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Take 48

Feminismos

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REVENGE MOVIES<br />

FILMES QUE SE SERVEM FRIOS<br />

PEDRO SOARES<br />

O mundo do Cinema sempre foi tradicionalmente um universo masculino.<br />

Se atrás das câmaras só em 1914 uma mulher se sentaria na cadeira de<br />

realizador (Lois Weber realizava então O Mercador de Veneza), à frente<br />

delas a figura feminina sempre foi altamente estereotipada, representando<br />

essencialmente a figura de mãe, esposa ou dona de casa, ou a de frágil<br />

mocinha raptada pelo vilão que o herói necessita resgatar.<br />

Com o desenvolvimento e o estabelecimento do star system, as mulheres<br />

passam a ter outra dimensão, mas na maior parte dos casos o seu papel<br />

é sempre objectificado, tendência que se acentua a partir do pós-Primeira<br />

Guerra Mundial, com a introdução das primeiras noções de erotismo no<br />

grande ecrã. Trivialidade: em 1915, Audrey Munson aparece pela primeira<br />

vez nua num filme. Neste caso, em Inspiration.<br />

No entanto, existe um género que vai inverter esses papéis tradicionais<br />

de género. Os filmes de vingança normalmente trazem a mulher para o<br />

papel de (anti)herói, assumindo os destinos da sua vida e vingando-se do<br />

homem castrador que lhe provocou mal. Essa diferente perspectiva de<br />

ascendente pode ser vista como uma primeira tendência de feminismo no<br />

Cinema, da mesma forma que os filmes de Russ Meyer, em que, apesar<br />

da clara objetificação do corpo da mulher, estas são sempre as heroínas<br />

da contenda.<br />

É certo que nada disto é novidade, e encontramos ao longo da história<br />

da literatura vários exemplos desta fórmula, desde o folhetim de<br />

Alexandre Dumas, O Conde de Monte Cristo, ao livro-choque de Boris<br />

Vian, Irei Cuspir-vos nos Túmulos. No entanto, foi na Sétima Arte que as<br />

mulheres ganharam lugar de protagonismo. Nos anos 70, com o boom<br />

dos exploitation movies, um subgénero destes filmes de vingança ganha<br />

particular predominância: os rape and revenge movies (que, em tradução<br />

livre, será algo como filmes de violação e vingança).<br />

Um dos títulos que cristaliza o filme de vingança feminino é, sem dúvida,<br />

o díptico Kill Bill – A Vingança. Aliás, o próprio Quentin Tarantino voltaria<br />

a homenagear as mulheres com À Prova de Morte, apenas três anos<br />

depois. Kill Bill é um épico do género, em que uma mulher, espancada no<br />

altar no dia do casamento, escapa à morte certa e regressa de um coma<br />

para ajustar contas com os seus atacantes. Uma das diferenças do filme<br />

de Tarantino com outros semelhantes é que, neste caso, os seus inimigos<br />

não são todos homens.<br />

Por exemplo, em A Noiva Estava de Luto, clássico de François Truffaut<br />

que foi uma das principais influências de Tarantino para Kill Bill, a heroína<br />

do filme, interpretada por Jeanne Moreau, persegue e assassina os cinco<br />

homens que executaram o seu marido no dia do seu casamento. Tal como<br />

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