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Revista LiteraLivre 4ª edição

4ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 4nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar

4ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 4nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar

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<strong>LiteraLivre</strong> nº 4<br />

mares, e em seu lugar ficaram montes de sal e peixes mortos; nunca mais vi<br />

gaivotas.<br />

Despertei, e meus móveis não estavam mais ali, corri para fora e o céu<br />

não era mais azul, sua cor roubada dali por mãos que eram hábeis o suficiente<br />

para arrancá-lo do céu, mas não para voltar a cobri-lo com qualquer coisa que<br />

não fosse o cinza estático e rarefeito que agora eu via. Corri para o primeiro<br />

que encontrei e gritei “O céu não é mais azul! Alguém roubou o céu”… mas ele<br />

só me ignorou, como se eu fosse um louco, nem sequer olhou para cima para<br />

testar minhas palavras.<br />

O restante das cores sumiram logo em seguida: desapareceu o vermelho<br />

dos tijolos de minha casa, o azul de minhas canetas, o castanho dos cabelos<br />

em meu reflexo, sumiram até mesmo aquelas cores esquisitas que você só vê<br />

nos sonhos. Sumiram então meus sonhos, as divagações pela rua, os últimos<br />

pensamentos desconexos antes de pegar no sono.<br />

Por último, quando nada mais restava do cenário, sumiram as pessoas.<br />

Não gradativamente, uma a uma, mas todas juntas, num único suspiro; me<br />

abandonaram ali quando eu não estava olhando, buscando formas na areia<br />

molhada em que enterrava meus pés.<br />

E quando eu achava que nada mais me poderia ser tirado, sumiu minha<br />

forma de ver o mundo, desapareceu o sentido que eu conseguia enxergar no<br />

horizonte. Em minhas ideias mesmo o conceito de Eu já começava a naufragar,<br />

diluir-se em meio a todo o resto. Do mundo ao qual um dia eu pertenci só me<br />

restam essas palavras, que tão cedo terminei de escrever e que já começam a<br />

desaparecer nas areias úmidas em que as escrevi.<br />

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