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concentração de postos de alta r<strong>em</strong>uneração no centro<br />
do DF e do fluxo de carros das cidades centrais.<br />
Descentralizar o <strong>em</strong>prego melhor r<strong>em</strong>unerado t<strong>em</strong> se<br />
mostrado difícil. Dessa forma, pensar <strong>em</strong> medidas<br />
que aument<strong>em</strong> a atratividade do transporte público<br />
coletivo nas áreas mais ricas (mais informação sobre<br />
itinerários e horários; racionalização dos itinerários)<br />
e que desestimul<strong>em</strong> o uso do carro (cobrança de estacionamentos;<br />
punição para uso de vagas irregulares)<br />
seriam importantes para atenuar os probl<strong>em</strong>as<br />
de congestionamento das vias nas áreas centrais da<br />
cidade. Essas são medidas tomadas <strong>em</strong> várias partes<br />
do mundo, com resultados positivos.<br />
Mobilidade Ativa no DF<br />
Ir a pé ou de bicicleta para o <strong>em</strong>prego é uma benção<br />
ou uma maldição? Usualmente tend<strong>em</strong>os a pensar<br />
que morar perto do local de trabalho é cômodo, conveniente<br />
e que estimula uma vida mais saudável, menos<br />
sedentária, permitindo que as pessoas and<strong>em</strong> ou<br />
us<strong>em</strong> a bicicleta para ir trabalhar. Isso pode ser meia<br />
verdade. De fato, quando o cidadão t<strong>em</strong> a capacidade<br />
de escolha sobre onde morar e onde trabalhar, e opta<br />
por encurtar essa distância, permitindo se locomover<br />
através de modais não-motorizados, então é uma benção.<br />
Mas, se um cidadão está preso a uma região <strong>em</strong><br />
que só pode chegar ao trabalho a pé, s<strong>em</strong> ter acesso<br />
ou poder arcar com um transporte que o leve a centros<br />
com melhores <strong>em</strong>pregos, usar modos ativos de<br />
mobilidade trata-se de uma necessidade e uma restrição.<br />
Para qu<strong>em</strong> só conta com a própria força física<br />
para se locomover, as opções de trabalho são menores,<br />
pois o alcance a <strong>em</strong>pregos fica restrito a uma área<br />
geográfica mais reduzida. Isso é test<strong>em</strong>unho do papel<br />
imprescindível do transporte público para ampliação<br />
das oportunidades de <strong>em</strong>prego.<br />
A mobilidade ativa envolve modos de locomoção<br />
não-motorizados, como andar a pé, de bicicleta ou<br />
qualquer outro meio que faça uso da força física do<br />
ser humano. No DF, há padrões bastante claros e que<br />
r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> à uma situação na qual o uso da mobilidade<br />
ativa ass<strong>em</strong>elha-se mais a um caso de restrição, de<br />
maldição do que de benção.<br />
Em primeiro lugar, é interessante notar que ir a pé é a<br />
terceira forma mais comum de locomoção entre casa e<br />
trabalho no DF. Aproximadamente 10% dos trabalhadores<br />
usam esse meio. Prevalece o uso do automóvel<br />
(41%) e do ônibus (38%), os d<strong>em</strong>ais meios somados<br />
(metrô, bicicleta, motocicleta e utilitário) somam apenas<br />
11%. Entre os meios de mobilidade ativa, andar a<br />
pé é o mais comum. Vale registrar que apenas 1% da<br />
população do DF afirma usar a bicicleta para se locomover<br />
ao trabalho.<br />
Qu<strong>em</strong> vai a pé ao trabalho é o morador de cidades<br />
com renda mais baixa que trabalha na própria cidade<br />
de moradia. Quando dividimos as Regiões Administrativas<br />
do Distrito Federal por faixa de renda,<br />
para o grupo 1 (com renda média domiciliar acima<br />
de 10 mil reais) e o grupo 2 (entre 5 e 10 mil reais)<br />
o principal meio de transporte é o automóvel. Para<br />
os grupos 3 (entre 2500 e 5 mil reais) e 4 (com renda<br />
média abaixo de 2500 reais) o uso do ônibus é<br />
predominante. Contudo, no grupo 1, 5% diz ir a pé<br />
ao trabalho enquanto que no grupo 4, <strong>16</strong>% vão a pé.<br />
Ou seja, a mobilidade ativa é subutilizada entre os<br />
moradores de cidades de renda alta e sobre utilizada<br />
nas de renda mais baixa, <strong>em</strong> comparação com a frequência<br />
geral do DF (10%).<br />
Dos 95% que andam a pé e 70% dos que vão de bicicleta<br />
ao <strong>em</strong>prego, estes trabalham na própria cidade<br />
<strong>em</strong> que moram. Quando alguém trabalha <strong>em</strong> uma cidade<br />
distinta da que reside, quase nunca vai a pé ou de<br />
bicicleta. Nesse caso, o uso da bicicleta é um pouco<br />
mais frequente, são 12%, frente a 5% dos que andam.<br />
As pessoas com menor escolaridade são as que tend<strong>em</strong><br />
ir a pé ou de bicicleta ao trabalho.<br />
Ou seja, aqueles que usam a mobilidade ativa para se<br />
locomover ao trabalho estão restritos a regiões com<br />
<strong>em</strong>pregos menos r<strong>em</strong>unerados e de mais baixa qualificação.<br />
A mobilidade ativa não parece ser uma escolha,<br />
mas uma necessidade.<br />
Contudo, transformar essa realidade, ampliando o uso<br />
da mobilidade ativa nas áreas com maior renda é plausível;<br />
89% da população ocupada moradora do Plano<br />
Piloto trabalha nessa mesma cidade e 80% da população<br />
ocupada residente no Sudoeste/Octogonal trabalha<br />
no Plano Piloto. Como morar perto do trabalho é o padrão<br />
para se usar a mobilidade ativa, há grande potencial<br />
para se estimular modais não motorizadas nessas<br />
regiões. Se uma parte dessas populações passasse a<br />
usar a bicicleta ou ir a pé ao trabalho, teríamos menos<br />
carros nas ruas. Assim, melhorar e ampliar ciclovias<br />
e calçadas são medidas importantes nas políticas de<br />
mobilidade urbana. Adequações nos locais de trabalho,<br />
com a instalação de bicicletários e de vestiários<br />
facilitariam o uso da mobilidade ativa. Além disso,<br />
como já foi dito antes, reduzir os incentivos para o uso<br />
do carro, com cobrança de estacionamentos e punição<br />
para o uso de vagas irregulares também estimularia o<br />
uso de modais não-motorizados.<br />
O DF deveria caminhar nessa direção. ■<br />
(*) Lucio Rennó<br />
Presidente da Codeplan<br />
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<strong>Brasília</strong> <strong>em</strong> <strong>Debate</strong>