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Transformações<br />
do<br />
Humano<br />
A<br />
L<br />
F<br />
R<br />
E<br />
D<br />
O<br />
A<br />
T<br />
T<br />
I<br />
É<br />
Para nos compreendermos precisamos<br />
dos outros. O espelho não basta.<br />
Isso parece ser verdade não apenas<br />
em relação a nosso modo de ser individual<br />
como também a nosso eu coletivo. O caso<br />
brasileiro é um bom modo de exemplificar<br />
isso. Todos os intérpretes de nossa identidade<br />
cultural justificaram suas análises e<br />
conclusões por meio da leitura e citação<br />
dos textos dos viajantes e cronistas europeus,<br />
que por aqui passaram, desde o século<br />
XVI até o início do século XX, e deixaram<br />
impressas suas opiniões sobre o que<br />
viram das relações sociais, em contraste<br />
com a natureza de nossa terra e de nossa<br />
gente. Mais recentemente, o filme Carlota<br />
Joaquina, Princesa do Brasil - que marcou<br />
uma espécie de renascimento do cinema<br />
brasileiro, em 1995 -, parodiando a história<br />
da origem de nosso país, tomou emprestada<br />
a crítica estrangeira, notadamente britânica,<br />
às características de nossa primeira<br />
corte, descrevendo-a como decadente e<br />
corrupta, liderada por um rei glutão, dorminhoco<br />
e pusilânime, que tem a seu lado<br />
uma mulher feia e adúltera e que, também<br />
com seu olhar estrangeiro, despreza a pequenez<br />
da monarquia portuguesa e da colônia<br />
brasileira, diante do que presume ser<br />
a grandeza da corte espanhola.<br />
Percebemos, então, que o olhar do<br />
outro não apenas permite a consciência de<br />
que somos de certa maneira, mas, sobretudo,<br />
impõe as conclusões ou o julgamento<br />
gerado por esse olhar.<br />
A identidade, enfim, é, no princípio,<br />
fruto desse dualismo conflituoso, que sepa-<br />
A<br />
R<br />
T<br />
I<br />
U<br />
M<br />
81