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Revista Curinga Edição 10

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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<strong>10</strong><br />

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<strong>10</strong><br />

<strong>Revista</strong> Laboratório | Jornalismo | UFOP Maio de 2014 | Ano III<br />

<strong>10</strong>


Expediente<br />

<strong>Curinga</strong> é uma publicação da disciplina Laboratório Impresso II.<br />

<strong>Revista</strong> produzida pelos alunos do curso de Jornalismo da Ufop.<br />

Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA). Departamento de<br />

Ciências Sociais, Jornalismo e Serviço Social (DECSO).<br />

Universidade Federal de Ouro Preto.<br />

Professores Responsáveis<br />

Frederico Tavares - 11311/MG (Reportagem)<br />

Lucília Borges (Planejamento Visual)<br />

Ana Carolina Lima Santos (Fotografia)<br />

Editor geral<br />

Cristiano Gomes<br />

Subeditora<br />

Bruna Fontes<br />

Editor de Arte<br />

Gabriel Koritzky<br />

Subeditora de Arte<br />

Bruna Lapa<br />

Editor de Fotografia<br />

Filipe Monteiro<br />

Subeditor de Fotografia<br />

Osmar Lopes<br />

Editora de Multimídia<br />

Laura Vasconcelos<br />

Redatores<br />

Diagramadores<br />

Fotógrafos<br />

Ana Clara Castro, Ana Luisa Reis,<br />

Caroline Brito, Caroline Gomes,<br />

Carol Lourenço, Daniela Karine,<br />

Flavia Silva, Geovani Barbosa,<br />

Gisela Cardoso, Isadora Ribeiro,<br />

João Gabriel Nani, Júlia Cunha,<br />

Rosi Silveira<br />

Dayane Barreto, Fernanda Mafia,<br />

Isabella Madureira, Lucas<br />

Machado, Mayra Costa, Maysa<br />

Alves, Maria Fernanda Pulici,<br />

Nathalia Souza, Pedro Carvalho,<br />

Thiago Huszar, Viviane Ferreira<br />

Bárbara Monteiro, Carol Lourenço,<br />

Dalila Caetano, Danielle Diehl,<br />

Hiago Maia, Kênia Marcília,<br />

Marcos Resende, Pablo Silva ,<br />

Paula Bamberg, Rosana Maria,<br />

Thiago Novais<br />

Editorial<br />

O mundo que<br />

habita o mundo<br />

Habitar. Essa é a palavra chave que rege<br />

a <strong>10</strong>ª edição da <strong>Revista</strong> <strong>Curinga</strong>. Muito se foi pensado<br />

sobre este termo, para que chegássemos a uma nova<br />

linha editorial, capaz de reunir experiências interiores<br />

e exteriores ao mundo.<br />

Do nascimento do projeto até a sua concretização,<br />

muitos desafios foram enfrentados. No começo, ideais,<br />

no meio, dúvidas, e no fim… É assim! Sob a luz<br />

da experimentação, a <strong>Curinga</strong> apresenta duas grandes<br />

e expressivas editorias: Eu no mundo e O mundo em<br />

mim. Essa relação dicotômica possibilita um outro<br />

olhar, mais reflexivo, sobre assuntos pertinentes, sem<br />

deixar de questionar valores, conceitos e o próprio fazer<br />

jornalístico. Situada em uma linha tênue, que<br />

separa estes dois modos de habitar o mundo, existe<br />

uma Travessia, onde é possível encontrar um ponto de<br />

equilíbrio, tecendo um elo significante entre as matérias.<br />

Habitar implica, então, em uma relação complexa<br />

entre catalisar experiências intrínsecas ao próprio<br />

existir, e reagir àquilo o que o mundo oferece, de forma<br />

cíclica. Esta é a fórmula proposta para as diferentes<br />

temáticas contidas nesta edição. No vai e vem<br />

de ideias, os ciclos se renovam, a história se mantém<br />

no presente, as gerações se transformam, deixando<br />

sempre algumas marcas. Influências passam a surgir,<br />

crenças a se implantar. Benefícios e malefícios se mesclam,<br />

abrindo novos caminhos àqueles que desbravam<br />

terras desconhecidas. A solidão pode ser transformada<br />

em alegria, bem como a vida, em morte.<br />

A partir desta perspectiva - entre a ação e a reação,<br />

o oposto e o complementar, a introspecção e a catalisação<br />

de experiências -; convidamos você a descobrir<br />

novas nuances acerca do espaço no qual habitamos.<br />

Acreditando nas indagações como forma de movimentação<br />

global e mais do que isso, de instigação, lançamos:<br />

como você habita o mundo? E como ele se reflete<br />

em você?<br />

Cristiano Gomes<br />

Bruna Fontes<br />

Monitora: Tamires Duarte<br />

Agradecimentos especiais a Felipe Augusto<br />

Passos Macedo, Catarina Barbosa, Juçara<br />

Brittes e a portaria do ICSA.<br />

Endereço:<br />

Rua do Catete, 166 - Centro<br />

35420-000, Mariana - MG<br />

Cartas do<br />

Leitor<br />

Para comentar as<br />

matérias ou sugerir<br />

pautas para a nossa<br />

próxima edição,<br />

envie e-mail para<br />

revistacuringa@icsa.<br />

ufop.br<br />

Maio/2014


páginas 36 e 37<br />

Sumário<br />

páginas 40 e 41<br />

(des)conectados<br />

Ensaio fotográfico<br />

página 42<br />

Abri os olhos mas eles não abriram<br />

Opinião<br />

Travessia: Anos de Chumbo<br />

Próxima edição<br />

páginas 22 a 26<br />

página 20<br />

Voto e legitimação de poder<br />

páginas 18 e 19<br />

Identidade<br />

De salto alto<br />

páginas 6 a 9<br />

páginas 28 a 30<br />

Mundo nas veias<br />

Alternativa<br />

Comum<br />

Geração turbo-década<br />

páginas <strong>10</strong> e 11<br />

páginas 12 a 15<br />

A pílula do riso<br />

Não grita que eu te escuto!<br />

Opinião<br />

Sensação<br />

página 31<br />

Identidade<br />

Budismo<br />

páginas 32 a 34<br />

Liberdade à flor da pele<br />

páginas 38 e 39<br />

Sensação<br />

Drogas<br />

Habitar<br />

Morada transitória<br />

páginas 16 e 17<br />

O museu que não tinha teto<br />

Comum<br />

O tempero de uma prosa<br />

Alternativa<br />

Habitar<br />

página 35


<strong>10</strong><br />

<strong>Edição</strong> Especial<br />

<strong>10</strong><br />

Desafio 1:<br />

Encontre dez referências ao<br />

número <strong>10</strong> na capa<br />

(sem contar as cartas)<br />

Desafio 2:<br />

Encontre dez tsurus coloridos<br />

no resto da revista.<br />

(5 verdes e 5 roxos)


eu n<br />

m o u n d o


Eu quero uma pra viver<br />

Identidade<br />

De salto alto<br />

Dizem que a mulher é um sexo frágil.<br />

Mas que mentira absurda! Atleta aos 41 anos, Marinalva é<br />

exemplo de garra e perserverança<br />

Texto: Caroline Gomes<br />

Fotos: Kênia Marcília<br />

Arte: Nathalia Souza


CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong><br />

Antes tarde do que nunca! Resolveu ser<br />

atleta, aos 39 do segundo tempo. Hoje, com 41 anos,<br />

relata com orgulho como construiu sua carreira e esboça<br />

a felicidade que sente na realização de um sonho.<br />

Marinalva Maria de Brito é o exemplo de uma<br />

virginiana persistente que batalha pelo que quer.<br />

Nasceu em Pernambuco, numa cidadezinha chamada<br />

Moreno. Ao longo dos anos, assumiu vários<br />

papéis, dentre eles como mãe. Ouropretana<br />

de coração, se tornou atleta profissional de<br />

heptatlo, conciliando com o trabalho no setor de<br />

informática da Câmara Municipal de Ouro Preto.<br />

Desde criança sempre gostou muito de esporte,<br />

independente da modalidade. Na adolescência optou<br />

pelo futebol, jogava com os meninos. Por muito tempo<br />

foi artilheira do seu time e ganhou vários campeonatos<br />

da cidade. Sofreu com o bullying, com o preconceito<br />

que as pessoas tinham por não entender por que<br />

uma mulher gostava de chutar bola. E se nos dias atuais<br />

ainda convivemos com esse tipo de preconceito, há<br />

trinta anos as coisas eram bem piores. Foi assim que o<br />

futebol deixou de ser uma prioridade para Marinalva.<br />

Resolveu estudar. Cursou Informática Industrial<br />

no antigo CEFET de Ouro Preto, atual IFMG. Porém,<br />

sua vontade de praticar esportes não havia desaparecido.<br />

Marinalva dispensava as classes sem pensar<br />

duas vezes quando o assunto era vôlei, basquete ou<br />

qualquer outro esporte, exibindo no brilho dos olhos a<br />

paixão e o conforto que aquela prática lhe transmitia.<br />

“Eu tinha um sonho de ser atleta. Só que na minha<br />

adolescência eu não conseguia, porque eu tinha que<br />

estudar e trabalhar”, diz.<br />

Nunca é tarde para você<br />

aproximar os sonhos da sua realidade,<br />

existe uma gama de oportunidades<br />

que te permitem fazer isso.<br />

Basta Acreditar!<br />

Há dois anos, Marinalva foi surpreendida pela doença<br />

do pai, um enfisema pulmonar. Extremamente<br />

abalada e sem chão, foi aconselhada por um psicólogo<br />

a praticar esportes. Matriculada na academia, seu<br />

objetivo inicial era fazer triatlo, participando de treinos<br />

para corridas e aulas de natação. Como era tutora<br />

da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) pelo<br />

curso de Administração, conheceu uma aluna, mais<br />

tarde sua amiga, Lurdinha. Com anos de experiência,<br />

Lurdinha – atleta que representa Ouro Preto nas<br />

competições nacionais e internacionais há 13 anos -<br />

apresentou à Marinalva as corridas de fundo, que são<br />

provas acima de cinco mil metros. Como não estava<br />

com o preparo físico adequado, em seis meses caiu em<br />

overtraining, quando o atleta ultrapassa o seu limite e<br />

o corpo não responde mais. “Eu acabei cometendo um<br />

erro que muitos atletas cometem muito no começo,<br />

que é não saber o limite do seu corpo, achar que correr<br />

é fácil, mas não é assim que a coisa funciona”, conta.<br />

1 2 3 4<br />

Em 2013 recebeu convite para participar da ABRAM<br />

7


Atleta x Preconceito<br />

Marinalva iniciou sua vida como competidora profissional do atletismo<br />

em abril de 2013, em um campeonato realizado em Ipatinga, onde<br />

disputou provas de fundismo. Nessa ocasião, foi contemplada com seis<br />

medalhas, resultando em um convite do presidente da Associação Brasileira<br />

de Atletismo Máster (ABRAM) para fazer parte da delegação, representando<br />

o Brasil em campeonatos internacionais.<br />

Mas foi no Peru, no primeiro campeonato<br />

que participou junto à seleção brasileira,<br />

que descobriu sua vocação atual:<br />

o salto. Passou então a competir não mais<br />

por corridas de fundo, mas fazendo provas<br />

de lançamento de dardos, salto triplo e salto<br />

em distância. “Uma mulher de 39 anos,<br />

iniciando no atletismo e ainda fazendo<br />

modalidades que são técnicas. Então, o<br />

cara olha pra você e pensa: ‘essa menina<br />

não vai longe, não vai dar conta’”, relata<br />

Marinalva sobre quando começou.<br />

Hoje, Marinalva treina para o heptatlo,<br />

modalidade que inclui o lançamento de<br />

dardo, arremesso de peso, corridas com e<br />

sem barreiras, salto em altura e à distância.<br />

E ainda, como já treinava para o salto<br />

triplo, decidiu continuar. Por participar de<br />

oito provas nos campeonatos, Marinalva<br />

se tornou alvo de piadinhas entre os próprios<br />

competidores, que segundo ela perdura<br />

até os dias atuais. E mais uma vez,<br />

o preconceito entrava em ação. Histórias<br />

que marcavam a trajetória de Marinalva<br />

como atleta, envolviam o preconceito. Havia<br />

mais alguma?<br />

Ela sorriu com o canto da boca. Era<br />

mais um relato. Em dezembro de 2013, foi<br />

a Montevidéu inscrita para competir em<br />

nove provas. Por estar começando, Marinalva<br />

opta por se inscrever em várias provas,<br />

para depois decidir se faria todas ou<br />

não. Surpreendida pelo “boicote” do campeonato,<br />

países considerados mais fortes,<br />

como Argentina, Chile e Peru não participaram,<br />

deixando a competição mais tranquila<br />

e com adversários mais despreparados.<br />

Atletas do Brasil, Uruguai e Paraguai<br />

concorriam entre si. Como a concorrência<br />

estava menor, Marinalva resolveu competir<br />

em todas as provas, conquistando onze<br />

medalhas, superando quarenta atletas<br />

brasileiros que a acompanhavam no ônibus.<br />

Consequentemente, mais uma vez foi<br />

caçoada e questionava: “Poxa, será que eu<br />

não posso me inscrever em várias provas<br />

porque eu vou ser motivo de piada dos rapazes?”,<br />

conta. Recentemente, o mesmo<br />

aconteceu na Argentina.<br />

Bronze no Campeonato Word Master Games, em Torino, Itália


CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong> CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong><br />

Em busca de quebrar recordes,<br />

pular barreiras e saltar preconceitos,<br />

Marinalva é um exemplo de garra,<br />

força de vontade e perseverança.<br />

Falta divulgação e sobra preconceito<br />

“Dizem que a mulher é um sexo frágil, mas que mentira<br />

absurda!”, buscando apoio nas palavras de Erasmo Carlos,<br />

procuramos entender o porquê ainda é motivo de conversas<br />

paralelas e cochichos ver uma mulher praticando um esporte.<br />

Qual o critério para a escolha do “isso é masculino e isso<br />

é feminino” ou porque “o rosa é de menina e o azul é de<br />

menino”?<br />

O preconceito não vem apenas da plateia, mas dos colegas,<br />

técnicos e responsáveis pelo atletismo. Isso é o que<br />

mais preocupa. Marinalva conta que muitas mulheres não<br />

conseguem continuar ou desistem. Já viu muitas passarem<br />

pela Associação Marianense de Atletismo, e continua sendo<br />

a única. Hoje, treina todos os dias da semana, três horas por<br />

dia. Com adolescentes. Com homens. Marinalva é exemplo<br />

de superação, persistência e força de vontade em acreditar<br />

e ir em busca do que deseja, ir em busca de alcançar seu objetivo<br />

principal: ser uma atleta profissional. “Eu não deixo o<br />

preconceito me abalar não, porque eu quero provar para as<br />

pessoas que você pode realizar seu sonho em qualquer momento<br />

da sua vida”.<br />

Os patrocinadores também, não apostam em mulheres e<br />

não acreditam que uma mulher pode conquistar mais prêmios<br />

que um homem no esporte. No caso de Marinalva, o<br />

preconceito era duplo. Uma mulher de 41 anos. Há um ano<br />

na seleção master, Marinalva ainda não conseguiu patrocínio.<br />

Para ela, até que a mulher consiga adquirir credibilidade<br />

para ganhar seu espaço no esporte, isso leva tempo e muitas<br />

mulheres desistem nesse período. “Quando você está nessa,<br />

é porque você gosta realmente. Não pode esperar nenhum<br />

benefício de troca, porque não vai ter”.<br />

Mesmo diante de todas as dificuldades, uma meta: quebrar<br />

o recorde nas modalidades que disputa e trazer ouro<br />

para o Brasil no Mundial da França, em 2015. Na maioria de<br />

suas viagens, Marinalva foi com seus próprios recursos, priorizando<br />

os campeonatos internacionais. Peru, Itália, Uruguai,<br />

Argentina e Paraguai são países que conheceram a garra de<br />

Marinalva. Pretende ainda esse ano, competir na Costa Rica,<br />

Colômbia e Montevidéu.<br />

Conquistas. Muitos prêmios. Aproximadamente 70 medalhas.<br />

Marinalva foi em direção a uma sacola que carregava<br />

suas preciosidades. Com as medalhas estendidas em seu colo,<br />

apresentou-me uma a uma. Sua maior paixão: a de bronze<br />

conquistada em Torino, na Itália, em 2013. A World Masters<br />

Games (WMG), é uma das competições mais significativas<br />

no mundo do esporte, havia muitas mulheres na disputa e<br />

com diferença de cinco horas para o Brasil, o fuso horário<br />

quebrou o ritmo em que Marinalva treinava. Com a desistência<br />

de algumas mulheres e passando por cima dos conflitos<br />

com o tempo, Marinalva conquistou a medalha, que mesmo<br />

sendo de bronze, para ela é um ouro, dos mais valiosos.<br />

A nossa conversa continuava e a cada palavra de Marinalva,<br />

eu fazia uma viagem entre saltos e arremessos. Era<br />

impossível não se encantar com a força que aquela mulher<br />

teve e a disposição em treinar, praticar, conquistar e sempre<br />

querer mais. Encerrando o nosso papo, suas últimas palavras<br />

me fizeram sentir viva e acreditando muito mais nos meus<br />

objetivos. “Nunca é tarde para você aproximar os sonhos da<br />

sua realidade, existe uma gama de oportunidades que te permitem<br />

fazer isso. Basta acreditar!”. Marinalva me acompanhou<br />

até a porta e se despediu com um abraço. E mais uma<br />

vez, pegando gancho nas palavras de Erasmo Carlos, quem<br />

disse que a mulher é um sexo frágil? Pude sentir naquele<br />

abraço a garra de uma mulher que pretende continuar saltando<br />

alto para conquistar o que deseja. Afinal, como ela diz:<br />

“Antes tarde do que nunca”.<br />

1 2 3 4<br />

70 medalhas conquistadas<br />

9


Analisando essa cadeia<br />

Comum<br />

Geração<br />

turbo<br />

década<br />

Texto: Júlia Mara Cunha<br />

Fotos: Hiago Maia<br />

Arte: Fernanda Mafia<br />

Ilustração: Pedro Pessoa<br />

Ascensão profissional dos jovens de<br />

25 a 35 anos reconfigura as relações<br />

no mercado de trabalho<br />

Ser meu próprio chefe,<br />

fazer o que gosto, fazer meus horários,<br />

trabalhar de pijamas, criar<br />

algo inovador, ser bem sucedido<br />

mesmo com pouco tempo de formado,<br />

ser destaque e referência em<br />

uma profissão; esses são alguns<br />

dos anseios dos jovens de hoje que<br />

possuem um perfil empreendedor<br />

e estão dispostos a investir em<br />

ideias inovadoras e abrir seu próprio<br />

negócio para que alcancem sucesso,<br />

independência e liberdade.<br />

“São [jovens] considerados precoces,<br />

desenvolvendo atividades<br />

inovadoras ainda na adolescência,<br />

geralmente algo voltado para o que<br />

gostam de fazer como hobby. Essa<br />

geração é pioneira em negócios tecnológicos,<br />

muitos tendem a empreender<br />

em algo voltado para internet,<br />

preocupando em impactar na<br />

vida das pessoas, com ideias que<br />

facilitarão a vida da população”,<br />

explica o assistente do Serviço de<br />

Apoio a Micro e Pequenas Empresas<br />

de Minas Gerais (SEBRAE -<br />

MG), Felipe Tostes.


CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong><br />

Com o avanço da tecnologia,<br />

a sociedade teve que preparar<br />

melhor os indivíduos não somente<br />

para adentrar ao mercado<br />

de trabalho, por meio de cursos de<br />

empreendedorismo, em especial<br />

iniciado na década de 70, na América<br />

do Norte, mas também para<br />

melhor se compreender como profissional<br />

bem-sucedido de um mercado<br />

adverso. “Diferentemente das<br />

gerações anteriores, caracterizadas<br />

pela formação sólida em uma determinada<br />

área de conhecimento,<br />

esse jovem tem formação multidisciplinar<br />

facilitada e induzida pelas<br />

tendências e informações disponíveis<br />

na internet”, aponta o coordenador<br />

do Núcleo de Inovação<br />

Tecnológica e Empreendedorismo<br />

da Universidade Federal de Ouro<br />

Preto, Rodrigo Bianchi.<br />

O jovem dessa geração tende a<br />

criar e gerenciar seu próprio negócio,<br />

uma vez que seus anseios não<br />

foram e nem serão trabalhar e fazer<br />

carreira em uma única empresa<br />

durante toda a vida ou servir a um<br />

empregador, devido ao seu comportamento.<br />

“São workaholics (viciados<br />

em trabalho), desafiadores<br />

e ávidos a atrelar oportunidades<br />

a negócios de impacto social e/ou<br />

ambiental. Sem dúvida, a geração<br />

é marcada por características e opiniões<br />

próprias e está determinando<br />

negócios inovadores e de alto impacto”,<br />

explica Bianchi.<br />

Mesmo que ainda não seja tão<br />

fácil criar uma empresa e empreender<br />

em algo próprio a criadora do<br />

site FazINOVA, , Bel Pesce, aponta<br />

que começar a testar uma ideia<br />

nunca foi tão acessível e tão fácil<br />

de dar o primeiro passo. “Você não<br />

precisa ter investimentos em áreas<br />

de destaque, se acredita que algo é<br />

muito impactante e que vale a pena<br />

colocar sua vida nesse negocio é<br />

necessário que se estude o mercado,<br />

o que já existe, o que realmente<br />

quer fazer e dê o primeiro passo”.<br />

Desafios para a<br />

geração<br />

Mesmo com toda paixão, teimosia<br />

e disponibilidade de fracasso<br />

esse jovem empreendedor tem<br />

dificuldade de manter seus negócios<br />

devido à falta de maturidade,<br />

concentração, organização e foco e,<br />

tendem a ter certa dificuldade de<br />

gerenciar a empresa, uma vez que<br />

não tem muita paciência para processos<br />

longos. A consultora da empresa<br />

Luzes Consultoria em Processos<br />

Organizacionais Paula Laiterin<br />

comenta que esse fracasso é devido<br />

à falta de desenvolvimento da<br />

inteligência emocional. “Os bons<br />

empreendedores são humildes<br />

para reconhecerem que não podem<br />

fazer tudo sozinho, daí a importância<br />

da equipe e a compreensão dos<br />

perfis que se completam”, aponta<br />

Laiterin.<br />

O dentista, Rodrigo Mendes<br />

Dutra, 27 anos, formado há cinco<br />

anos e há dois anos e meio abriu<br />

seu consultório em Mariana (MG),<br />

conta que gerenciar seu próprio<br />

empreendimento requer aprender<br />

a administrar, a conhecer o mercado,<br />

saber o que o paciente quer e<br />

a lidar com os funcionários. “Acaba<br />

sendo uma prática além do que<br />

aprendemos na universidade”, explica<br />

Dutra.<br />

Essa geração ainda está em formação<br />

e pode vir a mudar todo o<br />

mercado de trabalho e a forma de<br />

criar e gerenciar novos empreendimentos,<br />

principalmente na área<br />

de tecnologia. “Vejo possibilidades,<br />

sejam elas no âmbito da grade<br />

curricular das escolas, faculdade,<br />

universidades; sejam elas no redesenho<br />

estratégico das organizações<br />

de grande médio ou pequeno porte”,<br />

acredita Laiterin.<br />

Fernando Kennedy, 26 anos, gerente<br />

do banco HSBC, em Ouro Preto (MG) é<br />

um representante dessa geração. É jovem e<br />

ocupa um cargo de grande responsabilidade em<br />

uma agência bancária.<br />

“Minha primeira experiência no mercado<br />

de trabalho foi aos 17 anos, em uma agência<br />

de turismo. Aos 18, ingressei na faculdade de<br />

Administração de Empresas e consegui um<br />

emprego no banco Bradesco, no qual realizava<br />

atendimentos aos clientes, abertura de contas e<br />

fui auxiliar do gerente, chegando, em algumas<br />

situações, a ocupar o cargo dele. Depois de três<br />

anos e meio na agência, fui convidado, aos 22<br />

anos, a assumir a gerência do Banco HSBC”.<br />

No final de 2013, junto com sua mãe, Luciene<br />

Kennedy, investiu na franquia da loja de<br />

chocolates Cacau Show. “Está sendo uma experiência<br />

muito positiva e pretendo investir mais<br />

em negócios dessa natureza”.<br />

Para Fernando, é necessário aproveitar as<br />

oportunidades que chegam e sempre estar atualizado<br />

para que se possa ter sucesso na carreira<br />

e realização pessoal. “Como já realizo consultoria<br />

de finanças para alguns empresários estou<br />

cursando MBA em Gestão Financeira, Controladoria<br />

e Auditoria para poder atender melhor<br />

esses clientes e gerenciar melhor minha franquia<br />

e os negócios nos quais pretendendo investir<br />

em breve”.<br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong><br />

11


Entre o corpo e a mente<br />

Sensação<br />

OS PALHAÇOS Doutores<br />

Em:<br />

A Pílula do<br />

RISO<br />

RESPEITÁAAVEL LEITOR!<br />

DIRETAMENTE DE UM PROJETO DE<br />

EXTENSÃO DA UFOP, O GRUPO CIA<br />

DA GENTE CHEGOU AO HOSPITAL<br />

SANTA CASA DE OURO PRETO PARA<br />

DISTRIBUIR DOSES DE DIVERSãO,<br />

ALEGRIA E GARGALHADAS...<br />

Dayane Barretos<br />

Arte Gráfica<br />

Danielle Diehl<br />

Fotografia<br />

Daniela Karine<br />

Texto


...TODA SEMANA, OS PALHAÇOS<br />

EXPURGO, MORFINA E FIMOSE<br />

ANIMAM OS CORREDORES DA<br />

PEDIATRIA, MOSTRANDO QUE<br />

RIR É O MELHOR REMÉDIO...<br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong><br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong><br />

13


Enquanto<br />

isso...<br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong>


SMACK!<br />

ATÉ A PRÓXIMA...<br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong><br />

15


Alternativa<br />

Passando o chapéu<br />

Danielle Diehl<br />

O<br />

Museu<br />

que não tinha<br />

teto<br />

Texto: Daniela Karine<br />

Fotos: Danielle Diehl e Flávia Silva<br />

Arte: Dayane Barretos


Danielle Diehl<br />

Dona Nida abre as portas de seu<br />

bar para abrigar as tradições,<br />

memórias e trabalhos da comunidade<br />

do Morro São Sebastião.<br />

Subir e descer as ladeiras de Ouro Preto é o<br />

que mais gosto de fazer nos momentos de lazer. Nasci em Mariana,<br />

cidade vizinha, aprendi a admirar a beleza dos conjuntos<br />

arquitetônicos coloniais das duas cidades. Ouro Preto é a<br />

que mais me fascina pela diversidade cultural e desperta meu<br />

interesse por ações de preservação deste belo patrimônio.<br />

Foi assim que conheci o Ecomuseu Serra de Ouro Preto, um<br />

museu comunitário, que preserva o patrimônio, estimulando a<br />

relação entre a cidade monumento histórico e o cotidiano dos<br />

moradores. É um projeto, coordenado por Yara Mattos, museóloga<br />

e professora da Universidade Federal de Ouro Preto, que<br />

engloba as comunidades dos Morros São Sebastião, Santana,<br />

da Queimada e São João. O trabalho foi iniciado em 2005.<br />

Decido então visitar um dos morros, o São Sebastião. Uma<br />

amiga, frequentadora assídua do bairro, me ensinou o caminho<br />

até lá. Teria que subir uma rua que fica ao lado do Observatório<br />

da Escola de Minas, segundo ela. “E então é só subir<br />

reto”, completou.<br />

Sigo rumo à viela, cada vez mais estreita. Subida forte, calçamento<br />

de pedras irregulares. Pelo caminho, tenho recordações<br />

das aulas de história. Lembro-me das explicações da professora<br />

da época de ensino fundamental. Era um dos trajetos<br />

feitos pelos tropeiros nos tempos de antigamente.<br />

Durante a subida reflito sobre a atividade dos desbravadores<br />

desta região, que fizeram surgir cidades através da condução<br />

de suas tropas. Minha professora dizia que os tropeiros<br />

não eram apenas os homens de negócio, que comercializa-<br />

Tradições, como o ofício dos<br />

tropeiros são resgatadas<br />

pela comunidade, através do<br />

Ecomuseu.<br />

vam mercadorias, mas importantes veiculadores de notícias e<br />

ideias, numa época sem estradas.<br />

Chego ao topo do Morro. O dia estava chuvoso, mas não<br />

ofuscou a beleza de Ouro Preto. Bem em frente à capela da<br />

praça, um bar. O Bar da Nida, local cedido por ela para funcionar<br />

como sede do Ecomuseu. Bati palmas. Um rapaz, Gustavo,<br />

filho de Nida, me recebeu e pedi para conhecer o local. Ele me<br />

disse que a mãe é muito envolvida com o projeto, por isto empresta<br />

o bar para a realização de atividades do museu.<br />

O espaço mais parecia uma casa de tão aconchegante. Na<br />

entrada, o resgate de um elemento tradicional, típico da época<br />

colonial: paredes de pau a pique. À direita, estandartes com fotos<br />

antigas que fizeram parte de uma mostra organizada pela<br />

comunidade. A exposição, uma das atividades do Ecomuseu,<br />

retratava o cotidiano de moradores e visitantes do Morro São<br />

Sebastião. Começo a perceber que museu era aquele.<br />

Em busca de mais informações, sigo para a casa da Nida.<br />

Bárbara, também filha dela, gentilmente me recebeu, pois a<br />

mãe não estava em casa no momento. Foi ela quem esclareceu<br />

minhas dúvidas. “O Ecomuseu somos todos, é a comunidade<br />

e tudo que existiu e existe acerca dela”, relatou. Este museu<br />

não possui paredes. Foge ao contexto clássico. Tudo faz parte<br />

do museu comunitário: as casas, a capela, a ruela de pedras<br />

irregulares, a paisagem. Os costumes, as crenças, a linguagem,<br />

os ofícios, a vista de cima do morro, os tropeiros das minhas<br />

lembranças das aulas de história...<br />

Perguntei à Bárbara sobre como a comunidade contribui<br />

para as atividades do Ecomuseu. Ela cita, então, a “Roda de<br />

Lembranças”, que reuniu no bar, os mais antigos moradores<br />

do bairro para uma conversa informal, momento em que compartilharam<br />

seus conhecimentos, sentimentos e experiências<br />

adquiridos ao longo de toda uma vida. “Temos tudo registrado<br />

através de fotos e vídeos”, destacou. Enquanto ela falava, eu<br />

refletia como foi interessante e rico aquele momento, uma interação<br />

entre gerações.<br />

O Ecomuseu é a própria cidade de Ouro Preto, as comunidades<br />

e sua memória viva. Um museu a céu aberto, composto<br />

por um belo acervo arquitetônico, natural e cultural, cuja<br />

riqueza maior é a beleza no jeito simples de ser do seu povo.<br />

Flávia Silva<br />

17<br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong>


Ação e re-ação<br />

Texto: Ana Luísa Reis<br />

Foto: Dalilia Caetano<br />

Habitar<br />

Arte: Viviane Ferreira<br />

Liberdade à<br />

flor da pele<br />

Desvendando algumas intimidades e<br />

paradigmas sociais da mulher


As mulheres estão adquirindo cada vez mais<br />

espaço na sociedade moderna, mas para que direitos fossem<br />

alcançados a classe feminina teve que passar por diversas lutas<br />

sociais. A primeira revolução e a mais importante, no que se<br />

refere a liberdade sexual feminina, ocorreu no início na década<br />

de 1960.Visto que, juntas poderiam conquistar seus direitos,<br />

as feministas dessa época lutavam por igualdades culturais e<br />

políticas, e encorajavam as mulheres a compreenderem aspectos<br />

de suas vidas íntimas. Outro movimento importante que<br />

integrou e integra a sociedade atual, é a chamada Marcha das<br />

Vadias. Criado em 2011 em Toronto, no Canadá, mulheres vestidas<br />

com roupas consideradas provocantes, salto alto ou apenas<br />

lingeries tinham como objetivo a luta contra a violência<br />

sexual. A partir do primeiro protesto, esse movimento tomou<br />

conta de diversos países, inclusive o Brasil que até hoje apresenta<br />

manifestações.<br />

Entretanto, mesmo com o passar dos anos e após os avanços<br />

conquistados pelas classes feministas, podemos notar que<br />

a mulher ainda é referência nas obrigações domésticas, enquanto<br />

os homens, são responsáveis pelo sustento da casa. Porém,<br />

nada foi em vão. No cenário sexual as mulheres<br />

conseguiram diversas melhorias, diante do fato<br />

que antes das lutas femininas, o prazer sexual<br />

era destinado apenas aos homens, já<br />

as mulheres eram tidas como reprodutoras,<br />

servindo apenas para dar à luz. Hoje,<br />

podemos notar uma série de benefícios<br />

destinados a liberdade sexual feminina.<br />

São anticoncepcionais e métodos contraceptivos<br />

que dão à elas o poder de controlar<br />

quando terão uma gravidez, além de<br />

vacinas que previnem doenças sexuais.<br />

A preocupação com a saúde feminina e<br />

o poder de regular quando teria uma gestação,<br />

já estava presente nas mentes femininas desde do<br />

período da Grécia e Egito antigos. O filósofo Hipócrates<br />

de Quíos descobriu que a semente de cenoura<br />

selvagem tinha eficácia contraceptiva. Com isso, a<br />

medida que os séculos se passaram, as mulheres<br />

continuavam com o uso dos contraceptivos naturais,<br />

mesmo que restringidas a falar sobre sexo.<br />

“A questão sexual era reprimida na nossa época.<br />

Para evitar a gravidez, nossas avós nos davam<br />

chás de ervas naturais antes das relações. Abortos<br />

também eram frequentes, mas ninguém podia<br />

tocar no assunto”, conta a moradora de Ouro<br />

Preto, Efigênia Carabina, de 66 anos.<br />

Nos anos 50 com a construção da identidade<br />

feminina e pela busca da liberação sexual,<br />

foi lançado em 18 de agosto de 1960 o primeiro<br />

contraceptivo oral nos Estados Unidos, chamado<br />

Enovid-<strong>10</strong>. O novo método de contracepção<br />

significou uma verdadeira revolução. Surgiram<br />

vários tipos de pílulas contraceptivas, que por<br />

sua vez tinham níveis diferentes de hormônios.<br />

No Brasil, o anticoncepcional começou a ser<br />

vendido em 1961, invadindo as casas brasileiras<br />

até os dias atuais. Segundo a enfermeira Michele<br />

Isabel Ferreira Mendes, de 34 anos, a pílula foi<br />

a maior forma de liberdade encontrada pelo sexo feminino.<br />

“Hoje a mulher não tem relações apenas para procriação e sim<br />

também por prazer”, enfatiza.<br />

Apesar dos benefícios, as pílulas geraram paradigmas, uma<br />

vez que no atual cenário, as adolescentes não estão se preocupando<br />

com as doenças sexualmente transmissíveis. Tendo em<br />

vista que existe somente uma vacina que previne algumas doenças<br />

sexuais, o índice se torna ainda mais preocupante. “As<br />

meninas fazem o uso abusivo de pílulas, se preocupando apenas<br />

com uma gravidez indesejada, por isso, percebemos um<br />

aumento no número de doenças”, conta a enfermeira. A única<br />

vacina que pode prevenir doenças sexuais é a do HPV.<br />

Liberdade conscientizada<br />

Visto que o índice de doenças sexuais, principalmente o<br />

HPV, vem aumentado significativamente no Brasil, segundo<br />

o Ministério da Saúde, foi lançada em janeiro de 2014 a campanha<br />

de vacinação contra o vírus. Causada pelo Papilomavírus<br />

humano, existem mais de <strong>10</strong>0 tipos de HPV, sendo que<br />

40 deles podem ser transmitidos através do contato sexual.<br />

Alguns tipos, podem causar câncer do colo do útero, câncer<br />

na garganta e no reto, além de verrugas genitais ou em outras<br />

partes do corpo. Haja vista que a doença atinge principalmente<br />

as mulheres (por possuírem, em relação aos homens, baixa<br />

resistência às infecções, devido a alterações de imunidade em<br />

cada ciclo menstrual), e que a prevenção pode ser mais eficaz<br />

em virgens, foi decidido pelo Governo Federal, que a faixa etária<br />

da vacina seriam jovens de 11 a 13 anos.<br />

“As meninas estão começando a vida sexual cada vez mais<br />

cedo, por isso foi escolhida essa faixa etária. A vacina em mulheres<br />

que já iniciaram esse processo não surtiria o mesmo<br />

efeito”, explica a enfermeira Michele. Apesar das controvérsias,<br />

principalmente religiosas, que defendem que a faixa etária<br />

estaria estimulando pré-adolescentes a iniciarem sua vida<br />

sexual, no primeiro mês de 2014 mais de 3,4 milhões de meninas<br />

já foram imunizadas contra o vírus HPV, de acordo com o<br />

Ministério da Saúde. O número representa 83% da meta, que<br />

é vacinar 4,1 milhões de adolescentes.<br />

O corpo como tabu<br />

Hoje, em pleno século XXI, podemos notar um quadro ambíguo<br />

na sociedade. Enquanto algumas mulheres falam e tratam<br />

o sexo naturalmente, outras ainda não conseguem lidar<br />

abertamente com questões sexuais. O psicólogo da Universidade<br />

Federal de Ouro Preto, Leandro Andrade, ressalta que<br />

a sexualidade não extrapola, simplesmente a questão carnal,<br />

mas toda uma cultura, marcada por comportamentos e atitudes.<br />

“Se a questão da sexualidade não for bem refletida, acaba<br />

por comprometer toda a saúde psíquica da mulher, afinal de<br />

contas, o simples fato de inaugurar um novo espaço de vivenciar<br />

seu corpo, não garantirá formas de enfrentamento marcadas<br />

por uma cultura que se diz não machista, mas que ainda<br />

coloca o homem como o possuidor de direitos de vivenciarem<br />

mais abertamente suas questões sexuais”, destaca o psicólogo.<br />

A sexualidade feminina está relacionada com a saúde do próprio<br />

corpo e a saúde psicológica, que se não estiverem interligadas,<br />

não conseguem obter nenhum tipo de prazer.<br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong><br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong><br />

19


Opinião<br />

Eu devo dizer<br />

Voto e legitimação de poder<br />

As disputas partidárias são as<br />

características mais evidentes de um ano<br />

eleitoral. Todavia, as peculiaridades desse<br />

intervalo de tempo, que se repete a cada dois<br />

anos, projetam-se em uma mesma direção:<br />

o voto. Ainda que desse movimento surja<br />

uma ideia de síntese, esse exercício apresenta-se<br />

como cerne de discussões arraigadas à<br />

evolução política nacional e, no ano em que<br />

o movimento das “Diretas Já” completa três<br />

décadas, faz-se pertinente pensar na<br />

relação entre o votar e a configuração<br />

de poder daí advinda.<br />

Dos 53 termos iniciados<br />

com a letra “v” e disponibilizados<br />

no glossário do site<br />

do Tribunal Superior Eleitoral<br />

(TSE), 51 são conceituações referentes<br />

a voto. Esse recorte compreende<br />

basicamente as modalidades<br />

de voto que se fizeram e as que ainda se<br />

fazem presentes na política brasileira desde<br />

1532. Desse ano data a primeira eleição realizada<br />

em território nacional para a escolha do Conselho Municipal<br />

de São Vicente, vila fundada pelos portugueses na região<br />

do atual estado de São Paulo. Nesse pleito, a modalidade<br />

de votação adotada foi a indireta, caracterizada pela escolha<br />

de representantes pelo povo, os quais, em seguida, elegem os<br />

ocupantes dos cargos oficiais.<br />

A razão principal da adoção<br />

do voto obrigatório, em 1932, foi o temor<br />

de que uma participação diminuta<br />

pudesse tirar a legitimidade do processo<br />

Texto: Isadora Ribeiro<br />

Foto: Thiago Novais<br />

Arte: Maysa Alves<br />

Quatrocentos anos depois, em 1932, dois anos após assumir<br />

a presidência da República, Getúlio Vargas criou a Justiça<br />

Eleitoral, estabeleceu a votação secreta e obrigatória e deu às<br />

mulheres o direito do voto. Vale lembrar que nessa época as<br />

eleitoras casadas dependiam da autorização do marido e as<br />

solteiras ou viúvas deveriam ter renda própria. Essas condições<br />

só foram eliminadas há oito décadas, com a Constituição<br />

de 1934, que também estabeleceu 18 anos como idade mínima<br />

para votar e normatizou a votação “obrigatória” firmada pelo<br />

Código Eleitoral de dois anos antes. Entretanto, as mulheres<br />

só deixaram de ter o voto como opção facultativa em 1946.<br />

As ações de Vargas, contudo, não se restringiram a essas<br />

concessões. Em 1937, ele instituiu o Estado Novo, governando<br />

ditatorialmente até 1945. Nesse intervalo de oito anos, as<br />

eleições livres foram interrompidas, tal como viria a ocorrer 19<br />

anos depois, com a tomada de poder pelos militares. O governo<br />

iniciado com o golpe de 1964 suspendeu as eleições diretas<br />

para os cargos de presidente, prefeito, senador e governador.<br />

Isso motivou manifestantes a irem às ruas em prol do direito<br />

de votar nos candidatos de sua própria escolha, movimento que<br />

ficou conhecido como “Diretas Já”. As reivindicações desse movimento,<br />

no entanto, só foram acatadas cinco anos depois, em<br />

1989, quando a eleição presidencial pelo voto direto, após 25<br />

anos de embargo, voltou a ser válida.<br />

A legitimação de um governo passa, em um sistema democrático,<br />

necessariamente pelo voto. Para Luzia Helena de Oliveira,<br />

professora da Universidade Estadual de Londrina (UEL),<br />

“a razão principal da adoção do voto obrigatório, em 1932, foi<br />

o temor de que uma participação diminuta pudesse tirar a legitimidade<br />

do processo”. Nesse sentido, foi ilegítimo o governo<br />

militar instalado em 1964, pois além de destituir do poder o<br />

presidente eleito constitucionalmente, impediu que a população<br />

elegesse seus representantes para os cargos mais significativos<br />

do poder político nacional.<br />

A descrição do percurso histórico do voto no Brasil seria<br />

desnecessariamente extensa para mostrar o que os exemplos<br />

levantados já fazem: seja pensado enquanto direito, dever ou<br />

qualquer outra qualificação, o voto é determinante na configuração<br />

das relações de poder político de uma sociedade. A<br />

escolha dos próprios representantes, obrigatoriamente ou por<br />

opção, é, antes disso, uma manifestação individual com implicações<br />

coletivas. Isso, por mais clichê que se apresente, simboliza<br />

a necessidade de uma participação refletida do eleitorado.<br />

T<br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong>


a es r vs i<br />

a


Ecos de Ch<br />

Há 29 anos o último regime militar<br />

brasileiro chegava ao fim,<br />

alavancado por uma juventude que<br />

se opusera bravamente contra a<br />

repressão. Era então extinto o<br />

pensamento militarista e suas<br />

premissas opressivas.<br />

Ou não.<br />

Não é possível afirmar que o país se livrou das práticas da<br />

violência militar. Linchamentos protagonizados por justiceiros (encorajados<br />

por reacionários que, acredite, tem seu lugar na grande mídia) figuram nos<br />

cadernos de notícia, participando do dia a dia do brasileiro. Fazer justiça<br />

com as próprias mãos é resultado de uma cultura militarista e violenta, bem<br />

como de muitas desigualdades sociais que se perpetuam pela autoridade designadas<br />

a certas estruturas institucionais carcomidas. De fato, tal estruturação<br />

ecoa lógicas e rotinas do último período de governo militar no Brasil.<br />

Daí então, como julgar uma população que fora acostumada com a violência<br />

no cotidiano?<br />

É necessário compreender que a ditadura deixou um legado de desrespeito<br />

aos direitos humanos. Desde o tardio empenho às políticas afirmativas<br />

até o – ainda – precário resguardo aos direitos básicos do cidadão.<br />

Texto: João Gabriel Nani<br />

Fotos: Pablo Silva<br />

Arte: Pedro Carvalho


umbo<br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong><br />

Segundo o cientista político Edson Teles, autor do livro O que Resta<br />

da Ditadura - A exceção brasileira (Boitempo Editorial, 20<strong>10</strong>), com o não<br />

cumprimento dos direitos por meio de políticas sociais que resguardem a<br />

integridade do indivíduo se dá “a criação de uma cultura de impunidade<br />

em relação às violações contra os direitos humanos. A sociedade brasileira<br />

tem certeza de que a violações aos direitos humanos não é apurada,<br />

inclusive – ou principalmente – quando é cometida pelo próprio Estado.<br />

A tortura política já existia no país há muito tempo, mas a institucionalização<br />

dessa prática e depois o avanço para os crimes comuns foram<br />

consequência direta da ditadura, porque nunca se apurou essa violação.<br />

Então, a tortura migra da política e hoje é aplicada sistematicamente por<br />

critério social e econômico.”<br />

Como forma de refutar o passado recente do país e dar um passo a<br />

frente, ainda que tardio, a Comissão Nacional da Verdade (CNV), criada<br />

pela Lei 12528/2011 e instituída em 16 de maio de 2012, toma a responsabilidade<br />

de combater a ditadura do silêncio, propondo uma releitura das<br />

atrocidades cometidas pelos militares, e impor maior responsabilidade ao<br />

estado no que diz respeito aos abusos contra as liberdades do cidadão.<br />

23


CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong><br />

Em pesquisa realizada pela antropóloga Kathrin<br />

Sicks, que analisou dez países latino-americanos<br />

que sofreram com o desrespeito aos direitos<br />

humanos durante as décadas de 1960 e 1970,<br />

após a implantação de políticas promovedoras de<br />

investigações sobre o não respeito aos direitos humanos,<br />

o número de violações caiu sensivelmente.<br />

Nos países em que, além das apurações, foram instaladas<br />

comissões de verdade, as denúncias caíram<br />

mais ainda.<br />

Mas será que a sociedade brasileira estaria disposta<br />

a um processo de rememoração de sua história<br />

recente?<br />

A professora da Universidade Federal de Ouro<br />

Preto, Marta Regina Maia, que concentra seus estudos<br />

na Comissão Nacional da Verdade acredita<br />

que “a partir da criação da CNV o período do regime,<br />

até então submetido a um ‘desejo de desaparecimento’<br />

por parte da grande mídia tornou-se<br />

inevitável”. Para Maia, é possível dizer que houve<br />

ampliação das matérias relacionadas à ditadura,<br />

mas ainda há muito a ser desvendado. Nesse contexto,<br />

pode-se dizer “que os temas que ganharam<br />

reverberação nos meios de comunicação foram as<br />

investigações sobre as causas das mortes dos expresidentes<br />

Juscelino Kubitschek (JK) e João Goulart<br />

(Jango). As Comissões da Verdade (Nacional<br />

e estaduais) investigam as causas das mortes dos<br />

ex-presidentes, que se sustentam na hipótese de<br />

que elas foram arquitetadas pelo governo militar.<br />

Diante dessa hipótese, as Comissões, além da tomada<br />

de depoimentos, solicitaram as exumações<br />

dos corpos de João Goulart e do motorista que dirigia<br />

o veículo de JK na data do acidente automobilístico<br />

que o matou.”<br />

Para onde foram nossos heróis?<br />

“Maluco, mau e perigoso de se conhecer”.<br />

Eram estes os adjetivos que construíram o conceito<br />

de anti-herói, idealizado, no início do século XIX,<br />

pelo poeta e escritor britânico Lorde Byron. Na<br />

história recente do Brasil, seria possível resgatar<br />

personagens – não poucos – que se identificariam<br />

como a premissa do romancista inglês.<br />

No período mais rígido do regime militar, entre<br />

1968 e 1979, foram vastas as “guerrilhas” (leia-se<br />

movimentos oposicionistas, greves e protestos)<br />

contra as repressões alavancadas pela instauração<br />

do AI-5, que suprimira as liberdades individuais<br />

dos cidadãos. Os guerrilheiros então assumem a<br />

incumbência de confrontar os militares. Surgem<br />

então, tal qual taxados pelos discurso oficial, os<br />

“anti-heróis nacionais”, jovens com perspectivas<br />

revolucionárias, e até esquerdistas, importantes<br />

para os movimentos que culminaram, anos depois,<br />

no fim do militarismo.


Mas terminado o período do regime, onde estão nossos<br />

heróis ou anti-heróis do passado recente? Nossos<br />

heróis estão entre nós, mais precisamente, acima, começando<br />

pela própria presidenta Dilma Roussef, alcunhada<br />

de guerrilheira (nomeação que hoje muitos direcionam<br />

a quem sofreu tortura física e psicológica, ou que<br />

tenha sido membro da luta armada). Outro nome é o de<br />

Franklin Martins, ministro chefe da secretária de comunicação<br />

social da república de 2003 a 20<strong>10</strong>, e Fernando<br />

Gabeira, deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro<br />

durante 4 mandatos consecutivos, idealizadores do fatídico<br />

sequestro do embaixador norte americano Charles<br />

Burke Elbrick, no ano 1969. O sequestro culminou na<br />

troca do embaixador por 13 presos políticos, que foram<br />

“agraciados” como asilo político em países predeterminados<br />

na famosa carta entregue aos militares.<br />

Após o sequestro, em represália, os militares enrijeceram<br />

ainda mais a prática repressionista. Ao tecer<br />

uma visão crítica do episódio, Gabeira afirmou ao jornal<br />

O Estado de S. Paulo, em setembro de 2009, em tom de<br />

arrependimento: “Queríamos, com a soltura dos presos,<br />

recompor um pouco os grupos de<br />

esquerda que estavam quase esfacelados<br />

e ditadura se aproveitou<br />

do sequestro para aumentar a repressão,<br />

principalmente sobre os<br />

grupos pacíficos, que pretendiam<br />

combater o regime de outra forma.<br />

Na verdade, pode ter significado<br />

o início do fim da oposição<br />

armada ou não.”<br />

Entre os 13 anistiados estava também o ex-deputado<br />

e ex-ministro Chefe da Casa Civil da Presidência da República<br />

no governo primeiro governo do presidente Luís<br />

Inácio Lula da Silva de 2002 a 2005, José Dirceu. Militante<br />

do movimento estudantil durante o regime, sendo<br />

ícone de uma juventude que batalhou pelo processo de<br />

redemocratização do país, Dirceu tornou-se um dos principais<br />

políticos da década de 1990 até o início dos anos<br />

2000. No ano de 2012, foi condenado a <strong>10</strong> anos e dois meses<br />

de prisão, pelos crimes de corrupção ativa, formação<br />

de quadrilha, entre outros, relacionados ao episódio que<br />

ficou conhecido como “Mensalão do PT”.<br />

Dirceu, pode-se dizer, trouxe o “Crepúsculo do ídolos”<br />

de Niethszche à tona. Atualizou o quadro de anti-heróis<br />

brasileiros com certa mágoa. Outros, como ele, foram<br />

símbolo de uma juventude ativa, militante e disposta a<br />

mudar o quadro político do país, sem medo da tortura ou,<br />

na pior das hipóteses, da morte. Era a honrosa “Juventude<br />

Transviada” do Brasil. Hoje, ela é história.<br />

Eu luto contra quem?<br />

Conformismo e despolitização tornaram-se comuns<br />

como adjetivos à juventude brasileira. Comumente, tecem-se<br />

tal afirmação ao se comparar a juventude atual<br />

A ditadura se aproveitou<br />

do sequestro para aumentar a repressão,<br />

principalmente sobre os grupos<br />

pacíficos.<br />

a juventude da década de 1970, qual enfrentava corajosamente<br />

o regime. No entanto, a juventude de 1970 estava<br />

sob as égides de um governo ditatorial e repressor<br />

dos direitos individuais. Tinha-se ali o descontentamento<br />

tênue atuando como força motora aos jovens para que<br />

conduzissem seu descontentamento até as ruas, onde por<br />

passeatas e protesto exerceriam uma participação política<br />

de suma importância. E a Juventude de hoje, lutará<br />

contra quem?<br />

Os tempos mudaram. Há liberdade de expressão, direito<br />

individuais e de ir e vir, possibilidade de ascensão<br />

econômica e acesso à informação (ainda que parcialmente).<br />

De fato, é arriscado estabelecer uma frágil comparação<br />

entre as duas gerações. Mas isto também não quer<br />

dizer que a juventude contemporânea está isenta do pecado.<br />

Há ausência de grandes causas desmobiliza os movimentos<br />

sociais.<br />

Em maio de 2013 o jogo pareceu mudar. Atípico até<br />

então, os jovens saem as ruas para protestar inicialmente<br />

contra o aumento de 20 centavos nas passagens de ônibus.<br />

Com o passar dos dias, o movimento ganhou espaço<br />

e se alastrou por todo o país, não<br />

só obstante ao aumento das passagens<br />

mas a diversas outras demandas,<br />

numa espécie de coro dos<br />

descontentes. Mas o coro esbarrou<br />

num Estado não preparado para o<br />

dia que os jovens sairiam as ruas.<br />

E sem preparo, conflito e a violência<br />

aconteceram. Quando o quadrinista<br />

Alan Moore parafraseia a<br />

anarquista Emma Goldman e diz: “Não há revolução sem<br />

dança”, é fato. E dança com a polícia militar (eco vivo<br />

da ditadura) é violência. A violência que deslegitimou<br />

precocemente a perspectiva de uma revolução, cessada<br />

após um discurso da presidente Dilma, atendendo parcialmente<br />

as reivindicações dos protestantes.<br />

Segundo Zygmunt Baumman, sociólogo austríaco, a<br />

“revolução” daquele momento viria a tornar-se efêmera,<br />

cessando aos poucos. Grupos isolados continuaram com<br />

protestos e mobilizações, mas perderam o apoio da massa<br />

(com exceção das redes sociais, onde a maioria dos usuários<br />

são “revolucionários”). Aos poucos, como resultado,<br />

notou-se que os problemas existentes no cenário nacional<br />

não incomodam tanto aos jovens. Estaríamos diante<br />

de uma juventude que se contenta com o “pouco” que<br />

tem, ou que não se mobiliza pelo coletivo?<br />

Para a pesquisadora Marta Maia, que militou no “Diretas<br />

Já”, “atualmente temos outros valores colocados<br />

na arena social. Parece-me que a emoção e os direitos<br />

individuais (tão represados em momentos anteriores)<br />

criam mais demandas do que as formas tradicionais de<br />

reivindicações mais institucionalizadas. De todo modo,<br />

os movimentos podem criar novos valores e práticas. Só a<br />

história poderá nos mostrar como essa potência irá transbordar,<br />

por intermédio das causas coletivas ou pela radicalização<br />

do individualismo auto-centrado.”<br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong><br />

25


aaaaa<br />

Jovens no comando! ARENA outra<br />

vez! ARENA?<br />

Partido dos militares, o ARENA foi praticamente<br />

banido da política brasileira ao fim da ditadura. Ícone<br />

de um período repressor, o partido não tem mais espaço<br />

num regime democrático e com liberdades individuais<br />

plenas. Mas não é bem assim que alguns pensam.<br />

Em 2012 a estudante gaúcha de 23 anos, Cibele<br />

Baginsk, resolveu recriar o partido. Quando perguntada<br />

sobre a relação do ARENA com o ditadura, Cibele<br />

afirma que “Conhecer e valorizar a história do nosso<br />

país é importante, mas mais importante ainda é poder<br />

a partir desse aprendizado e de tudo o que vemos no<br />

presente, projetar e trabalhar pelo futuro, então não<br />

nos atemos simplesmente à demagogia de ficar falando<br />

do passado”.<br />

Ainda segundo a estudante, há grande mobilização<br />

do público jovem, e acredita que isso se dá porque<br />

“Muitos deles não tem espaço para se manifestar por<br />

que são de direita” – afirma.<br />

De acordo com o estatuto publicado no Diário Oficial<br />

da União, a nova ARENA é um partido que “possui<br />

como ideologia o conservadorismo, nacionalismo e<br />

tecno-progressismo, tendo para todos os efeitos a posição<br />

de direita no espectro político; devendo as correntes<br />

e tendências ideológicas ser aprovadas pelo Conselho<br />

Ideológico (CI), visando a coerência com as diretrizes<br />

partidárias. A ARENA, em respeito a convicções ideológicas<br />

de Direita, não coligará com partidos que declaram<br />

em seu programa e estatuto a defesa do comunismo,<br />

bem como vertentes marxistas”.<br />

Em Abril de 2014, o STF rejeitou o pedido de criação<br />

do partido.<br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong><br />

mO<br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong><br />

M


uN DO<br />

E M


Alternativa<br />

Vocë tem sede de quê?<br />

Mundo nas<br />

veias<br />

Pé na estrada<br />

e mochila nas costas. Esta é a vida<br />

de várias pessoas que decidem viajar pelo mundo em<br />

busca de conhecimento e aventuras. Impulsionado por um movimento<br />

literário na década de 1950 – conhecido como Geração Beat, composto por jovens cansados<br />

dos padrões da sociedade estadunidense – hoje, os chamados “mochilões” despertam<br />

a atenção das pessoas que estão dispostas a arriscar novas experiências para mudar as<br />

suas vidas.<br />

A cultura de pegar uma mochila e sair pelo mundo sem rumo certo continua a<br />

quebrar a estética tradicional de vida. Viajar sozinho de um país para o outro, pegar<br />

carona, compartilhar o quarto e histórias com diferentes pessoas é o estilo que faz<br />

a cabeça desses aventureiros.<br />

A artista plástica mineira Lidiane Gonçalves, de 30 anos, é um destes “cidadãos<br />

do mundo”. Após duas viagens pela Europa e uma na Argentina, somando<br />

ao todo quase um ano de viagem, ela atualmente tem um hostel em Ouro<br />

Preto, Minas Gerais, onde ainda tem contato com variadas culturas. Lidiane,<br />

que já está planejando o seu retorno à Alemanha, conversou com a <strong>Curinga</strong><br />

sobre as suas experiências e aprendizados que obteve ao longo da estrada.<br />

Aventureiros<br />

geralmente<br />

possuem<br />

grande identificação com<br />

obras da literatura, músicas<br />

e filmes que abordam jornadas<br />

na estrada. Houve algo<br />

que serviu como inspiração<br />

para você?<br />

No meu caso, só a arte mesmo.<br />

Porque é muito legal você<br />

ver ao vivo o que sempre viu nos<br />

livros. Eu ia para galerias para<br />

ver , por exemplo, Salvador Dalí<br />

e estas coisas que você acha que<br />

não tem acesso ou nunca vai ter<br />

oportunidade. Mas também tudo<br />

da história geral, como o Muro de<br />

Berlim. Eu fui lá para ver o muro, e<br />

a sensação é que você se vê dentro da<br />

história. Isso é algo incrível!<br />

Qual foi a opinião<br />

de sua família quando você decidiu se tornar uma mochileira?<br />

Meus pais me acham louca! (risos). Eles são super tradicionais,<br />

o meu pai acha que a gente tem que ter um trabalho,<br />

um salário... Sabe, esse padrão tradicional. Mas eu não. Todo<br />

dinheiro que eu juntava, eu planejava uma viagem e ia. Eles<br />

ficavam preocupados comigo, especialmente o meu pai sobre<br />

a Alemanha, com o medo de eu sofrer algum preconceito.<br />

Mas isso tem em todo o lugar, o Brasil mesmo tem.<br />

Porém, eu sempre fui muito bem recebida lá, eu<br />

gosto muito dos alemães. Foi essa preocupação<br />

do meu pai, mas até hoje ele acha<br />

loucura. Ele diz assim: “Nossa!<br />

Você nunca para!”.<br />

Quais<br />

os lugares mais<br />

interessantes em que você já<br />

esteve?<br />

Nossa, essa é difícil! Eu já fiz esta pergunta para vários de<br />

meus hóspedes. Mas eu não sei, pois todos são lugares lindos.<br />

Uma vez, fiquei em uma vila, em uma cidadezinha na Suíça,<br />

onde eu realmente era um ser encantado, porque é uma cidade<br />

em que ninguém faz turismo, todo mundo branco com olhos<br />

azuis. Eu gostei de lá porque eles têm aquela cultura de deixar<br />

a porta aberta, havia pés de maçãs e pêras na porta das<br />

casas, sabe? Era uma vilazinha muito agradável! Não sei se é<br />

porque eu me acostumei com Ouro Preto, mas eu gosto das<br />

cidades pequenas. Na Alemanha tem a Weimar, a cidade<br />

onde há a Universidade Bauhaus, e é linda! Eu me interesso<br />

muito por estas cidadezinhas!


Texto: Gisela Cardoso<br />

Foto: Bárbara Monteiro<br />

Arte: Mayra Santos Costa<br />

29


Sobre as pessoas e realidades<br />

que você conheceu em suas viagens, quais<br />

são suas impressões, o que você aprendeu com elas?<br />

Os conflitos são os mesmos, são universais. Há<br />

muita gente que está frustrada com o trabalho, mesmo<br />

tendo um bom emprego. Eles tiram este tempo<br />

fora para pensar sobre isso. É muito legal quando você<br />

conhece as pessoas e acontece uma troca, e você vê que<br />

todos nós somos iguais. Há muita gente que me escreve,<br />

dizendo: “larguei minha cidade, meu emprego, fui tentar<br />

o eu queria”. Eu mesma, quando abri o hostel, abdiquei<br />

algumas coisas, mas era algo que eu realmente queria. Eu<br />

apostei nisso, mas se não desse certo, eu voltaria para BH.<br />

Você forma, investe em uma graduação, tem um trabalho e<br />

tal... Não é um conflito somente seu, mas de outras pessoas<br />

também. É uma troca de experiências bem bacana!<br />

Geralmente há momentos desagradáveis nas viagens. Quais<br />

foram as suas piores situações?<br />

Sim (risos). Mas eu acho que eu até tive sorte com os “perrengues”.<br />

Não foram muitos e nem surreais. Na minha primeira<br />

vez na Alemanha, na última semana, eu não conseguia<br />

sacar dinheiro em nenhum lugar. Porém, eu tinha uma amiga<br />

brasileira, que morava lá e fazia intercâmbio, e ela depositou<br />

dinheiro na conta de um amigo da cidade em que eu estava. Em<br />

20<strong>10</strong>, de Berlim eu fui para a República Tcheca. Como eu nunca<br />

pesquiso nada, não sabia que lá tinha outra moeda – achei que<br />

era o Euro. Cheguei lá sem dinheiro nenhum! Daí, entrei no<br />

ônibus sem pagar e coisas assim que todo mundo tem medo<br />

de fazer, mas não vai acontecer nada (risos). Praga foi uma das<br />

cidades que não foi muito agradável. As pessoas não me receberam<br />

muito bem, porque elas não falam em inglês e não dão a<br />

mínima para estrangeiros. A primeira impressão foi bem chata.<br />

É lógico que houve pessoas que ajudaram, mas, com a maioria,<br />

você pede informações, e elas dizem “não, não, não!”.<br />

Ter um hostel em Ouro Preto pode ser considerado como<br />

algo influenciado pela sua experiência na estrada?<br />

Sim, também. Eu tive uma experiência trabalhando em<br />

um hostel em Belo Horizonte por oito meses. Mas eu já<br />

tinha viajado - tanto é que foi um dos fatores que me ajudou<br />

a conseguir a vaga, pois eu já tinha esta experiência<br />

em hostel e viagens, e sabia lidar com pessoas. Porém, ao<br />

mesmo tempo eu fico doida para fazer a mala e seguir<br />

viagem com as pessoas. E agora, eu já tenho mais condições<br />

para viajar. Sempre fiz pequenas viagens de uma<br />

ou duas semanas – a mais recente para a Argentina,<br />

que foi a mais longa. Mas agora o hostel tem condições<br />

de andar sem mim.<br />

Muitos<br />

mochileiros dizem<br />

que a sensação<br />

de liberdade e suas experiências<br />

adquiridas ao longo<br />

da estrada acabam mudando o<br />

seu ponto de vista. Você sentiu essa<br />

mudança?<br />

Lidiane exibe, junto ao seu passaporte,<br />

cartões com o contato<br />

dos hóspedes que pretende<br />

visitar.<br />

Eu acho que sempre. Em qualquer viagem,<br />

até mesmo pelo Brasil, você muda um pouco em relação<br />

a um pensamento que tinha sobre uma coisa, as<br />

pessoas, lugares…<br />

Quais<br />

dicas você<br />

pode dar para as pessoas<br />

que têm interesse em<br />

se aventurarem em mochilões?<br />

Primeiro: se há promoção de passagem,<br />

compre! A minha primeira viagem à Europa foi uma<br />

mega promoção – R$ 1.700,00 ida e volta com taxa. O ruim<br />

é o Euro para se manter lá, mas as passagens estão bem viáveis.<br />

Para se ter ideia, eu tive três dias para resolver tudo para ir à Europa.<br />

Se você já tem passaporte, então será preciso fazer um seguro<br />

de saúde, que pode até ser comprado online. Não pense, aproveite,<br />

compre a passagem e depois você decide o que vai fazer (risos).


Ser ou não ser<br />

NÃO GRITA<br />

que eu te escuto!<br />

Opinião<br />

Não é que eu odeie ter vizinhos,<br />

mas às oito horas da manhã de um sábado…<br />

Finalmente o sábado chegou, depois<br />

de uma semana de aula, estágio, e tudo<br />

mais que me impede de acordar tarde e<br />

aproveitar o escuro do meu quarto e o silêncio<br />

que por ele paira. Mas eis que são oito<br />

da manhã e a rua já esta cheia, bom não sei<br />

se está de fato cheia, mas posso ouvir claramente<br />

o que meus vizinhos conversam.<br />

Mesmo sem gostar de futebol, estou virando<br />

uma expert no assunto, ou pelo menos<br />

já sei dos resultados de vários jogos, seja o<br />

mineiro, paulista ou libertadores e sem falar<br />

das várias retrospectivas. E assim começa<br />

meu dia, com aquela vontade de sair gritando,<br />

por mais que isso seja totalmente controverso<br />

a minha vontade de silêncio.<br />

Bom, este foi apenas um desabafo, afinal<br />

não sou a única pessoa que passa por<br />

este tipo de situação, que também não é<br />

algo exclusivo dos sábados de manhã. Mesmo<br />

existindo diversas leis do silêncio, que<br />

estabelecem restrições para a geração de ruídos<br />

independente do horário, nem sempre<br />

são respeitadas. Principalmente em cidades<br />

do interior, onde a legislação ainda não prevê<br />

limites e sanções. A solução para estes<br />

problemas ainda depende do registro de<br />

boletins de ocorrência, pois normas de uma<br />

boa vizinhança, não é uma lei.<br />

Dado que a construção de casas com<br />

abafadores sonoros não é exatamente a solução<br />

mais adequada, o jeito é esperarmos<br />

que as pessoas possam entender que não é<br />

necessário gritar para ser ouvidas. Afinal o<br />

vizinho é quem esta do seu lado, literalmente,<br />

e muitas vezes, talvez pela proximidade,<br />

é o primeiro pelo qual a gente vai atrás<br />

quando precisa.<br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong><br />

Texto: Flávia Silva<br />

Foto: Bárbara Monteiro<br />

Arte: Thiago Huszar<br />

31


Penso, logo...<br />

Identidade<br />

Texto: Rosi Silveira<br />

Foto: Rosana Freitas<br />

Arte: Isabella Madureira


Muitos consideram como uma religião,<br />

outros como uma filosofia, um modo de pensar e<br />

viver a vida. Independente das definições, o budismo<br />

é uma prática que apesar de muito antiga, vem<br />

crescendo e ganhando adeptos até os dias de hoje.<br />

Por volta do século 523 a.C., nascia no Norte da<br />

Índia, um menino de nome Sidarta Gautama. Filho<br />

de príncipe dedicou sua vida à procura da libertação<br />

do sofrimento, trilhando um caminho de sabedoria<br />

e reflexão. Quando completou 29 anos, abandonou<br />

as suas riquezas e seguiu um caminho em busca<br />

da verdade. Foi então que em Gaia, um vilarejo<br />

indiano, após 49 dias e noites de meditação embaixo<br />

de uma árvore, alcançou o estado iluminado<br />

tornando-se Buda. Vale ressaltar que esse<br />

nome não se refere a ninguém, mas um título<br />

aplicado a quem atingiu um nível superior de entendimento,<br />

que sabe a verdade e se libertou.<br />

Devido à compreensão da realidade e de seus<br />

fenômenos e processos, o budismo pode ser considerado<br />

como uma linha de pensamento baseada na<br />

palavra sabedoria. “É uma cultura religiosa que visa<br />

meramente praticar o bem sem dogmas ou cânones”,<br />

afirma o monge Aníbal Ji Po, do Mosteiro de<br />

Zen Budismo de Ouro Preto.<br />

Existem três troncos principais no budismo: o<br />

Ortodoxo (crente), que resgata a prática adotada<br />

no tempo do Buda e seus seguidores se vestem<br />

de vermelho; o Lamaísta que incorporou os valores<br />

da cultura tibetana, com muitas cores e sons; e<br />

o budismo Zen, que combinou a cultura Taoista da<br />

China e de diversas artes e tradições japonesas, gerando<br />

o Zen Budismo, tendo como cor predominante<br />

o preto. Mas afinal, por que as pessoas buscam entender<br />

e praticar o budismo?<br />

Escolhas distintas<br />

Qualquer que seja o tipo de budismo praticado,<br />

a grande maioria dos adeptos buscam paz,<br />

sabedoria, novos hábitos e conhecimentos. Mais<br />

que isso, para lidar com questões que não conseguem<br />

responder em outras crenças e religiões.<br />

A estudante de Ciências Biológicas da Universidade<br />

Federal de Ouro Preto, Sara Barbosa, se interessou<br />

pelo budismo após ter vivido uma busca incessante<br />

por respostas. “Fui criada dentro de outras religiões,<br />

porém nenhuma delas sanou minhas curiosidades<br />

e anseios a respeito da vida, do porquê das coisas<br />

acontecerem da forma como acontecem, entre outras<br />

questões que faziam morada em minha mente”.<br />

Praticante do budismo há cinco anos, após participar<br />

de reuniões de estudo aprofundadas, Sara percebeu<br />

que havia pessoas que, muitas vezes, partilhavam<br />

do mesmo pensamento dela. “Minha<br />

busca por uma filosofia, que fosse de encontro<br />

com meus anseios, terminava ali. Encontrei no<br />

budismo a forma de transformar a minha vida<br />

a partir da minha própria transformação, denominada,<br />

no budismo Nitiren, de Revolução Humana”,<br />

conta a estudante que se converteu em 2011.<br />

O Budismo Nitiren da Soka Gakkai traz aos seus<br />

adeptos um novo modo de enxergar a vida, no qual<br />

o indivíduo se baseia nos fundamentos em qualquer<br />

circunstância, não só nos momentos cruciais, permitindo<br />

a liberdade de pensamento no que tange<br />

à comportamentos, posicionamentos políticos,<br />

orientação sexual entre outros. “Vejo que se trata<br />

de uma religião totalmente ‘antenada’ com os<br />

novos rumos da humanidade e capaz de trazer felicidade<br />

a todos, porque o budismo tem um olhar<br />

humanizado com os mesmos”, afirma o budista e<br />

estudante de arquitetura Glauber Guimarães.<br />

Praticante dessa mesma vertente, a jornalista<br />

Selma Silva, adepta ao budismo há 17 anos e convertida<br />

desde 2005, escolheu praticar essa filosofia<br />

pelo exemplo de transformação da sua mãe, que é<br />

budista há 33 anos. “Ainda na adolescência, percebi<br />

as mudanças da minha mãe depois que se converteu.<br />

Ela era muito nervosa e depois passou a ter mais<br />

equilíbrio e firmeza para a tomada de decisões<br />

e isso transformou o ambiente em nossa casa.<br />

Como consequência, a cada dia, crescíamos como<br />

seres humanos”, conta.<br />

As circunstâncias pela escolha do Budismo são<br />

várias. Cada pessoa tem os seus motivos e explicações.<br />

Independente das escolhas individuais, todos<br />

acreditam na força que o Budismo tem em aliviar as<br />

tensões do mundo e trazer sabedoria e autoconhecimento<br />

para quem o pratica. “É muito comum as<br />

pessoas me perguntarem ‘o que o Budismo diz com<br />

relação a isto?’, eu acho engraçado e respondo:<br />

‘não diz nada, o Budismo se atém às questões<br />

espirituais da vida, nós apenas estudamos os<br />

sutras e ensinos, procurando interpretá-los em<br />

nossa vida. Em outras palavras, se você vive determinada<br />

situação é você mesmo que deve saber<br />

se posicionar diante dela, não o Budismo! Nós<br />

somos livres para pensar, basta que tenhamos um<br />

coração puro’”, pontua Glauber.<br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong><br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong><br />

33


CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong><br />

O que é preciso para ser budista?<br />

O primeiro passo para se tornar um adepto do<br />

budismo é o conhecimento. Ler sobre os ensinamentos<br />

de Buda e os caminhos que podem levar<br />

ao entendimento ou confirmar a escolha por essa<br />

nova filosofia de vida. Depois disso, o ideal é encontrar<br />

um professor experiente e seguir as instruções.<br />

A prática budista apresenta uma tríade: fé,<br />

prática e estudo. “Esses ensinamentos, interpretamos<br />

para nossa vida, moldamos o comportamento<br />

de acordo com nossos valores e dialogamos a pratica<br />

com outras pessoas”, diz Glauber.<br />

Já a meditação também é um hábito tradicional<br />

dos budistas. Esta técnica milenar ajuda a limpar<br />

a mente, amplia a capacidade de lembrança e<br />

pode tornar a vida mais saudável. Para a praticante<br />

Selma, “É preciso definir qual é a nossa turma,<br />

qual é a nossa crença, qual é a nossa missão. E<br />

viver de forma coerente com nossas escolhas. Todos<br />

os seres humanos tem a natureza de Buda e<br />

podem se iluminar nessa existência. Iluminação<br />

significa fazer aflorar nossa natureza de Buda para<br />

emergir sabedoria.”<br />

Pratiquem a bondade, não criem<br />

sofrimento e dirijam a própria mente.<br />

Esta é a essência do budismo.<br />

Buda<br />

Entre as montanhas de Ouro Preto<br />

Ambiente tranquilo, natureza e muita paz.<br />

Para quem quer fugir da rotina e tensões do dia a dia ou<br />

quer apenas conhecer um pouco mais sobre o budismo,<br />

uma opção é o mosteiro Templo Zen Pico de Raios, localizado<br />

em Ouro Preto.<br />

O local, que nesse ano completa 30 anos de existência,<br />

foi fundado pelo monge Tokuda, que na época<br />

dirigia retiros espirituais (sesshins) itinerantes em toda<br />

a região. “Numa ocasião, realizando o retiro na casa da<br />

Domotila do Amaral, na subida do morro, ele se encantou<br />

pelas histórias e cenário do Morro da Queimada,<br />

contíguo à localização atual do Mosteiro, onde os seus<br />

discípulos na época adquiriram a atual propriedade”,<br />

conta o Monge Aníbal Ji Po.<br />

No templo Zen Pico de Raios é praticado o Zen Budismo,<br />

que é identificado pela figura histórica do Buda<br />

(imagem do Buda magro sentado com as pernas cruzadas<br />

em meditação). Segundo Aníbal, os monges tem<br />

como hábitos a “simplicidade, disciplina, austeridade na<br />

prática e atitude de meditação permanente em contato<br />

com a natureza”.<br />

Atualmente, o mosteiro possui a prática dos sesshins,<br />

normalmente mensais e realizados em feriados prolongados.<br />

Os retiros são abertos a todos, mas “o ideal é que<br />

a pessoa possua alguma prática espiritual prévia e seja<br />

adepto do Zazen (meditação sentada zen).” Frequentemente<br />

os sesshins são divulgados no blog do mosteiro<br />

que tornou-se um ponto de visitação da cidade pela<br />

curiosidade que é cada vez maior em relação ao budismo<br />

e ao Zen e sua importância para a humanidade.


Eis a questão<br />

Habitar<br />

O tempero<br />

de uma prosa<br />

Comer em grupo é um hábito que representa mais<br />

que uma tradição. A ritualização das refeições foi documentada desde as<br />

primeiras civilizações como expressão de religiosidade. Na Idade Média, o<br />

ritual de comer e beber servia para fortalecer a amizade, além de reforçar<br />

as relações entre senhor e vassalos. E até hoje esse hábito não mudou. A<br />

cozinha se tornou um ambiente aconchegante nas casas, onde visitas e moradores<br />

se sentem à vontade e acolhidos.<br />

Segundo a antropóloga Carolina Cadima, a cozinha, principalmente<br />

para sociedades em que o ritmo de vida não atingiu níveis como nas grandes<br />

cidades, é sim um foco de interação e organização social. Em muitas<br />

casas brasileiras, por exemplo, podemos notar a presença de duas entradas:<br />

uma pela sala e outra pela cozinha. A moradora de Santo Antônio<br />

das Pedras, subdistrito de Mariana, Fátima da Silva Paiva, de 42 anos,<br />

conta que em sua casa ninguém entra pela sala. “Apesar de terem duas<br />

portas, é sempre pela porta da cozinha que as pessoas entram. Vão<br />

chegando e já sentam na mesa redonda”, relata.<br />

Para Cadima, “o alimento está sempre envolvido em reuniões<br />

com amigos, assim como a bebida, e isso faz da cozinha, lugar em<br />

que se prepara a comida, um foco de sociabilidade”. A antropóloga<br />

ainda destaca uma das reuniões sociais mais comuns na casa dos<br />

brasileiros: “Quer exemplo maior de sociabilidade em torno da<br />

cozinha e da comida do que o churrasco?”.<br />

Modo de preparo do prato: Coversa na Cozinha<br />

• Saber receber as visitas. Você precisa ser acolhedor.<br />

“Quando você acolhe todas as pessoas que visitam<br />

sua cozinha, não precisa nem mostrar o resto da<br />

casa”, relata a moradora de Ouro Preto, Maria Antônia<br />

da Silva Passos, de 65 anos.<br />

• Fazer de sua cozinha um lugar especial: ter um<br />

café bem quentinho e boas quitandas sobre a mesa.<br />

Isso não pode faltar! Oferecer aquele cafezinho<br />

com o aroma de fim tarde é indispensável para uma<br />

boa receptividade.<br />

• Conduzir uma conversa onde todos possam<br />

compartilhar experiências, lembranças e que deixe<br />

o ambiente cercado de energias positivas.<br />

Misture todos os ingredientes e curta o momento<br />

entre amigos e família.<br />

Texto: Ana Luísa Reis<br />

Foto: Dalília Caetano<br />

Arte: Viviane Ferreira<br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong><br />

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Em cheque<br />

Comum<br />

Texto: Carolina Brito<br />

Fotos: Marcos Resende<br />

Arte: Thiago Huszar<br />

MORADA<br />

transitória<br />

“Jogando meu corpo no mundo, andando<br />

por todos os cantos. E pela lei natural dos<br />

encontros, eu deixo e recebo um tanto”.<br />

A música dos Novos Baianos ilustra bem o estilo de vida dos que não<br />

têm medo da estrada. Longe de casa, as moradias coletivas - provisórias ou mais duradouras<br />

- são opções bastante viáveis. Dentre as abordadas a seguir, há uma característica em comum:<br />

a noção de que um ambiente desconhecido pode representar uma oportunidade de criação de<br />

vínculos interpessoais que vão além da troca cultural.<br />

Permuta alternativa<br />

Há aproximadamente 20 anos, Ozana Fonseca, 59, descobriu o gosto por<br />

viajar. Foi de Porto Seguro (BA) até Canoa Quebrada (CE) de carona com pessoas<br />

que conheceu durante o percurso. O trajeto era feito na parte do dia e, à noite,<br />

descansavam em hostels. Também passou longas temporadas na Austrália, Estados<br />

Unidos e Inglaterra, sem abrir mão de tal ambiente coletivo de hospedagem.<br />

Acredita que é a melhor opção de moradia temporária por proporcionar uma relação<br />

mais próxima entre os hóspedes, enriquecendo a troca cultural. “A diversão era<br />

com os próprios amigos do hostel, sempre foi muito bom, muita interação! Cada um<br />

também apresentava uma gastronomia diferente pros outros”, comenta Ozana,<br />

que foi casada durante um ano, mas separou-se justamente pelo desejo de liberdade.<br />

Seu “quartel general”, afirma, é em São Paulo, onde possui residência fixa.<br />

No momento da entrevista, está hospedada no Rosário Hostel, em Ouro Preto.<br />

O local, um casarão bem ao estilo barroco, preserva o aspecto de ambiente<br />

familiar onde a proprietária Luisa Xavier Sans cresceu: “essa era a casa da minha<br />

avó. Meu pai também teve um albergue na década de 80, o primeiro de<br />

Ouro Preto, mas era em outro endereço”. A ouro-pretana, que mora no hostel<br />

com capacidade para 50 pessoas, considera interessante o convívio diário com<br />

os hóspedes, já que conhece a cultura de vários locais por meio de seu trabalho<br />

e aprende a lidar com diferentes tipos de pessoas.


CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong><br />

Mi casa, su casa<br />

Trocar experiências por meio de hospedagem em casas de usuários cadastrados,<br />

sendo visitante ou residente, essa é a proposta do site couchsurfing.<br />

org. Com aproximadamente 7 milhões* de cadastros, o site faz o intermédio<br />

entre pessoas que não se conhecem, mas estão dispostas a passar pela experiência.<br />

Foi o caso da estudante brasileira Clarice Souza e do espanhol<br />

Alfredo Sanchez. Durante uma temporada de estudos em Portugal, Clarice<br />

viajou à Espanha e hospedou-se com a irmã na casa de Alfredo, após contato<br />

prévio pela página virtual. O diferencial, neste tipo de hospedagem, é<br />

a maior proximidade com o anfitrião e, deste modo, com a cultura local.<br />

Poucos meses após a chegada da estudante ao Brasil, ela recebeu<br />

o amigo espanhol na república dela, em Ouro Preto. Alf, como gosta de<br />

ser chamado, considera a experiência positiva: “eu pude ver tudo de forma<br />

muito mais brasileira, tudo da vida cotidiana, que é o que te faz se identificar<br />

com o país. Durante a minha viagem ao Brasil, visitei em torno de 15 pessoas<br />

que já haviam estado na minha casa de Barcelona, e foi um grande prazer<br />

reencontrá-las”.<br />

* Fonte: couchsurfing.org<br />

Convivência contínua<br />

Muito comuns em Mariana e Ouro Preto, as pensões e casas<br />

alugadas por firmas abrigam estudantes e trabalhadores<br />

que vem morar na região. O encarregado de tubulação Isaias<br />

Martins trabalha há oito anos em uma empresa que requer<br />

o deslocamento de seus funcionários, já que funciona por<br />

determinados períodos de tempo nos locais em que presta<br />

serviços. Isaias está em Mariana há 4 meses morando com<br />

colegas de trabalho, e considera a experiência positiva: “divido<br />

quarto com outra pessoa, mas nunca tivemos problemas.<br />

Como moramos em uma residência coletiva, às vezes surgem<br />

divergências, mas no geral, nossa convivência é bem tranquila”.<br />

A estudante Viviane Melo, 21, mudou-se para Mariana<br />

devido aos estudos, e vive há quase três anos em uma pensão com<br />

quartos individuais e demais cômodos compartilhados. Ela acredita<br />

que o ambiente proporciona a integração necessária aos moradores, ao<br />

mesmo tempo em que preserva a individualidade de cada um: “passamos a<br />

maior parte do tempo nas áreas coletivas e fazemos a refeições juntos. Mesmo com<br />

as diferenças, formamos uma família, são pessoas que vou levar para a vida”.<br />

37


O pulso ainda pulsa / O corpo ainda é pouco<br />

Sensação<br />

Drogas<br />

Você sabe o que consome?<br />

Texto: Geovani Fernandes<br />

Arte: Lucas Machado<br />

Segundo a medicina, a palavra droga designa fórmulas que<br />

previnem ou curam doenças e estimulam o bem-estar físico e mental. Contudo, o termo<br />

popular refere-se a substancias lícitas e ilícitas que podem gerar dependência nos indivíduos<br />

que as consomem. As proibições e leis variam de nação para nação. Muitos debates<br />

sobre o consumo e a distribuição das drogas falam sobre descriminalização e legalização,<br />

e há quem defenda que as políticas públicas são o melhor caminho para o controle, não<br />

a repressão. Na própria história há casos em que recriminar não foi a melhor saída, como<br />

a Lei Seca, de 1920, nos Estados Unidos. Após 13 anos, quando chegou ao fim, o consumo<br />

do álcool e o crime organizado eram maiores do que antes da Lei. Hoje, entre tantas<br />

drogas existentes, as mais consumidas são o álcool, o cigarro e a maconha. A Organização<br />

Mundial da Saúde (OMS) apresenta estudos sobre o consumo e as consequências desses<br />

produtos em quem as consome, algumas delas inclusive a morte. Mas você conhece os<br />

efeitos dessas drogas no organismo? E quais os motivos que orientam as regulamentações<br />

dessas substâncias? Para responder tais questões criamos um panorama do consumo das<br />

três drogas mais consumidas no mundo e os efeitos que elas causam no organismo, todos<br />

baseados em dados da OMS.<br />

EFEITOS<br />

IMEDIATOS<br />

Pode causar sonolência ou euforia, alteração de equilíbrio, falha de memória, vômitos, náuseas<br />

e veisalgia (ressaca) após algumas horas.<br />

Aumento da pressão arterial e dos batimentos cardíacos, a quantidade de oxigênio diminui<br />

e há interferência na capacidade respiratória.<br />

Pode ocorrer diminuição da atividade locomotora, mudanças de humor, aumento da<br />

frequência cardíaca e aumento do apetite (larica).<br />

Consumo no Brasil<br />

por faixa etária<br />

12 aos 17 anos<br />

16%<br />

2%<br />

4%


CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong><br />

MORTES<br />

BRASIL: 7 mil ao ano<br />

MUNDO: 2,5 milhões ao ano<br />

BRASIL: 200 mil ao ano<br />

MUNDO: 6 milhões ao ano<br />

NUNCA HOUVE CASOS<br />

COMPROVADOS NO MUNDO<br />

35 anos ou mais<br />

53%<br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong><br />

25 aos 34 anos<br />

40%<br />

11%<br />

5%<br />

<strong>10</strong>%<br />

13%<br />

EFEITOS A<br />

LONGO PRAZO<br />

Pode causar dependência, cirrose hepática, além de doenças cardiovasculares,<br />

como o infarto, e cerebrovasculares, como a hipertensão.<br />

Além da dificuldade respiratória, o consumo do cigarro pode desenvolver câncer<br />

de pulmão, de boca, de laringe e de estômago, e mais de 50 doenças.<br />

Pelo fumo, causa prejuízos pulmonares assim como o cigarro. Se consumida em<br />

excesso, pode levar à falhas na memória.<br />

18 aos 24 anos<br />

38%<br />

8%<br />

17%<br />

EFEITOS A<br />

MEDIO PRAZO<br />

Se consumido em excesso, maiores são as chances de desenvolver<br />

resistência a embriaguez. Porém, também pode causar gastrite, pancreatite,<br />

hepatite e diabetes.<br />

Os chamados fumantes ativos podem ter irritação na garganta<br />

(pigarro), dentes amarelados, manchas nos dedos e nas<br />

unhas e perda de cabelo.<br />

Dependência psicológica, declínio da capacidade pulmonar e<br />

dificuldade de raciocínio.<br />

39


Próxima edição<br />

Manoel de Barros<br />

Victor Hugo<br />

Michel de Montaigne<br />

Cecília Meireles<br />

Guimarães Rosa<br />

Texto: Camélia<br />

Fotos: Fênix<br />

Arte: Corvo<br />

Escrituras Sagradas<br />

Voltaire<br />

Darcy Ribeiro<br />

Na minha jangada o passo<br />

da vida se mostra na vela. O mar<br />

me engole na proa – minha morte<br />

é parar de navegar. Um gole de café<br />

amargo e ainda escuto o rádio que<br />

canta a morte, inevitável e certa,<br />

pode me esperar na próxima onda.<br />

Tormenta de tempestade que me<br />

varre em pó e água.<br />

E eu fico a imaginar se depois de<br />

muito navegar a algum lugar enfim<br />

se chega... O que será talvez<br />

até mais triste. Nem barcas, nem<br />

gaivotas. Apenas humanas companhias...<br />

Com que tristeza o horizonte<br />

avisto, aproximado e sem recurso,<br />

que pena a vida ser só isso...<br />

(C.M.)<br />

Balzac<br />

Millôr Fernandes<br />

Oscar Wilde<br />

Morre-se sozinho, mesmo que de<br />

mãos dadas. O medo de morrer.<br />

Pensar aparelhos, tubos, fios, cheiro,<br />

cor, rachaduras em carne ainda<br />

viva. O homem que teme o sofrimento<br />

já está sofrendo pelo que<br />

teme. (M.M.)<br />

Morte é o fim da vida, e toda gente<br />

teme isso, só a morte é temida<br />

pela vida e as duas reflectem-se<br />

em cada uma. (O.W.) Para tudo há<br />

seu tempo. Há tempo para nascer e<br />

tempo para morrer. (E.S.)<br />

O homem morre a primeira vez<br />

quando perde o entusiasmo. (B.)<br />

Desaparecimento físico, inevitável<br />

como um salto no escuro. A vida<br />

é assim: esquenta e esfria, aperta<br />

e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.<br />

O que ela quer da gente<br />

é coragem. (G.R.)<br />

Para apalpar as intimidades do<br />

mundo é preciso saber: a) Que o<br />

esplendor da manhã não se abre<br />

com faca b) O modo como as violetas<br />

preparam o dia para morrer<br />

c) Por que é que as borboletas de<br />

tarjas vermelhas têm devoção por<br />

túmulos d) Se o homem que toca<br />

de tarde sua existência num fagote,<br />

tem salvação. (M.B.)<br />

Aproximo-me suavemente do momento<br />

em que os filósofos e os imbecis<br />

tem o mesmo destino. (V.) A<br />

morte é de facto o fim, no entanto<br />

não é a finalidade da vida. (M.M.)<br />

O único clamor da vida é por mais<br />

vida bem vivida. (D.R.) Morrer<br />

não é acabar, é a suprema manhã.<br />

(V.H.)<br />

Um espasmo cadavérico depois do<br />

traumatismo físico irreparável. É<br />

lampejo de vida, morbidez de cemitério.<br />

E o pior não é morrer, é não<br />

poder espantar as moscas. (MF)<br />

Mas morro hoje para nascer amanhã,<br />

intenso e vivaz como poeira<br />

de estrela, calmaria de sol, balanço<br />

contínuo de vento. Morte lenta,<br />

que vem de maneira esperada.<br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong>


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A<br />

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