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Revista Dr. Plinio 236

Novembro de 2017

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Oque é a luz de um olhar? Que<br />

há olhares com luz é uma noção<br />

corrente, todos nós sabemos.<br />

Eu conheci muitos olhares com<br />

luz; além do venerável e lindo olhar<br />

de Dona Lucilia, apreciei também<br />

inúmeras pessoas na hora em que a<br />

graça visita a alma. Então, olhava e<br />

pensava: “É claro, Nossa Senhora<br />

neste momento está te ajudando!”<br />

Vê-se uma certa luz. Por exemplo, a<br />

luz da vocação se nota nos olhares.<br />

Há um universo de olhares<br />

O que é propriamente isso? É de<br />

experiência corrente que o melhor<br />

modo de ver o que se passa na alma de<br />

alguém é olhar para os seus olhos. O<br />

estado de alma tem seu efeito no cérebro,<br />

no sistema nervoso, na musculatura<br />

ocular e, ainda que involuntariamente,<br />

os olhos vão mostrando aquilo<br />

que a alma vai sentindo. Assim, os<br />

estados de muito comprazimento ou<br />

de muito entusiasmo da alma produzem<br />

no olhar, por não sei que condutos,<br />

uma luz que é o efeito da luz percebida<br />

pelo espírito. E por causa disso<br />

há diferenças de belezas de olhar.<br />

Há olhares que são como de lince,<br />

veem longe. Olha-se para eles e tem-<br />

-se a impressão de que, nos últimos<br />

confins do horizonte visual ou mental,<br />

aqueles olhares estão pairando.<br />

É uma forma de pulcritude.<br />

Há outros olhares, pelo contrário,<br />

que parecem precaver-se contra as<br />

longas distâncias, e iluminar de um<br />

modo ameno as proximidades, convidando<br />

à intimidade e às grandes<br />

elevações interiores.<br />

Assim, quantos e quantos olhares,<br />

de quantos e quantos jeitos! Pode-se<br />

dizer que há um universo.<br />

Há olhares que representam uma<br />

peculiar forma de alma, por onde eles<br />

são como que aveludados. Outros manifestam<br />

um tipo de alma diferente, e<br />

se poderia dizer que são de madrepérola.<br />

Existem olhares que exprimem<br />

outros estados de espírito, por onde se<br />

poderia afirmar que são chispantes.<br />

E assim por diante,<br />

quase até ao infinito.<br />

O olhar de mamãe era para<br />

mim cheio de venerabilidade,<br />

de doçura, de intimidade e, sobretudo,<br />

o que me agradava mais nesse<br />

olhar era quando ele me olhava<br />

– naquela intimidade, tantas vezes<br />

nos olhávamos –, e eu tinha a impressão<br />

de que ele me considerava<br />

do alto, de longe, uma coisa<br />

que eu não saberia como exprimir,<br />

mas é algo admirável!<br />

Uma transpalavra<br />

que conheceremos<br />

no Céu<br />

A vida inteira eu quis<br />

ter um olhar. Quando li<br />

que Nosso Senhor olhou<br />

para São Pedro e este<br />

se converteu, veio-me<br />

uma vontade enorme<br />

de um dia pôr os meus<br />

olhos nos d’Ele, vê-<br />

-Lo e ser visto por Ele.<br />

E ter essa troca de olhares<br />

por onde se percebe que cada<br />

alma penetra na outra. Com<br />

a ideia de que aquilo traria um florescimento,<br />

uma elevação, e que Ele<br />

me daria misericórdias, condescendências,<br />

bondades… Uma coisa da<br />

qual eu tinha um desejo enorme!<br />

Depois me veio naturalmente a<br />

ideia de ser fitado por Nossa Senhora.<br />

Sobretudo quando li na “Divina<br />

Comédia” – aliás, não li a “Divina<br />

Comédia”, mas trechos dela – que<br />

Dante ao chegar ao Céu – ele se representa<br />

como sendo vivo, então não<br />

pode ver a essência divina – olha para<br />

Nossa Senhora, e no olhar d’Ela<br />

ele percebe um reflexo do olhar de<br />

Deus: aí está o ápice do Paraíso!<br />

Ah! se Ela pudesse olhar para<br />

mim, um momento que fosse, e dissesse<br />

só isto: “Meu filho…”, tenho a<br />

impressão que me desfaria; eu não<br />

quereria outra coisa senão isso!<br />

Na realidade, acontece que um<br />

pouco dessa impressão nós temos às<br />

vezes, quando entramos num lugar<br />

onde está o Santíssimo Sacramento;<br />

para mim, sobretudo quando o local<br />

está vazio: uma capela, uma igreja.<br />

Há qualquer coisa no ambiente inteiramente<br />

diferente do que é fora.<br />

Temos a impressão de que penetramos<br />

num olhar o qual nos envolve,<br />

nos assume e nos diz, quase que<br />

por todos os sentidos, uma coisa a<br />

qual não sabemos o que é; é uma<br />

transpalavra que conheceremos no<br />

Céu.<br />

v<br />

(Extraído de conferência de<br />

21/11/1979)<br />

Teodoro Reis<br />

7

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