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A Cachaça em Mariana<br />
Depois dos séculos XVI e XVII, em que houve<br />
significativa multiplicação dos alambiques nos<br />
engenhos de São Paulo e Pernambuco, a<br />
cachaça se espalhou pelo Rio de Janeiro e<br />
Minas Gerais devido à descoberta do ouro e<br />
pedras preciosas. Durante o século XVIII a<br />
economia do açúcar entra em decadência e<br />
passa então a ser substituída pela extração de<br />
ouro em Minas Gerais. No início da migração<br />
para Minas, as cachaças brancas (puras) eram<br />
colocadas em barris de madeira para serem<br />
transportadas até Minas Gerais. No tempo da<br />
viagem, a cachaça, pelo contato com a madeira,<br />
acabava amarelando e tomando aromas e<br />
sabores próprios. Há quem diga que daí que<br />
surgiu o hábito de envelhecer e armazenar<br />
cachaças em barris de madeira. Hoje, podemos<br />
observar que em cidades litorâneas,<br />
como Paraty, há um predomínio de produção<br />
de cachaças brancas, enquanto que em Minas<br />
Gerais, os produtores optam sempre por<br />
armazenar suas cachaças em barris para que<br />
elas adquiram características sensoriais,<br />
como cor e sabor, provenientes da madeira.<br />
Nas regiões de extração estavam também os<br />
pequenos alambiques que abasteciam a<br />
florescente população urbana que tentava<br />
enriquecer com a mineração, apesar dos<br />
impostos cobrados pela metrópole portuguesa.<br />
A tese de doutorado da professora Quelen<br />
Ingrid Lopes: O mercado de bens rurais,<br />
extrativos e urbanos do termo de Mariana:<br />
interações sociais, econômicas e espaços de<br />
produção (1711-1779), demonstra que os<br />
engenhos produtores de aguardente estiveram<br />
presentes pelo termo de Mariana desde os<br />
principais núcleos de mineração até as áreas<br />
onde a expansão da fronteira foi mais sentida<br />
ao <strong>final</strong> da primeira metade do século XVIII.<br />
Não se pode dizer que houve especialização<br />
em áreas específicas do termo, porém,<br />
algumas freguesias atestaram um maior<br />
movimento do mercado desse tipo de propriedade.<br />
Em Sumidouro as negociações de<br />
engenhos perfizeram 20,5% do total de<br />
compras e vendas nesta freguesia, em<br />
Furquim 24,5%, São Caetano 30,7%,<br />
Camargos 21,6% e em São José da Barra<br />
Longa o maior percentual: 37,5% das propriedades<br />
situadas nessa freguesia eram formadas<br />
por engenhos.<br />
A explicação para o fato, e que a aguardente<br />
encontrava rápida absorção no mercado local,<br />
o que incentivava o proprietário a dedicar mais<br />
espaços agricultáveis ao cultivo da cana, sem<br />
com isso deixar de lado a produção de gêneros<br />
agrícolas de subsistência como o milho e a<br />
mandioca, cultivos comuns na região. A diversificação<br />
do sistema produtivo e o grande<br />
apelo comercial da aguardente, sem desconsiderar<br />
o potencial mercantil que também havia<br />
na produção de alimentos, ocasionavam a<br />
necessidade da ampliação do espaço de<br />
cultivo por parte dos proprietários de engenhos.<br />
Assim, mais parcelas de capoeiras e<br />
matos virgens se tornavam ainda mais importantes<br />
nos engenhos que em qualquer outro<br />
tipo de propriedade.<br />
Divulção Dia da Cachaça