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Política<br />
Corrupção: O que mudou?<br />
Há sete meses, em 31 de agosto de 2016, Dilma saía em definitivo do<br />
governo e Michel Temer era efetivado no cargo. As ruas gritaram e o<br />
Congresso atendeu. Mas e a corrupção? Acabou?<br />
Texto e diagramação: Denys de Freitas<br />
São 11 meses de Michel Temer<br />
como presidente do Brasil,<br />
contando com o período em<br />
que ele esteve na presidência interinamente.<br />
Dilma Roussef, reeleita<br />
em 2014, sofreu o impeachment<br />
por causa das pedaladas fiscais.<br />
Todo o processo foi amplamente<br />
apoiado por grande parte da<br />
população, que manifestou, nas<br />
ruas e em suas casas, com panelas.<br />
Decididas a lutar contra a<br />
corrupção, as pessoas entoavam<br />
“Primeiro a Dilma, depois o resto”.<br />
Mas quase um ano após a saída<br />
da presidente, escândalos de corrupção<br />
não cessaram e ministros<br />
do atual governo estão em listas<br />
de delações da Operação Lava<br />
Jato, inclusive o próprio Temer.<br />
A participação popular cresceu<br />
nestes anos de luta contra o governo<br />
Dilma e a corrupção. Nas redes<br />
sociais, nas ruas, nas salas de<br />
aula, o tema política ganhou força e<br />
passou a ser mais discutido. A esquerda<br />
e a direita passaram a ser<br />
debatidas, às vezes até com discursos<br />
de ódio dos dois lados. Mas<br />
em função destes posicionamentos<br />
opostos, vários são os entendimentos<br />
sobre as mudanças que ocorreram<br />
após o impeachment, sejam<br />
eles em relação à conjuntura política<br />
atual, sobre os projetos do presidente<br />
Michel Temer, ou à corrupção.<br />
A Lava Jato trouxe à tona escândalos<br />
de corrupção que contribuíram<br />
para o despertar da população,<br />
que com desejo de justiça, foi às<br />
ruas exercer o seu direito à democracia.<br />
Apesar de que mesmo com<br />
a continuidade da operação, que<br />
cada vez traz mais nomes de políticos<br />
envolvidos com corrupção,<br />
10 | <strong>Abril</strong> <strong>2017</strong><br />
após o impeachment houve uma<br />
diminuição de manifestações e de<br />
pessoas presentes nas mesmas.<br />
“<br />
Infelizmente as manifestações<br />
serviram<br />
apenas para favorecer<br />
uma ala política, não<br />
serviu de fato para<br />
atender aos clamores<br />
que foram levantados<br />
nos protestos.”<br />
Eder Felipe Bueno<br />
Advogado<br />
Existem algumas contradições<br />
quanto à espontaneidade das manifestações,<br />
em 2016, que podem<br />
explicar o baixo número atual. Em<br />
2013, junto com os grandes protestos,<br />
surgiram alguns movimentos<br />
que foram responsáveis, muitas<br />
vezes, por convocar a população<br />
para as ruas. O Movimento Brasil<br />
Livre (MBL) é o maior deles e ainda<br />
organiza ações após a queda<br />
de Dilma, mas, agora, com pautas<br />
mais plurais, que no entendimento<br />
da coordenadora do MBL Goiás,<br />
Ana Carla Maia, podem explicar a<br />
redução no número de pessoas.<br />
“Um possível motivo poderia ser o<br />
desânimo generalizado das pessoas<br />
e a falta de uma pauta e um inimigo<br />
mais específico, como foi o caso<br />
do impeachment da Dilma”, afirma.<br />
Para algumas pessoas o que<br />
há na verdade é uma mudança na<br />
abordagem da mídia, após o impeachment,<br />
em relação à corrupção.<br />
A direita e a esquerda reclamam<br />
da cobertura superficial que é feita<br />
nas manifestações, onde o foco<br />
das notícias não fica no protesto<br />
em si, e do tratamento dado ao<br />
tema corrupção. O presidente da<br />
Central Única dos Trabalhadores<br />
no Estado de Goiás (CUT-GO),<br />
Mauro Rubem, considera que hoje<br />
as pessoas se preocupam mais<br />
com o combate a corrupção, mas<br />
que não há uma ação efetiva para<br />
passar o Brasil a limpo. “No fundo,<br />
a justificativa para afastarem a presidente<br />
Dilma era que a corrupção<br />
é o grande mal do Brasil, mas isso<br />
acabou se provando falso porque<br />
na verdade o que a gente está<br />
vendo é uma investigação dirigida<br />
para um partido apenas”, declara.<br />
O pensamento sobre favorecimento<br />
a um dos lados é recorrente<br />
na cabeça dos eleitores. Mesmo<br />
quem apoiou o impeachment da<br />
presidente Dilma Roussef hoje tem<br />
receios quanto ao tratamento que<br />
vem sendo dado aos assuntos relacionados<br />
à corrupção. O professor<br />
de teologia Ivan Afonso, assumido<br />
de direita, tem preocupações quanto<br />
à mídia. “Vamos pegar o caso da<br />
rede Globo, ela escolheu arrebentar<br />
o PT. Agora, qual a notoriedade<br />
que ela tem dado para a corrupção<br />
no governo Temer?”. O advogado<br />
Eder Felipe Bueno problematiza se<br />
a voz das ruas realmente foi atendida:<br />
“Infelizmente as manifestações<br />
serviram apenas para favorecer<br />
uma ala política, não serviu de fato<br />
para atender aos clamores que<br />
foram levantados nos protestos”.