GAZETA DIARIO 530
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Foz do Iguaçu, quinta-feira, 15 de março de 2018<br />
TRIBUTAÇÃO<br />
Geral<br />
11<br />
Projeto que aumenta impostos sobre<br />
cigarros gera polêmica no Paraguai<br />
Proposta já foi aprovada no Senado e está em debate na Câmara; aumento de mais de 100% geraria arrecadação de US$ 500 milhões<br />
Adelino de Souza<br />
Freelancer<br />
Proprietários de fábricas<br />
de cigarros do Paraguai<br />
deram início a um grande<br />
lobby para frear um projeto<br />
de lei que tramita na Câmara<br />
dos Deputados aumentando<br />
o imposto sobre<br />
cigarros dos atuais 16%<br />
para 30% e 40%.<br />
O projeto partiu da<br />
Frente Guassu, uma coalização<br />
de partidos de esquerda<br />
liderada pelo senador<br />
Fernando Lugo, que já<br />
foi deposto do cargo de<br />
presidente do Paraguai. O<br />
projeto polêmico foi aprovado<br />
no Senado, em novembro<br />
do ano passado, com os<br />
votos contrários da bancada<br />
ligada ao presidente Horácio<br />
Cartes.<br />
Nos dias atuais, a fabricação<br />
de cigarros gera uma arrecadação<br />
de impostos de US$<br />
65 milhões ao Paraguai. Se o<br />
projeto entrar em vigor, a arrecadação<br />
aumentaria para<br />
cerca de US$ 500 milhões.<br />
A proposta prevê que<br />
45% desses impostos sejam<br />
destinados ao Fundo de Excelência<br />
para a Educação,<br />
45% para o Ministério da<br />
Saúde e 10% para os municípios<br />
aplicarem no sistema<br />
de proteção às crianças.<br />
Nessa terça-feira (13),<br />
representantes das fábricas<br />
estiveram na Comissão de<br />
Assuntos Constitucionais e<br />
Orçamentários da Câmara<br />
dos Deputados, na tentativa<br />
de evitar a aprovação do<br />
projeto.<br />
O gerente da Tabacalera<br />
del Este, uma das maiores<br />
fábricas de cigarros do Paraguai,<br />
José Ortiz, disse que<br />
o aumento dos impostos<br />
terá consequências prejudiciais<br />
para a economia, geração<br />
de empregos e arrecadação<br />
de impostos.<br />
"Esse projeto prevê medidas<br />
sem nenhuma análise<br />
econômica. Está baseado<br />
em critérios políticos com<br />
a intenção de estrangular<br />
certos setores, sem levar em<br />
conta que as fábricas de cigarros<br />
são as principais arrecadadoras<br />
de impostos",<br />
pregou Ortiz.<br />
O empresário disse aos<br />
deputados que existem<br />
hoje no Paraguai cerca de<br />
1.500 produtores rurais<br />
que se dedicam ao setor,<br />
além dos milhares de empregos<br />
gerados diretamente<br />
pelas fábricas. Ele acrescentou<br />
que o projeto vai na<br />
contramão da política de<br />
Estado do país vizinho de<br />
cobrar impostos baixos<br />
para tornar o Paraguai um<br />
país competitivo.<br />
Ortiz: "O projeto tem<br />
cunho político"<br />
Colheita do tabaco no Paraguai: em 2017 a<br />
safra foi boa<br />
IDESF defende redução de<br />
impostos sobre cigarros<br />
Enquanto os paraguaios debatem o aumento de<br />
impostos sobre cigarros, alguns setores no Brasil<br />
entendem que quanto maiores as taxas de impostos,<br />
mais avançam os produtos contrabandeados no<br />
mercado, especialmente o cigarro do Paraguai — que<br />
tem uma alíquota baixa de impostos.<br />
Recente estudo do Instituto de Desenvolvimento<br />
Econômico e Social de Fronteiras (IDESF) mostra<br />
como a redução de impostos pode trazer ganhos<br />
nessa seara. Em 2005, uma lei baixou as taxas sobre<br />
produtos de informática. Os preços encolheram e<br />
minaram o mercado ilegal: as apreensões de pirataria<br />
caíram 70% de 2005 a 2016.<br />
No mercado de cigarros ocorreu o oposto. Para<br />
reduzir o consumo de tabaco e arrecadar mais, o<br />
governo elevou os impostos. O resultado foi que a<br />
produção oficial caiu, e o contrabando de cigarros<br />
cresceu.<br />
Hoje, 45% das vendas são de produtos ilegais.<br />
Segundo o estudo, a criação de uma nova categoria de<br />
cigarros, com menos impostos, concorreria com<br />
produtos falsificados e poderia aumentar a própria<br />
arrecadação de tributos, dos R$ 13 bilhões, em 2016,<br />
para R$ 18 bilhões, num prazo de três anos.<br />
A oposição ao presidente<br />
Cartes — acusado de ser<br />
o verdadeiro proprietário<br />
da Tabacalera del Este — tem<br />
falado que o Paraguai, com<br />
sete milhões de habitantes,<br />
produz anualmente 60 bilhões<br />
de cigarros. "Para absorver<br />
essa produção, todos<br />
os paraguaios, incluídos os<br />
recém-nascidos, teriam de<br />
fumar uma média de 27 milhões<br />
de cigarros", argumentam<br />
os oposicionistas.<br />
A Frente Guassu diz que<br />
90% da produção de cigarros<br />
no Paraguai destina-se<br />
ao mercado negro. A jornalista<br />
Emili Blasco, do ABC de<br />
Madri, publicou que o Paraguai<br />
produz 73% dos cigarros<br />
vendidos de forma<br />
ilegal na América Latina e<br />
10% do que se vende no<br />
mercado negro mundial.<br />
Mortes<br />
Outro argumento dos<br />
defensores do aumento dos<br />
impostos sobre os cigarros<br />
no Paraguai é a saúde. Segundo<br />
o Ministério da Saúde,<br />
entre 700 e mil pessoas<br />
morrem por ano em função<br />
das enfermidades causadas<br />
pelo tabaco. O ministério<br />
estaria gastando 28% de<br />
seu orçamento para cuidar<br />
das doenças provocadas<br />
pelo fumo.