008 - O FATO MARINGÁ - AGOSTO 2018 - NÚMERO 8 (MGÁ 01)
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Ano 1 • Edição 8 • Agosto de <strong>2<strong>01</strong>8</strong> • Distribuição Gratuita<br />
Jornal Comunitário Metropolitano de Maringá • 3<br />
CURITIBA DE TODOS OS LOUVORES<br />
E DE TODOS OS HORRORES<br />
Laércio Souto Maior: Escritor, Historiador e Jornalista pernambucano, radicado em Curitiba-PR<br />
CURITIBA - Há várias maneiras<br />
de você opinar a respeito de<br />
Curitiba como cidade modelo na<br />
área de urbanismo.<br />
Calçadão da Rua XV e seu<br />
Bondinho - ao fundo o Palácio Avenida.<br />
Do discurso triunfalista de<br />
“uma das melhores cidades do planeta<br />
para se morar” pelas condições<br />
de vida oferecida aos seus “privilegiados”<br />
moradores; ao discurso<br />
pessimista e arrasador mostrando<br />
as mazelas da Vila Pinto<br />
que insistem em se multiplicar pelas<br />
periferias curitibanas com sua<br />
multidão de problemas que enrubesce<br />
de vergonha as faces dos seus<br />
orgulhosos burgueses e tornam<br />
insensíveis os ouvidos moucos dos<br />
tecnocratas de todos os escalões<br />
da prefeitura municipal “roucos”<br />
de tanto ouvir os clamores por trabalho,<br />
educação, paz e segurança,<br />
emitidos por milhares de famílias<br />
desamparadas. São duas faces de<br />
uma mesma moeda.<br />
De um lado da moeda, avista-se<br />
a Curitiba de primeiro mundo,<br />
laboratório mitológico de revolucionárias<br />
experiências urbanísticas<br />
que mexe e remexe de emoção<br />
o “Coração Curitibano” das orgulhosas<br />
hostes lernistas, mas que<br />
no fundo não passa de imitações<br />
bem sucedidas e adaptadas com<br />
competência a nossa realidade,<br />
que os olhos curiosos de nossos arquitetos<br />
nas suas andanças pelos<br />
quatro cantos do mundo transplantaram<br />
com tanto sucesso para<br />
Curitiba, enchendo os olhos de admiração<br />
dos ingênuos provincianos<br />
aqui residentes, e aplausos reconhecidos<br />
dos visitantes das outras<br />
regiões brasileiras e dos estrangeiros<br />
que por aqui aportam em viagens<br />
turísticas e de trabalho.<br />
Do outro lado da moeda, a Curitiba<br />
analisada pela ótica esquerdista<br />
e iconoclasta da visão do grupo<br />
requianista que tanto critica<br />
com razão a miséria periférica e o<br />
abandono do lado social pelos predestinados<br />
arquitetos do IPPUC, e<br />
os iluminados técnicos do modernoso<br />
"Chapéu Pensador", que são<br />
sistematicamente vencidos pela<br />
cruel realidade detonada pela era<br />
do neoliberalismo que arrasta com<br />
suas enchentes tenebrosas e a crueldade<br />
dos narcotraficantes a paz e<br />
o sossego do nosso lumpesinato<br />
que queda-se desamparado pela ausência<br />
de ações da prefeitura e dos<br />
seus alcaides e edis.<br />
Criança em meio ao lixo - Vila Pantanal,<br />
localizada no Alto Boqueirão.<br />
Mas, mesmo criticando, os<br />
requianistas elogiam e cantam<br />
louvores à “Curitiba, bela e justa”<br />
e demonstram explicitamente<br />
seu amor e admiração a sua fria,<br />
no sentido termográfico, e emocional,<br />
no sentido comportamental<br />
dos curitibanos, capital. Quem<br />
está com a razão? Não há como<br />
negar algumas características<br />
próprias de Curitiba que a coloca<br />
muitos pontos acima das inditosas<br />
capitais brasileiras.<br />
Com forte presença de imigrantes<br />
europeus, foi durante décadas<br />
do século XX mero e sortudo receptáculo<br />
das benesses, das riquezas<br />
que os ciclos econômicos gerados<br />
pela moderna agricultura paranaense<br />
direcionaram a capital enchendo<br />
as burras do governo aqui<br />
sediado, sem o ônus de suportar o<br />
atual processo de crescimento populacional<br />
galopante impelido pela<br />
implantação acelerada no final<br />
do século XX e começo do terceiro<br />
milênio do ciclo econômico da industrialização.<br />
Conclusão: a Curitiba, cidade<br />
modelo cantada em prosa e verso<br />
pelo seu moderno transporte coletivo,<br />
vias estruturais, estações tubo,<br />
parques maravilhosos, ruas e<br />
Fotos: Franklin Freitas (Bem Paraná)<br />
avenidas limpas e urbanizadas já<br />
encontra, mesmo entre apaixonados<br />
adeptos de seus encantos e méritos,<br />
reticências pessimistas como<br />
a emitida pelo seu mais apaixonado<br />
morador, o arquiteto e planejador<br />
urbano, Rafael Dely:<br />
“Não existe um amanhã para<br />
Curitiba se não houver uma nova<br />
revolução. A primeira, que<br />
lançou as luzes desta cidade para<br />
o mundo, está esgotada. Em<br />
seus estreitos limites, Curitiba<br />
está morta… é essencial que sejamos<br />
capazes de reinventarmos<br />
uma nova Curitiba”.■<br />
Vila Pinto (ou Vila Torres), que fica encravada na região central da Capital,<br />
às margens do Rio Belém.