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Revista Entrelinhas - Abril 2017

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Política<br />

Corrupção: O que mudou?<br />

Há sete meses, em 31 de agosto de 2016, Dilma saía em definitivo do<br />

governo e Michel Temer era efetivado no cargo. As ruas gritaram e o<br />

Congresso atendeu. Mas e a corrupção? Acabou?<br />

Texto e diagramação: Denys de Freitas<br />

São 11 meses de Michel Temer<br />

como presidente do Brasil,<br />

contando com o período em<br />

que ele esteve na presidência interinamente.<br />

Dilma Roussef, reeleita<br />

em 2014, sofreu o impeachment<br />

por causa das pedaladas fiscais.<br />

Todo o processo foi amplamente<br />

apoiado por grande parte da<br />

população, que manifestou, nas<br />

ruas e em suas casas, com panelas.<br />

Decididas a lutar contra a<br />

corrupção, as pessoas entoavam<br />

“Primeiro a Dilma, depois o resto”.<br />

Mas quase um ano após a saída<br />

da presidente, escândalos de corrupção<br />

não cessaram e ministros<br />

do atual governo estão em listas<br />

de delações da Operação Lava<br />

Jato, inclusive o próprio Temer.<br />

A participação popular cresceu<br />

nestes anos de luta contra o governo<br />

Dilma e a corrupção. Nas redes<br />

sociais, nas ruas, nas salas de<br />

aula, o tema política ganhou força e<br />

passou a ser mais discutido. A esquerda<br />

e a direita passaram a ser<br />

debatidas, às vezes até com discursos<br />

de ódio dos dois lados. Mas<br />

em função destes posicionamentos<br />

opostos, vários são os entendimentos<br />

sobre as mudanças que ocorreram<br />

após o impeachment, sejam<br />

eles em relação à conjuntura política<br />

atual, sobre os projetos do presidente<br />

Michel Temer, ou à corrupção.<br />

A Lava Jato trouxe à tona escândalos<br />

de corrupção que contribuíram<br />

para o despertar da população,<br />

que com desejo de justiça, foi às<br />

ruas exercer o seu direito à democracia.<br />

Apesar de que mesmo com<br />

a continuidade da operação, que<br />

cada vez traz mais nomes de políticos<br />

envolvidos com corrupção,<br />

10 | <strong>Abril</strong> <strong>2017</strong><br />

após o impeachment houve uma<br />

diminuição de manifestações e de<br />

pessoas presentes nas mesmas.<br />

“<br />

Infelizmente as manifestações<br />

serviram<br />

apenas para favorecer<br />

uma ala política, não<br />

serviu de fato para<br />

atender aos clamores<br />

que foram levantados<br />

nos protestos.”<br />

Eder Felipe Bueno<br />

Advogado<br />

Existem algumas contradições<br />

quanto à espontaneidade das manifestações,<br />

em 2016, que podem<br />

explicar o baixo número atual. Em<br />

2013, junto com os grandes protestos,<br />

surgiram alguns movimentos<br />

que foram responsáveis, muitas<br />

vezes, por convocar a população<br />

para as ruas. O Movimento Brasil<br />

Livre (MBL) é o maior deles e ainda<br />

organiza ações após a queda<br />

de Dilma, mas, agora, com pautas<br />

mais plurais, que no entendimento<br />

da coordenadora do MBL Goiás,<br />

Ana Carla Maia, podem explicar a<br />

redução no número de pessoas.<br />

“Um possível motivo poderia ser o<br />

desânimo generalizado das pessoas<br />

e a falta de uma pauta e um inimigo<br />

mais específico, como foi o caso<br />

do impeachment da Dilma”, afirma.<br />

Para algumas pessoas o que<br />

há na verdade é uma mudança na<br />

abordagem da mídia, após o impeachment,<br />

em relação à corrupção.<br />

A direita e a esquerda reclamam<br />

da cobertura superficial que é feita<br />

nas manifestações, onde o foco<br />

das notícias não fica no protesto<br />

em si, e do tratamento dado ao<br />

tema corrupção. O presidente da<br />

Central Única dos Trabalhadores<br />

no Estado de Goiás (CUT-GO),<br />

Mauro Rubem, considera que hoje<br />

as pessoas se preocupam mais<br />

com o combate a corrupção, mas<br />

que não há uma ação efetiva para<br />

passar o Brasil a limpo. “No fundo,<br />

a justificativa para afastarem a presidente<br />

Dilma era que a corrupção<br />

é o grande mal do Brasil, mas isso<br />

acabou se provando falso porque<br />

na verdade o que a gente está<br />

vendo é uma investigação dirigida<br />

para um partido apenas”, declara.<br />

O pensamento sobre favorecimento<br />

a um dos lados é recorrente<br />

na cabeça dos eleitores. Mesmo<br />

quem apoiou o impeachment da<br />

presidente Dilma Roussef hoje tem<br />

receios quanto ao tratamento que<br />

vem sendo dado aos assuntos relacionados<br />

à corrupção. O professor<br />

de teologia Ivan Afonso, assumido<br />

de direita, tem preocupações quanto<br />

à mídia. “Vamos pegar o caso da<br />

rede Globo, ela escolheu arrebentar<br />

o PT. Agora, qual a notoriedade<br />

que ela tem dado para a corrupção<br />

no governo Temer?”. O advogado<br />

Eder Felipe Bueno problematiza se<br />

a voz das ruas realmente foi atendida:<br />

“Infelizmente as manifestações<br />

serviram apenas para favorecer<br />

uma ala política, não serviu de fato<br />

para atender aos clamores que<br />

foram levantados nos protestos”.

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