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Revista Curinga Edição 00

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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Misticismo e<br />

maquiagem<br />

E tudo começou em Uberaba,<br />

no Triângulo Mineiro. Lá,<br />

o estudante Jairo Alna, entre<br />

pincéis e alicates, blushes e<br />

sementes, rostos e colares,<br />

aprendeu os ofícios da arte<br />

material. Nas noitadas, em<br />

meio às drag queens, conheceu<br />

a arte da maquiagem e como<br />

se divertir com os seus estereótipos.<br />

Também aprendeu com<br />

uma artesã, Morgana, a trançar<br />

pedras e a energizá-las e, ainda,<br />

a manipular filtros que fazem as<br />

pessoas sonharem bem. Técnica<br />

e mística. Material e imaterial.<br />

As circunstâncias que rodeavam<br />

Jairo o fizeram se interessar<br />

por maquiagem. Ele conta<br />

que em Uberaba, em meados de<br />

2<strong>00</strong>7, havia um grande preconceito<br />

contra os homossexuais<br />

em geral. Nessa época ele tinha<br />

22 anos. A intolerância também<br />

atingia homens que se vestiam<br />

de mulher, inclusive os heterossexuais.<br />

A resposta a esse<br />

preconceito? Foi um certo fortalecimento<br />

da causa gay e, com<br />

isso, o aumento do número de<br />

drag queens na cidade. Aquele<br />

universo drag – colorido, humorístico,<br />

mas nem por isso pouco<br />

denso – chamou-lhe a atenção.<br />

“O único jeito de entender esse<br />

processo é mergulhar nesse<br />

universo”, afirma Alna. E ele<br />

mergulhou. Fez da diversidade<br />

de seu talento a diferença, e a<br />

sua profissão.<br />

Quando passou no vestibular,<br />

este desejo de mergulho não<br />

foi extinto do coração de Jairo.<br />

Pelo contrário, foi reforçado.<br />

“Entrei na faculdade de Artes<br />

Cênicas em 2<strong>00</strong>8 e tive uma cadeira<br />

chamada Caracterização”,<br />

diz. Ele teve novamente acesa<br />

em si a chama da arte material.<br />

O estudante tem como seu<br />

tipo favorito a maquiagem<br />

O estudante<br />

prefere<br />

maquiagens<br />

artísticas<br />

Jairo<br />

maquiando<br />

atores do curso<br />

de Cênicas da<br />

Ufop<br />

FOTOs: Simião Castro<br />

artística. “Tem maquiagem que<br />

termino e choro. Não pelo prazer<br />

estético, mas pelo retorno<br />

que a pessoa me dá”, emocionase.<br />

E lembra-se da história de<br />

um curta metragem no qual<br />

maquiou a atriz principal. É sobre<br />

a história dos devaneios de<br />

uma enfermeira. “No começo<br />

ela era uma enfermeira simples:<br />

cabelo amarrado, com cara de<br />

cartaz de hospital. Ela tinha o sonho de ser uma pop star. No fim,<br />

ela tinha os cabelos todos trabalhados no cabeleireiro, “com cílios<br />

postiços e figurino de saia curtinha, luvinhas brancas e um batom<br />

que aumentava seus lábios”, conta ele, empolgado.<br />

Jairo, todavia, não é somente um maquiador. Também tem outros<br />

“dotes” artísticos. Ele faz artesanato, tendo como preferência,<br />

trabalhar com pedrarias e “filtro dos sonhos”. Mas o estudante não<br />

se restringe apenas aos trabalhos artísticos. Jairo também garante<br />

seu retorno financeiro trabalhando para eventos, como batismos,<br />

formaturas e casamentos. “Dá para conseguir uns R$ 150 reais por<br />

final de semana”, afirma.<br />

Nas questões relacionadas à mística, o estudante é meticuloso, e<br />

sempre há crença para influenciar. Nesse sentido, o entrelaçamento<br />

dos fios se emenda com o processo espiritual da sua arte. “Gosto de<br />

trançar pedras em lua cheia. Nunca [tranço] em lua minguante”,<br />

diz. Artesanato e maquiagem ajudam Jairo a permanecer na faculdade.<br />

Mas também financiam a sua diversão, “tomar uma cerveja<br />

com os amigos e [fumar] uns três cigarros”.<br />

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