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O Jornal Comunitário da Zona Norte de Maringá! | Ano 01 | Edição <strong>003</strong> | Maringá, março de <strong>2018</strong><br />
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA! | Pág. 7<br />
Um software cujo nome se resume<br />
em apenas duas palavras, o<br />
META 4, vem dando muito que falar<br />
nas universidades públicas paranaenses,<br />
causando uma queda de<br />
braço entre o governo de Beto Richa<br />
e os reitores, tendo, a reboque,<br />
os sindicatos a puxar o cordão de<br />
protesto.<br />
Deixemos de lado, por um momento,<br />
a queda de braço. Afinal o<br />
que é o META 4? Trata se um programa<br />
de computador utilizado para<br />
fazer a gestão de pessoal e rodar a<br />
folha de pagamento. O sistema informatizado<br />
é gerenciado pela Secretaria<br />
Estadual de Administração<br />
e Previdência (SEAP).<br />
Para utilizar o META 4, o governo<br />
comprou, por contrato de licença,<br />
o software de uma empresa<br />
espanhola do mesmo nome. Outras<br />
empresas, públicas e privadas, já<br />
adotam o sistema. Algumas delas:<br />
Caixa Econômica Federal, Bradesco,<br />
Detran e o Boticário.<br />
Uma rápida observada nas prestadoras<br />
de serviço especializadas na<br />
implementação do software basta para<br />
ver que ele promete, em resumo,<br />
centralizar a informação dos funcionários<br />
numa única plataforma, captar<br />
o melhor talento dentro e fora da empresa,<br />
facilitar a comunicação entre<br />
gestores e trabalhadores e aumentar a<br />
produtividade dos funcionários, de<br />
quebra reduzindo custo.<br />
Tudo parece canalizar a uma filosofia<br />
de meritocracia no ambiente<br />
de trabalho. E é justamente aí, temendo<br />
que o governo, sem conhecer<br />
as especificidades de uma instituição<br />
pública de ensino superior,<br />
queira administrá-la como se fosse<br />
uma empresa particular, que a preocupação<br />
aumenta.<br />
Medo do META 4<br />
Voltemos à discussão da queda<br />
de braço. Ela começou há cinco<br />
anos, quando o governo decidiu que<br />
as universidades estaduais teriam<br />
que entrar no META 4. Houve reação.<br />
O governo recuou. E voltou ao<br />
assunto em 2016, desta vez com mais<br />
pressão. Vale dizer que as universidades<br />
estaduais do Norte do Paraná<br />
(UENP), com sede em Cornélio<br />
Procópio, e a Estadual do Paraná<br />
(Unespar), aderiram ao sistema desde<br />
2012. Olhando o que ocorreu<br />
com elas de lá para cá é que as outras<br />
cinco universidades, a de Maringá<br />
(UEM), de Ponta Grossa<br />
META 4: que bicho é este<br />
que quase parou a UEM?<br />
(UEPG), de Guarapuava (Unicentro),<br />
de Cascavel (Unioeste) e a de<br />
Londrina (UEL) passaram a temer<br />
pelo que viria acontecer caso o ingresso<br />
no META 4 fosse irreversível.<br />
E a julgar pelos fatos recentes,<br />
aparenta ser irreversível mesmo.<br />
O governo, com o aval do Tribunal<br />
de Contas do Estado, ameaçou,<br />
em janeiro, a não pagar os salários<br />
dos servidores das universidades<br />
se elas não enviassem as informações<br />
sobre pessoal solicitadas pela<br />
SEAP. O caldo engrossou. Com<br />
carta branca de seu Conselho Universitário,<br />
o colegiado máximo da<br />
instituição, a reitora da UEL, Berenice<br />
Jordão, resolveu encaminhar<br />
os dados ao governo, acompanhando<br />
as demais universidades. A<br />
UEM decidiu não enviar as informações.<br />
O Conselho Universitário votou<br />
contrário ao encaminhamento<br />
dos dados. Os salários atrasaram<br />
por cinco dias e foram pagos no dia<br />
em que uma greve seria iniciada.<br />
Foi então que o reitor Mauro Baesso,<br />
a pedido da SEAP, resolveu<br />
mandar para a Caixa Econômica Federal<br />
ofício autorizando a transferência<br />
do recurso da UEM para a<br />
conta dos servidores. Recurso este<br />
que estava retido pelo governo.<br />
Reitor da UEM enviou ofício<br />
autorizando pagamento dos<br />
salários, mas para o Governo<br />
é adesão ao META 4<br />
‘Baesso tomou a decisão com<br />
o aval do Conselho Universitário.<br />
O COU votou pelo envio do ofício<br />
sob o entendimento de que o documento<br />
apenas permitiria que o dinheiro<br />
para o pagamento dos salários<br />
fossem processados a partir do<br />
novo Siaf (Sistema Integrado de Finanças<br />
Públicas), sem que isso significasse<br />
a adesão automática ao<br />
META 4. Já, o governo entendeu o<br />
contrário. Fevereiro está chegando<br />
ao fim e uma nova onda de tensão<br />
paira no ar: se a Reitoria não encaminhou<br />
as informações exigidas para<br />
o ingresso no META 4 é possível<br />
outro atraso dos salários.<br />
Mauro Baesso - Reitor da UEM<br />
Mas, se de um lado o bolso vazio<br />
no final do mês causa arrepios,<br />
de outro os servidores temem ainda<br />
Paulo Pupim<br />
O software que o governo quer implantar nas universidades estaduais paranaenses é<br />
motivo de uma queda de braço envolvendo sindicatos, reitorias e o Palácio Iguaçu.<br />
outras consequências pela eventual<br />
adesão ao sistema. Eles citam, por<br />
exemplo, o corte abrupto de funções<br />
gratificadas. Hipótese este levantada<br />
pelo presidente do Sindicato<br />
dos Funcionários da Unioeste, o<br />
Sinteoeste, Giancarlo Tozo.<br />
Ofício autorizando pagamento dos salários<br />
Para reitores META 4 é<br />
“desmonte do ensino público”<br />
Como se fosse pouco, os próreitores<br />
de pesquisa e pósgraduação<br />
e os reitores se referem<br />
ao META 4 como um passo decisivo<br />
para o desmonte do ensino superior<br />
público estadual. Na avaliação<br />
deles, como o sistema de decisão ficaria<br />
centralizado em Curitiba, longe<br />
da realidade cotidiana das universidades,<br />
as instituições perderiam<br />
a agilidade burocrática em liberar<br />
professores para pós-graduação<br />
ou mesmo para viajarem a um congresso<br />
científico, dentro ou fora do<br />
Brasil.<br />
Com isso, a capacitação docente,<br />
num ritmo mais lento, provocaria<br />
queda na produção científica e<br />
na inovação tecnológica, justamente<br />
nas áreas em que universidades<br />
como a UEM e a UEL se despontam<br />
nos ranking das agências de avaliação<br />
espalhadas pelo mundo. Guerra<br />
de informações e boatos<br />
Enquanto isso, a queda de braço<br />
prossegue. Um dos capítulos mais<br />
recentes, também um dos mais<br />
emblemáticos, ocorreu em meados<br />
de janeiro, quando o governo fez circular,<br />
especialmente pelas redes sociais,<br />
a notícia de que a UEM pagava<br />
supersalários a uma casta de trabalhadores,<br />
na média de R$ 50 a 80<br />
mil reais.<br />
A opinião pública, claro, reagiu<br />
cobrando explicações e assimilando<br />
o discurso de que o META 4 coibiria<br />
tudo isso, devido à transparência<br />
de informações inerente ao sistema.<br />
E é nesta guerra de informações<br />
e boatos que a batalha promete<br />
novos capítulos.<br />
Indignado, o pró-reitor de Recursos<br />
Humanos e Assuntos Comunitários<br />
da UEM, Luiz Octávio, desmentiu<br />
categoricamente a notícia,<br />
chegando a gravar um áudio que<br />
também ganhou a rede social<br />
WhatsApp.<br />
Em suma, ele explicou que existem<br />
pessoas com dois vínculos empregatícios.<br />
Veja um exemplo: num<br />
período da jornada diária o servidor<br />
dá aulas e no outro trabalha como<br />
médico, atendendo pacientes no<br />
hospital universitário.<br />
Quando chegou no final de<br />
2017, o mesmo profissional recebeu<br />
dois salários, dois décimos terceiros<br />
e dois adicionais de férias, o<br />
que chegou à remuneração de cerca<br />
de R$ 60 mil. Outro caso esclarecido<br />
pelo pró-reitor foi o de uma servidora<br />
que queria reenquadramento<br />
na carreira, passando a receber como<br />
advogada.<br />
Como era funcionária antiga,<br />
ele teria direito aos pagamentos retroativos<br />
pelo tempo de atuação na<br />
UEM. Resultado: a remuneração<br />
em dezembro chegaria em torno de<br />
R$ 300 mil. Conforme Luiz Octávio,<br />
a universidade deu parecer contrário<br />
ao reenquadramento, a funcionária<br />
não recebeu os R$ 300 mil,<br />
mas o governo teria mantido no Portal<br />
da Transparência o valor como<br />
se verdade fosse.■