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dos<br />
no Céu<br />
Poderíamos nos perguntar qual dessas é a verdadeira<br />
concepção da música e, se ambas são verdadeiras, qual a<br />
mais alta.<br />
Diante desse problema, eu me pergunto se não haveria<br />
um estilo de música que reunisse ambas as perfeições,<br />
porque são manifestamente tão nobres e tão altas que<br />
um certo senso da unidade nos faz desconfiar de que haja<br />
a possibilidade de reunir as duas concepções numa visualização<br />
só.<br />
Porém, ainda não encontrei uma fórmula e nem sei se<br />
isso é possível. Indico apenas essa ideia para esboçar um<br />
pouco aquilo que, provavelmente, é a música dos Anjos<br />
no Céu. Que os Anjos têm uma melodia no Céu, embora<br />
não seja a música material, é positivo. Que esta melodia<br />
deve ter uma arquitetura sonora magnífica, expressão do<br />
ser deles, é fora de dúvida.<br />
Haverá no homem, com as limitações para a criatura<br />
humana, a possibilidade de uma música assim? Também<br />
não sei. Mas é uma coisa a respeito da qual se pode<br />
cogitar.<br />
Cogitações que nos incentivam<br />
a pensar no Céu<br />
Exatamente são as cogitações que valem a pena ter<br />
como entretenimento quando, por exemplo, a rotina está<br />
monótona. É um entretenimento inocente que deixa a<br />
alma leve. E um certo cultivo da leveza de alma vai bem<br />
para quebrar esses estados um tanto depressivos a que<br />
possamos estar sujeitos.<br />
Platão imaginava os corpos celestes como esferas de<br />
cristal girando umas sobre as outras eternamente, e ele<br />
tinha a ideia de que cada uma dessas esferas produzia<br />
um som, e que esses sons todos se encontravam no universo,<br />
produzindo uma música universal resultante dos<br />
movimentos dos astros.<br />
Notem quantas noções bonitas estão postas dentro dessa<br />
concepção. Esferas de cristal que giram, já é uma verdadeira<br />
beleza! O som que se desprende dessas esferas, correlato<br />
com a cor, a densidade e a rotação desses cristais, uma policromia<br />
conjugada a uma harmonia, que coisa bonita!<br />
Essa música não exprimiria o sentir humano, seria<br />
uma pura arquitetura universal, quase uma meditação filosófica<br />
sonora, mas que produz no homem um reflexo.<br />
Então se poderia imaginar um ponto de encontro que seria<br />
a expressão da reação humana diante dessa harmonia<br />
universal, e musicar isso.<br />
Cogitações como essa nos ajudam a suportar o peso<br />
da vida e nos incentivam a pensar no Céu. Como ficam<br />
estúpidas essas lindíssimas esferas de cristal quando consideramos<br />
que existem os Anjos, espíritos perfeitíssimos,<br />
puríssimos, virtuosíssimos, fidelíssimos, continuamente<br />
contemplando a Deus, vendo n’Ele belezas sempre as<br />
mesmas e sempre novas, exclamando em cânticos o seu<br />
sentir. É uma coisa maravilhosa!<br />
v<br />
(Extraído de conferência de 23/3/1970)<br />
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