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Brasília em Debate Revista 16 20-06-2017

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concentração de postos de alta r<strong>em</strong>uneração no centro<br />

do DF e do fluxo de carros das cidades centrais.<br />

Descentralizar o <strong>em</strong>prego melhor r<strong>em</strong>unerado t<strong>em</strong> se<br />

mostrado difícil. Dessa forma, pensar <strong>em</strong> medidas<br />

que aument<strong>em</strong> a atratividade do transporte público<br />

coletivo nas áreas mais ricas (mais informação sobre<br />

itinerários e horários; racionalização dos itinerários)<br />

e que desestimul<strong>em</strong> o uso do carro (cobrança de estacionamentos;<br />

punição para uso de vagas irregulares)<br />

seriam importantes para atenuar os probl<strong>em</strong>as<br />

de congestionamento das vias nas áreas centrais da<br />

cidade. Essas são medidas tomadas <strong>em</strong> várias partes<br />

do mundo, com resultados positivos.<br />

Mobilidade Ativa no DF<br />

Ir a pé ou de bicicleta para o <strong>em</strong>prego é uma benção<br />

ou uma maldição? Usualmente tend<strong>em</strong>os a pensar<br />

que morar perto do local de trabalho é cômodo, conveniente<br />

e que estimula uma vida mais saudável, menos<br />

sedentária, permitindo que as pessoas and<strong>em</strong> ou<br />

us<strong>em</strong> a bicicleta para ir trabalhar. Isso pode ser meia<br />

verdade. De fato, quando o cidadão t<strong>em</strong> a capacidade<br />

de escolha sobre onde morar e onde trabalhar, e opta<br />

por encurtar essa distância, permitindo se locomover<br />

através de modais não-motorizados, então é uma benção.<br />

Mas, se um cidadão está preso a uma região <strong>em</strong><br />

que só pode chegar ao trabalho a pé, s<strong>em</strong> ter acesso<br />

ou poder arcar com um transporte que o leve a centros<br />

com melhores <strong>em</strong>pregos, usar modos ativos de<br />

mobilidade trata-se de uma necessidade e uma restrição.<br />

Para qu<strong>em</strong> só conta com a própria força física<br />

para se locomover, as opções de trabalho são menores,<br />

pois o alcance a <strong>em</strong>pregos fica restrito a uma área<br />

geográfica mais reduzida. Isso é test<strong>em</strong>unho do papel<br />

imprescindível do transporte público para ampliação<br />

das oportunidades de <strong>em</strong>prego.<br />

A mobilidade ativa envolve modos de locomoção<br />

não-motorizados, como andar a pé, de bicicleta ou<br />

qualquer outro meio que faça uso da força física do<br />

ser humano. No DF, há padrões bastante claros e que<br />

r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> à uma situação na qual o uso da mobilidade<br />

ativa ass<strong>em</strong>elha-se mais a um caso de restrição, de<br />

maldição do que de benção.<br />

Em primeiro lugar, é interessante notar que ir a pé é a<br />

terceira forma mais comum de locomoção entre casa e<br />

trabalho no DF. Aproximadamente 10% dos trabalhadores<br />

usam esse meio. Prevalece o uso do automóvel<br />

(41%) e do ônibus (38%), os d<strong>em</strong>ais meios somados<br />

(metrô, bicicleta, motocicleta e utilitário) somam apenas<br />

11%. Entre os meios de mobilidade ativa, andar a<br />

pé é o mais comum. Vale registrar que apenas 1% da<br />

população do DF afirma usar a bicicleta para se locomover<br />

ao trabalho.<br />

Qu<strong>em</strong> vai a pé ao trabalho é o morador de cidades<br />

com renda mais baixa que trabalha na própria cidade<br />

de moradia. Quando dividimos as Regiões Administrativas<br />

do Distrito Federal por faixa de renda,<br />

para o grupo 1 (com renda média domiciliar acima<br />

de 10 mil reais) e o grupo 2 (entre 5 e 10 mil reais)<br />

o principal meio de transporte é o automóvel. Para<br />

os grupos 3 (entre 2500 e 5 mil reais) e 4 (com renda<br />

média abaixo de 2500 reais) o uso do ônibus é<br />

predominante. Contudo, no grupo 1, 5% diz ir a pé<br />

ao trabalho enquanto que no grupo 4, <strong>16</strong>% vão a pé.<br />

Ou seja, a mobilidade ativa é subutilizada entre os<br />

moradores de cidades de renda alta e sobre utilizada<br />

nas de renda mais baixa, <strong>em</strong> comparação com a frequência<br />

geral do DF (10%).<br />

Dos 95% que andam a pé e 70% dos que vão de bicicleta<br />

ao <strong>em</strong>prego, estes trabalham na própria cidade<br />

<strong>em</strong> que moram. Quando alguém trabalha <strong>em</strong> uma cidade<br />

distinta da que reside, quase nunca vai a pé ou de<br />

bicicleta. Nesse caso, o uso da bicicleta é um pouco<br />

mais frequente, são 12%, frente a 5% dos que andam.<br />

As pessoas com menor escolaridade são as que tend<strong>em</strong><br />

ir a pé ou de bicicleta ao trabalho.<br />

Ou seja, aqueles que usam a mobilidade ativa para se<br />

locomover ao trabalho estão restritos a regiões com<br />

<strong>em</strong>pregos menos r<strong>em</strong>unerados e de mais baixa qualificação.<br />

A mobilidade ativa não parece ser uma escolha,<br />

mas uma necessidade.<br />

Contudo, transformar essa realidade, ampliando o uso<br />

da mobilidade ativa nas áreas com maior renda é plausível;<br />

89% da população ocupada moradora do Plano<br />

Piloto trabalha nessa mesma cidade e 80% da população<br />

ocupada residente no Sudoeste/Octogonal trabalha<br />

no Plano Piloto. Como morar perto do trabalho é o padrão<br />

para se usar a mobilidade ativa, há grande potencial<br />

para se estimular modais não motorizadas nessas<br />

regiões. Se uma parte dessas populações passasse a<br />

usar a bicicleta ou ir a pé ao trabalho, teríamos menos<br />

carros nas ruas. Assim, melhorar e ampliar ciclovias<br />

e calçadas são medidas importantes nas políticas de<br />

mobilidade urbana. Adequações nos locais de trabalho,<br />

com a instalação de bicicletários e de vestiários<br />

facilitariam o uso da mobilidade ativa. Além disso,<br />

como já foi dito antes, reduzir os incentivos para o uso<br />

do carro, com cobrança de estacionamentos e punição<br />

para o uso de vagas irregulares também estimularia o<br />

uso de modais não-motorizados.<br />

O DF deveria caminhar nessa direção. ■<br />

(*) Lucio Rennó<br />

Presidente da Codeplan<br />

14<br />

<strong>Brasília</strong> <strong>em</strong> <strong>Debate</strong>

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