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Revista LiteraLivre 4ª edição

4ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 4nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar

4ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 4nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar

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<strong>LiteraLivre</strong> nº 4<br />

Foi um Anjo que passou em sua vida. E seu coração se deixou<br />

levar.<br />

Reinaldo Fernandes<br />

Brumadinho – MG<br />

Abraçou-a novamente, apertou contra seu peito. Seus dedos correram-lhe os<br />

cabelos, sentiu seu cheiro de menina-moça de banho tomado há pouco.<br />

Beijou-lhe as faces.<br />

___ Papai, eu te amo!, ouviu, e sentiu um aperto. Sentiu seus braços finos<br />

enlaçando-o.<br />

___ Cuidado com a espinha! – ela o advertiu quando ele beijou-lhe a testa,<br />

como beijava sempre.<br />

E ela fez como sempre fazia: sentou-se numa cadeira ali perto, pegou seu livro<br />

da escola e ficou lendo, enquanto ele lia “Jardins Botânicos do Brasil”, de<br />

Evaristo Eduardo de Miranda, ilustrado com fotos de Fabio Colombini. Pai e<br />

filha na mesma sintonia, no silêncio vespertino da varanda. Da janela da<br />

cozinha, Fátima esquecia o bolo no forno e olhava embevecidamente a cena.<br />

Se o pai folheava, uma atrás da outra, as páginas do livro, a filha pouco ou<br />

nada lia. Quer dizer, não lia o livro, “lia” o pai. Seus olhos se prendiam cheios<br />

de amor no pai, observava-o, seu semblante calmo, suas feições gentis, seus<br />

olhos atrás dos óculos, apaixonado pela botânica. Admirava-o como se ela<br />

estivesse sentada na primeira fila de cadeiras do Santuário de Santo Expedito<br />

e como se ele próprio fora o santo: não olhava, contemplava. Ali estava seu<br />

herói, o homem de sua vida. O homem mais generoso, risonho, amoroso,<br />

legal, trabalhador e honesto do mundo, como escreveu um dia num acróstico<br />

em sua agenda.<br />

O conceito que fazia da honestidade do pai veio especialmente do dia em que<br />

foram ao Cristo Redentor, no Rio. Estavam superfelizes, era sua primeira vez<br />

na cidade e o Cristo estava cheio de turistas. E naquele vai-e-vem de tirar<br />

fotos na escadaria, um estrangeiro, japonês, talvez, deixara cair sua carteira.<br />

O pai, ela de braços abertos feito o Cristo posando para a foto, vira a carteira<br />

caindo de onde caiu, interrompeu a foto e foi pegá-la. No meio da confusão,<br />

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