Peter Isotalo (CC 3.0) ciário, das Forças Armadas, etc. de modo a serem naturalmente respeitados, proporcionando-lhes outra modalidade de conforto: a comodidade de governar. Então, é uma vantagem do Estado que haja lindas carruagens. Quanta revolta é evitada, quanta guerra interna é poupada a um país porque o povo se habituou a respeitar quem o governa! O Bucentauro e a ponte sobre o Tâmisa A República de Veneza tinha um presidente do Conselho dos Nobres intitulado Doge, palavra derivada do vocábulo latino dux, chefe. Para navegar pelas águas fabulosas da Laguna de Veneza, o Doge dispunha de uma embarcação, toda esculpida, folheada a ouro, lindíssima, que por uma reminiscência mitológica chamava-se “O Bucentauro”. Na ocasião máxima do Estado Veneziano, o Doge partia no Bucentauro acompanhado de centenas de barcos, gôndolas com aquelas proas lindas, gente tocando instrumentos, cantando, etc., laguna adentro, até o Mar Adriático. E, quando estavam no alto mar, o Bucentauro parava e o Doge jogava nas águas um anel precioso: era o casamento de Veneza com o mar. Veneza era uma grande república comercial e dominava os mares naquele tempo, sendo, por isso riquíssima. O casamento da República de Veneza com o mar representava uma espécie de união entre o Estado veneziano e seu destino histórico. Evidentemente era útil para o Estado veneziano ter um barco assim. Portanto, nem sempre a beleza tem essa incompatibilidade com o prático que apresentávamos no início desta exposição. Para a vida da alma, para o intercâmbio de relações entre as almas, para a formação da política e da cultura de um povo, o belo tem uma importância maior do que o prático. E quando há incompatibilidade, quase sempre o belo prevalece sobre o prático. Dou um exemplo de nossos dias: o Rio Tâmisa, em Londres, com aquela ponte levadiça. Aquilo é lindo, mas já não necessário, porque com os meios modernos poder-se-ia construir uma ponte alta que substituísse aquela. Por que se mantém a ponte atual? Porque é bela! Há, portanto, um prático de categoria inferior que encontramos ao olhar automóveis bem equipados. Mas há um prático mais elevado que toma em consideração que o homem é mais espírito do que matéria, e que as coisas do espírito têm muito mais importância do que as da matéria. Por isso, deve-se dar mais valor ao belo do que ao prático. v (Continua no próximo número) (Extraído de conferência de 4/10/1986) McKarri (CC.3.0) Stefan.lefnaer (CC.3.0) Ponte da Torre Londres, Inglaterra Proa do Bucentauro 35