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ensão) está relacionada com a dificuldade<br />
de compreender a interação entre natureza<br />
e cultura, no engendramento de múltiplos<br />
modos de ser.<br />
Já a psicanálise havia levantado a<br />
questão de que o masculino e o feminino<br />
não seriam integralmente dados da natureza,<br />
mas o resultado de uma construção,<br />
de um complexo de relações havidas desde<br />
a tenra infância entre a criança e os adultos<br />
que a cercam.<br />
Com Michel Foucault, a sexualidade<br />
deixou de ser uma oferta da natureza para<br />
se mostrar o produto de uma história. Com<br />
Joan Scott, o gênero passa a designar uma<br />
categoria de análise da sexualidade e de<br />
sua constituição plural. Finalmente, com<br />
Judith Butler, os gêneros passam a ser considerados<br />
performances do humano, isto é,<br />
atos, gestos e sinais que expressariam significados.<br />
Assim, a expressão de modos de<br />
ser diferentes dos padrões (rigidamente<br />
artificias) da heterossexualidade proporia<br />
para a sociedade não mais um problema,<br />
mas uma solução para os impasses de<br />
uma época de revolução permanente dos<br />
papeis sociais, sobretudo os ligados a essas<br />
características – históricas e culturais - da<br />
sexualidade.<br />
Uma das características mais interessantes<br />
da humanidade – ou dos hominídeos,<br />
como sublinha a antropologia<br />
cultural – estaria em sua capacidade de se<br />
adaptar a alterações, por meio da reconfiguração<br />
de seu, por assim dizer, aparato<br />
natural. Isto é, há uma interdependência<br />
e uma interação constante entre natureza<br />
e cultura - se quiserem fazer uso de uma<br />
metáfora cibernética, entre o hardware e o<br />
software humanos. Assim, os modos de expressão<br />
não são apenas reflexos de características<br />
estabelecidas. Meios de expressão<br />
constituem igualmente as características<br />
humanas. Tudo se passa como se o corpo<br />
humano integralmente fizesse as vezes daquilo<br />
que entendemos como instrumentos<br />
de nossa comunicação propriamente dita –<br />
assim a voz, por exemplo, e a linguagem que<br />
indica. O corpo expressa uma mensagem<br />
que o constitui, não apenas como veículo de<br />
algo existente, mas como constitutivo desse<br />
existente. Meio e mensagem se confundem.<br />
Assim, deixamos para trás a análise<br />
fria de categorias filosóficas, psicológicas,<br />
sociais ou culturais, e adentramos o campo<br />
de um debate que se constitui não apenas<br />
nas salas e laboratórios acadêmicos. Caminhamos<br />
em direção aos espaços sociais em<br />
que essa expressão dos gêneros se estabelece,<br />
de modo conflituoso, porque ainda<br />
clivado por atos violentos de preconceito,<br />
exclusão e opressão.<br />
Devemos esse engajamento sobretudo<br />
aos jovens, portanto ao que neles indica<br />
o futuro de nossa humanidade. A educação,<br />
a ciência, a arte, a política e o direito mostram-se<br />
instrumentos importantes nesse<br />
envolvimento com a difícil realidade que<br />
estão vivendo esses jovens. Cumpre atualizar<br />
cada um desses campos ou entender de<br />
que modo se alteram para compreender as<br />
transformações do humano.<br />
A<br />
L<br />
F<br />
R<br />
E<br />
D<br />
O<br />
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