, em seguida, foram para um dos quartos da casa, onde tiraram<br />

todas as suas roupas, e se amaram loucamente por toda aquela madrugada, onde o sexo apenas foi um<br />

complemento, daquela paixão que já se emanava entre os dois.<br />

A noite se foi, assim como também o Domingo, se iniciando mais uma semana, e logo bem cedo o<br />

Boeing 747, partiu dos Estados Unidos rumo ao Brasil, trazendo Nathan e seu fiel advogado, que exaustos<br />

pelo intenso final de semana, procuraram repousar e pouco conversaram.<br />

Porém antes de partirem, haviam contratado uma empresa de segurança, para protegerem Letícia e<br />

seus familiares, como também os transportarem dentro da cidade de Denver, caso houvesse esta<br />

necessidade, mas não ficou só nisso, foi contratado também um advogado local, para cuidar de todos os<br />

documentos necessários, inclusive relacionados ao suposto corpo de Caio.<br />

Já para acompanhar a investigação do sequestro, e paralelamente os desvios do Grupo Etros,<br />

mantiveram o detive contratado no início desta operação, que juntamente com os agentes do FBI,<br />

aguardavam a chegada de Alba nas próximas horas, e assim colocariam a bandida com os outros<br />

suspeitos, pois eles acreditavam que mais cedo ou mais tarde, alguém contaria toda a verdade.<br />

Em terras Canadenses, a chefe Heloise e seu parceiro Parker, arrumavam suas coisas no antigo<br />

esconderijo, de onde pretendiam continuar a dirigir a organização, e para a sua grande e inesperada<br />

surpresa, um de seus comandados lhe entregou um pacote, que havia chegado dias antes de sua<br />

chegada.<br />

Se tratava de uma caixa enviada por Alba, e dentro dela continha um objeto muito pretendido, que era o<br />

colar com o pingente da marca, finalmente chegava em suas mãos esta preciosa relíquia, que veio


<strong>Caminhos</strong><br />

acompanhada de uma carta, onde bandida relatava que havia encontrado a fonte, porém explicou toda a<br />

cena que se desenrolou na biblioteca, e de que fora traída pelo seu contrato, tendo de sair às pressas do<br />

país, por estar sendo procurada pela polícia.<br />

A esta altura eles ainda não sabiam, de sua prisão efetuada na divisa do Canadá, e apesar de ter tido<br />

inúmeras falhas, a chefe considerou esta sua ação significativa, tendo até a intenção de mantê-la no<br />

bando, e após levar a peça até o seu quarto, ficou por horas observando o precioso objeto.<br />

A segunda-feira passava rapidamente, e por volta das treze horas em São Paulo, o voo trazendo Murilo<br />

de Maragogi, chegava pontualmente no aeroporto de Congonhas, onde um motorista da empresa já o<br />

aguardava, levando-o diretamente para a sede na Avenida Paulista, onde terminou a tarde revendo<br />

documentos e contratos, e no final do expediente, seu assessor e melhor amigo, o procurou para<br />

conversar.<br />

– Como foi a viagem e o final de semana, aproveitou bem o descanso?<br />

– A gente nunca descansa o corpo numa viagem, porém fez um bem enorme para minha mente,<br />

digamos que estou me sentindo leve e fortalecido.<br />

– Vamos deixar de conversa fiada, conta logo tudo, pegou a colecionadora?<br />

– Não fala desta maneira, fica parecendo muito vulgar, sabe que sou diferente de você, meu negócio é<br />

romance!<br />

– É verdade mesmo, você é um daqueles amantes a moda antiga.<br />

– Pode rir a vontade, não vai tirar muita coisa de mim, mas posso lhe adiantar que foi realmente<br />

maravilhoso, e ela é um espetáculo de mulher!<br />

– Brincadeiras à parte para descontrair, eu fico feliz por estar se sentindo assim, parece que seu coração<br />

já bate por outra, mas eu não tenho boas notícias para lhe dar, pelo menos eu creio que não sejam boas.<br />

– Lá vem bomba, diga lá, aconteceu algo na minha ausência?<br />

– São notícias de sua ex-secretária Bianca, eu acho que deve se preparar para uma bomba!<br />

– Desembucha logo, do que se trata afinal?<br />

– Ok então lá vai, um dos diretores da filial do Rio de Janeiro, ligou hoje de manhã para o departamento<br />

pessoal, para pedir uma nova secretária de diretoria, parece que a Bianca tem faltado muito ao trabalho, e<br />

vão mudar ela para um outro setor, já que a responsabilidade do cargo exige assiduidade.<br />

– Isso me admira muito, ela sempre foi super responsável no trabalho, o que será que aconteceu?<br />

– Aí é que vem a parte mais complicada, existe uma justificativa bem plausível, para estas faltas<br />

constantes, me desculpe por estragar o seu dia, mas é que ela está grávida!<br />

– O que, tem certeza do que acabou de me dizer?<br />

– Se quiser o pessoal do RH lhe repassa todos os e-mails, eles escanearam todos os exames e<br />

atestados, e imprimiram para anexar na pasta dela.<br />

O impacto desta notícia foi tão grande, que ele precisou se sentar para poder absorver, mas o que<br />

rondava mesmo em seu pensamento, era mesmo uma dúvida muito inquietante, que seu amigo fez<br />

questão de expor rapidamente.<br />

265


<strong>Caminhos</strong><br />

– Cara eu estou muito confuso, e me perdoe por ser tão direto, mas se ela transava com outra mulher,<br />

como foi acabar engravidando?<br />

– Ou ela fez algum tipo de inseminação, porque hoje em dia é muito comum, parceiros do mesmo sexo<br />

criarem filhos, ou conheceu outro homem lá no Rio, sabe mais coisas a respeito?<br />

– Sinto muito, mas tirando os exames e os atestados, todo o resto é pura especulação, e eu só lhe falei<br />

sobre este fato, antes que outra pessoa lhe contasse de outra maneira.<br />

O presidente do grupo agradeceu, e fez questão de ver pessoalmente todos os documentos, e após<br />

confirmar o que o amigo antecipou, encostou sua cabeça na janela da sala, e demonstrou claramente toda<br />

a sua insatisfação.<br />

266


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 63 •<br />

Os motivos do descontentamento de Murilo eram óbvios, o principal é que qualquer coisa relacionada a<br />

Bianca, ainda o balançava muito por dentro, e apesar de ter se apaixonando por Marina, ainda restava<br />

bem lá no fundo, algum tipo daquele antigo sentimento, que na época foi uma paixão alucinante.<br />

Mas também pesava naquele momento, a preocupação com a vida profissional da garota, pois ela<br />

exercia na sede da empresa, um importante cargo em toda a diretoria, e agora trabalhando na filial do Rio,<br />

corria o sério risco, de perder tudo o que havia conquistado, e uma dúvida cruel pairava no ar, ele deveria<br />

interceder por ela, ou a deixaria a sorte de suas próprias escolhas?<br />

Ele até pensou a recorrer a Diego para opinar, mas com certeza o amigo como qualquer outra pessoa,<br />

o aconselharia a deixar este assunto de lado, principalmente por ter sido praticamente humilhado, quando<br />

ela o trocou por uma mulher, caberia a si próprio decidir o rumo a tomar, assim sendo, resolveu encerrar o<br />

expediente, e ir para o seu apartamento.<br />

Já anoitecia na cidade de Londres, quando o Avião levando Carlos Renato e Josie, deixou as terras<br />

britânicas rumo a Dubai, durante toda a tarde que se passou, ele havia acertado junto ao dono da boate,<br />

alguma dívidas e pendências acumuladas pela moça, e após conseguir reservar a passagem dela, por<br />

muita sorte no mesmo voo que o dele, juntos um ao lado do outro, comentavam esta mudança repentina<br />

em seus destinos, e a moça estava totalmente deslumbrada.<br />

– Ainda não acredito nisso tudo, que minha vida deu um giro de cento e oitenta graus, em tão poucos<br />

dias, é muito surreal!<br />

– Lembra que eu disse a você, que comecei a planejar esta viagem e tudo mais, desde o dia em que fui<br />

designado para este trabalho, então, estou muito feliz por acreditar em mim, por confiar e ficar ao meu<br />

lado.<br />

– Imagina, eu é que te agradeço muito, por estar me dando uma segunda chance, poucos homens<br />

fariam isso por mim, mas seja bem sincero comigo, o que realmente espera desta relação?<br />

– Não pense que vou colocar exigências ou regras, digamos que eu espero ser feliz ao seu lado, e o que<br />

realmente importa de hoje em diante, é encontrar uma maneira de vivermos bem, o resto a gente deixa<br />

para que o tempo, se encarregue de ir ajustando.<br />

– Eu esperei por alguém assim a vida toda, onde você estava todos estes anos?<br />

Ela o puxou pela camisa e o beijou, mas foram interrompidos pela presença da comissária, que passava<br />

no corredor distribuindo bebidas, e ao pegar duas taças de champanhe, fizeram um brinde ao amor e ao<br />

futuro.<br />

Em Maragogi, a noite enluarada iluminava o céu, e as milhares de estrelas inspiravam Marina a recordar,<br />

dos bons momentos vividos com Murilo, e após este breve momento de devaneio, retornou para um<br />

cômodo nos fundos da casa, onde o seu pai a aguardava para dar seguimento, ao estudo e manipulação<br />

da chave, que tinham iniciado logo de manhã, mas que não havia tido muito progresso.<br />

– Pai, conseguiu terminar o molde teste?<br />

– Acredito que sim, mas não tem como determinar a codificação dentro da caixa, temos de ir testando e<br />

moldando, conforme os dentes vão aparecendo no molde, quem fez isso tinha muita habilidade.<br />

– Certamente aplicaram algum tipo de técnica bem complexa, mas fala a verdade seu Duarte, não está<br />

empolgado e fascinado, por estar diante de um artefato deste porte, sem falar da ansiedade, de ver o que<br />

realmente tem aí dentro, como se sente num momento destes?<br />

267


– Com uma enorme perspectiva e maravilhado, tirando um pouco das dores que eu sinto, e da<br />

preocupação financeira que nos aguarda, me sinto como era antigamente, instigado por descobrir<br />

mistérios e possibilidades!<br />

268<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Falei com o Nathan um pouco antes de ele embarcar, e me disse que prenderam uma grande parte<br />

dos bandidos, quem sabe não termina logo tudo isso, e a gente volta a nossa vida normal.<br />

– É uma ótima notícia filha, me sinto até um pouco mais aliviado!<br />

– Agora voltando ao foco de nosso trabalho, consegue imaginar ou ter uma ideia, de como é esta fonte<br />

de poder aí dentro?<br />

– Eu imagino algo como uma poderosa energia, e creio que deve ser muito antiga, capaz de desvendar<br />

muitos mitos e mistérios!<br />

– Mesmo que a gente consiga destravar o segredo, teremos de aguardar o Nathan para abri-la, porque<br />

não sabemos se tem de haver algum tipo de preparação, ou até mesmo autorização para ter este acesso,<br />

e devemos a ele a confiança que depositou em nós, agora vamos prosseguir com os testes!<br />

Os colecionadores tinham muita experiência, e certamente encontrariam uma forma de abrir a caixa,<br />

mas o que intrigava os dois com relação a relíquia, era como seria sua aparência e formato, e de que<br />

forma as pedras de cristais, absorviam e acumulavam parte deste poder, tudo isso os motivava<br />

intensamente, a resolver rapidamente este fascinante mistério.<br />

Com um pouco de atraso, o voo Trazendo Nathan e Arthur, chegou ao aeroporto de Guarulhos, e já se<br />

passavam das vinte e três horas, quando após pegarem suas bagagens na esteira, se depararam com um<br />

batalhão de jornalistas, que já aguardava o desembarque do empresário, certamente havia vazado a<br />

notícia de sua chegada, e como ambos foram pegos de surpresa, o mais sensato foi responder a algumas<br />

perguntas, e explicou parcialmente alguns fatos, que se desenrolaram em terras americanas.<br />

Com a interversão de alguns seguranças, eles conseguiram se desvencilhar dos repórteres, e após<br />

entrarem no carro da empresa, que os aguardava na saída do aeroporto, forma diretamente para o hotel,<br />

onde Nathan estava hospedado junto aos outros da casa, e Arthur seguiu para a sua residência.<br />

O Empresário foi recebido por Iris, Gabriel e Elvira, que sabendo de sua chegada, trataram de ir ao seu<br />

encontro, e mesmo cansado pela longa viagem, fez questão de contar a eles, as boas e as más notícias, e<br />

todos ficaram extremamente chocados, com o anúncio da morte de Caio.<br />

Mas ficaram aliviados em saber sobre Letícia, e ambos comentaram que não viam a hora, de poder vê-la<br />

e abraça-la, e assim ficaram conversando por mais algum tempo, e Nathan soube sobre a melhora de<br />

Raul, trocou algumas palavras com Gabriel, e cada um foi para o seu quarto, tendo em mente tudo o que<br />

estavam vivenciando.<br />

Do outro lado da cidade, Dona Angelina que costumava dormir tarde, acompanhava sua série favorita na<br />

tevê, quando em dos comerciais mostraram a reportagem, falando da chegada de Nathan ao Brasil, e<br />

ouviu atentamente o que ele disse a toda imprensa.<br />

Ela possuía consigo alguns dons especiais, dentre eles a leitura da sorte em cartas, e às vezes dizia<br />

enxergar a áurea das pessoas, e no momento da entrevista cedida naquele saguão, ela viu uma intensa<br />

luz brilhante, em torno de todo o corpo do empresário, e se surpreendeu com tamanha energia que<br />

carregava, até então ela apenas imaginava, que somente algum tipo de anjo ou ser alado, poderia ter algo<br />

semelhante a visão que teve, e se prometeu a si mesma, guardar consigo esta percepção.<br />

Ali mesmo em outro apartamento, encontramos Leonardo espiando pela janela, ele aguardava o término<br />

da ronda de Xavier, para poder sair despercebido de todos, pois tinha a intenção de fazer uma visita, ao<br />

qual dias atrás havia recebido um convite.


<strong>Caminhos</strong><br />

Já passava da meia-noite, quando ele bateu na porta de Vanessa, mesmo a garota lhe dando uma certa<br />

autorização, quando então conversavam no jardim das flores, receava pôr a encontrar dormindo ou de mal<br />

humor, mas mesmo assim resolveu se arriscar.<br />

– Quem é?<br />

– Sou eu Leonardo, sei que é um pouco tarde, mas queria muito ver você, mas se quiser eu posso voltar<br />

outro dia!<br />

Ela hesitou mas abriu a porta, e mesmo desconcertada por não estar arrumada, o convidou para entrar e<br />

se sentar, pedindo-lhe um tempo para poder se recompor, e enquanto ele tomava um refrigerante servido<br />

por ela, a garota tomou um banho, trocou de roupas, e se maquiou sem pressa, surpreendendo o rapaz<br />

que a aguardava.<br />

– Puxa vida, como você está linda, tudo isso é por minha causa?<br />

– Convencido você hem, mas não precisa exagerar, porque sei bem que esta maldita doença, acabou<br />

comigo e todo o meu corpo, saiba que eu chamava muito a atenção, agora tenho que ficar escondendo e<br />

cobrindo tudo.<br />

– Bom, não te conheci antes, então só posso falar do que vejo agora, e para mim você está ótima hoje, e<br />

eu não ligo muito para esta coisa de corpo, agora venha aqui e sente ao meu lado, como se sente hoje?<br />

– Depois que tomo a dose de morfina, as dores melhoram por um certo tempo, o duro é que isso vicia,<br />

mas gostei que tenha vindo, estava pensado mesmo em você agora pouco.<br />

– E no que estava pensando sobre mim?<br />

– Estava relembrando nossos encontros no jardim, e acabei viajando em meus pensamentos, como se<br />

nenhum de nós tivéssemos problemas, mas de qualquer forma isso me faz bem, é como um respiro em<br />

meio a tanta desilusão.<br />

Ele não deixou a garota prosseguir com a conversa, a tomou pelos braços, e a beijou como se fosse a<br />

primeira vez, e admirada pela sua ousadia, quis saber o motivo de tê-la beijado.<br />

– Porque fez isso?<br />

– Por inúmeros motivos, quer que eu liste todos eles agora?<br />

– Não precisa, pode continuar me beijando, e se quiser pode me levar para a cama, só peço que seja<br />

gentil e cuidadoso comigo!<br />

– Você tem certeza absoluta, do que acabou de me propor?<br />

– Nunca tive tanta certeza em minha vida, não tenho mais o luxo de deixar para depois, continua, me<br />

beije...<br />

Era um dia especial para os dois jovens, e por algumas horas eles passaram a acreditar, que o universo<br />

havia conspirado para aquele momento, e que não existia mais nada além daquelas paredes, onde juntos<br />

se divertiram e se amaram, e o prazer daqueles momentos românticos, os fez esquecer<br />

momentaneamente, de todos os seus problemas rotineiros.<br />

Já era madrugada, quando Arthur chegou a sua casa, e ficou admirado quando viu que todos o<br />

aguardavam, Elisa, Dirce e Dimas, haviam preparado um jantar especial, e mesmo com o seu atraso por<br />

causa dos jornalistas, eles tiveram a paciência de esperar por aquele, ao qual era especial em suas vidas.<br />

269


<strong>Caminhos</strong><br />

A empregada foi a primeira a abraçar o advogado, lhe dizendo palavras de saudações e boas vindas,<br />

fazendo questão de enfatizar a falta que fez, depois recebeu um forte aperto de mãos de Dimas, e por<br />

último se deparou frente a frente com Elisa, e foi totalmente pego de surpresa, quando ela o abraçou pelo<br />

pescoço, e lhe deu um inesperado e longo beijo.<br />

270


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 64 •<br />

Ao perceberam que o clima havia se tornado romântico, Dirce e Dimas deixaram os dois a sós, e<br />

enquanto colocavam o jantar na mesa, Elisa e Arthur trocaram algumas palavras de carinho, e não houve<br />

a necessidade do advogado, fazer a ela um pedido formal de namoro, coisa que ele já planeja fazer há<br />

tempos, mas que lhe faltava à coragem necessária, por receio da diferença de idade entre os dois.<br />

Depois da conversa rápida, ele subiu até o seu quarto, tomou uma ducha rápida, colocou roupas mais<br />

confortáveis, e desceu para se juntar a eles, contudo, já eram quase duas horas da manhã, e mesmo<br />

assim aquela pequena reunião familiar, lhe fez um bem enorme, depois de tudo que vivenciou nos Estados<br />

unidos, e ao seu término Dirce e Dimas, se recolheram a seus quartos, enquanto o casal dialogava na<br />

sala.<br />

– Você parece estar muito cansado, como foi a viagem?<br />

– Difícil e muito complicada, tem horas que eu não sei como o Nathan aguenta, porque sofre<br />

as consequências diárias destes bandidos, que não lhe dão nenhum tipo de trégua.<br />

– Eu acredito que ele tenha uma força interior tremenda, porque ele parece que não se deixa abater<br />

facilmente, e isso lhe torna alvo de uma grande inveja, principalmente aos olhos de seus inimigos.<br />

– Acho que pode ter razão, mas ainda tem muitas coisas que acontece com ele, que ainda são um<br />

mistério para mim, creio que há algo muito importante que ele esconde, mas tenho certeza que não é nada<br />

ilícito, e que mais cedo ou mais tarde, ele vai acabando expondo para mim.<br />

– Talvez ele ainda não tenha lhe contado, não por falta de confiança na sua pessoa, mas com certeza,<br />

para não lhe envolver mais ainda neste problema, pelo menos é o que eu acho.<br />

– Pode ser que seja, mas de qualquer forma, ele merece todo o nosso apoio, ainda mais após perder o<br />

seu sócio e amigo, agora mudando de assunto, já é muito tarde, não vai dormir?<br />

– Vou sim, estou com muito sono, e você precisa descansar da viagem, outro dia se quiser a gente fica<br />

junto, o que acha?<br />

– Combinado, nós precisamos conversar sobre certas coisas, obrigado pelo jantar, sei que ajudou a<br />

preparar tudo.<br />

– Perto do que fez por mim, isso era o mínimo que podia fazer por você, agora vou me retirar, meus<br />

olhos já estão se fechando, boa noite!<br />

– Boa noite querida, durma bem.<br />

Eles se despediram com mais um beijo carinhoso, e cada qual foi para o seu quarto, ambos com os<br />

pensamentos direcionados, sobre este aparente início de relacionamento, onde o advogado carregava<br />

consigo muitas dúvidas, e principalmente receio por ser mais velho que ela, porém pelo excesso do<br />

cansaço, ambos logo adormeceram.<br />

Aquele resto de madrugada passou rapidamente, e amanheceu o dia na capital paulista, o tempo estava<br />

muito nublado e chuvoso, e as temperaturas haviam baixado bruscamente, dando a sensação térmica de<br />

um dia de inverno, e logo de manhã ao se levantar, Nathan foi procurado pelo seu chefe de segurança, e<br />

foi informado sobre o grande assalto a mansão, que havia ocorrido durante a sua ausência do país.<br />

Imediatamente procurou por Iris, que nada sabia a este respeito, pois por ordens deste mesmo chefe, a<br />

notícia do roubo não foi divulgada, justamente para evitar mais especulações negativas, que certamente<br />

cairiam sobre a vida do empresário.<br />

271


272<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Mesmo atordoado com mais esta bomba, ele agradeceu a iniciativa de abafar o caso, e fez questão de ir<br />

até a propriedade, para assim avaliar pessoalmente, todo o estrago causado ao seu patrimônio, pedindo<br />

para que Iris, Gabriel e Elvira, permanecessem em segurança no hotel, e partiu imediatamente até o local.<br />

Ao chegar à porta da mansão, viu que alguns policiais circulavam pelos arredores, eles procuram por<br />

pistas dos assaltantes, e também analisavam as imagens gravadas pelas câmeras, e quando o<br />

empresário subiu as escadas, ficou desolado com a destruição no corredor, principalmente vendo que a<br />

maioria de suas obras, haviam sido saqueadas pelos criminosos.<br />

Ao procurar pelo policial encarregado da investigação, ele foi questionado se as peças roubadas, tinham<br />

algum tipo de seguro, mas isto ele não soube responder, simplesmente por ainda ter muitas lembranças<br />

bloqueadas, e em seguida, fez questão de ver as imagens do assalto, mas por estarem utilizando<br />

máscaras, inicialmente não foi possível reconhecer nenhum deles.<br />

Após o término da investigação, Nathan ligou imediatamente para Murilo, e o comunicou sobre o que<br />

havia acontecido, recebendo dele amplas palavras de consolação, prometendo ao patrão contratar um<br />

investigador, e providenciar a contratação de uma empresa, para limpar e fazer os reparos necessários na<br />

mansão.<br />

Por falar nos bandidos, estes se encontravam na favela, espalhando todos os produtos do assalto, em<br />

cima de uma mesa no esconderijo, e estavam prestes a iniciar a divisão entre eles, quando o chefe fez<br />

questão de se impor.<br />

– Fiquem sabendo, que metade destas coisas, vão ficar em minha posse por direito, pois fui eu que fiz<br />

todo o planejamento, arrumei o carro e todas as ferramentas, sem falar das roupas e as máscaras que<br />

usaram, e isso também me dá o direito de começar a escolher!<br />

Tanto Militão, Situação, e o outro comparsa que participou, não gostaram nada desta decisão tomada, e<br />

mesmo contrariados por este decreto do chefe, ficaram observando ele pegar as maiores e melhores<br />

peças, principalmente as que continham pedras preciosas, e esta atitude abusiva de sua parte, certamente<br />

lhe renderia futuras consequências.<br />

Ao término da partição dos produtos roubados, cada um saiu em uma direção diferente, Otto guardou<br />

tudo e fechou o esconderijo, voltando com o seu comparsa para um ponto da favela, onde eles vendiam<br />

drogas e artigos ilícitos, enquanto Militão e Situação, esconderam sua parte em outro lugar, justamente por<br />

não confiar em ninguém por ali.<br />

Mas o que nenhum deles havia desconfiado, é que Situação colocou no bolso no dia do roubo, aquele<br />

colar azul que era o predileto de Nathan, e por sorte, com tantas joias e objetos roubados, a sua falta não<br />

foi constatada, e ele tinha a certeza absoluta, que este era um dos mais valiosos dentre todos, e pretendia<br />

vende-lo para fazer uma boa grana.<br />

Ali pertinho nas instalações da ONG, as crianças estavam na hora do recreio, e enquanto alguns<br />

saboreavam a deliciosa merenda, outras brincavam na quadra de esportes, enquanto isso, as professoras<br />

aproveitaram a hora do lanche, para conversarem sobre a amiga distante, e Dulce abriu este dialogo com<br />

Amanda.<br />

– Fiquei mais aliviada hoje, depois de uma rápida conversa com a Letícia, tive a certeza de que ela está<br />

bem e segura, mas por outro lado, estou chateada com a morte do Caio, é uma grande perda para todos<br />

nós!<br />

– Realmente é muito triste este episódio, e por enquanto, eu não vou comentar nada com as crianças,<br />

porque ele costumava brincar muito com elas, sempre quando podia aparecer por aqui, além de ficar<br />

adulando a maioria com presentes.<br />

– É verdade mesmo, nunca vi ele chegar de mãos vazias, e apesar de o achar um pouco estranho, eu


273<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

até que gostava dele, mas temos de seguir com a vida, infelizmente não podemos parar, vamos bater o<br />

sinal?<br />

– Pode deixar que eu faço, depois das aulas terminarem, eu também vou ligar para a Letícia, já combinei<br />

com a mãe dela, assim também mato as saudades!<br />

A tarde da terça-feira já chegava ao fim, e faltando duas horas para o término do expediente, Juliano<br />

procurou o seu encarregado, para novamente o alertar sobre diferenças de estoque, e pelo terceiro mês<br />

consecutivo, suas planilhas apontavam para a falta de alguns produtos, e após rodar grande parte do<br />

galpão, o encontrou falando ao celular.<br />

– Combinado então, ficamos acertados assim, não se esqueça de fazer o depósito combinado, até<br />

mais.... Pode falar Juliano, aconteceu alguma coisa?<br />

– Acabei de conferir alguns itens do setor norte, e novamente há uma diferença na quantidade, e isso<br />

tem sido muito constante, e não consigo encontrar falhas nestes produtos.<br />

– Eu acho que havia dito a você antes, que eu me encarregaria de resolver esta questão, e já requeri ao<br />

setor de logística, me enviar as notas de entrada e saída, por isso, não me perturbe mais com este<br />

assunto!<br />

– Eu só estou fazendo o meu trabalho, e apesar de não achar correto, eu acato a sua ordem.<br />

– E tem mais uma coisa, se eu achar que isso é falha sua, pode ter certeza que será demitido<br />

imediatamente, agora pode ir cuidar de suas obrigações.<br />

Ele saiu cabisbaixo, não tão somente pela arrogância e dura do chefe, mas por se sentir mais uma vez<br />

impotente, e muito humilhado perante mais este fato, dentre os muitos que já cercavam a sua vida, mas<br />

para a sua decepção, o final do dia ainda lhe reservava mais uma surpresa, ao procurar por seu cartão de<br />

ponto, encontrou em seu lugar um aviso de demissão.<br />

Imediatamente se dirigiu ao departamento pessoal, e recebeu a confirmação que havia sido demitido,<br />

com a justificativa de incompetência em seu setor, feita pessoalmente por seu próprio encarregado, e isso<br />

o fez momentaneamente perdeu o chão, deixando-o totalmente sem saber o que dizer ou fazer.<br />

Sem forças até para voltar para casa, chegou até a pegar o coletivo errado, atrasando muito o seu<br />

retorno ao condomínio, gerando mais uma dor de cabeça a ele, pois ao chegar dentro de seu<br />

apartamento, sua esposa Tamares o aguardava muito brava, e nem lhe deu oportunidade de se explicar,<br />

muito menos de desabafar com ela o acontecido, e mais uma vez isso gerou uma enorme discussão.<br />

Se Juliano já estava inconsolável, tanto pela injusta demissão do emprego, e por não ter nesta hora ao<br />

seu lado, alguém que lhe desse apoio, ou algum tipo de conforto moral, acabou indo até o bar do Seu<br />

Barbosa, e sentado em um canto do pequeno estabelecimento, afogou suas mágoas numa garrafa de<br />

conhaque.<br />

No centro de São Paulo, nas dependências do luxuoso hotel, Nathan retornava da ida a mansão, e<br />

assim que conferiu os recados na portaria, deu uma passada pelo quarto de Elvira, e depois no de Iris e<br />

Gabriel, lhes informando tudo sobre o roubo na propriedade, e estava inconsolado por mais este infortúnio.<br />

Não se sentia assim pelas perdas materiais, e sim por talvez se tratar de peças de autoestima, podendo<br />

até terem pertencido a entes queridos, deste seu passado tão misterioso, mas para ter certeza sobre estas<br />

coisas, ele teria de fazer novamente regressões, se utilizando da hipnose e a palavra-chave, mas isso em<br />

uma outra ocasião, quando estivesse com a cabeça menos perturbada.<br />

Elvira comentou com ele, que tinha saudades da moradia, mas que agora temia em retornar para o local,<br />

cogitando até mudar de emprego, mas o empresário pediu para que tivesse paciência, que procuraria


<strong>Caminhos</strong><br />

resolver todas estas questões, ao qual havia envolvido a todos eles, e isso era uma promessa que fazia a<br />

ela.<br />

Após por Gabriel para dormir, Iris foi até a pequena sala que havia no quarto, se sentou no chão, e ficou<br />

olhando algumas fotos em seu álbum, ao quais reuniam alguns momentos de sua família, principalmente<br />

as que continham Raul, ao qual ainda estava internado no hospital, e ela não via a hora dele receber a<br />

alta, para poder ficar junto ao marido, que era o seu único e verdadeiro amor.<br />

274


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 65 •<br />

Depois de curtir seus devaneios, Iris trocou de roupas e foi se deitar, enquanto ali mesmo no hotel,<br />

Nathan havia tomado um banho bem quente, procurando relaxar de mais este dia tenso que terminava, e<br />

se aproveitou da diferença de horários, que eram aproximadamente de três horas a menos, entre o<br />

território americano e o Brasil, e ligou para o celular de Letícia.<br />

– Oi meu amor, tudo bem com você, como foi o seu dia hoje?<br />

– Eu estou melhor, ainda me sentindo um pouco enjoada, mas sei que é por causa das fortes<br />

medicações, mas eu estava preocupada com você, tudo certo por aí? Porque não me ligou antes?<br />

– Me desculpe por não ligar mais cedo, é porque eu tive um contratempo na mansão, e acabei ficando<br />

quase o dia todo por lá.<br />

– Pelo seu tom de voz aconteceu algo, que falar a respeito?<br />

– Melhor não, são coisas passíveis de serem resolvidas, o que mais importa é que todos por aqui estão<br />

bem, e nossos amigos muito bem seguros!<br />

– Você se referiu a todos menos de você, tem certeza de que não quer desabafar comigo?<br />

– Quando você retornar a gente conversa, alguma novidade por aí, seus pais estão bem?<br />

– Estão sim, obrigado por perguntar, mas aconteceu algo muito chato hoje a tarde, dois policiais vieram<br />

me fazer perguntas, e foi muito cansativo.<br />

– É sobre o sequestro, o que eles abordaram?<br />

– Nossa, me fizeram tantas perguntas, que em um determinado momento do interrogatório, eu até<br />

acabei me perdendo um pouco, mas eles foram superpacientes comigo, mas fizeram questão de saber<br />

todos os detalhes.<br />

– Eu sinto muito de ter de passar por estas coisas, mas sabíamos que isso iria acontecer mesmo, e<br />

chegaram a lhe falar algo, se haviam feito algum progresso?<br />

– Eles não dizem muitas coisas, são muito restritos e concentrados, mas comentaram meio que por<br />

cima, que aquela filha duma mãe da Alba, já está presa juntos com os outros criminosos, e que os estão<br />

interrogando diariamente, na tentativa de concluírem o caso.<br />

– É uma excelente notícia, tenho certeza de que logo eles descobrirão, todos os responsáveis por este<br />

crime brutal, creio que é questão de tempo.<br />

– Tem mais uma coisa, eles querem que eu vá com eles, tentar reconhecer o corpo do Caio, senão terão<br />

de enterrá-lo como indigente, e sei que somente eu poderei fazer isso, porque você não tem permissão<br />

para voltar aqui, e pelo que sempre me contou, não sabe do paradeiro de nenhum parente dele.<br />

– Acha que terá condições de realizar o reconhecimento?<br />

– Vou ter de arranjar muita força, mas devo isso a ele, pois nos dias em que ficamos presos, e éramos<br />

torturados o tempo todo, o Caio me defendia e me dava esperanças, que sairíamos vivos desta situação,<br />

sofro só de pensar no que passamos naquele cativeiro.<br />

– Não pense mais nisso agora, procure descansar um pouco e durma, amanhã eu ligo para ver<br />

como você esta, boa noite, um beijo especial para você!<br />

275


<strong>Caminhos</strong><br />

– Boa noite meu amor, eu te amo e sempre te amarei!<br />

Ele encerrou a ligação sob muitas lágrimas, e em nenhum momento da conversa, deixou que ela<br />

percebesse a sua profunda tristeza, não tão somente por se lembrar do fiel amigo, mas também por saber<br />

que sofreram tanto, nas mãos destes inescrupulosos bandidos.<br />

No bar do condomínio, Seu Moreira avisou delicadamente a Juliano, que já era quase madrugada, e<br />

precisava fechar o seu estabelecimento, além disso, ele já havia bebido muito, e se encontrava totalmente<br />

embriagado, e aceitando o pedido para se retirar, pagou a conta, e saiu resmungando sozinho.<br />

Ele tinha todos os motivos do mundo para estar assim, e sem ter com quem contar numa hora destas,<br />

em vez de retornar para o seu apartamento, resolveu ir e se sentar no banco do jardim, onde permaneceu<br />

imóvel, e parcialmente sem rumo.<br />

Regina que o havia visto saindo do bar, aguardou por alguns minutos, e foi até lá para aborda-lo, e sem<br />

temer algum tipo de consequência, se sentou bem ao seu lado, e lhe dirigiu carinhosamente a palavra,<br />

dizendo frases de consolação e bom ânimo, mas ela não resistiu a esta oportunidade, e demonstrando o<br />

amor guardado em seu peito, secretamente por longos dois anos, o beijou na boca por alguns segundos,<br />

deixando ambos parcialmente sem jeito, e depois de se olharam mutualmente, envergonhados pela cena<br />

que se desenrolou, voltaram rapidamente para as suas moradias.<br />

Após terem feito uma escala na Grécia, em quase dois dias de viagem, Carlos Renato e Josie chegaram<br />

a Dubai, e a moça se surpreendeu com a grandeza do aeroporto, porque a aeronave levou cerca de<br />

quinze minutos, somente para poder encostar-se ao terminal, e após passarem pela sala de imigração,<br />

foram levados pessoalmente a um luxuoso hotel, por um funcionário do consórcio árabe.<br />

Já amanhecia nos Emirados Árabes, que tinha sete horas a mais que o Brasil, e o casal exausto pela<br />

longa viagem, se acomodaram rapidamente em seus quartos, e dormiram profundamente até a parte da<br />

tarde, e depois de fazerem uma deliciosa refeição, procuraram se habituar ao fuso horário, e decidiram<br />

passear pela maravilhosa cidade.<br />

Eles ficaram deslumbrados com a beleza do lugar, além de ser uma das mais modernas cidades do<br />

mundo, tudo era planejado com a mais pura perfeição, e juntos de dentro de um trem bala, curtiam tudo ao<br />

seu redor, aproveitando este momento perfeito em suas vidas.<br />

Josie e Carlos Renato, aproveitaram ao máximo aquele dia, onde conheceram muitos lugares<br />

interessantes, dentre eles o Dubai Aquarium, um dos maiores tanques do mundo, com milhares de<br />

espécies marinhas, que tornava todo aquele imenso lugar, num fictício fundo de oceano.<br />

Já escurecia quando os dois retornaram ao hotel, e tudo indicava que aquela noite seria muito especial,<br />

não tão somente por este dia perfeito, mas simplesmente por notarem o indicio de estarem apaixonados, e<br />

queriam aproveitar estes momentos de tranquilidade, porque no dia seguinte ele iniciaria seu trabalho,<br />

onde tentaria convencer o Sheik árabe, a não reincidir o contrato da construção.<br />

Alguns dias se passaram, e Carlos Renato com toda sua experiência, conseguiu contornar todas as<br />

desconfianças e empecilhos, que cercavam o grande negócio milionário, convencendo os envolvidos deste<br />

fabuloso projeto, a fazer o depósito inicial nas contas da empresa, e com isso ele conseguia sanar os<br />

rombos causados, pelos desvios realizados pelos criminosos.<br />

No Brasil, tantos os executivos quanto os acionistas, comemoraram muito este grande feito,<br />

principalmente Murilo e Diego, que eram o ponto forte desta nova presidência, e Nathan ao ser notificado<br />

sobre o fato, deixou o hotel indo até a sede, e aproveitou para se inteirar de outros assuntos, e Murilo foi o<br />

primeiro a lhe receber.<br />

– Bom dia chefe, já estava lhe aguardando.<br />

276


– Bom dia, parece que as coisas começaram a se equilibrarem, como estão os ânimos e as ações?<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Com esta confirmação do depósito, fechando juridicamente o contrato firmado, os boatos se cessaram<br />

no mercado financeiro, e todos terão um bom lucro com esta construção, e as ações subiram quase vinte<br />

por cento na bolsa, com isso creio que podemos assim dizer, que voltamos ao topo dos negócios.<br />

– Enfim boas notícias, e agora podemos nos concentrar naquele outro problema, estamos devendo as<br />

soluções prometidas, a todo aquele pessoal do condomínio, o que acha de pegarmos firmes agora, e<br />

resolvermos todas as questões pendentes?<br />

– Você parece que adivinhou, eu já havia marcado em minha agenda, uma visita para hoje a tarde, onde<br />

pretendo anunciar a todos, que você comprou a parte dos acionistas, e agora é o único proprietário dos<br />

apartamentos.<br />

– Isto significa que conseguiu fechar o negócio com todos, ótimo trabalho, mas não vamos impor a eles<br />

desta forma, eu penso que devemos agir de outra maneira.<br />

– O que pretende fazer?<br />

– Anteriormente eu havia conversado com o Arthur, e pensei em criar um fundo para o condomínio,<br />

sendo que toda a propriedade ficaria, como sendo uma sociedade privada, e todos os moradores teriam<br />

acesso as contas, aos pagamentos, e também aos projetos, assim em vez de pagarem aluguel, pagariam<br />

por seus próprios imóveis.<br />

– Mas mesmo você tendo comprado, e assim quitado com os antigos donos, todas as dívidas dos<br />

inquilinos atrasados, ainda restam todas as reformas, e alguns projetos que ainda não foram concluídos.<br />

– É aí que eu quero que você entre, pensei em lhe convidar para gerenciar o fundo, e é claro que se<br />

aceitar, será muito bem remunerado, e também pretendo gerar alguns eventos, para arrecadar as quantias<br />

que serão necessárias, e assim efetuar todas estas obras.<br />

– Fico muito honrado com este convite, por me dar uma grande oportunidade, de participar de algo<br />

assim tão maravilhoso, e nem pense em me falar sobre pagamento, estou contigo nesta empreitada, e fico<br />

admirado com a sua tamanha bondade, que sempre carrega consigo o tempo todo.<br />

Nathan ficou feliz com este comentário, porque dentro de si acumulava todo o peso, de acreditar que só<br />

atraia o mal para as pessoas, e por falar neste mal, Heloise e Parker ouviram juntos no viva voz, um<br />

telefonema de uma das células, onde lhes foi relatado com detalhes, sobre a prisão e transferência de<br />

Alba, e que certamente seria duramente interrogada, juntamente com o senhor Austin Black, e agora eles<br />

comentavam sobre o fato.<br />

– Não creio que devemos confiar nestes dois, principalmente o Black, porque ele é o único dentre todos,<br />

que conhece a sua verdadeira identidade.<br />

– E o que sugere que façamos, para nos assegurarmos e termos a certeza, que não dê com a língua nos<br />

dentes?<br />

– Devemos acionar a célula mais próxima, e o eliminar o mais rápido possível, isso se já não for<br />

tarde demais, você autoriza esta ação?<br />

– Apesar de tudo gosto do Black, sempre fez corretamente todos os trabalhos, mas não posso me<br />

arriscar a perder tudo, justamente agora que tenho em mãos a chave, e estou tão perto de me aproximar<br />

da fonte, neste caso pode prosseguir com o descarte!<br />

– E quanto a moça, como devemos proceder?<br />

277


<strong>Caminhos</strong><br />

– Por enquanto vamos deixar como está, o máximo que ela pode contar é sobre alguns procedimentos,<br />

mas nada que possa nos comprometer, e acredito por ela ter um amplo treinamento, que não irá ceder a<br />

pressão dos policiais.<br />

Ele acatou todas as ordens e saiu da sala, enquanto a chefe ficou muito pensativa, imaginando uma<br />

forma de colocar as mãos na fonte, e possivelmente para realizar esta ofensiva final, teria de viajar até o<br />

Brasil, e confrontar pessoalmente, aquele que era o detentor deste grande poder.<br />

278


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 66 •<br />

A noite caiu rapidamente em Maragogi, e uma leve brisa fria, trouxe aos dois colecionadores, muitas<br />

lembranças da capital paulista, principalmente de casa e do Antiquário, onde haviam passado a maior<br />

parte de suas vidas, mas estes devaneios foram quebrados por Marina, quando mais um dos moldes da<br />

chave foi finalizado.<br />

– O que acha pai, será que já podemos fazer outra tentativa?<br />

– Acho que já secou o suficiente, vamos cruzar os dedos para que esta funcione, pelas minhas contas,<br />

já fizemos mais de vinte matrizes, não está cansada, quer deixar para amanhã cedo?<br />

– De forma alguma, estou louca para concluirmos este trabalho, principalmente em desvendar este<br />

mistério!<br />

– Vale sempre lembrar, que temos recomendações do Nathan, para abrirmos somente em sua presença,<br />

pois não sabemos como lidar corretamente, com o que deve estar do lado de dentro.<br />

– Certamente respeitaremos esta restrição, mas será que ele vai se lembrar de como proceder?<br />

– Isso só saberemos na hora que acontecer, agora vamos até a caixa, e descobrir se ainda precisa de<br />

mais algum ajuste.<br />

– Vamos lá, e boa sorte a nós dois!<br />

Eles saíram do cômodo onde estavam, e foram até outro que estava trancado, e cuidadosamente foi<br />

introduzindo a chave de cobre, que ambos haviam manipulado, ela tinha a aparência de uma medalha,<br />

porém em sua parte posterior, haviam pequenos dentes sobrepostos, que encaixavam numa espécie de<br />

tranca, que foi genialmente construída no passado, por alguém muito inteligente e brilhante.<br />

Pela primeira vez, a peça se encaixou até o seu final, e todo aquele silencio e suspense foi quebrado,<br />

quando o colecionador o girou para o norte, e um estalo de destravamento foi-se ouvido, e com isso uma<br />

forte luz saiu pelas frestas da tampa, era o indício que haviam conseguido, e os dois se abraçaram<br />

fortemente, comemorando o sucesso desta difícil empreitada.<br />

Depois de passada toda essa euforia, eles travaram o fecho rapidamente, e fecharam novamente o<br />

local, e a caminho da sala de estar, Marina fez questão de ligar para o empresário, que se encontrava<br />

dentro do quarto do hotel, e este a atendeu prontamente.<br />

– Oi Marina, não esperava hoje uma ligação sua, tudo bem com vocês?<br />

– Tudo ótimo, tenho uma grande novidade para lhe contar!<br />

– É algo sobre aquela chave da marca?<br />

– Exatamente, conseguimos destravar a tranca da caixa, agora aguardamos as suas próximas<br />

instruções.<br />

– Então não chegaram a abrir e ver seu conteúdo?<br />

– Não vou mentir que tivemos a curiosidade, mas seguimos à risca suas instruções, agora é com você!<br />

– Eu preciso de pelo menos dois dias, para poder me preparar e ir até vocês, eu tenho um compromisso<br />

da empresa amanhã, onde preciso tomar algumas providências, depois disso pego um jatinho e vou.<br />

– Então fica combinado assim, aguardamos ansiosos pela sua chegada.<br />

279


<strong>Caminhos</strong><br />

– Ótimo trabalho que realizaram, dê os parabéns ao seu pai, diga que lhe mandei um abraço.<br />

– Pode deixar que eu digo, um outro para você!<br />

O empresário imediatamente olhou em seus contatos, procurou pelo número de seu psiquiatra, e ligou<br />

para ele, onde o informou de seus progressos com a memória, principalmente ressaltando aquela noite,<br />

em que sozinho fez uma sessão de hipnose.<br />

Logicamente, não se esqueceu de pedir desculpas pelo horário, mas o próprio médico já havia afirmado,<br />

que poderia consulta-lo a qualquer hora do dia, e percebendo a intenção de Nathan, em fazer uma outra<br />

sessão, se ofereceu para ajuda-lo, marcando uma visita no hotel para o dia seguinte, mais precisamente<br />

na parte da noite, e depois de tudo acertado, se despediu e desceu para o jantar.<br />

Do outro lado da cidade, Leonardo e Vanessa marcaram de se encontrar no jardim, e por causa da<br />

correria com o processo de internação, ao qual o rapaz juntamente com sua mãe, tentavam uma vaga<br />

para o seu tratamento, os dois jovens quase não se encontraram, depois daquela noite em que ficaram<br />

juntos, e Vanessa declarou os seus sentimentos a ele:<br />

– Pensei em você o dia todo, estava morrendo de vontade de te ver!<br />

– Também pensei muito em você, estava louco por um beijo seu, e também poder ficar assim bem<br />

juntinho, mas precisamos conversar sobre algo.<br />

– O que foi, é sobre o seu tratamento, conseguiu a vaga para se tratar?<br />

– Isso mesmo, o pedido foi aprovado hoje a tarde.<br />

– Mas por que parece estar triste, não era o que você e sua mãe queriam?<br />

– Ela está felicíssima, quanto a mim estou contente, porém vou ter de ficar longe de você, logo agora<br />

que nos entendemos, o que vamos fazer?<br />

– Eu já estava esperando por isso, para quando marcaram a viagem?<br />

– Para a semana que vem, só temos mais alguns dias para ficarmos juntos, caramba, essa vida é muito<br />

complicada mesmo!<br />

Eles se sentaram no beiral de concreto, e se abraçaram fortemente, tentando imaginar uma maneira de<br />

ficarem juntos, mas quem sabe o universo conspire a favor deles, e num futuro próximo, lhes reserve<br />

surpresas inimagináveis.<br />

No dia seguinte logo de manhã, Iris foi com Gabriel até o hospital, estavam muito animados e ansiosos,<br />

porque hoje Raul receberia a sua alta, e já recuperado dos tiros que levou, pretendia seguir com sua vida<br />

em frente, mas desta vez direcionado a cuidar da família.<br />

Depois que resolveram os tramites burocráticos, ele foi amparado pelo novo motorista, que os<br />

encaminhou até o carro, e assim que se acomodou no banco de traz, quis saber se havia perdido seu<br />

emprego, e foi logo questionando Iris:<br />

– Quer dizer que já contrataram outro motorista?<br />

– Exatamente, o nome dele é Getúlio, e digamos de passagem que é muito eficiente!<br />

– E você me diz assim desta maneira, até parece que ficou satisfeita, por eu ter perdido o meu cargo, o<br />

que houve?<br />

280


– Não sou eu que vou te dizer, o Nathan me fez um comunicado hoje cedo, e pediu para que você<br />

mesmo falasse com ele, aqui está o celular e o número, agora é com você.<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Ele segurou o aparelho entre as mãos, e ficou sem entender o que acontecia, porém com a insistência<br />

da esposa, ele apertou o contato na tela, e ouviu o que o empresário tinha a lhe falar:<br />

– Raul bom dia, este aparelho celular é seu, de agora em diante sempre que precisarmos nos falar,<br />

teremos esta linha direta para nos comunicarmos, eu peço desculpas por não estar presente a sua alta,<br />

mas é que já havia agendado um compromisso para hoje, se sente melhor?<br />

– Estou muito bem, obrigado por pagar todas as despesas do hospital.<br />

– Isso era o mínimo que eu devia fazer, você salvou a minha vida, e jamais me esquecerei deste fato.<br />

– Só não entendi, porque tirou o meu emprego, acha que não tenho mais condições de fazê-lo?<br />

– Nada disso, é que acredito que as suas qualidades, vão além dos serviços de motorista, por isso a<br />

partir de agora, você terá um novo cargo dentro do grupo.<br />

– E qual seria este novo cargo?<br />

– Você irá comandar toda a equipe de segurança, tanto nas empresas, como também em minhas<br />

propriedades, só que antes precisamos acertar o seu salário, acredito que chegaremos a um valor justo,<br />

que possa lhe dar uma boa estabilidade, tanto para você como a sua família.<br />

– Eu nem sei como lhe agradecer, por tudo o que tem feito para todos nós, hoje eu consigo enxergar, o<br />

que o Gabriel já via em você antes, é realmente uma ótima pessoa!<br />

– Faço o que acredito ser correto, mas agora vá para o hotel e repouse bastante, e quando se sentir<br />

preparado, assuma o seu novo posto, um grande abraço, a gente se fala depois.<br />

Iris sorriu demonstrando que já sabia de tudo, e Gabriel deu um abraço no pai, constatando com muito<br />

carinho, toda a falta que fez a ele, e certamente após todas estas mudanças, tudo melhoraria em seus<br />

caminhos.<br />

Conforme haviam combinado no dia anterior, o empresário e o jovem presidente do grupo, foram juntos<br />

na parte da tarde ao condomínio, e ambos analisaram junto a Xavier, toda a infraestrutura do local,<br />

principalmente os pontos críticos e inacabados, que eram os mais requisitados pelos moradores, e o<br />

sindico apontou para o principal deles.<br />

– Está vendo este espaço vazio aqui doutor, há mais de cinco anos prometeram construir uma piscina,<br />

inclusive consta tudo na planta original, mas nunca saiu do papel, e desde a inauguração do condomínio,<br />

vem sendo cobrado uma taxa mensal, referente ao lazer coletivo.<br />

– Isso não é justo mesmo, mas tudo será resolvido na reunião de logo mais.<br />

Murilo pegou a sua agenda, e inquiriu Xavier sobre o compromisso.<br />

– Você conseguiu comunicar todos os inquilinos?<br />

– Sim senhor, todos foram avisados com antecedência, confirmado para as sete da noite!<br />

– Perfeito, creio que todos ficaram satisfeitos, com todas as novidades que serão apresentadas, e<br />

também implantadas a partir desta data, o que acha Nathan?<br />

281


<strong>Caminhos</strong><br />

– Eu também acredito nisso, agora nos mostre os problemas do salão de festas, ele será parte<br />

importante no nosso projeto.<br />

– Vamos então até lá, os senhores já tiveram no local uma vez, quando houve aquela reunião de acerto,<br />

vocês se lembram?<br />

– Muito parcialmente, eu e o Nathan, ficamos concentrados na pauta apresentada, e não deu para<br />

reparar muito na estrutura.<br />

– Mas hoje isso será diferente, não teremos nada que nos tire este foco, por favor vá na frente, e mostre<br />

tudo para mim e para o Murilo, o que realmente precisa ser feito.<br />

O clima de ânimo dos dois executivos era aparente, e isso também contagiou o nosso síndico, que pela<br />

primeira vez passava a acreditar, que de fato seriam realizadas as promessas, e assim que<br />

concluíram todas as inspeções, aguardaram a reunião para se pronunciarem.<br />

Neste final de tarde na capital, acontecia a apresentação dos novos funcionários, no escritório de<br />

advocacia de Arthur, de um lado Dimas, que era recém-formado em administração, e do outro Elisa, que<br />

não tinha formação profissional, porém muita vontade de aprender e de se adequar.<br />

Ao lado deles estava Saulo, que também era advogado e sócio do escritório, e ambos tiveram uma<br />

conversa produtiva, e por sinal muito descontraída, e Arthur na outra ponta da mesa, ouvia atentamente a<br />

cada um deles, e no final se pronunciou, especificando a função de cada um, onde colocaria Dimas na<br />

parte fiscal e contábil, e Elisa para ser sua secretária pessoal, e no final todos saíram satisfeitos, cheios de<br />

grandes expectativas.<br />

282


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 67 •<br />

Ao final da reunião, Raul e Saulo acertaram os últimos detalhes da contratação, e com tudo<br />

aparentemente resolvido, os dois sócios se despediram, e cada qual foi para suas respectivas casas.<br />

Ao chegar à residência do advogado, Dimas foi correndo contar as novidades para a mãe, que muito<br />

emocionada, deixou cair algumas lágrimas de contentamento, porém Elisa, mal teve tempo de refletir as<br />

novidades, porque Raul a convidou para jantar fora.<br />

Extremamente feliz com o convite, ela subiu correndo para o seu quarto, tomou um banho, e tratou de se<br />

arrumar, enquanto isso Arthur fez o mesmo, só que para variar, ele teve de ficar esperando muito, mas no<br />

final valeu a pena, porque a moça estava simplesmente maravilhosa.<br />

Após cerca de quarenta minutos, eles chegaram a um luxuoso restaurante, deixando Elisa de boca<br />

aberta, e maravilhada com a beleza e elegância do local, e assim que se acomodaram na mesa reservada,<br />

deu-se início a um diálogo muito interessante, e ela foi a primeira a falar:<br />

– Eu não estou acreditando que estou aqui, parece aqueles restaurantes de novela, eu acho até que<br />

nem estou preparada, sou uma pessoa simples, nem sei comer num lugar desses!<br />

– Eu quero que se sinta bem à vontade, coma e beba da maneira que quiser, creio que ninguém veio até<br />

aqui, para ficar olhando a vida alheia, não se preocupe e se sinta em casa, está bem?<br />

– Vou tentar, a gente tem mesmo esta mania de ficar se preocupando, com o que as pessoas vão olhar<br />

ou pensar de nós, mas você me parece tenso, tem algo lhe incomodando, é alguma coisa de trabalho?<br />

– Nada de trabalho hoje, é que já faz algum tempo, que quero ter esta conversa com você, mas estou<br />

numa situação muito delicada, e na verdade nem sei por onde começar.<br />

– Olha você sabe que apesar de nova, eu já tenho um pouco de vivência, e sei bem quando um homem<br />

fica interessado por mim, é sobre isso que quer falar?<br />

– Vejo que é direta e não lhe escapa nada, é sobre isso mesmo que preciso lhe falar, pode até ser que<br />

eu tenha entendido errado, mas percebi que também tem certo interesse em mim, e esta é a grande<br />

questão.<br />

– Não entendo, do que então você está falando?<br />

– Digamos que sofri na mão de certas mulheres, que na maioria das vezes, estavam comigo somente<br />

por vantagens e dinheiro, mas peço que não me leve a mal, por lhe dizer assim estas coisas.<br />

– Não se preocupe, não me sinto ofendida com isso, pelo contrário, acredito que devemos deixar as<br />

coisas às claras mesmo, mas me diga sinceramente, do que realmente tem medo?<br />

– Várias coisas, dentre elas é o receio de que queira me agradar, somente por eu ter lhe ajudado em<br />

algumas coisas, e também porque sou bem mais velho que você.<br />

– Olha eu não sou mulher de ficar repetindo as coisas, por isso quero que preste bem a atenção, em<br />

tudo o que vou lhe falar, ok?<br />

– Ok, então diga o que pensa!<br />

– Primeiro, não foi algumas coisas que fez por mim, você pegou uma desconhecida da rua, deu<br />

tratamento médico, a acolheu em sua própria casa, e agora lhe deu uma grande oportunidade de trabalho.<br />

– É verdade, mas tenho certeza que muitos também fariam isso!<br />

283


<strong>Caminhos</strong><br />

– Pode até ser, mas acho isso pouco provável, mas não vem ao caso agora, o que importa é que eu sei<br />

separar as coisas, então fique sabendo doutor, se caso acontecer algo entre nós dois, a moça agradecida<br />

é uma, e a mulher apaixonada é outra!<br />

– Isto quer dizer que gosta realmente de mim?<br />

– Meu coração bate mais forte, desde quando o vi pela primeira vez, até então eu ainda não entendia<br />

este sentimento, até que ficamos separados pelo meu tratamento, foi aí que entendi o que eu sentia por<br />

você, que era mesmo amor de verdade, eu amo você!<br />

– Eu também te amo muito, não tem um momento do meu dia, que eu deixe de pensar em você, mas<br />

tenho alguns receios que...<br />

Ela não permitiu que ele terminasse a frase, e o beijou na frente de todos no restaurante, a ponto de<br />

deixa-lo totalmente desconcertado, mas foi salvo pelo garçom que chegou, lhes servindo o vinho pedido<br />

anteriormente, e depois de um jantar fabuloso, eles foram para casa cheios de expectativas, mas o<br />

advogado perante a alguns entraves, se despediu, e foi sozinho para o seu quarto.<br />

De volta ao condomínio, por se tratar de uma das reuniões mais importantes, praticamente todos os<br />

moradores se faziam presentes, e faltando pouco tempo para o seu início, apenas duas pessoas se faziam<br />

ausente, e uma delas era Juliano, que ficou perto da rampa a espera de Regina.<br />

– Que susto, desci tão distraída que nem lhe vi, não vai na reunião?<br />

– Não estou muito animado, mas eu estava mesmo lhe esperando, porque eu preciso te fazer uma<br />

pergunta, porque me beijou naquela noite?<br />

– Sabe muito bem porque fiz isso, você finge que nunca percebe, mas sempre soube que gosto de você,<br />

e eu sempre lhe respeitei por ser casado, mas cansei de vê-lo sofrer e ser maltratado, e se quer saber<br />

mesmo, eu lhe desejo muito como homem!<br />

A esta altura dos acontecimentos, por todos os males que enfrentava em sua vida, ele teve um impulso<br />

rápido, e nem pensou duas vezes nas consequências, a pegou pelos braços, e a levou até um vestiário<br />

próximo, e após alguns beijos e trocas de carícias, eles acabaram transando ali mesmo, se entregando<br />

inteiramente um ao outro.<br />

Os dois não acreditavam que estavam ali juntos, e ambos chegaram juntos, ao auge do prazer com<br />

todas as forças, e ali entre gemidos e corpos se apertando, se amaram por mais alguns minutos, até que<br />

terminaram esta transa rápida, trocando em seguida algumas impressões, Regina é a que estava mais<br />

eufórica.<br />

– Nem acredito que fizemos uma coisa dessas, eu imaginei algo assim por muito tempo, e agora você<br />

está aqui comigo, quero muito saber o que achou, se arrepende de algo?<br />

– De forma alguma, só estou refletindo no que acabamos de fazer, porque você me fez sentir como<br />

homem novamente, faz anos que eu pareço só vegetar, eu até cheguei a acreditar que tinha problemas,<br />

mas me parece ser tudo psicológico, e estou me sentindo muito bem agora.<br />

– Na verdade, eu sonhava assim com um encontro, e por muitas e muitas vezes, eu deitava em minha<br />

cama a noite, e me imaginava estar juntinho assim de você, e foi tudo como achei que fosse, estou muito<br />

feliz!<br />

– Ainda estou um pouco confuso, tenho vários sentimentos pairando em minha cabeça, mas não<br />

sinto culpa e nem arrependimento, porque minha esposa nem liga para mim, nem pude contar a ela que<br />

fui despedido do emprego, acredito que estou num beco sem saída.<br />

284


<strong>Caminhos</strong><br />

– Não fale assim, as vezes coisas acontecem em nossas vidas, e trazem consigo algumas mudanças,<br />

principalmente dentro da gente mesmo, o que precisa é começar a mudar suas atitudes, principalmente<br />

impor respeito e confiança em si mesmo.<br />

– Você falando assim parece fácil, mas acontece que estou cheio de dívidas, e agora sem trabalho não<br />

sei o que vou fazer.<br />

– Olha estão começando a reunião, faça o seguinte, eu vou na frente, e depois você aparece por lá, e<br />

quando terminar as conversações, dê um pulo na casa da Dona Angelina, converse um pouco com ela,<br />

tenho certeza que encontrara respostas para o que precisa, peço que confie em mim, tudo bem?<br />

– Certo, vou fazer como me falou, e a gente se fala depois, valeu mesmo pela força, valeu por estes<br />

momentos juntos!<br />

Antes de saírem do vestiário, eles ainda se deram um longo beijo, e cada qual chegou separadamente<br />

ao salão, e sem que ninguém desconfiasse de nada, se acomodaram em seus lugares, e começaram a<br />

ouvir Murilo, que já havia iniciado a palestra.<br />

– Com eu estava dizendo a vocês, uma nova gestão estará a partir de agora, a frente do condomínio<br />

Fiorenza II, onde já a partir de amanhã, iniciaremos algumas obras e outros benefícios, que trarão a todos<br />

a qualidade de moradia necessária, para terem uma vida melhor e mais tranquila.<br />

Para não perder o costume, Tamares se levantou esbravejando:<br />

– Mas isso é mesmo para valer, ou é outro blá blá blá como sempre?<br />

– Acredito que todos devem ter reparado, que ao meu lado está o empresário Nathan, e que agora é o<br />

novo dono de toda a propriedade, pois ele comprou a parte dos outros acionistas, e vai dizer a vocês<br />

agora, algumas das primeiras mudanças e providências, que se iniciarão nesta nova administração.<br />

– Boa noite a todos, a primeira medida a ser tomada, é que todas as dívidas dos moradores serão<br />

zeradas.<br />

Ao dizer estas palavras, houve um grande alarido no ambiente, onde parte comemorou, e uma outra<br />

reclamou, isso por conta de não achar justa esta decisão, para quem havia pagado sempre em dia, mas<br />

com pedidos de ordem por parte de Xavier, a conversa pôde prosseguir.<br />

– A outra medida que tomamos, é que os que estavam com suas contas em dia, ficarão com um crédito<br />

em uma conta, que criaremos para cada um dos condôminos, numa espécie de fundo do condomínio,<br />

que poderá ser utilizado futuramente, para a compra de seus próprios imóveis.<br />

Desta vez, houve o contentamento da outra parte, e com este ambiente mais leve e descontraído, ele<br />

anunciou as outras medidas.<br />

– Eu e o Murilo, visitamos os outros dois condomínios vizinhos, o Fiorenza I e o III, e vimos<br />

claramente que eles têm uma infraestrutura muito melhor, e por ser tratarem de projetos semelhantes, de<br />

um mesmo propósito original, achamos que devemos deixar este aqui, com o mesmo padrão dos outros<br />

dois, ou quem sabe até melhor!<br />

Todos aclamaram estas últimas palavras, e as pessoas pareciam estar extasiadas, parecendo não<br />

acreditar no que ouviam, e em tudo o que acontecia naquela noite, e após aguardar a euforia passar,<br />

Murilo pegou o microfone que lhe foi passado, e anunciou as principais mudanças aos moradores.<br />

– Como dito anteriormente, serão analisados os valores para créditos, dos que tinham suas contas em<br />

dia, equivalente ao que estavam em débito, e partir desta data, em vez de pagarem seus aluguéis, estes<br />

285


<strong>Caminhos</strong><br />

valores contarão para a compra do próprio apartamento, ou seja, estarão pagando por sua casa própria, o<br />

Nathan vai lhes explicar:<br />

– Aqueles que estão sem emprego, ou sem condições de pagar a prestação, que será estipulada com<br />

valores menores, poderão contribuir com trabalhos aqui mesmo no condomínio, sem falar das festas que<br />

pretendemos realizar aqui no salão, para arrecadarmos os valores gastos pelas obras, acreditamos que<br />

assim tudo ficará equilibrado, e ninguém poderá reclamar de vantagens, e nem ficar no prejuízo.<br />

Xavier como também a maioria, ficaram admirados e boquiabertos, pelas novas regulamentações<br />

implantadas pelos empresários, e por incrível que pareça desta vez, calou até Tamares que sempre<br />

reclamava de algo, mas não era só isso que eles tinham a dizer, houve o comunicado oficial do início da<br />

construção, da tão sonhada piscina comunitária, e todos aplaudiram muito e comemoraram, as ótimas<br />

notícias deste novo e generoso recomeço.<br />

286


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 68 •<br />

Ao Término da importante reunião, a grande maioria das pessoas presentes, fizeram questão de<br />

cumprimentar os empresários, que por sua vez, atendeu carinhosamente a cada um deles, ressaltando<br />

que tudo seria realmente realizado.<br />

Juliano e Regina trocaram olhares o tempo todo, ainda aflorados por tudo o que havia acontecido, porém<br />

Tamares nem prestou atenção, ao contrário de Dona Angelina, que sempre estava ao lado da amiga, e<br />

atendendo um pedido feito por ela, se aproveitou de um momento oportuno, e o convidou para uma<br />

conversa em sua casa.<br />

Após acertos finais com o síndico, Nathan e Murilo foram embora do condomínio, deixando para traz um<br />

rastro gigantesco, de muita euforia e enormes esperanças, e durante o percurso de volta, trocaram<br />

algumas impressões desta noite marcante.<br />

– Sabe Murilo, estou como uma ótima sensação por dentro, já fazia muito tempo que não me sentia<br />

assim.<br />

– Sei bem o que quer dizer, o que fez hoje é muitíssimo raro, normalmente as pessoas só pensam em si<br />

mesmas, somente em obter lucro e vantagens, e acaba se esquecendo dos que estão ao seu redor, saiba<br />

que lhe admiro muito!<br />

– Não se esqueça de que você, é a parte fundamental de tudo o que está acontecendo, foi o que iniciou<br />

este grande trabalho, e que abriu os meus olhos para estes problemas, sou grato e ficarei muito honrado,<br />

se um dia puder lhe chamar de amigo.<br />

Os dois deram um emocionado aperto de mãos, e na verdade já se sentiam como grandes amigos, só<br />

não haviam assumido antes, porque um achava que por ser funcionário, poderia ser mal interpretado<br />

como um bajulador, e o outro, com receio de forçar algo somente por ser o patrão, e assim seguiram o<br />

resto do caminho, compartilhando ideias e planos futuros.<br />

Nas dependências do condomínio, Juliano aguardou que a esposa adormecesse no sofá, e foi até o<br />

apartamento de Dona Angelina, onde foi bem recebido e convidado a entrar, e já acomodado em uma<br />

cadeira na cozinha, ele a indagou sobre o convite:<br />

– Admito que me surpreendeu o seu chamado, mesmo sabendo ter o dedo da Regina, e pelo que eu me<br />

lembro, a gente nunca foi de dialogar muito, o que a senhora quer conversar comigo?<br />

– Tem toda a razão, sempre mantivemos uma relação curta, do tipo bom dia, boa noite, acho que vai<br />

chover hoje, mas já faz algum tempo, que eu queria ter este papo contigo.<br />

– Por acaso é algo sobre a Regina, ela lhe contou alguma coisa?<br />

– Sei que tenho fama de fofoqueira, mas não se preocupe, por que não é nada disso, é sobre algo que<br />

venho percebendo em você, e gostaria muito de poder lhe ajudar, não sei se sabe, mas eu costumo ler<br />

cartas para as pessoas, acredita nisso?<br />

– Não vou lhe afirmar que não acredito, porque eu respeito muito a crença de cada um, mas acho que<br />

estas coisas não funcionam comigo, mas porque a pergunta?<br />

– Acredite ou não eu tenho alguns dons, e gostaria da sua permissão para ler a sua sorte, posso?<br />

– Bom a esta altura, eu não tenho mais nada a perder mesmo, quanto isso vai me custar?<br />

– Isso a gente vê depois, digamos que vou fazer porque precisa, e tenho visto sua aura sem luz alguma,<br />

isto certamente se deve por situações que tem passado, mas você decide se quer ou não.<br />

287


<strong>Caminhos</strong><br />

– Está bem, vou dar um voto de confiança para a senhora!<br />

Ela espalhou as cartas do baralho pela mesa, e começou a virar uma a uma, lhe revelando algumas<br />

coisas durante este ato, inclusive o surpreendendo com algumas informações, que somente eram de seu<br />

conhecimento, principalmente sobre o seu trabalho, e este foi o ponto culminante da leitura.<br />

– Estou vendo que teve um grave problema no trabalho, e que foi injustamente prejudicado por alguém,<br />

que tem muita inveja de sua inteligência e competência, e que este individuo está por traz de muita coisa<br />

suja, vejo também que dará a volta por cima, e que a verdade vai vir à tona em breve, você compreende<br />

do que estou falando?<br />

– Claro, como não pensei nisso antes, agora compreendo o motivo da minha demissão, e acho que sei o<br />

que devo fazer.<br />

Foi feito uma espécie de encerramento, e em seguida foram se sentar na sala, onde foi lhe servido um<br />

cafezinho, e decorridos mais alguns minutos, ele se levantou, se despediu, agradeceu o benefício<br />

recebido, e voltou para o seu apartamento, refletindo e planejando seu contra-ataque.<br />

Em território americano, as autoridades policiais de Denver, iniciaram um longo e duro interrogatório, e a<br />

primeira a ser interrogada foi Alba, que acompanhada de um advogado da organização, respondeu com<br />

cautela a todas as perguntas, obviamente negando o seu envolvimento com os criminosos, e a<br />

participação no sequestro dos brasileiros.<br />

Em seguida foi a vez de Austin Black, considerado pelos agentes, como o mentor intelectual de todos os<br />

golpes, sendo acusado formalmente, como o mandante das torturas no cativeiro, e principalmente do<br />

assassinato de Caio Green Ville, mas certamente muito bem orientado, também negou todas as<br />

acusações, mas haviam muitas provas que contradizia, este seu argumento de ser inocente.<br />

Estrategicamente, eles deixaram por último um dos suspeitos, justamente por acreditarem, ser o mais<br />

fraco de todos os prisioneiros, dentre os que haviam sido apanhados no cassino, e que sob forte pressão<br />

acabou cedendo, revelando novas e importantes informações, principalmente com relação ao sequestro, e<br />

a suposta morte do empresário, e com garantias de redução a sua pena, contou todos os detalhes daquele<br />

fatídico dia.<br />

O interrogado descreveu ao agente federal, que dias antes do cerco policial, um dos homens que<br />

cuidava do cativeiro, relatou que o empresário estava muito ferido, e que havia perdido muito sangue,<br />

devido a vários cortes efetuados na perna, por um tipo de canivete ou faca, pois ele não soube determinar<br />

com precisão, o instrumento utilizado na tortura.<br />

Um dia depois ficou sabendo, que um outro comparsa do bando, havia sido encarregado de executar o<br />

prisioneiro, que praticamente já se encontrava quase morto, e depois de desovar o corpo sem deixar<br />

pistas, concluindo o serviço ao qual foi encarregado.<br />

Contou também a autoridade presente, que não podia precisar nomes dos envolvidos, por alguns se<br />

tratarem de outras localidades, inclusive de outros países vizinhos, como por exemplo o Canadá, de onde<br />

ele mesmo fora recrutado, para fazer parte deste mirabolante plano de sequestro.<br />

O que animou os policiais do caso, é que ele após muita hesitação confirmou, o envolvimento do senhor<br />

Black, como um dos principais mandantes da operação, porém ressaltou que todas as ordens, vieram de<br />

um comando superior da organização, e que ele desconhecia totalmente seu mandatário, e após quase<br />

três horas de interrogatório, eles finalizaram esta parte das investigações.<br />

Mas isso estava longe de terminar, pois eles estavam dispostos a ir madrugada adentro, para tentar<br />

montar este enorme quebra-cabeça, e para isso se trancaram em uma sala, a base de café e rosquinhas,<br />

como mandava a velha tradição americana, revendo todos os vídeos que foram gravados, durante<br />

os interrogatórios dos prisioneiros.<br />

288


<strong>Caminhos</strong><br />

Contudo, eles intensificaram a atenção, no depoimento feito por Austin Black, porem ao rever várias e<br />

várias vezes, um dos federais fez uma importante descoberta, que poderia dar novos rumos a<br />

investigação, porque em uma determinada resposta efetuada, ele disse: "Eu não faço parte de nenhuma<br />

organização, não tenho nenhuma chefe!".<br />

A palavra "nenhuma" descreveu muito bem, de que uma mulher, poderia supostamente chefiar a<br />

organização, e com tudo o que haviam levantado, inclusive pela alta inteligência do FBI, que havia<br />

quebrado o sigilo telefônico e bancário dos suspeitos, identificaram duas linhas em nome de uma mulher,<br />

uma de Alba Stuart, que foi descartado imediatamente, restando a eles apenas o outro nome, o de Heloise<br />

Morgan.<br />

Imediatamente foi acionada a polícia de Nova Iorque, que chegou rapidamente ao Central Park, onde<br />

ficava localizado um prédio residencial, e após se identificarem junto ao porteiro, foram até a cobertura e<br />

arrombaram a porta, se deparando com um luxuoso ambiente, mas o encontraram completamente vazio,<br />

por isso se concentrariam em outra busca, que pretendiam fazer no dia seguinte, nas geladas terras<br />

canadenses.<br />

Sempre com um grande fuso horário avançado, o dia já havia amanhecido em Dubai, e logo bem cedo<br />

um motorista árabe, foi buscar o diretor Carlos Renato, que estava hospedado junto com Josie, num dos<br />

mais requintados hotéis da cidade, mas antes dele se dirigir ao compromisso, trocaram entre si algumas<br />

palavras.<br />

– Já vai paixão?<br />

– Sabia que nunca ninguém falou assim comigo antes, estou lisonjeado com este seu carinho, acha que<br />

vai ficar bem?<br />

– Tenho certeza que sim, vou me esbaldar com tantas coisas boas, vou começar pela academia do<br />

hotel, depois a sauna, e principalmente a piscina no topo, era um sonho meu nadar nas alturas,<br />

principalmente em um ambiente criado, para dar a impressão de que as águas, estão saindo para fora do<br />

prédio.<br />

– Isso mesmo, aproveite tudo ao máximo, eu devo retornar somente no final da tarde, mas assim que<br />

terminar a reunião com o Sheik, eu ligo para ver como tudo está, ok?<br />

– Ok, mas volta logo para mim, vou ficar com saudades!<br />

Eles se despediram com um beijo, e depois ele desceu até o carro, indo direto até uma das pessoas<br />

mais importantes, deste tão diferenciado e maravilhoso mundo árabe, para dar sequência ao projeto de<br />

construção, que seria um grande marco na história da empresa, superando até o projeto dos jogos<br />

olímpicos de inverno, realizados anos atrás por Caio e Nathan no Canadá.<br />

O brasileiro foi muito bem recebido, além da presença maciça de acionistas, e logicamente do Sheik em<br />

pessoa, haviam muitos compradores presentes a reunião, deixando Carlos Renato admirado, por causa<br />

dos altos valores propostos para a venda, chegando a valer mais de cinco milhões de dólares, o preço de<br />

cada propriedade construída.<br />

Em menos de uma hora, todos os lotes foram vendidos com sucesso, sendo a maioria dos novos<br />

proprietários, de nacionalidades diversificadas e estrangeiras, e isso certamente atrairia para o local,<br />

centenas de outros novos investimentos, fazendo com que a economia do país, prosperasse cada vez<br />

mais, assegurando um ótimo futuro para todos.<br />

Assim que fizeram os acertos finais, o Sheik juntamente com o diretor e alguns acionistas, foram até o<br />

futuro canteiro de obras, onde algumas máquinas já iniciavam o trabalho, preparando todo o terreno a ser<br />

construído, e com o projeto em mãos, dois engenheiros mostram os detalhes mais importantes, a todos os<br />

289


<strong>Caminhos</strong><br />

que acompanhavam a comitiva, e certamente este dia muito especial, entraria para a história de todos os<br />

seus participantes.<br />

290


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 69 •<br />

Ao término das vistorias do terreno, o Sheik fez questão de convidar o brasileiro, para um jantar especial<br />

a noite, onde estariam presente os compradores, os acionistas, e demais convidados de sua comitiva real,<br />

ressaltando que Carlos Renato, poderia trazer convidados para este evento, e certamente traria consigo, a<br />

sua querida e apaixonante Josie.<br />

Nunca é demais lembrar a todos, que enquanto já se iniciava a tarde em Dubai, ainda era de manhã no<br />

Brasil, e logo bem cedinho, Juliano tratou de pegar um coletivo, e foi até o escritório da empresa que<br />

trabalhava, e discretamente sem que outros funcionários percebessem, ficou na porta do lado de fora,<br />

aguardando que o ex-patrão chegasse para trabalhar.<br />

Por volta das oito e meia, avistou o carro que ele chegava, e assim que ele desceu do veículo, indo em<br />

direção da porta de entrada, o chamou pelo nome, e lhe dirigiu a palavra:<br />

– Senhor Lorenzo, poderia ter um minuto de sua atenção?<br />

– Eu acho que conheço você, não trabalha para mim?<br />

– Trabalhava, eu fui despedido há alguns dias, e é sobre isso que precisava lhe falar.<br />

– Se são coisas de acertos, ou algum questionamento sobre a demissão, você deve procurar o<br />

departamento pessoal, não costumo interferir nos assuntos pertinentes a eles!<br />

– Nem mesmo se eu lhe disser, que talvez esteja sendo roubado, por pessoas de sua alta confiança?<br />

Ao ouvir isso ele parou de caminhar, ficando intrigado com as acusações feitas, e achou que seria<br />

prudente da parte dele, dar alguma atenção a este assunto, por isso o levou até a sua sala, mas se<br />

precaveu chamando um segurança, e depois entrou no sistema da empresa, abrindo o cadastro do exfuncionário,<br />

e o indagou sobre o assunto:<br />

– Pois bem, tem toda a minha atenção agora, o que tem para me contar?<br />

– Bem, pelo que percebi, provavelmente deve estar com meus dados na tela, o que diz ai sobre a minha<br />

demissão?<br />

– Diz que foi demitido por justa causa, por incompetência na organização de estoque, que era a sua<br />

principal função na empresa.<br />

– A mentira começa por aí, na verdade houve uma inversão dos fatos, porque eu já vinha por três meses<br />

seguidos, relatando ao Fausto que é meu encarregado, o desaparecimento de muitos produtos dos<br />

barracões, e como eu comecei a questiona-lo muito por isso, acabou me demitindo.<br />

– E tem provas do que está me contando?<br />

– Existe algo bem simples, que se chama backup de arquivos, e eu fazia isso todos os dias, e tenho<br />

comigo todas as planilhas comprometidas, e se quiser posso lhe mostrar agora.<br />

Ele aceitou que ele demonstrasse os registros, cedendo o seu computador pessoal, para que se abrisse<br />

o pen drive, e assim que carregou as pastas, ele abriu e demonstrou o que havia descoberto, deixando o<br />

exportador assombrado, com um provável rombo bem debaixo de seu nariz.<br />

Passado um breve momento, em que ele procurava pôr os pés no chão, e assimilar este golpe que<br />

acabava de receber, ele perguntou para Juliano, o que ele achava de toda esta situação.<br />

– Porque acha que o seu encarregado está envolvido?<br />

291


292<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Porque todas as vezes que lhe procurei, e lhe contei sobre as diferenças no estoque, ele se esquivou<br />

prometendo resolver, mas quando eu passei a lhe cobrar com mais frequência, ele me mandou embora.<br />

– Mas supondo que tudo isso seja verdade, não acredito que ele sozinho, conseguiria fazer tudo isso,<br />

tem mais alguma suspeita?<br />

– Tenho sim, mas por não ter acesso a outras partes do sistema, não tenho provas que indique este<br />

envolvimento, mas acho que deveria verificar principalmente, as notas fiscais de entrada e de saída dos<br />

produtos.<br />

– Faremos isso, acha que poderia nos ajudar nesta procura?<br />

– Se eu tiver acesso a parte fiscal do sistema, tenho certeza que posso encontrar estes dados.<br />

Ele concordou e iniciou as primeiras providências, colocando Juliano em uma sala ao lado, onde<br />

funcionava o arquivo morto, cedendo a ele um computador com acesso completo, e discretamente sem<br />

que ninguém soubesse, ele ficou trancado analisando todos os registros.<br />

Em outra parte de São Paulo, na sede do Grupo Etros, Murilo despachava junto a seu assessor, alguns<br />

documentos assinados por ele, que faziam parte dos serviços contratados, para todas as obras do<br />

condomínio, e ao finalizar a análise de toda a papelada, Diego fez perguntas a ele:<br />

– Vai mesmo para o Rio de Janeiro?<br />

– Vou agora na parte da tarde, já reservei as passagens de ida e volta, pois pretendo retornar ainda<br />

hoje, não posso me ausentar muito da empresa.<br />

– Acha que se sente preparado, para o que vai encontra por lá?<br />

– Se você fala sobre a criança, que a Bianca está esperando, estou sim, seja o que for que aconteceu,<br />

eu tenho de lidar com esta situação, eu preciso saber de toda a verdade!<br />

O amigo lhe desejou boa sorte, e cada um seguiu sua rotina na empresa, enquanto isso na cidade<br />

carioca, Bianca se encontrava no banheiro do apartamento, sofrendo mais uma vez com os fortes enjoos,<br />

se sentindo sozinha e totalmente desamparada.<br />

Após o almoço, Murilo foi levado por um motorista da empresa, até o aeroporto de Guarulhos, e assim<br />

que fez o check-in, se sentou na sala de embarque, e ligou para Marina.<br />

– Olá, boa tarde, como você tem passado?<br />

– Oi, que bom que ligou, já estava pensando que se esqueceu de mim, a gente quase não tem se falado,<br />

eu estou bem, o velho Duarte é que está muito ansioso, aguardando o Nathan que chega amanhã, e com<br />

você está tudo certo?<br />

– Peço desculpas, estes dias estão tão corridos, que mal tenho tempo para mim mesmo, inclusive neste<br />

momento estou no aeroporto, daqui a pouco embarco para o Rio, e é sobre isso que precisamos<br />

conversar.<br />

– Pelo seu tom de voz, você me parece preocupado, aconteceu mais alguma coisa?<br />

– Lembra que eu lhe contei sobre a minha ex-secretária, que ela foi embora de São Paulo, e foi trabalhar<br />

em uma filial da empresa, justamente pela influência da outra garota, para que ambas ficassem longe da<br />

minha presença, então, parece que deu tudo errado.<br />

– Mas o que você tem a ver com isso, achei que fosse um assunto já resolvido, o que mudou?


– Pois é, também pensava assim, mas um fato novo surgiu, e eu preciso ver tudo de perto, para tirar<br />

uma dúvida que está me matando, mas nada mudou entre nós, eu gosto e quero ficar com você!<br />

293<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Olha eu vou ser bem sincera contigo, não sei do que se trata este assunto, mas digo a você com todas<br />

as letras, que não tem nenhum compromisso comigo, a gente passou um lindo final de semana, e não<br />

fizemos promessas um ao outro, por isso faça o que achar melhor para você.<br />

– Eu sei disso, mas quando eu voltar de lá, eu lhe conto tudo com mais clareza, primeiro eu preciso<br />

entender umas coisas que aconteceram, posso te ligar quando eu retornar?<br />

– Claro que pode, em primeiro lugar somos grandes amigos, pode contar comigo para o que precisar,<br />

boa sorte!<br />

– Obrigado, eu vou mesmo precisar, então eu deixo um beijo especial para você, até a volta!<br />

Ele percebeu que ela ficou chateada com a notícia, mas não tinha muita escolha, e seguiu para o Rio de<br />

Janeiro, e durante o voo de mais ou menos uma hora, foi remoendo todo o seu passado com Bianca,<br />

lembrando do beijo no baile de máscaras, na noite intensa em que fizeram amor, e nos dias seguintes<br />

onde foi trocado por Talita, e estas coisas ainda machucavam muito os seus sentimentos.<br />

Do outro lado do continente, na cidade americana de Denver, Letícia havia recebido permissão, para ir<br />

até o necrotério local, já se sentindo em plenas condições, de fazer o reconhecimento do corpo,<br />

esclarecendo ou não ser de Caio.<br />

Juntamente com os seus pais, ela chegou e entrou no local, acompanhada também por um policial, que<br />

fazia parte da investigação do caso, e sem muita burocracia, os dois adentraram na sala da geladeira,<br />

onde um legista credenciado, abriu rapidamente uma das portas, e puxou o cadáver para fora, e neste<br />

instante o coração da moça, acelerou tão forte em seu peito, que parecia que sairia pela boca afora.<br />

O médico pediu autorização a ela, para levantar o lençol que cobria o rosto, e após respirar fundo ela<br />

consentiu, e se preparou firmemente para o pior, e quando ela olhou para o corpo, se assustou com uma<br />

visão estarrecedora, pois a face estava totalmente desfigurada.<br />

Ela arrancou forças de onde não tinha, e se manteve bem firme de pé, quando lhe mostram as pernas<br />

dilaceradas, contendo várias perfurações similares as de faca, e este foi o ponto determinante, que a fez<br />

relembrar desta tortura, dias antes de sumirem com o empresário.<br />

Entre lágrimas copiosas e soluços, a professora confirmou o reconhecimento, como sendo mesmo do<br />

amigo Caio, e sob uma tristeza muito profunda, ela se retirou do local amparada pela família, e retornou<br />

para o hospital, se sentindo emocionalmente fraca e desestabilizada.<br />

Na capital paulista, Nathan chegava ao consultório do doutor Estevam, onde já era aguardado para a<br />

consulta, que havia sido agendada para hoje a tarde, e era considerada a mais importante sessão de<br />

todas, porque havia uma grande expectativa, de que ele poderia se lembrar de todo o seu passado, e por<br />

isso eles iriam se precaver, tratando tudo minunciosamente com muito cuidado.<br />

A secretária Kelly, o levou até a sala de tratamento, onde o ajudou a retirar os sapatos, seguido de<br />

acomoda-lo no divã, enquanto o médico se preparava ao lado, conferindo os objetos que seriam utilizados,<br />

durante a pretendida sessão de hipnose, e estando tudo pronto para o evento, o psicólogo ficou de pé ao<br />

seu lado, e fez alguns breves esclarecimentos.<br />

– Chegou a hora, acredita estar preparado para dar este passo final?<br />

– Espero que sim, porque estou cansado de ter dúvidas, principalmente das pessoas que estão ao meu<br />

redor, preciso me lembrar de todo o meu passado, principalmente destes meus inimigos, quero estar muito<br />

bem preparado, porque sei que eles vão voltar.


<strong>Caminhos</strong><br />

– Tudo certo então, vamos dar início ao procedimento, quero que relaxe a mente e o seu corpo, respire e<br />

expire lentamente, e quando se achar totalmente preparado, diga a palavra chave do bloqueio, e libere<br />

com cuidado todas as suas recordações, e quando sentir que é hora de parar, ou de alguma forma se<br />

sentir ameaçado, firme o seu pensamento em voltar para cá!<br />

E com um pêndulo em mãos, o médico o auxiliou na indução hipnótica, associado a um fundo musical<br />

bem suave, e assim que firmou seu pensamento, querendo recuperar toda a sua memória, disse em tom<br />

alto a palavra-chave "Sorte", e não demorou muito, para que entrasse em um transe extremamente<br />

profundo.<br />

294


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 70 •<br />

Estevam guardou seu instrumento, sentou ao lado do divã, e ficou atento aos movimentos de Nathan,<br />

que começou imediatamente a se comportar, como se estivesse tendo um enorme pesadelo,<br />

apresentando extrema tensão facial, principalmente com suas pálpebras e boca.<br />

Mesmo para um profissional experiente, este assunto ainda lhe era novo e diferente, por se tratar de um<br />

método nunca antes vivenciado, e houve determinados momentos, em que ele pensou em interromper a<br />

sessão, porém ficou receado com esta ação, acreditando que conforme orientado, se Nathan achasse<br />

necessário, ele mesmo daria fim a regressão de memória.<br />

Passado cerca de longos quarenta minutos, o empresário despertou repentinamente, gritando palavras<br />

em várias línguas, e foi imediatamente acalmado pelo médico.<br />

– Nathan, acorde completamente e retorne, você se encontra aqui no consultório, bem seguro e<br />

protegido, não há o que temer!<br />

Ele levou alguns minutos para voltar a si, e parecia não ter forças para se levantar, por isso Kelly foi<br />

acionada para ajuda-los, colocando-o sentado em uma poltrona da sala, e após dar-lhe um copo de<br />

água, para sentir o seu real estado, procuraram dialogar com ele:<br />

– Doutor, acho que ele já está melhor e mais calmo, vou deixar vocês a sós para conversarem.<br />

– Obrigado Kelly, qualquer coisa eu lhe chamo, e você meu rapaz, como como se sente?<br />

– Me sinto atordoado, tem uma porção de coisas girando na minha cabeça, vozes, pessoas, imagens, e<br />

estou com o estomago enjoado, uma sensação de que vou vomitar a qualquer momento.<br />

– Estes sintomas são típicos de uma neurose, acarretada por vários distúrbios psicológicos, que<br />

certamente foram desencadeados pelas recordações, imagina uma pessoa ter muitos traumas, ou quem<br />

sabe diversos sentimentos vivenciados, e isso vindo à tona tudo de uma vez só, certamente causa tudo<br />

isso que sente agora.<br />

– O que pode fazer para me ajudar a melhorar?<br />

– Vou lhe ministrar um calmante leve, e pedir imediatamente para a minha secretária, arrumar o quarto<br />

de repouso da clínica, assim você descansa e se recupera, e mais tarde nós voltamos a conversar,<br />

estamos de acordo?<br />

– Certamente, agradeço por tudo!<br />

Seguido as recomendações do médico, a assistente lhe deu o remédio prescrito, e depois o acomodou<br />

confortavelmente, ficando em sua presença até que adormecesse, coisa que não demorou muito a<br />

acontecer.<br />

No Rio de Janeiro, Murilo já havia desembarcado no aeroporto, e sem muita demora, pegou um táxi até<br />

o Glória, seguindo o endereço que lhe foi passado, acreditando que era de um apartamento, e de que<br />

Bianca e Talita ainda moravam juntas, desde de que vieram para a capital carioca.<br />

Uma havia concretizado parte de seu projeto, conseguindo representar vários artistas plásticos, em<br />

diversas galerias do Rio, e estava ganhando muito dinheiro, inclusive morando com outra mulher, ao qual<br />

havia conhecido num evento de arte.<br />

Já a outra parte desta história, ia de mal a pior, além da gravidez indesejada, porém aceitada ao ser<br />

revelada, havia perdido o cargo de confiança na empresa, e agora entre faltas e atestados médicos, foi<br />

295


296<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

rebaixada a secretária assistente, e isso era frustrante para a sua carreira, sem falar na questão do filho<br />

que carregava, acreditando estar desamparada, e completamente só.<br />

Apesar de conhecer muito bem Murilo, e saber que jamais ele correria de suas obrigações, o seu receio<br />

maior era a rejeição a sua pessoa, por tudo o que havia acontecido em São Paulo, mas esta dúvida estava<br />

para terminar, porque o rapaz já se encontrava tocando a campainha, e a moça se admirou:<br />

– Você?<br />

– Boa tarde, pelo jeito você esperava qualquer pessoa, menos a mim, posso entrar?<br />

– Claro, entre por favor, me perdoe, é que eu fiquei meio destoada com a sua visita!<br />

A primeira coisa que ele reparou, foi no contorno de sua barriga, confirmando realmente a sua gestação,<br />

e mesmo sendo bem desconcertante, porque ela percebeu de imediato os seus olhares, Murilo não fez<br />

rodeio indo direto ao assunto.<br />

– Bom, a gente sempre teve muita amizade e cumplicidade, e a esta altura eu acredito firmemente, de<br />

não ter o porquê de segredos entre nós, mas um dos motivos para eu estar aqui, é que fui notificado dias<br />

atrás por meu assessor, de que perdeu seu cargo na diretoria, justificado por faltas em excesso, e a razão<br />

está bem clara para todo mundo, quer falar sobre o que aconteceu?<br />

– Eu entendo o lado deles, estão certos, sei que uma gestação não é motivo para faltas, mas acontece<br />

que é uma gravidez de risco, e por isso acabo passando mal sempre, me impossibilitando de exercer as<br />

minhas funções.<br />

– Eu não sabia que estava enfrentando problemas, e a sua companheira, tem trabalhado, te deixa aqui<br />

sozinha?<br />

– Já faz um tempinho que a gente se separou, eu estou sozinha agora.<br />

– Eu sinto muito, me desculpe mas tenho que perguntar, de quem é este filho que carrega?<br />

Ela sorriu para ele, abaixou a parte de cima do vestido, pegou em suas mãos, e as colocou sobre a sua<br />

barriga, indicando que a resposta era mais do que óbvia, e para a grande surpresa dos dois, ao seu toque<br />

o bebê se mexeu, como se ali reconhece a presença do pai.<br />

A reação dele foi instantânea, ficou desconcertado com a situação, recuou a mão e a pôs no bolso da<br />

calça, e ela percebendo este momento delicado, subiu o vestido e o convidou para se sentar, o deixando a<br />

sós por um breve momento, indo preparar um café na cozinha, e na volta após servi-lo, Bianca<br />

abordou novamente o assunto.<br />

– Tudo isso lhe deixou aparentemente assustado, raramente vi você neste estado que se encontra, e<br />

olha que já passamos juntos por muitas situações, tem algo que queira perguntar?<br />

– Pois é, essa me pegou de surpresa, de quantos meses você está?<br />

– Completa cinco daqui a duas semanas, os médicos falam que eu engordei muito, e que aparenta ser<br />

mais, e este é um dos principais motivos de minhas faltas na empresa, passo mal o tempo todo!<br />

– Esta criança que está aí dentro, é o resultado daquela única noite que tivemos juntos?<br />

– Isso mesmo, parece uma coisa armada do destino, mas foi imprudência nossa mesmo, você não usou<br />

preservativo, e eu deveria ter tido precauções, foi uma grande tolice nossa.<br />

– Eu deveria ter imaginado, que por você não estar mantendo relações com um homem, não haveria a


necessidade de tomar remédios, mas no calor do que sentíamos naquela noite, nem pensamos nas<br />

consequências, agora eu me sinto culpado por isso.<br />

297<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Não fique se culpando, são coisas que acontecem, e agora que sabe de tudo, o que pretende fazer a<br />

respeito?<br />

– Realmente não sei, eu imaginei diversas maneiras de reagir a isso, e agora me sinto totalmente<br />

perdido, e não tenho resposta para a sua pergunta, preciso de um tempo para assimilar tudo, espero que<br />

você compreenda.<br />

– Eu entendo, mas vamos deixar uma coisa bem clara, foi você quem veio me procurar, e em nenhum<br />

momento quero que se sinta pressionado, não vou, e nem tenho o direito, de exigir alguma coisa de você,<br />

quero que saiba e entenda a minha posição!<br />

– Eu sei, me dê alguns dias para pensar, e eu volto para tentar resolver todas estas questões, agora<br />

compreendo porque a outra te deixou, por outro lado, até hoje não entendo o que realmente viu nesta<br />

pessoa, mas é melhor eu ir embora agora, preciso pegar o voo das dezenove horas, até breve, qualquer<br />

coisa que precisar, pode me ligar sem receios, certo?<br />

– Obrigado, acima de qualquer coisa que venhamos a decidir, sempre vou lhe ter como o grande amigo<br />

que é!<br />

Ele se despediu com um rápido aperto de mãos, e pegou um táxi para o aeroporto, enquanto ela foi se<br />

deitar na cama, procurando refletir cada gesto, cada palavra, daquele que era o futuro genitor de seu filho,<br />

e certamente estava bem mais aliviada, por pelo menos ter esclarecido a sua gravidez a ele.<br />

A tarde já chegava ao fim em São Paulo, quando Fausto o dono da exportadora, foi até a sala em que<br />

Juliano se encontrava, em busca de informações sobre a sua denúncia, e após uma busca exaustiva nos<br />

registros, ele já tinha alguma posição a lhe dar.<br />

– Então meu rapaz, encontrou os dados que procurava, ou alguma prova concreta do que me falou?<br />

– Nem todos ainda, pois o movimento da empresa é gigantesco, mas encontrei cinco registros que<br />

considero ilegal, são saídas de produtos com pedidos de orçamentos, e não com notas fiscais como<br />

deveriam ser.<br />

– Mas como isso é possível, as transportadoras não têm como obrigação fiscal, de emitir uma nota de<br />

conhecimento das mercadorias?<br />

– O senhor entendeu do que estou falando, é aí que está o pulo do gato, certamente também tem<br />

pessoas, ou até mesmo alguma outra empresa de fora, envolvidos neste grande golpe criminoso!<br />

– Acredita que consegue rastrear estas informações, e chegar aos verdadeiros culpados?<br />

– Creio que deva contratar uma auditoria particular, certamente eles terão muito mais recursos, de que<br />

um simples funcionário como eu, aliás, nem isso sou mais...<br />

– Não se desvalorize, está prestando um grande serviço para empresa, e será muito bem recompensado<br />

pelo trabalho!<br />

– Não faço isso em buscas de recompensas, só quero meu emprego de volta, acha que pode ser<br />

possível?<br />

– Certamente, só não faremos isso agora, porque o pessoal do RH já encerrou o expediente, mas esteja<br />

aqui amanhã bem cedo, quero que você acompanhe, e me auxilie a contratar estes serviços, e agradeço<br />

muito por abrir meus olhos!


<strong>Caminhos</strong><br />

O patrão vendo que ele estava a pé, fez questão de mandar um motorista leva-lo para casa,<br />

demonstrando certa admiração pela sua atitude, e com isso, Juliano dava uma reviravolta em sua vida, e<br />

neste momento que se enchia de orgulho de si, se lembrou das palavras de Dona Angelina, e do apoio<br />

incondicional de Regina.<br />

Na clínica de Estevam, após ter dormido a tarde toda, sob efeito de calmantes, Nathan acabava de<br />

acordar, e ainda tentando voltar à realidade, se sentou na cama e ficou pensativo, procurando organizar<br />

todos os seus pensamentos, principalmente tendo a certeza absoluta, de que havia recuperado todas as<br />

suas memórias.<br />

298


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 71 •<br />

Passado algum tempo, o empresário se levantou e caminhou até a porta, e ao abri-la, se deparou com a<br />

secretária da clínica, que já se encaminhava para o quarto de repouso, justamente para ver como ele<br />

estava.<br />

– O senhor já acordou, por favor, retorne para o leito, que vou chamar o doutor, somente ele poderá<br />

libera-lo!<br />

– Claro, tem toda a razão, acho que ainda estou um pouco em choque, e acabei agindo por impulso, vou<br />

aguarda-lo lá dentro, obrigado!<br />

Ela aguardou que Estevam terminasse uma ligação, e o comunicou sobre o despertar do paciente, e<br />

assim que reuniu suas coisas de trabalho, como seu caderno de anotações, estetoscópio, e medidor de<br />

pressão arterial, se encaminhou rapidamente até lá.<br />

– Então meu rapaz, como está se sentindo?<br />

– Como se estivesse com uma grande ressaca, mas ao mesmo tempo plenamente lúcido.<br />

– Quanto aos sintomas que sente agora, é devido a medicação que lhe ministrei, e é normal se sentir<br />

assim, a sua pressão permanece estável, os batimentos cardíacos também, e quanto as suas memórias,<br />

acredita que conseguiu recupera-las?<br />

– Tenho a certeza absoluta que sim!<br />

– Quer falar a respeito, ou prefere assimilar as informações, colocar as ideias em ordem, para depois<br />

passar as impressões?<br />

– Sei que este meu caso, é diferente de todas as terapias e processos, ao qual já vivenciou em seu<br />

trabalho, e deve estar muito ansioso para colher resultados, mas penso que preciso de algum tempo, e<br />

prometo que volto para esclarecermos tudo!<br />

– Peço-lhe minhas sinceras desculpas, se em algum momento deixei isto transparecer, e tem toda<br />

razão, seu caso é indiscutivelmente muito complexo.<br />

– Eu entendo perfeitamente, e agradeço por sempre me dar uma atenção especial, sou muito grato por<br />

toda a sua ajuda, mas agora eu quero voltar para o hotel, amanhã tenho uma viagem marcada, e preciso<br />

me preparar muito bem, porque é algo muito importante.<br />

– O motorista já lhe aguarda lá embaixo, eu lhe acompanho até a porta de entrada.<br />

Após se despedirem com um abraço, ele entrou no carro da empresa, e voltou para o seu quarto no<br />

hotel, e sabendo que Iris, Raul, Gabriel e Elvira, aguardavam notícias de sua ida ao médico, procurou<br />

chegar discretamente, indo diretamente para uma ducha, e depois ficou refletindo e se organizando,<br />

perante todas as lembranças recuperadas, que eram demasiadamente muito antigas.<br />

Era uma noite fria na capital paulista, onde a sensação térmica era de quinze graus, e do outro lado da<br />

cidade, enquanto aguardavam a chegada de Arthur, que havia se deslocado da firma até um cliente, Dirce<br />

e Elisa papeavam na cozinha, enquanto preparavam o jantar.<br />

– O patrão está demorando, deve ser mais um daqueles casos complicados!<br />

– E é mesmo, hoje a tarde enquanto eu separava as pastas, ele me explicou alguns detalhes deste<br />

cliente, mas como sempre ele estava muito seguro de si, e certamente vai conseguir resolver tudo.<br />

299


<strong>Caminhos</strong><br />

– Pelo jeito você está gostando do trabalho, pretende se aprofundar na advocacia?<br />

– Estou adorando aprender tudo, todos eles têm muita paciência comigo, e me passam tudo com calma<br />

e bem explicadinho, mas acho que ainda é muito cedo, para pensar em dar voos mais altos.<br />

– Você tem razão, tudo ao seu devido tempo e lugar, e quanto ao meu filho Dimas, acha que ele se<br />

adaptou ao trabalho?<br />

– Creio que sim, mas não tenho como lhe precisar corretamente, porque ele trabalha mais com o outro<br />

sócio, o Arthur acredita que por ser mais novo, os dois possam ter mais afinidades, e por outro lado, o<br />

Dimas pode até se sentir menos pressionado, principalmente agora em seu início.<br />

– Eu rezo todos os dias, para que ele faça tudo direitinho, e consiga manter esta enorme oportunidade,<br />

agora mudando de assunto, como foi o jantar do outro dia?<br />

– Nossa, foi super maravilhoso, parecia um sonho, você precisava ver, um lugar incrível repleto de<br />

pessoas chiques, um ambiente muito agradável, só a comida que era meio requintada demais, falando<br />

nisso, posso colocar um pouco mais de sal na carne?<br />

– Deixa eu experimentar.... Pode sim, mais só um pouquinho, o patrão não gosta muito de comida<br />

salgada, mas voltando ao jantar, sei que não é da minha conta, mas não pude deixar de reparar, que<br />

chegaram cedo demais do encontro, aconteceu algo de errado?<br />

– Então, até eu mesmo me surpreendi, eu achei que depois do jantar, onde a gente se beijou e tudo<br />

mais, ele fosse me levar para um lugar mais íntimo, mas de repente ele se calou, e resolver vir para casa,<br />

acha que fiz algo errado?<br />

– Se houve até beijo e carinho, eu acredito que não seja isso, porque não conversa com ele, e procura<br />

esclarecer o assunto?<br />

– É eu vou fazer isso, mas não hoje a noite, acredito que ele vai chegar muito cansado, vou aguardar a<br />

hora certa para perguntar.<br />

Elas não puderam prolongar mais o assunto, pois Dimas acabava de chegar da rua, e foi até a mãe para<br />

pedir a benção, um pouco mais tarde Arthur também chegou, e foi direto para a mesa do jantar, e com um<br />

certo ar de preocupação, ficou olhando discretamente, para aquela ao qual havia se apaixonado.<br />

O restante do jantar foi bem descontraído, e ambos se animaram muito, com os comentários de Dimas e<br />

Elisa sobre a firma, principalmente Dirce, que estava feliz por ver o filho tão bem encaminhado, mas todos<br />

notaram o semblante carregado do chefe da casa.<br />

Como de costume ao término da refeição, Arthur se encaminhava até a biblioteca, e lá tomava uma<br />

pequena dose de whisky, para poder relaxar após mais um dia de trabalho, e se aproveitando que os<br />

outros moradores da casa, haviam ido para a cozinha, Elisa foi até ele, e o abraçou suavemente por<br />

detrás, dando-lhe um beijo carinhoso em seguida, e lhe fez um questionamento:<br />

– Você parece estar preocupado, ou chateado com alguma coisa, que falar sobre isso?<br />

– Tem razão, estou mesmo com algumas coisas me martirizando, mas ainda preciso achar as palavras<br />

certas, para que eu possa expressa-las a você.<br />

– Me diga uma coisa, e peço que seja bem sincero comigo, o que realmente sente por mim, posso<br />

considerar que estamos namorando?<br />

– Está certo, não adianta ficar adiando esta conversa, vou lhe servir uma bebida, e depois eu vou expor<br />

o que se passa comigo.<br />

300


301<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Ela ficou muita apreensiva e ansiosa, pairava em sua jovem cabeça, ideias sobre ter tido alguma atitude<br />

errada, ou até mesmo de que o advogado, havia se arrependido do encontro romântico, ao qual não houve<br />

o final desejado, que era de terminar com os dois se amando na cama, mas ao contrário disso, havia<br />

terminado apenas com um beijo de boa noite.<br />

Para ela, a principal questão era, se ele tinha receios por ela ter se prostituído no passado, ou até<br />

mesmo se utilizado de drogas e álcool, e com isso estar tendo algum tipo de rejeição, ou até mesmo, a ter<br />

um relacionamento mais profundo, e essa foi a sua primeira pergunta após o drinque.<br />

– Me fala a verdade, você tem receio de pegar alguma doença de mim, ou sente nojo pelas coisas que já<br />

fiz no meu passado?<br />

– Minha querida, nem pense uma coisa destas de mim, não me importa o que fez outrora, isso já<br />

são águas passadas!<br />

– O que é então, tem medo de se envolver mais a fundo comigo?<br />

– Certamente a Dirce já deve ter lhe mencionado algo, sobre um dos meus últimos relacionamentos, que<br />

chegou a ser muito desastroso, devido a algumas coisas que aconteceram.<br />

– A única coisa que ela comentou comigo, foi algo sobre interesses materiais, terem influenciando a<br />

separação de vocês, mas não acredita que estou tentando ficar com você, por interesses ou por<br />

agradecimentos, ou está?<br />

– Nada disso, o problema é comigo mesmo, mas tenho vergonha de tocar neste assunto, e na verdade<br />

nem sei por onde começar.<br />

A moça não era assim tão ingênua, e logo percebeu que se tratava de algo mais complexo, certamente<br />

acerca das diferenças de idade, e um provável aspecto do relacionamento sexual, por isso ela foi direta ao<br />

assunto:<br />

– É sobre ter uma relação sexual comigo, é isso?<br />

– Eu não devo subjugar a sua inteligência, e sem perca de mais tempo ou enrolação, vou me abrir com<br />

você, é isso mesmo que me perturba, não sou mais como estes jovens, com quem já manteve relações, já<br />

tenho uma certa idade e por isso mesmo, não tenho mais o vigor de antes, pronto falei!<br />

Ela tocou carinhosamente o seu rosto, o abraçou por alguns segundos, olhou bem no fundo de seus<br />

olhos, e o beijou profundamente com muito amor, e se sentindo bem mais aliviada, pelo problema não<br />

estar diretamente relacionado a ela, procurou ser cautelosa com suas palavras.<br />

– Pelo jeito você já teve este problema, em um de seus últimos relacionamentos, e isso lhe deixou com<br />

falta de confiança, dá para ver que a sua estima está muito baixa, mas não deve se sentir assim, é uma<br />

pessoa maravilhosa, e tenho a certeza absoluta, de que tem capacidade de superar estes problemas!<br />

– E se na hora eu não conseguir, e também falhar com você?<br />

– A gente tenta de novo, e de novo, até você recuperar a sua confiança, a gente fica só namorando, e se<br />

durante pintar algum clima, sei que vamos sentir muito prazer juntos!<br />

– Eu nuca me abri assim com ninguém, e se você está disposta a me ajudar, creio que as coisas ficam<br />

mais simplificadas, e sem nenhuma pressão, pode até ser que dê certo.<br />

– Mulheres também têm suas adversidades, a grande diferença, é que nós vamos ao médico, e<br />

tentamos resolver as questões, já os homens morrem de medo ou vergonha, de expor seus problemas<br />

com o corpo, e muitas vezes deixam de viver melhor, simplesmente por teimosia.


– É bem isso mesmo, falou a pura verdade, na semana que vem vou procurar por um médico, mas<br />

agora, vou subir para descansar um pouco, mais tarde se você quiser, pode dar uma passada no meu<br />

quarto, até mais tarde então.<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Apesar do problema exposto pelo advogado, a moça sentia uma enorme felicidade por dentro, pois além<br />

de entender toda a situação, e de ver que não existia nenhum tipo de preconceito, ou até mesmo receios<br />

quanto ao seu passado, ela tinha a grande oportunidade de ajuda-lo, e um pouco mais tarde, pela vidraça<br />

da janela em seu quarto, ela deslumbrava a super lua nos céus paulistanos, visão esta, que acentuava<br />

ainda mais esta paixão, que batia cada vez mais forte em seu peito.<br />

302


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 72 •<br />

No apartamento de Juliano no condomínio, a sua esposa Tamares, estranhou o fato do marido ter saído<br />

e voltado, vestindo roupas normais do dia a dia, e não do uniforme tradicional da empresa, e logo após o<br />

jantar, notando que ele estava um pouco diferente, sem aquele olhar cabisbaixo e melancólico, o indagou<br />

sobre o que estava acontecendo.<br />

– O que se passa, você saiu de manhã sem falar nada, e chegou bem mais tarde que de costume, por<br />

acaso perdeu o seu emprego?<br />

– Sim e não, é uma coisa meio que complicada, no momento eu preciso de um tempo para mim, e assim<br />

tentar colocar meus pensamentos em ordem, depois eu lhe explico tudo com mais calma.<br />

– Só espero que você não faça nenhuma burrada, as contas estão todas aí para pagar, não sei mesmo<br />

como pode ser assim, tão fraco e sem ambições!<br />

– A gente sempre espera algum tipo de apoio, principalmente de quem está próximo a nós, mas em<br />

todos estes anos de casamento, você vem me maltratando, vem me sufocando diariamente, me fazendo<br />

sentir um imprestável, um sem-noção, um babaca total, mas isso se encerra hoje, de agora em diante eu<br />

exijo respeito!<br />

– Ora vejam só, nunca vi você falar assim comigo, o que o fez mudar assim tão radicalmente?<br />

– A vida, só agora eu enxergo como fui um tolo, em deixar você me controlar, e praticamente tentar me<br />

esmagar, com suas calúnias e ofensas sem fim, pode ter certeza que muita coisa vai mudar!<br />

Ele saiu da sala que se encontrava, e a deixou praticamente falando sozinha, indo em direção ao<br />

barzinho local, onde se sentou em seu cantinho predileto, e tomou com gosto uma deliciosa cerveja,<br />

saboreando os melhores dias de sua vida, e muitos pensamentos rondavam em sua cabeça,<br />

principalmente as imagens daquele dia, em que ficou com Regina no vestiário.<br />

Juliano sabia que ela era o pivô central, de todas estas suas mudanças de atitude, e pretendia tudo a<br />

seu tempo, procurar reconstruir a sua vida profissional e afetiva, mas a única certeza que tinha no<br />

momento, é que queria muito esta mulher ao seu lado, sem deixar de se esquecer de Dona Angelina, que<br />

também lhe deu apoio e conselhos fundamentais, para dar este início de virada em seu destino.<br />

Enquanto isso o síndico Xavier, voltava de um dos apartamentos, após uma chamada de reparo elétrico,<br />

e como ele era um faz tudo por ali, resolvia sempre os casos mais simples, só recorrendo mesmo a<br />

profissionais qualificados, quando entendia se fazer realmente necessário, e de longe ficou observando,<br />

um casal que trocava carinhos no jardim, se tratava novamente de Vanessa e Leonardo.<br />

Todos no condomínio, se admiravam com a superação dos dois adolescentes, e em meio a tanto<br />

sofrimento com suas doenças, se entregavam ao amor de uma tal forma, que pareciam ignorar todos<br />

estes obstáculos, porém a garota a cada dia que passava, estava cada vez mais debilitada, mas isso não<br />

os impediam de sonhar, e viviam cada minuto como se fossem os últimos.<br />

No apartamento de Dona Angelina, ela e a amiga Regina, assistiam juntos a última parte da novela, e<br />

assim que o capítulo se encerrou, ambas foram para a cozinha, e deram início ao costumeiro bate papo.<br />

– Nossa Dona Angelina, a senhora viu quando o Juliano chegou?<br />

– Não vi não, eu quase não saí daqui hoje, porque aconteceu algo diferente?<br />

– E como aconteceu, ele chegou num carrão preto, com motorista e tudo, e tinha até a mesma<br />

logomarca, igual a do uniforme que ele sempre usa, precisava ver!<br />

303


<strong>Caminhos</strong><br />

– Você gosta mesmo dele né, não perde um movimento do rapaz, fica sempre atenta a todos os seus<br />

passos, ou estou errada?<br />

– Acha que tem alguma chance, dele lagar desta mulher idiota, que só sabe lhe dar patada, e ficar junto<br />

comigo?<br />

– Isso vai depender muito da parte dele, porque da sua já parece estar resolvida, mas nada nos impede<br />

de dar uma espiadinha, nos conselhos que o tarô pode nos dar, quer que eu ponha as cartas para você?<br />

Nem foi preciso palavras para confirmar, o peculiar e cativante sorriso de Regina, que era a sua marca<br />

registrada, demonstrava que concordava com a sugestão, e quem sabe as lâminas antigas e misteriosas,<br />

lhe revelariam a atitude certa a tomar, ainda mais num momento como este, que ela começava a enxergar,<br />

possibilidades de ter em seus braços, o homem que há muito tempo já vem amando.<br />

Do outro lado da capital, no quarto do Hotel, Raul já totalmente recuperado de seus ferimentos, brincava<br />

com o filho Gabriel, enquanto Iris e Elvira assistiam a um filme na tevê, e por se tratar de uma<br />

acomodação enorme e luxuosa, havia uma sala ampla, entre o lavabo e o quarto principal, e mais tarde,<br />

após o garoto ter apagado no sofá, a cozinheira retornou para o seu apartamento, e o casal finalmente<br />

pode ficar a sós.<br />

– Raul, sabe no que eu estava pensando?<br />

– Não faço a mínima ideia, mas seja o que for estou interessado!<br />

– Não se faça de bobo, sabe muito bem do que estou falando, não está com saudades?<br />

– Claro que estou, senti demais a sua falta, faz tempo que a gente não fica juntos, só que antes nós<br />

precisamos conversar, tem algumas coisas que você precisa saber.<br />

– Seja o que for, hoje nada mais me importa, deixa isso para depois, vem e me beija!<br />

E sem tocar numa palavra sequer, os dois se entregaram um ao outro, completamente de corpo e alma,<br />

e após um longo período de separação, marido e esposa finalmente se reencontravam, em seus próprios<br />

caminhos.<br />

Enquanto Iris e Raul se amavam no hotel, Seu Barbosa dono do bar no condomínio, contava a Juliano<br />

que tomava a sua cerveja, sobre sua vinda a São Paulo, depois ter vivido grande parte de sua vida, nas<br />

lindas terras nordestinas da Bahia, e como só havia os dois no pequeno recinto, puderam conversar bem a<br />

vontade.<br />

– Tem certeza que não estou lhe perturbando, com estas histórias de minha terra natal?<br />

– De forma alguma, senta comigo e tome um copo, e me conta tudo sobre a sua antiga vida.<br />

– Lá é um lugar maravilhoso, cheio de histórias importantes, e de uma natureza deslumbrante, com suas<br />

praias de águas cristalinas, e repleta de pessoas simples e hospitaleiras, tenho saudades das tardes de<br />

sábado, junto a meus irmãos na praia do forte!<br />

– E porque deixou este lugar, a sua família, e veio para São Paulo?<br />

– Falta de trabalho e oportunidades, quando cheguei aqui tinha trinta e dois anos, passei por diversos<br />

empregos, fui ajudante de pedreiro, vigia noturno, e fiz diversos tipos de bicos, até que abri um pequeno<br />

boteco, onde eu morava nos fundos, mas o aluguel foi ficando muito caro, até que soube das construções<br />

dos três condomínios, eu acabei conseguindo alugar um apartamento, e de quebra me cederam este<br />

cantinho aqui, para poder ganhar o meu sustento.<br />

304


<strong>Caminhos</strong><br />

– Pelo que sei nunca se casou, não deve ser fácil viver longe da família e dos amigos, mas eu nunca o<br />

vi se ausentar para ir vê-los, tem alguma coisa ou algo que te impede?<br />

– É que meu pai e minha mãe são falecidos, e como os meus outros dois irmãos, foram cada um para<br />

um lado diferente, acabamos perdendo o contato, e já vai para mais de dez anos, que não tenho notícias<br />

deles.<br />

– Olha eu entendo um pouco de tecnologia, e sei bem que hoje existem as redes sociais, creio que não<br />

deve ser difícil encontrar eles.<br />

– Verdade, e como isso funciona?<br />

– Marca num pedaço de papel, o nome completo deles, que assim que tiver um tempinho, eu faço uma<br />

busca pela internet, e quem sabe teremos um pouco de sorte, e o senhor possa novamente revê-los?<br />

Seu Barbosa ficou animado e esperançoso com a ideia, tratou logo de anotar o nome do irmão e da<br />

irmã, e para encerrar este final de noite, abriu mais uma garrafa de cerveja, e fez um brinde com o amigo,<br />

onde ambos tinham suas perspectivas melhoradas, diante de tantos problemas e divergências.<br />

Ali mesmo dentro da propriedade, Leonardo que se encontrava no apartamento de Vanessa, em mais<br />

uma das constantes visitas a moça, trocava junto a ela algumas impressões, de suas transas e carinhos<br />

românticos, quando dentro desta enorme empolgação, surgiu um diálogo inesperado.<br />

– Você sabe que daqui a três dias, eu viajo com a minha mãe para os Estados Unidos, onde se tudo der<br />

certo, ficarei por cerca de seis meses fazendo o tratamento, e queria saber se você vai esperar por mim.<br />

Ela não se conteve com a pergunta, e derramou algumas lágrimas amargas, pois sabia bem que por ter<br />

abandonado o seu tratamento, as suas expectativas prováveis de vida, não chegariam a tanto, ainda mais<br />

por ela ter piorado muito nos últimos dias, mas se manteve firme guardando somente consigo, não<br />

contando a ele nada do que se passava, e com a voz embargada pela emoção, respondeu a ele:<br />

– Certamente que sim, te amo muito e você sabe disso, que é a razão e a força que me faz seguir em<br />

frente, não vai ser fácil ficar longe dos seus carinhos, e de não poder ver o seu rosto lindo todos os dias,<br />

mas tenho de me conformar com este meu carma.<br />

– Se não fosse por toda a luta de minha mãe, eu não te deixaria neste momento, pensa que não reparei<br />

que não está bem, mas gosto de pensar positivo, e que resolva voltar ao seu tratamento, quem sabe o<br />

universo nos apoie em nosso amor, nos envie energias curativas, e realize algo que mudem nossos<br />

destinos?<br />

– Acredita mesmo nestas coisas de energia universal?<br />

– Opa se eu acredito, de onde pensa que todos nós, e todas as coisas que existem vieram, creio que<br />

simplesmente de uma única fonte de poder, procure pensar fixamente nisso todos os dias, tenho certeza<br />

que todo o universo, vai conspirar a nosso favor.<br />

Ela enxugou as lágrimas, abriu um pequeno sorriso, e os dois se abraçaram fortemente, selando ali um<br />

pacto entre eles, e as energias construtivas e positivas, do nosso imenso e poderoso cosmos, certamente<br />

iria os apoiar de alguma forma, pois eram dois protagonistas importantes, de tudo o que rege as vidas e os<br />

destinos.<br />

Em terras canadenses, a chefe Heloise junto ao seu amante e comparsa, se mostrava cansada e um<br />

pouco abatida, e isso chamou a atenção de Parker.<br />

– Você não me parece muito bem, nunca te vi assim deste jeito, o que houve?<br />

305


<strong>Caminhos</strong><br />

– Sabe que não sou de me abrir muito, e que não converso sobre coisas pessoais, mas a gente já está<br />

junto há um bom tempo, e creio que posso confiar em você, só não sei se está preparado para ouvir, o que<br />

realmente acontece comigo!<br />

Ela olhou seriamente para ele, puxou os cabelos que cobriam parcialmente seu rosto, e lhe mostrou algo<br />

que o surpreendeu totalmente, que era parte de sua face esquerda, que se encontrava coberta de rugas, e<br />

com algumas deformidades na pele, como se ela tivesse envelhecida de uma hora para outra, e<br />

observando toda aquela cena a sua frente, ele ficou pasmo e sem entender, o que realmente se passava<br />

com a chefe.<br />

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<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 73 •<br />

Parker a princípio achou, que pudesse ser algum tipo de truque, ou até mesmo um plano dela em<br />

se disfarçar, mas essa sensação durou poucos segundos, e percebendo que se tratava de algo bem real,<br />

procurou por explicações.<br />

– O que houve com você, por acaso ficou doente?<br />

– Nunca parou para pensar, ou ao menos se questionou, a causa de minha busca desenfreada, a estas<br />

relíquias antigas?<br />

– Muitas e muitas vezes, mas você sempre esteve tão obcecada, passando por cima de tudo e de todos,<br />

que acabei acreditando que se tratasse de um vício, de algo que lhe completava o seu ego, e mesmo<br />

tendo ouvido boatos absurdos, a respeito destas pedras brilhantes que procura, eu achei melhor ficar na<br />

minha.<br />

– Eu aprendi a não confiar em ninguém, mas em todos estes anos de minha vivência, você foi o único<br />

que realmente se dedicou a mim, por isso vou lhe contar toda a verdade!<br />

Ele nem a reconheceu diante as palavras, pois toda aquela pose de pessoa dura e cruel, desapareceram<br />

mediante a sua fragilidade, e aos poucos e com muito jeito, contou a ele que era uma caminhante de<br />

longas jornadas, e que tinha centenas e centenas de anos, só se encontrando viva e aparentemente<br />

conservada, justamente por causa da energia dos cristais.<br />

Ainda sem acreditar no que havia escutado, ele pegou nas mãos de Heloise, e procurou olhar dentro de<br />

seus olhos, na tentativa em vão de enxergar algo, que estava tão explicitamente exposto, em toda face<br />

esquerda de seu rosto, só compreendo totalmente o fato, quando ela lhe mostrou a última relíquia em sua<br />

posse, que era a que tinham tirado de Caio no cativeiro.<br />

E ali bem diante de seus olhos, ela utilizou em parte aquela energia armazenada, recuperando em<br />

poucos minutos a sua vitalidade, a transformando de volta com a sua beleza e aparente juventude, tendo a<br />

plena consciência de que a energia estava no fim, e que teria de ir em busca de mais, e assim Parker<br />

compreendeu tudo, inclusive o porquê da busca pela fonte, para que ela nunca mais precisasse, correr<br />

atrás das migalhas espalhas pelo mundo.<br />

Já era madrugada no Brasil, e como Nathan ainda não havia dado notícias, Iris foi até o seu quarto no<br />

hotel, enquanto Raul e Gabriel dormiam profundamente, e após bater em sua porta, aguardou por um<br />

determinado tempo, até que o empresário a atendeu.<br />

– Oi Iris, aconteceu alguma coisa?<br />

– Desculpe a hora avançada, mas estava preocupada com você, porque o porteiro nos contou que havia<br />

chegado mais cedo, mas como não nos procurou para conversar, achei que estivesse com problemas,<br />

tudo bem com você?<br />

– Entre, vamos conversar lá dentro, eu preciso mesmo desabafar.<br />

– Pelo seu semblante algo sério ocorreu, você aparenta estar muito tenso e nervoso, tem alguma coisa a<br />

ver com os criminosos?<br />

– Também, mas eu não procurei por vocês antes, porque precisava pôr os meus pensamentos, e minhas<br />

lembranças em ordem, e depois de algumas horas, procurando encaixar todas as peças, me sinto<br />

preparado para me abrir com alguém, e nada melhor que ser contigo, te considero uma grande amiga e<br />

aliada.<br />

307


308<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Eu fico lisonjeada pela sua confiança, e pelo que tudo indica, finalmente a hipnose funcionou, sobre o<br />

que quer falar?<br />

– Que me recordei de tudo, de tudo mesmo, de quem fui no passado, do meu presente, de todas as<br />

pessoas e memórias, até mesmo de quem está por detrás de tudo, de todas as coisas ruins que vem<br />

acontecendo, ao longo de muitos e muitos anos.<br />

– E quem seria essa pessoa, que é capaz de explodir, sequestrar, e matar tantas pessoas, por causa de<br />

dinheiro e bens materiais?<br />

– Alguém de minha própria família, a minha irmã mais velha!<br />

Ela ficou perplexa com o que ouviu, custou a acreditar no que o amigo lhe contara, mas isso era apenas<br />

a ponta, de um emaranhado que se arrastou do passado, vindo destruindo tudo até o presente, e para não<br />

a assustar ainda mais, achou melhor não contar sobre a fonte, nem sobre as relíquias de poder.<br />

Assim que Iris se acalmou, conseguiu raciocinar mais claramente, a ponto de ir abraçar e confortar<br />

Nathan, se dando conta da sensibilidade da questão, mas ele tratou logo de lhe esclarecer, que este<br />

assunto já havia sido superado há tempos, e que neste momento ele precisava agir, a começar<br />

denunciando as autoridades, tudo o que sabia sobre os crimes da irmã.<br />

Como já era muito tarde, eles se despediram, e decidiram continuar esta importante conversa, em uma<br />

ocasião mais oportuna, mas Iris não era a primeira a saber das recordações, sem entrar em muitos<br />

detalhes, nem contando nada sobre sua irmã, mais cedo ele havia ligado para Letícia, que já se sentia<br />

quase que recuperada, a ponto de estar prestes a receber a alta.<br />

Neste telefonema a amada, além de trocar palavras de carinho, e de certamente matar as saudades, lhe<br />

contou que havia restabelecido suas memórias, e lhe explicando particularidades sobre as relíquias, fez a<br />

noiva uma revelação surpreendente, e assim que desligou, ela se deitou na cama, e ficou pensando<br />

durante toda a madrugada, nesta nova possibilidade que havia surgido.<br />

Amanheceu um novo dia, e em qualquer parte do mundo, onde os raios solares já habitavam, renasciam<br />

as expectativas deste novo dia, e logo bem cedo, Juliano se dirigiu até a importadora, e retomou a sua<br />

busca nos registros, juntamente com uma equipe de auditoria contratada, conforme ele havia solicitado ao<br />

patrão.<br />

Em um determinado momento, quando havia saído da sala que estava, indo até ao lado no arquivo<br />

morto, para a verificação de um documento, deu de cara com seu ex-encarregado Fausto, e este sem<br />

perca de tempo, tentou questiona-lo acerca de sua presença.<br />

– O que faz por aqui meu rapaz, por acaso veio homologar o seu acerto?<br />

– Digamos que estou resolvendo a minha demissão.<br />

– Creio que não tem mais nada a se resolver, foi demitido e ponto final!<br />

– Isso é que vamos ver, ainda tem muita bola para rolar, acha que sou trouxa?<br />

– Como assim, o que você quer dizer com isso?<br />

– Digamos que o que é seu, está muito bem guardado!<br />

– O que são estes papéis em suas mãos?<br />

Ele o deixou falando sozinho, e na tentativa de intercepta-lo, foi abordado por um dos seguranças, que<br />

estava ali justamente para garantir, que todos os integrantes da auditoria, pudessem trabalhar com


<strong>Caminhos</strong><br />

liberdade e sem interferências, e como percebeu que algo estranho acontecia por ali, tratou rapidamente<br />

de especular, junto a administração da empresa.<br />

Este ato foi meramente me vão, pois somente Lorenzo, Juliano e a equipe, sabiam realmente o que se<br />

passava, e como Fausto já estava aparentemente desequilibrado, não se preocupou em ser discreto, e<br />

acabou despertando muitas suspeitas, porque tudo isso chegou as orelhas do Patrão, e com isso ele<br />

começava a ter a certeza, de que ele era um dos principais suspeitos, deste esquema de desvio das<br />

mercadorias.<br />

Na periferia da grande cidade, mais precisamente na favela, Dulce e Amanda iniciavam seus trabalhos<br />

na Ong, quando sem querer, uma delas mencionou uma conversa com Letícia, que havia sido feita ontem<br />

por telefone, e uma das crianças dentre as outras, que somente iam para tomar o café da manhã, que<br />

também eram fornecidos para os nãos estudantes, ouviu tudo e correu para contar a Otto, que o havia<br />

pago para ficar atento as coisas da entidade.<br />

Ao saber desta conversa entre as professoras, ele deu um salto da cadeira que se encontrava,<br />

parecendo não acreditar na inesperada notícia, e como ele era muito apaixonado por Letícia, comemorou<br />

o fato abraçando o garoto, tirando do bolso uma nota de cem reais, e entregando a ele como uma<br />

bonificação, depois trocou de roupa, e foi até um local bem escondido, onde ele havia guardado grande<br />

parte do roubo, com a ideia fixa de vender tudo, e se preparar para a volta da sua amada.<br />

Enquanto isso Militão e Situação, já haviam passado para frente boa parte das joias, mas isso feito de<br />

forma intempestiva, sem controle, e de qualquer maneira, trocando por carros usados, roupas de marca, e<br />

com prostitutas de um inferninho local, esbanjando e praticamente rasgando dinheiro, que certamente<br />

mais cedo ou mais tarde, haveria de acabar por completo, os deixando zerados novamente.<br />

No restaurante do hotel, Nathan tomava o desjejum matinal, juntamente com seus amigos de<br />

hospedagem, e procurando sem bem discreto quanto a sua recuperação, noticiou a todos sobre uma<br />

recompensa, que ele junto as autoridades americanas, tinham estipulado para quem os informasse, sobre<br />

alguma notícia do cativeiro ou dos sequestrados, e como Raul foi quem indicou a pista principal, que foi<br />

o telefone rastreado pelos policiais, receberia a quantia de um milhão de reais.<br />

Imagina acordar de manhã, e receber uma notícia destas de supetão, isso acabou gerando euforia em<br />

Gabriel, espanto da cozinheira Elvira, e um sorriso enorme de Iris, que pela reação que teve,<br />

possivelmente já sabia desta informação, deixando Raul completamente sem palavras e muito<br />

emocionado, quando que ele poderia imaginar, que ao contrário do que sempre praticou, um gesto nobre e<br />

caridoso, poderia lhe render esta pequena fortuna.<br />

Antes de descer de seu quarto, o empresário havia ligado para Arthur, pedindo que ele lhe prestasse um<br />

grande favor, que era de entrar em contato com o investigador, que ainda prestava serviços a eles, em<br />

pleno território americano, e pedir que ele se dirigisse até o necrotério de Denver, onde o suposto corpo de<br />

Caio, que já havia sido encaminhado para a agência funerária, havia passado por uma minuciosa<br />

necropsia, e isso para buscar uma certa informação, junto ao legista encarregado deste registro.<br />

Após se despedir de todos na mesa do café, o empresário se levantou, e se preparava para pegar o<br />

elevador, quando o advogado em vez de efetuar uma ligação, decidiu dar a tão esperada informação<br />

pessoalmente, e tinha um motivo especial para este fato, que era o resultado desta importante e rápida<br />

questão, e tinha uma resposta muito positiva.<br />

Dentro das recordações recuperadas por Nathan, havia uma que era imprescindível, que era algo que<br />

somente ele e Caio sabiam, ambos há cerca de três anos atrás, fizeram uma pequena cirurgia na região<br />

do abdômen, inserindo alguns micros cristais, para que estes os energizasse sempre que preciso,<br />

mantendo a saúde e o constante rejuvenescimento.<br />

Arthur contou a ele que o legista americano, relatou com muita certeza ao investigador, que durante todo<br />

309


<strong>Caminhos</strong><br />

o processo realizado, não encontrou nenhuma marca parecida como esta, e ao ouvir esta confirmação da<br />

boca do advogado, ficou extremamente feliz e emocionado, era um sinal que Caio poderia estar vivo.<br />

310


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 74 •<br />

Nathan sentia que as coisas pareciam estar a seu favor, e antes mesmo de ligar para Letícia e sua<br />

família, ele ouviu atento os conselhos do advogado.<br />

– Creio que devemos notificar nossas suspeitas a polícia, porque se for mesmo verdade, será a segunda<br />

vez que ele se passa por um morto, e isso pode lhe trazer graves problemas com a justiça, principalmente<br />

vão querer saber a quem pertence este corpo, o porquê de ser encontrado com as roupas do Caio, e<br />

também a origem dos sinais de tortura.<br />

– Você está completamente certo, então primeiro vamos tirar a Letícia de lá, a gente não sabe em quem<br />

podemos confiar, certamente tem gente de olho em tudo, e assim que sair esta notícia, a organização<br />

pode efetuar algum tipo de caçada ou revide, e todos nós estaremos novamente a mercê deles.<br />

– Quantos dias acredita ser preciso, para que estas ações possam ser efetuadas, e que se segure estas<br />

informações?<br />

– Por pelo menos uma semana, isso nos dará tempo de nós nos prepararmos, e para que Letícia e seus<br />

pais, possam retornar ao Brasil com segurança, aliás, tenho outra informação para você comunicar as<br />

autoridades, mas isso já pode ser feito agora, digam a eles que quem comanda estes criminosos, é uma<br />

mulher escrupulosa e altamente perigosa, o seu nome é Heloise Collin Miller.<br />

– Como soube disso, foi através de alguém do FBI?<br />

– Na verdade, eu já recuperei todas as minhas memorias, e sei muito bem com quem estamos lidando!<br />

– Espera um minuto, está me dizendo que é esta mulher, que fica por trás de todos estes eventos<br />

criminosos? E porque ela tem o mesmo sobrenome que você?<br />

– Esta praga é minha irmã mais velha, seus crimes começaram bem cedo, mas é uma história muito<br />

longa, eu te conto em outra oportunidade, agora peço que repasse esta informação as autoridades, tanto<br />

para a Federal, para a Interpol, e ao FBI, eles precisam saber com quem estão lidando.<br />

– Vou fazer isso imediatamente, mas tenha cuidado redobrado, pois assim que ela for exposta, não terá<br />

mais nada a perder, e é muito provável, que venha com foças máximas sobre todos nós.<br />

– Certamente que sim, por isso vou imediatamente ligar para a Letícia, ela e seus pais precisam saber<br />

desta verdade, e podem estar correndo perigo no hospital.<br />

Enquanto Arthur assimilava esta surpreendente revelação, e se preparava para colocar as palavras<br />

corretas às autoridades, Nathan subiu até o seu quarto, trancou a porta, e ligou para a sua amada, que o<br />

atendeu prontamente.<br />

– Oi meu amor, achei que não ia me ligar, estou preocupada com o que me disse ontem, já tem notícias<br />

sobre o exame do legista?<br />

– Sim, e são as melhores possíveis com relação ao Caio, não é o corpo dele que nós vimos, certamente<br />

foi trocado por outra pessoa, ainda não sabemos o que aconteceu de verdade, mas acredito que ele se<br />

encontra realmente vivo.<br />

– Ha meu Deus, como isso me alivia e me deixa feliz, mas será que ele teve de matar algum dos<br />

bandidos, e depois o vestiu com sua própria roupa, o deixando com marcas parecidas com as da tortura?<br />

– É o que aparenta ser, mas temos de contar tudo isso a seus pais, e principalmente guardar segredos<br />

quanto ao fato, pelo menos até vocês retornarem ao Brasil com segurança, por falar nisso, como está se<br />

sentindo hoje?<br />

311


312<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Estou bem, um dos médicos passou logo de manhã, e me disse que depois do almoço terei alta, e já<br />

poderei ir embora, mas depois que isso acontecer, acredito que tenha de ir ao funeral, marcado para a<br />

tarde de hoje, certamente tem gente deles rondando por aqui, e observando todos os nossos movimentos.<br />

– Muito bem pensado, mas tome muito cuidado, vá e faça todo o protocolo de um enterro, agindo com<br />

muita naturalidade, e demonstrando algum sentimento, vou pedir para reforçarem a segurança de vocês,<br />

para os acompanharem ao cemitério, sinto muito ter de passar por mais isso, eu queria tanto estar ao seu<br />

lado para lhe apoiar, estou morrendo de saudades!<br />

– Também estou morrendo de saudades, mas vamos terminar isso logo, estou cansada e quero voltar<br />

para casa, vou aguardar meus pais subirem ao quarto, e explico tudo direitinho a eles, beijos meu querido,<br />

tome também muito cuidado por aí.<br />

– Pode deixar, estou muito bem preparado e protegido, e assim que terminar o funeral, me ligue para<br />

contar se deu tudo certo, um beijo especial para você.<br />

Os dois se despediram carinhosamente, e depois ficaram contando as horas para o desenrolar dos<br />

fatos, até que chegou o aguardado momento, em que os médicos lhe deram a alta, e assinando alguns<br />

documentos exigidos pelas autoridades, saiu juntamente com Jorge, Eleonora, e todos os seguranças<br />

particulares, e se dirigiram até ao cemitério de Denver.<br />

Além deles e dos coveiros, não havia mais ninguém presente ao simples funeral, e enquanto todos se<br />

sentaram de frente para o caixão, Letícia fez questão de ficar de pé e de se aproximar, e com um papel<br />

escrito a mão, mesmo sabendo que não se tratava de Caio, leu algumas palavras de conforto aquela<br />

pobre alma, e este ato também serviu perfeitamente, caso alguém estivesse de olho neste evento, e sob<br />

algumas lágrimas que rolavam em seu rosto, ela se lembrou do amigo, terminou a leitura, e foi embora<br />

rapidamente daquele lugar.<br />

Acomodados dentro do Carro, a caminho do aeroporto do Denver, Eleonora e Jorge fizeram gestos<br />

positivos, para a atitude e coragem da filha, porque ela poderia ir fazer simplesmente, uma pequena<br />

encenação junto a urna fúnebre, porem teve a sensibilidade de enxergar naquele momento, que<br />

independente do passado daquela pessoa, ela merecia algumas palavras antes de ser enterrada.<br />

Além da imensa bondade, que a professora carregava sempre consigo, estes sentimentos haviam se<br />

tornados mais intensos, após ela iniciar seu trabalho filantropo, com as ajudas e os trabalhos voluntários,<br />

desde os dezoito anos de idade, e agora além de ser uma mulher linda na aparência, era também um ser<br />

humano excepcional por dentro.<br />

Depois de mais ou menos quarenta minutos, a família cercada de seguranças, adentrou<br />

as dependências do aeroporto, e seguiram juntos para realizar o check-in, e somente depois que ambos<br />

entraram na aeronave, puderam se sentir um pouco mais seguros, mas em combinação com a polícia<br />

local, e também com os seus contratados, eles fizeram uma troca de passagens, e ninguém além da<br />

família, sabiam qual seria o seu destino final, nem mesmo o próprio Nathan sabia, que eles não viriam<br />

para o Brasil, pois Letícia acatou a decisão dos pais, e por enquanto guardaria este segredo.<br />

Do outro lado do mundo em Dubai, já era final daquela sexta-feira, a após mais um dia longo de<br />

trabalho, na obra de construção das casas do consórcio, Carlos Renato retornou para o hotel, e vendo que<br />

Josie não se encontrava no quarto, pegou o elevador, e foi até o andar da cobertura, onde se localizava a<br />

piscina panorâmica, e encontrou o seu amor se deliciando plenamente, nas águas aquecidas deste<br />

esplêndido lugar.<br />

– Parece que está tão bom aí, cabe mais um?<br />

– Meu amor, claro que sim, e tem o melhor lugar reservado só para você!<br />

– Ha é, e qual seria este lugar?


<strong>Caminhos</strong><br />

– Lógico que é aqui abraçadinho comigo, troque logo esta roupa, e venha que quero me esfregar toda<br />

em você.<br />

Ele nem pensou duas vezes, o convite o incitou de uma forma, que ele correu de volta ao quarto,<br />

colocou a primeira sunga que encontrou, e pulou dentro da piscina se esbaldando, com toda a regalia que<br />

o lugar oferecia, desfrutando dos drinques gelados, e deliciosos aperitivos requintados, somando a<br />

comodidade, o luxo, e o romance, destes dois jovens marcantes e apaixonados.<br />

Mais tarde, por volta das vinte e uma horas, eles se arrumaram com muita elegância, e foram jantar com<br />

o Sheik Mahdi Jasir, onde mais uma vez foram convidados, por causa da alegria, da descontração, e da<br />

beleza deste casal brasileiro, que o encantava cada vez mais no dia a dia, fazendo surgir um grande laço<br />

de amizade, e como dizem por aí, fala com que anda, que eu te digo quem és, ou seja, os brasileiros<br />

estavam garantindo pouco a pouco, o que certamente seria um futuro brilhante.<br />

Retornando ao Brasil, lembrando sempre da diferença de horários, entre os Emirados Árabes e São<br />

Paulo, onde a tarde estava somente começando, encontramos Nathan se despedindo de seus amigos no<br />

hotel, ele estava pronto para a viagem até Maragogi, onde os pesquisadores já o aguardavam, para a<br />

conclusão do projeto de abertura da fonte.<br />

Assim que desceu sua bagagem, ouviu atentamente os conselhos de Iris, recebeu um abraço apertado<br />

de Gabriel e Elvira, e acompanhado por Raul e dois seguranças, foi levado até Congonhas, onde<br />

embarcou sozinho em seu jatinho particular, pois esta missão era extremamente secreta, e mesmo se<br />

arriscando a ficar sem proteção, era uma ação que se fazia necessário.<br />

No finalzinho da tarde, o empresário chegou em Maceió, e rapidamente pegou um carro alugado, e foi<br />

para o seu destino final, e depois de rodar quase uma hora, finalmente avistou a sua propriedade a beira<br />

mar, vendo que os dois colecionadores, já o aguardavam ansiosos na varanda da casa, e após<br />

se cumprimentarem devidamente, todos foram sem perca de tempo, até a poderosa e misteriosa fonte.<br />

Nathan contou a eles, que havia recuperado todas as suas memórias, deixando pai e filha muito<br />

contentes, e por sua vez, eles lhe contaram com detalhes, sobre o sucesso da manipulação da marca, e<br />

que já se encontrava pronta para ser utilizada, e ao chegar defronte a caixa da preciosa relíquia, ele fez<br />

questão de matar todas as curiosidades dos colecionadores, resumindo o significado de tamanho poder.<br />

– Saibam que o meu pai, era o detentor e protetor desta relíquia, chamada por todos de fonte, que tem a<br />

sua origem desconhecida, mas que reza a lenda, que foi deixada aqui na terra, por uma força maior<br />

pertencente ao universo, como um presente para que todos usufruíssem, de seus infinitos poderes e<br />

benefícios, porém a humanidade nunca soube repartir esta dádiva, e assim que esta peça surgiu,<br />

começaram as lutas e disputas pela sua posse.<br />

Vendo que eles o ouviam atentamente, e entediam tudo o que lhes contava, prosseguiu com a<br />

explicação.<br />

– Meu pai deixou por escrito, antes de ser brutalmente assassinado, a orientação de somente abrir o<br />

baú, que ele deixou escondido no riacho, quando este estivesse em total segurança, e depois de passar<br />

cerca de um ano fugindo intensamente, de bandidos que buscavam impiedosamente este poder, eu o abri,<br />

e dentro encontrei vários cristais transparentes, junto a um mapa bem antigo, indicando o esconderijo da<br />

fonte principal, e como eu me encontrava fraco, desnutrido, e muito ferido, ao entrar em contato com estes<br />

cristais, eu pude sentir uma transformação em todo o meu corpo, curando os meus ferimentos, e<br />

restabelecendo toda a minha força, e foi assim que pude sentir na pele, toda a energia desta poderosa<br />

força universal.<br />

313


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 75 •<br />

Os colecionadores estavam extasiados, ouvindo cada palavra, reparando em cada gesto que o<br />

empresário efetuava, para demonstrar com total clareza, aqueles momentos vivenciados por ele no<br />

passado, e assim que surgiu uma brecha, lhe fizeram algumas perguntas importantes, a primeira que o<br />

indagou foi Marina.<br />

– Explica para a gente, qual foi a sua primeira sensação, após este primeiro contato com esta energia?<br />

– Muitas ao mesmo tempo, mas para achar uma palavra exata ao que senti, hoje eu diria "plenitude".<br />

Duarte parecendo entender com clareza, procurou disseminar a reação sentida por Nathan.<br />

– Eu creio que entendo o que quer dizer, seria uma sensação de bem-estar, de ausência de dor e medo,<br />

e possivelmente de sentir muito poder!<br />

– Sim, isso mesmo, mas faltou a coisa mais importante nisso tudo, que é a chave fundamental desta<br />

fonte de energia, que é o acentuamento de todos os nossos sentimentos.<br />

Marina cruzou os braços, procurou assimilar as informações, e também chegou a um entendimento.<br />

– Claramente, que tem sentimentos bons e nobres, os potencializa ainda mais para este sentido, e deve<br />

fazer o caminho inverso, para os que mantêm sentimentos ruins dentro de si!<br />

– Perfeito, simples assim, mas não pensem vocês, que não passei por muitas e muitas provas, nestes<br />

meus longos caminhos da minha jornada, porque no início a pessoa se julga poderosa, invencível, e até<br />

imortal, acreditando que pode fazer tudo o que quiser, começa até a achar que é algum tipo de Deus, ou<br />

coisas deste tipo.<br />

– Sabe o que eu acho filha, eu acredito que muitos de nossos ancestrais, possam ter passados por este<br />

tipo de provação, você sabe Nathan, alguma coisa sobre quem já possuiu este poder?<br />

– Se é sobre lendas que quer saber, há muitas a respeito da fonte, podemos assim dizer que ela já<br />

possuiu diversos nomes, e o seu poder infinito muitas vezes, foi confundido com magia negra, ocultismo, e<br />

até mesmo obras satânicas, levando muita gente inocente para a forca, e para queimar na fogueira.<br />

Marina olhou para o pai, e ficou admirada com estas revelações.<br />

– Meu Deus, que coisas horrorosas!<br />

– É minha filha, se pararmos para refletir em todas as barbáries, que foram instauradas ao longo do<br />

tempo, concluiremos que o ser humano é capaz de tudo, e que não tem limitações para a sua arrogância,<br />

nem para a sua ignorância.<br />

Nathan transparecia satisfação, em lhes revelar todos estes segredos, ainda mais, por que todos<br />

pareciam falar a mesma língua.<br />

– Concordo com o senhor, ainda mais uma pessoa como eu, que já viveu em diversas épocas, em várias<br />

culturas, acompanhando sempre o caminhar da humanidade, fui percebendo que as pessoas nunca<br />

mudaram, e continuam com as mesmas carências de consciência, mas voltando a fonte, vocês têm mais<br />

perguntas?<br />

Marina parecia uma colegial, e no automático, chegou até a levantar a mão.<br />

– Eu tenho muitas, por exemplo, o que são estas pedras ao qual chamam de relíquias?<br />

314


<strong>Caminhos</strong><br />

– São cristais encontrados na própria natureza, e que são polidos e até mesmo lapidados, ao quais se<br />

destinam a armazenar esta energia pura, e assim serem utilizadas para a cura e rejuvenescimento, estas<br />

pedras por serem encontrados na terra, e por conter moléculas atômicas primitivas, além de já conterem a<br />

sua energia própria, armazenam e amplificam estes poderes.<br />

Duarte estava satisfeitíssimo, pois tudo isso certamente, amplificaria ainda mais os seus conhecimentos,<br />

e pensando nisso, questionou o empresário:<br />

– Mas certamente tem limitações, ou acredita que não?<br />

– Claro que tem, cada cristal tem características e dimensões diferentes, a cada qual armazena uma<br />

determinada quantidade, que aos poucos ao ir sendo consumida, se esgota como qualquer outra coisa,<br />

podendo vir a ser reabastecida, ou até mesmo a ser inutilizada, e você Marina, tem algo que queira<br />

acrescentar?<br />

– Pelo que eu entendi, somente que tem a fonte de poder, pode ter entre aspas, este abastecimento<br />

infinito e prolongado, levando assim uma pessoa a viver através dos séculos, e em cima disso eu lhe faço<br />

outra pergunta, não é exaustivo, não cansa viver tanto tempo assim, passando por tantas e tantas<br />

situações na vida?<br />

– Muito, é por isso que eu e o Caio, fizemos a hipnose para arquivar parte das lembranças,<br />

principalmente por ver o tempo todo, amigos e pessoas que você amava tanto, indo embora com o passar<br />

dos anos, é um fardo muito pesado!<br />

– Se você me permitir, este velho aqui tem outra pergunta, já pensou alguma vez em repartir, em dividir<br />

toda esta dádiva, pelo menos com estes mais próximos a você?<br />

– Fiz isso diversas vezes, mas no final via um a um cair, justamente por deixarem o poder subir a<br />

cabeça, mas ultimamente eu dividia tudo com o Caio, e estava preparando a Letícia, até que se iniciou<br />

esta caçada brutal.<br />

– Eu e meu pai ficamos felizes em saber, que ele pode estar vivo, e que a Letícia em breve retorna para<br />

o Brasil, agora eu posso fazer uma última pergunta?<br />

– Faça quantas achar necessário!<br />

– Não te dá vontade de sair por aí, e curar todas as pessoas doentes?<br />

– Obrigado por fazer esta pergunta, justamente para esclarecer muitas coisas, como por exemplo, o<br />

porquê de ter tantas empresas, e estar sempre a frente de grandes negócios, e primeiramente esclareço o<br />

fundamental, que é a geração de empregos no mundo todo, onde muitas famílias são beneficiadas, e a<br />

outra, é a constante manutenção, de diversas Ongs, hospitais, e projetos sociais, que ajudam milhares de<br />

pessoas todos os anos, mas eu sei onde você quer chegar.<br />

Ele se aproximou da colecionadora, colocou a mão em seu ombro, e falou o que ela queria ouvir:<br />

– Saiba que tenho várias formações acadêmicas, inclusive a de médico, e antigamente, através de<br />

serviços voluntários, eu cuidava de muitos enfermos, inclusive alguns em estados bem graves, e quando<br />

eu conseguia ficar a sós com eles, eu aplicava a energia através dos cristais, junto a uma palavra em<br />

latim, esta ação em conjunto, trazia muito benefícios a eles, só que com o tempo, começou a pesar em<br />

minha consciência, que talvez eu pudesse estar alterando, o rumo natural das coisas.<br />

Eles ficavam cada vez mais admirados, principalmente Marina, que estava conhecendo este outro lado<br />

do empresário, reforçando o que já pensava sobre ele, de que realmente era uma pessoa maravilhosa, e<br />

agora certamente, provida de muito amor e dedicação ao próximo.<br />

315


Já anoitecia em Maragogi, e uma enorme lua clareava todo o céu e o mar, trazendo muitas energias<br />

positivas para o nosso trio, que prosseguia com o diálogo sobre as relíquias, e Duarte procurou apoiar<br />

Nathan.<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Espetacular tudo isso meu rapaz, deve ter muito orgulho de si mesmo, por poder auxiliar assim tantas<br />

pessoas!<br />

– Que bom se fosse somente assim, mas tem partes ruins, e respondendo à questão das curas, não é<br />

tão simples chegar em uma pessoa, e dizer a ela que um cristal poderia curá-la, por isso em diversas<br />

vezes, eu fiz isso em segredo, mas sempre me questionei se era correto, porque tem a questão do livre<br />

arbítrio, e do carma de que cada um passa para aprendizado.<br />

Marina notava que a cada palavra, o empresário empregava toda a sua sabedoria, e concordou com ele:<br />

– Se olharmos por este ângulo você está certo, cada indivíduo tem de ter a ciência do que vai se<br />

submeter, mas agora o mais importante, vai matar a nossa curiosidade e a ansiedade, e vai abrir a caixa<br />

dourada?<br />

– Claro me desculpem, me empolguei em lhes contar a minha história, e acabei tirando o foco principal,<br />

que é testar a chave que manipularam, então vamos lá!<br />

Duarte entregou a cópia da marca a ele, o abraçou agradecendo a oportunidade, e sem mais perca de<br />

tempo, Nathan pediu para que apagassem a luz, posicionou a chave na fenda e girou, e a seguir o que se<br />

viu foi algo maravilhoso, uma forte luz branca resplandeceu em todo o ambiente, deixando os dois<br />

colecionadores de boca aberta.<br />

Com muita tranquilidade, o detentor por direito da fonte, retirou do bolso dois cristais, e os colocou com<br />

todo o cuidado no fundo da caixa, e lá os deixou por cerca de quinze minutos, armazenando uma porção<br />

daquela energia, depois trancou o artefato, e explicou alguns fatos aos dois amigos.<br />

– Eu sou a única pessoa no momento, que tem a autorização para tocar diretamente nesta fonte, porque<br />

isso é passado de uma pessoa para outra, como fez o meu pai, e como eu também pretendo fazer.<br />

– Trata-se de algum tipo de ritual?<br />

– Mais ou menos, se trata de fazer a concessão a outra pessoa, nem que seja por firmação do<br />

pensamento, podendo ser até mais que uma, mas é uma escolha muito difícil, porque cada um pode reagir<br />

de um jeito diferente, como eu mesmo já lhes expliquei agora há pouco, tipo "Dê o poder para um homem,<br />

e verás como ele se comporta".<br />

– Acredito que eu e meu pai compreendemos tudo, conseguimos enxergar mais claramente os fatos, e<br />

agora que nos contou as coisas principais, o que pretende fazer?<br />

– Primeiro vou matar a curiosidade e perspectivas, que estão escancaradas em seus olhos, vou colocar<br />

um cristal nas mãos de vocês, para sentirem na própria pele, o que já sabem agora na teoria, e vamos ver<br />

as sensações que a energia vai proporcionar.<br />

E assim depositou na palma da mão de cada um, uma daquelas preciosas relíquias, e ensinou uma<br />

palavra secreta que tinham de dizer, que era "Sanarum Corpus" (Corpo Saudável), depois ficou de lado<br />

observando calmamente, a reação deles à aquela energia primitiva, originária de uma força superior do<br />

universo.<br />

Pai e filha ficaram extasiados com tudo aquilo, tanto que não conseguiam proferir palavras, para<br />

expressar tamanha sensação e força que sentiram, para Duarte, é como se sentisse com trinta anos, pois<br />

suas dores reumáticas desapareceram, já para Marina, ela pareceu entrar numa total plenitude, e após<br />

316


<strong>Caminhos</strong><br />

assimilarem esta nova experiência, procuraram as devolver para o empresário, que por sua vez, lhes disse<br />

que era um presente, e pediu para que guardassem segredo de tudo.<br />

No Canadá, os outros interessados diretos das relíquias, conspiravam em seu esconderijo nas<br />

montanhas geladas, quando ouviram vários disparos vindo do lado de fora, e ao perceberem que se<br />

tratava de uma invasão policial, saíram por um pequeno túnel debaixo da cabana, que dava acesso a um<br />

enorme bosque, e com sempre bem preparados, os aguardava mochilas com dinheiro e documentos<br />

falsos, assim iniciaram uma fuga alucinada mata adentro.<br />

Todos os capangas foram mortos no confronto, por uma força tarefa do FBI, que já estava no encalço<br />

deles, desde a invasão no apartamento no Central Park, e seguidamente a revista das dependências do<br />

lugar, começaram a perseguição dos dois até a fronteira, onde os perderam de vista completamente, mas<br />

com o nome dela divulgado por Nathan, descobriram rapidamente o seu paradeiro, porém eles tinham<br />

uma rota traçada e desesperada, pois Heloise estava fraca e precisava dos cristais, por isso<br />

clandestinamente, viajaram para as terras Brasileiras, onde certamente procurariam pelo empresário.<br />

Nos Estados Unidos, Alba havia sido transferida para uma cadeia feminina, enquanto Black e outros<br />

comparsas, permaneceriam presos na penitenciaria local até o julgamento, onde responderiam pelo<br />

sequestro, pelos assassinatos, e por lavagem de dinheiro, e como todos sabem os americanos, são muitos<br />

rigorosos com suas leis, e com tudo isso acontecendo aos criminosos, finalmente a organização parecia<br />

ter sido desmantelada.<br />

Em São Paulo, Diego havia chamado Murilo para irem ao bar, além de já fazer um bom tempo que não<br />

saiam juntos, o amigo viu que o atual presidente das empresas, precisava se distrair e relaxar, e se<br />

colocaria a sua inteira disposição, para um desabafo caso quisesse, e algumas cervejas depois, foi isso<br />

mesmo que aconteceu.<br />

– Cara estou num beco sem saída!<br />

– É por causa da Bianca né?<br />

– Este é o problema, é sempre por causa dela, mas desta vez, não estou me deixando levar pela<br />

emoção, e sim pela razão da atual circunstância.<br />

– Está pensando em assumir ela e o filho?<br />

– Por um lado tem o que eu sinto pela Marina, que é algo muito forte, e que me fez superar o que passei<br />

com ela, mas tem o lado principal que é a criança, não posso permitir que cresça sem uma família, eu<br />

acredito que um pai e uma mãe juntos, podem dar uma estrutura melhor ao seu futuro.<br />

– Isso é verdade, mas necessariamente não quer dizer, que você tenha de morar junto com ela, pode<br />

muito bem ser um pai presente, amoroso, e atencioso, sem se prestar a um casamento forçado, a não ser,<br />

que ainda goste dela o suficiente para isso.<br />

– Não vou mentir que ela ainda meche muito comigo, mas dentro de mim se criou uma espécie de<br />

entojo, creio que isso se deva claramente, pela relação que ela mantinha com a parceira, e por mais que<br />

não seja preconceituoso, acho que isso sempre irá me incomodar.<br />

– Eu te entendo perfeitamente, e quanto a Marina, ela já sabe desta história de gravidez?<br />

– Ainda não tive oportunidade de contar a ela, eu até ia para Maragogi este final de semana, mas eles<br />

estão envolvidos num trabalho com o Nathan, e neste momento devem estar reunidos na casa da praia.<br />

– Cara eu vou te falar um negócio, o nosso patrão é super gente fina, mas ele é cercado de coisas<br />

misteriosas, qual é a dele afinal?<br />

317


<strong>Caminhos</strong><br />

– Não faço ideia, tem alguma coisa que acontece na vida dele, que o faz vivenciar tudo isso que vem<br />

passando, é muita gente o perseguindo, deve ser algo muito importante, mas é melhor não nos metermos<br />

nesta história, vamos pedir mais uma cerveja!<br />

O amigo concordou, e depois de alguns minutos de silêncio, e uma rodada da tradicional tequila, a<br />

descontração voltou ao normal, e ambos sob o efeito do álcool, se esqueceram da imensidade dos<br />

problemas, e se deixaram levar pela música, e pelo movimento das graciosas garçonetes.<br />

Por vota das vinte horas no condomínio, Juliano chegou em casa do trabalho, e deu de cara com a<br />

esposa na rampa de acesso, e esta por sua vez, já foi despejando um monte de coisas ao seu ouvido,<br />

Tamares acreditava que ele estava desempregado, pois ele saía sem nenhum tipo de uniforme.<br />

– Quando é que você ia me contar a verdade, acha que não sei que perdeu seu emprego?<br />

– Há é, e como sabe disso se não te falei nada?<br />

– Eu liguei lá hoje te procurando, e o rapaz do departamento pessoal, me disse que foi despedido, eu<br />

sabia que era um incompetente, nunca devia ter me casado com você!<br />

Ele foi aguentando tudo pelos corredores, onde certamente os moradores escutavam o esbravejamento,<br />

até que ao chegar dentro de casa, ele se virou, e finalmente criou coragem para falar tudo o que pensava,<br />

desabafando tudo o que estava engasgado, e no final lhe pediu o divórcio.<br />

Por essa ela não esperava, tanto que pela primeira vez, se calou e ficou sem palavras, e sem perder<br />

mais nem um minuto, ele foi até o quarto, pegou uma mala, colocou algumas peças de roupas, e saiu<br />

batendo a porta com força, parecendo querer deixar para trás, este doentio relacionamento de anos, e foi<br />

para uma pensão que havia ali por perto.<br />

Enquanto isso no jardim do condomínio, Leonardo e Vanessa passavam seus últimos momentos juntos,<br />

antes de sua viagem para o tratamento, que estava marcada para este final de semana, ambos sabiam<br />

que seus destinos eram incertos, mas naquele instante eles somente curtiam, essa paixão profunda e<br />

alucinante.<br />

318


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 76 •<br />

Alguns dias se passaram, Nathan retornou para São Paulo, e já sabendo que sua amada não viria para<br />

o Brasil, mantendo a pedido dos pais o seu paradeiro desconhecido, o empresário compreendeu a decisão<br />

tomada, e se entregou totalmente ao trabalho, na tentativa de amenizar a falta da noiva.<br />

Ao lado de Murilo, passaram a acompanhar em vídeo conferência, todos os passos das obras em Dubai,<br />

onde Carlos Renato os atualizava, colocando sempre a par de tudo, e o diretor crescia cada vez mais em<br />

seu trabalho, sempre ao lado da estonteante Josie, que parecia viver dentro de seus próprios sonhos.<br />

Marina e Duarte ficaram em Maragogi, os pesquisadores receberam a autorização, de poderem estudar<br />

a caixa e os símbolos contidos nela, e em poder dos cristais que receberam, se sentiam em plena<br />

atividade, devido aos poderes destas relíquias, que havia restaurado suas forças e curado os seus males,<br />

os deixando mais inspirados e perspicazes.<br />

O doutor Estevam, continuou a monitorar semanalmente Nathan, e sempre que possível, conversavam<br />

horas e horas por telefone, acompanhando este caso que era considerado excecional, perante os métodos<br />

avançados, que haviam sidos empregados nas hipnoses, fato este de um meticuloso estudo, realizado por<br />

um médico já falecido, mas certamente eficaz e promissor.<br />

A gravidez de Bianca havia se estabilizado, com isso ela não passava mais mal, podendo assim voltar<br />

ao trabalho, e retomando o seu lugar junto a diretoria da filial, isso devido a uma exigência feita pelo<br />

presidente do grupo, pois Murilo tinha convicção da capacidade da secretária, contudo, a relação entre<br />

eles estava estável, mas não ficava além dos telefonemas, onde ele participava de todas as fazes da<br />

geração do filho, a apoiando moralmente e financeiramente.<br />

Talita devido ao seu maravilhoso trabalho, nas galerias do Rio de Janeiro, havia sido contratada para<br />

trabalhar em Nova Iorque, com isso teve de se mudar as pressas, mas mesmo assim, procurou pela excompanheira,<br />

onde se desculpou pelas suas atitudes, ressaltando que tinha muito ciúmes dela, e isso a<br />

levou a ter um sentimento doentio, e que o melhor eram serem somente amigas, cada uma seguindo sua<br />

própria vida, sendo assim Bianca a perdoou, e entre copiosas lágrimas se despediram.<br />

No condomínio as obras estavam a todo vapor, com a piscina quase pronta, os moradores já<br />

começavam a deslumbrar, uma das suas novas áreas de lazer, pois uma outra obra já concluída, era a<br />

reforma do salão de festas, que brevemente receberia a sua primeira festa, onde pretendiam arrecadar<br />

dinheiro, para os fundos criados pelos empresários, para que cada um pudesse comprar a sua moradia.<br />

Com a saída de Juliano de casa, Tamares também resolveu ir embora, e voltou para a casa dos pais no<br />

interior do Paraná, enquanto o ex-marido ainda estabelecido numa pensão, desfrutava de seu novo<br />

romance com Regina, que o visitava periodicamente a noite, sempre após o retorno do trabalho, e juntos<br />

faziam muitos planos, inclusive dele voltar ao condomínio, e morar junto a ela em seu apartamento.<br />

Ele e a auditoria concluíram o seu trabalho, gerando a demissão de Fausto e mais dois funcionários, que<br />

o ajudaram nos roubos e fraudes aplicados, e mediante a um acordo entre ambos, onde devolveram parte<br />

das mercadorias e dinheiros desviados, a empresa resolveu não os denunciar a polícia, e Juliano assumiu<br />

o cargo de gerente administrativo, cuidando de todas as áreas da empresa de Lorenzo, inclusive da<br />

logística de importação.<br />

Juliano cumpriu a promessa feita ao dono da mercearia, e depois de algumas buscas na internet,<br />

encontrou os irmãos de Seu Moreira, isso através do aplicativo Facebook, onde se falavam e se viam,<br />

através de recursos de vídeos ao vivo, marcando de se encontrarem pessoalmente mais a frente.<br />

Dona Angelina continuava com suas leituras de Tarô, e de vez em quando ela e Regina, conversavam<br />

sobre assuntos diversos, isso para não deixar cair a fama que tinham de fofoqueiras, mas elas bem<br />

sabiam, que não falavam mal de ninguém, apenas gostam de colocar os assuntos em dia, especialmente<br />

relativos aos acontecimentos do condomínio.<br />

319


<strong>Caminhos</strong><br />

Com a viagem de Leonardo e sua mãe para o tratamento, Vanessa voltou a ficar sozinha e desiludida, e<br />

com essa agregação psicológica, sua doença se agravou ainda mais, e após de uma consulta forçada ao<br />

hospital, os médicos lhe disseram com muito cuidado, que ela se encontrava no estágio final da doença,<br />

mas mesmo assim dispensou os cuidados, e se enfiou de volta em seu apartamento.<br />

Na casa do Advogado, tudo corria às mil maravilhas, com o seu novo relacionamento com Elisa, Arthur<br />

parecia ter renascido das cinzas, modificando o seu coração antes ferido, para um completamente<br />

renovado e apaixonado, enquanto a empregada Dirce e seu filho Dimas, estavam felizes com a ascensão<br />

no emprego do rapaz, que estava cada dia mais eficiente e prestativo, em seu cargo no escritório de<br />

advocacia.<br />

Nathan, Raul, Iris, Gabriel e Elvira, se sentindo mais seguros com o desmanche da quadrilha, saíram do<br />

hotel onde estavam hospedados, e retornaram para a luxuosa mansão do empresário, onde certamente se<br />

sentiam mais confortáveis, e perante um esquema reforçado de seguranças, comandados de perto pelo<br />

novo chefe Raul, passaram o resto daquela tarde de sol, em uma das piscinas da propriedade.<br />

Mais tarde, após o maravilhoso jantar feito por Elvira, Raul chamou Iris para conversar no quarto, e longe<br />

da presença de todos, contou com muito jeito a ela, que num momento de fraqueza dele, quando ainda<br />

estavam separados, havia ficado com Alba por duas vezes, ressaltando que em uma das ocasiões, fora<br />

praticamente chantageado, e que estava muito arrependido, principalmente porque amava muito a esposa.<br />

Ela se calou, abaixou a cabeça, e pediu para que a deixasse a sós, obrigando ele dormir em outro<br />

quarto, pois precisava assimilar o que havia escutado, e deitada em sua cama, após chorar por um longo<br />

tempo, ficou refletindo se perdoaria ou não o marido.<br />

A madrugada foi longa para alguns moradores da mansão, Nathan ficou a maior parte do tempo na<br />

janela, a olhar as luzes da grande cidade, amargurado pela falta de Letícia, que preferiu ficar na<br />

companhia dos pais, praticamente se distanciando dele, e dos muitos problemas que o cercam, havia<br />

também Iris e Raul, que ainda respiravam as sombras e desilusões, deixados no passado por Alba.<br />

Para combinar com este clima pesado, que se instaurou em seus corações, o dia amanheceu cinza e<br />

bem fechado, e uma mudança brusca do clima, forçou os paulistanos a vestirem suas blusas, e ao se<br />

reunirem no café da manhã, tanto a cozinheira Elvira, como o garoto Gabriel, perceberam de imediato, que<br />

eles não estavam em seus melhores dias.<br />

Perante o silêncio empregado no ambiente, Nathan por ser o mais vivenciado e experiente de todos,<br />

resolveu erguer seu auto astral, e tentou melhorar o ânimo de todos ao redor.<br />

– Que tal a gente mudar a rotina de hoje, quem de vocês quer me acompanhar, até um condomínio que<br />

estamos reformando, pode ser muito divertido conhecer, e também falar com pessoas diferentes, o que<br />

acham?<br />

Iris lhe respondeu rapidamente:<br />

– Eu acho uma grande ideia, estamos mesmo precisando espairecer!<br />

– Mãe eu também quero ir, eu sei que lá tem parquinho, e também muitas crianças para brincar, vamos<br />

mesmo?<br />

– Claro que pode, o seu pai de qualquer jeito vai conosco, pois acredito que ainda precisamos de<br />

segurança reforçada, e quanto a você Elvira, vem com a gente?<br />

– Agradeço o convite, mas vou ficar por aqui mesmo, preciso dar uma arrumada na casa, pois além da<br />

poeira que acumulou, por termos ficamos todos estes dias fora, há também a bagunça deixado pelos<br />

ladrões, vão e se distraiam, sei que estão precisando.<br />

320


321<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Desta forma, o desjejum tomou outros ares, e ao seu final, seguiram diretamente para o condomínio,<br />

onde pretendiam passara boa parte do dia, sendo que durante o percurso, Raul até tentou falar com Iris,<br />

que não o destratou, porém manteve a frieza que a situação exigia, demonstrando que estava muito<br />

magoada, pelo que o marido havia feito.<br />

Do outro lado da metrópole na favela, por se tratar de um dia de sábado, muitos saíram às ruas para<br />

seus afazeres, inclusive o pessoal da ONG, estavam a todo pique, pois era o dia da garotada baterem<br />

uma bola na quadra, e as meninas brincarem de boneca na sala de jogos, e entre um intervalo e outro, as<br />

professoras trocavam algum diálogo, e Dulce olhando a sua volta comentou com Amanda:<br />

– Até que o dia não está tão ruim, achei que ia chover e estragar a diversão das crianças.<br />

– Eu também, mas creio que o tempo vai melhorar, dá para ver o tempo limpando no horizonte, até já<br />

estou com calor, mas mudando de assunto, teve notícias da Letícia?<br />

– Falei com ela na quinta-feira, mas parece estar toda cheia de mistérios, bem diferente da Letícia que<br />

conhecemos, ela me pareceu fria, sabe quando a pessoa não está bem, e deixa este sentimento<br />

transparecer nas palavras?<br />

– Sei sim, acha que ela e o Nathan terminaram, ela disse algo a respeito?<br />

– Procurei não ficar fazendo muitas perguntas, apenas questionei quando ela volta, e pela sua resposta<br />

dá para imaginar, que as coisas entre eles não estão muito bem.<br />

– Creio que deva estar pesando muito, as decisões e opiniões de seus pais, certamente por tudo o que<br />

ela passou, e quando ela disse que volta?<br />

– Falou meio por cima, que somente após o tratamento que tem de fazer, é tipo consultas pós sequestro,<br />

um psicólogo vai avaliar o quanto isso a afetou, e pelo jeito ela ainda não assimilou o fato, e talvez nem vá!<br />

– Vamos torcer para que ela se recupere logo, e volte para junto de nós, precisamos muito dela aqui ao<br />

nosso lado, faz muita falta!<br />

Elas se deram um abraço, sentindo na pele o que a grande amiga estava passando, e depois retornaram<br />

as suas atividades, até perto da hora do almoço, onde as crianças fizeram a merenda, e foram<br />

dispensadas da instituição, retornando aos poucos as suas casas.<br />

Por volta do meio dia, Nathan e companhia, chegaram nas dependências do condomínio, e foram muito<br />

bem recebidos pelos moradores, que enxergavam nele uma pessoa bondosa e de palavra, pois estava<br />

cumprindo tudo o que havia prometido, e em anos, a vida nunca foi tão boa naquele lugar.<br />

Mas ao caminhar entre a entrada e obra da piscina, ouviu pessoas murmurarem e reclamarem muito, de<br />

um barulho alto de música, que vinha do lado oeste da propriedade, eram alguns jovens tocando seus<br />

instrumentos, e isso como sempre gerava, conflitos prós e contras este ensaio.<br />

Enquanto Iris e Gabriel foram, até os brinquedos do parquinho, Nathan sempre acompanhado de perto<br />

por Raul, e mais dois seguranças que observavam de longe, foi na direção da música que se ouvia, até<br />

chegar a uma garagem de um dos apartamentos, e se admirou com a improvisação dos rapazes, que a<br />

transformou em um pequeno estúdio.<br />

Ao perceberem a presença do empresário, eles até começaram a parar de tocar, mas com um gesto<br />

feito com as mãos, Nathan deu a entender a eles todos, que continuassem com a canção, isso porque<br />

havia muitos ali acompanhando de perto, que certamente eram amigos e parentes dos músicos.<br />

Uma cadeira foi oferecida a ele, que educadamente se sentou, e nitidamente pareceu muito interessado,<br />

apreciando todo aquele movimento, foi como se ele estivesse em um outro mundo, bem diferente do que


tem vivenciado, sem falar que a letra da música que cantavam, tinha tudo a ver com o momento que<br />

atravessava, que era a falta da amada ali ao seu lado.<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

322


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 77 •<br />

A tarde chegava ao seu fim, e Nathan aguardou que a banda encerrasse o ensaio, para poder conversar<br />

com os garotos, claro que ele não precisou de apresentações, pois todos por ali sabiam quem era ele, e<br />

fazendo questão de apertar a mão de cada um, fez a eles uma proposta interessante.<br />

Os músicos ficaram totalmente surpreendidos, porque era algo que resolveria a questão dos ensaios,<br />

porque de um lado, certamente diminuiria o barulho que incomodava alguns, e de outro, daria uma<br />

oportunidade de verdade a eles, a proposta era de passarem a ensaiar no salão de festas, e fazerem a<br />

abertura da reinauguração, e para isso liberaria uma verba por conta própria, para a compra de<br />

instrumentos e novos equipamentos.<br />

O síndico que acompanhava de perto o empresário, ficou satisfeitíssimo com a novidade, e ao final da<br />

conversa, todos que ali estavam presentes a este ato, bateram palmas com muita vontade, reconhecendo<br />

a atitude de seu benfeitor.<br />

Raul se aproximou de Nathan, dando-lhe um forte aperto de mãos, e mais uma vez presenciava as suas<br />

nobres atitudes, lembrando-se claramente do dia em que Gabriel, lhe disse que o amigo era uma pessoa<br />

maravilhosa, mas ele nem de perto imaginava, do que ele ainda era capaz de fazer ao próximo, e com um<br />

leve sorriso no rosto, ele foi acompanhado por muitos até o seu carro, e depois retornou para a mansão.<br />

O tempo havia melhorado de fato, e a noite apresentava um clima agradável, porém os ânimos estavam<br />

exaltados na favela, e perante a uma convocação às pressas de Otto, Militão e Situação compareceram ao<br />

novo esconderijo, e apreensivos o questionaram, o primeiro foi Militão.<br />

– Mandou nos chamar por qual motivo?<br />

– Queria saber se topam me ajudar num servicinho.<br />

Situação também quis participar da negociação.<br />

– Depende do que se trata, e de quanto vai nos pagar!<br />

– Que coisa, veja o que um tempo na cadeia, não faz com o caráter das pessoas, antes era chefinho pra<br />

cá, chefinho pra lá, agora parecem bandidos de verdade, melhor assim, mas vamos ao que nos interessa,<br />

preciso que me ajudem a entrar novamente na mansão do ricaço.<br />

– Tem mais coisas para roubar lá?<br />

– Desta vez o serviço é outro, quero que me ajudem a pegar a professora!<br />

– Fala da gente entrar lá, e sequestrar a mulher?<br />

– Isso mesmo, e estou disposto a pagar cinco mil para cada um, mas logicamente se aceitarem a minha<br />

proposta, pois sei que se trata de uma ação perigosa.<br />

– Tem certeza que os moradores voltaram para lá?<br />

– Certeza absoluta, todo este tempo mantive plantado do lado de fora, um comparsa que trabalha para<br />

mim agora, e ontem ele me informou, que os viu retornarem para a mansão, parece que ele pegou<br />

amizade com um dos seguranças, e ele confirmou que os moradores deixaram o hotel, porque tinham<br />

prendido os sequestradores, e que a Letícia havia sido encontrada.<br />

– O senhor gosta mesmo dela, não é mesmo?<br />

323


– Aquela mulher tem de ser minha, eu a vi primeiro que ele, e para isso juntei todo o meu dinheiro, e<br />

pretendo levar ela embora daqui para sempre!<br />

Militão se interessou ainda mais, depois destas últimas palavras.<br />

– Quer dizer que se te ajudar a entrar e pegar ela, vai sair daqui da favela?<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Exatamente, levantei um bom dinheiro com aquelas joias do furto, e o caminho ficará livre para vocês,<br />

certamente isso aqui vai ficar uma bagunça!<br />

– Eu estou dentro!<br />

Já Situação, parecia estar com os pés mais no chão, e tinha dúvidas quanto a esta ação.<br />

– Sei não, tenho de pensar no assunto, não estou a fim de voltar para a cadeia, e quando pretende fazer<br />

isso?<br />

– Deixe de ser molenga, a grana é boa e certa, pois a maioria dos seguranças tem folga na segunda, e<br />

assim que escurecer entramos lá e fazemos o serviço, agora me deixem sozinho, preciso planejar<br />

direitinho como vamos fazer, voltamos nos falar na segunda a tarde, para o acerto final de como vamos<br />

agir.<br />

Claramente Situação discordava da ação, mas como havia torrado inutilmente, toda a sua parte do<br />

roubo anterior, este dinheiro viria a calhar, mas o receio de poder ser preso, ou até mesmo de ser baleado<br />

nesta ação, o levava a ter dúvidas de aceitar ou não a proposta.<br />

Heloise e Parker haviam chegado ao Brasil, depois de mais de uma semana fugindo, entre embarcações<br />

e pequenos aviões, eles se hospedaram num hotel na fronteira com o Paraguai, onde o dinheiro não era<br />

problemas para eles, porque através de qualquer computador, tinham acesso direto aos bancos e contas<br />

da organização, pelo menos até que as agências de inteligência, não as descobrissem e as boqueassem.<br />

Os criminosos tinham planos de chegar até Nathan, pretendendo viajar já na próxima semana, até a<br />

cidade de São Paulo, por este motivo Parker se ausentou, estava perambulando pelas redondezas, a<br />

procura de homens para este trabalho sujo, enquanto isso dentro do quarto, Heloise fumava e observava<br />

as mãos trêmulas, e com o rosto visivelmente deformado, e o corpo muito enfraquecido, ela sentia<br />

bruscamente em todo o seu ser, a falta da energia contida nas relíquias, e isso tornava cada vez mais<br />

urgente, o ataque final a seu irmão.<br />

As horas naquela noite passavam rapidamente, e o jantar estava posto na casa de Arthur, e como por ali<br />

não havia cerimonias, e todos se tratavam como sendo da mesma família, eles faziam juntos as refeições,<br />

e conversavam descontraidamente sobre assuntos diversos, desde novelas, filmes e notícias pelo mundo,<br />

a única coisa que era proibida, era falar sobre serviço.<br />

Mais tarde como de costume, o advogado ia até a sua sala particular, se sentava ao lado do abajur, e ali<br />

preparava sua dose de whisky, e aproveitando que Dirce e Dimas já haviam se retirado, Elisa se<br />

aproximou pela frente, depois se agachou, e abrindo o zíper da calça dele, começou a fazer carinhos com<br />

as suas mãos:<br />

– Gosta quando faço assim?<br />

– Não sei, isso me pegou de surpresa, tome cuidado que os outros podem ver.<br />

– Relaxa, já foram todos dormir, só estou brincando um pouquinho com você, não quer entrar no jogo?<br />

– Não sei o que te falar, sou um pouco tímido para estas coisas, o que quer que eu faça?<br />

324


<strong>Caminhos</strong><br />

– Faça algo que te excite mais, ou o que realmente tem vontade de fazer!<br />

Ainda um pouco sem jeito, e admirado com a atitude da namorada, ele começou a acariciar o seu rosto,<br />

depois beijou a sua boca e o pescoço, até que chegou aos seios da moça, onde desabotoando a blusa<br />

vagarosamente, percebeu que ela estava sem o sutiã, e tomou conta dele um intenso prazer, coisas que a<br />

tempos não apreciava, depois se levantou, a pegou no colo, e a levou para a cama.<br />

Arthur teve a sensação de estar nas nuvens, pois ele mesmo não acreditava no que sentia, mas Elisa se<br />

mostrava uma mulher surpreendente, que o fez chegar ao delírio absoluto, e isso por mais de uma vez, e<br />

no início da madrugada, os dois exaustos dormiram lado a lado.<br />

Foi se a madrugada, e surgiu um belo dia de Domingo, e logo de manhã, outro casal estava prestes a se<br />

acertar, porque Iris foi até o quarto de seu marido, para uma conversa franca e direta.<br />

– Posso entrar?<br />

– Que surpresa boa, não esperava que viesse me procurar tão cedo!<br />

– Precisamos conversar sobre tudo o que aconteceu, preciso saber de toda a verdade.<br />

– Está certo, deixe-me jogar uma água no rosto, e já te conto tudo o que quiser saber.<br />

Ela se sentou na cama, e aguardou o retorno do marido, manteve uma expressão séria estampada no<br />

rosto, até que Raul se sentou ao lado, e detalhou todo o seu caso com Alba.<br />

– Tudo começou por duas fraquezas minhas, a primeira foi por eu ter estado muito tempo, sem ter<br />

nenhuma relação sexual com você, como deve se lembrar, estava me boicotando e dando um gelo, isso<br />

desde quando saíamos da favela.<br />

– Aí você pegou a primeira que deu sopa, somente para satisfazer as suas necessidades!<br />

– Mais ou menos assim, porém ela por ser muito experiente, percebendo que eu me encontrava carente,<br />

planejou uma pequena armadinha para mim, me atraiu com uma desculpa até a sauna, e lá deu o seu<br />

bote final, e acabei errando, não resistindo a essa tentação.<br />

– Aquela prostituta de uma figa, mas pelo jeito não ficou só neste encontro, você foi mais vezes com ela<br />

né?<br />

– Sim é verdade, aconteceu mais de uma vez, mas o resto foi a base de chantagem.<br />

– E você acha que vou engolir essa?<br />

– Tem o direito de pensar o pior de mim, mas precisa ouvir o resto da história, para poder julgar de forma<br />

correta, porque eu acabei ficando contra a parede, pois ela ameaçou contar tudo a você, se eu não<br />

aceitasse a sua proposta, teve também muito dinheiro envolvido.<br />

– Vadia, vigarista, o que foi que ela lhe propôs?<br />

– Que eu a ajudasse a roubar peças da mansão, e em troca me pagaria uma pequena fortuna, na<br />

verdade fui fraco mais uma vez, e como estava sem emprego e sem dinheiro, acabei aceitando tudo, mas<br />

no momento em que ela encurralou o Nathan, e o ameaçou de matar, pesou o que ele tinha feito por você<br />

e pelo Gabriel, e por mim também, pois me ajudou com a justiça, e havia me dado o emprego de<br />

motorista.<br />

– Foi então nesse momento, que você se jogou na frente, e recebeu os tiros que eram destinados a ele.<br />

325


<strong>Caminhos</strong><br />

– É, foi assim mesmo, estou muito arrependido, nunca deveria ter me envolvido com ela, e se um dia<br />

você e o Gabriel, puderem me dar outra chance, vou fazer de tudo para fazer vocês felizes!<br />

A esta altura, as lágrimas escorriam de seus olhos, certamente isso não seria tão facilmente esquecido,<br />

mas Iris levou em conta que tudo o que sabia, não eram palavras ditas por terceiros, e sim por livre e<br />

espontânea vontade do marido, sem falar em ter arriscado a própria vida, para proteger o amigo e<br />

benfeitor, sendo assim, ela olhou em seus olhos, enxugou as lágrimas do rosto dele, e o beijou, dando<br />

sinais claros que o havia perdoado.<br />

O domingo estava maravilhoso, e por volta das quatorze horas, Diego que havia levantado tarde, tomou<br />

uma ducha, comeu o que encontrou na geladeira, e ligou convidando o amigo Murilo, para assistir uma<br />

partida de futebol.<br />

Um era corintiano roxo, ou outro são paulino de carteirinha, e juntos foram na Arena Corinthians, e<br />

assistiram a uma maravilhosa partida de futebol, e independentemente do resultado, ambos sabiam que o<br />

mais importante, era a distração e a diversão, escapando um pouco dos problemas, e da rotina diária que<br />

vivenciavam.<br />

326


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 78 •<br />

Após o encerramento da partida, os dois amigos saíram do estádio diretos para o bar, enquanto um<br />

comemorava feliz pela vitória, o outro aguentava a zoação rotineira, mas após duas rodadas, Murilo se<br />

despediu e voltou ao seu apartamento, pois ainda tinha uma pendência a se resolver, e precisava fazer<br />

isso o quanto antes.<br />

Ele e Marina estavam sem se falar, há quase uma semana, isso devido a rotina de seus intensos<br />

trabalhos, mas já era hora de contar a ela, sobre a gravidez de Bianca, e assim que anoiteceu, ele se<br />

sentou no canto da sala, e ligou para a casa de praia.<br />

– Boa noite minha querida, tudo bem contigo?<br />

– Olá sumido, tubo ótimo, e com você?<br />

– Com muitas saudades!<br />

– Saudades? Achei até que já tinha se esquecido de mim!<br />

– Pelo contrário, penso em você todos os dias, e acredito que esta nossa distância, me deu o tempo<br />

necessário que precisava, para poder organizar todos os meus sentimentos, mas e você, pelo menos se<br />

lembrou um pouquinho de mim?<br />

– Claro que sim seu bobo, mas você sabe que estamos em um projeto, e ficamos praticamente o dia<br />

todo dedicado a ele, mas a noite eu sempre vou lá na varanda, e fico olhando a imensidão do oceano, me<br />

recordando daquela noite aqui com você, mas aí eu coloco os pés no chão, e me lembro que ficou uma<br />

pendência, coisas do tipo ex-namorada!<br />

– Pois é, você também me fez viajar nos pensamentos, relembrando este lugar maravilhoso, e também<br />

dos dias em que passamos juntos, e agora vamos a realidade, precisamos conversar.<br />

– Para você ter levado todo este tempo para falar, certamente é uma bomba daquelas, vamos lá então<br />

diga!<br />

– Seu faro é mesmo fulminante, mas é um assunto muito delicado, que prefiro tratar pessoalmente,<br />

quando você vai estar disponível?<br />

– A parte mais complicada já passou, agora estamos apenas realizando estudos, se quiser vir para cá a<br />

gente conversa, mas não vai me adiantar nada, estou começando a ficar preocupada, não vai vir até aqui<br />

para terminar comigo né?<br />

– Isso é você quem vai decidir, porque o que mais quero agora, é ficar bem e ao seu lado, façamos o<br />

seguinte, amanhã eu tenho uma reunião com os acionistas, mas no final da noite eu pego um voo, e se<br />

nada atrapalhar chego bem cedo, tudo bem?<br />

– Ok, fico te aguardando na terça, e vamos ver o que acontece, beijos...<br />

– Um outro especial para você!<br />

Ambos se despediram com muitas dúvidas, mais por parte de Murilo, que tinha muito receio da reação<br />

da moça, ao saber de sua paternidade prematura, mas certamente isso só ficara esclarecido, quando os<br />

dois estiverem frente a frente.<br />

O Domingo chegava ao seu final, e Nathan muito desanimado, não conseguiu dormir direito, passou a<br />

madrugada praticamente acordado, isso por estar a dias sem comunicação com Letícia, que havia se<br />

isolado voluntariamente com seus pais, realizando assim um tratamento psicológico, tentando se<br />

327


ecuperar do trauma do sequestro, e já amanhecia a segunda-feira, quando o seu celular começou a<br />

vibrar, e mesmo a ligação estando sem identificação, o empresário resolver atender:<br />

– Alô, quem é?<br />

– Oi amigo, a quanto tempo!<br />

– Caio, é você mesmo?<br />

– Como sempre dizem por aí, quem é vivo sempre aparece, sei que deve ter muitas perguntas para<br />

fazer, mas de momento quero me ouça, o perigo ainda não acabou, por isso ainda não dei as caras,<br />

tirando a parte ruim, como você tem passado?<br />

– Isso agora não importa, saiba que me lembrei de todo o meu passado, mas ainda existem muitas<br />

lacunas a serem preenchidas, como por exemplo, sobre a explosão daquela bomba, sobre esta sua<br />

simulação de morte, e o seu envolvimento com estes criminosos.<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Eu sei que lhe devo muitas explicações, mas peço-lhe um voto de confiança, continue muito atento,<br />

pois duas importantes células da organização, estão em território brasileiro neste momento, mas desta<br />

vez, creio que são os próprios cabeças, porque o FBI prendeu a maioria de seus cúmplices.<br />

– Não precisa se preocupar comigo, estou bem protegido e preparado, e quando você deve aparecer por<br />

aqui?<br />

– Em breve, primeiro preciso resolver algumas pendências, mas depois teremos uma conversa franca, e<br />

lhe contarei toda a verdade a meu respeito.<br />

– Aguardo você então, tome muito cuidado!<br />

Ele sabia que havia sido muito duro, porém muitas questões o intrigava, mas apesar de tudo estava<br />

muito contente, e certamente mais dia ou menos dia, tudo acabaria sendo esclarecido, só que ele nem<br />

imaginava, que Caio havia ligado de um aparelho via satélite, e que se encontrava aqui dentro do Brasil,<br />

justamente em uma tocaia para pegar os bandidos, e Heloise e Parker nem desconfiavam, que ele e um<br />

velho parceiro seu, estavam ali no encalço deles.<br />

Havia todo um peso de um passado misterioso, onde Caio pretendia compartilha-lo em breve, com o seu<br />

melhor amigo, mas por hora, ele e seu fiel companheiro Marcus, aguardavam ansiosamente uma<br />

oportunidade, de poder confrontar de frente seus principais inimigos.<br />

Era uma segunda feira daquelas, e Nathan sem ao menos desconfiar, que aquele seria mais um dia<br />

marcante em sua vida, partiu da Mansão para a sede do grupo, e logo após uma reunião com os<br />

acionistas, e de assinar uma vasta papelada, ele e o presidente Murilo, foram juntos até o condomínio,<br />

pois queriam acompanhar as finalizações das obras.<br />

Ao chegar, foram diretamente para o salão de festas, e como dinheiro não era problema, muitos<br />

trabalhadores foram contratados, assim como também para a obra da piscina, que já estava praticamente<br />

pronta, faltando apenas alguns retoques finais, deixando principalmente as crianças alvoraçadas, não<br />

vendo a hora de pular e se refrescar.<br />

Os empresários checaram tudo de perto, e enquanto Murilo conversava com o engenheiro, Nathan foi<br />

até os integrantes da banda, procurando saber se já haviam chegados, os seus novos equipamentos, que<br />

mediante ao seu patrocínio, compraram em uma loja de instrumentos musicais, equipando-os a altura para<br />

o grande baile, que seria inaugurado no próximo sábado.<br />

Depois de um rápido bate-papo, onde os jovens demonstravam muita empolgação, ele foi até o síndico,<br />

328


329<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

justamente para verificar as providências do baile, mas entre uma conversa e outra, notou uma profunda<br />

tristeza em seus olhos, e o questionou sobre o fato:<br />

– Você parece não estar compartilhando da empolgação, que praticamente tomou conta de todos por<br />

aqui, o que se passa?<br />

– Sabe o que é doutor, aqui eu considero todos como a minha família, e na verdade acabo<br />

acompanhando a vida de cada um deles, e enquanto a maioria fica assim feliz, por tudo o que estão<br />

realizando aqui, há quem não pode usufruir desta alegria.<br />

– Sei que talvez seja antiético de sua parte, comentar sobre fatos pessoais, mas se eu puder ajudar de<br />

alguma forma, saiba que pode contar comigo.<br />

– Eu acho que pior do que esta não vai ficar, então eu vou contar tudo ao senhor, é que tem uma<br />

moradora, eu acho que até já comentei com o senhor, o nome dela é Vanessa, e ela é muito doente, tem<br />

um câncer em fase terminal, e por praticamente ter desistido de lutar, creio que não deve passar desta<br />

semana.<br />

– Eu me lembro sim desta garota, mas parecia que ela tinha melhorado, o que a levou a desistir desta<br />

forma?<br />

– Ela deu mesmo uma arribada, quando conheceu um garoto daqui, até acho que estavam namorando,<br />

mas o jovem também era doente, que estava só de passagem por São Paulo, e agora foi para o<br />

estrangeiro, para fazer um tratamento para o seu problema.<br />

– Nossa, isso deve ter sido terrível para ela, de repente apostou suas últimas esperanças, neste<br />

relacionamento amoroso, mas e a família, que providências estão tomando?<br />

– Pelo que sei, ela se escondeu deles por aqui, e acho que nem sabem de seu paradeiro.<br />

– Eu sei bem isso, que é estar longe de quem se ama, mas eu gostaria de falar com ela, acha que<br />

haverá algum problema nisso?<br />

– Ela não deixa ninguém entrar no apartamento, dispensou até a enfermeira que cuidava dela, porém<br />

nada impede que se faça uma tentativa, mas eu vou logo avisando, ela não está falando coisa com coisa,<br />

moradores comentam que ouviram nos corredores, ela chamando alto por várias vezes, para que um anjo<br />

descesse do céu, e que a levasse embora daqui!<br />

– Isso significa que no fundo ainda não desistiu, e pode facilitar muito a minha visita, qual o número do<br />

apartamento?<br />

– Número 15 do bloco A, mas não entendi, o que quis dizer com facilitar?<br />

– Nada demais, não se preocupe, me faça uma gentileza, procure pelo Murilo, e peça que ele me<br />

encontre no carro, pois eu preciso ir embora.<br />

Enquanto o síndico saiu para atender o seu pedido, ele foi até onde as chaves estavam penduradas, e<br />

pegou escondido a cópia do apartamento de Vanessa, a mesma que era utilizada para dar manutenção,<br />

depois foi até o carro, onde aguardou o presidente do grupo, retornando em seguida para a Mansão.<br />

Perto do meio-dia, Caio e Marcus perceberam, um certo movimento na porta do hotel, em que Heloise e<br />

Parker se hospedavam, e se certificando que eram mesmo os dois bandidos, que saiam neste exato<br />

momento, iniciaram em plena luz do dia, uma intensa troca de tiros.<br />

Como foram pegos de surpresa, eles não puderam reagir muito, principalmente porque os projeteis<br />

vinham do alto, e também por serem de armas mais pesadas, sendo assim, não tiveram muita escolha, e


<strong>Caminhos</strong><br />

começaram a correr entre carros e pedestres, até que pararam um ônibus a força, e apontando uma arma<br />

para o motorista, o obrigaram a permitir suas entradas.<br />

Ambos estavam feridos pelos disparos, mas o mais atingido foi Parker, que fez o tempo todo um escudo<br />

humano, protegendo o máximo que pôde a sua chefe, e sangrando pelos corredores, mesmo sabendo que<br />

alguns passageiros, já ligavam informando a polícia, eles olhavam assustados para o lado de fora,<br />

observando se ambos haviam sido seguidos.<br />

330


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 79 •<br />

Com as armas em punho, os bandidos obrigaram o motorista do coletivo, a sair do trânsito mais pesado,<br />

e a trafegar em uma rua de menor movimento, pois sabiam que a qualquer momento, poderiam ser<br />

abordados pela polícia, e percebendo que Parker perdia muito sangue, Heloise saltou com ele em uma<br />

esquina, e com muita dificuldade caminharam por dois quarteirões, porém houve uma breve pausa, e<br />

Parker demonstrava sinais claros de exaustão.<br />

– Para, eu não consigo ir mais adiante, estou cansado e muito ferido, acho que uma das balas me<br />

atravessou pelas costas, creio que desta vez já era!<br />

– Nada disso, vamos dar um jeito como sempre, aguente firme que vou resolver isso.<br />

– Por acaso tem uma daquelas pedras mágicas, que vai me curar dos ferimentos, e fazer tudo voltar ao<br />

normal?<br />

– Quem dera ainda ter os cristais, vou pegar um carro e te levar a um hospital, deu para ver de onde<br />

veio o ataque, ou de quem se tratava?<br />

– Não, foi muito rápido, mas acho que vieram de cima do prédio, certamente feito por profissionais,<br />

porque os tiros foram certeiros, você deve ir e me deixar aqui, não pode ir a lugar algum agora, porque<br />

certamente será apanhada pela polícia, só quero que me diga uma coisa, algum dia me amou de verdade?<br />

– Ha meu caro, se o tempo não fosse curto, eu teria tantas coisas para lhe dizer, não pensa nisso agora,<br />

temos de nos concentrar em sair deste pesadelo, me dê um minuto para pensar.<br />

Ela o colocou sentado no chão, olhou para tudo ao seu redor, e reparou que várias pessoas os<br />

observavam, sendo assim, ela pegou o revolver, e deu dois tiros para o alto, fazendo com que os curiosos<br />

se dispersassem, depois se aproximou de um carro estacionado, e quebrou o vidro lateral com um outro<br />

disparo.<br />

A esta altura dos acontecimentos, Parker já estava desacordado, e num esforço sobre-humano, ela o<br />

colocou dentro do veículo, saindo em disparada sem um destino certo, tentando observar as placas pelo<br />

caminho, procurando a indicação de algum hospital, e nem de longe, parecia aquela fria e cruel criminosa,<br />

pois estava desestabilizada, ferida, e totalmente sem rumo.<br />

Heloise rodou por cerca de quinze minutos, até que num cruzamento com sinal fechado, tentou de todas<br />

as formas reanimar Parker, com palavras e puxões em seu braço, porém percebeu que era tudo em vão,<br />

pois seu amante, protetor, e fiel companheiro da organização, já se encontrava ali sem vida, e percebendo<br />

que a polícia se aproximava, devido as várias sirenes que soavam nos arredores, contendo as lágrimas<br />

nos olhos, ela sussurrou dizendo suas últimas palavras a ele:<br />

– Obrigado por me proteger, por ser meu amigo, sempre te amarei, adeus...<br />

Por alguns momentos, a tão poderosa chefe da organização criminosa, havia se entregado ao<br />

sentimentalismo, mas logo em seguida voltou a si, saiu rapidamente do carro, procurando fugir no meio<br />

dos pedestres, até que dois policiais de moto a abordaram, e percebendo que não havia mais saída, ela<br />

não resistiu à prisão, eles mal sabiam que se tratava de alguém tão perigosa, procurada em diversos<br />

países do mundo, pela Interpol e o pelo FBI.<br />

A primeira providência tomada, foi de a encaminhar até um hospital próximo, pelo motivo de também<br />

estar perdendo sangue, certamente por ter sido alvejada por um disparo, e com as mãos algemadas,<br />

Heloise começou a recebeu os cuidados médicos necessários, e sem responder nada as autoridades,<br />

permaneceu o tempo todo calada, ciente que sua situação estava muito complicada.<br />

331


332<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Após terem guardados seus equipamentos, Caio e Marcus do lado de fora do hospital, observavam todo<br />

o movimento, e já sabiam que Parker havia sido abatido, e muito consciente do que tinha de fazer, o<br />

empresário e amigo de Nathan, efetuou uma ligação para a polícia, denunciando toda a ficha<br />

da recém prisioneira, inclusive sobre seus crimes em outros países, e isso transformou toda a ação<br />

policial.<br />

A tarde já chegava ao fim, quando outros bandidos se preparavam para a sua ação, se tratava de Otto e<br />

alguns cúmplices, que acertavam os últimos detalhes para invadir a mansão, onde<br />

supostamente acreditavam encontrar Letícia, e o chefe do narcotráfico, notando a falta de um deles,<br />

questionou Militão:<br />

– Cadê o outro imprestável, não chegou ainda porquê?<br />

– Não sei do Situação não, mas acho que não vai participar, ele deve estar com medo de voltar para a<br />

cadeia, pelo menos é o que eu acho.<br />

– Sem problemas, eu, você, e o meu novo capanga, certamente daremos conta do recado, ele vai se<br />

reunir a nós no local combinado, é melhor já irmos andando, já anoiteceu, e está quase na hora da troca<br />

do turno, temos de ser precisos para tudo dar certo!<br />

– Eu não entendo, vai arriscar tudo por causa de uma mulher?<br />

– Não é qualquer mulher, eu fiz uma promessa a mim mesmo, que um dia ela ia ser só minha, aliás,<br />

você não tem nada a ver com isso, vamos embora que já estamos atrasados!<br />

Eles levaram cerca de quase uma hora para chegar, e assim que entraram na rua combinada, que ficava<br />

nos fundos da mansão de Nathan, deram de cara com um grande cerco policial, onde com muita precisão<br />

foram rendidos, numa ação tão rápida, que nem tiveram tempo de reagir.<br />

A princípio Otto achou, que alguém havia dado com a língua nos dentes, pensou até mesmo em<br />

Situação, que parecia ter pressentido toda esta enrascada, mas as perguntas dos policiais e<br />

investigadores, giravam em torno de Heloise e da organização criminosa, e logo perceberam que tinham<br />

entrada em uma fria maior ainda, pois estavam sendo tratados como cúmplices dela.<br />

Como foram encontrados várias armas e munições, eles supostamente acreditavam, que eles iam atacar<br />

a mansão e o empresário, ligado ao que havia ocorrido a tarde, mas isso não foi muito longe, pois Raul<br />

que era o novo chefe da segurança, fora chamado até a viatura, e assim que chegou perto, reconheceu de<br />

cara seus ex-comandados, e dando uma prensa a parte em Militão, acabou descobrindo o plano de<br />

invasão e sequestro, e sem querer os policiais ali presentes, acabaram evitando mais uma tragédia.<br />

Um pouco antes, o outro cúmplice que os aguardava na esquina, havia sido preso com a chegada da<br />

polícia, e ambos foram encaminhados para a delegacia, onde permaneceram presos pelo flagrante<br />

apresentado, e certamente Otto, agora responderia por todos os crimes cometidos, principalmente pelo<br />

assassinato do Jovem Nicolas.<br />

Dentro da propriedade, Nathan foi informado por um delegado federal, sobre a prisão da chefe da<br />

organização, que havia sofrido uma dura emboscada, e que através de uma denúncia anônima, puderam<br />

identifica-la e prende-la corretamente, sem falar que possivelmente, seria extraditada pela polícia<br />

internacional, onde responderia por seus crimes em diversos países.<br />

Era mais uma noite de muita tensão na casa, principalmente após Raul também relatar, que outros<br />

criminosos pretendiam invadir a propriedade, em busca de sequestra Letícia, sem saberem que ela estava<br />

muito longe dali, e Nathan, Iris, Gabriel, e Elvira, ficaram mais uma vez muito admirados, pelas coisas que<br />

aconteciam seguidamente na vida deles, seria esse o fim de tantos problemas?<br />

Assim que o empresário pôs a cabeça no lugar, fez questão de ir até o hospital, onde sobre forte


proteção policial, se dirigiu até o local para uma breve visita a sua irmã, que havia passado por uma<br />

pequena cirurgia, e aguardava a liberação dos médicos, para ser encaminhada para o presídio, e<br />

aproveitaria o longo percurso, para refletir de como proceder diante desta situação.<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Em outra parte da capital paulista, sem suspeitar de nada do que acontecia ao patrão, Murilo arrumava<br />

sua pequena bagagem, para a viagem até Maragogi, onde pretendia esclarecer a sua relação amorosa<br />

com Marina, e depois de pensar muito no assunto, resolveu ligar para Bianca.<br />

– Alô Bianca, tudo bem com você e o bebê?<br />

– Nossa, eu estava pensando em você agora a pouco, eu estava lá na cozinha, e o seu filho chutou a<br />

barriga (Risos).<br />

– Sério, mas como assim o meu filho?<br />

– Eu queria te fazer uma surpresa, é que ontem eu fiz a ultrassom, e deu para ver o sexo do bebê, é um<br />

menino bem saudável, o que achou da notícia?<br />

Ele ficou sem palavras para exteriorizar o que sentiu, e sem saber o que dizer neste momento, se<br />

expressou com o que lhe veio à cabeça, e prometeu que iria pessoalmente ao Rio de Janeiro, para tratar<br />

das questões com relação ao filho, depois desligou o telefone, e foi de táxi para o aeroporto.<br />

Já nas dependências do hospital, Nathan soube por um oficial de justiça, que acompanhava de perto o<br />

desenrolar dos fatos, que Heloise não estava reagindo a cirurgia e medicamentos, mas que os médicos<br />

achavam estranho, que isso não era devido somente aos ferimentos, mas também por ela se encontrar<br />

muito debilitada, mesmo assim ele fez questão de falar com ela, concordando com o acompanhamento de<br />

um policial, e irmã não se mostrou surpresa ao vê-lo.<br />

– Sabia que você viria, sempre teve o coração mole, aposto que até trouxe alguns cristais consigo, e<br />

certamente dentro desta sua cabecinha, veio até aqui pensando, devo ajudar ela ou não?<br />

– Você me conhece tão bem, que as vezes eu me pergunto, será que eu poderia ter evitado de alguma<br />

forma, tudo o que fez por estes séculos, e impedir estas suas atrocidades, e todas as maldades que<br />

cometeu?<br />

– Sou assim e ponto final, isso já não importa mais, estou sentindo o cheiro da morte me rondando, já<br />

estou sem os cristais há um bom tempo, e sei que não vou passar desta noite, só tenho uma coisa para te<br />

pedir, que me perdoe por tudo, e que utilize estas relíquias que trouxe consigo, para ajudar alguém que<br />

realmente as mereça!<br />

– A questão é, você se perdoaria?<br />

Ela ficou em silêncio, e ele respirou fundo, olhou bem dentro dos olhos dela, ao qual o fazia recordar de<br />

sua querida mãe, e disse um adeus, dando a entender, que por mais que os crimes cometidos por sua<br />

irmã, fossem totalmente imperdoáveis, que não a julgaria por seus erros, depois virou as costas, e saiu do<br />

hospital.<br />

Pela segunda vez em um mesmo dia, a toda poderosa chefe da organização, se permitia em derramar<br />

algumas lágrimas, pensando profundamente no que o irmão havia dito, e sabendo que as suas horas<br />

estavam contadas, fixou seus pensamentos nos raros momentos felizes, principalmente na recordação de<br />

um dia especial, ao qual conheceu seu companheiro Parker numa festa, esta lembrança ainda lhe deu<br />

mais um sopro de vida, mas por volta das duas horas da manhã, Heloise não resistiu, e veio a falecer.<br />

333


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 80 •<br />

Agregando estes últimos acontecimentos, finalmente a organização parecia aniquilada, com os seus<br />

principais membros mortos, e com as prisões de Alba, Black, e todos os seus cúmplices, a paz certamente<br />

voltaria a reinar, sem falar que por um golpe do destino, Otto e seus dois comparsas, também ficariam<br />

presos por um bom tempo.<br />

Ao voltar para a propriedade, mesmo sendo alta madrugada, ainda abatido pelos últimos<br />

acontecimentos, Nathan foi amplamente confortado por todos, principalmente quando mencionou a morte<br />

de sua irmã, que afinal de contas, era quem lhe trazia transtornos a um longo tempo, e após este carinho<br />

praticamente familiar, tomou uma ducha, e se recolheu ao quarto para descansar.<br />

Ainda não havia raiado o dia, quando Murilo chegou no aeroporto de Maceió, e assim que pegou sua<br />

bagagem, pegou um táxi rumo a Maragogi, onde trataria sobre o seu futuro com Marina, sobretudo ao<br />

importante fato, de uma outra mulher estar esperando um filho seu.<br />

O sol já refletia nas águas espumadas do mar, quando ele chegou na casa de praia, e seguindo as suas<br />

instruções, o motorista o deixou um pouco distante da entrada, e tomando todo o cuidado possível, para<br />

não acordar ninguém tão cedo, deixou a bagagem na varanda, tirou a meia e o sapato, arregaçou a calça<br />

até o joelho, e saiu caminhando pela areia.<br />

Só quem mora em uma metrópole, sabe precisamente a grande diferença, que é estar num lugar como<br />

este, contemplando todo o esplendor da natureza, sem buzinaços, sem correrias, somente ao som dos<br />

pássaros e das ondas do mar, mesclando com o toque das águas refrescantes, que ele fazia questão de<br />

tocar com os pés, e estes poucos momentos, afastado de todo este vasto cotidiano, lhe deu a<br />

oportunidade de refletir bastante.<br />

Marina que mal havia dormido na véspera, justamente por causa deste encontro, não tardou a se<br />

levantar, fez um café, e foi até a varanda para saboreá-lo, quando se deparou com as coisas de Murilo, e<br />

ao visualiza-lo no horizonte, saiu correndo em disparada, gritando o seu nome junto ao vento que soprava,<br />

e assim que ambos se enxergaram de frente, ela deu um pulo e o abraçou, e os dois aparentemente muito<br />

apaixonados, se beijaram muitas e muitas vezes.<br />

Duarte que também já havia se levantado, ficou assistindo tudo de camarote, e não conseguiu disfarçar<br />

o seu contentamento, pois ele admirava e gostava muito do rapaz, e de longe viu que os dois de mãos<br />

dadas, caminhavam juntos na beira do mar, e ali totalmente a sós, iniciaram a tão aguardada conversa.<br />

– Cheguei a pensar que não viesse, estava com muita saudade, sentiu a minha falta?<br />

– Claro que sim, senti demais a tua ausência, eu não via a hora de estar aqui com você, de poder te<br />

abraçar, e de te beijar, de poder ficar assim ao seu lado!<br />

– Que bom ver você falar assim de mim, mas agora vamos a realidade, o que tem de tão importante<br />

para falar comigo?<br />

– Vamos nos sentar naquela duna de areia, e lá conversamos.<br />

A Colecionadora conseguiu sentir, toda a tensão que ele visivelmente demonstrava, afinal não se tratava<br />

de um assunto fácil, e certamente naquele momento, ele procurava as palavras mais poupáveis, para<br />

poder iniciar este dialogo, e ela ficou pacientemente aguardando, até que após alguns minutos, ele abriu o<br />

seu coração.<br />

– De tudo o que vamos conversar agora, quero que saiba que o mais importante, é que eu te amo muito!<br />

– Que bom, eu também amo você, te adoro!<br />

334


335<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Então vamos lá, lembra daquela garota que lhe falei, ao qual eu vivia correndo atrás, e me deixou indo<br />

para o Rio de Janeiro?<br />

– Lembro sim, o que tem ela, não me diga que voltou?<br />

– Por enquanto ainda não, eis aí um dos problemas.<br />

– Minha nossa, tem mais de um?<br />

– Não que um filho seja problema, vamos considerar como algo inesperado.<br />

– Está me dizendo que engravidou ela?<br />

– É, infelizmente é isso mesmo, eu sinto muito!<br />

– Mas quando isso aconteceu, a gente já estava juntos?<br />

– Claro que não, foi um lance de apenas uma noite, aconteceu um pouco antes dela ir embora.<br />

– Então fazendo contas, esta criança já está quase para nascer, e como pretende lidar com toda esta<br />

situação?<br />

– Para ser sincero estou bem confuso, mas não acerca dos meus sentimentos, e sim como proceder a<br />

criação desta criança.<br />

– Não vou mentir que isso foi um baque para mim, mas a única coisa que posso te dizer agora, é que eu<br />

vou lutar muito por você e o seu amor, e que pode contar comigo para o que for preciso.<br />

– Não sabe o quanto é importante para mim, ouvir tudo isso que acabou de dizer, estou aliviado, eu<br />

temia que não aceitasse esta situação, e que me mandasse embora da sua vida!<br />

– Seu bobo, em que século pensa que eu vivo?<br />

Dizendo isso ela o beijou, e ambos felizes por terem se acertado, acabaram entrando no mar com roupa<br />

e tudo, depois se sentaram lado a lado na areia, e ficaram curtindo este momento maravilhoso em suas<br />

vidas.<br />

Caía uma fina garoa na capital paulista, e por volta das nove horas no distrito policial, o delegado<br />

Siqueira iniciava seguidos depoimentos, com os três suspeitos presos na noite anterior, justamente<br />

quando pretendiam assaltar a mansão, mas o que mais surpreendeu a autoridade, foi o fato de um deles<br />

ser pego ao acaso, por se tratar de um criminoso já procurado pela polícia.<br />

– Senhor Otto Sales, depois de literalmente reviramos de cabeça para baixo, toda as mediações da<br />

favela a sua procura, eis que por uma ação do destino, aqui estamos nós frente a frente, para<br />

esclarecermos a morte do jovem Nicolas Martins, o que tem a dizer sobre esta acusação?<br />

– Tudo isso é uma grande bobagem, vocês acreditaram num montão de asneiras, que dois idiotas<br />

imprestáveis, despejaram sob a pressão que fizeram com eles!<br />

– Aí é que você se engana, ao contrário do que acabou de dizer, temos várias provas do crime que<br />

cometeu, como por exemplo a arma utilizada no assassinato, que certamente indicará a sua digital, isto<br />

agora é questão de tempo, seria muito mais fácil confessar logo de uma vez, o que acha de cooperar com<br />

a justiça?<br />

– Acha que não conheço os meus direitos, cadê meu telefonema, só presto depoimento perante ao meu<br />

advogado.


<strong>Caminhos</strong><br />

– Que coisa, acredita que de alguma forma, eu já previa que o senhor ia dizer isso mesmo, sendo assim,<br />

que seja dado o seu telefonema, mas já vou logo avisando, desta vez o senhor não escapa da cadeia!<br />

Premeditadamente, o delegado havia separado na noite anterior, os detentos em celas distintas, e por<br />

isso Otto não sabia, que Militão que já tinha antecedentes criminais, ficou com medo e decidiu colaborar,<br />

contando sobre o plano de assaltar novamente a mansão, e isso levou as autoridades a esclarecer o<br />

roubo anterior, onde joias e objetos valiosos foram levados.<br />

Simultaneamente ao depoimento de Otto, um grupo de policiais fortemente armados, invadiu o setor<br />

leste da favela, e sem encontrar maiores dificuldades, prenderam Militão que não apresentou resistência<br />

alguma, e voluntariamente os levou até um esconderijo, onde ele mesmo havia escondido parte das joias<br />

roubadas, inclusive os objetos mais preciosos da coleção de Nathan, que eram o colar azul, e a sua antiga<br />

espada Celta, ambos pertencentes a sua coleção caminhos.<br />

Por falar no empresário, que mal havia conseguido dormir, mediante aos terríveis fatos do dia anterior,<br />

se sentou na beira da cama, e começou a refletir sobre alguns procedimentos, que ao seu ver, seriam<br />

necessários perante a situação, principalmente acerca da morte de sua irmã, e para isso certamente<br />

contaria com Arthur e amigos.<br />

Mas toda esta reflexão foi interrompida, devido a alguns murmúrios vindos de baixo, proveniente de<br />

várias pessoas conversando, e certamente já pensando no pior, devido a todas circunstancias que sempre<br />

o cercou, desceu cuidadosamente as escadas, até perceber que se tratava dos próprios moradores, que<br />

recebiam neste exato instante, uma visita muito especial e inesperada.<br />

O empresário não acreditava no que os seus olhos viam, pois estava bem ali na sua frente, nada mais<br />

nada menos, do que a sua querida e amada Letícia, e por um determinado momento, tudo pareceu ficar<br />

meio que em câmera lenta, e ao ver a noiva ali tão perto e ao seu alcance, suas pernas bambearam<br />

instantaneamente, demonstrando a sua fraqueza, cansaço, e a fragilidade pelos acontecimentos.<br />

Por alguns segundos o tempo pareceu parar, mas a sequência foi uma cena fantástica, digna de um<br />

daqueles romances memoráveis, isso porque Letícia correu em sua direção, o abraçou, e o beijou com<br />

muita vontade, deixando todos que ali estavam boquiabertos, e depois de apreciar toda esta paixão<br />

alucinante, saíram da sala deixando-os a sós.<br />

Nathan pegou nas duas mãos de Letícia, e dispensando gestos de carinho, iniciou o diálogo:<br />

– Não acredito que está aqui ao meu lado, pensei que havia me esquecido, não atendeu mais as minhas<br />

ligações, nem mesmo ligou para me dizer um olá.<br />

– Como eu senti falta de você e do seu amor, mas apesar disso, mesmo os dias passando muito<br />

devagar, eu seguia as ordens do psicólogo e meus pais, procurando me afastar e recuperar aos poucos,<br />

todos os traumas que sofri perante o sequestro, mas não aguentava mais ficar longe de você!<br />

– Me desculpa por te cobrar assim, no fundo eu sabia que precisaria de um tempo para avaliar, se<br />

realmente valeria a pena ficar comigo, mas é que eu olho para todos os lados, e não consigo encontrar a<br />

saída, principalmente se eu ficar sem você.<br />

– Nunca houve dúvidas sobre os meus sentimentos, e apesar do nosso amor ser sempre bombardeado,<br />

por coisas muito ruins, eu sei que vale a pena viver ao seu lado, e você sabe bem disso do vou lhe dizer,<br />

que tudo o que é realmente verdadeiro, permanecerá para o todo sempre!<br />

– Não sabe o quanto é importante ouvir tudo isso, porque quando a minha vida estava errada e sem<br />

rumo, você surgiu como uma luz no fim do túnel, e com esta sua beleza estonteante, e este seu jeito<br />

caridoso de lidar com as pessoas, acabou dando um lugar para o meu coração morar, eu te amo, e pode<br />

acreditar, nunca me apaixonei assim por outra mulher!<br />

336


Ela olhou profundamente em seus olhos, fez um gesto de carinho em seu rosto, e lhe disse mais<br />

algumas palavras antes de beija-lo.<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Eu não ligo para o seu passado, nem para as mulheres com quem já conviveu, a única coisa que me<br />

importa, é que eu quero viver para sempre ao seu lado...<br />

337


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 81 •<br />

Eles formavam mesmo um casal formidável, e por alguns longos minutos, se desligaram totalmente da<br />

realidade, mas após um longo beijo de amor, Letícia sentiu uma repentina mudança nos ares, e vendo que<br />

o seu amor abaixou a cabeça, o indagou sobre o que se passava.<br />

– O que foi, de repente você ficou tão frio e distante, aconteceu mais alguma coisa em sua vida, algo<br />

que eu não esteja sabendo?<br />

– Pelo jeito ainda não contaram a você, ontem houve mais um capítulo em minha vida, envolvendo de<br />

novo a organização criminosa.<br />

– Não acredito que agiram novamente, o que houve desta vez?<br />

– Sei pouco sobre o que aconteceu de verdade, e tenho intenção de levantar tudo junto a polícia, mas<br />

soube que houve uma emboscada, e que a chefe da organização, juntamente a um outro membro, foram<br />

baleados neste nefasto evento.<br />

– Como assim a chefe, por acaso é uma mulher quem comandava tudo?<br />

– Sim, e eles morreram devido aos ferimentos causados, mas isso não é a pior parte, é que eu ocultei<br />

certas coisas de você, isso em nossas últimas conversas, pois tive receio de atrapalhar sua recuperação,<br />

depois você acabou sumindo sem dar notícias, e com isso o tempo foi passando rápido.<br />

– Me arrependo muito de ter me afastado, não devia ter dado ouvidos ao médico, e nem mesmo aos<br />

meus pais, mas agora me conta tudo, se abre comigo!<br />

– O que importa é que está aqui e agora, é o seguinte, esta mulher me persegue a séculos, sempre por<br />

causa das relíquias e os seus poderes, e infelizmente ela era a minha irmã.<br />

– Irmã, você realmente fala sério?<br />

– Terrível e inacreditável ao mesmo tempo, mas o sangue que corria em suas veias, era o mesmo que o<br />

meu, ela era dez anos mais velha, e na época a minha família morreu brutalmente assassinada, porque já<br />

visavam a fonte que pertencia ao meu pai, e todas aquelas coisas que o Caio nos contou, sobre um velho<br />

sábio e os poderes que carregava, não eram lembranças minhas, e sim memórias das coisas que meu pai<br />

me contava, que se misturaram na devassidão de coisas em minha cabeça, ele é que era uma daquelas<br />

crianças.<br />

– Então certamente o seu pai já tinha, a intenção de deixar tudo para você, e pelo jeito ela não aceitou<br />

esta decisão, por isso toda esta perseguição, ela deve ter se sentido traída.<br />

– Eu sei disso, porque a vi com um dos bandidos, foi logo no dia seguinte aos fatos ocorridos, eu estava<br />

sentado e chorando perto de casa, e vi quando ela lhe deu algum dinheiro, depois peguei ela remexendo<br />

as coisas deles no quarto, e me lembrei que meu pai costumava guardar coisas de mais valor, nas pedras<br />

mais afastadas do riacho, e somente eu e ele sabia deste fato.<br />

– E o que ela tanto almejava, estava bem guardado, e somente ao seu alcance.<br />

– Isso mesmo, e assim que eu achei o baú dele, e vi as coisas que continham dentro, tratei logo de sair<br />

daquele lugar, que naquela altura dos acontecimentos, além de trazer tanta dor em meu peito,<br />

provavelmente poderia trazer riscos a minha vida.<br />

– Eu nem sei o que dizer, estou sem palavras, cada vez mais eu me admiro com as coisas do seu<br />

passado, você deve ter sofrido muito, me deixa eu te dar um abraço bem forte...<br />

338


<strong>Caminhos</strong><br />

Neste momento alguém bateu na porta, era Arthur que mais cedo a pedido de Iris, havia ido ao distrito<br />

policial apurar os fatos, e também verificar todos os procedimentos, com relação aos corpos dos bandidos<br />

no necrotério, e o seu primeiro gesto foi de confortar o empresário.<br />

– Sinto muito Nathan, apesar de toda a minha experiência, eu não sei o que realmente lhe dizer neste<br />

momento, meus sentimentos por todo o conjunto de fatos.<br />

– Eu entendo, pois nem eu sei como lidar com tudo isso, ficou sabendo pela mídia?<br />

– Soube dos bandidos, e como o seu nome apareceu envolvido, eu liguei imediatamente para aqui, e a<br />

Iris me contou tudo, que se tratava da morte de sua irmã.<br />

– Isso mesmo, eu já sabia há algum tempo!<br />

– Eu confesso que fiquei abalado com esta notícia, e a pedido dela e de Raul, eu fui verificar todos os<br />

fatos pessoalmente, para poder lhe ajudar em mais este momento complicado, mas o acesso estava muito<br />

restrito, pois estavam aguardando a vinda de certas autoridades.<br />

O advogado explicou minunciosamente a ele, todos os passos que seriam realizados a partir de agora, o<br />

corpo seria encaminhado aos Estados Unidos a pedido do FBI, já que ela era naturalizada americana, e<br />

por se tratar de uma criminosa procurara no mundo todo, e se por um acaso, ele quisesse requerer o<br />

corpo para enterra-la, teria de entrar com uma ação na justiça, direito que tinha por ser o parente mais<br />

próximo.<br />

Enquanto isso em Maragogi, Murilo e Marina voltavam a casa de praia, quando visualizaram Duarte aflito<br />

na varanda, e mais do que depressa, se aproximaram para ouvir o que ele tinha a dizer.<br />

O colecionador contou a eles, sobre o telefonema de Arthur, e todos os fatos ocorridos na capital<br />

paulista, os deixando totalmente atordoados, e ficando claro que na ligação do advogado, ele pedia o<br />

apoio deles ao empresário, sem perca de tempo, o casal arrumou uma pequena bagagem, e viajaram<br />

rumo a Maceió, deixando o colecionador tomando conta de tudo por ali, e por volta das treze horas,<br />

decolaram com destino a São Paulo.<br />

Era uma tarde nublada na capital paulista, e depois das prisões de Otto e seu bando, os ares pareciam<br />

estar renovados, isso refletia singelamente nos rostos e olhares de todos, principalmente nas caridosas<br />

professoras da ONG, que além deste motivo, ainda tinha um outro para alegrar seus corações, e Dulce<br />

veio correndo contar a Amanda, esta maravilhosa novidade.<br />

– Sabe quem acabou de me ligar?<br />

– Não, nem imagino, mas pela sua cara deve ser notícia boa, sendo assim eu também quero saber,<br />

pode ir contando!<br />

– O menino Gabriel disse que a Letícia voltou, e está hospedada na mansão do noivo, não é demais?<br />

– Que babado é esse menina, ela nem para nos avisar né, será que ela se esqueceu de nós duas?<br />

– Nada disso, segundo o que ele me contou, ela chegou hoje cedo, e parece que eles estão com alguns<br />

problemas por lá, mas ele não entrou muito nestes detalhes, mas tudo indica que é com o nosso benfeitor.<br />

– Neste caso, o que acha de fazermos uma visita a eles a noite?<br />

– Pode ser, acho que seria legal a gente dar uma força, nestas horas mais complicadas da vida, é que<br />

precisamos de amigos ao nosso lado, e para o Gabriel ter faltado a aula hoje, é porque deve ter<br />

acontecido algo mais grave.<br />

339


<strong>Caminhos</strong><br />

– Então fica combinado, a noite a gente vai junta para a mansão, agora vamos as aulas!<br />

Apesar da preocupação que se acercava nas duas, elas estavam felizes por aparentemente, as coisas<br />

estarem voltando a se encaixar por ali, e quem sabe num futuro próximo, poderiam contar novamente com<br />

a presença contagiante de Letícia, que obviamente, era o pivô central de toda esta maravilhosa estrutura.<br />

Nas dependências do condomínio, longe de todas as coisas que haviam acontecido a Nathan, os<br />

moradores desfrutavam das reformas que haviam sido concluídas, e tudo havia ficado perfeito,<br />

principalmente a piscina e o novo salão de festas, que começava a receber todos os preparativos, para a<br />

grande festa de reinauguração, que seria no próximo sábado, onde o tema seria anos setenta e anos<br />

oitenta.<br />

Nesse meio tempo que se passou, com a saída de Tamares do apartamento, que havia se conformado<br />

com a separação, indo embora para o Paraná, Juliano voltou a morar no condomínio, mas não no mesmo<br />

bloco, e sim juntamente com Regina, que estava feliz por este relacionamento, e o momento não poderia<br />

ser mais empolgante para ele, pois com a promoção no emprego, e vivenciando este pleno romance, ele<br />

acreditava estar recebendo dádivas, por todo o mal que já havia passado em sua vida.<br />

Dona Angelina estava ansiosa pelo baile, mas apesar de ser bem animada, e como até alguns dizem<br />

"prafrentex", ela estava triste pela situação da moça Vanessa, que com o estado muito grave, e se<br />

recusando a qualquer tipo de ajuda ou atendimento, definhava na cama de seu apartamento, chorando<br />

copiosas lágrimas amargas, pelas dores que a doença lhe causava, e também por seu amor ter ido para<br />

longe.<br />

No Estados Unidos, Leonardo bem que tentava falar com ela, e pelo menos duas vezes por dia, ele<br />

ligava para o celular da garota sem sucesso, e sempre que podia a noite, falava rapidamente com o<br />

porteiro Xavier, que nunca trazia boas notícias, e Silva ficava cada vez mais preocupada, pois ela tinha<br />

grande receio, de tudo isso afetar o tratamento do filho, que estava cada vez mais triste e cabisbaixo,<br />

sofrimento causados pelo amor que sentia pela garota.<br />

No Rio de Janeiro, Bianca fazia os preparativos para a volta, após ter recebido um telefonema de Diego,<br />

amigo e assessor direto de Murilo, onde a informou sobre decisão do chefe, que era de a recolocar em seu<br />

antigo cargo na diretoria, onde havia obtido todo o seu sucesso, a transferindo de volta da filial carioca,<br />

uma decisão justificada por causa do filho que esperava, assim o presidente do grupo ETROS, pretendia<br />

tentar uma solução imediata, para honrar com todas as suas obrigações.<br />

Devido a certas atitudes do seu ex, já se compreendia que ele nada mais queria com ela, mediante a<br />

este fato, não tentou investir mais nada nessa relação, e passou a dar prioridade à criação do filho, e a<br />

retomada de sua carreira, tentando deixar para traz o recente e desastroso passado, incluindo Talita, que<br />

havia se mudado para Londres, onde deu continuação a sua carreira artística, junto a nova namorada do<br />

momento, já que ela fazia com muita frequência, estas trocas de relacionamento.<br />

Voltando a São Paulo, onde as notícias repercutiram rapidamente, mais uma vez uma grande<br />

quantidade de jornalistas, se aglomeraram no portão principal da mansão, na tentativa de conseguir uma<br />

entrevista com o empresário, porém Nathan já totalmente precavido, procurou permanecer dentro da<br />

propriedade, evitando outro desgaste com a sua imagem, e também para não se abalar ainda mais,<br />

enquanto Arthur, vendo que nada mais podia fazer, pegou o carro e retornou para casa.<br />

Porém não era bem assim, porque uma pessoa neste momento, adentrava com precaução na sala<br />

principal, ele havia entrado pelos portões dos fundos, se aproveitando de que todos os seguranças,<br />

estavam concentrados no portão principal, e Raul que estava presente de guarda, como muita cautela e<br />

prudência o cercou, impedindo-o de se aproximar da biblioteca, onde Nathan e Letícia conversavam<br />

calmamente, e eles nem de perto imaginavam, que Caio era a incógnita de todos estes acontecimentos.<br />

340


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 82 •<br />

Estranhamente Caio não se surpreendeu com tal atitude, pois antes de sua última passagem pela casa,<br />

Raul era apenas um hospede acolhido por eles, e agora agia formalmente como o chefe da segurança, e<br />

pela sua reação, era provável já estar a par desta mudança, e Raul sendo um pouco sarcástico o<br />

interpelou:<br />

– Olha só quem ressurgiu dos mortos, e pelo visto está muito bem, resolveu voltar para casa?<br />

– Posso dizer o mesmo de você, parece mudado, cheio de atitude, muito diferente daquele homem que<br />

conheci na favela, arrisco até a dizer que estou orgulhoso de você.<br />

Caio se aproximou, e lhe deu um forte abraço, surpreendendo claramente o pai de Gabriel, e falando no<br />

garoto, que também entrou na sala junto a Iris, ao ver um de seus amigos preferidos, e companheiro de<br />

suas horas mais difíceis, saiu correndo e gritando o seu nome, o abraçando-o com muito carinho,<br />

despertando o sorriso em todos, inclusive de Elvira que também se aproximou.<br />

Claramente eles não temiam a presença dele, pois sempre tinha dado demonstrações sinceras, de afeto<br />

e amizade por todos da casa, e no fundo sabiam dos maus pedaços que havia passado, mediante as<br />

torturas vivenciadas no sequestro, onde chegaram a acreditar que até estava morto.<br />

Ao ouvir os murmúrios que vinham da sala, Nathan e Letícia se levantaram da poltrona, e caminharam<br />

até aquele ambiente, ficando cheios de satisfação ao rever o amigo, e deixando de lado<br />

momentaneamente, algumas dúvidas acerca de seu caráter, lhe deram um cumprimento longo e<br />

carinhoso.<br />

Após ter passado aquela ligeira euforia, os outros moradores se retiram da sala, deixando os três a<br />

vontade para conversarem, mas antes de qualquer coisa, de qualquer palavra, Caio como de costume,<br />

pegou um copo no barzinho ao lado, colocou uma dose do seu whisky preferido, e se sentou em uma das<br />

poltronas.<br />

Já começa a escurecer, e vendo que Nathan e Letícia, estavam ansiosos para ouvir o que tinha a dizer,<br />

virou o copo e tomou toda a bebida, e calmamente começou a lhes falar:<br />

– Agradeço por terem me recebido desta maneira, confesso que até esperava uma reação adversa, já<br />

que devem ter algumas suspeitas, e certamente dúvidas sobre a minha pessoa.<br />

Nathan se sentou ao lado, colocou a mão em seu ombro e declarou:<br />

– Certamente temos, mas eu aprendi a nunca julgar nada, sem antes poder ouvir o outro lado da<br />

história, e creio que deva ter muitas coisas a nos contar, mas independente do que for conversado aqui e<br />

agora, saiba que nunca me esquecerei, de toda a ajuda e coisas boas, que já fez por mim no passado.<br />

– Faço minhas as palavras de Nathan, penso da mesma maneira, eu sou grata por ter me protegido, e<br />

ajudado o tempo todo no cativeiro, mas creio que já está mais do que na hora, de nos contar toda a<br />

verdade, afinal de contas quem é você?<br />

– Agradeço o voto de confiança, e tudo o que fiz até os dias de hoje, foi para a proteção de todos vocês,<br />

vou explicar tudo sem esconder nada, então irão compreender minhas atitudes e ações.<br />

Letícia pegou na mão de Nathan, ambos se olharam mutuamente, e depois se sentaram para ouvir os<br />

seus argumentos.<br />

– Tem muitas coisas a meu respeito que desconhecem, algumas por eu ter omitido, outras por eu ter<br />

mentido, e para início de conversa, eu peço que me ouçam até o final, para somente então tirarem suas<br />

conclusões.<br />

341


<strong>Caminhos</strong><br />

– Está certo meu amigo, faremos o que nos pede.<br />

– Estou com o Nathan, eu também concordo!<br />

– Tudo começou um pouco antes de nos conhecermos no Canadá, aquele encontro não foi casual, ele<br />

foi planejado minunciosamente por uma ordem, que tinha alguns integrantes pertencentes a Interpol, ao<br />

qual eu já era filiado há anos, a intenção era me aproximar ao máximo de você, colher todas as<br />

informações de possíveis contatos seus, com os outros também chamados "caminhantes", aos quais<br />

segundo eles, usufruíam de poderes abusivos e satânicos, por terem em posse os cristais de energia, e<br />

possivelmente o paradeiro da fonte mantedora de tudo isso.<br />

Letícia imediatamente o questionou:<br />

– E ainda acredita nesta teoria, envolvendo coisas satânicas?<br />

– Depois de ter conhecido melhor o Nathan, e de saber a verdadeira história por detrás das relíquias, eu<br />

procurei me envolver mais em sua rotina, e dia após dia, eu fui vendo quem ele era de verdade, que era<br />

uma pessoa boa, generosa, e muito caridosa, sem falar que fui me apegando a sua amizade verdadeira, e<br />

isso me fez tomar um outro rumo, me fez desistir do plano inicial.<br />

Nathan agora parecia entender perfeitamente, algumas atitudes do companheiro no passado, mas<br />

intrigado com esta nova revelação, o inqueriu sobre mais detalhes.<br />

– Que plano era esse, do que se tratava afinal?<br />

– Eu tinha ordens para descobrir sua ligação com os outros, no caso a sua irmã e seus comandados,<br />

verificar a existência de mais algum dos caminhantes, encontrar a fonte, e eliminar vocês todos.<br />

Letícia se surpreendeu com a resposta dada, e com cautela tentou entender a questão colocada.<br />

– Então na verdade, você veio até ele para matá-lo?<br />

– Isso mesmo, muitas das coisas que aconteceram, foram causados por essa ordem, inclusive aquela<br />

explosão da bomba, naquelas circunstâncias eu já era tido como traidor, e também passei a ser um dos<br />

alvos, mas eu tenho um grande amigo e companheiro, que hoje não faz mais parte e me ajuda muito, na<br />

época foi ele quem me avisou sobre o atentado, escapamos por pouco!<br />

Nathan olhou para a noiva, e indignado com esta confissão do amigo, procurou questiona-lo com mais<br />

rigor.<br />

– Mas se sabia da bomba no carro, porque não impediu que o nosso motorista morresse, porque deixou<br />

inocentes perecerem naquela explosão?<br />

Letícia se levantou indignada, ela não aceitava de forma alguma, que mesmo ele sabendo<br />

antecipadamente, sobre o atentado prestes a ocorrer, acabou permitindo que o fato acontecesse, e ali<br />

parada de braços cruzados, bem diante de seus olhos, ficou aguardando algum tipo de explicação.<br />

Vendo que o clima havia esquentado, Nathan demonstrando muita frieza e atitude, se levantou<br />

rapidamente, ficando entre os dois para acalma-la, proferindo palavras que julgou necessário.<br />

– Vamos manter a calma meu amor, lembre-se que concordamos no início da conversa, que o<br />

ouviríamos até a conclusão final, vamos deixar que ele prossiga com a sua versão.<br />

– Tudo bem, vou procuram me conter, mas não garanto nada!<br />

Caio compreendendo a sua reação, aguardou ela se abrandar, e prosseguiu com a explicação.<br />

342


343<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Eu estranharia uma atitude diferente desta, você está certa em ficar assim revoltada, mas saiba que de<br />

forma alguma, deixaria que algo acontece a pessoas inocentes, eu havia recebido informações de um<br />

ataque, mas o informante não soube dar mais detalhes.<br />

Nathan por sua vez, também expôs as suas dúvidas.<br />

– Mas você parecia já ter feitos planos, até já havia comprado um barco de luxo, não parece algo préplanejado?<br />

– Digamos que eu sempre tive um plano B, e acreditei que longe daqui, o risco certamente se tornaria<br />

menor, até mesmo para a sua proteção, por isso eu resolvi em cima da hora, te levar até o Iate Clube no<br />

Guarujá, e realmente eu havia comprado um barco, mas era para o seu aniversário no mês seguinte, e<br />

creio que agora que recordou tudo, vai ver que não estou mentindo.<br />

– Amor isso realmente confere, você faria mesmo aniversário?<br />

– Acredito que ele possa estar falando a verdade, isso faz algum sentido agora, e sobre Angra, o que<br />

pode nos dizer a respeito?<br />

– Angra foi o meu maior erro, porque em vez de isolar vocês do perigo, eu acabei os expondo ainda<br />

mais, quando convidei a Alba para a casa de praia, mal eu podia saber, que ela estava infiltrada a mando<br />

da organização.<br />

Letícia parecia entender tudo, e começando a encaixar todas as peças, o interpelou:<br />

– Isso quer dizer que naquele momento, tínhamos dois inimigos totalmente distintos, cada qual em<br />

busca de um mesmo objetivo, que era Nathan e suas relíquias, quando pretendia nos contar a verdade?<br />

– Eu ainda não tinha certeza, porque ao mesmo tempo havia um medo, de perder a confiança e amizade<br />

de vocês todos, e também pesava a questão das memórias do Nathan, eu seguia as recomendações do<br />

médico, e fiquei receoso de atrapalhar o seu tratamento, mas hoje eu sei que devia ter falado, pois poderia<br />

ter evitado aquele sequestro, e você Letícia não teria sofrido tanto, espero que um dia possam me<br />

perdoar.<br />

– Já que tocou neste assunto, eu vi quando você saiu de lá, estava muito ferido e desacordado, como<br />

conseguiu escapar, e de quem era aquele corpo no necrotério?<br />

– Nem eu sei bem como aconteceu, mas da mesma forma que a organização, tinha cédulas infiltradas<br />

em toda parte, nossa ordem também tinha, e como também estavam no encalço deste bando, um de<br />

nossos agentes por assim dizer, ficou sabendo que haviam pego dois brasileiros, e como eu já não dava<br />

notícia a dias, eles investigaram e chegaram até o cativeiro, se utilizando de ordens e papeis forjados.<br />

– Eu me recordo de algumas coisas, de um homem novo ter entrado no porão, e logo em seguida vi<br />

você sendo retirado, me lembro muito bem, que ele ficou me olhando muito, como se também me<br />

quisesse levar.<br />

– Ele bem que queria, mas o objetivo dele era me resgatar, e com a ajuda de algumas pessoas pagas<br />

por ele, conseguiram retirar um corpo do necrotério, e forjaram a minha morte, e com isso consegui um<br />

tempo para me recuperar, pois eu tinha apenas um dos cristais, justamente o que eu tinha costurado<br />

dentro do corpo.<br />

Ele levantou a camisa, e mostrou a cicatriz no abdômen, gesto que foi repetido por Nathan, que também<br />

tinha uma idêntica, era onde eles guardavam dentro de si, uma de suas estimadas relíquias, que<br />

mantinham a saúde e a constante juventude, os protegendo o máximo possível.<br />

Letícia já havia reparado tal coisa, mas nunca tinha tido coragem de perguntar ao amado, sobre a tal


<strong>Caminhos</strong><br />

cicatriz em seu corpo, que com o passar do tempo, foi se tornando algo normal e indiferente, porém Caio,<br />

ainda tinha mais a dizer a eles dois.<br />

– Assim que recuperei as minhas forças, nós procuramos por um contato junto ao FBI, e indicamos o<br />

local do cativeiro, por precaução, também fizemos ao contrário, avisando os bandidos sobre o cerco<br />

policial, assim foi evitado um confronto entre eles, preservando assim você Letícia.<br />

– Agora entendo o local estar vazio, foi muito genial de sua parte, eu fico agradecido por tudo, por ter<br />

protegido a Letícia o tempo todo!<br />

– Eu também te agradeço, e peço desculpas por pré-julgar, mas a gente nunca tem paz, o tempo todo<br />

acontece coisas em cima de outras coisas, acredito que todos nós estamos esgotados, queria que tudo<br />

fosse diferente.<br />

– Eu também queria, mas há uma forma de terminar tudo isso, na verdade uma das partes já foi<br />

resolvida, e eu preciso te falar Nathan, que eu e este fiel companheiro de ordem, somos responsáveis pela<br />

emboscada que vitimou sua irmã, ela já estava aqui no Brasil no seu encalço, e de maneira alguma eu<br />

podia permitir, que ela chegasse até você.<br />

Nathan aproveitou o momento das verdades, e lhes contou sobre a carta de Angra, explicando detalhes<br />

sobre a cilada de Alba, convencendo-o que ambos o haviam traído, simulando um caso amoroso entre os<br />

dois, disse também que errou demais em acreditar, e gostaria muito que eles o perdoasse.<br />

Houve um silêncio absoluto entre eles, e por alguns segundos tentavam entender, tamanha maldade de<br />

seus inimigos, depois se levantaram, deram-se as mãos, e juntos compartilharam um forte abraço,<br />

demonstrando um entendimento de todos os seus atos, enquanto isso na sala ao lado, Iris se encontrava<br />

amplamente angustiada, e olhando para a porta da biblioteca, aguardava o desfecho deste aparente<br />

acerto de contas.<br />

344


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 83 •<br />

Enquanto isso do outro lado da Capital, Arthur que após ter saído da mansão, havia visitado mais<br />

um cliente, enfim terminava o seu itinerário de trabalho, e tão logo adentrou a porta de casa, foi logo<br />

recebido aos beijos por Elisa.<br />

– Nossa, porque eu estou sendo recebido assim?<br />

– Por vários motivos, deixa eu pensar.... Acho que é um pouco de saudade, um pouco de vontade, e<br />

também porque eu te amo!<br />

O advogado se surpreendeu com esta declaração, chegando a ficar em silêncio por alguns segundos, e<br />

a moça vendo a sua imediata reação, não tardou compreender o que se passava.<br />

– Será que é o que estou pensando, que nunca ninguém te tratou assim desta forma?<br />

– Devo estar parecendo um ridículo, imagina um homem da minha idade, ficar surpreso com uma<br />

declaração de amor, mas é verdade, em todos estes longos anos, jamais aconteceu algo parecido.<br />

– E agora que aconteceu, vai fazer o que a respeito?<br />

– Nem deu tempo para refletir, mas não basta dizer eu te amo de volta, acredito que queira mais do que<br />

palavras, então acho que vou tomar um banho, e te levar para jantar fora, o que acha desta minha atitude?<br />

– Coisa de um homem de verdade, aceito o seu convite!<br />

Ela colocou as duas mãos em seu rosto, olhou os seus olhos verdes claros, e o beijou novamente, em<br />

seguida o acompanhou até o quarto, onde ambos entraram no chuveiro, e ali mesmo dentro do box<br />

transparente, se amaram com muita vontade, mais tarde foram até um restaurante conhecido, e já<br />

acomodados no recinto, a moça percebeu uma certeza tristeza em seu olhar.<br />

– Agora há pouco você estava tão bem, porque não compartilha comigo a sua melancolia?<br />

– Deu para perceber é, não consigo mesmo esconder nada de você, mas são coisas complicadas.<br />

– São coisas de trabalho?<br />

– Também, acho que posso confiar em você, mas me promete que a nossa conversa, ficará entre nós<br />

dois certo?<br />

– Claro, jamais contaria uma conversa nossa a alguém, mas me fala, o que te chateia tanto?<br />

– Estou preocupado com o Nathan, não me conformo com a imensidão de coisas ruins, que sempre<br />

acontecem na vida dele, é uma coisa atrás da outra, e acredito muito que ele não mereça nada disso,<br />

porque ele é um ser humano maravilhoso.<br />

– Mas aconteceu alguma coisa grave com ele?<br />

– Acredita que o tempo todo, a armações, os incidentes, o sequestro da noiva e o amigo, eram<br />

supostamente elaborados pela sua irmã?<br />

– Não acredito, puxa vida, eu nem sei o que falar!<br />

– O pior que ela foi morta a tiros, e nestas horas fica muito difícil a gente saber, como agir perante ele,<br />

porque não sabemos se ficou triste pela morte dela, ou se finalmente esta aliviado, por ter se livrado de<br />

tamanha obsessão.<br />

345


<strong>Caminhos</strong><br />

– Gosta muito dele, não é?<br />

– É um amigo muito querido, eu tenho muita admiração por ele, pois mesmo tendo o dinheiro que tem, e<br />

alcançando uma ampla posição social, não perdeu a simplicidade, nem a bondade de coração, que<br />

normalmente estas coisas costumam destruir.<br />

– Você se parece muito com ele, age da mesma forma com as pessoas ao seu redor, é simples, é<br />

generoso, foi isso que me fez apaixonar por você!<br />

Com um belo sorriso, e um gesto carinhoso no rosto, Elisa fez com que Arthur momentaneamente, se<br />

esquece de todos estes problemas, e se concentrasse naquele encontro a dois, se entregando<br />

completamente ao romantismo e a paixão, e isso se estendeu por todo o jantar.<br />

Simultaneamente na Mansão, o encontro na biblioteca estava encerrado, e ao saírem, os semblantes<br />

demonstravam claramente, que ambos tinham acertado as suas diferenças, já os moradores ficaram bem<br />

mais aliviados, deixando de lado a tensão inicial, e compartilhando deste momento de paz entre eles, e Iris<br />

foi a primeira a comentar:<br />

– Eu nem acredito que estou vendo os três, assim deste jeito, juntos novamente nesta sala, onde<br />

vivenciamos momentos felizes!<br />

Raul também expôs o seu comentário:<br />

– Infelizmente eu não estava presente nestes dias, mas fico satisfeito de vocês terem se acertado, agora<br />

se me dão licença, preciso verificar como está tudo lá fora, parece que os repórteres já se foram.<br />

Nathan com ares de felicidade plena, concordou e lhe fez um convite:<br />

– Faça isso, mas depois retorne para cá, vamos jantar todos juntos, como uma verdadeira família!<br />

Gabriel, que estava sentado no primeiro degrau da escada, não se aguentando de contentamento,<br />

correu e abraçou cada um deles, demonstrando todo o carinho e respeito, que tinha dentro de seu<br />

pequeno coração, e mais tarde na mesma sala, arrumados adequadamente para este jantar, Letícia e<br />

Nathan ficaram felizes e surpresos, ao ver que algumas visitas chegavam a mansão, uma era as<br />

professoras da Ong, a outra Murilo e Marina, certamente seria um final de noite inesquecível.<br />

Nem mesmo se houvesse sido combinado previamente, teria dado tão certo estes encontros, e mais<br />

uma vez, em um momento de dificuldades em sua vida, o empresário recebia o pleno apoio dos amigos, e<br />

apesar de Dulce e Amanda nada saberem, acerca dos últimos acontecimentos, a vontade de estar com<br />

Letícia novamente, havia burlado um aviso prévio de suas visitas.<br />

Já Murilo e Marina, que acabavam de chegar de viagem, sabiam parcialmente sobre os fatos ocorridos,<br />

mas vendo que o clima era familiar, e que Nathan apresentava uma boa aparência, resolveram não tocar<br />

no assunto, deixando as perguntas para outra ocasião, se aproximando normalmente para cumprimentalo.<br />

– Olá chefe, tudo bem com você?<br />

– Estou bem, me recuperando como sempre, e que surpresa boa vocês dois aqui, certamente ficaram<br />

sabendo do ocorrido, e o senhor Duarte?<br />

– Meu pai permaneceu em Maragogi, ficou tomando conta do nosso projeto, mas mandou-lhe um grande<br />

abraço!<br />

– E como está a fonte de poder?<br />

346


<strong>Caminhos</strong><br />

– Estabilizada, e totalmente segura!<br />

Murilo percebendo que era um assunto deles, procurou se esquivar.<br />

– Bom, eu vou deixar vocês a vontade, vou pegar uma bebida.<br />

– Não precisa sair, eu prometo não falar mais de trabalho hoje, mas aceito se me trouxer uma também, e<br />

aproveito para convida-los a se juntar conosco no jantar, ficaria muito feliz se aceitassem!<br />

Ambos sorriram e concordaram com o convite, já em outro canto da enorme sala de estar, as<br />

professoras não se cansavam de se abraçar, e contendo algumas lágrimas que rolavam, Letícia ouvia<br />

atenciosamente as duas amigas, principalmente Amanda, que não se continha em palavras.<br />

– Nem acredito que você voltou para São Paulo, alguns diziam que estava em Miami, outros em Paris,<br />

estávamos super preocupadas com você, tudo bem mesmo?<br />

– Acredito que agora sim, parece que teremos uma calmaria a frente, e vocês me contem tudo, estava<br />

morrendo de saudades, e as crianças Dulce, estão todas bem?<br />

– Muito bom ter você aqui de volta, quanto as crianças, tudo corre perfeitamente, principalmente agora<br />

que prenderam a maioria dos bandidos, pelo menos por um tempo a favela estará limpa!<br />

– Sério, mas quando isso aconteceu?<br />

– Há alguns dias atrás, mas depois te contamos como ocorreu, só viemos mesmo ver você e matar a<br />

saudade, não queremos atrapalhar a reunião de vocês, vamos Amanda?<br />

– Tem razão Dulce, já foi uma falta nossa vir sem avisar, foi muito bom te ver!<br />

Letícia abriu um largo e irradiante sorriso, abraçou a duas, e fez questão de lhes fazer um convite:<br />

– Imagina, vocês são minhas convidadas especiais para o jantar, faço questão que as duas fiquem, não<br />

aceito um não como resposta!<br />

Coitada da cozinheira Elvira, pois a lista de convidados só aumentava, não que ela achasse ruim, porque<br />

ao contrário estava muito feliz, de ver a casa assim, recheada de pessoas bonitas e do bem, enxergando<br />

que no fundo a presença de todos, faria um bem enorme ao patrão, e assim todos se reuniram na enorme<br />

mesa postada, e ao sabor de um raríssimo vinho tinto, degustaram com prazer o delicioso jantar.<br />

Já passava da meia noite, quando a reunião de amigos se encerrou, e com a exceção das professoras,<br />

que tinham de retornar para as suas famílias, os demais foram acomodados na propriedade, Caio em seu<br />

antigo quarto, Murilo e Marina em uma das melhores suítes, e enfim, depois de um determinado e longo<br />

tempo, o nosso casal preferido finalmente, ficaria juntos e a sós.<br />

Simultaneamente em outra parte do mundo, o dia já havia amanhecido, e um sol brilhante cobria toda<br />

Dubai, que em meio a carros caríssimos, e a maravilhosa infraestrutura moderna, trazia agregada os seus<br />

antigos costumes, e logo bem cedo, encontramos Carlos Renato e Josie, fazendo o desjejum no<br />

restaurante do hotel, e a moça parecia ainda estar deslumbrada.<br />

– Sabe que ainda não consigo me acostumar, acordo todos os dias e me pergunto, será que tudo isso é<br />

um sonho?<br />

– As vezes eu olho para você, e sinto que parece estar com os pensamentos perdidos, sente falta de<br />

alguma coisa, tem saudades das coisas que fazia em Londres?<br />

– Não é nada disso, as vezes tenho receio de te perder, de fazer algo errado, porque eu ainda não me<br />

347


encaixei nesta nova vida, sabe quando a gente não consegue se enturmar, então, é assim que eu me<br />

sinto.<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

– Eu compreendo perfeitamente, também me senti assim nos primeiros trabalhos, ainda mais alguém<br />

como eu, que veio de uma pequena e simples cidade do interior, mas foi o que planejei para o meu futuro,<br />

eu cheguei onde almejei chegar.<br />

– Você é muito determinado mesmo, e foi assim que conquistou meu coração, não desistiu, mesmo<br />

tendo ciência da vida que eu levava.<br />

– Ha é, conquistei mesmo, muito bom saber disso, assim se torna mais fácil, algo importante que tenho a<br />

lhe dizer.<br />

– Assim você me deixa super curiosa, conta logo, o que tem para me falar?<br />

– A noite você fica sabendo, agora eu preciso ir trabalhar, tenho uma reunião no canteiro de obras, com<br />

dois importantes engenheiros do projeto, mais tarde a gente se fala!<br />

Ela recebeu um beijo carinhoso, se despediu do amado com palavras de amor, e ficou com aquele vago<br />

e singelo olhar, tentando imaginar em seus pensamentos, o que realmente ele teria a lhe dizer.<br />

348


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 84 •<br />

Aquela manhã passou vagarosamente para Josie, e perto do meio-dia, ela não se aguentou e ligou para<br />

ele, mas Carlos Renato já estava prevenido, deixando o celular programado para responder mensagens,<br />

aguçando ainda mais a curiosidade da moça, e o jeito era esperar até o seu retorno do trabalho.<br />

Com o fuso horário mais atrasado, a sexta-feira estava amanhecendo no Brasil, e como no jantar da<br />

noite anterior, todos também se reuniram no café da manhã, e entre assuntos bem descontraídos, em que<br />

todos evitavam expressivamente, tocar em assuntos que poderiam trazer desconforto ao anfitrião, surgiu a<br />

conversa da festa no condomínio.<br />

– Eu fico muito agradecido, de vocês dois estarem aqui presentes, mas principalmente você Marina, não<br />

precisavam vir de Maragogi, somente para me confortar, não deviam ter largado tudo por minha causa.<br />

– De forma alguma poderia me ausentar, pois justamente nas nossas horas mais difíceis, era você que<br />

estava sempre ali, disposto a ajudar todo mundo!<br />

Murilo também prestou o seu apoio ao patrão:<br />

– Concordo plenamente, mas de qualquer forma eu deveria retornar hoje, não pelo trabalho na empresa,<br />

pois estou de licença até segunda-feira, mas sim por causa da festa no condomínio, que está marcada<br />

para amanhã, mas agora com tudo o que aconteceu, acredito que devamos adiar e remarcar o evento.<br />

– Se isso for por minha causa, eu julgo que seja uma atitude desnecessária, todos devem estar muito<br />

ansiosos, pela reinauguração do salão de festas, sem falar que o dinheiro arrecadado, irá para o fundo<br />

recentemente criado, para as quitações dos imóveis, então que a festa se realize!<br />

Mesmo não estando a par, de todos os assuntos ligados ao condomínio, Letícia fez questão de<br />

comentar:<br />

– Uma festa seria muito bem-vinda, e creio que nada mais possa se fazer, já que as autoridades<br />

americanas tomaram a frente, e isso certamente levará algum tempo, será até bom para você amor,<br />

precisa se distrair.<br />

Caio também se manifestou:<br />

– Ela tem razão, até eu preciso, lógico se eu for convidado, pois na segunda-feira eu me apresento a<br />

polícia federal, tenho que prestar meu depoimento, e esclarecer alguns fatos ocorridos, tenho coisas a<br />

acertar com a justiça.<br />

Houve um silêncio geral, alguns por saber todos os motivos, e outros por não saber do que realmente se<br />

tratava, mas depois de alguns longos segundos, isso foi quebrado por Murilo, que retornou ao assunto das<br />

festividades.<br />

– Tenho certeza que seria uma honra para todos nós, a sua presença na festa Caio, mas além dos<br />

problemas que o Nathan enfrenta, ainda temos um outro pendente, e este se trata de algo muito grave.<br />

Letícia de cara ficou preocupada, e o indagou rapidamente:<br />

– É alguma coisa relacionada ao condomínio, ou se trata de coisas pessoais?<br />

– Com um dos moradores, é a garota Vanessa, acho que pelo seu estado de saúde, não deve passar<br />

deste fim de semana, porque ela já foi desenganada pelo único médico, que ela permitir meio que a força<br />

pelos moradores, pois ela se recusa a qualquer tipo de ajuda.<br />

– Mas o que ela tem, está tão doente assim?<br />

349


<strong>Caminhos</strong><br />

– Ela tem um câncer fulminante, já em seu estágio final, e infelizmente não podemos fazer mais nada!<br />

Uma comoção tomou conta de todos na mesa, e certamente não havia mais clima por ali, mas a esta<br />

altura da conversa, o café já havia praticamente se encerrado, e cada um tomou um rumo diferente, Iris e<br />

Raul levaram Gabriel até a piscina, enquanto Marina acompanhou Murilo até o condomínio.<br />

Caio foi para o seu quarto, pois precisava organizar alguns documentos e papéis, ao qual utilizaria para<br />

a sua apresentação as autoridades, enquanto Letícia e Nathan foram para o quarto, e a professora<br />

notando a inquietação do noivo, o indagou acerca de suas preocupações.<br />

– Daria qualquer coisa para saber, o que realmente se passa em seus pensamentos, depois que o<br />

Murilo falou da garota, você mudou instantaneamente, quer compartilhar comigo?<br />

– Não precisa se preocupar, estou simplesmente refletindo sobre algo, ao qual eu já deveria ter<br />

resolvido, porém como acontece uma coisa após outra, os dias se passaram tão rápidos, que eu acabei<br />

esquecendo de algo que preciso fazer, mas isso não pode passar de hoje.<br />

– Nossa quanto mistério, tem algo que eu possa fazer, posso te ajudar em algo?<br />

– Sim, preciso que faça algo por mim, poderia providenciar roupas de festa para nós, e também para os<br />

nossos dois convidados, sei que tem muito jeito para estas coisas, e enquanto isso tomarei algumas<br />

providências, são pendências que tenho de resolver.<br />

– Claro, farei o que me pediu, mas não se esqueça que eu te amo, e pode contar comigo para qualquer<br />

coisa, você vai ficar bem?<br />

– Vou sim, obrigado pelo seu apoio, eu também te amo muito!<br />

Letícia ficou demasiadamente preocupada, pois ele sempre falava as claras com ela, e desta vez fazia<br />

um certo mistério, acerca destas suas supostas pendências, mas por confiar cegamente em seu caráter,<br />

superou as preocupações fazendo o que pediu, partindo em direção ao quarto de Marina, para a convidar<br />

a fazer compras, e assim passaram juntas toda aquela tarde.<br />

De volta a Dubai, a noite já havia chegado ao continente, e ainda fazendo segredo de suas intenções,<br />

Carlos Renato chegou do trabalho, tomou um banho bem demorado, e depois convidou Josie para um<br />

jantar, e mais tarde, num dos restaurantes mais famosos da cidade, uma importante proposta seria<br />

apresentada.<br />

Ao chegar naquele requintado e sofisticado ambiente, Josie percebeu que já havia algo planejado, e que<br />

reservas para uma das melhores mesas, haviam sido realizadas com antecedência, e nem é preciso fazer<br />

muita força, para ter a certeza que durante todo aquele dia, a moça provavelmente criou diversas<br />

expectativas.<br />

Após puxar a cadeira e acomodar a amada, Carlos Renato pediu uma garrafa de champanhe, aguardou<br />

pacientemente o garçom encher as taças, e ficou observando todos os gestos e olhares da moça, que<br />

estava deslumbrada e ao mesmo tempo ansiosa, querendo saber qual seria o desfecho deste encontro, a<br />

assim que ficaram a sós, ele segurou as suas mãos com carinho, e lhe contou do que se tratava este<br />

encontro.<br />

– Bom, chega de rodeios, muitas coisas boas têm acontecido em minha vida, e certamente a mais<br />

importante é ter você ao meu lado, e agora surgiram alguns fatores novos, e preciso lhe falar sobre<br />

algumas das decisões, que eu pretendo realizar brevemente.<br />

– Se não fosse por ter acabado de me elogiar, declarando que sou importante em sua vida, juro que<br />

ficaria temerária com tais decisões!<br />

350


<strong>Caminhos</strong><br />

– Jamais faria qualquer ato que lhe magoasse, mas vai ser preciso que também faça escolhas, porque<br />

muita coisa vai mudar em nossas vidas, logicamente dependendo do resultado desta nossa conversa,<br />

pronta para ouvir?<br />

– Por favor, não me faça esperar ainda mais, aguardei o dia todo por isso, diga logo do que se trata!<br />

– Há alguns dias atrás, eu recebi uma generosa proposta do Sheik, mas para aceitá-la, terei de abrir<br />

mão de certas coisas em minha vida, e certamente você também terá.<br />

– E qual seria esta proposta?<br />

– Ele me ofereceu uma participação nos negócios, literalmente falando, ele me chamou para ser um de<br />

seus braços direitos, diz ele que nenhum dos envolvidos neste trabalho, se dedicou e se empenhou tanto<br />

em um projeto, e ele tem um gênio tão empreendedor, que já tem planos para outra grande construção.<br />

– E onde é que eu entro nesta história toda, porque tenho uma leve sensação, que está receoso com o<br />

nosso relacionamento, tem algo a ver com o meu passado?<br />

– Nem por um segundo passou isso pela minha cabeça, é que os costumes aqui são bem diferentes, é<br />

que eles não curtem estas coisas de morar juntos, de viverem assim como dois amantes, eles priorizam<br />

acima de tudo o casamento, é isso.<br />

– Então se entendi bem, para te aceitar como sócio, não devemos morar no mesmo prédio, sei lá, nem<br />

mesmo ter um relacionamento?<br />

– Você não entendeu foi nada, eu te amo muito e muito, jamais abria mão do seu amor!<br />

Ele fez um sinal com as mãos, e um grupo de três pessoas se aproximou da mesa, todos tocando<br />

suavemente violinos, que inundaram os arredores com uma linda melodia, e se aproveitando de sua<br />

distração, ele se ajoelhou ao seu lado, tirou um anel de brilhantes de seu bolso, e a pediu romanticamente<br />

em casamento, despertando a atenção de todos naquele recinto.<br />

Josie ficou maravilhada com toda aquela cena, ela só havia visto isso em filmes ou novelas, e meses<br />

atrás jamais poderia imaginar, nem mesmo eu seus sonhos mais secretos e impossíveis, que estaria ali do<br />

outro lado do mundo, vivenciando este momento de repleta felicidade, e sob os olhares de suspense, dele<br />

e da maioria ali presente, ele disse sim ao seu amado!<br />

Aplausos surgiram de todas as partes, especialmente vendo que eles realmente eram apaixonados,<br />

tanto que lágrimas escorriam em seus rostos, e secretamente ela falava para si mesmo, "ele é mesmo o<br />

príncipe que veio me salvar da torre", e assim curtiram cada momento desta esplendorosa noite, depois<br />

voltaram para o hotel, e se amaram loucamente por toda a madrugada.<br />

No Brasil ainda era começo de noite, mas a sexta-feira estava longe de terminar para Nathan, ele havia<br />

saído escondido de todos da mansão, os únicos a verem o empresário deixar a propriedade, foram dois<br />

seguranças no portão dos fundos, que acreditavam que ele estivesse acompanhado de alguém, e depois<br />

de quase uma hora dirigindo por São Paulo, ele chegou à guarita do condomínio, onde foi recebido por<br />

Xavier.<br />

– Boa noite doutor, que surpresa boa, quase que o senhor pega seus amigos aqui, o outro doutor Murilo<br />

e a sua namorada, acabaram de sair daqui agorinha!<br />

– Melhor assim, eu preciso de permissão para entrar, é para ver alguns detalhes da festa, mas gostaria<br />

de não ser incomodado, tudo bem para você?<br />

– Imagina se o doutor precisa de autorização para entrar, se esqueceu que é dono de tudo isso aqui?<br />

351


<strong>Caminhos</strong><br />

– Na verdade, agora vocês é que são os donos, minha função é apenas administrar este fundo, agora<br />

vou entrar que estou com um pouco de pressa, depois nos falamos mais, obrigado.<br />

– Até mais doutor!<br />

Demonstrando claramente a sua pressa, Nathan arrancou com o carro até o estacionamento, onde se<br />

certificou sobre alguns objetos que havia trazido, e assim que os colocou no bolso do casaco, foi na<br />

direção do salão de festas para disfarçar, se misturando a alguns dos moradores, que faziam os últimos<br />

preparativos, para o evento do dia seguinte, e enquanto atravessava toda a sua extensão, demostrava<br />

claramente em sua feição, a certeza absoluta do que ele pretendia fazer.<br />

352


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 85 •<br />

O empresário conseguiu passar imperceptível pelas pessoas, que estavam distraídas com a decoração,<br />

e assim que atravessou a porta dos fundos, se encaminhou até o segundo bloco de apartamentos, e bateu<br />

na porta de uma das moradoras locais, era Dona Angelina.<br />

– Boa noite, a senhora se lembra de mim?<br />

– Boa noite, mas é claro que sim, como poderia me esquecer de você, além de ser o nosso grande<br />

benfeitor, já havia me proporcionado uma leitura de cartas, o que devo a honra da sua visita?<br />

– Preciso de um grande favor, é uma coisa meio que complicada, e eu não posso dar detalhes sobre<br />

isso, mas é algo muito importante!<br />

– Por favor entre, é melhor conversamos aqui dentro.<br />

– Tem razão, obrigado por me receber.<br />

– Quer se sentar, posso te oferecer algo?<br />

– Não, muito obrigado, eu tenho um pouco de pressa.<br />

– Tudo bem, o que uma velha senhora como eu, pode fazer por alguém como você, qual é o favor que<br />

precisa?<br />

– Tem uma moça doente no outro bloco, certamente a senhora a conhece, eu ouvir dizer que ela está<br />

muito mal, e parece que também tem alguém tomado conta dela, e eu queria muito poder fazer uma visita,<br />

mas não queria que ninguém presenciasse, isso para evitar algum tipo de constrangimento, será que<br />

poderia me ajudar, arrumar uma forma de nos deixar um tempo a sós?<br />

– Acho que consigo tirar a enfermeira de lá, tenho quase certeza que ainda não jantou, vou convidar ela<br />

para experimentar a minha sopa, acredito que não vai recusar este convite, deixa eu pegar minha blusa,<br />

hoje está um friozinho daqueles!<br />

– Agradeço por não fazer perguntas, e por confiar em mim.<br />

– Se esqueceu do que vi nas lâminas do tarô, e da luz brilhante que sai da sua áurea, sei que é uma<br />

pessoa muito especial, e que certamente não fará mal nenhum a moça.<br />

Ele se lembrou daquela noite, e ficou admirado com a as palavras dela, era como se ela previsse o<br />

futuro, e enxergasse com muita clareza, o que ele pretendia realizar a seguir, e sem muita demora, ela<br />

vestiu sua blusa de lã azul escuro, e ambos desceram a rampa de acesso, indo em direção do<br />

apartamento de Vanessa.<br />

O empresário ficou atrás do muro, enquanto ela batia na porta, e durante alguns minutos, ela procurou<br />

distrair a enfermeira, com conversas sobre a paciente e da festa, e aguardou o momento certo, para fazer<br />

o convite para a sopa, e vendo que Vanessa já estava medicada, e havia acabado de adormecer, aceitou<br />

o convite e foi para o outro bloco, mas não sem antes trancar a porta.<br />

Neste momento Dona Angelina ficou preocupada, se questionando como ele faria para entrar, mas a<br />

esta altura não havia como recuar, e ela seguiu com o plano, retornado acompanhada para sua casa, e<br />

após Nathan se certificar minunciosamente, de que não havia mais ninguém por perto, retirou uma chave<br />

do bolso.<br />

Se voltarmos um pouco na trama, nos lembraremos do dia em que ele apanhou esta cópia, que estava<br />

pendurada na guarita de Xavier, e este objeto era apenas um item, dentro dos demais que estavam em<br />

353


<strong>Caminhos</strong><br />

seu bolso, que contavam com um capuz branco, e dois cristais transparentes, que continham a energia<br />

curativa da fonte.<br />

Premeditadamente, ele as havia pego em Maragogi, juntamente as que deu a Mariana e Duarte, e as<br />

pretendia utilizar nesta noite, essa não era a primeira vez, que ele procurava ajudar uma pessoa doente, e<br />

havia aprendido nesta sua longa jornada, que nada deveria ser feito sem autorização prévia.<br />

Assim que girou a chave e abriu a porta, adentrou numa pequena sala e caminhou até o quarto, que se<br />

encontrava com a porta aberta, e iluminado por um pequeno abajur, e ao ver a jovem ali deitada na cama,<br />

cercada de aparelhos e se fortalecendo no soro, colocou o gorro cobrindo parcialmente o rosto, e se<br />

preparou dizendo em baixo tom, como se programasse os cristais, " tu enim vitae medetur", que no latim<br />

significa "cura-te para a vida'.<br />

O disfarce era para que não fosse reconhecido, caso ela ou alguém visse a realização deste ato, mas ao<br />

se aproximar da cama, a moça abriu parcialmente seus olhos, e apesar de estar sob efeito de forte<br />

medicação, vendo toda aquela cena como se fossem alucinações, ela o surpreendeu lhe dizendo estas<br />

palavras:<br />

– É você meu querido anjo, demorou tanto para vir me buscar, não aguento mais tanto sofrimento, me<br />

leva com você para o paraíso, me leve para um lugar onde eu não sinta mais dor, você é como eu<br />

imaginava, todo cheio de luz, e com o rosto todo resplandecente, vem e me liberta de todo este<br />

sofrimento!<br />

Nathan não se conteve com a emoção, deixando que algumas lágrimas rolassem pelo seu rosto,<br />

enquanto a moça estendia as mãos para o alto, imaginando talvez que sairia dali carregada, por um anjo<br />

de luz salvador, que na hora certa abriria as suas asas, e voaria bem alto rumo ao céu.<br />

Foi neste momento, que ele sem dizer uma só palavra, entendendo que assim o havia autorizado, pegou<br />

em suas mãos, as virou com os punhos para cima, mentalizou as palavras "Sanare Corpus", e depositou<br />

nelas as duas preciosas relíquias.<br />

Ao mesmo tempo em que Vanessa se deslumbrava, com aquele magnifico feixe de luz, o seu organismo<br />

começou a assimilar imediatamente, a poderosa energia contida nos cristais, a levando a um êxtase tão<br />

profundo, que por um breve momento acreditou ter partido, deixando um pesado fardo para traz.<br />

Depois de passado um tempo, ela olhou para todos os lados, e percebeu que ainda estava ali no quarto,<br />

deitada na mesma cama de seu martírio, porém agora havia uma grande mudança, o seu corpo estava<br />

bem mais leve, e as dores iam se amenizando aos poucos, causando uma sensação de bem-estar tão<br />

imenso, que ela sequer imaginou que poderia sentir.<br />

Nathan ficou ali parado, e aguardou pacientemente a cadeia de reações possíveis, que as relíquias<br />

poderiam proporcionar, ele as conhecia muito bem, pois por diversas vezes entre a vida e morte, passou<br />

por todo este processo seletivo, onde todo o mal agregado no copo, se dissipava e se perdia no tempo e<br />

espaço, se aniquilando totalmente no final.<br />

Notando que ela dava indícios de melhora, e que a energia dos cristais havia sido consumida,<br />

justamente por seus brilhos terem se esvanecidos, ele se despediu com um beijo em sua testa, e saiu da<br />

mesma forma que entrou, em silêncio e sem dizer palavra alguma, porém o seu gesto de amor e caridade,<br />

ficariam cravados pelo resto de suas vidas.<br />

Parecia que tudo havia sido programado pelo Universo, pois assim que ele trancou a porta da frente, e<br />

se deslocou para fora daquele bloco, a enfermeira retornava para o apartamento, certamente já havia<br />

tomado a sopa oferecida, e agora se preparava para voltar a sua rotina, pelo menos era o que ela<br />

acreditava, por outro lado, Dona Angelina estava muito aflita, aguardando o desfecho deste<br />

acontecimento.<br />

354


355<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

O empresário até pensou em se despedir dela, mas achou que o melhor que tinha a fazer, era ir para<br />

casa sem dizer nada, com o receio de ser questionado a respeito, e isso traria diversas implicações, pois<br />

seria mais alguém a par de seu passado, e já havia envolvido gente suficiente nesta história, porém estava<br />

radiante por ter ajudado a moça.<br />

Já no estacionamento, quando guardava as coisas no porta-luvas, foi abordado por Xavier.<br />

– O doutor, eu estava lhe procurando, e fui até o salão de festas e não o encontrei, tudo certo com o<br />

senhor?<br />

– Tudo perfeito, o que queria comigo?<br />

– Nada demais, é que acabou o meu turno, e eu costumo travar a cancela, só fui ver se o senhor já<br />

estava de saída, mas se precisar posso ficar até mais tarde.<br />

– Não é necessário, eu já estou de saída, agradeço por tudo.<br />

– E então, o que achou de tudo?<br />

– Do que está falando?<br />

– Dos preparativos da festa, não foi por isso que o doutor veio?<br />

– Há claro me desculpe, é que estou um pouco cansado, mas ficou tudo muito bonito, creio que vai dar<br />

tudo certo, agora tenho de ir, é um longo trajeto de volta!<br />

– Certamente doutor, nos vemos amanhã na festa?<br />

– Farei o possível para estar presente, até breve!<br />

Ele rodou devagar pelas ruas e avenidas da capital, refletindo aqueles momentos há pouco vivenciados,<br />

e mesmo tendo passado por coisas parecidas, este caso parecia ser bem mais complexo, pois a moça<br />

parecia estar realmente a espera de um salvador, e esta história de anjo alimentado por ela, certamente<br />

cobriria qualquer rastro deixado por ele, mas no fundo sabia que uma certa senhora, possivelmente ligaria<br />

uma coisa a outra, e que mais cedo ou mais tarde, ela pediria algum tipo de explicação.<br />

Por volta das vinte e três horas, o carro do empresário chegou à mansão, e assim que adentrou na<br />

propriedade, foi prontamente abordado por todos, que aparentemente estavam ansiosos com seu sumiço,<br />

principalmente Letícia, que havia passado as últimas horas muito aflita.<br />

– Meu amor onde você estava, estávamos todos preocupados com você, por onde andou?<br />

– Peço desculpas por ter saído assim, mas eu precisava de um tempo só para mim, queria por minha<br />

cabeça no lugar, e também resolver uma questão pendente.<br />

– E deu certo, conseguiu resolver?<br />

– Sim, penso que tudo será diferente daqui para frente, que finalmente teremos um pouco de paz!<br />

Caio se aproximou do amigo, e colocando a mão em seu ombro, parecendo querer dizer mais do que<br />

sabia, disfarçou com palavras de concordância.<br />

– Tomara, acredito que todos nós estamos cansados, para falar a verdade esgotados, já está mais do<br />

que na hora, de todas as coisas se acertarem.<br />

Iris aproveitou este momento oportuno, e lhes disse o que pensava:


<strong>Caminhos</strong><br />

– Concordo com o Caio, mas creio que cada um deve tomar o seu rumo, e isso inclui a minha família,<br />

precisamos voltar para a nossa casa, já aproveitamos muito de vossa hospitalidade.<br />

Nathan, seguidos por Letícia e Caio discordaram:<br />

– Que história é essa de minha família, por acaso está me excluindo dela?<br />

– Isso mesmo amiga, a mim também!<br />

– Não se esqueçam de euzinho aqui, eu fiquei fora um tempo, mas agora estou de volta!<br />

Estes comentários deixaram Iris emocionada, e com os olhos parcialmente cobertos por lágrimas,<br />

olhando sorridente para Raul e Gabriel, agradeceu os três grandes amigos, pelo generoso gesto de<br />

carinho, e por tudo o que realizaram para a sua família.<br />

356


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 86 •<br />

Este clima descontraído e familiar, perdurou pelo resto daquela noite, entre drinques e os petiscos<br />

servidos por Elvira, e acertaram em si, que ninguém deixaria a mansão, que agora este era o lar de todos<br />

eles, que permaneceriam unidos como nos últimos tempos, pois nos momentos em que ambos<br />

precisaram, uma estava ao lado do outro, compartilhando pleno apoio e muito carinho.<br />

Naquela madrugada o amor rolou solto, Marina e Murilo chegaram quase de madrugada, pois haviam<br />

ido visitar alguns amigos, e hospedados em grande estilo na propriedade, aproveitaram para namorar<br />

muito, se entrelaçando nos lençóis luxuosos de cetim, enquanto que Iris e Raul, embalados por todo<br />

aquele ambiente favorável, aproveitaram este momento especial a dois.<br />

Já do lado norte da mansão, o nosso lindo e preferido casal, após vários meses separados pelos<br />

obstáculos, enfim curtiam uma noite de amor, onde trocavam emoção e palavras de carinho, que só se<br />

calavam com o toque de seus lábios, se beijando e se amando loucamente.<br />

A madrugada se foi, dando lugar a um maravilhoso sábado, e era o dia da tão esperada festa, onde os<br />

moradores do condomínio fariam, a reinauguração do salão de festas, que por sinal ficou mesmo um<br />

espetáculo, e uma notícia animaria mais o evento, é que todos os ingressos colocados à venda, haviam<br />

sidos vendidos para pessoas de outros condomínios, e que não se falava em outra coisa nas redondezas.<br />

Outra notícia não tardaria muito a chegar, é que perto das oito horas, a enfermeira particular de<br />

Vanessa, que dormia em outro quarto do apartamento, vendo que não havia barulho algum, e nem as<br />

suas lamentações costumeiras, chegou a ficar com o seu coração apreensivo, já imaginando que o pior<br />

havia acontecido, e hesitou muito até entrar no quarto da moça.<br />

Para a sua imensa surpresa, ela encontrou a cama arrumada e vazia, também com as janelas<br />

semiabertas, coisa que não acontecia há tempos, e sem saber como reagir diante da situação, ficou ali<br />

tentando encontrar uma explicação plausível, e logo após, saiu correndo para o lado de fora, onde olhou<br />

para todos os lados, caminhou em várias direções, até que a avistou no jardim, e imediatamente foi ao seu<br />

encontro.<br />

– Garota o que aconteceu, como chegou até aqui?<br />

– Bom dia para você também, vim com as minhas duas pernas! (Risos)<br />

– Me desculpa, bom dia, mas eu não entendo, você aqui sozinha, de bom humor, até a sua aparência<br />

está diferente, eu não estou entendendo, qual a foi a parte que eu perdi?<br />

– Se eu disser você não iria acreditar!<br />

– Porque não experimenta?<br />

– Eu estava certa o tempo todo, os anjos sempre existiram, e um deles me trouxe ontem um presente, e<br />

eu acredito de todo o meu coração, que isso me proporcionou a cura.<br />

– Você por acaso se automedicou, está sob efeito de alguma droga alucinógena?<br />

– Eu disse que não iria acreditar, mas pensa bem, se existisse tal medicamento, ou que seja uma droga<br />

capaz disso, não seria maravilhoso?<br />

Ela se sentou ao seu lado, pegou em suas mãos, mediu no pulso os seus batimentos, e ficou admirada<br />

com a sua lucidez, até mesmo as manchas espalhadas pela pele, pareciam ter desaparecidas<br />

completamente, e neste momento, seja qual fosse a verdade sobre este fato, nada desmentiria a pura<br />

realidade, que a moça realmente estava muito melhor, e que possivelmente isso era um milagre a seus<br />

olhos.<br />

357


358<br />

<strong>Caminhos</strong><br />

Mais conformada, ela ouviu atenciosamente o que Vanessa contava, e entre imagens fantasiosas que<br />

procurava expressar, sobre o anjo e as luzes em suas mãos, ela mostrou os dois cristais, que agora sem<br />

as energias da fonte, não passavam de duas pedras transparentes, mas para a garota eram provas<br />

suficientes, de que não havia imaginado tudo aquilo.<br />

A notícia de sua melhora se espalhou rapidamente, e a medida que a conversa passava por cada<br />

pessoa, o seu conteúdo ia se alterando completamente, chegando a se falar absurdos acerca do<br />

acontecido, mas apenas uma pessoa dali sabia a pura verdade, era Dona Angelina, que primeiramente se<br />

admirou com os boatos, e depois reviveu os momentos da noite passada, em que ela havia ajudado<br />

Nathan, e que certamente era de alguma forma, o grande responsável por este suposto milagre.<br />

Por falar no empresário, este tomava o café da manhã tranquilamente na piscina, juntamente com todos<br />

os amigos e moradores, e já sabia da repercussão no condomínio, pois Murilo que estava à frente da<br />

organização da festa, havia recebido um telefonema de um decorador, e também se surpreendeu com a<br />

súbita melhora da moça, já que esse problema dela, poderia ser um grande entrave para o baile, e agora<br />

tudo certamente seria perfeito.<br />

Caio obviamente desconfiou do fato, ainda mais pelo sumiço da noite anterior, porem uma profunda<br />

tristeza o abateu por dentro, porque ainda restava a ele uma última missão, antes de prestar<br />

esclarecimentos a justiça, mas isso poderia esperar mais alguns dias, não queria estragar de forma<br />

alguma, este momento de felicidade do amigo.<br />

Foi um dia inesquecível para eles, sendo que a tarde passou rapidamente, e assim que o sol se pôs no<br />

horizonte, e as estrelas anunciaram uma linda noite, todos se arrumaram para a grande festa, e enquanto<br />

aguardavam os amigos descerem, Nathan se aproximou de Letícia, pegou em sua cintura, e a beijou como<br />

se fosse a primeira vez.<br />

Por volta das vinte horas, uma comitiva de três carros deixou a mansão, no primeiro seguiam quatro<br />

seguranças, no segundo dirigido por Caio, iam também Nathan, Letícia e Iris, e no terceiro dirigido por<br />

Raul, estavam Murilo, Marina, e o garoto Gabriel, que estava muito empolgado com a festa, e fez questão<br />

de ir junto ao pai, que nesta noite além de convidado, chefiava a segurança de todos eles.<br />

Era uma noite de sábado calma, e durante o longo percurso, não encontram nenhum tipo de<br />

congestionamento, e assim que se aproximaram do condomínio, ficaram admirados com o movimento do<br />

lado de fora, pois além da fila de carros na entrada da guarita, havia se instalado do lado de fora, até um<br />

pequeno comércio de mini ambulantes, e logicamente por serem os convidados principais, havia um<br />

esquema especial para recebê-los, passando por outra entrada lateral.<br />

Em lugar privilegiado no estacionamento, os aguardam dois organizadores do evento, afinal de contas,<br />

além de serem consideradas pessoas importantes, membros da alta sociedade paulistana, eram os<br />

responsáveis e benfeitores de tudo isso, e assim que desceram do carro, foram levados para dentro do<br />

recinto, onde foram acomodados em uma grande mesa, que ficava bem próximo ao palco.<br />

O Salão de festas já estava quase lotado, e já considerado antecipadamente como um sucesso, os<br />

moradores locais observavam, todos os convidados presentes ao recinto, que em sua maioria eram<br />

vizinhos próximos, dos outros dois condomínios do mesmo projeto, em que anteriormente sempre se<br />

vangloriavam, por serem muito mais estruturados, mas agora com todas as obras e melhorias, como a da<br />

piscina, de um posto médico local, e claro deste lindo salão de festas, de longe havia ficado o melhor de<br />

todos eles.<br />

A festa era open bar e buffet, já deduzidos na compra de cada ingresso, e todos os convidados se<br />

esbaldavam e se divertiam muito, e perto das vinte e três horas, aquele grupo de garotos da garagem, que<br />

tinham recebido esta grande oportunidade, das próprias mãos de seu benfeitor Nathan, deram início ao<br />

tão aguardado baile, tocando músicas boas e antigas, apropriadas ao tema principal da festa.<br />

Vendo que a maioria estava meio que tímida, Letícia pegou Nathan pelos braços, e o retirou na frente de


<strong>Caminhos</strong><br />

todos para dançar, o simples gesto tomou a reação esperada por ela, pois vendo que eles, que eram o<br />

centro principal deste evento, participavam ali como simples convidados, levou muitos a se aproximarem<br />

dos dois, e juntos dançaram e curtiram a boa música, que digamos de passagem, era tocada<br />

perfeitamente pela banda, que ao final da canção, agradeceu a todos pela sua presença, sem se esquecer<br />

de seu padrinho e mentor, o enaltecendo pela oportunidade e ajuda, e com isso Nathan foi aplaudido de<br />

pé.<br />

Não se esqueceram também de Murilo, que foi o principal idealizador de tudo isso, que depois de muitos<br />

terem passado por ali, sem resolverem questão alguma a favor dos moradores, ele se prestou sem<br />

receber nada em troca, em apenas ajuda-los na busca de soluções, e este reconhecimento por si só,<br />

certamente já o recompensava por todo o seu esforço.<br />

Assim que o casal voltou para a mesa, notou que mais quatro convidados se juntaram a eles, eram<br />

Arthur, Elisa, Dimas, e a mãe Dirce, o advogado que também ajudou muito, fez questão de trazer todos da<br />

casa, e durante um brinde especial feito por ele próprio, aproveitou que estava entre amigos, e anunciou o<br />

seu noivado com Elisa, expressando assim toda a sua felicidade.<br />

Letícia não tirava os olhos de Nathan, que por sua vez se mostrava muito ansioso, e parecia procurar<br />

por alguém pelo salão, notando isso a moça interveio:<br />

– O que foi meu amor, você parece preocupado com algo, o que foi desta vez?<br />

– Não é nada, só estou vendo se todos os moradores vieram, falando nisso, lá está a Dona Angelina, se<br />

você não se importar eu preciso falar com ela, volto em um minuto.<br />

A noiva não se incomodou, pois não havia razão para ciúmes de uma senhora, mas ela ficou bastante<br />

curiosa, e de longe ficou os vendo conversarem.<br />

– Boa noite meu rapaz, sabia que mais cedo ou mais tarde ia me procurar.<br />

– É, a senhora enxerga muita coisa, e parece ter uma grande sabedoria, a minha dúvida é se sabe<br />

guardar segredos, porque sabe que algo muito sério e importante, foi realizado na noite passada, e sei que<br />

deve ter muitas perguntas, mas infelizmente não poderei lhe explicar nada, isso pela sua própria<br />

segurança.<br />

– Não se preocupe comigo, como você mesmo disse eu enxergo longe, e certamente as coisas que<br />

vinham acontecendo com você, tem algo a ver com aquele colar que mostrou a todos, naquela entrevista<br />

que vi pela televisão, a sua sorte é que muitos atribuíram aquilo, como algo meramente financeiro, mas eu<br />

sempre soube que era algo muito especial.<br />

– Eu agradeço pela sua compreensão e ajuda, e reitero a importância de se manter em segredo, e a<br />

moça Vanessa, sabe de alguma coisa, como ela tem passado?<br />

– Porque não confere você mesmo?<br />

Ela apontou para um canto do salão, e a imagem vista por ele o surpreendeu, ela estava linda, vestida<br />

toda de azul, aparentando um semblante rejuvenescido, e isso lhe soou como uma grande realização, e<br />

com um marcante sorriso no rosto, se despediu e retornou para a mesa, e quando o relógio se aproximou<br />

da meia-noite, todos os moradores se reuniram no centro, fazendo juntos um brinde especial,<br />

comemorando esta grande virada em suas vidas.<br />

359


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 87 •<br />

Após o brindar das taças no alto, cada qual voltou para o seu lugar, mas não sem antes dar uma breve<br />

passada na mesa, de seus mais ilustres convidados, agradecendo-os pessoalmente por tudo, e Nathan<br />

fazia questão de demonstrar claramente, que tudo isso era fruto de um grande trabalho, que cada um teve<br />

sua parcela de contribuição.<br />

A festa estava tão boa, tão contagiante, que a horas passaram sem ser notadas, e perto das duas horas<br />

da manhã, uma comitiva de três carros deixaram o local, eram nossos amigos e seus seguranças,<br />

retornando tranquilamente para casa, onde boa parte do longo trajeto, ambos guardavam silêncio pelo<br />

cansaço, mas que foi quebrado por Letícia.<br />

– Nunca vi vocês assim tão calmos e tão tranquilos, será que enfim teremos um pouco de paz?<br />

Antes de falar qualquer coisa, Nathan olhou para Caio, e este desviou o olhar para fora do carro, dando<br />

a entender que isso ainda não era o fim, e que ainda havia algum tipo de pendência, mas mesmo assim<br />

abriu um largo sorriso, e respondeu para a amada:<br />

– Quem sabe, o que importa de verdade é o momento, e penso que todos estamos felizes, mas nada<br />

dura para sempre, isso eu posso te garantir.<br />

– Não necessariamente, pois o meu amor por você vai ser eterno, eu prometo isso a você!<br />

Enquanto os dois se beijavam, o amigo olhava triste para o horizonte, até que adormeceu assim como<br />

os outros, e só foram acordar nos portões da mansão, sendo que cada qual seguiu para o seu quarto,<br />

menos Caio, que ainda ficou vagando pela propriedade, até que a exaustão o dominou, encerrando esta<br />

longa madrugada.<br />

Algumas semanas se passaram, e muitas coisas aconteceram neste período, como por exemplo, a<br />

união de Carlos Renato e Josie, que se casaram formalmente em Dubai, perante apenas a um Juiz, e<br />

algumas testemunhas, além de um convidado muito especial, que era o ilustríssimo Sheik Mahdi Jasir, que<br />

fez questão de pagar todas as despesas, inclusive da grande festa do matrimonio, que aí sim tinha<br />

presença maciça, que na maioria eram formados por arquitetos, engenheiros e colaboradores do projeto.<br />

A moça estava linda e radiante, e certamente era o centro de todas as atenções, e por alguns segundos<br />

ela viajou no tempo, lembrando vagamente de suas noites na boate, onde também atraía todos os olhares,<br />

mas agora era tudo muito diferente, e se sentia plenamente realizada, e ao seu lado Carlos Renato,<br />

esbanjava felicidade por tudo alcançado, se sentindo totalmente vitorioso, e passaria os próximos cinco<br />

anos, trabalhando para a equipe do Sheik árabe.<br />

Nos Estados Unidos, perante a um forte esquema policial, Austin Black, Alba, e os outros prisioneiros,<br />

que faziam parte da extinta organização criminosa, foram julgados pela suprema corte americana,<br />

pegando em média vinte anos de cadeia, e assim que se encerrou a audiência, ambos foram entregues a<br />

suas respectivas penitenciárias, onde teriam muito tempo para refletir, e quem sabe se arrependerem de<br />

seus atos.<br />

Por falar em prisioneiros, aqui no Brasil outros detentos foram a julgamento, entre eles estavam Militão e<br />

Situação, que por já não serem mais réus primários, pegaram doze anos de cadeia pelo roubo, já Otto<br />

levou uma pena mais pesada, pois perante as provas apresentadas pela promotoria, onde todos<br />

os indícios apontavam para ele, foi acusado formalmente pela morte de Nicolas, e no final a justiça acabou<br />

prevalecendo.<br />

No Brasil, o Grupo Etros havia se erguido, com diversos novos contratos, inclusive mais um nos<br />

Emirados Árabes, Justamente repassado por Carlos Renato, que agora era um dos braços direitos do<br />

Sheik, fizeram com que as ações subissem ao topo, sempre sob a direção marcante de Murilo, que estava<br />

noivo da colecionadora Marina, e ao lado de seu assessor e amigo Diego, faziam uma perfeita<br />

360


<strong>Caminhos</strong><br />

administração, logicamente contando com a eficiência de Bianca, que já estava prestes a dar a luz, e já<br />

havia se conformado com toda as circunstâncias, e agora focava no trabalho e em seu filho.<br />

Outro que se sentia muito realizado, era o doutor Estevam, que deu por encerrado o caso de Nathan, e<br />

estava maravilhado com as novas descobertas, se aprofundando ainda mais em estudos, neste vasto e<br />

misterioso campo da hipnose, onde com certeza absoluta, haverá de se consagrar ainda mais na<br />

profissão.<br />

Falando no empresário, um pouco antes do anoitecer daquele dia, chamou Letícia e Caio até a<br />

biblioteca, e com um tom de muita seriedade, falou aos dois abertamente:<br />

– Estas semanas foram maravilhosas, mas agora é a hora de pôr o pé no chão, de falarmos toda a<br />

verdade, Caio você é muito previsível, e sei que vem escondendo algo desde a sua volta, me responda<br />

francamente, qual foi o trato que fez, quanto tempo eu ainda tenho?<br />

Letícia se espantou com a colocação, e rapidamente os indagou:<br />

– Sobre o que estão falando, o que isso quer dizer?<br />

Caio colocou as mãos na cabeça, e como muito jeito explicou tudo a eles:<br />

– Digamos que já desconfiava que houvesse percebido, a ordem quer que entregue a fonte, e como um<br />

acordo, te concederão mais alguns anos, eles afirmam veemente, que nenhum ser humano pode ter a vida<br />

prolongada, que isso é injusto perante aos demais, e que se não acatar esta decisão, outros virão para<br />

executar a sentença.<br />

Novamente Letícia se atemorizou, e quase sem voz pelo nervosismo, exigiu uma explicação:<br />

– Como assim alguns anos, não poderá viver mais depois disso?<br />

– Tenha calma meu amor, eu já contava com essa, achei até que não me dariam tempo algum, temos de<br />

concordar que eles estão com a razão, e eu me submeto aos termos colocados, desde que sejam<br />

preservados todos os outros envolvidos, vou me preparar para a entrega da fonte, e também das demais<br />

relíquias.<br />

Enquanto o amigo estava admirado com sua coragem, a noiva ficou pasma e sem reação alguma, é<br />

como se ela não quisesse acreditar, que depois de travar todas estas batalhas, seria assim o seu desfecho<br />

final.<br />

Agora Letícia começava a entender, porque Nathan nunca lhe prometera algo, é como se no fundo ele<br />

soubesse, que algum dia haveria este acerto de contas, só não esperava que fosse agora, em um de seus<br />

momentos mais felizes, justamente por ter encontrado amigos sinceros, e o amor que esperou por toda a<br />

vida.<br />

Caio sentindo que devia deixá-los a sós, se retirou para a sala, e tratou logo de preparar uma bebida<br />

forte, precisava assimilar toda aquela dura conversa, mesmo sabendo tudo de antemão, parecia que a<br />

ficha caia somente agora, pois acima de qualquer coisa, além de um grande amigo, ele considerava<br />

Nathan como a um irmão.<br />

As palavras faltaram aos dois, e houve um profundo silêncio entre eles, restou ao casal a troca de<br />

carinhos, divididos com lágrimas que escorriam nos rostos, e ali naquele momento crucial em suas vidas,<br />

era evidente que o amor falava mais alto.<br />

Arthur e Elisa estavam de férias em Cancun, tinham tirado um tempo só para eles, e apesar de já tê-la<br />

pedido em casamento, acreditavam que deveriam aproveitar um pouco mais o namoro, e porque ela<br />

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<strong>Caminhos</strong><br />

queria terminar a faculdade, se tornando também uma advogada, considerando que isso seria a parceria<br />

perfeita.<br />

Duarte e Marina continuavam em Maragogi, e mais tarde saberiam a respeito da ordem, e da devolução<br />

de seus objetos de pesquisas, isso os deixaram muito entristecidos, porém a notícia que o pai havia sido<br />

considerado inocente, e que a justiça havia liberado todos os seus bens, os fizeram enxergar um futuro<br />

novo, recheado de diversas expectativas e possibilidades, perante as descobertas que haviam realizado.<br />

Ela e Murilo estavam firmes no relacionamento, e com o recente nascimento do filho, o presidente do<br />

grupo, se dividia em cuidar da criança, da namorada, e dos negócios da empresa, mas sempre arrumava<br />

um tempinho, para as escapadas ao bar e jogos de futebol, sempre ao lado de seu fiel amigo Diego, que<br />

acabou criando um pouco de juízo, e também arrumou uma namorada fixa.<br />

Juliano estava se sentindo realizado, além de um futuro promissor no trabalho, o seu relacionamento<br />

com Regina havia amadurecido, e eles já se tratavam como marido e mulher, a felicidade do casal era<br />

muito evidente, algo que contagiava os vizinhos e amigos, que davam quase que certo, que era algo sério<br />

e duradouro.<br />

A garota Vanessa se sentindo melhor, viajou para ver a sua família, e quase os matou de susto com a<br />

visita, e quando atribuíam o fato como sendo um milagre, ela lhes contava sobre a visita do anjo,<br />

mostrando-lhes os dois cristais transparentes, e após uma semana como os pais, ela viajou novamente,<br />

desta vez rumo aos Estados Unidos, e se encontrou com Leonardo, que se surpreendeu quando a viu<br />

recuperada.<br />

– Não estou acreditando, você por aqui, achei que tivesse me esquecido...<br />

– É por isso que estou aqui, para te mostrar que não te esqueci!<br />

– Você está linda e perfeita como sempre, mas apresenta um aspecto diferente, o que houve?<br />

– Seu te contar você não vai acreditar, aliás, ninguém acredita mesmo, mas agora eu quero saber é de<br />

você, como se sente, o tratamento está dando resultado?<br />

– Eu estou bem, os exames feitos aqui revelaram, que o tumor não evoluiu no organismo, e que nas<br />

últimas semanas, com a aplicação de novos remédios, houve uma redução considerável, e pelo que<br />

parece até agora, tudo indica que vou me curar.<br />

– Nossa, eu nem acredito no que está acontecendo, parece um sonho, me lembra quando deitávamos<br />

no jardim do condomínio, e ficávamos imaginando com um possível futuro, é mesmo meio que surreal!<br />

Os dois se abraçaram, e Silva como mãe zelosa, que sempre estava ao lado do filho, acompanhou este<br />

lindo e marcante encontro, não conseguindo conter as lágrimas, se levantando e abraçando o jovem casal,<br />

acreditando que a partir de agora, tudo seria diferente em suas vidas, ainda mais que os médicos<br />

americanos, haviam liberado Leonardo para se tratar no Brasil, indicando aos especialistas brasileiros, o<br />

tratamento e remédios adequados para ele.<br />

Os pais de Letícia haviam desembarcado no Brasil, Jorge e Eleonora tinham um motivo especial, isso<br />

porque mesmo sabendo de seu destino, a professora quis se casar como o seu amado, com isso, aquele<br />

pedido de casamento informal, feito num caís debaixo de chuva, na passagem pela cidade de Paraty,<br />

havia se efetivado oficialmente, e estava marcado para o próximo fim de semana.<br />

Foram dias intensos para eles, tanto os preparativos da cerimônia, quanto as expectativas para o<br />

compromisso, os motivaram fazendo esquecer de tudo, e de acordo com um combinado entre eles, neste<br />

período ficaram sem se ver complemente, trazendo um ambiente super-romântico, fazendo com que a<br />

saudade fortalece esta paixão.<br />

362


<strong>Caminhos</strong><br />

Passados estes dias, enfim chegou o momento de se unirem, da troca de alianças, não tão somente de<br />

objetos forjados de ouro, e sim da aliança de cumplicidade, de afeto, do carinho, e a amizade entre os<br />

dois, de uma mágica invisível chamada amor, momento raro de felicidade, e na presença dos padrinhos,<br />

familiares, e amigos, eles se casaram.<br />

Depois da cerimônia na Igreja, já no recinto da grande festa, chegou o momento mais esperado por<br />

todos, que era a hora de cortar o bolo, mas antes deste ato simbólico, houve uma jura de amor entre os<br />

dois, onde Nathan fez uma importante pergunta a Letícia.<br />

– Promete que vai me amar, até os meus últimos dias?<br />

– Prometo de todo o meu coração, que te amarei por toda a eternidade!<br />

Perante os olhares de todos os presentes, sem demonstrar pressa alguma, ele segurou com as mãos<br />

em seu rosto, olhou profundamente em seus olhos, querendo aproveitar ao máximo, cada segundo deste<br />

fascinante momento, e depois selou esta maravilhosa união, com um longo beijo apaixonado.<br />

363


<strong>Caminhos</strong><br />

• Capítulo 88 •<br />

Depois destas lindas palavras de amor, muitos gritaram e aplaudiram, dando incentivos ao lindo casal, e<br />

tão logo seus lábios se separaram, ela se virou para a mesa, cortou o primeiro pedaço de bolo, e<br />

brincando com muitos dos convidados, ficou apontando para quem seria o primeiro pedaço, e acabou<br />

escolhendo aquele ao qual ambos amavam, que era o menino Gabriel, que foi o laço inicial entre os dois.<br />

Caio ficou apenas observando, enquanto Iris e Raul, que eram um dos padrinhos, foram os primeiros a<br />

lhes cumprimentar, em seguida outros também se aproximaram, inclusive as amigas Dulce e Amanda.<br />

– Meus parabéns Letícia, tudo está perfeito e maravilhoso!<br />

– É verdade amiga, agora conta só para nós duas, e a lua de mel vai ser onde?<br />

– Prometemos um ao outro não revelar a ninguém, mas para as minhas melhores amigas, eu abro uma<br />

pequena exceção. (Risos)<br />

– Então conta logo, a curiosidade está nos matando!<br />

– Tudo bem, eu conto, nós vamos para Paris, vamos recomeçar de onde nós paramos, do local que se<br />

confirmou este amor verdadeiro, ao qual sentimos fortemente um pelo outro, e aproveito para agradecer<br />

vocês duas, pela amizade e grande lealdade, sei que lutaram por mim na minha ausência, e sou muito<br />

grata por isso!<br />

As três se abraçaram muito, e também choraram juntas, eram lágrimas antecipadas de saudades, mas<br />

havia uma promessa feita a elas, que um dia retornaria à instituição, retomando as atividades com as<br />

crianças da favela, mas antes queria curtir seu casamento, e simplesmente ser muito feliz.<br />

A cerimônia foi realizada numa tarde de sábado, e assim que as primeiras estrelas pintaram o céu,<br />

espalhando o seu manto de luz pelo infinito, os dois se despediram dos pais de Letícia, e também dos<br />

amigos mais íntimos, e por volta das vinte horas, foram levados ao aeroporto por Raul, pegando lá o seu<br />

jatinho particular, decolando rumo a capital francesa, onde poderiam se amar plenamente, e ter a paz que<br />

tanto almejavam.<br />

Durante o voo, após um brinde com champanhe, ele colocou no pescoço da esposa, o lindo colar azul<br />

de sua coleção, explicando a ela com os mínimos detalhes, que este pertencera a sua mãe, e que não se<br />

tratava de uma joia preciosa, que o seu valor era apenas sentimental, e Letícia muito sorridente, afirmou<br />

que seria uma grande honra usá-lo.<br />

Na semana seguinte a vida seguiu normalmente, e acatando um pedido deixado por Nathan, Marina e<br />

Duarte fizeram alguns preparativos, um deles foi a compra de dezenas de cristais, que foram moldados<br />

com a energia da fonte, manipulados com muita presteza por eles, em seguida foram embalados em<br />

pequenas caixas, e colocadas para envio no correios, cada qual com um destino diferente, e ao final<br />

lacraram a caixa dourada, e aguardaram um grupo de homens da ordem, que vieram e a levaram embora,<br />

com a promessa de destruírem o artefato, despertando decepção e tristeza ao colecionadores, que agora<br />

retomariam antigos projetos no Antiquário.<br />

Dias depois as caixas chegavam aos destinatários, e junto a elas um bilhete de Nathan, explicando se<br />

tratar de um presente, um talismã de sorte e saúde, e sem imaginar do que se tratava realmente, a maioria<br />

acreditava ser um simples amuleto, e mesmo sentindo melhoras em suas dores e doenças, creditaram<br />

tudo isso simplesmente ao acaso, menos Dona Angelina, que compreendeu logo de cara, o que as<br />

relíquias realmente faziam, vindo a entender perfeitamente, o que se passou com Vanessa.<br />

Dentre os que receberam estes cristais, além dos dois colecionadores, e os já citados anteriormente,<br />

estavam Iris, Arthur, Estevam, Murilo, as amigas Dulce e Amanda, o síndico Xavier, e logicamente seu<br />

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<strong>Caminhos</strong><br />

grande amigo Caio, e no final restaram apenas algumas, ao qual pretendia dividir com Letícia, até o prazo<br />

estipulado pela ordem.<br />

Caio se apresentou as autoridades da Interpol, munido de vários documentos, provando que era um<br />

agente filiado a eles, infiltrado para desmembrar a organização criminosa, e que em uma destas ações, ele<br />

e um outro agente empenhado nesta tarefa, vieram a abater os lideres Heloise e Parker, e após horas de<br />

depoimento, os dois foram liberados, e cada um retornou ao seu país de origem, porém com a missão<br />

cumprida e tudo esclarecido, cabia a ele recomeçar a sua vida, vivendo junto daqueles que amava.<br />

Nathan e Letícia viviam em Paris, os melhores dias de suas vidas, e juntos resolveram estender a lua de<br />

mel, comprando uma linda casa no centro, passando a morar na cidade Luz, e com isso um ano se<br />

passou, e com o natal se aproximando, debaixo da fina neve parisiense, ela revelou-lhe algo<br />

surpreendente e inesperado, estava grávida de cinco semanas, e esta notícia trouxe uma grande<br />

expectativa, porque haveria de ficar um herdeiro, uma prova atual de sua longa existência.<br />

Com isso decidiram retornar ao Brasil, e a notícia logo se espalhou aos amigos, mas apenas Caio e<br />

Letícia sabiam sobre o prazo, e como a energia dos cristais estavam se esgotando, Nathan começou a<br />

envelhecer rapidamente, começando a sentir o peso de sua verdadeira idade, porque o tempo e espaço<br />

não se ajustavam mais, porém isso não o impediu de lutar e de se tratar, e devido a tudo isso, ele<br />

conseguiu viver por mais dois anos, tempo de ver o filho Nathan Junior nascer, a dar os primeiros passos,<br />

e até falar a palavra papai.<br />

Houve também uma pequena reunião, com todos os seus amigos mais íntimos, entre eles estavam Iris,<br />

Raul, Gabriel, Marina, Duarte, Arthur, Murilo, e Elvira, ambos estranhavam os seus cabelos brancos, e as<br />

rugas espalhadas pela face, mas acreditando ser algum tipo de doença rara, ninguém ousou especular<br />

sobre o assunto, e ao se despedir de cada um, recebeu palavras de conforto e de melhoras, e Nathan<br />

agradeceu a afetuosa e sincera amizade de todos.<br />

Ele também fez um testamento, onde deixava parte de suas posses aos amigos, não se esquecendo de<br />

ninguém, deixando amparado a ONG, e todas as entidades beneficiadas pelas empresas, e por último a<br />

mansão, esta fez questão absoluta, que ficasse com a família de Gabriel.<br />

Em meados de agosto, ele veio a falecer subitamente, deixando para trás todo o seu legado, pelos<br />

vastos caminhos que percorreu, nesta longa jornada de sua vida, ficando o seu imenso rastro de luz, não<br />

de suas relíquias abastecidas pela fonte, e sim da que continha dentro de si próprio, por ser um ser<br />

humano exemplar e maravilhoso, deixando a sua própria marca, para que seguissem o seu exemplo de<br />

vida.<br />

A mensagem deixada por esta história, é muito simples e direta, ela fala claramente aos nossos<br />

corações, para quando nos encontrarmos em encruzilhadas, procuremos escolher as direções certas, que<br />

nos levem a luz, que nos tragam a paz almejada, e a sabedoria para repartir todas as coisas, com todos os<br />

que cruzarem nossos caminhos...<br />

F I M<br />

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