Revista LiteraLivre 4ª edição
4ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 4nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar
4ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 4nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar
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<strong>LiteraLivre</strong> nº 4<br />
correios, arautos, alcoviteiras, alcaguetas e proxenetas... E ouviremos os<br />
éditos em plena praça pública, quem sabe pela boca do próprio Nero ou pela<br />
boca dos seus muitos arautos. E leremos saborosamente as nossas doces<br />
cartas, embrulhadas no conforto dos envelopes; e selaremos as nossas doces<br />
cartas com a nossa gosma de saliva ou com cola de trigo. Nero há muito que<br />
já possui a sua chancela real! E leremos nossas cartas anônimas uns aos<br />
outros, dando-nos a saber uns dos outros; e leremos nossas ridículas cartas de<br />
amor, porque todas as cartas de amor são ridículas... Reaprenderemos com os<br />
poetas, com os romancistas, com os filósofos, a delicada arte de deitar no<br />
papel o enlevo da palavra. E viva a palavra escrita! Viva! E viva a palavra<br />
falada tête-à-tête! Viva!... Quem? Quer falar com quem? Ele não está! Quem<br />
está falando aqui?... Sandemos! Sandemos não quer mais assistir a essa<br />
miséria dos homens, essa miséria que os faz se debruçarem em solilóquios<br />
infindáveis, de boca escancarada no fone deste detestável maquinário, este<br />
pequeno e medíocre ditador que dissolveu no homem o valor de sua palavra!<br />
Senhoras e senhores, companheiros e companheiras, irmãos e irmãs, abaixo à<br />
conectividade ilusória! Abaixo à manipulação virtual da palavra! Abaixo ao<br />
logro da sociabilidade instantânea! Abaixo à caduquice do mundo globalizado!<br />
Todos juntos, de mãos dadas, afoguemos todos os celulares no chafariz da<br />
Praça da Sé! Dia vinte de maio! O grande dia, o dia da libertação! Quem? Ele<br />
não está! O que? Onde pode me encontrar? Qual o que! Adiante-se ao grande<br />
dia e me mande uma carta, você pode endereçá-la a... Não! Carta, não! Não<br />
me mande carta alguma, porque não tenho endereço fixo, moro em toda<br />
parte. Mas o senhor pode me encontrar na biblioteca pública, onde passo as<br />
tardes em distantes viagens; ou mesmo aqui, na praça, ao pé desde chafariz<br />
minúsculo da nossa cidade interiorana, onde se ergue a estátua do trisavô de<br />
Nero, o velhíssimo Rodrigues Alves, imperador e herdeiro do grande Príapo.<br />
Sim, Príapo! Quem é Príapo? Ora, é o grego da piroca dura, da rola em riste,<br />
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