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Artium edição 5

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ensão) está relacionada com a dificuldade<br />

de compreender a interação entre natureza<br />

e cultura, no engendramento de múltiplos<br />

modos de ser.<br />

Já a psicanálise havia levantado a<br />

questão de que o masculino e o feminino<br />

não seriam integralmente dados da natureza,<br />

mas o resultado de uma construção,<br />

de um complexo de relações havidas desde<br />

a tenra infância entre a criança e os adultos<br />

que a cercam.<br />

Com Michel Foucault, a sexualidade<br />

deixou de ser uma oferta da natureza para<br />

se mostrar o produto de uma história. Com<br />

Joan Scott, o gênero passa a designar uma<br />

categoria de análise da sexualidade e de<br />

sua constituição plural. Finalmente, com<br />

Judith Butler, os gêneros passam a ser considerados<br />

performances do humano, isto é,<br />

atos, gestos e sinais que expressariam significados.<br />

Assim, a expressão de modos de<br />

ser diferentes dos padrões (rigidamente<br />

artificias) da heterossexualidade proporia<br />

para a sociedade não mais um problema,<br />

mas uma solução para os impasses de<br />

uma época de revolução permanente dos<br />

papeis sociais, sobretudo os ligados a essas<br />

características – históricas e culturais - da<br />

sexualidade.<br />

Uma das características mais interessantes<br />

da humanidade – ou dos hominídeos,<br />

como sublinha a antropologia<br />

cultural – estaria em sua capacidade de se<br />

adaptar a alterações, por meio da reconfiguração<br />

de seu, por assim dizer, aparato<br />

natural. Isto é, há uma interdependência<br />

e uma interação constante entre natureza<br />

e cultura - se quiserem fazer uso de uma<br />

metáfora cibernética, entre o hardware e o<br />

software humanos. Assim, os modos de expressão<br />

não são apenas reflexos de características<br />

estabelecidas. Meios de expressão<br />

constituem igualmente as características<br />

humanas. Tudo se passa como se o corpo<br />

humano integralmente fizesse as vezes daquilo<br />

que entendemos como instrumentos<br />

de nossa comunicação propriamente dita –<br />

assim a voz, por exemplo, e a linguagem que<br />

indica. O corpo expressa uma mensagem<br />

que o constitui, não apenas como veículo de<br />

algo existente, mas como constitutivo desse<br />

existente. Meio e mensagem se confundem.<br />

Assim, deixamos para trás a análise<br />

fria de categorias filosóficas, psicológicas,<br />

sociais ou culturais, e adentramos o campo<br />

de um debate que se constitui não apenas<br />

nas salas e laboratórios acadêmicos. Caminhamos<br />

em direção aos espaços sociais em<br />

que essa expressão dos gêneros se estabelece,<br />

de modo conflituoso, porque ainda<br />

clivado por atos violentos de preconceito,<br />

exclusão e opressão.<br />

Devemos esse engajamento sobretudo<br />

aos jovens, portanto ao que neles indica<br />

o futuro de nossa humanidade. A educação,<br />

a ciência, a arte, a política e o direito mostram-se<br />

instrumentos importantes nesse<br />

envolvimento com a difícil realidade que<br />

estão vivendo esses jovens. Cumpre atualizar<br />

cada um desses campos ou entender de<br />

que modo se alteram para compreender as<br />

transformações do humano.<br />

A<br />

L<br />

F<br />

R<br />

E<br />

D<br />

O<br />

A<br />

T<br />

T<br />

I<br />

É<br />

A<br />

R<br />

T<br />

I<br />

U<br />

M<br />

85

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