Peripecias 10
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convivência, tanto lá em casa no 90, como na<br />
casa deles, no Grajaú.<br />
Só que o tempo foi passando e ninguém<br />
aparecia para trazer uma empada ou cachorro<br />
quente que acho que nem tinha. Naquela<br />
época festa de criança ainda não tinha<br />
cachorro quente e nem pipoca. Estavam<br />
preocupados em atender ao Padre.<br />
Esqueceram de nós. Fomos ficando meio<br />
irritados. Tinha chegado mais pessoas.<br />
Eis que eu e o Mariano percebemos que tinha<br />
em cima de uma cômoda no quarto um prato<br />
cheio daquelas balas de coco, embrulhadas<br />
com papel, que tem uma franja desfiada, sabe<br />
qual? Muito comum em festas. E as franjas do<br />
papel saiam penduradas, ornamentando o<br />
prato.<br />
O que fazer para distrair? Tirar uma bala e<br />
chupar. Diz o João Alberto, também quero. E<br />
todos quiseram. Esperem aí, disse eu. Assim vai<br />
esvaziar o prato.<br />
Vamos fazer o seguinte: Procurem pedrinhas<br />
pequenas no Jardim e vamos a cada bala que<br />
chupar substituir por uma pedra. O Mariano<br />
aprovou. Uma prima ficou na porta do quarto<br />
para o corredor, vigiando se vinha alguém.<br />
Outro pegava a bala. E outro embrulhava a<br />
pedra que as outras primas achavam na terra<br />
do jardim. E assim chupamos todas as balas e<br />
deixamos o prato cheio e enfeitado como<br />
estava, só que cheio de pedras.<br />
Pouco tempo disso, nos chamaram para cantar<br />
os parabéns (já tinham chamado o Jeremias e<br />
o Geraldo), comer bolo e os doces que estavam<br />
na mesa. Juntamo-nos ao grupo dos adultos,<br />
alguns homens vieram da outra área,<br />
engrossar o coro, apagaram-se as luzes, o<br />
Jayme meio acordado meio que dormindo,<br />
conseguiu apagar a vela. Estava no colo da Mãe<br />
ao lado do Pai. Enquanto, ficou escuro o<br />
Mariano tirou uns doces e colocou no bolso da<br />
minha calça, eu peguei uns coloquei na frente<br />
do João Alberto, quando acenderam as luzes os<br />
pratos de doces estavam meio bagunçados, e<br />
comemos doces e bolo após a primeira fatia,<br />
que acho foi dada ao Padre. Não afirmo,<br />
tamanho era o burburinho, com um monte de<br />
gente com sotaque português.<br />
Nisso, o padre que já tinha sido paparicado de<br />
tudo e sei lá mais o que, e comido alguns doces,<br />
ouve a Sra. Mercedes, a avó do meu primo<br />
dizer, naquele sotaque da Algalva, uma<br />
Freguesia que fica lá na Ilha Terceira.<br />
Aceita uma balinha?<br />
E o Padre. Oh, sim!<br />
Olhei para o meu primo Mariano, ficamos<br />
parados e dissemos um ao outro.<br />
É agora.......<br />
Quando o Padre viu a pedra deve ter pensado,<br />
será milagre? Conseguiram fazer a bala virar<br />
pedra? A Sra. Mercedes quase caiu sentada. A<br />
filha dela solteira, pegou outra bala abriu,<br />
outra pedra, ficaram pálidas. Chamaram a tia<br />
Estela esposa do Tio Izaias e as três começaram<br />
a gritar: Izaiaaas! Izaiaaas! Izaiaaas!, naquele<br />
sotaque português fino e cantado. O Padre<br />
estava meio assustado, e acho que rezou umas<br />
dez Ave-Maria. Meu tio veio da área lateral<br />
onde estava com os outros amigos e parentes,<br />
soube do acontecido, chamou-me e também<br />
ao José Mariano, lá na área e falou: por que<br />
vocês fizeram isso? Eu respondi: Esqueceram<br />
de nós lá atrás! Meu padrinho, deu-nos aquela<br />
chamada geral, e disse nem sei o que fazer com<br />
vocês. Pedimos desculpas e entramos.<br />
Alguns minutos depois fomos embora. A Festa<br />
estava acabando. Já tinham cantado os<br />
parabéns!<br />
Mas o Padre ainda ficou lá.<br />
Minha mãe ao chegar em casa perguntou, por<br />
que fizeram isso?<br />
Respondi que estava quieto ao lado dela e<br />
meus primos também, mas fomos intimados a<br />
sair da sala. E esqueceram de Nós.<br />
Ela não disse uma palavra.